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GINZBURG, Carlo

 Prestar atenção aos detalhes aparentemente sem importância  método detetivesco;


 Decisões importantes da vida são feitas às cegas: há escolhas conscientes, mas o
papel dos impulsos inconscientes é muito importante.;
 Trabalhou com Cantimori (historiador inicialmente fascista e depois comunista) 
o que o atraiu a se aproximar de Cantimori foi a diferença e a distância (o pai de
Ginzburg foi antifascista);
 Se aprende muito mais com aqueles que são diferentes de nós, que nos sãos
distantes.
 As coisas não são tão simples como parecem:
“(...) a pergunta não pode ser ignorada só porque não gostamos da resposta” (158)
“(...) os constrangimentos não trabalham em uma só direção. Você pode se transformar tanto
num ateu quanto num santo por ser filho de um padre” (158)
 O ato de escrever está profundamente ao ato de comunicar algo a alguém (isso é para
mim mesmo);
 Um erro de tradução pode ser uma força propulsora e gerar a realidade (no caso do
erro de tradução da virgem Maria);
 O historiador deve ter um profundo desrespeito pela mentira e um profundo respeito
pelas crenças (a realidade é contraditória);
 Especialistas (em apenas um campo) tendem a ficar sego para muitas coisas e após
algum tempo se tornam incapazes de ver seu próprio campo de modo inovador;
“Tinha a ideia de ler os processos nas entrelinhas e também a contrapelo, desvirtuando, por
assim dizer, as intenções das evidências; indo contra ou além das razões pelas quais elas
foram construídas” (161)  preocupação metodológica.
 Os historiadores são pessoas que falam a partir de um lugar  o conhecimento que
produzem é localizado;
 Se situa entre os positivistas e os pós-modernos;

GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário.

 No fim do século XIX emergiu um paradigma (ou modelo epistemológico):


 O indiciário.
I
 Novo método para a atribuição dos quadros antigos (1874/1876) na história da arte:
Método morelliano.
 Era necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis das pinturas e
menos influenciados pelas características das escolas a que o pintor pertencia
para saber da autenticidade ou não da obra;
 Examinar as minúcias, que é onde o falsificador tem o espaço para expressar seu
próprio estilo artístico;
 Ideia de investigação criminológica  Detetive Sherlock Holmes;
“O conhecedor da arte é comparável ao detetive que descobre o autor do crime (do quadro)
baseado em indícios imperceptíveis para a maioria. ” (145)
 Prestar atenção nos detalhes secundários, particularidades insignificantes  o
copista deixa de executar os detalhes como o autor original, “cada artista os executa
de modo que o diferencia”;
Método morelliano ligado à psicanálise médica de Freud
 Penetrar em coisas concretas e ocultas através de elementos pouco notados ou
desapercebidos, dos detritos ou “refugos” da nossa observação;
 A proposta de um método interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os
dados marginais, considerados reveladores;
“(...) esses dados marginais (...) eram reveladores porque constituíam os momentos em que
o controle do artista, ligado à tradição cultural, distendia-se para dar lugar a traços puramente
individuais, ‘que lhe escapam sem que ele se dê conta’” (150)
 Atividade inconsciente;
 Individualidade artística  controle da consciência subtraída.
MorelliHolmesFreud
Pistas: sintomas (Freud), indícios (Holmes), signos pictóricos (Morelli).
 Os três são médicos: modelo semiótico médico;
 Paradigma indiciário baseado na semiótica, começou a se afirmar nas ciências
humanas em 1870/80.

II

 O homem primitivo foi caçador:


 “[O homem] Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez
fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas”;
 Seguia pistas e indícios para perseguir a presa;
 Fabula dos três irmãos que descreveram um cavalo perdido que nunca viram 
saber venatório, transmitido entre as gerações;
 “O que caracteriza esse saber é a capacidade de, a partir de dados aparentemente
negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa e não experimentável
diretamente” (152);
 Narração: capacidade de ler nas pistas mudas deixadas para trás uma série
coerente de eventos;
 Reconhecimento da realidade descobertas por pistas de eventos não diretamente
experimentáveis pelo observador;
 Relação desse saber primitivo do caçador com o saber do historiador;
 Operação cognoscitiva da decifração/adivinhação:
 Analise, comparação, classificação;
 O paradigma indiciário ou divinatório pode ser dirigido, segundo as formas de
saber, para o passado, o presente e o futuro;
 Futuro: adivinhação;
 Passado, presente e futuro: semiótica médica, diagnóstica e prognóstica;
 Passado: jurisprudência;
 Medicina grega  paradigma indiciário aplicado à medicina através dos
sintomas;
“Apenas observando atentamente e registrando com extrema minúcia todos os sintomas, é
possível elaborar “histórias” precisas de cada doença: a doença é em si inatingível” (155)
 A história manteve-se como uma ciência social irremediavelmente ligada ao
concreto;
 A estratégia cognoscitiva do historiador, assim como seus códigos
expressivos permanecem intrinsecamente individualizantes;
 A história nunca poderia ser uma ciência galileana (generalizante e
quantitativa);
 O historiador é comparável ao médico, seus conhecimentos são indiretos,
indiciário, conjetural.
 Separação do saber galileano (lógico/racional) e o saber médico
(prático/empírico)  filologia tem sua dose de saber racionalizante, pois
pretendia ir além dos signos impressos no papel;
 O médico Mancini desenvolveu um método de avaliação das obras artísticas
(pinturas) para verificar sua originalidade.
 Relação entre a escrita e a pintura: ambas se sabem quando são cópias ou não;
 A escrita é única pela caligrafia de quem escreve;
 A pintura é única pelos detalhes de quem pinta.
 Primeiro problema: datação (a pintura apresenta a propriedade comum de um
século, mas em conexão com as propriedades individuais dos autores).
 Observar os caráteres inimitáveis da obra, que distinguiriam os originais dos
falsos;
 A identificação da mão do mestre deveria ser procurada de preferência nas partes
do quadro executadas mais rapidamente e, portanto, tendencialmente desligadas
da representação do real (emaranhado da cabeleira e tecidos)
Pg. 163  dificuldade da aplicabilidade do paradigma galileano era a centralidade maior ou
menor do elemento individual em cada disciplina (ciências nomotéticas e ideográficas);
 Quanto mais os traços individuais eram considerados pertinentes, tanto mais se
esvaia a possibilidade de um conhecimento científico rigoroso.
 Duas vias possíveis:
 Sacrificar o conhecimento do elemento individual à generalização;
 Formular um paradigma diferente fundado no conhecimento científico do
individual.
 A tendência de apagar os traços individuais de um objeto é diretamente proporcional
à distância emocional do observador (os traços individualizantes contaminam a
objetividade científica);
 O conhecimento individualizante é sempre antropocêntrico, etnocêntrico e assim
por diante especificando;
 As ciências humanas tentaram utilizar o paradigma quantitativo, totalizante, mas
permaneceram ancorada aos dados qualitativos;
 A medicina também é inseparável do saber indiciário, qualitativo, é impossível
quantificar todas as doenças e encontrar todas as soluções/tratametos para ela;
 A incerteza da medicina não permitia que ela fosse uma ciência da natureza (é
um conhecimento individualizante)  formulado o futuro epistemológico das
ciências humanas;

III
Comparação dos fios que compõem a pesquisa (o texto sinais ou dos paradigmas indiciários)
aos fios de um tapete;
 Vemo-la composta em uma trama densa e homogênea;
 O tapete é o paradigma indiciário;

 Distinção entre natureza e cultura é necessário para sabermos sobre a aplicabilidade


do método indiciários para uns e para outros;
 Morelli buscava a involuntariedade dos sintomas nas obras de artes para destacar
a individualidade das obras e dos artistas que a produziu;
 A tendência da busca pela individualização foi se concretizando na Europa, e o
controle qualitativo minucioso sobre a sociedade pelo poder estatal passou a
utilizar a noção de indivíduo;
 As sociedades europeias passaram a procurar maneiras mais seguras de
identificar e distinguir os seus componentes (indivíduos) a partir da revolução
industrial;
 O conflito de classes demandava um controle mais rígidos para proteger a
propriedade privada e criminalizar grupos sociais, penalizando-os mais
firmemente e de forma duradoura;
 Era necessário um novo sistema de identificação que reconhecesse os criminosos
reincidentes (métodos do antigo regime já estavam ultrapassados – tatuagens ou
marcas no corpo que identificava os criminosos);
 Foi formulado um método quantificado baseado nas medições do corpo do
criminoso e adicionado à sua ficha, a partir daí esses dados eram generalizados
ao restante da sociedade;
 Finalmente conceberam a impressão digital como o símbolo da individualidade
e como forma de reconhecimento da identidade individual;
 O princípio era reconhecer e controlar os indivíduos que antes eram identificáveis
por serem indistintos (todos iguais);
 Paradigma indiciário para elaborar formas de controles sociais sutis e
minuciosas.

“Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem
diferenciá-las” (177)
 O conhecimento individualizante se soma com o totalizante;
 Indícios mínimos assumidos como elementos reveladores de fenômenos mais gerais;
 O pensamento aforismático substituiu o sistemático;
“A literatura aforismática é, por definição, uma tentativa de formular juízos sobre o homem
e a sociedade a partir de sintomas, de indícios: um homem e uma sociedade que estão
doentes, em crise” (178)

 Paradigma galileano (quantitativo e antiantropocêntrico) colocou as ciências


humanas em um desagradável dilema:
 Ou assumir um estatuto científico frágil para chegar a resultados relevantes;
 Ou assumir um estatuto científico forte para chegar a resultados de pouca
relevância;
 A linguística conseguiu subtrair-se desse dilema e se pôs como modelo mais ou
menos atingido à outras disciplinas;
 O paradigma indiciário não pode ser rigoroso, pois é um saber prático, que se aprende
na prática, não foi formulado por um sistema de leis (suas regras não prestam a ser
formalizadas) e varia de pessoa a pessoa. É uma forma de saber tendenciosamente
muda. É flexível.
 É uma forma de conhecimento supra-sensível, distante do conhecimento superior,
privilégio de poucos eleitos, pois perpassa várias sociedades e suas formas de
conhecer através dos indícios.

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