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ISSN 1676-6024

Nº 71 - DEZEMBRO DE 2013

Dermatologia
em cães e gatos
Fundação de Estudo e Conselho Regional de
Pesquisa em Medicina Medicina Veterinária do
Veterinária e Zootecnia Estado de Minas Gerais
FEPMVZ Editora CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
ISSN 1676-6024 Editorial
Caros colegas,
Nº 71 - DEZEMBRO DE 2013

Novamente temos a satisfação de encaminhar à co-


munidade veterinária e zootécnica mineira o volume 71
do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia.
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional de
Medicina Veterinária de Minas Gerais, com satisfação
Dermatologia veem consolidando a parceria e compromisso entre as
em cães e gatos duas instituições com relação à educação continuada da
comunidade dos Médicos Veterinários e Zootecnistas
de Minas Gerais.
Fundação de Estudo e Conselho Regional de
Pesquisa em Medicina Medicina Veterinária do
Veterinária e Zootecnia Estado de Minas Gerais
FEPMVZ Editora CRMV-MG

O presente número trata, de forma objetiva, a temá-


tica sobre Dermatologia em Cães e Gatos, abordando os
aspectos relacionados ao desenvolvimento destas enfer-
midades e os cuidados necessários para o diagnostico e
tratamento do paciente. O tema apresenta alta impor-
tância já que a dermatologia veterinária é uma área das
mais relevantes na clínica veterinária, demandando uma
atualização constante pelos clínicos. Deste modo, este
volume irá contribuir para o melhor entendimento des-
tas questões pelos profissionais da área.
Com este número do Caderno Técnico esperamos
contribuir tanto para a conscientização quanto para a in-
Universidade Federal
de Minas Gerais formação dos colegas, auxiliando para que possam cons-
Escola de Veterinária truir as melhores opções de atendimento aos animais no
Fundação de Estudo e Pesquisa em contexto que estão inseridos.
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora Portanto, parabéns à comunidade de leitores que
Conselho Regional de utilizam o Caderno Técnico para aprofundar seu conhe-
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais cimento e entendimento sobre a oncologia veterinária,
- CRMV-MG em benefício dos animais e da sociedade.
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência:
Prof Antonio de Pinho Marques Junior CRMV-MG 0918
Editor-Chefe da FEMVZ-Editora
FEPMVZ Editora Prof José Aurélio Garcia Bergmann CRMV-MG 1372
Caixa Postal 567 Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
30161-970 - Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof Marcos Bryan Heinemann CRMV-MG 8451
Editor Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof Nivaldo da Silva CRMV 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Marcos Bryan Heinemann
Editor convidado para esta edição:
Adriane Pimenta da Costa Val
Revisora autônoma:
Cláudia Rizzo
Tiragem desta edição:
9.400 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
O Lutador

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da


UFMG)
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
Adriane Pimenta da Costa Val - CRMV-MG 4331
Professor Associado I, Escola de Veterinária da UFMG
Email para contato: adriane@ufmg.br

Os casos dermatológicos representam gran-


de parte do atendimento na clínica médica de
pequenos animais, o que demanda do clinico
veterinário constante atualização de seus co-
nhecimentos, bem como o resgate daqueles an-
tigos. Esta edição dos Cadernos Técnicos, bem
como o evento “Dermatologia para todos: no-
vos olhares para velhos problemas” têm como
objetivo promover educação continuada e for-
necer ao público-alvo informações pertinentes
e necessárias na área de clínica dermatológica
de pequenos animais. “Dermatologia para to-
dos: novos olhares para velhos problemas”
abrange desde as abordagens semiológicas e
laboratoriais das principais dermatopatias de
cães e gatos, bem como suas principais consi-
derações patofisiológicas e de tratamento. As
informações aqui contidas são de imediata apli-
cabilidade na rotina do atendimento dermato-
lógico de pequenos animais.
Bom proveito!
Sumário

1 Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico......................9


Adriane Pimenta da Costa Val,
Fernanda dos Santos Alves
Entenda como os dermatologistas reconhecem as doenças, elaboram
diagnósticos diferenciais e escolhem os exames laboratoriais adequados para
cada caso.

2 Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos


animais......................................................................................................23
Rodrigo dos Santos Horta,
Adriane Pimenta da Costa Val
Faça você mesmo a maioria dos exames complementares da sua rotina
dermatológica, obtendo resultados imediatos e agilizando seu atendimento.

3 Biópsia de pele: quando, onde e como. Maximizando benefícios............32


Fabricia Hallack Loures,
Lissandro Gonçalves Conceição
Quando requisitar este exame? Como colher o material? Para quem devo
enviar o material obtido? O que acontece com o fragmento de pele no
laboratório? Como interpretar os resultados? Saiba todas as respostas lendo
este artigo.

4 Abordagem diagnóstica do prurido em cães............................................45


Guilherme De Caro Martins,
Adriane Pimenta da Costa Val
Seu paciente coça? Usando esta abordagem sistemática, saiba quais as
principais causas do prurido em cães e como tratar este sinal clínico, muitas
vezes tomado como doença.

5 Otite externa em cães................................................................................54


Carolina Boesel Scherer,
Rodrigo dos Santos Horta,
Adriane Pimenta da Costa Val

Lendo este artigo você entenderá os processos patológicos envolvidos nesta


afecção tão comum, saberá por que as recidivas acontecem com tanta
frequência e como evita-las.
6 Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos......63
Carolina Boesel Scherer
Embora não muito frequente, os casos de otite média nos pequenos animais são
sempre desafiadores. Saiba como diagnosticar e tratar adequadamente esta
afecção.

7 Diagnóstico e tratamento das alterações de queratinização.....................73


Fernanda dos Santos Alves
Por que a queratinização falha? Como abordar o paciente que descama? E o
paciente untuoso? Entenda e trate com segurança estes pacientes.

8 Padrões dermatológicos em felinos..........................................................79


Gabrielle Márcia Marques Cury
Os gatos são nossos amigos: têm apenas quatro padrões de resposta
dermatológica, o que faz com que a abordagem sistemática seja ainda mais
compreensível que no paciente canino.

9 Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina, isso pega?........91


Larissa Silveira Botoni
Saiba a importância deste agente nas piodermites, principalmente as
redicivantes. Novas abordagens de tratamento são propostas neste artigo.

10 Tratamento do hiperadrenocorticismo em cães.......................................99


Carolina Zaghi Cavalcante,
Gustavo Dittrich,
Giseli Vieira Sechi,
O hiperadrenocorticismo é a segunda endocrinopatia mais comuns em cães e
as opções de tratamento aqui propostas vão ajudar a melhorar a qualidade do
seu atendimento à este paciente tão especial.

Figuras............................................................................................................107
Abordagem por padrões
para o diagnóstico bigstockphoto.com

dermatológico
Adriane Pimenta da Costa Val* - CRMV-MG 4331,
Fernanda dos Santos Alves** - CRMV-MG 9539
* Professor Associado I, Escola de Veterinária da UFMG
Email para contato: adriane@ufmg.br
** Mestranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG

Introdução enganam-se parcialmente. De modo


geral, os clínicos examinam o animal e
Muitas vezes, os clínicos veterinários tentam identificar se já viram um caso
surpreendem-se quando, parecido anteriormente,
após apenas examinar Os dermatologistas mas, com esta aborda-
um animal, o dermatolo- usam uma técnica gem, as chances de se fa-
gista veterinário propõe simples de identificar zer um diagnóstico novo
uma lista de diagnósticos as lesões primárias, tornam-se menores à me-
diferenciais e, sabe exa- que oferecem as dida que o tempo passa 2.
tamente quais exames informações necessárias Os dermatologistas
complementares fazer . 1 para e elaboração dos usam uma técnica simples
Os clínicos acreditam diagnósticos diferenciais de identificar as lesões
que tais habilidades pro- e definição dos testes a primárias, que oferecem
vêm da experiência, mas serem feitos. as informações necessá-
Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 9
rias para e elaboração dos diagnósticos conhecer bem as lesões primárias e se-
diferenciais e definição dos testes a serem cundárias e então associá-las ao padrão
feitos1. Assim, após anamnese completa e morfológico predominante 2, 3. Lesões
exame clinico detalhado, o caso deve ser primárias são aquelas advindas direta-
abordado em três passos consecutivos: mente do processo patológico 2,4,5. Não
a) determinar o padrão dermatológico são patagnomônicas, mas oferecem in-
predominante no paciente; b) elaborar a formações importantes sobre o proces-
lista de diagnósticos diferenciais e c) fa- so patológico. Por outro lado, as lesões
zer os exames complementares 1,2. secundárias derivam da evolução da le-
são primária, do processo patológico ou
Passo 1 - Determinar o padrão
são consequências de traumatismos in-
Para isto, é necessário saber quais fligidos à pele pelo animal 2,4,5. São bem
são as lesões primárias e secundárias menos específicas que as primárias 5. O
presentes no caso e então verificar qual Quadro 1 descreve e classifica as lesões
o padrão predominante 1. É preciso em dermatologia veterinária 2.

Lesão Descrição Padrão Classificação


Área circunscrita, plana e não palpável
Máculo-papular;
Mácula (Figura 1) cor distinta a pele ao redor, de até 1cm Primária
pigmentada
de diâmetro.
Máculo-papular;
Mancha (Figura 2) Máculas maiores que 1cm. Primária
pigmentada
Lesão sólida circunscrita, elevada, su- Máculo-papular;
Pápula (Figura 3) Primária
perficial de até 1cm de diâmetro. pigmentada
Lesão sólida superficial, plana, circuns-
crita e elevada, com mais de 1cm de Pápulo-nodular
Placa (Figura 4) Primária
diâmetro. Uma pápula que aumentou –placa
em duas dimensões.
Pápulo-nodular-
Uma pápula ou placa edematosa e
Inchaço (Figura 5) placa; endureci- Primária
transitória.
do, turgido
Lesão palpável, sólida arredondada ou
elíptica com profundidade/espessu- Pápulo-nodular
Nódulo (Figura 6) Primária
ra. Uma pápula que aumentou em 3 – nódulo
dimensões.
Vesículo-
Cavidade elíptica, fechada, contendo
Cisto (Figura 7) pustular; pápulo- Primária
fluido ou material semi-sólido.
-nodular- nódulo
Elevação circunscrita de até 1cm de
Vesícula (Figura 8) Vesículo-pustular. Primária
diâmetro, contendo fluido seroso.

Quadro 1: Lesões em dermatologia veterinária


Adaptado de Ackerman, 2008

10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Lesão Descrição Padrão Classificação
Uma vesícula com mais de 1cm de
Bolha (Figura 5) Vesículo-pustular Primária
diâmetro
Lesão elevada circunscrita contendo
Pústula (Figura 9) Vesículo-pustular Primária
fluido purulento.
Área de depósito de sangue ou seus
pigmentos, com até 1cm de diâmetro; Pigmentado-
Petéquia Primária
a de coloração arroxeada chama-se vermelho
púrpura.
Área de depósito de sangue ou seus
pigmentos, com mais de 1cm de diâme- Pigmentado,
Equimose Primária
tro; a de coloração arroxeada chama-se vermelho
púrpura.
Descamação Perda de células da epiderme que Esfoliativo;
Secundária
(Figura 10) podem estar secas ou oleosas. máculo-papular
Colarete
Esfoliativo; vesí-
epidérmico Aro circular de descamação. Secundária
culo—pustular
(Figura 11)
Comedo (Figura 5) Oclusão do folículo piloso (poro). Esfoliativo Secundária
Uma escavação da pele limitada à
Erosivo-
Erosão (Figura 12) epiderme e que não ultrapassa a junção Secundária
ulcerativo
derme-epiderme.
Cavitação de tamanho e forma irregula- Erosivo-
Úlcera (Figura 13) Secundária
res que estende-se pela derme. ulcerativo
Coleções de exsudatos cutâneos de Erosivo-
Crosta (Figura 14) Secundária
diversas cores. ulcerativo
Escoriação (Figura Abrasão da pele, usualmente de origem Erosivo-
Secundária
15) superficial e traumática. ulcerativo
Rachadura na pele definida por paredes Erosivo-
Fissura (Figura 16) Secundária
de bordas ‘afiadas’. ulcerativo
Endurecimento Espessamento palpável da pele. Endurecido Secundária
Formação de tecido conectivo substi-
Cicatriz tuindo tecido perdido por doença ou Endurecido Secundária
injúria.
Afinamento ou depressão da pele, devi- Endurecido;
Atrofia Secundária
do à redução do tecido subjacente. máculo-papular
Área difusa de espessamento da pele,
Liquenificação Endurecido;
com resultante aumento das linhas e Secundária
(Figura 17) máculo-papular
marcas cutâneas.
Pigmentação-
Hiperpigmentação Escurecimento da pele. escuro; Secundária
máculo-papular.

Quadro 1: Lesões em dermatologia veterinária


Adaptado de Ackerman, 2008

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 11


Após a identificação das lesões pri- focal, multifocal, em
márias e secundárias, faz-se a determi- áreas, regional ou
nação do padrão predominante, por generalizada?)
uma série de perguntas, feitas em deter- Se NÃO,
minada ordem, como descrito no algo- b. Há perdas evidentes na inte-
ritmo a seguir 1, 2: gridade epitelial?
SIM = Alterações erodo
1. Existem alterações de pigmentação? ulcerativas
SIM = Lesões ou dermatoses Se NÃO,
pigmentadas (Vermelhas, c. Há descamação proeminente?
brancas, escuras ou cor da SIM = Dermatoses esfoliativas
pele?) (Descamação em áre-
Se NÃO; as, folicular, regional
ou generalizada?)
2. As lesões são elevadas?
Se NÃO,
Se SIM; d. A pele está espessada à
a. As lesões são preenchidas por palpação?
fluidos? SIM = Dermatoses endureci-
SIM = Dermatoses ve- das? (Primariamente
sicolopustulares sólidas ou túrgidas?)
(Primariamente NÃO = Dermatoses
vesico-bolhosas ou maculo-papulares
pustulares? (Primariamente macu-
Se NÃO, lar ou papular?)
b. As lesões são sólidas e
elevadas? Passo 2 - Formular a lista de
SIM = Dermatoses papulo- diagnósticos diferenciais
nodulares (Nódulos,
Com o caso classificado em uma
placas ou lesões vege- de oito grandes categorias, a lista de
tativas primárias?) diagnósticos diferenciais pode ser feita
Se NÂO, a partir dos Quadros 2-9. A formula-
3. As lesões são achatadas, em depres- ção da lista de diagnósticos diferen-
são ou discretamente elevadas? ciais não só eleva o conhecimento das
Se SIM, possíveis alterações dermatológicas
a. Há predomínio de perda de como também é extremamente útil na
pelos? escolha dos exames complementares a
SIM = Alterações alopecicas serem feitos e, especialmente, na avalia-
(Alopecia primária ção dermatohistopatologica.
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Categoria Subcategoria Canino Felino
Erupção medicamentosa Erupção medicamentosa
Petéquia Petéquia
Púrpura Púrpura
Dermatoses de contato Vasculite
Lúpus eritematoso Dermatoses de contato
Fotodermatite Lúpus eritematoso
Eritema multiforme Fotodermatite
Vermelho Pioderma de dobras Eritema multiforme
Dermatite piotraumática Placa eosinofílica
Histiocitoma Granuloma linear
Demodicose
Síndrome Flushing
Borreliose
Dermatite por ancilóstomo
Dermatite aguda eosinofílica
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Albinismo Albinismo
Branco (despig- Síndrome úveo-dermatológica Síndrome de Waardenburg
mentado) Morphea Síndrome Chediak-Higashi
Vitiligo Leucotriquia periocular
Deficiência de tirosinase
Tumor de células basais Tumor de células basais
Melanoma Melanoma
Pigmentado Mudança pós-inflamatória Doença de Bowen
Hipotireoidismo Mudança pós-inflamatória
Hiperadrenocorticismo Placas virais felinas
Dermatose responsiva ao hormônio de
crescimento
Escuro Acantose nigrans
Dermatose responsiva ao hormônio sexual
Lentigines
Nevi vasculares
Hemangioma/sarcoma
Nevus organoide
Nevus melanocítico
Melanoderma e alopecia
Nevus epidérmico Nevus epidérmico
Cicatriz Cicatriz
Papiloma
Cor da pele Morphea
Hiperplasia de glândula sebácea
Callus
Nevus sebáceo
Síndrome “dalmatian bronzing” Xantomatose
Aurotiquia adquirida Síndrome Waardenburg-Klein
Outras
Deficiência de tirosinase Síndrome Chediak-Higashi
Síndrome Waardenburg-Klein

Quadro 2 Diagnóstico Diferencial: Padrão Pigmentação


Adaptado de Ackerman, 2008

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 13


Categoria Subcategoria Canino Felino
Pênfigo Pênfigo
Penfigoide Penfigoide
Eritema multiforme Lúpus eritematoso
Dermatomiosite Epidermiólise bolhosa
Epidermiólise bolhosa Varíola felina
Vesicular
Dermatite herpetiforme Infecção por herpesvírus
Mucinose
Dermatose ulcerativa
idiopática
LE vesicular
Demodicose Demodicose
Vesículo-pustular
Piodermite bacteriana Piodermite bacteriana
Dermatofitose Dermatofitose
Dermatose pustular subcorneal Abcesso
Pustulose eosinofílica estéril Acne
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Pustular
Acne Infecção por FIV
Reações adversas a
Dermatose IgA linear
alimentos
Reações adversas a alimentos
Pênfigo
Síndrome do colarete
Quadro 3 Diagnóstico Diferencial, Padrão Vesículo-Pustular
Adaptado de Ackerman, 2008

14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Categoria Subcategoria Canino Felino
Parasitoses Abcesso
Piodermatite profunda Acne
Piodermatite atípica Piodermatite atípica
Dermatofitose Dermatofitose
Micoses intermediárias Micoses intermediárias
Micoses profundas Micoses profundas
Lupus profundus Parasitoses
Neoplasia Neoplasias
Cisto dermoide Cisto dermoide
Paniculite nodular Paniculite nodular
Nodular Celulite juvenile Lupus profundus
Mucinose Xantoma
Granuloma eosinofílico Granuloma eosinofílico
Adenite sebácea Lepra
Piogranuloma estéril Micobactéria oportunista
Micobactéria oportunista
Nódulo acral prurítico
Calcinose circunscrita
Fasciite nodular
Prototecose
Dracunculíase
Dermatofitose Dermatofitose
Urticária Urticária
Linfoma Linfome
Hipersensibilidade bacteriana Esporotricose
Pápulo-nodular Lupus profundus Placa eosinofílica
Papilomatose viral Mastocitoma
Calcinose cutânea Granuloma linear
Calcinose circunscrita Deficiência de vitamina E
Histiocitoma Mucopolissacaridose
Histiocitose Xantomatose
Placas Queratose Calcinose tumoral
Nevi Nevi
Dermatoses liquenoides Dermatose liquenoide
Mucinose Eritema multiforme
Eritema multiforme Infecção por papilomavírus
Acantose nigrans Dermatite por perfuração
Dermatite herpetiforme Plcas felinas virais
Urticária pigmentosa
Dermatite acral por lambedura
Malasseziose
Dermatite eosinofílica aguda
Mastocitoma Mastocitoma
Carcinoma de células
Papiloma cutâneo
escamosas
Vegetativas Fibroma Fibroma
Nevi Nevi
Hiperplasia da glândula sebácea
TVT
Pênfigo vegetativo

Quadro 4: Diagnóstico Diferencial: Padrão Pápulo-Nodular


Adaptado de Ackerman, 2008)

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 15


Categoria Subcategoria Canino Felino
Demodicose Demodicose
Piodermatite bacteriana Piodermatite bacteriana
Dermatofitose Dermatofitose
Alopecia aerate Alopecia aerate
Focal/multifocal Astenia cutânea Astenia cutânea
Alopecia por tração Alopecia por tração
Morphea Reação no local de injeçãoo
Reação no local de injeção Alopecia cicatricial
Alopecia cicatricial
Demodicose Demodicose
Queiletielose Queiletielose
Infestação por piolho Infestação por piolho
Dermatofitose Dermatofitose
Piodermatite bacteriana Erupção por drogas
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Defluxo telógeno Defluxo telógeno
Deficiência proteica Hiperadrenocorticismo
Irregular Erupção por drogas Pseudopelade
Adenite sebácea
Bronzing syndrome
Alopecia color-mutant
Espiculose
Leishmaniose
Pênfigo familial benigno
Foliculite mucinal mural
Pseudopelade
Alopecia Lúpus eritematoso discoid Lúpus discoid
Hipotireoidismo Alopenia endócrina
Hiperadrenocorticismo Hiperadrenocorticismo
Dermatose responsiva ao hormônio
Alopecia psicogênica
de crescimento
Alopecia do flanco sazonal Alopecia pós-tosa
Hiperestrogenismo Alopecia pinnal
Hipoestrogenismo Alopecia pré-auricular
Pattern baldness Alopecia simétrica
Regional Neoplasia testicular Alopecia paraneoplásica
Dermatomiosite
Displasia follicular
Toxicidade (ex. tálio)
Alopecia pós-tosa
Alopecia pinnal
Pênfigo benigno familiar crônico
Melanoderma e alopecia
Doença waterline
Foliculopatia isquêmica
Dermatofitose Dermatofitose
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Erupção por drogas Erupção por drogas
Generalizada Demodicose Alopecia universal
Hipotricose Hipotricose
Defluxo telógeno Defluxo telógeno
Alopecia pós-tosa

Quadro 5: Diagnóstico Diferencial: Padrão Alopecia


Adaptado de Ackerman, 2008

16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Categoria Subcategoria Canino Felino
Pulgas Pulgas
Demodicose Demodicose
Escabiose Sarna notoédrica
Piodermatite por dobras Piodermatite superficial
Dermatite piotraumática Micose sistêmica
Fístula perianal Infecção por poxvírus felino
Granuloma bacteriano Granuloma bacteriano
Micetoma Micetoma
Micobacteriose Micobacteriose
Pênfigo Pênfigo
Penfigoide Penfigoide
Vasculite cutânea Vasculite cutânea
Necrólise epidermal tóxica Necrólise epidérmica tóxica
Erupção por drogas Eripção por drogas
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Dermatose lupoide FIV
Dermatoses vesiculopustulares Ülcera indolente
Leishmaniose Carcinoma de células escamosas
Toxicose por tálio Doença de Bowen
Erodo-ulcerativa Astenia cutânea Esporotricose
Epiteliogênese imperfeita Hiperadrenocorticismo
Defeito ectodérmico Dermatoses vesiculopustulares
Queimadura Queimadura
Erupção de contato Erupção de contato
Septicemia/toxemia Septicemia/toxemia
Dermatomiosite Astenia cutânea
Eritema multiforme maior Eritema multiforme maior
Linfoma cutâneo de células T Defeito ectodérmico
Pênfigo benigno familial Dermatofilose
Vasculopatia familiar Epidermólise bolhosa
Dermatofilose Fragilidade cutânea adquirida
Candidíase Infecção por herpesvírus
Dermatoses metabólicas Úlcera idiopática cervical
Epidermólise bolhosa
Dermatose erosiva idiopática
Acrodermatite
Dermatose ulcerativa
Dermatite neutrofílica aguda
Dermatite eosinofílica aguda

Quadro 6: Diagnóstico Diferencial: Padrão Erodo-Ulcerativa


Adaptado de Ackerman, 2008

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 17


Categoria Subcategoria Canino Felino
Ectoparasitismo Ectoparasitismo
Dermatofitose Dermatofitose
Erupção por drogas Erupção por drogas
Pênfigo foliáceo Pênfigo foliáceo
Deficiência de ácidos graxos Deficiência de ácidos graxos
Linfomas de células-T Deficiência proteica
Reticulose pagetoide Deficiência de vitamina A
Síndrome de Sjogren Deficiência de vitamina E
Hiperestrogenismo Deficiência de biotina
Irregular Dermatose responsiva à vitamina A Linxacaríase
Adenite sebácea Reação adversa ao alimento
Doença alimentar generic Dermatite perfurante
Dermatose pustular subcorneal
Dermatose máculo-papular crônica
Parapsoríase
Reações adversas ao alimento
Hipotireoidismo
Dermatose lupoide
Leishmaniose
Queratose folicular Acne
Adenite sebácea Comedos
Acne Milia
Síndrome do comedo Foliculite
Folicular Milia Demodicose
Foliculite bacteriana Dermatofitose
Esfoliativa
Demodicose Adenite sebácea
Dermatofitose Pseudopelade
Dermatose responsiva à vitamina A Dermatite por timoma
Pênfigo foliáceo Pênfigo foliáceo
Pênfigo eritematoso Pênfigo eritematoso
Lúpus discoide eritematoso Lúpus discoide
Hipotireoidismo Queiletielose
Regional Dermatose responsiva ao zinco Dermatite por timoma
Tirosinemia
Hiperqueratose nasodigital
Leishmaniose
Malasseziose
Dermatofitose
Erupção por droga
Lúpus sistêmico
Pênfigo foliáceo
Desordens de queratinização
Demodicose
Generalizada Hipotireoidismo
Deficiência de vitamina E
Ictiose
Linfoma de células T
Desordens metabólicas
Leishmaniose
Doença Graft-versus-Host
Quadro 7: Diagnóstico Diferencial: Padrão Dermatites Esfoliativas
Adaptado de Ackerman, 2008)

18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Categoria Subcategoria Canino Felino
Angioedema Urticária
Mixedema Angioedema
Tumor secretor de hormônio
Celulite juvenile
do crescimento
Túrgido Mucinose Mucopolissacaridose
Síndrome nefrótica Policondrite recidivante
Urticária pigmentosa Pododermatite plasmocítica
Dermatite por ancilóstoma
Dermatite aguda eosinofílica
Celulite Celulite
Endurecido
Granuloma bacteriano Granuloma bacteriano
Granuloma fúngico Granuloma fúngico
Calcinose cutis Calcinose cutis
Cicatriz Cicatriz
Sólida Neoplasia Neoplasia
Amiloidose Amiloidose
Escleroderma Micose intermediária
Dermatose máculo-papular Dermatose máculo-papular
crônica crônica
Adenite sebácea

Quadro 8: Diagnóstico Diferencial: Padrão Endurecido


Adaptado de Ackerman, 2008

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 19


Categoria Subcategoria Canino Felino
Dermatite por alérgeno Dermatite por alérgeno
inalatório inalatório
Alergia alimentar Alergia alimentar
Dermatite alérgica de contato Dermatite alérgica de contato
Dermatite de contato irritante Dermatite de contato
Erupção por drogas Erupção por drogas
Macular Piodermatite bacteriana Endo/ectoparasitismo
Eritema multiforme Eritema multiforme
Lúpus eritematoso Lúpus eritematoso
Alopecia aerata Alopecia aerata
Endo/ectoparasitismo
Acantose nigrans
Máculo-papular Dermatite eosinofílica aguda
Dermatoses por parasitismos Dermatite miliar
Dermatose responsiva à
Dermatoses por parasitismos
vitamina A
Foliculite bacteriana Foliculite bacteriana
Erupção por drogas Erupção por drogas
Papular/ Alergia alimentar Alergia alimentar
pápulo-cros-
Dermatofitose Dermatofitose
tosa
Acne/comedos Pênfigo foliáceo
Eritema multiforme Acne/comedos
Hipersensibilidade hormonal Eritema multiforme
Dermatite herpetiforme Síndrome hipereosinofílica
Pênfigo foliáceo

Quadro 9: Diagnóstico Diferencial: Padrão Máculo-Papular


Adaptado de Ackerman, 2008

20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Passo 3 Realizar exames e testes posições raciais 2,3. O Quadro 10 serve
diagnósticos de guia para a confecção de um banco
Com a lista de diagnósticos diferen- de dados mínimo, visto que apresenta
ciais em mãos, faz-se necessário priori- os padrões já descritos, bem como suge-
zar as possíveis doenças, embasadas na re os próximos passos a serem tomados
história, apresentação clínica e predis- em direção ao diagnóstico definitivo 2,5.

