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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA


DO RIO GRANDE DO NORTE
CAMPUS NATAL - CENTRAL

HUGO BARROS AQUINO

MANUAL PARA A MANUFATURA DE RABECAS:

NATAL/RN
2017
2

HUGO BARROS AQUINO

MANUAL PARA A MANUFATURA DE RABECAS:

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso Técnico em Mecânica do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte, em cumprimento às
exigências legais como requisito parcial à
obtenção do título de Técnico em Mecânica.

Orientador: Dr. Roberto José Monteiro de


Souza

NATAL/RN
2017
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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:


A minha mãe e as segundas-feiras
maravilhosas que passei com ela durante este
período;
Ao meu tio Osmar e a minha tia Isabel que
me ajudaram tanto.
4

“Para mim é suficiente ter a certeza que tu e


eu existimos neste momento”.

Gabriel García Márquez


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RESUMO

A preservação dos símbolos culturais locais traz consigo a compreensão


histórica e social do povo que as produziu. Esse entendimento se faz cada vez
mais importante visto que o autoconhecimento é um passo inicial ao exercício
crítico. Observando que o processo, não mais recente, de globalização não
mostrou-se inclusivo às regiões periféricas do mundo, este trabalho tem o
intuito de resgatar um saber popular brasileiro - a construção das rabecas - que
continuamente vai se perdendo sem conseguir se reinserir às novas gerações.
O registro técnico da construção desse instrumento, tão adaptável aos recursos
acessíveis à sua fabricação, funcionará como um manual aos novos luthiers
que não possuem mestres para lhes ensinar este ofício. A divulgação deste
trabalho, não só fisicamente mas também virtualmente, terá um impacto
simbólico e direcional sobre o processo já citado de globalização, fazendo-nos
questionar sobre a forma como ela ocorre e ampliando nossos horizontes aos
novos caminhos que ela poderá tomar.

Palavras-chaves: Rabeca. Cultura Popular. Manufatura. Projeto.


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ABSTRACT

The preservation of local cultural symbols brings with it the historical and social
comprehension from people who produced them. This understanding becomes
increasingly important whereas the self knowledge is an initial step to the critical
exercise. Observing that the not latest process of globalization didn’t appear
inclusive to the peripheral regions of the world, this thesis intends to redeem a
brazilian popular knowledge - The construction of rabecas - that is continually
disappearing without being able to re-enter the new generations. The technical
record from the construction of this instrument, so adaptable to the accessible
resources in its fabrication, will work as a manual to new luthiers who hasn’t a
master to teach them this craft. The disclosure of this thesis, not only physically
but also virtually, will have a symbolic an directional impact over the
globalization, making us question about the way it happens and broaden our
horizons to the new ways it could take.

Keywords: Rabeca. Folk culture. Manufacture. Project.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 9

2. OBJETIVOS 11

2.1 OBJETIVO GERAL 11

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 12

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12

3.1 TIPOS DE MADEIRA 12

3.2 ORIGEM DA MADEIRA E REGULAMENTAÇÃO 13

3.3 PARTES DO INSTRUMENTO 13

4. FERRAMENTAS E MATERIAIS GERAIS 17

4.1 FERRAMENTAS 17

4.2 MATERIAIS GERAIS 17

5. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI’S) 17

6. CONFECÇÃO DAS PEÇAS 18

6.1 CONFECÇÃO DOS TAMPOS SUPERIOR E INFERIOR DA RABECA 18

6.2 CONFECÇÃO DO BRAÇO DA RABECA 20

6.3 CONFECÇÃO DAS PEÇAS INTERNAS E DA JUNTA DAS LATERAIS 23

6.4 CONFECÇÃO DAS PEÇAS EXTERNAS 24

6.5 CONFECÇÃO DAS LATERAIS 28

6.6 CONFECÇÃO DO ARCO 29

7. MONTAGEM DAS PEÇAS 31

7.1 ENCAIXE DA ALMA E DO ACOPLADO UMBIGO-VIBRADOR 31


8

7.2 ENCAIXE DO BRAÇO E DO APOIO DAS LATERAIS COM O TAMPO


INFERIOR 31

7.3 ENCAIXE DA ALMA 32

7.4 ENCAIXE DAS LATERAIS 32

7.5 POSICIONAMENTO DO ESPELHO 33

7.6 ENCAIXE DAS CRAVELHAS NO BRAÇO 34

7.7 FIXAÇÃO DO ESTANDARTE AO UMBIGO E DA PONTE 34

7.8 FIXAÇÃO DA CRINA AO ARCO 34

8. ACABAMENTO 35

8.1 SOBRAS DE MATERIAL 35

8.2 FABRICAÇÃO DA COLA DE ACABAMENTO/REPARO E APLICAÇÃO 35

8.3 ENVERNIZAGEM 36

9. ENCORDOAMENTO E AFINAÇÃO 36

9.1 ENCAIXE DAS CORDAS 36

9.2 AFINAÇÃO 36

10. PROJETOS 38

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS 51

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52


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1. INTRODUÇÃO

A rabeca, um instrumento ímpar da classe dos cordófones por cordas


friccionadas (a mesma do violino e do cello) é o resultado de uma
miscigenação étnico-cultural, da qual remontam os historiadores, iniciada ainda
no período da ocupação ibérica, em que os árabes viveram nas regiões da
atual Espanha e Portugal. Os mouros trouxeram consigo o rabab ou rebab – o
ancestral comum da rabeca e do violino. Também cordofônico de arco – o
rabab se adaptaria muito bem a cultura ibérica medieval e evoluiria, ao passar
dos séculos, na forma da rabeca como conhecemos hoje.

O som fanhoso e melancólico do instrumento chegou ao nordeste


brasileiro nas naus portuguesas, com um novo processo de mistura cultural (da
qual também nasceu o povo brasileiro) responsável por originar ritmos e folias
regionais como o coco, o baião, o boi de reis e o cavalo-marinho, onde a
rabeca encontraria um espaço de protagonismo nessas manifestações até o
processo de imigração germânica, que trouxe consigo um novo instrumento
musical – o acordeom/sanfona – mais versátil (por ser melódico e harmônico)
que a rabeca, somente melódica e pondo-a em um processo de coadjuvância.

