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MAPEAMENTO

GRUPOS dos
CRIATIVOS
BAIXADA
da

FLUMINENSE
Relatório Final
Rio de Janeiro – 2015
MAPEAMENTO
GRUPOS

dos
Itaguaí

Seropédica
CRIATIVOS
BAIXADA

da
Queimados
FLUMINENSE
Relatório Final
Rio de Janeiro – 2015

Belford Roxo
Realização
Paty do
Vassouras Alferes

Petrópolis Teresópolis
Barra do Piraí

Cachoeiras
Miguel Pereira de Macacu
Eng. Paulo de Frontim

Mendes

Guapimirim

Piraí Paracambi Magé

Duque de Caxias
Japeri Nova Iguaçu

Queimados Belford
Roxo
Seropédica B A Í A D E G U A N A B A R A Itaboraí

São João
Rio Claro
Mesquita de Meriti

Nilópolis São Gonçalo


Itaguaí

Mangaratiba
Niterói
Rio de Janeiro Maricá

B A Í A D E S E P E T I B A
SUMÁRIO

08 Apresentação

11 Projeto Brasil Próximo –


Estação Baixada: pontos de partida

17 Trilhas teóricas e metodológicas


28 Nas tramas da Baixada... Identidades e territórios na narrativa de jovens
de ontem e hoje

45 Conhecendo os grupos criativos


45 Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense
46 Uma forma de ouvir os grupos...
54 Estrutura e funcionamento dos grupos criativos
61 Acervos e memória: o que lembrar?
63 Modos de comunicar...
72 Redes e ação coletiva
73 Pautas políticas...

77 Um olhar sobre as políticas destinadas aos jovens da


Baixada Fluminense

87 Sínteses...

90 Referências bibliográficas

92 Anexos
APRESENTAÇÃO

É com alegria que entregamos ao leitor o Mapeamento dos ticipativa na região. Isso inclui identificar e estimular articulações de políticas
Grupos Criativos da Baixada Fluminense, resultado de pesquisa com mais de sociais promotoras de metodologias capazes de promover a participação de
uma centena de grupos que possuem engajamento na proposição e produção todos os setores que atuam no território, com prioridade para as políticas de
cultural nos municípios da Baixada, do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de juventude. Como resultado, foi realizado um conjunto de atividades com foco
um amplo levantamento, feito entre maio de 2013 e maio 2014, sobre o perfil em políticas públicas sociais participativas, de cultura e protagonismo juvenil.
desses grupos (integrados, sobretudo, mas não apenas, por jovens), suas ati- Esta publicação tem múltiplos objetivos: dar visibilidade às expressões
vidades, histórias, necessidades e demandas. Esse trabalho foi realizado por culturais da Baixada Fluminense, em todas as suas manifestações e forma-
operadores culturais da própria região, envolvendo, também, entrevistas com tos criativos e organizativos; fornecer parâmetros para conhecer e analisar
gestores públicos municipais ligados à cultura, buscando estabelecer possi- o perfil dos grupos criativos atuantes no território; identificar redes de apoio
bilidades de diálogo entre a vivência dos grupos e as instituições capazes, e parcerias para a reflexão política sobre a cena cultural juvenil; incentivar e
potencialmente, de lhes dar suporte e apoio. apoiar a criação e a difusão da cultura na região, por meio do fortalecimento
Este Mapeamento integra o Programa Brasil Próximo, uma parceria entre de espaços de interlocução entre artistas, produtores e organizações compro-
o Governo Federal do Brasil, com as regiões italianas da Úmbria, Marche, metidas com a cultura da Baixada Fluminense.
Toscana, Emilia Romagna e Ligúria. Trata-se de um programa de coopera- A proposta do trabalho procurou destacar e valorizar o caráter articula-
ção internacional que visa aproximar, cada vez mais, ambos os países, sendo dor da juventude, na Baixada Fluminense. Isso foi significativo, já que, muitas
resultado de uma série de importantes atividades que tais regiões têm feito vezes, tais experiências, que nascem da esfera da cultura popular, são descon-
no Brasil, nos últimos anos. O Programa tem como objetivo principal construir sideradas ou levadas em conta, por exemplo, pela mídia, apenas quando se
uma rede de políticas públicas, oportunidades e intervenções para acompa- tornam mercadologicamente rentáveis. Assim, traçar um caminho de comu-
nhar os processos internos de desenvolvimento local integrado, solidário e nicação colaborativa entre os grupos juvenis da Baixada foi uma forma, na
sustentável. Realizado em diferentes regiões brasileiras, responde a deman- pesquisa, de se contrapor a percepções infundadas.
das e especificidades locais, cabendo a cada uma das cinco regiões italianas a Sobre os grupos criativos pesquisados, procuramos responder a diferen-
tarefa de coordenar as atividades nos territórios pactuados, a partir das espe- tes perguntas: Quantos são? Onde estão? Quem são? Que estratégias tecem
cificidades e do acúmulo técnico de cada uma. para costurar relações culturais para mobilizar a juventude? Que culturas
A Baixada Fluminense foi escolhida para integrar o Programa Brasil Pró- produzem e consomem?
ximo, por apresentar o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Esperamos que esta publicação ajude a responder, ou mesmo complexi-
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, além de ser uma região cuja ambi- ficar, esses questionamentos, uma vez que a entendemos como “mais um”
ência política possibilita a experimentação de novas abordagens no setor das instrumento a contribuir para o fortalecimento da autonomia dos grupos cria-
políticas sociais, a partir das necessidades e dos recursos reais do território. tivos da Baixada Fluminense, na sua luta por direitos. Como observou uma
Outro elemento definidor dessa escolha foi o fato de a Baixada abrigar um pesquisadora envolvida no mapeamento: “Quando os jovens estão engajados
expressivo contingente de jovens: são 1,5 milhões, entre 15 e 29 anos de idade, na esfera cultural, produzem coisas lindas e participam ativamente da cons-
para uma população total de 4,5 milhões. trução e do crescimento de seu espaço. Vivem intensamente o seu lugar e sua
Partiu-se, também, da constatação de que, embora a Baixada esteja cons- história”. Com este trabalho, esperamos fortalecer o processo.
truindo uma trajetória de desenvolvimento econômico, as mudanças não foram Boa leitura!
suficientes para reverter o quadro de desigualdades presentes. Definiu-se,
assim, como objetivo para o Programa, apoiar processos de democracia par- Coordenação Brasil Próximo

8 9
PROJETO BRASIL PRÓXIMO
ESTAÇÃO BAIXADA: PONTOS DE PARTIDA

Múltiplos são os sotaques da Baixada Fluminense. Nesse terri-


tório de intensa criação cultural, os “falares” de quase todas as regiões brasi-
leiras podem ser ouvidos no correr da vida de seus moradores. As narrativas,
tecidas nos cruzamentos de uma história de muitos e muitas, misturam espe-
rança, expressão artística, empenho, compromisso e, sobretudo, resistência.
Um vasto cenário – ainda não suficientemente explorado e conhecido
pelo conjunto mais amplo de seus moradores e demais habitantes do estado
do Rio de Janeiro – reúne artistas, grupos e instituições envolvidos em diver-
sos setores culturais, como teatro, dança, música, atividades circenses, foto-
grafia, audiovisual, literatura, turismo cultural, carnaval, culturas populares,
artes plásticas, entre outros.
Opondo-se à asfixia social, econômica, política e cultural que marca a
região, preservam e produzem diferentes expressões culturais e artísticas, em
uma contínua recriação de seus pertencimentos identitários e reinvenção de
dinâmicas organizativas e manutenção de suas atividades. Por meio delas,
imprimem em suas ações os valores, materiais e imateriais, que comparti-
lham, e propõem à região modos diversos e criativos de fundir criatividade,
arte, vida, poesia e cidadania.
A multiplicidade de manifestações culturais traduz-se neste Mapeamento
dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, investigação realizada como
parte do conjunto de ações projetadas pelo programa Brasil Próximo na
região. Estabelecido com ênfase na criação de proximidades culturais e no
fortalecimento das redes existentes, o projeto teve como objetivo a constru-
ção de espaços de troca com gestores públicos da Baixada Fluminense, grupos
culturais e, sobretudo, jovens produtores culturais, para o aprimoramento da
reflexão sobre a formulação de políticas públicas. O programa busca delinear,
também, estratégias de ação para a região, pautadas no direito à cultura e no
recente reconhecimento do direito dos jovens e da regulação das diretrizes
nacionais das políticas de juventude por meio do Estatuto da Juventude (Lei
Federal n. 12.852/2013).

10 11
é acreditar na potência das interseções e dos cruzamentos como um cami-
BRASIL PRÓXIMO é um programa de cooperação internacional que visa aproximar nho analítico possível que coloca diferentes narrativas em destaque, a ser-
cada vez mais, no futuro, regiões italianas e brasileiras, e é resultado de uma série de
viço da ampliação do entendimento das razões de cada um e dos grupos,
importantes atividades que as Regiões Umbria, Marche, Toscana, Emilia Romagna e
bem como sobre a estrutura dos conflitos e das negociações de significados
Ligúria têm feito no Brasil nos últimos anos, com o objetivo de construir, no decorrer
deste processo, uma rede de políticas, oportunidades e intervenções para acompanhar construídas ao longo de um processo histórico-social que envolve diversos
os processos endógenos de desenvolvimento local integrado, solidário e sustentável. atores-sujeitos e temporalidades.
O interesse da parte brasileira por estas Regiões italianas nasce da vontade de Frente a tantas negociações, muitos códigos, símbolos e significados ali-
aprender da sua experiência, baseada no planejamento territorial consensuado, na nham-se, em disputa, nos espaços culturais, em contendas por visibilidade,
diversificação produtiva e nos serviços destinados ao crescimento das PMEs [Pequenas durabilidade, memória, reconhecimento e valorização. A cultura, como ensina
e Médias Empresas], no cooperativismo e outras formas associativas de produção, no
o antropólogo Gilberto Velho (1974), não é uma entidade acabada. Mantém-
marketing territorial e na qualificação da oferta de bens e serviços regionais no âmbito
de projetos de qualidade total e de imagem de excelência territorial, na economia e na
se como linguagem permanentemente acionada e modificada por pessoas
cultura, e na valorização econômica dos recursos territoriais, num quadro de desenvol- que ocupam e desempenham papéis específicos, ao mesmo tempo em que
vimento sustentável. (Conferir <http://www.brasilproximo.com>) são possuidoras de experiências existenciais particulares.
Longe de ser homogênea em si mesma, a estrutura na qual se inscreve
Com o Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, buscou- representa a ação social dos sujeitos desigualmente situados no processo
se coletar informações e classificá-las, para, então, devolvê-las como subsídios social. Esse posicionamento requisitou a criação de uma sequência metodoló-
à reflexão e ao debate sobre a produção cultural na região, sobre os modelos gica que se afastasse das abordagens e práticas de pesquisa que reafirmam a
institucionalizados, os agenciamentos produzidos e suas repercussões. objetificação dos sujeitos e a “neutralidade”, adotadas por algumas pesquisas
No período de maio de 2013 a maio de 2014, por meio de instrumentos e realizadas em bairros periféricos e/ou favelas ou, mesmo, empreendidas com
práticas metodológicas diversas, foi realizado um amplo levantamento de insti- o objetivo de quantificar as ações culturais nos municípios.
tuições, grupos, bem como a coleta de dados e escuta de vários sujeitos envol- Buscou-se, também, investir em lógicas mais respeitosas e solidárias,
vidos com as atividades culturais e de juventude dos municípios. A equipe do entendendo as múltiplas identidades, em constante construção, como narrati-
Brasil Próximo lançou-se, assim, ao desafio de sistematizar múltiplas informa- vas em desenvolvimento e como parte e acúmulo da construção coletiva dos
ções sobre a cena cultural da Baixada Fluminense, buscando, também, estabe- movimentos populares e organizações da sociedade civil.
lecer as conexões e interfaces com as demandas contemporâneas mais amplas Em um processo de investigação que articulou memória, subjetividade, perten-
das juventudes não apenas da Baixada, mas também do Brasil. cimentos, reflexão sobre lógicas e sentidos da produção cultural realizada pelos
Nesses termos, definiram-se Grupos Criativos como aqueles que possuem grupos culturais da Baixada Fluminense, sobretudo aqueles que contam com parti-
envolvimento na proposição e na produção cultural dos municípios da Baixada cipação ativa de jovens, reúnem-se, aqui, os conhecimentos acumulados na trajetó-
Fluminense e que, lançando mão de práticas inovadoras, solidárias e colaborati- ria da pesquisa e as reflexões em torno dos formatos de ação encontrados.
vas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas, ações e atividades geradoras Empreender um projeto de investigação coletivo pressupõe assumir, como
de pertencimentos, identificações, filiações e articulação econômica e política. parte do processo, lacunas, conflitos, contradições, recursos, investimentos,
O mapeamento considerou 13 municípios como constitutivos da região: Bel- tempos, interesses e, sobretudo, experiências diferenciadas. A construção e
ford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Niló- a apresentação das argumentações e o material extraído deles conformam
polis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica. trilhas e itinerários percorridos por esse coletivo, em diálogo com o mosaico
Em busca dos distintos sotaques, expressões e movimentos culturais, a seleção de informações levantadas.
dos membros da equipe priorizou o convite a estudantes, artistas, gestores e ex-ges-
Trem sujo da Leopoldina, correndo, correndo... pra dizer:
tores envolvidos com a produção cultural e criativa da Baixada. Com base em suas
Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome...
indicações, delinearam-se critérios, rediscutiram-se instrumentos, elaboraram-se Piiiii... Estação de Caxias, de novo a dizer, de novo a correr
objetivos e reorientaram-se metas e prazos, materializados no presente relatório. Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome...
Reunir tantas pessoas, com diferentes trajetórias, inserções e interesses, (Tem gente com fome, de Solano Trindade)

12 13
Solano Trindade, poeta que dá nome a uma biblioteca comunitária no
município de Duque de Caxias1, no poema Tem gente com fome, chama aten-
ção para a “linha do trem”, malha viária sobre a qual, no entorno das estações,
organizam-se os municípios, suas culturas e realidades locais. Linha de trem
que amplia caminhos, que faz circular, ter acesso à cidade, que possibilita o
trânsito por diferentes ramais e realidades.
A diversidade de espaços e sujeitos e, sobretudo, das formas pelas quais se
expressam é tão grande quanto a articulação de esforços e estratégias criadas
para a disputa pelo reconhecimento, visibilidade e fortalecimento das expres-
sões culturais já existentes nos municípios. Das muitas conexões, consolida-
das e em andamento, inúmeras expressões artísticas, iniciativas e grupos,
florescem do riquíssimo patrimônio e das múltiplas formas de representar-se
e pertencer à Baixada Fluminense.
Grupos de Folia de Reis, capoeira, grafite, hip hop, circo, cineclubes, produ-
ção audiovisual, samba, forró, carnavalescos, assim como bandas de rock, com-
panhias de teatro, instituições religiosas, centros culturais, pontos de cultura,
entre outros, mobilizados em torno de distintas práticas culturais, oferecem, a
seus moradores – de diferentes idades e condições –, espaços de compartilha-
mento de suas capacidades criativas, acenando, com suas intervenções artísti-
cas e políticas, a possibilidade de transmutar AUSÊNCIA em POTÊNCIA!
Articulados em redes eventuais ou estáveis – em torno das expressões
artísticas e por municípios –, artistas, militantes, trabalhadores e consumido-
res envolvidos na cadeia produtiva dos grupos criativos conjugam o uso de
códigos e estratégias com o apoio em ações e serviços como metodologia
para garantir sua existência e a inserção nas agendas de governo e de suas
pautas políticas. São exemplos disso a realização do Fórum do Trabalho do
Músico na Baixada Fluminense, cuja primeira edição ocorreu em maio de
2014, e o Fórum Independente de Redes de Cultura de Nova Iguaçu, lançado
em julho daquele mesmo ano.
As experiências e informações apresentadas permitem entrever o vigor
com que se organizam, as lógicas e práticas com os quais operam e ressignifi-
cam seus pertencimentos, produzindo, por meio de suas expressões artísticas,
contranarrativas que dialogam com as múltiplas realidades que vivenciam.
Espera-se, com este mapeamento, ampliar a compreensão sobre a rea-
lidade dos grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas e processos
criativos, sobre os agenciamentos produzidos e os modelos institucionaliza-
dos –, para melhor apreensão sobre as principais necessidades, expectativas,
demandas e interseções entre o campo da cultura e o mundo juvenil.

1
  Conferir <http://bibliotecasolanotrindade.blogspot.com.br>.

14 15
TRILHAS TEÓRICAS
E METODOLÓGICAS

Para quem toma contato com este relatório, inicialmente, é pre-


ciso apontar algumas dimensões relevantes à compreensão de aspectos cen-
trais do projeto metodológico concebido para a realização do mapeamento.
A perspectiva de apoio à promoção dos processos de democracia parti-
cipativa assumida pelo projeto orientou a elaboração do desenho do mape-
amento, que priorizou uma abordagem intersetorial entre as políticas de
cultura e aquelas voltadas aos jovens, apostando em possíveis enlaces e
transversalidades temáticas.
A equipe do projeto, selecionada pela coordenação técnica, constituiu-se
de jovens e não jovens (mobilizadores e operadores), envolvidos com a pro-
dução cultural da região. Os mobilizadores eram profissionais de cultura com
reconhecida atuação na Baixada, articulados em coletivos, redes e espaços
de incidência em políticas públicas, que realizavam as ações de mobilização
e articulação com os grupos culturais, as instituições e os órgãos governamen-
tais. A equipe de operadores de pesquisa era composta por jovens atuantes
em grupos juvenis de cultura e estudantes de produção cultural, que realiza-
vam as ações de aplicação de formulários em campo, entrevistas, contatos
e produção dos eventos do Projeto Brasil Próximo/Baixada Fluminense - RJ.
Reuniram-se, no mesmo grupo de trabalho, diferentes visões e experiên-
cias – estudantes, artistas, ex-gestores, militantes da cultura, entre outros –,
convidando-os a participar de forma ativa em todo o processo e nas etapas
desenhadas para a realização do mapeamento.
Tal escolha metodológica tomou por base o reconhecimento de que o per-
tencimento à região, a vivência e a prática cotidiana desses agentes culturais
constituem-se em patrimônios culturais e sociais importantes para a recons-
tituição da memória, a identificação das narrativas em disputa, os enquadra-
mentos analíticos e, por fim, a elaboração de projetos sobre e para a região.
Imersos no desenrolar contemporâneo de uma luta discursiva em torno de
suas representações como moradores da Baixada, apostou-se em um processo
de investigação articulador de memórias, subjetividades e pertencimentos.
No período de maio a junho de 2013, foram realizados cinco grupos de
diálogo com a equipe, para a construção do projeto metodológico, delimi-

16 17
tação dos objetivos, pactuação do cronograma e validação dos instrumen- reconhecimento e a manutenção de suas práticas culturais, bem como as
tos de pesquisa2. Nesses encontros, questões foram elencadas como parte soluções criativas que encontram para contornarem essa dura realidade,
do conjunto de preocupações e interesses de pesquisa sobre a produção tornou-se um aspecto a ser, frequentemente, modulado com os membros
cultural da região, as oportunidades e as expectativas de ações e políticas da equipe, durante os meses de trabalho.
voltadas aos jovens. Esse modo de fazer pesquisa encontra suporte nas práticas da educação
Considerando as várias etapas e os processos criativos desenvolvidos, bus- popular, em que significações e comunicações negociadas entre os agentes-
cou-se agrupar os destaques elencados pela equipe do Brasil Próximo nos sujeitos tornam possível o surgimento de novos sentidos e conceitos como
grupos de diálogo, convertendo-os em pontos de orientação no itinerário de explicações de novas realidades. Em um movimento de constante retroali-
pesquisa. As questões, bem como os processos de trabalho e o intercâmbio mentação, articularam-se os processos de coleta de informações, sistematiza-
participativo das experiências de campo, foram, posteriormente, aprofunda- ção e avaliação, buscando diversificar as formas de aproximação da realidade
das em reuniões semanais de orientação, envolvendo a produção de “relató- dos grupos culturais da região.
rios-síntese”, balanços do andamento da pesquisa, acordos e distribuição de Seguindo essa abordagem, realizou-se um esforço de sistematização dos
tarefas e responsabilidades. processos, reflexões e conceitualizações produzidos pela equipe, reconhe-
A manutenção de encontros regulares entre os membros do grupo de tra- cendo, no conceito de experiência, um valor para o trabalho de investigação.
balho possibilitou que os percursos da investigação fossem definidos, con- Experiências de adultos e jovens, experiências de moradores, experiências
siderando a realidade concreta e coparticipada pelos membros da equipe. de quem vê pela primeira vez, experiências recentes e mais antigas, entre o
De modo abrangente, considerou-se o conjunto das operações de pesquisa imediato e o persistente.
– elaboração do projeto de investigação, realização e conteúdo dos grupos O primeiro investimento da equipe dirigiu-se à identificação e à localiza-
de diálogos, participação e observação dos eventos3, revisões no cronograma, ção de artistas e grupos, integrantes das múltiplas redes existentes na região.
localização de contatos, experimentações – como os objetos visíveis e evolu- Buscou-se, ainda, aprofundar coletivamente o que a equipe nomeava como
tivos do grupo constituído para o trabalho no projeto Brasil Próximo. “grupo criativo”, categoria reelaborada no decorrer das ações de pesquisa,
Isso porque, acredita-se, a produção de conhecimentos sobre qualquer com o intuito de subsidiar a delimitação dos critérios iniciais de busca e iden-
dimensão da realidade social traz, como exigência, a reflexão sobre os inte- tificação dos grupos a serem mapeados na investigação.
resses e o próprio processo de pesquisa, em confronto com as informações e Àquele momento, as características desses grupos apresentavam-se, ainda,
os conhecimentos já acumulados do que se quer compreender. bastante difusas. Questões relacionadas à sua visibilidade na região – Quem
Se, por um lado, essa escolha acrescentou contornos, algumas vezes, frus- são esses grupos? A que manifestações artísticas estão vinculados? Quem são
trantes quanto ao próprio processo de pesquisa, por outro, foi o que nos man- os sujeitos dessas ações? Que meios de transmissão e difusão de saberes uti-
teve em estado de alerta, para que não nos jogássemos à açodada tentação lizam? – emergiam com frequência, colocando ênfase no desconforto com a
de aceitar algumas narrativas como óbvias, evitando, ao fim e ao cabo, que as dispersão de informações sobre a produção cultural dos municípios.
tomássemos como verdades únicas. Foram consultados cadastros e levantamentos mantidos pelas secreta-
Pesquisar exige deslocar-se, tanto física e cognitivamente, quanto afe- rias de cultura dos municípios, organismos de juventude, sites das prefeitu-
tivamente. Ainda que se reconheça a distância entre o desejo-direito de ras, redes sociais e listagens de festivais, a fim de recolher o maior número
produzir cultura e os limites oferecidos pela realidade encontrada nos possível de informações sobre os grupos. O objetivo foi, também, mapear
municípios (número insuficiente de equipamentos públicos de cultura e a estrutura, os programas, os projetos e as ações voltados à cultura, nos
dificuldades no suporte logístico para a manutenção de suas práticas cul- municípios da Baixada Fluminense, e os atuais investimentos governa-
turais), o desejo de ver registradas as dificuldades que enfrentam para o mentais realizados nesse campo. O instrumento de pesquisa II continha
múltiplas informações e foi recomendado que o contato fosse feito pelos
2
  Os Instrumentos de Pesquisa (I, II, III e IV) estão disponíveis, para consulta, em: <http://www.desenrolo.net>.
mobilizadores da equipe, uma vez que, por se tratarem de sujeitos com
3
  A equipe Brasil Próximo realizou três eventos: Desenrolo.com (18 de julho de 2013), Quem te viu, quem te
maior trânsito na gestão pública, acreditava-se que tivessem mais possibi-
vê? Virada Cultural da Baixada Fluminense (7 de dezembro de 2013) e Seminário Trilhas – Caminhos, Culturas, lidades de acessar tais informações.
Políticas Públicas e Protagonismo Juvenil na Baixada Fluminense (25 a 27 de março de 2014).

