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Módulo 304 - DRAMA 1

Problema 5
Febre Amarela e Malária endêmica ou enzoótica para a febre amarela, incluindo-
se todos os estados das Regiões Norte e Centro-Oeste,
Febre Amarela mais o estado do Maranhão, perfazendo um total de 12
estados, com uma população sob risco de
A febre amarela é uma doença infecciosa aguda, não aproximadamente 30 milhões de pessoas. A outra área
contagiosa. É uma febre hemorrágica viral transmitida de transmissão, denominada área de transição ou
por mosquitos, com alta taxa de letalidade, epizoótica, antes compreendida de um espaço
determinada por um vírus do gênero Flavivirus da composto por faixas territoriais de cinco estados
família Flaviviridae, o vírus da febre amarela, com (Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
reconhecimento de apenas um sorotipo. As Grande do Sul), foi ampliada, incorporando áreas do
manifestações clínicas incluem disfunção hepática, Piauí e Bahia, abrangendo 816 municípios e uma
insuficiência renal, coagulopatia e choque. população de cerca de 22 milhões de habitantes.
É uma doença em expansão no Brasil, ocorrendo, na
maioria das vezes, de forma subclínica ou leve, é um
importante problema de saúde pública no país, pois
também causa dezenas de casos graves anualmente,
muitos fatais. Nas formas graves, cursa com a tríade:
icterícia, hemorragias e insuficiência renal aguda, com
letalidade de 20 a 50%.

O vírus se mantém na natureza em um ciclo silvestre,


tendo primatas como reservatório e mosquitos do
gênero Haemagogus como vetores. Entretanto, a febre
amarela pode causar epidemias graves quando sua A expansão desses espaços tem sido motivo de
transmissão acontece no meio urbano, tendo o próprio constante preocupação para a área da saúde pública,
homem como reservatório e o mosquito Aedes aegypti pelo risco potencial de reinstalação do ciclo urbano, à
como vetor. medida que se amplia à área de transição, cada vez mais
adentrando nas áreas anteriormente indenes, com
Epidemiologia
grande contingente de população suscetível, associado
A febre amarela ocorre em regiões tropicais da África à presença do Aedes aegypti, vetor urbano da doença.
subsaariana e da América do Sul; é uma doença
Um surto de febre amarela em curso no Brasil
epidêmica de considerável magnitude. A incidência de
começou em dezembro de 2016. Entre 1º de julho de
doença endêmica não está bem estabelecida, mas
2017 e 16 de fevereiro de 2018, 464 casos confirmados
aproximadamente 1% dos indivíduos com hepatite
de febre amarela foram registrados, incluindo 154
grave em áreas endêmicas da África podem ser
mortes. Em março de 2018, o Ministério da Saúde emitiu
causados por febre amarela.
uma recomendação para a vacinação universal contra a
No continente americano, a sua nosoárea de febre amarela.
ocorrência localiza-se na América do Sul, com
Na caracterização da população acometida, evidencia-
notificações no Peru, na Bolívia, na Colômbia, no Brasil,
se na história epidemiológica desses casos, uma maior
no Equador e na Venezuela. Menos casos ocorrem na
ocorrência entre os indivíduos adultos e do sexo
América do Sul do que na África porque a transmissão
masculino como garimpeiros, agricultores, caçadores,
ocorre de fontes enzoóticas (principalmente de macaco
indígenas e ribeirinhos, em razão de maior exposição
para humano via mosquito vetores), a densidade
em ambientes de florestas e, consequentemente, em
vetorial é relativamente baixa e a cobertura vacinal é
ocupações relacionadas a esse risco. Ultimamente
relativamente alta (80 a 90% em áreas endêmicas da
cresce o número de casos relacionados às atividades de
América do Sul). Em anos típicos, há várias centenas de
lazer, principalmente à prática do ecoturismo em áreas
casos oficialmente notificados, mas em anos epidêmicos
reconhecidas como focos enzoóticos. O denominador
são relatados até 5000 casos.
comum desses casos são indivíduos não vacinados ou
O espaço de ocorrência da doença no Brasil encontra- vacinados em tempo inoportuno, razão pela qual não foi
se tradicionalmente delimitado, com uma área possível o desenvolvimento de anticorpos protetores.