Chegando ao nordeste brasileiro, a rabeca espalhou-se por todo o


território do país, se adaptando e reinventando-se de acordo com a disposição
dos materiais necessários para a confecção e com o cotidiano de cada
localidade. Esse fator ilustra bem a origem da diversidade de tipos de rabecas
existentes. Quando um tipo de madeira era escasso ou quando, por exemplo,
as ferramentas de luthieria eram as mesmas do trabalho laboral e era
necessário improvisar. Essas características se somavam de maneira que cada
rabeca de um construtor carregava em si particularidades singulares.

Até hoje a encontramos em manifestações culturais como o reisado e o


cavalo-marinho, cujos mestres guardam os conhecimentos e técnicas que
serão passadas aos seus alunos e posteriormente adaptadas pelos mesmos.
No entanto, com o passar das gerações, o instrumento vem encontrando
dificuldades de reinserção e o conhecimento e domínio da rabeca, atrelado em
grande parte à transmissão oral, vai continuamente se perdendo.

Estamos diante de um problema alarmante: O desaparecimento de um


símbolo cultural e consecutivamente, de uma fonte histórica valiosíssima de
nosso povo em seu dado contexto, tempo e espaço.

Dessa maneira, hoje até os que se interessam pela construção do


instrumento, encontram dificuldades em começar o projeto. Já que esses novos
luthiers (ou melhor, fazedores de rabeca) muitas vezes não possuem mestres
que possam lhes passar esse conhecimento, reavivar a produção e
recirculação desse instrumento é uma importante tarefa. Podemos, pois,
observar que se faz necessária alguma iniciativa.
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Com a finalidade de contornar esta adversidade e com os


conhecimentos adquiridos pelo Curso Técnico Integrado em Mecânica, venho
propor um pequeno manual, construído sobre a análise de projetos de
rabequeiros como Dinda Salú e Nelson da Rabeca, voltado aos construtores e
construtoras de rabeca, que lhes proporcionará conhecimentos práticos sobre
os materiais (tipos de madeira e ferramentas) com os quais irão trabalhar; a
sonoridade da rabeca aliada a função objetiva de cada peça do instrumento e o
processo de fabricação que contará com projetos técnicos e instruções de
passo-a-passo.

Partindo deste manual, cada luthier com suas próprias experiência terá
toda a autonomia de testar novas ideias e de alterar o projeto que
disponibilizamos, mediante os seus próprios interesses sonoros e
disponibilidade de recursos.

Desejo-lhes um bom trabalho e mãos à obra


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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O trabalho tem como objetivo geral a formação de construtores de


rabeca partindo das informações práticas e acessíveis aqui veiculadas para a
preservação do instrumento musical.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para que se atinja o objetivo geral, foram propostos os seguintes


objetivos específicos:

● Traçar conhecimentos sobre os tipos de madeira que se vai utilizar;


● Analisar a funcionalidade de cada peça do instrumento;
● Compreender a confecção, montagem e acabamento da rabeca.
12

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 TIPOS DE MADEIRA

Dado que será confeccionado um instrumento de madeira, faz-se


necessário um conhecimento prévio dos tipos desse material e de suas
características. Pois, como se verá adiante, a rabeca é dividida em diferentes
peças que desempenham funções próprias e por esse motivo necessitam de
madeiras específicas.

Classificam-se as madeiras nos seguintes tópicos por característica principal:

3.1.1 Madeiras de Lei (Duras):

As madeiras de lei são mais difíceis de dar forma em trabalhos como o


entalhe, por exemplo. Ainda assim, em instrumentos cordófones, são
imprescindíveis pois apresentam alta resistência a esforços mecânicos,
excelente transmissão de vibrações e em tarefas como a tração de cordas são
fundamentais. No geral, são oriundas de árvores angiospermas, aquelas que
possuem semente e fruto. São exemplos de madeiras duras: o Jatobá, o Ipê ou
Pau-d’arco, a Andiroba, a Massaranduba, a Canela, o Mogno e o Jacarandá.

3.1.2 Macias:

Esse tipo de madeira em decorrência da sua maleabilidade é excelente


para serrar e entalhar, característica que facilita a aplicação estrutural deste e
em regiões onde há mínima tensão pontual (em decorrência de sua baixa
resistência a esforços mecânicos). As madeiras macias são oriundas de
gimnospermas, árvores que possuem sementes mas que não dão frutos. As
coníferas são bons exemplos desse tipo de madeira e entre elas temos o
Pinho.

3.1.3 Flexíveis:

A flexibilidade é a característica que uma madeira tem de se deformar


sem se romper ou rachar. Há alguns tipos de madeira que apresentam alta
flexibilidade naturalmente, como a madeira de jenipapo, por exemplo. Mas uma
boa flexibilidade pode também ser alcançada, reduzindo-se a espessura da
madeira, molhando e aquecendo-a, podendo-se utilizar até madeiras de
compensado nesses casos.
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3.2 ORIGEM DA MADEIRA E REGULAMENTAÇÃO

Além de se conhecer as características do material com que será


trabalhado, é imprescindível que se saiba a origem do mesmo para que assim
possa ser evitado o tráfico de espécies de plantas em extinção ou retiradas de
áreas cuja a extração é proibida e para que se possa apoiar as iniciativas de
manejo sustentável por empresas do ramo. O manejo sustentável consiste na
retirada de madeira de modo que o tempo de regeneração da floresta seja
respeitado.

Uma importante documentação é o DOF (Documento de Origem


Florestal), uma licença obrigatória ao transporte e armazenamento de produtos
da madeira e seus subprodutos.

3.3 PARTES DO INSTRUMENTO

As partes de um instrumento são desenvolvidas com o intuito de


desempenharem funções sonoras ou estruturais. Ambas funções devem
trabalhar em conjunto para que a projeção do som do instrumento não seja
comprometida, tendo a maior qualidade possível. Neste capítulo, serão
abordadas as partes da rabeca e suas funções práticas.

FIGURA 1. Desenho 3D da rabeca em Autocad (ACERVO PESSOAL, 2018).


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FIGURA 2. Desenho 3D da rabeca em Autocad (ACERVO PESSOAL, 2018).

3.3.1 Corpo da Rabeca:

O corpo é a parte do instrumento mais importante no que se refere à projeção


do seu som. Funcionando como uma caixa acústica, essa parte da rabeca tem
a função de ampliar o som oriundo das cordas, a partir da vibração da madeira
dos tampos que será transmitida ao ar e em sequência convertida em ondas
sonoras. Além de sua importância sonora, o corpo dará sustentação ao
instrumento, visto que apoiará o braço e as peças externas e internas.

