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LANÇA EM PUNHO:

AS PALAVRAS DE AIMÉ CÉSAIRE

A palavra de Aimé Césaire, bela como o oxigênio que nasce.

André Breton
*

Literatura, dirão?
Especulação intelectual?
(...) Mas nem a literatura, nem a especulação
intelectual são inocentes ou inofensivas.
Aimé Césaire, “Discurso sobre a Negritude”

As palavras de Aimé Césaire possuem a virtude de alterar a face das coisas ao seu

redor. Ao contrário de certa doutrina segundo a qual as palavras em nossa época estão

destituídas de força, perdidas num mundo tomado por imagens e afastadas do seu

referencial, em presença deste que talvez tenha sido o poeta mais estranho e

necessário do século XX, as palavras são atos, ações, poderes. Não nos deixemos levar

pelas aparências: o logos não civiliza. Muito mais do que lógica, a palavra de Césaire é

instrumento para a fraternidade entre os homens e uma autêntica arma de insurretos.

Mas atenção: estas são as palavras daqueles que tiveram sua voz saqueada, apagada e

domesticada ao longo da história. Este poeta só pôde aceitar como suas as palavras

que ele mesmo roubou de volta, as que ele mesmo forjou para saquear velhos templos

da cultura ocidental, para invadir a gramática do colonizador, para atravessar seus

próprios mundos em busca da “terra natal”.

Não é raro encontrar em sua obra palavras do mundo inteiro, ampliando o idioma

francês para além de suas fronteiras. Palavras modernas e antigas, neologismos,

palavras latinas, crioulas, árabes, banto, caraíbas, botânicas. Em seu vocabulário


específico e inigualável, parece que estamos diante de um mundo inteiramente novo.

“Ao nomear os objetos, é um mundo encantado, um mundo de monstros, que faço

surgir sobre as cinzas mal diferenciadas do mundo; um mundo de potências que eu

trago à tona, que eu invoco e convoco” 1. Sobre a poesia e (sendo ele) também sobre a

palavra, Césaire diz: “Surgida do vazio interior, como um vulcão que emerge do caos

primitivo, ela é nosso lugar de força; a situação eminente de onde se soma; magia;

magia”2.

No caso do Discurso sobre o colonialismo, um texto que sacudiu o mundo na época de

sua aparição, trata-se de uma tomada de postura não apenas de seu autor, mas de

todo o mundo colonizado em prol de sua emancipação. Ali, o dedo é apontado para o

verdadeiro responsável pelos problemas mais críticos do mundo, retirando dos povos

explorados todo o complexo de culpa que havia sido inculcado pelos teóricos do

racismo. É bom lembrar que, na primeira metade do século, ainda era vigente a

doutrina liberal-darwinista segundo a qual os povos “inferiores” mereciam ser

explorados pelos povos “superiores”. Ao dizer: “A Europa é indefensável”, Césaire faz

uma mudança de parâmetros e demonstra ponto por ponto, no lugar certo e na hora

certa, que aquela estrutura estava ultrapassada e que sua superação era urgente. Tudo

isso poderia parecer um exagero retórico, não estivesse o Discurso na base de todo o

processo de descolonização do continente africano e da grande maioria das colônias

europeias ainda sobreviventes nos anos 1950, 60, 70 e mesmo na luta contra o

Apartheid nos anos 80 e 90.

1 Césaire, 2007, p. 5. (Todas as citações cujos originais estão em francês foram traduzidas pelo
prefaciador).

2 Idem, p. 6.
Serão de Césaire, portanto, as palavras que ele mesmo envenenou contra as

iniquidades do mundo, as que ele mesmo lavou com as ervas de seus ancestrais.

Apareçam na forma de poemas, de ensaios historiográficos, de discursos contra a

opressão, estejam elas na voz de atores em suas peças teatrais ou mesmo em diálogos

amigáveis (suas entrevistas), elas são sempre entidades pulsantes, nunca ingênuas.

André Breton foi um dos primeiros a notar que “da mais simples à mais rara, todas as

palavras passadas por sua língua estavam nuas”3. Seus poemas, mesmo as

homenagens aos amigos nunca soam a discursos laudatórios. São urros, uivos. Suas

palavras, mesmo as de afeto, são gritos de protesto, apelos pela liberdade humana.

Não se passa impunemente pelas palavras de Aimé Césaire, suas “armas miraculosas”,

suas “ferramentas”4. “Não é uma obra de arte o que eu quis fazer, eu estava num

combate e usava todas as armas possíveis. O combate não era apenas um assunto

intelectual”5. É essa consciência da força de suas palavras, essa coragem de se

contrapor a todo sistema usurário, seja da esquerda ou da direita, das bases do

capitalismo ocidental ou mesmo aqueles que surgem dentro das próprias revoluções, é

essa rebeldia, essa consciência de que suas ações de intelectual produzem de fato uma

mudança no mundo, tudo isso faz Aimé Césaire um escritor imprescindível nesta

segunda década do século XXI.

