Você está na página 1de 756

Ano LIX JANEIRO - FEVEREIRO DE 1940 Ns. 7 c ?

REVISTA MARÍTH
^BRASILEIRA

=5s___l__i

—O SUMARIO
=
Almirante Frederico Ferreira de Oliveira — Capitão de
Fragata Dídio I. A. da Costa 629
-
Duguay Trouin no Rio de
Janeiro — Trad. — S. de S. 643
Síntese de Comando — Trad. — A. 655
A Ignição nos motores a explosão — Continuação — Ca-
pitão-Tenente (QM) A. Viana Sá 669
A importância do estudo das campanhas
passadas — Con-
tinuação — Capitão de Corveta Carlos Penna Botto 681
Biografia— Capitâo-Tenente A. M. Braz da Silva .... 709
Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais
do Brasil, Argentina e Chile — Continuação — Ca-
pitão de Fragata Renato Baiardino 715
Revista de Revistas — A. 739
Aviões e Submarinos — C. F. 775
Respiga ....••.. 807
Bibliografia — D.
829
Noticiário - 837
Necrologia 849

§1 , .. -Q MINISTÉRIOdaMARINHA O
IMP. NAVAL RIO DE JANEIRO
Biblioteca da Marinha

Relação das Revistas estrangeiras recebidas pela Biblioteca


da Marinha

ALEMANHA — Deutsches Metcorologisches Jahrbuch.


ARGENTINA — Boleiin dcl Centro Naval.
CHILE — Revista de Marina — Revista de Caballeria — Meino-
rial dei Ejercito de Chile.
EQUADOR — Revista Municipal.
ESTADOS UNIDOS — Electrical Communication — U. S. Naval
Institute Proceedings.
FRANÇA — Ulllustration — La Nature — La Revue Maritime —
La Science et Ia Vie.
INGLATERRA — The Journal of the Royal ArtMlery — News
Reviezv — Cavalcade the Briiish News — Magazine —
Time the Weekly Newmagazine — Foreign Affairs an
American Quarterly Review.
ITÁLIA — Rivisla Marittima — Rivista Aeronáutica — V África
Italiana.
MÉXICO — Revista dei Trabajo — El Soldado.
PARAGUAI — Direccion General de Estadistica — Revista dei
Ejercito y Armada.
PEPÚ — Revista de Marina.
PORTUGAL — Sociedade de Geografia de Lisboa — Anais das
Bibliotecas, Museus e Arquivo Histórico Municipais —
Anais do Clube M<litar-Naval.
URUGUAI — Revista Marítima.
VENEZUELA —¦ Revista dcl Ejercito, Marina y Aeronáutica.
IMPORTADORES

Ferragens, folhas de Flandres, cobre


e outros metais
RUA DA QUITANDA, 175
e TEÓFILO OTONI, 60

11 /&W -1-
Xaf>
OFICIAL DE
CALDEIREIRO
Rua Visconde da Gávea n. 125
Telefone 23-0503-CAIXA POSTAL n. 1596
RIO DE JANEIRO —

LlIIIIIITtTTTTTTTTTttTtTTTtTTTTTTttlíITIIIIIlIIXXXXXr
i
<i m, N
nnynT
fl IIIHI&niHlã 00 bUllòintiPò
U I
N

lemas, manimas, tijolos, areia, jj


cal, cimento, ferro, tubos 5
M

_-____. r\ImA_->+_-_ ___. hori-n r___.-fr__.-f__.r\r\ '*


H
X
..__.._____. . ____________ ?"
« LINO & CIA. LTDA.
N
124, Rua Santo Cristo, 124
»
x END. TELEGRÁFICO "LINOCIA"
x
x
43-1144
X
x TELS: RIO DE JANEIRO
x
X
43-5792
?TTT«IIHTT*T*»glgTTTIXXXXXXITXrZXTTTTTTriTTIIIIIlX_g
»*xxxxixxxxxxxxxi;xxi;xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxTixxix*xr;
»SXXXXIXXXXXXXXXi;ZXIXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTIIXIX*^%

Uo
AO REI
EI dos MARES \
MARES
M
x
H

s
Artigos
Artigos sanitarios
sanitários «

e canalizapoes
canalizações submarinas
submarinas «
e

MEDEIROS
MEDEIROS SERTÕES
SORTOEE k
& I
G.

Successores
Successores de MEDEIROS & BORGES
BORGES J

RUA
RUA TEOFILO OTONI, 162
M
H

TELEFONE: 24-1096
24-1096 jj
TELEFONE:

RIO
RIO DE JANEIRO
JANEIRO S

H
^rXXXXXXXXXXXXXYYXXXXXXXXXXXXXXXTTTTXYXXXXXXXXXXTTT*
frxXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTTTXYXXXXXXXXXXTrr1

<*3IIIIIIIIIIIIE3IIIIIIIIMIIC31ljll!llllllE3lllllillllllC3llllllliMll[3llllllllllllC3llllllli;iliE3IIIIIIIIIIll[]lllllllllllli;311I!IIIIIIIIC3IllillllllllC3IIIIIIIIIIIIC<3>

?. R. de nquino & Glo. Ltda


?

ADMINISTRAÇÃO DE BENS

Compra e venda de imóveis

=j
?

Avenida Rio Branco, 91-6°-Salas 1,2,3,5,7,9,11 e 13


|

Agência—COPACABANA—Av. Atlântica, 554-B

TELEFONES: |

—AGÊNCIA: ::
ESCRITÓRIO: 23-1830 27-7313 e 47-2001

<*illIIIIIIIIIIE3llllllllllllC3IIIIIIIIIIIIE3IIIIIIIIIIIlE3IIIIIII!ni|UlllllillllllE3UUIIIillllC3ii:illllllllE3IUIIIIIIIIIE3llllllllllllE3IIIIIIIIIIIIE3lirillllllllCO
^'iti.iiwiiiiiinmi.iiiíüõ_lín-iMO

COMPANHIA AGA DO BRASIL, S. A.


__^__w_m_m--
J3È_,
RUA ANTUNES MACIEL, 31-33--Rio de Janeiro

CASA MATRIZ: STOCHOLM — SUÉCIA


¦ àW—SSSmÊ ___»' ¦
Br- IH^S -'
FABRICANTES E FORNECEDORES i

PHAPnFQ Marítimos e Aero-ma-


I I If-M \WL_0 rjtimos de todos os ty-
pos, a Acetilene e Electricos.

ROIA^
DUlnO
^e 'uz ^e ciua'(iuertyp° com
sjno automático e apito.
w
:"»J1"Í ™ 5wííl_______53ç_5-!_í ¦
[ PROJECTO RES [5/^
illuminação de campos de aterragem.

| RADIO-PHARQES
GASACCUMULA.TOR; Sioékholm-X.idingõ, SUÈDE
OXIGÊNIO E ACETILENE DISSOL-
VIDO, MATERIAL DE SOLDA
.a
Tiii.iu.ii_3 i.iiiii[]iii.ii.i.iii_.i.miiiii!.tiiiimimiii..iiiiiiiiiiii__ui!.iu..io
Agencia
Agência Financial de Portugal

RUA TE6FILO
TEÓFILO OTONI, 4

Telef. 23-3598 Caixa Postal 818

RIO DE JANEIRO

SAQUES SOBRE
SÔBRE PORTUGAL

pag&veis
pagáveis em todos os concelhos do Continente,

Madeira e A<p6res,
Açôres, pela

Caixa Geral de Depositos,


Depósitos, Mito
Crédito e Previdencia
Previdência

f 4CO
Ano LIX JANEIRO - FEVEREIRO DE 1940 Ns. 7 e 8

BEV1STA MARÍTIMA BBAS1LEIBA

Publicação do Ministério da Marinha

Sede: Biblioteca da Marinha — Edifício do Ministério da Marinha — Rio de Janeiro

SUMÁRIO

Almirante Frederico Ferreira de Oliveira — Capitão de

Fragata Dídio I. A. da Costa 629

Duguay-Trouin no Rio de — Trad. — S. de S. 643


Janeiro

Síntese de Comando — Trad. — A. 655

A Ignição nos motores a explosão — Continuação — Ca-

pitão-Tenente (QM) A. Viana Sá 669

A importância do estudo das campanhas — Con-


passadas
tinuação — Capitão Carlos Penna Botto 681
de Corveta

Biografia — Capitão-Tenente A. M. Braz da Silva 709

Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais

do Brasil, Argentina e Chile — Continuação — Ca-

pitão de Fragata Renato Baiardino 715

Revista de Revistas — A. 739

Aviões e Submarinos — C. F. 775

Respiga 807

Bibliografia — D. 829

Noticiário 837

Necrologia 849

IMPRENSA NAVAL — RIO DE JANEIRO — BRASIL, 1940


I

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

REDATOR-CHEFE

Capitão de Fragata .... — Dídio I. A. da Costa

REDATORES

Capitão de Fragata Renato Bayardino

Capitão de Corveta Adalberto Rechsteiner

Capitão Tenente . . Affonso Cavalcanti Livramento

Capitão Tenente . . Sebastião Fernandes de Souza

Capitão Tenente . . César Feliciano Xavier


, ,

'

||H|B^

Wl«Ke9^HV> £f1GI
^vMlSKfillljM^BI^Bi^^^^^BMaB^^KHPraj^TJs

"¦ '-^.r
lls^^ra^, i
'
KkM fy A^iOw
" j&lMMb^—J£XJ i-"*
'-.
' " ''
¦
' ~*'^*'jiiB^BMBBBBfe^

i »lL
: 'IkY • ¦> -*
i/'Sl¥ a.,..^ flgj|Mi|fiB|^B||fffl

' ¦'^

l^Sii55i^^SSsSSSSsS^sS!!S

ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA


Revista Maritima Brasileira

ANO LIX JANEIRO-FEVEREIRO 1940 Ns. 7-8

MilYHITE FREDERICO FERREIRO DE OMRR

- 1928)
(1849

O Almirante Frederico Ferreira de Oliveira nasceu em Morretes,

cidade do Estado do Paraná, então Comarca da Província


Quinta
de São Paulo, a 27 de Novembro de 1849. Filho legítimo de Antônio

Vieira dos Santos e de D. Maria Rita do Rosário. Neto


Júnior pa-
terno de Antônio Vieira dos Santos e de D. Maria Ferreira de Oli-

veira. Neto materno do Alferes Polidoro dos Santos e de


José
D. Maria Rita do Rosário.

Antônio Vieira dos Santos, avô do Almirante Frede-


paterno
rico Ferreira de Oliveira, coordenando elementos de grande proveito

aos historiógrafos contemporâneos, tornou-se um cronista notável.

De nacionalidade nasceu na cidade do Pôrto a 13 de


portuguesa,
Dezembro de 1784. Em 1797, aos treze anos de idade, veiu o
para

Rio de no ano seguinte, Paranaguá. Criou-


Janeiro, partindo, para
se e educou-se nessa cidade, de se considerava filho adotivo.
que
"Mãe
carinhosa Vieira dos Santos chama à cidade
paranaguense"

brasileira onde viveu, em seu volumoso manuscrito Memória His-

tórica, Cronológica, Topográfica c Descritiva da Cidade de Parana-

guá e do seu Município (1850).


630 REVISTA marítima brasileira

O alentado manuscrito só em 1922 foi divulgado em letra de

fôrma. A lei municipal n. 164, de 30 de Agosto de 1909, saneio-

nada Prefeito Dr. Caetano Munhoz da Rocha, um dos nomes


pelo

mais ilustres e um dos maiores realizadores do Paraná, autorizou

a impressão da obra todos consideravam de subido valor. Pri-


que

meiro trabalho organizado sôbre o de Paranaguá, da mais


passado

alta relevância, como conceituou, em seus fundamentos, o decreto nú-

mero 16, de 9 de Abril de 1921, assinado Prefeito Gon-


pelo José

çalves Lobo, foi compulsado Dr. Epitácio Pessoa, Presidente


pelo

da República, elaborou o laudo solveu a de


quando que pendência
limites entre os Estados do Paraná e São Paulo.

O município, publicando a obra completa de Antônio Vieira dos

Santos, em volume de 500 de composição compacta,


quasi páginas

sob os cuidados do conhecido historiógrafo Francisco de Paula Dias

Negrão, destinou-a, com acerto, à comemoração do cente-


primeiro

nário da independência do Brasil. Saldou uma dívida, rendeu uma


"brilhante
justa homenagem àquele vulto e cidadão",
prestimoso
falecido em 1853, e ao alcance de todos uma fonte histórica de
pôs

grande autoridade.

O Alferes Polidoro José dos Santos, avô materno do Almirante

Frederico Ferreira de Oliveira, era homem de escol, ascendente tam-

bém da ilustre família Ferreira da Luz, a entre


que pertencem,

outros, o antigo Senador da República Brasílio Luz e o Dr. Flávio

Luz. É trisavô do escritor brasileiro Gastão Penalva Fer-


(Sebastião

nandes de Sousa, oficial de marinha), neto de um dos primeiros,

senão o de Direito da Comarca de Guarapuava, Dou-


primeiro Juiz

tor Joaquim do Amaral, casado com D. Maria Ferreira da Luz,


José

neta de Polidoro dos Santos.


José

Aprovado nos exames preparatórios, aos 17 anos e três meses

de idade, Frederico Ferreira de Oliveira foi submetido a inspeção

de saúde e julgado com a robustez necessária à vida do mar. Matri-

culado na Escola de Marinha, em 1867,


passou para o 2o ano ali

de Fevereiro de 1868 e para o 3o em Novembro do mesmo ano. De

23 de Dezembro de 1868 a 20 de Janeiro de 1869, fez viagem de

instrução na corveta Vital de Oliveira, navio mixto construído no


ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA 631

Arsenal de Marinha do Rio de e lançado ao mar a 1 de


Janeiro
Março de 1867. Aprovado
plenamente nas matérias do 3o ano, foi

promovido a Guarda-Marinha Aviso de 29 de Novembro de 1869.


por

Embarcou na corveta Vital de Oliveira e passou logo para a

corveta Niterói, navio mixto, também construído no Arsenal de Ma-

rinha do Rio de Janeiro e lançado ao mar em 1862, em fez via-


que
gem de instrução ao Cabo da Boa Esperança. Partiu do Rio de Ja-
neiro a 10 de Fevereiro de 1870, sob o comando do Capitão de Mar

e Guerra Artur Silveira da Mota, sendo instrutores os Capitães-Te-


nente Cândido Guillobel
José e Luiz Filipe de Saldanha da Gama.
Tendo chegado ao Cabo da Boa Esperança a 11 de Março, a Niterói
visitou em seguida a ilha de Santa Helena, Fernando de Noronha,
Pernambuco, Baía e a ilha da Trindade.

Concluída essa viagem de instrução, Ferreira de Oliveira fez os

exames do 4o ano, com aprovação Santa Cata-


plena. Seguindo para
rina, aí embarcou no couraçado Brasil na Amazonas. Pas-
e fragata

sou depois o transporte Isabel, no Rio de


para qual veio para o Ja-
neiro, onde chegou a 2 de Dezembro então,
de 1871. Foi designado,

para servir a bordo da corveta Niterói.

Por decreto de 5 de de 1872, Ferreira de Oliveira foi


Janeiro

promovido a Segundo Tenente. Saiu cio Rio de naquela


Janeiro,
corveta, sob o comando do Capitão Artur Silveira
de Mar e Guerra

da Mota, em viagem de instrução, indo a Lisboa, Plymouth, Cadiz,

Gibraltar, Cartagena, Toulon, Spezzia, Nápoles, Lissa, Trieste, Ve-

neza, Constantinopla, Istmo de Suez, Malta e Argel. A 4 de Outu-

bro de 1872, achav a-se de regresso ao Rio de Janeiro.

De 11 de Novembro de 1872 a 10 de Maio de 1873, serviu a

bordo, sucessivamente, do couraçado Barros, Nite-


Mariz e corvetas

rói e Baiana, e couraçado Barroso. Achando-se em Montevidéu a 10

de Maio de 1873, foi mandado servir bordo vapor Taquarí, fun-


a do

deado no Cerrito, indo de no transporte Bonifácio. A 10


passagem
de Agosto, assumiu, interinamente, o comando do Taquarí, mo-
por
tivo de enfermidade do comandante efetivo, Capitão-Tenente Alva-

rim Costa. O Comando em Chefe da Fôrça Naval do Paraguai lou-

vou-o, em ordem do dia, cumprimento deu, durante o co-


pelo que
mando interino do Taquarí, a diversas comissões.

Outra ordem do dia daquele comando, de 3 de de 1873,


Julho

publicou um elogio lhe fez o Chefe da Comissão deinarcadora


que
de limites do Brasil com o Paraguai.
632 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A 24 de Dezembro de 1873, Ferreira de Oliveira foi


promovido
a Primeiro Tenente. Durante os anos de 1874 e 1875, esteve em-

barcado no Taquarí e na canhoneira Pedro Ajonso. Embarcou, em

1876, num dos navios da Força Naval do Paraguai.

No ano de 1876, foi à disposição do Ministério de Estran-


pôsto

geiros, exercendo o cargo de Ajudante da Comissão de Limites entre

o Brasil e a Bolívia, chefiada Barão de Maracajú. Era esta a


pelo

Comissão: Majores Francisco Xavier Lopes de Araújo e Guilherme

Carlos Lassance, Capitães Xavier de Oliveira Pimentel e


Joaquim

Antônio da Costa Guimarães, e Primeiro Tenente da Ar-


Joaquim

mada Frederico Ferreira de Oliveira.

Em 1877, o Ministro de Estrangeiros, Diogo Velho Cavalcanti


"as
de Albuquerque, comunicava à Assembléia Geral Legislativa
que

questões de limites, sempre estudadas e tratadas im-


pelo govêrno

perial com perseverante cuidado, vão sendo resolvidas vagarosa-

mente, mas com segurança". Anunciava então as referentes à


que
Bolívia estavam concluídas, esperando-se, o fim de Outu-
quasi para

bro, a completa demarcação de toda a linha divisória, da Baía Negra à

confluência do Beni e do Madeira, assentando-se aí o último marco.

O Barão de Maracajú, doente, deixou a chefia da comissão,


por
"por
concedendo-lhe o a exoneração não ser
govêrno que pediu,

justo exigir dêle a continuação de serviço tão a-pesar-de seus


penoso,
sofrimentos, depois de demarcar toda a fronteira com o Paraguai e

grande extensão dos limites com a Bolívia". A comissão brasileira

prosseguiu os seus trabalhos sob a direção interina do Major Fran-

cisco Xavier Lopes de Araújo.

Em 1878, o Barão de Vila Bela, sucessor de Diogo Velho na

pasta dos Estrangeiros, à Assembléia,


participava com satisfação,

estava concluída "fal-


que a demarcação dos limites com a Bolívia,

tando apenas que o dessa República


govêrno aprove a planta geral
da fronteira e se levantem marcos definitivos em um dos morros

chamados Quatro Irmãos e noutros de fácil


pontos acesso". Depois

de mais alguns esclai ecimentos, o Barão de \ ila Bela


pôs este fecho i

Não devo deixar de dizer aqui os membros


que da comissão bra-

sileira procederam sempre com zêlo e inteligência, e para o bom

êxito de seus penosos trabalhos muito contribuiu a dedicação do

Sr. Leonel Martiniano de Alencar, Ministro residente em La Paz."

Em 1879, o Ministro Cansansão de Sinimbú anunciava à Assembléia


ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA 633

que o governo boliviano aprovara a ata da sétima e última confe-

rência da comissão mixta e a carta da fronteira.


geral

Deixando a comissão em se encontrava, Ferreira de Oli-


que
veira volveu ao serviço da Armada. Gozou uma licença em 1879.

Em 1880, fez de
parte uma comissão, nomeada por Aviso de 30 de

Julho, para verificar a de uma lage na entrada do canal de


posição
Antonina. Esteve embarcado, em 1881 e 1882, na corveta Guam-

bara. Em 1883 e 1884, serviu no Laboratório Pirotécnico, como Aju-


dante do respectivo Diretor. Em 1885, exerceu o cargo de Aju-
dante da Diretoria de Artilharia. No ano anterior, com o Primeiro
lenente Lima Barros, redigiu o Manual da Metralhadora Norden-

jelt de 25 mm.

Em 1886, consta do Almanaque da Marinha Frederico Fer-


que
reira de Oliveira tem os cursos das Escolas Naval e Politécnica. Em

1887, foi à disposição


pôsto do Ministério de Estrangeiros, para
servir na Comissão de Limites entre o Brasil e a República Argen-

tina. A 3 de Dezembro do mesmo ano, foi a Capitão-


promovido
Tenente. Em atenção aos serviços militares foi nomeado,
prestados,
em 1887, Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz.

A comissão brasileira, com outra tra-


argentina, incumbida dos

balhos de exploração do território e dos rios em litigio com o Brasil,

era composta do Barão de Capanema, Capitão de Fragata Cân-


José
dido Guillobel, Tenente-Coronel de Engenheiros Dionísio Evange-
lista de Castro Cerqueira, Major de Engenheiros Pri-
José Jardim,
meiro lenente da Armada Frederico Ferreira de Oliveira e Tenente
de Artilharia do
João Rêgo Barros. Entre as comissões brasileira
e argentina, cujos trabalhos foram iniciados em Abril de 1887, mani-
festou-se divergência importante, em tôrno da exploração do rio

Santo Antônio-guassú, conhecido nome de no seu curso


pelo Jangada,
inferior até ao Iguassú, no desagua.
qual

Até fins de 1889, Ferreira de Oliveira esteve em comissão no

Ministério de Estrangeiros. Passou


para o quadro extraordinário

a 8 de de 1890 e volveu ao serviço da Armada no mes-


Janeiro ativo

mo ano. Exerceu o cargo de Ajudante da Diretoria de Artilharia.

A 17 de Maio de 1890, embarcou no couraçado Riachuelo.

O Aviso ministerial n. 1.790, de 28 de Maio de 1890, mandou

contar, como de embarque, o tempo em Ferreira de Oliveira


que
634 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

esteve em serviço de exploração e levantaníentos de hidro-


plantas

gráficas fora do Ministério da Marinha. Durante dois meses, licen-

ciado, tratou-se de beri-beri incipiente.

Por decreto de 4 de Novembro, foi nomeado Io Ajudante da

Repartição Hidrográfica, apresentando-se a 7 de Novembro e assu-

mindo as funções desse cargo na mesma data.

A 12 de Janeiro de 1891, a bordo da canhoneira Cananéia, Fer-

reira de Oliveira começou a proceder ao levantamento da da


planta

baía do Rio de Janeiro, de conformidade com o Aviso do Ministério

da Marinha, n. 3.610, de 19 de Dezembro de 1890. Saiu do anco-

radouro de São Bento para Gragoatá, afim de proceder à colocação

de um sinal geodésico e regressou àquele ancoradouro no mesmo dia.

A 21 de Janeiro, passou para o cruzador Orion, com o fim de

prosseguir nos trabalhos de fôra incumbido. A 2 de Março sus-


que

pendeu do ancoradouro de São Bento e fundeou entre a fortaleza de

Villegagnon e Boqueirão. Suspendeu a 6 e fundeou defronte da en-

seada de Botafogo. A 30, também de Março, suspendeu e fundeou

no ancoradouro de São Bento.

A 3 de Abril, suspendeu de São Bento e fundeou na enseada

de Botafogo. A 27, suspendeu, foi à barra e regressou àquela en-

seada. A 29, suspendeu daí e fundeou em São Bento.

A 11 de Maio, suspendeu de São Bento, foi até à Lage e volveu

. àquele ancoradouro. A 20, suspendeu e fundeou diante da fortaleza

de Villegagnon. Suspendeu daí a 30, também de Maio, e fundeou,

na mesma data, em São Bento.

Por Aviso do Ministério da Marinha, de 1 de de 1890,


Junho

de acordo com o do Ministério das Relações Exteriores, de 27 de

Maio, foi dispensado do cargo de Segundo Ajudante da Comissão

encarregada de explorar o território litigioso das Missões, ficando

isso desligado daquele Ministério, e sendo, mesmo Aviso,


por pelo

elogiado bem haver desempenhado a aludida comissão.


por

A 16 de Junho, continuando os seus trabalhos, Ferreira de Oli-

veira suspendeu de São Bento e fundeou defronte da ilha de Santa

Bárbara, volvendo a fundear no dia 30 em São Bento, donde sus-

a 19 de Agosto, fundeando no mesmo dia diante da


pendeu ponta
do Cajú. A 29 do mesmo mês, regressou ao ancoradouro de S. Bento.
ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA 635

A 9 de Outubro de 1891, continuando no serviço da Repartição

Hidrográfica, a canhoneira Cananéia. A 24 do mesmo


passou para
mês, passou o cruzador Centauro. A 30, a bordo dêsse navio,
para
seguiu a baia de Sepetiba, afim de ao levantamento
para proceder
hidrográfico do de Itacurussá. e fun-
porto A 31, saiu de Sepetiba

deou em Itacurussá.

A 1 de Novembro saiu de Itacurussá, indo à enseada do Abraão

e regressando no mesmo dia. Passou então o vapor Purús, em


para

que saiu a 7 de Novembro e fundeou à restinga da Maram-


junto
baia, onde se achava encalhado o safo do baixío
C. Centauro, por
aquele vapor. Regressando a Itacurussá, Ferreira de Oliveira aí

passou para o Centauro, a 10 de Novembro. Saiu de Itacurussá a

14 de Novembro de 1891 e chegou 15. A 12


ao Rio de Janeiro a

de Janeiro de 1892, a canhoneira Lamego.


passou para

Por decreto de 6 de Maio de 1892, Ferreira de Oliveira foi

promovido ao posto de Capitão de Fragata, merecimento.


por

A 18 de Maio, assumiu, interinamente, o cargo de Diretor da

Repartição Hidrográfica. A 2 de Março de 1893, a bordo da canho-

neira Lamego, seguiu as ilhas do Boqueirão e Governador, afim


para
de fazer o levantamento das das mesmas ilhas, as ser-
plantas quais
viriam de base aos trabalhos da comissão encarregada de estudar a

mudança do Arsenal de Marinha da Capital Federal. Regressou a

18 do mesmo mês e ano, voltando então a ocupar o seu lugar de

Ajudante.

A 10 de de 1893, a Ferreira de Oliveira foi exo-


Junho pedido,
nerado do cargo de Ajudante da Repartição Hidrográfica. A 2 de

Agosto do mesmo ano, foram-lhe concedidos seis meses de licença

para tratamento de saúde, sendo a mesma a 4 de Abril


prorrogada,
de 1894, três meses.
por

Ao em esteve Ferreira de Oliveira na Repartição


período que
Hidrográfica, como registra de Melo, Minis-
o Almirante Custódio

tro da Marinha em seu Relatório ao Vice-Presidente da


(1892),
República, "sem
aquele departamento, embargo da escassez de re-

cursos o bom desempênho dos serviços a seu cargo, logrou levar


para

a efeito o seguinte":

Io — A na escala
planta do litoral da baía do Rio de Janeiro,
1
de , adotada de cons-
por aquela Repartição para os planos
20000
636 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

trução de toda a costa. Compreende a planta, com todas as ilhas, a


extensão entre a ponta do Caju e a do Leme, de um lado; entre a
enseada de Maruí e a bateria Floriano Peixoto, fora da barra, de
outro lado.

1
2o — A planta do mesmo litoral, na escala de , abran-
5000
gendo a distância entre a ponta do Calabouço e a do Leme, inclusive
a baia de Botafogo.
3o — A planta desse litoral, na escala precedente, compreen-
dendo o trecho entre a ponta do Calabouço e a da Gamboa.

1
4o — A planta do mesmo litoral, na escala de , compre-
1000
endendo o cais da Alfândega e o do Arsenal de Marinha, e as ilhas
Fiscal e das Cobras, com os canais que as separam.
1
5o — A planta, na escala de , da ilha das Enxadas.
1000
6o — A planta, nessa mesma escala, da ilha da Lage, com o
canal que fica entre ela e a ponta fronteira à fortaleza de São João.

7o — A planta, na escala de , contendo a ponta de


10000
Pedras e costa adjacente, no continente, e a ilha do Fundão e costa
contígua, na ilha do Governador, à ponta do Galeão.
8o — A planta do porto de Itacurussá, finalmente, na escala
precedente, compreendendo grande parte do litoral adjacente a esse
porto, e mais a costa setentrional da ilha de Itacurussá e as ilhas do
Jardim, Soco, Batuque e Jurubaíba.

Por decreto de 29 de Junho de 1894, Ferreira de Oliveira foi


reformado no mesmo posto (Capitão de Fragata), com o soldo da
sua patente, percebendo mais duas quotas de gratificação adicional,
por contar 27 anos, 2 meses e 23 dias de serviço.
A 15 de Dezembro de 1905, o Ministro da Marinha, Almirante
Júlio César de Noronha, atendendo ao que lhe solicitara o Ministro
ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIR*A 637

dos Negócios Exteriores n. 17, de 18 de Novembro), re-


(Aviso
solveu fossem à sua disposição o Contra-Almirante
que postos José
Cândido Guillobel e o Capitão de Fragata reformado Frederico Fer-

reira de Oliveira, designados exercerem, respectivamente, os


para
cargos de e segundo comissários da encarregada
primeiro Comissão

da demarcação de fronteiras entre Brasil Bolívia.


o e a

No desempenho da sua comissão, Ferreira de Oliveira do


partiu
Rio de a 4 de
Janeiro Julho de 1907, chegando a Mato Grosso a

9 de Agosto do mesmo ano. Trabalhou em Mato Grosso até 19 de

Outubro de 1909. Regressou ao Rio de Janeiro e o Ama-


partiu para
zonas a 27 de Outubro de 1910, chegando àquele Estado a 10 de

Novembro do mesmo ano. Permaneceu no Amazonas até 17 de Fe-

vereiro de 1911, recolheu


quando ao Rio de Janeiro e pediu exone-

ração do cargo exercia.


que Foi exonerado, conforme do
pediu,
cargo de Comissário Substituto da Comissão de Limites do Brasil

com a Bolívia, decreto


por de 21 de Fevereiro de 1911.

Por decreto de 8 de Maio de 1912 e em do


virtude do acórdão

Supremo 1 ribunal Federal, Ferreira de Oliveira reverteu ao serviço

ativo da Armada, sendo colocado no n. 1 dos Capitães de Fragata.

Por decreto de 10 de Maio do mesmo ano, foi ao


promovido pôsto
de Capitão de Mar e Guerra e colocado no n. 1 da respectiva escala.
Por outros decretos da mesma data, foi no de Con-
graduado pôsto
tra-Almirante e reformado compulsòriamente, no e com o soldo
pôsto
de V ice-Almirante e a graduação de Almirante, mais
percebendo
20 à razão de 2
quotas, fo sôbre o sôldo anual, contar 45 anos,
por
2 meses e dias de serviço.

Conformando-se o Ministro da Marinha com o do Con-


parecer
selho do Almirantado, emitido na consulta n. 1.161, de 19 de Julho
de 1913, foi contado
pelo dobro, os efeitos da reforma de Fer-
para
reira de Oliveira, os períodos de 10 de de 1875 a 30 de De-
Junho
zembro de 1876 e de 26 de Maio de 1877 a 15 de de 1878,
Janeiro
no total de 2 anos, 2 meses e 9 dias, durante os serviu na Co-
quais
missão de Limites do Brasil com a Bolívia e se afastou da cidade de
Corumbá, em efetivo serviço da aludida comissão.

* *
638 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Na cidade do Rio de à rua Voluntários da Pátria n. 126,


Janeiro,

no dia 22 de de 1928, faleceu o Almirante Frederico Ferreira


Junho

de Oliveira.

Consideráveis foram os serviços por êle prestados à Marinha

e á Pátria, durante largos anos, como acabámos de verificar pelo re-

sumo da sua vida. Ha na Marinha, além da documentação relativa

ao labor indefesso e inteligentemente orientado do ilustre extinto, a

tradição de era notável pelo caráter, pela cultura, pela proficiên-


que

cia e refinamento das suas atitudes.


pelo

Recordam-no vários dos seus contemporâneos, ainda vivos, como

uma das mais altas expressões entre os oficiais da Marinha de Guer-

ra de então.

* *

Entre os contemporâneos de Frederico Ferreira de Oliveira,

citamos o Comandante Teófilo Nolasco de Almeida, distinto profis-

sional e intelectual brilhante, antigo catedrático da Escola Naval.

Devemos à sua pena a página seguinte:

"Frederico
Ferreira de Oliveira era já antigo Io Tenente,

pôsto correspondente hoje a Capitão-Tenente, quando, em 1884, vim

para a então Escola de Marinha.

Profissional inteligente e militar de nomeada, era uma das

esperanças da nossa luzida Marinha de Guerra, uníssona em entu-

siasmo, para os descrentes da qual Mato-Grosso era um espantalho.

Realmente, no Poço dos navios de guerra, ao chegar eu ao Rio,

uma floresta de mastros de altas guindas e grandes lais de vergas

balouçava engalanada; o Almirante Barroso tinha já caído ao mar;

canhoneiras, umas após as outras, o precederam e seguiram, en-

quanto que outras, emparelhadas nos estaleiros, se aprestavam para


isso; no Arsenal, ao saltar, eu vi escaleres bem cuidados, de todos

os navios, atracarem, e, numa voga que falava à alma, largarem

cheios de oficiais bem uniformizados, pois, em traje civil, só era

permitido ingressar a bordo, ou sair, quando em estrangei-


países
ros, mesmo porque, então, o uniforme militar era traje de passeio
e o preferido por quem era da Marinha.

Para maior crença, um Riachuelo havia chegado, comandado

pelo ilustre Capitão de Mar e Guerra Eduardo Wandenkolk, em


cuja residência, levado por meu pai, fui apresentado, candidato que
eu era à praça de aspirante.
ALMIRANTE FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA 639

Senti, através de suas todo seu amor à classe e


palavras,
à Marinha, sem me esconder o desconforto e as vicissitudes da car-

reira que eu queria abraçar.

Um Aquidabã, enfim, comandado por quem foi um Custódio

José de Melo, brevemente fundearia na encantadora Guanabara.

Tal era a perspectiva, no mar, de uma Marinha que, aos meus

olhos de provinciano, chegado ao Rio, se descortinava, e eis por-

que, logo que entrei para a Escola, conhecedor que eu já era dos

seus maiores vultos, desde um Tamandaré, comecei com atenção

a ouvir falar das suas esperanças moças, isto é, de um Batista das

Neves, desde aspirante na Escola; de um Pinto Bravo, inteligente

e culto; de um H. C. Braune, militar e e de um Fre-


patesca;
"
derico Ferreira de Oliveira, especialista, cientista e oficial.

Êste era um profissional cioso da sua classe, não media


que
forças para elevá-la e mostrar-se na altura do desempenho das
missões que lhe eram confiadas, com inteira responsabilidade e con-
fiança no que fazia. Era e os catarinenses, eram
paranaense, que
muitos, desde as mais altas os apontavam como seus vi-
patentes,
zinhos; a-pesar-do Contestado, éramos unidos, a mentalidade
pois
na Marinha foi sempre equilibrada, diversa da das atividades poli-
ticas, pela convivência assídua e espírito militar é o seu
que
apanágio.

Mas, não foi só na Marinha Frederico de Oliveira se sali-


que
entou, pois seu nome figura no Ministério das Relações Exterio-
res, onde valiosos serviços ao Brasil.
prestou

Era eu, porém, já Tenente, quando Manuel Pacheco de Car-


valho Júnior, Tenente também, e havia sido meu contemporâ-
que
neo de Escola, desejou me apresentar ao seu conterrâneo. Foi uma
recepção gentil, com o tratamento amistoso de — menino;
primeiro
depois, confiante, de barriga-verde, os timbravam
pois paranaenses
em nos chamar assim, sabendo era um verde, varonil,
que peito que
os catarinenses ofereciam ao ferro dos seus inimigos no Sul, des-
controlados pela resistência e bravura da terra de Anita Garibaldi.

Era um oficial maneiroso, um cavalheiro, conhecedor do seu


meio, amigo da sua classe, sem exterioridades, tudo nele era
pois
inato, refletido e criterioso; logo se insinuava, onde se
quer que
apresentasse. Tinha a envergadura, enfim, do homem do mar,
marinheiro e diplomata, transição da arte de marinha a da
para
ciência de rumar; da fôrça muscular a dos agentes mecâ-
para
nicos; da disciplina do rigor a da adaptação inteligente ao
para
meio; tudo isto, desde os rompantes dos aguaceiros cediam
que
ao regime das máquinas; a fôrça física à da energia de Proteu;
e a autoridade autoritária às leis em vigor.

Eis porque, na Marinha, Frederico de Oliveira sempre pro-


curou aliar à sua de oficial de marinha às ciên-
gloriosa profissão
640 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

cias puras e aplicadas, para o que se especializou em Geodésia,


Hidrografia e Oceanografia, sem alardes. Sincero, impunha-se
sem excessos, e era acatado com prazer. Foi assim que privei
com êle, quer como particular, quer como militar.
Capitão-Tenente, Ajudante de Ordens que eu era do Almi-
rante Carneiro da Rocha, então Inspetor do Arsenal de Marinha
do Rio, propenso eu às idéias do Barão de Jaceguai, para a mu-
dança do nosso Arsenal para o interior da Guanabara, no Bo-
queirão e Ilha do Governador, ligada esta ao continente, e acces-
sível assim a todos os recursos de uma importante capital, pron-
tifiquei-me a fazer parte da comissão constituída por Frederico
de Oliveira e pelo Capitão-Tenente Adelino Martins, para levan-
tar a planta das ditas ilhas, embarcada no Braconnot. Durante
cerca de dois meses sem interrupção, fizemos este serviço, utili-
zando, pela primeira vez no Brasil, os níveis de Stampfer, de real
valor nesses serviços, nos locais de difícil acesso, pois o seu nive-
lamento é quasi imediato e pela ação direta da gravidade.

Foi nessa oportunidade feliz que, comentando, pude avaliar


os conhecimentos de Frederico de Oliveira com relação à divisão
territorial do Brasil em Estados, como ficou. Nem êle nem eu
concordámos jamais com o que a Constituinte nos legou, dentro
de um Brasil realmente brasileiro, na língua, na sua gente e na
sua alma, vendo nós, patriòticamente, numa Minas, de hoje para
amanhã, dois São Paulos, com portos no mar. Espirito Santo
era, a nosso vêr, uma província cerco, entre Minas e o oceano;
vendo mais, no Paraná com Santa Catarina, dando-lhes nova Ca-
pitai no Contestado, um só Estado, merecedor deste nome entre
os maiores do Brasil; e, sempre assim, atendendo a expressões
territoriais, populações, costa de mar, etc., nós não víamos no
Brasil mais de quinze Estados respeitando-se mutuamente, e sem
esses perigos de que já se fala, isto é, Estados eficientes, confi-
antes- e não aberrantes uns dos outros.

Quem já havia servido e embarcado, a contento, com Salda-


nha da Gama, Wandenkolk, Custódio, etc, não podia deixar de
cultivar com carinho, então, essas amizades bem intencionadas,
as quais, acatadas pelos subordinados, eram reverenciadas
pelos
superiores. Foi por tudo isto que, como visse em mim um seu
partidário, Frederico de Oliveira insistiu várias vezes persistisse
eu junto de Lauro Muller nas nossas convicções. Mas... um
bairrismo que acha sempre tudo o que já se tem muito bom, e
melhor mesmo que em toda a parte; um bairrismo
que se meia-
dra quando se aponta o negativo em
que vão ficando Estados
pequenos ao lado dos muito grandes, como entidades nacionais;
confundindo esses bairristas, um bairrismo doentio, com um
pa-
triotismo nacionalista, esses bairristas nunca
quiseram ouvir um
Lauro nem a ninguém, encastelados no baluarte da História e em
FERREIRA DE OLIVEIRA 641
ALMIRANTE FREDERICO

lendárias, êle não ver que se o bairrismo acha


tradições pois quer

hoje definitivo, o acha que neste mundo


tudo pronto e patriota

acabará A vida é cinética; a


nada está acabado nem se jamais:

morte, essa sim, é a ausência de todos os movimentos.

Nesta oportunidade, enfim, em que vivemos, não é preciso

ser nem ver onde queremos chegar, pois


profundo profeta para
o espadarte só dá combate quer, onde quer, e espera.
quando

Enfim, o bairrista escreve no espaço, só para o presente;

mas o êsse escreve, também, no espaço, porém para tem-


patriota,

pos em fora".

Harmonizam-se as impressões do ilustre engenheiro,


plenamente
oficial de marinha e catedrático, Teófilo Nolasco de Almeida, com

as de vários e respeitáveis colegas temos ouvido, coetâneos de


que
Frederico de Oliveira. a essas impressões as do-
Juntam-se provas

cumentais, existentes nos arquivos da Marinha e do Ministério das

Relações Exteriores, relativas à brilhante actuação do nosso extinto

compatriota, na sua carreira de marinheiro e em árduas e demoradas

comissões de Limites, nas fronteiras com o Paraguai, Argentina e

Bolívia.

Dídio Costa.
DUGUAY-TROUIN
NO RIO DE JANEIRO

(Tradução)

A 11 de setembro encontramos fundo, sem ter, contudo, conhe-


cimento da terra. Fiz minhas notas sobre a altura observada, após
o que, aproveitando um vento fresco que caira ao anoitecer, mandei
forçar as velas de toda a esquadra, apezar da bruma e do máu tempo,
para alcançar de madrugada a entrada da Baía do Rio de Janeiro.
Era evidente
que o sucesso da expedição dependia da e
presteza,
nao convinha dar ao inimigo tempo de reconhecer-nos. Nessas con-
diçoes, tratei de enviar a bordo de cada navio as ordens necessárias.
Os momentos eram muito preciosos. Determinei então ao cavaleiro
de Courserac,
que conhecia um pouco a entrada do to-
porto, que
masse a testa da esquadra, e aos senhores de Goyon e de Beauve que
o seguissem. Coloquei-me nas aguas deles, ficando, pois, na situação
mais conveniente
para observar o que se passava à frente e à reta-
guarda. Ao mesmo tempo, fiz sinal aos senhóres de la Gaille e de la
Moinerie — Miniac, e em seguida a todos os comandantes da esqua-
dra, segundo o grau e o poder de seus barcos, de avançar uns após
outros.

Essa ordem foi executada com tanta regularidade que nunca


será demais louvar-lhes o valor e a conduta. Não excetuo nem
mesmo os mestres dos dois transportes e da inglesa, que, sem
presa
mudar de rumo, suportaram o fogo contínuo de todas as baterias,
tão grande é a fôrça de um bom exemplo.
O cavaleiro de Courserac, sobretudo, cobriu-se de glória nessa
jornada, por sua bela manobra o
e a segurança com que nos indicou
caminho, sofrendo o primeiro fogo das fortalezas.
Assim forçámos a entrada do pôrto, defendido por uma quanti-
dade prodigiosa de artilharia e naus e três fragatas en-
pelas quatro
viadas rei
pelo de Portugal a defesa da Estavam todas
para praça.
elas atravessadas à entrada da baía, vendo que o fogo de
porém,
suas peças não fôra capaz de nos impedir a marcha, e estava-
que
mos prestes a aborda-las e apoderarmo-nos delas, tomaram o par-
tido de cortar os cabos e de encalhar sob as baterias da cidade.
Tivemos nessa ação tresentos homens fora de combate. E para
que se possa a
julgar do mérito da empreza, exporei neste relato
situação do pôrto, da cidade e dos fortes.
644 REVISTA marítima brasileira

A baía do Rio de Janeiro é fechada por uma garganta mais

estreita que a de Brest. Ao meio, um grande rochedo, que obriga

os navios a passar ao alcance dos fusis das fortalezas que defendem

a entrada, dos dois lados.

À direita, a de Santa Cruz, guarnecida de quarenta e oito canhões

de dezoito a quarenta e oito libras de carga, além de outra bateria

de oito peças, um pouco fora do forte.

A esquerda, a de São João e duas outras baterias de quarenta


e oito peças de grosso calibre, em frente a Santa Cruz.

Para dentro, à direita da barra, o forte de Nossa Senhora da

Boa Viagem, sobre uma península, munido de dezeseis peças de

dezoito a vinte libras. Defronte, o de Villegagnon, onde ha vinte

peças do mesmo calibre.

Para adeante, o de São Teodósio, de dezeseis canhões, que de-

fendem a praia, em meia-lua.

Para além desses fortes fica a ilha das Cobras (1), ao alcance

do fusil da cidade, com um forte de quatro bastiões com dez peças,

e mais abaixo outras baterias de quatro peças.

Num dos extremos da cidade está o forte da Misericórdia, com

dezoito peças, que avança para o mar.

Ha ainda outras baterias de terra cujos nomes me escapam.

Enfim, os portugueses, avisados, tiveram tempo de se encher de

canhões e tomar precauções para o caso de uma derrota.

A cidade é construída à beira do mar, em meio de três monta-

nhas coroadas de fortes e baterias. A mais próxima é ocupada pelos

a segunda pelos beneditinos e a terceira pela casa do bispo.


jesuitas,
Na dos jesuitas está o forte de S. Sebastião, com quatorze peças e

varias Outro forte, chamado S. Tiago, dispõe de doze


pedreiras.
e um terceiro, de S. Aloísio, de oito peças, alem de uma ba-
peças,

teria de doze canhões.

A cidade é fortificada. Os fogos cruzam-se. Do lado plano é de-

fendida um campo retalhado e um bom fosso dagua. No inte-


por

rior ha duas praças darmas que dão guarida a mil e quinhentos ho-

mens. Neste sítio, os inimigos mantinham o forte das tropas, que

consistiam em doze ou treze mil homens, compreendendo cinco re-

de tropas regulares trazidas da Europa por d. Gaspar da


gimentos

Costa, sem contar um número prodigioso de negros disciplinados.

Surpreso de encontrar a terra tão diferente da descrição que

me haviam feito, tratei de me instruir da causa dêsse poderio. Então,

fiquei sabendo que a rainha Ana da Inglaterra fizera partir um

navio afim de dar aviso da minha esquadra ao rei de Portugal. Êste,

tendo nenhum navio levar a notícia ao Brasil,


não pronto para

mão do mesmo navio, seguiu o Rio de Janeiro, fa-


lançou que para
DUGUAY-TROUIN NO RIO DE JANEIRO 645

vorecido pela sorte, chegando dias antes de mim. Graças a


quinze
êsse alarme, o fazer tão
govêrno poude grandes preparativos.

Tendo empregado o dia inteiro em forçar a entrada do porto,


fiz avançar, durante a noite, a e os dois transportes arma-
galeota
dos para o bombardeio. Ao amanhecer, destaquei o cavaleiro de
Goyon com homens escolhidos se apoderar da ilha
quinhentos para
das Cobras, o êle executou rechassando os
que prontamente, por-
tugueses com tanta violência mal tempo de detonar
que tiveram
algumas peças. Na retirada, dois navios mercantes,
puzeram a pique
entre S. Bento e a ilha, dois navios de
e fizeram explodir guerra
que estavam fundeados sob o forte da Misericórdia. Tentando fazer
o mesmo a um terceiro, Cobras, foram im-
sob a ponta da ilha das
pedidos pelas chalupas enviadas cavaleiro de Goyon, coman-
pelo
dadas pelos senhores mesmo d?-
de Vauréal e de Saint-Osman, que,
baixo de fogo, arvoraram tio rei.
na cidadela o pavilhão

Entretanto, não salvar o navio, estava cheio


puderam que já
dagua pelos rombos que o canhão havia feito.

Pelas informações de Goyon, fui visitar a ilha das Cobras, or-


denando o estabelecimento e morteiros.
de baterias de canhões
O tenente marquês de de dirigir as
Saint-Simon foi encarregado
obras com um corpo um fogo vivo
de tropas que lhe confiei. Sob
de canhões e mosquetaria, todo o zelo e co-
todos trabalharam com
ragem.

Faltando agua nos nossos barcos, foi mister em terra.


procura-la
Disso incumbi o cavaleiro a maioria
de Beauve, que fez embarcar
dos homens "Amazone", "Aigle", "Affrée" "Concorde"
nas fragatas e
e tomou navios Essa ordem foi
quatro mercantes portugueses.
executada à noite, e manhã seguinte o
tão pontualmente que na
desembarque foi fetio sem confusão e sem perigo.
A 14 de Setembro, todas as nossas tropas, em número de dois
mil e duzentos soldados ar-
e setecentos a oitocentos marinheiros,
mados e exercitados, desembarcaram, o que formou, compreendendo
os oficiais, os corpo de
guardas de marinha e os voluntários, um
cêrca de três mil e tresentos homens
homens. Mesmo os quinhentos
atacados de escorbuto achavam-se, de-
que haviam desembarcado
pois de cinco dias, em estado de se encorporar às tropas.

De tudo isso, foram compostas de três batalhões


três brigadas
cada uma. A da vanguarda foi entregue a Goyon, a da retaguarda
a Courserac. Ao secundado
centro estava eu com a terceira, por
Beauve. Ao mesmo ca-
tempo, formei uma companhia de sessenta

porais escolhidos nas tropas, com um certo número de ajudantes dc


campo, guardas de na ação,
marinha e voluntários para seguir-me
quando preciso.

Fiz desembarcar e vinte outras peças,


quatro pequenos morteiros
afim de formar uma Beauve
espécie de artilharia de campanha.
646 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

inventou, para isso, uns suportes de madeira de seis pés ferrados,

que se fixavam em terra, sôbre os quais as peças assentavam

solidamente.

Essa artilharia marchava ao centro do batalhão maior, e no

momento de entrar em luta, o batalhão se abria.

Desembarcadas todas as tropas e munições, fiz avançar Goyon e

Courserac à testa de suas brigadas para tomar conta de duas al-

turas donde se descortinassem a planície e os movimentos que se

fizessem na cidade.

D'Auberville, capitão de granadeiros, bateu algumas tropas ini-

migas que emboscaram para nos observar, após o que as nossas

acamparam na seguinte ordem: a brigada de Goyon ocupou a al-

tura dominava a cidade, a de Courserac instalou-se na monta-


que
nha oposta e eu coloquei-me ao centro. Por essa situação, podíamos

nos uns aos outros e ficaríamos senhores das praias onde


garantir

as chalupas faziam aguada e conduziam constantemente as muni-

de combate e de boca de que necessitávamos. Ricouart, inten-


ções
dente da esquadra, teve o cuidado de que nada nos faltasse, nem

aos homens nem às baterias.

A de setembro, querendo examinar a possibilidade de


quinze

cortar a retirada ao inimigo, ordenei que todas as tropas se ar-

massem e as fiz avançar para a planície, destacando, ao alcance de

fusil da cidade, as forças que se incumbiram de matar os animais

e saquear as casas, sem a menor resistencia. O intuito do inimigo

era atrair-nos aos seus redutos, tática idêntica à que causara a der-

rota de Du Clerc.

Senhor do e vendo eles continuavam imóveis, fiz re-


plano que

tirar os nossos em boa ordem.

Entretanto, fiz o reconhecimento do terreno, achando-o tão im-

mesmo eu dispuzesse de quinze mil homens, seria


praticável que, que

impossível impedir o adversário de esconder suas riquezas nas matas

e nas montanhas.

A 16, um dos nossos destacamentos avançou sob um fogo tão

não nos fez nenhum mal. No mesmo dia, encarre-


precipitado que

Beauve e Blois de montar uma bateria de dez canhões sôbre


guei

uma e outra nos beneditinos.


península

A 17, os inimigos incendiaram alguns armazéns situados à beira-

cheios de caixas de açúcar e munições. Fizeram também saltar


mar,

nos ares o terceiro navio de guerra, ancorado junto às fortificações

de S. Bento. Também queimaram as duas fragatas do rei de Por-

tugal.

No intervalo desses movimentos, algumas legiões de portugueses,

dos caminhos e das matas adjacentes, e após have-


conhecedores

tentado alguns dias de ataque, surpreenderam, durante a noite,


rem

nossas sentinelas, que aprisionaraím sem ruído. Isso, alem


três de
DUGUAY-TROUIN NO RIO DE JANEIRO 647

de outros homens que lhes caíram nas mãos, fez-lhes nascer a idéia
de curioso estratagema.
Um normando, chamado Bocage (2), que em guerras precedentes
comandara um dos navios franceses armados em corsário, passou-se
para o serviço de Portugal. Naturalisado, comandava no Rio de
Janeiro o segundo navio dos que tínhamos encontrado, e depois de
o ter feito explodir, foi servir como guarda dos redutos beneditinos.
Portou-se tão bem, fez trabalhar os canhões tão a propósito, que
os nossos transportes foram muito molestados, bem como as nossas
chalupas, que sofreram muitos maus tratos. Uma, entre outras,
carregada de quatro canhões, foi arrombada por duas balas, e afun-
daria, si eu não a tivesse avistado da ilha das Cobras e feito rebocar
pela minha canoa.
Esse Bocage, para atrair popularidade e conquistar a confiança
dos portugueses, aos quais, como aos franceses, era um tanto sus-
peito, imaginou disfarçar-se em marinheiro, com um gorro, uma
blusa e umas calças alcatroadas. Assim, fez-se conduzir
por quatro
soldados portugueses à prisão onde os nossos se encerravam. Meteu-
se em ferros no meio deles, fazendo-se
passar por marinheiro da
guarnição de uma das fragatas de Saint-Malo que se desviara de
nos, tomada por uma força
portuguesa. Desempenhou tão bem o seu
Papel que conseguiu dos nossos pobres compatriotas, iludidos pelo
seu disfarce, todos os esclarecimentos
que o faziam conhecer o forte
e o fraco das nossas tropas. Graças a isso, os inimigos tomaram a
deliberação de atacar o nosso campo.
Antes do alvorecer, fizeram sair mil e quinhentos homens dos
seus redutos, que avançaram, sem ser descobertos, até ao
pé da mon-
tanha ocupada pela brigada de Goyon. Essas tropas foram seguidas
por um corpo de milícias que se postou à metade do caminho de
nosso acampamento, ao abrigo de um bosque, a ponto de reforçar
aqueles que nos vinham atacar. O posto avançado que eles preten-
diam estava situado numa eminência onde havia uma.casa com
ameias que nos servia de corpo de
guarda. Quarenta passos abaixo
ficava uma enseada fechada uma barreira. Os inimigos fizeram
por
passar por aí diversos animais. Um de nossos sargentos e quatro sol-
dados, tendo-os visto, abriram a barreira com o fim de os tomar sem
avisar ao oficial. Súbito, os
portugueses emboscados fizeram fogo sobre
eles, mataram o sargento e dois soldados e
penetraram no corpo da
guarda. Liesta, que vigiava esse posto com cincoenta homens, em-
bora surpreendido e atacado vivamente, reagiu e deu tempo a
Goyon de enviar Boutterville coni as companhias de Droualin e
d'Auberville. Ao mesmo tempo, despachou um ajudante de campo
para informar-me do que se passava. Aguardando minhas ordens,
meteu em armas toda a brigada,
que ficou pronta para o assalto.
No mesmo instante, fiz partir duzentos granadeiros por um ca-
minho limpo, com ordem de atacar os inimigos de flanco, enquanto
as outras tropas se punham em movimento.
648 K&VISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Corri depois ao lugar do combate com minha companhia de

caporais, chegando a tempo de testemunhar o valor e a presteza


com que meus oficiais respondiam a todos os golpes inimigos.

À aproximação das tropas que me seguiam, êles retiraram-se pre-


cipitadamente, deixando no campo de batalha vários mortos e fe-

ridos. Interroguei a estes, e conhecendo-lhes os planos, esquivei-me

de penetrar nos bosques e desfiladeiros.

Assim, fiz suster o passo aos granadeiros e às outras tropas que


estavam em marcha. Tomando outro alvitre, enveredei pelo meio da

emboscada, onde estava postado o corpo de milicias.

O senhor Pontlo-Coétlogon, ajudante de campo de Goyon,

foi ferido nessa ocasião, alem de trinta soldados mortos e feridos.

No mesmo dia, a bateria de Beauve e de Blois começou a atirar

sôbre os redutos de S. Bento.

A 19, Rufinière, comandante da artilharia, avisou-me que tinha

cinco morteiros na ilha das Cobras e dezoito canhões com vinte e

quatro libras de munição, prestes a entrar em fogo, à espera das mi-

nhas ordens. Enviei então ao governador a seguinte carta:

"O
rei meu senhor, querendo uma reparação da crueldade exer-

cida contra os oficiais e tropas que fizestes prisioneiros o ano último,

e estando bem informado que após o massacre dos cirurgiões que per-

mitistes baixar à terra para socorrer os feridos, ainda deixastss mor-

rer de fome e de miséria uma parte do que restava dessas tropas,

retendo-as em cativeiro, contra os principios estabelecidos entre as

coroas de França e Portugal, ordenou-me de empregar os navios e

tropas afim de vos forçar a restituir-me todos os prisioneiros fran-

ceses, alem de fazer pagar pelos habitantes desta colônia as contri-

buições necessárias para os punir de suas crueldades e livrar Sua

Magestade* das despesas que fez para um armamento tão conside-

rável. Não exijo a vossa rendição, nem farei vossa cidade em, cinzas,

graças a Sua Magestade, que me ordenou nada destruir, si vos en-

tregardes imediatamente e mostrardes arrependimento do que man-

dastes fazer aos nossos oficiais e tropas. Advirto-vos também, senhor,

que não usarei de represálias contra o assassinio de Du Clerc sôbre

os portugueses que se encontram em meu poder. A intenção de Sua

Magestade não é fazer a guerra de maneira indigna de um rei cristão.

O que eu reclamo é que nomeeis os autores do massacre para que

eu faça uma justiça exemplar. Si desobedecerdes à vontade real,

nem vossos canhões, nem vossas barricadas, nem todas as vossas tro-

pas me impedirão de executar as ordens de Sua Magestade e de

tudo levar a ferro e fogo. Espero, senhor, vossa resposta pronta e

decisiva. De outro modo, ficai sabendo que, si até hoje vos poupei,

foi para poupar a mim mesmo o horror de sacrificar os inocentes

com os culpados"'.
DUGUAY-TROUIN NO RIO DE JANEIRO 649

O governador despachou o meu emissário com esta resposta:


"Senhor,
conheço bem os motivos vos fizeram vir de França
que
a. este país. Quanto ao tratamento dos prisioneiros franceses, tem
sido feito segundo os usos da guerra. Não lhes tem faltado o pão,
nem munição, nem outro socorro algum, embora não o merecessem
pela maneira atacaram
por que êste país do rei meu senhor com
os processos habituais do corso. Entretanto, garanti a vida de seis-
centos homens, como os próprios atestar. De-
prisioneiros poderão
fendi-os contra o furor dos negros, os matar. Enfim,
que queriam
nao faltei a nenhum dos meus compromissos em relação a êles, tra-
ando-os de acordo com os desejos do meu soberano. ao se-
Quanto
nhor Du Clerc, eu o tinha instalado, conforme sua solicitação, na
melhor casa desta terra, onde êle foi morto. o matou? Foi
Quem
o que não puderam verificar as minhas diligências, nem as da justiça.
Asseguro-vos
que, si se encontrar o assassino, êle será como
punido
o merece. Tudo o que vos exponho é a expressão da verdade. Em re-
ação à praça que o rei me confiou, informo-vos a defenderei
que
a e à última
gota de meu sangue, sejam vossas amea-
quaisquer que
ças. Espero que o Deus dos exércitos não me abandone em uma causa
ao justa como a de garantir uma da vos apode-
praça qual quereis
rar por motivos frívolos e intempestivos.
Deus vos guarda, senhor. D. Francisco de Castro Morais".

À vista disso, resolvi atacar fortemente a praça. Corri a costa


em companhia de Beauve afim de reconhecer os lugares onde pode-
riamos forçar o inimigo. Notámos cinco navios fun-
portugueses
•eados
próximo a S. Bento, me en-
que pareceram adequados a um
reposto às tropas que seriam destinadas ao ataque desse ponto.
or precaução, fiz "Mars"
avançar o entre nossas duas baterias e os
cinco navios,
para a necessidade de os manter em caso de emer-
gencia.

A 20, dei ordem "Brillant" "Mars".


ao de ancorar do Èssss
perto
ois navi°s e as baterias fizeram um fogo continuo arrasou
que parte
os redutos. Então, dispuz todas as coisas evitar o assalto do
para
dia seguinte, logo pela manhã.
Para êsse efeito, durante a noite, fiz embarcar nas chalupas as
ropas destinadas ao ataque dos redutos beneditinos, com ordem de
se a ojai, com o menor ruido nos
possivel, cinco navios que se apres-
aram
para os receber. êsse
Quando movimento se fazia, caiu um
emporal seguido de relâmpagos facilitaram ao inimigo fazer
que
o re as chalupas um grande fogo de mosquetaria. Eu êsse
previra
inconveniente,
e para o remediar, dei ordem, antes do anoitecer, para
que o Brillant-' "Mars"
e o e todas as baterias apontassem os ca-
n ões sobre os redutos,
prestes a atirar ao sinal de um tiro de peça.
Destarte, desde
que os portugueses começaram a alvejar as cha-
upas, eu mesmo
puz fogo ao canhão devia dar o aviso, se
que que
seguiu de um tiroteio e contínuo
geral das baterias e dos navios, ao
650 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

mesmo tempo que roncavam os trovões, fuzilavam relâmpagos, tor-

nando a noite assombrosa. Foi tão grande a consternação dos ha-

bitantes que pensaram que seriam, altas horas, assaltados.

A 21, ao amanhecer, tomei a frente das tropas para iniciar o

ataque do lado da Conceição. Ordenei a Goyon de colocar-se ao

longo da costa com a sua brigada e atacar o inimigo por outro lado.

Ao mesmo tempo, determinei às tropas que se achavam nos cinco

navios que tomassem os redutos de S. Bento.

No momento elm tudo ia começar, o Sr. de la Salle, que


que

tinha sido ajudante de campo de Du Clerc e ficara prisioneiro na

cidade, apareceu me dizer que a população e as milícias, apa-


para

voradas do nosso ataque, foram tomadas de tão grande pânico que

abandonaram tudo, em grande confusão, agravada pela tempestade.

sua vez, as tropas regulares, contagiadas do terror, bateram em


Por

retirada, incendiando os armazéns mais ricos, deixando minas em

Bento e nos (3) matar ao menos parte das nossas


S. jesuitas para

o emissário viera advertir-me em tempo, tendo apro-


tropas. Assim,

veitado a desordem para escapar.

Todas essas circunstâncias, que me pareceram incriveis e eram,

no entanto, verdadeiras, fizeram apressar minha marcha. Assenho-

reei-me sem resistência, mas com precaução, dos redutos da Con-

ceição e dos beneditinos; em seguida, à testa dos granadeiros, entrei

na praça e apoderei-me dos fortes e dos outros postos que merece-

ram atenção. Ao mesmo tempo, dei ordem de retirar as minas e

instalar a brigada de Courserac na montanha dos jesuitas para guar-

dar todos os fortes.

Penetrando na cidade deserta, encontrei, com surpresa, à minha

espera, os prisioneiros que restavam do insucesso de Du Clerc. Na

desordem, êles quebraram as portas dos cárceres e espalharam-se

pela cidade para saquear os logares mais ricos. Isso excitou a avidez

dos nossos, que foram logo por mim severamente castigados. Depois

do que ordenei os presos fossem conduzidos ao forte de S. Bento.

Uni-me, em seguida, a Goyon e Beaúve, aos quais confiei o co-

mando do resto das tropas, combinando com êles as medidas que


deviamos tomar afim de impedir ou, ao menos, atenuar a pilhagem
numa cidade aberta, para assim dizer, de todos os lados. Mandei

colocar sentinelas, estabelecer corpos de guarda em todos os pontos

necessários e ordenei o emprego de patrulhas, dia e noite, com proibi-

expressa aos soldados e marinheiros de entrar na cidade. Em


ção

suma, não negligenciei nenhuma das precauções praticáveis. Mas o

furor do saque foi maior que o receio do castigo. Os que compunham

o corpo de guardas e patrulhas foram os primeiros a aumentar a

anarquia, durante a noite; de sorte que, na manhã seguinte, os três

dos armazéns e das casa foram assaltados, os vinhos distri-


quartos

buidos, os víveres, as mercadorias e os moveis espalhados pelas ruas,

tudo enfim numa desordem e confusão inexprimiveis. Sem remissão,


DUGUAY-TROUIN NO RIO DE JANEIRO 651

fiz decapitar todos aqueles Não obstante


que cometeram o delito.
o saque continuou, o. da
que me forçou a lançar mão das tropas,
manhã à noite, para repor nos seus logares tudo o que fora desman
telado, deixando neles escrivães e gente de confiança.

A 23, após intimação, rendeu-se o forte de Santa Cruz. Beauville


ajudante-general,
tomou posse dele, bem como dos de S. João, Vil
legagnon e dos outros da entrada. Mandei então encravar todos os
canhões das baterias abertas.

Entrementes, soube negros o


por vários trânsfugas que gover-
nador da cidade, d. Gaspar da Costa, comandante da esquadra,
reunira as tropas dispersadas e alojara-se a uma légua de nós, onde
esperava reforço de
grande de Minas sob as ordens de d. Antônio
Albuquerque, chefe de fama entre os portugueses. Achei asado pre-
venir-me contra isso. Para êsse caso, estabeleci redutos que domi-
navam a planície e coloquei-me com a brigada do centro nos altos
da Conceição e dos beneditinos. A brigada de Courserac já se havia
instalado, como disse, no monte dos jesuítas.

Com o espírito tranqüilo, por êsse lado, dei a maior atenção aos
interesses do rei e dos armadores. Os portugueses tinham ocultado
o seu ouro nas matas, incendiando e afundando os melhores navios
e destruído os armazéns mais ricos. O resto estava entregue à sanha
dos soldados,
que nada poderia deter. Demais, era impossível guardar
a praça, em virtude da escassez de víveres e da dificuldade de pe-
netrar nas terras para os adquirir. Tudo isso-bcím considerado, fiz
ver ao governador que si êle tardasse em recuperar a cidade por
meio de um resgate, eu a reduziria a cinzas e a arrasaria totalmente.
Para tornar êsse aviso ainda mais veemente, destaquei duas compa-
nhias de granadeiros para queimar todas as casas de campo de
meia légua em redor. Êles executaram a ordem, atacados por
porém,
um corpo de portugueses muito superior, teriam sido trucidados si eu
nao houvesse enviado em seu socorro duas outras companhias co-
mandadas
por Brugnon e Chéridan, as reforçadas minha
quais, pela
companhia de caporais, rechassaram o inimigo, mataram muitos ho-
mens e puzeram o resto em debandada.
O comandante adversário, chamado Amara (4) homem de repu-
ação entre os seus, foi despojado Brugnon de suas
por armas e de
seu cavalo, um dos mais belos tenho visto. Êsse
que oficial distinguiu-
se muito durante toda a ação.

Mais tarde,
para que a empreza não se tornasse perigosa devido
a visinhança
do campo inimigo, fiz avançar dois sob o
batalhões
comando de Beauve,
que penetraram no acampamento e incendia-
ram a casa do comandante, retirando-se.
Após essa derrota, o governador enviou-me o da Ca-
presidente
mara de Justiça com um dos seus mestres de negociar
campo, para
o resgate da cidade. Começaram por me dizer que o povo os tinha
652 REVISTA MARÍTIMA BJ AS1LE1RA

abandonado no momento de transportar suas riquezas para as matas


e as montanhas, o que os impossibilitava de dispor de mais de seis-
centos mil cruzados, pedindo um longo prazo para fazer vir o ouro do
rei de Portugal, que diziam estar também a uma enorme distância.
Rejeitei a proposta e despachei os emissários, prometendo-lhes
arruinar todos os logares que o fogo não pudesse destruir.
Depois disso, não ouvi mais falar no governador. Fui então in-
formado pelos negros desertores que esse Antônio de Albuquerque se
aproximava, munido de grande socorro. Inquieto com a notícia, com-
preendi a necessidade de uma medida urgente. Assim, ordenei que
todas as tropas, alem de quinhentos homens recrutados na gente de
Du Clerc, se puzessem em marcha sem tambor, à surdina, ao vir da
noite. A ordem foi cumprida, apezar da escuridão e da dificuldade
dos caminhos, com tal ardor e regularidade que, logo ao amanhecer,
estavam em presença do inimigo. Este reforçara-se de mais duzen-
tos homens, vindos do quartel da ilha Grande. Fiz formar os bata-
lhões em linha de frente, prontos para o combate, mandei ocupar
as alturas e os desfiladeiros, destacando ao mesmo tempo pequenos
corpos com o fim de cair sobre os flancos adversários, logo que a
ação se iniciasse.
O governador, surpreso, despachou-me um jesuita (5), homem
de espírito, com dois oficiais, a oferecer-me tudo de que pudesse
dispor para reconquistar a cidade, ajuntando de seu bolso dez mil
cruzados, e mais quinhentas caixas de açúcar e todos os bois de que
eu necessitasse para abastecer as tropas. Que si eu recusasse essa
oferta, poderia dar-lhes combate, arrasar a cidade e fazer tudo o que
eu imaginasse.
Reuni o conselho, que concluiu unanimemente que, si massacras-
semos toda aquela gente, longe de auferir qualquer vantagem, per-
deriamos a ocasião de os fazer contribuir. Impuz então o pagamento
de seiscentos mil cruzados em quinze dias e exigi todos os bois ne-^
cessários. Permiti também que os negociantes portugueses fossem a
bordo dos nossos navios adquirir o que quizessem, mediante dinheiro
à vista.
No dia seguinte, 11 de Outubro, d. Antônio de Albuquerque chegou
ao campo inimigo com três mil homens de tropas regulares, metade
cavalaria e metade infantaria, alem de seis mil negros bem arma-
dos. Esse reforço, embora tardio, era bastante considerável para que
eu desviasse minha atenção. Fui então informado de que os portu-
gueses pretendiam atacar-nos à noite. Isso não me impediu de
mandar carregar para bordo todas as caixas de açúcar e abastecer os
paióis de mantimentos.
A 4 de Novembro, os portugueses, tendo feito o seu último paga-
mento, restituí-lhes a cidade, embarquei as tropas, guardando apenas
os fortes da ilha das Cobras, de Villegagnon e os da entrada, afim
de assegurar a nossa partida. Em seguida, ainda mandei pôr fogo
DUGUAY-TROUIN NO RIO DE JANEIRO 653

ao navio português não ao único barco mer-


que pudéramos salvar e
cante que não conseguíramos vender.
Desde o primeiro dia em entrámos na cidade, tive o cuidado
que
de acautelar os vasos ornamentos das
sagrados, as pratarias e os
igrejas, foram morte
que recolhidos aos nossos cofres, ameaçando de
aqueles os ousassem
que profanar. Em vésperas de partida, confiei
essas peças aos jesuítas, como os únicos eclesiásticos do país que
me pareceram dignos entrega-Ias
de confiança, encarregando-os de
ao bispo. Devo afirmar que êsses padres contribuíram bastante para
a salvação da florescente colônia, incutindo no governador a idéia
de recuperar a cidade, sem o eu a teria arrasado inteiramente,
que
apezar da chegada ne-
de Antônio de Albuquerque e todos os seus
gros. Essa perda, teria o rei de Portugal,
que sido irreparável para
não seria de nenhuma utilidade para os meus planos.
Antes de falar da minha volta à França, é justo testemunhar
que o sucesso da expedição foi devido ao valor dos oficiais em geral
e dos capitães em particular, e sobretudo, à firmeza e boa con-
duta de Goyon, de Courserac, de Beauve e de Saint-Germain. Êsses
quatro me prestaram uma colaboração magnifica em todas as etapas
da nossa empreza, e confesso com foi por sua atividade e
prazer que
por seus conselhos me
que venci grande número de obstáculos que
pareceram acima das nossas forças.
A 13, a esquadra fez-se de vela, e no mesmo dia os navios desti-
nados ao mar do sul partiram bem equipados de lhes
tudo o que
era preciso.

Embarquei na nossa frota um oficial, quatro guardas da marinha


cerca de quinhentos soldados restantes da aventura de Du Clerc,
en o os outros oficiais seguido presos para a baía de Todos os Santos.
ve a idéia de liberta-los, exigindo nova contribuição, e o teria feito
si nao foram os ventos contrários, que nos assaltaram durante mais
de quarenta dias.

situação, seria
.Nessa, temeridade, mesmo loucura, expormo-nos
a esses contratempos
(6).

chevres". no original,
rín ?eÍ
B°^fe' natural
de Cherburgo, entrou para a ma-
rinha nnrtmmLo
¦ Av° de Manoel Maria Barbosa Du Bocage,
granrip « +em -
nnptl
que esteve no Rio de Janeiro, em 1787, como
euarrin-mnvf PortuSues,
comissao as índias, tendo habitado
casa Ha i13, tí? para uma
Violas, hoje Teófilo
Bocairp Ottoni. Em 1717, o marujo
/nmJf "Nossa
nau Senhora das Necessidades",
estpvp n° m
esteve í?0U-a que
Mediterrâneo de socorro contra os Turcos.
Morro do Castelo.
rí!
<4) Bento do Amaral Gurgel.
Padre Antônio Carneiro, a cavalo,
ífi) ? de bandeira branca.
Presente tradução foi feita diretamente "Mémoires
Mnncimir das de
lieutenant — des armées navales,
coimndpiir HgU^rouin' général
°rdre Royal & Militaire de S. Louis", editadas em
Ronpn r.o t
' na ^Prensa Privilegiada,
em 1779.

S. de S.
"COMANDO"

SÍNTESE DE

célebres acêrca das


(Pensamentos

condições e de comando)
qualidades

A QUALIDADE DE CHEFE

— Não basta apenas a coragem para mandar uma fôrça, é necessário

também gênio, talento, bom julgamento, intuição e sangue frio.

(Turpin de Crissé)

— A primeira condição da vitória é a vontade de vencer. ..

(Marechal Foch)

— Qualquer Exército possue artífices em número suficiente. O que


falta são os artistas.

(Turpin de Crissé)

— Quem possue talento para o mando é o artista; os que apenas

executam são os artífices.

(Turpin de Crissé)

— O artista cria, estabelece o plano, reúne os elementos e dá as

instruções.

(Turpin de Crissé)

— As três qualidades mais importantes do Chefe são: valor, inteli-

gência e saúde.

(Marechal de Saxe)

— Batalha ganha é aquela em que não nos confessamos vencidos.

{Marechal Foch)

— A rara qualidade do senso comun, isto é, a arte de ver as cousas

como elas são, denomina-se gênio nos militares, políticos e estadistas.

(Fortescue)

— A ambição é o melhor fundamento e o melhor apoio da vontade„

(Von der Goltz)


656 revista marítima brasileira

10 — Um general e um almirante necessitam condições totalmente dis-

tintas entre si; o primeiro pode nascer com as qualidades necessárias para

comandar um Exército, enquanto que as qualidades para comandar uma Frota

só se adquirem com a experiência.

(Napoleão)

11 — Nossa confiança não deve repousar apenas no material mas também

no espírito para o combate.

(Pericles)

12 — A estratégia é a arte de empregar bem o tempo e o espaço. Preocupo-

me mais com o primeiro do que com o segundo. Pode-se sempre recuperar

o espaço perdido mas o tempo, nunca.

(Gneisenau)

• A IDADE DO COMANDO

13 — O Chefe não deve ser demasiadamente jovem nem demasiadamente

velho\; entre 30 e 60 e por vezes até aos 70 anos de idade. Aos 30 ant>s o-

homem atingiu seu completo desenvolvimento, porém não possue suficiente

experiência. Seu gênio e seu talento já devem se ter manifestado; em caso

contrario não se manifestarão nunca. Si com essa idade o homem não apre-

senta tais qualidades, é inútil esperar que êle tenha 40 ou 50 anos.

(Turpin de Crissé)

14 — Napoleão no começo de suas campanhas da Italia tinha 27 anos.

Condi, 22. Frederico II, 29. Alexandre, 22. Aníbal, 26. César ao vencer

Vercingetorix, 42. Aos 34, Tamerlão, o Magnífico, estava no apogeu dc

sua glória. Carlos Magno, quando submeteu os saxões, 34. Gustavo Adolfo,

em Lutzen, 36. Carlos XII foi morto aos 37. O grande Turenne foi Coman-

dante em Chefe aos 32 e Malborough aos 35. Lafayette, em Yorktovvn, tinha 26.

(Turpin de Crissé)

15 — Nelson tinha 40 anos quando surpreendeu o mundo, vencendo os

franceses na batalha do Nilo; tinha 43 em Copenhague e 47 em Trafalgar.

(Turpin de Crissé)

16 — Drake tinha 32, quando deu a volta ao mundo. Boscawen foi promo-
vido a contra-almirante aos 37. Rodncy tinha 61 ao assumir comando em

Gibraltar e 68 na batalha de 1° de Junho.Collingzvood contava 55 em Trafalgar

Lord Cockrane 45 ao assumir o comando da Frota Chilena. Suffren 53 na

campanha de Coromandel.

(Turpin de Crissé)

PREPARAÇÃO PARA O COMANDO

17 — Si um homem dedica-se somente a trabalhos servis ou mecânicos,

sua afeição a estas cousas é uma prova de seu desapego a estudos mais

elevados.

(Pericles)
SÍNTESE DE COMANDO 657

18 — Não é possível afirmar com segurança que um bom especialista,

não possa chegar a ser um bom Chefe de Alto Comando, porque ha muitas

exceções a êsse respeito, para tornar-se apto para tão elevado pôsto
porém
êle deve tratar de esquecer que lhe será bastante dificil) todos, ou pelo
(o
menos parte dos detalhes do material de que foi técnico. O bom especialista

tende facilmente a adquirir um de vista demasiadamente particular. O bom


ponto
mecânico chega a ser com o tempo apenas um atento servidor de seu instrumento

Para bem comandar é preciso substituir o espírito de análise e de excessiva

atenção aos detalhes, um espírito de síntese e de ampla visão.


por

(Baudry)

19 — Somente pode se notabilisar na guerra quem se tiver preparado


para essa prova por meio de um largo estudo e de variada experiência.

(Sir Frederick Maurice)

20 — O Chefe que deseje realisar grandes cousas deve possuir também


um espírito civil. Ê êle é considerado como o melhor cérebro os
porque que
demais obdecem e respeitam.
"Napoleão")
(Sobre

21 — Um bom almirante precisa possuir um amplo conhecimento de

todos os ramos da economia nacional.

(Tucker)

22 — Além da amplitude c agudez intelectual de Nelson, o que chamava

poderosamente a atenção eram suas raras qualidades de arrojo, resolução e

amor às responsabilidades. Agia rapidamente tanto no terreno militar como

no político ou civil.

(Mahan)

23 — Suffren, não tendo sido educado na Academia de Marinha, escapou

à influência de seus conteporâneos que viviam absorvidos pelo estudo cientí-

fico (matemáticas, astronomia, hidrografia, construção naval e outras).

Enquanto outros desenvolviam suas faculdades intelectuais no estudo das

ciências e das matemáticas, Suffren empregava seus momentos de descanso em

meditar sobre a história naval e as campanhas de seus antecessores, nos grandes


homens lhe serviram de exemplo.
que

(Castex)

24 — O oficial deve ter um conhecimento técnico completo, porém isso

não o deve fazer descuidar-se do estudo dos homens. A psicologia humana é

a condição fundamental para que se possa ser um bom Chefe, um bom condutor

de homens. Portanto, o estudo da história (da história militar principalmente)


é do mais alto valor. Além disso serve de consolo inesgotável durante os anos

monótonos e frios da paz.

(Vott FYeytag Loringhoven)

25 — quizer ser um verdadeiro Chefe deve ter diante de si um


Quem
livro: A história da Dêle deduzimos feitos (feitos que a miúdo comovem
guerra
658 revista makítjma brasileira

a alma) na raiz dos quais encontra-se a idéia de como sucedeu cada cousa,

como ia suceder e como novamente sucederá. Êste é o valor imenso da história.

(Conde Schlieffen)

26 — Sãs teorias baseadas em princípios deduzidos de feitos, constituem

com a história, a verdadeira escola do Comando. É evidente que não podem


formar gênios porque êstes nascem ou se criam somente em condições favoraveis

ao seu desenvolvimento. Formam porém leaders bastantes aptos para bem desem-

penharem seus encargos debaixo da direção de grandes Chefes.

(Jomini)

27 — Os princípios, conquanto excelentes, são por si sós demasiadamente


abstratos para que se possa confiar neles de modo absoluto. O motivo funda-se
na diferença de interpretação pelos diferentes cérebros e na reação correspon-
dente sôbre cada vontade. Por êsse motivo o estudo da história militar repousa
sobre o fundamento de todas aquelas conclusões militares sãs e f.
praticas,
a base, a pedra angular em que assenta a instrução de uma Acadêmia de Guerra.
Os feitos históricos, analisados e estudados criticamente, têm sido os meios
empregados pelos grandes Capitães treinar sua capacidade natural
para para
o Comando.

(Mahan)

28 — O estudo da estratégia é indispensável para os que aspiram ao

Alto Comando, embora muitos imaginem que êle é apenas uma questão de

senso comum. A verdade exata é que a estratégia não só é o fator determi-

nante da guerra moderna, mas também que para aplicar os sfeus princípios
necessita-se do senso comum em sua forma mais cuidadosa e sã. De todas

as ciências relacionadas com a guerra, é a mais difícil. Se recordarmos o

renome de todos os grandes Chefes de terra e mar, constataremos que êles

devem sua fama mais às suas concepções estratégicas do que à sua habilidade

tática.

(Henderson)

29 — De um modo geral, as situações graves obscurecem parcialmente

mesmos os cérebros mais lúcidos e brilhantes. Por conseguinte, é preciso


contar com uma inteligência bem desenvolvida (instrução completa) para
fazer a guerra e mesmo para compreender a guerra.

{Marechal Foch)

30 — Felizes os que nasceram crentes, porém ha muito poucos homens assim.

Também não se nasce sabendo. Cada um deve forjar por si mesmo sua fé,

suas convicções, seu conhecimento das cousas. Isso porém não se poderá

conseguir de modo repentino como um lampejo de inteligência que ilumine as

faculdades intelectuais. Só se conseguirá mediante um esforço constante de

meditação, estudo e assimilação, deduzido de um trabalho amplo, detalhado e

de paciência. A mais elementar das artes requer o mesmo esforço.

{Marechal Foch)

31 — Fazei guerra ofensiva como a fizeram Alexandre, Anibal, César,

Gustavo Adolfo, Turenne, Príncipe Eugênio e Frederico o Grande. Lêde e


SÍNTESE DE COMANDO 659

rêlêde história de suas 83 campanhas e moldai vossos actos por elas; e*


a

a única maneira de chegar a ser um Capitão e descobrir os segredos da


grande

Vosso espírito assim iluminado vos fára repelir conceitos opostos aos
guerra.
daqueles homens. A história dessas 83 campanhas, cuidadosamente
grandes
narradas,constitue um tratado completo da arte da guerra: os princípios

definirão naturalmente como a corrente generosa de um rio.

(Napoleão)

32 A tática, as evoluções, os conhecimentos de mecânica e artilharia

ser aprendidos em tratados quasi como a geometria, porém o conheci-


podem
mento operações de se adquirem somente pela experiência,
das grandes guerra

estudo da historiei da e das campanhas dos grandes Capitães.


pelo guerra

(Napoleão)

33 — de um ou regra deu a vitória, em cem ocasiões,


A aplicação principio
à competentes Generais. O fracasso em qualquer uma ocasião não constitue

de modo algum de erro do nem deve levar-nos a desdenhar


prova principio,
seu estudo.

(Jomini)

34 — Freqüentemente um Chefe desconhece as circunstancias sob as quíis

deve o momento em é necessário proceder de forma


decidir, até que quasi

imediata a execução das medidas indispensáveis. Então vê-se obrigado


para
a com tal rapidez é indispensável ter o habito de abranger
julgar e decidir que
essas operações em um relance dolhos, deduzir as conseqüências das diferentes

linhas se apresentam e escolher ao mesmo tempo o melhor modo de


de ação que
execução.

(Arquiduque Carlos)

resultados só ser obtidos com grandes esforços.


35 _ Os grandes podem

No o somente uma feliz inspiração e freqüente-


campo de batalha que parece

mente apenas um resumo de conhecimentos.

(Napoleão)

36 — não sabe o outros antes de si, pode estar certo


Quem que pensaram
de que só terá idéias de pouco valor para os demais.

(M. Pattinson)

37 — A dos feitos e o estudo de sua significação é função


classificação
cia ciência. O habito de formar juizos sobre feitos deformados pelos proprios

sentimentos é a característica do que podemos denominar estreiteza


pessoais,
de cérebro cientifico.

(Prof. Karl Pearson)

38 — 0 espírito cientifico se rcaracterisa especialmente pela paixão dos

feitos, das declarações, clareza de visão e por um sentido


pelo cuidado pela
'.clareza,
de correlação das cousas. As virtudes fundamentais são precisão,
imparcialidade, cuidado. Os defeitos comuns de um espírito não treinado são:

anotações toscas ou aproximadas, confiança em cousas vagas, aceitação de

evidência incertaf de impressões.


formação prematura

(.Prof. J. A. Thompson)
660 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

CONSIDERAÇÃO DE PLANOS

39 — Todo General que executa um plano que considera errado, é culpado.


É seu dever dar suas razões ao superior insistir sobre a mudança de p'ano;
em uma palavra, apresentar sua demissão, de preferência à ser um instrumento
de ruína para o seu Exército.
(Napolcão)
40 — Ê por seus conhecimentos adquiridos em todos os ramos do saber
humano que Napoleão, é granae, excedendo a todos os seus rivais, dedicados
quasi única e exclusivamente às ciências militares. Longe de encerrar-se dentro
das formulas de sua profissão militar, seu ^pírito panorâmico abrange todos
os ramos do conhecimento humano. Curvado sobre o mapa da Itália não o
estuda apenas como um tático e estratégo mas também como historiador, frló-
sofo, administrador e político. Não somente como um homem mas também
como um poeta.
(Bouvier)

41 —¦ Durante três anos meditou profundamente, inclinado sobre os mapas,


cruzando montes e vales, lendo e relendo nos próprios teatros, os antecedentes
e os feitos dos Exércitos que nesses mesmos sítios deixaram impresso um
rasto de sangue, sítios predestinados a serem teatros de lutas guerreiras.
Estudou atentamente tudo o que havia sobre o país: seu passado, sua história,
suas fontes de recursos. Meditou profundamente, objetivamente, comparando,
pesando e formando juízo; meditou principalmente sobre o que seus prede-
cessores fizeram.
"Bonaparte")
(Bouvier —

42 — Antes de sua campanha da Itália, Bonaparte não havia exercido


nenhum comando. Praticamente não tinha experiência na direção de tropas.
O que sabia era produto de estudo. Até o final, embora Imperador era
inferior a muitos de seus generais na tática necessária para a execução de
seus planos.
"Bonaparte"')
(Bouvier —
43 — História, Geografia, Ciências, Filosofia, Economia Política tudo
isso havia estudado durantes suas largas horas de pobresa, solitude e reclusão.
Plutarco, Corneille, Rousseau, Machiavel, haviam sido lidos e relidos e conservados
em sua prodigiosa memória. E coordenara todas essas obras, criando dentro
"
de si mesmo um " arsenal de conhecimentos que estava sempre ao seu serviço
para descobrir o melhor meio de alcançar seus objetivos.
"Bonaparte")
(Bouvier —

CONDIÇÕES DO COMANDO

44 — O General Frossard, embora não tivesse sido vencido, acreditou que


o fora e por conseguinte, foi vencido. O general Zastrow, embora semi-
derrotado recusou dar-se por vencido e por conseguinte obteve a vitória.

(Cororíel IVIiitton — "Moltke")


SÍNTESE DE COMANDO 661

45 — Um grande Capitão deve dizer consigo mesmo várias vezes por


"
dia: Si o inimigo aparecer na minha frente, na minha direita ou na minha
esquerda, como deverei ?" Si não puder responder a si
proceder proprio
imediatamente, é signal de não está bem
que preparado.

(Napoleão)

46 — Foi por acaso que César adotou a profissão de soldado, mas é

provável que nunca tenha existido outro Chefe com maior gênio militar
Era temerário, de uma temeridade calculada, que os fatos nunca dei-
porém
xaram de êxitos foram devido à sua rapidez de movi-
justificar.Seus grandes
mentos o levava diante do inimigo antes que êste tivesse suspeitado de
que
sua aproximação. Percorria, vezes, centenas de milhas dia lendo ou
por por
escrevendo em sua carruagem, através de sem estradas e vadeando rios
países
sem pontes. Nenhum obstáculo era capaz de dete-lo o impelia um
quando
objetivo definido.

— "César")
(Froude

47 — Dizer que Wellingtou desde o principio captava a confiança de

seus oficiais e soldados, seria dizer que era amado por êles. Porém não era

assim. Fazia tudo o que podia para inspirar fé mas pouco que pudesse
suscitar afeto. Reconheciam todos que era maravilhosamente capaz porém

Que não havia nascido com o supremo dom da simpatia para os demais.

— "Weilington")
(C. W. Oman

48 — Se estou sempre preparado para enfrentar qualquer situação é

porque iá tenho previsto tudo o que poderá acontecer.

(Napoleão)

ORDENS E OBDIÊNCIA

49 — A norma de Napoleão era que uma ordem militar só exigia obdiência

passiva quando dada por um Chefe que estando presente no proprio terreno

conhecia exatamente a situação e podia responder a qualquer objeção exposta

pelo oficial que deveria executa-la. Para os comandantes a distância, Napoleão


"fim",
dava a mais ampla iniciativa-, indicava-lhes apenas o objethx), o

que devia ser alcançado.

(Coronel Repington)

"
50 — A expressão francesa Doctrinaire" assinala o perigo que espreita

toda doutrina; perigo a que estão expostas todas as concepções úteis. O

perigo consiste em fazer preponderar a letra sobre o espírito, em tornar-se autô-

mato em vez de crítico razoavel. Procura-se assim multiplicar as definições

e exagerar a das cousas. Fazer do subordinado uma maquina que


precisão
atue em tempos determinados, em vez de ser um agente inteligente, imbuido

de todos os do comando e da situação. (Capaz, por conseguinte de


principios
"
modificar corretamente uma ação para satisfazer as circunstâncias) . Quando
encarrego Lord Howe de fazer determinada cousa, escreve seu superior, éle

nunca como deve faze-la mas a faz". Isto ilustra claramente a


pergunta
662 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

relação correta que deve existir entre um subordinado e um superior. Não


é somente generoso como também sagaz.
(Mahan)
51 — Quem passou toda a sua vida somente obdecendo, pouco poderá
conhecer da arte de comandar.
(Corneille)

CONSELHO E CONFIANÇA NOS SUBORDINADOS

52 — Na grande maioria dos casos o Chefe de um Exército não pode


agir sem um Conselho. Este Conselho pode ser constituído por um pequeno
número de homens capazes porém no seu seio, apenas uma opinião deve pre-
valecer. A organização militar deve dar o direito e o dever de submeter
uma opinião ao exame do Comandante em Chefe, à um homem e sfomente
à um — o Chefe do Estado Maior. Este será escolhido, não por antigüidade
mas sim pelo grau de confiança que inspira. O Comandante em Chefe, com
referência a este auxiliar, terá sempre o mérito infinitamente maior, de
haver assumido a responsabilidade, de haver decidido o que outro aconselhava.
(Moltke)

53 — »por conseguinte morrerei absolutamente convencido que nestas


ocasiões, quando o perigo é grande e o êxito incerto, é dever do Comandante
tomar a decisão sem conselho e assumir a responsabilidade do que venha a
acontecer. De outra maneira, pela própria condição humana, os conselheiros
se sentiriam arrastados a descobrir motivos de fracassos ou desgraças. E isto
levaria sempre a evitar o combate pela decisão da maioria".
(Dugu ay- Troidn)

54 _ Conduzindo muito mal sua Divisão, Crawford salvou-se do desastre


graças à perícia de seus Comandantes de Regimento e à extraordinária con-
duta de suas tropas, porém perdeu trezentos homens entre mortos e feridos
e expoz a sua Divisão sem nenhum objetivo útil. Wellington aborreceu-se
muito, porém pouco disse porque sabia que em um jogo tão incerto como a
guerra, um Chefe não deve ser demasiado rigoroso em assinalar os erros
"Si devo ser responsabilisado por êle,
devidos ao zelo de um subordinado.
escreve a seu irmão sobre este assunto, não posso acusar um homem que,
segundo creio, tem servido bem e cujo erro é de julgamento e não de intenção;
e certamente devo acrescentar que, embora meus erros e dos demais, recaiam
sempre sobre mim, este não é modo segundo o qual um Exército e muito
".
menos o britânico, deve ser comandado
"Wellington")
(Fortescue —
55 — Um homem vulgar como êle (Luiz IV), sem visão, sem origina-
lidade, sem independência mental, não podia ter gênio nem tolera-lo quando
o encontrava em outros. Desejava diligência e exatidão e não gênio ou esta-
dismo; empregados, não Ministros de Estado e conseguio exatamente o que
desejava.
(Wakeman — História da Europa)
SÍNTESE DE COMANDO 663

Não era necessário fazer sinais a não ser para corrigir irregula-
56 —

na formatura, os Comandantes sabiam de antemão o que


ridades porque

tinham de fazer. ,
— "Nelson")
(Mahan

57 :— Nelson foi excepcional no que se refere aos extraordinários

empregados imprimir nos Almirantes e Capitães o espírito de


esforços para
desejava desenvolver. Apresentava-lhes seu plano geral de ope-
ofensiva que
e as modificações o tempo e os movimentos do inimigo podiam intro-
rações que

seus originais. Uma vez explicado seu tema aos Oficjiais


duzir em projetos
Superiores da Frota, confiava-lhes o cuidado de atuarem de
Generais ou

as circunstancias e colocarem-se na mais favoravel para a


acordo com posição

seu E Nelson, a se escolher seus compa-


execução de plano. quem permitia

o talento e a felicidade de encontrar homens mere-


nheiros de gloria, possuia

de sua confiança e instruções; aprenderam nos combates a suprir


cedores

escapava à sua com o conseguia sempre, um êxito que ultra-


o que previsão, que

passava suas próprias esperanças.

— "Nelson")
(James

A maior fé tenho cumprir com êxito as ordens de Sua


58 — que para

estriba-se na confiança deposito na experiência de meus Capitães


Magestade, que

e na segurança de suas resoluções.

(Almirante Vernon)

RESPONSABILIDADE

59 — A prova da coragem de um homem é a responsabilidade.

(Lord St. Vicent)

Si eu tivesse sido censurado todas as vezes que expuz ao perigo


60 —

ou uma esquadra sob meu comando, ha muito que teria deixado


um navio já

a Armada mas nunca para a Camara dos Pares.

(Nelson)

61 — £ dificil a mentalidade civil compreender o quanto é grande


para

feito moral da desobediência a um superior cuja ordem por um lado cobre


o

toda a responsabilidade e outro acarreta o mais sério dano pessoal e


por
desobedecida sem causa Não basta para o
profissional quando justificada.

suas intenções e convições sejam honestas; deve de-


subalterno que próprias
e não Deve demonstrar realmente
monstra-las justifica-las por palavras.

que agiu bem ao desobedecer em um caso particular.

— "Nelson")
{Mahan

62 — A luta com sir Richard Hughes, na Nelson tomou a atitude,


qual

e inconveniente um oficial, de desobedecer ordens, revelou clara-


odiosa para
não só a elevação e nobreza de suas intensões, como também o valor
mente
constituiam seu caracter e militar. Possuia a aguda
das qualidades que pessoal

intuição dò era correto, a rapidez agir e assumir toda a responssa-


que para
664 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

bilidade do que fazia e sobretudo um julgamento seguro acerca da melhor

maneira de proceder com as maiores probabilidades de êxito.


— "Nelson")
([Mahan

63 — Para um oficial longe de sua Patria é tão necessaria a coragem

civil ou política como a militar.

{Nelson)

64 — Quando o comandante Hardy, estacionado em Lagos Bay, recebeu

informações sobre a viagem de alguns galeões espanhoes escoltados 17


por
navios de guerra, chegados a Vigo abandonou seu posto comunicar tão
para
importante novidade a sir George Rooke, Comandante em Chefe no Mediter-

râneo. Em virtude desta informação o referido almirante obteve completo


êxito, tomando os galeões e destruindo inteiramente a esquadra inimiga. Ter-
minada a batalha e conseguida a vitória, o almirante chamou a bordo o coman-
"
dante Hardy e lhe disse com uma fisionomia fechada: O senhor prestou um

grande serviço trazendo honras e riquezas à Frota de Sua Magestade; sab<>


"
porém que está sujeito a ser fusilado por ter abandonado seu posto ? Hardy
"Não
respondeu: vale a pena conservar a vida no comando de um navio de

Sua Magestade quando a glória e o interesse da Patria exigem que se a


".
arrisque

chromcle — Vol. XXX)


(Naval

65 — Quando chegar o momento de tomar decisões, enfrente as respon-

sabilidades apezar de todos os sacrifícios. As decisões devem ser tomadas antes

que sejam impostas, assumindo-se as responsabilidades decorrentes, assegu-


rando a iniciativa e lançando a ofetisivah

Para isso se requer um homem que, profundamente imbuído do espírito

de ofensiva, deduza de tal anhelo a melhor maneira de realisar o mais formi-

davel dos direitos, de enfrentar com valentia todas as dificuldades e sacri-


ficios, de arriscar tudo, inclusive a honra, pois que um general vencido se
arruina para sempre.

(Marechal Foch)

O OFICIAL

66 — Não basta que um oficial de Marinha seja um bom navegador.

Deve se-lo, sem dúvida mas também muita coisa mais. Deve ser igualmente

um cavalheiro, de educação liberal, maneiras refinadas, de esmerada cortesia

e do mais exigente sentido da honra pessoal. Não só deve saber exprimir-se com

clareza e convicção em sua própria lingua, sob a forma oral ou escrita, como

também deve ser versado em outros idiomas. O oficial de Marinha deve

estar familiarisado com o Direito Internacional e com a administração da jus-


tiça, porque com êsses conhecimentos pode muitas vezes, estando longe de seu

país, ter necessidade de defender a honra do pavilhão ou a integridade do pessoal


em aguas estrangeiras. Deve mais, estar familiarisado com os costumes diplo-

máticos e ser capaz de manter nessa esféra, uma correspondência digna e

judiciosa. Porque a miúdo acontece que emergências repentinas em aguas


SÍNTESE DE COMANDO 665

estrangeiras, fazem com que êle se torne um representante tão diplomático

quanto militar e em tais casos deve agir sem oportunidade para consultar seus

superiores civis ou militares tão afastados. E tal actuação acarretar


pode
possibilidades de paz ou de guerra entre grandes potências. Essas são quali-
dades gerais e quanto mais depressa o oficial estiver na delas melhor
posse
poderá servir aos interesses de seu país, bem como ganhar fama e honras

para si proprio.

(Paul Joncs)

67 — Nenhum ato meritório de um subordinado deve escapar à atenção


do Comandante, nem deixado sem recompensa, mesmo seja apenas uma
que
méra palavra de aprovação. Inversamente não se deve desaperceber mesmo das
faltas simples de um inferior. Ao mesmo tempo deve saber diferençar o erro,
negligências ou disparates deliberados. Do modo deve ser imparcial em
que
suas recompensas e aprovações, deve ser e ter muito tino impôr
justo para
da malicia, a irreflexão, da incompetência, as faltas bem intencionadas, das

castigos ou observações por faltas e má conduta. Em suas relações com os


subordinados deve sempre conservar a atitude de um Comandante, o porém
que
não deve priva-lo de manter o interesse e a cordialidade necessarias e cultivar
uma sã alegria dentro dos corretos limites da disciplina.

(Paul Joncs)

68 — Todo o Comandante deve manter para com os seus subordinados


uma conduta tal que estes se mostrem anciosos em receber um convite para
sentarem-se a süa mesa e sua atitude para com êles deve inspirar-lhes o

animo de expressarem seus sentimentos com franqueza e apresentarem suas

perguntas sem reservas. Será vantajoso para o serviço, que exista cortezia
e cordialidade de sentimentos entre oficiais superiores e subalternos. Constitue
uma péssima política a de alguns superiores mantém com os seus
que para
"altura"
subordinados uma arrogante como se êles fossem de classe inferior.
Homens de espírito liberal, acostumados a mandar, não tolerar serem
podem
" "
considerados como zero outros que, devido à uma autoridade temporaria,
por
consideram tal cousa como inherente ao mando. Se tais homens recebem um

tratamento rude e impólido parte de seus superiores, isso criará odios e


por
resentimentos incompatíveis com o fervor entusiasta e espírito ambicioso que
devem caracterisar todo oficial, seja o Em uma
qualquer que pôsto. palavra,
todo Comandante deve ter sempre ser bem obedecido, deve
presente que para
ser antes de tudo, estimado.
perfeitamente

(Paul Joncs)

69 — O Comandante, não deve tratar unicamente com os oficiais


porém,
subordinados. Abaixo dêles, como base de tudo, encontra-se a guarnição.
Para a sua o Comandante deve
gente ser profeta, sacerdote e rei. Sua autoridade
no mar sendo necessariament absoluta, a convencida de
tripulação deve estar
que o Comandante, como soberano, não equivocar-se. Esta é a obrigação
pode
mais delicada de todos os comandantes. Não é regras
possivel estabelecer para
compreensão da natureza humana, segundo lugar circunstancias do
o e as
caso. Si um oficial falha nisto, não cruel.
pode remediar sendo severo ou
666 revista marítima brasileira

E assim, mesmo que empregue a fôrça para impor proibições ou castigos, tudo

o que pode, apenas conseguirá ter um navio de infelizes com caras tristes e

sombrias. A fôrça somente deve ser empregada, as vezes, para manter a

disciplina. Nessas ocasiões, a qualidade do Comandante será penosamente posta


a prova.

{Paul Jones)

70 — Quando um Comandante possue tato, paciência, justiça e firmeza

exercidas oportunamente, produz tal impressão sôbre aqueles sob suas ordens

que não é preciso mais do que ver surgir uma vela inimiga no horizonte para
estar seguro da vitória que o espera. Mesmo em casos supremos, justificáveis,
pode provar a dedicação de seus homens afundando o navio diante de inimigo

mais poderoso, com a certeza de que todos descerão ao túmulo do oceâno,

conservando no tope a brilhante bandeira da Patria.

(Paul Jones)

71 — Uma Armada deve necessariamente ser autocratica. Apezar da

justiça dos principios pelos quais lutamos, nunca serão êles inteiramente apli-

caveis a bordo dos navios, fóra do pôrto e em alto mar. Embora pareça um

contrassenso ou uma injustiça, é a mais simples das verdades. Apezar de que


os navios do Estado lutam na atual guerra civil pelos principios dos direitos
humanos e liberdade republicana, tais navios devem ser organisados e coman-

dados no mar,segundo um sistema de absoluto despotismo.

(Paul Jones)

72 — O oficial deve ser um cavalheiro. Por vezes êle tem as caracteris-


"
ticas e a qualidade de cavalheiro porque nasceu assim". Por vezes tal

educação se adquire. Existe uma


única que não pode ser adquirida fóra de
"
tempo: a que se obtém na mocidade. Durante quatorze anos estive diante de
vós como sargento — disse Kelly à sua tropa — agora me apresento
porém
"Tal
como um oficial e cavalheiro, por decreto do Parlamento... educação

está intimamente ligada à moral. Evidencia-se pela cortezia usual e pela urba-

nidade baseadas no respeito pelos direitos dos demais e por certo refinamento

de conduta. Um oficial deve possuir isso. O oficial é um cavalheiro, vivendo


".
entre cavalheiros

(Elbridge Colby)

73 — Não basta para um homem que exerce o mando, sentir-se satisfeito


consigo mesmo com a idéia de que seus atos são corretos. As razões do
Comandante para agir em certos casos, devem ser dadas a conhecer e expli-
cadas publicamente, afim de que surja claro que está agindo apenas em bem

do serviço, da gente que comanda... e por nenhum outro motivo. Alguns


oficiais consideram incompativeis com a dignidade do comando, êste dar expli-
cações ou motivos em determinadas circunstancias. Imaginam a adopção
que
de tais meios se assemelha, em parte, à política de'"cortejar" o favor popular
a um preço servil.

(Captain W. H. Glascock, R. N.)


SÍNTESE DE COMANDO 667

ESTADO MAIOR

74 — Uma ordem não é a expressão das idéias do Estado Maior mas

sim a vontade e decisão do Chefe.

(Castex)

75 — As de um bom oficial de Estado Maior podem ser


qualidades
» resumidas assim: muito, extcriorisar-se pouco. Ser mais do que
produzir

Parecer.

(Conde Schliefen)

76 — Pode-se comunicar à tropa toda a verdade ou apenas parte dela,

segundo as circunstancias, nunca se deve engana-la. Isto acabaria


porém
sendo funesto para o mando.

(Da Grande Guerra)

77 — Hoje o Chefe não poderia concentrar tudo em sua pessoa. O pro-

pflo gênio teria necessidade de auxiliares dotados de iniciativa. O exercício

do mando é demasiadamente complexo um único homem. Por isso é


para
imprescindível um Estado Maior.

(Marechal Foch)

78 — Napoleão não teve Chefe de Estado Maior; Berthier, na realidade,

era um simples Secretário. As operações de Ney e Lefebre em 1808 não

deixaram o Imperador satisfeito porque aqueles Chefes não tendo exercido

nunca sua iniciativa, quando operavam longe da presença de Napoleão, agiam

desconcertados. Faltou a Napoleão um Estado Maior para transmitir suas

ordens e dar unidade às operações.

(Barns)

79 — Para a formação dos Chefes é necessário repelir de modo absoluto

a idéia de toda a especialidade de carreira, porque limitar os oficiais durante

largos anos ao estudo de determinado ramo técnico, evita o desenvolvimento de

suas qualidades de mando por falta de ambiente. Impõe-se porém, a espe-

cialidade em tudo aquilo que não tem similares em tempo de paz. Por con-

seguinte, é muito dificil que o técnico possa ser um bom Comandante.

(Cor. Michels)

80 — Na Marinha é dar importancia adequada à opinião dos


preciso
oficiais especialistas e por êste motivo é conveniente que sejam incluídos em

toda a organização de Estado Maior e não meramente agregados como tem

sido o caso usual no Exército.

(Almirante Jellicoe)

81 — O caso na Marinha é diferente. O navio e tudo o que êle encerra,

constitue uma arma e é necessário um conhecimento intimo dos diferentes

fatores que concorrem fazer do navio uma arma eficiente se se quizer


para
emprega-lo de forma efetiva.

(Almirante Jellicoe)
668 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

82 — Um Estado Maior não deve ter pessoal em número menor ou maior


do que o estrictamente necessário. No primeiro caso o trabalho é excessivo e
deficiente; no segundo, o resultado é pernicioso. Quando ha oficiais em
número demasiado em um Estado Maior, eles nem sempre encontram o trabalho
necessário para suas condições físicas e mentais e por conseguinte, sua energia
desaproveitada os faz logo encontrar toda a espécie de inconvenientes.
(Von Schellendorf)
83 — A experiência indica que quando em um Estado Maior o pessoal é
excessivo, os ambiciosos logo começam a intrigar, os " discutidores" provo-
cam atritos gerais e os fátuos não estão nunca satisfeitos. Estas falhas tão
comuns à natureza humana, são em grande parte anuladas se aqueles à quem
concernem têm um trabalho duro e constante.
(Von Schellendorf)
84 — O mando não deve imiscuir-se nos detalhes da administração. Para
que seu labor seja eficiente, é preciso que divida o trabalho sob suas ordens
em dois grupos bem definidos: Operações (Estado Maior) e Administração.
Esta última deve ser subordinada às directrizes do primeiro.

(Almirante Staff)

Luis Andrade L. Cap. de Fragata

(Trad. da Revista de Marina, Chile, por A. R.)


A IGNIÇÃO NOS MOTORES

A EXPLOSÃO

IV e V)
(Lição

LIÇÃO IV

ASSUNTO:CONSTRUÇÃO DOS RUPTORES

Uma das maiores dificuldades no traçado dos sistemas de

ignição, se trata de motores de grande


principalmente quando

número de cilindros, alta compressão e alta rotação é a dispo-

sição a adotar a intensidade da corrente ao


para que primária

redor do núcleo seja suficiente a corrente induzida


para que

no secundário satisfaça aos requisitos exigidos alta veloci-


pela

dade dos motores atuais.

motivos impedem a saturação com-


Ha dois poderosos que

do núcleo da bobina, são: a fôrça contra-electromotriz


pleta que

e o efeito da inércia no martelete.

Fôrça contra-electromotriz

No momento em os contactos do circuito primário


que

fecham, da bateria começa a circular atravez do enro-


a corrente

lamento causando uma mudança de fluxo magnético


primário,

ou fazendo nascerem as linhas de fôrça no núcleo da bobina.

faz nascer uma corrente no


A variação do fluxo magnético
"fôrça
circuito com o nome de contra-
que se conhece
primário,

electromotriz" e se opõe à corrente da bateria.


que
670 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Esta corrente deve ser suplantada da bateria antes


pela que

o núcleo esteja suficientemente saturado uma


para produzir

forte centelha.

Para conseguir isto, deve-se meio de manter fe-


procurar

chado o circuito primário durante um intervalo de tempo sufi-

ciente. Já vimos na Lição III em baixa velocidade os


que

contactos fecham durante um tempo longo e a bobina fica com

o núcleo completamente saturado mas, à medida a rotação


que

cresce, o período de saturação diminue e a centelha fica mais

fraca.

Para compensar esta desvantagem, alguns fabricantes usam

um ruptor dotado de uma came tem uma face bas-


que plana

tante alongada. 4-n.° 2).


(Fig.

Êste tipo de came permite que os contactos do circuito pri-

mário fiquem fechados por um período mais longo, mas tem a

desvantagem de fazer com que a bobina absorva um excesso

de corrente em marcha lenta, com grande de centelhas


produção

nos contactos do primário.

Ha ainda uma outra objeção a fazer e que é a seguinte: as

arestas desta came são tão vivas, que o martelete recebe golpes

repentinos e violentos e sofre a influência da inércia, saltando

muito e dando, ao mesmo tempo um zumbido muito incomodo,

quando o motor vira a alta velocidade.

Carnes para motores de oito cilindros

A face de uma came octogonal é a metade da de uma came

quadrada e portanto, o período de fechamento do circuito pri-

mário é reduzido à metade.

Por êsse motivo, a ignição dos motores de 8 cilindros tem

sido um difícil. Foi essa dificuldade que levou alguns


problema

fabricantes a adotarem a came quadrada com dois marteletes,

como se vê na fig. 4, n.° 5.

Com êste tipo de came, o circuito primário é interrompido

oito vezes em cada rotação da came, mas o período de fecha-

mento é mais longo. A came triangular, que se vê na fig. 4,

n.° 6 é para um motor de 6 cilindros e substitue a de 6 pontas

pela mesma razão.


u /? 11 A
tt^SA A ^A
/ fi am ft?^\

\^J
\^y yjfy
yjfy
y^y

fig. ^V
A IGNIÇÃO NOS MOTORES A EXPLOSÃO 671

O fim de ambos os tipos é o tempo de fecha-


prolongar

mento do circuito e, conseqüência o de


primário por período

saturação do núcleo da bobina, sem aumentar o saltar do mar-

telete.

Saltos do martelete

O salto do martelete, o não nome ade-


para qual possuimos

em nossa lingua, é o efeito da inércia e pode ser explicado


quado

do seguinte modo:

o ressalto da carne bate no do martelete, êste abre


Quando

o circuito primário e tende a ficar nessa posição, desencostado

da came, em razão da inércia, atua sôbre êle. A mola que


que

o obriga a fechar, contrariando a ação da inércia, não o fazer


pode

instantaneamente, em virtude do valor adquirido pela própria

inércia, de sorte o ressalto do martelete volta a ter


que quando

contacto com a came, êle deu um verdadeiro salto e vai cair


em um fica além daquele em o deveria fazer,


ponto que que

atrazando assim, de uma fração de segundo o momento em que

deveria fechar.

As carnes com faces longas e vivas, como as de nú-


quinas

meros 1, 2 e 4, da fig. 4 o salto do martelete em alta


produzem

velocidade, diminuindo o tempo de contacto e causando um zum-

bido desagradável. A came do número 3, da fig. 4 foi traçada

evitar o salto e o zumbido. Com as faces arredondadas e


para

as arestas mais curvadas, o choque do martelete não é tão forte,

sendo mesmo a sua ação mais de escorregamento do de


que

choque, propriamente dito.

Êste tipo de carnes tem dado muito bons resultados em mo-

tores de 4 cilindros, mas nos de 8, as arredondadas são


quinas

tão curtas não um tempo de fechamento bastante


que permitem

longo para o circuito sendo, por conseqüência preju-


primário,

dicado o de saturação do núcleo da bobina.


período

dos de ruptor com came octogonal foi


Um primeiros tipos

o de n.° 4, da fig. 4, tem dois marteletes abrindo no mesmo


que

instante. Com esta disposição usar-se uma bobina que puxe


pode

mais e conseguir ao mesmo tempo um resultado con-


corrente

do arco voltaico no momento da


traditório, que é a diminuição
672 revista marítima brasileira

interrupção da corrente, ela é dividida dois marteletes,


pois pelos

que estão instalados em


paralelo.

A-pesar-de, em alta velocidade, os dois marteletes saltarem,

em razão do efeito da inércia, devido ao espaço das


pequeno
faces do ruptor, a resistência à da corrente com dois
passagem

marteletes é menor, visto a secção do condutor dobra.


que

Essa diminuição de resistência favorece a saturação do núcleo

da bobina, mesmo entrando-se em conta com todos os incon-

venientes.

Os números 5 e 6 da fig. 4 mostram um outro dispositivo

para motores de 6 e 8 cilindros, o consiste em se instala-


qual

rem no ruptor carnes com 3 e 4 ressaltos respectivamente e dois

marteletes.

Estes abrem e fecham alternadamente, de modo o nú-


que
mero de aberturas é igual ao dobro do número de nas
quinas

carnes.

"DEVE
Um martelete dêste tipo SEMPRE ABRIR AN-

TES QUE O OUTRO FECHE". Se os contactos esti-


porém
"FECHA
verem com a folga muito reduzida, um martelete

ANTES DÉ O OUTRO ABRIR", não havendo interrupção no

circuito primário e, por conseqüência: variação do campo magné-

tico. Se não estiverem bem regulados, abrindo e fechando sin-

crônicamente, o motor funciona com irregularidade, visto que


cada martelete controla um de cilindros.
grupo

Na construção, que vemos na fig. 4, números 5 e 6 os dois

marteletes estão ligados em paralelo e uma só bobina é usada.

Ha porém o sistema consiste em duas bobinas, cada


que

uma com seu martelete.

Os motores de 8 em V, com cilindros a 60° usam um dispo-

sitivo semelhante ao do número 5 da fig. 4.

Estes motores duas bobinas e dois condensadores.


possuem

Os marteletes não abrem em intervalos iguais mas sim a

60° e a 30", em vez de a 45°, como é o caso quando os cilindros

são a 90° ou quando são em linha.

O dispositivo da fig. 4, n.° 6 foi usado em motores de 12

cilindros em V, sendo necessário o eixo de comando virasse


que
A IGNIÇÃO NOS MOTORES A EXPLOSÃO 673

com a mesma velocidade do de manivelas, em vez da metade e

fossem usados dois distribuidores de alta tensão, sendo um


que

para cada grupo de seis cilindros.

LIÇÃO V

ASSUNTO: DIFERENTES TIPOS DE BOBINAS E

SUA CONSTRUÇÃO

A construção de uma bobina ou transformador, que possa

centelhas eficientes com velocidade do motor


produzir qualquer

tem sido um problema de dificil solução.

Ha diferença entre o transformador ignição e o


grande para

usado modificar a voltagem nos circuitos de luz e força.


para

Para o transformador seja realmente eficiente é pre-


que

ciso os enrolamentos sejam feitos ao redor de um circuito


que

magnético completamente fechado, isto é: não tenha espaço


que

interpolar.

A razão de ser usado êste tipo de transformador em


poder

circuitos de fôrça ou de luz é ser a freqüência constante, isto é:

não variarem as da corrente primária.


pulsações

O transformador de circuito magnético fechado não ser


pode

usado a ignição de motores êste tipo de transfor-


para porque

mador é de alta indução, o dizer alta fôrça contra-


que quer

electromotriz.

E' um certo tempo esta fôrça contra-electro-


preciso para que

motriz seja vencida, o significa êste tipo de transfor-


que que

mador não ser eficiente em um circuito de alta frequencia,


pode

como é o da ignição de um motor de automóvel.

Êle funcionaria em baixa velocidade, porque


perfeitamente

fechado durante um tempo bastante longo


o martelete ficaria

núcleo ficasse saturado, mas à medida a veloci-


para que o que

devido ao tempo de
dade aumentasse, não haveria saturação

fechamento do circuito ser excessivamente reduzido.


primário

Não haveria conseqüência centelha.


por
674 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em lições anteriores vimos tudo isto.


O transformador de circuito magnético fechado é mais efi-

ciente do o tem espaço interpolar, maior for


que que pois quanto
êsse espaço, mais fracas serão as linhas de fôrça.

E' entretanto pràticamente impossível usar-se um transfor-

mador de ignição com o circuito magnético completamente fecha-

do, pelos motivos expuzemos.


que já

Já houve entretanto tentativas de se construírem transfor-

madores de ignição com circuito magnético tão dos


próximo
outros quanto mas, o motor atingia uma certa
possível quando

velocidade, não havia mais centelha, em virtude do aumento do

valor da fôrça contra-electromotriz.

Entretanto, se por um lado o transformador de circuito

magnético fechado não dá centelhas em alta velocidade, por

outro, o transformador de circuito magnético aberto


produzirá

boas centelhas em alta velocidade, mas não em marcha lenta, em

virtude da sua fraca indução.

A solução consistiu em se um meio têrmo, isto é:


procurar

em construir bobinas não fossem do tipo de circuito fechado,


que

mas que também não fossem do tipo totalmente aberto.

Foi assim que surgiram vários tipos, alguns dos aqui


quais
vamos analizar. Por exemplo, na bobina representada fig. 1,
pela
as linhas de fôrça do núcleo da bobina a caixa
passam (8) para
metálica atravez dos espaços de ar nos extremos do núcleo.
(10),

O circuito magnético é entretanto de alta relutância, as


porque
linhas de fôrça são obrigadas a atravessar o ar, como se vê pelas
setas em cada extremo da bobina.

A bobina que se vê no número 2 da figura 5 é do tipo de

circuito magnético aberto, sendo a da das linhas


parte passagem

de fôrça, representada pela caixa metálica, substituída ar.


pelo

Logo se vê que tal bobina não pode produzir centelhas efi-

cientes, isto é: centelhas suficientemente quentes.

Na bobina representada número 3 da figura 5, não existe


pelo

um circuito magnético completamente fechado.

As linhas de fôrça só têm de atravessar um espaço inter-

polar de 1/8". Êste espaço de ar está dividido em duas partes,

a saber:

a é designada pelo número 15 e tem 1/16" e a se-


primeira

gunda pelo número 12 e tem o mesmo valor.


A IGNIÇÃ0 NOS MOTORES A EXPLOSÃO 675

A primeira fica entre o circuito magnético (9) e o núcleo da


bobina e a segunda entre o núcleo da bobina e o circuito magné-
tico (9) no outro extremo.
Conquanto esta bobina não seja de circuito magnético fecha-
do, produz centelhas bastante fortes em marcha lenta e também
em altas velocidades do motor.
A relutância no circuito magnético é muito reduzida neste
tipo de bobina, o que a torna mais eficiente do que as que já
vimos nos números 1 e 2.
A bobina, que se vê no número 4 da figura 5 tem um cir-
cuito magnético mais completo do que as de números 1, 2 e
3, o que significa maior indução, motivo por que, ela é mais
eficiente.
circuito magnético é de baixa relutância, havendo três
espaços de ar de 1/16" cada um, em (4), (5) e (6).
A-pesar-de ser a construção dessa bobina mais aproximada
da dos transformadores, a sua eficiência em alta freqüência é
satisfatória e, em alta velocidade produz centelhas mais quentes
do que as de números 1 e 2.
Esta bobina é a mais perfeita que se pode obter para a
ignição de motores e constitue por si só um verdadeiro aper-
feiçoamento.

Descrição dos diferentes tipos de bobinas de ignição

Figura 5 —¦ Número 1 —

Nesta figura, as diversas peças que compõem a bobifta são:

— Saída do fio de alta tensão da bobina para o centro do


distribuidor.
—3 — Terminais do circuito primário.
— Ponto em que o circuito primário é ligado ao secun-
dário.
— Enrolamento do circuito primário.
— Suporte da caixa da bobina para sua fixação à chapa
do carro.
— Isolador de porcelana na base da bobina.
— Núcleo da bobina.
676 TíEVISTA marítima brasileira

9 — Enrolamento do circuito secundário.

10 — Tubo de ferro constitue o circuito magnético de


que

retorno.

11 — Extremidade interna do fio do secundário.

12 — Massa isoladora, chatterton.


geralmente

13 — Ligação eléctrica do terminal ao núcleo da bo-


(1)
bina (8).

14 — Ponta de bakelite.

Êste é o tipo de bobina excelência, fabricado


popular por por

quasi todas as casas do ramo.

O seu baixo custo de produção e o conseqüente redu-


preço
zido no mercado, deram-lhe a de
popularidade que goza.

A parte mais cara é o enrolamento do secundário, devido

ao grande número de espiras de arame muito fino.

Como, entretanto o enrolamento do secundário é praticado

junto ao núcleo, o seu diâmetro é muito menor do se


que
fosse praticado fora do enrolamento do como no'
por primário,
número 2.

Assim sendo, o enrolamento do secundário dêste tipo de

bobina é menos dispendioso em fio, em vista de ser menor o seu

diâmetro.

O enrolamento do circuito é feito fora do secun-


primário por

dário e, em razão de ser o seu diâmetro, exige um maior


grande

comprimento de fio, se tenha o número necessário de


para que

espiras.

Êste comprimento de fio representa uma resistência maior,

cêrca de duas vezes a do número se vê no número 2


(9), que
da figura 5.

Sendo o primário enrolado por fora do secundário, não ha

necessidade de se usar uma resistência, visto o comprimento


que
do fio do é, si só, bastante desempenhar
primário já por para
êsse papel.

O núcleo dêste tipo de bobina é isolado da massa base


pela

de porcelana (7) e pela ponta de bakelite (14).

O extremo do fio do secundário em seu início é ligado ao

primário em (4) e o outro vai ter ao (1), cfufe^é a saída


ponto

da corrente de alta tensão o centro do distribuidor.


para
a

~|
~i
<-—igC
<-—jgc N
N 0. ;
*

0
'
^

|
A IGNIÇÃO NOS MOTORES A EXPLOSÃO 67 7

Neste tipo de bobina não ha necessidade de isolamento da

caixa, visto que a derivação do secundário é tirada duma das

pontas do primário, fica fora dele.


que por

A caixa externa é de folha de ferro, o a torna barata.


que

enrolamento do circuito está longe do núcleo


primário

da bobina, o faz com o efeito magnético seja mais fraco


que que

do que seria se o enrolamento fosse diretamente sôbre


praticado

o núcleo.

Figura 5 — Número 2.

As diferentes de se compõe a bobina mostrada


partes que

no número 2 são:

— Terminal do circuito secundário.

— 4 — Terminais do circuito
primário.
— Reostato.

— Condensador.

— Isolador entre o condensador e o circuito primário.


— Ligação do condutor do condensador à massa.

— Base da bobina.

— Enrolamento do circuito
primário.
10 — Enrolamento do circuito secundário.

11 — Núcleo da bobina.

12 — Massa isoladora.

13 —' Parafuso de apêrto do conjunto.

Êste tipo de bobina não é muito usado não só não ser


por

de grande eficiência, como também não ser barata a sua


por

construção.

Ao instalar-se uma bobina deste tipo, o terminal deve


(2)

sempre ser ligado à bateria, a bobina tem um conden-


porque
sador incorporado na sua construção. O terminal deve ser
(4)

ligado à massa, assim fica o condensador ligado em


pois paralelo.

A base da bobina deve ser ligada à massa, por ela


para que

a corrente vem do condensador o fecha-


possa passar que para

mento do circuito.
678 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Uma bobina deste tipo deve sempre ficar bem do


junto
ruptor porque se não estiver o condensador fica muito longe e o

funcionamento não ser satisfatório.


pode

O reostato (3) é ligado na externa do circuito


parte primário
e, como vimos anteriormente, serve êsse enro-
já para proteger
lamento, impedindo-o de excesso de corrente da bateria
puxar e

superaquecer.

Figura 5 — Número 3.

A bobina que se vê nesta figura consta das seguintes


partes:

— Terminal do circuito secundario.

— Caixa de bakelite.

— Tampa de bakelite.

— Reostato.

— Terminal do circuito primario.

— Fio de ligagao entre o circuito secundario e ter¬


(8) o

minal (1).

— Terminal do circuito
primario.
— Enrolamento do circuito secundario.

— Armadura laminada do circuito magnetico.

10 — Massa isoladora.

11 — Extremo do fio do circuito


primario.
12 — 15 — Espagos de ar no circuito magnetico.

13 — Enrolamento do circuito
primario.
14 — Extremo do fio do enrolamento do circuito primario.

Esta bobina e altamente eficiente, em razao de sua indugao.

As suas ligações ao circuito são as seguintes:

(5) liga-se à bateria; ao centro do distribuidor


(1) de alta

tensão e ao ruptor.
(7)

E' preciso se use um condensador em conexão com êste


que

tipo de bobina, visto se trata de um tipo não é comu-


que que
mente usado.

Se no distribuidor existir um condensador, êsse ser


já pode
usado, mas se não existir, instala-se um em em com
(7), paralelo
o circuito como sempre se faz.
primário,
A IGNIÇÃO NOS MOTORES A EXPLOSÃO 679

Às vezes não ha certeza se o condensador, está no dis-


que

tribuidor dá bom resultado, ou a bobina traz o seu próprio con-

densador devidamente calculado ela, de sorte que é


já para

preciso que se retire o antigo.

Liga-se então o novo em em mas desliga-se o


paralelo (7)

antigo, retirando-se do lugar, uma


quer quer passando-se-lhe

ponte, que faz passar diretamente a corrente do primário.

O circuito secundário está ligado ao em e o


primário (14)

outro extremo está em se liga fio (6).


(1), que pelo

O circuito magnético está indicado setas.


pelas

reostato é destinado a, de algum modo regular a cor-


(4)

rente que passa da bobina o circuitto como já


para primário,

tivemos ocasião de ver na Lição II, mudança da resistência


pela

com a temperatura.

"válvula"
Podemos dizer esta resistência é uma de ele-
que

ctricidade, ela controla a de corrente passa,


pois quantidade que

do mesmo modo as válvulas regulam vapor, água ou


que gás,

de acordo com a velocidade do motor e atende a todas as neces-

sidades se derivam da variação de velocidade.


que

Essa resistência, neste tipo de bobina é calculada desem-


para

penhar função reguladora, com o fim de uniformizar a tempera-

tura da centelha em todas as marchas e estabilizar o consumo

de corrente da bateria.

Ela não se destina tão somente a o enrolamento


proteger

do circuito primário contra o superaquecimento, como a da bobina

do número 2; seu propósito é muito mais complexo e eficiente.

Figura 5 — Número 4.

As diversas desta bobina são as seguintes:


partes

— 16 — Terminais do secundário.

— Terminal do primário.

— Armadura laminada do circuito magnético.

— 5 — 6 — Intervalos ou espaços de ar interpolares.

7 — 15 — Enrolamentos secundários, sendo seccionado,


(7)

para mostrar como são dispostos.


680 revista marítima brasileira

— Circuito primário, em parte seccionado para o mesmo

fim.

— Isolador entre os circuitos e secundário.


primário

10 — Tubo ao redor do núcleo.

11 — Suporte montagem no carro.


para

12 — Terminal do
primário.

13 — Ponta do enrolamento do circuito primário.

14 — Reostato.

"re-
Esta bobina foi imaginada, traçada e construída para
sultados" — não competir
para em preços. O seu tipo a aproxima

dos transformadores, mas a de centelhas em alta fre-


produção
"em
quência qualquer velocidade", a torna ideal o trabalho
para
de ignição em tipo de motor.
qualquer

Como vimos, ela tem dois enrolamentos de circuito secun-

dário em série, o encarece sobremaneira a construção^


que

Êste tipo de bobina permite que os espaços entre de


pontas

velas possam ser aumentados com vantagem o


grande para

motor, que não rateia, nem em alta nem em baixa velocidade.

Outra vantagem é a maior facilidade de ajustagem do car-

burador, que esta bobina devido a os espaços


proporciona, que

de ar são maiores, sendo a combustão mais fácil.

Como os espaços de ar nas velas são maiores, é possivel

adiantar-se a centelha um pouco acima do normal, com reais

vantagens para certos tipos de motores.

Quanto ao circuito primário, o ponto deve ser ligado à


(2)

bateria, ao passo que o (12) deve ser ligado ao ruptor.

As ligações do circuito primário são as mesmas as da


que
bobina do número 3, e o condensador deve ser ligado em para-
leio ao ponto (12).

O terminal é ligado ao contacto central do distribuidor


(1)

de alta tensão, ao o terminal deve ser ligado à


passo que (16)

massa, para completar o circuito.

O reostato (14) tem as mesmas características do da bobina

do número 3 e desempenha o mesmo papel.

(Continua)

A. Viana Sá

Cap. Tenente (Q-M)


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS
CAMPANHAS PASSADAS

Saído da admirável escola de Jervis, vamos encontrar em 1798


tim Almirante do "azul" (tendo pavilhão azul, por ordem das auto-
ridades navais) que continuava a brilhar — Nelson; no entanto,
entre a batalha do Cabo São Vicente e aquele ano, que para êle seria
glorioso, havia acontecido o desastre de Santa Cruz (Teneriffe, nas
Canárias) que lhe custara o braço direito e muitos meses de intenso
sofrimento físico e moral.
Note-se que já por essa época Nelson não mais possuía o olho
direito, que perdera no cerco de Calvi, no ano 1794, quando no
"Agamemnon".
comando do
Napoleão chegara ao Egito (Alexandria) em Io de Julho 1798,
com uma frota e um comboio totalizando cerca de 400 velas; o com-
boio transportara uma força expedicionária de 33.000 homens. O
comboio fora escoltado por 15 naus-de-linha e 13 fragatas, sob o
comando de Brueys.
Napoleão realizara assim uma operação altamente arriscada e
temerária, que tal fora o transporte além-mares de uma importante
"domí-
Força Expedicionária sem haver previamente conseguido o
"domínio"
nio do mar", e, pelo contrário, sabendo que esse pertencia
ao inimigo!
"a
É bem conhecida a sua expressão: — guerra não pode ser
feita sem correr riscos". Contudo, ha riscos que não podem ser
corridos ...
682 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

E um desses, como a História nô-lo prova concludentemente


(sem fazer excepção para o caso de Bonaparte ...), é o de avançar
uma grande força sem a segurança das "linhas de comunicações".
Napoleão, um grande leitor da História, conhecia de sobra as
vicissitudes de Hannibal; sabia, portanto, que o desastre final da
campanha Cartaginesa fora devido ao corte das "linhas de comu-
nicações", e conseqüência direta do "domínio marítimo" exercido
pelos Romanos.
Malgrado, atirou-se ao Egito, numa formidável aventura !...
E a História inexorável — "se repetiu"; a campanha do Egito
teve funestas conseqüências ...
Na manhã de Io de Agosto 1798 Nelson, após prolongados cru-
zeiros, depara com a frota de Brueys no porto de Aboukir; nesse
mesmo dia, à noitinha, já a frota francesa estava destruída!
A-pesar-de se tratar de um porto aberto, e das ordens positivas
de Napoleão para que a Esquadra fundeasse ou em Alexandria (se
houvesse fundo bastante) ou em Corfti, Brueys persistiu em ficar
indolentemente em Aboukir, desde 8 de Julho até Io de Agosto. Pagou
cara a sua desídia — com a morte e, :o que foi muito pior, com
a destruição da sua Esquadra!!

Note-se que aquele Almirante, por determinação expressa de


Napoleão, havia feito sondagens no porto de Alexandria e havia
chegado à conclusão de que as suas naus-de-linha poderiam lá fun-
dear. Tendo ficado num porto aberto, e na iminência de ser a sua
Esquadra atacada de um momento para outro, aquele péssimo Almi-
rante não tomou siquer medidas e disposições que a elementar apli-
cação do "princípio" da Segurança impunha como imprescindíveis!
Se êle fosse um estudioso da História Naval, por oerto se teria
recordado do modo pelo qual o Almirante Hood, em 1782, quando
fundeado numa enseada da Ilha Saint Kitt, dispuzera a sua Esqua-
dra. Saberia assim que, em se tratando de navios a vela e dadas as
condições dos armamentos de então, duas precauções primordiais
deveriam ser tomadas para a relativa segurança de uma frota fun-
deada: — a) não permitir que os flancos (vanguarda ou retaguarda)
"navios
pudessem ser contornados; e b) não permitir que a coluna de
fundeados" pudesse ser rompida ou atravessada. Lord Hood tomou
efetivamente tais providências, em 1782, e mais ainda, curvou a
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 683

de sotavento da sua coluna em ângulo reto, com o fim


extremidade

de ficar em condições, com os 8 navios da cauda, de sujeitar a Esqua-

"enfiada".
dra atacante ao fogo de

Brueys de fundear o Io navio, o de barla-


Mas não só deixou

vento, bem de terra de area), como consentiu os


perto (banco que

navios fundeassem a intervalos uns dos outros. Se o Almi-


grandes

rante Francês não era um cultor da História e não lia as campanhas

Nelson contudo diferentemente, e era mesmo


passadas, procedia

conhecido zelo com estudava os táticos registrados


pelo que feitos

nos anais históricos. Talvez inspirado, conseguinte, o exemplo


por

de Hood, resolveu atacar a vanguarda e o centro da Esquadra

Francesa, e dessa decisão deu conta à sua Esquadra, sinal, acres-


por
"o
centando — ataque se faria de acordo com o plano já
que:

elaborado".

Temos aí Nelson usando l11 vez, como Comandante em


pela

Chefe, o sistema lão Napoleão de elaborar com


preconizado por

antecedência não só os de operações como os


planos (estratégicos)

planos de batalha.

É célebre a frase de Napoleão — à la rien ne


que: guerre

réussit conséquence d'un bien combiné", à qual ja


qu'en plan

aludimos.

Eis como teve inicio o ataque de 13 navios ingleses a 13 navios

franceses, em Aboukir:

Os ingleses aproximaram-se barlavento dos franceses, com


por

vento e rumaram o navio testa da vanguarda inimiga.


pela pôpa, para
"praticar" "Zealous",
Para a coluna inglesa Nelson destacou o visto

como a região era mal conhecida e havia de encalhes; contudo


perigo
"Goliath",
o navio testa Inglês era o sob o comando de Foley, que
"Zealous" "aberto"
navegava mais avançado do que o porém para

o mar.

Ao ser atingido o navio-testa da coluna Francesa, Foley teve a

idéia de entre aquele navio-testa e o banco de area, indo


genial passar
"por da
assim atacar os Franceses dentro" lado de terra)
(do

formatura em haviam fundeado na enseada!


("coluna") que

outros navios fizeram o mesmo, inclusive o navio-pilôto


Quatro
"Zealous". navio da
Decorrido algum tempo, chegou a vez do 6o

— "Vanguard" —, atingir o
coluna Inglesa o com Nelson a bordo,

comêço da vanguarda Francesa. O fez então Nelson?


que
684 beyista marítima brasileira

— Com seu acurado senso tático, não seguiu nas águas dos 5

navios o haviam guinou para fora e colocou assim os


que precedido:

Franceses entre 2 fogos! Trinta minutos depois de disparado o Io

canhão, 5 navios Franceses estavam sob o cerrado ataque de 8 navios

Ingleses; dos 5 navios Franceses 3 lutavam, cada qual, contra 2 In-


"Conquérant", "Spartiate", "Aquilon".
e eram: — o o e o
gleses,

Mais tarde, noite fechada, outra concentração foi operada no

centro Francês, e em o Capitânea do Almirante Brueys era


pouco

de violento incêndio; já por essa ocasião aquele Almirante


presa

havia sido morto.

Assim, a fase decisiva da batalha viu o ataque de 13 navios

Ingleses a 8 Franceses, o que já constituiu excelente aplicação do


"princípio"
da Superioridade no ponto decisivo (no caso, a van-

e o centro da formatura Francesa). Por outro lado, nunca


guarda
"princípios"
foram tão magistralmente aplicados os fundamentais

da Surpresa, da Ofensiva e do Movimento! Do lado Francês os erros

se acumularam incrivelmente, e culminaram na inépcia de Villeneuve,

Comandante da retaguarda Francesa, que não teve a iniciativa de


"suspender
ferro" e partir em socorro da vanguarda e do centro...

Não é de admirar que mais tarde, em Trafalgar, toda a


portanto

ascendência moral pertencesse a Nelson, pois que comandava a Es-

Franco-Espanhola aquele mesmo Villeneuve que tão deplorá-


quadra

velmente se comportara em Aboukir ...

Das 13 náus-de-linha Francesas tomaram parte na batalha


que

de Aboukir nada menos de 11, o que mostra quão


perderam-se

completa foi a vitória Inglesa !! Contudo Nelson não ficou satisfeito

e declarou se não tivesse sido ferido provávelmente nenhum


que

navio francês teria podido escapar.

Muito se tem discutido sobre a deve caber a da


quem glória

manobra de concentração operada em Aboukir. A questão parece


"para
ociosa, se de fato Foley, com a sua guinada dentro" da
pois

Esquadra Francesa ancorada, mais tarde outros navios


permitiu que
"para
Ingleses fora" e metessem assim os Franceses entre
guinassem

dois fogos, todavia foi Nelson, no 6o navio da coluna, quem efetiva-


"para
mente fora" com o deliberado de realizar
guinou propósito

aquela concentração. Foley o mostrou foi iniciativa, senso


que

tático, coragem moral; e se exercer essa iniciativa foi porque


pôde

não estava manietado instruções desnecessariamente detalhadas.


por
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 685

Pelo contrário, só havia recebido de Nelson instruções de caráter

"geral"; a cumprir
ainda mais, êle estava autorizado
plenamente

tais instruções de acordo com o seu critério e com as circunstâncias

de ocasião, levando em conta o desenrolar dos acontecimentos e

"exames"
os das situações que se apresentassem.

lição é importante, e tem tanto valor nos dias de hoje como


Essa

nos derradeiros anos do século dezoito. É imprescindível aos


permitir
"iniciativa"; é
subordinados o exercício da mas, outro lado,
por
"doutrinados',
também indispensável que se tenha subordinados pois

só assim aquele exercício da iniciativa será e útil.


produtivo

A ausência de sinais, nessa batalha, é característica. Mostra

"doutrinamento" os
como havia na Esquadra Inglesa; mostra como

Comandantes de navios estavam imbuídos das idéias


perfeitamente

e do Comandante em Chefe, como comumgavam todos


propositos

mesmas creanças, como — em matéria de


nas os seus pensamentos
— "padronizados" nos
tática naval eram e se enquadravam todos

mesmos moldes.

Só assim ter sido conduzida, sem atropelos, uma batalha


poderia

noturna, cujos resultados repercutiram tão intensamente na Historia.

A vitória Inglesa, importando no corte das comunicações do

Exército de Bonaparte, não deixar de trazer como consequên-


podia

cia direta o fracasso da Expedição do Egito. Nem mesmo um Chefe

fértil em recursos e em iniciativas, conseguiu desviar o curso


genial,
"linhas
inexorável dos acontecimentos sóem à perda das
que proceder

de comunicações".

"siniile" de
Aboukir, na Campanha do Egito, foi o perfeito

Aegates nas Guerras Púnicas; e Napoleão e Hannibal foram ambos

"em comu-
mal sucedidos terra" tiveram cortadas as suas
porque
"marítimas"
nicações com a mãe-Pátria.

menor a influência decisiva das


Nos tempos hodiernos não é
"linhas uma
de comunicações". Na atual campanha Italo-Abíssinica,

traria infalívelmente a deba-


derrota naval italiana no Mediterrâneo

da África; a verdadeira chave dessa


cie das tropas expedicionárias
"linhas .
campanha está no control das marítimas de comunicações

só se fazem com
Conquistas além-mares, de caráter permanente,
"poder certeza de
a sanção do naval", com a prévia poder
prévia
linhas são de impor-
manter livres as linhas de comunicações; que
686 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

tância vital, alimentam, que alentam, que sustentam (material e


que

moralmente) exércitos e expedições invasoras. Mas não c apenas


"linhas
as marítimas de comunicações" constituem as únicas
quando
"poder
ligações entre a Nação e seus exércitos longínquos, o
que

naval" representa fator decisivo...

Mesmo nas campanhas propriamente continentais, entre povos

limítrofes, o bramir das vagas encontra eco; e o troar dos canhões

navais nelas repercute de modo incisivo: — ou c omo um mesto

dobre a finados caso da derrota no mar), ou como foguetões


(no

alviçareiros caso de vitória naval sobre o inimigo) ! A razão é


(no
"poder
o exercício do naval" redunda no corte de comunicações
que

com o mundo exterior, na paralízação do comércio e das transações

de toda a sorte, na cessação d0 intercâmbio na


geral, profunda per-

turbação de toda a vida econômica, na alienação das Colônias distan-

tes, na impossibilidade de obter alhures recursos de qualquer espécie

—- matérias e monetários —, na contingência de sujeição


pessoais,

ao vexatório bloqueio litorâneo, e no formidável golpe moral que

sofre todo o constata a do mar para as suas atividades


povo que perda

e empreendimentos ...

Sob êsse aspecto mais geral, Aboukir não é comparável apenas

à batalha naval que decidiu da sorte de Hannibal; é comparável

também às batalhas que têm, no mar, estampado o estigma da derrota

em várias campanhas terrestres. Aboukir sob êsse aspecto foi, para

a campanha do Egito, o que Trafalgar, 7 anos depois, representou

para a campanha Napoleônica no Continente Europeu.

Vemos portanto que, por via de regra, campanhas terrestres

são decididas no mar, o que à Ia vista pode parecer uma asserção

paradoxal!

Em outras — campanhas terrestres têm os seus desfe-


palavras:

chos estreitamente relacionados aos resultados da luta marítima.

Não admira; não fosse enfática, tranchante, nítida e a


positiva,
"poder
influência o naval" exerce sobre a Historia !..
que

Ao saber do desastre de Aboukir, e ante o desânimo manifes-

tado suas tropas, Napoleão declarou, com sua indomável energia


pelas
"Vêmo-nos
e sua cerebração fértil em expedientes: — agora na

obrigação de realizar cousas! Mares dominados pelo inimigo


grandes
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 687

nós e a África e ^sia não existem


nos separam da Pátria; mas entre

mares. Ali fundaremos um Império!"


"domínio
Hélas! A falta do marítimo" tremendamente
pesou

como fator moral, ainda mais do como fator material.


que

O desastre de Aboukir encontrou eco entre Mamelucos, na Síria,

no Alto-Egito, na dias após a batalha naval o


e Turquia; onze (11)

Sultão da Turquia declarava à República Francesa, e aqueles


guerra

outros retomavam também armas contra as forças invasoras


povos

de Bonaparte.

Por outro lado a situação na Índia se tornava hostil aos Fran-

ceses e na Europa os exércitos Austro-Russos, ameaçadores, chega-

vam até às fronteiras de França ...

Nelson, cônscio da repercussão teria a vito-


grande política que

ria do Nilo, logo disseminar mundo a atíspiciósa


procurou pelo

notícia, o não era fácil naquela época; Londres só tomar


que pôde

conhecimento da batalha depois de decorridos 2 meses.

E foi assim a águia Corsa teve de se submeter à evidência


que

dos fatos e de se confessar vencida!

Acre, de 62 longos dias, o avanço do


O cerco de que paralizou

Exército Francês na Síria, à caminho da Turquia, cerco foi tor-


que

nado auxílio naval Ingleses, termo


possível pelo prestado pelos poz

às veleidades da Napoleão.

O confessou, no seu degredo de Santa Helena,


grande guerreiro
"se ter
— Saint Jean d Acre tivesse sido capturado, eu
que: poderia

atingido Constantinopla e a índia e mudado o aspecto do mundo!"

Mas o Comandante Sidney Smith impediu tal captura, operando


"Theseus",
eficientemente com dois navios apenas, o de 74 canhões,

"Trigre",
e o de 80...

A Napoleão sempre em alto a ignorância que


prejudicou grau

os soldados revelam, via de regra, às coisas do mar, quanto


por quanto

aos fundamentais e às influências decisivas da guerra


princípios

naval!

Um ano depois de Aboukir, em 22 de Agosto 1779, Napoleão

embarcava Alexandria, e um de fortuna


secretamente em por golpe

conseguia voltar à França, iludindo os navios ingleses que patru-

no Egito, sob as
lhavam o Mediterrâneo. O Exército Francês,

licença de reembarcar a França


ordens do General Kleber, teve para

24 de 1800 entre ingle-


em virtude de um acordo firmado em Janeiro
688 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ses, franceses e turcos; contudo esse acordo caducou, e só em Se-


tembro 1801 as tropas francesas deixaram o Egito, a evacuação tendo
sido permitida pela Inglaterra por força de um 2° Tratado, isso muito
posteriormente ao assassinato de Kleber.
Quanto a Nelson, pouco depois de Aboukir seguia para Nápoles,
onde esteve estacionado até Julho de 1800, quando partiu para a
Inglaterra em companhia do casal Hamilton. Foi durante esse estágio
na Corte de Nápoles que a sua reputação ficou algo mareada, como
conseqüência de uma notória ligação escandalosa com Lady
Hamilton.
Em 2 de Abril 1801 tratava Nelson a batalha de Copenhagen,
célebre pelo sinal de Parker que êle não conseguiu ver, malgrado
ter aplicado ao olho direito (que era vasado...) o seu óculo de
alcance...
A partir de 1802 vamo-la encontrar no famoso bloqueio de
Toulon.
Nos anos seguintes, de 1803 a 1805, Napoleão, já Imperador,
tentava dar vida e realização ao seu grandioso plano de invasão da
Inglaterra, plano que importava na adopção da "estratégia naval"
já por nós comentada. A Marinha, contudo, e mais uma vez — falhou
à França!
Mais uma vez o "poder naval" ditou Capítulos importantes da
História, e nesses Capítulos figuraram os bloqueios de Brest, Toulon,
Rochefort e Cadiz; a tentativa de concentração naval Francesa nas
Antilhas; a perseguição da Esquadra de Villeneuve por Nelson; e,
finalmente, a batalha naval de Trafalgar.
Dos bloqueios aludidos devemos tirar a lição do quanto valem
a pertinácia do Comando em Chefe e as qualidades marinheiras das
guarnições e dos navios. A tenacidade com que a Esquadra de Brest
foi bloqueada por Cornwallis constituiu fator destacado no insucesso
da bela concepção estratégica de Napoleão. O de Toulon, pela
Esquadra de Nelson, foi não menos preseverante, embora o mau
tempo houvesse permitido a fuga de Villeneuve. Nos nossos dias,
bem assim futuramente, os bloqueios cerrados não mais serão possí-
veis; mas bloqueios "à distância" terão sempre emprego, que poderá
ser extremamente eficaz, e exigirão — como nos tempos de Jervis e
de Nelson — persistência, resolução firme e determinação tenaz,
assim como bons navios, guarnições "marinheiras" e eficentes logís-
tica. Convém não olvidar, em considerando bloqueios, o "princípio
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANIIAS PASSADAS 689

do objetivo. O bloqueio de Toulon, mencionado, não falhou somente

pelo fato de haver Villeneuve conseguido sair do porto; e sim porque

êle não pôde ser batido na ocasião da saída. O bloqueio falhou,

em verdade, porque só foi bater Villeneuve mais tarde, em


possível

época e local imprevistos; contudo, a Missão de Nelson foi cum-

prida ...
"Destruir
a frota de Villeneuve" era a Missão da
precisamente
Esquadra de Nelson, e essa Missão êle a cumpriu mau o
grado

rompimento do bloqueio, operado franceses.


pelos

Em outras palavras, Nelson não bloqueiou Toulon evitar


para

que a frota francesa saísse do e sim ter a oportunidade


pôrto; para

de dar combate a essa frota êla se dispuzesse fosse


quando (ou

forçada pelas circunstâncias) a o mar. Tanto isso era exato,


ganhar
e tão clara era a compreensão Nelson tinha da sua Missão,
que que
"sua
êle denominava a frota de Toulon: — frota"; e foi à espera
"sua
de uma oportunidade de destruir essa frota" em combate que

êle permaneceu 2 anos ao largo de Toulon. Foi também a compreen-

são exata da sua Missão aliás implica na observância do


(o que
"princípio"
do Objetivo) o levou a soltar rumo as Antilhas,
que para

sem hesitação, logo soube, em Gibraltar, após febris


que pesquisas,

que a frota de Villeneuve lá


para partira.

Já dissemos que essa decisão constitue um dos mais


pronta

belos e característicos de Nelson, talvez aquele melhor


gestos que
"princípio"
representa a correta aplicação do do Objetivo; bem
"iniciativa" "assumir
assim do exercício da e da coragem de respon-

sabilidades".

É conhecido o resultado da caça empreendida Nelson.


por

Bem assim o trajeto de Villeneuve, após a sua reunião com o

Almirante Gravina em Cadiz; o cruzeiro do esquadrão de Rochefort,

sob o comando de Missiessy; o encontro de Villeneuve com Calder,

perto do Cabo Finisterra, no regresso das Antilhas, e no 20


qual

navios franceses foram batidos 15 ingleses; a chegada de Ville-


por
neuve a Vigo e depois a La Coruna, onde recebeu ordens de Napoleão

para velejar Brest e assim a Esquadra de Gan-


para permitir que

teaume romper o bloqueio; e finalmente a entrada de Ville-


pudesse

neuve em Cadiz, em flagrante desobediência às ordens do Imperador.

Dois meses depois da defecção de Villeneuve e da sua entrada

no de Cadiz atingimos a histórica data de 21 de Outubro 1805,


pôrto

marca a batalha de Trafalgar. Nela vamos ver ainda o triunfo


que
690 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dos ensinamentos históricos, e verificar mais uma vez a correta


que
"princípios
aplicação dos básicos" leva sempre aos resultados

almejados.

Nela vamos constatar mais um emprego, sistematicamente feito


"princípio"
por Nelson, do da Superioridade de Forças no combate
"relativa"
naval: superioridade que, como temos frisado, é e não
"absoluta", "superioridade
e significa: — de forças no deci-
ponto

sivo da ação".
"sistemática"
Pode-se dizer, com efeito, que a aplicação dêsse
"princípio"
se deve a Nelson; e esta aplicação se tornou
que possível

devido, de um lado, ao profundo senso tático daquele consumado

marinheiro, e de outro, ao precioso legado que êle recebera das mãos

hábeis enérgicas de Lord legado fôra: — forças navais


e Jervis, que

eficientes, treinadas e disciplinadas.

Nelson abandonou as normas clássicas presidiam habitual-


que

mente ps combates anteriores, substituindo-as pela concepção exata

do combate aniquilador, decisivo e rápido, a ser pautado pelo


"superioridade
emprego judicioso da de forças" no ponto decisivo.

Com a sua nova tática êle não mais se deixava regras-


prender pelas

de luta — luta morosa, inteligente — e sim concentrava


padrão pouco

forças sobre determinadas fracções da formatura inimiga, parla

derrotá-la antes o todo socorrer a ameaçada. Ao


que pudesse parte
"princípio" "princí-
da Superioridade êle aliava, contudo, os demais

pios" fundamentais da guerra no mar, notadamente os do Objetivo,

Ofensiva e Movimento. No seu célebre Memorandum, nas vésperas

da batalha de Trafalgar, foram condensados certos princípios e dire-


"mutatis - mutandi"
tivas para combates navais que são, ainda

passíveis de aplicação tios tempos hodiernos, na sua essência, no seu

substrato. Trafalgar foi por certo um marco conspícuo na evolução

da Tática Naval. Ao combate primitivo, igualmente distribuído,


"massa",
metódicamente monótono, Nelson opôs o emprêgo da das
"forças
concentradas"; e a ação material de tais agentes teve um

outro reflexo de alta importância, que foi implicar num ao


golpe
"moral" "mate-
do adversário. A tática Nelsoniana não só destruía

rialmente", como operava prodígios na elevada esfera espiritual,


"moral"
abatendo o do inimigo e suprimindo-lhe o ânimo bélico e a
"vontade
de vencer".

"concentração",
O Memorandum consolidou a tática da ou o
"massas"
emprêgo das na batalha naval; sem descermos à sua
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 691

rr i:

análise, faremos contudo um resumo dos seus ensi-


principais

namentos.

a) — Necessidade, numa Esquadra numerosa, de certas Forças,

separadas do Corpo de Batalha, atendam a serviços especiais


que
"bons-veleiros",
durante a batalha. A Divisão avançada, de 8 navios

na disposição o Memorandum ser tida como


que preconizava, pode

a origem, o embrião, das autais Forças ligeiras de CLs e CTs.

b) — Ataque a uma fração do inimigo, com uma massa


grande
"princípio"
da Esquadra, o constitue aplicação correta do da
que

Superioridade.

c) — Não aquilo sobremodo urge, numa


perder de vista que que
"destruição"
batalha naval, é a do inimigo. modo de lutar
Qualquer

será bom se conduzir àquele desideratum.

"grande
d) — Necessidade, ou pelo menos conveniência", que

ha em se conhecer o inimigo, bem se avaliar do seu


para poder
"moral".
As manobras a serem executadas se conseguir aniqui-
para
"moral"
lar o inimigo dependem estreitamente do dêsse inimigo.
"imprudente"
Uma manobra seria com certo inimigo, ser
que pode
"boa" "aconselhável"
no entanto e relativamente a outro. Assim foi

Nelson, tendo adotado a tática de Trafalgar, não só


que permitiu
"cortasse
deliberadamente a Esquadra Franco-Espanhola lhe o
que
"entre-
T", como procurou também, intencionalmente, a de
posição
"romper
fogos". Com efeito, uma formatura" rumando o seu
para
"em
centro com navios coluna", significa: — corte inicial T,
do

seguido da posição de entre-fogos... Se Nelson fez tal manobra,


"moral"
foi porque conhecia o inferior e o valor do
precário

inimigo.

"sem
e) — Batalhas não ser correr riscos", nem
podem ganhas
"perdas
sem e danos", e Nelson frisou tal com ênfase no
ponto

seu Memorandum. Tal não era a convicção dos seus antago-


porém

nistas da época, cuja tibieza e receio de avarias levou Bonaparte a

"Quando
exclamar: — encontrarei um Almirante consinta em
que

perder 4 ou 5 navios para ganhar uma batalha?"

f) — A formatura de cruzeiro deve ser a de batalha. Esta

lição de Nelson deve no entanto ser modificada ser


para que possa

aplicável às condições atuais da naval; deve ser assim expressa:


guerra
— o Dispositivo de Cruzeiro ser tal rápida e
precisa que permita

fácil para o Dispositivo de Batalha.


passagem
69 2 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Apêlo à solidariedade de todos os Comandantes de navios,


g) —

com vistas ao alcance do Objetivo comum; o significa aplicação


que
"princípios"
dos da Cooperação e do Objetivo.
"simples"
h) — Manobras bem definidas e na sua essência

(posto envolvendo vezes uma elaborada e


profunda con-
que por
"princípio"
cepção tática); o significa aplicação do da Sim-
que

plicidade.

i) — Confiança o Comandante em Chefe deve depositar nos


que
"doutrina-
seus subordinados, e que só pode ser fruto de perfeito

mento". Nelson previu a dificuldade de fazer e de transmitir sinais

e, portanto, de dar ordens durante a batalha. Consequentemente, não

só permitiu ao 2o Comandante da Esquadra Inglesa (Collingwood)

inteira autonomia para manobrar com a sua Fôrça, como apelou para

o espírito de iniciativa dos Comandantes de navios. Êle foi ao

ponto de prescrever aos seus Comandantes, em casos de confusão, a


"não
celebrada fórmula: — errar aquele colocar o seu
poderá que

navio e través de um navio inimigo" —, a implíci-


perto pelo qual

tamente outorgava aos Comandantes grande iniciativa, dados os seus

amplos limites.
"perse-
— Finalmente, acentuou a importância da
j) grande

do inimigo, uma vez consumada a sua derrota. Com efeito,


guição"

não basta vencer o adversário na batalha; cumpre aniquilá-lo. Cum-

na concepção Nelsoniana, — depois de derrotados 10 navios,


pre,

destruir ou capturar o 11°, se isso fôr humanamente possível, para

que a ação possa ser considerada realmente brilhante!

"divisão
Em Trafalgar houve uma de forças", propositadamente

ordenada e executada por Nelson; no entanto, como regra geral, uma


"divisão
de forças" significa crasso êrro — estratégico,
quer quer

tático ...
"divididas"
Naquela batalha as naus-de-linha Inglesas foram

em 2 colunas, que atacaram em pontos diferentes e em tempos

diferentes.

A coluna de Collingwood entrou em distância de fogo pouco

antes das 12 horas, e rompeu a linha Franco-Espanhola às 12.10

aproximadamente, na altura do 16° navio a partir


("Sant'Anna")

da retaguarda; a coluna de Nelson, situada mais o Norte, só


para

às 12.35 rumou decididamente sobre o centro da formatura inimiga,


DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 693
A IMPORTÂNCIA

"Victory" "Redou-
cêrca das 13.00, a entre o
rompeu passando
que
"Bucentaure".
table" e o

com um intervalo de 50
As 2 colunas atacaram, portanto,

minutos.

original de Nelson os 2 ataques seriam feitos


Aliás no plano

maior intervalo ainda, visto como a sua coluna


com
possivelmente

êle, Nelson) só atacaria o centro inimigo quando


(capitaneada por

acordo não só com os movimentos da


a ocasião fosse favoravél, e de

com os resultados iniciais da luta travada


vanguarda inimiga como

naus-de-linha de Collingwood; essas naus de Collingwood


pelas
"linha'
inimiga em e não em
deveriam atacar a retaguarda
"coluna".

uma Esquadra aliada de 46


Nelson supunha que encontraria

e esperava ter na sua


naus, em vez das 33 de fato encontrou;
que
efetivamente engajou a
Esquadra 40 naus, em vez das 27 com que

batalha; é a diferença, maior, das naus


curioso observar que para

inimigas, — 6 naus.
com que êle contava, se verificou:
"concentrar"
A idéia de Nelson era (embora para
predominante
"dividir" 2
tal êle tivesse, algum tempo, de as suas naus em
por
forças) massas superiores sôbre os da formatura inimiga que
pontos

êle decisivos: — a retaguarda e o centro. à van-


julgava Quanto

inimiga, êle isolá-la da luta


guarda a-pesar-de numerosa, procuraria
durante o tempo suficiente derrotar a retaguarda e o centro.
para
Em outras a idéia básica de Nelson, consubstanciada
palavras,
no "esmagar 40 naus
Memorandum, era — 26 naus inimigas com

inglesas, e decisivo da
e posteriormente, o agudo
passado período
batalha,
combater as 20 naus inimigas restantes".

Acabamos não é errado


de ver, ha casos em que
<( portanto, que
dividir "divisão de
forças" na casos em uma
área tática; ha que
forças "princípio"
não ofende básico da Supe-
ou infringe o
rioridade
...

^° nada se
de a respeito. São casos em que
„ . . paradoxal
clivide 'concentrar"
para em seguida, o que só é aliás aconselhável

quando se tem Em outros


ascendência moral sôbre o adversário.
casos, a força "dividida",
pode ficar mas o emprêgo das frações

assim separadas continua do Comandante em Chefe;


sob o control
então, embora só
os navios não numa só formatura, num
estejam
694 revista marítima erasileira

"con-
bloco, podem contudo ser considerados de certo modo como

centrados" na área tática.

A fragmentação do núcleo da Fôrça, numa ação naval, só pode

resultar bem sucedida quando ela obedece a um plano preconcebido,

previamente analizado e estudado; mais ainda, quando esta fragmen-


"propositadamente",
tação (ou divisão) é mantida e nela se persiste

mesmo depois de avistado o inimigo e feito o competente Exame

de Batalha.

Uma comparação de 2 casos concretos (aliás já por nós alu-

didos) melhor frisará a


diferença vimos tentando evidenciar
que
"deliberadámente"
entre manobras táticas feitas,, em presença do
"aceitas" "impostas"
inimigo, e outras apenas ou mesmo cir-
pelas

cunstâncias de ocasião; e precisará o sentido que temos pretendido

dar às asserções feitas, notadamente ao anterior a êste.


periodo

Assim, consideremos as batalhas da Jutlandia e de Trafalgar, tão


"em
diversas uma da outra, em tudo e tudo; e no entanto, am-
por

bas" a vitória surgiu da aplicação (diferente num e noutro caso...)


"princípios"
dos mesmos fundamentais da guerra.
"divisão
Vimos que em Trafalgar a de forças" surtiu efeito.

Olhemos agora a batalha da Jutlandia, na sua Ia fase, em


para

que se empenharam as forças avançadas de esclarecimento. Depa-


"divisão
ramos também aí com uma de forças", mas de outra espé-

cie: — impensada, não destinada à situação de combate, não preme-


"exame
ditada a batalha, não resultante de um cuidadoso de
para

situação" . ..

"divisão
Conseqüência: — uma de forças" desastrosa e fatal!

"divisão"
Tal foi a que Beattv operou entre seus Cruzadores

de Batalha, de um lado, e 4 possantes e rápidos Encouraçados,

de outro.
"divisão"
Em Trafalgar a foi preconcebida, estava
premeditada,
"Nelson
devidamente integrada na touch"; na Jutlandia foi operada

inadvertidamente e não fazia parte da decisão tática de Beatty ...


"volun-
De um lado temos a manobra com o característico de
"sucesso";
tária" trazendo o do outro a manobra com o estigma de
"involuntária", "imposta" "aceita"
de pelas circunstâncias, de por
"insucesso".
necessidade, trazendo o Os 4 Encouraçados rápidos da

Fôrça de Beatty Esquadrão de Batalha, sob o comando de Evan


(5o

Thomas) só puderam entrar em ação, na Jutlandia, cêrca de 30 mi-

nutos depois da abertura de fogo pelos Cruzadores de Batalha; as


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 695

naus de Nelson também só entraram em ação cerca de 50 minutos


depois das naus de Collingwood terem iniciado a batalha de Tra-
falgar. Num caso os 30 minutos foram fatais; no outro os 50 minu-
tos, por terem sido previstos e terem feito parte de um plano refle-
tido e premeditado, — foram benéficos .'...
Manobras premeditadas, quando elas assim o foram com a
sanção de um correto Exame de Situação, quasi sempre conduziram
ao triunfo, mesmo quando à primeira vista puderam parecer "here-
sias" ou verdadeiras "loucuras".
"Dividir forças" "entre-fogos",
para colocar depois o inimigo
figura em tais casos. "Dividir"
para induzir o inimigo a atacar uma
"parte"
julgando-a em condições de não poder ser auxiliada pela
"outra", também. É indispensável "vontade" dite a
que o fator
manobra.
"dobrando" a
Já vimos que a manobra de Nelson em Aboukir,
coluna Inglesa em seguida à genial decisão de Foley, constituiu
também um exemplo clássico de bem-sucedida "divisão de forças".
Em Aboukir temos a posição de "entre-fogos" trazendo desastre
à Esquadra Francesa de Brueys; e em Trafalgar a m-csma posição
levando à vitória a Esquadra Inglesa!
O fator "moral" mais uma vez teve, em Trafalgar, confirmada a
sua subida importância.
Venceu a Esquadra com efetivo global menor; triunfou a Es-
quadra menos numerosa. É curioso observar, e isso representa sem
dúvida uma lição da História, que freqüentemente nas campanhas
passadas as Esquadras menores, porém bem comandadas, conse-
guiram êxito.
Já vimos, entre outros exemplos históricos, que: —
a) — em Southwold Bay, 91 navios holandeses (sob Ruyter)
bateram 101 navios Anglo-Franceses (sob o Duque de York e
D'Estrées) ;
b) — na batalha de Texel, 70 navios Holandeses (sob Ruyter)
venceram 90 Anglo-Franceses (sob Ruppert e D'Estrées) ;
c) — ao largo do Cabo São Vicente, 15 navios Ingleses (sob
Jervis) bateram decisivamente 27 navios espanhóis (sob Don José
de Cordova), sendo as forças vencedoras inferiores às vencidas na
proporção de 1:1,8!!
696 revista marítima brasileira

d) — ao largo de Cadiz, 18 navios ingleses (sob Lord Keith)

derrotaram 25 navios espanhóis Mazzaredo), sendo a


(sob propor-

ção de inferioridade numérica inglesa de 1 : 1,4!

e) — nas proximidades do Cabo Finisterra, 15 navios Ingleses

(sob Calder) triunfaram sobre' 20 navios Franceses Villeneuve),


(sob

eram numèricamente inferiores na proporção de 1:1,33!


quando

f) — finalmente em Trafalgar, 27 navios ingleses (sob Nelson)

derrotaram decisivamente 33 navios franceses e hespanhóis


(sob

Villeneuve e Gravina), sendo os Ingleses inferiores em número na

de 1 : 1,22 !
proporção

Veremos, em breve, já no período da Marinha Encouraçada,

em Lisboa, como 7 navios-encouraçados e 7 navios de madeira Aus-

tríacos o comando de Tegetthoff), bateram 12 navios-encoura-


(sob

e 11 navios de madeira Italianos Persano).


çados (sob

se não depreenda, contudo, desses exemplos históricos, a


Que

falsa conclusão de o número de navios pouco importa, bastando


que

ter Comandantes em Chefe idôneos e guarnições treinadas ... Não!

O número representa também fator de grande importância; pois mais

fácilmente a um competente Comandante em Chefe esmagar


permite

o inimigo com o mínimo de e materiais. Mas


perdas pessoais quer

importa sobremaneira
o número pequeno, quer seja grande, o que
seja
"moral"
é que o seja elevado, e que haja a firme vontade de combater

e de vencer!

De 1805 saltemos de 55 anos no calendário do Planeta.

Vamos encontrar, na América do Niorte, uma formidável luta

civil —a Guerra de Secessão. Ela fornece aos estudiosos das campa-

nhas navais vasto campo de atividades, sobretudo sob o ponto de vista

estratégico; acrescendo que ela registra o 1.° aparecimento de navios

de a vapor, de Encouraçados, e até mesmo de submarinos ...


guerra

Nela vemos os Federados (Nortistas), possuidores de regular

Marinha de Guerra, em porfiada contenda civil com os seus irmãos

Confederados estes sem Marinha e dispondo apenas de


(Sulistas),

alguns navios de combate. O desfecho final da guerra seria assim,

desde o início, fácil de prever. Declarada a guerra, o Sul, agrícola

excelência, iria de 2. cousas, ambas com caráter impe-


por precisar
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 697

"dinheiro" "armamentos".
rioso: — e Dinheiro, em sufi-
quantidade

ciente, só advir do comércio externo, mormente da florescente


poderia

exportação de algodão; armamentos, só ser adquiridos na


poderiam

Europa, os Estados meridionais não possuíam parques


já que

industriais.

Pois bem, não só obtenção de dinheiro como de armamentos,


para

fazia-se mister a via marítima, isto é, a liberdade de comércio ultra

oceânico; e foi essa via marítima (com a conseqüente


justamente

liberdade de comércio) a Esquadra Federada tratou logo de


que

cortar, como precípua e sábia medida estratégica!

Isso feito, seria apenas de tempo a rendição Sulista.


questão

O heroísmo Confederado, o militar de Robert Lee, as


gênio

iniciativas e os expedientes em e incluíram, na


postos prática, que

seara naval, o emprego das minas e até dos submarinos, apenas


"tempo"
conseguiram dilatar aquele de inútil resistência... De nada

valeu aos Sulistas a de corso brilhantemente exercida pelo


guerra

Alabama, durante de 2 anos, nos Oceanos Atlântico e Índico;


perto

e só teve termo com o fatal encontro daquele navio com o


que

Kearsarge, ao largo de Cherbourg.

De lhes valeu as do Merrimac; bem assim as


pouco proezas

meio de minas submarinas, inflingiram à Marinha


perdas que, por

Nortista, dentre1 as figuraram os Encouraçados New-Ironsides


quais

e Albermarle, a fragata Minnesota, e o monitor Tecumseh!

De valia foi o afundamento da Corveta Housatonic, em


pequena

Charleston, pelo submarino David!

Inútil também, relativamente ao epílogo da


predeterminado
"poder
foi a resistência do Exército Sulista, sob Lee. O
guerra,

naval" estava destinado a mais uma vez decidir da A obten-


guerra.
"domínio
cão, desde o início da campanha, do do mar", permitiu que

os Federados assumissem a ofensiva; e sujeitou os Confederados à

situação, inferior e desalentadora, da defensiva. A Esquadra do

Norte, sob as ordens de Chefes como Farragut e Porter, bloqueou

o litoral Sulista, aí estabeleceu bases e de apoio, efetuou com


pontos

sucesso desembarques de tropas do Exército, e penetrou até mesmo

na central dos Estados rebelados, subindo pelo rio Mississippi.


parte

A frota Sulista, adstrita a uma atitude defensiva


pequena puramente
"guerra
exceção de uns navios intentaram a de
(com poucos que

corso" contra a Marinha mercante Nortista), estava representando

inteiramente impróprio na naval.


papel guerra
698 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Só se admite essa atitude quando ela meramente o


prepara

terreno à subsequente atitude ofensiva, e esta afirmativa é válida

tanto para as épocas da Marinha a Vela como os tempos moder-


para

rios de agora.

Sempre que possível, forças navais devem atacar e não esperar

o ataque. Mesmo quando a atitude estratégica de determinada


geral

Esquadra for deíensiva-ofensiva. ela deverá contudo aproveitar todas

as oportunidades que se apresentarem de assumir a ofensiva; o que


"princípios"
fará aplicando, em os da Surpreza e do Mo-
particular,

vimento.

Já frisámos aliás esse ponto estudámos os feitos dos


quando

períodos Bonapartista e Nelsoniano.


"a
Com razão declara Daveluy: — defensiva na naval,
guerra

sob quaisquer aspectos, só oferece desvantagens; às vezes se é for-

çado a aceitá-la, mas nunca se deve procurá-la".

É comum ouvir-se dizer, como máxima de —


guerra, que:
"defender
é mais fácil do que' atacar"; isso ser bem inter-
precisa

pretado, sob pena de envolver uma heresia militar . . . Clausewitz e

Corbett, originadores, ao que parece, dessa expressão, declaram

explicitamente que ela se refere tão somente a determinadas opera-

ções, nas quais se sabe onde e como o inimigo atacar; e


pretende1

acrescentam, logo em seguida, se não conhece o


que quando plano
de ataque do adversário, e se não portanto concentrar forças
pode

para fazê-lo abortar, então a defensiva representa uma situação fraca


"dispersão"
e perigosa, pois exige uma de forças atender às
para

surprezas do inimigo.

E já citámos Clausewitz, lembraremos, como oportuna, a


que
— "a
sua declaração seguinte: atitude defensiva comporta atos

ofensivos nas suas diversas situações se trate de


gradativas; quer

combates, batalhas 011 campanhas".

Confinando, no tempo, com a Guerra de Secessão Americana,

temos a nossa própria Campanha do Paraguai.

A sua análise revela a importância tiveram as


primacial que
linhas fluviais de comunicações, conquistadas e mantidas livres pela
Esquadra Brasileira. Não fossem as nossas vitórias fluviais, em

Riachuelo 1865), Curupaití Agosto 1867), e Humaitá


(11 Junho (15

(19 Fevereiro 1868), e não teríamos vencido a guerra!


«.""ti6"

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 699 !


A

Concomitante com a Campanha do Paraguai vamos encontrar

na Europa, em 20 Julho 1866, Austríacos e Italianos empenhados

em batalha naval, no Adriático, ao largo da ilha de Lissa.

Tomaram na batalha 7 Encouraçados e 7 navios de


parte

madeira, Austríacos, além de flotilhas e de navios não-combatentes;

e 12 Encouraçados e 11 navios de madeira, italianos, e mais flotilhas


"material"
c navios mercantes sem classificação. A superioridade

Italiana era flagrante, em tudo: — navios, canhões, das bor-


pêso

dadas, fôrça motriz!

Aproveitando uma solução de continuidade' existente na forma-

tura Italiana, conseqüente a uma inoportuna transferência de


pavi-

lhão do Comandante em Chefe, efetuada Persano já no limiar


por
"rompe"
da batalha, o Almirante austríaco Tegethoff avança e a

citada formatura; ataca com a sua vanguarda (de 4 Encourçados)

a Divisão Vacca, ficara separada do resto da Esquadra Italiana,


que

ao mesmo tempo ordena os restantes 3 Encouraçados ata-


que que

o centro inimigo, e os navios de madeira acometam a cauda


quem que

da formatura adversária.

"arieta"
Mais tarde Tegetthoff os Encouraçados Italianos Ré

d'Itália e Palestro, mas sem resultado, o seu Capitânea (Fcrdinand

Max) resvalando ao longo dos costados daqueles; outra tentativa de

Tegetthoff logra êxito completo, o Ré d'Italia é atingido


porém pois

través e em choque normal, com a velocidade de 12 nós, e vai


pelo

a pique.

O Kaiser, outro Encouraçado austríaco, tenta também arietar o

Ré di Portogallo, sem resultado; avariado, ficou à mercê do Capi-

tânea do Almirante Persano durante algum tempo,


(Affondatore)

sem contudo êsse Chefe irresoluto aproveitasse a oportunidade


que

e o arietasse.

O Encouraçado Italiano Palestro, incendiado projetís


pelos

austríacos, foi finalmente a devido a uma explosão interna.


pique

"melée"
Depois de uma terrível a batalha foi interrompida,

tendo assim Tegetthoff se contentado com o êxito que já havia

conseguido. A Esquadra Italiana retirou-se Ancona e de lá não


para

mais saiu, enquanto a Esquadra Austríaca a esperava na manhã do

dia seguinte, 21 de Julho, recomeçar o combate. A vitória


para

austríaca de Lissa não foi completa, Tegetthoff, esquecendo-se


pois
700 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dos conselhos de Nelson, não se esforçou com firmeza e tenacidade


"aniquilar"
o inimigo.
para

O Dispositivo de Aproximação de Tegetthoff a ser


(destinado
"péssimo"
também o de Batalha) foi sob o ponto de vista técnico;

muito compacto, não maleável, os navios da vanguarda mascarando

o fogo de todos os demais, e, finalmente, susceptível de permitir


"concentrações"
de forças inimigas sôbre o vértice da cunha!

Dificilmente' se imaginar formatura mais esdrúxula ...


poderia

E no entanto Tegetthoff venceu a A explicação


jornada!

vêmo-la na triade: — moral, Comando hábil, e treinamento.

"cunha"
A formatura em foi assim adotada em Lissa
pela

Esquadra victoriosa; todavia, na batalha do Yalú, como veremos em


"cunha"
a mesma formatura em foi adotada pela Esquadra
pouco,

derrotada... Logo 2 Dispositivos de Batalha semelhantes, ambos


"cunha",
comparáveis à produziram nessas 2 batalhas resultados

diametralmente opostos.

É a escolha de um determinado Dispositivo ou Formatura


que

não representa nem um factor decisivo, nem mesmo um factor de

alta importância.

O modo pelo tal Dispositivo ou Formatura é utilizado, e a


qual

intenção de quem o adota, esses sim são os elementos que lhe empres-

tam valor e o fazem conducente ou à vitória ou à derrota.


que

Se bem de modo muito menos brilhante, Tegetthoff aplicou


que
"romper"
em Lissa a tática Nelsoniana de a formatura inimiga, de
"dividí-la" "batê-la "con-
e em seguida em detalhe", empregando

centração de forças".

"prin-
Nelson empregou tal em Trafalgar com auxílio do
plano

cípio" da Simplicidade; Tegetthoff fê-lo utilizando-se de uma

formatura extravagante e e aproveitando-se de uma


perigosa,

abertura existente na linha de batalha italiana. O do


propósito
"moral"
Almirante austríaco era, conhecendo bem o do adversário,
"criar"
inicialmente confusão na Esquadra Italiana com um rápido
"cunha",
avanço cm bloco, em formatura cerrada de' e em seguida
"combater "concentrando
a pequena distância" e forças" na van-
"superioridade
Italiana, de modo a conseguir de forças no
guarda

decisivo"; disparar salvas de artilharia e terminar usando as


ponto

proas dos seus navios como aríetes.


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 701

Tal propósito foi realmente executado. É porém evidente que,


fosse a Esquadra Italiana eficiente e bem comandada, a formatura
de Tegetthoff traria fatalmente o desastre . .. Contra "aquele"
inimigo o Almirante austríaco sabia, no entanto, que a sua manobra,
posto que arriscada e extravagante, daria bom resultado.
Vemos ali aplicado um dos postulados da Tática Naval: — "não
existe apenas uma única formatura de combate, tão pouco uma única
manobra tática, de aplicação geral para todos os "casos". Não! A
exclusividade, na Tática Naval, pertence tão somente aos "princípios"
básicos; a não ser esses "princípios", de aplicação universal, todas
as manobras e evoluções táticas ficam estreitamente subordinadas aos
casos concretos, sendo (como de facto são) funções de vários facto-
res, de ordem física alguns e de ordem moral outros, que variam
para cada caso considerado.
Terminaremos frizando o erro estratégico em que incorriam os
italianos quando, sem a prévia aquisição do "domínio do mar",
empreendiam operações "combinadas" visando a ocupação da ilha de
Lissa; e a História, tenaz e perseverante, mostra nas suas páginas
a grandeza desse erro.

Em 1894 o mundo assistiu à Guerra Sino-Japonesa. O dia 17


Setembro daquele ano marca a batalha do Yalú, travada entre 2
Esquadras materialmente iguais, quanto ao número de unidades, to-
nelagem e armamento; mas grandemente diferentes quanto ao "moral"
dos seus Chefes.
Coube a fácil vitória, como era de prever, àquela que tinha a
"vontade de vencer" e a firme convição "de
que venceria".
A manobra tática que deu a vitória ao Almirante Ito, Coman-
dante da Esquadra Japonesa, foi ainda uma vez — "a concentração
de forças no ponto decisivo"; no caso vertente — os Encouraçados
chineses da Esquadra do Almirante Ting. A Esquadra Chinesa,
surpreendida na foz do rio Yalú, teve de suspender ferro às pressas.
O Almirante Ting tomou para Dispositivo de Batalha uma formatura
em ângulo obtuso, Encouraçados no vértice e este voltado para o
inimigo, e assim avançou; o Almirante Ito entrou em combate com
os seus navios em coluna, fazendo logo de início "fogo de banda"
702 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"fogo
contra os navios chineses, os só responder com da
quais puderm

quilha". Não contente com esta vantagem inicial, Ito, tinha


que
uma Divisão de Cruzadores-Protegidos avante da de Encoura-
(4)

çados, fê-la contornar a direita da Esquadra Chinesa, composta de

fracos Cruzadores. Com o fim de tais navios os Cru-


proteger
zadores Chineses de maior e então
porte poder guinaram para BE,
— o foi fatal, —
que porque não só toda a formatura chinesa se
"desorganizou",
como os navios mascararam fogos uns dos outros!

Os 6 restantes navios do Corpo de Batalha


Japoneses, própria-
"concentraram"
mente dito, então fogos sôbre os 2 Encouraçados

chineses; depois contornaram toda a Esquadra Chinesa e passaram


a descrever circumferências em tôrno dela, ao a Divisão
passo que
Ligeira de Cruzadores Protegidos fazia o mesmo, mas na marcação

oposta.

A desordem foi terrivel na Esquadra Chinesa, chegando ao

ponto de um Cruzador Protegido, com canhões de 210 m/m, de-


"fugir"
sertar do local da ação, do combate!!.. o aniqui-
Quando
lamento parecia seguro, êis o Almirante Ito cessa fogo, devido
que

a falta de munições, segundo alguns, ou causa da aproximação


por

da noite, segundo outros.

A batalha havia durado 5 horas, e 5 navios chineses tinham

sido postos a nenhum navio sossobrou,


pique; japonês pôsto que
alguns ficassem avariados, entre êles o Capitânea, o forçou Ito
que

a transferir pavilhão.

Não houve perseguição, não houve aniquilamento do inimigo;

não se verificou, uma vitória Nelsoniana...


portanto,

A campanha Hispano-Americana, em 1898, fornece menor

messe de ensinamentos, dada a disparidade notável entre contendores.

A Esquadra Americana, treinada e modernizada; a Espanhola

possuindo navios que, na expressão do Almirante Sampson, eram


"os
guarnecidos com peiores artilheiros Como a luta
possíveis"...

naval tinha de ser resolvida artilharia, embora reduzida ainda


pela

naquela época aos modestíssimos alcances de 2000 a 4000 metros, é


"os
fácil concluir — —
que peiores artilheiros possíveis" não pode-
riam obter quaisquer êxitos!

Aliás parece ser triste sina da Espanha sempre Esqua-


possuir

dras ineficientes e de reduzida expressão bélica... Desde os


DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 703
A IMPORTÂNCIA

tempos da Invencível Armada a Espanha vem


remotos (1588) que

derrotada nos mares. Nelson tinha tal


sendo sistematicamente
"Dons"
naval dos êle chamava os
desprezo pela proficiência (como

numa célebre ocasião, avocou ao seu Capitânea o


espanhóis) que,

combate contra todos os navios espanhóis e mandou que


presentes

navios ingleses atacassem as naus francesas ... Da con-


os outros

decadência naval espanhola resultou não só a perda das


tinuada

Colônias, como do internacional; o que não é de admirar,


prestígio
"poder
sendo função direta do naval" das Nações.
êsse prestígio

Marinha nula significa importância nula no cencêrto dos povos!


"a
o rifão: — coisa uma Nação que
É notório primeira que perde

entra em decadência é a Marinha".

— "uma
Seria igualmente verdadeiro dizer: Marinha que

entra em decadência reflete os sinais de ruina, prenuncia


primeiros

o colapso, de uma Nação"!...

Como erros estratégicos, dos Americanos, temos a


por parte
"concentração"
notar a falta de dos navios de Sampson e de Schley,

no comêço da e a manutenção da força do Almirantte Dewey


guerra;
"secundária",
nas Filipinas, em região estratégica teria sido
quando

mais e mais sábio tê-la reunido às forças que bloqueavam


prudente

Santiago de Cuba.

As lições táticas da batalha de Santiago de Cuba foram, sobre-


"moral".
tudo, de ordem Ccrvera, forçado a deixar com sua Es-

c de Santiago, em virtude' de reiteradas ordens


quadra pôrto

categóricas, fez-se ao mar a derrota, resignado a ela...


prevendo
"moral"
Seria surpreendente êle, com o em tal estado, corise-
que

opôr resistência apreciável aos navios da Esquadra do Almi-


guisse

rante Sampson, o bloqueavam de não seria mesmo de


que perto;

esperar êle lograsse vender cara a sua derrota!


que
"tiro
A batalha foi, consequentemente, uma méra prática de1 ao

alvo" os Americanos, todavia decidiu da


guerra,
para prática que
"treinamento*
ser de utilidade ao de vista do
sôbre quanto ponto

custou aos Americanos ligeiros danos materiais e


das guarnições;

insignificantes — 1 morto e 10 feridos!


perdas pessoais:

Tão era a convicção de'Cervcra de seria fatalmente


grande que

derrotado, resolveu sahir do durante o dia, e não á noite,


que pôrto

forneceu: —-
— como razoável. A explicação êle próprio a
parecia

era derrotada a sua Esquadra (ü), os navios pudes-


permitir que,
704 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

sem ser atirados à costa e encalhados, tornando assim possível (011

mais provável) o salvamento das tripulações. ..

Quem segue para a batalha com firme vontade de triunfar já

se pode considerar meio-vencedor; mas quem, como Cervera, parte

para a luta achando impossível alcançar êxito, já se considerar


pode

como derrotado, como antecipadamente vencido!

Isso os estudiosos das conheciam de sobra; e não


já guerras
"que
teria sido preciso, a título de comprovação, a Espanha conster-

liasse o mundo com o espetáculo compungente de Santiago de Cuba...

Já a guerra Russo-Japonesa oferece muito maior interesse, do

seu estudo sendo colher ensinamentos susceptíveis de aplica-


possível

ção nas guerras futuras. Cem anos, exatamente, depois de Trafalgar,

os anais históricos registram Tsushima; batalha naval como


que,

aquela, foi decisiva. Tsushima, tal Trafalgar, decidiu, nos


qual

mares, da sorte da campanha cm terra! Trafalgar Waterloo;


preparou

pois bém, Tsushima tornou possível a de Pôrto-Artur e o final


queda

colapso do Exército moscovita!

"fator
O valor do moral" é também flagrante nessa
guerra.

Tal qual Cervera, Rojestvensky deixára o Báltico vencido,


porque partira sem confiança na vitória, antes com um ôlho na

derrota ...

Muito cedo, mesmo na saída do Báltico, e depois em águas do


"moral"
Mar do Norte, o desalentado dos Russos tomou moldes de

agudo nervosismo, vizinho de e redundou em ridículos ataques


pânico,

a embarcações de pesca e mercantes, de Países neutros. Os navios

russos, alucinados, enxergavam toda a torpedeiros nipô-


por parte

nicos, mesmo a muitos milhares de milhas do teatro da e


guerra,

atiravam sóbre pacíficos pescadores, sôbre chalupas costeiras e

ronceiros barcos mercantes, acreditando repelir ataques torpédicos

do inimigo ...

Já algumas forças navais russas haviam sido batidas no Extremo

Oriente, pois as batalhas de 10 e 14 Agosto 1904 tinham firmado a

ascendência da Esquadra Japonesa. Êsse triste estado moral da


"despacho-defecção"
Esquadra do Báltico culminou no do Coman-

dante em Chefe da Esquadra (Rojestvensky), remetido de Madagas-


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 705

car ao Governo Imperial Russo, no qual era confessada a profunda


descrença daquele Almirante no êxito da sua Missão original, que
era (e devia ser) : — a destruição da Esquadra Japonesa —; confissão
"apreciação errônea" sobre uma nova Missão
que vinha agravada de
para a Esquadra do Báltico ("atingir Vladivostock, para de lá
"inimigo") e de um extern-
perturbar as linhas de comunicações do
"pedido de substituição" na Chefia da Esquadra . ..
porâneo
A Esquadra do Báltico rumou pois para o Japão sem a indispen-
"vontade de vencer" é
sável "vontade de vencer"; e quem não tem
"vencido" . . . Rumou
facilmente para os mares do Japão sem
"combater";
intenção categórica de pelo contrário, tendo para meta
a entrada em Vladivostok.
Assim, era descurado o "princípio" cardeal do Objetivo.
O verdadeiro pavor dos ataques de torpedeiros levou ainda o
Almirante Russo a passar pelo estreito da Coréia durante o dia, o
que lhe foi fatal. Na batalha de Tsushima entraram em ação 2
"forçada"
Esquadras imbuídas de ideais antagônicos; uma, a Russa,
a lutar depois de ter em vão tentado esquivar-se ao combate ¦— e
outra, a Japonesa, animada da intenção firme de vencer o inimigo.
Os erros táticos dos russos acumularam-se. O dispositivo de
Cruzeiro e de Aproximação foram más, aquele não permitindo fácil
passagem ao de Aproximação, e este não tornando expedita a sua
transmutação em dispositivo de Batalha. O dispositivo de Cruzeiro,
conservado pela Esquadra Russa até 1 hora e 45 minutos antes de
"inacreditável"; representa
ser iniciada a batalha, é simplesmente
tudo quanto ha de mais esdrúxulo em matéria de dispositivo de
Cruzeiro !...
O celebrado "princípio" Nelsoniano: — "a ordem de Cruzeiro
deve ser a ordem de Batalha" — evidentemente não pode nem deve
ser aplicado integralmente nos tempos atuais, nem poderia tê-lo sido
em Tsushima; todavia é necessário fazer o possível, mesmo hoje,
para que o dispositivo de Aproximação permita fácil e rápida passa-
gem para o de Batalha.
Os transportes, constituindo um "trem", foram conservados com
"fator de fraqueza".
a Esquadra, o que para esta acarretou notável
"às escuras", na
Os navios da Esquadra Russa não navegaram
noite de 26: 27 Maio, o que revelou a presença da Esquadra a um
706 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Cruzador madrugada, Cruzador imediatamente


Japonês, pela que pôs

Togo ao par da exacta posição do inimigo.

Dispositivo de Batalha igualmente mau por parte dos russos, não


"concentrar"
tendo sido possível os navios do Corpo de Batalha por

ocasião da abertuda de fogo.

Em seguida vieram as hábeis manobras táticas de Togo, e as

suas 2 ousadas inversões de rumo já dentro da distância de fogo,



feitas de acordo com o de Napoleão e de Nelson; —
postulado

necessário correr riscos obter vitórias decisivas".


para

"Tais "inversões"
foram particularmente interessantes sob o

ponto de vista tático; a Divisão da vanguarda, de Togo, inverteu o

rumo simultâneamcnte navios, para o teve de cessar o fogo,


por que

mas a Divisão da retaguarda, de Kamimura, inverteu o rumo sucessi-

vãmente, o que permitiu que ela atirasse enquanto a outra Divisão


"inversões" "dimi-
evoluia. Durante as o fogo Japonês foi portanto
"interrompido".
nuido", mas não O tiro da Esquadra
Japonesa,

e rápido, foi de fato o agente decidiu da vitória e reduziu


preciso que
"moral"
a zero o dos Russos.

"decidir"
Para da batalha Togo diminuiu a distância; ainda

aqui uma atitude lembra a de Nelson, com o seu sinal: —


que
"Close
the enemy". Os ataques noturnos, pelos torpedeiros, labo-
"perseguir"
raram ainda de acordo com a idéia Nelsoniana de o
"batido",
inimigo depois de tê-lo com o propósito de aniquilá-lo, de

destruir ou capturar conhecida frase) o 11° navio


procurar (plagiando

«após haver destruido o 10°.

Essa tenacidade no ataque frutos para os


produziu japoneses,

inclusive a vergonhosa rendição de Nebogatoff, com 4 navios, na

madrugada de 28 Maio, o mostra a ponto havia caído o


que que
"moral"
moscovita!

"princípios"
Os fundamentais da foram observados
guerra pelos

japoneses, notadamente os do Objetivo, da Ofensiva e da Cooperação;

ao passo a passividade russa foi incrível durante a batalha, carac-


que

terizada pela completa ausência de espírito de agressividade. Como


"doutrinar"
Nelson, Togo soube seus comandados e a êsses permitiu

toda iniciativa dentro da Doutrina; Kamimura representou em

Tsushima papel algo semelhante ao de Collingwood em Trafalgar.


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 707

De 38 navios Russos tomaram na ação, nada menos


que parte

de 34 foram postos a pique, capturados ou internados! Foi uma

verdadeira vitória Nelsoniana, isto é, aniquiladora. Os japoneses


agiram com notável tino tático; a vitória integral êles a conseguiram
"tática", "treinamento"
à custa de boa bom das guarnições (sobre-
"direção" "comando",
tudo para o tiro de artilharia), e eficiente ou

— "moral" "vontade
tudo alicerçado pelo elevado e firme de
pela
vencer". Togo manobrou sempre obter táticas
procurando posições
"concentração"
vantajosas, que permitissem eficaz de fogos sôbre

o inimigo.

A artilharia teve influência no desenrolar da


predominante

ação; os torpedos apenas influência indireta. A batalha consagrou


"duelo
o de artilharia à longa distância", a ser considerado
que passou

o aspecto normal dos combates navais do futuro; foi essa a mais

lição de Tsushima, aparte a confirmação da subida


pronunciada
"moral" "treinamento
importância do fator e do técnico-profissional"

das guarnições.

Quando tratamos dos da Marinha a Vela vimos a


prélios que
"ruptura
do equilíbrio", conseguida em certo das formaturas,
ponto
se propagava rapidamente a todos os navios das Esquadras empe-
"ruptura
nhadas em batalha; a do equilíbrio" influenciava a todos
que

os combatentes,
permeava todo o ambiente da luta! Quando favoravel
"ruptura"
a uma das Esquadras, a fazia sentir instantâneamente
quasi
efeitos benéficos sôbre todos os componentes dessa Esquadra; fica-

vam todos de ânimo fortalecido, de moral elevado, tornavam-se

confiantes e certos da vitória, redobravam de esforços, readquiriam

calma, tornavam-se mais eficientes !...

Inversamente, "ponto
o revés sofrido outra Esquadra, no
pela
"concentração"
decisivo" onde a de forças originara uma decisão

rápida, difundia-se toda essa Esquadra, numa verdadeira onda


por

de desânimo, de pessimismo, às vezes até mesmo de desespêro; fazia

sentir no ambiente o hálito da derrota, o moral das


quebrava guarni-

ções e delas afugentava a imprescindível estamina e a vontade de

vencer ...

"fracasso'
O num da formatura, era como um sinal
ponto que
de defecção içado nas vêrgas do navio ou navios derrotados.

Nos tempos modernos, em combatem navios Encouraçados


que
nos quais poucos, dentre as vêm os inimigos, essa irra-
guarnições,
708 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

diação favorável ou perniciosa dos acontecimentos havidos em deter-

minado ponto da área tática, conforme se trata de um sucesso ou de

um revés, não é tão notável nos tempos das fragatas e das


quanto

naus-de-linha, mas ainda produz sensíveis efeitos. Influe, em

no moral dos Comandantes de unidades e no dos Oficiais


particular,

exercem funções de responsabilidade durante o combate.


que

Pois bem, Tsushima que nas batalhas modernas a célebre


provou
'"ruptura
do equilíbrio" ser conseguida, ràpidamente e do melhor
pode
"artilharia".
modo, — emprêgo eficaz da Assim, firmou-se a
pelo
"concentrar
necessidade' de forças" no ponto decisivo, justamente
"concentrar
fogos" nesse ponto!
para

Como conseqüência lógica do grande valor devidamente atribuído

à artilharia veiu a tendência, de um lado, ao aumento do dessa


poder

artilharia e, de outro, ao acréscimo de qualidades defensivas (coura-

Tsushima foi
ças) para os navios. assim, de certo modo, o berço dos
"dreadnougbts",
dos navios Encouraçados armados de
grandes pos-

sante artilharia de grosso calibre.

Carlos Penna Bolto

Capitão de Fragata
BI
BIOGRAFIA

Diz Viana Moog no do livro dedicou a Eça de


prefácio que
"As
Queiroz: biografias constituem, desde Plutarco, a grande paixão

das épocas em que determinado tipo de civilização está a


prestes

corromper-se. Nos tempos correm chega-se a ter a impressão de


que

os escritores, pressentindo a decadência é fatal e talvez


que que

irremediável, já se não preocupam com outra cousa que não seja

fazer o inventário dos nomes de uma cultura em pleno


grandes

naufrágio. Dir-se-ia não haver tempo níais nada".


para

For isto ou aquilo, a literatura desta terceira década do


por

século XX apresenta uma de obras históricas.


quantidade ponderável

São vidas romanceadas; estudos das épocas em função dos homens.

As editoras lançam, com muita freqüência, a história dos tipos mais

destacados da humanidade. É o tempo das biografias.

O cinema aproveita o está feito na literatura: adapta os


que

textos, deforma-lhes o conteúdo e serve-os ao público como convém

mais à bilheteria.

Mas o cinema não tem sido um' bom aliado das biografias. Os

de films muito, e talvez com razão, no gôsto,


produtores pensam

nunca desprezível, de quem paga...

A minuciosa nos arquivos, o cotejo cuidadoso das datas,


pesquisa

a verificação atenta dos documentos e a elucidação criteriosa das

atitudes constituem, natureza, elementos seguros, mas difíceis,


por

na elaboração de trabalhos rigorosamente históricos.

Na América ha assuntos demais em disponibilidade, excesso de

títulos para obras de fundo, acúrríulo de motivo para crônicas.

Na História do Brasil existem nomes só agora começam


que

a surgir nos seus contornos definitivos. Opera-se, no processo de


710 revista marítima brasileira

das nossas cousas, uma transposição necessária.


julgamento Já

andam de mãos dadas os homens e as suas épocas, um completando

o outro, numa sucessão natural de causas e efeitos. Faz-se um verda-


"bandeirismo"
deiro através de arquivos e fichários esquecidos ou

ignorados.

"tipo
Todos os fatores influíram no atual brasileiro" estão
que

sendo postos em evidência, enquanto o solo é conquistado


gradati-

vãmente. Muitos de injustificado valor são agora


preconceitos

desprezados.

O que se fez atualmente é um trabalho de análise e justificação.

A História é contada com mais simplicidade e clareza. Os assuntos

perderam aquele ar severo de cátedra universitária, obrigdo a sobre-

casaca, chapéu alto e colarinho duro. . .

As teses impenetráveis e massudas cairam em completo aban-

dono. Os capítulos de hoje, na confecção dos compêndios, têm

títulos banais, corriqueiros, desempolados.

Um da estatura intelectual de Gilberto Freyre ensina


professor

sociologia através de receitas de bolos e doces... Isso, depois de

haver estudado e metodizado os interessantes anúncios de !


jornal

Talvez haja — e ha, com — muita


certeza gente contrária ao

sistema do professor pernambucano. O fato, porém, é só depois


que,

das suas lições, a nossa vida social recebeu claridade e simpatia.

Alguns estudiosos excelentes ensaios e monografias


publicaram

sobre os assuntos mais diversos. A história popularizou-se, unindo-se

à literatura.

O pelo estudo do homem cresce dia a dia.


gôsto

O caráter exclusivamente humano é que define a biografia.


"história
Ela nada mais é do que a do horrfem".

Na elaboração de um trabalho de tal natureza ficam em

evidência fatores históricos, literários e psicológicos. Tddos eles

num equilíbrio perfeito.

Concomitantemente, o documento como irres-


preza-se prova

refutar tentativa de crítica barata.


pondível, para qualquer

Sem o documento escrito surgiria quasi sempre, um inesperado

romance, ou, pelo menos, uma narração fabulosa. . .

Na nossa terra o número de livros têm objeto a vida


que por

de indivíduos notáveis já é promissor.


BIOGRAFIA 711

No caso particular da Marinha de Guerra, conquanto não exista


um sistema coordenador de estudos especializados, ha, não obstante,
várias publicações sobre os assuntos mais relevantes.
Á Biblioteca da Marinha é, no momento, o órgão centralizador
de semelhantes estudos. Já foram realizados trabalhos de vulto e o
"Divisão de His-
programa é importantíssimo. Muito breve será a
tória Marítima", do Estado Maior da Armada, um dos grandes
centros intelectuais do Brasil.
A beleza das tradições navais deve ser reavivada sem esmore-
ciníento para que se saiba donde partiram os primeiros cantos da
nossa independência e soberania territorial.
Pode-se dizer que as esquadras cavam trincheiras movediças.
Da sua pujança depende a segurança dos povos.
A espada dos almirantes é o símbolo perene de uma pátria que
resguarda as suas terras e defende os seus filhos.
A História Naval Brasileira possue muitos lances heróicos.
Heroicidade que define o povo.
As circunstâncias determinantes do fato histórico entram no
seu estudo posterior prejudicadas por certo número de pequeninas
minúcias, tendentes a deformar-lhe a pureza. Resultado da dife-
rença de épocas e da evolução dos países.
Paralelamente às circunstâncias surge sempre o homem, suposto
forjador das situações em foco. Pelo menos, a sua interferência, no
desenrolar dos acontecimentos, assume, todas as vezes, proporções
salientes em face das cousas e das suas leis.
O sentido das biografias na Marinha é despertar nas gerações
conteporâneas a admiração pelos antigos chefes e a confiança nos
alicerces da doutrina moderna. Doutrina que embeleza a tradição.
Edmundo Gosse, na Enciclopédia Britânica, define: "Esta forma
de história não cogita nem das raças, nem das massas humanas, mas
de singulares indivíduos".
A Marinha do Brasil possuiu, entre outros, um "singular indi-
víduo" cuja existência foi um exemplo de dedicação à sua classe e
cuja ação extraordinária atraiu a atenção de uma época brasileira.
Luiz Filipe de Saldanha da Gama nasceu em Campos, na justa
metade do século dezenove.
Era no tempo da escravidão. As fazendas de açúcar mantinham
na rotina o drama insultentável da diferença de raças.
712 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Alguns donos de pés de cana dominavam os infelizes cujo poder

defensivo, em suas terras longínquas, não fôra suficiente evitar


para

a brutalidade dos civilizados.

Havia, entretanto, no ritmo tropical dos engenhos, unia parte

romântica. A par dos troncos e dos açoites havia o coração distraído.

Muitas vezes (quantas !) o senhor amava clandestinamente.

E amava as suas negras !

"Negra
de Lima contou-nos isso em Fulô".
Jorge

Campos em 1846 era assim.

Saldanha nasceu e viveu os primeiros anos nesse ambiente com-

plexo e característico, à margem' do Paraíba.

Seus ascendentes traziam a marca vibrante da Península Ibérica.

Suas raizes estavam nas hesitações imprevistas de Portugal.

Sua aptidão a vida era tecida de inúmeras fibras.


para

Essa a razão do seu gênio polimorfo: marinheiro, artista,

diplomata, cientista, soldado, condutor de homens, educador. Sobre-

tudo um grande caráter.

Para se estudar a vida de Luiz Filipe de Saldanha da Gama é

indispensável devassar o enredo do Segundo Império.

A vida em Campos é intensa.

Os patriarcados sofrem os efeitos do abolicionismo eW for-

mação e desenvolvimento.

Graves problemas econômicos, políticos e sociais dão à época

uma fisionomia peculiar.

As fazendas mudam a feição das atividades agrícolas. Açúcar e

café precisam de todos os braços africanos.

Os negros começam a cansar e já fitam o céu com o olhar espe-

rançado...

Saldanha tem quarenta e dois anos a escravatura termina.


quando

O Brasil aguarda a República.

O novo regime deu à Esquadra uma oportunidade cujos desí-

gnios são muito discutíveis.

Afirmou-me o Comandante Roberto de Barros, na entrevista-


"Diretor
que me concedeu sôbre o da Escola Naval", que o almi-

rante admirava o marechal.


biografia 713

Isso é perfeitamente compreensível desde coloquemos à


que parte
as idéias e apenas consideremos os dois chefes das facções luta.
em

Na ocasião em' o consolldador da República é chamado ao


que

convívio do povo, as festas do cincoentenário do regime, é


para justo

que se tire Saldanha do esquecimento um cotejo útil e imprescin-


para
dível à apreciação da revolta de 1893.

Pairam nos espíritos de hoje as mesmas interrogações de

outrora: Teria sido monarquista o almirante ? Tencionaria


glorioso
derrubar Floriano ? a causa da sua no movimento
Qual participação ?

Qual o seu propósito em Campo Osório ?

Os documentos aí estão. O tempo vai amenizando antipatias

e aclarando penumbras.

Vale apena reunir num livro as constituem


práticas que ainda
"escola'
agora a do Almirante Saldanha, tão em apreço nos meios

navais, principalmente entre os oficiais antigos.

Não basta, "chefe


porém, focar a impressionante figura do de

93 e a sua atuação no comando da esquadra sublevada, na viagem

da Mindelo e no exílio do Prata, é urgente, urgentíssimo, deixar

que tudo isso ao secundário.


passe plano

O que merece atenção e respeito é à personalidade do marinheiro

que cumpriu todas as comissões com a mais lata compreensão de

patriotismo e cumprimento do dever.

E mais ainda: os seus comandos no mar, a sua organização dos

serviços navais da Biblioteca da Marinha),


(inclusive a sua obra

de educador ainda hoje tem reflexos marcantes


(que como, por
exemplo, o navio-escola leva o seu nome),
que a cultura de-
que
monstrou sempre e o magnífico em terras estrangeiras,
proceder junto
às embaixadas.

Ha exemplos a imitar.

A biografia do herói de Campo Osório virá relembrar uma

crença absoluta nos destinos da Pátria.

Pouco a iremos alinhavando os capítulos


pouco, dêsse trabalho
¦que se destinará,
quasi todo, aos aspirantes de Marinha.

— 1940.
Janeiro

A. M. Braz da Silva

Capitão-Tenente
no MM! EOTRE OS GURSOS

OAS GSCOLflS IIIIIIS DO fiHII.

Mffllfl E CHILE

(Continuação) (1)

Continuando a exposição dos respectiva compa-


programas, para

ração, dentro do critério adotado, vejamos agora são os


quais que

correspondem ao 1.° ano superior de Marinha) da nossa


(Curso

Escola Naval, 1" ano da Escola Naval Argentina e 2." ano da

Chilena.

O de Geometria Analítica e Cálculo infinitesimal da nossa escola

compreende, feitas nos seus detalhes as reduções que julgamos não

prejudicar:

GEOMETRIA ANALÍTICA

I — Introdução

Concepção fundamental de Descartes. Sistemas de coordenadas. Repre-

sentação de pontos, linhas e superfícies »por equações. Noções sobre a geo-


metria da recta.

II — Geometria no espaço de duas dimensões

Sistema de coordenadas rectilíneas. Distância de dois pontos. Coordenadas


¦do divide um segmento de recta numa razão dada. Determinação
ponto que
•de uma semi-rec'.a. Coordenadas polares.

O) Vide número Novembro-Dezembro de 1939.


716 rfvista marítima brasileira

Transformação de coordenadas.

Teoria da linha recta.

Circunferência de círculo.

Determinação de uma linha.

Lugares geométricos.
Tangentes e normais. Assimptotas.

Centros e diâmetros.

Noções sôbre transformações de figuras. Semelhança. Homotetia.

Estudo das curvas do 2° grau.


Noções sôbre algumas curvas importantes.

III — Geometria no espaço de três dimensões

Sistemas de coordenadas retilíneas. Distância de dois pontos. Coordenadas

do ponto que divide um segmento de recta numa razão dada.

Determinação de uma semi-recta. Coordenadas polares, cilíndricas e

esféricas.

Transformação de coordenadas.

Teorias do plano e da linha recta.

Determinação de linhas e de superfícies.

Esféra.

Lugares geométricos.
Generalidades sôbre linhas e superfícies. Geração e classificação das super-

fícies. Superfícies cilíndricas. Superfícies cônicas.

Superfície de revolução. Superfícies regradas.

Superfícies do 2° grau. >

CALCULO INFINITESIMAL

I — Cálculo diferencial

Origem do cálculo diferencial. Concepções fundamentais.

Derivadas e diferenciais das funções elementares. Derivadas e diferenciais

sucessivas.

Teoria dos acréscimos finitos.

Derivadas e diferenciais das funções de funções.

Derivadas e diferenciais das funções compostas de funções de uma só

variável real.

Funções de várias variáveis reais. Derivadas e diferenciais parciais.


Diferencial total. Derivadas parciais sucessivas.

Derivadas e diferenciais de funções implícitas.

Eliminação de constantes. Formação das equações diferenciais.

Mudança de variáveis.

Desenvolvimento em série. Fórmulas de Taylor e de Mac-Laurin.

Máximos e mínimos.

Avaliação das expressões de fôrma indeterminada.


ESTUDO COMPARATIVO 717

Aplicações geométricas.

a) Linhas — Tangentes e normais; assimptotas. Curvatura.


planas
Pontos singulares. Evolutas e evolventes. Envoltórias.

b) Linhas reversas — Tangente. Plano normal. Plano osculador.

c) Superfícies — Plano tangente. Normal. Noção sôbre curvatura.

II — Cálculo integral

Origem do cálculo integral.

Cálculo das integrais indefinidas.

Integração das funções diferenciais explícitas.

Teoria das integrais definidas.

Integração implícita; natureza do problema.


Classificação das equações diferenciais. Soluções das equações diferenciais.

Equações diferenciais.

Noções sôbre equações de derivadas parciais'.


Integração de alguns tipos simples de equações de primeira e de segunda

ordens.

Aplicações do cálculo integral: quadratura de linhas planas, retificação

de linhas planas e reversas, quadratura de superfícies, curvatura dos sólidos.

A outra cadeira do 1.° ano do Curso Superior é

GEOMETRIA DESCRITIVA

cujo é o que se segue, reduzido também nos seus por-


programa

menores:

Introdução à Geometria Descritiva. Sis'.emas de projeções.

Emprego das duas projeções e escolha dos planos que se cortam.

Posição do observador. Epura.

O ponto.

A linha recta.

O — Epuras.
plano
Rectas e combinados — Paralelos, intersecções,
planos perpendicula-
res.. Epuras.

Deslocamentos — Mudança de um dos de em relação ao


planos projeção

ponto, à recta, ao plano. Epuras.

Rotação do ponto, da recta, do plano, em torno de um eixo dado.

Epuras.

Rebatimento do ponto da recta, do plano, em tôrno de uma charneira dada.

Epuras.

Aplicações — Determinação de distância: entre dous entre duas


pontos,
rectas, entre dous planos; de um ponto a uma recta; de um ponto a um

plano; Epuras. Determinação do ângulo de duas rectas; de dous planos; de

recta e plano. Epuras.


718 revista marítima brasileira

Figuras — Projeções de um do círculo, situa-


planas polígono; projeções

dos nos planos de projeção ou em um plano auxiliar dado.

Sólidos — Representação dos regulares, tendo a


geométricos poliedros
base ou uma face em ura dos planos de projeção ou em plano auxiliar dado.

Representação do cilindro e do cone tendo a base em um dos planos de

projeção ou em um plano auxiliar dado. Projeções da esféra. Epuras.

Secções — Secção de um regular, do cilindro, do cone e


planas poliedro
da esféra por um plano qualquer. Epuras.

Planos tangentes — Traçar tangentes: ao cilindro, ao cone, à es-


planos
féra, por um ponto tomado na superfície, por um ponto exterior.

Epuras.

Interseções — Achar a interseção de dous de duas


prismas; pirâmides;
de pirâmide e prisma; de dous cilindros, de dous cones, de cilindro e cone;

de duas esféras. Epuras.

Sombra — Luz do sói. Sombras nos de


projetadas, planos projeção pelo

ponto, pela recta, pelas figuras planas.


Sombras: dos poliedros regulares, do cilindro e do cone, tendo as bases
no plano horizontal de projeção. Sombras da esféra, e nos
própria projetada
planos de projeção. Epuras.

Na cadeira de Química e desenvolvimento) o


(Revisão pro-

grama é dividido em duas inorgânica e orgâ-


partes: Química Química

nica. O de Química inorgânica, de cuja exposição pouco nos foi

possível suprimir, sem da idéia que desejamos dar de sua


prejuízo

extensão, compreende:

Noções preliminares. Problemas químicos principais. Hipótese. Teoria.

Leis naturais. Determinismo. Fenômenos físicos e químicos. Misturas. Solu-

ções. Metais e metaloides. Classificação electro-química de Berzelius. Grupa-

mento em famílias naturais de Swar'.s. Princípio de Ostwald. Símbolos

químicos.

