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CURSO SUPERIOR EM ENGENHARIA AGRONÔMICA

Relatório Técnico de Projeto Integrador


Etapa III
Gestão de Recursos Hídricos

Bacharelado em Engenharia Agronômica 9º Período

Sob orientação do professor


Prof.º Dr. Randerson Cavalcante

PIRANHAS - AL
2021
CURSO SUPERIOR EM ENGENHARIA AGRONÔMICA

Edmaíris R. Araújo, Juliane Nogueira & Maria Amélia de O. Silva

Relatório Técnico de Projeto Integrador


Etapa III
Gestão de Recursos Hídricos

Bacharelado em Engenharia Agronômica 9º Período

Sob orientação do professor


Prof.º Dr. Randerson Cavalcante

Relatório Técnico apresentado ao Curso


Superior em Engenharia Agronômica do
Instituto Federal de Alagoas – Campus
Piranhas como requisito parcial para
aprovação na disciplina Projeto Integrador
III.

PIRANHAS - AL
2021
Sumário

1. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................... 4

2. QUALIDADE DA ÁGUA........................................................................................... 4

3. RECURSOS HÍDRICOS FAZENDA PARAÍSO ....................................................... 6

4. MANEJO ATUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS .................................................... 6

5. CONSUMO HÍDRICO PECUÁRIO DA FAZENDA PARAÍSO .............................. 6

5.1. FATORES QUE INFLUENCIAM O CONSUMO DE ÁGUA PELOS ANIMAIS ...................... 8

6. GESTÃO E BENFEITORIAS DE RECURSOS HÍDRICOS ..................................... 9

6.1. FONTES PARA DESSEDENTAÇÃO POR CATEGORIA................................................ 10


6.2. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DA FAZENDA PARAÍSO .................................. 11

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 14
4

1. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

A gestão de recursos hídricos pode ser entendida como as implementações de


medidas para controlar os sistemas hídricos, sejam eles naturais ou artificiais, de modo a
propiciar melhoria na qualidade de vida dos seres vivos, atendendo a objetivos ambientais
pré-estabelecidos (SOBRAL, 2011).

Na região semiárida, as técnicas para o gerenciamento dos recursos hídricos se


voltam, principalmente, para a convivência com a seca e com as problemáticas de
desertificação que podem atingir a população, em especial os pequenos e médios
produtores agropecuários. Estes, muitas vezes, dependem da irregularidade das chuvas e
da distribuição inconstante de caminhões-pipa em períodos mais críticos a fim de
conquistar o mínimo de sucesso econômico em suas atividades. Dessa forma, o
planejamento e a gestão integrada dos recursos hídricos disponíveis são imprescindíveis,
principalmente no que diz respeito à prevenção de possíveis períodos emergenciais de
escassez hídrica.

Uma das principais formas de gerir os recursos hídricos é a partir da ampliação


das formas de captação e das possibilidades de fontes fornecedoras de água para a
propriedade, assim como realizar o planejamento para o uso consciente de ambientes onde
os recursos hídricos já são alocados, como açudes e cisternas, investigando o consumo
animal, uma vez que a destinação das águas na propriedade é, prioritariamente, para a
Ovinocaprinocultura (em todo o ciclo de atividades).

Tomando como base a necessidade de obtenção e armazenamento hídrico para a


realização de atividades ligadas à criação de animais, principalmente durante os períodos
de estiagem, uma das alternativas viáveis, e com provável menor resistência em
considerar a ideia por parte do produtor, é a construção de um poço artesiano como forma
de infraestrutura simplificada para o fornecimento de água.

