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ASPECTOS DA NEUROCIÊNCIA DO COMPORTAMENTO EM

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PSICOMOTRICIDADE
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 4
2. ASPECTOS DAS NEUROCIÊNCIAS ......................................................................... 4
3. NEUROCIÊNCIA DO COMPORTAMENTO E PSICOMOTRICIDADE ....................... 7
4. REVISÃO DA AULA .................................................................................................. 9
5. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 11
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AULA 2

ASPECTOS DA NEUROCIÊNCIA
DO COMPORTAMENTO EM
PSICOMOTRICIDADE
Entender o conceito de Neurociência.

Relacionar os aspectos da Neurociência do Comportamento com


a Psicomotricidade.

Compreender como os avanços da tecnologia em


Neurociências podem contribuir com o processo de
aprendizagem, sobretudo em suas dificuldades.

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1. INTRODUÇÃO

A Neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com toda a


fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e comportamento. O controle neural
das funções vegetativas – digestão, circulação, respiração, homeostase, temperatura –, das
funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução, alimentação e ingestão de água, os
mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação, são
temas de estudo da Neurociência. A Neurociência estuda também as doenças do sistema
nervoso, desde uma dor de cabeça até a doença de Alzheimer, e seus reflexos em todas as
funções do indivíduo, procurando métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento, além da
descoberta das causas e mecanismos. A pesquisa em Neurociência visa, dentre seus
objetivos, esclarecer os mecanismos das doenças neurológicas e mentais por meio do estudo
do sistema nervoso normal e patológico. As funções do sistema nervoso podem ser alteradas
por eventos ambientais como trauma, agentes infecciosos ou tóxicos; por tumores, mutações
gênicas e defeitos congênitos; por eventos vasculares e deficiências nutricionais, e por muitos
outros fatores. Muitas doenças do sistema nervoso são totalmente incapacitantes, outras
provocam prejuízos de diferentes níveis de gravidade. A Neurociência do comportamento é o
estudo que busca compreender as bases biológicas da nossa consciência e de nossos
processos mentais, pelos quais ocorrem todas as nossas ações. Essa compreensão tem
relação com nossos aspectos motores e psicológicos, com nossas ações mais complexas,
tais como aprendizado, memória, cognição, autoconsciência, intelecto e personalidade, assim
como com nossas ações de andar, falar, comer, e nossas percepções sensoriais (tato, olfato,
paladar, visão, audição e cinestesia). A Neurociência do Comportamento estuda as áreas do
sistema nervoso central que controlam os comportamentos humanos, sejam eles voluntários
ou não, buscando compreender como os processos mentais influenciam em nossas ações,
emoções, sentimentos e reações.

2. ASPECTOS DAS NEUROCIÊNCIAS

O principal interesse do estudo da Neurociência do Comportamento, relacionado ao


trabalho da Psicomotricidade, é compreender como se dá o processo de desenvolvimento da
aprendizagem da criança. A partir dessa compreensão, é possível criar estratégias

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pedagógicas para que esse processo ocorra da melhor forma possível, para que a criança tire
o máximo proveito de seu potencial cognitivo.

A aprendizagem trata de uma mudança de comportamento resultante de uma


experiência. Toda vez que uma informação nova chega ao sistema nervoso central, e que
resulta em algum tipo de mudança de comportamento, então temos o processo de
aprendizagem. O aprendizado também pode ser entendido como mudança estrutural do
sistema nervoso central, em função de processos bioquímicos. (Moraes e Maluf, 2015)

O desenvolvimento cognitivo do ser humano está vinculado à sua herança genética, às


influências do contexto cultural e social onde está inserido, e às suas ações. Jean Piaget,
psicólogo suíço, conhecido por suas pesquisas na área do desenvolvimento da inteligência
das crianças, acreditava que o desenvolvimento cognitivo se inicia com uma capacidade inata
de adaptar-se ao ambiente. Ele entendia o desenvolvimento cognitivo como produto dos
esforços das crianças para compreender e atuar sobre seu mundo. Ao buscar um mamilo,
para mamar, tocar um animal ou explorar os limites de um aposento, as crianças pequenas
desenvolvem uma ideia mais precisa de seu ambiente e uma maior competência para lidar
com ele. A combinação de maturação do sistema nervoso e de respostas motoras às
necessidades de adaptação, promove evolução e define a capacidade de aprender do ser
humano.