18 19
Registra-se que a primeira etapa do trabalho, no contato direto com Quadro 4 – O Conselho é Paritário?
(considerando apenas os municípios que possuem conselho municipal de cultura)
secretarias e órgãos de governo, trouxe relatos que evidenciavam a relação
de pouca transparência em relação ao acesso às informações sobre a dinâ- Sim 8 89%
mica cultural da região. Em especial, nos depoimentos dos mobilizadores, foi
recorrente o relato sobre as dificuldades em captar informações referentes às Não respondeu 1 11%

secretarias de cultura municipais. Por conta desses entraves, a tabulação feita


Total 9 100%
expressa, por vezes, a ausência de algumas informações, verificadas à época
da aplicação do instrumento – em especial as que se referem ao orçamento
de que dispõem os órgãos de cultura. Pode-se verificar que a maior parte dos municípios possui conselhos de
Tem-se o seguinte quadro em relação aos órgãos municipais de cultura cultura, grande parte deles com paridade entre seus membros, exercendo fun-
nos 13 municípios4: ção consultiva, deliberativa, normativa e fiscalizadora.
Não foi possível, porém, nos aproximar da dinâmica dos conselhos e de
Quadro 1 – Nome do Órgão Municipal de Cultura suas reais condições de acompanhamento, colaboração e proposição de
(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense) políticas públicas, além do exercício de controle social na execução das
políticas culturais, sem com isso comprometer o cronograma de pesquisa.
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo 2 15%
O mesmo se dá em relação à compatibilização das secretarias e prefeitu-
Fundação Cultural 1 8% ras quanto à normatização prevista na Lei de Acesso à Informação (Lei n.
12.527/2011). Embora a Lei efetive o direito previsto na Constituição de que
Secretaria Municipal de Cultura 9 69%
todos têm a prerrogativa de receber, dos órgãos públicos, informações de
Secretaria Municipal de Ação Cultural 1 8% interesse pessoal e de interesse coletivo, na prática em campo, o acesso
às informações orçamentárias dos órgãos municipais de cultura ocorreu de
Total 13 100%
forma limitada e dificultosa (ver Quadro 5), por diversos fatores, tais como:
desconhecimento do gestor municipal sobre o total orçamentário de sua
Quadro 2 – Tipo de Modalidade Institucional secretaria, orçamento da secretaria revestido em cargos que sofrem cons-
(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense)
tantes deslocamentos intersetoriais na prefeitura, fontes de recursos vindas
Secretaria municipal em conjunto com outras políticas setoriais 3 23%
de outras parcerias para a realização de eventos específicos e constantes
mudanças governamentais.
Secretaria municipal exclusiva 10 77%

Quadro 5 – Orçamento
Total 13 100%
(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense)

Quadro 3 – Conselho Municipal de Cultura Municípios que responderam 4 31%


(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense)
Municípios que não responderam 9 69%
Possui conselho municipal de cultura no município 9 69%
Total 13 100%
Não possui conselho municipal de cultura no município 4 31%

Total 13 100% Em relação à presença de equipamentos culturais, observa-se a distância


entre o real e o ideal quanto à criação de espaços de sociabilidade e lazer
para seus moradores e a juventude. O tema é recorrente na mídia local e na
4
literatura sobre a região.
  Tabulação produzida por Jorginete Costa.

20 21
Quadro 6 – Equipamentos Culturais Os grupos foram posicionados no Mapa dos Grupos Criativos da Baixada
(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense) Fluminense e, em dezembro de 2013, teve início uma nova etapa do trabalho,
com checagem das listagens dos grupos, localização dos mesmos e aplica-
Bibliotecas (municipais e comunitárias) 34 45%
ção dos questionários. Afirmaram-se como interesse central do inventário os
Museus 3 4% grupos cuja presença de jovens fosse identificada, a princípio, como público
prioritário ou membro, coordenador/gestor do grupo. Embora fossem, ainda,
Teatro ou salas de espetáculos 11 14%
frágeis os critérios de inclusão dos grupos no mapa, a equipe realizou essa
Centros culturais 8 11% triagem preliminar, com o objetivo de identificar possíveis incongruências, e
validou, àquele momento, o conjunto das informações coletadas.
Cinemas 19 25%
Considerou, para isso, alguns estudos acadêmicos e, quando possível, lan-
Sala de projeção 1 1% çou mão de pesquisa nas páginas eletrônicas dos grupos (redes sociais, priori-
tariamente Facebook). Além desses meios, foram fundamentais as generosas
Total 76 100%
indicações e conversas com representantes de outros grupos e redes, que
confiaram na intenção da pesquisa e colaboraram com a ampliação e a cons-
Quadro 7 – Existência de Cadastro de Artistas/Grupos Culturais no Município trução do mapa inicial. Desse modo, combinaram-se, nas diferentes etapas
(considerando os 13 municípios da Baixada Fluminense)
da pesquisa, diversos recursos técnico-metodológicos, para melhor compre-
Possui cadastro de artistas/grupos culturais 9 69%
ender a realidade dos grupos criativos da Baixada, seus processos e iniciativas
artísticas, bem como seus desdobramentos nos sujeitos e nas culturas juvenis.
Não possui cadastro de artistas/grupos culturais 3 23% Por meio de um dinâmico itinerário, com processos de ida e volta, foi possí-
vel reconhecer e atribuir historicidade às condições de produção desse inven-
Não respondeu 1 8%
tário, às narrativas e opiniões coletadas, aprimorar prismas sobre os múltiplos
Total 13 100% conhecimentos produzidos pelo grupo e aprender com os equívocos do per-
curso. Foi uma experiência, igualmente, formadora, pois combinou aspectos
As informações obtidas nos órgãos municipais de cultura sobre os grupos foram formativos e informativos, na seleção e no manejo de informações cambian-
somadas às listagens produzidas pela equipe do Brasil Próximo5. Até dezembro de tes, em permanente transformação, expressão da dinâmica realidade dos gru-
2013, chegou-se a um quadro com nomes de 331 grupos. Essas informações foram pos localizados.
classificadas por municípios, e os grupos classificados por setores de atividades, Vale ressaltar que a equipe de pesquisa do projeto foi composta por estudan-
a saber: Teatro, Dança, Musical, Atividades Circenses, Audiovisuais (Cineclube, tes de produção cultural, militantes de cultura, ocupantes de cargos comissiona-
Cinema, Vídeo), Literário, Carnavalesco, Manifestação Popular Tradicional, Outros6. dos das secretárias municipais de cultura e juventude e profissionais da cultura
Embora a intenção não fosse o desenvolvimento de uma pesquisa censitária, atuantes na região. Devido à temática da pesquisa estar diretamente ligada ao
diante da constatação da fragilidade de informações atualizadas e consolidadas cotidiano profissional e afetivo dos integrantes do projeto, sugeriu-se, pois, um
sobre as ações dos grupos, houve preocupação em combinar técnicas qualitati- distanciamento e uma isenção afetiva sobre o levantamento das informações.
vas e quantitativas, considerando-as como estratégias complementares ao inven- Diferentes expectativas foram observadas, entre os sujeitos entrevistados,
tário dos grupos, para uma melhor compreensão de sua realidade na região. acerca da realização do mapeamento, a saber: incidência na elaboração de
políticas públicas, fortalecimento e constituição de redes locais, inclusão e
retorno material (financiamento e compra de equipamentos), auxílio na ela-
5
  A equipe de operadores e mobilizadores realizou um levantamento sobre os grupos culturais existentes na
Baixada Fluminense. A coleta de informações incluiu: pesquisa em internet, conhecimento pessoal, redes sociais, boração de projetos, entre outras.
redes de contato, notícias em jornais e outros. Tais informações foram reunidas e confrontadas com os dados
coletados após a aplicação de questionários com os gestores municipais.
Na maior parte dos casos, as sugestões sobre a intencionalidade da inves-
6
  Na categoria “Outros”, foram incluídos os centros culturais, as instituições religiosas que desenvolvem
tigação e as formas de divulgação foram acompanhadas de críticas sobre o
atividades que têm a cultura como fim e eixo organizador, os pontos de cultura e os coletivos culturais retorno de alguns estudos, programas e projetos propostos por instituições e
organizados em articulação com instituições acadêmicas.

22 23
organismos nacionais e internacionais e sua efetiva utilidade na promoção realizadas em locais sugeridos pelos entrevistados. A cada semana, as impres-
de direitos e produção de impactos observáveis nas políticas públicas e nas sões e observações da equipe eram discutidas coletivamente e sistematizadas
condições materiais dos grupos. por meio de relatórios, de onde foram extraídos itens, opiniões e trechos, des-
Os grupos entrevistados demonstraram diversas expectativas sobre a rea- tacados ao longo do texto.
lização da pesquisa de mapeamento. Notava-se um posicionamento de espe- Os dados apresentados no presente relatório se referem, portanto, aos
rança no discurso de que o levantamento pudesse de fato contribuir para a 115 questionários aplicados com os grupos culturais no período de janeiro a
melhoria das políticas públicas de cultura da região. Mas também se observou março de 2014, pelos mobilizadores e operadores da equipe. A aplicação dos
um posicionamento de receio e desesperança, principalmente por parte dos questionários (visitas de campo) teve duração média de 50 a 60 minutos.
grupos que já haviam participado de outros censos e pesquisas de mesma
temática, que não perceberam melhoria na produção cultural do município e Tabela 1 – Distribuição dos Questionários Aplicados, por Município*
não tiveram devolução dos diagnósticos das pesquisas e encaminhamentos.
MUNICÍPIO
O ceticismo em relação à eficácia dos estudos pode ser mais bem apreen-
dido por meio do relato de uma das operadoras da pesquisa, sobre a recepção Porcentagem Porcentagem
Frequência %
Válida Acumulada
diferenciada observada na aplicação do questionário entre os entrevistados:
Belford Roxo 6 5,2 5,3 5,3
“Um fato interessante que observei durante a aplicação dos questionários foi
Duque de Caxias 13 11,3 11,4 16,7
que a maioria dos entrevistados que se enquadrava na faixa etária conside-
Guapimirim 8 7,0 7,0 23,7
rada juventude duvidava do interesse e da função da pesquisa em obter esses
Itaguaí 1 ,9 ,9 24,6
indicadores dos grupos, pois muitos desses jovens já estavam descrentes,
Japeri 4 3,5 3,5 28,1
tendo em vista que alguns já passaram por governos que colheram alguns

Respostas Válidas
dados sobre os artistas e/ou grupos, mas que nunca tiveram qualquer tipo de Magé 4 3,5 3,5 31,6

retorno ou resultado” (Priscilla Sued, operadora, 2014)7. Mesquita 14 12,2 12,3 43,9

Diferentemente dos jovens que manifestaram abertamente seu descon- Nilópolis 8 7,0 7,0 50,9

tentamento com os tempos dissonantes entre a produção de inventários e Nova Iguaçu 14 12,2 12,3 63,2

pesquisas e sua materialização na formulação de políticas públicas, entre os Paracambi 2 1,7 1,8 64,9
não jovens, a coleta de informações, aparentemente, é apontada como fer- Queimados 6 5,2 5,3 70,2
ramenta imprescindível à construção de políticas públicas, ainda que seus São João de Meriti 33 28,7 28,9 99,1
efeitos sejam lentamente percebidos: “Já os entrevistados acima dessa faixa Seropédica 1 ,9 ,9 100,0
etária acharam a iniciativa interessante, inclusive ressaltando a importância Subtotal 114 99,1 100,0  
do trabalho para aplicação de políticas na região”, observou a pesquisadora. Não
99 1 ,9    
Além de grupos de diálogo, visitas às secretarias de cultura e entrevistas responderam

semiestruturadas com gestores dos organismos de juventude, um questioná- Total 115 100,0    
rio foi aplicado com os grupos culturais (Instrumento IV), de modo a reunir
subsídios quantitativos e qualitativos para a compreensão sobre as deman- * Nesta tabela de distribuição da aplicação dos 115 questionários, é possível perceber que o município com a
maior concentração de aplicação de questionários foi São João de Meriti. Vale ressaltar que, de acordo com a
das, necessidades e interesses dos grupos e, neles, sobre os jovens da região. pesquisa, esse é o município que também possui maior concentração de grupos criativos mapeados, com cerca
de 80 grupos criativos. Conferir a relação dos grupos criativos mapeados e entrevistados, por município e ativi-
O contato individualizado com os grupos possibilitou a observação de dades desenvolvidas, nos Anexos I e II deste relatório.
seus espaços e atividades, o levantamento de informações mais aprofundadas
e a identificação das principais demandas, relatadas no decorrer de conversas A comunicação com os grupos na ida a campo – para ver, ouvir e observar
– suscitou, na equipe, a iniciativa de registrar histórias e acervos, por meio de
7
  Os depoimentos dos integrantes da equipe do projeto apresentados ao longo desta publicação foram fotos e vídeos curtos, e também de reunir distintos materiais – livros, DVDs,
retirados das falas nas reuniões semanais de equipe e do relatório final referente às impressões pessoais de
cada integrante – operadores e mobilizadores – sobre a situação da cena cultural da Baixada Fluminense.
CDs, entre outros, doados pelos grupos.

24 25
Sua realização e sua inclusão no mapeamento prestam, ainda, uma home-
Materiais audiovisuais constituem-se em um acervo com infinitas possibilidades de
nagem aos artistas, grupos, coletivos e aos, então, jovens agentes culturais, que,
catalogação e difusão da cena cultural da Baixada Fluminense, por meio de múltiplos
usos, entre eles a utilização das tecnologias digitais para a constituição de museus tanto quanto os de agora, investiram e deram atenção à vontade que sentiam
digitais e/ou sites de difusão. de se expressar, promover talentos e criar oportunidades para si e seus pares.
As iniciativas, geradoras de maior visibilidade das ações desenvolvidas pelos gru- O segundo grupo, realizado em abril de 2014, reuniu sete jovens com atua-
pos para salvaguarda e comunicação de suas práticas, podem articular-se às redes já ção nos municípios. Com média de idade entre 17 e 22 anos, era composto por
existentes e potencializar experiências em andamento, bem como projetos de ensino, quatro mulheres e três homens.
pesquisa e extensão, construídos em parceria com as instituições de ensino da região.
Diferentemente do outro grupo, esse possuía como finalidade prospectar
necessidades, expectativas, problemas e interesses dos integrantes dos gru-
“Também é incrível o número de grupos que existem. Em todo lugar, tem
pos culturais. Como é ser jovem na Baixada? Como é ser jovem e produzir/
alguém com alguma iniciativa que é muito mal divulgada. Coisas que aconte-
consumir cultura? Qual/Quais culturas? Do que precisam?
cem no meu bairro e só comecei a ter conhecimento através dessa pesquisa”
Não é de hoje que as representações sobre a Baixada Fluminense
(Pâmela de Paula, operadora, 2014).
reforçam o estigma de lugar violento e de poucas oportunidades para os
A constatação de que, na Baixada, há muito que se conhecer, ver, apren-
jovens. Associados às representações sobre a juventude, em especial negra
der, produzir, fazer, levou-nos a incluir a realização de dois grupos focais
e pobre, da Baixada, os estigmas e estereótipos alcançam grandes pro-
como parte da estratégia metodológica.
porções, atuando como fatores intervenientes à construção de trajetórias
Reconhecendo as diversas temporalidades e formas de apreensão da pro-
individuais e coletivas.
dução cultural da região, a realização dos grupos focais8 tomou por base a
Entre as muitas Baixadas que convivem entre si, a região pode ser apon-
noção de que os grupos culturais proporcionam aos que deles participam um
tada como um lugar ameaçador às garantias de direitos dos jovens. Quatro
pertencimento social, uma forma peculiar de “sentir-se parte do mundo”, pelo
cidades – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São João de Meriti – fazem
fato de morar nessa região.
parte de um preocupante ranking de municípios que detêm a maior taxa de
O perfil dos convidados a participar de ambos os grupos focais foi esta-
mortalidade de jovens entre 15 e 29 anos por causas violentas, entre os quais,
belecido pela equipe durante as reuniões semanais, segundo os seguintes
em sua maior parte, encontram-se negros do sexo masculino, moradores de
critérios, a saber: a participação em grupos e/ou movimentos culturais no
territórios de favela, periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.
recorte temporal escolhido (décadas de 1980 e 1990 e atualidade), paridade
Além desses, outros municípios do país apresentam situação semelhante e
de gênero e, quando possível, representatividade municipal.
estão indicados como prioritários, no Plano Juventude Viva, uma iniciativa do
O primeiro, realizado em setembro de 2013, reuniu seis agentes culturais,
governo federal que estimula a criação de organismos estaduais e municipais
sendo duas mulheres e quatro homens, em atuação em grupos culturais nas
em 142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-
décadas de 1980 e 1990. Os participantes tinham entre 45 e 60 anos.
dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. O plano é descrito
A realização desse grupo considerou os interesses de recuperação da
como uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio
memória da ação cultural do período, tendo em vista as experiências de qua-
à criação de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de
tro dos componentes da equipe que vivenciaram essa década como sujeitos
inclusão social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a
históricos. Buscou-se, com isso, estabelecer uma linha analítica que propor-
necessidade de promoção dos direitos da juventude.
cionasse elementos de retrospecção do papel dos jovens na invenção, discus-
Incentivando a oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de con-
são, promoção e divulgação da arte e cultura na região.
vivência em territórios que concentram altos índices de homicídio, a promoção
de ações de fortalecimento de trajetórias dos jovens e a promoção de mudanças
em seus territórios, o plano “[...] busca promover os valores da igualdade e da não
8
  A técnica vem sendo utilizada com êxito em algumas pesquisas realizadas com jovens na América Latina e
tem auxiliado no aprimoramento da capacidade de escuta de múltiplas vozes e opiniões, que emergem ao se discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que
colocarem em contato ideias, valores e percepções sobre um conjunto de questões. Além de dar visibilidade
às interações grupais, tem por objetivo a cartografia dos códigos de comunicação, das opiniões e pontos de
contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira
vistas. Consultar, entre outros: Juventude e Integração Sul-Americana: caracterização de situações-tipo e (Guia Juventude Viva, 2014, disponível em: <http://www.juventude.gov.br>)”.
organizações juvenis (IBASE/Pólis, 2007).

26 27
A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na plo, representa 38%, sendo que este mesmo grupo etário representa 31,2% na
primeira etapa da pesquisa (Instrumento III) revelaram a criação ou a revita- capital. Essa característica etária observada reforça a necessidade de políti-
lização de superintendências e coordenadorias de juventudes, em oito dos cas públicas para a juventude da região.
municípios pesquisados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em Segundo dados do Censo 2010 (IBGE), a Baixada Fluminense apresenta
fevereiro de 2014), Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e população em torno de 3.651.771 habitantes, em um espaço aproximado de
São João de Meriti. 44.000 km². Com alta densidade demográfica, esse conjunto corresponde a
É possível afirmar que os jovens, no século XXI, compartilham uma experi- 23% ou um quarto da população do estado (IBGE, 2010).
ência geracional inédita, do ponto de vista histórico, em uma conjuntura que Constituídas, em sua origem, como cidades-dormitórios, ainda hoje enfren-
reúne aceleração do processo de globalização e incontáveis desigualdades tam desafios quanto à oferta de condições básicas de sobrevivência, lidando
sociais. Mudanças na dinâmica do mercado de trabalho, com o agravamento com problemas derivados da distribuição desigual e insuficiente dos serviços
e a dissolução das relações trabalhistas, observadas pela desestruturação e equipamentos urbanos; falta de acesso a serviços de saúde e educação; cres-
(desemprego), flexibilização (subempregos) e precarização (empregos tem- cente demanda por habitações; transporte público insuficiente e caro; degra-
porários), bem como a violência urbana (risco) e a disseminação da comuni- dação do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais; insegurança
cação virtual atingem um conjunto amplo de jovens. pública, que coloca em risco seus moradores.
A percepção do papel indutor do Plano Juventude Viva para a estrutura- Os limites da região não são consensuais. Diferentes classificações são
ção dos organismos de juventude nos municípios e a criação de espaços de encontradas para definir a abrangência territorial. Em relação à divisão polí-
participação e núcleos de articulação do plano estimularam-nos a alterar o tico-administrativa, entre as décadas de 1930 e 1940, a região era composta
projeto metodológico original e incluir a realização de entrevistas semi-estru- pelos municípios de Nova Iguaçu, Itaguaí, Magé, Duque de Caxias, Nilópolis e
turadas com os gestores de juventude dos municípios. São João de Meriti. Posteriormente, na década de 1990, nova configuração é
Nesse contato, interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos dada à divisão político-administrativa, como demonstrado na tabela a seguir.
relacionados à juventude de seus municípios, o histórico da criação dos orga-
nismos, as ações diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articula-
ção com o Plano Juventude Viva e a política estadual de juventude9.

