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302 - Dor Abdominal, Diarreia, Vômitos e Icterícia 1

Problema 7
Doenças do Fígado A incidência mundial de hepatite viral aguda está
diminuindo por causa da melhora global das condições
Hepatite Viral Aguda de higiene e do desenvolvimento e uso de vacinas
eficazes contra HAV e HBV e, talvez, no futuro, HEV. As
A hepatite viral aguda é uma infecção sistêmica que condições no Brasil, incluindo heterogeneidade
afeta predominantemente o fígado. Pode ser melhor socioeconômica, a distribuição irregular dos serviços de
definida como uma infecção que leva à necroinflamação saúde, a incorporação desigual de tecnologia avançada
do fígado, com manifestações clínicas e laboratoriais para diagnóstico e tratamento de enfermidades, são
relacionadas, sobretudo, às alterações hepáticas elementos importantes a serem considerados na
decorrente desse processo inflamatório. Representam a avaliação do processo endemoepidêmico das hepatites
causa mais frequente das hepatopatias agudas e virais.
crônicas.
Características Gerais da Hepatite Viral Aguda
Quase todos os casos de hepatite viral aguda são
causados por um desses cinco agentes virais: vírus da Patologia
hepatite A (HAV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da
hepatite C (HCV), vírus da hepatite D (HDV) e vírus da A hepatite viral aguda é caracterizada por
hepatite E (HEV). Todos os vírus das hepatites humanas necroinflamação hepática aguda. Como nenhum dos
são vírus RNA, exceto o da HBV, um vírus DNA, mas que vírus hepatotrópicos é citopático, acredita-se que a
se replica como um retrovírus. Esses agentes podem ser lesão hepática seja mediada por uma forte reação
diferenciados por suas propriedades moleculares e citotóxica das células T contra hepatócitos infectados
antigênicas, porém todos os tipos de hepatite viral que expressam antígenos virais na superfície. As
produzem doenças clinicamente semelhantes. Variam, citocinas pró-inflamatórias, células natural-killer, e
por um lado, desde infecções assintomáticas e citotoxicidade celular dependente de anticorpos
inaparentes até infecções agudas fulminantes e fatais também parecem desempenhar um papel na
comuns a todos os tipos, e, por outro lado, desde necroinflamação hepática.
infecções subclínicas persistentes até doença hepática A eliminação imune bem-sucedida pode levar à
crônica rapidamente progressiva com cirrose e até depuração viral, que pode ou não estar associada à
mesmo carcinoma hepatocelular, comum a todos os imunidade ao longo da vida, dependendo do agente
tipos hematogênicos (HBV, HCV e HDV). infeccioso. A reação imunológica às vezes é tão potente
Vírus não hepatotrópicos podem causar hepatite que o paciente desenvolve hepatite subfulminante ou
aguda, entretanto, as manifestações clínicas mesmo fulminante que requer transplante hepático. Em
relacionam-se, na maioria das vezes, ao quadro viral alguns pacientes – a proporção viral, de acordo com o
sistêmico. Entre esses vírus encontram-se os de rubéola, vírus responsável pela hepatite aguda – a resposta
febre amarela, coxsackie, sarampo, caxumba, Episten- imune falha e infecção crônica é estabelecida.
Barr, adenovírus, herpes, varicela e citomegalovírus. Há, Patologia
ainda, outros vírus hepatotrópicos que causam
hepatites e que ainda não foram identificados, As lesões morfológicas típicas de todos os tipos de
denominados não A e não E. hepatite viral são semelhantes e consistem em
infiltração panlobular com células mononucleares,
necrose das células hepáticas, hiperplasia das células
de Kupffer e graus variáveis de colestase. Ocorre
regeneração dos hepatócitos, conforme evidenciada por
numerosas figuras mitóticas, células multinucleadas e
formação de “rosetas” ou “pseudoacinares”. A
infiltração mononuclear consiste principalmente em
pequenos linfócitos, apesar da presença ocasional de
plasmócitos e eosinófilos. O dano às células hepáticas
Figura 1 Vírus responsáveis pela hepatite viral aguda e probabilidade consiste em degeneração e necrose dessas células,
de evolução crônica desaparecimento de células, células em formato de
balão e degeneração acidófila dos hepatócitos

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(corpúsculos de Councilman ou apoptóticos). Grandes os cinco vírus hepatrópicos levando-se em conta
hepatócitos com aspecto de vidro fosco do citoplasma somente o quadro clínico. Além disso, se o diagnóstico
podem ser visualizados na infecção crônica, porém não for baseado em aspectos epidemiológicos, as
na infecção aguda pelo HBV; essas células contêm possibilidades de erro podem ser elevadas. Assim, é
HBsAg, podendo ser identificadas histoquimicamente necessária a confirmação diagnóstica com marcadores
com orceína ou fuscina aldeído. Na hepatite viral sem virais específicos.
complicações, o arcabouço de reticulina é preservado.
A hepatite viral aguda pode se apresentar como
infecção assintomática ou sintomática, ictérica ou
anictérica, ou ainda, como formas colestáticas. Com
relação a hepatite sintomática, em geral, o curso clínico
é semelhante todos os tipos de hepatite viral aguda,
entretanto algumas peculiaridades podem ser
observadas, como a presença de artralgia ocasional,
mais associada a infecção pelo HBV. Além disso, há
tendência para a manifestação clínica inicial ser mais
aguda na hepatite A e insidiosa na hepatite C.
Raramente, as hepatites virais podem evoluir de forma
extremamente grave, levando ao quadro de
insuficiência hepática fulminante.