Oxigênio. Óxidos.

Hidrogênio. Combinações com o oxigênio. Regras de van't Hoff e sua

generalisação. Conservação da matéria, seu conceito atual. Experiências de

Landolt. Deutério.

Água. Composição e síntese.

Massas de combinação. Lei de Proust. Teoria atômica, Átomo e molé-

cuia. Equivalentes químicos. Lei de Dalton.

Fórmulas e equações químicas. Nomenclatura (progressiva).

Cloro. Bromo. Iodo. Fluor. Hidrácidos. Ácidos, bases e sáis.

Lei de Gay-Lussac (proporções definidas em volume dos gases). Prin-

cípio de Avogadro. Massa molecular relativa nos gases. Massa atômica.

Realidade objectiva das moléculas e átomos; suas massas absolutas. Estrutura

atômica. Modêlos actuais.

Ozona. Água oxigenada.


ESTUDO COMPARATIVO 719

Crisoscopia. Ebulioscopia. Aplicações. Dissociação térmica. Reacções re-

versiveis. Noções de estática química. Princípio de Berthollet. Fórmula de

Guldberg e Waage. Compostos oxigenados de cloro. Cloratos e percloratos.

Ionização: PH. Fôrça dos ácidos e bases. Hidrólise.

Enxofre — Estudo completo.

Noções de iodometria.

Electro valência e convalência. Valências principal e secundária. Afini-

dade química. Berthelot. Termoquímica e termodinâmica química. Energia

utilizável e energia ligada. Helmholtz. Equilíbrio químico e seu deslocamento.

Le Chatelier e van't Hoff. Resistências passivas.

Azoto. Ar atmosférico. Amoníaco. Haber, Frank e Caro. Serpeck.

Compostos halogenados e oxigenados de azo'.o. Ácido nítrico. Combustão

eléctrica do azoto no forno Birkeland-Eyde. Valentiner. Ostwald.

Fósforo. Arsênico. Antimônio. Bismuto. Principais derivados.

Carbono. Diamante. Grafite. Carvões amorfos. Carvões fósseis. Com-

bustíveis. Coke. Análise do carvão. Medida e cálculo do poder calorífico.

Óxido e anidrido carbonicos. A chama.

Silício. Principais compostos.

Coloides. Produção. Divisão. Mutação convectiva. Grandeza das par-

tículas.

Estanho. Chumbo. Principais compostos.

Hélio. Argônio. Críptonio. Xenônio.

Determinação das massas atômicas pelas leis de Dulong e Petit, de

Neumann e de Mitscherlich.

Sistema natural dos elementos. Quadro de Mendelejeff e Mosley. Nú-

mero atômico. Sódio. Potássio. Sais principais. Sais amoníacos.

Curvas de solubilidade. Diagramas de fusão. Análise térmica das ligas.

Noções sôbre acidimetria e alcalinimetria. Indicadores.

Cobre. Prata. Ouro. Magnésio. Cálcio. Estrondo. Bário. Principais

compostos.

Noções sôbre o Rádio e os demais elementos rádio activos. Regra de

Sody e Fajans.

Zinco. Mercúrio. Principais compostos. Terras raras. Monazite.

Cromo. Molibdeno. Tungsteno. Urânio. Manganez. Principais compostos.

Ferro. Principais minérios. Itabirito. Noções de siderurgia. Guza. Aço.

Ferro. Bessemer, Ihomas; Siemens-Martin. Aços especiais. Principais com-

postos de ferro.

Cobalto. Niquel. Principais compostos. Platina e metais platínicos.

QUÍMICA ORGANICA

Análise e síntese. Caracterização da presença de carbono e dos elementos

minerais que o acompanham.

Isomeria e polimeria. Noções de estéreo-química.

Principais funções orgânicas e seu estudo.


720 revista marítima brasileira

Hidrocarburetos acíclicos. Séries homologas. Alcoois. Aldeidos. Cetonas.

Ácidos. Exemplos principais. Álcool etílico. Séries isólogas e heterólogas.

Éteres e Esteres principais. Saponificação. Esteres nitricos. Nitroglice-

rina. Niírocelulose.

Aminos e Amidos. Derivados nitrados.

Hidrocarburetos cíclicos. Distilação da hulha . Naftaleno. Antraceno.

Compostos nitrados. Fenois.

Petróleos e derivados.

FRANCÊS

Estudo da língua com o fim de habilitar o aluno à prática da

conversação, à leitura com perfeita compreensão dos textos e à

redacção.

Nos dois períodos do primeiro ano do Curso Superior os alunos

serão exercitados na prática de conversação em francês, sem pre-

ocupações especiais de tecnologia.

Nos dois períodos do segundo ano do Curso Superior a prática

de conversação versará sobre assuntos de tecnologia.

Os de assuntos estudados no primeiro


programas profissionais

ano do Curso Superior da nossa Escola Naval compreendem:

No Departamento Náutico:

NAVEGAÇÃO ESTIMADA

Problema geral e divisão da Navegação. Noções preliminares. Agulha

náutica. Noções sucin'.as sôbre magnetismo. Descrição de uma agulha magné-

tica tipo. Condições a que deve satisfazer. Modernos tipos de agulhas. Taxi-

metros. Desvio da agulha. Declinação magnética. Abatimento. Correcção

de rumos e marcações. Determinação de desvios. Tabelas e diagramas.

Noções sôbre projecções; sistemas empregados nas cartas marítimas.

Projecção de Mercator. Tábua de latitudes crescidas. Cartas marítimas e sua

divisão. Leitura de uma carta. Instrumentos para trabalhar nas cartas e

que nelas se resolvem. Loxodromia, formulas, sua dedução e cálculo.


problemas
Tábua do ponto. Problema das derrotas. Pontos de partida e de chegada,

rumo e distância entre êles.

Correntes marítimas, noção sucinta sôbre suas causas, influência na nave-

gação. Problemas que se apresentam. Influência das correntes nas derrotas.

Problemas de distância no mar. Processos de determinação por estima,

pelas alturas linear e angular de um ponto, por duas alturas angulares de

um ponto, pelo telêmetro e pela combinação das ondas sonoras e rádio tele-

gráficas. Distância ao horizonte.

Linhas de posição. Suas diversas espécies. Transporte.


ESTUDO COMPARATIVO 721

Processos de determinação da posição de um navio na navegação costeira.

Tábuas empregadas.

Distâncias percorridas no mar. Odômetros de superfície e de fundo.

Determinação da velocidade em função do número de rotações da hé-


lice. Gráficos.

Navegação de segurança. Segmentos capazes. Ângulos de perigo.


Prumos.

Noções sôbre navegação radiogoniométrica.

Registrador de rumos.

Estudo geral dos problemas da navegação estimada, mostrando o emprego

mais conveniente dos instrumentos e processos usados.

NO DEPARTAMENTO DO ENSINO PRATICO

Deveres militares. Ordenança para o serviço da Armada. Regulamentos

da Armada e organização administrativa do Ministério da Marinha. — Infan-

taria e esgrima de baioneta. Artilharia de desembarque. Escaleres a remo e

a vela.

Ginástica. Atletismo. Jogos esportivos. Natação.

Comunicações — Bandeiras: interpretação e confecção de sinais — Indi-

cativos e endereços — Semáforas — Treinamento.

OFICINAS

Ferreiro e serralheiro — Noções sôbre os métodos se obter o ferro


para
e o aço. Conhecer: as forjas, bigornas, cavaletes e ferramentas do ofício. Em-

prêgo destas ferramentas. Carvão de forja. Cctihecimento do ferro e aço;


cuidados, considerações sôbre o material empregado. Forjamento a mão;

puxar; encalcar; cortar; curvar, furar e caldear. Caldas empregadas nas


emendas de ferro e aço; sua execução. Tempera e seu estudo. Recosimento

da tempera e seu estudo. Emprêgo das ferramentas na execução de uma


calda e enfornamento das peças. Visitas às oficinas do Arsenal e particulares.

Caldeireiro de e cobre —• Estudar os traçados de calde-


ferro principais
raria. Corte, desempeno e reviramento das chapas. Costuras e rebitamentos.

Cravação e descravação de tubos de caldeiras. Calafêto de caldeiras. Trata-

mento de chapas de latão e de cobre. Distenção e contração dos metais.


Nomenclatura das ferramentas e seu emprêgo. Solda fraca e forte; seu

preparo e aplicação. Tincal. Calibre para tubos. Preparo dos tubos de ferro
e de cobre para canalização.

Solda autogênea. Estudo do aparelho oxicetilêneo. Carbureto de cáicio

e acetileno comprimido em empôlas; aplicações. Correspondência entre as

pressões do acetileno e do oxigênio nas operações de soldar e cortar. Solda

para ferro, latão e bronze. Tincal. Forno de aquecimento e combustível em-

pregado. Verificação das soldas. Operações acessórias ao serviço de solda.


Solda e recomposição 'de uma idôneo.
peça por profissional
722 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ARGENTINA

Tal como procedemos com os demais programas, não vamos trans-


crever integralmente os que se referem ao curso da Escola Naval Ar-
gentina, afim de não alongar demasiadamente a exposição. Faremos
os cortes possíveis, sem prejuízo da capacidade de se julgar do desen-
volvimento do ensino de cada matéria, para o que somos forçados a
manter detalhes.

No primeiro período do primeiro ano do curso da Escola Naval


Argentina o estudo de Análise matemática obedece ao seguinte
programa:

Funções: Conceito e classificação; funções de diversas variáveis; repre-


sentação gráfica das funções a uma variável; função algébrica explícita;
binômio de Newton.
Funções circularcs: Medição de ângulo; funções trigonométricas: seno,
coseno e tangente como função de números reais; relações fundamentais;
funções inversas; coordenadas polares no plano.
Função linear: Representação gráfica; linha recta; diferentes formas de
sua equação; ângulos de duas rectas; condições de paralelismo e ortogona-
lidade; recta por dois pontos dados; interpretação dos parâmetros.
Representação gráfica de funções: Generalidades; intersecção entre uma
curva plana e uma recta; equação do terceiro grau; sua resolução gráfica.
Determinantes: Definição, propriedades e cálculo; elementos da análise
combinatória; sistema de equações lineares.
Curvas dc segundo grau* Parábola, sua equação normal; equação do se
gundo grau a uma incógnita.
Lugares geométricos: circumferência, elipse, hipérbole; traçado das curva".;
equação polar das cônicas; transformação de coordenadas; intersecção dc
cônicas; equação biquadrada; equações paramétricas de uma curva.

No segundo período, o programa da mesma matéria inclue:

Variação das funções de uma variável: Fórmulas interpolatórias dc Newton


e Lagrange; noção de derivada; limites; definição de derivada; continuidade
das funções e derivada das funções inversas; representação gráfica da derivada;
derivada de uma função de função; derivada da função y = log. x; funções
implícitas; derivadas e diferenciais; derivadas e diferenciais de ordem superior.
Fórmula dc Taylor e suas aplicações: Fórmulas de Taylor e de Mac Lau-
rin; máximos e mínimos das funções de uma variável; curvatura das curvas
planas; círculo osculador (sem demonstração); a evoluta de uma curva (sem
demonstração); formas indeterminadas; pontos singulares.
Função inteira: Números complexos; teorema fundamental da álgebra
(sem demonstração); aproximação das raizes; regra de Newton.
ESTUDO COMPARATIVO 723

Outra cadeira do ano da Escola Naval Argentina é


primeiro

constituída Trigonometria e logaritmos. Eis o seu


por plana pro-

grama:

Primeiro período

Logaritmos: Definição e propriedades: características negativas; mudança

de base; descrição e manejo das tábuas; logaritmos de adição e de subtração.

Tábuas; seu emprego. Teoria e manejo das réguas de cálculo.

Representação gráfica: Sistemas de coordenadas rectangulares. Medidas

de arcos e ângulos. Diferentes sistemas. Conversão de medidas. Arcos com-

plementares e suplementares. Fórmula geral de arcos da mesma origem e


extremo.

Funções circulares directas; sua definição. Sinal e valor das diferentes

funções quando o arco varia de 0o até 2 t. Representação gráfica das

variações.

Fórmulas que vinculam as funções de um mesmo arco: Exprimir todas

as linhas trigonométricas em função de uma qualquer. Sua indeterminação.

Determinação do quadrante a que corresponde um arco, quando se conhecem

duas funções do mesmo.

Funções circulares inversas: Fórmulas gerais. Redução das funções de

um arco qualquer às de outro arco do 1.° Valores absolutos das


quadrante.
funções dos arcos.

Projecções: Projecção ortogonal. Funções trigonométricas da soma algé-

brica de dous arcos. Estabelecer as fórmulas coseno (o ± b) e seno (a ± b).

Sua extensão às fórmulas tangente (a ± b) e contag. (a ± b).

Fórmula de multiplicação de arcos: Dado cos. a calcular as funções

a
de . Mesmo dado sen. a. Interpretação da ambigüidade
problema
2

a
Exprimir tang. em função de tang. a.
2

Segundo período

Tábuas trigonométricas: Sua construção. Tábuas trigonométricas naturais

e logarítmicas. Sua disposição e manejo. Transformações logarítmicas. Trans-

formar em uma expressão calculável por logaritmos Sen. a ± sen b;

cos. a ± cos. b; tang. a ± tang. b. Casos particulares 1 ± cos. b;

1 ± sen. fc; J ± tang. b. Transformação por meio de ângulos auxiliares.

Noções elementares sôbre equações trigonométricas.

Triângulo rectângulo: Resolução dos quatro casos clássicos. Problemas

numéricos relativos ao cálculo de alturas e distâncias.


724 I1EVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Triângulo obliquângulo: Resolução dos diversos casos que se póden"»


apresentar. Cálculo das áreas.

Fórmulas logarítmicas que resolvem o problema. Fórmulas o cálculo


para
simultâneo dos três ângulos.

Problemas relativos ao cálculo de alturas e distâncias. Cálculo da dis-


intâncias de um ponto a outro inaccessível. Cálculo da distância entre dois

pontos inaccessíveis
"
Livro texto: Trigonometria" do professor M. Ferro.

FÍSICA

Primeiro período

Sensações; propriedades. Fenômenos. Representação gráfica. Medidas

de comprimento, angulares e de tempo. Nônio. Compasso de espessura.

Palmer.

Mecânica; estática. Representação gráfica das forças. Equilíbrio de duas

forças. Acção e reacção. Polia fixa. Alavanca. Princípio do paralelogramo.

Composição e decomposição de forças. Resultante. Forças concorrentes,

coplanares não concorrentes e paralelas.


Momento de uma força. Conjugado. Centro de gravidade; equilíbrio

dos corpos suspensos.

Trabalho de uma força. Máquinas simples. Princípio dqs trabalhos

virtuais. Aplicações: aparelho diferencial, parafuso.

Princípio dos trabalhos virtuais. Aplicações: aparelho diferencial, parafuso.

Elasticidade; tracção, torsão, flexão. Dinamômetros.

Movimento uniforme, movimento variado; velocidade. Movimento unifor-

memente variado.

Projecção de um movimento; vector velocidade. Hodógrafo do movi-

mento; vector aceleração.

Movimento de um corpo rígido. Composição de movimentos. Aplicações

de cinemática naval e aos movimentos harmônicos.

Objecto da dinâmica. Quéda dos corpos. Movimento sôbre um plano


inclinado. Princípios fundamentais da dinâmica. Fôr;a centrífuga, movi-

mento harmônico, pêndulo ideal, tiro no vácuo, coordenadas do centro de gra-


vidade ou de massa. Pêso específico e densidade.

Segundo período

Energia mecânica. Princípio da conservação da energia. Energia cinética

num movimento rotátorio; momento de inércia. Teorema de Steirner.

Pêndulo físico. Demonstração de suas propriedades e da fórmula do

período. Giroscópio. Aplicações; estabilidade dos projectís, derivação; rotaçãc

da terra; agulha giriscópica. Condições de equilíbrio de um sistema pesado.


Atrito.
ESTUDO COMPARATIVO 725

Medida do tempo. Medida da aceleração da gravidade. Pêndulos rever-

siveis. Medida do peso e massa de um corpo; balanças. Potência de uma má-

¦quina. Freio de Prony. Sistemas de unidades. Dimensões das grandezas


mecânicas.

Líquidos perfeitos. Definição de pressão. Teorema geral da hidrostática.

Superfícies de nível ou isobáricas, vasos comunicantes, princípio de Pascal.

Níveis, prensa hidráulica.

Princípio de Arquimedes. Condições de equilíbrio e de estabilidade dos


•corpos flutuantes. Metacentro.

Determinação de densidades. Compressibilidade dos líquidos. Tensão su-

perficial. Capilaridade.

Propriedades gerais dos gáses. Pressão atmosférica. Barômetros.

Compressibilidade dos gáses. Lei de Boyle-Mariotte. Manômetros. Má-


¦quinas Aerostatos.
pneumáticas.

Escoamento dos fluídos; teorema de Torricelli. Bombas de água. Sifão.

Reacção dos fluídos em movimento.

Movimento estacionário dos fluídos. Teorema fundamental da hidrodi-

nâmica. Movimento dos fluídos reais. Resistência ao movimento no interior

¦de um fluído.

Movimento escilatório. Propagação de um movimento vibratório; oscila-

ções transversais. Vibrações longitudinais. Interfêrencia de ondas. Formação

de ondas estacionárias.

Natureza do som; suas qualidades. Produção do som. Diapasão. Reso-

nância. Propagação; velocidade. Reflexão; éco; tubos acústicos.

Qualidades do som. Percepção sonora. Escala musical.

Nota — Cada artigo do presente programa traz, entre parêntesis, o número


¦do livro texto Física — 1." volume) trata
parágrafo do (Compêndio de que
do assunto.

QUÍMICA i |

Primeiro período

Definição da — Matéria e energia. Corpo. Molécula. Átomo.


química
Afinidade e coesão. Constituição dos corpos. Divisão Espécies
geral. quími-
cas. Fusão, solidificação, liquefação, evaporação, sublimação, cristalização.
Mistura e combinação. Solução. Diálise. Dissociação. Reacção. Cataliza-
dores. Radical químico.

, Função — Divisão dos elementos sua função. Notação e nomencla-


por
tura. Valência dos átomos. Conceito de anídrido e resíduo halogênico. Bases
¦e sais. Oxisais.

Lei da conservação da matéria ou princípio de Lavoisier. Leis de Proust,


Dalton, Richter Wenzel. volumétricas.
Leis
726 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Hipóteses de Avogadro e Ampêre — Dissolução dos Leis de Henrí


gases.
e Dalton.

Termoquímica — Definição. Calor de formação. Diferenças entre corpos


endotérmicos e exotérmicos. Princípios dos trabalhos moleculares, de Hess
e do trabalho máximo. Equações termoquímicas.

ElecJroquímica — Electrólise. Ions Representação dos ions.


químicos.
Dissociação electrolítica. Influência dos ions nas reacções Energia
químicas.
dos ácidos das bases. Aplicação dos fenômenos electrolíticos: obtenção e

purificação dos corpos. Galvanostegia. Galvanoplastia. Idéias de


gerais
acumuladores.

Hidrogênio —• Estudo geral.

Cloro. Ácido clorídrico. Cloretos.

Oxigênio. Estudo sôbre a chama. Soldas e cortes autógenos. Ozona.

Segundo período

Agua — Estudo Idéias sôbre


geral. gerais a água nos geradores de
vapor. Generalidades sôbre incrustações e corrosões. Desincrustantes.

Enxofre — Estudo Análise do enxofre


geral. para pólvoras. Sulfuretos.
Anidrido sulforoso. Anidrido sulfúrico. Ácido sulfúrico.

Asoto — Estudo. Aplicações. Compostos oxigenados do azoto. Termo-


química dos óxidos de azoto.

Ar atmosférico — Gases nobres. Ar líquido. Aplicações industriais.

Amoníaco e seus compostos — Estudo. Aplicações.

Ácido nítrico — Preparação, aplicações.


propriedades, Nitrato de amônio.

Fósforo — Propriedades. Compostos oxigenados e oxacidos. Usos.

Arsênico-Antimônio — Propriedades e aplicações.

Carbono — Propriedades Diversas espécies. Poder


gerais. descolorante e
reductor. Carvões activos. Sua constituição. O carbono nas negras.
pólvoras
Carbonos artificiais.

Produtos da combustão do carbono.

Óxidos de carbono — Preparação. Propriedades. Acção fisiológica.

Hidrátos de carbono — Generalidades. Classificação. Celulose. Acção do


ácido nítrico. Idéias sôbre vernizes aviação.
gerais para
Metais alcalinos — Sódio e Potássio. Estudo Propriedades
geral. e
aplicações.

Nota — Tal como no programa de física, cada artigo do programa vem


seguido de um número entre parêntesis, indicando o do livro íext.*
parágrafo
— Professor Lamas)
(Química que trata do assunto.

Seguem-se na relação das matérias constituem o


que primeiro
ano do curso da Escola Naval Argentina o estudo da História Naval

Argentina e Idioma Nacional e o de Inglês. Pelos mesmos motivos


ESTUDO COMPARATIVO 727
o

expostos a 522 do número anterior desta Revista, deixamos


páginas

de transcrever os respectivos
programas.

Depois vem o estudo de máquinas e oficinas como foi


que, já
dito, obedece a diferentes, conforme o Cadete Naval se
programas
"Cuerpo "Cuerpo
destina ao General" ou Ingenieros".

Damos a seguir, com as reduções, um e outro


possiveis pro-

gramas.

"Cuerpo
Para o General":

Primeiro período

Caldeiras marítimas. Caldeiras flamatubulares. Circulação da água e

percurso dos gases. Partes constitutivas das caldeiras.

Caldeiras aquatubulares. Classificação. Principais característicos e com-

paração com as caldeiras flamatubulares.

Caldeira Babcock Wilcox.

Caldeira Yarrow.

Trabalhos — Ferreiro. Caldeireiro e Montador.


práticos

Conhecimento e emprego das ferramentas. Com uma barra redonda fazer

outra de secção octogonal, quadrada, etc. Recortar uma chave de acordo com

um desenho.

Conhecimento dos materiais empregados para fazer uma junta para água,

vapor, petróleo, ele. Engachetamento e soldas. Executar juntas simples.

Trabalhos demonstrativos:

Conhecimento das diferentes formas de caldear.

Conhecimento das diferentes espécies de têmpera.

Segundo período

Descrição e função que desempenham nas caldeiras seus diversos orgãos

e acessórios.

Combustíveis e combustão. Combustão a carvão, mixta, e a petróleo.


Normas cada um desses combustíveis.
para queimar
Esquema geral de uma instalação para queimar combustível líquido. Partes
constitutivas.

Vantagens relativas do petróleo sobre o carvão para sua utilização na

marinha. Noções sobre tiragem forçada. Extintores de incêndio a vapor e


<juímícos. ,

Trabalhos — Oficina de caldeireiro de cobre e


práticos fundição:

Conhecimento dos materiais e ferramentas empregados.

Executar trabalhos simples de solda de estanho.


728 revista marítima brasileira

Soldar com bronze uma pequena barra de ferro no extremo de um tubi.

Preparação de um mancai para nele fundir metal patente.

Fundir metal branco (patente) em pequenos mancais.

Trabalhos demonstrativos:

Diferentes espécies de soldas de remendos, canalizações, etc. de bronze.

Característicos da terra de fundição. Modelagem de peças simples e noções-

práticas sobre fundição de metais.

"Cuerpo
Para o Ingenieros":

Primeiro período

Caldeiras marítimas. Caldeiras flamatubulares. Caldeiras cilíndricas de

chama directa e invertida, de simples e dupla frente. Circulação da água e

percurso dos gases. Partes constitutivas das caldeiras.

Caldeiras aquatubulares. Classificação. Caldeiras Babcock Wilcox. Cai-

deiras Yarrow, Schulz, Thornicroft.

Comparação entre as caldeiras flamatubulares e aquatubulares. Vantagens-

e inconvenientes de cada tipo.

Acessórios das caldeiras, discriminando sua descrição, instalação, objecto,

posição e função.

TRABALHOS DE OFICINA

Trabalhos demonstrativos: Cravação e calafêto de uma fornalha de cal-

deira cilíndrica. Precauções. Prova de estanqueidade de uma chapa cravada.

Tempera de corta-frio. martelos, etc.

Caldeamento de um eixo de aço. Confeccionar um elo de corrente. Con-

feccionar uma ferramenta de forja. Confeccionar e caldear uma canhoneira^

Fazer uma corrente. Fazer um parafuso e porca.

TRABALHOS PRÁTICOS

Montador — Calibrar fornalhas, câmaras de combustão, tubos, etc. Colo-

car zinco. Vedar tubos. Desarmar e limpar níveis e hastes. Limpar conden-

sadores. Esmerilhar válvulas e torneiras. Fazer juntas para água e petróleo.

Ferreiro — Conhecimento dos materiais utilizados. Nomenclatura e utili-

das ferramentas. Tempera das ferramentas. Com um vergalhão de


zaçãc

ferro confeccionar outros de secção octogonal e quadrada. Curvar uma chapa

segundo um em S. Fazer um caldeamento. Confeccionar um arga-


gabarito

neu. e caldeá-lo. Forjar uma cantoneira a 90°. Forjar um ferro de soldar.

Confeccionar uma peça simples de metal Muntz.


ESTUDO COMPARATIVO 729

Segundo período

Esquema geral de uma instalação para queimar combustível líquido. Di-

versos tipos empregados na Marinha.

Medidores de petróleo. Pneumarcator. Extintores de incêndio.

Aquecedores de água de alimentação. Grcuito de alimentação aberto c

fechado.

Nomenclatura detalhada de uma máquina de expansão múltipla. Percurso

do vapor. Descrição das partes constitutivas.

Condensadores. Classificação e descrição dos tipos em uso.

Bombas de ar e de circulação independentes e conjugadas.

Bombas de alimentação. Bombas Worthington. Weir e turbo-bombas.

TRABALHOS DE OFICINA

Trabalhos práticos de caldeireiro de cobre, fundição e modelador.

Caldeireiro de cobre — Conhecimento de materiais e ferramentas. Exer-

cícios de emendas em folha de Flandres e de soldas com estanho. Dobrar um

tubo de cobre segundo um gabarito (resina) (Exercício A). Dobrar um tubo

de ferro segundo um gabarito (areia) (Exercício B). Soldar a forte, no

exercício (B) uma travessa de ferro. Soldar a forte no exercício (A) uma

travessa de bronze. Roscar e mandrilar no exercício (5) uma travessa de

ferro. Traçado de um funil. Traçado e confecção de um conduto segundo

um ângulo de inclinação dado.

Fundição e moldagem — Conhecimento das ferramentas e materiais. Di-

ferentes terras de fundição, preparação das mesmas. Terras de núcleo de

molde, preparação. Preparação dos moldes. Moldagem de uma peça sem

núcleo (A). Confecção de um molde. Moldagem de uma peça com núcleo (B).
Moldagem com placa. Efeito da contração, precauções. Fundição de ferro

empregando o exercício (A). Fundição de bronze empregando o exercício (B).


Fundição de uma peça de alumínio. Peças com bolhas, suas causas, etc.

TRABALHOS DEMONSTRATIVOS

Solda de um tubo. Solda de chumbo com maçarico. Estanhar uma peça.

Galvanizar uma Solda de encaixe. Remendos. Fundir metal brauco


peça.
num colar de pressão.

A seguir vem, com um comum ao Cuerpo General e


programa

aos Ingenieros, o estudo de

DESENHO

Primeiro período

Conhecimento e manejo dos instrumentos usados em desenho:

Construções — O objecto destes trabalhos é adestrar o cadete


geométricas
ao uso correcto do equipamento de desenho e dar os elementos necessários

para a execução consciente dos trabalhos posteriores.


730 revista marítima brasileira

Representação de orgãos mecânicos: Desenho de diversos tipos de arre-

bites, um parafuso em três posições, um orifício roscado em duas posições,


a frente seccionada, diversos enchavetamentos.

Segundo período

Escalas — Diferentes escalas Triângulo de redução.


gráficas.

Rascunhos — Seus característicos, método de representação usual, escolha

de vistas e cortes, etc. Cotagem, instrumentos de medida, seu manejo. Normas

para a execução correcta dos rascunhos. Uma vez executado no respectivo

caderno o rascunho cotado de meio mancai de biela, desenhá-lo, praticando as

secções pertinentes que se tingirão com as côres convencionais. Essa fôlha

correctamente cotada, terá também desenhada a escala milesimal.

convencionais normais: folhas) — A re-


Representações (Três primeira

convencionalmente, de acordo com as normas usuais, sinais mecâ-


presentando
nicos; a segunda, sinais electrotécnicos e a terceira sua utilização na repre-

sentação de esquemas de uma planta de máquinas e de uma instalação eléctrica,

ambas navais.

AULAS PRATICAS DE SINAIS

Primeiro período

bandeiras — Sistemas regulamentares


Elementos para assinalar com

de bandeiras do Código Nacional Argentino. Bandeiras


visuais. Regimentos

alfabéticas. Numéricas. Galhardetes. Adriças.

Mensagens.

Semáforos.

cintilações — Projector — Farol de tope Aparelho


Sinais por meio de

Scott — Lâmpada Aldis — Tubo.

Alfabeto Morse internacional.

— de recepção mensagens cifradas computadas à


Nota Velocidades para

razão de uma palavra cada cinco letras:

Semáforas . . . 2 palavras

Aparelho Scott . . 2 palavras

Projector . . . . palavra

Faról de tope . . palavras

Tubo 1 palavra

Segundo período

Processos para sinalização com bandeiras.

Sinais de uma letra.


ESTUDO COMPARATIVO 731

Sinalização com luzes Very.

Processos sinais urgentt.es pelos diferentes sistemas.


para

Nota — Velocidades de recepção mensagens cifradas computadas à


para
razão de uma palavra cada cinco letras:

Semáforas 4 palavras

Aparelho Scott 3 palavras

Projector 2 palavras

Farol de tope 3 palavras

Tubo 2 palavras

PROGRAMA DE REGIMEN MILITAR

Primeiro período

Conceito sobre o que é uma nação. Conceito de pátria. Conceito sobre

a bandeira. Forças armadas. Necessidade e união das mesmas.

Deveres militares. Necessidade e carácter da disciplina. O dever. Defi-

nição. Princípios do dever. Importância e dignidade da profissão militar.

Relações de solidariedade.

Manual do cadete: Preliminares e disposições. No estudo, em aula.

Instrução. No salão de refeições. Nos recreios. Nos dormitórios.

Cadetes enfermos. Higiene. Vestuário e equipamento. Das licenças.

Da urbanidade. Comportamento social. Como se apresenta um militar a

outro militar. Da discreção nas conversas. Dos deveres para com seus pais

e parentes.
Do rancho. Da conduta e aplicação. Das visitas e comportamento na

tua. Regulamento disciplinar e suas penas.

Segundo período

Graduação do pessoal superior da Armada. Corpo da Armada e auxilia-

res. Equivalência com o Exército. Graduação do pessoal subalterno da Ar-

mada. Pessoal combatente, Mestrança e serviços auxiliares. Equivalência

com o Exército.

Uniformes do superior e subalterno do Exército e da Armada.


pessoal

Deveres do cadete a bordo. Guarda militar. Em serviço no pôrto. De-

veres das sentinelas. Em serviço em viagem, vigias, guindastes, turcos,


gerais
esferas e cones.

ARMAMENTO

Primeiro período

Fuzil Mauser. Emprego táctico da arma. Fuzil metralhadora Madsen.,

Descrição, funcionamento, manejo e emprego táctico. Armar e desarmar.

Tiro com fuzil e fuzil metralhadora.


732 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Segundo período

Nomenclatura geral e objecto das diferentes partes e peças de um


canhão B. de 101 mm. L 50 mod. 1 e seus acessórios.

Tiro com fuzil metralhadora.

As aulas serão exclusivamente práticas e dadas em presença do

material.

CHILE

Vejamos os programas das matérias de estudo no segundo ano

do curso que, segundo o critério adotamos, servirão serem


que para
comparados com o nosso ano superior e o ano
primeiro primeiro
da Escola Naval Argentina, cujos expuzemos.
programas

No ramo de Matemáticas são os seguintes:

ARITMÉTICA

Números — Regra de Regra de desconto


proporcionais juros; e de ven-
cimento médio. Divisão proporcional; Regra de sociedade; Termo médio;
Mistura; Liga.

Regras várias — Câmbio. Depreciação da moeda corrente. Comissão e


corretagem. Juros compostos.

Emprego de logaritmos — Desenvolver "


os exemplos do livro de Mate-
máticas Aplicadas" de Qapham, Capítulo VI.

Medidas de comprimentos e áreas — Desenvolver os exemplos do livro


"
Matemáticas Aplicadas" de Clapham, Capítulo VII.
Livro texto: Curso de Matemáticas Elementares (Tomo III) de Poenisch
e Prõschle.

ÁLGEBRA

Raices — Números irracionais. Extracção de raiz Equações


quadrada.
irracionais. Equações exponenciais.

Sistema de equações simultâneas de primeiro grau com duas e três iti-


cógnitas.

Alguns sistetnas simples de equações do segundo grau.

Logaritmos — Definição e estudo dos logaritmos. Sistema logaritmos.


de
Propriedade de todo sistema. Sistema de Briggs. Tábuas de logaritmos e
seu uso. Equações exponenciais.

nenciais.

Progressão aritmética.

Progressão — Série compostos.


geométrica geométrica. Juros
ESTUDO COMPARATIVO 733

" Matemáticas
Anuidades — Resoluções de problemas gráficos (Do livro
Aplicadas" de Clapham, Capítulo IX).
Livro texto: Curso de Matemáticas Elementares (Tomo III) de Poenisch
e Prõschle.
GEOMETRIA

Polígnos regularcs inscritos — Divisão em média e extrema razão.


Determinação do valor de *\
Aplicação da álgebra a problemas geométricos.
A recta e o plano no espaço — Posições relativas das rectas e dos planos.
Projecções sobre um plano.
Simetria no espaço.
Ângulos sólidos. Triedros. Triedros suplementares. Igualdade dos triedros.
Poliedros — Propriedades e definições. Poliedros quaisquer. Poliedros
regulares.
Volume dos poliedros.
Os três corpos redondos — Cilindro. Definições, superfície, volume.
Tronco de cilindro.
Cone. Definições. Superfície. oVlume. Tronco de cone.
Esfera. Generalidades. Círculos. Plano tangente. Área. Volume.
"Elementos
Livro texto: de Geometria" de G. M. Bruno.

TRIGONOMETRIA PLANA

Objecto da trigonometria. Funções goniométricas. Relação entre as fun-


ções. Equações trigonométricas.
Representação gráfica das funções. Círculo trigonométrico. Linhas do
Io. quadrante. Redução das funções de (90° + o). Linhas trigonométricas
dos ângulos suplementares e ângulos negativos. Periodicidade das funções.
Funções da soma e diferença de dois ângulos. Ângulo auxiliar. Ângulo
duplo. Soma e diferença de duas funções. Senoverso e semisenoverso.
Funções circulares inversas.
Uso das tábuas trigonométricas.
Resolução dos triângulos.
Livro texto: Trigonometria Plana de Maurício Gon-zález e Júlio Maureira.

No ramo de Humanidades está compreendido, no segundo ano


do curso da Escola Naval Chilena, como se encontra exposto no
respectivo quadro, o estudo de Ciências Naturais, Química, Caste-
lhano, Inglês, Francês, História e Geografia.
Tal como procedemos quando nos estávamos ocupando do 1.° ano
desse curso e pelos mesmos motivos, só vamos pormenorizar o pro-
grama de
734 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

QUÍMICA

Introdução — Importância da na Marinha de Guerra. Hipótese


química
molecular. Hipótese atômica. Afinidade química e coesão. Corpos simples

e compostos, mistura, corpos isômeros. Símbolos e fórmulas (definições e

exemplos).

Pêso atômico e pêso do átomo. Pêso molecular e pêso da molécula.

Determinação dos pesos moleculares com os métodos crioscópicos e vapori-

métricos. Gramo átomo e gramo molecular. Lei de Avogadro, aplicação às

soluções químicas e número de Avogadro.

Reacções químicas, reacções completas e reacções reversíveis. Análise

e síntese.

Oxigênio — Preparação, compostos, oxidação.


propriedades,

Combustão — Lei de Hess. Reacções exotérmicas e endotérmicas. Com-

bustiveis e comburentes. Ponto de ignição. Temperatura de combustão. Com-

bustão lenta, viva e instantânea. Poder calorífico (Calorias).

Ozona — Preparação, propriedades, usos. Alotropia.

Solução — Solubilidade, concentração. Concentração ordinária, molar,

molecular.

Teoria iônica — Electrólitos, ions.

Elcctrólise — Grau de ionização.

Hidrogênio — Preparação, usos.


propriedades,

Redução — Electroafinidade e energia dos ions.

Valência dos átomos — Como se indica. Valência dos ions.

Sistema periódico de Mendelejeff.

Halógenos — Clóro, Bromo e Iodo: preparação, propriedades e usos.

Ácidos halogenados.

Definição dos ácidos, das bases e dos sais. Suas propriedades. Nomen-

clatura dos ácidos e dos sais.

Ácido clorídrico muriático) — Preparação, propriedades e usos.


(ácido
Cloreto de sódio — Preparação, e usos.
propriedades
Cloretos descorantes.

Clorato de potássio.

Água — Natural. Propriedades físicas e químicas.


Água — Condições seja como se e
potável para que potável; purifica
como se esteriliza. Filtros. Águas minerais.

Água do mar.

Impureza da água — Como se determina e como se corrige. Água para


caldeiras. Água distilada. Água pura.

Peróxido de hidrogênio — Perhidrol, água oxigenada»

Lei das massas e constantes de equilíbrio.

Enxofre — Natural. Preparação, e uso.


propriedades

Ácido sulfhidrico e sulfuretos.

Ácido sulfuroso e sulfitos.

Ácido sulfúrico e sul fatos.

Hiposulfito de sódio. '•


ESTUDO COMPARATIVO 735

Fórmulas empíricas e fórmulas racionais.

Equivalentes dos corpos simples, dos ácidos, das bases e dos sais. Gramo

equivalente. normal. 'de um electrólito. Como se obtém um


Solução Energia

ácido e uma base de seus sais.

Nitrogênio — Preparação, propriedades.

— troposféra — Análise quantitativa e


Ar atmosférico Estratosfera e

do ar. Sua importância na combustão. Cálculos sobre a quantidade


qualitativa

de ar necessária na combustão.

Amoníaco — do amônio hidróxido, cloretos e sulfatos).


Compostos (o

Ácido Água regia. Nitratos. Salitre do Chile e salitre sintético.


nítrico.

Ácido nitroso. ¦>

Óxidos de nitrogênio.

Fósforo — Preparação e propriedades.

Anidridos, ácidos, fosfatos.

Arsênico e Antimônio.

Bismuto — Sais básicos.

Salificação e hidrólise.

Boro — Borax. Ácido bórico.

— Bióxido de silício. Carborundum. Ácidos silicico e metasilicico.


Silício

Vidros e cristais. Porcelanas. Cimentos.

assuntos constam no respectivo qua-


No ramo dos profissionais,

da Escola Naval do Chile, no 2.° ano do


dro do Plano de Estudos

curso, de Náutica, Desenho e Oficinas, cujos programas,


as aulas

resumidamente, são

NÁUTICA

»
navio — Idéia das peças que formam um navio
Estrutura de um geral

Materiais empregados. Construção longitudinal.


de construção moderna.
do navio. Compartimentos estanques e
Transversal. Mixta. Diversas partes
de colisão. Cofferdams. Portas estanques.
não estanques. Compartimento

às vitais de um navio. Ventilação de


Tôrre de comando. Proteção partes
incêndio. Carvoeiras. Modo de enchê-las. Departa-
paióis. Canalização de

mento Máquinas auxiliares. Telegráfos mecânicos e eléctricos.


de máquinas.

Tubos Telefones. Caldeira auxiliar.


porta-voz.

— Teoria dos lemes. Diferentes modos de colocá-los. Dife-


Timoneria

ren';es lemes. Leme Flettner. Objecto e vantagens do leme com-


espécies de

Servomotor. Telemotores. Orçar. Arribar. Avarias nos aparelhos


pensado.
dé governo. Lemes de fortuna.

Mastreação — Objecto. Mastros de ferro. Mastros militares. Idem de

treliça. Idem de tripeça. Plataformas militares; diferentes formas e fins a

que se destinam. Mastareus móveis e fixos.


736 KEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Poleame, turcos e guindastes.

Conhecimento completo dos moitões. Talhas; seu objecto. Multiplicação

das forças. Perda atrito. Gatos. Guindaste. Amantilho. Cábreas. Ca-


por
brilhas. Cabrestantes.

Maçame — Dos cabos fixos da mastreação. Material de que são feitos.

Costuras de cabos. Prática de nós, anéis, costuras de cabo, pinhas, estropos.

Manobra de vergas — Troças. Amantilhos. Braços. Ostagas. Andari-

velos. Adriças. Talhas das vergas. Vergas de gávea duplas. Cabos com que

se manobram os mastareus. Vestir uma verga grande.

Lonas e velas — Diferentes espécies de lonas. Marcas. Dimensões. Idéia

de como se cortam as velas. Carangueijas. Forras de rizes. Costuras. Refor-

Empunidouros. Armar, envergar e desenvergar toldos e velas.


ços.

das velas — Cabos de laborar das velas. Manobras. Velas


Manobra

latinas, cutelos e varredouras.

dos ventos — Rumos da rosa dos ventos. Divisão em quartas.


Classificação

Classificação do vento segundo sua força.

e amarras — Considerações sóbre as diversas âncoras com e sem


Âncoras

cepo. Vantagens e inconvenientes. Amarras. Élos. Manilhas. Arinques. Ta-

lingar. Fundear. Diversos modos de fundear. Amarrar. Suspender.

Cabrestantes. Bolinetes. Ancorotes.

Peso âncoras em relação à tonelagem do navio. Número e nome


das

e ancorotes tem um navio. Camisa de colisão; seu fim;


das âncoras que

sua manobra.

DESENHO

Desenho de a lápis. Perspectivas de sólidos regulares


— perspectiva,

e paizagens.

— Desenho a tinta. Construção de curvas geométricas.


geométrico

OFICINAS

trimestre) — Nomenclatura das diferentes ferramentas e


Ferreiro (um
barras. Transformar barras de secção circular em quadra-
seu uso. Estirar

hexagonais. Caldear. Dobrar barras em anel. Forjar pinos, élos, com


das e

travessão. Machos. Gatos de tornei. Forjar as ferramentas que se


e sem

usam nas oficinas. Temperar e destemperar. Fazer uma mola em espiral.

trimestre) — Nomenclatura das diversas ferramentas e


Caldeireiro (um
Diferentes espécies de cravações. Cravação a quente. Confecção de
seu uso.

cantoneiras.

e Funileiro trimestre) — Traçados e cortes de


Caldeireiro de cobre (um

e cones. Confecção de litros, lâmpadas de óleo, almotolias e baldes.


pirâmides
Curvaturas de canalizações. União de canalizações. Remendos. Secções de

condutos. Encher bronzes com metal patente. Soldar e cortar usando o

oxigênio.
ESTUDO COMPARATIVO 737

Com o carácter experimental, encontra-se incluso


puramente
entre as matérias do 2.° ano cia Escola Naval Chilena, o estudo de
Física, com o seguinte
programa:

Medir comprimentos com um vernier.


Medir com um vernier as arestas de um corpo e calcular seu volume.
Medir espessuras e diâmetros com um micrométrico.
parafuso
Medir ângulos com um Sextante, Teodolito e transportador de sondas.
Ler alturas barométricas com um barômetro de mercúrio.
Determinar o volume de alguns corpos mergulhando-os na água.
Verificar com o fio a se o chão ou a mesa estão horizontais.
prumo
Se uma viga ou a aresta de um corpo estão verticais.
Fazer a mesma verificação com um nível de bolha. Corrigir um nível.
Pesar corpos com a balança.
Pesar corpos com o dinamômetro.
Determinar a densidade de corpos sólidos, líquidos e gasosos.
Determinar o médio de uma balança.
ponto
Determinar a sensibilidade de uma balança.
Medir a massa exacta de um corpo.
Determinar o coeficiente de atrito de um corpo.
Determinar o coeficiente de atrito de uma roda.
Determinar o ângulo de atrito da areia, trigo, etc.
Determinar g meio do
por pêndulo.
Determinar o atrito de uma roldana, cadernal, inclinado, de um
plano
•parafuso
de um torno. Calcular seus respectivos rendimentos.

Aquecer um volume de água lentamente até que ferva, anotando a tem-

peratura cada dois minutos e confeccionar um gráfico. Por meio deste encon-
trar a temperatura de ebulição.

Verificação da lei de Mariotte.

Medidas de quantidade de calor com o calorímetro de gêlo.


Medida de quantidades de calor com o calorímetro de água.

Princípio de Arquimedes.

Os diversos exercícios a que se dedicam os aspirantes do 2.° ano

<la Escola Naval Chilena constam do do de estudos e


quadro plano
excusam de especificado. Daremos apenas o de
programa programa
Sinais, a comparação entre êle e os das Escolas Navais
para permitir
Brasileira e Argentina.

E' o seguinte:

1 — Sinais hora — Conhecimento das ban-


por bandeiras (1 semanal)
deiras do Código Nacional Chileno e seus significados como característicos,
sinais mais importantes.

Modo de içar, ler e responder os sinais.


Conhecimento das bandeiras nacionais e estrangeiras.
738 REVISTA MARÍTIMA brasileira

2 — Semáforas hora semana; transmissões


(1 por diarias de 10 minutos
de duração).

Receber 7 palavras por minuto e transmitir com a mesma rapidez.

Sinais de pontuação.

Números.

Chitilação (1 hora semanal; transmissões diárias de 10 minutos de du-


ração).

Receber 5 palavras por minuto e transmitir com a mesma rapidez.

Sinais de pontuação.

Temos assim terminada a exposição, permitindo a comparação

entre a extensão de cada um dos das diversas disciplinas


programas

professadas no 1.° ano do Curso Superior da nossa Escola Naval,

1.° ano da Escola Naval Argentina e 2.° ano da Escola Naval do

Chile.

(Continua)

Renato Bayardino,

Capitão de Fragata

•IS*
REVISTA DE REVISTAS

Sumário — Marinha Britânica — custam


A missão da Quanto

algumas Marinha Francesa — Novos


das novas unidades da

navios Estados Unidos — Os na


para a Marinha dos perigos

marítima — Permanência em terra dos oficiais da Mari-


guerra

nha — A mercante —
dos Estados Unidos marinha germânica

Desenvolvimento da industria baleeira no Japão — A arte da

camuflagem militar — Sobre os critérios britânicos de estratégia

naval — três — Meteorologia e —


Três guerras, lições guerra

O renascimento marinha mercante americana — A


da fortificação

do arquipélago das ilhas Aland — Próxima expedição antarctica

"Orange" —
O novo a motor A
paquete proporcionalidade

das Frotas Britânica e Alemã — custou a na


Quanto já guerra

Europa aos beligerantes — A tonelagem mercante mundial


países

O da Marinha Polonesa — O levantamento hidrográfico


fim

J e aéreo no mar das Antilhas.

A MISSÃO DA MARINHA BRITÂNICA

O vice-almirante Castex, membro do Conselho Superior da

Marinha Francesa, diretor do Colégio de Altos Estudos de Defesa

Nacional, efetuou na tarde de 22 de Setembro, uma palestra pela


"Invariavel
Rádio Paris, acêrca da missão da Marinha Britânica".

Observou, em cada século, e nos tempos modernos


primeiro, que
com singular, a tranqüilidade da Europa foi
periodicidade perturbada

por uma nação ou um aspirando a hegemonia. Em todos


grupo político
"perturbador".
os séculos ha um Ha uma nação em desenvol-
pleno
vimento, sedenta de ambição, tudo dominar, manifesta,
que quer que
740 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

mais ou menos abertamente, o desejo de absorver e esmagar os vizi-


"O — —
nhos. prosseguiu acaba sempre, mais tarde
perturbador

ou mais cêdo, esbarrar contra o poderio marítimo da Inglaterra".


por

Militarmente o domínio do mar, exercido graças a Marinha

Inglesa, desempenha imenso. Primeiro na ordem defensiva,,


papel

essencial se trata em primeiro lugar de escapar à destruição.


porque

O naval da Inglaterra bloqueia e jugula a penetração do'


poderio

no campo externo e em direção ao Oceano. Permite a


perturbador

constituição de uma espécie de reduto da defesa, cercado por água, ou

e colocado fora do alcance das garras do inimigo. Permite


quasi, que

esta defensiva dure. Faz intervir em seu favor recursos consideráveis.

Contribue fazer nascer a estabilidade, o equilíbrio das forças.


para

Proporciona o factor tempo. O marítimo da Inglaterra —


poderio

concluiu o orador — visa destruir os exércitos inimigos e completa

o bloqueio econômico e militar.

Foi assim no fim da Grande Guerra, em 1918, soou


que quando

a hora do ataque definitivo, foi de regiões distantes e inacessiveis ao

inimigo — Império Britânico e Estados Unidos — surgiram


que

os recursos e foi ao mar que se tornou possível aplicá-los nos


graças

onde interessava fazê-lo; em primeiro lugar, nas frentes


pontos

ocidentais, onde a vitoriosa batalha da França. Depois


permitiram

nas frentes afastadas, o domínio naval tinha permitido criar nos


que

Balkans, na Palestina e na Mesopotamia. E foi assim se conse-


que

vencer o ser invencível.


guiu perturbador que julgou

do Clube Militar Naval, 1939).


(Anais Julho-Setembro

CUSTAM ALGUMAS DAS NOVAS UNIDADES


QUANTO

DA MARINHA FRANCESA

A relação das novas construções navais durante o exercício'

de 1939, anexada ao respectivo orçamento, contém dados interessan-

tes sôbre o custo de alguns dos modernos navios. Nota-se de


que

uma década a outra e especialmente nêstes últimos anos, aquele custo

tem crescido de modo sensível.

O cruzador Dugnay Trouin, por exemplo, custou em 1932, 100

milhões de francos; a construção do De Grasse estão previstos


para

128 milhões.
REVISTA DE REVISTAS 741

O encouraçado Richelieu, de 35.000 tons., está orçado em


1.227.000 francos, enquanto que o Jean Bart do mesmo tipo,
custará mais 170 milhões; para as outras duas unidades de 35.000
tons. Clemenceau e Gascogne estão previstos cerca de 4 bilhões de
francos.
A construção de um submarino de cruzeiro exige 100 milhões
de francos e cada um dos navios porta-aviões, autorizados no ano
passado, está calculado em 800 milhões.
Quanto às vedetas torpedeiras, julga-se que custarão de 7 a 10-
milhões cada uma.

(Rivista Marittima, Outubro de 1939).

NOVOS NAVIOS PARA A MARINHA DOS ESTADOS-


UNIDOS

Acham-se atualmente em construção ou autorizados 8 encoura-


çados: Washington e North Caroline que deverão estar terminados
em 1941: South Dakota, Indiana, Massachnssets e Alabama que
poderão entrar em serviço em 1944 e as duas unidades do programa
deste ano — Yowa e Nezv Jersey que deverão estar terminadas em
1945. Estes dois últimos navios deslocarão 45.000 tons., terão o
armamento principal de IX-406 mm. e uma velocidade de 35 nós
pelo menos, que será a maior existente para unidades dessa cate-
goria.
No ano financeiro 1939/40 está prevista também a construção
de 8 contra-torpedeiros e 8 submarinos que serão repartidos em partes
iguais entre a industria particular e os arsenais do Governo.
Está igualmente prevista a construção de 6 torpedeiras a motor,
de madeira, (4 de 18 metros de comprimento, 2 de cerca de 25),
de 3 caça-submarinos (1 de 33,35 metros, de madeira, 1 de 50,30
metros, de aço, 1 de 51,85 também de aço) as quais figuram no
decreto de 17 de Maio de 1938, como unidades experimentais do
tipo "Mosquito".
Os contra-torpedeiros terão o deslocamento de 1.630 tons. e
dos 8 submarinos, 2 deslocarão 800 tons. e 6, 1.775.
742 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em 2 de Junho o Navy Department tornou ter ordenado


público

em estaleiros privados e nos arsenais do Governo, a construção de

24 unidades diversas com o deslocamento total de 159.800 tons. e

custo provável de 350 milhões de dólares. Dessas unidades 19 per-


tencem ao programa de 1940.

Com os contratos para a construção de 4 contra-torpedeiros de

1.630 tons., 3 submarinos de 1.475 tons., 4 cruzadores de 6.000

tons. e um navio aviões de 20.000 tons., assinados com a


porta

industria e com a ordem dada aos arsenais do Governo


particular

para 2 encouraçados de 45.000 tons., 4 contra-torpedeiros de 1.630

tons., 4 submarinos (1 de 700 tons. e 3 de 1.475) e 2 tenders de

hidro-aviões de 1.650 tons., foram ordenadas as unidades dos

programas de 1938/39 e 1939/40, com excepção de 2 cruzadores de

8.000 tons., 1 navio oficina e 1 submarino de 700 tons.

(Rivista Marittima. Outubro de 1939).

OS PERIGOS NA GUERRA MARÍTIMA

O aumento dos riscos da marítima constitue o tema de


guerra
um artigo de Sir Herbert Russel, no número de
publicado 21 de

Setembro da The United Services Review, toma como termo de


que
comparação as condições dos meios bélicos no começo do século

atual.

Até essa época a marítima apresentava


guerra poucas probabi-
lidades de surpresa; o submarino um de imaginação
parecia gracejo e
a aviação era constituída balões rudimentares. A mina
por flutuante

era apenas um meio de defesa dos o alcance do


portos, torpedo era

de 1.300 metros. Em resumo, ha anos atraz, nada


quarenta de invi-

sivel ou de insuspeitado revelar-se repentinamente


poderia com

efeitos destruidores.

Atualmente as condições são bem diversas. no


Quer porto, quer
navegando, os beligerantes navais nunca podem prevêr que coisa

poderá estar ameaçando-os; acham-se continuamente expostos a

perigos nas três dimensões. Existirão antídotos eficazes contra esses


riscos ?
REVISTA DE REVISTAS 743

O autor se reconforta com o de os futuros navios


pensamento que
de linha britânicos estarão inteiramente imunes de todos
quasi que
os riscos, tanto 6 humanamente Êles serão tão
quanto possível.

poderosamente couraçados e terão tal submarina e subdivi-


proteção
sões internas serão capazes de resistir aos maiores e às
que projetís
explosões dos torpedos e minas. O autor indaga, se tais navios

apresentarão idêntica capacidade de resistência aos ataques aéreos e à

esse1 respeito cita o apresentado em Março de 1936 Sub-


parecer pela
comissão britânica o estudo da vulnerabilidade dos navios de-
para
"O
linha aos ataques da aviação: efeito das bombas aéreas é conside-

rado igual ao do tiro da artilharia de calibre; conseguinte


grosso por

o Almirantado não vê não seja um navio


porque possível projetar

de linha enfrente a ameaça aérea como foi feito enfrentar


que já para

as outras ameaças". O autor se declara suficientemente convencido

por êsse raciocínio baseado na experiência porém observa isso


que
refere-se apenas aos navios de linha constituem uma
que pequena
aliquota da Marinha e não tem necessidade de estarem constan-
que
temente em mar aberto como as unidades;
pequenas que possibili-

dades oferecem estas últimas, relativamente aos ataques aéreos? É

impossível dar aos navios ligeiros uma suficiente como no


proteção
caso dos navios de linha; sua defesa consiste no armamento anti-

aéreo e na manobra, diminuir as de acerto dos


para probabilidades
aviões.

Em conclusão, o aumento dos riscos à está atualmente


que
exposta a Frota, consiste essencialmente na vulnerabilidade dos

navios ligeiros a é compensação insuficiente a alta


para qual
velocidade.

PERMANÊNCIA EM TERRA DOS OFICIAIS DA MARI-

NHA DOS ESTADOS UNIDOS

Um apresentado deputado Carl Vinson, Presidente


projeto pelo
da Comissão de Marinha, determina todos os oficiais, de
que patente
inferior a contra-almirante deverão menos 5 anos em
passar pelo
cada de 7 anos de cada em comissões de embarque.
período pôsto,

Serão dispensados dessa exigência os oficiais dos Marine Cor ps

e os combatentes seguirem cursos de instrução de aviação,.


que
744 REVIS1A MARÍTIMA BRASILEIRA

submarinos, torpedos e artilharia. Atualmente os turnos são divi-

didos como se segue:

Postos Em terra Embarcados

Capitaes de Mar e Guerra 3 anos 2 anos

Capitaes de Fragata 3 anos 2 anos

Capitaes de Corveta 2 anos 3 anos

Capitaes Tenentes 2 anos 4 anos

Primeiros Tenentes e Guardas Marinha 7 anos

A seguinte tabela, baseada no número dos oficiais examinados

o ano financeiro de 1940 (supondo os tenentes


para que primeiros

tenham sido examinados para promoção a capitães tenentes antes de

serem nomeados para comissões em terra) mostra é a situação


qual

presente (I) e qual seria a conseqüente da modificação pro-

posta (II).

II

Em Embar- Em Embar-

Postos terra cados terra cados

2/7 5/7

Cap. de Mar e Guerra 159 (60%) 106 (40% ) 76 189


(265)

Cap. de Fragata (531) 319 212(40%) 152 379


(60%)

Cap. de Corveta 398 597 (60%) 284 711


(995) (40%)

Cap. Tenentes 735 (40%) 1102 (60%) 525 1312


(1837)

O mesmo estabelece mais todos os oficiais do


projeto que posto

de contra almirante para cima que tiverem servido durante um ano

ou mais no Ministério da Marinha em Washington, não ser


poderão

novamente nomeados para o referido Ministério senão depois de um

periodo de 7 anos. and Navy Register).


(Army

(Rivista Marittima, Outubro de 1939).


REVISTA DE REVISTAS 745

A MARINHA MERCANTE GERMÂNICA

A marinha mercante germânica era constituída em Io de Julho


último, por 2.459 navios representando um deslocamento global de
4.483.000 tons. Cerca de metade desse total, compreendendo 314
navios, pertence às cinco grandes companhias de navegação na
seguinte ordem: 107 unidades com 745.447 tons. brutas à Hapag;
80 unidades com 579.978 tons. à Norddeutscher Lloyd; 51 unidades
com 379.399 tons. à Hamburg Sud; 44 unidades com 290.563 tons.
à Hansa e finalmente 32 unidades com 181.416 tons. à Deutsch
Afrika Linien. Quatro outras companhias possuem frotas cujas
tonelagens unitárias variam de 50 a 100 mil tons., representando um
total de 650.000 tons. (Scandinavian Shipping Gazette).

(Rivista Marittima, Outubro de 1939).

DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA BALEEIRA


NO JAPÃO

Em fins de Maio a frota baleeira japonesa, constituída por 6


navios usinas com o deslocamento global de 100.372 tons. e 48
baleeiras, regressou às suas bases depois de uma campanha de sete
meses no Antártico e Pacífico Sul, tendo capturado 7.500 cetáceos
e obtido 80 mil toneladas de óleo. Verificou-se, assim, um aumento
de 2.000 baleias e de 15 mil toneladas de óleo em comparação com
a campanha precedente.
Somente em 1934 as expedições nipônicas começaram a operar
uo Antártico; então, a Nippon Whaling C°. (atualmente fusionada
com a Nippon Suisan C0., a maior companhia de pesca do Extremo
Oriente, com o capital de 91,5 milhões de yens) adquiriu um navio-
usina norueguês e o enviou àquele oceano com alguns arpoadores da
mesma nacionalidade. O navio capturou 213 cetáceos e produziu 2.006
tons. de óleo; encorajada pelos resultados fez construir no Japão
outros navios especialisados.
Em 1936/37 entrou em atividade o Nisshin Maru N I, barco
a motor, no ano seguinte outros dois idênticos e no terceiro ano mais
dois. Atualmente essas embarcações estão assim distribuídas: A
746 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Nippon Suisan os três Tonan Maru, o N°. 1 (9.866 tons.),


possue

N°. 2 tons.), N°. 3 tons.) com um total de 21


(19.425 (19.209

baleeiras; a Tayo Hogei constituída em 1936 possue os dois Nisshin

Maru, N°. 1 (16.764 tons.) e N°. 2 (17.559 tons.) com 18 baleei-

ras; a Kyokuvo Hogei constituída em 1937 com o Kyokuoyo M

tons.) e 9 baleeiras. Os arpoadores noruegueses foram


(17.549

totalmente substituídos por japoneses.

A frota baleeira de Kobe ou de Yokonama todos os anos


parte

em fins de Setembro; em cêrca de um mês atinge a zona da pesca

mede aproximadamente 1.000 milhas de leste a oeste e 300 de


que

norte a sul no Atlântico meridional. Em Novembro é iniciado o

trabalho que se prolonga até Março. Todo o óleo é vendido em

Londres e Hamburgo e os sub-produtos carne, ossos, etc.) no


(peles,

Japão.

(Rivista Marittima, Outubro de 1939).

"CAMUFLAGEM"
A ARTE DA MILITAR

Paris — Se a arte da camuflagem militar limita-se em 1939 a

aplicar, aperfeiçoando-os, os ensinamentos da guerra de 1914-1918,

não deixam de ser consideráveis as contribuições da escola dos pin-

tores impressionistas.

A difícil arte da camuflagem alcançou alguns progressos dêsde

a época em a floresta de Birnam se punha em marcha contra


que

o castelo de Macbeth, dissimulando sob as suas folhagens os guerrei-

ros escosseses, o representa, com o Cavalo de Tróia, um dos


que

exemplos do emprêgo da arte1 da camuflagem com objetivo


primeiros

militar.

da última o emprêgo da aviação como meio de


Quando guerra,

reconhecimento obrigou o comando francês a organizar sístemati-

camente a camuflagem dos dispositivos militares. Como a aviação

assumiu na atual uma importância estava longe de ter,


guerra que

mesmo em 1918, e como o seu raio de ação diurna se estende agora

do territorio, a necessidade da camuflagem se impõe


ao conjunto

ainda mais. É necessário hoje, dissimular aos olhos do


presentemente
REVISTA DE REVISTAS 747

inimigo, não somente os


os dispositivos da vanguarda, mas também

afastados, da defesa anti-aérea, industriais e até mesmo as


os centros

aglomerações urbanas.

As seções de camuflagem constituídas ocasião da


primeiras por
ultima compreendiam artistas célebres, como Dunoyer,
guerra de

Segonzac, Forain, de Scevola, nela introduziram


que finura, justeza
d<» senso da composição. Mais os
tarde, decoradores de teatro
deram a essa obra coletiva a contribuição recursos
de técnicos expe-

nmentados. Em 1918 ciência camuflagem


a da estava bastante

adiantada hoje, não se tenha senão seguir ensi-


para que que os seus

namentos, aperfeiçoando-os, e a guerra atual não difere da outra,

sob êsse de vista, senão extensão camuflagem


ponto pela da às zonas

da retaguarda.

Empregam-se atualmente nas unidades de camuflagem, ao

mesmo tempo, decoradores de arquitetura e de teatro, assim como

pintores propriamente ditos. Os decoradores de arquitetura e de

teatro "enganem
procuram, sobretudo, criar volumes os olhos"
que
Jsto é, destinados a mascarar objetos insólitos. Tal conseguem

com chassis cobertos de telas que dão a impressão de volumes com

múltiplos relevos e reduzindo as sombras projetadas pelos objetos a

camuflar, como de artilharia,


peças postos de observação, que são
integrados na
paisagem sob a forma aparente de edifícios ou massas

de floresta.

Os essencialmente de duas escolas: A


paisagistas procedem
escola realista e a escola impressionista. Os artistas destas escolas

aproveitam melhor as suas competências em campo ou,


pleno pelo
menos, em regiões de relevo, hão se diferenciam senão
pouco que

pelas variações de tonalidade. Os naturalistas tratam


paisagistas

particularmente de dar aos objetos aparências e formas inesperadas.

Sob os seus metalica transforma-se


pincéis, uma massa num pequeno
bosque. Sabem
preparar as sombras projetadas e criar relevos arti-
ficiais. Mas a sua arte é minuciosa e lenta. Por isso é o im-
que
pressionismo foi chamado a dar a maior contribuição à camuflagem
moderna.

Como se sabe, o do impressionismo é as cores


postulado que
justapostas em superfícies reduzidas e repetidas dão, olhadas à dis-

tancia, a impressão de um tom uniforme. Êsse processo convém

maravilhosamente
para confundir com o terreno ao redor obras
748 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

fortificadas de pouca altura, assim como veículos baixos, sobretudo,

os empregados na guerra. Mas pouco permite disfarçar as obras

importantes, que cabem principalmente aos decoradores, as


porque
"buracos".
sombras projetadas produzem, nêste caso, desagradaveis

Em compensação, a rapidez da execução, permite utilizar ime-


que

diatamente as côres puras tais como são fornecidas pela industria,

dá ao processo impressionista incontestável vantagem. Êste é apro-

veitado, não somente para proteger os comboios terrestres, mas mesmo

na marinha e na aviação. Observou-se, efetivamente, a justapo-


que

sição de superfícies pintadas em linhas quebradas permitia compro-


"sentimento
meter o chamado da distância" e a apreciação da velo-

cidade. É por isso que os aviões e até mesmo navios de guerra

são, por vezes, recobertos, em zig-zag, de não raro muito


pinturas

escuras, mas que lhes permitem, de longe, escapar ao mais atento

observador.

do Comércio, 19-11-19).
{Jornal

SÔBRE OS CRITÉRIOS BRITÂNICOS DE ESTRÁTEGIA

NAVAL

O fascículo de Outubro da The Fortnightly Review estampa um

artigo do almirante Sir Iierbert Richmond, antigo do


presidente

Naval War College sobre os critérios de estratégia naval adequados

à situação anglo-germâniea. De início declara o ilustre almirante que

seria prematuro e ímpolítico pretender sentenciar sobre a guerra

iniciada, aventurando previsões e discussões sobre a distribuição das

forças e possibilidades de ação dos beligerantes; conseguinte êle


por

se propõe à escrever em termos muito gerais para recordar os prin-

cipios fundamentais que governam o emprego das forças de mar.

O artigo, com o proposito evidente de vulgarização, foi escrito antes

que tivessem lugar acontecimentos de importância no mar do Norte;

tem entretanto, particular interesse dada a personalidade do eminente

autor.

É comum dizer-se toda é diferente das a


que guerra que prece-

deram e isto é verdadeiro a em


particularmente para presente, que
REVISTA DE REVISTAS 749

o tem
problema que de ser resolvido Frota Britânica é radical-
pela
mente diverso do se apresentava no das
que principio grandes guerras
do inclusive a de 1914-18.
passado,

"Na
hodierna — escreve Richmond — começamos as
guerra
hostilidades no em os nossos antepassados se encontravam
ponto que
depois de anos de hostilidades, a luta o domínio do mar
quando para
havia sido efetuada; devemos enfrentar uma intensa de côrso
guerra
em o inimigo empregará todas as suas forças".
que

Depois de ter assim definido o caráter das operações marítimas,

o almirante Richmond salienta a Alemanha tem navios


que poucos

grandes capazes de disputarem o domínio do mar à Grã Bretanha

e seus aliados; conseguinte êle supõe o Reich empregará os


por que

seus submarinos contra as comunicações marítimas e


principalmente

afirma antes do rompimento das hostilidades os submarinos


que já

germânicos se encontravam escalonados ao longo das rotas do tráfego.

Isso ficou afundamento do Athenia torpedeado


provado pelo paquete
sem aviso o autor reconhece os submari-
prévio; que posteriormente
nos inimigos se conformaram com as normas do Tratado de Londres

mas acrescenta o fizeram com receio de complica-


que provavelmente

Ções com os Estados Unidos.

O almirante Richmond cita um artigo publicado no ano passado

pelo almirante Meurer na Militar Wochemblatt do qual consta que

a ação dos submarinos sua eficácia se fossem respeitados


perderia

os limites estabelecidos tratados internacionais. O almirante»


pelos

Meurer salientava cs a formação dos comboios


que preparativos para

estavam demonstrando o Almirantado Britânico não acreditava


que

que os submarinos alemães respeitassem a obrigação do aviso prévio.

O sistema de comboios, além de constituir uma proteção eficaz

contra a submarina sem restrições, oferece perspectivas de


guerra

sucesso contra o ataque de navios de superfície, desde que


por parte

a escolta seja constituída unidades de superior ou pelo


por potência

menos igual à dos navios corsários.

Isto considera o autor as forças de superfície de que


posto,
dispõe a Marinha Alemã e do exame a conclúe que essa
que procede

frota oferece de combinações suficientemente grandes


possibilidades

para serem consideradas como sério os comboios. Lem-


perigo para
bra, então, o almirante Richmond, como Churchill se opoz com
750 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

sucesso à baixa dos encouraçados da classe Royal Sovereign (Reso-

lution, Ramillies, Revenge, Royal Oak), sustentando que compo-


pela

sição da Marinha Germânica e em virtude das limitações a estava


que

sujeita a Grã-Bretanha pelo Tratado de Londres, convinha conservar

em serviço aqueles cinco encouraçados, especialmente emprêgo


para

no serviço de escolta dos comboios oceânicos.


grandes

O almirante Richmond declara reconhecer as dificulda-


grandes

des que a Grã-Bretanha tem de enfrentar a defesa do tráfego


para

mas acrescenta também devem ser consideradas as do inimigo.


que

Os navios precisam de combustível e a Alemanha não dispõe de bases

afastadas para reabastecimentos e reparos. À este" o autor


proposito
"colonias"
afirma a reclamação alemã de teria objetivo
que por

principal poder dispor de bases oceânicas.

Os navios corsários alemães para se conservarem durante largo

tempo nas rotas comerciais devem ser reabastecidos um dos três


por
modos seguintes: 1) Por navios rápidos de reabastecimento a èles

agregados; 2) Por navios de neutros; 3) Por navios


partindo portos

capturados. Referindo-se à última declara o almirante


possibilidade,

Richmond a dos navios tanques britânicos tem a


que proteção para

Grã-Bretanha uma dupla importância, pois que se êsses navios caírem

em do inimigo não só constituem uma perda em si, como


poder

também determinam um aumento de sua possibilidade de ação.

Referindo-se às características da proteção aos comboios, observa

o autor que na primeira fase das hostilidades bastam escoltas


pouco

poderosas mas que a seguir o atacante emprega forças de maior

importância e por conseguinte a proteção precisa ser proporcional-

mente reforçada.

As considerações concernem aos problemas de


precedentes

carater defensivo; quanto às de natureza ofensiva, o autor à elas se

refere rapidamente, observando que apresentam dois aspectos prin-

cipais: 1) A proteção dos transportes de tropas para intervenção no

continente europeu e para ação eventual em outros setores, em

seguida à ampliação do conflito; 2) O isolamento econômico do

inimigo, obrigando os navios mercantes neutros à sujeitarem-se ao

controle nos portos de visita. As forças necessarias a


para proteção

dos navios cruzam com êsse objetivo são de natureza diversa,


que

conforme a situação das diferentes zonas; assim, no estreito de

Dover bastam paquetes armados sob a proteção de navios menores,


REVISTA DE REVISTAS 751

enquanto na área septentrional do mar do Norte os navios em


que
¦serviço Home Flect.
de acham-se sob a da
patrulhamento proteção

O artigo termina lembrando completar o estra-


que para quadro

tégico é considerar também, a segurança das bases navais


preciso

mas a êsse respeito o autor exprime, sem reserva, uma opinião

"Na
optimista nos termos: atual situação não ha
seguintes política

razão receiar alguma base tornar-se insustentável aos


para que possa

ataques de terra, do mar e do ar".

Marittima, Novembro de 1939.


(Rivista

TRÊS GUERRAS, TRÊS LIÇÕES

de 1870, havia sido declarada a 15


O resultado da guerra que

¦de era determinado seis semanas mais tarde, em 2 de Setem-


Julho,

bro, em Sedan.

Em 1914, a rebenta a 3 de Agosto e logo a 9 de Setembro,


guerra

na batalha do Marne, os alemães a tinham, dizer, perdido.


pode-se

Êsses exemplos confirmam a surpresa estratégica pode


que

determinar a decisão.

surpreendida a França foi vencida cm


Foi ter sido que
por

1870. os franceses organizar a resistência, ja


Quando pretenderam

os tão fortes toda ação tornava-se


alemães ocupavam posições que

praticamente impossível.

modo, em 1914, efetuando Bélgica sua impo-


Do mesmo pela

nente manobra de ala, os alemães surpreenderam seus adversarios

mas não souberam aproveitar-se das vantagens que lhes proporcio-

nava essa surpresa, acabou voltando-se contra eles.


que

Em 1939, ao contrario, após doze semanas de as forças


guerra,

antagonistas em suas nas fronteiras.


permanecem posições

AS LIÇÕES DO PASSADO

1870

Em 1870 três exércitos alemães homens) marchavam


(400.000

contra sete corpos de exército, franceses, compreendendo 280.000

homens e dispostos em cortina de Thionville a Belfort.


752 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Na Alsacia, o exército do príncipe real pulverisa uma divisão

isolada em Wissembourg e a 6 de Agosto derrota Mac-Mahon em

Froeschwiller.

O exército de Steinmetz bate o corpo Frossard e repele para

Metz os 3o, 4o e 6o corpos de exército franceses, num total de 100.000

homens.

Finalmente, Frederico-Carlos atravessa o Mosela em Pont-à-

Mousson e avança francamente para o norte afim de cortar a estrada

de Verdun.

Durante êsse tempo Mac-Mahon, que havia procurado recons-

tituir seu exército no campo de Chalons, recebe ordem de tentar des-

bloquear Metz. Êle ignorava, porém, que o caminho achava-se

ocupado por dois exércitos inimigos e é, em conseqüência, forçado

a travar batalha em condições desastrosas, em Sedan. O exército

regular francês havia sido destruído.

1914

Em 1914 o dispositivo francês compreendia cinco exércitos, num

total de 850.000 homens, distribuídos nas fronteiras, do Luxemburgo

a Belfort, numa frente de 280 quilômetros.

Os germânicos, limitando-se à guardar uma atitude defensiva

a Este, fazem operar o grosso de suas forças através da Bélgica.

A surprêsa é completa. O exército francês é obrigado a bater

em retirada na sua ala esquerda, até ao momento em a manobra


que

demasiadamente ousada de von Kluck a alcançar a


permite Joffre

vitória do Mame.

A SITUAÇÃO ATUAL

Em 1939 o Estado Maior Alemão, aliás não ocultava seus


que

planos, projetava desencadeiar uma ofensiva fulminante contra a

Polonia e manter inicialmente em relação à França, uma atitude

defensiva para mais tarde voltar-se contra ela. Durante êsse tempo,

porém, as concentrações francesas tiveram lugar na mais perfeita

calma.

Desta vez, conseguinte, os alemães condenados


por parecem

dêsde o início a fazerem uma de uma de


guerra posição, guerra
revista de revistas 75J

usura. E na de usura é a retaguarda é vencida ao mesmo


guerra que
tempo o exército. É essa especie de derrota total os Aliados
que que

querem impôr a Alemanha.

A construção das linhas de fortificações francesas e alemãs

interdiz tentativa de manobra aos exércitos em a


qualquer presença,

menos um dos dois beligerantes não tome a iniciativa de violar


que

o territorio de um neutro.
país

A França e a Inglaterra nunca tomarão tal iniciativa e de resto,,

mesmo no caso em o comando alemão a tomasse, o tactor sur-


que

não entraria mais em iôgo em países que se encontram em pé


presa

de e eventualidade. (J. Quatremarrc).


guerra prontos para qualquer

(L' Illustration 18/11/39).

METEOROLOGIA E GUERRA

O comandante Rouch da Marinha Francesa, publicou no número

de Agosto da Rcvue des questions de Défense Nationale, um interes-

sante artigo sobre a importância tem a meteorologia na guerra.


que

os elementos atmosféricos têm a possibilidade de exercer,


Que

vezes, uma influência decisiva em operações militares, é cousa


por

sabida. A êsse respeito ocorre logo recordar a destruição das hordas

invadiram a Grécia em 480 antes de Cristo, a retirada


persas que

dos exércitos de Soliman o Magnífico diante de Viena em 1529, as

infrutiferas tentativas da frota católica de Espanha contra a Ingla-

terra em 1588 e 1597, a campanha napoleônica da Rússia em 1812;.

todos acontecimentos nos quais os elementos atmosféricos


grandiosos

tiveram, sob o aspecto das condições meteorológicas locais, quer


quer

sob aquele mais do clima em determinadas regiões, influência


geral

predominante e talvez decisiva em lutas grandiosas, algumas das-

em o destino de povos inteiros.


quais puzeram jôgo

Nos tempos modernos, e mesmo nos mais recentes, não é menos-

sentida a dependência das operações militares das condições meteo-

rológicas. É verdade, sem dúvida, os da técnica per-


que progressos

mitem cada vez mais subtrair o material e o à influência


pessoal
754 revista marítima brasileira

atmosférica: o avião moderno vôa em todas as condições de tempo,

o tank torna-se cada vez mais, independente das condições do terreno,

o navio não mais está a mercê do capricho dos ventos. Por outro

lado, porém, a torna-se, de dia dia mais o alcance


guerra para precisa:

dos canhões modernos torna a do tiro muito mais depen-


precisão

dente das condições atmosféricas do antigamente; um erro de


que

alguns metros na velocidade do vento fazer fracassar uma ope-


pode

ração aérea brilhante; o atraso de algumas horas de um


por parte

comboio terrestre, um congestionamento e ter as


pode produzir peio-
res conseqüências na moderna. Nas enormes massas armadas
guerra

lançadas umas contra as outras nas operações bélicas, os detalhes

conservam a maior influência e entre êles, os representados


pelas

condições atmosféricas devem ser ainda hoje, considerados atenta-

mente afim de se evitarem conseqüências mesmo hoje


que podeião
ser gravissimas, como no passado.

Se o estudo dos climas permite estabelecer, com larga aproxi-

mação, quais possam ser a temperatura, os ventos dominantes, as

mudanças habituais e as condições meteorológicas de uma


gerais

determinada zona, em uma determinada estação, não é ainda possível

prever de modo exato, o tempo em um determinado dia afastado. E

como todas as operações militares de envergadura são


grande prepa-

radas com larga antecedência e um determinado dia


previstas para
¦e uma bem estabelecida hora, o auxilio da meteorologia nêsse terreno

não pode, nas atuais condições do da ciência, ser de


progresso qual-

quer modo aproveitado.

Não se pretende que existam somente grandes operações. Estas,

de resto, podem ser constituídas várias ações limitadas, as


por que
necessidades militares não exigem sejam estabelecidas com vários
que

dias de antecipação e hora determinada. A Grande Guerra oferece

numerosos exemplos a êsse respeito. Para conquistar uma trincheira

que deveria constituir uma base de melhorar as


partida para posições

de ataque, para executar reconhecimentos aéreos, bombardeios lon-

ginquos, destruições preliminares, jogar com limites de tempo


pode-se

de algumas horas e vezes, mesmo, de alguns dias. Os


por prepara-

tivos para essas operações limitadas não exigem com efeito, muito

tempo, e o comando interessado pode fazer executa-las tempo


pouco

depois de terem sido decididas. No mar, também, a mobilidade das

fôrças navais e a sua capacidade de estarem constantemente


prontas
REVISTA DE REVISTAS 755-

a combater, fazem entrar nesta categoria muitas das operações

marítimas.

Um boletim de do tempo as 24 horas é


previsão para próximas

então, utilissimo e o meteorologista fornecer informações dêsse


pode

gênero com boa de sucesso. É certo que falta nêsse


probabilidade

campo a certeza absoluta; é entretanto igualmente certo, todas


que
as outras informações sobre se baseiam as decisões dos chefes
que

militares, resentem-se sempre de fundamento seguro. Se elas


quasi

são tidas em conta, não se vê igual consideração não


grande porque

mereçam as informações meteorológicas.

A última de resto, fornece vários exemplos de aplicação


guerra,

das previsões do tempo às operações militares e freqüentemente com

sucesso. Durante a batalha do Somrne, compreendia


primeira que
uma série de ataques e objetivos limitados, várias vezes a hora de

início do ataque foi alterada em virtude das do tempo.


previsões
Algumas operapões marítimas, como exemplo o engarrafamento-
por

do pôrto de Ostende, foram decididas 110 último momento, depois de

ter sido consultado o boletim meteorológico. Diversos ataques de

Zeppelins a Londres fracassaram e alguns terminaram em catastrofe,

porque os alemães não dispunham de informações suficientes


para
estabelecerem de tempo, racionais. O autor cita, ainda,
previsões

alguns fatos de sua observação ocorridos durante o


pessoal período

em que êle se encontrava agregado ao serviço meteorológico do

exército comandado Foch.


pelo general

Além das do tempo úteis a de uma


previsões para preparação

operação importante, existem também, outros campos de menor im-

portância em que a meteorologia serviços eficazes. O


pode prestar

comandante Rouch menciona as informações ser fornecidas


que podem

ao serviço das estradas sobre o e degelo do terreno, ao dos


gêlo pom-
bos-correio sobre as correntes aéreas, à infantaria regular o tiro
para
indireto das metralhadoras, e se estende tratando detalhadamente das

importantes informações meteorológicas necessarias aos aviadores

para navegarem corretamente e à artilharia regular o seu tiro.


para

O conhecimento dos ventos nas altas camadas da atmosféra não

influencia apenas a determinação do dos aviões; tam-


ponto permite
bém, adotar racionalmente a altitude de maior rendimento do vôo.

Muitas operações de são bem sucedidas somente os-


guerra por que
7S6 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

pilotos souberam escolher a altitude propicia na o vento era um


qual

auxiliar e, do mesmo modo muitas fracassaram motivo oposto.


pelo

Também a temperatura tem influência notável sobre as operações

aéreas e não é certo que ela diminua constantemente com a cota,

segundo uma lei rigidamente Por vezes ela difere muito


progressiva.

da indicada pelas médias. A do Zeppelin na ação de 19 de


perda

Outubro de 1917, foi devida, em à baixíssima tempera-


grande parte,

tura — menos de 50° abaixo de 0o — na


encontrada altitude pre-esta-

belecida de 5.000 metros e impediu a equipagem endurecida


que pelo

frio, reparar as avarias causadas nos motores pela baixa da tempe-

ratura.

A influência sobre o tiro, das correntes aéreas e da densidade

atmosférica (cuja variação com a altitude está bem longe de ser regu-

lada por uma lei constante) é bem conhecida de todos os artilheiros

<e é objeto de acurado cálculo todas as vezes se tem de atirar à


que

grandes distâncias.

O rápido exame das numerosas e importantes aplicações da me-

teorologia na leva o autor à conclusão de que se torna necessa-


guerra,

rio organizar um serviço meteorológico militar, capaz de fornecer em

iodas as circunstancias, à de direito, o útil auxilio desta ciência.


quem

A maioria dos fenômenos meteorológicos, cujo conhecimento pode

ser de interesse às autoridades militares, é de caráter puramente local.

Trata-se de saber se haverá nevoeiro em certa zona do mar ou cm

certo vale, se o vento na visinhança do solo será favoravel ou não

ao uso de se a altura das nuvens permitirá a intervenção


gases,

frutuosa da aviação em um determinado ponto e assim por diante.

Para êsses fenômenos torna-se necessário conhecer perfei-


predizer

lamente a região interessada, as suas características geograficas, e

constituição do solo. É conseguinte indispensável


própria por poder

fazer observações sur place e dessa necessidade deriva a de organizar

centros de informações meteorológicas regionais, mais ou menos autô-

nomos. Um orgão central e único não poderia, com efeito, ter a

de responder aos múltiplos e detalhados pedidos das várias


pretensão

.zonas de operações.

Em favor desta tese lembra também a conveniência de perma-

necer o meteorologista em estreito contacto com o comando militar

ao qual suas informações devem servir. Em matéria de previsão de


REVISTA DE REVISTAS 757

tempo trata-se, como foi dito, de um serviço mais ou menos


preciso e é necessário o chefe militar fazer uma idéia a


que possa

mais completa o evidentemente só pode conseguir por


possível, que

meio de um contacto constante.

Finalmente é importante não de vista também, o fato


perder

de os elementos meteorológicos que interessam aos vários serviços


que

e às várias armas, diferem cada caso e que a cada um dêles


para

deve ser dada a informação oportuna sobre tudo o lhe interessa.


que

O conjunto dessas razões justifica de modo exhaustivo o ponto

de vista expresso autor, que ao que parece, já está em vias de


pelo

ser em aplicação não somente no Exército mas também na


posto

Marinha e na Aeronautica da França.

Marittima, Novembro de 1939).


(Rivista

O RENASCIMENTO DA MARINHA MERCANTE

AMERICANA

Graças aos esforços da The United States Maritime Commission,

organisada em 25 de Agosto de' 1935, nada menos de 83 novos navios

mercantes foram até esta data encomendados. Os Estados Unidos

assim a ocupar o segundo lugar entre os países que tem


passaram

navios em construção, sendo excedidos apenas pela Grã-Bretanha.

Duas necessidades confrontaram a Comissão logo no


principais

início de seus trabalhos: a substituição do antiquado Leviatlian e a

construção de cargueiros modernos, a cerca de 18 anos não eram


que

construídos no pais.

Nessas condições, o navio encomendado foi o America


primeiro

será o maior navio mercante construído nos Estados Unidos e


que já

se destina ao tráfego a Europa conjuntamente com os paque-


que para

tes Manhattan e Washington da The United States Lines. O America

não é nenhum super-trasatlantico mas terá todos os aperfeiçoamentos

e conforto' a construção naval moderna proporcionar. O


que pode

navio, lançado em Agosto do corrente ano, mede 723 de compri-


pés

mento, 92 de bôca e 75 de altura até o convés de desloca


passeio;
758 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

34.000 tons. e tem acomodações para 1.219 passageiros em três

classes e 639 homens de tripulação. Será impulsionado duas


por

series tríplices de turbinas, com 34.000 HP. acionando duas helices

com 128 r. m. imprimirão a velocidade de serviço de 22 nós.


p. que

Reconhecendo a urgente necessidade da criação de uma reserva

de navios tanques de velocidade, utilizáveis Marinha de


grande pela

Guerra em casos de emergência, a Comissão, em cooperação com a

Standard OU Company de New Jersey, contratou a construção de 12

unidades de um tipo ainda não construído na America. Como a indicar

a sua adaptabilidade aos requisitos navais, dois navios do primeiro


— Cimarron e Neosho — foram adquiridos Marinha.
grupo já pela

Êsses tanques tem 525 pés de comprimento, 75 de bôca, deslocam

16.300 tons. e desenvolvem em serviço a velocidade de 16,5 nós.

Em suas provas de recepção o Cimarron, em plena carga, atingiu os

19,41 nós. O raio de ação é de 10.000 milhas e a capacidade de

óleo de 150.000 barris. Além das características de velocidade e

raio de ação que os tornam aptos ao serviço com a esquadra, êsses

navios têm uma compartimentação especial, paióis de1 munição, bases

para a instalação de artilharia, aparelhagem o abastecimento de


para

óleo no mar, holofotes, paravanas, etc., podendo ainda transportar

simultaneamente ou cinco tipos de óleo.


quatro

No sector dos navios de carga reina a mais intensa atividade. A

Comissão, convencida das vantagens da standartização dos navios

mercantes, os de um tipo conhecido como o C-2.


preparou planos

Acham-se em construção 20 unidades dêsse tipo, sendo 10 a vapor

e 10 acionadas por motores Diesel. Terão 435 pés de comprimento,

63 de bôca, 25 3/4 de calado em carga; deslocarão 13.900 tons.


plena

e terão um raio de ação de 13.000 milhas. Tanto os navios movidos

a vapor como os impulsionados por motores Diesel, terão a velocidade

°/o
de serviço de 15,5 nós sendo 50 mais rápidos do a
portanto que

maioria dos cargueiros americanos ora em serviço. Uma inovação

nos navios a vapor é as caldeiras serão instaladas no mesmo com-


que

partimento que as máquinas motoras em uma plataforma acima das

turbinas, em vez de o serem em compartimento separado como usual-

mente acontece. Como conseqüência da nova prática as canalizações de

vapor serão muito mais curtas e o oficial de poderá observar


quarto

o funcionamento de toda a instalação.


REVISTA DE REVISTAS 759

O tipo C-2 foi Comissão Marítima, mas contém


projetado pela

sugestões de muitos oficiais mercantes, construtores e outros. Ésse

tipo convém o serviço em todas as linhas de navegação;


para quasi

os 20 navios ora em construção serão arrendados ou vendidos a arma-

dores privados.

A necessidade de um cargueiro maior e mais rápido o trá-


para

fego transoceânico, motivou a confecção de um outro o tipo


projeto,

C-3. São navios de 492 de comprimento, 69,5 de boca, 27 1/4 de


pés

calado; deslocamento de 17.600 tons. aproximadamente, velocidade

de serviço de 16,5 nós, e raio de ação de 12.000 milhas. Acham-se

em construção 16 unidades dêsse tipo, sendo 12 a vapor e 4 com

motores Diesel.

Os navios de carga encomendados por uma companhia


primeiros

foram 4 de 14.450 tons. a American Export Lines.


particular para

São unidades de1 475 de comprimento, 66 de bôca e 27 de calado


pés

em carga. Têm a velocidade de 16,5 nós e se destinam à linha


plena

Estados Unidos-Mediterrâneo.

Acham-se em construção conta da Comissão Marítima 13


por
— carga — segundo o
unidades do tipo mixto passageiros projeto

C-3 modificado. São navios de 16.725 tons. de deslocamento, 492

de comprido, 69,5 de bôca e calado de 27,5 pés; a velocidade


pés

é de 16,5 nós. Terão acomodações 68 a 100 passa-


prevista para

geiros.

A The Mississipi Shipping Company, em combinação com a

Comissão Marítima e de acordo com as clausulas de um contrato

a longo construirá três navios mixtos a sua


de subsídios prazo, para

Delta Line. Essas unidades são semelhantes ao tipo C-3, porém de

melhor aparência. Terão 490 de comprimento, 65 de bôca e 25,5


pés

de calado máximo, deslocando aproximadamente 14.200 tons. e

desenvolverão a velocidade de 16,5 nós. Podem acomodar 63

passageiros.

Entre os navios encomendados recentemente por companhias

destacam-se 3 de da Tlie Panamá


particulares paquetes passageiros

Railroad Company. Serão os streamlined a serem


primeiros paquetes

construídos. Medem 493,5 de comprimento, 64 de bôca moldada


pés

e deslocam 10.921 tons. São serem os mais seguros


projetados para

navios do mundo, excedendo às mais exigentes especificações exis-


760 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

tentes. Podem acomodar 202 e segundo se diz alcan-


passageiros

çarani nas provas 20 nós de velocidade.


quasi

Além dos navios tanques em construção a Comissão Ma-


para

rítima, tem sido entregues a vários outros de construção


particulares

recente.

Os 83 navios ora em construção para a Comissão Marítima,

representam o início de' um de 10 anos, destinado a cons-


programa

truir 500 navios. O se o futuro? Em primeiro lugar


que projeta para

destacam-se 3 paquetes para serviço no Pacífico, navios de cêrca de

35.000 tons. com 25 nós de velocidade e custarão de


que perto

20.000.000 de dólares cada um. A The United States Lines


projeta

4 navios mixtos a sua linha New York - Londres; ao se


para que

sabe são unidades de 18.000 tons. 18 nós de velocidade e com

acomodações para 250 passageiros cada uma.

A The Pacific Argentine Brazil Line, de acordo com o seu

contrato de subsídios, deverá construir 4 unidades, que segundo

consta serão navios de 14 nós de velocidade, sendo 2 construídos

companhia e 2 pela Comissão Marítima os arren-


pela própria que

dará. A The Robin Line, serve aos da África do Sul,


que portos

construir 3 cargueiros de cêrca de 10.000 tons. e 15,5 nós


projeta

de velocidade.

S. Naval Institute Proceedings, Novembro de 1939).


(U.

A FORTIFICAÇÃO DO ARQUIPÉLAGO DAS ILHAS ALAND

O arquipélago das Aland, constituído por mais de 6.500 ilhas,

ilhotes e rochedos, desmilitarizado e neutralizado por uma convenção

internacional de 20 de Outubro de 1921, teria uma importância capital

em uma guerra marítima para o domínio do Báltico.

Em vista de possíveis complicações, os dois paises que têm maior

interesse em salvaguardar a neutralidade do arquipélago, isto é, a Fin-

lândia, que tem a posse, e a Suécia, afinidade étnica com os seus


por

habitantes, concordaram, a 7 de em a um arma-


Janeiro, proceder

mento parcial. Algumas ilhas de importância foram forti-


particular

ficadas e os habitantes obrigados ao serviço militar. Foram estabe-

lecidas dos exércitos dos dois em várias ilhas.


guarnições países
DE REVISTAS ¦761
REVISTA

O êsse fim formulado Finlândia e pela Suécia,


pedido para pela

teve o assentimento das signatárias da cohven*


pedido que potências

de 1921, encontrou recusa formal da Rússia Soviética.


ção por parte

(Revuc des de Défense Nationale, VII-39).


questions

(Rivista Marittima, Novembro de 1939).

A PRÓXIMA' EXPEDIÇÃO ANTÁRCTICA

A Marinha dos Estados Unidos participará oficialmente da pró-

xima expedição antárctica, fretando o navio Bear of Oakland, de pro--

do Almirante Bvrd, chefe da expedição, e fornecendo pes-


priedade

soai militar. Para êste fim foram distribuídas circulares pedindo

voluntários da expedição, assim discriminados:


para participarem

j 1 Capitão de corveta

3 Capitães tenentes com experiência de navegação à vela

3 Oficiais médicos

9 Sub-oficiais com experiência de motores Diesel, aviação

e vela

24 Marinheiros das especialidades motorista de aviação, vela,

carpintaria, telegrafia, escafandria e cozinha.

Farão da expedição, que conta com o apoio do Presidente


parte

Roosevelt, os navios North Land, da Coast Guard, e North Star, do

Ministério do Comércio.

A terá lugar em Boston, na primeira quinzena de


partida
Òutubro.

Marittima, Novembro de 1939).


(Rivista

"ORANGE"
O NOVO PAQUETE A MOTOR

Acaba de entrar em serviço na linha rápida das índias Neerlan-

desas o a motor Orange, construído nos estaleiros Nether-


paquete
land Shipbuilding C°., de Amsterdam, conta da Companhia Ne-
por
derland, ao de 13 milhões de florins, aproximadamente.
preço
762 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O O range tem a distinção de ser o navio a motor mais rápido do


mundo. Suas dimensões são: 184,60 mts. de comprimento, 25,45 de
boca, 11,7 de pontal, 8,8 mts. de calado em plena carga, deslocamento
bruto 20.000 tons. É impulsionado por 3 motores Diesel a dois tem-
pos, simples efeito da potência unitária de 12.500 HP., à 145 r.p.m.
Nas provas na milha medida deu 26,3 nós com a potência de 37.365HP.
nos 3 eixos e 145,73 r.p.m., com o consumo total de combustível de
162 gramas por cavalo-eixo-hora. A velocidade de serviço é de 21 nós
com 125 r.p.m. O navio pode acomodar 747 passageiros, dos quais
140 em primeira classe; a guarnição consta de 375 homens.
Os dirigentes da Nederland, necessitando para assegurar a poten-
cialidade da linha das índias, transportar 700 passageiros cada três
semanas, acharam-se diante das seguintes soluções: construir 6 navios
de 17 nós e 450 passageiros cada um, ou 4 de mesma velocidade e
700 passageiros cada um ou finalmente 3 de 21 nós e 700 passageiros.
Prevaleceu esta última porque em primeiro lugar a travessia à Ba-
tavia pode ser feita em 16 dias em vez de 21, o que agrada aos passa-
geiros; depois 3 navios de 21 nós para 700 passageiros custam menos
do que os 6 ou 4 acima citados, enquanto que o custo de transporte
por passageiro é menor.

(Rivista Marittima, Novembro de 1939).

A PROPORCIONALIDADE DAS FROTAS BRITÂNICA


E ALEMÃ

É sabido que em virtude do acordo naval anglo-germânico de


18 de Junho de 1935, a Alemanha foi autorizada a construir uma
tonelagem de encouraçados, porta-aviões e unidades ligeiras de super-
fície, igual a 35 % da tonelagem britânica correspondente em cada
categoria. Em caráter excepcional, a tonelagem de submarinos po-
deria atingir 45 % ou mesmo 100 % em caso de necessidade jus-
tificada e sob reserva de que nesse caso, o deslocamento- total da frota
c/o da tonelagem total da frota
germânica não ultrapassasse os 35
inglesa.
Segundo as informações publicadas pela imprensa, a tonelagem
das diversas categorias de unidades, em construção ou autorizadas,
REVISTA DE REVISTAS 763

m Marinha Germânica, era calculada, no primeiro semestre do cor-


rente ano, como se segue:

187.000 tons. para encouraçados (das quais 82.000 em serviço


e 105.000 em construção) ;
38.500 tons. para porta-aviões (em construção);
50.000 tons. para cruzadores de Ia classe armados com ca-
nhões de 203 mm. (em construção) ;
63.400 tons para cruzadores ligeiros armados com canhões de
155 mm. (35.400 em serviço, 28.000 autorizadas);
79.000 tons. para contra-torpedeiros (41.100 em serviço 16.200
em construção, 21.700 autorizadas) ;
31.300 tons. para submarinos (16.450 em serviço, 11.050 em
construção, 3.800 autorizadas).

Em confronto com a tonelagem britânica em serviço ou em


construção, exclusão feita das unidades do programa de 1939/40,
constata-se que em submarinos a tonelagem germânica atingia quasi
os 45 % permitidos pelo acordo (31.300 em vez de 34.000). A mar-
gem que. restava para alcançar os 35 % nas demais categorias era
ainda de

65.000 tons. para os encouraçados;


40.000 tons. para os navios porta-aviões;
110.C00 tons. aproximadamente para as unidades ligeiras de
superfície (cruzadores e contra-torpedeiros) .

Quanto aos submarinos não somente o limite dos 45 % admitido


tinha sido praticamente alcançado (computando-se as unidades em
construção), mas também a Marinha Germânica já tinha em serviço,
no primeiro semestre deste ano, tantas unidades quantas as da Mari-
nha Britânica. Forte da experiência da Guerra Mundial, a Alemanha
preocupou-se mais em aumentar o número do que o deslocamento
unitário. Ela considera que nas zonas freqüentadas pela navegação
transoceânica (Canárias, Cabo Finisterra, costa ocidental das Ilhas
Britânicas, os famosos Western Approaches), os submarinos de 500 a
1.000 tons. apenas, porém no maior número possível, prestarão maio-
res serviços do que um pequeno número de unidades de grande des-
locamento.
764 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

De parte da Grã-Bretanha, e segundo a opinião expressa pelo


Almirantado, serão mais para receiar os danos que esquadras ou
divisões de navios corsários de superfície, poderosos, rápidos de
grande raio de ação e acompanhados por navios porta-aviões, possam
inflingir ao tráfego transoceânico, repetindo com meios muito supe-
riores a tática do Einden. Por esse motivo a Inglaterra acelerou a
construção dos grandes cruzadores e dos porta-aviões de 23.000 tone-
ladas. (Revue des questions de Défense Nationale, VI-39).

(Rivista Marittima, Novembro de 1939).

QUANTO JA CUSTOU A GUERRA NA EUROPA AOS


PAÍSES BELIGERANTES

PARIS — A "guerra lenta" ou a "guerra em que as tropas


permanecem sentadas" — como a caracterizam alguns humoristas —
terminou hoje o seu terceiro mês de inatividade, passando, os três
exércitos que dela participam, a estacionar em zonas mais amplas,
sem ter perspectivas de iniciar ofensivas de importância, no momento,
contra qualquer das linhas fortificadas, pelo menos até fins de
Fevereiro.

Despachos procedentes de Bucarest informam hoje que 700.000


soldados alemães estão concentrados na fronteira húngara, o que
significa que a guerra européia pode, a qualquer momento, tomar
novos aspectos.

Ao se iniciar o quarto mês dessa guerra, os observadores, após


estudar os mais prudentes cálculos que têm à sua disposição, acre-
ditam que esse conflito na frente ocidental, juntamente com a guerra
naval c aérea, e incluindo as perdas causadas pelos submarinos, e
pelas minas, custou já, às três potências beligerantes, mais de 5.000
mortos, sendo as perdas da Inglaterra, praticamente, equivalentes às
que sofreram a França e a Alemanha juntas.

Nenhum dos três governos publicou a lista exata das vítimas,


por isso todos os cálculos são extra-oficiais, mas acredita-se que
as perdas sofridas pela França, em terra, mar e ar, não ultrapassaram
EÊVISTA DE REVISTAS 765

a 1.200 mortos e 6.000 feridos. As dos neutros foram,


perdas países

em alguns casos, tão como as dos beligerantes.


graves

Até hoje, essa custou à França, 91.000.000 de francos,


guerra

fora o resultante da da exportação e do turismo.


prejuízo queda

da a França — diretos a
O custo total guerra para gastos para

defesa nacional — ser calculado em 180.000.000 de francos


pode

nos três primeiros meses somente.

O custo da a Grã Bretanha e para a Alemanha é


guerra para

maior, menos em 50 % ao da França.


pelo

As nações neutras européias são obrigadas a pagar fabulosas

somas mobilização de suas tropas, e nenhuma parece disposta a


pela

abandonar essa atitude até que a ofensiva seja desencadeada em

alguma Essas nações perderam também, pelo menos a metade


parte.

do seu comércio exterior.

Somando-se, portanto, o custo dos gastos diretos e indiretos da

guerra das três nações beligerantes, os das cinco principais nações

neutras, com exclusão da Rússia e Finlândia, assim como também dos,

asiáticos e americanos — chega-se à conclusão de a


países que guerra
custou à Europa mais de 13.500.000.000 de francos.

A economia de vidas humanas pode ser atribuída ao sargento

André Maginot, teve uma idéia maravilhosa.


que

Ambos os aliados e a Alemanha têm respeitado mutuamente as

suas fortificações. As são as no mar


pêrdas principais produzidas
e no ar.

Calcula-se em três meses, a Alemanha de 24 a 28


que perdeu
submarinos, cada um com uma tripulação de 60 a 80 técnicos.

As cifras oficiais dos aliados informam o número de aviões


que
alemães abatidos excede atualmente de 44, alegando os ingleses terem

abatido 23 na costa da Inglaterra, em ataques aéreos à distância e


na defesa das suas belonaves.
766 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Os comunicados francês e inglês até a data de hoje declaram ter

derrubado 21 aparelhos alemães em operações terrestres, incluindo os

que foram dados como caídos nas linhas alemãs, mas não as vitórias

anunciadas extra-oficialmente e ocorreram muito longe, dentro do


que

território alemão, serem oficializadas.


para

Jornal — 3/12/39).
(O

ATONELAGEM MERCANTE MUNDIAL

Um dos setores das atividades econômicas mais afetados pelo

estado de guerra é o dos transportes marítimos, em prejuizo do inter-

câmbio mercantil internacional. Assim se deu de 1914 a 1918. Assim

os fatos mostram vai ocorrendo no decurso dêsse trágico


que período

que se abriu à vida da Europa ainda uma vez, para perturbar o

ritmo de uma civilização de que nem todos os europeus se têm


povos

mostrado merecedores.

Àquele propósito o boletim mensal do The National City Bank

cf New York insere, no seu número de Novembro findo, um quadro

estatístico interessante, qual se verifica a posição da tonelagem


pelo

mercante no mundo, em Junho de 1939, comparado com igual mês de

1914, bem como se constata a situação de lançamento de novos navios

em 1938 confrontada com 1914. Trata-se de uma demonstração que

esclarece até onde a penúltima guerra afetou a marinha mercante

mundial, operando uma verdadeira mudança, de sentido radical, na

distribuição da respectiva tonelagem, por países.

Sabe-se que a guerra acantona-se hoje no setor econômico e

que poderá melhor decidir do destino do mundo aquele con-


país que
seguir prolongar a sua resistência como capacidade de e
produção

possibilidade de suprimento de víveres e matérias recebidas


primas
do exterior. Daí o sentido reveste o bloqueio e o esforço
peculiar que

desesperado feito rompê-lo.


para

O boletim do The National City Bank of New York assinala

durante os dois meses da atual, incluindo-se aí


que, primeiros guerra

o anterior à adoção do sistema de comboiamento dos navios


período
REVISTA DE REVISTAS 767

as ocorridas montaram em
mercantes unidades bélicas, perdas
por

dos 49, com 229.000 tone-


91 navios, com 370.000 toneladas, quais

da Inglaterra. Acrescenta embora maior


ladas, de propriedade que,

do verificou entre 1914 a 1915 a dos navios afun-


que se proporção

acha longe de alcançar o limite máximo marcado em


dados, ainda se

1917, ficando inferior à média da nova tonelagem mercante entregue

ao tráfego, média acima de 200.000 toneladas.

É considerar, os dados aludidos se reportam


preciso porém, que

apenas a um bimestre e o mês de Novembro marca um verda-


que

aeiro rccord, na em curso, de navios afundados. A memória


guerra

humana se enfraquece com facilidade. Esquecemo-nos hoje do que

ocorreu assim dizer ontem. Deixamos quasi de lado os fatos que


por

se no dia, só considerarmos as coisas futuras.


passam próprio para

Eis aí um sinal característico de como a inquietação lavra, funda e

excitante, no coração humano.

Durante a guerra, os navios perdidos por fôrça da


penúltima

ação inimiga totalizaram aproximadamente 12.850.000 toneladas, cor-

respondentes a 6.600 unidades mercantes, ou seja uma quarta parte

da tonelagem existente em ,1914. As perdas se tornaram mais

pesadas na de 1917, como conseqüência da atitude germâ-


primavera

nica adotada no sentido de promover uma ofensiva submarina sem

restrições. Assim, em Abril de 1917 tinham sido postos a pique navios

na de 866.000 toneladas.
proporção

Todavia, não pôde ser mantida a mesma intensidade, na ação

agressiva dos submarinos, porque se pôs em prática o sistema de

comboios, de modo a tonelagem afundada foi descendo da altura


que

daquela cifra record até ao ponto de poder ser compensada pela tone-

lagem dos novos navios entregues ao tráfego. À época em vigo-


que

rou o regime do comboiamento, da totalidade de navios pertencentes

à Inglaterra, as montaram em 436 navios somente.


pêrdas

A situação se caracteriza hoje aspetos diferentes e o fato


por
é a tonelagem afundada em Novembro último causou impressão
que

ao mundo inteiro. Não ha estatísticas sobre os afundamen-


precisas
tos verificados, visto como não é fazer-se uma idéia segura
possível
apenas através informações ser amanhã sensivelmente
que podem
retificadas.
768 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Contudo, convém proceder-se a uma demonstração sumária da

tonelagem mercante existente em 1914 e 1939, não só por países beli-

mas neutros, porque isso permite saber até onde


gerantes por países

se extende o sentido das pêrdas sofridas. Daí o


proporcionalmente

interesse apresenta a reprodução do quadro inserto no boletim de


que

Novembro do The National City Bank of New York, o qual abaixo

fixamos:

(- MARINHA MERCANTE MUNDIAL

EM 1.000 TONELADAS

No mês de Junho

Beligerantes 1914 1939

Inglaterra 18.892 17.891

Domínios 1.631 3.111

França 1.922 2.934

Total 22.445 23.936

Alemanha 5.135 4.483

Estados Unidos 4.287 11.362

Outros neutros 13.537 28.728

Total 45.404 68.509


geral

Vê-se que pouco aumentou, no decurso dêsses vinte e cinco anos,

a. tonelagem dos aliados, ao passo houve declínio na tonelagem


que

alemã.. A operou deslocamentos na distribuição


guerra profundos

geográfica de tonelagem mercante mundial. Para isso contribuiu de

maneira decisiva o se a respeito nos Estados Unidos, cuja


que passou
tonelagem triplicou, sem deixar de referir a tonelagem dos
quasi que
outros países neutros mais do duplicou. Não sabemos até onde
que a

lei de neutralidade americana irá afetar a disponibilidade de tonela-

mercante ao serviço do comércio internacional, tendo-se em vista


gem
as próprias declarações feitas Presidente Roosevelt sôbre
pelo o

assunto, ha bem tempo.


pouco

do Comércio — 3/12/39).
{Jornal
REVISTA de revistas 769

O FIM DA MARINHA POLONESA

Como as operações navais da foram


guerra germano-polonesa

apenas ligeiramente mencionadas nos boletins oficiais, torna-sè inte-

ressante recordar a história dos acontecimentos no mar, procurando

os motivos determinaram em dias, o fim da Mari-


que, poucos

nha Polonesa.

A situação no início das hostilidades é facilmente determinada

examinando-se os três fatores fundamentais: as forças navais, as

bases e o pessoal.

a) As forças navais compreendiam quatro contra-torpedeiros de

recente construção: o Burza e o Wicker, construídos em França em

1928/29 tons., IV-130 mm., VI tubos de torpedos de 550 mm.,


(1.320

33 nós), o Grom e o Blyskawica, construídos na Inglaterra em

1936/38 tons., VII-120 mm., VI tubos de torpedos de 533 mm.,


( 2.000

39 nós). A essas unidades deve-se ajuntar o navio mineiro Gryf,

construído em França em 1934/37, de 2.250 tons., 20 nós de veloci-

clade, VI-120mm. e instalações para 300 minas. O quadro das

unidades de superfície é completado, além de diversos navios auxilia-

res cinco torpedeiras ex-alemãs de cêrca de 350 tons.,


pequenos, por

construídas em 1916/17 e conseguinte de escasso valor bélico.


por

A flotilha submarina compreendia cinco unidades de recente

construção: Rijs, Zbik e IVilk, construídas em França em 1929/30

tons., 1-100 mm., VI tubos de torpedos de 550 mm., 38 minas),


(980

o Semp e o Orzel, construídos na Holanda em 1936/38 (1.110 tons.,

1-100 mm., VIII tubos de torpedos de 533 mm., 40 minas) .

b) As bases navais resumiam-se na de Gdynia, pois não se

poderiam considerar como tais os pequenos portos da península de

Hela, às suas instalações, puderam resistir à ofensiva


que, graças

alemã até 2 de Outubro. O de Gdynia foi iniciado em 1926


porto

com o objetivo de se criar um militar, sendo mais tarde


porto

ampliado o afim de criar, também, um comer-


primitivo projeto, porto

ciai exclusivamente polonês.

Foi com o início da construção da base de Gdynia a Ma-


que
rinha Polonesa recebeu o impulso concreto, iniciando-se no
primeiro

mesmo ano a construção, em França, dos dois contra-torpe-


primeiros
deiros, enquanto no ano seguinte era adquirido na Holanda o
que
navio-escola Iskra. Surgia também, em Gdynia, um estaleiro de cons-

trução naval iniciou a construção de unidades a


que pequenas para
770 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

marinha de nele foram construídos dois varredores de minas


guerra;

da classe Jaskolka em 1934/35 e outros dois em 1937/38.

Como base naval Gdynia apresentava-se em precárias condições.

Localizada entre costas inimigas, no fundo da baía de Dantzig, onde

os navios seriam inevitavelmente bloqueados em caso de


poloneses

conflito, aquele de modo algum podia desempenhar as funções


pôrto

de uma base capaz de apoiar eficazmente uma afirmação naval polo-

nesa no Báltico.

c) O terceiro fator, o é talvez o que maior dificuldade


pessoal,

apresenta uma avaliação exata. No máximo o que parece se


para

poder afirmar é que o problema do pessoal (quer para os oficiais,

quer para os inferiores e praças) não podia ainda ter recebido uma

solução integral. A Marinha Polonesa, criada depois do conflito

europeu, certamente deve ter completado seus quadros com oficiais

provenientes do exército ou com oficiais que tendo combatido na

Grande Guerra sob outras bandeiras haviam sido incorporados no

novo estado polonês e continuaram a servir nos navios da nova Ma-

rinha. A escola para a formação dos oficiais tinha


jovens poucos

anos de vida e seus alunos não podiam ainda ter recebido encargos

de responsabilidade e de comando. Em 1937 estavam em serviço ao

todo 463 oficiais e 5.628 sub-oficiais inferiores e praças. Devemos

além disso acrescentar o povo polonês quasi não tem tradições


que

marinheiras.

A falta dessas tradições, entretanto, não impediu que os ma-

rujos poloneses igualassem em ousadia e heroísmo seus colegas do

exército que suscitaram a admiração do próprio inimigo. No mar,

porém, mais ainda do que em terra, o espirito heróico é condição

necessária mas não suficiente por si só; tornam-se indispensáveis os

meios, as bases e acima de tudo uma longa, metódica e tenaz pre-

paração dos oficiais e O fim rápido da Marinha Po-


guarnições.

lonesa, que se seguiu a breve intervalo ao da Marinha Chinesa, é um

exemplo que não pode desapercebido.


passar

As operações desenvolvidas Marinha Polonesa durante o


pela

breve conflito com a Alemanha, ser recapituladas em


podem poucas

linhas. Em 30 de Agosto, isto é, no dia em foi decretada


próprio que

a mobilização geral, alguns contra-torpedeiros e submarinos fize-

ram-se ao mar com destino ignorado, conforme notícias então publi-

cadas. Pode-se hoje saber o destino levaram. Três contra-


que
REVISTA DE REVISTAS 771

— e Blyskaivica — seguiram a Ingla-


tofpecleiros Burza, Grorn para

terra, à cuja frota foram incorporados, conforme comunicação do

— —
Primeiro Ministro na Câmara dos Comuns. O quarto Wicker

em Gdynia ou a êsse regressou no início das


que permaneceu porto

hostilidades, foi atingido, bem como o navio mineiro Gryf, no ataque

aéreo levado a efeito pelos alemães em 3 de Setembro.

Todos os demais navios de superfície devem ter ficado em Gdynia

ou nos portos da península de Hela; a sorte dessas unida-


pequenos

des, entretanto, dado o seu diminuto valor militar, não apresenta

interesse e não se consegue mesmo encontrar indicações a


quaisquer

seu respeito nos comunicados oficiais ou nas notícias da imprensa.

Os cinco submarinos devem ter atingido em 30 de Agosto suas

posições de combate determinadas. Segundo comuni-


previamente

cados alemães, quatro dêles teriam sido destruídos nos primeiros dias

das hostilidades, mas essa notícia não parece exata; de acordo com

informações obtidas posteriormente, pode-se descrever hoje o curso

dos acontecimentos.

Em 3 de Setembro um submarino polonês foi caçado unida-


pelas

des germânicas quando pretendia atacar um cruzador; tendo-se em

conta que o alvo era um navio de guerra certamente escoltado, pode-se

considerar que este submarino tenha sido efetivamente destruído como

é declarado no comunicado alemão. Posteriormente foram assinala-

dos três encontros com submarinos poloneses e examinando-se os

fatos e resultados obtidos pode-se concluir ter sido um dêles afun-

dado, outro atingido mas sem avarias graves e um terceiro fugido

incólume. Os dois destruídos teriam sido o Zbik informações


(que
recentes na imprensa dão como tendo arribado a um suéco) e
pôrto
o IVilk; o atingido mas não foi o Semp, se refugiou
gravemente, que
no suéco de Nynashamn. Os dois outros conseguiram escapar.
pôrto

O Rijs refugiou-se no suéco de Sandhamn e o Orsel entrou em


pôrto

Tallin na Estônia. Dias mais tarde, iludindo a vigilância das auto-

ridades o submarino fez-se ao mar e ao a êle


portuárias, que parece
se deve atribuir o afundamento do russo Metallist no Báltico.
paquete
Não sabemos o destino final do navio.
qual

No confronto com a atuação dos submarinos na


germânicos

guerra com a Grã-Bretanha e França, é não esquecer os


preciso que
submarinos deviam operar contra navios de alemães,
poloneses guerra
no Báltico, missão muito mais difícil do a incumbiu aos
que que
772 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

submarinos que, em mar aberto ou no oceano, deviam


germânicos

desenvolver sua ação contra navios mercantes isolados. Os motivos

principais, entretanto, do pouco sucesso dos submarinos poloneses

ser assim resumidos:


podem

1) Os cinco submarinos eram unidades de deslocamento


grande

e capazes de transportar de 30 a 40 minas, além do armamento tor-

pédico. Eram, por conseguinte, mais, adequados para emprego oceâ-

nico, do que mares como o Báltico. A Marinha


para pequenos

Alemã construiu emprego no mar do Norte e no Báltico unida-


para

des de 250 tons.;

2) As profundidades nas zonas de operações


prováveis germano-

polonesas não alcançavam os 100 metros; assim os submarinos não

podiam descer a ficando da única


grandes profundidades, privados
arma de defesa efetiva contra a intensa caça inimiga;

3)Finalmente, e êste é o fator fundamental, a das


preparação
equipagens não era talvez devido à falta de treina-
perfeita, quer
mento quer pela ausência de uma eficiente escola submarinista.

É preciso notar a espera no mar Báltico deveria inevitável-


que

mente ser mantida em imersão durante o dia, o exige das


que guar-
nições grande energia, confiança em si e no material
próprias e

domínio dos nervos. É tais requisitos não existissem


possível que

nos submarinos e se assim foi, a sorte dos navios


poloneses estava

traçada ao estalar o conflito. Razão de mais reverenciarmos


para
aqueles homens ora no fundo do mar e em condições
que jazem que

particularmente dificeis e sem uma adequada ao


preparação, partiram
encontro do adversário com sereno desprezo do perigo.

(Rivista Marittima, Novembro de 1939).

O LEVANTAMENTO HIDROGRÁFICO E AÉREO NO

MAR DAS ANTILHAS

Washington — Navios de guerra e aeroplanos da Marinha

Norte-Americana estão realizando e serviços


projetando de reconheci-

mento, detalhados na estratégica região do Mar das Antilhas, com-

preendendo as zonas ao largo de Cuba e das costas do Norte da


Colômbia e Venezuela — segundo revelou, hoje, o contra-almirante

C. W. Nimitz em seu relatório anual ao secretário interino da Ma-


rinha, Sr. Charles Edison.
REVISTA de revistas 773

Os trabalhos nas costas da Colômbia, já atingiram um total


que

de 4.000 milhas marítimas e 230 milhas ao longo da costa,


percorrido

até à fronteira com o Panamá, incluirão, eventualmente, toda a costa

do Norte. Os trabalhos têm sido realizados pelo navio especializado

Bushnell.

Grande parte da costa setentrional da Venezuela tem sido tam-

bém explorada e os planos atuais determinam a continuação desses

trabalhos, abrangerão as ilhas ao largo da embocadura do Rio


que

Urxare a Oéste de Tucacas.

Os reconhecimentos de Cuba consistirão de detalhada investi-

gação da zona ao largo do Cabo Maysi. A investigação de um banco

de areia que se diz existir nas rotas oceânicas entre o Panamá e os

portos da costa oéste dos Estados Unidos será feita quando houver

fundos disponíveis, diz o contra-almirante Nimitz. Êsse banco cons-

titue um perigo para a navegação.

O contra-almirante Nimitz revelou a Repartição Hidrográ-


que

fica havia solicitado à base aérea da Marinha dos Estados Unidos

em Coco Solo, na Zona do Canal, de fazer reconhecimentos fotográ-

ficos aéreos da costa norte do Panamá e da Costa Rica e da costa

oriental da Nicaragua, mas o trabalho não havia sido feito, ao


que

que se presume devido a adversas condições atmosféricas.

Êsses reconhecimentos deveriam ser utilizados em conjunto com

certos mapas, Repartição Hidrográfica.


preparados pela

Também disse o contra-almirante Nimitz em seu relatório


que
a Marinha tem encontrado dificuldade na realização de reconheci-

mentos aéreos das costas da Colômbia e da Venezuela, esclarecendo:


— "As
restrições tanto na Colômbia como na Venezuela sôbre a

tomada de fotografias aéreas tem sido um entrave em nossos


grande
trabalhos".

O Bushnell também realizou reconhecimentos no Pacífico.

"Com
respeito ao reconhecimento feito Bushnell no arqui-
pelo

pélago Phoenix, no Oceano Pacífico, acha-se completo o trabalho

fotográfico realizado base naval aérea de Pearl Harbour, no


pela
Hawaii", informa o contra-almirante Nimitz.

Jornal — 10/12/39).
(O

A. R.
AVI Õ ES

e£~

yUBMARINOy

sumário — Oí aviões estratosféricos nos Estados —


Unidos Novo

aparelho de rádiotelefônico — Identificação dos aviões modernos

— A submarina da Alemanha — Caça ou bombardeio —


força

A aérea — Em do avião
guerra prol propulsionado pela rea-

— A luta contra os submarinos — A dos aviões


ção pilotagem

bólidos — O submarino e a submarina — Assinalação


guerra

dos aviões máquinas — O avião sem —


por fotográficas piloto

Defesa anti-aérea — O bus anti-detonante — Eficácia do bom-

bardeio aéreo —
Várias.

OS AVIÕES ESTRATOSFÉRICOS NOS ESTADOS UNIDOS

De um lado conhecendo-se a resistência do ar é um dos


que

maiores obstáculos ao aumento da velocidade — lemos em La Nature

— mas, não sem é tal resistência se


ponderarmos que graças a que

movimentam no espaço aéreo os veículos motorizados; sabendo de

outro lado que a densidade do ar a sua resistência) diminue


(donde

à medida se afasta da superfície da terra é natural se


que que
776 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

encare, para a aceleração dos motores rápidos e sua nas


propulsão

altitudes mais elevadas certas, diríamos nós de .


(em preferência)

É sôhre êste os artilheiros alemães assentaram a


princípio que

construção dos seus famosos Bertiias cujos lançados na


projetís,

estratosfera, tinham o alcance consideravelmente aumentado devido

à diminuição da resistência do ar.

Foi, assim, mui naturalmente, se chegou a a cons-


que prever

trução de aviões capazes de suficientemente alto, no céu,


pairarem

para escaparem às diríamos) resistências atmosféricas, e,


(maiores,

daí, para terem sua velocidade e' seu raio de ação aumentados em

proporções imagináveis.

Ainda ha poucos anos isso parecer uma utopia. Eis, con-


podia

tudo, que nos achamos em vésperas de ver realizar-se êste sonho: Os

aviões, de cabinas estanques, carregados de


perfeitamente passageiros,

ganharem mui altas camadas atmosféricas e dessarte vencerem, numa

só virada e rapidamente, as mais longas distâncias. E com efeito, nos

Estados Unidos acabam de ser terminados os ensaios, em terra e no

laboratório, de magníficos aparelhos que breve irão executar nos

ares suas últimas provas. Trata-se dos novos quadrimotores

Boeing-307 ditos Stratoliners os foram construídos e estudados


quais

em Seattle.

O problema da navegação em altitudes elevadas é complexo,

necessitando realizações extremamente delicadas que se aproximam

todas da rarefação do ar, como é natural. É mister os eventuais


que

passageiros vivam nesse ar rarefeito. Inda é mister que os motores

possam funcionar convenientemente, porquanto, êstes também res-

— de ar, como os diríamos nós lem-


piram precisam pulmões, para

brar a importância extraordinária uma tal navegação acarretará


que

à estratégia, pelo emprêgo de forças militares surgindo da estratos-

féra, inopinada e violentamente.

No que diz respeito aos motores o problema está de ha muito

resolvido, porquanto desde ha bastante tempo nossos aviões de


caça, sem atingirem os primeiros limites da estratosfera propriamente

dita; podem contudo alcançar mui grandes altitudes.


AVIÕES E SUBMARINOS 777

Os motores são de compressores aspiram o ar


providos que

ambiente rarefeito o empregar na alimentação do motor, depois


para

de o haver elevado a uma enorme pressão.

É o caso dos Wright-Cyclonc com os são os Boeing estra-


quais

tosféricos providos.

A estanquecidade da cabina de era um a


passageiros problema

resolver de natureza muito mais delicada.

Realmente. A medida se sobe, a do ar exterior


que pressão

diminuindo não mais contrabalança a pressão do ar da cabina que tende

dess'arte a escapar-se. Ora, os seres humanos são feitos viverem


para

dentro de uma atmosfera sob determinada pressão. Donde a necessi-

dade absoluta de um lado, de tornar inteiramente' estanque a cabina

estratosférica para que o ar nela contido, sob normal não


pressão

se escape e também para que ela seja assaz resistente opor-


para poder

se a esta pressão que não mais é equilibrada pela externa.


pressão

No interior pressão considerável; no exterior ininter-


pressão

ruptamente decrescente. Entre as duas uma metálica deve


parede que

ser indeformável e inteiramente estanque.

Os engenheiros e construtores americanos conseguiram contornar

estas dificuldades. Era preciso todavia antes de aos


que, proceder

ensaios nos ares, êles pudessem experimentar em terra, e


primeiros

isentos de perigos, a cabina estratosférica do seu avião. Ora, e.sta

cabina era de dimensões mui vastas para ser contida num sino metá-

lico no se houvesse rarefeito o ar até os limites das altitudes


qual

previstas.

Os americanos inverteram então o problema. Tudo se cifra, em

final e sobretudo, a uma diferença entre pressões, uma fraca no

exterior e outra forte no interior.

Não podendo fazer o vácuo no exterior, os americanos agiram

de outro modo: injetaram simplesmente, no interior ar comprimido

até a diferença de — a determinada — fosse alcan-


que pressão priori

çada. Êles puderam então estudar como se comportava a cabina

metálica exatamente nas condições rle em ela se encon-


pressão que

traria a muitos de altitude. À a


quilômetros proporção que pressão
778 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

interna aumentasse, podia-se considerar o aparelho em


que ganhava

altitude.

Nestas condições a pesquisa de deformações eventuais da car-

cassa metálica era relativamente fácil.

A verificação da estanquecidade era uma operação longa e

minuciosa até o dia em foi encarada uma solução mui simples:


que

cobriu-se toda a superfície externa da cabina com uma camada fina

de sabão, dissolvido nágua. À menor fuga, uma bolha de sabão,

uma dessas vulgaríssimas bolhas formando-se, revelava imediatamente

o ar escapando-se.

Muitos Boeing estratosféricos estão em vias de acabamento em

Seattle (ao publicar-se esta nota devem estar Suas


já prontos).

cabinas, instaladas na fuselagem metálica são concebidas para rece-

berem 33 passageiros e uma guarnição de 5 homens.

Todos os aparelhos necessários à purificação do ar, à sua rege-

neração, à sua superpressão em caso de necessidade aciden-


(fugas

tais ou excessos de rarefação no exterior) foram e longa-


previstos

mente experimentados no laboratório.

Doravante os ensáios em pleno céu vão ter início e podemos

um futuro, próximo talvez mesmo, o vôo de longos


prever para

correios aéreos através da estratosfera. Isto será uma nova revolução

nos transportes e talvez de conseqüências imprevisíveis.

NOVO APARÊLHO RADIOTELEFÔNICO

Por suas a navegação submarina, transcre-


possibilidades para

vemos aqui uma notícia, embora mui sucinta, inserta na Revista Mari-

Uma uruguaia de 5 de Dezembro último.

"Depois
de sete anos de experiência foi aperfeiçoada uma das

invenções mais valiosas tendentes a impedir que os navios se choquem

de encontro às rochas.

São seus inventores Charles e Alan Stevenson, de Edimburgo,

membros de uma família de famosos construtores de faróis. Um

aparêlho radiotelefônico especial acha-se sincronizado com o dispo-


AVIÕES E SUBMARINOS 779

da cerração. soa o
sitivo ordinário que anuncia o perigo Quando

deste último o aparelho anuncia em claras a distância


alarme palavras

acha o navio ouve o sinal transmitido farol. Os


a que se que pelo

do farol saberão da deste a


navios que se avizinham proximidade
'voz"
8 milhas de distância e ouvirão vez a sua quando
pela primeira

estiverem a 3 milhas.

Cada cincoenta segundos as autoridades do navio escutarão u a


"Fala
mais ou menos nos termos seguintes: o farol .
mensagem

começarem a ouvir o segundo sinal do nevoeiro, sua distância


Quando

do farol será dada pela radiotelefonia.

O comprimento de onda deste novo serviço será de 974 metros".

IDENTIFICAÇÃO DOS AVIÕES MODERNOS

De alguns anos até hoje, a técnica aeronáutica realizou grandes

.Linhas aero-dinâmicas mais acentuadas têm conduzido ao


progressos.

melhoramento da velocidade. se estudam os últimos tipos


Quando

construídos fábricas dos diversos causa surpresa a


pelas países,

semelhança se observa nas formas dos aviões das dife-


grande que

rentes categorias: caça, bombardeio e reconhecimento. A única coisa

variou foram os dispositivos de detalhe correspondem a


que que

de construção, a esta ou aquela fábrica. Êste


processos peculiares

estado de cousas é logicamente normal, si tivermos em vista a seme-

lhança das técnicas adotadas.

um Morane-406, um Hawker Hurricane, um


Considerando

Curtiss-P 36 ou um Block-151 ou ainda um Dcwoitme-520; para

em confronto com um Meiserschmidí-109, um Piaggio ou um


pô-los

Breda, nêles não encontraremos senão diferença no que


pequena

concerne ao aspecto exterior.

As mesmas considerações são aplicáveis aos aviões de pequeno

bombardeio e também a certos aviões de bombardeio pesado.

Esta semelhança no aspecto exterior não deixa de apresentar

inconvenientes, ao seu emprego na guerra, pois, durante


graves quanto

a Guerra de 1914 a 1918, a identificação dos aviões era às


Grande

vezes 'muito dificil. Citam-se vários casos íátais em os apare-


que

lhos foram não só atacados como derrubados por aviões inimigos.


780 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Que aconteceria hoje? A diferença é, com efeito, muito mais

difícil devido à própria igualdade de formas dos aparelhos e tam-

bém devido às grandes velocidades desenvolvidas.

Outrossim, um avião vôa a altura — será o


quando grande que

caso normal num conflito moderno — os especialistas titu-


próprios

bearão para identificar seu tipo. Em tais condições, o efeito da

surpresa adquire uma importância imensa porque se torna muito

grande, visto aumentar bastante.

No tocante ao próprio combate aéreo, os pilotos poderão, geral-

mente, reconhecer o avião inimigo a uma distância conveniente. Tal

não acontece para a defesa contra aviões terá as maiores dificul-


que

dades para realizar uma identificação rápida, ainda empregando


que

os mais aperfeiçoados instrumentos óticos.

Atualmente será possível reconhecer os aviões inimigos, a noite,

porém, a dificuldade será muito grande, si as esquadrilhas seguirem

itinerários em linhas quebradas para alcançar seus objetivos ou se os

postos de escuta são deficientes. É mui fácil imaginar-se as confusões

resultar deste estado de cousas. Tal não


que podem problema perma-

neceu esquecido. Os sinais óticos, podem, em certos casos, responder

à questão, tanto de dia como de noite, a transparência


quando

atmosférica for normal. Porém, quando a visibilidade é má, ou si as

esquadrilhas movimentam-se acima ou dentro de uma capa nebulosa,

a ligação com a terra só se pode realizar rádiotelegráfica ou


pela

telefônica. Êstes dois processos de transmissão podem ser interferidos

pela ação inimiga ou uma interrupção momentânea. Não


produzir

se pode, por conseguinte, de uma forma absoluta, contar com tais

meios.

É indispensável todavia distinguir desde terra os aviões


poder

amigos dos inimigos. Recordo-me —• escreve o General X. em


que

L'Air — faz tempo, em 1921 ou 1922, si minha memória não me

engana, durante os primeiros exercícios de caça a noite, se


que

realizaram em Metz sob a direção do General Vaulgrenant, que

comandava o primeiro corpo aéreo, apresentou-se um monoplano

provido de um dispositivo sonoro, uma espécie de sirena, inventada

por nm engenheiro do serviço técnico. A imprensa citou tais expe-

riências em sua época. Êste aparelho alterava o som do motor do

avião, dava-lhe uma entoação característica ao


que permitia pessoal

dos postos de escuta, reconhecer o avião dêste dispositivo,


provido
E SUBMARINOS 781
AVIÕES

não As experiências foram concludentes.


dentre os que o possuíssem.

Ignoro, sem embargo, si o


Parece o é interessante.
que processo

novamente adotado. Não obstante, esta resolução apre-


sistema foi

são de solucionar. Para


senta alguns inconvenientes que possíveis

evitar o inimigo, ao mesmo tempo as baterias amigas, percebam


que que

do será mister fazê-lo funcionar no interior


o emprego processo

linhas, ou ainda melhor, reproduzir o som em zonas


das próprias

apropriadas.

Sei a como for a merece um detido estudo, porquanto,


questão

aviões, de muitos aviões, e tem se no


devemos dispor de que pensar

emprego sob todos os aspectos obter o rendimento


seu prático para

máximo de nossas forças aéreas.

acabo de falar de muitos aviões, tenho fazer ressaltar


Como que

as melhorias adotadas na produção.

Para o mês de 1939 as eram de 80 aparêlhos.


primeiro previsões

Fabricaram-se 100, entregues aos depósitos do Exército aéreo,


quasi

dizer registrou-se um excedente de 20 aparêlhos, sôbre o número


quer

e calculado com certo otimismo. ÊsLc resultado é


previsto primeiro

Consagra os esforços desenvolvidos.


promissor.

Si a curva de não sofrer decréscimo causas extra-


produção por

nhas é alcançar um número mais elevado no mês de Feve-


possível

reiro, o chegar ao nossa indús-


que permitirá potencial previsto para

tria aeronáutica, ou seja, 200 aviões mês, a do mês de Abril,


por partir

como o anunciou Guy La Chambre na reunião autorizada dos repre-

sentantes da imprensa em princípios de Janeiro.

Estas entregas, com as vêm da indústria ameri-


juntamente' que

cana, dentro de tempo, intercalar êstes materiais


permitirão, pouco

modernos em nossas esquadrilhas.

No diz respeito aos feitos nos Estados Unidos,


que pedidos

êstes referem-se a um de 100 aviões de caça


primeiro pedido

Curtiss-P-36 feito em 1938; depois, um segundo pedido de 100 aviões

do mesmo tipo feito em de 1939; em continuação ainda, foram


Janeiro

encontrados 115 aviões de bombardeio Glenn Martin, 100


pequenos

aviões de bombardeio Douglas B-19, 20 aviões de caça Vought para o

navio aeródromo Bcarn e enfim, 200 aviões norte-americanos de

instrução B. I. 9.

Contando com o mercado de 1938, chegaram em França 35


aviões via marítima e conduzidos à usina de construção nacional


por
782 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

do centro, em Bourges. Atualmente ensaiam-se 4 Curtiss P-36 no

centro de Villacoublay, especialmente ao tiro. Os


quanto primeiros
vôos não indicaram nenhuma falha. Tem-se reconhecer as
que que
missões francesas se transladaram os Estados Unidos
que para

tomaram todas as medidas úteis realizarem um máximo na


para

montagem e armamentos desses aviões. Os Curtiss P-36


permitem

a realização de' sensivelmente iguais às obtidas


perfomances pelos
aparelhos franceses semelhantes. Êsses aviões caracterizam-se pela

perfeição e acabamento de sua construção reflete a do


que potência

maquinismo de dispõe a indústria aeronáutica dos Estados


que

Unidos. Nada se opõe a as fábricas francesas alcancem a mesma


que

perfeição de fabrico; é apenas uma de meios, de maquinismos


questão

e de organização. O e real esforço se realizou durante o


grande que

ano de 1938, dará seus frutos não só sobre a intensidade de produção


como ainda sôbre a qualidade do trabalho.

Deve-se fazer ressaltar nos Curtiss 36, a facilidade de acesso


que

ao motor, a simplicidade da montagem e desmontagem, ajudam


gran-

demente o labor dos mecânicos. Por fim, a cabina do é muito


piloto

confortável. Nada ficou exposto aos azares da sorte, tudo está previsto

para obter a maior comodidade, a maior simplificação tornando o

manejo do avião mais agradável e fácil.

Os americanos não deixaram de pensar em sua utilização prática.

Quero crer que os excelentes modelos franceses que estão em ensaio

e que rapidamente serão construídos em grandes séries, aproveitar-

se-ão desta experiência. Isto decorre mui fácilmente,


porquanto

nossas fábricas dispõem dos maquinismos e dos meios apropriados.

{Memorial dei Ejercito de Chile)

A FÔRÇA SUBMARINA DA ALEMANHA

Já em o numero tratamos deste assumpto,


passado parecendo-nos

agora útil a reprodução de um estudo no Figaro c


publicado que

tomámos de Vanguarda. Êle abeira um aspecto interessante, é


qual

o da renovação de uma fôrça naval submarina, em ao


que problema

material é mister ajuntar outro muito mais importante e dificil: o

das guarnições.
AVIÕES E SUBMARINOS 783

"Em importante
artigo estampado no Figaro, Thomazi publica

estudo sobre os submarinos allemães, e accentua a Allemanha


que

não está nas condições de substituir os submersiveis na mesma pro-

em são destruídos, bem como a dos subma-


porção que que qualidade

rinos diminue, sua vez, relativamente ao numero das unidades.


por

Segundo o annuario britannico Fighting Ships, acaba de


que

apparecer, no começo das hostilidades, o Reich dispunha de 32 sub-

marinos de 250 toneladas; de 24 submarinos de 500 toneladas e de

15 submarinos de 750, além de 11 de 500 toneladas, e de 11 de 750

toneladas, em construcção.

O Reich contaria, ao todo com 99 submersiveis, que


portanto,

devem estar, atualmente reduzidos a 50 ou 55 depois de quatro

mezes de guerra.

• Mas — o chronista — de maneira esses algaris-


pergunta que

mos ser affectados, de uma parte pelas novas construcções,


poderão

e, de outra soffridas? As em média, têm


parte, pelas perdas perdas,

sido, até ao de duas a três unidades semana, o que se


presente, por

elevou, no de 15 de Outubro a 15 de Dezembro, a quatro


período

ou cinco submersiveis semana. O calculo da destruição de doze


por

submarinos mez deve estar aquém da verdade".


por
"Outro da
é o da construcção: a experiencia guerra
problema

anterior fornece a tal respeito interessantes elementos de com-

paração.
"Em linha maior numero de
1916 a Allemanha fez entrar em o

novos: 108, dos 66 no segundo semestre, e somente


submarinos quaes

de Dezembro 15. Mas em 1917 foram terminados apenas 87


no mez

submersiveis. Em 1918 o rythmo de construcção foi de duas unidades

por semana.

"Essas Os sub-
unidades não eram todas da mesma dimensão.

marinos 130 toneladas eram construídos em 4 ou 6 mezes; os de


de

200 toneladas entre 10 e 14 mezes os de 400 e 600 toneladas entre

15 mezes e dois annos.

"Ao nos estaleiros 207 unidades


momento do armistício havia

das 19 encommendadas em 1916.


quaes
"É construir
a industria alemã possa actualmente
provável que

um submarino mais rapidamente do ha 22 annos, mas de todo


que

modo essa construcção nunca ser tão rapida como a de um


poderia

carro de assalto ou de um avião.


784 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"Com
efeito e preciso que os motores a electricos,
petroleo,

accumuladores, compressores de ar, torpedos e


periscopios, grande
numero de aparelhos accessorios sejam entregues aos estaleiros em

tempo opportuno afim de serem montados dentro do casco fechado,

onde o trabalho é difíicultado numero de operários


pelo grande

empregados.

"Ignoramos
certamente qual o typo dos submersiveis a
que
Allemanha constróe actualmente. Caso se trate de unidades de 250

toneladas poderão estar terminadas em 4 ou 5 mezes, mas será preciso


um anno os submersiveis de 1.000 toneladas, cuja construcção
para

foi annunciada em Outubro ultimo.

"Desde
que se admitta a média de 8 mezes para a construção,

para produzir 12 por mez de modo regular, seria necessário tçjr nos

estaleiros ao mesmo tempo 96 unidades, mas a entrega dos submarinos

nessa cadência não seria senão oito mezes depois do inicio


possivel

das hostilidades.

"Quanto
á possibilidade de entrega de um submarino dia,
por
segundo foi annunciado irradiação allemã, bas"ta considerar
pela que

para tal seriam necessários 250 estaleiros, com organização tão per-
feita que parece irrealizavel mesmo para os allemães.

"Mas,
verdadeiramente impossível é fornecer a tantos navios,

tripulações e officiais capazes da manobra dos submersiveis. Seria

a Allemanha capaz de fabrical-os em serie? — um dia


perguntou

ironicamente o primeiro lord do Almirantado Winston Churchil. Com

effeito nas marinhas da França da Grã Bretanha são tres


precisos

annos para a formação de um bom official de unidade submarina. O

commando de um submarino nunca é dado a um official tenha


que
menos de dez annos de navegação.

"Como
poderia a Allemanha utilizar um pessoal sem o necessa-

rio preparo? Como, depois das soffridas marinha


graves perdas pela

germanica, sem compensação sufficiente, obter dos marinheiros o

moral indispensável e expedições de tal sobretudo em condi-


perigo

ções inferiores de preparo?

"Em
summa é licito affirmar nem como valor militar nem
que

em numero a Allemanha recuperar aquillo desde


poderá que perdeu,

o inicio das hostilidades, no concernente á campanha submarina".


AVIÕES E SUBMARINOS 785

CAÇA OU BOMBARDEIO
'1 ' y
c • L . J • ¦ • - -

Camille Rougeron inseriu no número de 18 de Novembro tran-

sacto de IJIlhistration umas considerações dignas de


que parecem

atenção. Ei-las:

"Proteger-se-á
contra o bombardeador inimigo pela caça obri-

gando-o a fazer uma reviravolta antes de lograr atingir seu objetivo,

ou pelo menos, interceptar-se-o em seu regresso, se o objetivo estiver

muito próximo do front ou da costa? Ou, será mister resignar-se a

sofrer tal bombardeio, pois que o único meio verdadeiramente eficaz

de é a ameaça de represálias que causariam ao inimigo


preservá-lo

um dano equivalente ou superior? A controvérsia continua desde 1918.

O ataque dos navios de guerra ou de comércio pela aviação de

bombardeio não teve reais sucessos, tanto de um lado como do

outro. Sem depreciar os notáveis resultados obtidos artilharia


pela

A. A. dos navios, resultados deviam ser esperados, deve-se


que

verificar que os encontros entre as aviações de caça e de bombardeio

resultaram em desastre para os bombardeadores. Mas, seria temerá-

rio concluir de tais combates uma inconteste superioridade da caça,

que quasi sempre enfrentara hidro-aviões de bem modestas per-

formances.

Felizmente uma demonstração bem mais flagrante acaba de ser

fornecida pelos resultados de muitos encontros entre a caça e alguns

aviões alemães de bombardeio, enviados em missões de reconhecimento

a distâncias cima dos territórios francês e inglês.


grandes por

As fotografias reproduzidas por L'Ilhistration mostram alguns

dos mais recentes aparelhos alemães abatidos pela caça: é o DO-17,

que constitue em essência a aviação de bombardeio de nossos adver-

sários. O Heinkel-111 K é hoje em dia objeto do esforço


principal

dos construtores. Uns e outros são excelentes aparelhos, de velo-

cidade comparável à dos aviões de caça que se lhes possa opor, e,

possuindo a disposição clássica de defesa por três postos de metra-

lhadoras. Recordemos o foi o Dornicr DO-17 apresentado


que que,

em 1937 no meeiing de Zurich, chamou a atenção para as perfor-

mances que lhe garantiram a vanguarda dentre os demais aviões de

caça, concurrentes. Com dois motores DB-600, sua velocidade má-

xima é de cêrca de 500 quilômetros por hora; seu raio de ação, de

mais de 2.000 quilômetros com 1.000 quilos de bombas. O Heinkel


786 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

111-K, de performances análogas, detém certo número de records

com carga a longas distâncias, e sua velocidade máxima é de mais

de 504 km. p/h. .

Por muito tempo, aceitando as afirmações de Douhet, a


quanto

êste ponto de vista, alguns acreditaram na quasi invulnerabilidade das

formações de bombardeio em face dos ataques da caça. Mesmo com

inferioridade de velocidade, carregado de metralhadoras, o avião de

bombardeio era capaz de defender-se, desde se encontrasse


julgado que

em posição de opor uma ou duas armas ao adversário se aproxi-


que

masse, vindo de direção. Acreditava-se poder completar


qualquer

essa defesa peculiar a cada unidade por um flanqueamento recíproco

dos aparelhos em formação cerrada, assim multiplicando em


que

cada direção as armas utilizáveis punham sob a ameaça de uma con-

centração de fogos todo caçador, assaz imprudente para aventurar-se

a atacar êste conjunto.

A experiência não confirmou estas conclusões otímicas sôbre as

capacidades de defesa do avião atacado. As formações cerradas são

ràpidamente desarticuladas artilharia em uma vez


pela primeiro, que

ela possa agir; e, em seguida, pela caça. A concentração de fogos

que se esperava dirigir contra o assaltante, é na realidade conseguida

sôbre o defensor. A mór parte dos aviões abatidos estavam inteira-

mente crivados de balas de metralhadoras.

A potência de fogo do avião de caça desde 1918, cresceu em

tais a defesa não pôde acompanhá-la. A cadên-


proporções que,

cia dos tiros das metralhadoras melhorou, tanto para a defesa como

o ataque. Mas contra a metralhadora única ou dupla de uma


para

torreta, certos aviões britânicos apresentam, hoje em dia, suas seis

armas descarregando, em média, 120 tiros por minuto.

Na tática da caça, no ataque em patrulhas de três aviões, a

única metralhadora em condições de responder, não deixa esperança

à defesa. Durante alguns segundos, em que êle está engajado com o

assaltante, não se verá o metralhador conteirar sua arma


primeiro

para enfrentar um segundo ou terceiro. Se a potência de fogo tiver

de decidir do combate, ela se dá, justamente, no caso da arma única

e de um único servente, alvo de tiro de concentração de três aviões,

individualmente, seis vezes melhor armados.

A superioridade da velocidade, que parecia a melhor defesa do

avião de bombardeio, não chega porém a preservá-lo de um encontro


AVIÕES E SUBMARINOS 787

A observação constantemente o acompanha, leva


com a caça. que

dêle, em sua derrota, numa altura superior à sua, os caça-


diante

dores o encontrarão em leve a despeito da supe-


que pique, pequena

rioridade de velocidade em vôo horizontal êle possa ter.


que

Se os milhares de bombardeadores a Alemanha construiu


que

durante alguns anos, e, com os seus chefes nos ameaçam dià-


quais

riamente, inda não entraram em ação, ninguém imaginará que tal

se dê algum motivo humanista. Hitler evitar se


por Quererá que

desenvolva contra o seu uma forma de guerra que seria fatal ao


país

regime? É bem Mas, não é absurdo pensar que os primeiros


possível.

resultados colhidos caça francesa e britânica aos aviões, nos


pela

depositaram suas esperanças, sejam igualmente temíveis".


quais

A GUERRA AÉREA

Pareceram-nos sensatas as considerações feitas por S. e V.

em La Science et Ia Vie de Novembro sobre os últimos acon-


p. p.,

tecimentos relacionados com o emprego da arma aérea nas guerras

modernas, e isso não deixaremos de aqui reproduzi-las:


por

"A — se
conduta da se faz abstração de seus aspectos diplo-
guerra

máticos e econômicos, cuja importância é positivamente capital, mas,

é mister afastar se prestar toda a atenção às ope-


que para que possa

ditas — apresenta, hoje em dia, um


rações militares propriamente

certo número de traços conferem à atual guerra um


particulares que

caráter fundamentalmente diverso de tudo que se pôde


próprio,

observar no ou longínquo. Tal é, exemplo, o


passado próximo por

emprego das fortificações reputadas inexpugnáveis, co-


permanentes,

brindo frentes de muitas centenas de de extensão, ou a


quilômetros

formação de unidades couraçadas, dispondo de uma mobili-


grandes

dade e de uma de fogo até hoje inigualadas. Todavia, o


potência

fato mais notável é incontestávelmente, a atuação da aeronáutica que

se tornou objeto no decurso dêstes últimos anos de múltiplos estudos

dos militares especializados.


por parte

Dados os consideráveis da técnica aeronáutica, o


progressos

rápido desenvolvimento das linhas aéreas e o enorme esforço para

um rearmamento aéreo de todos os do mundo, desde


por parte países
788 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

alguns anos, a aviação aparece hoje como um dos fatores essenciais

das Cada indaga o exato que ela será chamada


guerras. qual papel

a desempenhar no conflito atual.

O emprego da aviação de bombardeio em massa compacta contra

as retaguardas inimigas e contra as civis, da con-


populações quando

da Etiópia e durante as da China e da Espanha,


quista guerras

impressionou vivamente as imaginações, ainda quando as opiniões de

competentes estivessem divididas, no toca à in-


personalidades que

fluência decisiva tais operações ter sobre o resultado


que possam

da guerra.

E um fato a Alemanha, em especial, depositou toda


positivo que

a confiança na sua armada aérea. Desde 1934 esforçou-se por criar

uma armada aérea capaz de intervir na imediatamente, de


guerra,

surpresa e de forma compacta. Seus dirigentes contaram com o

uma tal fôrça exercer, e, daí obter-se pela intimida-


pavor, quê podia

a capitulação dos Estados visados reivindicações alemães.


ção, pelas

Tal foi efetivamente o resultado desta manobra em Setembro de 1938

e em Março de 1939 (invasão da Tcheco-Slováquia).


(Munich)

No caso de um conflito inevitável, a estratégia aérea alemã visa-

ria o desfecho súbito e brutal de uma violenta ofensiva aérea, tendo

como objetivo a conquista do domínio aéreo destruição da


pela

aviação inimiga, surpreendida inda no solo, o bombardeio repetido das

cidades e dos nevrálgicos ferroviários, cen-


pontos (entroncamentos

trais, etc.) antes a mobilização houvesse podido terminar, impondo


que

a completa desorganização e desmoralização no adversário, dess'arte

levado a capitular em pouco tempo.

O rápido avanço das tropas alemãs na Polônia foi por inúmeros

críticos militares atribuído aos sucessos obtidos pela aviação desde

as horas do conflito. A oeste, a situação apresenta-se sob


primeiras

um aspecto diferente. Os aliados opor à aviação alemã uma


podem

fôrça a ela comparável. Além disso a produção franco-britânica

inda está em crescimento, enquanto as usinas de além


pleno que

Reno avizinham-se de seu máximo.

A relação entre as forças aéreas evolue pois e rapidamente em

nosso favor. Os resultados a aviação alemã obter ata-


que poderia

cando as bases, as retaguardas e as cidades franco-britânicas for-

temente uma aviação e uma defesa aérea


protegidas por potente

sòlidamente organizada, ficariam fora de proporção em


qualquer
AVIÕES E SUBMARINOS 789

relação às perdas sofreriam. Os bombardeios aéreos sobre o


que

nosso território, custarão muito caro aos os empreenderem, e


que pa-
rece além disso não se dever contar com éles abater o moral de
para
nossas populações.

Em todos os domínios terrestres ou marítimos, hoje


a aviação é

em dia chamada a desempenhar um dos principais papeis na condução

das operações militares, se trate de reconhecimento,


quer de bombar-

deio de objetivos estratégicos, de ataque ao solo dos elementos de

infantaria e dos tanks, de ataques das unidades navais em pleno mar

e no ancoradouro, etc.. Dess'arte ela cooperará com


poderosamente
as demais armas que, na batalha, à custa do inimigo, conduzirão à

vitória final.

Vejamos a realidade dessas alguns eventos


previsões por já
ocorridos:

Aviões de bombardeio contra navios de guerra

Desde os dias das hostilidades


primeiros parece que a luta no
"aero-naval
mar do Norte tomou a forma — lê-se
pura" em

L' Illustration.

A 5 de Setembro, os aviões da Royal Air Force bombardearam

a esquadra alemã em Wilhelmshafen e Brunsbuttel, chegando no

decurso de um lançamento em a atingir um navio fundeado.


piqué,

Muitos aviões não voltaram.

A 26 de Setembro, em meio do mar do Norte, uma esquadra

da Home blecl é atacada vinte aparelhos alemães. Nenhum


por

navio foi atingido. Um hidro-avião alemão foi abatido e outro grave-


mente avariado.

No mesmo dia os aviões atacaram a esquadra alemã em águas

de Heligoland. Nenhum navio foi alcançado. Muitos aparêlhos

aterraram.

A 8 de Outubro, aviões britânicos de reconhecimento encontra-

ram uma esquadra alemã, rumando a Noruega. Essa


para esquadra

conseguiu escapar na obscuridade.

A 9 de Outubro um destroyer britânico atacado dois


por aviões

repele-os, com vantagem. No mesmo dia um combate desenrola-se

entre uma esquadra de cruzadores britânicos e forças aéreas alemãs,

que durante cinco horas lançam sem sucesso mais de cem bombas.
790 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A 16 de Outubro, dá-se um ataque contra a de Forth e a


ponte

base naval de Rosvth. Um único navio atingido, o cruzador Sou-

thampton que perde duas embarcações iam a reboque de cadeira.


que

Vários aviões alemães foram abatidos.

A 17 de Outubro, Scapa Flow sofreu um ataque aéreo. Duas

bombas caem nas do encouraçado Iron Duke„ fazendo-


proximidades

lhe alguns estragos.

Nenhuma dessas operações patenteou a superioridade, algumas

vezes, atribuída à aviação. Os impactos foram raros. As da


perdas

aviação, devidas ao fogo da artilharia dos navios, devidas à


quer quer

aviação de caça, foram pesadas.

E, será sempre assim?

Pode-se verificar como vantagem do navio de éle é


guerra que

certamente o objetivo mais poderosamente defendido contra os ata-

ques de avião. Também nenhum outro opor-lhe dezenas de


poderá

peças de 88 a 152 m/m., canhões automáticos de 37 a 40 m/m.,

metralhadoras pesadas. Toda esta artilharia um


guarnecida por

pessoal treinado, dirigida pelos mais aperfeiçoados aparelhos de dire-

ção de fogo, permite que acompanhe em poucos segundos, tele-


pelo

comando ou pela tele-pontaria, a luneta de observação do vigia, colo-

cando a aviação nas mais desfavoráveis condições para a exatidão de

seus lançamentos. Em favor da aviação sempre notar ^


pode-se que

na luta entre navios, nem sempre o canhão obteve a maior


porcenta-

gem de impactos. Calcula-se que cêrca de 2 % dos tiros desferidos

na batalha da Jutlândia é. que alcançaram o alvo.

Pode-se verificar além disso que os efetivos engajados pelas

duas aviações antagonistas, foram sempre pequenos. Que resultaria

do bombardeio de uma esquadra no pôrto ou ao largo, por milhares

de bombardeadores que pudessem ser postos em ação aviações


pelas

inglesas ou alemãs, e, a-par disso, de uma ameaça periódica da

propaganda alemã sobre a marinha de nossos aliados, si estes se


"suas
obstinarem a repelir ofensivas de paz"?

Outras fases da guerra aérea


I

À tarde do dia 6 de Novembro um de caça assegurava


grupo

uma proteção por 3 patrulhas (9 aviões Curtiss Hawk, monoplaces

de caça). Atingindo as linhas, um 3 trí-


grupo percebeu patrulhas
AVIÕES E SUBMARINOS 791

plices de aviões de caça alemães e sete aviões Meiserschmidt)


(vinte
e logo empenhou-se O embate rapidamente trans-
em combatê-lo.

formou-se numa serie de ataques individuais.

Combates envolventes, aviões cru-


engajamentos rápidos. Os
zam-se, retornam, evitam-se ultrapassando dorso do antagonista,
pelo
descáem sobre uma das azas ou se lançam em formidáveis A
piques.
batalha
prossegue, desigual lemos em L'Illustration.

Enfim, o balanço deste dá sete aviões abatidos em terri-


prelio
tono francês, dois outros obrigados a aterrissar e muitos aban-

donados.

EM PROL DO AVIÃO PROPULSIONADO PELA REAÇÃO

Sob êste mesmo título Victor Davrey redigiu, um estudo no

qual começa historiando o aparecimento dessa espécie de aparêlho,

para depois abeirar os foguetes de negra, impulsionados pela


pólvora
velocidade
de escapamento dos inflamados. Logo em seguida
gases
estuda os foguetes carregados com líquidos, enfim demorar-se
para
na utilização do ar atmosférico como carburante, o ciclo de volume
constante.

La Science et la Vie de Novembro último, onde lemos tal traba-


lho, "A
precede-o das seguintes considerações resumo: solução
clássica, universalmente adotada dos aviões, consiste
para propulsão
em utilizar um grupo moto-propulsor composto de um motor (de
explosão ou de combustão de um óleo e da hélice. As possi-
pesado)
bilidades de um avião assim equipado são limitadas ao
quanto ponto
de vista da sua velocidade.

O rendimento do grupo moto-propulsor baixa, com efeitot, ràpi-


damente ultrapassa
quando certo valor, da ordem de 550 Km. por
hora os aparelhos
paia atuais, em conseqüência da diminuição de
rendimento
próprio da hélice, de 75 a 80 a 550 Km.
que % por
hora cai 42%
para acêrca de 1030 Km. hora. Esta última
por
velocidade deve ser além disso, considerada como o máximo realizável
com o sistema clássico.

Mas a dos
propulsão aviões igualmente ser assegurada
pode pela
reação, fazendo escapar em velocidade um fluido
grande qualquer
792 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

parte posterior do aparelho; por exemplo, os


pela gases provenientes

da combustão da pólvora, de uma essência, do álcool ou de qualquer

outro combustível. Um tal propulsor apresenta sôbre a hélice a

vantagem de não se limitar valor absoluto da velocidade do


pelo

avião, e, de poder ser executado meio de u'a máquina de cons-


por

trução infinitamente mais simples o motor da aviação moderna.


que

Em compensação seu rendimento não se torna superior e nem mesmo

igual ao do sistema clássico, senão velocidades de vôo muito


para

elevado, a de uns 800 Km./h.


partir

Certos aviões de caça atingiram facilmente velocidades desta

ordem em pique, e os americanos anunciam mesmo, em idênticas

condições de vôo, velocidades de 925 Km./h. e até mesmo 1.078

Km./h.

Si bem que o record de velocidade em vôo horizontal esteja

atualmente em 755 Km./h., os aviões de caça em serviço ultrapas-

sam inda raramente 550 Km./h. Os do avião, sobretudo


progressos

no domínio da velocidade, estão intimamente ligados aos de seu grupo

moto-propulsor e, a êste respeito os resultados obtidos os


já para

propulsores à reação, permitem encarar num futuro relativamente

próximo novas e sensacionais performances.

A LUTA CONTRA OS SUBMARINOS

A PROEZA DUPLA DO SirOCCO

Nossa marinha — escreve R. List em L'Illustration — tem

parte extremamente ativa e até mesmo das mais brilhantes, nas ope-

rações contra os submarinos inimigos. Dois de nossos navios, o

torpedeiro de 1.500 tons. Sirocco e o navio hidrógrafo Amiral

Mouchez, afundaram três submarinos inimigos em poucos dias (o

primeiro, dois, e o segundo, um) .

O Sirocco fôra avisado por um avião de reconhecimento de que

tendo visto um submarino de;ixara cair um salva-vidas no lugar em

que êle desaparecera. No dia seguinte o Sirocco avistou um outro

submarino no revérbero da lua, bombardeou-o, a


pondo-o pique.
AVIÕES E SUBMARINOS 793

a proeza do Amiral Mouchez

O Almirante Castex levou ao conhecimento das forças marítimas

do Norte as seguintes recompensas, concedidas à esquadra de Darlan,

comandante em chefe das forças marítimas francesas:

Io — O Cap. Tenente da Reserva R. Saulmer comandante do

Amiral Mouchez; citação em ordem do dia da força armada do mar

"Graças
pelo seguinte motivo: à à decisão e à perseve-
prontidão,
rança de seu contra-ataque mui destruiu, de noite, um
provavelmente
submarino inimigo".

2o — O Io Tenente Bouzans; citação em ordem do dia da


J.
"Como
fôrça armada seguinte motivo: oficial de desen-
pelo quarto,
cadeou, à noite, o contra-ataque sobre um submarino inimigo com

uma decisão e uma lhe asseguraram a vitória".


prontidão que

3o — O Contra-Mestre timoneiro R. S. Le Tolier, do Amiral

Mouchez; citação em ordem do dia da fôrça armada do mar pelo


seguinte "Pela
motivo: rapidez e a segurança de suas iniciativas

assegurou o sucesso na defesa de um comboio e contribuindo ainda e

grandemente para o sucesso de um contra-ataque a um submarino

inimigo".

Três citações de linhas cada uma três marinheiros


quatro para
do mesmo navio; o comandante, o de um oficial infe-
oficial quarto,
rior, unidos na na adversi-
saudação como o foram na ação, juntos,
dade e nas honras. O comandante — escreve G. G. T. em
Saulnier

L llliistration — no leme embarcação Marie Rose


de uma de pesca
em 1916 e em 1917 no Roitelet,
da baleeiro lograra já dois sucessos

análogos: é pois um veterano da guerra submarina.

O êles três realizaram, eu vou relatar como me foi dito


que por
aqueles se encontravam
que entre êles durante tais horas.

Inicialmente fixemos o seguinte situa a esta bela


que ação:
estrada
que os nossos chamaram Mancha e os da Ingla-
geógrafos que
terra chamaram canal, —
The Chaitncl e em suma, traduzem
que, per-
feitamente —
a mesma imagem física manifesta de em vez
quando
um certo mau humor
que lhe é inteiramente Não foi a
peculiar.
tempestade, não; foi uma singular combinação do vento, de nuvens
e de corrente
para a qual os marinheiros britânicos criaram êste

pitoresco adjetivo: rouçjh, em iniciativa harmoniosa é inteiramente


que

justa, pois realmente, nesses instantes, nossa Mancha é realmente


rugueuse.
794 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Eis pois, em poucos clias, uma tarde em a Mancha encontra-


que

va-se em plena procela, as autoridades marítimas excelente


julgaram

a situação para fazer passar de uma margem à outra do Channel um

certo navio cujas dimensões e o conteúdo reclamam alojamentos

especiais.

Assim, cerca da meia noite, de um determinado e na dire-


pôrto

ção de um outro, nosso navio, todos os fogos ocultados, todos os

vigias a postos, fez-se imediatamente ao mar bem escoltado; patru-

lhadores avante, patrulhadores em cada um dos flancos, patrulhador

a ré, todos com os binóculos apontados e os canhões carregados. O

vento desagregava porções de salpicavam os conveses do


gêlo que

comboiado e comboiadores, enquanto no céu nuvens espessas


que

agitaram-se e uma lua muito clara, ora mostrava-se, ora escondia-se

entre elas ...

O comandante de um submarino alemão — nessa mesma


que

noite, vogara um pouco à sorte, por sôbre toda essa rugosidade, em

busca de aventuras —
percebeu qualquer coisa aproximando-se na

direção do lugar em que ficara oculto.

Com mar comum e um pouco de luar, isto seria perfeitamente

simples; u'a manobra rápida em semi-imersão traria o submarino face

à lua cuja claridade proporcionaria uma silhueta, assim fornecendo

ao tiro de torpedo um alvo praticamente impossível de ser perdido;

mas, com este mar, êste vento, e, esta lua, ora encoberta, ora clara, a

operação tornava-se mui delicada para o submarino. E o submarino

só consegue posição de tiro mui tardiamente . ..

O resultado foi que o Amiral Mouchez, à custa de uma série de

granadas cilíndricas de 100 quilos, granadas de profundidade, conseguia

destruir o submarino inimigo.

A PILOTAGEM DOS AVIÕES BÓLIDOS

Os aviões de 1918, quer se trate de máquinas civis ou militares,

eram sempre máquinas relativamente mui simples e do


que piloto

não exigiam senão reflexos intuitivos. A clássica alavanca de pilo-


ANTI-SUBMARINA INGLESA (U. S. Naval Institute Proceedings)
CAMPANHA

^ -¦¦• '
I m* "IT

^jjj£ * • -5

jf^Jj

^
^^

Explosão de uma bomba de profundidade


AVIÕES E SUBMARINOS 795

tagem, agindo simultaneamente sôbre o leme de profundidade e os

ailerons, bastavam para manter o equilíbrio longitudinal e transversal,

enquanto que a boléa (derivado de volear espanhol; voler francês)

oscilante, acionada pelos pés do assegurava a direção.


piloto,

Uma velocidade reduzida, vizinha de 300 Km./h., deixava pre-


"automatismos
cisamente a estes reflexos, verdadeiros humanos", o

tempo de intervir. Inda não se conhecia então estes de


quadros
"bordo
cerrado" onde mais de cincoenta e instrumentos
quadrantes
"P.
diversos — S. V.", conservadores de rumo, corretores altimé-

tricôs, verificadores de velocidade, verificadores das abas de intra-

dorso — vêm corrigir as imperfeitas do


qualidades piloto.

Mui lentas 110 ar, essas máquinas eram no entanto mui rápidas
"mudança
no solo, porque despidas desta de velocidade aérea" cons-

tituida pelas abas, e a hélice de passo variável, obrigadas a descolar

e a aterrar com um aparelho de porte insuficiente, o ficava


piloto
"tangencionando"
a temível perda de velocidade, sem falar das

grandes extensões necessárias aos aeródromos a rodagem dos


para

aparêlhos.

— "ocultos
Esta época heróica dos Fonck e dos Guynemer por

trás de uma projeção de luz", mergulhando como arquanjos e jogando

a saraivada de balas de suas metralhadoras, num incrivel retorcimento

sôbre a asa — é a idade do avião na medida do homem.

Hoje em dia o homem é longamente ultrapassado máquina


pela
"autômatos"
e já os instalam-se a bordo do avião.

A 92? Lins. por hora

Voar a 600 Km./h., velocidade na atualidade corrente os


para
"picar"
aviões de caça, verticalmente a 925 Km./h. como certo

Cnrtiss P-36 de construção americana, tudo isso é muito diferente

do vôo a 300 Km./h. Estima-se ser necessário a um 1/10


piloto:
de segundo o êle vê necessário à visão
para perceber que (tempo

psicológica) 2/10 de segundo a inércia do sistema


para própria
nervoso e dos músculos X/10 de segundo
(retardamento psicológico),

para permitir à máquina, tornada pela velocidade nada dócil, evoluir

sôbre sua trajetória mecânico).


(retardamento

Este último atrazo depende enormemente da velocidade e tam-

bém das condições do vôo; o mesmo não ocorre se em ou


piqué
796 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de um vôo horizontal. A 360 a hora já se avalia


quando quilômetros

a 3/10 de segundo, o dá o montante do atrazo total 8/10 de


que para

segundo ou sejam 80 metros de ou, de outra maneira o


percurso;

um obstáculo a 80 metros de distância não terá


piloto que perceber

tempo de evitá-lo.

aviões muito rápidos o atrazo, e


padece dúvida que para
Não por
"percurso
conseguinte o do espaço morto", não é mui acrescido, atin-

extensões de 200 metros. Concebem-se as mudanças que


gindo quais

surgir no combate aéreo de tudo isso, tendendo


possam provindas

o cruzamento instantâneo de dois bólidos lançados de suas me-


para

tralhadoras quádruplas.

Si a velocidade é sem efeito sôbre o organismo vivo, o


pura

mesmo não ocorre com as variações em ou direção dessas


grandeza

velocidades, também chamadas acelerações. Um que volteia


piloto

uma brusca manobra, após um ataque em encontra-se


por piqué,

submetido a um esforço de inércia sêxtuplo, às vezes mesmo mais, do

da intensidade da seu cérebro, pesando um quilograma,


gravidade;

instantâneamente sete e dar-se-á o mesmo com


pesará quilogramas

todos os seus órgãos, enquanto a do sangue diminuirá


que pressão

no cérebro. E os canais semi-circulares da orelha


paralizam-se
"sideração"
interna, órgãos de equilíbrio. Atribue-se à instantânea

do a de certos hidro-aviões que caíram no mar.


piloto, perda

É de nota as velocidades atuais não são muito afasta-


digno que

das da famosa velocidade do som metros por segundo, sejam


(340

1.224 hora); aí ha um entrave obrigará os


quilômetros por que

construtores a uma reviravolta completa nas silhuetas aerodinâmicas.

Elas são, outro lado, mui superiores à velocidade em queda livre.


por

Admite-se a velocidade limite de um corpo humano caindo no


que

ar sem é de cerca de 250 a hora; é pois


para-quedas quilômetros

a um avião alcançar um homem caindo no espaço, a um


possível

inimigo implacável metralhar seu adversário vencido tenta salvar


que

sua vida, só abrindo seu na do solo ...


para-quedas proximidade

Nós estamos aqui inteiramente à margem da cava-


guerra

lheiresca.

Mudanças de velocidade aérea

A velocidade não é o único elemento novo ao se deve habi-


qual

tuar um novato ou um da velha escola, toma a direção


piloto quando
AVIÕES E SUBMARINOS 797

de um avião bólido. A manobra das abas de intradorso e da hélice


de passo variável, em especial, lança certamente problemas para os
quais os reflexos naturais não atuam ou mesmo são inversos.'
Voar com o máximo de consumo, com a hélice no passo mínimo
e as abas disparadas pode acontecer a um bom piloto; não é vantagem
porém para aquecer rápida e intensamente um motor. Quanto ao
instintivo gesto de empregar a 100 metros do solo suas abas para uma
aterragem, isso custará a vida das tripulações.
"mudanças de velocidade no
Recordemos o princípio destas duas
ar". Si a hélice de um avião é desenhada em face do vôo a grande
velocidade, é-se conduzido a dar-lhe um grande passo, isto é, pás
fortemente inclinadas sobre seu eixo; mas a tração será insuficiente
à descolagem; o avião é pois equivalente a uma viatura que possuisse
unicamente uma prise direta.
A hélice do passo variável em vôo, comandada por uma trans-
missão elétrica, resolve inteiramente o problema; cada pá, gira sobre
si mesmo sob a ação de um pequeno motor elétrico e pode mesmo
deixar em drapeau para só oferecer uma resistência mínima à marcha,
em caso de pane do motor de tração.
As abas de intradorso são porções dos planos móveis fixos nas
partes de ré das asas, na visinhança da carlinga. Podem ser
inclinadas para baixo até cerca de 45 graus, formando um dispositivo
hiper-sustentador. O avião muda então inteiramente de marcha;
torna-se capaz de voar mui freiado, em velocidade reduzida e rodando
pouco na aterragem.
Num Caudron "Goeland" o abaixamento dos abas faz perder 50
quilômetros a hora em sua velocidade, e o disparo do trem de aterra-
gem eclipsável, outros tantos quilômetros. Tem assim o piloto um
meio de freiar, como o automobilista na estrada mas à custa de uma
prudência, sempre duvidosa.

Acidentes-tipos

Eis um acidente-tipo:
O piloto prepara-se para aterrar regularmente, hélice volteando
pouco, abas completamente disparadas. Si êle percebe que está muito
comprido, isto é que o avião não poderá parar dentro da extensão
798 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de terreno, êle o piloto, deve ganhar altura, girar, para então voltar.
Si êle fugir para pôr dentro suas abas afim de ganhar velocidade, o
avião cairá de ponta ou horizontalmente. A perda instantânea de
altitude pode atingir 60 metros.
"acidente
Outro acidente que é um de virtuoso": O pjlôto faz
uma descida com numerosas evoluções sobre a asa para alongar seu
percurso; no decorrer de uma última virada na vertical êle sente em
sua estrutura um remoits denunciador e o aparelho cai em parafuso.
Este acidente é devido a uma ação aero-dinâmica particular das abas,
as quais, nestas condições mui especiais, vêm perturbar o escoamento
do ar pela parte de ré do avião.

Quanto ao trem de aterragem, escamotável, é um órgão que


"perdoa" mais facilmente os erros de manobra. Esquecer
de prolon-
gar suas rodas no movimento de aterrar é certamente um descuido
escandaloso! Entretanto, já se perdeu a conta dos aviões que aterravam
de "bucho", sem ser catastròficamente. Em compensação o desloca-
mento tardio do trem, a menos de 200 metros do solo, patenteia-se
por uma freiagem perigosa podendo acarretar até a perda de velo-
cidade.
Pode-se dizer, resumindo, que a pilotagem dos aviões ultra-
rápidos estabelece para o organismo e o automatismo psicológico do
do piloto duas sortes de problemas. Uns podem ser resolvidos pelo
próprio homem, graças a um treinamento severo provido de todos os
instrumentos necessários ao comando; os outros são completamente
inacessíveis a um ser humano, tais quais a pilotagem sem visibilidade
(P. S. V.), a aterragem sem visibilidade, a navegação pigeon
voyageur.

Aqui o automatismo, esta creação da técnica moderna, intervém


— principalmente a bordo dos aviões transportes — com seus pilotos
giroscópicos, seus navegadores automáticos, seus corretores de todos
os gêneros, sem robots de tração dos lemes. Mas, o avião de combate
e de record, o verdadeiro bólido — escreve Pierre Devaux, concluindo
— esse permanece num mecanismo limite no qual as possibilidades
humanas são constantemente ultrapassadas, um puro milagre de carne
e fogo.

(Ulllustration)
AVIÕES E SUBMARINOS 799

O SUBMARINO E A GUERRA SUBMARINA

Uni dos especialistas alemães em matérias de subma-


principais

rinos o Cap. de Mar e Guerra Carl Daenitz semanas


(ha poucas

a Almirante), relembrava num estudo aparecido ha alguns


promovido

meses no Nauticus de 1939, em 1804, o inventor ameri-


que quando

cano Fulton aconselhava Lord Saint-Vicent a construção de subma-

rinos atacar a esquadra francesa, o Almirante inglês ter-lhe-ia


para
"Não
se detenha num navio tal; não encare êsse
respondido: que

assunto. Si adotarmos o submarino, as demais nações nos seguirão,

e, isso será o mais certeiro se imaginar, desferido


golpe, que possa

sobre a nossa supremacia naval".

em 1939 —
Os resultados da campanha submarina
prirríeiros

escreve H. Pelle de Forges em La Science et la Vie de Dezembro

último — sem dúvida alguma fizeram com o almirantado alemão


que

refletisse como teriam êles submarinos) levado o


(os provavelmente

almirantado inglês a rever sua opinião.

É fato, tal o indicara o almirante Daenitz, que não existení


qual

meios absolutamente eficazes interceptar ao submarino o acesso


para

ao alto mar. Isso obriga o adversário, simples possibilidade da


pela

do submarino, a afastar da frente das operações


presença principal

uma de seu de a organizar um


porção ponderável potencial guerra,

complicado sistema de comboio, afim de assegurar seu tráfego marí-

timo, e a diminuir o movimento dêsse tráfego no instante em


justo

seria desejável intensificá-lo, e enfim, a ameaça submarina força


que

os navios de a exercerem uma constante vigilância, causa de


guerra

fadiga extraordinária para seu pessoal.

Na atual o submarino surge extremamente vulnerável,


guerra

opera sem o apoio de uma esquadra poderosa.


quando

na superfície, o submarino é fácil as unidades


Quando prêsa para

convenientemente armadas, caça-submarinos, torpedeiros ou navios de

escolta de comboios. Imerso, êle teme ainda os obstáculos artificiais,

tais como as redes com minas obstroem a passagem e sobretudo


que

o ataque de submarinas navios de superfície, quer


granadas pelos

hajam sido alertados aviação, tenha sido sua presença


pela quer

e a sua técnicos mui


pressentida precisada posição pelos processos

aperfeiçoados, ha alguns anos funcionando perfeitamente.


Todavia, o maior inimigo do submarino, hoje em dia, sem dúvida

alguma é o avião. Graças a uma elocidade e longo raio


grande
800 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de ação, êle exercer eficazmente sua vigilância em extensas zonas


pode

marítimas, e, graças também ao seu armamento, atacar diretamente, à

bomba ou à metralhadora, um submarino que imprudentemente venha

à superfície e dess'arte impotente aos golpes que receba".


permaneça

Embora bem feito, não interessa porém o artigo na íntegra aos

leitores marinheiros militares. É êle contudo precedido e encerrado

com certos informes e considerações que parecem merecer repro-

dução aqui.
"O
caráter da naval, manifestou-se nitidamente desde os
guerra

momentos. Na realidade havia apenas, expirado o prazo


primeiros

atribuído à Alemanha para renunciar à sua ação contra a Polônia, e

o torpedo de um submarino alemão era lançado sem aviso


primeiro

contra um britânico, o Athenia. Estava iniciada a guerra


paquete

submarina.

Os alemães foram fôrça das circunstâncias levados a fazer


pela

aquilo éles denominado dei- kleine krieg, a pequena


por próprios

Não com efeito pretender a guerra de esquadras;


guerra. podiam

só em linha de batalha dois navios encouraçados modernos,


podiam pôr

o Scharnhost e o Gneisenau enfrentarem uma esquadra aliada


para

de alto mar, mais de dez vezes superior. Esta pequena guerra

recorre a diversos meios são; o submarino, a mina, o avião.


que

Além destes, outros fatores incitavam particularmente os alemães

ao recurso submarino. Foi êste pequeno navio no decurso da


que,

1914-18, os maiores sucessos e tal reco-


guerra permitiu-lhes qual

nheceu o Almirante comandante em chefe da esquadra bri-


Jellicoe,

tânica durante a em o abastecimento dos aliados.


guerra pôs perigo

Conservaram a lembrança do possivel poderio deste instrumento,


pois

e, não duvidaram com os aperfeiçoamentos ulteriormente intro-


que,

duzidos, êles não ainda desta vez, malgrado suas fracas


pudessem,

dimensões, romper o bloqueio naval da Alemanha, continuando como

no a obrigar os navios inimigos de grande tonelagem à


passado,

uma ininterrupta vigilância, fatigantíssinía para os que a mantêm'.

Dois outros argumentos, apoiados pela experiência da última

êles também si sentiram pesar em favor desta


guerra, por próprios,

decisão:

O era mesmo não sendo o submarino destinado


primeiro, que,

a assegurar a vitória no mar, ao menos obrigaria os aliados a dis-

trair no alto mar uma de seu e de seus canhões, o que


parte pessoal

diminuía um tanto o seu de guerra na frente terrestre.


potencial
(U. S. Naval Institute Proceedings)

O periscopio denunciador
AVIÕES E SUBMARINOS 801

O segundo, era si um navio cuja construção exige


que, grande

três ou anos, não ser concebido e realizado no decorrer


quatro pode

das hostilidades, ao contrário fazer submarinos em séries.


pode-se,

E os alemães também de bem modesto número em Agosto


partindo

de 1914, tinham construido em cêrca de 400 submarinos,


plena guerra

dos 200 foram' destruidos aliados outros foram


quais pelos (os

submetidos às condições do armistício de 11 de Novembro de 1918).

Todas essas razões fizeram com que os alemães desencadeassem

a guerra, uma submarina ao extremo, e como nós o sabemos,


guerra

guerra sem respeito às convenções humanitárias que eles próprios

haviam subscrito".

ASSINALAÇÃO DOS AVIÕES POR MÁQUINAS

FOTOGRÁFICAS

As máquinas cinematográficas são empregadas nos Estados

Unidos assinalarem os aviões em vôo, os ensaios do tiro contra


para:

avião, e, os estudos de vôo dos aviões em espiral na aterragem e na

descolagem.

As câmaras são dispostas a 18 m/m. uma das outras ou a dis-

tâncias múltiplas dêsse valor. As fotografias são tiradas na cadência

correspondente a fotografias por segundo. Os dois aparêlhos


quatro

funcionam sincronizadamente pela ação de urrt eletro-imã mergu-

lhante, com uma impulsão única de um relais de comando; os obje-

tivos idênticos têm um comprimento de foco relativamente grande

— P. La Nature — donde na íntegra tomamos estas


escreve H. em

informações.

Os aparêlhos são ligeiramente descalados. Seus eixos conver-

numa distância de 480 m. para uma base de 18 m., de 960 m.


gem

uma base de 36 m. A descalagem das imagens do avião sôbre


para

dois filmes depende, pois, da distância e da altitude.

Para a emprega-se u'a máquina com dois projetores,


projeção

a Medida dos menores deslocamentos das duas imagens


permitindo

do avião sôbre os dois filmes.

Emprega-se um isolado cada banda do filme, do


projetor para

dêle obtido, mas, os dois filmes são movimentados simultânea-


par

mente, imagem imagem. As imagens da esquerda e da direita


por
802 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

deslocam-se portanto errf sincronismo tais quais foram registradas.

O filme é apertado entre dois vidros, afastando-se no instante do

deslocamento.

São reguláveis os objetivos da projeção, um horizontalmente, o

outro verticalmente, de forma a compensarem o possível deslocamento

dos filmes. As projeções, sendo efetuadas sobre duas telas transiu-

cidas contíguas às duas imagens diferentes do mesmo avião, apare-

cem gradualmente separadas, à medida que se desloca o aparêlho.

Esta descalagelrf é mensurável diretamente sobre a tela trans-

lúcida e uma certa base até 750 m. uma base de 18m..


para para

A leitura desta distância faculta, imediatamente, diante da escala

a dedução rápida do avião, tendo-se dest'arte a marcha


graduada,

exata do aparêlho.

O AVIÃO SEM PILÔTO

Mais outro n-feio de locomoção, está o avião à mercê


que qualquer

das fraquezas, não só do como da máquina. Também — escreve


piloto

A. Verdurand em La Science et la Vie de Novembro último — é

desnecessário acentuar o interêsse toda a invenção venha


por que

aumentar a segurança do aparêlho e diminuir a atenção de sua guar-

nição; e, acrescentaremos nós, também si torna digno de salientar as

vantagens inda mais de melhoramentos tais numa


ponderáveis que

aviação de guerra.

Um engenheiro francês sr. Granoli acaba de construir utrf dis-

dessa natureza sua simplicidade, sua robustez e o


positivo que por

mínimo de sua instalação, que será chamado a desem-


preço parece

no futuro. Trata-se de um novo sistema de


penhar grande papel
"autóptero",
chamado aperfeiçoamento do aparêlho de
govêrno,

governo , auxiliar, Fletner servia para se obter uma divisão dos


que

esforços a serem exercidos sobre os aparêlhos de direção do avião.

Os aparêlhos de govêrno autóptero realizaram automàticamente

uma estabilização extremamente maneira e eficaz do avião, permitindo

até ao piloto abandonar os comandos de seu aparêlho, durante um

tempo bastante longo mesmo com atmosfera turva. Esta estabilização

automática, condição precípua do vôo sem visibilidade, já havia sido

obtida pelo emprego de dispositivos de pilotagem giroscópicos.


AVIÕES E SUBMARINOS 803

Mas, enquanto que os "pilotos automáticos" de giroscópio, apare-


lhos de alta precisão e por conseguinte mui caros, constitue por seu
peso, sua delicadeza e complicação uma pesada servidão e não podendo
ser instalados senão a bordo de grandes aparelhos de bombardeio ou de
transporte, os primeiros ensaios de governo autóptero demonstraram
que todos os aviões poderão, dentro de pouco tempo, aproveitar as
vantagens da estabilização automática dispensando até o piloto, na
maior parte do tempo de seu trageto.

DEFESA ANTI-AÉREA — OBUZ ANTI-DETONANTE

Fala-se ultimamente de um obuz destinado a abater os aviões


explodindo por si mesmo logo que se encontre na imediata visinhança
do aeroplano. H. Vigneron em La Nature assim o descreve:
"No interior da cabeça
da ogiva encontra-se disposta una Iam-
pada elétrica, alimentada por uma pequena bateria e cuja luz côa-se
para o exterior através duma série de janelas abertas na parede do
projétil. Na base do obuz encontra-se uma série de prismas que, uma
vez iluminados, desviam a luz para uma célula foto-elétrica acionando
um relais determinador da explosão do estojo detonador do obuz.
É o seguinte, o funcionamento deste conjunto: Em sua traje-
tória ascendente, o obuz que gira a grande velocidade, emite uma
esteira luminosa. Quando êle passa nas proximidades de uni avião,
os raios que incidem sobre o avião serão refletidos na direção dos
prismas situados na base do projétil determinando sua deflagração.
Si o projétil passar mui distante do avião, nada ocorrerá. Mas
logo que êle decair por seu próprio peso, uma espoleta de tempo pro-
vocará sua destruição antes que atinja o solo.

EFICÁCIA DO BOMBARDEIO AÉREO

As experiências empreendidas pela renomada organização inglesa


Air Raid Precautions, sobre a eficácia das bombas de aviões de
grande
potência, demonstraram que — lemos em La Science et Ia Vie —
quando de uma explosão, a expansão transmite ao gás uma velocidade
capaz de causar pelo choque importantes danos às embarcações vizi-
nhas. Contudo, este resultado desapareceria
para além de uma distân-
cia de cerca de 9 metros.
804 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Assim também, a onda de pressão aérea e a onda transmitida

pelo solo seriam bastantes amortecidas para que a partir de 9 metros

dela não resulte nenhum dano psicológico às pessoas se encon-


que

tram num abrigo suficientemente reforçado e bem' orientado.

VÁRIAS

No ano acaba de findar-se comemorou-se o 12° aniversário


que

da travessia aérea direta entre o Novo e Velho Mundo


primeira

Atlântico Norte. A influência na guerra de um feito tal é


pelo que

o inda não foi verificado, sendo que Nova York fica hoje a
que

24 horas de viagem da Europa, em aviões comerciais.

Também nós, americanos do sul a 22 de Maio de 1939, vimos


"Reta
decorrer o primeiro aniversário do funcionamento da chamada

do Atlântico-Pacifico" liga eírf dois dias e meio de viagem Rio


que

de a L,ima, via La Paz, interior do Brasil. Exploram


Janeiro pelo

essas importantes comunicações que atravessam o hintefland ameri-

cano e em especial brasileiro, as companhias alemãs Lufthansa e

Condor, ligando-se em Corumbá ao Lloyd Aéreo Boliviano.

Camille Rougeron em La Science ct la Vie, subordinou ao


"A
título fator decisivo o desenvolvimento da aviação
guerra, para

comercial", uma série de considerações, com as nem sempre


quais

estamos de acordo, mas não nos impedem de chamar a atenção


que

êsse trabalho no êle estuda o desenvolvimento dos trans-


para qual

aéreos em tempo de e a segurança do transporte, a


portes guerra,

capacidade de transporte das linhas aéreas e termina concluindo o

desenvolvimento de transportes aéreos.

Um comboio de cargueiros, devidamente escoltado foi atacado

no trtar do Norte 12 aviões alemães. Os escoltadores abriram


por

imediatamente fogo e com o auxílio de aviões ingleses que chegaram

ao local do combate, os agressores em fuga; sete deles foram


puseram

abatidos. Os cargueiros e escoltadores nada sofreram.


AVIÕES E SUBMARINOS 805

Na segunda semana de Outubro, foi a pique por um torpedo,


lançado por um submarino tedesco, o encouraçado inglês Royal Oak.

Noticiou-se haver a Alemanha até 23 de Novembro p.p. perdido


23 submarinos, 125 aviões na frente cfcidental e de 60 a 180 na
Polônia.

Falando da dificuldade de vida e de exercício das guarnições


destinadas à tripulação dos submersíveis e dos riscos em que se
acham usualmente expostas em confronto com as das unidades de
superfície, Army and the Navy Register recorda as quatro maiores
perdas dessa espécie de navios da marinha americana antes do afun-
daiiTento do Squalus.
A primeira foi a 20 de Fevereiro de 1915 quando, numa prova
de imersão, o submarino F-4 quedou-se a 93 metros de fundo com
perda de toda a tripulação.
A segunda foi a 12 de Dezembro de 1912, colisão devido ao
nevoeiro de dois submarinos os F-l e F-3 perdendo-se aquele com
dezenove pessoas.
A 26 de Setembro de 1925 o S-51, abalroado por um navio
mercante naufraga com 33 tripulantes.
A 27 de Dezembro de 1927 o S-4, abalroado por um contra-
torpedeiro, afunda com 40 pessoas.

Insistindo na necessidade da formação de uma poderosa aviação


ofensiva, como resultante dos ensinamentos da guerra moderna, o
senador Laurent-Eynac, ex-ministro do Ar na França, firmou um
interessante artigo divulgado em o número 457 da Revista L'Air

Segundo noticiou a agência norte-americana os aviadores ingleses


na linha de frente atuaram de tal forma que já conseguiram compor
um foto-mapa de toda linha Siegfried.

C. F. X.
RESPIGA

Sumário — As construcções navacs — Os da esquadra — A Nave-


garotinhos
— Tamandaré e MarciUo Dias — Meu dia de marinheiro
gação do Pamaíba
— Heroe naval em olvido.

AS CONSTRUCÇÕES NAVAES

"
Nestes dois arsenaes, emquanto houver espaço e homens de boa vontade,
"
iremos collocando quilhas, fazendo surgir navios para a defesa do Brasil.

Com estas palavras breves, desataviadas, onde havia comtudo um program-


ma de trabalho, concluía, em dezembro de 1937, seu discurso o ministro da

Marinha antes de bater o presidente da Republica a quilha de um dos navios

mineiros projectados. Hontem foram lançadas ao mar tres dessas unidades,

o Caravelas, o Cabedelo e o Camaquan, as quaes, acrescidas do Carioca, do

Camocim e do Cananéa, formarão todas o grupo de seis navios mineiros incor-

porados ao serviço da Armada e construídos no Brasil. Juntem-se os contra-

torpedeiros Maris e Barros, Greenhalgh e Marcilio Dias, bem como os monitores

Parnahyba e Paraguassú, e teremos o total de onze navios de construcção bra-

sileira, dentro de prazo relativamente curto, em que haveremos também de

situar as obras do couraçado Minas Geraes, hoje em virtude dellas ínais effi-

ciente do que o era novo, pois foi actualisado: possue linhas elegantes
quando
e dispõe de artilharia adaptada a todos os aperfeiçoamentos balísticos, graças
á competencia, á direcção dos trabalhos, do reputado engenheiro naval
quanto
almirante Júlio Regis Bittencourt e, quanto á efficacia do fogo, do comman-
dante Ayres Pinto da Fonseca Costa.

E' todo um renascimento naval o que assignala este período de governo, a


cujas iniciativas cumpre ainda accrescentar a compra dos navios-tanques Marajó
e Potengy, do navio-escola Almirante Saldanha e dos tres submarinos torpe-
deiros Tupy, Tamoyo e Tymbira. Mas são as construcções o mais nos
que
deve orgulhar na hora revelam do
presente, porque o animo e a capacidade
pessoal. Pelo pessoal, em tantos annos de marasmo, não só em relação
passados
a construcções como a compras, é que podíamos guardar a certeza de possuir
Marinha de não embora
guerra, possuindo o material necessário.

Em um paiz onde o problema das capacidades se apresenta nos vários


ramos de sua estructura, quasi sempre exposta a nação ao arbítrio das expe-
808 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

riencias e das tentativas, é verdadeiramente um conforto observar, nos orgãos

permanentes de affirmação política, essa vitalidade.

As construcções navaes que temos ultimado favorecem o argumento por

mim aqui mais de uma vez invocado a proposito do canhão brasileiro. Da

mesma fôrma que o canhão brasileiro, as construcções navaes podem incentivar

a industria pesada, em logar de serem a consequencia delia.

E' certo que não estamos ainda apparelhados para a execução de um plano

completo. Mas em parte nenhuma os planos dessa especie começaram pelo

fim. Ha que fiar primeiro nos ensaios, e as condições do mundo, reflectindo-se

sobre nossas condições internas, estas mais angustiadas pela carência de orga-

nização, mostram-nos que o tempo que vae correndo correrá em pura perda

se não avançarmos no caminho aberto pelo espectaculo das necessidades emer-

gentes. Taes necessidades, quanto á Marinha de guerra, não promanam de

qualquer artificio. Suas indicações estão bem claras na marcha dos aconteci-

(mentos, que preparam talvez para a segunda metade do século XX o inicio

de uma nova edade, que os philosophos adivinham no tumulto com que as

fórmulas do Estado buscam um ponto firme de convergência e adaptação.

As transições históricas são por via de regra funestas aos povos fracos.

No limiar da transição agora provável, cumpre tornar o Brasil digno da posse

de seu territorio, o que é como se dissessemos digno de si mesmo. E' a posse

do terriorio o que asseguramos quando se lança aqui ao mar um navio. Tenha-

mos arsenaes, tantos quan'.os forem indispensáveis para as construcções, de uni-

dades de guerra ou mercantes, e seremos, além de um paiz no mappa, uma

nação na tribuna mundial.

Costa Rego

Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 1939.

OS GAROTINHOS DA ESQUADRA

Carioca e Canaitéa, os primeiros navios mineiros construídos no Arsenal

de Marinha, atracaram á Praça Mauá, franqueados ao publico.

Fomos vê-los.

A nossa visita foi assim uma especie do que se passa com certos tios

alcoviteiros que vão ver os sobrinhos do peito passar, formados, pela primeira
vez, vestindo a fardasinha do Colégio Militar.

Haviamos assistido ao batimento de suas — isto é, ao nascimento.


quilhas

Depois ao batismo ns aguas da Guanabara e, agora, á incorporação á Armada,

uma como que entrada no Colégio Militar... Sim! Porque não têm ainda

idade e cursos á Escola Naval!...

Não são os garotinhos da Esquadra? Daí o nosso encanto em vê-los, a

nossa ternura em elogia-los.


RESPICA 809

I
Aos nossos olhos, tudo neles é inteligência, é graça, é esperança, é
perfeição.
E' a força e eloqüência que promete o porvir magnifico, é a certêsa que
hão de chegar á maturidadee, como as criaturas nascidas para engrandecer
á Pátria.
Carioca e Cananéa, são para a nossa imaginação esses dois garotinhos que
fomos ver envergando, com garbo, o uniformezinho colegial, mas já alçando-
rado pela dignidade congênita, pela honra e pundonor militar.
Eles hão de crescer. E de curumins travessos e celerepes hão de passar
á juventude e envergar outros uniformes quando forem torpedeiros e submer-
siveis e chegarão á mocidade com os nomes de outros cruzadores.
Hão de crescer e aperfeiçoar-se. E, de posto em posto, ainda havemos
de vê-los almirantes, na farda de aço de grandes e poderosos couraçados cons-
truidos nos nossos arsenais.
Tudo isto é um simbolo — mas um símbolo que será realidade porque o
Brasil assim o quer e assim ha de ser.
Carioca e Cananéa, garotinhos da Esquadra, com que ternura vos olhamos
como se fosseis realmente meninos que, não só amamos, mas já admiramos
pela certêsa do que representam de trabalho patriótico e pelo que chegarão a
ser para o nosso orgulho.
Como sois lindos! Lindinhos!
Que altiva faceirice no porte marcial das vossas silhuetas! O vosso esmero
e perfeição!!!
O garbo com que viestes, pela primeira vez, ao regaço da Terra aben-
coada de todos nós, é uma hora feliz e propicia que enche de alviçáras a alma
dos brasileiros — dos verdadeiros brasileiros que vos amam no fundo do coração.
Na mão de Deus, ao alto dos estelarios, a poeira lutninosa dos astros
desce na ampulheta da eternidade. Que cada um grão de pó seja a benção da
vossa felicidade. Em cada onda do mar brilhe a gloria dos vossos destinos.

C. Paula Barros

Rio-Jornal, Rio de Janeiro, 5 de Outubro de 1939.

A NAVEGAÇÃO DO PARNAÍBA

Parnaíba, a florescente cidade piauiense é, no Nordeste, jim dos mais


notáveis empórios comerciais e um dos mais importantes centros de vida social
e de atividades industriais. E' um povo acentuadamente progressista, o par-
naíbano. A prospera cidade não vive á margem de um rio, bocejando de tédio,
como inúmeras congêneres ribeirinhas do interior brasileiro. Essa existência
apática, estagnada, sonolenta de outras terras velhas, decrépitas, num país novo
810 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

— um paradoxo vivo. autentico — a chamada princesa do Piauí não conhece.


Quando ha uns dois decênios, passei por lá, de retorno da capital paraense,
em cuja imprensa adiantada me iniciara, para logo me surpreendeu o progresso
da terra, em que Humberto de Campos vivera o trecho mais doloroso da sua
agitada existência. Verifiquei que, sob muitos aspectos, sem pretender ex-
piorar, aqui, rivalidades regionais, bairrismos estreitos, Parnaíba sobrelevava,
em importância, a própria capital do Estado.

Está, ali, a Alfândega. Está, ali, a Capitania do porto. Encontram-se,


lá, as melhores e mais opulentas casas comerciais, aviadoras de toda a região
sertaneja adjacente e, até mesmo, remota. Quando a conheci, gozava também
do privilegio de ser a sede de uma das mais freqüentadas escolas de Aprendizes
Ma.inheiros.

Quer tudo isso dizer que a União, atendendo á situação topográfica e á


influencia evidente da formosa cidade nordestina, houve por bem localizar,
nela, vários serviços públicos. Social e literariamente, vale a pena, também,
pôr em relevo a ascendência notória da cidade, que tem o nome de um dos
cursos dágua mais notáveis do Brasil: o grande rio Parnaíba, que separa duas
vastas circunscrições do território nacional: o Piauí e o Maranhão. Rio nave-
gavel em uma extensão de léguas e léguas sertanejas, fertilizando uma longa
região, o Parnaíba vale, ainda, como um refrigerio providencial ás populações
de outros Estados nordestinos, notadamente do Ceará, quando, cm rumoroso
êxodo, emigram a procura dágua, nas tremendas secas periódicas, que calcinam,
impiedesamente, o solo mártir, a infeliz terra penitente dos sertões próximos.
Oásis abençoado, linfa prodigiosa e benfaseja correndo, generosa e perene,
entre o ouro das searas e a brancura dos rebanhos, o rio Parnaíba — imenso
traço vermelho de união entre dois Estados eminentemente pastoris e opulen-
tamente agrícolas — pôde ser considerado, mui justamente, como uma das
maiores riquezas líquidas do Brasil. E o seu vale enorme se enfileira, pela
uberdade, ás regiões mais ferazes, mais produtivas do país.

De tudo isso eu me lembrei, agora, ao receber de amigos daquela inesque-


civel região a honrosa e grata incumbência de fazer chegar aos Poderes Publi-
cos o justo anseio do povo ribeirinho do Parnaíba, no sentido se ser melhorada
a navegação, o único meio de transporte, a via única de comunicação que, ali,
existe, numa faixa de terra, que margina o grande rio, desde o estuário até
ás cabeceiras, na longínqua serra de Tabatinga. Parnaíba, o maior centro de
irradiação comercial, é quem serve aquela imensa região. Numerosas cidades
c vilas, ás margens do enorme curso dágua, abastecem-se, no seu comercio e
na sua industria, do que produz e exporta o farto celeiro, que é a princesa,
a metrópole máxima do Piauí.

Situada ás vizinhanças do delta, póde-se dizer que Parnaíba é o único


porto do grande Estado sertanejo. Sim, porque Tutoia é maranhense e Amar-
ração, pelo inaccessivel do seu litoral, não oferece fundèadouro aos navios
de. pequena cabotagem, ainda os de insignificante calado. E' um ancoradouro
soterrado, ha anos, pela progressiva acumulação de dunas e mais dunas. O
porto de Tutoia é o único respiradouro do Piauí. E' por onde a notável cir-
RÊSPIGA 811

cunscrição nacional se comunica com o mundo e isto mesmo, a espaços ilimi-

E' duas vezes, mês, um navio do


tados, a longos prazos. que, apenas por

Parnaíba — entreposto central


Lloyd chega àquele litoral. De Tutoia á

um vapor, conduzindo um numero de barcaças setni-barbaras


pequeno grande
— umas alvarengas toscas com toldos de — despende vinte e quatro
palha
horas de viagem morosa, enervante, Os passageiros, sem o
paulificantissima.
minimo conforto, acotovelam-se, altamala, no . E a carga, no
gaiola-tnotor'
aquilo — bizarro
bôjo apopletico das tais barcaças, vai a reboque. Semelha

espetáculo! — a uma aldeia composta de casebres de flutuando, em


palha,

de tardigrado, ao arrepio da torrente caudalosa e rubra. De Parnaiba


passo
cima, rumo de Teresina e d!e outras cidades ribeirinhas, eu não sei, e
para
ningueWi saber dias — não serão meses?! — se na penosa
pôde quantos gastam,
travessia. E ha um longo quarto de século sofre-se, ali, esse suplício!

Estou certo, porém, de que o Sr. Interventor do Piauí, na reunião dos

demais Interventores, recentemente realizada aqui, interessou-se vivamente pela


solução de um tal problema, esperando-se, assim, que uma situação desta ma-

neira aflitiva, pesando sobre uma região digna de melhor sorte, cesse, ou se

atenue. E' o que almeja todo o imenso e rico territorio, que o Parnaíba corta

e fertiliza.

Assis Memória

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 d!e Dezembro de 1939.

TAMANDARÉ E MARCILIO DIAS

(Dia do Marinheiro)

Conferência no Círculo dos Oficiais Refor-

mados por L. de Oliveira Bello, Capitão de

Fragata, Ref.°.

Desde a mais remota antigüidade que em cada país os homens viveram


separados por castas, classes e profissões, em \irtude dos seus preconceitos,
direitos e habilidades. Atualmente, si as distinções entre as castas estão muito
diluídas e as diferenças entre as classes pouco sensíveis, em compensação, as

profissões estão se multiplicando cada vês mais.

Para vencer numa profissão o homem moderno já não conta só com a


ínteligencia, a competencia, o amôr ao trabalho, a honestidade e sua arte.
a
Em consequencia da concorrência humana e do auxilio das
grande prestimoso
ciências e da maquinaria, é mister aliar a tudo isso, tenacidade nos esforços,
instrução especialisada, forte vontade de vencer, resignação, atilado
paciência e
senso acompanhar a vertiginosa evolução
prático para poder do progresso
humano.
812 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Demais, a geral democratização dos costumes, hábitos e preconceitos creando

novos direitos e vantagens, e o enfraquecimento da fé religiosa dissolvendo os

mais sãos princípios da bôa moral, dificultam cada vês mais a vitória na luta

pela vida. Por isso, aos raros profissionais que realmente logram vencer só

pelos seus ingentes esforços e sacrifícios em bem da Humanidade, deve se

estimular a sua vitória, louvando-os, destacando-os como exemplos a serem

seguidos e até premiando-os, para valorisa-los.

Como êsses homens do trabalho, em geral, não dispõem de tempo e muitos

de instrução suficientes para se observarem sem paixão e avaliarem com jus-

têza os seus contínuos e profícuos esforços, que redundam em variadas e

valiosas vantagens para a Humanidade, ultimamente, nas nações de política


liberal, vem cabendo aos seus governos, ás prestimosas associações de classes,

aos diversos institutos técnicos e previdenciais e á bôa imprensa, compostos todos

de homens cultos, de bôa vontade e tempo disponível, a louvável tarefa de

apreciar e destacar êsses esforços e sacrifícios e anima-los com palavras, gestos

e atitudes nobres e medidas adequadas, incentivando os bons exemplos, com o

elevado objetivo de estimular o vigôr do trabalho e alimentar as fibras civicas

do patriotismo.

Naturalmente saiu dessa concepção a moderna idéia de se homenagear as

diversas classes e profissões, como fecundas colméias do labôr humano que


são, concedendo ás mais importantes delas, anualmente, um dia de folga remu-

nerada, durante o qual, entre discursos, lôas e festas, os profissionais de cada

uma, comemorem a vitória coletiva dos seus esforços.

E assim, surgiram, entre nós, os dias do bancário, do soldado, do engenheiro,

do comerciário, do advogado, do marinheiro, do médico, do jornalista, do en-

fermeiro, do funcionário público e de outros profissionais.

E' jus':o que assim se proceda porque desse modo não só se rende uma

louvável homenagem aos esforços das classes laboriosas que, com a sua inte-

ligencia, a sua ciência e a sua arte, tanto concorrem para a evolução do pro-

gresso e da civilização da Nação, como também se interessa o povo mais dire-

tamente no julgamento dos valores humanos, abrindo-se-lhe maior horizonte

para a compreensão das realidades da vida por meio de criteriosas comparações

anuais desses esforços.

E é em virtude dessa idéia, decorrente da vertiginosa transformação social

e política por que as nações vem passando nesse apóz-guerra, que para comemo-

rarmos o dia do marinheiro, ha quatorze anos, instituído nessa data, pelo saudoso

Almirante ALEXANDRINO, hoje nos achamos aqui congregados.

De todas as profissões, sem dúvida, a mais antiga é a do marinheiro, pois


a navegação, como uma contingência natural e lógica, nasceu nos primórdios
da Humanidade, logo depois que ela se aperfeiçoou no uso do fogo e da pedra.

Troncos e galhos de árvores, derivando á flôr das correntes, fôram os

primeiros elementos materiais que transportaram os homens, á procura das

suas necessidades, de uma margem dos rios ou lagos para a outra, fronteira.
RESPIGA 813

séculos adiante, as navegações se extenderam


Muito posteriormente, por
mares somente muitíssimo mais tarde foi que os homens, já adian-
pelos vários e

afrontaram as águas dos miste-


tados e com melhores elementos de transporte,

e as transformaram nos imensos e agitados cenários, onde


riosos oceanos

realizaram as suas ferozes lutas, epopéas e sangrenta." tragédias, que


grandes
livro da História Geial do Mundo.
constituem as mais belas páginas do grande

o notável crescimento dos núcleos humanos, o aumento incessante das


Com

suas necessidades, o homem, com o desenvolvimento da sua inteligência e ja

vida, observando a forma e o vôo das aves, a forma e o nadar


maior prática da

dos e dos antigos animais aquaticos, foi afeiçoando os elementos


peixes
materiais que a Natureza virgem lhe oferecia e construindo embarcações gros-

seiras e exóticas com o decorrer dos séculos, de acordo com a ciência e


que,
com a arte, fôram se aperfeiçoando até chegarem aos assombrosos leviatans

marítimos dos tempos modernos.

Por sua vês, o marinheiro gigantesco, ignorante, rude, feroz, lutador e

deshumano, foi polindo os seus sentimentos e se instruindo, adquirindo expe-

riência contínua e prática profissional, até revelar-se o marinheiro hodierno,

bom, generoso, leal, calmo, educado e guerreiro sistematisado.

A profissão do mar é e sempre foi árdua, incerta, perigosa, monótona quando

inativa, porém bela, soberba, vibrante e empolgante quando em contínua ação.

Exige do homem, que a ela se dedica, uma forte e especial estrutura física

e um complexo caráter para uma perfeita e completa adaptação ao seu ambiente

e uma adequada e eficiente realização das suas várias finalidades. Não basta

reunir ás bôas e normais qualidades e virtudes de um civil as peculiares de

um perfeito soldado para formar um marinheiro completo. E' preciso adicio-

nar-lhes as diversas qualidades e virtudes características da profissão do mar.

O caráter de um verdadeiro homem do mar é um harmônico complexo de

qualidades, virtudes e predicados, raramente amalgamados em um mesmo indi-

víduo. E, por isso, entre os marítimos, um tal indivíduo é raro e torna-se então

um elemento de destaque. Claro é que ninguém nasce com um semelhante

caráter já formado. E' com o correr dos anos que, com suas extraordinarias

qualidades inatas, em permanente contáto com a profissão, vivendo dela e para


éla, perfeitamente ambientado com o mar, conhecendo o bem, sentindo-o e com-

preendendo-o, atravéz de várias funções e em circunstancias diversas, o por-


tador de um tal caráter poderá adquirir afeição sincera pelo mar, ama-lo mesmo,

achar suave e bela a sua profissão, retemperar as suas qualidades e virtudes

e imprimir ao seu caráter a rígida e complexa estrutura que o deve apropriar

á árdua e desprendida vida do mar.

O mar é a mais vasta e a melhor escola da vida prática. Tudo êle nos

revela e nos ensina. E' o maior do Mundo, onde se desenrolam os mais


palco
sensacionais dramas e as mais alucinantes tragédias. O das suas
programa
cênas é infinitamente variado, multicolorido, sedutor, empolgante, vertiginoso e

pleno de emoções de toda a natureza. Apresenta vários semblantes significa-


tivos. Ora manso, sereno e contorcendo-se ás vezes até com volúpia,
preguiçoso,
seduzindo o navegante despreocupado, em face de um horizonte limpo, claro,
814 EEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

longínquo e empoalhado de luz ou de um céu alto, azul, estrelado e brilhante,

com ou sem o testemunho da merencória lua, ora nervoso, agitado, empinado,

encarneirado, correndo veloz e impelido por sibilantes e fortes ventos, em face

de um limitado e brumoso horizonte ou de um céu escuro, fundo, bruto e amea-

çador. Porem auando fica raivoso, vingativo e impiedoso e que Neptuno arre-

messa os seus raios em todas as direções o espetáculo que então se desenrola

c trágico e apoteótico. As vagas encaracolam-se, sóbem, grimpam, depois descem

vertiginosamente, sulcam-se e aprofundam, tragando impiedosaTnente navios,

corpos e bens; os ventos penetrantes, arrebatadores, frios, urrando e zunindo,

em suas corridas loucas, tudo quebram e destroem, os horizontes escurecem,

se apertam, se fecham, aumentando o pavor; os céus carrancudos, plúmbeos,

e baixos ou derretendo-se em profusas cataratas, os trovões ribombando


pesados
e os fuzis coruscando, em flagrante harmonia de disparates cósmicos, comple-

tam a maior tragédia com que a Natureza, por suas invisíveis e conjugadas

forças, castiga a Humanidade má e incurável.

Nestas angustiosas situações, então, os homens lembram-se mais de Deus,

onipotente e do que de Neptuno, quimérico máo e falso.


justo,

Num longo e sensacional cruzeiro que se faça em garboso veleiro ou em

rápido e confortável barco, das costas ocidentais africanas, próximas ao golfo

de Guiné, atravessando para o oéste o imenso Atlântico, cortando o Equador,

investindo mar de Sargaços, montando a Terranova dos bacalháus, avis-


pelo
tando o cabo Farewell, na ponta da Groenlandia, para arribar aos fjords da

Noruega ou apreciar os geysers da Islândia, em poucas semanas, um feliz

(mortal, com licença de Neptuno, poderá conhecer as principais maravi-


prévia
lhas que, o Mar lhe queira mostrar.

E' assim que, junto ás costas africanas, poderá sentir um calor senegalêsco

ou bárbaro, vêr miragens das dunas de areia ou dos desertos saáriânos e até

o de Teyde com o vulcão de Teneriffe fumegando, enfrentar uma tem-


pico
carateristica do golfo de Guiné; ao cortar o Equador, sentir os efeitos
pestade
da famosa corrente, tem o seu nome, e que levou Colombo ás costas de
que

Pária descobriu o continente, que recebeu o nome do vespuciano fan-


quando
farrão; embaraçar-se nas hervas de várias espécies do mar de Sargaços; pene-

trar no Gulf Stream e ser beneficamente impelido para o norte com velocidade

maior que a normal do navio; e, si por essas proximidades, não entrar em

francas relações com algum desvairado ciclone, ver bacalháus nas águas da

Terranova ou alguns blocos de gelo ou icebergs derivando, de olhos fechados,

pelas suas visinhanças e, pelo frio que desprendem, cautelosamente avisando

ao navegante incauto a sua presença. Safando-se desses percalços, belos mas

apavorantes, poderá nas costas da Groenlandia, si chegar no dia perpétuo de seis

mezes, vêr as baleias, as fócas, os ursos marinhos e os interessantes esquimáus

pescando nos seus yáks e, ao chegar ás costas norueguesas, estasiar-se com as

policrômicas e apoteóticas auroras boreais. Querendo mais, poderá vêr na Islân-

dia próxima os seus geysers dágua sulfurica e o vulcão Heckla.

