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Água: Uso de bebedouros e sua influência na produção de bovinos em

pasto

A ingestão de água tem impacto direto no desempenho


produtivo e bem-estar de bovinos criados em pasto. Vários
fatores intrínsecos e extrínsecos afetam a ingestão de
água por parte de bovinos, sejam de corte ou de leite.
Vários trabalhos já foram realizados considerando a água
como variável possível de incremento de produção em
ruminantes.

A limitação de consumo de água reduz o desempenho


animal, de forma mais rápida e mais drástica do que
qualquer outra deficiência de nutrientes. A água constitui
cerca de 55 a 70% do peso vivo do animal adulto chegando
a porcentagem de 80 a 85% no animal jovem e até 90% no
recém –nascido, considerando tal fato, o consumo de água
torna-se mais prioritário do que consumir alimentos
(FARIES, SWEETEN e REAGOR, 1997). Os animais podem perder até 100% de seu tecido adiposo
(gordura) e mais de 50% de sua proteína corporal que eles sobrevivem, mas perdendo de 10 a 12% de
sua água corporal, perecem.

O estado fisiológico, fatores climáticos (temperatura ambiente, umidade relativa e horas luz), além de
raça, idade, tamanho corporal, consumo de alimentos (e o nível nutricional dos mesmos), de matéria
seca e de sódio são fatores que influenciam a ingestão de água. (NCR, 2007).

A água a ser fornecida aos animais pode ter origem de fontes naturais (represas, lagos e córregos) ou
artificiais (bebedouros). Em ambos os casos deve-se evitar a presença de agentes contaminantes
químicos (sulfatos, amônia, nitritos, nitratos e restos de defensivos) ou microbiológicos (coliformes
estreptococos fecais, salmonelas e outros).

Estudos realizados evidenciam que o fornecimento de água aos bovinos via bebedouros, oferece
vantagens, tanto no sentido de oferta, distribuição, como na questão de contaminantes (BICA, 2005).
Os animais que têm acesso direto aos açudes, córregos, riachos, entre outros acabam defecando e
urinando na água e áreas adjacentes.

Deve-se também observar que os bovinos quando fazem uso das aguadas naturais, pelo intenso
acesso, provocam processos erosivos destes mananciais e suas matas ciliares. Dentro desta visão, é
necessário a preservação e conservação dos ecossistemas naturais, devido á limitação do estoque dos
recursos naturais e nosso compromisso como envolvidos na produção pecuária, de manter e sustentar
tais recursos, a fim de evitar no futuro as catástrofes sócio-ambientais que ocorrem de um modo cada
vez mais frequente em nosso cotidiano.

A escolha da abordagem sobre bebedouros e a produção bovina em pasto tem o interesse de levar ao
conhecimento dos envolvidos com a atividade pecuária, as tecnologias disponíveis, e assim desenvolver
um processo produtivo em que se respeitem as necessidades, preferências e bem-estar animal, focado
neste aspecto, foi
elaborado este trabalho, por meio de uma revisão de literatura sobre a água e os bovinos, e suas
interações e possíveis impactos na produtividade animal. Na intenção de organizar de forma clara, as
informações adquiridas, foram organizadas em tópicos.

Fisiologia e a necessidade de água pelos ruminantes

A água, certamente é um dos mais importantes nutrientes, é


também considerado o substrato químico mais abundante e vital
de todos os seres vivos (NRC, 2007). Em animais mantidos em
climas quentes, exerce efeito no conforto térmico pelo
resfriamento direto, desde que a água esteja em temperatura
inferior à do corpo, e serve como veículo primário de transferência
de calor através da evaporação, cutânea e respiratória (BEEDE,
COLLIER, 1986). Por participar de todas as funções vitais para um
organismo vivo, a água é essencial para que qualquer atividade
fisiológica ocorra de modo correto. Segundo Teixeira (1992), as
fontes de água para os ruminantes são: a água de bebida, a água oriunda dos alimentos e a água
metabólica, que é formada pela oxidação de nutrientes e tecidos corporais.

