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MANUAL DE LABORATÓRIO
Carlos Sêrro
Guilherme Arroz
Versão 2.6
13 de Setembro de 2010
Referências
Este texto foi desenvolvido a partir de um texto antigo que serviu de apoio, em
1984, às aulas de laboratório das disciplinas de Sistemas Digitais I e II da Li-
cenciatura em Engenharia Electrotécnica. Esse texto foi escrito em colaboração
como o Eng. José Figueiredo, autor de um capı́tulo sobre o teste de circuitos
combinatórios, e contou ainda com o apoio dos Engs. Nuno Mamede e José Fi-
gueiredo no que toca aos enunciados dos trabalhos de lab à altura. Há também
contribuições do Engo João Paulo Carvalho.
O presente Manual servirá de apoio às aulas de laboratório da disciplina de
Sistemas Digitais das Licenciaturas em Engenharia de Redes de Comunicações
(LERC), em Engenharia Electrónica (LEE) e em Engenharia Informática e de
Computadores-TP (LEIC-TP), todas a funcionar no primeiro ano no campus
do IST do Taguspark.
Dado tratar-se de um manual de apoio aos trabalhos de laboratório, pressupõe
que o aluno o acompanhe na preparação e execução desses trabalhos. Por outro
lado, presupõe ainda que esteja convenientemente estudada a matéria teórica e
prática de Sistemas Digitais.
Destina-se este Manual a fornecer ao aluno que vai frequentar a unidade curri-
cular de Sistemas Digitais, os conhecimentos práticos mı́nimos necessários para
o projecto dos circuitos digitais que lhe irão ser pedidos, bem como para a sua
implementação e teste.
Após a primeira aula de introdução, a cada enunciado corresponde, em aula, a
duração de 1,5 horas. Só é possı́vel cumprir este limite se o projecto vier prepa-
rado para ser montado e se o aluno possuir técnicas adequadas de montagem,
teste e desempanagem.
Os alunos estarão organizados em grupos geralmente com três elementos. Esses
elementos deverão realizar o projecto em conjunto antes das aulas de laboratório
onde se pretende montar o respectivo circuito.
A aula de laboratório destina-se, exclusivamente, à implementação e teste dos
circuitos.
O relatório do trabalho deve ser preparado aquando da execução do projecto,
ainda que seja provavelmente necessário alterá-lo ou completá-lo na própria aula
de laboratório. O relatório é entregue no fim da aula.
Para o projecto dos circuitos dispõem os alunos, neste guia, de informação
abundante que deverá ser, naturalmente, conjugada com a matéria ministrada
nas aulas teóricas.
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Em particular fornecem-se:
Organização do texto
Este é um comentário
— comentários em itálico destinados a complementar a matéria; serão incluı́dos
obviamente pouco inte- ao longo das sucessivas versões do texto, à medida que a reacção dos alunos
ressante. a determinados pontos mais obscuros ou difı́ceis justifique as suas inclusões;
e
— conceitos chave, em negrito.
Capı́tulo 1
Laboratório de Sistemas
Digitais: como funciona?
5
6CAPÍTULO 1. LABORATÓRIO DE SISTEMAS DIGITAIS: COMO FUNCIONA?
Equipamento
1. as bancadas de ensaio;
2. as réguas de suporte dos componentes;
3. os circuitos integrados e as suas ligações; e
4. o equipamento de teste.
7
8 CAPÍTULO 2. EQUIPAMENTO
4. Este selector permite, escolhida uma escala de frequência pelo selector (3),
regular de uma forma contı́nua entre o valor mı́nimo (selector todo para
a esquerda) e o máximo (selector todo para a direita).
5. Este selector permite escolher a forma de onda que se pretende que o os-
cilador produza. Na posição superior produz uma sinusóide, na posição
intermédia uma onda triangular e na posição inferior uma onda quadrada.
Utilizaremos, se nada for dito em contrário, a onda quadrada. Nota: A
onda quadrada não devia ter, como tem, uma parte negativa, mas por
razões que se prendem com os circuitos de protecção da entrada dos cir-
cuitos integrados, isso acaba por não ser relevante.
6. Entradas para os mostradores numéricos. Estes mostradores representam
algarismos decimais usando sete segmentos de dı́odos emissores de luz ou
leds (do inglês light emiting diodes).
