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QUADROS, Ronice Müller de.

Filosofias Educacionais Da História Da Educação De


Surdos No Brasil: Oralismo, Comunicação Total, Bilinguismo.

Objetiva explanar acerca do oralismo, da comunicação total e do bilinguismo na óptica dos


surdos, ressaltando suas características e abordagens. Estruturado em tópicos com as temáticas
já citadas no início e subtópicos mais específicos para melhor definição e afunilamento na
realidade dos surdos/mudos. Temos como princípios da abordagem oralista: aquisição da língua
falada, língua usada pela maioria das pessoas como a língua natural, para usá-la em casa, na
escola e viver “normalmente” no mundo ouvinte; a fala é considerada essencial, sendo a forma
que garante a integração total, alvo idealizado nesta abordagem; os sinais e o alfabeto manual
são proibidos, pois são considerados perigosos para o desenvolvimento da fala. O oralismo
passou a ser utilizado a partir do congresso de Milão em 1880, onde foi excluída todas as
possibilidades do uso da língua de sinais na educação de surdos. A partir de então, ela foi
proibida nas escolas de surdos. Sobre congresso de Milão, que ocorreu no ano de 1880, onde
se encontrava aproximadamente 100 educadores ouvintes que se reunirão pra discutir e decidir
a Educação dos Surdos, neste evento havia muitas pessoas importantes, entre elas, o escocês
Alexander Graham Bell, inventor do telefone, que era contra as línguas de sinais. Mãe e a noiva
de Bell eram surdas, e ele, considerável autoridade daquele período, argumentou sobre a
importância de os surdos aprenderem a ler lábios e articular sons. Essa argumentação sustentou
a votação quase unânime pela abolição da língua de sinais das escolas e pela implementação da
educação oralista. Esse congresso determinou que o principal objetivo das escolas de surdos
deveria ser o ensino da fala. O comitê organizador do congresso, era composto em sua maioria
por professores ouvintes. A princípio o evento ocorreria na cidade italiana Corno, mas foi
alterado para a cidade de Milão. Participaram nove países: França, Itália, Suíça, Suécia,
Inglaterra, Alemanha, Holanda, Áustria e EUA (todos os ouvintes). Porém, os 164 delegados
convidados eram oralistas. O congresso demorou três dias para votar as propostas e a maioria
votou a favor da exclusão da língua de sinais, com exceção de Edward Miner Gallaudet e
representantes da Suécia que eram favoráveis a manutenção das línguas de sinais. A proposta
oralista tinha como orientações básicas o seguinte: 1- Consideravam que a fala favorece o
desenvolvimento da criança surda e que elas deveriam ser admitidas na escola entre os oito e
os dez anos; 2- Aplicavam o método oral puro, nas escolas de surdos, as crianças recém-
admitidas sendo reunidas na mesma turma, onde se deveria instruí-las através da fala; 3- As