Os bovinos necessitam de suprimento constante de água, abundante, com boa qualidade e limpa para:
fermentação e metabolismo no rúmen de forma normal, manter o fluxo do alimento no trato digestivo,
favorecer boa digestão e absorção de nutrientes, manter o volume normal do sangue e suprir as
demandas dos tecidos corporais (ADAMS E SHARPE, 1995). O método de fornecimento de água para os
bovinos via bebedouro, atende, quando bem dimensionado, as exigências de constância, abundância,
boa qualidade e limpeza.

Ingestão voluntária

O uso de água ou a ingestão pelo animal tem relação com as


seguintes variáveis: peso corporal, consumo de matéria seca, o
consumo de energia, efeitos de estações do ano (temperatura,
radiação e umidade), efeito da restrição ou oferta
(disponibilidade, acesso, distância), qualidade de água, das
espécies, raça e em diferentes estágios fisiológicos: crescimento,
gestação e lactação (NCR, 2007). Desta forma os bebedouros são
preponderantes na questão da oferta e restrição de água
(disponibilidade, acesso, distância).

Segundo Winchester e Morris (1956), até 26°C os bovinos


tendem a beber água com mais frequência em torno do meio dia, no final da tarde e à noite; acima de
32°C o tempo de ingestão tende a ficar mais curto e os animais aumentam a frequência do beber,
fazendo este ato a cada duas horas. Em climas quentes o acesso à água continuamente, torna-se mais
necessário. Na literatura encontram-se dados consistentes de que o efeito do aumento da temperatura
do ar, eleva o consumo de água por bovinos e ovinos. Raças tropicais ingerem menos água que raças
europeias (NCR, 2001; FRASER, BROOM, 1990), especialmente nos trópicos. A distância da fonte de
água também impacta a ingestão de água nos bovinos criados em pasto. Vacas em lactação, após a
ordenha podem ingerir até 50% da sua necessidade diária, que é maior do que os bovinos de corte. O
dimensionamento e localização correta de bebedouros acarretará no atendimento das necessidades
dos bovinos criados à pasto.

De acordo com Winchester e Morris (1956), predizer a quantidade de água ingerida (volume e
frequência) é muito difícil, porque ocorre uma grande variação nos níveis de ingestão, no mesmo animal
em dias consecutivos, sob aparentemente iguais condições, por outro lado, esses autores consideram
a predição da ingestão em um grande grupo de animais uma boa estimativa, pois a diferença individual
se dilui na média do grupo. No Brasil foram realizados experimentos com gado de leite, em diferentes
categorias animais, para mensurar o consumo de água .(TAB 1).

TABELA 1 – Ingestão voluntária média de água (L/dia) com e sem evaporação, pelas diferentes
Categorias

No estudo de Tapki e Sahin (2006), vacas com alta produção de leite, maiores do que 25 kg leite/dia,
beberam 62% mais água, do que vacas de menor produção, menores de 20 kg leite/dia. Segundo
Marino (2006), com um correto dimensionamento de bebedouro, um bovino de corte com 450 kg (1 UA),
em temperatura ambiente de 27°C, consome 55 l/ dia. Benedetti (2009), relata que, considerando-se
bovinos de dois anos, a necessidade mínima é de 45 litros/cab/dia ou cerca de 8 -9 litros/ 100 kg de
peso vivo, em condições de manejo adequado, distância correta de bebedouros e clima temperado.
A restrição de água pode reduzir o consumo de alimento, seguido por uma diminuição na produção de
leite (ANDERSSON et al.;1987; NCR, 2001) ou no ganho de peso dos animais, segundo encontra-se em
NRC (2000).

Bebedouro como opção à oferta direta de água de mananciais,


reflexo na qualidade da água de bebida

A utilização de locais para bebida de animais como riachos,


sangas, nascentes, pode ocasionar sérios problemas de poluição
destas fontes de água. O acesso direto de bovinos a estes
recursos de água ocasiona uma degradação do ambiente e da
qualidade da água devido ao acúmulo de dejetos e ao
assoreamento das margens (COIMBRA, 2007). Uma grande parte
da contaminação dos cursos de água é resultado da defecação
animal direta no fluxo de água. White et al. (2001) encontrou
maior acúmulo de fezes e urina no local próximo a água e uma
distribuição mais uniforme no restante do piquete de pastoreio. A
utilização de área de bebida não direta à fonte de água, atraindo os animais para outras áreas através
do uso de bebedouros ou utilizando sistemas de desvio de água, é estratégia que vem sendo utilizada
para amenizar a degradação dos recursos hídricos pela criação animal.