2. QUALIDADE DA ÁGUA

A água em sua forma natural contém diferentes elementos, advindos do próprio


ambiente ou inseridos através da ação humana. Tais elementos podem influenciar direta
ou indiretamente na qualidade da água. Parâmetros químicos, físicos e biológicos são
utilizados para determinação dessa qualidade.
5

No âmbito de consumo animal, a qualidade da água representa um fator de


fundamental importância não apenas para o consumo, mas principalmente porque afeta o
consumo de alimentos e o desempenho produtivo e, consequentemente, a saúde dos
animais, já que a água se constitui em importante veículo de contaminantes químicos,
físicos e biológicos (ARAÚJO et al., 2011).

Como relatado anteriormente, vários fatores podem influenciar na qualidade da


água, consequentemente, a qualidade da água poderá influenciar o consumo de água
animal. Entre os padrões biológicos destaca-se bactérias como Escherichia coli e
Salmonella - 1700 spp., vírus, a exemplo do adenovírus – 31 tipos e rotavírus, e espécies
de protozoários e helmintos. São microrganismos que utilizam a água como rota de acesso
ao organismo animal, responsáveis por diversas doenças veiculadas pela água, causando
severos danos ao desempenho do animal.

A contaminação física da água pode ocorrer devido a presença de detritos (sacos


plásticos, vidros e outros) e material em suspensão (argilas, areias, resíduos orgânicos e
minerais). No Semiárido brasileiro, isso acontece principalmente na época chuvosa do
ano (BRITO et al., 2005). Outro agravante na região é a elevada densidade de animais
nas áreas, o que aumenta a presença de dejetos nas fontes de água (açudes, barreiros e
cacimbas) e promove erosões nas margens dos reservatórios, elevando a concentração de
sólidos (ARAÚJO et al., 2011).

O elevado acúmulo de sólidos na água afeta não só a aceitação pelos animais, como
também favorece o consumo de minerais que podem ocasionar futuramente complicações
renais. Também reduz a parcela de oxigênio dissolvido, facilitando a proliferação de
microrganismos patogênicos. Outro contaminante da água é a presença de dejetos
animais, podendo este elevar a concentração de nitrato, poluentes químicos e propiciar o
aumento da quantidade de microrganismos patogênicos e helmintos.

Um contaminante químico de elevada importância para a qualidade da água é a


presença de sais. A salinidade refere-se à quantidade total de sais minerais dissolvidos na
água, sendo que a tolerância dos animais à salinidade varia de acordo com a espécie, a
idade, a necessidade de água e as condições fisiológicas. No Semiárido brasileiro,
normalmente, a água reservada aos animais é proveniente de barragens, açudes, rios,
barreiros e poços. Em se tratando das fontes superficiais, pelos altos valores de
evaporação e, consequentemente, as elevadas perdas de água, há o aumento da
6

concentração de sais solúveis na água, e, em alguns casos, a água fica imprópria ao


consumo dos animais, principalmente em anos de baixas precipitações pluviométricas.
(ARAÚJO et al., 2011).

3. RECURSOS HÍDRICOS FAZENDA PARAÍSO


A propriedade possui fontes naturais e artificiais de água. A primeira constitui-se
da presença de riacho temporário que corre em parte do terreno da propriedade, cujo
volume varia de acordo com o regime das chuvas, que se concentram no inverno local
(entre abril e julho) e nas chuvas de verão (novembro a janeiro); a segunda constitui-se
da presença de 4 açudes de volume exato desconhecido e uma cisterna que comporta um
volume de 50 m3.

4. MANEJO ATUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS

A dessedentação dos animais, bem como demais atividades pecuárias, como o


preparo de rações, que necessitem do uso de água são atendidos diretamente através das
fontes artificiais, principalmente através da cisterna que abastece um sistema de cochos
de água instalados nos currais.

Com exceção das matrizes e marrãs, todo o rebanho tem sua demanda hídrica
atendida exclusivamente pelo fornecimento de água via cochos, uma vez que estes
animais permanecem confinados. As matrizes e marrãs têm acesso aos açudes enquanto
pastam em campo, num horário compreendido entre as 8 e 16 horas, sendo atendidas pelo
tempo restante através dos cochos como as demais categorias do rebanho.