**

3 No Cahier, p. 79.

4 Les armes miraculeuses e Ferrements, dois de seus livros de poesia.

5 Louis, 2003, p. 53.


Senghor diz que fui eu que inventei a palavra Negritude.
Não é verdade. Talvez eu a tenha escrito primeiro, mas o
certo é que ela é fruto de uma criação coletiva. O
conceito de Negritude para mim nunca foi uma
ideologia. É, antes de tudo, uma metodologia. Através da
Negritude, eu procurava a presença africana na
Martinica. (...) A Negritude foi para mim uma verdadeira
revolução copernicana.

Aimé Césaire6

A palavra Negritude aparece escrita pela primeira vez em 1935 no artigo de Césaire

intitulado “Nègreries: jeunesse noire et assimilation” [Negrarias: juventude negra e

assimilação] e publicado em Paris no número 1 do jornal l’Étudiant Noir, criado por ele

mesmo e seus colegas do Lycée Louis-le-Grand.

(...) queremos explorar os nossos próprios valores, conhecer os


nossos próprios valores, conhecer as nossas forças por experiência
pessoal, cavar a nossa própria profundeza, as fontes eruptivas do
humano universal, romper a mecânica identificação das raças, rasgar
os superficiais valores, abarcar em nós o negro imediato, plantar a
nossa Negritude como uma bela árvore até que ela traga os frutos
mais autênticos7.

O vocábulo estreado por Césaire surge inicialmente como reação ao assimilacionismo

existente nas colônias francesas como resposta a um sistema político opressor e

racista. Assimilação, para Césaire, significava, acima de tudo, querer ser (não ser:

querer ser) como o outro, aquele que detinha o poder. Nesta operação alienante, o

6 Citado em Louis, 2003. p. 96

7 Césaire citado em Louis, 2003. p. 42.


assimilado não era o europeu e sim o negro, habitante da maioria dessas colônias.

Canibalismo unilateral, servidão voluntária. Era preciso haver um soco em resposta.

“Essa palavra que nos lançavam, negro, nós a recolhemos” 8. A ideia da Negritude surge

como luz no fim do túnel de um mundo cuja semântica havia sido estrategicamente

estrangulada e desarticulada.

Ao lado de Césaire estavam também os poetas Léopold Sédar Senghor e Léon Gontram

Damas que, negros, numa cidade de brancos (a Paris dos anos 1930, onde tinham ido

completar os seus estudos), tentavam reconciliar-se com a sua própria identidade.

“Você sabe, não se é impunemente negro”, asserta Césaire, “seja você de cultura

francesa, seja você de cultura americana, há um fato essencial: saber que somos

negros e que isso conta. Eis aí a negritude”. Com esses poetas, encontravam-se ali três

visões da colonização. Três mestres da palavra. Três respostas a uma mesma opressão.

“Falando com Senghor da história da Martinica, percebi que muitas das coisas que me

surpreendiam na Martinica se esclareciam à luz do que ele me dizia [sobre o Senegal].

Você me entende? Minha africanidade inconsciente se revelava quando Senghor me

explicava as coisas”9.

A Negritude começa como um movimento literário. E na França dos anos 1930, foi no

Surrealismo que encontraram a melhor identificação estética. Não o fizeram sem dar às

ideias de André Breton uma cara própria. O Surrealismo permitia explorar o que há

para além ou abaixo das superfícies. Retirar camada por camada, imaginava Césaire, o

levaria às suas origens africanas. Ao explorar o que está por baixo da minha superfície,

“o que eu encontro? O Negro Essencial”. Césaire cantava, ao final dos anos 1930:

8 Citada no documentário Césaire: un nègre fondamental, TV5, 2007.

9 Césaire em entrevista a Patrice Louis em Louis, 2004, p. 25.


minha negritude não é uma pedra, sua surdez urrada
contra o clamor do dia
minha negritude não é uma belida de água morta sobre o olho
morto da terra
minha negritude não é nem uma torre nem uma catedral
ela mergulha na carne rubra do chão
ela mergulha na carne ardente do céu
ela perfura o acuamento opaco de sua firme paciência 10

O próprio André Breton assinaria mais tarde o prefácio do primeiro livro de Césaire, o

Cahier d’un retour au pays natal, depois de tomar contato com sua obra numa loja de

suvenires da Martinica. O autor do manifesto surrealista afirma ser esse “o maior

monumento lírico de seu tempo”, reconhece afinidades, procedimentos, confluências e

as qualidades de um grande poeta. “E é um Negro que maneja a língua francesa como

não há hoje um Branco para manejá-la”. Jean-Paul Sartre, falando de Césaire no

prefácio à Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française vai

mais além:

Reconhecemos o velho método surrealista (pois a escrita automática,


como o misticismo, é um método: ela supõe um aprendizado,
exercícios, um caminhar). É preciso mergulhar sob a casca superficial
da realidade, do senso comum, da razão raciocinante para tocar o
fundo da alma e revelar as potências imemoriais do desejo. Do desejo
que faz do homem uma recusa de tudo e um amor a tudo; do desejo,
negação radical das leis naturais e do possível apelo ao milagre; do
desejo que por sua louca energia cósmica mergulha de volta o

10 Trecho do Cahier d’un retour au pays natal, pp. 46-47. “ma négritude n'est pas une pierre, sa surdité
ruée/contre la clameur du jour/ma négritude n'est pas une taie d'eau morte sur l'oeil mort de la
terre/ma négritude n'est ni une tour ni une cathédrale/elle plonge dans la chair rouge du sol/elle plonge
dans la chair ardente du ciel/elle troue l'accablement opaque de sa droite patience.”
homem no seio borbulhante da Natureza e o faz aluno ao mesmo
tempo da Natureza por afirmação do Direito à insatisfação 11. (...)

Em Césaire, a grande tradição surrealista se acaba, toma seu sentido


definitivo e se destrói: o surrealismo, movimento poético europeu, é
roubado dos europeus por um negro que o volta contra eles e lhe
assinala uma função definida12.

Para melhor entender a Negritude (uma palavra perturbadora, diria Césaire), valeria a

pena seguir o pensamento de Léopold Sédar Senghor, que chamava os jovens de 1935

a “assumir os valores de civilização do mundo negro, atualizá-los e fecundá-los (...)

trazendo assim a contribuição dos negros novos à civilização do universal”. Tratava-se

de um movimento intelectualizado, poético, e com um programa de reconfiguração

dos sentidos e significados. Sartre chegou a elogiar um possível “racismo antirracismo”

presente nesses autores, mas talvez nem isso equivalesse com exatidão.

Você sabe que não é por ódio às outras raças


que me exijo servente dessa raça única
que o que quero é em prol da fome universal
em prol da sede universal”13.

O que esses poetas pretendiam era trazer à baila as verdadeiras contribuições da África

Negra e da diáspora ao mundo contemporâneo, no mesmo nível em que se discutia os

grandes autores do mundo ocidental. Onde o modernismo europeu via exotismo, eles

apontavam para autenticidade e originalidade. Não se tratava de criar um mundo dos

negros: mais que isso, era urgente lançar uma pedra fundamental que apontasse para

11 Sartre, 2008, p. XXV.

12 Idem, p. XXVIII

13 Cahier, p. 50.
o papel do homem negro na civilização universal. “O universal, com certeza, mas não

por negação, mas como aprofundamento de nossa própria singularidade”14.

Depois dos anos 1930, as movimentações da Negritude tomam outros aspectos,

primeiro com seus autores mergulhados nas suas culturas originárias. Em seguida, na

política: sem abandonar nunca a escrita, Césaire e o guianense Damas são eleitos

deputados, Césaire passa a ser também o prefeito de Fort-de-France, capital da

Martinica, num mandato que vai de 1945 a 2001 e Senghor, a partir de 1960, se torna

presidente e governa o Senegal por vinte anos. Finalmente, a Negritude aparece como

o pano de fundo das lutas pela emancipação dos países africanos ao longo dos anos

1950, 60 e 70 e é evocada por rebeldes negros e não-negros de todo o mundo.

“Quando falo Negritude”, é Césaire quem diz, “é precisamente para responder aos

racistas. Eles dizem ‘Negro!’ e eu respondo: ‘sim, sou Negro, não repita. Eu sei que isso

te incomoda’”15. Ao contrário da estranha tentativa de higienizar a linguagem para não

ter que higienizar as consciências (ao contrário do politicamente correto), a Negritude,

com sua pesquisa identitária, com suas lutas para compreender quem somos, de onde

viemos, é um elemento de união entre pessoas que, outrora sem voz, agora possuem

não apenas o direito mas também o poder de dançar, de cantar, de denunciar, de fazer

parte do grande coro do planeta. Onde o politicamente correto parece querer dizer

“não” (não me humilhe, não me atinja), onde ele parece partir de uma premissa

negativa operando um esvaziamento das palavras, a Negritude de Césaire e de Senghor

baseia-se num enorme sim. E convida até mesmo pessoas não negras a retirar suas

14 “Discurso sobre a negritude”, incluído nesta publicação, p. %$

15 No Documentário da TV5
camadas superficiais e encontrar lá no fundo sua africanidade inconsciente como quem

diz: vamos adiante, quem quiser que nos acompanhe. E Senghor responde:

Minha negritude não é sono da raça ela é sol do espírito, minha


negritude visão & vida
Minha negritude é enxada na mão, lança em punho
Cetro-recado. Não é questão de beber de comer o instante que passa
Pouco importa se me enterneço sobre as rosas do Cabo Verde!
Minha tarefa é a de despertar o meu povo aos futuros flamejantes
Minha alegria de criar imagens para nutri-lo, oh luminosidades
ritmadas da Palavra!16

***

O que doravante chamamos de poesia: essa força que


diante do que é inteiramente fato, do que é inteiramente
achado na existência e no indivíduo, opõe o por fazer-se
da vida e da pessoa; ou ainda, de maneira mais analítica,
o sistema generalizado de inadaptação que tende a
substituir a alucinação à sensação, o ilógico ao lógico, a
imagem à razão, o arbitrário ao provado, a
descontinuidade de instantes presentes à continuidade
da memória cega. Aqui, poesia se iguala a insurreição.
Aimé Césaire, Tropiques nº 8-917

16 Léopold Sédar Senghor, “Élegie des Alizés” em Senghor, 1989.

17 Citado em Louis, 2003, p. 120.


Nas primeiras décadas de vida, Césaire se sentia mal em seu próprio país: “(...)

rapidamente, eu me senti sozinho e desorientado, incomodado. Tinha amigos muito

queridos, mas a vida martinicana não me agradava” 18. Se indispunha principalmente

contra o clima de assimilacionismo dos anos 1920, uma tendência social e política que

ele reconhecia em todo o povo da ilha e que era defendida pelo próprio Partido

Comunista Martinicano. A ação mais constante de Césaire em seus 94 anos de rebeldia

seria, pois, esta: a da luta contra a assimilação. “Há duas maneiras de se perder: por

segregação amadurecida no particular ou por diluição no ‘universal’”, escreveria a

Maurice Thorez em meados dos anos 1950. Tratava-se de uma luta acirrada, na qual

não via saída: de um lado, o opressor regime francês com seu sistema espoliatório, de

outro, o próprio cidadão clamando por ser assimilado pelo colonizador. Ele protestaria:

Um dia, o negro colocou a gravata do branco, pegou um chapéu coco,


se arrumou e saiu dando risada... Estava apenas brincando, mas o
negro se deixou cair na brincadeira; se habituou tão bem à gravata e
ao chapéu coco que acabou por acreditar que ele sempre o havia
usado: fez troça de quem não usava e renegou seu pai que tem por
nome Espírito da Savana... é um pouco a história do negro do pré-
guerra que não é senão o negro de antes da razão. Foi colocado na
escola dos Brancos, quis se tornar “outro”, quis ser “assimilado” 19.

A doutrina do assimilacionismo era, para Césaire, uma face da servidão. Nada podia

haver de pior. Além disso, não identificava uma vida cultural autônoma propriamente

martinicana. Contraditoriamente, a reencontra em suas andanças pela Europa, nas

18 Em Louis, 2004.

19 Em “Nègreries: jeunesse noire et assimilation”. L’étudiant noir, 1935 em Louis, 2003, p. 42.
conversas com amigos, nas páginas da história francesa e na própria geografia

europeia.

Numa de suas entrevistas, Césaire narra a seguinte cena, que remonta ao momento de

criação de seu primeiro grande poema: em visita a Petar Guberina 20, na Iugoslávia, ele

pergunta o nome da ilha que via da janela do quarto em que ficaria hospedado.

“Martiniska”, responde o amigo, “mas traduzido em francês significa Saint-Martin: é a

Martinica!” Césaire manifesta grande surpresa: “Eu vou para a Iugoslávia e o que é que

eu descubro? A Martinica, onde eu não pisava havia cinco anos. Naquela mesma noite,

eu escrevo Cahier d’un retour au pays natal [Caderno de um retorno à terra natal]”21.

E eu procuro para o meu país não corações de tâmara, mas corações


de homem que é para entrar nas cidades de prata pela grande porta
trapezoidal, que bombeiem o sangue viril e meus olhos limpem meus
quilômetros quadrados de terra paterna e eu enumere as feridas com
uma espécie de alegria e as empilhe uma a uma como espécies raras
e meus cálculos se alonguem sempre com imprevistas cunhagens da
baixeza.22

Seu poema mais longo se tornou também o mais célebre. Repleto de insights e

investigações a respeito de sua africanidade, é um dos principais manifestos da

Negritude: “A velha negritude/progressivamente se cadaveriza/o horizonte se desfaz,

recua e se alarga//e aqui está, entre as nuvens rasgadas o fulgurar de um signo” 23.

