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UNIDADE I – Direito Empresarial

Do Direito Empresarial - Empresa e Empresário

Objeto do Direito Comercial


A atividade empresarial, no sistema capitalista, em linhas gerais, consiste em estruturar a
produção ou circulação de bens ou serviços, através da articulação dos fatores de produção
(capital, mão de obra, insumo e tecnologia), para oferecê-los ao mercado consumidor, com
preços e qualidade competitivos --- as organizações de produção de bens e serviços nascem do
aporte de capital (próprio ou alheio), da compra de insumos, da contratação de mão de obra e do
desenvolvimento ou aquisição de tecnologia.
O Direito Empresarial cuida da regulação do exercício dessa atividade econômica organizada de
fornecimento de bens ou serviços, denominada empresa --- embora seu objetivo não se limite à
disciplina jurídica do comércio, Direito Comercial tem sido um dos nomes que identificam o
ramo jurídico voltado às questões próprias dos empresários ou das empresas.

Breve Evolução Histórica do Direito Empresarial/Comercial


Alguns povos da Antiguidade destacaram-se por intensificarem as trocas de mercadorias,
estimulando a produção de bens destinados especificamente à venda --- foi essa intensificação
que despertou o interesse nas pessoas em produzir bens de que não necessitavam diretamente:
bens feitos, exclusivamente, para serem trocados/vendidos --- porém, tal atividade não se
encontrava organizada uniformemente, nem era submetida a normas e princípios específicos.
A partir do séc XVIII (Idade Média), o comércio difundiu-se e, durante o Renascimento
Comercial na Europa, artesãos e comerciantes reuniam-se em corporações de ofício (poderosas
entidades que gozavam de significativa autonomia em face do poder real). Nessas corporações
surgiu um sistema uniformizado de normas autônomo, para disciplinar as relações entre seus
filiados, através dos usos e costumes de cada praça ou corporação (Direito Comercial).
No início do século XIX, Napoleão Bonaparte (França) edita dois diplomas jurídicos: o Código
Civil (1804) e o Comercial (1808), criando uma dicotomia, de onde nasceram duas disciplinas
distintas (mas intimamente ligadas): Direito Civil e Direito Comercial (classificação das relações
em civis ou comerciais e, para cada regime, estabeleceram-se regras diferentes).
O Direito Comercial apresentou-se em duas fases: A primeira é chamada de TEORIA
SUBJETIVA, na qual as normas apenas seriam aplicadas àqueles que estivessem registrados nas
corporações; e a segunda chamada de TEORIA OBJETIVA ou TEORIA DOS ATOS DE
COMÉRCIO, que propunha alterar o modo de classificar o comerciante, como sendo aquele que
pratica determinado ato de comércio de forma profissional e visando o lucro.
A delimitação do campo de incidência do Código Comercial era feita através da teoria dos atos
de comércio, que previa que sempre que alguém explorava algum ato de comércio (exercício da
mercancia), submetia-se às sua obrigações e regramentos, passando a usufruir de sua proteção ---
importante salientar que, na lista dos atos de comércio, não se encontravam algumas atividades,
como a prestação de serviços, as atividades econômicas ligadas à terra, a negociação de imóveis,
agricultura ou extrativismo, dentre outras.
A teoria dos atos de comércio revelou-se insuficiente para delimitar o objeto do Direito
Comercial, tanto que, na maioria dos países em que foi adotada, ela sofreu tantos ajustes e
alterações que acabou desnaturada --- suas falhas forçaram o surgimento de outro critério (mais
completo) identificador do âmbito de incidência do Direito Comercial: a teoria da empresa.
No Brasil, o Código Comercial de 1850 (cuja primeira parte é revogada com a entrada em vigor
do Código Civil de 2002 – artigo 2.045) sofreu forte influência da teoria dos atos de comércio ---
o regulamento 737 apresentava a relação de atividades econômicas reputadas como mercancia.
Teoria da Empresa (Terceira fase)
Uma vez que a teoria dos atos de comércio se mostrou igualmente ineficiente, já que não
abrangia atividades econômicas tão ou mais importantes que o simples comércio de bens, tais
como a prestação de serviços e as ligadas a terra, em 1942, na Itália, surge um novo sistema de
regulamentação das atividades econômicas dos particulares, chamado de teoria da empresa.
O Direito Comercial deixa de cuidar apenas de atividades de mercancia, passando a disciplinar
uma forma específica de produzir ou circular bens ou serviços, a empresarial --- O cerne dessa
teoria está nesse ente economicamente organizado denominado "empresa", que pode se dedicar
tanto a atividades puramente comerciais, como a prestação de serviços ou agricultura ----- Para
essa teoria, empresa é toda atividade econômica organizada, para a produção ou circulação de
bens ou serviços ---- todo empreendimento organizado economicamente para a
produção ou circulação de bens ou serviços está submetido à regulamentação.
A Lei 10.406/2002 (NCC/2002) adotou a teoria da empresa no Brasil e, por força do art. 2.045, promoveu a
unificação do direito privado e acabou com a dicotomia existente entre os atos comerciais e os atos
civis, ao revogar o C. Civil de 1916 e a primeira parte do Código Comercial. Assim, todas as obrigações,
contratos e sociedades, civis ou comerciais, têm natureza privada e regulam-se pelas disposições do NCC.

Diferenças: Comércio x Empresa


Comércio: Comércio trata da troca de mercadorias, envolvendo o seu transporte a grandes
distâncias. Em sentido estrito, comércio é a compra e venda de bens e serviços, resultantes da
divisão social do trabalho. É através do comércio que os produtos da indústria e da agricultura
são postos em circulação --- Desempenha desde a antiguidade, através da transferência de
mercadorias, importantes funções econômicas, pois abastece os mercados com produtos para
satisfazer o consumo, contribui para o desenvolvimento da produção e estabelece o intercâmbio
entre as diferentes comunidades, sendo tais atos praticados com finalidades lucrativas ----
Comércio: exercido por pessoa física ou jurídica ---- Para caracterizar o comerciante, basta a
prática reiterada de atos de comércio ou o exercício habitual da profissão mercantil - qualidade
de comerciante deriva de uma condição de fato.