Através de levantamento de dados obtidos nas etapas anteriores da disciplina, ficou


constato que o custo atual da Fazenda Paraíso com aquisição de água gira em torno de R$
150,00/mês, através de abastecimento de caminhão-pipa (capacidade média de 15 m3) ou
por meio do abastecimento da concessionária de água que atende a propriedade, sendo a
água utilizada somente para atender a necessidade de abastecimento dos animais.

5. CONSUMO HÍDRICO PECUÁRIO DA FAZENDA PARAÍSO

Para uma determinação precisa dos dados de consumo hídrico pecuário seria
necessário a realização de um monitoramento prévio dos diversos usos e quantidades
empregadas na propriedade. Todavia, em função da impossibilidade de realização do
monitoramento perante as condições atuais, adotou-se a metodologia de Forbes (1968) e
7

NCR (1985) citados pelo National Research Council – NRC (2007) para a determinação
do consumo hídrico médio dos animais da propriedade (equação 1).

CTA = 3,86 x CMS − 0,99 (1)

Onde: CTA = Consumo Total de Água; CMS = Consumo de Matéria Seca.

O Consumo de Matéria Seca – CMS dos animais foi diferenciado através de


alocação em categorias, de acordo com o determinado pelo planejamento do manejo
alimentar e nutricional do rebanho (tabela 1).

Tabela 1. Categorias, Consumo de Matéria Seca – CMS (kg) por dia por categoria e
Consumo Total de Água – CTA (L) por categoria e total do rebanho da Fazenda Paraíso,
Piau, Piranhas – AL.
DADOS GERAIS CONSUMO DE ÁGUA/CATEGORIA (L)
n° CMS Época Úmida* Época Seca**
Categorias CMS/dia
animais TOTAL CTA/dia CTA/Mês CTA/Dia CTA/Mês
Alpina Britânica
Marrãs 2,88 30 86,4 332,51 9.975,42 349,14 10.474,19
Matrizes 2,88 28 80,64 310,28 9.308,41 325,79 9.773,83
Reprodutor 2,8 1 2,8 9,82 294,54 10,31 309,27
Berganês
Machos/Nasc 0,27 5 1,35 4,22 126,63 4,43 132,96
Macho/Venda 1,9 5 9,5 35,68 1.070,40 37,46 1.123,92
Marrãs 2,88 37 106,56 410,33 12.309,95 430,85 12.925,45
Matrizes 2,88 3 8,64 32,36 970,81 33,98 1.019,35
Reprodutor 2,8 1 2,8 9,82 294,54 10,31 309,27
Dorper
Machos
0,27 40 10,8 40,70 1.220,94 42,73 1.281,99
Cria/Nasc
Macho/Venda 2,68 32 85,76 330,04 9.901,31 346,55 10.396,37
Marrãs 2,8 3 8,4 31,43 943,02 33,01 990,17
Matrizes 2,8 122 341,6 1.317,59 39.527,58 1.383,47 41.503,96
Reprodutor 2,8 2 5,6 20,63 618,78 21,66 649,72
Toggenburg
Marrãs 2,8 16 44,8 171,94 5.158,14 180,53 5.416,05
Matrizes 2,8 5 14 53,05 1.591,50 55,70 1.671,08
CONSUMO TOTAL DO REBANHO 3.110,40 93.311,97 3.265,92 97.977,57
* Inverno/época chuvosa da região (duração: 3 meses). ** Verão/época seca da região, com acréscimo de
5% no consumo de água pelos animais (duração: 9 meses). Fonte: Autores (2021).

A tabela 1 apresenta os dados de CMS e CTA, diário e mensal por categoria, raça
e para as épocas úmida e seca, além do total consumido por todo o rebanho diariamente
e mensalmente nas duas épocas citadas. Na época seca, caracterizada ausência prolongada
8

de chuvas, aumento da radiação e temperatura, bem como redução da umidade do ar, foi
padronizado um acréscimo de 5% no consumo total de água dos animais em função das
mudanças climáticas citadas.