Em que outro palco, sinão o Mar, poderia apreciar tão variado e portentoso

programa? Que emprezário humano poderia apresenta-lo assim tão belo, artis-

tico, expressivo e emocionante? Nenhum, somente o invencível e frególico Mar.


RESPIGA 815

E onde encontrar o maravilhoso elenco representar tantas e simbólicas


para

cênas, figurando o colorido e a hartnonia de tantos espetáculos sublimes? Só-

mente no Mar, onde Deus e a Natureza se encontram.

O Marinheiro, é o único artista humano do mar, na sua triplice função


que

de mercante e é, de fato, um tipo especial e sem igual.


pescador, guerreiro,

Deve ser robusto, sadio de corpo e de espirito, afeiçoado ao mar e dedicado

á inteligente, ativo, calmo, observador, bravo, auda-


profissão, paciente, grande

cioso, corajoso, fraternal com os companheiros, respeitador da ordem e um

sonhador a solidão do Mar castiga os hipersensitivos e os realis-


pouco porque
tas apressados.

fôr deve mais, ter bom coração não se tornar mao, ser
Si guerreiro, para

ambicioso de sincero leal e verdadeiro, respeitador da religião,


glorias, patriota,

da disciplina e das bôas tradições, apreciador dos seus Chefes e companheiros,

dedicado ao seu navio, habituado á vida de isolamento, meditativo, resignado,

abnegado, corajoso até ao sacrifício, confiante no futuro e habituar-se a exe-

cutar, mandar e dirigir com eficiência.

O marinheiro pescador, crestado pelo sol e batido pelos frios e penetrantes

ventos, pesca nas águas mansas e entre pedras os moluscos, camarões e peixes

fóra e no mar alto os peixes especiais e de fartas carnes e, em lon-


pequenos,
e determinadas regiões, baleias, bacalháus, harenques, atuns, fócas e
ginquas
outros animais exóticos.

O marinheiro mercante, em navios de todas as formas e categorias, cru-

zando todos os mares em varias direções, afrontando tempestades, neves, cerra-

desvairados ventos, pampeiros e ciclones, icebergs e calmarias, transportam


ções

por todo o Mundo animais, mercadorias de todo o genero, arma-


passageiros,
mentos, inflamáveis, jóias, riquezas, valores, idéias e progresso.

O marinheiro guerreiro, hoje com mediana cultura generalizada, técnica

sistematisada, bôa educação, bons sentimentos, compreensão real dos seus deveres

e obrigações e conhecimento das suas finalidades militares e patrió-


perfeito
ticas, luta, vencendo ou morrendo, para defender os interesses da sua Pátria

ou os da Humanidade, desleal e ingrata. Tem por campo das suas ações o

imenso mar, na sua superfície, quer no seu fundo, o infinito ar, na atmos-
quer
féra e na stratosféra, eventualmente alguns rios e poucas vezes lagos e terra

firme. Vê o sangue tingir o mar e freqüentemente sente a morte junto de si.

Os torpedos, as minas e as bombas aéreas são os seus maiores inimigos.

Todas as profissõés são necessárias ao complexo ritmo da agitada vida da

Humanidade, mas sem o desenvolvimento que tomou a do mar, atravéz dos

séculos, ela ainda estaria próxima da sua idade infantil, pois foi somente

depois das famosas descobertas dos séculos XV e XVI que a civilisação humana

tomou um vertiginoso surto e proseguiu incessantemente nele.

Foram os marinheiros, de vários povos, que nas suas milenares viagens,

por todas as direções, desencantaram os oceanos, desfizeram as superstições,


lendas e abusões os infamavam, descobriram novas terras, novos povos,
que
novos caminhos e novas riquezas, desvendaram novos horizontes geográficos,
816 r.EVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

fixaram os extremos limites do Mundo, transportaram as fabulosas riquezas do

Oriente e expandiram religiões, hábitos, costumes, progresso e civilização.

Fôram eles que deixaram provado, e cada vez mais afirmam, que as nações

que possuíram o domínio dos mares, puderam também possuir o domínio do

Mundo e por aniquilamentos, perderam as suas armadas e frotas,


quando,

tendo esse domínio, ruiram os seus impérios.


perdido

O aniquilamento sucessivo das frotas fenícias e cartaginesas pelas armadas

romanas forçaram Aníbal a abandonar Roma e conduziram Cartago a uma

vergonhosa rendição. Os amores de Marco Antonio e Cleópatra, na batalha

de Áctium, entregaram o Egipto aos romanos. E Roma, soberana de todo o

Mediterrâneo, extendeu o seu domínio da Grã-Bretanha ás portas da índia e im-

no Mundo. cinco séculos depois, os bárbaros invadiram a Itália,


perou Quando

não mais existindo as formidáveis armadas romanas, perdido então o dominio

dos mares, ruiu fragorosamente o poderoso império e sepultou nos seus escom-

bros uma raça de bravos.

XVI a orgulhosa Elisabeth, filha do glutão Henrique VIII de


No século

aos mares uma respeitável armada e armou vários corsários


Inglaterra, lançou

os agitados mares da Biscaya e da Mancha, aniquilaram


que, em conúbio com
" " e, no século seguinte,
a famosa Invencível Armada de Felipe II de Hespanha

mais aguerridos e orgulhosos, varreram dos mares os


cs ingleses, cada vez

rivais, e ficaram senhores de todos os mares por todo


bravos holandeses, seus

o Mundo.

Durante a ditadura napoleônica, os francêses conquistaram poeticamente o

não convindo aos inglêses a sua vizinhança com a índia, em


Egipto porém
venceram e os expulsaram de lá. Enfraquecidos, fôram novamente
Abukir os

bravo Nelson, defronte do cabo Trafalgar, e tiveram que se


derrotados pelo
Mar. Desde essa ocasião a Inglaterra, até á presente data, tem
ofuscar do

o dominio dos mares de 1914 para deante vem sendo bélicamente


mantido que

pleiteado pela arrogante Alemanha.

Riachuêlo, a mais celebre batalha travada em águas americanas, em que

brasileira aniquilou a frota deu-lhe o dominio do rio


a esquadra paraguaia,

Faraguay e vencer todas as fortificações costeiras e transportar


permitiu-lhe
das forças se apossaram de Assuncion e obrigaram Lopez a fugir.
parte que

Foi ainda no mar que uma legião patriótica de brasileiros e bravos mer-

cenários inglêses consolidaram a independencia do Brasil com a derrota e a

fuga da armada portuguesa, sediada em águas nacionais.

Muitos outros exemplos semelhantes poderiam ser citados para mostrar

vitórias no mar tiveram carater mais decisivo que outras em terra, na


quantas
vida dos vencidos. Foi em consequencia daquelas e não dessas, que lhe
póvos
foram subsequentes, que vários impérios ruiram e alguns novos desapareceram.

Salamina, Naupacta, Áctium, Lepanto, Abukir, São Vicente, Riachuêlo,

Lissa, Kimburn, Trafalgar, Tsushima e Jutlandia foram sublimes padrões de

gloria que assinalaram o valor e o heroísmo dos guerreiros náuticos de vários

póvos.
RESPIGA 817

Treis séculos antes de Cristo, em navios construídos na índia, Nearco,

de Alexandre Magno, transportou índus abaixo e pelo enigmático


general pelo

Mar Indico, com extrema as tropas fugitivas desse rei. Atravessando


pericia,
as e tenebrosas águas do Mar Oceano o ocidente, o glorioso
apavorantes para

séculos depois, descobriu o Novo Mundo e Cabral, navegando


Colombo, dezoito

o sul afastando-se da derrota do Gama, reconheceu uma


nelle para porém

terra nova, é o Brasil e entrou a História como o seu descobridor.


que para
Vinte mais tarde, heróico despeitado Fernão de Magalhães, procu-
anos o e

rando sul o caminho Colombo não achara pelo ocidente, encontrou,


pelo que

um estreito o seu nome. Finalmente, foi na imen-


por acaso, que perpetuou

sidão dos mares que homens desvairados, ferozes e deshumanos, para quem

o ouro era o seu Deus, como corsários e bucaneiros, apresando navios, saquean-

incendiando-os ou afundando-os e trucidando, afogando ou matando os


do-os,

seus tripulantes, ensangüentaram as suas revoltas águas, e outros gananciosos,

menos deshumanos, nos navios negreiros, sepultaram, ainda com os


porem
ferros nos pés, milhares de escravos, alijando-os ás águas quando se viam per-

seguidos pelos humanitários veleiros inglêses, que combatiam o contrabando

humano. Eis, aí, rapidamente repassadas algumas das mais importantes ações

dos homens do mar, em diversas épocas e circunstancias, desde as mais horren-

das até as honrosas e profícuas, com as quais, atravéz dos séculos e entre

vários erros e maldades, colaboraram no desenvolvimento, progresso e civili-

sação da Humanidade.

cabalmente ¦ como é árdua, incerta, variada, brilhante,


Isso tudo demonstra

heróica e trágica a vida dos homens do mar, em todas as épocas e,


perigosa,

portanto, como é, de fato, complexa.

Assim, então, é justo e meritorio que, em cada recanto do Mundo, se

renda, menos, uma vez, por ano, um preito de reconhecimento e gratidão


pelo
a esses poliformes profissionais, esforçados e bravos, pelo muito que fizeram

cm beneficio da Humanidade.

E nós brasileiros, que não possuímos galés, corsários, negreiros e desço-

bridores porém que já possuímos bravos e heróis, que se chamaram João das

Botas, Tamandaré, Barroso, Maurity, Inhaúma, Jaceguay, Wandenkolk, Gar-

cindo de Sá, Greenhalg, Mariz e Barros, Delphim de Carvalho, Marcilio Dias

e outros que a poeira do tempo apagou os nomes, rendamos a eles a homenagem

que hoje merecem e sintetisemos esse preito, consubstanciando-o em Tamandaré

e Marcilio Dias, como os expoentes máximos, já consagrados, da bravura e

do patriotismo dos marinheiros da nossa raça.

A nossa curta e movimentada História Nacional, por documentos, pela


boca dos nossos melhores oradores e pela pena de idênticos historiadores, eru-

ditos, literatos e escritores, já consagrou o imortal Caxias como o maior vulto

da Nação, símbolo de soldado, modelo de varão e exemplo de político. Mas

nenhuma nação pode oferecer cidadãos de tal quilate ás dúzias, pois eles são

verdadeiras excepções, que surgem em épocas especiais para desempenhar mis-

sões extraordinarias e morrem deixando aos pósteros os seus belos exemplos,

muito louvados, porém raramente seguidos ou imitados. A Marinha Nacional,


818 PEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

cuja história é mais curta que a do Exército, pois que nasceu com a indepen-

dencia do Brasil, tem a grande ventura de poder oferecer ao exame e ao apreço


da Nação um verdadeiro varão de Plutarco, ilustre e raro, que consubstanciou

com a sua própria vida, durante sessenta e sete anos contínuos, a vida da sua

classe, porfiósa e heróica, abrindo nela, com o seu desaparecimento, um sentido

vácuo, até hoje, por circunstancias várias, ainda não preenchido.

Esse marinheiro de escól foi o bravo Joaquim Marques Lisboa, Almirante

e Marquez de Tamandaré, que voluntariamente com quinze anos, dois mezes

e vinte e quatro dias, ingressou na incipiente Marinha ainda embrionária, como

praticante de piloto, e tais qualidades revelou que, antes de um ano, já tomava

conta dos cronômetros do seu navio, isto é, dava-lhes córda diariamente, com-

parava-os e regulava-os, o que era grande distinção.

Sessenta dias depois do seu ingresso na vida do mar, em águas baianas,

recebia o seu batismo de fogo, tendo se destacado como um bravo, num combate

contra os portugueses.

Caxias, procedente de várias estirpes, neto, bisneto, filho e sobrinho de

militares de valor, teve a grande sorte de ser proclamado cadete aos cinco anos

de idade, porem Tamandaré logrou ventura maior, porque, sendo filho de um

calejado pescador e pratico-mór da barra do porto do Rio Grande do Sul,

onde viu nascer a luz, quando teve ordem de desembarcar, apenas com um

ano de serviços, para ser matriculado na Academia de Marinha, teve a prova

do alto conceito em que o seu comandante, o bravo John Taylor, companheiro

de Nelson cm Trafalgar e o heroico Cochrane, Chefe da Esquadra e Primeiro

Almirante do Brasil, faziam da sua jovem


pessoa, quando esse, referindo-se
"Majestade,
a éle em documento escrito, assim se exprimiu: esse Senhor será

o Nelson Brasileiro". E o experimentado marinheiro e árdido corsário inglês

não se enganou.

Tamandaré foi o maior Almirante brasileiro e o único, no seu gênero;


"da
que procedeu jaqueta aos bordados", em todo o Continente, até hoje.

Si, de fato, não cresceu tanto como Nelson, o herói de Trafalgar, foi porque
as suas ações no mar desenrolaram-se sempre em limitados setores, quer nas

águas nacionais, quer nas internacionais, contra inimigos de confuso valor bé-

lico, que se batiam por interesses pouco patrióticos. Os cenários em que se

movimentou não lhe permitiram grandes expansões, todavia sempre foi ven-

cedor em todas as ações que dirigiu. E, si as suas vitórias não foram mais

retumbantes e mais proveitosas para a Nação, deve-se isso á ação solerte da

diplomacia pátria, apoiada na tergiversa política nacional. Comtudo, nenhuma

das suas atitudes, ações ou gestos comprometeram a honra da Nação. Taman-

daré, cujo carater rigido, leal, generoso, patriótico e clarividente, foi sublimado

no perene contato no mar por sessenta anos e no convívio contínuo com os

subordinados, que o veneravam, era um cultor da verdade, da energia, da rapi-

dez e da clareza nas intenções e não apreciava a figura de Janus dos diplo-

matas que, com subtilezas de textos escritos, promessas fementidas, atitudes

ambíguas e resistências passivas, estavam acostumados a empalhar o tempo,


RESPIGA 819

as soluções e a assumir compromissos de problemática ou inexe-


a envernizar

quivel execução.

e no Paraguay, quando dirigia as ope-


Por isso, algumas vêzes no Prata

e não tingir de vermelho


rações de guerra, tão somente por patriotismo para

as águas desses rios, calcou opiniões, cancelou


desnecessáriamente, judiciosas

soluções dos diplomatas. Ele bem


proveitosas soluções e colaborou nas solertes

em geral é a Poli-
sabia as guerras são feitas pelos militares, porém, que,
que

tica, intermedio da diplomacia, quem a perde.


por

documentos têm mostrado que o Almi-


Hoje, sem paixão, os tempos e os

diplomacia encaminhar as
rante era quem estava com as razões, pois a pode

e depois agir preparar a paz e


guerras até ao inicio das suas operações para

não lhe cabendo o direito de dirigir ações bélicas.


assinar os devidos tratados,

a em acaba não sintonizando com


As guerras têm sua política que, geral,

a dos diplomatas e Uma cousa é combater e morrer


políticos profissionais.
é discutir, com calma e segurança, longe do teatro das
pela Pátria e outra

operações e do sibilar das balas, situações mudam freqüentemente com


que

circunstancias imponderáveis.

Tamandaré fez-se no mar, desde a sua infância, pois nasceu numa inhóspita

vila, fronteira ao oceano e criou-se rolando nos cômoros de areia da praia,

nadando, e embevecendo-se variados que o mar ás


pescando pelos panoramas

manhãs e ás tardes lhe apresentava. Aí inclinou a sua vocação para a pro-

fissão que seguiu e que tanto honrou. Nela galgou por destacado mereci-

mento, bravura, heroísmos, ações humanitárias e capazes desempenhos de várias

funções, todos os postos até o de Almirante. E assim logrou também as honras,

mercês, condecorações, medalhas e titulos que lhe foram outorgados. Todavia

manteve sempre o mesmo carater íntegro, simples e despretencioso, tendo se

conservado até morrer um sincero amigo e venerador do Imperador, que sempre

o prezou muito e reconheceu com justiça os seus serviços.

Surpreendido pela proclamação da República na alta função de ministro

do Supremo Tribunal Militar, acatou-a, porém, para não servi-la, apezar do

decreto especial que o isentou da idade compulsória, dois mezes apóz o seu

advento solicitou a sua reforma, que foi concedida.

Possuia as melhores qualidades morais, um forte e pesado aspéto físico,

uma fisionomia simpática, emoldurada na sua alva e bem cuidada barba, que

lhe imprimia a lendária figura de um velho lobo do mar da poética Bretanha.

Era bom, liberal, disciplinado, desprendido da vida, realmente bravo, sóbrio nos

costumes e hábitos e no trajar. Possuia uma cultura que não era vasta, nem

escolhida, mas que era própria do seu tempo, da sua profissão e de acordo

com o ambiente do mar, em que viveu continuamente sessenta anos.

Naturalmente como era marinheiro e nada mais, desdenhando a Política,

não tendo pertencido a nenhum partido ou facção, nem exercido nenhuma função

civil, pezar dos seus titulos, honras, mercês e funções, nunca foi um homem

de salão, palrador, maneiroso, discursador e fanfarrão. Contava com singeleza

e verdade os inúmeros episódios da sua agitada vida do mar, sem destacar a

sua bravura e as suas bôas e belas ações, sempre oportunas.


820 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Como Conselheiro do Imperador e Veador da Imperatriz, em contato fre-


quente com Suas Majestades, dava-lhes com rude franqueza as suas opiniões,
que eram ouvidas com acatamento. Carregava com esbelto aprumo as muitas
condecorações e medalhas, nacionais e extrangeiras, que ornavam o seu vultuoso
peito, todas outorgadas para premiar ações e perigos a que, com honra e bra-
vura, se expoz e não por discursos, letras ou lisonjas.
Conheceu cs treis períodos políticos do Brasil. Nasceu no colonial em
1807, ingressou e percorreu todos os postos da Marinha e logrou os seus hon-
rosos titulos no imperial e retirou-se do serviço e faleceu no republicano, com
oitenta e nove anos, quatro mezes e onze dias.
Muito mais ainda poderia ser aqui citado sobre a extraordinária e longa
vida militar do Primeiro e maior almirante nacional, porém não foi o meu
objetivo traçar-lhe a biografia.
Devemos rememorar também os lances principais da vida militar do valo-
roso marinheiro de gola, Marcílio Dias, coestaduano dc Tamandaré, c, como
ele, um bravo. Na sua classe e na sua categoria foi um exemplo e uma legi-
tima gloria.
No conceito escrito do seu comandante e da corveta Parnahiba, Garcindo
de Sá, heróe de Riachuelo, era a melhor praça do navio, já consagrada heróe,
desde o cerco de Paysandú, porque, como um louco, conseguiu, entre metralhas
inimigas, subir á torre de uma igreja dessa vila e aí plantar uma bandeira
brasileira, desfraldada aos ventos da nossa vitória, voltando incólume para o
seu navio. Foi nessa ocasião que, escandalisado com os atos de bravura do
" O diabo
Tenente Mariz e Barros, que o comandava, disse a seu respeito:
do rapaz é um demônio". Eis aí um louco de bravura classificando outro louco.
Mas o heroismo de Marcílio não se limitou a esse patriótico gesto. Mais
tarde em Riachuelo, a bordo da mesma corveta, já chefe de um rodízio, cas-
tigou furiosamente o inimigo até exgotar a sua munição. E, quando viu um
grupo de paraguayos, de faca á boca e armados, abordar o seu navio, como
um leão indómito, lançou-se sobre eles e, a braço e a sabre, prostrou sem vida
a dois. Infelizmente nesse momento a situação interna da corveta era horrível
e ele ficou se batendo sosinho contra o resto do grupo, em cujas mãos sucumbiu
todo ferido e retalhado.
No dia seguinte, com todas as honras, entre as lágrimas dos companheiros
e os louvores e sentimentos dos seus superiores, os seus restos foram sepultados
nas escarlates águas do Paraguay. Tinha assim perpetrado a última epopéa
da sua valorosa vida.
Homenageemos, ungidos de sincero patriotismo, as memórias desses dois
bravos, um de jaqueta, que chegou aos bordados, e o outro, exclusivamente de
gola, que foram autênticos heróes e são orgulho e glória da Marinha Nacional.
RESPIGA 821

MEU DIA DE MARINHEIRO

"Cananéa" —
Os exercidos de hontem do Pela 1." vez, no

Brasil, experiencias de eaça-minas com modernos apparelhos

Andei, em minha mocidade, mettido com as coisas militares da terra. Agora,

-com os cabe lios brancos, estão a arrastar-me o lemma do almirante Ale-


para

xandrino de Alencar...

Accedendo ao convite do commandante Raul Reis, alistei-me como mari-

nheiro, se bem que marinheiro privilegiado, em serviço a bordo do Cananéa,

por algumas horas, para a ventura, ainda não experimentada por outro jorna-
lista, de assistir ao primeiro exercício de caça-minas realizado no Brasil com

as modernas paravanas.

Como não sou madrugador e porque a bellonave nacional teria de deixar

o porto ao amanhecer, recolhi-me a bordo na segunda-feira á noite e assumi

o commando do camarote do commandante que, com aquella fidalguia dos

discipulos de Saldanha da Gama, fez questão de m'o ceder.

Não é preciso dizer que passei uma noite agradavel.

Ao amanhecer, recebeu o Cananéa a visita de alguns officiaes do exercito

e desatracou rumo ao Atlântico.

Esse vaso de guerra não tem grande poder offensivo. Destina-se ao lan-
" ",
çamento de minas e, ao contrario, á pescaria se não é desapropriado o termo,

de minas lançadas por inimigos. De ordinário, navega á frente da esquadra,

como batedor, limpando o caminho. Foi construído no Rio de Janeiro, como

o Carioca, do mesmo typo, havendo ainda quatro em construcção: o Camocim,

o Camaquã, o Caravellas e o Cabedello.

Rumamos para o norte e á altura do Páu Amarello, tomamos a direcção


léste, quasi a perder de vista a costa.

Como não era um passeio mas um exercicio, havendo o commandante avis-


tado um navio que navegava em sentido contrario, simulou tratar-se de inimigo
e chamou a postos a guarnição duma peça de artilharia.

Houve um ataque simulado sem gasto de munição e, hypothese, foi


por
o navio a pique...

Livres que estavamos do perigo do ataque por agua, foi dado alarma de
hypofhetico avião de bombardeio.

Em poucos momentos a guarnição estava a manobrar metralhadora pesada


modernissima e figuradamente os projecteis attingiram o deposito de gasolina
do inimigo dos ares.

Chega então o momento de limpar as aguas de hypotheticas minas, para


o que seria preciso lançar nagua as paravanas. Era a primeira manobra em
tal sentido, que se ia fazer no Brasil e a officialidade teria de em
pôr pratica
o que conhecia através de leituras.
822 REVI?TA MARÍTIMA BRASILEIRA

As paravanas são duas especies de submarinos, lançados nagua pela pópa

do navio, presos a um cabo e equilibrados por outro terceiro apparelho subma-


"submarinos"
rino. Logo que caem nagua, um dos toma a direcção de boreste,.

isto é, da direita, e outro a de bombordo, a esquerda, e cada um forma um

arco de sessenta metros, o que quer dizer que os dois abrangem uma faixa

de cento e vinte metros, funccionando como rêde de pescaria. Se nessa faixa

houver alguma mina, é abraçada pelo fio que sustem a paravana e conduzido
"navalha"
a uma que automaticamente a liberta, fazendo-a flutuar. A mina

que fluctua não offerece grande perigo á navegação. E' vista e destruída.

Todo perigo consiste em estar a quatro ou cinco metros de profundidade,

explodindo ao menor contacto do casco da embarcação. Os caça-minas calam

pouco, de modo que passam sobre ellas sem perigo e as paravanas as colhem.

Creio não precisar de dizer que estou repetindo uma liçãozinha theorico-

pratica, hontem aprendida...

Executada a manobra com grande pericia, o Cananéa aproou para terra,

ancorando no Lamarão, onde a officialidade (1) offereceu um almoço aos-

convidados. (2)

Após a refeição, o commandante formou a tripulação de seu navio, disse

como estava satisfeito pelo resultado do exercicio, tanto mais era o


quanto
primeiro a fazer-se no Brasil e congratulou-se com a presença, a bordo, de seus
camaradas do exercito e de um jornalista brasileiro.

O coronel Marco Antonio falou em agradecimento e não tive outro remedio

senão dizer também algumas palavras, não obstante o compromisso tomara,


que
e de que agora me desobrigo, de fazel-o por este meio.

Felizmente, para minha baixa do serviço da Marinha não houve grandes


embaraços. Lançada a prancha, tive liberdade de desembarque. Mas fiquei

preso, pelo coração, tal a fidalguia com que me trataram. E, como brasileiro,

orgulhoso por ver que renasce, para a grandeza de nossa patria, a Marinha

de guerra nacional.

Mário Melo

Jornal do Comércio, Recife, 6-12-1939.

(1) E' a seguinte a officialidade: comttiandante capitão de corveta Raul


Reis; immediato capitão tenente Osmar de Azeredo Rodrigues; chefe de ma-
chinas, capitão tenente Luis Souto; encarregado do armamento, Io tenente Os-
waldo Cortes.

(2) Officiaes do Exercito: tenente coronel Marco Antonio Felix de Sousa;


capitães Joaquim Francisco de Castro Júnior; Clovis de Andrade Magalhães-
Gomes; Io tenente Lincoln Santos; 2° tenente José Alberto Pinheiro da Silva.
Civis: Waldemar Reis e Mario Mello.
RESPIGA 823

HEROE NAVAL EM OLVIDO

Guarda-Marinha Thomé Justiniano Gonçalves

"
Que bella morte assim! mortalha o fumo,
"
Sacerdote o canhão; sepulchro as aguas !

José Bonifácio, o Mcço.

As Províncias Unidas do Rio da Prata contendiam comnosco pela posse

da Província Cisplatina.

Seu exercito, organizado em tres columnas, rompera a caminho da nossa

fronteira. Devia transpor o volumoso Uruguay; e, nessas condições, os nossos

generaes de Montevidéo, depois de terem exigido o abandono da ilha de Martim

Garcia, reclamavam do Almirante Pinto Guedes a partida de Forças navaes para


o policiamento daquellas aguas e perturbar a passagem do rio.

Foi organizada assim uma esquadrilha de dezeseis mesquinhos lenhos, que


tomou o pomposo nome de Terceira-divisão, e velejou sem demora para o obje-

ctivo sob as ordens do Capitão de Fragata Jacintho R. de Senna Pereira.

Logo que os argentinos souberam pelos seus esculcas do destino da flotilha

e já conhecedores da evacuação de Martim Garcia, mandaram, á socapa, uma

escuna de guerra com um destacamento e petrechos bellicosos afim de forti-

ficarem a dita ilha e assim barrar a passagem dos barcos brasileiros. Infeliz-

mente para elles, a pequena escuna, depois de defender-se com denodo, foi presa
dos nossos.

Appelaram então elles para o seu Almirante, que voltára de um cruzeiro

não muito venturoso ás costas do Império; e este, sem demora abriu velas ao

encalço da força de Senna Pereira. Encontraram-se argentinos e brasileiros

em Jaguarary, junto das boccas do Rio Negro, e se empenharam em crespo

e sanhudo combate. Depois de dois tremendos choques, em que a victoria


sempre sorriu ás nossas armas, o Almirante Brown foi repellido com muitas
avarias e dolorosas perdas. Senna Pereira, em vez de tenazmente
perseguil-o
e destroçal-o, contentou-se em vel-o maltrido e desmoralizado arrastar-se até
Buenos Aires.

O navarca irlandez, todavia, era tenaz e batalhador. Reuniu novos ele-

mentos de maior poder, e sigilosamente, vôou a Martim Garcia, que fortificou,

e naquellas aguas passou a aguardar a descida da 3* Divisão imperial para


tomar a desforra que prelibava.

Percebendo o nosso Almirnte o plano do inimigo mandou organizar de


atropelo e com um sigillo muito relativo, uma pequena força infelizmente, de
navios inadequados ás operações naquelle sector de aguas pouco profundas.
824 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"Divisão auxiliadora" e en-


A essas unidades conglobadas deu-se o nome de
tregue á proficiência e valor do Capitão de Fragata Frederico Mariath tinha
por missão, de combinação com a flotilha de Senna Pereira, encurralar o Almi-
rante argentino que se mantinha nas águas de Martim Garcia.
No dia 16 de Janeiro de 1827 fazia-se Mariath de vela.

II

Os navios da " Divisão auxiliadora" proseguiam em sua rota, flanqueados


pelo brigue Real-João e pela escuna Providencia, na distancia de três amarras,
afim de indicar as sondas aos de maior calado; e, apesar de todos os perigos,
fadigas e contratempos, encontravam-se os lenhos do Império, no dia 17 á
vista da esquadrilha inimiga, na altura do naufragoso banco de Pla3'a-Honda
ou Placer de las Palmas. Ao cahir da noite a corveta Maceió, capitanea da
força, encalhou desgraçadamente e foram baldados todos os esforços para
safal-a do perigo. O tempo, por sua vez, passou .a ser tempestuoso, augmen-
tando assim a gravidade da situação. E os demais navios, pesados e roneciros,
na faina exhaustiva de ganhar caminho, sob as rajadas inclementes da procella,
se iam distanciando, tresmalhando...
Diligenciaram ainda por investir o canal de sudoeste; foram também infe-
Hzes e novos e perigosos encalhes soffreram.
Continuava a corveta Maceió presa ao banco trahidor. Fatigado daquella
luta exhaustiva, Mariath, numa resolução extrema, manda largar e caçar todo
o velame do navio. Sua audácia foi coroada de pleno êxito, pois a robusta
corveta, de velas enfunadas, gemendo nas juneturas, ara o banco com a rija
quilha, delle se libertando galhardamente sem notáveis avarias.

III

Os vigias argentinos davam fé da approximação dos vasos imperiaes e, em


seguida, dos tremendos empeços com que lutava, na faina de investir o canal
do Inferno. Pretendeu Brown, insoffrido e alerta, aproveitar-se do serio con-
tratempo que sobremodo acabrunhava a "Divisão auxiliadora", afim de tentar
furtar-se o mais depressa possível de um quasi certo e fatal engarrafamento.
Embaraçada como se encontrava a capitanea da força brasileira entre te-
miveis bancos c alfaques, com os companheiros distantes e sotaventeados, fácil
lhe parecia e opportuna a oceasião de atacal-a e vencel-a.
"Ainda não
se havia erguido o sol de 18 — escreve nos seus "Combates
de terra e mar" Garcez Palha — quando a esquadrilha argentina, sob o com-
mando do próprio Almirante, abandonando o ancoradouro á força de remos,
se approximou da Maceió. O brigue' Balcerce, a barca Maldonado, as escunas
Sarandi, Pepa e Union e as sumacas Guanaco e Uruguay (toda essa força
montava 56 canhões) "taes eram os adversários com que a pequena corveta
se tem de bater; se são, porém, numerosos, não a tripulam corações mais ávidos
de gloria, nem peitos mais valentes".
RESPIGA 825

Vinha rompendo a alvorada... Por entre o roseo velilho da neblina que

das aguas subia, divisaram os brasileiros as sombras escuras dos vasos inimigos

que vogavam ao seu encontro.

Ao clangor dos e ao rufo do tambor, chamando a guarnição a


pifanos

de combate, vibra o lenho do império. Desfralda-se a bandeira nacional.


postos

Os vinte canhões da Maceió eram de pequeno alcance; e, por essa razão

e á falta de lazeira bastante para manobrar, o Chefe Mariath resolveu esperar

calmamente que o inimigo entrasse na zona mortífera dos mesmos para desen-

cadear o combate. Approximam-se arrogantes os argentinos, atroando os ares

com seus vivas á Patria... e, qual éco multiplicado, freme a nossa corveta

aos sete vivas ao Brasil e ao Imperador!...

Rompem as primeiras salvas inimigas; esfloram as aguas barrentas e gor-

golejantes do estuário projectis esfuziantes a uivar, levantando espadanas e

fortes esguichos que cobrem a corveta de uma orvalhada rutilante.

Os nossos artilheiros a postos, de morrões accesos, tinham os olhos presos

na figura varonil do Commandante, e, serenamente, aguardavam o signal de fogo.

— "
Mariath sobe resolutamente á trincheira e, com firmesa, brada: Pelo

Brasil! pelo Imperador!... Iça a bujarrona!... Fogo por brigadas!..."

Nestas duas ultimas e simples vozes de manobra e de commando encon-

tra-se toda a tactica da peleja que se iniciava.

E os bravos artilheiros da Maceió, com as pontarias perfeitamente ajus-

tadas, despejam terríveis bordadas de lanternetas, pyramides e balas encadeadas

sobre os vasos do inimigo temerário, que de perto os atacavam.

Emquanto os officiaes de bordo, de conformidade com suas incumbências,

velam bateria, manobra, outros serviços, visando a segurança e


pela pela por

a efficiencia do navio, a esbelta figura do sympathico e querido Guarda-ma-

rinha Thomé Justiniano Gonçalves, postada no tombadilho entre dois solícitos

auxiliares, vae transmittindo, como encarregado dos signaes, aos navios tres-
" " "...
malhados as determinações do Chefe: — União"... Atacar o inimigo
"
O Chefe lembra a gloria da Nação neste dia e espera que todos se batam

com o mais decisivo valor"...

E o tremendo e desigual duello de artilharia cresce em intensidade e em

fúria destruidora.

Um Official argentino, presente ao combate, assim o descreve a um collega

de Buenos Aires: — " Puede usted hacerce cargo si se hacia fuego de buena

casta; ela (a corveta) lo contesto sostenidamente y en todas direciones


pero
tambien, con tanta orden suas baterias no cesaban, de cuya operacion quedó
y

nuestro General (Brown) mui pagado, pues ha conocido que el que lo man-
"A
daba (Mariath) és un bueno oficial... Ias siete — prosegue o informante

— volvimos a la carga lo hiciemos con mas rabia que antes: pero, amigo,
y

eran el infierno Ias dos lineaes!..


826 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Mantendo sempre em respeito o encanzinado adversario, não cessavam os

inegualaveis marujos do Império de batalhar com todo o calor e encarniça-

mento de que são capazes militares pundonorosos no proposito e no afan de


darem á Patria distante, afrontada por inimigo insolente, mais um dia de gloria.

Os argentinos, todavia, firmados na sua superioridade, não esmoreciam;


mostravam-se tenazes; batiam-se galhardamente.

E apesar das rajadas successivas e certeiras da metralha brasiliense que,


qual afiada foice ceifadora, lhes tosava cerce mastros e vergas de suas canho-
neiras, esborcinando-as, dizimando-lhes as equipagens, Brown, mesmo assim,
continuava a aguardar o momento preciso e azado da abordagem.

IV

O vento lés-suéste continuava a soprar borrascoso contrariando sempre a


approximação e reunião dos navios imperiaes sotaventeados e embora sof-
que,
regos, eram de longe meros espectadores da desigual contenda.

As aguas do estuário, naquella crespa arena etn brasileiros e


que argentinos
disputavam titanicamente a palma da victoria, se iam cobrindo de destroços,
de corpos e coisas informes arrancados de bordo fúria louca e devastadora
pela
dos projectis. O convez da brava Maceió começava a lavar-se em sangue.

Aqui, uma bala inimiga desmonta uma das da bateria e abate, mal
peças
feridos e agonizantes, cinco soldados e marujos de sua dotação; mais adiante,
o 2° Tenente Oliveira Figueiredo é lançado ao convez, ferido
gravemente na
face e com um braço estraçoado metralha.
pela

E as salvas e descargas se multiplicam. Cabos se e zigzagueiam


partem
no ar em loucas vergastadas; vergas estalam e mastros se rendem estilhaçados.

Vizinho ao sereno Chefe que não cessa de estimular a sua gente, o Guarda-
marinha Thomé Gonçalves, calmo, risonho, cabellos ao vento, óculo de alcance
a tiracolo, folheia o confuso Codigo de signaes, interpretando as mensagens
dos companheiros distanciados.

Eis senão quando, num regougo sinistro, ricocheteia na borda e vae es-
magar as duas pernas do Guarda-marinha
galhardo e o arroja desmaiado de
encontro a amurada num lago de sangue.

Precipitam-se, solícitos, os signaleiros seus auxiliares para amparal-o. Duas


lagrimas brotam-lhes dos olhos semi-cerrados e lhe escorrem pelas faces es-
maecidas. Seus lábios descorados se abrem e balbuciam phrases desconnexas,
incomprehensiveis. Ergue bruscamente um braço, aponta a Bandeira nacional,
golpeada já pela metralha irreverente, mas o cobre com
que a sombra de seu
largo pannejamento, e deixa-o cahir inerte. Inclina a cabeça, arqueja e morre...

Mariath, o bravo commandante, volta o rosto para não vêr aquelle dolo-
roso quadro. Incita ainda mais a sua brava maruja. E, tomado de súbita
inspiração, ordena que se carreguem as — "Rapa-
peças com quatro munições.
ziada!... ou vae ou racha!... Precisamos varrer os gringos!... Fogo!..."
RESPIGA 827

Era o tiro de honra. Frente a robusta corveta ás salvas successivas e

tronitrantes de seus vinte canhões. Novelos de fumo cortados de gilvazes


de fogo surdiam no costado da Maceió e o céo e o mar vibravam de fragor

d'artilharia. Recebem os argentinos aquellas arrazadoras bordadas quasi á


-queima-roupa; aturdidos desnorteiam; voltam-nos as costas e arrastam-se mal-
¦tridos e desencorajados seu antigo
para fundeadouro á sombra da ilha de

Martim Garcia.

Ainda uma vez as armas navaes do Império impunham ao inimigo opinia-

tico e vaidoso sua vontade, e, mais um feito heroico era gravado com letras

d'ouro nos annaes marítimos do Brasil.

A tarde ia em meio. De vergas desamantilhadas, bandeira nacional e insi-

gnia de chefe em funeral, guarnição em fôrma, mostrava-se a victoriosa Maceió.

Na enfermaria da corveta para onde tinha sido levado e onde o amorta-

lharam com o seu melhor uniforme, o cadaver do querido Guarda-marinha foi

envolvido e cosido em largo festo de lona.

Pouco antes do sepultamento, foi transportado para a tolda acompanhado

de Officiaes e inferiores munidos de lanternas accesas.

O Chefe Mariath e o estado maior do navio, todos armados, também sus-

tendo lanternas aguardavam o corpo, que foi collocado em cima da gayuta de

ré e coberto coto a bandeira imperial.

A' falta de capellão para a encommendação do defunto, o Chefe tomou a

palavra e, profundamente compungido, deu o derradeiro, o eterno adeus ao

moço heroe.

Em seguida, sobre larga taboa, disposta no portaló de boréste, foi depositado

o corpo, tendo-se-lhe ligado d'antemão aos pés duas balas de calibre 24.

Sôa uma descarga de mosquetaria; uma outra; mais outra... Rufa o

tambor, destemperado, e o pifano, em surdina, modula o toque de silencio.

"Guarda-marinha —
— Thomé Justiniano Gonçalves, vae com Deus!..."

disse o commandante. Um fretoito indizivel e um soluço mal contido perpassa

entre a equipagem. Dois marinheiros inclinam a taboa, o cadaver deslisa sobre

ella e precipita-se nas aguas esfloradas, vem á tona, balança em larga reveren-

cia e se abysma para sempre.

VI

O Guarda-marinha Thomé Justiniano Gonçalves, como Barroso Pereira, o

heroico commandante da fragata Imperatriz, morto gloriosamente em combate,

no porto de Montevidéo, em Abril de 1826, também era natural do Arraial do

Tijuco (hoje Diamantina), Estado de Minas Geraes, onde veio á luz em De-

zembro de 1801, sendo filho legitimo de Thomé Gonçalves e D. Anna Ihereza

da Conceição.
828 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Completados seus estudos primários e secundários em o céspcde natal, en-


caminhou-se o moço mineiro para a corte afim de alcançar matricula na Impe-
rial Academia de Marinha. Teve de Aspirante com a idade de 22 annos
praça
e 3 mezes, sendo matriculado no Io anno mathematico e na
aula de Apparelh»
a 3 "muito
de Março de 1823. Durante o anno escolar demonstrou boa con-
ducta, applicação e aproveitamento segundo o testemunho de um dos seus lentes.

No anno seguinte, a 4 de Março, foi matriculado no 2o anno do curso.


"Tem
Alcançou a seguinte e honrosa informação: talento, muita applicação

e aproveitamento e muito boa conducta".

A 27 de Novembro do mesmo anno (1824)^ recebeu o cubiçado de


galão
Guarda-marinha. Matriculado no terceiro anno do curso, a Io de Março
"muito
de 182S, deu provas sempre de bôa conducta e applicação". Terminada
distinctamente o curso acadêmico foi embarcado, afim de completar seu tiro-
cinio de mar.

Rompera a guerra contra as Provincias-Unidas do Rio da Prata. Seguiu,


então, a seu pedido, o Guarda-marinha Thomé Justiniano Gonçalves a tomar

parte nas operações de guerra; e lá, como acabamos de narrar, a morte o


colheu em plena e florente mocidade.

VII

Com que propriedade e como bem alto falariam, estimulando-o, ao pátrio-


tismo um tanto adormecido das nossas equipagens, gravado fosse na
que popa
de um dos nossos contra-torpedeiros — ardua escola de crença, dedicação e
renuncia — o nome brilhante do Guarda-marinha Thomé J. Gonçalves, moço
heroe esquecido, juntamente com os seus irmãos no e na coragem,
posto
J. Greenhalgh, Lima Barros Torreão, Araújo Marques e Raymundo da Silva
todos mortos bravamente em combate, immolados á da Patria,
grandeza em
vez dessas inexpressivas denominações, de significados civicos e historicos mui

precários, de cursos d'agua na mór prate secundários das nossas fartas bacias
fluviaes!...

Ora, é sempre tempo de reparar uma injustiça, de pagar um tributo a


um bravo lidador tombado no campo da luta!

Lucas Alexandre Boiteux

Capitão de Mar e Guerra

Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 24 de Julho de 1939.


BIBLIOGRAFIA

A ARTE DA GUERRA NO MAR — Con-

tra-Almirante Oscar di Giamberardino — Tra-

dução do Capitão-Tenente Miguel Magaldi

—¦ Imprensa Naval — Rio de 1939.


Janeiro,

Em Dezembro do ano findo apareceu a tradução dêste alentado e precioso*


livro, escrito em italiano pelo ilustre Contra-Almirante Oscar di Giamberardino,

notável figura da Real Marinha de Itália.

Devemos essa tradução ao distinto, culto e esforçado oficial da nossa


Marinha Miguel Magaldi, tão afeito à divulgação de conhecimentos úteis à
sua classe. Ao Sr. Almirante Henrique Aristides Guilhem, Ministro
preclaro
da Marinha, cujo descortino e cuidados em matéria de cultura têm sido tantas
vezes comprovados e calorosamente aplaudidos, devemos a impressão do amplo
texto doutrinário que se apresenta com o aspecto de tratado, onde podemos
adquirir seguros conhecimentos sôbre doutrina e sobre as relações
prática,
entre a política e a arte da guerra, a estratégia, a tática, a organização e a arte
de comandar.

Trata-se, com efeito, de uma obra notável, cuja tradução o nosso


para
idioma, em tômo de largas dimensões, compreende 382 tipográficas de
páginas
corpo 10. Além do prefácio do autor, podemos ler um outro do ilustre Coman-
dante Otávio Matias Costa, à guisa de crítica introdutória, clara, substanciosa
e autorizada.

A advertência do tradutor Miguel Magaldi define com exatidão a obra-


traduzida:

"Esta
magnífica obra do Almirante Oscar di Giamberardino
foi traduzida exclusivamente com objetivos didáticos e de cultura
militar.

Ao empreender tão fatigante empresa o tradutor têve em mira


tão somente tornar acessível à maioria dos oficiais de Marinha
um livro de incontestável valor intrínseco, já traduzido as
para
línguas francesa, inglesa, sueca e alemã, e que coordena, em capí-
.830 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

tulos magistralmente escritos, os princípios fundamentais e impe-

recíveis que regem a guerra no mar.

A presente tradução foi feita com absoluta fidelidade. Por

êsse motivo cumpre salientar que se acha ressalvada a responsa-

bilidade <Jue poderia caber ao tradutor quanto aos conceitos que


o livro contenha, não só os referentes à parte doutrinária própria-
mente dita, mas também os relativos às apreciações sobre certos
"
fatos históricos e à política internacional contemporânea.

A publicação, em português, da Arte da Guerra no Mar, do Contra-Almi-

rante Oscar di Giamberardino, encerrou com felicidade o último ano biblio-

gráfico do Ministério da Marinha do Brasil, graças ao talento e aos conheci-

mentos do Capitão-Tenente Miguel Magaldi, tradutor, e à alta compreensão

e constante incentivo do nosso Ministro, Almirante H. A. Guilhem.

BOLETIM TÉCNICO DA SECRETARIA

DE VIAÇÂO OBRAS PÚBLICAS —


E

Ano I — Vol. I — n. 2 — Out. Nov. Dez.

de 1939 — Imprensa Oficial — Recife, 1939.

Ao abalizado Engenheiro patrício, Dr. José Estelita, devemos a gentileza

da oferta de um exemplar dêsse esplêndido Boletim, tão esmerado na apresen-

tação gráfica quanto precioso pela matéria que contém, exposta em quasi

SOO páginas.
O Dr. José Estelita, conhecidíssimo pela sua grande cultura, geral e espe-

cializada, é o Diretor do Boletim, sendo o seu Redator comercial o Sr. Raimundo

Cruz. Acha-se a Redação na Diretoria de Docas e Obras do Porto de Recife.

O volume que tivemos a satisfação de receber contém trabalhos de mérito

sobre asuntos da alçada da Secretaria de Viação e Obras Públicas e das suas

tliferentes Diretorias. Os Engenheiros Gercino Malaguêta de Pontes, José Es-

telita, Napoleão de Albuquerque, Berguedof Elliot, Alfredo Rodolfo Medeiros,

Álvaro Moreira da Silva, Aristófanes da Trindade, Paulo Guedes, A. Figuei-


-redo Lima, Romualdo Pimentel, Hipólito da Silva, Teófilo de Freitas,
José

João Correia Lima, Álvaro Palhano, Pelópidas Silveira, Álvaro de Sousa Lima

e Durval Carneiro Leão traçam páginas de excelência técnica.

O Boletivi ainda publica, além de amplas informações, trabalhos de cola-

boração dos Engenheiros Heitor de Andrade Lima e Ubaldo Gomes de Matos,

Professores Valdomiro Feltermann e Lauro Borba, e Contabilista Leopoldo

Lins dos Santos.

Tão copioso de estudos e informações técnicas é o notável Boletim per-


nambucano que seriam precisas algumas páginas desta secção para uma notícia

especificada. Todavia, podemos asseverar com sumo prazer que se trata de

um magnífico repositório, de eloqüente demonstração do valor de um cenáculo


-de técnicos, reunidos em Pernambuco, sob as claras vistas do seu ilustre gover-
BIBLIOGRAFIA 831

nante, o Dr. Agamenon Magalhães, que autorizou a publicação, na qual, para

Uma indicação apenas, se acha êste grande estudo do Dr. José Estelita: O canal
"da
de acesso ao porto do Recife e a moderna teoria italiana linha neutra"

de Pietro Cornaglia, com dczeseis gráficos, da página 271 à página 297.

Aos Drs. Agamenon Magalhães e José Estelita, e aos ilustres Engenheiros

pernambucanos, enviamos as nossas calorosas felicitações por terem promovido


a empresa notável que realizam com tanto sucesso e tamanho brilho.

HISTÓRIA E HISTORIÓGRAFOS — Vai-

frido Piloto — Empresa Gráfica Paranaense


— Curitiba, 1939.

Ao encerrar-se o ano último, apareceu êste livro de Valfrido Piloto, membro


"
da Academia Paranaense de Letras, do Círculo de Estudos Bandeirantes" e

do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

O título da obra expressa, desde logo, a sua importância. O nome do

autor, consagrado nos centros intelectuais do sul, desperta o desejo de lei-



tura imediata.

Êste livro aparece depois de se ter revelado o autor, brilhantemente, além

de copiosos trabalhos avulsos, com os livros Tópico da História Literária do

Paraná do movimento modernista) — 1934, Humilde (crítica e


(repercussão
discursos) — 193S, e Paranistas contendo: A tragédia do km. 65
(1938),

(refutação a Assis Cintra), Rocha Pombo (conferência) e Reportagem sobre

o mchimento abolicionista no Paraná.

História e Historiógrafos é um livro de sereno exame e de judiciosos

conceitos. A investida contra tabus, explica o autor, é fascinação pela qual

sempre se deixou arrastar. O livro contém algumas delas, necessárias, acomo-

dadas à crítica serena que possue força construtora. Valfrido Piloto conseguiu

equilíbrio em todas as suas páginas, como desejara, representativas de um iti-

nerário com pontos de contacto na história do Paraná e do Brasil Colônia.

Em mais de 200 páginas o autor versa com limpidez, na forma e no fundo,

pontos interessantíssimos da história regional, articulados à do país, prestando

um inegável serviço às nossas letras pela contribuição da sua análise e dos

serenos conceitos sôbre a ciência histórica e vários dos seus cultores.

A BANDEIRA DE 22 E A DE 89 — F. Pe-

reira Lessa — Gráfica Sauer — Rio de Ja-


neiro, 1935.

O ilustre Dr. F. Pereira Lessa, do Instituto Histórico de Ouro Preto,

da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, etc., escritor diserto, historio-

grafo sempre apurado em seus trabalhos, além de jornalista compenetrado da

alta missão da imprensa, teve a gentileza de oferecer à Divisão de História Marí-


832 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

tima do Brasil, EM-4 do Estado Maior da Armada, o interessante opúsculo

que tem o título mencionado.

Pereira Lessa é um consumado conhecedor do assunto que versa. Vários

livros tem a respeito publicado e vai publicar outros: A Bandeira e o Escudo

do Club Militar, A Bandeira Nacional Brasileira, As Bandeiras do Brasil, Les

hymnes nationaux et autres symboles, Le Brésil et ses symboles, Os símbolos

do Brasil e as Bandeiras Marítimas da Antigüidade.

"O
Neste opúsculo, de 53 páginas, trata o autorizado escritor de inimigo

da Bandeira Nacional — O Cruzeiro na Bandeira e nas Armas — A Bandeira

ninguém viu e o lema — Os lemas em bandeiras e as lutas fratricidas.


que
republicanas — O de e — Os ultrajes sofridos
período paz prosperidade pela
decantada bandeira de 22".

E' evidentemente um trabalho precioso que a estante da EM-4 deve à gen-

tileza do Dr. Pereira Lessa. Ao ilustre compatriota os nossos agradecimentos.

NAUTICAL TERMS — Comandante Ale-

xandre de Azevedo Lima — Vols. I e II

2." Edição — Imprensa Naval — Rio de Ja-


neiro, 1939.

Em segunda edição, esgotando-se rapidamente a primeira, reaparece êste

valiosíssimo trabalho, de reputado oficial da Armada Brasileira, Comandante

Alexandre de Azevedo Lima.

São dois volumes de cuidadosa confecção gráfica, correspondendo plena-


mente à importância e imediata utilidade do texto, elaborado à luz de um sólido

conhecimento da tecnologia marítima em várias línguas.

A nossa Revista teve oportunidade, quando da primeira edição, de registrar

o verdadeiro acontecimento bibliográfico, devido aos esforços e à competência

do Comandante Alexandre de Azevedo Lima, que foi a publicação dessa obra.

Não é com menor satisfação que registramos o aparecimento agora dos dois

volumes, em segunda edição, o primeiro Inglês-Português (475 páginas) e o

segundo Português-Inglês (322 páginas), encontrando-se no primeiro, a mais,

diálogos marítimos sôbre vários assuntos úteis, minutos de correspondência

marítima e comercial, regulamento para evitar abalroamentos, sistemas de pêsos


e medidas, escalas termométricas, moedas, medidas náuticas e as de comprimento,,

capacidade, pêso e superfície, conversão de pêsos e medidas do sistema métrico,

em medidas inglesas, etc.

E' para imenso proveito, pois, que aparece reeditada a utilíssima obra

Nautical Terms, elaborada pelo Comandante Azevedo Lima.


BIBLIOGRAFIA 833

EL SISTEMA LACUSTRE SUD-RIO-

GRANDENSE-ORIENTAL — Primera Par-

te: La Barra dei Rio Grande y la Laguna

de los Patos, por el Profesor Walter Spalding


— Segunda Parte: Acotaciones, por el Profe-
" —
sor José Aguiar — Imprensa Militar"

Montevideo, 1939.

O Instituto de Investigações Geográficas da Universidade da República do

Uruguai tem o seu título estampado no alto da capa dêsse excelente e exhaus-

tivo trabalho do nosso compatriota Walter Spalding, membro do Instituto His-

tórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e da Academia Rio Grandense de


Letras, também colaborador, entre os mais distintos, da Revista Marítima
Brasileira.

O trabalho de Walter Spalding é traduzido, comentado e anotado pelo


Professor José Aguiar, da Sociedade de Geografia do Uruguai, como se explica
no rosto.
"
Em Advertência" se lê que o estudo do Professor Spalding foi anotado
e comentado por seu tradutor, o Contra-Almirante José Aguiar. Autor
(R)
o Prof. Spalding de um trabalho histórico-literário de amplitude e
grande
mérito, em estreita relação, de um modo geral, com a Geografia, aborda, aspectos
de interêsse positivo para os uruguaios, o tema considera — com-
já que que
plemento eficiente do de ordem geral que realiza o Contra-Almirante Aguiar
— afetando de modo e ao Brasil,
particular geral particular e igualmente tem
especial relação com o Estado do Rio Grande do Sul e com o Uruguai. Tra-
ta-se, com efeito, de um estudo que comprova a austeridade científica e a

probidade histórica-técnica habituais em seu autor, zelosíssimo cultor da ver-


dade — "Adver-
documental e exhaustiva dos temas que aborda conforme a
tencia" declara e a nós também parece.
São interessantíssimas as duas partes do livro, a de Spalding e a de Aguiar,
uma digna de outra, ambas verdadeiros cabedais de valor, impossíveis
grande
de devida apreciação num mero registro bibliográfico. São trabalhos, em suma,
eminentemente recomendáveis.

AZAMBUJA E URUSSANGA — Desem-

bargador Vieira Ferreira — Oficinas gráficas


"Diário
do Oficial" — Niterói, 1939.

Memória sobre a fundação, pelo Engenheiro Joaquim Vieira Ferreira, de


uma colônia de imigrantes italianos em Santa Catarina, êste livro do Desembar-

gador Vieira Ferreira pode ser classificado de belo e interessante.

São 107 páginas fluentes e brilhantes, do punho de um nobre filho lím-


brando um ilustre pai, através de vasta extensão do território nacional, de
Pedras Grandes, em Santa Catarina, à bôea do Moa, no Alto Sóbrio
Jurúa.
na descrição, seguro no traço, comedido nos e nas cenas nos apre-
perfis que
834 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

senta, o livro uma idéia clara sôbre a colonização do território


proporciona

brasileiro, através de narrativa leve e escorreita. Pelo que descreve êsse livro,

nos apresenta, com elegância e limpidez, concebemos os múl-


pelos quadros que

tiplos aspectos da introdução e fixação de imigrantes no interior agreste do

nosso país.

O Desembargador Vieira Ferreira, com êsse livro, lembrando tanta coisa,

das terras, a seu conduziu e fixou imigrantes, àquela jarra, que tanto
que pai

andou e não se também nos enche de saudade daquilo que não vivemos
partiu,

como êle viveu, mas sentimos pelas páginas que pôde escrever com senti-
que

mento e proficiência.

A EVOLUÇÃO INDUSTRIAL DO BRA-

SIL — Roberto C. Simonsen — Empresa


"Revista
Gráfica da dos Tribunais", 1939.

A 26 de Julho de 1939, o Dr. Roberto Simonsen, Presidente da Federação

das Indústrias Paulistas e Professor de História Econômica na Escola Livre

de Sociologia e Política de S. Paulo, realizou uma substanciosa conferência

sôbre A Evolução Industrial do Brasil, a convite do Dr. João Carlos Muniz,

ilustre Diretor do Conselho Federal do Comércio Exterior.

Tão notável foi o estudo do Dr. Roberto Simonsen, mostrando os aspectos


"com
mais importantes da nossa evolução industrial, dados e interpretações

inteiramente inéditas", mediante os quais se pode ter idéia da atividade do

nesse que a Diretoria da Federação das Indústrias resolveu, por


país particular,
"como
unanimidade, mandar imprimir a conferência, em grande edição uma

homenagem ao seu Presidente e com o intuito de proporcionar a todos


justa
os que se interessam pelos problemas nacionais o conhecimento de várias ques-

tões fundamentais à formação da nossa economia, aí explanadas".

Coube-nos um exemplar dessa publicação, excelente pelo aspecto gráfico,

digno do trabalho notável do conferencista, cujas obras são tantas e tão larga-

mente aplaudidas e divulgadas.

O GÊNIO DE BADEN POWELL — Pierre

Bovet, Professor da Universidade de Genebra


— Tradução de Antero Nobre — Edição da

União dos Escoteiros do Brasil — Rio de Ja-

neiro, 1939.

Um amplo folheto de 28 páginas nos oferece, em língua • portuguesa, o tra-

balho do Professor Bovet, graças à tradução cuidadosa de Antero Nobre, sôbre

o que é preciso compreender do escotismo, suas bases psicológicas, seu valor

educativo, o instinto combativo e o ideal da juventude.


BIBLIOGRAFIA 835

Paul Charpentier, Secretário Geral dos Escoteiros de França, escreveu uma

página introdutória ao trabalho de Bovet, digna da maior atenção.

RELAÇÃO GERAL DOS BENS DA

UNIÃO registrados até 1939, pela Divisão de

Cadastro e Registro — Diretoria do Domínio

da União — Ministério da Fazenda — Im-

Nacional — Rio de 1939.


prensa Janeiro,

Ao nosso ilustre compatriota, Engenheiro Ulpiano de Barros, Diretor do

Dominio da União, devemos a gentil remessa de um exemplar dêsse utilíssimo-

trabalho, organizado com proficiência por ordem de S.S., a quem apresen-

tamos muitos agradecimentos.

CARNEGIE ENDOWMENT FOR INTER-

NATIONAL PEACE — Year Book, 1937 e

1938. — Washington, 1937 e 1938.

Acusamos, com satisfação, o recebimento dos anuários referidos, publicados

pela grande e ilustre Instituição citada.

Temos recebido, com toda a regularidade, as seguintes e excelentes publi-


cações periódicas:

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul —

Porto Alegre.

Revista de Polícia — Rio de Janeiro.

Liga Marítima Brasileira — Rio de Janeiro.

Cruz de Malta — Revista mensal dos funcionários das Companhias


"Organização
da Lage" — Rio de Janeiro.

Brújula — Publicação mensal ilustrada — Buenos Aires.

— Ajuri — Órgão oficial da Federação Brasileira de Escoteiros de terra


e da Federação Carioca de Escoteiros — Rio de Janeiro.

Revista de Ciências Econômicas — Órgão da Ordem dos Economistas


de S. Paulo.
836 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Navales — Ministério da Marinha — Buenos


Revista de Publicaciones

Aires.
" "
Revista de Mackensie" — Centro Acadêmico Horácio
Engenharia
" —
Lane S. Paulo.

Revista do Instituto do Ceará — Sob a direção de Th. Pompeu So-

brinho — Fortaleza.

Annaes da Academia Brasileira de Sciencias — Rio de Janeiro.

Boletim do Circulo de Técnicos Militares — Com vasta matéria, exce-

lentemente tratada — Rio de Janeiro.

D. C.
NOTICIÁRIO

BRASIL

CONTRA-ALMIRANTE ALBERTO DE LEMOS BASTO

"Boletim
Conforme foi 110 do Ministério da Ma-
publicado
rinha", n. 52, de 28 de Dezembro de 1939, o Sr. Presidente da

República resolveu promover, por merecimento, no Corpo de Ofi-

ciais da Armada, ao pôsto de Contra-Almirante, o Capitão de Mar

e Guerra — — Alberto de Lemos Basto.


QO
Oficial dos mais distintos da Armada, espírito militar,
pelo
talento e cultura, demonstrados, a um tempo, durante longos

anos de constante, esclarecida e dedicada atividade, a promoção


a Contra-Almirante do Capitão de Mar e Guerra Alberto de

Lemos Basto causou a maior satisfação lios círculos navais.

ESCOLA NAVAL

As solenidades da entrega das espadas aos novos Guardas-


"Greenhalgh"
Marinha e a entrega do prêmio

No dia 30 de Dezembro do ano próximo findo, realizou-se,

na Escola Naval, a cerimônia da entrega das espadas aos Guar-

das-Marinha e aos Aspirantes a Oficial do Corpo de Fuzileiros

Navais que terminaram os respectivos cursos naquele Estabele-

cimento de ensino.

O ato foi Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas,


presidido pelo
Presidente da República, e a êle estiveram presentes os Minis-

tros de Estado, altas autoridades civis e militares e as famílias

dos alunos.

As solenidades tiveram início com a chegada do Sr. Presi-

dente da República, estando, essa ocasião, os alunos e a


por

guarnição da Escola formados em postos de continência. Logo

após, o Chefe do Governo em revista o Corpo de Alunos,


passou
inclusive os Guardas-Marinha.
!
838 REVIStA marítima brasileira

Terminado o desfile, foi efetuada a mudança das dos


platinas
novos Guardas-Marinha pelas respectivas madrinhas e no Ginásio

dêsse Estabelecimento efetuou-se a entrega das espadas pelo


Exmo. Sr. Presidente da República, com a presença do Exmo.

Sr. Ministro da Marinha, Chefe do Estado Maior da Armada,

do Diretor da Escola e outras altas autoridades presentes.

"Greenhalgh"
O prêmio

"Greenhalgh",
O conferido ao Guarda-Marinha Paulo
prêmio
Esperidião Corrêa de Andrade, pelo brilhante curso que fez, é

constituído de uma linda medalha de ouro, tem de um lado uma


"Ao
âncora entre palmas de louro e uma fita com a inscrição

mérito"; e de outro lado a efígie da República com a data 1895,

ano da sua instituição.

Após essas cerimônias falaram o Diretor da Escola Naval,

Almirante Américo Vieira de Melo, e em nome dos seus compa-

nheiros, o Guarda-Marinha Paulo Moreira da Silva, orador da

turma

Os novos Guardas-Marinha são os seguintes:

Paulo Esperidião Corrêa de Andrade, Frederico Oscar

Stuckenbruck, Herick Marques Caminha, Radival da Silva Alves


Pereira, Milton Castanheda Vilalva, Antonio Ávila de Malafaia,

Flavio Monteiro, Alcio Poggi de Figueiredo, Paulo Berenger


Sobral, Felino Alves de Affonso Pereira, Milton Soa-
Jesus, José
res Rodrigues de Vasconcellos, Roberto Coutinho Coimbra, Ra-
mon Lorenzo Amande, Alberto Nogueira de Souza, Herminio
Emmanuel Oscherry, Edy Sampaio Espellet, Henry Britsh Lins
de Barros, Júlio César de Sá Carvalho, Roberto Mario Monereti,
Antonio Maria Nunes de Souza, Annibal Barcellos, da Silva
José
Sá Earp, Paulo de Castro Moreira da Silva, Oyama Sonnsnfeld
de Mattos, Maurilio Augusto Silva, Paulo Antonioll,
João José
de Oliveira Leite, Antonio Paulo César de Andrade, Ward Ta-
vares, José Francisco Pereira das Neves, Arlindo Goulard Pe-
reira, Waldemiro Alves Corrêa Nunes, Luiz Cyrillo de Albuquer-

que Cunha, Carlos Balthazar da Silveira, Evaldo Assumpção,


Raymundo Dias Duarte, Francisco de Carvalho França, Paulo
Lebre Pereira das Neves, Diocles Lima de Siqueira, Rubens
José
Rodrigues de Mattos, Geraldo Avilla de Malafaia, Walmir de
Abreu Lassance, Anauro Watson Coutinho Marques, Mario Soa-
res Pinheiro, Álvaro Calheiros, Ivan Burgos Feitosa, Henrique
da Motta Pereira Filho, Osmar Pereira Guimarães, Elyseu Pallet
de Abreu Lima, Ediguche Gomes Carneiro, Alfredo Arruda, Ney
Camara Valdez, Rubem Poggi de Figueiredo,
José Joaquim
Gomes Fontenelle, André Leon Fleury Nazareth, Wilson Accioly
Caspary e Vanius de Miranda Nogueira.
NOTICIÁRIO 839

São os seguintes os aspirantes a oficial do Corpo de Fuzi-


leiros Navais: Luiz Affonso de Miranda, Annibal de Barros
Sampaio, Luiz Felippe Sinay, Luiz Vieira Machado, Linaldo da
Silva Barros, Haroldo do Prado Azambuja e Doris Greenhalgh
de Oliveira.

A CATÁSTROFE DO "AQUIDABAN"

Realizou-se na baía de Jacuecanga, a 21 de Janeiro deste


ano, às 9 horas, a cerimônia da visita ao local onde se deu a
catástrofe do encouraçado Aquidaban, no dia 21 de Taneiro de
1906, na qual pereceram 3 Almirantes e numerosos oficiais e
marinheiros.
Às 8 horas, partiu da Escola Batista das Neves, o contra-
torpedeiro Maranhão, sob o comando do Capitão de Corveta Sil-
vino Pitanga de Almeida, conduzindo o Prefeito Moacyr de Paula
Lobo e as autoridades navais que se achavam em Angra dos Reis.
Às 9 horas, aquela unidade naval arriou ferros no local onde
afundou o grande vaso da nossa Marinha de guerra formando
a sua guarniçào no convés. Após a leitura da ordem do dia e
de um minuto de silêncio, os marujos depositaram flores no mar,
junto à boia que assinala o ponto em que se deu o desastre.
Findas essas cerimônias, toda a guarniçào e a oficialidade
pre-
sentes dirigiram-se ao monumento de granito, existente na Ponta
de Leste, onde se acham os restos mortais das vítimas, no
qual
depositaram, igualmente, flores. Nessa ocasião usou da
palavra
o Dr. Moacyr de Paula Lobo, salientando a significação daquela
comemoração cívica e dizendo da solidariedade do povo de Angra
dos Reis, cujos destinos se acham, ha muito, ligados aos da nossa
Marinha de Guerra.
Terminadas as solenidades, o Maranhão, conduzindo os que
nela tomaram parte, deixou o local, rumando para a Escola Almi-
rante Baptista das Neves, onde atracou, às 11 horas.

CURSO POR CORRESPONDÊNCIA NA ESCOLA


DE GUERRA NAVAL

O Exmo. Sr. Ministro da Marinha, em Aviso n. 1951, de


22 de Dezembro de 1939, publicado no Boletim do mesmo Mi-
nistério, n. 52, de 28 do dito mês e ano, fez criar, na Escola de
Guerra Naval, um curso por correspondência, afim de preparar
84Ô REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

oficiais para a matrícula no Curso de Comando da referida es-


cola. A este aviso acompanham as instruções para a execução
do citado curso. •
Em outro aviso, dirigido ao Exmo. Sr. Almirante Diretor
Geral do Pessoal da Armada, o Sr. Ministro mandou matricular
no curso os seguintes oficiais: Capitães de Corveta Bemvindo
Taques Horta, Álvaro Miguellote Vianna, Platão Moreira Ma-
chado, Bertino Dutra da Silva, Alfredo Bento de Mello e Alvim,
Jayme Guilherme Dutra da Eonseca, Alberto Jorge Carvalha.,
Pedro Paulo de Araújo Suzano, Benjamin Constant de Maga-
lhães Cerejo, Oswaldo Costa Pederneiras, Aristides Francisco
Garnier, Alfredo Maria do Amaral Neves; Capitães de Corveta
aviadores navais Antônio Azevedo Castro Lima, Henrique Fleiss,
Jussaro Fausto de Sousa e Gabriel Grun Moss; Capitães Tenen-
tes Adhemar de Siqueira, José Luiz da Silva Junior, Octávio
Soares de Freitas, Luiz Felippe de Saldanha da Gama, Urbano
Novaes de Castello Branco, Aecio de Albuquerque Antunes, João
Pereira Machado e Ivano da Silva Guimarães.

O CRUZADOR INGLÊS "WAWKINS"

Fundeou no porto desta Capital, a 12 de Fevereiro, o cru-


zador da armada britânica Wawkins, que substituirá o Ajax,
afastado, temporariamente, do "South American Squadron", em
conseqüência do combate travado entre este cruzador e o coura-
çado de bolso alemão Admirai Graf Spee, em águas do Rio da
Prata, no mês de Dezembro do ano próximo findo.
Viajou a bordo do cruzador britânico o Sr. Almirante Har-
wood, comandante da divisão naval inglesa que operou em Punta
dei Este.
E' a primeira vez que o Wawkins entra em nosso porto e
após ter-se abastecido do mantimento e combustível indispen-
sáveis, zarpou pouco antes de completar as 48 horas permitidas
para aqui permanecer.
Esteve no Ministério da Marinha, em visita de despedida ao
Sr. Almirante Aristides Guilhem e ao Sr. Chefe do Estado
Maior da Armada, o Almirante Harwood, acompanhado do co-
mandante do Wawkins e do adido naval à Embaixada Britânica.
NOÍ-IGÍÁBIO • 84!

PASSAGEM DO HUMAITÁ

As homenagens no túmulo do Almirande


prestadas

Visconde de Inhaúma

A Marinha de Guerra Nacional, a 19 de Fevereiro, recor-

dando a Passagem do Humaitá, feito heróico durante a campanha

do Paraguai, prestou uma expressiva homenagem de veneração

e saudade, no Cemitério de S. Francisco Xavier, à memória do

Almirante José Joaquim Inácio, Visconde de Inhaúma.

Assim, naquela necrópole, onde se ergue a campa daquele

glorioso Almirante, estiveram o Capitão de Fragata


Jerônimo
Francisco Gonçalves, sub-chefe do Gabinete do Sr. Ministro da

Marinha e o Capitão-Tenente Ataualpa da Silva Neves, ajudante

de ordens do Sr. Ministro, representando ambos o Almirante

Aristides Guilhenl, o Capitão-Tenente Raul Valença Câmara pelo


Chefe do Estado Maior da Armada e vários outros oficiais da

nossa Marinha de Guerra.

Essa comissão de oficiais fez depositar ao túmulo do


junto
ilustre marinheiro uma belíssima de flores naturais.
palma

ATOS ADMINISTRATIVOS

Férias regulamentares — O Aviso n. 1.796, de 23-11-1939,

dispõe sôbre férias regulamentares e dá outras providências.


B. 48/939.

Monte-pio Militar — O Decreto-lei n. 1803, de 24 de No-

vembro de 1939, estende aos funcionários do Ministério da Mari-

nha, honras militares, o direito de contribuírem para


que possuem
o monte-pio militar. B. 49/939.

Pensões vitalícias — O Boletim n. 49, do M.M. de 7-12-1939,


"
Instruções reguladoras da concessão das Pensões Vi-
publica as
talícias", instituídas Decreto n. 1.544, de 25 de Agosto
pelo
de 1939.

Disciplinar a Armada — O Decreto nú-


Regulamento para
mero 4.987, de 8 de Dezembro de 1939, aprova e manda executar

o novo Regulamento Disciplinar a Armada. B. 51/939.


para

do Tribunal Marítimo — O Decreto n. 4.98o,


Presidente

de 8 de Dezembro de 1939, dispõe sôbre a substituição do Presi-

dente do Tribunal Marítimo Administrativo. B. 51/939.


842 revista marítima brasileira

Diária — O Decreto n. 4.993, de 9-12-1939, regulamenta o


Capítulo IV (Diárias) do Título II do Decreto-lei n. 1.713, de
28-10-1939 e dá outras B. 51/939.
providências.

Diretoria de Obras do Novo Arsenal — O Decreto-lei nú-


mero 1.889, de 15-12-939, extingue a Diretoria de Obras do novo
Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras e dá outras providências.
B. 52/939.

Curso Correspondência a E. G. N. — O Aviso nú-


por para
mero 1.951, de 22 de Dezembro de 1939, cria um Curso por
Correspondência afim de oficiais a matrícula no
preparar para
Curso de Comando da Escola de Guerra Naval e aprova instru-

ções para o mesmo. B. 52/939.

Condições de admissão à Escola de Guerra Naval — O Aviso

n. 1.952, de 22 de Dezembro de 1939, estabelece regras sôbre as

condições de admissão à Escola de Guerra Naval. B. 52/939.

Dia do Reservista — O Decreto-lei n. 1.908, de 26 de De-


"Dia
zembro de 1939, institue o do Reservista" e dá outras pro-
videncias. B. 1/940.

Escola Naval — O Decreto n. 5.050 de 22 de Dezembro de

1939, aprova uma modificação no Regulamento da Escola Naval.

B. 1/940.

Escola de Marinha Mercante — O Decreto n. 5.051. de 22

de Dezembro de 1939, aprova e manda executar o regulamento

para a Escola de Marinha Mercante do Rio de B. 1/940.


Janeiro.

Receita e Despesa da União — O Decreto-lei n. 1.936, de

30 de Dezembro de 1939, orça a Receita Geral e fixa a Despesa

da União para o Exercício de 1940. B. 2/940.

Lotação do Pessoal Militar — O Decreto n. 5.102, de 3 de

Janeiro de 1940, manda revogar as lotações do pessoal militar

fixadas regulamentos da Marinha e dá outras


pelos providências.
B. 3/940 (ver também Aviso n. 63-a de 9-1-940).

Aproveitamento de ex-graduados do Exército e da Armada


— O Decreto-lei n. 1.963, de 13 de de 1940, dispõe sôbre
Janeiro
aproveitamento de ex-graduados do Exército e da Armada nos

do funcionalismo federal e dá outras


quadros providências.
B. 4/940.
NOTICIÁRIO 843

Medalha comemorativa — O Decreto-lei n. 1.972, de 19 de

de 1940, institue a Medalha Comemorativa do Cincoente-


Janeiro
nário da Proclamação da República e dá outras providências.
B. 5/940.

Crédito de vencimento — O Decreto-lei


para pagamento
n. 1.988, de 29 de de 1940, dispõe sôbre a distribuição
Janeiro
e redistribuição de créditos de vencimentos, fun-
para pagamento

ções, gratificações e ajudas de custo ao pessoal militar da Mari-

nha de Guerra e dá outras B. 6/940.


providências.

Reserva Naval Aérea — O Decreto n. 5.188, de 26 de Janeiro


de 1940, modifica artigos do Regulamento da Reserva Naval

Aérea e dá outras providências. B. 6/940.

Monte-pio Militar — O Aviso n. 166, de 29 de de


Janeiro
1940, dispõe sôbre à contribuição o Monte-pio Militar pelos
para
oficiais reformados com a de superior e pelos que
graduação pôsto
contribuíam também com a quóta de postos imediatos e dá outras

Boletim n. 6/1940.
providências.

telegráfica — O Decreto-lei nú-


Correspondência postal e

mero 1.995, de 1 de Fevereiro de 1940, dispõe sôbre o uso oficial

da correspondência e telegráfica. B. 7/940.


postal

Livro do Mérito — O Decreto n. 5.244, de 7 de Fevereiro


"Livro
de 1940, aprova o Regulamento da Comissão do do Mé-

rito", instituído Decreto-lei n. 1.706, de 27 de Outubro de


pelo
1939. B. 7/940.

ARGENTINA

PROJETO DE UMA NOVA FROTA MERCANTE

Informações telegráficas de Buenos Aires, a 31


procedentes

de Dezembro de 1939, diziam o argentino dispuse-


que govêrno
ra-se a encarar o da insuficiência dos transportes marí-
problema
timos, vem entravando o comércio exterior e prejudicando
que
a economia do mediante a construção de uma frota nacional,
país,
o fôra designada uma comissão de estudos integrada
para que já
Almirante Stewart e representantes dos Departamentos da
pelo
Fazenda e Agricultura.

Ainda nada se houvesse ventilado sôbre a marcha dos


que
trabalhos, soube-se diversas firmas estrangeiras, entre elas
que
844 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

diversas escandinavas, estadunidenses e de outras nacionalidades,

manifestaram seu interesse pela construção dos navios.

Adiantavam as referidas informações que esta frota seria

composta de doze unidades, e cada uma delas teria uma tonela-

gem não inferior a 15.000 toneladas, sendo dotadas de turbinas

e de todos os aperfeiçoamentos necessários.

"GRAF
OS MARINHEIROS DO SPEE"

Sôbre a em território da República Argentina,


permanência,
dos marinheiros alemães que faziam parte da guarnição do encou-

raçado Graf Spee, a United Press divulgou, em Fevereiro do

corrente ano, o seguinte comunicado por via aérea:

"A
boa conduta observada pelos marinheiros do couraçado

de bolso, alemão, Admirai Graf Spee influiu consideravelmente

para o govêrno argentino estude um plano aos


que que permita
mesmos ficarem em Buenos Aires, um de tempo
por período
maior que o que se projetava prèviamente.

Uma alta autoridade do Ministério da Marinha declarou a

um redator da United Press que o govêrno argentino estava com-

satisfeito com o comportamento dos marinheiros ale-


pletamente
mães. Êsse funcionário informou que os internados
germânicos
observam escrupulosamente as instruções que receberam,
parti-
cularmente as relacionadas com o regulamento do Hotel de Imi-

onde residem. Não se registraram casos de desordens e


gração,
mesmo os de embriaguês são extremamente raros, tomando em

consideração o grande número de marinheiros alemães se


que
encontram nesta capital.

Segundo informações obtidas em outros meios, também

dignos de crédito, a completou a identificação de todos os


polícia
oficiais e praças, que era o único processo exigido os
para que
mesmos seguissem o interior do mas o adiou
para país, govêrno

propositalmente a partida e a execução do decreto de interna-

mento, afim de os mesmos assistir às festas


que pudessem
carnavalescas.

Os internados alemães deverão dedicar-se a trabalhos cuja

natureza não foi revelada oficialmente.

A despeito do fato de indicar o decreto do govêrno que os

alemães devem ser internados nas províncias do interior, as no-

tícias colhidas no Ministério da Marinha indicam um número


que
de técnicos e outros rabalhadores especializados será enviado às

bases navais de Puerto Belgrano e de Rio Santiago, onde serão

aproveitados nos serviços das oficinas e estaleiros nacionais. O

destino final do resto ainda não é conhecido.


NOTICIÁRIO 845

Entrementes, os marinheiros alemães continuam a gozar os

oferece a cidade e sozinhos ou em grupos visitam


prazeres que
os e de interesse ou as casas de diversões. Os
pontos pitorescos
internados receberam o primeiro mês de sôldo do governo

argentino, mas o dinheiro é êles de valor. Em muitas
para pouco
cervejarias, as de propriedade de alemães ou de
particularmente
simpatizantes do regime nacional-socialista, êles podem beber à

vontade conta da casa. Muitos residentes alemães ricos têm


por
abertas as de suas residências aos marinheiros, apro-
portas que
veitam a hospitalidade nos dias livres.

Outros membros da colônia mandam freqüente-


germânica
mente iguarias, doces, cigarros, roupas e outros objetos
presentes,
de uso ao llotel de Imigração, os quais são distribuídos
pessoal
entre os marinheiros."

CHILE

O FALECIMENTO DO EX-DIRETOR GERAL

DA ARMADA

A 20 de Dezembro de 1939, a agência francesa Havas trans-

initia, em despacho de Valparaiso, o seguinte comu-


procedente
nicado:

"Faleceu
esta manhã, cm Vina dei Mar, o Almirante Juan

Schroeder, oficial da armada chilena, que atualmente desempe-

nhava as funções de controlador da universidade técnica


geral
de Flerico Santa Maria.

O Almirante Schroeder ingressou na Armada, como cadete

da Escola Naval, em 1884. Chegou a ser comandante chefe do

ancoradouro de Talcahuano, comandante chefe da Divisão de des-

troyers, diretor do material de diretor do da Ar-


guerra, pessoal

mada, cargo êste desempenhou brilhantemente. Foi enviado


que
em diversas missões ao estranjeiro, à Grã-Bre-
principalmente,
tanha, se construíram os cruzadores Libertad e Cons-
quando
titucion."

ESTADOS UNIDOS

SUPER-CRUZADORES

A da construção nos Estados Unidos de cruzadores


propósito
de 20.000 toneladas, a United Press (agência norte-americana)

forneceu a noticia abaixo, procedente de Washington, datada de

13 de Janeiro do corrente ano.


846 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"O
Almirante Stark, chefe das operações navais, declarou

hoje a Marinha talvez venha a solicitar ao Congresso auto-


que
rização mandar construir um novo tipo de super-cruzador
para
de 20.000 toneladas, de canhões de 14 polegadas. O Almi-
provido
rante acentuou tais unidades superarão em eficiência os
que
couraçados de bolso da frota do Reich."

O PROGRAMA NAVAL NORTE-AMERICANO

A 16 de dêste ano, em despacho telegráfico proce-


Janeiro
dente de Washington, a agência francesa Havas, divulgou, da

maneira abaixo descrita, as declarações feitas pelo Almirante

Stark, Chefe das Operações Navais dos Estados Unidos, sobre o

acréscimo de novas unidades para a Marinha de Guerra de

seu país.
"O
Almirante Stark, Chefe das Operações Navais, em novas

declarações feitas perante a comissão naval da Câmara dos Re-

presentantes referiu-se ao programa de acréscimo das forças da

Marinha dos Estados Unidos recomendado administração.


pela

Disse 76 milhões de dólares seriam necessários até 1945,


que
terminar as construções em andamento e as que são pro-
para

jetadas.
O compreende a entrada em serviço de 145 novas
programa
unidades e de número não revelado de aviões.

Além das 77 unidades no atualmente em


propostas programa
estudos e cujo curso se elevará a 1.300 milhões de dólares, o

Departamento da Marinha obteve créditos iniciar a cons-


para
trução de 19 outras unidades de O será com-
guerra. programa
com mais 49 vasos, desde sejam votados os créditos
pletado que
necessários.

Ao responder às críticas de deveriam ser construídas as


que
68 unidades autorizadas antes de se cogitar do lançamento de

mais 77, o Almirante Stark advertiu que os créditos pedidos para.

a construção de 19 navios dos 68 autorizados hajam sido conce-

didos antes da européia, isto é, antes de se verificar modi-


guerra
ficação radical nas condições mundiais.

Antes do conflito as novas construções não apresentavam o

mesmo caráter de urgência que atualmente.

Ao concluir afirmou o Departamento da Marinha pedirá


que
os créditos indispensáveis à construção de todas as unidades

autorizadas até ao seja aprovado ou não o pro-


presente, quer
em estudo importa na despesa de 1.300 milhões de
grama, que

dólares."
NOTICIÁRIO 847

A CONSTRUÇÃO DE NAVIOS DE GUERRA PARA OS

PAÍSES LATINO-AMERICANOS

Divulgando a notícia do adiamento do projeto de lei que


autoriza os Estados Unidos a construírem navios de guerra para
as nações latino-americanas, a United Press, em despacho tele-

gráfico procedente de Washington, a 18 de informava


Janeiro,
o se segue:
que

"Foi
adiada, sine die, a apreciação na Alta Câmara do pro-
de lei qual se autoriza a construção de navios de guerra
jeto pelo
e armamentos para os paises latino-americanos.

As objeções levantadas vários senadores, cujos nomes


por
não foram mencionados, impedirão possivelmente, que o projeto,
conta com o decidido apoio do seja discutido no
que governo,
atual de sessões. A Câmara dos Representantes já o
período
aprovara durante as sessões da legislatura anterior.

Sabe-se, de fontes autorizadas, o Departamento de Es-


que

tado tinha encarecido a aprovação senatorial, com o de


propósito

robustecer os elementos da defesa continental.

Nos círculos militares e navais desta capital comenta-se que

européia cortou, em os fornecimentos destinados


a guerra parte,

à das Repúblicas latino-americanas devido às necessidades


defesa

da União.
próprias

Outros senadores, entretanto, mostraram-se da


partidários

apreciação do projeto, durante o atual período parlamentar.

O Sr. King, representa no Senado o Estado de Utah,


que
"Não
a respeito: acho o merecer obje-
disse que projeto possa

enquanto as nossas fábricas de canhões e os nossos estalei-


ções,
ros navais estejam em condições de os elementos de que
produzir

carecem os nossos vizinhos sul-americanos, sem incidirmos em

despesas adicionais ou vermo-nos 11a necessidade de contratar

outros empregados administrativos civis.

"Julgo
deveríamos toda a nossa ajuda possível
que prestar
os outros americanos se possam defender".
para que paises

Em sentido favorável também se o senador


pronunciou
de Washington, declarando apoiou o projeto
Schwellenbach, que

as sessões anteriores e fará outro tanto no decurso


durante que

das atuais se o mesmo for apresentado para discussão".


848 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ITÁLIA

LANÇAMENTO DE UM NOVO SUBMARINO

Conforme noticiou a agência francesa Havas, a 8 de Janeiro


do corrente ano, em despacho procedente de Roma, foi lançado

ao mar nos estaleiros de Taranto o submarino Raffaele Tarantino.

URUGUAI

O LIVRO AZUL DA CHANCELARIA URUGUAIA

EM CIRCULAÇÃO

Em despacho telegráfico procedente de Montevidéu, a United

Press, a 31 de Janeiro, fez divulgar a informação cpie se segue,

sobre o livro azul da Chancelaria uruguaia, em circulação, refe-

rente ao Admirai Graf Spee e ao Tacoma.

"A
chancelaria uruguaia pôs em circulação, hoje, o livro
"Antecedentes
azul intitulado relativos ao afundamento do cou-

raçado Admirai Graf Spee e ao internamento do Tacoma".

O livro consta de 90 páginas contendo uma detalhada expo-

sição de todos os acontecimentos àquele respeito. Todos os docu-

mentos nele contidos refletem as alternativas das negociações

realizadas desde o dia 13 até 17 de Dezembro.

Uma casa editorial de Londres solicitou autorização do Mi-

nistério das Relações Exteriores para traduzi-lo e imprimi-lo


por
sua conta."
NECROLOGIA

VICE-ALMIRANTE, REFORMADO,

AMAZÔNIO DEOLINDO VIEIRA MACIEL

Faleceu nesta Capital, a 23 de Dezembro de 1939, o Vice-

Almirante, Reformado, Amazônio Deolindo Vieira Maciel.

CAPITÃO DE FRAGATA, COMISSÁRIO DA RES.

DE 1." CLASSE,

SILVINO DA SILVA FREIRE

A 16 de de 1940, nesta Capital, faleceu o Capitão de


Janeiro
Fragata, Comissário da Reserva de l.a Classe, Silvino da Silva

Freire.

— — a
CAPITÃO-TENENTE DA RES. DE I CLASSE,
QM

JOÃO DE MATOS ARAÚJO

Faleceu, a 18 de de 1940, nesta Capital, o Capitão-


Janeiro
Tenente — — da Res. de 1." classe, de Matos Araújo.
QM João

PRIMEIRO TENENTE, COMISSÁRIO DA RESERVA

DE 1." CLASSE,

JOÃO DE DEUS PEDROSO

No dia 4 de deste ano, nesta Capital, faleceu o Pri-


Janeiro
meiro Tenente, Comissário da Reserva de 1." Classe, de Deus
João
Pedroso.

Às famílias enlutadas a Revista Marítima Brasileira envia

sentidas condolências.
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ÍNDICE ALFABÉTICO DO 315" VOLUME

(De Julho a Dezembro de 1939)

Arsenal de Marinha do Rio de Engenheiro


Janeiro (O
G. B. Weinschenck no) — Capitão de Fragata Didio

I. A. da Costa 425

Aviões e Submarinos — C. F. X. — 567, 345 1-!

Bibliografia — D. C. — 397, 599 e 207

Campanhas importância do estudo das) —


passadas (A
Capitão de Corveta Carlos Penna Botto — 791 e .... 477

Centenários Portugueses — Cap. de Fragata Didio


(Os)
I. A. da Costa • 5

Escolas Navais do Brasil, Argentina e Chile com-


(Estudo
entre os cursos das) — Capitão de Fragata
parativo
Renato Baiardino — 103, 305 e 507

Filosofia Militar — Capitão-Tenente Zilmar Campos de

Araripe Macedo — 49 e 455

"La
Argentina" (Cruzador-Escola) 111

Liga Naval Brasileira retrato de Marcílio Dias na) ... 527


(O
II

Marinheiro (O Dia do) 523


Motores a explosão Ignição nos) — Capitão-Tenente
(A

(QM) A. Vianna Sá 293

Naufrágios e) — Capitão Fragata


(Reveses de Dídio I. A.
da Costa 233
Navegação Costeira tabelas — Capitão-
(Algumas para)
Tenente Daniel dos Santos Parreira 289
"Cabedelo", "Caravelas" "Camaquã"
Navios-mineiros e 253
Navegação hodierna no ar e no mar com tábuas náuticas
ultra simplificadas — Capitão de Mar
(A) e Guerra
F. Rdaler de Aquino (Suplemento)
Necrologia 227, 419 e 623
Noticiário — 209, 403 e 609

Obra do acaso (A Descoberta do Brasil Cabral não foi)


por
— — Capitão
(Conferência) de Fragata Luiz Alves

Oliveira Belo 13

República Marinha e a Proclamação da) — Capitão


(A
de Fragata Braz Veloso • 445

Respiga — 169, 371 e 587

Revista de Revistas — A. R. — 119, 313 537

Rio de no) — Trad. de S. de


Janeiro (Bougainville S. 67

Rio de Janeiro (Cook no) — Trad. de S. de 281

Rio de no) — Trad. de S. de 469


Janeiro (Walsh

Semana da Pátria (A Representação da República Argen-

tina na) 265

Submarinos minas dos) — A. Del Balzo, Tenente


(As Co-

lonello A. N. — Trad. da Rivi-sta Marittima


por A. R. 41

"História
Tobias Monteiro do Império" de) — Dídio
(A
Costa. 277
imiiiiiniüiiuiiiuíioThiiiiniiuiiiiiiiiiMiEiiiiiiiiiiiiiaiiiintiMiiriiiiiiiMiiiiuiinniiiiiiEiiiiiiiii^niiiiiiniiiiciiiiuiiiiiiiaiiiiiiiiiiiic»;
g

LIVROS BONS E BARATOS


j

Quer comprar todos os seus livros

com desconto ? Associe-se a «PRO LUC»,

cooperativa dos amigos do bom livro.

Por 20$000 annuaes o socio receberá:

1-° — descontos em todas as compras;

2-° — varias novas obras no valor de 30?000;


global

3-° — assignatura "A


gratuita do jornal Voz de Santo
Antonio", com 8 cada vez.
paginas

Peça o
prospecto explicativo completo á
II
«PRO —
LUCE» Caixa 23
posto,

Petropolis —
Estado do Rio

gC^JiiiiiiiiiiiiuniiiiiiiiiitjiiiiiiiiiiiicjiiiiiiiMiiicjtiiiniiiiMaiiiMiiiiiHcaniiiiiinuEiMiiiriniiicjinimiiiiíniiiijinimcjimniiiiMciiiiiiMtiíu

i**"XXX**HiHITTlXXXXXIXIXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX'
*""x""*"hitxxxxxxiixxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx'

THE
THE BRAZILIAN COAL CO. LTD,
LTD, I

RIORIO DE JANEIRO
JANEIRO J
Repre.entante.
Repre.entante. do. Sr.. CORY BROTHERS & CO. LTD., de Cardiff • Londru
Londru *H
"
H
IMPORTADORES —
IMPORTADORES DE CARVAO DE PEDRA SERVIQO
SERVIÇO DE *

REBOCADORES,
REBOCADORES, EMBARCAgOES,
EMBARCAÇÕES, ETC.
ETC. n
M
H

Officinas
Officinas de machinas e de construc^ao
construcção naval, na Ilha
Ilha .
J
dosdos Ferreiros *

Carreira:
Carreira: ILHA DOS FERREIROS
FERREIROS S

Deposito: ILHA DOS


Deposito: FERREIROS
FERREIROS "

PRAÇA
PRAgA MAUA' —
N. 7 10° Andar — Sala 1003
1003 J
H
Escriptorios 23-4715
23-4715 .J
\
TELEPHONES:,' Deposito
Deposito 28-0376
28-0376 J
i Officinas 28-5464
28-5464 »
SEscriptorios
Ende"?0
Ende"Ç0 Po,hl!
Po,laI: CA1XA
CA,XA "CAMBRIA"
"CAMBRIA" J
n
9 774 Enderejo
Endereço telegrapliico:
^:niiniiMiiE:i[i!iiiiii]i[]iMiiiiiiii![]iiiiiiiMiii[]iiiiniiiiiiniiiiiiii!iii[]iiiiiiiiininmMiiiiiii[]iiiiiiiijiiiniiiii!iiii!i[]iiiiiiiiiiii[]iiiii|iiinit.

I veiTo-inu n ii 1

a 1

56 M. P H com uma carga superior ao

equipamento completo a Guerra.


| para

ser esta a maior ve-


(Acreditamos

locidade conseguida nas con-


jámais

dições acima).

construído por

John I. Thornycroft & C.° Ltd

Únicos representantes para o Brasil

wííp!
raw,

ilk DO BRASIL SOC EDADE ANONYMA o8a

RIO DE JANEIRO S. PAULO

llDIliilllllUlt*
'
. ;{
.XXXIXXXXXXXXXXXXXXXTTTTTTTXXXXXXXTTTXXXXXXXXXXXXXr

WALTER
WALTER & C.'A
C.'A
[

RUA
RUA S. PEDRO N.° 71

RIO
RIO DE
JANEIRO
N
M

COMMISSÕES,
COMMISSOES, CONSIGNACOES
CONSIGNAÇÕES E CONTA PROPRIA,
PRÓPRIA,

SEGUROS TERRESTRES E MARITIMOS,


MARÍTIMOS,
SEGUROS

aviaqao
AVIAÇÃO militar
MILITAR e
E civil.
CIVIL.

M
H
REPRESENTANTES
REPRESENT ANTES DE:
3

VICKERS-ARMSTRONGS ltd.
LTD.
vickers-armstrongs
Constructores
Constructors de navios de Guerra de todos os typos.
Artilharia
Artilharia — Muni?oes
Munições — etc.
Motores Diesel,

THE
THE DE HAVILLAND AIRCRAFT CO.. LTD.

Avia?ao
Aviação em geral.
H

THE FAIREY AVTA.TION


AVIATION
THE CO.. LTD.

Aviação
Avia?ao Militar.
H

COMMERCIAL UNION ASSURANCE


COMMERCIAL CO.. LTD.

Seguros terrestres e maritimos.


marítimos.
Seguros
M

MERRYWEATHER & SONS LTD.


MERRYWEATHER
Material extinc?ao
extincção de incendio.
incêndio.
Material para
H

LOBNITZ & CO.. LTD.


LOBNITZ
Dragas em geral.
jj Dragas

ÓLEOS LUBRIFICANTES de
DE ALTA CLASSE
jj OLEOS
"GRIFFON"
Marca
Marca
M

LIPTON
LIPTON LTD.
"
Cha,Chá, Conservas, etc.
M
N

LONDRES
LONDRES

JACOB
JACOB WALTER & CO., LTD.

N9 66 VICTORIA -
STREET WESTMINSTER. S. W. 3
N9
¦*****«I3.,l,**miTtXXXXXXXXXXXXXXXXXXTTTXXHXXXTXxf
CASA DODSWORTH

IIVS F-»O P-1" A D O Pa E_ £3


S. PAULO - RIO DE JANEIRO - BRASIL

SECÇÃO DE MACHINAS E MATERIAL FERROVIÁRIO


REPRESENTANTES DE:
Associação de Fabricas de Tornos "V. D. F. "
Gebr. Boehringer G. n.'. H., Goeppingen
Franz Braun A. G., Zerbst
Heidenreich & Harbeck, Hamburg
H. Wolhenberg K. G. Hannover
Tornos rápidos "Standard - V. D. F." — Tornos revolver e automa-
ticos — Machinas para frezar engrenagens — Plainas para engrena-
gens — Plainas de meza a um e dois montantes — Tornos frontaes —
Machinas de furar radial — Machinas especiaes
Maschinenfabrik Weingarten, Weingarten
Tesouras, Prensas e Puncçõçs
Wilhelm Hegenscheidt A. G., Ratibor
Tomos para rodeios de vagões e locomotivas
Friedrich Schmaltz G. m. b. H., Offenbach
Machinas para rectificar
Wanderer - Werke A - G, Chemnitz
Prezas de precisão de qualquer typo
Les Ateliers Métallurgiques S-A, Nivelles & Les Usines,
Forges et Fonderies de Haine, St. Pierre
Locomotivas, carros passageiros, vagões de carga — Material
Ferroviário em geral — Pontes e superestructuras metallicas
Machinas de solda ELECTRICA — Electrodos
SECÇÃO DE ELECTRICIDADE
Importadores de material para alta e baixa tensão — Material telepho-
nico — Chaves desligadoras — Fios e cabos para electricidade
—Escovas de carvão para dynamos e motores — Especia-
lidades elecftricas — Fabrcação

Rua Visconde de Inhaúma, 62


End. Teleg.: DOSRIO - Telephónes 23-3589 e 23-2757

RIO DE JT-HE-i-O

MATRIZ: Rua Bôa Vista, 144


— : S. PAULO : —
/TTTTTTTITTTXXXXXXXXXXXXXXXIlIIIIXXXrXXXXXXXXXXXXXXX
tttttttixttxxxxxxxxxxxxxxxtiiiiixxixxXXXXXXXXXXXXXT,

ESCRITORIO
ESCRITÓRIO TECNICO
TÉCNICO 3

RAJA
RAJA GABAGLIA
GABAGLIA I
3
J

Construção
Construqao Civil
Civil 3

CAPITAL
CAPITAL 1,000:000$000
1,000:000$000 3
X

Fundado
Fundado em 1921
X
«

Projeta,
Projeta, Administra, Fiscaliza, Em-
Em- 3

Obras hidraulicas,
hidráulicas, Con-
Con- 3
preita,
preita,

creto
creto armado, Instalacpoes
Instalações 3

industriais e eletricas,
elétricas, 3
industrials

Estradas
Estradas de Ferro
Ferro 2
*
e Rodagem
Rodagem 3
e

x
-Rede
Auenida
Avenida Graca
Graça Aranha, 62-2°—Fone 42-6080 interna. RIO DE JANEIRO
JANEIRO 3
I

pTTTTTX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTTX
Fttxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxtxxxixxtxxtxxxtxxx.

'tJlllllllllllinilHllllIMIHNIIIIHIIIiailllllllllIlHÍIIÍHilllliniIlUIIIMIICJIIlillIlilllUIMIIIIIIIIIHIIIIIIIIIIIinillllliniIlHIlUIIIIIIIIHIIlUIIIHlICk

I MAURICE SINGER

— AVENUE
21OO CRESTON

New York City

MAURICE SINGER, filho e successor de Joe Singer,

largamente conhecido entre os officiaes e todo o pessoal da


=i

Marinha de Guerra do Brasil, offerece aos clientes brasileiros


1

os seus serviços em Nova York encommendas


para quaesquer

ou compras nos Estados Unidos, assim como informações,

embarques, etc., mediante módica commissão.

21 OO CRESTON AVENUE

NOVA YORK
D
A MALA INGLESA
SECÇÃO FOTOGRÁFICA PARA AMADORES
Especialidade em malas
de amostras
^ãf.)\\\ Executa-se qualquer concerto
Malas sob encomenda
Malas para enxoval de alumno. da Escola Naval
TV^-V7\ _____^_*^^_^Y*-'*^__\\\§ \
VENDAS POR ATAGADO E A VAREJO
E. Vásquez & C.
^_Fr??íL_í^
^^_______i__>-^^ 43-Rua da Carioca - 43
__«C_ « CCiST __Da FONE 22-15G2 - RIO
Os concertos serão respeitados 30 dias.

_>-<_"__••_>"«¦¦«>¦•_.• c •c¦.^9•¦c•¦e-£>¦¦-••^•'•¦•e¦¦-|-•u¦•_,¦¦-,••-• ©¦• o-©-«¦¦¦-"O*

va IHliS li."
.

IMPORTADORES
Ferragens, tintas, louças e
utensílios de cosinha

RUA BUENOS AIRES, 76


Telefones: 23-4716 - 23-5730

(RIO DE JANEIRO
.â-é..ê-ç.i-.ç-õ-«-.á.i-.õ-ò»ç»ê-.ò-.ã-.ê-.».è-i~é-ó-ç-.i-.

_____
EXTRATOS DO REGULAMENTO DA BIBLIOTECA. AR-
"REVISTA MARÍTIMA",
QUIVO DA MARINHA E
APROVADO PELO DECRETO N. 17358, DE 2 DE
DEZEMBRO DE 1926.

CAPÍTULO X

DA "REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA"

Art. 38 — A Revista Marítima Brasileira é uma publicação


destinada a tratar de quaisquer assuntos concernentes à Marinha de
Guerra ou Mercante.
Art. 40 — Qualquer pessoa pertencente ou não às classes da
Armada poderá tratar na Revista Marítima de todos os assuntos
idativos à Marinha e seus diferentens ramos.
Art. 41 — Os artigos destinados a publicação pela Revista
Marítima só serão entregues à impressão depois de vistos e aprova-
dos pelo redator-chefe.
Art. 44 — Ao Secretário compete:
e) a revisão de todas as provas que não sejam para esse fim
requisitadas pelos autores.
Art. 47 — Para estimular o estudo dos assunto:; profissionais,
c Mininstro nomeará uma comissão especialmente incumbida de
escolher, dentre os trabalhos publicados na Revista Marítima du-
rante o ano, o que fôr a seu juizo de maior utilidade prática para a
Marinha.
Art. 48 — Ao autor do trabalho escolhido, a comissão conce-
dera como prêmio unia medalha de ouro com o respectivo diploma.
Art. 49 — A concessão desse prêmio deverá constar dos assen-
tamentos do oficial distinguido, e, se êle pertencer à classe ativa lhe
berá levada em conta para a sua promoção.
Art. 50 — A Rcvisla, em página especial, no primeiro número
do ano seguinte, inscreverá o nome do autor e o título do trabalho
premiado
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA i

Destinada aos interesses da Marinha Nacional de Guerra e Mercante

ASSINATURA ANUAL

Brasil Estrang.

Para oficiais 8$000 12$000


'
Exército e Armada.
Para 3ub-Oficiais 7$000

Para oficiais de Marinha Mercante e empregados civis do

Ministério da Marinha 9$000

Associações das Marinhas e Repartições 9$000 14$000

Associações estranhas à Marinha 14$000 14Ç000

Civis estranhos à Marinha 10$000 14$000

Número do mês 1$500

Número atrazado 2Ç000

PAGAMENTO ADIANTADO

As assinaturas desta Revista podem começar em qualquer época,

mas terminam sempre em e Dezembro


Junho

Toda a correspondência destinada a esta Revista deve ser


"Biblioteca
remetida com este enderêço: da Marinha —

Edifício do Ministério da Marinha — Rio de Janeiro".

A.os nossos assinantes rogamos o especial obséquio de renovarem

sempre em tempo oportuno as suas assinaturas, afim de

não haja interrupção na remessa da Revista.


que

Igualmente nos comuniquem qualquer mudança


pedimos que

de residência, afim de não haja extravio.


que

Das marinhas de comércio e de recreio, solicitamos o favor de nos

enviarem, sempre informações úteis


que puderem, quaisquer

ou notícias de interesse geral dignas publicação.


^
Admitindo a inserção de anúncios, dos que se
principalmente

relacionem com a vida marítima, constitue também esta Revista um

excelente repositório de informações de toda ordem, largamente

divulgada no Brasil e no Estrangeiro.

Os anúncios, da mesma forma as assinaturas, poderão co-


que
meçar em data, sendo os seguintes os seus preços:
qualquer

Tamanho Por ano Por semestre

Página inteira 180$000 100$000

Meia 100$000 60$000


página

As bem como as alterações de anúncios, serão pagas


gravuras,
em separado.

Os de assinaturas, de anúncios, de
pagamentos, quer quer
residam fora desta Capital, só ser feitos me-
pessoas que poderão

diante vales postais.


MARÇO -ABRIL DE 1940 Ns, 9 e 10

RFVISTA MARÍTIMA
^BRASILEIRA
^ „
/tf***-- %L .•»-¦ JÁ**2

I ^< "'V' í, _^f.


3"J*'~
pj^^fila^BàjafjSS*^|l'-
'
í^i
\
I
\\
A

MéJÈl- I V
Vi --L i-wjBj
"""sPÍ
\ - ; |p --,- ¦" "- I >

=D SUMARIO Cr
Mariano de Azevedo — Cap. de Fragaia Dídio I. A.
da Costa 855
Academia Brasileira de Ciências 86n
de Léry no Rio de Janeiro — S. de 879
Joáo
Incorreções a evitar — Evandro Santos e Renato Bayar- '
dino 899
A ignição nos motores a explosão — (Continuação) — Ca-
905
pitão-Tenente, (QM), A. Vianna Sá
A Marinha Alemã —- W. L- de Castro Guimarães 911
A importância do estudo das campanhas passadas —
(Continuação) — Cap. da Fragata Carlos Penna
Botto 925
A visita do Sr. Presidente da República ao Sul 947
Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais
do Brasil, Argentina e Chile — (Continuação) — Cap.
de Fragata Renato Bayardino 955
Rev/sta de Revistas — A.R 977
Aviões e Submarinos — C.F.X 1017
Respiga ¦.. .. 1041
Bibliografia — D. 1055
Noticiário 1063
Necrologia 1079

O MINISTÉRIOdaMARINHA -
IMP. NAVAL RIO DE JANEIRO
Relação das Revistas estrangeiras recebidas Biblioteca
pela

df Marinha

.
w

.
¦

'd
t:,• V, ito de

I OUADOR — Revi tia Municipal.

— — U. S. Naval
ESTADOS UNIDOS Electrical Commmicàtion

'

- — — La Maritime —
fpRANÇA Ulllustration La Nature Revite

La Science et ln Vie.

— Artillery — Ipws
INGLATERRA The Journal of the Royal

— Magazine —
Cavalcade thc fíriiish Neivs

:• aça^i». -- Varcign Affairs


Tinte ne ... v A

American Qnarterly Reinem.

— — Aeronáutica — L'África
12 ALIA Rbisfa Marittima Rivista

M - XIÇÕ — Revista dei Trabajo — El Soldado.

— Estadislica — Revista dei


PARA GUA í Direccion General de

Ejercilo y Armada.

'edade
— de de Lisboa — das
PÒR'1 CJGAL So Geografia- Anais

¦Anais •
do Clube Militar-Naval. ,

.
*1. 'Aeronáutica.
FZIJ ¦ \ - Rernsta dei F.iercitn, Marina y
IMPORTADORES

Ferragens, folhas de Flandres, cobre


e outros metais
RUA DA QUITANDA, 175
e TEÓFILO OTONI, 60

? /é4* ±. X ^0 Sc? OFICIAL DE


x \ <$r yy
CALDEIREIRO
Rua Visconde da Gávea n. 125
Telefone 23-0503-CAIXA POSTAL n. 15S6
RIO DE JANEIRO —

^TTTTIIIIItTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTinrTIIIIIIZIXZIIIXXa

11¦ DE ¦I1B
Telhas, manilhas, tijolos, areia,
cal, cimento, ferro, tubos
de cimento e barro refratário.

LINO & CIA. LTDA.


124, Rua Santo Cristo, 124
END. TELEGRÁFICO "LINOCIA"
43-1144
TELS: RIO DE JANEIRO
43-5792
KXTXXXTSTTIXIXXXIXXXXTXIXXTTTXXXXXXXIXTXXXXIIXIIIXK!
gXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTTTTTTXTTTT

AO REI dos MARES


Artigos sanitários
e canalizações submarinas
rxlí&^Ha^^

MA-JL a"^*^**^1
MEDEIROS SARTORE & E.
Successores de MEDEIROS & BORGES

RUA TEÓFILO OTONI, 162 «

TELEFONE: 24-1096 S
RIO DE JANEIRO
^ttixxxxxxxixxxttyttttxxxxxxxxxxxttxttxxxtxtxxxtttM

^^3iiiiiiTiriir£3];:iiii;;>itE3irriiriiii:ir:2itriii:ttitir3iT3TiiTii£:ir:j3iiiTtMTnii_r:3TiiiiE3"EiiE3ir 11 iitcn n! m m iticai 111111111 m=3113; 1111 ¦ 3 ixtrst miiiijiiiie-^-

¦
£;
y. He Hii «lia. Ma.
¦ . 1. - ¦.¦-¦¦ * .....-.¦--. X.
I
I

I
s
ADMINISTRAÇÃO DE BENS
Compra e venda de imóveis

Avenida Rio Branco, 91-6°-Salas 1,2,3,5,7,9,11 e 13 j


1
Agência—COPACABANA—Av. Atlântica, 554-B |
TELEFONES:

ESCRITÓRIO : 23 -1830 — AGÊNCIA: 27 - 7313 e 47 - 2001 z:

uiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiiinúiiiiiiiiiim
^ iiiniiiu icjioi iiinimiiiiiiiiuimiiMiMiumi

COMPANHIA AGA DO BRASIL, S, A.

A-

RUA ANTUNES MACIEL, —


31-33 Rio de Janeiro

fl&i saSaan 5
}{§>' fSHH
II ¦¦ .
CASA MATRIZ: STOCHOLM — SUÉCIA

FABRICANTES E FORNECEDORES

Marítimos e Aero-ma-
PH ARDFQ
I I irAI \WL_0 ritimos de todos os ty-

pos, a Acetilene e Electricos.

'uz ¦
RDIA^ qua'quer typ° com
Dv^lAAO |i 4
sino automatico e apito.
'
*J
Fp°í,d;
PRO JÊCTÕRESBffi
pM|aj
illuminação de campos de aterragem.

BtcSLMB a&SEMBSUBNB}?&SMlt8K/Bl!Smit9t£M!S&KBCSSBB!KnlBffs£i ifilfnSKlM


RADIO-PHAROES
vGASACCUMULAJOR/Sioétholm-Lídingo.SUÈDE
OXIGÊNIO E ACETILENE DISSOL- • *
¦ • .
;-V:>
VIDO, MATERIAL DE SOLDA
i. A4 4^ _

Agência Financial de Portugal

RUA TEÓFILO OTONI, 4

Telef. 23-3598 Caixa Postal 818

RIO DE JANEIRO

SAQUES SÔBRE PORTUGAL

pagáveis em todos os concelhos do Continente,

Madeira e Açores, pela

Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência

VA c o
ANO LIX MARÇO - ABRIL DE 1940 Ns. 9 e 10

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Publicação do Ministério da Marinha

Sède: Biblioteca da Marinha — Edifício do Ministério da Marinha — Rio de Janeiro

SUMÁRIO

Mariano de Azevedo — Cap. de Fragata Dídio I. A.

da Costa 855

Academia Brasileira de Ciências 865

de Léry no Rio de — S. de 879


João Janeiro

Incorreções a evitar — Evandro Santos e Renato Bayar-

dino 899

A ignição nos motores a explosão — — Ca-


(Continuação)

pitão-Tenente, (QM), A. Vianna Sá 905

A Marinha Alemã — W. L. de Castro Guimarães .... 911

A importância do estudo das campanhas —


passadas
— Cap. da Fragata Carlos Penna
(Continuação)
Botto 925

A visita do Sr. Presidente da República ao Sul 947

Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais

do Brasil, Argentina e Chile — — Cap.


(Continuação)
de Fragata Renato Bayardino 955

Revista de Revistas — A.R 977

Aviões e Submarinos — C.F.X 1017

Respiga 1041

Bibliografia — D. 1055

Noticiário 1063

Necrologia 1079

IMPRENSA NAVAL — RIO DE JANEIRO — BRASIL, 1940


REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

REDATOR-CHEFE

Capitão de Fragata .... — Dídio I. A. da Costa

REDATORES

Capitão de Fragata .... — Renato Bayardino

Capitão de Corveta .... — Adalberto Rechsteiner

Capitão Tenente ..... — Affonso Cavalcanti Livramento

Capitão Tenente — Sebastião Fernandes de Souza

Capitão Tenente — César Feliciano Xavier


Revista Marítima Brasileira

ANO LIX MARÇO-ABRIL DE 1940 Ns. 9-10

Mariano de Azevedo

CAPITÃO DE MAR E GUERRA, CONSELHEIRO DE ESTADO E MEMBRO EFETIVO

DO CONSELHO NAVAL

(1827- 1884)

Liberato Bittencourt — General, Engenheiro e Professor —

notável nêsse tríplice aspecto, acaba de um livro, repu-


publicar que

tamos magnífico, de redobrado e agradável efeito em nossa Marinha

de Guerra. Trata-se de uma segunda edição, mais extensa e do-

cumentada, trinta e dois anos após o sucesso da primeira (1908).

Mariano de Azevedo é o título do livro, Romance Psico-Biográ-

trabalhado por mão de mestre. O extinto e ilustre oficial de


fico,

marinha revive nas páginas do General Liberato Bittencourt com

todo o acento da verdade. Os traços e os conceitos estampados no

livro refluem de uma pesquisa completa, de uma compreensão clara

do espírito e cia conduta do egrégio tipo estudado e do o rodeou


que

e o moveu. O método do autor tem a amplitude necessária a con-

clusões seguras. O espírito do biógrafo e do tão


psicólogo, pene-

trante e nítido, reconstitue, nossa contemplação,


para proporcionado

e claro como existiu, o de um extinto e servidor da


perfil grande
856 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Pátria. Não é sem emoção que nos detemos, relemos e sentimos o

remate o autor do livro em cada um dos numerosos aspectos


que põe

que proficientemente estuda e vigorosamente divulga.

E' manifesto, lendo-se Liberato Bittencourt, êle se anima


que

e exalta, a análise conciente a lhe desvenda o


quando que procede

brilho da virtude. Festeja-o, proclama-o com ânimo e alegria. Isso

revela, naquele espírito experiente, emancipado e destro, rara har-

monia entre cultura profunda e elevadas qualidades morais.

E' também evidente o estudioso, entre as várias e


que grande

nobres missões da sua vida, compraz-se em rebuscar, verificar e

decantar valores, cuja cooperação a solidez da estrutura social,


para

para o progresso, para a felicidade comum e glória de todos, não

pode nem deve ser esquecida.

Mariano de Azevedo é um dêsses valores, estudados com origi-

nalidade e firmeza. Nêsse terreno, como nos demais, Liberato Bit-

tencourt se tem movido com sucesso. O seu livro concorre para


um dos fins na organização da Divisão do Estado
previstos Quarta
Maior da Armada Marítima do Brasil). Concorre auto-
(História
rizadamente e é acolhido com as honras merecidas.

"volume
Examinando o capítulo II do livro, informemos sôbre o

em síntese". O autor trata de singular teorema de lite-


psicologia
'"grande
rária: Mariano de Azevedo, na estatura como em o pen-
samento contemporâneo".

Na l.a parte ou encontramos a dedicatória, a sín-


prolegômcnos,

tese do volume e sucintas considerações sôbre biografia e psicologia,


"A
as quais se aproximam e completam. beletrística do porvir

precisa da união feliz de ambos, como a biologia de ar e água para


animais e Armas do fizeram aqui corpo único,
plantas... psicólogo,
engrandecendo o lidador repousa tranqüilo na imorta-
gigante que
lidade".

Na 2.a ou enunciado —- o homem


parte (retrato psicológico),
apreendemos o desenvolvimento, até ao trânsito, no lar, na escola,

na academia, na Marinha, na sociedade, e o foi o oficial, o


que

técnico e o cientista. Conhecemos ainda o retrato


psicológico prò-

priamente dito: corpo, cabeça e coração.

Nesta parte, aparece Mariano de Azevedo como uma das mais

singulares figuras da Marinha de Guerra, singular na estatura e na


"o
lucidez da inteligência, mais esclarecido e culto oficial de marinha
MARIANO DE AZEVEDO 857

do tempo, no julgar de Ramiz Galvão e Sílvio Romero". Singular


"homem
no carácter, com todas as e raras virtudes morais,
grandes

notável, na altura, na ciência, na bondade e na técnica". Desde


gigante

a escola primária, Mariano de Azevedo foi excepcional na atividade,


"virtudes
na inteligência e na vontade, magnas" realizam
que o
"Oficial
triunfo. vistoso e brilhante, fisionomia, estatura,
pela pela

pela palavra variada e atraente; técnico a inte-


perfeito quasi, graças
ligência como a dedicação sem à
privilegiada, par vida profissional

que elegera; cientista profundo, legitima enciclopédia viva..." E ao


"Simples
Trânsito, Liberato Bittencourt êste fecho:
põe Capitão de
Mar e Guerra, Conselheiro de Estado, Membro do Conselho Naval;

mas realmente majestade no saber hora a hora


profissional, demons-

trado de mil modos e maneiras".

Mariano de Azevedo era homem sadio, resistente. Tinha me-


"E'
mória prodigiosa. impossível conceber inteligência
quasi mais

precoce e mais lúcida a de Antônio Mariano de Azevedo".


que Era
"artista
um grande erudito, tinha imaginação, da falada
palavra e

da palavra escrita, também fazia versos, também tinha paixão pela


música, pela pintura, arquitetura, belo em suma".
pela pelo Era con-

sumado satírico. coração êle Tinha


Que grande possuia! a ambi-

ção natural dos homens superiores. Honesto,


patriota, modesto e

prudente, era dedicado, desinteressado e franco, incapaz de dissi-

mulação.

Na J.a parte ou demonstração, Liberato Bittencourt traça o pre-


lúdio: o homem social — o chefe família-modêlo,
de o palestrador
"sem
admirável, o filósofo original o avaliar talvez, vítima foi
que,

altiva de sua aprimorada filosofia". Em seguida, vem o exame da

— "obra
obra dita o consumado, cuja é
propriamente profissional

múltipla: profissional, científica, artística, técnica e


política, prática.
E em qualquer dessas várias desigualdades do viver, uma só das quais
suficiente é por fazer um homem êle se apresenta à crítica
grande,
científica com dimensões agigantadas, em condições de ser admirado

e querido dos que estudam a as necessidades e sociais


preceito políticas
do Brasil etn formação".

"como
Cientista, tinha Mariano de Azevedo, de
predestinado
Minerva, todos os conhecimentos humanos. Verdadeira enci-
quasi
"amava
clopédia viva". Artista, a a música, a arquitetura
poesia,

e a mas muito especialmente a tanto falada


pintura; palavra, quanto
escrita. Aí foi artista o tempo". Em semelhante
grande para plano
858 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

se encontram o técnico e o político. Liberato Bittencourt conclue esta

parte, examinando livros publicados e escritos diversos.

Na 4.a parte ou corolários, o autor faz a síntese es-


psicológica,

creve sobre o romance do = biografia etologia, e considera


porvir +

obras impressas e as ainda imprimir.


por

Todas as do livro são igual trabalhadas e interessan-


partes por

tíssimas, constituindo uma preciosa coordenação realiza brilhan-


que

temente o objectivo. Liberato Bittencourt tira do seu estudo, metó-

dico e documentado, conclusões seguras e decisivas. Afirma que


"para
Mariano de Azevedo, os que sabem ver e bem julgar, passa

à história da Marinha como a maior figura mental do tempo, como

o mais caráter de então, como o maior injustado, talvez, dos


puro

lidadores do Brasil-Império... Saldanha da Gama, gigante na


puros

força real, na grão valia profissional e técnica, Saldanha da Gama,

gigante na força real e no naval, o chamava mestre e amigo.


prestígio

E mestre dêsse original lidador do mar, o maior da República,

só ser um Almirante da estatura mental e ética de Mariano de


pode

Azevedo, o gigante da cadeira n. 9, na brilhante Sociedade


patrono

de Geografia e História Militar do Brasil".

Quanto a obras publicadas, o livro reproduz o Relatório sóbre


"trabalho
a Colônia de Itapura, notável de ciência e técnica", escrita

ha oitenta anos, Mariano de Azevedo era ainda moço, com


quando

30 anos de idade. Observa Liberato Bittencourt, quanto a êsse tra-


"
balho: Cincoenta anos depois era êle aproveitado por luminares

de nossa engenharia, quando se ligar Mato-Grosso, então iso-


quis

lado do resto do Brasil, à capital orgulhosa do país. O marinheiro

plantava seguro para a colheita farta de meio século depois. Era um

predestinado".

Da página 101 à 143 do livro, com alguns documentos anexos,

é reproduzida uma defesa de Mariano de Azevedo, resposta dada por

éle às agressões lhe foram feitas na Assembléia Provincial de


que

S. Paulo. São brilhantes e interessantíssimas, arrasa-


páginas pelo

mento completo sofre o representante e


que provincial provinciano,

pela forma e fluência com se apresenta e rico cabedal de


que pelo

informações e conceitos encerra. A todos aproveita a leitura


que

da bela peça escrita egrégio brasileiro, tão acessível agora,


pelo graças

ao General Liberato Bittencourt, a reproduziu no livro onde o


que

perfil de Mariano de Azevedo é revivido com fidelidade, felicidade

e esplendor.
MARIANO DE AZEVEDO 859

Diversos outros documentos ainda ler, finalmente, no


podemos

livro todos os títulos digno do mais caloroso acolhimento.


por

O leitor, ao chegar à última deste notável romance psico-


página

biográfico, terá verificado lhe descerraram uma cena de aspectos


que

atraentes, movendo-se nela um ilustre brasileiro, oficial de


grande

marinha, obreiro no devassamento e do interior do pais,


penetração

cuja marcha trabalhosa e triunfante se deteve no ponto determinado

Govêrno. Aí surgiu o estabelecimento de Itapura, no oeste dis-


pelo

tante de S. Paulo, erguido marinheiros, soldados e cativos que


por

êle conduziu resoluto e firme. E nas águas longínquas da região,

transportado em via Santos, e armado em Itapura, flutuou e


peças,

navegou o navio de guerra brasileiro Tamandataí.

A fundação do estabelecimento de Itapura é um dos serviços

ao país por Mariano de Azevedo, serviços em tão grande


prestados

número e tão seguidos o seu conjunto constitue um belo exem-


que

de dedicação e patriotismo.
pio

Em Mariano de Azevedo fulgurava uma rara inteligência. En-

contrava-se um caráter. Verificava-se cultura brilhante entre


geral

as mais brilhantes e sólidas do tempo. Era Era bom. Era


justo.

bravo. Era ilustre. Era eminente, na sua classe e na sociedade.

A sua harmoniosa conduta de homem deixou traços que


predaro

Liberato Bittencourt, como nenhum outro, relembra em seu livro.

Se os daquele homem não fizeram dêle uma con-


predicados glória

sumada a Marinha e o Brasil, desapareceu exata-


para para porque

mente ao aproximar-se do fastígio, fizeram dêle, contudo, uma glória

todos nós.
para

Cremos a idéia damos aqui do livro do ilustre compa-


que que

triota General Liberato Bittencourt é bastante os nossos leitores.


para

Todavia, devem êstes, especialmente os oficiais de marinha, ler aque-

Ias tão bem distribuídas e edificantes, então acom-


páginas podendo

e reter, a rigor, a fulgurante de Mariano de Azevedo


panhar passagem

Marinha de Guerra, êle tanto enobreceu, e sociedade


pela que pela

brasileira, êle tanto dignificou.


que

* *

O então Primeiro Tenente da Armada Antônio Mariano de

Azevedo, a 13 de de 1854, contraiu matrimônio com D. Rosa-


Junho

linda Amélia do Vai.


860 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O casal teve dez filhos: D. Júlia de Azevedo Picanço, esposa

do Engenheiro Civil Dr. Francisco Picanço; Antônio Mariano de

Azevedo Oficial de Marinha; Mariano de Azevedo Aimbire,


Júnior,

Engenheiro e Oficial de Marinha; D. Rosalinda Gabriela de Aze-

vedo Moss, esposa do Major Médico do Exército, Dr. Benjamim

Moss; Mariano de Azevedo Itapura, Segundo Tenente da Armada

(1887); D. Joana Flávia de Azevedo Moss, esposa do negociante

e capitalista Gabriel Moss; Júlio Mariano de Azevedo, Aspirante de

Marinha, depois Primeiro Escriturário da Alfândega do Rio e um

dos bravos do combate da Armação, onde foi ferido (9-2-1894);


Raul Mariano de Azevedo, Agricultor; Armando, falecido aos seis

meses; e Aquiles Mariano de Azevedo, General do Exército Brasi-

leiro, o único vivo, além de D. Rosalinda Gabriela de Azevedo Moss.

Tivemos a feliz oportunidade de travar relações com


pessoais

o nobre General Aquiles, êle nos deu a honra de sua visita


quando

na séde da Divisão do Estado Maior da Armada, em busca


Quarta

de documentos relativos ao seu Podemos então conhecer


grande pai.

quanto na alma do distinto soldado existe de amor e veneração filial

e quão delicadas são as suas atitudes e expressões, transfundidas do

robusto e venerando tronco de êle


que provém.

* *

Completamos o presente registo e apreciação, a largos traços, do

belo livro do General Liberato Bittencourt, oferecendo à estampa as

fichas que a EM-4 (Quarta Divisão do Estado Maior da Armada)

possue, relativamente ao Conselheiro Mariano de Azevedo e aos seus

filhos serviram à Marinha.


que

ANTÔNIO MARIANO DE AZEVEDO

Filho legítimo de Antônio Mariano de Azevedo e D. Júlia Augusto

Palheiros de Azevedo, nasceu em Pernambuco, 1827.

Aspirante a Guerda-Marinha, 5-2-1840. — Embarcou na fragata

Paraguassú, em viagem de instrução concluída a 19-1-1842. — Guarda-


Marinha, 24-11-1842. — Embarcou nas corvetas 2 dc Julho e Bertioga,

1842-1844. — Segundo Tenente, 25-11-1844. — Primeiro Tenente,

3-3-1852. — Capitão-Tenente, 2-12-1862. — Capitão de Fragata,

27-12-1875. — Capitão de Mar e Guerra, 3-3-1883.


MARIANO DE AZEVEDO 861

De 1844 a 1847, embarcou na fragata Constituição, brigue-escuna

Olinda, corveta Sete de Abril, brigue Caliopc, brigues escunas Ando-

rinha e Lcopoldina. — Regressou ao Rio de de no


Janeiro, passagem
Pirapanã, 3-11-1847. — Embarcou no Maranhão, da
patacho patacho
Estação Naval do Norte, de que desembarcou por doente, baixando ao

Hospital, 19-3-1848.

Embarcou na charrua Carioca, no vapor Urânia e no patacho Teresa,

em que seguiu para a Província do Rio Grande do Sul, onde chegou,

25-11-1849. — Regressou à Corte, de no vapor Todos os San-


passagem
tos, 29-7-1850. — Embarcou no Desterro, 12-11-1850. — Con-
patacho
duziu a barca Bermuda, de Santos ao Rio de 1851. — Em-
Janeiro,
barcou no brigue Cearense, 1851; charrua Carioca, vapor Recife, como

comandante interino, 1852. A 7 de Dezembro do mesmo ano, foi

nomeado comandante do vapor Tetis.

Por Aviso de 3 de Março de 1853, foi submetido a Conselho de

Investigação, e por outro Aviso, de 7 do mesmo mês e ano, exonerado

do comando, recolhendo-s prêso ao seu Quartel para responder a Con-


"
selho de Guerra, sobre o fa'.o ocorrido no dia 2 dêste mesmo mês

com o piloto de uma escuna chilena, denominada Clara Bórgia, com a

qual abalroou, e haver prendido a ferros o piloto da mesma escuna".

Por sentença do Conselho de Guerra, foi absolvido, 15-4-1853, mas, por


Sentença do Conselho Supremo Militar de Justiça, 27-4-1853, foi refor-

mada a sentença de 1." instância e condenado a um ano de suspensão

de qualquer comando.

Nomeado para servir no Corpo de Imperiais Marinheiros, 18-5-1853.


— Embarcou na corveta Baiana, 29-12-1853, regressando àquele Corpo

a 8-2-1854. — Comandante da canhoneira 17-10-1854. —


Campista,

Passou a comandar o vapor D. Pedro, 10-11-1854, desembarcando a

1-9-1857, por ter de seguir em comissão reservada, isto é, a de explorar

o rio Tietê, na Província de S. Paulo. Regressou dessa comissão a

18-2-1858, por cujo desempenho ficara o Govêrno Imperial muito satis-

feito, como fez público o Aviso ministerial de 12 de Abril do mesmo ano.

Nomeado Cavaleiro da Ordem da Rosa Decreto de 26-4-1858.


por
Foi-lhe concedido o Hábito de S. Bento de Aviz, conforme comunicação

do Diretor Geral da Secretaria de Marinha de 31-7-1860.

Nomeado Diretor do Estabelecimento Naval de Itapura e, por De-

creto de 6-6-1858, nomeado Diretor da Colônia Militar do mesmo nome.

Exonerado, 13-3-1861, regressou ao Rio de a 18 de Setembro


Janeiro
do mesmo ano.

Teve assento na Assembléia Legislativa de S. Paulo. Voltou à

direção do Estabelecimento Naval e da Colônia Militar de Itapura, to-

mando posse do cargo a 7-4-1863.

A 27-8-1866, comunicou a Secretaria que, nessa data, expedira Aviso

a Mariano de Azevedo, para que êste, se lhe fosse possível remediar os

inconvenientes que pudessem resultar da sua retirada do Estabelecimento

Naval de Itapura, viesse à Côrte, onde se faziam necessários os seus


862 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

serviços, deixando encarregado da direção do mesmo Estabelecimento

o respectivo Vice-Diretor. Apresentou-se no Quartel General a 2 de

Março de 1867.

Foi-lhe permitido aceitar o cargo de Diretor da Colônia Militar do

Avanhandava, por Aviso de 10-10-1867. Encarregado pelo Governo Im-

perial de uma comissão na Europa e nos Estados Unidos (comunicação

da Secretaria de 16-10-1867).

Nomeado Bibliotecário da Marinha, 26-2-1872. Nomeado Coman-

dante da Flotilha do Amazonas, 7-3-1876. — Intendente da Marinha,

1881. — Comandante da corveta Amazonas, 1883.

Faleceu a 20-12-1884, na cidade do Rio de Janeiro.

Nota — Do segundo livro-mestre de oficiais, do Arquivo da Ma-


"Antonio
rinha, consta, a fls. 284: Mariano de Azevedo, filho legí-

timo de Antônio Mariado d'Azevedo e de D. Augusta Palhei-


Júlia

ros d'Azevedo. Idade ao assentar 12 anos e 8 meses. 5 de


praça,

Fevereiro de 1840. Naturalidade: Pernambuco".

O General Liberato Bittencourt, em seu livro, porém, informa

Antônio Mariano de Azevedo nasceu a 30 de de 1827,


que Junho

na cidade do Rio de à rua da Constituição n.° 42.


Janeiro,

ANTÔNIO MARIANO DE AZEVEDO JÚNIOR

Filho legítimo do Capitão-Tcnente Antônio Mariano de Azevedo e

de D. Rosalinda Amélia do Vai Azevedo, nasceu na cidade do Rio de

Janeiro, 22-6-1857.

Aspirante a Guarda-Marinha, 10-3-1875. — Fez viagem de instru-

na corveta Niterói, 1876-1877. — Guarda-Marinha, 26-11-1877. —


ção
Embarcou no couraçado Sete de Setembro e corveta Trajano, em que
saiu em viagem de instrução ao norte do país, S. Miguel, Tenerife,

Santa Catarina e Montevidéu, regressando, 11-12-1877. — Aprovado nas

matérias do 4.° ano da Escola de Marinha, 23-12-1878. — Embarcou


nas corvetas Baiana, Vital de Oliveira e Guanabara, 1879. — Segundo
Tenente, 8-1-1880. — Primeiro Tenente, 22-4-1887. — Capitão-

Tenente, 9-8-1894.

De 1880 a 1881, embarcou nos vapores Amazonas e Magé, surto na

Éaía (Segundo Distrito Naval), canhoneiras Parnaíba e Traripe, cou-


raçado Sete de Setembro, monitor Solimões, corvetas Baiana, Guana-

bara e Niterói.

De 1881 a 1882, embarcou nas canhoneiras Ipiranga e Príncipe do


Grão Pará, em Pernambuco, navio em que veio ao Rio e logo partiu

para o norte, tocando em grande número de portos. Naufragou às


MARIANO DE AZEVEDO 863

21h.l0m. de 29 de Agosto nos baixos do de leste da foz do rio


pontal
das Preguiças, na Província do Maranhão, a bordo da canhoneira Prin-
cipe do Grão Pará.

De 1882 a 1883, serviu na flotilha do Amazonas, embarcando na


canhoneira Felipe Cantarão. Destacou Moura, comandando a lan-
para
cha n-, 1, por duas vezes. Destacou Rio Branco, comandando a
para
lancha n. 7. Atacado de beri-beri, regressou ao Rio de sendo
Janeiro,
internado no Hospital de Marinha.

De 1883 a 1887, embarcou na canhoneira Afonso Celso, brigue-


escuna Tonelero, em viagem de instrução a aprendizes-marinheiros nas
águas do Sul. Serviu no Corpo de Imperiais Marinheiros. Nomeado

para servir na flotilha de Mato-Grosso, onde embarcou na canhoneira


Tacuarí, couraçado Maris e Barros e canhoneira Fernandes Vieira.

De 1887 a 1889, regressando ao Rio de embarcou no vapor


Janeiro,
Purús. Seguiu para o flotilha do Amazonas, onde embarcou na canho-
neira Manaus, como Imediato. Comandando a lancha n. 4, saiu em co-
missão ao Rio Branco; comandando a lancha n-, 7, foi em comissão
a Iquitos. Comandou interinamente a canhoneira Manaus. Seguiu viq-

gem até à ilha de Marapatá* na bôea do Rio Negro, aí aguardar


para
e prestar as honras devidas ao Sr. Conde d'Eu, em viagem no paquete
Alayoas, comboiando-o, de regresso, a Manaus, 3-7-1889.

De 1889 a 1891, de regresso ao Rio de embarcou no coura-


Janeiro,
çado Javari, serviu no Batalhão Naval e na canhoneira Braconot. De
novo, foi servir na flotilha do Amazonas, embarcando na canhoneira
Traripe.

Por Decreto de 18 de de 1891,


Julho foi agraciado pelo Governo
Provisório com o Hábito de Aviz. O Aviso n. 3228, de 30 de Setem-
bro de 1891,\ mandou lançar em seus assentamentos o elogio que lhe
fez o Presidente do Amazonas, Dr. Joaquim Cardoso Pereira, pelo
bom desempenho dado à comissão de foi encarregado
que em Iquitos,
em 1888, agradecendo também cooperação
a dos seus comandados.

Regressando ao Rio de 28-1-1892, foi nomeado


Janeiro, para em-
barcar na canhoneira Cabedelo, volvendo à flotilha do Amazonas, onde
fez várias viagens Esteve em comissão Tabatinga
(1894). em e rio
Javari. Interinamente, Comandante da Flotilha Capitão
e dos Portos
do Amazonas (1895). — Comandante do Aviso Juruenia.

Regressou ao Rio de nêsse mesmo ano. Embarcou no


Janeiro cru-
zador Andrada. Nomeado comandar a canhoneira Carioca,
para em
Mato-Grosso, assumiu o cargo, 14-3-1897. — Regressou ao Rio de Ja-
neiro em Dezembro do mesmo ano. Embarcou no cruzador Tamandaré,
8-1-1898, cruzadores Andrada e Tonelero. Em 1899, embarcou no cou-
raçado Riachuelo e vapor Purús.

Nomeado para comandar a canhoneira Carioca, da flotilha de Mato-


Grosso, apresentou-se a bordo e assumiu o cargo, 12-10-1900.
864 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Achando-se revolucionado o Estado de Mato-Grosso, seguiu êste

oficial em viagem, 6-9-1901, em comissão determinada pelo Govêrno Fe-

deral, a fim de impedir que todo e qualquer recurso fosse fornecido aos

revoltosos contra o Govêrno do Estado, tendo para êsse fim cruzado a

canhoneira Carioca entre o forte paraguaio Olimpo e a foz do rio Apa.

Recolheu ao Rio de Janeiro, onde se apresentou, 15-2-1902.

Faleceu a 21 de Maio de 1904, em sua residência, no Rio de Janeiro.

M ARI ANO DE AZEVEDO AIMBIRE

Filho de Antônio Mariano de Azevedo e de D. Rosaünda Amélia

do Vai, nasceu em 18S8.

Aspirante a Guarda - Marinha, 5-12-1876. — Guarda - Marinha,

29-11-1879. — Segundo Tenente, 20-12-1881.

Embarcou no couraçado Lima Barros, 1879; corveta Vital dc Oli-


•veira, 1881 a 1883; cruzador Almirante Barroso, 1884.

Faleceu a 6 de Agosto de 1884, na cidade do Rio de Janeiro.

MARIANO DE AZEVEDO ITAPURA

Filho de Antônio Mariano de Azevedo e de D. Rosalinda Amélia

do Vai.

Aspirante a Guarda - Marinha, 1-3-1883. — Guarda - Marinha,

27-11-1885. — Segundo Tenente, 16-12-1887.

Embarcou no cruzador Almirante Barroso, de 1885 a 1887, e pata-

cho A prendia-Marinheiro, de 1888 a 1889.

Faleceu, 1889.

Reunindo e divulgando os dados coligidos na EM-4, à vista dos

livros existentes no Arquivo da Marinha, sôbre o eminente Conse-

lheiro, Capitão de Mar e Guerra Antônio Mariano de Azevedo e

seus dignos descendentes, também Oficiais de Marinha, encerramos

a nossa ligeira apreciação à bela obra do ilustre brasileiro General

Liberato Bittencourt, a temos a satisfação de felicitar e agra-


quem

decer a oferta que nos fez de um exemplar.

Dídio Costa
flCHDEim BRASILEIRA E CIÊNCIAS

A 26 de Dezembro último, às vinte e uma horas, no salão nobre

da Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, reuniu-

se a Academia Brasileira de Ciências, sob a do acadêmico


presidência
Ignacio M. Azevedo do Amaral, secretariado acadêmicos Fran-
pelos

cisco Radler de Aquino, secretário e Maurício da


geral, Joppert

Silva, secretário.
primeiro

Além do e secretários, tomaram na mesa o


presidente parte
Tenente Coronel Luiz Procópio de Souza Pinto, representante do

Exmo. Sr. Ministro da Guerra, e o acadêmico Mário de Andrade

Ramos, instituidor do Prêmio Einstein.

Estiveram presentes, além dos membros da mesa, os acadêmi-

cos Othon H. Leonardos, Adalberto Menezes de Oliveira, Luiz Clau-

dio de Castilho, Álvaro Alberto da Motta e Silva, Frazão Mi-


José

lanez, Francisco Mendes de Oliveira Castro, Bernhard Gross, Gus-

tavo Mendes de Oliveira Castro, Cândido Mello Leitão, Arthur

Moses e A. Cardoso Fontes.

Assistiram à sessão numerosos representantes das nossas classes

intelectuais.

Passando-se à ordem do dia o presidente declara empossado

como membro titular da Academia, na Secção de Ciências Matemá-

ticas, o Tasso Fragoso, e dá a palavra ao acadêmico


general José

Frazão Milanez saudar o novo acadêmico, em nome da Aca-


para

demia.

PALAVRAS DO SR. FRAZÃO MILANEZ

Sr. General Tasso Fragoso.

E' hábito nos cenáculos como êste, onde se trabalha, e estimula

os de novos conhecimentos, trazer a seu seio, não só


pesquizadores

o sangue novo melhor vivifica a célula do organismo, como


que
866 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

também expoentes de uma cujo fulgor marcou


geração passada,

época, e tal foi sua magnitude, a projeção para além do círculo


que

comum ainda detém contemplam em respeito.


pósteros que

Permiti, Senhor, vos diga, não por minha única valia, mas por

e mando de confrades que vos trouxeram aqui, como a


julgamento

outros fizeram, prestarmos nossas homenagens, sempre


para que

o foram, em todas as épocas, na mesa redonda dos comensais ou sob

a abóboda dos templos onde a Ciência ou as artes pontificam.

Tenho como certo, Senhor, que para a busca de conhecimentos

novos, no terreno experimental ou de deduções teóricas, a observa-

ção para o estabelecimento de leis e, conseqüente ingresso no campo

da Ciência, melhor servido será aquele que trouxer em si um cabedal

de cultura geral lhe permitindo a visão larga num horizonte claro,

e a maleabilidade de espírito capaz de, na discussão da dúvida filo-

sófica, o senso de equilíbrio trazer em medida justa, o rigor absoluto

na aplicação daquelas regras, tão bem codificadas


já pelo grande

Aristóteles e, mais tarde, refundidas por Bacon e Port-Royal, Kant,

Bain e Mill. Pois bem, Senhor, sei outros tiveram a ven-


por que

tura de privar convosco; e, mesmo, por mim, desde cedo arendi


que

a admirar-vos como figura de excepção, lá entre os vossos da pro-

fissão, e cá no círculo das nossas atividades silenciosas, onde o

rebate da nova, leva a vibração não mui longe, o todo dos


porque

que à Ciência se dedicam, não se estende por tão grande superfície;

sei, dizia eu, que tal é a vossa formação.

Pertenceis a uma se fundiu em moldes outros, falho


geração que

do ritmo e vertigem da época, a tempo não sobra à novas


para qual

luzes a meditação esclarece, pedindo ao bom técnico não seja


que

mau filósofo, a boa filosofia não é obra feita, mas a fazer-


pois que

se sempre, não conhecimento feito, organizado, mas obra que a todo

instante se renova, atividade em evolução para nunca


permanente,

esquecer o disse Mach sobre a verdade e o êrro: têm as mesmas


que

fontes e funcionam segundo as mesmas regras; unicamente


psíquicas

o sucesso permite separar, e, um êrro claramente reconhecido é, a

título de corretivo, tão a Ciência como uma verdade.


precioso para

E não foi assim vos formaste? Eu assim o creio e assim


que

o tenho, porque desde a mocidade seguiste de outros


pégadas que

sublimaram num ideal sempre alentado ações marcantes.


por

Entrastes na vida no tempo em se acenava às novas


pública que

maneiras de ser e fazer desconhecidas, então, e


gerações pretensas
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 807

proclamadas para um regimen que a alvorada dos clarins em volta

a nova bandeira, trazida a campo esbeltos alféreses, sacudia em


por

vibração entusiasta a mocidade álacre hoje, cincoenta anos


que pas-

sados, são bastantes considerar de verdade existe na


para quão

sentença do velho Taine, ao firmar o dos caràteres, inatos


princípio

011 adquiridos, se comunicarem à uma obra qualquer.

Outro rumo, então, poderia ter vossa vida, o ingresso à Consti-

tuinte de 90, a adaptação fácil ao ambiente traria, conse-


político,

quentemente, à novas legislaturas, como ou comum, alternado com


par

o Governo da terra que vos deu o berço, e também é a minha;


que
e, certo estou, não lhe recusaria acolhida, ao contrário, com efusão

de aplausos, saudaria o dileto filho de credenciais outras, outros


que
não trouxeram e se fixaram, sem embargos. Recusastes, e a ele-

gància moral dessa atitude, foi um marco e se outros não seguiram,

reconheceram, entretanto, num tributo de respeito, o moço dera


que
exemplo de virtudes sinceramente republicanas. Preferistes conti-

nuar os estudos, até serviços de sangue levaram o Governo,


que por
bem, enviar-vos ao Velho Continente, donde maiores conhecimentos

trouxestes de retorno, manejando com surpreendente facilidade o

belo idioma de Goethe.

Oficial brilhante e de elite, com basilar comum,


preparação pouco
orientada mestres da velho escola de Benjamin Constant,
pelos

tinheis o nome e as maneiras em comento nas rodas leigas e profis-


sionais, o não vos envaideceu em desproveito, ao contrário,
que

tomastes caminho até então em abandono. O Serviço da Carta

Geral da República surgindo sob a direção do saudoso General

Abreu Lima, lá ingressastes, em segundo, com a autoridade em As-

tronomia e alta Geodésia, estudos e no Observatório do


que, prática

antigo Morro do Castelo, não se duvidar; antes, em


podia proclamar,
discípulos se chagavam e aprendiam no campo e em barracas impro-

vizadas, onde a aurora, muita vez, os ia encontrar ainda em penosos


trabalhos de cálculo.

Foi por essa época a correspondência trocada com Helmert,


que

então Diretor do Real Instituto Geodésico em Berlim, vos levou à

leitura de Wittran e ZingiíR, êste, Diretor do Observatório de

Pulkowa. O nosso meio científico, então, veio a conhecer um novo

método a determinação do estado absoluto, num dado instante


para

local, e conseqüente diferença de longitude; como também trabalhos

posteriores vieram à luz, dando a conhecer a modificação introduzida


868 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

no método de Talcott-Horrebow por Sterneck, e o método de

SteckErt, ambos para o cálculo da latitude geográfica. Proposita-

damente sempre me refiro a estes trabalhos, foram absoluta-


porque

mente originais, fizeram sucesso em seu aparecimento e revolucio-

naram os até então empregados pelos e


processos geógrafos geode-

sistas. Assim pensaram e escreveram as maiores autoridades, então,

do assunto no Brasil: Manoel Pereira Reis e Henrique Morize.

Claro não foi só por aí que agiu vossa atividade intelectual;

outros trabalhos foram e alguns os sei inéditos e não


publicados pou-

cos por terminar. Não é êste, entretanto, o momento oportuno para

enumerá-los. E nem de outro modo pudera ser a um espírito poli-

mórfico em cujas faces se vê ao lado do homem de ciência, o oficial

de Estado Maior, ímpar em seu tempo, como o diplomata Rio


que

Branco o tinha da melhor conta, e, tal e comissões no


por qual,

estrangeiro foram cobertas com honra e brilho. E disto tenho pre-

sente na frase velada e feliz de Sua Magestade a Rainha Eeizabeth,

Consorte Augusta de Alberto I, Rei dos Belgas, num calembonrg à


"Le
gente do seu séquito: doré est adoré".
général

Podeis, orgulhar-vos do vosso e a consagração dos


pois, passado,

irmãos d'armas em reunião, no Club Militar, foi um coroamento.

O Generalato, que veio como ação decorrente dessa esteira luminosa,

não vos trouxe maior efeito de cargos ou funções;


prestígio, por

èle já era bastante e acumulado de longe.

Senhores, a homenagem que hoje prestamos ao novo confrade

honra-nos sobremodo; somos irmandade de um templo sagra o


que

jovem sábio alviçareiro, a procura de leis naturais; aos expoentes

da geração coetânea, cujo pêso da maturidade traz em medida, por

severos julgamentos, como defeza em barragem, às luzes me-


poucas
recidas ou, mesmo, inconvenientes, conservando, dêste modo, a tra-

dição recebida; como também deve sagrar a relíquias de outras gera-

ções, não menos brilhantes, deram de sua inteligência e opero-


que

sidade uma soma, se não espanta, exige o respeito e admiração,


que,

como exemplo aos vindos.

Senhores, Tasso é de água,


pedra preciosa primeira guardêmo-la
com carinho, e eu tenho a honra subida de conduzí-lo aos nossos

bancos.

Senhor, sêde benvindo à nossa casa, de hoje em diante,


que

também é vossa — sois nosso irmão."


ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 869

O Sr. Tasso Fragoso, usando da agradece à Academia


palavra,

a sua eleição e ao Sr. Frazão Milanez as com o


palavras que

saudou, afirmando o seu desvanecimento escolha com foi


pela que
distinguido e declarando na em se
que, grande pirâmide que podem
admitir distribuídas as mentalidades humanas, — em cujo
pirâmide
vértice figuram os cream ou inventam e na base os
gênios que que
simplesmente recebem a icência usá-la, transmiti-la e vulgarizá-
para

la, — o orador é um simples areia fundações.


grão de das

A seguir o presidente Ignacio do Amaral anuncia vai ser


que
entregue o diploma do Prêmio Einstein de 1939 ao acadêmico Álvaro

Alberto da Motta e Silva e dirigindo-se ao premiado pronuncia


as seguintes palavras:

PALAVRAS DO PRESIDENTE AZEVEDO DO AMARAL

Sr. Álvaro Alblrto.

E' com profunda emoção, a cerimônia da entrega


que presido
do diploma pelo a Academia Brasileira de Ciências confere o
qual
Prêmio Einstein de 1939, instituído acadêmico Mario An-
pelo de

drade Ramos, à notável monografia de vossa autoria, intitulada

Sobre um problema de aplicada. Não consignarei


físico-química

comentários meus em louvor do valor do vosso trabalho.

O seu julgamento está feito, de modo definitivo e cabal, nos

conceitos externados em seu brilhante nosso sábio


parecer pelo con-

frade Mario Saraiva, declara não lhe


que

"...
haver chegado ao conhecimento existência de

outra obra moderna no lhe seja comparável",


que, gênero,

e que não lhe

"...
consta existência de nenhuma obra moderna, es-

pecialmente consagrada às se em
pólvoras, que possa por

paralelo com esta apresentada à Academia de Ciências",

a qual,

"...
conferindo-lhe o almejado, nada mais fará
prêmio

do reconhecer publicamente o elevado valor de uma


que

produção científica e técnica honra o Brasil,


que quem quer

que seja o seu autor".


870 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Impossível seria mais honroso e autorizado cujo


julgamento,

valor mais se destaca seu pronunciamento no desconhecimento


pelo

do autor da obra julgada e assim elogiada. Com muito acerto afir-

mou Mario Saraiva, referindo-se ao vosso trabalho:

"A
obra que apresenta à Academia Brasileira de Ciên-

cias é produto, certamente, de muito tempo dedicado ao

assunto, amadurecida por longas reflexões e iluminada


por

contínuo e íntimo trato da especialização sôbre versa.


que

Não se pode conceber que tenha resultado de üm impro-

vizo. Devia achar-se virtualmente pronta, inteiramente

elaborada no cérebro do seu autor êle resolveu redi-


quando

gí-la para concorrer ao prêmio Einstf.in ."

Teve sobeja razão Mario Saraiva. As grandes obras e as

idéias são sempre o resultado de longa elaboração, consciente


grandes

ou inconsciente; nelas sempre, sintetizar a vida intelectual


pode-se,

de seus autores, cuja neles desabrocha como numa fio-


personalidade

ração magnífica da de um espírito de escol, após lenta e


pujança

progressiva germinação de fecunda semente.

Em apoio deste conceito invocar um depoimento valioso,


posso

tive ocasião de citar nesta Academia, quando me tocou a honra


que já

de receber Levi-CiviTA.

Referi, então, circunstâncias felizes me proporcio-


que, quando

naram, em 1925, a oportunidade de alguns dias de convivência com

o Einstein, a benevolência me dispensou o ilustre sábio


grande que

animou-me a manifestar-lhe a minha curiosidade pelo conhecimento

da e da evolução de suas idéias a respeito da relatividade.


gênese

Expoz-me Einstein fôra, ainda aos dezeseis anos de idade,


que

a meditação sôbre os movimentos brownianos que o levara ao cami-

nho deveria conduzí-lo à imortalidade pela construção da teoria


que

da relatividade.

Assim foi convosco, Sr. Álvaro Alberto, como muito bem o

entreviu Mario Saraiva.

A vossa obra, acaba de receber a máxima consagração da


que

Academia Brasileira de Ciências, é a floração magnífica de árvore

frondosa, cujas reizes vêm dos dias de vossa adolescência.

Contáveis mais de vinte anos, em Agosto de 1909,


pouco quando,

eminente vulto do nosso passado, Manoel Ignacio Belfort Vieira,


ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 871

almirante dos mais ilustres na no e nas fileiras


que política, governo

de nossa Marinha de Guerra, sempre elevou tão alto as tradições de

nossa terra, propondo ao da República o vosso elogio


governo pela

proficiência, método e clareza com havíeis realizado uma con-


que

ferência sobre de
pólvoras guerra, pondo

"...
em destaque o grande valor da cultura intelectual

e da disciplina científica do espírito do autor da confe-

rência...",

afirmou ter se impressionado

"como
si se tratasse de obra didática de velho e expe-

rimentado
professor".

O espírito penetrante de Belfort Vieira ha trinta anos


pôde,

passados, como entrever a realidade do enxergando no


que presente,

jovem de vinte anos o mestre consagrado, o sábio ilustre cujos tra-

balhos figuram entre os dos maiores cientistas do mundo, como

deparo na bibliografia do notável Traité des explosifs et


poudres,
artífices de Pepin Lehalleur, em 1935, sob o
publicado patrocínio
da Union des Industries Chimiques de France e da Societé de Chi-

mie Industrielle".

Mas, Sr. Ai varo Alberto, não careço de testemunhos extra-

nhos para documentar fatos de vossa formação espiritual.

Como afirmei, ha mais de quatro anos passados, nesta Acade-

mia, quando, em seu nome, vos saudava na hora de vossa ascenção à

cadeira que hoje tenho a honra de ocupar, muito antes que vos

encontrasse Belfort Vieira eu já vos acompanhava bem de perto.

"Assisti,
em verdade, ao desabrochar do vosso espírito,

quando os entusiasmos do adolescente estimulavam os pri-

ineiros surtos da vossa inteligência nas ousadias do pensa-

mento, a par das expansões de um sentimento forte, alimen-

tando os sonhos de atividade num de realizações


porvir

grandiosas e fecundas".

Êis bem compreender a vossa obra, ora


porque posso que galar-

doada Academia, é uma síntese de vossa vida espiritual, intele-


pela

ctual e afetiva.
872 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Aquele que bem puder lê-la encontrará em suas páginas um


momento em que se fixam todos os episódios culminantes de vossa
vida.
Ali se associam todas as vossas recordações. E' a realização,
na idade madura, de um grato sonho de adolescência. E' o fiel
cumprimento de um voto filial, da inteira consagração de uma vida
à carreira científica que um progenitor querido ilustrara, com raro
brilho, para maior glória da nossa gente.
Tendes hoje a felicidade não só de um justo triunfo, mas, tam-
bém, de um sagrado dever cumprido.
Recebei a láurea que tão merecidamente conquistastes".
Em seguida teve a palavra o acadêmico Mario de Andrade Ra-
mos, instituidor do Prêmio Einstein, o qual antes de entregar o
diploma do mesmo prêmio ao acadêmico Álvaro Alberto, pronun-
ciou as seguintes palavras:

PALAVRAS DO SR. MARIO RAMOS

O tempo passa rápido e, na sucessão dos acontecimentos, poucas


vezes podemos nos deter em alguns, cuja recordação parece ainda
de ontem e já vai distante.
O prêmio Einstein foi por mim criado nesta Academia quando
ela fazia os primeiros passos em Abril de 1925, por ocasião da visita
do então já laureado sábio pelos seus estudos e publicações, professor
Einstein.
Morize, cheio de satisfação pela recepção que a Academia ia
dar àquele tão emérito cientista, cujos trabalhos notáveis de 1920 a
1925 tinham excitado tanta curiosidade e pesquiza em todos os Insti-
tutos e meios de ciência, acolheu a minha idéia e a minha carta, con-
cretizando a idéia, com viva satisfação. Anos depois, vencidas as
exigênciêas e com grandes aplausos de todos os acadêmicos, na sessão
de 26 de Dezembro de 1933, tínhamos o prazer de assistir a uma
sessão solene desta Academia para entrega pela primeira vez do Prê-
mio Einstein, em que os trabalhos científicos do nosso sábio colega,
professor Miguel Ozorio, especialmente sobre Reflexos, Fisiologia
Geral do Sistema Nervoso Central, Química da Respiração, etc,
tinham merecido um especial renome.
Hoje, meu caro amigo, professor Álvaro Alberto, o meu
júbilo não é menor e direi mesmo que é mais intenso por ver ser
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 873

discernido pela Academia este prêmio ao justo mérito de um antigo


aluno meu, cuja altura de inteligência, a dedicação ao estudo e a
conciência nas pesquizas e nas aplicações industriais tornaram-se tão
evidentes que é S. Excia. inegavelmente um dos maiores valores no
professorado e nas ciências físico-químicas. E agora, concorrendo
ao Prêmio Einstein nesta Academia, brinda a nossa Ciência com
um exhaustivo de estudo de fisico-química aplicada.
Regosijo-me, pois, profundamente, por este fato e congratulo-
me com toda a Academia por esta bela reunião em que fazemos
justiça ao mérito do professor Álvaro Alberto, certo de que será
para S. Excia mais um estímulo na produção do seu espirito dinâ-
mico, seguindo esta brilhante trajetória que ha-de prolongar-se ainda
por muitos anos, com frutos e benefícios para a Ciência e para o
nosso Brasil. Uma palavra de saudade e de lembrança para três
vultos que distantes de nós na relatividade do tempo e presentes na
Eternidade, estão ligados a essa Academia por laços indstrutíveis —
Morize — Juliano Moreira — Euzebio de Oliveira . Que as
luzes que derramaram sobre este instituto sejam sempre um manto
de proteção e desenvolvimento para suas grandes finalidades".
O acadêmico Mario Ramos, sob calorosa salva de palmas da
assistência, fez entrega do diploma do Prêmio Einstein de 1939 ao
Sr. Álvaro Alberto que, com a palavra, pronunciou a seguinte
oração:

ORAÇÃO DO SR. ÁLVARO ALBERTO

Bem fizestes, Senhor Presidente, em evocar, a propósito desta


cerimônia, as palavras de êmulos vossos na fidalguia, e que — tão
longe vão! -— eu supunha ecoassem somente ainda no recesso das
minhas mais gratas reminiscências.
Conquanto de ha muito acostumado à elegância dos vossos ges-
tos, sou duplamente sensível à vossa lembrança, e ainda mais por
haverdes recordado alguns nomes, sempre vivos no meu coração, do
que por terdes revivido e focalizado conceitos tão sobremaneira alen-
tadores para o principiante cujas energias visavam incentivar.
Escudado em Alfredo Vigny, segundo cujo conselho, quando
se é forçado a falar a respeito de si próprio, a melhor musa é a
franqueza, permití-me de início vos esclareça que o ensaio de moci-
dade, sobre "As pólvoras de guerra", que o meu dileto Mestre
874 REVISTA marítima brasileira

Ignacio do Amaral vem de exumar de um esquecimento julgado


definitivo, continha em a infrastrutura da Memória esta
germen que
colenda Academia houve bem com o Prêmio Einstein :
por prestigiar
"une
nesta se cristaliza de réalisée dans l'âge mü",
pensée jeunesse,

o que, segundo aquele grande é um requisito em-


poeta-soldado, para

belezar a vida, — no caso, — o outono avança...


que

Quando a perda prematura do meu saudoso Pai atirou aos orn-

bros do Aspirante de 1908 a tarefa, mim excessiva, de


para prosse-

guir nas experiências, que a morte interrompera, e evitar, me


quanto
fosse possível, se dispersasse o rol de aquisições originais, no capí-

tulo da Ciência dos Explosivos concernente aos compostos da guani-


dina, inaugurado e explorado saudoso brasileiro, —
pelo pesquizador

o então simples terceiroanista da Escola Naval, atônito, mas não

vencido, assumiu o Ministro da Guerra, General Hermes da


perante

Fonseca, o duro compromisso, importava em na rota


que prosseguir

que o Destino impuzera aos seus ascendentes, desde ha duas gera-

ções: a prospecção do terreno insidioso dos explosivos.

Por êsse tempo, tive a fecilidade de encontrar na amizade e no

conselho de alguns espíritos de escól o tonus moral de necessitava


que

para enfrentar tão difícil conjunctura; seja-me invocar,


permitido

resumindo-os a todos, o nome do venerando Engenheiro Naval Al-

mirante Severiano Antonio de Castilho, e os de dois Mestres a quem


fiquei indissolüvelmente ligado afinidades espirituais: o então
pelas

Capitão-Tenente da Armada Ignacio do Amaral, hoje, com ta-


que
manha autoridade, esta Academia, e o Tenente do
preside primeiro
Exército Elino Souto, outra bela inteligência ao serviço de um

grande coração, e cuja memória não se desparte do meu pensamento.

Compenetrado do dever me impunha tal missão, busquei


que
ardentemente desenvolver e aperfeiçoar os conhecimentos anteriores,

de aprendiz diuturno, embora ainda adolescente, fôra do labo-


que
ratório e empreguei toda folga das lides escolares no estudo
paterno,
"leit-
do problema veio a constituir mais tarde uma espécie de
que

motiv" da minha atividade mental.

íiis porque, surpreendido convite delicado eufe-


pelo (antes,

mismo de ordem) do seu Comandante, Capitão de Fragata (mais

tarde Almirante) Francisco Burlamaoui Castello Branco, para


"As
discorrer a oficialidade da Esquadra sobre o tema —
perante

de Guerra" — o de 1909 conseguiu, me-


pólvoras guarda-marinha à

dida de suas forças, não desmentir a confiança de seus superiores.


ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 875

O cavalheiroso Comandante Castello Branco, no intuito de

estimular uma vocação a sua alma supunha vislumbrar


que grande

no jovem oficial aluno, salienta o modesto trabalho o Chefe


perante

da Divisão de Encouraçados, o Capitão de Mar e Guerra (depois


Almirante e Ministro da Marinha) Manoel Ignacio Belfort Vieira,
"Floriano"
que com o Comandante do rivalizava no cavalheirismo.

Acontecia que Belfort Vieira, Senador Federal, rela-


quando

tara, na Câmara Alta, um se fe= lei, concedendo,


projeto, que pelo
Ministério da Guerra, mas oportuno crédito a reali-
pequeno, para
"Brasi-
zação de experiências oficiais com as e explosivos
pólvoras

lita", com base de invento do Dr. Álvaro Alberto da


guanidina,

Silva, experiências que o fado adverso interceptara.

Encontrou o belo e culto espírito de Belfort Vieira nova en-

chança propicia aos seus nobres e daí os termos do rela-


predicados,

tório, aqui relembrados nosso Presidente.


pelo

Tal julgamento, emanado de uma figura do de Belfort


porte

Vieira, teve funda repercussão na carreira do moço daquele tempo,

determinando-o a redobrar de esforços a vereda,


para galgar por
vezes tão rude, trilhava.
que

E datam de 1909 os apontamentos colhidos a


primeiros para
elaboração de uma Memória resumisse os últimos
que progressos
na solução do das como também as investigações
problema pólvoras,

paternas e a possível contribuição do autor.

Mercê das contingências da carreira, só em 1916 foram reto-

mados, no laboratório da Escola Naval, os estudos das aplicações

dos derivados da guanidina; os conhecimentos devidos ao saudoso

Dr. Álvaro Alberto, e se reconstituir, consubstan-


que puderam
ciaram-se no Relatório apresentado ao Ministro da Marinha, Almi-

rante Alexandrino de Alencar, em 23 de Outubro de 1923, tendo


"de
sido julgadas interêsse nacional" autoridade de um
pela Justino
de Campos Lomba.

Ao prosseguir na coleta de novo material, o autor teve de divi-

dí-los pelos dois setores especializados das e dos explosivos


pólvoras

rompedores.

Cada vez, porém, que cuidava em dar-lhes o feitio final, sempre

se lhe afiguravam já excedidos incessante evolver da Ciência,


pelo

da Técnica e da Indústria.

Ademais, era indispensável a meticulosa separação dos assuntos

cuja divulgação colidisse com os interêsses da Defesa Nacional.


876 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

E' uma tendência natural e justa de todo pesquizador dar co-


nhecimento dos frutos das investigações: essa espécie de sociabili-
dade científica é, entretanto, freqüentemente cerceada, em certos
domínios, pelas injunções do sentimento pátrio.
Assim, muitos trabalhos, por índole, são fadados a não ultra-
passar limitadíssimo círculo de especialistas ou de autoridades inte-
ressadas, e a acabar relegados à poeira dos arquivos, donde excepcío-
nalmente um outro ressurge, mas, de regra, já obsoleto.
Todos os que têm trabalhado questões de interesse militar
conhecem-no de sobra e o sabem inerente a essa ordem de cogitações.
O autor buscou, pois, redigir o seu trabalho sobre as pólvoras
modernas, dando-lhe dupla contextura: uma, visando elucidar quês-
toes atinentes à defesa nacional e destinada aos brasileiros que a ela
se consagram; outra, totalmente isenta de datos confidenciais, e de
feição mais acadêmica.
Animou-me a concorrer à consagração da nossa Academia o
exemplo de Buisson, cuja monografia, hoje clássica, sobre "O pro-
blemas das pólvoras", foi coroada, em 1913, pela Academia de Ciên-
cias de Paris — exemplo lembrado com toda oportunidade no sábio
Parecer da Comissão do Prêmio Einstein.
A minha preocupação consistiu, pois, em aliviar o texto de si
mesmo bastante denso, dos dados dispensáveis, e juntar-lhe as últi-
mas informações da literatura e a contribuição pessoal — esta, como
se impunha, de geito a não trair o incógnito do autor da Memória.
Em 1939, como outrora, o tema versado, era, substancialmente
o mesmo, longamente ampliado e adaptado às sucessivas etapas da
Ciência dos Explosivos.
Não escapara, aliás, à argúcia do relator da Academia, que a
esta Memória não houvesse podido resultar de uma improvização.
E'-me sobremaneira grato externar a minha admiração pela segu-
rança do critério científico e profundez de vistas com que o Sr. Ma-
rio Saraiva abordou precisamente os aspectos talvez menos desin-
teressantes do texto eme examinou por delegação da Academia,
projetando-lhe, ao glozá-lo, o brilho de sua invejável mentalidade.
Galardoado pelo alto vereditum da Academia Brasileira de Ciên-
cias, inspirada no parecer da sábia Comissão especial do Prêmio
Einstein — recebo-o como recompensa máxima pelo esforço pacien-
temente acumulado, durante trinta anos, na obra que, no domínio
técnico-científico, representa a principal súmula das minhas ativi-
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS 877

dades: 110 seu julgamento a Academia, sem dúvida, levou em conta

a circunstância de emanar de uma técnica ingrata, tão a mcúde


que

traumatiza 011 mutila — não chega mesmo a sacrificar os


quando

que a praticam, lidando, segundo a palavra autorizada do grande


"estados
Berthelot, com extremos da matéria, como tem-
pressão,

peratura e fôrça viva, e não estamos acostumados a em


que pôr jôgo

nas experiências ordinárias, donde uma uma Física e uma


Química,

Mecânica especiais, saem dos nossos hábitos e de nossas con-


que

cepções comuns".

Tal, com efeito, a bela Ciência e a empolgante técnica mal-


que,

as suas ciladas e os seus — ou talvez mesmo em vir-


grado perigos

tilde do fascinio que estes sempre exerceram sôbre a alma humana

— tanto- seduzem os seus consciente ou inconscientemente


prosélitos,
"viver
jungidos ao célebre mandamento de Nietzciie, induz a
que

perigosamente"...

Tal o exemplo de Alfredo Nobel e de Berthelot, de V1E1LLE.

Turpin, Andrew Noble, DuttenhoeEr, Escales, Spica, Mende-

léeff, Munroe, e, mais modernamente, Claessen, Thieme, Kast,

Poppenberg, Langenscheidt, Stettbacher, Brunswig, Dautri-

che, Muraour, Lehalleur, Vennin, Pascal, Grottanelli, To-

negutti, Giua, Paroui-Delfino, Rintoul, Marshall, Colver,

Barnett, De Bruyn, De Pauw, Nauckhoff, Arthur


Jullander,

Carneiro, Tibbits, Fred Olsen e tantos outros.

Por muitas dessas fecundas existências não raro tem perpassado


violentas rajadas de drama e mesmo de catástrofes tremendas, como

si Vulcano, irado, se conluiasse, hibridamente, com Baal Moloch.

para castigo dos que ousam os mistérios do Fogo...


perscrutar

O grande Newton certa vez afirmou tinha rasgar


que podido
novos horizontes à Ciência se haver elevado sôbre ombros de
por

gigantes.

Alçados sôbre os ombros do Newton e dos seus êmulos


próprio

e continuadores, não se nos faz indispensável, muita vez, a divina

centelha do gênio, descortinar horizontes ainda mais largos e


para

longínquos.

E, para os que não aspirar senão a seguir a esteira lumi-


podem

nosa dos vultos ciclópicos, como Nobel e Berthelot, do


guias
nosso científico e da nossa atividade técnica, resta a faina
pensamento

menos difícil de secundá-los.


878 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Dentro deste espírito, busquei e, assim o deliberastes,


já que

recebo a láurea que tanto me honra e enobrece, e o faço com desva-

necimento ainda maior, por me ser conferida instituidor


pelo próprio

do Prêmio Einstein, o meu eminente Mestre, acadêmico Mario de

Andrade Ramos.

À egrégia Academia Brasileira de Ciências — nobre de ideal e

opulenta de — mal encubro a insolvabilidade do tanto


pensamento

que lhe devo, sob o manto estelar da musa de Bilac:

"
E abençôo a colmeia nos cobre.
que

Só do labor geral me glorifico:

Por ser da minha terra é sou nobre,


que

Por ser da minha é sou rico".


gente que

A sessão foi encerrada às 23 e meia horas.


JOÃO DE liÉRV 110 RIO DE JIINEIDO

Navegámos tão bem que no domingo, 7 de Março de 1557, dei-

xando à esquerda o mar alto, do lado de léste, entrámos no braço

de mar, rio de agua salgada, chamado Ganabara (1) pelos selvagens

e Geneure pelos portugueses. Porque, ao que êles dizem, o descobri-

ram a primeiro de Janeiro.

Segundo o que refiro no primeiro capítulo desta narrativa, en-

contrámos Villegagnon habitando, desde o ano anterior, uma pequena

ilha situada nesse braço de mar. Depois de te-lo saudado a tiros de

canhão, a um quarto de légua, e êle haver respondido, ancorámos

junto à ilha.

Eis aí, em suma, o que foi a nossa navegação, o que nos acon-

teceu e o que vimos na terra do Brasil

Fundeados na Guanabara, perto de terra firme, cada qual reuniu

sua bagagem, pô-la nos barcos e atracámos na ilha ou forte de

Coligny.

E não só porque nos livrámos dos perigos que tanta vez nos

ameaçaram no mar, mas ainda por havermos felizmente alcançado

o pôrto desejado, a primeira coisa que fizemos, ao pôr pé em terra,

foi render graças a Deus.

Isto feito, fomos ao encontro de Villegagnon, o qual saudámos,

um opôs outro. De rosto franco, êle nos acolheu muito bem, aos

abraços e aos beijos.

Em seguida, o sr. du Pont, nosso guia, com Richier e Chartier,

ministros do Evangelho, comunicaram-lhe a razão da nossa viagem,

passando o mar com tantas dificuldades. Conforme as cartas que

êle endereçara a Genebra, tratava-se de fundar uma igreja refor-

mada sob a palavra de Deus. E êle, em resposta, disse-lhes as se-

guintes palavras:

(1) Guanabara.
880 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Quanto a mim, de ha muito não desejo outra coisa, e recebo-

vos de todo o coração. Mesmo porque me parece ser a nossa igreja

a melhor reformada de todas, sendo de opinião que os vícios devem

ser reprimidos, alterada a suntuosidade dos cultos, e, em suma, re-

pudiado tudo aquilo que não consista em bem servir a Deus.

Depois, erguendo os olhos para o céu e unindo as mãos, acres-

centou:

Senhor Deus, agradeço-te o me acabas de enviar, ha tanto


que
tempo tão ardentemente suplicado.

E dirigindo-se ao nosso grupo:

Meus filhos — desejo ser vosso — Jesus


porque pai Cristo,

neste mundo, nada fez para si, e sim para nós. Deste modo, espero

em Deus ter vida afim de nos estabelecermos neste país, e que pos-
sais confirmar essa obra sem mim, para isso viestes. Delibero fazer

aqui um refúgio para os pobres fieis perseguidos em França, Espanha

e outras terras, para que, sem temor ao rei, ao imperador, a qual-

quer potentado, possam servir a Deus segundo a sua vontade".

Foram essas as primeiras palavras ditas por Villegagnon à nossa

chegada, numa quarta-feira, 10 de Março de 1557.

Ordenou, mais tarde, que toda a sua gente se reunisse pronta-


mente a nós numa pequena sala situada no meio da ilha. O ministro

Richier invocou Deus, cantou-se o salmo V, e o mesmo Richier, to-


"Pedi
mando por texto as palavras do salmo XXVII: uma coisa ao

Senhor, a reclamo ainda — eu habite a casa do Senhor


qual que

todos os dias de minha vida" — fez-se a no forte


primeira prédica

de Coligny, em terras americanas.

Durante êsse tempo, Villegagnon, escutando a exposição da ma-

téria, não cessava de juntar as mãos, levantar os olhos ao céu, lançar

grandes suspiros e outras demonstrações, o que a nós todos mara-

vilhava. Por fim, após essas solenidades, de acordo com o formulário

das igrejas reformadas em França — um dia designado de cada se-

mana — a companhia dispersou.

Entretanto, nós outros, recenvindos, permanecemos na mesma

sala, onde jantámos, e como repasto, tivemos farinha de raizes, peixe

assado à maneira dos índios, outras raizes cosidas nas cinzas, e por

bebida, onde não havia agua doce, a agua da chuva, verde e suja,

recolhida de uma cisterna povoada de rãs. E' verdade que a achámos

excelente, em comparação à que costumávamos beber a bordo.

Finalmente, o nosso último prato, para nos refrescar dos tra-

balhos do mar, foi carregar pedras e terra para continuar a constru-

do forte de Coligny. Foi êsse o bom tratamento que Villegagnon


ção
nos deu desde o nosso primeiro dia.
João de Léry no Rio de Janeiro 881
«

Alem disso, tratando-se de acomodações, o sr. du Pont e os dois

ministros foram metidos num aposento, no meio da ilha. A nós foi

dada uma casinhola que um selvagem acabava de cobrir de palha

à sua moda, junto ao mar. Aí, como os americanos, pendurámos


lençóis e maças de algodão, para dormir ao ar livre.

No outro dia e nos dias subsequentes, sem que a necessidade

constrangesse Villegagnon, continuámos a transportar as pedras para

o forte. Como ração, a mesma farinha dura e seca, que comíamos

como os naturais do país. Villegagnon, forçando-nos a trabalhar

desse modo, desde o alvorecer até à meia-noite, tratava-nos mais ru-

demente que competia a um bom pai.

Todavia, pelo desejo que mantinhamos de abrigar os fieis, mestre

Pedro Ricier, nosso ministro mais antigo, afim de nos encorajar,

dizia que havíamos encontrado em Villegagnon um segundo S. Paulo.

Ora, para voltar ao assunto principal, desde a primeira semana

que aí chegámos, o próprio Villegagnon estabeleceu esta ordem:

alem das prédicas públicas, todas as tardes, após o serviço, os mi-

nistros pregariam duas vezes no domingo e uma hora nos outros dias.

E ajuntava ainda que, sem restrição, os Sacramentos fossem minis-

trados segundo a pura vontade de Deus.

Em obediência a essa polícia eclesiástica, no domingo 21 de

Março foi celebrada a Santa Ceia, pela primeira vez, no forte de

Coligny, tendo os ministros preparado e catequisado todos os que

deviam comungar. E porque êles não tinham em boa conta um tal

João Cointa, antigo doutor da Sorbonne (que se fazia passar por

sr. Heitor), que atravessara o mar em nossa companhia, rogaram-

lhe que, antes de se apresentar, fizesse pública confissão de fé. O que

êle fez. E da mesma sorte, deante de todos, abjurou ao papismo.

Semelhantemente, quando o sermão terminou, Villegagnon, sem-

pre no papel de zelador, poz-se de pé e alegou que os capitães, mes-

tres de navio, marinheiros e todos mais, não tinham feito ainda pro-

fissão da religião reformada, e assim, não estariam preparados para

tal mistério. Fe-los então retirar-se, não permitindo que se lhes mi-

nistrasse o pão e o vinho.

Para exemplo, êle mesmo — tanto, como dizia, oferecer seu


para
forte a Deus, como para confessar sua fé a Igreja —
perante poz-se
de joelhos sobre um retalho de veludo (que seu pagem trazia sem-

pre atraz) e pronunciou em voz alta duas orações, das quais tirei

cópia afim de que cada entenda melhor como êle conhecia mal o
'Meu
coração humano. Deus, abre os olhos e a boca de meu enten-

dimento, encaminha-os à confissão, preces e ações de graças dos

bens excelentes que nos proporcionas! Deus todo poderoso, vivente e


882 REVISTA marítima brasileira

imortal, Pai eterno de teu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor, que, por

tua providência, com teu Filho, governa todas as coisas do céu e da

terra Reconheço de coração tua santa Magestade, em presença

de tua Igreja, plantada por tua graça neste país, que nada tenho con-

seguido por minha fôrça e prudência, sinão que todo o meu sucesso

tem saído das trevas, da carne, da vaidade, tendendo à única satis-

fação de meu corpo. Por este meio, protesto e confesso francamente

que, sem a luz de teu Santo Espírito, só tenho sido impelido a pecar.

Assim, despojando-me de toda a glória, quero que saibam que,


si ha luz ou centelha de virtude na obra que fazes em meu benefí-

cio, eu o confesso a ti somente, fonte de todo o bem.

Nesta fé, pois, meu Deus, rendo-te graças de todo o meu coração

por me teres desviado das coisas do mundo, entre as quais eu vivia

por ambição, e, por inspiração de teu santo Espírito, coloquei-me em

logar onde te posso servir em plena liberdade com todas as minhas

forças, para dilatação de teu Santo Reino. Assim também, forne-

cendo morada conveniente àqueles que são privados de invocar pu-

blicamente teu nome, para te santificar e adorar em espírito e ver-

dade, reconhecemos que teu Filho Nosso Senhor Jesus é o único Me-

diador e o único mérito de nossa salvação.

Destarte, eu te agradeço o haver-me conduzido a este país, entre

ignorantes de teu nome e da tua grandeza, porém possuídos de Satan

como herança, e livrar-me de sua maldade. E para refrear sua brutal

impetuosidade, afligiste-os com doenças cruéis, preservando-nos

delas. E fixando-nos neste logar, estabeleceste o regimen de uma

Igreja para nos fixar em unidade e temor de teu santo nome, afim

de nos orientar à vida eterna.

Praza a ti, Nosso Senhor e Pai, estender tua benção a este forte

de Coligny e terra da França Antártica, para tornar-se inexpugna-

vel refúgio daqueles que, sem hipocrisia, aí terão socorro para co-

nosco se dedicarem à exaltação de tua glória e que, sem receio dos

heréticos, te possam invocar em verdade.

Faze com que teu Evangelho os reuna neste logar, fortalecendo

teus servidores, livrando-os do erro dos epicurianos e outros aposta-

tas, tornando-se perseverantes na verdadeira adoração da Divindade,

segundo tua Santa Palavra.

Que também sejas, ó Deus de toda a bondade, o protetor do Rei,

nosso soberano carnal, de sua esposa, sua dinastia e seu conselho.

Também de mestre Gaspar de Coligny, sua mulher e descendência,

conservando-lhes a vontade de manter e favorecer esta tua Igreja.

E a mim, teu humilde escravo, rogo que dês prudência na con-

duta, de sorte que não me afaste do caminho reto e resista aos obstá-

culos que Satan me apresenta sem tua ajuda. Preserva-nos de seus


João de Léry no Rio de Janeiro 883

ministros e dos selvagens insensatos, em meio aos quais nos puzeste,

e dos apóstatas da Religião Cristã espalhados entre êles. Chama-os

à tua obediência, afim de que êles se convertam, e que teu Evan-

gelho seja pregado em toda a terra, e tua salvação anunciada em

todos os países.

Jesus Cristo, Filho de Deus vivente e eterno, tem piedade de nós,

conserva-nos, fortalece e aumenta nossa fé, oferece a Deus teu Pai

a confissão que faço de coração e de lábios, em presença de tua

Igreja, santificando-me por teu Espírito, como prometeste, dizendo:


"Não
vos deixarei orfãos". Avança tua Igreja neste sítio, de sorte

que, em plena paz, seja puramente adorado.

Que vivas e reines com Êle e o Santo Espírito por séculos e sé-

culos eternamente. Amen".

Findas essas preces, Villegagnon apresentou-se à mesa do Senhor

e recebeu de joelhos o pão e o vinho da mão do sacerdote.

Entretanto, para encurtar razões, verificámos que os antigos an-

davam acertados ao dizer que não era de boa praxe fazer por muito

tempo o virtuoso. De sorte que se percebia facilmente aquela osten-

tação, e, embora Villegagnon e Cointa abjurassem publicamente ao

papado, mostravam mais vontade de debater e contestar do que de

aprender e aprovetiar. Assim, não tardaram em promover disputas

no que tocava à doutrina.

Principalmente sôbre o ponto da Ceia. Bem que êles regeitassem

a transubstanciação da Igreja romana, como uma opinião que ta-

xavam de pesada e absurda, e também não aprovassem a consubstan-

ciação, não consentiam que os ministros ensinassem e provassem a

palavra de Deus: que o pão e o vinho não haviam realmente se trans-

formado no corpo e no sangue do Senhor. Jesus Cristo está no céu.

Logo, pela virtude de seu Santo Espírito, êle se comunica em alimento

espiritual àqueles que recebem esses símbolos.

"Porque,
qualquer que êle seja (dizia Villegagnon e Cointa),
"Êste
estas palavras é meu corpo, êste é meu sangue" não podem
ser tomadas de outro modo, sinão que o corpo e o sangue de Jesus

Cristo aí se contêm".

Contudo, Villegagnon estava sempre de boa cara e afirmava não

desejar outra coisa a não ser uma orientação segura.

Um dia, enviou à França Chartier, ministro, em um navio car-

regado de pau-brasil, afim de que se inteirasse da opinião dos nossos

doutores, notadamente de João Calvino, a cujas idéias êle dizia pie-


namente se submeter.

"Calvino
De fato, eu o escutei declarar várias vezes: é um dos

maiores sábios que têm existido desde os apóstolos, e até hoje não

conheço outro que melhor haja exposto a Escritura Sagrada".


884 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Para reforçar essa afirmação, êle escreveu do próprio punho,

com tinta de pau-brasil:

"Tomarei
em conta o conselho que me derdes em vossas cartas,

esforçando-me por não me desviar do assunto delas. Estou real-

mente persuadido de que não ha nada mais santo, reto e integral.

Assim, temos feito ler vossas cartas em assembléia, e por essa leitura

chegámos ao mais alto fervor".

Um Nicolau Carmeau, portador dessas cartas, que partiu a 1.° de


"Rosée", lhe havia
Abril pelo disse-me que Villegagnon recomen-

dado participar a Calvino que, em memória do conselho que êle dera,

tinha-o feito gravar em cobre. Encomendara ainda ao dito Carmeau

que trouxesse de França, à sua custa, algumas pessoas, homens, mu-

lheres e crianças.

Antes de referir outro assunto, não quero omitir o caso de dez

jovens selvagens, de nove a dez anos, tomados em combate pelos

índios amigos dos frades e vendidos como escravos a Villegagnon.

Ao cabo de uma prédica, depois que o ministro Richier os abençoou,

todos juntos rogámos a Deus fizesse a graça de salvar êsse pobre

povo. Em seguida, êles embarcaram nos navios com destino à França.

Lá chegados, foram apresentados ao rei Henrique, que os ofereceu

a vários grão-senhores. Entre outros, foi contemplado o sr. de

Passy. Este fez batisar o índio, que ainda conheci depois do meu re-

gresso.

A 3 de Abril, dois homens, criados de Villegagnon, esposaram, du-

rante a prédica, à maneira das Igrejas reformadas, duas moças que

levámos de França. Foram as primeiras núpcias celebradas à seme-

lhança dos cristãos em terras do Brasil. Nessa cerimônia, os selva-

gens mostraram-se surpresos de ver mulheres vestidas, mais do que

das solenidades eclesiásticas, de todo desconhecidas.

Por seu turno, a 17 de Maio, Cointa se casou com outra rapa-

riga, parente dum La Roquette, de Rouen, que viajara conosco.

Morto algum tempo depois, deixou à esposa por herança toda a mer-

cadoria que levara consigo. Consistia essa em grande quantidade de

facas, pentes, espelhos, anzóis e outras bugigangas próprias do tráfico

entre os índios.

As outras duas mulheres (elas eram cinco) casaram-se imedia-

tamente com dois negociantes normandos. Isso posto, não restou

entre nós mais nenhuma cristã solteira.

A Guanabara fica a 23 graus abaixo do equador e do trópico de

Capricórnio. E' um dos portos de mar, na terra do Brasil, mais fre-

quentados pelos franceses.


João de Léry xo Rio de Janeiro 885

Sem me deter no que outros tenham escrito, sou o primeiro a

dizer, tendo vivido e navegado nessas paragens por espaço de um

ano, que, avançando para as terras, ela tem cêrca de doze léguas

de comprimento, e em algumas partes sete ou oito de largura. No

resto, bem que as montanhas que a cercam não sejam tão altas que
as que fecham o lago de agua doce de Genebra, existe grande seme-

lhança quanto à sua situação.

A embocadura torna-se arriscada, porque, deixando-se o mar,

é necessário contornar três pequenas ilhas deshabitadas, contra as

quais os navios, quando não são bem conduzidos, correm perigo de se

quebrar.

Em seguida, passa-se por um canal de meio quarto de légua, li-

mitado à esquerda por um monte rochoso e piramidal que não é so-

mente de altura excessiva, mas também, de longe, se diria artificial.

Por sua forma redonda, semelha uma grossa torre. Os franceses,

por um modo de falar hiperbólico, chamaram-no o Pote de Man-

teiga (1).

Adeante, ha um rochedo achatado a que demos o nome de Ra-

teir (2). Foi aí que Villegagnon, à chegada, colocou seus moveis e sua

artilharia, pensando em fortificar, impedido pelo fluxo e o rafluxo

da maré.

Uma légua após, acha-se a ilha onde ficámos. Antes de Ville-

gagnon, despovoada. Tem meia légua francesa de circuito, seis vezes

mais longa que larga, rodeada de pedras à flor dagua, de maneira que
os navios não podem se aproximar dela mais que um tiro de canhão.

E' maravilhosa e naturalmente fortificada. De fato, como não sè a

pode abordar, mesmo em pequenas embarcações, sinão do lado do

pôrto, si ela fosse bem resguardada, não seria possivel força-la nem

toma-la, como o fizeram os portugueses após a nossa retirada, por


culpa daqueles que nela deixámos.

Havia duas elevações nos extremos da ilha. Em cada uma delas

Villegagnon fez construir uma casa. Sôbre um rochedo que ficava

a meio ergueu-se a sua morada. De um lado e doutro desse rochedo,

aplainámos e construimos o local dos prédios, para oitenta pessoas.


Como os selvagens foram os arquitetos, foi tudo feito à sua moda,

por meio de troncos cobertos de palha.

Eis em pucas palavras de que se compunha o forte, o qual Ville-

gagnon, julgando tornar-se agradavel a Gaspar de Coligny, almi-

rante de França, deu seu nome, sem favor e assistência do mesmo.

Faz lembrar o gesto de Thevet, em 1858, dando à terra o nome

de Ville Henry em homenagem a Henrique II.

(1) Pão de Assucar

(2) Ilha Rasa.


886 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Prosseguindo na descrição da Guanabara, encontra-se outra ilha,


bela e fértil, a quatro ou cinco léguas do forte mencionado. Chama-
se a ilha Grande. Nela habitam os tupinambás, aliados dos france-
ses, e aí levavamos ordinariamente as nossas embarcações para bus-
car farinha e outras coisas necessárias.

Ha ainda outras ilhas deshabitadas, nas se encontram


quais gros-
sas e saborosas ostras. A essas os selvagens dão o nome de leripes e
se agarram de tal modo às é fôrça
pedras que preciso para arranca-
Ias. Dessas ostras mandavamos cosinhar grandes paneladas, e al-
gumas das quais, ao serem abertas, encontrávamos pequenas pérolas.

Êste rio está cheio de várias espécies de a saber: sargos,


peixes,
tubarões, arraias, golfinhos e outros valem menção especial.
que

Também horriveis e volumosas baleias, se alcançar


que podiam
com tiros de arcabuz. Uma dessas surgiu um dia, a 10 ou 15 léguas
do fortim, singrando em direção a Cabo Frio. Por muito se apro-
ximar de terra, encalhou e foi em seco sôbre a
posta praia.

Como ninguém lhe apreciasse a carne, somente a lingua foi sal-


gada e mandada em barris para a França.

Na terra firme, visinha desse mar, desembocam dois belos rios


dágua doce, por onde naveguei, em companhia de vinte
patrícios, a
léguas pelo interior. Aí deparei muitas aldeias de índios.

Os selvagens da terra do Brasil, chamados tupinambás, não são


maiores do que nós europeus. São, porém, mais fortes, bem nutri-
dos e menos aptos a moléstias e deformidades físicas. Muitos atin-
gem a idade de cento e vinte anos, que contam sucessivas lu-
pelas
nações. Poucos os velhos de cabelos brancos ou Talvez
grisalhos.
devido ao bom clima do país, sem geadas nem rigorosos invernos.
As árvores estão sempre verdejantes e parece todos vivem alheios
que
às coisas deste mundo, bebendo pela fonte de Juventas.

A cor dêles, morena, lembra a dos provençais e espanhóis. Ho-


mens, mulheres e crianças vivem nús como largaram do ventre ma-
terno, sem ocultar parte alguma do corpo nem sinal de pudor ou
vergonha. Têm horror aos excessos de cabelo, arrancam com as
que
unhas ou com as pinças que lhes fornecem os cristãos. Tal como
os habitantes peruanos da ilha de Cumana. Os tupinambás tosquiam
a cabeça na parte superior e anterior do crâneo como coroas de pa-
dres, e na nuca â maneira dos nossos antepassados.

Os mais moços têm o hábito de furar o beiço interior e passar


nêle um osso bem polido, claro como o marfim, tiram
que e repõem

quando o querem. Homens feitos, abandonam êsse uso uma


por
pedra verde (espécie de esmeralda falsa), da largura e grossura de
um tostão. Eu trouxe para a França uma dessas Ha ainda
pedras.
f:

JoÃo tu: I,éry \'o Rio de J aneiro 887

alguns que, alem das nos beiços,


pedras faeem furar as faces e ador-
na-las da mesma maneira.

Pintam os brasileiros muitas vezes o corpo com variados dese-


nhos e variadas cores. Enegrecem tanto as coxas com o suco do ge-
nipapo (1) a distancia,
que, parecem vestir calções de padre. E por
mais que se lavem, não os podem apagar por dez ou doze dias.

Adornam-se de crsecentes de mais de meio pé de comprimento,


feitos de ossos lisos, brancos como alabastro, aos chamam
quais
jaci, nome que dão à lua; e às vezes os penduram ao pescoço com
fios de algodão. Fazem de conchas marinhas primorosos trabalhos
a que dão formas redondas ou delgadas. Furam-nas no centro, en-
liam-nas num cordão 6 fabricam colares cu borés (2), com cn-
que
volvem os como os fios de ouro
pescoços em terras civilisadas.

Criam galinhas comuns, introduzidas pelos portugueses. As bran-


cas são depenadas. Escolhem as penas mais macias, tingem-nas com
pau-brasil e emplumam-se com elas, aos
parecendo-se pombos e ou-
tras aves de plumagem tenra.

Ornam a cabeça, alem da coroa e das tranças pendentes às costas,


com penas encarnadas e de outras cores, construindo frontais a que
chamam raquetes ou ratepinades, à semelhança das nossas donas e
donzelas.

Nas orelhas introduzem arrecadas, também de ossos brancos,


como os ponteiros os homens trazem no beiço
que furado.

Ha na terra uma ave chamada tucano. Plumagem negra como


a do corvo, exceto o é coberto de leves
papo, que penas amarelas or-
ladas de encarnado na inferior. Esfolam
parte êsse papo, acumulam-
no em grandes e depois de bem
quantidades, seco, pregam com cera
(ira-ietic), uma placa de cada lado do rosto, como as chapas de cobre
dourado na brida dos cavalos.

Si em guerra ou si matam um comer, adornam-


prisioneiro para
se com vestimentas e badulaques, verdes,
penas encarnadas e azues
de incomparavel beleza. Essas são tão bem preparadas e ajustadas
como o não faria o melhor de França.
plumaceiro

Com o mesmo artifício enfeitam as das espadas e cia-


guarnições
vas de madeira, oferecem agradavel
que aspecto.

Entram ainda na confecção dos seus vestuários de


grandes penas
avestruz, fato prova a existência dessa ave no
que país.

(1) O autor escreve genipat.

(2) Bou-re.
888 KSVISTA marítima BRASILEIRA

Para mostra de valentia, costumam os lidadores retalhar o peito,

os braços e as coxas, esfregando as incisões com um pó negro que

as fixa toda a vida. Essa usança serve para indicar o número


por

de inimigos que mataram ou de vitimas que aprisionaram.

Sua ocupação ordinária consiste em dansar e beber cauim (1),

alem do canto, que acompanha de comum os bailados. Para maior

rumor, atam às pernas uma enfiada de caroços chocalhantes que

colhem de certo fruto do tamanho da castanha dagua. De outro

fruto, como um ovo de avestruz (2), servem-se os selvagens para o

fabrico do maracá, que, repleto de pedrinhas redondas, estronda mais

do que uma bexiga de porco cheia de grãos de ervilha.

Tendo nós carregado nos navios grande quantidade de fazendas

de todas as cores, fizemos delas, para dar aos índios, casacos e cal-

ções sarapintados, em permuta de viveres, macacos, papagaios, pau-

brasil, algodão, pimenta e outras coisas da terra brasileira. Con-

tudo, após meterem-se nesses trajes e mirarem-se uns aos outros,

arrancavam-nos do corpo até que lhes désse na vontade vesti-los

outra vez.

Cuidando das mulheres indígenas, a que chamam cunhã (1) e

Maria (por causa dos portugueses), tenho a dizer que elas andam

mais bem vestidas e ataviadas.

Arrancam, como os homens, quasi todo o pelo, inclusive pestanas

e sobrancelhas. Deixam crescer os cabelos e os penteiam e lavam

com muito cuidado. Algumas vezes os entrançam com um cordão de

algodão vermelho. Outras, preferem andar desgrenhadas, com a ca-

beleira solta sobre os ombros.

Não furam lábios nem faces. Furam, contudo, horrivelmentte as

orelhas, passando nelas arrecadas tamanhas que, quando as tiram,

deixam buracos enormes. Pintam o rosto com pequeno pincel, fa-

zendo uma rodela no meio da face, desenvolvida em forma de cara-

col, e assim continuam, até que a cara fique toda borrada de azul,

amarelo e verde. Até nas palpebras dão pinceladas, como em França

praticam as mulheres impudicas.

De ossos brancos fazem braceletes, talhados como escamas de

peixe, unidas entre si com cera e rezinas misturadas à guisa de cola.

Trazem também alvos colares a que chamam boré (2), que elas usam

pendentes dos buracos. Assim, deliciavam-se, para o mesmo uso,

com as nossas contas de vidro amarelas, azues e verdes, enfiadas em

(1) Aguardente de milho.

(2) Deve ser o fruto da cabeceira.

(1) Quouian, tio original.


joÃo de Lêry no Rio db Janeiro 889

rosários, a que denominavam morubi (3). Em cambio delas, nas suas

aldeias, ofereciam-nos frutas e outras coisas, com repletas


palavras;
de lisonjas, que chegavam a nos atordoar a cabeça. Constantemente

nos diziam:

— Mair, de agotorem amabé morubi.

O que significa:

—Francês, tu és bom, dás-me braceletes de missangas.

Aos pentes chamam guap ou knap. Aos espelhos, aruá (1). E são
ninharias das que elas mais apetecem.

Coisa estranha nessas mulheres, nunca conseguimos fazer com

que se vestissem, muito embora lhes dessemos vestido de chita e ca-


misas, obstinando-se a não ter sôbre si qualquer de roupa.
peça

Em todas as fontes e rios claros elas banham-se, o que faziam, al-

guns dias, mais de uma dúzia de vezes. Por isso, dizem que lhes seria
dificil despirem-se tão continuadamente, razão seria inútil con-
que
testar.

As próprias prisioneiras de guerra, conservávamos como es-


que
cravas para trabalhar no fortim, embora vestidas à força, apenas
anoitecia, tiravam às escondidas a camisa e a
punham-se passeiar
nuas pela ilha.

Creio mesmo que essas pobres creaturas esfolar o corpo


preferiam
e os braços, carregando areia e a trazer sôbre elas
pedra, qualquer
sorte de vestimenta.

Os meninos são robustos e bem nutridos, muito mais do os


que
europeus. Enfeitam-se de ponteiros de osso nos beiços furados, os
cabelos raspados e o corpo pintado. Assim, vinham em dan-
grupos
sar à nossa frente, mal nos aproximavamos das suas aldeias. Afa-

gando-nos e seguindo-nos os passos, não conçavam de nos dizer:

Cutuassá, amabé pinda.

Isto é:

Meu amigo e aliado, dá-me anzóis para pescar.

No que toca ao casamento entre os índios, cumpre notar que eles


só não tomam como esposa a mãe, a filha
própria e a irmã. O tio,
porém, pode casar-se com a sobrinha, não existindo impedimento em
outros graus de consanguiniedade.

(2) Boure, no original.

(3) Mauroubi.

(1) Aroua.
890 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O que pretende se consorciar indaga da vontade da mulher, seja

esta viuva ou donzela. Depois, dirige-se ao pai, e na falta dêste, ao

parente mais próximo, pedindo a moça em casamento. Si lhe res-

pondem pela afirmativa, leva logo dali a noiva consigo. Si lha re-
cusam, sumariamente o candidato desterra-se.

Permite-se a poligamia, sendo aqueles que mais mulheres têm

considerados os mais bravos e atrevidos, mudando o vício em virtude.

Conheci alguns que tinham oito, e muito se gabavam disso.

Tratando-se de muitas mulheres, havia sempre uma mais amada,


e nem por isso as outras demonstravam ciúme. Ao contrário, vivem

todas juntas e em boa harmonia, ocupadas com a casa, o fabrico de


redes de algodão, a limpeza das hortas e a plantação de raizes.

Causa-lhes tal horror o adultério, que o marido matar a


pode
esposa culpada ou repudia-la sem que cometa crime.

Quanto ao parto, narrarei com verdade, por te-lo presenciado.

Pernoitava eu com outro francês em uma aldeia. Alta noite, ou-


vimos uma mulher gritar. Julgámos ser a fera carniceira a que cha-
mam jaguara que a queria devorar. Acudimos. Verificámos, porém,
tratar-se das dores do parto. Vimos enão o pai tomar a criança nos

braços, amarrar o cordão umbilical e corta-lo com os dentes. Em


seguida, comprimiu com o polegar o nariz do nasciturno, ao contrário

das nossas parteiras, que os afilam para lhes dar maior beleza.

Sai a criança do ventre materno, e logo a lavam, e a de


pintam
preto e vermelho, e sem a faixa clássica, deitam-na num leito de
algodão suspenso no ar. Si é do sexo masculino, uma
põem-lhe junto
espada de pau, um pequeno arco e flechas curtas enfeitadas de penas
de papagaio. Com um beijo no rosto, o pai lhe diz:

— Meu filho, cresceres, serás destro


quando nas armas, forte, va-
lente e belicoso para te vingares dos teus inimigos.

Um desses vi nascer, a que deram o nome de Oropacen, que quer


dizer — arco e corda.

Assim praticam com as crianças, como o fazemos com os animais,


dando-lhes nomes de coisas: Sariguê, que é um Arinhan,
quadrupede:
galinha; Arabutan, pau-brasil; Pindoba, espécie de arbusto gran-
de, etc.

O menino permanece no leito por um ou dois dias. Dão-lhe logo


a comer farinhas mastigada e carnes tenras, com leite
preparadas o
materno. Depois, coloca-se-o pendente de uma cinta ao pescoço, e
com êle a mãe cuida da horta e de outros afazeres.

Tratam bem os selvagens a todos os seus filhos. Estimam mais


os varões do que as fêmeas, por causa dos seus serviços de guerra.
João de Léry ko Rio de Janeiro 891
Grandes e pequenos, ocupam-se da caça com a perícia de um Nemrod.
São matadores e comedores de gente.

Vivem os índios em paz com a sua polícia. Si, entretanto, acon-


tece alguns indivíduos brigarem, o que é raro, os demais não
procuram separa-los nem apazigua-los. Mesmo que os contendores
busquem furar os olhos um do outro, os circunstantes não o impedem,
nem por palavras, nem por atos.
Todavia, si um fere o outro, e o ofensor é preso, recebe dos pa-
rentes do ofendido igual ofensa no mesmo logar do corpo. Si se segue
a morte, os parentes matam imediatamente o agressor.
Numa palavra: vida por vida, olho por olho, dente por dente.
Consistem as propriedades dos selvagens em casas e vastas posses
de terras. Em alguma aldeias, habitam na mesma casa quinhentas
a seiscentas pessoas, e às vezes mais, ocupando cada família logar
distinto para o casal e seus filhos, embora as casas não disponham
de separações. Têm essas habitações mais de sessenta passos de com-
primento. E' curioso notar que não demoram os nativos mais de
cinco ou seis meses num logar. Carregam grandes pedaços de ma-
deira para a construção das casas. Assim, mudam apenas as aldeias,
que conservam os mesmos nomes. Si se lhes pergunta a razão dessas
mudanças, respondem que lhes faz bem a diferença de climas, e si
fizessem o contrário de seus antepassados, morreriam depressa.

Cada pai de família possue ainda outras terras onde fazem suas
roças, plantam mandioca e outras raizes. Mas, quanto à divisão de
heranças e questões de limites e separação de domínios, delegam
esse cuidado para os gananciosos cá da Europa.
As mulheres, alem das redes de algodão, fabricam potes e vasi-
lhas de barro para conservar o cauim, panelas redondas e ovais, fri-
gideiras de vários tamanhos, pratos e outros utensílios, vidrados no
interior com certo licor branco que endurece, como não os preparam
os oleiros destas bandas.
Adornam esses objetos, com tintas pardacentas e pincéis finos,
de pequenos ornatos, ramagens, lavores eróticos e outras galanterias.
Serão, contudo, incapazes de repetir os motivos de certa pintura,
porque, fazendo-as ao capricho da imaginação, não lhes conservam
desenhos nem modelos.
De cabaças e outros frutos grossos e ocos fazem taças ou cuias
de beber. Tecem também variados cestos com muita delicadeza, uns
de junco, outros de ervas flexíveis como o vime e a palha de trigo.
A esses chamam panacuns, e neles guardam farinhas e outras coisas.
Os tupinambás são em geral hospitaleiros. Depois da nossa che-
gada à ilha de Villegagnon, visitei-os em três ou quatro aldeias.
892 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Na primeira, chamada Jaburaci ou Pepin dos franceses, vi-me de


repente cercado por selvagens, me
que perguntaram:

Marapê-dererê te
(como chamas?)

Ao que fiquei calado, por entender tanto disso como do grego.

Finalmente, um deles no meu chapéu e o na


pegou poz cabeça.
Outro na minha esapda e no meu cinto, cingiu no
que corpo nú.
Outro tirou-me o casaco e o vestiu. Isso em meio de enorme gritaria,
correndo pela aldeia com as minhas coisas, logo
que dei por perdi-
das. Soube depois que era costume dêles, e que em seguida resti-
tuem tudo a seus donos.

Disse-me o guia que os selvagens desejavam saber o meu nome.


Ora, Pierre, Guillaume ou Jean êles seria inútil,
para pois não com-
preenderiam. Era, pois, mister sujeitar-me a nomear qualquer coisa
que fosse do seu entendimento. Então, a propósito do meu sobrenome
Léry, que se parece a lerí, ostra entre os índios, passaram a chamar-
me de Lerí-assú, significa ostra
que grande (1). Com isto ficaram
satisfeitos e a juntavam, usando da exclamação Tê!, que nunca ti-
nham visto outro francês (mair) com um nome tão bonito.

Apenas chega o estrangeiro à casa do mussacá (pai de família),


dão-lhe a sentar uma rede de algodão, onde êle fica sem proferir
palavra. Vêm depois as mulheres. Rodeiam a rede, e acocoradas no
chão, com as mãos nos olhos, choram a boa vinda do hóspede e pro-
nunciam mil coisas em seu louvor. Assim:

Tiveste tanto trabalho para vir ver-nos! És bom, valente.

E em sinal de gratidão:

Trouxeste-nos coisas tão bonitas, que não temos nesta terra!

E derramando grossas lágrimas, dizem outras palavras de aplauso


e de lisonja.

Si o recenvindo quer corresponder, chora com elas, sinão, tem de


fingi-lo, soltando grandes suspiros.

Feita essa primeira saudação, o mussacá, ocupado em fazer fie-


chas, fica por um quarto de hora sem parecer avistar-nos, atitude
bem diversa dos nossos abraços, beijos, apertos de mão e outras me-
suras.

Depois, dirige-se ao visitante e pergunta:

Erê
jubê? (vieste?)

(1) Daí a confusão de alguns historiadores em chamarem à praia do


1'lamengo praia do Léry ou do Lcnpc, cm razão do viajpttte francês te-la
habitado e da espécie de ostra nela se encontrava. —
que N. do T.
João de Léry no Rio dê Janeiro 893

Feito isto, si o de fóra quer comer, manda vir uma bela vasilha

de barro cheia de farinha. Quanto a bebida, servem o cauim. As mu-

lheres trazem frutas, que cambiam por pentes, espelhos, missangas,

com que logo se enfeitam.

Si alguém quer dormir na aldeia, o velho manda armar a me-

lhor rede de algodão branco. Embora não faça frio, acendem-se

três fogueiras ao redor da rede por causa da humidade. Essas fo-

gueiras são alimentadas, durante a noite, com pequenos abarios cha-

mados tatapecuá, como as ventarolas das nossas damas.

São os selvagens muito amantes do fogo, com o qual afugentam

Anhangá, o espírito do mal, que tanto os atormenta.

Mal os hóspedes acabam de comer e beber, ou descançar em suas

casas, dão-se-lhes facas, tesouras e pinças de arrancar a barba.

Si ha mulheres, dão-se-lhes pentes e espelhos. Às crianças, anzóis de

pescaria.

Como não existem meios de transporte, os índios levam-nos ao

pescoço. E si os fazemos descançar, protestam com energia:

Como ? Pensas talvez somos mulheres, ou tão covardes e


que
fracos de ânimo que desfaleçamos debaixo do peso ?

Um dêles disse-me:

Sou capaz de te carregar um dia inteiro sem parar.

Enquanto riamos às gargalhadas, cavalgando êsses homens e

aplaudindo-lhes a agilidade.

No entanto, si nos vêm entediados, fazem retirar os meninos de

junto de nós, oferecem-nos a rede e dizem:

Repousa, filho. Bem vejo estás muito cançado.


que

Para idéia do apreço que êles dão às bugigangas, referirei que,

certa vez, em casa de um mussacá, mostrei-lhe o que se continha no

saco de couro. Admirou-se de tudo. Chamando todos os parentes,

disse:

Peço-lhes, meus amigos, considerem um no perso-


que pouco

nagem que ora hospedo. Si êle tem tantas riquezas, devemos con-

fessar que é, de fato, um grão-senhor.

Cumpre notar que, o que eu possuía não passava nào passava de

cinco ou seis facas encabadas de diversas formas, alguns pentes, dois

ou três espelhos e outras miudezas que não valeriam dois tostões em

Paris.

Duma feita, achavamo-nos seis franceses na linda aldeia de Oca-

rantim, a dez ou doze léguas do forte. Aí resolvemos dormir. Divi-


894 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

didos em dois grupos de três, fomos em busca de galinhas da índia e

outras coisas para a ceia. Súbito, extraviámo-nos. Em certo ponto,


"Rosée",
apareceu um compatriota do navio que vivia na aldeia..

Disse-me:

Ali está um bonito Mate-o o fique


pato. quites, pagando-o.

Matei a ave. Apanhei-a e fui para uma casa onde os selvagens

se reuniam para tomar cauim. Perguntando qual era o dono do pato,


afim de resgata-lo, um velho carrancudo respondeu-me:

E' meu.

Que em troca do ?
queres pato

E êle prontamente:

Uma faca.

Dei-lhe a faca. Êle retrucou com aspereza:

Quero uma mais bonita.

Por fim, preferiu uma foice. Alem de ser exagerada a troca de

uma foice por um pato, acontecia que eu não dispunha dêsse instru-

mento. Nesse ponto, aconselhou-me o guia que tratasse de arranjar

a foice, pois o índio estava muito zangado. Vinda a foice, recusou-a.

Então indaguei-lhe:

Que pois, de mim?


queres,

Quero matar-te, como o fizeste ao meu pato.

E acrescentou que a ave pertencera a um irmão falecido e a es-

timava mais que a tudo neste mundo.

Em seguida, saiu. Foi buscar uma clava grossa de uns seis pés

de comprimento. Voltou com ela sobre mim, repetindo que queria

matar-me. Convinha mostrar-me destemido. O guia, da sua vede,

espicaçava-me:

Não se dê vencido. Mostre-se forte e valente.


por

Em suma, fazendo boa cara e mau jogo, depois de uma troca de

palavras, sem que ninguém nos apartasse a luta, vi que o meu agres-

sor se afastava, ébrio de cauim como estava, e foi dali dormir e co-

sinhar a bebedeira. Enquanto eu, o guia e os nossos companheiros,

que nos esperavam fóra da aldeia e ignoravam o acontecido, fomos

comer tranqüilamente o pato.

Si acontece cair algum doente, depois de examinado o local da

moléstia, é o ponto afetado chupado pela boca de algum amigo, e

algumas vezes por uns embusteiros que entre os selvagens têm o


João de Léry no Rio de Janeiro 895

nome de pagé, e eqüivale a barbeiro e a médico. Curando-os, os pagés


fazem crer que lhes prolongam a existência.
Alem das febres e doenças, a que não são tão sujeitos como os
europeus, devido à benignidade do clima, sofrem uma doença incurà-
vel chamada pian, que provém da lascívia. Até meninos vi atacados
dela, como entre nós de varíola.
Os que a têm ficam marcados toda a vida, como sucede com os
nossos, quando chafurdam no vício e na impudicícia.
Vi no Brasil um francês de Rouen que, tendo-se metido com ra-
parigas selvagens, recebera tão merecida recompensa que o corpo
e o rosto ficaram desfigurados de pians como si fora um leproso.
E' a moléstia mais cruel dos trópicos.
Aos enfermos acamados é costume nada se dar, si eles não pedem.
Pode dar-se o caso de alguém ficar de cama um mês sem comer
nem beber, ao passo que os sadios não cançam de fazer em redor do
paciente uma algazarra desenfreiada, bebendo, cabriolando e can-
tando sem dó nem piedade.
Si morre a vítima, e si é bom pai de família, converte-se a can-
tiga em lamentações, de tal sorte que, si nos achamos em aldeias
onde haja algum defundo, não ha maneira de se conciliar o sono.
As mulheres, nessas horas de aflição, excedem-se a si mesmas.
Lastimam-se em dolorosos diálogos, gritando tanto e tão alto que
mais parecem uivos de cães e de lobos.
Umas, arrastando a voz, exclamam:
Morreu quem era tão valente e tantos prisioneiros nos deu a
comer !
Outras, no mesmo tom, respondem:
Como era bom caçador e pescador !
Ainda outra voz, surgindo do meio das carpideiras:
Ah! que bravo matador de portugueses e maracajás (1), e com
que galhardia nos vingava!
Depois, levantam-se do chão, abraçam-se umas às outras pelas
costas, e prosseguem a ladainha todo o tempo em que o cadáver
está presente, lançando aos ares tudo o que em vida êle disse e pra-
ticou.