Nas tramas da Baixada... Identidades e territórios na


narrativa de jovens de ontem e hoje

De acordo com dados compilados pela pesquisadora Aline Rochedo (2014), a


Baixada Fluminense concentra, atualmente, um grande quantitativo de popu-
lação jovem. Um número superior a 1 milhão de habitantes, cerca de um terço
de sua população, possui entre 15 e 29 anos. A distribuição da população por
faixa etária na Baixada Fluminense demonstra uma proporção de jovens e
crianças maior, também, do que a observada no estado e no município do Rio
de Janeiro. A população da Baixada, entre 0 e 19 anos de idade, por exem-

9
  As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, com exceção
dos municípios de Duque de Caxias e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque
de Caxias foi realizado em data anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene
D’Almeida, subsecretária de Ações Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando
a equipe foi empossada, o prazo para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação,
inclui-se o município de Queimados.

28 29
Tabela 2 – Municípios da Baixada Fluminense / Origem e Ano de Instalação enorme densidade demográfica, o ínfimo número de aparelhos culturais e a
ausência de políticas culturais, obtém-se um cenário desfavorável para pro-
Município Origem Ano de Instalação (1)
moção da cidadania, incentivo e fomento às manifestações artísticas e possi-
Nova Iguaçu Vila de Iguaçu - bilidades de lazer de seus moradores.
Essas informações foram traduzidas em sentimentos e percepções identifica-
Itaguaí Vila de Itaguaí -
dos nos depoimentos dos participantes de ambos os grupos focais, ao relatarem
Magé Vila da Estrela - as experiências juvenis de contato com outros não moradores e as justificativas
associadas ao território para a reorientação de seus projetos de vida.
Duque de Caxias Nova Iguaçu 1944
Quando provocados a falar sobre as experiências no tempo da juven-
Nilópolis Nova Iguaçu 1947 tude, seus depoimentos enfatizaram a complexa mistura de sentimentos,
expectativas, desafios e realizações vivenciadas por meio da inserção em
São João de Meriti Nova Iguaçu 1947
atividades culturais da região.
Paracambi Itaguaí 1960 Em uma área estigmatizada pelos altos índices de violência, especial-
mente entre os jovens, e pela ausência ou ineficiência de serviços e equipa-
Queimados Nova Iguaçu 1990
mentos públicos, os pontos de vista dos participantes sobre a vida na Baixada
Belford Roxo Nova Iguaçu 1993 revelaram uma forma de narrar a região que conjuga a valorização da dimen-
são comunitária, da produção e diversidade culturais locais, com a denún-
Guapimirim Magé 1993
cia da persistência dos impactos provocados pela experiência de abandono,
Japeri Nova Iguaçu 1993 rejeição e preconceito, motivados pelo critério do local de moradia.
Inicialmente, os participantes do primeiro grupo focal mostraram-se crí-
Seropédica Itaguaí 1997 ticos à centralidade alcançada pelo tema da juventude nas iniciativas de
Mesquita Nova Iguaçu 2001 mediação ou intervenção social por meio de atividades culturais. Em algumas
falas, foi possível observar a difusão da imagem sobre os jovens atuais, que
Fonte: (1) Pesquisa de Informações Básicas Municipais – 2001. IBGE. os coloca em “compasso de espera”, o que, de certo modo, os aprisiona no
espaço das ausências, do ainda “não ser”.
Essa complexa trama, inscrita no tempo e no espaço, produz múltiplas Tal forma de retratar a juventude revela um modo de percebê-la forjado pelas
imagens sobre os municípios da Baixada e é resultado do compartilhamento representações sociais em torno dessa etapa de vida. Ao generalizar diferenças,
de percepções, concepções e experiências de mundo. Nesse espaço, encon- e tratar como homogêneas as especificidades identitárias e territoriais e as expe-
tram-se e constituem-se as diferenças. riências dos sujeitos jovens, essa visão opera com um conceito de prontidão que
Dotada de múltiplas representações, também, no campo social, a região dialoga bem mais com a chegada ao mundo adulto do que com o mundo juvenil.
tem passado, ao longo de décadas, por uma transformação discursiva que se Na visão dos participantes adultos, a instalação, nos tempos atuais, de uma
traduz pelas muitas “Baixadas Fluminenses” narradas por seus moradores e crise em torno das instituições de socialização – “[...] ausência da família na
pela mídia em geral. criação, seja por falta de tempo, seja por não ter uma família completa”; “[...]
A “Baixada” constitui-se em uma categoria ambígua, sendo simultanea- família ausente do processo de educação, da escola” – é o que traz ameaças à
mente considerada como “celeiro artístico”, terra “rica em cultura”, “faroeste construção de trajetórias positivas pelas juventudes locais.
caboclo”, “terra de ninguém”, lugar de gente “mais carinhosa” e, ao mesmo Como contraponto discursivo, um dos participantes relembrou aos demais
tempo, “que não tem nada”, conforme diferentes autores. Muitos enfatizam a necessidade de reconhecer que há, na região, “[...] uma garotada fazendo
a contradição evidente que reside na convivência entre uma rica produção coisas incríveis!”. Colocou-se, ainda, favorável à criação de um espaço de diá-
artística e cultural e uma estrutura sociopolítica extremamente pobre. logo intergeracional, de valorização dos artistas mais velhos e, também, como
Ao se colocarem em perspectiva as taxas de escolaridade da região, a forma de reconhecimento dos grupos criativos atuais, na complexa e multifa-

30 31
cetada cena cultural da região. E concluiu, acompanhado pelos demais, que culturais, tem sido travada por inúmeros indivíduos e instituições, gerando
“[...] é preciso aprender com eles [os jovens]”. imagens diferenciadas e, por vezes, contraditórias sobre a região.
Em relação às mudanças observadas, ao longo dos anos, na vida dos Por um lado, tem-se o reforço dos meios de comunicação, que insistem
jovens da Baixada, houve proximidade entre as opiniões dos participantes dos em explorar a violência, independentemente da ocorrência de casos reais,
grupos focais. Registraram, de forma uníssona, a desigualdade no acesso às como recurso para obtenção de maior público e aumento nas vendagens
oportunidades de educação e trabalho determinada pelo local de moradia de seus produtos.
em suas trajetórias individuais. No percurso histórico da região, a ênfase em personagens como Tenó-
Alguns depoimentos explicitaram, com perversa acidez, situações em que rio Cavalcanti (década de 1960) e a figura do “Mão Branca” (década de
a percepção da discriminação sofrida – por local de moradia, “por ser da Bai- 1980) tornam-se exemplos da intensa valorização desse ângulo, relegando
xada” – produziu distorções na imagem sobre si e suas potencialidades. a segundo plano aspectos da vida nas cidades, tais como: rede de sanea-
Durante o relato, foi com emoção que a participante compartilhou suas mento, condições de habitação, rede de saúde, rede de ensino, mobilidade
tentativas de profissionalização como atriz, ainda que, ao racionalizar a expe- urbana, entre outros. Ausentes da discussão pública encontram-se, tam-
riência, identifique avanços nesse processo: bém, os assuntos da vida política (projetos de lei, ações do poder munici-
pal, campanhas, programas e iniciativas voltadas aos moradores), da vida
Eu morava em Queimados, mas sempre fiz teatro lá “pra baixo”. Fiz Martins Pena cultural e social dos municípios.
(Escola Técnica Estadual de Teatro), fiz CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), fiz várias De outro lado, em meados dos anos 1980, com os ventos de democratiza-
participações “lá embaixo”, e lembro que, quando eu queria entrar pra UNIRIO (Uni- ção do país, a abertura política e o importante crescimento dos movimentos
versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) – eu tentei umas sete vezes – e, quando
sociais com a multiplicação de associações de moradores e o surgimento de
fazia os testes, eu sempre era barrada, e barrada pela Baixada. Uma vez, passei em
federações na região, criaram-se variadas instituições culturais (casas e cen-
uma improvisação. [...] Eles demonstravam muito bem essa coisa de eu morar na Bai-
xada: “Você não pode estudar aqui porque vai sair tarde, não vai conseguir chegar em tros) cujos objetivos concentravam-se em “resgatar a cultura local” e partici-
casa!”. Eu já me imaginava nas vezes em que fui fazer teste. E pensei que eu não podia par da construção da cidadania para seus moradores. Faziam isso por meio
ser tão burra assim! Fiz até no Martins Pena, depois que tentei sete vezes e não conse- da realização de projetos, ações em rede, apoios firmados com instituições
gui passar na UNIRIO, mas passei no Martins. Eu fiz a mesma coisa e passei. Foi quando locais, entre outros veículos de promoção/divulgação.
pensei que eu não era tão ruim assim. [...] O que eu acho? Eles viam a Baixada com um Esses grupos viam a cultura como estratégia imprescindível para propor
olhar muito provinciano, eles discriminavam abertamente. Hoje nós temos um espaço
transformações e oportunidades locais, além de se preocupar com a geração
maior, conquistamos muitas coisas. Por isso que eu vejo que, lá atrás, quando comecei,
era muito mais difícil, as condições eram mais precárias, tudo era mais difícil pra gente
de imagens positivas para a região. Buscavam, com isso, ressignificar o que
aqui na Baixada. Hoje, as coisas já caminham de igual para igual. seria a “cultura da Baixada”, valorizando a diversidade de práticas culturais da
(Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013) região, os hábitos de seus moradores, suas relações de vizinhança, os modos e
arranjos para ocupação de espaços da rua.
Como um todo complexo, as relações entre o lugar, a formação socioes- A memória da experiência de participação, nesse período, e as experi-
pacial e os processos históricos tornam-se marca e matriz daquilo que nos ências que vivenciaram em seu tempo de juventude fizeram com que os
conforma e do que projetamos para as próximas gerações. Construído a partir integrantes desse grupo enumerassem suas referências e relatassem seus iti-
do seu uso social, o território possui limites simbólicos comuns, mas também nerários de envolvimento com a produção cultural da região. Os participantes
heterogêneos e diversificados, em razão dos sentidos e significados atribuídos ressaltaram os desafios e as dificuldades que enfrentaram no início das suas
pelos sujeitos que o constituem e que por ele são constituídos. É isso o que atividades no campo da cultura, relacionando-as às interdições derivadas
justifica o desenvolvimento e a coexistência de opiniões variadas e, ao mesmo pelo pertencimento e identidade territorial.
tempo, autoexcludentes sobre ele. Para eles, fatores de ordem objetiva, tais como a ausência de transporte,
Nas últimas décadas, uma disputa de sentidos e narrativas sobre o coti- principalmente à noite, de recursos financeiros, instabilidade na implemen-
diano dos moradores e as representações sobre esse território, além das con- tação de políticas públicas de cultura à época, combinaram-se a outros, de
dições materiais e simbólicas para a criação e manutenção de suas práticas ordem subjetiva, tais como preconceitos territoriais, o momento político do

32 33
país com o final da ditadura civil-militar e a reabertura política, para a confor- O rompimento de fronteiras e a invenção de soluções persistentes para
mação de trajetórias vinculadas com a cultura da região. operar mudanças em suas trajetórias trouxeram-lhes como recurso o manejo
Nas décadas de 1980 e 1990, as aprendizagens do fazer cotidiano forjaram de diferentes linguagens e atividades, conformando-se, para alguns, em pis-
produtores culturais e combinaram-se às motivações individuais e coletivas tas utilizadas na construção de suas carreiras profissionais. Em comum, entre
dos que àquela época viam, no surgimento de projetos e ações patrocinadas, eles, a cultura como processo interativo de construção social e articulador de
a oportunidade de construírem projetos de profissionalização. “Eu fui tocar atividades (práticas culturais) e significados (interpretações).
em São João de Meriti no Projeto Quatro em Ponto. Então, era a minha von- Por meio de um processo sistemático e multidimensional, esses códigos
tade de querer mostrar quem eu era, o que eu fazia. [...] No meu caso, comecei e símbolos foram sendo (re)atualizados em novos sentidos, organizadores
a me profissionalizar com 17, quase 18 anos. Comecei a tocar na noite, minha das formas como conduziram suas trajetórias e como perceberam e ajusta-
filha tinha acabado de nascer e eu tinha que arrumar uma grana extra pra ram o seu “estar no mundo”.
levar pra casa”, relatou um participante do grupo. Esse é um ponto que guarda proximidade com os depoimentos coletados
As exigências de conciliação do mundo do trabalho e da vida familiar conjuga- com os jovens envolvidos, hoje, com iniciativas culturais na região. Ao men-
ram-se, em alguns casos, às necessidades de assumir um posicionamento político, cionarem suas experiências no território, situando-as em uma incômoda con-
de resistência à conjuntura instituída. Conforme disse um participante da pesquisa tinuidade histórica que interliga o passado e o presente, colocaram no vértice
“A gente não tinha dinheiro, resistia e muita gente se aproveitava do que a gente das discussões – e apreensões! – os temas da acessibilidade, da circulação
fazia. Vários festivais de música em Queimados”; de criação de oportunidades de pela cidade (região) e da desigualdade de oportunidades para construírem
encontro e intercâmbio de experiências: “Na minha casa as pessoas chegavam, dei- suas expectativas de profissionalização, entre outros.
tavam na cama e ali a gente ensaiava, fazia os trabalhos, tomava kisuco e pão com Na opinião de alguns, ser hoje um jovem morador da Baixada Fluminense é
mortadela. Outras pessoas vinham, faziam pesquisas e por ali ficavam”. enfrentar obstáculos que dificultam a maneira como vivem a etapa da juventude,
O dia a dia nos municípios e a construção de redes e iniciativas no campo da diz uma das participantes: “É estar longe das melhores escolas onde quer se profis-
cultura, na região, foram lembrados, por um dos participantes do primeiro grupo, sionalizar. O trabalho é mais suado!”. Para outro, “a dificuldade está na distância e
como evidências de um tempo em que “[...] as pessoas faziam apresentações nas no preconceito por morar na Baixada. Fazer algo na Baixada é mais difícil!”, disse.
praças. [...] de lá pra cá, veio a criação da biblioteca [em São João de Meriti], com Chamaram atenção, sobretudo, para a incipiente oferta de oportunida-
um intercâmbio com outros municípios na Baixada”. Na experiência de outro par- des de profissionalização para o trabalho com atividades culturais, o que os
ticipante: “A gente fazia cultura antigamente e a gente colava cartaz, a gente impulsiona a buscar, fora da região, essas possibilidades educacionais.
era ator, eu cheguei a montar um espetáculo. [...] Eu venho desse teatro protesto, Ainda que alguns jovens assumam uma narrativa que permite perceber
dessa música protesto de Gonzaguinha, de Taiguara, dessa musicalidade que a a escolha política de autorrepresentação e demonstre acúmulo na refle-
Baixada tem, dessa identidade com a MPB, o advento do Teatro do SESC”. xão sobre os efeitos das representações negativas associadas à região
Associados a outros grupos com forte tradição na luta contra a ditadura – “Temos mais preconceito conosco do que eles mesmos (as pessoas do
um fluxo de referências aproxima o município do Rio de Janeiro (Centro) e os Centro)” –, inserir-se, por meio de seus grupos e participações individuais,
municípios da Baixada: “[...] fomos influenciados por uma pós-ditadura em que nessa disputa sobre imagens e sentidos é, também, encarnar em seus coti-
a gente sentia vontade de se colocar e falar. Por grupos como Asdrúbal trouxe dianos os impedimentos reais à fruição, à produção e ao consumo cultural
o Trombone, como o Dia a Dia, do João Siqueira, com o Almir Haddad, que verificados em toda a região.
chegou no Rio de Janeiro com o grupo Tá na Rua”. A oposição Centro-Baixada, ainda presente, impacta a circulação dos
Outros, ao rememorarem essa fase da vida, demonstraram possuir uma per- jovens pela região metropolitana do estado e suas experiências individuais
cepção menos saudosa. Nos relatos, misturam-se alegrias, frustrações e reversos e profissionais. A ausência de repertório e informação sobre a riqueza e as
entre as expectativas construídas e a realidade plenamente vivida: “[...] a ativi- variadas formas de expressão artística e cultural da região, na visão de uma
dade cultural nasceu como uma efervescência da necessidade de me comunicar. das jovens da equipe, definiu um modelo de reação frente às críticas que
Acabei me aproximando dos grupos culturais naquele momento, depois ficou reforçavam o lugar do “Nós/Centro” e “Outro/Baixada”.
complicado. [...] Isso me deu uma cansada, hoje estou afastado”, disse um deles.

34 35
A atuação de variados agentes, produtores e gestores culturais deu ori-
Dizem que a cultura que é feita na Baixada não é uma cultura profissional, talvez gem à “redes de redes”, que, embora inconstantes, investem na construção
constatada pela carência de espaços e visibilidade. Ouvi isso algumas vezes quando
de outra identidade e outra narrativa sobre o território, afastando-se de ima-
iniciei a minha carreira de produtora no Centro do Rio e na Zona Sul e, como não
gens negativas e estigmatizadas muitas vezes prevalecentes no senso comum
conhecia a cultura do meu próprio território, só me restava silenciar e não confrontar.
(Sílvia Machado, operadora, 2014) quanto à Baixada. Mesmo que vistas como pequenas, as mudanças são perce-
bidas como expressões do resultado do trabalho de perseverança e incidên-
cia política desses anônimos agentes culturais. Na experiência de uma das
A transformação e a divulgação de imagens sobre a região, múltiplas e
participantes: “Eu mesmo já devo ter criado mais de sete centros culturais e
fluidas, construídas, em grande parte, pela imprensa e a gradativa mudança
não tive condições de bancá-los. Uma época funciona legal, depois acaba. O
na construção dos imaginários sobre a Baixada são produto do empenho des-
pessoal dispersa e a gente começa tudo de novo”.
ses diferentes agentes, de ontem e hoje. Tal esforço resultou em uma “posi-
A percepção de que a produção e o consumo cultural nesses territórios
tivação” do olhar sobre a Baixada, por meio do estímulo à criação de uma
tornaram-se instrumento de construção e empoderamento de inúmeros
identidade local formulada em termos antagônicos aos estigmas e imagens
jovens deu-lhes incentivo para continuar ultrapassando as dificuldades e
negativas atribuídas pelas pessoas “de fora” da região.
ampliando fronteiras.
No decorrer do primeiro grupo focal com os adultos, a cultura política con-
Por meio de um trabalho estratégico e persistente de mudança de men-
solidada ao longo de décadas foi, também, apontada como um dos principais
talidades, de consolidação de espaços e de ampliação de repertórios, iden-
problemas e desafios a serem superados. Na opinião de um dos participantes,
tificam que “[...] mudou alguma coisa... Pouquíssimo, mas mudou. O nosso
“A Baixada sempre foi tratada como curral eleitoral. As pessoas vinham aqui,
espaço pequeno de teatro é uma mudança. A gente não precisou ir para o
sem vínculo algum com a região, e olhavam o estado só como a capital”.
Rio para fazer teatro. Essa questão de que tudo a gente precisava ir para o
As opiniões emitidas no grupo coincidem com o que antropólogos, como
Rio mudou. A gente tá criando e conseguindo criar plateia. [...] a gente está
Sandra Regina Costa (2006), afirmam ser parte de um ethos baixadense, ainda
fazendo alguma coisa”.
em transformação, marcado por concepções e práticas ilegais para a resolu-
A descontinuidade das ações públicas e o desinvestimento em áreas como
ção de problemas, pelo personalismo nas relações, pelo apadrinhamento e
a cultura e a educação aproximam as gestões do tempo passado e do tempo
expressões de clientelismo.
presente, fazendo com que se comparem as formas de fazer política e se
Os participantes do grupo localizam, na origem dos municípios, como
enxerguem poucas modificações entre um período e outro. Os participantes
cidades-dormitórios, e na proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, alguns
partilham da opinião de que “[...] existem, hoje, mais facilidades que naquela
dos fatores causadores da “falta de estrutura em todos os sentidos, não só de
época não existiam. A internet, a globalização. As relações se estreitaram
patrimônio, mas também de equipamentos públicos”.
mais. Mas ainda permanece essa leitura do governo atual muito parecido com
No contato com os jovens, transmitem estratégias de sobrevivência e
os anos 1980, de tratar aqui como curral eleitoral”.
desvio de obstáculos, produtos da experiência de quem há muito vem par-
A força desses agentes culturais, então jovens, seja como beneficiários
ticipando do “jogo”. Nesse contexto, a produção criativa/cultural da região é
das políticas e iniciativas ou propositores e produtores de novas ações, e o
identificada como forma e meio de resistência cultural e política.
compromisso institucional para fomento à cultura da região são apontados
como componentes imprescindíveis para a compreensão do cenário cultural
Essa coisa de que pra você estudar e, se você está na Baixada, você não consegue,
na região e para a reflexão sobre uma agenda política no campo da cultura.
ainda existe. Eu tenho uma aluna que faz balé e eu disse: “Vai fazer a prova da Escola
Estadual de Dança!”. Mas, quando ela deu o endereço da Baixada, ela não passou. Ela
era a melhor aluna. Eu disse pra ela colocar o endereço da tia que mora em Copa-
cabana. Porque ela já ficou achando que não era tão boa. Eu disse: “Você vai dar o
endereço da tia que mora lá, e você vai passar!”. Mas isso ainda persiste. E eles tomam
isso fingindo que são dores. [...] Ainda somos um curral eleitoral. Mas estamos deixando
eles pra lá. (Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013)

