Você está na página 1de 5

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0003228-64.2013.8.05.0146
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA S/A
(ASSAÍ ATACADISTA)
RECORRIDA: SUELY ROSELLES GOMES
JUIZ PROLATOR: VALÉCIUS PASSOS BESERRA
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


MÁQUINAS INSTALADAS EM SUPERMERCADOS QUE SERIAM
CAUSADORAS DE POLUIÇÃO SONORA. SENTENÇA QUE
JULGOU PROCEDENTE A PRETENSÃO DEDUZIDA, IMPONDO
OBRIGAÇÃO DE FAZER, COM ARBITRAMENTO DE
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS CONSIDERADOS.
NECESSIDADE DE PERÍCIA PARA O DESLINDE DA AÇÃO.
PROVA INCABÍVEL NO SISTEMA DE JUIZADOS ESPECIAIS.
EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO CERNE.
PROVIMENTO DO RECURSO. Adquirindo a ação complexidade
probatória incompatível com o rito estabelecido pela Lei nº 9.099/95,
impõe-se a extinção do processo, sem resolução do mérito, com base
em seu art. 51, inciso II.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Recorrente, BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA
S.A (ASSAÍ ATACADISTA), pretende a reforma da sentença lançada nos autos que a
condenou a abster-se de emitir ruídos, através das máquinas informadas, acima das
especificações legais (45 Db à noite e 55 Db durante o dia), bem como ao pagamento à
Recorrida, SUELY ROSELLES GOMES, de indenização por danos morais, no valor de R$
15.000,00 (quinze mil reais).

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Proponho a extinção do processo, sem resolução do mérito, acolhendo,


assim, a preliminar de complexidade da causa, suscitada pela Recorrente, rejeitando as
demais questões prejudiciais ao mérito ofertadas, em relação as quais incorporo aqui os
argumentos apresentados pelo MM. Juiz a quo.

Inicialmente, saliento que a lide em análise já encontrou enfrentamento por


esta Turma Recursal nos autos da ação tombada sob nº 0003448-62.2013.8.05.0146, da
minha relatoria, cujo recurso inominado foi julgado em 10.11.2014, ocasião em que a
sentença recorrida, não sofreu qualquer modificação, sendo inteiramente referendada à
unanimidade.

1
No entanto, refletindo melhor sobre as questões debatidas, apresento agora
solução diversa.

Informam os autos, que a Recorrida reside em um edifício integrante de


um conjunto localizado próximo do local onde a Recorrente construiu uma loja, na qual
instalou duas máquinas, descritas no processo, fontes constantes de poluição sonora, que
estariam agredindo "o direito ao sossego, a saúde, a paz, enfim, os direitos da personalidade
do autor e seus vizinhos", conforme ressaltado na inicial, tendo o Recorrido juntado laudo
produzido pela Prefeitura Municipal de Juazeiro, no qual se constatou a emissão de ruídos
sonoros excessivos que extrapolam os limites da legislação municipal, coligindo, ainda,
termo de autuação do INEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recurso Hídricos, que chegou
a promover a interdição temporária dos equipamentos.

Pediu a Recorrida, assim, que fosse "determinada a empresa ré que não


ligue as máquinas que não possuem alvará de utilização sonora, sejam geradores de energia,
sejam aparelhos do sistema de refrigeração, enquanto não forem tomadas medidas para
acabar com a poluição sonora/ambiental, por conseguinte, se adequando a legislação local,
sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.

De forma bastante cuidadosa, o MM. Juiz a quo conduziu a instrução


processual, a qual, no entanto, resumiu-se a oitiva de um Técnico em Eletrotécnica", como
informante, e a elaboração de laudo através de perícia informal (evento 39), ambos servindo
não somente para este processo, como também para os demais ofertados no mesmo Juizado,
aproximadamente três dezenas de ações.

Conforme consta no Sistema Projudi, a maioria dos processos já foi


julgada, obtendo sentenças idênticas.

Apenas o processo nº 0003448-62.2013.8.05.0146, citado acima, foi


julgado no segundo grau, sendo que a maioria permaneceu no primeiro, executando-se a
multa cominatória estabelecida em sede liminar, já que, ao que parece, o problema da
poluição sonora não foi resolvido.

Embora o MM. Juiz a quo tenha se referido a multa cominatória citada,


nesse processo não houve arbitramento, mas sim nos demais, onde se estabeleceu o limite de
R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), já objeto de penhora na maioria dos processos.

