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Notas Fungos MBI 100
Notas Fungos MBI 100
Notas de Aula
FUNGOS
Prof. Marcos R. Tótola
Introdução
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BENÉFICAS
INDESEJÁVEIS
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solo. Certamente, muitas outras drogas de valor inestimável serão ainda descobertas entre os fungos
que nos rodeiam.
A B
Figura 2 – (A) Micrografia por microscopia de varredura (MEV), mostrando detalhe de hifas de
fungos; (B) germinação de um esporo e produção de um novo micélio.
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Os fungos são heterotróficos e obtêm os nutrientes de que precisam por absorção. Isso
significa que eles não fixam carbono e que os nutrientes que penetram em seu corpo devem
atravessar a parede celular e a membrana. Essa última característica tem levado algumas pessoas a
descrever os fungos como organismos cujos “estômagos” localizam-se fora de seus corpos. Em vez
de primeiramente ingerir os alimentos e então digeri-los, como fazem os animais, os fungos
inicialmente liberam as enzimas digestivas para o meio externo, onde o alimento se encontra. Essas
enzimas degradam moléculas complexas e relativamente insolúveis, como carboidratos, proteínas e
lipídios, em moléculas menores e mais solúveis, as quais podem ser então absorvidas.
Como um grupo, os fungos apresentam uma capacidade extraordinária de utilizar quase todas
as possíveis fontes de carbono orgânico como alimento. Entretanto, diferentes espécies possuem
requerimentos nutricionais próprios. Algumas são onívoras, podendo viver a base de virtualmente
tudo que contenha matéria orgânica. É o caso do mofo verde, muito comum (Penicillum) e do mofo
preto, também comum (Aspergillus) que, tendo um pouco de umidade, crescem sobre qualquer
coisa, seja um queijo Cheddar ou um sapato de couro. Outros fungos são mais restritos em sua dieta;
alguns poucos parasitas obrigatórios necessitam não somente de protoplasma vivo como alimento,
mas, também, são altamente especializados quanto à espécie e mesmo à variedade do hospedeiro
parasitado. Em última análise, os tipos de substrato que um fungo é capaz de utilizar dependem,
largamente, de quais as enzimas digestivas ele é capaz de liberar para o ambiente, especialmente no
caso dos fungos saprófitas.
Além da disponibilidade de uma fonte adequada de nutrientes, outros fatores que interferem
com o crescimento dos fungos são a umidade, a temperatura, o pH e o oxigênio. Dada a grande
diversidade das espécies fúngicas e dos diferentes ambientes em que vivem, torna-se difícil fazer
generalizações sobre a importância relativa de cada um dos fatores relacionados acima. Enquanto
algumas espécies vivem na água, a maioria não cresce adequadamente em ambientes com excesso
de umidade, dada a redução na disponibilidade de oxigênio. Por outro lado, por possuírem paredes
delgadas, as hifas que compõem o micélio de muitas espécies são sensíveis ao ressecamento,
necessitando, portanto, de uma fonte relativamente constante de água para crescer. Algumas
espécies podem crescer em água do mar e certos fungos osmofílicos crescem em substratos
contendo concentrações extremamente elevadas de solutos. Esses fungos muitas vezes tornam-se um
problema para a conservação de alimentos. A temperatura ótima para a maioria das espécies situa-se
entre 25ºC e 30ºC, com limites inferior e superior em torno de 10ºC e 40ºC. Algumas espécies
termofílicas possuem um ótimo de temperatura acima de 40ºC, podendo crescer mesmo em torno
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presença. Muitas interações também ocorrem entre os fungos e os animais, em especial os insetos.
Em alguns casos, os fungos vivem dentro ou sobre os animais, sem lhes causar dano aparente. Em
outros casos, certas espécies de fungos podem até mesmo aprisionar e consumir animais
microscópicos como alimento (Figura 3). Algumas dessas espécies, ditas predadoras, produzem
estruturas elaboradas que funcionam na captura de suas presas. Alguns insetos, por outro lado,
cultivam os fungos e se alimentam das estruturas produzidas por eles, como as formigas cortadeiras,
algumas espécies de besouros e de cupins. Certos fungos são micoparasitas, alimentando-se de
outras espécies fúngicas.