36 37
Vejamos o que diz um dos mobilizadores:
Ensaios do grupo de dança GW Performance, na praça da Telemar, em Mesquita; o
Vamos entender que a região é homogênea nas características de organização trabalho árduo de inscrição em múltiplos editais do grupo de artes cênicas Cochicho
política, processos emancipatórios e desenvolvimento econômico, já que em volta na Coxia; aulas grátis de capoeira com o instrutor Zé Colmeia, da ABADÁ Capoeira
das estações ferroviárias surgiram e cresceram as cidades, mas, também, é necessário Mesquita, com jovens em condições de risco; o mutirão da comunidade da Chatuba
entender que as tradições e costumes propiciaram condições favoráveis a distintos para que sua escola desfile; as inúmeras tentativas de mostrar o trabalho da banda
aspectos culturais e artísticos. Na década de 1990, o SESC São João de Meriti realizava Layout 80 em eventos da cidade etc. São exemplos de como a grande maioria dos
o Festival de Esquetes da Baixada. Essa ação motivava o surgimento de grupos de tea- grupos de cultura, apesar do grande descrédito dado à arte, transforma situações pro-
tro, já que era oferecido palco profissional a grupos amadores e iniciantes. Também, blemáticas em expressão cotidiana. (Allan L. Alves, operador, 2014)
na década de 1990, surgiu o Cidade Negra, que despontava e reconhecia que vinha
de Belford Roxo. Assim sendo, Belford Roxo, Nilópolis e Mesquita desenvolveram, por Utilizando como linguagem a arte e a criatividade, os jovens do tempo
osmose, uma cultura musical de festivais de bandas com tendências ao rock, reggae e
presente propõem formas alternativas de comunicar o cotidiano e transfor-
hip hop. (Marcos Paulo, mobilizador, 2014)
mar a percepção de que ruas e praças não são, apenas, lugares de violência
e desordem, mas sim locais de promoção de sociabilidades juvenis na cidade.
Nos tempos atuais, com “um ideia-projeto na cabeça”, além do desejo de Disse um deles: “A gente faz apresentação pelas ruas e praças. A gente tem
se encontrar e produzir cultura, os grupos mantêm a tradição de investimen- essa dinâmica de grupo aberto, essa coisa de ir agregando valores e criar uma
tos para valorização e articulação colaborativa na realização de eventos que corrente de cultura no município. A pessoa passar na Praça e falar: ‘Caraca,
atraiam visibilidade ao cenário cultural da região. Como exemplos dessas tem teatro aqui!’. A rua dá sempre essa visibilidade”.
iniciativas, tem-se a mostra teatral Baixada em Cena, em Nova Iguaçu, que Pode-se pensar que o aumento de espaços de convivência, representados
envolveu, na edição de 2012, segundo seus organizadores, 100 artistas e mobi- pela criação de universidades, centros culturais, praças, clubes e outros, favorece
lizou um público de mais de dois mil espectadores/as10. a ampliação da visibilidade que esperam alcançar em seus municípios e fortalece
Outro exemplo das estratégias de resistência desses coletivos é o Fes- as possibilidades de inéditos encontros e conexões, assumindo um papel indutor
tival Roque Pense!11, realizado em Mesquita, que, em sua segunda edição para a criação e/ou fortalecimento de redes de juventude na região.
(2013), organizou programação com debates, oficinas, jam session femi- A consulta aos sites oficiais revelou acentuada assimetria entre as informa-
nina de skate, grafite e 12 shows de bandas da região e de outros estados, ções divulgadas oficialmente pelos órgãos de cultura dos municípios e as ati-
cujo critério para seleção era a presença de, ao menos, uma mulher na vidades divulgadas pelos grupos nas redes sociais. O tratamento e o destaque
formação dos grupos. dados às criações e manifestações culturais restringem-se, em grande parte,
Iniciativas como essas e tantas outras – Mate com Angu, Cia Teatral Quei- à divulgação da programação dos equipamentos culturais, quando existem, e
mados em Cena – reafirmam que permanecem difíceis as condições de pro- à divulgação das festas tradicionais e comemorações oficiais dos municípios.
dução na região, que, ainda, não conta com um mercado estruturado que Aparentemente, considerando-se as matérias divulgadas nos endereços
incentive o consumo cultural pelos moradores. eletrônicos, poucas incluem artistas e grupos locais nas programações, cola-
As “pedras” em que se transformam esses obstáculos respondem não borando diretamente para espaços de consumo e geração de rendas locais.
só pelo término de muitos grupos, mas também pela ocupação de espa- No contato direto com os grupos, observou-se que as expectativas de reco-
ços de renovação, de quem dribla “com ginga” os movimentos do caminho nhecimento local, em geral, não são atendidas, restando-lhes a sensação de
e, criativamente, investe na ocupação coletiva de espaços e expressões, serem segregados dos grandes eventos de seus municípios.
transformando referências e narrativas sobre os cenários de intervenção, Nesse contato direto, a ausência de reconhecimento do trabalho, cuja
que são inúmeros. percepção comum é a de que “não é levado a sério” como profissional, os
impulsiona para obtenção de visibilidade em contextos de maior projeção,
como salientou um dos operadores: “[...] a maioria dos grupos se diz muito
10  segregada dos eventos de sua cidade e que seu trabalho não é visto como
Conferir <http://www.baixadaencena5.blogspot.com.br>.
11 um trabalho, mas sim como uma espécie de ‘distração’. Em alguns casos, o
  Conferir <http://roquepense.com.br/festival-roque-pense-a-2o-edicao-do-festival-de-cultura-antissexista>.

38 39
reconhecimento vem de outros estados, países, criando um caminho inverso Na opinião de uma das operadoras, o Fórum Permanente de Gestores
de divulgação deste artista em sua localidade” (Allan L. Alves, operador, 2014). Públicos da Baixada, formado por gestores municipais de cultura dos 13
Com a proximidade de tantos grupos e expressões culturais, o pro- municípios da Baixada Fluminense para o fortalecimento da cultura local, “[...]
cesso de pesquisa revelou-se um período de descobertas e reconexão com o poderia manter reuniões periódicas com os agentes culturais, e que dessas
próprio território, para alguns dos membros da equipe Brasil Próximo. Ficou reuniões fossem produzidos os documentos que seriam de fato validados.
clara a necessidade de diversificação de opções de lazer e sociabilidade, entre Acredito que, dessa maneira, as propostas alcançariam a tod@s. Porque ges-
os jovens, e a demanda por iniciativas que aproximem agentes e representan- tor falando para gestor não mudou muita coisa até agora!”.
tes culturais nos municípios, “[...] visando criar um espaço efetivo de diálogo Também na opinião dos jovens participantes do segundo grupo focal,
entre autoridades e agentes culturais”. “[...] a cena cultural da Baixada possui um perfil variado, complexo e com um
O contato direto com os coordenadores e representantes dos grupos pes- grave complicador de sua evolução: a política local”.
quisados apresentou e fortaleceu pontos de reflexões sobre o ciclo das políti- Tal como os adultos, relacionam as desigualdades na oferta e no acesso
cas públicas e a realização de pesquisas e diagnósticos sobre as fragilidades a serviços e oportunidades no campo da cultura ao instável cenário político
no fluxo de diálogo entre o poder público e os grupos e sobre as oportunida- da região. Para uma das jovens operadoras, “Muitos são os fatores compli-
des disponíveis na região. cadores para desenvolvimento das ações culturais da Baixada, mas acredito
que a política local seja o de maior gravidade. Muitos municípios estão sendo
prejudicados diretamente por sua gestão pública de cultura e de juventude
municipal. Esses cargos são ocupados por representantes que não possuem
pouco, ou nenhum, conhecimento dos interesses e necessidades de seus habi-
tantes e dos grupos criativos de seu município, na maioria das vezes as ações
são motivadas unicamente pelo seu próprio interesse e de seu partido”.
Essa observação é contrabalançada pela análise de outra jovem sobre o
tempo presente: “Estamos vivendo um momento de constituição do Sistema
Municipal de Cultura nos municípios. É um momento importante, pois cida-
des que não possuem seus órgãos especiais de políticas para cultura, por
exemplo, para se adequar e receber repasse de verba, terão de criar suas
secretarias de cultura e desvincular-se às que são juntas, como acontece em
muitas cidades ainda, onde a cultura está vinculada a educação, esporte e
lazer, turismo etc., o que acaba deixando a cultura sem orçamento para apli-
cação em projetos. Entre muitos outros benefícios que acredito que o SMC
irá trazer, também destaco o Fundo Municipal de Cultura, onde a sociedade
poderá inscrever projetos culturais para serem realizados na cidade, que
será uma ferramenta essencial para o incentivo à criação e à produção cul-
tural. Também a ampliação da participação popular através dos fóruns de
cultura e dos conselhos municipais de políticas culturais, um grande ganho
para a sociedade civil, que agora tem o poder de propor e deliberar demo-
craticamente, tendo um diálogo direto com o poder público e podendo
cobrar mais fielmente” (Priscilla Sued, operadora, 2014).
Até o momento de finalização deste relatório, mantém-se o alinhamento
partidário entre o governo federal, estadual e as prefeituras municipais da
região, sendo nove delas governadas por partidos da base governamental.

40 41
Cabe registrar que, até o primeiro semestre de 2014, a aliança PMDB-PT no
  Quem te viu? Quem te vê? – Virada Cultural da Baixada Fluminense – evento
governo do estado passava por renegociações. Em fevereiro de 2014, entre- conceituado e produzido pelos integrantes do Brasil Próximo, realizado nos dias 7 e 8
tanto, outro cenário se estabeleceu com o rompimento e a transição do PT, de de dezembro de 2013, com o objetivo de promover um manifesto para revitalização e
situação para oposição. ocupação criativa dos espaços púbicos da Baixada Fluminense. Contou com 24 inter-
A polarização entre o atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB)12 venções culturais, na praça Santos Dumont, centro de Nova Iguaçu, antes abandonada
e o senador Lindbergh Farias (PT)13, candidatos ao governo do estado do e ocupada por moradores em situação de rua e usuários de drogas.

Rio de Janeiro, trouxe ao cenário eleitoral da região imprevisíveis conse-


quências, tendo em vista o período de articulações e construção de apoios
políticos e início da campanha.
Fica evidente que a oscilação nas orientações e projetos de governo, tanto
no âmbito estadual como municipal, produz impactos profundos nos processos
de formulação de discursos e ações vinculadas a uma política cultural mais con-
sistente, direcionada à valorização da diversidade na produção e no consumo
cultural, com iniciativas para a democratização da distribuição dos recursos,
incremento ao apoio à cultura e incentivo aos grupos e artistas locais.
Na opinião dos jovens operadores, “[...] os grupos reconhecem que o que
falta são políticas públicas que visem à valorização e fortaleçam a cultura
local”. Desejam, ainda, que as experiências bem-sucedidas sejam replicadas
em diversos ambientes –presenciais e digitais – criados com uma perspectiva
de acolhimento da multiplicidade de contextos, identidades, universos simbó-
licos, interesses e discursos.
Foi nessa perspectiva que aconteceu o evento Virada Cultural. Envolvida
com essa produção, uma das operadoras relatou que “[...] os grupos aceitaram
fazer suas apresentações mesmo sem ter cachê e com a mesma qualidade que
fariam se fosse oferecido um valor pela apresentação. A única coisa que que-
riam era espaço na própria Baixada onde pudessem mostrar seu trabalho e
revitalizar uma área tão boa quanto à da praça Santos Dumont [Nova Iguaçu]”.
Desse encontro, surgem novas propostas para que outras áreas públicas fos-
sem utilizadas com o mesmo propósito em seus municípios. Concluiu, ainda,
que a falta de oportunidade é tão grande que o aparecimento de uma inicia-
tiva como essa deixa todos bastante animados. Segundo ela, “Eles têm tanto a
dizer, tanto a fazer, a mostrar… Só falta quem os ouça!”.

12 
Aliados do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) – Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB); Democratas (DEM); Partido Popular Socialista (PPS); Partido Democrático
Trabalhista (PDT); Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Partido Social Democrático (PSD); Partido
Progressista (PP); Partido Trabalhista Nacional (PTN); Partido Ecológico Nacional (PEN); Partido Social
Liberal (PSL); Partido da Mobilização Nacional (PMN); Partido Trabalhista Cristão (PTC); Partido
Republicano Progressista (PRP); Partido Social Democrata Cristão (PSDC); Partido Renovador Trabalhista
Brasileiro (PRTB); Partido da Solidariedade (SDD); Partido Humanista da Solidariedade (PHS); Partido Social
Cristão (PSC).
13 
Aliados do Partido dos Trabalhadores (PT) – Partido Socialista Brasileiro (PSB); Partido Comunista do
Brasil (PCdoB); Partido Verde (PV).

42 43
CONHECENDO OS
GRUPOS CRIATIVOS

Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos


da Baixada Fluminense

Ampliar a compreensão sobre a realidade dos


grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas
e processos criativos, agenciamentos produzidos e
Objetivo
modelos institucionalizados – para apreensão das
necessidades, expectativas, demandas e interseções
entre o campo da cultura e o mundo juvenil.

Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí,


Municípios Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu,
Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica

Universo Grupos Culturais listados no Mapeamento (ver Anexos)

Plano Amostral 161 grupos criativos

Nº de Entrevistas
115 grupos criativos
(Questionários Aplicados)

Agentes Culturais das Décadas de 1980 e 1990


Grupos Focais (6 participantes)
Jovens Agentes Culturais (atual – 7 participantes)

Entrevistas com Gestores


6
Públicos de Juventude

A quem denominamos GRUPOS CRIATIVOS?

Aqueles que possuem envolvimento na proposição e na produção cultural dos


municípios da Baixada Fluminense e que, lançando mão de práticas inovado-
ras, solidárias e colaborativas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas,
ações e atividades geradoras de pertencimentos, identificações, filiações e
articulação econômica e política.
Reúnem-se com regularidade (presencial e/ou virtualmente), inventando
formas de lidar com a realidade, de modo a torná-la mais interessante, diver-
tida, tolerável, manipulável e compreensível.

44 45
De modo ativo, utilizam elementos midiáticos e tecnológicos para divulga- Na visitação, constatou-se que alguns grupos inicialmente listados encerra-
ção de suas atividades, produções, posicionamentos e propostas para a trans- ram ou estavam, temporariamente, em recesso de suas atividades. Outra dinâ-
formação da vida pública, para o democratização do acesso ao debate e os mica observada foi a de constituição e organização de grupos para projetos
modos de participação social. pontuais, de duração determinada, tais como festivais, mostras e encontros.
As mudanças e instabilidades eleitorais advindas das disputas políti-
cas da região foram, igualmente, apontadas como produtoras de impactos
Uma forma de ouvir os grupos... diretos no desmantelamento das secretarias, acervos e continuidade de
iniciativas e projetos.
Considerando os objetivos do mapeamento, para a coleta de dados sobre os
grupos criativos, recorreu-se à técnica estatística de Amostragem Estratifi- Gráfico 1 – Distribuição Comparativa entre os Grupos Mapeados e os Localizados para
cada Proporcional, delimitando, como população da pesquisa, os grupos lista- Aplicação do Questionário, por Município*

dos na ampla coleta de grupos e referências feitas pela equipe Brasil Próximo,
de maio a outubro de 2013. Belford Roxo 8
6
A técnica de estratificação requisita que a amostra tenha algumas característi-
cas conhecidas da população, nesse caso, os municípios da Baixada Fluminense e o Duque de Caxias 31
13
tipo de atividades que desenvolvem. Com os estratos da população identificados e
separados, dentro de cada grupo, utilizou-se uma Amostragem Aleatória Simples14, Guapimirim 26
8
para a seleção dos grupos a serem entrevistados nos estratos encontrados.
8
Inicialmente, foi considerada a porcentagem de cada modalidade de ati- Itaguaí
1
vidade por município e, posteriormente, uma amostragem aleatória simples,
15
resultando em uma amostra estatisticamente significativa. Japeri
4
O questionário foi construído com o objetivo de dimensionar os diferentes
20
momentos e etapas do processo criativo dos grupos, adotando como orienta- Magé
4
ção uma noção abrangente e sistemática da cultura e das políticas culturais.
36
Nele, incluíram-se questões sobre os modos e espaços de execução de suas Mesquita
14
atividades; a infraestrutura para a realização de suas atividades; os formatos
15
organizativos e escalas de institucionalização; as estratégias de captação de Nilópolis
8
fomento e divulgação, de modo a reunir subsídios para a construção de um
49
panorama mais amplo sobre a produção cultural da região. Nova Iguaçu
14
Os dados apresentados referem-se aos 115 questionários aplicados pela equipe
5
Brasil Próximo, de janeiro a março de 2014. No gráfico a seguir, apresenta-se a dis- Paracambi
2
tribuição quantitativa dos grupos mapeados (indicados pelas barras de cor azul),
17
e o quantitativo de questionários aplicados por município da Baixada Fluminense. Queimados
6
O plano amostral previa a aplicação de 161 questionários. Na efetivação do tra-
80
balho de campo, observaram-se inconsistências nos contatos dos grupos, em espe- São João de Meriti
33
cial, nos municípios de Itaguaí, Japeri, Magé, Nova Iguaçu, Paracambi e Seropédica.
13
Seropédica
1

14  0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
A obtenção da Amostra Aleatória Simples deu-se por sorteio dos grupos (elementos da população). Com
a seleção dessa técnica, buscou-se garantir que qualquer elemento da população, ou seja, qualquer um
dos grupos, tivesse a mesma chance de fazer parte da amostra, assegurando, com isso, a imparcialidade e a
representatividade da expressão selecionada. ■ Grupos mapeados ■
Grupos entrevistados
* Conferir a relação dos grupos mapeados e entrevistados, nos Anexos I e II deste relatório.

46 47
Vale destacar que o município com a maior concentração de aplicação de Gráfico 2 – Formatos Institucionais
questionários foi São João de Meriti, que já no registro preliminar apresentava
60%
a maior concentração de grupos criativos mapeados (cerca de 80 grupos cria-
53,04%
tivos). Nos demais municípios, por diferentes razões, observou-se um cenário
50%
de maior dispersão de informações sobre os grupos. 46,09%

Como relatado pelos mobilizadores, à época da consulta, alguns organis-


40%
mos de cultura passavam por momentos de reestruturação política; outros
não possuíam diagnósticos atualizados sobre a presença dos grupos nos
30%
municípios e, em alguns casos, não se tinha conhecimento das redes ou pes-
soas de referência, em atuação nos municípios.
20%
Tendo em vista a lógica de organização em rede – colaborativa, com plu-
ralização de pontos de vista e em contínua redefinição –, há que se refletir
10%
sobre os investimentos realizados para a melhoria dos fluxos de interlocução
entre os vários atores envolvidos com a produção cultural nos municípios e 0,87%
0%
o aperfeiçoamento de um modelo participativo que promova a aceitação e Não formalizado Formalizado Não responderam
convivência de diferentes realidades e expressões do presente, por princípio,
diversas e contemporâneas.

Grupos formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem cará-
Observo muitas vezes que o problema está na falta de diálogo entre as esferas ter comercial, com formatos organizativos próprios e juridicamente constituídos (com
da sociedade, nesse caso entre o poder público e a sociedade civil. Por exemplo, os inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), fornecido pelo Ministério da
jovens, especialmente, estão cada vez mais descrentes quanto à efetividade das ações Fazenda – pessoa jurídica).
governamentais e duvidosos quanto à política em geral. Fazendo um breve aprofun-
damento sobre o problema que enfrentamos, nosso sistema educacional não estimula Grupos não formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem
o pensamento crítico, só para começar, então como exigir do jovem que ele tome caráter comercial, com formatos organizativos próprios, sem, no entanto, configura-
posicionamento ou que consiga defender seus interesses, diante de um poder que rem-se como pessoa jurídica (sem inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
determina diretrizes e que interfere diretamente no modo de vida dessa juventude? (CNPJ), fornecido pelo Ministério da Fazenda – pessoa física).
(Priscilla Sued, operadora, 2014)

Os grupos possuem, em média, 35/40 integrantes regulares. Destes, 50,43%


A maior parte dos grupos entrevistados situou sua origem no limiar dos
encontram-se no intervalo de 25 a 45 anos. Observa-se que 30,43% dos grupos
anos 2000. Produto dos processos de redemocratização e reconstrução de
possuem integrantes entre 30 e 45 anos e 20% dos grupos possuem membros
uma identidade ligada à região que intenciona a valorização das qualidades
com idade entre 25 a 29 anos.
positivas da região, em relação aos formatos institucionais, tem-se que 53,5%
Nenhum grupo consultado situou a média de idade de seus integrantes na faixa
dos grupos consultados (equivalente a 61 grupos) disseram ser formalizados e
entre os 15 e 17 anos. Acredita-se que essa ausência tenha relação com a dispersão
os demais, 46,5% (equivalente a 53 grupos), não formalizados.
de idades, tanto no interior dos grupos quanto no público alcançado por eles.
Durante as reuniões de trabalho, tal cenário foi objeto de comentários e regis-
tros por parte dos operadores: “Outro fato observado é que as ações são abertas
a todas as faixas etárias, sem nenhuma restrição de sexo ou idade e sem nenhuma
ação específica e direcionada a um grupo” (Sílvia Machado, operadora, 2014).

48 49
Gráfico 3 – Faixa Etária Média dos Membros dos Grupos A análise bivariada, considerando faixa etária e formato institucio-
nal dos grupos, revela que, entre os grupos formalizados, predominam
19,13%
Diversas faixas etárias membros entre 25 a 29 anos (26,4%), enquanto que, entre os grupos não
formalizados, prevalece a idade média compreendida entre 30 e 45 anos
Acima de 45 anos 15,65% (39,3%). Contudo, comparando a escolaridade dos membros do grupo e
o formato institucional dos mesmos, percebe-se que não há variações
30 a 45 anos 30,43% significativas quanto ao nível de escolaridade de seus membros – ensino
médio –, alcançando 46,2%, entre os grupos não formalizados, e 51,7%,
25 a 29 anos 20,00% entre os grupos formalizados.
A relação cultura e educação, sob o ponto de vista da escolarização dos
18 a 24 anos 10,43% membros dos grupos, permite a reflexão sobre a situação das redes de ensino
da região e as oportunidades educacionais acessíveis aos jovens.
10 a 14 anos 3,48% Dos 13 municípios, apenas dois (Mesquita e Nilópolis) estão localizados
acima da média nacional, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento
01 a 09 anos 0,87% Humano Municipal15. Os demais municípios alcançaram classificação inferior,
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
o que evidencia as lacunas sobre as quais nos falam os participantes do mape-
amento, tanto no que tange ao estímulo e incentivo às suas capacidades cog-
nitivas e relacionais, como no acesso às oportunidades disponíveis, para que
Destaca-se a declaração de 47,83% dos entrevistados, localizando o ensino
possam realizar suas escolhas para a vida.
médio como o nível de ensino mais frequente entre seus integrantes, ainda que o
O cálculo do IDHM Educação dos municípios revela pouca variação em
arco etário prevalecente entre os membros do grupo situe-se entre os 25 e 45 anos.
relação à media nacional. Sete municípios da Baixada apresentam índices um
Poucos são os que entre os seus membros alcançaram o ensino superior, e um
pouco mais altos, sem destaque entre eles. É, sobretudo, no fluxo escolar da
número menor ainda os que possuem membros com cursos de pós-graduação.
população jovem que se observa o gargalo enfrentado para conclusão e con-
tinuidade de sua escolarização.
Gráfico 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos
Quando comparadas as faixas de idade entre os que concluíram o ensino
fundamental, observa-se certo equilíbrio e, em alguns casos, aumento do per-
Não responderam 2,61% centual, em alguns municípios, na faixa de 18 anos ou mais. Entretanto, ao
observar-se o percentual de concluintes do ensino médio na faixa de 18 a 20
Pós-Graduação (completa) 0,87%
anos, identifica-se um declínio considerável em todos os municípios, em rela-
Pós-Graduação (incompleta) 0,87%
ção ao percentual de concluintes do ensino fundamental.

