Você está na página 1de 3

A importância da saúde financeira na

sua vida
Preocupação constante, vergonha, angústia, perda de sono ou do apetite. Esses são
alguns dos sentimentos que costumam atormentar as pessoas endividadas ou que
vivem sempre no limite, sem saber se conseguirão pagar as contas do mês ou não.
Segundo estudos da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 8 em cada 10 inadimplentes sofrem
impactos emocionais negativos por conta de suas dívidas.

"46% dos brasileiros têm frequentemente ansiedade em


relação às suas finanças".
Outra pesquisa, divulgada no final de 2020 pelo Instituto Locomotiva, revela que 46%
dos brasileiros têm frequentemente ansiedade em relação às suas finanças e 47% se
sentem inseguros ao lidar com dinheiro. O medo leva 21% a não abrirem boletos e
extratos, por exemplo, e 39% sentem culpa e ansiedade só de pensar no orçamento.

O desequilíbrio financeiro afeta todos os aspectos da vida


O impacto dessa situação é gigantesco em um país com 67 milhões de inadimplentes
(dados do Mapa da Inadimplência, do Serasa, de junho de 2022). O desequilíbrio
financeiro afeta todos os aspectos da vida, incluindo relacionamentos e produtividade
no trabalho. E nem sempre os indivíduos conseguem lidar com isso de um jeito
saudável.

Sair das dívidas é o primeiro passo para melhorar a sua saúde


financeira
“Muitas vezes, as pessoas se fecham, sem querer falar sobre o assunto, fazendo de
conta que ele não existe. Endividados raramente falam sobre isso com a família, não
pedem ajuda, podem ficar melancólicos e deprimidos, sem explicar o que realmente
está acontecendo”, diz Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da Associação
Internacional para Pesquisa em Psicologia Econômica (Iarep) e professora de
psicologia econômica, finanças comportamentais e educação financeira.
Nesta matéria, ela ressalta que reconhecer os reflexos da desorganização financeira
na saúde física e mental é extremamente importante, ajudando a impedir que
endividados se afundem sozinhos em quadros como o de depressão.

Saúde financeira e saúde mental: qual a relação?


O Brasil é o país da América Latina com mais casos de depressão, além de ser o mais
ansioso do planeta, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
E uma das principais causas disso é o desequilíbrio financeiro. Segundo a professora
Vera Rita, a instabilidade financeira pode afetar diretamente a saúde mental, mas o
oposto também é verdadeiro.
“O endividamento gera estresse na maior parte das pessoas, e esse estresse leva a
um adoecimento. Sentimentos de culpa, raiva, desânimo, depressão, ansiedade,
angústia. Tudo isso pode ser gerado pelo endividamento e, quando esses sentimentos
se aprofundam, podem sinalizar um distúrbio mental.”
O inverso também é verdadeiro, diz a especialista: pessoas mentalmente fragilizadas
têm maior risco de se endividar, uma vez que a saúde mental pode afetar suas
emoções, tomadas de decisão e comportamentos. “Para uma pessoa ansiosa, que
está sempre em busca de um alívio para seus sentimentos, o consumo pode aparecer
como uma solução”, exemplifica. “Pessoas muito tristes ou depressivas podem
comprar demais ou se desfazer de bens por valores muito baixos, em situações de
luto ou separação.”

Os principais aspectos da má saúde financeira


Comportamentos impulsivos são responsáveis por muitos gastos sem planejamento,
mas até mesmo sensações aparentemente positivas, como o otimismo exagerado,
podem levar ao descontrole. “Existem pessoas que nunca enxergam o risco, portanto,
não veem razão para se preocupar ou se planejar”, lembra Vera Rita. Por outro lado,
pessoas excessivamente autoconfiantes podem até identificar os riscos, mas pensam
que nunca serão afetadas por eles. “Isso pode fazer com que elas comecem negócios
sem ter preparo suficiente, usem o crédito de forma descuidada e não enxerguem as
dívidas se acumulando”, explica.

# As dívidas
Os mais afetados por esses impactos são os endividados, mas a verdade é que o
dinheiro não é garantia de felicidade. “Não é sem motivo que os ricos estão cada vez
mais apoiados em medicamentos para dormir, acordar, reduzir a ansiedade e a
depressão”, aponta a especialista. Ter dinheiro o suficiente, portanto, não é garantia
de que a saúde mental estará em dia.