Rosângela Costa Sampaio do Curso Letras Língua Portuguesa, Língua Espanhola e Literaturas, em
disciplina de Libras. UEMA, turma de quarto período.
crianças eram separadas a medida que avançavam no seu desenvolvimento para começaram a
receber educação exclusivamente oral; 4- A crença de que o uso da língua de sinais prejudica o
desenvolvimento da língua falada, leitura labial e a clareza dos conceitos impôs o método de
fala pura. Como consequência desse Congresso, os professores surdos foram expulsos pelas
escolas de surdos. Eles continuaram a manter a línguas de sinais, transgredindo as orientações
do congresso e se encontravam às escondidas, pois acreditam que a língua dos surdos era
essencial a eles. Os resultados de período de obscuridade da educação de surdos foram
devastadores. Muitos alunos surdos não tiveram acesso à língua de sinais precocemente e com
isso acabaram tendo atrasos significativos de linguagem que implicaram em atrasos de ordem
escolar. A línguas de sinais só veio ser reconhecida pela comunidade científica a partir da
metade dos anos sessenta, com a publicação em 1965 da pesquisa do americano linguista
William Stokoe. Passadas mais de quatro décadas do reconhecimento da língua de sinais em
1965, apesar de os movimentos surdos, respaldados pelos achados científicos como os de
Stokoe, estarem mobilizados em favor do respeito à sua especificidade cultural e linguística, o
processo mostra dificuldade de avançar e pôr em prática aquilo que os surdos consideram seu
direito: o de aprender e se expressar em sua própria língua e desenvolver, já a partir da escola,
sua própria cultura. A ação da corrente oralista foi muito grave, pois passaram-se quase cem
anos, antes que pesquisadores percebessem o descompasso da prática pedagógica nas escolas
de surdos com as descobertas das neurociências e da psicologia cognitiva e dessem publicidade
a esse fato, para que as comunidades surdas tivessem o respaldo científico para começar a
articular novas ações. A questão da dependência dos surdos mistura-se com a questão da
deficiência. Essa supõe uma dependência em maior ou menor grau. Podemos dizer também que
ninguém é totalmente independente, seja um Estado, seja uma pessoa. Quando lutamos pelo
direito de termos professores surdos estamos lutando por um grau maior de independência. O
grau que estamos aptos a exercer. Uma pessoa surda tem, intelectual e fisicamente, o mesmo
potencial de uma pessoa ouvinte. Quanto a comunicação total, temos como princípios: 1-
Refere-se a um posicionamento “filosófico-emocional” de aceitação dos surdos e de exaltação
da comunicação efetiva, pela utilização de quaisquer recursos disponíveis; 2- Utiliza o ensino
“bimodal” (fala e sinais simultâneos) para o ensino da língua da comunidade majoritária através
da utilização de todos os recursos possíveis além da fala. A comunicação total, tem em vista a
utilização de todos os recursos disponíveis para se ter um contato afetivo com a pessoa surda
para o aprendizado da língua da comunidade majoritária: sinais gesto-visuais, leitura dos
movimentos dos lábios, escrita, uso de aparelhos de amplificação sonora, pistas auditivas e
elementos da língua de sinais, sem envolver diretamente o adulto surdo como referencial
linguístico para o educando surdo. Essa modalidade mista produziu um problema que é até hoje
questionado pelos surdos, que é a mistura de duas línguas, a língua portuguesa e língua de sinais
resultando numa terceira modalidade que é o português sinalizado. A falta de reconhecimento
da própria língua e de uma identidade surda, dentro das associações de surdos, faz com que os
surdos pensem que os ouvintes são os únicos que possuem as informações e esse sentimento
está mudando aos poucos. O espaço das associações de surdos foi constituído enquanto espaço
de sobrevivência da cultura surda, assim como de transgressão ao modelo oralista. Essas
organizações surdas surgiram a partir da proibição da língua de sinais nos espaços educacionais.
Assim, nas associações, os surdos tinham a liberdade de estabelecer a comunicação entre eles
na língua de sinais. Por fim, o bilinguismo tem os seguintes princípios que o norteiam: 1- A
língua brasileira de sinais (Libras) é a primeira língua dos surdos; 2- A língua portuguesa é a
segunda língua dos surdos; 3- A aquisição da linguagem por meio da Libras deve acontecer no
âmbito educacional, além de ser incentivada a participação da família neste processo; 4- Libras
é a língua de instrução da escola para surdos; 5- Português não pode ser fator de exclusão dos
surdos; 6- A escola bilíngue para surdos deve criar um ambiente bilíngue em Libras e língua
portuguesa na comunidade escolar. Esse ambiente exige a presença de professores surdos,
professores bilíngues, tradutores e intérpretes de Libras e Português; 7- O agrupamento de
surdos é fundamental; 8- Quanto a identificação, há dois níveis: (a) interna (a própria pessoa
identifica-se como falante bilíngue com duas línguas e duas culturas), e (b) externa (a pessoa é
identificada pelos outros como falante bilíngue/falante nativo de duas línguas); 9) Quanto a
função: a pessoa usa (ou pode usar) duas línguas em variadas situações de acordo com a
demanda da comunidade. Os educadores apontam que usar as duas línguas simultaneamente é
um processo desvantajoso para o surdo. Quando o professo é ouvinte, ocorrem algumas vezes,
ele usa sua língua e produz alguns sinais simultaneamente, o que não se constitui em uso da
Língua Brasileira de Sinais - Libras. O aluno surdo não vai compreender, ou vai compreender
apenas partes, porque o professor não está se expressando em Libras, mas em uma língua que
não existe, uma mistura das duas línguas.Visando competência da pessoa surda para a utilização
de duas línguas: a língua de sinais e a língua portuguesa e uma inserção nas produções culturais
e identitárias surdas. Estas propostas educacionais começaram a estruturar-se a partir do
Decreto 5.626/2005 que regulamentou a Lei da Libras (Língua Brasileira de Sinais). No Brasil,
o direito das crianças surdas a uma educação bilíngue é garantido pelo Decreto Federal. Tal
documento estabelece que deve ser ofertada obrigatoriamente aos alunos surdos, desde a
Educação Infantil, uma educação bilíngue na qual a Língua Brasileira de Sinais – Libras é a
primeira língua e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, é a segunda. Os surdos passaram
a ter direito ao conhecimento a partir desta língua. As linguais de sinais nos mostram uma
modalidade de língua que os surdos são capazes de perceber visualmente e produzir
corporalmente. É língua, assim como qualquer outra língua, porque apresenta propriedades
linguísticas, ou seja, apresenta unidades menores que se combinam para formar unidades com
significados para formar sentenças e constituir o discurso para fins comunicativos humano. É
uma língua que se constitui no grupo social com signos linguísticos que são convencionados
por um determinado grupo social para expressar sentidos interpretados pelas pessoas que a
utilizam. Os surdos encontram uma grande dificuldade na hora da escrita, pois a sintaxe da
língua portuguesa escrita, não coincide com a estrutura da de libras. Assim, na tentativa de fazer
sentido ao que escreve, os alunos iniciantes na língua portuguesa produzem textos com uma
estrutura diferenciada. Essas produções podem parecer textos escritos por estrangeiros,
exatamente porque há marcas da Libras. É fundamental ter bons matérias para o ensino do
português como segunda língua para que aja um melhor entendimento dos textos. A utilização
de recursos visuais é fundamental para o auxilio da compreensão da língua portuguesa.

Palavras-chave: Oralismo. Comunicação Total. Bilinguismo. Surdo. Língua de sinais.

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