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GESTÃO FINANCEIRA

AULA 5 – DÍVIDAS

APRESENTAÇÃO
Na aula anterior, foi mostrado como efetuar um bom planejamento financeiro visando uma
melhor qualidade de vida, fortalecendo o pensamento de médio e longo prazo e criando uma
reserva financeira para momentos difíceis. Mas e quando o contrário acontece? E quando, ao
se fecharem as contas, percebe-se que se está muito aquém do equilíbrio financeiro, ou seja,
se está endividado? Falaremos sobre isso nesta aula.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, você verá formas de evitar e de superar o endividamento.
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1 INTRODUÇÃO

A Bíblia mostra na Parábola do Filho Pródigo quais as consequências de uma vida


financeira desequilibrada para a vida de um jovem: “Jesus continuou: certo homem tinha dois
filhos o mais moço deles disse ao pai: pai, dá-me a parte da herança que me pertence. E o pai
repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais novo ajuntando tudo, partiu para
uma terra distante e ali desperdiçou os seus bens, vivendo irresponsavelmente. Depois de ter
gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.” Lucas
(15:11-14).
O relato de Lucas nesse capítulo começa com uma crítica dos fariseus e mestres da lei
sobre o acolhimento de Jesus para com os rejeitados da sociedade, ao quais chamavam de
pecadores (versículo 2). O Senhor conta duas histórias que retratam a condição do homem
perdido, sua condição pecaminosa e o que Deus faz para resgatá-lo. O filho mais novo desta
parábola pede a antecipação de sua herança que, consoante aos costumes da época, poderia
ser dada com regras específicas.
Ao contrário do seu pai, ele segue o caminho de uma pessoa descontrolada
financeiramente e a Bíblia mostra seus gastos e seus desperdícios, não tendo educação
financeira para administrar seus recursos de maneira sábia. A vida de endividamento e de
descontrole financeiro foi agravada por uma crise econômica (fome), que o levou de milionário
a miserável em pouco tempo, sendo privado até da alimentação. O texto é categórico em
mostrar que, como consequência de sua libertinagem em relação ao dinheiro, teve que se
submeter a um trabalho humilhante, no qual os animais que cuidava eram tratados melhor do
que ele (REDMACHER, 2010, p.188).
Observamos que a condição de descontrole financeiro também é um tema muito atual,
já que grande parte da população brasileira não planeja seu orçamento, está endividada, não
tem reservas financeiras e sequer sabe as entradas e saídas de sua renda mensal. Segundo a
pesquisa PEIC mensal da CNC, 79% dos entrevistados se declaram endividados, sendo o maior
índice médio histórico desse levantamento, iniciado desde 2010 (SARAIVA, 2022).
Todavia, o problema do endividamento no Brasil vai além, pois existem aqueles que não
conseguem mais honrar seus compromissos financeiros, tendo que escolher entre ter sua
subsistência ou pagar uma dívida. Tais indivíduos são chamados de superendividados, que,

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conforme a definição da Lei 14.181/2021, é a: “Impossibilidade manifesta de um consumidor,


pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, sem comprometer
seu mínimo existencial” (MARTINEZ, 2021, não paginado)
A empresa Serasa Experian fez um levantamento de alguns motivos que levam os
brasileiros a se endividarem e são eles: Aumento do desemprego, diminuição da renda familiar,
compras para terceiros, ausência de educação financeira, falta de controle dos gastos, atraso
de salários e doenças. Nesse artigo, é mostrado detalhadamente a definição de cada item acima
e sua consequência na vida cotidiana do brasileiro (SERASA EXPERIAN, 2018). Para finalizar,
o interessante é que um dos motivos acima é justamente a falta de educação financeira,
situação que motivou a criação desse conteúdo, na tentativa de reverter esse preocupante
quadro para os obreiros da casa do Senhor Jesus Cristo.

2 COMO NÃO ENTRAR EM DÍVIDAS

Um ponto importante na discussão sobre educação financeira é o hábito de consumo do


brasileiro. Para não entrar em dívidas, que proporcionam menos qualidade de vida, é
imprescindível melhorar a decisão de compra, ou seja, melhorar o comportamento financeiro.
Quando diante de uma decisão de consumo, às vezes, o consumidor não percebe que por trás
dela estão vários pensamentos e sentimentos atrelados a esse consumo. Logo em seguida,
porém, percebe que tomou uma decisão que foi prejudicial à vida financeira, por puro impulso
ou desejo descontrolado.
O primeiro filtro que se deve ter para não entrar em dívidas por um consumo mal
planejado é perguntar-se: O que está sendo consumido faz parte dos desejos ou das
necessidades da vida? O departamento de propaganda e marketing das empresas age para
transformar tudo em necessidade, oferecendo uma realidade de compra que mostra que tudo
é necessário, urgente e escasso. Com isso, fica difícil separar o que é realmente necessidade
do que é desejo, na lista enorme de consumo.
Na visão de Kahneman (2011), parte desse problema é resolvido com o entendimento
de que a mente humana funciona para julgamento e escolha em dois sistemas. O primeiro é o
sistema (1) rápido e automático: Um exemplo simples é perguntar quanto é “2+2” e a mente, de
forma rápida, dá “4” como resposta. Também, contextualizando, são aquelas compras que são

