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A Igreja no tempo do fim (Jessie Penn-Lewis)

Esta é uma hora de grandes movimentos. O mundo todo está num estado de revolta, e “visões
mundiais” de todos os tipos estão prendendo a muitos. A grande questão é: estão essas “visões
mundiais” em harmonia com a Palavra de Deus? O diabo pode dar “visão mundial” (Mt 4.8), e
por essa razão é necessário que tenhamos nossa visão ajustada às condições que a Bíblia revela
como as que caracterizariam os últimos dias.

Vamos primeiramente olhar, de maneira breve, a mensagem do Senhor glorificado para


Filadélfia, conforme registrado em Apocalipse 3.7-13, pois esta é a primeira referência à Sua
“vinda breve” que encontramos nestas cartas às Igrejas.

1. A verdadeira Igreja no tempo do fim

Note que (1) será um tempo em que tudo ao redor dos cristãos será tão antagônico para todo
serviço do evangelho que somente o próprio Senhor estará apto a abrir portas para Sua
mensagem e Seus mensageiros e mantê-las abertas (vv. 7,8); (2) um tempo em que Seu povo terá
apenas “pouca força” comparado às forças contra ele; (3) um tempo em que o máximo que é
possível será vitória negativa, isto é, a vitória do que eles não farão, e não do que eles são
capazes de cumprir — “não negaste o Meu nome” (v. 8).

No mundo religioso (4) será um tempo de confissão (v. 9) sem verdadeira comunhão com Deus,
e (5) um tempo em que a única palavra que o Senhor falará ao Seu povo será “paciência”:
“guardar a palavra da Minha paciência” (v. 10). Nada mais será possível. Nada de “progresso”
ou “faça grandes coisas”, mas paciência. Nessa condição, da paciência de Deus trabalhada em
Seus santos, Ele será capaz de mantê-los no “recôndito do Seu tabernáculo” durante as trevas
que precedem a hora terrível que está por vir sobre a terra habitada (v. 10). Se o Seu povo é
impaciente, eles não podem ser guardados de ser envolvidos nas tribulações e sofrimentos, pois a
impaciência leva o crente para fora do cuidado poderoso de Deus, provavelmente mais do que
qualquer coisa.

O Senhor, portanto, fala: “como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te


guardarei”. Para os santos será também (6) um tempo de conflito, no qual o preço da coroa está
em risco. “Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa” (v. 11).

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2. A condição do mundo no tempo do anticristo

Agora vamos passar a ver as condições do mundo nos últimos dias, quando o anticristo tiver sido
revelado, conforme registrado em Apocalipse 13.1-18. Aqui temos uma figura completa do reino
do anticristo em dois aspectos: civil e religioso.

Quando a “besta”, o anticristo, obtém o trono do mundo, e “grande autoridade”, a condição das
coisas, como descrita em Apocalipse 13, não terá chegado àquele ponto repentinamente, mas
será o resultado climático de trabalhos forjados previamente por espíritos do anticristo (ver 1Jo
2.18). Conseqüentemente, quanto mais perto chegamos da volta do Senhor, mais os crentes
descritos na mensagem à Filadélfia se encontrarão à negra sombra do reinado vindouro da besta
e serão capazes, à luz da Palavra de Deus, de ver progressivamente as evidentes características
marcantes do terror por vir.

Vamos ver brevemente algumas das linhas centrais do que é descrito em Apocalipse 13 e nos
perguntar se já não vimos alguns dos sinais daquilo que está à frente. Note primeiramente que
toda situação será resultado direto dos planos e do poder do dragão. “O dragão deu-lhe o seu
poder, e o seu trono e grande autoridade” (v. 2). Diz claramente que o dragão governará o mundo
através de dois instrumentos: a besta — o anticristo —, como cabeça de toda autoridade civil, e o
falso profeta, como cabeça de todos os movimentos religiosos da época (vv. 11,12).

Observe algumas das características fundamentais da besta: (1) ela recebe adoração, reverência
de todo o mundo, e, através desta reverência à besta, o dragão obtém adoração mundial, pela
qual havia anelado desde o momento em que disse, em eras remotas: “serei como Deus” (Is
14.14). Sua grande ambição é obter a adoração devida apenas ao Mais Elevado, e ele obtém isso
por um breve período antes do Senhor retornar em glória. (2) Observe as descrições
impressionantes dadas das características principais da besta, pelas quais “toda a terra se
maravilhou” dela e rendeu-lhe adoração. Ela teve uma “chaga mortal” que foi curada.