Graduação (completa) 16,52%

Graduação (incompleta) 13,04%

Ensino Médio (completo) 47,83%


15 
O IDHM brasileiro mantém as três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda. Com
adequação metodológica ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais, “[...] O IDHM –
Ensino Médio (incompleto) 6,09% incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda – conta um pouco da
história dos municípios. Já o IDHM Educação é uma composição de indicadores de escolaridade da população
adulta – medida pelo percentual de pessoas de 18 anos ou mais de idade, com o ensino fundamental
Ensino Fundamental (completo) 6,96%
completo – e de fluxo escolar da população jovem – medido pela média aritmética do percentual de crianças
de 5 a 6 anos frequentando a escola, do percentual de jovens de 11 a 13 anos frequentando os anos finais
Ensino Fundamental (incompleto) 5,22% do ensino fundamental, do percentual de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo e do
percentual de jovens de 18 a 20 anos com ensino médio completo”. A metodologia utilizada para o cálculo
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
encontra-se detalhada e disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/o_atlas_/>.

50 51
Tabela 3 – IDHM/IDHM Educação/Fluxo Escolar da População Jovem por Municípios da Tabela 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos
Baixada Fluminense (2010)
Porcentagem Porcentagem
Frequência %
Válida Acumulada
% de 15 a 17 % de 18 anos ou % de 18
IDHM anos com mais com ensino a 20 anos Ensino Fundamental (incompleto) 6 5,2 5,4 5,4
IDHM
Educação Fundamental Fundamental com Médio
Completo Completo Completo Ensino Fundamental (completo) 8 7,0 7,1 12,5

Brasil 0,727 0,637 57,24 54,92 41,01 Ensino Médio (incompleto) 7 6,1 6,3 18,8

Belford Roxo (RJ) 0,684 0,598 47,96 54,90 32,06 Ensino Médio (completo) 55 47,8 49,1 67,9

Duque de Caxias (RJ) 0,711 0,624 51,33 58,41 38,30 Respostas


Graduação (incompleta) 15 13,0 13,4 81,3
Válidas
Guapimirim (RJ) 0,698 0,604 48,01 52,05 38,70 Graduação (completa) 19 16,5 17,0 98,2

Itaguaí (RJ) 0,715 0,638 50,68 57,53 40,31 Pós-Graduação (incompleta) 1 ,9 ,9 99,1

Japeri (RJ) 0,659 0,555 42,43 47,18 32,38 Pós-Graduação (completa) 1 ,9 ,9 100,0

Magé (RJ) 0,709 0,626 54,01 54,52 37,81 Subtotal 112 97,4 100,0  

Mesquita (RJ) 0,737 0,678 53,16 66,24 42,87 Não


99 3 2,6    
responderam
Nilópolis (RJ) 0,753 0,716 58,20 71,47 49,76 Total 115 100,0    

Nova Iguaçu (RJ) 0,713 0,641 53,25 60,37 38,81

Paracambi (RJ) 0,720 0,666 63,98 59,69 43,93

Queimados (RJ) 0,680 0,589 46,51 53,57 33,41

São João de Meriti (RJ) 0,719 0,646 52,59 61,42 40,87

Seropédica (RJ) 0,713 0,648 50,05 57,19 48,95

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD Brasil, IPEA e Fundação João Pinheiro, 2013.
Obs.: Em amarelo, índices que estão acima da média nacional.


A situação educacional dos muncípios da região mantém-se aquém da
desejável. Pode-se inferir que, apesar dos avanços produzidos pela expansão
de campis de universidades e institutos federais16 na região, pelo incremento
nos investimentos públicos e privados e pela adoção de ações afirmativas para
a democratização do acesso ao ensino superior, na última década, a fronteira
da “chegada à universidade” mantém-se acessível a um grupo ainda restrito.

16 
Criados pela Lei Federal n. 11.892/2008, que regulamentou a transformação do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFET Química de Nilópolis-RJ), seguida da integração do Colégio
Agrícola Nilo Peçanha (Pinheiral), antes vinculado à Universidade Federal Fluminense. 

52 53
Estrutura e funcionamento dos grupos criativos No caso dos grupos que declararam possuir sede própria, os imóveis
foram adquiridos por meio de duas modalidades, a saber: compra do imóvel
A relevância de um local próprio para o desenvolvimento das atividades por um de seus integrantes ou pelo próprio grupo, em 13% (equivalente a
dos grupos vincula-se às expectativas de consolidação de um espaço-sede 15 grupos) dos casos ou herança de algum familiar dos membros do grupo
em que os membros e seu público possam construir referência; um espaço (9,6% ou 11 grupos).
em que mantenham algum grau de autonomia na realização de alterações Há, também, entre os grupos, em torno de 10,43% (equivalente a 12 grupos),
e modificações de infraestrutura, de acordo com suas necessidades; um aqueles que declararam diferenciadas modalidades de parcerias envolvendo
espaço-memória onde se encontrem inscritas a identidade do grupo e de cessão de espaços por instituições públicas e privadas, compartilhamento e
seus membros, sua trajetória, processos organizativos e os acervos acumu- divisão de despesas e equipamentos, entre outros formatos colaborativos.
lados no decorrer do percurso.
Constatou-se que as atividades desenvolvidas pelos grupos ocorrem em Gráfico 6 – Formatos e Arranjos para Aquisição das Sedes
espaços fixos, cujos formatos são negociados em distintos arranjos. Como
70%
local preferencial para organização e manutenção do grupo, 33,3% (equiva- 65,22%
lente a 38 grupos) indicam possuir sede própria e outros 27,19% (equivalente
60%
a 31 grupos) organizam-se em espaços cedidos e/ou emprestados por insti-
tuições diversas – igrejas, escolas e outros parceiros. 26,32% % (equivalente 50%

a 30 grupos) declararam praticar suas atividades na casa de algum de seus


integrantes e 24,56% (ou 28 grupos) em espaços alugados. Em menor número, 40%

espaços públicos ou privados são utilizados.


Praças, ruas, instituições comerciais (bares, padaria, açougue etc.) e ocupa- 30%

ções embaixo de viadutos foram citados como locais de desenvolvimento de


suas atividades/eventos. 20%

13,04%
9,57% 10,43%
10%
Gráfico 5 – Espaços de Desenvolvimento das Atividades dos Grupos
0,87% 0,87%
0%
35% 33,33% Não possui sede Por meio de Por meio de herança Por meio de cessão de Outros Não responderam
própria compra do imóvel familiar de um dos instituição pública,
membros do grupo religiosa ou privada
30%
27,19%
26,32%
25%
24,56%
Um novo conjunto de questões inventariou a percepção que os entrevista-
20% dos possuíam sobre as condições materiais básicas (infraestrutura, material de
consumo, recursos didáticos) para o desenvolvimento de suas atividades regu-
15%
13,16%
12,28% lares, agrupando-as em quatro “pontos de observação”: 1 - Estrutura do imóvel;
10% 2 - Instalações elétricas; 3 - Abastecimento de água; 4 - Esgoto sanitário.
7,02%
Embora passível de questionamentos quanto à precisão/exatidão das
5%
2,63% respostas, a inclusão desses pontos na pesquisa vincula-se ao princípio éti-
0,88%
0%
co-metodológico de que, para a compreensão sobre qualquer realidade con-
Em sede Em sede Em espaço Na casa Na praça Na rua Em bares Ocupação Outros
própria alugada cedido/ de algum creta, além da reunião de fatos e dados, torna-se imprescindível a apreensão
emprestado integrante
em outra
instituição
do grupo
das percepções, opiniões e pontos de vista daqueles que são sujeitos, organi-
(igrejas,
escolas, outros zadores e usuários dos espaços.
parceiros)

54 55
Gráfico 7 – Percepção sobre o Estado de Conservação dos Itens/Equipamentos (sedes)

80%

71,30%
70%

58,26%
60%
54,78% 55,65%

50%

40%

29,57%
30% 27,83%
23,48%
19,13%
20%

9,57% 11,30%
10%
6,09% 6,96% 7,83% 4,35%
3,48% 3,48%
1,74% 1,74% 1,74% 1,74%
0%
Estrutura do imóvel Instalações elétricas Abastecimento de água Esgoto sanitário

■ Inexistente ■ Ruim ■ Regular ■ Bom ■ Não responderam

Em alguns casos, essa percepção mostrou-se oposta à percepção dos


A seleção desses itens considerou as condições mínimas e indispensáveis
mobilizadores e operadores. Buscando apreender a multidimensionalidade
ao funcionamento das iniciativas propostas pelos grupos. É com base na com-
das narrativas ouvidas, uma das jovens registrou suas impressões: “Acrescento,
preensão dessa realidade que o projeto Brasil Próximo espera colaborar na
também, a grande dificuldade dos grupos de avaliar as condições de sua pró-
construção de metas e planos de ação para a melhoria da qualidade dos ser-
pria sede, talvez por vergonha, receio de que algum representante político
viços oferecidos/consumidos pelos grupos.
tome conhecimento ou, até mesmo, por não perceber que de tanto olhar e
Com relação à infraestrutura foram classificadas pelas categorias BOM =
conviver com aquela necessidade acabam aceitando ou deixando de ver”.
Em bom estado de conservação; REGULAR = Necessita de pequena reforma;
As atividades organizativas e artísticas dos grupos desenvolvem-se em
RUIM = Necessita de grande reforma; INEXISTENTE = Não existe no espaço,
variados ambientes (dependências), elencados a seguir. Alguns deles (banhei-
de modo geral, sobressaiu-se a percepção do bom estado de conservação
ros, pátio, cozinha, jardim) sugerem mais diretamente a utilização de casas
da estrutura do imóvel onde 54,8% (equivalente a 63 grupos) realizam suas
residenciais adaptadas para as atividades dos grupos. Outros (pátio, salas de
atividades. Contudo, faz-se importante salientar a porcentagem significativa
aula, escritório administrativo, salas de reuniões, almoxarifado) permitem
(15,9%, equivalente a 11 grupos) daqueles que apontaram como “inexistente”
entrever a estrutura organizacional criada para o funcionamento dos grupos.
ou “ruim” a percepção que tinham desse item.
Alguns dos ambientes relacionados pelos entrevistados (sala de exposi-
Essa, por sinal, foi uma tendência observada nos demais pontos de obser-
ção, sala de projeções audiovisuais, sala para oficinas, camarim, entre outros)
vação: Instalações elétricas (BOM – 58,3%; REGULAR – 29,6%); Abastecimento
tornam possível compreender a natureza das ações, atividades e projetos exe-
de água do imóvel (BOM – 55,7%; INEXISTENTE/RUIM – 19,5%); Estado de con-
cutados pelos grupos.
servação do esgoto sanitário (BOM – 71,3%; REGULAR – 27,4%).
Com menor frequência, listados no campo “Outros” (12,28%), foram rela-
cionados ambientes, como: campo de futebol, galpão, rua, salão de eventos,
quadra de esportes e espaços multiuso.

56 57
Gráfico 8 – Ambientes/Dependências para a Realização das Atividades dos Grupos
Cruzando-se as variáveis “espaço onde se desenvolvem as atividades”
e “tipo institucional”, observa-se que, entre os grupos não formalizados, o
Jardim ou espaço externo 52,63% espaço mais comum de execução das atividades é a casa de algum integrante
Cozinha 56,14%
do grupo (43,4%, equivalente a 23 grupos), enquanto que, entre os grupos for-
malizados, há predominância na utilização da sede pelos grupos (42,6% ou
Escritório (Coord./Adm.) 47,37% 26 grupos). Nos distintos ambientes, alocam-se os materiais e equipamentos
Sala de exposições 21,93% conquistados e/ou adquiridos como investimentos pelo grupo, como demons-
tram os gráficos seguintes.
Sala de projeções audiovisuais 28,95%

Laboratório de informática 19,30% Gráfico 9 – Equipamentos que os Grupos Possuem e/ou Compartilham

Biblioteca e/ou sala de leitura 27,19%

Estruturas de mobilidade e acessibilidade Computador (desktop – de aplicação e multimídia) 67,57%


20,18%

Nenhum dos ambientes/dependências relacionadas 4,39% Laptop 51,35%

Pátio 49,12%
Projetor de filmes /Data Show 29,73%
Refeitório 17,54%
Telão 28,83%
Sala de reuniões 40,35%
TV 43,24%
Sala equipadas para oficinas 29,82%

Instrumentos musicais 66,67%


Estúdio de gravação 10,53%

Laboratório de fotografia 3,51% Impressora, scanner 57,66%

Lona 3,51% Câmera fotográfica digital 62,16%

Almoxarifado 28,07%
Equipamentos de iluminação 30,63%
Banheiros 80,70%
DVD 51,35%
Alojamento 10,53%
Equipamento de som 73,87%
Salas de aula 37,72%

Auditório 19,30% Carteiras de sala de aula 27,03%

Ilha de edição 9,65% Filmadora Mini-DV 31,53%

Teatro/Arena 6,14%
Quadro negro/branco 37,84%

Palco/Tablado 21,05%
Lonas, tendas e equipamentos circenses 14,41%
Outros 12,28%
Outros 10,81%
0% 20% 40% 60% 80% 100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

58 59
Gráfico 10 – Serviços Disponíveis nos Espaços Acervos e memória: o que lembrar?

Telefone (fixo) 69,81% O interesse na recuperação da memória de iniciativas e ações culturais ocor-
ridas na região capturou a atenção da equipe de pesquisa para os acervos
Fornecimento de alimentação 20,75%
reunidos pelos grupos, em especial para os usos que fazem deles e as inten-
Estacionamento 23,58% cionalidades presentes na sua organização (histórico-documentais, artísticos,
fonográficos, bibliográficos, entre outros).
Internet (banda larga) 64,15%
Para a qualificação da noção de acervos, operou-se com o conceito de
TV por assinatura 20,75% coleções, articulado à ideia de patrimônios, que se constitui por meio da sele-
ção de elementos de memória expressos pelo visível (material, tangível, obje-
Atendimento ao público 50,00%
tos visíveis ao olhar terreno) e pelo invisível (imaterial, simbólico, intangível).
Limpeza e manutenção 74,53% De acordo com tal abordagem, esses elementos estão inscritos em qua-
dros sociais mais amplos e complexos, assumindo, ao mesmo tempo, o lugar
Segurança privada 19,81%
de resultantes e indutores da produção de formatos próprios de coleciona-
Outros 4,72% mento e patrimonialização.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Observa-se que os grupos consultados no mapeamento possuem a percep-
ção de que seus ativos culturais constituem-se em patrimônios para si e para a
região. Entre eles, um número expressivo (71,3% ou 82 grupos) declarou pos-
Os serviços e equipamentos, em alguns casos, são utilizados por meio da suir algum tipo de acervo, em contraste com 27, 8% (equivalente a 32 grupos)
modalidade de parceria e compõem um cardápio de possibilidades (capitais) que disseram não possuir acervo.
pelas quais os grupos são reconhecidos e inserem-se nas redes das quais partici- As coleções são formadas, com maior frequência, por materiais que tra-
pam. Possivelmente, é por meio da mobilização desses serviços, equipamentos e tam sobre a trajetória de atividades do grupo (Portfólio, 86,59%). A ordem das
interconexões colaborativas originadas entre eles que os grupos vêm chamando temáticas dos demais acervos segue a seguinte lógica, a saber: 50% (equiva-
atenção para o cotidiano da Baixada e construindo redes que transbordam sua lente a 41 grupos) possuem acervos sobre expressões culturais e artísticas;
atuação cultural para o desejo de coparticipação da vida política da região. 39,02% (32 grupos) sobre temas gerais; 30,49% (25 grupos), sobre referências
Ocupando espaços significativos, a criação cultural da Baixada forja um culturais da região ou do município.
novo discurso – e uma nova prática – que conjuga ruptura e potência, dispu- Levando-se em consideração a existência de acervo e o formato institu-
tando com os produtos de mais forte apelo midiático na mobilização e na cional dos grupos, há presença ligeiramente maior de acervos entre grupos
sedução de novos públicos. formalizados (73,8%) do que nos grupos não formalizados (69,8%).
Ao serem consultados sobre a existência de ambientes, equipamentos e/ou
serviços a serem oferecidos ou aprimorados, 73,91% dos grupos disseram neces-
Gráfico 11 – Temáticas dos Acervos
sitar de outros itens para o desenvolvimento de suas atividades onde as reali-
zam atualmente. Foram recorrentes os depoimentos que sinalizaram o roubo
de equipamentos obtidos por meio de editais e prêmios, associando a perda do Sobre a trajetória de atividade do grupo 86,59%

patrimônio do grupo às necessidades para a continuidade de suas ações. Sobre as expressões culturais e
50,00%
A depender da natureza das atividades que desempenham, uma variedade artísticas, de modo geral

de equipamentos e recursos específicos a cada expressão cultural e artística – Sobre as referências culturais e
30,49%
históricas da região/município
espaços adaptados para a dança com barras, estúdios de gravação, aquisição
de instrumentos musicais, aquisição de figurinos, entre outros – foram listados Sobre temas de interesses variados 39,02%

como prioritários para a oferta de atividades e produções com maior quali-


Outros 4,88%
dade técnica e alcance comunitário.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

60 61
Distintos materiais – livros, filmes, figurinos, cenários, revistas, mídias digi- Esses grupos, em especial, manifestam compromisso com a realização de
tais, entre outros – compõem as coleções organizadas pelos grupos. Algumas iniciativas e projetos dedicados à conscientização sobre as relações étnico
foram reunidas por meio de doação dos membros da equipe, participações -raciais no contexto brasileiro e de promoção da igualdade racial. Direcio-
em projetos e ações sociais, intercâmbios culturais, editais, parcerias e aquisi- nam suas iniciativas em consonância com os pressupostos da Lei Federal n.
ções definidas pelos interesses e necessidades dos grupos. 10.639/03, posteriormente, substituída pela Lei n. 11.645/04, que trata da obri-
Embora disponível para a consulta comunitária ou visitação local, por 59,76% gatoriedade do ensino da história da África e da contribuição dos afro-brasi-
(49 grupos) dos que responderam possuir algum tipo de acervo, apenas 29,27% leiros na formação social do país, em todos os níveis de ensino.
(equivalente a 24 grupos) o colocam disponível para empréstimo à comunidade.
Destaca-se a grande presença de diferentes mídias digitais (CDs, DVDs,
registros audiovisuais etc.) como parte dos acervos. Dos grupos que declara-
Modos de comunicar...
ram possuir algum acervo, 87,06% (74 grupos) indicaram tais mídias como os
mais frequentes meios de registro em suas coleções. A mídia, em suas variadas versões e formatos, ganhou lugar de ambiente vital
na trajetória de nossas sociedades. Nele, sonhamos e agimos coletivamente, em
Gráfico 12 – Tipos de Materiais Presentes na Composição dos Acervos processos constantes de (re)construção de nossas realidades, no rebatimento
de sentidos e representações. Em dinâmicas complexas, nas quais a lógica do
Livros 45,88% hipertexto, da valorização da interatividade dos usos, das novas formas de
circulação e agenciamento de informações e símbolos, ocorrem os processos
DVDs 62,35% socializadores e reguladores dos nossos modos de “estar no mundo”.
As mudanças no cotidiano dos grupos, com a multiplicidade de funções que
Roupas, cenários etc. 56,47%
exercem e a maior presença de novas tecnologias de comunicação, produzem
impactos sobre as ações sociopolíticas e seus formatos organizativos.
Revistas, periódicos, gibis etc. 43,53%
A maior parte dos grupos (43,48% ou 50 grupos) reserva um ou dois encon-
Mídias digitais (arquivos de áudio,
87,06%
tros semanais para a realização de reuniões de organização das equipes.
imagens digitais divulgadas na web)
Entre os demais, em menor número, 13,04% (equivalente a 15 grupos) decla-
CDs 55,29% raram encontrar-se mais de três vezes na semana; 17,39% (20 grupos), quinze-
nalmente; 23,48%, (27 grupos), mensalmente.
Outros 34,12% Não foram observadas diferenças entre a frequência de reuniões e o for-
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
mato institucional dos grupos, mantendo-se um ou dois encontros semanais
como a dinâmica mais comum entre os grupos entrevistados.

O tratamento dado ao patrimônio imaterial na região constitui um ponto


de atenção e destaque para agenda governamental. Grupos de Folias de
Reis17, capoeira, centros culturais de difusão e valorização da cultura de
matriz africana, terreiros de candomblé e museus de cultura africana, com
acervo constituído por totens, tecelagem, cerâmica, serralheria, máscaras etc.,
organizam-se, na região, como lugares de memória, como forma de recriação
da história dos acontecimentos da diáspora africana no Brasil.

17
  Alguns com início em 1872, como o caso do grupo Reisado Flor do Oriente, foram inventariados na
pesquisa Jongos, calangos e folias: memória e música negra em comunidades rurais do Rio de Janeiro e
compõem o Acervo UFF Petrobras Cultural de Memória e Música Negra do LABHOI/UFF.

