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Dificuldade Na Compreensão Da Leitura, Uma Abordagem Metacognitiva PDF
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ARTIGO LV
ORIGINAL
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Nem a escola pública, nem a particular, têm um sentido (informação que já está dada nele).
assumido a responsabilidade de tornar a leitura Não se pode encarar o texto apenas como um
e a escrita significativas 4 . Deste modo, é produto, e sim procurar observar o processo de
fundamental que a escola promova atividades de sua produção, e logo, da sua significação. Sendo
atribuição de sentido à leitura, através de seu uso assim, correspondentemente o leitor não apreende
para algum fim importante, pois se sabe que isto meramente um sentido que está lá; o leitor atribui
tem influência sobre o sucesso das crianças na sentidos ao texto. Ou seja, a autora enfatiza que
alfabetização e em toda a escolarização de um a leitura é produzida e se procura determinar o
modo geral4. processo e as condições de sua produção6.
É claro que, essa necessidade torna-se Segundo a autora, a escola tal como existe,
naturalmente maior quando se sabe que uma em referência à leitura, propõe de forma
proporção notável de crianças das camadas homogênea que todo mundo leia como a classe
populares poderá vir para a escola sem ter sido média lê. Para não se submeter a esse redu-
exposta a atividades significativas de leitura e cionismo, “deve-se procurar uma forma de leitura
escrita. Sabe-se que as oportunidades de que permita ao aluno trabalhar sua própria
exposição das crianças das camadas populares à história de leituras, assim como a história das
leitura são mais reduzidas em conseqüência de leituras dos textos, e a história da sua relação
viverem em ambientes em que a leitura e a escrita com a escola e com o conhecimento legítimo”6.
não constituem instrumentos importantes, nem A partir do exposto acima, fica evidente a
para o trabalho nem para a diversão, enquanto necessidade urgente da escola rever e repensar
que as crianças das camadas dominantes vivem seu papel em todos os seus aspectos, salientando
em ambientes de alta valorização da leitura e em particular o ensino da leitura e compreensão
escrita. de texto. É necessário que os profissionais da
Jolibert5 levanta a questão: O que a escola educação tenham preparo e qualificação
deve fazer para utilizar e desenvolver, e não adequados, a fim de que possam realmente
contrariar, as competências que as crianças vão conhecer seus alunos, compreender como estes
construindo com relação à leitura? Segundo a aprendem, e, então, tornar o processo de ensino
autora, não basta ajudar as crianças a construírem aprendizagem eficaz e, ao mesmo tempo,
o significado de um texto: “parece-nos ser prazeroso. Acreditamos que só assim a escola
necessário ajudá-las a entender como elas agem poderá resgatar no professor (competente e
para chegar a ele, isto é, um certo recuo com valorizado) o prazer de ensinar, pesquisar,
relação as suas estratégias espontâneas e descobrir, criar e, resgatar no aluno, o prazer de
beneficiar as instauradas pelos demais”. aprender.
A autora refere que quando se fala em
“questionamento de texto” são as crianças que Leitura e Metacognição
devem questioná-lo para extrair seu sentido, ou ‘Detectar ” e ‘Reparar ” os problemas que
melhor, que aprendam a questioná-lo com a surgem durante a leitura são habilidades
ajuda do professor, e não que é o professor quem (estratégias) chaves para a compreensão de um
“faz perguntas de compreensão” sobre o texto, texto. Infelizmente, nem todos os alunos
como freqüentemente ocorre nas escolas. desenvolvem estas habilidades.
Para Orlandi6, a leitura deve ser considerada De acordo com a literatura que aborda o
em seu aspecto mais conseqüente que não é o da aspecto cognitivo das dificuldades de
mera decodificação, mas o da compreensão. Na aprendizagem, problemas de compreensão de
perspectiva da análise do discurso, que é a que texto são intimamente relacionados ao
a autora assume em relação à leitura, não existe desenvolvimento inapropriado de habilidades
em uma leitura de texto, apenas apreensão de metacognitivas no aluno. Estas habilidades
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palavras e leram por um período de 10 minutos. da Bruxa Onilda), solicitando que a examinadora
A seguir, escreveram durante 30 minutos, trouxesse outras “parecidas”. Passamos a utilizar,
contando com suas próprias palavras, e sem então, as histórias desta coleção durante todo o
recorrer ao texto, tudo o que haviam lido. Os desenvolvimento do trabalho. O tópico “Bruxas”
alunos eram alertados para que, naquele lhes pareceu atraente, a linguagem era simples
momento, não se preocupassem com a ortografia e adequada ao grupo, as histórias tinham um
das palavras e sim com as idéias da história que fundo cômico e as ilustrações eram coloridas e
deveriam re-contar. Esta atividade foi realizada bonitas.
