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CAMPUS CAMPOS-GUARUS
LICENCIATURA EM MÚSICA
por
Aos meus familiares, pelo apoio e por serem a base da minha vida. À minha mãe
Ceneida Rocha, que me ensinou a paciência e a ternura, ao meu pai Luiz Fernando Ribeiro, que
me ensinou a honra e a perseverança, à minha irmã Helena Rocha que me ensinou o respeito e
a convivência, à minha sobrinha Fernanda Dias que me ensinou os caminhos da juventude, ao
meu filho Allan Rocha que me ensinou a responsabilidade, ao meu sobrinho João Luiz Rocha,
que me ensinou “a pureza da resposta das crianças” e à Mayana de Azevedo, minha esposa, que
me ensinou a amar, me acompanha e me apoia nos passos dessa vida.
Agradeço ao professor e orientador Victor Matos pela dedicação e empenho no período
de produção deste material.
À banca examinadora pelo esmero e dedicação na leitura e avaliação deste trabalho.
Aos professores que eu tive a honra de ter aula no curso de Licenciatura em Música do
Instituto Federal Fluminense campus Campos-Guarus. Foram eles: Adler Tatagiba, André
Altoé, Carolina Fragoso, Cátia Valéria, Charles Vianna, Cristiaine Ribeiro, Diogo Rebel,
Elisabeth Rocha, Fernanda Agum, Fernanda Morales, Gustavo Carvalho, Hélio da Silva,
Henrique Costa, Luiz Felipe Oliveira, Nicaulis Conserva, Raquel Fernandes, Rosilani
Balthazar, Saulo Nascimento, Thomas Saboga, Vanderlei Oliveira (in memoriam). Obrigado
pela partilha e produção do conhecimento.
Aos meus amigos de longa data Aline Marques, Ana Anjos, Anderson Tostes, Bruno
Faria, Camila Monteiro, Douglas Soares, Eric Meireles, Fernanda Losco, Fernando Soares,
Flavia Soares, Guilherme Miranda, Janderson Loureiro, Jefferson Soares, Leonardo Batista,
Letícia Soares, Lídia Chagas, Lucas Salerno, Marco Aurélio Cunha, Marcos Vinícius Ferraz,
Matheus Salerno, Mauro Monteiro, Renatho Meirelles, Saulo Bastos, Taciano Rocha, Teiji
Tanaka e Vinicius Lima, sempre presentes, ainda que distantes em decorrência dos afazeres que
a vida nos traz.
Aos companheiros Adão Santino, Alda Soares, Aluízio Xavier, Amaro Oliveira, Ana
Maria Marques, Angela Maria do Espirito Santo, Ângela Gomes, Antônia Rita, Antônio Amaro
Ribeiro, Antônio Saturnino, Arízio Teixeira (in memoriam), Arlete dos Santos, Atalino José,
Benedito de Souza, Berenilce Teixeira, Carmem Lúcia Barreto, Carmen da Conceição, Cecília
da Conceição, Celí da Silva, Célia da Conceição, Cíntia Freitas, Cláudio Marcius, Creuza de
Lima, Creuza Maria da Rocha, Creuza de Souza, Deoshadete Ribeiro, Deuspaulo Ribieiro (in
memoriam), Dinalva Rodrigues, Dora Célia Alves, Ducila da Silva, Elço Vieira (in memoriam),
Edilza Rodrigues, Édna do Espírito Santo, Édna Fernandes, Elenice Cláudio, Elsime Gomes,
Emília Gomes, Emília Gonçalves, Eunice Soares, Francisco Carlos Vasconselos, Gracilio
Pinheiro, Genilda Pereira, Georgina dos Santos, Geraldo José Ferreira, Gilca Moraes, Helcio
dos Santos, Iolanda Maria, Irinéa Pereira, Jacy de Oliveira, Janette Queiroz, Jeanete Siqueira,
Joacir Manhães, Joana de Souza, Joana Ferreira, João Batista David, João Francisco Gonçalves,
Joci Maciel, Joel Xavier, Jorge da Silva, Jorge Trindade, José Barreto, José Benedito, José
Carlos Nunes, José Expedito Gomes, José Ferreira, José Francisco, José Tarciso, Jocelem
Ribeiro, Jussara de Souza, Laudicena Calixta, Leda Maria dos Santos, Ledi Pessanha, Leni
Rodrigues, Lenira Lessa, Liene Lino, Lisete Batista, Litelmar Nascimento, Lourdes Cruz, Lucia
Helena Vilela, Lucineia Ribeiro, Luiz Antônio Lopes, Luiz Marcos Ferreira, Luzia da Silva,
Manirete Areas, Manoel Pessanha, Mara José Ferreira, Maria Carlos da Conceição, Maria da
Conceição Campos, Maria das Graças Gomes, Maria de Fátima, Maria de Lourdes da Silva,
Maria de Lourdes Dias, Maria do Carmo Fortunato, Maria Eloisa Teixeira, Maria de Fátima
Carózio, Maria Francisca Mutuana, Maria Helena de Oliveira, Maria José Couto, Maria José
Gomes, Maria Luzia Nunes, Maria Marcelina, Maria Neuza, Maria Sebastiana Ribeiro, Maria
Tavares da Silva, Maria Tereza Monteiro, Maria Vicente, Mariana de Souza, Marilda da Silva,
Marilza Souza, Marinalva Alves, Marinete Areas, Mario Roberto Barreto, Marlene Lima, Milce
Bragança, Monica de Oliveira, Nadi Rodrigues, Nadia Maria Pinheiro, Neiva Azevedo, Nélio
de Mattos, Neuza Maria, Nilda de Souza, Ortemira Pereira, Oseias Leopoldino, Osmarina Silva,
Paulina da Cunha, Paulino Rosa, Pedro de Alcântara, Raimundo José de Oliveira, Regina
Fátima do Nascimento, Regina Maria Dutra, Regina Raquel Alexandrino, Renata do Patrocínio,
Rita de Cássia Dias, Rita de Cássia Linhares, Rita de Cássia do Espírito Santo, Rosane Ferreira,
Rosane Gomes, Rosangela Ribeiro, Roseli Gomes, Rui Silva, Salvadora dos Santos, Salvadora
Pinto, Sandra de Carvalho, Sebastiana Maria da Conceição, Sonia Maria Ribeiro, Tania Maria
da Cruz, Tania Calafange, Ubirajara Estanes, Victor Cruz, Willimam Santiago, Wilma
Ramalho, Wilson Monteiro, Zely Luiza e Zuleica Fernandes que trilharam comigo a trajetória
que culminou neste trabalho e que me ensinaram enquanto eu ensinava.
Aos meus companheiros de trabalho Angela Muylaert, Carla Bastos, Cristiane Mazzini,
Danielle Rangel, Dayenne Santos, Denilson Rodrigues, Denise Pires, Eliana Paes, Eristeia
Justino, Evaldo Tavares, Fabricio Simões, Fagner Mathias, Feliciana Faria, Flavia Azevedo,
Heloisa Landim, Josania Maria, Josué Rodrigues, Kíssila Mello, Marcos Cerqueira, Margarida
Terra, Orensten Júnior, Tatiane Eurico e Vanessa Rangel pelo carinho, confiança e dedicação
comigo e com os idosos nesses anos todos.
Sem cada um de vocês, nada disto teria sido possível. Agradeço a todos.
“Eu recomendo que os idosos, as pessoas que têm um sonho, não pensem: ‘Ah! Eu já estou
velha!’. Agora que é a hora da gente, que não teve tempo antes, começar o que tinha vontade
de fazer. Meu sonho era tocar violão, mas nunca fiz, não tinha tempo, não tinha oportunidade.
Hoje eu tenho!” (Dona Luciana)
DIAS JÚNIOR, Luiz Fernando Rocha. O ensino coletivo de violão para idosos: um relato
parcial de experiência na Casa de Convivência do Parque Tamandaré e na Casa de Cultura José
Cândido de Carvalho em Campos dos Goytacazes. 2019. 111 f. Monografia (Licenciatura em
Música, Habilitação em Educação Musical) – Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Fluminense campus Campos-Guarus. Campos dos Goytacazes.
RESUMO
Palavras-chaves: Educação musical; ensino coletivo de violão; ensino de violão para idosos;
terceira idade; envelhecimento.
DIAS JÚNIOR, Luiz Fernando Rocha. Collective guitar teaching for the elderly: a partial
experience report at Casa de Convivência do Parque Tamandaré and at Casa de Cultura José
Cândido de Carvalho in Campos dos Goytacazes. 2019. 111 f. Monograph (Degree in Music,
Qualification in Music Education) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Fluminense campus Campos-Guarus. Campos dos Goytacazes.
ABSTRACT
This qualitative research presents a partial report of the experience of collective guitar teaching
for the elderly people at Casa de Convivência do Parque Tamandaré and at Casa de Cultura
José Cândido de Carvalho in Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro. Twenty-one (21) elderly
people were interviewed, ranging in age from 60 (sixty) to 81 (eighty-one) years old, who were
attending the instrument classes for a maximum period of 2 (two) years, in order to find out
what difficulties they had to play the guitar. The first chapter presents a brief bibliographical
survey about the aging process of Brazilian population and the teaching-learning process in the
old age, the second briefly references the collective teaching of musical instruments and guitar
in Brazil, the third presents some difficulties reported by the students, informally, before and
during the period of this research, the strategies adopted by the teacher to work on them and the
students' opinions about them. The fourth chapter presents the difficulties reported by the
students during the interviews. Finally, in the final considerations, it is concluded that the
difficulty most mentioned by the students was the chords change in songs.
Keywords: Music education; collective guitar teaching; guitar teaching for the elderly people;
old age; aging.