20 Petar Guberina, colega de Césaire no Louis-le-Grand, prefacearia a edição de 1956 do Cahier.

21 Em Louis, 2004.

22 Et je cherche pour mon pays non de coeurs de datte, mais de coeurs d'homme qui c'est pour entrer
aux villes d'argent par la grand'porte trapézoïdale, qu'ils battent le sang viril, et mes yeux balayent mes
kilomètres carrés de terre paternelle et je dénombre les plaies avec une sorte d'allégresse et je les
entasse l'une sur l'autre comme rares espèces, et mon compte s'allonge toujours d'imprévus
monnayages de la bassesse.. Cahier d‘un retour au pays natal, p. 58
Às vezes reminiscente, às vezes exortativo, às vezes mordaz, às vezes no mais

apavorante tom de furor, o poema é o tormentoso testemunho de um homem

inconformado. A redescoberta de seu próprio país, de seu próprio povo. Um povo do

qual não via motivos de se orgulhar. “Aqueles que se cobrem de pseudomorfose

orgulhosa, aqueles que dizem à Europa: ‘Vejam, sei me curvar como vocês, não sou

diferente de vocês; não prestem atenção na minha pele negra: foi o sol que me

queimou’”24. Mas, também, povo no qual conseguia entrever o homem universal.

“Ouço o clamor do aço, o atabaque em meio à savana, o templo orar em meio às

vestes. E eu sei que é o homem que fala. Ainda e sempre, e eu escuto” 25.

André Breton percebeu-o bem:

Por detrás dessa ramagem, há a miséria do povo colonial, sua


exploração desavergonhada por parte de um punhado de parasitas
que desafiam até as leis do país de onde vieram e não encontram
nenhum problema em desonrá-lo (...). Por detrás disso ainda, a
poucas gerações de distância, há a escravidão e aqui a ferida se
reabre, ela se reabre com toda a grandeza da África perdida, da
lembrança ancestral dos abomináveis tratamentos sofridos, da
consciência de uma negação de justiça monstruosa e para sempre
irreparável da qual toda uma coletividade foi vítima 26.

Mas Césaire não proclama nenhuma vitimização. “Nós somos daqueles que dizem não

às sombras”. As vozes, os olhares que habitam o Cahier, são os dos homens que

23 La vieille negritude/progressivement se cadavérise/l'horizon se défait, recule et s'élargit//et voici


parmi des déchirements de nuages la fulgurance d'un signe. Cahier d’un retour au pays natal, p. 60.

24 Cahier d’un retour au pays natal, p. 59.

25 Em Louis, 2003, p. 149.

26 Anexo ao Cahier d’un retour au pays natal, p. 84.


permanecem de pé. “E nós estamos de pé agora, minha terra e eu, o cabelo ao vento”.

Jean-Paul Sartre, eufórico ao ler a poesia da Negritude, comenta: “Eis aqui homens

negros de pé que nos olham e eu faço votos de que vocês também sintam como eu o

assalto de estar sendo vistos”. O olhar poderoso daquele que foi oprimido, perfura a

alma do branco europeu: “Hoje, esses homens negros nos olham e nosso olhar retorna

para dentro de nossos olhos”27, comenta ainda o filósofo.

Ela está de pé, a negrada

a negrada assentada
inesperadamente de pé
de pé no porão
de pé nas cabines
de pé sobre a ponte
de pé ao vento
de pé sob o sol
de pé no sangue

de pé
e
livre28

Em última análise, é possível ler o Caderno de um retorno à terra natal como o grande

manifesto contra a assimilação. Já estão presentes ali, como numa espécie de

premonição, todas as lutas levadas ao longo da longa vida de seu autor. No poema

inaugural de Césaire, já se encontra o que ele diria mais tarde no Discurso sobre o

27 Sartre, 2008, p. IX.

28 Et elle est debout la négraille/la négraille assise/inattendument debout/debout dans la cale/debout


dans les cabines/debout sur le pont/debout dans le vent/debout sous le soleil/debout dans le
sang//debout et libre. Cahier, p. 61-62.
colonialismo, nos protestos de suas tragédias, nos questionamentos lançados em seu

ensaio sobre Toussaint Louverture, na sua atuação como político no parlamento

francês, nas lutas pela emancipação dos povos colonizados, na poesia que escreveu ao

longo das décadas seguintes, enfim. O Caderno é um poema fundador, e é hoje leitura

obrigatória em todo o mundo negro. Não porque seu autor pretendesse fazer parte de

algum panteão literário, mas por sua incontestável rebeldia: “Não quero fazer literatura

tradicional. Eu escrevo poemas à minha maneira porque era preciso dizer não a todo

um mundo europeu, um mundo de assimilação”, confessaria, em 2003, ao jornalista

Patrice Louis29.

****

Eu falo e, atacando a base deles opressão e servidão, eu torno

possível, pela primeira vez, a fraternidade30.

Aimé Césaire, Une saison au Congo.