Período de incubação. Pode variar de algumas horas


até a seis meses, de acordo com o agente etiológico
viral. Nesse período, o paciente costuma permanecer
assintomático, ainda que o vírus esteja se replicando.

Figura 2 Hepatite Viral: forma aguda Fase pré-ictérica ou prodrômica. O paciente pode
apresentar pródromos, como mal-estar, astenia, febre,
Uma lesão histológica mais grave, a necrose hepática anorexia, náuseas, vômitos, cefaleia, desconforto
em ponte, também denominada necrose subaguda ou abdominal, mialgia, diarreia ou obstipação, rinorreia,
confluente da interface, é observada ocasionalmente na tosse e artralgia antes do aparecimento da colúria e da
hepatite aguda. icterícia. O período pré-ictérico tem duração média de
uma semana, podendo se estender por três semanas.
As presenças de urticária, artrite, glomerulonefrite,
doença do soro e exantema são mais associados à
hepatite B.

Período ictérico. Com o surgimento da icterícia, a febre


tende a desaparecer, entretanto, alguns sintomas da
fase pré-ictérica podem persistir, principalmente
anorexia e sintomas digestivos. Acolia fecal pode ser
Figura 3 Necrose hepática submaciça na hepatite aguda observada em uma parcela significativa de pacientes e
tem duração de 7 a 14 dias, em média. O período
Manifestações Clínicas ictérico tem duração e intensidade variável,
principalmente em crianças, podendo se estender por
É importante destacar que não há um quadro clínico
quatro a oito semanas.
patognomônico da hepatite viral. O diagnóstico
depende da interpretação correta dos sintomas, dos Na maioria das vezes, há evolução para cura,
achados do exame físico e dos testes laboratoriais, os entretanto, deve-se ficar atento para o curso evolutivo
quais, dentro do contexto clínico apropriado, levam à da hepatite viral, com possibilidade de agravamento e
suspeita de necrose hepatocelular. desenvolvimento de forma fulminante. A mudança no
comportamento e no ritmo de sono, além de
Apesar de cada vírus estar relacionado a determinadas
prolongamento do tempo de protrombina, podem
peculiaridades, não é possível realizar a distinção entre

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sugerir instalação de insuficiência hepática aguda. Por Na hepatite C, a possibilidade de cura é menor,
outro lado, em algumas situações, uma hepatite crônica permanecendo a infecção de forma latente,
silenciosa pode se apresentar inicialmente como um assintomática e crônica em cerca de 55 a 80% dos casos.
quadro semelhante ao da hepatite aguda, necessitando Cerca de 95% dos recém-nascidos infectados pelo HBV,
da diferenciação entre as formas de hepatite para habitualmente assintomáticos, permanecem como
instituição de uma conduta adequada. portadores, enquanto 20% das crianças de adquirem
hepatite B aguda se tornam cronicamente infectadas.
A icterícia pode ser leve, ou às vezes, intensa,
Cerca de 2 a 10% dos adultos com hepatite B aguda
acompanhada de prurido, mas, em geral, os níveis de
persistem com o vírus cronicamente.
bilirrubinas são inferiores a 20 mg/dL. Na hepatite
causada pelo HAV, o período ictérico é, habitualmente,
mais curto. Nessa fase, telangectasias transitórias
podem ser observadas, mas a presença delas está
habitualmente associada à exacerbação de doença
hepática crônica.

É sempre importante questionar sobre a área de


procedência do paciente, contato com portadores,
exposição a indivíduos infectados e presença de fatores
de risco, como contato com portadores de hepatite,
transfusão ou procedimentos invasivos prévios, quadro
anterior de icterícia, doenças de base ou
imunodeficiências, uso de medicamentos,
comportamento sexual, adição a drogas, alterações de
comportamento e ritmo de sono, além de antecedentes
de sangramento digestivo.

