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esde que o autismo foi delineado (Kanner, o os princípios chave desta abordagem vão buscar os
1943), uma definição globalmente aceite e seus fundamentos à pesquisa mais actualizada.
métodos de diagnóstico standardizados fo- Este artigo discutirá alguns princípios base do SRP
ram estabelecidos. Até à data, no entanto, nenhuma no contexto da pesquisa actual para criar uma plata-
etiologia (definição de uma causa ou conjunto de cau- forma para a investigação quantitativa.
sas, uma origem, uma razão para alguma coisa) clara
foi estabelecida e os tratamentos propostos são larga-
mente variados.
A pesquisa descobriu o suficiente sobre as implica-
Principio: Criar
ções da psicologia neurológica e cognitiva do autismo um Espaço Físico óptimo
para permitir-nos desenhar os contornos de tratamen- de Aprendizagem
tos que beneficiem as famílias que não querem espe-
rar pela cura cientificamente provada e inquestionável
que ainda está por vir.
O Autism Treatment Center of America tem o usa-
A hiper-estimulação sensorial entre os indivíduos
com autismo (Belmonte and Yurgelan-Todd,
2003 Hirstein et al, 2001; Tordjman et al, 1997),
do o programa Son-Rise (SRP) com famílias des- acompanhada pela dificuldade para escolher entre
de 1943 no intuito de preencher esta necessidade. O estímulos que competem entre si é altamente obser-
SRP foi desenvolvido por pais que experimentaram vada.
diversas maneiras de chegar ao seu filho, severamente Estudos electroencefalográficos envolvendo tare-
autista (Kaufman 1976). A ciência neste ponto ofere- fas que requerem ao indivíduo autista a atenção se-
ce nenhuma direcção no que toca à facilitação do de- lectiva para estímulos relevantes e ignorar estímulos
senvolvimento social de crianças com autismo. Desde irrelevantes mostram ou um anormal P1 potencial
que o seu filho emergiu do autismo após 3 anos de evocado para o estimulo relevante, ou uma anormal
trabalho intensivo, os Kaufman ofereceram o SRP a resposta generalizada para os estímulos irrelevantes
famílias internacionalmente. À data, nenhum rigoro- (Townsend and Courchesne, 1994).
so estudo longitudinal testando a eficácia do SRP tem Adicionalmente, o N2 para novos estímulos é au-
sido desenvolvido, no entanto pode comprovar-se que mentado em crianças com autismo mesmo quando
to de activação em áreas baseadas no processamento
primário das sensações e uma activação diminuída
nas áreas que tipicamente suportam processamentos
de ordem mais elevada. (Ring et al, 1999; Critchley
et al, 2000; Schultz et al, 2000; Pierce et al, 2001;
Baron-Cohen et al, 1999; Castelii et al, 2002).
Foi proposto que o distúrbio neste processamento
de baixo nível é a causa subjacente às anormalidades
no processamento de alto nível exibidas no autismo.
(Belmonte, 2004) e que a largamente observada sin-
tomatologia do autismo (incluindo questões da Teo-
ria da Mente e função executiva) é uma propriedade
estes estímulos são irrelevantes para a tarefa (Kemner emergente do anormal crescimento neural (Akshoo-
et al, 1994). Resultados semelhantes têm sido vistos moff, 2002). Há evidências moléculares de que esta
usando estimulo auditivo (Kemner et al, 1995). Isto anormalidade está presente à nascença (Nelson et al,
suporta as observações de que as crianças com autis- 2001) embora os sintomas comportamentais óbvios
mo podem ser ou hiper-focadas num aspecto da tarefa muitas vezes não o estejam até aproximadamente os
ou grandemente distraídas pelo estimulo irrelevante 18-24 meses. Uma criança nascida confiando nos seus
ou periférico à tarefa. Durante tarefas que requerem hiper-excitáveis, hipo-selectivos sistemas de proces-
mudanças de atenção entre hemicampos (campos vi- samento sensorial está aberta a uma onda de estímu-
suais direito e esquerdo), aqueles com autismo têm los que se pensa que cria uma sobrecarga no recém
exibido os dois hemisférios activando-se indiscrimi- emergente sistema cognitivo superior (Belmonte and
nadamente em vez dos usuais padrões específicos de Yurgelun-Todd, 2003). Quando confrontada com este
activação dos hemisférios. (Belmonte, 2000).