7. Fontes de alimentação. A bancada tem fontes de alimentação fixas (ver
item (9)) e variáveis. Todas partilham a mesma referência de 0V (Gnd
de Ground, que, em inglês, significa Terra). O botão (7) permite regular
o valor da tensão variável positiva que é acessı́vel no terminal +V. A
tensão pode ser regulada entre 0V e +15V. A corrente máxima disponı́vel
é de 300mA. Todas as fontes estão equipadas com protecção contra curto-
circuito aos terminais.
Note que estas fontes não serão utilizadas nos laboratórios de Sistemas
Digitais.
por deficiências no projecto das bases, isso nem sempre acontece e pode
ocorrer um “bounce”que será explicado mais adiante.
12. Interruptores de dados. Estes oito interruptores (SW0 a SW7) pemitem
introduzir sinais como entradas no circuito em que se trabalha. Cada um
deles coloca no seu respectivo terminal uma tensão de 5V se estiver na
posição superior e uma tensão de 0V se estiver na posição inferior.
13. Zona de colocação das réguas de montagem.
14. Ligações para fichas tipo banana. Trata-se de ligações entre contactos que
permitem usar os fios usados nas montagens e fichas para utilizar cabos
exteriores convencionais para ligação a outro equipamento de laboratório.
Em princı́pio não serão utilizadas nos trabalhos.
15. Mostradores Led. Estes oito Leds permitem visualizar até oito sinais ge-
rados pelo circuito em que se trabalha. Cada um deles está apagado se
não estiver ligado a nenhuma fonte de sinal ou se estiver ligado a um sinal
de tensão perto de 0V (nı́vel de tensão L). Se estiver ligado a um sinal de
tensão perto dos 5V (nı́vel de tensão H) acende com a cor vermelha.
16. Mostradores numéricos. Cada mostrador numérico tem uma entrada (D1 e
D2). Os dois mostradores têm uma entrada numérica comum (ver o ponto
6). Para que um deles mostre o algarismo que tem na entrada numérica,
a entrada D respectiva tem de estar ligada à terra ou, pelo menos, a uma
tensão baixa (nı́vel L).
Os interruptores que estão à esquerda, permitem desligar cada ou dos
segmentos dos mostradores. Não serão utilizados.
17. Selector de leque de tensões do voltı́metro digital. Este selector permite
seleccionar o leque de tensões que pode ser medido pelo voltı́metro digital
incorporado na bancada.
18. Entrada do voltı́metro digital. O voltı́metro mede a tensão introduzida
entre estes terminais.
19. Mostrador do voltı́metro digital.
O facto de o comuta- Em geral, esses comutadores são construı́dos como se indica na Figura 2.3.
dor estar, na figura, na
posição superior, e gerar Se o comutador estiver numa determinada posição, que na figura é a posição
os nı́veis nas saı́das in- superior, a saı́da SW L do comutador fica ligada à massa, pelo que essa saı́da
dicados, não quer dizer
que, na base, aconteça fornecerá, para o exterior, um nı́vel L (0 V) constante.
exactamente o mesmo.
Pode ser ao contrário! Quanto à saı́da SW H fica, nas mesmas condições, ligada aos +5 V através da
resistência R2, pelo que ela fornece para o exterior um nı́vel H, ou seja, uma
tensão próxima dos +5 V.
2.1. AS BANCADAS DE ENSAIO 13
H
(a)
L
H
(b)
L
Figura 2.4: (a) Se não houvesse bounce, a transição entre dois nı́veis, por exem-
plo de H para L, seria como se indica. (b) Porque os contactos do comutador
são mecânicos, existe bounce na transição, que se traduz por uma oscilação da
saı́da antes de finalmente estabilizar no nı́vel final
Os displays de 7 segmentos, por seu turno, mais não são do que conjuntos de 7
Leds (ou 8, para incluir um ponto decimal), organizados matricialmente como
indica a Figura 2.7.
a
f b
e g c
d
No caso das bancadas de ensaio utilizadas nos laboratórios, estes displays são
“atacados” por um circuito integrado que recebe dı́gitos do código BCD em 4
entradas (6), e gera nas 7 saı́das um código em que os uns indicam os Leds a
acender em cada display e os zeros, os leds a apagar. Esses circuitos são, por
isso, transcodificadores de BCD para o código de 7 segmentos.