62 63
Gráfico 13 – Frequência de Reuniões de Organização dos Grupos Gráfico 14 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos

50%

Oficinas 63,16%
45% 43,48%
Aulas 60,53%
40%

35% Festivais 52,63%

30% Espetáculos 55,26%

25% 23,48% Exposições 32,46%

20%
17,39% Saraus 32,46%
15% 13,04%
Exibição de filmes 37,72%
10%

Produção de eventos 69,30%


5%
1,74% 0,87%
Outras 25,44%
0%
Uma ou duas Três a cinco Quinzenal Mensal Outras Não responderam
vezes por vezes por 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
semana semana

Dessas atividades, grande parte gera recursos para a manutenção das


Esses encontros são, em sua maioria, exclusivamente, presenciais – 64,35%. ações e iniciativas desenvolvidas, como é o caso para 53,04% ou 61 dos grupos
Outros grupos – 33,91% – adotam uma modalidade mista de organização que entrevistados. Entretanto, 46,09% (equivalente a 53 grupos) declararam não
conjuga encontros presenciais com articulação virtual. Não se registraram haver retorno financeiro nas atividades/produções artísticas.
grupos que mantenham articulação puramente virtual. Entre os grupos formalizados, as principais atividades concentram-se na
Os formatos organizativos parecem estar relacionados à natureza de ativi- produção de eventos (77%), na dinamização de oficinas (77%) e na oferta de
dades realizadas, com mais frequência, pelos grupos consultados. Percebe-se aulas (70,5%). Entre os grupos não formalizados, predominam a produção de
que as atividades mais comuns aos grupos são: produção de eventos (69,30%), eventos (60,4%) e a realização de espetáculos (56,6%).
oficinas (63,16%), aulas (60,53%), espetáculos (55,26%) e festivais (52,63%).
É importante destacar que, de maneira geral, os grupos relataram desen-
Tabela 5 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos
volver mais de uma ação ou atividade. Essa sobreposição tem justificativa nas
estratégias de sobrevivência encontradas por eles para manutenção de suas Respostas Porcentagem de
práticas e realização de carreiras profissionais. Nº % Respostas
No contato com os grupos, fica evidente que o desejo de conciliação de Oficinas 72 14,7% 63,2%
projetos individuais e coletivos é motivo de grande preocupação para seus Aulas 69 14,1% 60,5%
membros. Dos entrevistados, 80% (92 grupos) disseram não haver geração de Festivais 60 12,3% 52,6%
renda nas atividades e iniciativas desempenhadas por seus membros. Ape-
Espetáculos 63 12,9% 55,3%
nas 19,13% (equivalente a 22 grupos) realizam atividades das quais extraem Ações e Atividades
Desenvolvidas pelos Exposições 37 7,6% 32,5%
alguma remuneração financeira. Grupos
Saraus 37 7,6% 32,5%
Exibição de filmes 43 8,8% 37,7%
Produção de eventos 79 16,2% 69,3%
Outras 29 5,9% 25,4%
Total 489 100,0% 428,9%

64 65
Somente 36,52% disseram receber ou já ter recebido algum tipo de finan-
Dos entrevistados, 61,74% (71 grupos) declararam não receber nenhum
ciamento permanente. As instituições públicas – federal, estadual e municipal
tipo de financiamento/auxílio para realização das atividades. Os grupos
– comparecem com a maior parte dos recursos destinados ao financiamento
revelaram mobilizar diferentes estratégias para garantir sustentabilidade e
e à manutenção das ações e iniciativas promovidas pelos grupos.
continuidade de seus projetos.
Outros financiadores participam da dinâmica de produção e manuten-
A maior parte deles (58,77% ou o equivalente a 67 grupos) mantém-se por
ção de suas práticas colaborando com a sustentação de seus ciclos criativos,
meio de apoios pontuais e doações. Ações comunitárias entre seus membros
com menos intensidade.
– bingos, rifas, e, possivelmente, em tempos futuros a modalidade de crowd-
funding –, cachês recebidos, editais no campo da cultura, nos âmbitos federal,
Gráfico 16 – Tipo de Instituição Financiadora dos Grupos
estadual e municipal e da iniciativa privada, e, por fim, premiações, aluguel de
espaços, entre outras modalidades.
A rede estabelecida entre os grupos da região parece garantir, com mais Instituição Pública Federal 22,73%

eficácia, a manutenção das atividades dos grupos, como salientou um dos


Ponto de Cultura ou similar 18,18%
operadores: “Por tantas dificuldades, os grupos fazem parcerias múltiplas
que possibilitam sua continuidade e o incentivo necessário para a continui- Terceiro Setor 6,82%
dade dos trabalhos. Muitos trocam informações para a profissionalização em
questão; fazem apresentações em conjunto; dividem o aluguel de espaços; Instituição Pública Estadual 11,36%

realizam espetáculos próprios; trocam experiências de conhecimento. Dessa


Instituição Religiosa 13,64%
maneira, reafirmam o compromisso próprio em desenvolver sua arte e lutar
por seu espaço em sua região” (Alan Alves, operador, 2014). Instituição Privada 25,00%

Instituição Pública Municipal 43,18%


Gráfico 15 – Estratégias de Sustentabilidade e Manutenção das Atividades
Outras 13,64%

Editais no campo da cultura


25,4% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
(âmbitos federal, estadual e municipal)

Editais no campo da cultura


15,8%
(Iniciativa privada) Registra-se como um ponto de análise e implementação de iniciativas
Aluguel do espaço do grupo
9,6%
a baixa participação em editais públicos de seleção de projetos e/ou prê-
para outras atividades
mios, nos últimos 24 meses. Percebe-se que a maioria dos grupos submeteu
Por meio do recebimento de cachês 24,6% poucos projetos – a maior parte apresentou nenhum ou apenas um projeto
–, sendo, no conjunto, uma média de 2,64 projetos/grupo. Entre os grupos
Premiação 14,9% formalizados, 3,97 projetos foram apresentados, em contraste com 1,19 pro-
jetos apresentados por grupos não formalizados. Por meio dos gráficos a
Por meio de doações (apoios) 58,8%
seguir, é possível visualizar a distribuição quantitativa dos projetos apre-
Por meio de ações comunitárias entre sentados. Cabe observar, porém, que as candidaturas submetidas tiveram
seus membros (bingos, rifas etc.) 36,0%
pouco êxito nos resultados finais de seleção.
Outras 25,4%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

66 67
Gráfico 17 – Submissão de Candidaturas para Editais de Seleção de “Projetos/Prêmios” Realizando o mesmo recorte – quantidade de candidaturas aprovadas nos
editais de seleção de projetos e/ou prêmios, nos últimos 24 meses, e o formato
60
institucional do grupo (formalizado e não formalizado) –, observam-se valo-
res diferenciados entre o máximo de projetos aprovados por grupos não for-
malizados (quatro) e um maior número entre os grupos formalizados (cinco).
50
A média dos valores é, igualmente, distinta: 1,22 projetos aprovados entre os
grupos formalizados e um número médio incipiente de projetos aprovados
40 entre os grupos não formalizados (0,26).
O acesso e o êxito nos processos seletivos dos editais vinculam-se ao
30
domínio da “linguagem dos projetos” e ao acúmulo de repertório específico.
No contato com os operadores, os grupos revelaram não possuir pleno “[...]
conhecimento do que são editais de cultura e, mesmo os que conhecem, em
20
muitas ocasiões, não conseguem ganhar o edital, pois não conseguem com-
preender a documentação necessária para inscrição e, em alguns casos, não
Frequência

10 conseguem escrever um projeto que se encaixe no edital”.


Embora, numericamente, a seleção em editais constitua um problema
Mean = 2,64

0
Std. Dev. = 4,55
N = 111
para ambas as modalidades consultadas, a impressão comum ao grupo de
0 10 20 30
trabalho é a de que “[...] alguns grupos têm um nível de profissionalismo muito
grande e pouco sofrem com essas questões de edital. Por outro lado, grupos
menores e considerados mais ‘amadores’ se veem na necessidade de conta-
rem com alguém especializado para escrever o projeto que concorrerá ao
edital” (Carolina Mendonça, operadora, 2014).
Gráfico 18 – Projetos Aprovados em Editais de Seleção/Prêmios
A inconstância nas linhas de apoio e na captação de recursos para a aqui-
sição de sedes, a percepção da cultura como meio para a compreensão e a
80 transformação da realidade em que se inserem e os interesses de visibilidade
e ampliação de redes expressos pelos grupos – “uma vontade de fazer de
outra forma” – parecem agir como vetores de indução para a criação de opor-
tunidades, encontros, ocupação de espaços e equipamentos públicos e outros,
60
pelos grupos culturais, sejam de base predominantemente juvenil ou não.
Os grupos estimaram alcançar, em média, em torno de duas mil pessoas
em suas atividades regulares. A estimativa, porém, está influenciada pelo
40 número máximo declarado por um dos grupos entrevistados (15 mil bene-
ficiados). Embora o número seja um indicativo do alcance das atividades, é
preciso ressalvar que não se podem comparar atividades tão distintas como
uma festa promovida por uma agremiação carnavalesca e a apresentação de
20
mímica em praça pública, por exemplo. Tendo em vista a natureza diferen-
Frequência

ciada das ações realizadas e a multiplicidade de grupos mapeados, há que


Mean = ,77 se reunirem esforços e investimentos municipais para a elaboração de indi-
Std. Dev. = 1,307
0 N = 111
cadores que considerem a diversidade de grupos, a pluralidade de gostos,
0 2 4 6
expressões, necessidades e demandas da população da região; colaborem

68 69
para a mensuração do alcance das atividades aos beneficiados e do impacto beneficiários e os formatos institucionais dos grupos. Confirma-se, entre eles,
das ações dos grupos no cotidiano dos moradores e estabeleçam critérios por o atendimento a diversas faixas etárias, representando 39,6%, entre os grupos
eixo, mais qualitativos, para a elaboração de linhas de apoio e fomento com não formalizados, e 50,8%, entre os grupos formalizados.
base na pluralidade democrática. Essa informação sugere que os grupos mapeados, apesar de contar com
A articulação com escolas, universidades, ONGs, centros culturais, pon- jovens entre seus membros, não possuem ações especialmente desenhadas
tos de cultura, entre outros atores sociais e instituições púbicas e privadas, para mobilizar e angariar a presença prioritária da juventude nos municípios.
pode ser geradora de novos conhecimentos e, principalmente, favorecer o Seus esforços concentram-se em proporcionar modos de expressão artística
desenvolvimento de propostas que visam à ampliação dos diversos fomen- para os diversos segmentos populacionais.
tos, apoios, patrocínios e financiamentos, para a realização das atividades
desempenhas pelos grupos. A articulação em rede com empresas privadas Gráfico 20 – Faixa Etária Média dos/as Beneficiados/as nas Atividades dos Grupos
e indústrias estabelecidas no território, visando ao conhecimento e ao reco-
nhecimento da produção cultural local, pode contribuir potencialmente com Diversas faixas etárias 46,09%
os meios de patrocínios de projetos mediante a Lei Federal de Incentivo à
Cultura (Lei n. 8.313, de 23 de dezembro de 1991). Acima de 45 anos 5,22%

30 a 45 anos 8,70%
Gráfico 19 – Número Médio de Pessoas Beneficiadas pelas Atividades dos Grupos

25 a 29 anos 10,43%

120
18 a 24 anos 11,30%

100
15 a 17 anos 8,70%

10 a 14 anos 8,70%
80
01 a 09 anos 0,87%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%


60

Constata-se que a principal ferramenta utilizada para a mobilização


40
de antigos e novos participantes e a difusão de seus trabalhos são as redes
sociais (83,33%). Com grande destaque, na sequência, listam-se a rede de con-
tatos pessoais (67,54%) e as parcerias de divulgação com as escolas da região
Frequência

20

(34,21%), para tornar visíveis suas ações e iniciativas na região. Outras respos-
Mean = 2603,96
Std. Dev. = 15266,02
N = 110
tas – carro de som, faixas, apresentações, eventos – também foram listadas e
0
0 50.000 100.000 150.000 200.000 agrupadas na categoria “Outros”.

Não é possível precisar a faixa etária prevalecente entre os beneficiados


pelas ações dos grupos. Constata-se o alcance intergeracional das iniciativas
dos grupos. Entre os grupos entrevistados, 46,09% (equivalente a 53 grupos)
apontaram a imprecisão de uma faixa específica entre seus beneficiados.
Não se constatam variações significativas ao considerar a faixa etária dos

70 71
Gráfico 21 – Estratégias para Mobilização dos Participantes Entre os grupos entrevistados, expressões de resistência e organização cole-
tiva evidenciaram um compromisso com a dignidade humana dos moradores
Mídia impressa 33,33% da região. No depoimento de uma das operadoras: “[...] muitos grupos demons-
traram muita indignação por não receberem nenhuma ajuda por parte da polí-
Mídia televisiva 6,14% tica local, e deixaram claro que nunca deixaram de exercer as suas atividades
por esse motivo. Boa parte faz isso por atitude voluntária [...] as ações deixam de
Redes sociais (Facebook, Twiter etc.) 83,33%
fazer parte da cultura laboral para dar lugar ao afeto e o ato de ajudar o outro
Mala direta 14,04%
ou dar sentido à vida de outras pessoas” (Sílvia Machado, operadora, 2014).
Entretanto, não se deve essencializar a atuação dos grupos nem de seus
Rádio local 12,28% integrantes, inscrevendo-os, exclusivamente, na clave do altruísmo voluntário
ou do engajamento e militância política. Dessa forma, incorreríamos no erro
Divulgação em escolas 34,21% de naturalizar a incipiente atuação estatal no dever de prover condições de
acesso e consumo da produção cultural dos municípios, e não reconhecerí-
Contatos pessoais 67,54%
amos as criativas e possíveis formas em uso, pelos grupos, para lidar com a
Outras 13,16% instabilidade cotidiana de suas existências.
Por fim, na percepção de Marcos Paulo, mobilizador, “[...] existem algu-
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
mas dezenas de instituições bem estruturadas que usam a arte como ferra-
menta de mobilização ou como produto. Essas istituições disputam editais,
contratam por carteira assinada e são as mais representativas nas esferas
Redes e ação coletiva governamentais. Outro grupo, um pouco maior, disputa espaços para buscar a
autossustentação, ora contratando, ora apelando para o voluntariado”.
Investindo em processos colaborativos e solidários, 80% dos grupos relata-
ram a existência de intercâmbio e/ou parceria com outros grupos. Os víncu-
los de parceria mais mencionados estão na esfera artística, com 89,13% das Pautas políticas...
respostas; seguidos por colaborações e intercâmbios na prestação de servi-
ços, 36,96%; na reserva de vagas preferenciais em cursos e seminários, 20,65% Gráfico 22 – Principais Dificuldades para Manutenção/Execução das Ações/Produções
(equivalente a 19 grupos); e, em menor número, estão elencadas as parcerias
de natureza administrativo-burocrática, 15,22% (14 grupos).
Não possui dificuldades 0,88%
Embora concentrados em tocar suas próprias produções e projetos coletivos,
não sem grandes dificuldades como vimos até aqui, constata-se a forte presença
Financeiras 90,27%
de uma rede de suporte que promove, sempre que solicitada, a mobilização e/ou
participação de outros grupos em 60% das atividades dos grupos entrevistados.
De infraestrutura 69,91%
O mesmo ocorre com a comunidade à qual os grupos estão vinculados.
Em suas opiniões, sempre que solicitada, para 43,9% (50 grupos), e de maneira
De equipe 22,12%
frequente, para 22,6% (26 grupos) deles, é possível contar com a mobilização
e participação da comunidade local nas iniciativas propostas no território.
Segurança 11,50%
Entretanto, 38 grupos (33,04%) não contam com a comunidade local em suas
decisões e/ou atividades cotidianas.
Mobilidade 43,36%
A precariedade com que os grupos desenvolvem suas ações e a visão que
possuem da ausência de apoio do poder público foram temas recorrentes
Outras 10,62%
durantes as visitas de campo.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

72 73
Um último conjunto de questões inventariou as percepções sobre as prin- nessas atividades, na linha do “faça você mesmo”, o que, por vezes, vai adqui-
cipais dificuldades observadas pelos grupos para manutenção de suas ações rindo nuances de projetos de carreiras profissionais e, por fim, conformam
e continuidade de suas produções coletivas. escolhas conscientes e investimentos educacionais para inserção e domínio
Listada como prioritária, a situação FINANCEIRA dos grupos foi apontada da linguagem do campo da cultura – ingresso em cursos de graduação em
por 90,27% (equivalente a 102 grupos) como principal preocupação, seguida produção cultural, artes cênicas, entre outros; especialização em elaboração
por questões relacionadas à infraestrutura (69,91% ou 79 grupos) e mobili- de projetos e legislação cultural; intercâmbios artísticos etc.
dade (43,36% ou 49 grupos). Esses investimentos educacionais, embora operacionais e que visam a ati-
Constata-se, na análise bivariada, que a mesma ordem de questões foi vidades práticas, não estão descolados da reflexão política sobre a ausên-
elencada com relativa proximidade entre os grupos formalizados e não forma- cia de equipamentos culturais e linhas de fomento à cultura por governos e
lizados. As dificuldades financeiras atingem 84,9% (equivalente a 45 grupos), empresas locais. Perceber-se como agente político em ações de resistência
entre os grupos não formalizados, e 95% (57 grupos), entre os formalizados. e criação de oportunidades parece ser a estratégia encontrada pelos grupos
Questões relativas à INFRAESTRUTURA foram registradas como prioritá- para incidir no debate sobre o direito e a cidadania cultural.
rias por 75,5% (equivalente a 40 grupos) dos grupos entrevistados, entre os Do ponto de vista das políticas culturais, sem exceção, os relatos chamam
não formalizados, e 65% (39 grupos), entre os grupos formalizados, listando- atenção para: a falta de investimentos públicos e privados nas atividades
se, entre elas, um conjunto de demandas, a saber: melhoria nas instalações, culturais da região; as dificuldades advindas da ausência de sede própria; a
ampliação dos espaços, climatização dos ambientes, aquisição de instrumen- realização e manutenção de suas atividades; a falta de reconhecimento e
tos e equipamentos eletrônicos de qualidade profissional, adequação dos valorização de suas trajetórias e atividades.
espaços no caso de grupos de dança e música, inclusão digital, entre outras. Embora reconheçam o aumento das oportunidades geradas nas últimas
Em relação à MOBILIDADE, a temática foi associada às possibilidades de décadas, convocam o governo estadual e municipal a dar continuidade às ini-
deslocamento dos membros dos grupos e participantes nas atividades regula- ciativas e políticas em curso. Propostas para a criação de um canal de comu-
res e para apresentações nos diversos eventos aos quais são convidados. nicação entre os grupos, para que possam trocar informações, destacaram-se
Constata-se que, em geral, no interior dos grupos, em relação às práticas nos depoimentos coletados.
sustentáveis, os integrantes acumulam funções, como produção, criação, arti-
culação, escrita de editais, entre outras, de modo a viabilizar seus projetos e
gerar mecanismos de sustentabilidade aos grupos. Para sobrevivência indivi-
dual, acumulam funções e atividades paralelas que, grande parte das vezes,
mantêm relação com suas atividades artísticas; ministram oficinas em escolas,
por meio de programas como Mais Educação – Ministério da Educação18; par-
ticipam, de modo direto ou indireto, em eventos patrocinados por empresas
ou eventos particulares, entre outras ocupações e oportunidades disponíveis.
Diante dessa complexa realidade, o apoio para contratação e manutenção
de funcionários, a qualificação das equipes e a oferta de maiores benefícios
profissionais para seus membros foram itens apontados pelos grupos como
fundamentais para a continuidade e permanência de suas ações e a diminui-
ção da rotatividade entre seus membros.
É corrente a opinião sobre a presença de um forte protagonismo juvenil

18
  Instituído pela Portaria Interministerial n. 17/2007 e pelo Decreto n. 7.083/ 2010, o programa integra as
ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Trata-se de uma ação intersetorial entre as políticas
públicas educacionais e sociais, promotora da ampliação da jornada escolar, da organização curricular da
Educação Integral, com o propósito de incidir na diminuição das desigualdades educacionais e na valorização
da diversidade cultural brasileira.