Entre as categorias que constituem o rebanho, matrizes e marrãs representam 85,5%


(79.784,83 L na época úmida e 83.774,07 L na época seca) do toda a água consumida
pelo rebanho para dessedentação. Essas duas categorias são também as únicas a ter acesso
direto aos açudes.

5.1. Fatores que influenciam o consumo de água pelos animais

É importante levar em consideração que o consumo pelo animal é dependente de


fatores como a espécie e a idade do animal, o estado fisiológico, a alimentação, a
temperatura ambiental, dentre outros. Animais em estágio mais avançado de gestação ou
em lactação, por exemplo, tendem a consumir maiores volumes de água por dia que os
demais, assim como ovinos tendem a consumir mais água que caprinos uma vez que estes
apresentam melhor eficiência de uso da água em virtude de menores perdas fecais e
urinárias e do menor consumo de alimentos.

A alimentação também vai influenciar o consumo hídrico dos animais da


propriedade em uma via de mão dupla: o consumo de alimentos é fator importante na
determinação do volume de água consumido diariamente pelo animal, assim como a
ingestão de água afeta consideravelmente o consumo de alimentos (ARAÚJO et al.,
2011). Na Fazenda Paraíso, o consumo de água diário em períodos mais críticos pode ser
reduzido com a introdução de maiores volumes de palma na alimentação, uma vez que o
volumoso propicia menor consumo hídrico do que rações com altos teores de
concentrado, por exemplo. Por ser um alimento suculento com elevada concentração de
água e baixo teor de matéria seca, a palma forrageira é um importante aporte adicional de
água em períodos com maior dificuldade ao acesso à água.

Em relação à temperatura é visto que, tanto nas estações quanto nas horas do dia
mais quentes, a exposição dos animais à essas condições, propicia maior consumo de
água. Quanto às raças, é importante realizar a escolha daquelas mais adaptadas às
condições de escassez hídrica sazonal por apresentarem maior eficiência do uso da água,
assim como menor ingestão do líquido. Na fazenda Paraíso, as raças de animais utilizadas
apresentam essa característica, como a Dorper, raça de ovino bastante difundida nos
9

sistemas de criação, e o Berganês, que é um ovino desenvolvido no semiárido nordestino


e, por isso, adaptado às suas condições.

A fonte da água, o número de bebedouros na área, a distribuição, o tamanho, a


altura e o formato dos bebedouros, além da acessibilidade dos animais a essa fonte, são
também fatores que influenciam no consumo de água pelos animais. Caso haja a
necessidade de deslocamento que exija muito tempo e um alto percurso para a
dessedentação, por exemplo, há uma tendência de maior consumo de água em virtude dos
maiores gastos energéticos.

6. GESTÃO E BENFEITORIAS DE RECURSOS HÍDRICOS

Os dados disponíveis acerca das fontes artificiais de água da propriedade indicam


que não há exatidão do volume comportado pelos açudes. Em virtude disso, utilizando a
classificação de açudes proposta por Molle (1991) os açudes da propriedade foram
classificados na categoria “Pequeno Açude” (tabela 2), com padronização proposta pelos
autores de volume comportado de 20.000 m3 por açude, totalizando uma disponibilidade
hídrica de 80.000 m3 pelos açudes.

Tabela 2. Classificação dos açudes (segundo Molle, 1991).


Volume (m3) Capacidade Características Uso Principal
Escavação circular;
5.000 a Bebedouro para
Barreiro Seca todos os anos sangradouro
10.000 gado; aguada
rudimentar
Barragem de terra Abastecimento
Pequeno 10.000 a Junção entre 2
em riacho durante a
Açude 50.000 períodos de chuva
intermitente estação seca
Junção, mesmo em Dique de terra Abastecimento e
Açude 40.000 a
ano de seca compactada sobre irrigação de
Médio 300.000
máxima uma trincheira salvação
Dique de terra,
Abastecimento
Grande pedras ou concreto;
> 300.000 Reservatório perene de água e
Açude sangradouro e
irrigação
escoadouro
Fonte: Molle (1991), adaptado pelos autores (2021).