Pedro Philippo
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Problema 5
Ciclo do Vírus peridomicílio do homem urbano, como é o caso do
mosquito vetor da febre amarela e do dengue, o Aedes
O vírus da febre amarela infecta organismos distintos, aegypti.
como o do homem, o de outros primatas e o de
mosquitos, mostrando enorme capacidade de Portanto, o ciclo urbano envolve mosquitos Aedes
adaptação. A adaptação ao meio natural tem relação aegypti fêmeas que são hematófagas devido às
direta com a manutenção dessas viroses na natureza. necessidades proteicas relacionadas à oviposição. Elas
se infectam após picarem indivíduos virêmicos e
A febre amarela é uma zoonose. Seu ciclo de transferem o vírus, através da picada, ao homem
manutenção primária envolve primatas não humanos suscetível, determinando um ciclo. A viremia em seres
e mosquitos Haemagogus da floresta, principalmente humanos costuma ser curta, perdurando por apenas 3
aqueles que vivem na copa das árvores e se reproduzem a 5 dias após o aparecimento dos sintomas. Depois da
em buracos no tronco de árvores. Esse ciclo é picada infectante, o vírus multiplica-se no aparelho
denominado silvestre. O homem adquire a doença digestivo do mosquito, disseminando-se pelos
quando, acidentalmente, penetra nesse meio ambiente. diferentes tecidos do inseto. A chegada do vírus às
Entretanto, existe outra forma de manutenção desse glândulas salivares, após um período de incubação
vírus na natureza, a qual ocorre em ambientes urbanos, denominado extrínseco, de 7 a 11 dias, determina o
sendo o vetor um mosquito de hábitos peridomiciliares início do período de transmissão viral pelo mosquito,
que tem uma relação de sobrevivência muito íntima que passa a transmiti-lo por toda a vida.
com o homem, o Aedes aegypti. Esse ciclo é o da febre
amarela urbana, cujo único hospedeiro virêmico é o Outra forma importante de transmissão, que ocorre
homem. entre os mosquitos, é a transovariana, que já foi
demonstrada para o vírus da febre amarela, em
Ciclo Silvestre condições naturais, na África. Os Aedes spp. podem
No Brasil, a febre amarela silvestre é endêmica na transmitir os vírus diretamente para a prole,
Região Amazônica e no Planalto Central. Trata-se de dispensando o homem no ciclo mantenedor. A
uma doença de macacos (Callitrichidae e Cebicidae) transmissão transovariana, mesmo em baixos níveis,
poderia manter o vírus durante estações secas ou frias,
que, ao se infectarem, costumam ter alta mortalidade.
O macaco guariba (Alouatta) e o macaco-prego (Cebus) quando não existem mosquitos adultos ou reservatórios
são sensíveis à infecção viral, que costuma resultar em infectados.
morte do animal. Provavelmente, os macacos
americanos, pela recente ocorrência da doença nas
Américas, ainda não se adaptaram ao vírus. Primatas
funcionam como amplificadores da infecção de
mosquitos e disseminadores do vírus, na medida em
que se deslocam na mata. Também outros animais
silvestres, como marsupiais e roedores, podem se
infectar com o vírus. Os vetores da febre amarela
silvestre são mosquitos antropofílicos de atividade
diurna nas copas das árvores, os Haemagogus
janthinomys, leucocelaenus e albomaculatus. O vírus
também tem sido isolado de mosquitos Sabethes. A Figura 1 Ciclos da febre amarela
infecção humana é acidental e consequente à
penetração humana no local onde ocorre a zoonose. Etiologia
Ciclo Urbano O vírus da febre amarela é o membro protótipo da
família Flaviviridae, um grupo de pequenos (40 a 60
A febre amarela urbana tem o próprio homem como
nm), envoltos em sentido positivo, vírus de fita simples
reservatório do vírus e fonte para a infecção do
de RNA que se replicam no citoplasma de células
artrópode/vetor, mantendo, dessa forma, o ciclo da
infectadas. O vírus da febre amarela é um único
arbovirose. Para tanto, faz-se necessária a presença de
sorotipo e é conservado antigenicamente, de modo
vetores antropofílicos vivendo no domicílio ou
que a vacina protege contra todas as cepas do vírus. No