O exame físico deve ser completo, verificando-se o


estado nutricional do paciente, a presença de sinais
periféricos de hepatopatia (eritema palmar,
telangectasias), as características do fígado (tamanho,
Figura 4 Curso típico da hepatite viral aguda
consistência, superfície e bordas) e do baço, além da
presença de ascite, circulação colateral e edema. Forma anictérica. A forma anictérica é habitualmente
Prurido excessivo pode levar a escoriações na pele. A assintomática ou se apresenta de forma mais leve, e
presença de sinais sugestivos de hepatite crônica pode parece ser mais frequente que a forma ictérica. Não se
sugerir outras doenças hepáticas. Na hepatite aguda, sabe ao certo por que alguns pacientes desenvolvem
em geral, há hepatomegalia dolorosa, associada a um uma ou outra forma. Quando presentes, os sintomas
fígado de consistência elástica, superfície homogênea e são semelhantes aos da forma ictérica, com exceção da
bordas lisas. A esplenomegalia pode estar presente na icterícia. Quando o paciente está assintomático, o
minoria dos casos e raramente o paciente desenvolve diagnóstico é feito por meio da observação da elevação
ascite ou edema, mas quando presentes, sugerem das aminotransferases séricas e pela detecção de
possibilidades de evolução grave. Outras manifestações marcadores sorológicos de infecção viral aguda.
pouco frequentes são anemia aplástica, Habitualmente este diagnóstico é feito em indivíduos
trombocitopenia, púrpura, síndrome de Guillain-Barré, monitorados em consequência de exposição viral.
pancreatite, artrite, vasculite, mais frequentemente Alguns atores preferem restringir a expressão forma
encontradas no curso de hepatite B. anictérica para indivíduos que apresenta sintomas sem
icterícia.
Fase convalescente. Na convalescência, quando a
icterícia e as transaminases estão em declínio, o Diagnóstico/Exames complementares
paciente torna-se assintomático. A normalização das
enzimas e a cura são habituais nas infecções pelo HAV e Alterações laboratoriais. O diagnóstico laboratorial das
HEV. hepatites virais agudas baseia-se nas alterações das
transaminases, que revelam a lesão dos hepatócitos,

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associadas a alterações nas dosagens de bilirrubina e, 50% por semana, e retornam aos níveis normais, em
em alguns casos, do tempo de protrombina, albumina, média, 2 a 8 semanas após início da icterícia. Nas formas
fosfatase alcalina, leucograma, sumário e urina, além da colestáticas, em indivíduos com insuficiência renal ou
positividade para os marcadores sorológicos dos vírus com deficiência de glucose-6-fosfato-desidrogenase
identificados. Outros exames podem ser necessários (G6PD), os níveis podem ultrapassar o valor de 30
para diagnóstico diferencial, como dosagem sérica de mg/dL.
anticorpos, cobre, creuloplasmina, alfa-1-antitripsina e
dosagem de cobre urinário de 24 horas, além da
investigação de lesão hepática por drogas. (Quadro
Clínico + Epidemiologia + Achados Laboratoriais →
Diagnóstico).

Por terem vida média curta, os níveis plasmáticos de


fatores de coagulação (maior parte produzidos pelo
fígado) diminuem rapidamente quando há deficiência
de síntese, que ocorre em qualquer alteração
hepatocelular grave. A determinação do tempo de
protrombina é útil na avaliação prognóstica.

A fosfatase alcalina eleva-se discretamente, exceto nas


formas colestáticas. A lactato-desidrogenase pode estar
modestamente elevada. Essas enzimas assim como a
As aminotransferases séricas (ALT/TGP e AST/TGO) GGT e a 5’-nucleotidase não são necessárias na
começam a se elevar precocemente, antes do início dos avaliação diagnóstica, mas contribuem para raciocínio
sintomas, tanto no paciente ictérico quanto no clínico. As proteínas totais e frações geralmente estão
anictérico. Tipicamente, os níveis atingem 10 vezes o normais. A presença de hipoalbuminemia significativa
limite superior de normalidade, podendo atingir níveis com hiperglobulinemia, logo no início da fase ictérica, é
ainda maiores. Estão sempre aumentadas durante sugestiva de doença hepática crônica.
alguma fase em todos os casos de hepatite viral aguda.
Não correlação com o nível de elevação das enzimas e a Alterações hematológicas podem ser encontradas.
gravidade da doença. Níveis de ALT acima de 80 vezes o Embora os níveis de hematócrito e hemoglobina sejam
limite superior é mais indicativo de lesão tóxica ou normais, pode ser observada discreta anemia. A
vascular. contagem total de leucócitos é normal em vários casos,
porém podem ser observadas leucopenia associada a
As bilirrubinas conjugadas e não conjugadas elevam-se granulocitopenia e à linfocitose leve com presença de
nas hepatites virais agudas, todavia há predomínio das linfócitos atípicos.
bilirrubinas conjugadas. Por convenção, é aceito que
níveis acima de 2,5 a 3 mg/dL são necessários para que Hepatite A
possa ser observada icterícia nas escleróticas. Os níveis
de elevação de bilirrubinas são variáveis, contudo, na Patógeno
maioria dos pacientes, permanece inferior a 20 mg/dL. HAV é um membro da família Picornaviridae, gênero
Após atingir pico, as bilirrubinas decrescem à taxa de Hepatovírus. A partícula viral da hepatite A é um

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capsídeo icosaédrico não envelopado de 27 nm que detectado nas fezes e outros fluidos corporais 3 a 10 dias
expressa o antígeno da hepatite A e contém um genoma antes do início da doença e de 1 a 2 semanas
RNA de cadeia positiva de aproximadamente 7,5 kb de subsequentes, mas geralmente não são necessários. O
comprimento. Pelo menos quatro diferentes genótipos anti-HAV-IgG pode ser detectável na fase aguda,
HAV foram descritos em seres humanos (genótipos I, II, todavia, durante a fase de convalescência passa a ser o
III e VII), com o genótipo I predominando em todo o anticorpo predominante, atingindo níveis máximos em
mundo. Outros genótipos foram isolados em primatas 3 a 12 meses, persistindo ao longo da vida do indivíduo.
não humanos. É ainda pouco claro até que ponto os
genótipos diferentes estão associados a distintos cursos
clínicos de infecção.