A besta foi1 alguém miraculosamente curado. E curado tão assombrosamente que “toda a terra se
maravilhou” e se curvou diante de tal evidência de poder sobrenatural. Isso mostra claramente
que o dragão é capaz de “curar” e falsificar a ressurreição do Senhor, e que o anticristo e o falso
profeta obterão seu poder sobre “todos os que habitam sobre a terra” inteiramente pelo poder
satânico. (3) A influência da besta foi exercida principalmente através do discurso; “falando
grandes coisas e blasfêmias”; ela blasfemou contra Deus, contra Seu nome, contra Seu
tabernáculo, contra os céus e os redimidos que habitam no céu. Que terrível descrição do estado
do mundo sob o governo do arcanjo caído, Satanás! Blasfêmias abertas contra Deus e contra
todos os que Lhe pertencem, penetrando através de “toda a tribo, e língua, e nação”. (4) À besta
foi permitido fazer guerra aos santos, para vencê-los e matá-los e, ao fazê-lo, ele aparentemente
se torna o mestre de toda terra habitada (v. 7).

3. O cordeiro falsificado e seus milagres

Na segunda besta, vemos uma descrição extraordinária de uma imitação sobrenatural da


verdadeira obra do Espírito Santo de Deus. Parece que o anticristo pode apenas obter e manter
seu poder sobre toda a terra por meio de uma falsa religião, com sinais dos céus para provar que
ela veio de Deus. A figura toda (vv. 11-18) é de uma imitação sobrenatural de realidades divinas
— não de apostasia intelectual — e de uma forma de divindade sem o poder.

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A segunda besta ressuscita na forma de um cordeiro, imitando Cristo, o verdadeiro Cordeiro de
Deus, apenas distinguível do verdadeiro por seu discurso, por seus ensinamentos e doutrinas. Ele
se parecia com um cordeiro, mas falava como um dragão (v. 11). Ele tinha poder equivalente ao
da primeira besta, com semelhante influência (v. 12), e foi totalmente devotado a induzir todos
os habitantes da terra a adorar o anticristo e, não vamos nos esquecer, tudo isto por trás do
anticristo, o dragão (v. 4).

Como o falso cordeiro obtém a “adoração”? (1) Ele fez “grandes sinais” (v. 13). (2) Ele fez
descer fogo do céu, não de baixo, mas do céu, no qual o príncipe do poder do ar vagueia à
vontade (v. 13). (3) Ele engana os habitantes da terra por meio de milagres (v. 14). (4) Ele estava
apto a dar vida a uma imagem da besta e induzi-la a falar (v. 15), mas tudo será forjado pelo
“poder” suprido pelo dragão.

4. Os santos vencedores no tempo do anticristo

E os cristãos verdadeiros? Não há exceções para esta reverência mundial à besta e para o dragão
por trás dela? Sim! Os santos do Calvário viram o poder por trás dos fatos, e recusaram-se a
adorar (v. 8). E qual foi o resultado? A besta tinha “poder para fazer com que todos os que não
adorassem (…) fossem mortos” (v. 15).

Aqui há um vislumbre do poder do dragão para matar os santos que se recusam a reverenciá-lo.
E posteriormente, “faz que a todos (…) lhes seja posto um sinal (…) para que ninguém possa
comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal” (vv. 16, 17). Isso foi para subjugar pela fome
aqueles que não adorassem. No mundo ímpio, podemos ver o crescente trabalho de espíritos
anticristãos blasfemando contra Deus, e no mundo religioso, espíritos anticristãos imitando
Cristo e fazendo grandes maravilhas.
Diante deste quadro panorâmico dos dias vindouros, e do inegável fato de que já estamos na
preparação mundial para sua plena manifestação, a grande questão para a Igreja agora é: “O que
esperamos de Deus em tal tempo?” As Escrituras nos mostram Deus fazendo “sinais e prodígios”
em competição com as “imitações” que o espírito do anticristo e do falso profeta já está fazendo
na terra? Ou a figura enfatiza que o único poder que capacitará os santos a permanecer nos dias
maus é o conhecimento da cruz, e que o único caminho para eles é o caminho da cruz?

5. Os santos do Calvário antes e durante o reinado da besta

“Todos (…) adoraram-na, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida, do Cordeiro
morto desde a fundação do mundo” (v. 8). O quadro é de todos os habitantes da terra dando ao
dragão adoração, exceto, em toda a terra, dos santos do Calvário, aqueles que sustiveram a única
verdade do Cordeiro morto, e aqueles que preferem morrer por Ele a render um ato sequer de
adoração ao dragão (Ap 12.11). Isso não se parece com Deus vindo com sinais e prodígios para
combater os imitações de Satanás. Antes, isto está na linha dos princípios da obra de Deus
descritos pelo Senhor. “E nenhum sinal lhes será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mt 16.1-
4). “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do
homem três dias e noites no seio da terra” (12.38-40). O único sinal que Deus deu aos judeus que
pediram a Cristo um “sinal do céu” foi sua morte no Calvário, e o grande sinal que haverá Dele
nos dias do anticristo será Seu testemunho da morte resgatadora de Seu Filho por meio daqueles
que partilham do Espírito de Cristo, sacrificando a própria vida por Ele.