Empresa
A dificuldade da teoria da empresa é justamente estabelecer o conceito jurídico de "empresa".
Carvalho de Mendonça a define como “a organização técnico- econômica que se propõe a
produzir, mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou
serviços destinados a troca (venda), com a esperança de realizar lucros, correndo os riscos por
conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua
responsabilidade”.
Spencer Vampré a considera como “organização econômica, que se propõe a obter mediante a
combinação da natureza, do trabalho e do capital, produtos ou serviços destinados a troca,
correndo os riscos por conta de uma pessoa, que reúne e dirige esses elementos sobre sua
responsabilidade”.
Apesar da Doutrina divergir e não conseguir estabelecer uma conceituação completa, podemos
decompor as diversas tentativas em quatro perfis comuns a todas, assim entendendo a empresa
como a atividade, o empresário, o estabelecimento e a instituição, respectivamente:
a) FUNCIONAL – empresa se confunde com a atividade empreendedora, dirigida a um fim
produtivo. O elemento atividade é determinante (análise da atividade econômica em si.
b) SUBJETIVO - análise da figura do empresário, como o exercente da atividade econômica
na empresa. Atuação organizada do sujeito sobre os fatores econômicos (capital e trabalho).
c) PATRIMONIAL ou OBJETIVO - é analisada a empresa, como o conjunto de bens
destinado ao exercício da atividade empresarial. Patrimônio negocial (estabelecimento,
complexo de bens materiais, imateriais, móveis e imóveis e os serviços essenciais para o
exercício da atividade). A esta definição, alguns doutrinadores dão o nome de “Azienda”,
definida no Código Civil Italiano como sendo o estabelecimento um complexo de bens,
organizado pelo empresário, para o exercício da empresa.
d) CORPORATIVO – também é analisada a figura da empresa, mas como uma organização
especial de pessoas comparada a uma instituição, que reúne o empresário e seus
colaboradores, com uma finalidade em comum. O trabalho é sujeito e não objeto da
economia - os prestadores do trabalho são associados do empresário (colaboradores).
Em vista da dificuldade de consenso, apenas para fins didáticos, podemos definir empresa como
sendo é a unidade de produção capitalista, ou seja, organização que reúne sob um mesmo
patrimônio os diversos fatores de produção para colocar no mercado um bem ou serviço e,
assim, proporcionar ao seu proprietário, ou empresário, uma renda monetária (lucro), resultante
da diferença de preços entre os fatores de produção e a mercadoria, a seu próprio risco.
Reconhecendo a enorme dificuldade de formular o conceito jurídico de empresa, o legislador
brasileiro, no NCC de 2002, seguiu a orientação da legislação italiana (CC italiano de 1942),
conceituando apenas o empresário (art. 966) e o estabelecimento empresarial (art. 1.142),
regulando a empresa através destes.
Art. 966 - Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único - Não se considera empresário quem
exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares
ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
artigo 1.142 – Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

Empresa e Empresário
Empresário (é passageiro, mutável) ≠ Empresa (é permanente, estável, duradoura)

Atividade empresária e capacidade civil


Para o exercício da atividade empresarial é necessária a capacidade civil (art. 972 do CC -
"Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e
não forem legalmente impedidos") que, no Brasil, é adquirida com 18 anos (art. 5o CC - "A
menoridade cessa aos dezoito anos completos ...").
São incapazes (impedidos) de exercer, por si, atividade empresarial: os absolutamente e
relativamente incapazes (menores de 18 anos não emancipados, ébrios habituais, viciados em
tóxicos, deficientes mentais, excepcionais, pródigos e os índios); os ocupantes de cargos
públicos (observando-se a legislação específica); os cônsules e embaixadores, dentre outros.
Exceções: antes dos 18 anos: concessão dos pais, emancipação, casamento, colação de grau em
nível superior, existência de estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, exercício
de emprego público etc, ocasiões estas onde cessará a incapacidade, conforme previsto nos
incisos I a V do parágrafo único do art. 972 do CC.
Parágrafo único - Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles
na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo
exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo
estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles,
o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
Superveniência de incapacidade - Empresário que se torna incapaz ou que acaba de falecer deixa
dependente incapaz. Possibilidade da atividade empresarial por autorização judicial, através da
representação --- Finalidade: preservação da atividade empresarial, em benefício de seus
empregados e de toda a sociedade.
Segundo o art. 974 do CC, poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor
de herança, desde que autorizado judicialmente, após exame das circunstâncias e riscos da
empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo
juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos
direitos adquiridos por terceiros ---- Importante: o sócio relativamente incapaz deve ser assistido
e o absolutamente incapaz deve ser representado, ambos por seus representantes legais.

Empresário
O exercício da atividade empresarial é feito tanto por pessoa física (empresário individual)
quanto por pessoa jurídica (sociedade empresária) ----- O sócio de uma sociedade empresária
não é necessariamente um empresário - dois tipos de sócio: o empreendedor e o investidor --
Empreendedor (além de participar com capital, gerencia e administra a sociedade ou tem
controle dela) e Investidor (apenas aplica o capital para obter os dividendos).
Definição: Empresário é o agente capaz, que exerce profissionalmente uma atividade econômica
organizada, para a produção e/ou circulação de bens e de serviços a outrem e com lucro.
Da definição de empresário, podemos extrair alguns pontos chaves:
- Atividade Econômica: A empresa É, antes de tudo, uma atividade econômica. O exercício de
uma atividade não econômica, ainda que através de uma organização (profissional ou não), não
constitui empresa, nem quem a exerce é considerado empresário (ex. o médico, o advogado e
profissional liberal em geral – atividade econômica civil), mesmo que o exercício implique uma
organização estável. Três principais setores: extrativismo, transformação e comércio ou serviços. O
objetivo primordial de uma organização empresarial é produzir riquezas e gerar lucros.;
- Organizada: realização da atividade com a colaboração integrada de uma equipe de pessoas, de
maneira ordenada. Abrange os fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima).
- Profissional: Profissionalidade: pressuposto essencial. Por profissão, entende-se um constante e
normal exercício de uma atividade, de forma sistemática e continuada. Habitualidade e
onerosidade com intuito lucrativo;
- Produção e/ou Circulação: abrange a transformação de matéria prima em produto acabado e a tradição
dos produtos, técnicas ou processos de gestão;
- Bens e/ou Serviços: abrange os bens móveis, imóveis, materiais ou imateriais e a prestação de
serviços propriamente dita;
- A Outrem: Quem produz profissionalmente bens ou serviços, necessariamente os produz para
fornecer a outrem: quem produz para si não é empresário.
Também o Estado vem-se tornando empresário para atender às finalidades que, por seus
aspectos econômicos, não se enquadram nas formas consagradas à atividade estatal clássica.
A implantação dos novos conceitos de empresário e estabelecimento comercial no ordenamento
jurídico brasileiro reflete no campo de aplicação do Direito Comercial, denominação esta que
deixou de ser usada, passando a ser chamada de DIREITO EMPRESARIAL que, embora contenha
normas de direito público, é um ramo do direito privado, sendo regido pelas normas e princípios
fundamentais deste, a exemplo da autonomia da vontade e da igualdade.
O art. 966 do CC Considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, não considerando
empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa, enquanto que o art. 1.142 do mesmo diploma considera, como
estabelecimento empresarial, todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário, ou por sociedade empresária.
Em outras palavras, os cientistas, literatos e artistas só serão considerados empresários se
produzirem bens e/ou prestarem serviços, de maneira empresarialmente organizada, para a
obtenção de lucro (ex. um médico que contrata outros médicos, enfermeira, secretária, formando
uma clínica com estrutura empresarial) ---- Segundo o art. 967 do CC, é obrigatória a inscrição
do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de
sua atividade.