Padrão Banco de dados mínimo Próximo Passo


Pigmentado Dermatohistopatologia Realizar biopsia
Raspado de pele Dieta de eliminação, erradicação de parasi-
Vesiculo-pustular
Citologia tas, dermatohistopatologia, culturas.
Raspado de pele
Citologia
Papulo-nodular Culturas
Dermatohistopatologia
Hemograma, perfil bioquímico
Alopecia
Raspado de pele
Focal Cultura para dermatófitos Dermatohistopatologia
Tricograma
Raspado de pele
Cultura para dermatófitos
Perfis endócrinos
Generalizada Tricograma
Dermatohistopatologia
Hemograma, perfil bioquímico
Urinálise
Raspado de pele
Erodo-ulcerativa Dermatohistopatologia
Citologia
Raspado de pele
Dermatite Hemograma, perfil bioquímico Dermatohistopatologia
Esfoliativa Urinálise Perfis endócrinos
Cultura para dermatófitos
Endurecido
Hemograma, perfil bioquímico
Túrgido Urinálise Dermatohistopatologia
Exame de fezes
Citologia Hemograma, perfil bioquímico
Sólido
Dermatohistopatologia Culturas
Raspado de pele Dieta de eliminação, erradicação de
Citologia parasitas,
Máculo-papular
Exame de fezes Teste alérgico, dermatohistopatologia,
Hemograma, perfil bioquímico culturas.

Quadro 10: Padrões Morfológicos e exames complementares


Adaptado de Ackerman, 2008

Abordagem por padrões para o diagnóstico dermatológico 21


Considerações finais Referências bibliográficas
1. ACKERMAN, L. The pattern approach to
A dermatologia é uma ciência ba- dermatologic diagnosis. 2011 Disponível em
sicamente visual. Portanto, o conheci- http://www.bizvet.com/uploads/Algorithmic_
mento das lesões primarias e secundá- Approach_to_Dermatologic_Diagnosis-201.pdf.
Acessado em julho de 2013.
rias é essencial para a boa prática clínica,
2. ACKERMAN, L. (Ed) Atlas of Small Animal
pois, à partir disto, é possível determinar Dermatology. Argentina, Buenos Aires, 2008.
o padrão dermatológico predominante 3. RHODES, K.H. (Ed). The 5 minute consult-
do paciente. Em seguida, elabora-se a -clinical companion- Small Animal Dermatology,
Philadelphia, Philadelphia, 2004
lista de diagnósticos diferenciais, mo-
4. MILLER, GRIFFIN e CAMPBELL IN: MULLER
mento este ignorado por muitos, mas and KIRK´s Small Animal Dermatology. 7ed. New
de extrema importância para obtenção York, 2012.
do diagnóstico. A escolha dos exames 5. NUTALL, HARVEY e McKEEVER (Ed)
Enfermedades cutáneas del perro e el gato.
complementares advém logicamente, e Zaragoza, Espanha. 2010.
vale ressaltar que a maioria deles é feito
no próprio consultório. Portanto, o su-
cesso no manejo de um caso dermato-
lógico é fácil de ser obtido, basta que o
raciocínio lógico seja efetuado e todos
os passos realizados.

22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Exames
complementares
no diagnóstico
dermatológico
em pequenos
animais

Rodrigo dos Santos Horta* - CRVM-MG11669,


Adriane Pimenta da Costa Val** - CRMV-MG 4331
* Doutorando em Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG -
bigstockphoto.com
Email para contato rodrigohvet@gmail.com
** Professor Associado I, Escola de Veterinária da UFMG

Introdução As doenças
no aparecimento de lesões
dermatológicas semelhantes em um am-
As doenças derma-
permanecem como plo espectro de doenças
tológicas permanecem
algumas das afecções e ainda, lesões que não
como algumas das afec-
mais frustrantes para apresentaram resolução
ções mais frequentes e
frustrantes para o clínico o clínico de pequenos definitiva e são apenas
de pequenos animais e o animais. Desta forma, parcialmente controladas,
diagnóstico e tratamento uma boa metodologia o que exige um acompa-
podem representar um de trabalho é essencial nhamento prolongado do
desafio, visto que a pele para que se possa paciente1,2. Desta forma,
responde de forma limi-
obter o diagnóstico e uma boa metodologia
tada aos diferentes tipos
estabelecer a terapia de trabalho é essencial
adequada.
de injúrias, o que resulta para que se possa obter
Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos animais 23
o diagnóstico e estabelecer a terapia clínico geral, para que então a pele seja
adequada2. examinada. Tal procedimento, quando
A abordagem do paciente derma- adotado sistematicamente, diminui a
topata inicia-se na identificação, com a chance de falhas no diagnóstico, mas
caracterização da espécie, raça, idade e muitas vezes não é feito devido à ansie-
pelagem. O histórico completo é essen- dade, tanto do proprietário, que deseja
cial para a compreensão da progressão que as lesões sejam examinadas pronta-
das lesões e, consequentemente, a evo- mente, quanto do próprio clínico, quan-
lução da doença2,3. A anamnese deve, do se defronta com lesões nunca vistas
portanto, ser a mais completa possível, anteriormente ou com casos crônicos3.
abordando: o problema principal, que A descrição das lesões em um mapa
pode ser mais de um, sendo importante dermatológico é um excelente método
definir aquele que se iniciou primeiro, para ajudar ao que auxilia no diagnós-
com definição do padrão de distribui- tico, no acompanhamento do curso da
ção das lesões e do prurido; dermatopa- doença e da resposta à terapêutica ins-
tias antecedentes, tanto recentes quanto tituída2,3,4. A confecção de uma lista de
distantes; início, evolução e periodici- diagnósticos diferenciais, com doenças
dade do quadro; existência de contac- que possuam características semelhan-
tantes, animais ou humanos internos ou tes, é uma das chaves para o sucesso na
externos ao ambiente do animal; trata- obtenção do diagnóstico definitivo, pois
mentos utilizados ou em continuidade e vem dela a orientação sobre a escolha
seus resultados; o ambiente e o manejo dos exames complementares adequa-
que o animal é submetido; a presença dos2,4. Muitos destes exames podem
de ectoparasitas3. ser feitos no próprio consultório, no
Os sinais clínicos relacionados a ou- momento da consulta e confirma ou
tros órgãos também devem ser investi- descarta algumas das doenças listadas
gados detalhadamente, com destaque como diagnósticos diferencias, o que re-
para o nível de atividade do paciente, sulta em um diagnóstico mais rápido e a
tolerância à exercícios, ingestão de água, instituição precoce do tratamento, com
apetite e alterações nas fezes e urina. É redução dos custos para o clínico e para
importante questionar sobre a presen- o tutor ou proprietário do animal1, 2,3.
ça e localização do prurido, elucidando O material básico necessário para a
suas manifestações nos pequenos ani- realização da maioria dos exames inclui:
mais, tais como lamber-se, mordiscar-se microscópio, lâminas de vidro, corantes
ou esfregar-se em objetos ou paredes2,4. rápidos de tipo panóptico, óleo de imer-
Todo paciente dermatológico deve são para exame ao microscópio, lâminas
ser submetido, incialmente, ao exame de bisturi, óleo mineral, pincel, pinças
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
de dissecção sem dente e pelo permite a identificação
O tricograma é
hemostática de Crille5. de falhas na pigmentação
utilizado para
Outros exames de- que podem sugerir alopecia
avaliação das pontas,
vem ser encaminhados a por displasia folicular do
hastes e raízes dos
laboratórios de confian- pelos o que permite pelo preto ou por diluição
ça e para estes, além do a identificação da de cor6 (Figuras 18 e 19). A
material já citado são ne- fase de crescimento, identificação de dermatófi-
cessários frascos de boca defeitos na tos e ovos de ectoparasitas é
rosqueada, “punch” ou pigmentação e, em possível, no entanto, a sen-
saca bocados, material alguns casos, infecções sibilidade, do tricograma, é
cirúrgico e condições de por fungos. extremamente baixa6,7.
anestesia geral5. As raízes podem ser
examinadas para a ca-
Exames complementares racterização do ciclo de renovação do
folículo piloso. Normalmente, a maio-
Tricograma ria das raças de cães e gatos apresenta
O tricograma é utilizado para avalia- maior número de pelos no estágio te-
ção das pontas, hastes e raízes dos pelos lógeno (Figura 20). Em algumas raças,
o que permite a identificação da fase de que apresentam o período de cresci-
crescimento, defeitos na pigmentação e, mento prolongado, como os Poodles, a
em alguns casos, infecções por fungos6. maioria dos pelos encontram-se na fase
O exame é simples e consiste na remoção anágena, em crescimento6. Alterações
dos pelos, sem provocar a quebra ou cor- podem indicar aumento na queda de
te, com uma pinça hemostática, aplicação pelos e falhas no crescimento6,7.
em uma lâmina com óleo mineral, coberta
com lamínula e visualização no microscó-
Pesquisa direta de sarnas e
fungos – raspados cutâneos
pio óptico em aumentos de 4-10x6, 7,8.
A avaliação da ponta dos pelos permi- A pesquisa direta de sarnas e fungos
te diferenciar a queda de pelo por prurido compreende o exame complementar
daquela não traumática, mais utilizado na derma-
particularmente útil em A pesquisa direta tologia veterinária7, 8. A
pacientes felinos que apre- de sarnas e fungos técnica é simples, de bai-
sentam o hábito de se lam- compreende o exame xo custo e extremamente
ber, uma vez que o prurido complementar útil, sendo utilizada no
provoca a quebra da extre- mais utilizado diagnóstico e acompa-
midade do pelo6, 7. na dermatologia nhamento terapêutico de
O exame da haste do veterinária sarna demodécica, sarna
Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos animais 25
sarcóptica e dermatofitose7, 8,10. A pro- mento capilar7, 8,10,11. Os raspados devem
fundidade do raspado deve ser adaptada ser múltiplos e as áreas de escolha são as
para a doença em questão, mas os locais bordas dos pavilhões auditivos, a pele
de escolha são as áreas onde a pele se en- glabra da região abdominal e aquela que
contra anormal, eritematosa e/ou onde recobre as articulações úmero-radio-
há presença de pápulas, pústulas, come- -ulnar e tíbio-társica6-8,11.
dos, descamação e alopecia5, 8,10. Caso O encontro de um único ácaro tem
existam dúvidas, o clínico realiza antes valor diagnóstico, bem como o encon-
os raspados superficiais e posteriormen- tro de peletes fecais castanho-escuros
te o raspado profundo. redondos ou ovais, ou ainda, ovos do
ácaro. Caso seja necessária a clarifica-
Escabiose e demodicose ção do material, acrescentar KOH 20 %
Quando as suspeitas diagnósticas e aquecer por alguns minutos5, 7,8,11. Por
recaem sobre os ácaros, a técnica con- outro lado, a sensibilidade do raspado
siste, quando necessário, no corte dos de pele é pequena, apenas cerca de 50%
pelos mais longos da área afetada, segui- dos raspados em animais sabidamente
da de aplicação de óleo mineral na pele doentes apresentam raspados positi-
ou na lâmina de bisturi e raspagem no vos5, 11. Assim, resultados negativos não
sentido do crescimento dos pelos para eliminam a doença da lista de diagnósti-
a coleta de material, que deve ser colo- cos diferenciais e o exame não pode ser
cado em lâmina de vidro seguida de ho- utilizado para acompanhamento da evo-
mogeneização, cobertura com lamínula lução clínica/terapêutica da doença7, 8,10.
e exame direto ao microscópio8-10. A sarna demodécica ou demodi-
O raspado superficial é utilizado em cose ocorre quando o ácaro Demodex
duas afecções contagiosas importantes, canis (Figura 34), habitante natural da
caracterizadas por prurido extremo e pele do cão, multiplica-se aos milhares,
pele eritematosa e com formação de geralmente, devido a desequilíbrios no
crostas, que são a escabiose canina cau- sistema imune cutâneo ou sistêmico do
sada pelo Sarcoptes scabiei (var canis) e a animal5, 9,10. A doença pode ser localiza-
infecção em felinos pelo Notoedres cati2, da ou generalizada e a pele apresenta-se
5,6,7,11
. Como tais ácaros infectam apenas extremamente eritematosa edemaciada
a camada superficial da pele, e migram com regiões de hipotricose ou alopecia
por ela, determinando a formação de e, por vezes, pústulas podem ser obser-
túneis, a preocupação no momento da vadas. Em casos crônicos, observa-se
coleta consiste em raspar áreas mais hiperpigmentação cutânea1, 2. O prurido
amplas de pele que fazer o raspado pro- não é característica marcante, exceto em
fundo, não sendo necessário o sangra- determinadas raças de cães, com desta-
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
que para Shih-tzu, Lhasa- mativo são mais comuns
As dermatofitoses
apso, Pug e Yorkshire, ou em humanos e em felinos,
podem ser definidas
quando ocorrem infecções que também apresentam
como infecções
secundárias1, 7-10,12. dermatite miliar, ou seja,
fúngicas de tecidos
Na suspeita de demo- corneificados, como pequenas crostas amarela-
dicose a pele deve ser for- a epiderme, os pelos e das firmemente aderidas à
temente comprimida en- unhas. pele, podem ser facilmen-
tre os dedos para facilitar te palpadas.
a extrusão dos ácaros do Em cães, as lesões
interior do folículo e os raspados devem podem iniciar-se com pelagem de má
ser profundos, até que se observe sangra- qualidade e áreas de hipotricose, que
mento capilar, e realizado em aproxima- podem evoluir para lesões alopécicas e
damente cinco locais 8-10. A visualização crostosas 1,2,5,6. A descamação, eritema,
de um grande número de adultos vivos hiperpigmentação e prurido são vari-
ou de formas imaturas, quais sejam, ovos, áveis. A doença tende a ser focal, mas
larvas e ninfas é necessária para confir- alguns casos podem chegar à alopecia
mar o diagnóstico, já que um ácaro oca- generalizada. Devido ao amplo espectro
sional pode fazer parte da flora normal da de apresentações clínicas das dermatofi-
pele e também pode ser visto em outras toses, bem como o seu caráter zoonóti-
patologias cutâneas9, 10. Nesta dermato- co e os efeitos colaterais observados em
patia, o raspado também é útil quando alguns tratamentos, o diagnóstico labo-
da decisão de interromper o tratamento, ratorial é o único que oferece completa
pois, independentemente do protocolo confiabilidade1, 2,7,9.
terapêutico utilizado, a obtenção de dois Deve-se colher o material raspan-
raspados negativos, ou seja, livre de áca- do a pele limpa com álcool, após cortar
ros, intervalados de uma semana indicam os pelos, se necessário. O raspado deve
a remissão parasitária da doença5, 7-10,12. ser feito de forma bastante superficial e
delicada, pois a contaminação com san-
Dermatofitoses gue ou exsudatos pode comprometer
As dermatofitoses podem ser defi- os resultados, especialmente o da cul-
nidas como infecções fúngicas de teci- tura5-7,10. O material obtido deve conter
dos corneificados, como a epiderme, os pelos, fraturados ou íntegros, obtidos
pelos e unhas. Os microrganismos mais das bordas das lesões alopécicas, desca-
comumente envolvidos nestas patologias mação e crostas e deve ser colocado em
são: Microsporum canis e Trichophyton frascos de boca rosqueada, mas a tam-
mentagrophytes1, 2. As lesões circulares, pa não deve ser apertada, pois a falta de
de bordas eritematosas e centro desca- oxigênio pode extinguir os dermatófitos
Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos animais 27
da amostra, levando à re- lino, o que acontece em
O exame citológico
sultados falso-negativos. fase precoce de cresci-
é um exame de fácil
A colocação da amostra mento dos dermatófitos,
execução e baixo
entre duas lâminas, uni- por vezes antes do cresci-
custo, que fornece
das por fita adesiva apenas mento da cultura. Fungos
informações muito
nas pontas ou ainda, em saprófitas também podem
importantes sobre
envelopes de papel são fazê-lo, mas em fase mais
a pele e ouvido do
também formas aceitáveis adiantada do cultivo5, 7,10.
paciente e, não
de armazenamento5, 7,10. Portanto, é importante
raramente, pode
Para o exame direto,
definir o diagnóstico e o exame diário do meio
pelos e descamação ob-
o melhor tratamento de cultivo. Após o cresci-
tidos no raspado devem mento da cultura, faz-se
a ser instituído.
ser clarificados com KOH necessário o exame mi-
20%%, mas esta técnica, croscópico das macroco-
além de exigir muito tempo em sua exe- nídeas, para a confirmação da presença
cução, leva à resultados falso-negativos dos dermatófitos patogênicos, identifi-
em muitos casos10. Quando positivas, as cação de gênero e espécie, o que auxilia
estruturas observadas são hifas hialinas, na identificação das fontes de infecção.
septadas e microconídeas. Resultados fal- Já estão disponíveis no mercado
sos negativos ocorrem quando macroco- brasileiro meios de cultivo prontos em
nídeas de fungos saprófitas são vistas no pequenos frascos para uso imediato
exame direto, pois as espécies de dermató- após a colheita do material, mas o clí-
fitos nunca as formam nos tecidos, apenas nico deve considerar o tempo que será
nos meios de cultivo5. gasto diariamente no exame dos meios
e posteriormente na identificação das
Cultura fúngica macroconídeas, bem como a necessida-
no diagnóstico das de de repetições, em alguns casos10. Se
dermatofitoses estes fatos representem empecilhos, de-
ve-se enviar o material colhido e acon-
A cultura fúngica, seguida da iden-
dicionado como acima descrito para um
tificação das macroconídeas é o melhor
laboratório de confiança.
meio de diagnóstico das dermatofito-
ses. O meio de cultura mais apropriado
para crescimento e identificação dos
Citologia da pele e do
dermatófitos é o DTM, sigla em inglês ouvido
para “Dermatophyte Test Médium”5-7. O exame citológico da pele ou da
Tal meio muda sua cor de amarelo cla- secreção auricular objetiva a avaliação
ro para vermelho quando torna-se alca- e estudo morfológico de células das ca-
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
madas superficiais da pele, bem como removida, o êmbolo é puxado, a agulha
a identificação de micro-organismos, é recolocada e o material é depositado
como bactérias, leveduras e protozoá- na lâmina de vidro e espalhado com ou-
rios5, 7,13,14. Este é um exame de fácil exe- tra lâmina (confeccionando-se a lâmina
cução e baixo custo, que fornece infor- como um esfregaço ou “squash”) ou com
mações muito importantes sobre a pele pincel antes de ser corado10, 14.
e ouvido do paciente e, não raramente, A escarificação é a técnica de escolha
pode definir o diagnóstico e o melhor para a coleta de amostras quando exis-
tratamento a ser instituído5, 13,14. Desta tem crostas, vesículas ou descamações do
forma, a citologia deve ser empregada estrato córneo14. A pele afetada é exposta
em uma grande variedade de afecções, e a superfície raspada superficial e delica-
sejam pruriginosas, pustulares, crosto- damente com uma lâmina de bisturi. 5,7,10
sas, nodulares, em placas, descamativas Os debris são transferidos para a lâmina
ou com alopecia5, 7,10. de vidro e espalhados uniformemente,
Diversas são as técnicas utilizadas com o uso de outra lâmina ou pincel5,10.
para a obtenção do material para o exa- As hastes de algodão, por vezes im-
me citológico, com destaque para as provisadas com material comum de
técnicas de aposição (impressão), aspi- clínica, são comumente utilizadas para
ração por agulha fina, escarificação e por coleta de amostras do conduto auditivo,
meio de hastes de algodão ou “swabs” lesões interdigitais ou mesmo lesões com
(Figura 21)5,13,14,15. superfícies crostosas secas14. Para obten-
O esfregaço por aposição é utiliza- ção do material de conduto auditivo, o
do nos pacientes com pele descamati- “swab” é inserido no meato acústico ex-
va, oleosa ou úmida. A lâmina de vidro terno, à cerca do terço médio do canal ho-
pode ser friccionada ou comprimida di- rizontal, rotacionado e retirado contendo
retamente sobre a pele14. secreção que é transferida para a lâmina
A aspiração por agulha fina é mui- de vidro, rolando-se o “swab” 10, 13,14. Se a
to utilizada para obtenção de amostras região estiver seca, pode-se umedecer a
de nódulos, cistos, massas e placas. haste de algodão com solução salina an-
Devem-se utilizar seringas de três a10 tes da coleta de material5, 13,14.
ml e agulhas de 18, 20 ou 22 gauges10, Independentemente da forma de
13,14
. A lesão é firmemente segura, a agu- obtenção do material, a coloração mais
lha é inserida e a aspiração é feita, até 10 comumente utilizada para citologia der-
vezes se possível. O êmbolo da seringa é matológica é do tipo Romanowski, com
solto para liberar a pressão e a seringa e destaque para o Panóptico rápido, sen-
a agulha são retiradas do nódulo5, 10. Não do a lâmina examinada em aumento de
se deve empurrar o êmbolo. A agulha é 1000x (objetiva de imersão)5,10.
Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos animais 29
Inicialmente, deve- leveduras são representa-
Os exames
-se avaliar à presença, das, principalmente, pela
complementares são
número e características Malassezia pachydermatis
fundamentais na
celulares, para que en- (Figura 33) 13,14.
dermatologia para
tão seja feita a pesquisa A contagem de micro-
o estabelecimento
de agentes infecciosos e do diagnóstico -organismos observados
parasitários . A obser-
13
e definição do pode ser determinante
vação de células inflama- tratamento adequado para a definição do diag-
tórias, como leucócitos, para cada paciente. nóstico. Cocos ocasionais
macrófagos ou piócitos, Lesões cutâneas em amostras de pele e do
especialmente, se for são de fácil acesso conduto auditivo são irre-
identificada a fagocitose e não existem levantes e apresentam im-
de micro-organismos, in- contraindicações portância clínica apenas
dica importante infecção significativas na coleta quando formam grandes
clínica, seja em amostras de amostras dessa colônias, no entanto, a
de pele ou do conduto região. identificação de bastone-
auditivo13, 14. Células de tes, em qualquer quan-
descamação, anucleadas, tidade, é considerada
de morfologia irregular, são achados anormal . É importante considerar
13-15

normais, no entanto, quando tais células que a identificação de raros bastonetes


apresentam-se nucleadas, são indicati- em amostras interdigitais pode suge-
vas de alterações de queratinização13-15. rir contaminação por lambedura5, 7,10.
Os agentes infecciosos mais frequen- Leveduras compatíveis com Malassezia
temente encontrados em preparações pachydermatis são encontradas em
citológicas são bactérias, com destaque condutos auditivos de cães clinicamente
para cocos e bastonetes, e leveduras saudáveis, em uma contagem de até 10
(Figura 33)5, 7,10,13-15. A identificação da por campo , no entanto, a identifica-
13, 14

morfologia bacteriana auxilia no diag- ção de apenas algumas leveduras na pele


nóstico e tratamento, visto que a maioria já apresenta importância clínica .
13-15

dos cocos é gram-positivos, representa-


dos, principalmente, por Staphylococcus Considerações finais
pseudintermedius, enquanto a maioria Os exames complementares são
dos bastonetes é gram-negativa, sendo fundamentais na dermatologia para o
Pseudomonas aeruginosa e Proteus mi- estabelecimento do diagnóstico e de-
rabilis as bactérias em forma de bastão finição do tratamento adequado para
mais frequentemente isoladas em cul- cada paciente. Lesões cutâneas são de
turas bacterianas13-15. Por outro lado, as fácil acesso e não existem contraindi-
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
cações significativas na coleta de amos- 6. HNILICA, K.A. Diagnostic techniques. In:
HNILICA, L.A. Small Animal Dermatolgy – A
tras dessa região, sendo a tranquilização Color Atlas and Therapeutc Guide. 3.ed. St. Louis:
ou anestesia raramente necessárias14. A Elsevier Saunders, 2011. Cap. 2, p. 22-36.
maioria dos exames pode ser feita no 7. PATERSON, S. Diagnostic tests. In: PATERSON,
S. Manual of Skin Diseases of the Dog and Cat.
consultório, o que reduz os custos e per- 2.ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2008. Cap.3,
mite um diagnóstico mais rápido e o iní- p.13-25.
cio precoce do tratamento. Em determi- 8. KHOSHNEGAH, J.; MOVASSAGHI, A.R.; RAD,
nados casos, exames complementares M. Survey of dermatological conditions in a popu-
lation of domestic dogs in Mashad, northeast of
mais invasivos podem ser necessários Iran (2007-2011). Vet. Res. Forum, v.4, n.2, p.99-
para o diagnóstico de uma dermatopa- 103, 2013.

tia, e biópsias incisionais devem ser in- 9. BAKER, K. P. Observation on the epidemiology,
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11. LOMHOLT, G. Demonstration of Sarcoptes sca-
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Publishing, 2008. Cap.1, p.1-8. 12. SARIDOMICHELAKIS, M.; KOUTINAS, A.;
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HNILICA, L.A. Small Animal Dermatolgy – A
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Cães e Gatos, 2.ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
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Cap. 3, p. 26-76.
Animales. 1.ed. Barcelona: Elsevier Saunders, 2010.
Cap.1, p. 1-5. 14. PATTEN, P.K.; COWELL, R.D.; TYLER, R.D.
O conduto auditivo externo. In: COWELL, R.L.;
4. HILL, P.B. Physical examination. In: HILL, P.B.
TYLER, R.D.; MEINKOTH, J.H. et al. Diagnóstico
Small Animal Dermatology. 1.ed. Edinburgh:
citológico e hematologia em cães e gatos, 3.ed., São
Elsevier Science, 2002. Cap. 2, p. 16-23.
Paulo: MedVet, 2009. Cap. 10, p. 172-178.
5. HILL, P.B. Performing and interpreting diagnos-
15. KINGA, G. Recognizing pyoderma: more difficult
tic tests. In: HILL, P.B. Small Animal Dermatology.
than it may seem. Vet. Clin. Small Anim, v.43, p.1-
1.ed. Edinburgh: Elsevier Science, 2002. Cap. 13,
18, 2013.
p. 148-229.

Exames complementares no diagnóstico dermatológico em pequenos animais 31


Biópsia de
pele: quando,
onde e como
Maximizando
benefícios
Fabricia Hallack Loures* - CRMV-MG 6752,
Lissandro Gonçalves Conceição** - CRMV-MG 5133 S bigstockphoto.com
* Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária, Doutoranda, DVT - UFV.
Diagnóstico em Dermatopatologia Veterinária, DVT/UFV.
Email para contato: histopelevet@gmail.com
** Médico Veterinário; Professor Associado, DVT – UFV.
Diagnóstico em Dermatopatologia Veterinária, DVT/UFV.