A) Tampos superior e inferior:

Os tampos têm a função de transmitir o som oriundo da fricção das cordas à


caixa acústica por meio de vibração. Podem ser construídos em madeiras
diversas. Nesse projeto, usaremos o Pinus (madeira macia, que facilitará a
serragem).

O tampo superior é vazado por duas formas semelhantes a “S’s”, que são
muito comuns nos instrumentos de arco. Neste tampo, também encontramos
peças externas como a ponte e o estandarte, além de uma pequena
reentrância que serve de encaixe ao braço. Já o tampo inferior não é vazado e
possui, na parte anterior, um encosto para a região inferior do braço. Ambos
podem ser planos ou abaulados.

B) Laterais:
As laterais unem os tampos, fechando a caixa acústica (garantindo que o
som escape somente pelos S’s) e dando resistência à rabeca. A madeira a se
utilizar nessas regiões deve ter uma espessura mais fina (2 a 3mm) e flexível,
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para que resista ao processo de curvatura (responsável por dar forma à essas
partes).

C) Junta das laterais:

A junta das laterais é uma peça de madeira macia, localizada na parte


dianteira da rabeca, em formato de bloco retangular cujo centro apresentará
um furo circular, que abrigará o umbigo e o vibrador (que neste projeto estarão
acoplados). Como nos implica o nome, essa peça também terá por função unir
as laterais.

3.3.2 Braço:

O braço é a parte da rabeca com forma mais complexa, pois se adapta ao


encaixe com outras peças. São elas: o corpo, as cravelhas e o espelho. Pode
ser construída em muitos tipos de madeira, mas geralmente é dado preferência
às madeiras macias para que o trabalho de serragem e entalhe sejam mais
facilmente executados. A região mais anterior do braço, que abriga as
cravelhas, é comumente chamada de mão da rabeca.

3.3.3 Peças internas:

Estão inseridas no interior do corpo da rabeca e possuem interferência


direta na qualidade e características sonoras do instrumento.

A) Umbigo acoplado ao vibrador:

O umbigo e o vibrador são duas peças distintas com funcionalidades


também particulares. Ambos apresentam semelhança na forma cilíndrica. O
primeiro possui uma pequena extensão com um ressalto na ponta em que
prenderá o estandarte, o segundo possui maior comprimento e – como o nome
já nos deixa claro - vibrará estendendo a amplitude do som.

Pela proximidade das duas peças, concluí que seria melhor construí-las
acopladas e inseridas no centro da junta das laterais. A madeira que melhor
segue as características é a madeira dura, pois suportará bem a tração
originada pelo estandarte e terá uma ótima vibração.

B) Alma:

A alma recebe esse nome por conferir ao instrumento sua característica


mais marcante: O som fanhoso. Ela está inserida no interior da rabeca, fixa por
suas duas extremidades, ligando o tampo superior ao inferior. Possui um
pequeno diâmetro e um comprimento equivalente à altura da lateral. As
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melhores madeiras para a alma da rabeca são as duras, em decorrência das


características de vibração, que já foram expressas anteriormente.

3.3.4 Peças externas:

As peças externas estão localizadas na superfície ou fora do interior do


corpo da rabeca e terão que suportar as tensões das cordas sem quebrar,
desgastar ou deformar. Todas as peças externas devem ser de madeiras duras.

A) Cravelhas:

As cravelhas se encarregam do tensionamento e afinação das cordas.


Possuem, em uma das pontas, uma parte plana e de maior largura (a cabeça
da cravelha), para que possamos rotacioná-las mais facilmente, e uma parte
cilíndrica - com um furo perpendicular ao eixo da peça – por onde afixaremos a
corda. Estão inseridas em canais na mão do braço.

B) Ponte:

A ponte apoia as cordas tensionadas em sua estreita superfície superior


com formato de arco, conferindo altura e separação entre as cordas suficientes
para o manejo confortável do arco. Com o intuito de diminuir o acúmulo de
tensão na peça, possui desenhos bem peculiares, geralmente cheios de curvas
e com o menor número possível de arestas.

C) Estandarte:

O estandarte corresponde à outra extremidade de fixação das cordas.


Possuem quatro furos em um dos limites e no outro apresenta dois furos por
onde a peça será amarrada ao umbigo da rabeca.

D) Espelho e pestana:

O espelho e a pestana, ainda que possuam diferentes funções, serão


construídos acoplados em decorrências dos mesmos fatores relacionados ao
vibrador e ao umbigo.

Ambas as peças têm sede sobre o braço da rabeca. Enquanto a pestana


definirá precisamente o espaço das cordas, o espelho será a região que ficará
imediatamente sob elas.

3.3.5 Arco:

Essa estrutura é responsável pela fricção do encordoamento e pode ser


construída com madeiras macias ou duras. O arco possui uma estrutura de
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madeira que prenderá um conjunto de fios (crina) que ficarão em contato com
as cordas no momento em que se tocar o instrumento.

4. FERRAMENTAS E MATERIAIS GERAIS

4.1 FERRAMENTAS

4.1.1 Para o corte

● Serras (arco de serra, tico-tico ou de fita) mediante a precisão desejada;


● Faca ou estilete para marcenaria;
● Formão;

4.1.2 Para a furação

● Furadeira manual ou de bancada;

4.1.3 Para o desbaste e acabamento dimensional

● Conjunto de grosas;
● Lixadeira elétrica e lixas grossa e fina;

4.2 MATERIAIS GERAIS

● Madeiras macias, duras e flexíveis diante da necessidade a ser indicada;


● Cola de Madeira;
● Serragem de madeira;
● Fita isolante;
● Pregos;
● Nylon 0,30mm

5. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI’S)

A) PROTEÇÃO OCULAR: Óculos ou viseira;

B) PROTEÇÃO AUDITIVA: Protetores auriculares ou abafadores de ruído;

C) PROTEÇÃO DO TRONCO: Avental para marcenaria;

D) PROTEÇÃO DE MÃOS: Luvas de látex (Opcional);


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6. CONFECÇÃO DAS PEÇAS

6.1 CONFECÇÃO DOS TAMPOS SUPERIOR E INFERIOR DA RABECA

6.1.1 Plotagem:

Com os gabaritos disponibilizados em anexo, reproduza-os em um


centro de plotagem. Levando em consideração a escala do projeto de 1/2,
imprima-os com ampliação de duas vezes ou em porcentagem de 200%, para
que o arquivo impresso corresponda às dimensões reais (1/1). Utilize também
as Vistas Ortográficas do Corpo da Rabeca (também disponibilizadas em
anexo).