O processo de desenvolvimento psicomotor da criança apresenta, inicialmente, os


movimentos reflexos, ou ações automáticas, uma “memória da espécie”, segundo
Ajuriaguerra, pois estas ações reflexas permitem a sobrevivência do recém-nascido. Nos
primeiros meses, aproximadamente até o quarto ou quinto mês, o bebê começa a controlar
alguns músculos que farão a coordenação de sua visão e de suas mãos, ou seja, ele terá
capacidade de segurar um objeto com a mão e olhar para ele. Depois, terá controle sobre
outros grupos musculares que lhe permitirão ações motoras cada vez mais refinadas, como
equilibrar-se na posição em pé e caminhar, por volta dos 12 meses. Esse primeiro ano do
indivíduo é, em grande medida, definidor de seu potencial futuro para a aprendizagem. Nos
anos seguintes, até que se completem seis, o desenvolvimento progressivo de habilidades
psicomotoras lhe permitirá trabalhar com representações do mundo e assim estará pronto
para dar início ao processo de alfabetização formal. (Moraes e Maluf, 2015)

A intervenção da educação psicomotora, desde a educação infantil e séries iniciais,


até o processo de alfabetização e introdução ao raciocínio lógico-matemático estarem
completos, se torna indispensável para que a criança aprenda, não somente os conteúdos
curriculares, mas também, conhecimentos que a preparem para a vida. As habilidades que

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derivam do desenvolvimento psicomotor são localização; comparação entre objetos e
pessoas; distância, memória espacial; previsão; antecipação, transposição, simetria;
oposição; inversão e progressões de tamanho e quantidade, organização do esquema
corporal, coordenação motora fina e global, equilíbrio, tonicidade muscular. No conjunto, elas
permitem a construção de representações sobre o mundo e a consolidação de conceitos
lógico-matemáticos, além de experiências sociais e afetivas.

Alexander Luria, psicólogo russo especialista em psicologia do desenvolvimento,


fundamentou teoricamente as unidades corticais e subcorticais que constituem as três
unidades funcionais do sistema nervoso central responsáveis pelo diferencial do cérebro
humano, que é capaz de pensar sobre o mundo que o cerca e ter consciência de si. A primeira
unidade é para a regulação do sono e vigília, e os estados mentais. Este sistema mantém o
nível ideal de tom cortical para engajar-se em atividade organizada, dirigida a objetivos. A
segunda unidade funcional é para receber, analisar e armazenar informações, e a terceira
unidade funcional é para a programação, regulação e verificação da atividade. Este sistema
permite a criação das intenções, planos e programação de ação, regulação do
comportamento e verificando atividade consciente.

FIQUE ATENTO

A prova neuropsicológica para estas três unidades funcionais integradas


fornece uma base concreta para abordagens clínicas que consideram as
tarefas específicas de aprendizagem auditiva, fonológica e linguística, e as
funções executivas de domínio-geral apoiam planejamento e regulação do
comportamento.

Vitor da Fonseca, um dos maiores pensadores contemporâneos da Psicomotricidade,


em sua teoria, destaca a relação entre fatores psicomotores e unidades funcionais de Luria,
bem como a relação direta que guardam com o desenvolvimento cognitivo e eficiência na
aprendizagem. Em seu livro “Manual de Observação Psicomotora”, de 2007, Fonseca
apresenta os fatores psicomotores, considerados a partir do modelo neuropsicológico de
Luria, que são: tonicidade ou tônus muscular, equilibração (equilíbrio), lateralidade, esquema
corporal, estruturação e organização do tempo e do espaço, coordenação motora global, e
coordenação motora fina, que ele denomina “praxia global” e “praxia fina”. Observa-se, nesta
obra, o quanto Fonseca baseou e relacionou suas teorias com as descobertas de Alexander
Luria. Convencido da importância dessas descobertas, Fonseca criou um tipo de teste de
avaliação, a Bateria de Avaliação Psicomotora (BPM), que é utilizada na aferição dessas

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habilidades para fins de diagnóstico e elaboração de plano terapêutico de intervenção que
possibilite a recuperação, em caso de dificuldade ou disfunção. A BPM procura analisar
qualitativamente a disfunção psicomotora ou a integridade psicomotora que caracteriza a
aprendizagem da criança, tentando atingir uma compreensão aproximada do modo como
trabalha o cérebro e, simultaneamente, dos mecanismos que constituem a base dos
processos mentais da Psicomotricidade. (Moraes e Maluf, 2015)