LISTA DE IMAGENS
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
CAPÍTULO 1 – O ENSINO-APRENDIZAGEM NA TERCEIRA IDADE.................. 18
1.1 O envelhecimento da população ................................................................... 18
1.2 Envelhecimento ativo e educação na terceira idade ...................................... 23
1.3 O ensino de música na terceira idade ............................................................ 24
CAPÍTULO 2 – O ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO ............................................... 27
2.1 O ensino coletivo de instrumentos musicais (ECIM) – Breve histórico ....... 27
2.2 O ensino coletivo de violão (ECV) no Brasil – Breve histórico ................... 29
2.3 Características do ensino coletivo de instrumentos musicais ....................... 30
CAPÍTULO 3 – AS AULAS DE VIOLÃO NAS INSTITUIÇÕES .............................. 32
3.1 Breve histórico das instituições .................................................................... 32
3.2 As aulas de música ........................................................................................ 34
3.2.1 O uso da correia ............................................................................. 43
3.2.2 O violão-tapete ............................................................................... 54
3.2.3 “Tum que chi que” e percussão corporal ....................................... 61
3.2.4 Dedilhado e solo ............................................................................. 73
3.2.5 A pestana e o acréscimo de tétrades e cordas soltas ...................... 75
3.2.6 O repertório e o Festival de Música da Terceira Idade .................. 80
3.2.6.1 O Festival de Música da Terceira Idade .......................... 83
CAPÍTULO 4 – DADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTAS ......................................... 89
4.1 Acordes ......................................................................................................... 89
4.1.1 Acordes com pestana ...................................................................... 90
4.1.2 Leitura e cifras e do diagrama de acordes ...................................... 90
4.2 Levadas no violão ......................................................................................... 91
4.3 Dedilhado e solo ........................................................................................... 91
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 93
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 97
APÊNDICES................................................................................................................... 104
Apêndice 1 – Autorização para realização da pesquisa na Casa de Convivência
do Parque Tamandaré .......................................................................................... 104
Apêndice 2 – Autorização para realização da pesquisa na Casa de Cultura José
Cândido de Carvalho ........................................................................................... 105
Apêndice 3 – Autorização para as entrevistas e para a utilização dos dados
provenientes delas e das aulas ............................................................................. 106
Apêndice 4 – Autorização para uso de imagem ................................................... 107
Apêndice 5 – Autorização para uso de imagens registradas nas dependências
da Casa de Convivência do Parque Tamandaré ................................................... 108
Apêndice 6 – Autorização para uso de imagens registradas nas dependências
da Casa de Cultura José Cândido de Carvalho ..................................................... 109
Apêndice 7 – Cifra da música “Samba Lelê” ....................................................... 110
Apêndice 8 – Cifra da música “Oração pela Família” ........................................ 111
14
INTRODUÇÃO
é uma categoria de texto que está presente na produção acadêmica e científica (...) da
educação musical, composto pela descrição e análise de uma prática de ensino de
música desenvolvida pelo próprio autor do trabalho (tese ou dissertação, TCC,
Monografia, trabalhos apresentados em congressos), em rede de ensino público, em
projetos sociais, em escolas particulares ou em escolas de música (p. 112).
Participaram das entrevistas 21 (vinte e um) alunos de violão com idades variando de
60 (sessenta) a 81 (oitenta e um) anos. Foram ouvidos 20 (vinte) idosos que frequentaram
aulas na Casa de Convivência do Parque Tamandaré e 1 (um) aluno que frequentou na Casa
de Cultura José Cândido de Carvalho. Ambas as instituições estão situadas no município de
Campos dos Goytacazes. A disparidade numérica de entrevistas realizadas em uma casa e
outra se justifica porque na segunda instituição havia, na época, uma única turma com oito
alunos, dos quais, apenas um estava dentro do tempo máximo de dois anos nas aulas coletivas
de violão.
Este tempo de dois anos foi escolhido, pois é mencionado por Cruvinel (2003) e
Tourinho (2010) como o período limite de iniciação instrumental para as aulas em grupo,
passando os alunos, posteriormente, para aulas individuais com finalidade de continuarem os
estudos em música ou se profissionalizarem.
A escolha por entrevistas individuais deu-se pela maior profundidade na coleta de
informações dos alunos em relação ao modelo de grupo focais. Para Bauer e Gaskell (2003)
nos grupos focais “os sentidos ou representações que emergem são mais influenciados pela
natureza social da interação do grupo em vez de se fundamentarem na perspectiva individual,
como no caso da entrevista em profundidade” (p.73). Este fenômeno foi percebido durante
algumas aulas. Por vezes, questões eram levantadas para o grupo e as respostas eram escassas
ou a de apenas um indivíduo era seguida pelos demais colegas de sala. Com isso, optou-se
pela entrevista individual buscando a pluralidade das respostas e a “cosmovisão pessoal do
entrevistado” (p.75), sua maneira de ver o mundo, “sua construção pessoal do passado”
(p.75).
Sobre a entrevista individual, o mesmo autor afirma que com ela
Sobre a observação, Ludke e André (1986), afirmam que esta é uma forma de coleta
de dados que “ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional”
(p.26). Nela há contato direto do observador com o fenômeno e uma aproximação da
“perspectiva do sujeito” participante (p.26).
17
Cumpre ressaltar que este trabalho fala sobre educação não formal, ou seja, aquela que
não é praticada em uma instituição regular de ensino e não possui “conteúdos previamente
demarcados” (GOHN, 2014, p.40), como é o caso da educação formal. Gohn (2014) conceitua
a educação não formal como
A expectativa de vida da pessoa que atinge 65 anos também aumentou. Saindo de 10,6
anos em 1940 para, 18,7 em 2017. Uma diferença de 8,1 anos para o período todo
(AGÊNCIA IBGE..., 2018). Segundo a OMS (2005), até 2025 o Brasil será o quinto país com
maior número absoluto de idosos, como mostra a Tabela 2 (abaixo).
Tabela 2 – Número absoluto de pessoas (em milhões) acima de 60 (sessenta) anos de idade
em países com população total perto ou acima de 100 milhões (em 2002)
a sociedade precisa contabilizar uma outra velhice, que institui demandas que
precisam ser socialmente incorporadas; uma velhice capaz de oferecer um rico
repertório de habilidades, de conhecimentos e de experiências; uma velhice que saia
do isolamento sócio-cultural a que ainda é submetida em diferentes espaços
geográficos; que saia da pobreza educativa a que ainda vive submetida parte
significativa dela (p. 64).
Como resposta a este contexto, concordamos com Conceição (2013) quando afirma
que os idosos estão procurando atividades variadas, inclusive atividades musicais, e com
Rodrigues E. D. R. (2013) ao afirmar que estas têm capacidades de melhoria das condições
físicas, emocionais e sociais dos idosos.
Tendo em vista o crescimento populacional desta faixa etária e a escassez de
bibliografia sobre o ensino de violão para idosos, torna-se relevante colaborar com o
cumprimento do Art. 20 da Lei 10.741, de 1º de outubro de 2013, que rege: “O idoso tem
direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que
respeitem sua peculiar condição de idade”.
Da mesma forma, pretende-se contribuir parcialmente com a adequação de currículo,
metodologias e material didático de ensino de violão voltado ao público idoso. Estas
adaptações estão previstas como dever do Poder Público no Art. 21 da referida lei, que torna
obrigação do mesmo criar “oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando
currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados”.
Enquanto professores e pesquisadores de música e violão, concordamos com
Figuerêdo (2009) quando este afirma que é necessária, para o trabalho com esta faixa etária,
uma postura de busca e pesquisa adaptando conteúdos e os materiais didáticos, por parte do
professor.
23
Segundo a OMS (2005), para que a experiência de envelhecimento seja positiva para
os cidadãos, é necessário que sejam dadas “oportunidades contínuas de saúde, participação e
segurança” (p.13). Ela adota o termo “envelhecimento ativo” para expressar tal objetivo. Nas
palavras da própria organização, o envelhecimento ativo
atividades musicais com idosos, distribuídas nas seguintes áreas: 7 (sete) no Mestrado em
Gerontologia; 3 (três) no Mestrado em Música; 3 (três) no Mestrado em Educação; 2 (duas)
no Mestrado em Artes; 1 (uma) no Mestrado em Ciência da Comunicação; 1 (uma) no
mestrado em Serviço Social; 1 (uma) no Mestrado em Antropologia; e 1 (uma) no Mestrado
em Ciências Sociais. Destas, apenas 9 (nove) tratavam de educação musical.
A mesma pesquisa encontrou 4 (quatro) teses que envolviam atividades musicais e
idosos, sendo 2 (duas) do Programa de Doutorado em Psicologia da Universidade de São
Paulo – USP e 2 (duas) do Programa de Doutorado em Ciências Sociais, 1 (uma) na USP e
outra na PUC-SP. Nenhum dos trabalhos tratou de ensino e aprendizagem musical de idosos
(SILVA JÚNIOR J. D., 2012).
Há um mito ainda presente na sociedade de que idoso é incapaz de aprender algo novo
(BERGMAN, 2012). Visão essa, que até alguns idosos acabam reproduzindo. É bastante
comum ouvir dos próprios alunos que procuram as aulas de violão, o seguinte dito popular em
forma de pergunta: “será que cavalo velho pega passo?”.
Para Moragas (1997, apud LUZ, 2005, p. 22), “o ato de aprender, associado ao
rendimento e a produtividade, é ligado, tradicionalmente, às faixas etárias mais jovens, de
modo que as pessoas assumem uma atitude negativa ao relacionar aprendizagem e velhice”.
Neste ponto, concordamos com Luz (2005) quando afirma que é necessária a transformação
deste paradigma, resgatando a confiança nos idosos da possibilidade de sua aprendizagem
musical, neste caso específico, de sua aprendizagem do violão.
O ensino de música na terceira idade é uma oportunidade de adquirir habilidade e
conhecimentos específicos da área, assim como para trabalhar outras funções de cunho não
estritamente musical como: memória, atenção e percepção. A música ajuda a melhorar a
qualidade de vida da pessoa idosa de um modo geral (SILVA JÚNIOR J. D., 2012).
Luz (2005) defende que a educação musical deve direcionar-se ao desenvolvimento de
múltiplas faculdades e habilidades humanas, não apenas restringir-se a formação do músico
profissional. O mesmo autor igualmente ressalta o auxílio desta atividade no desenvolvimento
da memória.
A atividade musical para Bueno (2008) ajuda a desenvolver as seguintes
potencialidades no indivíduo: “expressão emocional, prazer estético, diversão, comunicação,
representação simbólica, resposta física, conformidade com as normas sociais, validação das
instituições sociais e rituais religiosos, continuidade e estabilidade da cultura e preservação da
integração social” (p.22). A mesma autora também afirma que “as atividades musicais são
26
benéficas e muito podem contribuir para com a vida do idoso, principalmente em relação à
sua sociabilidade e autoestima” (p. 20).