Segundo a Recorrente, todos os problemas noticiados, em razão da


poluição sonora, já teriam sido superados, tendo juntado parecer técnico a respeito (evento
12).

Julgando ação, o MM. Juiz a quo se baseou no parecer elaborado por sua
determinação, o qual expressa a realização de medição de ruídos nos blocos 12, 13, 15 e 17.

No presente processo, em verdade, tal parecer foi juntado pela própria


Recorrida.

Situado no bloco 15, e, portanto, incluído na perícia informal, o MM. Juiz


a quo entendeu que o imóvel da Recorrida sofreria os efeitos nefastos da poluição, por se
encontrar diretamente voltado para o estabelecimento da Recorrente.

2
Embora os argumentos apresentados pelo Julgador que atuou no primeiro
grau sejam consistentes, entendo que o comando sentencial não resolve o litígio porque não
é capaz de solucionar, definitivamente, o problema da poluição sonora no lugar, razão única
do ajuizamento da ação.

A própria multa cominatória arbitrada parece ser inócua, já que


estabelecido o limite de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), já objeto de diversas penhoras,
sem que as sentenças transitassem em julgado, não servindo, assim, para vencer a suposta
resistência da Recorrente em cumprir a determinação judicial, importando em afirmar que os
moradores afetados receberão, certamente, tais créditos e continuarão convivendo com os
problemas que motivaram as ações, sem que mais nada possam reclamar.

A meu ver, somente a realização de perícia na forma disciplinada pelo art.


420 e seguintes, do CPC, será capaz de trazer esclarecimentos definitivos à lide,
contemplando não somente a exata dimensão do evento, mas, também, a solução para o
término da poluição sonora, já que, persistindo a situação narrada na inicial, na forma já
aferida em outros processos, que culminou nas execuções das multas, as ações judiciais
servirão apenas para transferir rendas.

O próprio valor dos danos morais vislumbrados não encontraria fácil


aferição, já que, na forma compreendida nos autos, a prática do ato ilícito não cessou.

Vale lembrar que a Recorrente insiste que todos os problemas discutidos


foram solucionados após o tratamento acústico realizado, trazendo, inclusive, parecer
técnico a respeito, não havendo sequer certeza se o imóvel da Recorrida sofre as
consequências deletérias da poluição sonora discutida.

O próprio técnico indicado pelo juízo para inquirição, asseverou que “os
órgãos competentes autorizaram o seu funcionamento e que não há qualquer irregularidade”,
na forma ressaltado pelo próprio MM. Juiz a quo.

Com isso, nas circunstâncias apuradas, reafirmo a necessidade de


realização de perícia formal, providência incompatível com o procedimento abreviado e
célere previsto para as ações endereçadas ao Juizado Especial Cível, a qual não pode ser
substituída pela providência informal autorizada pelo art. 35 da Lei nº 9.099/951.

Assim, adquirindo a ação complexidade probatória incompatível com o


rito estabelecido pela Lei nº 9.099/95, impõe-se a extinção do processo, sem resolução do
mérito, com base em seu art. 51, inciso II 2, providência a ser adotada até mesmo de ofício,

1
Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a apresentação de
parecer técnico.

2
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei:
...
II - quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei ou seu prosseguimento, após a conciliação;
...
3
por ser matéria de ordem pública3, suscetível de conhecimento a qualquer tempo e grau de
jurisdição.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e DAR


PROVIMENTO ao recurso interposto pela Recorrente, BARCELONA COMÉRCIO
VAREJISTA E ATACADISTA S.A (ASSAÍ ATACADISTA), para, anulando a sentença
guerreada, extinguir o processo, sem resolução do mérito, com base no art. 51, inciso II, da
Lei nº 9.099/95.

Não se destinando a regra inserta na segunda parte do art. 55, caput, da Lei
9.099/95, ao recorrido, mas ao recorrente integralmente vencido, deixo de condenar a
Recorrida ao pagamento de custas e honorários advocatícios.