((1) Como se sabcj os portugueses aliaram-se, contra os franceses, com


os maracajás e os tupintinós, de cuja tribu saiu o grande Ararigboia, de tão
glorioso nome e tão arcados feitos na expulsão do invasores da frança An-
tártica. — N. do T.
896 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Recordam as mulheres de Béarn, que cantam para os maridos


defuntos: "La mi amor, Ia mi amor, cara rident, ocil de splendor:
cama Iengé, bel dansador: Io mé baleu, Io ni es barbat: mari depés,
fort tard au lheit". Que quer dizer: -Meu amor, meu amor, cara ri-
sonha, olhos luzentes, perna ligeira, bom dansador, homem valente;
meu madrugador, cedo de pé, tarde no leito".
Do mesmo modo, as viuvas da Gasconha: "Vere vere: ô le bet
renegadon, ô le bet iongadon qu'here". O que significa: "Ah! ah!
que lindo ar renegado e que lindo jogador êle era!"
Como estribilho, ainda cantam as selvagens do Brasil: "Morreu,
morreu aquele que agora carpimos!" -Ao que respondem os homens:
"Ah! é verdade. Não o veremos mais, sinão
quando formos para alem
das montanhas, onde, como nos ensinam os caraíbas, dansaremos
com êle".
E isto, e mais outras coisas.
Findas as lamúrias, que duram meio dia, abrem a cova. Esta, ao
contrário das nossas, é redonda e profunda como um tonei de vinho.
Curvam o corpo morto, amarram os braços rodeando as pernas e o
enterram quasi de pé.
Si o finado é algum velho estimado, sepulta-se na própria casa,
envolto da sua rede, e com êle enterram colares, plumas e outros obje-
tos de seu uso e goso.
Depois que os franceses se relacionaram com os tupinambás, estes
já não colocam junto com os defuntos coisas de valor, como dantes
costumavam fazer. Mas, o que é muito peor, mantêm a mais estra-
nha superstição de que já se ouviu falar.
Acreditam firmemente que, si Anhangá ou o diabo não encon-
trar outras comidas preparadas junto à sepultura, desenterrará e
comerá o defunto. Por isso, logo na primeira noite, põem junto dele
grandes alguidares de barro cheios de farinha, aves, peixes e outras
carnes bem assadas, com o cauim, e aí ficam enquanto o corpo não
apodrece.
Tal delírio dos selvagens não representa mais do que cópia da
insânia dos rabinos. Sustentam eles que o cadáver fica em geral em
poder de um diabo, Zabel ou Azazel, que no Levitico é chamado o
príncipe do deserto. Confirmando este erro, baseam-se na Escritura,
onde se diz à serpente: -Tu comerás terra por toda a tua vida".
E acrescentam que o corpo humano é feito do limo e da poeira
terrestre, que é a carne da serpente. Portanto, fica-lhe sujeito até
que se transforme em natureza espiritual.
Fala Pauzânias de outro ente maléfico, o Eurinomo, que devorava
a carne dos mortos e só deixava os ossos. O que tudo redunda no
mesmo erro dos selvícolas americanos.
João de Léry no Rio de Janeiro 897

Ora, depois que o Jacques acabou de carregar de pau-brasil, pi-


mentão, algodão, bugios, sagüis, papagaios e outra coisa da terra,

embarcámos de regresso à Europa. Era a 4 de Janeiro de 1558, dia

da Natividade.

Nesse dia levantámos ancora, e pondo-nos sob a proteção de

Deus, começámos a navegar nesse grande e impetuoso mar Oceano

do ocidente..

Não o fizemos todavia sem temores e apreensões. Creio mesmo

que muitos de nós outros teriam ficado no Brasil, aproveitando a ex-

celência e a fertilidade da terra, si não foram os maus tratos infli-

gidos por Nicolau de Villegagnon.

Assim, dizendo adeus à América, aqui confesso, pelo que me

respeita, que amei e amo a minha pátria. Contudo, vejo a pouca


ou nenhuma fidelidade que nela encontramos e a deslealdade que
uns usam para com outros, bem como o que se acha agora italiani-

zado e só consiste em dissimulações e palavras vãs. Por isso, la-

mento muitas vezes não me achar entre os selvagens, entre os quais


reconheço mais franqueza do que em muitos patrícios nossos, que,

para a própria condenação, trazem o rotulo de cristãos (1).

(1) Estas notas foram extraídas c traduzidas da Viagem ao Brasil, dc

João de Léry, na tradução dc Araripc Júnior, e da edição Francesa Moder-

nisada e abreviada de Chârly Cleve, Paris, 1927.

S. de S.
INCORREÇÕES A EVITAR

Têm aparecido ultimamente algumas inovações no emprêgo de

notações e termos técnicos, sobre as convém chamar a atenção,


quais

antes que o uso as sancione.

Assim é corrente, desde algum tempo, encontrar-se o


grafado
número de minutos separado uma vírgula do das horas,
por para
indicar tantas horas e tantos minutos, como, exemplo, 2,1i15
por para
exprimir duas horas c minutos.
quinze

O êrro encerra tal maneira de escrever é muito


que prejudicial,

pois acarreta confusão de leitura.

Qualquer pessoa com noções de aritmética, vendo escrito 2,h15

lerá duas horas e centésimos de hora.


quinze

Na matéria compreendida em aritmética sob a denominação de

complexos, encontra-se o modo certo de escrever, o é 2h15m e, se


qual
.se exprimir o mesmo número de minutos em fração decimal
quizer

da hora: 2,h25, ou sejam duas horas e vinte e cinco centésimos de hora.

Para evitar confusão e ao mesmo tempo simplificar a maneira

clássica de escrever, foi adotado oficialmente, no Ministério da Marinha,

o processo de representar um só número as horas e os minutos,


por

utilizando sempre dois algarismos as horas e outros dois


para para
os minutos. Assim 2h15m são escritos 0215 e 12h18m seriam repre-

sentados 1218, o resolve o sem da exatidão


por que problema quebra
no modo de escrever.
900 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ainda sobre o assunto hora, faremos notar é comum o


que
— ' —•
emprego do sinal indicar minutos de tempo, êsse
para quando

símbolo só serve designar minuto de arco, sendo — m — o


para

correspondente a minuto de tempo.

O Regulamento do sistema legal de unidades de medir (Decreto

4257 de 16 de Junho de 1939) consagra o emprego certo de cada

uma dessas notações.

A tradução de termos técnicos, tomada a palavra em sua accepção

comum, acarreta denominações de uma impropriedade absoluta.

Assim é freqüente encontrar-se em jornais e outras publicações,

a expressão — compasso — originada da tradução errada das palavras


"compas", "compass", —
francesa, e inglesa, em lugar de agulha

ou bússola.

A consulta a dicionário técnico mostra o êrro.


qualquer (1)

"Cochilos
Aliás já na sua crônica Náuticos", incluída em seu
"Rajadas
livro de Glórias", Gastão Penalva, outro não
primoroso que

é senão o distinto oficial de marinha Sebastião de Souza, anota o

desacerto.

Parece também como conseqüência de tradução imprópria,


que

surgiu a sudeste em lugar de sueste, designação clássica nos


palavra

meios marítimos.

— Dicionário de Marinha Inglês-Português Antonio Carvalho


(1) por
Brandão e Paulo César Ferreira, Lisboa 1922.

Dicionário Técnico do Oficial de Marinha pelo Contra Almirante José


Victor de Lamare, até a letra — D — na Revista Marítima. Brasileira.
publicado

Dicionário Marítimo Brasileiro do Barão de Angra, Rio de Janeiro, 1877.

Vocabulário inglês português de termos usados nas cartas brasileiras pelo

Capitão-Tenente Fernando Frota, Anais hidrográficos do Brasil — Tomo III.

Termos náuticos em inglês e português pelo Capitão de Fragata Alexandre

de Azevedo L,ima, Rio de Janeiro, 1935.


INCORREÇÕES A EVITAR 901

A respeito solicitamos a autorizada opinião do ilustre filólogo,

Capitão de Fragata Antonio Bardy, de Português da nossa


professor

Escola Naval.

Eis o que êle diz:

A-pesar-de o vocabulário de Gonçalves Vianna e o da Academia

Brasileira registarem Sudeste (a par de Sueste) raro é o dicionário

que o averba; e nenhum, que eu saiba, apresenta Sudeste exclusi-

vãmente.

Todos os dicionários dignos de maior fé dão apenas Sueste.

isto não bastasse abonar esta voz, ai falaria, como


Quando para

efetivamente o faz, a irresistível fôrça da tradição: não ha na lin-

viva da nossa Marinha vestígio de emprego de Sudeste.


guagem

Opino, se diga e obrigue a dizer Sueste".


pois,

Outra vem sendo introduzida e que, embora não se


palavra que

classificar como errada, constitue, 110 entanto, uma quebra, sem


possa
— — em lugar de -—
razão, de nossa tradição, é a Este usada
palavra

Leste.

Talvez esta tentativa de substituição do facto de ser E


provenha

o símbolo oficialmente adotado indicar êsse cardial. Isto


para ponto

não o símbolo oficialmente adotado para


procede porém, porquanto

indicar o cardial oposto, ou seja Oeste, é W e no entanto


ponto

ninguém diz veste ou neste, conforme aproximar-se da pro-


quizer

núncia alemã ou inglesa das correspondentes IVesten ou


palavras

West.

Consultando várias obras nas encontrar indi-


quais poderíamos

cações a respeito, sempre achamos mencionada a leste. Para


palavra

não nos alongarmos demais citaremos apenas os nomes de alguns dos

autores, de valor inconteste: Almirante Cândido Guillobel (1),


José

— Geodésia Cândido Guillobel — 1879.


(1) Tratado de por José
902 ÍEMSTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Professor Diogenes Buys cie Lima e Silva Dr. Henrique


(2), Morize

(3), Capitão-Tenente M. A. Vital de Oliveira


(4).

Da mesma opinião é o erudito de Astronomia


professor na nossa

Escola Naval, Capitão de Fragata Frazão Milanez, o nos


José qual
afirmou sua vez, o seu de Geografia no
que, por professor Colégio

Militar, o saudoso Comte. Themistocles Nogueira Savio, fazia


questão
"leste",
de dizer o é confirmado livro do citado
que i>elo professor
"Curso
Elementar de Geografia" — 1909.

"leste"
Na Marinha a corrente é
portuguesa palavra (Vide
"Guia
de Navegação" Antonio de Macedo Ramalho Ortigão —
por

Lisboa, 1905).

Como argumento final e nos decisivo no caso, tanto


parece que
da — leste — como — —
palavra da sueste diremos a Diretoria
que
de Navegação da Marinha, repartição técnica e orientadora no assunto,

só usa estes dois termos e nunca — esle — e — sudeste.

A separação da decimal da inteira de um número um


parte por
em vez de vírgula, como exemplo, 2.5 —• dois
ponto por (lido ponto
cinco —) indicar 2,5
para (dois e cinco décimos) é freqüente.

Entretanto tradicionalmente entre nós essa separação é feita


por
uma vírgula, uso êsse consagrado todos os nossos livros didáticos
por
"Regulamento
e agora oficialmente pelo citado do sistema legal

das unidades de medir".

A origem dessa modificação deve atribuir-se à leitura de livros

ingleses e norte americanos, onde é tal notação usada.

Devemos nos lembrar porém que taníbém a vírgula é notação

adotada nesses mas no caso em entre nós é


paises, justamente que

(2) — Curso de Navegação Diogenes Buys de Lima e Silva — 1903.


por

(3) — Como se o tempo Dr. Henrique Morize — 1917.


prevê pelo

(4) — Roteiro da Costa do Brasil do Rio Mossoró ao Rio S. Francisco

do Norte M. A. Vital. de Oliveira — 1864.


por
INCORREÇÕES A EVITAR 903

oficialmente (Vide no Diário Oficial a numeração dos atos oficiais)

usado o isto é separar, facilidade da leitura, as classes


ponto, para para

de três algarismos nos números superiores às centenas.

Assim, ao alterarmos de vírgula à imitação dos iiv


para ponto,

gleses e norte americanos, o sinál de separação da decimal da


parte
inteira, deveríamos, logicamente, alterar também de vírgula
ponto para
o sinál de separação das classse de três algarismos nos números inteiros.

Daí uma terrível confusão com essas trocas, pelo que o acon-

selhavel é não sairmos do nosso clássico sistema, tanto mais que, como

já foi dito, a regulamentação oficial do assunto assim o prescreve.

É fato as tábuas nacionais usam o ponto para separar os


que

decimais da parte inteira, mas isto explica-se pela maior clareza de

impressão e conseqüente maior facilidade de leitura. Representa a

mesma cousa em literatura, a licença permitida em de-


que, poética,

terminadas condições, mas não constituindo regra geral, ad-


porisso

mitida em quaisquer circunstâncias.

Deve ser evitada a confusão entre a milha marítima ou náutica


'milha
e o nó. Atualmente a é empregada medir a distância
para per-

corrida e o nó para exprimir a velocidade. (1)

Assim dizemos que a velocidade de um navio é, exemplo, de


por

16 nós e que o navio 400 milhas.


percorreu

A origem da palavra nó vem do antigo instrumento de medida

de velocidade — a barquinha — hoje fora de uso.

Tem também o nó emprêgo para indicar velocidade da cor-

rente. (2)

(1) — Navigation and Nauticál Astronomy by Dutton (livro texto da Es-

cola Naval de Annapolis) — 2.


pg.

(2) Repertoire des résolutions techniques relati,ves aux Cartes et aux

Documents Nautiques adoptées par les Conférences Hydrogra-

Internationales 1919 - 1937 — 20.


phiques pg.
904 REVISTA marítima brasileira

O valor da milha marítima ou náutica adotado Conferência


pela
"um
Internacional de Hidrografia de 1929 é o de comprimento igual a

1852 vezes o do internacional do metro".


protótipo (3)

 organização destes apontamentos a intenção de des-


presidiu

pertar a atenção sobre o assunto, citando apenas algumas modificações

e inovações que nos ocorreram, e nos inconvenientes,


que pareceram
na nomenclatura e símbolos técnicos.

Evandro Santos

Renato Bayardino

— Ideni — SS.
(3) pg.
AIGNIÇÃO DOS MOTORES
A EXPLOSÃO
LIÇÃO VI

Assuntos: Cabos de alta e baixa tensão para ignição de motores

Em muitos carros os cabos de ignição dos motores são en-


fiados em um tubo isolante ou de metal. Na figura 6 o tubo é o
número (1).
Em geral o cabo de alta tensão vem da bobina, passa no in-
terior do tubo e vai ter ao contacto central do distribuidor.
E' o número (7)
Os cabos das velas saem do contacto de cada um, voltam
pelo interior do tubo e vão às respecitvas velas.
A corrente que passa nesses cabos é de alta tensão e pul-
sante.
Ora, num circuúito em' que passa uma corrente dessa es-
pécie, aparece um fenômeno que, à falta de nome apropriado
"halo elétrico", ou seja uma espécie de coroa
poderemos chamar
"corona
elétrica, a que os técnicos norte-americanos chamam
effect", produzida pela indução entre o tubo metálico e os con-
dutores de alta tensão.
O tubo de metal, que está ligado à massa» tem efeito de con-
densador, em relação ao cabo, carregando-se de corrente como
qualquer condensador.
Quando êle não está ligado à massa, ou quando é de fibra,
o efeito de condensador não é tão pronunciado, porque não ha
o segundo condutor, para que o tubo se carregue de eletricidade.
Os condutores que passam dentro do tubo têm também
efeito indutivo, uns sobre os outros, o qual representa um desvio
906 JlEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de corrente no circuito secundário, que rouba à centelha uma


grande porcentagem do seu calor. Mesmo que o tubo não seja
metálico, o efeito indutivo entre os 'cabos das velas e o metal do
motor existe sempre, embora com menor intensidade.
"vasamento
O halo elétrico representa uma espécie de de
corrente" e, quando o motor trabalha é contínuo. Êle pode ser
observado à noite, em lugar escuro, pois que se manifesta sob
"fosforecência"
a forma de uma espécie de côr de púrpura.
Quanto mais próximo do metal do motor, mais pronunciado
será o halo. A centelha perde, com a presença deste halo, de
25 a 50 % do seu calor. Esta perda depende da proximidade dos
condutores da masse do motor ou da distância que eles tiverem
de percorrer em direção paralela ao motor.
Em alguns casos o halo é tão forte que se torna necessário
colocá-los por fora do tubo ou afastá-los do motor.
A ação química do halo sobre o ar ambiente consiste na sua
decomposição, com libertação do ozone, que é inimigo da bor-
racha, gretando-a no fim de pouco tempo. As fendas são às
vezes visíveis, permitindo desde logo desvio de corrente, che-
gando mesmo a produzir curto-circuito entre o fio e a massa do
motor.
Nos motores atuais a compressão foi elevada, de sorte que
os 6 ou 7000 volts, que bastavam para uma boa centelha nos
motores de alguns anos passados, não mais servem para os mo-
dernos, em que a resistência à passagem da corrente às velas
aumentou muito, como já vimos, exigindo atualmente 18 a 20000
volts e mais.
O halo começa a manifestar-se a partir de 10000 volts e é
claro que: quanto mais elevada for a voltagem, mais forte
será êle.
Por essa razão é preciso que se usem cabos com muito mais
forte isolamento e com maior espessura, pois deste modo o
metal dos fios fica mais longe da massa metálica do motor.
A distância é a única coisa que pode atenuar os efeitos do
halo, mas o bom isolamento dos cabos também concorre para
que esses efeitos sejam minorados. O isolamento entretanto,
tem de ser material especial, para que possa resistir ao ozone
também.
A IGNIÇÃO DE MOTORES A EXPLOSÃO 907

Indicações de defeitos nos cabos de ignição.

Um dos sintomas de existência de halo é a neces-


primeiros

sidade de se avançar a centelha sem causa aparente.

E' que o desvio de corrente rouba calor à centelha, produ-


"preguiçoso".
zindo uma combustão lenta, tornando o motor

E' claro o automobilista trata logo de adiantar a cen-


que
telha, afim de restabelecer a aceleração.
quando pode,

Outro sintoma é o mau funcionamento do motor em marcha

lenta.

Ha cilindros falham, originando-se daí uma séria vi-


que
bração em toda a corroceria, vibração essa termina em cho-
que

ques violentos no eixo da transmissão e na parada do motor.


"gudrungar"
Alguns mecânicos chamam a êsse sintoma, pala-

vra que, se não é clássica, ao menos dá uma idéia muito apro-

ximada do se com o motor.


que passa

O remédio mais é a mudança de todos os fios da


prático

instalação de alta tensão as velas.


para

Ha motores falham nas subidas e na aceleração, tor-


que

nando lerdo o carro. E' êste um sinal de o isolamento dos


que

cabos das velas está fendido e as centelhas saltam à massa em

algum do motor.
ponto

mais se motor, tanto mais êle falhará


Quanto puxar pelo

e mais prejudicado será o carro.

Ha motores em se notam explosões fora de tempo, de-


que

vido a que, estando os fios das velas cruzados, a corrente de uns

outros, e as centelhas vão saltar onde encontram


passa para

menor resistência, isto é: nos cilindros em que a compressão

não é máxima.

A simples inspeção visual não é bastante mostrar o


para

halo, principalmente quando os cabos são enfiados em tubos.

Nos casos comuns, só o acaso ou a dar a


prática podem per-

ceber a existência do halo.

Do que acabamos de dizer, depreende-se que o melhor meio

de evitar os efeitos do halo sôbre o isolamento dos cabos é a

qualidade do material isolante.

Os antigos cabos eram feitos com um grosso isolamento

de borracha mas os atuais, si bem não tenham um isola-


que
908 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

mento tão espesso, o têm mais eficiente, são revestidos de


pois

um tecido de algodão, embebido em um esmalte especial, alta-

mente resistente ao calor e gozando de notáveis,


propriedades

no diz respeito ao isolamento elétrico.


que

Está suficientemente explicado motivo se deve


pois por que

aconselhar ò uso de cabos dêste tipo, para classe de


qualquer

motor.

Efeitos do espaço de ar das velas nos cabos

O espaço de ar entre os eletrodos das velas varia entre 0",018

e 0",035, não sendo esta uma regra fixa.

O espaço menor corresponde naturalmente aos motores de

alta compressão, em razão da resistência a corrente encontra


que

à sua passagem.

Entretanto, para um motor queimar bem, é preciso que o es-

paço de ar seja o máximo, compatível com um bom funciona-

mento, porque êsse espaço apanha uma porção maior de mistura

na câmara de combustão e a queima é mais perfeita.

Deve-se entretanto prestar atenção à bobina, que deve ser

capaz de vencer essa resistência sem fadiga, tal distância


pois

significa necessidade de maior voltagem.

A fixação da distância no máximo corresponde a um aumento

de compressão, debaixo do ponto de vista da resistência elétrica,

proveniente do já tivemos ocasião de dizer e conseqüência


que por

a voltagem tem de ser aumentada, satisfazer aos requisitos


para

da ignição.

A elevação da voltagem exige um isolamento mais eficiente

dos fios, para que os efeitos do halo elétrico sejam evitados.

"bons
E' lógico" que resultados, bons cabos".
para

O que diz a experiência sobre o em se devem mudar


período que

os cabos das velas.

O trabalho constante de um carro exige os cabos das


que

velas sejam mudados de tempos em tempos. Êsses cabos estão


"cozimento"
sujeitos a uma espécie de no motor e no fim de al-

gum tempo a borracha está fendida.


A IGNIÇÃO DE MOTORES A EXPLOSÃO 909

Pode-se estabelecer como média aproximada o prazo de um


ano, ou uma distância de 10.000 quilômetros, para a mudança
dos cabos.
Tem-se verificado perdas de 10 a 60% de potência dentro
desse prazo, de sorte que é de toda a conveniência que a mudança
dos cabos seja feita, cada vez que o carro percorrer essa dis-
tância.

Cabos de baixa tensão.

O cabo de baixa tensão deve ter uma secção bastante ampla,


para que a perda em linha seja mínima e ao mesmo tempo possuir
uma robustez indispensável à severidade do serviço que presta.
O seu isolamento deve ser tal, que resista bem ao calor, ao
óleo, à humidade. Quando se tratar de um cabo curto, o número
14 B. & S. é suficiente, como secção, mas nos cabos longos, deve-
se preferir o número 12, ou mesmo o 10.
O cabo revestido de verniz especial resiste muito mais do
que o que só tem revestimento de borracha pura.

(Continua)
A. VIANA SÁ
Capitão-Tenente (QM)
* * «

'
~
C| r\ r- / ^
>"| r\ r~ r

'l
'1 f®
*®;c® ;c® >c® /^\

PI
n O
o ,c© =c® >c©

X
1 /j^l\
X X X

¦ V^nj^
N^Ejj n^
r-.y^k
J

F\<h.
F\<k.
t-° 6. CeJV^y7
|-°
A MARINHA ALEMÃ

*Marinha
Io) A de Bismarck.

A marinha Alemã, cuja aparição e celere desenvolvimento ia

surpreender o mundo, teve um inicio dos mais modestos.

Até fins do século XIX, ela não tinha tido, por assim dizer,

papel destacado nos destinos da patria. Durante as tres guerras

(iue a fundação do Império, as operações haviam assu-


permitiram

mido um carater quasi que exclusivamente terrestre. Na guerra

contra a Dinaníarca, em 1864, a frota germanica, operando conjun-

tatrfente com unidades navais austríacas, e sob o comando em Chefe

chefe do Almirante Tegcttof, lutando contra forças muito inferiores,

mal defender a inviolabilidade das, costas do Baltico. Durante


pôde

a de 1868 a Marinha não interveiu. Em 1870, ocasião das


guerra por

hostilidades franco-germanicas a superioridade da Marinha Franceza

era tal que os navios da Alem'anha em seus


preferiram permanecer

debaixo dos canhões das fortalezas.


portos,

Uma vez finda a a opinião alemã, satisfeita com


guerra, publica

os sucessos logrados Exercito a interessar-se


pelo principiou pela
"Hansa"
Marinha. O jornal de Hamburgo, escrevia:

"Em
todos os do os subditos alemãis são
pontos globo

obrigados a refugiar-se sob a bandeira ingleza ou americana

falta de direta. A Marinha Mercante Alemã,


por proteção

vem logo depois da Ingleza e da Americana, não


que pôde,

em caso de guerra, contar com uma eficaz. As


proteção

próprias costas Alemãis estão à rrfercê de uma força marítima

que as queira ocupar. Essa situação, humilhante a


para
Alemanha, deve cessar antes".
quanto
912 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O mesmo jornal apontava algumas medidas necessa-


que julgava

rias ao fortalecimento Marítimo alemão, entre as construção de


quais:

uma canal atravez do Schleswig, unindo o Mar do Norte ao Baltico,

compra aos Inglezes da Ilha de Heligoland, onde seria estabelecida

uma base naval, e a criação de uma Marinha de Guerra nos moldes

da Ingleza.

A Marinha Alemã da época compreendia navios. Seu


poucos
"Arminins,"
primeiro couraçado, o foi construído na Inglaterra;
"Wliilclm
foi segunido do I" que havia sido encomendado Tur-
pela

quia. Seu poder ofensivo causou sensação no momento; era armado

com 26 canhões de 200 m/m, trazia couraça espessa de 29» cms, e

desenvolvia velocidade superior a 14 milhas. O terceiro couraçado da


"Kronprins"
Alemanha, o foi igualmente construído na Inglaterra.

Meia dúzia de cruzadores e alguns torpedeiros completavam a esqua-

dra germanica. Durante a do Príncipe de Bismarck no


permanencia

poder, as forças navais da Alemanha muito modestas,


permaneceram

e não tiveram outro alvo sinão assumir a imediata do litoral


proteção
do paiz.

2o) A Marinha de Guilherme II.

Em 1887, com o advento de Guilherme II no trôno imperial,

o desenvolvimento da Marinha recebeu tremendo impulso. O lema


— "Nosso
imperial futuro está no Mar" — dito e repetido por toda

a parte não tardou a convencer o alemão, abi era de fato


povo que
seu caminho certeiro. Depois do afastamento do de Bismarck,
poder
o imperador resolveu fazer construir uma Marinha de acor-
poderosa,
do com a importancia da Nova Alenifanha. Encarregou desse mirtér

um homem ia ser o verdadeiro criador da Marinha


que gênio Alemã:

Tirpitz. Leis abrindo vultuosos créditos Marinha


para a foram vota-

das pelo arlamento; a construção do canal de Kiel foi iniciada, e

grandes encomendas foram feitas aos estaleiros nacionais. 1894


Em

a construção naval alemão encontrava-se


perfeitamente bem apare-
lhada, a Inglaterra e a França tinham servido de padrão, e as usinas

alemãs valiam as das suas rivais, bvicd Krupp acabava de descobrir

um novo de endurecimento do aço,


processo que distanciava ampla-
mente o método de Ilarvey. Os mínimos detalhes da construção
naval alemão eram caprichosamente estudados; a eletricidade larga-
mente utilizada ,* a madeira totalmente elimininada; a compartimen-
A MARINHA ALEMÃ 913

reforçada. Ao mesmo tempo a Marinha via-se incürríbida de


tagem

tarefa nova. Limitada até então á simples defeza das costas do


uma

Baltico e do Mar do Norte, horizontes novos abriram-se subitamente

diante dela, e seu objetivo alargou-se, vizando o combate em alto mar

— é a função suprema de uma Esquadra. Para justificar tão


que

considerável expansão de suas forças navais, a Alemanha alegou a

necessidade de defender seu de Paiz Marítimo, Indus-


prstigio grande

trial e Colonial.

A Marinha alemã revelou-se subitamente formidável. Seu Grande

Estado-Maior traçou os tipos de navios, d'e maneira a assegurar

perfeita homognéidade e maior poder.

"Kaiser
É a serie dos couraçados Friederich III", de 11.000 tons.,

armados com canhões de 240 m/m, de 150 m/m,


quatro quatorze

desenvolvendo velocidade de 17,5 nós; seguida em 1900pelos cinco


"Wittelsbach", "Braunschweig"
de 11.830 tons., e em 1902 cinco
pelos

de 13.200 tons., armados com' a nova peça de 280 m/m, e com marcha
"Schleswig-Holstein",
de 18,5 nós, para chegar em 1906 ao tipo ultimo

dos pre-dreadnoughts.

Interrompamos aqui um instante a revista aos cou-


que passamos

raçados alemãis. Em 1906, a Inglaterra lançava ao mar um navio


"Dreadnought".
sensacional — o Tamanha foi a impressão causada

nos meios marítimos por essa unidade, que seu nome ficou designando

uni tipo novo de encouraçado, de superior. Na época do


potência

lançamento desse navio, a construção naval encontrava-se sob a in-

fluencia das lições da Russo-Japoneza, e, inclinava-se a aumen-


guerra
"Lord
tara potência de fogo da artilharia secundaria. Nelson",
(Tipos
"Danton", "Roma", "Dreadnought",
etc.) o idealizado Lord
por
Fisher of Kilverstone, baseado nas opiniões do Almirante Americano,

Sims, e do Engenheiro-Naval italiano Cuniberti, era armado com dez

canhões de 305 m/m, abrigados em cinco torres, o lhe dava enorme


que
superioridade sobre outro couraçado da época. Sua velo-
qualquer

cidade de 21,5 nós também o colocava muito acima de seus rivais.


"Dreadnought"
O sobrepujava outro couraçado estrangeiro.
qualquer

A construção do tipo dreadnought foi imediatamente intensificada na

Inglaterra, e, ení 1907 a Grã Bretanha se achava em de


já possessão
oito navios desse modelo, cuja construção, aliás foi igualmente um

grande acontecimento político.


914 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A Inglaterra encontrava-se então convencida que tinha em suas

mãos uma esquadra de navios de linha que lhe oferecia superioridade

decisiva e vantagem permanente sobre todas as marinhas rivais.

Imaginava-se que a Alemanha não seria capaz de construir couraçados

iguaes aos seus, suas ilusões porém, pouco duraram. A Alemanha não

tardou em construir navios semelhantes, e não vacilou em' ordenar o

alargamento do canal de Kiel, já estreito dar a taes


para passagens
"Drcad-
unidades. Póde-se dizer que ela lucrou com a construção do

nought".

— "Dreadnougth"
Em 1906 ano do aparecimento do — a Ma-

rinha Alemã compreendia vinte navios de linha, uniformemente arma-

dos com canhões de 240 m/m. Na mesma época a Inglaterra alinhava

unidades, armadas cada urría com de 305 m/m;


quarenta quatro peças
"Dreadnought"
o lançamento do suplantou todos esses navios, e o

Império Alemão teve a ventura de iniciar sua nova linha de


poder

navios de batalha em condições de igualdade com a Inglaterra.

"Drcad-
O seu primeiro couraçado chamado a corresponder com o
"Nassau",
nought", foi o unidade de uma serie de
primeira quatro

navios idênticos. Deslocava 18.900 tons. e era armado com doze

canhões de artilharia — dois a mais do o navio inglez —


principal que

Suas tres maquinas, de um total de 20.000 hp, imprimiam-lhe velocx-

dade de 20 nós. Essa serie foi seguida de 1909 a 1913 classes


pelas
"Helgoland" "Kaiser"
(4 unidades) unidades) e Koenig" uni-
(5 (4

dades), todas armadas com canhões de 305 m/m, ostentando caraterís-

ticos que lhes asseguravam perfeita homogenéidade. A Alemanha

possuia igualmente uma esquadra de cruzadores de batalha, integrada


" "Seydlitz", "Moltke",
por cinco magníficas unidades; Derfflinger",
" "Von
Goeben c der Tann . Eram esplendidos navios de combate,

dotados de todos os aperfeiçoamentos desejáveis, aliando grande poder


"Hoch
ofensivo a e alta velocidade. A See Flotte"
perfeita proteção

compreendia ainda de sete cruzadores-couraçados, 44 cruzadores li-

geiros, numerosas flotilhas de torpedeiros, numero de submari-


grande
nos e toda a sorte de navios auxiliares o serviço da Esquadra.
para

Em poucos anos, a Marinha Alemã atingiu sua riva[


quasi
britanica quanto ao numero das unidades, dominando-a entretanto,

quanto a tecnicidüde e do material. Esse êxito sem


qualidade pre-
cedente, "caso"
revelou-se, entrtanto um grave político. A Ingla-

teria, sentindo-se ameaçada, aproximou-se da França, iniciando assim


A MARINHA ALEMÃ 915

"Entente
d tão famosa Cordiale", e aumentou ainda mais o seu

Poder Naval.

A arma magnífica, criada alemão não deu entretanto,


pelo gênio

durante a Grande Guerra todos os resultados se esperar


que podia

dela. O alto-comando revelou-se inferior á do material


qualidade

e ao valor das tripulações. A frota de Tirpitz, teve, durante as hosti-

um sem relevancia, sendo a Alemanha obrigada a


lidades papel

lançar mão dos submarinos substituir sua esquadra inèrta.


para

A guerra sem restrições ao comercio, empreendida pelos alemãis,

demonstrou mais uma vez um sucesso técnico indiscutível, alia-se


que

a um erro político considerável. Em 1917, graças


freqüentemente

ao trabalho admiravel de seus arsenais, ao heroismo de seus oficiais

e marinheiros, a Alemanha esteve ao ponto de bloquear a Grã-Bre-

tanha, esfomeando seus habitantes, mas, foi nesse ano igualníente

os Estados-Unidos envolveram-se na guerra, seus navios mer-


que

cantes sendo torpedeados sem respeito pela sua neutralidade.

3o) A Marinha do Tratado de Versalhes.

Concluida a paz, os navios alemãis que não se fizeram afundar

em Scapa-Flow, foram repartidos entre os aliados, como compensação

das perdas sofridas por eles durante as hostilidades. A Marinha

Mercante Alemã teve igual tratamento. As fortalezas germanicas

foram arrazadas, os efetivos da Marinha reduzidos para 15.000

• honíens, entre oficiais e marinheiros, sem formação de reserva possi-

vel, as bases navais suprimidas e demilitarizadas. O Reich foi auto-

rizado pelo Tratado de Versalhes a conservar armados apenas os

seguintes navios:

"Deutschland" "Lothringen",
Seis couraçados, tipo ou seis cru-

zadores ligeiros, e doze contra-torpedeiros. Como esquadra de reserva,

podiam ser conservadas, desarmadas as seguintes unidades: dois cou-

raçados, dois cruzadores ligeiros, oito torpedeiros, sendo todos navios

bastantes antigos e, de fraco valor militar. O art. 190, do Trat.

de Versalhes, determinava a não ser em caso de os navios


que, perda,

não poderiam ser substituídos antes do limite de 20 anos coura-


para

çados e cruzadores, e 15 anos os torpedeiros. Finalmente, inter-


para

dição absoluta era feita ao Reich de aviões e submarinos.


possuir

As construções novas, substituição das unidades envelhe-


para

cidas deviam ser feitas dentro de um rigidü. O deslocamento


quadro
916 revista marítima brasileira

dos couraçados não devia exeder 10.000 ton., o dos cruzadores,

6.000, e o dos torpedeiros, 800. Em suma, condições severas, por

meio das quais os aliados esperavam obrigar a Marinha Alemã a

permanecer sem grande valor militar.

Foi graças ao valor de seus engenheiros e à habilidade dos seus

técnicos, o Reich conseguiu tirar, dentro das clausulas do Tra-


que

tado, o melhor partido possível. Não tempo. De 1925 a 1935,


perdeu

tres couraçados, seis cruzadores, e doze torpedeiros foram lançados

ao mar, causando ótima impressão seus caratéristicos e acaba-


pelos

mento. Os couraçados sobre tudo, despertaram um interesse compa-


"Dreadnaught".
ravel ao de 1906, quando do aparecimento do O

Trat. de Versalhes não havia limitado o calibre dos canhões armando

os navios germânicos. Aproveitando seu adiantamento no emprego

da solda eletrica, e na construção de motores Diessel, rápidos e extra-


"Deuts-
leves, os engenheiros alemãis ralizaram um navio notável, o

chland", que, no limite de deslocamento autorizado


permanecendo

(10.000 t.), era suficientemente encontrava-se armado


protegido,

com seis canhões de 280 m/m, dotado de velocidade apreciavel —

26 nós — e de enorníe raio de ação.

Paralelamente a essas magníficas realizações, o das tripu-


preparo
lações não foi descuidado. Uma disciplina inflexível rapidamente
pôz
termo a anarquia existia nos e navios, e a instrução levada
que portos

a um gráu até então inatingido.

4o) A Marinha Nazista.

Em 26 de Abril de 1935, a Alemanha denunciava espetacular-

mente as clausulas do Tratado de Versalhes lhe vedavam a cons-


que
trução de submarinos, e, a Inglaterra, acabava de orde-
prevenia que
nar a construção imediata de 12 submarinos de 250 toneladas, com

peças previamente fabricadas. A violação do Tratado de Versalhes

era inegável. A Grã Bretanha e as potências ex-aliadas, no entanto,


"fait
inclinavam-se diante do accompli" ...

Dois rriezes depois,, nova surpreza: a Inglaterra comunica às

potências, que acabava de assinar um acordo naval com o Reich! As


conversações entre Siv Samuel Hociye e Hcvr Joãchhn voti Ribben-
trop, redondaram no Acordo de Londres de Londres, de 18 de Junho
de 1935.
A MARINHA ALEMÃ 917

De conformidade com os termos deste entendimento, a tonela-

da Marinha Alemã foi fixada, cada categoria de navios,


gem para

em 35% da tonelagem da Marinha Britanica, excepção feita dos

submarinos. Esse acordo inesperado, causou certa estranheza nos

meios marítimos internacionais. Até o inicio da atual (1939),


guerra

a Aleníanha parece ter escrupulosamente respeitado as clausulas do

referido acordo...

r
Composição da Frota Alemã.

a) Navios antigos: — Da antigo Marinha Imperial encontram-


"Schlesien" "Schleswig-
se ainda em serviço dois couraçados, o e o

Holstein". São navios deslocando 12.300 t., armados com quatro


canhões de 280 m/m e dez de 150 m/m'. Essas unidades foram

recondicionadas em 1926 e 1936 e são utilizadas com navios-escola.


"Schleswig-Holstein"
Foi o ha bombardeou a fortaleza
que, pouco

poloneza de Wcsterplatte. Existem ainda, como remanescentes da

antiga Marinha, 6 torpedeiros de 750 t., alguns lança-minas e dois


"Hesscn",
velhos couraçados de 1901-03, o Zahringen" e o conver-

tidos em navios-alvos.

b) A frota construída de acordo com o Tratado de Versalhes:

"couraçados "Deutsch-
Encabeçam essa frota os tres de bolso":
"Admirai "Admirai
land Scheer" e Graf Spee"
(1931), (1933),

(1934). São navios de 10.000 t., e apresentam caratéristicos verda-

deiramente únicos. Essas unidades têm como armamento


principal
seis canhões de 280 m/m1, colocados em 2 torres, sendo uma avante e
outra a ré. Essas disparam obuzes
peças pesando 304 kilos, até uma
distancia de 30 mil metros. A elevação maxima de tiro é de 60".
A sua artilharia secundaria é composta
por VIII canhões de 150 m/m,
e numerosas "Deutschland"
peças a/a 88a/a no e VIII nos dois
(VI
outros), além de oito metralhadoras e de oito tubos lança-torpedos
de 533 m/m. Dois aviões, lançados
por catapultas, completam o
armamento. A proteção couraçada nada deixa a desejar. Uma cintura
blindada de 120 m/m de espessura, estende-se sobre todo o com-
quasi

primento do navio. As torres da artilharia


principal são protegidas
por couraça de 140 m/m, e ha dois convezes couraçados, de 102 e
75 m/m respetivamente. Possuem uma compartimentagenl muito exten-
sa, anteparos de defeza contra explosões submarinas, completam
o sistema "
de defeza da classe Dcutschlãnd". Para reunir sobre
918 revista marítima brasileira

navios de deslocamento tão limitado, tal admiravel conjunto de qua-

lidades, tornou-se necessário empreender esforços técnicos sem

iguaes e custosissimos. Os engenheiros navais alemãis foram obri-

a lançar mão de novos e audazes, como a soldagetrf


gados processos

do casco, e ó emprego em alta escala de metais leves especiais. Mas

a inovação maior destaque nos parece merecer, foi a utilização


que

a bordo desses navios de motores Diessel, de alta velocidade. A

é dada dois grupos de oito motores Diesel M.A.N de


propulsão por

6.750 hp cada um, ou seja uma força total de 54.000 hp. Esses

motores estão agrupados 4 por 4 sobre as duas helices, com redutores

Vulkan. A regulagem de taes motores foi demorada e dificil; as

fortes vibrações iniciais foram entretanto, eliminadas com-


quasi por

A velocidade conseguida com esses motores foi notável —


pleto.

26 nós —, e o raio de ação considerável — 10.000 milhas à 20 nós.

Essas tres unidades couraçadas haviam sido precedidas seis


por
"Emden"
cruzadores ligeiros; sendo um de 5.400 t., o de 1925, e

os cinco outros de 6.000 t. (tonelagem maxima autorizada pelo


" "Karlsrühe"
Trat. de Versalhes). São eles o Koenigsberg" (1927),
" "Nümberg"
(1927), Kocln" (1928), Leipzig" (1929) e (1934).

Esses cruzadores são uniformemente armados com' canhões de


"Emden"
150 m/m « 88 a/a. Com excepção do levam todos uma

catapulta e aviões. Os cinco últimos cruzadores alemãis possuem

um sistema de propulsão composto de turbinas a vapor e motores

Diesel, para marcha reduzida, o lhes assegura raio de ação.


que grande

Os doze torpedeiros que foram em serviço a de


postos partir
"Moewe" "Iltis",
1926 são unidades do tipo e de 798 e 800 ton. de

deslocamento. As turbinas de propulsão são de 25.000 hp, e imprimem

velocidade de 33 nós. O armamento consiste em tres canhões de

105 m/m, VII metr. a/a e seis tubos lança-torpedos de 533 m/m.

c) os navios do Acordo de Londres de 1935:

Até essa data as construções navais alemãis obedeciam às clau-

sulas do Trat. de Versalhes. Depois do fracasso da Conferencia

Geral de desarmamento, a Alemanha considerou-se de mãos livres


para
a renovação de sua Marinha, e organizou nesse sentido copioso

programa de construções, compreendia:


que

"Scharnhorst" "Gneisenau".
2 couraçados de 26. t. e

2 "Adm. "Blucher",
cruzadores de 10.000 t. Hipper
pesados e
A MARINHA ALEMÃ 919

16 torpedeiros de 1.625 t.,

10 lança-minas de 600 t.,

28 submarinos de 250 a 712 t.,

Em 1937 foram acrescentadadas a esse as seguintes


programa

unidades:

"Von
2 couraçados de 35. t., Tirpitz" e Bismarck",
"Graf "B",
porta-aviões de 19.250 t., Zeppelin" e
"Prinz "Lützozv "L '
cruz. de 10.000 t., Engen", e
pesados

6 torpedeiros de 1.811 t.,

12 torpedeiros de 600 t.,

8 submarinos de 740 t.,

12 laça-minas.

Estes são os últimos dados que possuímos sobre o numero de

navios de em construção na Alemanha; A do


guerra partir presente

momento tudo não passará de hipóteses e conjeturas. Não resta

duvida que numerosos submarinos estão em construção. O é


que

certo é que grande atividade reina nos estaleiros alemãis. Seja em

Wilhelmshaven ou em Kiel, trabalha-se dia e noite ininterrupta-

mente...

Detemo-nos um pouco para examinar algumas das recentes uni-

dades da frota germânica. Entre as que já se encontram incorporadas

à Esquadra, prestando serviço efetivo, destacanm-se imediatamente


"Scharnhorst" "Gneisenau",
os dois couraçados de 26.000 t., e que

foram lançadas ao mar em' fins de 1936. São navios de 226 metros

de comprimento por 30 de Suas maquinas de 150.000 hp,


pontal.

são uma combinação de turbinas e de motores Diesel, como nos


"Koenigsberg";
cruz. tipo a velocidade maxima é superior à 30 nós.

O raio de ação, com o auxilio dos Diesel é considerável. A artilharia

pesada compõe-se de nove canhões de 280 m/m, em torres trip'ices,

sendo duas em caça e uma em retirada. Doze de 150 m/m,


peças
em 4 torres tríplices — 2 de cada bordo — formam a artilharia se-

secundaria. A defeza contra aeronaves está a cargo de uma bateria


"Scharnhorst"
de seis 150 m/m, e numerosas metralhadoras. Os

levam quatro aviões, são lançados meio de duas catapultas.


que por

O peso total do armamento e das munições é de 2.764 ton. A pro-


teção couraçada, muito estudada, é bem importante: a cintura blin-

dada tem espessura variando de 75-125-306 m/m. Ha, coirío na


"Deutschland"
classe dois convezes couraçados, de 60 e 100 m/m;
920 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

as torres são 200 m/m e o blokhaus tem couraça


protegidas por

espessa de 350 m/m. A defesa submarina do casco é completa. O

total da é de 12.517 kilos.


peso proteção

''Blüccr" ""Admirai
Os cruzadores e Hippcr", do pro-
pesados

de 1935, estão em serviço. Deslocam' 10.000 t., e são arma-


grama

dos com oito canhões de 203 m/m, doze de 105 m/m anti-aereos, etc.
"Liitzow",
O do de 1936 foi lançado em Bremen em 1 de
programa
"L"
de 1939, é o quarto navio desse modelo, o está em cons-
Julho

trução adiantada.

Entre os navios que foram lançados, e estão sendo concluidos,


"
citaremos os dois couraçados de 35.000 t., Bismarck", lançado em
"Tirpitz",
Wi 1 helrrfshaven em 14-2-1939, e construído Blohm e
por

Voss, lançado a agua em 1-4-1939. Essas duas poderosas unidades

de combate, armadas com oito canhões de 380 m/m, com tor-


quatro

res — duas em corso duas retirada — 150


e em doze m/m, e grande

numero de a/a. A couraçada é completissima. Esses


peças proteção

navios levam alguns aviões a bordo. Uma terceira unidade desse tipo

parece estar enT construção.

Os submarinos alemãis merecem especial relevo. Pelos dados

que temos, a Alemanha teria autalmente tres series de submarinos.


"U-l" "U-24", "U-25" "U-26," "U-27"
a de 250 t., a de 712 t., e a
"
U-3 2", de 500 t., mas, novas unidades, um total de 51
perfazendo

navios, foram terminadas recentemente. Todos os submarinos alemãis

são munidos de tubos lança-torpedos do calibre de 533 m/m. Seus

canhões variam entre 88 e 105 m/m. O ha de mais notável


que

nos últimos modelos de submarinos alemãis, é o emprego de motores

únicos. (Ver Revista Naval n. 15) Bem avaliar a repercur-


póde-se

são dessa novidade, lucro no dando margem


que permite grande peso,

para os outros elementos necessários aos subníarinos.

Pelo nos foi dado ver até agora, a Alemanha está utilizando
que

seus submersiveis os mesmos fins em 1917, de modo seme-


para que

lhante ao ataque ao comercio neutro, e incorrerá nos


possivelmente
mesmos erros doutr'ora. De modo não será de
políticos qualquer
surpreender ela tenha muito desses navios em construção.
que

Entre os navios estão em construção adiantada, destaca-


que

reníos "Graf
os dois porta-aviões de 19.250 t. : o Zeppelin" e o
"B".
A primeira dessas unidades foi lançada ao mar em fins de
A MARINHA ALEMÃ 921

Kiel, nos Estaleiros Deutsches Werke. São navios de


1938, em

comprimento 27 de As superestructuras são


250 m. de por pontal.

lateralmente, deixando assim completamente desembaraça-


dispostas

de manobra dos aviões. O armamento desses P. A. é


da a pista

composto canhões a/a de 150 m/m. Podem transportar


por quatorze

60 viões.

Paralelamente a essa atividade de construções navais,


grande

o Reich também é forçado a desenvolver e ampliar as instalações

terrestres à Marinha, e cogita-se atualmente proceder


pertencentes

ao alargamento Canal de Kiel — será o segundo desde a sua


do que

construção — Pensa-se dobrar a sua largura, é de 102 m., aumen-


que

sua — II m.
tando também a profundidade

5o) Organização Geral da Marinha Alemã:

A — Oficiais — Os desejam ingressar como oficiais


jovens que

na Marinha Alemã, o fazem meio de concurso, entre 18 e 20


por

anos. Uma vez aprovados são enviados para a Escola de Stralsund,

onde recebem os elementos da instrução militar. Con-


primeiros

cluido esse curso, são embarcados durante tres mezes a bordo dos
"Gorch "
veleiros-escola da Marinha Alemã: Fock" e Horst-Wessel",

de onde são transferidos para efetuarem' cruzeiros de instrução,


"
de duração de 6 a 7 mezes a bordo dos couraçados-escola S chleswig" -
"Holstein" "Schlesien".
e Findo o cruzeiro são promovidos a Aspi-

rante e, vão para a Escola Naval de Murwick, onde estudam durante

oito mezes. Após vários estágios à bordo das unidades da Esquadra

são promovidos a segundo-tenente n'um dos corpos de oficiais da

Armada. Cada especialidade tem o seu curso e as


proprio, promoções,

exeto para os corpos de maquinistas, comissários e engenheiros de


"
artilharia, vão até o supremo de General-Admirai".
posto

B ¦—¦ Marinheiros — Os marinheiros alemãis são formados exclu-

sivamente por volutarios, engajam anos. Findo o seu


que por quatro

tempo encontram na vida civil facilidades especiais, e são contem-

piados com um certo


pecúlio.

A viga-mestra da Marinha é, sem duvida constituída sub-


pelos
oficiais e sargentos, na Marinha Alemã sobressaem especialmente
que,

pelo seu espirito de disciplina. Esses inferiores da Marinha assentam

praça por 12 anos. As hostilidades de 1914-18 revelaram claramente

ao mundo o valor dos oficiais e marinheiros aleníãis. Não resta du-


922 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

vida cjue seus atuaes sucesores não desmereceram. Os efetivos da


Marinha Alemã elevam-se, em 1938 a 3.700 of., e 45.000 hom.
6o) Unidade de Comando.
A Marinha Alemã encontra-se diretamente subordinada ao Co-
mando Supremo das Forças Armadas do Reich. A unidade de coman-
do é hoje caso resolvido na Alemanha. As forças de Terra, Mar e Ar,
encontram-se sob a autoridade direta do Führer, de facto do General
Chefe do E. M. G. Essa autoridade dispõe de um E. M. integrado
de todas as armas. Tal concentração de comando é, atualmente pre-
vilegio único da Alemanha.
O E.M. da Marinha, chefiado pelo Almirante Raeder, tem
sede em Berlim, no Ministério da Marinha. D'ahi são expedidas as
ordens aos seus principais subordinados, os três Almirantes chefes
da Marinha Alemã: O Almte. Comandante em Chefe da Esquadra,
o Almte. Comandante da Esquadra do Mar do Norte, e o Almte.
Comandante da Esquadra do Mar Baltico.
7o) A Estratégia Naval Alemã.
Pode-se dividir a estratégia naval alemã em duas partes; a 1"
que diz respeito ao Baltico, c a 2a que diz respeito ao Mar do Norte
e Oceanos.
1" Baltico: O Mar Baltico é um lago, de pouca profundidade,
que têm comunicações para os outros mares por meio de estreitos
canais. Como em 1914, é de acreditar que esses canais serão logo do
inicio das hostilidades, minados pela Dinamarca; condição indispen-
savel à sua neutralidade. Uma vez efetuada essa minagem, a Alemã-
nha terá completo dominio do Baltico. Domínio esse,
que lhe é neces-
sario e que ela pôde manter com fracos efetivos, libertando assim
sua ação nas outras frentes de combate. O controle do Baltico auto-
rizará ainda o Reich a conservar e aumentar formidavelmente seu in-
dispensável intercâmbio com so estados escandinavos. Os outros
páises
balticos, Lituânia, Letônia, Estônia, Rússia e Finlândia, ficariam
assim quasi totalmente isolados.
As forças navais desses páises não podem de maneira alguma
competir com a Marinha Alemã. Dinamarca, Lituânia, Letônia
Es-
tonia e Finlândia só têm algumas unidades
guarda-costas, de pouca
tonelagem e diminuto valor militar. A Suécia,
que é a potência mari-
tinia a mais poderosa de todos os
páises escandinavos, não está atual-
A MARINHA ALEMÃ 923

condições de fazer face à Marinha Alemã. A Rússia, dona


mente em

navais relativamente importantes, mas de sabemos


de forças que pouco

o estado e preparação, conservar-se neutra... Provavelmen-


sobre parece

conservar inátivas sua esquadra, não permitir ao


te preferirá para

mundo das verdadeiras da Marinha Soviética.


julgar possibilidades

2:l Mar do Norte e oceanos: A experiencia da Grande Guerra mos-

trou claramente às autoridades marítimas alemãis, a melhor utiliza-


que

da sua frota de ter causado consideráveis danos aos


ção guerra, poderia

aliados. Atualmente a situação encontra-se sensivelmente modifi-

cada. Emquanto o Reich não dispuzer de seus couraçados de


"Home
35.000 t., é evidente não engajar a Flect".
que procurará
— o têm abundantemente — se
Sua tática com os fatos provado

à outrance dos submarinos — —


baseará no emprego política perigosa

aviões. será também — como o afundamento do


e dos Lhe possível
"Clement" —
em aguas brasileiras parece o ter demonstrado enviar
"
para os rtfares longínquos seus couraçados de bolso tipo Dcuts-

chi and". A presença de um só desses navios causará pesadas perdas

aos navios mercantes beligerantes. De fato, a Marinha Ingleza não

dispõe, por emquanto, nas proximidades das nossas aguas de nenhum'

enorme superioridade de sua artilharia — seis 280 m/m, oito

150 m/m — neutraliza cruzador ligeiro. Us únicos navios


qualquer

com os quais pôde a Marinha Britanica aniquilar o couraçado alemão,


"battle-cruisers"-, "Hood", "Renow" "Repulse",
são um dos ou
que
"Home
se encontram presentemente incorporados ao Fleet". Têm
"Deutschland"
artilharia superior ao e maior velocidade. Evidente-

mente a ação desses corsários alemãis, não acarretará os aliados


para

sinão uni prejuízo temporário, e, salvo melhor acreditamos


juízo que
seus dias estão de antemão contados — longe de base, e
qualquer

com reabastecimento e A historia nos ensina


precário problemático...
"corso",
que o principalmente feito nações sem o neessario
por

Poder Naval, é um paliativo inútil, afinal, não decide dos destinos


que

da vitória. Revista Naval, volume 2 e 3, ano de 1939 — Os


(V.

corsários) . Em resumo, a Marinha do III Reich, na atúal e.


guerra,

a não ser no Mar Baltico, dificilmente aspirar ao domi-


parece poder
nio dos mares, condição a Vitória...
primordial para

W. L. de Castro Guimarães
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS

CAMPANHAS PASSADAS

(CONTINUAÇÃO)

Atingimos finalmente, com a cronológica vimos


progressão que
seguindo, a Grande Guerra de 1914 — 1918; Guerra que o Planeta,

quasi todo conflagrado, marcou indelèvelmente na sua História com

Capítulos cheios de muito sangue, mas também turgidos de muita

glória e aureolados vezes de resplendente brilho!


por

Falando de um modo destacar três


geral, poderíamos fatores de

magna importância, aos Aliados a vitória sobre


que permitiram as

Potências Centrais e Áustria); seriam, na sua seqüência


(Alemanha

lógica: — a) o Exército Francês, b) a Èsquadra Inglesa, e c) as

Finanças dos Estados-Unidos da América do Norte.

O Exército Francês, fato de haver suportado


pelo galhardamente
o formidável ímpeto inicial dos Exércitos Austro-Alemães;

a Esquadra "domínio
Inglesa, ter exercido, desde logo, o
por

marítimo", o que introduziu na equação da não só um real


guerra
fator material como um expoente de elevadíssimo valor moral;

e as Finanças Americanas, sem elas não teria


porque sido possí-
"ganhar
vel aos Aliados a nítida e decisivamente, malgrado
guerra",

os fatores (a) e .
(b)

A resistência do Exército Francês, impedindo


que a guerra tivesse

um desfecho rápido, "poder


permitiu tirar todos os do
proveitos
naval' inglês; e de todos êsses o maior foi aquele
proveitos que
tornou possível o advento do fator: — Finanças Americanas!

Mais uma vez, "poder


e já então aos olhos da atual o
geração,
'
naval exerceu a sua incisiva influência na e todo o curso
guerra:
da campanha terrestre ficou intimamente dependente dos aconteci-
926 revista marítima brasileira

mentos desenrolados no mar. A munição consumida nos cam-


própria

pos de batalha era, em fabricada nos Estados-Unidos


grande parte, e

de lá transportada a Europa; transportada, necessàriamente,


para por
via marítima.

Manda contudo a histórica se diga o auxílio Ameri-


justiça que
cano não ficou circunscrito à financeira
parte (aliás impor-

tantíssima); cristalizou também num respeitável Exército de dois

milhões de homens Ia vez, assombro do Planeta,


que, pela para foi

transportado (completamente equipado e abastecido) através do

Atlântico, na sua maior largura, num de


percurso mais de 3000

milhas marítimas !!. . .

Não houvesse a Inglaterra entrado na guerra, ou dispusesse a


"poder
Alemanha de naval" superior ao dos Aliados, luta
a seria

vencida pelas Nações Centrais. Batida no mar, a Alemanha


perdeu
a guerra e as Colônias; não é manter
possível Colônias sem
"domínio
marítimo".

A Inglaterra de novo a sabedoria das


provou palavras pronun-
ciadas Lord — "o
por Kitchener antes da Governo
pouco guerra:
Britânico considera como um axioma a existência
que do Império

depende de adequadas e eficientes forças navais".


principalmente

Isso, dito um Marechal do Exército, tem dobrado


por valor!

Analizaremos mui sucintamente os episódios da Gran. e Guerra.


"campanha
A Grande Guerra mal constitue uma
passada" ...

Ainda vive demais na nossa memória, a


por para que possamos jul-

gar com acerto e com isenção de ânimo; está ainda sujeita a inú-

meras controvérsias.

Para que um acontecimento histórico constituir real


possa fonte

de estudos, é indispensável "tempo";


que já tenha tido a sanção do
"amadurecido",
é preciso que se tenha tornado assunto sazonado; é

necessário os anos sôbre êle decorridos o tenham expurgado


que das

fantasias e dos erros momentâneos de julgamento; é preciso a


que
História haja sôbre êle o seu veredictum
proferido definitivo!

Os acontecimentos históricos ser vistos de longe,


precisam para

que ofereçam verdadeira; olhados muito de


perspectiva perto, apre-

sentam detalhes não raro iludem o observador


que e lhe deturpam

as conclusões. A razão éque o observador quasi sempre se mostra


"detalhes"
propenso a dar a esses exagerada importância,
quando
eles, no entanto, não de incidentes secundários
passam na visão
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 927

na visão de conjunto. E a visão exige


panorâmica, panorâmica
"distância",
requer afastamento ...

"distância",
A na História, é representada anos e anos de
por

informações acumuladas, de análises e contra-análises, de debates

construtivos, de de estudos e meditações sobre os fatos


pesquisas,
"verdade
narrados nas suas A histórica" é obtida por
páginas.
"decantar"
decantação; e o único meio de a verdade, de destacá-la

da massa vezes confusa e indigesta das narrativas, é deixar que


por
"tempo"
o dispa tais narrativas das roupagens fantasistas e as apre-

sente depuradas, reais, verdadeiramente in nalura ...

"verdade
Pois bem, no caso da Grande Guerra a histórica"

talvez não tenlia ainda sofrido êsse processo de decantação, por


"tempo";
exiguidade de com efeito, ha menos de 18 anos troava

ainda o canhão, e os Capítulos daquela Guerra estavam em via de

elaboração!

Contudo, tiraremos algumas conclusões que se nos afiguram

úteis para emprego futuro, nas guerras do porvir; no mais, nos

contentaremos com as comparações fizemos, no correr do nosso


que já

trabalho, entre alguns dos episódios da Grande Guerra e outros

verificados em diferentes campanhas mais antigas.

"poder
Desde o início da Guerra, em Agosto 1914, o naval"

exerceu ação incisiva. Uma semana depois da declaração de guerra

feita pela Inglaterra, as tropas britânicas desembarcavam


primeiras

em território francês; no Mediterrâneo, as tropas africanas das

francesas eram transportadas o teatro da luta; e


possessões para

cessava quasi por completo, em toda parte, o comércio marítimo

Alemão !...

Um erro estratégico nos meses de a


permitiu, primeiros guerra,

fuga dos Cruzadores Alemães Goeben e Breslau, cuja entrada

em águas Turcas teve influência marcada no decurso da campanha;

dêsse erro resultou a entrada da Turquia na contenda, ao lado


pois

dos Impérios Centrais, o trouxe subseqüentemente inúmeras difi-


que

culdades aos Aliados.

"guerra
A de côrso", empreendida desde logo Cruzadores
pelos

Alemães espalhados pelo mundo, efeitos apreciáveis, si bem


produziu
"secundários"
inteiramente ao epílogo final da luta.
que quanto
928 revista marítima brasileira

Em Io de Novembro 1914, nas distantes águas do Pacífico que

banham o litoral chileno, tinha lugar uma notável batalha naval, que

importava numa decisiva derrota britânica!

Essa derrota foi, de um lado, fruto de um êrro estratégico, não


"examinado"
tendo o Almirantado Inglês bem a situação criada pela

existência de uma poderosa força de Cruzadores Protegidos alemães,

sob Von Spee, operava em águas da Oceania e


que, posteriormente
"tática",
do Pacífico; de outro, resultado de uma temerária decisão
"princípios"
infringiu bom número de fundamentais da
que

guerra ...

"Coronel",
A batalha, chamada do foi travada entre uma força

inglesa sob o comando do Almirante Christopher Cradock, composta

de 2 Cruzadores-Encouraçados (Good-Hope e Monmouth), de

um Cruzador-Ligeiro e de um transporte armado


(Glasgow)
— e uma força alemã muito superior, sob o comando
(Otranto),

do Almirante Conde Von Spee, composta de 2 Cruzadores-Encoura-

çados e Gnciser.au) e de 3 Cruzadores-Ligeiros


(Schamhorst

Dresden e Nurnbcrg; a fôrça inglesa foi decisivamente


(Leipzig,

derrotada, tendo ido a os 2 Cruzadores-Encouraçados Ingleses,


pique

com as respectivas guarnições.

O Io contacto visual teve lugar já bem tarde, ao largo de Coronel

chilena), com mar de grandes vagas e vento duro de SE, de


(costa

fôrça 7.

Von Spee, superior em velocidade, colocou-se entre o inimigo e

a costa chilena e só aceitou o combate que lhe oferecia Cradock depois

o Dresden conseguiu se reunir aos seus 2 Cruzadores-Encoura-


que

e ao Leipzig; e na ocasião em o sol se aproximava


çados que

do horizonte, detrás dos navios ingleses. Eoi os alemães


por quando

resolutamente sobre os ingleses, tendo em vista a diminui-


guinaram

das distâncias, eram então de cerca de 13000 jardas. Várias


ção que

tentativas feitas Cradock para engajar em ação decisiva à curta


por

distância e durante o dia era boa a sua situação relativa-


(enquanto

mente à iluminação: — Sol ainda acima do horizonte, navios Alemães

bem iluminados, e o revérbero ofuscando os artilheiros inimigos)

foram cuidadosa e evitadas Von Spee, com


pacientemente por

pequenas guinadas.
"pôr
Von Spee abriu fogo 9 minutos depois do do sol".
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 929

Foram a o Good-Hope e o Monmoutli, e esca-


postos pique

o Glasgozv e o Otranto; os navios alemães apenas sofre-


param

ram avarias ligeiras. Cradock ter fugido ao combate, para


poderia

o teria de sacrificar o Otranto, devido a ser navio de marcha


que

reduzida sem couraça alguma e fracamente artilhado.


(16'),

Contudo, não o fez! Procurou um combate extremamente desi-

contra uma força superior em tudo: — número e de


gual, qualidade

navios, treinamento, velocidade, posição tática ...

Os 2 Cruzadores-Encouraçados alemães tinham sido, nos 2 anos

"campeões
anteriores, os de tiro ao alvo" da Marinha Alemã, ao

as dos navios de Cradock eram bisonhas e


passo que guarnições

destreinadas.

Cradock levou o túmulo o segredo da sua decisão de com-


para

bater á outrance o inimigo! Teria sido uma prodigiosa fé no valor

naval britânico, valor firmado e consolidado por séculos de brilhante

tradição? Teria sido a persuassão de poderia, com um golpe de


que

extrema audácia, engajar combate à curta distância, ainda durante

o dia?

Ou teria sido representa, a nosso ver, a hipótese mais


(o que
"derrota"
verosímil) a convicção de a sua custaria ao inimigo
que

algumas perdas e grossas avarias, a ponto de impedir que êle (ini-

migo) prosseguisse na guerra de corso que vinha empreendendo

com sucesso?

Qualquer das hipóteses não resiste à crítica. Na guerra as

emoções devem ser controladas e ceder lugar aos cálculos frios e

ponderados ; os impulsos e arroubos pessoais são quasi sempre funes-

tos, quando não ditados raciocínio e pelo exame criterioso das


pelo

situações. A bravura inglesa, reafirmada no de


procedimento

Cradock, não compensou a derrota e a do domínio marítimo no


perda

Pacífico Sul-Americano! Cradock não devia ter o combate,


procurado

eram mui exíguas nulas ...) as suas chanças de êxito.


já que (quasi

Deveria ter abandonado o Otranto à sua sorte e se ter retirado

para o Sul com o Good Hopc e o Monmouth, ao encontro do

Encouraçado Canopus navegava então cerca de 350 milhas


(que

o Sul), encarregando o Glasgow de manter o contacto com


para

o inimigo.

Se a vitória em Coronel não foi completa e aniquiladora, devido

à fuga do Glasgozv e do Otranto, foi contudo, dadas as circuns-


930 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

lâncias reinantes, de mar grosso e caída da noite, a mais incisiva que


se poderia razoavelmente esperar: — os 2 maiores navios ingleses
postos a pique, com perda total das guarnições, 1 Cruzador-Ligeiro
avariado — ao passo que os navios da força alemã só tiveram ligei-
ras avarias materiais e, como perdas pessoais, apenas 2 feridos!!
No entanto os ingleses perderam 1 Almirante e 1654 homens!
Resumamos algumas deduções tiradas da batalha: — a) foi a
Resumamos algumas deduções tiradas da batalha: — a) foi a Ia
batalha naval propriamente dita, depois de Trafalgar, em que se empe-
nharam forças navais britânicas regularmente constituídas; b) nítida
vitória Alemã após 50 minutos de fogo; c) derrota inglesa devida à
má tática, material defeituoso e pessoal destreinado; d) conseqüência,
indireta pelo menos, de um erro estratégico do Almirantado britânico;
Cradock não concentrou a sua força naval disponível, e engajou
combate sem o velho Encouraçado Canopus, embora esse navio
estivesse apenas a 350 milhas para o Sul; f) Cradock anexou à sua
força um navio-auxiliar, mal armado, sem blindagem e de reduzida
velocidade, o que ipso-facto diminuiu a velocidade do conjunto da
força; g) Von Spee, devido à grande redução da velocidade global
da força inglesa ocasionada pela presença do Otranto, pôde, a
seu talante, fixar a hora, as posições e as distâncias de combate; h)
todo o combate (período de fogo) foi travado depois do sol posto:
na sua fase decisiva os navios ingleses ficaram perfeitamente silhue-
tados na direção do poente, ao passo que os navios Alemães ficaram
projetados sobre as montanhas da costa chilena, obscurecidos e quasi
invisíveis; i) os Alemães abriram fogo cerca de 6 minutos antes dos
ingleses, o que teve influência capital no certamen; isso talvez tenha
sido motivado pela falta de treinamento das guarnições dos canhões
(grandes balanços, pontarias difíceis, determinação penosa dos ele-
mentos para a abertura do fogo), bem assim pela má posição de
alguns canhões, pouco elevados sobre a linha d'água; j) o tiro dos
alemães foi ótimo, dados o porte dos navios, o estado do mar, e a
distância de fogo (11000 jardas); porcentagem de acerto de cerca
5 %, certamente elevada, superando bastante a de todos os outros
combates navais; k) a rapidez de fogo dos Alemães foi 3 vezes maior
do que a dos ingleses, o que representa completa inversão das condi-
ções verificadas nos tempos de Jervis e Nelson, em que os ingleses
atiravam 3 vezes para cada disparo do inimigo; 1) o tiro dos ingleses
foi péssimo, e os canhões de 9".2 e de 6" do Good-Hope não
»

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 9.11

um único impacto; durante todo o combate o Scuar-


obtiveram

2 Gneisenau 4, e no entanto os
nhorst foi atingido vezes e o

entre 30 e 40 impactos sóbre o capitânea de


alemães conseguiram

m) além das baterias de 6" colocadas em muito


Cradock; posições

baixas, os navios ingleses tinham também munição muito inflamável,

e como não havia meios de ocasião do arrebentamento


, protejê-la por

dos inimigos, muitos foram os casos de explosões de cargas


projéteis

de pólvora, seguido de incêndios.

Mas os alemães não tiveram tempo de dormir sobre os louros ...

Com efeito, apenas 38 dias mais tarde, em 8 de Dezembro 1914,

as águas do Atlântico Sul assistiam à terrível desforra tirada pela

Marinha Britânica, desforra importou no aniquilamento da


que

fôrça alemã!

"tático"
O desastre de Coronel resultou, em magna parte, de um
"tático"
erro estratégico, como dissemos; pois bem, o sucesso das

Falklands, foi a conseqüência direta de uma acertada medida

estratégica.

Lord Fisher, com a sua energia, atividade e visão estratégica,

fazia chegar a Port Stanley, nas ilhas Falklands, no dia 7 de Dezem-

bro 1914 (cêrca de 5 semanas depois do desastre de Coronel), uma

fôrça naval composta dos Cruzadores de Batalha Invincible


poderosa

e Inflexible; dos Cruzadores-Encouraçados Carnavon, Cornwali e

Kent; dos Cruzadores-Ligeiros Glasgow e Bristol e do navio-auxiliar

Macedônia.

E no entanto Port Stanley dista cêrca de 7500 milhas das bases

navais inglesas da Mancha e do Mar do Norte! Foi essa fôrça inglesa,

movimentada em completo segrêdo, no dia seguinte ao da sua


que

chegada às Falklands destruiu a fôrça de Von Spee ...

comentámos a imprudência do Comandante em Chefe alemão



"esclarecimento"
em se avizinhar do pôrto inglês sem pré-
qualquer

vio, bem assim a sua infeliz decisão de tentar fugir ao combate.

Agora apenas aduziremos alguns detalhes táticos férteis em

lições para o futuro. Vitória completa inglesa, tendo apenas esca-

de toda a fôrça alemã 1 Cruzador-Ligeiro c 1


pado (Dresden)

navio-hospital Seydlits; foram a ingleses, 2


postos pique, pelos

Cruzadores-Encouraçados e Geneisenau), 2 Cruzado-


(Scharnliorst
932 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

res-Ligeiros (Leipsig e Nnrnberg), e 2 navios do Trem. A ação


principal, entre os Cruzadores de Batalha ingleses (auxiliados, no
final, pelo Cruzador-Encouraçado Carnavon) e os Cruzadores-
Encouraçados Alemães, durou cerca de 4 horas e 30 minutos, desde
a abertura de fogo até o afundamento do último Cruzador-Encoura-
çado alemão — o Gneiscnau.
Entraram em luta, não só durante a ação principal como durante
os combates entre OCEs e OCLs, navios de "classes diferentes", o
que reduz bastante o valor tático da batalha.
Verificaram-se combates "em retirada", mas nos quais as "reti-
radas" foram impostas a um dos adversários pelo outro; por conse-
"em
guinte, tais combates podem também ser classificados como
"em "em
perseguição", ou caça". Nem sempre um combate reti-
rada" implica idéia de fuga; muitas vezes, pelo contrário, apenas
indica tática previamente deliberada por uma das forças para tirar
"em retirada", isto é, em
partido das vantagens que o combate
"posição avançada" — na direção do movimento
geral •— oferece.
O "combate em retirada" constituiu sempre a tática alemã no Mar
do Norte, por exemplo. A principal diferença (e esta altamente
expressiva) entre um combate "em
propositada e deliberadamente
retirada", e outro "em retirada" forçada, é que no Io o moral da
força em questão pode ser muito elevado, ao passo que no 2o êle deve
ser necessariamente reduzido ou até mesmo nulo; no Io pode existir
firme "vontade de vencer", e no 2o jamais existirá tal estado de
espírito, muito embora os fugitivos, à custa de ingentes esforços, de
disciplina e sentimento patriótico, consigam algumas vezes manter
apreciável "moral", posto que reduzido .. .
O "princípio" fundamental da Segurança não foi devidamente
observado nem por ingleses nem por alemães, no que respeita à
situação estratégica que precedeu imediatamente à ação tática!
Quanto aos ingleses, deixaram-se surpreender em condições
"precárias"
(em faina de carvão e realizando reparos de emergência)
pelo inimigo, o que poderia ter trazido sérias conseqüências.
"prin-
Quanto aos alemães, infringiram profundamente aquele
cípio" quando se aproximaram de um porto inimigo sem prévio
esclarecimento . ..
Além disso, convém dizer que o ataque naval a uma base terres-
tre, mesmo mediocremente defendida, é operação "arriscada", que
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 933

raras vezes tem sido executada com êxito. É um princípio geral-


mente aceito que — "navios não foram feitos para ataques a fortifi-
"a
cações terrestres"; para corroborá-lo ha o ditado inglês: — gun on
shore is wòrth three on deck ..." Evidentemente Von Spee, tendo
dado demasiado crédito às informações recebidas, esperava encontrar
PortStanley inteiramente desguarnecido de navios de guerra; mas
mesmo assim êle devia contar com baterias colocadas em terra,
mascaradas talvez, e a sua aproximação sem prévio esclarecimento
(o Gneiscnau e o Nurnberg navegando a 12 milhas apenas à vante
das suas forças) foi deveras temerária.
Temerária foi igualmente a aproximação que os 3 navios auxi-
liares executaram, por sua ordem, cosidos com o litoral da ilha inimiga.
É de notar que durante a batalha Von Spee reconheceu que
errara na sua decisão de atacar as Falklands, e fez sinal ao Coman-
dante do Gneiscnau (Marker) dizendo-lhe que êle tivera razão quando
se opusera ao citado ataque .. .
A tática principal usada pelos ingleses foi, em essência: —
combater inicialmente à grande distância, fora do alcance dos canhões
alemães sempre que possível, e, posteriormente, uma vez avariados
os navios inimigos, engajar em distâncias decisivas que permitissem
fogo eficaz. — Três fatores auxiliaram os ingleses na execução
dessa decisão tática:
a) — a sua grande superioridade de força, notadamente de arti-
lharia (canbões de 12" dos CBs ver sus canhões de 8" .2 dos CEs);
b) — a sua. superior velocidade, sobretudo com referência
aos CBs);
c) — o fato do contacto com o inimigo se ter verificado muito
cedo na manhã de 8 de Dezembro de 1914.
A tática inglesa foi sã e decorreu, em parte, de ordens expressas
do Almirantado, ordens segundo as quais os CBs deveriam ser pou-
pados o mais possível, pois eram considerados muito necessários
às operações futuras da Grand Fleet. Contudo, toda tática de
caráter "protelatório" traz certa dose de perigo; o tempo pode mudar,
o inimigo pode receber reforços, um golpe de fortuna ou imprevisto
pode se verificar, avarias súbitas podem surgir, etc, etc. É curioso
notar que nas Falklands o "tempo" mudou pela tarde, embora magni-
fico pela manhã; e que pouco antes do Gneiscnau ir a pique começou
mesmo a chover, por volta das 16 horas.
934 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Tivesse a chuva, e conseqüente má visibilidade, começado umas

2 horas mais cedo, e talvez os navios alemães lograssem escapar.

A grande utilidade dos Cruzadores de Batalha ficou evidenciada!

Só navios dêsse tipo ter conseguido aquele resultado,


poderiam

2 seguintes razões — a) tornaram


pelas primordiais: possível reunir

em excelente área estratégica uma força muito superior à força ini-

miga nessa área, dentro de tempo exíguo; b) devido ao


permitiram,
superior armamento e à maior velocidade, combater cautelosamente
"efetivo"
a grandes distâncias, fora do alcance dos canhões alemães,

e destruir assim os navios antagonistas com pequenas perdas


e avarias.

Com nenhum outro tipo de navio, insistimos, semelhante empre-

endimento seria Para derrotar, rápida e seguramente,


possível.

navios alemães de 11400 toneladas, de 22.5 nós, com couraças de 7",

bordadas de 6 canhões de 8". 2 — 40 e 3 canhões de 5". 9 — 40, deten-

tores de rccords de tiro ao alvo, agindo em extensas áreas milhares

de milhas distantes das bases navais da Inglaterra, seriam imprescin-

diveis navios mais velozes, de raio de ação, e de


grande possante
artilharia; ora, tais são exatamente os 3 característicos dos
principais
navios tipo Cruzador de Batalha.

Já dissemos que no mar, via de regra, as vitórias decisivas


por

são obtidas à custa de pequenos sacrifícios materiais e as


pessoais;
vultosas perdas se acumulando sobre o vencido ... Pois bem, nas
"vitória
Falklands tivemos mais um exemplo da típica" no mar: —

desbarato de uma das forças com e aniqui-


pesadas perdas-pessoais

lamento material, e, por outro lado, apenas ligeiras avarias e insigni-

ficantes na fôrça vencedora. Assim, os ingleses


perdas pessoais

tiveram um total de 6 mortos e 19 feridos, e avarias ligeiras nos seus

navios; ao passo os alemães cêrca de 2100 homens


que perderam

mortos e 220 prisioneiros, nos seus seis navios foram


que postos
a pique !...

Logo no início de 1915, em 24 de a Grande Guerra nos


Janeiro,

fornece outro combate naval interessante, chamado do — Dogger

Bank.

Cinco Cruzadores de Batalha ingleses, acompanhados de adequada,

fôrça ligeira, encontraram-se com três Cruzadores de Batalha ale-


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 935

mães, mais um velho Cruzador de Batalha, e certa força ligeira,

força inglesa sob o comando de Beatty e alemã sob o de Hipper.

"em
Feriu-se uma ação retirada", de resultado indeciso!
"princípio" —
Os ingleses se esqueceram do Nelsoniano: não

cessar a luta antes de aniquilado inimigo, — e interromperam inepta


o

e o combate. Os alemães sofreram a do


prematuramente perda

Blucher, a depois de 3 horas de combate, e tiveram


pôsto pique

o Seydlits avariado; os ingleses tiveram o Lion bastante


gravemente

danificado e fora de ação, e o Tiger ligeiramente avariado.


pôsto

Os resultados artilheiros foram o consumo de munição


fracos,

enorme.

Beatty, julgando ter visto um submarino bochecha de BE do


pela

seu Capitânea Lion, não só manobrou erradamente como fez um

signal confuso foi mal interpretado), do resultou o inde-


(que que

vido ataque em massa ao Blucher, avariado, e a fuga dos três


CBs alemães !...

"distribuição
Durante a batalha houve um grave erro na do fogo"
"fora
dos CBs ingleses, do que resultou ficar um CB alemão de

fogo" — o 2o navio da formatura, o Moltke; veremos na


que

Jutlândia, na Ia fase, houve erro semelhante, ainda dos


por parte

ingleses.

Os ingleses não só tinham superioridade de fôrça e de veloci-

dade, como estavam também colocados em conveniente, entre


posição

o inimigo e as suas bases, e, portanto, em condições de obstar a fuga

alemã e obter o aniquilamento do adversário. O Almirante Moore,

a bordo do Cruzador de Batalha New-Zecdand, 2o Comandante da

fôrça inglesa, ficou em situação deveras embaraçosa Beatty


quando

se retirou momentaneamente da área tática, devido a avarias no seu

Capitânea Lion; com efeito, Beatty não lhe formalmente


passou

o Comando, nem êle ousou assumi-lo iniciativa ... Êsse


por própria

fato tem sido muito debatido, e o consenso da maioria ser o


parece

de Moore não mostrou de iniciativa, tão


que qualidades pouco
coragem de assumir responsabilidades.

Assim, 3 das muitas lições do combate do Dogger-Bank são: —

que os Chefes devem estar imbuídos da crença de é necessário


que
aniquilar o inimigo; o serviço de sinais durante o combate é de
que

subida importância; e o subordinado caso o Almirante


que (no

Moore) deve exercer iniciativa e não se limitar ao cumprimento


936 PEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

estrito de um sinal lhe claramente absurdo caso o


que pareça (no
sinal interpretado como ordenando o ataque em massa ao Blucher,

já muito avariado e indo a pique).

Os alemães cometeram o êro de colocar na cauda da formatura

o navio mais fraco e menos veloz Blucher). Os fatos históricos


(o

persistem em freqüentes repetições ... em 14 de Agosto 1904



havia tido lugar o simile do êrro do Dogger-Bank, o Al-
quando
mirante Kamimura concentrara os seus Cruzadores-Encouraçados no

ataque ao Rurik, já avariado, e assim a fuga dos navios


permitira
russos — Gromoboi e Rossia.

Como no Dogger-Bank, foi também o navio menos veloz foi


que
"em
destruído; o combate foi também retirada" e o
(perseguição)
Rurik ocupava a cauda da russa. ..
formatura

Chegamos agora à máxima data naval da Grande Guerra, aquela

que marca a Batalha da Jutlândia. Maior batalha naval de todos os

tempos, fornece farta messe de ensinamentos, apresente


pôsto que
fases ainda muito controvertidas e sôbre as um
quais julgamento

sereno não foi possível.

Omitindo a descrição da Batalha, apenas faremos um resumo dos

ensinamentos, reportando-nos em a cada uma das suas 3


particular

fases: — a) combate dos Cruzadores de Batalha e do 5°


principais

Esquadrão de Encouraçados ingleses, b) ação entre os 2


principal

Corpos de Batalha, e c) combates noturnos.

Ia — A atuação do Almirante Beatty ter sido, de um


fase parece

modo geral, má e deficiente! Os exames sucessivos de situações

deveriam ter mostrado a êsse Almirante os Objetivos da sua


que

Força eram:

a) — antes de ser verificada a presença da Esquadra Alemã de


"aniquilar
Alto-Mar — a força de Cruzadores de Batalha alemães".

b) — depois de Verificada a da Esquadra Alemã —


presença
"manter
o esclarecimento em contacto, ampliá-lo, e informar devida-

mente o Comandante em Chefe sôbre os movimentos do Corpo de

Batalha alemão".

Na corrida para o Sul verificou-se a situação (a); na corrida

para o Norte a situação (b). Na situação (a) tudo indicava a


"concentrar"
Beatty a grande conveniência de a sua Força, antes de
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 937

atacar a Fôrça do Almirante Iíipper. Para dar combate com a bua

"concentrada", de
Fôrça êle devia ter adotado um Dispositivo
"concentração".
Cruzeiro tornasse fácil e rápida tal No entanto,
que

embora esperasse ver surgir o inimigo no SE, êle colocou


quadrante

no Dispositivo de Cruzeiro os 4 Es rápidos do 5o Esquadrão de Bata-

lha Almirante Evan Thomas) na marcação NW, a 5 milhas de


(do

distância dos Cruzadores de Batalha !.. Mais ainda, avistou


quando

os CBs inimigos, Beatty eles avançou se distan-


para prontamente,

ciando ainda mais milhas) dos 4 Es do Almirante Thomas ...


(10

O resultado foi esses 4 Es rápidos navios mais fortes


que (os

da Fôrça) só abrir fogo 30 minutos depois de iniciado


puderam

o combate CBs, e só depois de ter ido a o Indc-


pelos já pique

fatigable!

Beatty não coordenou portanto os movimentos da sua Fôrça

da Cooperação), não distribuiu bem éssa Fôrça (principio


(princípio

da Distribuição de Forças, — às vezes chamado da Economia de

Forças), e não concentrou os navios para a ação (princípio da

Superioridade) ...

tivemos ocasião, quando tratamos do período Nelsoniano,



"divisão
de comparar essa imponderada de forças" operada por
"divisão
Beatty na com a lógica e aceitável de forças" que
Jutlândia,

Nelson e ordenou em Trafalgar.


planejou
"aproximação"
A inglesa foi má, fora dos moldes clássicos, não

tendo Beatty mantido o alinhamento da formatura normal à marcação

do inimigo; como resultado só abrir fogo com 2 dos seus 6


pôde

navios, ao entrar na distância de fogo dos canhões, e teve por vezes

de manobrar debaixo de fogo. Vinte minutos depois de ter ido a

pique o Indcfatigablc, sob o fogo eficaz do Van der Tann, o

Qucen Mary, sob o fogo concentrado do Seydlitz e do Derfflingcr

saltou ares; submergiu imediatamente, em cêrca


pelos quasi que

de 30 segundos !!

Êsse fato, referente a um moderno e possante Cruzador de Bata-

lha de 27000 toneladas, representa sem dúvida um dos mais


patéticos

e surpreendentes incidentes de toda a Grande Guerra ...

Ao avistar a Esquadra Alemã de Alto-Mar Beatty e


guina

eontra-marcha acertadamente, e ruma o Norte b); não


para (situação

fez sinais aos 4 Es de Thomas, do resultou aproximarem-


porém que

se estes demasiadamente do Corpo de Batalha Alemão. Na situação


938 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

corrida o Norte, mesmo no seu início,


(b), para já Beatty tinha pago
"princípios"
muito caro infração de 3 importantes de
pela guerra,
"princípio"
citados, e mais inobservância de um 4o — o
já pela

do Objetivo ...

Já havia perdido 2 grandes navios, estava com o seu Capitânea

(Liou) avariado, e contudo não tinha avariado sèriamente nenhum

navio inimigo. Durante a corrida o Norte houve apenas tiroteio


para

espasmódico. Beatty não alcançou o Objetivo da sua Força, durante

essa corrida, pois não enviou informações exatas ao seu Comandante

em Chefe (Almirante Jellicoe) ; e a-pesar-de dispor de 14 Cruzadores-

Ligeiros na sua Força, perdeu o contacto com o inimigo!

Em resumo: — uma Força inglesa levou a pior num combate


"muito
com uma Força alemã inferior" em tudo, a não ser couraça-

mento; inferior em artilharia, velocidade, tonelagem e número

de navios,

2a Fase — Tendo Beatty falhado na sua de informações


pesquisa

e deixado de informar o Comandante em Chefe sóbre a


(Jellicoe)

exata posição da Esquadra Alemã de Alto-Mar, este ficou em situa-


"desenvolvi-
ção difícil, sem poder decidir com segurança sóbre o

mento" mais conveniente a Grand Fleet. Esta Grand Fleet se


para
"aproximava"
então em Linha de Divisões cm Coluna Divisões —
(6

24 Encouraçados) !

"desenvol-
Revelando profundo senso tático, Jellicoe ordenou o

vimento" sóbre a Ia Divisão do flanco esquerdo, Capitaneado


(a pelo
King George), muito embora tal manobra o afastasse temporária-

mente do inimigo.

A Grand Fleet navegava então ao rumo 122 graus.


"desenvolvimento"
O só pôde ser completado cerca de 22 minutos

depois, pelos 24 Encouraçados, visto como a velocidade teve de ser

reduzida de 18 14 nós causa dos CBs de Beatty estavam


para por que

então cortando a proa da Grand Flcct tomarem


para posição

à vante dela.

"desenvolvimento"
Pouco antes de terminado tal a situação do
"crítica",
Corpo Principal alemão se torna a extensa coluna de
pois
"com
16 Es e 6 OEs do Almirante Scheer apresenta curvatura e fica

o T barrado" pela Grand Fleet! Foi a Esquadra Alemã


quando

executou a Io contra-marcha simultânea, de 180 sob


graus portanto,

proteção de um ataque torpédico e de cortinas de fumaça.


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 939

Foi consequentemente desfeito o contacto entre as 2 Esquadras;


só cerca de 32 minutos mais tarde os CBs ingleses conseguem nova-
"con-
mente avistar o Corpo de Batalha alemão, em seguida a uma 2o
tra-marcha" simultânea executada pelos alemães. Pela 2a vez tor-
na-se "crítica" a situação alemã, com o "T" cortado pelos ingleses...
Fogo espasmódico, visibilidade má e muito variável. Foi nessa
ocasião, quando a vanguarda alemã já sofria os efeitos do fogo
concentrado dos ingleses, que o Almirante Scheer — para salvar a
sua Esquadra — fez o célebre sinal: — "Cruzadores de Batalha
ataquem o inimigo sem olhar a conseqüências", ao mesmo tempo que
ordenava um ataque "em massa" de CTs.
Tais manobras tiveram como escopo permitir que a Esquadra
"contra-marcha" simultânea e
pudesse, mais uma vez, efetuar uma.
se livrar assim da embaraçosa situação. Os CBs alemães contudo não
"em
atacaram "sem olhar a conseqüências", e quanto ao ataque
massa" dos CTs, foi de gra.níc êxito, pois embora não tivesse havido
nenhum impacto de torpedo, contudo o ataque forçou Jellicoc a
afastar-se (manobra de turn away), o que tornou possível a 3a
"contra-marcha"
alemã, mencionada, e a conseqüente fuga da Esqua-
dra de Scheer. Com efeito, Jellicoe perdeu então pela segunda vez,
e definitivamente, o contacto com o inimigo.
Nessa fase, em ações secundárias, foram postos a pique os CBs
Invincible (Inglês) e Lutzow (Allemão), os Cs Dcfence e Warrior
(I) e Wiesbaden (A), e 1 CT de cada contendor.
Na 3a "contra-marcha" alemã é forçoso admirar a confiança
absoluta que Scheer tinha na perfeita interpretação e na fiel execução
do sinal que fizera de "contra-marchar por BE"; confiança que o
levou a fazer com o seu Capitânea (Fricdricli der Grosse) uma
"arriscadíssima": — a de
evolução que só pode ser classificada de
"contra-marchar
por BB !!.. . Fê-la, declara êle, para dar maior
lazeira aos navios, embora reconhecendo o perigo que incorria de
levar séria dúvida a mente de cada Comandante de Encouraçado ...
Já comentámos esse incidente tático quando estudámos campa-
nhas anteriores. "em contacto" foi mau durante
O esclarecimento
a 2a Fase, por parte de ambos os antagonistas, com a conseqüente
ausência de informações seguras sobre os movimentos do inimigo.
A tática que Scheer, como Comandante de uma Esquadra inferior
em "poder combatente", esperava empregar (e que de fato conseguiu
940 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

— "obter
parcialmente empregar) era a de: forte concentração, com

canhões e torpedos, sôbre parte da formatura inimiga, e em seguida

operar retirada sob protecção de cortinas de fumaça e ataques

torpédicos".

Se encontrasse forças mui superiores, Scheer fugir,


procuraria
"em
ou, se forçado a combater, intencionava fazê-lo retirada"; preli-

minarmente atacar os Es e os CBs ingleses à saída das •


procuraria

suas respectivas bases, com submarinos.

"esmagar
A sua tática era, em suma: — uma do inimigo
parte

com a sua Esquadra concentrada, isso rapidamente, e em seguida

fugir do total das Forças inimigas". Tática sólida, característica-

mente Nelsoniana!

A tática de Jellicoe, consubstanciada na sua carta ao Almiran-


"deslocar-se,
tado, era a de: — com alta velocidade, um dos
para

da Esquadra inimiga, colocar-se eventualmente entre essa


flancos

Esquadra e as suas bases, e depois ao combate em águas não


forçá-la

por ela escolhidas".

Percebe-se o os armamentos navais modernos, sobretudo


quanto

as minas e os submarinos, influíram nessa tática de Jcllicoe !..

3o Fase — Jellicoe não


podia pensar numa ação noturna entre os

dois Corpos de Batalha, o da Grand Fleet e o da Esquadra Alemã.

Com efeito, combates à noite entre navios capitais, Es ou CBs,


"sorte"
são necessàriamente operações nas o fator entra
quais

como elemento de notável importância, como elemento talvez

preponderante .. .

Tais combates se reduzem a terríveis melées à curta distância

onde, em meio de enorme confusão, não raro CTs atacam Es amigos

e são estes atacados. O cuidadoso treinamento de uma Esquadra


por
"ação
se tornar sem valia numa noturna" ...
pode

"organizações" "combates
É claro que existem para noturnos";

mas toda e qualquer organização dêsse gênero, por mais elaborada


"precária"
que seja, torna-se em conseqüência da própria natureza

de tais combates e dos imprevistos inerentes às operações executadas

na escuridão.

Assim Jellicoe fez a Grand Fleet tomar Dispositivo nave-


para

gação à noite, em 3 colunas de Esquadras, e colocou os CTs pela

retaguarda.
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 941

Como êle (Jellicoe) estivesse em excelente estratégica,


posição

colocado entre o inimigo e as suas bases, em sendo


pensava que,

devidamente informado sôbre os movimentos noturnos da Esquadra

Alemã, certamente renovar a batalha com essa Esquadra na


poderia

manhã de Io de Junho.
"informações"...
Mas, 2a vez, faltaram-lhe as Durante a
pela

noite houve vários contactos entre forças ligeiras inglesas até


(e

mesmo dois Es) e a Esquadra de Seheer, mas o Comandante em


"informado"
Chefe inglês não foi nem uma só vez de tais contactos.

Nas ações noturnas entre fôrças-ligeiras os alemães 3 CLs


perderam
e 2 CTs; e os ingleses 5 CTs. Todavia a Esquadra Alemã conseguiu

passar pela retaguarda da Grand Fleet, aproximadamente às zero

horas de Io de e romper as suas bases navais.


Junho, passagem para

Embora tenha sido a maior batalha naval da História, nela

não tomaram nem submarinos, nem aviões, e nem foram em-


parte

pregadas minas.

A mera -tentativa esclarecedor,


do emprego de um avião, como

resultou em fracasso. nos com-


É possivel (e mesmo provável) que
"submarinos", "aviões" "navios-mineiros"
bates navais do futuro, e

possam encontrar emprego eficiente; mas estamos no entanto plena-


"artilharia
mente convencidos de a naval" terá nos tempos vin-
que
douros o mesmo caráter de arma decisiva os acontecimentos na-
que
vais históricos lhe vêm inequivocamente emprestando desde remotas
"artilharia"
eras! Sendo a a arma decisiva excelência, é claro
por

que o navio destinado a carregá-la, no seu máximo de será


potência,
"poder —
a expressão mais legítima do naval" o Encouraçado de
"poder
Esquadra. Êsse navio representa assim a verdadeira sede do

naval". Diz o Almirante Bacon — "navios inimigos não iguais em


que:

poder aos Encouraçados não em em


podem pensar permanecer qual-

quer lugar sem serem expelidos ou atacados êles". E mais: —


por
"a
Esquadra de Encouraçados fornece também aos navios-
proteção
ligeiros, correm a necessário".
que procurá-la quando

Foram os Encouraçados na Grande Guerra, aos


que, garantiram
"domínio
Aliados o do mar", com as enormes e decisivas vantagens

decorrentes!
942 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Esta constatação, de relevante importância, talvez represente


"máximo
(de acordo com o espírito e a letra do presente Tema) — o
rendimento aplicável às guerras futuras", que o "estudo" da Guerra
1914-18 permite; ela implica na afirmativa de que será necessário,
nas guerras futuras, obter o "domínio do mar", e que esse "domí-
nio" só poderá ser conseguido e exercido pela ação eficaz do "poder
naval", "poder" cuja sede é o Encouraçado de Esquadra!
Diz o Almirante Scheer ("A Esquadra Alemã de Alto-Mar na
Guerra Mundial"): — "Todas as armas têm direito a participar do
sucesso da batalha do Skagerrak. Mas, direta ou indiretamente, a
artültaria pesada de longo alcance dos Encouraçados foi o fator de-
cisivo".
E mais adiante prossegue: — "O grande navio de combate, En-
couraçado ou Cruzador de Batalha, é portanto, e será, a viga mestra do
poder naval. Deverá ser ainda mais desenvolvido, não só pelo aumen-
to do calibre dos canhões, como pelo da velocidade, e bem assim pelo
aperfeiçoamento da couraça e por uma melhor proteção abaixo da
linha d'água".

Malgrado o caráter de indecisão tática da Batalha da Jutlândia,


contudo o seu significado estratégico foi categórico e positivo: — a
manutenção do "domínio marítimo" pelos Aliados.
A Alemanha, em desespero de causa, lançou então a famosa cam-
"irrestrita", nos
panha submarina moldes de "guerra de corso" a todo
comércio e tráfego marítimo aliado.
Essa campanha, por muitos títulos odiosa, e caracterizada por ex-
trema crueldade, encontrou grande êxito e chegou a causar sérias apre-
ensões aos Aliados. Foi porém finalmente vencida, principalmente
"sistema de comboios"
pela adoção do e pela ativa campanha anti-
submarina; e não só para aquela adoção, corrío para esta campanha,
o navio tipo Contra-Torpedeiro se revelou de enorme utilidade!
O "Contra-Torpedeiro" moderno, equipado com bombas de pro-
fundidade, constitue o antídoto mais eficaz às atividades submarinas.
Dos três elementos novos que entraram em cena com a Grande
Guerra, 2 invisíveis e 1 visível, e que foram: a) o torpedo moder-
no, de longa trajetória e alta velocidade; b) a mina submarina
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 943

moderna; e c) o avião, — pode-se dizer eme o Io produziu, no com-


bate naval, efeitos razoáveis, posto que "secundários". Empregado
"guerra de corso", representou
pelos submarinos, em irrestrita e ilegal
no entanto papel que foi quasi decisivo. O 2o, não teve aplicação no
combate naval, embora tivesse tido enorme emprego nas operações
estratégicas da citada guerra. As "paravanas" constituíram defesa
bastante eficiente para o perigo dos "campos minados". Minas "deri-
vantes" poderão todavia encontrar emprego útil no combate, mor-
mente nas ações "em retirada"; e até mesmo as minas falsas poderão
ser úteis, usadas como estratagema.
O 3o, não teve igualmente aplicação no combate naval, nem tão-
pouco serviu aos fins da estratégia... Não se deve inferir, porém,
pelo que sucedeu na Grande Guerra, que o "avião" não venha a re-
presentar fator importante na estratégia e na tática do futuro; mas
o seu mérito na guerra naval está ainda na fase das
possibilidades...
Sobretudo na parte tática, no combate entre 2 Esquadras, a ação
das aeronaves constitue, na época presente, mero objeto de especula-
ções!...

À título de epílogo, relembraremos a nossa asserção: — o estudo


das campanhas passadas permite adquirir "experiência", por assim
dizer, na conduta das guerras; "experiência" que tanto será útil às
Nações, para fins estratégicos, como aos Chefes, para fins táticos.
É exatamente o escopo de adquirir "experiência" que o estudo
dessas campanhas deve almejar.
Embora variem com o "tempo" os armamentos, e isso implícita-
mente fará com que a sua aplicação deva portanto também variar,
contudo os chamados "princípios fundamentais da guerra" são de
caráter permanente, e tanto regem, no caso naval, as lutas entre frotas
a remos, como entre aquelas a vela ou a vapor. Daí a razão pela qual
o estudo histórico das campanhas — ainda no caso naval — não se
deve limitar às mais recentes, da Marinha a vapor "encouraçada"
por
exemplo; acrescendo além disso
que essas campanhas mais recentes
sao em número mui reduzido, relativaníente às numerosas lutas navais
do período "vela", do período "mixto", e da fase incipiente do
"vapor". período
944 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Examinámos sucintamente as campanhas mais antigas. Mas vi-

mos também, prosseguindo no nosso afã de mostrar pràticamente


"como "princípios
estudar as campanhas passadas", que os mesmos

básicos" continuaram orientando os acontecimentos verificados em

mais recentes, nas quais tomaram parte os moderníssimos navios


pugnas

de auto-propulsão, anxiliados por submarinos, aeronaves, etc.


providos

Vimos os mesmos elementos de êxito e de insucesso


que podem

ainda ser destacados das campanhas em que entraram navios a vapor

ou elétricos, Esquadras encouraçadas e flotilhas especializadas; que

as diretrizes tomadas com o placet da História, isto é, semelhantes

àquelas que conduziram à vitória nas lutas do passado, continuam (e

continuarão no futuro) a os mesmos bené-


provàvelmente produzir

ficos resultados; e que as medidas a História classificou como


que
"más"
nas suas páginas em sê-lo nos tempos atuais, isto
persistem

é, continuam hoje — tal nas —


qual longevas eras a levar à derrota,

ao desastre!

— "se
Constatámos, assim, a História efetivamente repete";
que

e que, precisamente devido a êsse caraterístico, deve ser tida como a


"conselheira
das Nações". O é imprescindível, sob
que porém pena
"princípios" "modo
de conclusões errôneas, é bem distinguir entre e

de aplicação" dos mesmos. Nos tempos atuais, exemplo, é bem


por

diversa essa aplicação comparada à da época Nelsoniana... Os navios

não níais dependem para sua locomoção de um elemento altamente


"vento";
incerto como o têm meios e seguros de locomoção.
próprios

Ainda mais, movimentam-se com alta velocidade, o exige dos Co-


que
mandantes em Chefe de Esquadras um alto treinamento tático. Hoje,

muito mais que no tempo


do das fragatas e das naus-de-linha, é pre-
"pensar
ciso: — depressa" !

"pensar "decidir
E não só depressa" como com rapidez"...

Nos tempos de Nelson havia tempo de sobra refletir e


para para
"examinar
situações", quer de ordem estratégica tática. Basta
quer
considerar, na parte tática exemplo, o se deu em Trafalgar.
por que

A Esquadra Franco-espanhola foi avistada 4 horas da


pelas
madrugada de 21 de Outubro de 1805, e no entanto o Io tiro da bata-
"Royal
lha, disparado Capitânea de Collingwood Sovereign"),
pelo (o
só foi ouvido ao meio-dia.

Assim, a batalha somente teve início 8 horas depois de estabclc-

cido contado visual com o inimigo ! A velocidade dos navios ingle-


A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS CAMPANHAS PASSADAS 945

zes era, na expressão de Nelson, de: — one ship's length a minute,


"um
isto é, comprimento de navio minuto"; o que corresponde,
por

levando em conta a Victory tinha 200 de comprimento, a


que pés

uma velocidade de 2'.

Essa velocidade extremamente moderada mesmo que


permitiu

Nelson conservasse no seu Capitânea o Comandante de uma das fra-

Blackwood) até o momento em o inimigo abriu


gatas (Captam que

fogo sobre a Victory, muito tempo depois de estar sob fogo a testa

da coluna de Collingwood.

Hoje, muito tempo decorre entre o contado visual e a


pouco

abertura de o ritmo mental dos Comandantes em Chefe terri de


fogo;

ser consequentemente acelerado, o raciocínio muito mais os


pronto,

exames de batalha muito mais rápidos. Na Marinha a vela a posição


"barlavento"
de era níuitos sobretudo por aqueles
por procurada,

que tinham o firme propósito de forçar o inimigo ao combate decisivo;

hoje a é aquela reúne condições favoráveis


posição procurada que

para o emprego da artilharia de longo alcance, condições incluem


que

iluminação, direção de mar e vento, do Sol ou da Lua, etc., e


posição
às vezes, existência de terras altas nas vizinhanças da área tática, con-

veniência de arrastar o inimigo determinadas zonas, para não


para
"interposições"
falar de considerações estratégicas exigir
que possam
"linhas
ou aconselhar o combate em interiores".
que possam
"queima-roupa",
Antigamente combatia-se positivamente à nas

naus de linha de 75, 120 e até 130 canhões; ou, como se dizia na época,

à distância de um tiro de Hoje combate-se às vezes a 17 e 18


pistola.

milhas de distância, mesmo fora do alcance visual, o tiro dirigido por

aviões.

As melées, tão freqüentes nos da Marinha a Vela, só


prélios

aparecem hoje nas ações noturnas, ou, ocasião de


possivelmente, por

cerrações inopinadas. Todavia, hoje como ontem, empregando Encou-

raçaJos ou naus de linha, utilizando Cruzadores e Contra-Torpedeiros

ou Fragatas, atirando com modernos engenhos de longo alcance ou

com canhões de retrocarga, — a melhor maneira de vencer é ainda


"princípio"
aplicando com oportunidade o da Superioriedade, aliado
"princípios
aos demais fundamentais da isto é, aplicando,
guerra";
"princípios
embora de modo diverso, os mesmos às
que presidiram
ações navais de antanho! Daí a vantagem de, analizando as ações na-
"princípios"
vais destacar esses aplicação futura; apli-
passadas, para
946 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

cação que é hoje feita mais ou Menos nos moldes das batalhas da

Jutlândia, do Dogger-Bank, do Coronel e das Falklands, mas


que

futuramente o será de modo algo diverso, tais sejam o desenvolvi-

mento e os característicos dos armamentos de então.

Não nos esqueçamos, terminar, a mais importante,


para que
talvez, das lições ministradas História, é aquela apresenta
pela que
o fator moral" como sendo de e decisiva importância
primacial no
desfecho das guerras.

O fator moral", sozinho, sem material adequado,


pouco conse-

guirá fazer; mas o material, extenso e elaborado


por que seja,
nada

de valor, se não fôr "moral"


fará, animado, vitalizado, fluxo !...
pelo

Não nos esqueçamos de hoje,tal como nos


que tempos de Bona-
"material"
parte, o moral está o assim
para como três está um;
para
e tudo autoriza a crença de nas
que épocas vindouras essa'porporção

se acaso não for "moral".


perdurará, por ainda aumentada em favor do

Rio, Abril de 1936.

Carlos Penna Botto

Capitão de Fragata

(FIM)

t .
A VISITA DO SR. PRESIDENTE DA

REPÚBLICA AO SUL

Durante o mês de Março, S. Ex. o Sr. Presidente da República

se dirigiu ao sul do país, inaugurando a base de combustível da ilha,

Rita, em S. Francisco, e vários estabelecimentos de utilidade pública

no Estado de Santa Catarina.

Partindo do Rio de Janeiro, a bordo do cruzador Rio Grande

do Sul, em companhia do Sr. Almirante H. Aristides Guilhem,

Mii-istro da Marinha, o Sr. Presidente, depois de visitar o Estado

de S. Catarina foi ao do Rio Grande do Sul assistir às grandes

manobras do Exército em Saican.

O Sr. Almirante Ministro da Marinha regressou do pôrto de

S. Francisco a bordo daquele cruzador, visitando o pôrto de Santos.

Transcrevemos em seguida as notícias então publicadas peia

imprensa local:

"Rio —
Bordo do Grande do Sul", 9, O Rio Grande do Sul passou era

frente á cidade de Parati ás 15 horas e 30 minutos, fazendo magnífica viagem

e desenvolvendo uma velocidade horaria de vinte milhas. O Comandante

Otávio Medeiros, sub-chefe da Casa Militar da Presidencia da Republica e

que já exerceu a cargo de 2° comandante do couraçado S. Paulo, conhece

perfeitamente toda esta zona e vem dando, durante a viagem, explicações

curiosas e interessantes ao Sr. Presidente Getulio Vargas.

Ás 16 horas, entrámos em aguas de S1. Paulo, atravessando a ponta de

Jacutinga, marca o limite do territorio fluminense. A costa paulista


que
apresenta uma cadeia de montanhas de grande altura, proporcionando magnifica

paisagem. Ante a beleza do panorama, o Chefe da Nação lembrou ao cinema-

tografista seria muito interessante uma reportagem. O Rio Grande do


que
Sul aproxima-se da ilha de São Sebastião, devendo fazer a travessia do canal
948 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

em marcha lenta, afim de que o Sr. Presidente da Republica possa avistar as

obras em andamento naquele porto.

"Rio —
Bordo do Grande do S-ul", 9 Apesar do Rio Grande do Sul

conduzir o Chefe da Nação em uma viagem especial, não foram suspensos os

exercícios normais de bordo. Assim é que, desde cêdo, trezentos marinheiros

deste vaso de guerra, movimentam-se em grande atividade, demonstrando

apurada instrução e grande preparo técnico. Ás 15 horas, realizaram-se as

provas de artilharia. Durante cerca de uma hora, os marinheiros realizaram

exercícios simulados, no convez e no tombadilho. O Sr. Presidente da Repu-

blica acompanhou, com grande interesse, essas provas, indagando dos seu-c

minimos detalhes, bem como do funcionamento das peças de artilharia de bordo,

seus tipos, modelos e marcas.

"Rio —
Bordo do Grande do Sul", 9 O Rio Grande do Stú continua

aproximando-se• da ilha de São Sebastião. O Sr. Presidente da Republica,

depois de trabalhar, por alguns momentos, no gabinete do comandante, subiu

ao tombadilho, onde leu os jornais cariocas, em companhia de todos os mem-

bros de sua comitiva. A banda de musica de bordo homenageou o Chefe da

Nação, executando interessante programa de musica popular. A viagem

magnífica. O Rio Grande do Sul passou ao largo do porto de


prossegue

Santos, mais ou menos ás 23 horas.

"Rio do —
Brdo do Grande Sul", 9 O Sr. Ministro Aristides Guilhem

acompanhará o Chefe da Nação até Florianopolis, de onde regressará ao Rio

de Janeiro. O titular da pasta da Marinha pretende inspecionar as obras

do Farol de Santa Marta. No seu regresso, o Almirante Guilhem passará

pelo porto de Santos.

"Rio —
Bordo do Grande do Sul", 9 O Rio Grande do Sul chegou á

ilha de São Francisco, ás 8 horas e 15 minutos. O Sr. Presidente, no tomba-

dilho, em companhia do Sr. Ministro da Marinha, dos Comandantes Medeiros,

Isac Cunha e Heraclides Fontela, do Coronel Benjamim Vargas, do Capitão

Manuel dos Anjos e do S'r. Decio Coimbra, assistiu o vaso de guera fundear.

Momentos depois, chegavam, de lancha, o Capitão do Porto, Comandante

Álvaro Pereira do Cabo; Tenente Bruno, comandante do Forte Marechal

Luz, e práticos da Capitania do Porto. Depois, o cruzador Rio Grande do Sul

partiu com destino ao porto de São Francisco atracando, em seguida, na base

de combustiveis da ilha Rita.


A VIAGEM do SR. presidente da república ao sul 949

"Rio —
Bordo do Grande do Sul", 9 O Sr. Presidente da Republica entre-

teve palestra no tombadilho do vaso de guerra, com o comandante Álvaro

Pereira do Cabo, capitão dos de Santa Catarina. Trocando impressões


portos
sobre a cidade de São Francisco, o Sr. Presidente interessou-se em saber dos

recursos médicos, casas de caridade, a situação do comercio, movimento do

porto, etc.

"Rio
Bordo do Grande do Sul", 9, — o Rio Grande do Sul, em
Quando
marcha reduzida, passou em fre.ite á Vila Bela, na Ilha de S. Sebastião, a

população local fez subir aos ares grande quantidade de fogos de artificio,

manifestando, desse modo, o seu regosijo do Chefe do Governo


pela passagem
por aquela ãlha. Á medida que o cruzador se aproximava da ilha, os holofotes

de bordo eram assestados sobre as obras do de S. Sebastião, afim de


porto
que o Sr. Presidente Getulio Vargas pudesse ter uma idéia do andamento

das referidas obras. De bordo, foi ouvido o Hino Nacional, executado por
uma banda de musica de Vila Bela, enquanto foguetes estrugiam no ar, sau-

dando o Chefe da Nação. Embarcações enfeitadas aproximaram-se do cruzador,


fazendo soar suas sirenas, em sinal de contentamento. A cidade estava toda
ornamentada. O Sr. Presidente Getulio Vargas, do tombadilho, não escondeu

aos membros da sua comitiva, a satisfação que o empolgava, ante as expressivas

homenagens de que era alvo.

"Rio —
Bordo do Grande do Sul", 9 (A. N.) Por ocasião da passagem
do cruzador por S'ão Sebastião, o Sr. Ministro Aristides Guilhem fez, ao

Sr. Presidente Getulio Vargas, detalhada exposição das obras daquele porto,
acentuando a sua importancia, pois irá desafogar o porto de Santos.

"Rio
Bordo do Grande do Sul", 9, N.) — O Sr. Presidente Getulio
(A.
Vargas despertou cedo, hoje, subindo imediatamente para o tombadilho, onde

já se encontravam o Sr. Ministro Aristides Guilhem e os demais membros

da comitiva. O cruzador continua fazendo excelente viagem, devendo chegar


hoje, ás 13 horas, ao porto de São Francisco. Ontem, ás 22 horas, o Rio

Grande do Sul passou em frente ao porto de Santos e ás 23 entrou em aguas

do Paraná. As 5 horas de hoje, o cruzador ao largo do


passou porto
de Paranaguá.

"Rio —
Bordo do Grande do Sul" 9 (A. N.) O programa das nomeia-

gens ao Chefe da Nação, durante o dia de hoje, é o seguinte: Ás 9 horas,

chegada á ilha da Paz; ás 10, inauguração das bases de combustíveis ali


950 KEVJSTA MARÍTIMA BRASILEIRA

existentes; ás 13 horas, almoço na Capitania do Porto; ás 15 horas, inauguração


de um hospital; ás 16 horas, visita á cidade, e ás 20 horas, um jantar oferecido

pela Municipalidade. Esse programa de homenagens será encerrado com a


realização de um baile, no Clube Cruzeiro do Sul, que terá inicio ás 22 heras.

"Rio
Bordo do Grande do Sul", 9, N.) — O Sr. Presidente da
(A.
Republica inaugurou a base de combustíveis na ilha Rita. Esse importante

departamento naval é obra do Comandante Álvaro Cabo e permite a atracação

de navios do maior calado. Possue enormes caixas dagua, depósitos de carvão,

oleo combustível e gasolina. A nova base, hoje inaugurada, permitirá que os

navios em exercício no alto mar ali se reabasteçam e prossigam nos seus

trabalhos sem a sua interrupção.

São Francisco, Santa Catarina, 9 — 0 cruzador Rio Grande do Std chegou

a este porto ás 10,15, rumando, após o desembarque do Sr. Presidente Getulio

Vargas e sua comitiva para a ilha Rita.

São Francisco, Santa Catarina, 9, N.) — O Sr. Ministro Gaspar


(A.
Dutra chegou a esta cidade viajando de avião, ás 11,45, tendo prosseguido via-

gem ás 13,30, rumo a Florianopolis.

São Francisco, Santa Catarina, 9, N.) — Logo após a chegada


(A.

do cruzador Rio Grande do Sul, o Sr. Presidente Getulio Vargas dirigiu-se em

lancha, diretamente para a ilha Rita, onde está situada a base para combustíveis.

O Interventor Nereu Ramos e o General Lúcio Esteves, entre outras pessoas

gradas, estiveram presentes ao desembarque do Chefe do Governo. As honras

militares foram prestadas por efetivos do 12° batalhão.

Trocados os primeiros cumprimentos e servida uma taça de cliampagne,

falou o Sr. Ministro da Marinha, Almirante Aristides Guilhem, acentuando

a importancia da obra que o senhor Presidente Getulio Vargas ia inaugurar.

A seguir, o Sr. Presidente da Republica pronunciou importante discurso.

Logo após, o Sr. Presidente percorreu todas as obras. S. Ex. regressou

ás 13 horas, em lancha, para São Francisco, almoçando na Capitania dos Portos.

São Francisco, Santa Catarina, 9 — O Sr. Presidente Getulio Vargas

pronunciou, no ato inaugural das obras da base da Aviação Naval, o seguinte

discurso:
A VIACfiM DO SE. PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO SUL 951

"
A inauguração das obras que incluem São Francisco entre as bases

navais do Brasil, oferece-me ensejo para reafirmar a satisfação com que

vejo reaparelhar-se a nossa gloriosa Marinha de Guerra.

Freqüentes vezes teuho assistido ás vossas solenidades e compartilhado

do júbilo das vossas comemorações, a não faltam as notas animadoras do


que
batimento de e do lançamento de unidades novas, frutos do vosso
quilhas
esforço e do apoio constante do Governo, empenhado em restituir á Armada

os elementos de carece o desempenho da sua alta missão no


que para perfeito
setor da defesa e segurança da Patria.

Nesta agradavel e rapida travessia ao longo das nossas costas, pude

colher, agora, impressões bastante satisfatórias, tanto com referencia aos seus

abrigos naturais e ancoradouros, como em relação á ordem e disciplina reinantes

nos estabelecimentos da Marinha e suas unidades de combate.

Trabalham os arsenais e estaleiros, treinam as tripulações, e em tudo se

percebe vigorosa e entusiástica vontade de realizar. A vossa corporação de

gloriosas tradições, ressurge com o vigor de outros tempos e, consciente das

suas responsabilidades, cuida de aparelhar-se convenientemente.

Quem ocupa, na extensão do litoral atlantico, área tão vasta, tem, por

força, de crescer e expandir-se no mar — campo obrigatorio da nossa atividade

economica e caminho que precisamos guarnecer. É necessário portanto, que


esse impulso criador não se detenha, de modo a podermos, em breves anos,

realizar a expansão marítima a que estamos votados determi-


pelo próprio
nismo geográfico.

A nossa prosperidade depende, em grande parte do desenvolvimento das

comunicações e da capacidade de le,var os nossos produtos de uira extremo a

outro do país e aos portos de outras nações. Até mesmo a liberdade de aí ir,

na esfera da política internacional, se acha condicionada ao poder da .ossa

fróta. E, bem sabeis, é obrigação precipua de uma Nação, que dispõe de

tlinelagem mercante apreciavel, garantir o livre curso dos seus navios de

comercio com os canhões das suas belonaves.

Felizmente, adotamos, para conseguir esse objetivo, um programa de tra-

balho que se vem realizando segura e metodicamente, com a colaboração deci-

siva do brilhante quadro da vossa oficialidade e irrestrito apoio do Governo, que


em bôa hora confiou as responsabilidades da pasta da Marinha á direção

patriótica e esclarecida do Sr. Vice-Almirante Aristides Guilhem. Além de

numerosas obras basicas como esta aumentamos o numero de unidades da

Esquadra, de acordo com as suas mais urgentes necessidades. Lançaremos ao

mar ainda no corrente ano, três contra-torpedeiros e iniciaremos a construção

de outros seis. Resta-nos prosseguir sem esmorecimento, e ampliar a esfera

de ação dessas iniciativas, fecundas em exemplos e experienoia. Nos limites

das nossas possibilidades economicas e financeiras, continuaremos a reforçar

o potencial militar do país de forma a sobrepor-nos ás ameaças e perigos

da época conturbada que o mundo atravessa.

Depaiis desta visita, que vai sendo tão grata, prosseguirei para o Sul,

rumo á região do Saican, onde se realizam as manobras do Exercito, dentro


952 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

do mesmo espirito de disciplina, ordem e trabalho que vos anima. E este

paralelismo de esforços, exemplificante pela coincidência de previsão patriótica,


impõe a confiança geral e deixa a todos os brasileiros a certeza de que as
forças armadas saberão levar a bom termo as suas pesadas tarefas, a serviço

das instituições e dos ideais de engrandecimento do Brasil.

Senhores.

Louvando a todos os que contribuíram, com a intelligencia e com o braço,

para a realização desta obra, renovo os meus ardentes votos pela maior gloria
da Marinha Brasileira".

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 de Março de 1940.

O REGRESSO DO MINISTRO DA MARINHA

De regresso do Estado de Santa Catarina, até onde foi acompanhando o

Sr. Presidente da República, chegou ontem, pela manhã, a está capital, o

Almirante Henrique Aristides Guilhem, Ministro da Marinha, que veiu em

companhia dos seus auxiliares de Gabinete Capitães-Tenentes Eurico Peniche

e Ataualpa Neves.

Aquele titular e os seus auxiliares viajaram a bordo do cruzador Rio

Grande do Sul, que havia partido desta capital, no dia 8 do corrente conduzindo

o Chefe da Nação á sua viagem até aquele Estado de onde seguiu para o

Estado do Rio Grande do Sul na Terça-feira ultima.

A CHEGADA DO CRUZADOR RIO GRANDE, DO SUL

O cruzador Rio Grande do Sul, que havia chegado a Santos, ás 9 horas,

do dia 13 do corrente, depois, da indispensável demora, zarpou para o nosso

porto, onde ás 8 e 45 minutos de ontem, como acima dissemos, fundeou em frente

á Ilha Fiscal.

O DESEMBARQUE NO ARSENAL DE MARINHA

Logo que o mesmo vaso de guerra ancorou, seguiu na lancha Sá Peixoto

do Arsenal de Marinha, o Capitão de Fragata Jeronimo Francisco Gonçalves,

sub-chefe do Gabinete daquele ttiular, afim de apresentar os primeiros cum-

primentos a bordo ao Almirante Aristides Guilhem e aos demais oficiais que

acompanharam S. Ex.

Cerca das 9,30 horas, o Sr. Ministro da Marinha tomou a lancha que o

havia ido receber, chegando dez minutos depois, ao Cais dos Almirantes no

Arsenal de Marinha desta Capital onde o aguardavam o Capitão de Mar e

Guerra Adalberto Landim, chefe de seu Gabinete; o Capitão de Corveta José


Espíndola, também, de seu Gabinete e o Sr. Vitor Guilhem, filho do mesmo
A VIAGEM DO SR. PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO SUL 953

titular e ainda os representantes da imprensa junto ao Ministério da Marinha.

S. Ex., logo ali recebeu os cumprimentos, em terra.


primeiros

Almirante Aristides Guilhem seguido de seus auxiliares dirigiu-sè então


O

o seu Gabinete, indo ao salão nobre do Ministério


para porém, primeiramente,

onde aguardavam S*. Ex. os Almirantes e oficiais superiores chefes de serviços

funcionários outras inclusive os oficiais


da Armada, civis e pessoas gradas,

da Missão Naval Americana.

NO SALÃO DE HONRA DO MINISTÉRIO DA MARINHA

Assim, o Sr. Ministro da Marinha deu entrada no salão nobre, para


que
ele se encaminhou o Almirante Castro e Silva, chefe do Estado Maior da

Armada, usando da de congratulação com o titular da pasta da


que, palavra,
Marinha êxito de sua viagem até Santa Catarina, onde pôde verificar
pelo
o ali, de beneficio resultar o futuro das nossas forças de mar.
que pôde para

O Almirante Aristides Guilhem, agradeceu os cumprimentos e congratu-

lações lhe eram apresentadas Almirante Castro e Silva, dizendo da


que pelo

satisfação que sentira ao conhecer o valor e o estado das obras executadas

nos pontos do litoral do Sul, e que servirão para o melhor aparelhamento

futuro da nossa Esquadra sempre que demandar àquela importante Base da

nossa Marinha de Guerra.

Entre os almirantes e oficiais superiores que esperavam o mesmo titular

achavam-se os Almirantes José Machado de Castro e Silva, E. A. de Brito e

Cunha, Dario Pais Leme de Castro, Tácito Reis de Morais Rego, J. F. de

Azevedo Milanês, Raimundo de Melo Braga de Mendonça, Américo Vieira

de Melo, Otávio Tosta da S'ilva, Mario de Oliveira Sampaio, Armando Trom-

powsky de Almeida, Comandantes Paulo da Rocha Fragoso, Galdino Pimen-

tel, Durval Teixeira, Milciádes Alves, Lucas Boiteux, Gustavo Goulart, Oscar

Frias Coutinho, Mario Furtado de Mendonça, Hugo Orosco, F. Reis Viana e

M. Rebelo de Mendonça e Srs. Carlos Maya Ferreira, Carlos Cardoso de

Paiva e outras pessoas.

A banda de musica do Corpo de Fuzileiros Navais, tocou á entrada do

Ministro da Marinha na sede do Ministério e o cruzador Rio Grande do Sul

deu as salvas da pragmatica ao deixar S. Ex. o mesmo navio, onde, segundo,

S. Ex. declarou aos representantes da imprensa fez excelente viagem, enquanto

esse vaso de guerra, em marcha garbosa mantendo sua velocidade, restritamente,

maxima, conseguiu realizar uma viagem ótima sobre todos os seus de


pontos
vista, tanto na ida como na volta.

AS IMPRESSÕES DO MINISTRO DA MARINHA DE

REGRESSO DO SUL

O Sr. Ministro da Marinha, ao ser cumprmientádo pelos representantes

da imprensa, lhes declarou que incumbira o seu auxiliar Capitão-Tenente Eurico

Peniche, de transmitir súas impressões á imprensa.


954 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Logo depois, o Comandante Eurico Peniche, assediado pe!os jornalistas


lhes declarou que o Sr. Ministro da Marinha regressava muito bem impressio-

nado por tudo que vira e que se relaciona com a nossa Marinha de Guerra.

Nas visitas realizadas aos pontos do litoral de Santa Catarina, como o porto
de S. Francisco, a Ilha Rita onde ficou instalada a Base de Combustíveis, do

Sul, e o porto de Florianopolis, como os Imbituba, Laguna e onde está situado

o farol de Santa Marta, o Almirante A. Guilhem verificou a necessidade de

neles serem dadas as mais imprescindíveis providencias, dotando-os dos melho-

ramentos de que tanto carece.

Em Florianopolis, vai ser remodelada a Capitania do Porto, a séde da

Escola de Aprendizes e também nesses dois departamentos navais, serão intro-

duzidos os melhoramentos que também, necessitam.

Chegando a Santos o Sr. Ministro da Marinha teve uma conferencia

com Superintendentes Geral da Companhia das Docas, para a escolha do local,

destinado á carreira para a construção de unidades navais, e um outro ponto

para a instalação da séde da Capitania do Porto, onde S'. Ex. de igual modo

esteve e se entendeu com o Capitão dos Portos, Capitão de Mar e Guerra

Silvio de Noronha.

S. Ex. estudou ainda, ali, as possibilidades a reinstalação naquele


para

porto paulista, ou em outro ponto do litoral de São Paulo, da Escola de

Aprendizes Marinheiros, que os paulistas tanto desejam ver de novo tun-

cionando.

Outras iniciativas serão tomadas por S. Ex. que apenas, espera o regresso

do Sr. Presidente da República, pára o assentamento dessas novas medidas

indispensáveis á nossa Marinha.

S. Ex. vem agradavelmente bem impressionado com as manifestações

que lhe foram prestadas em Santa Catarina, notando o quanto aquele estado

sulino, admira e exalta a nossa Marinha de Guerra.

Em Santos S. Ex. também, recebeu inequívocas demonstrações de apreço

partidas das autoridades locais e por parte do povo santista.

S. Ex. depois de demorar-se até ás 12 horas, em seu Gabinete, dirigiu-se

para sua residencia, afim de receber os cumprimentos das pessoas de sua fami-

lia, de parentes e amigos.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 de Março de 1940.


DO MPHIIIO Eltl OS CIIBS

m ESEOUIS Hll DO BIE,

¦nn e cie

(Continuação) (1)

Prosseguindo vamos vêr sejam os


quais programas das matérias

do nosso 2.° ano superior, 2.° ano da Kscola Naval Argentina e

3.° ano da Chilena.

BRASIL

MECÂNICA RACIONAL E APLICADA

Centro de gravidade. Momento de área e de massa. Aplicações às linhas,

às áreas e volumes —• Teoremas de Pappus.

Momentos de inércia — Aplicações às áreas e aos volumes, regra de

Routh — Elipse de inércia — Cinemática do — Movimento retilíneo,


poi\to:
velocidade, aceleração, diagramas do movimento.

Vetores — Operações sõbre vetores, decomposição. Cinemática do ponto:

movimento curvilíneo; velocidade e aceleração. Hidrógrafo. Aceleração tan-

e normal. Movimento de um ponto em coordenadas — Mo-


gencial polares

vimerito circular.

do — Força. de movimento. Unidade de


Dinâmica ponto Quantidade

força — Equação diferencial do movimento retilíneo — Princípio da ação

— Movimento curvilíneo — Equações intrínsecas de movimento —


das forças

Equações polares.

(1) Vide número Janeiro-Fevereiro de 1940.


956 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Trabalho — Elementar e total, expressões.


Energia cinética — Unidades — Potência — Impulsão.
Movimento sujeito, pressão dinâmica —¦ Momento duma força, expressão
analítica. Momento cinético.
Campos de forças — Movimento dum ponto num campo constante — Apli-
cação ao caso do campo gravífico, curva balística. Movimento sujeito: —
plano inclinado, pêndulo simples e pêndulo cicloidal.
Forças centrais — Velocidade areolar. Lei das áreas.
Órbitas circulares — Equação diferencial da órbita.
Movimento num campo Newtoniano — Caso do campo harmônico. Compo-
sição dos movimento harmônicos.
Movimento num meio resistente — Movimento harmônico amortecido —-
Movimento com uma resistência proporcional à velocidade.
Campo conservativo — Potencial — Energia potencial — Princípio da
conservação da energia — Linhas de nível e linhas de força. Potencial newto-
niano.
Dinâmica dos sistemas — Teoremas gerais — Energias dos sistemas ma-
teriais — Sistemas invariáveis — Translações e rotações. Movimento unipla-
nar — Movimento helicoidal — Equações do movimento.
Equilíbrio das forças; — condições analíticas.
Aplicação aos fios flexíveis, catenária — Estabilidade do equilíbrio.
Mecânica aplicada e mecânica física.
Resistências: — Atrito — leis do atrito. Aderência, trabalho absorvido
pelo atrito; casos dos munhões e dos mancais de escora — Indeterminação
do equilíbrio — Movimentos bordejantes. Resistência ao rolamento; leis;
trabalho absorvido por essa resistência — tração dos veículos. Força aderente
e esforço máximo da tração.
Rigeza das cordas, leis de Coulomb. Resistência do ar; lei quadrática.
Choque dos sólidos, direto e indireto — estudo do caso de duas esferas.
Aplicação ao bate estacas.
Centro de percussão.
Cinemática aplicada — teoria dos mecanismos: Classificação de Wills —
Engrenagens cilíndricas e cênicas, traçado dos perfis; método dos envoltórios,
dos roletes e dos normais. Cremalheira.
Engrenagens helicoidais, parafuso sem fim — Trens simples de engrena-
gens e trens epicicloidais — Sistema corrector e manivela. Paralelogramo
de Watt; conjugação com uma manivela — Juntas — universal, Oldham e
de Hooke. Excêntricos; — Excêntrico de coração — Excêntricos de quadro
circunscrito: triangular e circular — Sarilho ordinário e diferencial. Polias,
fixa e móvel; talhas e teques — talha diferencial.
Equilíbrio das máquinas simples.
Equilíbrio de um fio sobre um cilindro.
Freio de lâmina flexível ou de corda.
COMPARATIVO 957
ESTUDO

— Equação do movimento. Fases.


Teoria do movimento das máquinas

—¦ Rendimento — Noções sôbre a regu-


Impossibilidade do moto-contínuo

larização do movimento.

— — dos
Teoria do efeito girostático princípio fundamental paralelismo

— desviador — Aplicações aos projetis


eixos precessão e nutação conjugado

e aos aeroplanos.

ELECTRICIDADE E NOÇÕES DE RÁDIO-ELECTRICIDADE

Energia seus fatores. A como de energia elé-


eléctrica e pilha gerador

ctrica. Corrente eléctrica. Noção de de electricidade, de diferença


quantidade
de potencial e de intensidade de corrente.

Resistência dos condutores. Lei de Ohm. Reostatos.

Trabalho eléctrico das correntes. Efeito Joule e suas aplicações.

Electrólise. — Suas aplicações.

Leis de Kirchoff.

Pilhas. Tipos mais usuais. Acumuladores. Carga e descarga. Magnetis-

mo. Imans naturais. Acção da terra sôbre os imans. Campo magnético. Po-

tencial magnético. Filetes solenoides.

Folheies magnéticos. Imans artificiais. Processos de imantação.

Imantação temporária. Histeresis. Fluxo de inducção. Permeabilidade ma-

gnética. Corpos magnéticos e diamagnéticos.

Campo por uma corrente. Regras de Am-


Electromagnétismo. produzido

e de Maxwell. Lei de Laplace. Regra de Fleming.


père

Trabalho correntes sob a acção de um campo magnético.


produzido pelas

de uma corrente. Equivalência de uma corrente e de um folhete.


Potencial

Regra de Faraday.

Sistema electromagnético de unidades. Unidades práticas. Padrões de uni-

dades.

Solenoides. Intensidade do campo no interior de um solenoide. Acção da

Terra sôbre os solenoides.

Acção das correntes sôbre as correntes. Rotações e deslocamentos electro-

magnéticos. Eléctro-imans. Circuito magnético. Fôrça magneto motriz.

Galvanômetros. Shunts. Amperímetros. Voltímetros. Wattameíros e con-

tadores indusriais.

Noções de electrostática. Leis cie Coulomb.

Campo eléctrico. Fluxo de fôrça. Teorema de Gauss.

Distribuição da electricidade. Pressão electrostática.

Capacidade dos condutores. Condensadores.

Inducção electromagnética. Lei geral da inducção. Sen'.ido da fôrça eléctro-

motriz da inducção. Regras de Maxwell e de Faraday.

Aplicações da inducção electromagnética. Coeficiente de self inducção de

uma bobina. Extra correntes directa e inversa. Estudo do regimen variável

e do regimen da corrente em um circuito possuindo self inducção.


permanente
958 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Trabalho produzido imantação. Inducção mútua


pela de dois circuitos.
Correntes de Foucault.

Considerações gerais sobre as grandezas alternativas. Correntes alternati-!


vas. Período, freqüência, alternância, e fase.
pulsação Corrente alternativa
em um circuito que resistência e self inducção.
possue Expressão da intensi-,
dade da corrente. Impedância de um circuito.

Valores instantâneo, máximo, médio e eficaz de uma grandeza alternativa.


Angulo de defasagem. Potência média. Factor de potência.
Intensidade da corrente em um circuito que possue self e capacidade.
Reatância e capacitância de um circuito. Resonân-cia num circuito possuindo
self e capacidade.

Representação gráfica das alternativas.


grandezas

Noções gerais sôbre as correntes polifásicas.


Oscilações eléctricas. Propriedades dos circuitos percorridos pelas corren-
tes de alta freqüência.

Descarga oscilante dos condensadores. Arco cantante.

Efeito termiônico. Válvulas termiônicas e suas propriedades. Produção;


das oscilações eléctricas pelas válvulas termiônicas.

Propagação das oscilações eléctro magnéticas nos fios condutores.


Ondas eléctricas. Experiências de Heríz.

Recepção das ondas electricas. Deteetores de ondas mais usados.

Radiogoniometria.

Telégrafo terrestre. Sistema Morse. Sistemas aperfeiçoados. Telegrafia


submarina.

Telefone electromagnético de Bell. Microfone de Hughes. Estações e


linhas telefônicas.

Noções de radiotelefonia.

Descarga eléctrica através dos gases rarefeitos. Raios catódicos. Raios X.

Ligeira apreciação sôbre as teorias modernas da Física.

Paralelamente ao desenvolvimento dêste deverão os


programa
alunos realizar, no laboratório, verificações experimentais, ensaios,

medidas eléctricas e radioeléctricas.

TERMODINÂMICA E GERADORES DE VAPOR MARÍTIMOS

E COMBUSTÍVEIS

TERMODINÂMICA:

Sistemas de unidades.

Trabalho recebido e trabalho fornecido um sistema sujeito a fôrça


por
de pressão.
Instituição da equação característica dos constantes dos
gases perfeitos:
gases perfeitos.
ESTUDO COMPARATIVO 959

Misturas gasosas.
Equações de Wan-der-Waals e de Clausius.
Coeficientes calorimétricos.

Transformações adiabáticas: formula de Laplace.


Primeiro princípio de termodinâmica.

Segundo princípio de termodinâmica.

Estudo dos vapores e em vapor d'água.


particular do
Equação de Callendar.
Tábuas e ábacos do vapor d'água.
Compressão dos e do frio.
gases produção
Motores térmicos: diversas espécies de rendimento.
Máquinas alternativas. Ciclo de Rankine.
Escoamento adiabático dos fluidos, expansores, 'urbinas
a vapor.

Máquinas de combustão interna. Ciclo de Beau de Rochas. Máquina Diesel.


Ciclo de Joule.

GERADORES DE VAPOR MARÍTIMOS:

Noções gerais. Definições.

Estudo dos geradores flamatubulares e aquatubulares usados na Marinha


de guerra.

Consumo d'água e de combustível. Rendimento dos geradores.


Conservação dos geradores.
Acidentes e reparos mais freqüentes.

COMBUSTÍVEIS:

Estudo dos combustíveis sólidos e líquidos em uso nos geradores de va-


por marítimos.

Instalações para queima dos combustíveis líquidos.


Tiragem.

Recebimento e acomodação dos combustíveis a bordo.

VAPORIZADORES E DISTILADORES:

Estudo dos vaporizadores isolados e conjugados.


Rendimento dos vaporizadores.

Estudo dos distiladores.

Rendimento dos distiladores e estudo das condições em que o seu funcio-


namento é econômico.

RASCUNHOS COTADOS

1." Parte — Preparatória:

Generalidades. Instrumentos.

Considerações sobre o desenho em geral.


Desenho projectivo.
Alfabetos e traços.

Vistas, cortes e tracejados.


960 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Cotagem. Convenções. Execução dos rascunhos em Noções sôbre


geral.
pequenos órgãos de ligação, fixação, etc.

Parte aplicada:

Prática de rascunhos de pequenos órgãos de ligação, fixação e outros, de


uso freqüente em máquinas, à mão armada e desarmada. — Prática de ras-
cunhos de peças simples e de dificuldade progressiva. Prática de rascunhos
de conjuntos e detalhes. Exercícios sôbre leituras de traçados, correcções de
rascunhos mal riscados, mal cotados e fóra das convenções usuais; rascunhos
de memória; cotejo de rapidez e bom senso na escolha das vistas cortes,
e exe-
cução de seu traçado, cotagem, etc.

Já vimos às matérias compreendidas no do


que quanto quadro
Departamento Complementar, o estudo do inglês é prosseguido no

2.° ano sob o aspecto da de conversação.


prática

No Departamento do ensino continua a instrução iniciada


prático
no Curso Prévio sôbre deveres militares, etc. Ha exercícios de infan-

taria, artilharia de desembarque e esgrima de baioneta. Tiro ao alvo

com fuzil. Nomenclatura, montagem e desmontagem de armas por-


táteis. i
i
Escaleres a remo e a vela; manobra de pêso.
4
Ginástica. Atletismo. Jogos esportivos. Natação.

Comunicações: Modelos do serviço de comunicações. Confecção de mensa-

gens. Serviço de comunicações a bordo. Dirigente do tráfego.

OFICINAS

Modciador — Interpretar desenhos de máquinas. Estudar os cortes para

que se possa organizar o molde com as secções necessárias ao serviço de mol-

dagem na areia. Estudo das peças a moldar afim de concluir a maneira de

confeccionar o modelo com secções convenientes. Saídas do modelo. Contra-

ções conforme o metal a empregar. Machos. Caixas de machos. Conserva-

ção dos modelos. Confecção de modelos com caixa de machos.

Fundidor — Estudar as areias de moldar; verificação de seu estado e

exame. Areia fina e doce; sua aplicação. Barro para macho. Grau de hu-

midade da areia de moldar; sua peneiração e resíduos. Peneiras usadas. Cai-

xas de fundição. Experimentação das caixas. Reforço de sustentação da areia.

Modelagem na areia de uma peça. Ferramentas; sua nomenclatura e aplicação.

Emprego de cal. Retoques. Secagem dos canais de fundição. Respiradores.

Areia para bronze e ferro. Conhecer o ferro guza, a sílica em latão,


pó,
metal patente e as ligas especiais. Preparo de ligas. Forno de fundição. Ca-
dinho. Ferramenta de fundição. Derretimento do metal; ponto de saída e sua

limpeza. Passagem para as caixas. Preparo das peças fundidas o torno


para
"Tender".
ou bancada. Visitas às oficinas e navios
ESTUDO COMPARATIVO 961

ARGENTINA

ANÁLISE MATEMÁTICA (2.° ano)

Primeiro período

Veclor.es — Definições. Soma, diferença e produto por um número. Co-


ordenadas cartesianas no espaço; projecções. Produto escalar. Produto veto-
rial. Operações com mais de dois vectores; duplo produto vectorial e pro-
duto mixto.
Re das c planos no espaço — Ângulo de dois vectores e de duas rectas.
Transformação de coordenadas cartesianas no espaço. Equação do plano. Equa-
ções da recta no espaço.
Superfícies de segundo grau — Esfera; cilindro e cones circulares. Su-
perficies cilíndricas, cênicas e de revolução. Quadrigas de revolução; elipsoi-
de; hiperboloide e paraboloide. Equação das superfícies em geral. Equações
de uma curva no espaço; representação paramétrica. Equações paramétricas
das superfícies.
Aplicações dos vectores ao estudo do equilíbrio — Postulados fundamentais
da estática. Momen'.o de uma força com relação a um ponto ou a um eixo.
Equilíbrio de um sistema rígido. Forças paralelas.
Integrais indefinidas das funções a uma variável — Integração imediata.
Substituição de variável; integração por substituição. Integração por partes.
Integração das fracções racionais no caso de raizes reais. Integração das dife-
renças binômias. Estudo de alguns movimentos simples; determinação das
constantes.

Segundo período

Integral definida — Conceito. Determinação das áreas de algumas curvas


planas em coordenadas cartesianas e polares. Mudança de variáveis. Áreas
das superfícies de revolução. Rcctificação de curvas planas. Volumes dos só-
lidos de revolução. Integração aproximada.
Desenvolvimento cm série das funções a uma variável — Sucessões inde-
finidas; limite de uma sucessão; sucessões convergentes, divergentes e inde-
terminadas. Séries; conceito de convergência. Séries de Taylor e de Mac
Laurin; aplicações. Séries de Fourier; representação .aproximada de uma
função periódica como soma de funções harmônicas; aplicações às marés.
Funções a duas variáveis — Diferencial total. Integração de diferenciais
totais. Integrais curvilíneas. Fórmula de Taylor para funções a duas varia-
veis. Máximas e mínimas. Plano tangente e normal a uma superfície. Inte-
grais duplas e tríplices. Aplicações à determinação de baricentros e momento
de inércia de sistemas contínuos.
Aplicação dos vectores à geometria das massas — Massa e densidade. Ba-
ricentro de um sistema de pontos materiais. Momento de inércia; de uma
massa c de um sistema em relação a um eixo; momento de inércia polar.
962 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Casos de sistemas simétricos; momento em relação a eixos que se cortam num


ponto. Teorema de Huggens. Elipsoide de inércia. Momento de inércia de
corpos, superfícies e linhas materiais.
Livro tex'.o: Análise — 2.° Curso — Prof. Collo e Isnardi.

FÍSICA

Primeiro período
Sensações térmicas. Termômetros. Correção de leituras. ,
Dilatação linear dos sólidos. Dilatação cúbica dos sólidos isotropos. Apli-
cações da dilatação dos sólidos.
Dilatação absoluta e aparente dos líquidos. Medição do coeficiente de dila-
tação. Dilatação da água.
Dilatação dos gases; fórmulas. Idcm a pressão C0n3'.ante. Idem a volume
constante. Termômetro de gás, escala de hidrogênio.
Gases perfeitos. Densidade dos gases. Equação geral dos gases perfeitos.
Calorimetria. Quantidade de calor; caloria. Calorímetros c mé.odos de me-,
dida. Calor específico da água. Calores específicos dos gases.
Propagação do calor. Condução do calor. Estados caloríficos variáveis e
estacionados. Fundamentos da teoria da condução calorífica. Comprovação ex-
perimental e medição do coeficiente. Resfriamento.
Teoria do fluido calorífico e teoria mecânica do calor. Teoria cinética dos
gases perfeitos. Leis de Avogrado e de Gay Lussac. Equação de van der Waals.
Energia mecânica e calor. Equivalente mecânico da caloria. Princípio da.
equivalência.
Impossibilidade do moto perpétuo; primeiro princípio da termodinâmica.
Energia interna; conservação da energia.
Número de fases que constituem uru sistema. Sistemas formados por um
único corpo simples; mudanças de estado físico. Sistema líquido-vapor. Resul-
tados experimentais; ponto crítico. Evaporação; ebulição. Calor de vapori-
zação. Liquefação dos gases. Máquinas frigoríficas; fabricação do gelo.
Fusão. Sistema sólido-líquido. Solidificação; superfusão. Volatilização;
sublimação. Sistema sólido-vapor. Misturas. Ligas. Soluções; misturas frigo-
ri ficas; criohidratos.

Segundo período
Fundamentos da electrostática. Indução eléctrica. Distribuição dos condu-
tores. Poder das pontas. Massa eléctrica. Teorema de Faraday. Máquinas elé-
ctricas.
Campo electrostático. Descrição das propriedades do campo eléctrico; indu-
cção e intensidade. Potencial. Representação gráfica das propriedades do campo
electrostático. Superfícies equipotenciais, linhas de inducção.
Capacidade — Constante dieléctrica. Esfera carregada num meio homogêneo
indefinido. Condensadores.
ESTUDO COMPARATIVO 963

Acções ponderomotrizes — Pressão electrostática. Unidades electrostáticas


C. G. S. Energia do campo electrostático; tensão longitudinal. Forças ponde-
romotrizes; lei de Coulomb. Forma geral da função potencial num meio homo-
gêneo. Associação de condensadores. Discontinuidade do po'.encial; correntes
voltaicas; lei de Volta, elementos galvânicos.
Medidas electrostáticas — Electrômetros. Medida de capacidade.
Corren'.e eléctrica. Primeira lei de Ohm. Pilhas. Segunda lei de Ohm.
Aparelhos de medida — Acção da corrente sobre a agulha magné.ica. Apa-
relhos eiectromagnéticos de medida.
Resistências — Medida. Associação de resistências.
Circuito eléctrico — Constantes de uma pilha. Associação de pilhas. Leis
de Kirchoff. Medidas de forças electromotrizes. Energia eléctrica; trabalho
eléctrico. Leis de Joule.
Livro tex'.o — Compêndio de Física ¦— 3° curso — Prof. Isnardi.

QUÍMICA E EXPLOSIVOS
"
(Programa para os alunos do Cuerpo General")

Primeiro período

Noções de química orgânica. Carbono. Estado natural. Valência. Hidro-


carburetos. Fórmulas gerais. Séries homólogas. Isólogas. Heterólogas. No-
menclatura moderna. Funções orgânicas. Compostos graxos e aromáticos. Ge-
neralidades. Álcool metílico. Álcool e'.ílico. Glicerina. Éteres. Éteres sais.
Ácidos orgânicos.
Definições c conhecimentos úteis — Inflamação, combustão, explosão, deto-
nação, distensão, distensão adiabática, incandescência, dissociação. Força e po-
tência. Potencial. Densidade gravimétrica. Densidade real, densidade absoluta,
densidade de carga. Sensibilidade ao choque. Classificação dos explosivos.
¦Definição e constituição dos explosivos — Definição. Elementos químicos
dos explosivos. Associação de comburentes e combustíveis. Elementos combus-
tiveis dos explosivos. Suportes iner'.es e elementos comburentes.
Nitração — Corpos capazes de serem nitrados. Série graxa: Carburetos inj-
ciais. Alcoóis e éteres. Aldeides e acetonas. Aminas. Difenilamina. Caracteri-
zaçâo do estado actual de uma pólvora. — Série aromática ou cíclica: Benzina
e homólogos. Fenóis.
Mecanismo da nitração — Éteres nítricos e derivados nítricos.
Éteres nítricos da serie graxa —• Glicerina, nitroglicerina. Celulose, nitro-
celulose. Algodão pólvora. Conclusões de Lunge.
Rcacção explosiva — Combustão completa. Combustão incompleta. Volumes
específicos. Co-volume. Força explosiva e densidade de carga. Volume de
resíduo. Fórmula de Sarrau.
Propagação da explosão na carga e fora dela — Por condutibilidade, defla-
graçâo, detonação. Explosões por influência.
964 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Principais do da explosão — Influência da composição, in-


fatores processo
fluência da temperatura e da pressão, influências catalíticas, influência da den-

sidade de carga.

Explosivos derivados dos hidrátos de carbono — Nitrocelulose. Acção do

ácido nitrico. Algodão pólvora. Estabilidade. Decomposição pelo calor. Trans-

formação do algodão pólvora em pólvora de nitrocelulose.

Pólvoras impulsivas — Significação, inflamação e combustão. Pólvoras

vivas c lentas... Condições que deve reunir uma pólvora impulsiva. Densidade

da pólvora e sua medida. Chamas de culatra e de boca. Estabilidade. Pólvoras

regressivas e progressivas.

Segundo período

Pólvora de nitrocelulose — Resenha histórica. Fabricação.

Estabilidade — Acção do tempo, da humidade, da temperatura. Da água do

mar. Da luz. Prova permanente com o papel violeta de metileno. Provas de

estabilidade. Critério. Composição e característicos da pólvora norte americana.

Pólvoras de nitroglicerina — Resenha histórica e fabricação. Estabilidade.

Acção do tempo e da temperatura. Humidade, água do mar, luz solar. Paralelo

com as pólvoras de nitrocelulose. Composição e característicos da pólvora in-

glesa. Variedades em uso na Armada Argentina. Provas de estabilidade.

Explosivos diversos — Pólvoras negras. Propriedades mecânicas. Modc

de produzir a inflamação.

Explosivos derivados da série aromática — Fenol comum, trinitrofenol.

Picratos. Trinitrotolueno. Fabricação. Purificação. Explosão. Aplicações.

Detonadores — Generalidades. Velocidade de detonação. Sua medida. Fui-

minato de mercúrio. Azotato de chumbo. Nitrogranidina. Dinamites. Gelatinas

explosivas. Explosivos líquidos. Panclastitas.

Guerra — Gases de combate. Gases tóxicos. Gases atacam os


química que

tecidos. Classificação militar dos gases de combate» Projetís tóxicos de arti-

lharia. Projectores. Morten Stokes. Bombas.

Gases — Generalidades. Detecção dos fumígenos. Gera-


fumígenos gases
dores de fumaça.

Defesa — Proteção individual. Máscara A. R. S. Equipamento protetor

para toda a superfície do corpo. Meios medicinais de proteção.

Projeção contra na Marinha — Máscara Buncl ou de Hopcalite. Apa-


gases
relhos portáteis de oxigênio.

Parte especial — Cloro. Fósgeno. Propriedades. Proteção contra o fós-

geno. Uso táctico do fósgeno. Meios empregados para descobrir o fósgeno no ar.

Gás de mostarda — Propriedades. Uso táctico. Deteção.

Cloroficnina — Propriedades. Uso táctico. Proteção.

Lcwisite — Propriedades. Fogos extintores. Pirotecnia. Projectís luminosos.


"Explosivos"
Livro texto: — Prof. Lamas.
ESTUDO COMPARATIVO 965

QUÍMICA

"
(Programa para os alunos do Cuerpo Ingenieros")

Primeiro período

Química orgânica — Noções. Valência. Hidrocarburetos, nomenclatura.

Séries orgânicas, homólogas, isólogas, heterólogas. Hidrocarburetos etênicos e


ctínicos. Funções orgânicas. Glicerina e ácidos Propriedades e apli-
graxos.
cações. Série cíclica. Benzeno e derivados.

Química analítica — Conceito de análise Classificação e funda-


química.
mcntos. Reactivos e reacções; oxidação e redução. Lei da conservação da
massa. Generalidades sôbre a lei de Gudberg e Waage e regra das fases. Aná-
lise qualitativa. Noções sôbre a investigação de aniônios catiônios. Experiên-
cies. Ensaios: côr, densidade, enxofre, corrosão, resíduo de con-
gomoso, ponto
gelação, acçào do S04H2. Antidetonantes. Interpretação dos resultados da aná-
análise. Método volumétrico. Soluções tituladas. Aparelhos empregados. Em-

prêgo de indicadores. Precisão das medidas.

Química aplicada— Petróleo. Seus caracteres físicos e composição química.


Métodos de distilação industrial do usados na Argentina. Sub-produtos
petróleo
obtidos segundo a nomenclatura argentina. Ensaios sôbre e seus de-
petróleos
rivados. Ensaios físicos. Ensaios Nafta e Diversas
químicos. querozenes. espé-
cies. Ensaios: cor, densidade, enxofre, corrosão, resíduo gomoso, ponto de con-
gelação, acção do SO'H2. Antidetonantes. Interpretação dos resultados da aná-
lise. Gás oil e fuel oil. Característicos. Normas fuel oil nas
para queimar
caldeiras dos navios. teórica e de ar necessário a
Quantidade prática para
combustão. Recepção de um carregamento; correcção temperatura e den-
por
sidade. Óleos minerais lubrificantes. Processos seguidos a sua obtenção e
para
refinação. Ensáios físicos. Ensáios ópticos. Prova mecânica dos lubrificantes,
coeficiente de atrito, máquinas de Descrição da máquina Martens.
provas.
Ensáios Reconhecimento dos óleos e ceras. Cortes misturas
químicos. graxos e
de óleos. Óleos compostos, modo de reconhecê-los. Produtos adulterados.
Óleos lubrificantes vegetais: Idéias sôbre a composição, extração,
gerais pro-
priedades, característicos e emprego dos óleos de mocotó, de ossos, de baleia c
sebo. Graxas e vaselinas: Composição das mesmas e análise Reco-
elementar.
nhecimento de impurezas e adulterações. Interpretação dos resultados obti-
geral
dos da análise de um óleo; óleo lubrificação externa e interna de máquinas
para
a vapor, motores a explosão, máquinas frigoríficas, etc. Análise rápida de um
oleo a bordo. Conhecimento das instruções vigentes na marinha o rece-
para
bimento de óleos.

Segundo período

Combustíveis sólidos: Resenha sôbre a obtenção e


geral propriedades
do antracito, hulha, linhito, turfa, madeira, coque, briquetes, etc. Definição
da potência calorífica, poder calorífico, poder radiante e vaporizante, determi-
966 revista marítima brasileira

nação do poder calorífico pelas fórmulas de Coutai e de Dulong, calor de

combus'.ão do C. e do H., quantidade de ar teórica e prática necessária para


a combustão; combustão completa e incompleta, alteração dos combustíveis

pela acção do ar, inflamação expontânea do carvão. Análises de carvões.

Processos para a escolha de amostras, análise elementar quantitativa, expe-

riéncia sôbre combustão expontânea. Conhecimento das instruções vigentes

na Marinha para o reconhecimento de hulha. Controle químico da combustão.


Análise dos gases da chaminé. Águas industriais. Águas para caldeiras, prin-
cípios que regem sua escolha e condições a que devem satisfazer. Análise de

uma água sob o ponto de vista técnico. Determinação de caracteres físicos,

matéria em suspensão, resíduo sólido. Salinidade. Alcalinidade, acidez, con-

centração de iónios hidrogênio, determinação de pH, cloretos, sulfatos, sáis

de cálcio e de magnésio, sílica, nitratos e nitritos, óxidos de ferro e alumínio,

substância orgânica, amoníaco, oxigênio dissolvido, etc. Incrustações. Seus

inconvenientes. Teoria sôbre sua formação. Corpos que produzem incrustações,

ebulições e corrosões. Influência dos óleos lubrificantes, dos cloruretos, sul-

fatos, carbonátos, anidrido carbônico, ácidos livres e sílica. Variação da solu-

bilidade dos sáis encontrados comumente nas águas em função da pressão e

da temperatura. Idéias sôbre a análise de uma in-crustação. Corrosões. Teo-

rias. Causas que aceleram a corrosão de um gerador de vapor. O ar na água

de alimentação, seus inconvenientnes e processos de extração. Emprêgo do

zinco. Métodos usuais de depuração de águas para caldeiras, purificação prévia,

purificação interior. Discussão geral, vantagens e inconvenientes de cada sis-

tema. Compostos anti incrustantes, anti ebulientes e anti corrosivos, para cal-

deiras. Composição dos mais empregados. Inconvenientes que origina seu em-

prêgo irracional. Análise elementar, a bordo, de uma água para caldeiras.

Investigação de cloro, alcalinidade, acidez e prova de corrosão. Preparação das


soluções empregadas. Indicadores eléctricos de salinidade, princípios em que
se baseiam. Conhecimento do salinômetro Siemens Halske. Limite máxima
de cloro tolerável numa água para alimentação de caldeiras. Limite máximo

de concentração de cloro da água no interior da caldeira segundo seu tipo.


Limite máximo e mínimo de alcalinidade que se deve manter na água da cal-
deira. Conhecimento do regulamento vigente na correspondente a águas
parte

para alimentação.

GEOMETRIA DESCRITIVA

Primeiro
período

Método de Monge — Planos usuais de Representação do


projecção. ponto

em dois planos de projecção. Posições especiais do ponto no primeiro diedro.

Representação de pontos nos diversos diedros. Projecção ortogonal do ponto


sôbre três planos de projecção.

Representação da recta — Dupla ortogonal da recta. Tríplice


projecção

projecção ortogonal da recta. Traços da recta. Posições especiais da recta.

Representação de rectas paralelas. Ponto situado numa recta. Representação

de rectas concorrentes.
ESTUDO COMPARATIVO 967

Representação do — Dupla representação ortogonal do Re-


plano plano.

presen'ação de planos em posições especiais. Recta situada num plano dado

por seus traços. Rectas especiais de um plano. Ponto situado num plano dado

por seus traços. Traços do determinado duas rectas que se cortam.


plano por

Intersecção de dois — Diferentes casos, Intersecção de uma reta


planos
com um plano. Recta perpendicular e recta paralela a um plano. Represen-

tação de planos paralelos e de planos perpendiculares.

Processos modificar as épuras — Mudança de de


gráficos para planos

projecção. Rotação em tôrno de um eixo. Rebatimento sôbre um dos planos de

projecção. Rebatimento de um ponto sôbre um plano paralelo ao horizntal

em tôrno de um eixo cuja de contém a do Rebatimento


projecção planta ponto.
de uma recta. Idem de um plano.

Construções — Seguem-se 28 de construções de épuras


práticas problemas
de dificuldades crescentes.

Segundo período

Figuras — Representação de figuras a um


planas planas paralelas dos pia-
nos de Representação
projecção. em três planos de figuras planas situadas
em planos normais a um dos planos de projecção. Dadas as projecções em
tres coordenados, de uma figura
planos plana, situada em um plano normal
a um dos de achar sua forma e Representação
projecção, grandeza. e verda-
deira forma de uma figura plana qualquer.

Aplicações do método de Monge, secções — Representação em três


planas
planos coordenados das formas sólidas. Secções planas, sua utilidade. Secções
planas produzidas nos sólidos comuns com aos de
planos paralelos projecção.
Idem normais
por planos aos de projecção.

Intersecção de sólidos — Idéia Intersecção de recta e sólido. Inter-


geral.
secção de sólidos cm correntes. Desenvolvimentos,
posições definições. Desen-
volvimento das superfícies cilindros,
de prismas, pirâmides e cones. Desenvol-
vimento das superfícies de dois cilindros rectos cujos eixos se cortam nor-
malmente.

Hélices e — Definições. Representação das hélices cilíndrica


parafusos
e conica de constante.
passo Geração do filete triangular. Aplicações das
hélices cilíndricas e cônicas. Diferentes tipos de parafusos. Sistema With-
worth. Sistema internacional.

Perspectiva — Definições. Princípios em se funda. Algumas


paralela que
aplicações interessantes. Construções práticas.
Seguem-se 30 de dificuldade crescente e relativos ao
problemas progra-
ma acima.

Dian.e de cada item do vem citado o número do capítulo do


programa
livro texto que trata do assunto.
"
Livro texto: Descriptiva" — Prof. Marmonti.
968 KFVISTA marítima brasileira

CÁLCULOS LOGARÍTMICOS E TRIGONOMÉTRICOS

"
(Somente para os alunos do Cuerpo General")

— Dado um número achar o seu logarítmo.

— Achar o valor das linhas trigonométricas de ângulos dados. Achar


os ângulos de linhas trigonométricas dadas.

— Achar logarítmos de linhas trigonométricas. Achar as linhas trigo-


nomé'.ricas que correspondem a logarítmos dados, logarítmos dos arcos pe-
quenos.

— Utilizando logarítmos, multiplicar, dividir, elevar a extrair


potência,
raizes. Utilizar logarítmos de adição e subtração. Com logarítmos fazer ope-
rações diversas com linhas trigonométricas.

Nota: Esta aula não se pode considerar como o estudo de matéria inde-
— E' aula complementar o
pendente. e objectivo que tem em vista é fazer
o aluno adquirir flexibilidade para o cálculo.

METAIS E MATERIAIS

— Minerais de ferro. Fundentes ácidos e básicos. Altos fornos. Forno


eléctrico. Ferro fundido. Classificação e emprego.

— Ferro doce. Forja. Recozido. Pudlado. Ferro electrolítico. Trata-


mento mecânico. Cementação.

—* Aço. Natural. Pudlado. Cadinho. Classificação. Aço Bessemer.


Aço Martin. Tratamento térmico. Têmpera. Recosimento. Ligas ternárias.
Propriedades e emprêgo.

— Bronzes. Latões. Metais an;i-fricção. Fabricação. Tratamento tér-


mico. Recosimento. Propriedades e emprêgo.

— Laminação em geral.

— Galvanização. Diversos modos e diversos metais.

— Soldas. Composição. Solda eléctrica e autógena. Noções de meta-


lografia.

— Materiais não metálicôs — Cimcntos e cais — Generalidades. Cimento


hidráulico. Cimento portland, sua manufactura. Usos do concreto.

— Madeiras — Generalidades. Espécies de árvores. Estrutura da ma-


deira. Pêso e humidade. Contração. Propriedades. Duração e deterioração.
Toras e vigas. Classificação e defeitos das toras. Vigas em bruto e aplaina-
das. Medição das vigas.

DESENHO

Primeiro
período

Engrenagens, generalidades, elementos das rodas dentadas. Traçado dos

perfis; perfis cicloidais e a envolvente, odontógrafo de Grant. Serão feitas


ESTUDO COMPARATIVO 969

duas folhas: a representando um mecanismo de roda dentada e cre-


primeira
malheira, e a segunda um mecanismo de roda dentada e parafuso sem fim.

Segundo período

Rascunhos: generalidades. Escolha das vistas e secções necessárias. Tra-

çado do rascunho e sua cotagem. Convenções usuais para a indicação dos dife-

rentes materiais. Outras convenções representativas.

Desenho profissional: Escalas convenientes. Execução do


generalidades.
desenho, convenções a representação dos eixos e secundários,
para principais
linhas visíveis e invisíveis, linhas de costas, etc.

Leitura e interpretação de planos.

Planos de máquinas, motores, mecanismos. Peças de natureza profissional


(Artilharia, torpedos, tiro, etc., etc.). Planos de construção; linhas de cons-
trução, secções mestras, linhas de flutuação, linhas d'água.

Executar-se-ão duas folhas constantes de desenhos cotados de peças de


natureza os alunos do C. General e de de máquinas
profissional para peças para
os do C. de Ingenieros.

Prèviamente serão executados os respectivos rascunhos do natural.

MÁQUINAS

(Programa para os alunos do Cuerpo General)

Primeiro período

— Máquinas a vapor — Máquinas verticais. Vantagens. Classificação


geral das máquinas com relação à sua pressão e ao seu serviço. Máquinas a
expansões sucessivas. Máquina de tríplice expansão. Proporções dos volu-
mes dos cilindros.

II — Descrição dos orgãos de uma máquina e cada u.mj


geral papel que
desempenha cm seu —
funcionamento Cilindros. Êmbolos. Hastes. Bielas.
Colunas e conectores. Guias. manivela.
Jazente. Eixo de Eixo intermediário.
Eixo da hélice. Mancais de entabolamento. Mancai de escora.

III — Mecanismo da distribuição — Válvula de distribuição. Fases da


distribuição. Como se o movimento
produz da válvula. Excêntrico. Anel.
Colar. Barra. Sector. Inversão do movimento.

IV — Condensação — Considerações Condensadores de superfície.


gerais.
Descrição e funcionamento. Porcas e engachetamentos para tubos. Vácuo num
condensador. Bomba de ar. Bomba de circulação.

— Trabalhos práticos.

Ajustagem.

Conhecimento das ferramentas de ajustador.

Confeccionar um corta-frio e um buril e temperá-los.


970 revista marítima brasileira

Desbas'.ar a buril uma peça de ferro fundido.

Na mesma peça limar uma superfície plana.

Na mesma peça abrir a buril um rasgo e ajustar-lhe uma chaveta.

Máquina de furar.

Conhecimento do seu funcionamento e ferramentas empregadas.

Fazer um furador e dar-lhe a tempera.

Marcar e fazer em uma chapa de ferro um furo de 1/8" e outro de 1".

Fazer o mesmo numa chapa de bronze.

Abrir duas roscas de 1/8" e 1/2" e passar os respectivos machos.

Segundo período

— Alimentação — Bombas de alimentação. Conhecimentos das


gerais
bombas de alimentação Weir e Worthington. Objecto do tanque, filtro e aque-

cedor de alimentação. Percurso do vapor desde que sai da caldeira até que
volta à mesma onvertido em água de alimentação.

II — Lubrificação — Objecto. Idéias sobre os diferentes sistemas


gerais
de lubrificação e propriedades que devem possuir os óleos que se empregam

para a lubrificação interna e externa.

III — Máquinas auxiliares — Idéias sôbre o funcionamento do


gerais

servo-motor, cabrestantes e guinchos. Objecto e funcionamento do telemotor.

Descrição de uma instalação frigorífica tipo Hall.

IV — Manobras de máquinas — Esquentar as máquinas. Pôr a máquina

em movimento. Precauções durante a marcha. Aquecimentos de bronzes, cau-

sas e meios de remediá-las. Parar a máquina.

— Trabalhos práticos.

Tôrno.

Conhecimento de seu funcionamento e ferramentas empregadas.

Fazer ferramentas para desbastar, roscar e cortar bronze e ferro e tem-

perá-las.

Centrar entre dois pontos uma barra de ferro e tornear dois cilindros e

um cône de diâmetros dados e poli-los.

Sobre os objectos anteriores fazer uma rôsca triangular de passo dado.

Centrar uma peça (caixa de válvula, torneiras, etc.).

MAQUINAS E OFICINAS

(Programa para os alunos do Cuerpo Ingenieros)

Primeiro período

Válvulas — Válvulas intermediárias, de anteparas, de equilíbrio, de gar-

ganta, de borboleta, auxiliares de manobra, redutoras, de emergência, de cor-

rediça.
ESTUDO COMPARATIVO 971

Canalizações — Disposição das diversas canalizações, curvas,


geral juntas
de expansão (cilíndricas e esféricas). Separadores de vapor. Tanques. Enga-
chetamentos e usadas vapor, água, ar, óleo, Mate-
juntas para petróleo, gases.
riais refractários. Isolamentos.

Turbinas — Generalidades. Classificação. Palhetas. Material a cons-


para
trução das de enchimento. Provas do material empregado.
palhetas, peças

Rotorcs — '.ambor.
Generalidades. Rotores de tambor, de rodas, de disco e
Eixos de turbinas. Materiais empregados na construção de rodas, tambores
e eixos.

Estator — Diafragmas. Distribuidores. Objecto, constru-


característicos
tivos e materiais empregados.
Encapamento — Generalidades. Característicos construtivos. Caixas es-
tanques. Objecto. Fixação labirinto,
com junta em com áros de grafite e
hidráulicas. Fixação dos diafragmas.

Mancais — Generalidades. Mancais suportes. Mançais de tipo Mit-


escora
chell e Kingsbury. Aplicação das turbinas aos navios. Generalidades. Número
de eixos Disposição
propulsores. das turbinas relativamente ao número de
eixos. Turbinas combinadas com máquinas alternativas. Turbina de mar—
cha a ré.

Turbinas de acuplamenio directo — Curts, Parsons e mixta.

Turbinas de acuplamento indirecto — Engrenagens redutoras. Acuplamen-


tos flexíveis tipos Curtis e Parsons. Turbina Lavai. Descrição e caracterís-
ticos das turbinas Couraçados,
principais dos Cruzadores e Scouís.

Trabalhos
práticos.

Ajustador — Conhecimento das ferramentas utilizadas em ajustagem. Co-


nhecimento dos micrômetros, calibres, esquadros, etc. Traçado no mármore e
sobre uma centros, linhas de fé e verificação. Transporte
peça, de de alturas
com o sobre no mármore. Preparação
graminho uma peça de corta-frios è
burís. Tempera Efectuar, buril,
dos mesmos. a o desbaste de uma peça de
ferro fundido. Nesse bloco desbastar, a lima, uma secção determinada. Traçar,
limar, ajusiar e temperar uma chave de boca. Conhecimento das máquinas lima-
doras e suas aplicações. Em duas peças de ferro fundido fazer uma coroa,
dentada se na
que desbastará limadora e se ajustará a lima. Perfurar a má-
quina uma porca facetada, abrir rosca e ajustá-la a lima.

Segundo período

Motores — Generalidades. Classificação. Princípio fundamental. Ciclo


Beau de Rochas. Ciclo Diesel. Motores a explosção com compressão.

Funcionamento dos ma/ores de combustão interna — Motores a explosão


com compressão de dois, quatro e seis tempos. Motor Lozier. Motores a
combustão interna a pressão constante, tipo Diesel de dois e quatro tempos.
Ciclo Sabathé. Considerações gerais sôbre os motores a combustão. Motores
horizontais,
verticais e radiais. Motores com e sem cruzeta. Motores de sim-
Pies e duplo efeito. Disposições policilíndricas.
972 revista marítima brasileira

Motores a explosão — Funções do motor. Órgãos. Cinlindro, disposição

das válvulas.

Êmbolo — Mola, corte e folga das molas.

Conector.

Manivela — Modo de verificar a ordem de trabalho dos cilindros. In-

fluência que tem na forma da manivela o modo de agrupar os cilindros.

Mancais de esfera. Volante. Carburação. Ar, essência, carburadores de su-

perfície, de vaporização e pulverizadores.

Depósitos de nível constante — Pulverizador, tomada de ar. Carburadores

modernos: Zenith, seu funcionamento. Canalização de admissão. Carburador

Solex.

de essência — Elevador Weyman, Carlac e Stewart. A


Elevadores pressão

e por bomba. Distribuição. Válvulas, distribuidores, carnes, agulhas, alavancas.

Idéias sobre ignição — Refrigeração. Temperatura interna. Refri-


gerais

geração com ar e com água. Circulação a termo-sifon. Circulação com bomba.

Radiador. Bombas. Ventilador. Termostato. Vantagens e inconvenientes da

refrigeração por bombas e a termo-sifon.

Incrustações — Modo de eliminá-las.

Lubrificação — Objecto. Órgãos que se devem lubrificar. Sistemas de

lubrificação: manual, a pressão e mixto. Bombas para óleo de engrenagens

e de palhetas. Lubrificantes empregados. Consumo de óleo. Silenciosos.

Embraiagem — Embraiagem. Inversão e mudança de marcha. Hélices

de pás reversíveis.

Trabalhos práticos.

Caldeireiro — Processos usados desempenar chapas. Diferentes tipos


para

de cravação. Cravação de chapas para tanques destinados a conter petróleo,


água, ar, vapor, etc. Cravação simples e refazer uma cravação numa caldeira.

Regras a observar. Calafêto de costuras cravadas a rebite.

Motutador — Confecção de juntas canalização de água,


para petróleo,
óleo. Idem de vapor, empregando amianto, mínio, magnésia, etc. Juntas em

canalizações de água, vapor, etc. Engachetamento de caixas de válvulas, hastes

de máquinas, torneiras, etc. Esmerilhamento de torneiras e válvulas. Juntas


de flange. Juntas de caldeiras. Rectificar válvulas de distribuição. Ajusta-

gem de mancais, colares, bronzes, etc. Colocar e extrair prisioneiros. Emprego

de tampões em caldeiras cilíndricas e tubulares e condensadores.

Torneiro — Conhecimento do torno e suas aplicações o tor-


geral para
neamento. Tornear em um eixo uma parte cilíndrica e outra cônica variando

a posição do contra ponto. Tornear barretas de bronze e de ferro para provas


de materais.

MECANISMOS

Esta aula é professada apenas no segundo e seu


período pro-

grama é o seguinte:
ESTUDO COMPARATIVO 973

Transmissão por polias e cones de fricção. Escorregamento. Traçado


de cones. Relação de velocidades.

Transmissão por correias, cabos de arame e correntes. Sentido de giro.


Conexão de eixos não paralelos.
Engrenagens rectas, cônicas e diferenciais. Relação de velocidades. Sen-
tido de Engrenagens
giros. interiores. Cremalheiras.

Parafuso simples, múltiplo, diferencial, fim. Relação de velocidades.


sem
Sentido de giro.

Excêntricos e carnes. Diagrama do movimento do impulsor. Traçado de


um came; casos simples. Impulsor com corrediça.

Acuplamento Olpham. União universal simples e dupla. Aparelho dife-


rencial. Crick. Prensa hidráulica e a parafuso. Mecanismo, biela, manivela.
Paralelogramo articulado. Integrador. Calculador de senos. Multiplicador.
Diferencial de somas.

Na/a: O estudo será limitado a descrições de cada mecanismo e a dia-


gramas de movimentos.

ARMAMENTO

Primeiro
período

AULAS TEÓRICAS.

— Metralhadora anti-aérea de 37 m/m.

II — Projcctís — Nomenclatura Forma comprimento


geral. externa, e
Peso. Anel de forçamento, seu fim, diferentes tipos. Coifa. Seu fim.

Classificação geral dos projectís. Cores, marcas e distintivos regulamen-


tares os
para projectís. Provas.

Ilí — Caryas — Inicial, impulsiva. Cargas em saquetes. Cargas em car-


tuchos metálicos. Caixas de munição de pequeno calibre; caixas de cargas em
saquetes. Vasamentos, estanqueidade e precauções.
IV — Bstopilhas — fim e condições devem Diversas
Seu que preencher
espécies. Adaptadores.

AULAS PRÁTICAS.

I — Exercícios de máquina de carregar.


II —
Exercícios com alças de mira.
III Cuidado conservação
e do material de artilharia.
IV — Carregar tiros de salva.
— Bitolar e preparar projectís para o tiro.

Segundo período

Espoletas — Seu objecto e condições devem


que preencher. Sua classi-
ficação e descrição. Percussão. Acção directa. Concussão e acção retardada.
Acção combinada. Indicadores de trajectória; seu objecto e classificação. Co-
974 revista marítima brasileira

nhecimento das espoletas e estopilhas em uso actualmente nos canhões da

Armada.

Paióis dc munição — Idéias sôbre sua disposição e distribuição a


gerais
bordo. Condições que deve reunir um paiol de munições. Inundação e esgo-

tamento, ventilação e refrigeração, iluminação. Organização geral de um paiol.

Elevadores — Seu objecto e classificação: descrição dos diversos tipos.

Soquetes — Seu objecto. A mão e hidráulicos de 305 m/m.

Couraças — Seu objecto e histórico. Couraças modernas. Inspecção f>

prova das couraças modernas. Idéias sôbre sua distribuição a bordo.

AULAS PRATICAS.

— Exercícios de máquina de carregar.

II — Exercícios de alça de mira.

III — Espoletas. Tirar e pôr. Graduação de espoletas.

IV — Paióis de munição. Cuidado e conservação. Inspecções. Recebi-

mento e conservação de pólvora a bordo.

SINAIS

Primeiro
período

Simlização com símbolos — Esféra indicadora de movimento de máqui-


nas e exercícios de sinais. Usps e significado da esféra. Cones indicar
para

giros e manobras de amarras. Onde se içam e suas cores. Significado.

Sinalização com luzes dc laizes da verga de movimento dc máquinas —

Momento de execução — Como se indicam os movimentos de máquinas. Luz

para o momento de execução. Anulação do momento. Diversos casos de subs-


tituição das luzes de tope por tubo de cintilação.

Sinais acústicos — Sinais por apito. Duração do traço e do Repe-


ponto.
lição de sinais urgentes por meio acústico. Fundear em caso de cerração.

Sinais de três letras — Manejo do tomo I Argentino).


(Código

Sinalizarão cintilação — Aparelhos empregados. Mensagens cifradas.


for
Diversos casos de sinalização por cintilação.

Casos especiais dc sinalização noturna.

Nota: Velocidades dc recepção para mensagens cifradas computadas à


razão de uma palavra cada cinco letras:

Semáforas 5 palavras

Aparelho Scott 4 palavras

Projector 2 palavras

Farol de tope . 4 palavras

Tubo 2 palavras
ESTUDO COMPARATIVO 975

Segundo período

Galhardcte numerai — Formação de características. Características dos

navios da esquadra. Numerais de navios, divisões, esquadrilha, grupo, etc.

Conhecimento de todos os galhardetes especiais.

Galliardetc de reconhecimento — Significado. Sinalização de fracções de-

cirnais.

Galhardcte de emergência — Significado. Perigos.

Processo sinalização com bandeiras — Sinais cifrados. Mensagens.


para
Sináis de tempo. Gráus. Substituía numérica. Significado dos galhardetes
especiais.

Processo de snialização óptica — Preparação de um sinal. Transmissão de

quantidades maiores que cinco cifras. Repetição de sinais urgentes. Uso do

galhardete de emergência. Sinais para fundear e suspender uma força naval.

Vocabulários: Vocabulário a empregar entre as estações por buzina ou

megafone.

Nota: Velocidades de recepção para mensagens cifradas, computadas à


razão de uma cada cinco letras:
palavra

Semáforas ..., 6 palavras

Aparelho Scott 5 palavras

Projector 3 palavras

Farol de tope 5 palavras

Tubo 3 palavras

REGIME MILITAR

Primeiro período

— Códigos em vigor. Ordem geral. Ordem do dia. Circularei.

II — Lei orgânica da Armada.


III — Código disciplinar.
IV — Regulamento do/ serviço naval. Do pessoal subalterno. Oficiais de

Marinha. Sub-Oficiais. Deveres.

Mestrança: Carpinteiro, ferreiro, mergulhador.

Auxiliares: Cozinheiros, taifeiros, dispenseiros, alfaiates, barbeiros.

Segundo período

Serviço militar a bordo. Guarda militar. Deveres gerais do pessoal de


serviço. Serviço no e em viagem.
pôrto

(Continua).

Renato Bayardino
REVISTA DE REVISTAS

— Americana — Programa naval


Sumário Exercícios da Marinha

— a invasão — A debatida
da Suécia As Ilhas Britânicas e

— Iates americanos nas rotas de


questão do canal de Nicaragua

Colombo — A barragem de minas de à costa oriental


proteção

da Grã-Bretanha — O desenvolvimento das indústrias de arma-

— — Projeto
memto no Japão Os novos cruzadores germânicos

de sob a Mancha — A batalha de Punta dei Este


um túnel

Harwood — Navios de cimento


descrita contra-almirante
pelo
— britânicos — A nova expedição an-
Os novos encouraçados

— Guerra e rádio — Ainda a bata-


tarctica do almirante Byrd

lha de
Punta dei Este; como a descreve o comandante do
"Exeter" —
— Pode o bloqueio marítimo assegurar a vitória ?

navais — A bandeira suíça


As das potências
frotas grandes
"
— chinesa — O Elisábeth".
cruza os mares A resistência Queen

EXERCÍCIOS DA MARINHA AMERICANA

A Frota dos Estados Unidos, sob o comando do almirante

Claude C. Bloch, efetuou exercícios nos últimos dias de Setembro

ao largo da costa meridional da Califórnia; nêles tomaram parte

cêrca de 130 unidades de superfície, 450 aviões e 24.000 oficiais e

Foram estudados nêsse Ínterim, diferentes Comandos


praças. pelos

e respectivos Estados Maiores, os detalhes do tático anual


problema

da Frota.

Não se cogita de alterar as normas habituais o desenvol-


para

vimento do em apreço, até agora tinha início em


programa que

até a e incluindo manobras de


Janeiro prolongando-se primavera

desembarque Marine Cor ps. Naturalmente a marcha do pro-


pelos

grama dependerá do desenvolvimento da situação internacional.


978 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Calcula-se a Marinha ano, durante os exercícios


que perca por

de lançamento, cerca de 40 torpedos do custo unitário de 10.000

dólares. Houve um notável aumento no número de lançamentos de

exercícios e naturalmente a recuperação e a dos torpedos de-


perda

pendem principalmente das condições do tempo. Na busca dos tor-

pedos lançados, vem sendo empregados aviões local-


que procuram
lizar o facho indicador disposto na cabeça da arma.

Ficou resolvido incorporar ao serviço ativo 40 contra-torpedei-

ros se encontravam desarmados em Filadélfia e San Diego. No


que

primeiro desses portos existiam 60 e no segundo 50 ou seja um

total de 110 unidades consideradas como utilizáveis. Por ora foram

incorporados apenas 40, divididas em 4 flotilhas de de


patrulha,

acordo com as disposições da lei de neutralidade. and Navy


(Arrny

Register).

(Rivista Marittima, Dezembro de 1939).

PROGRAMA NAVAL DA SUÉCIA

O programa naval sueco, estabelecido em 1937 para um período

de 10 anos, incluía 1 cruzador porta-aviões 1


(Gotland), guarda-

costas não foi construído), 2 esclarecedores, 2 contra-torpe-


(que

deiros, 8 vedetas a motor e 5 submarinos. A êsse atual-


programa

mente concluído, seguiu-se outro.

No orçamento para 1939/40 foram destinados à Defesa Na-

cional 237 milhões de coroas, dos quais 69,5 atribuídos à Marinha.

Deste crédito, 2 milhões se destinam a modernização dos 3 guarda-

costas, encouraçados de 7.000 tons. da classe Sverigc que já sofre-

ram nestes últimos anos uma transformação e 23,5 serão consa-

a novas construções.
grados

A continuação dos trabalhos nos 2 novos cruzadores custa-


que

rão 37 milhões de coroas cada um, exigirá uma despeza de cêrca

de 14 milhões.

O novo programa prevê a construção das seguintes unidades:

2 cruzadores, 3 submarinos, 4 vedetas torpedeiras a motor, de 40 nós

de velocidade e um tender de submarinos.

Dois submarinos de 667/850 acabam de entrar em serviço e

um terceiro ficará pronto em breve.


REVISTA DE REVISTAS .979

A Frota Sueca conta atualmente 10 guarda-costas velhos mas


modernizados em sua maior parte, 2 navios porta-aviões, 1 cruzador
(Eylgia), 4 esclarecedores, 12 contra-torpedeiros, 16 submarinos,
1 navio mineiro e um certo número de pequenas unidades. O efetivo
é de cerca de 7.000 homens.

{Rivista Marittima, Dezembro de 1939).

AS ILHAS BRITÂNICAS E A INVASÃO

São da Marine Rundschau de Agosto, os seguintes conceitos que


encontramos no número de Dezembro dos U. S. Naval Instituto
Procecdings.
Agora que o mundo aceitou o fato de seu dessassombrado re-
armamento, suscitaram-se discussões nas Ilhas Britânicas sobre a
respectiva segurança. O problema da defesa contra bombardeios
aéreos, bem como a proteção do tráfego comercial contra submarinos
e outros perigos, tem sido muito estudado. Concomitantemente a
possibilidade de uma invasão vem discutida no significativo trabalho
do Comandante Grenfell, dá Marinha Britânica, Sea Pozvcr in thc
"Next
War, embora não tenham sido tomadas em consideração todas
as possibilidades da época presente.
Durante muito tempo a possibilidade de invasão por mar depen-
deu da superioridade do poder naval. Falando de um modo geral,
a potência mais poderosa no mar pode enviar suas tropas através das
águas para efetuar um desembarque, o que a potência mais fraca não
pode tentar. Se esta por acaso fizesse uma tentativa desse gênero,
a expedição ficaria sujeita a ser destruida ou capturada. Napoleão
em Boulogne não se atreveu a tentar sem ter o domínio do Canal,
temporariamente pelo menos, o que nunca se verificou.
Os grandes progressos nas comunicações e na velocidade dos
navios, nos séculos dezenove e vinte, bem como nas diversas armas,
vieram tornar a tarefa ainda mais árdua para o atacante. Os corpos
de exército que na época de Napoleão, poderiam viver com os recursos
do país, necessitam agora mais de 1.000 tons. de abastecimentos,
munições, arame farpado, etc. a serem transportados da pátria. Em
1914 a idéia pareceu tão fantástica que nenhuma das Potências Cen-
trais a tentou pôr em prática, excepção feita da invasão das ilhas do
Báltico, onde a Alemanha tinha, de fato, o domínio do mar interior.
980 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

No início da Guerra Mundial, como escreve o Comandante


Grenfell, a Marinha Britânica valeu-se de sua superioridade para
enviar os exércitos para onde bem entendia, embora fosse logo
reconhecido que os tempos e as circunstancias tinham mudado. A
guerra submarina de 1914 não se encontrava no seu ponto mais
eficiente, mas apesar disso a estreita faixa dágua no caminho da
França era bem vigiada. Nos Dardanelos era diferente. Trans-
portes, encouraçados, cruzadores, contra-torpedeiros e outros navios
achavam-se reunidos diante das praias de desembarque quando
apareceu um submarino, e um navio após outro, todos sumiram-se
rumo a portos distantes. O exército de Galipoli tinha abastecimentos
suficientes. Se os submarinos tivessem chegado um mês antes não
teria havido desembarque.
Desde essa época a defesa contra submarinos tem sido aperfei-
coada, mas os transportes de forças para costas abertas dificilmente
poderão ser protegidos contra eles. E' necessário um porto bem
abrigado, com redes protetoras, o que restingirá muito a liberdade de
ação de uma expedição. Sua maior possibilidade de sucesso se
encontrará em uma tentativa de surpresa contra determinado ponto
da costa inimiga, mas as próprias restrições impostas tornariam mais
fácil o problema da defesa. A arma aérea aumentaria as dificul-
dades do atacante. O emprego de aviões rápidos para informações
e patrulhamento, virá tornar a situação ainda mais difícil. Dado o
raio de ação, em constante aumento, dos aviões, será possível estender
o serviço de informações muito fora no mar, de modo que a apro-
ximação de uma expedição poderá ser descoberta um dia antes da
data prevista para o desembarque. Isso dará tempo suficiente para
que contra-torpedeiros e submarinos ocupem suas posições de ataque.
Nesse ínterim o local onde se efetuará o desembarque poderá ser
reforçado. Depois virão as bombas lançadas do ar contra o atacante,
que poderá opor relativamente poucos aviões. O submarino, o avião
e o rádio reforçaram a defesa contra a invasão.
Fizemos notar no princípio deste artigo que todas as possibilidades
não tinham sido tomadas em consideração. Não fora mencionado
o ataque por meio de paraquedistas. O rápido desenvolvimento
deste meio de ataque não ficou limitado à Rússia. A sucessão dos
acontecimentos nessa forma de ataque é a seguinte: Um grupo de
assalto de paraquedistas de infanteria e de sapadores, com armamento
ligeiro, prepara o terreno e estabelece a primeira linha em torno do
REVISTA DE REVISTAS 981

objetivo imediato, impedindo-lhe o acesso. Forças de apoio, com o


armamento pesado, chegam logo depois transportadas por aviões c
tomam posição em torno do porto. A terceira vaga traz tropas em
grande número, ainda por meio de aviões terrestres e marítimos.
Podem ser transportados desse modo, tanks leves, lançadores de minas
e de chamas.
Os aviões de transporte de Marrocos para Espanha, bem como
os empregados no Egito, Chipre e Palestina, provaram a grande
possibilidade que representam. Os franceses contam poder transpor-
tar divisões inteiras na África. Entretanto, não se pode negar a
dificuldade de transportar material pesado.
Se o êxito de um tal empreendimento pode ser posto em dúvida,
existe sempre a possibilidade de desembarcar tropas para destruir
centros de comunicação, obras de defesa, portos, depósitos de munições,
etc, e de acordo com o plano estratégico, pode-se criar incertezas
e aflições de toda a espécie, sem falar no fator psicológico.
Parece que a invasão pelo ar, do território de um inimigo que
se considera garantido pelo poder naval, não deve mais ser considerada
como impossível. O assunto não pode ser agora encarado como
"acadêmico".
puramente

(U. S. Naval Institute Procccdings, Dezembro de 1939).

A DEBATIDA QUESTÃO DO CANAL DE NICARÁGUA

Não faltaram criticas de oposição ao projeto de construção do


canal de Nicarágua. Foi dito que com a construção das novas
eclusas do canal de Panamá era provável que o projeto do canal
de Nicarágua fosse relegado ao segundo plano, pelo menos durante
um tempo mais ou menos longo. O Tio Saiu, observou certo órgão
da imprensa, preferiu colocar seus ovos do canal em um mesmo cesto
e assegurar que stêe seja bem guardado.
Do ponto de vista comercial não parece militarem razões sólidas
em favor da construção do canal de Nicarágua; permanecem, portanto,
apenas as razões militares navais as quais se baseiam no argumento
de que a existência de dois canais daria maior garantia de segurança
para a passagem das unidades da esquadra de um oceano para outro.
Entre o canal de Panamá e o proposto traçado da via áquea
através da Nicarágua, medeia uma distância não superior a 500'milhas.
982 KEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Si unia incursão aérea inimiga inutilizar um, não se vê porque


pode

não também danificar o outro. Pretender defender a ambos


possa

convenientemente, significaria instalar em duas bases a aparelhagem

defensiva necessaria.

Poder-se-ia aumentar a capacidade das comportas do canal de

Panamá até um que tornasse desnecessário voltar de novo ao


ponto

fortificando depois essa via dagua e defendendo-a com


problema

todos os recursos Em resumo, repete-se se um ataque


possíveis. que

inimigo é capaz de interromper o tráfego do canal nessas condições,

fazer o mesmo com o canal de Nicaragua, pois que um não


poderá

será menos vulnerável do que o outro. Observa-se finalmente, que

ninguém conseguiu demonstrar definitivamente os interesses da


que

defesa nacional americana ficariam melhor com dois canais


protegidos

do com um só convenientemente aparelhado e defendido. A


que

solução do consistiria em aumentar a capacidade do canal


problema

de Panamá com a construção de comportas adicionais. (Army and

Navy Register).

Marittima, Dezembro de 1939)..


(Rivista

IATES AMERICANOS NAS ROTAS DE COLOMBO

O iate americano Capilana, de 190 tons., chegou a


pequeno

Lisboa em 9 de Outubro último, procedente da América. Encon-

trava-se a bordo a expedição colombiana da Universidade de Harvard,

sob a chefia do Sam Morrison. São empregados (tanto


professor

na viagem de ida como na de volta) unicamente documentos, instru-

mentos e cartas dos tipos utilisados por Colombo em sua terceira

histórica viagem.

O Morrison ha dois anos atraz partiu para as índias


professor

Ocidentais em uma embarcação semelhante ao Capitam,


pequena

afim de estudar a segunda viagem de Colombo e em seguida dirigiu-

se ao Haiti para estudar a primeira travessia do grande genovês.

Nessa ocasião poude identificar o primeiro ponto de desembarque de

Colombo no Novo Mundo — a enseada da Natividade.

No cruzeiro que o levou a Lisboa em 9 de Outubro, o pro-

fessor Morrison seguiu a rota de Colombo em sua terceira viagem

de volta.
REVISTA DE REVISTAS 983

Depois de visitar San Lucar de Barrameda o ciên-


(Espanha)

tista americano seguindo a rota da terceira viagem de ida


partirá

(via Trinidad-Honduras).

Da expedição em apreço faz um outro veleiro —


parte pequeno
o Mary O tis.

(Rivista Marittima, Dezembro de 1939).

A BARRAGEM DE MINAS DE PROTEÇÃO A COSTA

ORIENTAL DA GRA BRETANHA

Londres, 27 Yves Morvan, da Agência Francesa Havas) —


(De

A barragem de minas ao longo da costa oriental da Grã Bretanha

o Almirantado inglês resolveu estabelecer o


que para proteger país

contra os corsários alemães, constitue um empreendimento verdadei-

ramente gigantesco, levando-se em conta a barreira em


que questão

terá um número de engenhos irá de 90 a 100 mil, segundo cál-


que

culos de observadores competentes, tendo as barragens uma profun-


didade de 30 a 40 milhas.

As minas serão dispostas de tal maneira será


que praticamente

impossível para uma unidade inimiga, se trate de submarino,


quer

lança-minas ou qualquer outra, atravessá-las impunemente.

Até agora as costas britânicas estavam simplesmente protegi-

das três campos de minas: O primeiro ao largo de Flambou-


por

rough, o segundo diante do estuário do Tamisa e o terceiro no

Passo de Calais. Com a nova barragem, só duas rotas ficarão

abertas ã navegação; a nara o comércio da Escandinavia,


primeira,

deverá passar entre a barragem e a ponta oriental de Invernesshire;

a segunda passará ao sul do campo de minas, pelo estuário do

Tamisa, para o comércio da Holanda e da Bélgica. E' desnecessário

dizer as duas extremidades da serão formidavelmente


que passagem

por vasos de e rêdes submarinas, sem contar


protegidas guerra pa-

trulhadores de toda espécie. s

A impressão dominante é a instalação completa da barragem


que

ficar terminada dentro de oito a dez semanas. Lembra-se


poderá

a que, na última os Estados Unidos e a Grã Bre-


propósito guerra,

tanha, em cooperação, levaram meses colocar 72 milhas


quatro para

de minas através do Mar do Norte.


984 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Uma vez estabelecida a barragem, julga-se que será extrema-

mente difícil, até mesmo para os aviões alemães, deixar cair ou

iançar em minas e isso deverão voar sobre a


paraquedas, porque

estreita faixa de mar de 8 milhas de largura servirá de via de


que

passagem para os vapores de comércio, ficando sôbre uma zona tão

limitada particularmente expostos ao fogo das baterias anti-aéreas

e à caçada pelos aparelhos de combate britânicos. De uma maneira

mais o sistema terá a vantagem de estreitar as rótas marítimas


geral,

e, por conseguinte, tornar infinitamente mais fácil a sua proteção

pela frota e a aviação britânicas.

Não é necessário dizer que o estabelecimento da barragem não

impedirá, eventualmente, a creação de outros campos de minas nas

do Mar do Norte em se verificasse a necessidade dos


partes que

mesmos. Mas, acentua-se, tal como se apresenta, a réplica britâ-

nica é perfeitamente conforme ao Direito Internacional e deve, em-

bora complicando numa certa medida a navegação, assegurar a

proteção ao comércio neutro ameaçado pelo Reich, ao mesmo tempo

que o comércio britânico, contribuindo para frustar mais uma vez

a manobra alemã visa afastar todo o transito das costas da Grã


que

Bretanha.

do Comércio, 28-12-39).
(Jornal

O DESENVOLVIMENTO DAS INDÚSTRIAS DE

ARMAMENTO NO JAPAO

A sino-japonesa exerceu uma influência marcante na


guerra

estrutura das indústrias nipônicas. O desenvolvimento das indús-

trias de armamento, caracterisa a do a partir de


que política Japão

1931, ou seja desde a Mandchuria foi separada da China, sofreu


que

um incremento ainda maior no princípio do atual conflito.

De 1931 e 1937 a da indústria metalúrgica torna-se


produção

8 vezes maior, a da de máquinas 5 vezes, a produção química 3,5,

enquanto a indústria têxtil ainda ha tempo ocupava


que que pouco
°/o
o lugar, aumentava apenas de 100 e êsse aumento pro-
primeiro

vinha do desenvolvimento da de rayon.


principalmente produção

A da indústria metalúrgica em 1931 represen-


produção que

tava 8,4 de toda a nacional, a 21,3 % em 1937;


% produção passou
ESTUDO COMPARATIVO 985

no mesmo a de maquinaria de 9,6 a


período produção passava %
15,5 °/o °/o
% e a porcentagem da indústria química de 15,8 a 17,7

enquanto °/o.
que a da indústria têxtil baixava de 37,3 % a 25,6

O valor total da nacional indús-


produção japonesa (agricultura,
tria e mineração) foi avaliado em 1936, em 18.000 milhões de yens

dos 3.260 milhões a agricultura e 12.236 milhões


quais para para

os manufaturados. Em 1937 os algarismos correspon-


produtos

dentes foram respectivamente 3.645 e 16.458 milhões.


O rápido desenvolvimento das indústrias de armamento em de-
"pacíficas"
trimento das sofreu nova aceleração em 1938 e especial-

mente na segunda metade desse ano, o controle


quando governamental

da e do consumo dos vários tornou-se mais rigor


produção produtos

roso em conseqüência da de várias leis concernentes


promulgação

principalmente à regulamentação das importações e exportações e de

uma série de decretos disciplinavam os trabalhos dos diversos


que
ramos especialisados da indústria: leis sobre a fabricação de auto-

moveis, sobre a indústria do ferro e do aço, sobre a exploração de

jazidas fabricação de aviões, exploração de ouro, etc.


petrolíferas,

O aumento de consumo do carvão demonstra claramente o con-

tínuo desenvolvimento das indústrias de armamento. Sendo de

29.876.000 de toneladas em 1932, elevou-se em 1936 a 46.211.000

de toneladas. Em cada um dos anos de 1937 e 1938 a produção

de carvão no e suas colônias se mantém sempre inferior


país (que

de cerca de 10 ao consumo) foi aumentada de 4 a 5 milhões de


%

toneladas.

O capital das emprezas carboniferas atingiu, em fins de 1938,

a 1.878 milhões de o representa um aumento de 12,4 %


yens que

sobre o do ano Os capitais investidos nas emprezas me-


precedente.

talúrgicas, e de construção de máquinas elevava-se a 4.576


químicas
°/o
milhões de em fins de 1938 com um aumento de 62,1 sobre
yens

o ano anterior enquanto os outros ramos das indústrias progre-


que

diram apenas na proporção de 11,9 %.

Êsse desenvolvimento determinou notável aumento no número

de operários empregados nas indústrias de armamento. Em fins

de 1937 o número de operários trabalhavam nas indústrias me-


que

talúrgica, e de máquinas era superior em 26,2 ao do


química %
"pacíficas"
ano Nas indústrias ao contrário, o aumento
precedente.

era insignificante.
986 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Nas emprezas de armamento o número de operários


particulares

atingia em 1937 aos 42 % do número total de operários do pais,

com um aumento de 22 % sobre 1931 e a progressão crescente con-

tinuou em 1938.

Finalmente, os balanços das emprezas industriais acusam um

aumento importante nos lucros das indústrias de armamento, que se

elevaram muito mais rapidamente do os dos outros ramos da


que

indústria. (Génie Civil).

(Rivista Marittima, Dezemvro de 1939).

OS NOVOS CRUZADORES GERMÂNICOS

-navios
Que espécie de são os novos cruzadoses germânicos de

10.000 tons.? Sabe-se o seu armamento e velocidade, mas


qual

como são êles couraçados? De acordo com a prática usual dos esta-

leiros alemães deve-se acreditar que sejam bem protegidos e que a

couraça absorva uma larga porcentagem do deslocamento. Se nos

fosse avançar uma opinião, diríamos que êles devem ser


permitido

melhor do que os últimos e poderosos cruzadores ameri-


protegidos

canos da classe Minneapolis de 9.375 a 9.975 tons. e que possuem

armamento superior ao dos cruzadores italianos da classe Zara de

10.000 tons.

Se assim fôr, sua será mais forte do que a do Algeric,


proteção

de 10.000 tons., o cruzadores pesado francês melhor protegido, do

a dos cruzadores de 10.000 tons. e também


que pesados japoneses

do a dos cruzadores britânicos da classe County de


que (Condado)

9.750 a 10.000 tons.

10.000 tons. —
O cruzador de
primeiro pesado germânico,

Hipper — entrou recentemente em serviço. E' o


Admirai precursor

de outros de tipo idêntico e seu armamento consiste em


quatro

VIII-9,9 em 4 torres duplas, 2 a vante e 2 a ré, XII-3,9 pol.,


pol.

XII-1,5 e IV tubos tríplices de torpedos de 21 pol. O navio


pol.

é dotado de uma catapulta e cie 3 aviões.

O aparelho motor compreende caldeiras de alta e tur-


pressão

imprimem ao navio a velocidade oficial de 32 nós. A


binas que

couraça na linha dágua tem 5 de espessura. Acredita-se


polegadas

o convés encouraçado é mais forte do o dos 3 navios tipo


que que
REVISTA DE REVISTAS 987

Deutschland, tem a espessura de 1,5 a 3 e a


que pol. que proteção

dos canhões não é muito inferior à dos mesmos encouraçados de

bolso, cujas torres têm 7,0 de couraça.


pol.

Se acceitarmos todos essas informações como exatas, o Admirai

Hippcr será o cruzador mais do mundo. Isso apesar da


poderoso
velocidade moderada e a despeito da de a sua bate-
possibilidade que
ria seja mais fraca do a dos cruzadores americanos e
principal que

japoneses de mesma categoria. Aquela classificação seria conse-

quência de sua robusta couraça e de seus canhões muito mais mo-

dernos, embora de calibre ligeiramente inferior ao dos rivais estran-

geiros. (Tidskrift i Sjovasendet) .

(U. S. Naval Institute Procecdings, Dezembro de 1939).

PROJETO DE UM TÚNEL SOB A MANCHA

De um século a esta parte o projeto de um túnel sob a Man-

cha, cuja primeira idéia é do engenheiro Mathieu vem


(1802),

tomando formas diversas, tendo chegado mesmo a ter um princípio

de execução.

Essa idéia sedutora passou por várias vicissitudes e não teve

seguimento causa da aversão britânica. Atualmente, embora os


por

promotores da emprêsa nunca tenham desistido, as cousas conti-

nuam no mesmo em que se encontravam em 1882, época da



suspensão dos trabalhos. A utilidade dessa ligação teria sido certa-

mente relevante durante a mundial e os mesmos argumentos


guerra

que se avançavam então, encontram novamente a sua importância

hoje a França e a Inglaterra combatem


que juntas.

Nêstes últimos anos o automovel vem fazendo concorrência

cada vez maior à ferrovia e se a estrada não aspirar


pode

a eliminação do binário, o primeiro assume uma importância pelo

menos igual ao segundo. E' difícil conceber uma ligação


portanto

terrestre franco-inglesa que não a circulação de automóveis,


permita

ainda com a exclusão da dos trens de ferro.


que

Estas considerações inspiraram ao engenheiro André Basdevant

(com o concurso mais tarde dos senhores Dauphin e Darlot) um

projeto de túnel rodoviário que vamos descrever e que difere note»--

velmente do existente do túnel ferroviário.


projeto
988 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O novo projeto prevê dois traçados. O primeiro que é certa-


mente o mais interessante, liga Marquise (Cabo Gris Nez) a Foi-
kestone. E' em essência o traçado rectilíneo preconisado por Tho-
mé de Gamond em 1860. Desenvolve-se quasi totalmente em terreno
pouco permeável; seu comprimento total será de 45,5 quilômetros.
As estradas de acesso terão cerca de 7 quilômetros na parte francesa
e de 2,8 na inglesa. Os pontos mais baixos do perfil em compri-
mento encontram-se a - 100 metros e o ponto mais alto, sob o
banco de Varne, a-70 metros. Este traçado não deixa prever
nenhuma dificuldade séria de execução e a sua ligação à rede ter-
restre é simples.
O segundo traçado é o previsto por Pattier e de Lapparent em
1875 e adotado para o projeto do túnel ferroviário. Embora se
desenvolva em terreno mais permeável do que o anterior, não é de
temer nenhuma dificuldade. Tem, todavia, o inconveniente de ser
mais longo, não sendo rectilíneo (49,5 km.) e mais profundo
(— 110 m. e — 90 m); seu custo é portanto mais elevado do que
o do primeiro. Em ambos os casos as rampas são fracas-0,1
a 0,15 %.
O túnel comporta duas galerias paralelas comunicando entre si
a cada quilômetro por uma passagem. O ponto mais alto se acha
mais ou menos a meio do comprimento. Em cada extremidade um
poço de grande diâmetro, utilisado a princípio, para a construção,
servirá para a ventilação e as suas bases escavadas mais profunda-
mente, constituirão um coletor de águas que devem ser evacuadas.
Nestas condições as águas de infiltração e de lavagem correrão natu-
ralmente para os poços das extremidades, o que evita a construção
de galerias especiais para colectar as águas. Deve-se ainda mais
observar que se por um motivo imperioso fosse necessário proceder
à obstrução temporária, bastaria inundar as duas extremidades para
bloquear o túnel, sem grave dano para toda a parte mediana. A
secção transversal terá 8 metros de diâmetro e será de forma circular.
Próximo às extremidades aos acessos, a 20 ou 30 metros de
profundidade, as galerias terminarão em uma rotunda que acomo-
dará os serviços de controle (pedágio, passaporte, alfândega) e de
onde partirão as passagens de entrada e de saída.
Com os recursos modernos de perfuração e excavação os tra-
balhos poderão transcorrer rapidamente, pois que a única dificuldade
consiste no volume de material posto em ação. A rapidez dos
REVISTA DE REVISTAS 989

trabalhos é exigida ônus financeiros do não


pelos período produtivo

e a evacuação de 5 milhões de metros cúbicos de aterro representa

um delicado.
problema

A base da estrada deve ser muito resisnente, a rodovia


pois que

deverá suster cargas cia ordem de 10 tons. eixo. A pavi-


poder por

mentação será de natureza a impedir deslizamentos cera-


(escorias,

mica, etc. facultam um revestimento fácil de reparar), com uma


que

convexidade adequada impedir a água de empoçar.


para

Desde que foi proposta a ligação entre a França e a Inglaterra

por meio de uma rodovia, surgiu o problema da manutenção do ar

respirável no interior do túnel, em virnude aa notável de


produção

oxido de carbono conseqüente à imperfeita combustão do carburante

nos motores de explosão. Um cálculo simples avaliar em


permite
1.900.000 metros cúbicos a de ar a introduzir em
quantidade puro

cada uma das galerias.

Êsse enorme volúme de ar e a energia empregada a sua


para

impulsão, exigem dispositivos especiais afim de a ventilação seja


que

sempre exatamente proporcionada às necessidades. Para tal fim o

túnel é oividido em secções de 1 km. cada uma, ou seja o espaço

compreendido entre duas galerias de comunicação. Cada secção é

autonoma e dispõe de uma aparelhagem especial de ventiladores

e exhaustores, que evacuam o ar viciado para as canalizações o


que

levam à central, de onde é expelido para o exterior. A instalação

é calculada a de 400 veículos em cada meia


para passagem galeria,

podendo ser a ventilação regulada cie acordo com o transito.

Relativamente à temperatura no interior do túnel, deve-se obser-

var no inverno não será necessário nenhum aquecimento,


que pois

a temperatura das (+ 7o) é sensivelmente igual à média


que galerias

da estrada. No verão, entretanto, as condições se apresentam dife-

rentes e a da temperatura externa a do túnel seria


passagem para

penosa; foi por conseguinte previsto um sistema de refrigeração elé-

trica das meio de termostátos internos e externos.


galerias, por

No projeto Basdevant o túnel rodoviário comporta também, um

tubo destinaao à circulação rápida de trens trans-


postal pequenos que

portam a correspondência, acionados eletromagneticamente ação


pela

de solenoides fixos dispostos ao longo do tubo e em circuito


postos

passagem do próprio trem. Haverá também um conduto


pela para
o transporte de hidrocarburetos. Génie Civil).
(Lc

(Rivisla Marittima, Dezembro de 1939).


990 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A BATALHA DE PUNTA DEL ESTE DESCRITA PELO

CONTRA-ALMIRANTE HARWOOD

Montevidéu, 3 — Agência Francesa) — O Contra-Almi-


(H.

rante Harwood recebeu os jornalistas a bordo do Ajax, no de


porto

Montevidéu, e lhes fez a narração seguinte sôbre a batalha travada

pelos navios cie que tinha o comando contra o couraçado de bolso

alemão Admirai Graf von Spee, a 13 de Dezembro ultimo:

"Eu
sabia um corsário alemão que suspeitava ser o aludido
que

couraçado de bolso, estava ao largo e se encontrava no Atlântico

Sul desde o início de Dezembro. Pensei atacar os


que procuraria

navios de comércio britânicos perto da costa da América do Sul e

eis porque eu havia concentrado três cruzadores, Ajax, Achilles e

Exetcr diante do estuário do rio da Prata. Com efeito, o comércio

britânico é importantíssimo nessa região e isso constitui-


pensei que

ria um atrativo irresistível o corsário.


para

A 13 cie Dezembro manhã nós nos achavamos a 200 milhas


pela

a léste de Punta dei Este quando percebemos uma fumaça às 6 horas

e 10. Essa fumaça provinha, como vimos a seguir, do couraçado

de bolso Graf Spee se aproximou de nós e abriu fogo contra


que

nós às 6 e 18. Uma de suas torres disparava contra o Exeter, outra

contra o Ajax e o Achilles. Nossos três navios partiram imediata-

mente o ataque a toda a velocidade, de acordo com o nosso


para

O Exeler atacava contra um aos flancos, o


plano pre-estabelecido.

Ajax e o Achilles contra outro.

O Exetcr não tardou a ser atingido e teve a sua ponte destruída.

Alguns dos seus canhões foram postos fóra de condições de servir,

mas continuou, todavia, a aproximar-se para desempenhar o seu

na manobra. Deve, com efeito, ter sofrido avaria séria o


papel

Graf Spee, depois de 16 minutos de combate fez meia-volta


pois que

traz de uma cortina de fumaça e dirigiu-se La Plata à toda


por para

velocidade.

Perseguimô-lo também à toda velocidade, enquanto zigzagueava

e emitia fumaça escapar ao nosso tiro. O Exeter perdia pouco


para

a a velocidade, mas continuou corajosamente na luta, dispa-


pouco

rando com os canhões lhe restavam. O Ajax e o Achilles con-


que

tinuaram na com velocidaae em varias milhas, atingindo


perseguição

freqüentemente o Graf Spee com os seus obuzes que provocaram

incêndio a bordo.
REVISTA DE REVISTAS 991

Os dois cruzadores ficaram um tanto avariados e duas torres do

Ajax foram fóra de serviço. Depois de 80 minutos de tiro


postas

sem cessar, deixamos o inimigo tomar distancia afim de seguí-lo

como sua sombra toda onde fosse. O Graf Spee não


por parte

procurou de maneira nenhuma aproximar-se, mas continuou rumo

a La Plata O Ajax e o Achilles o seguiram, ladeancio-o num dis-

tancia de cerca de 14 milhas.