3. NEUROCIÊNCIA DO COMPORTAMENTO E PSICOMOTRICIDADE

Graças aos avanços das Neurociências, com o desenvolvimento de novas técnicas de


neuroimagem, inúmeros estudos de pesquisa têm contribuído para o entendimento sobre as
estruturas e o funcionamento cerebral relacionados a dificuldades de aprendizagem.
Técnicas de neuroimagem, como a tomografia computadorizada (TC), a ressonância
magnética (RM) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (single photon
emission computed tomography – SPECT,) são alguns exemplos de como a tecnologia pode
auxiliar em alguns diagnósticos, e assim, afirmar as múltiplas possibilidades de recuperação
de habilidades cognitivas, através da ação psicopedagógica, mesmo quando o sistema
nervoso central já esteja plenamente desenvolvido, como é o caso da educação de jovens e
adultos. Assim, há possibilidades amplas de ação multidisciplinar entre a Psicomotricidade e
as Neurociências, não apenas para auxiliar nos diagnósticos de problemas de aprendizagem,
como também em sua prevenção e ainda na intervenção com vistas à sua superação.

EXEMPLIFICANDO

A Neurociência do Comportamento, pode ser uma grande parceira da


Psicomotricidade. Ao esclarecer, por exemplo, o funcionamento das funções
cerebrais executivas, esta ciência pode auxiliar na construção de
fundamentos teóricos que iluminem práticas mais efetivas no terreno da
educação.

Por meio da Neurociência, é possível conhecer os circuitos neurais que estão


subordinados à aprendizagem da linguagem falada e escrita, o que beneficia o diagnóstico e
a intervenção precoces em casos de risco de dislexia. Funções cerebrais executivas são as
habilidades cognitivas necessárias para controlar nossos pensamentos, nossas emoções e

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nossas ações: autocontrole; memória e flexibilidade cognitiva (capacidade de pensar de
forma criativa).

As atividades psicomotoras e a estimulação eficiente e dirigida possuem um potencial


profilático nas fases iniciais de desenvolvimento cognitivo, ou seja, na educação infantil e
séries iniciais do ensino fundamental. O sistema nervoso central é o grande responsável pela
capacidade de aprender do ser humano, e é também o regulador do desenvolvimento da
aprendizagem. Ele se desenvolve com maior eficiência quanto melhor for sua base biológica.
O sistema nervoso central atinge seu auge, ou melhor, seu máximo potencial fisiológico mais
ou menos aos 11/12 anos, no momento em que as unidades funcionais descritas por Luria
finalizam sua estruturação. Com as Neurociências, aprofundou-se o conhecimento sobre os
circuitos neurais responsáveis pelas diferentes formas de apreensão e compreensão do
mundo e aprendizagem efetiva, que permite ao indivíduo interagir nele da melhor forma
possível.

É a evolução psicomotora que permite ao indivíduo construir conhecimento sobre o


mundo, sobre si mesmo e o que lhe permite agir de forma programada sobre ele. Num estágio
posterior, o indivíduo se torna capaz de criar representações sobre esse mundo e sobre o
conhecimento que acumulou, qualificando-se para o desenvolvimento da linguagem. (Moraes
e Maluf, 2015)

O conhecimento sobre aprendizagem tem avançado graças às Neurociências, e tem


possibilitado a identificação das diferentes causas de dificuldades neste setor, bem como
suas causas biofisiológicas. Uma vez identificadas as causas, intervenções pedagógicas
especificas podem ser aplicadas para auxiliarem no tratamento dessas dificuldades de
aprendizagem, e mesmo no tratamento de transtornos nesse processo.

FIQUE ATENTO

Quando falamos sobre dificuldades de aprendizagem, não nos referimos


somente aos conteúdos do ensino formal infantil e fundamental. Essa
dificuldade pode ser também ao aprender uma habilidade motora de qualquer
modalidade esportiva, seja na academia, no clube, ou em escolinhas de
esporte. É importante que o educador físico tenha ciência dessas
dificuldades de aprendizagem, para poder planejar melhor seu treino e suas
estratégias de ensino.