Nota: * É facultado aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não
tenham casado no regime da comunhão universal de bens ou na da separação obrigatória; além
do mais, o art, 978 do CC prevê que o empresário casado pode, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real.
Proibidos de exercer empresa
É hipótese distinta da incapacidade jurídica - os proibidos de exercer empresa são plenamente
capazes para a prática dos atos e negócios jurídicos, mas o ordenamento jurídico entendeu
conveniente vedar-lhes o exercício da atividade.
Diferença básica: Incapacidade para o exercício da empresa: é estabelecida para a proteção do
próprio incapaz, afastando-o dos riscos inerentes à atividade econômica; Proibição de ser
empresário: está relacionada com a tutela do interesse público ou das pessoas que se relacionam
com o empresário.
O principal caso de proibição de exercer empresa é o do falido não reabilitado (art. 102 da lei
11.101/05) --- na falência não fraudulenta, basta a declaração judicial de extinção das obrigações
para considerar-se reabilitado; Já o falido condenado por crime falimentar, deverá obter, além da
declaração de extinção das obrigações, a sua reabilitação penal, após o decurso do prazo legal --
uma vez concedida à reabilitação penal, cessa a proibição.
As demais hipóteses de proibição são previsões esparsas, localizadas em diversos diplomas, ex:
os condenados pela prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade empresarial (art. 35, II,
da Lei de Registro de Empresas); chefes, agentes ou auxiliares do Poder Executivo; membros dos
Tribunais de Contas; órgãos do Legislativo (art. 54, II, CF/88); magistrados (art. 47, II,
LOMAJ); membros do MP (art. 36, I, lei 8625/93 c/c art. 44, III LONMP); funcionários públicos
(art. 117, X, lei 8112/90, c/c art. 195, VI e VII lei1711/52); estrangeiros com visto provisório (lei 6815/80);
militares na ativa e de corpos policiais (arts. 180 e 204 COM e art. 35 do Dec-lei 1.029/69, c/c
art. 29 lei 6.880/80); corretores oficiais: (art. 36 Dec. 2.191/32); leiloeiros (Dec. 2.198/36, art. 36);
prepostos comerciais: (CLT, art. 482); devedores do INSS: (Lei 8.212/91, art. 95, §2º); cônsules
remunerados: (Dec. 4.868/82, art. 11 e Dec.3529/89, art. 42); médicos, para o comércio farmacêutico
(Dec. 19.606/31 c/c Dec. 20.877 e lei 5991/73), dentre outros.
O impedido que exercer empresa que não observa a vedação está sujeito a consequências de
caráter administrativo e/ou penal --- para o direito empresarial, seus atos não são nulos, porém,
não poderá ele, ou quem com ele tenha contratado, liberar-se dos vínculos obrigacionais,
alegando a proibição (art. 973 CC).

Objetivos da Empresa
O primeiro objetivo da empresa é servir ao seu proprietário ou titular como fonte de lucro e, ao
mesmo tempo, de produção ----- alguns autores entendem que, na atualidade, a empresa deve ter
um objetivo Social, independente do arbítrio de seu titular, para a proteção da “sociedade”,
sendo também objetivo da empresa a colaboração de capital e trabalho, ainda que para a
obtenção de lucro. ---- Portanto, qualquer que seja o entendimento, é requisito essencial de toda
empresa a combinação dos fatores natureza, capital e trabalho, e a organização destes para fins
produtivos.
Fontes do direito empresarial
Fontes Primárias:
- A Constituição Federal;
- O Código Civil: que trata das sociedades simples, ltda., etc;
- O Código Comercial: segunda parte, que trata do direito marítimo;
- Leis especiais - ex: Nova lei de Falências, de Recuperação Judicial, a Nova lei das SAs etc.
Fontes Secundárias:
- Os usos (estabelecido por convenção das partes e exercido de boa-fé) e costumes (imperativo –
práticas tradicionais - regra subsidiária às normas);
- A doutrina, jurisprudência, analogia, princípios gerais do direito, tratados e convenções
internacionais.
UNIDADE II – Direito Empresarial
Prepostos do Empresário - Modalidades Empresariais - Livre Iniciativa e Concorrência Desleal

Prepostos do Empresário
Empresário, como organizador de atividade empresarial, necessariamente, deve contratar mão de
obra (um dos fatores de produção), seja como empregado, representante, autônomo ou
terceirizado (prestador de serviços), todos desempenham tarefas, sob a coordenação do
empresário e, para efeitos do direito das obrigações, esses trabalhadores, independentemente da
natureza do vínculo contratual, são chamados de prepostos (arts. 1.169 a 1.178 CC).
Regra Geral: os atos dos prepostos, praticados no estabelecimento empresarial ou relativos à
atividade econômica, obrigam o empresário preponente, assim como as informações prestadas
pelos prepostos, bem como compromissos por eles assumidos, atendidos os pressupostos de
lugar e objeto, criam obrigações para o empresário (art. 1.178 CC).
Os prepostos também respondem pelos seus atos: se agiram com culpa, devem indenizar em
regresso; se com dolo, respondem igualmente perante o terceiro, em solidariedade com o
empresário ---- Está o preposto proibido de concorrer com seu preponente - quando o faz sem
autorização expressa, responde por perdas e danos, podendo também configurar o crime de
concorrência desleal (Lei da Propriedade Industrial, art. 195). O Código Civil se refere a dois
prepostos especificamente: o gerente e o contabilista.
Gerente é o funcionário com funções de chefia, encarregado da organização do trabalho num
certo estabelecimento (considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na
sede desta, ou em sucursal, filial ou agência) – seus poderes podem ser limitados por ato escrito
do empresário, arquivado na Junta Comercial - não havendo limitação expressa, o gerente
responsabiliza o preponente em todos os seus atos --- O contabilista é o responsável pela
escrituração dos livros do empresário - nas grandes empresas costuma ser empregado - nas
pequenas e médias, normalmente, é prestador de serviços.
Outras diferenças: a) enquanto é facultativa a função do gerente, a do contabilista é obrigatória
(CC, art. 1.182); b) qualquer pessoa pode trabalhar como gerente, enquanto que o contabilista
deve ser profissional habilitado por órgão competente, ou seja, apenas os regularmente inscritos
no órgão profissional podem trabalhar como contador ou técnico em contabilidade, responsáveis
pela escrituração dos livros do empresário.