Sobre a autoestima, Dini, Quaresma e Lydia (2004), afirmam que ela
pode ser definida como o sentimento, o apreço e a consideração que uma pessoa
sente por si própria, ou seja, o quanto ela gosta de si, como ela se vê e o que pensa
sobre ela mesma. A auto-imagem é o centro da vida subjetiva do indivíduo,
determinando seus pensamentos, sentimentos e comportamento (p. 48).
Silva Sá (2016) afirma que o Brasil avançou positivamente da década de 1950 até os
dias atuais quanto a aceitação do ECIM devido à presença constante em trabalhos publicados
e a criação do Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais (ENECIM).
29
Sobre a falta de material especializado, Souza L. S. (2013) afirma que o ECV ainda é
uma área relativamente nova e em expansão e por isso ainda carece de métodos e
metodologias de ensino. Souza L. F. (2018) comenta a falta de materiais didáticas específicos
para violão e afirma que “a maioria dos professores que trabalham com essa modalidade,
fazem adaptações de outras formações instrumentais ou passam a escrever os seus próprios
arranjos para utilizarem em suas aulas coletivas de violão” (p. 8).
Cruvinel (2003), sobre as potencialidades do ensino em grupo, afirma que ele
possibilita uma maior interação do indivíduo com o meio e com o outro, estimula e
desenvolve a independência, a liberdade, a responsabilidade, a auto compreensão, o
senso crítico, a desinibição, a sociabilidade, a cooperação, a segurança e no caso
específico do ensino da música, um maior desenvolvimento musical como um todo
(p.52).
A mesma autora apresenta a visão de Oliveira (2002, apud CRUVINEL, 2003) sobre o
ensino em grupo ser mais agradável pois o aluno percebe as suas dificuldades presentes em
outros colegas, se sente pertencendo a uma orquestra ou coral e pela qualidade sonora do
estudo em grupo ser superior ao individual.
Cruvinel (2003) em entrevista com 11 educadores atuantes em ECIM, elencou as
seguintes vantagens do ensino coletivo em comparação ao ensino individual: “A interação
entre os alunos, despertando a socialização, a cooperação, a motivação, o rendimento, entre
outros; e o ambiente lúdico, provocado por esta interação” (p.65 – grifo original);
desenvolvimento mais rápido do repertório; melhora da afinação individual do aluno;
desenvolvimento do ouvido harmônico desde o início dos estudos; economia de tempo, baixa
desistência e melhoria na autoestima dos alunos; promoção de maior rendimento, estímulo,
disciplina cooperação, desinibição e disciplina entre os alunos.
Sobre o ensino coletivo, Cruvinel (2003) afirma:
O ensino coletivo de violão mostra-se, assim, uma alternativa viável e promissora para
atender a demanda do grande número de idosos que procuram semanalmente as aulas de
violão, pois almeja colaborar para o envelhecimento ativo dos mesmos e democratizar o
acesso ao estudo de um instrumento versátil e bastante usual na sociedade brasileira.
32
diversas chamado Colônia de Férias da Terceira Idade localizada no bairro Farol de São
Thomé (PORTAL..., 2019).
A casa do Parque Tamandaré oferta aulas das seguintes atividades: violão, canto coral,
teatro, dança de salão, aerodance, papietagem, pintura em tecido, crochê, renda irlandesa,
letramento, inglês, hidroginástica e informática.
A instituição oferece ainda atendimento nas seguintes áreas: psicologia; assistência
social, assistências jurídica, dermatologia, nutrição, endocrinologia, ortopedia, reumatologia,
neurologia, clínica geral, cardiologia, alergista, ginecologia, pneumologia e urologia.
Já a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho (Imagem 4) está localizada no bairro
de Goitacazes, foi inaugurada dia 7 de setembro de 1987 e recebeu este nome em homenagem
ao escritor campista José Cândido de Carvalho (1914-1989), eleito em 1974 para a 31ª cadeira
da Academia Brasileira de Letras. Dentre as suas obras encontram-se os romances “Olha para
o céu Frederico” de 1939 e “O Coronel e o Lobisomem” de 1964 (FERREIRA, 2004).
variadas e os seguintes cursos da área de artesanato também para idades diversas: pintura em
tecido, ponto reto, vagonite, corte e costura, fuxico, oitinho, tricô, crochê, petwork, confecção
de bolsas, feltro para lembranças de maternidade e laço.
A Casa de Cultura possui parceria com diversas instituições, incluindo a SESA, a
responsável pelas aulas de violão para idosos desta pesquisa. Possui também parceria com o
Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ), que confecciona carteiras
de identidade para moradores das proximidades, e com a Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) disponibilizando cursos de customização em roupas,
bordado e reciclagem. Com esta instituição também é montada, semanalmente, a Feira de
Economia Solidária na praça de São Benedito em Goytacazes, para os artesãos e produtores
rurais locais venderem seus produtos.
A Fundação da Municipal da Infância e Juventude (FMIJ), igualmente parceira, oferta
na instituição os cursos livres de manicure, pedicure e design de sobrancelhas.
Para além, a Casa de Cultura conta com uma biblioteca que disponibiliza consultas e
empréstimos de livros e realiza Cafés Literários com temas de escritores diversos, incluindo
campistas.
Imagem 5 – Primeira apresentação do Coral Doce Canto sob a regência deste autor
Partes do violão;
Nomenclatura dos dedos;
Notas musicais e suas alterações;
Pulsação e andamento;
Compassos binário, ternário e quaternário simples;
Postura ao violão;
1º Ano
Execução de acordes sem pestana (A, A7, Am, Am7, B7, C, D, Dm, E, E7, Em,
F#m7 e G)
Leitura de cifras;
Elementos da música: Harmonia, melodia e ritmo;
Parâmetros do som: altura, duração, intensidade e timbre;
Levadas rítmicas: valsa, guarânia, balada e baião;
Afinação do instrumento com afinador digital.
Dedilhado com os acordes já estudados;
Acordes que compõem o Campo Harmônico maior;
Mudança de tonalidade;
Execução de acordes com pestana (D7M, F, F#m, e Bm)
Execução de solos;
2º Ano
Leitura de tablatura;
Valores das figuras e das pausas musicais tradicionais (semibreve, mínima, semínima
e colcheia) na pauta e na tablatura;
Compasso binário composto;
Afinação do instrumento sem afinador;
Levadas rítmicas: pop, rock, toada, bossa nova, choro e bolero.
Fonte: próprio autor.
partituras e 2 (dois) violões eletroacústicos. A instituição possui ainda, 1 (uma) mesa de som
de 16 (dezesseis) canais e 2 (dois) microfones, que ficam guardados no almoxarifado.
Em ambas as instituições, as turmas não são fixas, os alunos podem mudar caso
possuam problemas com o horário, ou não estejam acompanhando o rendimento dos colegas,
ou possuam afinidade com companheiros de outras turmas. O professor interfere nessa
movimentação apenas quando percebe que, naquele momento, o aluno terá muita dificuldade,
não conseguirá acompanhar o ritmo ou os conteúdos da turma pretendida e seu aprendizado
será prejudicado.
Por meio da observação das aulas e do diálogo com os alunos foi possível identificar
algumas dificuldades iniciais no aprendizado do violão, foram elas: decorar os acordes; trocar
entre os acordes; execução do ritmo; execução rítmica conjunta à troca de acordes; apertar a
corda de cima e não abafar a corda de baixo; realização de acordes com pestana; dificuldades
em trazer o violão para as aulas; desconforto na postura (violão na perna direita); dificuldade
para visualizar as cordas e casas no braço do violão (violão na perna direita). Foi percebida
ainda a dificuldade em trabalhar com músicas desconhecidas pelos alunos e a pluralidade de
gostos e estilos presentes nas aulas coletivas, esta última já foi apontada por Tourinho (2010).
Algumas das dificuldades observadas vão ao encontro de Rodrigues F. M. (2007) e
Silva Júnior H. (2016) que identificaram a realização de pestanas, mudança de acordes e
execução das levadas.
Partindo destas informações, os caminhos tomados para abordar os conteúdos e
reduzir as dificuldades estão nos itens a seguir:
3.2.1. O uso da correia buscando uma postura mais confortável, estabilidade do violão,
posição da mão esquerda menos tensionada e melhor visualização da escala do
instrumento;
3.2.2. O jogo do violão-tapete para trabalhar a formação dos acordes e percepção da
movimentação dos dedos na mudança dos acordes e a memória;
3.2.3. A proposta “tum que chi que” de silabação rítmica, movimento e percussão
corporais para facilitar a compreensão e execução dos ritmos e das levadas no
violão;
3.2.4. Dedilhado com as iniciais dos dedos feito com base na silabação criada pela
proposta “tum que chi que”, uma tabela de baixos indicando a corda aonde está
o baixo do acorde e a tablatura para o estudo dos solos.
3.2.5. O acréscimo de tétrades e cordas soltas para reduzir a quantidade de dedos nos
acordes e evitar as pestanas;
43
É possível encontrar em lojas virtuais, o acessório chamado “Gitano” que pode ser
utilizado na parte lateral do violão voltada para uma das pernas do instrumentista (Imagem
18).
46
Imagem 18 – Gitano
1
https://www.stringsbymail.com/gitano-guitar-support-1170.html
47
O apoio do violão com correia para tocar sentado é recomendada por Heck (2004,
apud VASCONSELOS, 2013) e Gomez (2006, apud VASCONSELOS, 2013). A correia do
primeiro é presa na região da cintura, permite estabilidade e relaxamento do corpo (Imagem
26). O Segundo sugere uma correia em formato de “Y” que aproxima a posição do violão
quando o violonista utiliza o banco no pé esquerdo (Imagem 27). Vasconselos (2013) afirma
que ambos os autores não fornecem maiores informações sobre a fixação das correias ao
violão.
51
Com o uso da correia, os pés dos alunos permanecem no chão, ambas as mãos e pulsos
estão na posição “desejável” com base em Tennant (1995; 2003), sem “tensões exageradas”.
A Imagem 26 mostra estas posições de mãos e pulsos.
A correia não foi uma solução definitiva e aceita por todos, mas sim, uma sugestão
para dar mais possibilidades de posicionamento do instrumento, porém, mesmo com as
regulagens de altura, muitos não se adaptaram. Dentre os 21 (vinte e um) participantes da
pesquisa, 11 (onze) utilizam para tocar, 9 (nove) não utilizam e 1 (um) utiliza apenas em
apresentações. Os demais apoiam o instrumento na perna direita com ambos os pés no chão,
ou cruzam a perna direita sobre a esquerda.