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Problema 5
nível da sequência de nucleotídeos, é possível distinguir Nos casos graves, lesão celular, dano endotelial,
sete genótipos principais representando a África microtrombose, coagulação intravascular disseminada
Ocidental (dois genótipos), a África Central e Oriental e (CIVD), anóxia tecidual, oligúria e choque relacionam-se
Angola (três genótipos) e a América do Sul (dois ao desbalanço nos teores de citocinas. TNF-α e outras
genótipos). citocinas produzidas por macrófagos, bem como a ação
de células T citotóxicas, desencadeariam esse quadro.
Etiopatogenia
A lesão dos hepatócitos é caracterizada por
Um mosquito fêmea infectado inocula cerca de 1.000 a degeneração eosinofílica com cromatina nuclear
100.000 partículas de vírus por via intradérmica durante condensada (corpúsculos de Councilman/Rocha Lima) e
a alimentação do sangue. A replicação do vírus começa não pela necrose de balão e rarefação vista na hepatite
no local da inoculação, provavelmente nas células viral. A morte das células hepáticas é devida à apoptose
dendríticas da epiderme, e se espalha através dos (células de Kupffer, hepatócitos e macrófagos
canais linfáticos para os linfonodos regionais. As células infectados). Hepatócitos na zona média do lóbulo
linfoides, particularmente monócitos-macrófagos e hepático expressam o ligante Fas e os linfócitos que se
grandes histiócitos, parecem ser os tipos de células infiltram no fígado medeiam a apoptose. Células
preferidas para a replicação primária. O vírus atinge inflamatórias, principalmente células CD4+, estão
outros órgãos pela linfa e depois pela corrente presentes em baixo número; números menores de
sanguínea, semeando outros tecidos. Grandes células NK e CD8+ estão presentes. Não há alteração da
quantidades de vírus são produzidas no fígado, nos arquitetura reticular do fígado. Nos casos não-fatais, a
gânglios linfáticos e no baço e são liberadas no sangue. cicatrização é completa sem fibrose pós-necrótica. Em
Durante a fase virêmica (dias três a seis), a infecção pode casos fatais, aproximadamente 80% dos hepatócitos
ser transmitida aos mosquitos que se alimentam de sofrem necrose coagulativa.
sangue.
O dano renal é caracterizado por degeneração
A resposta imune celular nessa doença é complexa, eosinofílica e alteração gordurosa do epitélio tubular
envolvendo linfócitos CD8, células T citotóxicas, renal sem inflamação. Acredita-se que esses achados
macrófagos, células polimorfonucleares, linfócitos T sejam resultado tanto da lesão viral direta quanto de
CD4 (S100) e células natural killer. O padrão celular da alterações inespecíficas devido à hipotensão e à
resposta imune é determinado, principalmente, por síndrome hepatorrenal. A lesão focal no miocárdio,
linfócitos T CD4 e, em menor grau, por linfócitos T CD8. caracterizada por degeneração celular e alteração
As citocinas produzidas pelas células imunes têm um gordurosa, é o resultado da replicação viral. A diátese
padrão de resposta observável em modelos hemorrágica na febre amarela é devida à diminuição da
experimentais e na infecção humana. Caracteriza-se por síntese de fatores de coagulação dependentes de
elevada expressão de TNF-α, IFN-γ e TGF-β, vitamina K pelo fígado, coagulação intravascular
especialmente nos casos fatais humanos. A imunidade disseminada e disfunção plaquetária.
humoral com produção de anticorpos IgM (de fase
aguda) e IgG, ambos neutralizantes do vírus, são a mais A fase tardia da doença é caracterizada por choque
importante arma do sistema imune contra esse circulatório. O mecanismo subjacente pode ser a
microrganismo. desregulação de citocinas, como na síndrome da sepse.
Em uma série de pacientes com febre amarela fatal, os
Fisiopatologia níveis de citocinas pró-inflamatórias (interleucina [IL] -
6, antagonista do receptor de IL-1, fator de necrose
A febre amarela é caracterizada por disfunção hepática,
tumoral [TNF] -alfa e proteína indutível por interferon-
insuficiência renal, coagulopatia e choque. A principal
10) estavam elevados em comparação com pacientes
região afetada do lóbulo hepático é a zona média, com
com febre amarela não fatal. Os pacientes que morrem
preservação de células que delimitam a veia central e os
de febre amarela apresentam edema cerebral na
tratos portais. O antígeno viral localiza-se na zona
autópsia, provavelmente o resultado de disfunção
média, indicando que é o local da lesão viral direta.
microvascular. Grandes quantidades de antígeno de
Cargas muito altas de vírus foram encontradas no
fixação do complemento (presumivelmente NS1) foram
fígado e no baço de casos fatais.
encontradas no sangue de pacientes com febre amarela
gravemente doentes.