A redução da qualidade da água de açudes é afetada por diversos fatores, entre eles
estão a erosão de suas margens, a presença de fezes e urinas dos animais, presença de
microrganismos, suspensão de matéria orgânica, presença de material vegetal infestante
10

e a evaporação que, além de reduzir o volume armazenado, afeta atributos que


influenciam na salinidade, uma vez que os sais não evaporam e concentram-se em um
menor volume de água (ARAÚJO et al., 2011).

Tendo em vista que a qualidade da água influencia nos processos fisiológico dos
animais e, consequentemente, em seu desempenho, é essencial o uso de água da melhor
qualidade possível.

6.1. Fontes para Dessedentação por Categoria

Matrizes e Marrãs

Matrizes e Marrãs são as categorias responsáveis por 85,5% do total de consumo


do rebanho na propriedade. Também são as únicas que tem acesso direto aos açudes, uma
vez que somente essas duas categorias são direcionadas a pastejo. Os animais ficam no
campo pastejando das 8 às 16 horas (1/3 do dia), todos os dias. Nos 2/3 finais do dia elas
voltam para a confinamento, sendo atendida a dessedentação através de cochos, como as
demais categorias.

O período que esses animais permanecem no campo pastejando coincide com os


horários de maior temperatura do dia que, associadas as distâncias percorridas para
deslocamento, representam o período do dia em que esses animais consomem a maior
parte (2/3) do total de diário de água (CÂNDIDO et al., 2004; POMPEU et al., 2009).
Dessa forma, 2/3 do consumo diário de água das matrizes e marrãs são atendidos através
dos açudes (tabela 3).

Tabela 3. Consumo de água (L) de Matrizes e Marrãs na Fazenda Paraíso.


Época Úmida Época Seca (%)
Consumo Mensal Total do Rebanho 93.311,97 97.977,57 100
Consumo Mensal das Matrizes e Marrãs: 79.784,83 83.774,07 85,5
Açude (2/3): 53.189,89 55.849,38 66,7
Cocho (1/3): 26.594,94 27.924,69 33,3
Fonte: Autores (2021).

Somando o consumo das duas categorias, entre épocas úmida e seca (com duração
de 3 e 9 meses, respectivamente) o consumo total anual das duas categorias a ser atendido
através de açudes é de 662.214,11 litros. Os 4 açudes, conjuntamente, têm capacidade de
armazenamento de 80.000.000 litros, mesmo em um cenário de armazenamento mínimo
11

(20.000.000 litros) e elevada evaporação, os açudes comportariam, com folga, o


suprimento hídrico exigido pelas duas categorias em 1 ano, com reserva até o
reabastecimento no próximo período chuvoso.

Demais Categorias

As demais categorias, compreendidas por Reprodutores, Crias e Machos para


Venda, somados a demanda de Matrizes e Marrãs não atendida via açude, têm sua
dessedentação atendida via cochos instalados nos currais e abastecidos por caixa d’agua
atendida pela cisterna (50 m3). Subtraindo-se demanda de Matrizes e Marrãs atendida via
açude do total consumido pelo rebanho, temos a demanda a ser atendida através da
cisterna.

Tabela 4. Consumo mensal do rebanho atendido por cisterna, Fazenda Paraíso.


Época Úmida Época Seca
Consumo Mensal Total do Rebanho 93.311,97 97.977,57
Consumo Mensal das Matrizes e Marrãs (açude): 53.189,89 55.849,38
Consumo Mensal do rebanho (cisterna): 40.122,08 42.128,19
Fonte: Autores (2021).