A Figura 2.7 ilustra os resultados dessa transcodificação à saı́da dos displays,
para cada um dos 10 dı́gitos BCD.
Alguns transcodificadores são mais elaborados, permitindo também a geração
de algumas letras nos displays de 7 segmentos. Tipicamente, geram todos os
dı́gitos hexadecimais 0 a F, o que permite visualizar nos displays as letras A a
F (Figura 2.8) para além dos dı́gitos BCD.
Nas bancadas de ensaio, então, é necesário, para mostrar num dos displays de 7
segmentos um dı́gito BCD, fazer duas coisas: (i) colocar a entrada D respectiva
16 CAPÍTULO 2. EQUIPAMENTO
(D1 ou D2, ver ponto (16) anterior) ao nı́vel L, isto é, à tensão da massa; e (ii)
aplicar às entradas (6) a palavra de código BCD correspondente ao dı́gito que
se quer visualizar.
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Pin 7 (ligar, em geral, à
massa ou GND)
Mas há integrados da famı́lia que fogem a esta regra de identificação do VCC e
da massa. O melhor é verificar sempre pelo catálogo de integrados as posições
dos pinos de alimentação.
1. as réguas de integrados; e
2. as réguas de barramentos.
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Figura 2.10: Uma régua para montagem de circuitos integrados e demais com-
ponentes
Nos orifı́cios da régua irão ser inseridos os pinos dos circuitos integrados (e,
possivelmente, outros componentes electrónicos como resistências), e também
os fios que irão estabelecer as ligações entre os pinos dos integrados.
18 CAPÍTULO 2. EQUIPAMENTO
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Figura 2.11: Um CI com 14 pinos, montado numa régua de integrados
Para cada um dos lados do sulco central, os orifı́cios das linhas das matrizes (as
linhas estão identificadas pelos números 1 a 64 nas figuras deste texto) estão
ligados electricamente entre eles, como mostra a Figura 2.12. Contudo, deve
notar-se que as linhas que estão dos dois lados do sulco não estão ligadas entre
si.
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Figura 2.12: Uma régua de integrados possui (no seu interior e, em geral, à
rectaguarda) ligações em cada linha de orifı́cios colocados para cada um dos
lados do sulco central. Porém, não existe ligação entre os dois lados do sulco.
As linhas estão numeradas de 1 a 64 nas réguas que servem de exemplo
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Figura 2.13: Um integrado com 24 pinos, por exemplo, com um espaçamento
entre fiadas de pinos igual a 0,6 polegadas, tem menos ligações automáticas nas
linhas da régua
diferente: as linhas são, regra geral, divididas em dois conjuntos, e para cada
um deles as colunas estão todas ligadas entre si (Figura 2.14).
Figura 2.14: Uma régua de barramentos tı́pica, com as ligações internas indica-
das a cinzento. De notar que as ligações são, geralmente, entre cada uma das
colunas de cada meia régua
As colunas são, em geral, identificadas por duas barras coloridas, uma vermelha
e a outra azul, para facilitar a ligação ao VCC e à massa (vermelho para a ligação
ao VCC , azul para a ligação à massa).
Tipicamente, a cada régua de integrados vêm associadas duas réguas de barra-
mentos para as ligações às tensões de alimentação, como mostra a Figura 2.15.
Uma solução mais económica utiliza apenas uma régua de barramentos.
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Figura 2.15: Uma configuração tı́pica, com uma régua de integrados e duas
réguas de barramentos, possui as ligações ao VCC e à massa que se ilustram
AAAAAAAA
compactação e o uso de circuitos com um número de terminais muito mais
elevado. No entanto, não se adaptam bem ao tipo de trabalho de laboratório
AAAAAAAA
que irá ser realizado. Por isso usar-se-á este tipo de encapsulamento de utilização
mais fácil neste contexto.
AAAAAAAA
AAAAAAAA
AAAAAAAA
Figura 2.16: Aspecto fı́sico de um circuito integrado encapsulado em DIL
Os pins dos circuitos integrados são numerados para fácil identificação da fun-
cionalidade de cada um deles. A Figura 2.9 ilustra a numeração dos pinos.
Para circuitos integrados com mais terminais a regra de numeração é a mesma,
como já se referiu atrás.
Os CIs devem ser inseridos na régua de integrados por forma a que todos tenham
a mesma orientação, por exemplo colocando a cavidade de identificação do pino
1 sempre à esquerda, ou sempre à direita.