Pedro Philippo
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Problema 5
Quadro Clínico Um período de remissão que dura até 48 horas pode
seguir o período de infecção, caracterizado pela
O espectro clínico da febre amarela inclui: redução da febre e dos sintomas. Pacientes com
✓ Infecção subclínica; infecções abortivas se recuperam nesse estágio.
✓ Doença febril abortiva e inespecífica sem Aproximadamente 15% dos indivíduos infectados com
icterícia; o vírus da febre amarela entram no terceiro estágio da
✓ Doença com risco de vida com febre, icterícia, doença.
insuficiência renal e hemorragia. Período de Intoxicação
A febre amarela afeta todas as idades, mas a gravidade O período de intoxicação começa do terceiro ao sexto
da doença e letalidade é maior em adultos mais velhos. dia após o início da infecção, com retorno da febre,
O início da doença aparece abruptamente de três a seis prostração, náusea, vômito, dor epigástrica, icterícia,
dias (mediana de 4, 3 dias) após a picada de um oligúria e diátese hemorrágica. A viremia termina nesta
mosquito infectado. A doença clássica é caracterizada fase e os anticorpos aparecem no sangue. Esta fase é
por três etapas: caracterizada por disfunção variável de múltiplos
1) Período de infecção; órgãos, incluindo o fígado, os rins e o sistema
2) Período de remissão; cardiovascular. A falência de múltiplos órgãos na febre
3) Período de intoxicação. amarela está associada a altos níveis de citocinas pró-
inflamatórias similares às observadas na sepse
Período de infecção bacteriana e na síndrome da resposta imune sistêmica
(SIRS).
O período de infecção consiste em viremia, que dura de
três a quatro dias. O paciente é febril e se queixa de mal- ♣ Disfunção Hepática: a disfunção hepática devido à
estar generalizado, dor de cabeça, fotofobia, dor febre amarela difere de outras hepatites virais, em que
lombossacra, dor nos membros inferiores, mialgia, os níveis séricos de aspartato aminotransferase (AST)
anorexia, náuseas, vômitos, agitação, irritabilidade e excedem os da alanina aminotransferase (ALT). Isso
tontura. Os sintomas e sinais são relativamente pode ser devido à lesão viral concomitante ao miocárdio
inespecíficos; nessa fase, é virtualmente impossível e ao músculo esquelético. Os níveis são proporcionais à
distinguir a febre amarela de outras infecções agudas. gravidade da doença. Em um estudo, os níveis médios
de AST e ALT em casos fatais foram 2766 e 660 U,
Ao exame físico, o paciente parece agudamente doente
respectivamente, enquanto que em pacientes
com vermelhidão da pele, vermelhidão das conjuntivas
sobreviventes com icterícia, os níveis médios foram de
e das gengivas e sensibilidade epigástrica. O aumento
929 e 351 U. Os níveis de fosfatase alcalina são normais
do fígado com sensibilidade pode estar presente. A
ou apenas ligeiramente elevados. Os níveis de
língua é caracteristicamente vermelha na ponta e nas
bilirrubina direta são tipicamente entre 5 e 10 mg / dL,
laterais com um revestimento branco no centro. A
com níveis mais altos nos casos fatais do que nos não-
pulsação é lenta em relação à intensidade da febre
fatais.
(sinal de Faget). A temperatura é tipicamente de 39ºC,
mas pode subir até 41ºC. ♣ Disfunção Renal: o dano renal é caracterizado por
oligúria, azotemia e níveis muito altos de proteína na
Anormalidades laboratoriais incluem leucopenia (1500
urina (proteinúria, hematúria e cilindrúria). Os níveis
a 2500 por microL) com neutropenia relativa; A
séricos de creatinina são três a oito vezes normais. Em
leucopenia ocorre rapidamente após o início da doença.
alguns pacientes que sobrevivem à fase hepática, a
Os níveis séricos de transaminase começam a subir 48
insuficiência renal predomina. A morte é precedida por
e 72 horas após o início da doença, antes do
anúria virtualmente completa.
aparecimento da icterícia. O grau de anormalidades das
enzimas hepáticas nesse estágio pode predizer a ♣ Hemorragia: a hemorragia é um componente
gravidade da disfunção hepática mais tardiamente na proeminente da terceira fase da doença, incluindo
doença. hematêmese (vômito negro), melena, hematúria,
metrorragia, petéquias, equimoses, epistaxe,
Período de Remissão
gengivorragias e sangramento nos locais de punção
com agulha. A hemorragia gastrointestinal pode