74 75
UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS
DESTINADAS AOS JOVENS DA
BAIXADA FLUMINENSE

A constatação da criação e revitalização de organismos de juventude


nos municípios da Baixada Fluminense, no período mais recente (2009/2013),
precipitou a inclusão dos encontros e das entrevistas com os, então, gestores
de políticas, programas e projetos para a juventude dos municípios.
A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na
primeira etapa da pesquisa revelaram a criação ou a revitalização de supe-
rintendências e coordenadorias de juventudes em oito dos municípios pesqui-
sados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em fevereiro de 2014),
Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti.
Ainda que não fosse o foco principal da pesquisa, a recente implemen-
tação do Plano Juventude Viva é uma estratégia governamental para o
enfrentamento à mortalidade de jovens, em especial dos negros (pretos
e pardos, de acordo com a classificação do IBGE), que tem a presença de
quatro municípios da região – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São
João de Meriti – na listagem de municípios prioritários, na primeira fase de
implementação do plano.
A iniciativa estimula a criação de organismos estaduais e municipais em
142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-
dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. É descrita como
uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio à cria-
ção de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de inclusão
social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a necessi-
dade de promoção dos direitos da juventude.
Conforme citado no capítulo “Trilhas teóricas e metodológicas” deste rela-
tório, o plano incentiva: oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de
convivência em áreas que concentram altos índices de homicídio, fortalecimento
de trajetórias dos jovens e mudanças em seus territórios, buscando “[...] promover
os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao
preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da
juventude negra brasileira”.
Interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos relacionados à
juventude de seus municípios, o histórico da criação dos organismos, as ações

76 77
diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articulação com o Plano nos municípios da Baixada Fluminense, quatro deles com taxas alarmantes,
Juventude Viva e a política estadual de juventude19. de acordo com o Mapa da Violência21, de Jacobo Waiselfisz. O autor chama
A fim de contextualizar a situação juvenil negra, recorreram-se a estudos fei- atenção para o que denomina de “novos padrões da mortalidade juvenil”, que
tos por diferentes pesquisadores (ver Referências Bibliográficas), com interesses deixam de assinalar, como causas principais, as epidemias e doenças infecto-
variados, que informam sobre uma progressiva diferenciação na trajetória de contagiosas, registradas em décadas atrás, para dar lugar às “causas externas”
vida – escolar, profissional, social, financeira etc., – entre os grupos étnico-raciais – em especial, acidentes de trânsito e homicídios.
no país, com acentuada desvantagem para as populações negra e indígena. O estudo aponta como fatores que incidem na produção e reprodução da vio-
Em se tratando do público focal do Plano Juventude Viva, uma vasta lência homicida, no nível do município, a presença pouco eficaz do poder público,
literatura tem realizado críticas sobre a qualidade dos distintos espaços as disputas territoriais de quadrilhas, milícias, tráfico, comércio e varejo de dro-
de socialização disponíveis às crianças e aos jovens negros. Os efeitos das gas, a produção ilegal de entorpecentes e o enraizamento da cultura da violência.
agências de socialização, em especial a escola, na construção de projetos
futuros por parte de crianças e jovens negros, em todos os níveis de escola- Tabela 6 – TabelaCJ. Número e taxas (por 100 mil) de homicídio, segundo raça/cor nos
rização, são ratificados pelos relatos produzidos por esses jovens sobre suas municípios de 50 mil habitantes. População Jovem. Brasil. 2008/2012
(Ordenado por taxas negras)
experiências escolares.
A memória do período, as expectativas criadas e os resultados alcançados
Número de Homicídios Popul. 2012 Taxas 2012
evidenciam que, para esse grupo, a experiência de fracasso é mais presente
do que as expectativas de sucesso e progressão. Município UF Branca Total Negra Total
Branca Negra Branca Negra
Suas trajetórias são mediadas pela experiência do trabalho, em geral, com
2010 2011 2012 2010 2011 2012
inicio na infância e maior incidência entre os meninos negros. Embora não
seja a única, a entrada no mercado de trabalho, a partir dos 14 anos, produz Belford Roxo RJ 18 26 16 78 68 70 36.385 84.671 44,0 82,7
efeitos diretos, sendo apontada nas intercorrências do processo de escolari-
Duque de Caxias RJ 65 58 43 239 220 187 74.046 146.178 58,1 127,9
zação dos jovens. Após os 18 anos, já com dificuldades em conciliar as exigên-
cias da vida escolar, da vida familiar e do mundo do trabalho, são frequentes Guapimirim RJ 1 0 2 3 7 4 5118 8.786 39,1 45,5
o abandono da escola e, em alguns casos, a ruptura com o processo educativo,
Itaguaí RJ 4 5 7 26 18 26 10.673 18.264 65,6 142,4
por vezes, retomado tempos depois.
Quanto às áreas da saúde e da segurança pública, os dados do Ministério da Japeri RJ 4 6 1 25 12 21 6.625 20.171 15,1 104,1
Saúde20 informam sobre o crescimento da taxa de homicídios entre os grupos, com
Magé RJ 9 11 7 29 27 22 19.699 38.218 35,5 57,6
maiores índices entre os jovens negros. Os dados evidenciam que a violência tem
como alvos principais os jovens negros do sexo masculino, com baixa escolaridade. Mesquita RJ 3 4 10 21 9 18 13.975 27.241 71,6 66,1
A convergência entre cor/raça, idade e território constitui fator predomi-
Nilópolis RJ 8 5 2 24 26 11 15.534 22.177 12,9 49,6
nante para a ocorrência desses índices, impondo, ao governo e à sociedade,
uma agenda de enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, para Nova Iguaçu RJ 54 56 53 179 129 157 69.289 132.451 76,5 118,5
a redução da vulnerabilidade da juventude negra.
Paracambi RJ 0 0 1 2 1 1 5.530 6.715 ** **
Na Tabela 6, a seguir, tem-se o quadro evolutivo do número de homicídios,
Queimados RJ 5 4 3 25 11 16 11.720 24.214 25,6 66,1

19
  As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, em todos os São João de Meriti RJ 23 13 9 66 54 62 37.758 75.608 23,8 82,0
municípios que dispunham de coordenações ou órgãos da juventude, com exceção de Duque de Caxias
e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque de Caxias foi realizado em data
anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene D’Almeida, subsecretária de Ações Seropédica RJ 2 2 3 5 2 8 8.367 12.905 35,9 62,0
Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando a equipe foi empossada, o prazo
para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação, inclui-se o município de Queimados.
20 21
  Fonte: MS/SVS/DASIS – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Dados preliminares de 2010.   Fonte: <http://www.mapadaviolencia.org.br>.

78 79
Esse breve panorama reafirma um quadro social para a juventude negra nários, responsáveis pelas diferentes funções – realização de palestras, divulga-
que oscila da exclusão ao extermínio. Os dados confirmam a persistência de ção, contratação, produção de eventos, organização de grêmios municipais etc.
uma situação desfavorável para a população juvenil negra, em todos os cam- Como principais gargalos vivenciados pelos jovens, nos municípios, os
pos da vida em sociedade. depoimentos identificam o acesso ao primeiro emprego, a entrada no mer-
A perenidade da situação de risco e vulnerabilidade vivenciada pelos jovens cado de trabalho e a qualificação profissional como principais demandas da
negros, ao longo do século XX e XXI, alia-se à lentidão na promoção de igual- juventude da região. Participação também foi uma demanda apontada por
dade entre os grupos étnico-raciais no contexto brasileiro. O acesso diferencial um dos entrevistados.
às oportunidades sociais (qualificação educacional, competitividade no mer- A percepção que possuem sobre as condições de vida dos jovens da Bai-
cado de trabalho, bens e atividades culturais, tecnológicas, informativas) vai, xada aproxima-se das opiniões coletadas nos grupos focais realizados com
com isso, perpetuando seus efeitos sobre o acesso a redes, grupos e associações, jovens e não jovens.
produzindo um escopo reduzido de oportunidades e experiências aos jovens. Um dos entrevistados posicionou-se a respeito do que é ser um jovem da
A resposta que a sociedade dará aos jovens que experimentam a etapa da região e dos desafios encontrados por eles: “[...] ser um jovem da Baixada é
juventude, manejando esse conjunto de desafios, vincula-se ao projeto cole- você “matar dois leões” todos os dias, porque, eu não gosto de falar isso, assim...
tivo de sociedade que se compromete a dotar de perspectivas positivas as Aqui... são poucos equipamentos culturais, é educação, é cultura, então! Você
novas gerações, sem distinção, assim como permitir-lhes o desenvolvimento vai em um shopping no Leblon tem não sei quantos cinemas, quantos teatros
de talentos e potencialidades. [...] eu acho que falta isso, essa parte cultural. Falta emprego, falta cursos, ape-
As pessoas que compunham as equipes das coordenadorias e superin- sar de ter instituições aqui. Falta opção pro jovem da Baixada Fluminense”.
tendências contatadas nos municípios possuíam entre 19 e 30 anos. Apenas A trajetória política dos gestores é bastante semelhante. Oriundos dos
um deles possuía idade superior a 40 anos. Há prevalência de homens nos movimentos estudantis e sociais da região, lideranças de grupos de juventudes
cargos de gestão. Ressalta-se que poucas foram as mulheres apresentadas de partidos políticos possuem experiência com a gestão pública, participaram
como parte das equipes dos organismos durante as visitas. Não se solicitou de programas como Parlamento Juvenil e grêmios estudantis e revelam inves-
que declarassem seu pertencimento étnico-racial. timento escolar e conhecimento da dinâmica política da região.
Moradores dos municípios, os entrevistados revelaram possuir distintas Foram recorrentes as críticas em torno da criação de uma concepção de “apa-
percepções sobre as principais demandas dos jovens dos municípios e da relhamento” das superintendências de juventude, colocadas a serviço de man-
própria região. Observaram como necessidades prioritárias a inserção no datos e blocos partidários entre alguns dos gestores entrevistados. Atribuem a
mercado de trabalho, a orientação profissional e a participação na vida polí- esse “modo de fazer política” à estagnação das Políticas Públicas de Juventude
tica do município. (PPJs) em seus municípios. Segundo um deles, “[...] quando você vira a discussão
Seus mandatos tiveram início a partir do pleito eleitoral de 2012/2013, e a de políticas de juventude, atendendo às demandas e orientações de determinado
estrutura dos organismos é bastante distinta entre os municípios. Ainda assim, partido ou segmento, necessariamente, você não vai ampliar essa ação”.
possuem, em comum, a necessidade de ampliação de espaços e equipamentos Os processos de transição entre um governo e outro se mostraram bas-
(sala adequada, mobiliário, computadores, impressoras), de pessoas para integrar tante instáveis. A maior parte dos entrevistados revelou não possuir registros
as equipes e da alteração do estatuto de coordenadoria para o de secretaria. de ações desenvolvidas nem de problemas quanto à destinação de orçamento
Se, em Mesquita e Belford Roxo, há funcionários divididos em gerências e específico, pelas gestões anteriores.
setores22, com funcionamento em sala específica, equipada e atendimento de Os entrevistados relataram que a ausência de orçamento específico para a
segunda a sábado (meio expediente), em outros municípios, por outro lado, realização das atividades impõe o exercício de articulação política, de compreen-
como em Nilópolis e Japeri, o gestor conta apenas com mais um ou dois funcio- são de onde estão alocados os recursos para, como disse um deles, “[...] desbravar
a máquina, tentando entortar ela antes que ela entorte a gente!”, brincou.
22
  Gerência de Comunicação Social (identidade visual, divulgação em redes sociais e relacionamento Outro entrevistado avaliou que, talvez, em sua opinião, “[...] essa é a grande
com a juventude); de Políticas Educacionais (atuação nas escolas estaduais e municipais com enfoque na
participação e protagonismo juvenil), de Cultura (com ações especificas direcionadas aos jovens da Chatuba, dificuldade de todos os órgãos de juventude, do estado e do Brasil. [...] Nós não
bairro em que, em setembro de 2012, seis jovens foram assassinados por terem sido confundidos com
traficantes por uma facção rival), de Projetos e Assessoria Técnica (responsável pelo acompanhamento de
temos dotação orçamentária, temos a manutenção do órgão, o pagamento
programas e pelos processos de inserção profissional e qualificação profissional).

80 81
dos nossos salários. O que a gente faz é, desculpe a expressão, é sair com ‘o município. Segundo um dos entrevistados, a promoção do debate em 2014
pires na mão’, buscando quem tem para fazer acontecer”. teria como temática privilegiada a questão dos autos de resistência e a polí-
Os organismos de juventude estão sob o guarda-chuva de secretarias tica pública de segurança, tendo em vista o compromisso assumido com o
que possam transversalizar a temática da juventude em várias outras ações. Plano Juventude Viva. E esclareceu: “[...] a gente quer debater esse tema, a
Seguindo uma orientação nacional, dessa forma, reúnem outros grupos, tais gente quer usar o hip-hop para chegar na juventude com uma linguagem mais
como: mulheres, igualdade racial, LGBTs, consumidores, pessoas com defici- ‘ouvível’, buscando essa integração o tempo todo!”.
ência, entre outras parcelas da sociedade. No caso de Belford Roxo, um processo de adesão voluntária foi enca-
Quando perguntados sobre o recorte geracional, no diálogo com essas minhado à Secretaria Nacional de Juventude, por ter ficado de fora da lis-
identidades – jovens mulheres, jovens negros, jovens com necessidades espe- tagem dos municípios prioritários para inclusão no plano. A inserção no
ciais etc. –, os entrevistados foram convidados a falar sobre tais iniciativas. As plano, a criação de um Conselho de Juventude e Igualdade, busca atender
coordenadorias, via de regra, promovem oficinas, palestras, cursos em parce- às designações nacionais. Japeri, também, aguarda a tramitação e criação
ria com ONGs e escolas da região. do Conselho de Juventude e vem atuando na realização de palestras sobre
Na opinião de um deles, as ONGs que estão nas comunidades no Rio de a mortalidade de jovens nas escolas.
Janeiro deveriam voltar suas ações para a Baixada. Outro distinguiu as ações Atividades realizadas nas escolas, para jovens de 15 a 29 anos, em torno da
mais “comuns” – como prevenção sexual, DSTs e gravidez na adolescência, discussão sobe as “Novas Famílias” também foram citadas como exemplos de
denominando-as como iniciativas tipo “feijão com arroz”, um serviço básico ações construídas em articulação com outras secretarias, nesse caso, com a Supe-
–, das ações voltadas para ampliação do “protagonismo dos jovens”. Em sua rintendência de Diversidade Sexual de Nilópolis, para a prevenção do bullying.
visão, “[...] nem todos têm o debate da integração governamental, e como é bom A chave da diversidade também é acionada, facilitando a sensibilização e
ter essa interlocução. [...], por exemplo, o debate que procuramos fazer é um o trânsito da temática dos jovens nas demais secretarias e ações governamen-
debate político, de protagonismo e empoderamento dessas jovens mulheres”. tais. Mapeamentos sobre o número de jovens com deficiência, nos municípios,
O Festival Roque Pense foi uma das iniciativas citadas no campo da cultura os fluxos e números de acesso dos jovens aos serviços e programas oferecidos
que, intencionalmente, promove ações interseccionais e discute a questão de pelo estado e município (como o Vale Social, por exemplo) e outros direitos já
uma educação não sexista, na cultura alternativa da Baixada Fluminense, garantidos por lei para esses segmentos populacionais.
associada ao recorte geracional. O Festival foi o primeiro Circuito Rock de
bandas com mulheres, realizado na Baixada Fluminense. Dirigido por um
coletivo de produtoras culturais, com shows ao vivo, campeonato feminino de
skate, Girls in Ação, debates, oficinas e artes visuais, além de diversas ativida-
des promotoras de uma cultura antissexista. Sua primeira edição aconteceu
na Praça do Skate de Nova Iguaçu, de 21 a 24 de junho de 2012, e a segunda
edição, em outubro de 2013, no Paço Municipal de Mesquita, conforme infor-
mações disponíveis na internet23.
Outra manifestação citada como articuladora do pertencimento geracio-
nal e étnico-racial foi a Semana do Hip Hop, também realizada em Mesquita,
que detém o título de ter sido a segunda cidade a decretar esse evento, por
meio de legislação municipal.
Pela lei, a semana deve ter início, obrigatoriamente, no dia 21 de março,
que é o Dia de Combate à Discriminação Racial, o que posiciona como par-
ceira prioritária a Comissão de Proteção a Igualdade Racial  (COMPIR) do

23
  Conferir <facebook.com/RoquePense> e <http://www.roquepense.com.br>.

82 83
Embora afirmem trabalhar com todas as secretarias e reconheçam as jornada para os quatro cantos da cidade, especialmente as regiões mais peri-
questões que aproximam os jovens e a violência presente em seus municí- féricas, como, por exemplo, o Campo do Perim, a Vila Norma, áreas em que o
pios, o diálogo com as secretarias de segurança dos municípios dá-se, apenas, confronto é direto. [...] é ali que a gente tem que fazer essa disputa!”.
na solicitação de apoio aos eventos promovidos pelas coordenadorias, com Outro exemplo citado foi a ação Comunidade Melhor, em Belford Roxo,
intuito de resguardar a segurança dos jovens. em conjunto com a Superintendência de Assuntos Religiosos, de Juventude e
Os organismos de juventude aliam-se à rede de proteção básica, mediando de Igualdade Racial, assim definida para um dos entrevistados: “[...] ela nasceu
a aproximação entre as demais coordenadorias e os jovens e pautando temá- dessa interação. Surgiu dessa necessidade nossa de agir dentro do território.
ticas pertinentes. São eles que alinham os programas disponibilizados pelo Porque não adianta a gente querer ocupar um equipamento público, como esse
Governo Federal ProJovem Urbano, Pronatec e o Caminho Melhor Jovem, aqui, e esperar que os jovens venham até nós. Eu entendi o seguinte, que não dá
desenvolvidos pelos estados. para fazer isso. Tem que ir até as pessoas. [...] a intenção é modificar o território
No caso de Mesquita, adotou-se o seguinte formato, conforme depoimento com a transversalização de políticas. A gente trabalha com parcerias”.
de um gestor: “[...] aqui executamos assim: temos na Secretaria de Trabalho Relacionada como êxito pela coordenadoria, destaca-se, ainda, a
um programa chamado BEM – Banco de Empregos Mesquitense. Fizemos essa EcoNilópolis (agosto de 2012), ação integrada com a Secretaria de Meio
interface. Quando um jovem é atingido pelo programa do governo federal, Ambiente visando à conscientização dos jovens para a conservação pública
ele faz o curso de qualificação profissional, termina seu ensino médio... Qual e a preservação ambiental.
é a missão da coordenadoria de juventude? Encaminhar esse jovem para o Na opinião de um entrevistado, a atividade “[...] foi legal pra caramba!
mercado de trabalho, o que não é o papel do ProJovem Urbano”. Nós pegamos os jovens da rede pública estadual, municipal e particular. Nós
Entre os programas desenvolvidos, estão: o Programa Nacional de Acesso fizemos uma grande gincana [...], pegamos várias escolas, montamos um pro-
ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec, no momento da pesquisa de campo grama das tarefas que eles teriam que fazer e colocamos lá – garrafa PET, tan-
com previsão de início em 2014) na Associação de Bairro da Chatuba e na tos pontos, latinha – e tudo que se arrecadou, que foi mais de três toneladas,
Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC), e o programa ProJovem Ado- antes foi preparado com os alunos. Eles estavam preparados”.
lescente (atual Atitude Jovem), destinado a jovens de 15 a 18 anos, desen- A experiência como gestores públicos parece apontar novas necessidades
volvido em alguns Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) – com para a realização de iniciativas que atinjam os jovens de modo mais amplo.
aulas de canto, iniciação musical, dança etc., com um viés de ocupação do Para isso, dados e demais diagnósticos sobre a situação da juventude, na
tempo livre dos jovens. opinião dos gestores, precisam ser sistematizados. Um deles destacou como
Em relação ao acesso e à ocupação de vagas nos projetos e programas importante a realização de um Censo da Juventude da Baixada Fluminense,
disponibilizados pelo Governo Federal, destacou-se que há necessidade de que indicasse o que pensam, quantos são, o que querem.
investimentos na divulgação dos programas e na confecção de materiais e Outra percepção diz respeito à testagem de novos formatos de ativida-
ações de mobilização dos jovens, nas diferentes localidades nos municípios. des elaboradas e produzidas por jovens. Reconhecem, em alguns momentos,
Como ações estratégicas dos organismos de juventude, encontram-se a busca haver resistência quanto aos modelos inovadores na construção das iniciati-
e o estabelecimento de parcerias que promovam o primeiro emprego e a qua- vas destinadas aos jovens em seus municípios.
lificação profissional. Ao mesmo tempo, sublinham a necessidade de construir ações pontuais e,
Entre os organismos de juventude, a institucionalização de canais de diálogo gradativamente, institucionalizar projetos e políticas, mantendo regularidade
para os jovens nos municípios é tarefa a ser feita, conforme se depreende das na execução, tendo em vista os altos números de mortalidade e situações de
entrevistas realizadas. Em consonância com as orientações da Secretaria Nacio- vulnerabilidade entre os jovens, especialmente entre os negros.
nal de Juventude, os municípios estão em tempos diferenciados no processo de Sobretudo, parecem compartilhar a noção de que o foco das iniciativas deve
promoção de conferências e da constituição de conselhos de juventudes. englobar a promoção de serviços e oportunidades que contemplem e estabele-
A proposta do Juventude em Ação, em Mesquita, é levar o conjunto de çam canais de diálogo entre os distintos grupos de jovens – evangélicos, cató-
pacotes de programas e projetos, por meio de parcerias internas – Pronatec licos, hip hop, rock, negros, mulheres, skatistas, LGBTs etc. –, para apreensão da
e ProJovem. Segundo seus idealizadores, “[...] nossa ideia é estar levando essa vivência cotidiana da pluralidade de vozes, gostos, estilos e demandas.

84 85
SÍNTESES...

Ainda que inscritas em um complexo sistema de símbolos e conhe-


cimentos, as experiências vivenciadas nos criativos espaços de intervenção
social proporcionam aos que delas participam a oportunidade de ressignificar
pertencimentos, trajetórias e projetos para si e suas coletividades.
Garantias de estrutura mínima para a produção de suas atividades são
objeto da reivindicação de inúmeros sujeitos ao longo dessas décadas de
intensa produção cultural na Baixada Fluminense, bem como ações e iniciati-
vas que promovam maior visibilidade para a cultura da região, promotoras de
reelaborações identitárias pelos jovens.
Identifica-se, na articulação entre o projeto Brasil Próximo e o Fórum de
Gestores de Cultura da Baixada, a potencialidade de construção de um canal
de comunicação ampliado para a sistematização de um conjunto cada vez
mais diversificado de informações sobre o cenário cultural do município, de
modo a materializá-las em políticas públicas para a região. Políticas que dia-
loguem com a realidade, necessidades e interesses dos cidadãos.

Principais Eixos Temáticos levantados na pesquisa para metas e planos de ação:

• Positivação Territorial: ações que valorizem o território e alterem a quali-


dade de vida dos moradores, com oferta de serviços, lazer e oportunidades cultu-
rais, por meio da multiplicação dos equipamentos culturais; incentivo à produção
cultural dos grupos criativos; maior divulgação das ações para o público interno
e externo à região; implementação de ações e políticas culturais que levem em
consideração a variedade de demandas e necessidades da população; criação de
circuitos de memória com as múltiplas narrativas presentes na região;

• Políticas Intersetoriais: ações intersetoriais que adotem perspectiva


interseccional, compreendendo os jovens em seus aspectos multidimensio-
nais. Iniciativas que estimulem percepções, valorizem, fomentem e criem as
possibilidades e despertem o interesse pela cultura produzida no território;
incentivo a programas governamentais de estímulo à ampliação do horário
escolar e oferta de atividades culturais;

86 87
• Comunicação, Participação e Integração com as Políticas de Juventude:
promoção de ações que aproximem os jovens dos órgãos de cultura e de
juventude municipais; incentivo à realização de conferências e constituição
de fóruns e conselhos de juventude, para conhecimento dos projetos disponí-
veis e participação ativa na proposição de políticas aos jovens da região;

• Continuidade e Sustentabilidade dos Grupos: iniciativas e projetos que


viabilizem a profissionalização, formação, reciclagem ou aperfeiçoamento
dos membros dos grupos, em especial os jovens, para que consolidem suas
atuações, garantam continuidade e possam especializar-se com planos de
atuação profissional de retorno aos próprios grupos; criação de novos meca-
nismos de divulgação que garantam a visibilidade das atividades culturais
desenvolvidas pelos grupos criativos; políticas públicas de fomento e finan-
ciamento permanente de cultura que visem à promoção das produções cultu-
rais da região; criação de equipamentos culturais que atendam às demandas
populacionais dos municípios; criação de conselhos municipais de cultura.