Medidas fisiológicas sugerem que a filtragem per-
ceptual no autismo ocorre num padrão tudo ou nada,
com pequena especificidade para seleccionar a locali-
zação dos estímulos, para a relevância comportamen-
tal dos estímulos ou mesmo a modalidade sensorial
em que o estimulo ocorre (Belmonte, 2000). Tem sido
sugerido que esta tendência para a hiper-estimulação
sensorial deva resultar de uma pervasiva (permeia, in-
vade tudo) anormalidade no processamento neural em
vez de numa área especifica do cérebro. (Belmonte
et al, 2004; Johnson et al, 2002; Akshoomoff et al,
2002). Alguns autores sugerem que esta disfunção
neuronal seja um baixo rácio sinal-ruido que nasce
de uma anormal conectividade neural (Bauman and constrangimento, o plástico cérebro em desenvolvi-
Kemper, 1994; Raymond et al, 1996; Casanova and mento é forçado a reorganizar-se para acomodar esse
Buxhoeveden, 2002; Belmote et al, 2004). constrangimento (Johnson et al, 2002). Isto manifes-
O resultado deste tipo de processamento é que a ta-se na anormal organização do cérebro autista, como
todos os estímulos é dada igual prioridade pelo cé- descrito acima, e o estilo cognitivo característico do
rebro autista causando uma sobrepujante inundação autismo, que confia fortemente em processamento de
de estímulos sensoriais a ser tratados em simultâneo. baixa ordem, altamente localizado em detrimento do
O cérebro típico é capaz de ao mesmo tempo iden- global processamento superior, conhecido como Fra-
tificar e ignorar estímulos irrelevantes, aproveitando ca Coerência Central. (Happe, 1999; Frith andHappe,
apenas os que interessam para a tarefa, o que cria um 1994).
sistema de processamento muito mais eficiente. O A Coerência Central é a habilidade de processar a
cérebro autista recebe tudo e só depois activamente informação em contexto, agregando informação para
faz a escolha, descartando a posteriori a informação o processamento superior, frequentemente a expensas
irrelevante causando, com efeito, um engarrafamento da memória para os detalhes (Happe, 1999). Assim,
no processamento de informaçãos. (Belmonte, 2004). uma Fraca Coerência Central é a tendência para aque-
Estudos de neuro-imagiologia funcional mostram que le com autismo de sustentar-se em processamento de
os cérebros autistas tendem a evidenciar um aumen- nível local (os detalhes) em vez de tomar a globalida-
de da situação. Kanner (1943) viu, como característica
universal do autismo, a inabilidade para experimentar
o todo sem total atenção às partes constituintes. É o
estilo cognitivo que faz com que as pessoas com au-
tismo dito superior sejam altamente resistentes às ilu-
sões visuais (Happe, 1999), terem uma maior ocor-
rência de ouvido absoluto (Heaton et al, 1998), são
excelentes nas Tarefas das Figuras Embebidas (Shah
and Frith, 1983; Jolliffe and Baron-Cohen, 1997) e
possuem a habilidade de copiar as “figuras impossí-
veis” (Mottron et al, 2000). Sala de brincar
Estes testes neurofisiológicos e neuro-anatómicos cores neutras, sem
pintam um quadro do mundo habitado pelo autista
como caótico, sobre-estimulante e cheio de “ruído”.
contrastes nem padrões, nem
A par disto encontra-se um ambiente interno hiper- distracções, os brinquedos
estimulável. (Hirstein, 2001; Cohen and Johnson, numa prateleira alta
1977; Hutt and Hutt, 1979; Hutt et al, 1965; Kootz
and Cohen, 1981; Kootz et al, 1982). Isto é corrobo-
rado por relatos autobiográficos de alguns indivídu-
os com autismo (Bluestone, 2002; Williams, 1994; 2001; Reiber and McLaaughlin, 2004; Schilling and
Schwartz, 2004) a extensão em que uma sala pode
Gillingham, 1995; Jones et al, 2003). Considerar este
mundo fragmentado, caótico e sobrepujante mundo ser modificada para repercutir as necessidades destas
implica que o mundo que rodeia a criança é a chave crianças é altamente constrangida pela configuração
e factor primordial a ser considerado ao desenhar umtípica de uma sala de aula normal, em grande parte
programa de tratamento para a criança com autismo. devido à presença de outras crianças e ao subsequente
Ambientes físicos com maiores quantidades de estí- tamanho da sala - até algo tão omnipresente como uma
lâmpada fluorescente mostra sinais de alterar o com-
Cubo impossível portamento da criança autista (Colman et al, 1976).