Empresário Individual
É toda pessoa física, capaz e livre de impedimentos (art. 972 do CC) que exerce, individualmente
e em nome próprio, atividade empresarial ----- Trata-se de uma empresa titulada apenas por uma
só pessoa física, que integraliza bens próprios à exploração do seu negócio, atuando sem a
separação jurídica entre os seus bens pessoais e os seus negócios.
Não vigora o princípio da separação do patrimônio: proprietário responde, ilimitadamente, pelas
dívidas contraídas no exercício da sua atividade, com todos os bens pessoais que integram o seu
patrimônio, assim como os do seu cônjuge (comunhão de bens). Essa responsabilização ilimitada
ocorre nos dois sentidos: o patrimônio integralizado para explorar a atividade comercial também
responde pelas dívidas pessoais do empresário e do cônjuge --- A empresa (nome comercial)
deve ser composta pelo nome civil do proprietário, completo ou abreviado, podendo conter um
nome pelo qual ele seja conhecido no meio empresarial e/ou a referência à atividade da empresa.
Requisitos legais:
- Capacidade: maior de 18 anos ou emancipado (art. 5º CC);
- Exercer atividade empresarial;
- Livre de impedimentos: sem proibições nas quais uma pessoa não pode exercer atividade
empresarial (empresário falido, servidor público (empresário individual), estrangeiro etc.);
- Registro: Sistema nacional de registro de empresas mercantis (SINREM) (art. 967 do CC);
Proibidos de exercer a empresa como empresários individuais:
- Os incapazes;
- Os chefes, agentes ou auxiliares do Poder Executivo e os membros dos Tribunais de Contas;
- Os órgãos do Legislativo: art. 54, II, CF/88;
- Os magistrados: art. 47, II, LOMAJ e membros do MP: art. 36, I, lei 8625/93 c/c art. 44, III LONMP,
- Os funcionários públicos: art. 117, X, lei 8112/90, c/c art. 195, VI e VII da lei1711/52;
- Os estrangeiros com visto provisório: lei 6815/80;
- Os militares na ativa e policiais: arts. 180 e 204 COM; 35 Dec-lei 1.029/69, c/c 29 lei 6.880/80;
- Os falidos, enquanto não-reabilitados (art. 102 lei 11.101/2005).
- Os corretores oficiais: (art. 36, dec. 2.191/32 );
- Os leiloeiros (dec. 2.198/36, art. 36);
- Os prepostos comerciais: (CLT, art. 482);
- Os devedores do INSS: (Lei 8.212/91, art. 95, §2º);
- Os cônsules remunerados: (dec. 4.868/82, art. 11 e dec.3529/89, art. 42);
- Os médicos para o comércio farmacêutico: dec. 19.606/31 c/c dec. 20.877 e lei 5991/73.

Empresário Rural: Aquele que, basicamente, exerce atividades ligadas à produção rural -----
Caso este requeira sua inscrição no registro das empresas (Junta Comercial), será considerado
como empresário e se submeterá às normas de Direito Comercial (Empresarial) (art. 971 do CC)
– ex. Agronegócio. Caso não requeira a inscrição nesse registro, não será considerado como
empresário e seu regime será o do Direito Civil (atividade econômica civil) – ex. negócios rurais
familiares.

Cooperativas: As cooperativas são sociedades de pessoas, com personalidade jurídica própria


e natureza civil, sem objetivo de lucro, constituídas em benefício dos próprios associados,
podendo operar em qualquer ramo de atividade, sendo consideradas como sociedades simples,
qualquer que seja seu objeto (Art. 982, p. único do CC) – Sociedade de natureza civil, não
empresarial --- Sua regulação se dá, basicamente, pelos artigos 982, 1093 e seguintes do CC,
bem como pela Lei n. 5.764/71, pela LC 130/2009 e pela MP 2.168/2001 – 40.
Art. 982 - Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício
de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único -
Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP): O art. 179 CF/88 estabelece
que o Poder Público dispensará tratamento diferenciado às microempresas e às empresas de
pequeno porte, tendo sido editada a Lei Complementar 123/06 (Estatuto Nacional da
Microempresa e Empresa de Pequeno Porte) ---- Atualmente, a lei define Microempresa como
aquela cuja receita bruta anual é até R$ 360.000,00 e Empresa de Pequeno Porte aquela cuja
receita bruta anual é entre esse valor e R$ 3.600.000,00 (receita bruta anual é conceito sinônimo
de faturamento). O nome dessas espécies de empresas deve ser acrescido das expressões
“Microempresa” ou “Empresa de Pequeno Porte”, ou as abreviaturas ME ou EPP.
O Estatuto ainda criou o “Simples Nacional”, espécie de regime tributário simplificado, no qual
os optantes pagam IR, PIS, IPI, contribuições e, eventualmente, o ICMS e o ISS mediante um
único recolhimento mensal proporcional ao seu faturamento, bem como estão dispensadas de
manter escrituração mercantil, embora devam emitir nota fiscal e conservar os documentos
relativos à sua atividade.

Pressupostos constitucionais do regime jurídico-comercial (Livre Iniciativa)


A Constituição, ao dispor sobre a exploração de atividades econômicas atribuiu à iniciativa
privada o papel primordial (art. 1°), reservando ao Estado apenas função supletiva (art. 170), só
possível em hipóteses excepcionais (art. 173).
Art. 1º da CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa;
Ao atribuir à iniciativa privada tal papel, a Constituição torna possível a previsão de um regime
específico e pertinente às obrigações do empreendedor privado - caso contrário, a iniciativa
privada permaneceria inerte, ou seja, é pressuposto jurídico do regime jurídico-comercial, uma
Constituição que adote os princípios do liberalismo (ao menos uma vertente neoliberal), no
regramento da ordem econômica - sem um regime econômico de livre iniciativa ou livre
competição, não há direito comercial - legislação ordinária: repressão ao abuso do poder
econômico e à concorrência desleal.

Proteção da ordem econômica e da concorrência: O legislador estabeleceu mecanismos


de amparo à liberdade de competição e iniciativa, coibindo práticas incompatíveis com o regime,
agrupadas em duas categorias: infração à ordem econômica e concorrência desleal.

