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MILTON
FRIEDMAN
As ideias e influência
do economista que liberalizou
os mercados e moldou
o mundo em que vivemos
Milton Friedman
A concise guide to the ideas and influence
of the free-market economist
Michelle Hapetian
CONTEÚDOS
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Cronologia da Vida e da Obra de Milton Friedman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. O INSUCESSO DO GOVERNO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
O Papel do Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Porque Falham os Governos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
A Fraude do Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Uma Abordagem Diferente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
INFLUÊNCIA MUNDIAL
Alan Greenspan tinha razão: a mudança de direção que resultou da
obra poderosamente original de Friedman é de facto notável. Durante
a maior parte da carreira de Friedman como economista, dos anos 30
aos anos 80, o mundo era dominado pelas teorias de planeamento,
gestão e controlo governamentais. Por fim, contudo, começaram a
disseminar-se novas ideias – as ideias de Milton Friedman sobre os
mercados livres, o comércio aberto, a liberdade e o capitalismo.
Embora não deixem de ser controversas para muitas pessoas, essas
teorias tornaram-se parte da vida quotidiana de milhões de cidadãos
em todo o mundo.
Aquando da queda do Muro de Berlim e do fim da ocupação sovié-
tica da Europa de Leste, a pequena república da Estónia encetou
um programa de reformas abrangentes que aumentou a prosperi-
dade dos cidadãos a níveis nunca antes sonhados. Uma década
depois, já se tinha tornado o país com maior número de ligações à
Internet do mundo; as indústrias estatais foram privatizadas, a tri-
butação fiscal das empresas foi abolida, os impostos sobre as pessoas
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O ECONOMISTA QUE MUDOU TUDO
Impacto Contínuo
Hoje em dia, podemos verificar os benefícios da prosperidade eco-
nómica e da liberdade pessoal, que se seguiram à adoção das teorias
de Friedman, em países tão diversificados como a Estónia, a China, a
Índia e o Chile. Alan Greenspan resumiu o legado de Friedman,
dizendo: “O seu impacto refletiu-se não só sobre o século XX, mas
também sobre o século XXI, e desconfio que será contínuo.”
Friedman esteve envolvido em todos os conflitos intelectuais mais
amargos mas essenciais do século XX sobre o papel dos governos nas
questões socioeconómicas. Durante uma boa parte desse tempo, as
suas opiniões estavam em minoria. Desde as revoltas dos anos 30,
passando pelo New Deal, até ao planeamento e à “afinação” da econo-
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O Radical Emergente
Milton Friedman media 1,52 m. O amigo George Stigler era cerca
de 30 cm mais alto. Ambos tinham alcunhas irónicas: Sr. Macro
(Friedman, cuja área era a Macroeconomia, ou seja, o funciona-
mento geral da economia) e Sr. Micro (Stigler, que era especializado
em Microeconomia, ou seja, o comportamento dos agregados fami-
liares e dos consumidores individuais). Em 1954, Stigler arranjou
um emprego a Friedman na Universidade do Minnesota, onde cola-
boraram no panfleto Roofs or Ceilings?, que repudiava fortemente os
controlos dos arrendamentos. Na opinião de ambos, essa medida de
tempo de guerra tinha resultados perversos. O preço reduzido dos
arrendamentos levava a que os senhorios preferissem manter as
propriedades sem as arrendar, reduzindo a oferta e a qualidade do
alojamento.
Os economistas e os políticos receberam o panfleto como um ata-
que grosseiro à sua capacidade de formular e regular os mercados
através da ação governamental. Era um rude insulto ao estado de
espírito da época, no entanto, marcava o nascimento do economista
do mercado livre, Milton Friedman, cujas teorias haviam, em última
análise, de prevalecer, ainda que muito mais tarde.
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O ECONOMISTA QUE MUDOU TUDO
O Economista de Chicago
A carreira de Friedman na Universidade do Minnesota foi inter-
rompida pela oferta de uma vaga no corpo docente da Universidade
de Chicago – o principal centro de ensino e investigação na área da
Economia dos Estados Unidos. Embora os primeiros professores de
Friedman já tivessem saído quase todos, a universidade ainda
demonstrava um respeito pelos mercados que estava profundamente
fora de moda em todo o lado. Altamente influenciados por Keynes, os
economistas e os cientistas políticos, na sua esmagadora maioria,
defendiam uma economia mista com um grau elevado de detenção e
controlo governamental – ou, até, um socialismo democrático. Não
parecia ser possível que o mercado pudesse conseguir melhores
resultados do que o planeamento deliberado e a cuidadosa regulação.
Para satisfação quase geral, Keynes tinha demostrado que a econo-
mia capitalista perdera o combustível e precisava de um investimento
por parte do governo para fazer arrancar a criação de postos de traba-
lho. Na sua opinião, nem nos bons tempos o capitalismo deixava de
ser inerentemente instável – tese comprovada pela queda de 1929 e
pela desordem que se seguiu.