6.1.2 Seleção e preparação da madeira:

Para a confecção do tampo utilize de preferência madeiras macias.


Neste projeto, por exemplo, foi aplicado o Pinus. Selecionada a madeira e com
o projeto em mãos, observe que a espessura dos tampos é de 4 mm. Por tanto,
escolha um painel de madeira com dimensões mais próximas do resultado.
Certifique as condições de conservação da tábua e evite as que estiverem
curvadas.

Caso a madeira de menor espessura encontrada seja muito superior aos


4 mm, opte por passá-la em uma máquina desengrossadeira, que deixará um
bom resultado de acabamento e uma grossura já próxima da final.

Analise o acabamento da madeira e se preciso deixe a superfície mais


uniforme usando uma lixa fina. Passe os dois gabaritos para a prancha com o
auxílio do papel carbono. Você obterá um excelente guia para o processo
seguinte.
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FIGURA 3. Gabarito do Tampo Superior desenhado na madeira (ACERVO PESSOAL, 2018)

6.1.3 Confecção do formato:

Para dar forma aos tampos opte pela ferramenta mais acessível e
segura, considerando a sua experiência e destreza. Numa escala crescente de
melhor acabamento, as serras manuais, tico-tico ou de fita são exemplos de
ferramentas que você poderá usar neste procedimento.

O perfil dos tampos pode ser plano, como o deste projeto, ou abaulado.
Para fazer este segundo, utilize uma lixadeira e retire material do centro das
faces voltadas ao interior do instrumento e nas faces externas dos tampos, lixe
a região mais próxima das bordas. Tome cuidado para não reduzir demais a
espessura do tampo e acabar furando-o ou deixando-o frágil.

6.1.4 Diferenciação dos tampos:

Seguindo os dois gabaritos percebe-se diferenciações nítidas entre


ambos os projetos. O tampo inferior possuirá um apoio à parte inferior do braço
da rabeca e o superior terá um encaixe (em forma de rabo de andorinha)
também referente ao braço. A outra grande diferença entre os dois tampos é
que enquanto o tampo superior é vazado em dois S’s e o inferior não é.

Para a confecção dos S’s, inicie pelos quatro extremos, realizando em


cada um, o furo de centro para auxiliar as furações seguintes. O furo de centro
pode ser feito com uma broca de 2mm, e em seguida alargado com uma broca
de 4mm. Com um pequeno pedaço de lixa alargue o furo até as dimensões
exatas do desenho sobre a madeira. Para fazer o corpo do S use a serra de fita
e cuidadosamente siga as linhas indicadas no projeto.
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FIGURAS 4 e 5. Tampos Inferior e Superior (ACERVO PESSOAL, 2018)

6.1.5 Primeiros acabamentos

Com os dois tampos já cortados e devidamente diferenciados, alinhe-os


e, em seguida, prenda-os com grampo ou morsa. Com uma lixadeira, remova
as diferenças das duas peças decorrentes do processo anterior de serragem.
Dessa forma, serão obtidos dois tampos com um acabamento estético lateral
igual.

6.2 CONFECÇÃO DO BRAÇO DA RABECA

6.2.1 Plotagem:

Com o projeto do braço disponibilizado em anexo, reproduza-o em um


centro de plotagem. Levando em consideração a sua escala de 1/2, imprima-o
com ampliação de duas vezes ou em porcentagem de 200%, para que o
arquivo impresso corresponda às dimensões reais (1/1).

6.2.2 Seleção e preparação da madeira:

Selecione um caibro ou quadrado, preferencialmente de madeiras


macias, cuja seção transversal e cujo comprimento sejam mais próximos às
dimensões reais do projeto (51,7x41 e 287 respectivamente).

Utilizando o papel carbono, posicione e fixe a vista lateral do projeto de


maneira que o perfil da superfície superior fique alinhada com a quina da
madeira.

Com o desenho da lateral do braço passada para o caibro, trace retas


das duas extremidades do braço pela superfície perpendicular à lateral (a
superfície superior) utilizando um esquadro. Identifique o centro da face
superior (que possuirá pelo menos 20,5mm para cada lado) e defina a largura
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da extremidade do braço voltada para o corpo que possui 41mm. No extremo


oposto - da região das cravelhas - e utilizando para essa segunda reta o
mesmo centro da primeira, marque 16mm (8mm para cada lado do centro).

Ao obter essa nova configuração de pontos e retas, ligue-os de maneira


a fechar o polígono trapezoidal equivalente à variação das espessuras do
braço.

FIGURA 6 e 7. Gabarito do Braço da Rabeca desenhado na madeira (ACERVO PESSOAL,


2018)

6.2.3 Confecção do formato:

Com uma serra de fita (que trará um excelente controle ao processo),


tire do caibro as partes que serão dispensadas de ambos os lados marcados.
Inicie pela vista lateral e depois refaça as marcações que saírem juntamente
com as partes da lateral, para que assim, seja executado com maior precisão o
corte responsável por conferir a largura da peça.

FIGURA 8. Braço da Rabeca sendo cortado por serra de fita (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.2.4 Furos na Mão da Rabeca:

Seguindo o projeto do Detalhes do Braço da Rabeca, marque na mão da


rabeca a seção que será extraída da peça (um trapézio de bases 9 e 10mm e
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altura de 70mm, utilizando como centro das bases o próprio centro do braço) e
trace uma reta no centro desta seção. Para esse procedimento, utilize uma
furadeira com uma broca de 8mm de diâmetro e execute, seguindo a reta
central, furos rentes entre si de uma base a outra do trapézio, formando uma
espécie de fenda contínua quando unidos, tomando cuidado para que as
marcações do projeto sejam respeitadas. Para que a profundidade dos furos
não trespasse a ideal, prenda um pedaço de fita ou marque com giz a medida
dessa profundidade na broca, para lhe servir como referência durante a
execução desta tarefa.