# Compra impulsiva x compra compulsiva


Cerca de 93% das pessoas com problemas de saúde mental gastam mais do que
deveriam, destaca um estudo do Money and Mental Health Policy Institute (Instituto de
Políticas de Dinheiro e Saúde Mental), do Reino Unido. A impulsividade, nos casos
mais graves, pode se transformar em uma doença que afeta as finanças e as diversas
esferas da vida. Esse distúrbio é chamado de transtorno do controle do impulso e tem
um nome científico: oniomania.
A compra é feita como uma válvula de escape, que gera alívio momentâneo e, muitas
vezes, a pessoa sequer abre ou usufrui daquilo que comprou. O aumento progressivo
do volume de compras e as tentativas frustradas de frear e diminuir compras podem
ser um sinal de alerta de que algo não está bem.

Saúde financeira e o túnel da escassez


Como vimos, problemas financeiros afetam diretamente o estado mental do indivíduo.
De acordo com o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro – I-SFB/FEBRABAN, 6 em
cada 10 brasileiros consideram que a maneira como cuidam de suas finanças não os
permite aproveitar a vida; 64,7% não têm segurança sobre o seu futuro financeiro e
58,4% afirmam que as finanças são motivos de estresse e que, de alguma maneira,
isso se reflete na vida familiar.
Isso pode ser desencadeado por algo recente, como a perda do emprego e da
principal fonte de renda, ou pode ser algo que já acompanha a pessoa por um tempo.
Independentemente do motivo, quem está endividado muitas vezes é absorvido pelo
problema e pode acabar entrando no chamado túnel da escassez.
“É o que acontece quando uma pessoa fica tão concentrada tentando fazer o mínimo
render o máximo possível, precisando constantemente fazer escolhas relacionadas ao
dinheiro”, diz Vera Rita. Devo pagar a conta de luz, gás ou comprar comida? Devo
priorizar isso ou aquilo?
“Essas constantes escolhas esgotam a mente e podem inclusive afetar o
autocontrole”, explica a professora. Isso porque, no chamado “túnel da escassez”, o
indivíduo vive negando aos seus desejos, vontades e necessidades e, muitas vezes,
perde a capacidade de decidir com propriedade o que fazer quando tem uma entrada
de dinheiro inesperada, por exemplo.

Como ter uma boa saúde financeira e aliviar o estresse


Diante de um cenário como esse, se prevenir e tomar alguns cuidados para manter
uma boa saúde financeira e mental é essencial. “É preciso começar a se organizar
assim que possível. Tente guardar uma parte do que ganha, desde cedo, para colocar
os juros compostos a serviço do aumento de seu patrimônio”, recomenda Vera Rita.

1. Poupar e planejar: comece hoje mesmo a melhorar sua


saúde financeira
Poupar regularmente, de forma automática, ajuda a dificultar as compras por impulso,
por exemplo. Existem vários métodos diferentes para isso, e é preciso entender qual
funciona melhor para cada pessoa. O principal deles é programar uma aplicação no
banco assim que o salário cai na conta. Há, ainda, o método dos envelopes, em que o
dinheiro para cada gasto mensal é colocado dentro de um envelope e só é usado para
aquela finalidade.
Fazer um planejamento financeiro, anotando despesas e ganhos é essencial para
entender a realidade da família e garantir que sempre sobrará dinheiro para todas as
contas. Vale a pena até mesmo incluir os filhos nesse momento, ensinando-os desde
cedo a ter uma relação responsável com o dinheiro.

2. Quitar dívidas com um bom plano de ação


Para quem está endividado, falar sobre o assunto sem vergonha ou culpa com a
família é essencial. Pessoas próximas podem ajudar a reverter a situação, formando
uma rede de apoio. Está gastando demais por conta da ansiedade ou estresse?
Existem diversas outras atividades que podem ter um efeito relaxante sem causar um
estrago no bolso.
“Procurar ajuda de um profissional de planejamento ou uma consultoria financeira
pode fazer toda a diferença para ajudar a reestruturar as dívidas”, aponta Vera Rita.
“Às vezes, a pessoa endividada fica muito perdida, o que pode ser agravado se ela já
estiver com a saúde mental abalada. Buscar uma terapia também é importante,
quando for o caso”, recomenda.

3. Cuidados com o cartão de crédito


Evite usar o cartão de crédito ou defina um limite de gastos baixo, crie dificuldades
para acessar aquilo que gera gastos, como os aplicativos de lojas, e busque ajuda
especializada. Essas são maneiras de, pouco a pouco, voltar a ter saúde financeira e
mental.

Você também pode gostar