Era fácil não de vista em virtude da sua torre massiça.


perde-lo

Às vezes o Graf Spee voltava-se e disparava uma ou duas salvas

contra um ou outro dos cruzadores êstes se aproximavam


quando

demais. Seu tiro era muito certeiro mas os cruzadores não foram,

entretanto, atingidos. Isso durou todo o dia. Perto cia noite o

Graf Spee rio da Prata. Às 21,10 virou subitamente


penetrou pelo

e disparou três salvas contra o Achilles. Os obuzes cairam muito

perto. O Achilles respondeu para defender-se e depois se deixou

distanciar não novas salvas.


para provocar

O Graf Spee disparou ainda três vezes contra o Achilles, entre

às 21,30 e 21,40, mas então já era quasi noite cerrada e teve de

atirar ao acaso com a finalidade ae assustar o Achilles. Êste se-

guiu-o de ver aonde se dirigia. Quando viu deitar ancora


perto para

diante de Montevidéu o Achilles voltou para o estuário do Prata.

Os dois cruzadores, embora avariados, permaneceram


pequenos

diante do rio da Prata durante os quatro aias seguintes e a êles se

juntou o Cumberland na noite de 14. Êsses navios esperaram a

saída do Graf Spee travar nova batalha se decidisse mostrar


para

que as reparações necessárias haviam sido efetuadas no mar. Quando

o Graf Spee se afundou, os cruzadores britânicos recomeçaram a


"
sua normal.
patrulha

(Jornal do Comércio, 4-1-940).

NAVIOS DE CIMENTO

A atualmente em curso entre franco-ingleses de um lado


guerra

e alemães do outro, trouxe novamente à discussão a de


possibilidade

se construírem navios de cimento afim de suprir a dificiência de

ferro. Em fins de Outubro do anno passado, apareceu na imprensa

técnica britânica a noticia de o tencionava empreender a


que governo

construção de navios de cimento e dêsse modo, resurgiu de um dia


99 2 BF.VIS1A MARÍTIMA BRASILEIRA

para outro a discussão dos prós e contras do projeto governamental,

discussão alimentada também, pelos interesses dos estaleiros e dos

produtores de cimento.

A primeira embarcação de cimento foi uma lancha a remos

patenteada e construída por Lambot em França em 1849. Poste-

riormente, em 1887 chegou a vez de um veleiro de carga — o De

Zeemeny, construído na Holanda,, o qual não obtante seu forte


peso

prestou excelentes serviços durante muitíssimos anos.

A Italia, entretanto, não ficava inerte nessas experiências e em

1896 Gabellini, de Roma, construiu uma embarcação a remos que

ser classificada como a primeira embarcação de cimento armado


pôde

o casco era constituído por uma armação de rêde de ferro,


porquanto

revestida de cimento. A espessura na era de cerca de 25 mm.


quilha

A-pesar-de terem sido ótimos os resultados, somente nove anos mais

tarde, os idealisadores construiram uma chata — Liguria — e outras

embarcações semelhantes...

Muito mais tarde, em 1910, os ingleses construíram sua primei-

ra embarcação de cimento, a draga Sand Witch ,destinada a traba-

lhar no Tamisa. Uma outra do mesmo foi construida em


gênero

1912 o canal de Manchester.


para

As construções navais de cimento, porém, tiveram impulso so-

mente em fins da Grande Guerra, quando as pêrdas de navios mer-

cantes dos aliados não ser compensadas com a necessaria pres-


podiam

teza, construções navais de ferro. Nos Estados Unidos foi


pelas

iniciado êsse de construção, mas as autoridades americanas


gênero

substituir o ferro pela madeira.


preferiram

Na Inglaterra o cimento foi empregado na


principalmente

construção de rebocadores, bateiões, chatas, etc., isto é, dois tipos de

embarcações auxiliares de havia escassez em virtude das requisi-


que

ções feitas pelos serviços militares.

A construção naval de cimento tem a vantagem de não ficar

sujeita aos suprimentos de ferro, de não apresentar fraquezas estru-

cturais devidas á rébitagem, etc., de ser mais rápida e mais


juntas

econômica, de empregar operários e mestres menos especialisa-


poder

dos, de reduzir o custo e o tempo nencessariio reparos, de ser de


para

maior duração e finalmente de apresentar menor usura do material

empregado.

É de assinalar além disso, os navios de cimento apresentam


que

obras vivas lisas e contínuas com evidente vantagem a resistên-


para
REVISTA DE REVISTAS 993

cia ao movimento. Os apologistas do cimento asseguram que tais

navios durar séculos, embora custando menos 20% do que os


podem

de ferro e 10% do os de madeira.


que

As construções navais inglesas eram de dois tipos, um de lastro

no o cimento era colocado seções sobre a armadura de apoio


qual por

c o outro monolítico com a colocação integral sôbre a mesma ar-

madura.

Contrariamente á expectativa, em 1919 se procederam


quando

aos balanços, os constructores ingleses se acharam diante de um de-

ficit, de 2.750.000 libras esterlinas e navios construidos. As


poucos

previsões haviam sido demasiadamente optimistas, mesmo no que

dizia respeito á exploração desses navios tinham uma


que pequena
tonelagem útil em conseqüência de seu
quer proprio peso quer pela
reduzida capacidade de carga conseqüente da espessura do casco.

Ao ser celebrado o armistício, apenas algumas chatas haviam

sido terminadas, enquanto as demais embarcações, a


que primeira

das era o rebocador Crethazvser, lançado em Março de 1919,


quais

entravam depois em serviço.


pouco

Entre as unidades mais importantes construídas de cimento

deve-se incluir o American Faith de 5.000 tons. de deslocamento,

lançado em S. Francisco em Março de 1918, que custou 750.000

dólares. Não obstante a boa imprensa que encontrou ao aparecer, foi

vendido três anos mais tarde como carcassa, por 5.375 dólares.

Uma outra, o navio cisterna Peralta de 6.149 tons. de deslocamento

bruto, também construida em S. Francisco, nunca foi empregada

no mar.

Na Inglaterra o navio de cimento mais importante, foi o

Armistice de 894 tons. lançado em 1919 em Barrow in Furness e

vendido anos depois Portugal.


poucos para

Segundo o trabalho estamos resumindo, na fase do


que primeira

entusiasmo navios de cimento, considerava-se a sua melhor


pelos que

era constituída rapidez e economia dos reparos:


qualidade pela

bastava telefonar a casa de construções civis mais próxima pe-


para

dindo um operário e um ajudante, executar o trabalho em


para

minutos. Embora concerto nas obras mortas fosse,


poucos qualquer

efetivamente, simples e rápido, o mesmo não se dizer dos con-


podia

certos nas obras vivas exigiam a entrada em dique com


qe grande
despeza e notáveis dificuldades conseguir a alteração do registro
para

de classificação.
994 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em 1922 todas as emprezas constituídas na Inglaterra para a

construção de tais navios fecharam as portas e atualmente apenas um

único rebocador de cimento — o Crctegaff, ainda se encontra em

serviço por conta de armadores de Liverpoof.

Segundo o estamos citando, a única unidade de ci-


jornal que

mento, de certa importância, em todo o mundo, é atualmente o navio

a motor italiano, a duas helices, Perseverança de 2.452 tons. cons-

truido em 19224

O artigo termina fazendo votos para que as autoridades britâ-

nicas, fortes com a experiência anterior, não encorajem o renasci-

mento de tal industria, enquanto as construções de ferro não tiverem

esgotado todas as suas possibilidades e não se tenha chegado á uma

situação de extrema necessidade.

(Rivisla Marittima, de' 1940)


Janeiro

OS NOVOS ENCOURAÇADOS BRITÂNICOS

Embora tenham sido oficialmente alguns detalhes dos


publicados

encouraçados britânicos em construção, juntamente com fotografias

de um desenho executado eminente naval, não se faz geral-


por pintor

mente uma idéia da formidável revolução nos de navios capi-


projectos

tais êles representam, nem de inovações se acham incor-


que quantas

poradas em sua construção.

Kinçj V e seus irmãos — Prince of Wales,


O George quatro

Duke of York, Jellicoe e Beatty — deslocam 35.000 tons., sendo

conseguinte os maiores encouraçados construídos na Inglaterra


per

depois do Hood desloca 42.100 tons. e é classificado como cru-


que

zador de batalha.

O armamento dos novos navios consiste em X-14


principal

dispostos em uma torre a vante com uma torre dupla


pol. quádrupla

superposta e uma torre a ré. Além disso, montarão


quádrupla

XVI-5, 25 de duplo fim distribuídos em 8 torres duplas, sendo


pol.

4 nos bordos na altura dos mastros e 4 superpostas na altura das duas

chaminés; conforme o esquema terá ainda 4 pom-pons


publicado,

múltiplos montados 1 sobre a torre dupla de vante, 1 sôbre a da

e 2 lateralmente à chaminé de vante e 4 metralhadoras múlti-


pôpa

sendo 2 na altura do mastro e 2 na do mastro de ré.


pias, grande
REVISTA DE REVISTAS 995

Foi oficialmente declarado os planos preveem proteção


que

eficaz contra ataques aéreos, incluindo uma distribuição melhorada

da couraça nos convezes e costado e uma compartimentação mais

sub-dividida. Particular atenção mereceu a defesa contra projetis

de artilharia, minas e torpedos. Informações não oficiais declaram

ser de 14.000 tons. o total da couraça e 16 sua


pêso polegadas

espessura na linha dágua.

O aparelho motor compreende caldeiras a óleo tipo Almirantado

e turbinas Parsons de 130.000 HP. no eixo, imprimirão ao


que

navio ao se espera, uma velocidade superior a 30 nós. Cada


que

navio terá vários aviões acomodados em liangars e lançados uma


por

catapulta de novo modelo a meia nau.

Os navios da classe King George V são òs encoura-


primeiros

çados britânicos projetados para receberem aviões, pois que os que

atualmente se encontram a bordo dos navios capitais, foram adições

posteriores e não figuravam no armamento São também


primitivo.

os encouraçados cujo inclúe hangar acomodar


primeiros projeto para
os aviões e catapulta lança-los, os atualmente estão
para pois que que

em serviço foram adaptados nestes últimos dez anos.

São ainda os primeiros navios de guerra britânicos montam


que

torres Os encouraçados Nelson e Rodney tem o seu


quádruplas.

armamento disposto em torres tríplices e todos os navios capitais

que os precederam teem os seus canhões de grosso calibre em torres

duplas ou singelas.

Os navios da classe King George V são também os primeiros

encouraçados britânicos sem armamento torpédico; os tubos


projetados

de torpedos vem sendo removidos dos antigos encouraçados a medida

que sofrem obras de modernização e bem assim dos cruzadores pesa-

dos. O torpedo, ao que é considerado como uma arma muito


passo

poderosa quando empregada por pequenas embarcações, é encarado

como um trambolho inútil a bordo dos navios de de categoria


guerra

superior a de cruzador ligeiro.

Não só os canhões que constituem o armamento principal, como

os compõem a artilharia secundaria do King George V, são de


que
um calibre novo a Marinha Britânica. Êstes últimos são armas
para

de duplo fim, sendo igualmente eficientes contra ataques de super-

ficie ou aéreos e esta é a vez canhões desse tipo são


primeira que
instalados em navios capitais britânicos.
996 REVISTA marítima brasileira

Os novos encouraçados diferem dos navios capitais de idêntico

deslocamento em construção para as Marinhas dos Estados Unidos,

França, Itália e Alemanha, em montarem canhões de 14 em vez


pol.

de 15 ou 16 pol. O canhão de 14 lança um de 1.560


pol. projétil

lbs., o de 15 pol. um de 1.920 e finalmente o de 16 um de


pol.

2.461 lbs.

Essa escolha de uma arma de menor calibre foi, contudo, feita

deliberadamente; foi considerado que o deslocamento máximo admi-

tido de 35.000 tons. não permitia a montagem de um número

adequado de canhões de calibre maior, a menos não se sacrifi-


que

casse de algum modo, a proteção, a velocidade, as mari-


qualidades

nheiras, o raio de ação ou outras características essenciais. Além

disso o canhão de 14 polegadas é capaz de um tiro mais rápido do

que o de 15 ou o de 16 aos iguala em alcance


polegadas, quais

efetivo e dêsse modo enquadrará o alvo mais rapidamente.

Os encouraçados da classe King George V serão os primeiros

navios capitais britânicos a serem armados exclusivamente com

canhões do tipo do all-steel em vez dos de enrolamento de fio de aço que

constituem o armamento de todos os precedentes navios dêsse tipo.

Êles foram fabricados segundo o processo conhecido pela designação

de sistema auto-fretage. Quasi todos os canhões atualmente em

fabricação a Marinha Britânica o são por êsse processo. A Grã-


para

Bretanha foi a última das grandes potências a adoptar os canhões

all-stcel e a demora é justificada pela relativa imunidade da Marinha

em explosões de canhões.

Talvez a mais importante qualidade dos canhões da classe King

George V seja o seu poder de penetração. Foi com efeito, declarado

ultimamente o alcance efetivo dos projetis de perfuração dos


que

canhões de 14 polegadas para qualquer espessura de couraça, excede

consideravelmente o dos de 15 polegadas, a despeito de seu menor

calibre. A Grã Bretanha tem assim a vantagem de economisar pêso

na montagem dos canhões, além de possuir uma arma superior. O

pêso assim economisado pode ser utilisado para outros fins, princi-

palmente para melhorar a proteção. E assim se tem uma resposta

esmagadora para as críticas feitas à adopção do canhão de 14 pol. nos

novos encouraçados.

O King George V foi lançado em 21 de Fevereiro e o Princc of

Wales em 3 de Maio. O Duke of York caiu ao mar em Setembro e o


REVISTA DE REVISTAS 997

Bcatty será lançado em Novembro, enquanto o Jellicoe em começo


que

de 1940. Todos os 5 encouraçados entrarão em serviço dois anos após

o batimento da respectiva
quilha.

(U. S. Naval Institute Proceedings, de 1940).


Janeiro

A NOVA EXPPEDIÇÃO ANTÁRCTICA DO ALMIRANTE

BYRD

Deixou a cidade de Boston, nos Estados Unidos, em princípios


de Novembro, a expedição irá utilizar um veículo
primeira polar que
auto-motriz equiparado com Começam nos dias de
pneus. primeiros
1940 os trabalhos no continente antárctico do Serviço Antárctico dos

Estados Unidos, sob o da Research Foundation do Insti-


patrocínio

tuto Armour de Tecnologia.

As expedições polares têm sido feitas a pé, com cachorros, aero-

planos e dirigiveis. O Cruzador dos Gêlos, no qual quatro ciêntistas

irão explorar o continente artárctico, foi ideado Dr. Thomas C.


pelo

Poulter, Diretor de Pesquisas do Instituto Armour de Tecnologia. É

realmente, um laboratório movei, atingir 50


que pôde quilômetros

horários e subidas até 30 —¦ um verdadeiro terrestre,


galgar % yatch

de sete com de controle, quarto das máquinas, oficina,


quartos, quarto

um compartimento dois sobresalentes, dormitorios


para pneus para

quatro um ano e combustível 8.000


pessoas, provisões para para qui-

lômetros.

O Cruzador dos Gêlos mede 16,78 metros de comprimento, 4,57

mts. de largura e 3,66 mts. de altura, 33.750 com-


pesando quilos

pletamente equipados. Tem quatro pneus Goodyear, levando dois

pneus sobresalentes. As rodas são retrataveis, como as dos aviões


"cruzador"
modernos, de modo o ficar a 1,20 mts. do solo
que pôde

ou então descansar sobre o seu fundo em fôrma de trenó. As rodas

têm e direção independentes. As rodas retrataveis


propulsão per-

mitirão o carro alternadamente ser empurrado ou


que possa puxado

sobre crevassas de mais de 4 metros.

A força motriz é fornecida por dois motores Diesel de 250 HP.

que servem também tocar os geradores de energia elétrica para


para
o rádio, a iluminação e impulsionar as rodas.
para
998 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Cada roda pesa 3 1/2 toneladas, inclusive o respectivo motor,


"cubo
encaixado no da roda". Os motores e as rodas saem dos lados

do carro, de modo a largura total é de mais de 6 metros.


que

Os de 12 lonas, medem mais de 3 metros de altura, quasi


pneus

92 centímetros de diâmetro e levam uma pressão de 15 a 20 lbs. No

compartimento de controle existem medidores que indicam a pressão

de ar em cada pneu, pressão essa que pôde ser regulada hídraulica-

mente, estando o carro em movimento.

A borracha congela a 60"C. abaixo de zero, mas, estando o carro

em movimento, o calor gerado pela flexão das lonas é suficiente para

evitar contratempos. Quando o carro está os são


parado, pneus

recolhidos para dentro do carro, e são aquecidos escapamento do


pelo

motor antes de iniciar-se a viagem. <

Os pneus não têm desenho antiderrapante os seus 75


porque

centímetros quadrados de área de contacto aderência,


proporcionam

suficiente. O solo, na região antárctica, onde irá viajar o carro


por

com os seus de baixa não é liso ou


pneus gigantescos pressão, gêlo,

neve macia, mas cristal finíssimo e duro, como areia.


gêlo

Um avião acompanhará o Cruzador, disposto no teto quando

não em uso, explorar e fotografar uma faixa de 800


para quilôme-

tros ao longo do percurso do Cruzador. Para a saída e chegada

do avião, as rodas dianteiras do Cruzador são elevadas e as trazeiras

abaixadas, afixando-se na parte trazeira uma rampa.

O guindaste hidráulico para elevar o avião ao teto do Cruzador

terá utilidade também para a troca de pneus e em outras emer-

gências.

O Cruzador é pintado de laranja e vermelho, com uma faixa

preta e prata, facilitar a identificação do ar contra o fundo


para

neutro da neve.

O carro deverá estar rodando 24 horas dia, exceto durante


por

o período da noite antárctica, quando o tempo será aproveitado para

fazer observações cientificas.

O Cruzador dispõe de rádios receber e enviar mensagens


para

afim de manter o contacto com os Estados Unidos e as bases terres-

tres e para auxiliar a coordenação dos estudos cientificcs.

As acomodações dos tripulantes são aquecidas escapamento.


pelo

A agua será obtida derretendo-se neve. O carro não tem paracho-

nem estribos, mas tem faroes potentes e uma busina.


ques
REVISTA DE REVISTAS 999

Quatro cientistas, com as capacidades combinadas de piloto


aviador, radiotelegrafista, mecânico, cientista, médico e cosinheiro,
viverão a bordo do Cruzador durante três anos. O contra-almirante
Richard E Byrd, chefe da expedição, fará os vôos de longo
alcance.
O Dr. Poulter diretor cientifico e segundo comandante da expe-
dição Byrd de 1933 a 1935, será o chefe da expedição terrestre.
O Dr. A. F. Wade, da Universidade de Miami, outro veterano
das regiões antárcticas, será o comandante do Cruzador e irá dirigir
os trabalhos científicos.
O Dr. Paul Siple, escolhido pelo almirante Byrd como um
notável escoteiro norte-americano, para participar da primeira expe-
dição, comandará uma das bases terrestres.
Cerca de 45 outros cientistas acompanharão a expedição, orga-
nizando duas bases fixas.
O objetivo da expedição é explorar o continente antáretico. A
área do Polo Norte é, na maior parte, água; no Polo Sul, a maior
parte é terra — constituindo um continente de área igual ás do Brasil
e do México combinadas, sendo que uma área equivalente à do Brasil
ainda não foi explorada.
Guando da expedição de 1933/35, o Dr. Poulter constatou que
era possível usar um tractor com motor Diesel mesmo a 60°C abaixo
de zero, concluindo daí que todo o continente poderia ser explorado
com um gigantesco automóvel de construção especial. Pelos seus
cálculos será possível explorar toda essa área dentro de um ano.
Começando as operações no verão, em Janeiro, a expedição
conta atingir o Polo Sul no inverno, em Julho, e permanecer lá
durante a noite antáretica.
Embora os vôos de grande alcance, como uma viagem ao Polo
Sul, sejam praticaveis somente durante o mês de Novembro, póde-se
fazer viagens curtas quasi que diariamente.
Além dos objetivos científicos, os cientistas farão vastas expio-
rações geodesicas, procurarão localizar depósitos de minérios e de
petróleo, estabelecendo o direito dos Estados Unidos à área, baseados
no fato de ocuparem e utilizaremos terras. Já houve quem demons-
trasse interesse na possibilidade de se estabelecerem bases para aviões
militares nessa região.
1000 REVISTA marítima BRASILEIRA

A região antártica tem montanhas que atingem 3.800 metros

de altura, e um onde está situado o Polo Sul, a uma


grande planalto

altitude de 2.600 metros. A área é completamente desabitada. Não

lia ursos no Polo Sul; os únicos animais encontçados são


polares

fócas e aves, especialmente pingüins.

Em virtude de suas dimensões gigantescas e aparência desusada,

centenas de milhares de pessoas aglomeraram-se nas estradas para

assistir à do Cruzador, em sua viagem de Chicago — onde


passagem

foi construído na fabrica Pullman — Boston, onde foi carregado


para

a bordo do navio North Star, que levará a expedição para Little

America, via Nova Zeelandia.

Embora fosse demasiado grande para ser enviado por trem ou

caminhão de Chicago para Boston, poderia ter sido embarcado por

via fluvial. Mas a viagem terra, de cerca de 1.800


por quilômetros,

serviu para pôr à prova todo o equipamento enquanto estavam pro-

ximas as oficinas de concertos.

Os motores são Diesel Cummins e os geradores são General

Electric.

Jornal, 18/1/40).
(O

GUERRA E RADIO

Não se trata da radiotelegrafia, bem entendido, mas das emissões

radiofônicas; aquelas que centenas de milhares de homens escutam

todos os dias e que, dêsse modo, constituem um e intei-


poderosissimo

ramente novo meio, que se veiu ajuntar aos outros com se conduz
que

a insidiosa e muito importante guerra de propaganda.

O assunto interessa muito aos dirigentes dos em


políticos países

luta e por vezes se leem algumas considerações a êsse em


proposito

revistas, quer inglesas, quer francesas, quer alemãs. O primeiro

estudo suficientemente completo e atualisado conhecemos, é o


que

publicado por Thomas Grandin no número de Outubro da revista

francesa Politique Etrangère e vamos resumir. O


que procurar

trabalho visa apresentar o panorama da atividade rádio durante os

dois primeiros meses das hostilidades.

Antes de mais nada a técnica. As emissões são nitidamente

divididas em duas categorias — as de uso interno e as se desti-


que
REVISTA DE REVISTAS 1001

nam ao inimigo. As tem caráter defensivo com o objetivo


primeiras

de manter elevado o moral dos nacionais, estejam ou não


proprios

sob as armas, as últimas, ao contrario, tendem à minar as forças

morais do adversario, e tem conseguinte, uma função decidida-


por

mente ofensiva. Além da e informativa, o rádio é


parte polêmica
utilisado para difundir os discursos dos estadistas nesse capítulo
(e

ambos os beligerantes tem feito largo uso), dar em


para primeira

mão e mais rapidamente do outro meio, as notícias


que por qualquer

mais sensacionais e os boletins de guerra.

Finalmente, existe também a técnica negativa, consiste em


que

criar distúrbios impedir a escuta das transmissões do adversario.


para

A eficácia dos distúrbios depende da e da das


posição potência

estações os e ambos os beligerantes se dedicam a


que provocam

esta atividade com muita atenção mas as funções do rádio não ficam

por isso seriamente diminuídas.

Depois dêste rápido esboço técnico, o autor passa à examinar

a atividade de radiotransmissão desenvolvida pelos beligerantes.

Em lugar vem a Alemanha. As emissões germânicas


primeiro

destinadas ao estrangeiro são asperamente combativas e freqüente-

mente desenvolvem sua ação de comentando as notícias


propaganda,

do dia. Os objetivos se através dessas emissões são:


que patenteiam

exaltar os resultados e militares do regime, excitar o ódio


políticos

do mundo inteiro contra a Inglaterra e finalmente induzir a França

a romper a sua aliança com a Grã-Gretanha. Nêste último setor as

variações são freqüentes e muito bem concebidas. Exemplo: a ceri-

mônia das exéquias do tenente Deschanel, ao qual foram prestadas

solenes honras militares, foi amplamente difundida pelo rádio alemão.

Stuttgart transmite freqüentemente programas de música variada

os soldados da linha Maginot. Sarrebruk dá os nomes e ende-


para

reços dos franceses com mensagens por êles


prisioneiros juntamente

dirigidas às suas famílias. Durante a campanha da Polonia algumas

operações foram acompanhadas cronistas de rádio exaltando a


por

coragem das tropas e exagerando os resultados obtidos.


germânicas

Receptores munidos de amplifícadores, deslocavam-


portáteis grandes

se ao longo do Reno, diante de Strassburg, repetindo à saciedade,

extratos dos discursos do Fuhrer, nos eram os seus


quais proclamados
mais determinados desígnios relativamente à França. Perio-
pacíficos
dicamente as estações transmissoras alemãs comunicavam longamente

que na frente francesa não existia nenhum soldado britânico, e isso


1002 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA.

até serem desmentidas pela evidência. Estas formas particulares de


propaganda específica, são intercaladas com as de polêmica genérica,
destinada a demonstrar a absoluta conveniência dos franceses em
não fazerem a guerra, explorando os habituais e bem conhecidos argu-
mentos sobre a plutocracia judaica e inglesa.

Voltando-se para os ingleses, as estações alemãs afirmam a deter-


minada vontade do povo germânico de continuar a guerra até a vitória.
Freqüentemente são levantadas dúvidas quanto às noticias transmitidas
pelo rádio inglês. Foi assim que durante mais de duas semanas os
alemães não cessaram de sustentar o afundamento do Ark Royal; as
afirmativas eram alternadas com pedidos irônicos a respeito do navio
sua atividade, seus movimentos. Foi necessário que o governo inglês
se decidisse a convidar o adido naval americano para visitar o navio,
para dar um desmentido definitivo às dúvidas propositadamente
levantadas. Os alemães declararam então, que o adido naval ameri-
cano tinha sido levado a um outro navio convenientemente camu-
fiado. Mais recentemente, o comandante do submarino que torpedeou
o Royal Oak repetiu diversas vezes no rádio, em inglês, a descrição
de sua façanha, afirmando do modo mais categórico que também o
Repulse fora afundado.

Durante a campanha da Polônia, o rádio alemão foi utilisado


intensivamente para apoiar a ofensiva militar. Uma das formas mais
características denunciadas pelo autor, foi a de efetuar as transmissões
com o mesmo comprimento de onda e mesmo nome de uma estação
britânica, mas em língua polonesa. Essas transmissões continham
noticias fantásticas sobre ipotéticos sucessos ingleses e franceses, os
quais eram mais tarde desmentidos, de modo evidente-, por meio de
irradiações em lingua alemã, de modo a se obter assim, um efeito de
desconfiança e de desmoralisação, sobre as populações polonesas.
Contemporaneamente as estações germânicas anunciaram a queda de
Varsovia alguns dias antes da cidade se ter rendido. A estação de
Varsovia, apenas ocupada pelas tropas alemãs, irradiou comunicações
e informações alemãs, deixando de declarar que as transmissões não
eram realisadas pelos poloneses. Transmissões em lingua polonesa
pela estação francesa de Toulouse foram perturbadas por estações
emissoras alemãs operando com o mesmo comprimento de onda e na
mesma lingua, de modo a deixar os ouvintes poloneses na impossibi-
dade de reconhecerem a origem da transmissão.
REVISTA DE REVISTAS 1003

As irradiações alemãs destinadas ao povo germânico são drama-


ticas, tanto na forma como na extensão. Muitas estações terminam
suas emissões bastante cedo, à noite, afim de evitarem que os avia-
dores inimigos sintonizando-se por elas possam localisar as cidades
alemãs. Particular atenção é dada ao programa musical destinado ao
exército em campanha, no qual são incluidas músicas escolhidas pelos
soldados. Uma grande parte das irradiações é ocupada pelos comen-
tarios de origem neutra, escolhidos convenientemente entre os que
apresentam a Alemanha sob o aspecto mais favorável.
Essa luta para sustentar o moral interno, é travada pelo rádio
alemão não só contra as estações inglesas e francesas mas também
contra um ou mais postos de emissão ilegais que se auto-definem
como Frcihcitssender. Ao que se diz, tais estações são dirigidas por
austríacos; elas convidam os operários alemães a exigirem salários
mais elevados e a não trabalharem horas extraordinárias. As trans-
missões são encerradas com o grito de "Abaixo Hitler". "Viva a
liberdade e a paz". "Inimigos de Hitler uni-vos a nós". Foi o
Frcihcitssender que anunciou que o general von Fritsch não tinha
sido morto em combate na frente, mas fora assassinado ao regressar
a Berlim. A mesma estação transmite regularmente um decálogo do
trabalhador alemão, de naturesa ferozmente anti-hitleriana e de
tendência comunista.
O artigo consagra menor espaço às irradiações francesas porque,
evidentemente, elas são bem conhecidas do público a que o trabalho
se destina. Os argumentos de propaganda que o rádio francês
emprega, são muito semelhantes aos que se podem ler em todos os
jornais. Cinco estações se dedicam à irradiações em alemão, que
cada uma realiza oito vezes por dia. Duas emissões são particularmente
dedicadas aos austríacos. Neste ponto a França tem uma certa van-
tagem sobre a Alemanha; com efeito foi em Março de 1936 que
tiveram início as transmissões em alemão pelas emissoras francesas,
ao passo que as irradiações alemãs em francês, somente em Julho
de 1939 foram inauguradas. Freqüentemente aquelas transmissões
reproduzem discursos de personagens francesa e mesmo alemãs,
adversárias do regime nazista.
Afim de diminuir o efeito produzido no público francês pelas
emissões de propaganda alemã, foi feita uma grande publicidade
sobre o "traidor de Stuttgart" ferreteado como desertor do Exército
Francês e que fala através daquela estação em favor da causa nazista.
1004 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Uma feita, depois de uma de suas preleções, ouviu-se no mesmo


"Atenção.
comprimento de onda uma voz que bradava: Não des-

ligue. Agora vos fala um verdadeiro francês". Seguiu-se uma trans-

missão combatendo os argumentos do locutor de Stuttgart.

É desnecessário dizer que também a Rússia faz largo emprego

da propaganda radiofônica. Nos dias precederam a assinatura


que

do pato teuto-soviético, o rádio de Moscou atacava violentamente o

regime nazista. Hoje as emissões soviéticas em alemão continúam

a exaltar o comunismo mas o Reich não mais é criticado. Prefere-se

antes, insistir sobre as vantagens do comunismo com alguns ataques

ao fascismo. Durante o avanço das tropas soviéticas na Polonia,

Moscou acentuava, em francês e em inglês, o bom tratamento dado

forças vermelhas aos De resto, toda a avançada


pelas judeus polacos.

soviética na Polonia foi abundantemente comentada rádio russo,


pelo

dando-lhe o caráter de uma marcha libertadora acolhida com entu-

siasmo pelas populações finalmente livres do capitalista. As


jugo

habituais miragens do soviético se está instalando na


paraíso que

Polonia, são evidentemente exaltadas ao máximo e periodicamente

difundidas rádio russo edificação dos operários de todo


pelo para

o mundo.

A partir de de Outubro o rádio de Moscou começou


princípios

a ocupar-se com as emissões francesas da luta anti-comunista se


que

desenvolve na França. A tecla sôbre a insiste, é afirmativa de


qual

que as providências do govêrno são impostas por uma minoria capita-

lista e mal vistas massa da


pela população.

Relativamente ao rádio italiano o artigo contém uma breve

referência, constatando as emissoras italianas são as mais


que prontas

em dar as notícias de última hora e as emissões em lingua fran-


que
cesa acentuam habitualmente, a de neutralidade seguida
política pelo
Duce.

As emissões das estações suiças, belgas, holandesas e dos demais

países neutros, são em muito


geral prudentes.

O rádio, como se sabe, é nos Estados Unidos a si não


principal

a única fonte de informações da massa do Programas


grande povo.

destinados a êsse país foram transmitidos Europa, de modo mais


pela

ou menos regular, entre 1930 e 1935. Na época do anschluss e daí

diante, o interesse americano européias assumiu


por pelas questões

um tal desenvolvimento que correspondentes de rádio foram enviados

e mantidos na Europa, enquanto as emissões em ondas curtas


que
REVISTA DE REVISTAS 1005

através do Atlântico assumiram um ritmo e regular. O


periódico

sucesso deste meio de informações uma rapida intensificação


provocou

dos serviços de emissões intercontinentais. Em Setembro de 1938,

por exemplo, durante a crise checo-slovaca, o Columbia Broadcasting

System realizou em três semanas, 471 emissões de dezoito diferentes

cidades da Europa. A civil espanhola e as operações militares


guerra
na China, foram igualmente Na
amplamente comentadas. primavera
de 1939 foi inaugurado um sistema de conversação intercontinental com

comentadores fixados em várias cidades, mas isso foi interrompido

no início das hostilidades, nos dias de Setembro de 1939.


primeiros
De 15 de Setembro em diante, rádio americano retransmite duas
o

irradiações diárias de cada uma das capitais das nações européias

em luta.

Sôbre o conteúdo dessas transmissões, o autor mostra-se muito

satisfeito. Êle se apressa em acrescentar elas são caracteri-


que que
sadas mais objectividade, ao referirem-se aos
pela perfeita grandes
acontecimentos internacionais, de modo a a cada ouvinte
permitir
formar uma opinião exata.
pessoal

A amplitude atingida ultimamente rádio americano, relati-


pelo
vãmente à difusão das notícias mundiais, faz deste meio de informa-

ções, um instrumento de singular alcance, tanto sob o ponto de vista

do imensa auditorio como sua ação diréta e con-


que possue, pela

tinúada.

(Rivista Marittima, Janeiro de 1940).

AINDA a BATALHA DE PUNTA DEL ESTE — COMO A

"EXETER"
descreve o comandante DO

LONDRES, 16, — Por Yves Morvan) — Bordo do cru-


(H.
zador Exeter. Onze horas, Alto, robusto, rosto queimado pelo sol dos

tropicos, sob o seu barco navegou sempre desde 1926, o


qual quasi
Capitão de Fragata Belle, comandante do Exeter, recebeu-nos hoje.

Beliche simples, fotográficas de


mas confortável. Nas paredes
sua familia. Pela entreaberta entrava a alegre algazarra dos
porta
marinheiros
que se preparam para ir à terra.

As admiração
primeiras palavras que lhe saem dos lábios são de

pela ação dos contra-torpedeiro francês Sirocco, suas vitórias


pelas
1006 REVISTA marítima brasileira

"maravilhosas"
na luta contra os submarinos Modesto,
germânicos.

o Comandante Belle hesita em falar de suas vitórias, todavia


próprias

com isso lhe dá ensejo de salientar a coragem de seus homens, con-

ta-nos tudo o que se passou a bordo do seu barco durante a batalha

de Punta de! Este.


"Tínhamos
boas razões — disse — esperar naquelas
para para-

gens a passagem do couraçado alemão. Fomos avisados de que.

projetava atacar navios mercantes. Prevíamos cedo ou tarde o


que

navio alemão apareceria ao largo das costas sul-americanas.

Por volta das seis horas da manhã do dia treze de Dezembro,

avistamos tênues rolos de fumaça no horizonte sobre o dentro


qual

em pouco, se destacava a superestrutura do couraçado germânico.

Pensavamos que se tratava do Admirai Scheer. Mais tarde é que


sua identidade nos foi completamente revelada.

Logo o navio inimigo foi reconhecido, os três cruzadores de


que

nossa pequena esquadra adotaram o dispositivo de ação os coman-


que
dantes do Ajax e do Achilles tinham elaborado de ha muito comigo.

O Graf Spec, rumava em direção léste, encontrava-se a


que

bombordo e um abaixo de nossa formação. O Exeter,


pouco que
vinha em último lugar, rumou bombordo, esperando o inimigo,
para

com o objetivo de ter sob seus canhões de estibordo o navio alemão.

Entrementes, o Ajax e o Achiles operavam um movimento envolvente,

afim de se de ambos os lados do inimigo. O Graf Spee seguiu


postarem

algum tempo sua rota léste, em seguida mudou de direção. Pre-


para

cisamente às seis horas e vinte minutos, o couraçado alemão, se


que
encontrava então a doze milhas do Exeter, lançou o seu tiro
primeiro
de canhão. De seis horas e 20 minutos às sete horas e meia, o

Exeter foi sete vezes atingido, mas, sua vez, atingiu oito vezes o
por
adversario, durante o combate recebeu sessenta descargas de
que

nossos três navios. Terminada a luta, o Exeter, de seus seis canhões

de oito em suas três torres, não contava senão com um


polegadas

único capaz de funcionar. Restavam-nos, entretanto, nossos seis tubos

lança-torpedos, foram utilizados sem tardança. Um obuz do


que
"A". "B",
inimigo atingiu nossa torre. A torre cujos canhões

eram manejados homens do destacamento real, foi sua vez


por por

atingida. Essa torre está situada sobre o do comando, onde


passadiço

me encontrava.

Os estilhaços dos obuzes mataram e feriram homens. Só


quinze

eu escapei por milagre. Pouco depois, examinavamos os estragos


REVISTA DE REVISTAS 1107

do bombardeio. Todos os tubos acústicos e a coberta estavam

estraçalhados. A catapulta e o avião de bordo foram seriamente

danificados. Não tenho exaltar a coragem e a calma


palavras para
de meus homens. Nossos feridos, em torno dos se desdo-
quais
bravam nossos dois médicos, mostraram uma magnífica grandeza
dalma. ,

Terminada a luta, tratamos de lançar ao mar os mortos. Apenas

havíamos terminado a refrega, os nossos marinheiros tratavam de



reparar urgentemente os danos".

Como nos referissimos, admirados, à decisão do comandante

alemão de abandonar a luta, o Comandante Bell, nos respondeu:


"Ainda
hoje tal decisão é mim um mistério. É de crêr que
para
nossos canhões tenham atingido duramente o couraçado alemão".

"Quando
Depois de alguns segundos de silencio, disse-nos: par-
timos o combate, conhecíamos o armamento e a reputação do
para

famoso couraçado de bolso do Reich e estavamos de


persuadidos que
a tática do seu comandante seria muito simples: afundar-nos, um

de cada vez".

"Tivemos
Com um sorriso, o Comandante Bell acrescentou:

sorte".

Não se deve esquecer de fato, o Graf Spee foi obrigado a


que,
ceder diante da coragem, da intrepidez e da habilidade dos seus

adversarios, muito mais fracos, mas, sem dúvida, de animo mais

resoluto.

{Jornal do Comércio, 17/2/40).

PODE O BLOQUEIO A VITÓRIA?


MARÍTIMO ASSEGURAR

O escritor Victor Wallace Germains no número de


publica
Dezembro da The Contemporary Review, um bem lançado artigo

sobre os resultados marítimo da


se podem esperar do bloqueio
que
Alemanha.

As democracias agir segundo meios


podem quatro principais:
bloqueio, forças
propaganda, ações diplomáticas e operações das

armadas. A conduta consistir em combinar conve-


da guerra deve

nientemente essas diversas formas de ação.


1008 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O autor observa o quanto estão espalhados os exageros sobre os

efeitos obtidos bloqueio e pela propaganda na Guerra Mundial,


pelo

na realidade, a-pesar-da vantajosa e da


quando posição geográfica

supremácia naval, o bloqueio mantido Grã-Bretanha não foi


pela

efetivo até a entrada dos Estados Unidos na guerra, não tendo sido

impôr a doutrina da viagem contínua à uma potência neutra


possível

da importância daquele país. Até meiados de 1917, a Grã-Bretanha

não conseguiu impedir que a Alemanha recebesse importações consi-

deraveis dos Estados Escandinavos ou de outras procedências. Não

consta o bloqueio tivesse conseguido determinar escassez de


que

armas ou de munições, colocando assim a Alemanha na impossibili-

dade de efetuar importantes operações militares; os efeitos do bloqueio

foram sentidos mais pela população civil do que pelas forças armadas

e não tiveram a gravidade se crê. O bloqueio deter-


que geralmente

minou dificuldades se obter artigos de a da classe


para que gente

média está habituada a dispor. O autor não pretende afirmar que

o bloqueio fosse inútil e não tivesse provocado reais sofrimentos,


que

mas deseja pôr em evidência êle teria podido continuar indefini-


que

damente sem forçar o inimigo a render-se. Na apreciação dos

efeitos do bloqueio encontram-se os mesmos exageros do quanto foi

escrito sobre o que na realidade era mais eficaz sobre


propaganda,

as populações não alemãs. O cansaço e as privações eram crescentes

na Alemanha, enquanto se manteve a esperança da vitória, o


porém

espírito de nacionalismo germânico permaneceu elevado e os nomes

de Hindenburg c Ludendorff eram tão populares quanto são hoje

os de Hitler e Goering. Existia uma minoria socialista se achava


que

descontente mas ela se conservava passiva enquanto o povo se iludia

com a possibilidade da vitória. O moral desabou Ludendorff


quando

pediu o armistício mas sobre isso não tiveram influência nem a

propaganda, nem o bloqueio; a Alemanha preferiu atribuir a sua

derrota ao bloqueio e ao esgotamento, em vez da diminuta capacidade

combativa das forças armadas.

Passando a considerar a situação no conflito atual, o autor

admite que em teoria existe a possibilidade de vencer com pêrdas

mínimas, ao abrigo da linha Maginot, mas se essa idéia é atraente,

deve, entretanto, ser considerado perigosa. Pode-se obrigar a rendição

a uma forte apertando-a sítio mas é muito a dife-


praça pelo grande

rença entre o assédio de uma localidade e o de um Estado capaz de

produzir grande parte daquilo de que tem necessidade. O autor


revista de rêvistas 1009

insiste particularmente sobre esta diferença essencial, nas cir-


que
cunstancias atuais as democracias não contar com o cêrco
podem
completo da Alemanha; a é menos favoravel do
posição geográfica

que em 1914/18, agora o Reich tem fronteiras comuns com a


pois
Italia, a Rússia e as Potências balcânicas.

É certo a Alemanha dificuldades


que se encontra em para pagar
as importações mas se no bloqeio,
as democracias confiam apenas

não se deve esquecer Alemanha


que as necessidades de armamentos da

serão muito inferiores às verificariam no caso de uma


que se guerra
fortemente combatida; conseguinte, continuasse na
por se o conflito

forma atual o Reich teria a de artigos


possibilidade produzir para
exportar em de suas importações e assim a
pagamento guerra poderia

prosseguir indefinidamente. Êste é o ABC do o


problema, que
autor declara tão evidente dispensa a necessidade de confirmação
que

por dados estatísticos, acrescentando seria ilusório imaginar, da


que

parte de homens do calibre de Hitler e Goering, disposições para


rendição, mesmo o bloqueio sérias dificuldades. A
que produzisse
esse o autor lembra no tempo das sanções contra a
proposito que
Italia, foi ameaçada a sanção do o Duce declarou
quando petróleo,

que responderia com a ação das forças armadas.

Tecnicamente é conceber uma


possível que grande potência possa
vencer mantendo-se na defensiva e lentamente sufocando o inimigo

pelo emprêgo do bloqueio, mas não ha exemplo de uma guerra


vencida dêsse modo.

Como aconteceu na Guerra Mundal, um energico aproveitamento

das — militares, e econômicas —


possibilidades políticas pode per-
mitir enfrentar os acontecimentos, mesmo sérios desas-
passando por
tres, enquanto uma orientação bélica, baseada em falsas
que premissas,

pode dar lugar à decepções irremediáveis.

Por êsse motivo o autor sustenta a necessidade de o


que público
seja em contra as exageradas esperanças fundadas na
posto guarda

guerra econômica e na se bem êle considere os


propaganda, que que
anglo-franceses maiores resultados
possam esperar da propaganda,
do na Guerra
que Mundial.

Embora acreditando o número de descontentes em virtude


que
das Alemanha, o reconhece
privações, possa aumentar na autor que
se tratará de uma minoria que continuará a conservar-se passiva
enquanto não fôr vitória
inteiramente excluida a possibilidade da

germânica.
1010 REVISTA marítima brasileira

Mas se o bloqueio e a ser considerados efi-


propaganda podem

cazes acelerar os efeitos de vitórias militares, os seus resultados


para

não ter capacidade para remediar à falta de vitórias. Cham-


podem

berlain advertiu o para não fundasse esperanças exagera-


público que

das na econômica; o autor se compraz encontrando nessa


guerra

advertência um sintoma de compreensão da amplitude da missão que

incumbe à Grã-Bretanha.

Marittima, Janeiro de 1940).


(Rivista

AS FROTAS DAS GRANDES POTÊNCIAS NAVAIS

O se segue dá o número de navios dentro dos limites


quadro que

de idade e bem assim o número total dos se encontram em serviço


que

e o dos que se acham em construção para as diversas grandes

potências:

T ipo •§
|

^
| *?-» e*

O h. tq

Estados Unidos

Navios capitais 14 15 8

Porta-avioes 2

Cruzadores pesados 1 17 17 1

Cruzadores ligeiros | 17 17 8

Contra-torpedeiros j 54 221 43

Submarinos 22 89 25

Gra Bretanha

Navios capitais 18 18 9

Porta-avi5es ! 7

Cruzadores pesados 15 15 0

Cruzadores ligeiros 24 47 25

Contra-torpedeiros | 107 178 37

Submarinos | 45 55 18
revista de revistas 1011

-2 e
-C
Tipo ^

X.
Q

Q Ê-H

Japao

Navios capitals 10 10 3

Porta-avi5es 11 11 2
Cruzadores 12 17 0
pesados
Cruzadores ligeiros 15 23 5
Contra-torpedeiros 75 111 9
Submarinos 40 59 3

Franqa

Navios capitais 4
Porta-avioes 2
Cruzadores 0
pesados
Cruzadores ligeiros 11 11 3

Contra-torpedeiros 70 71 30

Submarinos 75 75 27

Italia

Navios capitais 4

Porta-avioes 0

Cruzadores 0
pesados
Cruzadores ligeiros 12 14 14

Contra-torpedeiros 100 130 12

Submarinos 98 105 28_

Alemanha

Navios capitais 7
Porta-avioes 0
Cruzadores 3
pesados
Cruzadores ligeiros 6
Contra-torpedeiros 32 44 10
Submarinos 50 50 21

S. Naval Institute Proceedings, de 1940).


(U. Janeiro
1012 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A BANDEIRA SUÍÇA CRUZA OS MARES

A Suíça apezar de país central, possue marinha mercante de


proporções modestas, como é natural, e que reduz as suas atividades à
travessia do lago Leman.
Agora, forçado pela situação da guerra européia, o governo suíço
fretou vários navios, na maioria gregos, com o total de 83.000 tone-
ladas, que, hasteando o pavilhão helvetico, cruzam o Atlântico e se
destinam a transportar da América para a pequena república produtos
agricolas e minerais e artigos manufaturados para uso exclusivo da
população suíça.
De volta às terras americanas, esses navios trazem unicamente
mercadorias daquele país.

{Jornal do Comercio, 1/3/40).

A RESISTÊNCIA CHINESA

Três anos de guerra não conseguiram abater a resistência da


China. A-pesar-de haver o Japão conquistado os mais importantes
"hiterland". É lá
portos chineses, a resistência se faz atualmente no
no interior do país que se constróe, à custa de formidáveis sacrifícios,
a nova China. Para a China comunicar-se com o mundo externo, já
que o acesso ao mar lhe é vedado pelo bloqueio nipônico, os únicos
meios de ligação consistem nas estradas através de Burma ou da
Indochina francesa. A-pesar-da guerra, o governo chinês realiza
trabalhos formidáveis quais sejam os de aumentar as rodovias do pais
até à fronteira com Burma e com a Indochina francesa. Os chineses
insistem nessa tarefa porque querem demonstrar ao mundo que não
se encontram isolados e que, em plena guerra, constróem escolas e
estradas de rodagem e pensam no futuro.
A-pesar das hostilidades, o governo chinês conseguiu concluir a
construção da importante rodovia Yunnan-Burma, que conta uma
extensão de 1.600 quilômetros e cuja inauguração se verificou em
Maio de 1939. Essa rodovia foi construída em três seções: Hun-
mang-Hsiakwan, 416 quilômetros; Hsiankvvan-Anting, 552 quilôme-
tros, e Anting-Lashio-Bhamo, 368 quilômetros. O primeiro trecho
inaugurou-se antes do início das hostilidades sino-japonesas. A se-
REVISTA DE REVISTAS 1013

gunda seção da estrada de rodagem teve de vencer cadeias de monta-


nhas com altitudes variáveis entre 1.800 e 2.400 metros e representou
um formidável esforço de vontade e de técnica. A construção desse
trecho iniciou-se em 1937 e necessitou 200 técnicos e cerca de 200.000
operários "coolies". A construção do terceiro trecho terminou em
Maio de 1939. A rodovia Yunnan-Burma tem em todo o seu
per-
curso 289 pontes e a largura minima de nove metros. Através dessa
importante linha realiza-se todo o trabalho de comunicação da China
moderna com o resto do mundo.
O que acabamos de citar representa, sem dúvida alguma, um dos
mais belos feitos dos tempos presentes. Uma nação em guerra,
resistindo de uma maneira admirável, ainda tem tempo, coragem e
tenacidade para levar a cabo a construção de uma das mais impor-
tantes rodovias da Ásia, o que representou sacrifícios formidáveis e
o dispendio de grandes capitais.
A estrada de rodagem de Hunming (ou Kunming) a Anting
liga-se com a estrada de rodagem de Burma, possessão inglesa, que
desce de Bhamo até Mandalay; a mais importante cidade do norte
daquela colônia britânica. As comunicações com a Indochina fran-
cesa fazem-se principalmente através do rio Mekong. O governo
chinês projeta ainda a construção de novas linhas de comunicação
com aquelas possessões européas, com o propósito de obter assim
maiores ligações com o resto do mundo. Nas províncias de Hsikang
e Yunnan, onde presentemente se levantam novos e importantes exér-
citos, ativam-se os trabalhos de construção de rodovias estratégicas.
Assim, a China, embora em estado de guerra com um poderoso inimigo,
não descura do aproveitamento econômico do "hinterland" e, para
tanto, rasga importantes estradas através de provincias imensas
ligando-as assim com a Indochina francesa e com Burma.

É interessante notar que o governo do Marechal Chiang-Kai-


Shek conseguiu levantar neste terceiro ano de guerra um novo exér-
cito de 600.000 homens que reforça a linha de frente do setor norte
e do setor centro. O estado-maior japonês pretende, ao que se afirma,
dar uma ofensiva, no setor sul, com o fito de cortar as ligações ter-
restres da China com a Indochina francesa e Burma. Trata-se de
uma operação de larga envergadura que teria o propósito de asfixiar
a China central.

{Jornal do Comércio, 8/3/40).


1014 RKVISTA M/.KÍTIMA BRASILEIRA

O "QUEEN ELISABETH"

LONDRES, 7 (De Yves Moran, da Agencia Havas) — A


travessia transatlântica e a tranqüila chegada a Nova York do Queen
Elisabeth, paquete gigante da marinha mercante britânica, constituem
a melhor e mais convincente resposta que a Grã-Bretanha poderia
ter dado às pretensões com que os alemães tentam fazer acreditar à
sua opinião pública que as atividades de seus submarinos oceânicos
embaraçam consideravelmente a navegação dos barcos aliados.
Efetivamente, os ingleses, confiantes no seu domínio dos mares,
não hesitaram, quando lhes pareceu conveniente, em fazer atravessar
o Atlântico a unidade mais recente, mais custosa, mais bela e maior
de sua frota mercante. A razão dessa decisão deve ser procurada
no fato de que as autoridades marítimas britânicas quizeram, ao
mesmo tempo, dar logar nos estaleiros de Clyde a novas construções
e evitar o risco de que o Queen Elisabeth, se fosse vitima de um
"raid" alemão, sempre
possível, atravancasse com a sua massa dani-
ficada o porto em que se tivesse de coloca-lo ao abrigo durante as
hostilidades.

Já agora o paquete gozará no porto de Nova York da mesma


segurança de que gozam ali o Queen Mary e o Normandie. As
condições particulares de sua primeira viagem, efetuada sem prévio
ensaio, o que demonstra a excelência de sua construção, fizeram com
que a saída do Queen Elisabeth de Clyde não desse logar às tradicionais
cenas de entusiasmo popular que acompanham habitualmente a pri-
meira partida dos paquetes novos e que foram particularmente im-
pressionantes quando, em 1936, o Queen Mary, navio de tonelagem
igualmente formidável, abriu magistralmente passagem pelos estreitos
meandros do Clyde.
O destino excepcional do Queen Elisabeth já teve oportunidade
de revelar-se por ocasião de seu lançamento a 27 de Setembro de 1938,
quando a crise checo-slovaca estava no apogeu e o Rei Jorge, retido
em Londres, não pudera assistir à cerimonia, fazendo-se representar
pela rainha. Esta, tomando a palavra, em nome do soberano, pro-
nunciou emocionantes palavras a que as circunstancias davam um
caráter extraordinariamente dramático. "O rei, acentuou, sabe que
nos momentos críticos, o povo britânico dá provas de sangue frio e
guarda um coração intrépido". jaa.
t REVISTA de revistas 1015

O Elisabeth custou seis milhões de libras. A sua tone-


Queen

lagem é, aproximadamente, de 85.000 toneladas, ou sejam 4.000

toneladas mais do o Mary e 1.500 mais do que o Nor-


que Queen

mandie. Mede cerca de 5 metros mais do o Queen Mary, a


que

sua é de 300.000 CV. É munido de 4 helices e 3 ancoras.


potência

A sua estructura aparente difere da estructura do Queen Mary


geral

fato de êste último 3 chaminés o Queen


pelo que possúe quando

Elisabeth não senão duas. Pode transportar 2.500 passa-


possue

e deve ter em tempo normal uma tripulação de 1.000 homens.


geiros

Como a bordo do Normandie, foi dispensado cuidado


particular

à luxuosa decoração interna e ao conforto refinado dos passageiros;

o navio contem 29 salas de reunião, compreendendo teatro e jardim

de inverno.

NOVA YORK, 7 — O Elisabeth chegou


(H.) Queen junto

ao navio faroleiro Ambrose às 5 horas e 18 minutos, hora local. É

esperado a mais ou menos às 10 horas e meia, e


para quarentena

deverá atracar às 16 horas em conseqüência da maré.


provavelmente

A • tomou medidas extraordinarias manter a ordem


policia para

às mesmas docas onde atracaram os grandes transatlânticos


junto

Normandie, Mary e onde igualmente deverá encostar o Queen


Queen

Elisabeth.

Os novayorkinos somente ontem à noite souberam que o


que

Elisabeth era aguardado neste hoje de manhã apressa-


Queen pôrto,

ram-se em acorrer as de Brooklyn, Staten Island e à ilha de


praias

Manhattan, afim de assistir a chegada do navio gigante e sauda-lo

à sua passagem.

Cêrca de 40 aviões dêsde as horas da manhã evoluem


primeiras

sobre a cidade, vão em seguida ao encontro do Queen Elisabeth

levando a bordo fotografos e quantidade de jornais.


grande

NOVA YORK, 7 — O Elisabeth atracou às 16


(H.) Queen

horas e 40 minutos. o navio se aproximou do caes a tripula-


Quando

do Queen Mary reunida na aclamou seus camaradas do


ção pôpa

novo transatlântico enquanto os marinheiros do Normandie da-


que

vam vivas. As sirenes dos navios ancorados e dos trafegavam


que

ao local saudaram, também, o novo gigante dos mares.


proximo

do Comércio, 8/3/40). A. R.
(Jornal
Avio

yÜBMARINOy

— — Segurança da
0\ aéreo na moderna
Sumário fator guerra

utilização das ondas curtas Submarino


aterragem pela

— — Últimas lições da aerea


caçado Defesa anti-aérea guerra


Incremento da aeronáutica dos Estados Unidos
produção
— Base aerea de Dakar
Aeronave o serviço de patrulha
para

Estratégia balões — Novas condições da


de barragem dos

— Aviação e submarinos no da armada


guerra aérea preparo

— Proteção anti-aérea individual e coleiiva


Norte-Americana

Organização — Reconhecimento estra-


da aérea alemã
força

à noite — Várias.
tégico

O FATOR AÉREO NA GUERRA MODERNA

artigo na Révue des de défense natio-


Num publicado questions

nale o General Mouchard tratou da evolução sofrida nas caracterís-

ticas essenciais dos aviões e nas suas condições de emprego,

deduzindo-se as conseqüências disso sôbre a conduta das operações

terrestres e marítimas e das operações da aérea.


própria guerra
1018 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

As considerações que passamos a reproduzir agora, e cuja valia

se verificar, nós a tomamos da Rivista Marítima italiana de


já pode

Setembro próximo passado.

"Examinando-se
o desenvolvimento dos elementos essenciais de

um aparelho (velocidade, raio de ação e deslocamento útil), o

potencial do armamento, a possibilidade industrial da construção, a

notável melhoria das condições de emprego, a organização da defesa

anti-aérea duelo do avião com o do canhão anti-aéreo, o


(no projétil

avião mantém sempre uma clara vantagem) e o A. deduz como

conseqüência as seguintes propriedades essenciais da arma em questão;

a) a possibilidade de agir de surpresa devido a rapidez de ação

permitida pela velocidade e pela penetração profunda decorrente do

raio de ação e da utilização do sistema nebuloso dos vários estados

atmosféricos; e enfim dos nossos métodos de navegação;

b) a disposição à manobra, e conseqüência a


por possibilidade

de empreender a ação em vasta escala, instantâneamente,


quasi

caracterizada concentração rápida dos meios mais impor-


quer pela

tantes sobre uma apenas do objetivo, ao contrário,


parte quer pela

ação dividida no tempo e no espaço até enfraquecer prematuramente

os meios da defesa inimiga e dissipar seus esforços;

c) a relativa facilidade de reconstituição e também de des-

envolvimento.

"total"
No quadro de a arma aérea dispõe dos mais
guerra

favoráveis elementos para a ofensiva: disposição uma ação de


para

surpresa e convergência dos esforços na concentração do tiro e daí

estender sua ameaça deslocando-a nas três dimensões. Além disso

deve-se ter — menos —


presente que pelo por ora a defesa sistemá-

tica contra tal ameaça torna-se mui dificultosa.

A vigilância do espaço aéreo não como a das fronteiras


pode

marítimas e terrestres, apoiar-se no auxílio das fortificações


perma-
nentes. Por isso se ignora o de aplicação do esforço
que que ponto
inimigo ocorre dividir a notável dos meios de defesa
priori porção
"sensíveis"
sobre ambos os territórios, entre os a socorrer.
pontos

Considerando o derradeiro objetivo da luta armas de


pelas
depressão, a desorganização do adversário e sua redução a condições

de não poder ou não mais continuar a combater, a arma aérea


querer

está em condições de desferir uma ação direta sobre o conjunto da

organização econômica inimiga: centros de transporte,


produção,
AVIÕES E SUBMARINOS 1019

reabastecimento, etc. A inteira considerada até agora


população

como não combatente, não defender-se da sua ameaça, caso


podendo

tenha a sua vida terá também sua moral abatida.


poupada,

A extensão da decorrente desta é hoje


guerra possibilidade
universalmente admitida, aparte as restrições ao
pondo-se quanto

eventual emprego dos e o sistemático ataque das


gases popula-

ções civis.

A atividade da força aérea classificar-se


geral pode portanto
em cinco categorias são :
principais que

a) Defesa contra os ataques aéreos inimigos.

b) Procura sistemática da força aérea inimiga para pô-la

fora de ação.

c) Participação nas operações terrestres.

d) Participação nas operações marítimas.

c) Ação contra a fôrça vital e o de do


potencial guerra
adversário.

A defesa ativa contra os ataques aéreos comporta a atuação de

um enxame de meios, desenvolvendo-se sobre toda a zona inte-


por
ressada, dizer: a aviação de caça e os meios se apoiam no
quer que
terreno (artilharia a.a., balões de metralhadoras,
proteção, proje-
tores, etc.).

Todavia, ser os resultados


quaisquer que possam que promanem
de uma superioridade técnica ou tática dos meios defensivos, êstes

apresentarão sempre um lado débil, motivo ser evi-


porque parece
dente as vantagens da ofensiva aérea.

A pesquisa sistemática fora de combate a fôrça aérea


para pôr

adversária, é, no teatro aéreo, análoga às missões no


principais que
teatro terrestre ou marítimo venham ser designadas às forças de terra

e de mar. Pelo concerne à arma aérea, essa tem objetivo, não


que por
"cobertura"
somente assegurar a do território, mas sobretudo obter,

a superioridade aérea em geral.

As operações de toda espécie e derivam da superioridade


que

aérea, fundam-se sobretudo nas da fôrça aérea organizada. É por-


tanto essencial destruir a fôrça aérea inimiga.

à participação da aeronáutica nas operações terrestres,


Quanto

o A. recorda como premissa, um sólido ensinamento da guerra

mundial, ora assume valor capital, é o do sucesso das ope-


que qual

rações terrestres exigir, na zona em elas se desenvolvem, a


que
1020 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

realização da superioridade aérea capaz de o domínio do ar,


garantir

no momento em êste é indispensável.


que

Não se deve ter confiança nos combates terrestres, embora

favoráveis, desenrolados numa zona dominada pela aviação


quando

inimiga. Esta ser dada só ao domínio local, e


garantia pode quanto

também momentâneo, do céu, função direta da superioridade aérea,

de ser obtida na zona interessada. Assim pois, um comando


possível

aéreo único assegurar as concentrações necessárias regulando o


pode

conjunto da atividade aérea, evitar, principalmente, que os


para

aparêlhos encarregados de executar missões de ligação e observação,

necessárias às ações de outras armas, sejam fáceis das uni-


presas

dades de caça inimigas.

Com esta reserva, a influência sobre a guerra terrestre, devido

ao desenvolvimento do fator aéreo, poderá em breve delinear-se

assim: a surpresa estratégica torna-se difícil efeito do aumento


por

das possibilidades da exploração aérea.

Os progressos da arma aérea determinaram sérias repercussões

até sôbre várias operações marítimas: combate ao largo com a força

naval organizada; ação contra as comunicações marítimas; ação

contra o litoral.

Na luta contra a força naval pelo domínio do mar, a segurança

desenvolveu-se graças à crescente possibilidade do reconhecimento e

da vigilância. Além disso, no caso de uma ação, a arma aérea pode

concorrer seriamente por meio de suas operações de torpedeamento

e bombardeio. Dess'arte todas as forças navais das grandes potên-

cias marítimas devem consagrar em suas organizações uma notável

proporção de forças aéreas.

Na ação contra as vias de tráfego, especialmente marítimas, e

não em mar largo, a arma aérea une-se à submarina disputar às


para
forças de superfície o do mar. Como em terra, o domínio
poderio

do ar na zona marítima em não ser senão local e


questão poderá
temporária. Todavia será indispensável, a da segu-
para garantia
rança dos comboios, ela requeira não apenas uma escolta de
que

superfície, mas também o concurso de meios de defesa


poderosos

aérea. A aviação é uma séria ameaça aos comboios em mares estrei-

tos e também nos ou do litoral.


portos proximidades

Mas, onde o fator aéreo levou novos e relevantes elementos foi

à ação sôbre o litoral; seu auxílio eficaz e rápido no


primeiro por

caso de tentativa de desembarque, depois um ataque às bases


por
AVIÕES E SUBMARINOS 1021

marítimas hoje chamadas a defenderem-se não só dos ataques vindos

do mar, mas também e do bombardeio aéreo.


principalmente

Na realidade estes últimos constituem ameaças levantadas


graves

contra os arsenais, depósitos ou estaleiros de construção e sobretudo

contra as forças navais mobilizadas nos A surpresa aérea


portos.

tem tanto maior de seu efeito, mais


probabilidade produzir quanto

puder efetuar-se forças aéreas, certamente dentro do quadro


pelas

das operações gerais previstas.

O escopo da ação sôbre a força vital e sobre o potencial de guerra

niimigo é o de se estender a guerra a todos os ramos da atividade.

Portanto, isso é de importância básica e de uma variadíssima impor-

tância também.

Realmente. Aquela ação comportar um ataque aos meios


pode

de comunicação de todas as categorias e aos centros de ou


produção

aos depósitos, que alimentam os em diversos ramos. Bem


paises

preparada, bem conduzida e desfechada no momento oportuno, esta

missão deve produzir efeitos extraordinários, e constituindo além do

mais, elemento capital e decisivo da vitória.

A que ponto o A. observa a arte do comando supremo resi-


que

dirá na definição, em dado momento, da missão a desenvolver


geral

e na escolha e coordenação dos objetos correspondentes?

Na realidade, se os efetivos a arma aérea será em


permitirem,

mãos do comando uma força de maneabilidade, fôrça assim


grande

manobreira por excelência. Capaz de uma extrema mobilidade estra-

tégica e tática, ela e deverá ser adotada nas ações importantes,


poderá

enquanto por efeito de sua massa, de sua potência e da concentração

<le seus esforços, constituirá em o elemento da decisão.


geral principal

A manobra aérea terá, no espaço, uma amplitude e um


grande

alcance. Nos seus de execução, a manobra aérea


grande processos

ofensiva, quer defensiva, será essencialmente baseada no balan-


quer

ceamento das forças em meio das diversas missões, e no âmbito

destas, entre os diversos objetivos.

O A. então a considerar o fator aéreo no ataque e


passa

defesa do Império e na coalizão.

Dada a presente possibilidade de desvio da fôrça aeronáutica,

a manobra estratégica aérea desenvolve-se em toda a sua amplidão


1022 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

nos domínios do Império. Disso o da unidade


promana problema

aérea de um Império, que exija a posse das bases aéreas, racional-

mente divididas, ou a utilização das bases de uma nação amiga. Deve

ter-se presente a circunstância de uma vantajosa


que posição geográ-

fica ao inimigo eventual atacar do ar as comunicações.


pode permitir

Por conseguinte, se o fator aéreo acarreta uma contribuição


grande

à união dos empreendimentos imperiais, outro lado isso cria


por

novos riscos à sua defesa.

Enfim a propriedade essencial da arma aérea assegura-lhe uma

enorme vantagem: qual a de ser um elemento essencial de assistência

militar imediata e recíproca, caso tal assistência estiver e


prevista
sériamente organizada; seu rendimento exige a unidade aérea
pleno

da coalisão.

O A. termina seu estudo com diversas considerações sobre

a conduta geral da aérea.


guerra

Pelas considerações — diz êle — sobre dois aspectos da guerra


aérea: participação na de um lado e luta aérea
guerra geral própria-
mente dita do outro, verificaremos sob o aspecto a
que primeiro
estratégia aérea não somente apresenta inteira analogia com a estra-

tégia geral, mas ainda constitue o fator dominante. Nem daí resulta

que, se as operações aéreas visar objetivos independentes


puderem

daqueles das operações terrestres ou marítimas, esses devem todavia

concorrer o escopo assinalado a conduta


para geral, para geral
da
guerra.

A escolha, em das missões de uma e do desenvolvi-


geral, guerra
mento da força aérea é da competência da estratégia As
geral.
operações que se referem a suas atuações, à estratégia
pertencem
aérea, a-par da luta aérea dita.
propriamente

De tudo acaba de exprimir o A. tornam-se evidente as


que

principais conseqüências se derivam do considerável desenvolvi-


que
mento das do fator aéreo.
possibilidades

— A estratégia terrestre e a estratégia marítima, devem ter na

maior conta a contribuição hoje em dia as forças


que aéreas são

capazes de dar, agindo em cooperação com as forças navais e terres-

tres, contribuição essa na mundial ter sido


que guerra pode consi-

derada como ínfima. No campo de batalha terrestre ou marítimo, o

domínio aéreo será um elemento capital de sucesso: Não se pode


o Almirante Castex, A. citado) servir-se
(disse pelo como se

deve de força terrestre, ou da fôrça naval de superfície, senão


AVIÕES E SUBMARINOS 1023

disputar enérgica-
quando, se está em posição de poder ao menos
mente o espaço ao adversário.
— No domínio da estratégia em geral, não resta dúvida que
numa guerra futura não será necessário que ela tenha todos os
característicos da última guerra e que o conjunto dos páises seja
"total"
considerado como um objetivo de guerra. Numa guerra
como essa, a potência exata, absoluta e relativa dos meios aéreos não
é conhecida, por falta de uma experiência real, de modo preciso;
mas não se pode negar que a aviação constitue um imenso perigo.
A disputa pelos armamentos aéreos claramente patenteia ser mister
"sob o
encarar a futura guerra ponto de vista de bombardeio aéreo,
dos canhões e das metralhadoras de tiro rápido". O cuidado des-
envolvido em alguns páises na preparação da defesa contra os ataques
aéreos, juntamente ao desenvolvimento dos meios capazes de
realizá-los, confirma outrossim a existência e a importância do perigo
e permite avaliá-lo.
Na verdade, o perigo aéreo, permanecerá por longo tempo prin-
cipalmente como de ordem psicológica. Alguns aparelhos podiam
porém provocar um estado de alarma sobre toda uma extensa porção
do território, mas seu efeito material não podia ser senão local e daí
resultar não ser êle de grande importância. Hoje em dia não mais
"massa" aérea e da
é comum, em seguida ao aparecimento da possi-
bilidade de mantê-la, permitir-se o comando aceitar as perdas em
relação aos resultados previstos.
É que o A. observando que a formação de uma poderosa frota
aérea faz passar o perigo do domínio psicológico ao domínio da
realidade, detem-se em considerações sobre o desenvolvimento da
força aérea germânica. A Alemanha, vinculada à legislação do
Tratado de Versalhes, em breve tempo construiu uma força aérea,
mares, for-
que constitue uma ameaça latente às fortificações e aos
mando um belo exemplo — diz o A. — do que o Almirante Castex
chamou estratégia do tempo de paz.

SEGURANÇA DA ATERRAGEM PELA UTILIZAÇÃO


DAS ONDAS CURTAS

Ha já um lustro C. Vinogradow, engenheiro de rádio, viu


inserto em La Science et La vie um pequeno estudo seu sob
o título acima.
1024 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Incla em nosso número 1-2 deste ano terminamos a


(LIX)

tradução de um artigo de H. Porter no se estudava como


qual

aterrar com cerração.

Embora a navegação comercial não aterre sem visibilidade,

mas apenas com má visibilidade, o não está abandonado e é


problema

da máxima importância a aviação de e mesmo a


para guerra, para

segurança da navegação aérea em geral.

Trata-se não somente de encontrar o aeródromo de maneira

em geral, bem como a zona de aterragem, em


precisa, particular,

e mais ainda saber a todo momento qual a altitude exata do avião

acima do solo.

Ora, si certos dispositivos a resolução,


geométricos permitem

com uma precisão suficiente, da dessas o mesmo


primeira questões,

não se dá com a segunda. Realmente, não é utilizar neste


possível

sentido o barômetro, cujas indicações variam muito de acordo com

a pressão atmosférica, isto é, com a altitude, mas cuja em


precisão,

geral inferior a 10' metros, evidentemente é insuficiente asse-


para

gurar uma aterragem.

As radio-emissões dirigidas tendo-se revelado de uma grande

eficácia a direção dos aviões no horizontal, era natural


para plano

que se buscasse utilizá-las a direção dos aviões no vertical,


para plano
isto é, da descolagem e da aterragem.
quando

Diversos ensaios foram feitos neste sentido, tanto na América

como na Europa, e certos dispositivos deram resultados fortemente

interessantes.

"Lorenz"
Um novo sistema de ondas curtas, me-
governo por
nores de 10 metros, foi aplicado em diversos aeródromos alemães

tais quais os de Berlim, Hanover, Munich, e na Suiça, no de Zurich.

Êste aparelho, ser o mais simples e então era o mais


que parece
eficaz, trouxe uma nova e elegante solução ao no dizer de
problema,
Vinogradow, meio de um serviço emissor, indicar ao
permitindo por

avião, aproximando-se do aeródromo, não só a direção horizontal

como a curva de aterragem êle deve aproximar-


que percorrer para
se do solo.

Êste baseia-se no emprego de ondas curtas,


processo como assi-

nalamos, ondas essas dirigidas antenas refletoras.


por
Pode-se também, meio de comutadores convenientemente
por

instalados, emitir sinais indicando ao sua direção de vôo, ao


piloto
aproximar-se do aeródromo. Mas, não é só; chegado à sua proxi-
AVIÕES E SUBMARINOS 1025

êle efetuar sua descida sem orientando-se


midade poderá perigo,

de um avisador, devendo então seguir uma linha de


indicações
pelas

força do campo eletro-magnético emitida antena.


igual pela

um método engenhoso e seguro, além de ser a instalação


É êste,

seu aperêlho a mais simples Êle é constituído pelo pe-


de possível.

de bordo e caixas estanques que


queno quadro por quatro pequenas

convenientemente escolhidos, não


ser colocadas em locais
podem

sendo obrigatório sua uma das outras.


proximidade,

SUBMARINO CAÇADO

A dramática história do submarino construído Cammel-


por

em no mar do Norte, entrou em


Laird, o qual, quando patrulha

contacto com forças inimigas e escapou após haver sido pratica-

mente inutilizado bombas de foi oficialmente


pelas profundidade,
"Professional
à imprensa — lemos em Notes", do U. S-
relatada

Naval Institute Proceedings de último. É uma notável


Janeiro

vitória da construção naval inglesa, a maneira ela constrói


porque

submarinos, a segurança de suas máquinas e os magníficos re-


seus

cursos do seu estado-maior de engenheiros e de oficiais navegadores.

— escreveu The Engineer —>


O submarino deixou nossas costas

em serviço de E, atravessando fortes ventos, cedo


patrulhamento.

encontrou-se manhã na zona de lhe fôra


pela patrulhamento que

designada em águas inimigas. A detonação de uma bomba de pro-

fundidade, a êle, mostrou-lhe entretanto ainda estava


junto que

sendo caçado, e assim desceu até o fundo onde silencioso


permaneceu

à espera dos acontecimentos.

Durante a hora, seis explosões fizeram-lhe lembrar que


primeira

o inimigo o submarino com cabos de rocéga, bombas elé-


procurava

tricas e bombas de Na hora seguinte o bombardeio


profundidade.

recrudesceu e explosões sucederam-se na de uma de dois


proporção

em dois minutos, após os os sons foram produzindo-se


quais

mais longe.

Pelas dezesete horas um cabo metálico em certa profundidade

foi superior do casco e logo em seguida uma


percebido pela parte

série de eram produzidas estilhaços das explosões.


pancadas pelos

As luzes foram apagadas e além disso ouviram-se sons provenientes

de vidros estilhaços de explosão e assobio do ar


partindo-se,

escapando-se.
1026 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O exame da máquina mostrou ambos os motores de uma


que

das máquinas motrizes estavam avariados e havia várias fendas


que
na rêde de ar comprimido, as a elevação da
quais produziram pressão

do ar no casco a um ponto perigoso. O comandante uma


promoveu

conferência, sendo decidido que o navio emergiria, e se necessário

fosse que se combatesse até o fim.

Ganhando a superfície e igualando a do ar, uma tenta-


pressão

tiva foi feita para navegar com um só motor.

O periscópio tinha sido amassado e o aparelho radiotelegráfico

destruído, mas os motores foram em marcha, aos


postos graças

reparos efetuados. Três horas depois os engenheiros subiram e

comunicaram a máquina do BE estava e duas horas depois


que pronta

também o estava'a de BB.

A instalação telegráfica foi novamente posta em condições de

trabalhar telegrafista, e então tornou-se enviar uma


pelo possível

mensagem avisando os outros submarinos e lançando pedido de so-

corro à base. Esta mandou destroyers e a aviação inimiga, que por

duas vezes do submarino sem vê-lo, travou combate e


passara perto

foi destruída.

O submarino alcançar a base à sua magnífica cons-


pôde graças

trução e à indomável coragem e capacidade de seus oficiais

e guarniçao.

DEFESA ANTI-AÉREA

Neste início da européia, devido a razões políticas, ela


guerra

não tem correspondido às dos ataques aéreos sôbre


previsões grandes

centros populosos. É inda assim evidente ser o problema da defesa

aérea territorial, um dos mais sérios e complexos da defesa nacional.

Parece-nos oportuno aqui resumir os capitais de um artigo do


pontos

General Poli-Marchetti inserto no fascículo de da Révuc dcs


Junho

Questions de dcfense natiomle, o qual visa sintetisar a maneira pela

qual a defesa anti-aérea deve ser organizada e os meios de em


pôr

ação os esforços de toda espécie vir a ser necessários.


que possam

Dt Rivista Marittima italiana tomamos êstes trechos:

Possibilidade de ação da aérea — A aviação ofensiva é


força

hoje caracterizada pelo progresso na velocidade, no raio de ação, na

de imersão máxima atingida, nos métodos de conduta da nave-


quota
AVIÕES E SUBMARINOS 1027

e nos meios de ação: está aumentado o poder ofensivo, a


gação pois

capacidade de surpresa e a extensão da ameaça aérea.

Possibilidade de ação da defesa — Consiste nas defesas ativa e

A é constituída ação combinada dos meios


passiva. primeira pela

aéreos ofensivos e defensivos e dos meios vinculados ao terreno,

agindo tiro ou meio de obstruções. A segunda visa reduzir


pelo por

os efeitos dos ataques aéreos.

Estas duas espécies de defesa são necessárias.

A base da organização antiaérea está no serviço de segurança

tem objetivo barrar ao aparelho aéreo a passagem pela


geral que por

fronteira, segui-lo durante todo o sobre o território (rede


percurso

visual e de escuta) e dar oportunamente o alarma a


de observação

os elementos de cooperação aérea, ativa e É um


todos passiva.

imenso apareíhamento assoberba muito o e requer trans-


que pessoal

missões instantâneas.
quasi

aéreos — A tarefa defensiva


Defesa ativa por meio de aparelhos

importante ataque da aviação de bombardeio; a


mais é enfrentar o

defesa consiste no ataque das bases inimigas. O autor


melhor

isto foi um dos conceitos emitidos pelo General


reconhece que

os em seus ninhos); deve-se ter presente


Douhet (destruir pássaros

tal conceito impõe-se, especialmente em relação a um país que


que

uma longa extensão de costas deva esperar apenas um pequeno


tendo

rendimento do serviço de segurança.


geral

Si os aparelhos inimigos evitam o ataque em terra deve-se

batê-los no a importância da aviação de caça.


ar, donde
procurar

respeito Autor recorda Douhet condenava os meios


A êste o que

mas da Espanha demonstrou a im-


defensivos; agora a experiência

da constitue a base fundamental da


aviação de caça que
portância
indispensável à defesa exercida avião.
complemento pelo

terreno — A artilharia anti-


Meios de defesa ativa vinculados ao

duas faltam aos aparêlhos voadores: a


aérea possue qualidades que

e a continuidade de ação. Ela constitue isso o


instantaneidade por
^

complemento indispensável à defesa exercida avião.


pelo

Os resultados conseguidos e os de ser conseguidos pela


possíveis

artilharia antiaérea não são apenas apreciáveis em relação ao número

dos aparêlhos abatidos nos efeitos da arma, mais nos


porquanto que

resultados reside aquela interdição.


positivos,

Ao dos aviões a velocidade corresponde o pro-


progresso quanto

da artilharia anti-aérea constitue um meio de defesa muito


gresso que
1028 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

eficaz e ao qual aguarda tarefa de importância subordinada


primacial,

às condições do material ser qualitativa e adequado


quantitativamente

às novas condições.

Além da artilharia antiaérea e móvel) a defesa é formada


(fixa

pela obstrução com balões em torno dos mais ameaçados e


pontos

pela barragem de torpedos aéreos.

Os balões têm eficácia limitada à noite, de dia são


porquanto

facilmente descobertos e destruídos.

O torpedo aéreo é munido de com um dispositivo


para-quedas

fazê-lo funcionar se o aeroplano bater na mina ou no cabo de


para

suspensão. Seu emprego consiste em criar, no momento oportuno,

barragens aéreas nas rotas dos aeroplanos assinalados.


presumíveis

Defesa — Consiste nos de segurança local


passiva processos

(alarma, escuridão); de (dispersão dos objetivos, êxodo da


proteção

multidão, máscaras, refúgios) e na organização dos meios de socorro.

Unidade na organização da defesa anti-aérea — A multiplicidade

e complexidade dos meios necessários à defesa anti-aérea do território,

estabelece numerosos dentre os é o mais importante


problemas, quais

o da organização do comando. O Autor sustenta um comando


que

único em todo território nacional concorre a eficiência da


para

defesa ativa. Em tempo de a unidade de comando é necessá-


guerra

ria para assegurar a indispensável coordenação; da mesma forma

ocorre a unidade de direção em tempo de paz garantir o


para preparo

dos meios. O de defesa ativa é um problema de coorde-


problema
nação, várias espécies de meios devem integrar-se num todo,
porque

enquanto nenhum dêles isoladamente ser suficiente.


pode

Em França os meios de defesa ativa acham-se em tempo de

guerra na dependência do Comando em Chefe das forças aéreas; no

tempo de o Ministro do Ar é dado como sendo o responsável


paz pela

preparação. Mas tudo que se refere aos meios de vôo em face da

artilharia anti-aérea, depende dos ministérios da Guerra e da Marinha.

Na Alemanha a artilharia antiaérea está na dependência do Mi-

nistério do Ar. O Autor exclue a França da oportunidade desta

solução, supondo desta forma a artilharia anti-aérea ser


que pode

descurada; propõe por isso adjudicá-la à Defesa Nacional.


AVIÕES E SUBMARINOS 1029

O aumento do ofensivo e do número de aparelhos confere


poder
hoje à ameaça aérea uma sem ao lado das
gravidade precedentes;
medidas de caráter devem ser desenvolvidas o mais
passivo que possí-
vel, para tal a organização de um
prevenirem perigo, promovem
sistema de defesa ativa conforme as exigências da técnica aérea

moderna. A aviação a e isso impõe à


progride passos gigantescos,
defesa uma constante ao material, seja
melhoria, seja quanto quanto
aos métodos de seu emprego.

Grandíssima vantagem levará o beligerante melhor na


preparado
defesa anti-aérea. Assim a Alemanha durante a contra a
guerra

Polônia, adotar as Potências ocidentais a defesa também


pôde para
no domínio aéreo, uma surpreendente ¦ confiança na
demonstrando

defesa antiaérea. E os fatos confirmaram ter fundamento tal

confiança.

ÚLTIMAS LIÇÕES DA GUERRA AÉREA

As das flotilhas de aviões de caça


guarnições germânicos
acharam os Messerschmidt monoplaces, de caça são
que (Me-100),
mui vulneráveis à facilidade de serem e se ataca-
quanto percebidos
dos retaguarda serem em abatidos em chamas. Isto é
pela geral

porque o tanque de óleo está colocado na fuselagem de


principal
forma incômoda detrás dêle. Em nossos caçado-
para o piloto e por
res — escreve — diante do
The Aeroplane os tanques acham-se

piloto, que ficam assim motor contra ataques de


protegidos pelo

proa, e não são tão vulneráveis de


pelos pôpa.

Um Messerschmidt, certa vez, também espatifou-se arreben-

tando-se violentamente mergulho. aeroplano


de um alto Qualquer

pode quebrar-se dessa forma e, assim tal acidente não pode


portanto
ter significação. a
grande Por outro lado, isso deve significar que
falta de material na Alemanha seus efeitos nas más estru-
produziu
turas de aparelhos tal se deu na de 1914-18.
qual guerra

Alguns de nossos caçadores multiplaces, pequenos bombardea-


dores e aparelhos de reconhecimento, demonstraram suas deficiências
na defesa
pela ausência duma de tiro baixo da fuselagem
posição por
que os tornasse capaz de repelir ataques vindos de baixo. Certo
numero de aeroplanos britânicos de reconhecimento foram abatidos

por ataques vindos da de


retaguarda e de baixo, onde o canhão
para
popa não atirar.
pode Isto é dos motivos quais alguns
parte pelos
1030 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dos vôos de reconhecimento foram realizados tão baixo. Os aero-

planos são dificilmente atingidos do solo voando a menos


quando
de 300 pés. Nenhum caçador atacá-lo de baixo e aproximando-
pode

se vindo de cima, seria forçado a enfrentar o fogo de canhão

de pôpa.

Os aérobotes que não instalar canhões no fundo de seus


podem

cascos, adotam idêntica tática, ainda os canhões das torretas,


que

situando-se bem na extremidade tornem isso menos


posterior

necessário.

Uma parte importante do discurso de Sir Kingsley Wood versa

sobre como os aeroplanos ingleses de reconhecimento voaram a tão

pouca altura que puderam abaixo de alguns Heinkel llls.


passar
"desceu
Êsse trecho da referida oração, diz o aeroplano tanto
que

porque êle estava sendo alvejado canhões anti-aéreos e


por por quatro

Heinkels e queria ficar abaixo deles.

Com tais lições em mente os construtores de aviões devem pro-

videnciar para adequadas não só contra ataques que


proteções

venham de baixo como de cima.

United States Proceedings — 1940).


(The Janeiro

INCREMENTO DA PRODUÇÃO AERONÁUTICA

DOS ESTADOS UNIDOS

A Agencia Havas informa os de material aeronáu-


que pedidos
tico estão de execução nas fábricas norte-americanas
que pendentes

aumentaram de maneira considerável desde o dia do ano e


primeiro
atualmente alcança um valor total de $ 700.000.000. É ainda mais

de notar essa enormidade de esperam ser executados si


pedidos que
se tem em consideração o fato das fábricas haverem acelerado

vertiginosamente o seu de entregas, isto é, sua capacidade


programa
de produção.

As fábricas estão atualmente entregando aviões à


principais

razão de $ 30.000.000 mês, contra uma média de


por $ 25.000.000

por mês nos fins de 1939. As entregas efetuadas em e


Janeiro
Fevereiro subiram a $55.000.000.

Neste momento as fábricas a aumentar as entregas


propoem-se

até chegar a $ 50.000.000 mensais. Existe no entanto a possibilidade


de que ao se realizarem as vendas se esperam,
que paralelamente
AVIÕES E SUBMARINOS 1031

sejam terminadas certas encomendas militares, e, sendo assim, esta

média de entregas será muito maior em fins de 1940. É pois possí-

vel que o total de entregas 1940 ultrapasse $600.000.000.


para

Tomando como base de aceleramento atual, a


o programa pro-

dução total das fábricas norte-americanas seria de uns $ 500.000.000

ou seja mais ou menos o dôbro do total de $ 225.000.000, produ-


zido em 1939.

Extra-oficialmente sabe-se o total de de


que pedidos pendentes
execução nas fábricas norte-americanas, sobe, ou
de aviação para

melhor dizer, subia Isto representa


a 1° do corrente a $ 717.400.000.
um aumento de sôbre o total de 621.000.000, era
$95.000.000 que

o que havia em 1 de do mesmo ano.


pendente Janeiro

Os pedidos de execução dividem-se da maneira se-


pendentes

guinte, entre as fábricas:


principais

1/3/1940 1/1/1940

Bell $
7.000.000 $ 8.000.000

B°eing
21.000.000 23.000.000
Brewater 22.000.000 10.000.000

Consolidated
49.000.000 37.000.000

Curtiss-Wright
150.000.000 145.000.000
Douglas
100.000.000 76.000.000

Grumman
6.000.000 4.200.000

Lockheed 63.000.000 46.000.000

Glenn L. Martin 60.000.000 48.000.000

North American 50.000.000 46.000.000

Republic 15.000.000 11.700.000

United Aircraift
145.000.000 140.000.000
Vultee 50.000.000 6.300.000

Varias outras 24.400.000 19.800.000

$ 717.400.000 $ 621.900.000

AERONAVE
PARA O SERVIÇO DE PATRULHA

Ei a voz corrente, não confirmada — Anuy and


lê-se em The

A avy Regisler —
que a Marinha britânica, decorrente da lei de
1032 INVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

neutralidade, havia constituído uma força de aeronaves para o ser-


viço de patrulha.
A Marinha tem presentemente em serviço os seguintes dirigíveis
não rígidos (blimps) : L-l de 3.680 metros cúbicos; G-l de 5.096
metros cúbicos; K-l de 9.061 metros cúbicos; J-4 de 5.776 metros
cúbicos; TC-14 de 10.193 metros cúbicos; ZMC-2 de 5.719,7 metros
cúbicos (invólucro metálico).
Além disso, no mês de Dezembro devia ficar pronto o K-17 de
12.742 metros cúbicos. Será em seguida aparelhado o TC-13 de
9.627 metros cúbicos.
A Marinha dispõe atualmente de 17 pilotos apenas para as
aeronaves. Outros estão em curso da preparação.

(Rivista Marittima).

BASE AÉREA DE DAKAR

A base aeronáutica de Dakar para hidro-aviões e aparelhos


terrestres, data da criação da linha França - Dakar - Brasil - Argep-
tina (iá com cerca de 12 anos), cuja importância é acrescida com j»
ligação da linha Dakar - Ponta Negra, passando por Konakry p
"Companhia Aeronáutica" e do serviço
Doala (Camerum), da
Dakar - Bamako - Gao.
O aeroporto, situado na península de Uakam, no poente da
cidade, possue duas pistas de macadamo e asfalto; uma de 1.600
metros por 80 metíos, outra perpendicular à primeira, de 1.ÜU0 me-
tros por 50 mewo»,.

O serviço aéreo postal foi inaugurado para Casablanca e Dakar


em Janeiro de 1925 e desenvolve-se regularmente, malgrado os
perigos inerentes, ao transvôo do Rio de Ouro e da Mauretânia,
países desertos e sugeitos a assaltos de tribus selvagens. Em seguida
o serviço vem prolongando até Natal por meio de pequenos e velozes
navios, e ao Rio de Janeiro, Buenos-Aires e Santiago do Chile
por via aérea.

(Rivista Marittima).
AVIÕES E SUBMARINOS 1033

ESTRATÉGIA DAS BARRAGENS DE BALÕES

. Após haver comentado feita


uma declaração recentemente pelo
subsecretário do Ar inglês, balões de barragem, no
segundo a qual os
campo minado aéreo" devem ser exclusivamente usados ?
para
defesa de objetivos Ajax
militares e industriais e não de centros civis,

em lhe Aeroplane — aos


n. 1472 exprime suas dúvidas quanto
efeitos
práticos de tais barragens. Em atmosfera limpa, isto seria

completamente inútil, melhor


e assim não serviria senão para indicar

a de importantes
posição objetivos à aviação adversária.

A barragem ser mas todos os casos


pode parcial ou total, em
deve ser mascarada —-
ou meios naturais como neve ou nuvens,
por
coisa esta, não difícil à
em face das condições climáticas comuns
Inglaterra — ou
por fumaça artificial. Seu efeito não ser
pode
mais
positivo quanto às conseqüências da dificuldade de um ataque
aereo, isso
porquanto poderia somente causar a destruição do pri-
meiro, ou dos
primeiros adversários, com a conseqüente destruição
da barragem, ficando de então em diante a via aérea livre aos res-
tantes aparêlhos inimigos. Segundo o referido Articulista, o sistema
de barragens com balões alemães apresenta algumas vantagens
pelos
sobre a do dos ingleses. Os alemães usam um número relativamente

maior de pequenos balões, mais maneáveis e que podem ser rapida-

mente içados ou retirados.

A declaração alemã ao efeito de sua barragem não


quanto grande
deve ser menos fantasiosa Ingla-
todas as declarações ouvidas na
que
terra. Os alemães têm ao menos a prudência de declarar que suas
barragens são tão eficazes com visibilidade como com
pequena
nenhuma. De
qualquer modo seu sistema é muito mais econômico

que o dos ingleses. tem o devido respeito aviação alemã


Quem pela
concluirá o objetivo
que da barragem germânica deve ser mais que
o de convencer os ingleses em no uso de um sistema
persistirem
defensivo, oferece
que de logo a vantagem de identificar facilmente
os objetivos visados.

Uma barragem aérea não mais deve ser, desintegrada de


pois,
complexo" de meios de defesa anti-aérea, tais caça, artilharia,
quais
sistema de alarma, aviso, etc.

De um editorial do Flight de 3 de Agosto, sobre o mesmo as-


sunto, declarou-se
que quanto às barragens aéreas de balões elas
que
atemorisam muito e inculcam muita prudência aos aviadores civis
1034 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ingleses, alguns dos recusaram-se a voar nas vizinhanças


quais

de Londres.

Aeronáutico,).
(Rivista

NOVAS CONDIÇÕES DA GUERRA AÉREA

de — lê-se no
As operações aéreas dos primeiros meses guerra

29 de Novembro de 1939 — confirmam de modo impres-


Times de

sionante a fundamental importância dos três principais fatores que

sempre dominaram na ação da aviação: a velocidade, a altitude e a

de fogo.
potência

Somente os aparêlhos capazes de desenvolver considerável velo-

cidade aventurar-se sôbre a zona inimiga. Os comunicados


poderão

franceses e ingleses têm todos sôbre êste uma uniformidade


ponto,
"O
aparêlho inimigo objeto de caça da nossa aviação foi
precisa:

atingido e abatido"...

Presume-se os aparêlhos aliados dos não mais ha


que quais

notícias, tenham sido igualmente devido a uma deficiência


perdidos

de velocidade, os entregou à força de caça inimiga, atacados como


que

um fácil alvo artilharia anti-aérea, se furtarem ao tiro


pela pois para

anti-aéreo moderno, cuja eficácia foi muito aumentada, é indispensá-

vel velocidade. O número de aeroplanos abatidos pela defesa


grande

anti-aérea durante as incursões sôbre Wilhelmshafen, Edimburgo e

Scapa Flow, como também no decurso cios ataques desferidos contra

a força britânica no Mar do Norte, não é prova evidente.

No referido combate a velocidade dos aparêlhos


grande própria

cair sôbre o adversário mais lento com uma rapidez tal


permite-lhes

capaz de surpreender, não dando à defesa tempo de refletir e

anulando-a O observador escolhe um ponto no céu, salta


portanto.

com a sua arma e o encontra-se cima dêle. Si o piloto


já ponto por

não estiver bastante atento dar ao aparêlho uma maneabilidade


para

suficiente, fugindo ao ataque mediante uma manobra instantânea, a

está liquidada. É necessário além disso dispor de uma


guarnição

velocidade suficiente não exposto à renovação ofen-


para permanecer

siva do adversário.

Sem dúvida, velocidades sensivelmente iguais são os aparê-


para

lhos mais maneáveis os no combate adquirem uma superioridade


que

decisiva como diariamente demonstram os Morâne e os Citrtiss contra


AVIÕES E SUBMARINOS 1035

os Messcrschmidt. Mas, a velocidade sempre como um


permanece

fator essencial, sem ela torna-se impossível alcançar o


porquanto,

adversário ou distanciá-lo em tempo.

Outro meio de fugir de um inimigo mais rápido, tornando-se

menos vulnerável ao anti-aéreo, é o da utilização da distância e


tiro

da de altura. anterior os aparêlhos tendiam em


quota Já na guerra

da elevação da da tangente realizar


prol sempre maior quota para

suas missões, evitando o combate e mantendo-se fora da zona em que

o reconhecimento fotográfico e
o tiro anti-aéreo é eficaz. Em 1918

os bombardeios à dos seis mil metros.


aéreos vinham a-miúdo quota

A caça levada conseqüência disto a impelir sua açao,


própria era em

tendência a exploração dos


para uma tal altura. Hoje, essa para

outros estados evitando, si a visão, e em todos


da atmosfera, possível,

os casos a caça anti-aérea, está forçosamente muito


e a artilharia

acentuada. reconhecimentos são feitos a


A mór parte dos grandes

sete e oito mil metros, e até mesmo mais alto.

Elevando-se sempre mais na estratosfera fugir à ação do


para

solo a aviação executa seu turno tarefa Ar-


por já partilhada pela

mada se tem afastado da vista e dos perigos


que progressivamente
da costa navegar manobrar ao largo, no oceano. Doutro lado,
para e

a manobra em altas impõe aos aparêlhos, aplicação de


porém, quotas
dispositivos especiais no intuito de combater o frio, a formação do

gêlo, a depressão atmosférica.

Mas, a ação aérea desenvolvida em altas exige um grave


quotas

sacrifício: o rápido e intenso das especialmente


gasto guarnições,

daquelas como as dos sujeitando seus organismos a dife-


caçadores,

renças de níveis de metros em décimos de


de milhares poucos

segundo, formidáveis mergulhos. Basta haver assistido aos exerci-

cios de caça em tempo de e ter verificado o cansaço os pilotos


paz que

mais deixam transparecer rapidamente, se a


jovens para perceber

excessiva fadiga imposta às militares, si de não se


guarnições pronto

lhes assegurarem um repouso estável. Para isso é


judiciosamente
necessário dispor de formações suficientemente numerosas para

manter constantemente na frente do combate os efetivos requisitados.

E, sob êste aspecto, adquire toda a sua importância a coordenação

judiciosa da aviação francesa e inglesa.

O terceiro fator, cujo efeito consideravelmente aumentado trans-

formou as condições do combate aéreo é o desenvolvimento da

potência de fogo dos aparêlhos. As duas metralhadoras de pequeno


1Q36 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

calibre das aeronaves da última guerra foram substituidas quanto á


caça~ por uma verdadeira bateria de quatro a oito peças que se des-
envolvendo produzem nos setores uma espécie de explosão instantâ-
nea de projéteis que se espalhando por uma área de poucos metros
nela se
quadrados, abaterá infalivelmente qualquer aparelho que
encontre.

(Rivista Aeronáutica).

AVIAÇÃO E SUBMARINOS NO PREPARO DA ARMADA


NORTE-AMERICANA
"Professional Notes" do número de
Em Janeiro do U. S. Naval
Institute Proceedings ha citações do relatório apresentado ao Presi-
dente Roosevelt pelo secretário da Marinha. Nesse comunicado
anual, o secretário Edison assevera que o moral do pessoal é alto. A
educação e o nível mental das guarnições estão num plano superior. A
fina qualidade da direção dos oficiais foi novamente confirmada no
desenrolar das operações navais executadas durante o ano, ano em
que, entre outras construções, foi iniciada a de um navio aeródromo
e já planeados se acham oito submarinos.
Em seguida é apresentado um quadro com o número total de
navios em serviço e em construção, do qual tomamos as indicações
referentes aos submarinos e aviação.

ESTADOS UNIDOS

Abaixo da idade Total Em construção

Submarinos 22 89 25
Navios aeródromos 2

GRÃ-BRETANHA

Submarinos 45 55 18
Navios aeródromos 7

JAPÃO

Submarinos 40 59 3
Navios aeródromos 11 2
AVIÕES E SUBMARINOS 1037

FRANÇA

Submarinos 75 75 27

Navios aeródromos 2 2 2

ITÁLIA

Submarinos 98 105 28

Navios aeródromos 0 0 0

ALEMANHA

Submarinos 50 50 21

Navios aeródromos 0 0 0

PROTEÇÃO ANTI-AÉREA INDIVIDUAL E COLETIVA

Interessante notícia Emilio Guarini sobre as


proporcionou-nos
aplicações de seus acondicionadores de ar cuja frigorífica
potência
com água a 14° centígrados é de 5.000 frigorias hora e a 5o centí-

grados 12.500, sendo de 1.000 litros seu consümo horário dágua e

potência absorvida 250 watts.

É êsse aparelho destinado aos refúgios anti-aéreos a lavagem


para

do ar, e com aplicações vantajosas nos submarinos.


possíveis

"A
máscara contra é o único sistema utilizável para a
gases

individual, nos campos de batalha, para as pes-


proteção quer quer

soas não logrem utilizarem-se dos refúgios tal fim


que poder para

construídos.

Como se sabe a do ar infeccionado é obtida pela


purificação
absorpção carvões especiais, convenientemente ativados
provocada por
e fumívoros ou ação obtida meio de substân-
por pela quimica por
cias apropriadas.

No caso de falta de máscara ou de urgência, aconselha-se o uso

na bôca e no nariz de um lenço embebido nágua e contendo carvão

de terra, de folhas ou de palhas.

Tem-se dess'arte um filtro improvisado.

A coletiva, tem objetivo subtrair simultaneamente


proteção por
um certo número de da ação de substâncias
pessoas químicas
intoxicadas.
1038 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ela é realizada em locais especialmente preparados para esse


fim, e aos quais chamamos refúgios.

A renovação do ar nos refúgios pode ser feita de duas maneiras


substanciais, isto é, com a regeneração ou com a filtração.
A regeneração do ar nos refúgios é feita por um reabastecimento
do oxigênio consumido e pela absorpção do ácido carbônico emitido
pelas pessoas que se acham no refúgio.
A filtração do ar efetua-se fazendo entrar no refúgio o ar do
exterior, purificado em sua passagem por filtros especiais.
Os acondicionadores de ar são aparelhos complementares e
subsidiários indispensáveis nas instalações referidas no intuito de:
1) Diminuir a temperatura que se tenha elevado muito pondo
em perigo a vida humana, no refúgio, em locais humedificados pela
respiração e transpiração das pessoas e aquecidos pelo calor humano,
à razão de 100 calorias hora por pessoa;
2) absorver a humidade produzida pelos indivíduos por sua
respiração e transpiração;
3) absorver e transportar com a água, para fora do refúgio
nos esgotos, os resíduos do ácido carbônico e dos gases asfixiantes
que permaneçam no recinto.
Os referidos acondicionadores de ar Badoni Guarini, em con-
tato direto com a água e o ar, funcionam com água potável ou de
poço na temperatura máxima de 16° centígrados.
Os ventiladores que circulam o ar nos lugares ventilados, em
circuito fechado até vinte e mais vezes por hora, são movidos elétrica-
mente pela corrente elétrica da rede de distribuição ou pela corrente
elétrica de reserva de uma linha elétrica subsidiária ou de uma bate-
ria de acumuladores.
No caso de interrupção completa da corrente elétrica, os venti-
ladores poderão ser movidos conforme são atualmente nos refúgios,
pela força motriz humana.

ORGANIZAÇÃO DA FORÇA AÉREA ALEMÃ

O Ministro da Aviação do Reich é a mais alta autoridade admi-


nistrativa da Força Aérea e também é Comandante Supremo da
AVIÕES E SUBMARINOS 1039

Força Aérea. Seu substituto é o Sub-Secretário do Estado Maior

General da Aviação e Inspetor Geral da Fôrça Aérea. Êste último

é subordinado diretamente ao Ministério e ao Comandante Supremo,

respectivamente, sendo também do Maior da Fôrça


o Chefe Estado

Aérea o Chefe do Departamento Ministério do Ar, e o Presidente


do

da Comissão da Fôrça Aérea. A Escola de Guerra da Fôrça Aérea

também é subordinado diretamente ao Ministério e ao Comandante

da Fôrça Aérea.

A Fôrça Aérea é seu turno subdividida no Reich em três


por
Comandos da Esquadra Aérea: um em Berlim, outro em Munich e o

terceiro em Brunswick e ainda dois Comandos de Fôrça Aérea, um

em Kõenisberg e o outro em Viena. Além disso, ha uma Fôrça

Aérea cooperando com o General em Chefe do o é o


Exército, qual
Chefe e o Inspetor dos Aviadores do Exército. Ha um General da

hôrça Aérea cooperando com Almirante Armada, o


o em Chefe da

qual é o Chefe e o Inspetor da Aviação Naval.

Suplementarmente ainda ha mais três outros comandos:


grandes
Divisão Escola da Fôrça Aérea Fôrça Aérea
em, Greieswald, Naval

em Kiel e zona O da Defesa Anti-Aérea. Ha também outros cinco

grandes comandos de Defesa Aérea, localizados em Berlim, Ham-

burgo, Stetin, Dusseldorf e Eeipzig.

RECONHECIMENTO ESTRATÉGICO À NOITE

Sob o de Giuba e o título acima a Rivista Aero-


pseudônimo
náutica abriu o número de Novembro com um estudo no
p.p. qual
seu autor da consideração de alguns comunicados, de
parte que

guerra, ingleses anunciando a execução de vôos de reconhecimento

estratégico, dão-nos como horas noite examinar a


em da para possi-
bilidade do emprêgo setores
do aeroplano em certos particulares.

Suas considerações assentam no emprêgo da aviação italiana na

guerra espanhola e só muito rapidamente refere-se à atual guerra.


Mas, a na
quanto guerra Espanha, alguns casos acham-se expostos
em detalhes, ser apreciados
podendo os métodos seguidos e os resul-
tados obtidos.

VÁRIAS

Em fins de ao atacar um comboio


Janeiro, de navios mercantes
navegando sob a proteção de uma aviação de escolta, mais um sub-
1040 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

marino tedesco foi destruído. Ao que informa o Almirantado

Britânico já foram afundadas 40 unidades da frota submarina

germânica. Mais ainda que a perda material considerável, é de

salientar a de 40 guarnições especializadas nessa arma e nesse gênero

de guerra.

Ao que parece tudo indica haver sido agora tal sistema de ataque

abandonado e substituído pela intensificação do emprego de minas.

Embora haja sido talvez a mais importante da


parte participação
francesa da guerra no mar, sua contribuição em cruzadores:'— 19, além

de 32 navios ligeiros rápidos e bastante eficientes no


grandemente

patrulhamento do canal da Mancha e Mediterrâneo, onde até agora

não foi avistado nenhum submarino tento — a-pesar-disso, devemos

consignar a parte mui ativa, tomada submarinos fran-


pelos próprios

ceses com navios auxiliares e outras embarcações de na


patrulha,

captura de navios mercantes alemães, e assim mui contribuindo no

efetivo bloqueio levado a efeito França e Império britânico na


pela

atual guerra.

O professor Tancredo Gatti, do Corpo de Militar ita-


Justiça

liana, viu inserto em o número de Novembro último da Rivista Acro-


"Necessidades
nautica um artigo seu subordinado ao título: bélicas

e limite jurídico da ofensiva aérea". A redação da revista é a pri-


meira a chamar a atenção tal trabalho de momentosa atualidade.
para

C. F. X.
RESPIGA

Sumáio — Mar e Céo — —


Marujo, Mágico e Dona de Casa Um pro-

grama de Organização Naval — Festas da Marinha >— A Marinha e o

ensino da Historia — Inventou novo tyfio de rêde camarão —


para pescar
A Benção das Espadas — Carvão Nacional.

MAR E CÊO

Fazia nove anos eu não entrava na Ponta do Galeão. Esta vamos


que
todos no começo de 1931, no auge do enthusiasmo e da confiança na revolução
que havíamos doutrinado e concluido tres mezes antes, naquelle arranco irre-
sistivel em tres semanas halo
que galvanizava corações e suspendia como um
de esperança sobre o verde do Rio Grande. Não havia üão
poncho quem
quizesse contemplar vitorioso o esforço da revolução, e foi neste espirito que
"
os Diários Associados" convidaram D. Sebastião Leme para falar aos mari-
nheiros "São "Minas
do Paulo", Guilherme Guinle aos marujos do Gerais"
e Miguel Couto aos aviadores navaes da Ponta do Galeão. Eu acompanhei
Miguel Couto naquella manhã ardente de Março, em as sarças de fogo
que
de sua fé tinham intima e civica correspondência com a canicula tropical,

que nos abrasava. A vida de Miguel Couto era uma nobre existencia votada
ao dever Elle só se sentia á vontade no collectivo, colaborando
publico. quadro
com elites e massas nalgum de ordem impessoal. Seu discurso era
problema
uma pequena obra renaniana, estabelecendo o solidariedade civil com o
prima
labor militar. E no enthusiasmo da fé renovadora, nos a todos,
que possuía
Miguel Couto annunciava a marinha uma era nova em sua historia.
para
Foi a affirmação do hontem César, de um
grande patriota que Paulo portador
amável convite do almirante Guilhem, nos ver concretizada em
permittiu
íactos objetivos. Uma das causas secretas do nosso scepticismo é nem
que
sempre observamos. Negamos o brasileiro, bem como as etapas da
progresso
libertação nacional da subordinação ás fontes estrangeiras. As
productoras
conquistas acabamos de ver da marinha, na superfície das suas necessi-
que
dades fundamentaes em matéria de aviação, contestam o O
pessimista. que
sonhavamos em 31 é a realidade de 40. Encontremos em nosso a
patriotismo
imparcialidade necessaria o labor silencio realiza o
para julgar que em governo
do Sr. Getulio Vargas no terreno da defesa militar do paiz.
1042 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O inexorável esforço que sentimos no almirante Guilhem e seus collabo-

radores se traduz na emancipação do poder naval. Produziu-se no sysetma

da marinha de guerra do paiz, depois do conflicto do Paraguay, como uma

esclerose. Antes e durante a guerra, construía o Brasil a maior parte do

seu edificio naval. Pelejamos em Riachuelo e Humaytá com navios cujas

foram batidas em arsenaes brasileiros, por engenheiros, contra-mestres


quilhas
e mecânicos brasileiros. Depois seguiu-se um hiato. Passamos a adquirir

navios couraçados na França e na Inglaterra, até os dois grandes navios ds

superfície do Júlio de Noronha. O após-guerra veiu revelar o


programma

encarecimento do material fluctuante. Um dreadnought passou a custar para

nós 450 e SOO mil contos. Praticamente os navios de guerra encontravam-

se bloqueados os nossos recursos. Onde iria o thesouro do Brasil buscar


para

5 ou 6 milhões de libras para dar por um navio couraçado, quando o exercito

de terra não podia, até pouco tempo, adquirir artilharia pesada?

Encetou, isso mesmo, o almirante Guilhem uma política de auto-


por

sufficiencia da marinha. Equipou o Arsenal do Rio, instalou-lhe as officinas,

adestrou engenheiros navaes e, ao cabo desse vasto esforço, poz a sua maquina
" Arse-
a render. Hontem vimos o monitor Paraguassú", construido aqui no

nal, em vesperar de se incorporar á flotilha de Matto Grosso,


partida para

na base de Ladario. Ha de 70 annos que as aguas do rio Paraguay


perto
i.ião eram cortadas de um navio de guerra, batida nos arsenaes
pela quilha

as fragatas de Barroso e Tamandaré que a vasta torrente


brasileiros. Desde

o contacto com o material saido dos estaleiros nacionaes.


mediterrânea perdera

o almirante Guilhem os recursos e as forças que um paiz


Poz em jogo
dispor, afim de reconstruir a sua frota de combate,
pobre como o Brasil poderia
com as bases das quaes depende a vida delia.
no oceano e no ar, juntamente
consistia em ter navios. Adquiríamos material, mas
Nossa orientação outrora

não tínhamos arsenaes nem diques, se é que poderíamos chamar o dique

Affonso Penna o secco, onde se pode reparar um navio


fluctuante porto

Na Epitacio Pessoa encetou-se a construcção do actual


de linha. presidencia
Rio de E no da revolução de 1930, acordamos para
dique Janeiro. governo
naval. Tem o Getulio Vargas dispensado
a era da construcção presidente

a de 1937, a actividade dos nossos arsenaes.


particular desvelo, sobretudo partir

Até constituem o de uma marinha, que aspira emanei-


porque elles potencial
Não se dizer que a esquadra desen-
par-se da dependencia estrangeira. pode

lhe falta uma industria basica, que é a


volva um esforço totalitario, porque

metallurgia do aço, a deverá chapas para a construcção


qual proporcionar-lhe

de navios. Mas a siderurgia em está em marcha, como etapa decisiva


grande

solução do da defesa nacional. Com a industria do ferro,


para problema

virão as outras derivadas e especializadas, inclusive a de motores, tão impor-

tantes navios como aviões. A fortuna do paiz é que o governo


para para

da União comprehendeu o alcance inexoravelmente complexo do apparelhamento

da marinha e do exercito, no minuto que vive a humanidade. Ou alargavamos

o campo da independencia dos apparelhos de defesa do paiz, ou nos arriscaria-

tendo officiaes, marinheiros e soldados adestrados, instruídos nas ulti-


mos a,

lições da não os utilizar, pela dependencia de mercados de


mas guerra, poder
RESPIGA 1043

aprovisionamento, dos quaes nos separa o mar. É preciso cortar cada vez mais

esse perigoso cordão umbilical do apparelho militar com a Europa e os Estados

Unidos. Os limites-fronteiras da nossa defesa, situados para além do oceano,

excluem a possibilidade da sua mesma efficiencia. Basta que tenhamos cortado

o caminho do mar — e a aggressão de uma imperiaHsta poderia


potência
logral-o — 'nos faltem essenciaes á movimentação da força
para que elementos
naval e aerea do Coragem de soldados e sciencia e arte de chefes seriam
paiz.
insufficientes nos trazerem a decisão favoravel, desde que o material,
para
comprado no estrangeiro, não ser reparado desgastes inevitáveis a
pode pelos
condição da própria guerra.

A dos nossos dias ou antes de a travar. É o


guerra perde-se ganha-se
vencedor o organizou a victoria, na soube preparar-se de
que paz. Quem
antemão,/com os elementos necessários á defesa do seu territorio e á repulsa

do inimigo tentar occupal-o, reputar a sua liberdade melhor garan-


que pode
tida do aquelle deante do internacional, fez o papel do
que que, panorama
capitão não cuidou ou do não previu. Todos os mossos
que politico que

perigos externos resultam do oceano, é a nossa artéria jugular. A defesa


que
da soberania nacional se exprime 90% no theatro marítimo. Não ha entre

os nossos vizinhos sombra de imperialismos nos inquietar. Todavia, a


para
experiencia mostra diariamente como é fraca nossa estrategica no
posição
oceano, em de maritimos, guiados por ideologias amoraes.
presença povos
baseadas no desrespeito aos princípios da igualdade juridica dos Estados e na

necessidade " no mar, e se


do lebensraum". Quando o Brasil pensa prepara

para impor a sua voz mo Atlântico Sul elle age conduzido por um seguro

instineto de conservação. Com a costa Deus nos deu, o oceano é vital


que
antes de tudo a integridade da patria. Acordar nas elites
para própria política
e nas massas o sentido do mar, é um dever que, para o entendermos, será

inútil maior Elle salta aos olhos, porque anda á


esforço de comprehensão.
altura de universaes correntes. A supremacia que o Estado
phenomenos
Novo tenta dar nesse terreno constitue uma das linhas mestras da
ao paiz
política brasileira.

Na Ponta o equipamento industrial de um parque de


do Galeão se desata
aviação como o Brasil de longe imagina já o possue. É pena que não
nem que
se tragam moços das escolas, estudantes, engenheiros, médicos, negociantes,

industriaes, lavradores, operários, lhes nutrirmos a imaginação do especta-


para
culo destas officinas, saturadas de ordem material e moral, de salubridade
" cada
physica e de espirito missionário". Cada chefe, cada contra-mestre,

mecânico está imbuido da altitude da sua tarefa. Quem suppõe que no Brasil

já se fabrica um bi-motor, com 520 cavallos de força, importando apenas cs

motores e a matéria bruta, ser aqui trartabalhada ?


prima para
"
É uma poussée" creadora, capaz de levantar a alma mais deprimida

pela descrença na aptidão do brasileiro. Ella embelleza de um colorido se-

duetor de feitas e cumpridas, os da actividade estatal da


promessas, quadros
nação. "elan"
A marinha é hoje toda ella dynamismo, mobilidade, technico,

competição dentro de si mesma, a ver trabalha com maior energia e mais


quem
fé. Quando o almirante Guilhemme convidou o anno assistir
passado para
1044 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

o lançamento dos dois navios mineiros, percorri as dependencias do Arsenal

mais uma vez. Ao terminar a visita, tive ensejo de lhe dizer que aquella offi-

cina era a teclinica com T maiusculo, ao serviço do rejuvenescimento da

esquadra e das suas forças renovadoras. Voltamos a possuir uma elite naval

que constroe, que faz navios para lançal-os ao mar e aos rios do nosso systema

fluvial, quando até oito annos atrás não construíamos nem encomendávamos

unidades nos estaleiros estrangeiros.

Vivíamos numa trajectoria melancólica da rotina para a imprevidencia, em

ruptura com o brilhante passado naval de Rodrigues Alves, dos Norotnhas e

de Ouro Preto. Retomou, porém, a marinha a sua paixão constructiva, e o

prestigio naval do Brasil se reconstitue em movimentos que tanto têm de acele-

rados como de amplificados. Vimos hontem um espectaculo decisivo para o

futuro do Brasil: o parque de aviação de uma esquadra, convicta, intelligente-

mente convicta, que a efficiencia da força naval de hoje reside no dominio

do oceano, conjugado, com a supremacia aerea. O império do mar e, nos dias

que correm, indissolúvel do império do espaço. A fronteira marítima tem 10 a

15 mil pés de altitude no ar. O serviço do mar é, actualmente, um serviço aereo,

por excellencia. Pela intensidade e a densidade do trabalho da marinha bra-

sileira em prol da aviação, sentimos bem como a elite de oficiaes brasileiros

entende o binomio de uma marinha contemporânea. O prestigio da força

naval depende da domesticação desses dois elementos, mar e céo. A fortuna

oceanica implica o dominio do ar.Revela-o a segunda guerra mundial todo o

santo dia.

Assis Chateaubriand.

O Jornal — Rio de 7 de Abril de 1940.


Janeiro,

MARUJO, MÁGICO E DONA DE CASA

Assistimos, ante-hontem, na Ponta do Galeão, á ceremonia da entrega dos


"
brevcts" aos aviadores da Reserva Naval que vêm de terminar o curso.

Permittiu esse acto aos convidados civis do ministro da Marinha um contacto

mais objectivo com a Base da Aviação Naval e suas dependencias. Actividade

pratica, trabalho economicamente rendoso, eficiencia, dedicação ao serviço, taes

os elementos positivos do departamento de marinha, que visitámos, e onde


•não se dizer viva um É o trabalho ali inteligentemente
pôde que parasita.
coordenado, e todos o executam com enthusiasmo. Não tem nenhum luxo o

serviço de inspecção medica, que foi inaugurado. Mas, ali, a aptidão procfis-
"
sional reuniu o que havia de scientificamente mais adequado para o test"

de um piloto do ar. Está apta a Marinha para dizer quem pôde servir nas

suas esquadrilhas aereas. É triste pensar que a aviação civil mão disponha

de material equivalente.

Ha, no almirante Guilhem, tres entidades: um marujo, um mágico e uma

dona de casa. E que immensa superioridade d'alma não revelam os tres,

fundidos na figura do administrador geral da Marinha! Ha tres annos, quando


o illustre homem publico paulista, que é o Dr. Paulo de Moraes Barros, exercia
RESPIGA 104S

a presidencia da Liga Naval, elle me convidou a visitar o Arsenal, com as


suas officinas. O dique, esse eu já o conhecia, através das differentes etapas
da sua construcção, ao tempo em que Thiers Fleming o enthusiasmo
punha
e o valor de sua alma de marinneiro e profissional ao serviço daquelle empre-

liendimento. Fez-me ver o então presidente da Liga Naval as obras das


officinas, onde o presidente Getuüo Vargas iria reencetar a marcha, interrom-

pida ha 65 annos, das construções navaes dentro do paiz. Do oceano de machinas

e de materiaes acumulados pelo governo nas officinas do Arsenal, estão saindo

esses navios, que offerecem ás novas gerações de brasileiros uma sensação inédita
da capacidade da nossa engenharia naval, lançando ao oceano monitores, navios
mineiros e destroyers de alto mar, que ha um lustro ninguém imaginava pudes-
sem ser construídos nesta parte do Atlântico austral. Profundamente renovadora,
do ponto de vista da technica e do patriotismo, essa creação do Brasil novo traduz
o elan de viver por si, da personalidade actual da Nação. Não ha um senti-
mento de dignidade da marinha, no seu gesto, sabendo o com
paiz, parcos
recursos, para conquistar a independencia naval, vir ella demonstrar a
própria
efficiencia dos seus peritos, através da mova frota, capaz de dar o sentido da
verdadeira grandeza nacional?

O ministro da Marinha dispõe de verbas Ínfimas o vulto dos trabalhos


para

que elle emprehende com elan e amplitude de visão. Pense-se as manu-


que
mentaes officinas da Base custaram para mais de 8 mil contos, os edifícios
inclusive. Calculei-as em 15 mil contos no mínimo. Nas mãos do almirante

Guilhem o dinheiro vira borracha. Elle o applica com a eoonomia severa


de uma dona de casa, até porque são verdadeiras magicas, o a sua
que produz
imaginação para encontral-o.
"chance"
Tem, agora, a Marinha de Guerra, de poder importar productos
semi-manufacturados e matérias primas para aqui fazer aviões. Encontrámos
"Fokker
em montagem seis bi-motores Wulff" metallicos, de alto treina-
mento, representando o que a marinha allemã tinha de mais adeantado até
antes da guerra actual. Não se opera nas officinas do Galeão um máo trabalho
de montagem de peças. Ali, a iniciativa de engenheiros e contra-mestres
revela qualidades technicas, mostrando a aptidão do nosso uma
pessoal para
"
poussée" ainda mais avançada no sentido da industria propriamente dita
da aviação. Montada a fabrica de motores, que installar o almirante
pensa
Guilhem, tem a Marinha a independencia que ella aspira fabricação
para
dos seus instrumentos de domínio do ar.

É motivo de optimismo e de confiança uma força naval ter um chefe


das virtudes do ministro da Marinha do Brasil. Elle inventa dinheiro; realiza

com migalhas obras consideráveis, e acaba alargando o espaço vital da esquadra,

como se ella vivesse de dotações orçamentarias magníficas.

Assis Chateaubriaiui.

O Jornal — Rio de 9 de Abril de 1940.


Janeiro,

I
1046 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

UM PROGRAMMA DE ORGANIZAÇÃO NAVAL

A aviação militar, por todo mundo, começou por ser um sport heróico e
trágico. Os aviadores eram tidos como voluntários da morte, olhavam-nos por
isso ternura e emoção e assim viviam á margem dos regulamentos estrictos,
"azes" insubstituíveis.
podiam ter caprichos de
Os progressos da sciencia e da technica modificaram essa situação excepcio-
nal, a carreira do aviador normalizou-se aos poucos, enfeixou-se na disciplina,
substituiu a inspiração do piloto pela pratica segura de uma nova arma
de guerra.
Hontem, numa cerimonia simples mas tocante, o Sr. Ministro da Marinha
entregou os certificados de conclusão do curso á nova turma de aviadores
da Reserva Naval, bem como aos officiaes do Corpo da Armada especializados.
A parada esteve impeccavel na ordem, correcção e aprumo dos que nella
figuram. O Sr. Almirante Henrique Aristides Guilhem disse aos seus jovens
camaradas as palavras próprias a suscitar graves pensamentos na cerimonia
de iniciação de uma carreira profissional tão exigente da attitude moral dos
que a abraçam.
Além da Escola de Aviação Naval e do Quartel da Base, nos últimos
annos da actual gestão da pasta da Marinha, surgiram nos terrenos baldios
magníficas construcções que respondem a um plano estabelecido e que se vai
realizando aos poucos. Afora cs galpões de apparelhos, erigiram-se esplen-
didas officinas, sortidas de moderna machinaria, aptas a revisar, reparar e
construir os aviões necessários ao serviço naval. Hontem mesmo, foram
inaugurados serviços de inspecção medica e prompto soccorro verdadeiramente
notáveis, tanto pelas installações e instrumentos de que dispõem, como pelo
corpo de médicos especializados que honram a administração da Marinha.
O asseio, a ordem, a disciplina em tudo reinantes, dão inequívoco ambiente
"inevi-
de Marinha ás organizações da ilha do Governador. Nem lhe falta o
tavel tradicional" que condemna os officiaes da nossa Armada a fazerem
tudo com esforço dobrado, com pesadas contribuições pessoaes, pondo constan-
temente do seu para remediar as carências do Poder Publico, apresentando
assim mesmo resultados taes, que o visitante desprevenido não nota os sacrifícios
que custaram.
Entre as obras criteriosamente planejadas e executadas com ratinhadas
sobras de verba ou verbas arrancadas a boticão, apparece uma disciplina inacabada
que os officiaes vão erigindo penosamente e que entretanto faz parte do plano
geral projectado. A Marinha sempre foi um parente pobre da familia
governamental; o seu nivel cultural inhibe exigências que nem sempre o erário
poderia satisfazer, mas a delicadeza do seu conformismo dá logar a abusos
lastimáveis.
No regime actual vai-se modificando aos poucos esse panorama mais
próprio das situações políticas; o Sr. Presidente da Republica tem manifestado
o seu propósito sincero de dotar as forças armadas dos indispensáveis recursos
á efficiencia da defesa nacional. O SV. Almirante Guilhem prosegue num
programma meditado de criar no paiz verdadeiras raizes do poder naval para
RESPIGA 1047

o libertar da servidão industrial, que as pnteocias estrangeiras impõem, segundo

os azares dos interesses e paixões da política internacional.

J. E. dc Macedo Soares

Diário Carioca — Rio de 7 de Abril de 1940.


Janeiro,

FESTAS DA MARINHA

O almirante Guilhem costuma convidar para as solenidades da Marinha

de Guerra um de civis interessados na vida e nas realizações do seu


grupo
ministério. Os lançamentos de novos barcos, as quilhas que se batem, as

commemorações das glorias navaes brasileiras, são motivos para esses


grandes
encontros, em a officialidade testemunha aos seus hospedes os tradiciouaes
que
do cavalheirismo, da inteligência e cultura que em todos os tempos
primores
distinguiram a Marinha do Brasil.

É uma alegria espiritual esse convivio, que nos afervora o civismo e incute

íé mais intensa nos destinos da mossa patria.

* * *

Essas festas são sempre de trabalho.

Na simplicidade e na graça das suas maneiras, a gente da Marinha de

Guerra celebra conquistas, que bastam para consagrar a sua actividade em

dos nossos ideaes collectivos. Quem conhece as difficuldades com que


pról
se luta restaurar o naval brasileiro, não pôde deixar de ver, com
para poderio

sympathia e enthusiasmo, a conclusão das etapas desse esforço; os navios que

saem dos estaleiros nacionaes, os aviões construidos aqui, as officinas appare-

lhadas, os arsenaes em labor. É um milagre de renascimento, que


pleno

os mais pessimistas têm de reconhecer.

* * *

A tenacidade e o methodo do almirante Guilhem, a coragem dos seus

a modéstia com elle proprio contempla e julga os grandes factos,


projectos, que

a uova época de reconstrucção da esquadra, são resultantes do


que marcam

de ordem, disciplina e patriotismo, forjado na Escola da Marinha.


espirito

Nesse o ministro é essencialmente representativo da sua classe.


particular
A dos encontros entre civis e marinheiros nas festas da Ilha
cordialidade

ou da Ponta do Galeão, o entendimento e a camaradagem que entre


das Cobras

todos se estabelecem, tornam esses momentos inesquecíveis.

as nossas esperanças communs num futuro mais digno. O


Augmentam

Brasil maior e mais bello.


parece-nos
Austregesilo de Athayde

Diário da Noite — Rio de Janeiro, 6 de Abril de 1940.


1048 revista marítima brasileira

A MARINHA E O ENSINO DA HISTORIA

O moderno gosto pelos assuntos bistoricos em boa hora fomentados e

preconisados por um grupo de patriotas de cultura e vontade, trás, em conse-

quencia, o apuro do ensino da historia, que se confia a mestres competentes,

por sua vez apaixonados da seara que se lhes deu a lavrar. Hoje, beneficamente,

com resultados de indiscutível garantia futura, lêm-se, estudam-se, comen-


tam-se com cuidado e minúcia todos os pontos da nossa crônica até então

descurados ou pouco relevados. A maneira faceta e pitoresca de narrar-se o


episodio, de analisar-se o feito e personagem, tão do gosto dos Rangel, dos

Viriato e dos Setúbal, muito contribuiu, escoimado o joio, para que o publico
ledor, notadamente o aluno das escolas, perdesse a antiga ogerisa pelo emara-

nhado seco e inexpressivo de nomes e de datas que perfilavam os massudos

compêndios. Era um horor decorar, no nosso tempo de colégio, aquela serie

infindável de perguntas e respostas que inconscientemente descreviam belezas e

grandiosidade que teriam mais relevo com diverso labor e outras tintas. E a

historia, que deve ser antes ilda e considerada como a romanceação calorida e

exata, pelo que encerra de alma e sofrimento, das atitudes varonis de um

povo, musa que é, companheira de musas, tornava-se um bloco rude e informe

de mármore ao invés de caudal suave, de margens calmas e floridas. Vale

mais a pintura de Watcrloo que Vitor Hugo incluiu nos Miseráveis do que
toda a historia napoleonica edifiçada por analistas inteiriçados. E o velho

solitário de Vai de Lobos, pelas colunas do Panorama de 1837, afirma, ele, o


"nisso
cronista de bronze, haver muito mais historia que por ahi anda

com o nome de romance historico", do que nos rijos calhamaços que ame-

drontam como espantalhos de estrada.

O povo, alma de creança, deve ser conduzido e ensinado como á própria


creança. Nada que lhe dê muita locubração nem grandes tratos á bola para
ficar sabendo em que terra vive e o que aconteceu l.ia sua terra pelo decurso

turbilhonante dos séculos.

Por sua vez, a Marinha, que jamais demonstrou indiferença no espargir

de tão nobre sementeira, tem tomado a seu cargo, convicta e silenciosamente,

sem reclames de espalhafato, a conscienciosa e tranqüila divulgação dos seus

heróis e dos seus fastos de honra, graças ao monumento cultural que acaba de

se fundar. Sob os auspícios do atual ministro, sempre atento aos complexos

problemas da classe, creou a Divisão de Historia Marítima, que se filia ao

Estado Maior da Armada. Dirige-a um brasileiro de invulgar capacidade

de trabalho, o Comandante Didio Costa, obreiro da quietude e da sombra, de

cujo esforço tem saído tanta coisa de mérito e tanta pagina de realçado valor.

Para não falar das citadissimas e Famosas Armadas que Portugal mandou ás

índias, o veneravel manuscrito de Simão Pais, cimelio ilustre ha pouco silvo

do olvidio, causador de excepcional sucesso nos arraiais da cultura lusíada, já


se enfileiram os dois primeiros tomos dos Subsídios para a historia marítima

do Brasil, com o terceiro no prelo e o quarto em confecção. Repositorio da

crônica, da exaltação dos homens, dos principaes acontecimentos que fizeram

da Marinha uma seita de devotamento ao dever, credora dos mais amplos


RÊSPIGA 1049

louvores pátrios Gente brava e de elevados merecimentos, cujos nomes


declinavam para o ocaso sem ter logrado o merecido esplendor, vem se
exumando e proclamando, não só no operou em do seu oficio como
que prol
nos rumos mais variáveis de outras muitas atividades. Por ai, numa leitura provei-
tosa, se conhecem não só os se bateram nas como os nobilita-
que guerras que
ram por serviços de — na na diplomacia, na sciencia, nas
paz política,
letras, nas comissões de limites, nas empreitadas hidrográficas, nas embaixadas
marujas que levaram a todos os quadrantes a serena do Brasil. A
grandeza
par de um Cochrane, de um Barroso, de um Inhaúma, de um Teffé, de um
Aspirante Nascimento, ha um Lourenço Amazonas, um Frederico Ferreira de
Oliveira, um Adolfo Caminha, mourejadores da mal se dissimula
pena, que
no convívio das ancoras. Vasto e Iuzido o terreno de criteriosa
propaganda
e concisa, que se faz pelo proprio valor do objeto sem carater de rotulos
espaventosos. E um dia, quando o tempo passar e as coisas se definirem do

cáos em que estremecem, ameaçando a segurança do mundo, o viajor que


tiver animo e paciência para assentar-se á beira do caminho sob a ramada

placida e sile.ite, ha de encontrar alguma coisa ereta, acima dos seus olhos,

do que hoje se constroi e se apregoa, e bendirá, com salmos de gratidão, a

obra passada, em cuja essencia tumultua o sangue redimido das idades.

A Marinha é creadora e bandeirante. Não treme e não descansa. Em

outras eras, de formação, de luta e de conquista, arquitetava o documento.

Hoje, esse documento, que é a própria historia, salta da treva, despoja-se da

poeira ancestral que o desfigura- alinda-se, ilumina-se, e vai alem, da esteira

da verdade, educar o Brasil e faze-lo cioso de si mesmo e ufano*das suas

altas virtudes.

A terra é rica e de promissão. Venham ara-la os eleitos, os que trabalham

de mãos limpas e ferramentas de lei.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 de Fevereiro de 1940.

Castão Ppnalva

INVENTOU NOVO TYPO DE RÊDE PARA PESCAR CAMARÃO

Vem dando resultados excellentes — Declarações de um joven

pescador na Guanabara

Um joven pescador, residente em Nitheroy, esteve, hontem, nesta redacção,

para nos dizer que havia descoberto um novo typo de rêde destinada á pesca
do camarão.

Hugo Barroso — o nome do joven pescador, que conta apenas 18 annos


de idade — adeantou-nos a nova rêde está
que já sendo empregada na Guana-
bara, com absoluto êxito, contribuindo, assim, o augmento sempre cres-
para
cente da produção do crustáceo.
precioso
1050 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

AUGMENTO IMPRESSIONANTE

Effectivamente desde 1938, a producção do chamado camarão verdadeiro

vem augmeutando de modo extraordinário, conforme se verifica de um boletim

estatistico assignado pelo inspector Honorário Lamblet, do Serviço de Esta-

tistica da Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura. Por esse

boletim, que o joven Hugo Barroso deixou em nosso poder, vê-se que a quan-
"
tidade de camarão verdadeiro" vendida no Entreposto de Pesca, desta capital

tem augmentado nas seguintes proporções:

Anuo de 1938 — 260.206 kgs., no valor de 1.761:228S600; anno 1939


de
— 847.792 kgs., no valor de réis 3.465:425S200; de 1938 — 16.201
Janeiro
kgs., no valor de 95:701^000; de 1939 — 22.016 kgs., no valor de
Janeiro

147:031$100 e, em de 1939 — 97.821 kgs., no valor de 362:112$200.


Janeiro

Como se constata pelos dados estatisticos acima estampados a importancia

economica do camarão é simplesmente extraordinar,a sendo deveras impressio-

nante o augmento registrado nas vendas realizadas no Entreposto da Pesca,

desta capital.

Esse augmento — asseverou-nos o Hugo Barroso —


joven poderá
marchar num rythmo ainda mais accelerado. Basta que se generalize o uso

da rêde que eu inventei ...

A NOVA RÊDE

*
Hugo explicou-nos, então, o seu invento:

O novo typo de rêde pesca de camarão consiste num melhoramento


para
"balão",
introduzido mo apparelho chamado constituído de duas redes, sendo

a menor ás tralhas e mangas da maior com uma abertura no centro


presa
onde entra o camarão, que fica retido na bolsa ou cofre, entre o cólo
por
da téla e o cone da segunda. A nova rêde mais efficiente. Tem
primeira
"candomblé",
a segunda téla, constitue a do feita em crescente, o
que porta

que fôrma, quando aberta no fundo dagua, um cone perfeito. O ápice do

cone é preso ao cofre da primeira téla por quatro fios tensos, de modo a

imprimir á abertura da entrada a fôrma eliptica de fócos curtos.

E, accentuando:

O "
camarão surprehendido pelo candomblé" vae ao cofre volta ás tra-

lhas e tenta fugir, sendo barrado pela porta. E, depois, é só ser entregue ao

consumo... Nenhuma outra rêde é mais efficiente e pôde offerecer melhores

resultados.

NÃO QUER PRIVILEGIO

Hugo é pescador devidamente matriculado na Capitania do Porto desde

Junho de 1938.

Espera elle que a Diretoria de Pesca diffunda o seu systema em todo o

litoral brasileiro, afim de que a pesca de camarão no Brasil seja a maior e

melhor do mundo.
RESPIGA 1051

Não requereu e nem quer privilegio algum para a nova rede em todo
o Brasil.
Hugo acha que o interesse do pescador não é vender o peixe caro, mas
sim por baixo preço e em grande quantidade.
Deseja ainda que a nova rede seja experimentada no "arrastão" de alto
mar pelas grandes empresas nacionaes de pesca. Acredita que os resultados
serão tão excellentes como os já registrados em pescarias por elle próprio
realizadas dentro da Guanabara.

UM PEDIDO AO GOVERNO

Depois de nos convidar para ver a nova rede, que se encontrava em seu
barco atracado ao cáes do antigo Mercado Municipal, Hugo terminou a entre-
vista, dizendo-wos:
— Nos Estados Unidos queimam-se dollares e pestanas em experiências
para o descoberta de uma rede efficiente para e pesca de camarão em larga
escala. Essa rede ideal eu consegui realizar agora. Naturalmente os ameri-
canos do Norte vão interessar-se pelo assumpto. Peço, por isso, que o nosso
governo consiga um privilegio de exploração dessa rede no estrangeiro, de
modo que os iucros disso resultantes venham beneficiar uma instituição nacional
qualquer, como por exemplo, a Confederação dos Pescadores.

Diário da Noite, Rio de Janeiro, 29 de Fevereiro de 1940.

A BENÇÃO DAS ESPADAS

Nunca se houvera visto o Templo da Candelária tão formoso e repleto.


A frente, na capela-mór, toda florida de alvas pétalas, em face do altar de
Deus, luzidos e elegantes nos uniformes impecáveis, os novos guardas-marinha.
Essa turma queridissima do meu afeto de irmão mais velho que se apresta
a deixar o casulo da Escola para os alçados vôos da carreira. Já os aguarda,
baloicante gracil na maré tranqüila, o Almirante Saldanha, restaurado e refeito,
pronto a sulcar novos mares e devassar novas terras. Já se lhes entreabre, no
limiar do nobre oficio, a primeira porta azul que deita para o oceano, sempre
tão cheio de surpresa e mistério. Que será para além da sua fimbria infinita,
ende se açoitam ilusões e sereias? Que tempestades e bonanças se despenharão
desses céus enigmáticos, ás vezes claros e mansos, outras vezes borrascosos e
terrificos? Tal o destino do nauta.
A missa principia, honrada pela alta mitra do senhor Bispo de Oriza.
Todos se recolhem numa prece única que louva o grande Deus' e recomenda
os que partem para as eternas travessias da duvida. Queima-se á Pátria, á
Marinha do Brasil, aos bravos de todas as idades, o mais votivo e santificado
incenso. Do púlpito, inspirado e eloqüente, Henrique de Magalhães, uma vez
mais, alteia a voz aos ares plácidos que naquele momento só contém, em guirlan-
1052 REVlfTA MARÍTIMA BRASILEIRA

das festivas, anelos e aleluias. Fala do mar e do marinheiho como os êlos


mais fortes da abnegada comunhão patricia. Exalta os feitos e os vitoriosos.
E envolve a todos, vencedores e vencidos, sob o mesmo de
palio palavras
de Fé, naquela hora amiga em que todos os corações mesmo
palpitam pelo
desejo e se embalam nas mesmas esperanças.

Depois, benzeram-se as espadas. Laminas nuas para o banho lustrai, perfi-


ladas e solicitas, elas galgaram os degráus atapetados, á luz fervente dos
candelabros, como num dia de grande festa. Aquelas fardas severas, ornadas
de insignias c dourados, aqueles rostos emocionados numa palidez romantica,
aquele vasto esplendor de igreja magnifica, povoada de cânticos sagrados e
flores que se despetalavam como uma chuva de bênçãos, davam idéia
perfeita
do que serão os festivais do Céu, quando nêle penetram os heróis engalanados

dos sacrifícios da terra.

E as espadas ficaram bentas. Para sempre iluminadas, no seu aço vivo

e espelhante como um dogma do dever militar, dos carinhos da religião que,


num relance, a uma expressão evangelica, lhes tocaram na essencia da

alma heróica.

Espadas de marujos do Brasil, elas recordam outras do passado de que


se orgulham de descender. Gladios de honra e desagravo, na mão segura dos

lidadores, no decurso atribulado da historia. Espada de Tamandaré, pelejando


na Indepe.idencia. Espada de Saldanha da Gama, antes flébil florete em

mão fidalga. Espada de Baltasar da Silveira (e ali estava, contricto um

neto dêle), preferindo partir-se com brio a embainhar-se com deshonra. Espa-

das da Velha e da Nova Armada, altivas e intemeratas, aglomeradas em pano-

plias viçosas sobre as eíigies dos protetores, para o deslumbramento das gera-

ções que se sucedem, e seguem, mar em fóra, cavaleiros andantes da esperança,

ufanos da sua grei, ciosos da sua dama.

Do alto, sangrando em chagas de amôr, enquanto o sábio prelado abençoava


da sua mão as taças da bravura, descia aquela voz de mel e balsamo que nos

vive nos ouvidos aflitos, e parecia dizer a cada um, como no tempo em que
falava aos homens: Não matarás ...

Assim, naquele dia insigne para a vida da Marinha brasileira, as espadas

mais jovens e mais dextras foram ficando para sempre benditas.

Antes da festa, mais uma festa fraterna de marujos que me na


perdura
saudade, eu, a um canto da sacristia em sombras, escutei da bôca irada de
um velho funcionário amofinado com a insistência de uns fotografos, esta
frase de intenso simbolismo:

— Não lhes informar nada.


posso A igreja é dos guardas-marinha.
Pareceu-me uma flamula de luz, clara como a verdade, desfraldada nos

espaços do templo. A igreja é dos guardas-marinha. Realmente era deles.


E com esse fanto que ela tem de náu no seu rijo arcabouço de séculos, e coni
as asas de lendas marinheiras que se anicham nos seus refúgios acrisolados,

ela, deslocada de novo para as o idas donde nasceu e refluiu consolo dos
para
homens, seguirá com êles, desvendará para os seus olhos moçoçs e curiosos a
rosa mistica dos ventos como um sereno desfolhar de aventuras, e singrará na
RÉSPIGA 1053

crista das procelas com as suas vergas cruzadas, sob os teus mágicos auspícios
— oh! Maria Estrela dos Mares! —
que nunca sáis da crença das esquadras.

A igreja é dos guardas-marinha. A igreja-náu vai soltar suas velas, como


a barca de Simão Pedro, para os alíseos da fortuna.
galileus

Rumo feliz! Bôa viagem!

Castão Penalva.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de Abril de 1940.

CARVÃO NACIONAL

Como é sabido, ha alguns annos atraz, o governo decretára a aquisição

obrigatoria do carvão nacional na proporção de dez por cento (10%) em

relação ao carvão estrangeiro entrado no paiz.

Essa medida do Estado trouxe novos surtos de prosperidade á nossa indus-

tria carvoeira e tal foi, de ahi em diante, a produção de nossas jazidas


carboniferas, que, pouco depois, aquella percentagem era elevada ao dobro, de

sorte que todo o importador de carvão estrangeiro é hoje obrigado a fazer

prova legal de haver adquirido o carvão nacional na proporção de vinte per


cento (20 %) em relação ao que manda vir do exterior.

As ultimas estatísticas mandadas publicar pela Alfandega do Rio de

Janeiro sobre o carvão nacional, relativamente ao mez de Setembro deste

anno, demonstram que toda a producção nacional vem encontrando collocação

immediata nos mercados consumidores, graças á protecção que o Estado

lhe dispensa.

Ainda mais: essas mesmas estatísticas demonstram também que a pro-


ducção nacional não deu para cobrir a percentagem dos vinte por cento (20 %)
sobre a importação estrangeira, motivo por que as emprezas carvoeiras se viram

obrigados a passar attestados de quantidades de carvão nacional que num

futuro proximo deverão entregar aos importadores, para o cumprimento da

lei de protecção ao nosso combustível.

Reproduzimos, a seguir, os dados officiaes sobre os saldos devedores do

carvão nacional em Setembro deste anno.

Cia. Carbonifera Riograndense, 8.681 toneladas.

Cia. Estrada de Ferro e Minas de S. Jeronymo, 5.778 toneladas.

Cia. Nacional de Mineração de Carvão de Barro Branco, 3.753 toneldas.

Ci. Brasileira Carbonifera de Araranguá, 13.245 toneladas.

Sociedade Carbonifera Prospera S/A., 3.310 toneladas.

Sbmma, 34.587 toneladas.

Essas trinta e quatro mil quinhentas e oitenta e sete toneladas representam


a quantidade de carvão nacional que os industriaes deixaram de entre-
patricios
1054 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

gar aos importadores do carvão estrangeiro, para estes fazerem prova de


acquisição do nosso combustível na base de 20 % em relação ao importado.
Sempre defendemos, a bem da boa causa publica, o consumo do carvão
nacional dentro das possibilidades e das vantageis econômicas que clle offerecer.
E se, de facto, o seu consumo se recomenda pelo preço e pela relativa bca
qualidade dos novos typos recentemente obtidos com o seu beneficiamento, é
de estranbar que a sua produção ainda não dê para cobrir, ao maios, a percen-
tagem estabelecida para sua compulsória acquisição em relação ao similar
estrangeiro que importamos.
Mappas demonstrativos da produção mundial de carvão no anno de 1937
deixam ver que os quatro principaes paizes produetores foram os seguintes:
Estados Unidos 447 milhões de toneladas.
Inglaterra, 245 milhões de toneladas.
Allemanha, 184 milhões de toneladas.
Rússia, 122 milhões de toneladas.
Nesse mesmo período a produção brasileira não atingiu siquer a oitocentas
mil toneladas, emquanto a producção chilena era superior a dois milhões
de toneladas.
Temos ou não temos carvão? Mal estalou na Europa a guerra que hoje
traça no mundo a mais inquietante interrogação, as autoridades competentes
faziam publicar que por falta de combustível éramos obrigados a supprimir
diversos trens em a nossa principal via férrea. Isso é significativo.
Devemos intensificar, pois, a producção do carvão nacional para oceorrer,
dentro dos limites econômicos, ás necessidades do paiz e não deixal-o exclusi-
vãmente entregue á verborreia patriótica e á protecção alfandegária.

Francisco Lopes.

O fluminense, Niterói, 5 de Dezembro de 1939.

tiuLiiiiiiIniüiiHriiiiiT^nr^J^»"^ It«»bb»*»*»**b*b»bb^íj—,w,*p>-ri i jir^ffl.nvirhrL./i l..L


BIBLIOGRAFIA

ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDI-


CINA NAVAL — Diretoria de Saúde Naval
— Ministério da Marinha — Imprensa Naval,
Rio de Janeiro, 1940.

Constituiu verdadeiro acontecimento bibliográfico o recente aparecimento


dos Arquivos Brasileiros de Medicina Naval, a cargo da Diretoria de Saúde,
a cuja frente se acha o Sr. Contra-Almirante, Médico, Dr. Otávio Joaquim
Tosta da Silva, uma das mais lúcidas e abalizadas figuras do brilhante Corpo
que chefia.

Publicação subordinada a plano adequado, em condições de vir a ser uma


valiosa fonte de dados sobre os aspectos com que se apresenta, o seu número
inaugural é um atestado brilhante da competência de quem a organizou, de quem
pura ela concorreu com os seus trabalhos.

Òtimamente impressa, nas reputadas oficinas da Imprensa Naval, com inú-


meros gráficos, quadros e estampas, traz, além do Prefácio, da autoria do
ilustre Diretor de Saúde, a seguinte matéria:

Considerações sobre o sôro-diagnóstico e o comportamento da sorologia


da sífilis durante o tratamento específico, Capitão de Fragata Dr. Heraldo
Maciel. — Petritcs e sua exteriorização pela fatinge, Capitão de Corveta
Dr. Armando Pinto Fernandes. — O labirinto em neurologia, Capitão-Tc-
nente Dr. Waldemir Salém. — Primeiras observações sobre o recensca-
mento rocntgeniográfico e sorológico na Marinha Brasileira, Capitão-Te-
nente Dr. Hermano Soares e Dr. Ortiz Patto. — Contribuição ao estudo
da reação de Costa, Primeiros Tenentes Drs. Gerson Coutinho e Daniel
de Carvalho. — Identificação dentária na Aviação Ndval Brasileira, Pri-
meiro Tenente, Cirurgião Dentista, Zetho Cardoso Caldas. — Apreciações
tanatológicas em tomo da carne verde, Segundo Tenente, Farmacêutico, Luiz
Peres de Araújo. — Identificação dos gases de guerra, Segundo Tenente,
Químico, Marcelo Robertson Liberalli. —¦ Estatística geral da Odontoclí-
nica Central da Marinha no 1" semestre de 1939.
A respeito destes Arquivos, cuja publicação é motivo de júbilo para todos,
nada mais clara c autorizadamente se manifesta do que o Prefácio escrito pelo
1056 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Sr. Contra-Almirante Médico Dr. Otávio Tosta da


Joaquim Silva. Em estilo
fluente e bem pôsto, escreveu S. Ex. :

Os Arquivos Brasileiros de Medicina Naval foram criados pelo Sr.


Ministro da Marinha, atendendo a objetivos de aperfeiçoamento e de cultura
para a maior eficiência das atividades do Corpo de Saúde da Armada.
Correspondem ao ritnw das realizações do Estado Novo e destinam-se a
registrar informações técnicas e a difundir conhecimentos científicos, que
de qualquer modo se relacionem com a medicina Naval. Visam também
contribuir com as observações e „com a experiência dos oficiais brasileiros,
em benefício da humanidade, coordenando esforços ignorados e elementos
dignos de divulgação, que possam ter alguma utilidade prática.

Nessa ordem de idéias a Diretoria de Saúde Naval confia publicar


nesta revista trabalhos sôbre estatísticas demógrafo-sanitárias, higiene naval,

profilaxia geral, observações clínicas, pesquisas de laboratórios, farmácia,


medicina de aviação e química de guerra, animada pela inteligência e pela
dedicação que já distinguem muitos oficiais do Corpo de Saúde e tendo
como único programa o absoluto interêsse da Marinha.

Estão, assim, traçados os rumos desta revista, ficando as suas colunas


sempre abertas aos que quiserem concorrer para as suas finalidades e muito
especialmente à disposição de todos os componentes das classes armadas.

Como colaboradores contam os Arquivos Brasileiros de Medicina Naval


com todos os técnicos de boa vontade, civis ou militares, nacionais ou es-
trangeiros, que, pelo valor dos artigos e dos trabalhos que lhe forem envia-
dos, tiverem os mesmos ideais. E embora sempre à mercê das circunstâncias
o esforço construtivo desta revista continuará com os mesmos intuitos e
propósitos da mentalidade moderna do Corpo de Saúde da Armada.

Surgem, porisso, os Arquivos Brasileiros de Medicina Naval, por en-


quanto iniciando os primeiros passos com um material relativamente dimi-
nuto. mas apresentando os frutos de uma nova era de esperanças e de especta-
tiva. inaugurada pela obra ingente do Vice-Almirante Henrique Aristides
Guilhem, digníssimo Ministro da Marinha, que tem sido, não só o executor
das aspirações mais vivas do poder naval do país, como o infatigável titular
que mais desvelado carinho já
proporcionou aos problemas sanitários e
hospitalares da Marinha de Guerra Brasileira, incentivando a fé ardente
de inúmeros oficiais que, na esfera de suas atribuições e no cumprimento
de seusdeveres, outra coisa não aspiram senão o engrandecimento máximo
"
do BRASIL.

Congratulamo-nos com os médicos do Brasil, especialmente com a Diretoria


de Saúde Naval, pelo aparecimento de tão útil e notável publicação.

PROSATORI BRASILIANI — Scelta di

Novelle e Racconti — Academia Brasileira de


Letras — Traduzione di Maria —
Quarello
Ismaele Barulli & Figlio, Editori in Osimo,

1939.

Eiegante e nítido volume de 265 páginas, com um do ilustre aca-


prefácio
dêmico Cláudio de Souza, esse livro, o conhecimento dos italianos
para quanto
BIBLIOGRAFIA 1057

ao valor intelectual dos nossos escritores, através de trechos cuidadosamente

escolhidos, é sem dúvida precioso.

Cláudio de Souza, Mário de Alencar, Júlia Lopes de Almeida, Graça Aranha,

Affonso Aririos, Machado de Assis, Antônio Austregésilo, Carlos Magalhães

de Azeredo, Aluísio Azevedo, Paulo Barreto, Gustavo Barroso, Olavo Bilac,

Humberto de Campos, Vicente de Carvalho, Conde Affonso Celso, Viriato

Corrêa, Ribeiro Couto, Euclides da Cunha, Armando Erse (João Luso), Luiz

Guimarães Filho, Múcio Leão, Levy Carneiro, Alceu Amoroso Lima (Tristão
de Atayde), Barbosa Lima Sobrinho, Alcides Maia, Alcântara Machado, Xavier

Marques, Medeiros e Albuquerque, Coelho Netto, Alberto de Oliveira, Osvaldo

Orico, Rodrigo Otávio, Roquette Pinto, Garcia Redondo, João Ribeiro, Paulo

Setúbal, Aldemar Tavares e Celso Vieira têm excerptos das inúmeras e brilhan-

tes páginas que produziram estampadas neste belo livro-índice de talento e cultura

brasileira, ora em circulação entre os que lêm o italiano.

ESTUDOS SÔBRE O TRATAMENTO DE

ÁGUA POR COAGULAÇAO — Eros Oros-

co, E. Frias Rochas e E. Goulart de Andrade

(Do Instituto Nacional de Tecnologia) — Se-

parata da Revista Municipal de Engenharia


— Rio de 1939.
Janeiro,

Excelentemente impresso e redigido, recebemos, com sumo prazer, um exem-

plar dêsse trabalho, tão importante e útil, à altura do natural interesse sôbre
o assunto entre os nossos técnicos. Aos distintos autores de tão bem traçada
memória apresentamos as nossas felicitações.

DO ANCORADOURO AO PORTO (Notas


sôbre a evolução do pôrto do Recife) — Re-

cife, 1939-1940.

Edição do Serviço de Estatística e Pesquisas, da Diretoria de Docas e


Obras do Pôrto da capital pernambucana, comemorativa da Exposição Nacional
"dedicado
do Estado, é interessantíssimo êste opúsculo, a todos aqueles con-
que
correm com o seu trabalho para o funcionamento e do do
progresso pôrto
"
Recife.

Ilustrado com arte, redigido com esmero, rico de dados históricos, o folheto
se apresenta realmente digno do maior aprêço. Compondo-se de vários capítulos,
sob os títulos Primeiros Anos, O Holandês, o Português e o Ancoradouro,
Século XIX, Os Antecedentes do Novo Pôrto e o Atual, ilustram êsses capítu-
los preciosas estampas: Ancoradouro do Recife do século XVI e século
(fins
1058 revista marítima brasileira

XVII — Barleus) Plano de Andreas Longesalthensis, século XVII (da cole-


;

do Instituto Arqueológico de Pernambuco) ; Plan de Pernambouc a la


ção
Coste de Brcsil coleção do Instituto Arqueológico) ; reprodução de uma
(da

cópia da carta de Gerritsz; naves holandesas fundeadas em frente ao Recife;

Olinda de Pernambuco; Barca de excavação em trabalho no rio Capibaribe, sécu-

lo XIX; ancoradouro do Mosqueiro; Recife, século XIX; veleiros ancorados

à do Recife; Arranjo, em uma página, de retalhos de jornais antigos


junto ponte
sôbre o movimento do pôrto; Planta junto à Memória de Io de Junho de 1874;
"Mala
um retrato do ilustre Engenheiro Alfredo Lisboa; antiga Alfândega; um

Real" fundeado no Lamarão; aspecto do pôrto em 1939, etc.

Pelo exposto o leitor avaliar o valor do trabalho, Do Ancoradouro


pode

ao Pôrto.

VIDA PASSADA... Notas biográficas —

Célio Meira — Volume I — Imprensa Oficial

— Recife, 1939.

Célio Meira, brilhante escritor patrício, da Academia Pernambucana de

Letras, do Instituto Arqueológico, Geográfico e Histórico Pernambucano e dos

Institutos Históricos de Alagoas e do Pará, resolveu reunir, em volumes suces-


" na Folha da Manhã
sivos, as notas biográficas" de sua autoria, publicadas

do Recife, edição das 16 horas, desde 14 de Julho de 1938.

No volume, que acaba de aparecer, reúne êle as notas publicadas,


primeiro

com o Lio, no de Janeiro a Junho de 1939. O texto deste


pseudônimo período

volume é de 300 e o número de biografados é considerável


primeiro páginas
— 165 brilhantes figuras de todos os Estados do Brasil, entre as quais o Almi-

rante Jaceguai e Adolfo Caminha.

Pelo da obra, vê-se não é exhaustiva, mas leve, cintilante, a


plano que

largos traços. E' uma sucessão de instantâneos felizes, uma série de figuras

extintas se não apagaram da memória dos homens e são relembradas com


que

tanta arte, com tão cuidado e reverência pelo festejado escritor Célio
piedoso
Meira.

DESENVOLVIMENTO DA COLABORA-

INTERNACIONAL D O CAMPO
ÇAO
E SOCIAL — Sociedade das
ECONÔMICO

Nações — Relatório da Comissão de Estudo


"
— Suplemento especial do Resume des Tra-

vaux de la Société des Nations" — Genebra.

Acusamos e agradecemos o recebimento desta importante publicação, cujo

sumário: Introdução — Necessidade


substancioso texto é indicado por êste
BIBLIOGRAFIA 1059

dc cooperação internacional em matéria econômica e social — As atividades

econômicas e sociais da Sociedade das Nações — Necessidade de desenvolvi-

mento e expansão — Propostas da Comissão: Projeto de constituição da Comis-

são Ceiural das Questões Econômicas e Sociais.

GARCIA D'ÁVILA — Comédia Histórica —

Costafilho — Impressora di Pauli Ltda. —

Rio de Janeiro, 1940.

Êste brilhante intelectual patrício, membro distinto das Academias de Letras

de Sergipe, Alagoas, Amazonas e Niterói, acaba de tirar a lume a comédia

histórica Garcia d'Ávila, a qual tem por ação o Rio de Janeiro e Baía e época

os anos de 1825 e 1826.

A é uma breve revista histórica. O autor, professor catedrático de


peça
História do Brasil, esforçou-se quanto possível, como adverte em nota-prefácio,

por imprimir cunho verídico aos factos teatralizados. As ficções e as fantasias

são poucas, as indispensáveis ao gênero mais ou menos ingrato da comédia

histórica.

São personagens da peça: Visconde da Torre de Garcia d'Avila, Visconde

de Pirajá, Barão de Jaguaripe (cujos retratos, reprodução de telas antigas que


"Casa
ornavam os salões pomposos da da Tôrre", se podem apreciar em anexos

ao folheto), Dom Pedro I, Dona Leopoldina, Alferes Ladislau dos Santos

Titara, Quincas Onça, etc.

O talento e a proficiência de Costafilho são bastantes para se considerar a

comédia histórica elaborada como extremamente agradável de ser lida (o que

já sentimos com prazer), em condições de perfeito sucesso toda a vez que a

montem devidamente e bons artistas a representem.

DETERMINAÇÃO DA BORDA LIVRE

DOS NAVIOS MERCANTES — 2 volumes

texto; 2°, anexos) — Capitão de Corveta


(1°,
Engenheiro Naval Luciano Álvares de Azevedo
— Imprensa Naval — Rio de 1938.
Janeiro,

Agora distribuído, recebemos um exemplar dêsse excelente trabalho, de

todo em todo útil, elaborado pelo distinto Engenheiro Naval, Capitão de Cor-
"Regulamento
veta, Luciano Álvares de Azevedo. Baseado no para a determi-

naçãc da linha de carga máxima dos navios mercantes", aprovado Con-


pela
venção Internacional para a salvaguarda da vida humana no mar, reunida cm

5 de Julho de 1930, em Londres, esta obra é daquelas se fazem indispeu-


que
sáveis às estantes dos oficiais de marinha.
1060 revista marítima brasileira

GUAYAQUIL — Monografia Sintética —

Nova edição revista e dirigida por Eugênio

Garcia G., Diretor Municipal de Estatística


— Guayaquil, 1939.

Caprichosamente ilustrado e cuidadosamente escrito, dá-nos êste livro magní-

fica impressão da adiantada cidade de Guayaquil, com os seus panoramas, o

seu belos edifícios, monumentos, ruas, avenidas, etc., todo o conjunto de


porto,
evidentes do progresso e civilização do importante centro sul-americano.
provas

A Monografia Sintética de Guayaquil, publicação do Conselho Municipal,

se acha redigida em espanhol e inglês. E' um prazer ler as suas páginas e ver

as suas estampas. Coube ao Dr. Alfonso L. Tous a versão para o inglês.

A GÊNESE DO ESPIRITO REPUBU-

CANO EM PERNAMBUCO E A REVO-

LUÇÂO DE 1817 — Contribuição ao Estudo

da História da República — Tese con-


para

curso — Amaro Soares — Imprensa


Quintas
Industrial — Recife, 1939.

Êste é um livro que versa matéria de envergadura. O seu autor, cujo

mérito é tão conhecido no Estado de Pernambuco, oferece aos estudiosos e ao

público em geral uma obra que deve ser lida com o maior interesse, alcançando

de todos, certamente, os maiores aplausos.

Amaro Quintas estuda o Brasil e a descentralização, a reação centraliza-

dor?, do Império, o espírito nativista e republicano em Pernambuco, a revolução

de 1817, o sentido da revolução, os condutores do movimento, a participação

popular, causas da derrocada. Em seguida, vêm as conclusões, em algumas

páginas sucintas.

TAMANDARÉ heróico) — Ma-


(Poema J.

chado de Faria — Pongetti — Rio de Ja-


neiro, 1939.

Eis aí um poema, em várias páginas artisticamente impressas, com a efígie

do egrégio Almirante Tamandaré estampada na capa, conforme ao belo desenho

de C. M. Garrido.

O grande Nelson brasileiro teve no talentoso e inspirado cantor patrício


mais um dos seus entusiásticos celebradores, a tecer versos heróicos, consa-

grados à sua imperecível memória.

Parabéns ao jovem poeta pela harmonia e ritmo do seu poema.


BIBLIOGRAFIA 1061
I

Continuamos a receber, com toda a regularidade, as seguintes publicações,

contendo matéria, em geral, excelentemnte tratada:

Revista — Ano III — N. 20 —


do Instituto de Engenharia Mnlitar

Março, 1940.

Revista Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul


do Instituto

Ano XX — Io Trimestre — 1940.

— — — Vol. 2 — 4" Irimestie de


Boletim Municipal Ano I N. 3

— Diretoria Geral do Expediente da Prefeitura Municipal


1939 Publicado pela

de Pôrto Alegre, Rio Grande do Sul.

— Ano III — N. 9
Revista da Academia Paulista de Letras

Março, 1940.

Paraná — XXXI — Fase. 2 — Fevereiro, 1940


Judiciário Vol.

Curitiba.

Revista — N. 1 — Ano IV — 1940.


Naval

Boletim Naval — Ano XX — Io Trimestre de 1940.


do Club

— Ano I — N. 5 — Março, 1940.


Ajuri

Memorial — Ano XXXIII — N. 166 —


dei Ejercito de Chile Janeiro-

Fevereiro, 1940.

Brújula — V — N. 55 — Buenos Aires.


Ano

Nação — Ano XVIII — N. 199 — Rio de


Brasileira Janeiro.

Revista Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de


da Câmara
— — N. 1 — 1940.
Janeiro Ano XXVIII Janeiro,

de Letras — Vol. 58 — Anais de


Revista da Academia Brasileira

1939 — a Dezembro.
Julho

— Naval — Ano V — Ns. 56 e 57 — 1940 — Havana


Cultura Militar y
Cuba.

Revista — Ano I — 1940


de Ciências Econômicas Janeiro-Fevereiro,

¦— S. Paulo.

de Aeronáutica Civil —
Boletim do Departamento Julho-Setembro,

— Ano II — N. 3 — Rio de Janeiro. \


1939

Revista de Geografia — Ano II — N. 1 — 1940.


Brasileira Janeiro,

Marinha — Periódico da Liga Naval Brasileira (Delegação de Per-

nambuco) — Ano II — N. 7.

Revista Engenharia — Ano XIX — Tômo 37 — N. 1


Brasileira de

Janeiro, 1940 — Rio de Janeiro.

D. C.
NOTICIÁRIO

BRASIL

ALMIRANTE ALEXANDRINO FARIA DE ALENCAR

A inauguração do seu mausoléu no Cemitério de São João Batista

Com número de assistentes realizou-se no Cemitério


grande
de São Batista, na manhã de 18 de Abril do corrente ano, a
João
inauguração do mausoléu do saudoso Almirante Alexandrino de

Alencar.

Estiveram às solenidades o representante do chefe


presentes
do comandante Otávio Medeiros, ministros Aristides
governo,
Guilhem, Oswaldo Aranha, Fernando Costa e Mendonça Lima;

capitão Alceu Linhares, representando o ministro Gaspar Dutra,

capitão Isolino Dutra, representante do prefeito Henrique Dods-

worth, almirantes Castro Silva, chefe do Estado Maior da Ar-

mada, Anfilóquio Reis, Brito Cunha, Américo Vieira de Melo,

Raimundo Braga de Mendonça e Tosta da Silva, general


Joaquim
Fernandes Dantas, ministros do Supremo Tribunal Federal e do

Supremo Tribunal Militar, dr. Gabriel Passos, procurador geral

da República, oficiais do Exército e da Armada.

Ladeando o mausoléu formou uma turma de Guardas-Mari-

nha, fazendo-se ouvir durante a ceremônia a banda de música do

Corpo de Fuzileiros Navais.

Iniciando a solenidade, falou o almirante Castro Silva, fa-

zendo um histórico da atuação do almirante Alexandrino na Ar-

mada e de suas realizações à frente da pasta da Marinha.

Em seguida falou o comandante Carlos Silveira Carneiro,

em nome da comissão a construção do mausoléu.


que promoveu

Por último, falou o ministro Armando de Alencar, filho do

almirante Alexandrnio, agradecendo a homenagem em nome de

sua família.

Em nosso número, daremos uma nota detalhada sobre


próximo
a cerimônia.
1064 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O SR. ALMIRANTE ARISTIDES GUILHEM, SÓCIO HONO-


RÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO PARANAENSE

A homenagem prestada a Sua Ex. e a entrega do diploma de sócio


"Instituto Histórico Paranaense",
Uma delegação do chefiada
pelo Sr. Dr. Paulo Tacla, secretariada pelo Dr. Antônio de Paula
Filho e fazendo parte dela os Drs. Armando Alves Borges, Jaime
Nasser, Vital da Fontoura, Raul Bandeira de Melo, Odilon Coim-
bra, Júlio de Oliveira Esteves e Humberto Grande, no dia 6 de
Abril deste ano, prestou uma significativa homenagem ao Sr. Al-
mirante Henrique Aristides Guilhem, Ministro da Marinha, fa-
zendo-lhe entrega do diploma de Sócio Honorário daquele Insti-
tuto, pelo apoio dado por S. Ex. ao movimento nacional que tem
por objetivo o próximo levantamento de uma grande estátua do-
índio Guairacá, sobre uma rocha nas proximidades da praia do
Flamengo.
A cerimônia realizou-se no gabinete do titular da pasta da
Marinha.

A BÊNÇÃO DAS ESPADAS DOS GUARDAS-MARINHA DA


TURMA DE 1939

Na igreja da Candelária teve lugar, no dia 30 de Março do


corrente ano, a linda cerimônia da bênção das espadas dos Guar-
das-Marinha da turma de 1939.
Oficiou o ato religioso D. Benedito Alves de Souza, bispo de
Oriza, o qual foi acolitado pelo padre Leonardo Carescia. No coro
tocou a orquestra da igreja, acompanhando os cânticos sagrados
sob a regência do maestro Galli.
A numerosa assistência se compunha das altas autoridades
civis e militares, do reitor da Universidade do Rio de Janeiro e
de numerosas famílias, tendo ficado repleto o templo.
Momentos antes, Monsenhor Henrique de Magalhães pro-
feriu uma predica, enaltecendo o significado do ato e terminou pe-
dindo as bênçãos de Deus para os jovens Guardas-Marinha e para
a Nação Brasileira.
A seguir, o bispo D. Benedito de Souza benzeu as espadas dos
jovens oficiais que, em número de sessenta e sete, acompanhados
de seus padrinhos, se alinhavam diante do altar-mór.
O Sr. Almirante Aristides Guilhem, Ministro da Marinha,
fez-se representar pelo seu Oficial de Gabinete, Capitão-Tenente
Eurico Peniche, tendo também comparecido ao ato o Sr. Capitão
de Mar e Guerra Paulo da Rocha Fragoso, Diretor interino da
Escola Naval.
NOTICIÁRIO 1065

à noite, realizou-se no Clube Naval um baile de gala em ho-

menagem aos novos Guardas-Marinha e ao mesmo tempo,


que,
foi de despedida terem os mesmos de partir um cruzeiro
por para
"Almirante
de instrução a bordo do Saldanha".

CONTRA-ALMIRANTE

ARMANDO FIGUEIRA TROMPOSKY DE ALMEIDA

"Boletim
Conforme foi no do Ministério da Ma-
publicado
rinha" n. 9, de 29-2-1940, o Sr. Presidente da República resolveu

merecimento, no Corpo de Aviação da Marinha,


promover, por
ao de Contra-Almirante, o Capitão de Mar e Guerra, Avia-
pôsto
dor Naval, Armando Figueira Tromposky de Almeida.

CONTRA-ALMIRANTE

RAUL FERREIRA DE VIANA BANDEIRA

"Boletim
Conforme fez o do Ministério da Marinha"
público
n. 8 de 22-2-1940, o Sr. Presidente da República, por Decreto

n. 211-B, de 9-2-1940, resolveu merecimento, no


promover, por

Corpo de Aviação da Marinha, ao de Contra-Almirante, o


pôsto

Capitão de Mar e Guerra, Aviador Naval, Raul Ferreira de Viana

Bandeira.

Pelo Decreto n. 239-P, de 16 do mesmo mês e ano, foi êsse

oficial transferido a Reserva Remunerada, contando


general para
38 9 meses e dias de serviços à Armada Nacional.
anos, prestados

ESCOLA NAVAL

A do novo diretor
posse

Assumiu, no dia 30 de Março, às 13 horas, na séde da Escola

Naval, em Villegagnon, o cargo de Diretor dêsse Estabelecimento

de Ensino, o Contra-Almirante Alberto Lemos Basto, que exercia

o cargo de do Tribunal de Segurança.


Juiz

Êsse ato se revestiu de simplicidade e realizou-se no salão

de honra da referida Escola.

crescido número de oficiais, inclusive a turma


Estava presente
de momentos antes havia recebido a bênção
Guardas-Marinha que
às espadas.
1066 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Representou o Sr. Ministro cia Marinha nessa cerimônia o

Capitão de Fragata Francisco Gonçalves, tendo-se tam-


Jorônimo
bém feito representar vários chefes de Serviço da Armada.

Terminada a o Almirante Lemos Basto fez ler a sua


posse,
oração inicial, referindo-se às novas atribuições que lhe foram

confiadas.

Todo o corpo de alunos desfilou, depois, no da


grande páteo
Escola em continência ao seu novo Diretor, apresentando-se os

aspirantes com todo o e luzimento durante a marcha efe-


garbo
tuada.

CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

A sua anual festa esportiva

"Comandante
Na de esportes Santa Cruz", no dia 4 de
praça
Abril, manhã, o Corpo de Fuzileiros Navais realizou a sua
pela
anual festa esportiva, instituída na do Comandante Mil-
gestão
cíades Portela.

Presente número de jornalistas, os quais sempre com-


grande

parecem às solenidades do Corpo, o comandante Milcíades, de-

de ter sido feito o do soldado esportivo, lido


pois juramento pelo
comandante Arthur Seabra, um belo discurso alusivo ao
proferiu
ato, não esquecendo de reservar para a imprensa palavras de ex-

cepcional carinho.

Em nome dos agradeceu o presidente da Asso-


jornalistas,
ciação de Cronistas Desportivos, fez do de honra
que parte júri
"Taça
que escolheu o vencedor da Estímulo".

Após o a e o desfile, teve início o Torneio


juramento, parada
Inítium.

A exemplo do acontece todos os anos, o comandante Mil-


que
cíades Alves colocou vários oficiais à disposição dos jornalistas
"lunch".
tendo ainda, oforecido à imprensa um lauto
presentes,
Na maior disciplina se idealizar, sem quebra de
que possa
camaradagem e cordialidade, desenvolveram-se as primeiras pro-
vas do Torneio esportivo dêste ano.

A TURMA DE ASPIRANTES DE 1900

Comemoração do 40" aniversário

Comemorando a passagem do 40" aniversário do seu ingresso

na Escola Naval, a turma de Aspirantes a Guardas-Marinha do


NOTICIÁRIO 1067

ano de 1900 resolveu, em recordação a êsse longo período de ser-

viços à Marinha de Guerra Nacional, mandar resar


prestados
uma missa na Igreja da Candelária, às 9 horas do dia 12 de Abril,

e após essa cerimônia religiosa reunir-se no Clube Naval para


um almoço de camaradagem. Falaram por essa ocasião o chefe

da turma Comte. Mário de Albuquerque Lima e o Comte. Pedro

Tiago de Figueiredo.

Essa turma se compunha de 89 alunos e hoje só existem 50

remanescentes, dos uns estão no serviço ativo e outros na


quais,
reserva, reformados, na vida civil e no Exército; os restantes

39 faleceram.

Em seu início, ela se compunha de 86 aspirantes, porém,


um ano depois, recebeu, por transferência da Escola Militar, os

Cadetes Francisco Pinheiro Chagas e Antônio Sabino Cantuária

Guimarães; no ano seguinte, o Cadete Luiz Alves de Oli-

veira Belo.

E' justo salientar que grande foi o número desses oficiais

que relevantes serviços à Marinha, a bordo dos


prestaram quer
navios, como em várias outras comissões. Alguns salientaram-se

também no desempenho de cargos da administração civil.

São os seguintes os Aspirantes de Marinha de 1900:

Francisco Pais de Oliveira, Álvaro Dias de Aguiar, Mário

de Noronha, Mário Pereira da Silva Torres, Adalberto Rechstei-

ner, Henrique Carneiro de Barros Azevedo, Manuel Augusto de

Vasconcelos, João Pipoli Roseli, Eugênio da Rosa Ribeiro, Adal-

berto Menezes de Oliveira, Mário de Albuquerque Lima, Antô-

nio Barbosa Moreira Martins, Mário Diniz de Araújo, Oscar Luis

Viana, Raul de Taunay, Antonio Lavoisier Escobar, Aurélio de

Azevedo Falcão, Felipe Lamenha do Rego Barros, Anibal Dantas

Leite de Oliva, Eleazar Tavares, Manuel Pinto Bravo, Jorge


Dodsworth Martins, Oscar Machado de Castro e Silva, Antônio

Damasio, Edgar Xavier de Matos, Esculapio César de


Joaquim
Paiva, Regis Bittencourt, Anibal Erico de Sales, Manuel
Júlio
Teixeira de Freitas, João Vicente Dias Vieira, Antônio Peixoto

Simões, Alberto Pereira de Lucena, Nizan Mariani Guerreiro,

Carlos da Rocha Rodrigues Torres, Alfredo Carlos Soares Dutra,

Euclicles Francisco de Sousa, Artur de Andrade Leite, Gontran

Luis Teixeira, Luis Teixeira de Carvalho, Sebastião Luis de

Abreu Lobo, Caetano Taylor da Fonseca Costa, Honorio Augusto

Ribeiro, Adolfo Meurer Júnior, da Maia Monteiro, Mar-


Joaquim
cos Autran de Alencastro Graça, Aristóteles Ferrão Gomes Ca-
laça, Aureliano de Almeida Magalhães, Oscar de Frias Coutinho,

José Custodio Campos da Paz, João Francisco Velho Sobrinho,

Emilio de Saldanha Marinho, Armando Braga, Gustavo Goulart,


Alcebiades Mendes Nogueira, Afonso de Araújo Gonçalves, Ro-
1068 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

berto Batista Pereira, Rodrigo Navarro de Andrade Júnior, Joa-


de Castro Nunes Leal, Pedro Tiago de Figueiredo, Benia-
quim
mim de Arruda Camara, César Augusto Machado da Fonseca,

Luis Augusto Pereira das Neves, Olavo Machado, Raul Borges

Guimarães, Astrogildo de Morais Goulart, Talma Freire de Car-

valho, De Lainare São Paulo, João Coelho de Sousa, Au-


João
Barreto, Artur de Melo Braga de Mendonça, Afonso de
gusto
Oliveira Machado, Herminio Ferreira Saturnino Braga, Jacques
Fornm Schutel, Antônio Pinto, Joaquim Olinto Bastos, Antônio

Augusto Schorcht, João Chaves de Figueiredo, Rodolfo de Sousa

Burmester, Artur Carlos de Abreu, Eurico César da Silva, Valde-

mar da Cunha e Sousa, Roberto da Gama e Silva, Artur Fernan-

des do Couto, Feliciano Lamenha do Rego Barros, Leoncio

Frazão, Randolfo Marques de Carvalho Oliveira, Francisco Pi-

nheiro Chagas, Antônio Sabino Cantuaria Guimarães e Luis Alves

de Oliveira Belo.

CON FRATERNIZAÇÃO BOLIVIANO-BRASILFIRA

Condecorados dois oficiais da nossa Armada

No dia 15 do corrente, realizou-se na cidade boliviana de


"Grande
Porto Soares a solenidade da entrega das insígnias da

Ordem do Condor dos Andes", com foram agraciados pelo


que

da Bolívia, ao comandante naval do Estado de Mato


governo
Grosso, Capitão de Mar e Guerra Afonso P. de Camargo, e ao

Comandante Dias Fernandes.

Essa expressiva demonstração de cordialidade brasileiro-boli-

viana foi General Angel R. Revollo, tendo compa-


presidida pelo
recido a oficialidade da 5.a Divisão Militar da Bolívia e autori-

dades locais.

A festividade constou de uma militar com o desfile


parada
das tropas da 5.a Divisão Militar ali sediada, seguindo-se a entre-

das condecorações. Nessa ocasião usou da palavra o general


ga
do Exército boliviano Angel Revollo, comandante da Região Mi-

litar da Bolívia, numa brilhante alocução, dirigindo-se aos


que,
Comandantes Afonso P. de Camargo e Augusto R. Dias Fer-

nandes, disse tinha recebido do Grão Mestre da Ordem do


que,
"Ccndor
dos Andes", General D. Carlos Quintanillas, presidente
da República da Bolívia, a honrosa e grata incumbên-
provisório
cia de condecorar os ilustres oficiais da Marinha de Guerra

brasileira.

Assim, também cumpria o encargo especial tinha da


que
do General Chefe do Estado Maior do Exército boliviano,
parte
D. Antenor Ichazo, de apresentar, em nome dessa alta repar-

tição do Exército a as felicitações aos homenagea-


que pertence,
NOTICIÁRIO 1069

-do?, tão merecida distinção. Acrescentou o seu


por que governo,

aprecia em seu valor os méritos de amigos,


seus
pra-
que justo
"Ordem
ticor. um ato de ao conferir a condecoração da
justiça
do Condor de los Andes", no alto Grau de Comendador, ao

Comandante Afonso P. de Camargo e de oficial da mesma Ordem,

ao Capitão Augusto R. Dias Fernandes.

Nunca como hoje, dise o orador, foi mais intenso o afeto dos

nosso; Os bolivianos vêem o Brasil como o irmão pre-


povos.
dileto, seguindo a tradição de honra que êste grande país reflete

em sua conduta internacional.


"E —
ao falar nas relações dos nossos povos continuou o

orador — não deixar de mencionar a obra


poderei grandiosa que
vem construindo ao largo das nossas fronteiras, os ilustres Presi-

deni.es Vargas e amalgamando o espírito brasileiro-


Quintanillas,
boliviano, enlaçando os afetos nacionais e fazendo os corações

de ambos os povos um todo que nada poderá destruir."


"Ao
Concluindo disse: colocar sôbre vossos as me-
peitos
dalhas levam o augusto Condor Andino, símbolo de
que grandeza
€ dos ideais da minha pátria, abrigo a certeza de estas
que jóias
auscultarão, permanentemente, as palpitações de vossos corações,

em seu nobre e grande afeto Bolívia dêsse modo, teste-


pela que,
munha sua gratidão pelos vossos serviços."

Em seguida, usou da o Comandante Afonso P. de


palavra
Camargo, que agradeceu, em seu nome e no do seu colega, a dis-

tinção acabavam de receber do do amigo.


que govêrno país

PRÊMIO EINSTEIN DE 1939


f

Capitão de Fragata Álvaro Alberto da Motta e Silva

Temos a satisfação de divulgar os ofícios, que em seguida

reproduzimos, trocados entre o Sr. Presidente da Academia Bra-

sileira de Ciências e o Sr. Almirante Ministro da Marinha, rela-

tivamente ao Prêmio Einstein de 1939, conferido ao ilustre oficial

da nossa Marinha, Capitão de Fragata Álvaro Alberto da Mocta

e Silva:

"Rio
de Janeiro, 29 de Dezembro de 1939.

Senhor Ministro

Tenho a honra de comunicar a V. Ex. a Academia


que

Brasileira de Ciências, em sua sessão ordinária de 26 do

corrente, solenemente fez entrega, ao Sr. Capitão de Fragata

Álvaro Alberto da Motta e Silva, do diploma qual foi


pelo
1070 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

conferido ao mesmo Senhor o Prêmio Einstein de 1939, atri-


buido à monografia, de sua autoria, intitulada Sobre um pro-
blema de Físico-Química aplicada, de acordo com a resolução
unânime tomada pela mesma Academia, em sessão ordinária
de 28 de Novembro p.p., à vista do parecer unânime da
comissão especial eleita nos termos do regulamento do refe-
rido prêmio.
Em meu nome e no da Academia, congratúlo-me com
V. Ex. e com a nossa Marinha de Guerra, pelo justo galar-
dão conferido ao ilustre oficial, cujo nome é justamente
considerado entre os dos mais acatados sábios de sua espe-
cialidade.
Aproveito o ensejo para reiterar a V. Ex. os protestos-
de minha mais elevada estima e distinta consideração.

(a) Ignacio M. Azevedo do Amaral


Presidente da Acadameia Brasileira de Ciências.

A Sua Excelência o Senhor Vice-Almirante


Henrique Aristides Guilhem
Ministro e Secretário de Estado dos
Negócios da Marinha."

O Sr. Ministro respondeu nos seguintes termos:


"Ministério da Marinha.

Rio de Janeiro, em 5 de Janeiro de 1940.


Exmo. Sr. Cte. Inácio M. Azevedo do Amaral
D.D. Presidente da Academia Brasileira de Ciências-
Cordiais saudações.
Tenho a satisfação de acusar o recebimento da atenciosa
comunicação da Academia Brasileira de Ciências, relativa à
"Prêmio Einstein" de 1939 ao Capitão
entrega do diploma do
de Fragata Álvaro Alberto da Motta e Silva, que lhe foi
conferido pela sua monografia Sobre um problema de Físico-
Qímica aplicada, por resolução unânime da mesma Academia,,
na sessão ordinária de 28 de Novembro de 1939.
Agradecendo a gentileza da comunicação, que muito des-
vaneceu a Marinha de Guerra, sirvo-me do ensejo para ex-
pressar-lhe meu sentimento de grande estima e consideração,

(a) Henrique Aristides Guilhem."


NOTICIÁRIO 1071

O COMANDANTE DÍDIO I. A. DA COSTA NO


INSTITUTO PORTUGUÊS DE ARQUEOLOGIA,
HISTÓRIA E ETNOGRAFIA

O Instituto Português de Arqueologia, História e Etnogra-


fia, com sede em Lisboa, sob a presidência do Prof. Dr. Manuel
Heleno, acaba de eleger, por unanimidade, seu sócio correspon-
dente, o Comandante Dídio I. A. da Costa, Chefe da Quarta
Divisão do Estado Maior da Armada.

INSTITUTO DO CEARA

Para o biênio de 1940-1942, foi eleita a seguinte Diretoria


deste importante centro nacional de cultura:

Presidente — Dr. Tomaz Pompeu Sobrinho (reeleito).


Io Vice-Presidente — Dezembargador Álvaro Gurgel de Alen-
car (reeleito).
2° Vice-Presidente — Dezembargador Abner Carneiro Leão
de Vasconcelos (reeleito).
1" Secretário — Bacharel Hugo Vítor Guimarães e Silva
(reeleito).
2" Secretário — Padre Dr. Misael Gomes da Silva.
3o Secretário — Professor Antônio Martins de Aguiar e Silva
(reeleito).
Tesoureiro — Dr. Manuel Antônio de Andrade Furtado
(reeleito). )
Io Orador — Dr. Djacir de Lima Meneses (reeleito).
2o Orador — Dr. José Valdo Ribeiro Ramos (reeleito).
Bibliotecária — Professora Maria Rodrigues (Alba Valdez)
(reeleita).

ATOS ADMINISTRATIVOS

Serviço militar dos estrangeiros — O Decreto-lei n. 1801,


de 23 de Novembro de 1939, dispõe sobre a quitação com o ser-
viço militar dos estrangeiros, de que trata o § 2° do art. 40 da
Decreto-lei n. 1202, de 8-4-1939. B. 8/940..

Registo de crédito — O Decreto-lei n. 1.988, de 29 de Janeiro


de 1940, dispõe sobre a distribuição e redistribuição de créditos
para pagamento de vencimentos, funções gratificadas e ajudas
1072 revista marítima brasileira

de custo ao militar da Marinha de Guerra e dá outras


pessoal
B. 8/940.
providências.

Distrito Federal — O Decreto-lei n. 2.035, de 27


Justiça do

de Fevereiro de 1940, dispõe sôbre a organização da Justiça do


"Diário
Distrito Federal. Oficial" de 28 e 29 de Fevereiro

de 1940. B. 10/940.

na Escola de Marinha Mercante — O Aviso nú-


Matrícula

mero 324, de 7 de Março de 1940, estabelece o número de ma-

triculas na Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro.

B. 11/940.

admissão à Escola de Marinha Mercante — O


Exames de

Aviso n. 325, de 7 de Março de 1940, baixa as Instruções para

serem observadas nos exames de admissão à Escola


próximos
de Marinha Mercante do Rio de B. 11/940.
Janeiro.

Publicações nos órgãos oficiais — O Decreto-lei n. 2.061,

de 6 de Março de 1940, altera o artigo Io do Decreto-lei n. 1.705,

de 27 de Outubro de 1939, dispõe sôbre as nos


que publicações
órgãos oficiais e dá outras B. 12/940.
providências.

Pagamento de — O Decreto-lei n. 2.065, de 7 de


pensões
Março de 1940, dispõe sôbre o de concedidas
pagamento pensões
Decreto-lei n. 1.544, de 25 de Agosto de 1939 e dá outras
pelo

providências. B. 12/940.

Brasileira — O Decreto-lei n. 2.072, de 8 de


Juventude
Março de 1940, cria a instituição nacional denominada Juventude
Brasileira e dá outras B. 12/940.
providências.

da Marinha — O Decreto-lei n. 2.078,


Oficiais Auxiliares

de 8 de Março de 1940, modifica disposições referentes ao Quadro


de Oficiais Auxiliares da Marinha. B. 12/940.

do Rio de — O Aviso
Escola de Marinha Mercante Janeiro

n. 320, de 7 de Março de 1940, aprova o Regimento Interno para

a Escola de Marinha Mercante do Rio de B. 12/940.


Janeiro.

Inspeção de saúde candidatos à Escola de Marinha


para
— O Aviso n. 336, de 15 de Março de 1940, aprova e
Mercante

manda executar as Instruções inspeção de saúde na admis-


para

são à Escola de Marinha Mercante do Rio de B. 12/940.


Janeiro.
NOTICIÁRIO 1073

ARGENTINA

O POTENCIAL NAVAL ARGENTINO

Sóbre o discurso Presidente Ortiz, em Mar


pronunciado pelo
Del Plata, a 26 de Fevereiro do corrente ano, por ocasião do

banquete que lhe foi oferecido Ministro da Marinha, Sr.


pelo
Almiiante Leon Scasso, a agência Havas, em despacho telegrá-

fico da mesma data, divulgou o se segue:


que

"Comunicam
de Mar Del Plata se revestiu de grande
que
brilhantismo o banquete o Ministro da Marinha, Vice-Almi-
que
rante Leon Scasso, ofereceu ao Presidente Ortiz e altas autori-

dades navais, motivo do encerramento da revista naval levada


por
a efeito no pôrto local.

No discurso que pronunciou o Presidente da República de-

clarou que a potência naval argentina corresponde à vontade

nacional e à tendência histórica da Nação.


"O
mundo vem sendo agitado e a
por graves problemas
Argentina tem necessidade de se fazer respeitar — disse o Pre-
"A
sidente Ortiz acrescentou: nossa soberania territorial e
que
marítima, o nosso livre comércio e a nossa idéia de solidariedade

americana de defesa e de cooperação nos levaram à conferência

do Panamá, onde as repúblicas do continente americano estabe-

leceram os internacionais do direito naval e a zona de


princípios
segurança foi inspirada nos mais ideais de liber-
que generosos
dade e de justiça.

Ali, os mais altos americanos foram discutidos,


princípios
não apenas no valor mas na aplicação prática, porque
jurídico,
se considera o continente com forças suficientes para proteger

a inviolabilidade dos seus mares. Não é suficiente que o direito

seja reconhecido, mas êle se imponha. Esta constatação


que
deve despertar na consciência argentina e americana muita con-

fiança nas forças do direito e no reconhecimento da sua razão.

As nossas necessidades geográficas devem nos tornar uma

naval e aérea. Necessitamos, sem demora, refor-


potência pois,
nossa esquadra e nossa frota aérea." A seguir o Sr. Ortiz
çar
"'Novas
declarou: concepções políticas e econômicas, novas reali-

dades internacionais transformam a estrutura do


presentemente
mundo, em cheque os velhos sistemas de absorção e de
pondo
conquista. É necessário estar atento ao novo estado de cousas

surgir nenhuma nação mais sejam


que para que por poderosa que
suas forças e seus interêsses venha a o mundo a seu
governar
talante."
1074 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ESTADOS-UNIDOS

"MOORE
A. ENTREGA DOS NAVIOS DA MAC CORMACK"

AO LLOYD BRASILEIRO

Informações de Washington e transmitidas


procedentes pela
agência Havas, em despacho datado de 25 de Março do corrente
ano, diziam a entrega dos 14 navios vendidos companhia
que pela
"Moore "Lloyd
norte-americana de navegação Mac Cormack" ao
Brasileiro" e estava sendo retardada, seria reiniciada na
que
cadência de dois navios mês.
prevista por

"Moore
A causa dessa demora reside no fato da Mac Cor-
mack" ter procurado modificar as condições contratuais com o
"Lloyd
Brasileiro" a fim de colocar vários navios em serviço na
linha Estados Unidos-Bergen, visando tirar maior com
proveito
o aumento dos lucros na navegação a Europa.
para

Agora a comissão marítima acaba de receber a segurança da

companhia norte-americana em de os navios serão


questão que
entregues ao Brasil, de acordo com os têrmos do contrato.

EXPERIÊNCIA DE UMA NOVA ARMA

A agência Havas, divulgando a notícia sôbre a experiência

feita com uma arma, especialista em explosivos Sr. Barlow,


pelo
transmitiu o seguinte comunicado de Washington, a
procedente
14 de Março dêste ano.

"Uma
arma secreta — bomba de ar líquido aperfeiçoada —

foi apresentada à comissão de do Senado inventor


guerra pelo
americano Lester Barlow. A demonstração verbal e fotográfica
foram tão convincentes a comissão resolveu destruir todas
que
as notas taquigráficas tomadas durante a reunião, receiando que
uma potência estrangeira ter conhecimento do segredo.
possa

O especialista em explosivos Barlow declarou sua in-


que
venção é superior às bombas de ar líquido usadas alemães
pelos
durante o bombardeio de Barcelona, em de 1937. Após
Janeiro
ter estudado no local o efeito das novas bombas chegou
próprio
à conclusão eram de emprêgo a sua explosão
que perigoso porque
era dificilmente regulável. Pesquizando sôbre a matéria consé-

guiu uni sistema detonante regulado e aumentou a


perfeitamente

potência explosiva da bomba, adicionando-lhe novas substâncias

químicas."
NOTICIÁRIO 1075

EQUADOR

PROIBINDO A ENTRADA DE SUBMARINOS

BELIGERANTES

Com referência à da entrada nos da Repú-


proibição portos
blica do Equador, de submarinos beligerantes, foi informado de

Quito, a 28 de Março, a notícia se segue, via telegráfica:


que por
"QUITO,
28 P.) — Foi um
(A. publicado decreto proibindo
a entrada de submarinos de beligerantes nos en-
paises portos,
seadas, baias ou angras das Ilhas Galapagos. O decreto, todavia,
declara exceções ser abertas, em casos de íôrça
que poderão
maior."

GRÂ-BRETANHA

ASSALTO A UM TORPEDEIRO-MOTOR

Em despacho telegráfico, de 10 de Março dêste ano, a agên-


cia Havas, informando sôbre o assalto armado verificado com
um torpedeiro-motor britânico, em Kingstown, divulgou a se-

guinte notícia de Londres:


procedente
"Esta
manhã, três homens armados assaltaram de surpresa

um torpedeiro-motor, ancorado em Kingstown, na Irlanda, che-

gados ontem.

Os três assaltantes, que se aproximaram num bote, lograram

subir a bordo e lançar ao mar um dos membros da tripulação

que se encontrava de guarda.

Em seguida com os disparos dos demais membros da tripu-

lação, os atacantes foram obrigados a fugir e conseguiram alcan-

çar a embarcação que os conduzira.

A policia procede a todas as necessárias.


pesquisas

O navio atacado é o primeiro torpedeiro de nova série cons-


truído garantir a vigilância das costas da Irlanda."
para

PREMIANDO 7 TRIPULANTES DE UM SUBMARINO

Notícias procedentes de Londres, e transmitidas agência


pela
Havas, a 10 de Março do corrente ano, diziam o Duque de
que
Kent, irmão do soberano da Inglaterra, ao realizar uma visita
de inspeção a um da costa nordeste do Reino Unido, con-
pôrto
1076 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"Distinguished
decorou com a medalha do Service", 7 membros

da tripulação do submarino Ursula, o depois de através-


qual
sar um campo de minas, logrou a um cruzador alemão
por pique
"Koein".
da categoria do

ITÁLIA

"LITTORIO"
O COURAÇADO

Sobre o resultado das experiências a foi submetido o


que
novo encouraçado italiano Littorio, nas águas do mar da Li-

guria, transcrevemos a notícia se segue, de


que procedente
Roma, transmitida pela A.P. em despacho telegráfico datado
de 26-3-1940:

"Os
italianos apresentam o seu novo couraçado Littorio,
"o
de 35.000 toneladas, como sendo mais navio do
poderoso
mundo".

Realmente, foi essa a atitude dos italianos depois do


jornais
anunciado que no decorrer das experiências a foi submetido,
que
nas águas do mar da Liguria, entre Portofino e Punta Mesa, o
"superior
novo vaso de atingiu a uma velocidade a 30
guerra
milhas horárias".

Além disso, os italianos afirmam o superior armamento


que
"Littorio",
protetor e defensor do combinado com a sua grande
velocidade, indiscutivelmente veiu colocar o novo vaso de guerra
entre os mais e velozes de todas as Marinhas moder-
poderosos
nas. Assim, o Littorio, é um dos novos super-cou-
que quatro
raçados de 35.000 toneladas, será em serviço ativo logo
pôsto
após terminadas as suas experiências finais.

A nova unidade da Marinha de Guerra italiana custou


grande
nada menos de 50 milhões de dólares, desenvolvendo os seus
motores uma total de 130.000 H.P. na sua construção
potência ;
foram empregadas 3*50 toneladas de condutores de cobre, 312
milhas de fios elétricos; 5.000 válvulas, 6.000 luzes e sinais,
estando instalados no seu bôjo nada menos de 700 aparelhos
telefônicos.

A espessura da couraça do Littorio constitue!


protetora
um segredo de construção ciosamente acreditando-se,
guardado,
entretanto, que varie entre 9 e 12
polegadas.

O super-couraçado está armado de nove canhões e 15


pole-
gadas, doze de 6, doze canhões anti-aéreos de 3,5 20
polegadas,
metralhadoras anti-aéreas, conduzindo ainda 3 ou 4 aviões. O seu
comprimento total alcança 774 com 103 no seu
pés, pés ponto
mais largo, sendo de 1.600 homens a sua guarnição.
NOTICIÁRIO 1077

Aliás, essas são também as especificações dos seus três

irmãos — Vittorio Veneto, Impero e Roma. O


gêmeos pri-
meiro dêsses três já foi também sujeito às necessárias expe-

riências, tendo satisfeito todas as exigências técnicas.


plenamente
Dentro em pouco, os dois primeiros navios da série, Vittorio

Veneto e Littorio, estarão incorporados à Esquadra e pres-


tando os seus serviços no Mediterrâneo. aos dois últimos
Quanto
Impero e Roma — ambos estão em construção nos esta-

leiros italianos, devendo entrar em serviço em meiados de 1942."

URUGUAI

OS DESTROÇOS DO ENCOURAÇADO ALEMÃO


"ADMIRAL
GRAF SPEE"

"United
A Press", em despacho telegráfico datado de 1 de

Março e procedente de Montevidéu, divulgando a notícia sobre

o destino dado aos destroços do encouraçado de bolso alemão


"Admirai
Graf Spee", afundado nas águas do Rio da Prata, em

Dezembro do ano próximo findo, transmitiu o seguinte:

"O
govêrno alemão, por intermédio do seu ministro nesta
"Admirai
cidade, Sr. Otto Langham, vendeu os restos do Graf

Spee" ao Sr. Júlio Vega Elguera, que fará desarmar o navio,

aproveitando-se dos materiais para fins comerciais. Desconhe-

cem-s-i outros detalhes da negociação."


NECROLOGIA

ALMIRANTE, GRADUADO, REFORMADO,


(EN)
SEVERIANO ANTÔNIO DE CASTILHO

Faleceu nesta Capital, a 8 de Março dêste ano, o Almirante,

Graduado, Engenheiro Naval, Reformado, Severiano Antônio de

Castilho.

CAPITÃO DE MAR E GUERRA, REFORMADO,


QO,
ANTÔNIO MUNIZ BARRETO DE ARAGÃO

No dia 16 de Fevereiro, nesta Capital, faleceu o Capitão de


Mar e Guerra, reformado, Antônio Muniz Barreto de Aragão.
QO,

CAPITÃO DE FRAGATA, GRADUADO, REFORMADO,

ELEUTÉRIO BARBOSA DE GOUVEIA

«
Na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, fa-
leceu, a 3 de Fevereiro do corrente ano, o Capitão de Fragata,
graduado, reformado, Eleutério Barbosa de Gouveia.

Às famílias enlutadas a Revista Marítima Brasileira envia


sentidas condolências.
miiiiiniitJiiiiíiMitiiliíiiiiiiiiuiiiiiiiiiiiitJiiNNiiiiiitiiiiiiHiiiiitJiiiiiiiiiiiitiiiiiiiiiiiiitíliliiiiiüiiiiiiiiiiiiliiitJiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitíg

LIVROS BONS E BARATOS


| j

Quer comprar todos os seus livros

com desconto? Associe-se a «PRO LUC»,


= ?

cooperativa dos amigos do bom livro.


n

| Por 20f000 annuaes o socio receberá: =

1.° — descontos em todas as compras;

— varias novas obras no valor de 30$000;


2.° global

— "A
3.° assignatura gratuita do jornal Voz de Santc
= Antonio", com 8 cada vez.
paginas

Peça o explicativo completo á


prospecto


LUCE» Caixa 23
«PRO posto,
zz

Estado do Rio
Petropolis

5>>3lllllllll!IIE3lllllllll!IIC]UllllU!IIIUIIIIi:illli:C3lllllillllllEllltltlllllllC3imil!IIIIIU<lllllll!llin!IIII!IIIII!ai|]IIIIU]ll[3!lllllllil!IE31lli:iJliÍu

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX-
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXr

"

THE BRAZILIAN COAL GO. LTD.


LTD, f

RIO DE JANEIRO
JANEIRO J
"
Representantes dos Sri.
Srs. CORY BROTHERS & CO. LTD., de Cardiff • Londras
Londres „
H
H
M

h IMPORTADORES DE CARVAO
CARVÃO DE PEDRA — SERVICO
SERVIÇO DE
DE 2
2

REBOCADORES, EMBARCAgOES,
EMBARCAÇÕES, ETC. *
REBOCADORES,
x
*
M M
Officinas de machinas e de construc§ao
construcção naval, na Ilha
Ilha J
J
dos Ferreiros
Ferreiros J
jj

Carreira: ILHA DOS FERREIROS m


X
Deposito: ILHA DOS FERREIROS
FERREIROS J
X
N
H H
PRAQA
PRAÇA MAUA' N. 7 — 10° Andar — Sala 1003
1003 J
5
g
M

i Escriptorios 23 - 4715 J
\
m
3 J
TELEPHONES:
TELEPHONES:' Deposito 28 - 0376
0376 J
M

Officinas 28 - 5464 J
I
(
EndereSo
Endereço "CAMBRIA"
H Postal: CAIXA 774 Enderefo
Endereço telegraphico:
telep.pl.ico: J
tXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTXXXXXXXXXXTTXXXXTXXXTXXXXXXXXl
¦XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTXXXXXXXXXXXTXXXXIXXXTXXXXXXXXI
««7Tllílilimini!ll!IIIIHIi;]lllllllllllinilllllllllllC]!lllllllll!ini!lli!llilIIC]lllll!lllillC2llll!ll!l!IIC2lll!ll!!l!l!í]llllll!llllinil!II{l!llliniUIHI!l!UL

nn-TiPEDis ii ii!
I
—— —'—
i is

56 M, PH com uma carga superior ao


I |

equipamento completo a Guerra.


J para |

(Acreditamos ser esta a maior ve-


|

locidade conseguida nas con-


| jámais |

dições acima).
j

construído por

John I. Thornycroft & C.° Ltd

Únicos representantes o Brasil


para

RIO JANEIRO : AUL.O

^!iiiiiiiii[]ii]iiiiiii!i»iiiiiiiiiiiiuiiii[iiiiíuc]iiruiiijinuijiijiiiríuuiuiiiiiiiii[]iiiiiiiiíiiic2iiijiuiiíi|[]iiiiiiiiiiiit!>iiiiiiiiiitniiiiiiiiiiiic<>
TTTT-SrTTXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXZXXXTXTTXTTTTXXXXXTXXX.
.xxtxyxxxxxxxxxxxxxxxxxxxtxtttxxxtxyttytttttttttytt

WALTER & C.,A


C.14
J

RUA
RUA S. PEDRO N.° 71
71
jj

RIO DE »
RIO JANEIRO
JANEIRO
3
3
»
COMMISSOES,
COMMISSÕES, CONSIGNAÇÕES
CONSIGNAQOES E CONTA PROPRIA,
PRÓPRIA,

SEGUROS TERRESTRES E MARITIMOS,


MARÍTIMOS, 3
SEGUROS

AVIAQAO
AVIAÇÃO MILITAR E CIVIL.
CIVIL.
J
y
3
3
3
3
REPRESENTANTES «
REPRESENTANTES DE:
DE:

s
VICKERS-ARMSTRONGS LTD.
LTD. 5
VICKERS-ARMSTRONGS

Constructores
Constructores de navios de Guerra de todos os typos.
typos. M
Artilharia
Artilharia — Municoes
Munições — Motores Diesel, etc.
etc. *
*

THE
THE DE HAVILLAND AIRCRAFT CO..
CO., LTD.
LTD. 3

Aviação
Avia?ao em *
geral.
geral.

S
THE FAIREY AVIATION CO.. LTD.
LTD. 3
THE

Aviação
Aviagao Militar.
Militar. »

' *
COMMERCIAL UNION ASSURANCE CO.. LTD.
LTD. 3
COMMERCIAL
Seguros terrestres e maritimos.
marítimos. 3
Seguros
3

MERRYWEATHER
MERRYWEATHER & SONS LTD.
LTD. J
Material
Material para extinc;ao
extincção de incendio.
incêndio. 3

LOBNITZ
LOBNITZ & CO.. LTD.
LTD. E
H
Dragas
Dragas em geral.
geral. M

OLEOS
OLEOS LUBRIFICANTES DE ALTA CLASSE
CLASSE 3
-
¦ N
"GRIFFON"
"GRIFFON" b
Marca
Marca J

LIPTON
LIPTON LTD.
LTD. I

Cha,
Chá, Conservas, etc.
etc. h
M
M
M

LONDRES
LONDRES 3

JACOB
JACOB WALTER :
& CO., LTD.
LTD.

N?
N> 66 VICTORIA STREET - WESTMINSTER. W. 3
3
ij S. jj
CASA DODSWORTH

MSMrRCDO
MRNFREDO CCS5TM
COSIffi &
© C.

BIV!
ÍIV1 PORTADORES

S. PAULO-RIO DE JANEIRO - BRASIL

SEGQAO
SECÇÃO DE MACHINAS E MATERIAL FERROVIARIO
FERROVIÁRIO

REPRESENTANTES DE:

Associagao
Associação "V. "
de Fabricas de Tornos D. F.
Gebr. Boehringer G. n.'.
ri.'. H., Goeppingen
Franz Braun A. G., Zerbst
Heidenreich & Harbeck, Hamburg
H. Wolhenberg K. G. Hannover
"Standard
Tornos
Tomos rápidos
rapidos - V. D. F."
Tornos —
Tomos revolver e automa-
automci-
ticos — Machinas — Plainas
para frezar cngrenagens
engrenagens para
fiara engrena-
— Plainas
gens de meza a um e dois montantes — Tornos
Tomos frontaes —
Machinas de
furar radial — Machinas especiacs
especiaes
Maschinenfabrik Weingarten, Weingarten
Tesouras, Prensas e Puncgoes
Puncções
Wilhelm Hegenscheidt A. G., Ratibor
Tornos
Tomos para rodeios de vagoes
vagões e locomotivas
Friedrich Schmaltz G. m.
ni. b. H., Offenbach
Machinas para Vectificar
Wanderer - Werke A - G, Chemnitz
Chemniiz
Frezas
Prezas de precisao
precisão de qilalquer typo
Les Ateliers Metallurgiques
Métallurgiques S-A, Nivelles & Les Usines,
Forges et Fonderies de Haine, St. Pierre
Locomotivas, carros passageiros, vagoes
vagões de carga — Material
Ferroviario
Ferroviário cm — Pontes ce superestructuras
superestrucUiras metallicas
geral
Machinas de solda ELECTRIC
ELBCTRICA A — Electrodos

SECgAO
SECÇAO DE ELECTRICIDADE

tensão — Material
Importadores de material para alta e baixa tensao telepho-
telcpho-
nico — Chaves desligadoras — Fios e cabos electricidade
para
—Escovas de earvao
carvão para dynamos e motores — Especia-
elecitricas —
lidades elec\1ricas ¦— Fabrcagao
Fabrcação

Rua Visconde de Inhauma,


Inhaúma, 62

End. Teleg.:
Teleg. : DOSRIO - Telephones 23-3589 e 23-2757

fRHQ)
fUBO DE J?iWEi!*©
JTlWEm©

MATRIZ
MATRIZ: : Rua Boa
Bôa Vista, 144

— —
: S. PAULO :
'TTTXXgZTXXTTXgXTrrTXXTTXXTYYXTXSXXSXliyXXgXXXrXTXTXT»
/T T T 7 T r T TYTXTXTXXXXXXXXXXXXXXXX TlI.TIIIYITTIItt XTXXX^>

ESCRITORIO
ESCRITÓRIO TJSCNICO
TÉCNICO E

RAJA GABAGLIA
GABAGLIA
| !
M
Construqao
Construção Civil
Civil J
M

CAPITAL_
CAPITAL_ 1,000:000$000
1,000:000$000 \

Fundado
Fundado em 1921
1921 3
H
fc

Projeta,
Projeta, Administra, Fiscaliza, Em-
Em- S

Obras hidraulicas,
hidráulicas, Con-
Con- J
preita,
preita,

creto
creto armado, Instalacoes
Instalações 2

e eletricas,
elétricas, j
jj industriais
industriais

Estradas
Estradas de Ferro
Ferro *
Xj ^

e Rodagem
Rodagem j
e

Avenida
Avenitía firaca
Braça Aranlia,
Aranha, 62-2°—Fone 42-B088--Rede
42-60B0--Reüe interna. RIO DE JANEIRO
JANEIRO
J J

miiiimiiiiiiiziiiiixiiiiiiixiuiiiiiiiixnimYTr!

HiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiniiHiiiiifiiiiiiHiiiiiiiiiiiiHiiiTiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiHiiiiiiiiiiiiniiiiiiifliiic^

ImauricesingerI

- AVENUE
21OO CRESTON
1

New York City

MAURICE SINGER, filho e successor de Joe Singer, I


c
largamente conhecido entre os officiaes e todo o pessoal da |

Marinha de Guerra do Brasil, offerece aos clientes brasileiros |

os seus serviços em Nova York para quaesquer encommendas |

ou compras nos Estados Unidos, assim como informações, g

embarques, etc., mediante módica commissão.

21 OO CRESTON AVENUE

NOVA YORK
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Destinada aos interesses da Marinha Nacional de e


Guerra Mercante

ASSINATURA ANUAL

Brasil Estrang.
Para oficiais 8Ç000 12$000
1 Exército
•Para e "..«.v».
Armada.
3ub-Oficiais
| 7Ç000
Para oficiais de Marinha Mercante e empregados civis do
Ministério da Marinha 9$000
Associações das Marinhas e Repartições 9$000 14$000
! Associações estranhas à Marinha 14Ç000 14$000
Civis estranhos à Marinha 10$000 14S000
Número do mês 1$500
Número atrazado 2$000

PAGAMENTO ADIANTADO

As assinaturas desta Revista


podem começar em época,
qualquer
mas terminam sempre em e Dezembro
Junho
Toda a correspondência destinada a esta Revista deve ser
remetida "Biblioteca
com este endereço: da Marinha

Edifício do Ministério da Marinha — Rio de


Janeiro".
Aos nossos assinantes rogamos o especial obséquio de renovarem

sempre em tempo oportuno as suas assinaturas, afim de

que não haja interrupção Tia remessa da Revista.

Igualmente nos comuniquem


pedimos que qualquer mudança

de residência, afim de não haja extravio.


que
Das marinhas de comércio e de recreio, solicitamos o favor de nos

enviarem, sempre informações úteis


que puderem, quaisquer
ou notícias de interesse dignas de
geral publicação.
Admitindo a inserção de anúncios, principalmente dos que se

relacionem com a vida marítima, constitue também esta Revista um

excelente repositório de informações de toda ordem, largamente

divulgada no Brasil e no Estrangeiro.

Os anúncios, da mesma forma as assinaturas, co-


que poderão
meçar em data, sendo os seguintes os seus
qualquer preços:
Tamanho Por ano Por semestre

Págira inteira 180$000 100$000

Meia página 100$000 60$000

As gravuras, bem como as alterações de anúncios, serão


pagas
em separado.

