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“Graças aos nossos conhecimentos científicos podíamos fazer quase tudo o que
queríamos, inclusive prolongar a vida indefinidamente. Isso era possível com o uso do
processo de hibernação que o nosso sistema social permitia, e que consistia em
permanecermos durante anos com as funções vitais suspensas, bastando depois da
ingestão de uma pastilha para retornarmos à vida ativa.
“Para dizer de outra forma: rebelaram-se. Pois, que mais poderia significar tal
anarquia das linhas espectromagnéticas da reciclagem atômica? Quando soubemos, era
demasiado tarde. Nossa ciência havia cumprido o seu ciclo e todos recordávamos das
palavras sábias do último filósofo: “Todavia a morte está aí”.
“A evacuação das populações fez-se por etapas. Primeiro os que residiam nos
anéis interiores transcenderam-se para os periféricos, a fim de não aguardarem até o
último momento e se verem obrigados a atravessar um cinturão mortal composto das
áreas onde as leis mais haviam sido alteradas. Enquanto isso os esforços desesperados
para encontrar uma solução prosseguiam. Porém, baseados exclusivamente em nosso
próprio conhecimento, e sem o apoio dos cérebros artificiais que, inclusive, chegaram a
consolar-nos, enquanto o nosso sistema psíquico sofria a carga dos altos e baixos da
situação, que podíamos fazer?
“De que valeria tentar retornar aquelas fontes, se já não contávamos com
aparatos que pudessem ser alimentados com esses tipos de combustível?
“Vós nos entenderíeis se imaginásseis que vos dissessem que hoje deveríeis
retornar aos barcos a vapor. Poderíeis fabricar o vapor – mas onde estão os barcos?
“A decadência foi rápida. A capacidade de dar ordens estivera por muito tempo
relacionada com a existência de arquivos completos de informações, que previam a
necessidade e as consequências da ordem emitida. Tornara-se tão difícil pensar por nós
mesmos!
“Os que fugiram vagaram pelas selvas com as quais nunca nos havíamos
preocupado, e enfrentaram animais desconhecidos, cuja existência ignorávamos porque
os cinturões populacionais estavam protegidos por faixas de vazio absoluto. Beberam
água de riachos e muitos pereceram porque, geneticamente, haviam perdido a
codificação que lhes facultava assimilar água em estado puro.
“Uma das alternativas que tínhamos para conseguir sobreviver, era chegar até as
vertentes marinhas, cuja força era ono-zone, e alcançar o interior da Terra oca, onde
depositávamos a esperança de não sermos devorados pela contaminação radioativa.
Porém, como lográ-lo?
“Se alguém que está na Filadélfia, e que sempre usa o telefone para comunicar-
se com quem está em Nova York, um dia descobre que nenhum telefone nunca mais
funcionará, como irá sentir-se?
“Um dos grupos coordenadores assumiu a tarefa de relatar o que sucedeu aos
terrestres, conforme a simbologia então existente para as comunicações. Assim o fez
para legá-la aos novos homens que, por sua vez, já começavam a ter filhos, iniciando,
com uma mudança de código genético, uma nova cadeia biológica.
“Esta é a história da raça dos que vivem nas profundezas da Terra: a raça dos
que tiveram de suportar muito mais que vós para ressurgir das cinzas de uma
civilização. Está aqui relatada e poderia servir de base para os homens de hoje, se estes
quisessem valer-se dessa experiência vivida.
“Foram milhares os que desejaram a partir daí abandonar a terra interior e, mais
uma vez, como já havia sucedido em nossa história, foi necessário que os governantes
tomassem uma decisão capital: proibiram-nos de deixar o mundo interior, para evitar
que chegássemos ao ponto de degeneração que outrora atingíramos quando homens de
superfície. Os governantes outorgaram um prazo para o regresso dos que já haviam
partido. Vencido esse prazo, não seriam mais admitidos, pois inclusive já teriam outra
conformação física. A unidade da raça intraterrena fora salva; aqueles que não
regressaram constituíram a base que deu origem, na superfície da Terra, à raça amarela
fundada na China, no Japão, na costa oriental do México e no extremo sul da Argentina.
Na verdade, na China, antes disso, havia homens brancos e negros – os amarelos que
conhecemos hoje são intraterrenos em sua origem.
“As fugas do mundo intraterrreno aconteciam através dos condutos naturais que,
sob os mares, comunicam os mundos da superfície com os do interior – mas estavam
sendo controladas.
“Pudemos também verificar que nossa fonte permanente de água para os anéis
interiores mantinha-se intacta. Referimo-nos ao que chamais de Lago Baikal, na Sibéria.
Em seus arredores, encontramos algumas colônias de animais que tinham quase com
exatidão as características que a tradição outorga aos que conviveram com os nossos
antepassados no exterior.
“Agora, quando a lenta evolução dotou de uma boa inteligência os homens que
habitam a superfície da Terra, eles se apressam a cair na mesma armadilha que
redundou na destruição da raça primigênia. O primeiro passo nessa direção foi a
fabricação da bomba atômica, artefato cuja periculosidade não tem limites e que servirá
para edificar governos de terror, lançando o mundo num desastre total. Um desastre que
talvez nos envolva também, porque não é possível conhecer a magnitude que pode
alcançar um confronto do qual o armamento nuclear participe.
“Não estamos dispostos a permitir que ele aconteça. Por isso, advertimos desse
perigo o mundo da superfície, através de seus países mais representativos. Queremos
que formem um comitê internacional contra o uso da energia nuclear para fins bélicos.
Em troca, estamos dispostos a revelar o segredo para o domínio da energia magnética.