Introdução ta terapêutica inicial adequada. Nestes


casos, é necessário avançar nas técnicas
Na prática dermatológica a anamne-
diagnósticas, utilizando-se do exame
se, exame físico do animal e os exames
histopatológico da pele.
laboratoriais de triagem
(citologia, pesquisa pa- A biópsia e Apesar do exame
rasitológica do raspado histopatologia da histopatológico ser reco-
cutâneo, tricografia, mi- pele apresentam, nhecidamente de grande
cológico direto) são es- em muitos casos, a valia para o diagnóstico
senciais para a pesquisa melhor relação custo- na dermatologia veteriná-
diagnóstica. No entanto, benefício para o fato, ria1,2,3, ainda hoje, este re-
não raramente esses pro- permitem confirmar curso não é utilizado com
cedimentos são insufi- ou sugerir um a frequência que deveria.
cientes para estabelecer o diagnóstico provável A biópsia e histopatologia
diagnóstico definitivo ou e levar a investigações da pele apresentam, em
mesmo auxiliar o clínico de doenças muitos casos, a melhor re-
diante de quadros preo- potencialmente novas, lação custo-benefício para
cupantes ou sem respos- sem prévia descrição. o fato, permitem confir-
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
mar ou sugerir um diagnóstico provável podem sugerir dermatite atópica, den-
e levar a investigações de doenças poten- tre outras possibilidades.
cialmente novas, sem prévia descrição1. No entanto, não é apenas a habilida-
Além disto, são indicados como diagnós- de do dermatopatologista o único fator
tico e tratamento de várias neoplasias. necessário para o sucesso do exame his-
O exame histopatológico pode também topatológico da pele. De igual impor-
prover prognóstico nos casos sob trata- tância está a capacidade do clínico em
mento, sendo pouco utilizado para este realizar adequadamente o procedimen-
fim, devido a razões financeiras1,2. to de biópsia, reconhecer as lesões que
Mesmo com o avanço no conheci- mais representam o processo patológico
mento científico, o exame histopatoló- e manusear corretamente os fragmentos
gico possui suas limitações. Por exem- biopsiados.
plo, os padrões histopatológicos das A amostra coletada deve ser subme-
doenças alérgicas ainda não permitem tida ao laboratório com a solicitação do
diferenciá-las, na maioria dos casos. Isto exame, constando da história clínica,
também ocorre com o padrão atrófico exame físico, tratamentos realizados,
das endocrinopatias. Este fato pode, no resultados e as suspeitas clínicas4,5. As
primeiro momento, representar uma abreviações e outros ícones empregados
desvantagem do exame, o que não é ver- pelo clínico não devem ser utilizados no
dade, pois o referido exame pode estrei- pedido do exame, pois podem ser inin-
tar a lista dos diagnósticos diferenciais, teligíveis ou indecifráveis ao patologista.
excluir alguns grupos de enfermidades Fotos do animal e das lesões dermato-
ou adicionar informações de valor diag- lógicas também são úteis e devem ser
nóstico, a saber: importante espongio- enviadas sempre que possível6. Para que
se, vasculite, calcinose e mucinose. Na o resultado do exame possa ser maximi-
dermatite hiperplásica perivascular su- zado é importante existir integração en-
perficial, por exemplo, o estereótipo do tusiástica e respeitosa entre o clínico e o
padrão reacional das dermatoses crô- patologista responsável3,4.
nicas na espécie canina pode afastar a Assim, é importante que o clínico te-
suspeita de endocrinopatias se houver nha o conhecimento básico do processo
abundante atividade anagênica folicu- que envolve o diagnóstico dermatopa-
lar; se o infiltrado inflamatório contiver tológico5,7, incluindo desde a ideia de se
eosinófilos deve-se valorizar a hipótese proceder a biópsia, até o resultado final
parasitária ou alérgica; ácaros ou fungos de sua interpretação pelo patologista. O
podem estar presentes; espongiose, exo- tema será desenvolvido, inicialmente,
citose linfocitária, com coleções intra- com as indagações técnicas constantes
-epidérmicas de células “Langerhoides” na rotina clinica.
Biópsia de pele: quando, onde e como . Maximizando benefícios 33
Quando Orienta-se que as
sebácea, doenças imuno-
biopsiar? mediadas, algumas der-
principais indicações
matoses nutricionais)1,3,8.
Indicações do para a biópsia e
A glicocorticoterapia
procedimento exame histopatológico
deve ser interrompida
sejam: lesões suspeitas
Não existe indicação no mínimo de duas a três
de serem neoplásicas,
claramente definida de semanas antes da bióp-
ulcerações crônicas,
quando proceder a bi- dermatoses de sia, devido às alterações
ópsia3. Obviamente, o aparência grave e histológicas decorren-
objetivo é de estabelecer desfigurantes e as tes desses fármacos2,3. Se
o diagnóstico definiti- dermatoses que existir processo piogêni-
vo1,2. Após a anamnese necessitam de exame co, convém tratar a con-
e exame físico, pergunte histopatológico para dição com antibióticos
a você mesmo se já viu diagnóstico antes do procedimento
“isto” antes, o que causa de biópsia. Tal conduta
“isto” e o que pode ser feito a respeito. aumenta a chance do reconhecimento
Predominando as incertezas, talvez seja da enfermidade de base que causam as
o momento da indicação da biópsia. A piodermites3.
ausência de resposta terapêutica tam-
bém é uma forte indicação, evitando Qual o local que deve ser
não ultrapassar o período de três sema- biopsiado?
nas de tratamento, qualquer que seja a A escolha da lesão a ser biopsiada é
dermatose considerada1,3,8. Orienta-se tão importante quanto os conhecimen-
que as principais indicações para a bi- tos e a experiência do patologista. De
ópsia e exame histopatológico sejam: le- preferência, a biópsia deve ser obtida
sões suspeitas de serem neoplásicas, ul- de lesões primárias (mácula, mancha,
cerações crônicas (podem pústula, vesícula, bolha,
ser neoplásicas), derma- De preferência, a nódulo, descamação, co-
toses de aparência grave biópsia deve ser medos, alopecia e dis-
e desfigurantes (dermato- obtida de lesões cromias)1,8,9. Estas lesões
ses bolhosas, ulcerativas primárias. As lesões são as mais representa-
e necrosantes multifocais secundárias são tivas para o diagnóstico,
a generalizadas) e as der- consideradas em pois evoluem do proces-
matoses que necessitam segundo plano, mas so patológico principal1,8.
de exame histopatológi- também podem ser As lesões secundárias,
co para diagnóstico (dis- muito úteis para o que evoluem das lesões
plasias anexiais, adenite diagnóstico. primárias, da ação trau-
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
mática, exsudação ou medicação, são são e corte do fragmento5. Sempre que
consideradas em segundo plano, mas possível devem ser retirados vários frag-
também podem ser muito úteis para o mentos, aumentando assim, a chance de
diagnóstico (ex: crostas)3. obter lesões representativas2,4. As derma-
O local ideal para a biópsia varia com toses evoluem, dessa forma a obtenção
a natureza da doença. Na maioria dos ca- de múltiplos espécimes fornece sempre
sos é mais informativo o exame histoló- maiores informações8,9.
gico de uma lesão ”madura” ao invés da O patologista tem conhecimento
lesão muito jovem ou antiga4,10. Nas le- para orientar o clínico sobre o melhor
sões vésico-bolhosas é preferível buscar local de biópsia e deve ser sempre con-
uma nova. Nas lesões mais antigas pode sultado nos casos de dúvida. Como
já ter ocorrido re-epitelização, deslocan- orientação básica, seguem-se indicações
do para as porções superiores da epider- de lesões para serem biopsiadas, exem-
me a posição inicial da clivagem, como plos de doenças em que podem estar
também é mais provável que se instale presentes e comentários pertinentes1:
o processo inflamatório secundário à in- 1. Lesões vesico-pustulosas íntegras
fecção4,11. Note que as lesões pustulosas e (pênfigo foliáceo, pênfigo eritemato-
vésico-bolhosas, em cães e gatos, são, em so, impetigo, piodermite superficial,
geral, muito frágeis e rompem-se facil- dermatose pustulosa subcorneal,
mente, com o mínimo trauma, devendo pustulose eosinofílica estéril, farma-
ser prontamente biopsiadas5. codermia pustular superficial, der-
Na maioria das vezes, o estudo histo- matofitose pustulosa).
patológico não depende da comparação 2. Bolhas e vesículas intactas (penfigói-
com a pele hígida. Em casos de alterações de bolhoso, pênfigo vulgar, epider-
discretas, como discromias, descamação, mólise bolhosa). Se não houver lesão
alopecia ou atrofia é aconselhável enviar primária intacta, a margem de uma
um fragmento de pele normal para efeito vesícula ou bolha recentemente rom-
de comparação1. Quando houver erup- pida pode ser biopsiada.
ções com bordas ativas, progressivas, que 3. Lesões frágeis (vesículas e bolhas)
assumem configuração circular, anular precisam ser removidas inteiramen-
ou serpiginosa, existe indicação de se in- te, preferencialmente, por biópsia
cluir na biópsia uma parte de pele saudá- “em fuso”, com bisturi, para preservar
vel, bem como da região central, menos a integridade da superfície.
ativa. Este procedimento também serve 4. Crostas devem ser incluídas, pois
para as lesões atróficas e escleróticas. podem ser úteis para estabelecer o
Esta conduta diminui a possibilidade de diagnóstico.
erro laboratorial no momento da inclu- 5. Evitar lesões crostosas antigas, ulce-
Biópsia de pele: quando, onde e como . Maximizando benefícios 35
radas e erosadas. A epiderme intacta dócrina, foliculites murais, alopecia
é necessária para estabelecer o diag- cicatricial, displasia folicular e alo-
nóstico de diversas doenças (lúpus pecia não inflamatória de causa não
eritematoso, eritema multiforme, endócrina).
dermatopatia isquêmica, dermato- 11. Máculas discrômicas (altera-
miosite canina, necrólise epidérmica ções de pigmentação: ex. vitili-
tóxica, dermatite esfoliativa associa- go, hiper ou hipopigmentação
da ao timoma felino). Na presença de pós-inflamatória).
apenas lesões ulceradas, áreas erite- 12. Lesões purpúricas (hemorragias,
matosas adjacentes às úlceras podem vasculites). Na suspeita de vascu-
ser biopsiadas. Lesões em processo lite, evitar locais de difícil cicatri-
de despigmentação do plano nasal zação (como plano nasal e coxim).
ou no lábio são uteis para o diagnós- Se necessário, realizar a biópsia na
tico do lúpus eritematoso discoide. margem das lesões nessas regiões.
6. Placas eritematosas, descamativas, 13. Placas urticariformes (urticaria e
escamo-crostosas, alopécicas ou angioedema). Devem-se realizar
não; comedos (dermatite solar; pla- precocemente as biópsias, uma vez
ca eosinofílica; foliculite / dermatite que as lesões são transitórias. Pode-
piotraumática; doenças com corni- se incluir pele normal para efeito de
ficação anormal, como dermatose comparação.
reponsiva ao zinco, dermatite sebor- 14. Em casos de paniculite, realizar
réica, comedos actínicos, adenite biópsia profunda “em cunha”, por
sebácea). bisturi (nunca punch), garanti-
7. Máculas, pápulas e placas eritemato- do que a amostra represente além
sas (alergias várias). da epiderme e da derme, o tecido
8. Pápulas e pústulas (foliculite subcutâneo.
bacteriana). 15. Evitar lesões crônicas (hiperpig-
9. Lesões papulo-nodulares (dermati- mentadas, liquenificadas), auto-
tes e paniculites infecciosas ou não, traumatizadas e infectadas.
como piogranuloma estéril, doenças 16. Sempre que possível, obter biópsias
fúngicas, bacterianas e por protozoá- profundas.
rios, granuloma eosinofílico, reação a
corpo estranho, calcinose circunscri-
Como realizar a biópsia
ta, amiloidose, histiocitoses reativas de pele?
etc). O instrumental utilizado para o
10. Áreas de máxima alopecia (todos procedimento da biópsia de pele deve
os casos de suspeita de doença en- ser delicado2, de preferência oftálmico,
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
contendo tesoura curva Esta resulta na perda par-
O local a ser
de Matzembaum ou de cial ou total da epiderme
biopsiado deve ser
iris, pinças de Adson ou e parte superficial da der-
marcado com uma
Halsted, pinças hemos- me, comprometendo o
caneta e não precisa
táticas curvas, cabo de ser limpo, preparado diagnóstico .
5

bisturi, lâminas de bisturi ou esfregado com O local a ser biopsia-


(n. 11 e 15), saca bocados nenhum antisséptico, do deve ser marcado com
(“punchs”) de 4, 6 e 8 mm principalmente, uma caneta e não precisa
de diâmetro, material para nas lesões pequenas ser limpo, preparado ou
sutura, compressas esté- e delicadas, pois esfregado com nenhum
reis, anestésico local (li- os elementos de antisséptico, principal-
docaína a 2%), seringa de importância mente, nas lesões peque-
insulina, gaze estéril, pa- diagnóstica podem nas e delicadas, pois os
pel toalha limpo, peque- ser removidos com elementos de importân-
nos pedaços de madeira essas ações, bem como cia diagnóstica podem
(abaixador de língua ou ocorrer alterações ser removidos com essas
palito de sorvete) e frasco inflamatórias ações, bem como ocorrer
de boca larga contendo iatrogênicas. alterações inflamatórias
formalina a 10% .3
iatrogênicas2, 3.
O animal deve ser me- Nos casos de grandes
ticulosamente examinado em ambiente lesões, é preferível utilizar a técnica ex-
com ótima iluminação. A manipulação cisional em fuso (fragmento fusiforme),
vigorosa pode alterar algumas lesões de avançando após a margem da lesão5. A
importância diagnóstica, como: pústu- biópsia em fuso possui a vantagem de
las e crostas. As escamas e crostas po- fornecer maior extensão de tecido ao
dem conter informações importantes ser examinado, além de facilitar a orien-
para o diagnóstico. Os pelos devem ser tação do corte e inclusão do material.
cortados com tesoura o mais próximo Essa técnica deve ser utilizada nas lesões
possível da epiderme, evitando-se trau- neoplásicas, também com objetivo tera-
matizar ou remover escamas ou cros- pêutico - excisional, lesões pustulosas e
tas da superfície cutânea. Dessa forma vesiculosas de grande tamanho, - a ação
impede-se que os pelos incluídos na pa- rotatória do “punch” pode romper ou
rafina dificultem o corte e danifiquem a danificar a lesão -, lesões paniculares e
navalha do micrótomo6. na investigação das alopecias - os bulbos
Preferencialmente, a área a ser biop- matricais anagênicos estão ancorados
siada não deve ter recebido tratamento profundamente no tecido gorduroso
tópico recente, trauma ou escoriação8. panicular1,2,4,6. A técnica empregando
Biópsia de pele: quando, onde e como . Maximizando benefícios 37
o “punch” (saca bocado) não permite Após essa manobra o fragmento deve
obter tecido panicular suficiente para o ser cortado em sua base com a profun-
bom exame histopatológico nos casos didade adequada3. Vale salientar que na
de paniculite12. A anestesia geral, o tem- pele bem anestesiada, a biópsia (“pun-
po gasto e as múltiplas suturas consti- ch” ou elíptica) profunda não é mais do-
tuem algumas desvantagens do método lorosa que um procedimento superficial
de biópsia incisional e excisional2. e permite sutura de maior qualidade e
A biópsia por “punch” é realizada com melhor efeito cosmético5.
com maior facilidade, geralmente, ne- A técnica de biópsia por curetagem,
cessita apenas de anestesia local e con- ou ”shaving” utilizada em medicina hu-
tenção física, nos animais mais dóceis. mana, principalmente, para as lesões
Essa técnica também é mais aceitável névicas, não é, em geral, recomendada
para os proprietários e permite com na dermatologia veterinária. O material
frequência a obtenção de vários frag- obtido pelo “shaving” é insuficiente para
mentos, aumentando-se a chance de um bom exame, além de poder resultar
obtenção de lesões representativas. em alterações histológicas que compro-
Nessa técnica, é recomendável que não metem o diagnóstico6.
se inclua qualquer porção de pele nor- Pontos simples separados, após boa
mal durante a biópsia. Se a pele normal antissepsia e o uso de fio não absorvível,
estiver presente é possível que ocorra são, geralmente, suficientes para o fe-
inclusão da metade normal ou menos chamento da ferida deixada pelo ato da
lesionada, prejudicando o diagnóstico. biópsia.
No ato cirúrgico, o “punch” deve ser Grandes complicações não são es-
firmemente posicionado na pele e rota- peradas durante ou após o procedimen-
cionado apenas em uma direção, até que to de biópsia3. A hemorragia, que sem-
penetre no tecido subcutâneo. O mo- pre existe em alguma intensidade pode
vimento alternado de rotação aumen- ser geralmente controlada por simples
ta a chance de artefatos mecânicos ao compressão. No entanto, deve-se prestar
fragmento, principalmente, a clivagem muita atenção em animais com distúr-
dermo epidérmica1. Uma vez seciona- bios de coagulação, como por exemplo,
do em seu perímetro, o espécime pode nas terapias com anticoagulantes (in-
ser exposto pinçando, com os dedos a clusive com aspirina), nas intoxicações
pele peri-lesional, tracionando, delica- por rodenticidas, nas trombocitopatias,
damente, com pinças hemostáticas (se entre outras. Problemas de cicatrização
houver pelos, é melhor utilizá-los) ou devem ser antecipados nos casos de
com a agulha de injeção hipodérmica na hiperadrenocorticismo, no diabete me-
altura da interface dermo epidérmica1. lito e nas anormalidades do colágeno.
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Raramente, desenvolve- devido à degeneração
Para as amostras
-se a cicatriz hipertrófica
maiores, recomenda- das membranas celula-
em animais.
se colocar o fragmento res, liberação das enzi-
A dose de anestésico mas hidrolíticas e ação de
sobre um pedaço
local deve ser sempre res- de madeira ou de bactérias saprófitas que
peitada, principalmente, cartolina porosa, com terminam por destruir
em filhotes, pois podem a derme voltada para o tecido. Os fragmentos
resultar em convulsões, baixo, exercendo-lhe obtidos por “punch” e dei-
depressão miocárdica e delicada pressão. xados sob o foco cirúrgico
até em morte. Além do luminoso exibem altera-
mais, não indica-se o uso ções autolíticas em menos
de lidocaína com vasoconstritor nas ex- de cinco minutos. Para evitar que tais
tremidades, nas doenças cardiovascu- alterações se instalem, a amostra deve
lares, em pacientes recebendo fenotia- ser imediatamente colocada em solução
zínicos, bloqueadores b adrenérgicos, fixadora5,13. Para o procedimento que
terapia com inibidores da monoamino- envolva a retirada de vários fragmentos,
xidase (ex: amitraz) e antidepressivos não se deve esperar a coleta de todos os
tricíclicos. fragmentos para depois colocá-los na
Depois de retirado do animal, o frag- solução fixadora.
mento deve ser rolado por sobre o papel Por fixador define-se qualquer subs-
toalha absorvente para retirar o excesso tância química usada para preservar e
de sangue que, de outra forma, poderia endurecer o tecido, preparando-o para o
aparecer no exame microscópico. Para exame histopatológico. O sucesso da lei-
as amostras maiores, recomenda-se co- tura e interpretação histopatológica de-
locar o fragmento sobre um pedaço de pende também da boa fixação. Embora
madeira (abaixador de língua) ou de isto pareça simples e aparentemente dis-
cartolina porosa, com a derme voltada pensável de se dizer, muitos patologistas
para baixo, exercendo-lhe delicada pres- continuam ainda recebendo materiais
são. Esse procedimento é necessário inadequadamente fixados.
para fragmentos elípticos maiores, pois A solução de formalina a 10% é
previne a curvatura e ondulação teci- ainda o fixador que melhor preserva as
dual, permitindo a melhor orientação estruturas celulares e é o agente mais
anatômica1,2,3,5,13. utilizado na medicina veterinária. A
Lembrar que as alterações decorren- formalina remove a água das moléculas
tes de autólise iniciam-se, imediatamen- tissulares (proteínas e ácidos nucléi-
te, após a interrupção do fornecimento cos), ocasionando alterações das estru-
sanguíneo ao tecido. A autólise ocorre turas dessas moléculas que resultam em
Biópsia de pele: quando, onde e como . Maximizando benefícios 39
pontes intermoleculares. de no mínimo 24 horas.
Um erro
Essas ligações resultam na Um erro frequentemente
frequentemente
resistência à ação hidrolí- observado é o envio de
observado é o
tica das enzimas .
13
grandes fragmentos de te-
envio de grandes
Entretanto, a forma- cidos, acondicionados em
fragmentos de tecidos,
lina ainda não é o fixador recipientes de boca estrei-
acondicionados em
ideal. É um produto ins- ta ou com pouco volume
recipientes de boca
tável e quando exposto de fixador. O volume do
estreita ou com pouco
ao oxigênio degrada-se fixador deve ser 20 vezes
volume de fixador.
em ácido fórmico que, maior que o volume da
O volume do fixador
por sua vez, não possui a amostra2,4.
deve ser 20 vezes
mesma capacidade fixa- Em virtude da forma-
maior que o volume
dora. Esse produto reage lina não penetrar, eficien-
da amostra
também com o sangue, o temente, nos fragmentos
que promove a formação com espessuras superiores
de grânulos marrons no tecido (hema- a um centímetro, os espécimes de maior
tina ácida). Uma vez formado esse pig- tamanho devem ser parcialmente secio-
mento, pode-se eliminá-lo pelo método nados a intervalos de 1cm.
de Verocay ou Kardasewitsch5. Com o Quando se pretende o estudo de imu-
passar do tempo, a formalina também se nofluorescência ou microscopia eletrôni-
degrada em paraformaldeído, que não ca, a formalina não é o fixador indicado.
fixa os tecidos com a mesma qualidade. Para esses casos emprega-se o fixador de
Esses artefatos podem ser diminuídos Michel e Milogni, respectivamente. Para
tamponando-se a solução de formalina o estudo imunoistoquímico, (imunope-
com fosfato sódico. A seguir, encon- roxidase) a fixação prévia com formalina
tram-se as fórmulas desses fixadores não é impedimento absoluto para a reali-
(Quadros 1 e 2)5,6. zação da técnica. Nestes casos, é impor-
O tempo de fixação depende do ta- tante consultar o laboratório para saber
manho da amostra e se faz da periferia qual a melhor forma de fixação ou acon-
para o centro do espécime. O período
mínimo de fixação para fragmentos ob- Água destilada 900 ml
tidos por punch de 6 mm ou maiores é Solução Concentrada de forma- 100 ml
lina a 40%
Água destilada 900 ml Fosfato anidro de sódio 6,5g
Solução Concentrada de forma- Fosfato monohidratado ácido 4g
100 ml
lina a 40% de sódio
Quadro 1– Composição química da solução de Quadro 2 - Composição química da solução tam-
formalina a 10% ponada de formalina a 10%

40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


dicionamento da amostra, dermatopatologia. Cada
O clínico deve enviar
pois alguns anticorpos não espécie animal possui
a amostra para um
funcionam em tecido fixa- sua própria característica
serviço especializado
do em formalina. histológica e alterações
em dermatopatologia
patológicas. Realmente,
Para quem veterinária, de
poucas doenças em me-
preferência para
enviar o material um profissional que
dicina veterinária mime-
para exame? tenha conhecimentos
tizam doenças humanas,
mesmo quando recebem
O clínico deve enviar além da patologia
a mesma denominação.
a amostra para um serviço microscópica, também
Além disso, várias doen-
especializado em derma- da macroscópica e
ças são exclusivamente
topatologia veterinária, atuante em ambas as
encontradas nos animais,
de preferência para um áreas.
não existindo correspon-
profissional que tenha co- dentes exatos na medici-
nhecimentos além da patologia micros- na humana . Entretanto, é importante
13
cópica, também da macroscópica (clini-
que o dermatopatologista veterinário
ca dermatológica) e atuante em ambas
tenha conhecimento em dermatopato-
as áreas. Sem dúvida, essa associação
logia humana para reconhecer ou sus-
anatomo clinica é mais eficiente na in-
peitar de caso potencialmente inédito.
teração com os clínicos e na elucidação
diagnóstica. Igualmente importante é Como a amostra
a confiança que o clínico deposita no
serviço, além de ter liberdade e abertura
é processada no
para discutir o caso, sugerir questionar, laboratório?
solicitar revisão de lâmina, recortes ou Não há necessidade que o clínico
colorações especiais. conheça todas as reações e fundamen-
Não se pode obter o máximo de tos do processamento histopatológico.
um resultado se não houver sem- Entretanto, é importante que se tenham
pre boa correlação anatomo-clínica. algumas noções básicas das etapas do
Definitivamente, o dermatopatologista processo.
não desempenha eficientemente quan- Após o recebimento e registro da
do lhe são privados os dados clínicos do amostra pelo laboratório, segue-se o
paciente, não importando o quanto bem exame macroscópico da peça que cons-
realizado tenha sido a biópsia8. ta das dimensões (por vezes o peso),
Utilizar o serviço de patologia hu- cor, consistência e o aspecto ao corte
mana não é uma escolha aceitável, da lesão (quando houver alteração). O
mesmo que este seja especializado em clínico deve ter consciência que após a

Biópsia de pele: quando, onde e como . Maximizando benefícios 41


fixação com formalina as alterações de A pele é um tecido de difícil corte,
cor como o eritema, discromias e mes- devido à natureza diversa dos tecidos
mo impressões obtidas pela palpação, que a compõe, exigindo um técnico
podem e, frequentemente, não são mais experiente, paciente e cuidadoso, bem
observadas pelo patologista, devido ao como aparelhagem limpa, lubrificada e
endurecimento e descoloração da peça. afiada. Os cortes são feitos com espessu-
Da mesma forma, lesões pequenas como ra de 4 a 6 mm, embora seja preconizada
pápulas e pústulas, visíveis durante o alguma vantagem com cortes mais es-
exame físico, também, possivelmente, pessos5. Após o corte, o tecido é estica-
não serão mais óbvias após a fixação3,13. do em banho-maria e montado em uma
A amostra deve ser cortada e coloca- lâmina microscópica.
da no cassete plástico juntamente com A coloração histológica empregada
os dados de identificação do animal. Os na rotina é a hematoxilina-eosina (HE).
fragmentos de pele podem ser adequa- A coloração de orceína ácida de Giemsa
damente secionados ao meio, através da também é útil na rotina e tem sido uti-
epiderme até atingir a região panicular, lizada em alguns serviços. Outras co-
no sentido dos folículos pilosos. Tal lorações podem ser empregadas com
corte permite a visualização longitudi- o objetivo de melhor visualização de
nal dos folículos pilosos e demais ane- certas estruturas como grânulos dos
xos epidérmicos. O corte transversal, mastócitos (Azul de Toluidina), fun-
paralelo à superfície cutânea, na altura gos (Acido Periodico de Schiff – PAS e
do infundíbulo folicular, está indicado prata metamina de Grocott), bacilos ál-
nos casos de avaliação das alopecias não cool ácido resistentes (Ziehl Neelsen e
inflamatórias13,14. Fite Faraco), fibras elásticas (Verhoeff),
Após essa primeira etapa, o tecido melanina (Fontana Masson), amilóide
é desidratado passando por soluções de (Vermelho Congo ou cristal violeta),
álcool, diafanizado em soluções de xilol, entre outras3,5.
para depois ser incluído em parafina. A Muitos artefatos teciduais podem
parafina mantém firmes e relacionadas resultar tanto do ato da biópsia (respon-
às estruturas morfológicas para não sabilidade do clínico) como do proces-
deformarem quando submetidas ao samento laboratorial (responsabilidade
corte do micrótomo. A seguir, o tecido do patologista). Virtualmente, qualquer
é colocado em um pequeno recipiente etapa do procedimento pode afetar o
contendo parafina derretida que irá, ao diagnóstico histopatológico final. Ao
endurecer, se fundir com a parafina pre- clínico vale lembrar que a escolha ina-
viamente infiltrada no tecido, formando dequada da lesão, o preparo cirúrgico
o bloco de parafina. inadequado, o uso de antissépticos ou
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
fármacos, fricção da pele a ser biopsia- de correlação anatomo-clínica, de-
da, o uso inadequado de pinças, a não monstre iniciativa para solicitar, quando
utilização de apoio de madeira ou car- apropriado, colorações especiais e re-
tolina para o fragmento biopsiado, a fi- cortes, entre em contato com o clínico
xação inadequada ou o congelamento sempre que necessário, reconheça suas
da amostra e a rotação errônea do punch limitações e obtenha uma segunda opi-
podem levar a alterações microscópicas nião para os casos que assim necessite.
teciduais que comprometem o resulta- A dermatopatologia possui vo-
do do exame histopatológico3,5. cabulário próprio, frequentemente
Em suma, para que o processo re- específico, porque muitas alterações
sulte em máximo benefício, espera-se histopatológicas ocorrem apenas no te-
boa atuação do clínico, nos seguintes gumento3,4. O melhor entendimento do
tópicos: laudo histopatológico está vinculado ao
• Na escolha de lesões representativas a conhecimento dos termos e definições
serem biopsiadas; técnicas. Assim, o leitor é encorajado a
• Sempre que possível, na obtenção de consultar as excelentes obras relaciona-
várias amostras; das na bibliografia abaixo.
• Na preservação ao máximo da superfí-
cie lesionada; Referências bibliográficas
• Na utilização de instrumental adequa- 1. GROSS, T.L., IHRKE, P.J., WALDER, E.J.
Veterinary Dermatopathology A Macroscopic and
do, evitando os artefatos de coleta; Microscopic Evaluation of Canine and Feline Skin
• Na fixação adequada da amostra; Disease. St. Louis: MOSBY-YEAR BOOK, Inc,
1992. 520p.
• No envio de formulário de solicitação
2. IHRKE, P.J. The Skin in Biopsy: Maximizing
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animal, resumo da história e sinais clí- 1988.
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cutir o caso. 5. MEHREGAN, A.H. Pinkus’ Guide to