Contribuir para um desenvolvimento cognitivo efetivo é investir no sucesso do


processo de aprendizagem formal e socioemocional, uma vez que estes aspectos do ser

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humano não estão dissociados. Uma criança em ambiente afetivo estável e seguro, aprende
melhor e estrutura-se enquanto sujeito. Qualquer intervenção educacional deveria levar em
conta as reais possibilidades da criança e partir daí, respeitando os limites individuais, pois
todas as crianças são diferentes umas das outras, assim como todos os seres humanos.
Todos temos nossas dificuldades e nossos talentos e a padronização que a sociedade de
consumo estabelece e nos faz acreditar, chega a ser cruel.

4. REVISÃO DA AULA

· A Neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com


toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e
comportamento.
· A pesquisa em Neurociência tem por objetivo, esclarecer os mecanismos das
doenças neurológicas e mentais por meio do estudo do sistema nervoso normal
e patológico.
· A Neurociência do Comportamento busca compreender as bases biológicas da
nossa consciência e de nossos processos mentais, pelos quais ocorrem todas as
nossas ações.
· O estudo da Neurociência do Comportamento tem relação com nossos aspectos
motores e psicológicos, com nossas ações mais complexas, tais como
aprendizado, memória, cognição, autoconsciência, intelecto e personalidade,
assim como com nossas ações de andar, falar, comer, e nossas percepções
sensoriais (tato, olfato, paladar, visão, audição e cinestesia).
· O principal interesse do estudo da Neurociência do Comportamento, relacionado
ao trabalho da Psicomotricidade, é compreender como se dá o processo de
desenvolvimento da aprendizagem da criança.
· Toda vez que uma informação nova chega ao sistema nervoso central, e que
resulta em algum tipo de mudança de comportamento, então temos o processo
de aprendizagem.
· A combinação de maturação do sistema nervoso e de respostas motoras às
necessidades de adaptação, promove evolução e define a capacidade de aprender
do ser humano.

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· As habilidades que derivam do desenvolvimento psicomotor são localização;
comparação entre objetos e pessoas; distância, memória espacial; previsão;
antecipação, transposição, simetria; oposição; inversão e progressões de
tamanho e quantidade, organização do esquema corporal, coordenação motora
fina e global, equilíbrio, tonicidade muscular.
· Luria fundamentou teoricamente três unidades funcionais do sistema nervoso
central. A primeira unidade é para a regulação do sono e vigília, e os estados
mentais. A segunda unidade funcional é para receber, analisar e armazenar
informações, e a terceira unidade funcional é para a programação, regulação e
verificação da atividade.
· Vitor da Fonseca destaca a relação entre fatores psicomotores e unidades
funcionais de Luria.
· Os fatores psicomotores são: tonicidade ou tônus muscular, equilibração
(equilíbrio), lateralidade, esquema corporal, estruturação e organização do tempo
e do espaço, coordenação motora global, e coordenação motora fina, ou “praxia
global” e “praxia fina”.
· Graças aos avanços da tecnologia, é possível utilizar exames com neuroimagens.
Isso gerou possibilidades amplas de ação multidisciplinar entre a
Psicomotricidade e as Neurociências, não apenas para auxiliar nos diagnósticos
de problemas de aprendizagem, como também em sua prevenção e ainda na
intervenção com vistas à sua superação.
· Com as Neurociências, aprofundou-se o conhecimento sobre os circuitos neurais
responsáveis pelas diferentes formas de apreensão e compreensão do mundo e
aprendizagem efetiva, que permite ao indivíduo interagir nele da melhor forma
possível.
· As dificuldades de aprendizagem podem estar também no âmbito da
aprendizagem motora.

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5. REFERÊNCIAS

AJURIAGUERRA, Julian de. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Atheneu, 1980.

FONSECA, Vitor da. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos


fatores psicomotores. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

LURIA A.R. (1973). The three principal functional units in the working brain: an introduction
to neuropsychology (p. 43-101). New York, NY: Basic Books Inc.

MORAES, Sonia; MALUF, Maria Fernanda de Matos. Psicomotricidade no contexto da


neuroaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica. Rev. psicopedag., São Paulo
, v. 32, n. 97, p. 84-92, 2015 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862015000100009&lng=pt&nrm=iso>.

VENTURA, Dora Fix. Um retrato da área de Neurociência e comportamento no Brasil. Psic.:


Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. spe, p. 123-129, 2010 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
37722010000500011&lng=en&nrm=iso>.

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