2.3. OS CIRCUITOS INTEGRADOS E AS SUAS LIGAÇÕES 21
U1 U2 U3
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74HCT30 74HCT245 74HCT138
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GND
Figura 2.17: Uma configuração tı́pica de réguas com alguns integrados montados
e alimentados electricamente
Não esquecer, contudo, que os pinos de alimentação dos integrados não estão
sempre nas mesmas posições relativas — 7 e 14 para os integrados de 14 pinos,
8 e 16 para os integrados de 16 pinos, etc. — embora o pino 1 seja sempre o
que se encontra por debaixo da cavidade de identificação (com o CI visto em
planta).
A inserção de um CI numa régua de integrados não merece quaisquer precauções
especiais, bastando que ela se faça exercendo sobre o integrado uma pressão
uniforme de cima para baixo até que todos os pinos estejam inseridos. Con-
tudo, ter em atenção a possibilidade de existirem pinos ligeiramente entortados
que, quando pressionados, ficarão sem contacto com os orifı́cios corresponden-
tes (para além de necessitarem de ser endireitados e correctamente alinhados no
exterior, o que nem sempre é muito fácil de conseguir).
Já a extracção de um CI requer cuidados especiais, devendo ser feita à custa de
uma pinça longa, fornecida no laboratório. Essa pinça deve ser inserida numa
das extremidades do circuito, por forma a levantá-lo ligeiramente. Em seguida
essa operação deve ser repetida do outro lado do integrado, até à sua completa
remoção.
Qualquer outra forma de extracção do CI poderá ter como efeito fazer dobrar um
ou mais pinos. E quando se tenta sucessivas vezes endireitar os pinos dobrados,
o mais certo é eles partirem, com a consequente inutilização do integrado.
A inserção e extracção dos fios de de ligação é facilitada pela utilização de pinças
22 CAPÍTULO 2. EQUIPAMENTO
longas. Os fios devem ser descascados nas pontas com uma alicate adequado, de
forma a deixarem a nu cerca de 0,5 cm de metal, que se deve apresentar direito.
Nunca tente introduzir nas réguas um fio com pontas torcidas. É preferı́vel
cortá-lo e descascá-lo de novo, para que a ponta de metal não fique dobrada
dentro do orifı́cio da régua, danificando-a ou fazendo um contacto indesejado
entre duas linhas de pinos.
Regra geral, é preferı́vel dispor os fios à volta dos integrados e não por cima
deles. Tal facilitará muito a fase de teste, no caso em que se torna necessário
retirar um integrado e substituı́-lo por outro.
Os fios devem ter a menor dimensão possı́vel e estar, tanto quanto possı́vel,
dispostos à superfı́cie da régua. Deverá procurar-se obedecer a um código de
cores para os fios, por exemplo fazendo todas as ligações de VCC com fio vermelho
e todas as de massa com fio azul. Na Figura 2.18 ilustra-se uma montagem bem
feita.
1. a ponta de prova; e
2. o pulsador lógico.
Vcc
CMOS
Pulse
Mem
L H
TTL
Gnd
Se nenhum dos led se iluminar, isso significa uma de duas coisas: ou se está
perante um nı́vel eléctrico que não corresponde a qualquer nı́vel lógico (zona
intermédia), ou não existe tensão aplicada ao contacto, por a ponta estar no
ar sem contacto com nenhum sinal ou por estar a detectar um sinal de alta
impedância.
25
26CAPÍTULO 3. DADOS SOBRE OS CIRCUITOS INTEGRADOS DIGITAIS
Na base, encontra-se a referência dos integrados que são cobertos pela folha de
dados. Neste caso estão cobertas duas sub-famı́lias (HC - 74HC32, a sub-famı́lia
27
mais comum em CMOS e HCT - 74HCT32, uma sub-famı́lia CMOS que mantém
nı́veis de entrada e saı́da compatı́veis com a famı́lia TTL LS, anteriormente
muito popular).
Note-se a descrição da funcionalidade do circuito. Quad 2-input OR gate.
Descreve-se, portanto, que este circuito integrado tem 4 (quad) portas OR de
2 entradas. A designação usada pressupõe a utilização de lógica positiva. De
facto, a funcionalidade que está descrita na Figura 3.2 está descrita em nı́veis
de tensão e não em valores lógicos. Para que esta tabela corresponda a um OR,
tem de se admitir o uso de lógica positiva.
