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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA AUTOMAÇÃO E TRABALHO

CORASSA, Eugênio Delmaestro; PORTO JUNIOR, Odélio. Automação e Trabalho.


Minicurso Fundamentos do Direito e Novas Tecnologias, Apostila Preparatória: 5ª ed., 2017.

Eugênio Delmaestro Corassa é graduando em Direito pela Universidade Federal de


Minas Gerais e membro do Grupo de Pesquisa Trabalho e Resistências. Odélio Porto Junior é
graduando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador do Instituto
de Referência em Internet e Sociedade - IRIS (BH).
O artigo foi dividido sistematicamente em três partes além do conteúdo introdutório e
conclusivo. Na primeira parte, os autores buscam tratar do conceito de automação fazendo
abordagem de seus impactos no âmbito do mercado de trabalho. Na segunda parte, buscam
tratar da utilização e importância da Inteligência Artificial tendo como base algumas notas
técnicas. Por fim, no terceiro capítulo os autores fazem apontamentos sobre questões jurídicas
que podem ser suscitadas a partir do processo de apreensão das novas tecnologias, tendo
como objetivo trazer algumas ponderações e provocações sobre o tema, de modo que o leitor
possa obter um conhecimento básico do assunto.
O texto mostra ser bem construído, apresentando boa progressão de ideias,
expressando de forma concisa e clara o processo histórico de transformação da sociedade com
a evolução da tecnologia e o posicionamento dos autores os quais se basearam em suas
pesquisas.
Os autores fizeram uma contextualização histórica do processo de automação no
paradigma mundial, partindo-se da Primeira e da Segunda Revolução Industrial que era
restrita ao vapor e às tecnologias que hoje consideramos simplórias, passando pela Terceira
Revolução, conhecida como Técnico-Científica, que foi responsável por fazer a junção da
ciência com a produção após o período da Segunda Guerra Mundial nos anos 60 e, por fim
explanando a revolução que estamos vivendo nos tempos atuais, conhecida como a Quarta
Revolução Industrial ou Economia 4.0 que ganhou força após a virada do século.
Os autores reconhecem que o caminho trilhado pela humanidade tem se dado na
direção da preocupação com uma maior especialização e investimento em tecnologias capazes
de melhorar a qualidade da produção e baratear produtos, tendo como consequência a
inserção de máquinas no processo produtivo, ou seja, da automação.
Eles fazem uma breve menção à origem da palavra automação e a partir de quando ela
passou a ser utilizada, relacionando-a com a palavra “automático” e trazem à tona também o
conceito da autonomação, considerada como uma automação com um toque humano, que teve
origem a partir dos experimentos do sistema Toyota de estruturação produtiva, possibilitando
quase ausência do trabalhador humano no processo, na medida em que as máquinas executam
todo o processo de produção, cabendo ao ser humano apenas inspecionar diversas máquinas e
cuidar para que a produção esteja de acordo com o planejado.
Insta salientar que os autores atentam para a necessidade de se ter cautela para não
incorporar uma mentalidade de combate à inovação ou também de fé cega nela, dado que
mesmo com a consequência de se terem vários empregos extintos, diversos outros surgem em
seus lugares, além da rentabilidade dos investimentos na área. Eles também fazem a
abordagem da discussão se a automação contemporânea será capaz de gerar novos empregos,
à semelhança do que ocorreu nos séculos anteriores, ou se estamos diante de um novo cenário
sem precedentes históricos.
Corassa e Porto Júnior fazem uma diferenciação que consideram fundamental dos
conceitos de “inteligência artificial geral” que seria um algoritmo de Inteligência Artificial
capaz de ter um aprendizado amplo em qualquer área de forma semelhante do ser humano e
de “inteligência artificial específica”, que é um algoritmo capaz de solucionar apenas uma
tarefa, mesmo que esta seja complexa. Eles também definiram uma IA cuja técnica admite
diversos graus de aplicação, tendo como características a autonomia e a capacidade de
adaptação.
Os autores salientam a questão da implicação jurídica em relação ao direito de
explicação no âmbito de utilização da automatização nos processos de decisões ao longo do
desenvolvimento da sociedade, haja vista que com cada vez mais serviços cotidianos se
utilizando de métodos de IA, a transparência passou a ser uma questão relevante, uma vez que
os afetados por decisões automatizadas buscarão informações sobre quando e quais critérios
foram utilizados em uma determinada decisão automatizada.
Os problemas abordados por eles se relacionam com o questionamento de como a
alimentação dos dados na IA é realizada para que ela proceda a análise correta de
determinadas situações e chegue à conclusões importantes sobre elas. Eles utilizaram como
exemplo as falhas ocorridas não só na área da justiça criminal, mas também na análise de
crédito de consumidores, análise de risco para planos de saúde e decisões sobre contratação
trabalhista, evidenciando que caso os algoritmos fossem treinados com dados enviesados, eles
produziriam esses preconceitos nas suas decisões provocando muita injustiça.
O principal problema à efetivação desse direito à transparência nos parâmetros
utilizados para a tomada de decisão da IA, se dá pelo fato de que mesmo que se tenha acesso
ao algoritmo de IA desconsiderando as dificuldades relacionadas à propriedade intelectual,
uma equipe técnica não consegue explicar plenamente como a IA chegou a determinado
resultado devido à complexidade da sua arquitetura.
Por fim, na conclusão do artigo, Corassa e Porto Júnior ressaltam que ainda existem
diversos aspectos jurídicos no uso de algoritmos de IA carentes de soluções jurídicas
adequadas, considerando que estas questões não estão inseridas no debate mais abstrato sobre
consciência em inteligências artificiais. Eles salientam a importância de se ter em mente que a
discussão séria desses temas exige que o jurista entenda um mínimo sobre como as
tecnologias funcionam, mas que não chega ao ponto de exigir que o mesmo saiba programar
um algoritmo de IA. Lembrando também da necessidade de equilíbrio com a expectativa que
a utilização da IA na sociedade poderá gerar, não podendo considerá-la apenas como nociva à
sociedade tendo em vista a quantidade de profissões que desaparecerão e o desemprego que
ela poderá gerar, tampouco ser vista como a salvadora de todos os problemas da sociedade.
O posicionamento e descrição dos autores em relação às pesquisas sobre o tema foram
coerentes e demonstraram de forma concisa os conceitos e os problemas que envolvem o
assunto. Realmente se faz necessário o desenvolvimento de mais pesquisas em relação aos
impactos obtidos com a cresceste utilização da IA na sociedade, para assim agregar
alternativas diversas para a solução dos casos problemáticos de maneira justa e igualitária
para todos.

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