Os pagamentos, quer de assinaturas, de anúncios, de


quer
pessoas que residam fora desta Capital, só ser feitos me-
poderão
diante vales postais.
ANO LIX MAIO-JUNHO DE 1940 Ns. 11 e 12

marítima

REVISTA
^brasileira

S°s'
"k

>> • "¦- ; *A
<¦ .*: •. , -.V
y -
^ 4. \ •' \

' rir* \
/
^ l5U i
I ' •
I ./ vi-jjw V ^ I
V^; 1
fltf

l

=0
SUMÁRIO CF==^

Astronomia — Capitão de Fragata Didio I. A. da Costa 1085

Os Centenários Portugueses e Marinha


a de Guerra do
Brasil
j j

11 de de 1940
Junho 1131

Tratamento da água de alimentação —


da-3 caldeiras Trad.
— Capitão de Fragata Guilherme da Mota .. 1151
(OM)

da Fonseca — S. de
Quirino 1171

^ Atol das Rocas — Cap. I enente Osmar de Azeredo


Rodrigues
jjgj

Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais


do Brasil, Argentina e Chile — —
(Continuação) Cap.
de I' ragata Renato Bayardino 122')

Revista de Revistas — A. P37

Aviões e Submarinos — C.F.X P77

Respiga 1301

Bibliografia — D. j^o

Noticiário 1

Necrologia 1343

O MINISTÉRIODAMARINHA -

DE JANEIRO
|MP NAVAL RIO
Biblioteca da Marinha

Rei:: pela Biblioteca


IMPORTADORES
DE /
Ferragens, folhas de Flandres, cobre
e outros metais
RUA DA QUITANDA, 175

__e TEÓFILO OTONI, 60

y?x
*U0 /& OFICIAL DE
*._V _/*•*
^ -^ CALDEIREIRO

yWy- Rua Visconde da Gávea n. 125


Telefone 23-0503-CAIXA POSTAL n. 1596
RIO DE JANEIRO—=
_TXXX__----ITT.TTT--__-_TT._T______YTTTT_______IXll

BI DE __n_B
Telhas, manilhas, tijolos, areia,
cal, cimento, ferro, tubos
de cimento e barro refratário.

LINO & CIA. LTDA.


124, Rua Santo Cristo, 124
END. TELEGRÁFICO "LINOCIA"
43-1144
TELS: RIO DE JANEIRO P
43-5792
-T_-T-!--I_l_______XlIl_r-X-------T-T-_-----------*
TTTTTTTTTTYgTgXXXTYgXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX^

dos MARES
AO E.I
REI

Artigos sanitários

e canalizações submarinas

MEDEIROS SBRIORE & C.

Successores de MEDEIROS & BORGES

RUA TEÓFILO OTONI, 162

TELEFONE: 24-1096

RIO DE JANEIRO

riXXXXHXXIXXXlXXXXlXXXXXXZXlXXXlXlXXIlXXXlXXXXXlXfl

iiiimijaiiiiimiiMniimnij
j^ailll!IIIIIIIClllllllllllllE_3IHIIIIllllli:]IIIMIIIIIIIC3llllllljll!IC3IIMllM!IILE3lllllll!lllinilllllllMIIElllllllllllllE3IMIIIIIII1ICllllllllllinUIMIIMIIIII[^

g
=

?. B. fle iioninn & Gia. Lifla.


a

ADMINISTRAÇÃO DE BENS

Compra e venda de imóveis

Avenida Rio Branco, 91-6°-Salas 1,2,3,5,7,9,11 e 13


| j

Agência—COPACABANA—Av. Atlântica, 554-B

TELEFONES:
i
'|
23- 1830 —AGÊNCIA: 27-7313 e 47- 2001
ESCRITÓRIO:
|
[•:< llC3tlllilllltnC3IIIIIIIIIIIIElliriÍllTlint3irillllinÍIC3IIIIIIIilllTC3IIÍIllllllllC3ÍIITlT^

COMPANHIA AGA
AGÃ DOBIjASIL,
DO BljASIL, S.
S. A. I

I -

RUA ANTUNES MACIEL, -33 —


31 Rio de Janeiro

CASA MATRIZ: STOCHOLM — SUÉCIA

FABRICANTES E FORNECEDORES

de imimm
1 • ^
Marítimos e Aero-ma-
PH ARDF^ '
I I IrAIXWI—O ritimos de todos os ty-
'
pos, a Acetilene e Electricos.

'uz iua'ciuer typ° com


RDIA9 '
Dv l/~\0 sino automatico e apito. i JBtKi. iWBi M

r'rrni"! i' r -
PROJECTORES igs
illuminação de campos de aterragem.

RADIO-PHAROES
Hnn'KV'fwM la wl iitt'ti
Wlpy-r^y P w ^^IrjrfSf.f Hfti W*i (»m .4 >\«i IMP HXiMtT
»Tf >y JW|mi
*
^ E DISSOL-
OXIGÊNIO ACETILENE
VIDO, MATERIAL DE SOLDA jjjjjj^^
Agência Financial de Portugal

RUA TEÓFILO OTONI, 4

Telef. 23-3598 Caixa Postal 818

RIO DE JANEIRO

SAQUES SÔBRE PORTUGAL

pagáveis em todos os concelhos do Continente,

Madeira e Açôres, pela

Caixa Geral de epdsitos, Crédito e Previdência

V A Ç, O
ANO LIX MAIO-JUNHO DE 1940 Ns. 11 e 12

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Publicação do Ministério da Marinha

Sède: Biblioteca da — da Marinha — Rio de Janeiro


Marinha Edifício do Ministério

SUMÁRIO

Astronomia — Capitão de Fragata Dídio I. A. da Costa 1085

Os Centenários Portugueses e a Marinha de Guerra do

Brasil 1117

11 de de 1940 1131
Junho

Tratamento da água de alimentação da*s caldeiras — Trad.

— Capitão de Fragata Guilherme da Mota .. 1151


(QM)

da Fonseca — S. de 1171
Quirino

O Atol das Rocas — Cap. Tenente Osmar de Azeredo

Rodrigues 1181

Estudo comparativo entre os cursos das Escolas Navais

do Brasil, Argentina — — Cap.


e Chile (Continuação)

de Fragata Renato Bayardino 1229

Revista de Revistas — A. 1237

Aviões e Submarinos — C. F. 1.277

Respiga 1301

Bibliografia — D. 1319

Noticiário 1325

Necrologia 1343

NAVAL — RIO DE JANEIRO — BRASIL, 1940


IMPRENSA
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

redator-chefe

Capitão de Fragata .... — Dídio I. A. da Costa

REDATORES

Capitão de Fragata .... — Renato Bayardino

Capitão de Corveta . . . . ¦— Adalberto Rechsteiner

Capitão Tenente —- Affonso Cavalcanti Livramento

Capitão Tenente — Sebastião Fernandes de Souza

Capitão Tenente — César Feliciano Xavier


Revista Marítima Brasileira
ANO LIX MAIO-JUNHO Ns. 11 - 12

PRIMEIRO CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO

ASTRONOMIA
(Memória apresentada àquele Congresso,
" Instituto Brasileiro de Cul-
promovido pelo
tura", sob os auspícios do Governo Federal,
e reunido no Rio de Janeiro, de 24 a 30 de
Maio de 1940, sob a presidência do Desem-
bargador A. Saboia Lima, sendo secretário
Renato Travassos.

A Astronomia, ciência que tem por fim, segundo a definição


clássica, "fazer conhecer os astros, sua constituição, suas posições
relativas e as leis dos seus movimentos", é tão antiga que remonta
a milênios antes da nossa era.
A Cosmografia descreve os corpos celestes que compõem o
universo e os movimentos de que eles são animados. Compreende
hoje o estudo indispensável dos instrumentos e dos métodos de
observação, além do exame de todas as questões astronômicas cuja
solução exige apenas o conhecimento dos elementos das ciências,
confundindo-se, portanto, com a Astronomia elementar.
Qualquer enciclopédia, reprodução umas de outras, na genera-
lidade, oferece prontamente notas sumárias sobre Astronomia como
sobre qualquer outro assunto, simples ou transcendente.
108<j REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Quanto à Astronomia, ali se conta resumidamente que o nascer


e o pôr das estrelas principais era o que primitivamente se obser-
vava. Dividia-se o céu em constelações. Determinava-se o movi-
mento dos planetas pelas estrelas de que se aproximavam no seu
trajeto. Estudavam-se, quanto ao sol, as variações das sombras
mevidianas dos gnômones e as estrelas imediatamente visíveis.
Dois mil anos antes da nossa era, um tribunal de matemáticos
chineses devia estudar a Astronomia, estabelecer o calendário, pre-
dizer os eclipses, para fornecer bases às cerimônias religiosas.
Mais tarde, Ptolomeu transmitiu três eclipses da lua, obser-
vados em 719 e 720. Os caldeus, aliás, haviam descoberto o Saros,
período de duzentos e vinte e três períodos lunares que reconduzia
a lua quasi à mesma posição.
Quanto aos conhecimentos astronômicos dos egípcios, pouco se
sabe. Deviam ser grandes, entretanto, porque os filósofos gregos
Tales, Pitágoras e Platão hauriram entre eles conhecimentos que
deviam difundir.
Pitágoras ensinava os dois movimentos da terra sobre si mesma
e ao redor do sol. Descortinava com elevação os sistemas planeta-
rios, mas a prova lhe faltava e a verdade não pôde ser reconhecida.
Aristarco de Samos e Eratóstenes tentaram medir a distância da
terra ao sol e as dimensões do nosso planeta. Dois séculos antes da
nossa era, Hiparco aperfeiçoou a trigonometria esférica, elaborou um
catálogo de estrelas e fixou a posição de um ponto na superfície da
terra pela latitude e longitude. Os trabalhos de Hiparco desapare-
ceram e apenas os conhecemos pelo Almagesto de Ptolomeu que
estudou cuidadosamente, êle próprio, o movimento da lua.
O movimento circular e uniforme era considerado pelos antigos
como o mais perfeito e como devendo ser a base do movimento dos
planetas. Adotando essa idéia, Ptolomeu tentou explicar todas as
irregularidades dos movimentos celestes. O movimento uniforme,
porém, era insuficiente, e êle recorreu à combinação daqueles movi-
mentos na teoria dos epiciclos. Em resumo: um planeta seria como
a extremidade do raio de uma roda girando regularmente, enquanto
seu centro descreveria uniformemente um círculo ao redor da terra.
Copérnico, porém, achou nos antigos filósofos que o verdadeiro
centro do mundo devia ser o sol, não a terra. Referindo todos os
movimentos ao sol, êle simplificou consideravelmente o sistema de
Ptolomeu, diminuindo o número dos círculos indispensáveis.
1" Congresso cultural brasileiro 108?

A mais objeção à margem de uma das enci-


grave (continuamos

clopédias) feita ao sistema de Copérnico resultava do movimento da

iua, ao redor da terra, depois arrastada ao redor do sol num


primeiro

movimento A descoberta, em 1610, das quatro luas ou satê-


geral.

lites de Galileu, faria triunfar o sistema de Copérnico.


Júpiter, por

Antes de Galileu, o maior observador fôra Tycho-Brahe.


porém,

Suas observações, tão numerosas e ainda feitas a ôlho


precisas, que

nú, permitiram ao seu discípulo Kepler descobrir as leis admiráveis

do movimento elítico dos em tôrno do sol.


planetas

Com Newton, a mecânica analítica intervém na explicação dos

movimentos As leis de Kepler são matematicamente


planetários.

estabelecidas. Pode dizer-se com Laplace os Princípios da filo-


que
sofia natural de Newton, aparecidos em 1687, constituem a mais alta

da inteligência humana; de sorte ainda hoje, a lei


produção que,
elementar da atração universal basta explicar a imensa e com-
para

plexa variedade dos movimentos celestes. Os sucessores


principais
de Newton, seus discípulos, são Clairaut, dAlembert, Leverrier.

Devem aqui ser citados, especialmente, dois dos mais profundos

analistas da humanidade: Lagrange e Laplace.

Além do desenvolvimento teórico, a astronomia de observação

fazia consideráveis com Huygens, Rcemer, Dominique


progressos

Cassini (o primeiro diretor do Observatório de Paris), Flamsteed,

Bradley, habilíssimo observador a se deve o conhecimento da


quem

aberração e da mutação; finalmente, e sobretudo, W. Herschel,


que

procedeu a um inventário metódico da opulência celeste: satélites

dos planetas, aglomeração de estréias, nebulosas, estrelas duplas,

intensidade luminosa das estrelas apreciar-se sua


que pode permitir

distância, e, enfim, a translação do sistema solar.

Cumpre citar, outro lado, as importantes investigações cos-


por
mogônicas de Laplace sóbre a origem e o da constituição
princípio
do sistema solar. A Astronomia, finalmente, foi enriquecida de dois

novos processos: a análise espectral e a fotografia.

* *

Explorando o cômodo e seguro filão de uma das enciclopédias,

à parte histórica, notemos ainda Astronomia cometária,


quanto que

Astronomia planetária, etc., são ramos da Astronomia têm


que por
1088 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

fim o conhecimento especial de uma classe de corpos celestes, etc.

ao conjunto de conhecimentos astronômicos dos ou de


Quanto povos

um indivíduo: Astronomia dos árabes, Astronomia dos chineses, etc.

A musa Urânia foi instituída pelos antigos como


personificação

da Astronomia, e lhe deram por atributos principais uma esfera, uma

coroa de estrelas, instrumentos matemáticos. A Astronomia, incluída

na Idade Média no número das sete artes liberais, era representada

figura de uma mulher, tendo à mão uma rosa dos ventos ou um


pela

ou um balde cheio d'água, acima do qual figuravam alguns


globo

astros. Os artistas modernos, Paul Ponce, Th. Poissant e Massimo

Stanzioni, trataram diferentemente do assunto: ora a Astronomia é

representada figura de Atlas, sustentando o mundo e contem-


pela

o céu; ora uma mulher de pé, com asas nos cabelos, o


plando por

direito sobre uma de volumes, na dextra um estilete


pé pilha que

utiliza indicar uma esfera em se apoia. Em 1859, Chaplin


para que

expôs um a respeito.
pequeno quadro

Tão vasto é o domínio da Astronomia que apenas em


podemos,

trabalho de reduzidíssimas, aludir à abóbada celeste,


proporções para

a todos se voltam, de dia e de noite, mais ou menos ao


qual prêsos

espetáculo ela oferece. As estrelas são massas lumi-


grandioso que

nosas e numerosíssimas em movimento, como tudo no uni-


perpétuo

verso. O sol, a lua, os e o mais, esplendem, se transladam


planetas,
e no chamamos comumente o infinito.
giram que
"ensaio
Alexandre de Humboldt, no Cosmos, êle considera
que

de uma descrição física do mundo", oferece um quadro notável da

natureza. Apresenta o conjunto dos fenômenos do universo desde

as nebulosas até à das plantas e dos animais,


planetárias geografia

terminando raças humanas. Dos astros ao planeta tanto


pelas que

estudou e conheceu, fundando a climatologica e a física


geografia

dos mares, o espírito nos conduz a contemplar e a


grande poder

considerar o que nos rodeia.

Uma idéia do sistema do mundo, entre a multidão de


geral

tratadistas, deu-a, concisa e clara, como alguns outros, H. Faye:

" dos
Se fosse possível colocar-nos num qualquer espaços
ponto

celeste, donde alcançar, a um lance de olhos, o conjunto


pudéssemos

do sistema solar, veríamos ao centro um luminoso, corpo prin-


globo

cipal dêsse sistema, rodeado de vinte e três globos muito menores, os

que giram em seu derredor a distâncias desiguais e efetuam


planetas,
suas revoluções a velocidades diferentes. Dêsses planetas, os maiores
1" CULTURAL BRASILEIRO 1089
CONGRESSO

apareceriam, seu turno, como centros de sistemas secundários, pe-


por
reproduzindo em miniatura o sistema geral, e
quenos mundos à parte,
formados à roda do planeta central e o
de satélites que circular»

seguem em sua órbita.

Além de revolução que realizam ao


dêsses grandes movimentos

redor o observador veria todos


do sol e em tôrno dos maiores planetas,

os sobre si mesmos
globos planetários, todos os globos-satélites girarem

em velocidades O sol é animado de um movimento


diferentes. próprio
de rotação.

rotações, todas essas revoluções se


Notai ainda que todas essas

se se vier a descobrir no con-


efetuam 110 mesmo sentido, de sorte que,
então inapercebido, ter-se de antemão
junto um pequeno planeta até pode

a certeza de êle seguirá como os outros no sentido geral.


que

mais simples do a estrutura desse sistema, cujos por-


Nada que
e reproduzem diversas vezes o esboço. Todos os corpos
menores imitam

esféricos; todos os movimentos são circulares, tanto os


são quasi quasi

dos ao redor do sol os dos satélites ao redor dos pia-


planetas quanto
netas; todas as rotações são uniformes; enfim, longe de arbitrária-

mente distribuídas em tôrno do sol, todas as órbitas estão quasi situadas

sobre um mesmo satélites de Urano são a única exceção à


plano (os
regra Trata-se evidentemente de um conjunto de corpos for-
geral).
mando sistema, regido pelas leis ordinárias do movimento, mantido pela

ação de uma fôrça central preponderante, a que exerce a enorme massa

do sol, assim como os satélites são retidos pela atranão mais fraca dos

planetas que êles acompanham. Sení essa fôrça central, inerente e

proporcional às massas, tal sistema não poderia durar um só instante:

se, por impossível, ela fosse repentinamente anulada, aqueles corpos,

animados de velocidades enormes, se dispersariam no espaço, seguindo

a sua última direção, como pedra lançada por funda. Essa fôrça, de

que é dotada toda partícula de matéria, é ainda a que deu a todos

aqueles globos a forma esférica e que retém, sob o nome de gravidade,


os corpos em1 livre repouso sôbre a sua superfície.

Aplicando a esses corpos em movimento, e solicitados por suas

atrações mútuas, as leis da mecânica, o espírito humano chegou à possi-


bilídade de predizer, com uma admirável exatidão, as posições que todos

ésses globos ocuparão 110 espaço em dado momento, e a demonstrar que


o sistema, quaisquer que sejam os seus antecedentes, chegou a um estado

de estabilidade onde o jógo natural das forças não apresenta nenhuma

probabilidade de destruição espontânea. O mundo solar está feito

para durar.

Fora, muito longe do sistema, o espaço parece semeado de outros

sóis, brilhando também com luz própria. Talvez sejam centros de

mundos análogos ao nosso; esses mundos, porém, não se destinam a

ser conhecidos por nós. As distâncias que nos separam dêles são tais

que os planetas e o sol podem ser considerados como simples pontos,

que as próprias dimensões de todo o sistema solar quasi nada são,


1090 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

comparadas com essas distâncias. Se volvermos o olhar para as estrê-


Ias, brancas, amarelas, vermelhas, verdes e azues, acumuladas cá e
lá, nos é impossível reconhecer um plano, uma lei qualquer em sua

distribuição. Em geral, parecem ser tão independentes umas das outras

quanto o é o nosso mundo solar em relação a elas.

Longe de se moverem' rápida e incessantemente, como os planetas,


mantêm-se no mesmo lugar; são fixas; se algumas parecem deslocar-se,

é tão lentamente que os seus movimentos são quasi imperceptíveis.

Talvez sejam todas as estrelas animadas de velocidades consideráveis,

em direções e segundo leis desconhecidas; os seus deslocamentos, toda-

via, nos são insensíveis, por causa da imensidade que delas nos separa;
foram precisos séculos para que as menos lentas dentre elas pudessem
ser nitidamente constatadas.

O universo nos apresenta de um lado, o mundo solar, de


portanto,

que a terra faz parte, mundo nos é acessível, objeto especial de


que
nosso estudo; de outro, as estrelas inumeráveis, sóis distribuídos ao

redor de nós na imensidade dos espaços celestes, escapando pela sua


distância mesma a quasi toda investigação. Visto que são fixas, po-
derão ao menos servir de de referência, aos quais referiremos
pontos
os movimentos dos planetas do nosso mundo.

Se, em lugar de nos transportarmos mentalmente para fora dêste


mundo, de o olharmos com os olhos do espírito, ficando estranhos aos
seus movimentos, pusermo-nos num dos globos que dêle fazem parte,
o quadro do universo mudará completamente de aspecto. Desde logo,
somente os olhos não servir-nos para apreciar as distâncias,
podem
visto que elas excedem notavelmente as que estamos habituados a ava-
liar, auxiliados outros sentidos. A vista nos indica fielmente
pelos
as direções; mas, sem noção sobre as distâncias reais, seremos
qualquer
instintivamente levados a todas iguais, pelo menos a reduzi-las
julgá-las
à escala do horizonte limitado nos cerca. O universo vai encolher-
que
se; os astros parecerão cravados ao se chama o céu, espécie
que de
abóbada que repousa sôbre o horizonte, e cuja sensação nos é causada
pelo segmento atmosférico acima de nossas cabeças.

Muito mais: as relativas ao movimento serão sempre


percepções
alteradas, porque, participando daqui em diante do duplo movimento
de rotação e de translação do o observador não será disso
planeta,
advertido pelos seus sentidos. É rapidamente levado no espaço e não
o sente; nenhum órgão e transmite a impressão material
percebe de
um movimento de que todas as do corpo, todos os objetos vizi-
partes
nhos participam de igual modo.

O observador, julgando-se imóvel com o seu planeta, atribuirá

instintivamente seus próprios movimentos aos outrçs astros; exem-


por

pio: êle transportará aos pontos fixos, às estréias infinitamente


quasi
afastadas, a velocidade de rotação de seu e as verá girando
planeta
todos à volta dêle como ao redor de um centro teria o universo.
que
CULTURAL BRASILEIRO 1091
1° CONGRESSO

dessas ilusões que desaparecem no momento


E não se trata de uma

se acha descoberta. Quando vemos no


mesmo em que a causa de êrro

fracamente iluminados, acontece-nos as


crepúsculo objetos vizinhos

e atribuir a êsses objetos, por con-


vezes apreciar-lhes mal a distância
espantosa; mas, cesse o êrro
seqüência, uma grandeza sobrenatural,
os objetos retomam aos
sôbre a distância e logo a ilusão desaparece,

Aqui a ilusão persiste para o


nossos olhos sua verdadeira grandeza.

ignorante e aquele que lhe sabe a causa.


para

dos sentidos; colocaram o


Os antigos se limitavam ao testemunho

as estréias um mais longe,


sol e os muito perto da terra, pouco
planetas
êsses corpos dimensões tanto
e conseqüência atribuíram a todos
por
Para êles, a terra
mais fracas quanto mais dêles se aproximavam1.
universo; por sua
ocupava um lugar enorme em todo êste pequeno
do seu volume, tornava-se
suposta imobilidade e enormidade patente
da esfera celeste. Não
naturalmente o centro de todos os movimentos

nenhum, atribuíam tudo aos astros. Para que


lhe supondo movimento

renunciasse a idéias tão naturais, tão de acordo com' o testemunho


se

nossos sentidos, foi as contradições e as im-


imediato dos preciso que

de uma tal teoria se acumulassem durante séculos, até


possibilidades
enfim se tornarem inadmissíveis. Aliás os antigos ignoravam as leis

racionais da mecânica; viam em derredor os movimentos terrestres

acabando sempre diminuir e cessar, enquanto os movimentos ceies-


por
tes perduravam inalteráveis. Concluiam daí que os astros não eram

da mesma natureza os elementos da terra; deviam ser


que grosseiros
formados de uma substância mais subtil, de um elemento ctcreo ou

sideral; se tivessem mesmo conhecido as leis da mecânica dos corpos

brutos, não teriam ousado aplicá-las às essências do céu.

Se tivessem podido medir exatamente, porém, as distâncias (êles

sempre as ignoraram, não falta de geometria, mas por falta de


por
instrumentos delicados), se tivessem aumentar, como nós, o
podido

poder da visão lunetas ou telescópios, ninguém duvida que não


por
houvessem refugado logo o seu grosseiro sistema.

Vemos, com efeito, como os êrros produzidos pela ilusão dos sen-

tidos cairiam um a um. As medidas das distâncias baseiam-se nos pri-

meiros teoremas da elementar; o astrônomo opera como o


geometria
agrimensor encarregado de determinar a distância de um ponto inaces-

sível. Começa-se medir cuidadosamente uma base na superfície


por
mesma do globo terrestre; medem-se depois os ângulos do triângulo

formado essa base e pelos raios visuais dirigidos no mesmo ins-


por
tante para o mesmo astro.

O triângulo se encontra determinado; a resolução gráfica, ou antes

numérica, dá a distância do astro observado, e eis aí um êrro já que

desaparece. A terra não é mais imensa, os astros não mais estão muito

perto de nós. O contrário é que é o verdadeiro.


1092 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A distância do astro r,endo conhecida, sendo medido o diâmetro de


seu disco aparente, nada mais simples do que lhe deduzir p diâmetro
real, a superfície, o volume.

Os antigos teriam sabido por aí que aqueles astros, aparentemente


tão pequenos, são quasi todos muito maiores que a terra, e que o so
excede de muito em volume todos os planetas reunidos, inclusive nosso
globo. Os telescópios, depois, lhes teriam mostrado que os planetas
são globos opacos, sem luz própria, a superfície dos quais apresenta
uma semelhança surpreendente com a superfície da terra; que o sol,
mau grado sua luz intensa e seu calor, é êle próprio um corpo mate-
rial, não uma substância incorruptível como a antigüidade grega sempre
o afirmou ; que todos aqueles globos isolados no espaço, livres de qual-
quer apoio, giram sobre si mesmos e são animados ao mesmo tempo
de um rápido movimento de translação; que diversos daqueles planetas
são acompanhados de satélites que circulam ao redor deles como a lua
ao redor da terra.
Como resistir a tantas analogias? Como hesitar, então, em incluir
a terra no número dos planetas, e em indagar, enfim, se as leis, que
regem em nosso derredor os movimentos dos corpos brutos, não rege-
riam também os movimentos celestes?

Prossigamos e mostremos ainda como o mais simples emprego dos


instrumentos atuais teria bastado para reconhecer o isolamento carate-
rístico do nosso mundo no meio do universo estelar, imenso, indefi-
nível. Dirigindo uma luneta para um dos astros do nosso sistema,
vemos, à medida do alcance, sua imagem crescer e amplificar-se como
se o astro se aproximasse de nós. Podemos assim aumentar cem vezes,
mil vezes, seis mil vezes as imagens dos planetas, e colocá-los, para
assim dizer, a uma distância cem vezes, mil vezes, seis mil vezes menor.
Mas, para as estréias, os telescópios mais poderosos (ano de 1852)
falham completamente; não podem aumentá-las nem aproximá-las, ou
para falar mais exatamente, de nada serve tornar suas distâncias seis
mil vezes menores, porque essas distâncias são como infinitas em rela-
ção às que nos separam dos planetas.
Vemos, por isso, que não é necessário, em rigor, aprofundar as leis
do movimento dos astros para chegar a conhecer o papel e a situação
do nosso globo no sistema solar e deste no universo. Vemos quanto
seria fácil, em nossos dias, convencer os mais incrédulos, opor a uma
impressão de imobilidade que consideramos tantas vezes enganadora, o
testemunho mais preciso dos nossos outros sentidos, guiados pela mais
simples geometria, ajudados pelos recursos atuais da ótica.
Não foi assim, porém, que se descobrira o verdadeiro sistema.
É preciso dizer, em honra do espírito humano, que o foi antes da in-
venção das lunetas e dos instrumentos de medida tão precisos que
atualmente possuímos. A verdade surgiu quando o sistema dos antigos
começou a achar-se em contradição manifesta com os fatos e com a
1" CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1093

razão, a descoberta de um novo continente e a imensa extensão


quando

da navegação fizeram sentir a Astronomia ia ter necessidade de


que
ela ia servir de na imensidade dos mares .
precisão, porque guia

Levaram-nos a clareza e a simplicidade dessa velha página de

Hervé Faye a traduzi-la toda e com ela honrar êste trabalho. Faye,

um dos astrônomos do observatório de Paris, notável espírito, tra-

dutor de Humboldt, membro da Academia das Ciências, autor de

obra considerável, tratou também da origem do mundo, das teorias

cosmogônicas.

O sistema cosmogônico de foi estudado baye e


Laplace por

encontramos em sua obra Sur l'origine du monde: Théories cosmo-

des anciens et des modernes — de vista funda-


goniques pontos

mentais discrepantes do sistema de Laplace.

Entretanto, modernamente, ao cosmogônico, é


quanto problema

o sistema de Laplace se expõe. Alphonse Berget, por


que geralmente

exemplo, estudando êsse sistema, lembra atacar o em


que problema

toda a sua generalidade seria resolver ao lance uma


querer primeiro

dificuldade invencível. Limitando-nos ao estudo do sistema solar,

diz Berget, achamo-nos em de uma de tal sorte


já presença questão

vasta que foi o considerar, o do filósofo alemão


preciso, para gênio

Kant ou do matemático francês Laplace.

Considerado o movimento de rotação da terra, apresentam-se

os sistemas de coordenadas esféricas servem fixar e definir


que para

as posições dos astros, correspondendo às aplicações os instrumentos

de medida apropriados aos diversos sistemas de coordenadas, e a

medida de tempos.

Consideradas a figura e as dimensões da terra, apresenta-se o

sistema de coordenadas esféricas, destinadas a fixar a dos


posição
na superfície do a Geodésia, correspondendo às aplica-
pontos globo,

ções o sistema métrico, as cartas a navegação.


geográficas,

Considerado o movimento anual de translação da terra, apre-

senta-se o sistema de coordenadas esféricas, especialmente destinadas

ao mundo solar, as leis de Képler, correspondendo às aplicações a

medida do tempo, calendário, teoria dos climas e das estações, qua-

drantes solares.

Considerado o sistema secundário formado terra e seu


pela

satélite, apresenta-se a generalização das leis da gravidade terrestre,


1094 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

correspondendo às aplicações o calendário, longitudes no mar,

eclipses, selenografia, marés.

Considerados o sistema solar, planetas e satélites, cometas, apre-

sentam-se as leis de Képler, as dimensões absolutas do sistema solar,

as analogias materiais entre a terra e os outros planetas, correspon-

dendo às aplicações a medida da velocidade da luz e longitudes

geográficas.

Consideradas as estréias, apresentam-se: medida de suas dis-

tãncias, aberração, estréias duplas, núcleos estelares, movimentos

das estréias, analogias entre as estréias e o sol.


próprios

Tal é o sumário do plano da obra de Hervé Faye, Lições de

Cosmografia, cujo domínio tão claramente está aí expresso.

* *

De todas as ciências naturais e a Astronomia a apresenta


que
mais longa série de descobertas. Tal foi a afirmativa com La-
que

place começou a sua Exposição do Sistema do Mundo.

O glorioso francês da antiga Normandia, morrendo aos 78 anos


"as
de idade, estudara, durante mais de sessenta, maravilhas do céu,

as altas da filosofia natural, as combinações engenhosas e


questões

profundas da análise matemática, todas as leis do universo". Desde

que Laplace, e contemplara os espaços celestes, evoluiu


jovem genial,

para a imortalidade, alevantando, além de outras, a ciência

maravilhosa.

Dois anos após a morte do sábio, Marquês e Par de


grande
França, fez-lhe o Barão Fourier o elogio histórico, em sessão
pública

da Academia Real das Ciências de Paris, a 15 de Junho de 1829.

Todo o humano é uma testemunha constante e um contemplador

incansável das belezas do céu. Sente-as, considera-as a esmo a gene-

ralidade dos que pensam. É de todos os instantes o espetáculo

lhe proporcionam os astros, com a massa, o brilho, a


grandioso que

disposição, o movimento, o equilíbrio, a harmonia e a influên-

cia que têm.

Mas houve humanos foram sobrehumanos, penetrando e


que

explicando o mecanismo do mundo. Entre êstes esteve Laplace,

cuja esteira luminosa aqui rastreamos, instantes, guiados pelo


por
1° CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1095

autorizado e conceituoso Fourier, Secretário Perpétuo da Academia

Real das Ciências de Paris ao tempo do grande geômetra.

Laplace, contemporâneo de D'Alembert, Lagrange e Euler,

resolvera, notabilíssimo nos domínios da análise matemática, uma

capital de astronomia teórica. Decidira consagrar esforços


questão
"ciência
à sublime" êle dominar e aperfeiçoar. Meditou
que podia
"passou
a sua decisão ou toda
profundamente gloriosa projeto que

a sua vida a executar com uma de a história das


perseverança que

ciências talvez não ofereça nenhum outro exemplo".

Empreendeu compor o Almagesto do seu século: a Mecânica

Celeste, monumento legado seu obra imortal dista da


pelo gênio, que

de Ptolomeu a ciência analítica moderna dos elementos


quanto

de Euclides.

O nome de Laplace viverá em todas as idades. Dizendo isso,


"a
Fourier acrescenta que história esclarecida e fiel não separará

sua memória da dos outros sucessores de Newton. Reunirá os

nomes ilustres de D'Alembert, de Clairaut, de Euler, de Lagrange

e de Laplace", as ciências haviam então


grandes geômetras que per-

dido (1829) e cujos trabalhos tinham objeto comum a


por perfeição
da astronomia física.

"o
No seu Almagesto do 180 Séciâo, Laplace não só reuniu que
as ciências matemáticas e físicas haviam inventado e serve
já que
de fundamento à astronomia, como acrescentou a essa ciência des-

cobertas capitais lhe são e haviam escapado a todos


que próprias que
os seus predecessores".

Observava-se nos movimentos da lua uma aceleração cuja causa

não se descobrir. Proviria da resistência do meio etéreo em


pudera

que se movem os corpos celestes? Apresentava-se uma questão


cosmológica, uma das maiores a inteligência humana, então,
para
isto é, há mais de um século resolvida As invés-
(1829). primeiras
tigações de Laplace sobre a invariabilidade das dimensões do sistema

solar e sua explicaãço da equação secular da lua conduziram

àquela solução.

Nesta altura, o Fourier lembra Laplace examinara


geômetra que
a possibilidade de explicar a aceleração do movimento lunar,

supondo-se a ação da não é instantânea, mas sujeita


que gravidade

a uma transmissão sucessiva, como a da luz. Por aí, êle não pôde

descobrir a causa verdadeira. Nova investigação, enfim, serviu

melhor ao seu Na Academia das Ciências, a 19 de Março


gênio.
109Ó REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de 1787, Laplace apresentou uma solução clara e inesperada àquela


dificuldade capital. Provou nitidamente que a aceleração observada
é um efeito necessário da gravitação universal.
Era uma grande descoberta que logo esclareceu os pontos mais
importantes do sistema do mundo. A mesma teoria, com efeito,
mostrou que, se a ação da gravitação sobre os astros não é instan-
tânea, deve supor-se que ela se propaga mais de cincoenta milhões
de vezes mais rápida do que a luz, cuja velocidade é de setenta mil
léguas por segundo.
Nenhuma apreciação mais autorizada, nem mais sábia, nem mais
sucinta, se harmonizaria melhor com a tese que nos ocupa do que
a de Fourier, quando proferiu o elogio histórico de Laplace na Aca-
demia Real das Ciências de Paris, em 1829. Nem mais agigantada
figura de sábio poderia apresentar-se, para um relance aos domínios
da Astronomia, do que a do imortal geômetra que foi, sobretudo,
um artífice da admirável perfeição das teorias modernas.
Sucinta, clara, exata, mesmo sóbria, repassada de veneração, a
síntese do sábio então vivo sobre o gênio e a obra do sábio extinto,
deve ser evocada na maioria dos seus tópicos. Por isso, continuemos
a reter a palavra do Barão Fourier.
Laplace concluiu ainda da sua teoria dos movimentos lunares
que o meio no qual os astros se movem não opõe ao curso dos pia-
netas senão uma resistência, para assim dizer, insensível; esta causa,
com efeito, afetaria sobretudo o movimento da lua, e ela não produz
aí nenhum efeito observável.
A discussão dos movimentos da lua é fecunda em consequên-
cias notáveis. Pode dela concluir-se, por exemplo, que o movimento
de rotação da terra em seu eixo é invariável. A duração do dia não
tem mudado a centésima parte de um segundo desde dois mil anos.
Um astrônomo não teria necessidade, o que é extraordinário, de sair
do seu observatório para medir a distância da terra ao sol. Bastar-
lhe-ia observar assiduamente as variações do movimento lunar, de
que concluiria a distância com exatidão.
Uma conseqüência ainda mais surpreendente é a relativa à fi-
gura da terra, pois a própria forma do globo terrestre é assinalada
em certas desigualdades do curso da lua. Não ocorreriam essas
desigualdades se a terra fosse perfeitamente esférica. Pode deter-
minar-se a quantidade do achatamento terrestre pela observação
apenas dos movimentos lunares, e os resultados que se têm obtido
1° CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1097

concordam com as medidas efetivas realizadas nas grandes viagens


geodésicas ao equador, nas regiões borais, na índia e em diversas
outras paragens. Ê a Laplace sobretudo que se deve esta perfeição
admirável das teorias modernas.
Os seus trabalhos foram imensos e numerosas as descobertas
deles resultantes. Lembremos: investigações sobre a equação secular
da lua; a descoberta, não menos importante e não menos difícil, da
causa das grandes desigualdades de Júpiter e de Saturno; os teore-
mas admiráveis sobre a libração dos satélites de Júpiter; os traba-
lhos analíticos sobre o fluxo c o refluxo do mar, matéria a que deu
imenso desenvolvimento.
Todo ponto importante da astronomia física foi para Laplace
objeto de estudo e discussão profunda. Submeteu ao cálculo a
maior parte das condições físicas que os seus predecessores haviam
omitido. Na questão já tão complexa da forma e do movimento de
rotação da terra, êle considerou o efeito da presença das águas dis-
tribuidas entre as terras continentais, a compressão das camadas
interiores, a diminuição secular das dimensões do globo.
Nesse conjunto de investigações, pondera Fourier, deve notar-se
sobretudo as que se referem à estabilidade dos grandes fenômenos:
objeto nenhum é mais digno da meditação dos filósofos. No uni-
verso, tudo está disposto para a ordem, a pcrpetuidade e a harmonia.
A lei da gravitação a tudo regula e basta, e mantém a variedade
e a ordem. "Emanada uma só vez da sabedoria suprema, reina
desde a origem dos tempos e torna impossível toda desordem.
Newton e Euler não conheciam ainda todas as perfeições
do universo".
A lei primordial íoi sempre verificada. Ela explica hoje todo?
os fenômenos conhecidos. Quanto mais rigorosas as observações,
mais se conformam com a teoria. De todos os geômetras, foi La-
place o que mais aprofundou tão grandes questões. Terminou-as.
Se não criou uma ciência inteiramente nova, como Arquimedes
e Galileu; se não deu às doutrinas matemáticas princípios originais
e extensão imensa, como Descartes. Newton e Leibniz; se não foi
o primeiro a levar aos céus e estender a todo o universo a dinâmica
terrestre de Galileu, Laplace veio ao mundo para aperfeiçoar tudo,
para aprofundar tudo, para dilatar todos os limites, para resolver o
que se poderia acreditar insolúvel. Êle teria terminado a ciência
do céu se essa ciência pudesse ser terminada.
1098 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Encontra-se o niestho traço (ainda observa Fourier) em suas

investigações sobre a análise das ciência inteiramente


probabilidades,

moderna, imensa, cujo fim tantas vezes mal apreciado ocasionou as

mais falsas interpretações, mas cujas aplicações abrangerão um dia

todo o campo dos conhecimentos humanos, feliz suplemento à im-

perfeição da nossa natureza.

De um lance, essa arte proveio do gênio lúcido e fecundo de

Pascal. Foi cultivada, desde sua origem, por Fermat e Huygens.

Um geômetra filósofo, Jacques Bernouilli, o ilustre Barão


prossegue

de Fourier, foi o seu fundador principal. Uma descoberta singular-

mente feliz de Stirling, as investigações de Euler, e sobretudo uma

aplicação engenhosa e importante, devida a Lagrange, aperfeiçoaram

essa doutrina, clareada pelas objeções de D'Alembert e vistas


pelas

filosóficas de Condorcet. Laplace coordenou-lhe e fixou-lhe os

princípios. Ela então se tornou uma ciência nova, subordinada a

um só método analítico, de uma amplitude Fecunda nas


prodigiosa.
aplicações usuais, ela iluminará um dia todos os
poderosamente
ramos da filosofia natural.

Laplace, o imortal autor da Mecânica Celeste, descobriu verda-


"cujo
des eternas. Reunido a Lavoisier, nome, consagrado his-
pela
tória das ciências, tornou-se alvo eterno de respeito e de dôr",

trabalhou com êle. Êsses dois homens célebres empreenderam e

concluíram investigações de magnitude no domínio das ciências físi-

cas. Entretinha-se ainda Laplace com Berthollet e Chaptal, dois

físicos célebres, resultando dêsse convívio o aumento dos conheci-

mentos mais importantes e mais difíceis de adquirir.

Laplace escrevia em estilo e nobre. Traçando a história


puro
das grandes descobertas astronômicas, é um modêlo de elegância e

precisão. Nenhum traço lhe escapa; a expressão nunca é


principal
"Tudo
obscura nem E Fourier conclue: êle
pretenciosa. quanto
chama grande é com efeito; tudo êle omite não me-
grande quanto
recia ser citado".

A vista do texto da da Exposição do Sistema


primeira página

do Mundo de Laplace e à indagação do fez o espírito humano


que

na Astronomia, chegamos ao conhecimento de o maravi-


que, para

lhoso resultado, foi preciso observar os astros durante longos

séculos; reconhecer em suas aparências os movimentos reais da

terra; subir às leis dos movimentos dessas leis, ao


planetários; prin-

cípio da universal; descer, enfim, dêsse à expli-


gravidade princípio,
1" congresso cultural brasileiro 1099

cação completa de todos os fenômenos celestes, até os seus me-

nores detalhes.

O fim daquela obra de Laplace é a exposição dessas descobertas

e da maneira mais simples em nascer e suceder-se,


que puderam
"a
tendo dupla vantagem de oferecer um conjunto de ver-
grande

dades importantes e o verdadeiro método é seguir na


que preciso

investigação das leis da natureza".

Não dentro dos limites de uma tese, obrigadamente


podemos,

sumária, angústia de treze dias de a respectiva en-


pela prazo para
trega, a-pesar-da amplitude astronômica da matéria, deter-nos junto

à obra de Laplace, figura do século das luzes descobriu e expli-


que

cou a eternidade.
para

Devemos, entretanto, recordar d'Alembert, um dos funda-


que

dores da Enciclopédia, foi o célebre expositor de uma filosofia

puramente natural à obra empreendida. Que a La-


que presidia

grange, célebre matemático e astrônomo, se deve a teoria completa

das librações da lua, depois a de e de seus satélites, etc.


Júpiter

Que a Euler deve a Astronomia a nova teoria da lua e importantes

memórias sobre as desigualdades dos Newton foi o


planetas. Que

imortal descobridor das leis da universal e da decompo-


gravitação

sição da lua. Clairaut, recebido aos dezoito anos de idade na


Que

Academia das Ciências, fez numerosas descobertas em matéria de

Álgebra e Geometria. Galileu, o fundador na Itália da ciência


Que

experimental, foi o inventor do termômetro e da balança hidros-

tática, o descobridor das leis da Galileu estabeleceu


gravidade; que

os princípios da dinâmina moderna e construiu a primeira luneta

astronômica, descobrindo as librações da lua; Galileu declarou


que

que o sol, e não a terra, é o centro do mundo planetário e que a

terra gira ao redor de si, etc.

* *

No Curso de Filosofia Positiva, Augusto Comte, considerado

o maior filósofo francês depois de Descartes, fez a apreciação filo-

sófica do método e da doutrina das ciências fundamentais —


seis

Matemática, Astronomia, Física, Biologia e Sociologia


Química,
— concebendo-as como distantes separadas da ciência
partes e

abstrata, mas subordinadas a um mesmo método, a deu o nome


que

de método positivo.
1100 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Vejamos diversas das considerações filosóficas de Augusto

Comte sôbre o conjunto da ciência astronômica. Até agora, a Astro-

nomia é a única ciência em o espírito humano se encontra rigo-


que
rosamente liberto de toda influência teológica e metafísica, direta

ou indireta. Isso facilita a apresentação clara do seu caráter filo-

sófico. Para se fazer uma idéia dessa ciência, é circunscrever


preciso
o campo dos conhecimentos adquirir com
positivos que podemos
relação aos astros.

Indo, de algum modo, ao encontro dos de Emile


propósitos
Rigolage (Jules Rig). os de difundir a do filósofo
palavra grande
francês, utilizamos o resumo da Filosofia Positiva êle
que preparou
com tanto acêrto e abnegado espirito, com aprovação de IJttré e

aplauso irrestricto de milhares de estudiosos.

Só pelo sentido da vista podemos os corpos celestes.


perceber
Não existe nenhuma astronomia as espécies cegas, mais
para por
inteligentes que sejam. Escapam-nos mesmo os astros obscuros,

que são talvez os mais numerosos, e sua existência


pode, quando
muito, ser admitida indução. Relativamente aos
por astros, toda

indagação não é redutivel a simples observações


que visuais nos é

interdita; nossos conhecimentos são limitados


positivos, pois. aos

fenômenos geométricos e mecânicos apresentam.


que

Seria temerário fixar em cada ciência os limites do conheci-

mento: estariam ou longe demais. É indispensável,


perto porém,
estabelecer limites o espírito humano não
gerais para que se

deixe transviar.

Toda questão astronômica não dependa senão cia observação


que
visual, mais ou menos direta, tornar-se acessível cedo ou tarde.
pode
Y erificando-se uma exige outra espécie de indagações,
que questão
devemos excluí-la inacessível.
por

Comte definiu o objeto da Astronomia investigação dos


pela
fenômenos e mecânicos apresentam
geométricos que os corpos ce-

lestes. nestes "À


E têrnlos êle enunciou uma lei filosófica: medida

que os fenômenos se complicam, são susceptíveis de meios de expio-

ração mais extensos e mais variados; não há, uma


porém, exata

compensação entre o acréscimo das dificuldades e o aumento dos

meios. As ciências dos fenômenos mais complexos ficam,


por con-

seqüência, as mais imperfeitas. Os fenômenos astronômicos,


que
são os mais simples, são aqueles os os meios de expio-
para quais
ração são os mais limitados".
Io CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1101

A arte de observar se compoe de três diferentes:


processos

Io — a observação fenômeno
propriamente dita, isto é, o exame do

tal se apresenta; 2o — a experiência, isto é, a consideração do


qual

fenômeno, mais ou menos modificado circunstâncias artificais


por

que se instituem expressamente com o fim de mais expio-


perfeita

ração; 3o — a comparação, de uma


isto é, a consideração gradual

série de casos análogos, nos o fenômeno se simplifica


quais
cada vez mais.

Em Astronomia, a experiência é impossível; a comparação não

existiria senão comparar vários sistemas solares.


quando pudéssemos
Não resta senão a simples observação, adstrita a um só dos nossos

sentidos. Medir ângulos e contar tempos escoados, tais são os

únicos meios de descobrir as leis dos fenômenos celestes. Devemos

concluir a Astronomia é a ciência em a da observação


que que parte
é a menor e a do raciocínio a maior. Ela é independente de todas

as outras ciências. Tem somente necessidade de apoiar-se na

ciência matemática.

Os diversos fenômenos físicos, e biológicos não


químicos podem
exercer nenhuma influência sôbre os fenômenos astronômicos, aos

quais, ao contrário, todos os outros fenômenos, mesmo os sociais,

estão subordinados. O homem não de maneira cien-


poderia pensar,
tífica, em nenhum fenômeno terrestre sem antes considerar o que

é a terra no mundo de ela faz


que parte.

Um dos efeitos da Astronomia foi o de dissipar os prejuizos


absurdos e os terrores supersticiosos da ignorância das
provenientes
leis celestes a eclipses, cometas, etc. Conforme à observação
quanto

de Laplace, êsse estado se reproduziria se cessassem os estudos

astronômicos. A Astronomia é considerada religiosa entre os espí-

ritos a desconhecem. A dos céus, contudo, é apenas a


que glória
de Hiparco, de Képler, de Newton e de todos aqueles concor-
que
reram para lhe estabelecer as leis.

Toda ciência se opõe a toda teologia e êste caráter é mais

acentuado em Astronomia do em outra


que qualquer parte.

Nenhuma ciência desferiu mais terríveis sôbre a doutrina das


golpes

causas finais. O conhecimento apenas do movimento do nosso globo

destruiu a idéia do universo subordinado à terra e, conseqüência,


por

ao homem. A exploração do nosso sistema solar fez desaparecer

toda admiração cega e ilimitada, mostrando a ciência


que permite

.conceber facilmente coisa melhor. os astrônomos se entre-


Quando

R.M. B.2
REVISTA Marítima brasileira r

gam a setnelhante admiração, volta-se esta para a organização dos-

animais que lhes é desconhecida; ao passo que os biologistas, <jue

lhe conhecem toda a imperfeição, buscam os astros, dos não-


quais

têm nenhuma idéia aprofundada. Desde Newton, toda filosofia,

teológica foi privada do seu papel principal, concebida a mais regular

das ordens como estabelecida e mantida, no universo inteiro, pela

gravidade mútua de suas diversas partes.

É a seguinte a divisão da Astronomia: Io — a Astro-


principal

nomia geométrica, ou geometria celeste, que conservou o nome de

Astronomia dita; 2o — a Astronomia


propriamente mecânica, ou

mecânica celeste, fundada por Newton.

Esta divisão, continua A. Comte, está em harmonia com a nossa

regra enciclopédica. A celeste é, com efeito, mais simples


geometria

do que a mecânica celeste e dela independe. Realizou os progressos


mais importantes antes que a mecânica celeste começasse a existir.

Esta última, ao contrário, é dependente da sem a


precedente, qual
não teria nenhum fundamento sólido. Esta divisão é, a um
pois,
tempo, histórica e dogmática.

Das considerações sobre o conjunto da ciência astronômica,,

passa o grande fundador do Positivismo às considerações sobre os

métodos de observação, cujos desde a origem da ciência,,


progressos,

êle diz, após amplo exame: os antigos observavam com a precisão


de um muito. Tycho-Brahe foi o a alcançar
grau, quando primeiro
o minuto, e os modernos levaram a aproximação aos segundos.

Os fenômenos elementares dos corpos celestes, o


geométricos
movimento da terra, as leis de Képler e sua aplicação ao estudo

geométrico dos movimentos celestes, a lei da gravitação, a estática

celeste, a dinâmica celeste, a astronomia sideral e a cosmogonia


posi-
tiva são larga e aquilinamente apreciados Augusto Comte, cujo
por
Curso de Filosofia Positiva é uma das obras capitais da filosofia

do século XIX.

Cada uma dessas evidentemente, não ser resumida


partes, pode
neste trabalho. São tão abundantes e autorizadas as fontes existen-

tes, a começar pela se encontra na obra do filósofo


que grande
nos abstemos de insistir em maiores minúcias, res-
positivista, que

pigadas aqui e ali.

Cada elemento, necessário ao estudo da ciência astronômica,

exige exposição adequada para, o vulgo que não a conhece. E não

2.Ü.ÍZ
1° CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1103

estamos diante do vulgo. Tão numerosos e variados são êsses ele-

mentos que só a sua enumeração, em trabalho desta natureza, sobre-

carregaria o de cujo traçado inadvertidamente nos incum-


quadro

biram. A omissão de considerações sôbre tantos elementos, de

diversas importâncias, constitutivos do conjunto, nenhum


grande

prejuízo traz às circunstâncias e ao objeto desta tese. De uma

mirada para o céu ao cálculo de do sol, de


uma altura meridiana

uma contemplação recolhida nú, ao âmbito


da abóbada celeste, a ôlho

de um observatório, dotado e
de egrégios observadores poderosos
instrumentos, uma infinidade •
de elementos se encadeia e sucede,

combina-se, harmoniza-se resulta inteligência


e em para a
proveito
humana e o homens
para progresso dos povos. Há milênios os

exploram os céus e têm obtido resultados científicos e práticos


admiráveis. Há milênios os homens astros e
atentam para os

pacientemente, mas com sabedoria, tantas vezes bafejada pelo gênio,


distinguem os corpos celestes e chegam a contar e a catalogar mais

de cento e vinte mil estréias, mundos ai dentes e longínquos. Hão

de contá-las ainda mais, especialmente no hemisfério austral, menos


explorado, enquanto a Astronomia constantemente evolve.

* * . .

Consideremos, sumariamente, recapitulando, a evolução da ciên-

cia astronômica, cultivada na mais alta antigüidade. Desenvolvera-se

no Egito, mas são apenas conhecidas algumas observações, feitas do

alto dos terraços dos templos, ao passo que a Astrologia se perpe-


tuou nos calendários.

Quanto âs legendas cosmogônicas da Grécia, o ciclo épico e a


Teogonia mostram "com
a Mitologia inteiramente constituída, os

seus contornos nítidos e seu alcance filosófico, indicando a intenção


de explicar, em vasta síntese, a gênese do mundo físico e as
leis morais".

No período final da Idade Média, Purbach


Georges escreve

TlieoriCce novce base do ensino


planetarum, astronômico durante

muito tempo. Os diversos trabalhos do seu discípulo João Müller,

de Kcenigsberg, são interessantes. A xilografia


permite a difusão

de tratados populares, isto é, calendários, tábuas etc.


planetárias,

Em Astronomia, a ciência transformara sem dúvida as


grega

concepções mais antigas. Os astrônomos, e matemáticos da índia,


1104 IEVISTA. MARÍTIMA BRASILEIRA

em torno de Ptolomeu, apresentaram desenvolvimentos


porém,

originais.

Houve duas teorias entre os sábios gregos com relação à posição

da terra no sistema do mundo. A de Pitágoras opinava a terra


que

sobre si mesma e ao redor do sol; a de Aristóteles e de Ptolomeu


gira

de Alexandria, achando que a terra estaria imóvel no centro do

mundo. A autoridade de Aristóteles e a razão teológica fizeram

o sistema de Ptolomeu. Parece que os astrônomos da


prevalecer

Idade Média não conheciam senão os instrumentos de observação

astronômica dos gregos: o dioptro, para a medida dos ângulos, o

astrolábio de Hiparco para os cálculos trigonométricos e coordenadas

astronômicas.

Repentinamente, surgem dois grandes acontecimentos: a des-

coberta da América e a viagem de Magalhães. Revela-se uma parte


"A
considerável e desconhecida do universo: ciência dos livros perdia

a sua autoridade diante da ciência dos fatos; um simples marinheiro

sabia mais, com relação ao globo terrestre, que Aristóteles e Ptolo-

meu. A famosa questão dos antípodas estava resolvida e as des-

cobertas geográficas preparavam os espíritos para incluir a terra no

cortejo dos planetas. Colombo e Magalhães abriam assim caminho

a Nicolau Copérnico".

Êsse sábio polonês renova completamente a ciência do céu.

Reforma o sistema de Ptolomeu, imortalizando-se com isso. De

revolutionibus orbium celestium aparece em Nuremberg em 1543,

mas é condenado em 1616 Congregação do Index, conter


pela por
"idéias
dadas por exatas sôbre a situação e o movimento da terra,

idéias inteiramente contrárias à Santa Escritura".

"cujo
Depois de Copérnico, se elevou à concepção dos
gênio

grandes sistemas cosmológicos", surge o dinamarquês Tycho-Brahe,


"observador
engenhoso e hábil soube reunir os mateirais donde
que
Képler devia fazer sair as leis do movimento planetário".

No século XVI é reformado o calendário Papa Gre-


pelo

gório XIII.

Conhecida a verdadeira ordem do sistema do mundo, obra


pela

de Copérnico, seguem-se as leis de Képler. Todos os astrônomos,

inclusive Copérnico, admitiam como dogma os movimentos dos


que
"porque
corpos celestes eram circulares e uniformes, o círculo entre

as figuras e o céu entre os corpos são o que há de mais perfeito".

Mas as observações de Tycho-Brahe sôbre o planeta Marte fizeram


Io CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1105

com que Képler constatasse divergências excediam


que os êrros

possíveis das observações. Depois de longas e acuradas observações,

conseguiu descobrir as duas leis enunciou 1609,


primeiras que êle em

nos Commentarii de motibus — os


Stellce Martis: Io planetas des-

crevem elipses de o sol —


que ocupa um dos focos; 2° as áreas

descritas raio vetor do


pelo sol a cada planeta são proporcionais aos

tempos empregados em reiterado


percorrê-las". Em seguida, após

esforço, descobriu "os


a terceira lei: dos tempos das revo-
quadrados
luções dos são
planetas proporcionais aos cubos dos grandes eixos

das órbitas".

Sessenta anos decorridos, Newton descobre a atração universal,


depois de abolida a falsa mecânica de Aristóteles e descobertas as
leis exatas do movimento, obra de Galileu e de Huygens.

A influência da obra de Galileu se torna imensa. Êle aper-


feiçôa a luneta, inventada na Holanda Por meio de um instru-
(1609).
mento constróe, consegue,
que trinta vezes, o aumento de diâmetro,
tornando-se o
grande descobridor do céu". Vê a lua tem
que
mares, crateras, montanhas
que êle mede. A via-láctea é uma poeira
de estréias. tem
Júpiter quatro satélites lhe ao redor
que giram
como a lua ao redor da terra. Saturno apresenta duas protuberân-
cias, lias mais tarde Huygens
quais reconhece o anel cerca o
que
planeta. \ênus tem as suas fases, como a lua. manchas
O sol tem
e gira sôbre si mesmo.

Com a enorme repercussão dessas descobertas, discutem-se os


sistemas de Copérnico e Ptolomeu. Intervém a Congregação do
Index (1616) condena Copérnico.
que Mais tarde, diante do Santo
Ofício, Galileu é condenado e obrigado a abjurar, solenemente, de

joelhos (1633). Galileu se tornou célebre, tanto no domínio da


Astronomia no da
quanto Mecânica, cujos falsos êle
princípios
substituiu leis exatas da
pelas gravidade, leis da vertical ou
queda
sôbre um plano inclinado, movimento
parabólico dos projetís, movi-
mento pendular, forma
primeira do da inércia, divul-
princípio
gados em 1638.

Em Mecânica Racional, Huygens e Newton completam Galileu.


O descobre leis de "a
primeiro grande alcance e o segundo achou lei

da fôrça age entre o sol e os


que planetas, entre a terra e a lua, e
demonstrou essa fôrça é a mesma
que que a gravidade; uma ousada

e genial generalização leva-o a supor a mesma fôrça exerce


que se

entre duas massas materiais e a enunciar a lei da atração


quaisquer
'REVISTA "BRASILEIRA
3106 c:. .MARÍTIMA I

universal: duas moléculas materiais se atraem na razão direta de

suas massas e na razão inversa do quadrado de sua distância. Era-

nos revelada a lei do sistema do mundo".

Pelos Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (1687),


"a
Newton explica maior parte dos fenômenos astronômicos conhe-

cidos, não somente as leis de Képler, mas também as diferenças

entre os movimentos reais e os movimentos keplerianos; refere as

desigualdades do movimento da lua à ação do sol; estabelece as


que

marés são devidas às atrações associadas da lua e do sol sôbre a

a terra e o oceano; explica a precessão dos equinócios ação do


pela

sol sôbre o bôjo terrestre equatorial; calcula as massas do sol e dos

A lei tão simples da atração se apresentava como a mais


planetas.

vasta e a mais fecunda das sínteses".

As leis gerais que regem o sistema do mundo foram for-


grandes

muladas por Képler, Galileu e Newton. Os conhecimentos astronô-

micos, no século XVII, se ampliam. Faz-se a medida


primeira

exata do grau do meridiano. Calcula-se o raio terrestre,


permitindo

a Newton comparar a gravidade com a atração exercida sôbre a lua

e estabelecer a identidade das duas forças. Verifica Richer o aumento

da duração de oscilação do à aproximação do equador.


pêndulo

Aperfeiçoa Huygens.a luneta astronômica, descobrindo um satélite

de Saturno e reconhecendo a forma verdadeira do anel do planeta.

Cassini, primeiro Diretor do Observatório de Paris, determina

exatamente a duração da rotação do sol, de de Marte, de


Júpiter,

Vênus, e descobre novos satélites de Saturno. Rcemer acha


quatro

na observação dos satélites de o meio de calcular a velocidade


Júpiter

da luz. Halley observa o cometa de 1681, calculando-lhe os elemen-

tos pelo método de Newton, mais ou menos os mesmos dos


pouco
cometas observados por Apian em 1531 e Képler em 1607, o
por

que o leva à conclusão de bs três cometas são as aparições


que

sucessivas de um mesmo astro, cuja volta anuncia 1759. O


para
acontecimento a dando novo apôio à lei de
justifica predição,
Newton. Com essas palavras, Olivier Martin remata a Astro-
parte
nomia, do capítulo II XVII) da Histoire Genérale
(Século

des Peuples.

No século XVIII, prosseguem as observações e os estudos astro-

nômicos. Os matemáticos tratam da mecânica celeste e os observa-

dores desenvolvem o conhecimento do mundo: Bouguer e La

Condamine, Maupertuis e Clairaut, Lalande e Lacaille, Cavendish,


1° CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1107

-Cassini, Bradley e Herschell. São determinadas a forma e as dimen-

sões da terra. Calcula-se com exatidão a distância da lua à terra e

.satisfatoriamente a distância ocasião das


desta ao sol, por passagens
de Vênus disco solar. A da terra resultam
pelo massa e a densidade

conhecidas e é construída de Cassini. O


a célebre carta planeta
Urano, situado além Reconhece-se
de Saturno, é descoberto. que
Marte tem estações como duplas.
a terra. Observam-se as estréias

Descobre-se
grande número de nebulosas, resolúveis e irresolúveis.

írancisque Marotte das ciências,


e Henri Froidevaux, tratando
letras e artes, de 1815 aos nossos dias, ao se referirem à Mecânica

« a Astronomia, escrevem racional


que, com Lagrange, a Mecânica
tomara sua forma não fize-
definitiva, e Poisson, Hamilton, Jacobi
ram senão dar às suas Acres-
equações novas formas analíticas.
centam se deve, entr métodos
que etanto, assinalar os elegantes

geométricos aplicados Poinsot à Mecânica. Foucault, sua


por por
célebre experiência do pêndulo (1851), fizera a demons-
primeira
tração física da rotação da terra; êle constróe, mediante as indicações

de Poinsot, o giroscópio, que proporciona a mesma demonstração e

cujas aplicações foram


práticas não só numerosas como importantes.

Assim, a agulha
giroscópica substituiu a bússola

O único fato notável a registrar em mecânica celeste é a des-


coberta de Netuno,
por Le Verrier, apenas cálculo. Para
pelo
explicar as diferenças entre o movimento observado de Urano e o
movimento calculado, atribuiu-lhes Le Verrier à ação de um planeta
desconhecido, cuja posição calculou; o astronômo Galle, de Berlim,
avistou o Netuno
planeta (1846) no lugar indicado Le Verrier;
por
era uma confirmação empolgante da lei de atração newtoniana.

Marotte e Froidevaux rematam o seu resumo, notando o


que
estudo teórico das equações da mecânica celeste desespera ainda os
matemáticos. Os belos resultados obtidos Poincaré em Metho-
por
des Nausvelles, a resolução teórica Sundman do dos
por problema
tres corpos não
(1913), satisfizeram ainda às tais
questões gerais,
como a estabilidade do sistema solar.

Em Astronomia física, o progresso dos instrumentos de ótica

tem notavelmente desenvolvido nossos conhecimentos sôbre os pia-


netas e o sol. A fotografia e sobretudo a espectroscopia têm dado

resultados completamente inesperados: conhecimento constituição


da

e da temperatura do sol e das estréias, constatação de unidade

química do mundo celeste, movimento das estréias.


1108 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Fazendo abstração de uma grande variedade de aspectos inte-


ressantes da Astronomia e de alguns das ciências que lhe são úteis-
e necessárias, para não transpor limites toleráveis, passemos agora
a referir-nos ao interesse despertado por aquela ciência no Brasil.
Esse interesse sempre foi grande entre nós. Relatam-nos os
Anais do Observatório Imperial do Rio de Janeiro, sob a direção
de E. Liais, que o nosso belo e reputado observatório foi criado por
Decreto de 15 de Outubro de 1827, em virtude de uma decisão da
Assembléia Legislativa. De então a 1871, o seu fim foi o de servir
especialmente de observatório de instrução, frequentando-o os
alunos da Escola Militar e da Academia de Marinha. De 1874 em
diante, o estabelecimento progride em suas instalações e se torna
notável dentro em pouco, assumindo o caráter real e complexo de
Observatório, cuja utilidade se pode avaliar pelo renome que adquire.
De E. Liais e L. Cruls e H. Morize e a Sodré da Gama, veri-
fica-se que o estabelecimento tem realizado trabalhos constantes e
consideráveis, sendo pois uma das expressões mais positivas da cul-
tura científica do país, vendo-se atualmente nele, com o seu Diretor
citado e os seus Astrônomos-Chefes Alix de Lemos e Domingos
Fernandes da Costa, um grupo de estudiosos e cientistas que o levam
adiante com o maior devotamento e competência.
A Astronomia é matéria de estudo indispensável nas Escolas
Naval, Militar e de Engenharia, onde se formam os que se des-
tinam a atividades nos domínios da grande ciência, da Navegação,
"a mais bela das aplicações
da Astronomia", como conceituou H.
Faye, da Geodésia e de várias outras especialidades correlatas.
Vê-se assim que, entre nós, não deixaram de formar-se,
sucessivamente, como nos paises cultos, numerosos profissionais
conhecedores e práticos daquela ciência. Uma legião de engenheiros,
oficiais de marinha e do exército figura nos anais dos trabalhos de
caráter astronômico, levados a efeito no país.
Esses trabalhos podem ser rigorosamente discriminados e apre-
ciados, desde o período da nossa independência. Para isso, estão as
fontes ao alcance de todos.
O tempo limitado, posto à nossa disposição, não nos permite
elaborar uma rigorosa relação bibliográfica pertinente a matéria dç
1° CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1109"

Astronomia entre nós. Todavia, apresentando excusas omis-


pelas
sões a que somos obrigados, citemos:

Emanuel Liais Traité d' Astronomie.

L. Cruls Vários trabalhos.

Henrique Morize da latitude.


Determinação precisa

— Sôbrc o método de Sterneck para a

determinação da latitude.

Alix de Lemos Nota: trabalho sobre marés (Aná-

Use harmônica).

Allyrio de Matos Astronomia de Campo.

Catálogo de de estréias
pares para

a determinação da hora pelo método

de Zinger.

O moderno da hora.
problema
Determinação da latitude.

Lélio Gama Oscilações internas do eixo da Terra,

suposta rígida.

Estudos sobre as linhas geodésicas.


Contribuição o estudo da va-
para

riação das latitudes.

Determinação da latitude.

Mário de Souza Determinação da latitiide.

Tasso Fragoso Determinação da hora alturas


por

correspondentes âe estréias diversas.

Determinação da latitude alturas


por

iguais de duas estréias — etc.

Alípio Di Prímio Cartas eclestes e diagramas.

Cálculo da hora marcada reló-


pelo

gio local no instante de um sinal

horário.

Francisco Bhering trabalho sôbre coordenadas).


(Nota:
¦1110 11
c... revista .yi.vRÍnitA «brasileira

Amoroso Costa 'Nota sôbre a teoria dos instrumeH-

tos astronômicos. , .
Determinações do azimutc altu-
por
ras iguais de duas estrelas.

.— Tese de concurso à cadeira de As-

tronomia (Escola Politécnica).

'iompleta
Manuel Pereira Reis Teoria dos cometas.

EzEQUiei, dos Santos Júnior .. Teoria completa dos cometas.

A. L. Barbosa de Oliveira Teoria da refração.

Fábio Hostílio de Morais Rêgo Teoria completa dos cometas.

Romeu Braga Determinação da hora.

José Frazão Milanez Da refração atmosférica.


Sôbre o de Dowes.
problema
Instrumentos de observação.

Justino D2 Campos Lomba Medida do tempo.

* *

Sôbre trabalhos de oficiais de Marinha, concernentes à Astro-

nomia, Navegação, Geodésia e Hidrografia, ver Estante de Nave-


"Revista
Marítima Brasileira", números 9 e 10, 1933.
gação,

Reproduzimos em seguida algumas notas interessantes que nos

forneceu o nosso amigo, antigo colega e ilustre astrônomo do Obser-

vatório Nacional, Domingos Fernandes da Costa:

"
Um dos primeiros que se ocuparam de Astronomia no Observatório do Rio

foi o Capitão-Tenente da Armada Antonio Joaquim Curvello D'Ávila que


chegou ao pôsto de diretor desse instituto científico entre 1865-1870. Foi

substituído pelo eminente Emmanuel Liais, francês, sob cuja direção o Obser-

vatório desenvolveu-se ràpidamente, atingindo uma posição digna entre os es-

tabeleeimentos congêneres.

Comça a publicação dos Anais com os resultados dos trabalhos bem como

memórias e artigos a,vulsos.

Foram por êle adquiridos novos e modernos instrumentos e realizados

muitos trabalhos científicos na sede e fora, no campo.

Visconde de Prado — Êsse ilustre titular ao Observatório assina-


prestou

lados serviços, como astrônomo, e doando grande núumero de aparêlhos e ins-

trumentos de observação, entre os quais uma luneta zenital.

Substituiu Liais na direção, quando êsse diretor ausentou-se, em viagem

ü Europa. c i
1° .'CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1111

Capitão-Tenente João Carlos de Souza JaCques V- Exerceu o càrgo de

Io Ajudante do Observatório.o foi outro oficial da Armada que, durante muito

tempo, relevantes serviços como astrônomo encarregado do serviço da


prestou
hora e regulamentação dos cronômetros da Marinha. .

Antonio foi aluno astrônomo e esteve na


Francisco de Almeida Júnior

Europa em missão de estudos, com seu colega Juliãò de Oliveira Lacaille,

ambos voltado serviços ao Instituto, após o período


tendo ao Rio a prestar seus

de aprendizagem.

a Comissão Francesa organi-


Francisco Antonio de Almeida acompanhou
em 1874 e prestou ainda
zada pára observar a passagem de Vênus pelo Sol

bons serviços à Astronomia no Brasil.

de Oliveira Lacaille, segundo se dizia, sobrinho neto do grande


Julião
Lacaille, exerceu o cargo de astrônomo do Observatório durante muitos anos.

Demitido motivos do Marechal Floriano, visto


por políticos, pelo governo
ser monarquista convicto, foi, após longa readmitido ao
pendência judicial,

serviço como astrônomo, e mais tarde, 1909, chefe de secção de Astronomia

da Diretoria de Meteorologia Astronomia. Aposentado após muito tempo


e

de serviço, faleceu há pouco no Rio de Janeiro.

Como astrônomo, executou diversos trabalhos cujos resultados se acham

nos diversos volumes dos Anais, entre os a determinação de


publicados quais

grande número de ascensões retas de estréias. Chefiou a Comissão que

observou a de Venus disco solar, em 1882, em Olinda, bem


passagem pelo
como a devia observar o eclipse total do Sol em Outubro de 1912, em
que
Silveiras. Dele ainda se acham publicados os resultados dos trabalhos para

determinação de ao longo da linha do centro da E. F.


posições geográficas,
Central do Brasil.

D*. Manuel Pereira Reis — Acatado e competente astrônomo,


professor

seus serviços ao Observatório, do qual se afastou por indisposição


prestou
com o respectivo Diretor. Professor de Astronomia da Escola Politécnica

do Rio de dirigiu um observatório no morro de S. Antônio,


Janeiro, pequeno
mantido pela Escola, para prática dos alunos.

Executou no Observatório do Rio muitos trabalhos de notável precisão,

principalmente de Entre as memórias que publicou há


posições geográficas.
uma sôbre determinação da longitude telégrafo elétrico, que lhe valeu
pelo
grandes elogios. í e, t?* >> «&C,Pt, ?
õJÇhi,

Dr. Luiz Cruls — Belga de nascimento, viveu muitos anos no Brasil,


sendo aqui sepultado. Veio o nosso em 1871, com 23 anos de
para país
idade, após ter demissão do de Io Tenente de engenharia do
pedido pôsto
exército de sua Estudou em Gand e na Escola Militar da Bélgica,
pátria.
onde se formou em engenharia militar.

No Brasil, trabalhou a na Carta Geral do Império, ingressando


princípio
lio Observatório em 1874.

Em 1884, foi nomeado Diretor, em substituição a Liais, que se retirou

definitivamente para a Europa.


1112 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Foi nomeado lente de Astronomia e Geodésia da Escola Militar em 1888.

Grandes eram o saber e a atividade do Dr. Luiz Cruls, não


que pôde,
entretanto, realizar o maior dos seus desejos: colocar o Observatório em local
mais conveniente e condigno.

Deixou numerosos e importantes trabalhos publicados sobre Astronomia,

Geodésia e Meteorologia.

Chefiou duas importantes comissões, a de Estudos da Nova Capital da

União e exploração do planalto central, e a da observação da de


passagem
Vênus pelo Sol em 1882, em Punta Arenas. Minuciosos relatórios foram,

publicados de ambos.

A êle deve-se a descoberta do grande cometa que traz seu nome e cuja

órbita mostrou notável analogia com a do cometa de 1807.

Faleceu o Dr. Luiz Cruls a 21 de Junho de 1908, em Paris, onde fôra

buscar melhoras para sua saúde, gravemente alterada pelo desempenho de uma

comissão no Alto Javarí.

Dr. Luiz da Rocha Miranda — Deve-lhe o Observatório muita gratidão.

Ingressou como 3o astrônomo e, em concurso, obteve o lugar de Io astrô-

nomo, chegando mais tarde a vice-diretor. Como profissional, prestou ao

Instituto excelentes serviços, tendo sido encarregado das observações equatoriais.

Durante sua permanência no quadro de astrônomos, dotou o Observatório de

alguns instrumentos, entre os quais um excelente foto-heliógrafo por Steinheil.

Deixou o Observatório para dedicar-se a profissão mais rendosa, tornando-se

possuidor de notável fortuna.

Entretanto, nunca esqueceu a vevlha casa de trabalho. Assim, por ocasião

da transferência da sede do Observatório para o morro de S. Januário, fez

o Dr. Rocha Miranda contribuir, à sua custa, o pavilhão em que funciona o

serviço da hora e que com justiça deveria receber seu nome, se êle num admirá-

vel gesto de modéstia e gratidão, não tivesse solicitado que se batizasse o

novo pavilhão com o nome do Dr. Luiz Cruls, homenagem também por todos

julgada justa aliás.

Ainda mais tarde, após seu falecimento, por disposição testamentária,

recebeu o Observatório Nacional, bem como outras instituições científicas, um

donativo em dinheiro, para aquisição de qualquer instrumento que fosse

necessário.

Os resultados dos seus trabalhos acham-se publicados nos Anais do

Observatório.

Dr. Nuno Alves Duarte Silva — Ehtrou o Observatório


para como
aluno astrônomo e, por concurso, foi depois elevado à categoria de astrônomo.
Nesta qualidade, prestou seus serviços até se fez a reforma subdividiu
que que
a repartição em duas secções, uma de Meteorologia e Física do Globo, que
ficou sob a chefia do Dr. Nuno Duarte. A segunda secção, de Astronomia

e Ceodésia, coube ao astrônomo J. de Oliveira Lacaille, que ficou como


seu chefe.

O Dr. Nuno Duarte fez seus estudos iniciais em Gand, vindo depois para
o Rio de Janeiro, onde tirou o curso de engenharia civil Escola Politécnica.
pela
Io CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1113

o Brasil, como astrônomo do Observatório, na Ia. Confe-


Representou
".
rência Internacional da Hora

também diversos trabalhos de determinação de posições geográ-


Executou

relatóriots dos trabalhos. Publicou ainda um


ficas, tendo sido publicados os

meteorológicos, o qual foi adotado para


código para transmissão de telegramas

Retirou-se do serviço por aposentadoria


o serviço de previsão do tempo.

e faleceu há alguns anos nesta cidade.


— Engenheiro civil, entrou para o Observatório
Dr. Leopoldo Neri Vollú

durante a administração Cruls, na qualidade de assistente.

cálculo e foi muito tempo encarregado


Ocupava-se de preferência com o por
também observações equatoriais
da redação do Anuário. Contudo, executou

de estrelas Lua, bem como


de eclipses de satélites de Júpiter e ocultações pela
o invalidou para o
observações meteorológicas. Por moléstia da vista, que

ainda hoje com seus


serviço, pediu e obteve aposentadoria. Vive preocupado

estudos de matemática, de que possue sólida cultura.

Publicou diversos trabalhos sobre matemática e astronomia.

Almirante AnTunio Alves Ferreira da Silva — Serviu longos anos como

encarregado do serviço da hora do Ministério da Marinha. Ativo,


por parte

culto e de formidável capacidade de trabalho, o Almirante F. da Silva deixou

renome no Observatório. Também trabalhou longos anos em Astronomia de

campo e Geodésia, em comissões de limites. Publicou muitos trabalhos, memó-

rias e relatórios científicos.

Ainda na de encarregado da hora, serviram no Observatório, em


qualidade
comissão do Ministério da Marinha, os então:

Capitão-Tenente Álvaro Nunes de Carvalho

Capitão-Tenente Pedro Max Fernando de Frontin

Capitão-Tenente José Manuel Monteiro

Capitão de Corvcta Alfredo Cordovil Petit

Capitão-Tenente Raul de Taunay.

Como o seu colega Ferreira da Silva, executaram sempre as observações

meridianas na luneta de Dalond, para a determinação da hora e regulamentação

dos cronômetros, tanto do Observatório como da Marinha, de que eram espe-

¦cialmente encarregados.

Nogueira da Gama — P.ste ilustre e


Contra-Almirante Manuel José
¦dedicado oficial da Armada serviu como encarregado dos cronômetros da Ma-

rinha no Observatório, onde executava as observações meridianas necessárias

à regulamentação dos mesmos e dos pêndulos e cronômetros do Observatório.

Por ocasião da reforma da Repartição, em 1909, foi convidado pelo Dr. Morize

para exercer, em comissão, o cargo de assistente da secção de Astronomia,

tendo nesse caráter à determinação das longitudes de Curvelo e


procedido
Belo Horizonte.

Desligou-se depois, do Observatório, regressar à Marinha onde


pouco para
continuou a prestar serviços na especialidade em que se tornou mestre. Publi-

cou diversos trabalhos sôbre o astrolábio de e determinações de


prisma

posições geográficas.
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

'Rodrigues
- ¦ D.r./Mário Dfí —
Souza Engenheiro civi!. Entrou o
para
observatório por ocasião da reforma de 1909,, como assistente da secção de
Astronomia e Geodésia. Desempenhou diversas comissões, entre as a do
quais
levantamento magnético do Estado do Rio de Janeiro c de fiscalização das
obras de construção do novo Observatório no morro de S. Na
Januário.
Observatório, exerceu por algum tempo a chefia do serviço da hora.

Duas comissões ainda desempenhou, antes de deixar o Observatório: a


determinação das coordenadas geográficas das ilhas de Fernando de Noronha e
da Trindade. Calculou uma efeméride para predição das corcunstâncias das
aíongações de estréias circumpolares e de grande declinação sul, trabalho êste
com que prestou um excelente serviço à Astronomia de campo. Foi mais tarde
tansferido para o Ministério do Trabalho, deixando porisso o Observatório.

Josf. Nicolau da Cunha Louzada

Guilherme Caliieiros da Graça Filho

José Dionísio Mêira

Três bons auxiliares. Pestaram seus serviços como calcula-


principalmente
dores e observadores meteorologistas, tendo iniciado carreira como
porém
alunos astrônomos, sendo finalmente nomeados os dois assistentes,
primeiros
quando se fez a reforma do Observatório em 1909.

Professor Henrique Carlos Morize — Nascido em França, o Dr. Morize


veio bem jovem para o Brasil, onde, por algum tempo, exerceu sua atividade no
comércio.

Seu amor ao estudo e seu pendor para a ciência levaram-no dentro em

pouco, não sem dificuldade, à Escola Politécnica, onde se formou em engenha-


ria industrial.

Por concurso, ingressou no Observatório, como aluno astrônomo; pelo


seu esforço próprio, galgou todos os até à Diretoria.
postos

Dotado de vasta e invejável cultura geral, impôs-se annda seu notável


pelo
saber nos domínios da Astronomia, da e da física experimental, de
geofísica
que foi professor na Escola Politécnica, onde havia aprendido.

Difícil é fazer um resumo dos resultados da sua atividade nos variados


campos em que ela se fez sentir. Entre as inúmeras comissões, a que deu
sempre o mais cabal desempenho, citar o da exploração
pode-se do planalto
central, em companhia de Cruls e outros, a de demarcação da fronteira cora
a Argentina, a de observação de diversos eclipses totais do Sol, sendo c
último no Ceará, em 1919, e a de representante do Brasil no Congresso
Internacional de Astronomia em Roma.

Não lhe faltaram postos honrosos a sua excessiva modéstia


que a custo
permitia aceitar. Foi assim, por muito tempo, da Academia Rrasi-
presidente
leira de Ciências e presidente da Rádio-Sociedade do Rio de associação
Janeiro,
que fundou com Roquette Pinto e outros.

Muito lhe deve a Meteorologia no Brasil bem como a SSsmologia.


Aos seus longos a pacientes esforços, à sua tenacidade, deve-se a trans?
ferência do Observatório do acanhado local em definhava, no morro do;
que
Io CONGRESSO CULTURAL BRASILEIRO 1115

Castelo, para lugar mais amplo, em S. onde foi possível alojar os


Januário,
instrumentos antigos e os mais tarde adquiridos, em pavilhões isolados, de

acordo com a moderna técnica. êle a instalação do morro de S.


Julgava

Januário o seu melhor serviço à Nação.

De sua bagagem científica existe longa lista de memórias, motas, relatórios

e outros trabalhos originais sôbre Astronomia, Meteorologia e Geofísica,

publicados separadamente, ou em revistas, anais e demais publicações científicas.

Na técnica da radiografia, inventou êle um para localização de


processo
projetís, o qual se encontra citado em diversas obras sôbre o assunto.

Seu derradeiro trabalho, escrito com dificuldade, a morte come-


já quando

çava a rondá-lo, o Esboço sôbre o do Brasil, é notável e talvez ainda o


Clima
único no gênero; síntese tão completa as observações
quanto permitiam
acumuladas até então.

Modesto e bom, mesmo de uma bondade, se êle porventura faltas


grande
cometeu deve-se isso aos impulsos incontidos do seu excelente coração.

Viveu trabalhando, ensinando, sem outra retribuição a satisfação do


que
seu dever cumprido e a alegria lhe causava o mourejar diário no campo
que
da ciência.

Chefe de família exemplar, morreu deixando aos seus, aos da sua


pobre,
querida família, o exemplo do seu nobre proceder.

E por tudo isso, ainda hoje, sentem seus antigos subordinados, seus nume-

rosos discípulos e amigos, a mágua e saudade causaram o afasta-


grande que
mento para sempre dêsse varão ilustre e todos os títulos respeitável e bom.
por

O atual quadro de astrônomos do Observatório é o seguinte:

Diretor Professor Sebastião Sodré da Gama

Astrônomos-Chefes de Serviços Alix Corrêa Lemos

Domingos Fernandes da Costa

Astrônomos Gualter de Macedo Soares

Auto Barata Fortes

Francisco Xavier Kulmg

Lélio Itapuambira Gama

Henrique Vítor MorizE

Adalberto Fakias dos Santos".

Rio de Janeiro, 18 de Maio de 1940.

Dídio Costa.
•**m*B*_f___Bkmm**
____*(_^—

—_rí ' IW
i-f i r' ¦ J
¦'l--««_i_SH ^¦i>?

_H__________Í^V-K________Í

'"''^¦;
v.^^». <.*¦;.':.' ____^^__!_!__lS_$r
¦¦'*,*-)**h_'^»b..

Busto do Almirante Barroso, oferecido pela Marinha


de Guerra do Brasil à de Portugal

R.M.B. 3
08 CENTENÁRIOS PORTUGUESES
E A MARINHA DE GUERRA DO BRASIL

A 9 de Maio do ano corrente, partiu para Lisboa a Embaixada


Extraordinária do Brasil às comemorações dos Centenários de
Portugal, sob a chefia do General de Divisão Francisco José Pinto,
Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, fazendo parte dela,
além de outros ilustres compatriotas, o Capitão de Mar e Guerra
Rodolfo Fróis da Fonseca e Capitão-Tenente Augusto do Amaral
Peixoto Júnior.

O Comandante Rodolfo Fróis da Fonseca foi portador de uma


mensagem do Sr. Almirante Henrique Aristides Guilhem ao Sr. Mi-
nistro da Marinha de Portugal, à qual se referiu o Jornal do Brasil
do dia 19 de Maio, reproduzindo-a, nos seguintes termos:

A MARINHA DE GUERRA DO BRASIL À MARINHA


DE GUERRA DE PORTUGAL

DUAS OBRAS DE ARTE : O BUSTO EM BRONZE DO ALMIRANTE BARROSO


(ESCULTURA DE CORREIA lima) E A MENSAGEM DO ALMI-
RANTE ARISTIDES GUILHEM

"ATenhuma
demonstração de apreço à Nação portuguesa, por ocasião
dos seus centenários de 1940 — dis S. Excia. — pareceu mais
expressiva à Marinha de Guerra do Brasil do que a oferta,
que ela fas à gloriosa Marinha de Portugal, do grande símbolo
e herói, valoroso traço de enorme significação entre as almas
luisitanas c brasileiras".
1120 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Entre tantas demonstrações de caráter histórico e afetivo dadas


a Portugal pela gloriosa Marinha de Guerra do Brasil, nenhuma é,
por certo, mais expressiva do que a oferta do busto, em bronze, do
Almirante Barroso, Barão do Amazonas, herói da batalha do Ria-
chuelo e símbolo da bravura brasileira.

Essa obra de arte, reprodução da efígie do grande marinheiro,


é trabalho do ilustre escultor Correia Lima e seguiu com a Embai-
xada Extraordinária do Brasil às comemorações centenárias do país
irmão, acompanhada da seguinte mensagem, escrita e assinada pelo
Sr. Vice-Almirante Henrique Aristides Guilhem, ilustre Ministro da
Marinha, e que, como a obra do escultor nacional, é igualmente uma
altíssima expressão de arte e sentimento.

Essa mensagem foi endereçada ao Sr. Comandante Manuel


Ortins de Bittencourt, Ministro da Marinha de Portugal, e está
assim redigida:
"Rio de
Janeiro, 3 de Maio de 1940 — Excelência — Por
intermédio do Sr. Capitão de Mar e Guerra Rodolfo Fróis da Fon-
seca e Capitão-Tenente Augusto do Amaral Peixoto Junior,
representantes da Marinha de Guerra Brasileira na Embaixada
Extraordinária às Comemorações dos Centenários de Portugal, sob
a chefia de S. Ex. o Sr. General de Divisão Francisco José Pinto,
Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Brasil, tenho a
honra e o sumo prazer de passar às mãos de V. Ex. um busto, em
bronze, do Almirante Barão do Amazonas, Francisco Manuel Bar-
roso da Silva, trabalhado pelo notável escultor brasileiro Sr. Cor-
reia Lima.

O Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva, lídima glória


da Marinha do Brasil, a que serviu exemplarmente até ao fastígio
de sua carreira, representado pela esplêndida vitória que alcançou
em Riachuelo, a 11 de Junho de 1865, é uma das figuras históricas
mais caras ao nosso país, pertencente ao grande núcleo de oficiais de
marinha nascidos em Portugal, entre os quais, além dele, o Almirante
Joaquim José Inácio, Visconde de Inhaúma, vencedor de Humaita,
à frente dos mais bravos oficiais da nossa Armada, e o Almirante
Elisiário Antônio dos Santos, Barão de Angra, também ilustre chefe
. e herói da mais prolongada e sanguinosa das nossas campanhas.
OS CENTENÁRIOS portugueses E a marinha de guerra do brasil 1121

Ao oficial brasileiro, nascido na legendária Lisboa e


glorioso

saído da nossa antiga Academia de Marinha, exatamente se


quando

tornara o Brasil independente, coube a ventura, além do heroísmo

de inspirar-se no momento de uma ação decisiva as


pessoal, para

armas do Império, alcançando realce e nas mais


perene grandeza

belas da nossa história naval.


páginas

Pelo exemplo da sua longa vida militar e pelo feito notabilíssimo

de Riachuelo, levantaram-lhe os brasileiros uma estátua na Capital

do Com os Almirantes Marquês de Tamandaré, comandante


país.

em chefe da Esquadra em operações, cuja Segunda Divisão êle

comandava, com o Visconde de Inhaúma e o Barão de Angra, Bar-

rose se encontra entre nós como símbolo verdadeiro. Português

nato, foi um dos da Marinha de Guerra do Brasil, um


grandes

luso-brasileiro dedicado à Pátria que adotou, continuador


glorioso

da extraordinária cooperação dos descobridores das


portugueses,

nossas terras e criadores dos fundamentos da Nação a que nos orgu-

lhamos de pertencer.

Nenhuma demonstração de apreço à nação portuguesa, por oca-

sião dos seus Centenários em 1940, mais expressiva à


pareceu

Marinha de Guerra do Brasil do a oferta, ela faz à gloriosa


que que

Marinha de Portugal, do busto em bronze do Almirante brasileiro

Francisco Manuel Barroso da Silva, símbolo e herói, valoroso


grande

traço de enorme significação entre as almas lusitana e brasileira.

Queira pois V. Ex., Sr. Ministro, receber a significativa obra

d'arte que a Marinha de Guerra do Brasil oferece à Marinha de

Guerra de Portugal, com infinitas congratulações dos


pela passagem

centenários oitavo da sua fundação e


grandes portugueses, gloriosa

terceiro da sua memorável restauração.

Aceite V. Ex. os meus da mais elevada estima e con-


protestos
— Henrique Ministro
sideração. Aristides Guilhem, Vice-Almirante,

da Marinha".

O busto assenta, como se vê na ilustração em um pedestal,


junta,

todo trabalhado em jacarandá, obra magnífica de talha, confeccio-

nado no Arsenal de Marinha, e, em cuja superior, sobressaem


parte
1122 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

os escudos do Brasil Colônia, do Brasil Reinado, do Brasil Império

c do Brasil República, com a seguinte inscrição em de bronze:


placa
"A
— Marinha de Guerra do Brasil à Marinha de Guerra de

Portugal".

PORTUGAL HOMENAGEIA O MINISTRO DA MARINHA

DO BRASIL

A cerimônia da entrega das insígnias da Grã-Cruz de Avie

ao Almirante Aristides Guilhem

No Gabinete do Sr. Ministro da Marinha realizou-se, na tarde

de terça-feira, a entrega, pelo Sr. Embaixador Martinho Nobre de

Melo, das insígnias da Grã-Cruz de Aviz com Portugal home-


que

nageou o ilustre titular da Armada brasileira.

Foi um ato simples, mas tocante, mau o seu carater


grado

protocolar. Após a colocação das referidas insígnias, represen-


pelo
tante diplomático do ao do Sr. Ministro
governo português, peito

da nossa Marinha de Guerra, este agradeceu em eloqüente discurso:

"Senhor
Embaixador Nobre de Melo.

Ao entregar-me V. Excia., nos termos distintos e expressivos

da sua palavra eloqüente e amiga, a condecoração da Grã-Cruz da

Ordem do Mérito Militar de Aviz, conferida Governo de Por-


pelo

tugal, sinto-me e duplamete honrado e desvanecido, tanto


profunda

pelo que a magnífica distinção representa quanto fortuna de


pela

a receber na circunstância de chefe eventual da Marinha de Guerra

do Brasil.

Não me poderia, méritos individuais, caber distinção tão


pelos

bela e rara. Tenho-a agora comigo, entretanto, ainda mais estimada

e preciosa. Ela vem de Portugal, trazem-na as mãos do seu Embai-

xador, em memorável oportunidade, destinada a então está à


quem

frente de uma das instituições militares do Brasil, cuja tradição

histórica independente é de mais de um século, mas cuja


pouco

semente está entre as da sementeira dos velhos tempos de Ourique


OS CENTENÁRIOS TORTUGUESES E A MARINHA DÊ GUERRA DO BRASIL 1123

e das famosas Armadas correriam a cortina do mistério oceâ-


que

nico, maravilharam o mundo e lançaram os fundamentos da pátria

brasileira.

Esta oportunidade é memorável a nação lusa comemora,


porque

com todo o civismo da sua nobre alma, oito séculos de construção

nacional e humana, de fabulosas navegações, credora eterna


pioneira

das bênçãos da e das galas da história.


posteridade

Entre as bênçãos de homens, de povos e de raças que puderam

aproximar-se e embeber-se de civilização, devem sentir-se como

enternecedoras as bênçãos dos brasileiros, porque, se começaram estes

na América, durante séculos de lida transatlântica, sentem efetiva-

mente as suas oriegns remontam à fonte milagrosa da Lusitâ-


que

nia predestinada.

Entre as fraternas homenagens estão os brasileiros reno-


que

vando a Portugal, no ano corrente das suas comemorações centená-

rias, chegam ao Brasil novas de secular amizade, de afeto e


provas

solidariedade. Outras tantas vão chegando do Brasil à terra

singularmente gloriosa de D. Afonso Henrique, do Infante Nave-

do Príncipe Perfeito, de Pedro Álvares Cabral, de Mar-


gador,

tini Afonso...

Prova, em meio de tantas secularmente constantes, é a


provas

acaba de transmitir V. Excia., Sr. Embaixador de Portugal, a


que

êste Ministério, em nome do seu nobre Governo. Não podia ser

mais alta, quantp ao destino, nem mais eloqüente quanto ao que

representa em honra, dignidade e brilho. Desvanece profundamente,

mostra o timbre dos sentimentos dalém-mar com a Marinha


para

do Brasil, instituição armada espirito e mãos


pelo pelas portuguesas

os brasileiros continuaram e hão de cada vez mais engrandecer.


que

A condecoração de Aviz, Sr. Embaixador, ora tenho a


que

imensa honra de receber do Govêrno Português, aqui chega como

uma preciosidade, evocadora da eterna lusa, e a recebe


glória quem

tem a sensação de haver colhido incomparável e alcançado


prêmio

inexprimível felicidade.

Ao Govêrno Português e a V. Excia., Sr. Embaixador Nobre

de Melo, todo o meu profundo reconhecimento".


1124 REVISTA marítima brasileira

"ENTRE
O ACONTECIMENTO DE OURIQUE E O DA

RESTAURAÇÃO, OS LUSITANOS ENTRARAM SURPRE-

ENDENTE E POMPOSAMENTE NA HISTÓRIA"

É assim nos fala cm brilhante página enaltecedora dos da


que feitos

raça, o Sr. Ministro da Marinha, Almirante Aristides Guilhem

Ourique, na longa campanha da constituição territorial do reino

português, foi a primaira e considerável batalha onde as armas de

D. Afonso Henrique abateram a muçulmano. Esse rei adolescente,

de tempera rija, continuou a expulsar o intruso, conquistando Lisboa

em 1147. Enquanto dissentiam e lutavam entre si os potentados


muçulmanos na Península. Santarém se fez o centro da ação liber-

tadora, chegando os portugueses ao Algarve meio


(1185), quasi
século após Ourique. Nesse ano de 1185, faleceu o primeiro e grande
re' de Portugal.

Em 1250, com Afonso III, toda a costa marítima do sul estava


limpa de intrusos sarracenos, seguindo-se a fixação de fronteiras

entre Portugal e Espanha. A nação se firmou e desenvolveu,


guiada

por espíritos esclarecidos: D. Diniz, o Lavrador, organizador da Ma-

rinha, desbravador de caminhos á fundador


prosa portuguesa, da

universidade de Lisboa; D. Afonso IV, o expulsou, com o rei


que
de Castela, os últimos mouros do solo europeu, impulsionador das
"terrível
atividades marítimas e do comercio; D. Pedro I, aos maus

e estimado dos bons"; Dom I, o fundador de uma nova dinastia,


João

pai do Infante D. Henrique, o Príncipe dos Descobridores; D. II,


João
o príncipe Perfeito, tantos dizem o maior dos reis
que portugueses;
"foi
D. Manuel, o feliz monarca, cujo a verdadeira
governo Idade de

Ouro de Portugal"...

Essa Idade de Ouro começou três séculos e meio depois de Ou-

rique, um e meio após os derradeiros feitos de Afonso IV, menos de

meio desde "sã


a morte do Infante D. Henrique, cuja fama acabará

o mundo"...

O exame da historia de Portugal nos leva á idéia de desígnios


que
superiores inspiraram os e impeliram o nobre de
príncipes povo
Coimbra, Lamego e Vizeu; do Porto, Braga e Guimarães; das terras

entre Douro e Minho, Beira e Trás os Montes; terras constituíam


que
"que
o pequeno Estado espantou depois o mundo com as suas nave-

gações e conquistas".
OS CENTENÁRIOS PORTUGUESES E A MARINHA DE GUERRA DO BRASIL 1125

Em ourique, nasceu a intemerata nação e desde então


portugueza
a sua marcha é apenas tolhida no da dominação
grandiosa periodo
filipina Perturbado em seu cminho durante sessenta
(1580-1640).

anos, continuou a nação entre reveses e vitorias defini-


passageiros
tivas, constituindo fim o vasto e florescente império colonial
por que

todos hoje admiramos.

No fim do século XVI, fechava-se o ciclo revolucionário, em-

preendido e realizado antes da submissão do ceptro


pelos portugueses

de Felipe II. Só caber a a energica, es-


poderia predestinados, gente

clarecida e virtuosa, a relização de ciclo semelhante, integralmente

maravilhoso. À circunstancia de não bastar ás energias do trabalho

português o territorio da nação, junto ao do castelhano,


país poderoso

fez do mar o tenebroso e estupendo campo em Portugal


que ganhou

renome, e riqueza, abrindo novos caminhos á civilização e á


gloria

de todos os povos; fez do mundo o campo a ex-


prosperidade para

das suas incomparaveis energias fisicas, espirituais e morais.


pansão

Em Ourique, primeiro e magnífico espisodio de uma historia de

oito séculos, rebentou o novo ramo da familia humana, o lusiada ro-

busto, o ramo que floresceu e estendeu-se mundo, transplantado


pelo

ao Brasil, uma das e significativas realizações


principalmente grandes

na sua extensão, substancia e unidade. A Restauração,


portuguesas,

em 1640, foi outro episodio em o escapar á tutela fili-


que país pôde
incomoda e perturbadora.
pina,

Entre o acontecimento de Ourique e o da Restauração, os lusi-

tanos entraram surpreendente e na historia. Entre a


pomposamente

redenção de 1640 e os nossos dias, a alma continuou a re-


portuguesa

pelo mundo a havia acolhido, cristã e benefica, em


partir-se que já

todos os seus recantos, especialmente no Brasil.

A comemoração do oitavo centenário de Ourique e terceiro da

Restauração, o espirito contemporâneo ha de se irw-


profundamente

clinar e fervorosamente seguir a nação em todas as festivas


portugesa

cerimonias do proximo ano de 1940, se lembram o nascimento


quando

ao choque das armas, e a reconquista da liberdade, ao clamor festivo

da raça, da e nação — HENRIQUE


grande gloriosa portuguesa.

A. GUILHEM".

Jornal do Brasil, Rio de 12 de Maio de 1940.


Janeiro,
1126 revista marítima brasileira


PENOSO ESTAR AGORA EM GUERRA A CIVILIZAÇÃO

DO OCIDENTE E COMPUNGIDO O MUNDO. HÀ TRÉGUAS,

ENTRETANTO, PARA OS ESPÍRITOS SE VOLTEM


QUE

PARA PORTUGAL E TESTEMUNHEM SE DERRA-


QUE
MAM SÔBRE TÃO GLORIOSA NAÇÃO AS BÊNÇÃOS DA

HUMANIDADE" (Comandante Dídio Costa)

O APLAUSO CALOROSO DO BRASIL NOVO NO PRIMEIRO DOMINGO DAS

COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS DO VELHO PORTUGAL.

Uma página de arte que é ao mesmo tempo, um esplendente


painel
histórico

r
!
Marinheiro e escritor dos mais ilustres e vigorosos do moderno

Brasil, o Comandante Didio Costa, tão e apaixona-


que proficiente
damente dirige a Biblioteca do Ministério da Marinha, honrar
quis
estes suplementos com uma da sua lavra sobre as ComeHnorações
página
Centenárias de Portugal, atendendo assim ao convite
generosamente

que lhe e invocando, do mesmo cm síntese c


fizéramos passo, perfeita
luminosa, a história da Terra-Mater, nos seus lances mais esplendentes

e nos seus vultos mais gloriosos.

Não incidiríamos com certeza em erro se acrescentássemos


que
essa pagina traduz a consciência do historiador e o arre-
plenamente

batamento do artista. Do artista soube, rutilancia do estilo


que pela
e vigor das tintas, alçar-se á altura dos rememorados e,
quadros pela
exatidão e força do comentário, agigantar-se no critico com
juizo que
definiu a ação dos no, mundo !
portugueses

Os leitores destes suplementos, ou brasileiros, hão de,


portugueses

por certo, extasiar-se na leitura da maginífica a seguir lhes


página que,
oferecemos. Ela vale realmente como aplauso caloroso, do Brasil Novo

neste primeiro Domingo das Comemorações Centenárias do velho e

glorioso Portugal. Ri-la:

Não fóra a tragédia contemporânea na Europa, veríamos este

ano a humanidade em festa. No áureo Tejo flutuariam belonaves e

tremulariam bandeiras de toda Dar-se-ia nesse rio lendário,


parte.
sulcado missonarias da Renascença,
pelas quilhas o encontro fraterno

das Armadas deste século avançado, o lugar em a coragem


que indô-
OS CENTENÁRIOS PORTUGUESES í A MARINHA DE GUERRA DO BRASIL 1127

mita das Armadas famosas se atirou ao mistério e descobriu mundos.

Cruzariam os ares tantos aviões lá do céu azul, ao


possantes que

brilho solar, cobririam certamente de flores todo o território por-

tuguês, do cabo Raso a todo leste lindeiro e do Minho ao promontório

de Sagres.

festa seria! Nas águas, na terra e nos ares, a comunhão


Que

de todos os a comunhão esplêndida para a celebração dos cente-


povos,

nários do ilustre e forte lusitano. .. Mas, a infelicidade da hora


povo

a inclemencia do destino, reduziu, não tirou o esplendor das


presente,

comemorações. Estas se realizam, apesar do que se passa no con-

tinente dos sábios e dos descobridores.

festa é ! Lembrar um dia depois de oito séculos, recordar


Que que

a fundação de um reino depois de tanta rememorar a restau-


gloria,

ração depois do periodo filipino, longo e nefasto, é abençoar as ge-

rações extintas que revivem na sobrevivência da nação singularmente

gloriosa.

Em Portugal, não houve demolisse monumentos e


guerra que

chacinasse os homens, senão terremoto e A nação lusa, á beira


peste.

do oceano, da agua vasta e desconhecida, teve muito pouco da terra

conhecida. Floresceu no seu territorio limitado e todas as raças a

abençoam hoje pelo que e soube fazer.


pôde

Ao Portugal atribuiu a Providencia missão imensa. A


pequeno,

a tragédia, as conquistas, os sofrimentos aconte-


gloria, portugueses

ceram nos oceanos, nas terras descobertas, nas paragens desconhecidas,

muito longe da lusitana Portugal, depois do agitado periodo da


praia

sua formação, sempre foi um remanso só os maus governos per-


que

turbaram, mas os grandes dele cuidaram e o restauraram.


príncipes

São tão numerosos os homens foi tão gran-


grandes portugueses,

dioso o fizeram, a totalidade dos fruir imensos


que que pôde povos

beneficios. A prosperidade e a os portugueses, parecia


gloria, para

abranger o globo. O luso palpitava e se multiplicava pelos


pendão

caminhos sem fim, firmando-se nas conquistas remotas. Entre estas,

o Brasil.

Afonso Henriques, Geraldo Sem Pavor, Afonso III, D. Dinãz,

D. Fernando, o Infante D. Henrique Fuás Roupinho, Afonso Gon-

Baldaia, Gileanes, Antão Gonçalves, Nuno Tristão, Gonçalo


çalves

de Sintra, Diniz Dias, Eanes da Grã, Álvaro Gil, Diogo Gomes, Pedro
1128 l-JÍVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de Sintra, Diogo Afonso, Soeiro da Costa, de Santarém, Pedro


João

de Escobar, Fernando Pó, Lopo Gonçalves e Rui Siqueira foram

homens verdadeiros, uns como e outros como expedicio-


príncipes

narios. No governo do Príncipe Perfeito, D. II, surgem


grande João

Diogo Cão, Pêro Anes, Pêro da Costa e Bartolomeu Dias... Depois,

Vasco da Gama, Pedro Alves Cabral, e sucessivamente outros, mais

outros, cabos, capitães, vice-reis, legiões e legiões de heróis, mareantes,

navegadores, através dos primeiros séculos da idade moderna.

As lusitanas maravilharam os Os sofrimentos lu-


proezas povos.

sitanos enterneceram os contemporâneos. A lusitana foi tecida


glória

em toda a terra e a sua fama correu mundo. Continuaram a maravilhar,

a enternecer e a correr mundo as os sofrimentos e a fama


proezas,

dos patrícios de Viriato.

Tornou-se Portugal, durante centúrias, um grande entreposto,

uma notável metrópole. Aventurou-se, realizou,


prosperou e perma-
neceu grande, na sua e longe dela. Em dos
praia quatro oito séculos

decorridos, consumando-se os feitos, o


grandes poema de Camões foi

fixando na inteligência e no coração dos homens a série extensa e


imortal de cometimentos lusíadas. De dia em dia, quanto mais velho,

parece que o poema se torna mais sonoro e milagre do


portentoso,

gênio para a vibração da posteridade.

É penoso estar agora em a civilização do ocidente e com-


guerra

pungido o mundo. Há tréguas, entretanto, os espíritos se


para que
voltem Portugal e testemunhem se derramam sôbre
para que tão

gloriosa nação as bênçãos da humanidade".

Jornal do Brasil, Rio de 2 de de 1940.


Janeiro Junho

DIDIO COSTA

"ALMIRANTE
A PARTIDA DO SALDANHA", RUMO A

LISBOA

Para levar o amplexo fraternal do brasileiro e da nossa


povo

Marinha de Guerra à nação comemorações de seus


portuguesa, pelas

centenários, partiu do porto desta Capital, sob o comando do Capitão

de Fragata Raul San Thiago Dantas, às 15 horas do dia 18 de Maio,

com destino a Lisboa, o navio-escola Almirante Saldanha.


OS CENTENÁRIOS PORTUGUESES E A MARINHA DÊ GUERRA DO BRASIL 1129

'•

belonave de nossa Armada levou a seu bordo, além da


Essa

oficialidade e 64 Guardas-Marinha concluíram o


guarnição, que

ctuso da Escola Naval em 1939.

As visitas de despedidas

Às 14 horas, estiveram a bordo do navio-escola o Sr. Ministro

Henrique Aristides Guilhem, acompanhado de sua esposa, Sra. Maria

da Glória Guilhem, e seu ajudante de ordens, Capitão-Tenente

Ataualpa Silva Neves; o Chefe do Estado Maior da Armada, Almi-

rante Castro e Silva, acompanhado do seu ajudante de ordens, Ca-

Raul Valença Câmara; o Capitão de Mar e Guerra


pitão-Tenente

Oscar de Frias Coutinho, Diretor do Pessoal da Armada, interino,

vários representantes de almirantes, comandantes de navios e chefes de

repartições da Marinha, e muitas famílias, que foram a bordo levar

seus votos de feliz viagem à toda e aos Guardas Marinha.


guarnição

¦., i
¦

j *
v.
•E
11 DE [H
JUNHO )E
DE 1940

As comemorações de 11 de Junho deste ano, em homenagem ao

75° aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, revestiram-se de

entusiasmo e júbilo em todos os círculos de atividade do


grande

A Imprensa desta Capital e dos Estados, associando-se aos


país.

festejos cívicos, teceu largos comentários a respeito.

O Diário de Notícias, matutino editado nesta Capital, em sua

edição de 12 de Junho, assim se expressou com alusão às várias

solenidades:

"AS
SOLENES COMEMORAÇÕES DO 75.» ANIVERSÁRIO

DA BATALHA NAVAL DO RIACHUELO

Inúmeras cerimônias assinalaram, ontem, a da magna


passagem

efeméride da história da nossa Marinha de Guerra

"Minas
Falando no almoço realizado a bordo do Gerais", o chefe do Governo
"Marchamos
disse, a certa altura do seu discurso: para um di-
futuro
verso de quanto conhecíamos em matéria de organização econômica, social

e política, e sentimos os velhos sistemas e antiquadas entram


que fórmulas
em declínio".

As solenidades comemorativas do 75° aniversário da batalha do

Riachuelo tiveram início, ontem, às 9 horas, na do Russell, em


praia

frente ao monumento do Almirante Barroso. Essa cerimônia foi

assistida pelo Ministro Aristides Guilhem, Sr. Fontecila Varas, Em-

baixador do Chile; Almirantes Castro e Silva, Chefe do Estado-

Maior da Armada; Mário de Oliveira Sampaio, Guilherme Rieken,

Raimundo Braga de Mendonça, outros chefes de serviço da Armada,


1132 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Comandantes Augustin Beauregard, Chefe da Missão Naval Norte-

Americana; Dias Martinez, adido naval do Chile; outras altas auto-

ridades militares, uma delegação de ex-combatentes na


portugueses

de 1914, uma comissão de oficiais da Polícia Militar, uma


guerra

delegação de 500 escolares, número de famílias e massa


grande

popular.

No do monumento, o Comandante Beauregard, o adido


pedestal

naval do Chile, e as delegações de ex-combatentes da


portugueses,

Polícia Militar e dos alunos colocaram palmas e coroas de flores.

Em nome da Marinha de Guerra, da Esquadra, da Escola Na-

vai, do Corpo de Fuzileiros Navais e da Aviação Naval, comissões

de oficiais, também depositaram coroas de flores, no monumento.

A ORDEM DO DIA

Dando início à solenidade, o Capitão Tenente Raul Câmara

leu a seguinte Ordem do Dia, do Almirante Castro e Silva, Chefe

do Estado Maior da Armada:

"A
Marinha Brasileira mais uma vez comemora a data em que
um grande feito darmas, mostrou evidentemente sua razão de existir.

Livros técnicos, publicações de diversas espécies, investigações

criteriosas da nossa história, conferências, polêmicas e outros estu-

dos, sob diversas formas têm claramente mostrado o o brasileiro


que

de muitos anos atrás sentiu, o sente o de hoje e o sentirá o


que que

dos dias que vierem, quando saber a significação


procura que para

nós deve ter essa palavra que constantemente pronunciamos e que

não nunca um lugar da nossa história — RIA-


perderá proeminente

CHüELO.

Os setenta e cinco anos ela tem de vida não viram confir-


que

madas as suposições, algumas vezes nobremente concebidas, de que

os pudessem viver um dia, confiados exclusivamente no sos-


povos

sêgo lhes deviam assegurar os de direito e de justiça


que princípios

e sentimentos nobres da humanidade.

A vida tranqüila dos povos e sua segurança no momento atual

parecem exigir mais do que nunca, que a lembrança do tanto


que

fizeram os nossos antepassados, por essa grande terra, que é a nossa


11 DE JUNHO DE 1940 1133

Pátria, nos mostre cada dia mais os meios con-


pelos quais podemos

servar o tesouro êles nos legaram, o só


precioso que que podemos

alcançar seguindo os magníficos exemplos com êles enriquece-


que

ram o nosso histórico.


patrimônio

Os marinheiros brasileiros que se bateram, souberam mor-


que

rer e afinal venceram, na mais dura das o nosso


que guerras que

pacífico país teve de sustentar, não paravam ante dificuldade alguma

que se lhes apresentava, só tinham uma vontade: vencê-las, e um

objetivo: tudo dar a êsse' Brasil, tão querido seu.

Se assim fizermos e em tudo procurarmos personificar os ma-

rinheiros do RIACHUELO, executando o que lhes disse no seu me-

morável sinal o chefe que então tiveram, o Almirante Bar-


grande

roso, muitos dos inevitáveis erros que temos cometido se corrigirão,

muita coisa se fará e dia virá em que o Brasil viva tranqüilo, sempre

sua integridade, sua independência e a sua existência, depen-


que,

derem fortemente da ação de sua Marinha, como dependeu em 1865,

ela se bateu em RIACHUELO".


quando

HOMENAGEM DO CHILE

Em nome da Marinha do Chile, falou, em seguida, o Coman-

dante Dias Martinez, ó seguinte discurso:


que pronunciou

"
Não há nada mais grandioso que o culto prestado aos que
com suas façanhas e glórias, conquistaram a simbólica coroa de

louros e o direito ao reconhecimento da pátria.

Ao comemorar-se hoje em dia, a data do vitorioso combate


naval de Riachuelo, onde a Armada do Brasil se cobriu de glórias,
e que no meio do heroísmo dos seus filhos, destacou-se em forma
luminosa o heróico Almirante Barroso, a Armada do meu país de-
sejou participar também deste ato de respeito e veneração para
aqueles bravos brasileiros e seu ilustre chefe, os no
para que guiou
fragor da batalha, com tal denodo e valentia, ao transpor seu
que
nome as fronteiras de sua pátria, encheu de admiração o mundo.

Em nome da Marinha do Chile, deposito esta oferenda de fló-

res, como um sentimento de admiração ao heroísmo, e, ao mesmo


tempo, como uma homenagem à Marinha do Brasil. Peço que
vejais nelas, como símbolo espiritual de vossa terra, o sentimento

de confraternidade sincera que une ambas instituições, o só é


que
um reflexo, de acordo com os ideais americanos, dos tradicionais
laços que têm existido sempre entre o Brasil e o Chile".
1134 JtEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Agradecendo a saudação do Comandante Martinez, falou o Almi--

rante Castro e Silva. Em seguida, a professora Maria Elena Roxo

oe Freitas fez uma saudação à Marinha, em nome da Escola de Pro-

fessores do Instituto de Educação. Grande número de colegiais


"Heróis
entoou, então, o Hino Nacional e a marcha do Brasil". En-

cerrando a cerimônia, desfilou um batalhão do Corpo de Fuzileiros

Navais em continência ao monumento e às autoridades


presentes.

NA ESCOLA NAVAL

As 10 horas, com a do Chefe do Governo, Ministros


presença

de Estado e outras autoridades, realizou-se, na Escola Naval, a

inauguração dos bustos de Tamandaré e do Visconde de Inhaúma,

seguindo-se o à Bandeira pelos aspirantes do Curso Prévio.


juramento

Após o juramento, os aspirantes desfilaram em coluna por um.

Por ocasião da inauguração dos bustos, falou o Almirante Lemos

Basto, diretor da Escola Naval. O Sr. Getúlio Vargas passou em

revista o Corpo de Alunos, em seguida, desfilou, formando em


que,

linha de companhias, estando estas em coluna de pelotões.

A REVISTA NAVAL

Da Escola Naval o Chefe do Governo seguiu para a Praça Mauá,

onde, às 11 horas, embarcou no navio-hidrográfico Rio Branco, para

em revista os navios da Esquadra, que, em número de 30, se


passar

encontravam fundeados em colunas. Terminada a revista, o


quatro

Sr. Getúlio Vargas dirigiu-se ao encouraçado Minas Gerais, de onde

assistiu ao desfile da Esquadra. Ao chegar ao Minas Gerais, o

Chefe do Governo, uma força aérea naval, no total de 26 aparelhos,

da Ponta do Galeão, desfilando em formatura, tendo realizado,


partiu
"pique",
depois, um ataque simulado em sôbre o tender Ceará

A força aérea naval foi comandada Capitão de Mar e Guerra


pelo

Heitor Varady.

O ALMÔÇO NO MINAS GERAIS

Terminada a revista naval, o Almirante Guilhem ofereceu,

a bordo do Minas, um almoço ao Sr. Getúlio Vargas.


11 DE DE 1940 1135
JUNHO

Ao champagne, falou o Ministro da Marinha, tendo pronun-

ciado o seguinte discurso:

" Novo,
Ainda em fase das primeiras realizações do Estado

regime em que as instituições nacionais são coordenadas segundo

as diretrizes de patriotismo e de experiência segundo os


profundas
ideais elevados que preparam o futuro, a nação recorda, nesta data,

o feito das nossas armas em Riachuelo, discernindo todo o acon-

tecimento e os seus efeitos, tudo quanto perenemente êle encerra.

Riachuelo é um esplêndido padrão, levantado pelos nossos

maiores no mais elevado da história nacional, perfeita


plano
definição do valor dos servidores de terra e mar do Brasil. Como

acontecimento capaz do destino expressivo de definir e orgulhar

uma nacionalidade, com outros posteriores, do mesmo cunho, o de

Riachuelo se apresenta para a perpétua reverência da nação, tanto

ali houve sentimento acendrado do dever e rasgos frementes do

heroísmo que os nossos compatriotas puderam tecer coroas para


os heróis vitoriosos, orgulhar-se deles e confiar nos des'.inos da

pátria.

A Marinha de Guerra do Brasil, particularmente, detem-se

diante do grande feito das nossas armas pela setuagésima quinta

vez, comemorando-o com vibração e orgulho. Festeja a antiga

vitória dos nossos antepassados, onde se acham os fundamentos

dos seus sucessivos triunfos, com toda a efusão do seu reconhe-

cido civismo, iluminado pelo esplendor da grande e significativa

batalha de 1865.

Nesta hora de um dia comemorativo do esplêndido feito naval

das nossas armas, vibra entre as amuradas da esquadra nacional

a alma de outras herdeiras daquelas que nos legaram


gerações,
os mais belos exemplos de abnegação e coragem, com os quais

foram consolidados os fundamentos da nossa segurança e pros-


6
peridade no continente.

A de V.Excia. e dos seus Ministros, Sr. Pre-


presença
sidente da República, no capitânea da Esquadra nacional, para

lhe revista e comungar do júbilo cívico de uma grande


passar
família militar, assinala hoje, mais uma vez, o sentimento da

elevada orientação V.Excia. imprime aos interesses da pátria,


que
comprovada desde os primeiros dias de seu govêmo.

Vossa excelência vem presidir, testemunhar e comungar pes-

soalmente da celebração de um acontecimento que a sua


grande

autorizada tem exaltado com propriedade e apontado com


palavra
eloqüência aos brasileiros. Vossa excelência vem sentir conosco

a nova éra se expande, à feição das lições dos tempos idos e


que
das necessidades do presente e do futuro. Vossa excelência re-

cebe aqui o tributo dos aplausos dos seus compatriotas, à


justos
1136 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

verificação de se acharem na esquadra unidades eficientes, recen-

temente construídas, outras remodeladas e todas conservadas du-

rante o seu governo Vossa excelência verifica que a Marinha,

sob impulsos patrióticos, está cumprindo o seu dever e não es-

quece o célebre sinal do Almirante Barroso em Riachuelo, glo-


riosa advertência revivida no coração e no espírito de Vossa

excelência, Chefe de uma nação de grandioso destino.

Com essas palavras, nesta reunião de chefes da Marinha de

Guerra em torno de Vossa Excelência e de seus ilustres ministros,

tenho a satisfação de agradecer-lhes a honrosa presença entre nós,

assegurando que a Marinha de Guerra não celebra em vão a ma-

gnífica vitória de 1865, e saberá, sob as aspirações de seu govêrno,


manter-se e prosperar no caminho do dever.

Ergo minha taça em honra a Vossa Excelência, Senhor Pre-


".
sidente da República

O DISCURSO DO CHEFE DO GOVÊRNO

Em seguida, o Sr. Getúlio Vargas o seguinte


pronunciou

discurso:

"A
significação do Onze de Junho é bem maior que a de uma

vitória naval. Evoca o feito máximo da nossa Esquadra, como

símbolo do poderio nacional nas águas e da dedicação dos mari-

nheiros brasileiros à glória e à grandeza da Pátria. As razões que

nos levaram àquele extraordinário lance, passaram; já não existem

antagonismos no Continente; estamos unidos por vínculos de es-

treita solidariedade a todos os países americanos, em torno de ideais

e aspirações e no interêsse comum da nossa defesa.

O ficou, imortal, foi o lêma de Barroso: —


que perene,
"
O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever".

A frase heróica, transformada em divisa da Marinha de Guerra,

nunca foi mais viva do que nos dias atuais. Estou certo de que

nenhum brasileiro vacilará diante dêsse imperativo, e todos, como

a guarnição disciplinada de uma grande nave, conservarão os pos-

tos que lhes forem designados, vigilantes e serenos.

Atravessamos nós, a humanidade inteira transpõe, um momento

histórico de graves repercussões, resultante da rápida e violenta

mutação de valores. Marchamos para um futuro diverso de quanto

conhecíamos em matéria de organização econômica, social ou po-

lítica, e sentimos que os velhos sistemas e fórmulas antiquadas

entram em declínio. Não é, porém, como pretendem os pessimistas

e os conservadores empedernidos, o fim da civilização, mas o início,

tumultuoso e fecundo, de uma éra nova. Os povos vigorosos, aptos


11 DE JUNHO de 1940 1137

à vida, necessitam seguir o rumo das suas aspirações, em vez de


se deterem na contemplação do que se desmorona e tomba em
ruina. É preciso, portanto, compreender a nossa época e remover
o entulho das idéias mortas e dos ideais estéreis.
A economia equilibrada não comporta mais o monopólio do
conforto e dos benefícios da civilização por classes privilegiadas.
A própria riqueza já não é apenas o provento de capitais sem
energia criadora que os movimente; é trabalho construtor, erguendo
monumentos imperecíveis, transformando os homens e as coisas,
agigantando os objetivos da humanidade, embora com sacrifício do
indivíduo. Por isso mesmo, o Estado deve assumir a obrigação de
organizar as forças produtoras para dar ao povo tudo quanto seja
necessário ao seu engrandccimento como coletividade. Não o po-
deria fazer, entretanto, com o objetivo de garantir lucros pessoais
exagerados ou limitados a grupos cuja prosperidade se baseia na
exploração da maioria. Os seus direitos merecem ser respeitados,
desde que se mantenham em limites razoáveis e justos.
A incompreensão dessas formas de convivência, a inadaptação
às situações novas acarretam aos pessimistas, cassandras agourentas
de todos os tempos, o desânimo infundado que os leva a proguós-
ticos sombrios e vaticínios derrotistas. Dificuldades relativas apa-
recem-lhes com o aspecto tenebroso das crises irremediáveis; a
perda temporária de mercados toma fisionomia de catástrofe.
A consideração serena dos acontecimentos conduz a interpre-
tação diferente. Se há mercados fechados à venda dos nossos pro-
dutos em conseqüência da guerra, em compensação para eles não
se canalizam economias nossas em troca dos artigos que nos for-
neciam. O que resulta, em última análise, é o aumento da pro-
dução nacional, procurando o país bastar-se a si mesmo, ao menos
enquanto persistirem os impecilhos atuais ao comércio exterior.
O Governo age, não somente com o propósito de desenvolver as
trocas internas, mas também negociando convênios com as nações
credoras, no sentido de pagar em utilidades o serviço das nossas
dívidas, reduzindo-as na base dos valores em bolsa. Estamos
criando indústria, ativando a exploração de matérias primas, afim
de exportá-las, transformadas em produtos industriais. Para ace-
lerar o ritmo dessas realizações é necessário sacrifícios de como-
didades, a disposição viril de poupar para edificar uma nação forte.
No período que atravessamos só os povos endurecidos na luta e
enrijados no sacrifício são capazes de afrontar tormentas e
vencê-las.
A ordenação política se faz agora à sombra do vago huma-
nitarismo retórico que pretendia anular as fronteiras e criar uma
sociedade internacional, sem peculiaridades nem atritos, unida c
fraterna, gozando a paz como um bem natural e não como uma
conquista de cada dia.
1138 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em vez desse panorama de equilíbrio e justa distribuição dos

bens da terra, assistimos à exacerbação dos nacionalismos, as na-

ções fortes impondo-se pela organização baseada no sentimento da

Pátria e sustentando-se pela convicção da própria superioridade.

Passou a época dos liberalismos imprevidentes, das demagogias es-


téreis, dos personalismos inúteis e semeadores da desordem. À de-

mocracia política substitue-se a democracia econômica, em o


que
Poder, emanado dirètamente do povo, e instituído defesa do
para
seu interesse, organiza o trabalho, fonte do engrandecimento na-

cional, e não meio e caminho de fortunas privadas. Não há mais


lugar para regimes fundados em privilégios e distinções; subsistem
apenas os que incorporam toda a nação nos mesmos deveres e
oferecem equitativamente justiça social e oportunidades na luta

pela vida.

A disciplina política tem de ser baseada na justiça social,


amparando o trabalho e o trabalhador, para que êste não se con-
sidere um valor negativo, um pária à margem da vida pública,
hostil ou indiferente à sociedade em vive.
que

Só assim se poderá constituir um núcleo nacional coêso, capaz


de resistir aos agentes da desordem e aos fermentos de desagre-

gação. É preciso que o proletário participe de todas as atividades

públicas, como elemento indispensável de colaboração social. A or-


dem criada pelas circunstâncias novas que dirigem as nações é in-
compatível com o individualismo, pelo menos quando êste colida

com o interesse coletivo. Ela não admite direitos que se sobre-

ponham aos deveres para com a Pátria.

Felizmente, no Brasil, criamos um regime adequado às nossas


necessidades, sem imitar a outros nem filiar-se a das
qualquer
correntes doutrinárias e ideológicas existentes. É o regime da
ordem e da paz brasileiras, de acordo com a índole e a tradição
do nosso povo, capaz de impulsionar mais rapidamente o progresso
geral e de garantir a segurança de todos.

Pugnando pela expansão e fortalecimento da economia geral,


como instrumento de grandeza da Pátria, e não como objetivo in-
dividual, contando com a boa vontade e o espírito de sacrifício de
todos os brasileiros, atingiremos mais depressa o nível de prepara-
ção técnica e cultural nos a utilização das riquezas
que garante
potenciais do território em benefício da defesa comum.

Na comemoração de tão gloriosa data, vejo a melhor oportuni-


dade para apontar aos brasileiros o caminho que devemos seguir, e
seguiremos vigorosamente.

O aparelhamento completo das nossas forças armadas é uma

necessidade que a Nação inteira compreende e aplaude. Nenhum

sacrifício será excessivo para tão alta e patriótica finalidade.

O empenho dos militares corre de par com a vontade do povo.


11 DE DE 1940 1139
JUNHO

E o labor atual da Marinha, depois de uma fase de tristeza e

estagnação, é o melhor exemplo do que pode a vontade, do que

realiza a fé no próprio destino quando animada pelo calor de um

sadio patriotismo. Firme na sua disciplina, fortalecida pela espe-

rança de melhores dias, a Marinha Brasileira, fiel ao cumprimento

do dever, renova-se, ressurge pelo trabalho que dignifica os homens

e as corporações. O ruido das suas oficinas, onde se forjam os

instrumentos da nossa defesa — navios sulcam rios e oceanos,


que
ou aviões sobrevoam o litoral — enche de contentamento os
que
espíritos votados ao amor da Pátria. Ás pequenas unidades já

construídas, sucederão outras, maiores e mais numerosas e os mo-

nitores e caça-minas de hoje terão irmãos mais fortes nos tor-

pedeiros e cruzadores de futuro próximo.

Sem desfalecimentos, a Marinha se transforma, e com ela se

retempera o nosso entusiasmo, aumentando-nos o vigor e a coragem

para trabalhar pelo Brasil".

VISITA AO ARSENAL DE MARINHA DA ILHA

DAS COBRAS, C. F. NAVAIS E H. C. M.

Ao desembarcar do Minas Gerais, o Chefe do Governo diri-

à Ilha das Cobras, onde visitou o respectivo Arsenal, o Corpo


gm-se

de Fuzileiros Navais e o Hospital Central da Marinha.

NO DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA

Revestiu-se de solenidade a cerimônia de ontem no Palácio Ti-

radentes, em que discorreu, na série de conferências organizada pelo


"Juventude
Departamento de Imprensa e Propaganda sobre a Bra-

sileira" o aluno do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva,

Marco Aurélio Caldas Barbosa. A reunião foi presidida Almi-


pelo

rante Aristides Guilhem, Ministro da Marinha, a convite do General

Enrico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, dêsse modo


que prestou

expressiva homenagem à Armada no dia em se comemorava a


que

vitória de Riachuelo. Tomaram na mesa, além dos titulares


parte

das militares, o Ministro Gustavo Capanema, o General Silva


pastas

Comandante da 1." R.M., o Dr. Lourival Fontes, diretor


Júnior,

do Departamento de Imprensa e Propaganda, o Coronel Al-


geral

fredo Gomes de Paiva, diretor comandante do C.P.O.R., e o Almi-

rante Castro e Silva, Chefe do Estado Maior da Armada. O Minis-

tro da Marinha, ao abrir a solenidade, falou sobre a significação da

data histórica de ontem, dando a a seguir, ao repre-


grande palavra,
1140 KFVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

sentante do C.P.O.R. Iniciando a conferência, o orador abordou

o palpitante têma da importância da Reserva Militar em relação à

Defesa Nacional. Referiu-se com entusiasmo ao trabalho desenvol-

vido no Centros de Preparação de Oficiais da Reserva,


país pelos

além da sua tarefa fundamental na organização da Defesa Na-


que,

cional, desempenham de elemento de ligação entre a massa


papel

civil e os do Exército. Em seguida, o conferencista refe-


quadros
"Juventude
re-se à organização da Brasileira". Ao terminar, o re-

presentante dos nossos futuros oficiais da reserva exclamou:

"Juventude
Brasileira". O Centro de Preparação de Oficiais
da Reserva vos saúda e com a devida permissão de S.Excia. o
Senhor Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra
— satisfazendo as aspirações
promete patrióticas dos seus chefes
— acolher em suas fileiras, de braços abertos aqueles de vós que
quiserem, dignamente, figurar entre os se orgulham de
que pro-
'"Pertencemos
clamar: ao Exército nacional".

Terminada a conferência, houve um instante de silêncio. Então


em côro, todo o corpo de alunos do C.P.O.R. prorrompeu numa
série de exclamações vibrantes: Bar-ro-so! Ta-man-da-ré! Gre-

cn-halgh! Mar-cí-lio Dias!!!

Foi um momento de intensa emoção. Ainda sob a onda de

entusiasmo se desencadeou no recinto, e através do rádio se


que

espraiou por todo o Brasil, o Ministro da Marinha pronunciou pala-

vras de agradecimento terminando congratular-se com a Nação e


por
"Juventude
com a Brasileira".

VISITA PÚBLICA A FLOTILHA DE NAVIOS-MINEIROS

Por determinação do Almirante Guilhem e fossem


para que
franqueados à visitação ontem, atracaram no
pública, cáis Mauá os

navios-minieiros recentemente construídos em nossos estaleiros navais.

A flotilha atracou dividida em de dois navios, um acos-


grupos

tado ao outro.

AS COMEMORAÇÕES NA PREFEITURA

O Departamento de História e Documentação da Prefeitura

associou-se aos festejos da batalha naval do Riachuelo com uma

homenagem à Marinha de Guerra.


prestada
11 DE JUNHO DE 1940 1141

O Dr. Augusto do Amaral Peixoto, diretor do Departamento,

organizou uma exposição documental no saguão do Palácio Muni-

cipal, despertando o maior interesse do público.

Fotografias e objetos de todos os heróis que participaram da-

cjuele feito e troféus foram expostos.

Estiveram presentes, além de elevado número de oficiais de

nossa Marinha de Guerra, os secretários gerais, o Coronel Ayrton

Lobo, diretor do Departamento Nacionalista, e outras autoridades.

O Comandante Dídio Costa, chefe da Divisão do Es-


Quarta

tado Maior da Armada, no momento em se abria a exposição,


que

pronunciou- um discurso, exaltando a data e congratulando-se com

o diretor do Departamento de História e Documentação sua


por
iniciativa.

O Almirante Ricardo Greenhalgh Barreto falou oferecendo um

ricamente "Greenhalgh",
álbum encadernado, contendo o de
poema
autoria do Dr. Lacerda Coutinho.

Milhares de visitaram a exposição-


pessoas

Praças do Batalhão Naval com uniforme de fizeram o


gala,

policiamento.

BAILE DE GALA NO CLUBE NAVAL

À noite, o Clube Naval realizou uma sessão magna, seguida

de baile".

PALAVRAS PRONUNCIADAS PELO CAPITAO DE CORVE-

TA HELVÉCIO COELHO RODRIGUES, NO DIA 11 DE JU-


NHO DE 1940, NA ESTAÇÃO RÁDIO NACIONAL, PRE-3.

A BATALHA DE RIACHUELO

BRASILEIROS — A nossa Marinha de Guerra comemora hoje

a Vitória alcançada esquadra de Barroso na batalha naval de


pela
Riachuelo, em 11 de de 1865.
Junho
Sendo esta batalha o acontecimento de maior na história da Marinha
projeção
Brasileira, a data de 11 de Junho passou a ser a efeméride mais auspiciosa,
entre tantas que nos fazem lembrar os feitos de nossos antepassados.
gloriosos
Para manter as linhas de comunicação com o nosso exército no teatro de

operações e assim garantir o transporte de tropas e o abastecimento necessário

de munições de boca e de guerra, havia necessidade de destruir a esquadra

inimiga, afim de dominar as águas do rio Paraguai por onde se devia fazer

o suprimento do exército Brasileiro.


1144 revista maxítima brasileira

Temos a satisfação de ver no nosso Brasil, as diretrizes bem definidas,

para um surto material de nossa Marinha de Guerra.

Nos últimos três anos os nossos arsenais já construíram e acham-se incor-

porados à Esquadra Brasileira, oito navios dos quais dois monitores, Pamaíba

e Paraguassú e seis Navios Mineiros que muito honram a indústria nacional de

construção naval. Constituem esses navios a flotilhá de Navios Mineiros re-

centemente incorporada à esquadra: Carioca, Cananéia, Camoçim, Cabedelo,

Caravelas e Camaquã.

Nos estaleiros da Ilha das Cobras estão em construção três contra-torpe-

deiros do tipo mais moderno: Marcílio Dias, Marte e Barros e Greenhalgh;

dentro de poucas semanas será lançado ao mar o Marcílio Dias; o Maris e


Barros e o Grenhalgh, ainda serão lançados no corrente ano.

"
Mais seis destroyers" serão construidos nos nossos arsenais para subs-
"
tituir os destroyers" que foram requisitados pela Inglaterra ao romper da

atual guerra européia. O material necessário a essas construções já foi ad-

quirido e as quilhas serão batidas à proporção que forem lançados ao mar os

Contra-Torpedeiros que se acham nas carreiras da Ilha das Cobras.

Se queremos ter a paz precisamos nos preparar a


para guerra.

MARCÍLIO DIAS

"
Palestra realizada na Casa do Mari-

nheiro", no dia 11 de Junho, pelo Segundo

Tenente J. do Prado Maia.

Um nosso — Goulart de Andrade — a vitória como


grande poeta pinta
um rico palácio feito de todos os sacrifícios: o da força do braço, o do tino

da inteligência e o dessa coisa esquisita que faz a gente chorar, sorrir ou


suspirar e se chama o sentimento.

A quem quer que procure estudar a batalha naval do Riachuelo, não


através dos tropos encomiásticos dos escritores e jornalistas que nestes setenta
e cinco anos transcorridos vêm tratando do assunto, mas de acordo com o
relato singelo dos relatórios oficiais, curtos e sem circunlóquios, como orde-
nara o comandante em chefe, — aquela verdade ressalta viva, impressionadora.

De fato, a vitória empolgante c decisiva então obtivemos sobre os


que
paraguaios foi o resultado da capacidade profissional aliada ao esforço har-
mônico, à inteligência esclarecida, à coragem, à bravura conciente e ao alto
espírito dc sacrifício de quantos ali combateram valente, heroicamente 1 Desde

o chefe Barroso, impressionante de serenidade, estátua viva do destemor e da


bravura, erecto no passadiço da capitânca, barbas brancas esvoaçando ao vento,
ditando sob o fogo inimigo as suas ordens, determinando numa seqüência
admirável aqueles sinais incisivos que são como clarinadas precursoras da
11 DE JUNHO DE 1940 1145

vitória alevantando o entusiasmo e o ardor de seus comandados;


patriótico
uesde a oficialidade em cada
geral, encabeçada pelos comandantes, qual mais
" "
pronto e destemeroso em bater o inimigo mais próximo" e em sustentar
o fogo para a vitória certa" — até à marinhagem, até aos contingentes do
;
Exército embarcados nos navios da íôrça, — todos se empenharam a fundo,

todos deram o melhor das suas energias, com entusiasmo e desprendimento,

para o coroamento, naquele dia glorioso, das armas navais do Brasil!

A França, essa França heróica e cavalheiresca, berço da inteligência e da

sensibilidade criadora, a França conserva como uma relíquia sob o Arco do


'Triunfo,
bem no coração de Paris, uma chama inextinguível. É o fogo sa-

grado, eternamente aceso, alumiando dia e noite o túmulo simbólico do


soldado desconhecido. AH, como num santuário, os franceses de ambos os
sexos e de todas as idades, não raro estrangeiros ilustres visitam a cidade-
que
luz, as cabeças descobertas, os corações cheios de unção religiosa, depositam
braçadas e braçadas de flores frescas, renovadas cada manhã. É a homenagem

que todos devemos aos heróis e aos mártires, àqueles que ofereceram à pátria,
na defesa do seu território, na salvaguarda da sua soberania ou na desafronta

de seus brios ofendidos, o sacrifício maior que um ser humano pode oferecer
— o sacrifício da vida!
própria

A história brasileira guardou, para a veneração da posteridade, vários


nomes de heróis, arrebatados pela glória na epopéia luminosa de Riachuelo.

Particularmente a um déles — MARC1LIO DIAS — é nosso propósito


evocar, com esta palestra. Neste momento de contrição patriótica, porém,
neste instante de veneração e de exaltação desses grandes vultos tutelares

da nossa Marinha, precisamos pensar também nos heróis obscuros, precisamos


volver a nossa atenção para esses mortos queridos que, combatendo, morreram

gloriosa, sim, porém anonimamente. Para todos êsses, heróis e mártires,

soldados e marinheiros desconhecidos do Brasil, aqui depositemos, em pensa-


mento, as flores frescas da nossa saudade comovida...

Onze de Junho é o dia máximo da nossa Marinha. Pela manhã de hoje,

na praia do Russell, a estátua de Barroso foi coberta de f.ores e soldados e

marinheiros diante dela desfilaram, em continência. Na Escola Naval em

Villegagnon, os jovens aspirantes do curso prévio, oficiais de amanhã, pres-


taram o juramento à Bandeira, e inauguraram-se, na ilha histórica, os bustos

dos Almirantes Tamandaré e Inhaúma, os dois valorosos comandantes em

chefe das forças navais brasileiras no Paraguai. A esquadra foi passada em

revista por Sua Excelência o Senhor Presidente da República, que, na com-

panhia dos nossos chefes, almoçou a bordo do capitânea. E nas ordens do

dia lidas, nos discursos pronunciados no decorrer dessas solenidades, o

exemplo do passado foi revivido, para edificação do presente. A Marinha

não esqueceu o sinal imortal de Barroso e, cumprindo o seu dever, caminha

impávida para os seus altos destinos. País essencialmente marítimo, com um

território cortado por sem número de rios navegáveis, precisamos, sem dúvida,

de uma marinha forte, e havemos de tê-la!


1146 revista marítima brasileira

"
Aqui na Casa do Marinheirocomo parte do programa de comemo-

rações deste dia, estamos agora reunidos sob a orientação e sob a presidência
do seu ilustre Diretor, Comandante Braz da Franca Veloso, para evocar,

exaltar, uma vez ainda, a figura ímpar do marujo-símbolo — Mar-


para
cílio Dias.

Ha pouco mais de uma dezena de anos o que se sabia de Marcílio Dias

era que, marinheiro de primeira classe, chefe do rodízio raiado de ré, da

Parnaíba, combatendo heroicamente contra quatro adversários, caira mortal-

mente ferido em Riachuelo. Até mesmo quanto à data de seu falecimento e

lugar do sepultamento havia dúvidas. E o próprio Barão do Rio Branco, de

ordinário tão bem documentado e tão completo nas suas asserções, afirma
"Efemérides
erradamente nas Brasileiras", ter ocorrido no dia 11 a morte

do bravo marujo.

Poucos dos nossos historiadores, parece, se deram ao trabalho de ler a

parte oficial do então comandante da Parnaíba, Capitão de Fragata Aurélio

Garcindo Fernandes de Sá.

Sabemos que o retrato tão nosso conhecido de Marcílio Dias, que admi-

ramos em todas as cobertas de navios de — o boné meio de banda


guerra,
com a fita da Parnaíba, quatro cadarços brancos debruando a gola azul, a
fisionomia máscula e serena sôbre os ombros largos, não é um retrato autên-
É uma reconstituição, feita pelo Décio Vilares, mediante os
]ticoi. pintor
dados de um inquérito organizado pelo saudoso Capitão-Tenente Santos Porto,
em 1901, entre os sobreviventes de Riachuelo que, em vida, conheceram a

Marcílio Dias.

Três ou quatro cidades brasileiras se disputavam a honra de lhe haver

sido berço.

Vê-se por tudo isso, como afirmei, quanto era pouco conhecida em seus

detalhes, até ha pouco tempo, a vida, anterior a Riachuelo, da bravo

da Parnaíba.

Foi o então diretor do Arquivo Nacional, Dr. Alcides Bezerra, quem, em

1928, primeiro lançou um jato de luz sôbre o assunto. Pesquisando entre


os documentos de Marinha ali recolhidos, encontrou, nos livros de socorros
do Recife, do Paraense, da fragata Constituição e por último da Parnaíba, os
assentamentos militares de Marcílio Dias, assim na parte do histórico como
na do débito e crédito.

Por essa mesma época, na Prefeitura da cidade do Rio Grande, um


escritor gaúcho, Edgard Fontoura, procedia a um inquérito histórico, ouvindo
a antigos moradores dessa cidade e de outras do Rio Grande do Sul, con-
seguindo, afinal, reconstituir toda a árvore genealógica do nosso bravo, assi-
nalando, até, a casa onde nasceu êle, de com incidentes da
par pequeninos
"
sua infância de menino pobre que foi, por castigo, enviado para os menores

tal se designavam entre o povo, então, as nossas atuais Escolas de Apren-

dizes Marinheiros.

Alcides Bezerra publicou o resultado de suas pesquisas num folheto que


"
intitulou Dados biográficos inéditos de Marcílio Dias, um dos heróis da
11 DE JUNHO DE 1940 1147

batalha naval do Riachuelo", logo seguido de outro mais desenvolvido —


"
Ensaio biográfico de Marcílio Dias". Edgard Fontoura, por sua vez, com
as conclusões do inquérito a que procedeu, compôs uma biografia a meu ver
completa do heróico marinheiro, num belo volume de duzentas páginas de texto.

Uma dúvida, apenas, subsiste. Alcides Bezerra, baseado numa anotação


do livro de socorros do vapor Recife, que dá para Marcílio Dias a idade de
17 anos cm 18SS, infere logicamente haver êle nascido em 1838. Edgard Fon-
toura contesta com argumentação convincente e baseado em fatos concretos
a veracidade de tal anotação, afirmando por sua vez haver o seu biografado
nascido em 1844. É preciso notar, contudo, que, nascendo em 1844, ter-se-ia
Marcílio Dias alistado como grumete aos onze anos de idade, o que não parece
admissível mesmo levando em conta a sua grande robustez fisica. Pela
dedução do diretor do Arquivo Nacional teria Marcílio Dias no Riachuelo,
mais plausivelmente, vinte e sete anos, idade esta em que, naquela época, não
era comum atingir um marinheiro à primeira classe.

Enfim, o essencial é que tenha desaparecido a obscuridade, o halo de


lenda que envolvia o herói de Paisandú e do Riachuelo.
Graças a esses estudos, hoje podemos afirmar com absoluta segurança que
Marcílio Dias nasceu na cidade do Rio Grande, Estado do Rio Grande do
Sul, filho de Manuel Fagundes e Pulcena Dias. Sua mãe era lavadeira de
profissão, preta, porém muito conceituada no lugar. A meninice do nosso
herói tinha de transcorrer, assim, monótona e desinteressante: infância de
menino pobre, criado a bem dizer na rua, praticando as travessuras próprias
da idade. Maus instintos nunca os revelou Marcílio Dias. Ao contrário, foi
sempre de boa índole, obediente, respeitador.

Em 185S, pela primeira vez, aparece o seu nome em documentos oficiais


da Marinha. Lá está registrado a fô!has 125 do Io Livro de Socorros de
Imperiais Marinheiros do vapor Recife. Aí aparece Marcílio Dias como
" vencendo desde 6
grumete, de Agosto desse ano, pago de asilo até Outubro,
pago em pré em 1° de Novembro, destacado do Quartel para a fragata Cons-
tituicão em 17 de Janeiro de 1856 e passado para o Recife no dia seguinte".
É a bordo deste navio que Marcili realiza a sua iniciação marinheira.
Não sabe por essa ocasião nem ler, nem escrever.
Em 1858 vai ao Rio Grande em visita à mãe e às irmãs. E é neste mesmo
ano que faz a sua primeira viagem ao estrangeiro. Vai ao Uruguai, estácio-
nando o Recife em Montevidéu perto de um mês. De regresso ao Rio, passa
para o vapor Paraense onde permanece embarcado cerca de três anos, nele
fazendo, nesse período, duas outras viagens a Montevidéu.

A ordem do dia do Corpo de Imperiais Marinheiros, de 15 de Mato de


1861, promoveu-o a marinheiro de terceira classe, com o vencimento de
8$000 mensais.

Em 10 de Dezembro desse mesmo ano passa para a fragata ConstituiçãOf


onde funcionava a Escola Prática de Artilharia, recem-criada. Sua conduta
é sempre exemplar. Já sabe ler e escrever.
1148 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

" É raríssimo
Fato interessante, como rtota Alcides Bezerra: aparecer
firma de marinheiro em livros de bordo; mas tendo acontecido ligeiro engano
num fornecimento de fardamento feito a Marcílio Dias, a bordo da fragata
Constituição, foi êle chamado a subscrever a retificação. Graças a isso, pode-
mos hoje admirar o fac-simile de sua assinatura que se vê no folheto em
apreço e também em cartão postal, distribuído pelo Arquivo Nacional.
A 11 de Maio de 1862 foi Marcílio promovido a imperial marinheiro de
segunda classe, ganhando 10$000 por mês, e a 14 de Janeiro de 1863 é matri-
culado na Escola Prática de Artilharia. A 19 de Dezembro presta exame
final do respectivo curso obtendo aprovação plena. É classificado artilheiro
e recolhido ao Quartel Central dos Imperiais Marinheiros.
A 29 de Dezembro de 1863 embarca, afinal, na Parnaiba. Em Janeiro de
1864 faz a sua quarta viagem a Montevidéu. O navio, de volta, toca no Rio
Grande, retorna depois às águas platinas. Nuvens escuras toldam a pureza
do céu, para as bandas do Sul. Delineam-se os primórdios da Cam-
panha Oriental.
O Almirante Tamandaré assume o comando das forças navais brasileiras
em águas do Prata. Diante de Montevidéu alinham-se as canhoneiras Par-
naíba, Belmonte, Mearim, Araguarí, Avaí e Jcquitinhonha, o vapor Recife, a
fragata Amazonas.
Pela ordem do dia de 26 de Julho de 1864, do Corpo de Imperiais Mari-
nheiros, Marcílio Dias foi promovido à primeira classe.
Era tempo. A glória espreitava-o, pronta a arrebatá-lo do convés da
Parnaiba para a galeria dos heróis!
As reclamações brasileiras não são aceitas pelo governo de Montevidéu.
Fracassa a missão conciliadora chefiada pelo Conselheiro Saraiva. Nossos
tratados são queimados pelos " blancos" em praça pública. Nossa Bandeira
é desacatada nas ruas da capital uruguaia.
Começam, inevitavelmente, as represálias. Dentro em pouco é a guerra.
O Brasil reconhece a beligerância e dá mão forte ao chefe dos " colorados"
nossos amigos, General Venâncio Flores.
Paisandú é a grande cidadela dos " blancos"', considerada inexpugnável.
Comanda-a Leandro Gomez, inimigo acérrimo dos " colorados", inimigo acér-
rimo dos brasileiros.
Em torno de Paisandú o cerco se vai fechando. Salto é dominada. E a
6 de Dezembro o ataque é iniciado. Entre as nossas forças de terra está um
contingente de marinha composto de 100 fuzileiros navais e 100 imperiais ma-
rinheiros. Entre os marinheiros está Marcílio Dias que, então, em terra,
recebe o seu batismo de fogo. O combate começa pela manhã, com valentia
e ardor. No correr do dia o Almirante Tamandaré envia um reforço de mais
100 marinheiros. Os canhões de bordo auxiliam a investida. Os atacantes
progridem. Chegam mesmo às primeiras casas. Mas o terreno é ganho palmo
a palmo com um sacrifício terrível de vidas. As munições escasseiam. Às
quinze horas cessa praticamente o combate. As posições são conservadas, mas,
à noite, os nossos recuam para a linha anterior do cerco.
11 DE JUNHO DE 1940 1149

No dia 8 o combate continua; não atinge, porém, ainda desta vez, a


decisão final. É a 31 de Dezembro que o ataque decisivo é levado a efeito.
Combate longo, encarniçado, feroz, que dura cincoenta e duas horas. Ven-
cendo a resistência bravia dos sitiados, os nossos avançam, lado a lado com
os soldados de Flores. J. M. de Macedo, escrevendo, na época dos aconteci-
mentos, no " Ano Biográfico Brasileiro ", dizia: " Na maior fúria dos comba-
tentes via-se a figura imponente de Marcílio Dias a avançar na dianteira dos
que mais avançavam. O marinheiro hércules não falava, era leão rompente
e não rugia; era, porém, como impulsada máquina de guerra que levava tudo
diante de si, deixando destroços em seus impetuosos vestígios".

As oito horas da manhã de 2 de Janeiro os nossos heróis alcan-


Çam o coração da cidadela, marujos e soldados de mistura, os rostos sua-
rentos do esforço hercúleo. Ali diante deles está a matriz, transformada por
Leandro Gomez em fortaleza. Era dali que partiam os canhonaços dirigidos
aos navios da esquadra.
Marcílio Dias não titubeia. Impelido pela mola interior do seu pátrio-
tismo acrisolado, mais forte certamente que o arremesso físico, toma .uma
bandeira imperial à linha avançada, atravessa correndo a praça, afugenta os
últimos defensores da igreja, e, num momento, aparece no alto da torre e ali
finca, e desfralda, vitorioso, o pavilhão auri-verde. da nossa Pátria!
Os corações estrugem em vivas e aclamações. O inimigo se rende.
Paisandú estava tomada e estava finda, praticamente, a Campanha Oriental.
Mais longa, porém, mais cruciante e mais dolorosa do que a Campanha
Oriental, outra guerra tem início porque o Brasil precisava vingar os ultrajes
do ditador paraguaio Solano Lopes.
A esquadra brasileira, como sentinela avançada, vai colocar-se nas
Três Bocas.
E surge, na história pátria, a manhã radiosa de Riachuelo. Página de
heroísmo e de bravura, vivida e fulgurante, sempre, no coração e na lem-
branca de todos nós! Marco altíssimo assinalando o maior feito naval sul-
americano no período da marinha mixta! Farol esplendente projetando no
presente e no futuro a luz clara e forte de um exemplo a seguir!
Não me deterci na descrição da batalha, que todos conhecemos em seus
pormenores. Quero deter-me um instante, porém, no convés da Parnaíba.
Esse navio,, como sabemos, viveu o momento mais dramático da peleja glo-
nosa. Abordado por três navios inimigos, "prodígios de bravura e ousadia,
milagres de valimento e sacrifícios pessoais operam-se, no seu bojo, para
defender o convés da invasão brutal. Calam-se os canhões e os sabres se
cruzam, tinindo. Golpes violentos de machadinhas vão rasgando carnes, tri-
turando ossos. Corpos que caem na tolda, corpos que baqueam na água do
rio. Centenas de peitos a arquejar oprêssos. Centenas de bocas que imprecam,
gritam de dor, berram de desespero, ululam de desvairamento. O sangue
jorra, avermelhando tudo, escorrendo pelos embornais.
Todo o horror das primitivas lutas singulares, corpo a corpo, a arma
branca, todo o escarcéu dos entrevêros barbarescos enchem a canhoneira.

R.M. B.4
1150 revista marítima brasileira

Lutando, com valentia e bravura, caem Pedro Afonso, Andrade Maia, outros
muitos. Marcílio Dias está na primeira fila.
"
A parte oficial diz assim: O imperial marinheiro de classe
primeira
Marcílio Dias, que tanto se distinguira nos ataques de Paisandú, imortalizou-se
ainda nesse dia. (Refere-se ao dia 11 de Junho). Chefe do rodízio raiado,
abandonou-o somente quando fomos
abordados, para sustentar, braço a braço,
".
a luta de sabre com quatro paraguaios

Alguns depoentes do inquérito Santos Porto dizem êle era incansável,


que
animando os companheiros, dando vivas, atacando o adversário sem esmo-
recimento.
"
Greenhalgh, guarda-marinha, flor de mocidade e fidalguia, brazão da
cultura e do brio moço ao serviço do espírito de brasilidade da marinha impe-
rial, é intimado a render-se e arriar a bandeira. importa sejam cem os
Que
inimigos? A bandeira é uma e é única. É a bandeira do Brasil 1 (*)
Ergue a espada e desfere o golpe. Repete-o rapidamente uma, muitas vezes,
com violência. Elimina vários adversários, mas cai, afinal, diante do número,
diante da fôrça bruta, a mão segura ainda à adriça da Bandeira!
ô nosso pavilhão desce, por fim. Ha um instante em que tudo parece
perdido; e, numa resolução suprema, o escrivão Silva é destacado para atear
fogo ao paiol de pólvora. Morrerão todos, mas a honra nacional será des-
afrontada!

Chega, neste instante, auxílio "


porém, o dos nossos. Viva o Brasil!"
" " —
Viva o imperador 1 são os gritos que se ouvem. A vitória envolve os
brasileiros nas suas asas luminosas.
"
E a parte oficial continua, singela e eloqüente: Seu corpo corpo de
(o
Marcílio Dias), crivado de horríveis cutiladas, foi por nós piedosamente reco-
lhido, e só exalou o último suspiro ontem (a parte está datada do dia 13 de

Junho), às duas horas da tarde, havendo-se-lhe prestado os socorros de que


se tornara digna a praça mais distinta da Parnaíba. Hoje, 10 horas da
pelas
manhã, foi sepultado, com rigorosa formalidade, no rio Paraná, não termos
por
embarcação própria para conduzir seu cadáver à terra".

Setenta e cinco anos transcorridos, os c'arões empolgantes da vitória de


Riachuelo como que a todos nos envolvem, redoirando carinhosamente os seus
heróis imortais. Marcílio Dias, e humilde na sua
pequenino origem, ombreia
com Greenhalgh, está ao lado de Barroso 1

E a veneração patriótica de todos nós, representantes de uma nova


geração
de marinheiros, se inclina diante dessa trindade de bravos — BARROSO,
GREENHALGH, MARCÍLIO DIAS — simbolizando os nossos
que, ante-

passados gloriosos, reúne em si o comando, a oficialidade e a marinhagem, reúne


em si de fato a própria Marinha, e destemerosa, ontem como hoje
pronta e
sempre, no seu devotamento e na sua eficiência, ao maior dos sacrifícios pela
maior glória do Brasil!

"Marcílio
(*) Edgard Fontoura — Dias".
TRATAMENTO DA AGUA DE

ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS


1

Durante a atmosfera a água da chuva torna-se


passagem pela
saturada dos de a atmosfera é composta. Nas proximi-
gases que
dades das zonas industriais onde ocorre uma considerável mistura,

os tais como a amônia o ácido clorídrico o


gases, (NH3), (HC1),

anídrio sulfuroso etc., formam com a água da chuva uma


(SO2),
solução recebe também o anídrido carbônico e o oxigênio
que (CO2)

(O2). Êstes últimos são, aliás, os mais importantes, e a chuva

quando banha a superfície da terra conter desde menos de um


pode

até cêrca de 15 centímetros cúbicos de CO2 e 30 centímetros cúbicos

de oxigênio livre Esta solução ainda desintegra os ele-


por galão.

mentos componentes da camada terrestre, dissolvendo uma certa parte

dos solúveis e levando em suspensão os elementos insolúveis.

Conforme o da vaporização, algumas das substâncias dissolvidas


grau

ser expelidas da solução e, como é de esperar, as águas de


podem

diversas fontes comportam-se diferentemente vaporizadas da


quando

caldeira. Umas causam corrosão, e ou nenhuma incrustação,


pouca

outras depositam incrustações de composição variada e


pesadas

causam d'água e espuma.


projeções

Ficará desde logo bem compreendido nenhuma água natural


que

será completamente adequada o uso na alimentação das caldei-


para

ras, demandando sempre forma de tratamento para neutra-


qualquer

lizar os efeitos mencionados.

As impurezas mais importantes são os sais de cálcio e magnésio

são os elementos determinantes da formação de escórias e da


que

corrosão nas caldeiras. São êles também os constituintes da dureza

da água. Os sais de sódio apresentam-se sempre na água mas não


1152 iSVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

são sais de dureza. Ha duas formas de dureza: a dureza permanente


e a dureza temporária. A dureza temporária é devida aos bicarbo-

natos de cálcio e magnésio e a água é fervida êles se de-


quando

compõem formando os carbonatos correspondentes relativamente


que,
insolúveis, são A dureza é devida aos sul-
precipitados. permanente

fatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio não são


que precipi-
tados pela fervura; porém, quando a água contendo este tipo de

dureza é vaporizada esses sais vão se concentrando até produzirem


uma solução super-saturada na qual o sulfato de cálcio
precipita-se.
Nas caldeiras esta substância forma uma escória muito dura. Os

sais de magnésio que formam dureza são mais solúveis


permanente
e nas caldeiras, êles tendem a causar corrosão, em lugar da formação

da escória dura.

Como complemento à dureza e sais de sódio, outras impurezas

são encontradas nas águas naturais, tais como em dissolução,


gases

geralmente o gás carbônico e o oxigênio, além de outras como o

sulfato de hidrogênio às vezes é encontrado. A sílica está


que

presente também em muitas águas sendo freqüentemente um elemento

perigoso pelo fato de formar uma escória dura na caldeira.


poder

Convém acentuar as dêsses sais, mesmo nas águas consi-


quantidades

deradas muito más, sob o de vista industrial, são muito


ponto peque-
nas e pertencem à ordem de 0.05 isto é, 50 100.000
%, partes para
ou menos. Os efeitos nos industriais são cumulativos.
processos

Os suprimentos de água caem naturalmente em três tipos, cuja

composição é distinta e dependente da fonte:

Io Tipo — Águas de de
fonte ou poços.

2o Tipo — Águas de pântanos, isto é, provenientes da dre-

nagem das superfícies pantanosas.

3k Tipo — Águas de de rios


superfícies, e que não estejam

em terrenos pantanosos.

ÁGUAS DE FONTE — Estas águas são geralmente alcalinas

e podem ser subdivididas em:

a) — Águas de composição semelhante às de superfície.

b) — Águas de composição distinta.

A composição das águas de fonte é e razoavelmente cons-


geral
tante, recebendo com simplicidade tratamento. As águas
qualquer
de classe (b) são distintas considerável de car-
pela quantidade gás
bônico livre em solução e em combinação com os bicarbonatos.
TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1153

A dureza da temporária é formada de bicarbonato com


presente
um pouco de bicarbonato de sódio e um elevado teor de sílica.

A característica mais importante destas águas é a rapidez com

que deposita a sua dureza e ação corrosiva no ferro forjado e no aço

doce em circunstâncias favoráveis. a água é aquecida, o


Quando
bicarbonato decompõe-se formando os carbonatos normais, carbonato

de cálcio, carbonato de magnésio e carbonato de sódio. Os primeiros


são de fraca solubilidade e formam macios nos aquecedores,
depósitos

camisas de refrigeração, etc. é necessário remover a


Em tais casos

ciureza ou adicionar reagentes à água que diluam o precipitado


enquanto a água zona
passa pela aquecida.

Nas caldeiras funiconando sob moderadas a dureza é


pressões,
depositada em forma de lama e de escórias finas e macias.

O carbonato de sódio ser uma fonte de sua


pode perigos pela
conversão em soda cáustica concentrar-se nas costu-
parcial que pode
ias da caldeira e atacar o metal, fenômeno conhecido nome de
pelo

fragilidade cáustica. Em elevadas pressões a sílica deposita-se em

combinação com o cálcio e o magnésio numa camada fina dura


porém
e concorre fazer rompimentos nos tubos. O carbônico
que para gás
desprendido da caldeira se usa água ordinária, contaminará
quando
o vapor e agravará a corrosão dos super-aquecedores e das
palhetas
turbinas. Êsse carbônico reaparece no condensado aliás é
gás que
corrosivo. A corrosão será encontrada em outros da
porisso pontos
instalação exposta ao vapor condensado. O carbônico deve
gás

sempre ser expelido em muito baixas temperaturas. Foi observado

que eram atacados e perfurados por erosões fortes os tubos de ferro

condutores de água fria contaminada de bicarbonato de soda. Fatos

semelhantes foram encontrados em caloríferos e aparelhos similares.

É mais ou menos certo esta forma de ocrrosão é associada com


que

a formação de bolhas na superfície do metal e o pronto


gasosas que

desprendimento do CO2 pelas águas, deste tipo, torna essas águas

altamente corrosivas.

Finalmente, muitas águas de fonte dêste tipo contêm quantidades

apreciáveis de ferro. Êste fato não tem importância a água


quando

é aspirada; porém exposta à atmosfera a água tomará uma coloração

avermelhada e dará imediatamente um precipitdo.

ÁGUAS DE PÂNTANOS — Estas águas são comumente

coloridas e freqüentemente um pouco ácidas, sendo estas propriedades


1154 REVISlA MARÍTIMA BRASILEIRA

conseqüentes da passagem pelos pântanos. Sua acidez e a presença

de dissolvidos tornam essas águas altamente corrosivas


gases para

com os metais.

A dureza é relativamente baixa mas sempre e


permanente

nenhum depósito se forma nos aquecedores, etc. Nas caldeiras, essas

águas depositam todavia uma incrustação dura e ainda a


que quan-

tidade de escórias seja relativamente pequena devido à fraca dureza,

é suficientemente causar rompimentos nos tubos.


grande para

ÁGUAS DE — Estas águas são alcalinas


SUPERFÍCIE porém

não contêm como regra excesso de alcalinidade devido ao bicarbonato

de sódio. A dureza nessas águas é de duas espécies, temporária e

e a proporção dessas espécies indicará o modo de


permanente, pro-

ceder da água sob as diversas condições. Além da dureza, a água

contém ainda certas quantidades de sulfato de sódio e cloreto de

sódio e possivelmente matérias em suspensão e corantes. A compo-

sição variará de acordo com o caráter mineral da zona de onde a água

é proveniente, influenciada sempre mudanças da estação. A


pelas

contaminação dos rios e canais afluentes deve também ser


pelos

levado em consideração se escolher uma água dêste tipo.


quando

Tais águas formarão depósitos de variados graus de dureza na

caldeira levando de acordo a da dureza temporária


preponderância

ou permanente.

Si esta dureza temporária é menor, formará depósitos moles

nos aquecedores, camisas de refrigeração, etc.; porém a corrosão que

acompanhará a formação dêles é geralmente mais fraca do que a

ocasionada pelas águas de contendo bicarbonato de sódio.


poço

FORMAÇÃO DE INCRUSTAÇÃO NAS CALDEIRAS

1) Incrustações de sulfatos

Êste termo significa a separação da água da caldeira das super-

fícies de aquecimento substâncias sólidas aderem a essas


por que

superfícies. A baixa condutibilidade de calor dessas substâncias

sólidas determina uma elevação de temperatura do metal das super-

fícies de aquecimento até à formação de bolsas e explosão. As pri-

meiras investigações neste sentido foram naturalmente concernentes

à identificação das substâncias que formavam esses depósitos. A


TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1155

tabela a seguir dá as solubilidades aproximadas dos sais de cálcio e

magnésio na água, à temperatura do ambiente e mostra claramente

a quantidade, e a natureza das substâncias que se precipitarão

na caldeira:

TABELA — I

, _
NTJMERO] NOME DA SUBSTANCIA FORMULA GRAOS POR GALAO
QUIMICA|
J

| Carbonato de calcio I CaCO3 0.9

-
| Carbonato de magnesio . MgCO3 7.4

I
Hidroxido de magnesio . Mg (OH)2 0.84

Cloreto de calcio CaCl2 48,440.0

Sulfato de calcio j CaSO4 138.0

. !
j Nitrato de calcio Ca (NO3)2 84,840.0
j

I
1 Cloreto de magnesio .... Mg CI2 37,870.0

I
j Sulfato de magnesio ... Mg SO4 23,310.0

,
| Nitrato de magnesio ... Mg 50,890.0
j (NO3)"

Os três membros dessa lista não existir na


primeiros podem

solução senão em forma de bicarbonatos temporária) que se


(dureza

decompõem fervura a 100°C., carbonato de cálcio


pela precipitando

ou carbonato de magnésio, carbonato básico ou hidróxido, cujas solu-

bilidades são dadas na tabela I.

uma água natural alimenta uma caldeira, a condição é


Quando

que um volume relativo de água em baixa temperatura


pequeno

mistura-se no tubulão com um volume d'água em alta


grande

temperatura.

O magnésio e o cálcio na água de alimentação sob


presentes

forma de bicarbonatos imediatamente. Uma parte de


precipitam-se

dureza ocasionada pelo bicarbonato provavelmente já precipitou-se

nos economizadores, aquecedores d'água de alimentação, redes de

alimentação, etc.
1156 revista marítima brasileira

A água na caldeira conterá portanto em suspensão corpos sóli-

dos em à dureza temporária da água de


quantidade proporcional

alimentação. Essas substâncias tendem a alojar-se nas várias partes

da caldeira ou aderir às asperezas dos tubos, formando lama e

escórias moles.

A substância a seguir, em ordem crescente de solubilidade, é o

sulfato de cálcio, esta substância não se deposita enquanto a


porém

água, vaporização, não ficar saturada ou super-saturada do


pela

respectivo sal.

O exame das incrustações nas caldeiras confirma elas con-


que
sistem, em regra, de sulfato e carbonato de cálcio com uma pequena
de hidróxido de magnésio. o sulfato é em
quantidade Quando

muito maior quantidade, a incrustação é dura e adere fortemente ao

metal; porém, quando a preponderância do carbonato é a


grande,
incrustação é mole e facilmente solta-se do metal. Entre esses limi-

tes há uma larga variação na constituição da incrustação.

As solubilidades dadas na tabela I representam as condições na

temperatura ambiente. Para se compreender a diferença de ação

entre o suflato de cálcio e o carbonato na caldeira, foi necessário

fazer investigações sobre as solubilidades dessas substâncias nas

temperaturas de caldeira e a influência de outros sais normalmente

presentes, tais como cloreto de sódio, soda cáustica, etc.

Achou-se nas temperaturas de trabalho ou de caldeira, as


que,

solubilidades diminuíam com a elevação de temperatura e a solu-


que

bilidade do carbonato de cálcio sempre era muito menor a do


que
sulfato. As solubilidades são, conseguinte, muito baixas nas
por

partes mais aquecidas da caldeira, especialmente nas camadas onde

a água de alimentação tem contato com as superfícies de aquecimento

onde a saturação ocorre e o sulfato de cálcio cristaliza-se. Sob estas

condições os cristais aderem à superfície metálica, porém a razão

exata desta aderência ainda não é conhecida. Devido a sua fraca

solubilidade praticamente todo o carbonato de cálcio é precipitado no

seio da massa líquida existente na entrada dos tubulões, conforme

foi explicado anteriormente, e uma quantidade muito pequena que

ficou na solução se precipitará na superfície metálica. O carbonato

de cálcio em suspensão facilmente misturar-se com o sulfato de


pode

cálcio cristalizado nas superfícies de aquecimento e formar um com-

posto de incrustações de considerável espessura.


TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1157

si, todo o cálcio entrar na cal-


Compreende-se agora que que

carbonato, não haverá


deira fôr precipitado como praticamente,

incrustação; mínima de carbonato de


desde que uma quantidade

se nas superfícies de
cálcio que na solução precipite
permanece

aquecimento. A base das condições evitar incrustações pela


para

água é, a adição de elementos


de alimentação das caldeiras portanto,

sob forma de carbonato. O


químicos todu o cálcio
que precipitam

elemento é o carbonato de sódio.


empregado
químico geralmente

Êsse decomposto em soda cáustica, a qual


reagente é parcialmente

não incrustações, mas todos os


tem propriedades para evitar precipita

sais sob forma de hidróxido de magnésio o


de magnésio da caldeira

o carbonato de cálcio. Acima de


qual é ainda menos solúvel do que

250 libras a decomposição do carbonato de sódio torna-se excessiva

Êste reagente é estável nas mais


usando-se então fosfato de sódio.

o cálcio sob a forma de


elevadas das caldeiras e precipita
pressões
fosfatos são menos solúveis do o carbonato.
que que

é um reagente mais dispendioso do que o


O fosfato de sódio

carbonato sódio e é recomendado só para as pressões


de geralmente

elevadas, haja circunstâncias especiais obriguem a


a menos que que

sua moderadas A formação da soda cáus-


utilização nas pressões.

tica é importante, como sabemos, as


na água da caldeira porque

excessivas dessa substância atacar o metal,


concentrações podem

fenômeno conhecido nome de caus-


dando-se então o pelo fragilidade

de sódio ou fosfato determina a


iica. O emprêgo do carbonato

toda a dureza da água de alimentação, sob


completa de
precipitação

vez de incrustações, desde haja sempre


forma lamacenta em que

de reagente. Nas melhores condições obtem-se


presente um excesso

de carbonato ou fosfato de cálcio nas superfícies


uma fina camada

a espessa e dura camada de incrustação


de aquecimento, substituindo

ocasionada sulfato.
pelo

2) Incrustações de silicatos

de aquecimento aparecer camadas finas


Nas superfícies podem

cálcio e magnésio, de fraco condutor. A quan-


de silicatos de poder

nas águas naturais é e


tidade de sílica presente geralmente pequena

cerca de 0.4 a 1.5 partes de Si02/100.000.

das solubilidades desses silicatos na água sob


Para determinação

fazem-se hoje nesse sentido. As


as condições de caldeira, pesquisas

ha incrustações espessas de
experiências têm mostrado que quando
1158 revista marItima brasileira

sulfato de cálcio, ou mistura de sulfato e carbonato, a sílica é o

constituinte de menor e menos nocivo.


quantidade Quando porém,

somente pequenas quantidades de cálcio entram na caldeira, os sili-

catos formam sempre como os maiores elementos dssa incrustação.

Sob estas condições, a incrustação tende a ser fina, muito dura e

facilmente causará avaria nos tubos das caldeiras.

Em certas condições as incrustações de silicatos concorrem para

a formação de incrustações de sulfato. Infelizmente é muito difícil

a formação destas incrustações pela análise da água de ali-


predizer

mentação; na água em que a sílica existir em alta


porém percentagem,

na evita-se a incrustação que ela determina tratamento


prática, pelo

com o fosfato em vez de carbonato.

A de lama formada na caldeira, adição de


quantidade pela

reagentes na água de alimentação, depende também da


químicos

dureza da água. Com as águas de fraca dureza, esta forma de trata-

mento pode ser usada satisfatòrimente e é descrita com maiores

detalhes no capítulo tratamento interno.

Águas de elevada dureza formam grandes de lama


quantidades

tendem a depositar-se nas partes da caldeira onde a circulação


que

não é tão rápida, tornando-se duras nas superfícies de aquecimento

e confundindo-se com as incrustações. Nestes casos, é necessário

aplicar um tratamento de amolecimento antes da água ser


preliminar

usada, isto é, tratamento externo comparativamente ao trata-

mento interno citado anteriormente.

Êste método é comum nas instalações industriais onde um pe-

ou nenhum condensado volta e a única água de suprimento é


queno

sempre dura. A dureza da água de alimentação da caldeira será

contudo consideravelmente reduzida si uma elevada percentagem de

condensado voltar à caldeira e a água de alimentação misturada pode,

muitas vezes, ficar em condições satisfatórias pelo tratamento

interno, embora os melhores resultados sejam obtidos pelo amoleci-

mento da água fresca antes da utilização.

No trabalho das caldeiras de alta pressão em grande atividade,

é essencial o amolecimento da água de suprimento, mesmo


prematuro

êle seja Por outro lado, usando um vaporizador na


quando pequeno.

instalação, as escórias e a lama formam-se no vaporizador, salvo se

a água tiver um tratamento, pelo amolecimento antecipado ou pela

adição de substâncias tratamentos que manter o


químicas, permitem

referido aparelho em funcionamento contínuo. Não trataremos aqui


TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1159

dos detalhes do tratamento externo aluminato duplo


pelo processo
de sódio-cálcio é largamente usado nas águas de alimentação
que
das caldeiras e bem conhecido na literatura técnica, mesmo porque
ele aparece no tratamento interno no momento é o
que processo
mais importante as águas de alimentação das caldeiras dos
para
navios, onde o suprimento água doce é ou feito
pela pequeno

pelos distiladores.

TRATAMENTO INTERNO — Êste tratamento, conforme

indica a sua denominação, é feito


pela adição de substâncias químicas
na água de alimentação, antes
quer da água entrar na caldeira, quer
diretamente na caldeira A água de alimentação água
pode ser uma

natural de baixa dureza usada em 100 mistura


%, 011 uma de água

de dureza e condensado ou ainda água com dureza amole-


grande a

cida requer tratamento antes do uso.


que posterior

O tratamento interno tem consideravelmente na sua


progredido
técnica nestes últimos anos e agora utilizado de várias formas
que
são baseadas nos mesmos científicos tratamento
princípios que o

externo. Nos casos em a água de alimentação não tem


que grande
dureza da água, devido a a ser tratada. O trata-
pequena quantidade
embora se usar com maior dureza, é comum, si não houver
possa

propósitos econômicos, instalar um dispositivo de amolecimento da

dureza da água, devido à a ser tratada. O trata-


pequena quantidade
mento interno é usado em muitos navios onde a dureza da água

de alimentação é fraca, embora em alguns dos navios haja


grandes
dispositivos o amolecimento externo no da água de
para preparo
alimentação.

Vimos anteriormente a dureza temporária é decomposta


que pelo
calor, deixando a dureza ocasiona as incrustações
permanente que
e a corrosão.

O fim do tratamento interno é dentro da caldeira a


precipitar
dureza sob forma não aderente e neutralizar
permanente quaisquer
tendências corrosivas existentes na água de alimentação.

Quando a água de alimentação é de fraca dureza, a quantidade


de precipitado se forma no interior das caldeiras é tão
que pequena

que pode fàcilmente ser retirada meio de extrações.


por

As conseqüências do tratamento interno são as seguintes:

a) A dureza temporária existente na água de alimentação ê

decomposta e a no interior da caldeira.


precipitada quente
1160 BEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

b) A dureza permanente é precipitada sem constituir elemento

aderente sob forma de carbonato de cálcio ou de cálcio


fosfato pelo
uso do carbonato de sódio ou fosfato de sódio. O emprego dos

reagentes depende das condições e da natureza da água de alimen-

tação. Êstes reagentes sua vez comunicam a necessária alcali-


por

nidade à água de alimentação evitar corrosão nas redes de


para

alimentação e nas próprias caldeiras.

c) Os precipitados produzidos pelas reações referidas são fio-


conosos e tornam-se não aderentes pela inclusão de reagentes orgâ-

nicos como o tanino e o amido. O aluminato de sódio é também

usado êste fim em certos tipos de águas dando uma forte e


para

efetiva coagulação, comparável a produzida do alumi-


pelo processo

nato duplo de sódio e cálcio. Êste composto orgânico tem outra

importante função que assegura a forma não aderente de qualquer


de dureza tenha lugar nas redes de alimentação de-
precipitação que

vido à elevada temperatura ou outras causas. Certos tipos de tanino

são também muito valiosos corrosão, as experiências


para prevenir pois
demonstraram êles formar uma camada no metal
que podem protetora
da caldeira e das redes de alimentação.

d) Extrações contínuas através os orifícios de um dispositivo

situado no tubulão superior da caldeira. Por êste a com-


processo

posição da água da caldeira, com relação a substâncias dissolvidas e

corpos em suspensão, é conservada tão constante


quanto possível,
desde o serviço de remoção das substâncias seja continuo e em
que

proporção com o volume da água entrada na caldeira. Também as

perdas de calor para atender às extrações intermitentes são reduzidas

ao mínimo. É necessária uma extração de fundo, rápida e periódica

para a retirada dos depósitos de lama acumulados no interior.

Os reagentes exigidos nos processos de tratamento interno

podem ser aplicados por muitos métodos. Êles podem ser adquiridos

em mistura já preparada em e dissolvidos n'água vai ter às


pó que
redes, tanques de alimentação ou diretamente à caldeira meio de
por

uma pequena bomba.

Um dos métodos mais usados para a aplicação dos reagentes no


"Tratamento
Interno" é o de um tanque dos reagentes, instalado em

derivação na rede de alimentação. Êste sistema foi empregado nas

caldeiras terrestres, sendo agora utilizado com sucesso nas cal-

deiras marítimas.

Neste método todos os reagentes necessários são reunidos em


"briquettes"
de cêrca de uma libra cada um (459 gramas) em pro-
TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1161

porção conveniente mas diluídos na água de alimentação.


penetram
O tanque de reagentes ser ligado à bomba de alimntação da
pode
caldeira. Uma do fluxo da água de alimentação é desviada
parte
da rede o tanque de reagentes e daí vai novamente à
principal para
rede meio de manobras, nas válvulas instaladas convenientemente.
por

A água tanque de reagentes é proporcional ao


que passa pelo
"briquettes"
fluxo dêle fazendo e dissolve os
principal, parte, pro-

porcionalmente.

"briquettes"
Os ser manuseados com rapidez e o tanque
podem
de reagentes carregado com e assim a uso,
presteza quantidade para
facilmente fiscalizada. Podemos classificar os navios em três divi-

sões efeitos de tratamento da água de alimentação:


para

a) Tipos que empregam a água do mar recuperação


pura para
ou suplemento.

b) Tipos usam a água distilada ou água doce re-


que para
cuperação ou suplemento.

c) Tipos que usam água doce recuperação ou suplemento


para

que podem ou não ser amolecidas no tratamento externo.

Muitos dos menores tipos de navios como rebocadores, etc., são

classificados em e sob o de vista de tratamento da água


(a) ponto

e são os mais difíceis de aplicar o tratamento.


provávelmente Quando
se considera a água do mar, em de dureza, tem 500
que percentagens

grãos por e que contém sais dissolvidos até 2.500


galão grãos por

galão, é evidente que um suplemento de 3 % significa um


que grande

depósito de sais entrará na caldeira e em conseqüência haverá in-

crustação e corrosão inevitáveis.

A dureza média da atual água de alimentação de con-


(mistura
densado com água do mar) em tais casos atingirá a 15 ou 20 graus
com a correspondente elevada de sais nela dissolvidos.
proporção

Esta água, falando com rigor, é um tipo necessita amolecimento


que

pelos processos externos numa instalação conveniente aliás é


que
impossível de conseguir num navio onde apenas o tratamento
pequeno

interno é o processo praticável. Uma das maiores dificuldades de

operação nesta classe de navios é a elevada de substâncias


quantidade

sólidas rapidamente a água adquire. Neste caso um


que pequeno

rebocador depois de um trabalho de cerca de três semanas, a dureza

da água da caldeira chegou a mais de 100 e a de


graus quantidade

sólidos dissolvidos à cêrca de 2.000 a 3.000 e ambas


grãos por galão

mantiveram-se normais êste tipo de navio.


para
H62 REVISTA- MARÍTIMA- BRASILEIRA

O efetivo tratamento sob tais condições apresenta dificuldades

devido à adição de álcalis precipitar a dureza e


para permanente
evitar corrosão, produz matérias em suspensão em ligação
porque que
com a elevada quantidade de sais dissolvidos, tende a causar projeção
na água da caldeira.

Sugere-se como tratamento para esses casos a adição suficiente

de álcalis para reagir com a dureza, deixando o mínimo de


possível
alcalinidade livre na água da caldeira e usar aluminato de sódio e

tanino para dar as precipitações uma coagulação efetiva e conservá-la

não aderente. O uso também de extrações contínuas é essencial


para
manter constante o teor de sólidos dissolvidos na água da caldeira,

num ponto mínimo, ao mesmo tempo remove o material em


que

suspensão. Êste último deve ser considerado como ainda


processo

sob forma experimental aplicação em água do mar.


para

Os navios da classe estão em menor dificuldade a


(b) porque
dureza da água de alimentação é muito havendo um
pequena padrão
de experiências em instalações terrestres em condições semelhantes.

Teoricamente, a água de alimentação deve aproximar-se da água

distilada; porém a contaminação toma lugar devido ao arrasta-


prática

mento vaporizadores, fugas nos tubos do conden-


produzido pelos

sador e CO2 desprendido durante a vaporização. As águas de ali-

mentação deste tipo requerem alguma forma condicional, porque

embora leves traços de dureza e sais como os cloretos, são


possuam

propensas a iniciar a formação de inscrustações e corrosão.

Para as águas de alimentação de fraca dureza, os reagentes

indicados como necessários na são algumas das


prática, geralmente
formas do fosfato de sódio, tais como o tri-fosfato de sódio ou o

hexametafosfato de sódio misturados com material orgânico como

seja o tanino. O tratamento da água com o fosfato de sódio é ne-

cessário porque é difícil precipitar baixas concentrações de cálcio da

solução, sob forma de carbonato. O fosfato deve ser adicionado de

uma quantidade equivalente à dureza com um excesso suficiente para

manter na água da caldeira, em todo o tempo, um teor solúvel de

PO4 de 50 partes por milhão.

A água da caldeira deve também ser absolutamente alcalina para

evitar corrosão ocasionada cloreto e outros anions. É aconselhá-


por

vel a alcalinidade cáustica expressa em Na OH não seja menor


que

do que 15 % do total de sais dissolvidos.


TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1163

oxigênio livre não será muito ativa nesta


A corrosão devido ao

de navios devido a desagregação feita nos condensadores e


classe

água de alimentação; o oxigênio figura com menos


aquecedores da

de 0.02 cc. litro no trabalho normal.


por

classe usam água doce fresca sem trata-


Os navios da (c), que

mento externo suprimento da alimentação, tomam


para provavelmente

diferentes águas nos onde tocam e os verdadeiros processos


portos

de tratamento variam com a natureza da água, isto é, dependem de

suas características. Verdadeiramente falando, o tratamento usado

deve variar cada tipo de água tomada nos portos;


para particular

na levando em conta a baixa porcentagem do supri-


porém prática,

mento da alimentação, exigida um navio moderno, não é neces-


por

sário fazer variações no tratamento da água, a menos que sejam

encontradas águas de dureza tal façam a mistura conter cêrca


que

de 5 O tratamento recomendado caldeiras de média


graus. para

consiste de carbonato de sódio e taninos; a dureza do cálcio


pressão

é sob forma de carbonato é coagulado pelo alumi-


precipitada que

nato e taninos.

Si a do suprimento da alimentação é grande, como


quantidade

nos navios de e de conveniente e adequada dureza,


grandes proporções

t aconselhável o amolecimento da água tratamento externo,


pelo

dotando-se a instalação dos meios apropriados, tratamento êste de-

do tipo da água usada.


pendente

É impossível dar as recomendações precisas para


pràticamente

um tratamento teria assim um valor cada caso


que geral, porque

varia consideràvelmente. O tratamento só ser for-


particular pode

mulado depois de examinadas as condições da aplicação da água e

de sua análise.

CONTROLE — O controle é a mais necessária de


parte qual-

de tratamento Externo Interno e é essencial


quer processo quer quer

haja uma rotina levadas a efeito nas várias


que para provas químicas

águas. As simples foram agora desenvolvidas e estas nos


provas

dão todos os dados necessários a orientação do tratamento.


para

Trataremos a seguir de dois de importância nos


pontos grande

fenômenos ocasionados água de alimentação denominados: fra-


pela

qneza, cáustica e corrosão.

FRAQUEZA CÁUSTICA — A fraqueza do metal da caldeira

soda cáustica tem sido objeto de apurado estudo no laboratório


pela
1164 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

e nas instalações nestes últimos anos. A constatação da fraqueza nos


aços. pelo exame micrográfico, permitiu descobrir-se, que as fendas,
cujo desenvolvimento resulta do ataque pela soda cáustica, são' inter-
cristalinas e não demonstram nenhuma deformação do grão, enquanto
as fendas, devido à fadiga ou à corrosão, são transcristalinas e estão
ligadas à deformação do grão.
Os trabalhos de laboratório que abaixo nos referimos mostram
que ha duas condições para causar fraqueza no aço maleável:
1) Uma elevada concentração relativa de esforços no metal.
2) Uma elevada concentração de soda cáustica provavelmente
em excesso de 100 gramas por litro.
É claro que a composição da água da caldeira é o fator deter-
minante do segundo ponto, achando-se em muitos casos, onde
ocorreram fraquezas, que o suprimento da água de alimentação
derivava de poços profundos, onde o cálcio e o magnésio estavam
presentes como dureza temporária, contendo consideráveis quanti-
dades de bicarbonato de sódio em solução com pequenas quantidades
de sulfato.
Essas águas continham mais do que o suficiente carbonato para
evitar a formação do sulfato duro de cálcio com incrustação; porém
o excesso de bicarbonato de sódio decompunha-se na caldeira for-
mando carbonato e finalmente soda cáustica.
Foi verificado que as concentrações de soda cáustica desenvol-
vidas por este modo na água da caldeira, ou as provenientes resul-
tantes do amolecimento, nunca chegam a 100 gramas por litro. A
teoria preconizou e cou firmou que um grande aumento de concen-
tração tem lugar nas fendas e costuras; deste modo, uma fraca
solução de soda cáustica no tubulão da caldeira torna-se uma perigosa
concentração nas costuras entre as chapas.
É nestes lugares também que o metal pode ter sofrido esforços
demasiados devido à cravação.
A fraqueza que ocorre nas costuras tem sido verificada pelo
exame dos casos suspeitos. Na prática foi observado que as fendas
aparecem no lado seco da chapa da caldeira e correm, em regra, de
rebite a rebite. Elas são invisíveis a olho nú e só se percebe a sua
existência quando se faz uso do martelo, batendo nas cabeças dos
rebites, quando há um vasamento anormal pelas costuras, quasi
sempre ocultos na sua fase inicial pelo isolamento ou pela completa
TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1165

falência de um acessório, como: flanges dos machos da torneira de

extração de fundo. A fraqueza cáustica portanto pode ficar des-

conhecida um tempo considerável e somente quando o metal se


por

aproxima do um desastre, é que pode ser per-


ponto perigoso para

cebido. Parece também certo uma vez iniciado o fendilhamento


que

nenhum tratamento aplicado à água tolher a formação


químico pode

de novas fendas, embora o ataque não continue nos grãos


porque,

contíguos, as fendas existentes formarão núcleos favorecerão o


que

desenvolvimento de fendas de fadigas transcristalinas.

Desde que foi considerado impossível evitar os esforços conse-

quentes da cravação, as atenções voltaram-se para uma possível


influência de inibidores seriam introduzidos na água da caldeira.
que

Encontrou-se nas experiências de laboratório que o sulfato e o car-

bonato de sódio cortam a ação da soda cáustica, levando em conta

que êles estão presentes no estado sólido quando a concentração da

soda cáustica (NaOH) atinge a 100 gramas por litro. Então o

sulfato de sódio (Na2S04) e o carbonato de sódio (Na2C03) estão

e amolecidos na água de alimentação tratada. E si as


presentes

quantidades são suficientes para determinar nesses compostos a sua

deposição no estado sólido, quando a concentração da soda cáustica

atingir a 100 gramas por litro, não haverá fraqueza cáustica.

As solubilidades do Na2C03 e Na2S04 separados e em mistura

continham 100 —-
foram determinados em soluções que gramas

NaOH litro e em temperatura de trabalho das caldeiras.


por

Os resultados foram representados sob forma de curvas

mostraram os valores das relações (Na2 C03/Na OH) e


que

(Na2S04/Na OH) que ficaram na água do tubulão da caldeira,

a depositarem-se em estado sólido Na2 CO3 e Na2 SO4


prontos

a concentração da soda cáustica atingisse a 100 gramas


quando

por litro.

É simples análise da água de uma cal-


portanto possível, pela

deira, determinar os valores dessas relações e compará-las com as

curvas mostram os valores limites considerados necessários para


que

impedir a fraqueza cáustica.

O exame da composição de um certo número de águas de cal-

deiras livres de fraqueza e de outras tinham fendas inter-


que

cristalinas, constatou as ficaram fora da curva e as


que primeiras

últimas dentro da curva, confirmando de algum modo as experiên-

cias de laboratório.
1156 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Durante os últimos oito anos muitos trabalhos foram realizados,


não só para estudar o desenvolvimento do mecanismo da fraqueza
cáustica como também para explorar a possibilidade da utilização de
outras substâncias como inibidores. Houve dúvida sobre os poderes
inibidores do sulfato de sódio sob certas condições, especialmente
nas caldeiras das locomotivas. Outras substâncias, como o tanino,
segundo as experiências do laboratório, têm aparentemente evitado
a fraqueza cáustica; porém experiências completas para investigar
o assunto, não foram ainda concluídas.
Estamos portanto, habilitados a fazer recomendações precisas
para evitar a fraqueza cáustica. Limitamo-nos somente a dizer que
as proporções que preferimos de Na2 S04/Na OH na água da cal-
deira devem sempre ser superiores a 2,5 %. Vimos também na
curva que o efeito protetor é desconhecido quando se emprega o car-
bonato de sódio. Em elevadas pressões, isto é, acima de 250 libras,
o valor mínimo da proporção referida pode ser levado para 3 %.

CORROSÃO NAS INSTALAÇÕES DE CALDEIRAS

Os problemas da corrosão são possíveis de classificação sob uma


orientação geral, requerendo cada um deles um estudo especial para
estabelecer tanto quanto possível as causas e determinar as medidas
preventivas que devem ser tomadas.
Os lugares mais sujeitos à corrosão nas caldeiras são:
a) Preaquecedores ou economizadores.
b) Tubulões ou tubos.
c) Super-aquecedores.
d) Turbinas.
<?) Redes de retorno do condensado.

PRE-AQUECEDORES — ECONOMIZADORES
E CALDEIRAS (a-b)

A corrosão, nas pressões de trabalho moderadas, pode ser redu-


zida ao mínimo, levando em consideração que a composição da água
da caldeira foi regulada por um tratamento preliminar. Assim sendo
haverá uma pequena alcalinidade cáustica presente e as superfícies
de aquecimento estarão livres de incrustações. Ocasionalmente
TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1167-

haverá corrosão com tudo isso, e provavelmente causada por ação


do cloro ou do oxigênio ou por ambos. Parece aceitável que a
corrosão pelo cloro e outros anions pode ser impedida pelo aumento
da alcalinidade, especialmente a alcalinidade cáustica. Nas caldeiras
o aumento é necessariamente limitado havendo em consideração o
problema de fraqueza cáustica. Infelizmente o aspecto quantitativo
do efeito protetor pelo ridróxido não foi completamente explorado,
si bem que algum trabalho inicial fosse feito há poucos anos por
American Railroads Engineering Association que estabeleceu que a
alcalinidade cáustica da água da caldeira, expressa em Na OH e
mantida entre 10 e 15 % de sólidos dissolvidos, evita a corrosão.
Um folheto recente diz, todavia, que esta fórmula não dá proteção
completa, especialmente si houver elevada concentração de sólidos
dissolvidos. Neste último caso a porcentagem de soda cáustica
necessária para evitar corrosão deve ser excessiva e, portanto, im-
possível cuidar-se somente de evitar a fragilidade cáustica. Em tais
circunstâncias usa-se com sucesso um reagente condicional sob forma
de fosfo-tanato.
Em pressões elevadas, isto é, acima de 300 libras, a corrosão é
muitas vezes evitada pela eliminação de anions como cloro pela disti-
lação e o oxigênio pela desaeração mecânica. Algumas caldeiras,
aliás, têm como água de alimentação uma mistura de condensado e
água doce, sendo esta última amolecida previamente e a corrosão que
poderá aparecer será eliminada somente pela desaeração.
O grau de ataque do oxigênio parece depender da quantidade
presente e da temperatura. Nas caldeiras que trabalham sob
pressões até 300 libras, a corrosão é insignificante si o oxigênio con-
tido na água de alimentação f ôr reduzido para cerca de 0.05 cc. por
litro; porém uma experiência mostrou que em pressões mais elevadas
a quantidade de oxigênio precisa ser de 0.01 cc. pôr litro e em
algumas circunstâncias há necessidade de remoção completa pela
desaeração química com o sulfato de sódio depois da desaera-
ção mecânica.
As observações mostram que, nos casos em que não haja incrus-
tação formada, a corrosão nas caldeiras pode ser evitada, mantendo-se
a alcalinidade na água de alimentação e na água da caldeira.
Si a-pesar-dêsse tratamento houver corrosão, o oxigênio deve
ser removido por processo mecânico, químico ou por ambos.
1168 revista marítima brasileira

Um método de corrosão preventiva foi usado com sucesso e está

sendo desenvolvido; consiste da adição especial de um preparado


composto-fosfato de tanino na proporção de uma libra 10.000
para

galões d'água.

Numa caldeira em a 180 libras de e alimentada


provas pressão

com água tratada da maneira acima referida, os tubos indicaram a

presença de uma camada negra e brilhante ter uma ação


que parecem

protetora bem considerável visto que nenhuma corrosão foi observada.

Êsse tratamento tem sido aplicado com sucesso em caldeiras


quer
fixas como em locomotivas.

A composição da camada não é ainda conhecida com


protetora

segurança mas é evidente tratar-se de um composto de fosfo-

tanato de ferro.

SUPER-AQUECEDORES E TURBINAS d) — A cor-


(c,

rosão nos super-aquecedores e nas turbinas é um só


problema que

pode ser estudado indiretamente.

Si a questão fôr traçada pela presença de fixos no vapor,


gases

CO2 e oxigênio, a evidente linha de ataque é a retirada destas

substâncias da água tanto quanto possível. Uma água foi amo-


que

lecida calcinato de sódio não deve conter CO2 em estado livre


pelo

e a quantidade em excesso de Na2 CO3 necessária para o tratamento

eficiente contra as incrustações de sulfato, não dá, em lugar


geral,

a quantidades perigosas de CO2 que resultam de sua decomposição

parcial. Por outro lado a corrosão ocorrer como resultado do


pode

arrastamento, isto é, de de água no vapor. Estas


presença partículas

partículas, secando, deixam sais depositar-se nos super-


que podem

aquecedores e das turbinas. O assunto — e


palhetas projeções

espuma é muito longo ser discutido aqui, porém a contaminação


para

do vapor podè muitas vezes ser evitada pela manutenção fraca da

concentração dos sais dissolvidos na água da caldeira com o auxílio

de contínuas extrações.

REDES DE RETORNO DO CONDENSADO —


(e)

A-pesar-do anídrido carbônico e do oxigênio passarem através do

super-aquecedor e das turbinas sem causar muito eles


prejuízo,

inevitàvelmente reaparecerão em solução com o condensado. Muitos

condensados são distintamente ácidos pelo CO2 dissolvido e são

porisso corrosivos. O mesmo fato observa-se e aplica-se no conden-


TRATAMENTO DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DAS CALDEIRAS 1169

sado proveniente da coleta feita nas inferiores das serpentinas,


partes
de aquecimento, etc. Os elementos corrosivos devem ser evitados

reduzindo-se ao mínimo os carbonatos e o CO2 livres entram


que

na caldeira ou injetando-se suficientes de sulfato de


quantidades
sódio e soda cáustica tornar o condensado alcalino e remover
para

a maior do oxigênio dissolvido. Não sabemos ora si êste


parte por
último tratamento foi aplicado.

CONCLUSÕES *— Demos às linhas dos


gerais princípios para
o tratamento da água de alimentação das caldeiras, com os detalhes

que vimos necessários as razões e os fins do trata-


para justificar
mento. O principal objetivo é atrair a atenção um método do
para
"Interno"
tratamento que, na opinião dos autores, deve ser aplicado

nas caldeiras marítimas agora, de vez que as experiências nas cal-

deiras fixas terrestres foram e o tratamento resumir-se


proveitosas

na adição de substâncias facilmente introduzidas com o


químicas,

auxílio de aparelhos modernos. As misturas de reagentes têm sido

também desenvolvidas, especialmente as adaptáveis ao tratamento


"Interno",
fato êste que não deve ser desprezado tendo em vista os

resultados satisfatórios obtidos com o seu emprêgo.

Tradução de

Guilherme da Motta

Capitão de Fragata (Q.M.)

''' 1<3Q4i~)
QUIRINO DA FONSECA

A arqueologia marítima portuguesa acaba de perder o seu mais


apaixonado investigador.
Era o capitão de mar e guerra Henrique Quirino da Fonseca.
Nascido em 1868. O almirante Gago Coutinho, que teve a nímia
gentileza de me fornecer o melhor destas notas, conheceu-o aos 13
anos de idade, companheiros no Liceu de Lisboa. Ambos, em horas
de folga, costumavam percorrer os arredores da metrópole, já se
evidenciando os pendores dos aplicados e inteligentes rapazes e o seu
devotamento ao trabalho. Enquanto Gago Coutinho enveredava pelas
matemáticas, Quirino preferia as descuidadas divagações literárias,
captando, dos panoramas que apreciava, a linha estética do belo e a
poesia natural de cada coisa. Si acaso se detinham, à hora do sol-pôr,
a observar as naus distantes, fundeadas no Tejo, Gago Coutinho
perquiria-as com o olhar assombrado para os milagres de arquitetura
e de técnica que revelavam esses lenhos gloriosos do marinheiro
Portugal, ao passo que Quirino era mais inclinado a entrever neles
o passado, a luta descomunal "das navegações grandes que fizeram"
os atrevidos lusíadas da sua história sem par. Um admirava a enge-
nharia naval que assim pudera edificar essas pequenas catedrais
votivas onde se queimou o mais puro incenso de um século. Pasmava
para o risco daqueles cascos oscilantes, a precisão numérica dos seus
ínfimos detalhes, o equilíbrio perfeito dos seus mastros e velas, loucos
por arrancar dali, daquelas águas mansas e familiares, para as agruras
do oceano sem fim, pelas surpresas desmedidas do mar alto, onde
tudo é perigo e mistério, para além dos véus de treva que as mesmas
quilhas lusitanas para sempre rasgaram e devassaram. O outro, em
câmbio, deslumbrava-se em fantasias adolescentes, povoando aquelas
embarcações de gente nobre e antiga, esmíuçando-lhes as origens, re-
1172 REVISTA marítima brasileira

constituindo-lhes os brazões darmas, romanceando-lhes as existências

de audácias e sobressaltos, inventariando-lhes, com as travessias in-

finitas, a maneira de viver, sobranceira e impávida, as em


grandezas

hora alegre e as vicissitudes em longos dias amargos, como tanto se

viu em Portugal. Naquele tempo, descuidado tempo de aprendizagens

fáceis e divertimentos ingênuos, si se houvesse a cada um desses

— do futuro — cometido
moços glórias marujas a empreza de escrever

um livro de vero e são teor marítimo, certo, Gago Coutinho comporia

um manual de astronomia ou náutica, um compêndio de geometria

aplicada à construção naval, qualquer coisa onde entrassem,


perfilados

e frios, o método e o número, sendo que o amigo, Quirino da Fonseca,

daria a público uma lenda grandiosa de piratas ou um drama doloroso

de naufrágios, com os seus episódios e comparsas marcados a tintas

vivas e exageros de visão.

Nos bancos do Liceu, aquele viria a ser um dos vivos


que

orgulhos de Portugal e do mundo na ciência ilustre de navegar mares

e espaços preocupava-se com os seus estudos, com a disciplina marcial

dos regimentos e dos horários, pontual e infalível. Quirino, o por-

vindouro historiador da sua classe, dando também de si as melhores

contas, vezes, entretanto, desviava a atenção para os devaneios


por

do espírito, coisas mais amenas para um cérebro que começava a

Destarte, ao mesmo tempo que Gago Coutinho destrinchava


pensar.

um arrevesado, esmerilhava insidiosas incógnitas,


problema Quirino

fundar e dirigir um — um
da Fonseca se aprazia em jornal jornal-

zinho acadêmico, crivado de historietas e sonetos, preceitos de ino-

cen.te filosofia, ameaças de artigos de fundo sobre questões de atuali-

dade a inteligência, desabrochando, focalisar. Quando não


que podia

convidava o colega, lançava mão de uma máquina fotográfica,


pesada

e lá se iam, montes e descampados, beiras de cáis ou sítios ribeirinhos,

a tirar vistas de tudo o lhes impressionava a retina, com os


que

recursos primitivos do tripé e do colódio.

Assim alguns anos, e descuidados. Depois


passaram-se poucos

a vida. O caminho se vai fazendo áspero de surpresas e respon-


que

sabilidades. Ás do Liceu, curso acabado, os dois jovens se-


portas

Levam com os seus diplomas o preparo inau-


param-se. primeiros

mais altas arremetidas. O futuro pioneiro dos ares in-


gural para

na Politécnica e Naval. Perseguia-o o pendor para as fórmulas,


gressa

os mais complexos o intrincado das teorias em voga. Ao


problemas,
QUIRINO DA FONSECA 1173

mesmo tempo, atraía-o o mar, o mar heróico em que se fez tão

grande e forte a sua raça. Mas o mar navegado com ciência e cri-

tério, dentro das altas imposições astronômicas, sem fantasias nem

digressões supérfluas. O mar indômito, as desbravadoras


que quilhas

tentam subjugar. A arte nobre de marear sob o olhar fugidio das

estrelas, que em vão se aprisionam, tentadoras amantes, nos limbos

frios dos sextantes despóticos.

Isso, por volta de 88. ao envez de enfrentar carreira


Quirino,

definitiva, ainda hesita dois anos. Deixa o companheiro solte


por que

o rumo firme nos do seu nobre ofício, desdenha-lhe do


quadrantes

convite honroso de seguirem ambos a mesma rota fraterna, e prefere


instalar-se no Curso Superior de Letras, onde se ilustra e desperdiça

o tempo. O antigo diretor do escolar mantinha o veso da


jornaleco

literatura, a obsessão de trilhar a estrada suave, olhando «as margens

floridas e extasiando os ouvidos com as matutinas litanias dos passaros.

Só em 1890 decide-se marinha. E, certo, se arrepende de


pela

haver esbanjado os dotes de inteligência em verdade,


que, puderam
ser aproveitados a de estudos mais conciliando o mar
par provectos,
— fonte eterna de —
prodígios com a própria dos sentidos
poesia
e o panteismo de sua alma eleita.

Findo o curso, a que sempre emprestou o brilho do seu talento,

sem que jámais abandonasse a em começaram a


pena produções que

evidenciar o esmerilhador curioso do marítimo, nos


passado já pri-
meiros investe-se em comissões realçam a sua
postos, Quirino que

envergadura de homem e militar, sempre a contento das autoridades.

Embarca em navios da esquadra. Em dado tempo, com


perlustra

Dias, do transporte valeiro Pcro de Alemquer, do cruzador Adamastor.

Enriquece-se de conhecimentos técnicos, não deslustram os his-


que

tóricos. As velhas naus de Portugal, as travessias oceânicas


grandes

irrompem, como fantasmas, do fundo nebuloso dos séculos,


que

enormemente a atenção. Muito consulta, e lê, e es-


preocupam-lhe

tuda. Não se arreda dos arsenais, dos museus, dos arquivos, das

bibliotecas, dos recessos sombrios de meditação e trabalho onde se

oculta o documento, o alfarrabio, o precioso in-folio, o arredado

cimélio. Toma notas e debuxa cr o quis. A e pouco vai dando


pouco

a lume obras de monta, começam a ser, cada vez mais, louvadas e


que

citadas.
1174 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Destarte, em 1900, edita um livro de contos, Céu e Mar,


que

provoca os encômios da crítica. São as suas esporas de cavaleiro das

letras. Animado, Dessa vez em assunto de mais fôlego,


prossegue.

A obra colonial de Afonso de Albuquerque, acatada historio-


pelos

grafos e aplaudida pelas academias.

1910, ao apagar das luzes, traz ao as convulsões


país que

a mudança de regime. Em 10 de outubro a


precedem proclama-se

i epública. Por circunstâncias, Quirino da Fonseca deixa


quaisquer

a em demanda do Brasil. Mais talvez espírito das viagens,


pátria pelo

o senso aventureiro de quem viu a luz do sol no remanso das tágides,

à sombra de tanta glória que se ostenta, em setestrelos de apoteose,

nos mares do Grande Infante.

Chega ao Rio e precisa trabalhar. Procura, como é de seu mister,

os empregos marítimos. Vai ao Lloyd Brasileiro, desconhe-


que,

cendo-lhe talvez as largas possibilidades, lhe dá funções subalternas

em navios de menor importância. Não muito tempo a


permanece

a e a imediatar cargueiros de pouca marcha. Arranjam-lhe no


pilotar

sul, nas obras do do Rio Grande, colocação de mais vistosa


porto

aparência. Aí, o brioso oficial, em meio rude, a lidar com caracteres

vários e heterogêneos, em aplicar os dogmas disciplinares


pensa que,

desde a Escola, lhe ornavam o temperamento. Engana-se. Hosti-

lisa-se com o ambiente. Desilude-se e abandona a comissão, donde só

leva desafeições e dissabores.

A conflagração européia de 1914 encontra-o novamente em Por-

tugal. Manda-o o a Moçambique, a bordo do Adamastor.


governo

Comanda, nas correntezas fluviais do Rovuma, um desembarque


que
não logra êxito, as metralhadoras alemãs, habilmente
porquanto em-

boscadas nas barrancas, não deixam ninguém chegar com vida à

margem norte do rio. Por sorte, escapa o chefe da expedição. Es-

capam dos seus homens. Mas a bandeira da embarcação sai do


poucos

combate crivada de uma centena de balas.

Em 1915, já no de capitão-tenente, edita as Memórias de


posto

Arqueologia Marítima Portuguesa. É o assunto o fará verdadei-


que

ramente notável. Saem elas da tipografia de F. Pinheiro, à rua


J.

do Jardim do Regedor, 41, Lisboa. Nesse livro, o autor des-


próprio

mente o conceito de Fernández Duro na sua Desquisicion Tercera:


"
Es muy dificil poco comun en los artistas, refractarios à la
y penosa
QUIRINO DA 1'ÜNSIiCA 1175

vida de mar, el conocimiento técnico sin el cual la representacion de


"não
Ias naves no puede ser exacta". Mais uma vez, causam mal as

musas aos doutores". O se lhe depara é o equilíbrio


que perfeito

espiritual do literato e do arqueólogo, em senda áspera e tortuosa em

muita vez, ambos se sentiram bem, estimulados e acamaradados.


que,

E graças a esse esforço inaudito e recíproco, ficar fixada


poude

e documentada a vida de um impar na crônica das navegações,


período

tendo por leitmotiv a existência do navio, desde o seu lançamento até

à sua baixa, com toda o seu acervo de e leais serviços.


poderosos
"O
Tem de sobra razão Henrique Lopes de Mendonça: navio é o

primeiro elemento de estudo traçar a história


para quem pretende

da época".

Depreende-se da leitura que o autor buscaria explanar o assunto,

com mais vigor e largueza, em obras o venturosa-


posteriores, que

mente aconteceu. Contudo, nota-se, nessas primeiras Memórias, muita

e muita erudição, frisando um legítimo especialista à ma-


pesquisa

neira dos Jal, dos Fournier, dos Le Roy, dos Navarrete e dos Cecil

Torr, legatários de tão relíquias.


primorosas

Também, nesse terreno, sempre foi dado a Portugal apresentar

lavradores de A saber, aquele mesmo Lopes de Mendonça,


polpa.

oficial de marinha e polígrafo, com os seus Estudos sobre navios por-

tugueses nos séculos XV e XVI; um José Cândido Corrêa sobre

Construções e armamentos navais; um Celestino Soares, tão justo e

pitoresco na narrativa maruja, com os seus preciosos e coloridos

Quadros navais; um João Braz de Oliveira, ao mesmo tempo escritor

e exímio desenhista; um Baldaque da Silva, autor da excelente mo-

nografia sôbre a nau ,S\ Rafael; um Almeida d'Eça nas Lições de

história marítima; um José Torres nos seus valiosos apontamentos

acerca de O navio de vela através da história, e tantos mais, de outros

e destes tempos.

Estudam as Memórias de os tipos de navios antigos


Quirino que
hoje só nas recolhidas narrativas históricas. Singulares ar-
perduram

caismos de arquitetura naval, exilados o fundo dos museus ou


para

o manuseio constante dos estudiosos de tão util e curioso sector. Vem,

em a estensa nomenclatura que semelha, pelo bizarro


primeira plana,

dos apelidos, idioma estranho ou farpado dialeto que só estendem as

ribeirinhas, de arrevesado linguajar.


populações
1176 REVI SI A MARÍTIMA BRASILEIRA

Assim, sucedem-se os alaudes, as albetoças, as almadías, as

azurrachas, as almadravas, as bagas, as balandras, os bergantins, as

bichelas, as carracas, as columbas, as delaças, os enxabeques, os fus-

tarrões, os os ilhavos, os longabotes, os marruazes, os


giropangos,

nabangues, os as sarracinas, as taforéias, as velugas e os


pandajaras,

zambucos, de nos tempos que correm, a não ser na seara dos


que,

eruditos, não existe a mais leve menção.

Fora mister, a elaboração de tão custoso documento, como


para

o confessa o autor, a longa e meticulosa investigação em centos de

volumes, muitos deles de dificil acesso ou já de paginas rendilhadas

da traça. E, ao fora a tarefa interrompida, ou relegada


que parece,

a melhores dias, constando a relação de embarcações in-


porquanto,

ventariadas do total de cento e sessenta e sete, isto é, alfabética-

mente, do alaude ao zambuquinho, o estudo se detem no caravo (ca-

revo ou carrebo), tem no rol o número 42.


que

Mas, adeante, a obra se enriquece, se avoluma, ganha


para

as raias do suntuoso no magnífico trabalho se intitula Os


que

Portugueses no Mar. Não precisar em que ano foi publicado.


posso

Não traz a data em fôlha de rosto. O de Lopes de Mendonça


prefacio

é de Agosto de 1923. E o exemplar que me veiu ter às mãos, com

honrosissima dedicatória de da Fonseca e do almirante Gago


Quirino

Coutinho, chegou-me, coincidência, como um régio presente de


por

aniversário, em Io de novembro de 1926. Esse, é, pois, o trabalho

culminante do ilustrado oficial lusitano. Ementário riquíssimo dos

navios de Portugal, dividido em reinados, com informações minu-

de tudo o aconteceu àqueles e naus, e caravelas, e


ciosas que galeões,

urcas, e navetas, comparsas infatigáveis do cenário do mar. Vai dos

da monarquia até ao desaparecimento da última nau por-


primórdios

Obra de requintada feição, capaz, por si só, de elevar


tuguesa (1).

um nome de escritor e apregoar uma reputação legítima. Pena, e

seu autor, a meio da empreitada, tendo dado à


grande pena, que

estampa o volume, houvesse sido desencaminhado da senda


primeiro

histórica o campo enganoso da Foi ser vereador da


para política.