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feitas por impulso, de forma rápida e sem planejamento, não considerando o prazer
momentâneo da aquisição junto ao custo futuro monetário envolvido.
O sistema (2), é o devagar e analítico, serve para ajudar a resolver situações mais
complexas, como: Quanto é “37” vezes 38”? Aqui, com certeza, seria preciso planejar melhor a
resposta para a obtenção do acerto, analisando e calculando o resultado. Neste sistema (2), as
decisões de compra e seus julgamentos são planejados, podendo perder sua rapidez e
eficiência. Ambos os sistemas possuem benefícios e prejuízos, que só são observados no
momento das decisões, as quais, no caso, são as financeiras (KAHNEMAN, 2012, p. 28).
Com esse entendimento, antes de consumir qualquer coisa, é preciso perguntar: Preciso
disso? É uma necessidade ou um desejo? É urgente ou pode esperar? São reflexões muito
importantes que ajudarão a não entrar em dívidas por impulso, fazendo um planejamento
adequado de compras sem perder a qualidade de vida financeira. A dica prática é fazer um
orçamento por consumo, como, por exemplo: “Este mês vou separar um valor para roupas,
outro para lazer, outro para transporte” e assim por diante. Com isso, não haverá aquela
sensação de que o dinheiro acabou e não se sabe o porquê.

3 COMO SAIR DAS DÍVIDAS

Este assunto requer muita atenção e empenho. Aqueles que não tiveram ou não
praticaram as orientações acima caíram numa situação financeira difícil e precisam
urgentemente de uma solução. Não há uma solução única ou uma “bala de prata”, como diz o
ditado popular, para resolver de forma rápida a situação do endividamento: o problema é
complexo. Porém, há algumas dicas a serem fornecidas para aqueles que se encontram
endividados.
Primeiro, é necessário saber o tamanho do problema e junto com a família fazer uma
relação das receitas atuais e despesas, lembrando que todos são parte do problema, mas
também são parte da solução, que terão pela frente alguns momentos de restrição necessária
para a saúde financeira familiar, mas que, se todos cooperarem, esse momento será breve.
Com isso, é chegada a segunda fase do plano, onde todas as despesas devem ser
categorizadas. Aqui, a sugestão é revisitar os conceitos e a tabela do capítulo 4 desta apostila.
É importante saber quais são os custos obrigatórios e não obrigatórios (variáveis e não
variáveis). De posse dessas informações, claramente é possível começar a priorizar o que se

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deve manter ou o que já pode cortar de imediato. O foco inicial são os custos variáveis não
obrigatórios, onde normalmente se encontram os desperdícios, que não contribuem para a
qualidade de vida e que devem ser cortados imediatamente. Aquela academia que às vezes é
paga e não utilizada é um bom exemplo de desperdício. Também é preciso observar, na conta
corrente bancária e na fatura de cartão de crédito gastos recorrentes que acontecem e não
geram valor para o indivíduo e sua família. Nesses momentos, é imprescindível ser firme e ter
bastante protagonismo (MARTIN, 2018).
Outro importante ponto de desperdício é o pagamento de juros desnecessários. Às
vezes, há ofertas de juros bancários mais baratas para aquele tipo de dívida, como empréstimos
ou parcelamentos, a popular troca de dívida. Mas atenção! Tem que ser por juros mais baratos!
Os cálculos devem ser feitos, porque normalmente as instituições financeiras não divulgam
essas alterações, mas cabe ao indivíduo procurá-las, pelo simples fato de serem os maiores
beneficiados com isso.
Em resumo, uma vez que identificado o problema e levantado qual o seu tamanho pela
categorização, corta-se desperdícios e diminui-se a taxa de juros do fluxo de caixa, e assim, a
tendência é que a situação melhore, chegando ao equilíbrio das contas ou até mesmo iniciando
a sobra de algum valor mensal. Neste último, a sugestão é começar a fazer uma reserva de
emergência que, segundo especialistas, deve ser de três a seis vezes o salário mensal. Quando
chegar nesta fase, cuidado! A guarda não deve abaixar! É preciso continuar com o plano
constantemente e não apenas em momentos de crises.