FIGURAS 9 e 10. Inscrições e furação na Mão da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

Com a “linha” de furos pronta, utilizando uma faca ou estilete resistente,


retire as rebarbas entre os furos e alargue-os até as marcas da seção
trapezoidal.

FIGURAS 11 e 12. Entalhe na Mão da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

Seguindo ainda o mesmo projeto (Detalhes do Braço da Rabeca),


realize as marcas no arco dos furos das cravelhas e os execute. Perceba que o
diâmetro dos oito furos alterna consigo em 7 ou 8mm. A ordem desses furos
pode seguir o projeto se o tocador - ao qual você destina a rabeca - for destro.
Caso contrário, se o tocador for canhoto, basta inverter a ordem desses furos.
Para que os furos encaixem as cravelhas firmemente, o mais indicado é ira
alargando as sedes das cravelhas, quando as mesmas já estiverem prontas.
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FIGURAS 13 e 14. Sedes das cravelhas na Mão da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.2.5 Acabamentos iniciais:

Para os primeiros acabamentos, observando que o projeto nos indica na


região intermediária do braço uma seção transversal em semicírculo, remova
as arestas da região cuidadosamente com uma grosa, se certificando da
continuidade do formato que se quer obter.

Em seguida, passe uma lixa fina por toda a peça do instrumento,


obtendo assim uma superfície uniforme. Na região da mão da rabeca, retire as
rebarbas que o processo de furação deixou utilizando um formão com a ponta
bem afiada e, se necessário, utilizando posteriormente uma lixa média ou
grossa.

OBSERVAÇÃO:

Na porção anterior do braço (a mão da rabeca), você pode ampliar um


pouco mais a faixa de madeira excedente e entalhar uma figura específica: O
caramujo (ou carranca), para que seja a sua assinatura como construtor de
rabecas.

6.3 CONFECÇÃO DAS PEÇAS INTERNAS E DA JUNTA DAS LATERAIS:

6.3.1 Plotagem

Com o projeto Peças Internas e Junta Das Laterais disponibilizado em


anexo, reproduza-o em um centro de plotagem. Leve em consideração a sua
escala de ¾. No entanto, a ampliação para a escala real não é necessária
nesse caso.

6.3.2 PEÇAS INTERNAS


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As duas peças internas (a alma e o acoplado entre o umbigo e o


vibrador) podem ser manufaturadas de um mesmo pedaço cilíndrico de
madeira dura com seção transversal de no mínimo 15mm e comprimento de no
mínimo 270mm. Não escolha dimensões muito acima das medidas reais das
peças, pois além de desperdiçar a madeira, você irá perder tempo e dificultar o
processo. A fabricação de ambas as partes é bastante simples.

A) Marcações e diâmetro inicial iniciais

Analisando o projeto, faça inicialmente as marcações da peça acoplada,


que possui 235mm. Separe mais 35mm para o comprimento da alma da
rabeca.

B) Confecção do formato da peça

Com uma grosa, reduza o diâmetro do tarugo para 15mm. Em seguida


marque uma distância de 5 mm da extremidade. Partindo dessa nova marca,
reduza novamente o diâmetro para 10mm e realize uma nova marcação de
22mm de distância, considerando os 5mm como a origem.

Dessa nova marcação até a extremidade mais distante, reduza mais


uma vez o diâmetro até 7,5mm. Como o diâmetro da alma da rabeca já foi
alcançado, serre (tomando cuidado com o perpendicularismo do corte) uma
seção de 35 mm da extremidade com 7,5mm.

Com a parte extraída correspondendo a alma, a outra - de maior


comprimento - representa o acoplado do umbigo com o vibrador. Por fim,
reduza o diâmetro da seção transversal do acoplado com 7,5mm para 6mm.

FIGURAS 15 e 16. Acoplado Umbigo-Vibrador e Alma da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.3.3 JUNTA DAS LATERAIS

Para obter a junta das laterais, construa em madeira macia, um


paralelepípedo com as seguintes medições: 37x35x20mm. Para fazer a sede
do umbigo, fure um canal de seção circular e perpendicular a face de 37x35mm
até a sua face oposta.
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FIGURA 17. Furo no centro do Apoio das laterais (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.4 CONFECÇÃO DAS PEÇAS EXTERNAS

6.4.1 Plotagem

Com o projeto das Cravelhas (Vistas Ortográficas das Cravelhas), da


Ponte (Vistas Ortográficas da Ponte da Rabeca) e do Estandarte (Vistas
ortográficas do estandarte) disponibilizados em anexo, reproduza-os em um
centro de plotagem. Como estes projetos já se encontram em dimensão real
(1/1), não será necessário a alteração da escala. No caso do espelho (Vistas
ortográficas do espelho com pestana), faz-se necessário a ampliação do
projeto em 200% ou duas vezes.

6.4.2 CRAVELHAS

A) Seleção da madeira e marcação das medidas iniciais

Para confeccionar os quatro pares idênticos de cravelhas, disponha de


uma peça de madeira dura com dimensões de 10x25x50mm.

Na peça de madeira, trace uma linha de centro em uma das faces de


50x25, no mesmo sentido da maior aresta. Marque uma linha, perpendicular à
de centro, distante 15mm da borda de 25mm. A peça, portanto, ficará dividida
em duas partes: A primeira de 25x15mm e a segunda de 35x15.

Nessa segunda seção (que corresponderá ao eixo da cravelha em que


as cordas serão fixadas), usando dessa vez, como referência, a extremidade
que não está em contato com a primeira seção, trace uma nova reta
perpendicular à linha de centro com uma distância de 20mm da referência. Na
interseção da reta recém traçada com a linha de centro, delimite 4mm à direita
26

e 4mm à esquerda (totalizando assim 8mm de diâmetro). Já no encontro da


linha de centro com a extremidade inferior da peça, marque 3,5 mm à direita e
à esquerda (7mm de diâmetro). Com essas marcações, inscreva duas linhas
diagonais opostas que passem pelas marcações e cheguem a base inferior da
primeira parte. Lembre-se que essas linhas marcam um eixo de seção
transversal circular.

FIGURA 18. Inscrição com o gabarito das Cravelhas (ACERVO PESSOAL, 2018).