Lei de Infrações contra a ordem econômica


As infrações contra a ordem econômica (antigo “abuso do poder econômico”) - definidas na Lei
n. 8.884/94 (LIOE) – caracterização: necessidade da conjugação de dois dispositivos: o art. 20
(estabelece o objetivo ou efeitos possíveis da prática empresarial ilícita) e o art. 21 (elenca
diversas hipóteses (condutas) de ocorrência da infração).
Síntese: as condutas elencadas no art. 21 somente caracterizam infração se presentes os
pressupostos do art. 20: apenas será considerada como infração se a conduta tiver por objetivo
(ou atingi-lo, mesmo sem intenção) algum dos efeitos descritos no artigo 20 - por outro lado,
qualquer prática empresarial, ainda que não mencionada pelo legislador no art. 21, configurará
infração contra a ordem econômica se os seus objetivos ou efeitos forem os referidos no art. 20.
Práticas empresariais configuradas como infrações - condutas que visem limitar, falsear ou
prejudicar a livre concorrência ou livre iniciativa; dominar mercado relevante de bens ou
serviços; ou aumentar arbitrariamente os lucros - a repressão a tais condutas está fundada no
texto constitucional (CF, art. 173, §4°).
Para a análise da vinculação entre a natureza da conduta e o seu objetivo ou efeito (potencial ou
realizado): irrelevância da existência de culpa do empresário (para a caracterizar a infração basta
a prova de que produziu, produziria ou poderia produzir os efeitos considerados abusivos).
A caracterização de infração à ordem econômica dá ensejo à repressão de natureza
administrativa, de competência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Sanções administrativas previstas em lei: multa, publicação pela imprensa do extrato da decisão
condenatória, proibição de contratar com o Poder Público ou com instituições financeiras
oficiais, inscrição no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor etc - paralelamente a esse
procedimento administrativo, tipifica a Lei n. 8.137/90 algumas práticas empresariais como
crime contra a ordem econômica (arts. 4º a 6º), com penas de detenção para os
Empresários/Administradores que as praticarem.

Concorrência Desleal (Lei da Propriedade Industrial)


Repressão à concorrência desleal feita em dois níveis: esfera penal (são tipificados como crime
os comportamentos elencados no art. 195 da LPI e esfera civil (pode ter fundamento contratual
ou extracontratual).
Repressão civil com fundamento contratual: o concorrente desleal deve indenizar o prejudicado
por ter descumprido a obrigação decorrente de contrato - ex.: art. 1.147 do CC.
Repressão civil com fundamento extracontratual: concorrência criminosa (LPI, art. 195) gera,
além da penal, a responsabilização civil de compor eventuais danos - a própria LPI (art. 209)
admite a possibilidade do prejudicado haver perdas e danos por atos não tipificados como crime.
A distinção entre a concorrência regular e a desleal é bastante imprecisa - depende de apreciação
especial e subjetiva das relações costumeiras entre os empresários no caso concreto –
inexistência de critério geral e objetivo para caracterização da concorrência desleal não
criminosa – princípio da razoabilidade e da ponderação.
UNIDADE III – Direito Empresarial
Obrigações Gerais do Empresário

Órgãos do Registro de Empresa


Principal obrigação do empresário: inscrever-se no Registro das Empresas, antes de dar
início à exploração do negócio (art. 967 CC) - Lei 8.934/94 (Lei de Registros Públicos de
Empresas - LRE) - sistema integrado por órgãos de dois níveis de governo: FEDERAL:
Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC); e ESTADUAL: Junta Comercial.
Departamento Nacional do Registro do Comércio – DNRC
Órgão sem função executiva: competência para fixar diretrizes gerais para a prática dos atos
registrários pelas Juntas Comerciais, acompanhando a sua aplicação e corrigindo distorções ---
Principais atribuições: a) supervisionar e coordenar a execução do registro de empresa; b)
orientar e fiscalizar as Juntas Comerciais, zelando pela regularidade na execução do registro de
empresa; c) promover ou providenciar as medidas correicionais do Registro de Empresa; d)
organizar e manter atualizado o Cadastro Nacional das Empresas Mercantis (não tem efeitos
registrários: simples banco de dados de natureza estatística de subsídio à política econômica).
Juntas Comerciais Estaduais:
Cabe a elas a efetiva execução do registro da empresa ---- Principais atribuições: a)
assentamento e compilação dos usos, costumes e práticas mercantis (deve ser precedido de
ampla discussão e análise de adequação à ordem jurídica vigente); b) habilitação e nomeação de
tradutores públicos e interpretes comerciais; c) exercer poder disciplinar e estabelecer o código
de ética da atividade (controlar o exercício da profissão); d) expedição da carteira de exercício
profissional de empresário.
Disposições Gerais:
Subordinação hierárquica híbrida das Juntas Comerciais (de acordo com a matéria): em questões
de Direito Comercial, a subordinação da Junta diz respeito ao DNRC; nas questões de Direito
Administrativo e Financeiro, diz respeito ao Poder Executivo estadual de que faça parte --- A
Junta Comercial (função registral) está restrita, apenas, aos aspectos formais dos documentos –
só lhe compete negar a prática do ato registral com fundamento em vício de forma, que é sempre
sanável - Justiça competente para conhecer a validade de seus atos: Justiça Estadual; exceção:
mandado de segurança contra ato pertinente ao registro das empresas: competência da Justiça
Federal (art. 109, VIII CF/88).

Atos do Registro de Empresa


Lei 8.934/94 (LRE) descreve como sendo três os atos do registro de empresa: a matrícula, o
arquivamento e a autenticação.
A matrícula é o ato de inscrição dos tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros -
profissionais que desenvolvem atividades paracomerciais.
O arquivamento é a inscrição, tanto do empresário individual, como a constituição, dissolução e
alteração contratual das sociedades empresárias – inclui os atos relacionados aos consórcios de
empresas, grupos de sociedades, empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no
Brasil, as declarações de microempresa (ME) e de empresa de pequeno porte (EPP).
A autenticação está ligada aos instrumentos de escrituração: livros comerciais e fichas
escriturais – é condição de regularidade do documento - requisito extrínseco de validade.
Processo Decisório do Registro de Empresa
A lei prevê duas espécies de regimes de execução dos registros de empresas: decisão colegiada e
decisão singular (arts. 41 e 42 LRE).
Cabe à decisão colegiada o arquivamento de atos relacionados com a sociedade anônima
(estatutos, atas de assembleias gerais, conselho de administração etc), transformação,
incorporação, fusão ou cisão de sociedades empresárias e os relacionados a consórcio de
empresas ou grupos de sociedade - prazo para a decisão colegiada: 5 dias; passado esse prazo,
poderão os interessados requerer o arquivamento, independentemente de deliberação.
As Juntas Comerciais possuem dois órgãos colegiados: o Plenário e as Turmas – no plenário,
têm assento os vogais (mínimo 11/máximo 23), distribuídos em Turmas de 3 membros cada – a
maioria das decisões colegiadas competem às turmas (art. 21 LRE), que deliberam por maioria.
Cabe à decisão singular a matrícula, a autenticação e todos os demais arquivamentos (tais como
o contrato social de sociedade limitada, sua alteração e a inscrição do empresário individual) – a
determinação do ato registral é competência do Presidente da Junta, do vogal por ele
determinado ou outro funcionário público do órgão - prazo para a decisão singular: 2 dias.
Observação: O julgamento de recurso dos atos praticados pela Junta é sempre pelo regime de
decisão colegiada (instância competente: Plenário - art. 19 LRE).