Dematohistopathology. 4.ed. Norwalk:
Por outro lado, ao patologista com- APPLETON-CENTURY-CROFTS, 1986. 655p.
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44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Abordagem
diagnóstica
do prurido
em cães
Guilherme De Caro Martins* – CRMV- 10.970,
Adriane Pimenta da Costa Val** – CRMV- 4331
* Mestrando em Ciência Animal, Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Minas Gerais (EV/UFMG)
E-mail para contato: guilhermedcmartins@hotmail.com
** Professora Associada I, Escola de Veterinária da UFMG.
bigstockphoto.com

Introdução ser realizada uma abordagem sistemá-


tica, baseada em provas diagnósticas,
O prurido é uma das razões mais co- diagnósticos diferenciais e monitoriza-
muns pelos quais os proprietários levam ção do paciente7.
os animais para a consulta veterinária
1,2,3
. É definido como uma sensação de- Revisão de literatura
sagradável, semelhante à dor, manifesta-
do por lambedura, mastigação, roçar em Fisiopatologia
objetos, arranhaduras, mudanças com- O prurido é um sinal clínico de afec-
portamentais e automutilações 4,5. ções dermatológicas subjacentes, com
O prurido pode ser uma manifes- ou sem lesões primárias, ou de doenças
tação de diversas dermatopatias, sendo sistêmicas, sendo considerado uma das
as principais, relacionadas aos parasi- queixas mais comuns apresentadas à clíni-
tos, principalmente às pulgas, às infec- ca veterinária 2,5,8. De forma similar à dor,
ções secundárias, e às alergopatias 6,7. a coceira é um sistema de alarme efetivo
Portanto a identificação e controle da para remoção de substâncias lesivas à pele,
causa primária são de extrema impor- e quando ocorre de forma crônica tem
tância antes que se realize o tratamento um impacto acentuado na qualidade de
sintomático do prurido. Para isso, deve vida do animal2. É estimulada, na maioria
Abordagem diagnóstica do prurido em cães 45
das vezes, por substâncias Abordagem do
como histamina, proteases,
A coceira é um
sistema de alarme prurido
neuropeptídeos, opióides,
efetivo para remoção Deve-se buscar ini-
mediadores lipídicos e vá-
de substâncias lesivas cialmente, uma ana-
rias citocinas que se ligam a
à pele, e quando mnese meticulosa,
receptores denominados de ocorre de forma buscando-se ressaltar
prurireceptores 1, 5,8. Alguns crônica tem um a identificação precisa
fatores podem iniciar, supri- impacto acentuado do paciente. Para isso,
mir ou exacerbar o prurido1. na qualidade de vida é importante adotar
Os fatores mecânicos, como do animal. questionários dermato-
esfregar e arranhar a pele, lógicos específicos que
por exemplo, suprimem servirão de guia para
brevemente a sensação pruriginosa devi- obtenção do histórico 2,3,7. Dentre as
do ao desencadeamento de estímulos do- perguntas presentes no questionário
lorosos, térmicos e táteis que competem (Quadro 1), deve-se ressaltar a im-
com circuitos neuronais 5,8. portância do padrão de distribuição

Questionário dermatológico específico


1. Identificação do paciente
- Raça
- Idade
2. Qual a idade de aparecimento do prurido?
- Há lesões associadas?
- Como são os aspectos das lesões?
- O que apareceu primeiro: a coçeira ou a ferida?
3. Qual a intensidade do prurido? (utilizar uma escala como padrão)
4. Quais são as áreas do corpo afetadas?
- Lambe as patas? Esfrega o rosto no chão?
5. A quais tratamentos o animal já foi sumetido?
- Qual foi a resposta a cada terapia?
6. Como é o ambiente em que o animal vive?
- Houve alguma mudança ambiental recentemente?
- Convive com outros animais?
- Há algum outro animal apresentando sinais dermatológicos?
7. A que dieta o animal é submetido?
8. Há alguma outra alteração ou problema associado?

Quadro 1- Questionário dermatológico específico para paciente que cursa com prurido
Fonte: Martins et al; 2012

46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


das lesões e do prurido, nitorização do paciente
No exame clínico
pois isso auxilia bastan- e comprovação de me-
deve-se, inicialmente,
te no direcionamento lhora clínica (Figura
observar a presença
da enfermidade primá- 32)
de infecções
ria presente (Quadro 2) O ato de se coçar
secundárias, pois elas
(3,5). Além disso, a uti- está frequentemente
por si só podem levar
lização de um dermogra- associado a lesões cutâ-
à coceira.
ma é essencial para mo- neas primárias, como
pápulas (Figura 3), pús-
Localização tulas (Figura 9) e vesículas (Figura 8).
das lesões Afecções No entanto, essas lesões são efêmeras
ou prurido e assim o paciente, no momento da
Atopia, hipersensibilidade
consulta, apresenta lesões secundárias,
Pina alimentar, sarna sarcóptica,
vasculite, pênfigo
como colaretes (Figura 11), escoriações
(Figura 16), crostas (Figura 14), e às
Demodicose, atopia, hipersen-
sibilidade alimentar, dermato- vezes liquenificação (Figura 17) e hi-
Face perpigmentação, que orientam exames
fitose, sarna sarcóptica, lúpus
e pênfigo específicos e o diagnóstico 5,9.
Atopia, hipersensibilidade No exame clínico deve-se, inicial-
Patas alimentar, dermatite por ma- mente, observar a presença de infecções
lassezia, pênfigo secundárias, pois elas por si só podem
Infecção bacteriana ou fúngica, levar à coceira (Fluxograma 1). A im-
Unhas trauma, distúrbios imunome-
diados da pele
Região Dermatite alérgica a picada de Cão com prurido
lombo-sacral pulga
Infecções bacterianas ou fún-
gicas, parasitas, pólipos, corpo Idenficar todas as
Pavilhão estranho. Geralmente cursam infecções secundárias
e conduto com uma doença primária
auditivos como atopia, hipersensibi- Sarna sarcópca,
lidade alimentar e doenças Foliculite e demodiciose e
malasseziose dermatofitose
endócrinas.
Cotovelos,
Sarna sarcóptica, atopia, hiper-
axila e
sensibilidade alimentar Tratar de forma agressiva todas
jarretes as infecções elucidadas
Quadro 2 - Localização das lesões das principais
afecções que cursam com prurido Fluxograma 1 - Abordagem inicial do prurido em
Fonte: Martins et al.,2012
cães

Abordagem diagnóstica do prurido em cães 47


plementação de um banco de dados já que a maioria dos animais apresenta-
mínimo que inclua exame citológico -se com área de rarefação pilosa, erite-
e raspados cutâneos é importante para ma, foliculite secundária, escoriação e
confirmar a presença dessas infecções, prurido intenso na região lombo-sacral
sejam elas por ácaros, fungos ou bacté- (Figura 35), associado ou não a históri-
rias 8,9,10. co recente de infestação por pulgas 9,12.
Com o exame citológico é possí- Em apenas 60% dos animais que pos-
vel identificar microorganismos como suem DAPP, são encontrados as pulgas
Malassezia sp, bactérias cocóides (Figura ou resquícios de infestação, portanto
33) e bastonetes. Com o raspado cutâ- não é considerada uma prova sensível
neo profundo e superficial, é possível para excluir ou confirmar o diagnóstico
elucidar ácaros como o Demodex canis de DAPP 3,12. (Fluxograma2)
(Figura 34) e Sarcoptes scabiei. No en-
tanto, o diagnóstico de exclusão para a Prurido persiste, mesmo após
debelar as infecções secundárias
sarna sarcóptica deve ser realizado na
maioria das vezes, com associação dos
sinais clínicos ao tratamento, pois a sen-
sibilidade do raspado superficial é de Há evidências Há histórico
de dermate na ou
apenas 25% 9,10. região lombo- evidência
Após a resolução das infecções sacral? de pulga?
secundárias e lesões é importante de-
terminar se há prurido persistente e
residual8. Caso a resposta seja positiva Controle efevo de pulgas
faz-se necessário a pesquisa de causas no animal e ambiente
alérgicas, que resultam de uma resposta
exagerada e deletéria do sistema imune Fluxograma 2 – Abordagem do prurido após de-
belar infecção secundária e animal com suspeita
a antígenos específicos 3,11. de DAPP.
Há três principais causas alérgicas
em cães, e o diagnóstico de cada uma
delas é realizado por provas terapêuti- O sucesso no manejo dessa afecção
cas, já que se assemelham em sinais clí- depende da eliminação das pulgas, tan-
nicos e, essencialmente por exclusão. to do animal como do ambiente 12. Se
Inicialmente, é necessário excluir as após a exclusão da dermatopatia supra
induzidas por parasitas, como a derma- citada houver persistência do prurido
tite alérgica à picada de pulga (DAPP). moderado a intenso e não sazonal, o
O histórico e a localização das lesões animal deve ser submetido à exclusão
podem direcionar para o diagnóstico, dietética para que se verifique a possibi-
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
lidade de hipersensibilidade alimentar11 14
. A dieta caseira com esses ingredientes
(Fluxograma 3) . deve ser a primeira opção para o diag-
nóstico, pois tem-se uma maior controle
Prurido persiste,
O
te
das substancias que o animal esta inge-
principalmente em patas,
axilas, abdomen e face
recorrente rindo. Caso não seja possível, opta-se
por rações hipoalergênicas comerciais.
Após esse período é ideal realizar a ex-
Reflexo otopodal, posição provocativa com o alimento an-
lesão critematosa em
margens da orelha,
Suges
vo de terior, para assim confirmar a hipersen-
dermatopa
a
cotovelos e joelhos,
alérgica
sibilidade alimentar 13. O retorno dos
com prurido intenso e
incontrolável
sinais clínicos, que pode ocorrer horas
ou dias após a dieta provocativa, confir-
ma a hipersensibilidade alimentar. 9,13,14.
Suges
vo de sarna Se após o período de teste o pruri-
sarcóp
ca
do e os sinais tegumentares persistirem,
conclui-se que o paciente apresenta der-
Realizar dieta de exclusão alimentar matite atópica (Figura 36).
Ressalta-se que o diagnóstico de
Fluxograma 3- Abordagem do prurido naqueles dermatite atópica é subsidiado pelo
animais em que além das infecções secundárias,
a DAPP já foi excluída e o prurido ainda persiste. exame clínico e só deve ser estabelecido
após exclusão de outras dermatopatias
A hipersensibilidade alimentar é pruriginosas 11 (Fluxograma 4). O tes-
uma reação orgânica adversa aos ali- te alérgico intradérmico e sorológico
mentos em que as habituais fontes pro- demonstram a presença de hipersensi-
téicas e de carboidratos encontradas na bilidade mediada por IgE a alérgenos
alimentação constituem os principais específicos e devem ser indicados após
agentes alergênicos 13,14. A restrição die- o diagnóstico de atopia ter sido estabe-
tética é a única forma de confirmar ou lecido visando subsidiar a manipulação
eliminar hipersensibilidade alimentar e de vacinas para a realização de dessen-
deve ser inicialmente prescrita por seis sibilização alérgeno-específica 11,15,16. A
a oito semanas, porém pode-se estender atopia é uma doença incurável, em que
por até doze semanas. Consiste em for- a terapia é realizada para controle dos si-
necer ao animal alimentos com os quais nais clínicos. A melhor terapia deve ser
tenha tido pouco, ou nenhum contato, avaliada caso a caso, porém em todos,
como carne de coelho, peixe, cordeiro deve-se optar por uma multiterapia, en-
ou rã como fonte de proteína, e arroz e/ volvendo muitas vezes agentes sistêmi-
ou batatas como fonte de carboidratos cos e tópicos.
Abordagem diagnóstica do prurido em cães 49
Prurido persiste na face, patas, axilas e ventre,
mesmo após a dieta de exclusão

Faixa etária de 1-3 anos Ote crônica/ ote recorrente

Prurido extremamente
Sazonalidade
responsivo ao corcóide

Diagnósco de atopia

Fluxograma 4- Abordagem do prurido em cão, em que o prurido persiste mesmo após a dieta de ex-
clusão. Em vermelho, informações que auxiliam na identificação do paciente, e que são comuns no
paciente atópico, porém não necessariamente precisam estar presentes.

No intuito de avaliar a melhora clí- a terapia do paciente com prurido exige


nica, é importante ter uma escala para terapia tópica e sistêmica, de acordo com
monitorização do prurido. A sua quan- a infecção subjacente (7).
tificação torna-se importante, já que é Diversos são os agentes sistêmicos
um parâmetro subjetivo e às vezes difícil para o controle do prurido (Quadro3).
de ser esclarecido pelo proprietário 2,4,19. A escolha deve estar relacionada essen-
Para tanto, foi proposta uma escala visu- cialmente à causa primária, ao controle
al modificada em que são mensuradas de infecções secundárias e também ao
a intensidade e frequência assim como controle do prurido intenso que trás
descrição de alterações comportamen- desconforto ao paciente.
tais que podem ser exibidas pelos cães Porém algumas considerações sobre
17
(Figura 37) o uso dessas terapias devem ser realiza-
das. A escolha inicialmente é empírica,
Terapia do prurido e dentre os antimicrobianos mais utili-
O primeiro princípio que o clíni- zados estão a cefalosporina de primeira
co deve se lembrar quando está lidando geração e a amoxicilina associada ao áci-
com um paciente que apresenta prurido do clavulânico para o controle da folicu-
é que trata-se de um sinal clínico, e não lite. Porém o seu uso geralmente é feito
uma doença. Portanto, todo esforço deve de forma errônea, com doses insuficien-
ser feito na identificação da causa primá- tes de antibiótico ou administração por
ria e no seu tratamento específico, para curtos períodos 9. A utilização por até
que não se estabeleça apenas terapia ba- duas semanas após a resolução clínica é
seada em sinais clínicos (6). Geralmente essencial para a cura microbiológica.
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
AGENTES SISTÊMICOS POSOLOGIA TEMPO DE TRATAMENTO
ANTIMICROBIANOS
Cefalexina 22-30mg/kg/q12h, VO 21-30 dias
Amoxicilina + Ácido clavulânico 15-20mg/kg/q12h, VO 21-30 dias
Cefovexina sódica 8mg/kg/q15d, SC 2-3 aplicações
Enrofloxacino 5mg/kg/q24h, VO 21-30 dias
Itraconazol 5-10mg/kg/q12h, VO 30 dias
Cetoconazol 5-10mg/kg/q12h, VO 30 dias
GLICOCORTICÓIDES
Quando necessário uso crônico
definir a mais baixa dosagem
Prednisona 0,5-1mg/kg/q12h, VO para controle da afecção,
geralmente 0,5mg/kg/q4 horas
a critério
Dexametasona 0,25-1mg/cão/q48h, IM A critério
Acetato de metilprednisolona 1,1mg/kg/q7d, SC/IM A critério
ANTIHISTAMÍNICOS
Cetirizine 0,5-1mg/kg/q24 h, VO
Hidroxizine 2-7mg/kg/q8-12 h, VO Observar resposta do animal
Ciproheptadina 0,1-2mg/kg/q8-12 h, VO
OUTROS
Alterar dose de acordo com
Ciclosporina 5-10mg/kg/q24h, VO
resposta observada

Quadro 3- Classe, posologia e tempo de tratamento dos principais agentes sistêmicos utilizados no
controle do prurido

Há diversos antihistamínicos pas- de diversos antihistamínicos até que se


síveis de ser utilizados nos cães, porém chegue à conclusão qual é o mais efetivo
os seus efeitos são na maioria das vezes para o paciente19. É considerado atual-
imprevisíveis. Mas sabe-se que possuem mente pouco útil no tratamento de der-
efeito limitado em desordens prurigino- matite atópica crônica, principalmente
sas que não as urticariantes, já que no como agente único 7,20. Podem auxiliar
cão é raro ocorrer indução do prurido na redução de dosagem de corticóide
única e exclusivamente pela histami- em animais alérgicos em que a opção de
na1. Se for opção de uso, o clínico deve tratamento tenha sido esse fármaco e,
estar preparado para tentar a utilização assim, reduzir os efeitos colaterais 19. Foi
Abordagem diagnóstica do prurido em cães 51
demonstrado recentemente que a cle- pia, tem-se a ciclosporina, um fármaco
mastina utilizada há duas décadas, não imunomodulador Ela inibe a calcineuri-
apresenta biodisponibilidade, quando na, interferindo na ativação das células
administrado por via oral, e assim não que iniciam a resposta imune, como as
se observa qualquer efeito benéfico em células de Langerhans e linfócitos, as-
sua utilização 20. sim como nas células efetoras da reação
Os glicocorticoides são os medi- alérgica, como os mastócitos e eosinó-
camentos mais utilizados para o tra- filos22,23. A redução do prurido com seu
tamento sintomático do prurido. São uso foi bastante similar ao encontrado
reconhecidamente as drogas que tem quando utilizado corticosteróide, com
mais eficácia no tratamento dos sinais o benefício de haver menos efeitos co-
clínicos da dermatite atópica canina, e laterais, porém, a melhora clínica ocorre
do alívio temporário do prurido, porém em torno de três a quatro semanas após
o seu uso deve ser muito bem descrimi- início da terapia 22,23.
nado, já que na maioria das vezes são
utilizados, sem definir a causa primária
Considerações finais
7,18
. O seu uso prolongado e abusivo está A abordagem eficaz de um animal
relacionado a problemas sistêmicos, com prurido é essencial, visto este pode
como hepatopatia esteroide, aumento ser desencadeado por diversos fatores.
na incidência de infecções cutâneas por Deve-se iniciar com a exclusão das in-
fungos e bactérias, desenvolvimento de fecções secundárias e progredir para
demodiciose e hiperadrenocorticismo diagnósticos de causas alérgicas de acor-
iatrogênico1,6,7,16. Deve-se evitar o uso do com as respostas obtidas.
de apresentações injetáveis já que a su- A utilização crônica de glicocor-
pressão do eixo hipotálamo-hipófise- ticóides deve ser realizada em último
-adrenal é mais duradoura após o inter- caso, como tratamento de dermatite
rompimento do tratamento 2. atópica e quando as outras opções não
A sua utilização no tratamento em forem válidas.
concomitante da foliculite bacteriana O ideal é sempre priorizar o diag-
e malassezia não é aconselhado, já que nóstico da afecção que concorre com
o prurido associado a essas condições prurido, ao invés de realizar somente
responde muito bem a terapia antimi- um tratamento sintomático que permita
crobiana, e o corticóide camufla a inten- alívio temporário. Essa conduta mini-
sidade da resposta. Isso pode dificultar a miza possíveis efeitos colaterais, gastos
elucidação da causa primária, que deve desproporcionais e gera maior cumpli-
ser o principal objetivo do clínico 8,10. cidade do médico veterinário com o
Como opção de terapia para a ato- proprietário.
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
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Abordagem diagnóstica do prurido em cães 53


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Otite externa em cães


Carolina Boesel Scherer* - CRMV-MG 13.722,
Rodrigo dos Santos Horta** - CRVM-MG11.669,
Adriane Pimenta da Costa Val*** - CRMV-MG 4331
* Mestranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG. Email para contato: cbscherer@gmail.com
** Doutorando em Ciência Animal pela Escola de Veterinária da UFMG. Email para contato: rodrigohvet@gmail.com,
*** Professor Associado I, Escola de Veterinária da UFMG