B) Confecção do formato e furação

Com uma grosa, raspe perpendicularmente - da segunda região da peça


- o excesso de madeira da face com as marcações e observe que será formado
uma espécie de prisma de base trapezoidal. Ainda com a grosa, arredonde as
arestas do prisma até que toda a seção seja transversalmente circular. Tome o
cuidado de manter a variação dos diâmetros no eixo. Para realizar a furação, é
necessário levar em consideração que os furos devem distar da ponta da
cravelha, o suficiente para se localizarem próximo ao centro da mão da rabeca.
Essa distância está entre 10mm a 12 mm e furo possuirá diâmetro de 2mm.

FIGURAS 19, 20 e 21. Processo de fabricação da Cravelha (ACERVO PESSOAL, 2018).

C) Acabamentos Iniciais

Com uma lixa fina, certifique a uniformidade das seções circulares do


eixo. Voltando ao projeto mais uma vez, observe que a cabeça da cravelha
27

possui um desenho peculiar. Essa configuração é meramente estética e pode


variar à sua preferência. Se quiser continuá-la como no projeto, passe as
medidas para essa região e dê forma à região com uma grosa ou com uma
lixadeira.

6.4.3 CONFECÇÃO DA PONTE

A) Escolha da madeira e medidas

Deve ser confeccionada em uma pequena tábua madeira dura com


profundidade de 5mm e, utilizando o projeto como gabarito sobre o papel
carbono, passe as medidas para essa a madeira. A ponte terá horizontalmente
uma medida máxima de 45 mm e altura de 35 mm.

B) Furos e Confecção do Formato:

Para iniciar cada perfuração interna, utilize uma broca de 4mm para
fazer o furo de centro. Com uma serra de fita, encaixando-a dentro dos furos,
dê a forma dos mesmos.

Faça um retângulo ao redor do desenho impresso na madeira e o corte.


Possuindo agora uma placa dimensionada em 45x35x5mm, marque na
superfície lateral (5x35mm) uma linha de centro paralela à lateral de 35 mm.

No extremo superior da peça, considerada a disposição do desenho,


marque na linha de centro referida anteriormente, 1mm à esquerda e à direita.
Seguidamente, trace duas retas diagonais opostas ligando esses pontos
obtidos com os vértices correspondentes da base inferior da lateral referida.
Com uma lixa grossa ou uma lixadeira, retire o excesso de material, chegando
o mais próximo possível das marcações, mas sem tocá-las.

Com uma lixa fina retire as marcas decorrentes do processo de


lixamento anterior, deixando a face o mais uniforme possível.

FIGURAS 22 e 23. Processo de fabricação da Ponte (ACERVO PESSOAL, 2018).


28

6.4.4 CONFECÇÃO DO ESTANDARTE

Das peças internas, o estandarte é a mais simples de se manufaturar.


Utilizando uma placa de madeira dura com medidas de 80x50x8mm, passe o
projeto a ela com o papel carbono. Posteriormente, corte a forma com uma
serra manual ou tico-tico (de preferência). Os furos que irão segurar as cordas
distam 6,5 mm da extremidade reta aos seus respectivos centros. Já os outros
dois furos, responsáveis pela fixação da peça ao umbigo da rabeca,
distanciam-se 10 mm da extremidade em semicírculo, estando alinhados com o
seu centro. Todos esses furos possuirão 2 mm de diâmetro. Após a furação, dê
uma passada de lixa fina na peça como acabamento.

FIGURAS 24 e 25. Marcação e furação do Estandarte (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.4.5 CONFECÇÃO DO ESPELHO E PESTANA

A) Escolha da madeira e marcação das medidas iniciais

Utilize uma madeira dura com dimensões de 255x47x12mm. Execute as


marcações do projeto Vistas ortográficas do Espelho com Pestana, iniciando
pela linha de centro na face de 255x47mm, paralela ao lado de maior medida.
Escolha uma das extremidades da madeira e, tomando como referência o
centro recém traçado, demarque 12,5mm à esquerda e à direita. Dessas novas
marcações, faça duas linhas até o vértice da extremidade de seu respectivo
lado. Trace uma reta paralela ao extremo delimitado com uma distância de
5mm dele.

B) Confecção do formato e primeiros acabamentos

Com uma serra tico-tico ou de fita siga as linhas diagonais traçadas e


retire a madeira em excesso. Livrando os 5mm marcados, que continuarão com
12mm, reduza a espessura da peça para 8mm com uma lixadeira ou com uma
grosa. Perceba que a seção transversal da peça tem um formato singular: Um
arco sobre um retângulo com altura de 3,5 mm. Portanto, considere os pontos
mais inferiores do arco os vértices superiores do retângulo e a extremidade
29

superior do arco sendo 8mm distante da base inferior do retângulo. Utilize uma
lixadeira para conferir a este uma uniformidade maior.

Para a pestana, o perfil transversal da peça também se repetirá, porém


com diferentes medidas. A lateral do retângulo terá 9mm e o cume do arco,
12mm. As fendas, onde serão abrigadas as cordas, possuirão profundidade de
1,5mm e poderão ser feitas com serra ou mesmo faca/estilete.

FIGURAS 26, 27 e 28. Detalhes do seção transversal e perfil do espelho (ACERVO PESSOAL,
2018).

6.5 CONFECÇÃO DAS LATERAIS

As laterais deverão ser manufaturadas partindo de uma madeira flexível


com largura e espessura de 35 e 2,5mm respectivamente.

Para aumentar a flexibilidade da madeira, ela necessitará - além de uma


espessura fina - de umidade e calor. Esse processo consiste em aquecer e
molhar lados opostos, pois sabendo que a madeira tenderá a se flexionar ao
lado mais quente e seco, em decorrência da expansão das moléculas de água
da outra superfície - úmida - que também vai se aquecendo.

Veja que o gabarito de ambos os tampos possui uma marcação


tracejada que corresponde a posição da lateral. Passe essa marcação com
papel carbono (Lembre de plotar o projeto com ampliação de 200%) a uma
tábua de madeira com a espessura aproximada a altura da peça e em seguida
corte-a respeitando a linha mais externa da lateral. Utilize essa peça como
gabarito para fornecer a curvatura correta da lateral.

Após realizar o processo indicado no segundo parágrafo, vá envergando


a madeira fina nas curvas do gabarito. Faça esse processo individualmente
para cada curvatura e, quando acabar, retire as sobras da madeira curvada e
prenda-as entre si com uma morsa ou amarrando-as com uma corda. Espere
toda a estrutura secar num período aproximado de um dia.
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FIGURA 29. Lateral antes da Curvatura (ACERVO PESSOAL, 2018).