Inatividade da Empresa
Tanto o empresário individual, quanto a sociedade empresária, que não realizarem nenhum
arquivamento, no período de 10 anos, estão obrigados a comunicar à Junta que ainda se
encontram em atividade (art. 60 LRE) – a não comunicação acarreta na consideração de
inatividade, autorizando a Junta a proceder o cancelamento do registro, acarretando a perda da
proteção do nome empresarial.
Necessidade de comunicação prévia, pela Junta, ao empresário, sobre a possibilidade do
cancelamento (pode ser por edital) - atendida a comunicação: desfaz-se a inatividade; não
atendida a comunicação: efetua-se o cancelamento do registro, informando-se o fisco.
Do cancelamento do registro por inatividade não decorre a dissolução da sociedade, apenas sua
irregularidade, caso continue funcionando - sociedade com arquivamento cancelado não deve,
necessariamente, entrar em liquidação, mas incidem sobre ela as conseqüências do exercício
irregular da atividade empresarial.

Empresário Irregular
Apesar de não ser o registro no órgão próprio a essência do conceito de empresário, sua ausência
acarreta ao empresário a impossibilidade de usufruir dos benefícios que o direito libera em seu
favor.
Restrições ao Empresário Irregular:
a) ilegitimidade ativa para pedido de falência de seu devedor (art. 97, §1º Lei 11.101/05 – Lei de
Falência - LF) – mesmo irregular, pode ter a sua própria falência requerida e decretada, sendo a
mesma sempre considerada fraudulenta, incorrendo o empresário no crime falimentar do art. 178
da LF;
b) ilegitimidade ativa para requerer recuperação judicial – a inscrição no Registro de Empresa é
condição essencial (art. 51, V LF);
c) não poderá ter seus livros autenticados no Registro de Empresa (art. 1.181 CC), nem se valer
da eficácia probatória que a legislação processual atribui aos mesmos (art. 379 CPC).
d) quando se tratar de sociedade empresária, a responsabilidade pelas obrigações sociais dos
sócios torna-se solidária e ilimitada, respondendo diretamente aquele que administrou a
sociedade - art. 990 CC (“sociedade em comum”).
Efeitos secundários: a) impossibilidade de participar de licitações (Lei 8.666/93, art. 28, II e III);
b) impossibilidade de inscrição em Cadastros Fiscais (CNPJ, CCM, e outros); c) ausência de
matrícula junto ao INSS e sujeição a pena de multa (Lei 8.212/91, art. 49, I) e d) na hipótese de
sociedade empresária, proibição de contratar com o Poder Público (art. 195, §3° CF/88).
Obrigações comuns a todos os Empresários
a) registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (CC, art. 967);
A não observação do dever de promover a inscrição no órgão de empresas tem por consequência
a irregularidade do exercício da atividade empresarial.
b) escriturar regularmente os livros obrigatórios;
Todo empresário, pessoa física ou jurídica, independentemente do ramo de atividade ou da forma
societária adotada, tem o dever de escriturar os livros obrigatórios ---- Categoria de empresários
dispensada de escriturar os livros obrigatórios: microempresários e empresários de pequeno
porte (LC, 123/2006, art. 26), desde que optantes pelo Simples Nacional (CC, arts. 970 e 1.179,
§2º) - quando não optantes pelo Simples Nacional, as MEs e as EPPs são obrigadas a manter
escrituração simplificada (livro-caixa) – a lei preceitua certo grau de simplificação da escrita
contábil, não a sua dispensa.
c) levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (CC, art. 1.179).
As MEs e as EPPs estão dispensadas da escrituração mercantil, desde que optantes pelo Simples
Nacional e mantenham arquivados documentos referentes ao giro empresarial, que permitam a
identificação da movimentação financeira e bancária – os não optantes devem escriturar, ao
menos, o livro-caixa, para a aferição do balanço patrimonial.