Na Universidade de Chicago, Friedman voltou a deixar-se influen-
ciar pelos economistas iconoclastas, dos quais Frank Knight seria
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O ECONOMISTA QUE MUDOU TUDO
O Teórico Monetário
Para Friedman, a economia está relacionado com previsões precisas
e não com o aperfeiçoamento de elegantes modelos matemáticos. Os
economistas devem procurar compreender as grandes questões eco-
nómicas da atualidade, testar as suas teorias mediante os factos e
encontrar soluções que melhorem a vida das pessoas. Pode ter sido
esta ideia que o conduziu ao combate à inflação – um problema parti-
cularmente grave dos anos do pós-guerra – e à teoria económica que
mais lhe associamos: a teoria da quantidade de dinheiro. Milton con-
siderava a quantidade de dinheiro em circulação um poderoso indica-
dor dos preços futuros e, portanto, uma excelente ferramenta para
combater a inflação.
Os keynesianos – ou seja, quase todos os contemporâneos de Frie-
dman, antes dos anos 80 – desvalorizavam a teoria da quantidade,
por a considerarem ultrapassada e rudimentar. Na sua forma mais
elementar, a teoria funciona da seguinte forma: os governos contro-
lam a quantidade de dinheiro na economia dos seus países impri-
mindo novas notas bancárias e cunhando novas moedas. Se imprimi-
rem ou cunharem muito mais dinheiro, então – à semelhança de
qualquer coisa que se torne subitamente mais abundante –, o seu
valor cai. Nessa altura, os produtores pedem mais libras ou mais dóla-
res pelos seus bens e serviços, por valorizarem menos essas notas e
essas moedas. Por outras palavras, os preços aumentam. Isso chama-se
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O ECONOMISTA QUE MUDOU TUDO
Enfrentando Keynes
O trabalho de Friedman sobre o comportamento do consumidor,
no National Resources Committee, 20 anos antes, permitiu-lhe sus-
tentar as suas teorias. Para além disso, possibilitou-lhe desconstruir
outra parte vital da estrutura económica de Keynes que tinha encora-
jado os governos a expandir em dimensão e a aumentar os impos-
tos.
Keynes julgava que, ao enriquecermos, tendemos a gastar menos e
a poupar mais. Menos despesa em bens e serviços levam à queda da
produção e ao aumento do desemprego. Esse era um bom argumento
a favor do aumento quer dos impostos para limitar os rendimentos
das pessoas quer dos encargos do Estado para preencher a lacuna da
despesa.
No entanto, no livro The Theory of the Consumption Function, publi-
cado em 1957, Friedman demonstrou que as pessoas com níveis dife-
rentes de rendimento ao longo da vida têm hábitos de despesa e
poupança espantosamente consistentes. Keynes estava simplesmente
enganado acerca da realidade do comportamento humano e, conse-
quentemente, exagerou muito a necessidade de despesa e taxação do
Estado.
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O INTELECTUAL PÚBLICO
Os anos do pós-guerra, contudo, eram dominados por uma crença
generalizada na necessidade e na eficácia dos controlos do Estado.
As pessoas que, como Friedman, valorizavam a liberdade individual
e apoiavam o capitalismo de mercado livre eram uma minoria opri-
mida. Em 1947, o economista e cientista político Friedrich Hayek
juntou várias dessas pessoas na estância suíça de Mont Pelerin. Ele
esperava poder formar com elas um núcleo intelectual para manter
vivos os valores do liberalismo – no sentido clássico europeu –,
durante o que pareciam ser tempos particularmente tenebrosos.
Dois dos participantes da reunião de Hayek eram Milton Friedman
e o amigo George Stigler. Embora as suas ideias tenham permane-
cido décadas na selva intelectual, a Sociedade de Mont Pelerin, como
se tornou conhecida, continuou a crescer, tornando-se um importante
foco de ideias liberais. Daí surgiriam muitos economistas galardoa-
dos com o Nobel – incluindo Friedman, Hayek e Stigler – e Friedman
tornar-se-ia um dos seus presidentes mais distintos.
Cerca de 15 anos após essa primeira reunião em Mont Pelerin,
Friedman escreveu um livro que o fez transitar de economista pro-
fissional pouco conhecido (ainda que centrado nas grandes questões
públicas, como a inflação) para intelectual público famoso pela sua
controvérsia.
No seu livro de 1962, Capitalism and Freedom, que escreveu com a
mulher, Rose, Friedman não esteve com rodeios. Depois de dar o seu
total apoio aos princípios da liberdade pessoal em que se fundava o seu
país, demonstrou como a intervenção do Estado tinha extinguido essa
liberdade, deixando a sociedade humana menos livre e a economia
menos eficiente, capaz e próspera. Friedman deixou transparecer as
opiniões do filósofo inglês oitocentista John Stuart Mill: a crença na
dignidade do indivíduo, a convicção de que o progresso só é possível
através do génio dos indivíduos e a conclusão de que temos de susten-
tar a diversidade e a variedade que permite a prosperidade do individu-
alismo. Para além disso, Friedman apoiou-se nos argumentos apresen-
tados na obra seminal de Hayek, O Caminho para a Servidão, de que a
maior ameaça à liberdade e ao progresso é a concentração do poder.
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