Para Aimé Césaire, tomar as coisas pela raiz passa por estar atento aos limites da

linguagem. Não apenas usá-la bem, mas saber até onde ela vai, até onde ela deixa de

ser verbo e se transforma em gesto. É preciso também conhecer o seu reverso e não se

deixar cair no engano a que as palavras levam. Tampouco cair numa paixão cega pelas

ideias primeiras. Estar atento à micropolítica que envolve a palavra falada e a palavra

29 Em Louis, 2003, pp. 39-40.

30 Césaire. Une saison au Congo


escrita, captando o momento exato em que um vocábulo perde o sentido, a

importância e, principalmente, quando deixa de ser necessário.

Ao entrar para a política, eleito em 1945 pelo Partido Comunista Martinicano, Césaire

passa a assumir e a defender com ardor o projeto da assimilação até conquistá-lo,

ponto por ponto, ao longo das décadas seguintes. Contradição? Ele mesmo responde:

Havia então uma aspiração bem popularizada, generalizada [na


Martinica]: se tornar um departamento francês. Era quase um mito. E
eu, com minha abertura rumo à África, rumo à cultura do povo, eu
estava – devo dizer – confuso, um pouco chocado.

Neste caminho, o programa do Partido Comunista parecia mesmo incontornável.

Refleti um momento e, finalmente, cedi. Por que eu cedi? Porque


pensando melhor, compreendi que não deveria cair no jogo das
palavras. Há as palavras, e o que há por detrás das palavras. Eu havia
aprendido a conhecer melhor o povo, o povo das periferias, o povo
dos bairros pobres, e compreendi que, na realidade, estávamos
iludidos por uma incompreensão, e que a palavra “assimilação”, em
realidade não significava assimilação. Assimilação é se tornar
semelhante; mas eu me dizia que, para nós, martinicanos, filhos de
netos de africanos, essa assimilação era uma alienação. E eu não
podia ser a favor da alienação. Era, na verdade, um erro de
vocabulário. O que as pessoas queriam realmente, não era se tornar
outro; o que eles queriam era a igualdade para com os franceses.
Portanto, falar de assimilação era usar impropriamente o termo – o
que é muito comum. Então eu disse [aos homens do partido
comunista]: “Bem, de acordo, vou pedir o que vocês chamam de
assimilação, mas que eu chamo de departamentalização” 31.

31 Louis, 2003, p. 52.


A escolha do termo departamentalização era uma maneira de finalmente vencer o

assimilacionismo que vinha sendo discutido havia décadas nas Antilhas e nas outras

colônias francesas. Mas as coisas não são tão fáceis. Embora a Departamentalização da

Martinica date de 1946, a discussão duraria décadas nas sessões da Assemblée

Nationale e nos palanques de Fort-de-France. Em todo caso, a luta contra a assimilação

(ou seja, a alienação, a diluição ou mesmo a perda de coletividades inteiras ali nos

primórdios da globalização) continua, mas muda de foco.

É nesse contexto que surge o Discurso sobre o colonialismo. Escrito no final dos anos

1940 e publicado pela primeira vez em 1950, o Discurso possui uma base marxista.

Fala-se em proletariado, luta de classes, materialismo histórico. A todo instante,

Césaire parece estar buscando um socialismo que inclua também o homem negro. O

Discurso sobre o colonialismo é a voz de um mundo que o homem ocidental

desconhecia, para o qual propositalmente fechava (fecha?) os olhos. Não apenas revela

o que ocorre nas terras coloniais, mas mostra ao colonizador o Hitler que ele guarda

em si mesmo. Impiedosamente, coloca o dedo em cada ferida, expondo as estruturas

políticas, sociais e mesmo psicológicas de uma sociedade burguesa que, apegada a seu

conforto, pedia o seu Hitler.

Sim, valeria a pena (...) revelar ao mui distinto, ao mui humanista, ao


mui cristão burguês do século XX que ele traz em si um Hitler que
ignora a si mesmo (...) e que, no fundo, o que ele não perdoa em
Hitler não é o crime em si, o crime contra o homem, não é a
humilhação do homem em si, é o crime contra o homem branco, é a
humilhação do homem branco e o fato de ele ter aplicado na Europa
procedimentos colonialistas que só haviam sido utilizados até então
nos árabes da Argélia, nos coolies da Índia e nos negros da África 32.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Europa, que tentava se reconstruir e se refazer

dos horrores do nazismo, estava aos destroços. Atacar a base nesse momento era

conquistar, por todas as armas possíveis, o fim do sistema colonial, o fim do

imperialismo europeu. Enquanto nos países dependentes começava uma franca

mobilização pela emancipação e pela igualdade, Césaire se empenhava em conhecer e

expor ao mundo, em seus mínimos detalhes, os elementos históricos que mantinham

presa ainda a velha corrente.