Espécies de livros empresariais


Necessária a distinção entre livros empresariais e livros do empresário - livros empresariais são
àqueles cuja escrituração (obrigatória ou facultativa) decorre da legislação comercial; além
destes o empresário também é obrigado a escriturar outros (livros do empresário), por força de
legislação de natureza tributária, trabalhista ou previdenciária – ou seja, livros do empresário é
gênero, do qual os livros empresariais são espécies.
Dois são os tipos de livros empresariais: I) Obrigatórios: de escrituração imposta ao empresário,
sua ausência traz consequências sancionadoras. -- II) Facultativos: são os que o empresário
escritura para um melhor controle sobre os seus negócios – sua ausência não importa sanção.
Os livros obrigatórios ainda se subdividem em: a) Comuns: cuja escrituração é imposta a todos
os empresários, indistintamente; e b) Especiais: cuja escrituração é imposta apenas a uma
determinada categoria de exercentes de atividade empresarial.
Atualmente, há apenas um livro obrigatório comum: o “Diário” (art. 1.180 CC) - todos os
empresários devem escriturá-lo, ou os instrumentos contábeis que legalmente o substituem. São
livros obrigatórios especiais: “Registro de Duplicatas”, imposto ao empresário que emite
duplicatas (art. 19 Lei 5.474/68); “Entrada e Saída de Mercadorias”, imposto ao empresário que
explora Armazém-Geral (art. 7º Decreto 1.102/1903); o art. 100 da Lei 6.404/76 prevê uma
extensa e variada relação de livros, imposta a todas as sociedades por ações, contemplando
menção a livros de banco, leiloeiro, corretores navais e outros comerciantes e empresários.
Entre os livros facultativos mais tradicionais, temos o Caixa e o Conta-Corrente – pela sua
natureza, o empresário é livre para criar instrumentos de registro contábil novos, de acordo com
suas necessidades gerenciais, que integrarão a categoria de livros empresariais facultativos.
Importante: Os livros empresariais devem ser conservados até a prescrição das obrigações neles
escrituradas (art. 1.194 CC).
Regularidade na escrituração
Para que produza efeitos jurídicos, um livro empresarial deve atender a dois requisitos: a)
Intrínsecos: pertinentes à técnica contábil, definidos pelo art. 1.183 CC; e b) Extrínsecos:
relacionados com a segurança dos livros empresariais – devem conter termos de abertura e
encerramento e serem autenticados pela Junta Comercial (art. 1.181 CC) ----- Importante: Para a
regularidade da escrituração, devem ser observados ambos os requisitos (em conjunto) - titular
de livro a que falte algum dos requisitos, para o direito, é titular de livro nenhum.
Os livros se equiparam ao documento público, para fins penais (art. 297, §2º CP) – a falsificação
de sua escrituração sujeita o agente a pena mais grave que a reservada para o crime de
falsificação de documentos administrativos ou particulares – Importante: livro empresarial
falsificado não tem a eficácia probatória que lhe é própria.
A escrituração pode ser feita por meio de processo mecânico (datilografia), em fichas soltas,
devidamente encadernadas (art. 4º DL 305/67); pela microfilmagem da escrituração (Lei
5.433/68; ou valer-se de processo eletrônico, encadernando os papéis impressos à semelhança
das fichas ou microfichas - também é admissível a escrituração em “livro digital”: feita,
processada e armazenada, exclusivamente, em meio eletrônico (Instrução Normativa do DNRC
102/06).
Consequências da irregularidade na escrituração
A falta de um dos requisitos legais ao livro obrigatório (irregularidade) equivale à inexistência
desse livro, trazendo consequências na esfera civil e criminal.
No plano civil, a consequência imediata é a de que o empresário não poderá valer-se da eficácia
probatória concedida aos livros empresariais (art. 379 CPC) – e mais, pelo art. 358, I CPC,
quando requerida a exibição de livro obrigatório e este estiver irregular, presumir-se-ão
verdadeiros os fatos relatados pelo requerente.
No campo penal, a consequência encontra-se no art. 178 da LF, que caracteriza a irregularidade
como crime falimentar (falindo o empresário ou a sociedade, cuja escrituração esteja irregular ou
inexistente, a falência será, necessariamente, fraudulenta.
Com relação aos MEs e EPPs, estes estão dispensados de manter escrituração mercantil, apenas
se forem optantes do Simples Nacional – para os não optantes ou para aqueles cujo faturamento
for superior a R$ 36.000,00, a irregularidade na escrituração, ainda que simplificada (art. 26, §2º
LC 23/2006), os sujeitam às mesmas consequências reservadas aos empresários em geral.
Exibição judicial e eficácia probatória
Os livros comerciais gozam da proteção do princípio do sigilo (art. 1.190 CC) – sua exibição, em
juízo, não pode ser feita por simples vontade das partes ou por mera decisão do juiz, senão em
específicas e determinadas hipóteses previstas em lei.
O princípio do sigilo dos livros não exime o empresário da sua exibição para determinadas
autoridades administrativas (art. 1.193 CC) - em duas hipóteses a lei expressamente garante, a
certos funcionários públicos, irrestrito acesso à escrituração mercantil (art. 195 do CTN e art. 33,
§1º Lei n. 8.212/91), como nos casos de fiscalização da Seguridade Social – quanto às demais
autoridades administrativas, prevalece o princípio do sigilo.
Exibição parcial e exibição total: distinção - a exibição parcial se faz pela extração apenas da
parte que interessa ao juízo, restituindo imediatamente este ao empresário; a exibição total
importa em sua integral retenção em cartório, durante o andamento da ação (nestes casos, não se
pode assegurar o sigilo de seus dados, dificultando, também, sua utilização e escrituração pelo
empresário).
Pelo seu caráter excepcional, a exibição total só pode ser determinada pelo juiz, a requerimento
da parte, em algumas ações, a exemplo das questões relativas à sucessão, comunhão ou
sociedade, administração ou gestão à conta de outrem ou falência – importante: somente na
falência pode o juiz determinar, de ofício, a exibição total dos livros.
Já a exibição parcial pode ser decretada, de oficio ou a requerimento da parte, em qualquer ação
judicial, quando útil à sua solução (arts. 417 a 421 NCPC, art. 1.191 CC e Súm 260 STF).
Quando exibido, total ou parcialmente, o livro empresarial terá a eficácia probatória coberta pela
presunção relativa (arts. 378 e 379 CPC).
Balanços anuais
É obrigação de todo o empresário levantar, anualmente, dois balanços – o patrimonial:
demonstrando o ativo, passivo, bens, créditos e débitos; e o de resultado econômico:
demonstrando a conta dos lucros e perdas (art. 1.179 CC) – empresários obrigados a levantar
balanço e outros demonstrativos em período mais breve são as instituições financeiras (art. 31 da
Lei da Reforma Bancária – LRB), que devem fazê-lo semestralmente.
A Lei de Falências, em seu artigo 178, igualmente define como crime falimentar a inexistência
ou irregularidade dos balanços patrimoniais e de resultado econômico (documentos de
escrituração obrigatória).
Peculiaridades sobre a obrigação de levantamento de balanço:
a) As SAs, sujeitas a regime próprio sobre demonstrações financeiras (arts. 178 a 184 e 187
LSA): sua ausência acarreta responsabilidade dos administradores;
b) A legislação de IR sujeita certas categorias de empresários ao dever de balanços periódicos;
c) O acesso à crédito bancário tem sido condicionado à apresentação dos balanços;
d) A participação em licitações públicas se condiciona à comprovação da regularidade
econômico-financeira (art. 31, I Lei 8.666/93).
UNIDADE IV – Direito Empresarial
Estabelecimento Empresarial