Câmara Municipal de Lisboa. A cidade lucrou, conquanto a crônica

Logo após sua eleição, começou Quirino da Fonseca a se


perdesse.

V. a importante descrição desse barco e do seu desastrado fim r.a Ul-


(1)
lima nau portuguesa, de Teodoro José da Silva.
*
quirino da Fonseca 1177

evidenciar o mesmo trabalhador culto de sempre, amando tanto a sua

terra como ao mar magestoso a oscula e glorifica. Então,


que poz-se

a corrigir desleixos se originaram do acidentado da guerra.


que período

Muita coisa arrumar e restaurar. Construiu edifícios novos.


por

Creou oficinas. Fundou o museu da cidade. Determinou a extinção

de mercados enfeiavam e conspurcavam as vias Ajar-


que públicas.

dinou e alterou as linhas do antigo aterro, encaminhando-o ao centro

urbano, como da antiga avenida da Índia. Realisou


prolongamento

notáveis melhoramentos no Eduardo VII, onde ergueu a fa-


parque

mosa Estufa-fria. E outros muitos serviços de relevância, atestados

capazes dos seus méritos de administrador disciplinado e homem de

altos predicados cívicos.

Infelizmente, por uma questão de altivez (a independência do

marinheiro falava-lhe na alma afoita), indispoz-se com o


Quirino

presidente da Câmara, dirigiu-se uma tarde, em sessão, com


plena

termos agressivos, contra o seu superior hierárquico, além de tudo,

um general que a seu ver não mantinha a energia suficiente


para
eliminar, siquer admoestar funcionários relapsos ou incompetentes.

Viu-se então, com benefício a sua Armada, o antigo vereador


para
abandonar as funções em verdade, o não tentavam, e retornar
que,

aos seus queridos estudos, onde êle, a cada se firmava como


passo,

autoridade.

E os Portugueses no Mar, ignorados motivos, não lograram


por

o almejado seguimento.

Desgostoso, indiferente às atrações dos não exerceu


partidos,
outros cargos, podendo até ter sido, fosse mais amoldavel a sua

tempera, ministro da Marinha.

Tornado da África, finda a campanha mundial, entregue a outro

a chefia de trabalhos de administração de companhias coloniais no

Congo português, que com fulgôr exercera, volve à sua


Quirino pátria

e às suas locubrações, continuando a ser visto a miude no recinto dos

arquivos, nos centros de arqueologia, sempre armado do isqueiro da

pesquisa, certo de que, de modo, traria luz sobre o des-


qualquer

conhecido.

Faz, em 1920, uma conferência sobre a Torre de Belem como

baluarte de artilharia, d. João II. Para adeante, assi-


plancado por

nala-se quasi ininterrupta a sua atividade literária. Publica então,


1178 revista marítima brasileira

no ano seguinte, um Manual de adjetivos da língua portuguesa, e outra

conferência, acerca do brazão da cidade de Lisboa, e ainda outra sobre

a Arquitetura Naval na época de Fernão de Magalhães. Em 1926,

edita as Memórias históricas e arqueológicas das naus de Por-

tugal. Em 1929, três conferências: Em homenagem a Henrique Lopes

de Mendonça, Em defesa da Caravela Portuguesa e A questão das

aguaà. 31, Pilotos das navegações portuguesas nos séculos XV,


Em

XVI e XVII, e A arte de navegar, cartografias e cartógrafos portu-

os navios dos descobrimentos e conquistas. Em 33, Os navios


gueses,

do Infante D. Henrique e A representação artística das Armadas da

índia. Em 34, A Caravela de Portugal e a originalidade técnica das

navegações Henriquinas, e Luiz de Camões o Trinca-Fortes, novela

heróica. Em 35, Viagens maravilhosas de aventureiros portugueses

dos témpos idos, e Memórias e conferências. Em 36, Um drama no

sertão, reminiscências das suas viagens através da África, com

documentos inéditos e um prólogo de Gago Coutinho. Cuida-se de

uma curiosa vulgarisação de episódios coloniais de acentuado interêsse

os brasileiros. Nela se estuda a personalidade de um paulista


para

insigne, o Dr. Francisco de Lacerda e Almeida, diplomado Uni-


pela

versidade de Coimbra, de campo, que se notabilisou


geógrafo pelas
"tanto
suas observações astronômicas, a determinação da latitude,
para

como da longitude e do erro da agulha". Antes, já o emérito cientista

havia trabalhado, com brilho e competência, na delimitação das fron-

teiras do Brasil.

Considerando-o, numa efusão fraterna, tão bom filho de além

como de aquém Atlântico, sôbre êle disserta o glorioso prefaciador:


"O
Dr. Lacerda é o de ha mais antiga memória de,
português quem

nas terras ultramarinas, ter recorrido a processos tão avançados. E

foi êle o primeiro que, servindo-se desses recursos, tentou a travessia

de África, a morte lhe não deixou concluir: foi vítima de febres,


que

na de Muata Cazembe, do lago conhecido hoje


já povoação junto pelo

nome de Moero, onde, talvez sem o saber, já não bebiam agua do

Zambeze, mas do rio Zaire".

O diário dessa comissão foi publicado e traduzido. Restava dela


"Mas
um mapa, a exemplo de empreendimentos congêneres. sucedeu

(continua o autor do preâmbulo) que, folheando os catálogos de

mapas da Biblioteca Nacional da mesma cidade (Rio de Janeiro),

tive em 1925 a boa fortuna de deparar com uma coleção de 23 folhas


QUIRINO DA FONSECA 1179

de desenho topográfico a cores, sem indicação do lugar a se re-


que
feriam, nem do seu autor. Estão em datado do século XVIII,
papel

e parece terem sido copiadas mesmo desenhador das outras


pelo
cartas do Dr. Lacerda. Conhecendo a região de Tete, onde também

delimitei fronteiras, logo verifiquei se tratava de um itinerário


que

partindo de Tete para o norte. Era, sem duvida, o complemento da

viagem do Dr. Lacerda, realisada em 1798, levada


provavelmente

para o Brasil quando, em 1807, o Ministro da Marinha e Ultramar

para lá acompanhou D. VI. Obedecia-se, assim, ao antigo


João

critério de reservar tudo o dizia respeito a viagens de Descobri-


que

mento".

Conquanto fosse digna de todos os louvores, em do


qualquer parte
mundo intelectual, a figura veneravel de Quirino da Fonseca, bastaria

a revelação desse episódio para nós brasileiros, ou, melhor,


que

correspondendo ás palavras do almirante Gago Coutinho, portu-


desta banda do mar, ficássemos captivos do seu espírito, em
guêses

dúvida de imperecivel gratidão.

Esse estudo, magnífica dramatisação de uma épica,


passagem
honra das letras internacionais, encerra a resenha bibliográfica do

operoso marinheiro-artista tanto mais nos dera si mais vida


que

lograra.

Ficou no prelo, e oxalá venha a público, um Dicionário Marí-

timo, Antigo e Moderno, tanto auxiliaria aos investigadores dos


que

assuntos do mar.

Não lhe faltaram títulos científicos a esse provecto sabedor das

coisas do passado. Os institutos, as mais conspícuas coletividades

culturais da sua pátria disputavam-no com carinho e com honra.

Dentre outras, fez parte da Academia de Ciência, de que era membro

dos mais ativos; da Academia de História, da Associação dos Arque-

ólogos, da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Espírito de cooperação e de organisação, nos bancos escolares


da Academia de Marinha fora um dos creadores do Centro dos As-

pirantes, casulo de aptidões marítimas, dispunha de barcos de


que

vela e a remos, tendo vencido numerosas regatas, estimulantes, entre

os jovens acadêmicos, do sport salutar daí deante se


que por propalou
e desenvolveu.

Deve a Quirino da Fonseca assinalados o Club Ginás-


préstimos
tico de Lisboa, muito se esforçou, tendo conseguido
pelo qual pro-
V

1180 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

longar sua existência, não obstante a diminuta afluência de sócios

que naquela época, volta de 1887 e 1888, não chegavam a manter


por

e animar financeiramente dois grêmios, o Ginástico e o Real Ginásio,

que ainda se encontra na capital portuguesa.

Em ambos, da Fonseca ainda teve o de contar


Quirino prazer

como companheiro, dos mais assíduos e dedicados, aquele mesmo

rapaz aos 13 anos de idade já o seguia de nos estudos e


que perto

e nos entretenimentos, e depois, como êle, se tornou num dos mais

altos orgulhos da terra de Portugal.

A comissão das comemorações dos centenários


portugueses, que

serão, com nobreza e este ano celebrados toda a espiri-


pompa, por

tualidade do mundo latino, havia encomendado a da Fonseca o


Quirino

levantamento do pavilhão destinado a vulgarizar a Evolução dos

Descobrimentos Marítimos. O importante e árduo mister foi apenas

iniciado, embora vasado em ficou concluido e


plano que perfeito.

Um câncer, pertinaz e incurável, vinha minando aquele organismo de

titan, que nunca a luta esmoreceu. E em dezembro último, aos 71

anos de idade, com a aparência de 60, desaparece o grande nauta,

deixa enfim de aquele forte coração lusíada só viveu e


pulsar que

labutou amor e da pátria.


pelo pela gloria

Os amigos, saudosos e chorosos, cumpriram-lhe as derradeiras

vontades êle friamente determinadas, em carta testamentária,


por

dias antes de morrer. Uma dessas causou a mais funda impressão:

seu corpo, amortalhado num lençol, seria envolto na bandeira sagrada

as balas alemãs esfarraparam na africana do Rovuma.


que peleja

E sôbre êle, a espada e um crucifixo.

S. de S.
O ATOL DAS ROCAS

Rocas está com a sua evolução quasi terminada. Poucos anos

faltarão para se completar, se tornar uma ilha na verdadeira


para
acepção da palavra.

"Ilha
Como prevemos a sua futura denominação:
precursores,
cie Rocas", augurando também, quem sabe ? a sua habitabilidade ?

um posto de pesca ? uma base aérea militar ou comercial ? uma esta-

ção meteorológica ?

Tudo é possível e um futuro próximo nos dirá.

O atol das Rocas é um perigoso recife de coral, em forma de

anel quasi circular, com uma abertura que comunica o mar com a

lagoa interior.

Ele é o único no oceano Atlântico; isolado, está distante 144

milhas de Natal, na costa brasileira, 110 paralelo e afastado para oeste

cerca de 80 milhas de Fernando de Noronha.

O panorama apresentam as Rocas impressiona bem e grava-


que
se indelèvelmente 11a retina do navegante que o contempla desde a

primeira vez: o azul do mar, característico da grande profundidade


circunvizinha; o branco das areias das ilhas e o verde da lagoa, indi-

cação do pouco fundo lá existente, entremeado de manchas escuras

dos recifes.

As dimensões do atol são: 1,45 milhas em latitude e 1,75 milhas

em longitude, está situado (posição do farol) 11a latitude de 3o 51'

30" Sul e longitude 33° 49' 29" Oeste.

Os recifes são planos, quasi uniformes, um pouco mais elevados

para a parte de sueste onde se encontram, assim como na de leste e

de nordeste, cinco pedras salientes, espaçadas e notáveis sua côr


pela
escura.

Ao noroeste e ao sudoeste do atol existem dois cômoros ou duas

ilhas de areia de coral mesmo na se


grossa partido, que preamar

R. M. B. 5
1182 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

mantêm acima dágua, descobertas: são as ilhas do Farol e do Ce-


mitério.
A primeira tomou o nome do farol lá instalado e era primitiva-
mente conhecida como ilha de Sable ou Sand, conforme se referiam
a ela os visitantes franceses e ingleses.
A segunda ilha tomou o nome do local em que estão sepultados
os náufragos e pessoas das famílias dos faroleiros que lá serviram e
lá encontraram a morte. A sua primitiva denominação, dada pelos
ingleses, era Grass, que significa capim.
As duas ilhas medem cerca de três metros de altura acima da
preamar, a do Farol tem uma área de 34.637 metros quadrados e a
do Cemitério, 31.513 metros quadrados.
Elas são cobertas por uma vegetação rasteira <• •un enxame de
pássaros marinhos vive ali esvoaçando e num gras "stante.
Na ilha do Farol, atualmente, nota-se um coqueiro, escombros
de uma casa que foi moradia dos faroleiros, a torre branca de cimento
armado do farol novo, a torre de ferro em ruínas do antigo farol, um
mastro com 13,5 metros de altura e o tronco dum coqueiro.
O farol está situado ao norte da ilha do mesmo nome, exibindo
dois lampejos brancos de 0,3 de segundo, intervalados de 0,9 de se-
gundo e com um período de seis segundos, visível a nove milhas de
distância, numa altitude de 20 metros acima do nível do mar, insta-
lado numa torre de cimento armado de 16 metros de altura, com três
plataformas, toda pintada de branco.
Quando a maré baixa, quasi todo o recife se descobre, as duas
ilhas ficam ligadas, a lagoa seca, deixando somente alguns pequenos
lagos isolados, que são verdadeiros viveiros de peixes e lagostas.
Encontram-se espalhados pelos recifes muitos destroços de na-
vios que aí se perderam. Na parte sul e de sueste, algumas amarras
e âncoras bastante atacadas pela ferrugem são vistas em várias posições.
Já numa distância de 10 milhas se observa a constante arreben-
tação das Rocas, e mais próximo, as ilhas de areia alva e por fim os
escuros recifes.
O fundo nas proximidades das Rocas é muito irregular, porém,
não se encontra nenhum perigo, nenhum escolho que prejudique a
navegação em suas redondezas, a não ser alguns pequenos sujos exis-
tentes muito junto dos recifes a NE, N, NW e W.
Pode-se passar acompanhando os recifes numa distância de meia
milha, encontrando-se fundos de 15 a 30 metros de areia e coral.
As águas são muito límpidas, a 30 metros distingue-se perfei-
tamente a natureza do fundo, o claro da areia ou o escuro das pedras.
Tira-se proveito disto para se navegar nas embarcações miúdas,
evitando-se os recifes submersos que quasi floreiam e para largar a
Rocas ao SW na distância de 0:5

Entrada da barreta de N.W.

Gracioso veleiro do século XIX, semelhante aos muitos que naufra-

e cujos destroços ainda se vêm nas Rocas


garam
O ATOI, DAS ROCAS 1183

âncora somente na zona clara de areia, deixando de haver o perigo

o ferro ficar nos recifes do fundo.


de se perder por prêso

Entre 200 e 500 metros ao nordeste do recife existem alguns

em torno dos quais se pruma mais de oito metros, que fazem


cabeços,
"baixa
da chamada de fora".
parte

também existem, a cerca de 500 metros do recife,


Ao noroeste
"bai-
e uma com 5,5 metros na baixamar, chamada
uns cabeços pedra
xa grande".

acerca 600 metros do recife, outros cabeços e uma


A oeste, de

zona de alto fundo.


pequena

à entrada da barreta de NW existem umas numa


Próximo pedras

200 metros e na barreta, cuja largura é aproxi-


distância de própria
de 15 metros, ha a meio uma cobre e descobre,
madamente pedra que
"tartaruga".
denominada

A entrada da barreta de NE também é obstruída por pedras,

a limpidez das águas às embarcações miúdas o go-


porém, permite

vernar safo e verificar o caminho a seguir.

A 6 milhas a leste do farol se encontra fundo de 24 a 36 metros,

a 3 milhas, 25 a 28 metros; a 2 milhas a oeste, 40 e 45 metros;


pedra;
2,5 milhas a nordeste não se encontrou fundo com 60 metros, e a
a

4 milhas ao sudoeste também não se encontrou fundo com 140 me-

tros de sondareza.

A 5 milhas ao noroeste não se encontrou fundo com 914 metros.

45 ou 60 milhas em tôrno dos recifes o fundo é de mais de


A

4.000 metros.

O fundeadouro mais abrigado e conveniente fica entre 0,5 a 1

ao noroeste do farol, em fundos de 15 a 20 metros, de areia e


milha

coral. O mar aí é relativamente calmo, à sombra dos recifes.

Só se deve largar o ferro em fundo de areia e para isto deman-

da-se o fundeadouro devagar e observa-se o fundo, cuja natureza é

identificada serem as águas muito claras.


por

O desembarque ser feito sem dificuldades ao no-


pode grandes

roeste do atol, entrando-se barreta tem cerca de 15 metros de


pela que

abertura e vai dar num alagado onde as águas são sempre calmas e

onde se encalhar com facilidade ao sudoeste da ilha do farol.


pode

. A da Tartaruga, obstrue esta entrada, deve ser deixada


pedra que
ao norte, com a maré baixa; com a maré cheia as embarcações de pouco

calado com facilidade por cima dela.


passam

A fim de facilitar a entrada nesta barreta, foi colocada ao sul da

ilha do Farol uma esfera armilar fixada numa haste de 2 metros de al-

tura, aproximadamente.

Na baixamar, entando o mar calmo, atracar diretamente


pode-se
no recife, ao norte da barreta, numa espécie de cais natural, devendo-se
1184 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ter cuidado com uma pedra que fica próximo e a oeste, e que por vezes
descobre.
Também com bom tempo pode-se entrar pela barreta de nor-
deste e, se for preamar, chegar a encalhar na parte leste da ilha do
Farol por dentro da lagoa; si a maré estiver baixa, poder-se-á ir até
encalhar em qualquer lugar do espraiado da lagoa interior. Os reci-
fes de coral são perfeitamente vistos através da água clara.
É de boa previdência para quem desembarcar, levar água doce
na embarcação, porque o vento constante e o calor equatorial pró-
prios das Rocas, provocam uma grande e inexplicável sede.
HISTÓRIA
Os dados históricos do descobrimento das ilhas oceânicas brasi-
leiras de Fernando Noronha, Trindade e Rochedos de São Pedro e
São Paulo, são satisfotòriamente conhecidos.
Quasi nada consta, porém, a respeito das Rocas.
Parece terem passado despercebidas pelos nautas portugueses,
hespanhóis e ingleses, que começaram a cruzar os mares do mundo
depois de 1492.
Américo Vespucci na carta escrita em 1503 a Lourenço de Me-
dici, chama a atenção para uma ilha que abordou nessa sua terceira
viagem ao Brasil.
Naturalmente refere-se a Fernando de Noronha.
No livro de posse da Secretaria do Presídio de Fernando de No-
ronha, ha indicação de que a ilha foi descoberta a 3 de Junho de 1503
por Fernam de Loronha que lhe deu o nome de Sam Joan.
Os Penedos de São Pedro e São Paulo foram descobertos em
1511, por ter se perdido aí o nau "São Pedro" sob o comando de
Jorge de Brito, que os encontrou à noite pela proa. Os outros navios
da esquadra que lhe vinham na esteira conseguiram se desviar e se
salvar. Em recordação deste fato, os navegantes deram e conservam
o nome do navio aos rochedos.
Serviam também os Penedos, depois de descobertos, de ponto de
reconhecimento e passagem para os navegantes que atravessavam o
Atlântico e se dirigiam ao Brasil.
A ilha da Trindade, primitivamente chamada de Ascenção, se-
gundo Capistrano de Abreu, foi descoberta em 18 de Maio de 1502
por Estevão da Gama, companheiro de Vasco da Gama na segunda
expedição às Índias.
Outros contam ter sido a ilha descoberta por João da Nova que
lhe deu o nome de Ascenção, em 1501.
Simão Ferreira Pais, guarda dos livros da casa da Índia (164-4)
informa que Tristão da Cunha, que partira de Lisboa a 6 de Março
.

Viste tirada do fa rói para o norte


O ATOL DAS ROCAS 1185

"na
de 1506, travessia do Brasil o Cabo de Boa Esperança des-
para
cobriu as ilhas a que ora chamam de seu nome".

É bem possível a ilha da Trindade também tenha sido des-


que
coberta nesta ocasião.

"Desastres
Sôbre Rocas o Almirante Dario Paes Leme nos Ma-

rítimos no Brasil" cita o naufrágio em 1503 dum navio português de

nome ignorado, sob o comando de Gonçalo Coelho, que por êste mo-

tivo as descobriu.

A não ser êste fato não se encontram mais referências sôbre elas

senão no comêço do século passado, quando principiaram a se dar

naufrágios seguidamente e de maneira alarmante para os navegantes

de então.

Só depois de determinada com cuidado a sua posição geográfica,


de se terem tomado na devida conta a influência das correntes e, pos-
teriormente, com a colocação dum farol nas Rocas, cessaram os

desastres.

Êsses naufragios se deram se encontrar Rocas na derrota


por
indicada, naquela época, Maury, a travessia do Atlântico
por para
Norte para o Sul e ter havido um êrro em sua longitude de mais
por
de 15 milhas.

O roteiro de Manuel Pimentel (1710) informava se encontrar

um baixo a 45 milhas a Oeste de Fernando de Noronha.

O roteiro de A. L. da Costa Almeida (1849) afirma estarem

as Rocas a 50 milhas a Oeste de Fernando de Noronha e não a Leste

como indicava a Ia edição do Horsburgh. Por êle também se soube

situar Arrowsmith as Rocas a Io 38' e Heather a Io 45' a Oeste de

Fernando de Noronha.

A-pesar-de conhecida como perigosa e de ser preciso se tomar

muito cuidado, em Novembro de 1805 quasi se perdeu nela toda uma

esquadra inglesa que se dirigia para a Índia. Bateram nos recifes e

naufragaram o Britânia e o transporte King George, salvando-

se com dificuldade os outros navios. A causa do desastre foi ter en-

contrado a esquadra uma corrente anormal.

Daí em diante não se soube das circunstâncias em que ocorre-

ram outros naufrágios, mas a existência dêles ficou nos inú-


provada
meros destroços encontrados mais tarde nos recifes.

A barca inglesa Countess of Zetland, comandada Captain


pelo

John Hale Hanibal, de 350 toneladas, saiu de Pernambuco e 4 de

Agosto de 1855 com 150 toneladas de açúcar, e assim navegou para


Maceió, onde chegou a 9; carregando ali 1700 sacas de algodão, dei-

xou aquele pôrto a 20 do mesmo mês, regressando a Pernambuco e

ancorando no Lamarão a 24, a fim de receber alguns passageiros e

embarcar víveres.
1186 JíEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

No dia 25 do dito mês seguiu a mencionada barca sua viagem

para Liverpool, às 6 horas da tarde, soprando um vento rijo com con-


tínuos aguaceiros do do SE; ao meio-dia de 26, fazia
quadrante proa
a NE da agulha, tendo navegado 124 milhas, as deram es-
quais pela
tima a latitude de 6o 36' S e a longitude de 33° 24' W de Greenwich,

porisso que nenhuma observação astronômica se pôde obter, em con-


seqüência de achar-se o Sol interceptado nuvens e aguaceiros.
pelas

Continuou depois o navio a singrar com de NE 4 N ma-


proa

gnético, deitando 8,5 milhas por hora, e sendo o vento variável do


SE até ESE. Às 2h. 30m. da manhã de 27, conheceu-se repentina-
mente estar a embarcação próximo a grandes arrebentações, demo-
rando elas a sotavento; imediatamente ordenou o capitão se
que pu-
sesse o leme de ló, a fim de virar de bordo, mas mentindo ela virar,
resultou encalhar sobre pedras, carregando as vagas com os escale-

res, e despedaçando o casco em 20 minutos.

"Nessa
situação (relatou o capitão) fui cima das rochas,
para
com a tripulação, em número de 19 inclusive os
pessoas, passageiros;
ao amanhecer o dia viu-se a lancha, muitas sacas de algodão, destro-

ços do navio e de vários outros ali se haviam antes dêste,


que perdido
e num pequeno banco de areia, estava elevado 2 e acima
que / pés
dágua, avistou-se um dos botes, algumas abóboras, uma bar-
pequena
rica com água, alguns de carne salgada e diminuta de
pedaços porção
bolacha.

O baixo sôbre o naufragámos, e depois verifiquei serem


qual que
as Rocas, tem a forma circular e é da extensão de 4 milhas, cobrin-
do-se dágua em várias no até a altura de 7 a 8
partes preamar, pés,
havendo dois bancos de areia, ficam 2 e acima
pequenos que y2 pés
da maré alta. Dei ordem concertarem-se o bote e a lancha com
para
aquilo que pudéssemos obter em tais emergências, também fez-se com
as sacas de algodão uma espécie de anteparo, a fim de melhor nos aga-
salharmos; e no domingo seguinte, 2 de Setembro, às 8 horas da ma-
nhã, depois de havermos tomado a água faziam o bote e a lancha,
que
lançámo-los ao mar, e seguimos à discrição do vento e da corrente

(é mister dizer que não salvamos agulha de marear, nem instrumento


algum de navegação); depois de havermos saído debaixo das
pouco
Rocas afundou-se o bote, cujo motivo ordenei a
por que passasse
gente a lancha, a-pesar dela fazer muita água, sendo necessário
para
estarem três homens constantemente a enxotá-la.

Navegamos toda esta tarde e noite, com tempo e vento bom e


mar brando; na 2a feira rizamos a vela, haver refrescado em
(4) por
demasia, o vento, e não havendo água nem mantimento, estando

a gente bastante fatigada, eis então avistamos a terra, bem
quando
como uma jangada, a nos levou ela, onde saciamos a fome
qual para
com peixe e farinha, depois Macau do Assú, lugar
guiando-nos para
em que fomos obsequiados e bem tratados durante o
grandemente
tempo que ali estivemos. A 13 de Setembro ajustamos a passagem
• i
|

Restos dos navios

naufragados nas

Rocas

,'
I

j
^ V

* ¦ r^^zssai
f ?
* -\ \ f^23B6WC^
* ~ "T. "tl
- r *r,. » •» y .
r" ' *, ; ^

' - ', •-.. '


. *>**<« *?t* - mi. .
O ATOI, DAS ROCAS 1187

com o capitão da barca brasileira Maria. Deolinda, pela quantia de

350$000 trazer-nos a êste e no mesmo dia nos fizemos


para pôrto,
de vela, fundeando fora da barra, a fim de completar a carga; em 21

do mesmo mês fizêmo-nos de vela daquele chegando a esta


pôrto,
cidade no dia Io de Outubro corrente".

Também o E. D. naufragou nas Rocas, um ano depois, em

Outubro de 1856, sendo salva da guarnição depois de grandes


parte
sofrimentos, como está referido em outro local.

O Duncan Dunbar, inglesa a vapor, total-


galera perdeu-se
mente no dia 7 de Outubro de 1865, numa viagem de Londres para
Sidney, a-pesar-de ter conhecimento dos trabalhos efetuados pelo
Lieutenant Lee, em 1852, nas Rocas.

O seu Comandante, o Captain Swanson, depois de observar a

manhã do dia 7 de Outubro daquele ano, tirou um rumo


posição pela
a de 12 a 13 milhas a leste das Rocas, supondo uma corrente
passar
de 1,5 milhas por hora para oeste.

Às 8 horas e 30 minutos da noite batia na parte noroeste dos

recifes, perdendo-se o navio completamente.

Os passageiros e a guarnição, em número de 117 pessoas, con-

seguiram milagrosamente se abrigar no cômoro de noroeste (do Fa-

rol atual).

Por felicidade foi salva uma lancha na qual o Captain Swanson

e oito marinheiros aventuraram-se em demanda da costa, conseguiu-

do dias depois chegar a Recife a tempo de o Oneida


pegar paquete
regressava à Europa e passando em Rocas, recolheu os náu-
que que,
fragos restantes a seu bordo.

Muita controvérsia levantou o caso do Duncan Dunbpr, na

Inglaterra nessa ocasião, tendo sido motivo de uma investigação ju-


dicial na metrópole, da qual resultou a exoneração do comandante, o

Captain Swanson.

Uma das que êste apresentou foi ter encontrado


justificativas
uma correnteza intensa, anormal.

Em 1860 tem-se notícia, sem detalhes ,do naufrágio da galera


francesa Imperatricc dn Brcsil que vinha de viagem do Havre para
o Rio de Janeiro.

Outro desastre deu-se no dia 25 de Março de 1870 quando o

Mercurius, comandado pelo Captain Cuthbertson, bateu nos reci-

fes e naufragou. Somente seis homens dos vinte e dois que formavam

a guarnição, conseguiram se salvar.

Eles encontraram alguns tanques de ferro que dispuseram em

lugar conveniente, enchendo-os d'água; assim como também construi-

rain uma pequena cabana com restos de vigas de madeira.

Êstes seis homens permaneceram 51 dias em Rocas, sofreram

as maiores fadigas, e não menores eram as dores causadas pelas mor-


1188 revicVa marítima brasileira

deduras de uma espécie de formigas venenosas que enxameavam os

recifes naquela ocasião.

Foram recolhidos Captain Cohn do Silver Graig no dia


pelo
15 de Maio, o a chamou a atenção a disposição infor-
primeiro quem
me apresentava a cabana êles construída.
que por

O Capitão de Fragata Antonio Alves Nogueira, Coman-


João
dante da Baiana, esteve em Rocas em 1871, no ano
que portanto
"já
seguinte ao naufrágio do Mercurius, relata o seguinte: não

existe uma atalaia de madeira ai havia e dos coqueiros se


que que
mandou nos dois cômoros de areia que ficam descobertos no
plantar
só dois existem e êstes mesmo muito fanados. No cômoro
preamar,
mais ao sul havia uma casinha de madeira feita com restos de navios

naufragados, em que habitaram os náufragos do Mer-


provavelmente
curius, último navio que foi encontrar um fim desastroso; ao re-

dor dessa casinha havia quatro tanques de ferro dos dois esta-
quais
vam vasios, um pelo meio e outro completamente cheio de boa água,

tendo a tampa calafetada; quanto trabalho teria sido a esses


preciso
infelizes para remover esses tanques do lugar do naufrágio aí,
para
só poderá avaliar quem lá for. Pela praia viam-se grandes pedaços
de ossada de navio, demonstravam a mais de um."
que pertencer

O Captain Dumaresq, Comandante do Innisfail informou:


"No
dia 9 de Outubro de 1872, avistei as Rocas, passando bem junto
da parte W. Observei por marcações que o recife é maior de E para
"Sailing
W do informado nos Direction". Êle aparenta ter cerca
que
de 3,5 milhas de E a W e de N a S cérca de 2 milhas. Poucas árvo-

res cresciam na ilha do Sul, com cerca de 10 pés de altura e foram

vistas, cima e antes da cabana existente na ilhota do Norte, a


por
cerca de 10 milhas. Eu sou de opinião de nada do recife ser
que pode
visto em noite com bom tempo a uma milha de distância, a menos que
a côr branca da arrebentação da água no recife ou da lagoa, não o

denuncie antes".

O último desastre do qual se teve notícia foi o do lúgar Joquerina

de nacionalidade inglesa, que naufragou nas Rocas no dia 22 de Abril

de 1890, a-pesar-de lá existir desde 1883 um pequeno farol de 6a ordem.

o Coronel de Engenheiros de Souza Melo Alvim


Quando João
e o Engenheiro J. M. da Conceição Júnior estiveram em Rocas, em

Setembro e Outubro de 1881, trabalhando na construção dum farol,

escreveram algumas notas que publicaram no Relatório do Ministro

da Marinha de 1883.

Encontraram êles e contar as peças principais os mais


puderam
resistentes à ação das intempéries, de dezoito cascos de navios.

Durante as três horas que a baixamar deixava descobertos os

recifes, o e o aspecto do atol era desolador e triste.


panorama
— /rr?"

• ... •" i
- a .
j

:4:*:;>'

';
- - ^*~'~ «-* •* i'^ ^ ***y **«>*• »?®Sj
*t V'-^
. .-...: .:..-a: *¦-:> _i **¦**¦*•!«; .;*• <35gSEi^Bs

Restos dos navios naufragados nas Rocas

• *,..<!
iv .AjrfSA-.

' "¦'¦

^ V'.";' -
j
f9#ft * ' m ¦ *. - - * . ••'
• * '' '
,'¦*?•- • j • ;
• - - ~. •*#.-. -•

^•-'. - .;
O ATOIy DAS ROCAS 1189

A de sussueste, a mais exposta aos ventos, era o local cm


parte
maior número de destroços se encontravam. Haviam âncoras de
que
dimensões e amarras colhidas como deveriam estar a
grandes quatro
bordo 110 momento do desastre. Pouco adiante, dois ancorotes ainda

a amarras de grossa bitola e em bom estado, que prolongan-


presos
do-se recife no mar... Cobriam todo o recife: ca-
pelo perdiam-se
brestantes, turcos, vergas, cabos de arame, cavilhas, cadernais, etc...

E notava o Coronel Alvim neste local o recife era alto e


que
largo, era e continua sendo, a única nestas condições em todo
partes
o atol.

Admirava-se êle de terem conseguido os navios tal eleva-


galgar

ção espalhando-se tão dentro dos recifes, e procurava explicar


para
como sendo devido à violência do mar que, como seria lógico,
pois
o choque só causaria o despedaçamento e naufrágio do navio ali mes-

mo defronte e por fora dos recifes.

Ao Sul encontravam-se duas âncoras cravadas no recife e em

tôrno pedaços de chapas, cantoneiras, ovéns e outras peças de ferro.

A lessueste, no centro do atol, as marcas de um casco


quasi gran-
de enterrado na areia e mais do recife uma de arti-
para junto peça
lharia, chapas de ferro, várias correntes e dentro de uma cavidade

um ancorote em bom estado.

A leste, o bordo dum navio e à margem da lagoa a borda falsa

de outro, cabos de arame e linho com cadernais, uma caldeira ou

grande cofre de cobre, logo adiante tanques de ferro e carvão de pedra


espalhado.

A nordeste fragmentos de navios, um canhão de ferro bastante

oxidado e muitos destroços metálicos.

Ao norte e muitos outros destroços, correntes, chapas, estais, vêr-

gas, etc., local onde se presumia ter naufragado a inglesa Dn-


galera
can Dunbar, em 1865.

Ao noroeste e a oeste, turcos, correntes, ovéns, de artilha-


peças
ria e o fundo, cavilhado a ferro, de dois navios e no cômoro de no-

roeste, os esqueletos de duas embarcações.

No sul, o costado de um navio bem construído fortemente cavi-


lhado a cobre; parte da quilha e bordos de outro, mais o sudoeste.
para

No cômoro do sudoeste, metade dum tombadilho com as balaus-

tradas e respectivas bordas.

E à lagoa, revestidas de incrustações calcáreas, deze-


próximo já
nas de de vermuto.
garrafas

Duas moedas de uma inglesa e outra espanhola, car-


prata, já
comidas, foram ofertadas ao Ministro da Marinha de então, Dr. José
Rodrigues de Lima Duarte.

Rplata também o Coronel Alvim que no mês de Setembro (1881)

quando ainda se procedia aos trabalhos da instalação do farol, um


1190 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

navio à noite dirigiu-se os recifes, e tão chegou ao noro-


para perto
este, atraído naturalmente luzes supôs ser de outra em-
pelas que
barcação, que se não virasse de bordo a tempo ficaria lá tam-
por
bérr»; acreditava o Coronel terem de bordo ouvido o barulho da arre-
bentação das vagas.

Na noite de 25 de Outubro outro navio se aproximou reco-


para
nhècer as luzes, a canhoneira Ipiranga, se achava fundeada
que

próximo, içou uma lanterna e fez sinais de tijelinha, fazendo retroce-


der o iludido navegante do fatal caminho que ia enveredar.

Mas de todo êsse material encontrado espalhado Rocas,


pela
agora muito ainda se vê. Os temporais, os vagalhões co-
pouco que
brem os recifes, os faroleiros que lá viveram, e visitantes,
pescadores
acabaram reduzir aquela quantidade inumerável, detalhadamente
por
descrita Engenheiro Alvim.
pelo

Atualmente não se encontra um de madeira; só se vêm


pedaço
restos de amarras, cabrestantes, eixos, etc., e outras de ferro,
peças
muito oxidadas e que resistiram a ação dos agentes e fatores acima

referidos.

"Air
Em 1934 a Companhia de Aviação France" infor-
pediu
mações sobre as Rocas para verificar a possibilidade da instalação lá

de uma base aérea facilitasse o serviço aéreo transoceânico.


que

O surgiu de perdurar o engano quanto às dimensões do


pedido
atol e sondagens da lagoa interior; esta não permite a descida de um

hidro-avião pelas suas dimensões e principalmente devido às aguas

que tem na preamar, secando com a baixamar.

Para campo de pouso de aviões ligar e aterrar as


poder-se-ia
duas ilhas de areia por um dique de cimento armado, com dimensões

e de acordo com as necessidades dos aviões tivessem de


posição que
lá pousar.

A-pesar-de ser êste um serviço de engenharia de fácil execução,

será, entretanto, de custo incalculável atêrro necessário e os


pelo

grandes riscos e os inevitáveis perigos de desembarque.

VENTOS

O sol, causador do aquecimento do ar na zona equatorial pro-


voca uma ascenção de ar quente do equador para os polos e, conse-

quentemente, outra fria dos polos para o equador.

Em virtude do movimento de rotação da terra, a corrente aérea

fria do norte, por exemplo, que vem com velocidade linear me-
polo
nor a da atmosfera na zona equatorial, é desviada mais oeste,
que para

parecendo vir de nordeste.


-- """ ~ „, ~-'Jl ^ 1
SMWx

... ¦ .... •••*-•• r-3


^

' '. • "'


vc<v' • <•*'*.' »¦ • ¦ . ."¦ ¦¦ ... 4 ' • . r. . -
* ...... • . - • •
^ \• 1S*

: j. J- ¦¦ r. - . \ . _,v < >* - -


i.

"%•*" "* "•¦ '


• ¦
,;W C. .

¦ " • *
'
r; \r

Restos dos navios

naufragados nas

Rocas

?"¦ ,r"V r;"~


r,*,- |P |'-""'Trj'T''Egg |j|||||||
!
• • • *
. •

*-
<7
. i
O ATOI, DAS ROCAS 1191

No hemisfério sul o mesmo acontece, a corrente aérea fria do sul

vir de sueste.
parece

Êstes ventos, sopram com muita regularidade dos polos para


que
"Alíseos",
o equador (de NE e de SE), são os chamados palavra

derivada do francês arcaico alis, significa doce, agradável.


que

Fato semelhante se com as correntes quentes que partem


passa
da zona equatorial, onde maior velocidade linear do que a
possuem
da atmosfera nas zonas Devido à rotação da terra elas pare-
polares.
cem vir de sudoeste no hemisfério norte e de noroeste no hemisfé-

rio sul.

Destes contra-alíseos Berget exemplifica a existência e direção

110 de Tenerife, a 3.700 metros de altitude, local êsse em que o


pico
vento sopra de sudoeste regularmente todo o ano, ao na
passo que
base desse mesmo na costa e a beira-mar, os alíseos de nordeste
pico,
se fazem sentir com a sua característica, constância e regularidade.

Constata-se isto também nos picos dos vulcões Mauna-Loa

(4.208 metros) e o Mauna-Kea metros), situados nas ilhas


(4.168
Hawai.

Na erupção do vulcão Morne Garou, ilha de São Vicente, obser-

vou-se que as cinzas lançadas cratera foram transportadas


pela pelos
contra-alíseos e deixados cair na ilha de Barbados, situada a lesnor-

deste do vulcão.

Também se observou na zona tropical norte que os cirrus, as

nuvens mais elevadas, deslocam-se nordeste impelidas con-


para pelos
tra-alíseos de sudoeste, enquanto o vento reinante é o de nor-
que
deste ao nível do mar.

As Rocas estão situadas francamente na zona em os ventos


que
dominantes são os alíseos de sueste.

CORRENTES MARÍTIMAS

As correntes marítimas são ação dos ventos


produzidas pela
alíseos, ventos regulares e de direção constante, rotação da terra
pela
combinada com a inércia das águas e ainda pelo movimento interno

proveniente da diferença de temperatura existente no seio da massa

líquida.

"no
Na sua Physícal Gcograpliy of the Sea, Maury diz que
seu movimento as águas polares tendem para o equador e para oeste,
"a
as águas equatoriais para os polos e para leste" e que Gulf Stream

é um verdadeiro rio no Oceano".

A corrente fria vinda do Oceano Glacial Antártico ao se aproxi-

mar do Cabo da Boa Esperança prolonga-se paralelamente à costa


1192 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

africana dirigindo-se para o noroeste até atingir o paralelo de 10° sul


onde volta-se para oeste para atravessar o oceano, formando então a
"corrente equatorial".

Já aqui a água esta aquecida e dirige-se para o extremo nordeste


do Brasil onde se bifurca (Cabo Calcanhar) em dois ramos: o do
norte, que depois de percorrer toda a costa norte do Brasil, entra nas
Antilhas e o golfo do México, para formar a famosa Gulf-Stream,
e o do Sul, que percorre o litoral da costa leste do nosso país, com
o nome de "corrente brasileira" e que, na altura de Santa Catarina,
bifurca-se novamente em dois ramos: um na direção do Cabo da Boa
Esperança e outro sempre para o sul, para a costa argentina até a
altura das Malvinas, quando se dirige para leste, indo fechar o cir-
cuito, já como corrente fria, também no Cabo da Boa Esperança, onde
se reúne com a anterior.
As correntes em Rocas são, portanto, as do ramo equatorial sul,
correm na direção média de WNW com uma velocidade variando de
uma a duas milhas por hora.
Os seus maiores volumes e velocidades são observados em Abril
e Junho. Velocidades de 10, 20 e até 80 milhas em 24 horas já foram
constatadas nessas ocasiões.
Nos meses de Maio e Setembro recomenda-se muita atenção aos
navegantes, na aproximação das Rocas, à vista dos dados incertos
sobre as correntes.
De Setembro a Março elas podem se tornar fracas e às vezes
insignificantes.
O Comandante do True Triton, Captain Ed. Reynell, refere
detalhes interessantes sobre as correntes nas Rocas: "Na tarde do
dia 12 de Novembro de 1856, à uma hora da tarde, de bordo do
True Triton avistamos as Rocas aos E4SE a 7 milhas mais ou
menos de distância e duas bandeiras flutuando sobre dois mastros
diferentes. !
Ignorando si estes pavilhões eram sinais de pescadores ou si ti-
nham sido feitos por náufragos de algum navio lá perdido, orienta-
mos o navio de modo a nos aproximar o mais possível.
À uma hora e quarenta e cinco minutos é arriado um dos pa-
villiões e içado o outro a meio mastro.
Às duas horas viramos de bordo para o sul com o fim de con-
seguir maior aproximação sem risco da segurança do navio, assim
como para enviar um escaler à terra para nos assegurarmos da
verdade.
Percebendo que em lugar de nos aproximarmos dos baixíos as
correntes nos afastavam deles constantemente, decidi-me então a en-
viar uma embarcação.
Correntes maritimas do Atlaniico Sul

N >

• '~rn -^-1^—---I'-LIJ-g' g*^


!¦ II ""
£

THE HO CAS

75 75« ,
tj tArcordir.g to Liruz' iTli veiraJs'TLZUxarJVtfy/
1-1 yaiitir MiU
'
X J. O c. ' »o r«Wa
lArccairy w Zieut' SP Lte.U Sffavyi
23
l*" M u » Jg le HWF fc C «boutVit_jVF1«Ji)/*
'• »
,V,'' .1^
° *&. M
.(k, m\t y : **

'
s fl IM. 3*bl 30" S. I

lil
jo ***¦« * «, t\ Si . V V^B HPcta
<**?%* "
v?\'' v>
O 20 i. t « ^
" ^
» »* » h-#
» J« IB w yM'
^ tJ
" "*
Vv^ /

Rocas segundo o Roteiro de Imray (1884)


O ATOIv DAS ROCAS 1193

As duas horas e minutos fiz largar de bordo a lancha com


quinze
cinco marinheiros, água, pão, etc., sob o comando de um oficial que
tinha ordem de ir à terra, si fosse e trazer os infelizes
possível, que
se encontrasse na ilha.

Na ausência da embarcação continuei a bordejar aproveitando o

vento, porém cada vez mais me afastava, tanto às 5 horas e 30


que
minutos não se via mais a ilha do passadiço.

As 5 horas e 45 minutos a lancha voltou bordo sem ter


para po-
dido ir à terra; o oficial a comandava disse tinha se apro-
que que
ximado a menos de 2,5 milhas do recife, mas como a noite se fizesse
e o navio arrastado correntes estivesse fora das vistas,
pelas quasi
julgou prudente voltar para bordo, temendo, si continuasse a avan-

çar, que se tornasse impossível o regresso.

As 6 horas da tarde o baixío era apenas visível do cêsto-de-gávea:


e com me era impossível aproximar dele causa da corrente,
por perdi
toda a esperança de comunicação com a terra.

No sábado 13, o navio foi arrastado de 60 milhas oeste du-


para
rante 24 horas.

No dia 14 de Novembro, foi de novo o navio arrastado para


oeste 36 milhas durante 24 horas."

Os náufragos a se refere o Comandante Reynell no relato


que
acima deviam ser os do E. D. naufragado um mês atrás, em Ou-

tubro, cujos sofrimentos motivaram largos comentários da imprensa

de então.

O Comandante e a parte da guarnição que conseguiu se salvar

permaneceram um mês na ilhota do norte do Farol) e rela-


(atual
taram que havia lá muitas cavernas de navios, envelhecidas,
por já

podendo êles distinguir perfeitamente cinco navios diferentes;


que
encontraram diversos crâneos humanos e muitos ossos dispersos, e

que, freqüentemente, os navios nas


passavam proximidades.

Finalmente um dos navios avistaram as Rocas depois do


que
Triic Triton, notou os sinais feitos náufragos do E. D. e
pelos
teve a felicidade de os recolher e levar de novo a vida.
poder para

Findlay chama a atenção as correntes na vizinhança das


para
Rocas serem estas muito fortes e se encontrarem os recifes na
por por
força do ramo sul da corrente equatorial, cuja direção é mais
grande
ou menos constante, mas de velocidade bastante variável.

Informa êle também a velocidade da corrente ser esti-


que pode
mada em 1 milha hora, mas uma média de 50 observações efetuar
por
das nas das Rocas, durante um ano, deu a cor-
proximidades para
rente 0,8 milhas hora.
por

O lientenant Lee com o navio fundeado ao NW das


(1852),
Rocas, observou corrente de SSE e de E variando de 0,2 a 0,8 milhas

por hora e mais ao largo, de 0,8 a 1,5 milhas hora da direção SSE.
por
1194 REVISTA marítima brasileira

O Comander Selwyn (1857) declarou ter encontrado fortes cor-

rentes nas das Rocas, puxando sempre para oeste com


proximidades
velocidade variando entre 1 e 2 milhas por hora.

O Captain Buch, antes de 1849, observou corrente de 2,5 milhas

por hora nas Rocas.

Ainda mais uma vez demonstrar a fôrça das correntes nas


para
das Rocas citaremos dois casos, vindos ao nosso conhe-
proximidades
cimento em Fernando de Noronha estivemos em 1934.
quando

Cinco dos sentenciados que cumpriam pena correcional no presí-


dio daquela ilha conseguiram construir uma jangada às ocultas e da

mesma forma arranjar material e manthnentos, para um viagem de

fuga em demanda da costa do nordeste brasileiro.

Em noite escura e ansiosamente esperada conseguiram éles pôr


na água a frágil e imprópria embarcação, armados com um fuzil Mau-

ser e munição roubada aos soldados da Fôrça Pública de Pernambuco

fazem o serviço de guarda aos


que presos.
Mas a-pesar dos cuidados e atenções, éles foram pressentidos pelos
referidos soldados e, ainda à terra, foram alvejados,
quando próximos
fôgo êsse respondido, mesmo depois de uma lancha a
perseguidos por
motor guarnecida policiais.
pelos

No combate então travado foram mortos um soldado e


pequeno
dois ferido mortalmente outro, ilesos os
presidiários, permanecendo
dois restantes.

Como a noite se fizesse mais densa e a lancha já estivesse muito

afastada, na impossibilidade de continuarem à perseguição, regressa-

ram os à ilha, onde ser expedida men-


policiais providenciaram para
sagem telegráficas avisando da fuga e para estarem as polícias dos Es-

tados nordestinos vigilantes à aproximação dos detentos foragidos.

Na e improvisada jangada a cena era brutal senão ater-


pequena
radora. Os dois detentos sãos procuravam de todas as maneiras e mo-

dos minorar as dôres do ferido, estancar o sangue que nunca cessava

de correr e que deixava um rastro sensível ao extremo ao olfato dos

vorazes tubarões que infestam quasi todos os mares e principalmente


aquelas paragens.
de sofrimentos, de indecisões e de dúvidas não
Que que que per-
mente dos três desgraçados reunidos naqueles toscos
passaram pela
toros de madeira, lavados pelas vagas espumosas dos
perigosamente
nossos mares bravios !

Voltar, significava para éles a reclusão eterna, a responsabilidade

morte do sentinela sacrificado no cumprimento do dever !


pela
Porém seguir... seguir com o companheiro que morria aos pou-
cos e que talvez um conveniente e simples curativo, um tratamento mais

higiênico poderia fazer voltar à vida!


O ATOI# DAS ROCAS 1195

O horizonte sempre duro e reto; o vento constante impulsionava

fracamente a frágil enchendo o bojo de três camisas listadas


jangada
e cosidas às pressas uma às outras !

Horizonte sempre, sempre horizonte !...

A arrastada também correntes, percorria umas três


jangada pelas
milhas hora, não mais, e na o murmúrio das águas tão
por pôpa
fraco... tão macio... bem de acordo com aquela diminuta velocidade !

E mais de milhões de milhas hora


percorrendo quinhentos por
a mensagem sôbre a fuga já tinha chegado ao seu destino

As medidas já estavam sendo tomadas e as praias fisca-


policiais
lizadas, olhos vigilantes e atentos à fimbria do horizonte de onde de-

viam aparecer aqueles que procuravam inutilmente a liberdade alme-

jada, a liberdade nós outros, os livres, deixamos passar desaper-


que
cebida e insentidamente a gozamos.

Na jangada as cenas se desenrolavam sempre com a mesma bru-

talidade e o mesmo horror ! Na tarde do segundo dia falecia o fora-

gido ferido e depois de breve resolução era o corpo lançado ao mar

pelos companheiros e devorado, às suas próprias vistas, voraz e ràpi-

damente pelos tubarões que os seguiam desde a partida.

A água doce fôra consumida com o enfermo, os mantimentos es-

tragados pelas vagas que varriam constantemente a jangada, cujos paus


ameaçavam a todo o momento se desprender e fazer dos dois infelizes

o repasto daqueles peixes insaciáveis.

Os sofrimentos durante os três dias que levaram no mar os dois

infelizes não ser descritos nem relatados !


podem
A sêde, a fome, o cansaço e a navegação sem rumo, ao léu da cor-

rente, a espera da terra prometida, não ha nem frases as


palavras que
exprimam.

E chegaram à terra... chegaram com vida às costas do Rio Gran-

de do Norte, na Ponta do Mel, a tempo justamente de se verem apri-

sionados e devolvidos à famosa ilha-presídio.

Percorrera a jangada aproximadamente 280 milhas em três dias,

ou cêrca de 3,5 milhas hora.


por

Outro caso foi o dum ex-submarino alemão transformado em


"Air
pontão de óleo para os avisos postais da Companhia France", no

serviço de correspondência entre a Europa e a América.

A estação base no Oceano Atlântico era Fernando de Noronha,

onde se abasteciam os avisos e de onde partiam então Dakar.


para

O pontão era atestado em Recife regressando rebocado Fer-


para
nando de Noronha.

Numa destas viagens para Recife, à noite, rebentou o cabo de

reboque.

Havia a bordo do seis homens.


pontão
1196 revista marítima brasileira

Não sofreram êles fome nem falta dágua que havia em boa quan-
tidade a bordo, mas as angústias e as incertezas que sentiram muito

dificilmente se pode avaliar!

O navio rebocador em vão durante todo o resto da noite


procurou
o e, fim, ao amanhecer deu-o por perdido.
pontão por

Os homens nele se encontravam procuravam orientá-lo para


que
a costa, naquele derivar constante ao sabor das correntes.

Durante os seis dias levaram assim na travessia, até fundear


que
em Itapagé, no Ceará, onde foram recolhidos e salvos, êles
percorreram
umas trezentas milhas, correspondendo isto a uma velocidade de cerca

de duas milhas hora.


por

De bordo do NF Vital de Oliveira, em 1936, foi lançada na

água uma garrafa lacrada em cujo interior fôra posta uma papeleta
com indicação do nome do navio, hora e informações sobre
posição,
a maneira de proceder logo que a encontrassem, isto é, dar conheci-

mento à Diretoria de Navegação, do dia, hora e lugar em foi achada.


que

A referida garrafa lançada no dia 27 de Julho de 1936, às 12 horas

do Rio de na seguinte posição: Latitude 5o 44',5 Sul


(fuso Janeiro),
e Longitude 33° 21',0 Oeste, foi encontrada às 11 horas do dia 21 de

Agosto do mesmo ano, na de Freixeiras, Ceará, por um pesca-


praia
dor. Percorreu ela 850 milhas em 25 dias, numa direção média de 280°

e velocidade aproximada de 34 milhas dia, ou 1,4 milhas por hora.


por

CORAL

Os corais são os construtores de numerosos e formidáveis recifes

tantos dissabores e infelicidades têm aos navegantes.


que provocado

No entretanto, por outro lado, são os responsáveis pelo soleva-

mento de futuras terras habitáveis do nosso planeta.

Êles ocupam atualmente enormes áreas em quasi todos os mares

tropicais. No nordeste da Austrália uma extensão de 2.000


possuem
e uma largura de 16 a 145.
quilômetros

Na costa do Brasil se estendem, com algumas interrupções, desde

a extremidade sul dos Abrolhos ao Cabo Calcanhar, e no meio do Ocea-

no Atlântico, isolado e único, o recife das Rocas.

É não confundir os recifes que acompanham as nossas


preciso
costas são de arenito, composto de areias quarzosas endurecidas
que
infiltração de carbonato de cálcio entre os seus grãos, com os ver-
pela
dadeiros, de coral.

Nos recifes de arenito encontram-se fragmentos de coral em seu

seio, estes são dos verdadeiros recifes de coral que


porém, provenientes

geralmente vivem na parte externa daqueles.


~ ^fKKKKBSm^^&^KKa^gSSBtm
»

• -V
s
Ifjiti .ij.h.4* ^v • ^.-' h
•- *» jl
... ¦ ¦ ': ¦.
HHP! I I 1 I III rlllWIflwP* '• > ¦¦¦
-¦¦ - ¦¦'•¦¦•
¦¦'•¦••
' '¦ -'¦;"
¦•'¦¦' ¦¦':¦¦
¦:
: w

¦ -i"*" *., .- •¦¦¦•"•.' *

Um bloco de coral. Note-se a escala graduada em polegadas


O AT0L DAS ROCAS 1197

A dúvida pode ser tirada facilmente imergindo um pedaço do


recife em um ácido forte que faz o quarzo ficar em liberdade, isolan-
do-o do cálcio.

Ha mais de 2.000 anos aproximadamente é conhecida a existên-


cia do coral.
O "corallium rubidium", espécie vermelha de coral encontrada
abundantemente no Mediterrâneo, era muito apreciada para decora-
ções finas de joalharia e para ornamentos em geral.
No início da era Cristã, aos corais trazidos das Índias se atri-
buiam qualidades misteriosas e sagradas.
Plínio conta que os gauleses usavam-no nos uniformes e como
ornamento nos capacetes.
As crianças romanas para ficarem preservadas de perigos e devido
às inúmeras virtudes medicinais atribuídas ao coral, traziam um pe-
daço dele preso por um cordão ao pescoço.
Porém, os primeiros estudos sobre eles só foram efetuados por
Ferdinando Marsigli em 1707.
Em 1750, Donati afirmava a natureza animal do coral.

Os corais vegetam; vivendo, secretam um esqueleto sólido, esque-


leto este cujo cálcio de que é constituído é extraído dos elementos que
compõem a água do mar.
Fazem eles o papel de verdadeiros filtros vivos.
Segundo Thoulet, a água do mar contém sais em dissolução na
proporção de 3,5 partes para 100 de água, assim distribuidas:
cloreto de sódio 2,7373
cloreto de magnésio 0,3363
cloreto de potássio 0,0592
cloreto de rubídio 0,0019
sulfato de magnésio 0,22437
sulfato de cálcio 0,13229
bromureto de magnésio 0,00547
carbonato de cálcio 0,00625
metafosfato de cálcio 0,00156
bicarbonato de ferro 0,00026
sílica 0,00149
diversos 0,00149

3,50788
1198 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIBA

O carbonato de cálcio, proveniente das descargas dos rios que o


trazem do interior dos continentes, é o principal elemento utilizado
pelos corais para formação dos seus esqueletos, como acontece, aliás,
a todos os vegetais e animais que possuem esqueletos e carapaças.
A quantidade de carbonato de cálcio na água do mar é muito
pequena, e por este motivo não é só êle o sal aproveitado pelos corais.
Estes transformam quimicamente o sulfato de cálcio que se en-
contra em maior porcentagem, em sulfato de amônio e carbonato de
cálcio, por intermédio de uma secreçâo amoniacal que produzem.
Esta transformação se faz melhor nos mares quentes do que nos
frios, e é esta uma das razões da existência dos recifes de coral somente
nas regiões tropicais, podendo-se limitar esta zona pela isotérmica mé-
dia anual de 20° centígrados da água do mar na superfície, para o
norte até à latitude de 30° e para o sul até 28°, com exceção da costa
chilena, devido à corrente fria de Humboldt.
O máximo de temperatura que pode resistir o coral sabe-se ser
de 28°, vivendo eles perfeitamente até essa temperatura e mesmo em
seco durante as baixamares.
Joubin cita o caso de ter sido encontrado coral vivo, em seco du-
rante a baixamar, à temperatura de 56°, e justifica isto dizendo que
eles secretam uma camada isolante, que atenua os efeitos da elevada
temperatura solar enquanto a maré não sobe.
Os corais pertencem à familia dos "celentérios" ou dos "radiados".
Os "celentérios" se dividem em dois ramos: "Alcionários" e "zo-
antários" ou "hexacoraliários". Estes últimos se caracterizam pelos
tentá:ulos ocos em número de seis ou seus múltiplos.
Aos "zoantários", além dos "ceriantídios", "antipatídios" e "zo-
antidios", pertencem os "actinidios" e os "madreporários".
Os "actinidios" são de simetria radial, sem esqueleto e vivem iso-
ladamente. São conhecidos como "anêmonas do mar" ou "flores do
mar" devido ao aspecto que apresentam. Exemplos são os "iliantos",
as "sagástias", os "brunodes" e as "actínias".
Os "madreporários" são também de simetria radial, porém, pos-
suem esqueleto e formam imensas colônias ou polipeiros calcáreos, ma-
cissos e resistentes, chamados "recifes de coral".
Os exemplos padrões são as "fungias" e as "madréporas".

Três formas diferentes adquirem os corais no seu desenvolvi-


mento: ramosa, esférica e tabulada.
O "millepora alcicornis" ou "millepora brasilliensis" da forma
ramosa, é o mais abundante nos recifes brasileiros, principalmente nas
Rocas.
**=> ___. * V\C ¦. /

mV" " \ /¦¦¦¦¦"'""' V/----------''"t^-j/ 30" S

Zona limite das formações coral igenas na ferra


tMt**k*l-A NAVAL -A/0
O ATOI* DAS ROCAS 1199

"pontes
O mesmo se com o solida", coral hemisférico e
passa
sólido.

Os de forma tabulada muito raramente se encontram no Brasil.

Estudos efetuados sobre o coral determinaram como sendo 46

metros a máxima em êles viver e de 15 me-


profundidade que podem
tros a profundidade ideal ou mais favorável.

No Brasil os corais mais são os de Abrolhos, que estão


profundos
até 40 metros de Também se encontrou coral no banco
profundidade. já
situado a cerca de 400 milhas da costa do Espírito Santo, e
Jaseur,
onde se 60 metros de profundidade.
pruma

Está estabelecido que além de 50 metros os corais porventura


encontrados são provenientes de desmoronamentos devido à ação das

vagas, vivendo em pequenos blocos ou isolados.

Êstes corais que vivem assim em águas profundas e paradas são

moles, delgados, porosos e quebradiços, ao passo que os de águas su-

perficiais, agitadas e bastante oxigenadas, são fortes, sólidos e de cons-

tituição espessa.

O coral vive em colônias, e à medida um deles morre, serve


que
de base ou apoio o desenvolvimento e vida de outro-
para

Assim, é muito comum se encontrar nos corais a vida só na


peri-
feria ou na exposta e em contacto com a água, sendo o interior
parte
duro, sem vida, formado de esqueletos solidificados.

Um coral é constituído por um corpo cilíndrico, fixado ao solo

sua base circular em forma de ventosa, de onde nunca mais se


pela
desliga.

A parte superior do cilindro é dotada de uma bôca no seu centro

e de uma coroa de tentáculos.

O seu interior é dividido em seis câmaras, no mínimo, abertas e

unidas no centro e terminando cada uma delas, exteriormente, por


um tentáculo.

As membranas de que são constituídos são moles, carnudas e pos-


suem ovários.

Geralmente êles se fixam nas rochas e enquanto as supe-


partes
riores são gelatinosas, e às vezes transparentes e de variadas côres,

capazes de se moverem, a parte inferior secreta o esqueleto de carbo-

nato de cálcio, duro, pelo qual se prende eternamente às pedras ou às

restantes carcassas de outros já sem vida.

Só excepcionalmente se encontram corais vivendo na lama e nos

fundos pelágicos.

Quando o coral se encontra em repouso, os tentáculos se expen-

dem, a bôca se descobre e o corpo se torna sensivelmente cilíndrico;


1200 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

quando se contrai o corpo cilíndrico se abaixa e recolhe os tentáculos


como uma bolsa.

Os alimentos do coral são os restos de caranguejos, de conchas,


mariscos e fragmentos o mar lhes ao alcance.
pelágicos que põe
"nematocistas",
Os órgãos de defesa, chamados são constituídos

por inúmeras células urticantes e venenosas contidas na cuja se-


pele,
creção é, atacados, lançada aos inimigos.
quando

A reprodução se faz por meio de ovos uma vez fecundados,


que

produzem larvas que nadam e se fixam em lugares convenientes;


po-
dem também se reproduzir por germinação.

A coloração dos corais é variada: ser vermelhos, verdes,


podem
roxos, rosas, pretos e amarelos vivo.

A razão desta coloração está ou nos de côr


pigmentos próprios
do coral e que são repartidos nos seus tegumentos, ou devido à pre-
sença de inúmeras algas microscópicas monocelulares vivem
que pa-
rasitáriamente nos tecidos dos madrepóricos.
polipos

Nas águas do golfo Pérsico existe um coral negro


(antipathis
abries), muito apreciado trabalho^ de
para joalharia.
Devido à situação de aglomeração, nem todos ter ocasião
podem
ou boa colocação receberem os raios do sol necessários à vida
para
e também a captura de alimentícias.
para prêsas

A alimentação dos mal colocados se com o auxílio da


procede
comunicação existente entre êles, continuidade de seus tecidos.
pela
Portanto, à digestão de um corresponde a de todos.

Possuem também os corais relações nervosas se


porque quando
toca um deles, os vizinhos se contraem também. ,

Êles se entendem e cooperan reparar brecha ou


para qualquer

para levantar barreiras ou dificuldades contra invasores ou intrusos.

Por outro lado, qualquer sedimento acaso os atinja,


que por qual-
quer camada delgadíssima de vasa lhes causar a morte. Os
pode grãos
de areia prejudicam seus tecidos e as esponjas, as algas, moluscos e
vermes marinhos encontram cômodo alojamento nos aca-
polipeiros,
bando em certos casos, a comprometer a solidez total.

É êste o motivo de não se encontrar corais nas bocas do Amazo-


nas, do Sãó Francisco e em de todos os rios de águas
geral quasi
barrentas.

São os corais de pequenas dimensões: no máximo atinjem dois


a três centímetros de altura.

Sobre o crescimento dêles até agora nada se tem de Não


positivo.
resta dúvida que é lento e as classes ramosas, as do tipo das Rocas,
que
são as que crescem mais ràpidamente.

Dana (1872) informava ser o crescimento dos corais de 1,5 me-


tros em 1.000 anos, o é muito corresponde a 1,5 milí-
que pouco, pois
metros ano.
por
CORTES DE UM CORAL

a — cenosarco

os corais em relações uns com os outros atra-


b canais que põem

vés do cenosarco.

Formagao inicial duma


flfi—
~V
n >¦'''7^^ __ colonia sobre uma
rocha

Teoria de Darwin

4.coo

/'

CV» 115-^ gj

K ¦ f. /
/
BRAjsJu /
O ATOL DAS ROCAS 1201

No casco de um navio naufragado durante 64 anos foi encon-

trado coral com a espessura de 5 metros, ou cêrca de 78 milímetros

ano. Alguns outros autores dão a média anual de 18 a 38 milíme-


por
tros, que é a mais aceitável.

Os recifes corais são de três espécies: em franja,


produzidos pelos
em barreira e em atol.

Os recifes em franja são os ficam ao continente onde


que presos
nascem e avançam o mar; os de barreira, barreiras
para perfeitas que
acompanham quasi e afastados da costa, e,
paralelamente pouco por
fim, os em atol cuja forma em anel, mais ou menos circular ou eliptica,

é muito particular dos recifes de coral.

No interior do cordão de recifes sempre ha uma lagoa com


quasi
ou sem comunicação franca com o mar.

As dimensões dos atols são variadas, ter de 300 metros


podem
a 120 quilômetros de comprimento; com anel ou cordão de recifes
sempre emerso ou só emerso na baixamar; de evolução terminada ou
da lagoa sêca, verdadeiras e ilhas.
já perfeitas

As Rocas estão entre estes dois últimos casos, os recifes só emer-

gem na baixamar e a lagoa interior cada vez se torna mais sêca, não

tardando em se transformar em uma ilha.

Os recifes de coral são geralmente pouco elevados em relação ao

nível do mar, o coral não vive senão tempo fora d'água,


pois por pouco
nas baixamares, cessando a vida fica completamente em sêco.
quando

A parte mais elevada e mais resistente dos recifes é a se apre-


que
senta ao vento reinante da região, onde o mar arrebenta fortemente e

as águas são bastante oxigenadas.

Dana procura explicar a existência das relativa-


grandes pedras
mente elevadas e salientes, encontradas esparsas recifes, como
pelos
sendo blocos de coral que se desprenderam, foram transportados e lá

deixados pelo mar em ocasião de grandes vagas, e que, posteriormente


a isto, os corais os soldaram ou prenderam definitivamente pela parte
inferior aos recifes na em agora são vistas.
posição que

Enquanto que para a parte externa ou de fora os recifes caem

quasi a pique, no caso dos atols, êles, o interior, a lagoa,


para para
se espraiam com muito pouca inclinação.

Tudo isto é observado nas Rocas: a lagoa é rasa e os recifes caem

a pique para a parte externa; os recifes mais altos e mais largos estão

a sueste, na zona mais exposta aos alíseos dêsse mesmo quadrante.

Os pedaços soltos de coral, devido ao movimento contínuo das

vagas e outros fatores, acabam por ao estado de areia, às vezes


passar
ainda com partículas de matéria orgânica servem de alimento a
que
outros sêres.
1202 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Os lugares se matem sempre fora d'água, defendidos


que pelos
recifes e de baixa altitude, têm a forma de cômoros ou ilhotas consti-

tuídas da areia anteriormente referida.

A rocha sólida, inteiriça e resistente que constitue os chamados

recifes de coral, além do coral é formada de algas, esponjas


próprio
calcáreas, brizoários e foramíferos misturados com areia e uma secre-

corais, que preenchem interstícios e frestas dos


ção produzida pelos
em que vivem.
polipeiros

Do estudo dos corais podemos tirar algumas conclusões sobre a

história da terra.

Os corais fósseis encontrados na Inglaterra, se supõe


que perten-
cerem à época terciária, são banhados, atualmente, águas frias nas
por
é impossvel o seu desenvolvimento, a temperatura é um dos
quais pois
fatores mais importantes da vida e crescimento dos corais.

Sugere assim o raciocínio de ter aquele país sofrido grandes mu-

danças de clima.

Na França foram encontrados corais jurássicos e devonianos, e

na Noruega, silurianos.

Também se têm encontrado corais a mais de 50 metros de pro-


fundidade, onde êles, como sabemos, não viver.
podem

Isto significa ter havido um abaixamento do fundo, durante o seu

crescimento.

Na Austrália encontrou-se coral a mais de 300 metros de pro-


fundidade, o indica um abaixamento do fundo de mais de 255 me-
que
tros, a contar da ocasião em que lá se instalou o primeiro polipo.

Resumindo tudo que foi dito, concluir que as condições


podemos
favoráveis o crescimento dos corais, são:
para

a) água clara e límpida

b) bastante salina

c) em constante movimento e de correntada

d) com temperatura entre 20 e 28 centígrados


graus
e) profundidade nunca superior a 46 metros, sendo a mais

favorável a 15 metros.

ATOL

"atol" "atoll" "atollon",


A de forma inglesa de
palavra provém
de origem maldiva.

Rocas é um dos exemplos característicos de um atol.


O AT01, DAS ROCAS 1203

Possue o cordão em anel ou circular de recifes de coral, a lagoa

central com uma comunicação o mar, e na preamar as


para partes
emersas e pouco elevadas são constituídas por dois cômoros ou duas

ilhas de areia de coral e conchas.


pequenas partido

As explicações da origem das formações atólicas são muito

variadass.

Em Geologia ha fatos prováveis, certos e problemáticos


possíveis,
cujas explicações se baseam em princípios e doutrinas mais ou menos

aceitáveis.

A imaginação entra em grande parte na explicação da constitui-

ção física da terra a-pesar da Paleontologia justificar inúmeros casos.


"Eu
Para explicar fatos disse um professor: não ouso
passados

pretender que tudo se tenha passado como eu digo, mas eu afirmo que
tudo eu digo é se passar".
que possível

A primeira ou a mais antiga explicação da forma circular dos

atols, era de que os corais construíam os recifes sobre as bordas de

crateras de vulcões submarinos extintos.

Essa explicação foi abandonada, a experiência tem mostrado


pois

que as crateras vulcânicas não dispõem da consistência necessária


para
resistir o embate de vagas e além disso existem atols de dimensões des-

proporcionadas às das maiores crateras conhecidas.

Darwin com a sua teoria da subsidência explicar como


procurava
sendo devido a um abaixamento e lento duma ilha em redor
geológico
da qual, preliminarmente, existiam recifes em franja, que, com o cres-

cimento dos corais, a barreira e fim a circular ou atol.


passou por
"o
Concordando com Darwin, Dana diz o atol é monumento
que
funerário de uma ilha desaparecida".

A teoria dos submarinos de Murray explica como sendo de-


picos
vido às montanhas submarinas em forma de cone isolado, muito co-

muns, quer por ação telúrica ou por sedimentação de detritos, e que,


a menos de 40 metros muito fàcilmente ser tomadas
quando poderiam
e aí instalados os corais construtores realizando os seus trabalhos,
que,
acabariam por atingir a superfície do mar.

Agassiz explica como sendo os atols os lugares de antigas ilhas

coralígenas aparecidas levantamento do fundo na época terciária,


pelo
e depois desaparecidas erosão.
pela

Afirma êle ter observado isto nas ilhas Fidgi e Seurat em Tahiti.

Outros dizem ser a forma anular dos atols explicada satisfatória-

mente não pela disposição ou estrutura da base em descançam,


que
mas condições especiais do meio de vida dos corais.
pelas

A forma convexa é a mais a suavisar os embates e


própria pro-
melhor os de coral nas águas movimentadas, ficam
pagando-se polipos
assim justificadas as maiores dos recifes a barlavento, onde
proporções
se supõe, êles se iniciam e desenvolvem.
1204 PEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O Coronel Melo Alvim subscreve uma explicação dada Ge-


pelo
neral Rohan antes de 1881, de que Rocas se acha sobre o dorso de unia

cordilheira submarina que se ramificando entre o Ceará e o Cabo de

São Roque, vai terminar em Fernando de Noronha, se encontra


que
na mesma latitude. E, esta razão, o âmago das Rocas deve ser
por
constituído da mesma natureza das rochas de Fernando de
plutônicas
Noronha: traquites e basaltos.

Esta última explicação nada mais é que a teoria dos subma-


picos
rinos de Murray, e, como os corais não podem ter espessura superior

a 46 metros, será admitir que Rocas tenha sido em eras re-


preciso
motas um alto fundo com menos da cifra acima, para então os
que po-
lipos de coral o tenha mtomado e construído os recifes.

uma das explicações da formação dos recifes em atol,


Qualquer
a-pesar-de razoáveis e verdadeiras em alguns casos não
particulares,
o são na generalidade.

HIDROGRAFIA

O Roteiro da costa do Brasil de 1710, de Manuel Pimentel, Cos-


mógrafo-Mor do Reino de Portugal, referindo-se aos cuidados neces-
sários ocasião da
por passagem nas proximidades de Fernando de No-
"E
ronha, diz: a Oeste qualquer cousa mais para o Noroeste da mesma

ilha, em distância de 15 léguas está hum baixo lançado de No-


(45'),
roeste Sueste, o he de areia, mas tem muitas da
qual pedras junto

ponta de Sueste. Este baixo médio hum piloto com huma sondaresa,

e achou ter de cumprido 496 braças e de largo 130


(0',59), (C, 15).

He baixo perigoso, porque fica no caminho, quando se vem do

Brasil para o Reino; está em 3 47 min. também em altura de 4


gr gr
e treis quartos ao Susudoeste da Ilha de Fernão de Noronha, 52 le-

goas (156') da terra firme do Brasil, disem que ha uma baixa".

Logo se vê que êle se refere às Rocas, quer à distância


quanto
de Fernando de Noronha, quer à distância da costa car-
quanto (pelas
tas modernas está a 120'), quer latitude dada.
pela

Mais adiante, na derrota aconselhada do Rio de Por-


Janeiro para
"e
tugal, refere-se novamente às Rocas: vindo Oeste, se
pela parte
o vento der logar, cheguem-se bem á Ilha as
(Fernando) porque
aguas vão muito para Oesnoroeste, e desviar de todos os seus
para
baixos, que he sotavento da dita Ilha, não são bons".
por que

O Roteiro Geral de Antônio Lopes da Costa Almeida


(Lisboa
1849) refere-se a uma descrição do atol das Rocas dada Dal-
por
rymple (1779-1788) e na Ia edição de Horsburgh, a
publicada qual
considera errada, pois situava Rocas a leste de Fernando de Noro-
"pelas
nha, quando êle sabia estar: mais modernas investigações a
50 milhas a oeste; algumas cartas as situam a oeste 15
portuguesas
léguas (45')
O ATOI, DAS ROCAS 1205

Faz menção também a um levantamento do Capitão Buch


João

que as situa a 45 milhas distante de Fernando e no mesmo paralelo,


informando serem as rochas mais as de nordeste e norte,
perigosas
e que o comprimento total era de 5 milhas.

A corrente de 2,5 milhas hora, e a maré subia 6


por pés.

Êsse mesmo Roteiro chama atenção sobre a errada dada


posição

para as Rocas Heather a Io 45' e Arrowsmith a Io 38' a oeste


por
de Fernando de Noronha.

A primeira informação de serviços hidrográficos regulares efe-


tuados nas Rocas data de 1825, Mr Lartigue, na Baya-
quando
dèrc, sob o Comando do Barão de Roussin, determinou com cui-
dado as suas coordenadas e examinou a constituição dos recifes.

O lieutenant Lee, da Marinha dos Estados Unidos, comandan-


do o Dolphin, fez o levantamento das Rocas em Março de 1852,
do qual resultou a carta que publicamos.

Em relatório ao seu Governo, resumidamente assim se exprime:

14 de Março — Às 8 horas da manhã estávamos com 4 velas


enfunadas. Às 2 horas e 30 minutos da tarde percebemos grandes
vôos de gaivotas e alguns minutos depois o vigia da
pretas gávea
assinalava arrebentações a 10 milhas.

Parou-se o navio e sondou-se; não se encontrou fundo com 70


braças.

Navegando-se com velas, sondou-se à tarde e às 6


pequenas
horas demos fundo a sotavento das Rocas, com a ilha Sable (atual
do Farol) ao ESE, a 1 milhas de distância, largando o ferro em
34
18 braças com 90 braças de amarra.

Ao redor do navio sondou-se com um escaler, ercontrando-se

por toda a parte, 18 a 19 braças, fundo de coral unido.

15 de março — À 7 horas da manhã o Lt Cotmwnding Lee,


Mr. Elliott e Mr. Renshaw exploraram as Rocas. As embarcações
sondaram em todo o comprimento do recife, o examinaram,
qual um
ao norte e outro a oeste, um lugar o desembarque,
procurando para
o mar sempre batia furioso e as ondas arrebentavam
porém como se
as vagas passassem sobre corais irregulares.

Verificando então Mr. Renshaw o mar era mais tranqüilo


que
à sotavento da ilha Sable e aproveitando um momento favorável,
conseguiu com o seu escaler desembarcar em terra com bastante fa-
cilidade e sem acidente de espécie alguma.

Quando a maré baixou deixando o recife à mostra, vimos um


lagedo plano e regular, fendido em diversos lugares choques
pelos
violentos das vagas sôbre êle. Medimos uma base de 242 braças na
ilha de Sable, fizemos observações horárias e azimutais e tomaram-
se ângulos e marcações.
1206 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ao do sol foram as embarcações para cima dos


pôr puxadas
recifes e colocadas em sêco sem dificuldade.

16 de Março — Pela manhã o Comandante Lee, Mr. Barbot,

Mr. Mayo e Mr. Elliott e alguns marinheiros desembarcaram em um

salva-vidas metálico com o fim de atravessar o recife, evi-


pequeno
tando se avariasse o fundo, caso se utilizasse das embarcações
que
comuns de madeira.

Foram colocados sinais e determinadas as posições e dimensões

do recife, das ilhas e das mais importantes; foram tomadas


pedras
algumas observações astronômicas e levados os dados da maré, que
foi observada também, regressando todos à tarde.

O Comandante e os que desembarcaram com êle foram atacados

de oftalmia, causada pela grande claridade das areias e pelo calor

abrasador de um sol a pino.

17 de Março — Ventou e choveu. Foi completado o levanta-

mento de todo o atol; foram observadas as correntes e começou o

serviço de de em volta dos recifes num raio de 10


procura perigos
a 15 milhas, meio de sondagens.
por

O mau tempo, os ventos e as correntes prejudicaram a execução

completa deste último objetivo.

Encontrou-se fundo de coral de 27 metros a 6 milhas a leste dos

recifes; não se encontrou fundo com 55 metros a 2 milhas ao NNE,

assim como com 128 metros a 4 milhas de SW."

O Lt. Lee descreve Rocas como sendo um recife de coral que


se estende mais ou menos de 1 milhas em latitude 1
pouco por Yl
em longitude, só ficando todo imerso na preamar com exceção das

ilhas Sable em Inglês e a atual do Farol) e Grass Capim


(Sand (ou
e atual do Cemitério), na parte de Oeste e de algumas espar-
pedras
sas na de leste e sul, têm cêrca de 3 a 4,5 metros de altura,
parte que
acima do nível dos recifes.

Que o recife era formado de coral, geralmente plano, ainda que


muito esburacado e na lagoa interior, na baixamar, encontrava fun-

dos de 0,3 a 1,2 metros.

No caso de um navio bater na parte de sueste pouca probabili-


dade haveria de salvação da guarnição.

O fundeadouro que aconselhava, a-pesar-de mau, era ao noro-

este da ilha Sable, à 1 ou 2 milhas de distância e em fundos de 15 a

18 braças, de coral.

Também aconselhava a colocação ali de um farol que seria de

grande utilidade aos navegantes.

Notou o Lt. Lee a existência nos recifes, naquela ocasião, de

âncoras, uma amarra completa a sudoeste e destroços de muitos na-


(MALES HWHKWHWJiS. 'KT P U?.

LaAAuü S i' S*- SS' í A Uatim AXrvmm-fmj« ' **+tmJt M • J» lã /«*tj j


rwrfi o .»•.itf «¦ B r—i d» Al. •••> *
VartMéom ia 54 Jfê â mmrm kifS»
Je f f - & JUtxrt caaufov*'
LES ROCAS
U im <t «áw 1+yí-ifm
Pil T #rau. ír mí*sb*r S* f—r «**«" M n»
Mr PHILLIPS LEE. LIEITENANT
foMamusK&uiê fe Afyètft
cie la.ffarr/tr <4er Jt/afsíhh

1852

tf i

Rochcr Koir.

"
U+u*<Jy* d*Oj*/9f**a
^piii dS*/v mmrtt Atusiitfmmm*
ViV *^4.' + qpjmruuav f54r# Ar)%
£ / \V^MuAcA.ifri ^XLOundcn U *vi/ it Luti
mjUf m. 4 *u Smik'»¦ J* tLstOAC*

Observations
Lt ftmlrt Jt a rmatí'c<u u tliMfirmj n/Mb
JiwJá ftri.imdr d* Y—wtÀ*.
P -d Í/MWI / «*/£> *i tí'eU*M.t -a L-jkimt4 . .
<5r W> **- »w«
'/ /M l»v4*r ,*. fM( **** ir >'. d i—t / A' cm 4*jfirm*ijomb mti Jm* ¦*
*•'* -<*»W«í'»
' ¦» Umw Ím ratj' fm mé /ir*« M utreu? «/ domi U 3+rjM ai
j/*m>j< u/ym jw <fu*Lju*.' írvta
. C Ufl/Y /«< . *C***#rMt/ «t Oc*.' W* <V XaMfWi S E ' ¦—• — ¦ f<Lfi;t -M
»ti rdcrtr ti <i/jj/ s*tl+wu*U ptrJu. { 'mj^ljÍ >m yr —' ^r i«ifri f«*
•*.»*k.» L." frtmtirt * Um/U*. ouh/v* Xu ka*S Jt U méXurt .'« .v j4<«i
yw* «
''' *"w flw-fc/»» U XiVtU Txn /* írva#« HV U C^dAfnuii III II liffr
4 rfwr /<¦ «JU At « r ÍTí-n^t *4 èMt Ml um
7: . ^ Ixt "liüir^ v. _UUyr a J0U.JL fmuúi uai U. X Q h i IU dt S*Utyur
^•A' W -/ /-«-jL-í 4* f?s S3 ntlru
Lm itaJt j amã* Íy*Oro r.-LÀt j tmJUt JLuu l E u» -vx- Jf V/Jir
a/ V j4x» I, X Y£ m u^tc I/imur.f <t 4 ^ i /1> / rn///r .Wãrin

/AtPRfMS/i A{mVAL-I/O

\
O AT OI# DAS ROCAS 1207

vios que pareciam lá estar ha muito tempo; havia uma cabana na

oeste e numerosos fardos de algodão abertos e espalhados


parte por
todo o recife.

Determinou êle as coordenadas das Rocas calculando a diferença

de longitude entre a vila de Fernando de Noronha e a es-


(Igreja)
tação situada na extremidade norte da ilha Sable.

Com uma média deduzida de quatro cronômetros, depois de uma

travessia de dias, obteve diferença 5m 398 8 ou Io 49' 57",


quatro para

que aplicada à longitude da igreja de Fernando de Noronha, dá para


longitude da estação 33° 49' 32" oeste de Greenwich.

A latitude dessa mesma estação, por observações e cálculos de

diferentes métodos, encontrou 3o 50' 56" sul.

Também determinou a declinação magnética, o mesmo


para
local, encontrando numa média de 16 observações o valor de 10° 54'

20" oeste, o ano de 1852.


para

Plantou na ilha de leste Cemitério) uma série de coqueiros


(do
com intenção de que mais tarde crescessem, formassem uma
quando
marca útil aos navegantes, na falta de um farol.

O seguinte estudo das Rocas foi feito em 1856 pelo Commander

Parish, Comandante do H. M. S. Sharpsliooter.

Êsse Comandante relata às 4 horas e 15 minutos do dia 5


que
de Março de 1856, avistou as Rocas do cêsto-de-gávea, marcando-as

logo após ao WNW a cerca de 9 milhas de distância.

Na mesma ocasião sondou e não encontrou fundo com 46 braças

de sondareza.

Navegou ao NW para se aproximar, sempre sondando e às 5

horas encontrou fundo de 13 braças, coral.

Os recifes ainda não eram vistos do convés.

Êle resolveu passar a noite nesta e fundeou em 12 bra-


posição
ças, marcando a pedra escura mais elevada da oeste, visível
parte já
do convés, ao oeste verdadeiro.

No dia seguinte às 6 horas e 40 minutos êle suspendeu e come-

çou a navegar a vapor o NW dando um resguardo de cerca de


para
5 milhas até marcar as duas ilhas de areia ao SE onde fundeou em
fundos de coral de 20 braças, a cerca de 2,5 milhas de terra, nas
seguintes marcações verdadeiras: extremo sul da arrebentação aos
155°, meio das ilhas de areia aos 143°, mais elevada aos 128°
pedra
e extremo E da arrebentação aos 120°.

Enquanto estava navegando as sondagens foram 13, 14 e 15

braças até que o baixío demorou ao SE, onde não encontrou fundo

com 70 braças.

Pensava o Commander Parish existir nessa zona de E dos reci-

fes um banco.
1208 revista marítima brasileira

Desembarcou na ilha de leste onde alguns coqueiros


plantou que
o cônsul inglês em Pernambuco lhe fornecera, cres-
para que quando
cessem servissem de marca e tornassem mais fácil o reconhecimento
do atol a maior distância do era naquela época.
que possível

Não faz referências aos plantados pelo Lt. Lee 110 ano anterior,

por conseguinte é que estes não tenham medrado.


provável

Dos plantados pelo Commander Parish só um havia o


quando
Mercurius naufragou ali em 1870-

Recomendava êle, por fim, muita atenção com o fundo nas vi-
zinhanças das Rocas.

As coordenadas que determinou por meio de boas séries toma-


das em terra e a bordo deu o seguinte resultado, o centro da
para
ilha Sable: Latitude 3o 51' 25" sul e longitude 33° 46' 33" oeste de
Greenwich.

O Captain J. H. Selwyn R. N. fez novo levantamento, como


Comandante do H. M. S. Siren em Novembro de 1857 e infor-
mou ser as Rocas uma ilha de coral, circular, de cêrca de 2 milhas
de diâmetro, tendo no centro uma lagoa com uma
pouco profunda,
abertura para o mar.

A maior do recife era imersa e existiam dois bancos de


parte
areia sempre descobertos, um ao sudoeste e outro ao noroeste da
ilha, com 10 a 12 acima de todas as marés e de 200 ou 300
pés jardas
de comprimento.

Levantou uma torre de madeira no cômoro do norte com 33 pés


de altura, a ser avistada, com bom tempo, numa dis-
qual poderia
tância de cêrca de 11 milhas.

O Captain H. Toymbee do Gloriana passou pelas Rocas em


Outubro de 1858 e foram 110 Nautical Magazine de
publicadas
Outubro de 1859 as suas úteis observações.

Navegava êle pela tarde do dia 9 de Outubro aos 35° SW

quando às 5 horas avistou as Rocas a cêrca de 12 milhas, estenden-

do-se de boreste a Às 6 horas estavam elas ao WSW em


para proa.

posição tal a passar a cêrca de 5 milhas do través.

Cita êle ter recomendado ao vigia atenção no avistar e assinalar

as arrebentações das Rocas, como treinamento, obrigar a


já já para
sentir interêsse pelo que o seu subordinado fazia.

Ao serem avistadas as Rocas, êle mesmo, Comandante, subiu

ao cêsto-da-gávea verificar o fato.