FIGURAS 30 e 31. Gabarito e Processo de curvatura das laterais (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.6 CONFECÇÃO DO ARCO

6.6.1 Plotagem

Com o projeto do arco disponibilizado em anexo, reproduza-o em um


centro de plotagem. Pela simplicidade da peça, não se faz necessária a
ampliação para as dimensões reais.

6.6.2 Marcação das medidas e Confecção do formato

Usando uma madeira à sua disponibilidade - com dimensões de


415x30x15mm - passe as medidas para a face de 415x30mm e retire o
excesso de material com uma serra de fita para evitar trepidações.

FIGURAS 32 e 33. Marcações do Arco e Estrutura do Arco (ACERVO PESSOAL, 2018).


31

6.6.3 Furação do encaixe da crina

Observe que os dois furos possuem um formato elíptico idêntico: O seu


eixo maior possui 9mm e o menor 7mm. Para executar a furação, inicie
utilizando uma broca de 3mm para o furo de centro e depois alargue o furo com
uma broca de 7mm. Para chegar à elipse, com um estilete ou uma faca afiada,
entalhe a região do furo em que se deseja obter o eixo maior. Outra
possibilidade para alcançar esse formato é, com a furadeira, encostar a lateral
de uma broca de menor diâmetro (2 ou 3mm) na lateral do furo que se deseja
alterar.

FIGURAS 34, 35 e 36. Furação das sedes da crina do Arco (ACERVO PESSOAL, 2018).

6.6.4 Trançado da crina

Para trançar a crina, será necessária a construção de uma estrutura que


consiste em dois pregos presos em uma tábua de madeira distantes 350mm
entre si. Utilizando o fio de nylon 0.3 mm, amarre-o em um dos pregos e
envolva-o no segundo prego com uma volta. Ao todo, dê vinte e cinco voltas
laçando os dois pregos com voltas firmes e deixando o nylon tenso. Por fim,
prenda as duas extremidades dos fios com fita isolante para, em seguida,
retirar a crina do arco da estrutura.

FIGURA 37. Trançado da Crina do Arco (ACERVO PESSOAL, 2018).

7. MONTAGEM DAS PEÇAS

7.1 ENCAIXE DO ACOPLADO UMBIGO-VIBRADOR


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O Acoplado Umbigo-Vibrador será inserido no furo central do Apoio das


Laterais pela sua parte de menor diâmetro, a região com diâmetro equivalente
deverá ser lixada e embebida por cola e por fim encaixada no furo do Apoio da
Laterais.

7.2 ENCAIXE DO BRAÇO E DO APOIO DAS LATERAIS COM O TAMPO


INFERIOR

Inscreva no Tampo Inferior as seções em que estarão localizadas as


peças, você poderá demarcá-las bem com hachuras. Lembre-se de marcar
também o segmento onde estarão localizadas as laterais, para facilitar
posteriormente o posicionamento destas. Passe cola de madeira, nas áreas
delimitadas no tampo e nas faces de contato do braço e do apoio das laterais.

FIGURAS 38 e 39. Marcações das seções dos encaixes com os tampos (ACERVO PESSOAL,
2018).

Para o posicionamento, todas as estruturas deverão estar alinhadas por


suas respectivas linhas de centro. Portanto, para facilitar o alinhamento entre
as três peças, faça (no braço e no apoio) marcações de centro nas faces
perpendiculares ao tampo. Com as peças aderidas pela cola de madeira,
prenda-as com grampos e espere secar por 12 horas.

FIGURA 40. Fixação do Braço e do apoio das laterais com o tampo inferior (ACERVO
PESSOAL, 2018).

Passado este intervalo de tempo, retire os grampos e passe uma


camada de cola na superfície da seção de encaixe do braço e na face superior
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do apoio das laterais, para finalmente posicionar o tampo superior. O encaixe


do referido tampo com o braço facilitará o seu posicionamento. Caso o tampo
superior fique descentralizado, corrija o encaixe, lixando-o com cuidado.
Tomada essas providências, prenda as duas extremidades coladas com os
grampos por mais 12 horas. Quando todo o conjunto estiver seco, pregue o
tampo superior no braço para conferir uma firmeza estrutural ainda maior à
rabeca.

FIGURAS 41 e 42. Fixação do Tampo Superior (ACERVO PESSOAL, 2018).

7.3 ENCAIXE DA ALMA

Para encaixar a Alma, como ela tem a mesma altura da lateral, basta
passar um pouco de cola para madeira em suas duas extremidades e
posicioná-la na região central do interior do corpo da rabeca, próxima a fenda
dos S’s, pela abertura das laterais.

FIGURA 43. Fixação da Alma da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

7.4 ENCAIXE DAS LATERAIS

Após o processo de fabricação das laterais, certifique-se de que elas


estão secas e com as curvaturas desejadas. Em seguida, passe cola nas nas
faces de contato e utilizando as marcações de posição das laterais, já
presentes no tampo inferior, posicione-as. Com todas as laterais posicionadas,
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prenda a estrutura montada com morsas, tomando cuidado para que o conjunto
fique bem fixo, mas sem machucar a madeira.

FIGURAS 44, 45 e 46. Encaixe das laterais no Corpo da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).

7.5 POSICIONAMENTO DO ESPELHO

Para que o espelho seja posicionado, será necessário marcar no braço a


posição da pestana. No projeto do Braço da Rabeca, essa área está rasurada.
Depois, marque no braço o centro dessa área e no espelho, marque o centro
da face anterior da pestana até a interseção com a aresta que estará em
contato com a rasura do braço.

Passe cola de madeira nas duas superfícies de contato e posicione o


espelho seguindo as marcações. Finalmente, espere o conjunto secar.

FIGURA 47. Fixação do espelho no Braço da Rabeca (ACERVO PESSOAL, 2018).


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7.6 ENCAIXE DAS CRAVELHAS NO BRAÇO

O encaixe das cravelhas deverá ser bem firme para que seja possível
segurar a tensão das cordas. Repare a sequência alternante de furos. O furo
de menor diâmetro (7mm) indicará a sede da ponta cilíndrica da cravelha e,
consecutivamente, a posição da peça.