O consumo mensal de todo o rebanho, tanto na época úmida quanto na época seca,
fica abaixo dos 50.000 litros de capacidade da cisterna da propriedade, sendo está
suficiente para suprir a demanda. Todavia, a cisterna precisará ser reabastecida todos os
meses, sendo esse reabastecimento o principal foco da gestão dos recursos hídricos na
propriedade.

6.2. Gestão dos Recursos Hídricos da fazenda Paraíso

Na etapa anterior da presente disciplina, entre as propostas desenvolvidas está um


projeto de benfeitoria hídrica para construção de poço tubular semiartesiano na
propriedade. Com base nas informações disponibilizadas pelo produtor Clebson,
residente no povoado Lagoa Nova, no município de Piranhas-AL, acerca de profundidade
e vazão do poço semiartesiano existente em sua propriedade e a partir de orçamento feito
com a empresa HC Perfuração de Poços, segue abaixo os dados técnicos estimados para
o poço tubular semiartesiano, bem como os custos médios para implantação da obra
hídrica na propriedade (tabela 5).
12

Tabela 5. Custos para a implantação de poço tubular semiartesiano com vazão estimada
de 2.000 L/hora (2 m3 hora-1) na Fazenda Paraíso, Piau, Piranhas – AL.
Descrição Total (R$)
Perfuração (85,0 m) R$ 6.800,00
Revestimento (5,0 m) R$ 650,00
Bomba submersa R$ 1.100,00
Quadro de comando R$ 300,00
Fios (87,0 m) R$ 2.175,00
Estudo geológico R$ 600,00
Total R$ 11.625,00
Fonte: Relatório Projeto Integrador Etapa II (2021).

O custo atual da Fazenda Paraíso com aquisição de água gira em torno de R$


150,00/mês, através de abastecimento de caminhão-pipa (15 m3) ou por meio do
abastecimento da concessionaria de água que atende a propriedade, sendo utilizada a água
somente para atender a necessidade de abastecimento dos animais. Embora o custo de
investimento para construção do poço tubular seja alto o produtor terá vários benefícios,
pois não ocupa espaço em superfície; promove autonomia de abastecimento; permite a
perfuração próxima ao local de uso; as águas subterrâneas sofrem menor influência nas
variações climáticas e são as maiores reservas de água doce disponíveis; as águas
subterrâneas possuem em geral melhor qualidade física, química e biológica; possibilita
fazer o cultivo irrigado de culturas agrícolas atualmente cultivadas em sistema de sequeiro
(palma forrageira e milho), além disso, valoriza a terra, por ter uma fonte de água na
propriedade. A principal desvantagem é que se o posso for mal construído, poderá causar
prejuízos aos mananciais subterrâneos e ao contratante.

Com vazão de 2000 L/hora e funcionamento diário de 12 horas (que pode ser
ajustado conforme a necessidade), tem-se uma produção diária de 24.000 L e mensal de
60.000 litros. O consumo mensal do rebanho a ser atendido pela cisterna é inferior ao
volume mensal produzido pelo poço tubular semiartesiano, sendo o poço uma excelente
alternativa de abastecimento para a cisterna.

Do ponto de vista econômico e pensando no período de amortização dos custos de


implantação do poço tubular semiartesiano considerando que sua produção seja destinada
13

exclusivamente para o reabastecimento da cisterna para atender a dessedentação animal


via cocho, temos:

Tabela 6. Custo e Tempo de amortização da implantação de poço tubular semiartesiano