4 CALENDÁRIO DE ELIMINAÇÃO DE DÍVIDAS

As metas e objetivos também fazem parte da vida de um endividado que deseja mudar
sua situação financeira. Se forem bem implantados, os conceitos mostrados no item anterior
irão promover uma melhor saúde financeira. Conforme o plano financeiro proposto, é normal
que, ao passar do tempo, alguns itens parcelados irão se findando. Aqui há uma ótima
oportunidade para não cair novamente na tentação de colocar outro item no lugar pela ausência
daquela despesa.
Exemplificando essa situação, supondo que na categorização apareça uma despesa fixa
não variável de um empréstimo pessoal que custa R$ 300 reais, terminando daqui a três meses.
O modelo mental, alavancado pelo sistema (1) rápido e impulsivo, logo achará uma forma de

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gastar este valor e aquilo que deveria ser uma sobra no orçamento logo desaparece ou pior,
não se sabe para onde foi. Que tal mudar esta visão da seguinte forma: dos R$ 300,00 usar de
30% a 50% (R$ 100,00 a R$ 150,00) para uma reserva financeira? O restante poderia ser usado
para melhorar a sua qualidade de vida ou da família, como recompensa da disciplina financeira.
É importante lembrar que esse valor já não era contabilizado para gastar, ou seja, ele
significava R$ 0,00 de sua reserva financeira e agora representa R$ 300,00. Por que gastá-lo
totalmente? Com bom senso, pode-se chegar a um meio termo.
O que fazer com a futura sobra resultante dos cortes nos desperdícios? Sobre isso,
Macedo (2010, p. 36) diz que: “Quando as pessoas começam a anotar os gastos, já costumam
reduzi-los em cerca de 12%. Isso acontece porque o ato de anotar faz você pensar duas vezes
antes de gastar.”
12% sobre o valor de um salário de R$ 10.000,00: Seria R$ 1.200,00 só de desperdício.
Nesse caso, a sugestão acima é de guardar até (50%) para reserva financeira e de usar o
restante em bens e serviços de forma consciente, para melhorar a qualidade de vida.
Ao reforçar o calendário de eliminação de dívida, sugere-se que sejam eliminados
imediatamente os desperdícios ou outras fontes de despesas que não geram qualidade de vida,
mesmo sendo pequenas ou grandes. Vê-se que as despesas fixas são as mais difíceis de
eliminar, por conta justamente de seu caráter essencial. Os exemplos são: água, energia,
despesas com alimentação etc. Ainda assim, acredita-se que esses itens podem ser gastos de
forma inteligente, reduzindo seu consumo ou comparando preços, no caso da alimentação. A
recompensa para a redução desses itens é de grande potencial a médio e a longo prazo, pois
são itens que sempre estarão no seu orçamento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta aula vimos a importância de administrar bem nossas finanças, o que inclui não se
endividar. Porém, havendo endividamento, vimos formas de sair de das dívidas e um calendário
que auxilia a realização desse processo. Sabemos que o dia mal vem para todos, muitas vezes
surgem imprevistos que acarretam gastos inesperados, mas com planejamento e sabedoria
podemos evitar ou nos livrar das dívidas.

REFERÊNCIAS

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva,
2012.

MACEDO, Jurandir Sell. A arvore do dinheiro: guia para cultivar a sua independência
financeira. 6. reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MARTIN, Érica. Guia de sobrevivência: Veja como controlar as finanças na crise. [S.l.],
2018. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/dinheiro/guia-de-sobrevivencia-veja-como-
controlar-as-financas-na-crise/. Acesso em: 30 out. 2022.

MARTINEZ, Fernanda. A lei do Superendividamento: saiba que muda na vida consumidor.


[S.l.], 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/07/lei-do-
superendividamento-saiba-o-que-muda-na-vida-do-consumidor.ghtml. Acesso em: 30 out.
2022.

REDMACHER, Earl; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, Wayne H. O novo comentário bíblico NT,
com recursos adicionais. Rio de Janeiro: [s.n.], 2010.

SARAIVA, Alessandra. Endividamento e inadimplência batem recorde pelo segundo mês


seguido em agosto, diz CNC. [S.l.], 2022 Rio de Janeiro. Disponível em:
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/09/05/endividamento-e-inadimplencia-batem-
recorde-pelo-2o-mes-seguido-em-agosto-diz-cnc.ghtml. Acesso em: 28 out. 2022.

SERASA EXPERIAN. Conheça as sete causas de inadimplência no Brasil hoje. [S.l.],


2018. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/estudos-e-
pesquisas/conheca-as-7-principais-causas-de-inadimplencia-no-brasil-hoje/. Acesso em: 30
out. 2022.

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