Introdução Otite é a inflamação


tômica do processo pa-
tológico, a otite pode ser
Otite é a inflamação revestimento epitelial classificada como externa,
do revestimento epitelial do meato auditivo, quando restrita aos canais
do meato auditivo, relati- relativamente vertical e horizontal do
vamente frequente na ro- frequente na rotina ouvido; como média, se
tina clínica médica de pe- clínica médica de
abrange as estruturas da
quenos animais, podendo pequenos animais,
bula timpânica e reces-
atingir 20% dos casos
podendo atingir 20%
so epitimpânico (espaço
dos casos atendidos
atendidos em um serviço onde se situa a cabeça
em um serviço
ambulatorial1,2,3. De acor- do martelo e o corpo da
ambulatorial.
do com a localização ana- bigorna) na cadeia ossi-
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
cular, além da face interna das mem- possui comprimento variável (5-10 cm)
branas timpânica e das janelas coclear e lúmen com diâmetro de aproximada-
e vestibular, e como interna quando há mente 0,5-1cm7, 8. Classicamente, o ca-
comprometimento da cóclea e sistema nal auditivo externo é dividido em duas
vestibular4,5, 6. porções: vertical e horizontal. O canal
A otite externa é definitivamente vertical origina-se da aurícula e estende-
mais comum, e embora a ruptura do -se na direção rostro-ventral antes de
tímpano, invariavelmente, resulte em dobrar-se, medialmente, formando o ca-
progressão para otite média, as formas nal horizontal, que estende-se até atingir
média e interna são menos freqüentes4,7. a membrana timpânica7. A membrana
A otite externa possui etiologia timpânica é uma estrutura epitelial que
multifatorial envolvendo causas primá- separa o ouvido externo da cavidade do
rias, fatores predisponentes e perpe- ouvido médio7,8. Normalmente, essa
tuantes4,5,6,7,8,9, fundamental ao estabe- membrana pode ser observada no exa-
lecimento de um plano diagnóstico e me otoscópico, apresenta forma cônca-
terapêutico, para a prevenção de recor- va e coloração clara e translúcida 7,8,12.
rências e cronificação do processo10,11. A cartilagem auricular, em confi-
guração de funil, proporciona suporte
Anatomia e fisiologia do estrutural ao ouvido externo e mantém
ouvido externo o conduto auditivo aberto é revestida
A compreensão da anatomia e fisio- por tecido epitelial estratificado esca-
logia do ouvido é fundamental para o moso, que de forma semelhante à pele,
desenvolvimento de planos de diagnós- nas demais regiões do corpo, apresenta
tico e terapêutico adequados7, 8. folículos pilosos, glândulas sebáceas e
O ouvido pode ser dividido em três glândulas apócrinas, que, no caso, são
partes: externo, médio e interno. Em modificadas e denominadas glândulas
conjunto, estes três componentes per- ceruminosas1, 7,10.
mitem a identificação e localização de O cerúmen é uma emulsão que re-
efeitos sonoros, detecção da posição e veste todo o conduto auditivo externo,
movimentos da cabeça4, 8. composto por secreções de glândulas
O ouvido externo é composto pelo sebáceas e ceruminosas, mas também
pavilhão auricular (aurícula), o meato por células de descamação. Acredita-se
acústico externo (conduto auditivo ou que o cerúmen seja um mecanismo de
canal externo) e a membrana timpâni- defesa contra infecções, considerando a
ca4,7,8. O pavilhão auricular apresenta formação natural de uma barreira física
a forma irregular e auxilia na captação e a identificação de imunoglobulinas
dos sons. O conduto auditivo externo IgA, IgG e IgM, que contribuem para
Otite externa em cães 55
imunidade passiva local1,7. pulgas, atopia e hipersen-
Fatores
O conduto auditivo sibilidade alimentar), pa-
predisponentes
apresenta um mecanismo rasitas2,6,7,9,10, doenças imu-
são aqueles que
único de autolimpeza,
aumentam o risco do nológicas e endócrinas
devido à migração das desenvolvimento da (hipotireoidismo), ruptu-
células epiteliais desde doença, facilitando ra da membrana timpâni-
a membrana timpânica a inflamação por ca, alterações de queratini-
até o meio externo, com promover ambiente zação (provocada também
a expulsão de células de propício para a pelo hipotireodismo)2,7,
descamação, secreções continuação dos corpos estranhos, além de
glandulares, micro-or- fatores perpetuantes. desordens glandulares e
ganismos e detritos7,8,10. anormalidades na produ-
Alterações no mecanis- ção de cerúmen2,4,13.
mo de migração epitelial, provocados
por ruptura da membrana timpânica, Fatores predisponentes
inflamação crônica, lesões ou cicatrizes Fatores predisponentes são aqueles
no revestimento epitelial que aumentam o risco
resultam em acúmulo de Os fatores do desenvolvimento da
debris, cerúmen e que- perpetuantes doença, facilitando a in-
ratinócitos descamados, sustentam e flamação por promover
favorecendo a progressão agravam o processo ambiente propício para a
da otite crônica . 1
inflamatório, mantêm continuação dos fatores
a doença após os perpetuantes10. Esses fa-
Etiopatogenia fatores primários tores, isoladamente, não
terem sido eliminados. são capazes de provocar a
Causas primárias otite externa9, mas atuam
As causas primárias são condições em conjunto com os fatores primários
ou alteraçãoes que iniciam o processo e os perpetuantes para causar a doença
inflamatório dentro do canal auditi- clínica7.
vo4,5,6,7,10 e estão presentes em todos os Dentre os fatores predisponentes
casos de otite externa . Eles podem in-
9 estão a conformação anatômica do ou-
duzir a doença fora do canal externo, as- vido, com destaque para a existência
sim, a otite externa é a extensão de uma de dobras cutâneas e raças com orelha
alteração do pavilhão auricular, de uma pendular, umidade excessiva, efeitos
otite média ou interna10. de tratamentos com alteração da mi-
Entre os fatores primários destacam- croflora normal, trauma por limpe-
-se as causas alérgicas (alergia à picada de za inadequada, doenças obstrutivas e
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
ainda qualquer doença neoplasias no conduto
A otoscopia é
sistêmica que leve a imu- auditivo e ainda otite mé-
uma ferramenta
nossupressão ou predis- dia com excessiva granu-
semiológica
ponha ao crescimento lação de tecido na bula
importante
bacteriano4,5,67,9,10,13. que consiste na timpânica4,9.
Fatores investigação, com
otoscópio apropriado Diagnóstico
perpetuantes
para animais. Anamnese e exame
Os fatores perpetuan-
tes sustentam e agravam físico
o processo inflamatório, mantêm a do- O diagnóstico de otite externa é fa-
ença após os fatores primários terem cilmente realizado através da anamnese
sido eliminados10. São produzidos no e do exame físico10 (Figura 22). O valor
canal auricular externo como consequ- da história completa não pode ser subes-
ência de alguma patologia primária ou timado quando se avalia o paciente com
condição predisponente5. Estes fatores otite externa, principalmente, quando é
podem induzir mudanças patológicas crônica. O objetivo final é definir o pro-
permanentes para o canal do ouvido e blema primário ou a causa subjacente
são a principal razão para falhas no tra- da recorrência da otite externa, pois é a
tamento de otites externas2. história do desenvolvimento da doença
Dentre os fatores perpetuantes que, frequentemente, fornece os indí-
destacam-se as bactérias e fungos que cios sobre a origem do problema. Nesse
compões a flora residente do ouvido de aspecto deve ser incluído o histórico ge-
cães. Staphylococcus e Streptococcus são, ral assim como o dermatológico13.
frequentemente, cultivados, enquanto Os sinais clínicos associados a essa
Pseudomonas são, ocasionalmente, en- afecção variam dependendo da sua cau-
contrados e a identificação de bactérias sa e, geralmente, consistem em balançar
do gênero Proteus é rara. Além das bac- de cabeça, prurido, dor e variável acú-
térias, a Malassezia pachydermatis é a mulo de cerúmen ou exsudato. O canal
levedura comensal de maior frequência externo responde à inflamação crônica
na pele e no ouvido de cães2. da derme e epiderme com hiperplasia
Outros fatores perpetuantes in- e hiperqueratose, hiperplasia das glân-
cluem a presença excessiva de pelos dulas sebáceas, hiperplasia e dilatação
no ouvido externo, modificações pato- das glândulas ceruminosas2,4,7,8. Estas
lógicas progressivas como hiperplasia, mudanças estão associadas ao aumento
fibrose e estenose do conduto auditi- da produção de cerúmen, no entanto,
vo, abundante formação de cerúmen, aumento da umidade e do pH e dimi-
Otite externa em cães 57
nuição do conteúdo lipídico do cerú- mais adequado em pacientes com otite,
men predispõem o animal à infecções representando o terceiro passo no diag-
secundárias2. nóstico das otites15. A coleta de amos-
tras de secreções auriculares é facil-
Exame otoscópico
mente realizada com o auxílio de hastes
Qualquer sinal clínico de otite jus- de algodão (“swabs”). Após a coleta, a
tifica a exploração otoscópica11,12. A haste de algodão é rolada delicadamen-
otoscopia é uma ferramenta semiológi- te sobre uma lâmina de vidro limpa e
ca importante que consiste na investi- seca. O material é fixado ao ar e a colo-
gação, com otoscópio apropriado para ração, frequentemente, utilizada é a de
animais, do meato acústico externo e Romanowski (Panótico)16.
membrana timpânica que, além de auxi- Na microscopia, as amostras devem
liar no diagnóstico, fornece informações ser avaliadas quanto à presença, núme-
importantes que condicionam o proto- ro e características celulares, para que
colo terapêutico a ser seguido, confor- então seja feita a pesquisa de agentes
me as lesões identificadas8,12,14. infecciosos e parasitários15. No ouvido
Trata-se de um procedimento pou- normal não devem estar presentes leu-
co invasivo que deve ser realizado após cócitos, macrófagos, piócitos ou qual-
o exame físico e dermatológico. A in- quer célula inflamatória, ou, ainda, eri-
vestigação deve-se iniciar no pavilhão trócitos, que indicam um componente
auricular, pesquisando-se a presença hemorrágico observado em ulcerações
de crostas, eritema, edema, alteração epidérmicas17.
na quantidade e/ou na coloração da A camada mais externa da epiderme
secreção, erosão, ulceração, fibrose ou do conduto do ouvido é constituída por
calcificação, presença de ectoparasitas, células anucleadas de morfologia irre-
hiperplasia, nódulos, pólipos, corpos gular, ditas queratinócitos e as mais in-
estranhos. Em casos onde a suspeita seja ternas por células nucleadas, chamadas
de otite unilateral, ambos os ouvidos epiteliócitos. No conduto auditivo ex-
devem ser avaliados, iniciando-se pelo terno normal é detectada uma pequena
menos acometido. Diferentes cânulas quantidade de células epiteliais anuclea-
devem ser utilizadas em cada ouvido das. Nos casos de otite externa crônica,
para não haver risco de contaminação14. ocorre aumento dos queratinócitos e
epiteliócitos, verificando-se a inflama-
Exame citológico ção neutrofílica14,16.
A citologia do ouvido é utilizada As bactérias são encontradas, oca-
na clínica de pequenos animais para o sionalmente, em condutos auditivos de
diagnóstico e definição do tratamento cães clinicamente saudáveis, no entanto,
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
espera-se a identificação dos cães com otite exter-
O tratamento de uma
de leveduras, compatíveis na, enquanto os parasitas
otite externa deve
com Malassezia pachyder- dos gêneros Demodex,
abranger a limpeza
matis16. A identificação Sarcoptes, Notoedris
do ouvido para
de colônias de bactérias e Eutrombicula são
controle dos fatores
sugere infecção bacteria- predisponentes, raramente identificados16.
na, no entanto, bactérias remoção dos fatores
raramente são causas pri- perpetuantes e
Tratamento
márias, e o diagnóstico de tratamento da causa O tratamento de uma
otite externa bacteriana primária. otite externa deve abran-
não é completo. ger a limpeza do ouvido
A identificação da para controle dos fatores
morfologia bacteriana auxilia no diag- predisponentes, remoção dos fatores
nóstico e tratamento, considera que perpetuantes e tratamento da causa
a maioria dos cocos são gram-positi- primária1,5,7,14. A otite externa não trata-
vos, representados por Staphylococcus, da ou maltratada pode conduzir a otite
Streptococcus e Enterococcus sendo média, surdez, otite interna, síndrome
Staphylococcus pseudintermedius o mi- vestibular, paralisia do nervo facial e, em
cro-organismo mais frequentemente raras situações meningoencefalite7,14.
isolado em culturas bacterianas18,19. Por Neste contexto, a limpeza do ouvido e o
outro lado, a maioria dos bastonetes uso de fármacos anti-inflamatórios e an-
são gram-negativos, e as Pseudomonas, timicrobianos são de extrema importân-
Proteus, Escherichia coli e Klebsiella são cia, no entanto, o tratamento veterinário
as bactérias em forma de bastão mais deve ser específico para cada paciente, a
comumente isoladas como agentes se- fim de prevenir recorrências, resistência
cundários, com indicação compulsória bacteriana e cronificação1,5.
de cultura e antibiograma em casos de No tratamento de uma otite exter-
otite crônica7,16. na, a limpeza do ouvido constitui um
O encontro de leveduras compatí- dos pilares mais importantes e deve ser
veis com Malassezia pachydermatis tam- realizada, diariamente, por pelo menos
bém sugere infecção, mas a identifica- 14 dias5,7. Com a finalidade de instruir
ção de leveduras ou hifas desconhecidas o proprietário, este procedimento deve
mostra a necessidade de cultura para ser realizado no final da consulta, após
identificação do agente14,16. A infestação a coleta de amostras para citologia e, em
do conduto auditivo por ácaros é menos determinados casos, culturas bacteria-
freqüente, mas estima-se que o Otodectes nas e fúngicas. A limpeza inicial é im-
cynotis esteja presente em cinco a 10% portante para a remoção de exsudatos
Otite externa em cães 59
que possam inativar as preparações tópi- hastes flexíveis não é recomendado7,14.
cas e favorecer a inflamação, no entanto, Aproximadamente 80-85% dos ca-
algumas vezes, devido à hiperalgesia lo- sos de otite podem apresentar resolução
cal, pode ser necessária a administração apenas com a terapia tópica. Inúmeras
de analgésicos e sedativos, enquanto em preparações otológicas estão disponí-
casos graves, torna-se impossível reali- veis no mercado e contém combina-
zar uma limpeza rigorosa devido à infla- ções de glicocorticóides, antibióticos,
mação, edema e estenose excessivos5,7,14. antimicóticos e até mesmo anti-para-
A limpeza consiste no uso de ceru- sitários1,2,7,14. A inflamação do conduto
minolóticos, que podem ser associados auditivo provoca dor e é um importante
a agentes que agem promovendo ação fator na progressão da otite, sendo o uso
queratolítica e antimicrobiana, e redu- de glicocorticóides, com destaque para
ção do pH7. Dentre os ceruminolóticos a dexametasona (0,1%), triancinolona
destacam-se o peróxido de carbamina, e hidrocortisona (0,5-1%), indicado na
esqualeno, propilenoglicol e gliceri- maioria dos casos7,14. Além da ação anti-
na, sendo recomendada a associação -inflamatória, os glicocorticóides são
com ácido lático 2,5% e ácido salicilico antipruriginosos, reduzem a exsudação
0,01%, no tratamento das otites provo- e edema dos tecidos e promovem a hi-
cadas por Malassezia sp., ou clorexidine, potrofia das glândulas sebáceas, redu-
nas concentrações de 0,02% a 0,2% nos zindo as secreções glandulares, em al-
casos de otites bacterianas ou mistas, de- guns casos, são recomendados antes da
vido à ação antibacteriana e antifúngica limpeza para que o proprietário possa
dessa solução. No entanto, caso exista efetuar o procedimento sem provocar
ruptura da membrana timpânica deve- dor ao paciente1,7,11,14.
-se evitar concentrações de clorexidine Nas otites provocadas por
superiores a 0,02% e substituir os ceru- Malassezia sp. agentes antifúngicos são
minolíticos por soluções aquosas, como extremamente benéficos com destaque
o soro fisiológico 0,9%, tendo em vista a para o miconazol (2%), nistatina e sul-
possibilidade de provocar lesões no ou- fadiazina de prata (1%)7,11. Os antibió-
vido médio7,14,17,18. A solução de limpeza ticos mais utilizados no tratamento das
deve ser introduzida até preencher todo otites bacterianas e mistas incluem os
o conduto auditvo e uma massagem su- aminoglicosídeos, com ação contra bac-
ave deve ser realizada na base da orelha térias gram-positivas e negativas, com
para auxiliar na expulsão e dissolução destaque para a gentamicina, polimixi-
do cerúmen e detritos. O ouvido deve na B, que apresenta melhor ação contra
então ser seco com algodão, auxiliando gram-negativos e a neomicina, com me-
na remoção dos detritos, mas o uso de lhor atividade contra gram-positivos. A
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
tobramicina (0,3%) atua melhor sobre 1mg/kg, a cada 24 horas, nos casos em
gram-negativos e é o único aminoglico- que há inflamação e dor excessiva com
sídeo que não apresenta toxicidade ao estenose grave no conduto auditivo7,14.
ouvido médio em casos de ruptura da O tratamento deve ser mantido até que
membrana timpânica. ocorra redução ou desaparecimento do
Os produtos que contêm neomici- tecido proliferativo. O itraconazol é o
na e cloranfenicol são bastante eficazes agente antifúngico sistêmico de des-
em otites externas com infecção secun- taque, por apresentar menos efeitos
dárias por Staphylococcus pseudinterme- colaterais e eficácia comprovada em
dius7,14,18-20. Combinações de gentami- casos de Malassezia pachydermatis re-
cina e polimixina B têm seu espectro sistente7,8. Antibióticos de uso sistêmi-
contra gram-negativos aumentado, co que apresentam boa penetração no
mostrando-se eficiente no controle das conduto auditivo incluem a cefalexina,
infecções provocadas por Pseudomonas enrofloxacino, amoxicilina com ácido
spp. As quinolonas, com destaque para clavulânico e sulfametoxazol em asso-
o enrofloxacino (0,5%) e o ciprofloxa- ciação à trimetoprima7,8,14.
cino (0,3%), apresentam melhor ativi- A causa primária, assim como os
dade contra bactérias gram-positivas fatores predisponentes e perpetuantes
e mostram-se eficazes no tratamento devem, sempre que possível, serem
das infecções por Pseudomonas spp. controlados e tratados4,5,13. Os tuto-
Resistentes17-20. O tratamento tópico res ou proprietários desses pacientes
deve ser mantido por pelo menos 10 devem receber instruções sobre a im-
dias, mas o paciente deve ser submeti- portância e forma de realização do
do à novas avaliações para determina- tratamento, que se realizado de for-
ção da continuidade do tratamento7,8,14. ma incorreta pode piorar o quadro8,14.
A terapia sistêmica é menos eficaz A colaboração e comprometimento
que a terapia tópica, sendo indicada são fundamentais para o sucesso no
nos casos de otite externa grave, com tratamento.
alterações proliferativas importantes,
impossibilidade de tratamento tópi- Considerações finais
co pelo proprietário e histórico de re- A otite é uma condição frequente
ações adversas aos agentes tópicos7. na clínica de pequenos animais, com
Glicocorticóides sistêmicos, com des- uma etiopatogenia complexa que en-
taque para a prednisona, devem ser ini- volve fatores primários, predisponentes
ciados em doses elevadas, de 2-3mg/ e perpetuantes. O diagnóstico baseado
kg, a cada 24 horas, durante os primei- apenas na anamnese e exame físico de
ros três a cinco dias, reduzindo para rotina não é suficiente para a defini-
Otite externa em cães 61
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62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Abordagem diagnóstica
e terapêutica da otite
média em cães e gatos

bigstockphoto.com
Carolina Boesel Scherer - CRMV-MG 13.722
Mestranda Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG. Email para contato: cbscherer@gmail.com

Introdução ratória superior é a causa mais frequente


de OM5.
Otite média (OM) é a inflamação
Ocasionalmente, a OM resulta da
das estruturas do ouvido médio, que
extensão de uma infecção nasofaríngea
incluem: membrana timpânica (MT),
via tuba auditiva ou da propagação he-
tuba auditiva, cavidade timpânica, três
ossículos auditivos (martelo, bigorna e matógena de patógenos para o ouvido
estribo) e o nervo timpânico1. Em cães, médio1,6,7. Anormalidades de desenvol-
frequentemente, é sequela de otite ex- vimento do canal externo do ouvido ou
terna (OE), com taxa de incidência de da faringe podem, também, acarretar
16% em casos iniciais de OE a 50% ou OM devido ao acúmulo de secreções no
mais em casos crônicos1,2, sendo este ouvido médio. Assim como a neoplasia,
um importante fator perpetuante da OE os pólipos inflamatórios e o trauma do
recorrente3,4,5. Em gatos a infecção respi- ouvido médio podem estar associados à
Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos 63
OM ou resultar em sinais se houver lesão das fi-
O fato de a OM
clínicos semelhantes .
7
bras nervosas simpáticas
estar presente em
O fato de a OM estar que correm próximas ao
mais da metade dos
presente em mais da me-
pacientes caninos com ouvido médio causando
tade dos pacientes cani- OE crônica estimula miose, ptose, enoftalmia
nos com OE crônica es- a reformulação e protusão de membra-
timula a reformulação do do pensamento no na nictitante ipsilaterais,
pensamento no processo processo diagnóstico, como também, a ceratite
diagnóstico, quando estes quando estes casos seca, caracterizada pela
casos são confrontados. são confrontados. redução da produção la-
Somente em caso crônico crimal e exsudato muco-
de paciente com infecções purulento, se os nervos
do ouvido possibilita que o veterinário parassimpáticos que inervam as glându-
considere a OM8, mesmo estando a MT las lacrimais forem lesionados1,3,4,7.
intacta4. A causa mais comum de OM é
Quatro estruturas neuroanatômicas a infecção bacteriana, sendo que os
estão associadas com o ouvido, a saber: Staphylococcus e Streptococcus spp estão
nervo facial, trato ocular simpático, re- entre os microrganismos mais frequen-
ceptores vestibulares e cóclea9, portan- temente isolados, embora possam tam-
to, a OM também deve ser considera- bém ser isolados do ouvido médio de
da quando o paciente mostra sinais de cães saudáveis1,6. Outras bactérias iso-
qualquer doença neurológica que afete ladas incluem Pseudomonas sp, Proteus
a cabeça, incluindo doença vestibular, sp, Escherichia coli, Clostridium spp.1,11
síndrome de Horner ou paralisia do e Klebsiella12. Leveduras e fungos são
nervo facial8,10. causas incomuns de OM1,12 e nestes
Muitos sinais clínicos de OE são casos Malassezia pachydermatis1,2,3,4,13,
comuns aos de OM, como: meneios Aspergillus spp. e Candida spp. também
cefálicos, prurido do ouvido afetado, estão entre os mais frequentemente
corrimento a partir do canal auditivo isolados1.
externo e aumento da sensibilidade ou Gatos podem ter OM secundária
dor . A letargia, inapetência e dor ao como resultado de danos causados ao
1

abrir a boca são mais sugestivos de en- tímpano por ácaros ou por crescimento
volvimento do ouvido médio7. A lesão de pólipos inflamatórios ou nasofarín-
do nervo facial produz queda do lábio geos. Dependendo do padrão de cresci-
superior ou orelha, sialorreia, redução mento, tais pólipos podem crescer atra-
ou ausência de reflexo palpebral. A sín- vés da tuba auditiva para a nasofaringe
drome de Horner poderá estar presente ou a partir do canal externo do ouvido
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
para MT, o que cria uma abertura per- crônica com mudanças patológicas no
manente entre o canal externo e o ouvi- canal auricular que causam estenose,
do médio. A presença de pólipo é regu- tornando a visualização da MT impos-
larmente associada com OM bacteriana sível5,8, em tais casos, o ouvido deveria
secundária8. ser tratado, para redução da inflamação
e edema, e reexaminado em 7 a 14 dias,
Diagnóstico no momento em que um exame otoscó-
O diagnóstico de OM é realizado pico apropriado possa ser realizado5,17.
através da anamnese e do exame físi- Para um completo exame otoscópico17,
co5,14. O valor da história completa não em animais com dor, é necessária a se-
pode ser subestimado quando se avalia dação ou a anestesia geral.
o paciente com OM, principalmen- O diagnóstico de OM no gato é mais
te, quando é crônica, pois é a história fácil de definir com o uso do otoscópio,
do desenvolvimento da doença que, pois seu canal auricular é relativamente
fornece os indícios sobre a origem do curto. A OM em gatos, , frequentemen-
problema. Nesse aspecto, deve ser in- te, é sequela de doença respiratória, o re-
cluído o histórico geral assim como o lato de espirros e descarga ocular ou na-
dermatológico15. sal pode auxiliar no diagnóstico. Alguns
Aliado aos achados no exame clí- gatos com OM podem ter pólipos no
nico, os epidemiológicos, citológicos, canal do ouvido que se tornam visíveis
microbiológicos e exames de imagens, após a limpeza e retirada de exsudato.
auxiliam no diagnóstico de OM7,8,16. Bactérias isoladas da bula timpânica de
gatos com doença do ouvido médio são
Otoscopia e vídeo- consistentes com achados de patógenos
otoscopia do trato respiratório. Hipotetiza-se que
Um dos primeiros procedimentos a infecção viral do trato respiratório su-
que deve ser realizado em pacientes com perior no início da vida pode desempe-
queixa de otite, é o exame otoscópico5,17. nhar um papel na inicialização da OM
A otoscopia em cães pode ser bastante em gatos, pois essas infecções e pólipos
difícil por causa da conformação longa, ocorrem em gatos mais jovens8.
em forma de L e em funil do canal au- A recente introdução dos vídeo-
ditivo, tornando difícil a visualização da -otoscópios permitiu a visualização
MT. Em adição, muitos pacientes com ampliada e detalhada do canal auditivo
OM possuem uma MT ilesa, dando ao e do tímpano. O vídeo-otoscópio forne-
clínico a impressão de que o ouvido ce excelente iluminação através de uma
médio está intacto8. Muitos pacientes sonda contendo um cabo de fibra ótica
caninos com OM também possuem OE de alto rendimento8,17. A imagem am-
Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos 65
pliada no monitor é muito quatro bactérias por COI,
O exame citológico
superior à obtida através especialmente, quando
do exsudato ótico é
do otoscópio portátil17. células inflamatórias tam-
obrigatório por ser
A MT normal é semi- bém estão presentes, tem
o mais apropriado
transparente e formada sido relatada como cli-
método para
por três camadas e divi- nicamente significante2.
determinação do
dida em duas seções: por- A citologia deveria ser
tipo e do número
ção menor dorsal flácida realizada do fundo do ca-
de microrganismos
e a porção maior ventral nal do ouvido e, quando
presentes.
tensa. Na maioria dos cães apropriado, da cavidade
e no gato, a porção flácida do ouvido médio5. Um es-
é plana. A porção tensa compreende a tudo demonstrou que a citologia do ca-
maioria da superfície total da MT, ela é nal auditivo externo e do ouvido médio
muito fina, mas forte e robusta19. pode variar grandemente4, as infecções
As características normais da MT e polimicrobianas em OE e monomicro-
suas variações estão no Quadro 1. bianas em OM18 são mais comums. A
cultura e o antibiograma são úteis para
Citologia, cultura e identificar o agente etiológico e insti-
antibiograma tuir antibioticoterapia apropriada1,20. As
amostras para citologia e cultura devem
O exame citológico do exsudato óti-
ser coletadas do canal horizontal exter-
co é obrigatório por ser o mais apropria-
no, antes da limpeza. Após a limpeza,
do método para determinação do tipo e
obtêm-se amostras diretamente do ou-
do número de microrganismos presen-
vido médio, se a MT estiver rompida ou
tes. A presença de raras leveduras cam-
se o tímpano estiver anormal (abaulado,
po em óleo de imersão (COI) e uma a
descolorido, opaco)2,4 via miringotomia.

Característica Normal Anormal


Lustro Brilhante Opaca
Azul: hemorragia intratimpânica
Vermelha: otite média aguda
Coloração Cinza-pérola
Branca: material purulento
Âmbar: exsudato seroso
Tensão Ligeiramente côncava Evaginada: material acumulado atrás do tímpano
Vasos Ramificados Obscurecidos ou rompidos

Quadro 1. Características da MT normal e anormal


Adaptado de Shell1

66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Miringotomia é realizada com o ani- querda e rostroventral ou caudodorsal de
mal sob anestesia geral1,2,4,7. Com o au- boca aberta1,2,7. Anormalidades da bula
xílio de um otoscópio, perfura-se a MT incluem aumento da opacidade, esclero-
e utilizando uma seringa com agulha, se e osteólise. O fluido que não pode ser
aspira-se o fluido ou material da bula diferenciado de aumento da densidade
timpânica. O orifício pequeno na MT, do tecido liso e da ausência de mudan-
geralmente, se fecha rapidamente1, com ças radiográficas não excluem OM5,7. As
a cura em 21 a 35 dias2. radiografias também podem ser usadas
como um indicador de prognóstico para
Radiografia, tomografia o sucesso do tratamento médico da OM2.
computadorizada e Outras ferramentas diagnósticas
ressonância magnética estão disponíveis para avaliação de pa-
cientes com OM. O contraste introduzi-
Avanços no diagnóstico por ima- do no canal externo do ouvido, seguido
gens do ouvido médio de cães têm sido de radiografia, chamado de canalografia,
estudados7,21. Tradicionalmente, o diag- é usado no diagnóstico de perfuração
nóstico por imagem da bula timpânica MT. O método é útil para diagnosticar
é restrito à radiografia. Interpretações ruptura timpânica aguda e aumenta a
de radiografias do crânio podem ser um frequência de diagnóstico de ruptura de
desafio por causa da superposição de ou- MT em OE recorrente e OM, quando
tras estruturas sobre a área de interesse22. comparado com a otoscopia sozinha7.
Recentemente, a tomografia computa- Outras ferramentas diagnósticas es-
dorizada (TC) e a ressonância magnética tão disponíveis conforme descrito no
(RM) são utilizadas para os estudos em Quadro 2.
cães normais e em cães com doença no
ouvido médio2,7. Ambos, TC e RM, for- Tratamento
necem cortes transversais, removendo
problemas associados com a sobreposi- Planejar o tratamento de OM requer
ção22. A TC é considerada superior à RM um protocolo de passo-a-passo para o
para mudanças ósseas, no entanto, a RM máximo efeito. Uma abordagem estru-
é melhor para detecção de anormalida- turada permite ao veterinário formular
des do tecido liso em cães e gatos2,7. ou alterar um tratamento baseado em
Se há suspeita de OM, observações. Os pas-
radiografias da bula devem Planejar o tratamento sos para proporcionar
ser feitas7. Aconselha-se de OM requer um uma estrutura delinea-
obter as radiografias nas protocolo de passo-a- da para o tratamento de
posições ventrodorsal, la- passo para o máximo OM são: acessar o ouvi-
teral oblíqua direita ou es- efeito. do médio; realizar cito-

Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos 67


Teste Objetivo Técnica realizada Achados Anormais
Diagnóstico
Achados sugestivos incluem:
Visualizar mudanças Posicionamentos: dorsoven-
espessamento ou lise da
na bula timpânica, tral, oblíquo lateral direito
Radiografia bula; esclerose e prolife-
canal externo, ouvido e esquerdo, rostroventral
ração ou lise da porção
médio e interno com boca aberta
petrosa do osso temporal.

Os achados são os mesmos


que os das radiografias,
Tomografia Imagens radiográficas seria-
Idem radiografia porém a TC parece ser um
Computadorizada das obtidas por scanner
indicador mais sensível para
OM

Fluido na bula timpânica


Uso de ondas de rádio com aparece hiperintenso nas
Ressonância forte campo magnético que imagens ponderadas em T1
Idem radiografia
Magnética criam imagens do interior e é isointenso com tecido
de órgãos e tecidos cerebral nas imagens pon-
deradas em T2

Um otoscópio portátil com


Usado para avaliar bulbo pneumático acoplado
a mobilidade da é inserido no canal horizon- Movimento plano da MT
MT e determinar a tal da orelha indica possível fluído no
Pneumotoscopia
presença ou ausência A MT é visualizada e ar ouvido médio ou espessa-
de fluido no ouvido é soprado contra ela em mento da membrana.
médio modo pulsante enquanto se
observa seu movimento

Um timpanograma plano
Usado para mensurar
sugere efusão do ouvido
indiretamente a
médio, grande área de
pressão do ar no
cicatrização ou, se associado
ouvido médio e o Requer um analisador de
Timpanometria com aumento de volume do
comprimento da MT, ouvido médio
canal, uma MT perfurada.
e estimar o volume
Um timpanograma anormal
do canal externo do
sugere OM, mas um normal
ouvido
não exclui OM.

Avalia a integridade Material de contraste na


Realização de radiografia
da MT por infusão de bula indica ruptura da MT.
Canalografia antes e após a infusão do
contraste no canal do Falta de contraste na bula
contraste
ouvido não exclui ruptura da MT.