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Isso parece confirmado também em Apocalipse 20.4-6. Aqueles que “viveram e reinaram com
Cristo durante mil anos” eram aqueles que tinham sido mortos por seu testemunho do Cordeiro
morto e por manter a Palavra de Deus, e eram estes os que não adoraram a besta nem receberam
sua marca para poder comprar e vender e, então, viver. Pelo fato de todas essas condições
estarem presentes na terra, parece claro que não há promessa para os últimos dias de movimentos
de “sinais e prodígios” dados por Deus, nem mesmo de um ajuntamento rápido de multidões de
almas para Cristo. Mas haverá movimentos mundiais permitidos pelo príncipe do poder do ar
quando o evangelho da cruz será omitido ou obras fraudulentas de espíritos do anticristo visando
a encobrir a mensagem da cruz em seu pleno poder. Tampouco há base alguma para esperar por
um triunfo visível dos santos vencedores, pois “foi-lhe [à besta] permitido fazer guerra contra os
santos e vencê-los” (Ap 13.7).

6. O conhecimento da cruz é necessário nos últimos dias

“O Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). É surpreendente encontrar essa
declaração no meio do manifestado reinado do anticristo sobre o mundo. A expressão engloba
toda a obra de Cristo no Calvário, como o Cordeiro que morreu por aqueles cujo nome está no
Seu livro da vida. A única necessidade para os filhos de Deus no tempo do fim é conhecer, em
toda a sua plenitude, o significado da cruz, para usar isso como uma arma de vitória sobre o
dragão em todos os seus vários ataques contra o povo de Deus.

7. Como distinguir o verdadeiro poder do falso

Não há também “obras elevadas”, “curas” de Deus e “milagres” feitos por Ele? Seguramente há,
mas a diferença entre as obras forjadas do anticristo e a obra do Espírito Santo é que o
verdadeiro poder de Deus invariavelmente alcança a alma via Calvário, não por meio de
espetacular “competição” com os prodígios prenunciados dos espíritos de Satanás, de modo que
o mundo espectador dos homens não pode distinguir o falso do verdadeiro, mas numa profunda
aplicação trabalhada interiormente, pela palavra da cruz como o poder de Deus, pelo Espírito de
Deus, por meio do qual o crente é liberto, não apenas do poder do pecado, mas também é-lhe
dado conhecer, em sua carne mortal, a vida pela qual Jesus venceu a morte em toda a força do
seu poder.

Os “milagres” de Deus não são sempre externamente cumpridos, mas trabalhados no íntimo do
espírito do homem via Calvário. Mais profundo e mais pleno do que qualquer cura do corpo é a
maravilhosa obra de Deus, pela qual “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” vivifica
o corpo mortal (Rm 8.11) do crente, tanto que ele é “entregue à morte diariamente por causa de
Jesus” (2Co 4.10-12).

“Por seus frutos o conhecereis”, disse o Senhor a seus discípulos, pois o fruto, como resultado da
vida interior, revela a origem oculta de ação. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará
no reino dos céus (…) muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em
teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas
maravilhas?” (Mt 7.15-23). Os feiticeiros no Egito, trabalhando pelo poder de Satanás, puderam
produzir “sangue” falso (Êx 7.22) e o inimigo sutil é capaz de introduzir seus “prodígios” sob
uma imitação do “sangue do Cordeiro”, como visões do “sangue” cobrindo a alma, e “rios de
sangue” enchendo uma sala. Mas o sangue do Senhor Jesus Cristo fala nos céus no trono de
misericórdia, e não tem forma material em sua aplicação para o crente.

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“Os discípulos chegaram-se a Ele, em particular, e lhe pediram: Dize-nos (…) que sinal haverá
(…) da consumação do século. E ele lhes respondeu, dizendo: porque surgirão falsos cristos e
falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos”
(Mt 24.3,24). Ele não diz que enganar os eleitos não é possível, mas, sim, que o propósito do
impostor é alcançá-los.

“Vede que vo-lo tenho predito”, disse o Mestre, mostrando claramente que é através de “sinais e
prodígios” que o perigo virá aos sinceros filhos de Deus, num tempo em que anormalidades
serão abundantes, e em que o amor esfriará de muitos. Nestes dias perigosos vamos vigiar e ser
sóbrios (1Ts 5.6; 1Pe 4.7).

1No original, o verbo está no passado, provavelmente para concordar com os verbos em
Apocalipse, todos sempre no passado. (N.E.)
(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial 4, publicada por CCC Edições, abril de 2002)

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