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contribuir para o colapso circulatório. Anormalidades hepáticas. O resultado da febre amarela parece ser
laboratoriais incluem elevação do hematócrito, comparável em pacientes com ou sem antigenemia de
trombocitopenia, tempo prolongado de protrombina e superfície da hepatite B.
reduções globais nos fatores de coagulação
As complicações da febre amarela incluem
sintetizados pelo fígado (fatores II, V, VII, IX e X). Alguns
superinfecções bacterianas, como pneumonia,
pacientes apresentam achados sugestivos de
parotidite e sepse. Mortes tardias durante a
coagulação intravascular disseminada, incluindo
convalescença ocorrem raramente e foram atribuídas a
fibrinogênio e fator VIII diminuídos e a presença de
miocardite, arritmia ou insuficiência cardíaca.
produtos de divisão de fibrina.

♣ Lesão Miocárdica: o significado clínico da lesão


miocárdica é pouco compreendido e provavelmente foi
subestimado em estudos clínicos. Em alguns casos, o
aumento cardíaco agudo foi documentado durante o
curso da infecção. O eletrocardiograma pode mostrar
bradicardia sinusal sem defeitos de condução,
anormalidades ST-T, particularmente ondas T elevadas
e extra-sístoles. Bradicardia e miocardite podem
contribuir para hipotensão, redução da perfusão e Diagnóstico
acidose metabólica em casos graves. A arritmia foi
sugerida para explicar os relatos raros de morte tardia O diagnóstico é feito por sorologia, detecção do
durante a convalescença. genoma viral pela reação em cadeia da polimerase
(PCR), isolamento viral ou histopatológico e imuno-
♣ Disfunção do Sistema Nervoso Central: os pacientes histoquímica em tecidos pós-morte.
apresentam sinais variáveis de disfunção do sistema
nervoso central (SNC), incluindo delirium, agitação, ♣ Sorologia: o diagnóstico sorológico é melhor
convulsões, estupor e coma. Em casos graves, o líquido realizado usando um ensaio imunoenzimático (ELISA)
cefalorraquidiano está sob pressão aumentada e pode para IgM. A presença de anticorpos IgM em uma única
conter proteína elevada, mas sem células. Alterações amostra fornece um diagnóstico presuntivo; a
patológicas incluem hemorragias perivasculares confirmação é feita por um aumento no título entre
microscópicas e edema. Dada a ausência de alterações amostras emparelhadas, agudas e convalescentes ou
inflamatórias sugestivas de neuroinvasão viral e uma queda entre amostras de convalescença precoces e
encefalite, as alterações do SNC provavelmente se tardias.
devem à encefalopatia metabólica. A encefalite viral da
A persistência de anticorpos da vacina viva atenuada
verdadeira febre amarela é extremamente rara.
pode complicar a interpretação dos resultados de IgM.
Desfecho Além disso, reações cruzadas com outros flavivírus
complicam o diagnóstico da febre amarela por métodos
O resultado é determinado durante a segunda semana sorológicos, particularmente na África, onde múltiplos
após o início, quando o paciente morre ou se recupera flavivírus circulam. O teste de neutralização é mais
rapidamente. Aproximadamente 20 a 50 por cento dos específico, mas requer um laboratório especializado.
pacientes que entram no período de intoxicação
sucumbem à doença. Os sinais de pior prognóstico ♣ Testes Rápidos: testes diagnósticos rápidos incluem
incluem anúria, choque, hipotermia, agitação, delírio, PCR para detectar genoma viral no sangue ou tecido e
soluços intratáveis, convulsões, hipoglicemia, ELISA para determinação do anticorpo IgM. O
hipercalemia, acidose metabólica, respirações de sequenciamento de RNA de próxima geração
Cheyne-Stokes, estupor e coma. amplificado diretamente do sangue tem sido usado para
confirmar o diagnóstico. Essas ferramentas estão cada
A convalescença pode estar associada à fadiga que vez mais disponíveis em laboratórios nacionais e
dura por várias semanas. Em alguns casos, a icterícia e regionais nas áreas endêmicas. Um teste de diagnóstico
as elevações das transaminases séricas podem persistir de febre amarela mediada por loop de transcrição
por meses, embora tais pacientes possam ter febre reversa (RT-LAMP), que não requer equipamento de
amarela sobreposta a outras doenças hematológicas ou termociclagem e pode ser lido visualmente, mostrou-se