Esta informação é completa mas não está no formato que mais nos interessa
para desenhar esquemas de circuitos. Na Figura 3.5 reproduzem-se dois de-
senhos da página 4 que representam graficamente a funcionalidade do circuito
integrado usando a nova versão da norma IEC 617-12 (à esquerda) e a versão
mais clássica (à direita). Na unidade curricular de Sistemas Digitais usar-se-á
preferencialmente a nova versão. Repare-se que os pins a que corresponde cada
entrada ou saı́da das portas estão, nesta versão, assinalados explicitamente no
sı́mbolo.
Figura 3.5: Duas versões dos sı́mbolos das portas incluı́das no 74HC32 da Philips
Esta é a parte mais relevante da folha de dados no contexto desta unidade cur-
ricular. No entanto, há uma série de outros dados que se revelam importantes.
Chama-se a atenção para três conjuntos de dados referidos na folha de dados.
Na Figura 3.6 mostram-se as condições recomendadas de operação.
Para começar indica-se a tensão de alimentação (VCC ) que, no caso dos circuitos
74HCxx pode assumir valores entre 2, 0 V e 6, 0 V, e nos 74HCTxx é de 5V ±
10%. Do mesmo modo, no quadro encontra-se a temperatura de funcionamento
que varia entre os −40o e os +125o.
Nas páginas seguintes da folha de dados, existem vários quadros que descrevem
várias grandezas para condições diferentes de temperaturas e para as duas sub-
famı́lias. Na Figura 3.7 mostra-se um conjunto de dados referentes às tensões
de entrada e de saı́da para os dois nı́veis, para a famı́lia 74HCT.
VIH é a tensão de entrada (I de input ) que é considerada pelo integrado como
tensão alta (H). A indicação é que o valor mı́nimo é de 2V. Isto é, qualquer
tensão acima de 2V é considerada pela porta como um H. Do mesmo modo a
tensão VIL é a tensão de entrada que é considerada pelo integrado como tensão
29
baixa (L). A indicação é de que o seu valor máximo é de 0,8V. Portanto qualquer
tensão menor ou igual a 0,8V é considerada como um L.
As duas tensões VOH e VOL são, respectivamente o valor da tensão de saı́da
(O de output ) no valor H e no valor L. Estes valores dependem da corrente de
saı́da do circuito. Os valores que são dados referem-se a condições particulares
especificadas no quadro.
No parâmetro VOH o fabricante garante que o valor mı́nimo de tensão é de
4,4V para uma corrente de −20µA. Isso quer dizer que a margem de ruı́do
(VOH − VIH ) é de, no mı́nimo 2,4V 1 . Repare-se que o fabricante informa que
o valor tı́pico deste valor é, porém, 4,5V. O valor máximo não é especificado
porque não tem interesse e porque o fabricante não considera, em consequência
necessário criar uma garantia suplementar que tem custos para ser cumprida.
Os valores de VOL podem ser consultados no quadro e a discussão do seu signi-
ficado deve ser agora já desnecessária.
O último quadro que se discutirá (Figura 3.8) é o das caracterı́sticas de co-
mutação.
Neste quadro surge a especificação dos tempos de atraso das portas para várias
tensões de entrada, à temperatura de 25o C. Como é fácil de compreender no
quadro, é fornecido o tempo que passa desde que uma das entradas (A ou B)
comuta, até que a saı́da (Y) reaja.
1 Para a definição de margem de ruı́do, consulte a bibliografia recomendada
30CAPÍTULO 3. DADOS SOBRE OS CIRCUITOS INTEGRADOS DIGITAIS
Repare-se que são especificados dois tempos: tpLH, tempo de atraso quando a
saı́da da porta passa de L para H e tpHL, tempo de atraso quando a saı́da da
porta passa de H para L. São iguais no caso deste circuito. Noutros circuitos
poderão ser diferentes e isso depende da estrutura interna do circuito.
Em cada um dos parâmetros é fornecido um valor máximo — o que o fabricante
garante — e um tempo tı́pico, o tempo que o fabricante indica como perto do
expectável na realidade e que é, naturalmente, menor.