O uso de bebedouro para bovinos na criação em campo vem sendo recomendada como melhor opção
para substituir a utilização direta dos recursos hídricos como sangas, riachos, córregos, ou para
substituir a utilização de açudes artificiais.

Os critérios considerados para avaliar a qualidade da água segundo NRC (2001) são: 1- propriedades
organolépticas: odor e gosto; 2- propriedades fisioquímicas: pH, sólidos totais dissolvidos, oxigênio
total dissolvido, dureza; 3- presença excessiva de minerais ou componentes: nitratos, cálcio, sódio,
sulfatos; 5- presença de bactérias. Melhorar a qualidade da água de bebida dos bovinos aumenta a
ingestão de água e nutrientes, por consequência, resulta em aumento no ganho de peso e
performance animal (LARDNER et al., 2005).

Bebedouros bem manejados, armazenam água de melhor qualidade, livre de dejetos animais, o que
resulta em um melhor desempenho animal. Em trabalho de Willms et al. (2002), foi constatado
incremento de 23% de ganho de peso em novilhas com acesso a água limpa, num bebedouro em
relação as que tinham acesso direto a uma lagoa. Os bovinos evitaram água contaminada com 0,005%
de excremento fresco, quando podiam escolher entre essa água e outra água potável.

A utilização de bebedouros, em vez de fonte direta natural de água, resulta em um maior consumo de
água e maior ganho de peso dos animais, com consequências positivas em relação à performance
animal, eficiência econômica e ambiental (MINER ,1995). Bica (2005) observou que, os bovinos
desenvolveram uma preferência por beberem em bebedouro, do que em açude, e apresentaram, a
mais 29% ganho de peso diário, em relação aos animais que só podiam beber em açude.

Localização dos bebedouros

A localização da água a ser fornecida aos animais em pastoreio,


define o grau de utilização da forragem, de acordo com Gillen et
al.,(1984), segundo o mesmo, o gado preferiu a pastagem em
áreas até 200 m da água e evitou áreas a mais de 600m; essa
constatação também foi observada por Irving et al. (1995), que
mostraram que os bovinos passaram a utilizar a forragem a mais
de 1,6 km da água quando 40 a 50% da forragem mais próxima
já havia sido consumida. É necessário disponibilizar água próximo
do local de pastejo, em pastagem rotacionada. Coimbra et al.
(2007) cita que é necessário disponibilizar água dentro do
potreiro, evitando assim que ocorra uma restrição no consumo
relacionado ao comportamento social dos animais. Para Pinheiro Machado, (2004), requer a instalação
de pelo menos um bebedouro para cada quatro potreiros.

Piaggio e Garcia (2004) testaram a diferença de disponibilizar água somente na sala de ordenha (duas
vezes ao dia) ou no pasto e na sala de ordenha para vacas leiteiras, e os animais percorriam no
máximo 500 m para beber água. Foi encontrada uma maior produção de leite (5% a mais) nos animais
com água no pasto e na sala de ordenha. Coimbra (2007), cita que, em grandes áreas com criações
extensivas, a localização da fonte de água e do saleiro pode interferir na distribuição dos animais e na
utilização e no aproveitamento da pastagem. Os animais não andam indefinidamente à procura de
alimento ou água, geralmente eles percorrem, no máximo, 10 km por dia (HURNIK et al., 1995). Os
animais tendem a pastar próximos da fonte de água. No trabalho de Ganskopp (2001), a distância
máxima que os animais permaneceram da fonte foi de 2,13 km.
Marino (2006) cita que o posicionamento do bebedouro nas pastagens merece atenção. Sua localização
próxima a áreas sombreadas e em locais que evitem a formação de lama proporciona maior conforto
aos animais. Segundo ainda o mesmo autor, o ideal é que o animal não tenha que percorrer grandes
distâncias para beber água, permitindo sua ingestão ao longo de todo o dia. Coimbra (2007) em seu
trabalho comenta que o bovino gasta cerca de 0,48 cal por kg de peso corporal por metro percorrido
(HURNIK et al , 1995). Zocoler et al. (2001) encontraram o resultado que, bovinos de corte, com um
deslocamento diário de 228,93 m/ UA, sob terreno plano, envolve um custo energético de 97,77
MJ/UA/ano, o que resulta em uma perda de 2,271 kg/UA/ano.