Dentre os que afirmaram não utilizar a correia, as respostas foram: ela serve para tocar
em pé, não possuem a correia ou os engates necessários para coloca-la, já usou mas não veem
mais necessidade e uma senhora relatou ter receio de se machucar em decorrência de ter
artrose na cervical.
Dentre os que utilizam a correia, as afirmações foram de que ela é boa para a postura;
o violão fica mais seguro, mais firme e não sai do lugar; na falta dela, o instrumento escorrega
e atrapalha para pressionar as cordas com a mão esquerda.
Dona Liana e dona Marta afirmaram que a correia ajuda na sua postura. A fala desta
última foi: “Eu acho bom a gente se sente mais à vontade, pode soltar as mãos e é bom até
[para] a postura da coluna, pra mim fez muito bem”.
Dona Luciana elencou, na entrevista, a forma de manusear o violão como uma
dificuldade que tinha no início das aulas, mas que foi sanada. Segundo a mesma, “a maneira
54
de pegar que eu não achava certo, não estava acertando a maneira de pegar o violão.” E
complementou afirmando que a correia facilitou o manuseio.
Com a correia é melhor, porque a gente fica mais firme e apoiado [...]. Sem a
correia, o violão escorrega e a gente não consegue segurar direito os dedos para
tocar as notas, com a correia não, a gente apoia na perna e com ele [o violão] meio
deitado e assim, facilitou.
Esse lance de correia, eu vim aprender aqui, a utilidade dela [...] eu comprei a
correia e uso até hoje e mesmo se eu tocar sentado ou tocar em pé, eu uso a correia,
por que eu acho que facilita muito, porque você não se preocupa em apoiar o violão,
em segurar o violão [...]. Quando acostuma e passa a confiar, você deixa o violão
solto e só se preocupa em fazer posições e bater o violão, você não tem mais uma
preocupação em prender o violão com você [...]. Foi uma maneira que eu aprendi
aqui e que eu gostei e acho que é muito válida [...]. Agora eu só toco com correia.
Dona Carolina afirma usar a correia e reconhece sua utilidade, porém ressalta que o
material do seu objeto é rígido e isso a machuca. Dona Karina também relatou incômodo. Ela
afirmou:
Cheguei até a comprar a correia, mas tem hora que eu sinto que machuca [...]. Só
que, se você botar a correia, você levanta mais o braço do violão, então acho que
isso aí facilita muito mais. [Facilita] a gente tocar melhor. [...] Quando eu toco em
casa eu não toco com a correia porque aí machuca muito. Eu tenho mania de todo
dia tocar, nem que seja meia hora, já deixo o violão em cima da cama. [Uso a
correia] mais quando vou fazer apresentação [...], na apresentação ajuda muito, você
botou aqui, você já sabe que está livre, você não tem a preocupação que vai cair.
Porque se você botar aqui [sem correia] [...] eu acho que ele vai cair, então deixo
com a correia.
3.2.2 O violão-tapete
Uma das dificuldades percebidas, pelo professor, nos alunos foi a troca de acordes,
vinculada, muitas vezes, ao esquecimento da posição de cada dedo nas cordas, mesmo com o
diagrama de acordes presente nas cifras das músicas e na apostila.
Foi criada então, pelo professor, uma atividade lúdica com objetivo de trabalhar, por
meio da movimentação corporal, a visualização das casas e cordas que devem ser
pressionadas em cada acorde, a compreensão da movimentação dos dedos na mudança de um
acorde para outro e em melodias simples.
55
O jogo apresenta o braço do violão do início da mão até a quarta casa e é feito de piso
vinílico com dimensões de 1,5mX4m (Imagem 31).
Imagem 31 – O violão-tapete
Imagem 32 – Uso do violão-tapete em uma aula2 de iniciação ao violão para a terceira idade
na Casa de Cultura Villa-Maria3 em 26 de abril de 2018
2
A aula com o violão-tapete fez parte da programação da I Semana de Arte da Villa.
3
“A Casa de Cultura Villa Maria é um órgão suplementar da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, que tem por finalidade o desenvolvimento da pesquisa, do ensino e da preservação de acervos e da
produção e da difusão do conhecimento” (PORTAL DA CASA DE CULTURA VILLA MARIA, s/d, s/p).
57
(SILVA, 2012). Ente os brasileiros podemos citar Liddy Mignone (ROCHA, 2016) e Sá
Pereira (FERNANDES, 2016).
Sá Pereira utiliza o jogo e o lúdico em atividades para exercitar a audição, estudos de
escalas e intervalos musicais. Ele propõe uma escada e marcações feitas no chão, nas quais os
alunos pisavam (Imagem 37) (FERNANDES, 2016).
Imagem 37 – Escada (esquerda) e marcações feitas no chão (direita) utilizadas por Sá Pereira
para o estudo de alturas de notas e intervalos musicais
4
Dona Jéssica estava se referindo a posição do violão no chão com as cordas voltadas para cima, ilustrada pelo
violão-tapete.
60
Eu achei excelente aquilo, muito bom. [...] A gente visualizou muito [...] a posição
dos acordes, a troca, todas as coisas que a gente estudou nesses anos todos. [...]
Depois que a gente fez aquela atividade ficou melhor [...] porque ali foi muito bom,
colocar ali o violão tipo um tapete e você ficar ali, mostrando, trocando... e não foi
com as mãos, vocês usaram os pés pra fazer aquilo, mas a gente prestando atenção
sabia exatamente qual a nota que era, o acorde que era. Eu gostei muito, foi muito
bom.
O caráter ativo do jogo foi apontado por dona Carolina. Segundo ela, o violão-tapete
“leva o povo a levantar e querer fazer o melhor e a gente ali olhando, vendo [...] aprende mais,
não fica tão acomodada. Desperta alguma coisa diferente”.
Dona Rita ressaltou, em sua fala, a questão sensório-motora presente no jogo.
Algumas palavras dela foram:
Ajuda a memória, parece que a gente guarda mais. É tipo uma brincadeira né? Igual
a uma criança, o senhor ensina como se fosse uma criança. É tipo uma brincadeira
aquilo ali. Então acho que a gente memoriza mais aquilo ali olhando a brincadeira,
sei lá, a gente vai memorizando aquilo ali. [...] Aquele tapete ensina as cordas, então
aquilo ali também ajudou [...] a lembrar [...] as casas, aquele violão no chão, a gente
vai memorizando aquilo para a gente pisar para saber qual que é.
5
Dona Rita está se referindo à notação de acordes por meio de cifras.
61
Aquela técnica ali ajudou muita gente, a mim não fez muita diferença não porque eu
já tenho práticas em posições, então já conheço bastante posições, muitas posições e
aquilo ali é uma coisa básica, inicial e conversando com alguns colegas aqui, tem
pessoas que saíram maravilhados com aquilo. [...] Outras pessoas que têm mais
dificuldades, aquilo para eles foi muito bom.
[...]
Eles saíram falando bem, porque aquilo ali abre a mente da pessoa [...], fazer,
conforme tem a prática no violão, fazer em um local diferente que é no chão, ali,
aquilo abriu mais a mente um pouquinho, então acho que pôde esclarecer mais.
Então acho muito válido para quem está começando [...], é uma maneira diferente de
fazer, então sua mente vai abrir [...], eu acho que amadurece a pessoa.
Para o ensino das levadas rítmicas no violão foram utilizadas as propostas de silabação
rítmica e movimento corporal apresentadas por Silva Júnior H. (2016) para ensino de violão a
distância dirigido a professores da educação básica com idades médias de 25 anos. Nesta
abordagem, os ostinatos rítmicos criam palavras utilizando as sílabas: “tum” para ataques com
o polegar para baixo representando a parte mais grave da estrutura, “quê” e “chi” para ataques
do indicador para cima e para baixo, respectivamente, ambos representando região média e
“pá” para ataques acentuados do indicador para baixo, representando os elementos mais
agudos da estrutura.
O sistema de silabação rítmica foi utilizado por Kodály em seu método de educação
musical para o trabalho de solfejos rítmicos. Ele usou a sílaba “tá” para a duração de uma
pulsação, “ti” para meia pulsação como mostra a Imagem 38 (abaixo) (SILVA, 2012).
62
As levadas, para Silva Júnior H. (2016), nos ritmos balada (1), pop (2), toada (3), funk
(4), baião (5) e pop rock (6), ficam organizadas como mostra a figura abaixo (Imagem 40).
63
Para o trabalho com os idosos, o autor deste estudo criou um quadro (Imagem 41) com
levadas, contendo alguns ritmos, uns adaptados e outros na íntegra, presentes em Silva Júnior
H. (2016), e outros novos, feitos a partir de sua proposta. Para facilitar a compreensão foram
utilizadas setas demonstrando a direção do ataque. As setas pretas representam os ataques
com o polegar. Este primeiro quadro estava presente no material didático entregue para os
alunos, os mesmos apelidaram a proposta de “tum que chi que”.
64
6
A letra da música com a cifra que foi entregue aos alunos encontra-se no item “Apêndice” deste trabalho e a
estrutura da imagem 44, foi escrita no quadro.
65
Imagem 42 – Estrutura da música “Samba Lelê” utilizada no trabalho com a pulsação binária
O primeiro ritmo a trabalhar a silabação “tum que chi que” foi a valsa (Imagem 43)
que apresenta um item novo: ataques para direções diferentes (um descendente e dois
ascendentes).
Imagem 43 – Ritmo valsa de acordo com a proposta “tum que chi que”
O segundo foi guarânia (Imagem 44) que trabalhou um ostinato rítmico um pouco
maior com a alternância de movimento ascendentes e descendentes do braço.
66
Imagem 44 – Ritmo guarânia de acordo com a proposta “tum que chi que”
Imagem 45 – Ritmo balada proposto por Silva Júnior H. (2016) acrescido de setas indicando o
sentido do ataque
Imagem 47 – Ritmo baião proposto por Silva Júnior H. (2016) acrescido de setas
Sendo assim, o professor fez uma livre adaptação, que deixou o ritmo no formato
apresentado na Imagem 48 (abaixo).
Como é perceptível, mais uma sílaba foi criada, o “tuim” para ataques “mais
demorados” do polegar. Trata-se do ponto de aumento utilizado na célula rítmica do primeiro
tempo do compasso. Porém, as dificuldades ainda persistiram, poucos alunos conseguiam
executar o ritmo com precisão e o resultado sonoro ainda não estava satisfatório.