FIGURAS 48 e 49. Detalhe do encaixe das Cravelhas (ACERVO PESSOAL, 2018).

7.7 FIXAÇÃO DA PONTE E DO ESTANDARTE AO UMBIGO

O estandarte será fixado ao umbigo pelo espaçamento entre esse e o


apoio das laterais. Pelo par de furos no fim da peça poderá ser passado
barbante - ou até mesmo um arame - que será amarrado a esse espaçamento.
Lembre-se de deixar a quantidade mínima necessária de barbante para
possibilitar a inclinação do estandarte quando este estiver preso às cordas.

Para posicionar a ponte da rabeca, passe um pouco de cola na base da


peça e posicione-a segundo as marcações do Gabarito do tampo superior. Os
dois retângulos rasurados, correspondem aos dois “pés” da ponte.

FIGURAS 50 e 51. Posicionamento do Estandarte e da Ponte (ACERVO PESSOAL, 2018).

7.8 FIXAÇÃO DA CRINA AO ARCO

Para a fixação da crina, confeccione um encaixe de madeira com o


mesmo formato da seção do furo. Insira as duas extremidades da crina nos
furos do arco e passando cola de madeira no encaixe produzido, prenda uma
36

das pontas da crina. Esticando a segunda ponta pelo outro furo, repita o
mesmo processo com o encaixe. Deixe secar a peça por doze horas.

FIGURAS 52 e 53. Encaixes para prender a Crina e Arco com Crina encaixada (ACERVO
PESSOAL, 2018).

8. ACABAMENTO

8.1 SOBRAS DE MATERIAL

Para um melhor acabamento estético, identifique os excessos de


madeira indesejadas nas juntas, as únicas sobras indicadas no projeto são
entre os tampos e as laterais. Fora este caso, todo o processo de montagem
da seção anterior deverá ser analisado e as sobras subtraídas do conjunto.
Para retirá-las, poderão ser utilizados lixas, formões ou estiletes/facas de
marcenaria.

8.2 FABRICAÇÃO DA COLA DE ACABAMENTO/REPARO E APLICAÇÃO

A cola para acabamento é uma mistura que será passada entre a junção
dos tampos com as laterais, com o apoio das laterais e com o braço,
objetivando fechar os espaços vazios e aprimorar a funcionalidade da caixa
acústica do instrumento. Ela poderá ser passada também caso ocorram
rachadura ou rompimentos na madeira durante o processo.

A cola de acabamento será uma espécie de massa/rejunte que será


produzida com a mistura de serragem (obtida no lixamento da madeira), cola
de madeira e suco de limão.

O primeiro passo para confecção dessa massa é separar a serragem em


um depósito e umedecê-la com o suco de limão. O suco é relevante durante o
processo pois o mesmo impede o escurecimento da cola em decorrência da
oxidação.

O segundo e último passo é pôr a cola de madeira na mistura serragem-


suco e mexê-la. A quantidade de cola necessária é a que conferirá a
característica de rejunte (como o de cerâmica) à mistura.
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8.3 ENVERNIZAGEM

A envernizagem é uma parte opcional do processo de acabamento. Será


pelo verniz que se conferirá o brilho característico dos demais instrumentos da
família do violino à rabeca. Muitos luthiers não utilizam a envernizagem para
garantir um visual mais rústico ao instrumento.

9. ENCORDOAMENTO E AFINAÇÃO

Os encordoamentos mais utilizados em rabecas são os de cavaquinho


ou bandolim por serem constituídos de quatro cordas de aço (no caso do
bandolim 4 pares de cordas), e por possuírem preços mais acessíveis que as
cordas do violino.

9.1 ENCAIXE DAS CORDAS


Cada corda possui uma estrutura destinada a sua fixação em uma de
suas pontas. Você deverá prender essa estrutura ao estandarte de maneira
que a continuidade da corda se direcione ao braço do instrumento. Com a
corda posicionada na respectiva fenda da pestana, a outra extremidade (a
extremidade lisa) será inserida no furo da cravelha, que por sua vez será
rotacionado até que se chegue a afinação desejada. O excesso da corda pode
ser cortado.

9.2 AFINAÇÃO

As afinações da rabeca variam em cada região. No entanto as afinações


mais conhecidas são a de violino (sol-ré-lá-mi) e a de cavalo marinho ou
afinação pernambucana (ré-lá-mi-si).

FIGURA 54. Rabeca Montada Projeto do Autocad (ACERVO PESSOAL, 2018).


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FIGURA 55. Rabeca Montada (ACERVO PESSOAL, 2018).

10. PROJETOS
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11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já foi observado, o número de luthiers hábeis à confecção das


rabecas vem reduzindo drasticamente. Essa condição implica no
desaparecimento gradual deste instrumento em nosso país, levando consigo
uma fonte histórica riquíssima do Brasil.
Para contornar essa problemática, foi sugerido como alternativa a
criação deste manual voltado a novos construtores interessados no ofício, de
maneira a facilitar a inserção daqueles(as) que não possuem mestres que lhes
possam passar os saberes empíricos e práticos necessários para a fabricação
da rabeca.
Para isso, a simplificação e otimização das peças, sem fugir às
particularidades do instrumento foi um grande desafio durante o processo.
Objetivei unir algumas peças de mesmo tipo de madeira e localização
aproximada – como ocorreu entre a pestana e o espelho e entre o umbigo e o
vibrador – e em relação as demais partes, foi alcançado uma configuração
básica e acessível.
Durante este trabalho, tive que analisar outras rabecas e outros
instrumentos da mesma família (como o violino e a viola) diferenciando-os e
assegurando as particularidades estruturais e sonoras da rabeca.
Por essas análises, o meu conhecimento em desenho técnico e
mecânico e minhas habilidades como projetista, adquiridas durante o Curso
Técnico Integrado em Mecânica, foram devidamente consolidadas, bem como
as observações acerca das propriedades mecânicas dos materiais, também
trabalhadas durante o curso.
Este manual, voltado a luthiers iniciantes, não pode ser encarado como
um passo-a-passo definitivo. Devendo, portanto, estar sujeito às modificações
que se adaptarão e consecutivamente facilitarão a prática. Tendo isso em vista,
almejamos a preservação desse instrumento tão diverso, por meio da
divulgação do conteúdo por seus novos artífices.

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