As figuras citadas especificam um pouco melhor como são medidos os tempos,
em termos de formas de onda e o set-up experimental. Ilustram-se, apenas por
curiosidade, na Figura 3.9.
Esquemas e procedimentos
de montagem
Quando se prepara um circuito para ser montado, há que começar, natural-
mente, por projectá-lo. O projecto é feito de acordo com as ferramentas que
são apresentadas na parte teórica da unidade curricular e que os alunos devem
conhecer previamente.
A primeira fase do projecto conduz portanto, em circuitos simples, a um logi-
grama, isto é a uma representação gráfica da função ou funções obtidas.
O simulador lógico disponı́vel na unidade curricular não é um simulador de
circuitos integrados e sim um simulador de módulos conceptuais. Sendo assim,
esta é a fase em que o circuito deve ser testado no simulador para detectar
possı́veis erros de projecto. No capı́tulo seguinte serão apresentadas algumas
técnicas aplicadas a circuitos que, com as necessárias adaptações, são válidas
na fase de simulação.
F (A, B, C, D) = A C + A D + B C D
.
Concebido o logigrama (Figura4.1), há que decidir que circuitos integrados po-
dem ser usados para concretizar o circuito.
Neste caso, seria uma primeira ideia usar um integrado de ORs de 3 entradas,
um de ANDs de 2 entradas, um de ANDs de 3 entradas e um de NOTs. Em
primeiro lugar surge um problema com os ORs: não é fácil encontrar ORs de
três entradas. Claro que, graças à associatividade do OR, esta porta pode ser
substituı́da por duas portas OR de duas entradas e é fácil obter integrados com
essas portas.
31
32 CAPÍTULO 4. ESQUEMAS E PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM
A B C D
1
&
1
& 1 F
&
Há, porém, outra questão: estar-se-ia a apontar para usar quatro circuitos inte-
grados. Usar-se-iam duas das quatro portas do OR de duas entradas, uma das
três portas que tem o integrado com ANDs de três entradas, duas das quatro
portas do AND de duas entradas e duas das seis portas do integrado com NOTs.
Muito material e muito desperdı́cio.
Uma solução mais simples consiste em procurar usar menos integrados. Usando
os princı́pios da lógica de polaridade é possı́vel transformar o circuito anterior
para usar apenas dois integrados diferentes.
Observe-se o resultado (Figura 4.2):
A B C D
&
&
&
& 1 F
&
Figura 4.2: Logigrama modificado para que o circuito use menos circuitos inte-
grados
Acontece que o OR com entradas activas a LOW é o mesmo circuito que o AND
com saı́da activa a LOW, uma vez que X + Y = X Y . Cada uma das portas de
três entradas será, portanto, parte de um integrado positive-NAND, 74HCT10.
As duas negações foram substituı́das por dois circuitos positive-NAND, por
causa da lei da idempotência (A · A = A). Os dois ANDs passaram a ter
saı́da activa a LOW e, portanto, serão, em conjunto com as duas negações,
implementados por um circuito 74HCT00.
Para transformar o logigrama em esquema eléctrico falta apenas referenciar os
4.2. PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM 33
A B C D U1
U1
1 & 3 9
&
8
2 4 & 10
6 U2
5 12 3
U1 & 1
11 4 6 F
13 5
U1
U1 - 74HCT00
1 U2 - 74HCT10
&
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13
U2
U1 U2
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74HCT00 74HCT10
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GND
podem acabar por sair ou, mesmo com aspecto de estarem ligados, não
garantirem o contacto e serem uma causa de avaria difı́cil de encontrar.
Particularmente difı́cil de detectar é a situação em que o fio está encostado
ao contacto sem estar introduzido. Por vezes não há contacto e há um
erro de funcionamento. Mas quando se procura a avaria e se toca no
fio este faz contacto e não revela ser ele a causa do problema. Por outro
lado, fios muito longos, para além de um certo mau aspecto, soltam-se com
facilidade por serem constantemente tocados e puxados inadvertidamente.
• As pontas descascadas dos fios não devem ser muito curtas nem muito
longas (7 mm é uma boa medida) e não devem estar amachucadas. Se se
vai utilizar um fio em que as pontas não estão em óptimo estado, há que as
cortar e as tornar a descascar. Uma ponta curta demais não faz contacto.