em dois momentos, no início (Recall 1) e no final Alguns trabalhos mostram como a estrutura
do trabalho (Recall 2). de determinados textos pode dificultar ou facilitar
Os textos utilizados foram previamente a compreensão do leitor. Os alunos podem
divididos em “unidades de idéia”. Esta tarefa tem encontrar menor dificuldade na interpretação de
por objetivo verificar a porcentagem de unidades uma narração do que diante de um texto
de idéia que o aluno produz (número total de expositivo. Isso porque na narração se recria
idéias escritas pelo aluno, dividido pelo número o que já se sabe, enquanto que nos textos
total de idéias presentes no texto). expositivos adquirimos normalmente informação
As passagens dos textos foram extraídas da nova sobre o mundo, com todas as exigências que
coleção da Bruxa Onilda de E. Larreula e R. requer aprender de forma autônoma.
Capdevila, tomando cuidado para que as duas No terceiro encontro, foi realizada a atividade
histórias utilizadas como Recall 1 e 2 tivessem o do Par Educativo: “Desenhe uma pessoa que
mesmo nível de dificuldade e o mesmo número ensina alguma coisa a alguém que esteja
de unidades de idéia. aprendendo, em seguida, escreva a história do
Além deste instrumento informal de desenho”. Com esta proposta pode-se observar a
compreensão de texto, utilizamos também a visão que as crianças têm a respeito da relação
observação sistemática das produções individuais existente entre aquele que ensina e aquele que
de cada participante no decorrer do processo de aprende. Através desta atividade (desenho e
intervenção com as estratégias. escrita) pode-se conhecer melhor os alunos com
relação aos vínculos que estes estabelecem ou
Procedimento não com a aprendizagem, o impacto que as
Inicialmente minha preocupação era dificuldades escolares causam em suas vidas e
estabelecer um vínculo com os alunos, procu- suas expectativas com relação à escola.
rando conhecer suas características, interesses e Após estes três encontros, o grupo realizou o
necessidades. Para tanto, foram realizadas ativi- primeiro Recall teste. A etapa seguinte foi dar
dades durante três encontros. Em dois destes início as atividades de intervenção que envolviam
encontros, o foco do trabalho foi contar histórias. o ensino de estratégias cognitivas de compreensão
Inicialmente as histórias eram lidas em voz alta de texto, pelo examinador, durante 15 sessões
pela examinadora e, após, as crianças eram de 50 minutos, realizadas em uma sala cedida
convidadas a: pela escola. Finalmente, logo após o término do
a) Contar para os colegas a parte da história que período de ensino das estratégias, os alunos
mais gostaram. fizeram o segundo Recall Teste.
b) Desenhar a parte mais divertida da história.
c) Fazer perguntas aos colegas sobre a história. As estratégias
d) Fazer perguntas para a professora. Primeiramente, discutiu-se com as crianças o
e) Inventar um final diferente para a história. conceito de estratégia (O que é?) e sua finalidade
As crianças manifestaram um grande (Para que se usa?), procurando sempre fazer
entusiasmo pela primeira leitura feita (As férias relação entre os conceitos discutidos e as
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experiências de vida do grupo (Você usa Com esta estratégia, os alunos, nos pequenos
estratégias? Dê alguns exemplos.). grupos, elaboravam as perguntas, utilizando as
A seguir, houve o direcionamento do trabalho palavras interrogativas, e entregavam para que
no sentido de motivar e destacar a importância outro grupo pudesse respondê-las. As respostas
do uso de estratégias que nos auxiliam a melhor eram “corrigidas” pelos autores das perguntas,
compreender a leitura. que deveriam sempre argumentar com os
A primeira estratégia trabalhada foi a colegas quando não concordassem com as
CHECAR. respostas dadas.
Por fim, a estratégia PARAFRASEAR foi
apresentada aos alunos. O uso desta estratégia
CHECAR
requer a utilização adequada das duas
1. Leia o parágrafo. anteriores, como mostra o quadro abaixo:
2. Pare de Ler e pergunte: “Eu entendi o que acabei
de ler?” “Faz sentido para mim?”.
PARAFRASEAR
3. Se tu entendeste, vá em frente com a leitura.
1. Use as estratégias CHECAR e QUESTIONAR.
4. Se não entendeste, volte para o início do
parágrafo e leia novamente. 2. Escreva com suas próprias palavras (sem copiar
do texto) as respostas para as perguntas que
fizeste.