Pedro Philippo
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Problema 5
promissor como um teste rápido e sensível para uso em hospitalizados, recebendo hidratação venosa, vitamina
condições de campo. K (10 ml/kg/dia por 3 dias) e hemoderivados (hemácias,
plasma fresco congelado e/ou plaquetas) conforme a
♣ Isolamento do Vírus: o isolamento do vírus é
necessidade.
realizado pela inoculação de culturas de mosquitos ou
células de mamíferos, inoculação intracerebral de
camundongos amamentados ou inoculação
intratorácica de mosquitos. O vírus também pode ser
recuperado do tecido hepático post-mortem.

♣ Patologia: a biópsia hepática durante a doença


devido à febre amarela nunca deve ser realizada, pois
pode ocorrer hemorragia fatal. O exame Pacientes que tiveram o diagnóstico de febre amarela
histopatológico post-mortem do fígado frequentemente confirmado e se curaram não precisam ser vacinados,
demonstra as características típicas da febre amarela, pois adquirem imunidade natural.
incluindo a necrose da zona média. Um diagnóstico
definitivo pós-morte pode ser feito por coloração
imunocitoquímica para o antígeno da febre amarela no
fígado, coração, baço ou rim.

Diagnóstico Diferencial
Os diagnósticos diferenciais da febre amarela incluem:
hepatites virais (A, B, C, D e E); influenza; dengue;
malária; febre tifoide; leptospirose; febre Q; febres
hemorrágicas.

Tratamento Todas as terapias antivirais estão em um estágio inicial


de desenvolvimento para uso na febre amarela. A
O tratamento da febre amarela consiste em cuidados ribavirina é eficiente contra o vírus da febre amarela,
de suporte; não há terapia antiviral específica mas apenas em concentrações muito elevadas que não
disponível. O manejo dos pacientes pode ser melhorado podem ser atingidas clinicamente.
pelos cuidados intensivos modernos, mas isso
geralmente não está disponível em áreas remotas onde Malária
a febre amarela geralmente ocorre.

Cuidados de suporte devem incluir manutenção da


nutrição, prevenção de hipoglicemia, sucção
nasogástrica para evitar distensão e aspiração gástrica,
tratamento de hipotensão por reposição de fluidos e
drogas vasoativas se necessário, administração de
oxigênio, tratamento da acidose metabólica,
tratamento de sangramento com plasma fresco
congelado, diálise se indicado por insuficiência renal e
tratamento de infecções secundárias.

Casos clinicamente leves, sem alterações laboratoriais


importantes, a princípio, podem ser manejados no
domicílio, com hidratação oral e sintomáticos (ex.:
antitérmicos, analgésicos etc.). O paciente e seus
familiares devem estar orientados quanto à necessidade
de retornar ao serviço de saúde caso surjam sinais de
alarme. Casos clinicamente moderados a graves (e/ou
com alterações laboratoriais importantes) devem ser

Pedro Philippo

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