Conforme já descrito, o corpo dos fungos, ou talo, consiste tipicamente de hifas tubulares
microscópicas (Figuras 2B e 4), que se ramificam em todas as direções, espalhando-se sobre ou
entre o substrato utilizado pelo fungo.
A B
Figura 4 – Fungo cultivado em meio de cultura. Um disco de ágar contendo micélio foi colocado no
centro da placa à esquerda (A); após alguns dias, o micélio espalhou-se pela superfície do meio de
cultura (B).
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Coletivamente, essas estruturas compõem uma massa que forma o corpo do fungo (talo),
conhecida como micélio. É importante notar que nem todos os fungos apresentam o micélio
composto de hifas. Muitas formas, conhecidas comumente como leveduras (Figura 5), existem
como células isoladas, capazes de se reproduzirem rapidamente por gemas ou fissão. Algumas
espécies de fungos tanto podem formar hifas como viver na forma de leveduras, e estes fungos são
conhecidos como dimórficos. O dimorfismo é comum entre espécies que causam doenças em
homens e animais; geralmente crescem como hifas fora do hospedeiro, assumindo a forma de
leveduras ao penetrarem o tecido a ser parasitado.
As hifas são estruturas tubulares finas e geralmente transparentes, recobertas por uma parede
celular e preenchidas com o protoplasto. Ao serem observadas ao microscópio, pode-se notar que
as hifas da maioria das espécies apresentam septos; as hifas septadas recebem a denominação de
apocíticas, ao passo que as não-septadas são conhecidas como cenocíticas (Figura 2B). Em algumas
espécies, os septos apresentam-se em intervalos mais ou menos regulares, dividindo a hifa em
compartimentos que podem conter um ou mais núcleos. Geralmente, um septo completamente
desenvolvido possui um único poro central (Figura 6), através do qual o protoplasto de
compartimentos adjacentes é contínuo. Este tipo de poro é bloqueado algumas vezes por várias
estruturas, mas, quando desobstruído, é grande o suficiente para permitir a passagem de várias
organelas, incluindo o núcleo (Figura 6B).
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A B
Figura 6 – Micrografia eletrônica de transmissão (MET) de septos de hifas. (A) Septo com um
único poro central (seta), com o qual se associam estruturas escuras e esféricas conhecidas como
Corpo de Woronin. (B) Exemplo de um núcleo (N) migrando através de um poro septal.
A parede celular é a estrutura que confere aos fungos a maior parte de suas características
particulares. A capacidade da parede celular de suportar a pressão de turgor parece ser a razão
primordial para a sobrevivência e evolução dos fungos. Além de suportar a pressão de turgor, a
parede celular desempenha outras funções importantes: confere o formato à hifa; atua como uma
espécie de filtro, controlando em parte o que entra para o protoplasto; protege o protoplasto das
condições adversas do ambiente e atua no reconhecimento de eventos associados não apenas com a
reprodução sexuada, mas também em várias interações dos fungos com plantas e animais
hospedeiros ou simbiontes.
Durante a germinação dos esporos de fungos, observa-se a emissão de um tubo germinativo
(Figura 2B) que cresce apicalmente e se ramifica para explorar o substrato, dando origem ao
micélio. Em alguns pontos, hifas adjacentes são interligada por uma espécie de ponte, composta de
um fragmento de hifa. A esse processo dá-se o nome de anastomose, que contribui para que o
micélio dos fungos tenha a aparência de uma rede de hifas.
As hifas da maioria dos fungos tendem a passar desapercebidas na natureza, porque
geralmente encontram-se no interior do substrato ou do hospedeiro. Entretanto, as hifas de muitas
espécies podem exibir um certo grau de organização, dando origem a estruturas maiores que são
facilmente visualizadas a olho nu. Exemplos típicos são o estroma e o esclerócio. Estroma é uma
estrutura somática compacta, semelhante a um colchão ou almofada, sobre ou no meio da qual os
corpos de frutificação são geralmente produzidos. Os esclerócios são estruturas de dormência
resistentes a condições ambientais adversas. Possuem tamanhos e formas variadas, podendo
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permanecer dormentes por longos períodos e germinar quando as condições voltam a ser favoráveis
ao crescimento.