O projeto do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense foi


realizado com o objetivo de contribuir para a construção de políticas públicas Página inicial do site www.desenrolo.net

de cultura na Baixada Fluminense. A participação dos jovens na reflexão e


na formulação de metas e planos de ação que expressem seus interesses é
fundamental nesse sentido. Para que essas e muitas outras trocas aconteçam,
o projeto deixa como legado a criação de uma Plataforma Colaborativa, inti-
tulada Desenrolo – A Revista de Cultura e Juventude da Baixada Fluminense,
mídia de articulação e comunicação contínua entre grupos criativos, gestores
públicos e demais interessados, com ênfase na cultura e juventude.
O site Revista Desenrolo, composto por matérias que expõem as atividades
culturais e conteúdos que convidam os leitores a conhecer o universo da juven-
tude em questão, é altamente identitário. Essa revista online objetiva divulgar
os grupos criativos e estimular, em um processo contínuo, o protagonismo juve-
nil no cenário cultural da Baixada, ação que os impulsiona a fortalecer as redes
socioculturais de sua localidade e dar novos sentidos à sua realidade.

88 89
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90 91
Anexos
Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense?
ANEXO I - Relação dos Grupos Criativos Mapeados e Entrevistados (Municípios x Setores)
rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)

BelforD roxo Duque De Caxias Guapimirim itaGuaí Japeri maGé mesquita Nilópolis

grupo soul em rua bios crew folia de reis – ponto de cultura i.b. itaguaí b-boys centro cultural Eng. m.c. studios: a2 em gW cia. de alam – academia oficina de dança
Estrela do oriente guapimirim em rafael pedreira – cia. de performance performance de letras e artes de popular pitty rocha
andrade e a torre grupo Elementos de santa cruz da foco dança mesquita
serra instituto de dança dna2 cia. de dança Espaço de dança
banda Karamujos grupo Enigma grêmio recreativo de itaguaí cia. sonho e magia bfv ong mundo novo orquestra
(equipe de estudos) folia de reis Estrela musical guapiense – projeto brincando superpopular
banda tesouro do dalva do oriente assembleia de deus banda mohaulle dJ andrezinho força in dance de ler
céu associação cultural chaperó-coral monsenhor
grupo mx nascente pequena projeto curumim grêmio musical projeto artístico g.r.b.c. barreirense
charanga do folia de reis Estrela (orfanato musical) mageense força em dança de mesquita comunidade
caneco Hip Hop urbanos guia do oriente do Escola de música Evangélica de
bf gramacho ponto de cultura chiquinha gonzaga grupo de teatro butantã projeto libertare nilópolis
cineclube donana guapimirim em rua do bonfim (Eng. g.r.b.c. Homem
mundo Jovem por foco pedreira) capop the face tapete da vila Emil Entre aspas
coletivo pó de uma cultura de paz reisado flor grupo teatral mgt
poesia do oriente – flutuarte grupo sócio comendador rádio amadores raízes que tocam
federação de turma em cena cultural código g.r.E.s. chatuba de
bordados de preta mof – meeting of reisado do Estado associação cultural adriano g.r.E.s. flor de misternaka mesquita samba rap
(artesanato) favela do rio de Janeiro onda verde – tv grupo código – magé
(frerja) Escola abada capoeira cineclube banda alex Kid abadá capoeira universo paralelo
centro cultural pevirguladez cristiano guia de pacobaíba (núcleo mesquita)
donana capEm – centro acadêmicos do centro cultural banda dias Úteis coletivo peneira
teatro municipal aplicado de bananal casa África – (Eng. pedreira) parque imperador folia de reis
mofaia música e armando mello instituto global da banda layout 80 sempre viva do cia. Ágape de artes
pesquisa em
cultura (coletivo de (tEmam) acadêmicos do sociedade africana g.r.b.c. tradição de união da guarani oriente
Educação multi-
produção cultural) beira rio no brasil Japeri Encontro de b-boy – cia. os Encenadores
étnica
cineclube mate união do canal Evento folia de reis sete teatrais
com angu casa brasil imbariê acadêmicos do Ela – Escola livre centro cultural Estrelas do rosário
– centro cultural limoeiro de artes Eng. pedreira – unidos da barbuda grupo bocas & boas de maria
macaco chinês capoeira coletivo
casa do caminho caneca de ouro casa África – unidos do mundo rock no bf – Evento casa2fundos
biblioteca instituto global da antonio marcos novo rock no bf
comunitária solano centro cultural catedráticos de sociedade africana (artista plástico) grupo surgiu na
trindade casa de pedra citrolândia no brasil vila nova setor bf – Hip Hop artes plásticas noeli Hora
centro de cultura rocha
capa comics – festival rock pense coração da Quinta grupo folclórico luís Eduardo maron ponto de cultura Zé viaduto do rock cineclube toca da
Quadrinhos Quadrilha raio de de magalhães mussum de cultura Encontro de b-boy – coruja
g.r.b.c. mocidade luar popular grupo cultural Evento
bloco do china Jovens com uma alegre de cochicho na coxia cineclube ankito
missão – ong citrolândia instituto mestre irani ong mundo novo –
bloco império do beneficente fernades (capoeira) namarra produções coletivo coca-cola instituto sos
gramacho lira de ouro g.r.b.c. unidos da cidadão feliz reviver (teatro,
reta arte circense, artes
bloco simpatia do mof (meeting of plantando o futuro renascer andino basílio / basílio – o viaduto do rock – visuais)
Jardim primavera favela) grafites – gaviões da iconha (grupo popular de retorno Evento
Evento projeto garoto tradição boliviano) usina de criação
mensageiros da paz cidadão – fundação canal rebobina os apalhaxonados
g.r.b.c. Esperança ponto de cultura csn (diversas linguagens
de nova campina Estações da cultura de produção
piranhas do barril cultural e economia
g.r.b.c. unidos da criativa)
laureano terreiro de ideias piranhas do pssiu

g.r.b.c. flor de unidos da barreira Espaço paralelo


primavera
unidos da vila
g.r.b.c. unidos de olímpia
parada angélica
associação de folia
de reis Estrela
do oriente de
guapimirim

associação cultural
nascente pequena

associação setores
guipiense de
integração
renovadora
atividade audiovisual
Dança musical teatro
ponto de cultura Circense (cineclube, cinema, vídeo)
guapimirim em
foco
outros
manifestação (eventos/coletivos/
tecnoarte – Grupos entrevistados
literário Carnavalesco popular produtoras culturais/
instituto cultural ongs/centros culturais/
tradicional
92 tecnologia e arte espaços culturais)

* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.


Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense? rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)

Nova iGuaçu paraCamBi queimaDos são João De meriti seropéDiCa

academia de dança casa do menor são centro de projeto cultural art show cia. de dança ney grupo autonomia – g.r.b.c. cirrose do g.r.E.s. matriz de cia. municipal de
luciana bessa miguel arcanjo integração social canto do curió andrade batalha de rimas vilar são João de meriti dança
inzo ia nzambi as impecáveis / as
cEta – centro (ciZin) – afoxé origami amassado prepotentes cia. Zouk meriti impulso coletivo alegria do botânico os bebum da grupo freedom
Escola de dança de Experimental de maxambomba clemente dance
nova iguaçu teatro e artes cia. faces Espaço de dança duda break Jackballa’s
associação abadá produções roseli ramos bloco alegria do Escola de capoeira mc badu
grupo novos passos av. brasil instituto capoeira de nova grupo arte carioca mundana vilar manduca da praia
de criatividade lguaçu cia. faces associação de paralelo trio
social produções bandas e fanfarras grupo de dança orquestra e coral bloco chega mais feira de artesanato
grupo ruart centro de do Estado do rio de orlandokids – municipal de são banda marcial
cineclube buraco integração arte boomerangs moto Janeiro (aabafErJ) Escola municipal João de meriti bloco da abelhinha municipal de
laboratório do getúlio capoeira (ciac) clube orlando francisco folia de reis Estrela seropédica –
cultural Quebrando do oriente deus é famusE
cineclube digital cordel com a corda batidas & rimas grupo folclórico protocolo bloco da associação nosso guia
maracatu baque da toda de danças caipiras carnavalesca orquestra sinfônica
mata comcausa – coral ccaa chega mais rota Espiral meritiense fundação capoeira opus
comunicando federação capoeira
associação cultural rio das cobras fire music grupo Kids tempos de vinil teatro gustavo
bel’art rio Eduqvida – company bloco das piranhas grupo folclórico dutra br
programa de fita crepe cia. cenáculo gonzagão do
Educação e grupo iguassuano grupo two c teatral – teatro bloco de Embalo pavilhão cine casulo
associação dos Qualidade de vida de acessibilidade rádio novos rumos cristão À sombra da
amigos da Escola (gia) Kairós amendoeira instituto Zumbi vive feira de artesanato
de música de Escola livre de cia. cerne
comendador soares cinema de nova instituto de companhia teatral mb dance bloco de Embalo
iguaçu desenvolvimento Queimados Encena cia. de Jovens raiz da vila são ilê omulú e oxum Quadrilha
cultural (indEc) meriti urbano griôt’s da baixada José – ong folclórica flor do
bala solta laboratório cítrico grupo teatral lírio
instituto de atitude a bússola cia. teatral arte bloco do mestiço casa da cultura
cfm – Escola de comunidade pesquisa afro objetiva almoço com arte
música 2669-1089 assistencial chico cultural odé gbomi grupo teatral amc da baixada bloco dos xavantes centro cultural e cultura no Erva
mendes florescer a.f. fluminense – cia. tudo vira cena nossa casa doce
curso de música associação do
tokai movimento baixada centro de associação circo movimento de grupo caras e bloco sindicato instituto amarelo cac – centro de
literária integração social social baixada compositores bocas do boi – ong arte e cultura da
Entre aspas amigos de nova Era ufrrJ
g.r.E.s. arrastão de Espaço cultural coral Emcanto grupo de teatro g.r.b.c. acEmpa Jardim dos
genômades miguel couto Queimados Encena amor e arte Estranhos – Evento centro de memória
Espaço cultural coral nossa da ufrrJ
pirão discos g.r.E.s. Esperança casa de anyê Espaço cultural senhora aparecida legionários da arte g.r.b.c. alegria da madrigal nova
do amanhã Queimados Encena Índia Harmonia – ong
associação fábrica aamEm.com coral nossa
de atores e material g.r.E.s. imperial – associação associação senhora da glória oficina de teatro g.r.b.c. boca de nossa galeria de
artístico – f.a.m.a. de nova iguaçu dos amigos da desportiva e vanda moraes sabão artes
romildo Escola de música cultural brasileira coral nova aliança
comunitária de de capoeiragem circo Escola g.r.b.c. ong assistencial
casa do menor são g.r.E.s. império da comendador soares coro arte cânora benjamin de independente da mão amiga lutando
miguel arcanjo uva Eterno Enigma oliveira – projeto praça da bandeira pela vida
coro madrigal nova tEpir
centro de g.r.E.s. império de tarântulas moto Harmonia g.r.b.c. inocentes projeto brincando
integração social cabuçu casa da cidadania clube cinema de do guarany com o abelhinha
amigos de nova Era – pronasci – coro municipal de guerrilha
g.r.E.s. leão de secretaria Estadual são João de meriti g.r.b.c. morro de projeto Kbeçativa
nova iguaçu de assistência coletivo grito do fome, mas não
cEta – centro social Escola municipal de silêncio trabalho
Experimental de g.r.E.s. música de são João
teatro e artes lndependente de conexão modelos de meriti academia de letras g.r.b.c. turma do
nova américa e artes de são João serrote
cia. Encena Emaús fraternidade gente Estranha no de meriti
movimentos g.r.E.s. tupi e solidariedade Jardim g.r.b.c. vem que
Enraizados biblioteca nossa vem
casa
grupo de teatro Encontrarte –
aplEm – associação festival de teatro
de pastores e
líderes Evangélicos laboratório cítrico
mundiais – núcleo de artes e setores
atividades

movimento
grupo rEnac – Enraizados atividade audiovisual
Dança musical teatro
renascer artes Circense (cineclube, cinema, vídeo)
cênicas

outros
manifestação (eventos/coletivos/
literário Carnavalesco popular produtoras culturais/ Grupos entrevistados
tradicional ongs/centros culturais/
94 espaços culturais)

* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.


ANEXO II - Relação dos Grupos Criativos Entrevistados nos Municípios

Mesquita Queimados
Guapimirim Abadá Capoeira (Núcleo Mesquita) - Capoeira
As Impecáveis / As Prepotentes - Dança
Artes Plásticas Noeli Rocha - Artes Visuais
Paracambi Associação Circo Social Baixada - Atividade Circense
Magé Banda Dias Úteis - Musical
Associação Desportiva e Cultural Brasileira de Capoeiragem -
Duque de Caxias Banda Layout 80 - Musical
Nova Iguaçu Manifestação Popular Tradicional
Japeri Basílio / Basílio – O Retorno - Audiovisual
Companhia Teatral Queimados Encena - Teatro
Canal Rebobina - Audiovisual
Fire Music - Musical
Folia de Reis Sete Estrelas do Rosário de Maria - Manifestação
Rádio Novos Rumos - Musical
Queimados Belford Roxo Popular Tradicional
G.R.E.S. Chatuba de Mesquita - Carnavalesco
Grupo Cultural Cochicho na Coxia - Teatro São João de Meriti
Seropédica São João de Meriti GW Cia. de Performance - Dança Academia de Letras e Artes de São João de Meriti - Literário
Mesquita ONG Mundo Novo – Projeto Brincando de Ler - Literário AMC da Baixada Fluminense – Associação do Movimento de
Rock no BF - Musical Compositores - Musical
Nilópolis
Setor BF – Hip Hop - Musical Bloco das Piranhas - Carnavalesco
Itaguaí Viaduto do Rock - Musical Bloco de Embalo À Sombra da Amendoeira - Carnavalesco
Bloco de Embalo Raiz da Vila São José - Carnavalesco
Bloco do Mestiço - Carnavalesco
Nilópolis Centro Cultural Nossa Casa - ONG
Cia. Ágape de Artes - Teatro
Cia. Cerne - Teatro
Cineclube Ankito - Audiovisual
Cia. de Dança Ney Andrade - Dança
Entre Aspas - Musical
Cia. Tudo Vira Cena - Teatro
Grupo Surgiu na Hora - Teatro
Cia. Zouk Meriti - Dança
Instituto SOS Reviver - ONG
Cinema de Guerrilha - Audiovisual
Oficina de Dança Popular Pitty Rocha - Dança
Guapimirim Samba Rap - Musical
Escola Municipal de Música de São João de Meriti - Musical
Belford Roxo Associação Cultural Nascente Pequena - Centro Cultural
Universo Paralelo - Musical
Folia de Reis Estrela do Oriente Deus é nosso Guia -
Andrade e a Torre - Musical Associação Cultural Onda Verde – TV Escola - Audiovisual Manifestação Popular Tradicional
Banda Tesouro do Céu - Musical Associação de Folia de Reis Estrela do Oriente de Guapimirim - Fundação Capoeira - Manifestação Popular Tradicional
Centro Cultural Donana - Centro Cultural Manifestação Popular Tradicional Nova Iguaçu G.R.B.C. Boca de Sabão - Carnavalesco
Charanga do Caneco - Musical Flutuarte - Atividade Circense Academia de Dança Luciana Bessa - Dança G.R.B.C. Independente da Praça da Bandeira - Carnavalesco
Coletivo Pó de Poesia - Literário G.R.B.C. Mocidade Alegre de Citrolândia - Carnavalesco Associação Abadá Capoeira de Nova lguaçu - Manifestação G.R.B.C. Inocentes do Guarany - Carnavalesco
Mofaia Música e Cultura (Coletivo de Produção Cultural) - G.R.B.C. Unidos da Reta - Carnavalesco Popular Tradicional G.R.B.C. Morro de Fome, Mas Não Trabalho - Carnavalesco
Produção Cultural Grêmio Recreativo Musical Guapiense - Musical Centro de Integração Social Inzo Ia Nzambi (CIZIN) – Afoxé G.R.E.S. Matriz de São João de Meriti - Carnavalesco
TecnoArte – Instituto Cultural Tecnologia e Arte - ONG Maxambomba - ONG Gente Estranha no Jardim - Musical
COMCAUSA – Comunicando - Audiovisual Grupo de Dança Orlandokids – Escola Municipal Orlando
Duque de Caxias Escola de Dança de Nova Iguaçu - Dança Francisco - Dança
Biblioteca Comunitária Solano Trindade - Literário Itaguaí Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu - Audiovisual Grupo Folclórico de Danças Caipiras Chega Mais - Dança
Bios Crew - Dança Casa África – Instituto Global da Sociedade Africana no Brasil - ONG
G.R.E.S. Império do Cabuçu - Carnavalesco Grupo Two C - Dança
Casa Brasil Imbarié - Centro Cultural
G.R.E.S. Leão de Nova Iguaçu - Carnavalesco Ilê Omulú e Oxum - ONG
G.R.B.C. Esperança de Nova Campina - Carnavalesco
G.R.B.C. Unidos da Laureano - Carnavalesco
Japeri Grupo de Teatro APLEM – Associação de Pastores e Líderes Instituto Amarelo - ONG
Centro de Cultura Luís Eduardo Maron de Magalhães - Centro Cultural Evangélicos Mundiais - Teatro Instituto Zumbi Vive - Manifestação Popular Tradicional
G.R.B.C. Unidos de Parada Angélica - Carnavalesco
Grupo de Teatro do Bonfim (Eng. Pedreira) - Teatro Grupo RENAC – Renascer Artes Cênicas - Teatro Madrigal Nova Harmonia - ONG
Grupo Enigma (equipe de estudos) - Dança
Grupo Sócio Cultural Código - Teatro Laboratório Cultural - Dança Oficina de Teatro Vanda Moraes - Teatro
Hip Hop Urbanos BF - Dança
Projeto Curumim (orfanato musical) - Musical Maracatu Baque da Mata - Dança ONG Assistencial Mão Amiga Lutando pela Vida - ONG
Jovens com uma Missão - ONG
Movimento Enraizados - ONG Orquestra e Coral Municipal de São João de Meriti - Musical
Macaco Chinês - Cineclube
Pirão Discos - Musical Projeto Brincando com o Abelhinha - ONG
Mundo Jovem por uma Cultura de Paz - Dança Magé
Pevirguladez - Musical G.R.E.S. Flor de Magé - Carnavalesco Rota Espiral - Musical
Reisado Flor do Oriente – Federação de Reisado do Estado do Grêmio Musical Mageense - Musical Paracambi
Rio de Janeiro (Frerja) - Manifestação Popular Tradicional M.C. Studios: A2 em Performance - Dança Cia. Faces Produções - Teatro Seropédica
Teatro Municipal Armando Mello - Teatro Ponto de Cultura Zé Mussum de Cultura Popular - Centro Cultural Origami Amassado - Musical CAC – Centro de Arte e Cultura da UFRRJ - Centro Cultural

96 97
ANEXO III - Quantitativo dos Grupos Mapeados e Entrevistados por Municípios e Setores

Municípios Setores

Audiovisual
Manifestação Total por Município Total por Município
Dança Musical Teatro Atividade Circense (cineclube, cinema, Literário Carnavalesco Outros
Popular Tradicional Mapeado Entrevistado
vídeo)

BELFORD ROXO 1 4 1 1 1 2 10 6

DUQUE DE CAXIAS 6 2 1 2 2 7 4 10 34 14

GUAPIMIRIM 1 1 2 1 1 14 1 4 25 8

ITAGUAÍ 2 2 2 2 6 14 1

JAPERI 2 2 2 1 1 1 1 4 14 4

MAGÉ 1 2 11 1 15 4

MESQUITA 6 10 1 3 2 3 3 5 33 14

NILÓPOLIS 1 7 5 2 3 18 8

NOVA IGUAÇU 6 8 7 2 7 2 8 8 9 57 14

PARACAMBI 1 1 1 1 1 5 2

QUEIMADOS 3 6 3 1 1 1 1 2 18 6

SÃO JOÃO DE
11 19 9 1 1 3 22 6 10 82 33
MERITI

SEROPÉDICA 2 4 1 1 2 3 13 1

Total Geral - Total Geral -


TOTAL POR SETOR 43 68 34 5 21 12 66 29 60
Mapeado Entrevistado

338 115

GRUPOS
ENTREVISTADOS - 17 24 2 8 4 18 10 19 115
Setores

98 99
Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo
Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo
Créditos Institucionais - Equipe Mapeamento
Japeri
Equipe de Coordenação Brasil Próximo
Cesar Marques - Coordenador Se Essa Rua Fosse Minha (SER)
Itamar Silva - Coordenador Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase)
Vittorio Chimienti - Coordenador Comitê Internacional para o
Desenvolvimento dos Povos / Comitato Internazionale per lo Sviluppo
dei Popoli (CISP-Brasil)
Coordenadora Técnica – Mapeamento e Elaboração do Relatório
Mônica Sacramento
Consultor para Tratamento dos Dados – Análise e Tabulação dos
Dados
André Luiz Regis de Oliveira
Mobilizadores e Pesquisadores
Ivan Machado e Lino Rocca (integraram a equipe até dezembro de
2013), Leandro Oliveira de Santanna e Marcos Paulo da Silva
Secretária e Pesquisadora
Jorginete Costa da Silva
Operadores e Pesquisadores
Alan Lima Alves, Carolina Bittencourt Mendonça, Janaína Oliveira
(ReFem), Jeniffer Ferreira de Lemos Silva, Letícia Aparecida de Morais
Paracambi
Inácio, Pâmela de Paula da Silva, Priscilla da Silveira Campos de
Oliveira, Sílvia Cristina Machado Oliveira e Sueny Santos Nogueira

Ficha Técnica Publicação


Coordenação Editorial
Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Cesar Marques e Itamar Silva
Produção Editorial
Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Simone Martins, Sílvia Cristina
Machado Oliveira, Aline Rochedo e Delmar Cavalcante
Projeto Gráfico e Diagramação
Disarme Grafico - Bruno Ventura e Daniel Ventura
Preparação de Originais e Textos
Aline Rochedo, Silvia Cristina Machado e Rogério Jordão
Revisão
Simone Martins
Fotos
Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo:
Danilo Sérgio (p. 63, 66, 67 e 75) e Felipe Reis
Baixada Fluminense:
Igor Freitas (p. 2, 6, 15, 83 e 91)

Sites Coordenação Brasil Próximo


Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
www.ibase.br São João de Meriti
Se Essa Rua Fosse Minha (SER)
www.seessarua.org.br
Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos / Comitato
Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli (CISP)
www.developmentofpeoples.org
Duque de Caxias

Nilópolis

Guapimirim

Magé

Mesquita
Nova Iguaçu

Realização

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