Possivelmente, uma das dificuldades estava na interrupção do movimento ascendente e
descendente do braço. O aluno precisava fazer, agora, dois ataques seguidos com o mesmo
dedo, no mesmo sentido, usando quatro sílabas diferentes na mesma levada.
A solução encontrada foi criar uma levada baseada na mesma estrutura e que
mantivesse o movimento ascendente e descendente presente na guarânia e na balada. Ainda
que esteja descontruindo a convenção proposta Silva Júnior (2016) para o “tum” nos
elementos mais graves e “pá” nos mais agudos, o resultado sonoro mostrou-se satisfatório. A
Imagem 49 (abaixo) apresenta o resultado.
69
Esta levada recebeu o nome de Capoeira/Ijexá/Baião pois esta estrutura rítmica está
presente nos ritmos capoeira e no ijexá (BECKER, 2013) e nas variações do baião
apresentadas por Faria (1995). Esta levada foi utilizada em sala para a execução das músicas:
Asa Branca e Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; Eu Só Quero um Xodó
(Dominguinhos); Samba Lê Lê (Folclore) e Trêm bala (Ana Vilela).
Vale ressaltar que a música “Samba Lelê”, inicialmente, foi trabalhada no ritmo de
marcha no compasso binária simples marcando os pulsos com ataques para baixo, como
mencionado anteriormente neste item, e também foi utilizada para o estudo do ritmo do baião.
Ao final do processo, o quadro de levadas entregue para os alunos, presente no
material didático, foi alterado (Imagem 50). O ritmo do baião inicial de Silva Júnior H. (2016)
foi posicionado mais abaixo na tabela e o baião adaptado pelo professor ficou na posição
número quatro.
70
No tempo aproximado de um ano e meio, foi possível trabalhar com todos os alunos
até o ritmo número 4 (quatro) da imagem acima. Nos seis meses finais do tempo delimitado
nesta pesquisa, os demais ritmos foram trabalhados em algumas turmas específicas ou com
alunos específicos que se interessavam e traziam músicas diferentes do repertório utilizado
em sala. Desta forma, os quatros últimos ritmos não seguiram a ordem da imagem acima nem
foram estudados por todos. O item 3.2.6, ao falar de repertório e do Festival de Música da
Terceira Idade, aborda mais sobre as escolhas e caminhos escolhidos por alguns alunos.
Da mesma forma que Silva Júnior H. (2016), o estudo das levadas deu-se por meio da
silabação rítmica, dos movimentos e percussão corporais buscando uma compreensão musical
do ritmo através do meio do corpo numa abordagem a luz de Dalcroze (FONTERRADA,
2008). A proposta também tem embasamento na metodologia de Kodaly. Segundo Silva
(2012), nos estudos de solfejos-rítmicos do método Kodaly, os ritmos e suas subdivisões eram
“vivenciados em sala de aula por meio de palmas, batidas de pés e marcações com
instrumentos de percussão” (p.77). Em nosso estudo, os alunos foram incentivados a bater
71
palmas, batucar no peito e nas pernas, pisar, estalar os dedos, caminhar, falar e cantar, fazer
gestos e batucar o violão de formar livre7 de acordo com o ritmo proposto.
Para além, foram enviados áudios curtos com as levadas para o grupo do “Whats App”
formados pelo professor e pelos alunos. Os áudios continham algum ritmo específico sendo
executado e cantado por aproximadamente um minuto para que os alunos pudessem tocar
junto. Esta ferramenta, porém, não estava ao alcance da maioria. Poucos alunos tinham um
smartphone ou sabiam utilizar o programa e ainda assim, dos que estavam no grupo, pouco
interagiam quando algum material era divulgado. Para se ter uma ideia, atualmente (junho de
2019), dos 76 (setenta e seis) alunos, apenas 31 (trinta e um) estão no grupo. Dos 21 (vinte e
um) entrevistados nesta pesquisa, 20 (vinte) continuam frequentando as aulas e desses, 8
(oito) estão no grupo.
A maioria dos entrevistados afirmou que o “tum que chi que” e a percussão corporal
facilitaram a compreensão das levadas rítmicas das músicas. Analisando as falas, é possível
afirmar que as propostas ajudaram a compreender os ritmos e executá-los no violão.
Sobre o “tum que chi que”, dona Jéssica respondeu: “Muito bom, muito bom. Porque a
gente capta mais. É melhor para a gente raciocinar e captar a música”. Ela, dona Marta e dona
Karina afirmaram que conseguem perceber qual é o ritmo da música apenas pela palavra
formada e que essa forma de trabalhar facilita na compreensão e na aprendizagem do ritmo.
Na entrevista, quando perguntado “qual é a opinião do senhor(a) sobre o ‘tum que chi
que’”?, senhor Fernando falou sobre seu progresso na execução do ritmo no instrumento com
base no “tum que chi que”, na ajuda para a memorização e na facilidade da proposta:
Eu acho ótimo, e achei [...] a didática muito boa e isso aí, essa questão desse
‘apelido’ faz a gente gravar melhor, porque quando você está batendo, você tem
aquilo na mente: ‘tum que chi que, tum que chi que’. Então isso facilita muito,
porque só quem está no “mundo da lua’ mesmo que não [percebe], mas se ele estiver
levando a sério facilita muito. É uma maneira fácil pra você aprender.
[...]
É muito fácil, é muito prático, esses apelidos aí facilitam muito, eu acho que tem que
ser assim, [...] pra mim era difícil fazer as batidas [...] fazia do meu jeito, fazia de
qualquer maneira. Então isso aí está na minha mente gravado, eu não esqueço mais.
Toda vez que for tocar o “Rock” eu faço aquela mesma batida, depois eu vou me
aprimorar, mas a base é essa que eu peguei, que foi dada aqui. Eu acho que a
didática é bem fácil qualquer um pode pegar, quem nunca teve aula pode pegar e
facilita muito.
hora da batida a gente pega melhor o ritmo”. Ela afirma que consegue perceber qual dedo
deve tocar e a direção, mas tem dificuldade de fazer os ritmos quando estuda em casa.
Dona Margarida e dona Karina afirmam que conseguem compreender a partir das
sílabas, qual é a direção do ataque nas cordas e qual o dedo deve fazê-lo e que essa forma de
trabalhar o ritmo é “maravilhosa [...] fica muito mais fácil pra gente entender”, nas palavras
da primeira.
Sobre a facilidade da proposta, senhor Jorge afirmou: “Foi mais fácil pra gente
aprender. Eu gosto de tocar ele [o tum que chi que] por que é uma forma mais prática, mais
fácil de pegar as batidas, a maneira de tocar”.
Dona Rita afirmou: “achei, no início, uma coisa muito primária, meio infantil [...], mas
depois que vi que se encaixava perfeitamente no ritmo e procuro usar exatamente esse ‘tum
que chi’, os outros ritmos também, porque é a maneira mais fácil de aprender e gravar”. Ela
também respondeu que consegue perceber qual é o ritmo a ser executado por meio da palavra
formada.
Sobre caráter “infantil” relatado pelo estudante, nos parece pertinente ressaltar a fala
de Weizmann (2003) em seu material destinado ao ensino coletivo de violão e formação de
orquestra: “todos são crianças quando começam qualquer caminhada” (p. 14).
Sobre a percussão corporal, dona Jéssica ressalta o reforço da memória com a
atividade. Seu relato foi:
Muito bom [...] ajuda muito, eu tenho certeza que todas as pessoas que o senhor fizer
na entrevista vão dizer que isso é bom, porque a gente lembra, a gente consegue
lembrar [...]. Favorece a gente a lembrar [...] e a gente consegue chegar lá.
[...]
Ajuda a gente a ter mais ritmo no violão, porque a gente consegue a batida certa.
Muito bom isso aí, também é igual... isso ai ajuda muito a coordenação motora, tem
muita gente que tem dificuldade de coordenação motora, é exercício.
[...]
Essa questão de bater no corpo organiza a sua mente naquela batida, a sua mente vai
entendendo melhor e vai abrindo a mente também, porque depois você vai fazer
aquilo no violão [...] então a mente abre mais. Você já fez no corpo, fez no violão,
depois você pode fazer na mesa, você pode usar qualquer instrumento. Então sua
mente se abre nesse sentido, eu acho que amadurece muito, principalmente quem
está começando.
73
Senhor Fernando afirma que alguns podem ter dificuldade por causa da falta de
coordenação, mas com o tempo os alunos acabam aprendendo e relatou também que uma vez
pegando o ritmo no corpo, fica mais fácil para fazer no instrumento.
A coordenação também é citada por senhor Jorge. Seu relato foi:
É bom porque dá coordenação, né? Isso é pra gente pegar a coordenação da coisa,
como que vai coordenar as batidas lá, então a gente está fazendo no corpo o que vai
bater lá no violão. Então é ótimo porque as vezes a gente fica meio perdido na
batida, começa atrasado, quando a pessoa está indo no ‘tum’, você está vindo no
‘que”, então isso, bater aqui, dá a coordenação pra gente ver o que vai fazer lá na
batida.
A fala de senhor Alberto aponta para o aprendizado por meio da imitação. A esse
respeito Macêdo e Tourinho (2016) em seu material destinado a professores de violão que
trabalham com a faixa etária de 7 a 11 anos, afirma que “no ensino coletivo de violão e de
outros instrumentos para principiantes, a imitação é bastante utilizada como recurso. Assim
como aprendemos muitas coisas olhando dos outros, com o tocar não é diferente” (p.7). E
ressalta que a imitação deve buscar o resultado sonoro e não a “decodificação de símbolos”
(p.7).
O dedilhado foi trabalhado em sala por meio da iniciais dos dedos executando os
acordes já estudados e o “tum que chi que” como base rítmica. Por exemplo, para o dedilhado
do ritmo de valsa e guarânia foi passado para o aluno esquema abaixo (Imagem 51).
74
Os alunos foram orientados a deixar os três primeiros dedos nas três primeiras cordas e
alterar apenas o polegar para a execução dos baixos dos acordes. Para isso, foi criado um
quadro por este professor para orientá-los de onde tocar com o polegar com base nos acordes
estudados (Tabela 5).