Epidemiologia
A infecção por HAV tem uma distribuição mundial, e as
infecções podem ser esporádicas ou ocorrer em surtos
epidêmicos. A incidência de casos agudos e a
soroprevalência cariam de acordo com a higiene,
saneamento, habitação e padrões socioeconômicos da
região. Nos países em desenvolvimento, a infecção
ocorre geralmente em idade jovem, e a maior parte da
população está protegida após os 10 anos.
Figura 5 Curso sorológico da hepatite A aguda
A HAV é geralmente transmitida via fecal-oral, na
maioria das vezes diretamente de pessoa para pessoa
Hepatite B
ou através da ingestão de alimentos ou água Patógeno
contaminados com fezes. A transmissão por transfusão
tem sido relatada, e casos isolados de transmissão O HBV é um membro da família Hepadnaviridae, gênero
perinatal aparente têm sido descritos. Grupos de alto Hepadnavírus. O virion infeccioso, a partícula de Dane,
risco para hepatite A aguda incluem viajantes para é de 42 a 47 nm de diâmetro. Possui um envelope e uma
países em desenvolvimento, crianças em creches e cápside ou núcleo que contém o genoma de DNA
seus pais, homens que fazem sexo com homens, circular, de fita parcialmente dupla. O genoma HBV é
usuários de drogas injetáveis, hemofílicos, que menor genoma do vírus humano conhecido, com cerca
recebem produtos do plasma, e as pessoas em de 3.000 nucleotídeos.
instituições.
Epidemiologia
Manifestações Clínicas
Dois bilhões de pessoas, ou seja, um terço da
Tipicamente, o período de incubação é de 15 a 45 dias. população humana, estiveram em contato com o HBV,
Na maioria dos casos, a infecção aguda leva um curso e mais de 350 milhões de pessoas têm infecção crônica.
leve, muitas vezes não reconhecido. A incidência de Os virions são produzidos e circulam em quantidades
casos ictéricos, sintomáticos aumentam com a idade no muito elevadas em indivíduos infectados por HBV, e são
momento da infecção. Uma hepatite aguda em adultos altamente contagiosos. Quatro principais vias de
pode necessitar de hospitalizações em 13% dos casos; transmissão são responsáveis pela infecção aguda por
cursos relatados de 6 a 9 meses foram relatados em 10% HBV: (1) de transmissão sexual, que é a principal via em
dos pacientes adultos. A hepatite A é a causa mais áreas industrializadas; (2) de transmissão da mãe para
comum de hepatite colestática recorrente. o bebê perinatal (vertical), que está associada a uma
taxa muito elevada (> 90%) de infecção crônica; (3) de
Diagnóstico transmissão horizontal, através do contato não sexual
O diagnóstico da hepatite A é baseado na detecção de interindividual, o que é frequente na idade jovem na
anticorpos anti-HAV da imunoglobulina (Ig) M no soro África e está associada à evolução para a cronicidade em
por ensaios imunoenzimáticos. Os níveis séricos de IgM 15% dos casos; (4) transmissão percutânea por sangue
atingem o ponto máximo durante o segundo mês da e seus produtos, materiais cirúrgicos ou clínicos
infecção. O RNA do HAV pode ser transitoriamente perigoso ou uso de drogas injetáveis.

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Nos países industrializados, os grupos de alto risco para indetectáveis após vários anos. Avaliação quantitativa
infecção pelo HBV inclui indivíduos nascidos em áreas de HBsAg pode ser útil durante o curso de hepatite B
endêmica de HBV, incluindo imigrantes e crianças aguda, por que se seu nível não diminui rapidamente, o
adotadas, os indivíduos que não foram vacinados paciente está em risco para evolução crônica. Os
quando crianças, cujos pais nasceram em regiões que o pacientes que permanecem com HBV-DNA e/ou HBeAg
HBV é endêmico; contatos com familiares e contatos positivo após 6 semanas do início dos sintomas são
sexuais com indivíduos HBsAg positivos; pessoas que já suscetíveis a desenvolver infecção crônica.
consumiram drogas injetáveis; pessoas com múltiplos
parceiros sexuais ou histórico de DST; homens que
fazem sexo com outros homens; detentos em
penitenciárias; pacientes infectados por HCV ou HIV
submetidos a diálise renal; receptores de sangue ou
hemoderivados antes de 1987; e profissionais da
saúde.

