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Sobre a dialética

Fred Teixeira

Como definição para dialética, um dicionarinho escolar que possuo diz o seguinte: “A arte
do diálogo”. Bem, na Wikipédia existem inúmeras definições, com cada pensador
determinando o que é dialética, de uma forma ou de outra. Mas prefiro ficar com a
definição do meu dicionarinho, e a partir dela alcançar minha própria definição – que não será,
estou certo, a definição definitiva. Mas vamos a isso:

Se a dialética é a arte do diálogo, e se a arte é aceita como tal por alguns, e para outros
não passa de lixo – pois há inúmeras definições particulares também para arte – logo a
dialética, como conceito, é algo que poderíamos chamar de subjetivo. Dois sujeitos
discutindo não estarão tendo um embate dialético ao mesmo nível, devido às diferenças que
para eles há nesse embate, conseqüência de suas próprias circunstâncias mentais. Portanto,
um deles se aproxima da real dialética, enquanto que outro se afasta dela.

Mas é demasiado simplista colocar a coisa assim, pois o próprio subjetivismo da questão
não permite que sejam usados termos como ‘verdadeiro’ ou ‘falso’, ‘certo’ ou ‘errado’. Seria
melhor definir assim: há uma dialética boa, e outra ruim. A boa seria aquela que lida
com clareza com os fatos, tentando extrair deles conclusões que permitam compreende-los
melhor. A ruim se encarregaria do contrário, ou seja, deturpar a verdade, fazendo da
realidade algo incompreensível, complicar o que é simples, tornar o inteligível ininteligível,
etc. Quem se afasta demais do concreto das coisas poderia ser julgado um mau dialético.

É arriscado condenar a dialética como um todo, pois sem ela não haveria desenvolvimento
mental. Sem ela ainda viveríamos em cavernas e iríamos às compras na selva, munidos de
lanças. Nada do que temos seria possível, pois sem a capacidade dialética não há como
formar associações – e é das associações que advém o progresso espiritual. Inclusive a má

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dialética, que não leva a nada, girando em torno de abstrações que não definem nem
concretizam, é um bom instrumento para a formação de parâmetros de pensamento; pois se
não mergulhássemos em areia movediça, jamais saberíamos o quanto isso é perigoso.

Assim, chego à seguinte conclusão: A dialética é a arte do diálogo, que pode ser usada
tanto para o bem quanto para o mal. Tal definição depende de quem a utiliza, e como, e com
quais objetivos: se for alguém dedicado ao esclarecimento de uma idéia, e tiver por
objetivo sua compreensão, poderá ser chamada de boa dialética; se, ao contrário, for
usada por alguém dedicado a obscurecer uma idéia, com o objetivo de complicá-la e
torná-la ininteligível, poder-se-á denominá-la má dialética. Isso, acredito, esclarece
um pouco a questão – tornando-me, espero, um bom dialético.

Assolados pela Díada, nada entre nós é exclusivamente uno – tudo é dúbio, tudo é
bifurcado. Esta é a nossa natureza – em tudo vemos dois caminhos a seguir. Cabe a nós
optar como usaremos aquilo de que faremos uso: a dialética, a razão, o mundo... e mesmo
nossos próprios egos. Está em nossas mãos sermos bons ou maus. Mas agora, para destroçar
minha recém conquistada fama de bom dialético, coloco a questão: o que haverá de mau
em ser bom – e o que haverá de bom em ser mau? Ou melhor: alguém que seja mau não
verá a maldade como um bem, e vice-versa? Santo Nietzsche! Como nossa ética é
tênue... como nossas certezas são incertas! Nenhuma dialética esclareceria isso – fosse ela
boa ou má. Porém ainda sou pela dialética, pois sem ela só nos resta a alternativa bélica.

Obra original disponível em:


http://www.overmundo.com.br/banco/sobre-a-dialetica

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