na Fazenda Paraíso, Piau, Piranhas – AL.
Descrição R$
1° Ano de Poço Tubular Semiartesiano
Implantação do poço 11.625,00
Custo anual com energia (12 horas/dia de operação) 2.623,08
Custo total do 1° ano de operação (A) 14.248,08
1
Custo anual com caminhões-pipa (B) 7.200,00
Custo A - Custo B 7.048,08
2° Ano de Poço Tubular Semiartesiano
Custo Remanescente do ano anterior 7.048,08
Custo anual com energia (12 horas/dia de operação) 2.623,08
Custo total do 2° ano de operação (A) 9.671,16
Custo anual com caminhões-pipa (B) 7.200,00
Custo A - Custo B 2.471,16
3° Ano de Poço Tubular Semiartesiano
Custo Remanescente do ano anterior 2.471,16
Custo anual com energia (12 horas/dia de operação) 2.623,08
Custo total do 3° ano de operação (A) 5.094,24
Custo anual com caminhões-pipa (B) 7.200,00
Custo A - Custo B -2.105,76
1
Considerando uma capacidade média de 15.000 litros seriam necessários 4 caminhões mensalmente, ao
preço de R$ 150,00, para equivaler a produção do poço. Fonte: Autores (2021).

De acordo com os dados da tabela 6, seriam necessários 3 anos para pagar os custos
de implantação e operação do poço, com um lucro de R$ 2.105,76 ao fim do 3° ano de
uso. Os valores dispostos na tabela 6 levam em conta que toda a produção do poço será
destinada exclusivamente a dessedentação animal, onde seriam polpados os custos de
aquisição de água via caminhão-pipa para a mesma finalidade.

É importante salientar que algumas outras formas de infraestrutura hídrica que


atuam como soluções para a captação e armazenamento para disponibilização de água
para as atividades na Capriovinocultura da fazenda Paraíso podem ser citadas, como a
implantação de cacimbas e cisternas calçadão, além da possibilidade de algum estudo
sobre a inserção na área de um sistema de reuso de efluentes domésticos nas atividades
agrícolas, como no cultivo da palma. Essas técnicas são muito utilizadas em regiões
semiáridas em virtude da necessidade de estoque de água para épocas secas, assim como
14

se tornam alternativas para o uso do recurso hídrico, entretanto, em sondagens realizadas


acerca desses métodos de implantação de novas infraestruturas, o produtor se mostrou
resistente em considerar as opções de benfeitorias que, somadas ao fator custo de
implantação, ocupem demasiado espaço em superfície.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, G. G. L.; VOLTOLINI, T. V.; TURCO, S. H. N.; PEREIRA, L. G. R. A água


nos sistemas de produção de caprinos e ovinos. Embrapa Semiárido-Capítulo em livro
científico (ALICE), cap.3, p.69-94, 2011. In: VOLTOLINI, T. V. (Ed.). Produção de
caprinos e ovinos no Semiárido. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2011.
CÂNDIDO, M. J. D.; BENEVIDES, Y. I.; FARIAS, S. F.; da SILVA, R. G.; PEIXOTO,
M. J. A.; AQUINO, D. C.; BOZZI, R.; NEIVA, J. N. M. Comportamento de ovinos em
pastagem irrigada sob lotação rotativa com três períodos de descanso. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande.
A produção animal e a segurança alimentar: anais. Campo Grande: Sociedade
Brasileira de Zootecnia: Embrapa Gado de Corte, 2004. 1 CD-ROM.
MOLLE, F. Caractérisations et potentialités des" açudes" du Nordeste brésilien.
Tese (Doutorado) – Academie du Sciences et Techniques du Languedoc, Universite
Montpellier II, 1991.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of small ruminants:
sheep, goats, cervids, and new world camelids. Washington, DC, p.384, 2007.
POMPEU, R. C. F. F.; ROGÉRIO, M. C. P.; CÃNDIDO, M. J. D.; NEIVA, J. N. M.;
GUERRA, J. L. L.; GONÇALVES, J. S. Comportamento de ovinos em capim-tanzânia
sob lotação rotativa com quatro níveis de suplementação com concentrado. Revista
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.38, n.2, p.374-383, 2009.
SOBRAL, M. C. M. Estratégia de gestão dos recursos hídricos no semiárido brasileiro.
REDE – Revista eletrônica do Prodema, Fortaleza, v. 7, n.2, p. 76-82, 2011.

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