para

Afirma não ter visto nenhum sinal dos coqueiros plantados pelo
Commander Parish do H. M. S. Sharpshooter.
/ ¦•'
••
c\ I
I \ j \ I
j
-:: --
I1 . -. -4-—-
a .
MiM J j
~~~~TTVANTAlJS " '
'
lI .' ?• ) LtVANTASTT^ ( ,
: \ ./ ]
^ ^ \ ./
'•>/" x
^ ' s
:-^ "<
"'
¦ 'i
p5 >"
»"
it.
R, \ / !
i
\ '"
i M.
M. A.VITAI,
A.VITAI. UK
I>K (II.IVICIH.V
OMVKII1.1 . vJ -J- .?
.? M>
vJ
s -
J.V-U# w. 1 ' , ,
- *-' *v.»
*v.« -a
Vt
Y» .4 \ / I |
^ , ,
V-e— — *—* - *** '— V T " '/ -'R
-'p
HKIMKIHO tUIKIITK
nUMMW I>*A1< M All A . IAVAUIKHU
TKKKrtTK H'ARMAUA. ('AV Al.l.KI ItO UA l»A O«.
OK-¦—f
* B—w V—
- -i I ->
-*
. \ \ \ ¦ / rf
ItK
RKM III; «'»IMl!*TO
M UK I U M M \ N l> A NTK IIO
I'tlMIs* 1*0 , tOMMAKIIANTC l» O ^' 4; f]f] . K K I
J X \ /
/
>¦- | "* ' ' "
KJgi-' 'r "^v- ICS ' \ /
III.VTK
IIIATK l>AI(AlllllaV^rO. N3gi" \ X x
f

"*' * **^ * y
• ' ''¦'
" • .*"*1 \JV
. ¦ -V. .t <JV y.
"* .".I t; :.' •
\ /'
[ .AGOSTO -'
.AGOSTObk
i»K 1858.
1858.• . .«-*J
, • r" V. .. \y
_ .. i. yf
| | *" " '

: :

' j

J 1 ' '%lr-7—,
""
"" !
¦•"" '
17
37 '7 'T ^j/ —
y
¦•"" ,l -•'• . S
,A
r?
'*¦' '' |r_^-r™r=|=
" '¦ "¦.
• \/ • M •> » - si
iJ , J. i .
I' J- J- , . ¦. I! ; ; i »
<* - • 1
1 !• *
i .¦•••!
..--i '* f y ^ I )\,
))\> .*. I ! .1
,i ; j
;«i i j 1
Nr 1
«J ?v
! v;-. // N4; 1
I " J s H * ij
' v--,
v-v
f -1
F . 1i .. / \ -1 ;lI •¦
|! ri
1 5
• '
rr^V^HH• !(ii{J
ug!Wfl -
: / ' i
> K ^ lHUxi i
" ...^ ... yK #!
iHi
!
hi
^ !¦
|i
',>
1 >
... ... ¦ !^biifet0b :i!s'1 jJli ii.
!.... x'
V'
y/
^ i|
.""'ii ^ l'
"* *jl
., mJKJ-
A;>fiWa J.'tJ' M.M. W.
r».r.m.~. »W- -.'A"
:1f »ffll ' * !1 J 44
j ivfl . ^ 4
'^ ifmMm M'J» V*
to"** g'J. '> i |
I |.! - „ - —* 1 W
a
—it

imPRSAISA

- V
_
^" 'y^y*-: -
BWjjjlJy _w 1 -- - ** £& j^f'y j
^B^^^^B^^^^B^^W»»^yj|WpjjmwM

"j
"j •••• *^-%'•:. 3 -/ ""
••«¦¦»*-»;" --.;
--.; " " »**-.. •" •
- - .
. v
~ «*¦¦ /*rr. ¦ ',.*» t*"*1
t*"*1 •" •-'"* ~ -•." ' T*'-
*^-:'* - '~\. •%i».^rui-'%2^.-;" -—cawv- ,>^t -. -. -~l T*'- - * , ; * ...*'''
...*'''
•<-"^-* * ¦*- •»»
«•» jy
J~- ¦ -»., - • -W--
-^~ x .. . ;. -^?'-
--f—-
--f—-« ^r -••*, ^ -j
jf .' . •-* ''•¦«*,
'
^¦v*>"¦+**>
"
'* ¦"
_.
'* -~
¦'« ••
•¦ ^^ . « •* "--
"S *
^ •'"
¦•..«. • -««r o2*
J*2t v/ v ' " ¦- "'
. . c-«- ¦'
,f? - ^.¦¦f~' ;
£
p w ^ .- ,
v ;

Visita ao túmulo do Capitão de Fragata Vital de "Vital


Oliveira pelos Oficiais e guarnição do N. F. de

Oliveira" em 1934
O ATOL DAS ROCAS 1209

Em Agosto de 1858, o Capitão de Fragata Vital de Oliveira


(1), esteve nas Rocas em serviço hidrográfica, como Comandante
do iate Parnaibo.
Assim descreve Vital de Oliveira as Rocas ou baixos das Cabras:
"Por 87° NW, na distância de 78 milhas da ilha de Fernando
"Rocas" ou "Baixos das
de Noronha, jazem as pedras denominadas
Cabras". No ponto escolhido para centro de observações, obteve-se
para latitude 3o 52' 40" S e longitude 9o 20' 26" a E do Observatório
do Rio de Janeiro. Sua configuração é de forma elíptica, tendo em
sua maior extensão (ENE-WSW) 3.500 braças e em largura
(NW-SE) 2.700.
Apresentam as Rocas, na baixamar, uma massa extraordinária
de pedras, eme nos quadrantes NW e SW são compactas; nos opôs-
tos, porém, ao passo que mais separadas, têm mais elevação, e algu-
mas existem no quadrante do NE, que o preamar nas sizígias não
cobre. Todas estas pedras são acompanhadas de outras próximas,
sempre mergulhadas, tendo as primeiras a largura variável entre 220
a 250 braças, e formam uma espécie de bacia onde, dentro, ficam
duas dunas de areia e diversos secos. Além do cordão principal destas
pedras, existem mais algumas lages destacadas, porém só no lado
NE : N e do N : NNW é que elas se apartam mais (quasi uma
milha) passando o fundo aí rapidamente de 506 braças para 2 ou
2e/2.
Desde o extremo W para o S, e deste volteando por E até
NNW, a floreação é constante, tornando-se alterosa logo que as bri-
sas do S e SE sopram com mais veemência; todavia de NNE até NNW
a arrebentação é menor.

(1) O Capitão de Fragata Manuel Antônio Vital de Oliveira, foi o maior


hidrógrafo brasileiro. Nasceu em Recife no dia 28 de Setembro de
1829. Em 2 de Dezembro de 1854 foi promovido a Io Tenente, c em
1858 esteve nas Rocas em serviço hidrográfico. De 1857 a 1859 fez o
levantamento e um roteiro das nossas costas, de Mossoró ao São Fran-
cisco. Em 1861 esteve examinando pontos duvidosos na altura do Cabo
de Santa Marta e em 1862 o mesmo na costa de Cabo Frio, onde de-
" Hermes". A 2 de Dezembro de 1862
terminou a posição da pedra
foi promovido a Capitão-Tenente. Nesse posto, em 1865, fez várias
viagens ao Norte do Brasil no transporte de voluntários para o Sul,
para a guerra em que estávamos empenhados com o Paraguai. Em
1866 foi a Bordéus e de lá trouxe o monitor Nemesis depois Sil-
vado, tendo sofrido muito com o mau tempo que encontrou na alturi
de Pernambuco. Morreu no combate de 2 de Fevereiro de 1867, três
dias depois de ter sido promovido a Capitão de Fragata, a bordo e
como Comandante do Silvado, no bombardeio de Curupaití. Seus
restos jazem no Cemitério de Santo Amaro, no Recife.
'U*VISTA
1210 MARÍTIMA BRASILEIRA

Pelo lado do NW não ha a mais pequena floreação, e encontra-

se bom desembarque para escaleres.

Parece que a providência, vendo ser este lugar tão perigoso, e

onde tão continuados naufrágios se têm dado, e que, se a arrebenta-

ção fosse geral, a morte seria inevitável para os desgraçados ali


que
fossem perder-se, pois teriam que buscar o continente em escaleres

ou jangadas, que o mar despedaçaria, lhes proporcionou êste lado

perfeitamente manso, poderem sair. Por êste lado as


para pedras
descobrem na baixamar d'águas vivas 3 a 3 e palmos; no
qua-
drante do SW elas ficam mais altas e pelo lado do NE : N pedras
existem que emergem alguns 15 palmos acima do nível do mar, na

baixamar.

A floreação é visível em bom tempo na distância de 3 a 4 milhas,

e com a altura de 60 palmos (vaus do mastro do iate)


grande perce-
beu-se de 6 a 7 milhas. Além das lages destacadas do lado de NE : N,

não se deve receiar senão de arrebentação, e aquelas se evitarão guar-


dando-se a distância de 2,5 a 3 milhas da floreação geral.

O centro ou a bacia formada por esta cadeia de pedras oferece

três planos diferentes: o primeiro e o mais comprido são duas dunas

ou outeiros de areia ao extremo NW das pedras;, ficando


(próximo
um mais ao N, seguindo a direção de 56° SW, com 670 braças de

extensão sôbre 84 de largo; e o outro seguindo o rumo de 25° SE,

com 400 braças de comprimento e com mais largura. Estas


pouco
dunas de areia alvíssimas estão 20 acima do nível do prea-
palmos
mar das marés das sizígias: são chatas na superior, e despi-
parte
das de vegetação; apenas em um ou outro lugar encontra-se algum

bredo — bredoegas silvestres, na e na segunda vê-se al-


primeira,
capim. Estas areias são de uma especial — conchas
gum qualidade
trituradas, e de forma esférica, o é uma que o mar lavou-
que prova
as por algum tempo.

Procedendo-se pequenas escavações, observou-se que, logo na

profundidade de três palmos encontrava areia comum e mais abaixo,

barrenta, e até 15 de fundura não se acha o não


palmos pedra, que
deixa de surpreender pela massa de são cercadas,
pedregosa que pa-
recendo as areias estar imediatamente sôbre elas.

Os dois outeiros distam do primeiro de pedra lado NW)


(pelo
250 braças, havendo entre esta e aqueles outro espaço de 85 braças,

igualmente de areia, pouco mais elevado que a No segundo


pedra.

plano vêm-se (sempre na baixamar) diversas coroas de areia que,


conquanto muito mais baixas as dunas mencionadas, são, toda-
que
via, de nível superior às menos elevadas, acontecendo as
pedras que
imediatas aos outeiros, logo com um têrço de vazante descobrem, e

são elas de areia envoltas com em diversos lugares.


grossa pedras
Por último nota-se um terceiro e é o mais extenso: ha lugares
plano

que secam, outros ficam com um a três e às


que palmos, próximo

pedras, poços com 15 e 20 de fundo. Pelo lado NW a


palmos pedra
O ATOI, DAS ROCAS 1211

é mais igual, porém toda solapada, apresentando grandes furnas ou

tocas; nos outros quadrantes são como já ficou dito, mais alterosas

e não conservam uniformidade.

A entrada, em qualquer embarcação pequena, para dentro da

bacia já citada é pelo N, o que se pode fazer com tempo muito bo-

nançoso, e mesmo assim o mar fica bastante grosso. Neste lugar en-

contra-se 10 a 12 em cima da pedra, havendo, em qualquer


palmos
outro lugar menos profundidade e arrebentação continuada.

Existe nos dois outeiros uma quantidade extraordinária de pás-


saros aquáticos — viuvas e mombebos, bem como abundância de ca-

ranguejos. Nas proximidades ainda hoje se vêm muitos destroços

de navios. Deixo de dar uma idéia dos acima, porque são


pássaros
da mesma qualidade dos da ilha de Fernando, que são muitos conhe-

ciclos. Não obstante algumas escavações, não se encontrou água po-


tável em parte alguma.

O ancoradouro das Rocas é NW dos outeiros de areia. Em


pelo
distância de milhas e com a sonda de 15 a 17 braças se
quatro princi-
pia claramente a ver fundo, que é alguma coisa Procuran-
pedregado.
do-se estes baixos ao WNW e NW da balisa de madeira existe
que
no outeiro mais do N, e fica na distância de menos de milha, onde se

encontra 10 braças d'água. É algum cuidado em largar o ferro,


preciso

pelas muitas lages soltas existem no fundo.


que

Ha neste ancoradouro um continuado de mar, e é êle


jogo
desabrigado.

As águas nas proximidades das ficam um mais


pedras pouco
claras, tornando-se alguma coisa esverdinhadas junto delas. Sobem

as marés 13 palmos nas sizígios, havendo a diferença de 13 palmos


destas marés para as de quadratura, efetuando-se as às
primeiros
15h-15m. Existe nas Rocas uma correnteza constante de 1,8 a 2,0

milhas por hora, sempre na direção de W : WNW.

PARA SE DEMANDAR ÀS ROCAS — Demandando-se às

Rocas, é conveniente buscar a ilha de Fernando de


primeiramente
Noronha.

Não me será por certo possível apresentar uma navegação se-

gura para aportar a estes baixos, já porque em uma só viagem não

se podem desenvolver todas essas contrariedades soem aparecer


que
no alto mar, como estarem elas sujeitas a diversas influências,
por
como correntezas inesperadas, ventanias, etc.; limitar-me-ei a
porém,
mostrar a navegação feita êste iate, na sua exploração.
por

Sendo muitas as posições apresentadas muitos roteiros e


por
navegadores, acêrca das Rocas, não deixei de ficar embaraçado na

escolha de uma delas para demandá-las; e se fazer uma idéia


para

precisa, mostrarei as diferentes distâncias è rumos dados em relação

a Fernando.
1212 RÊVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Das latitudes por W Norie (e que se vê na coleção de suas tá-


buas) se deduz as Rocas correm por 85° NW na distância de 51
que
milhas da ilha de Fernando de Noronha.

Do mesmo W. Norie, no.seu roteiro for sailing to


(Directions
and from the coast of Brazil, etc.) se colige observações
que pelas
de Horsbourgh, demoram as mesmas pedras 85° NW na distân-
por
cia de 31 milhas, notando-se a diferença de 12 milhas.

Segundo Purdy no seu roteiro Brazilian Navigaton or


J. (The
Sailing Directory for ali the Coasts of Brazil, etc) temos que pelas
longitudes e latitudes que êle pôde colher de diversas observações,
as Rocas demoram por 89° NW na distância de 61 milhas de Fer-
nando, ou 88° NW na distância de 48 milhas, donde se vê a
por
diferença extraordinária destas duas posições.

Pelo barão de Roussin (no seu Lc Pilote d ti Brésil) ficam

elas situadas 75 milhas ao ocidente de Fernando.

No roteiro de Pimentel, correm elas 86° NW e na distância


por
de 45 milhas. Costa e Almeida Geral do Brasil), referin-
(Roteiro
do-se a Horsbourgh, como Norie, diz Rocas ou Baixo das Ca-
que
bras demoram por 87° NW na distância de 104 milhas e aquele
por
98 milhas.

A vista da exposição acima, se conhecerá da dificuldade de esco-


lher qualquer das quando pelos mesmos observadores se
posições,
notam as diferenças ficam apontadas; e mencionam êles o
que quanto
são perigosos estes baixos e sujeitos à influência de extraordinárias

correntezas. Neste embaraço tratei de como qualquer o


proceder,
faria, e buscar as menores distâncias apresentadas. Isto
principiei por

pôsto, às 13 horas do dia 16 de Agosto suspendi do ancoradouro de


Fernando e segui ao rumo de 69° SW, dando desconto às correntes

para o NW, como dizem os roteiros. Às 24 horas dêsse mesmo dia


tinha andado 10,7 milhas o S, 50,7 o W; e tendo expe-
para para
rimentado a primeira das distâncias e nada encontrado cartas
(pelas
de Norie devia estar com as Rocas) singrei o N. Cheios,
para porém,
a latitude e longitude e não tendo o menor indício de aproximação
de pedras, continuei a navegar a W, buscando a dada
posição por
Roussin.

Com pouco caminho mais andado a aparecer alguns


principiaram

pássaros aquáticos (mombêbos) e seguindo a mesma direção. De-

pois de navegadas 12,3 milhas W, descobriram-se do mastro


para
grande as dunas de areia em uma só ilha, bem como a de
pirâmide
pau (que ao longe parece um navio a vela) e depois tudo foi
pouco
avistado do convés, na distância mais ou menos de 5 milhas.
pouco

Pelo ponto estimado não termos sol nesse dia) ao chegar


(por
ao ancoradouro tivemos de latitude 3o 55' 10" S e longitude 9o 30'
58" E do Rio de comparada com a resultou do
Janeiro, que que
grupo das observações ali tidas, e apresentamos no se
que princípio,
• • ' ¦ •
sp- •
5|r | 4(9' V7'' ^6' 43
1

47'

~
&af/sa PosFê
ROCAS

P> v » / ^
JtSi. JêL

f levantamento fe'to em /Q3Q \


oe/o /aT" M A V/TAL oeOUVE/RA. \

tf'AR MAO A Bf*RSlL£IRA


*'.
^
V „ ( lit. 3°St-30"S /
B<3/,sa >, /
Uan$33?+SWtyS

_Ali . SSL
1;67.>8<>

36 6

29 3 2V Z9p3 31 O ^ s
»-0 29 3 29 3 29 3 25 €
37.5 6
?5
25-6 27 5
?5.e 23 e i£L
-5ff
ís e
23 8.
23 e
23 9 22 o

- 71
22 0 |, o^vj 91-
9 o T
-
s!2'0
-110 ' 'VI '*"»
9
* - 12
- -11$ ;
te 5 mi/ + 8 7';>-l N
? ZiscMrr*,3 ^ ' , „ N
25?s *%¦ N
16 5/ ' '¦<* iu a/2 9 .a¦ O
6 5 + N x - -
a1 9 O
í f £¦ 110/ .„, 0 >
51 6 5 : %^679V>v,?91^ 9 5. SL
25 6 #4 7/ •i k -- <i78J 9 "° - < 16
„o"l!
5<í 7 ^ ' tr' I? 9 /
?® „ + à0 s COT» rr>u«t° 32 I?/
9 6 <f ~ o.-, .." 0** J<í
* tc7° B^87
<k: 5,*
^
Á>9sçi-nbmrt^b 6 V " °
f487 * T
a e
»« i(S5 fr-7 26 6
,9 0»^ ^..*3
12 9/ "JS^
. 0-«»/ J
'*5 27 5
, / e-V^+^Tn!
10 O 23 0 20,0. /'ei -f>
. "<•>) - J
«r . ,
ac/ tf, M
/ /*» 7 /9 £" '\>y 23\+ 275
-238-
TT 8 7" *<
/*» ,29, ? 3 I
23 S 3 7, 0-9 0 9 0 9 2 2 3 3 2
.• , V I 12 9 / 23 8
7f#/ '"/9087 23 8 25 6
3H e ~ 4- Pedr* notmv*ff
32 9 09 0 9 0 0 2 3 * 23 8
f°S>. / e* a c v pela elevação/
® ° * "*
- /SM3 3 1 0 9 i 1 /
'87 . 0 9 2 3 33
;«* 4 ¦-
\90 i87 . ¦
.;. / v
I 0 9 f: r ;
32 9 Jo o \ 6<* 6.„ +
1 ^ 09 23 11,1
C A t 23 / / 22 O
01C P 13L
_SI AS
0 3 0o
1,5 ^ v>- n
2 3 0 3
•:% ' o^X
v0 . J^V,»W^W"'
\
'» 'fo
'
25-6 / ar v> vVM"' /
•••. v/Ü / a
36.6 1 / »<*-7 aP a '¦/¦%..
* x
* • / li,.? / 256 %*>
> afie Vv -.x
àsi' c?> v / ">
T® -/ 23 e S>- ¦ V"
22 0
' ' ' /' 9*. A
"3 *• »+ 90. ât
_*L \90.7
\ \90®° 9 o 8,"V •7-
3,0 >0
/ - :
*»l O - - \
S6 3J - J L
•. ll~5
\ P /
*03 3»*c
c/s
32 O
32 8 j
36 6 3^ 3y8 ^y/

J*« "¦ °6
1 »
p# 3«. » 3*ip« 3H # s*-»ía^3a»M 6 \ /"• Í51
/ x>/^"
J* vo.» ^-°
j* 0.4 V W,/ \ \vy^ ^

' vvo
*A i>vy ,0
36 6
P A,
'V
Jo

*
yo-y^o
'00 180 *10
nautica» 1000 soo o 56:
Müha»
^Trrrtrrrrt:
fsctf/ii küo mttric*
FT

• •
8 1 5 0- 41 48 33|<r7*- U B- 4 5'

/S/A.VAI -KiQ
fMPRtZN-SA
O ATOL DAS ROCAS 1213

encontra uma diferença de 3,5 milhas o N e 10,5 milhas para


para
W, que se pode supor influência de correntes.

Se o tempo estivesse claro e bonança, creio as dunas ou ou-


que
teiros, e a seriam avistados em muito mais
principalmente pirâmide
distância.

Deve-se sempre demandar esses baixos pelo rumo já


procurar
apontado: então os outeiros, sua mostram maior
porque pela posição,
extensão, unidos.
por parecerem

A floreação é visível em mais de légua de distância, e a não ser

lado do NE, em outro lugar na dis-


pelo qualquer pode-se passar
tância de milha.

O único vento neste ancoradouro é o W ou NW, mas


perigoso
êstes raríssimas vezes aparecem.

Últimamente foram 50 de coqueiro nos outeiros,


pés plantados
bem como vários de mulungus e A balisa ou pirâ-
pés gameleiras.
mide de madeira ali construída brigue Siren, foi reedificada
pelo
e pintada; está ela 56 acima do nível do e 36 supe-
palmos preamar
rior à superfície do oiteiro. Todos os rumos apontados são verdadei-

ros e a variação da agulha foi achado 9o 30' NW.

Os palmos mencionados são os de dez em braça brasileira.

Bordo do iate Paraibano, surto no mosqueiro de Pernambuco,

15 de de 1858. — Manoel Antônio Vital de Oli-


em Setembro (a.)
veira, Primeiro Tenente, comandante".

No Relatório de. 1860 do Ministro da Marinha de então, Fran-

cisco Xavier Paes Barreto, assim se exprime com relação ao serviço

de Vital de Oliveira, no Comando do iate Paraibano fez


quando
o levantamento das nossas costas de Mossoró a São Francisco.
"Êstes
trabalhos acabam de ser apresentados, e com êles os

apontamentos um roteiro que facilite a navegação, ten-


precisos para
do-se reconhecido que a costa que corre do Cabo de Santo Agos-

tinho o Sul, está mais ao oeste do marcam as cartas exis-
para que
tentes, e mais a Leste se acham os baixos de São Roque, ao que
que
talvez sejam devidos muitos dos naufrágios que tão freqüentemente

se dão naquelas alturas. Vão esses trabalhos ser submetidos ao exame

de uma Comissão".

Foram demorados o Oficial os têm a seu cargo dis-


porque que
traíu-se: Io verificar a planta do baixo das Cabras ou Rocas,
para
entre a Ilha de Fernando e o Continente, tendo levantado uma carta

se acha litografada, bem como publicado o roteiro da respe-


que já
ctiva viagem; 2o levantar da barra do rio Mos-
para plantas parciais
soró à requisição da Presidência do Rio Grande do Norte, a fim de

conhecer a possibilidade de ser ali praticada a navegação pelos va-

da Companhia Pernambucana e 3o proceder a igual ser-


pores para
viço, em virtude de requisição feita em Dezembro de 1858 pela Pre-

R. M. B. 6
1214 revista marítima brasileira

sidência de Alagoas, relativamente à navegação a vapor duas


pelas
lagoas ao norte da Capital, e dos canais as unem dão estas ex-
que

plorações não só em resultados cartas exatas de nossas costas, tor-


nam práticos na sua navegação os Oficiais e as dos na-
guarnições
vios nelas empregados."

Determinou Vital de Oliveira as coordenadas das Rocas com


bastante rigor, fez sondagens, colocou em um mastro do cômoro

de noroeste, junto do atual farol, para servir de marca e em
plantou
cada um dos cômoros um coqueiral.

Pelas diferenças agora notadas tendo em vista o último levanta-


mento efetuado em 1934, e, conforme afirma o Coronel Engenheiro

Melo Alvim, Vital de Oliveira não fez nenhum levantamento; sò-

mente a sondagens em redor do baixío.


procedeu

No entretanto, nesse mesmo ano de 1858, por ordem do Chefe

de Divisão, Comandante da Estação Naval de Pernambuco, Fran-

cisco Manuel Barroso, o nosso futuro herói do Riachuelo em 1865,

foi uma carta das Rocas dando Vital de Oliveira como autor.
publicada

Não é crível que Vital de Oliveira, que levantou e fez um ro-

teiro da costa norte brasileira do Rio Mossoró ao Rio São Francisco

e de cujo levantamento baseou-se Mouchez para fazer o seu, fosse

errar nas Rocas, num levantamento de um pequeno recife de cêrca

de uma por uma e meia milhas !

As diferenças entre o levantamento de Lee e o atribuído a Vital

de Oliveira também foram notadas Imray, em 1884.


por

Êle dizia que os levantamentos apresentavam tais discrepâncias

que naturalmente causavam dúvidas quanto à exatidão de qualquer


dos dois. A maior diferença estava nas dimensões do recife. O Lieu-

tenant Lee o dava como tendo 1 milhas em latitude 1 mi-


% por
lhas em longitude ao passo Vital de Oliveira, indicava as dimen-
que
sões de 3,5 milhas de latitude 5 milhas em longitude. Na carta
por

que publica chama a atenção para a disparidade de escalas.

O Coronel Melo Alvim escreveu em 1881 as noticias sobre


que
o atol das Rocas eram muito resumidas e contraditórias, e os na-
que
vegadores que passaram elas não as examinaram detidamente.
por
"Uma
E cita textualmente: hidrográfica existe, não
planta que
apresenta a forma anular o recife tem.
que

Sei de boa fonte que êste trabalho de um distinto Oficial da


Armada Brasileira (refere-se a Vital de Oliveira), heroicamente fa-
lecido na guerra do Paraguai, teve fim especial marcar a sonda-
por

gem em tôrno do recife, e foi o tempo efetuar êsse im-


pouco para
portante e difícil tentâmen.

Ainda no intuito exclusivo de verificar as sondagens, em 1870


ou 1871, outro distinto Oficial comandando a corveta Baiana (re-
fere-se ao Capitão de Fragata Alves Nogueira), ocupou-se no mesmo
trabalho, e até hoje nada mais se fez.
f 9 e
"'v ' i irr?"-"' "
\

nmjf ... * v/i.i </ \| ^JP

Turma do levantamento das Rocas em 1934

"
JBafflSfait i «Ti lin i .,J*m*WkWs\

O farol novo

mr-'* ¦

;-
O ATOI* DAS ROCAS 1215

Pode-se portanto dizer que o baixo das Rocas não é conhecido

topogràf icamente

Perdurou êste erro nas dimensões do atol das Rocas até 1934,

alguns anos atrás-

Todas as cartas de navegação nacionais e estrangeiras o repre-

sentam com as dimensões exageradas baseando-se no levantamento

atribuído a Vital de Oliveira.

Foi notado o engano éramos Encarregado da Navega-


quando

ção do Navio Faroleiro Vital de Oliveira, em viagem de inspeção

de faróis da costa norte, em 1934.

Aproximámo-nos da ilha, o estávamos munidos de todos


para que
os elementos e conhecimentos possíveis, e ao colocarmos a posição
do navio, marcação e distância determinada com um telêmetro, no

plano do atol, plano êsse baseado no levantamento Vital de Oliveira,

verificámos de pronto haver irregularidade o navio


qualquer porque
estava sendo localizado no interior do limite dos recifes, na orla sul

da ilha do Farol.

Com os elementos de que dispúnhamos a bordo, tais como agulha,

sextante e telêmetro portátil, procedeu-se a um reconhecimento hi-

drográfico do atol, do qual resultou se verificar o êrro na represen-

tação das Rocas, tanto na parte referente às dimensões como nas da

conformação, representação de detalhes e sondagens na laguna interior.

Conforme se poderá verificar pelas cartas anexadas, o levanta-

mento do Lt. Lee é o que mais se assemelha ao último, a única dife-

rença notada está nas sondagens na laguna interior que atualmente,

na maré baixa, toda fica descoberta, podendo-se com facilidade


quasi
e segurança atravessá-la a pé.
"Con-
Ainda o Coronel Alvim, assim se refere à lagoa interior:

adotada, ainda que com restrições até exímio natura-


quanto pelo
lista C. Lyell, a teoria atólica de Darwin, todavia não se compadece

ela com o fato material e palpável do baixo das Rocas; e não só pela
circunstância de achar-se o recife acima do nível da baixamar, limite

êste fixado como extremo da vida dos organismos como


pohpeiros,
também porque da comparação das da lagoa e mais o
profundidades
leito da bacia, no espaço de vinte anos, vê-se que toda a área tende

sensivelmente a elevar-se, ficando hoje a descoberto, na ocasião do

refluxo, a máxima parte dêsse estuário, dantes sempre imerso.

Percorri vezes aquela formação atravessando-a meio,


por pelo
não encontrando água fora da lagoa senão nas depressões e cavi-

dades. Si pois algum movimento tem havido é no sentido de solevação".

O professor Nichol observou que os recifes das ilhas de coral

Seychelles, ao norte de Madagascar, elevam-se.

As diferenças entre as sondagens da lagoa nos levantamentos de

Vital de Oliveira e o de 1934 são notáveis como bem se obser-


pode
var nas cópias anexas.
1216 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

No plano de 1858 as sondagens na lagoa oscilam entre 0,3 e 3,2


metros e no plano Lt. Lee, no centro da lagoa, ha a seguinte nota:
"Lagoa
na qual ha de 0,3 a 1,2 metros d'água na baixamar e tem
que
uma aparência esbranquiçada, quando se observa do alto dos mastros
a 4 ou 5 milhas de distância", enquanto o de 1934 mostra,
que nos
mesmos lugares, sondagens menores e seca.
grande parte

Do não pode restar dúvida é ter a lagoa diminuído


que de
fundo, e a comparação dos três levantamentos é o melhor testemu-
nho disto.

E a única explicação de terem diminuído as sondagens aí é ter


o coral crescido durante o tempo transcorrido entre os dois levanta-
mentos, isto é, 76 anos.

Considerando a média de crescimento anual de coral de 2 cen-


tímetros, em 76 anos teremos um crescimento de 1,52 metros.

COORDENADAS DAS ROCAS

O Roteiro de Horsburgh desde 1809 edição) até 1855


(Ia pu-
blicou as coordenadas das Rocas na latitude de 3o 55' 00" sul e lon-

gitude de 33° 31' 00" oeste de Greenwich, isto é a 18 milhas mais


leste da sua verdadeira, de acordo com os dados atuais
para posição
mais rigorosos.

Só depois do conhecimento das observações efetuadas Lieu-


pelo
tenent Lee em 1852 é que foram corrigidas 3o 51' 27" sul e
para
33° 49' 32" oeste.

O Captain Parish, em 1856 determinou as seguintes coordena-


das para as Rocas: 3o 51' 25" S e 33° 46' 33" W, e o Captain Selwyn,
em 1857: 3o 51' 30" S e 33° 50' 09" W.

A relação abaixo mostra as várias coordenadas das Rocas de-


terminadas por vários autores, ordem cronológica:
por


Mr. Lartigue 1825 3° 55' 07" S —33° 46' 03"W
Purdy Directory — 1845 55' 00" 29' 45"5
Bowdwitch Navigation — 1849.... 52' 00" 09' 45"5
Bowdwitch Navigation — 1852.... 55' 00" 09'45"5

Raper's Navigation — 1849 55' 00" 43' 45"5

Blunt Pilot — 1850 55' 00" 09' 45"5

Lt. Lee -- 1852 51' 27" 49' 32"

Cap. Parish — 1856 51' 25" 46' 33"


Cap. Selwyn — 1857 51' 30" 50' 09"
Cap. Fgta. Vital de Oliveira — 1858 51' 30" 49' 29"

As diferenças a constatadas na longitude, autores como


princípio
Findlay e Imray, indicam como sendo uma das principais causas dos
desastres se deram nas Rocas no século
que passado.
51 /w» •

~
—"tH- ——
|
2*31 I

PENEDOS de
>.
m SÃO
SAO PEDRO itE SAO
SÃO PAULO
/*/ « • \r\ De um levantamento in^lez
De Inglez de 1921
'm
\\ JJ ESCALA: ESCALA: ;: 10.000
11:10.000
lo.ooo

%*»# V.9

j BRAS1L-ILHAS
BK ASIL-ILHAS AO LARGO

239

ATOL DAS ROC AS


ROCAS ™
I i / *»• \\ _
^
j \ J7*
I «— Levantamento
Levantamento eflectuado pela Directoria Navegac&o em 1934
Directorla de Navegaçfto 1934 iss '» 274 / \!
\
/" V. mo J
80NDA0EN8 EM METROS
METROS
/
S\ "*"• N. ' ./ \
\
rrduiuias ao nivei da baimmar media de tyzij/iat
syziyiat » „v - V
~^ 17
it \
\
ALTITUDE8 EM MBTR08 ACIMA DO N1VEL MfiDIO JO <V" (A '" V \
si ^
Abreviações:
Abrrvia&et:
casealho, P-
atria, C- cascalho,
A- areia. P-pedra, At- areia
pedra. Ai- arcia ftnu. *" N! grupos, 0- branco.
ftnu, Cor-Coral, Gr- grupo», bronco,
\
lampejo. m- metros, M- milhas,
Lp- lampejo, srgundo. (SG)- sem
milhas. sg- segundo.
Ntf V-M *cir. puarnifdo
|I" guarnifdv
— M
¦•——i •
.
ESCALA: I:t0.«00
l:J0.«00 '
em <p »(f
em<jp • 0" W
Off '
1». / '¦> ** j
/
"">&
\\ / m/
"
/
" '
\\ r 5S

'?—vv u. -ft-
ft
V_ \
X "/
*/ i
! A
293 \

"is
¦is DoclDoei mag 20»40
Docl 20*40 W (10361
2O»40 (i-Wbl
(Ittlbl
* +
4-
Augmanto annual 8'
86


\

ft \|\
'j aW
Kilomatroa
| J# KUometroa •
r
1 "' 129*» *" T ' ¦
29*
»»wa2» W G r~" "

v" 'V —- 1-—

#>/ >•>"'
s" "
V**"
<* > \
'/ N V
/ \
¦ it *4 v-»
5 i- r
—:—H
i -
'
¦
\ Is h

\ \ /
\ <<-v /

i; ll *\ Comnt,

^ >. 11 ' \* .< Dim


(>««

'*• 1M

j ;
: u.
" "
» <¦
I
—M—-—^r.£f 0,—^a ,—"¦——[ —"—
j *
•- £ V-.l
n *

a> — «*' - '"


j? H ^"••¦H a
p7 33 V-v.^ MT-;

i ir 40— W

I
* 14
y 39 W 3* s,
MM
40
3T
37 P

INFORMAÇÕES
INF ORMAC0ES SOBRE AMAR £
SOBREAMARf
f." .!"¦ v
Lega
Legar E>l Id

i 1 _ v»««» !•••«" too.m ac


"(f Rocat

33* Q mwm aaaoa <«»»»¦«¦»


IM
IMPRENSA
PR£<MSA /yAVAL - RIO
/VAVAL- RIO publieada tm Smtmbro de t9» 51
O ATOI, DAS ROCAS 1217

Como confirmação foram nós observadas algumas séries de


por
altura o cálculo da longitude latitude, cujo resultado
para e da pouco
se afastou do obtido Portanto, consi-
por Vital de Oliveira. podemos
derar a mais rigorosa
posição o farol das Rocas a dada por Vital
para
de Oliveira: latitude 3o 49' 29"
51' 30" sul e longitude 33° oeste

meteorologia

O clima das Rocas é o da zona equatorial; ao sol e suave


quente
a sombra, devido à ação dos ventos alíseos sempre frescos de sueste.

As noites -são sempre agradáveis. mais é o de Agôs-


O mês quente
to, onde atinge a mínima de 22° centígrados.

A vista das dimensões e da posição no meio do Oceano


_ do atol
Atlântico, não existem, naturalmente, a brisa e o terral.

A época das chuvas abrange a cho-


o período de Março Julho,
vendo mais nos meses de Abril e Maio. O mês mais sêco é o
de Outubro.

A barométrica média é de
pressão 759 milímetros.

Devido o maior número desastres


de ter ocorrido nos meses de
Outubro, tem-se
procurado explicar êste fato de várias maneiras, bus-
cando razões e justificativas diversas.

Já em Fernando de Noronha os meses de Outubro são perigosos;


forman-se os rollers, espécie de ressaca cobre de espuma toda
que
a costa, levantando vagalhões que se quebram desencontrados e esca-
vam as levando as areias o mar.
praias para

Nessa mesma época, as Rocas ficam na mesma latitude devem


que
também sofrer estas ressacas, é sabido havendo
pois que profundidade
junto à costa, como lá acontece, as vagas se com violência,
quebram
ao nas de inclinação elas se sucessi-
passo que praias pouca quebram
vãmente de muito a sua intensidade.
perdendo

O Captain Swanson que naufragou nas Rocas em 7 de Outubro


"Não
de 1865, ocasião de mau tempo, disse: acho possível que em
por
ocasião de marés e com vento norte ou nordeste, as águas
grandes
cresçam do nível dos cômoros, senão os cobrirem de todo".

O Engenheiro Melo Alvim descreve um temporal nas


passado
Rocas em 22 e 23 de Outubro de 1881, como dias de cruéis impres-
sões, angustiosos, em o oceano ameaçava tragar os frágeis torrões
que
em se encontravam os trabalhadores da montagem do farol.
que
"O
mar rugiu incessantemente na noite de 21 22 e o vento
para
rondou um lessueste. No dia 22 manhã, com a
pouco para pela prea-
mar as vagas rebentavam por cima dos recifes todos cobertos, entre-

chocando-se, revolvendo o fundo da lagoa duma maneira imponente,

porém, medonha.
1218 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

As duas ilhas resistiram bastante, talvez em vista de chegarem as


vagas com pouca intensidade por experimentarem sucessivos choques
e oscilações em todos os sentidos, o que não impedia de serem as ilhas
estremecidas e escavadas em algumas partes".

MARÉS

O Capitão João Buch, que segundo o Roteiro de Antônio Lopes


da Costa Almeida, levantou Rocas antes de 1849, informava que a
maré subia a seis pés.
O Lt. Lee (1852) observou subir a maré cerca de 1,5 metros
acima da baixamar.
O Commander Parish (1856) dizia ser a amplitude de 7 pés, e
Mouchez, que a amplitude de sizígia era três metros e a de qua-
dratura de 1,5 metros. O estabelecimento do porto de Vh 15m, con-
corda com a informação de Vital de Oliveira e com as observações
de 1934 a 1936.
A única diferença verificada nas informações de Vital de Oli-
veira é na amplitude máxima que êle dá como sendo de 2,40 metros.
Os dados de Mouchez são os mais precisos.
O nível médio fica a cerca de 2,38 metros e o da maior baixa-
mar a 3,88 metros abaixo da soleira de cimento armado do novo farol.

TRANSPARÊNCIA ÓTICA
DA ÁGUA DO MAR

A transparência ótica da água do mar nas Rocas foi observada


com o disco de Secchi.
Com o navio fundeado em 30 metros, via-se perfeitamente o disco
pousado no fundo e a natureza deste, claros de areia entremeados de
escuro dos recifes.
É de supor ser maior a transparência ótica das águas nas Rocas,
do que os 30 metros acima referidos.

FLORA

O Lieutenant Lee em 1852 plantou alguns coqueiros, para ser-


virem de marca, na ilha do Cemitério e o Captain Commander Parish
o mesmo fez em 1856.
Vital de Oliveira quando esteve nas Rocas em 1858 plantou uma
série deles em cada ilha e não fez referência alguma aos anteriormente
plantados.
Atualmente existe somente um pequeno coqueiro ainda flores-
cente e o tronco um pouco inclinado de outro.
¦
y
»

, ? * -**? taeMws*?gfc « * ^yt&L**' ^""SL


%,
;~*?

idiSSS^WMtt

s ' -
s-
F t

>i j
*

As aves das Rocas


O ATOI, DAS ROCAS 1219

Tivemos ocasião de a água fortemente salgada dos côcos


provar

que aquele coqueiro produz.

Em Setembro de 1938 foram várias árvores frutíferas


plantadas
inclusive 30 coqueiros, nas duas ilhas.

Pelas tentativas feitas sem resultado no de coqueiros nas


plantio
Rocas parece inferir-se não ser o terreno apropriado êsse fim
para por
não as necessárias.
possuir qualidades

O Captain Selwin, quando fez um levantamento das Rocas em

Novembro de 1857, referiu-se a uma esquesita vegetação rasteira e a

pequenos arbustos escuros que encontrou na ilha do Cemitério.

Atualmente só existe uma vegetação rasteira, escura, espécie de


carurú cresce cima da camada de fosfato
(Amaranthus), que por pro-
veniente das dejeções das aves aquáticas vivem nas ilhas de areia.
que
"gorgônias"
Da flora marinha encontram-se, nas e nos re-
praias
"fucus", "museus
cifes lin" ou uma espécie de musgo escuro cobre
que
"zostera
os recifes e a marina" ou limo.

AVES

Desde 1852, quando esteve nas Rocas o Lt. Lee, sabia-se da exis-
tência lá de número de aves, cujos ovos o Lee consi-
grande próprio
derava bons. Contudo, dizia êle não ter encontrado devido, com
guano,
certeza, às constantes chuvas não o deixava ficar acumulado.
que

As aves marinhas das Rocas acompanham o navio, às vezes, desde


uma distância de 40 milhas. E, como não vêm sêres humanos durante
muito tempo, ocasião do desembarque tentam ou atacar as
por pousar
pessoas que são forçadas, assim, a afastá-las sacudindo os braços acima
da cabeça.

Nas ilhas de areia, do Farol e do Cemitério, calcula-se existirem


atualmente de cem mil aves, espalhadas chão chocando ou
perto pelo
descançando, ou então esvoaçando numa inquietação constante, acom-

panhada dum grasnar estridente não cessa noite e dia.


que

Por êste motivo o caminhar atravessar o terreno nesse local


para
provoca cuidados especiais, uma descuidada ter-
pois que passada pode
minar com a vida dum filhote ou destruir os ovos de algum ninho.

"para-
Dessas aves existem nas Rocas três espécies: o mumbêbo,
sula dactylatra", com o muito mais fraco, de
parecido ganso, porém
côr branca ou escura e não se afasta muito das ilhas; a
que gaivota,
"onichoprion
fuscatus", toda escura ou branca com asas pretas e que
constitue "anous
a espécie predominante, e fim a viuva, atolidos",
por
pequena ave escura e de aparência simpática.

O alimento de todas elas é o durante os vôos efe-


peixe, pescado
tuados sobre a lagoa e os do recife e no mar, não muito afastado.
poços
1220 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O mumbêbo é característico; conhecido marinheiros como


pelos
"vomita
piloto". Quando seguro ou ameaçado, depois de ter engulido
o produto da sua pesca, vomita os dos se
peixes quais prontamente
apodera o inimigo ou o marujo, fazê-lo de isca muito apreciada.
para

PEIXES, MOLUSCOS

E CRUSTÁCEOS

Ha nas Rocas fartura de O escaler vai


grande peixes. quando

para terra, principalmente nos dias em o navio chega,


primeiros que
é seguido de grandes cardumes.

Em volta de todo recife fazer a os melhores


pode-se pesca, porém
viveiros são os da parte interior da lagoa e nos existem na
poços que

parte plana do recife, às vezes com comunicação e em outras


perfeita
completamente isolados e em nível superior ao do mar.

Nestes poços, cujas águas são mudadas na existe uma


preamar,
variedade enorme de ostentando as mais variadas e
pequenos peixes
brilhantes cores tais como vermelha, azul, verde, amarela e cinzenta,

que, devido à limpidez das águas e à alvura das areias do fundo, so-
bresaem grandemente.

Dos peixes grandes chama logo atenção o número de vorazes, des-


cuidados e indiferentes tubarões infestam as e são ar-
que praias que
poados com facilidade.

Tivemos ocasião de observar um, num dos do recife,


preso poços
que não se importou de ser tocado com uma vara e de ter sido alvejado
com tiros de pistola.

De outro tivemos também ocasião de notar a maneira com


porque,
a maré baixando, saía dos recifes aproveitando um riacho tal-
pequeno
vez de 50 centímetros de largura uns 20 de altura, com metade do
por
corpo de fora d'água. mantendo só a cabeça mergulhada, dirigindo-se

para o mar, arrastando-se nos recifes, com bastante calma e dando re-

quebros, sem se preocupar conosco, observadores intrusos, e como si


o que estava fazendo, não fosse a vez.
primeira

Dizem sua carne é de difícil digestão e feridas,


que que produz
por isto, a-pesar da facilidade de sua não é aproveitado.
pesca,

É comum os os apanharem, esfolarem e lançarem-nos


pescadores
de novo ao mar, como aviso não comerem a isca lançada e
para prepa-
rada para uma classe de mais apreciada e de vantagem
peixe grande
pecuniária.

"corrico",
Os escaleres e lanchas o
pescavam muito de como cha-
"corrida",
mam no norte, ou de
que consiste em rebocaar pela pôpa
da embarcação a linha com a isca, assim em movimento é
que pronta-
mente apanhada.
Os peixes nas Rocas


1
*S

'
'
Resultado de uma pescaria

' ~ : I
¦

"" ^'4

Lagostas pescadas em uma hora


O AT0L DAS ROCAS 1221

Este tipo de pesca muito aplicado às "bicudas" ou às "cavalas"


do sul, é, no entretanto, aproveitada para os tubarões também.
São tão gulosos que bastam para fazer de isca um pedaço de pano
branco ou um colarinho, o que sirva enfim para lhes chamar a atenção.
Duas são as espécies de tubarões lá encontrados: o fidalgo e o
de lixa.
As espécies de peixes são muito variadas; são facilmente pes-
cados: Agulhão (Belone trachuda), Agulha (Hemirhaplus brasili-
ensis), Agulhão tombeta (Fistularia rubra), Aracimbora (Caranx
guará), Bicuda (Sphyraena barracuda), Bicudinha ou Guaraná (Sphy-
raena branneri), Barbeiro ou Caraúna (Teuthis coeruleus), Badejo
ou Serigado pintado (Dermatolepis inermis), Bodião (Iridio radia-
tus), Cangulo (Balistes Vetula), Cangulo preto ou Cangulo baié (Me-
lichthys piceus), Cambeba (Haemulon parra), Dentão (Neomaenis
aya), Dourado (Coryphaena Hippurus), Guarajauba (Trachurops
crumenphthalmus), Garoupa rajada (cerna striatus), Mariquita (Ho-
locentrus ascencionis), Moreia (gymuothorax moringa), Mero (Pro-
microp zuttatus), Piraúna (Bodianus fulvus) também chamada "Ga-
roupa chita", Pira (Malacanthus plumieri), Serigado preto (Epine-
phelus bonaci), Salmonete (Nullus surmuletus), Saberé (Abudefduf
saxatilis), Sioba (Neomoenis analis), Xaréo preto (Caranx lugu-
bris), Xira amarelo (Brachygenis chrysargyreus).
Dos moluscos, o polvo é encontrado em todo o recife, da mesma
forma que o mexilhão pequeno.
Da classe dos crustáceos encontra-se o "guaiamú" (siri) e ca-
ranguejos, porém a grande quantidade de lagosta é surpreendente.
À noite faz-se a sua pesca facilmente, na baixamar, com o au-
xílio de lanternas de querozene acesas.
O Serviço de Caça e Pesca organizou uma pescaria na qual em
quatro horas conseguiu apanhar 995 lagostas, algumas com 36 centí-
metros de comprimento, e classificaram-nas como sendo da família
"panulirus
guttatus — variedade brasiliensis", em 1200 exemplares
estudados.
Os técnicos desse mesmo Serviço concluiram também que a de-
sova deve se processar entre 15 de Julho a 25 de Agosto, anualmente,
e que não se deve apanhar exemplares menores que 19 centímetros
para efeitos de proteção da espécie.
Também por uma estatística feita pelo citado Serviço, pode-se
pescar uma média de 70 quilos de peixe por homem e por hora, junto
dos recifes.
Ha informações de terem sido vistas baleias próximo às Rocas,
porém, aos botos nenhuma referência é feita.
Atualmente (1939), a Empresa de Pesca Rocas Limitada, com
sede em Recife, está explorando lá a pesca, já tendo construído dois
barracões para abrigo dos pescadores e uma cisterna para água doce.
1222 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ha de construção de novos abrigos.


projeto

RÉPTEIS

Não são encontrados répteis nas Rocas, a não ser da classe dos

as tartarugas e em grande quantidade, como provam os


quelônios,
rastos deixados nas areias das praias durante a noite, quando vêm

desovar. Nessa ocasião são facilmente apanhadas, virando-as de cas-

cos para cima.

A sua carne é muito saborosa e bastante apreciada no norte do

Brasil; os marinheiros e os visitantes nortistas são os maiores con-

sumidores delas.

foram apanhadas algumas de em várias


Já grandes proporções,
ocasiões a autoridades governamentais de Pernambuco
presenteadas
e Rio Grande do Norte.

A existência de tartarugas nas Rocas foi constatada desde 1852,

lá esteve o Lieutenant Lee.


quando

No plano publicado nos Annales Hydrographiques de 1857,

lagoa encontra-se registrado o se-


por baixo das informações sôbre a
"On
guinte: y trouve beaucoup de tortues".

FARÓIS

Atualmente estamos chegando à solução dum problema dos

maiores e ha mais de 2.200 anos a humanidade procura


que
resolver.

O Farol de Alexandria, no delta do Nilo, construído por Pto-

lomeu, e do veiu o nome das atuais luzes que tantos e indispen-


qual
sáveis auxílios têm aos navegantes, nunca foi ultrapassado
prestado
em fama e altitude outro farol.
por qualquer

Os sinais feitos nele consistiam em fogo e fumaça produzidos


uma fogueira no tope da construção, e, até o início do século
por pas-
sado, o no terreno de sinais luminosos foi, pode-se dizer,
progresso,
nulo.

O farol de Eddystone, na Inglaterra, foi o primeiro a empregar

velas de sebo, no ano de 1805, e até 1816 o farol de May Island, na

Escócia, ainda usava labaredas de um fogo de carvão, como guia


aos navios.

O e a eficiência dos faróis vieram depois da lâmpada


progresso
elétrica, da luz incandescente do vapor de querozene, das lentes de

Fresnel, da luz de rotação, dos sinos, dos apitos, das sereias e dos

diáfones.

A mudança dos antigos faróis em faróis automáticos, trouxe di-

minuição da despesa com os Serviços de Faróis de todas as nações

do mundo.
k_ - * a I
'¦'"
"'
'¦ ¦
¦
¦.-"¦
¦-¦¦ : .

&$mmMm—Ji$i' '•¦''¦:

Mumbêbo Tartaruga pescada nas Rocas

__,*! j!_ __**> **\\m\ ^^ ^ fímI _________?-¦^^^^-*^J*f *

jk -**- * I **%**. ________J___n_Í__________í^_i . ' • __tüE


hj_PV . •-*^tk -' ^____P|í______rfi:
J* -*rt "^ S0&'.
_# . __> **__,-' i , .*** .- % ,':-i Y*^Saí-C. _í-1
»_^Pfc_r_*_____l
_.¦~- ..¦'"¦ __ . .____- '*_.*¦'* «Tf"Tff: ".K-ífc^^fe í?^-
- "-B
___¦_.' _í^¦
^^ < ¦ <-<* 4b. L__ -
P* */¦ - • : 1 ____^9___?^-w§''i,_s__H
JMWf "•, " t ;_H ______

¦'TH.:* ...M.'"' _i____^__^_B________________i


'P ¦ ¦ ___—L,:--
___r :.¦¦¦ __f_ »* : ,#'j*t '23.
': W <_______¦!!¦
__¦___.
H?!_____l1__/ Jp^''¦¦''
***¦» •:_J^.__________
____S__f
BP^^HHH

Ovos de uma só Tartaruga


O ATOI, DAS ROCAS 1223

"a
No entretanto ainda o de segurança
prevalece princípio que
só pode ser encontrada na certeza" e a atenção de um ente humano,
como a de um faroleiro, não ser desprezada, sem ela não
pode pois
se pode ter confiança e absoluta de as luzes estão
plena que perene-
mente acesas e em boas condições.

Com êste intuito alguns faróis modernos, afastados e de difícil


fiscalização, dois focos luminosos, automáticos, de maneira
possuem

que, com a interrupção de um, o outro imediatamnete entra em fun-


cionamento.

Os atuais faróis automáticos, acendem-se durante a noite e ficam


apagados durante o dia, sendo êste trabalho efetuado válvula so-
pela
lar, dispositivo consiste numa haste de metal de coefici-
que grande
ente de dilatação linear distendendo-se ou retraindo-se debaixo
que,
da influência do calor solar, apaga ou acende o bico incandescente

principal.

A economia do gás da luz é assim obtida, só


produtor perma-
necendo aceso um bico-pilôto.
pequeno

Modernamente está sendo muito aplicada acender e apagar


para
os faróis automáticos uma célula foto-elétrica, alimentada uma
por
bateria de acumuladores elétricos. Ela transforma a energia luminosa
em energia elétrica.

Esta idéia é nas da sala de espera


praticamente provada portas
da Estação de Pensilvânia, em New York.

Um farol para as Rocas foi sugerido e reclamado desde 1852

pelos Comandantes Lee, Parish, Selwyn, Vital de Oliveira e Alves


Nogueira, como indispensável à navegação naquelas
paragens, pois,
pela sua baixa altitude e na falta de um farol, o único aviso consistia
nas pontas duras e aguçadas dos seus recifes.

Mas só em 1881, em obediência ao Aviso n. 2.527, de 19 de

Novembro, foi incumbido da montagem dum farol nas Rocas, o Ca-

pitão-Tenente Honorário Maria da Conceição tendo êste


José Júnior,
dado comêço aos trabalhos nesse mesmo ano.

Auxiliou e também para lá seguiu, o Coronel de Engenharia


João
de Sousa Melo e Alvim, para fazer o estudo do local e verificação
da possibilidade da instalação do farol encomendado à França.

Fez êste Engenheiro sondagens exame do recife, sondagens


para
estas atingiram a seis metros de atual ilha do
que profundidade na
Farol, encontrando sempre muita dificuldade e em alguns furos re-

sistências absolutas.
quasi

A era feita com ponta aguda de aço temperado, so-


perfuração
brecarregada com um de 115 havendo ocasiões de só
pêso quilos,
1224 SE VISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

haver penetração de um centímetro por hora, tendo-se o apa-


partido
rêlho por duas vezes.

Também verificou o citado Engenheiro que nem todo o recife

era assim duro e compacto; havia outros lugares em existiam


que
falhas, onde a sonda penetrava com facilidade.

Feito o estudo dos recifes concluiu o Engenheiro Al vim não ser

conveniente a colocação do farol encomendado, lá nas Rocas, à vista

de suas grandes proporções e de sua impropriedade naquele local,

o mesmo, êle, não tinha a base suficiente resistir


pois julgava para
à resultante dos fortes e constantes ventos reinantes.

O farol então, cujo valor era naquela época de 30 contos, foi

aproveitado para Santo Agostinho, em Pernambuco, e nas Rocas foi

instalado provisoriamente uma luz fixa de 6a ordem, no tope de um

mastro de madeira, com 14 metros de altura, inaugurada no dia Io

de Janeiro de 1883.

Quando veio esta resolução já tinham sido iniciadas algumas

obras; estavam construídas: uma base de alvenaria com 17 metros

de diâmetro, altura 1,1 metros; a casa dos faroleiros acabar, de-


por

pósito de água com capacidade 20 pipas e 4 galpões para guar-


para
dar materiais.

Tudo isto foi feito com grandes dificuldades de transporte de

material para terra e enormes riscos de desembarque, só


pois podiam

pôr em terra no máximo 12 toneladas dia, aproveitando a


por prea-
mar e em muitos outros nada fazer devido ao estado do mar.
podiam

Ocuparam êles 35 dias de trabalho áspero e perigoso, em que


lutaram com as maiores dificuldades e grandes riscos de vida.

Para construção das casas dos faroleiros e do farol pediram 600

toneladas de pedra, 200 de areia e 700 bar ricas de cimento. Êste ma-

terial parece não ter sido todo desembarcado nem fornecido, por não

ter sido construído o farol.

Em 1884 foi substituído o mastro de madeira devido ao seu mau

estado.

Em 1887, a bordo do Purús seguiu pessoal e material para


concluir as obras das casas dos faroleiros, orçadas em 5 :555$235.

No Relatório de 1883, o Ministro da Marinha concluiu que nas

Rocas se devia construir uma torre de alvenaria, que era a estrutura

mais apropriada àquela localidade. No entretanto, só em 1935 foi

satisfeito êste ideal com a construção lá de um farol de cimento armado!

Atualmente, só existem os escombros das casas dos faroleiros

e sobre as quais, em 1890, no seu Roteiro, o Almirante Mouchez se

refere dizendo tinham dois de cinzentas e


que pavimentos, paredes
teto de telhas vermelhas. a casa e o depósito se encontravam
Que que
ao lado eram os objetos se do largo, desde
primeiros que percebiam
5 milhas de distância.
O ATOI* DAS ROCAS 1225

Em 1892 foi feita uma encomenda à casa Barbier Eenard & Tu-
renne, de Paris, de um farol de 3a ordem as Rocas, tendo êste
para
chegado no ano seguinte, ficando depositado na Escola de Aprendi-
zes-Marinheiros de Pernambuco. Em 1902, com o crédito de 1:760$,
concedido Aviso n. 952, de 5 de foi reencaixotado todo
pelo Julho,
o material do farol, devido ao mau estado do madeiramento, muito
atacado cupim.
pelo

Nesse mesmo ano, Aviso n. 650, de 16 de Maio, foram


pelo.
concedidos os créditos de 48Ü$000 e 1:500|000 o abastecimento
para
d'água para as Rocas.

Em 1906 foi feito um orçamento construção definitiva do


para
farol, no valor de 104:051$794, em 1908, o Almirante
porém, Jace-
guai, Superintendente de Navegação, resolveu montá-lo na ilha Rata,
em Fernando de Noronha, e entregou 7:806$000 ao Estado de Per-
nambuco colocação de um de luz nas Rocas. Êsse
para poste poste
foi inaugurado em 8 de Dezembro de 1908, consistindo numa arma-

ção de ferro, ao noroeste do atol, exibindo luz branca de lampejos


de 10 segundos, 18,5 metros acima do nível do mar e 16 de altura;
visível a 12 milhas com tempo claro. Ficou a farolete 13:667|814.
por

Em 6 de Outubro de 1914 foi o farol transformado em


automático, sistema AGA, com as c aracterísticas ainda atualmen-
te empregadas.

Em 1935, sendo Diretor Geral de Navegação o Exmo. Sr. Al-


mirante Heráclito da Graça Aranha, ficou resolvida a construção dum
farol nas Rocas, de cimento armado.

Foi designado cumprir tal missão o Sr. Capitão de Fra-


para

gata Rodolfo de Souza Burmester, comandando o Navio-Faroleiro


Vital de Oliveira.

Os planos foram elaborados em Recife Engenheiro


pelo José
Cândido A. Moura onde foi adquirido todo o material, bem
quasi
como contratado o especializado em serviços de cimento ar-
pessoal
mado, em número de nove homens.

O gasto total na construção do farol foi de 16:640|000, inclu-


indo 5 :392$000 de ao
pagamento pessoal.

Chegou o Vital de Oliveira em 30 de às Rocas sendo


Junho
logo no dia seguinte iniciados os serviços com o desembarque do

pessoal e material.

De 10 a 19 de Julho, esteve o navio fora ter ido a Recife


por
se abastecer e comprar o material restante, nas Rocas
permanecendo
uma turma de 15 homens com o fim de adiantar os trabalhos.
pequena

Terminou o serviço do farol no dia 15 de Agosto, tendo perma-


necido o navio 37 dias ancorado.

Foram empregadas cinco toneladas de vergalhões de ferro, 20


metros cúbicos de areia, tendo sido encontrada em bom estado cêrca
1226 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

de 10 metros cúbicos de areia doce, próximo ao farol também foi


que
utilizada, e cerca de 100 sacos de cimento.

A base do farol está a três metros abaixo do nível da ilha do

Farol, tem 6,40 metros de diâmetro por 0,30 de espessura.

A partir dela tem a torre sete secções, sendo cinco de sustenta-

ção e a última de fixação e inspeção da lanterna.

Os acumuladores de gás são em número de oito, tendo carga

para cêrca de 13 meses.

É um dos faróis mais bem construídos devido à sua estrutura,

solidez e simplicidade, e parece será de duração eterna,


quasi pois
todas as peças metálicas expostas são de bronze, tais como degraus,

rebites, dobradiças e fechaduras.

No dia 20 de Agosto de 1935 foi inaugurado o farol e colocada

uma placa de bronze com os seguintes dizeres:

"Construído
em 20/8/935 pela guarnição do N. F. Vital de

Oliveira, sob o comndo do C. F. Rodolfo S. Burmester e por

odem do Sr. Almirante Graça Aranha, D. G. N.".

FAROLEIROS

A terminação dos desastres marítimos nas Rocas data da inau-

guração do farol, em 1 de Janeiro de 1883.

Foram inúmeros os faroleiros lá serviram até 1914,


que quando

passou a ser automático.

Alguns dêles ficaram na história devido a fatos de relativa im-

portância a êles acontecidos.

Faleceu nas Rocas em 14 de Outubro de 1904, o faroleiro Gre-

gório Vitoriano de Castro, sendo sepultado na ilha do Cemitério.

Também lá faleceu a companheira do faroleiro Antônio Augusto

da Câmara, sendo sepultada ao único coqueiro existente na


próximo
ilha do Farol.

João da Silva Saraiva, outro faroleiro que habitou as Rocas du-

rante cêrca de oito anos, sofreu os horrores da falta d'água, com três

filhos que lá nasceram, devido à demora do navio encarregado do

abastecimento.

Naquela situação, procurou todos os meios de obter socorro, entre

os quais o de lançar com cartas explicando o lhe acon-


garrafas que
tecia, ao mesmo tempo em tentava conseguir água doce, fervendo
que
a do mar numa vasilha, da fazia de tampa um chapéu, cuja fa-
qual
zenda se impregnava de vapor d'água se condensava em
que peque-
nas gotas.
O ATOL DAS ROCAS 1227

As garrafas foram levadas à costa e o navio chegou ainda a


tempo de terminar com os sofrimentos do faroleiro Saraiva e sua
família.

Também sofreu a falta de recursos das Rocas o faroleiro Vir-

gilio Francisco Ramos, em Abril de 1913. Achava-se êle com a fa-


mília lá quando o navio fazia o abastecimento, de dois em dois
que
meses, atrazou-se.

Peixes e ovos de existiam em abundância e foram os


pássaros
alimentos nos dias. Passando êste tempo os orga-
primeiros quinze
nismos se ressentiram e iniciou-se novo angustioso êle,
período para
felizmente logo terminado com o aparecimento dum navio inglês que,

por êles chamado à atenção pelos sinais de socorro feitos com as ban-

deiras do Código Internacional de Sinais, foi cientificado da situação


e os auxiliou, fornecendo carne em conserva, arroz e açúcar, alimen-
tos mais levando também uma carta ao nosso Go-
que precisavam,
vêrno,
pedindo providências.

Imediatamente seguiu o nosso ex-navio escola Benjamin Cons-

tant, levando, em os víveres tanto neces-


grande quantidade, que
sitavam.

Quem já visitou vim farol isolado, no meio do oceano, mes-

mo por pouco tempo, bem avaliar a maneira de viver


poderá
de um faroleiro.

Herói anônimo, e desprendido, êle se acostuma a uma


paciente
vida modesta e modestamente termina os seus dias.

O sol, a chuva, o vento, o frio, nada o faz esmorecer em seu labor


de vigília noturna...

E por isto, torna-se necessário reconheçamos os seus servi-


que
ços, porque êste reconhecimento a-par da consciência do dever cum-

prido, formam a maior, senão a única recompensa dos labores e sa-


crifícios de tão e de uma vida de tão iso-
penosa profissão grande
lamento.

OBRAS CONSULTADAS

Relatório S. Excia. Ministro da Marinha de 1860.

Relatório S. Excia. Ministro da Marinha de 1883.

Roteiro geral dos mares, costas, ilhas e baixos reconhecidos no


— Antônio Lopes da Costa Almeida — Lisboa — 1849.
globo
Annales Hydrographiques — Paris — 1857.

Uma viagem da Corveta Baiana em 1871 — Cap. Fragata

J. A. Alves Nogueira.
1228 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

— F. Itnray — 1884.
The seamerís to the Atlantic Ocean J.
guide
— Findlay — 1899.
South Atlantic Ocean

sur les cotes du Brésil — Mouchez — 1890.


Instructions nautiques

das Rocas — Engenheiro M. da Conceição


O baixo J. Júnior.

Rocas — Coronel Engenheiro de Sousa Meio Alvim.


As João
atol das Rocas — Augusto Vinhais.
O

atol das Rocas — Ascânio de Faria e Demócrito Silva.


O

às Rocas — Capitão-Tenente Duarte.


Uma viagem João
— Regueira Costa — Revista Marinha
Sobre o atol das Rocas
— 1938.

Curso de Oceanografia — Capitan de Fragata E. Canepa.


Juan

Geologia — Branner.

Zoologie — Remy Perrier.


— de Hidrografia — Cap. Tíe. Ary Ron-
Oceanografia Curso
— 1935.
gel
....Relatórios de navegação do N. F. Vital de Oliveira de 1934

e 1936.

de viagem — Io Tte. Miguel Magaldi.


Notas

Brasil — Diretoria de Navegação — 1936.


Roteiro do

Hidrográficos — Tomo VI — 1938.


Anais

Nas águas da Gasconha — Comte. Dídio Costa.

Museu Nacional.

Serviço Geológico e Mineralógico.

Osmar Almeida de Azeredo Rodrigues

CAPITÃO-TENENTE

Não podemos deixar de registrar aqui o nosso agradecimento ao Coman-

dante Dídio Costa, Chefe da 4* Divisão do Estado Maior da Armada, sob cuja

orientação, esta Revista e a Biblioteca da Marinha, tanto incremento têm tido,

pelo estímulo e atenção com que sempre nos distinguiu quando da elaboração

do presente trabalho, tudo facilitando para que, com as nossas investigações,

históricas e científicas, conseguíssemos atingir o nosso objetivo.

O.A.A.R.
GST1D! COifllTlVO EUR OS MSB

djis mm hub no um

MGEHTIM S m

(Continuação) (*)

CHILE

3." ANO

ÁLGEBRA SUPERIOR E ELEMENTOS DE GEOMETRIA

ANALÍTICA

ÁLGEBRA SUPERIOR.

Equações redíutiveis do 2." — Equações biquadradas, recíprocas, bi-


gráu
nômias, trinômias e simultâneas.

Aplicações das propriedades dos polinômios idênticos e dos coeficientes

indeterminados — Fracções parciais.

Desigualdades do 1.° gráu.

Propriedades das raises das equações de 2° gráu.


— *
Variação das funções Função binômia do 1.° gráu e do 2° gráu. Re-

presentação gráfica dessas funções. Ligeira idéia sobre o limite de uma


variável e de uma função. Variações, combinações e permutações.

Teor ema do binômio — Propriedades dos coeficientes dos binômios. Em-

prégo do binômio para achar resultados aproximados.

Séries — Alguns reconhecer se uma é diver-


princípios que permitam série

gente ou convergente. Séries exponencial e logaritmica.


"
Livro texto: Cours d'Algèbre Elémentaire" F. G. M.
por

C1) Vide número Março-Abril de 1940.


1230 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

ELEMENTOS DE GEOMETRIA ANALÍTICA.

Projecções.

Coordenadas; o ponto.
Funções: sua representação.

Linha recta.

Círculo.

Coordenadas polares.
Transformação de coordenadas.
"Elementos
Livro texto: de Geometria Analítica" por G. M. Bruno.

TRIGONOMETRIA PLANA E ESFÉRICA

TRIGONOMETRIA PLANA.

Determinar a distância de um ponto accessível a outro inaccessível. Dis-


tância entre dois pontos inaccessíveis. Alturas. Problema da carta. Outros

problemas.
Problemas das bissectrizes dos círculos inscritos, circunscritos e ex-inscri-
tos, das transversais médias e alturas em função dos elementos do
principais
triângulo. Expressar os diferentes elementos de um triângulo em função
dos ângulos e do raio do círculo circunscrito. Problemas sobre aplicação da
Geometria plana e do espaço.

TRIGONOMETRIA ESFÉRICA.

Definições. Terminologia. Propriedades do triângulo Proprieda-


polar.
des do triângulo esférico.

Relações fundamentais entre os lados e ângulos nos triângulos esféricos


obliquângulos. Teoremas dos senos, dos cosenos e da relação entre os quatro
elementos contíguos. Analogias de Neper.

Da fórmula dos cosenos deduzir a fórmula do seno verso usada em Na-


vegação. Aplicação da fórmula do seno verso na resolução de triângulos
esféricos. Casos particulares. Triângulos esféricos rectângulos. Regras de
Manduit. Aplicação da trigonometria esférica aos de Navegação.
problemas
"Elementos
Livro texto: de Trigonometria" H.
(Colecção E. C.).
"Trigonometria
Problemas do texto: esférica" de C. Warguy.

MECÂNICA

Definição de Mecânica — Fôrça. Efeitos, medida e definição.

Acções e reacções. Tensão e compressão.

Composição e resolução de — Representação de uma fôrça.


forças gráfica
Paralelogramo de forças. Determinação da resultante cálculo e método
por
gráfico.
estudo comparativo 1231

Equilíbrio — Três forças concurrentes. Triângulo de forças. Relação

das forças e ângulos. Forças paralelas. Condições de equilíbrio. Conjugado.

Centro de gravidade de secções e corpos. Polígono de forças. Condições de

equilíbrio em forças concurrentes e não concurrentes (pelo método


geral para

analítico).

Movimento — Velocidade uniforme e variável. Movimento uniformemente

acelerado. Aceleração. Velocidade média. Equações para o movimento acele-

rado. Projectís e sua trajectória.

Forças movimento — Massa. Pêso. Relação com a fôrça


que produzem
em acção e com a massa em movimento. Unidades de fôrça e de massa.

Aplicação da equação f = ma. Movimento num plano inclinado. Máquinas

de Attwood.

Trabalho, e energia — Definição de trabalho, energia


potência potência,

cinética e energia potencial. Unidades. Conservação da energia. Transforma-

ção da energia. Impulso. Choque.

Movimento angular e circular — Velocidade angular. Aceleração angular.

Fórmulas correspondentes às do movimento linear. Deslocamento horizontal

de um considerado na circunferência em movimento circular. Movimento


ponto
Período, freqüência, amplitude, deslocamento. Translação e rotação.
periódico.
Centro instantâneo.

Atrito — Leis. Coeficiente de atrito. Equilíbrio em planos inclinados.

Movimento em inclinados. Dinamômetros. Freio de Prony.


planos

Máquinas simples — Vantagem mecânica. Razão de velocidade. Eficiên-

cia. Alavancas. Balanças. Polias. Tornos. Rodas dentadas. Engrenagens.

Talhas. Cábreas. Obter a relação entre pêso e esforço quando ha uma série

de leituras.
"Elementos
Livros texto: de Mecânica" por J. M. Jamieson e
"Examples
Problemas: irt Applied Mechanics".

Anexo a êste ha outro de Prática Experimental em


programa

Mecânica, duas horas em cada 15 dias e consta do


professado que

seguinte: í

— Triângulo de forças.

— Polígono de forças.

— Forças concurrentes.

— Forças paralelas.

— Plano inclinado.

— Torno.

— Talhas.

— Polia móvel.

— Pêndulo.

10 — Cálculo de gravidade.
11 — Máquina de Atwood.

12 — Balística elementar.

13 — Queda d'água.

14 — Equilíbrio dos corpos flutuantes.


1232 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

FÍSICA

— — Propriedades dos líquidos e da


]Hid<rostática propagação pressão
nos mesmos. Prensa hidráulica. Pressão e fôrça sôbre o fundo. Vasos

comunicantes. Pressão lateral. Pressão de baixo para cima. Empuxo. Prin-

cípio de Arquimedes. Corpos flutuantes. Metacentro. Determinação da

densidade dos corpos sólidos e líquidos.

— Aerostática — Propriedades dos Pressões exercem os


gases. que

gases sôbre as paredes dos vasos que os contêm. Atmosfera e pressão atmos-

férica. Barômetros de cuba, de Fortin e de Gay Lussac. Barômetros ane-'

roides, barógrafos ou barômetros registradores. Variações da pressão


atmosférica. Aplicações da pressão atmosférica: pipeta, sifon, bombas

aspirante e calcante. Lei de Mariotte e suas aplicações. Medidor de profun-

didades. Máquinas pneumáticas. Ar comprimido e suas aplicações. Princí-

pio de Arquimedes para os gases. Balões aerostáticos e dirigíveis.

— Calor — Dilatação dos corpos. Termômetro centígrado e Fa-

renheit. Termômetro de máxima e mínima. Dilatação dos corpos sólidos.

Diiatação linear. Pêndulo compensador. Dilatação cúbica. Variações da

densidade. Dilatação dos líquidos. Correção de dilatação da altura baromé-

trica. Anomalia da dilatação da água. Dilatação dos gases. Lei de Gay

Lussac. Densidade dos gases em qualquer pressão e temperatura. Mudança

de estado dos corpos. Fusão e solidificação: leis. Quantidade de calor

c calor específico. Propagação do calor por condutibiüdade. Fontes de calor.

— Capilaridade — Seus fenômenos e leis. Osmose.

— Teoria das ondas.

— A dística — Produção de ruidos e sons. Propagação e intensidade

do som. Reflexão. Éco. Altura. Sereia de Cagnard de la Tour. Escalas

musicais; intervalos. Nota normal e número absoluto de oscilações dos sons.

Limites dos sons perceptíveis. Comprimento de onda dos sons no ar. Instru-

mentos musicais. Instrumentos de cordas. Hastes. Diapason. Placas e

sinos. Tubos sonoros de boca. Tubos de palheta. Ressonância. Ressonadores.

Interferência. Voz humana. Fonógrafo. Ouvido humano. Noções sôbre

os raios ultra-sonoros e suas aplicações à marinha.

— Instrumentos náuticos relacionados com os diferentes pontos do

programa.
"Física
Livro texto: experimental" por Ziegler e Gostling.
"Problemas
Exercícios: de Física" por Mahler.

QUÍMICA

1 — A inorgânica e a orgânica.
química química

Carbono — no estado nativo e carvão amorfo).


(diamante, grafite

Carvões fósseis: classificação, exploração, usos. Carvão de lenha. Car-

vão pulverizado. Carvão de ossos.


ESTUDO COMPARATIVO 1233

Alguns problemas sobre a quantidade de calor que se desprende da com-


bustão. Quantidade de gases com a aplicação da lei sobre os gases.
Anidrido carbônico, ácido carbônico e carbonatos. Soda. Potassa
e bicarbonatos.
Extinção química dos incêndios.
Oxido de carbono; os gasógenos.
Sulfureto de carbono, fósgeno.
Ácido cianídrico e cianuretos.
Hidrocarburctos acíclicos.
Parafinas — Petróleo (origem, extração, distilação e refinação).
Óleos para diversos fins.
Gás de iluminação. Alcatrão.
- Olefinas:
Acçtilenos — Gás acetileno e carburetos.
Alcoáis — Álcool etílitico, fermentação e bebidas alcoólicas. Glicerina.
Compostos halogêneos, clorofórmio, gás de Ypres (gases asfixiantes).
Éteres. Éter sulfúrico.
Ácidos orgânicos. Ácidos fórmico, acético, palmítico, esteárico e oleico.
Esteres. As gorduras, os sabões, a nitroglicerina.
— Hidrocarburctos cíclicos — Benzeno, tolueno, xileno, etc.
Fenóis. Ácido fênico. Creosoto.
Nitro compostos.
Ácidos aromáticos. Ácido benzoico, ácido salicílico, aspirina.
Hidratos de carbono — Os açúcares, amido, celulose. Papel, nitrocelulose,
celulóide, seda artificial.
— Explosivos orgânicos c inorgânicos — (Generalidades) — Natureza,
classificação e característicos.
Esteres nítricos — Algodão pólvora, nitroglicerina, dinamites. Gela-
tinas explosivas.
Corpos nitrados aromáticos — Ácido píerico, picratos, trotil, etc.
Pólvoras nitradas — Pólvoras sem fumaça.
Pólvora negra.
Oxiliquita.
Explosivos detonantes e estopilhas — Pirotécnica.
— Propriedades gerais dos metais c preparação.
Sódio e potássio: preparação e propriedades.
Soda cáustica e potassa.
— Cálcio — Cal viva, cal extinta, cimentos, carbonato de cálcio e gesso.
Bário-Litipon.
— Metalurgia e ligas.
Cobre: sua metalurgia e propriedades. Cobre electrolítico. Gal-
vano técnica.
Bronzes e latões. Sulfato de cobre.
__ Prata — Sua metalurgia e suas ligas. Nitrobromurcto de prata.
1234 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Fotografia. Prateação galvânica. Equivalente electroquímico da prata


e teoria moderna.

— Magnésio.

Zinco — Metalurgia e ligas.

Mercúrio —• Amalgamas. Calomelanos e sublimado corrosivo.

— Estanho — Preparação e ligas.

Chumbo — Metalurgia, usos e ligas. Alvaiade, mínio.

Principais substâncias corantes inorgânicas.

10 — Alumínio — Ligas. Aluminiotermia.

Manganês — Permanganato de potássio.


11 — Cromo —• Ligas. Cromagem.

12 — Ferro — Estado natural, metalurgia fornos). Fundição cin-


(altos
zenta e branca. Ferro doce (processo Bessemer e processo Siemens).

Vários tipos de aço. Pintura, azulado e burnido do ferro. Ferro asmal-

tado. Clorureto e sulafto ferroso. Azul da Prússia.

13 — Níquel — Metalurgia. Principais ligas. Niquelado galvânico.


Cobalto.

Ouro. Platina. Gases nobres.

Nota — O ensino desta matéria deve ser constantemente orientado no

sentido de sua aplicação à marinha de guerra.

No ramo de Humanidades o terceiro ano da Escola Naval Chi-

lena compreende ainda o estudo de Castelhano — Inglês —- Francês

— História e Geografia — Filosofia e Instrução Cívica de cujos

programas não nos ocuparemos, ou não terem similar nas escolas


por

do Brasil e da Argentina, ou se tratar de matérias apenas com-


por

plementares, sem mais interêsse técnico.

No ramo profissional são os seguintes os assuntos estudados no

3° ano da Escola Naval Chilena e êstes resumidamente os seus pro-

gramas:

NÁUTICA

— Embarcações miúdas.

Seu aparelho — Sua manobra — Talhas comuns de Manobra


e patente .
de âncoras com embarcações.

II — Classificação dos navios.

Diversos tipos de navios de guerra e mercantes.

Estaleiros. Carreiras de construção. Diques sêcos e flutuantes. Arse-

nais. Docas. Molhes.

Dos navios a vapor e a vela.

III — Acção impulsiva do vento nas velas e obras mortas.

Efeito do vento no velame. Acção do vento sobre as obras mortas. Acção


das ondas sobre o casco ou carena.
i ESTUDO COMPARATIVO 1235

IV — Resistência que opõe a água ao movimento dos navios.

— Posição de equilíbrio nos navios a vapor ou a vela.


Influência que tem na marcha e evoluções de um navio. Pairar. Capear.

VI — Manobras de navios a vela.

Considerações sòbre a navegação a vela com mau tempo.

VII — Manobras com aparelho.

Largar. Caçar. Amurar. Carregar. Ferrar. Zarpar. Rizar. Bracear.


Pairar. Equilíbrio das velas. Capear. Correr com o tempo.

VIII — Dos navios a vapor.

Dados práticos para o conhecimento das qualidades evolutivas ou mari-


nheiras de um navio a vapor.

Meios de propulsão e manobra nos navios a vapor.

Efeito da corrente, do vento, do mar e da da água


pouca profundidade
nas evoluções de um navio.

IX — Âncoras e amarras.

Diversos tipos de âncoras. Funcionamento dos aparelhos de fun-


geral
dear. Modo de fundear, de suspender e de espatilhar a âncora. Boias
e arinques.

— Fundear.

Considerações sobre • os fundeadouros. Diversos modos de fundear.


Amarrar a uma boia. Atracar a um cáis, fundeando uma âncora. Garrar.
Advertências.

XI — Regulamento para evitar colisão no mar.

Regras relativas à navegação em portos e canais. Sinais de perigo


e de auxílio.

DESENHO

Desenho de máquinas. Rascunhos de peças mecânicas simples, Rascunhos


a lápis e em papel quadriculado. Rascunhos cotados, desenho em escala, de

peças simples.

Exercícios sobre perfis e secções.

OFICINAS

AJUSTADOR

Mudar a secção circular de uma peça de ferro para quadrada usando como
ferramentas o martelo, cinzel e buril.

Fazer um prisma recto de secção octogonal, com suas faces a esquadro

e a desempeno, usando unicamente a lima.

Confecção de esquadros, chaves, tesouras para cortar folha, compassos, etc.

Roscar (interior e exteriormente).

Ajustar dados dos sectores.

Riscar a esquadro e desempeno um sector para mudança de marcha.


1236 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"Plano
No relativo ao de Estudos" na Escola Naval do
quadro

Chile estão mencionados os exercícios levados a efeito no terceiro

ano. Dêste somente nos interessa, comparação, o de


para programa

sinais, que é o seguinte:

— Sinais por bandeira (1 hora semanal) .

Conhecimento do Código Nacional de Sinais e prática do mesmo.

—• Semáforo hora semanal; recepção diária de 10 minutos de duração).


(1

Receber 15 palavras por minuto e transmitir com a mesma velocidade.

Sinais usados.

Partes de que se compõe uma mensagem.

— Cintilação (1 hora semanal; recepção diária de 10 minutos).

Receber 8 palavras por minuto e transmitir com a mesma rapidez.

Receber 15 sinais, letras e números mesclados por minuto.

Partes que compõem uma mensagem.

( Continha)

RENATO BAYARDINO
REVISTA DE REVISTAS

— A Alemanha e as matérias — Bóias soldadas —


Sumário primas

navais dos Unidos — Navios mercantes


Programas Estados

afundados até 30 de Dezembro de 1939 — A de wions-


procura

tros submarinos — Bncouraçados de bolso e cruzadores ligeiros

—¦ Problemas de — A borracha sintética nos Estados


pesca

Unidos — Os estudos metereológicos da expedição Byrd no

Antárctico — Nova orientação na construção dos grandes paquetes

Aumentará deslocamento dos encouraçados? — A defesa


o

contra as minas na Suécia — Resultado da ao tráfego


guerra
— novos encouraçados italianos — Marinha Espa-
marítimo Os

nhola — Varredores de minas, britânicos — Marinha da Bélgica

Neutralidade chilena — Vedetas torpedeiras e caça-submari-

nos — a Marinha Germânica — Guerra —


Sobre pelo petróleo
"General
Construção naval na Argentina •—¦ Navio-escola Ba-

— Marinha da Irlanda — Recuará o Japão na Chinaf


quedano"
Cruzadores de batalha a Marinha da Holanda — A sobe-
para

rania da Groenlândia.

A ALEMANHA E AS MATÉRIAS PRIMAS

A Revue des Deux Mondes publica em seu número de 15 de De-

zembro um artigo do Serrigny no êsse competente mili-


general qual

tar se manifesta contra as ilusões franco-britânicas de uma fácil vitó-

lia em conseqüência da escassez de matérias na Alemanha;


primas

lembra aquele os como os indivíduos, quando


general que povos,

ameaçados em sua existência, conseguem freqüentemente encontrar

em seu a solução vencer as mais ásperas dificuldades.


gênio para
1238 REVISTA marítima brasileira

As matérias necessárias a efetivação


primas para da guerra são

em número de trinta e e delas em apenas


quatro quatro, possue a
Alemanha capacidade às suas necessidades
para prover enquanto
que
tem absoluta falta de vinte e sete outras. A-pesar disso seria um

erro acreditar a Alemanha se tivesse lançado em


que uma sem
guerra

precaver-se. Do mesmo modo os alimentícios


que gêneros foram

1 acionados, de três anos ca vem sendo requisitados


para os menores
objetos de ferro, aço, cobre e níquel; simultaneamente foram aumen-
tadas as importações de matérias
primas. O autor ilustrar a
procura
situação do Reich respondendo aos seguintes
quesitos: Qual o valor

das reservas relativamente às necessidades da guerra? Qual a con-

tiibuição a nacional dar à defesa do Reich?


que produção pode

A produção nacional do ferro é de 11 milhões de toneladas e

não pode ser aumentada. Acrescentando as reservas, o general Ser-

rigny calcula a Alemanha tenha entrado em tendo, no


que guerra
máximo, 31 milhões de toneladas de minérios de ferro correspon-

dentes a um ano de consumo em tempo de e a 8 ou 9 meses de


paz

beligerância, na hipótese de esta não conserve a atual forma


que

apática. Por efeito do bloqueio os suprimentos à Alemanha íicaram

limitados ao Luxemburgo e à Suécia; uma vez fechado este último

mercado, a Alemanha não disporia de outra fonte de abastecimento,

a não ser a Ucrânia russa com a sua anual de 16 milhões


produção

de toneladas de minério de ferro. O autor, considera impro-


porém,

vável os Soviets e ceder uma importante


que queiram possam parte

de seus recursos siderúrgicos são integralmente absorvidos


que pelas
suas indústrias.

Ainda mais difícil é a situação relativa ao abastecimento dos

outros metais necessários para as indústrias de exceção feita


guerra,

do zinco e do mercúrio. A Alemanha extrái anualmente de seu solo

apenas 28.100 toneladas de cobre, metal de suprir-se na


que pode
Iugoslavia, entretanto, declarou ter resolvido subordinar as
que, já

exportações às suas próprias necessidades e ainda mais sob a con-

dição de que os compradores forneçam os meios de transporte e

paguem de contado ou pelo sistema do clearing.

Para os metais raros, entre os os minérios de crômo e de


quais

níquel, a Alemanha é tributária dos de ultramar; isso,


países por
desde 1937 vem intensificando suas importações, mas, atualmente, o

bloqueio impede novos suprimentos. Por conseguinte,


quaisquer pre-
REVISTA DE REVISTAS 1239

sume o General Serrigny que, prolongando-se o conflito, a eficiência


do material de guerra do Reich deverá sentir as conseqüências.
O terceiro problema grave é o dos combustíveis líquidos, dado o
desenvolvimento da mecanização e da motorização. O autor avalia
em 12 milhões de toneladas por ano as necessidades da Alemanha.
Somando as reservas presumíveis à quantidade proveniente das pes-
quizas intensificadas no sub-solo e à produção sintética, o Reich dis-
poria para o primeiro ano de guerra, de cerca de 4.300.000 toneladas.
Tendo sido fechadas as vias marítimas, o abastecimento da Ale-
manha deve recorrer à Rumânia e à Rússia que produzem respectiva-
mente 5.700.000 tons. e 29.000.000 de tons. A posse integral da pro-
dução rumaica não poderá ser obtida sem conbate. Os anglo-france-
ses confiam que, em circunstâncias desesperadas, a Rumânia tornará
inutilizáveis por longos meses os poços petrolíferos e as respectivas
instalações. Resta, portanto, a Rússia, mas o autor duvida que os
Soviets tenham a possibilidade de ceder em tempo de guerra uma
parte importante de sua produção, pois que em tempo de paz a quatv-
tidacle de petróleo exportada limita-se a algumas centenas de milhares
de toneladas. O rendimento da exploração poderá ser aumentado sob
a direção de técnicos alemães mas os benefícios da organização não
poderão ser conseguidos em pouco tempo.
A maior parte da produção vem do mar Cáspio para o centro da
Rússia pelo Voíga. De Nijni-Novgorod um canal íeva os produtos
para Moscou, que um outro canal comunica com Leningrado. As es-
tradas de ferro soviéticas são incapazes de dar vasão a um aumento
do tráfego para o poente e por conseguinte o abastecimento da Ale-
manha deve ter lugar pelos canais referidos e depois através do Bál-
tico. Por este mar devem, portanto, passar os minérios de ferro
suecos e o petróleo caucásico; por esse motivo o Báltico tem uma
importância vital para a Alemanha. Por sua vez, o abastecimento dos
exércitos soviéticos da Europa, depende das possibilidades de trabalho
e da segurança dos transportes na região compreendida entre o
Caucaso e o golfo Pérsico, que constitue o calcanhar de Aquiles do
colosso moscovita.
O principal produto da Alemanha é o carvão fóssil; enquanto
que em 1914 servia apenas para alimentar os altos fornos e as estra-
das de ferro, hoje é base da autarquia, cobrindo os 9/10 das necessi-
dade de energia do Reich. Disso derivam múltiplos e complexos pro-
1242 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

limites são de 26 anos para os encouraçados, 20 para os porta-aviões

e cruzadores, 16 para as demais unidades de superfície e 13 para os

submarinos.

A execução do programa em apreço levará a Marinha Americana

a o das unidades de combate da Marinha Ger-


possuir quádruplo

mânica, mais do triplo das da Itália, cerca do triplo das da França e

muitas vezes a da Rússia. Acredita-se será provavelmente cerca


que

de 800.000 tons. maior do as forças navais do Japão, embora o


que

de construções dêsse seja conservado absolutamente


programa pais

secreto.

Na execução do programa naval do corrente ano financeiro foram

conservadas em suspenso as ordens para os 2 cruzadores (Cleveland

e Colúmbia), afim de serem re-examinadas suas características que

são em última análise as do tipo Helena melhorado, tendo em vista

os desenvolvimentos dados no estrangeiro a navios idênticos.

Com referência ao adiamento de uma decisão concernente aos

planos e características dêsses cruzadores, originàriamente projetados

para 8.000 tons. de deslocamento, Mr. Edison, Secretário da Ma-

rinha, informou o Conselho Superior da Marinha tem o assunto


que

em estudos mas que não foi tomada nenhuma decisão que pudesse

significar uma alteração radical do tipo. Incidentemente acrescentou

que nenhuma alteração foi prevista nos planos dos novos encouraçados

de 45.000 tons. como conseqüência de aperfeiçoamentos realizados no


"Considero
estrangeiro. O Ministro declarou: a frota dos Es-
que

tados Unidos e os vários tipos de unidades a compõem são um


que

bom resultado de uma experiência de número de anos e nós


grande

não desejamos alterar os estabelecidos sem


precipitadamente planos

uma ampla justificação, em virtude de desenvolvimento não prova-

dos que apresentar-se na atual".


possam guerra

Marittima, Fevereiro de 1940).


(Rivista
REVISTA DE REVISTAS 1243

NAVIOS MERCANTES AFUNDADOS ATÉ 30 DE

DEZEMBRO DE 1939

Encontrámos na Rivista Marittima a seguinte tabela, publicada

na Lloyd's List e condensa todas as sofridas marinha


que perdas pela

mercante mundial até 30 de Dezembro, em virtude do conflito entre

os aliados e o Reich:

Bandeira Número Desloc. bruto

Britânica 111 421.974

Francesa . 12 56.106

Polonesa . 1 14.294

Bandeira Numero Desloc. bruto

Belga 9.350

Dinamarquesa .. 22.333

Holandesa 39.243

Estoniana 396

Finlandesa 11.919

Grega 42.686

Italiana 9.339

Japonesa 11.930

Liluana 1.566

Norueguesa .... 23 61.903

Panamense 757

Russa 963

Sueca 19 34.629

Iugoslava 6.371

Total sob bandeira neutra 83 253.390

Total sob bandeiras aliadas e neutras 207 745.764

Total sob bandeira alema 22 136.317

229 882.081

À PROCURA DE MONSTROS SUBMARINOS

Monstros fantásticos e acaso, recursos ilimitados de ouro, de

cobre e de outros metais, ou só água e trevas ?...


gelada profundas

Êsse é o enigma que envolve o fundo do oceano nas profun-

didades ainda não atingidas e que talvez a atual consiga


geração

resolver.
1244 REVISTA marítima brasileira

Dentro de poucos meses, o Dr. Augusto Piccard, o conhecido

cientista belga, explorador da estratosfera, pretende descer a sete

milhas no oceano, onde reina a mais completa treva, para o fim de

solucionar essa questão que intrigou a ciência durante séculos.

"Colombo
O do espaço", como êsse cientista é apelidado, espera

encontrar numerosas espécies de fantásticos peixes luminosos, assim

como bizarras e monstruosas criaturas.

A coisa mais maravilhosa dessas misteriosas regiões, diz êle, são

os peixes luminosos.

Os raios do sol só atingir até centenas de


podem poucas jardas

nágua, e, por conseguinte, os animais vivem nas trevas terão o


que

dom natural de êles à iluminação do ambiente.


prover, próprios,

Êsse dom é assombroso e não ha engenheiro haja feito coisa


que

melhor e mais prática...

Os relatórios de submarinas fazem surgir o empol-


pesquisas

desejo de explorar as regiões misteriosas, belas e horríveis ao


gante

mesmo tempo; até agora, permanecem na imaginação...

Atualmente, o ilustre cientista está entretido no acabamento do

seu balão submarino, com o qual descerá aos abismos.

Êsse balão é baseado nos mesmos regeram o


princípios que

balão com que êle explorou, ha dez anos, a estratosfera.

Desta vez, a exploração será feita ao inverso.

Como preparativos para a extraordinária exploração, Piccard

construiu dois modêlos. Um deles é uma esfera ôca, feita de eletron

— uma combinação de magnésio com alumínio — foi submetido


a um teste pela terrível pressão que deve suportar a cinco milhas de

profundidade. O outro, todo de aço acha-se apto a resistir à pressão

que houver a sete milhas de profundidade.

Ao balão esferóide será aplicado, iman eletro-magnético, um


por

lastro, controlado do interior. Os depósitos de água serão prétnchi-

dos ou esvasiados sob controle do professor ou do seu assistente, para

regular a velocidade.

Ha, na esfera, baterias de acumuladores suprir luz e força,


para

assim como provêr à fraquíssima corrente necessária manter


para

a força ao iman sustenta o lastro 110 fundo exterior do balão.


que

No caso em o balão se encontre entre os sargaços,


que prêso poderá
REVISTA DE RÉVISTAS 1245

libertar-se fazendo desprender o lastro. Êsse alívio de lançará


peso

o balão à superfície.

No interior da esfera o Piccard levará os mesmos


professor

aparelhos dos se serviu explorou a estratosfera. Ha-


quais quando

verá máquinas o ar, tanques de reserva oxigênio,


para purificar para

instrumentos medição da e da rapidez de descida


para profundidade

ou de subida.

Ha um carregamento especial e auxiliar, como a câmara cinema-

tográfica, o rádio e acessórios.

O rádio servirá, além de outros usos, advertir o navio da


para

posição em que se encontra a esfera, subir à superfície.


quando

Cristais de grande resistência assentados nas vigias darão vista

para o exterior, auxiliada holofotes, o ao


por poderosos que permitirá

professor fotografar os peixes e monstros luminosos.

Os cientistas poderão flutuar livremente a qualquer profundidade

para as suas observações, isso, a reserva de ar condi-


pois que, para

cionado consentirá a respiração, devido à reserva de oxigênio. O fí-'

síco está certo de o balão livre é o único meio de explorar as


que

profundezas do mar, ao passo que a batisfera constitue uma des-

vantagem o cientista. O do cabo de sustento e mais do


para pêso

aparêlho impedem sua descida a se


para profundidade que quer

atingir.

Ha alguns anos o professor Beebe serviu-se da batisfera para

descer mais meia milha, no mar das Bermudas, e descreveu


pouco que

os e os organismos encontrou, muito dêles bem coloridos


peixes que

e luminosos, completamente desconhecidos o mundo científico.


para

"Num — —
espaço, escolhido para ensaio diz êle contei 46 luzes,

entre elas, dez eram de dimensões fora do comum, a maioria de côr

amarelo-pálida e azuladas. A 1.900 vi novo e esplêndido


poucas pés,

peixe, redondo, com uma série continua de nadadeiras verticais.


quasi

Tinha ôlho bôea média e nadadeiras


grande, pequenas peitorais.

Ao longo dos lados do corpo possuía cinco incríveis fileiras de

pontos luminosos, uma equatorial, duas curvadas a frente e


para
duas trás.
para

Desde Beebe viu essas criaturas fantásticas a meia milha de


que

profundidade, é de se supôr que não será difícil para o professor

I R. M. B. 7
1246 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

A — Disposição para pressão; D — Suprimento de oxigênio para


24 horas; B — Holofote; E — Radio; C — Janelas de observa-
ções; F — Escotilha

Gráfico do balão esférico submarino, no qual o professor Augusto


Piccard pretende chegar a sete milhas de profundidade no oceano
REVIStA Í)F. RIÍVISTAS 1247

Piccard encontrar monstros de maiores proporções quando alcançar

maiores profundidades.

Boa de aguarda com muito interesse a expio-


quantidade geólogos

ração do êles acreditam que a maioria do ouro, do


professor, pois

cobre e outros metais existam no fundo do mar, sendo levados à terra

água se introduz nas fendas.


pela quente que

Durante milhões de anos devem ter-se depositado esses metais no

fundo do mar. É o Piccard descubra as


possível que professor

imensas riquezas reservadas à humanidade, e até agora não


que

foram tocadas.

do Brasil 17-3-40).
(Jornal

ENCOURAÇADOS DE BOLSO E CRUZADORES LIGEIROS

A eficiência bélica dos navios de 10.000 tons. do tipo Deutschland

foi exagerada imprensa francesa, nos últimos anos, com o fito


pela

de a necessidade da construção de cruzadores de batalha de


justificar

26.000 tons. tipo Dunkerque. Atualmente tanto na Inglaterra como

na França, afim de exaltar o sucesso obtido cruzadores ligeiros


pelos

Exeler, Ajax e Achilles, no combate naval de 13 de Dezembro ao

largo do Rio da Prata, insiste-se no fato de o Graf Spec era con-


que

siderado como encouraçado. O Almirante Richard, no número de

da Revue dcs de defense nationale resume os pri-


Janeiro Questions

meiros informes sobre o desenrolar da batalha e se a retificar


propõe

o sôbre as condições de relatividade das forças em luta,


julgamento

respondendo àqueles fazem a seguinte Como é pos-


que pergunta:

sivel um encouraçado alemão, tendo encontrado simples cruzado-


que

res ligeiros, muito menos armados, tenha ser atacado por êles
podido

e avariado de ver-se obrigado a bater em retirada e a refu-


ao ponto

em um neutro? É essa a famosa espinha dorsal das


giar-se pôrto

frotas ?

O Almirante Richard destruir a espécie de lenda criada


quer

em tôrno da dos encouraçados de bolso considerando,


potencialidade

com razão, tais navios nada têm de misteriosos; como todos os


que
navios de êles representam uma acomodação entre o arma-
guerra,

mento, a e a velocidade.
proteção
1248 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

No limite de 10.000 tons. o Tratado de Versailles fixou


que

como máximo para os encouraçados germânicos, os construtores tive-

ram de elaborar uma acomodação particularmente difícil: a proteção

foi sacrificada ao armamento e, em menores proporções, a velocidade.

Os navios do tipo Graf Spee, embora sendo armados com canhões

de calibre (VI-280 mm) não são verdadeiros encouraçados,


grosso

a extensão e espessura do encouraçamento não permitem


pois que

receber, nas distâncias médias de combate, os projetis de 203 mm e

nem mesmo os de 152 mm. Por outro lado esses navios não são

também verdadeiros cruzadores, pois a sua velocidade máxima


que
— 26 nós — é muito inferior à dos cruzadores ligeiros construídos

depois de 1920. Por esses motivos afirma o Almirante Richard


que:

Io — • Os navios do tipo Graf Spee constituem um tipo híbrido


"um
que a rigor se pode definir como pequeno cruzador lento e

pouco protegido, armado com artilharia de grosso calibre;

2° — A única vantagem um Graf Spee sobre um


que possue

cruzador armado com canhões de 203 mm., é constituída pelo maior

alcance de seus canhões e pela maior eficácia de cada tiro;

3o — Nos limites de distância, no combate entre navios


práticos

ligeiramente o canhão de 280 mm. não apresenta uma


protegidos,

superioridade real sobre o de 203 mm.;

4o — Graças à vantagem da velocidade, os cruzadores


grande

têm a possibilidade de diminuírem a distância de combate para aumen-

tarem a probabilidade de acertar.

Isto posto, conclue o autor que não é justo acreditar no com-


que

bate de Punta dei Este existisse superioridade parte dos alemães.


por

(Kivista Marittima, Fevereiro de 1940).

PROBLEMAS DE PESCA

a) A marítima tem o imperioso dever de suprir regular-


pesca

mente o mercado de peixe, mas essa regularidade é praticamente

impossível; por vezes as entradas escasseiam, por vezes abarrotam o

mercado. Para evitar o congestionamento, a Alemanha havia inten-

si ficado a fabricação de farinha de peixe, que sempre teve grande


REVISTA DE REVISTAS 1249

procura 110 país. Passou-se, com efeito, de 55.000 toneladas em 1937

para 75.000 em 1938. O empregado nessa indústria não


peixe pode,

porém, ser vendido pelo mesmo preço de quando fresco destinado

ao consumo; a entrega às fábricas, conseguinte, acarretaria


por gra-

ves perdas os armadores se a Zorner, Diretoria da Pesca


para (Ges-

chaftsfuhrer der Hauptvereinigung der Deutschen Fischwirtchaft)

não tivesse determinado que o mais baixo as fábricas


preço que podem

pagar fosse aumentado de modo a sensíveis aos


poupar prejuízos pes-
"consumidores
cadores. É necessário outro lado os se habi-
por que

tuem a utilizar algumas espécies ictiológicas menos em


procuradas,

vez de com insistências as mais raras". Dêsse modo será


procurar

consumida do do contrário teria de ir as


parte pescado que para

fábricas de farinha;

b) Os campos de do mar do Norte tem vindo se esgo-


pesca

tando de modo na Alemanha (bem como na


progressivamente, que

Inglaterra e na I"'rança) o raio de ação do chalutier tem aumentado;

éle alcança atualmente as costas da Noruega, o Spitzberg, etc. Mas

essas longas viagens não convém para a conservação do pescado, de

modo que o estado do produto ao ser descarregado é, por vezes, du-

vidoso. É certo foram estabelecidos especiais para a


que preços

venda do de regiões mais afastadas, mas muitas


peixe proveniente

vezes tem sido necessário retirar da venda e confiscar uma parte

importante da Tentou-se, conseguinte, uma inovação:


pesca. por

preparar dirètamente a bordo das embarcações que freqüentam águas

afastadas, ou de congeladas também farinha).


filets postas peixe (e

Em Agosto de 1939 o se a consagrar


governo germânico propunha

110 orçamento uma verba de dez milhões de marcos a instalação


para

de aparelhos frigoríficos em todos os chalutiers nos mares


que pescam

boreais; seis horas depois da captura o deverá estar não somente


peixe

congelado mas também devidamente acondicionado. Os e


filets

postas poderiam ser conservados durante um ano e 40 do total


%
serão destinados ao Exército.

Um navio de — o Harvestehude, da Hamburg Andcrscn


pesca

de Hamburgo, 52m x 8,40 x 3,80; máquina a vapor de


(dimensões

750 HP.; 12 nós de velocidade; capacidade de combustível 220 tons.

c!e carvão; consumo diário 8,5 tons.) —¦ foi escolhido expe-


para

riências destinadas a determinarem o aparelho de congelação


qual

mais eficiente. Estava-se, além adaptando navio —


disso, um o
1250 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Adolf Lconhardt — para servir como tender de uma flotilha de pes-


cadores que lhe entregariam os peixes para serem congelados ou trans-
formados em farinha. A guerra, porém, interrompeu provável-
mente tais experiências (Pêchc Maritime) e de resto sabe-se que o
Adolf Leonhardt foi posto a pique.

(Rivista Marittima, Fevereiro de 1940).

A BORRACHA SINTÉTICA NOS ESTADOS UNIDOS

Vai ser fabricada nos Estados Unidos, em larga escala, a borracha


sintética do tipo "buna".
Em recente artigo, o New York Times salienta a importância
do fato na vida industrial americana. A patente que a I. G. Farbe-
nindustrie cedeu à Standard Oil, de acordo com os patrocinadores da
inovação na América, proporcionará ao mercado o uso de um pro-
duto, considerado, em muitos aspetos, superior ao produto natural.
A aplicação da borracha "buna" na indústria de pneumáticos para
automóveis torna a duração desse equipamento de 20 a 30 % maior
que a do pneu fabricado com borracha natural.
A borracha artificial, cuja fabricação será iniciada ainda este
ano, é um sub-produto do petróleo. Diz o New York Times que
dentro de 5 anos, os Estados Unidos já não dependerão de borracha
natural, cujas fontes principais de suprimento são estrangeiras.
A Standard Oil C0., de Nova Jersey, iniciará a construção de
uma fábrica para uma produção de 2.000 toneladas anuais; as insta-
lações custarão de 1.000.000 a 1.250.000 dólares e estarão prontas
ainda cm 1940. Uma fábrica, com capacidade para 25.000 toneladas
snuais custaria de 5.000.000 a 10.000.000 dólares, ao passo que insta-
lações para uma produção de 100.000 toneladas custariam de 12 a
15 milhões.
O consumo americano do corrente ano está estimado em 600.000
toneladas, e, de acordo com aquele diário, o custo de uma tal pro-
dução pelos novos processos será favorável à indústria, em com-
paração com os preços de importação. Um total de 75.000.000 a
100.000.000 dólares cobriria as despesas de instalações que suprissem
o mercado daquelas 600,000 toneladas importadas, O valor das im-
REVISTA DK REVISTAS 12S1

portações dos 11 primeiros meses de 1939, somente a borracha


para

crúa, atingiu 153.708.440 dólares segundo informa o Escritório de

Exportação Comercial do Brasil em Nova York.

(Jornal do Comércio, 17-3-40).

OS ESTUDOS METEREOLÓGICOS DA EXPEDIÇÃO BYRD

NO ANTARCTICO

Santiago do Chile, 19 — Por F. — Os estudos


(H. Quintana)

que vai realizar o Almirante Byrd sobre os fenômenos metereológicos

que se verificam nas regiões austrais do nosso e cuja aplica-


planeta,

çSo prática será de enorme importância a do tempo em


para previsão
toda a América do Sul, beneficiará a agricultura e
pois grandemente
a pecuária, essa se torne em breve uma
permitirão que previsão
realidade.

Eis a razão por além do natural interesse despertam


que, que
todas as iniciativas audazes, em da humanidade, os círculos
proveito

científicos chilenos acompanham com extraordinária atenção as ativi-

dades da expedição Byrd.

Segundo declarações feitas diretor do famoso Observatório


pelo

dei Salto, naquele Observatório vem-se notando, ha mais de 15



anos, a relação existente entre as flutuações atmosféricas do Antárctico

e da América do Sul, servindo as suas observações dos resul-


para
tados obtidos expedições de Scott, Charcot, Amundsen,
pelas Sha-

kleton, Wilkins e Byrd. Convém recordar a êste respeito,


que, o

explorador Wilkins enviou uma comunicação ao Observatório dei

Salto, felicitando-o seus excelentes trabalhos.


pelos

Para explicar o regime metereológico do Antárctico e a circulação

atmosférica austral, foram levantadas hipóteses fundamentais. O


"A
Observatório dei Salto, a diz: teoria de Mohm indica
propósito,

que a pressão atmosférica diminue a zona do


gradualmente para
Polo, zona essa estaria sempre ocupada área de baixas
que por uma

pressões. Outra teoria, sustentada por Simpson, indica a existência

de uma área de altas relativas, no Polo, e rodeada de um


pressões
circulo de baixas em volta do Oceano Glaci.nl Antárctico".
pressões
1252 KEVISlA MARÍTIMA BRASILEIRA

Como se deduz, a comprovação de uma ou outra teoria pela

expedição Byrd seria de fundamental importância a ciência e


para

para a previsão do tempo, não somente no Chile, como em toda a

América do Sul, uma vez estudando as correlações das variações


que,

de pressão nos centros de ação atmosférica equatorial do Pacífico,

simultaneamente com os da região antárctica, chegar a


poder-se-ia pre-

nr o tempo com uma antecipação.


grande

Isso permitiria determinar a dos anos secos e chuvosos,


produção

dos invernos rigorosos e suaves, o os benefícios a


que produziria que
aludimos acima.

(.Jornal do Comércio, 20-3-40).

NOVA ORIENTAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DOS GRANDES

PAQUETES

Acaba de ser aberta nos Estados Unidos, concorrência a


para

construção de dois grandes e rápidos transpacíficos Une rs, especial-

mente projetados serem rapidamente convertidos em navios


para

porta-aviões em caso de A concorrência foi aberta


guerra. pela

United States Maritime Commission. cujos técnicos os


projetaram

navios com o auxílio do Navy Department.

As propostas deverão ser abertas em 15 de Abril e os contratos

assinados logo depois; calcula-se cada navio custará mais de


que

20.000.000 de dólares. As duas unidades deverão estar prontas para

entrarem em serviço na American President Line's Califórnia-

Oriente, dois anos depois da assinatura do contrato.

De acordo com as informações fornecidas, os novos liners serão

os maiores e mais rápidos navios mercantes nos Estados


projetados

Unidos e terão aparência diversa de outro navio mercante,


qualquer

pois suas duas chaminés ficarão situadas de um dos bordos,


próximo

de modo a deixar safo um convés espaçoso o uso dos aviões em


para

caso de adaptação do navio fins militares.


para

Os navios são de modo a ser instalados


projetados que possam

hangars para 70 ou mais aviões, abaixo dos couveses.

Segundo as últimas especificações, cada unidade terá o desloca-

rnento de 39.500 tons, com o comprimento de 740 e des-


pés poderá
REVISTA DE REVISTAS 1253

envolver a velocidade de 30 nós, embora a velocidade comercial em

serviço seja apenas de 24 nós. Elas farão viagens de ida e volta entre

Califórnia e Oriente em 42 dias contra 56 que é atualmente o tempo

do lincr President Coolidge York Herald Tribune).


(New

S. Naval Instituto Proceedings, Março de 1940).


(U.

AUMENTARÁ O DESLOCAMENTO DOS ENCOURAÇADOS ?

A sub-comissão americana, da Marinha, apresentou


parlamentar

recentemente um memorial recomendando novo impulso na marcha

ascendente das dimensões dos encouraçados. Foi proposto que o

Navy Department estudasse a construção de unidades de 65.000 tone-

ladas armadas com canhões do calibre de 500 mm. Um apêndice a

êsse memorial sugere navios de 80.000 tons.

A êsse respeito o deputado Melvin Maas, membro da comissão


J.

da Marinha, a construção de maiores e mais


parlamentar predisse
"Posso
encouraçados. ser considerado como radical, disse
poderosos

êle, mas se ha vinte anos atrás alguém tivesse falado em encouraçados

c:e 45.000 tons. seria tido como louco". Podemos estar certos de que

os novos encouraçados britânicos deslocarão 50.000 tons.

Os Estados Unidos se decidiram 45.000 tons. quando sou-


pelas

beram o estava construindo unidades de 43.000 tons. O


que Japão

deputado Maas disse ser ridícula a margem de 2.000 tons., acres-

centando o não devia contentar-se em esperar que outras


que pais

nações o obrigassem a construir navios maiores. Admitido que navios

cio deslocamento não atravessar o canal de Panamá,


proposto podem

declarou o deputado Maas, essa via aquea deveria ser deixada


que

de lado, voltando-se à idéia de construir duas esquadras, idéia pela

êle sempre se bateu. Declarou o referido parlamentar que o


qual

caso do Graf von Spce demonstrou que um navio com duas torres

não fazer frente a três unidades menores. Um encouraçado


pode

de 80.000 tons. montar 8 torres com canhões de 508 mm., e


poderia

sua eficiência eqüivaleria a 1-2 encouraçados de 45.000 tons.

Segundo o dos técnicos, um navio dêsse deslocamento é


parecer
"fazível".
perfeitamente Êle enfrentar uma esquadra inteira e
poderá
"Dólar
seu armamento será sua melhor por
poderoso proteção.
1254 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dólar tal navio será mais econômico as unidades de menor des-


que

locamento. Êle necessitaria de unidades auxiliares e nós


poucas

temos de diminuí-las".
precisamente precisão

O deputado Maas acrescentou o único motivo havia


que que
levado os Estados Unidos a se limitarem ao deslocamento de 45.000

toneladas era a capacidade do canal de Panamá. O Almirante Wil-

liam D. Leahy, atualmente na reserva, e outrora Chefe do Estado

Maior da Armada, durante a discussão do orçamento o aumento


para
da esquadra em 1938, disse à comissão da Marinha
parlamentar que
navios de 80.000 tons. ser construídos se não
poderiam perfeitamente

fosse o obstáculo representado Canal.


pelo

(Rivista Marittiim, Março de 1940).

A DEFESA CONTRA AS MINAS NA SUÉCIA

Os navios auxiliares incorporados à esquadra suéca estão sendo

grupados em flotilhas destinadas a destruírem as minas flutuantes

que bloqueiam a extremidade sul dos estreitos.

O fato de as minas em se enterrar na areia,


que questão podem

constitue um sério a e conseguinte foi


perigo para população por

criado um serviço especial de vigilância auxiliar a sua destruição.


para

Calcula-se que existam 3.000 minas nas das costas


proximidades

e que a décima parte dêsse total ser considerada como livre de


pode

forma de ancoragem. Foi despendido um milhão de coroas


qualquer

para instalar nos navios mercantes um dispositivo de contra


proteção

essas minas, dispositivo baseado no aparelho empregado na Marinha

Britânica, que assegura imunidade contra a explosão meio de


por

uma rêde feita de aço especial; metade da despesa incumbe ao Estado

e a outra metade aos armadores. ( Journal de la Marine Marchande).

O navio de Manlighctcn, de 3.700 tons., em serviço de


guerra

ao largo de Gothenburg, teve vários mortos e feridos


patrulhamento

em conseqüência de uma explosão verificada quando tentava pescar

lima paravana avistada à garra. Preso ao aparelho se encontrava um

cabo fie aço ao estavam fixadas, à intervalos regulares, diversas


qual

cargas explosivas. Acredita-se o cabo de aço fizesse de


que parte
REVISTA DE REVISTAS 1255

uma rêde derivante contra submarinos ou de uma armadilha fun-

deada, que tivesse sido apanhada por uma paravana comum. (London

Times).

S. Naval Instituto Proceedings, Março de 1940).


(U.

RESULTADO DA GUERRA AO TRAFEGO MARÍTIMO

Depois de cinco meses de hostilidades, embora as notícias publi-

cadas beligerantes sejam discordantes, se formar uma


pelos já pode

idéia bastante aproximada das sofridas tráfego anglo-


perdas pelo

francês e neutro. Afim de tirar deduções o assunto comporta,


que

convém distinguir, mensalmente, as de tonelagem em conse-


perdas

dos meios — submarinos, minas, aviões e navios de


quência quatro

superfície; mesmo a causa do afundamento é duvidosa, pode-se


quando

estabelecer a hipótese mais segundo o local em teve lugar


provável que

o afundamento. Dêsse modo foi organizada a seguinte tabela que

apreciar os resultados da guerra ao tráfego sob seus aspetos


permite

principais.

RESULTADO DA GUERRA AO TRAFEGO ATÉ JANEIRO DE 1940

Afundamentos por submarinos

Gra Bretanha Franca Neutros ! 1'otais

MESES

N. T. N. T. N. T. N. T.

===== ===== ===== ===== ===

Sctembro 41 195.379 11.542 9 13.730 53 220.651


Outubro 33 139.393 35.512 17 45.152 54 220.057
Novembro .... 21 99.409 6 12.964 10 43.371 37 155.744
Dezembro 16.214 18 148.291
.... 16 66.408 4 65.669 38
Janeiro 18 67.904 5 29 64.063 52 148.081
16.114

I
Totais .... 129 I 568.493 22 | 92.346 83 231.985 235 892.824

,11
1256 REVISTA marítima brasileira

Afundamentos por minas

Gra Bretanha Franca Neutros ToTais

MESES

N. T. N. T. N. T. N. T.

Setembro 1.S84 19.376 10 20.960


Outubro 24.261 41.703 13 65.964
Novembro .... 20 76.885 6.745 14 72.410 36 156.040
Dezembro .... 13 43.990 26 44.099 39 88.089

Janeiro 22 83.510 4.191 28 57.520 46 145.221

Totais .... 60 230.230 3 10.936 81 235.108 144 476.274

Afundamentos por avioes

Gra Bretanha Franga Neutros totais

MESES

N. T. N. T. N. T. N. T.

5.024 — 2 I 3.324 10 8.348


Dezembro . ...j 8
7.983 — 1 1.133 10 9.116
Janeiro j 9 j I

13.007 — — 3 4.457 20 17.464


Totais .... 17 |
...

Afundamentos navios de superficie


por

Gra Bretanha Franca Neutros totais

MESES

N. T. N. T. N. T. N. T.
|

"

iI
Setembro i
Outubro 5.051 1
.... 23.028 4 23.0s8
Novembro
Dezembro .... 44.332 1 9.389 8 53.721
I
Janeiro —

.... 12 72.411 — 1 9.389 13 | 81.800


Totais | [
, _L i
REVISTA DE REVISTAS 1257
**».. .

Recapitulação

Gra Bretanha . Fraiifa Neutros ToTAis

MESES

N. T. N. T. N. T. N. T.

Setembro 42 196.963 3 11.542 18 33.106 63 241.611

Outubro 38 168.705 4 35.512 26 86.855 68 289.072

Novembro .... 45 199.322 8 19.709 14 115.781 67 334.812

Dezembro .... 44 159.754 4 16.214 47 122.481 95 298.449

49 159.357 5 20.305 53 122.716 107 302.378


Janeiro

Totais .... 218 884.101 24 103.282 158 480.939 400 1.466.322

O exame dessa tabela sugere as seguintes considerações:

As inflingidas mensalmente submarinos à marinha


perdas pelos

mercante britânica são notavelmente diminutas desde o momento em

a defesa do tráfego a ser executada de acordo com a expe-


que passou

riência da Guerra Mundial. Assim no mês de Dezembro as perdas

de tonelagem são reduzidas à aproximadamente a terça das veri-


parte

ficadas no mês das hostilidades e à metade das do segundo


primeiro

mês. É interessante constatar em não se verificou


que Janeiro

nenhuma diminuição.

à marinha mercante francesa deve-se ter que a


Quanto presente

sua tonelagem total é apenas a sexta da da sua congênere bri-


parte

tânica; além disso do tráfego francês tem lugar no Me-


grande parte

diterrâneo, é uma zona tranqüila.


que

A decrescente das perdas sofridas pelo tráfego bri-


proporção

tànico em conseqüência da ação dos submarinos corresponde um

aumento das verificadas com navios neutros, de modo até certo


que

ponto se verifica uma compensação no total. A tonelagem perdida

marinhas neutras nos meses de Dezembro e é igual à


pelas Janeiro

perda sofrida marinha britânica.


pela

Os resultados da ofensiva meio de minas são di-


germânica por

minutos no mês de Dezembro mas em verifica-se um aumento


Janeiro

sensível, o leva a crer o representado nova arma


que que perigo pela

não tenha sido ainda, eficazmente enfrentado. As conjuntas


perdas
1258 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

das marinhas britânica e neutras por efeito das minas, no mês de

são idênticas às ação dos submarinos.


Janeiro, produzidas pela

A no mar do Norte se desenvolve sem restrições e por


guerra

conseguinte os aviões alemães podem ser livremente empregados no

ataque ao tráfego; os resultados até agora obtidos são restrictos mas

essa forma de guerra está apenas no inicio.

são os resultados da combinação dos vários meios de


Quais

ataque ao tráfego?

Pela última parte da tabela se verifica que as perdas mensais

sofridas pelo tráfego britânico têm ligeiras variações; não se pode,

por conseguinte, afirmar que elas tenham diminuído sensivelmente

com o desenrolar do conflito. Considerando em conjunto as perdas

de tonelagem anglo-francesa e das marinhas neutras, constata-se que

elas estão em ligeiro aumento. A soma da tonelagem destruída nos

últimos três meses considerados anda em torno de 300.000 tons., o que

corresponde à um têrço da tonelagem afundada nos meses culminan-

tes de 1917.

Em compensação os anglo-franceses têm em seu ativo: 1) A

continuação imperturbada do transporte de tropas a França;


para

2) A manutenção do controle — cada vez mais rigoroso — do tráfego

neutro acarreta a interdição das comunicações marítimas ao


que

inimigo; 3) A manutenção do tráfego, embora sujeito a perdas impor-

tantes, necessário para o abastecimento de víveres e intensificação dos

preparativos bélicos; 4) A de compensar em larga escala


possibilidade

iis perdas de tonelagem mediante novas construções) ; 5) O sucesso

conseguido libertando os mares dos cruzadores corsários.

(Rivista Marittima, Março de 1940).

OS NOVOS RNCOURAÇADOS ITALIANOS

O encouraçado Littorio, a uma série de 4 unidades


pertencente

de 35.000 tons., terminou suas experiências de veloci-


preliminares

dade no Mediterrâneo. Os não publicam algarís-


jornais quaisquer

mos, mas é digno de nota as provas, que duraram 32 horas, per-


que

mitiram verificar a regularidade e funcionamento das máqui-


perfeito

nas, tanto motoras como auxiliares.


Revista de RKvI.stas 1259

O navio voltou em seguida os estaleiros o trabalho


para para
final de instalação do armamento, etc., antes de sua entrega definitiva.

Suas características são as seguintes: Comprimento 770 bôca


pés,
1G5,4, armamento IX-15 em 3 torres tríplices, XII-6 e
pol. pol.
XII-3,6 anti-aéreos.

As três outras unidades da mesma classe são, o Vittorio Veneto,

que completou suas de velocidade no Adriático, ha várias


provas

semanas, o Impero, recentemente lançado, e o Roma, ainda nas car-

reiras. O Vittorio Veneto atingiu uma velocidade de 30 nós.


(Jonr-
nal de la Marine Marchande).

(U.S. Naval Instituto Proceedings, Março de 1940).

MARINHA ESPANHOLA

Grandes trabalhos estão sendo executados no Arsenal de Ferrol.

Além dos ferreiros, etc., ocupados em aumentarem as atuais


pedreiros,

instalações, foram admitidos operários afim de receberem instrução

técnica. Outros especialistas foram recrutados nas regiões mineiras


"reconquista"
onde as desordens da revolução e foram particular-
mente sentidas. Êsses formam do anun-
projetos parte programa já
ciado, ha vários meses, General Franco, declarou
pelo que pretender
dar à região noroeste da Península uma atividade industrial maior do

qi.e tivera nos regimens Dentro em breve será iniciada


precedentes.

em Ferrol a construção de um dos navios do novo naval


programa

que inclue vários cruzadores e um encouraçado de 35.000


pesados

toneladas. Isto constitue, em verdade, um retorno às idéias re-


que
clamavam a construção de 3 dreadnoughts do tipo Espana,
pequenos

a serem seguidos uma divisão de encouraçados, constituindo uma


por
fôrça impossível de ser ignorada nas de marinha
previsões qualquer
moderna, assegurando assim a melhor da neutralidade da
garantia
Espanha. Yaclit).
(Le

(U. S. Naval Instituto Proceedings, Março 1940).


12Ó0 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

VARREDORES DE MJNAS, BRITÂNICOS

Tendo em vista o emprego das minas como contra-medida de


bloqueio, o Almirantado procurou desenvolver a categoria de navios
varredores e assim dotou a Marinha de uma frota de unidades rápidas
e de um desenho especial.
No qüinqüênio 1933-38 entraram em serviço 17 varredores da
classe Halcyon; contrariamente aos rebocadores lentos que nos pri-
meiros tempos foram adaptados a esse serviço, as novas unidades
podem desenvolver a velocidade de 17 nós. A classe Halcyon tem o
deslocamento de 815 tons. e 80 homens de guarnições; seu calado é
lal que permite operações de varreduras em fundos de 2,5 metros.
Medem 70 metros de comprimento e 10 de boca; como armamento
dispõem de 2 canhões de 102 mm., um dos quais anti-aéreo. O apa-
rêlho motor consta de uma máquina compound de 3 cilindros em duas
das unidades e de turbinas nas demais. A potência indicada é de
cerca de 1.770 HP. c o combustível nafta.

Um dos novos varredores — o Scagull — é o primeiro navio


construído para a Marinha Britânica, em que foi empregada única-
mente a solda elétrica. As unidades da classe Halcyon se distinguem
pela altura das obras mortas na proa; por ante-a-ré da secção mestra,
o convés é abaixado de cerca de 2,13 metros.
A Marinha Britânica possue 23 varredores da classe Hunt, cerca
cie 20 anos mais velhos do que a classe Halcyon, tendo entrado em
serviço logo depois da Grande Guerra. Deslocam cerca de 100 tons.
menos do que estes e têm menos um nó de velocidade. Medem 67 me-
tros de comprimento e a potência indicada, de seu aparelho motor
c de 2.200 HP.
Ha dois anos o Almirantado fez construir dois varredores a
motor, projetados para 15 nós de velocidade, que se reduzem a
10 quando tem lugar as operações de varredura. Essas vedetas
deslocam 32 tons. e calam 1,52 metros. Medem 22,86 de compri-
mento por 4.27 de boca. Seus motores são de 12 cilindros e potência
de 1.500 HP.
Relativamente aos projetos de varredores e a utilização de outros
tipos de navios para esse serviço, parece que o Almirantado é deci-
didamente contrário a transformar velhos contra-torpedeiros em var-
REVISTA DE REVISTAS 1261

redores, fazer construir unidades especialmente projeta-


preferindo
•das tais operações e recorrendo aos tripulá-las.
para pescadores para

(Army and Navy Register).

Marittirna, Março de 1940).


(Rivista

MARINHA DA BÉLGICA

As exigidas pela guerra submarina e pela presença


precauções
•de minas fizeram com ressurgisse a Marinha Belga. Foi criado
que

um corpo de marinheiros e o aviso Zinnia (um dos


guarda-costa

antigos sloops da Marinha Britânica), cujo armamento havia sido

retirado, foi novamente artilhado. Dois antigos contra-torpedeiros

alemães haviam sido entregues em 1918 e depois encos-


que pouco

tados no de Antuérpia, voltaram novamente à atividade.


porto

Êsses três navios asseguram um serviço de patrulhamento ao

longo da costa belga com o objetivo de descobrir e afundar minas

derivantes; alguns varredores foram igualmente comissionados afim

de manterem um canal entre Ostende e Folkstone, livre de minas.

Alguns cargueiros pertencentes à beligerantes e neutros tem sido

examinados em águas territoriais, especialmente franceses, nas vizi-

nhanças de La Panne. Yaclit).


(Le

Naval Instituie Proceedings, Março 1940).


(U.S.

NEUTRALIDADE CHILENA

As autoridades navais chilenas acabam de estabelecer e pôr em

execução as seguintes regras: 1) Todos os navios em águas e portos

chilenos ficarão sujeitos às ordens das autoridades navais; 2) Além

dos de bordo usuais, o cônsul os tiver visado deverá reme-


papéis que

ter às autoridades, uma declaração escrita relativa à natureza do

navio; 3) São comunicações com os navios beligerantes


proibidas
exceto nos casos de de socorro ou em outros necessários para
pedidos
a segurança da navegação; 4) Todos os navios mercantes estran-

R.M.B. 8
1262 revista marítima brasileira

geiros que entrarem em águas chilenas deverão lacrar as e


portas
vigias dos compartimentos de rádio; 5) Os navios mercantes estran-

geiros não poderão receber combustível em excesso da


qualquer quan-
tidade normal necessária regressar dirètamente ao seu no
para país e

caso dos agentes dar uma satisfatória a êsse res-


poderem garantia

peito, será fornecido o combustível necessário a viagem;


para
6) Qualquer navio que violar estas regras de neutralidade, bem como

todos os navios pertencentes à mesma firma, será impedido de rece-

ber qualquer combustível. (Journal de la Marine Marcliande, De-

zembro 1939).

(U.S. Naval Institute Proceedings, Março de 1940).

VEDETAS TORPEDEIRAS E CAÇA-SUBMARINOS

A Guerra Mundial já havia em evidência os notáveis ser-


pôsto

viços prestados vedetas a motor, de fácil manobra e


pelas pequenas

ótimas qualidades náuticas; o novo conflito chama novamente a aten-

ção para as unidades construídas pelas Marinhas das grandes potên-


cias para o combate aos submarinos. Essas embarcações
pequenas

tomam nomes diversos conforme a Marinha a Assim


que pertencem.

na Itália são chamadas M.A.S. antisommergibili), em


(motoscafi

França vedettes, na Inglaterra M.T.B. torpedo boat) na


(motor e

Alemanha schnellboote.

A eficácia deste tipo especial, derivado da torpedeira e caracteri-

zado pela alta velocidade, foi tal durante a Grande Guerra, que quasi
todas as nações tiveram a atenção voltada êle desde o fim das
para
hostilidades. todas as Marinhas adotaram um tipo de 20 tone-
Quasi

ladas que somente nos últimos tempos foi aumentado, desenvolvendo

velocidade compreendidas entre 40 e 50 nós.

No começo do verão de 1915 foi na Inglaterra a cons-


proposta

trução de pequenas lanchas rápidas, munidas de um motor de expio-

são, armadas com um torpedo, ser transportadas


que pudessem pelas

grandes unidades da esquadra até os campos de minas da costa alemã

e aí postas nágua afim de atacarem os navios inimigos. Essas


peque-
nas embarcações foram chamadas coastal motor boats — C.M.B.,

em virtude do séu emprêgo. Como os meios de dispunham os


que
REVISTA DE REVISTAS 1263

cruzadores eram da máxima de 4,3


para içá-las a bordo, potência
toneladas, o lanchas costeiras tinha de ser forçosa-
pêso total das

mente limitado. Sua única arma era um torpedo de 457 mm., pe-

sando 650 k gs. O motor mais leve, com a necessária,


potência

pesava 950 kgs., o casco, o dispositivo de lança-


de modo que para
mento, o carburante e tripulação e aparelhamento restavam apenas
a

disponíveis 2.700 kgs.

O completamente equipada, era


pêso total da primeira C.M.B.

d>í 4,32 tons. Os tipos desenvolviam uma velocidade de


primeiros
33,5 nós. tinha experiência de
A firma Thornycroft, que grande
lanchas automóveis se deviam aproximar as
de desporto, das quais
novas unidades, muito a realização dêsse tipo de
contribuiu para

Afim de evitar o risco de avarias na hélice nave-


guerra. quando

gando sôbre rêdes, foi adotada uma forma especial de em


propulsor

tspiral utilizada em alguns em embarcações destinadas a


já países
navegarem em rios cheios de plantas.

A eficácia dêsse designado característica 40, levou


protótipo, pela
o Almirantado a desenvolver seu emprêgo durante a O arma-
guerra.
niento foi duplicado, sendo as lanchas dotadas de 2 torpedos, renun-

ciando-se ao seu transporte a bordo dos cruzadores. Chegou-se


"com
assim a um tipo de 12,4 tons., 16,75 mts. de comprimento, uma

velocidade de 35/40 nós. Foi estudado um tipo maior, do mesmo

gênero, mas não tenha dado resultados satisfatórios, pois


parece que

que não foi construído em série.

Para melhor conservação essas lanchas eram em sêco


postas

quando não em serviço efetivo; eram todas de madeira, o que per-

mitia uma construção rápida com e a necessária elas-


pouco pêso
ticidade.

Os tipos de após-guerra foram munidos de me-


primeiros (55)
tralhadoras, armas indispensáveis defesa contra aviões.
para

A dificuldade encontrada a realização dessas


principal para

embarcações foi a mise au do aparêlho motor. Com efeito, êle


point

deveria funcionar na máxima durante longas horas e


poder potência

com mar e conseguinte em condições muito mais rigorosas


grosso por

do as impostas aos motores das lanchas de regata que só traba-


que
lham durante breves intervalos e com bom tempo.

As lanchas 55 tinham dois motores de 375 HP. cada um a

12 cilindros mm. de diâmetro e 178 de curso). As vedetas


(146
1264 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

construídas depois da guerra pelas Marinhas estrangeiras tinham mo-

tores com a potência de 1.000 HP. Uma das C.M.B.


particularidade

era o aparelho para o lançamento dos torpedos, situado na e


pôpa
fazendo parte do casco. Conseguia-se desse modo economizar o pêso
de um tubo, evitando sobrecarregar a e dificultando a
prôa portanto
emersão desta quando em alta velocidade, com da estabili-
prejuízo
dade. Segundo os ingleses, este sistema deu bons resultados.

A distribuição dos pesos de uma vedeta Thornycroft era a

seguinte:

Kgs. %

Casco, aparelhamento, dispositivo de

lanqamento do torpedo 5.580 46


Aparelho motor e tanques 4.170 33
Armamento (2 torp. de 457 mm.) ... 1.290 10
Carburante 990 8
Guarniqao 360 3

Peso total 12.390 100

O deslocamento que era originàriamente de 4 toneladas, atingiu e

ultrapassou 20 toneladas em conseqüência dos aperfeiçoamentos obti-

dos. Depois da Guerra Mundial a Marinha Britânica abandonou a

construção dessas embarcações, mas em 1935 ter havido uma


parece

mudança de opinião do Almirantado ao valor das vedetas tor-


quanto

pedeiras, pois que a partir do ano seguinte recomeçou a construção.

As novas unidades M.T.B. deram resultados satisfatórios nas

provas. Uma flotilha delas foi enviada ao Mediterrâneo e agregada

à esquadra aí em estação. Durante a travessia, efetuada com os pró-

prios meios, as embarcações demonstraram ótimas mari-


qualidades
nheiras. Sua velocidade é superior à das lanchas Thornycroft
pouco

e o armamento consta de 2 torpedos de 457 mm. lançados pela pôpa.

Depois da Guerra Mundial a Marinha Francesa começou expe-

riências com lanchas C.M.B. do tipo Thornycroft. As vedetas até

agora construídas tem deslocamentos compreendidos entre 5 e 20 tons.

O comprimento varia entre 13 e 20 metros, a bôca entre 2,90 e 4,20.

O calado de 0,60 a 2,00 metros. Possuem 1 ou 2 torpedos e 2 a 4

metralhadoras. O aparêlho motor tem uma compreendida


potência

entre 375 e 2.200 HP. e a velocidade máxima varia de 37 a 55 nós.


REVISTA DE REVISTAS 1265

Além das vedetas torpedeiras a França as caça-subma-


possue
rinos, construídas navais de 1930 e 1931.
em virtude dos programas
São unidades de de comprimento, armadas
150 tons. com 20 metros

com 1-75 mm. dois moto-


e II-metralhadoras. São impulsionadas por
res Diesel de 1.200 HP.

. As lanchas a motor da Marinha Germânica eram de


primeiras

pequeno deslocamento e velocidade moderada. Tinham um tubo de

torpedos à vante A êsse


e apresentavam ótimas marinheiras.
qualidades
respeito declara-se do apare-
que as vedetas do tipo LM (característica
lho motor tipo dirigível) manter a sua velocidade máxima em
podiam
um mar de força tipo K datam de
3 e vento de 4 a 5. As vedetas
1926 e a sua velocidade seria de 40 nós em águas calmas.

Segundo opinião dos técnicos alemães, tendo casco de secção

arredondada "redan"
agüentariam melhor o mar do as a e fundo
que
chato; essa afirmação, entretanto, outros especia-
é contrariada por
listas no assunto. A partir de 1930 teriam seguido um outro método

com o fim de melhorar as marinheiras e aumentar o arma-


qualidades
tnento 1 ou 2 mm.
para canhões anti-aéreos e 2 torpedos de 500 em

tubos à vante. Isso exigiu considerável aumento de tonelagem, que


*e elevou a 90 tons. Naturalmente o aparelho motor tem uma potên-
cia adequada. Os alemães renunciaram aos motores a peri-
gasolina,

gosos mesmo em tempo de O desenvolvimento dos motores a


paz.
oleo foi encorajado
pesado na indústria em e foram assim aper-
geral
feiçoados
para satisfazer as exigências da navegação.

Em 1936/37 foram construídos a Marinha Iugoslava nos


para
estaleiros de Lurssen, oito idênticas
vedetas às utilizadas Marinha
pela
Germânica. Deslocam 90 tons. medem O
e 28 x 4,30 x 1,50 metros.

armamento consta de dois canhões a tiro rápido e 2 torpedos à vante.

A é de 12 O raio milhas.
guarnição pessoas. de ação seria de 1.680

O aparêlho motor é constituído por 3 motores Daimler Benz do tipo


EF.2 de 1.000 HP. cada um. Existe um motor auxiliar a
para
navegação de cruzeiro.

Ao a Marinha Germânica é a única a empregar até


que parece,
agora, em embarcações dêste tipo, motores ligeiros a óleo pesado.
Esses motores, cuja construção vem sendo desenvolvida várias
por
sociedades, ordem do Govêrno, equiparem os Zeppelins,
por para
foram submetidos a rigorosíssimas. A recaiu nos mo-
provas escolha

tores Daimler Benz, asseguraram, nos dirigíveis, no serviço trans-


que
12(36 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

atlântico norte, uma regularidade notável. Nas vedetas são emprega-

dos motores do mesmo tipo, de uma potência de 1.350 HP. a 16 cilin-

aros, do pêso sêco) de 2.000 quilos.


(a

A Sociedade M.A.N., que havia construído um motor a dois

tempos e duplo efeito, do pêso de cêrca de 1,2 kgs., encontrou na Ma-

rinha Germânica um comprador exclusivo lhe a venda a


que proibiu

outrem. Êsses motores teriam dado ótimos resultados nas vedetas,

nas são hoje os únicos empregados. O do motor a sêco é


quais pêso

de cêrca de 1.640 kgs.

A Marinha Americana, no último semestre do ano man-


passado,

dou construir uma série de caça-submarinos chasers),


(submarine que

compreende principalmente 4 unidades de 17,98 metros, 2 de 24,69

metros, 3 de 33,53 e 1 de 51,81. Teria sido resolvido construírem os

cascos de madeira afim de evitar o das minas magnéticas.


perigo

Devemos recordar que durante a as usinas Ford, de Detroit,


guerra

construíram submarine chascrs de 60,95 metros e casco de aço.

Um tipo de vedeta ora em serviço na Marinha Americana tem

o deslocamento de 75 tons. e as dimensões de 32 x 4,50 x 1,70 metros.

A propulsão é efetuada por 3 motores com a total de 600 HP.


potência

A velocidade é de 17 nós, o raio de ação de 900 milhas a 10 nós e o

aimamento 1-76 mm., II-metralhadoras e bombas de profundidade.

Do exame das características das vedetas das Marinhas


principais

pode-se deduzir os princípios seguidos até agora na construção


gerais

dessas unidades. O casco é exclusivamente de madeira os


quasi para

pequenos e médios deslocamentos. Para as vedetas maiores se imporá

provavelmente uma construção mixta, comporta cavername de aço


que

ou de uma liga leve e resistente e costado de madeira. Para as uni-

dades ora previstas se lançará mão, do aço inoxidável


provavelmente,
ou de uma liga leve a construção integral.
para

Quanto aos motores, a potência unitária utilizada é da ordem de

1.000 IIP. Prevê-se o emprêgo de motores de óleo de altas


pesado

potências, da ordem de 1.200/1.500 HP. substituirão os moto-


que

res a gasolina até agora utilizados.

Relativamente à forma do casco, divergem bastante as opiniões:

existem partidários da forma arredondada e da forma com bouchains

em ângulo agúdo. O construtor naval inglês H. Scott Paine apre-


REVISTA DE REVISTAS 1267

sentou em 6 cie Institute of Mechanical


Janeiro do ano ao
passado,
hngineers, uma comunicação assunto, na informava
sobre êsse qual
sobre as experiências a bonchains escoltada
feitas com uma vedeta

pelo CT. Amazon, de 1.350 tons. As experiências tiveram lugar

na Mancha, de SW. As con-


ao SE. da ilha de Wight, com vento

c'ições de tempo das ondas era de 3,60


eram duras. A altura média

metros, chegando forte correnteza. O


mesmo algumas a 6 metros;

contra-torpedeiro do
foi facilmente distanciado. O autor projeto, que

pilotava a sua vedeta, manter uma velocidade nunca inferior a


pôde
30 nós. (Le Génie Civil).

Marittima, Março de 1940).


(Rivista

SÔBRE A MARINHA GERMÂNICA

Com os estaleiros de construção trabalhando dia e noite, espe-

ram as autoridades nazistas meses a Alemanha


que dentro de alguns

disponha de novos super-encouraçados lhes disputar


que permitirão
em "pretensões
batalha aberta as britânicas de supremacia naval".

Dois dos três encouraçados ora em construção, o Bismark e o

l on Tirpitz, ambos de 35.000 tons., ficarão terminados em breve;

espera-se um fique combate dentro de dois meses e


que pronto para
o outro em meio do verão. Suas foram batidas em 1936 e
quilhas
1937. Naturalmente o maior segrêdo envolve terceiro encouraçado,
o

que a princípio constava ser de 35.000 tons., mas foi


que posterior-
mente aumentado. Os alemães ardentemente esperam êle sobre-
que

puje, em dimensões e o maior navio capital britânico — o


poder,
cruzador de batalha Hood, de 42.100 tons.

Essas novas unidades da Marinha Alemã terão provavelmente


máquinas motoras de 150.000 a 200.000 HP. e a velocidade de 27

nós horários. Isto significa menor velocidade do a oficial do


que
Hood, desenvolve 31 nós, mas os construtores fre-
que germânicos

quentemente prevêm velocidades menores do as obtidas realmente


que
na seus navios.
prática, pelos

O armamento dos dois navios constará de VIII-15 com


pol.
baterias secundárias de 6 e um número excepcionalmente
pol. grande

de armas anti-aéreas. Acredita-se êles terão XVI canhões


que pesa-
1268 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

dos anti-aéreos e XIV armas de menor calibre. Isso excede a arti-

lnaria aérea dos mais modernos dreadnoughts e indica o a


quanto

Alemanha leva a sério o papel da aviação nas modernas bata-

lhas navais.

Foram introduzidas alterações na construção do Prinz Eugen,

foi lançado no verão pela senhora do Almirante Horthy,


que passado

regente da Hungria. Êle passará a ser um cruzador pesado de 10.000

toneladas, com armamento mais poderoso do o dos encouraçados


que

de bolso a Alemanha construiu quando ainda vigoravam as res-


que

trições do Tratado de Versailles.

Com o objetivo de ativar a terminação dos seus navios de guerra

a Alemanha está apressando o lançamento dos navios se acham


que

nas carreiras afim de ter lugar para o batimento das de novas


quilhas

unidades. Ordinàriamente, a menos não exista um cáis para


que

montagens, os navios permanecem nas carreiras até serem


próximo,

instaladas as torres e barbetas, mas nas circunstâncias atuais são êles

lançados ao mar logo que os cascos estejam estanques.

Não se esperam aperfeiçoamentos ou novidades sensacionais nos


m

e na construção das novas unidades.


projetos

Os leigos, apregoam o de um novo explosivo para tor-


poderio

e minas mas os especialistas mostram-se reservados. O dilema


pedos

se apresenta agora aos é como produzir um explosivo


que químicos

mais sem em a segurança dos navios que trans-


poderoso pôr perigo

as armas super-destruidoras. Os alemães asseguram que a


portam

escassez das importações das matérias necessárias para a fabri-


primas

cação de explosivos não mais constitue uma preocupação para êles

os seus químicos conseguiram fabricar substitutos com ma-


porque

teriais existentes no país. Dizem os químicos que é possível manu-

faturar excelente pólvora e explosivos utilizando o processo químico

comum, pelo qual a polpa de madeira é transformada em papel. Os

alemães gabam-se de poder empregar carvão como base para a fabri-

cação de pólvora mas êles devem usar um processo extremamente

complicado para êsse fim. (Chigaco Tribune).

(U.S. Naval Institute Proceedings, Abril de 1940).


REVISTA DE REVISTAS 1269

GUERRA PELO PETRÓLEO

A guerra atual é, por muitos prismas, a luta para e pelo petróleo.


_ o que escreve o cronista do "Boletim Militar", do jornal Le Temps,
o qual acentua o número de milhões de toneladas anuais do consumo
aêsse combustível, e cuja
quantidade será certamente aumentada, no
caso de serem emprendidas operações mais ativas.
Afim de obter o petróleo necessário, os aliados dirigem-se, por
ordem de grandeza, aos Estados Unidos, às índias Neerlandesas, ao
Irak, ao Iran, à Venezuela e,
por fim, às índias Britânicas.
O reabastecimento da França e da Grã Bretanha não seria pos-
sível sem a hegemonia dos mares; dois terços dos fornecimentos de
petróleo passam pelo Canal de Suez e um terço pelo Oceano Atlântico.
O reabastecimento aliado implica, em primeiro lugar, o problema
da tonelagem.
Nas vésperas da guerra havia no mundo 1.731 navios de trans-
porte de petróleo, com o total de 11.437.000 toneladas.
Desse total a Grã Bretanha e os Domínios possuíam 488 navios
com 3.264.000 toneladas.
A França dispunha de cerca de 50 unidades com 318.000 tons.
Em suma, os aliados dispõem de um terço da frota petrolífera
mundial.
Se a neutralidade dos Estados Unidos privasse os aliados dos
"tankers"
americanos, ainda assim a França e a Grã Bretanha po-
deriam conservar o seu domínio, e, ademais, recorrer à Noruega, que
conta com mais de dois milhões de toneladas.
Vêm em seguida a Holanda, que possue uma das maiores frotas
mercantes de navios-cisternas, e o Panamá, cuja tonelagem dessa cate-
goria atinge a cerca de meio milhão de toneladas.
Calcula-se que, com esses concursos, os aliados disponham de
cinco milhões de toneladas, que poderiam executar em vez de 7 a 8
viagens por ano, apenas cinco, devido à aplicação do sistema dos
comboios, mas, de outra parte, como a tonelagem disponível pode
representar cerca de 8 milhões de toneladas de combustível em cada
rotação, os aliados teriam, em princípio, assegurado o fornecimento
de cerca de 40 milhões de toneladas anuais.
1270 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Esse cálculo implica, naturalmente, o afretamento de "tankers"


neutros.
Os peritos alemães calculam que os aliados hajam requisitado
somente 2.800.000 toneladas de unidades de transporte de combus-
tível, ao passo que teriam necessidade de 4.700.000 toneladas para
assegurar um consumo de 26 milhões de toneladas de combustível.
O programa do Reich tende, portanto, a reduzir a produção da
tonelagem franco-britânica de transporte de petróleo,
quer mediante
afundamento dessas unidades, quer graças à medidas tendentes a
impedir que os neutros afretem as suas unidades aos aliados.
A "Gazeta de Colônia", escreveu em 24 de Março último que,
em conseqüência da guerra submarina, a frota britânica perdera, até
aquela data, 30.000 toneladas, e a França 140.000 toneladas, de navios
ue transporte.
Mas a realidade está longe de confirmar tais afirmações.
Nos primeiros seis meses de guerra os ingleses perderam 12 "pe-
troleiros" com 89.600 toneladas; os franceses apenas um, aliás o de
mais recente construção, o Emile Mignet; os noruegueses perderam
quatro transportes com 28.000 toneladas; os suecos, dois, com 7.000
toneladas; os holandeses, uma unidade de 7.000 toneladas; os dina-
marqueses, uma de 10.000 toneladas.
Nessa lista deve ser incluída outra unidade apreendida em Ham-
burgo, ao início das hostilidades, e com 6.000 toneladas de des-
locamento.
Em suma, as perdas representam em conjunto 109.000 toneladas.
Afim de combater a campanha submarina os aliados adotaram a
"tankers" da
piática do sistema de comboios, em que são reunidos
mesma marcha.
Ao mesmo tempo iniciaram a construção acelerada de navios-
cisternas. A França, por iniciativa do Ministério da Marinha Mer-
cante, tivera, já em Setembro de 1938, a precaução de adquirir 60.000
toneladas de tais unidades.
A Grã Bretanha, desde as hostilidades, iniciou a construção de
96.000 toneladas, parte das quais já lançada.
Por fim, a unidade de comando e de ação econômica franco-
britânica teve como conseqüência a exploração racional da frota pe-
trolífera aliada.
DE REVISTAS 1271
REVISTA

O combustível corpo expedicionário britânico é


destinado ao

importado dirètamente. França recebe o do Próximo


A produto

Oriente. A Grã Bretanha importa sobretudo o dos Estados


petróleo

Unidos.

Como no de terra, não ha mais nos mares


tocante ao exercício

senão uma frota destinada a reabastecer e a


de guerra e mercante

proteger o mesmo militar e econômico.


poderio

Jornal, 23-4-40).
(O

CONSTRUÇÃO NAVAL NA ARGENTINA

Várias unidades de uma série de 9 varredores construídos no país

— —
estão sendo terminadas. O último dêsses navios o Fournier

foi lançado em Agosto do ano das carreiras dos Astilleros y


passado
Varadero Sanchez, no canal de San Fernando. Essa mesma firma

— —
já havia entregue um varredor da mesma classe o Parker

atualmente em serviço.

Êsses navios medem 194 de comprimento e deslocam 550


pés
toneladas, desenvolvendo uma velocidade de 11,5 nós. São artilhados

com II-4 um à vante e outro à ré e têm 62 homens de


pol., guarnição.

São destinados a substituírem os antigos varredores da classe M, de

construção alemã, adquiridos aos terminar a Guerra Mundial. As

outras unidades da mesma série lançadas, todas construídas em


estaleiros do denominam-se: Robinson, Seavcr, Granvillc, Bou-


país,

chard, Spiro e Drummond.

A Argentina cogita agora, de construir no navios maiores.


país

Foi iniciada em Rio Santiago a instalação do aparelhamento neces-

sário a costrução de unidades até 10.000 tons. de deslocamento.


para

Até o o maior navio construído no e também em todo


presente país

o continente sul-americano, foi o tanque Figuciroa Alcorta, de 5.000

toneladas. (Le Yacht).

Naval Institute Procecdings, Abril de 1940).


(U.S.
1272 REVI SI A MARÍTIMA BRASILEIRA

"GENERAL
NAVIO-ESCOLA BAQUEDANO"

Recentemente o do Chile, orientado como


governo poucos, por

um espírito de bem entendido nacionalismo construtivo e acaba


prático,

de resolver a baixa do serviço ativo da esquadra, da famosa corveta-

escola General Baquedano, que passará a servir como navio de instru-

os se dedicam à marinha mercante. O navio


ção para jovens que

realizará pequenos cruzeiros periodicamente, para familiarizar com a

vida do mar aos e praticantes, preparando-os, assim,


grumetes para

um destino superior, uma vez que se em todas as se serve


profissões

à Pátria,, inegavelmente a marinha mercante contribue como nenhuma

outra para a sua subsistência.

A General Baquedano foi construída em 1898 nos estaleiros de

Armstrong Withworth and C°., sendo lançada ao mar em 5 de Julho

do mesmo ano. Em 22 de Agosto seguinte içou o da Es-


pavilhão

tréla Solitária, iniciando a 14 de Outubro sua viagem


primeira para

o Chile.

A corveta-escola realizou 15 viagens de circunavegação e mais

de cincoenta cruzeiros, visitando todos os mares do mundo e a seu

bordo receberam o primeiro aqueles que mais tarde,


galão pros-

seguindo em sua carreira, destacaram-se no serviço da Pátria.

Merece ser lembrado que por volta de 1904, navegando a General

Baquedano no Atlântico Sul, viu-se em iminente de sossobrar.


perigo

Subjugado pela fúria de fortes ventos, o navio adernou, adormecendo

sobre um dos bordos, transe dificil do qual somente pôde safar-se

graças às oportunas e práticas medidas tomadas por seu comandante.

Agora — à semelhança do navio-escola Presidente Sarmiento —

a General Baquedano acaba de ser retirada da atividade da Marinha

de Guerra, à tantos serviços prestou por mais de 40 anos. En-


qual

quanto, porém, a nossa fragata tem sido alvo de muitos projetos que

transformá-la em museu flutuante — segundo uns, ou


pretendiam

a ser relegada como venerável relíquia de nossa tradição marítima, o

governo do Chile resolveu que a sua antiga corveta-escola fosse des-

tinada a uma finalidade muito mais útil e servir de navio-


prática:

escola para adestrar os futuros oficiais da Escola da Marinha Mer-


REVISTA DE REVISTAS IZ/J

cante, a ano concorre com a contri-


prestigiosa instituição que ano

buição o serviço dos navios de


de uma turma de capaz para
pessoal
comércio.

Argentina, Abril de 1940).


(Brujula,

MARINHA DA IRLANDA

núcleo do a
O do Eire vem de recrutar o pessoal para
governo
sua o a acei-
nova Marinha; terminou em 9 de Dezembro prazo para

tação de candidatos.

escolta tiazv-
Já se acham em serviço ativo dois navios (antigos

lers encomendadas várias vede-


de pesca) e alguns rebocadores; foram

tas torpedeiras a motor, de velocidade.


grande

O custo material andará 1.200.000 dólares e as despesas


do por
anuais são orçadas em 700.000 dólares.

A flotilha constituída essas embarcações será empregada em


por

patrulhamento da costa e a sua criação deve-se aos rumores que

circularam de os submarinos alemães entravam nas baías da


que
Irlanda em segurança, recarregarem suas baterias e se
perfeita para
abastecerem. Segundo os têrmos do acordo anglo-irlandês de 1938,

os navios da Marinha Britânica não têm o direito de entrar em

águas territoriais do Estado Livre da Irlanda. de Ia Marine


(Journal

Marchande).

Naval Institute Proceedings, Abril de 1940)-


(U.S.

RECUARÁ O JAPÃO NA CHINA?

Ha indícios, se multiplicam rapidamente, de o está


que que Japão

mais febrilmente do nunca retirar-se dos campos de


procurando que

batalha da China, conservando e consolidando as conquistas já


porém

obtidas. O estabelecimento do do títere Wang Ching-wei


governo

em Nanking está marcado o dia Io de Abril e os seus porta-


para

vozes da imprensa anunciam a Grã Bretanha e os Estados Unidos


que

terão de retirar seu apoio ao de Chiang Kaishek ou sacri-


governo

ficar suas concessões no território sobre o Wang governará.


qual
1274 PEVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ao mesmo tempo Hallet Abend informa que "grandes fortificações


terrestres" estão sendo construídas nas zonas de Shanghai e Tsingtao
e que os observadores acreditam que isso significa que "o exército
japonês encara a retirada do interior dentro de um ou dois anos,
deixando o governo de Wang Ching-wei à sua sorte, com o seu exér-
cito chinês para enfrentar as forças do generalíssimo Chiang".
Em todo o caso, a presente situação na China é tal que parece
improvável que o Japão seja capaz de prosseguir avante com o seu
primitivo plano de destruir o governo Chiang. E isso não é somente
devido às dificuldades militares que envolve. É também, e talvez
principalmente, conseqüência da crescente sobrecarga das finanças e
economia japonesas. Existe atualmente ampla evidência de que o
Império do Sol Nascente está, afinal, sentindo fortemente o peso de sua
longa e dispendiosa guerra contra um inimigo que sobreviveu a tantas
derrotas e retiradas. É admissível que em um esforço heróico o
exército japonês possa atingir e apossar-se de Chungking, mas é igual-
mente admissível que esse esforço produza no Japão uma crise real
e ao mesmo tempo não consiga destruir os exércitos de Chiang, do
mesmo modo que a captura de Nanking e Hankovv não pôde ani-
quilá-los.
Parece provável, por conseguinte, que o Japão se satisfaça em
"nova ordem" nas
estabelecer a sua partes da China já conquistadas,
conservando sob seu domínio a costa do mar, deixando atrás uma
China dividida e apoiando Wang para continuar a luta contra Chiang
c o oeste. Naturalmente não se pode garantir que isto aconteça. Ha
poucos dias o primeiro ministro Yonai declarou na Câmara Alta Ja-
"O
ponesa: Japão não deporá as armas enquanto Chungking não re-
organizar seu pessoal e participar na construção da nova ordem.
Sendo essa a nossa política imutável, devemos nos preparar para per-
manecer em pé de guerra por um longo tempo". Tais declarações,
entretanto, podem perfeitamente ser destinadas antes a explicar pro-
váveis dificuldades para a criação do governo Wang, do que para tra-
çat o objetivo real do Japão. O certo é que todas as aparências indi-
cam uma tentativa da parte de Tokio para conservar seu domínio sobre
a China mas escapando ao mesmo tempo, logo que a honra permita,
ao perigoso aperto que a China exerce sobre o Japão. (Baltimore Sun).

(U.S. Naval Institule Proceedings, Abril de 1940).


REVISTA DE REVISTAS 1275

CRUZADORES DE BATALHA PARA A MARINHA DA

HOLANDA

O governo holandês acaba de anunciar a construção de


próxima
três cruzadores índias Um
de batalha defesa das Orientais.
para
orador do na Câmara dos Depu-
govêrno, respondendo a perguntas
tados, declarou solicitados
que os créditos a construção seriam
para
em tempo oportuno. o custo dos cru-
Estimativas não oficiais fixam

zaclores de batalha de
entre 50.000.000 e 60.000.000 guilders

(26.500.000 e 31.800.000 do dólares) cada um.

Desde o iniciou conquistas na China e apoderou-se


que Japão suas
das ilhas do Mar da na Holanda a anciedade
China do Sul, aumentou
sobre as ricas em
possessões das índias Orientais são petróleo,
que
de o tem da esquadra
que Japão grande necessidade. A maior parte

ja se encontra concentrada no defesa de


Extremo Oriente para Java,
Sumatra, Borneo, Nova Guiné e demais ilhas holandesas.

Círculos oficiosos informam o holandês recebeu com


que govêrno
especial agrado a declaração do Ministro das Relações Exteriores

Hachiro "Japão
Arita de o acentuar sua ausência de ambi-
que quer
çoes territoriais", nas zonas em encontram as índias Orientais
que se
Holandesas, mas deseja oferecer vantagens econômicas. York
(New
Herald, Tribune).

(U.S. Naval Institute Proceedings, Abril de 1940).

A SOBERANIA DA GROENLÂNDIA

Washington, 2 — O boletim
(H.) semanal da Forcign Office

Slssociation, faz ressaltar o interêsse atual sobre e


que a Groenlândia

a Islândia é estratégico, territórios se


principalmente porque êsses

encontram no caminho das viagens aéreas círculo


através o grande

polar, da Europa a América.


para

Êsse caminho, do se serviu o Marechal Balbo no seu vôo em


qual
formação, de Roma aos Estados Unidos, em 1934, é considerável-

mente menor do os outros. O cabo Farewell, situado na Sul


que ponta
Ja Groenlândia, está a. cêrca de novecentas milhas de Saint na
John,
Terra Nova.
1276 REVISTA marítima brasileira

A Islândia está aproximadamente na metade da viagem entre a

Groenlândia e o Norte da Escóssia; não pode portanto ser facilmente


"colocada"
no hemisfério Ocidental, mas sua estratégica é
posição

do mesmo modo importante.

A mudança da soberania da Groenlândia em benefício direto da

Grã Bretanha despertaria sem a menor dúvida objeções em Washing-

tori. Contudo, no se refere ao Canadá, embora membro do Com-


que

monwealth, é um Estado autônomo do hemisfério ocidental, com seu

próprio governo federal e sua legação em Washington.

Ao que se sabe, a questão da transferência não foi até agora

levantada oficialmente, porém é um dos do momento,


problemas

atentamente acompanhado pelos altos funcionários da capital norte-

americana.

Em torno ao estabelecimento das relações consulares com a Groen-

lândia comunica-se que a representação consular diréta foi julgada


apropriada pelas autoridades dos Estados Unidos e da Groenlândia,

devido à interrupção das comunicações entre Copenhague e a Groen-

lândia.

Os Estados Unidos serão representados Cônsul Penfield


pelo e

pelo Vice-Cônsul West, embarcarão seus no


que para postos dia 10

do corrente, a bordo de um navio


guarda-costas.

Sabe-se que o norte-americano resolveu no mês


govêrno passado
estabelecer relações dirétas com a Islândia, é domínio
que dina-

marquês.

{Jornal do Comércio, 3-5-40).

A. R.
Aviões
&

^UBMARINOy

Sumário — Os — Os mpnores submarinos alemães


aviões e a guerra
Defendendo — Os submarinos e a guerra
os bonibardeadores

A — Navio-tender de submarinos
aviação e surpresa naval

Três antídotos ataque aéreo — Prognósticos em do


contra o face

— acreos — A sub-
passado A questão dos bombardeios fôrça

— de aviação — Várias.
marina russa Código internacional

OS AVIÕES E A GUERRA

Do interessante discurso Marechal Pétain


pronunciado pelo

quando da inauguração de um Curso de Defesa Nacional na Escola

Livre de Ciências Políticas, destacamos os trechos seguintes, utilizaiv

"O
do-nos do trabalho dever das elites na defesa nacional", tradução

do Tte. Coronel Aníbal Barros e divulgada Revista de Marina


pela

do Chile.

"A
Após haver discorrido sôbre lição do Passado" especialmente
"Não
a da última diz o A.: tendo sabido desde o tempo de paz,
guerra
"em na terra, nem no mar, adotar suas disposições táticas e suas

possibilidades técnicas, as nações beligerantes tiveram de sofrer, por

muito tempo, conseqüências disso, vendo-se forçadas a improvisações

para se adaptarem.

R. M. B. 9
1278 Ajvista marítima brasileira

O novo poder da defensiva em terra emprestou ao conflito sua

forma estática e até o completo esgotamento


prolongou-o de um

dos adversários.

A vitória, o soube impor o esgotamento


ganhou-a que total, moral

e material, ao adversário.

A guerra naval foi sem combate e simples


ganha pela potência-
lidade da Marinha mais forte, sua
pois que potencialidade entrou em

ação 'desde o começo.

Por não haver compreendido o valor da arma submarina, os


aliados arruinaram a segurança de seu abastecimento. Mas, seus adver-

sários, não souberam explorar o tempo, as possibilidades e a surpresa

de sua ação em massa.

Como os armamentos terrestres e marítimos foram


pouco
modificados desde 1918, deduzir
poder-se-ia que as características da

guerra futui a serão em seu início as mesmas das da guerra passada.

Porem, não será assim, ocorreu


porquanto um novo evento assaz
importante, e de natureza tal modificará violentamente
que as con-

dições da guerra futura: o da aviação.


progresso

"O
fato novo é o aparecimento do avião e sua na
participação
Com a conquista 'do espaço, homem
guerra. o modificará o caráter

milenar da não mais é necessário romper a linha


guerra. Já inimiga

por terra alcançar o está trás.


para que por

No futuro o campo de batalha estender-se-á todo território


por o

e todos os mares das nações em luta. Não ha mais diferença entre

beligerantes e não beligerantes.

A curva representa a evolução da deixou de


que guerra ser

contínua.

O aparecimento da de inda mais acentua tal curva,


guerra gases,

porquanto a ação deles estende-se não só em volume como em duração.

Pode-se ainda aguardar uma maior extensão de seu emprego.

Durante a utilizou-se muito, não só aviões como


grande guerra

gases, porém estes elementos não eram bem conhecidos e não haviam

dado todo o rendimento de são capazes.


que
1279
AVIÕES E SUBMARINOS

Hoje o avião se levar a um ponto


proporciona elementos para

do superior a todos os
qualquer território, ataques de envergadura

ataques até
possíveis agora imaginados.

Não em só entrem forças


se podem conceber operações que

terrestres e navais. nas operações de superfície


O avião participará
e. além disso, independentemente agir sobre principais
destes, poderá

objetivos localizados no território inimigo.

O emprego das três forças dois o de sua


lançaram problemas:
coordenação e de sua preparação.

As transformações aparecem no mundo inteiro são as con-


que
seqüências das novas e
propriedades técnicas das armas particular-

mente da aviação. É esta do de vista exposto


a confirmação ponto
no começo e não
que cessarei de reavivar.

"São
as técnicas das armas fixam os caracteres
propriedades que
das Contudo, o sua última
guerras. avião inda não disse palavra.
Uia virá em ao céu
que êle ha-de se levantar
perpendicularmente
como um terreno
pássaro e pousará em terra sobre um qualquer,
libertando-se assim dos campos de aterragem.

Nesse dia o avião responderá vitoriosamente à crítica geral-


que
mente lhe é dirigida sóbre sua incapacidade de ocupar o solo."

OS MENORES SUBMARINOS ALEMÃES

Experiências da guerra passada

Muito se tem falado, sóbre o fato das maiores unidades conhe-

cidas na atual frota submarina dos alemães, terem apenas cêrca de

'50 tons. em imersão e da maior dessa frota compor-se de


parte
tipos de 250 tons., com os a Alemanha reiniciou a construção
quais
de tal espécie de naves. Estas são destinadas especialmente a

serem usadas no Mar do Norte e no Báltico, ou


em operações para
treinamento ser seu destino capital).
(o que parece

Ao mesmo tempo devemos recordar durante a última guerra


que
os alemães construíram um número de submarinos
grande pequenos,
os foram intensivamente usados contra o comércio dos aliados.
quais
1280 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

De modo tais submarinos eram construídos com suma rapidez,


geral,

embora, para o fim da haja tal rapidez decaído de muito


guerra,
—lê-se em La Revista Marina do Chile.
de

Inúmeros comandantes aos maiores e aos cruza-


preferiam-nos

dores-submarinos, devida à sua fácil manobra, exatamente como

muitos oficiais da Marinha britânica os submarinos da


preferiam

classe E aos demais, muito maiores, lhes seguiram.


que

O primeiro tipo de submarino pequeno construído Alemanha


pela
foi o U. Bdos o U. B. 1 e os demais até ao U. B. 17 foram
quais

desenhados para serem transportados caminho de ferro até aos


por

portos tomados na Flandres, onde novamente foram montados para


operar em águas estreitas. Deslocavam em imersão cerca de 140

tons. e uma única hélice dava-lhes na superfície de seis meio


e a

sete e meio nós; cêdo porém reconheceu-se esta velocidade


que era

insuficiente para perseguir os navios mercantes, devendo por conse-

guinte submergirem para esperá-los em sua passagem.


Na segunda classe, desde o U. B. 18 até ao t/t. B. 47, elevou-se

seu deslocamento até 291 e 305 toneladas e foram dotados de hélices

duplas, lhes davam uma velocidade na superfície


que de mais ou menos

9 nós. Êsses submarinos deram resultados satisfatórios. A terceira

classe começou no U. B48 e foi continuando até ao U. B. 249, na

época do Armistício, embora a maiór deles não houvesse


parte sido

posta nos estaleiros ou nem mesmo contratada sua construção. O

desenho variava consideravelmente conforme o estaleiro em


que
era construído. O deslocamento em imersão variava de 725 a 800

tons. e as velocidade na superfície entre doze e meio a treze e meio

nós.

Os estaleiros se ocupavam da construção dos submarinos


que
"Gíermânia "Weser"
U. B. eram o <le Krupp", em Kiel; o em
"Blohn
Bremen; o & Voss", dee Hamburgo, depois de 1917
que
deixou todo o trabalho especializar-se na construção do tipo
para
"Vulcan"
U. C., e o estaleiro de Hamburgo fez uni contrato
que

para construir nada menos de e oito unidades de uma vez,


quarenta

conforme o de Setembro de 1918. Porém, do


programa quando
Armistício, apenas se havia colocado a de um só dêles.
quilha
Tal o tipo U. B. o tipo minàdor U. C. começou com dimen-
qual

sões modestas operar frente aos da Flandres. Os U. C.


para portos
e os demais até ao U. C. 15 carregavam, unicamente minas,

deslocavam em imersão umas 180 toneladas e tinham uma velocidade


1281
AVIÕES E SUBMARINOS

na superfície hélice. Do U. C. 16 até


de seis e meio nós, com uma

ao U. foram aumentados nos seus


C. 79 todos êsses submarinos

deslocamentos 500 toneladas; hélices duplas


em imersão de umas

imprimiam-lhes e meio a doze nós,


uma velocidade de onze

carregavam e canhões. Do U. C. M3
minas, tubos lança-torpedos

até ao a 500 e 580 tonela-


U. C. 152, seus deslocamentos elevaram-se

das, embora e a disposição do aima-


fossem as mesmas: a velocidade

mento. Os êstes U. C. foram o Germânia,


estaleiros que construíram

o Vulcan, Bremen), o Blohm & Voss


(de Hamburgo) o Weser, (de

Hamburgo) de Dantzig: os tiês


(de e o Arsenal Imperial porém

tais trabalhos depois de


primeiros estabelecimentos abandonaram,

1917, da classe U. />. .


para dedicarem-se a construir submarinos

Como rapidamente em dimen-


os U. B. e os U. C. aumentassem

sões, a Marinha submarinos e durante


alemã necessitou mais pequenos

as últimas semanas esforço cons-


da guerra foi feito um grande para

truir um novo tipo, se chamaria o tipo U. F. desenhado especial-


que
mente costa da Flandres. Ordenaram-se nada menos de 92
para

destes submarinos. Tinham um único casco de 144 e 3 polegadas


pés

de comprimento, 14 e 5 de bôca; deslocavam 364


por pés polegadas
toneladas na superfície e 381 em imersão. Desenharam-se Diesels

de vários tipos, com uma standard de 600 HP., para


porém potência
desenvolverem uma velocidade de doze nós na superfície e motores

elétricos de 600 HP., uma velocidade de onze nós na superfície,


para
e outros motores também) elétricos mas de 620 HP. dar sete nós
para

^m imersão. Suas máquinas davam-lhes um raio de ação de 3500

milhas nós. Êles deviam ser armados com um canhão de 34


a sete

uma metralhadora e tubos lança-torpedos; seus


polegadas, quatro
cascos construiam-se habitualmente com bastante espessura como pro-

teção as bombas de
para profundidade.

Nenhum destes submarinos alcançou sequer seu lançamento,

antes do armistício.

DEFENDENDO OS BOMBARDEADORES

Desde anos, realmente desde o fim da de 1918,


alguns guerra

tem havido sempre uma argumentação corrente entre as forças aéreas

de todas as nações, sobre a melhor forma dos bombardeadores


qual

se defenderem.
1282 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Devemos supor além das baterias anti-aéreas, só


que que podem
agir quando o céu está razoavelmente claro, e os holofotes só
que

podem trabalhar quando o céu está escuro, mas limpo, e a barragem

de balões só ser em funcionamento com um intervalo


que pode posta

de 24 horas, tempo durante o êles não


qual providencia-se para que
se esvaziem nem se rompam; sim, devemos supor a-pesar-disso tudo,

que deverá existir sempre caçadores aptos a agirem contra os bom-

bardeadores. A controvérsia girou sempre em torno de uma destas

duas cousas: devem os bombardeadores de si


protegerem-se próprios
ou devem ser acompanhados de escoltas de caçadores?

Uma escola argumenta que, si se der a um bombardeador bas-

tante artilharia e si os artilheiros aprendem a cooperar uns com os

outros, concentrando o fogo de várias máquinas num só ataque, uma

boa formação de bombardeadores pode rechassar do céu os ataques

da defesa.

A isso os defensores da interceptação respondem si dermos


que,

a um interceptador 6 ou 8 canhões e velocidade bastante, com uma

moderna proporção de fogo, êle serrar o casco


poderá praticamente

do inimigo com os furos dos tiros. O interceptador vir de


pode

cima para baixo ou ir de baixo para cima no seu ataque. Inda

assim, êle só oferece um alvo pequenino aos artilheiros do bombar-

deador, enquanto os aparelhos de bombardeio oferecem êles um


para

alvo fácil de ser atingido, como si fôra uma de celeiro


porta {barn

door) à distância de 25 jardas.

Certamente, si o piloto interceptador começa atirando a mil jardas

não ficará muito à vontade para danificar o bombardeador. Mas, si

tiver calma para agüentar o fogo até chegar a cem e si tem


jardas,

a felicidade de eliminar o atirador da cauda, com alguns disparos

a longa distância, si tal acontecer, o bombardeador será facilmente

alcançado. E dever-se-á sempre que haja sufici-


providenciar para

entes interceptadores, ocupados em se defenderem a si próprios, de

modo que não possam concentrar seu fogo combinado sobre um

só aparêlho inimigo.

Isso é porque, ataques bombardeadores isolados ou em


por

pequenas formações contra qualquer objetivo militar, desde um

comboio de navios mercantes armados até um encouraçado fundeado,

é completamente absurdo...
AVIÕES E SUBMARINOS
1283

De um modo geral, os que proclamam que a melhor resposta


para um caçador é um outro caçador, têm muito maiores motivos
de estarem certos, os que proclamam que a única resposta a um
bombardeador é um outro bombardeador, bombardeando o local de
onde partiu o primeiro bombardeador.
A percentagcm de perdas sofridas pelos bombardeadores, que,
vieram através do Mar do Norte para atacar objetivos puramente
militares, foram tão elevadas que devem desencorajá-los para novas
aventuras. Também as perdas da R. A. F. já divulgadas — espe-
cialmente aquelas que eram rotuladas "Perdido, acredita-se Morto",
quando comparadas com o número relativamente pequeno de pnsio-
neiros — parece mostrar que a despeito da notável diminuição de
boateiros e de informadores oficiais, que não estiveram sobre o
território germânico, os pilotos da Luftwaffe não devem ser despre-
zados como combatentes do ar.
Não ha menor dúvida que o moral de nossas guarnições dos
bombardeadores é merecedora do valor dos homens que combateram
em 1914-18, e muitos de nossos combatentes atuais são irmãos dessa
gente. Mas, mercadejar com a moral dos indivíduos para encobrir
erros nos planos dos aparelhos ou na estratégia do comando, não e
nem justa, nem forma vantajosa de se fazer guerra.
A moral é qualquer cousa de magnificente em qualquer Força
Aérea. E, ela pode ser melhor mantida, si melhor proteção for dada
aos que a possuem.
Nos primeiros dias da guerra de 1914-18, os aparelhos de reco-
nhecimento e bombardeio eram empregados sem escolta. Em face
do desenvolvimento da artilharia anti-aérea germânica e dos caçado-
res Focker postos em ação, a R. A. F. sofreu pesadas perdas e
seu moral foi abalado, pois os pilotos e observadores acreditavam
tornarem-se vítimas — porisso foi mister fazer algo para tornar
segura sua profissão.
O Sopvith "One-and-a-half Strutter" no qual o observador fica
à ré do piloto com um canhão giratório, realiza bastante essa proteção.
Mas, no fim, o Alto Comando teve de organizar seus raids de bom-
bardeio de forma a ser apropriadamente escoltado pelos aparelhos
de caça.
Isso era certo nesses dias porque as distâncias, pelas quais deviam
ser transportadas as bombas ou os reconhecimentos feitos, não eram
1284 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

mui extensas. E, os caçadores no fim de certo espaço de tempo

puderam manter-se com êles e combaterem com seus carregamentos

de cheios tais distâncias.


gasolina para

As condições na Espanha eram semelhantes embora diversas.

As distâncias eram ainda menores e o carregamento de bombas mais

pesado. E os robustos, pequenos e inquebráveis bi-


pràticamente

planos Fiat puderem carregar bastante gasolina e assim abaterem

os caçadores Russos eram usados Republicanos,


que pelos porisso

que os monoplanos Boeing americanos, de construção russa, e os bi-

planos Curtiss eram tão mal acabados se desfaziam em


que pedaços
se mergulhassem muito fortemente ou manobrassem repentinamente.

Os pequenos Fiais usados em combates contra os aparelhos Republi-

canos tinham uma maneabilidade estonteava seu adversário


que

impondo a posição de combate.

Mais isso, não é absolutamente a mesma coisa desenhar 11111


que
aparelho de caça carregando o combustível necessário, acompa-
para
nhar uni bombardeador de seu aeródromo até a Hamburgo ou Berlim

e regressar. Si alguém imagina um Hcinkcl ou um caçador Messers-

chmidt vindo diretamente do solo com o combustível bastante em

seus tanques duas horas, espécie de demonstração rea-


para que pode

lizar contra êle um caçador si êle estivesse transportando


petróleo

cêrca de mil e duzentas milhas — dizer, da fronteira


por quero até

Berlim e de volta até à Inglaterra?

Todos parecem acordar em cada bombardeador individual-


que

mente deva ter um caçador escoltá-lo. Mas, o de


para problema

como fazer um caçador voar distâncias e ilida manter-se


grandes

manobreiro é qualquer cousa faz dor de cabeça em todos os


que

construtores do mundo.

Uma solução óbvia e real é a modificação imaginada em 1918

pelo último Comandante Porte e materializada no Porte Baby.


John

A máquina era um vasto aerobote triplano, com três motores.

Carregaria um caçador 11a sua superior. O


pequeno parte pequeno
avião deveria transportar combustível cêrca de uma hora e lá
para

ficaria até um Zeppelin viesse o seu lado. Então, o motor


que para

seria posto em movimento, e êle largaria do Zeppelin e voaria para


o ponto da costa mais próximo. Era um desenvolvimento das idéias

do Cap. de Mar e Guerra Charles Rummey Samson de rebocar um


1285
AVIÕES E SUBMARINOS

caçador batei hidro-volante atrás de um


pequeno numa espécie de

destroycr e logo o inimigo aéreo sur-


deixando o aparêlho livre que

gisse. A idéia foi experimentada e nela se começou


do Porte Baby

a trabalhar. E uma foi abatida um caçador.


aeronave por

Do Po/te não mais houve que um


Baby até o May o Conipósito

largo foi invertida. No May o


passo, exato à que
quanto posição
Conipósito, o era um hidroplano
pequeno aparêlho superior pesado

inteiramente fora do solo um


carregado, o era auxiliado por
qual
aerobote francamente Baby era um caçador muito
carregado. O Porte

leve desengastava inteiramente carregado e ao qual


que de aerobote,

se unia sua total dos de sustentação


por parte superior. O peso planos

de uni aerobote não é elevado êle tem uma área colossal,


porquanto
mas o total da máquina era
pêso grande.

Naturalmente ocorre a idéia se deva montar um velocís-


que
simo caçador, muito leve, muito manobreiro no teto do bombardeador;

qualquer cousa no tipo Conipósito, mas com a carga completa.

Então se o bombardeador for atacado, o caçador destacar-se-á


pesado
dêle livre, ficará em condições de voar e manobrar contra os inter-

ceptadores. Isto foi atualmente feito russos em 1934. Êles


pelos

puseram um caçador sobre o Máximo Gorki; aquele horrendo


pequeno
monoplano de seis motores se após uma colisão no ar,
que partiu,
c matou o General Baranoff e cêrca de 20 outras Mas,
pessoas.
o caçador destacara-se dêle antes disso.
pequeno

O desarranjo será em combate, a menos que


provável quando

se iniciando muito à fronteira, o caçador, carregando


próximo pequeno

apenas um fraco carregamento de óleo, fique inteiramente perdido.,

O tornar-se-á então um da o como os


piloto prisioneiro guerra, que,

pilotos dêsses caçadores, deverá necessàriamente ser sacri-


pequenos
ficado.

OS SUBMARINOS E A GUERRA

Uma interessante coincidência da guerra anti-submarina passou


"Union-
quasi desconhecida. O IVarzvick Castle navio da companhia

Castle" foi um dos navios mercantes lograram êxito


primeiros que

em furtar-se ao ataque desferido um submarino inimigo. Foi


por

a bordo dêste navio, faz mais de dois anos, se deu o pri-


pouco que

meiro anúncio do início dos Cursos de Defesa a Marinha Mer-


para
1386 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

cante. O valor da instrução ministrada nesses cursos, aos 9.000

oficiais da Marinha Mercante êles resultou


que por passaram,
inapreciado.

Embora hajam sido publicados somente uns casos de se


poucos

ter escapado aos ataques dos submarinos, é certo muitíssimos


que
ataques têm sido frustados ziguezague combinado e outras
pelo por

precauções tomadas oficiais. Êstes têm sido obrigados a


pelos passar
épocas de sobressaltos contínuos, porque, segundo o foi mani-
que

festado Almirantado, os submarinos têm estado atuando ainda


pelo

em mui longínquas (far afield). Esta expressão vaga


paragens

(por certo deliberadamente empregada) fez com o em


que público

geral se enganasse, porquanto não faltaram leigos falassem de


que
submarinos operam em Capetown ou no Oceano Índico. Na
que
"em
realidade paragens mui longínquas" significa muito menos.

Pode-se calcular que os submarinos maiores têm capacidade para


levar umas noventa toneladas de combustível e ter um raio de ação

de sete mil milhas. Si lhe concedermos uns doze dias


que passeiem
cruzando sobre os pontos de caça, a velocidade, isto repre-
pequena

senta mil milhas de e ajuntando-lhes as viagens de


patrulhamento;

saída e de regresso à sua base, de três mil milhas cada uma, teremos

o máximo de distância em operar. Isto significa,


que podem que
os limites de seus ataques circunscrever-se às águas de
poderiam

Nova-York e o sul do Mar Caribe até o da Guiné.


golfo

O ritmo de destruição de submarinos, seja, deve


qualquer que
relacionar-se com o ritmo de substituição. Conhecemos
provável

os grandiosos planos o Almirantado alemão tinha na última


que

guerra para produzir submarinos. Seus a cons-


programas previam

trução de nada menos de setecentos e sessenta e cinco unidades de

todas as dimensões. Porém, também sabemos os estaleiros,


que

embora estivessem nesse tempo esplendidamente organizados, mani-

festaram-se incapazes de satisfazer os lhes eram feitos.


pedidos que

Até fins de 1918, haviam logrado apenas trezentos e


produzir qua-
renta e submarinos e muitos dêsses não chegaram a ser
quatro

terminados até mesmo depois do Armistício e só serviram para

aumentar o número das unidades se renderam em Harwich.


que

Houve uma classe inteira dos submarinos UF de um só


(a pequenos
E SUBMARINOS 1287
AVIÕES

casco), devia no verão de 1917, da nenhuma


que ser entregue qual

unidade foi concluída, Almirantado alemão ter feito enco-


a-pesar-do

menda de 92 dêles. tempo em construir um submarino de


O gasto
750 tons. variava e cinco meses, segundo o número
de dez a vinte

de operários e a materiais. Os submarinos de 500 tons.


provisão de

necessitavam 14 U C de 400 tons. de


de a 18 meses e os pequenos
dez a meses. a máxima da
quinze É calcular que produção
possível
Alemanha, numa anos, seria de duzentas e trinta
guerra de três

unidades dos três tipos ritmo de como termo médio,


e que o produção,
seria de uns seis ser instrutivo confrontar com
por mês. Pode

êste número de submarinos na


o têrmo médio de afundamentos

última êste foi de um mais de seis por


guerra; precisamente pouco
mês. Si não mais fizermos, manter agora êsse número, a ameaça
que
submarina estará conjurada.

É de lamentar o Almirantado não tenha acreditado ser


que
conveniente dar mais detalhes acêrca da fuga dos três destroycrs

polacos, que zarparam de seus e vieram unir-se à Marinha


portos
britânica. Ha muitos detalhes desta aventura,
pitoresca que pode-
riam ser sem novas disposições militares.
publicados perigo para
Êstes dcstroyers formaram um agrupamento mui útil à força de

nossas flotilhas; é esta uma direção, na toda a ajuda consi-


qual que

gamos será grandemente benvinda, a campanha anti-submarina


porque
está exigindo do nosso dos empregados em combatê-la, um
pessoal,
excessivo esforço de resistência.

A AVIAÇÃO E A SURPRESA NAVAL

Considera-se que as incursões navais, contra as costas e contra

o tráfego costeiro, tornar-se-ão mais difíceis em épocas anterio-


que
res, a marítima inferior; e os riscos
principalmente para potência
inerentes a uma tentativa de invasão, realmente, foram aumentados.

Em termos é evidente o aumento do número e da eficiência


gerais que

das forças aéreas diminuiria as da surpresa; todavia,


possibilidaes

como até agora só dispomos o estudo dêste tema, de exercícios


para
com finalidades não é deduzir desde
pré-estabelecidas, possível já,

conclusões de carater — lemos na Revista de Publicaciones


geral

Navales de Buenos Aires.


1288 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O reconhecimento aéreo constitue o meio


principal pelo qual
uma esquadra vigiar os movimentos do seu adversário. O
pocle

reconhecimento aéreo oferece de modo uma esquadra


particular para
inferior, as seguintes vantagens:

1-° — Elimina dificuldade no


a que, passado, apresentava o

reconhecimento naval de uma esquadra mais


poderosa.

2." — Admite a de surpreender


possibilidade divisões da esqua-

dra mais ou de em ocasião oportuna tomar as disposições


poderosa

para evitar a ação tática.

No asunto recorda-se a surpresa originou a batalha das


que
ilhas Malvinas e afirma-se que ela não teria lugar se Von Spee

dispusesse de aviões.

As vantagens do reconhecimento aéreo devem fazer frente às

dificuldades de identificar desde o alto. A êsse respeito nota-se

que isto foi confirmado pela experiência da espanhola.


guerra
Admitindo ainda alguns ataques efetuados contra navios ingleses
que

fossem devido a um deliberado estima-se a mor


propósito, qua parte
dos acidentes foram devidos a equívocos ou dúvidas.

(The Fighting Forces)

NAVIO-TÊNDER DE SUBMARINOS

O patrulhamento de segurança que nossos submarinos estão

realizando em águas inimigas — lê-se em The Navy — não tem sido

muito comentado. A história do trabalho e aventura dos homens

que dispendem talvez uma fora de suas bases, debaixo dos


quinzena

mares, sob perigo constante em face das minas e das bombas de

profundidade lançadas pelos destroyers do adversário,


patrulhadores

raramente acha caminho fácil à notoriedade. Suas guarnições per-


manecem cm silêncio, em incessantes tarefas, tarefas e
perigosas
exaustivas, só vêm ao conhcimento em ocasiões tais
que público

como as dos ataques bem sucedidos do Salmon e do Ursula.

Mas o que ha a êsses homens e seus serviços? Como


quanto

são êles tratados em seu regresso das vigílias submarinas, barbados,

cansados e enfadados, sedentos de alimentação fresca e de sono,

sequiosos de ar fresco, e movimentos livres...?


AVIÕES E SUBMARINOS 1289

Recentemente, retribuímos uma visita à Base Naval do Norte

procurando ver um navio depósito, cujo objetivo é proporcionar


"conforto
o dos submarinos. Êste
de habitação" às guarn^çõefs
navio especial é flotilha exercendo o
o tender de uma patrulhamento

em águas inimigas do Mar do Norte.

Pouco dos submarinos de regresso da


depois chegamos a um

enrolada de toda forma em


patrulha. Sua guarnição veio a bordo

lãs, velhas, botas de borracha que são


japonas szveatcrs e grandes
usadas do frio. Estavam todos os seus componentes,
para protegê-la
fatigados, cobertas abaixo, os
conforme dissemos, e desapareceram

oficiais as suas cabinas e a seus alojamentos.


para guarnição para
Fomos com êles e vimos como empregaram seu tempo
pessoalmente
de repouso.

Durante os dez dias, êstes homens trataram de repou-


próximos
sar, restaurando energias a Usavam de banhos
para próxima patrulha.

quentes, lavando-se em recipientes cheios de água realmente quente,


"conta
em lugar de banho de único de ser obtido no
gotas" possível
submarino. Dormiram confortàvelmente, usaram de comida fresca

e beberam chá com leite. Atualmente, em


porém, quando patrulha-

mento "acepipes"
suas dietas têm mais os cardápios usuais das
que

guarnições. É uma dieta especial compensar a


providenciada para
falta de exercícios, e do ar fresco nos submarinos. Um horário

especial de refeições cada dia de viagem é fornecido ao cozi-


para
nheiro do navio-tênder oficial rancheiro, de maneira êle
pelo que

pode servir refeições tenham o necessário valor alimentício e ao


que
mesmo tempo ser atraente e apetitosa ao mais exigente O
paladar.

submarino mais moderno tem embarcado um cozinheiro especialista

que das vantagens de uma moderníssima cozinha elétrica. Cada


goza

oficial tem uma cabina simples no navio-tênder, com sofá-cama em

lugar do leito dos velhos tempos. Água corrente, fria ou quente;

luzes ocultas e mobiliário moderno aumentam o conforto do aposento

privado fica reservado até à volta. Como o navio-tênder o é


que

para uma dúzia de submarinos, ha cêrca de um centena dessas cabinas

para acomodarem seus oficiais e os da do tênder.


guarnição

As têm também seis tudo estando neles


guarnições quartéis,

disposto não sofrer transtornos <le suas ausências.


para quando

Acima dos aposentos ha um grande salão de recreio mobiliado à mo-

derna com cadeiras de metal... Ha também um soda founlain.


1290 revifta MARÍTIMA brasileira

Enquanto tudo se faz dar maior conforto cuida-se


para possível,

também com carinho do navio. A guarnição do tender encarrega-se


"hotel"
de cuidar do submarino. Em acréscimo às acomodações do

no navio-tênder de 12.000 toneladas ha também uma réplica num


"navio-arsenal"
de reparos...

Guarniçôes especializadas do navio-tênder, eletricistas, carapinas,

artífices vários, afluem ao submarino, ajustando, experimentando e

concertando, enquanto os especialistas óticos vêm si os periscópios

estão em ordem. Torpedos novos, de suas cabeças


perfeita providos

de combate, saídos do armazém, são transportados o subma-


para

rino... Nada se deixa à sorte. A confiança reside na eficiência

com êsses especialistas realizam seus trabalhos. Todas as subs-


que

tituições de equipamento que se tornarem necessárias, são feitas pelo

armazém gigante. .. A artilharia do submarino, vive uma vida


que

das mais desiguais, a maior parte do tempo debaixo d'água, é mere-

cedora de grandes atenções por parte dos especialistas de armamento.

(U. S. Naval Instituto Procecdings)

TRÊS ANTÍDOTOS CONTRA O ATAQUE AÉREO

O Coronel G. M. Barnes, perito do exército dos Estados Unidos,

disse que o seu Exército desenvolvera três importantes antídotos

contro os ataque aeronáuticos.

As novas armas ofensivas são: 11111 novo canhão semi-


portátil

automático de 37 milímetros de calibre, um localizador de som e

uns holofotes. O Coronel Barnes, chefe da artilharia e da divisão

automotriz dos chief ordnance e do Estado Maior técnico, descreve


I
a nova arma no Army Ordnance, publicação da Army Ordnance As-

sociation, e da qual tomou a notícia se segue o Herald Tribuno


que

de Nova York.

"Uma
das mais difíceis tarefas da defesa anti-aérea é de
prote-

ger a linha de frente de soldados contra o vôo baixo dos aeroplanos".


"O
O Coronel Barnes escreveu: avião testa adeantar-se apro-
pode

ximando-se do seu objetivo, geralmente sem ser visto até ao instante

em que êle passa pelo alvo. Uma nova arma infunde


que grandes

esperanças no combate a tal aeroplano foi adotado no Exército. É

o novo canhão semi-automático de calibre 30. Êste canhão


portátil
AVIÕES E SUBMARINOS 1291

pode ser utilizado pelos soldados em geral num tempo aproximada-


mente 2 yA vezes mais rapidamente que o canhão Spring field..
A aviação moderna pode apresentar numerosos impactos com
projéteis de calibres 20 e 50, sem que haja, ao que se diz, grandes
uanos. Uma arma inda mais poderosamente agressora é necessária,
porém, ela teria que ser mui móvel para defender a linha de frente.
"O
canhão anti-aéreo de 37 milímetros foi introduzido para
"Este canhão
preencher tal armamento". O Coronel Barnes disse:
automático atira à razão de 125 tiros por minuto. O projétil, pesando
cerca de 1 V2 libras, tem uma espoleta traçada para detonar espontâ-
neamente, se for carregada de alto explosivo, pelo simples contacto
com qualquer parte do aeroplano. O projétil também contém um
elemento semi-destruidor de modo que no caso do aeroplano não ser
atingido, a bala explodirá depois de haver percorrido uma pre-deter-
minada distância. Tcsts demonstraram que é duvidoso que um
bombardeador qualquer possa resistir a mais de dois ou três desses
impactos".
Barnes disse, que o nosso localizador sonoro é análogo a um
telescópio de longo ângulo de visão, cobrindo um amplo campo, e
que também amplia muito o som captado; a data é transmitida elè-
tricamente para o holofote que por seu turno encaminha o aeroplano.
Os interceptadores da luz abrem-se automaticamente e em geral
mui pouca pesquisa é necessária antes do aeroplano aparecer."
Tcsts de campo indicaram ser difícil bombardear esquadrilhas
em ataques noturnos sobre áreas defendidas sem que sejam captados
os sinais de sua posição por alguns dos localizadores de som ou holo-
fotes, diz ainda o Coronel Barnes.

(U. S. Naval Institutc Proccedings)

PROGNÓSTICOS EM FACE DO PASSADO

Passou a hora das dissertações, dos cálculos e até dos vaticínios.


lá não se refere mais que a ação. Sem embargo, para os que se
acham afastados da ação, é difícil aceitar com indiferença e bom
humor este silêncio que se impõe para ocultar o assunto que mais
1292 RÜVIS1A MARÍTIMA BRASILEIRA

nos interessa — escreve o Comandante Barge em L'Air. Informação

e discrição ser satisfeitas ao mesmo tempo- A abstenção


podem

total não gera mais inquietudes.


que

"Por
isto temos calculado que ajustando-nos ao marco dos pre-

ceitos oficiais e sem faltar a discreção imposta censura, seria


pela

conveniente que esta crônica pudesse proporcionar ao leitor uma

revista nos acontecimentos aero-navais. Às vezes teremos


geral que

dar uma notícia mais 011 menos bordada de comentários (pelo que

pedimos desculpas) de um encontro das fôrços aéro-navais... e

outras vezes apresentaremos um estudo das circunstâncias, destinado

a iluminar êste ou aquele mistério da guerra no mar.

A aviaçÕ10 diminuiu consideràvelmente a ofensiva dos sub-


potência

marinos em relação aos navios de superfície

Desde cerca de dois meses de 1939), os aconteci-


(Setembro

mentos marítimos precipitaram-se com tão rápido ritmo não é


que

fácil deles tirar uma impressão geral, que assentar


permita previsões

sobre um futuro imediato. Todavia, alguns fatos mais notáveis

provocaram profunda impressão na opinião pública.

As sucessivas do Caurageous e do Royal Oak contam-se


perdas

entre os maiores êxitos alcançados pelas armas submarinas. Volta-

remos a êste ponto mais adiante; mas sem querer negar valor aos

marinheiros alemães, patentear nossas previsões,


queríamos que

formuladas antes da guerra, justificam-se plenamente quanto à dimi-

nuição da ofensiva do submarino, em relação aos navios


potencialidade

de superfície. A causa primordial disto é a aviação; uma coopera-

ção altamente valiosa a êste mesmo fim foi conseguida pelo aperfei-

çoamento dos processos de detecção acústica e de escuta.

A submarina durante o conflito de 1914-1918


guerra

Muitas vezes foi dito e repetido que não ha uma nova arma

tenha permanecido preponderante e sem encontrar seu antídoto.


que

Hoje em dia os antídotos do submarino estão já aperfeiçoados

ao mais alto e não se um dia sem que esta verdade se


grau passa
AVIÕES E SUBMARINOS 1293

demonstre. A nosso ver, a submarina não se pode estabilizar


guerra
em sua forma atual, chegaria à terrível conclusão de iria
porque que

perder mais do Contudo, o submarino é auxiliado


que ganhar.

pelo tempo atmosférico a aviação, em vista das


(desfavorável para

cerrações de outono do equinocio) e estação


e das tempestades pela

de inverno noites ao submarino muitas horas


(as longas permitem
na superfície, tão úteis a recarga dos acumuladores e para prover
para
a resistência do pessoal).

Sem ser com segurança uma evolução


profeta pode-se predizer

próxima na aero-naval, se distinguira pela mui-


guerra evolução que

tiplicação de certas missões de combate... Não dizer mais


podemos

por hora".

dc Marina — e Fevereiro de 1940)


(Revista Janeiro

A QUESTÃO DOS BOMBARDEIOS AÉREOS

Agora Paris acaba de ser atacada aviação nazista e


que pela

que as represálias desenham-se interessante reprodu-


para já, parece
zirmos o no assunto divulgou o Acro-Digcst, e tomámos do
que que

Proccedings assim resumido.

"O
está indagando o aconteceu aos esperados ataques
público que

aéreos deviam ter destruído Londres, Paris e Berlim durante as


que

primeiras semanas de guerra".

A através de duas fases distintas, agora com-


guerra já passou

pletadas. A foi a conquista da Polônia. Nesta campanha


primeira

a força aérea foi empregada como a lança capital das


germânica

forças terrestres. Isso tornou impossível a ordem de mobilização

da menor e menos eficiente fôrça aérea assentando o caminho


polonesa,

do Exército motorizado. Tal campanha foi a primeira


germânico

demonstração mundial da coordenação do solo e das forças


perfeita

aéreas.

"Paz
A essa sucedeu a outra fase da Ofensiva". Agora nós

chegamos à terceira fase. Conjeturar sobre o caminho que a


qual

próxima tomará, é fazer-se algo com o tentar prever


guerra parecido

em direção u'a mosca vai voar. Parece a Holanda e a


que que
1294 revista marítima brasileira

Bélgica serão invadidas; nós ouvimos Adolfo favorece êste


que plano

e que o Estado Maior Germânico opõe-se a êle. Enquanto se está

retalhando êste assunto, algures mencionam a Jugo-Eslávia e a Ro-

mânia como as vítimas seguintes, porquanto Adolfo de óleo. É


precisa

uma espécie ce puszlc faltando diversas partes. Mas podemos reunir

algumas relativas ao poder aéreo, e verificar como se com-


peças

portam em relação ao quadro geral.

Relanceando sobre a situação, vemos aproximadamente


presente

as mesmas condições prevaleceram em 1914. A no mar,


que guerra

a campanha submarina germânica e o bloqueio britânico e francês,

nem mais nem menos com os realizados ha anos


parecem, passados.

O fator econômico não é mais favorável à Alemanha de hoje

de lhe fôra em 1914, não obstante o auxílio a Rússia


que que poderá

oferecer. Êste fator econômico, mais batalhas terrestres, é da


que

maior importância no presente conflito. E isso é onde o Poder

Aéreo poderá ser empregado para alterar a balança contra a

Inglaterra.

Consideremos primeiro porque a esperada ação de bombardea-

mento de cidades não foi materializada. Afastaremos como propa-

ganda a explicação de Goering de que os alemães são bastante

humanos não experimentar esta espécie de bombardeamento —


para

escreve o Acro-Digcst de Dezembro último. Êles o foram na guerra

de 1914-18. Lembremo-nos, outro lado que ninguém realmente


por

conhece o que seria de fato um bombardeio de cidades, em longa

escala. Isso ajudará materialmente uma decisão; depois talvez não

mais. O bombardeio irrestrito servirá especialmente para enfurecer

o adversário e mais persistente êle será na resistência. Também êle

será correspondido com um contra-bombardeio. Certamente, a

nação que primeiro inicia o bombardeio arcará com a opinião pública

contrária de todas as nações neutras civilizadas; e enquanto os nazis-

ias alemães provavelmente não têm no atual momento um só amigo no

mundo de hoje, êles sabendo disso, procurarão auxiliar seus inimigos

em ação. Êstes são, por exemplo, muitos milhares de americanos e de-

mais neutros, em Paris, Londres, e outras cidades. Suponha-


grandes

mos diversos dêles sejam mortos bombas Os


que, pelas germânicas?

Estados Unidos, por dois anos neutros, tornaram-se em 1917 inimigos

terríveis da Alemanha. A História repetir-se.


pode
E SUBMARINOS 1295
AVIÕES

mas tal destruição será indicada


Londres pode ser destruída,

politicamente falando?

Outro tipo de bombardeio integral é tio


fator contrário a êste

Stalin. um firmemente na
Joe Com tendo agora pé plantado
Joe
fronteira os Escandinavos, êle se
alemã e a outra orla contra países

torna os civilizados da Europa,


a razão mais qual povos
poderosa pela

(levem-lhe tomar neste caso uma decisão


toda a sua atenção para

vantajosa. Inglaterra, Alemanha sabem elas tornam-se


França e que

fracas enquanto a Rússia torna-se


com uma longa e selvagem guerra,

forte — si mantiver fora O velho é a razão prin-


se da guerra. Joe

cipal a vento e 10 realmente


porque guerra é mais 90 % % guerra

militar.

Todavia si as coisas se mantiverem neste sentido, Hitler devera

finalmente. Somente no êle tem certa liberdade de movi-


perder ar

mentos. Impedindo a destruição da cidade bombardeio aéreo


pelo

motivos e ha de insucesso em
por políticos, por que possibilidade

tais êle? Apenas o uso do aéreo contra


golpes, que perde poder

os suprimentos vias marítimas; é do a Inglaterra carece


por que

para continuar a Isto deve aumentar as dificuldades do


guerra.

poder aéreo em constante atrito com a campanha


germânico

submarina.

A da Espanha mostrou navios no ser


guerra que, porto podem

a ao cais, tão facilmente como se fisga no mar


postos pique, junto

um tubarão. E um navio afunda em uma doca, não só se


quando

perde o navio, como também a doca, se torna inútil até a remoção


que

do derelito. Isto tomará semanas ou meses. Mas, chegamos agora

a um os bombardeadores alemães, e nada é simples


problema para
neste mundo, mesmo se trate de bombardeadores.
que

Para atingir um navio ou uma doca, é antes de mais


preciso

nada distingui-los, e à noite, excetuadas as noites claras, enluaradas,

nada se ver. Além disso o bombardcador precisa


pode praticamente

executar seu trabalho de dia ou em noites claras. E, sob certas

condições o alvo ser visto, caçadores inimigos e canhões


quando pode

anti-aéreos hostilizar os bombardeadores também.


podem

Poderá o bombardeador ser bem sucedido a dispeito da oposição

das esquadrilhas de caça da defesa auxiliadas pelos canhões anti-


1296 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

aéreos? Acredito êles mas somente sendo acompanha-


que possam,

dos suas esquadrilhas de caça as quais ocupar-se-iam


por próprias

dos caçadores adversários, deixando assim livres os bombardeadores

agirem sem ser molestados. Temos algumas disso na


para provas

guerra chino-japonesa.

Certo, não é necessário acompanhar as experiências dessa


que

elas serão duplicadas noutra em oposto do


guerra, pois ponto

especialmente é em geral admitido estarem os pilotos


globo quando

e chineses abaixo da eficiência standard dos das potências


japoneses

Européias. Entretanto na China as perdas de bombardeadores não

abatidos caçadores, foram muito elevadas; as


protegidos, por perdas

de bombardeadores acompanhados aparelhos de caça são


quando por

muito menores.

Tal é o que os bombardeadores têm a


problema germânicos

enfrentar de seus aeródromos do norte da Alemanha


partindo para

atacar navios de comércio nos portos ingleses; a distância é por

demais para permitir que sejam acompanhados seus apa-


grande por

relhos de caça; e se atacam sem a proteção dos caçadores êles se

expõem a de navios e gente, e a um abatimento de moral


graves perdas

dos sobreviventes. Além disso, voar da Alemanha é mister um


para

enorme dispêndio de e óleo, de que os alemães carecem.


gasolina

Dá-se também um enorme desgaste de motores devido às longas

horas de vôo. Bombardeios ou distâncias serão sempre


grandes

dispendiosos; talvez seja extremamente custoso aos alemães mantê-

los por longo tempo.

Então será a solução os alemães ? Bem; ha a Bélgica


qual para

e a Holanda no caminho a Inglaterra. Da Bélgica


justamente para

especialmente, será fácil e econômico as operações de bombardeio,

fazendo-se, os bombardeadores, acompanhar da proteção dos caçadores.

Esta é a razão em ataques sôbre êsses tão pequenos


principal porque

deve ser desferido; a avançada do terreno para o


países posição

exército e a aquisição de bases de submarinos nas costas da Holanda

e Bélgica são de importância secundária.

Nada foi aqui referido ao emprêgo de bombardeio aéreo


quanto

contra navios de da Esquadra britânica, ou contra navios


guerra

mercantes no mar; alvos tão dispersos e amplos apenas ha


para
1?07
AVIÕES E SUBMARINOS íe-J/

objetivos menores, donde uma perda de esforço, de bombas e de


tempo. Raids aéreos foram efetuados por ambos os lados, sobre
grandes distâncias, mas pouco mais foram que vôos de reconheci-
mento nos quais as poucas bombas transportadas, era mais para efeito
de propaganda que para qualquer outra cousa.
Como estratégia não é indicado o ataque ao inimigo em seu
sobre vários
ponto de maior poderio, tal como dispersar o ataque
e afastados objetivos. É da boa estratégia concentrar os ataques
sobre o mais fraco ponto do inimigo.
O ponto mais fraco da Inglaterra é o tráfego marítimo do qual
depende sua vida. Quando tal tráfego é atacado nos portos, é um
alvo imóvel, junto ao cais que também pode ser destruído. Com as
obras dos portos desmanteladas e eles atravancados com navios sub-
mergidos, a Inglaterra terá que enfrentar um bloqueio aéreo que se
pode manifestar tão eficaz quanto o é o bloqueio marítimo que a
Inglaterra ora mantém contra a Alemanha. Nesse impasse, o ven-
cedor será o povo que primeiro calcular a acção contraria.

A FORÇA SUBMARINA RUSSA

As esquadras russas do mar Báltico, Oceano Ártico, Mar Negro


e do Extremo Oriente, estão despertando enorme atenção dos técnicos
navais, escreveu Sjovascndct em Fevereiro último. Num recente
"Inglaterra,
discurso em Leningrado, Kalinin assegurou o seguinte:
Estados Unidos, Japão, França, Alemanha e Itália todos estão con-
centrando suas esquadras. Nós outros devemos possuir em nossas
mãos os elementos para ultrapassar todas essas nações".
A atividade soviética no Departamento Naval, durante os poucos
anos que decorreram após os dez de negligência, está manifestando-se
por uma crescente construção, programa esse que produziu os resul-
tados eme se desejavam na esquadra do Báltico. Seu recente forta-
lecimento de poderio em submarinos excedeu ao de todas as demais
potências navais. Na atualidade os Sovietes têm de 150 a 180 subma-
rinos distribuídos entre os seus quatro mares costeiros. No Báltico
ha cerca de 75, dos quais uns poucos acham-se estacionados em
Poljarnoje, a nova base naval no Oceano Ártico. O canal Stalin
permite concentrá-los no Báltico.
I

1298 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Êstes submarinos, com base no Báltico, são de várias classes.

O maior da classe Ikra desloca 1400 toneladas e assim mais que

qualquer outro tipo de submarino nesse mar. Seguem-se-lhe as

classes Nalim e Garibaldiezt, de mais de 1000 toneladas, e outras

três classes de cerca de 900 toneladas, o Jokobinetz, Dckabrist, e

Linj. Ha vinte correspondem às classes dos almães de 2500


que

toneladas; mais de doze destes encontram-se em construção. Além

deles haverá dez da classe Scheseh, 6 navios velhos e um sub-

marino inglês naufragou em Kronstadt e foi


que que posteriormente

pôsto a flutuar. O conjunto de todas essas unidades dá à Rússia a

mais poderosa flotilha do Báltico.

Depois destas sumárias considerações, é evidente a Rússia


que
esforça-se por se converter novamente numa naval. Foi
potência
empreendido um extenso programa naval e o assinalado
goal por
Kalinin em seu discurso, é um fato em vias de realização.

(O. S. Naval Instituto Procecdings) .


<

CÓDIGO INTERNACIONAL DE AVIAÇÃO

Já havíamos dado notícia da realização dêsse Código, e agora

temos ciência de uma tradução sua o francês a foi editada


para qual

por Ed. Dunod, de Paris.

Seu autor, professor da Universidade de Turim e atualmente

diretor geral do Instituto Americano do Direito e da Legislação Com-

parada, examina as questões da Grande Guerra aérea e a possibili-

dade da proteção das civis e dos monumentos.


populações

Na opinião do A., a liberdade da navegação aérea deve ser

a todo custo assegurada direito aeronáutico. Depois, na


pelo pri-
meira parte de seu códice, o A., como é notório, compusera
que

um recente código internacional de dá um rápida adaptação


guerra,

do direito aeronáutico de em seguida a considerar a


paz, passando

guerra aérea.

A obra não se limita a reproduzir — lemos na Rivista Marittima

— as regras, mas também, contém uma importante crítica, na


parte

qual o A., aplicou o método já seguido em outras obras publicadas

sob a direção do Instituto, procurando atingir às várias soluções dadas

nos vários e aperfeiçoando-as.


países
AVIÕES E SUBMARINOS 1299

Esta publicação, que constitue a primeira codificação crítica da


aviação, é interessante ainda pelo confronto que faz com a navegação
marítima.
VARIAS
Em os números de Junho a Outubro, da Riznsta Aeronáutica
italiana do ano passado, apareceram dois estudos que se completam
e merecem atenção dos que se preocupam com o importante assunto
"O
do vôo sem visibilidade. Tais trabalhos são respectivamente:
homem e a máquina no vôo sem visibilidade" de autoria do Tenente
Magini, e "A instrução ao vôo sem visibilidade" do Tenente-Coronel
piloto Giorgio Rossi.

A Suécia possue apenas 2 submarinos. A Polônia possuía 5.

Acorde o relatório anual apresentado ao Presidente Roosevelt


pelo secretário Charles Edson, os Estados Unidos possuem 5 navios
aeródromos em limite da idade e 2 em construção. Num total de 89,
22 de seus submarinos estão no limite da idade e 25 em construção.

É de interessante leitura o curto artigo de L. Castagna — Guerra


<m guerrilha naval — inserto na Rtvista Marittima italiana de
Fevereiro.

Na Revista Aeronáutica de Janeiro, foi publicado sob o título


¦"Variações
da potência dos motores da aviação em relação às quotas
<Ie altitude" um bom estudo Tenente-Coronel Antônio Riggi.

C. F. X.
RESPIGA

Sumário — Turina de Aspirantes de 1900 — O Ministro Alexandrino.

TURMA DE ASPIRANTES DE 1900

Na comemoração do 40." aniversário de matrícula na Escola Naval, o

chefe da turma dos aspirantes de então, Capitão de Mar e Guerra Mário de

Albuquerque Lima, a seguinte oração:


proferiu

"
Meus prezados companheiros de 1900.

Sejam minhas primeiras palavras um agradecimento a vocês, pela invés-

tidura que me conferiram, de falar hoje nesta reunião à nossa grande turma.

Muitos outros, dentre nós, reúnem melhores os meus para essa


predicados que
missão, mas êsse encargo honroso, eu bem o sei, derivou do fato de ter sido

eu o chefe da turma que deixou a Ilha das Enxadas em Dezembro de 1903.

Essa circunstâncias, entretanto, em nada diminue o meu reconhecimento pela


escolha unâmine que recaiu cm mim. Agradecido, pois.

Ao começar a arrumação das frases que vocês estão ouvindo, que de

d;scurso não merecem o nome, tinha eu como escopo cômpor uma alocução

amena, recheiada de anedota dos nossos tempos de escola, uma digressão com

laivos de humorismo. Meus esforços nesse sentido, foram baldados,


porém,
"engenho
pois não só me faltou e arte", como também acabei vencido pela
melancolia das recordações. E esse estado mórbido dominou por completo o

meu espírito, de tal modo que, vocês notarão nestas palavras uma tonalidade

sombria, ao invés da alacridade que tanto procurei. Vocês teriam sido bem

mais felizes escolhendo, para falar hoje, algum dos nossos companheiros que
sabem ter um conceito chistoso para tudo, um gracejo vivaz pronto a irromper

a todo propósito. Teria sido melhor para vocês, que agora se deleitariam

ruma audição facêta, e para mim que não me mortificaria no esforço baldado

de fazer uma fala divertida... Entretanto, no desalinho que ressalta do

palavrear insosso que estão ouvindo, palpita uma grande, uma imensa expres-

são de sentimento afetuoso e, ao menos por êsse predicado mereço, estou certo,

a indulgência que peço para esta minha arenga.


1302 KFVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

— Completam-se hoje anos ingressámos na


quarenta que mais feiticeira
das carreiras. E donde vinhamos nós, pobres quasi todos, mas todos com
a alma milionária de ilusões? De todos os recantos do nosso Brasil.
querido

Dêsse Amazonas imenso e sedutor no esplendor de suas lendas e na magni-

ficência de sua realidade, onde tudo é grande, até o infortúnio. Lar fabuloso

dessas criações fantásticas que são o matiiría-pcreira maldoso, do saci trapa-

ceiro, do bôto apaixonado, da boiúna poliforme, dessa Iára fascinante, sereia

das selvas e das águas, e dêsse minúsculo Uirapuru, milagre real de sua fauna,

clarim alado que, cm cantando, faz calarem-se todas as outras aves e que,

quando emudece e foge, leva em sua esteira todo um séquito emplumado a


!.iie clamar que cante mais e mais; avezinha que nem mesmo após a morte

tem repouso, pois seu pequenino corpo resequido é um amuleto de amor...


Terra grandiosa de florestas inegualáveis, de selvas agressivas, onde o leite
"
dat seringueiras é o ouro negro"; onde serpenteia o Rio-mar, apertando
como um polvo descomunal, entre seus tentáculos, a maior bacia hidrográfica
"celeiro "
do mundo; esplêndido do futuro" de Humboldt, Paraiso terreal"
de Russell. Terra dêsse Pedro Luiz Simpson que, coberto o de meda-
peito
lhas de guerra, sonhou a restauração da lingua brasílica.

Dêsse Pará, cheio das lendas de seu irmão maior, porisso que é Amazônia

também. Onde a pororoca encapela as águas, numa luta de gigantes, onde a

Marajó, maior que a Bélgica, é a ilha que emigra, no conceito expressivo de

Raimundo de Morais. Do Pará ainda Civilização e já inferno Verde, onde

o estreito de Breves realiza o milagre de comprimir, em pouquíssimas centenas

de metros de largura, o mundo dágua do mar dulcc de Vicente Pinzon, em

cujas margens Orellana viu as denodadas guerreiras amazonas. Terra de


"
José Veríssimo, que nas Cênas da Vida Amazônica" transporta-nos àquela

região de mistério; dêsse general Gurjão que, na ponte Itororó — a Ar-


de
— "Vejam
cole paraguaia arrastou seus soldados à vitória gritando-lhes como

morre um general brasileiro!" Êle tombou para sempre, mas passámos, mas

vencemos...

Do Maranhão, teatro da revolta de Beckmann, grito altivo pelas nossas


"Balaiada",
liberdades; terra da que deu a Lima e Silva o baronato de Ca-

x:as, terra do imortal Gonçalves Dias, o mais brasileiro dos nossos poetas, o

burilador dessa joia que é Y-Juca-Pirama; de Coelho Netto, rei pela riqueza
"Aleluias",
e colorido do estilo; de Raimundo Correia, o mavioso cantor das

estréia do parnasianismo puro, cujos limites rígidos Banville traçou, negando


"
qualquer licença contra a métrica, a sintaxe, a rima, o Raimundo das Pom-
"
bas" e do Mal Secreto"; dêsse incomparável Gomes de Souza, cuja lite-

iatura matemática alcançou renome mundial; dêsse anacrônico Teixeira Men-

dcs, enclausurado no castelo medieval do apostolado contista; dêsse incon-

fundível Humberto de Campos, o mais lido escritor de sua época, e cujas

páginas encantadoras acabaram num extertor, na previsão da morte lenta que


"Memórias "uma
se aproximava, e cujas são bem lição de coragem aos tími-

dos, de audácia aos pobres, de esperança aos desenganados"; dêsse Viriato

Correia, pesquizador infatigável das curiosidades de nossa história pátria.


RESPIGA 1303

irradiar idéias alevantadas, na expansão


Atenas brasileira, centro fulgurante a

intelectual de seus filhos gloriosos.

magníficos rebanhos imensos pastam


Do Piau! bucólico, em cujos campos
ao longe o Parnaiba desliza suave-
inconcientes do fim que os espera, enquanto

no Atlântico, divide-se e subdivide-se


mente e, hesitante de se lançar em cheio

Terra dêsse nostálgico Casimiro


nurrs delta Brasil. o único do
pitoresco,
decisivo da nossa inspiração; de
Sarmanto, que solidão o agente
fazia da
"Cantigas" um mundo de ternura, de
Taumaturgo Vaz, em cujas palpita
"estranhas se transmuta-
Felix e poeta, cujas lágrimas
Pacheco, publicista
tendo sonhado lutar como um
vam em riso..." dessa Jovita heróica, que
ser descoberto sob sua farda
homem nos campos do Paraguai, suicida-se ao

iluminado David Moreira Cal-


de soldado um corpo de mulher; enfim, dêsse
1889 — 16 anos depois!
das que, em 1873 profetizou categoricamente para
— o advento da república no Brasil...

" o caboclo afronta sobre o


Do Ceará dos verdes mares bravios" que
velas audaciosas além, muito
convés corcoveante das jangadas, levando suas

o sol de fogo cresta e resseca


além das águas cearenses, enquanto no sertão

no drama ingente do serta-


tudo, tudo menos a alma indômita do cearense
" as algemas de seus
ín jt nordestino. Do Ceará, terra da luz", que quebrou
de de Alencar que, na
escravos cinco anos antes da Lei Áurea. Terra José

doçura Iracema — anagrama feliz de América — e na altivez cavalhei-


de

rosca raciais do indígena brasileiro; terra


de Perí, romantizou os predicados
no brbonze, tombando um
dêsse legendário general Tibúrcio, que perpetuado

dia caiu de terra de Clovis Bevilaccjua, cujas luzes jurídicas


do pedestal, pé;
Do Ceará espalha seus filhos, atre-
têm cintilações de verdadeiro gênio. que
todo o nordeste e norte mesmo, onde
vidos bandeirantes do presente, por pelo

ennquecc o sertão, e onde, muita vez, os


o seu suor laborioso ferti.iza e

ossadas brancas no caminho que desr


que lhes vêm no rastro só encontram

!jy svaram...

"árvore
a
terra da da carnaúba,
Do Rio Grande do Norte, potiguar
"Horto
vida" de Humboldt, terra da Auta de Souza, que em seu palpita
"Conselhos
religiosa; de Nízia Floresta, em a
explêndida de emoção que

todo um de ternura; de Clara Camarão, a esposa


minha filha" borda poema
companheira heróica lias lutas, e sua viúva fiel, a
de Felipe Camarão, sua

Brandimarte brasileira na expressão feliz de Macedo. Trindade feminina que


"pendant" magos, o velho forte da fóz do Potengi,
faz com os Três reis

ao longe aos viajantes ousados que vêm, num pulo


Terra onde Natal sorri

do mar e divisam, enebriados vitória, êsse aero-


audacioso, do outro lado pela

pórto da América do Sul...

cujos sertões as sçcas devastam tudo, expulsando o cabo-


Da Paraíba, em

volta saudoso, às chuvas, quando tudo rever-


ele, mas para onde êle primeiras

influxo do esplendor tropical. Terra.de Pedro Américo,


dece e se engalana ao

tendo imortalizado na tela a bravura brasileira na Batalha


jvncel magnífico,
"
de Avaí" e o nascimento de nossa nacionalidade em O grito do Ipiranga";
1304 T.EVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

terra dêsse varonil Vidal de Negreiros, que se cobriu de glória nos Guara-
rapes, contra os bátavos que sonhavam uma grande Holanda Antárctica; terra

de João Pessoa, que deu a vida em holocausto às idéias de liberdade cívica da


Aliança Liberal.

De Pernambuco, em cujo sertão a pujança é multiforme; onde o algo-

doeiro abre ao sol ardente do trópico a alvura de seus capulhos de neve; onde

o canavial extenso, esguio e flexível, farfalhando ao vento do nordeste, é

como uma floresta de baionetas caladas de um grande exército agrícola; onde

cs coqueiros emulduram as praias, rijos em sua elegância silvestre; onde no

planalto realizou-se o milagre dos trigais nordestinos, num desafio á latitude;

núcleo dêsse império holandês sul-americano que o gênio de Nassau tentou

converter numa realidade magnífica. Onde o Beberibe e o Capiberibe abra-

cam a Veneza brasileira, rainha do nordeste. Terra de Joaquim Nabuco, cujo

verbo inflamado clamou sem cessar pela abolição da escravatura; dêsse estra-

nhc. padre Roma que despiu a sotaina para vestir a toga e empunhar o arcabuz,

como um dos chefes da revolução de 1817, e deu a vida pela independência

nacional; dêsse outro religioso, orador, poeta e escritor, Frei Caneca, revolu-
"
cionário de 1817 e de 1824, na Confederação do Equadorimolando-se à
causa da liberdade; terra dêsse Olegário Mariano, sagrado príncipe dos poetas
vivos, uma das legítimas últimas cigarras do Parnaso nacional; dêsse Bastos

Tigre, que nos faz sorrir por seu humorismo e nos emociona sua magnífica e
por
galharda resignação no entardecer da vida...

De Alagoas, onde, a léguas de distância, já se ouve, na imponência de

sua queda, o reboar das águas fragorosas da Paulo Afonso, potencial imenso

de energia hidráulica, bastante para abastecer o nordeste todo. Terra aben-

çoada, onde os filhos de Chan lograram viver seu sonho de liberdade nos

quilombos dos Palmares; onde Calabar, vencido em Pôrto Calvo, expirou na

forca o crime de preferir o holandês Sigismundo ao pernambucano a serviço

de Portugal, Matias de Albuquerque, crime de que a História, três séculos

depois, procura redimí-lo; terra de Guimarães Passos, político e poeta, quiçá


a última encarnação do romantismo entre nós, sempre vivaz, sempre jovem,
"
pois que, como disse Paulo Barreto sóbre sua alma os anos não passaram";
dessa D. Rosa da Fonseca, mãe de Deodoro, o proclamador da República,

também alagoano, a qual mandou seus sete filhos para os campos do Paraguai

e que, ao saber da perda de dois dêles, em Curupaití e em Itororó, iluminou a

fachada de sua residência como para uma festa, a festa do patriotismo, para
depois, no santuário familiar, desabafar no pranto seu coração ferido...

De Sergipe, paradoxo estranho pela pequenez de sua superfície e a gran-


deza de seus filhos. Terra de tradições que perfumam a vida no sertão e

espraiam sua poesia rústica até as cidades do litoral. Onde a praia da Ata-
laia, com seu imenso horizonte azul, .encanta os olhos, a êsse
prendendo-os

panorama maravilhoso de um esplendor natural. Terra de Sílvio Romero, o


sucessor de Alencar no enquadramento do Folk-lorc na literatura nacional,

polemista apaixonado, sociológo adeantado, crítico ardoroso, historiador con-

ciencioso de nossa literatura, restaurador das tradições nordestinas; dêsse poli-


RESPICA -"'Oc

francês,
8lota Tobias Barreto, que tanto redigia cm alemão como em inglês ou
criador do alemanisrno na crítica, e, secundando von Ihering, aplicou o darvi-
nísmo ao direito; poeta, expoente do lirismo brasileiro, condoreiro, sua poesia
tinha arroubos geniais, como essa Partida dc voluntários, de uma gran-
deza épica.

cacau, o café c a
Dessa Baía, berço do Brasil-colônia, onde o fumo e o
enquanto no
mandioca avultam no esquema de nossa opulência econômica,
E, no sertão baiano as
planalto alinham-sc a riqueza mineral e a pecuária. o
a caatinga onde abundam
chapadas sucede-se o ondular dos tabuleiros,
Terra onde sobravam igrejas e onde
chique-chique, o joazeiro, a macambira.
acelerado
faltavam escolas e que, na hora que passa, desenvolve num ritmo
de saber jurídico,
a instrução do povo. Terra de Rui Barbosa, esse colosso
da força, pugnando pela
que fez estremecer em Haia o preconceito do direito
igualdade jurídica das nações; estilista inegualável, para quem o purismo
de
da linguagem era um dogma, o Direito um deus assentado no seu trono
terra desse outro colosso, Castro Alves, que fez de sua lira uma
justiça; "Navio Negreiro
clava contra a escravatura e que nos versos de fogo do "Cachoeira de
nos legou o anátema fulgurante que encheu uma época. Sua
Paulo Afonso" e a " Cabana do Pai Tomás", de Beecher Stowe, foram bem,
como disse Le Gentil, as duas obras com que a América concorreu para o
patrimônio da humanidade... Tão alto voou a poesia de Castro Alves, que
êle foi o fundador da escola comlorcira, de condor, o gigante alado dos
Andes... Terra de André Rebouças, esse dominador de abismos, sobre os
hoje
quais sua engenharia arrojada lançava viadutos atrevidos, que ainda
maravilham pela elegância e pela técnica. Terra dessa trindade feminina, Ana
Neri, Maria Quitéria e Paraguassú; a primeira, a precursora da Cruz Ver-
melha, em cuja fronte, mais que em nenhuma outra, assentaria a coroa^ de
louros cravejada de brilhantes, oferta do povo baiano, ao regressar de cinco
anos de campanha paraguaia, prêmio de um lustro de sacrifícios, de abnegação;
a segunda, figura ímpar de Jeanne D'Arc brasileira, alistando-se num regi-
mento de voluntários e batalhando pela independência nacional, só despindo
a farda quando o seu torrão natal ficou limpo das tropas lusitanas; a terceira,
" Caramurú", que na faus-
essa tupinambá esposa e companheira de luta do
tosa corte de França tanto impressionou por sua beleza e sua honestidade, e
cuja filha Madalena foi a primeira mulher brasileira que soube ler e escrever.
Terra bendita onde está jorrando o petróleo de Lobato, que concorrerá pre-
vital
ponderantemente para que nos libertemos da importação desse poduto
para a Civilização.

Desse Espírito Santo, onde no interior o café faz a riqueza do sertão e


nas praias a areia monazítica faz a riqueza do litoral; onde se encontra essa
maravilha que é a entrada da Vitória; onde a Natureza situou o Pico da Ban-
dtira, no massiço dc Caparão, o ponto de maior altitude no Brasil, roçando
desse ardoroso Domingos José Maftins que sonhou
pelos 3.000 metros. Terra "Confederação
com a independência na do Equador'' e pagou com a vida
o crime de querer ser livre.
1306 REVISTA MAKÍTIMA BRASILEIRA

De Minas Gerais, gloriosa e magnífica, que armazena em seu sub-solo o

ouro dá a abastança, e o ferro que dâ a força, que tem o minério que


que
enriquece, e o cereal que alimenta, a água medicinal que cura, e o frio sau-

dável que restaura as forças; que tem o café e tem o gado e que, com toda

essa pujança, sente a ânsia do mar, por onde possa escoar os produtos mil de

sus lavoura rica, de sua indústria adiantada. Terra onde germinou a flôr

bendita da Inconfidência que sonhou um Brasil livre, pagando Tiradentes com

a vida, e outros com a liberdade, êsse delito de lesa-Portugal. Berço de San-

toi' Dumont com suas proezas aviatórias, empolgou Paris, que o sagrou
que,
" Carneiro,
Le Père de 1'aviation". Terra de Gomes o general heróico que

teve a consagração do bronze pela resistência desesperada que opôs, na Lapa,

às tropas revolucionárias, sacrificando a vida pela legalidade; dêsse Cláudio

Manoel da Costa, dos sonetos belos à moda de Camões, e, inconfidente, suici-

dou-se no cárcere; de Tomaz Antônio Gonzaga, brasileiro pelo sangue e pelo

destino, e de sua Marília de Dirceu, cujo idílio o degrêdo do inconfidente

interrompeu para sempre; de Tiradentes, vulto magnífico de nossa história,

de nossa independência, símbolo sagrado das aspirações nacionais


jroto-martir
em pról da liberdade; dêsse perseverante Carlos Chagas que descobriu o agente

patogênico da enfermidade que tomou seu nome, aureolado pela fama na classe

médica mundial.

'"bandeira"
Dêsse Goiáz, filho da dêsse Bartolomeu Bueno, o Anlian-
"guapiaras"
yvéra, faminto das que guardavam em seu seio constelações

magníficas de diamantes; terra onde o Araguaia disputa ao São Francisco a

de ser o mais brasileiro dos nossos grandes rios; terra dêsse Xavier
glória
Curado, general e escritor, que tanto elevou por sua bravua o nome brasileiro

l.as águas do Prata; dessa Damiana da Cunha, filha de Caiapós, que pela

e seu exemplo, incorporou à civilização cristã centenas de indígenas


persuação
conversos; viveiro de soldados volorosos que o Visconde de Taunay — o Xeno-
"
fonte brasileiro — imortalizou nas páginas imperecíveis da Retirada da La-
"Anabase"
guna", a nacional.

Dêsse Mato-Grosso enorme, trazido -para a comunhão nacional mão


pela

de ferro do bandeirante audaz, num desafio ao meridiano de Tordesilas; onde,

sôbre o forte de Coimbra pairarão sempre as recordações da resistência sobre-

humana ao invasor paraguaio; terra de Aquino Correia, êsse magnífico arce-

bispo de Cuiabá, cujo discurso de posse, na Academia Brasileira de Letras, é

todo um hino em louvor de uma literatura pura, de razão, de fé, de amor, de

patriotismo, de esperança; enfim, terra dêsse inolvidável Batista das Neves,

que tombou no convés de seu navio defendendo, de revólver em punho, ante

a maruja revoltada, a honra de sua farda!

Do Estado do Rio de Janeiro, que Ararigboia arrancou do nada para a

grandeza de hoje: em que nos lugares onde os Tamoios erguiam outrora suas
"bungalows"
tabas, elevam-se agora os da civilização; terra onde as hortên-

cias de Petrópolis, os cravos de Friburgo e as quaresmas de Terezópolis per-

fumam o ambiente com sua fragância. Terra de Casimiro de Abreu, talvez


RESPIGA 1307

do amor e da saudade, cujas Pri-


o mais popular dos vates nacionais, o poeta
enlevo de tantas gerações; de Alberto
maveras centenárias, tem feito o
quasi
de e melancolia da Vingança da porta
Oliveira, o parnasiano todo ternura

entusiasta Fagundes Varela, o lírico do Cântico


e e forte d'" A torrente"; de
" de Raul
do Calvário"; de Raul de Leoní, o rouxinol da Luz mediterrânea ,
"Ateneu", num dia de Natal; de Joaquim Ma-
Fompéia, o artista do suicida

noel de nossos escritores na geração passada,


Macedo, o mais popular dos
"Moreninha" de Alberto Torres, o maior
cuja foi um acontecimento literário;

esclarecido um dos mais


sociólogo, o mais profundo, o mais patriota,
pensador
de Euclides da Cunha, o colosso
completos espíritos do Brasil contemporâneo;
literatura, homem de letras
d'" Os Sertões", um dos maiores vultos de nossa

monumentos pela linguagem


e homem de ciência, cujos livros são verdadeiros

de um pensador, de Sil\a
primorosa e pelas idéias alevantadas, dignas grande
veemente, cujos
Jardim, republicano histórico, orador inflamado, propagandista
tudo queimava, c a quci.i
discursos eram verdadeiras torrentes de lava que
em erupção; de Miguel
o destino deu para sepulcro grandioso um vulcão plena

onde o apostolado de Comte


Lemos, o fundador do Templo da Humanidade,

mais felizes; de Benjamim Cons-


t?m sua sede, na ânsia de fazer os homens
encarnação impoluta do
tant, o verdadeiro fundador da república brasileira,

espírito republicano, ídolo de seus sobreviveu à realização


discípulos, que pouco
de seu sonho mais caro; de de Patrocínio, o ardoroso orador da campanha
José
abolicionista e cujos discursos inflamados tinham fulgurações magníficas, des-

feriam raios, o Vulcano da Mitologia helênica; de Caxias, o único duque


qual
americano, em cuja espada sempre vitoriosa tanta vez entrelaçaram os ramos
se
"
de oliveira da de Saldanha da Gama, o almirante sans peur et sans
paz;
reproche tombar a sobreviver a seu ideal de
que preferiu em Campo Osório

honra..." nome a nobresa de uma classe foi buscar ao Pantheon da His-


que
tória para o esculpir na pôpa de um navio-escola...

Desse São Paulo e dinâmico, surgido da planície de Piratininga


prodigioso

a esplêndida realidade de agora; terra dos bandeirantes destemidos que


para
anos e anos, chegando ao norte até a Ama-
partiam para o desconhecido, por
até Mato-Grosso, ao sul às fronteiras da Gaúchia, integrando
zônia, a oeste

regiões tão como tão ricas como o


110 patrimônio nacional grandes países,
"El em todas as indús-
dorado" de Orelana. Terra onde o progresso estua

alastra-se invadindo, avassalando o sertão, onde esplen-


trias, onde a policultura
simples vilas ha anos; onde a capital, a
didas cidades hoje eram poucos
empório de riqueza, uma colmeia de trabalho, um
Chicago brasileira, é um

terra onde sempre encontrou éco o grito de liber-


hino à energia paulistana;
dade nasceu as margens plácidas dêsse riacho de Ipiranga, que entrou para
que
berço da nossa independência, mão insólita dum
a nossa história, como pela

Terra de Alvares de Azevedo, morto aos 21 anos,


trêfego príncipe português.
"Si de nos
o delicioso do eu moresse amanhã...", criança gênio que
poeta
" na taverna da
deu essa magnífica prosa artística A. noite , Qual

invejariam a horribilidade, Byron e Baudelaire a per-


Edgar Poe e Hoffmann

Heine o sentimentalismo; dêsse indômito Fernão Dias Pais


versão, Musset e

Leme, das esmeraldas, que morreu no âmago do sertão mineiro,


o sonhador
1308 r.KVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

apertando encbriado nas mãos febris um saco de mesquinhas pedras verdes;


terra de Diogo Feijó, o grande, e de José Bonifácio, o imenso; aquele, senador,
ministro e regente do Império, um exemplo nobilíssimo de probidade, de ener-
gia e de civismo; este, da estirpe ilustre dos Andradas, o patriarca da inde-
pendência, homem de ciência, estadista e poeta, que amargou seis anos no
exílio, onde o foi buscar Pedro I, para tutor de seus filhos; terra desse
arrojado Bartolomeu de Gusmão, bandeirante do azul, que tornou realidade
o sonho lendário de ícaro, para depois findar miserável num convento d'Espa-
ilha; ambiente em que se plasmou a mentalidade forte de Santos Dumont,
o pioneiro da aviação que, nesse sombrio Julho de 1932 extinguiu-se lasti-
mando talvez ter dado vida às asas que se tornaram um instrumento da guerra,
éle que as animara para a paz; terra de Oswaldo Cruz, o fundador do Insti-
tuto de Manquinhos, de recnoroe universal, o criador da medicina experimental
no Brasil, a quem devemos o inestimável serviço da extinção da febre amarrela;
de Rodrigues Alves, o presidente do quadriênio de ouro, que arrancou a men-
taüdadc nacional do torpor da displicência, dando-lhe o influxo de um ver-
dadeiro Renascimento; de Martins Fontes, boníssimo e mavioso, o admirável
"Verão'', exímio na forma e
cantor de profundo na idéia; do glorioso Car-
los Gomes, que na pauta de seus cadernos escreveu o maior hino musical das
"II
Américas, a protofonia de Guarany", e essa maravilha de inspiração que
"Alvorada" de " Lo Schiavo".
é a

Do Paraná, o filho mais jovem da nossa Federação, terra de erva-mate,


o chá dos Jesuítas, que guardavam avaramente o segredo de sua utilidade,
dos pinheiros centenários, a araucária gigantesca, que ergue sua taça verde-
jante para o azul, num brinde altíssimo à grandeza da Natureza: da terra
roxa de café, riqueza de seu solo; onde viadutos lançados sobre os abismos
são como desafios audaciosos da engenharia às leis da estabilidade; terra de
Emílio de Menezes, parnasiano, cujos versos são gravados a buril numa per-
feição extrema de forma e de sentimentalismo, enquanto seus epigramas ferem
como açoites; de Rocha Pombo, que encaneceu e morreu debruçado sobre as
páginas de nossa história, a esclarecer incertezas, a minuciar detalhes.

De Santa Catarina, terra magnífica, onde o progresso roda por uma rede
de estradas só superada pela de São Paulo; terra generosa onde milhares de
filhos da velha Europa encontraram o solo fértil que a pátria exausta já não
lhes podia dar, colonos que aos poucos vão resolvendo os quistos raciais, incor-
porando-se à comunhão nacional, e erguendo ali e acolá magníficos parques
industriais, colmeias de trabalho intenso. Terra de Anita Garibaldi, a heroína
que batalhou aqui pela nossa liberdade c, insatisfeita, acompanhou seu ídolo
à Itália, seguindo sua capa vermelha que expulsou os austríacos do Piemonte
c os Bourbons da Sicília; terra de Luiz Delfino, o sonetista primoroso,
romântico e parnasiano; de Virgilho Várzea, poeta e novelista inegualável na
pintura descritiva das cenas marítimas de seu torrão; de Vítor Meirelles, o
"
pincel incomparável da Primeira missa no Brasil", a " Passagem de Hu-
", "
maitá a Batalha de Guararapes ", o " Combate do Riachuelo " e outras telas
de valor, que em todas deixou a marca indelével de seu gênio; desse cintilante
RESPIGA 1309

Cruz e Souza, chefe inconteste escola simbolista, êsse anti-parnasianismo


de
cujo credo "de
Verlaine resumia: la musique avant toute chose"— E os
versos de Cruz e têm bem êsse lirismo musical
Souza, esse negro de gênio,
iue encanta, enleva.
que

Do "
Rio Grande do Sul, onde o hinterland" ácolhe, com suas cochilhas

pedindo agricultura e seus oferecendo à criação seu tapete verdcjante,


pampas
mas o litoral repele, à míngua de um fjácil, os fogem, à fúria do
porto que
oceano, na ânsia de uni abrigo onde o minuano assobia sua
pronto e seguro;
nielodia agreste e o fera exasperada; solo ubérrinio
pampeiro ruge como um

que dá o pasto virente, o trigal dourado, a videira ensangüentada e 110 seu

seio a riqueza negra carvão de pedra; terra que mereceria


do ter sido a pátria
" "
dos cadets há
de Gascogne pela jatáncia de certas expressões gaúchas) pois
cidades com títulos de nobreza, como Pelotas a Princesa do Sul, Cruz Alta a

Princesa da Serra, Cachoeira a Duqueza da Campanha, Sant'Anna a Sultana

da Fronteirat Santa Maria a Morgada dos Monte. Terra de Múcio Teixeira,


"Vozes
condoreiro lírico, veemente, ardoroso, aos anos as
que quinze publicava
trêmulas" e acabou no ocultismo a verdade que não encontrára na
procurando
realidade objetiva; do general Câmara, o vencedor de Cerro Corá, às margens

do Aquidabã, onde tombou Solano Lopes; de Bento Gonçalves, o denodado


"
chefe da Guerra dos Farrapos", durante dez anos ensangüentou a
que
Gaúchia, numa ânsia esplêndida de liberdade, apanágio dessa terra que nunca

teve donatário; de David José Martins que foi o David Canabarro da


general
epopéia farroupilha e que, setuagenário, seguiu o Paraguai com galhardia,
para
sem que as cans lhe arrefecessem o dêsse Andrade Neves, verda-
patriotismo;
deiro barão do Triunfo, general nunca vencido; de Osório, marquês do Herval,

batalhador em todas as lutas do Brasil Império, desde a campanha da Indepcn-

dência a do Paraguai, vencedor de Bstcro Bellaco e Tuití a mais sangrenta


batalha da tragédia de Irineu Evangelista de Souza, visconde de
paraguaia;
Mauá, súper homem a cujo espírito dinâmico deve o Brasil sua linha
primeira
férrea, a iluminação a o cabo submarino transoceânico, a navegação a
gás,
vapor na Amazônia; de Plácido de Castro, herói da campanha federalista e

que, no outro extremo do Brasil, foi herói do Acre, expulsando de lá os inva-

sores bolivianos e re-incorporando manu-militari aquele torrão, riquíssimo em


hevea brasiliensis, ao nacional, fato consumado o tratado de
patrimônio que
Petrópolis consagrou; do Almirante Tamandaré, tanto elevou o no-ne
que
brasileiro no Prata e no Paraguai, e de Marcílio Dias em arriscando a vida,
que
içou o pavilhão auri-verde na torre de Paisandú e que morreu defendendo-o na

jornada de Riachuclo; dois verdadeiros varões de Plutarco nascidos, aquele na

cidade de Rio Grande, e êste na de São José do Norte, uma de cada lado do

estuário rio grandense, como querendo o Destino que se defrontassem êsses

dois berços de gigantes, o dc punhos dourados de Almirante e o de gola azul

de marinheiro...

Enfim, vínhamos nós daqui mesmo, do Rio de Janeiro do inegualável

Machado "D. "


de Assis, o pai espiritual de Casmurro de Quincas Borba" de

R. M. B. 10
1310 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

" " "


Braz Cubas" e dessa deliciosa Capitú" a que tinha olhos de ressaca";

de Gonçalves Crespo, êsse brasileiro que Camilo queria aportuguesar, dizendo-


"disposto "saudade
se chegar até o latrocínio" e cuja soluçante" que impregnava
"doçura
sua traduzia bem a nostálgica" da pátria distante, mais inesque-
poesia
cida; terra dêsse forimdavel Barão do Rio Branco, general civil que nunca

foi vencido e cuja genialidade logrou incorporar à nossa pátria territórios

enorme, sem lutas outras que as de seu talento na defeza dos títulos legítimos

de nosso patrimônio, em litígios internacionais; de Olavo Bilac, sagrado príncipe


"a
dos poetas, parnasiano puro, de vernaculidade aprimorada, amando arte pura
"Ouvir
acima do artifício", o Bilac delicioso do estréias" poeta que cultuando

Polínia e Calíope, sacrificou também no altar de Marte, como alma do movi-

defesa nacional de que resultou o sorteio militar obrigatório; de


mento pela

Geenhalgh, o Guarda Marinha de vinte anos que, no dia radiante de Riachuulo

mãos a bandeira que o inimigo arriara do penol da


arrancou de paraguaias

da Parnaíba e, em defendendo', tombou como um herói, legando à


carangueija

sua classe um exemplo de altíssimo de bravura; de Mariz e Barros, o heróico


"
do Tamandaré, a quem o inimigo chamava el invulnerable" e
comandante

cuja morte cheia de estoicismo, após renhido combate, foi um quadro emocionante

resignação magnífica; do Marquês de Maricá, cujas maximas são bem um


de

reflexo da de sua alma, da retidão de seu espírito, moralista, estadista


grandeza

e cujas sentenças filosóficas produziu-as êle depois dos setenta anos,


pensador,
numa exuberante de esplendor intelectual; de Francisco Octaviano,
plenitude

cujos versos e cuja prosa se revestem de grande aticismo, diplomata que nego-
"
ciou 110 Prata a Tríplice Aliança o melancólico poeta do quem passou pela vida
"
cm branca nuvem ... Dêsse Rio de há quarenta anos, grande aldeia ainda

certo, debruçado sobre essa incomparável baía de Guanabara como uma


por

encantada, à espera dessa Renascença que lhe veio com o descontino


princeza
esplêndido de Rodrigues Avies, o de ferro de Pereira Passos, a geniali-
pulso

dade de Paulo Frontin. Fra um pobre Rio êsse, mas era o nosso Rio ! Não

era a Cidade Maravilhosa de hoje, não tinha avenidas largas nem orgias de luz,

não tinha casinos estonteantes nem jardins a beira mar, mas era o nosso Rio...

Não tinha arraha-céus audaciosos nem automóveis resfolegantes, não tinha as

mil tentações de hoje nem a super civilização de agora, mas era o nosso Rio !

Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon dormiam ainda embalados pelas vagas

salitradas que vinham morrer em sua areia num beijo branco de espuma • a rua do
"trottoir",
Ouvidor era um mesquinho mas era o nosso Rio ! Nele nascêramos,

nele decorrera a nossa meninice, nele desabrochara a nossa adolescência,

nele sorria o nosso amor com todo o arroubo de um rossicler de auro-


primeiro

ra... Era o nosso Rio... E as ilusões, os sonhos que nos embalavam corriam

com os sonhos e as esperanças dos que vinham dali, dacolá, dalém# num
parelhas
entrelaçamento espiritual de aspirações.

E, vindo de tantas latitudes, para onde nos dirigíamos nós ? Para o

Futuro.. E a Vida tomou-nos pela mão e enveredámos por uma estrada aica-

tifada de ilusões tão fagueiras que o mundo nos parecia mesquinho para

contê-las. Disse Joaquim Nabuco que todo o adolescente é um deslumbrado,


RESPIGA 1311

e a estréia de calouro
nosso deslumbramento era tão grande, que pequenina

nos adornava braço tinha nós a fulgência de um sol...


que o para

nos estudos, nos exames. As vicissitudes


Depais, as lutas, as inquietações
do galão. íor
de uns, os labores de todos, na porfia pela conquista primeiro

levantaram seu vôo inebriante num


fim, livres do casulo, as borboletas douradas

tinha Arthur de Jaceguai, êle que


céu azul, o azul dos 20 anos... Bem razão

dizendo só desejava ser o que


era Almirante e fora grande do Império, que

julga que é o Guarda Marinha. . .

com o seu séquito de desenganos


Depois, depois, a grande realidade da Vida,

muita fadiga, muita dedicação,


para uns, de lutas para todos. Muita labuta,

após, o desânimo final para


muito dissabor, muita amargura... E um dia, anos

Rosseau disse que os homens


muitos, a vitória para alguns... Jean-Jacques
Parodiando, de longe, o
nascem bons, a civilização é que o faz perversos.
éramos bons, a Vida é que
filósofo de Genebra, direi que nós, os de 1900, todos

foi madrasta para alguns...

em suas parcelas mas


Os quarenta anos que se escoaram, tão vagarosamente

bem difrentes para nós outros.


tão velozmente em seu total, deram resultantes

bordados de Almirante. No jantar


Dois companheiros nossos já fizeram jús aos
hoje é a vez do
do Lido, há cinco anos, homenageámos o Almirante Schorcht,
"
foi do Sport em nossa
Almirante Regis. Schorcht, desde a Escola, o pioneiro

impulsão inicial, si bem que nes^e


turma e, escolhendo a Aviação, êle seguiu a
"sport" desde cedo
se com a vida Júlio Regis, um cérebro de escol,
jogue
revelou-se uma esplendorosa se tornou uma realidade magnífica.
promessa que

em breve êsses dois, os postos de


Outros companheiros nossos seguirão pois

destaque na marinha ativa, são a ante-sala do generalato. Ascenderam


que ocupam
outros no magistério, ao almirantado da cátedra. Enveredaram outros pela mari-

de Errante. Dedicaram-se outros


nha mercante, na penosa e ingrata vida Judeu
Passaram outros para a
a fins comerciais, mas ou menos afortunadamente.

merecido, não tendo cessado ainda, para outros,


iatividade, uns num descanço

a luta vida. Muitos outros, metade de fomos, já repousam


dura pela quantos

no grande sono eterno.

"Vida Abelhas
O belga Maeterlinck, o paciente estudioso da maravilhosa das
"L'Oiseau magnífica. Êle figura a alma
tem em Bleu" uma imagem que

dos mortos dormem no Incognoscível, despertam de seu sono sempre que


que
aqui alguém se recorda deles. Seria tão belo que assim fosse, pois os nossos

companheiros desaparecidos sorririam satisfeitos, no Além, neste dia evocativo

em que tanto nos lembramos deles.

ao ser insòlitamente perguntado um dia


Fouché, o cinico cameleão político,

o fizera de notável durante a rajada revolucionária que varreu a França no


que
"Vivi".
fim do século XVIII respondeu: A vários de nós outros, após quasi
"ter vitória...
meio lutas, de temporais desfeitos, o vivido" é bem uma
século de

4a reunião. Bem antes da primeira, em 1920, já vários


Esta é a nossa

haviam saído da vida. Bem longe lá vão os anos em ,


de nossos companheiros
1312 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

que nos deixam Leôiicio Frazão, Oscar Viana e Mario Noronha, só


para
citar os primeiros que se foram, aquele num dia cheio de sol e dor e estes numa
noite tenebrosa de horror. Mesmo depois do nosso último coletivo, em
jantar
que tão alegremente ouvimos sua verve saltitante, fugiu-nos êsse boníssimo
Velho Sobrinho, sempre moço na exuberância de sua esplêndida.
jovialidade
E sôbre todos nós " "
pesa a angústia da divida shakespeareana do ser ou não ser

presente, ao fim de mais um lustro, a uma mesa como esta. A em


principio
1920, eu bem me lembro, reinou uma alegria esfusiante, com o intenso
perfume
da mocidade, porque apenas deixáramos a primavera da vida. Agora porém,
já no meio-outono, é impossível ocultar que sôbre todos nós
paira o perfume
suave da saudade, dos que já se foram, sauttades da nossa mocidade... A grande
família de 1900, desfalcada ano a ano, irá minguando, na fatalidade do final
extremo. Bem diz Pitigrilli, a Morte não reforma suas notas promissórias:
no vencimento, ela é inexorável na cobrança...

Mas hoje não deve ser um dia de tristeza; devemos reagir. Saibamos

entrar com galhardia na idade sombria que já nos espreita. Diz uma batida

chapa literária, que os beduinos atiram pedras ao sol que descamba, além, no

horizonte poente. Não sejamos assim, porisso que êle figura a imagem da

vida, brindemos o nosso sol, já perto do cinábrio do ocaso, com o champagiic


"
dourado das nossas alegrias... Rostand, o mágico burilador do Chantecler
"il
diz num verso consolador que y a un rossignol, toujours dans la forêt".

Na floresta emaranhada da Vida é assim também: temos todos dentro de nós, ani-
"flores
nhado no âmago do coração, uma cotovia sempre pronta a gorgear. As

d'alma" de D. Jaime não fenecem jamais. Bastos Tigre disse bem: tem cada
"en-
idade a sua juventude. Entremos sorridentes, prosigamos sorrindo, nesse

tardecer da vidaembora às margens dessa estrada se alinhem, melancó-

licas, as saudades roxas e as negras desilusões. Olhemos sorrindo a neve

que nos cai sôbre os cabelos vendo dela, tão somente, as estrelas magníficas de
seus cristais, que são bem a cristalização de nossas esperanças, de nossos sonhos,

de nossas ilusões...

E hoje, hoje que se completam quatro decênios passados do dia radiante


em que ingressámos na Marinha de nossos sonhos, ergamos nossas taças pela
memória saudosa dos nossos companheiros que tombaram na estrada da Vida
e, esquecidos das dissenções havidas, pela felicidade de todos nós, de nossos filhos,

de nossos netinhos, de nossas famílias...

O Capitão de Corveta Marcos de Alencastro

Graça, pronunciou as palavras que se seguem:

Os remanescentes da turma de Aspirantes de Marinha de 1900, reuriram-se

em fins do mês de Março do corrente ano e resolverem comemorar no dia 12

de Abril, o seu 40° aniversário de entrada para a Escola Naval, tendo sido

. nesse dia mandado rezar uma missa por alma dos seus colegas falecidos na
RESPIGA 1313

Igreja compareceram o Sr. Almirante Mi-


da Candelaria. A esse ato piedoso
nistro turma e bem assim vários parentes dos seus
da Marinha, componentes da

colegas falecidos. matriculada na citada Escola, compu-


Essa turma, quando
nha-se sendo a mesma acrescida de mais 3 cadetes
de 86 Aspirantes de Marinha,
ocnsiderados destarte, como com-
que vieram transferidos da Escola Militar,

existem 50 remanescentes da turma,


ponentes da turma de 1900. Desses 89,

reformados, 7 na vida civil e 1 no


dos quais: 6 na actividade, 19 na reserva, 17

Exército. da turma, já faleceram,


Até a presente data, 39 componentes

uns e dentre esses Mario de Noronha,


como civis e outros já como oficiais

Álvaro e Benjamin Câmara, ainda muito


Aguiar, Oscar Viana, Pinto Bravo

na horrível catástrofe do Couraçado Aquidabã, em Jacuecânga,


jovens e

Castro Roseli, Maia Monteiro, Calaça,


e Silva, Peixoto Simões, Pípolo

Afonso Augusto Barreto, Randôlfo


Gonçalves, Joaquim Leal, Olavo Machado,

Artur Abreu, Feliciano Lamenha,


de Oliveira, Eurico César, Afonso Machado,

Artur Matos, Alcebiades Nogueira; e,


Couto, Pinheiro Chagas, Xavier de

outros relevantes serviços prestados a


já em postos superiores e alguns com

Marinha e ao País como sejam: Cantuária Guimarães, \ elho Sobrinho,

Elezear Tavares, Chaves de Figueiredo, Abreu Lobo, Eugênio Ribeiro e Taylor.

Dirigia a Escola Naval nessa época o saudoso Almirante Júlio de Noronha,

seguindo-se a êsse na direção do mesmo educandário o Capitão de Mar e Guerra

Calheiros da Graça, Artur de e Bacelar. No começo do curso


Jaceguaí Huct
faleceu o aspirante Leôncio Frazão; conseguiram alcançar os bordados de

Almirante Regis Bittencourt e Antônio Schorcht, êste ha pouco transferido

para a reserva e quando na ativa fôra o chefe da Aeronautica Naval e aquele,

presetemente o oficial do Corpo de Engenheiros Navais e dirigindo


graduado

com muita de Diretor do Novo Arsenal de Marinha da


proficiência o cargo

Ilha das Cobras.

Ao 1/2 um dos salões do Club Naval, realizou-se um almoço


dia, em

ao compareceram os antigos aspirantes: Pais de


de confraternisação, qual

Oliveira, Albuquerque Lima, Regis Bittencourt, Schorcht, Oscar Coutinho,

Anibal Talma Freire, Tiágo de Figueiredo, Campos da Paz, Rodolfo


Sales,

Burmester, Manoel de Vasconcellos, Marcos Graça, Gustavo Goulart, Luiz

Neves, Alberto Lucena, Antônio Pinto, Coelho de Souza Astrogildo Goulart,

de Souza, Menezes de Oliveira, Jorge Dodsworth, Felipe Lamenha,


Euclides

Adolfo Meurer, Gotran Teixeira, César da Fonseca, Andrade Leite, Barbosa

Martins, Belo, Roberto Gama, Leite de Oliva, Delamare S. Paulo,


Luiz

Mario Magalhães e Barros de Azevedo. Deixaram de


Torres, Aureliano

comparecer motivo de força maior os antigos aspirantes: Soares Dutra,


por
Armando Braga, de Paiva, Navarro de Andrade, Rechsteiner, Dias
Esculápio

Vieira, Lavoisier Antônio Damásio, Aurélio Falcão, Mário Diniz,


Escobar,

Taunay, Teixeira de Freitas, Teixeira de Carvalho, Roberto Pereira.

Iniciado o almoço, o Comandante Talma Freire que substituiu o pranteado

Comandante Sobrinho, na organisção das comemorações fereceu o agape


Velho

homeagem mais ali presente, o Almirante Regis Bittencourt e,


em ao graduado

em seguida, entregou a direção da festa ao Comandante Pais de Oliveira, que


1314 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

fôra o Chefe da turma do Io ano, o qual fez a chamada dos aspirantes matricula-

dos em 1900 e em seguida uni minuto dc silêncio, em intenção aos colegas fale-

cidos de pé todos os antigos aspirantes.


permanecendo

O Comandante Pais de Oliveira, no início do almoço deu a palavra ao

Comandante Marcos Graça, que fez a seguinte palestra humorística, recor-

dando o passado:

Presadíssimos colegas:

Permitam-me que, como um dos mais humildes componentes da turma de

Aspirantes de 1900, use de toscas palavras para compartilhar com os colegas

da alegria ora reinante nessa comemoração, agradecendo ao Todo


presentes,
Poderoso, não só quem lhes dirige a palavra, como todos os remanescentes da

turma, por termos conseguidos completar o 40.° aniversário da entrada para a

tradicional Escola Naval, de onde saíram grandes vultos que muito honraram

o nosso caro País.

Não vão ouvir palavras que encantem e seduzam, porém frases desata-

viadas que não poderão despertar a atenção dos colegas, as quais concatenei não

com o dom oratório de um Lima, Pais de Oliveira, Regis, Belo Talma e Pedro

Tiágo e de tantos outros aqui presentes e, sim, passagens à vol d'oiscau, de

certos episódios da nossa vida juvenil escolar, os quais a minha fraca memória

recordá-los-à, a fim de revivê-los para que não fiquem esquecidos, porque recor-

dar é viver.

Sempre ouvimos dizer que a velhice e a meninice em extremo se tocam,

portanto, deixemos de lado o que fômos os que são atualmente alguns de V. V.,

ocupantes dc belas posições de mando e direção na nossa Marinha dc Guerra.

Só lhes peço uma coisa, não me queiram mal, si porventura venha ferir

mesmo de leve susceptilidades; não me criminem, pois as minhas palavras

não serão mais que recordações de méros espíritos que fazíamos na turma,

que justiça seja feita, era coesa e fórte, era ela uma verdadeira liga como

é dito hodiernamente.

Sempre ouvimos dizer que, os nossos contemporâneos da Escola e os de

outras turmas anteriores, já encanecidos, quando reunidos em turma, parecem


verdadeiras crianças.

E assim caros colegas, vamos nos divertir e para isso solicito permissão

das altas autoridades da turma, aqui presentes, isto é, a sua magestade o Impera-

dor e ao Exmo. General da turma.

Colegas, vou me concentrar por um instante, o que estou observando 1

Acho-me no alpendre da antiga Escola Naval, em 12 de Abril de 1900, junta-

mente com um mundão de calouros.

Vejo dentre os calouros, cobras gato, papagaio etc. e ai lembrei-me de

terlido algures, isto é, do celebre naturalista Darwin que todo o homem possue

o traço fisionômico de um animal ou ave.


RESPIGA 1315

Vamos de mansinha, não sei si me... aprofundo nessa brincadeira


pois
engraçadinha.

Assim outra coisa, leis espíritas, o que acredito, sem abraçar êsse credo,
pelas
existiam calouros em outras incarnações foram: Imperador da Badia,
que
General, Sogra, sinal muito bela, Petronio do Quo-Vadisj Cristo e
que por
êsse a me refiro era brincalhão, Fonografo e mesmo o que nesse momento
que
lhes dirige a palavra, fôra em tempos idos a célebre cantora Clara de La Guardia,

porém feia.

Colegas, tínhamos naquela ocasião motivo para brincar, pois quem passou

pela Escola Naval em branca nuvem e não sofreu, como eu e mais alguns

aqui presentes, foi espectro de Aspirante e não foi homem, passou pela vida

e não viveu.

Para não ser muito longo nessa arenzel, direi — si o mar fosse tinteiro,

os peixes os escrivães e o céo o teria necesidade de um grande numere


papel,
de laudas rabiscadas, para historiar episódios interessantes ocorridos na turma.

Comecemos pelas aulas da Escola: prestar atenção as aulas


quem podia
de Calculo Diferencial c Integral, dadas respectivo substituto, mormente
pelo
àqueles que se sentavam nas últimas carteiras, os éram mimoseados com
quais
formidáveis banhos de areia, nos davam os cruéis veteranos ? Admiravamos
que
a calma do mesmo substituto do velho Aquino, nada via e tocava para o
que
páu.

E as aulas de Mecanica, as quais pareciam com as atuais da escola

Léro-Léro, de hoje, de D. Tétéca e, para isso vou citar 3 faots que no 1110-

mento me ocorrem: um com o menino Campos, que se fasia de ingênuo na

ocasião da aula e, quando êsse lente explicava centro de gravidade, vendo o

Campos sentado no banco da música, bancando bom estudante, dirigiu-lhe


"
a seguinte pergunta. Seu Campo, o que acontece si eu dér um soco nessa

carteira". A resposta dada pelo nosso colega focalisado, no momento não posso

citar; porque o inocente Taunay, dirá que é uma palavra feia.

O outro fato foi com um calouro baiano, de pernas curtas, como 110 geral

eram os demais conterrâneos, chamado Nizan Guerreiro, que cm certa ocasião

em altas vozes, perante o professor da cadeira, quando este lia o


protestou
resultado de uma sabatina, que absolutamente não tinha tirado 2 notas nulas

e, finalmente o último, com o Manoel Augusto que, quando o afobado Sérgio

estava no quadro negro, o primeiro amarrou um cordel no pano da mesa, onde

o professor costumava colocar sobre ela, uma massagada de jornais, revistas,

o seu chapéu de côco, guarda-chuva. Pois bem; Manoel Augusto com geito

consegue amarrar a outra ponta do cordel no dolman do Sérgio que saiu cor-

rendo atrás dêle, levando com êle toda a bugiganga que estava sôbre a mesa.

E as aulas do professor de desenho de maquinas, na qual as pontas nos


"
lápis eram feitas à facão de cosinha e êle fingindo calma, dizia vamos tra-
1316 revista marítima brasileira

"vamos
balhar trabalhar" e, quando o aluno não queria ou não sabia fazer

o desenho do parafuzo, êle próprio ensinava e mesmo o fazia.

Paremos um pouco com êsse Léro-Léro, vamos como disse de mansinho,

me parecendo que o Felipe está reclamando essa minha troça, lembrando-se que

ainda estamos na Escola. O Talma que o diga.

Vomos apresentar mais alguns números, porém não pensem que sejam de

estação de radio, pois infelizmente naquele tempo só tínhamos fonografos

tia turma.

Possuimos na turma, como disse, um Imperador que para impôr mais res-
"Benjamim
peito quando a bordo do Constant", em viagem de representação

ac extrangeiro, deixou crescer o seu bem tratado cavaignac branco, pois inu-

meros radiogramas recebera, notadamente da ex-rainha D. Amélia. Pensei

que fosse troça dos companheiros de bordo, mas de fato o nosso colega fôra

Imperador na festa do Divino Espírito Santo da Baía. Na turma sua mages-

tade recebeu calorosas homenagens, inclusive uns versalhetes feitos de par-


— " ".
ccria com o Pedro que em voz de baixo, dizia Eu sou professor de mu-si-ca

Pois bem; Pedrinho, quando pegava o pinho e dedilhava com as suas garras o
mavioso instrumento, imitava eu a vóz de Clara de La Guardia e cantava uma
"Par
parodia da cançoneta la fenêtre". Não se zangue magestade, lembre-se

que estamos numa mesa, vou lhe dar uma folga.

E a alta autoridade militar que fazia parte da turma era um General, de

gênio pouco brincalhão, porém, bom camarada, tanto assim que em certa

ocasião foi recolhido ao bailéu, pelo Barão, por ser o mais antigo durante o

estudo da noite e não saber manter o silêncio no mesmo. E' que os dois mais

antigos da turma, vendo que a atmosfera no salão não estava bôa, deram o

suite, ficando assim o nosso General enrascado, não podendo destarte reclamar

a sua reclusão, por ter sido imposta por um Almirante de fato. Porém, um
"
grupo dos sempre os mesmos", constituindo um piquete de cavalaria, resol-

veu prestigiá-lo e assim, todas as noites acompanhava o General da turma até

ao seu leito, prestando-lhe assim a continência inerente ao seu alto posto.


O General éra sizudo e nunca agradecia as homenagens, apenas pronunciava
frases quasi imperceptíveis, as quais os componentes do piquete não percebiam
o que o mesmo dizia.

E assim prezados colegas, já estou me tornando muito peroba, chega já

é demais o é bom aqui parar) pedindo a Deus mais alguns anos de vida para
todos nós e felicidades para as nossas prezadas famílias.

Após ter falado o Comandante Marcos Graça, foi dada a palavra ao Coman-

tíante Tiágo de Figueiredo que em imprqviso de modo humoristico, relembrou

alguns episodios da vida escolar e na peroração enalteceu o valor de seus co-

legas que se elevaram nos postos superiores, o mais afetuosamente, dando-lhe

um cunho fraternal, julgando-se por isso orgulhoso, não só êle, como todos os

colegas que embora não atingindo a esses postos, continuaram a trabalhar cm


RESPIGA 1317

vencer brilhantemente, encontrando o


outros setores, veem aqueles colegas
feliz, chamou de equação da vida.
valor das incógnitas que êle de um modo

de Albuquerque Lima, que foi o


Em seguida falou o Comandante Mário

fatos da Escola e em brilhantes


chefe da turma e em longo discurso relembrou

discorreu sóbre os Estados do Brasil.


palavras

o aspirante da turma de 1900,


Por fim falou o Almirante Régis Bittencourt,
"prestada pelos seus antigos
ainda no serviço ativo uqe agradeceu a homenagem

ali naquele almoço de confraternisação,


colegas de turma, dizendo que não via
amigos e irmãos, sendo muito
postos da hierarquia militar, todos ali eram
pois
aplaudido.

a reunião dos seus antigos


O Caniandante Pais de Oliveira, deu terminada
essas comemorações fossem
companheiros, felicitando os presentes e pedindo que

realisadas mais a miúde.

O MINISTRO ALEXANDRINO

da inauguração da estátua
Entre as manifestações de aprêço, por ocasião
Ministro, 110 dia 18,
do Almirante Alexandrino de Alencar, saudoso
grande
ressalta a sua argúcia e lúcida inteligência,
no Cemitério de S. João Batista,

nas vezes em exerceu êsse alto pôsto


que sempre demonstrara, várias que

político.

cousas, habituado ao mando e orien-


Conhecedor profundo dos homens e das

e na Marinha, possuna o
tação, em uma longa carreira no Mar, 11a Guerra

escolhendo adequado ativo e prático,


segredo de formar gabinetes, pessoal

entre os era êle o mais ágil e arguto.


quais

velhice e manteve sempre aquele fogo sagrado


Sempre jovial, não sentiu a

irradiação do seu temperamento ardente


pelo Mar, que animara-o e distribuía

e apaixonado.

" ficou às
Foi assim desde 1907, criou o Rumo ao Mar" lema que
quando
com a palavra e o entusiasmo moço.
gerações que dirigiu e animou sempre quente

Tamandaré, Barroso e Saldanha; teve como auxilia-


Teve como exemplos:
Guillobel e Pinheiro Guedes; fez Almi-
res:Maurity, Bacelar, Leão,
Jaceguai,
torpedeara em 93; Francisco Matos, legalista;
1 antes: Altino Correira, que o
Rubim, Mourâo dos Santos, Mendonça,
Penido, Frontin, Silvado, Garnier,

Tedim Costa, Lemos Basto, Souza Lobo,


Alencastro Graça, Gavião, Lins,

Boiteux, Veríssimo de Matos, Gomes Pereira,


Pereira Guimarães, Portela,
Rodrigues, Oliveira Sampaio, Felinto Perry,
Gabaglia, Alves Câmara, Fonseca

de Carvalho, Batista Franco, Campeio e Carlos


Ferreira da Silva, Álvaro

Noronha.

de Gabinete; Felinto Perry, Max de Frontin, Penido


Foram seus Chefes

Tancredo Burlamaqui, Cezar de Melo, Thiers Fleiming, Brito


Marques Azevedo,
1318 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Cunha, Souza e Silva, Protógenes Guimarães, Oscar Spíndola, Muniz Barreto,


Álvaro Carvalho, Carlos Carneiro e Pinto da Luz.

Serviram em seus Gabinetes, durante os 13 anos de Ministro, como

auxiliares: Melchiades, Milcíades, Fabrício, Mesquita Braga, Américo Pimen-

tel, Adalberto Menezes, Artur Elisiário Barbosa, Olivar Cunha, Nóbrega Morei-

ra, Edmundo Pereira, Elisiário Pereira Pinto, Jorge Dodsworth Martins,

Alvin Pessoa, Alfredo Rui Barbosa, Mário Vítor Barreto, Roberto Gama e

Silva, Silvino Freire, Edgard Hecksher, Chagas Moura, Alves de Souza,

Caetano Taylor, Salustiano Lessa, Azeredo Coutinho; Guimarães Roxo, Garcia


Pires de Albuquerque, Lima Viana, Apolinário de Carvalho, João Carlos

Souza e Silva, Lucindo Passos, Costa Lima, Manuel Espíndola, Leite de Castro,
Reis Viana e João Peixoto.

Teve como colegas de Ministério: Barão do Rio Branco, Caetano de Faria,

Hermes, Tavares Lira, Antônio Carlos, Calógeras, Carlos Maximiliano, Leo-

poldo Bulhões, Francisco Sá, Nilo Peçanha, Lauro Muller, Felix Pacheco,

Rodolfo Miranda, João Luiz Alves, Miguel Calmon, Barbosa Gonçalves, Se-
tembrino Carvalho, Vespasiano de Albuquerque e outros.

Mereceu a confiança de seis Presidentes da República: Afonso Pena,


Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Braz, Urbano Santos, Artur
Bernardes.

Foi contemporâneo de Pinheiro Machado, Seabra, Aurelino Leal, Epitácio


Pessoa, João Lira, Otávio Mangabeira, Homero Batista, Carlos Peixoto,
Antônio Azeredo, Astolfo Dutra, Arnaldo Azevedo, Alfredo Ellis, Rui Bar-

bosa, Vitoriano Monteiro, Aníbal Freire, Sabino Barroso e outros políticos


das épocas.

Viveu em períodos agitados dando sempre provas de bravura, energia e

resolução firme. Fez a Guerra e fez a Paz, de 1914 a 1918. Seu prestígio
na Marinha subiu ao augue e jogou a vida várias vezes. ,

Criou a Aviação Naval, as Escolas de Aprendizes, a Nova Esquadra, de


1907, o Dique Flutuante; a viagem do Benjamim à volta do mundo e reformou
todas as Repartições e Regulamentos, criando o Almirantado.

"de
Foi um exemplo de trabalho, patriotismo, de amor à classe. O seu nome

jamais se apagará.

Rio, 18-4-1940.

R. M. C. L.
BIBLIOGRAFIA

ALMIRANTE ALEXANDRINO DE ALEN-

— — Vilani & Barberi — Rio de


CAR Homenagem

Janeiro, 1940.

Êste livro é uma bela coletânea de escritos em homenagem ao ilustre Almi-

rante Alexandrino de Alencar.

O esplêndido trabalho gráfico compreende três estampas: a do mausoléu

mandado erigir no cemitério de S. Batista Govêrno da República,


João pelo
sendo Presidente o Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas e Ministro da Marinha o

Exmo. Sr. Almirante Henrique Aristides Guilhem; a do busto do saudoso e

preclaro extinto na ilha das Cobras, onde se acha o novo Arsenal de Marinha,
inaugurado a 12 de Outubro de 1926, sendo Diretores da Companhia Mecâ-
nica e Importadora de S. Paulo, concessionária das obras, os Srs. Alexandre

Siciliano Júnior e Barão Smith de Vasconcelos, e fiscal do Govêrno, o ver-

dadeiro realizador da homenagem, o Capitão de Mar e Guerra Engenheiro


Naval Thiers Fleming; e a do Almirante, em uniforme, reprodução
primeiro
uma fotografia tirada em 1916.

Constituem matéria do livro, organizado e publicado se inaugurou


quando
o monumento ao Almirante, no cemitério de S. Batista, diversas
João peças
de valor: o elogio fúnebre, proferido na Câmara Federal, a 8 de Junho de
1926, pelo então Deputado Getúlio Vargas; o decreto-lei abriu o crédito
que
especial dc 100:000$000, para a construção do monumento, e os nomes dos rnem-

bros da Comissão nomeada pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores:

Vice-Almirante José Machado de Castro e Silva, Capitão de Mar e Guerra

Thiers Fleming, Américo dc Araújo Pimentel e Jorge Dodsworth Martins;

Capitão de Fragata Manuel Elói Al vim Pessoa; Dr. Luiz Hildebrando

M. Horta Barbosa; Capitães de Corveta Edmundo Williams Muniz Barreto

e Carlos da Silveira Carneiro. Em seguida, páginas de colaboração.

Firmam os diversos trabalhos, contidos 110 belo livro, os Srs. Almirantes

Pinto da Luz, José Maria Penido, José Machado dè Castro e Silva, Vagel-

gesang e Eduardo Augusto de Brito e Cunha; Dr. Pedro Calmon, da Academia

Brasileira; Capitães de Mar e Guerra Thiers Fleming, Frederico Vilar, Jorge


Dodsworth Martins e Manuel Elói Alvim Pessoa; Gastão Penalva, Dr. Ar-
1320 revista marítima brasileira

mando dc Alencar, Joaquim de Sales; Capitães de Corveta Edmundo Williams

Muniz Barreto e Carlos Carneiro. Discursos do Desembargador Armando de


Alencar, Félix Pacheco e Plínio Casado; sonetos do Dr. João Pacífico e Soa-

ré;, de Alcântara; palavras de Artur Dias; homenagem do Senado Federal;

artigo de Alcindo Guanabara (Pangloss). Finalmente, uma notícia da inau-

guração do monumento e os discuros então proferidos pelo Almirante J. M. de

Castro e Silva, pelo orador oficial, Capitão de Corveta Carlos da Silveira Car-

neiro, e pelo Ministro Armando de Alencar, filho do inesquecível Almirante.

O livro Almirante Alexandrino de Alencar é assim uma bela e vigorosa


documentação sobre a figura do egrégio extinto e sôbre as homenagens que
lhe foram tributadas, pela Nação e pelos seus mais ardentes admiradores,

também fiéis amigos.

— " "
A VIDA Princípios — Vibrações e Flui-
dos — Alm. A. Thompson — Papelaria e Tipografia
Coelho -— Rio de Janeiro, 1940.

O laborioso e culto espírito do Amirante Artur Thompson acaba dc ofe-


recer ao exame e à meditação dos seus inúmeros leitores mais um livro dc

pensamento e cultura, com uma exposição crítica, em apêndice, do Espiritismo


no Brasil.

Obra concisa, em quasi cem páginas, trata do absoluto e do espaço e tempo,

quanto a concepções; da substância; do domínio da energia, trata de evolução,


dos planos (físico, mental e espiritual), das vibrações e fluidos; da mente,

por fim.

É um livro que atrai os estudiosos e estes acharão nele largo motivo para
cogitações e aquisição de conhecimentos no tão interessante campo de invés-
tigações, explorado pelo abalizado e sempre aplaudido autor é o Sr. Almi-
que
rante Artur Thompson.

DESCOBRIMENTO DO BRASIL — Drama-

tização histórica em dois atos — C. Paula Barros —

Rio de Janeiro, 1940.

Contribuindo para os festejos dos Centenários de Portugal, a Secretaria


Geral de Educação e Cultura do Distrito Federal esclarece, em introdução à
"em
peça do consagrado intelectual patrício Paula Barros, que harmonia com

o sentimento de todo o povo brasileiro, no amor e no culto às glórias lusas,


apresenta, nesta obra, uma das suas contribuições".

É, sem dúvida, uma contribuição oportuna e inspirada, devida ao talento

de uni escritor brasileiro e à ação louvável do órgão que preside ao ensino e


à formação espiritual e cívica da capital do Brasil.
BIBLIOGRAFIA 1321

A peça foi representada, pela primeira vez, a 3 de Maio de 1940, no estú-


ciio de PRD-5 — Rádio-difusora do Distrito Federal, em comemoração aos
centenários de Portugal, pelos Srs. Manuel Rocha, Jorge Diniz, Simões Coe-
lho, Cacilda Ortigão, Jucira de Albuquerque Lima, José Soares, Herculano
Rcbordão, Antônio Ventura, Suzana Negri, A. de Andrade, Dr. Tomaz Alvim.
Maestro Spedini c orquestra- do Teatro Municipal, Maestro Vieira Brandão e
Orfeão de Professores. Música típica do Dr. A. Ruiz e Zé do Bambo. Dire-
ção artística de Felício Mastrangelo e do autor. Direção técnica do Dr. Se-
veriano Justi e Alberto Lira Madeira.

A BANDEIRA DA ESQUADRA — Dramati-


zação histórica radiofônica em dois atos — C. Paula
Barros — Rio de Janeiro, 1940.

Este trabalho, do mesmo e aplaudido autor acima citado, foi divulgado


pela Prefeitura do Distrito Federal (Secretaria Geral de Educação e Cultura
— Serviço de Divulgação — Departamento de Difusão Cultural).

Referindo-se à peça, o Departamento de Educação Nacional daquela Se-


cretaria explica: " no desenvolvimento de suas atividades cívicas, deliberou
prestar à Marinha de Guerra do Brasil uma justa homenagem, em comemora-
ção à data máxima de 11 de Junho. Com esse elevado propósito e o con-
curso do Departamento de Difusão Cultural, resolveu imprimir o presente
original de C. Paula Barros, "A Bandeira da Esquadra", fazendo-o irradiar
"Hora
para todo o país na do Brasil'', iniciativas que permitirão aos bra-
sileiros vibrarem de orgulho patriótico, recordando a glória imperecivel da
Marinha Nacional".
Representada pela primeira vez e gravada no estúdio da PRD-S — Radio
da Prefeitura do Distrito Federal — tomaram parte na representação Ju-
berta Barreto, Geraldo Avelar, Pilar Garcia, Manuel Rocha, Sandro Polônio,
José Carvalho Branco, J. Silveira, Paulo Porto, Corrêa d'Almeida, Alberto
Princepe, Tocantins de Barros, A. Assunção, Remo Pieronti, Aloísio da Silva
Castro. Colaboração do Corpo de Engenheiros e operários do Arsenal de
Marinha, Corpo de Fuzileiros Navais e Batalhão de Guardas.

INSTITUTO CEARA — Intercâmbio — Ca-


dastro social — Boletins ns. 1 e 2 — Tipografia
Minerva — Fortaleza, 1940.

Do antigo e reputado Instituto do Ceará, cujos trabalhos tanto têm concor-


ride para o conhecimento da História, Geografia e Etnografia do Brasil, espe-
cialmente daquele Estado, para cujo desenvolvimento, no domínio das Ciências
e das Letras, vem trabalhando com grande brilho e sucesso, recebemos os
1322 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

boletins Intercâmbio (associações culturais, estabelecimentos públicos, órgãos de


publicidade, nacionais e estrangeiros, que mantêm relações com o Instituto) e
Cadastro Social (quadro social no ano de 1940 — nomes, títulos, data da eleição
e residência, pela ordem alfabética e de precedência da eleição).
Agradecemos penhorados o envio de tão úteis boletins que bem poderiam
ser imitados, com maior freqüência c divulgação, pelos demais Institutos do
país.

MANUAL PARA AS EMBARCAÇÕES


MIÚDAS — Anfilóquio Reis — Imprensa Naval,
1940.

Trabalho elaborado em 1928, pelo então Comandante Anfilóquio Reis, hoje


Vice-Almirante, Ministro do Supremo Tribunal Militar, acaba de ser editado
j.elo Ministério da Marinha, tal o seu valor e a sua utilidade.
A impressão desse Manual veio preencher uma sensível lacuna, além de
constituir mais uma demonstração da capacidade e do devotamento do seu autor,
durante os longos anos da sua intensa e esclarecida atividade profissional.

MEU COMANDANTE — Lavoisier Escobar


— Gráfica Olímpica — Rio de Janeiro, 1940.

Em elegante folheto, com uma estampa, no rosto, do navio-escola Bcnjamin


Constant, Lavoisier Escobar, talentoso ex-oficial de marinha, recorda o glorioso
Comandante João Batista das Neves, quando a turma do escritor celebrava o 40°
aniversário do seu ingresso na Armada.
São 20 páginas de emoção, todas bem escritas, nas quais o navio-escola, o
seu comandante e os comandados de uma longa viagem revivem com maior vigor
na saudade dos que ainda vivem.

CRITICA À NACIONALIZAÇÃO E COLO-


NIZAÇAO DE FRONTEIRAS DE M. PAULO
FILHO — Lavoisier Escobar — Gráfica Olímpica,
1940.

Trata-se da reprodução de um artigo publicado no Jornal do Comércio do


Rio de Janeiro, de 17 de Março de 1940, para ser distribuída entre os estudiosos
"pioneiro,
do assunto. É ainda uma homenagem do autor a M. Paulo Filho,
no Brasil, da maior de todas as campanhas em prol da integração, em nosso-
patrimônio territorial, da periferia esquecida, simples sucessão, no oeste longín-
".
quo, de acidentes geográficos e marcos simbólicos
BIBLIOGRAFIA 1323

Continuamos a receber, com toda a regularidade as seguintes publicações:

Do Rio Arquivos Brasileiros de Medicina Naval Revista


de Janeiro:
de Engenharia — A Galera (Revista do Corpo de Alunos da
Municipal
— Naval oficial da Liga Naval Brasi-
Escola Naval) Revista (órgão
—¦ Diretrizes Classe — Ajuri.
leira) Nossa

De Pernambuco: Boletim Técnico da Secretaria de Viação e Obras Públicas.

Do Paraná: Revista Médica do Paraná — Revista da Academia Paranaense

de Letras.

Do Rio Grande do Sul: Boletim Municipal (Porto Alegre).

De S. Paulo: Revista da Academia Paulista de Letras.

De Petrópolis: Vozes de Pctrópolis.

— Centro Naval •— Revista


Da República Argentina: Brújula Boletim dei

de Publicaciones Navales.

Do Chile: Revista de — Marina — Memorial dei


Artilheria Revista de

Ejercito de Chile.

Dos Estados Unidos: Think (União Panamericana).

De Portugal: Anais do Club Militar Naval.

D. C.
NOTICIÁRIO

BRASIL

"PARAGUASSÚ"
MONITOR

Sua incorporação à Esquadra

Realizou-se, no dia 8 de Maio deste ano, a brilhante cerimônia

de incorporação à Esquadra do monitor Paraguassú, navio cons-

truído nos estaleiros do Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras e

lançado ao mar em Dezembro de 1938.

Às 11.45 dêsse dia, o Ministro Aristides Guilhem, os


presentes
Almirantes Castro e Silva, Chefe do Estado Maior da Armada;

Regis Bittencourt, Guilherme Ricken, Oliveira Sampaio; o Inter-

ventor Amaral Peixoto e outros oficiais da Armada e de muitas

senhoras, um oficial da Fazenda da Armada leu a ordem de incorpo-

ração, em a fez o histórico da construção e detalhes do navio.


qual

A seguir, o Ajudante de Ordens do Chefe do Estado Maior leu a

ordem do dia alusiva ao ato. Foi, então, dada a ao operá-


palavra
rio do Arsenal, Sr. Costa, que falou em nome dos operários
José

trabalharam na construção do navio, os se achavam for-


que quais
mados no tombadilho. Falou, por último, o Almirante Aristides

Guilhem, focalizou a competência da mão de obra nacional.


que
Disse não citava nomes para não cometer omissões e, con-
que

sequentemente, injustiças. porém, ressaltar um fato digno


Quis,

¦disso: a atitude do mestre João Santos, que se achando em gôzo de

aposentadoria, abandonou seu descanso e veio trabalhar na cons-

trução do vaso de ora incorporado.


guerra

A esse tempo, o Ministro da Marinha entregou à Sra. Amaral

Peixoto, madrinha do navio, a rica bandeira nacional oferecida ao

Paraguassú operários encarregados da sua construção


pelos que,
1326 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

"quiseram
assim, segundo do Almirante Guilhem, dar-lhe,
palavras

além da estrutura física, o sopro divino, a alma, que é a ban-

deira nacional".

A Sra. Alzira Vargas do Amaral Peixoto fez içar, no mastro de

ré, o auri-verde, foi saudado calorosa salva de


pavilhão que por

e acordes do Hino Nacional. Uma fôrça de fuzileiros


palmas pelos

navais apresentou armas.

Estava terminada a cerimônia.

O ALMOÇO

O comandante Pires de Castro ofereceu, no salão de refeições

do navio, um almoço íntimo em que reuniu o Ministro da Marinha,

Vice-Almirante Henrique Aristides Guilhem e senhora, comandante

Ernani do Amaral Peixoto e senhora, Vice-Almirante Castro e Silva

e senhora, Contra-Almirante Mário Sampaio e senhora, Contra-

Almirante Guilherme Riecken e senhora, Contra-Almirante Júlio

Regis Bittencourt e senhora, Capitão de Corveta Arquimedes Pires

de Castro e senhora e o Capitão de Corveta Oscar Leite de Vas-

concelos.

"PARAGUASSÚ"
AS CARACTERÍSTICAS DO

São estas as craacterísticas do Paraguassit:

Comprimento externo, 44m720; comprimento entre perpendi-

cular, 42m000; boca externa, 10m60; boca moldada, 10m583; pontal,

2m40; calado médio, lm60; deslocamento, 6'50 tons.; veloci-

dade, 12 nós.

Armamento: — 1 canhão de 120m/m., mod. II; 2 canhões de

47 m/m., mod. I; 2 morteiros 87; 13 metralhadoras AA 7 m/m.;

20 fuzis mauser, mod. 1908, todos da marca Armstrong.

TRIPULAÇÃO

A tripulação do monitor Paragiiassú, entre oficiais, sub-oficiais,

sargentos e praças, é de 99 homens.


NOTICIÁRIO 1327

CONTRA-ALMIRANTE, FUZILEIRO NAVAL, MILClADES

PORTELA FERREIRA ALVES

Conforme foi no Boletim do Ministério da Marinha,


publicado
n. 20, de 16 de Maio do corrente ano, o Exmo. Sr. Presidente da

República, Decreto n. 581-A, de 10-5-1940, resolveu promover,


por

merecimento, ao de Contra-Almirante o Capitão de Mar


por pôsto

e Guerra, comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, Milcíades

Portela Ferreira Alves.

Essa repercutiu agradavelmente nos círculos


justa promoção

navais.

A INCORPORAÇÃO A ESQUADRA DOS NAVIOS-


"CABEDELO", "CAMAOUÂ", "CAMOCIM"
MINEIROS

E"CARAVELAS"

A cerimônia realizada no cais da Ilha das Cobras

A Marinha de Guerra Nacional realizou a cerimônia, ao


junto

cais da Ilha das Cobras, na tarde do dia 7 de da incorporação à


Junho,

Esquadra dos navios-mineiros Cabedelo, Camaquã, Camocim e

Caravelas.

Convidadas servirem de madrinhas das unidades,


para quatro

compareceram as Exmas. Sras. esposas dos titulares das do


pastas

Exterior, da Guerra, da Fazenda e do Prefeito do Distrito Federal.

Êste e também àqueles Ministros de Estado estiveram presentes.

Assistiram igualmente a essa cerimônia as seguintes pessoas:

o Sr. Almirante Henrique Aristides Guilhem e senhora, os AImi-

rantes Regis Bittencourt e senhora, M. de Castro e Silva e


Júlio J.

senhora, de Azevedo Milanez e senhora, Raimundo Melo Braga


J.

de Mendonça e senhora, Guilherme Rieken e senhora e Alberto de

Lemos Basto; Capitães de Mar e Guerra Gustavo Goulart e senhora,

Oscar de Frias Coutinho, A. Carlos Soares Dutra, Adalberto

Landim; Capitão de Fragata Átila Aché; Capitães de Corveta Nelson

Noronha de Carvalho, Céser da Cunha Menezes, Dr. Luís N. Cas-

telo Branco; Capitães-Tenentes Eurico Peniche, Ataualpa Neves,

Carlos Almeida da Silva, A. M. Noronha Torrezão, J. C. Rego

Monteiro, A. César de Andrade, Dr. Mário Novelli, Sr. Vítor Gui-

lhem e outras pessoas.


1328 REVISTA marítima brasileira

Os navios, embandeirados em arco, tinham a bordo as respectivas

madrinhas e suas se achavam formadas em de


guarnições postos
continência.

Os demais navios ficaram ao largo, aguardando o instante da

incorporação, as salvas do No cais da Ilha das


para protocolo.

Cobras se estendia uma Companhia de Fuzileiros Navais as


para
devidas continências.

Em palanque armado no centro do cais achavam-se as autori-

dades. Em dado momento foi iniciada a cerimônia, com a leitura,

pelo comandante Raul Valença Câmara, do aviso de incorporação dos

novos navios. Após, o Tenente Carlos Magno da Silva leu o têrmo

de armamento das belonaves.

O Almirante Castro e Silva mandou ler, em seguida, seu


pelo
ajudante de ordens, comandante Raul Câmara, a ordem do dia, que
é a seguinte:

"Io — São hoje incorporados à nossa Marinha de Guerra os

navios-mineiros Camaquã, Camocim, Cabedelo e Caravelas.

2° — Vemos assim repetidos os momentos de satisfação


que
nos proporcionaram cerimônias iguais referentes aos outros navios

dessa espécie e ultimamente a relativa ao monitor Paraguassii,


que

já transpôs, felizmente muito bem, as águas do oceano, o sepa-


que
ravam da base fluvial onde irá os serviços afetos a unidades
prestar

de ugerra da sua classe.

3o — Como nas outras ocasiões, a Marinha, com êsse dia fes-

tivo, não julga terminada a importante missão, foi confiada aos


que
seus arsenais e ao seu técnico, nos afazeres se relacionam
pessoal que
com o ressurgimento do nosso naval; ao contrário, no está
poder que
feito, ela não vê senão um início do muito tem a fazer; tarefa
que

que exige tenacidade, e o felizmente,


persistência patriotismo, que
todos nós sabemos se tem encontrado e se encontra sempre
que que
em todas as corporações constituem a Marinha de Guerra à
que qual
temos a honra de pertencer.

4° — Como recompensa aos esforços e satisfação das esperan-

ças que determinaram a construção dêsses navios, e dos serviços de

todos que direta ou indiretamente ela concorrerem, o Estado


para
Maior da Armada deseja a essas novas unidades navais uma vida

feliz e fica cheio de confiança elas seus comandantes, oficiais


que por
e guarnições, tudo farão dignamente, se ombrearem com as
para,
NOTICIÁRIO 1329

demais, constituem os elementos flutuantes da Marinha


que principais

de Guerra do Brasil. — José Machado de Castro Silva, Vice-


(a.)

Almirante, Chefe do E.M.A.".

Fizeram-se ouvir as salvas dos navios, bem como o Hino Na-

cional, ao mesmo tempo em em de continência a


que postava posição

íila de fuzileiros tomava a frente do cais. I^oi um instante de


que

culto ao Brasil.

UM ALMÔÇO ÀS MADRINHAS

Ministro da Marinha ren-


Aproveitando o momento, o Sr. quis

der uma das novas unidades navais,


grata homenagem às madrinhas

tomando além das Sras. Kurico Dutra,


parte no ágape ministerial,

Dodsworth, os Srs. Mi-


Osvaldo Aranha, Sousa Costa e Henrique

nistros Fazenda e o Prefeito do Distrito


da Guerra, do Exterior, da

Federal, Almirante Regis Bittencourt e


Almirante Castro e Silva,

senhora, e senhora, Almirante Rai-


Almirante Guilherme Ricken

mundo Mendonça comandante Aldaberto Landim, Gustavo


e senhora,

Goulart, Oscar Vasconcelos e Augusto


José Spindola, Leite

Beauregard.

da Ilha das Cobras. Ao


Êsse almoço foi realizado no Arsenal

champagne foram trocados vários brindes.

A POSSE DO COMANDANTE DA FLOTILHA

do comandante Gustavo Goulart no


Teve lugar, após, a posse

comando da flotilha de navios-mineiros.

Em rápidas o Almirante Castro e Silva congratula-se


palavras,

com nomeação do comandante Gustavo Gou-


os demais oficiais pela

lart, e êste responde a saudação do Chefe do Estado Maior da Armada.

AS MADRINHAS ENTREGAM AS BANDEIRAS

no fizeram a entrega das bandei-


As madrinhas, palanque,
quatro
ras de cada navio. Há Minutos após,
nacionais a duas praças palmas.

em de oficiais, as Sras. Eurico Dutra, Sousa Costa, Osvaldo


companhia

Aranha Henrique Dodsworth dirigem-se para bordo dos


e Prefeito

caça-minas. Êsses oficiais são os comandantes Átila Achê, César Mau-

riti, Barros Bareto e Silvio de Abreu.


1330 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Em cada vaso de a oficialidade recebe, com as devidas


guerra,

homenagens, a madrinha da unidade, levando-a até à torre. São

içadas, ao mesmo tempo, ao som do Hino Nacional, executado pela

banda do Corpo de Fuzileiros Navais, nos quatro navios, a Bandeira

Nacional. Ouviu-se, nessa ocasião, as sirenes dos navios surtos no

Há, também, palmas da assistência.


porto. prolongadas

O COMANDANTE GOULART ASSUME O COMANDO

O comandante Gustavo Goulart assume, em seguida, o comando

da ílotilha, dirigindo-se o Carioca. Momentos antes, a Sra. Aris-


para

tides Guilhem entrega à Sra. Gustavo Goulart o pavilhão que será

utilizado no Carioca, é o navio capitánea.


que

PLACAS DE BRONZE COMEMORATIVAS DO ATO

Os operários do Arsenal entregam, em seguida, a cada madrinha,

ramos de flores. E o Ministro Aristides Guilhem, em nome da oficia-

lidade do Arsenal, também faz a entrega, às Sras. Eurico Dutra, Sousa

Costa, Osvaldo Aranha e Prefeito Henrique Dodsworth de uma placa

de bronze com a de cada um dos navios-mineiros.


gravura

DESFILE

Os navios Carioca, Cananéia, Camocirn, Cabedelo, Caravelas e

Caimquã, um um, se deslocam do cais, dirigindo-se para a Ilha


por

das Enxadas.

E, ús 15.15 horas, com a formada no


precisamente guarnição

convés, os seis navios-mineiros desfilam em continência às altas auto-

ridades. Ao terminar a cerimônia, o Ministro Arstides Guilhem foi

vivamente cumprimentado.

INSTITUTO NAVAL DE BIOLOGIA

"Dr.
A inauguração oficial do Pavilhão Carlos Frederico"

Conforme estava marcado, realizou-se a Io de Junho, às 11 horas,

a inauguração oficial do Pavilhão Dr. Carlos Frederico, anexo ao

Instituto Naval de Biologia, situado à rua Maria Luisa, na Boca

do Mato.
NOTICIÁRIO 1331

Êsse Pavilhão, como tem sido noticiado, será destinado ao tra-


íamento dos enfermos da Marinha atacados pela tuberculose, e para

substituir o obsoleto situado à rua Euclides Rocha, em Copa-


pavilhão

cabana, há muito condenado como imprestável à cura dêsse insi-

dioso mal.

O soberbo edifício, agora inaugurado Sr. Presidente da


pelo

República, está situado em aprazível colina, em clima salubérrimo, e

de onde se descortina, do alto do 5o belíssima perspectiva


pavimento,

divisando-se até trechos da baía de Guanabara. Tem de fachada cêrca

de 60 metros de construção em concreto armado; é obra da firma cons-

trutora Edgar Raja Gabaglia, outros importantes serviços já tem


que
feito a nossa Marinha de Guerra.
para

O Sr. Presidente da República chegou antes das 11.30


pouco

horas, acompanhado do chefe interino da sua casa militar, comandante

Otávio de Medeiros, e Ângelo Nolasco, sendo aguardado no saguão

de entrada ministros de Estado compareceram, o prefeito


pelos que

municipal, o Major Chefe de Polícia e outros elementos de destaque,

convidados para assistir a essa inauguração.

Na visita o Sr. Presidente da República estava acompanhado pelo

Almirante Dr. Tosta da Silva, diretor de Saúde Naval, e pelo res-

diretor, ministraram ao Chefe da Nação todas as infor-


pectivo que

mações acerca das instalações eram visitadas.


que

O Sr. Presidente da República esteve, assim, nas enfermarias

situadas onde se encontram seis leitos em


nos pavimentos do edifício,

cada sala, e num total de 150; nos de cirurgia, laboratórios


gabinetes

e outras dependências indispensáveis a êsse modelar e novo hospital.

Terminada a visita o Sr. Presidente da República, acompanhado

cias assistiu à missa votiva rezada na capela


demais pessoas presentes,

sob invocação Senhora da Glória e celebrada Revmo.


a de Nossa pelo

Monsenhor Ferreira, achando-se também as irmãs


Leonidas presentes

de caridade vão servir no mesmo Pavilhao.


que

religioso, o Sr. Ministro da Marinha convidou o


Findo o ato

República a tomar e o almoço de


Sr. Presidente da parte presidir

trinta direção do Instituto Naval de Biologia.


talheres, oferecido pela

às 13 horas, tomaram além do Dr. Ge-


No ágape, servido parte

túlio ministros de Estado e suas Exmas. espô-


Vargas, os presentes

sas, o Municipal, o Major Chefe de Polícia, o Secretá-


Sr. Prefeito

rio da Prefeitura, o reitor da Universidade do Brasil, o


da Saúde

diretor Saúde do Exército, o Chefe do Estado Maior da Armada,


de

oficiais da Armada e do Corpo de Saúde Naval.


1332 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Ao champagne, o Sr. Ministro da Marinha saudou o Chefe da


Nação, agradecendo a S.Ex. o apoio que tem dispensado às inicia-
tivas de sua administração e fazendo votos pela felicidade pessoal de
S.Ex. e pela prosperidade de seu governo.
O Sr. Getúlio Vargas agradeceu em ligeiras palavras.
Terminado o almoço, o Chefe da Nação foi até à entrada do
Pavilhão, onde divisou avultado número de crianças ali estacionadas
aguardando sua saída. O Sr. Getúlio Vargas mandou um funcio-
nário adquirir grande quantidade de balas que fez distribuir pela
criançada, que, satisfeita, manifestou desde logo a sua alegria.

LIGA NAVAL BRASILEIRA


Para dirigir os destinos da Liga Naval Brasileira foi eleita a
seguinte diretoria:
Diretoria Central: presidente, Conde Pereira Carneiro; 1." vice-
presidente, Comandante J. M. Magalhães de Almeida; 2.° vice-pre-
sidente, Dr. Pires do Rio; 3.° vice-presidente, Dr. Euvaldo Lodi;
secretário geral, Comandante Nelson de Guillobel; 1.° secreário, Co-
mandante José Frazão Milanez; 2.° secretário, Tenente José Gomes
de Araújo; 1." tesoureiro, Dr. José Carlos Burle; 2.° tesoureiro, An-
tonio Nicolau Gemmal.
Conselho Fiscal: Dr. José Buarque de Macedo, Capitão Zeno
Zielinski e Comandante Augusto Hamann Rademaker Grunewald.
Conselho Deliberativo: Ministro Ataulfo Paiva, Almirante Anfi-
loquio Reis, Comandante Adalberto Landin, Comandante Ataualpa
Silva Neves, Comandante Braz Veloso, Dr. Bastos Tigre, Dr. De-
metrio Xavier, Dr. Carivaldó Lima, Comandante Frederico Vilar,
Comandante Bertino Dutra da Silva, Comandante Fernando Carlos de
Matos, Comandante Eurico Peniche, Comandante Gentil Homem de
Menezes, Dr. Luis Edmundo, Dr. Henrique Lage, Dr. Herbert Moses,
Dr. Lourival Fontes, Dr. Jarbas de Carvalho, Comandante Silvino
José Pitanga e W. L. Castro Guimarães.

O PRIMEIRO AVIÃO BI-MOTOR CONSTRUÍDO NAS


OFICINAS DA AVIAÇÃO NAVAL
Com a presença do Ministro da Marinha, Almirante Aristides
Guilhem; do Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Castro
Silva e outras altas patentes da Armada, realizou-se no dia 15 de
NOTICIÁRIO 1333

Maio, às 10 horas, na Base de Aviação Naval, a experiência de vôo


do primeiro avião bi-motor, construído nas oficinas daquela base.
O titular da pasta da Marinha, fazia-se acompanhar do seu ajudante
de ordens, Comandante Áureo Torres e as demais autoridades foram
recebidas na Ponta do Galeão, pelo diretor da Aeronáutica Naval,
Almirante Trompowsky e pelos oficiais diretores do Serviço daquele
centro de aviação, inclusive o Capitão de Corveta Henrique de Souza
Cunha, diretor das oficinas.

COROADA DE ÊXITO AS EXPERIÊNCIAS

O avião que fez a sua primeira prova aérea coroada do máximo


êxito, é também o primeiro da série de 10 aparelhos bi-motores
" Sock-Wells,
58 B", para bombardeio médio, que ali se constróem.
Provando a capacidade dos nossos técnicos, é de se salientar haver
sido o aparelho hoje experimentado construído sob inteira orientação
de oficiais brasileiros, uma vez que, devido à guerra na Europa, não
pôde vir o técnico alemão que deveria orientar a sua construção.

OFICIAIS E PRAÇAS DA NOSSA ARMADA PREMIADOS


PELO GOVERNO NORTE-AMERICANO

O Presidente da República dos Estados Unidos da América do


Norte, Sr. Franklin D. Roosevelt, em sinal de reconhecimento pelos
serviços prestados por oficiais e marujos brasileiros, quando ocorreu
o desastre na baía de Guenabara, em 13 de Agosto de 1939, com o
"Baby
Clipper", da Pan American Airways, mandou, por intermédio
do Embaixador daquela grande nação, acreditado junto ao nosso Go-
vérno, Sr. Jefferson Caffery, fazer entrega de binóculos e medalhas
àqueles denodados servidores da Marinha do Brasil.
A cerimônia, que se realizou na Embaixada Norte-Americana, a
2 de Março do corrente ano, revestiu-se de grande significação, ten-
do-a presidido o próprio Sr. Caffery.
Estiveram presentes ao ato o representante do Sr. Ministro da
Marinha; Almirante Castro c Silva, Chefe do Estado Maior da Ar-
1334 REVISTA marítima brasileira

mada; T. A. Xanthaky e R. Harrison, secretários da Embaixada

Norte-Americana; Capitão Toutant Beauregard, Chefe da Missão

Naval Norte-Americana; Capitão Tenente Francisco Maia


Júnior,
representante do Almirante Milanez, Chefe
João da Esquadra; Co-
mandante Graves e Major Lawrence C. Mitchell, respectivamente

adidos naval e militar norte-americanos; Frank Powers,


gerente da
Pan American Airways; inúmeros oficiais de Marinha e jornalistas.

A cerimônia

O Embaixador Sr. Caffery, dando início


Jefferson à cerimônia,
fez entrega dos binóculos oferecidos S.Excia.
por o Presidente Roo-

sevelt ao 1.° Tenente Carlos Artur da Silva e ao 2.° Tenente Ernesto

Mourão de Sá, oficiais do encouraçado Minas Gerais. Em seguida,

S.Excia. colocou ao peito do 1.° sargento Luiz da Silva Gayoso e

dos marinheiros Raimundo Gualberto de Santa Brígida e Lourival

Corrêa, as medalhas dadas pelo chefe da nação norte-americana.

Fala o Embaixador norte-americano

Após a entrega dos binóculos e medalhas, o Embaixador Sr. Jef-

ferson Caffery fez uso da em rápido improvizo, exalçar


palavra, para

o feito dos marinheiros nacionais que arriscaram a vida ocasião do


por

desastre do Baby Clipper. S. Excia., finalizando sua breve oração,

cumprimentou o Almirante Castro e Silva pelo ato de bravura e intre-

pidez dos seus comandados.

Fala o Chefe do E.M.A.

O Almirante Castro e Silva, depois da alocução do Embaixador

dos Estados Unidos, pronunciou um breve discurso agradecendo ao

ilustre diplomata a homenagem de acabavam de ser alvo oficiais


que

e praças da Marinha Brasileira. O Chefe do Estado Maior da Ar-

mada focalizou os tradicionais laços de amizade unem brasileiros


que

e norte-americanos. Terminando sua alocução, o orador disse:


— com nós, os brasileiros,
prazer que aproveitamos as opor-

tunidades se nos oferecem de servir os nossos amigso dos Estados


que

Unidos".
NOTICIÁRIO 1335

"QUINCY"
OS CRUZADORES NORTE-AMERICANOS
"WICHITA"
E

"Quincy"
0

Mais um vez fundeou na Guanabara do Norte e che-


procedente

no dia 12 de manhã, o cruzador de batalha Quincy,


gado, Junho, pela

da Marinha Norte-Americana, está realizando um cruzeiro de


que

confraternização Á sua entrada foi assinalada com as


pan-americana.

salvas de seu bordo, em saudação ao Pavilhão Brasileiro,


partidas

tendo respondido as baterias de salva do encouraçado Minas Gerais,

surto no O demorou-se no Rio até o dia 17, tendo sido


poço. Quincy

realizadas várias homenagens à sua oficialidade e guarnição.

VISITA AO ARSENAL DA ILHA DAS COBRAS

A 13 de às 9 horas e 30 minutos, o Capitão de Mar e


Junho,

Guerra Williams C. Wickram, comandante do referido cruzador e

seu Estado Maior, visitaram o Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras,

onde foram recebidos Almirante Regis Bittencourt, diretor e


pelo

todos os oficiais ali servem. No domingo, dia 16, às 13 horas,


por que

o Almirante Guilhem ofereceu um almoço ao comandante e oficiais

do Quincy.

HOMENAGEANDO O VULTO DE BARROSO

Um destacamento de 300 marinheiros do cruzador norte-americano

no dia 14 às 9 e 30 horas, uma homenagem ao Al-


Quincy prestou

mirante Barroso, em frente ao seu monumento na Praia


desfilando

do Russell, fazendo colocar uma coroa de bronze no depestal da


e

estátua. Compareceram um representante do Ministro da Marinha, o

Almirante Castro e Silva, Chefe do Estado Maior da Armada, o

Embaixador norte-americano, Chefe e componentes da Missão Naval

americana, o adido naval norte-americano, o Comandante Oscar de

Frias Coutinho, diretor do Pessoal. Os navios da Esquadra fize-

ram-se representar delegações de suas guarnições.


por
1336 revista marítima brasileira

"WICHITA"
O CRUZADOR

Conforme fôra comunicado ao Sr. Almirante Ministro da Ma-

rinha, a 15 de chegou ao desta Capital, no dia 21 do


Junho, pôrto

mesmo mês, o cruzador da Marinha de Guerra Norte-Americana

Wicliita.

Êsse cruzador, se achava em cruzeiro de instrução


que pelos
mares sul-americanos, e atracou ao cáis da Praça Mauá, no dia 21,

é o capitânea da sétima divisão de cruzadores da Armada Norte-

Americana, composta dos cruzadores de batalha Vincennes,


Quincy,
Tuscaloosa e cruzadores ligeiros Saint-Louis e Helena. Essa divisão,

tem base em Norfolk, no Estado de Virgínia, e está encarregada de

patrulhamento no Atlântico.

A bordo do Wichita viajou o Contra-Almirante Andrew C.

Pickens, primeira vez vem à América do Sul, é um veterano


que pela

da guerra de 1914-18, em que comandou uma divisão de destroyers

norte-americanos.

Comanda o cruzador o Capitão de Mar e Guerra Thaddeus A.

Thompson Júnior, também veterano da de 1914-18.


guerra

Eogo após a chegada do Wichita subiram a bordo, encarregados

de apresentação de boas vindas, em nome da Marinha Brasileira, os

Capitães de Corveta Edmundo Amorim do Valle e Ismar Pfal-


Jordão

tzgraff Brasil, colocados às ordens respectivamente, do Almirante

Pickens e do Comandante Thompson Júnior.

Estiveram à bordo do cruzador os Srs. Almirante Milanez, Co-

mandante da Esquadra Brasileira, Comandante Agustin Beauregard,

Chefe da Missão Naval Americana. Adido Naval norte-americano,

Cônsul dos Estados Unidos, oficiais da Missão Naval e funcionários

da embaixada americana.

Ás 11.30 chegou ao Wichita o Sr. Jefferson Caffery, Embai-

xador dos Estados Unidos que, após visitar o navio, conduziu os Al-

mirante Pickens e o Comandante Thompson à do


Júnior presença

Sr. Presidente da República e em seguida, estiveram no Ministério

da Marinha, em visita de cortezia ao Sr. Almirante Aristides Guilhem.

O Wichita é um vaso de guerra moderno, havendo sido lançado

ao mar em 1937, e incorporado em 1939. Seu nome é derivado de

uma cidade de Kansas, desloca 9.950 toneladas, com uma rtipulação

de 50 oficiais e 700 marinheiros. É dotado de 9 canhões de 8 pole-


NOTICIÁRIO 1337

8 de 5 baterias anti-arereas e quatro hdiro-aviões,


gadas, polegadas,

formando uma esquadrilha de observação, sob o comando do Capitão-

Tenente R. R. Waller.

A estadia em nosso do Wichita, que nos visitou pela pri-


pôrto,

meira vez, foi de uma semana, dependente, da conferência que o

Almirante Pickens teve com o Sr. Embaixador Caffery.

ERRATA

No artigo Academia Brasileira de Ciências, em nosso


publicado

último número, escaparam vários erros de revisão, entre os quais êstes

são os mais notórios:

arendi em vez de aprendi,

fórmaste em vez de formastes.

pegadas em vez de seguistes pegadas,

proclamar em vez de proclamas..

chagavam em vez de chegavam.

Steckert em vez de Stechcrt.


"Le "Le
doré est adoré" em vez de doré et adoré".
general general

CASA DO MARINHEIRO

No intuito de aperfeiçoar a educação física, intelectual e cívica


"Casa
das da Armada, criou o Sr. Ministro da Marinha a
praças

do Marinheiro", instituição de feição recreativa, onde os nossos ma-

rujos dentro de um ambiente de mais íntima camaradagem


poderão,

e maior brasilidade, a cultura física e vários esportes, fre-


praticar

úuentar cursos elementares, assistir conferências e cívicas,


palestras

aperfeiçoando, enfim, a sua formação militar no interesse e


próprio

no da Marinha de Guerra.

"Casa
A do Marinheiro" se acha definitivamente instalada nos

dois andares do edifício da antiga Inspetoria do Arsenal de Marinha

e iniciou suas atividades, estando abertas inscrições para os cursos


elementares.
BRASILEIRA i
1338 REVISTA MARÍTIMA

A Diretoria de tão útil e patriótica instituição confia no interesse

e bôa vontade dos Srs. Comandantes de navios e Direores de estabe-

lecimentos de Marinha no sentido, não só de manter as contribuições


"Casa
feitas à do Marinheiro" como de estimular seus comandados,

de bom comportamento a freqüentar a séde e os cursos ora se


que

iniciam, de acordo com o da referida instituição.


programa

ESCOLA DE MARINHA MERCANTE

A nossa nova Escola de Marinha Mercante está se fazendo notar

franco em se acha. Ainda há o


pelo progresso que pouco, paquete

Alegrete, do Lloyd Brasileiro, servindo de navio-escola, fez uma ex-

celente viagem a Nova-Orleans, Estados Unidos da América do Norte,

sob o comando do Capitão F. E. Guido, tendo a bordo 18 oficiais

e 20 alunos.

A imprensa de Nova-Orleans se referiu encomiàsticamente ao

navio-escola e ao seu pessoal, estampando diversos clichês por ocasião

de visita lhes fez o Sr. P. Nabuco de Abreu Júnior, Cônsul Geral


que

do Brasil em Nova-Orleans.

Congratulamo-nos com o Sr. Almirante H. da Graça Aranha,

ilustre Diretor do Lloyd Brasileiro, resultados se vão veri-


pelos que

ficando, em conseqüência dos seus esclarecidos esforços em benefício

dos futuros oficiais da nossa importante Marinha de Comércio.

ATOS ADMINISTRATIVOS

S. Francisco — O Aviso n. 378, de 26


Base de Combustíveis de

de Março de 1940, manda incorporar à Marinha a Base de Combus-

tíveis de S. Francisco, em Santa Catarina, devendo a mesma ficar

subordinada à Diretoria de Fazenda, através do Delegado da Capi-

tania dos Portos de Santa Catarina naquela cidade. B. 14/40.

— O Aviso
Dívida particulares (instruções para cobrança)

n. 445, de 6 de Abril de 1940, estabelece regras para cobrança de dí-

vidas particulares. B. 15/40.


NOTICIÁRIO 1339

Dívidas privadas de militares — O Aviso n. 445, de 6 de Abril


de 1940, baixa instruções para cobrança de dívidas privadas de mi-
litares. B. 18/40.
Nomes de navios — O Aviso n. 533, de 26 de Abril de 1940,
determina que os nomes dos navios da Esquadra sejam escritos de
acordo com a ortografia mandada adotar pelo Decreto n. 292, de
22-2-1938 e dá outras providências. B. 18/940.
Cessão de material — A Circular n. 514, de 23 de Abril de 1940,
proíbe o empréstimo ou fornecimento de material, ou objeto perten-
cente à Fazenda Nacional a qualquer repartição estranha à Marinha
de Guerra. B. 18/940.
Recenceamento dc 1940 ¦— O Decreto-Lei n. 2.141, de 15 de
Abril de 1940, regulamenta a execução do Recenceamento Geral de
1940, nos termos do Decreto-Lei n. 969, de 21 de Dezembro de
1938.» B. 19/40.
Certidões de tempo de serviço — O Decreto-Lei n. 2-148, de
25 de Abril de 1940, dspiõe sobre certidões de tempo de serviço e
dá outras providências. B. 19/40.
Funções de agente de Capitanias — O Decreto-Lei n. 2.161, de
30 de Abril de 1940, dispõe sobre o exercício das funções de agente
de Capitanias de Portos por militares da Armada e dá outras provi-
dências. B. 19/940.
Escola de Marinha Mercante — O Aviso n. 604, de 17 de Maio
de 1940, fixa a lotação para o Curso de Aperfeiçoamento da Escola
de Marinha Mercante do Rio de Janeiro. B. 21/940.
Inatividade e acesso dos oficiais do — QO — e Aviadores Navais
— O Decreto-Lei n. 2.173, de 6 de Maio de 1940, regula a inatividade
e o acesso dos oficiais do Corpo da Armada e Quadro de Aviadores
Navais e dá outras providências.
Denominação c registro dos aeroportos e aeródrõnws — O De-
creto-Lei n. 2.721, de 3 de Junho de 1940, dispõe sobre a denomi-
nação e o registro dos aeroportos e aeródromos e dá outras providên-
cias. B. 24/40.
Incorporação dc navios ¦— O Aviso n. 677, de 6 de Junho de
1940, manda incorporar à Armada os Navios-Mineiros Carvaelas, Ca-
bedelo, Camaquã c Camocim. B. 24/40.
1340 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Floitllia de Navios-Minciros — O Aviso n. 682, de 7 de Junho

de 1940, manda criar a Flotilha de Navios-Mineiros, constituída pelos

seguintes navios: Carioca, Cananéia, Cdmocim, Camaquã e Caravelas.

B. 24/40.

de oficiais auxiliarei da Aviação Naval — O Decreto-


Quadro

Lei n. 2.295, de 10 de Junho de 1940, cria o de Oficiais


Quadro

Auxiliares da Aviação Naval e dá outras providências. B. 25/40.

Departamento\ de Educação Física da Marinha — O Decreto-Lei

n. 2.296, de 10 de Junho de 1940, cria o Departamento de Educação

Física da Marinha e dá outras providências. B 25/40.

Imtividade dos Oficiais do Corpo da Armada e Av. Navais —

de dispositivo) — O Decreto-Lei n. 2.297, de 10 de


(alteração Junho

de 1940, altera o dispositivo do Decreto-Lei n. 2.173, de 6-5-1940.

B. 25/940.

Navio — O Aviso n. 726, de 17 de de


Incorporação de Junho

1940, manda incorporar à Flotilha de Mato Grosso o Monitor Para-

B. 25/940.
guassú.

ESTADOS UNIDOS

"Vincennes"
O cruzador

A 26 de do corrente ano, foi divulgado, em despacho te-


Junho

legráfico de Washington, os Departamentos da Marinha


procedente que

e Tesouro dos Estados Unidos, anunciaram, em nota conjunta, que

o cruzador Vincennes, chegado na semana entre 17 e 23 do mesmo

mês, trouxera da França um carregamento de ouro.

Acrescenta o referido despacho a nota dizia textualmente:


que

"Há
algum tempo, os Estados Unidos compraram uma
quanti-

dade de ouro ao francês, a foi transportada para os Es-


govêrno qual

tados Unidos a bordo do cruzador Vincennes, regressou do es-


que

trangeiro. O referido cruzador fazia da esquadra norte-ame-


parte

ricana na Europa, operando ao largo da costa de Portugal".


NOTICIÁRIO 1341

VENDA DE NAVIOS A PAÍSES ESTRANGEIROS

A agência Havas, divulgando a notícia sôbre a venda, a paises

estrangeiros, de navios norte-americanos, desde o início da presente

transmitiu o seguinte despacho, procedente de Washington,


guerra,

em data de 15 de Maio dêste ano:

"A
Comissão Marítima anuncia numerosos navios dos Es-
que

tados Unidos foram vendidos ao estrangeiro desde o início da guerra.

A Grã-Bretanha comprou 40 navios, Panamá 36, Canadá 24,

França 12, Brasil 14, Grécia 10, Bélgica 9 e as Filipinas 6.

Outras compras foram divididas entre a China, Cuba, Estônia,

Honduras, Itália, Noruega, Colômbia e o México.

Todos êsses navios foram vendidos a companhias particulares e

não aos governos."

ITÁLIA

Entrou em serviço um novo encouraçado

A Agência Havas, informando sôbre a entrada em serviço, no

dia 6 de Maio, do encouraçado Littorio, transmitiu, em despacho tele-

gráfico procedente de Gênova, daquela data, a seguinte notícia:

"O
encouraçado Littorio, segundo das unidades de batalha
quatro
de 35.000 toneladas da frota italiana, entrou em serviço hoje.

A incorporação à marinha de teve lugar em Gênova du-


guerra

rante uma cerimônia realizada com a das autoridades mili-


presença

tares e civis da cidade. A entrada em serviço do Littorio segue de

uma semana à entrega do Vittorio Veneto.

O Littorio mede 230 metros, seu armamento é cons-


principal
tituído de 9 canhões de 381 milímetros, vários canhões de 152 e peças
anti-aéreas de 90 mm."
NECROLOGIA

ALMIRANTE, EN, REFORMADO,

INOCÊNCIO MARQUES DE LEMOS BASTO

Faleceu, nesta Capital, no dia 4 de Maio deste ano, o Al-

mirante, Engenheiro Naval, Reformado, Inocêncio Marques de

Lemos Basto.

CONTRA-ALMIRANTE, DA RESERVA DE l.a CLASSE,


QO,

BENJAMIM GOULART

No dia 7 de Maio do corrente ano, faleceu, nesta Capital, o

Contra-Almirante, QO, da Reserva de 1." Classe, Benjamim

Goulart.

CAPITÃO DE MAR E GUERRA, REFORMADO,


QO,

JOÃO AUGUSTO DE SOUSA E SILVA


O

A 10 de Maio de 1940, nesta Capital, faleceu o Capitão de

Mar e Guerra, QO, reformado» João Augusto de Sousa e Silva.

CAPITÃO DE FRAGATA, DA RESERVA


QO,

DE 1.» CLASSE,

OTÁVIO NUNES BRIGGS

Faleceu, a 1 de Junho do ano corrente, em Niterói, Estado

do Rio de Janeiro, o Capitão de Fragata, da Reserva de 1."


QO,

Classe, Otávio Nunes Briggs.


CAPITÃO DE CORVETA, QM,

PAULINO DE AZEVEDO SOARES

Na cidade de Niterói, Estado do Rio de faleceu, no


Janeiro,

dia 12 de Maio de 1940, o Capitão de Corveta, Paulino de


QM,

Azevedo Soares.

CAPITÃO DE CORVETA, COMISSÁRIO, DA RESERVA

DE 1." CLASSE,

ARISTÓTELES QUEIROZ DE BARROS E VASCONCELOS

No dia 3 de Junho deste ano, nesta Capital, faleceu o Capitão

de Corveta, Comissário, da Reserva de l.a Classe, Aristóteles

Queiroz de Barros e Vasconcelos.

SEGUNDO TENENTE DA R.N.A.

RENATO DE AZEVEDO BORGES

No Estado de Santa Catarina, em virtude de acidente de

aviação, faleceu o Segundo Tenente da Reserva Naval Aérea,

Renato de Azevedo Borges.

AJUDANTE-MAQUINISTA, GUARDA-MARINHA,

REFORMADO,

CANTÍDIO CORRÊA DA FRANÇA

No dia 26 de Janeiro de 1938, no Estado da Baía, faleceu o

Ajudante-Maquinista, Guarda-Marinha, reformado, Cantídio Cor-

rêa da França.

A Revista Marítima Brasileira apresenta, às famílias enlu-

tadas sentidas condolências.


Miíiii..i..ri.imiiiiiiinnniiiíiiiiniiiifiTiiiiit]iiiiiiiiiiiiüiiiinniiiic]iiiiiiiiiii)Hiiiiiiiiiiiit]iiiiiiiii"iniiiiiiiiiiiitiiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiii[»; a

LIVROS BONS E BARATOS ?

comprar todos os seus livros


Quer

desconto? Associe-se a «PRO LUC»,


com

cooperativa dos amigos do bom livro.

Por 20$000 annuaes o socio receberá:

— descontos em todas as compras;


1."

2.° — varias novas obras no valor global de 30$000;

"A üi
3." — assignatura gratuita do jornal Voz de Santo

= Antonio com 8 paginas cada vez.

?'
Peça o explicativo compieto á
prospecto

«PRO —
LUCE» Caixa posto, 23


Petropolis Estado do Rio

luiiiiiiiiiiiiEiiiMiiiiiiiiciiMiiiiiiiiiEsiiiiiiiiiiiiuiiimjiijiiciiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiTu

rTTTTTmiIIIXIIXimiYIUnmTIYTTTTIIIIIIIYIITn'

H
M
THE BRAZILIAN COAL CO. M
LTD.

RIO DE JANEIRO "


P
h Representantes dos Srs. CORY BROTHERS & CO. LTD., de Cardiff • Londres
M
N

» IMPORTADORES DE CARVÃO DE PEDRA — SERVIÇO DE í

REBOCADORES, EMBARCAÇÕES, ETC. «


N N
X
de machinas e de construcção naval, na Ilha
JJ Officinas JJ
dos Ferreiros «
M
Carreira: ILHA DOS FERREIROS ü
N
ILHA DOS FERREIROS «
Deposito:
M
N
H
PRAÇA MAUA' N. 7 — 10° Andar — Sala 1003 J

Escriptorios 23 - 4715

TELEPHONES:<J Deposito 28 - 0376 fc

Officinas 28- 5464 [J

N
Endereço Postal: CAIXA 774 "CAMBRIA"
Endereço telegraphico:
[]
iiiniliiiiiiiiiiiimiiTTTiiimiimimTTTiTTTrt
^iiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiiiciiiiiiiiiiiiiHiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiiiHiiiiiiiiiiiiii iiniiiiiiiiiiiiniiniiiiiiiiniiii Hiiiiiiiiiinuiiiipinir..

C - R II II

^?í£3vMp IBÉ

j 56 M.PH com uma carga superior ao 1


| equipamento completo para a Guerra. §

(Acreditamos ser esta a maior ve- j


| locidade jamais conseguida nas con- |
| dições acima).
construído por
John I. Thornycroft & C° Ltd
Únicos representantes para o Brasil

I
m
IfconmsorTI
RIO
ML DO
DE
BRASIL
JANEIRO
50C EDADE
1-1
ANONYMA
S PAUL.O
Sk

~=:5«iiifiiiiiiC3tifiiiiiiiiiKai»iiiiiiiiiicaiiiiiiiiiiiicaiiiiifiiiii:t3iiiiiiiiiiiicaiiiiiiiijiiiEaiiiiíiiiiiiiEaíiiiiiiiiiiicaiiiiiiiiiiiiKaiiiiiiiiiiiJcaiiiiiiiitiiir^^-"
^TTTT««»rT«««iiaArixxxx*xxxnix»3cxxgxic:':xxxzxxrrxxx

WALTER & C.IA

RUA S. PEDRO N.° 71

RIO DE JANEIRO

E CONTA PRÓPRIA,
COMMISSÕES, CONSIGNAÇÕES

SEGUROS TERRESTRES E MARÍTIMOS,

AVIAÇÃO MILITAR E CIVIL.

REPRESENTANTES DE:

VICKERS-ARMSTRONGS LTD.

Constructores de navios de Guerra de todos os typos.


Artilharia — Munições — Motores Diesel, etc.

THE DE HAVILLAND AIRCRAFT CO., LTD.

Aviação em geral.

THE FAIREY AVIATION CO., LTD.

Aviação Militar.

COMMERCIAL UNION ASSURANCE CO.. LTD.

Seguros terrestres e marítimos.

MERRYWEATHER & SONS LTD.

Material para extincção de incêndio.

LOBNITZ & CO., LTD.

Dragas em geral.

OLEOS LUBRIFICANTES DE ALTA CLASSE


"GRIFFON" *
Marca

LIPTON LTD.

Chá, Conservas, etc.

LONDRES

JACOB WALTER & CO., LTD.

N? 66 VICTORIA STREET - WESTMINSTER. S. W. 3

TTTTTrTTgyTTTTYXTYYTTTTYrXTTYTTTITTrXXXyTTTTTTTYTY
• - v-.-.- • '.¦¦¦ * v
\ ; aE*

CASA DODSWORTH

MrtNFRED© CdSSYR & <£,

IMPORTADORES

S. PAULO-RIO DE JANEIRO - BRASIL

SECÇÃO DE MACHINAS E MATERIAL FERROVIÁRIO

REPRESENTANTES DE:
"V. "
Associação de Fabricas de Tornos D. F.
Gebr. Boehringer G. rr:. H., Goeppingen
Franz Braun A. G., Zerbst
Heidenreich & Harbeck, Hamburg
H. Wolhenberg K. G. Hannover
"Standard -
Tornos rápidos V. D. F." — Tornos revolver e automa-
ticos— Machinas engrenagens — Plainas
para frezar para engrena-
— Plainas de mesa a um e dois montantes — Tornos —
gens frontaes
Machinas de furar radial — Machinas especiaes
Maschinenfabrik Weingarten, Weingarten
Tesouras, Prensas e Puncções
Wilhelm Hegenscheidt A. G., Ratibor
Tomos para rodeios de vagões e locomotivas
Friedrich Schmaltz G. m. b. H., Offenbach
Machinas para Yectificar
Wanderer - Werke A - G, Chemnitz

Prezas de precisão de qtialquer typo


Les Ateliers Métallurgiques S-A, Nivelles & Les Usines,
Forges et Fonderies de Haine, St. Pierre
Locomotivas, carros vagões de Material carga —
passageiros,
Ferroviário cm — Pontes e superestrueturas metallicas
geral
Machinas de solda ELECTRIC A — Electrodos

SECÇAO DE ELECTRICIDADE

Importadores de material para alta e baixa tensão — Material telepho-


nico — Chaves desligadoras — Fios e cabos para electricidade
—Escovas de carvão — Especia-
para dynamos e motores
lidades eleatricas — Fabrcação

Rua Visconde de Inhaúma, 62

End. Teleg.: DOSRIO - Telephones 23-3589 e 23-2757

IDE

MATRIZ: Rua Bôa Vista, 144

— —
: S. PAULO :

t
-rTTTT«HTTTTrxxXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXP
TTTTT^mYTTTTxxxxxixxxxxxxiixxrxixxxxxxxixxxixxuap

ESCRITÓRIO TECNICO
TÉCNICO E
ESCRIT6RIO

\ \
RAJA GABAGLIA
GABAGLIA
N
M
Construção Civil
Civil S
Construqao

CAPITAL
CAPITAL.. 1,000:000$000
1,000:000$000 2

Fundado
Fundado em 1921
1921 S

Projeta,
Projeta, Administra, Fiscaliza, Em-
Em- H

Obras hidraulicas,
hidráulicas, Con-
Con- J
preita,
preita,

creto
creto armado, Instalacoes
Instalações

industriais
industriais e elétricas,
eletricas, ;

Estradas
Estradas de Ferro
Ferro J

e e Rodagem
Rodagem S

— -Rede
Ruenida
Avenida Gra$a
Graça Aranha, Fone
62-2°—Fone
62-2° 42-6080
42-6080~Rede interna.
inferna. RIO DE JANEIRO
JANEIRO
J ;

STTTTTIXTTTXTXYXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXTXTX^
KrTTTTIXTTXXXXXXXXXXXXXXZXXXZXXXXXXXXXXXXXXXXXXTTTy

Imauricesinger!

— CRESTON AVENUE
21OO

New York City

MAURICE SINGER, filho e successor de Singer, |


Joe
m U
largamente conhecido entre os officiaes e todo o da É
pessoal

de Guerra do Brasil, offerece aos clientes brasileiros ,|


Marinha

i os seus serviços em Nova York encommendas ||


para quaesquer

ou compras nos Estados Unidos, assim como informações, fj

embarques, etc., mediante módica commissão.

21 OO CRESTON AVENUE

NOVA YORK =

-iiiiiiiiiiiii[]iiiiiiiiiiiiHiiiiiiiiiiii[]iiiiiiiiiiii[iiiiniiiiiiiHiiiiiiiiiiii[]iiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiii[[]iiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiC]iiiiiiiiiiiiaiiiiiiiiiii[C'
A MALA INGLESA

SECÇÃO FOTOGRÁFICA PARA AMADORES

Especialidade em malas

de amostras

Executa-se qualquer concerto

Malas sob encomenda

para enxoval de alumnos da Escola Naval

VENDAS POR ATAGADO E A VAREJO

E. Vásquez & C.

- -
43 Rua da Carioca 43

FONE 22-15G3 "


MAftCA Rf GISTRA Qa RIO
Os concertos serão respeitados 30 dias.

£& 'iv4

• t>..i..©.-c-.i- e •c,-e-©-©"C--a-i-i-ci-t •¦©••©••©••©• ©•©••©¦•©•

Siiua, lllaoalhles & G."


1

IMPORTADORES

Ferragens, tintas, louças


loucas e
e ,4.

utensílios
utensflios de cosinha
cosinha I

RUA BUENOS AIRES, 76


76
j

Telefones: :
Telefones 23-4716 - 23-5730
23-4716-23-5730 X

RIO DE JANEIRO

v? 3
• . ' •• ' ¦ •

EXTRATOS DO REGULAMENTO DA BIBLIOTECA. AR-

"REVISTA
DA MÀRINHA E MARÍTIMA",
QUIVO

APROVADO PELO DECRETO N. 17^58, DE 2 DE

DEZEMBRO DE 1926

CAPÍTULO X

"REVISTA
DA MARÍTIMA BRASILEIRA"

Art. 38 — A Revista Marítima Brasileira é uma publicarão

destinada a tratar de assuntos concernentes à Marinha de


quaisquer

Guerra ou Mercante.

Art. 40 — ou não às classes da


Qualquer pessoa pertencente

Armada tratar na Revista Marítima de todos os assuntos


poderá

relativos à -Marinha e .-.eus diferentes ramos.

Art. 41 — Os artigos destinados ar publicação pela Revista

. una :*!.» deptti-, di ¦ ¦ ( ipruva

dos redator-cliefe.
pelo

44 — Ao Secretário compete:
Art.

<») a revisão de todas as não sejam esse fim


provas que para

requisitadas autores.
pelos

- 'ar.
Art. 47 ' estimulai q estudo dos ¦ • .amtor
profissionais,

o .Ministro nomeará uma comissão especialmente incumbida de

escolher, dentre Of trabalhos na Revista Marítima du~


publicados

rante o ano. o que for a sen d<4 maior utilidade a


jui/o prática para
Mrtrinhá

'

der;i . mio mio uma medalha de ouro cmi o respetivo diploma.


pr.

concessão des.se deverá constar dos assen-


prêmio

lamentos do oficial distingúkk e. se >*le à efásse ativa lhe


pertencer
¦

\ -mi
Revista, p; :ina esper-.il, r< número
primeira

¦
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

Destinada aos interesses da Marinha Nacional de Guerra e Mercante

ASSINATURA ANUAL

Brasil Estrang.

Para oficiais , I 8$000


8$000 12$000
f„ , |
< Exercito
UJlcaHU e Armada.
|
Para 3ub-Oficiais •
7Ç000
J
Para oficiais de Marinha Mercante e empregados civis do

Ministério da Marinha 9$000

Associações idas Marinhas e Repartições 9$000 14$000

Associações estranhas à Marinha ....; 14Ç000 14Ç000

Civis estranhos à Marinha 10$000 14$000

Número do mês 1Ç500

Número atrazado 2$000

PAGAMENTO ADIANTADO

As assinaturas desta Revista podem começar em qualquer época,

mas terminam sempre em e Dezembro


Junho

Toda a correspondência destinada a esta Revista deve ser


"Biblioteca
remetida com este enderêço: da Marinha —

Edifício do Ministério da Marinha — Rio de Janeiro".

Aos nossos assinantes rogamos o especial obséquio de renovarem

sempre em tempo oportuno as suas assinaturas, afim de

que não haja interrupção na remessa da Revista.

Igualmente nos comuniquem mudança


pedimos que qualquer

<_!e residência, afim de não haja extravio.


que

Das marinhas de comércio e de recreio, solicitamos o favor de nos

enviarem, sempre que puderem, quaisquer informações úteis

ou noticias de interesse geral dignas de publicação.

Admitindo a inserção de anúncios, principalmente dos que se

relacionem com a vida marítima, constitue também esta Revista 11111

excelente repositório de informações de toda ordem, largamente

divulgada no Brasil e no Estrangeiro.

Os anúncios, da mesma forma que as assinaturas, poderão co-

meçar em qualquer data, sendo os seguintes os seus preços:

Tamanho Por ano Por semestre

Página inteira 180$000 lO0$OOO


"
Meia 100$000 60$000
página

As bem como as alterações de anúncios, serão pagas


gravuras,
em separado.

Os quer de assinaturas, quer de anúncios, de


pagamentos,

que residam fora desta Capital, só ser feitos me-


pessoas poderão
diante vales
postais.

Você também pode gostar