Tabela 5 – Tabela de baixos indicando a corda que o polegar deve tocar em cada acorde
6ª Corda 5ª Corda 4ª Corda
EFG ABC D
A orientação para a leitura da tabela acima foi: nos acordes de “D” (D, D7M ou Dm),
o polegar deverá tocar na quarta; nos acordes de “A, B ou C” (A, A7, Am, Am7, B7, C), o
polegar deverá tocar na 5ª corda; e nos acordes de “E, F ou G” (E, E7, F, F#m, F#m7 ou G), o
polegar deverá tocar na sexta corda. Foi explicado para os alunos que esta tabela não é uma
solução definitiva, mas sim, um auxílio para a introdução ao dedilhado.
Os exercícios de base para o trabalho da movimentação dos dedos no dedilhado e nos
solos foram tirados de Pinto (1975; 1978) e Tennant (2003).
Quanto ao solo, o estudo foi feito por meio de tablaturas e teve auxílio do violão tapete
durante alguns exercícios. As primeiras músicas utilizadas para o estudo do solo foram uma
breve introdução, criada pelo professor, da música “A Chalana” e a música “Parabéns pra
Você”. Ambas tocadas apenas na primeira corda (Imagens 52 e 53).
75
No violão, por vezes, é necessário apertar mais de uma corda utilizando apenas um
dedo (normalmente o dedo 1 da mão esquerda), a esse movimento é dado o nome de pestana
(Imagem 54). Esta foi uma das dificuldades percebidas por este professor em contextos de
ensino de violão anteriores a esta pesquisa e durante ela.
76
Fonte: O diagrama (esquerda) foi retirado do Dicionário de Acordes do site www.cifraclub.com.br e a foto
(direita) foi feita por este autor.
8
A Casa de Convivência do Parque Tamandaré e a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho.
77
Tornou-se
Tornou-se
Fonte: os diagramas de acordes foram extraídos do site cifraclub.com.br e organizados por este autor.
O acorde de Fá sustenido menor (F#m) pode ser feito sem pestana no formato
ilustrado abaixo (Imagem 56). Porém, em contextos de ensino anteriores a este estudo, foi
percebido que os alunos não conseguiam abafar a quarta corda quando executavam a levada, o
que provocava uma alteração no resultado sonoro, soava como Ré com sétima maior na
primeira inversão (D7M/F#).
78
Após o primeiro ano de estudo, foi proposto para o primeiro contato com a pestana, o
acorde de Ré com sétima maior (D7M) e como a primeira música com pestana, “Nos Bailes
da Vida” de Milton Nascimento e Fernando Brant. Esta possui a mudança do Ré maior (D)
para o Ré com sétima maior (D7M), aonde o dedo 1 (um) da mão esquerda permanecerá na
mesma corda e na mesma casa. A Imagem 57 (abaixo) ilustra a progressão mencionada.
Foram feitos exercícios isolando os estudos dos acordes com pestanas e para a
execução das músicas, os alunos foram incentivados à manter o ritmo da mão direita mesmo
que o som dos acordes não estivesse satisfatório, isso resultava na continuação da música até
o final.
Duas músicas com pestana fizeram parte, por um tempo, do repertório da Orquestra de
Violões da Terceira Idade, “A Volta do Boêmio” e “Então é Natal”, ambas com a presença do
79
Fá maior (F). Nas apresentações, nos trechos com pestana, houve uma ligeira diminuição da
massa sonora e da definição da altura das notas, porém, não o suficiente para comprometer a
execução e compreensão da música.
Ainda sobre o acréscimo das tétrades, no violão, em algumas situações, ele possibilita
também a diminuição de dedos para realizar os acordes. Isto foi feito com os acordes de Lá
maior (A) que, quando tinha função dominante, era acrescentada a sétima do acorde, se
tornando Lá com sétima (A7), diminuindo um dedo na formação do acorde. O mesmo foi
feito com Mi maior (E), que se tornou Mi com sétima (E7) e Lá menor (Am), que se
transformou em Lá menor com sétima (Am7) (Imagem 58).
Tornou-se
Tornou-se
Tornou-se
Fonte: os diagramas de acordes foram extraídos do site cifraclub.com.br e organizados por este autor.
80
Porém, para o contexto desta pesquisa, foi percebido que os acordes com números
causavam confusão quando os mesmo eram trabalhados na forma de tríades. Isso aconteceu
nos acordes de Mi com sétima (E7) e Lá menor com sétima (Am7). Quando foram
trabalhados os acordes de Mi maior (E) e Lá menor (Am), alguns alunos confundiam as
posições tríades com suas respetivas tétrades, desta forma, o professor escolheu trabalhar
apenas com os acordes de Si com sétima (B7), Fá sustenido menor com sétima (F#m7) e Lá
com sétima (A7).
A mudança do Ré maior (D) para o Lá com sétima (A7) é o primeiro desafio
apresentado aos alunos para mudança de acordes, visto que os dedos 1 (um) e 2 (dois) da mão
esquerda continuam na mesma casa, apenas subindo uma corda cada um, enquanto o terceiro
dedo fica livre (Imagem 59).
Fonte: os diagramas de acordes foram extraídos do site cifraclub.com.br e organizados por este autor.
Oliveira (2015) também propõe iniciar a mudança entre acordes com estes dois, porém
com ambos na forma de tríades, em seu trabalho sobre o ensino coletivo de violão para
adolescentes no Instituto Federal Fluminense – Campus Campos-Centro.
TOURINHO, 2002; FIREMAN, 2006). Para Teixeira (2008, p. 20) “a motivação dos alunos
para aprender violão está diretamente ligada ao repertório a ser aprendido”.
Tourinho (2002) em estudo com alunos do curso “Oficina de Violão” da UFBA
concluiu que o desempenho destes com o repertório familiar e de seu interesse, foi maior do
que o grupo de alunos submetidos ao repertório do programa da “Oficina de Violão” da
UFBA.
Desta forma, procurou-se um equilíbrio entre as preferências dos alunos, e as
exigências técnicas das canções. Foram utilizadas músicas que os alunos conhecessem e que
fizessem parte do seu convívio. Foram elas: Samba lelê (Folclore), Oração Pela Família
(Padre Zezinho), A Montanha (Roberto Carlos), Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira), Baião (Luiz Gonzaga) Parabéns pra Você, Luar do Sertão (Luiz Gonzaga), Menino
da Porteira (Sérgio Reis), Como é Grande o meu Amor por Você (Roberto Carlos), Nos
Bailes da Vida (Milton Nascimento e Fernando Brant), Amor, I Love You (Marisa Monte),
Trem Bala (Ana Vilela), Sinônimos (Chitãozinho e Xororó e Zé Ramalho), Meu Primeiro
Amor (José Fortuna), A Volta do Boêmio (Adelino Moreira), Cabecinha no Ombro, A
Chalana e Tocando em Frente de Almir Sater e Eu só Quero um Xodó (Dominguinhos).
Na época das comemorações natalinas as músicas foram: Deixei meu sapatinho; Bate
o Sino, Então é Natal (John Lennon, tradução de Simone) e Noite feliz. No período das festas
juninas, são valorizadas mais as músicas de forró e baião.
A maioria das músicas trabalhadas em aula são utilizadas também nas apresentações
com a orquestra de violões, buscando motivar o aluno a aprender e tocar junto com o grupo.
Para se apresentar é necessário que saiba tocar ao menos uma música do repertório.
Algumas das desvantagens elencadas por Tourinho (2010) para o ensino coletivo estão
relacionadas a administrar as diferenças individuais de aprendizagem e o gosto musical de
cada indivíduo. Os alunos que conseguiam aprender os conteúdos, as atividades e as músicas
propostas rapidamente demonstravam desestímulo em decorrência da necessidade de revisões
esporádicas por conta de dúvidas ou esquecimentos dos conteúdos por parte de alguns alunos.
A dificuldade foi manter o interesse do idoso que já havia aprendido e não fazer os que
estavam com dificuldades se sentissem desestimulados ou envergonhados. Ao longo desses
anos por várias vezes foi ouvida a frase: “Me desculpe, professor, estou te dando muito
trabalho”.
Para os alunos com dificuldades, além das revisões, buscou-se simplificar as cifras e
levadas para que eles pudessem continuar acompanhando ainda que com algumas adaptações,
ou trocá-los para uma turma que estava trabalhando assuntos mais elementares.
82
São músicas boas para nós que estamos aprendendo. São músicas boas para tocar,
não são músicas com acordes difíceis, são músicas que encaixam mais no padrão de
aprendizado, acho que da maioria aqui, posso falar por mim, mas acho que a maioria
deve pensar assim também.
O repertório eu achei ótimo porque [...] as músicas são músicas atraentes, a maioria
das pessoas gostam das músicas e que a gente antes achava distante de a gente tocar
uma música dessas, como “Nos Bailes da Vida”, que é uma música tradicional, que
a música é linda e que a gente só vê em grandes apresentações e Milton Nascimento
é um cara fora de série. Então pra gente é difícil até a gente chegar aqui, porque aí
enquadra a música numas posições que a gente já está acostumado a fazer aqui [...].
A gente fica bem consigo mesmo porque a gente está tocando uma música que
parecia muito difícil e a gente depois que pega, a gente vê que fica fácil e o
repertório são músicas assim, que fazem a gente se apaixonar, são músicas que todo
mundo gosta, admira. Então é muito gostoso isso, e isso acaba motivando, acaba
incentivando. Pô [sic], o cara está tocando essa música, caramba! Então isso acaba
motivando, a pessoa se sentindo bem.
São boas porque, eu como evangélico, canto os hinos da minha igreja, mas acho que
as músicas também são boas porque não são músicas escandalosas, são mais umas
poesias cantadas. Por exemplo, Luar do Sertão [...], Asa Branca. São músicas que
são mais umas poesias cantadas. Essas de último agora também, falando sobre o
natal, são músicas decentes, boas.
Meu pai tocava violão e ele sentava todos nós ao redor, minha mãe pertinho dele. E
se existe um música que o meu pai tocava muito e sempre me tocou, que o senhor
ensinou a gente a tocar, foi Cabecinha no Ombro, então, tocando Cabecinha no
Ombro [...] aqui, aprendendo, me emocionava e eu chorava, não vou esconder do
senhor que eu chorava.
83
Sobre o repertório, ela afirmou gostar das músicas, recomendou que fossem
acrescentadas músicas religiosas e relatou que algumas pessoas saíram das aulas por elas
terem “somente músicas do mundo”, mas, mesmo assim, ela as incentivava continuar.