Sobre o tema do colonialismo, Césaire escreveria também Toussaint Louverture, la

révolution française et le problème colonial, um estudo sobre a revolução

independentista do Haiti, caso único nas Américas, com seus ecos da queda da Bastilha

e demonstrando várias facetas do sistema colonial, incluindo a do colonizado.

Colônia francesa desde o século XVII, o Haiti havia sido tomado da Espanha por volta

de 1625 e corresponde à parte ocidental do território de São Domingo (hoje a ilha é

divida entre a República Dominicana e o Haiti). Sua principal atividade econômica era a

cana-de-açúcar e era a mais próspera de todas as colônias europeias. Já

completamente despovoada de seus indígenas, a ilha tinha sido incrementada de

escravos trazidos da África especialmente para trabalhar nas lavouras.

A partir do século XVIII, porém, a ilha assistiu a algumas tentativas frustradas de

independência. E esta só se deu de fato no dia 1º de janeiro de 1803, quando, após o

32 Discurso sobre o colonialismo, p. #$


que ficou conhecido como “revolta de São Domingo”, o general e ex-escravo Gonaïves

Dessaline pronunciou a declaração de independência. Havia sido difícil, mas os

escravos que habitavam a ilha, liderados pelo negro Toussaint Louverture, depois de

haver lutado por mais de uma década (entre 1791 e 1803) conquistavam enfim a sua

liberdade, a expulsão do colonizador e, principalmente, o fim da escravidão. O “Haiti

onde a Negritude se pôs de pé pela primeira vez e disse que acreditava em sua

humanidade”33. Segundo Césaire:

Esperar a abolição da escravatura num gesto espontâneo da


burguesia francesa, sob pretexto de que essa abolição estava na
lógica da Revolução e mais precisamente da Declaração dos Direitos
do Homem, era, no mínimo, desconhecer que sua própria tarefa
histórica, a revolução burguesa ela mesma, a burguesia só a havia
cumprido porque estava acossada pelo povo e com a espada nos rins.
O surpreendente é que as massas negras tenham tão rapidamente
entendido que não havia nada a esperar de Paris e que eles não
teriam em definitivo senão o que eles tivessem a coragem de
conquistar34.

Instados pelos ideais franceses de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os rebeldes

foram chamados de “jacobinos negros” e a comparação com a revolução francesa foi

inevitável. Mesmo porque seu discurso vinha eivado de palavras de ordem dos

revoltosos franceses. Ao conquistar sua independência, o Haiti se tornou uma

república, não sem algumas crises internas e, durante algum tempo, uma divisão em

dois, com um presidente da república (Pétion) e um rei (Henri Christophe), ambos

33 “Haïti où la négritude se mit debout pour la première fois et dit qu'elle croyait à son humanité”. No
Cahier d’un retour au pays natal, p. 24

34 Césaire, 2004, p. 171


tendo tomado parte na rebelião. Quanto a Toussaint Louverture, acabaria aprisionado

na França, sendo interrogado todos os dias e morto de pneumonia em meio à solidão

do cárcere35.

Césaire demonstra, entretanto, que, supor que a revolução francesa era possível em

uma colônia como o Haiti seria ir com demasiada pressa ao ponto. Uma coisa é uma

revolução surgida em meio a uma população que possui cada vez mais poder

econômico, como era o caso da ascensão da burguesia na Europa. Outra era a

insurgência de um povo saído da mais baixa condição de assujeitamento, talvez a pior

já ocorrida na história da humanidade 36 rumo ao comando do Estado. O resultado

desse contraste foi exatamente o que se viu (e se vê ainda hoje): um país rodeado de

todo tipo de bloqueios diplomáticos, não importando se quem bloqueia possui

orientação esquerdista ou capitalista, pobre ou rico.

Logo se perceberá que o foco assimilacionista pode estar em qualquer lado da mesa. O

insurgente corre o risco de enganar-se por suas vitórias aparentes e perder o foco

naquilo que continuará oprimindo-o (como no caso do Haiti). O cidadão comum,

desinteressado da política, tende a querer imitar aquele que se mostra em melhor

posição na escala social (é o negro com chapéu coco e gravata dos anos 1930). Algo

parecido com isto ocorre quando, em certas ocasiões, o insurgente chega ao poder

num mundo não totalmente reconvertido em favor dos novos vencedores (é o tema de

sua peça La tragédie du roi Christophe e o que acabou ocorrendo em diversas ex-

35 Wordsworth, poeta do romantismo inglês, tocado pela história dos últimos dias do herói, escreveria
um poema “To Toussaint Louverture”. Louverture foi também o tema de uma famosa peça teatral do
romantismo francês, Toussaint Louverture, de Alphonse de Lamartine.

36 Leia-se a esse respeito o livro Os jacobinos negros: Toussaint Louverture e a revolução de São
Domingos de C. L. R. James.
colônias depois de suas emancipações). Por fim, a alienação política pode aparecer

como o fantasma mais visível do assimilacionismo.