Uma ponta demasiado longa, pode, se forçada a entrar no contacto, fazer
contacto, não só com o ponto que se pretende como também com contac-
tos fora da fila de contactos pretendida, causando curto-circuitos difı́ceis
de detectar. Se a parte descascada fica fora do contacto da placa, pode
encostar-se a outra nas mesmas condições provocando curto-circuitos ex-
ternos. Uma ponta amachucada, para além de ser mais difı́cil de inserir,
pode partir-se e ficar a obstruir o contacto ou, pior ainda, pode cair para
dentro da placa produzindo curto-circuitos ocasionais ou permanentes en-
tre contactos.
Toda a montagem deve ser feita com a base de ensaio desligada ou com a régua
de montagem não ligada à base. Os circuitos integrados, suportam mal que
estejam parcialmente ligados.
Na montagem, a primeira coisa a ligar devem ser todas as alimentações e massas
dos diversos circuitos integrados.
A montagem propriamente dita, deve ser feita em equipa com cada um dos
elementos do grupo concentrado na sua tarefa.
Um dos elementos do grupo deve limitar-se a ler o esquema informar outro que
está a montar, quais os pontos a interligar.
Por exemplo, no nosso circuito exemplo, deve indicar algo de semelhante a: “liga
o pino 1 do integrado 1 ao pino 2 do mesmo integrado. Depois liga um deles
ao interruptor A. De seguida, liga o pino 3 do circuito 1 ao pino 9, também do
mesmo circuito e depois ao pino 12, ainda do mesmo circuito”. Cada ligação de
um pino deve ser totalmente feita a todos os pinos a que vai ligar.
À medida que as ligações vão sendo confirmadas pelo elemento que está fazê-
las, o primeiro assinala com um lápis sobre o esquema as ligações que vão sendo
feitas. Isto permite interromper a montagem a qualquer momento e reatá-la
sem que haja ligações que fiquem “perdidas”.
O elemento que monta não deve, nesta fase, tentar perceber o circuito. Deve
ir colocando os fios indicados e confirmando cada ligação terminada para que
o seu colega possa ir assinalando o esquema. Sempre que realizar uma ligação
deve ter o cuidado de verificar que não existe ainda nenhuma ligação no pino a
que vai ligar um fio. Se isso acontecer, deve ter havido um erro anterior e há
que procurar esclarecer o que aconteceu, vendo onde está ligada a outra ponta
do fio, e, recorrendo ao esquema, verificar o que correu mal e corrigir.
36 CAPÍTULO 4. ESQUEMAS E PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM
O terceiro elemento do grupo deve ir cortando fios à medida que lhe são pedidos
pelos colegas.
Como é evidente, ao longo de diversos trabalhos, os elementos do grupo devem
ir trocando de papel. Não se aconselha a mudar a meio de um trabalho porque
há um conhecimento difuso que cada um tem a certa fase, que não é possı́vel
transmitir e que facilita muito o processo de montagem.
Capı́tulo 5
Diagnóstico de falhas
37
38 CAPÍTULO 5. DIAGNÓSTICO
Tabela 5.1: Tabela de verdade fı́sica teórica para o circuito com o logigrama da
Figura 5.1
X Y Z A
L L L H
L L H H
L H L H
L H H H
H L L H
H L H H
H H L L
H H H L
Com este logigrama podemos estabelecer a tabela de verdade fı́sica para o cir-
Como obteve esta cuito, como mostra a Tabela 5.1. Naturalmente, esta tabela é meramente teórica,
tabela? já que não prevê uma implementação com componentes e montagem defeituosos.
Nós sabemos, contudo, que ambos são possı́veis, pelo que será de esperar que
a tabela que se obtém para o funcionamento real do circuito seja diferente da
teórica. O que iremos fazer é explorar as diferenças entre a tabela real e a teórica
(os erros no funcionamento do circuito) e, a partir dessas diferenças, localizar e
identificar os tipos de falhas nos componentes e nas ligações do circuito.
Admitamos, então, que montamos o circuito anterior mas que existem falhas
desconhecidas em um ou mais componentes ou ligações. E suponhamos que a
tabela de verdade fı́sica que realmente obtemos é a que se indica na Tabela 5.2.
Como podemos constatar, esta tabela difere da tabela teórica nas linhas 2 e 7.
Ou seja, a montagem apresenta dois erros.