Estas considerações ambientais são frequentemente
desprezadas e a sua importância subestimada.
O SRP dão a volta a esta questão empregando uma
sala, usualmente na casa da criança, especialmente
desenhada para minimizar o estimulo sensorial. Ape-
nas cores neutras são usadas, padrões distractivos e
cores contrastantes são evitados. Não existem ecrãs
ou barulhos e apenas luzes incandescentes são usa-
das. Todos os brinquedos e objectos são mantidos for
a do chão em prateleiras na parede. Para providenciar
uma área sem distracções para brincar. Mais impor-
tante ainda, as sessões de brincadeira incluem ape-
nas 1 adulto e 1 criança. Isto significa que a criança
não tem que filtrar o ruído e movimento das outras
Tarefa crianças e lida apenas com um adulto previsível em
das figuras quem confia. O SRP sustenta que estas simples medi-
das ajudam a sarar o sobre-activo sistema nervoso da
embebidas criança autista fazendo o mundo digerível.
Há evidencias da existência de crianças autistas
mulos sensoriais (Ecrãs brilhantes, ruído de fundo, cujo sistema autonómico não é hiper-activo mas, ao
etc.) vão adicionar-se ao barulho já existente num contrário, revelam sinais de níveis anormalmente bai-
sistema sensorial já superlotado, tornando uma nova xos de estimulação (Hirstien et al, 2001). Estas são
aprendizagem extremamente difícil. crianças que tendem a envolver-se em actividades
Enquanto existe o conhecimento de que crian- extremas como subir muito alto, mexer-se constante-
ças com necessidades especiais requerem realmen- mente, de modo a poder pôr em funcionamento os ní-
te ambientes especialmente desenhados (Carbone, veis de estimulação. Neste caso a sala do SRP fornece
um ambiente seguro e fechado onde estas actividades de interesse pelas caras aos 6 meses e falta de orien-
podem ocorrer, muitas delas impossíveis de acontecer tação para a voz humana aos 24 meses. (Lord, 1995)
numa sala de aula comum. são duas situações demonstradamente precursoras
Pode ver-se que este princípio de tratamento é sus- de um subsequente diagnóstico de DEA. Dawson et
tentado pela investigação corrente em neuro-anato- al (2004) descobriu que crianças autistas tendiam a
mia e fisiologia. Investigação directa dos efeitos nas não responder a uma variedade de estímulos mais
crianças com autismo da sala de brincadeira SRP em frequentemente do que uma criança tipicamente de-
contraste com as tradicionais salas de aula ainda não senvolvida ou retardada no desenvolvimento mas que
foram realizados. Crianças em programas Son-Rise este efeito é mais severo no que toca a estímulos so-
feitos em casa frequentemente instigam a ida para a ciais. Numerosos estudos têm demonstrado défices no
sala de brincadeira, brincarão lá mesmo quando sozi- processamento básico visual de rostos no autismo que
nhas e falam sobre como gostam de lá estar. Há muitas não encontra paralelo nas falhas de nas áreas equi-
provas anedóticas sustentando estas declarações mas valentes em termos de desenvolvimento do processa-
até hoje nenhum estudo se inclinou sobre as medidas mento de tarefas não-sociais (Langdell, 1978; Hob-
qualitativas das percepções das crianças sobre as suas son et al; 1988, Klin et al, 1999; Boucher and Lewis,
Salas-de -brincadeira ou sobre as medidas quantitati- 1992; Weeks and Hobson, 1987).
vas da actividade do sistema nervoso da criança autis- Crianças com autismo têm similarmente demons-
ta nestes ambientes. trado não responder como as crianças típicas à voz
humana (Klin, 1991, 1992; Osterling and Dawson,
1994; Werner et al, 2000).
Principio: Criação de um Atenção conjunta
Ambiente Optimizado para
Aprendizagem Social