Dona Carolina afirmou gostar do repertório e acrescentou que quer logo aprender “as
posições” (acordes) para tocar os louvores que ela é apaixonada. Cita a música “Pai Nosso”
como uma que gostaria de tocar, mas não soube dizer quem é o compositor, intérprete ou da
dar mais detalhes da música.
Dona Helena relatou que as músicas do repertório são bonitas, porém as que foram
trabalhadas no início, para ela, são “antigas” e ela não gosta, prefere “as músicas mais
modernas” e por isso as que foram trabalhadas posteriormente, são melhores. Dona Rita
afirmou que o repertório não fazia muito o estilo dela, que “deveria ter um leque maior de
músicas” a serem exploradas e com músicas mais atuais, com “letras mais atuais”.
Senhor Alberto citou alguns artistas que poderiam fazer parte do repertório, a saber:
Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Núbia Lafaiete, Cauby Peixoto, Jamelão
e Carlos Alberto. Sugeriu as seguintes canções: Devolvi (Nelson Gonçalves e Núbia
Lafaiete), Lencinho Branco (Dalva de Oliveira) e Tarde Fria (Cauby Peixoto).
Dona Karina afirmou que o repertório é diversificado e ressalta a importância de
diálogo com as datas festivas. Suas palavras foram:
Repertório muito bom. Porque o repertório que você faz, você faz um repertório
diversificado, de acordo com as datas festivas. Então, acho que é muito importante,
como agora o natal, sincronizou mais nas músicas de natal. A gente tem que ter as
músicas de natal [...]. O repertório seu está ótimo.
9
Matéria do Portal Oficial da Prefeitura Municipal de Campos sobre o Festival de Música da Terceira Idade
https://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=47737.
84
na escolha somente quando percebeu que a música tinha uma exigência técnica muito grande,
sem possibilidade de simplificação, a saber, para esse contexto: mudanças rápidas entre
acordes, ritmos com muitas síncopes10 e sequências de pestanas. Nesses casos, o aluno era
orientado a buscar outra canção.
As músicas escolhidas que continham um ou outro elemento novo, eram mantidas com
o objetivo de apresentar algum desafio e consequente progresso musical do aluno. Seguiu-se,
aqui, um dos critérios de Weizmann (2008) para a seleção de repertório para aulas coletivas
de violão. Segundo o autor
a boa obra não pode ser difícil demais a ponto de não poder ser aprendida, nem fácil
demais a ponto de não gerar desafios, causar desinteresse, ou privar o aluno das suas
verdadeiras e futuras capacidades de evolução (p. 43).
As inscrições aconteceram nos meses de julho e agosto de 2018. O aluno que quisesse
participar teria que escolher uma música para ser sua principal e poderia participar em até
outras duas como acompanhador. Tanto os alunos do Coral Doce Canto, quanto de violão,
poderiam participar, assim, os que sabiam tocar o instrumento, mas não sabiam cantar e vice-
versa poderiam formar parcerias. O festival foi uma mostra não competitiva e com músicas
não autorais, não havendo classificação final entre as canções.
As inscrições totalizaram, as seguintes, 25 (vinte e cinco) músicas: Segura na Mão de
Deus (Nelson Monteiro, versão de Padre Marcelo Rossi), Luzes da Ribalta (Charles Chaplin,
versão de José Algusto), Non, je ne regrette rien (Edith Piaf), Emoções (Roberto Carlos),
Chão de Giz (Zé Ramalho), Telefone Mudo (Trio Parada Dura), Naquela Mesa (Sergio
Bittencourt), Faça Morada (Coral Kemuel), Espírito, Enche a Minha Vida (Quatro por Um),
Índia (Roberto Carlos), Ressucita-me (Aline Barros), Metamorfose Ambulante (Raul Seixas),
Amor, I Love You (Marisa Monte), A Volta do Boêmio (Adelino Moreira), Quem Eu Quero
Não me Quer (Raul Sampaio), Esse Cara Sou Eu (Roberto Carlos), Preta Pretinha (Novos
Baianos), É o Amor (Zezé Di Camargo e Luciano), Quão Grande és Tu (Padre Marcelo
Rossi), Fascinação (Carlos Galhardo), Retalhos de Cetim (Benito Di Paula), A Praça (Ronnie
Von); Porto Solidão (Jessé), Dê um Sorriso pra Ele (J. Neto) e Marinheiro Só (Folclore).
O total de alunos inscritos foi 36 (trinta e seis), divididos em solistas, duos, trios ou
quartetos. Destes, 3 (três) faziam parte apenas do coral, 4 (quatro) faziam parte de ambos os
grupos e 29 (vinte e nove) faziam parte unicamente das aulas de violão.
10
Segundo Med (1996), síncope “é a suspensão de um acento normal do compasso” (p.143). Ela dá sensação do
deslocamento dos acentos naturais do compasso. No contexto desta pesquisa, elas provocavam ataques
desencontrados no violão e comprometiam o andamento da música.
85
Muito boa [a experiência com o festival]. Nos ajudou muito a formar o grupo,
porque tudo o que a gente viu você fazer, a gente copiou [...]. E eu acho que a
apresentação foi maravilhosa, embora muita gente não tenha o espírito de palco, né?
[...] Mas foi muito bom, serviu muito para nós.
[...]
Quando a gente sabe que tem que fazer uma apresentação, a gente se dedica mais
ainda, por isso aquela apresentação sua foi muito válida, muito gratificante.
Senhor Fernando encarou o festival como um desafio e também relatou que o evento
ajudou na formação do grupo “Amigos do Violão”, mencionado acima. Segundo ele, as
músicas apresentadas no festival foram usadas em uma apresentação do grupo no Rotary de
Campos dos Goytacazes. Sobre o festival, Fernando afirmou:
O festival pra mim foi o maior desafio até agora, aqui nesse aprendizado. [...]
A partir daí, desse desafio, a gente já se apresentou no Rotary Clube, porque uma
colega faz parte do Rotary e convidou para fazer.
[...]
Eu achei muito boa essa questão do festival, que fez você se soltar, você voar um
pouquinho, você fica muito com o pé no chão, com medo de tudo [...]. Se você sair
da sala de aula e tiver que tocar uma música ali e tiver uma pessoa te observando,
você já não é a mesma pessoa, esquece letra, esquece posição, um monte de coisa e
esse festival fez a gente sair disso ai um pouco, se soltar mais, deu uma experiência.
Dona Margarida ressaltou a oportunidade que o festival deu para ela mostrar ao
público a “sua música”, que ela “tirou sozinha” e, segundo ela, isso foi uma forma de
88
Eu achei muito legal [...] eu amei até porque, eu pude mostrar a minha música
[“Ressuscita-me” de Aline Barros], que eu já estava tirando ela sozinha [...], eu pude
levar a minha música numa boa [...]. Foi mais um aprendizado, porque ali, eu
entendi que ali foi uma forma do professor nos dar uma condição de sermos liberais
[...], tipo, se eu estudar eu posso ser independente e aqueles detalhes da preparação
como um todo, eu percebi isso. Então, se eu quiser tocar em algum lugar, se eu
seguir à risca tudo direitinho que o professor passou no período dos ensaios, no
período daquela preparação, se eu levar em consideração esses mínimos detalhes, eu
vou conseguir fazer uma apresentação perfeita [...]. Ali eu vi a minha independência.
[...]
Aquilo ali foi uma lição que nós tivemos com o público. Foi uma preparação
maravilhosa.
[...]
Eu vou falar por mim. Eu estou pronta, professor. Com tudo o que eu tenho
aprendido contigo, eu sei que estou pronta para encarar um público, a gente esquece
o nervosismo pra lá, toma um suco de maracujá e vai.
Dona Lúcia afirmou que o festival serviu como incentivo para aprender mais e querer
participar das outras apresentações com a Orquestra de Violões. Sua fala sobre o festival foi:
Foi benção, muito bom, gostei muito. Foi assim, um incentivo pra gente aprender
mais e mais, né? E querer participar de outras apresentações. Como agora nós vamos
ter em dezembro. Não vejo chegar o dia.
89
4.1 Acordes
Quando perguntado “quais são as dificuldades que o senhor(a) encontra para tocar
violão?”, as respostas que mais apareceram tiveram relação com a formação, memorização e
troca de acordes. Ao todo 14 (catorze) pessoas relataram dificuldades com os acordes. Foram
11 (onze) afirmações de dificuldades na troca de acordes; 5 (cinco) na memorização dos
acordes; 4 (quatro) respostas relacionando a dificuldade com a montagem dos dedos nos
acordes; 2 (duas) respostas afirmado a dificuldades de execução rítmica conjunta à troca de
acordes; e 1 (uma) relatando a dificuldade de apertar as cordas.
Sobre a troca de acordes, senhor Jorge relatou:
Eu encontro como uma grande dificuldade talvez a rapidez para a mudança dos
acordes, a dificuldade ainda de alguns dedos que não movem com aquela facilidade
que teria que mover para alcançar o objetivo correto ali. Às vezes a gente falha
nisso, mas a gente vai treinando, a gente vai se esforçando pra pegar isso, pra tentar
chegar perto da perfeição.
As posições eu ainda não decorei todas, tem que estar ainda olhando para a folha,
memorizando. Todas que me foram passadas eu não memorizei todas ainda, então
eu tenho que estar sempre voltando a elas para memorizar. Eu tenho alguma
dificuldade para memorizar.
Senhor Carlos respondeu sobre sua dificuldade de montar os acordes: “Devido à idade,
a gente já está com os dedos meio duros, aí tem dificuldades de fazer as posições. […] [A
dificuldade da mão esquerda está] na hora de abrir os dedos para colocar nas cordas”. Dona
Cíntia, que relatou a mesma dificuldade, afirmou ser decorrente dos seus “dedos curtos”.
Dona Gabriela afirmou que sua dificuldade com os acorde é resultante de sua baixa visão.
90
Sobre a execução rítmica conjunta a troca de acordes, dona Camila e senhor Sérgio
responderam esta como uma dificuldade. Ela relatou: “Minha dificuldade é tanto na batida
quanto nos acordes. Eu já sei alguns, mas na hora do acorde, eu esqueço da batida. [...]
quando vai trocar de acorde, eu perco na batida”. E ele relatou: “Fazer a mudança no tempo
certo, sem parar com a mão direita, essa eu acho que é uma dificuldade muito comum,
imagino”.
