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Arthur Danto e o Fim Da Arte PDF
Arthur Danto e o Fim Da Arte PDF
Adorou, mas à custa de muito rebolado. Temos aqui algo de diferente em relação
ao modo como o público se relaciona com as obras de arte, se compararmos, por
exemplo, com a maneira como isto se daria em uma exposição de arte do Renascimento.
Nesse caso, um conhecimento profundo acerca da estética desse período não é condição
de possibilidade para a apreciação das obras. A fruição decorre de uma experiência
estética que envolve pura contemplação, sem recurso necessário à história da obra ou de
seu autor. Isso porque, em grande medida, os códigos envolvidos em sua produção e
avaliação costumam ser partilhados por todos os membros de uma determinada cultura,
advertidamente ou não, por envolverem um decoro e cânones estéticos consagrados por
uma tradição. É assim que se tornava possível a um vitral gótico, por exemplo, ser lido e
compreendido pela população, em grande parte analfabeta, que a ele tinha acesso. Além
disso, em paradigma mimético, a imitação dos mestres é valor estético que resulta em
reprodução modelar de procedimentos e composições, de modo que o que faz a obra
saltar aos olhos é a engenhosidade do artífice, capaz de introduzir o novo, mesmo
estando de mãos atadas, em um universo que, de outra maneira, estaria condenado à
mesmice. A arte opera, nesse período, antes dele e ao menos até o século XVII, uma
reprodução de tópicas (lugares-comuns) consagradas, requisitadas, todas elas, às
oficinas nos infindáveis contratos que impulsionavam e garantiam a produção artística
naquele período, como nos mostra a deliciosa obra de Michael Baxandall, O olhar
renascente.
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Eis como o próprio Arthur Danto diferencia sua noção de fim da arte daquela proposta por Hegel:
“Hegel acreditava que a arte não mais encontrava as necessidades espirituais da humanidade. Somente a
filosofia poderia encontrá-las. Minha visão é a oposta.
Por causa de seu pluralismo radical, a arte é capaz
de encontrar nossas necessidades espirituais de beleza – pense em arte feminista, arte gay ou no
multiculturalismo. Mas a filosofia perdeu sua capacidade de fazer algo por alguém. Ninguém pode pensar
como Hegel hoje em dia. Minha visão do fim da arte é baseada na história interna da arte. Sua natureza
filosófica emergiu para a consciência filosófica na década de 1960. Para Hegel, o fim da arte está baseado
em sua filosofia do espírito – passamos da fase da arte e entramos na fase da filosofia. Mas no século XX,
caímos verdadeiramente em tempos difíceis. Ninguém sabe realmente o que ela é, para mais além.”
Entrevista concedida à Folha de São Paulo, Caderno Mais! de 19 de março de 2006.
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Dickie, o mundo da arte é definido como o campo de ação da arte, no qual atuam
instituições (museus e galerias), pessoas (artistas, produtores, marchands, críticos e
estudiosos de arte) e toda a infraestrutura envolvida na produção, circulação e
comercialização das obras de arte. Nas palavras do próprio Danto (1964, p. 580):
“Vislumbrar algo como arte requer algo que o olho não pode
desprezar – uma atmosfera de teoria sobre a arte, um conhecimento da
história da arte: um mundo da arte.”
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Algo semelhante ocorre com a apreciação de obras como a pintura Quadrado
preto sobre fundo branco de Kasimir Malevitch. Que graça pode haver em uma pintura
que mostra, tão simplesmente, um quadrado preto pintado no centro de uma tela branca?
Ora, tal obra somente revela seu pleno sentido quando abordada a partir da perspectiva
do suprematismo. É necessário ter em mente que o pintor busca, nesse caso, fugir a
qualquer tipo de representação (re-apresentação) do mundo. Ao invés de re-apresentar
o que já está dado, cumpre apresentar algo novo e não dado. Declina o figurativismo,
assoma o abstracionismo. Assim, a pergunta que se faz é: como pintar, sem pintar algo?
Não se trata de perguntar como não pintar, pergunta que não traria dificuldades, mas
como pintar nada, ou como pintar coisa alguma. Das inúmeras respostas possíveis a essa
pergunta, Malevitch propõe pintar algo que não existe na natureza – uma forma
geométrica pura – e que, portanto, se apresenta de modo inaugural em vez de re-
apresentar algo já previamente existente.
BIBLIOGRAFIA
DANTO, A., The Artworld in The Journal of Philosophy, Vol. 61, No. 19, American
Philosophical Association Eastern Division Sixty-First Annual Meeting. (Oct. 15,
1964), pp. 571-584.
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ZAGONEL,B. Arte contemporânea em questão. Joinville, SC: UNIVILLE/Instituto
Schwanke, 2007.
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Quadrado negro sobre fundo branco Malevitch, 1913 - 1915