Durante muito tempo se falou em alienação em contraposição à consciência política,

convocando -se uma resposta socialista. A operação mistificadora: socialismo oposto a

alienação. Porém, em 1956, Césaire demonstra encontrar facetas dessa alienação no

próprio Partido Comunista. Qualquer semelhança com Discurso sobre o colonialismo

não é mera coincidência:

A colheita foi particularmente rica nesse últimos tempos e as


revelações de Krutchev sobre Stalin são tais que mergulharam, ao
menos é o que eu espero, todos os que (...) participaram da ação
comunista num abismo de estupor, de dor, e de vergonha.

Sim, esses mortos, esses torturados, esses supliciados, nem as


reabilitações póstumas, nem os funerais nacionais, nem os discursos
oficiais prevalecerão contra eles. (...)

De agora em diante, seus rostos aparecem em filigrana na própria


massa do sistema, como a obsessão de nossa derrota e de nossa
humilhação37.

Nesta carta, onde Césaire pede demissão do Partido Comunista, ele mantém claro que

sua postura é contra um regime de opressão e não contra a doutrina marxista. Que ela

é contra o assimilacionismo, ou seja: contra o desaparecimento do homem no meio da

multidão.

Creio haver dito suficientemente para fazer compreender que não é


nem o marxismo nem o comunismo que eu renego, que é o uso que
alguns fizeram do marxismo e do comunismo que eu reprovo. Que o

37 Lettre à Maurice Thorez, 1956.


que eu quero, é que o comunismo e o marxismo sejam postos a
serviço dos povos negros, e não os povos negros a serviço do
marxismo e do comunismo. Que a doutrina e o movimento sejam
feitos para os homens, não os homens para a doutrina e para o
movimento. (...) Que nenhuma doutrina é válida se não for repensada
para nós, convertida a nós.

Por fim, as ideias que ele mesmo defendeu correm o risco de surgir como elemento de

alienação, mergulhadas nas vaidades próprias dos ambientes de especulação

intelectual. Esse parece ser o recado do “Discurso sobre a Negritude”, proferido nos

anos 1980 em Miami e incluído nesta edição.

Retomando a ideia inicial da Negritude, procurar a africanidade oculta em cada um

para trazer à tona “o conjunto de valores de civilização do povo negro”: pode ser válido

lembrar o momento em que Césaire evoca a ontologia banto no Discurso sobre o

colonialismo. Usa-a para criticar a maneira como ela é explorada pelos belgas no

Congo. Dentro desta mesma ontologia, poderia também ter comentado que, para o

homem banto, ao fazermos parte de uma coletividade, fazemos também parte de um

mesmo organismo. E que a voz, as palavras (la parole), exercem um incrível efeito

sobre esse organismo. Esta talvez pudesse ser considerada a sua principal base política,

ética e estética, a que perpassa todas as suas palavras, a que tenha movido o cerne de

sua negritude. A que o faria dizer, por detrás do Discurso, as palavras do Rebelde,

personagem principal da peça Et les chiens se taisent: “Não há no mundo um sujeito

linchado, um homem torturado, em quem eu não seja assassinado e humilhado”38.

38 Em Et les chiens se taisent, p. 71


Bibliografia:

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Présence Africaine, 2004.

Césaire, Aimé. Cahier d’un retour au pays natal. Paris: Présence Africaine, 2004.

________. Discours sur le colonialisme. Paris: Présence Africaine, 2004.

________. Et les chiens se taisent. Paris: Présence Africaine, 2008.

________. La poésie. Paris: Seuil, 2007.

________. La tragédie du roi Christophe. Paris: Présence Africaine, 2002.

________. Toussaint Louverture: la révolution française et le problème colonial. Paris: Présence


Africaine, 2004.

________. Une tempête. Paris: Seuil, 2009.

Ferlinghetti, Lawrence. Poetry as insurgent art. New York: New Directions Books, 2007.

Gonçalves, Leonardo. “Antologia antilhana: um livro inventa o presente”. Revista Roda nº 6.


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Louis, Patrice. Aimé Césaire: rencontre avec um nègre fondamental. Paris: Arléa, 2004.

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Senghor, Léopold Sédar. Oeuvre poétique. Paris: Seuil, 1989.

________. La poésie de l’action: conversations avec Mohamed Aziza. Paris: Stock, 1980.

Yépez, Heriberto. Todo es otro: a la caza del lenguaje en tiempos light. Tijuana: Tierra Adentro,
2002.

Filmografia:

Aimé Césaire, un Nègre fondamental. Na coleção Empreintes. Documentário de François Fèvre.


Direção: Laurent Chevallier et Laurent Hasse (France, 2007). 55 min.

Cahier d’un retour au pays natal. Direção: Philippe Bérenger. (France, 2008). 69 min.

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