Tabela 2. Técnicas Diagnósticas para Otite Média


Adaptado de Cole e Podell4

logia e cultura bacteriana; fazer limpeza teroides; administrar antimicrobianos


da bula; infundir medicações tópicas na tópicos e sistêmicos; reavaliar semanal-
bula; reduzir a inflamação com corticos- mente; e considerar a cirurgia8.
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Miringotomia e limpeza Tratamento
do ouvido médio antimicrobiano
A partir da bula, o acesso ao ouvido O dilema frente ao tratamento clí-
médio permite a remoção do material nico da OM é que os níveis das drogas
infectado, inflamatório ou estranho, sistêmicas podem não alcançar concen-
proporcionando ventilação e drenagem. trações mínimas inibitórias na bula e
Esses objetivos são atingidos através de o tratamento tópico requer aplicações
intervenção médica e/ou cirúrgica, de- frequentes. O uso de doses máximas de
pendendo da cronicidade e dos resulta- antibióticos orais, juntamente com infu-
dos das avaliações otoscópica, radiográ- sões semanais de antibióticos tópicos na
fica1 e/ou de TC2. bula, aumenta o sucesso terapêutico8.
Deve-se lavar e secar o canal externo A seleção do tratamento tópico e
quando for necessário o tratamento de sistêmico deve basear-se na cultura e
OE recorrente7,23. Introduz-se o otos- no antibiograma
1,2,3,7,23
.Os resultados de
cópio até o canal horizontal do ouvido, citologia, quando disponíveis, podem
ser usados como guia inicial para tera-
direciona-se um cateter acoplado a uma
pia7. A resistência antimicrobiana é um
seringa contendo solução salina através
problema grave e pode ser necessário a
do cone do otoscópio, para que o líquido
utilização de antibióticos fora das suas
possa infundir no ouvido até a comple-
indicações23.
ta eliminação dos exsudatos. Se houver
Se não for possível ob-
OM, o cateter é introduzi-
ter uma cultura, a admi-
do até a bula timpânica. A A seleção do nistração de antibióticos
irrigação retrógrada utili- tratamento tópico e de largo espectro deve ser
zando esta técnica é mui- sistêmico deve basear- realizada1. Escolhas apro-
to eficaz na eliminação se na cultura e no priadas incluem: cefalexi-
do material profundo e é antibiograma. na (22mg/kg VO a cada
a única forma eficiente de 12 horas), amoxicilina as-
limpar o ouvido médio23. Se a MT esti- sociada com clavulanato (13,75 a 22mg/
ver rompida, o ouvido médio deverá ser, kg VO a cada 12 horas)3 e trimetopri-
gentilmente, lavado com solução salina ma-sulfa (15 a 30mg/kg VO a cada 12
morna1. O uso de vídeo-otoscópio me- horas)1,7; este último não deve ser usado
lhora consideravelmente a visualização se estiver presente ceratite seca ou se a
do conduto auditivo durante esta inter- produção lacrimal estiver diminuída1.
venção23. Se houver sinais de OM, mas Com frequência, as fluoroquinolonas
a MT estiver intacta, uma miringotomia são o tratamento de primeira escolha
será necessária3. para otites causadas por Pseudomonas3,
Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos 69
23
. Enrofloxacino (5 a 20mg/kg VO a por causa das diferenças anatômicas
cada 24 horas) ou marbofloxacino (2,75 da bula timpânica, além disso, pacien-
a 5,5mg/kg PO a cada 24 horas) pode tes felinos apresentam maiores reações
ser apropriado3. alérgicas aos medicamentos tópicos,
Os agentes terapêuticos tópicos por estes motivos, quando bactérias ou
devem ser usados cuidadosamente se a Malassezia estiverem presentes no gato,
MT estiver rompida, pois muitas dro- medicações sistêmicas devem ser consi-
gas possuem potencial ototóxico, que deradas, mesmo se o ouvido médio não
podem causar surdez agu- estiver envolvido24.
da e sinais vestibulares1. Os agentes Em casos de OM, cau-
Numerosas formulações terapêuticos tópicos sadas por leveduras, usar
tópicas estão disponíveis, devem ser usados cetoconazol ou itracona-
tais como: sulfato de neo- cuidadosamente se a zol (5mg/kg VO a cada
micina, sulfato de polimi- MT estiver rompida, 24 horas)3,4.
xina B e hidrocortisona;
pois muitas drogas A administração de
sulfato de gentamicina
possuem potencial agentes antibióticos e/ou
e betametasona; tiaben-
ototóxico, que podem antifúngicos deve ser fei-
causar surdez aguda e
dazol, dexametasona e ta até a resolução clínica,
sinais vestibulares.
sulfato de neomicina, no citológica e de cultura e
entanto essas medicações sensibilidade acrescida de
são todas classificadas para o uso em MT mais duas a quatro semanas3.
intacta3. Os agentes ototóxicos incluem Medicações tópicas alcançam con-
os aminoglicosídeos (gentamicina e ne- centrações 100 a 1000 vezes mais altas
omicina), cloranfenicol, iodo, iodóforos se comparadas com medicações sistê-
e clorexidine1. Alguns antimicrobianos micas, portanto, um antibiótico consi-
sistêmicos, como os aminoglicosídeos derado resistente na cultura e teste de
também são ototóxicos e devem ser usa- susceptibilidade pode ser eficaz se ad-
dos com cautela3,4. ministrado topicamente4,23.
Em adição, algumas soluções oftál- O uso da medicação tópica deve
micas, como a tobramicina ou as solu- ser o suficiente para preencher o canal
ções injetáveis, a enrofloxacino podem do ouvido e a cada 12 horas3. Em ani-
ser usadas topicamente, mas, novamen- mais com otite crônica é necessário a
te, seu potencial ototóxico não está bem continuação do tratamento tópico e/
estabelecido3. ou sistêmico, por semanas ou por até al-
Os gatos parecem ser mais suscep- guns meses, para que se possa alcançar a
tíveis a ototoxidade e à síndrome de completa resolução da infecção3.
Horner do que os cães, provavelmente, Os antimicrobianos sistêmicos são
70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
indicados quando as avaliações otos- ouvido médio em cães e gatos com OM
cópicas ou radiográficas sustentarem a crônica ou recorrente4,7. A cirurgia tam-
presença de fluido ou material, dentro bém é indicada em casos de presença de
da cavidade do ouvido médio1. pólipos, neoplasias ou corpos estranhos
no ouvido médio ou a osteomielite da
Glicocorticoides bula timpânica4,8.
Os corticoides tópicos como a dexa-
metasona podem ser infundidos através Monitoração do paciente
de um cateter colocado dentro da bula Deve-se realizar a reavaliação do
limpa e seca. Este potente anti-inflama- animal, com otoscópio ou vídeo-otos-
tório tópico não é ototóxico8. cópio, uma semana após o início do tra-
A terapia sistêmica com os glico- tamento1 e a cada duas semanas até que
corticoides é indicada quando há otite a infecção esteja resolvida, como tam-
acentuadamente inflamada e edemato- bém, o exame citológico a cada reavalia-
sa ou quando há mudanças patológicas ção, para monitorar a resposta à terapia.
crônicas que causam estenose do canal Se não houver resposta e ocorrer piora,
do ouvido2,3. Os glicocorticoides tópi- é preciso obter amostras para cultura
cos são usados sozinhos ou em combi- e antibiograma; monitorar a cicatriza-
nação com os orais, para reduzir a hiper- ção da MT1,3. Aconselha-se a repetir a
plasia e a estenose do canal da orelha3. limpeza do ouvido sob anestesia geral,
A prednisona ou a prednisolona oral (1 para manter o canal do ouvido livre de
a 2mg/kg VO) podem ser administra- exsudato1,3,4.
das por quatro a sete dias2.
Prognóstico
Tratamento cirúrgico O prognóstico é bom quando a ci-
Falhas na resposta à terapia ou ca- rurgia é agressiva e a terapia médica é
sos de otite crônica, ou recorrente jus- possível. Casos onde há infecções recor-
tificam a reavaliação e indicação de in- rentes, após a osteotomia lateral de bula
tervenção cirúrgica. A ablação total do ou a ablação total do canal do ouvido e
canal do ouvido e a osteotomia lateral a osteotomia lateral de bula, podem ser
da bula devem ser consideradas em ca- operados novamente com resolução da
sos de mudanças secundárias graves no condição. Os organismos resistentes, as
canal externo concomitante com otite falhas na resposta à cirurgia agressiva e a
média. Se o canal externo da orelha não osteomielite significativa estão associa-
for afetado, pode ser realizado osteoto- das com um prognóstico ruim8. Sinais
mia ventral da bula para remoção do ex- neurológicos associados com OM po-
sudato e estabilização da drenagem do dem ser permanentes, mas muitos ani-
Abordagem diagnóstica e terapêutica da otite média em cães e gatos 71
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11. OLIVEIRA, V.B; RIBEIRO, M.G.; ALMEIDA, 24. KENNIS, R.A. Feline otitis. Vet. Clin. Small Anim.,
A.C.S. et al. Etiologia, perfil de sensibilidade aos an- v.43, p.51-56, 2013.

72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Diagnóstico e
tratamento das
alterações de
queratinização

Fernanda dos Santos Alves - CRMV-MG 9539


Mestranda Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG. Email para contato: fsalves.vet@gmail.com

Introdução ração, inicia sua migração para a camada


superficial da pele. No estrato córneo,
A epiderme forma uma barreira en- a célula, agora denominada corneócito,
tre o ambiente externo e a derme do degrada seu núcleo e outras organelas,
animal. Caracteriza-se por ser uma es- achata-se e libera o conteúdo dos cor-
trutura com diversas camadas (epitélio pos lamelares. Tais corpos contêm lipí-
estratificado) que se renova constan- deos que preenchem o espaço interce-
temente através da divisão celular que lular, formando a barreira intercelular3.
ocorre em sua camada mais profunda1 . Em condições normais a epiderme é
A epiderme é dividida em estratos basal, renovada em 3 a 4 semanas2.
espinhoso, granuloso (presença variável Descamação é o acú-
em cães e gatos) e o cór- mulo de fragmentos de
neo2 . Sua principal célula Descamação é células originárias do es-
é o queratinócito, produ- o acúmulo de trato córneo1,2 (Figura
zido na camada basal e fragmentos de células 10). O termo seborreia,
que, à medida que perde originárias do estrato segundo alguns autores,
sua habilidade de prolife- córneo. é confuso, inespecífico e
Diagnóstico e tratamento das alterações de queratinização 73
tem sido utilizado para cam-se reações de hiper-
Qualquer desordem
descrever sinais clínicos sensibilidade (dermatite
que altere a
oriundos da descama- atópica, hipersensibilida-
proliferação,
ção excessiva, formação de alimentar), vasculite,
diferenciação ou
de crostas e oleosidade . 3
doenças infecciosas (bac-
descamação produz
Porém, para outros, o terianas ou fúngicas)1, ec-
sinais de seborreia.
termo pode ser adequa- toparasitos (demodicose,
do desde que usado para pulgas, Chleyletiella) e ne-
denominar um padrão de reação, e não oplásicas (linfoma epiteliotrópico)1,4.
um diagnóstico final1. Após um acome- • Fatores endócrinos: hormônios in-
timento patológico, um dos mecanis- fluenciam tanto na proliferação celu-
mos de defesa e reparo do organismo é lar quanto nos perfis lipídicos, cutâ-
aumentar a taxa de produção dos que- neo e sérico. Embora desequilíbrios
ratinócitos, portanto, todas as camadas hormonais possam causar seborreia4,
da epiderme tornam-se mais espessas. o hiperadrenocorticismo espontâneo
Podem ocorrer aumento e descamação ou iatrogênico e o hipotireoidismo
anormal de grupos de queratinócitos vi- são as causas mais comuns1,4.
síveis a olho nu .
2
• Fatores nutricionais: glicose, proteínas,
ácidos graxos essenciais, vitaminas e
Etiologia minerais são necessários para a proli-
Qualquer desordem que altere a feração e diferenciação celulares nor-
proliferação, diferenciação ou descama- mais e sua deficiência, desequilíbrio ou
ção produz sinais de seborreia1,4. Entre excesso podem resultar em seborreia4,
as principais causas destacam-se: embora não seja clinicamente comum1.
• Inflamação: doenças cutâneas infla- • Fatores ambientais: se a perda tran-
matórias, que se caracterizam tipica- sepidérmica de água aumenta, a des-
mente por hiperplasia epidérmica, camação modifica-se e as escamas
que, provavelmente, resulta na libe- tornam-se visíveis. Baixa umidade
ração ou produção de eicosanoides ambiente, banhos em excesso e defici-
cutâneos, histamina e citocinas . Tais
4 ência de ácidos graxos podem causar
citocinas e eicosanoides inflamatórios esta modificação4.
estimulam a proliferaçãoo cutânea em • Fatores congênitos ou hereditários:
um esforço para remover o agravo, alopecia da diluição da cor, sebor-
considerado nocivo. Entretanto, a hi- reia primária, adenite sebácea, sín-
perproliferação epidérmica também drome do comedão do Schnauzer ou
leva a diferenciação defeituosa dos ictiose podem estar associadas com
queratócitos. Entre os exemplos deta- seborreia4.
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Desordens específicas tece o agravamento da seborreia4. As
lesões são mais pronunciadas na face,
Seborreia primária regiões inter-digitais, áreas intertrigi-
nosas e períneo4, embora alguns auto-
Em cães, a seborreia é uma doença
res citem que as lesões ocorrem mais
cutânea crônica caracterizada por um
comumente no tronco3. Desordens
defeito na queratinização com formação
alérgicas, apesar de serem sistêmicas,
excessiva de escamas, oleosidade exces-
podem causar lesões localizadas e o
siva da pele e pelos e, algumas vezes, in-
flamação secundária.4 prurido precede a seborreia4.
Seborreia primária é um distúrbio Devido à natureza hereditária da do-
hereditário da proliferação epidérmi- ença, os sinais ocorrem precocemente e
ca, mais comumente visto em cães das tornam-se mais severos com o avanço
raças West Highland White Terrier4, da idade, usualmente entre 12 e 18 me-
Cocker Spaniel Americano, Springer ses de idade . A queixa inicial apresenta-
4

Spaniel Inglês, Basset Hound4,5, da pelos proprietários pode variar, em:


Golden Retriever, Setter Irlandês e otite hiperplásica ceruminosa, pelame
Pastor Alemão5. A seborreia seca carac- opaco com descamação acentuada, ole-
teriza-se por pele e pelos ressecados, osidade e mau-odor (marcadamente em
com acúmulo de escamas dobras cutâneas ou áreas
brancas a acinzentadas e Seborreia primária intertriginosas), cilindros
não aderidas. Enquanto é um distúrbio foliculares, padrões des-
a seborreia oleosa é o hereditário da camativos ou crostosos
oposto: pele e pelos são proliferação múltiplos a coalescentes e
untuosos e a dermatite epidérmica. com prurido, hiperquera-
seborreica é caracteri- tose digital e unhas secas
zada por descamação e e quebradiças4.
oleosidade, com evidência macroscó- Cães com seborreia possuem ten-
pica de inflamação focal ou difusa4. Os dência para ocorrência de infecções
sinais clínicos são variáveis e incluem bacterianas e malassezioses, que, pio-
descamação, formação de crostas, res- ram drasticamente a condição de pele
secamento, oleosidade e engordura- de um cão com seborreia primária, in-
mento da pele e do pelame. A eritema e clusive com aumento do grau de pruri-
a alopecia ocorrem em graus variáveis e do. As lesões por infecções secundárias
pode apresentar a otite externa conco- podem ser muito severas, impedindo o
mitante4. O prurido é variável3 mas os reconhecimento dos sinais de seborreia4
animais acometidos, geralmente, de- e, nos casos graves, há a linfadenopatia
monstram prurido à medida que acon- regional ou generalizada3.
Diagnóstico e tratamento das alterações de queratinização 75
Em felinos, a seborreia sas externas (por exem-
Em felinos, a seborreia
primária é muito rara, ape- plo, demodicose, derma-
primária é muito
sar de gatos serem acome-
rara, apesar de gatos tofitose) podem resultar
tidos por diversas desor- serem acometidos por em seborreia focal, multi-
dens que causam seborreia focal ou regional4. Dentre
diversas desordens
secundária. As raças mais que causam seborreia as doenças que podem
acometidas são Persa, secundária. resultar em seborreia se-
Himalaio e Exótico de pelo cundária inclui-se a hi-
curto. O hábito de limpeza persensibilidade cutânea
do pelame parece ser parcialmente res- (atopia, dermatite alérgica a picada de
ponsável por essa incidência baixa, uma pulgas, hipersensibilidade alimentar e
vez que remove as escamas rapidamen- dermatite por contato), ectoparasitismo
te. A seborreia seca é a mais comumente (escabiose, demodicose, queiletielose),
observada quando os felinos apresentam piodermatite, dermatofitose, endocri-
descamação4. A severidade da seborreia é nopatia (hipotireoidismo, hiperadre-
variável. Filhotes com 2 a 3 dias de vida nocorticismo), distúrbios nutricionais
podem apresentar seborreia severa, en- (desnutrição e dermatose alimentar
quanto outros apresentam a doença de genérica), doenças de pele autoimunes
modo mais leve, demonstrando os sinais (complexo do pênfigo, lúpus eritemato-
apenas após 6 semanas de idade4. so cutâneo), neoplasia (linfoma epite-
O manejo da seborreia primária ne- liotrópico), condições pré-neoplásicas
cessita do controle da infecção, o uso de (alopecia mucinosa, ceratose actínica) .
6

shampoo queratolítico, semanalmente, e


a terapia sistêmica para controle da des- Abordagem diagnóstica
camação. A vitamina A e retinoides são Em todos os casos dermatológicos,
usados na tentativa de normalizar o pro- o histórico e a apresentação clínica são
cesso de queratinização5. importantes para o esta-
A seborreia belecimento de uma cau-
Seborreia secundária é sa para a descamação. As
secundária causada por alguma informações a respeito de
A seborreia secundá- doença interna ou dieta, o controle de para-
ria é causada por alguma externa que altera sitos, o ambiente onde o
doença interna ou externa a proliferação, animal vive, as terapias tó-
que altera a proliferação, diferenciação ou picas utilizadas (incluin-
diferenciação ou desca- descamação da do frequência de banhos e
mação da superfície e do superfície e do epitélio produtos usados), o grau
epitélio folicular. As cau- folicular. de prurido e a presença
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
de sinais sistêmicos devem ser obtidas1. pele, muito recomendada para a maioria
O exame físico completo deve pre- dos casos por possibilitar e descartar
ceder o exame dermatológico, uma vez diagnósticos diferenciais específicos6.
que há a possibilidade da descamação A seleção do local para biópsia in-
estar associada com doenças que afe- clui fragmentos descamativos e cros-
tam outros sistemas orgânicos. O exame tosos, preferencialmente em áreas não
dermatológico inclui a aparência do pe- inflamadas. Caso haja infecções graves,
lame e da pele, bem como a presença de é necessário o tratamento das infec-
lesões primárias que auxiliam no diag- ções secundárias antes da realização da
nóstico da etiologia subjacente1. biópsia3.
Para se diagnósticar a seborreia pri- As lesões clínicas da seborreia pri-
mária ou a secundária e o motivo pelo mária e da secundária são idênticas,
qual a mesma esteja ocorrendo, exames portanto, o diagnóstico da seborreia pri-
complementares serão necessários. O mária pode ser realizado apenas por ex-
hemograma e o perfil bioquímico em clusão, com auxílio da histopatologia4.
distúrbios primários de queratinização Na seborreia primária canina, o
não possuem alterações, porém, pode diagnóstico diferencial deve incluir
haver anemia branda não-regenerativa qualquer doença que desencadeie der-
em caso de hipotireoidismo ou neu- matite esfoliativa: endocrinopatias, ec-
trofilia, monocitose, eosinopenia, lin- toparasitismo, piodermite, neoplasias3,5,
fopenia, elevação da fosfatase alcalina e dermatofitoses, doenças autoimunes3,
hipercolesterolemia, que sugerem hipe- leishmaniose, demodicose, malassezio-
radrenocorticismo1. Em caso de suspei- se, displasia folicular e dermatites alér-
ta de hipotireoidismo ou hiperadreno- gicas5. Ressalta-se que as influências
corticismo são necessários exames dos ambientais, como clima seco e quente,
níveis de hormônios tireoidianos ou devem ser consideradas3,5.
exames para determinaçãoo de função Já na seborreia primária felina, os
da adrenal, respectivamente1,6. diagnósticos diferenciais que precisam
Outros procedimentos diagnósticos ser observados quando os sinais são
incluem raspados de pele1,4, cultura fún- generalizados e o gato não apresenta
gica e uso da lâmpada de Wood (Figura prurido, são: a deficiência nutricional,
26), citologias1, análise de exsudatos o parasitismo intestinal, a baixa umi-
epidérmicos, procedimentos para diag- dade ambiental, os diabetes mellitus,
nóstico de hipersensibilidade alimen- o hipertireoidismo, o queletielose e a
tar (dieta de eliminação), teste cutâneo pediculose4. Quando as lesões são mais
intra-dérmico, tricograma para alopecia localizadas, consideram-se também a:
por diluição da cor1e, por fim, biópsia de demodicose, dermatofitose e alergia4.
Diagnóstico e tratamento das alterações de queratinização 77
Manejo Clínico pancreatite ou, ainda, anormalidades no
metabolismo dos lipídeos. Em tais situ-
Não existe cura para a seborreia pri-
ações, o banho e a hidratação devem ser
mária e a facilidade do controle irá va-
continuados para manutenção4.
riar de cão para cão. No entanto, ocorre
piora clínica diante de alimentação ina- Considerações finais
dequada, da ocorrência de ectoparasi-
tismo ou doenças endócrinas ou me- A ocorrência de seborreia em pa-
tabólicas, exigindo acompanhamento cientes dermatopatas é comum e exige
clínico para detecção de qualquer do- do clínico habilidade e conhecimento
ença intercorrente4. O fundamento do para o diagnóstico da causa subjacente
tratamento correto é a terapia tópica fre- ou da seborreia primária. O histórico, o
quente e apropriada e, frequentemente, exame físico completo, o dermatológico
exige-se o controle de manutenção por e os complementares tornam-se essen-
toda a vida6, com o uso de produtos an- ciais para o direcionamento do caso e
ti-seborreicos e hidratantes4. a determinação da terapia. O compro-
Os cães que apresentam seborreia metimento do proprietário com o trata-
constantemente possuem infecção mento proposto deve ser ressaltado por
secundária, o tratamento com antibióticos ser essencial para o sucesso terapêutico.
ou anti-fúngicos pode ser necessário no
início da terapia anti-seborreica, para eli- Referências bibliográficas
minar infecções pré-existentes4. O trata- 1. BLOOM, P.B. Scaling disorders. In: North America
mento sintomático pode ser tópico, sistê- Veterinary Conference, 2007, Ithaca, Proceedings...
Ithaca: 2007.
mico ou ambos1 e a escolha do shampoo e
2. PATEL, A.; FORSYTHE, P.J. Saunders Solutions
o vigor do tratamento dependerá da natu- in Veterinary Practice: Small Animal Dermatology.
reza da seborreia4. Edinburgh: Saunders Elsevier, 2008. 379p.
Para o tratamento da seborreia se- 3. GROSS, T.L.; IHRKE, P.J.; WALDER, E.J. et al.
cundária é necessário a correção da cau- Doenças de pele do cão e do gato – Diagnóstico clí-
nico e histopatológico. 2 ed. São Paulo: Roca, 2009.
sa primária. Com o tratamento, os sinais p.156-160.
devem se resolver espontaneamente em 4. MULLER, W.H.; GRIFFIN, C.E.; CAMPBELL,
30 a 60 dias; em casos crônicos, são ne- K.L. Muller e Kirk’s Small Animal Dermatology. 7ed.
St Louis: Elsevier, 2012. 938p.
cessários de 3 a 4 meses para observar
resposta. No entanto, em alguns animais 5. CANNON, A.G. Hereditary disorders of keratini-
zation. In: Voorjaars Dagen European Veterinary
a causa da seborreia secundária é deter- Conference, 2007, Amsterdan, Proceedings…
minada, mas não é corrigida, como, por Amsterdan: 2007.
exemplo, em casos de baixa umidade do 6. WERNER, A.H.; MESSINGER, L. Dermatoses
esfoliativas. In: RHODES, K.H. Dermatologia de
ar ou em deficiência intencional de áci- pequenos animais – consulta em 5 minutos. Rio de
dos graxos para controle de peso ou de Janeiro: Revinter, 2005. P. 74-83.

78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Padrões
dermatológicos em
felinos

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Gabrielle Márcia Marques Cury - CRMV-MG 8362
Email para contato: gabriellecury@gmail.com

Introdução ser assim classificados: 1) dermatite


miliar, 2) alopecia e alopecia simétri-
As dermatopatias são menos co- ca, 3) dermatoses nodulares e tratos
muns em gatos que em fistulosos e 4) complexo
cães e humanos e o seu As dermatopatias são granuloma eosinofílico1.
diagnóstico pode ser um menos comuns em Assim, a transposição do
desafio para o clínico de gatos que em cães e conhecimento obtido na
pequenos animais, uma humanos. Os felinos clínica dermatológica de
vez que os felinos apre- apresentam um cães para gatos constitui
sentam um limitado nú- limitado número de grave fonte de erro2. Com
mero de padrões de res- padrões de resposta o objetivo de minimizar
posta cutânea às diversas cutânea às diversas a ocorrência destes er-
patologias, que podem patologias. ros, deve-se realizar, após
Padrões dermatológicos em felinos 79
anamnese completa, uma avaliação medicações previamente administra-
metódica, lógica e seqüencial das afec- das para a exclusão de farmacoder-
ções cutâneas, para estabelecer qual é o mias, a realização de dieta restritiva
padrão dermatológico predominante, para a exclusão da hipersensibilidade
através da avaliação e identificação das alimentar (HA) (Figura 23), assim
lesões primárias e secundárias3,4 e sua como a realização de biopsia1,9, funda-
distribuição4, a fim de criar uma lista mental para a obtenção do diagnóstico
de possíveis diagnósticos e estabelecer nos casos de doenças imunomediadas
o diagnóstico definitivo3,4. e infecções não responsivas à terapia
convencional1. O Quadro 1 apresenta
1. Dermatite miliar um fluxograma auxiliar ao diagnóstico
A Dermatite Miliar (DM) é o pa- da DM.
drão dermatológico mais comum em O diagnóstico relacionado à ocor-
felinos, caracterizando de 10 a 38% rência da DM deve considerar o his-
dos casos de dermatopatias felinas1,5. tórico e o exame clínico dermatológi-
O padrão não apresenta predisposição co1. Portanto, durante o exame clínico,
sexual6 e as lesões predominantes são deve-se observar se há presença de
pápulas pequenas1,7, que atingem um pulgas, carrapatos e piolhos. Podem
a dois milímetros de diâmetro6, erite- ser realizados os exames de raspados
matosas, edematosas1,5 e cobertas por superficiais de pele, preconizados para
crostas1,5,7 amarelo acinzentadas (me- a pesquisa de dermatoses parasitárias
licéricas) – provenientes do exsudato como sarnas notoédrica, sarna oto-
seroso das lesões – ou marrom averme- décica1,9 e demodicose nos casos em
lhadas (hemorrágicas) – proveniente que o Demodex cati está envolvido,
da exsudação hemorrágica resultante e raspados profundos, preconizados
da escoriação da pápula, que ocorre para o diagnóstico da demodicose nos
como conseqüência ao prurido1,5,8. As casos em que o Demodex gatoi está en-
pápulas iniciais podem coalescer e afe- volvido9. Devem ser ainda efetuados
tar extensas áreas da pele do animal6. a cultura fúngica para o diagnóstico
Tais lesões podem ser localizadas ou da dermatofitose1,9 e o exame de fezes
generalizadas1,7 e sua distribuição con- para avaliar a possibilidade de ocorrên-
tribui para a realização da lista de diag- cia de endoparasitas. Em regiões onde
nósticos diferenciais1,8. há ocorrência de pulgas, sua erradica-
Se as causas de DM não são elu- ção deve ser preconizada, mesmo que
cidadas de exames de rotina, outros estas não sejam observadas durante o
procedimentos diagnósticos se fazem exame clínico, para que a DAPP seja
necessários1 como a interrupção de descartada1.
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
2. Alopecia e A alopecia é a
do histórico bem detalha-
Alopecia Simétrica segunda maior do, que pode contribuir
A alopecia é defini- causa da realização eficientemente na elabo-
da como perda de pelos de consultas ração da lista de possíveis
focal ou generalizada10,11. dermatológicas em diagnósticos12. A análise
É a segunda maior causa felinos. do padrão da alopecia é
da realização de consultas importante, pois a alope-
dermatológicas em cia assimétrica é comum,
felinos, totalizando cerca de 7,4% dos enquanto, a alopecia simétrica - sem
casos11. Seu diagnóstico deve ser parti- outras alterações cutâneas - é menos co-
cularmente metódico e deve incluir pas- mum nas doenças cutâneas dos felinos
sos fundamentais como levantamento 1,10
.