Dona Karina relatou a dificuldade de pressionar as cordas para produzir som. Suas
palavras foram: “Uma dificuldade que eu tinha no início e ainda tenho um pouco é de apertar
os dedos [...]. Às vezes eu não aperto muito e não sai um pouco o som”.
As batidas que eu acho mais dificuldade. Tenho mais dificuldades nas batidas e,
assim, nas melodias também, associar as melodias com as batidas. Os acordes até
que não, mas a melodia com as batidas eu percebo que eu tenho mais dificuldade.
Apesar de pouco relatada, as dificuldades em acertar apenas uma corda com um dedo e
tocar com o polegar no baixo correspondente ao acorde eram visíveis. Possivelmente essas
dificuldades não tenham ficado em evidência para os alunos porque os conteúdos de solo e
dedilhado foram poucos explorados visto que o período de trabalho dos conteúdos do
primeiro ano se mostrou curto e foram necessárias mais revisões e trabalhos com levadas e
acordes.
As apresentações, tanto da orquestra, quanto do festival, também tiveram influência
negativa nestes pontos, pois as aulas eram usadas como espaço de ensaio e os conteúdos que
não tinham relação direta com as músicas do repertório não recebiam evidência.
Outra questão que pode ter influenciado a não percepção dos alunos destes conteúdos
como dificuldades é que o dedilhado e o solo são trabalhados em paralelo as levadas rítmicas
e não há obrigação do aluno em aprender a dedilhar ou solar, pois ele conseguirá seguir as
aulas e as apresentações da mesma forma, executando as levadas. Desta forma, foi percebido
que, quando alguns alunos se deparavam com a dificuldade, muitos optavam por não se
dedicar a esse estudo e permaneciam nas levadas e estudo dos acordes.
93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura do diagrama teve uma pergunta específica sobre ela, por isso não foi
colocada no quadro acima, porém 4 (quatro) indivíduos, relataram dificuldades em ler o
diagrama de acordes.
94
As falas dos alunos sobre a proposta “tum que chi que” e a percussão corporal
permitem afirmar que ambas facilitaram a compreensão, memorização e a execução das
levadas rítmicas no violão. Para além, a dificuldade de execução rítmica apareceu apenas em
três relatos e houve a situação de um aluno que afirmou ter a dificuldade de execução rítmica
no instrumento antes do início das aulas na Casa de Convivência e que, nos ritmos estudados,
esta foi solucionada pelo “tum que chi que”.
A estratégia de não trabalhar a pestana no primeiro ano mostrou-se satisfatória visto
que foi possível trabalhar um leque razoável de músicas e acordes e realizar apresentações
com o grupo sem a sua utilização. Porém, mesmo com o tempo de um ano de estudo, a
execução de acordes com pestanas ainda mostrou problemas e comprometeu a execução das
músicas nos trechos em que ela se fazia presente.
Alguns alunos, durante as aulas, indagaram sobre o curto tempo dos encontros,
propondo o aumento dele para 1 (uma) hora e 30 (trinta) minutos e outros para 2 (duas) horas.
Durante as entrevistas, também foram relatadas estas falas. Concordamos que o tempo de uma
hora por encontro seja realmente curto para aulas coletivas, visto que envolve vários alunos
que precisam chegar com calma, ajeitarem pastas, afinarem os instrumentos etc. se
acomodarem de forma geral. Talvez o tempo de uma hora e meia ou duas horas sejam mais
confortáveis para abordar os conteúdos, tocar, revisar etc.
Consideramos também que o tempo de 2 (dois) anos proposto por Cruvinel (2003) e
Tourinho (2010) para o aprendizado inicial em aulas coletivas, passando, posteriormente os
alunos para aulas individuais, é curto no ensino-aprendizagem de instrumentos musicais para
idosos. Mesmo que tenha sido possível abordar os conteúdos desejados neste tempo, alguns
careceram de mais revisões visto que alguns alunos ainda tinham dúvidas ou não conseguiam
executar as músicas e atividades propostas.
Rodrigues E. D. R. (2009; 2013) em entrevista com 38 (trinta e oito) professores que
atuavam com ensino de música para idosos em Brasília revelou que, na visão dos
profissionais, os saberes que mais emergiram como necessários para a atuação com esta faixa
etária são “os saberes relacionais como: ouvir o idoso, exercitar a tolerância, acreditar na
capacidade do idoso, respeitar seus limites, elevar sua autoestima e, sobretudo, saber exercer a
paciência” (2013, p. 105). A paciência foi o saber mais citado, sendo elencado por 18
(dezoito), dos 38 (trinta e oito) entrevistados.
Concordamos com os professores do estudo acima e acrescentamos que nesta pesquisa
em Campos dos Goytacazes, ainda que não houvesse alguma questão específica sobre o tema
96
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WEISMANN, Claudio. Violão orquestral: metodologia – Volume II. Catalão: Fenova, 2003.
APÊNDICES
AUTORIZAÇÃO
Eu, __________________________________________________________________,
coordenador da “Casa de Convivência do Parque Tamandaré” (antigo Clube da Terceira Idade
de Campos) autorizo o Instrutor de Artes e Ofícios, Luiz Fernando Rocha Dias Júnior a
realizar sua pesquisa para o seu trabalho de conclusão de curso da Licenciatura em Música do
Instituto Federal Fluminense campus Guarus com os alunos do curso de violão dos anos de
2017 e 2018, ministrado nessa instituição, assim como utilizar integralmente ou em partes,
sem restrição de prazo ou limites de citações, desde a presente data, para fins de publicações
acadêmicas-científicas, as informações por eles prestadas durante as aulas e em entrevistas
individuais realizadas neste ano.
O pesquisador deverá preservar a identidade de todos os alunos participantes da Pesquisa, não
mencionando seus nomes durante a análise dos dados.
___________________________________________________________
Coordenador da Casa de Convivência do Parque Tamandaré
105
AUTORIZAÇÃO
Eu, __________________________________________________________________,
gerente das Casas de Cultura do Município de Campos dos Goytacazes, autorizo o Instrutor
de Artes e Ofícios, Luiz Fernando Rocha Dias Júnior a realizar sua pesquisa para o seu
trabalho de conclusão de curso da Licenciatura em Música do Instituto Federal Fluminense
campus Guarus com os alunos do curso de violão dos anos de 2017 e 2018, ministrado nessa
instituição, assim como utilizar integralmente ou em partes, sem restrição de prazo ou limites
de citações, desde a presente data, para fins de publicações acadêmicas-científicas, as
informações por eles prestadas durante as aulas e em entrevistas individuais realizadas neste
ano.
O pesquisador deverá preservar a identidade de todos os alunos participantes da Pesquisa, não
mencionando seus nomes durante a análise dos dados.
___________________________________________________________
Gerente das Casas de Cultura do Município de Campos dos Goytacazes
106
Apêndice 3 – Autorização para as entrevistas e para a utilização dos dados provenientes delas
e das aulas
AUTORIZAÇÃO
Eu ___________________________________________________________________,
portador(a) da identidade RG ___________________________________, autorizo Luiz
Fernando Rocha Dias Júnior, estudante da Licenciatura em Música do Instituto Federal
Fluminense campus Guarus, a utilizar integralmente ou em partes, sem restrição de prazo ou
limites de citações, desde a presente data, para fins de publicações acadêmicas-científicas, as
informações por mim prestadas durante as aulas do curso de violão ministradas na Casa de
Convivência do Parque Tamandaré (antigo Clube da Terceira Idade de Campos) nos anos de
2017 e 2018 e em entrevista individual realizada neste ano.
O pesquisador deverá preservar minha identidade, não mencionando meu nome durante a
análise dos dados.
___________________________________________________
Assinatura do entrevistado
107
Eu, ___________________________________________________________________,
portador(a) da identidade RG ___________________________________, autorizo Luiz
Fernando Rocha Dias Júnior a utilizar a minha imagem, registrada por meio de fotos e
vídeos durante as aulas de Violão e Canto Coral ministradas na Casa de Convivência do
Parque Tamandaré (antigo Clube da Terceira Idade de Campos) e na Casa de Cultura José
Cândido de Carvalho em Goytacazes nos anos de 2015 a 2019, sem restrições de prazo, para
fins acadêmicos.
___________________________________________________
Assinatura
108
Eu, ___________________________________________________________________,
encarregado da Casa de Convivência do Parque Tamandaré, autorizo o Instrutor de Artes e
Ofícios Luiz Fernando Rocha Dias Júnior a utilizar, sem restrição de prazo, desde a
presente data, para fins de publicações e apresentações acadêmico-científicas, as imagens
registradas por ele nas dependências da Casa de Convivência do Parque Tamandaré (antigo
Clube da Terceira Idade de Campos) nos anos de 2017 a 2019.
____________________________________________
Encarregado da Casa de Convivência do Parque Tamandaré
109
Eu, ___________________________________________________________________,
atuante no cargo Gerente das Casas de Cultura, autorizo o Instrutor de Artes e Ofícios Luiz
Fernando Rocha Dias Júnior a utilizar, sem restrição de prazo, desde a presente data, para
fins de publicações e apresentações acadêmico-científicas, as imagens registradas por ele nas
dependências da Casa de Cultura José Cândido de Carvalho nos anos de 2017 a 2019.
________________________________________________
Gerente das Casas de Cultura
110
Samba Lelê1
D A7
Samba Lêlê tá doente
D
Tá com a cabeça quebrada
A7
Sambalêlê precisava
D
É de umas boas palmadas
A7
Samba, samba, samba o lê lê
D
Samba, samba, samba o lá lá
A7
Samba, samba, samba o lê lê
D
Samba na barra da saia o lá lá
D A7
Que nenhuma família comece em qualquer de repente,
A7 D
que nenhuma família termine por falta de amor.
D A7
Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente,
A7 D
e que nada no mundo separe um casal sonhador.
D A7
Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte,
A7 D
que ninguém interfira no lar e na vida dos dois.
D A7
Que ninguém os obrigue a viver sem nenhum horizonte,
A7 D
que eles vivam do ontem, do hoje em função de um depois.
-----------------------------REFRÃO-------------------------------
D Em
Que a família comece e termine sabendo onde vai,
A7 D
e que o homem carregue nos ombros a graça de um pai.
D Em
Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor,
D A7 D
e que os filhos conheçam a força que brota do amor.
D A7
Abençoa, Senhor, as famílias! amém!
A7 D
Abençoa, Senhor, a minha também.
2
Os diagramas de acordes foram extraídos do dicionário de acordes do site cifraclub.com.br.