Manifestações Clínicas
Tipicamente, o período de incubação é de 30 a 150
dias. A icterícia tem sido relatada em até um terço dos
pacientes adultos com hepatite B aguda, mas a maioria
dos casos não é reconhecida. Entre os pacientes
sintomáticos, as manifestações são semelhantes aos de
outras causas de hepatite viral aguada.
Figura 6 Cinética do HBV durante a fase aguda de autorresolução da
hepatite B

Prognóstico
A hepatite fulminante é mais frequente na infecção
por HBV aguda do que em outros tipos de hepatite viral
aguda, com uma incidência de cerca de 0,1%. Fatores
associados a prognósticos adversos da hepatite B aguda
incluem a idade avançada, o sexo feminino e talvez
algumas cepas do vírus. Se a infecção com uma estirpe
mutante pré-core está associada a uma doença mais
Diagnóstico grave ou fulminante ainda é debatido.
Quatro marcadores devem ser pesquisados para o Hepatite C
diagnóstico de hepatite B aguda: HBsAg, anticorpos
anti-HBc total, anti-HBc IgM e anticorpos anti-HBs. A Patógeno
hepatite B aguda é caracterizada pela presença
O HCV é um membro da família Flaviviridae, gênero
simultânea de ambos HBsAg e IgM anti-HBc. O
Hepacivírus. O genoma é uma molécula de RNA positiva,
anticorpo anti-HBc total também está presente,
linear de filamento único, cuja extremidade 5′ contém
enquanto anticorpos anti-HBs não estão. Durante a fase
um local de entrada ribossômica interna envolvido na
de convalescência, os pacientes perdem HBsAg antes do
tradução de poliproteína, o genoma também inclui uma
aparecimento de anticorpos anti-HBs; eles podem
fita de leitura aberta única e uma curta região 3′ não
apresentar anticorpos anti-HBc isolado, e o diagnóstico
codificante envolvidos na replicação. O genoma está
baseia-se na presença de anti-HBc IgM. A recuperação é
contido em uma proteína da cápside ou do núcleo, que
caracterizada pelo aparecimento de anticorpos anti-
em si é rodeado por um envelope de bicamada lipídica
HBs. A presença de anticorpo tanto anti-HBc total
em que são inseridas duas glicoproteínas virais
quanto anti-HBs caracteriza a recuperação da hepatite
mediante fixação da partícula viral em moléculas
B aguda. O anti-HBc IgG permanece em níveis elevados
receptoras na superfície das células-alvo.
para toda vida do paciente, enquanto os títulos de
anticorpos anti-HBs podem flutuar e tornam-se Epidemiologia

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Problema 7
O HCV está presente em todos os continentes, e cerca fase aguda, mesmo na ausência de sintomas. A hepatite
de 120 a 130 milhões de pessoas, está cronicamente C fulminante tem sido relatada, mas parece ser
infectada. Nos países industrializados, a incidência de excepcional, na ausência de outra doença hepática
infecção pelo HCV diminui consideravelmente devido à crônica subjacente.
triagem de sangue e medidas para prevenir infecções
virais em usuários de drogas injetáveis. A prevalência de
HCV é maior em áreas em desenvolvimento do mundo,
onde a principal via de infecção pelo HCV é
procedimentos médicos ou cirúrgicos inseguros.

O HCV é transmitido quase que exclusivamente por


sangue infectado. Com o desenvolvimento de exames
preventivos altamente sensíveis, a principal via de do
HCV em países industrializados é agora o uso de drogas
injetáveis. A incidência neste grupo de alto risco é tão Diagnóstico
alta quanto 39 por 100 pessoas por ano. Nesse contexto,
o encarceramento em prisão é um importante fator de Quando a hepatite C aguda é suspeita, os pacientes
risco. devem fazer testes para ambos os anticorpos anti-HCV
por ensaios imunoenzimáticos e RNA do HCV com uma
Transmissão nosocomial através do uso de materiais técnica de biologia molecular sensível (isto é, um ensaio
indevidamente descontaminados ou mãos de RNA do HCV com um limite inferior de detecção de
contaminadas ou luvas de profissionais de cuidados de ≤50 IU/mL). Quatro perfis de marcador podem ser
saúde é responsável por número substancial de novas observados, com base na presença ou ausência de
infecções. O HCV pode ser transmitido também pelo uso qualquer marcador. A presença do HCV RNA, na
de piercings, tatuagens, acupuntura ou se as precauções ausência de anticorpos anti-HCV é fortemente
padrão não são implementadas. O HCV pode ser indicativo da infecção pelo HCV aguda, que será
transmitido para familiares que compartilham confirmada pela soroconversão (isto é, o aparecimento
instrumentos como tesouras, lâminas de barbear e de anticorpos anti-HCV) poucos dias ou semanas mais
pentes. A transmissão sexual é incomum, mas surtos de tarde. Os pacientes com infecção aguda podem ter
hepatite aguda foram relatados em comunidades HIV- tanto o HCV RNA quanto anticorpos anti-HCV no
positivas de homens que fazem sexo com homens. O momento do diagnóstico, neste caso, é difícil distinguir
risco de transmissão vertical é inferior a 5% e está hepatite C aguda de uma exacerbação aguda de
geralmente associado a exposição a sangue da mãe no hepatite C crônica ou hepatite aguda de outra causa em
período perinatal. um paciente com hepatite C crônica.
Manifestações Clínicas Hepatite C aguda é muito improvável se ambos os
O RNA do HCV torna-se detectável no soro de 3 a 7 dias anticorpos anti-HCV e RNA do HCV estiverem ausentes
após a exposição. Níveis de HCV RNA aumentam ou se os anticorpos anti-HCV estiverem presentes, sem
rapidamente durante as primeiras semanas, seguido RNA do HCV. No entanto, os pacientes do último grupo
dos níveis de transaminases séricas 2 a 8 semanas após devem realizar os testes novamente em poucas
a exposição. Anticorpos anti-HCV surgem no final do semanas, porque o RNA do HCV pode ser
curso de hepatite C aguda e podem não estar presentes temporariamente indetectável devido a um controle
no início dos sintomas. parcial transitório da replicação viral antes da infecção
se tornar crônica. Adicionalmente, a presença de
Após um período de incubação que varia de 15 a 120 anticorpos anti-HCV, na ausência do RNA do HCV é
dias, a hepatite C aguda geralmente é assintomática. geralmente observada em pacientes que se
Sintomas inespecíficos como fadiga, febre baixa, recuperaram de uma infecção por HCV anterior. No
mialgias, náuseas, vômitos, ou coceira podem estar entanto, este padrão não pode ser diferenciado de um
presentes. A icterícia ocorre em apenas 20% a 30% dos resultado falso-positivo de ensaios imunoenzimáticos,
pacientes, geralmente 2 a 12 semanas após a infecção. cuja prevalência exata é desconhecida.
Os níveis de aminotransferase sérica comumente
atingem níveis 10 vezes o limite superior do normal na