As hifas de algumas espécies de fungos podem formar ainda cordões espessos chamados
rizomorfos (Figura 7). Essas estruturas podem ter várias formas e funções, especialmente o
descobrimento e exploração de novos substratos e como estruturas de resistência.
A B
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B
A
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Reprodução
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teleomorfo é usado para descrever a fase sexuada, e anamorfo é usado para a fase assexuada. O
termo holomorfo é usado para descrever o fungo em todas as suas fases, formas e potencialidades,
tanto latentes quanto expressas, mesmo que ele se reproduza por apenas um método. Mais
recentemente tem-se proposto substituir esses termos por fungos meiospóricos (teleomorfos) e
mitospóricos (anamorfos).
Os esporos dos fungos são formados a partir de hifas aéreas (que emergem do substrato), de
diferentes modos, dependendo da espécie. Alguns são formados simplesmente pela fragmentação
das hifas em suas células componentes. Esses esporos são conhecidos como artrósporos ou
conídios tálicos (Figura 10).
Figura 10 – Micrografia eletrônica de varredura (MEV) de uma hifa fragmentando-se para dar
origem a diversos artrósporos, um tipo de conidiósporo.
Se as células tornam-se envolvidas em uma parede espessa antes de se separarem umas das
outras ou de outras células da hifa adjacente, são chamadas de clamidósporos (Figura 11). Além
desses esporos produzidos simplesmente pela fragmentação das hifas, outros tipos são produzidos
por estruturas mais especializadas, conhecidas como esporóforos.
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Figura 11 – Clamidósporos de Candida albicans. Note as paredes celulares espessas desse tipo de
esporo assexuado.
Os esporos assexuados variam muito em morfologia, podendo possuir parede celular fina ou
espessa, coloração hialina ou verde, laranja, amarela, vermelha, marrom ou preta. Variam em
tamanho e em forma, de globosos a ovalados, oblongos, em forma de agulhas ou helicoidais e
podem conter uma ou mais células.
Alguns esporos assexuados são produzidos no interior de estruturas especializadas, os
esporângios, sendo chamados de esporangiósporos. Outros são produzidos nas extremidades ou
nas laterais de hifas, de várias formas, sendo conhecidos como conídios.
Os esporângios são estruturas em forma de saco, e todo o seu conteúdo é convertido, através
de divisões, em um ou, mais comumente, vários esporos. Os esporangiósporos de quase todos os
fungos verdadeiros são imóveis e são chamados de aplasnósporos. São característicos dos fungos
pertencentes ao Filo Zygomycota, cujo micélio é cenocítico (Figura 12). Os esporângios são
produzidos na extremidade de hifas especializadas chamadas esporangióforos.
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A B C
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Figura 17 – Exemplos de diversos tipos de ascos, no interior dos quais são formados os ascósporos
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Chapéu Estipe
Anel
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Figura 19 – Ciclo de vida geral dos Basidiomycota. Os basidiocarpos aparecem após a fusão de duas
células de isolados compatíveis (+ e -).
Observação Importante: A fase sexuada de alguns fungos é desconhecida, ou seja, ainda não foi
descoberta, ou realmente não existe. Isso dificulta os trabalhos de classificação, porque as estruturas
de reprodução, especialmente as da fase sexuada, são ferramenta importante na identificação da
espécie. Nesses casos em que apenas a fase assexuada é conhecida, o fungo é considerado como
sendo mitospórico, ou seja, cujos esporos são formados somente pelo processo de mitose, não
envolvendo a fase sexuada. Quando finalmente se descobre o ciclo sexuado de um fungo
mitospórico, ele é reclassificado segundo as características apresentadas durante a fase reprodutiva
sexuada.
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