Citologia, raspados de pele

Infestação por ectoparasitas


com ou sem infecção

Controle de insetos (triagem) com ou sem tratamento an microbiano

Não resolução Resolução completa


DAPI

Dieta de Cultura
eliminação fúngica

Resposta Não resposta


Dermatofitose
Repe ção Biópsia

Resposta Não resposta Derma te Diagnós co


crônica

HA Monitoramento

Teste intradérmico DAPI = Derma te Alérgica à Picada de Insetos;


HA = Hipersensibilidade Alimentar

Quadro 1 – Fluxograma diagnóstico da Dermatite Miliar

Padrões dermatológicos em felinos 81


As doenças que levam à queda de colar. O próximo passo será determi-
pelos podem ser classificadas em três nar se existe alguma causa pruriginosa
categorias: 1) alopecias autoinduzidas, ou se fatores psicogênicos podem estar
habitualmente simétricas, que podem atuando, através da realização de cor-
ser divididas em psicogênicas (AP) e ticoterapia e exames histopatológicos1
secundárias ao prurido (ASP)1,10; 2) in- (Figura 24).
flamações no folículo ou bulbo pilosos, Os diagnósticos diferenciais da ASP
que são normalmente assimétricas e; incluem sarna notoédrica, dermatofi-
3) anormalidades do ciclo do pelo, que tose, DAPP, HA, atopia, endoparasi-
podem ser congênitas ou hereditárias tose1,10,13,14 e DAPI13. Portanto, exames
e também tendem à assimetria. Outros parasitológicos podem ser realizados a
diagnósticos diferenciais das alopecias partir de raspados cutâneos superficiais,
incluem as endocrinopatias1,13, apesar diagnóstico terapêutico com ivermecti-
de raramente causarem alopecia em na, cultura fúngica, controle de pulgas e
felinos13. insetos, dieta restritiva, testes alérgicos e
Clinicamente, a alopecia simétri- vermifugação1,10. O Quadro 2 apresenta
ca mais comum é aquela secundária ao um fluxograma auxiliar ao diagnóstico
prurido, que normalmente afeta a re- das alopecias.
gião ventral do abdome e a face medial A AP é mais comumente diagnos-
da região femoral, seguidas pela região ticada em felinos das raças: Siamês,
cranial à cauda com seu possível envol- Burmese, Absínio e Himalaia. A doença
vimento1,10. Em muitos pacientes, a pele ocorre devido a um estímulo iniciador
apresenta-se normal e raramente há in- externo, que causa uma exacerbação
flamação associada. O exame inicial do dos hábitos de higiene, com consequen-
gato com alopecia simétrica deve de- te arrancamento dos pelos1,10. As causas
terminar se a alopecia é autoinduzida mais comumente relatadas da ocorrên-
ou não1 através do histórico de pruri- cia da AP são a perda de entes queridos
do12,14. A alopecia autoinduzida, geral- humanos ou animais, a adição de um
mente, resulta em pelos quebradiços, novo membro na família ou outro ani-
que não epilam facilmente, mas podem mal de estimação, as alterações do am-
ocorrer casos sem a evidência de pelos biente como modificações na decoração
fraturados1. Se há dúvida quanto à per- ou mudança para outra casa, as altera-
sistência da autoindução, o uso do colar ções na rotina dos donos ou até novos
elizabethano pode distinguir a alopecia animais na vizinhança1,13,14.
autoinduzida das demais. No caso da Se por outro lado, o pelo não cresce
alopecia autoinduzida os pelos voltam após um mês de uso ininterrupto
a crescer normalmente após o uso do do colar elizabethano, a alopecia é
82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Tricograma

Pêlos Esporos de fungos Alterações


fraturados de haste

Histórico
Cultura
fúngica
Biópsia Testes
Defluxos sanguíneos

Dermatofitose
Controle de
insetos

Remissão Não resposta


Histórico DAPI Dieta de eliminação

Não resposta Remissão

Repeção

Tratamento
sintomáco Não resposta Resposta

Monitoramento HA

Teste intradérmico
Alopecia Atopia
psicogênica

DAPI = Dermate Alérgica à Picada de Insetos; HA = Hipersensibilidade Alimentar

Quadro 2 – Fluxograma para o diagnóstico das Alopecias Felinas

classificada como ANI1. As doenças interferem no ciclo de crescimento do


que causam este tipo de alopecia são pelo1,10, além de causas hereditárias ou
extremamente raras e incluem estresses congênitas10. Dentre as causas heredi-
temporários como hipertermia, cirur- tárias estão a alopecia universal da raça
gias1,10, gestação, lactação, doenças gra- Sphinx e do Gato sem pelo Canadense
ves10 e protocolos medicamentosos que e a hipotricose hereditária, que acomete
Padrões dermatológicos em felinos 83
gatos Siameses e Devon As doenças que causam
Nódulos e tratos
Rex . A alopecia não in-
10
NTF podem ser classi-
fistulosos (NTF)
duzida também ocorre em ficadas em infecciosas e
são abordados
casos de endocrinopatias não infecciosas. As causas
juntos devido à
como hipertireoidismo, lista de diagnósticos infecciosas incluem doen-
hiperadrenocorticismo e diferenciais em ças bacterianas, fúngicas
disfunções de hormônios comum. e parasitárias1. Dentre
sexuais1,5,14. as não infecciosas estão
Em condições de causas neoplásicas e alér-
estresse, quando há interrupção pre- gicas . O quadro clínico inicial dos
12,16

coce do crescimento do pelo, temos a NTF é caracterizado pela ocorrência de


condição chamada de defluxo anágeno nódulos que, posteriormente, apresen-
(Figura 25). Se a interrupção de desen- tarão tratos fistulosos drenantes, estes,
volvimento ocorre de forma repentina por sua vez, podem ser precedidos por
no ciclo de crescimento do pelo e há sin- edema na região afetada e constituem a
cronização dos folículos afetados com apresentação clínica mais comumente
aqueles em descanso, a alopecia surge encontrada1,5,13. O exsudato a ser drena-
alguns meses após o insulto, caracteri- do pode ser seroso, serosanguinolento,
zando a condição chamada de defluxo purulento e, em alguns casos, conter
telógeno1,10. elementos granulosos. Os nódulos são
As principais causas de alopecia as- solitários ou múltiplos1,5 e podem cursar
simétrica nos felinos são as alterações com prurido5.
inflamatórias dos folículos ou bulbos Devido à variedade e complexidade
dos pelos. A patologia mais comum é a das doenças relacionadas a este padrão
dermatofitose (Figura 26), seguida pela dermatológico, o diagnóstico deve ser
foliculite bacteriana1. A alopecia assimé- realizado de forma minuciosa. A evo-
trica pode ser localizada ou difusa, com lução da doença com agravamento dos
ou sem a presença de prurido1,9, sendo sintomas reduz a probabilidade de um
que 83% dos felinos não apresentavam diagnóstico definitivo . Para a realização
1

prurido15. Nos casos de foliculite bacte- do diagnóstico a obtenção de histórico


riana há prurido intenso1,9. completo, exame clínico, oftalmológico
e dermatológico minuciosos são funda-
3. Dermatoses Nodulares e mentais. É recomendada atenção espe-
Tratos Fistulosos cial a sinais, como: aumento de linfono-
Nódulos e tratos fistulosos (NTF) dos, alterações à auscultação torácica e
são abordados juntos devido à lista de à palpação abdominal. A avaliação oftal-
diagnósticos diferenciais em comum. mológica pode ajudar a definir o diag-
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
nóstico, uma vez que algumas das doen- biopsia1,13. Os exames de sangue como
ças da lista de diagnósticos diferenciais o hemograma, o perfil bioquímico e
apresentam manifestações oculares1,16. a sorologia para agentes específicos
Predisposição racial, idade e sexo de- como FIV e FeLV devem ser requisita-
vem ser considerados: gatos idosos são dos. A realização de biopsia caracteriza
mais susceptíveis à ocorrência de ne- a doença em questão, mas não auxilia
oplasias e gatos machos não castrados na obtenção do diagnóstico definitivo1.
frequentemente apresentam abscessos O Quadro 3 apresenta um fluxograma
ou a presença do Sporothrix adquiridos auxiliar ao diagnóstico da NTF.
em brigas com outros animais1.
Os testes primários para a realiza-
4. Complexo Granuloma
ção do diagnóstico incluem a realiza-
Eosinofílico (CGE)
ção de citologias do exsudato, das le- O CGE compreende um grupo de
sões da pele ou de linfonodos reativos, lesões que afetam a pele, junções mu-
seja por aposição ou punção aspirativa, cocutâneas e a cavidade oral dos fe-
por agulha fina (PAAF), cultura e an- linos17,18 (Figura 27), estas lesões são
tibiograma do exsudato e exame his- assim estudadas por ocorrerem ao mes-
topatológico de fragmento obtido por mo tempo, num mesmo paciente1,19,20.

Citologia

Resultado diagnósco
Sem microorganismos Neutrófilos e cocos
ou inconclusivo ou inconclusivo

Biópsia, cultura
Anbiocoterapia

Não resolução Resolução

Infecção
Biópsia, cultura bacteriana
(48 h após término da
anbiocoterapia

Quadro 3 – Fluxograma para diagnóstico de Nódulos e Tratos Fistulosos

Padrões dermatológicos em felinos 85


O termo CGE é frequen- a) úlcera indolente; b)
O termo CGE é
temente usado como placa eosinofílica e; c)
frequentemente usado
diagnóstico definitivo, granuloma eosinofíli
como diagnóstico
mas é, na realidade, a res- co 1,5,17,18,19,20,21
.
definitivo, mas é, na
posta a uma patologia pri- A etiologia do CGE é
realidade, a resposta
mária18,19,20. É composto obscura e as principais te-
a uma patologia
por três síndromes orias existentes referem-
primária.
clínicas-histopatológicas: -se a causas alérgicas –

Citologia

Controle de insetos com ou sem tratamento anmicrobiano

Remissão

DAPI Dieta de
eliminação

Não remissão Remissão


Repeção

Não remissão Remissão


Teste Não remissão Monitoramento
intradérmico tardia HA

Doença
Atopia idiopáca

DAPI = Dermate Alérgica à Picada de Insetos; HA = Hipersensibilidade Alimentar

Quadro 4 – Fluxograma para diagnóstico do Complexo Granuloma Eosinofílico

86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


como a HA, a atopia, a DAPP e a DAPI, O diagnóstico não pode ser baseado
que cursam, geralmente, com prurido –, apenas no aspecto da lesão e na reali-
e parasitárias18,20. Outras causas infec- zação de biopsia18,19, que, inicialmente,
ciosas que estão envolvidas, são as infec- não demonstra malignidade1. Se a úl-
ções por calicivirus ou FeLV e os fatores cera não está associada a outras lesões
psicogênicos e autoimunes descritos1,20. do CGE, mas está associada à dermati-
A predisposição genética foi compro- te miliar ou à exacerbação dos hábitos
vada em alguns casos1,18,20. As doenças de limpeza do gato, uma causa alérgica
proliferativas, incluindo neoplásicas e deve ser considerada18,20,22. Outros pos-
não neoplásicas podem ser similares ao síveis diagnósticos diferenciais são as
CGE, participando, portanto, da lista de doenças ulcerativas infecciosas17,18 bac-
diagnósticos diferenciais1,20. O Quadro terianas, fúngicas ou a associação com o
4 apresenta um fluxograma auxiliar ao vírus da FeLV, os traumas18 e as doenças
diagnóstico do CGE. neoplásicas como o carcinoma de cé-
lulas escamosas, o mastocitoma17,18 e o
a) Úlcera indolente (Figura 28)
linfoma18.
A úlcera indolente, eosinofí-
lica
17,18,19,20,22
, labial22 ou úlcera de b) Placa eosinofílica (Figura 29)
rato 18,19,22
é uma lesão circunscrita,
proliferativa e inflamatória1,17,20, de A placa eosinofílica é uma lesão
bordas elevadas1,17,19,21, usualmente, comum em gatos. Pode ser única ou
encontrada no lábio superior dos feli- múltipla18, de aspecto circunscri-
nos1,17,18,19,20,21,22, mais comumente na to1,17,18,19,20,21, elevado, brilhante18,19,21,
região da junção mucocutânea cranial e eritematoso18,19,20,21, acompanhada de
no palato duro18,20, podendo ser uni ou alopecia19,20 e por vezes vermelho-ama-
bilateral17,18,19,21. Também pode ser en- relado, ulcerado, edematoso1,18,19,21.
contrada no lábio inferior, na cavidade Normalmente, é encontrada na região
oral e, raramente, na pele1,17. Sua exten- inguinal, na face medial e caudal dos
são varia de cinco milímetros a cinco membros posteriores, na região ventral
centímetros20. Normalmente, não está do abdome1,18,19,20,21,22, região cervical,
associada à dor ou ao prurido1,17,18,19,20,21 região interdigital e região do flanco20.
e não há predisposição de raça ou ida- Acomete os felinos adultos, entre dois
de18,19,20,21, mas as fêmeas são três vezes e seis anos de idade1,19, sem predileção
mais acometidas que os machos18,20,21. racial, mas predominantemente em fê-
Em raros casos, a úlcera indolente pode meas. A lesão atinge 0,5 a 7 centímetros
evoluir para o carcinoma de células es- de diâmetro18 e está associada ao pruri-
camosas ou o fibrossarcoma1,17. do intenso17,18,19,20. Pode estar associada

Padrões dermatológicos em felinos 87


à dermatite miliar19. A eosinofilia pode prurido1,17,18,20 e pode ocorrer regressão
estar, ocasionalmente, presente1,18. espontânea20.
Seu diagnóstico é baseado no histó- O diagnóstico do granuloma eo-
rico, no exame clínico, no aspecto lesio- sinofílico é baseado no histórico, no
nal e na realização de biopsia1,18,19,21,22. exame clínico, no aspecto da lesão e
Se as placas são encontradas com pre- na realização de biópsia1,19,20,21. Lesões
dominância no abdome e membros na região mentoniana são frequente-
posteriores, o diagnóstico clínico pode mente associadas à DAPI20, mas há
ser realizado através de citologia, seja relatos de associação do granuloma
por aposição ou PAAF das lesões, onde eosinofílico a outras causas alérgicas
serão encontrados eosinófilos20. Se as como DAPP, HA e atopia e de possível
placas estão associadas a outras lesões predisposição genética. Neste último
do CGE19,20,22 ou a outros padrões, prin- caso, os pacientes começam a apresen-
cipalmente, à dermatite miliar19, a inves- tar sintomas entre quatro e oito meses
tigação deve ser mais cuidadosa e a lista de idade e as lesões surgem na superfí-
de diagnósticos diferenciais deve incluir cie côncava da pina e apresentam cura
causas alérgicas19,20,22, as neoplasias e os espontânea, após algumas semanas.
granulomas bacterianos e fúngicos17,18,22. Outros diagnósticos diferenciais são
A DAPP é a causa mais comum relacio- traumas crônicos causados por hábitos
nada à placa eosinofílica, seguida da HA de higiene excessivos, os fatores imu-
e da atopia19. nológicos19, as infecções bacterianas e
fúngicas e as neoplasias18,19. A lista de
c) Granuloma eosinofílico (Figura 30) diagnósticos diferenciais do granulo-
O granuloma eosinofílico18,21,22, ma eosinofílico nodular inclui reação a
colagenolítico5,17,19 ou linear5,17,18,19,20 corpos estranhos, ferimentos por pica-
pode apresentar-se como uma lesão das de insetos, infecção profunda por
nodular circunscrita1,18 ou linear1,18,19, fungos e esporotricose19.
firme à palpação1,18, de coloração rosa
amarelada, geralmente, encontrada na Considerações finais
face caudal dos membros anteriores e A dermatologia felina constitui um
posteriores1,17,18,19,20,21 e mais, raramen- grande desafio para o clínico de peque-
te, na cavidade oral, face18,19, coxins19 e nos animais e, exatamente por esta ra-
abdome1,17. Acomete gatos jovens1,20, de zão, os padrões dermatológicos felinos
seis meses a dois anos de idade19,20. As devem ser conhecidos a fundo a fim de
fêmeas podem ser mais predispostas18, facilitar o raciocínio clínico no estabele-
mas não há predisposição racial19. A cimento de um plano diagnóstico para a
lesão não está associada à dor1,20 ou ao doença em questão.
88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
A confecção de uma lista de diagnós- Ihrke4.pdf?LA=1>. Acesso em: 05 de Julho de
2008.
ticos diferenciais baseada no histórico e
associada ao exame clínico dermatológico 3. ACKERMAN, L. The Pattern Approach to
Dermatologic Diagnosis. Compend. Contin. Educ.
é de fundamental importância para que Vet.. p. 987-1003, 1996.
este sirva de guia na realização de exames
complementares que levarão, na maioria 4. CARLOTTI, D. N.; PIN, D. Diagnostic Approach.
In: GUAGUERE, E.; PRELAUD, P. A Practical
das vezes, ao diagnóstico definitivo. Guide to Feline Dermatology, p.2.1-2.18, 1999.
A utilização de fluxogramas de diag-
5. FOIL, C. S. Differential Diagnosis of Feline
nóstico representa um grande auxílio Pruritus. Vet. Clin. North Am. Small Anim. Pract.,
como um guia de raciocínio clínico, du- v.18, n. 5, p.999-1011, 1988.

rante todo o processo de realização do 6. ASPINALL, K. W.; TURNER, W. T. Clinical


diagnóstico definitivo. Comunication: Feline Miliary Dermatitis. J. Small
Anim. Pract., v. 13, p. 709-710, 1972.
Exames simples como tricogramas,
raspados e citologias, que podem ser 7. MUELLER, R. S. The Cat with Miliary Dermatitis.
In: MUELLER, R. S. Dermatology for the Small
realizados dentro do consultório veteri- Animal Practioner, 2006b. Disponível em: < http://
nário, muitas vezes, nos levam ao diag- www.ivis.org/advances/Mueller/part2chap8/
chapter.asp?LA=1>. Acesso em: 05 de Dezembro
nóstico definitivo ou exclui alguns dos de 2007.
diagnósticos diferenciais. Portanto, não
devem ser menosprezados. 8. MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E.; CAMPBELL,
K. Parasitic skin Diseases. IN: MILLER, W. H.;
A biopsia cutânea constitui um im- GRIFFIN, C. E.; CAMPBELL, K. Muller’s and Kirk
portante exame complementar para Small Animal Dermatology. St. Louis, Missouri:
Elsevier, 2012. p. 284-342.
o diagnóstico das dermatopatias feli-
nas, no entanto, deve ser realizada com 9. SCOTT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E.
Skin Immune System and Allergic Skin Diseases:
prudência, pois, na maioria das vezes, Parasitic Hypersensitivity. In: SCOTT, D. W.;
existem outros exames mais simples a MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk’s
small animal dermatology. 6ed. Philadelphia: W.B.
serem realizados e a biópsia nem sem- Saunders, 2001a. Cap.8, p.543-666.
pre nos leva diretamente ao diagnóstico
10. O’DAIR, H. A.; FOSTER, A. P. Focal and
definitivo. Generalized Alopecia. Vet. Clin. North Am. Small
Anim. Pract., v.25, n. 4, p.851-870, 1995.
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Padrões dermatológicos em felinos 89


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Practioner, 2006. Disponível em: < http://www. Miscellaneous skin diseases: Feline eosinophilic
ivis.org/advances/Mueller/part2chap11/chapter. granuloma complex. In: SCOTT, D. W.; MILLER,
asp?LA=1>. Acesso em: 15 de Janeiro de 2008. W. H.; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk’s small ani-
mal dermatology. 6ed. Philadelphia: W.B. Saunders,
14. MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E.; CAMPBELL, 2001b. Cap.18, p.1125-1183.
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Small Animal Dermatology. St. Louis, Missouri: Eosinophilic Skin Diseases. Vet. Clin. North Am.
Elsevier, 2013. p. 554-572. Small Anim. Pract., v.25, n. 4, p.833-850, 1995.

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Veterinária e Zootecnia, Universidade de São fílico felino: relato de caso. 2002. 25f. Residência
Paulo, São Paulo. médico veterinária (Clínica de pequenos animais)
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16. MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. ,5E.; CAMPBELL, Seminário.
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2006a. Disponível em: <http://www.ivis.org/ad-
vances/Mueller/part2chap10/chapter.asp?LA=1>.
Acesso em: 05 de Julho de 2013.

90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Staphylococcus
pseudintermedius
resistente à meticilina,
isso pega?

Larissa Silveira Botoni - CRMV-MG 11.711


Mestranda em Ciência Animal na Escola de Veterinária da UFMG.
Email para contato: larissa.botoni@gmail.com

1. Introdução queratinócitos e uma emulsão de secre-


ção sebácea e ácidos graxos, que juntos
A pele dos animais é responsável formam uma efetiva barreira física e quí-
pela formação de uma barreira prote- mica contra possíveis invasores. Além
tora sem a qual a vida não seria possível disto, a microbiota cutânea também
e possui diversos mecanismos de defe- contribui muito para a defesa, estando
sa contra injúrias. Com às bactérias localizadas
componentes comporta- Esta relação na epiderme superficial e
mentais, físicos, químicos íntima entre o infundíbulo dos folículos
e microbiológicos. Os pe- microorganismo e o pilosos. Esses microorga-
los formam a linha de de- hospedeiro permite nismos vivem em simbio-
fesa física contra a entrada que essas bactérias se, provavelmente, trocan-
de patógenos, mas é tam- ocupem nichos do fatores de crescimento.
bém capaz de albergá-los. microbiológicos Esta relação íntima entre o
Logo abaixo deles, está a e impeçam a microorganismo e o hos-
camada córnea da epider- colonização de pedeiro permite que essas
me que é composta por patógenos. bactérias ocupem nichos
Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina, isso pega? 91
microbiológicos e impeçam a coloni- deve ser feita por testes genotípicos5.
zação de patógenos. As bactérias mais O Staphylococcus pseudintermedius
comumente encontradas colonizando a é uma bactéria oportunista que habita
pele de cães são: Staphylococcus pseudin- a pele, trato nasal, intestinal e muco-
termedius, Streptococcus spp, Clostridium sas de animais saudáveis e é adquirida
spp, Micrococcus spp, dentre outras1. através do contato com a mãe no perí-
odo neonatal e, usualmente, é aponta-
2. Staphylococcus da como o principal agente causador
pseudintermedius de piodermite e otite externa em cães.
O gênero Staphylococcus consis- Estas bactérias são não formadoras
te em uma variedade de patógenos de esporos e pertencem à família
oportunistas de relevância variável Micrococcacea6,7,8. As colônias de S.
na Medicina Veterinária e as espécies pseudintermedius são médias, brancas,
mais importantes são o Staphylococcus opacas e formam dupla hemólise em
aureus e Staphylococcus ágar sangue de carneiro
pseudintermedius, que O Staphylococcus São cocos gram positivos
antes era classificado pseudintermedius e agrupam-se em cachos
como Staphylococcus é uma bactéria de uva4 É a bactéria mais
intermedius . O S. inter-
2
oportunista que comumente isolada
medius foi descrito pela habita a pele, trato das infecções bacteria-
primeira vez em 1976 a nasal, intestinal e nas cutâneas caninas e
partir de casos isolados mucosas de animais limita-se, geralmente, a
de pombos, martas, cães saudáveis é apontada
cães1,9. Entretanto, este
e cavalos. Entretanto, como o principal microorganismo não
foi demonstrado que os agente causador de causa infecção na pele
isolados classificados piodermite e otite
normal de animais sau-
fenotipicamente como externa em cães.
S. intermedius tratavam- dáveis. Faz-se necessá-
-se na verdade de três ria alguma disfunção na
espécies distintas genotipicamente, barreira cutânea, na alteração imuno-
S. intermedius, S. pseudintermedius e lógica ou metabólica para que ocor-
S. delphini, juntas classificadas como ra infecção por tais patógenos. Desta
Staphylococcus intermedius Group forma, as piodermites bacterianas por
(SIG)3,4. Os membros de SIG não S. pseudintermedius são considera-
podem ser diferenciados por testes das como afecções secundárias, ten-
bioquímicos, pois não apresentam di- do sempre uma causa primária como
ferenças claras. Assim, a diferenciação responsável1.
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
3. Staphylococcus por já ser consagrado13. Na medicina
pseudintermedius veterinária, a origem deste gene de re-
sistência ainda não foi identificada, na
resistente à meticilina medicina humana existem evidências
(MRSP) de que o gene mecA tenha se origina-
Recentemente, foi descrito o surgi- do do Staphylococcus sciuri e tenha sido
mento de Staphylococcus pseudinterme- transmitido horizontalmente para o S.
dius resistente à meticilina (MRSP) e aureus14 .
sua prevalência tem crescido mundial- A prevalência de MRSP em in-
mente, o que aumenta sua importância fecções de pacientes veterinários tem
na etiopatogenia da piodermite superfi- crescido substancialmente nas últimas
cial canina10,11,12. Esta resistência é con- décadas. Em dois estudos de suscepti-
ferida pelo gene mecA, responsável pela bilidade do S. pseudintermedius, a anti-
transcrição da proteína 2a (PB2a), que microbianos, na década de 80, bactérias
reduz a sensibilidade destas bactérias a MRSP não foram encontradas14,15. Já nos
todos os antibióticos betalactâmicos, anos 2000, dois grandes estudos retros-
estes são as penicilinas potencializa- pectivos realizados nos Estados Unidos
das, cefalosporinas e carbapenem10. documentaram prevalência de MRSP
Historicamente, os estafilococos que entre 15 e 17% dos isolados microbio-
apresentam essa resistência às penicili- lógicos16,17. Desde então, as taxas de re-
nas beta-lactamase-estáveis anti-estafi- sistência só têm aumentado, chegando
lococos, são denominados como meti- a 30% de MRSP encontrados em um
cilina resistentes, mesmo a estudo da Universidade
meticilina não sendo mais do Tennessee e 66% no
O termo oxacilina-
o antibiótico beta-lactâ- Japão, mostrando inclu-
resistente é o mais
mico de escolha para tes- atual, já que os testes sive17,18variações geográfi-
tes e tratamentos. Desta cas . Em outra pesqui-
que incorporam
forma, o termo oxacilina- sa realizada no Japão, em
a oxacilina têm
-resistente é o mais atu- maior probabilidade que foram utilizados 69
al, já que os testes que animais com piodermite
de detectar a
incorporam a oxacilina entre 1999 e 2000 e 123
resistência do que
têm maior probabilidade em 2009, notou-se que
os de meticilina ou
de detectar a resistência naficilina, entretanto, a prevalência de MRSP
do que os de meticilina aumentou significativa-
o termo meticilina-
ou naficilina, entretanto, resistente permanece mente em 2009 e foi mais
o termo meticilina-resis- prevalente em animais
em uso por já ser
tente permanece em uso que possuíam histórico
consagrado
Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina, isso pega? 93
de antibioticoterapia anterior. Portanto, Entretanto, é fundamental que a causa
aparentemente, estes resultados podem primária seja determinada e adequada-
ser associados ao uso crescente e inad- mente corrigida para evitar a recorrên-
vertido de antimicrobianos11. cia da piodermite1,9.