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Problema 7
Após a exposição acidental com agulha, nem a de recuperação espontânea incluem sexo feminino, o
imunoglobulina nem a terapia preventiva com declínio precoce dos níveis de HCV RNA, e altos níveis de
interferon-α peguilado é recomendada. Os pacientes transaminases ou bilirrubina. Os pacientes que se
devem ser monitorados com HCV RNA e recuperam espontaneamente podem apresentar
aminotransferases no início, na semana 2 e 4 e 6 mês anticorpos anti-HCV detectáveis por anos a décadas,
após a exposição. Os doentes que tenham infecção mas eles não estão protegidos contra a reinfecção pelo
documentada devem ser tratados como anteriormente. HCV. Não está claro se o genótipo influencia as taxas de
recuperação.

Doença Hepática Alcoólica


O consumo crônico e excessivo de álcool constitui
umas das principais causas de doença hepática. A
patologia da doença hepática alcoólica consiste em três
lesões principais, raramente existindo lesão em uma
única forma: (1) esteatose hepática; (2) hepatite
alcoólica; (3) cirrose. A esteatose hepática está presente
em > 90% dos etilistas crônicos e compulsivos. Um
percentual muito menor de elitistas progride para
hepatite alcoólica, considerada um precursor da
cirrose.

O diagnóstico de hepatite alcoólica grave é


desanimador; a mortalidade dos pacientes com
Figura 7 Cinética do HCV durante a fase aguda da autorresolução da hepatite alcoólica concomitante com cirrose aproxima-
hepatite C
se de 60% após 4 anos. Contudo, apesar do álcool ser
considerado uma hepatotoxina direta, apenas 10 a 20%
dos etilistas desenvolvem hepatite alcoólica. Explicação
desse paradoxo continua obscura, mas envolve a
complexa interação de fatores facilitadores, como
padrões de ingestão, dieta, obesidade e sexo. Não há
ferramentas diagnósticas que possam predizer a
suscetibilidade individual para doença hepática
alcoólica.

Epidemiologia
O álcool é o terceiro maior fator de risco para carga de
doença no mundo. A maior parte da mortalidade
atribuída ao álcool é secundária a cirrose. A mortalidade
por cirrose está diminuindo na maioria dos países
ocidentais, paralelamente com uma redução do
consumo de álcool. Essas elevações na cirrose e suas
Figura 8 Marcadores da cinética da hepatite C durante a fase aguda,
que evolui para infecção crônica complicações estão intimamente ligados com o
aumento do volume de álcool consumido per capita e
Prognóstico não depende de gênero.
Cerca de 50% a 80% dos pacientes são incapazes de Entre os fatores de risco conhecidos para
eliminar o HCV espontaneamente e desenvolvem desenvolvimento de doença hepática alcoólica, a
infecção crônica. A recuperação espontânea é mais quantidade de álcool consumida é a mais importante.
frequente se a infecção é adquirida no nascimento As mulheres correm maior risco para desenvolvimento
(aproximadamente 50%) e se a hepatite aguda é de doença hepática alcoólica, elas desenvolvem uma
sintomática. Outros fatores associados a melhores taxas hepatopatia avançada com ingestão alcoólica