O nosso objectivo, ao fazermos o diagnóstico de falhas, consiste em localizar
todas as falhas e perceber de que tipo são, para podermos corrigir os erros.
Para o fazermos, vamos proceder de forma sistemática do fim para o inı́cio do
logigrama, isto é, da função A para as variáveis de entrada, X, Y e Z. Por
outro lado, vamos concentrar a nossa atenção nas linhas da tabela de verdade
fı́sica onde ocorrem os erros.
Comecemos pela linha 2 da tabela. Nesta linha era suposto a função possuir
um nı́vel H, mas o que se obteve foi um nı́vel L. Vamos tentar perceber porquê.
5.3. MÉTODO SIMPLES DE DIAGNÓSTICO DE FALHAS 41
X Y Z A
L L L H
L L H H
L H L L ⇐ Erro
L H H H
H L L H
H L H H
H H L L
H H H H ⇐ Erro
Para tanto, vamos impor ao circuito os nı́veis de tensão nas entradas que corres-
pondem a essa linha da tabela de verdade. Ou seja, vamos colocar nas entradas
os seguintes nı́veis de tensão: X = L, Y = H e Z = L. Obtemos, assim, a
situação teórica indicada na Figura 5.2 para as funções intermédias e final.
Figura 5.2: Logigrama que indica a situação nas entradas que correspondem à
linha 2 da tabela de verdade fı́sica teórica. Também se representam os nı́veis de
tensão nos nós intermédios e final
Mas esta situação é, mais uma vez, meramente teórica, apenas válida para o
caso de não haver falhas. Por exemplo:
• etc.
em erro (a linha 7), naturalmente impondo nas entradas, para cada erro, os
nı́veis de tensão adequados.
Suponhamos, então, que, com as entradas nos nı́veis que correspondem à análise
do erro da linha 2, obtivemos, por observação com a ponta de prova, nı́veis
reais diferentes dos esperados teoricamente, por exemplo os que se indicam na
Figura 5.3.
Figura 5.3: Logigrama que indica a situação nas entradas que correspondem à
linha 2 da tabela de verdade fı́sica mas numa situação real, em que existe um
erro nessa linha (em vez de um nı́vel H na saı́da, temos um nı́vel L)
Começamos por constatar que a parte de baixo do circuito, que liga G1, G3 e
G5, está correcta. Logo, para o erro que estamos a analisar, a falha ou falhas que
existirem devem estar localizadas no caminho que liga G2, G4 e G5. E, como
se afirmou atrás, esse caminho deve ser percorrido da saı́da para as entradas.
A Figura 5.4 ilustra os caminhos para análise deste erro.
Figura 5.5: Logigrama que indica a situação nas entradas que correspondem à
linha 7 da tabela de verdade fı́sica teórica. Também se representam os nı́veis de
tensão nos nós intermédios e final
Suponhamos, agora que, para esses nı́veis nas entradas, se obtiveram nı́veis reais
nos diversos nós diferentes dos nı́veis teóricos esperados, por exemplo os que se
indicam na Figura 5.6.
Figura 5.6: Logigrama que indica a situação nas entradas que correspondem à
linha 2 da tabela de verdade fı́sica mas numa situação em que existe erro nessa
linha (em vez de um nı́vel H na saı́da, temos um nı́vel L)
44 CAPÍTULO 5. DIAGNÓSTICO
7.1 Introdução
7.2 Formato
O formato do papel deve ser A4. Todas as folhas de papel devem ser do mesmo
tipo (lisas, quadriculadas, pautadas).
As folhas são agrafadas.
45
46 CAPÍTULO 7. COMO ESCREVER UM RELATÓRIO
• Data
7.3 Estrutura
A estrutura do relatório deve ser a seguinte:
• Capa
Evitar escrita telegráfica ou literária, isto é, não usar frases muito curtas ou
muito longas, e não utilizar uma forma de escrita pouco técnica.
Deve evitar-se usar adjectivos, excepto quando podem ser quantificados.
Ter o cuidado de dar um estilo coerente e uniforme ao relatório.
7.5 Preparação
O relatório deve ser feito antes da aula, deixando em branco somente as respostas
que envolvam resultados, observações, comentários e conclusões que dependam
das montagens de circuitos a realizar durante a aula de laboratório.
Para a produção dos esquemas consulte o capı́tulo sobre esse assunto incluı́do
neste Manual.