Dimensionamento e cuidados de manutenção dos bebedouros

O formato do bebedouro influencia no consumo de água dos


animais. Coimbra (2007), observou que novilhas de corte,
apresentaram maior número de eventos de bebida, maior tempo
bebendo, por mais tempo e em maior quantidade, em bebedouro
redondo do que em bebedouro retangular. Vacas leiteiras
preferem bebedouros maiores (PINHEIRO MACHADO FILHO et al.,
2004; TEIXEIRA, 2005) e com maior área superficial (TEIXEIRA,
2005). Ficando evidente a preferência por bebedouros com maior
espelho d’água pelos animais. Quando ocorre restrição hídrica, a
dominância social interage com o estado fisiológico e as vacas
lactantes dominantes bebem mais água (HOTZEL et al,, 2003).

Faria (2006) comenta que, bebedouros mais baixos parecem também serem preferidos. Os bovinos
preferem bebedouros mais rasos com água limpa, permitindo a visualização do fundo.

O cálculo do tamanho do bebedouro segue a relação de perímetro/animal, e assim vai depender do


lote: lotes com até 50 animais a relação é de 1:10 e para lotes com mais de 600 animais, 1:30 , ou
seja, 10 a 3 cm/animal respectivamente. Faria (2006), ainda ressalva que, mais importante do que as
dimensões dos bebedouros é a vazão de água, evitando-se que haja restrição de água para os
bovinos. Benedetti (2009), em seu trabalho afirma que, a altura dos bebedouros deve ficar entre 65 a
85 cm para animais adultos, com profundidade mínima variando de 15 a 30 cm. Em relação á área de
bebedouro deve-se provisionar 60 cm linear para que, 15% dos animais bebam simultaneamente.
Quando o número de animais for superior a 200, adotar a área de 60 cm linear para 20% dos animais,
o que representa de 9 a 12 cm lineares de bebedouro /animal adulto. Embora pouco divergentes, as
informações de dimensionamento, guardam uma relação da disponibilidade de água armazenada pelo
número de animais com acesso. As recomendações de manutenção sempre vão de encontro, a uma
limpeza semanal, para evitar o acúmulo de elementos que inibam a ingestão de água por parte dos
animais. No caso de propriedades leiteiras, a higienização dos bebedouros, deve ocorrer com
frequência diária.

Considerações finais

Os bebedouros oferecem aos bovinos criados em pasto, água de


melhor qualidade, fresca e limpa, conforme suas necessidades de
ingestão, com acesso melhor, evitando custos energéticos por
parte do animal e disputas hierárquicas. Portanto o uso de
bebedouros na produção de bovinos em pasto oferece ganhos na
produtividade, visto que, vários trabalhos publicados reportam
que ocorrem acréscimos tanto em ganho de peso, como em
produção de carne e leite, quando os animais são abastecidos
por bebedouros. Quanto à sustentabilidade e preocupação
ecológica, o bebedouro, oferece a alternativa de evitar acesso às
matas ciliares e mananciais evitando assim processos erosivos,
que levam à degradação das fontes naturais de água.

Diante do exposto neste trabalho de revisão, notase, a necessidade de mais trabalhos abordando o
enfoque da influência do uso de bebedouro, assim como sua adequação, com mais raças, em micro-
climas diferenciados e com manejos diversos, para assim serem obtidos mais dados, aumentando a
base de dados para futuras recomendações e hipóteses que acrescentem no desenvolvimento da
produção animal. Conclui-se portanto, que devemos produzir de modo sustentável e ecologicamente
correto, respeitando as leis ambientais, manejando corretamente este bem precioso que é a água,
resultando assim, em uma produção continuamente crescente e adequada aos anseios atuais do
consumidor de produtos de origem animal.

Data de Publicação: 18/03/2013


Autor: Tavares, J.E.; Benedetti, E. Escrito para apresentação do Trabalho de Conclusão do Curso de
Pós-graduação “lato sensu” Nutrição e Alimentação de Ruminantes- FAZU , Uberaba- MG.2010.

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