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substancialmente menor. Em geral, o tempo que deve P-450, que envolve principalmente o citocromo
transcorrer para o desenvolvimento da doença hepática P-450 2E1 (CYP2E1). Aumento de atividade da
está diretamente relacionado com a quantidade de CYP2E1 pode ser induzido por maior consumo
álcool consumida. do álcool, o que explica a tolerância que se
desenvolve em alcoolistas crônicos. Também
O limiar para desenvolver hepatite alcoólica é maior
estão envolvidas CYP1A1, CYP3A e CYP4A. A
nos homens, enquanto as mulheres correm maior risco
ação da CYP2E1 sobre o etanol gera radicais
a vir desenvolver graus semelhantes de lesões hepáticas
livres de O2;
ao consumirem significativamente menos. As diferenças
3) Via da catalase, que se faz nos peroxissomos,
que dependem do sexo resultam de efeitos pouco
menos importante e responsável por apenas
compreendidos do estrogênio, proporção de gordura
10% do metabolismo do álcool.
corporal e metabolismo gástrico do álcool. A obesidade,
uma dieta rica em gorduras e o efeito protetor do café
foram postulados como importantes no
desenvolvimento do processo patogênico.

Figura 9 Metabolismo oxidativo do etanol em hepatócitos

Em alcoolistas, no entanto, há aumento do


metabolismo do álcool nos peroxissomos. Nas
A infecção crônica pelo HCV é uma importante mitocôndrias, o alcadeído é convertido em acetato e
comorbidade na progressão da hepatopatia alcoólica
acetil CoA pela enzima aldeído desidrogenase (ALDH),
para cirrose nos elitistas crônicos excessivos. Mesmo
reação que também consome NAD. Nesse complexo
uma ingestão moderada de álcool de 20 a 50 g/dia eleva
metabólico, ocorrem:
o risco de cirrose e câncer hepatocelular nos indivíduos
HCV-infectados. Os pacientes tanto com lesão hepática 1) Redução na relação NADH/NAD, que leva a: (a)
alcoólica quanto infecção pelo HCV desenvolvem uma aumento na síntese e esterificação de ácidos
doença hepática descompensada em uma idade mais graxos; (b) redução na oxidação de ácidos
jovem e têm uma sobrevida global mais precária. graxos; (c) acúmulo de ácido lático e acidose;
2) Geração de acetaldeído, que tem vários efeitos
Fisiopatologia nas células. De um lado, seu metabolismo
O etanol é absorvido rapidamente no trato aumenta a acetil CoA, o que favorece a síntese
gastrointestinal e distribuído aos tecidos. Como menos de ácidos graxos. De outro, promove
de 10% são eliminados pelos pulmões e pelos rins, todo peroxidação lipídica e formação de adutos com
o restante é oxidado predominantemente no fígado, o proteínas e DNA. A peroxidação de lipídeos
que explica em parte por que este órgão é tão afetado. interfere com membranas celulares,
Três são as vias de metabolismo do álcool no fígado, microtúbulos e microfilamentos;
todas elas levando à formação de 3) Produção de radicais livres, que interagem com
acetaldeído: proteínas, alteram a integridade de membranas
celulares e induzem a liberação de citocinas,
1) Via da álcool desidrogenase (ADH), que ocorre sobretudo TNF;
no citosol, em que o hidrogênio é transferido do 4) Lesão mitocondrial, que reduz a oxidação de
etanol para o cofator nicotinamida adenina ácidos graxos.
dinucleotídeo (NAD, convertendo-o em NADH –
forma reduzida). O NAD é necessário para a O conjunto dessas ações metabólicas converge para
oxidação de ácidos graxos e para a conversão do várias modificações nos hepatócitos. No início a lesão
lactato em piruvato; mais evidente é a esteatose (acúmulos de ácidos
2) Sistema microssomal de oxidação no graxos). A persistência da agressão acompanha-se da
retículoendoplasmático, por meio do citocromo liberação de citocinas, o que leva a uma reação

Pedro Philippo
302 - Dor Abdominal, Diarreia, Vômitos e Icterícia 10
Problema 7
inflamatória (hepatite). Destruição hepatocitária induz ♣ Esteatose hepática: surge após ingestão discreta a
regeneração hepática e neoformação conjuntiva, o que moderada de álcool. Macroscopicamente, o fígado
pode, em certo número de pacientes, evoluir para mostra-se grande, amolecido e amarelo. Cerca de 90%
cirrose. dos alcoolistas desenvolvem esteatose, que é reversível
com abstinência (2 a 4 semanas). Microscopicamente,
encontra-se glóbulos de gordura no citoplasma dos
hepatócitos.

♣ Hepatite alcoólica: a esteato-hepatite alcoólica é a


lesão mais típica da doença hepática provocada pelo
álcool e está presente em 10 a 35% dos alcoolistas. Além
da esteatose, os principais achados são balonização e
focos de necrose dos hepatócitos, corpúsculos de
Mallory-Denk, infiltrado inflamatório lobular rico em
fibrose perivenular e perissinusoidal. Ao contrário da
esteatose, mesmo com abstinência os corpúsculos de
Mallory-Denk persistem por vários meses. Achado
adicional é necrose hialina eclerosante.