Salvador, Sala das Sessões, 16 de junho de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0003228-64.2013.8.05.0146
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA S/A
(ASSAÍ ATACADISTA)
RECORRIDA: SUELY ROSELLES GOMES
JUIZ PROLATOR: VALÉCIUS PASSOS BESERRA
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

- APELAÇÃO CÍVEL - CDC - VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO -


AUTENTICIDADE DE ASSINATURA - NECESSIDADE DE PERÍCIA GRAFOTÉCNICA - COMPLEXIDADE DA CAUSA
AFASTA A COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS - PRELIMINAR ACOLHIDA - ANULAÇÃO DOS ATOS
DECISÓRIOS DE PRIMEIRO GRAU - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - 1- A incompetência
em razão da matéria é absoluta, é de ordem pública, e deve ser declarada de ofício pelo órgão julgador (CPC, art. 113). 2- Na
espécie a controvérsia estabelecida gira em torno da celebração ou não, pela autora, do contratos questionado. A autora alegou, em
síntese, que o banco réu está descontando de seus vencimentos valores referentes a contrato de empréstimo que afirma não ter
contraído. O banco réu, por sua vez, sustenta que o contrato foi solicitado pela autora, para quitar divida outro empréstimo e o
valor restante foi recebido por ela, juntando para tantos os documentos de fls. 116/135. 3- A despeito da documentação colacionada
há que se ponderar que diante das especificidades do caso em concreto e dado a vulnerabilidade da consumidora, no caso da
Recorrida, faltam elementos probatórios mais contundentes, a ponto de apurar se as assinaturas do contrato são realmente desta
bem como se os valores foram efetivamente depositados em sua conta bancária e se deles se utilizou. 4- A dirimência de
controvérsia desta natureza exige necessariamente a produção perícia grafotécnica especializada de forma, a se proferir uma
decisão isenta de qualquer dúvida a respeito, situação esta que se revela complexa no âmbito dos Juizados Especiais e portanto
incompatível com o rito estabelecido na Lei 9.099/95 . 5- Recurso conhecido, acolhendo a preliminar de nulidade da sentença por
complexidade da causa e incompetência dos Juizados Especiais para apreciar e julgar questões deste natureza, voto pela anulação
de todos os atos decisórios prolatados na primeira instância, e julgar extinto o processo sem análise de mérito, cabendo às partes
interessadas promoverem o seu direito de ação, sobre o mesmo objeto, perante a Justiça Comum. 6- Sem condenação em custas e
honorários advocatícios. (TJAC - AC 0007640-35.2009.8.01.0002 - (4.684) - Rel. Juiz Pedro Luís Longo - DJe 24.11.2010 - p.
144)
“(...) 8- A incompetência em razão da matéria é absoluta, é de ordem pública, e deve ser declarada de ofício pelo órgão
julgador (CPC, art. 113). 9- Diante da flagrante complexidade da causa, torna-se o Juizado Especial Cível incompetente para seu
processamento e julgamento, razão pela qual ficam anulados todos os atos decisórios prolatados na primeira instância, e julga-se
extinto o processo sem análise de mérito, cabendo às partes interessadas promoverem o seu direito de ação, sobre o mesmo objeto,
perante a Justiça Comum, caso assim o desejem. 10- Sem condenação em custas e honorários advocatícios. 11- É como voto.
Conforme o art. 46, da Lei Federal nº 9.099/95 , serve a presente súmula de julgamento como acórdão. (TJAC - AC
0024270-59.2009.8.01.0070 - (4.507) - Rel. Juiz Marcelo Badaró Duarte - DJe 08.09.2010 - p. 69)

4
RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL.
MÁQUINAS INSTALADAS EM SUPERMERCADOS QUE SERIAM
CAUSADORAS DE POLUIÇÃO SONORA. SENTENÇA QUE
JULGOU PROCEDENTE A PRETENSÃO DEDUZIDA, IMPONDO
OBRIGAÇÃO DE FAZER, COM ARBITRAMENTO DE
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS CONSIDERADOS.
NECESSIDADE DE PERÍCIA PARA O DESLINDE DA AÇÃO.
PROVA INCABÍVEL NO SISTEMA DE JUIZADOS ESPECIAIS.
EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO CERNE.
PROVIMENTO DO RECURSO. Adquirindo a ação complexidade
probatória incompatível com o rito estabelecido pela Lei nº 9.099/95,
impõe-se a extinção do processo, sem resolução do mérito, com base
em seu art. 51, inciso II.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e DAR PROVIMENTO ao recurso interposto pela
Recorrente, BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA S.A (ASSAÍ
ATACADISTA), para, anulando a sentença guerreada, extinguir o processo, sem
resolução do mérito, com base no art. 51, inciso II, da Lei nº 9.099/95. Não se
destinando a regra inserta na segunda parte do art. 55, caput, da Lei 9.099/95, ao
recorrido, mas ao recorrente integralmente vencido, deixo de condenar a Recorrida ao
pagamento de custas e honorários advocatícios.

Salvador, Sala das Sessões, 16 de junho de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

Você também pode gostar