Os alunos liam os parágrafos e, em trios,
elaboravam as perguntas, para que depois
apresentassem os seus achados aos demais Neste momento, os alunos, a partir das
colegas. Foi discutida com o grupo a importância respostas que haviam encontrado às perguntas
de fazer perguntas mais “difíceis”, aquelas cujas feitas pelos colegas, construíam a paráfrase do
respostas não eram facilmente encontradas no texto. Contar o que o texto diz com as próprias
texto. Do mesmo modo, foi enfatizada a palavras era, sem dúvida, um desafio para todos
importância de se responder às perguntas de que tinham muito presente o modelo da cópia
forma clara e completa, e de recorrer novamente e da reprodução, bastante valorizado na sala
à leitura do parágrafo, quando não fossem de aula e, conseqüentemente, muito presente
capazes de responder às perguntas. na forma como os participantes se relacionavam
Passamos, então, para a aprendizagem e com o texto.
prática da segunda estratégia chamada
QUESTIONAR. Dinâmica do trabalho de intervenção
A dinâmica do ensinar, aprender e praticar
as estratégias envolveu trocas constantes entre
QUESTIONAR
os participantes e entre o examinador e os
1. Leia o parágrafo. participantes.
2. Pare e faça perguntas sobre o que foi lido do Inicialmente, o trabalho centrava na figura
tipo: O quê? Quem? Por quê? Como? Onde? do examinador que apresentava a estratégia
Quando? O que você faria se?, etc. passo a passo e auxiliava os alunos a colocá-la
3. Leia o parágrafo novamente para encontrar as em prática pela primeira vez. A etapa seguinte
respostas. exigia a participação ativa dos alunos que, em
pequenos grupos, trabalhavam com as estra-
4. Se não conseguires encontrar as respostas, volte
tégias, construindo suas hipóteses de trabalho,
para o início do parágrafo e leia novamente.
culminando com as práticas de trocas e apre-
5. Se puderes responder, sublinhe a resposta no sentações para os demais colegas. Nestes mo-
texto, destacando a pergunta que foi feita. mentos, o papel do examinador era de debater
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com os pequenos grupos as idéias que surgiam, Número total de Unidades de Idéias
desafiando-os a fazer novas perguntas, a pensar apresentadas pelos alunos no 2o Recall**
sobre o que estava escrito, a responder aos Alunos Pós-teste
questionamentos dos colegas, a reler o texto, Daniela 13
enfim, a verdadeiramente utilizar as estratégias Dreice 16
em questão.
Giane 10
Jonatan 16
RESULTADOS
Juliana 19
Priscila G. 16
Número total de Unidades de Idéias
Priscila S. 18
apresentadas pelos alunos no 1o Recall*
Sabrina 25
Alunos Pré-teste
Daniela 7 Vanessa 19
Dreice 5
Giane 6 aproveitar o trabalho de intervenção com as
Jonatan 5 estratégias de compreensão de texto. Após
Juliana 3 terem aprendido as três estratégias e experi-
Priscila G. 4 mentado o uso destas - através de uma prática
Priscila S. 11 que os convidava a tomar uma postura bastante
Sabrina 12 ativa e questionadora diante da atividade de
Vanessa 9 leitura, os alunos foram capazes de produzir
uma maior quantidade de unidades de idéais
O primeiro Recal realizado pelos alunos neste segundo Recall.
evidenciou o elevado grau de dificuldades que Conforme a tabela abaixo, todos os alunos
os participantes desta pesquisa apresentavam individualmente apresentaram um aumento de
com relação à compreensão daquilo que lêem. unidades de idéias no pós-teste em relação ao
Na realidade, alguns deles ainda demons- pré-teste.
travam problemas na decodificação dos signos
lingüísticos, o que acabava necessariamente por
Número total de Unidades de Idéias
atrapalhar a compreensão. Outros apresen-
apresentadas pelos alunos no 1o e 2o Recall
tavam uma desorganização de pensamento no
que diz respeito à seqüência e à organização Alunos 1º Recall 2º Recall
dos eventos na história, muitas vezes repetindo Daniela 7 13
idéias e, outras, deixando aspectos importantes Dreice 5 16
de lado. Houve casos onde alunos destacaram Giane 6 10
aspectos secundários da história, considerando- Jonatan 5 16
os como idéias chaves, revelando uma dificul- Juliana 3 19
dade de apontar e diferenciar as idéias Priscila G. 4 16
principais dos detalhes. Priscila S. 11 18
O segundo Recall, conforme mostra a tabela Sabrina 12 25
acima, revelou o quanto os alunos puderam Vanessa 9 19
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SUMMARY
Difficulty in reading comprehension: a metacognitive approach
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