♣ Cirrose alcoólica: é a forma final e possivelmente


irreversível da doença hepática alcoólica, que evolui de
forma lenta e insidiosa. Inicialmente, o fígado
apresenta-se aumentado de volume e tem aspecto
esteatótico, mas ao longo dos anos torna-se retraído,
acastanhado e firme. Essa evolução transcorre mais
Figura 10 Mecanismos de lesão e principais efeitos do etanol no
rapidamente quando existe hepatite alcoólica. Cirrose
fígado
micronodular é o padrão mais comumente visto em
Estágios da Doença associação ao álcool, sendo caracterizada por nódulos
regenerativos de tamanho relativamente uniforme, em
A doença hepática alcoólica compreende três estágios: torno de 3 mm de diâmetro. No entanto, a cirrose pode
esteatose, hepatite e cirrose. Nos pacientes cirróticos, se tornar marcronodular, em especial em pacientes que
há também aumento da incidência de carcinoma param de beber.
hepatocelular.
Manifestações Clínicas
Paciente com doença alcoólica podem ter sinais e
sintomas de alcoolismo subjacente, bem como aqueles
causados pela doença do fígado. Estigmas de
alcoolismo crônico incluem eritema palmar, nevos
aracnoides, ginecomastia bilateral, atrofia testicular,
aumento da parótida bilateral e contraturas de
Dupuytren.

As características clínicas da doença hepática


dependerão do estádio da doença hepática alcoólica,
isto é, se o paciente tem fígado gorduroso alcoólico ou
doença hepática mais avançada, como hepatite e cirrose
alcoólica.

A estenose “pura” costuma ser assintomática, com o


paciente apresentando apenas hepatomegalia ao
exame físico. Alguns portadores de estenose muito
intensa referem desconforto em quadrante superior
Figura 11 Lesões hepáticas provocadas pelo etanol

Pedro Philippo
302 - Dor Abdominal, Diarreia, Vômitos e Icterícia 11
Problema 7
direito do abdome, além de náuseas e discreta icterícia. raramente a AST ultrapassa 300 U/l em valores
Além disso, podem ter anorexia e fadiga. absolutos. Fosfatase alcalina e gama-GT também
aumentam na hepatite alcoólica, mas nunca > 3x o LSN.
Entre 60-90% dos casos cursam com hiperbilirrubinemia
direta, e níveis > 10 mg/dl indicam hepatite alcoólica
“grave”. Mesmo na ausência de cirrose pode haver
prolongamento do TAP (> 5 segundos acima do
controle) e hipoalbuminemia severa (< 2,5 g/dl), e tais
achados também denotam “gravidade”. Até 75% dos
pacientes apresentam hipergamaglobulinemia
policlonal. No hemograma, é comum leucocitose com
desvio à esquerda, que às vezes se manifesta como
“reação leucemoide” (leucocitose neutrofílica extrema).
Cerca de 10% dos portadores de hepatite alcoólica têm
também plaquetopenia, devido ao efeito mielotóxico do
Figura 12 Contraturas de Dupuytren álcool e/ou a um hiperesplenismo secundário à
hipertensão porta “transitória”. Anemia macrocítica é
Já a esteato-hepatite alcoólica geralmente se comum, novamente por conta da mielotoxicidade do
manifesta como uma ampla gama de sinais e sintomas. etanol, com ou sem carência de folato associada.
Anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia
acentuada constituem a síndrome clássica de
apresentação. Cumpre ressaltar que a hepatite alcoólica
também pode ser assintomática, sendo reconhecida
apenas por alterações laboratoriais sugestivas, num
paciente com história de etilismo importante. Ascite e
hemorragia digestiva por rotura de varizes
esofagicogástricas complicam até 30% dos casos de
As alterações laboratoriais encontradas na cirrose
hepatite alcoólica aguda, mesmo com ausência de
alcoólica são indistinguíveis daquelas observadas em
cirrose pré-estabelecida. Casos graves de hepatite
outras causas de cirrose hepática.
alcoólica são mais propensos a desenvolver infecções
bacterianas intercorrentes, e a falência hepática
fulminante pode ser a primeira manifestação de alguns
doentes.

Na cirrose alcoólica o paciente cursa com


manifestações clínicas inerentes a qualquer quadro de
cirrose, ou seja, sinais e sintomas de síndromes de
falência hepatocelular (icterícia, encefalopatia,
hipoalbuminemia, coagulopatia, ginecomastia, aranhas
vasculares) e hipertensão porta (esplenomegalia, ascite,
varizes esofagogástricas).

Diagnóstico Laboratorial
A esteatose hepática “pura” promove aumentos
inespecíficos e flutuantes das aminotransferases, com
o restante do hepatograma normal ou levemente
“tocado”.

Na esteato-hepatite alcoólica, por outro lado, a


elevação das aminotransferases é a regra,
apresentando, contudo, uma curiosa peculiaridade:
relação AST/ALT > 2 (sempre). É digno de nota que

Pedro Philippo

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