4. Piodermite superficial: 5. Piodermite bacteriana


diagnóstico e tratamento por MRSP: diagnóstico e
A piodermite superficial é uma das tratamento
doenças de pele mais frequentes em As piodermites bacterianas em cães
cães. Trata-se de uma infecção bacte- têm grande tendência à recorrência de-
riana que envolve os folículos pilosos e vido à sua natureza secundária a outras
epiderme adjacente e é, quase sempre, doenças, ou seja, se não houver controle
secundária a uma causa de base. As aler- adequado da causa primária, não have-
gias e as doenças endócrinas são as mais rá também da piodermite. Entretanto, o
comuns. A doença caracteriza-se por clínico deve estar atento para avaliar se
eritema (Figura 31), pápulas (Figura há recorrência mesmo ou se a infecção
3), pústulas (Figura 9), lesões circulares não foi devidamente resolvida. Se a re-
e alopécicas (Figura 11), crostas e des- cidiva ocorrer em um a três meses após
camação e hiperpigmen- o fim do tratamento, deve-
tação O quadro clínico As piodermites -se suspeitar de controle
pode ser localizado, dis- bacterianas em cães inadequado da causa de
seminado ou generaliza- têm grande tendência base. Caso as lesões rea-
do. O diagnóstico é feito à recorrência pareçam em aproxima-
através de exames clínico damente sete dias, após a
e citológico. Ao exame descontinuação dos anti-
citológico, deve-se observar a presença bióticos, provavelmente, a duração da
de bactérias, os neutrófilos e as células terapia é que foi inadequada. Mas se não
de descamação cutânea. O tratamento houver resolução completa das lesões
mais indicado para as piodermites su- durante o tratamento ou se a resposta a
perficiais é a identificação e o controle droga for pobre, deve-se suspeitar de re-
da causa base, o uso de antimicrobianos sistência bacteriana a antimicrobianos.
por, no mínimo, três a quatro semanas Nestes casos, o procedimento correto é
com descontinuação em uma a duas a realização de cultura e o antibiograma
semanas, após a resolução do quadro e de material colhido das lesões e a esco-
banhos intervalados a cada dois a sete lha da droga a ser utilizada baseada nos
dias, com xampu antibacteriano à base resultados1,9.
de clorexidine ou peróxido de banzoíla. Quando a resistência bacteriana é

94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


confirmada, o tratamento problema, o ideal é que se
Faz-se necessário o
de pacientes com pioder- acrescente à formulação,
uso de medicamentos
mite é mais complicado, os agentes capazes de
tópicos não apenas
pois a resistência a dro- potencializar a ação dos
como coadjuvantes,
gas beta-lactâmicas limita antimicrobianos ou au-
mas, muitas vezes,
muito as opções terapêu- mentar o tempo de con-
como tratamento
ticas de antimicrobianos tato destes com a pele.
único
para uso oral. Assim, Os quitosanas e os lipos-
faz-se necessário o uso somos1,9,20 são exemplos
de medicamentos tópicos não apenas destes agentes.
como coadjuvantes, mas, muitas vezes, Para infecções generalizadas, o ide-
como tratamento único . A estratégia al é o uso de xampus, condicionadores
1,9

ideal para a escolha do tratamento tó- ou imersões a cada 2 a 7 dias, depen-


pico inclui a escolha do princípio ativo dendo do caso e da necessidade do
e do veículo que vai carreá-lo à pele do animal. Porém, para os quadros mais
animal. Portanto, almeja-se que haja localizados são utilizados cremes, po-
o princípio ativo ideal, o veículo ideal, madas, géis, lenços umedecidos várias
o tempo de contato efetivo e o efeito vezes ao dia, sempre orientando o pro-
residual. prietário a limitar a intervenção do ani-
Os tipos de tratamento tópico mais mal com a área pelo menos 30 minutos
utilizados nestes casos são xampus, após a medicação, isto para garantir a
condicionadores, banhos de imersão, mínima ação do medicamento9,20.
sprays, cremes, géis, pomadas e lenços Baseado na experiência do Serviço
umedecidos. Existem diversos princí- de Dermatologia Veterinária do
pios ativos que podem ser manipula- Hospital Veterinário da UFMG, uma
dos nessas apresentações, os mais uti- estratégia terapêutica eficaz em casos
lizados são o clorexidine, peróxido de de piodermite por MRSP seria o uso de
benzoíla, ácido fúsidico, mupirocina e antimicrobiano sistêmico selecionado
hipoclorito de sódio. Estas drogas não de acordo com resultado do antibiogra-
apresentam resistência conhecida de ma aliados a antissépticos e antibióticos
microorganismos, são uma excelente tópicos. Uma boa forma de associar o
alternativa para infecções por MRSP. antisséptico ao antibiótico seria, para
A grande limitação de produtos tópi- quadros generalizados, o uso de xampu
cos é a necessidade de administração, a base de clorexidine 3% ou peróxido
várias vezes ao dia, para aumentar o de benzoíla seguido pela administração
tempo de contato do patógeno com a de sprays contendo antibióticos em sua
droga. Entretanto, para minimizar este formulação. Amicacina parenteral pode

Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina, isso pega? 95


ser utilizada para a formu- mo perfil de sensibilidade
Apesar de raras,
lação destes sprays na con- à antimicrobianos que
infecções em humanos
centração de 1% com água seus cães doentes24. Além
causadas por S.
estéril20. De acordo com a da colonização com cepas
pseudointermedius
experiência do Serviço de MRSP advindas de cães
resistente à meticilina
Dermatologia Veterinária doentes, pode ocorrer
são descritas
do Hospital Veterinário também a transferência
esporadicamente.
da UFMG, em quadros do gene mecA de MRSP,
localizados pode-se uti- para outras espécies de
lizar lenços umedecidos contendo clo- Staphylococcus em humanos, como foi
rexidine a 3%, para a limpeza do local evidenciado em S. aureus isolados de
seguido de administração de pomada a uma criança25.
base de Mupirocina 2%,.
O tratamento só deve ser suspenso 7. Considerações finais:
após duas a quatro semanas da melhora Considerando o exposto, conclui-
clínica e a apresentação de cultura ne- -se que é essencial a conscientização
gativa. É de suma importância a realiza- dos médicos veterinários em relação ao
ção de cultura e antibiograma antes da uso inadvertido e a escolha empírica de
seleção do antibiótico mais adequado e antibióticos. Deve-se sempre analisar a
após a melhora clínica, assim como os necessidade daquele quadro clínico de
exames citológicos das lesões1,9. receber drogas sistêmicas e priorizar,
sempre que possível, o tratamento tópi-
6. Aspectos zoonóticos co eficiente. Devido à grande expansão
das infecções por MRSP do número de casos de animais portado-
Apesar de raras, infecções em hu- res de MRSP, é essencial que o médico
manos causadas por S. pseudointerme- veterinário adote medidas sanitárias ade-
dius resistente à meticilina são descri- quadas para evitar a transmissão entre pa-
tas esporadicamente21,22,23. Um estudo cientes e até mesmo para seres humanos.
realizado em 2009 demonstrou a partir Tais medidas sanitárias são, por exemplo,
de coletas de material, por lavar as mãos entre aten-
swab, de lesões de pele de É essencial a dimentos, evitar levar as
25 cães com piodermite conscientização dos mãos a boca ou aos olhos,
recorrente e das narinas médicos veterinários quando atender um pa-
dos seus proprietários em relação ao uso ciente, utilizar álcool 70%
que dois destes possuí- inadvertido e a para antissepsia das mãos
am MRSP com o mesmo escolha empírica de e materiais do consultório,
gene de resistência e mes- antibióticos. dentre outras.

96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


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98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Tratamento do
hiperadrenocorticismo
em cães

Carolina Zaghi Cavalcante* - CRMV-PR 5496,


Gustavo Dittrich** - CRMV-PR 10488
Giseli Vieira Sechi*** - CRMV-PR 11365
* Professora Adjunta de Clínica Médica de Animais de Companhia – PUCPR. Email para contato: carolina.cavalcante@pucpr.br
** Médico Veterinário Residente de Clínica Médica de Animais de Companhia – PUCPR
*** Médico Veterinário

Introdução de disfunção do eixo neuroendócri-


no, podendo ser hipófise-dependente,
O hiperadrenocorticismo (HAC) é adrenal-dependente ou ainda iatrogê-
considerado uma das endocrinopatias nico. Aproximadamente 85% dos cães
mais comuns em cães, com HAC típico tem
sendo caracterizado O hiperadrenocorticismo a origem hipófise-de-
pela exposição exces- (HAC) é considerado pendente e 15% sofrem
siva de glicocorticói- uma das endocrinopatias de tumores na adrenal.
des secretados pelas mais comuns em cães, As causas hipofisárias
adrenais1. sendo caracterizado pela mais comuns incluem
A etiologia da do- exposição excessiva de microadenomas, ma-
ença é subdividida de glicocorticóides secretados croadenomas e a hi-
acordo com o local pelas adrenais. perplasia hipofisária2.
Tratamento do hiperadrenocorticismo em cães 99
Esses defeitos irão ge- urinária podem sugerir
O HAC em cães é
rar uma secreção ex- a doença2.
tratado clinicamente,
cessiva de hormônio No exame ultrasso-
apesar de existirem
adrenocorticotrópico nográfico a visualização
outras opções de terapia
(ACTH) que resulta como hipofisectomia, do aumento bilateral de
em hiperplasia bila- adrenalectomia e adrenais ou presença
teral das adrenais e radioterapia. de tumor na glândula
excesso de secreção podem facilitar o diag-
dos seus produtos . 3 nostico3. Para confir-
Como o mecanismo de retroalimen- mação da enfermidade, deve-se realizar
tação normal da inibição da secreção a dosagem do cortisol após supressão
de ACTH não está presente, a secre- da atividade neuroendócrina com baixa
ção excessiva persiste, mesmo com o dose de dexametasona (0,01 mg/kg IV)
aumento da concentração dos pro- sendo o cortisol mensurado antes da ad-
dutos do córtex da adrenal4. Já a ori- ministração, 4 horas e 8 horas após ad-
gem adrenal-dependente tem como ministração4. Valores de cortisol acima
causas mais comuns os carcinomas e de 1,4 μg/dL 8 horas após a administra-
os adenomas unilaterais de adrenal5. ção da dexametasona em cães com ca-
Estes tumores secretam quantidades racterísticas clinicas e alterações labora-
excessivas de produtos esteroides e toriais confirmam a hipercortisolemia6.
suprimem o hormônio liberador de
corticotrópico (CRH) hipotalâmi- Tratamento
co e as concentrações plasmáticas de
ACTH circulantes. O resultado desta Clínico
resposta crônica é a atrofia da cortical O HAC em cães é tratado clinica-
da adrenal não comprometida . 2
mente, apesar de existirem outras op-
Dentre os sinais clínicos mais co- ções de terapia como hipofisectomia,
muns estão a poliúria, polidipsia, polifa- adrenalectomia e radioterapia. As dro-
gia, obesidade central, dispneia, fraque- gas mais utilizadas são o trilostano que
za muscular e alterações cutâneas, como tem se demonstrado eficaz no tratamen-
alopecia simétrica bilateral; hipotonia to do HAC e com menor freqüência
cutânea; telangiectasia; comedões e cal- de efeitos adversos e o mitotano, con-
cinoses cutâneas (Figura 38) Alterações siderado um fármaco com boa eficácia,
laboratoriais, como leucograma de es- no entanto com potenciais efeitos ad-
tresse, aumento da fosfatase alcalina, au- versos7,8. O Quadro 1 resume informa-
mento de alaninaminotransferase, dis- ções sobre possibilidades de tratamento
lipidemias e diminuição da densidade clínico
100 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
Medicamento Mecanismo de ação Dose
Trilostano Inibição da biossíntese do cortisol 0,5-1 mg/kg a cada 12 horas
Mitotano Lise da córtex da adrenal 25 mg/kg a cada 12 horas com alimento
Cloridrato de Inibição do metabolismo da
1 mg/kg a cada 24 horas
selegilina dopamina
Cetoconazol Inibição da biossíntese do cortisol 5 mg/kg a cada 12 horas
Diminuição da síntese de hormô-
Melatonina 3-6 mg/cão a cada 12 horas
nios sexuais

Quadro 1. Possibilidades de tratamento medicamento do hiperadrenocorticismo canino, evidenciando


mecanismo de ação e dose recomendada.

Trilostano sobre a eficácia e segurança do trilos-


Trilostano é um inibidor competiti- tano, existe uma ausência de pesquisas
vo da 3β-hidroxisteroidedesidrogenase em dosagens e monitoração do trata-
(3β-HSD)9. Esta enzima é essencial no mento. Parte disso se deve a dosagem
organismo para a síntese de vários es- das cápsulas (30, 60 e 120 mg) que li-
teroides, como o cortisol e a aldostero- mita a utilização de uma dose precisa11.
na, cataliza a conversão da pregnolona, Pode ser necessária a manipulação de
17-hidroxipregnenolona e deidroepian- cápsulas para diferentes concentrações4.
drosterona em progesterona, 17-hi- A recomendação de dosagem inicial do
droxiprogesterona e androstenediona, fabricante do medicamento é de 3 a 6
respectivamente10. O trilostano tam- mg/kg um vez ao dia2. Porém Nelson e
bém inibe a ação da 11β-hidroxilase e Couto4, Feldman7 e Cho et al.8 relatam
influencia na interconversão do cortisol que a utilização de uma dose menor, ad-
fisiologicamente ativo em cortisona ina- ministrada duas vezes ao dia, resulta em
tiva pela 11β-hidroxisteroidedesidrogen um controle mais eficiente do que doses
ase (11β-HSD)2. fornecidas uma vez ao dia, sendo que a
A metabolização deste medicamen- ocorrência e a gravidade das reações ad-
to ocorre no fígado e a excreção ocorre versas são menos frequentes. Estes au-
pela bile e urina11. Em cães o pico de tores recomendam a utilização de uma
concentração é atingido em 1,5 horas dose entre 0,5 a 1 mg/kg duas vezes ao
após a administração, e os níveis come- dia.
çam a diminuir em aproximadamente Cães recebendo o tratamento com
18 horas. A sua administração pouco trilostano devem ser avaliados em 10
antes da ingestão de alimentos tende a dias, 1 mês, 3 meses e depois a cada 3
aumentar a sua absorção10. meses após o início do tratamento. A
Apesar de existirem vários estudos monitoração deve ser baseada nos sinais
Tratamento do hiperadrenocorticismo em cães 101
clínicos, hemograma, bioquímica sérica gão e é excretado pela bile e urina11.
e teste de estimulação com ACTH para Para a abordagem tradicional,
mensuração do cortisol2. É essencial existem duas fases do tratamento
que o teste de estimulação com ACTH com o mitotano: uma fase inicial de
seja realizado quatro a seis horas após a indução, designada para se obter o
administração do medicamento para ga- controle do distúrbio e uma fase de
rantir o máximo efeito da medicação11. manutenção por toda a vida, para evi-
O objetivo é uma mensuração de cor- tar a recorrência dos sinais clínicos. A
tisol pós-ACTH de 2 μg/dL a 5,5 μg/ dosagem de mitotano durante o trata-
dL4,8. mento de indução é de 20 a 25 mg/
Alguns dos pacientes tratados com kg, a cada 12 horas4. A duração des-
trilostano desenvolvem efeitos colate- ta fase pode variar entre 5 e 65 dias,
rais, a maioria dos quais são leves e po- dependendo da resposta do paciente
dem ser corrigidos com a suspensão ou ao mitotano. Durante esta fase é im-
ajuste da dose do medicamento. A su- prescindível um bom controle do pro-
perdosagem resultará em hipocortiso- prietário quanto aos sinais clínicos do
lemia com sintomas de letargia, depres- animal, principalmente o apetite, a in-
são, êmese e anorexia. As complicações gestão de água e o nível de atividade12.
relatadas em cães incluem diarreia, pan- Independentemente da resposta clíni-
creatite aguda, morte súbita (normal- ca, deve ser feito o teste de estimula-
mente nos primeiros dias de tratamen- ção com ACTH em 10 a 14 do início
to), sintomas neurológicos associados a da administração, para avaliar o nível
um rápido aumento de tumor hipofisá- de cortisol que está sendo atingido11.
rio e necrose de adrenal3. O objetivo desta fase do tratamento é
atingir uma concentração plasmática
Mitoctano
de cortisol pós-ACTH de 2 a 5 μg/dL.
O mitotano é um agente adrenocor- Se os sinais clínicos e resultados endó-
ticolítico, com uma citotoxicidade dire- crinos estiverem controlados, o animal
ta sobre o córtex da adrenal, resultando passa para a dose de manutenção12.
em uma atrofia e necrose progressiva Após a fase de indução diária, é im-
principalmente das zonas reticulata e portante continuar a terapia, embora
fasciculata2. É uma medicação liposso- com uma dose inferior. Caso contrário,
lúvel, sendo sua absorção aumentada o córtex adrenal gerará uma hiperplasia
pela administração com alimentos. Sua nas zonas fasciculata e reticulata, e os
ativação ocorre no fígado pelo sistema sintomas clínicos reaparecerão3. A dose
citocromo P450 e acredita-se que a sua de manutenção semanal inicial típica é
metabolização também ocorra neste ór- 50 mg/kg por via oral, dividida em 2 ou
102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
3 doses e administrada em 2 ou 3 dias central, inibidor irreversível da mono-
da semana4. aminoxidase B, tendo como consequ-
A monitoração consiste na realiza- ência a diminuição do metabolismo da
ção do teste de estimulação com ACTH dopamina, acarretando no aumento
a cada 3 a 4 meses9. O objetivo da tera- da ação dopaminérgica e inibição da
pia, é alcançar neste teste, concentrações secreção de ACTH2. A dose inicial re-
séricas de cortisol entre 2 e 5 μg/dL4. A comendada é 1 mg/kg a cada 24 horas,
dose do mitotano deve ser ajustada de sendo possível alterar para 2 mg/kg/dia
acordo com estes resultados3. A dose de se não houver melhora clínica após até
manutenção é diminuída se a concen- dois meses de tratamento. Entretanto,
tração sérica do cortisol pós ACTH for se mesmo assim o tratamento se mos-
menor que 2 μg/dL4. trar ineficaz, deve-se utilizar uma terapia
Segundo Leitão12, a maior des- alternativa. Estudos demonstram que o
vantagem do uso do mitotano são os L-deprenil tem mostrado que sua efi-
efeitos adversos que ele provoca. De cácia é variável, com aproximadamente
fato, a porcentagem de efeitos colaterais 80% dos animais tratados sem apresen-
é maior que a do uso com trilostano. tar melhora da sintomatologia clínica3,4.
Sinais gastrointestinais como náuseas, No entanto, a medicação não causa efei-
vômitos e diarreia, alterações compor- tos adversos graves, o que a torna como
tamentais e fraqueza muscular podem uma alternativa ao tratamento em casos
ocorrer devido à administração do fár- em que o uso de mitotano e trilostano
maco. Devido à sua ação adrenocorti- possa ser contra-indicado. O cloridrato
colítica, o mitotano pode provocar uma de selegilina não é recomendado para
deficiência grave em glicocorticóides e tratamento de hiperadrenocorticismo
consequentemente o aparecimento de hipófise-dependente em cães com dia-
hipoadrenocorticismo. Neste caso, o betes mellitus, pancreatite, insuficiência
animal também apresenta anorexia, fra- cardíaca, doença renal ou outras doen-
queza, ataxia, diarréia e vômitos. Outra ças associadas12.
desvantagem do mitotano é não impe-
Cetoconazol
dir que hajam recidivas, na medida em
que muitos dos animais podem necessi- O uso do cetoconazol para tra-
tar de uma 2ª fase de indução no primei- tamento do HAC canino é indicado
ro ano de tratamento. devido seu efeito supressor da esteroi-
dogênese, tendo ação inibitória na sín-
Cloridrato de selegilina tese de glicocorticoides, sem alteração
O cloridrato de selegilina na produção de mineralocorticoides4.
(L-deprenil) é uma medicação de ação Inicialmente utiliza-se a dose de 5 mg/
Tratamento do hiperadrenocorticismo em cães 103
kg, a cada 12 horas durante 7 dias. Se comendada é a de 3 mg, se o peso for
não ocorrerem reações adversas, a dose superior a 15 kg a dose recomendada é
é aumentada para 10 mg/kg, a cada 12 a de 6 mg15.
horas, durante 14 dias2,4. Após este pe-
Cirúrgico
ríodo de tratamento é indicado realizar
teste de estimulação com ACTH para A cirurgia pode ser uma forma de
verificar o nível de cortisol. Na maioria tratamento, sempre que se tenha co-
dos casos, o nível de cortisol atinge o nhecimento da origem da doença.
valor normal quando o cetoconazol é Geralmente, recorre-se a hipofisectomia
utilizado na dose de 15 mg/kg a cada 12 nos animais com HAC de origem hipo-
horas. A desvantagem no uso desta me- fisária e a adrenalectomia nos animais
dicação é o custo e o aparecimento de com a origem adrenal dependente16.
efeitos colaterais, como hiporexia, letar- Adrenalectomia
gia, êmese e diarreia3.
A adrenalectomia unilateral é o
Melatonina tratamento de escolha para os tumo-
res de adrenal a não ser que, durante a
A melatonina é um neuro-hormô-
avaliação pré-operatória, sejam detec-
nio produzido pela glândula pineal.
tadas lesões metastáticas ou invasão de
Esta controla o ciclo de crescimento do
órgãos ou vasos sanguíneos vizinhos, o
pelo e altera as concentrações de hor-
cão seja considerado de alto risco por
mônios sexuais13. Um estudo realizado
possuir uma doença concomitante ou
por Oliver14 revelou que ambas as en-
esteja debilitado pelo seu estado hipera-
zimas 21 β-hidroxilase e aromatase são
drenal, ou se a probabilidade de trom-
inibidas pela melatonina. A inibição da boembolismo perioperatório for con-
enzima 21 β-hidroxilase iria reduzir os siderada alta4. A suplementação com
níveis de cortisol e a inibição da enzima glicocorticóides é necessária durante
aromatase iria baixar os níveis de es- a cirurgia e no pós-operatório porque
tradiol, sendo útil nos casos de doença o córtex da adrenal contralateral está
adrenal leve em cães, e em particular nos atrofiado e incapaz de responder ade-
casos em que os esteroides sexuais estão quadamente ao estresse3. As principais
aumentados. Ela deve ser utilizada es- complicações secundárias a adrenalec-
pecialmente se a alopecia está presente, tomia são relacionadas a deiscências,
é uma medicação barata e tem poucos pobre cicatrização de feridas e crises de
efeitos colaterais. hipoadrenocorticismo12.
A dosagem utilizada varia de 3 – 6
mg a cada 12 horas para cada cão. Se o Hipofisectomia
animal pesar menos de 15 kg, a dose re- A hipofisectomia é uma operação
104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013
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106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Tathiana Mourão dos Anjos

Figura 1 - Máculas hiperpigmentadas em lábio de gato com lentigo

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107 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 2 - Mancha despigmentada em nariz de cão com vitiligo (seta)

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108 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 3 - Pápulas em região torácica de cão com foliculite

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109 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 4 - Placa em abdome de cão

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110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 5 - Inchaço, comedos (seta fina) e bolha (seta larga) em cão com hipotireoidismo

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111 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 6 - Nódulos em membros anteriores de cão com dermatofitose

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112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 7 - Cisto sebáceo em cão

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113 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 8 - Vesícula em pele de cão com farmacodermia

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114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 9 - Pústulas em cão com piodermite

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115 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 10 - Descamação generalizada em cão com leishmaniose visceral

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116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 11 - Colarete em cão com piodermite

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117 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 12 - Erosão em calo de apoio de cão alergopata

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118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 13 - Úlcera em lábio superior de cão com Leishmaniose Visceral

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119 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 14 - Crostas disseminadas em cão com adenite sebácea

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120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 15 - escoriação em face dorsal de pescoço de gato com hipersensibilidade alimentar

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121 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 16 - Fissuras (setas) em pele de cão com demodicose

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122 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 17 - Liquenificação em lábio inferior de cão com atopia

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123 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 18 - Alopecia por diluição de cor em dorso de cão

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124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 19 - Macromelanossomas (setas)em haste de pelos negros do cão da Figura 18

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125 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 20 - Tricograma apresentando raiz de pelo em fase anágena (seta fina) e outra em fase telógena
(seta grossa)

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126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 21 - colheita de material para exame citologico com “swab”

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Figura 22 - Hiperplasia e estenose do canal auditivo externo em cão com otite externa crônica

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Tathiana Mourão dos Anjos
Figura 23 - Dermatite miliar em região cefálica de gato com hipersensibilidade alimentar

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Figura 24 - Alpecia psicogênica em felino

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Figura 25 - Área de alopecia em região torácica de gato: defluxo telógeno pós doença sistêmica

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Tathiana Mourão dos Anjos
A
B

Figura 26 - A. Alopecia assimétrica, porém bilateral, em região periocular de felino com dermatofitose.
B. Observa-se a fluorescência da Luz de Wood

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Tathiana Mourão dos Anjos

Figura 27 - Complexo granuloma eosinofílico em feline

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Tathiana Mourão dos Anjos
Figura 28 - Úlcera indolente em labio superior de feline

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Tathiana Mourão dos Anjos

Figura 29 - Placa eosinofílica em face palmar de membro de gato

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Tathiana Mourão dos Anjos

Figura 30 - Granulona eosinofilico em felinos

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Figura 31 - Eritema em abdomen de cão com piodermite

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Anterior direito Anterior esquerdo Anterior direito

Lado frontal direito Lado frontal esquerdo

Lado direito Lado esquerdo


Vista ventral Vista dorsal

Posterior direito Posterior esquerdo Posterior direito

Figura 32 - Dermograma canino para marcação das lesões encontradas no exame


Fonte: Ramadinha, R. 2000

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Figura 33 - Fotomicroscopia após citologia por “imprint” evidenciando infecção mista. Observa-se in-
tensa quantidade de bactérias cocóides (setas pretas) e moderada quantidade de malassezias (setas
vermelhas). Lâmina corada em panótico rápido - 100x

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139 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 34 - Fotomicroscopia de Demodex canis após exame de raspado profundo, observando-se gran-
de quantidade de adultos (setas) – 10x

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Figura 35 - Animal SRD com prurido e sinais clínicos de dermatite alérgica a picada de pulga (DAPP).
Observar descamação intensa, hipotricose e hiperqueratose em região lombosacral.

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141 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 71 - dezembro de 2013


Figura 36 - Animal da raça Cocker com prurido e sinais clínicos de atopia crônica em que observam-se
hiperpigmentação, liquinificação, eritema em região de pescoço, axila, face medial da coxa e patas

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Prurido intenso e contínuo . O prurido não cessa,
independente do que esteja acontecendo ao redor, até
mesmo na hora da consulta,

Prurido intenso , com episódios prolongados. Pode


ocorrer à noite. Animal pode interromper atividades
como comer, brincar para se coçar.

Prurido moderado, episódios intermitentes de coceira.


Pode ocorrer à noite. O animal não interrompe
atividades como comer e brincar para se coçar.

Prurido discreto . O animal não se coça quando está


dormindo, comendo ou brincando.

Prurido bastante discreto . Episódios casuais. Prurido


mais intenso do que antes de ter iniciado o problema
dermatológico.

Animal normal. O prurido não é visto como problema

Figura 37 - Escala visual modificada para mensuração do prurido. O proprietário deve marcar um X, no
local da escala em que suspeita que está a coceira da animal

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A B
C D

Figura 38 - Pacientes com hiperadrenocorticismo: a) Evidencia-se obesidade central, decorrente do hi-


peradrenocorticismo; b) Telangiectasia intensa e calcinose cutânea em região abdominal; c) Hipotonia
cutânea abdominal ; d) Eritema, telangiectasia e calcinose cutânea em abdômen

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