Conceito e natureza do Estabelecimento Empresarial


Estabelecimento comercial, ou empresarial, é o complexo de bens, reunidos pelo empresário,
necessários para o desenvolvimento de sua atividade econômica - quando o empresário reúne
bens, de variadas naturezas, em função do exercício de uma atividade, ele agrega, a esse conjunto
de bens, uma organização racional, que importará em aumento do seu valor, enquanto
continuarem reunidos ----- A título de exemplo, podemos nos socorrer de uma analogia com outro
conjunto de bens: a biblioteca. Nela, não há apenas livros agrupados ao acaso, mas um conjunto
de livros, sistematicamente reunidos, dispostos organizadamente, com vistas a um fim – a
biblioteca tem valor comercial superior ao da simples soma dos preços dos livros que a compõem,
em razão desse plus, derivado dessa organização racional.
Essa organização racional possui valor de mercado, devendo a lei garantir sua tutela, afinal, se
cada bem, isoladamente, possui uma proteção jurídica específica, o estabelecimento comercial,
como um todo, também necessita de uma forma própria de proteção, sendo tarefa do Direito
garantir a justa retribuição ao empresário, quando este perder, não por sua culpa, o valor
representado pelo estabelecimento empresarial: essa indenização deve compreender o valor
“total” da empresa criada – assim, o estabelecimento empresarial deve ser considerado pelo valor
somatório do preço dos bens, agregado ao decorrente da situação peculiar em que se encontram:
reunidos para possibilitar o desenvolvimento de uma atividade empresarial.
Embora resultante da reunião de diversos bens, o estabelecimento empresarial pode ser
descentralizado, mantendo filiais, sucursais ou agências, depósitos em prédios isolados, unidades
de sua organização administrativas lotadas em locais próprios etc; cada parcela descentralizada do
estabelecimento empresarial pode, ou não, ter um valor independente, em razão de inúmeras
condicionantes de fato.
Patrimônio do empresário e estabelecimento comercial: distinção - todo estabelecimento
empresarial integra o patrimônio de seu titular, mas este não se reduz àquele, necessariamente - os
bens de propriedade do empresário, cuja exploração não se relaciona com o desenvolvimento da
atividade econômica, integram o seu patrimônio próprio, mas não o estabelecimento empresarial –
Importante: também as obrigações passivas fazem parte do patrimônio do empresário.
O estabelecimento empresarial é composto por bens corpóreos (mercadorias, instalações,
equipamentos, utensílios, veículos etc) e por bens incorpóreos (marcas, patentes, direitos, ponto
etc) - o Direito Civil e o Penal tutelam a proteção dos bens corpóreos; o direito industrial tutela a
propriedade da marca, invenções etc.; a Lei de Locações protege o ponto explorado pelo
empresário; a proteção do nome empresarial tem o seu estatuto próprio etc – ou seja: cada
elemento do estabelecimento empresarial tem a sua proteção jurídica específica.
Aviamento e Clientela
O valor atribuído ao estabelecimento empresarial não se confunde com a simples soma dos bens
que o compõe, mas sim à organização racional desses bens (influencia sua potencialidade de gerar
lucro) ---- O aviamento (ou Ponto Comercial) é um atributo do estabelecimento empresarial, não
da empresa (instrumento do exercício da empresa e não um "bem") e corresponde à essa
potencialidade de gerar lucro (é o sobrevalor conferido ao estabelecimento bem organizado).
O aviamento pode ser Real (Objetivo), quando o resultado alcançado pela empresa é proveniente
da marca ou serviço de um estabelecimento (pode ser transmissível, até, por meio de franquia) ou
Pessoal (Subjetivo), quando a capacidade de gerar lucros resulta substancialmente de qualidades
do titular da empresa (é intransferível) ---- A proteção legal do Aviamento é de forma indireta, ou
seja, não se protege diretamente a capacidade de gerar lucros, mas se concede, ao titular da
empresa, o direito de ser indenizado, em razão da perda de um de seus principais instrumentos
para o exercício de sua atividade: o local onde recebia a clientela e realizava seus negócios.
A legislação brasileira emprega, indistintamente, os termos "cliente" e "freguês", ao se referir à
clientela do empresário ---- Clientela é considerada como o conjunto de pessoas que, de fato,
mantém com o estabelecimento, relações continuadas de procura de bens e serviços (manifestação
externa do aviamento) ---- Não se pode incluir a clientela como elemento do estabelecimento
empresarial: ela não é objeto de apropriação, pelo empresário --- Também não se pode falar em
direito à clientela: ela corresponde a um conjunto de pessoas que apresenta alterações no tempo e
no espaço, o que afasta um seguro delineamento (não é um elemento "patrimonial" da empresa).

Alienação do Estabelecimento Empresarial


O contrato de compra e venda do estabelecimento empresarial é denominado trespasse e pode
ocorrer, tanto entre empresários individuais, como sociedades empresárias --- No trespasse, há a
transferência (alienação) do complexo de bens corpóreos e incorpóreos, além do aviamento ----
constitui direito do adquirente ser informado sobre o aviamento do estabelecimento que pretende
adquirir e dever do alienante apresentar informações verídicas, sob pena de resolução do contrato
e indenização correspondente.
Para verificar a realidade do estabelecimento, o adquirente pode fazer uma análise investigativa
sobre sua situação econômica, baseada na escrituração referente ao estabelecimento, daí a
importância da regularidade da escrituração (art. 1.179 CC): operações omitidas dos registros
contábeis equivalem a negociações não realizadas, reduzindo o valor do aviamento.
Como o estabelecimento empresarial é, além de patrimônio do empresário, garantia de seus
credores, sua alienação deve observar cautelas específicas - em primeiro lugar, seu contrato deve
ser celebrado por escrito, para que possa ser arquivado na Junta Comercial e publicado pela
imprensa oficial (art. 1.144 CC).
A lei sujeita tal alienação à anuência dos seus credores (através de uma notificação enviada aos
mesmos), que pode ser expressa ou tácita (CC, art. 1.145). – Importante: somente em uma
hipótese se dispensa a observância desta cautela: no caso de restarem, no patrimônio empresarial,
bens suficientes para solvência do passivo – a não observância de tais cautelas pode acarretar na
decretação da falência (art. 94, III, “c” LF), sendo considerada ineficaz, perante a massa falida,
nos termos do art. 129, VI LF.
O passivo, regularmente escriturado, transfere-se ao adquirente do estabelecimento, mas o
alienante continua responsável por esse passivo, pelo prazo de um 1 ano (contado da publicação
do contrato de alienação, para as obrigações vencidas antes do negócio e contado da data de
vencimento, para as demais) – o adquirente será considerado sucessor do alienante ---- A cláusula
de não transferência de passivo não libera o adquirente de ser demandado pelo credor, cabendo-
lhe, apenas, o direito de regresso contra o alienante - o credor do alienante somente perde o direito
de cobrar o débito do adquirente se, expressamente, renunciou ao direito quando anuiu com o
contrato.
O alienante não poderá, nos 5 anos subsequentes à transferência, restabelecer-se em idêntico ramo
de atividade empresarial, em franca concorrência com o adquirente, exceto se devidamente
autorizado em contrato (cláusula de não-restabelecimento).
Particularidades: o credor trabalhista, do alienante do estabelecimento empresarial, está protegido
(art. 448 CLT: o empregado pode demandar qualquer um dos dois (solidariedade), enquanto não
prescrito o direito trabalhista, mesmo que vencido o prazo do Código Civil) – igualmente o credor
tributário goza de proteções específicas (o art. 133 do CTN prevê responsabilidade subsidiária ou
integral, do adquirente, pelas obrigações fiscais do alienante) ------ Porém, o adquirente não
responde pelas obrigações do alienante (nem mesmo as trabalhistas e fiscais), se adquiriu o
estabelecimento mediante lance dado em leilão judicial promovido em processo de recuperação
judicial ou falência (arts. 60, parágrafo único e 141, II LF), não sendo considerado sucessor do
antigo titular do estabelecimento empresarial (casoVarig).
Proteção ao Ponto (Locação Empresarial)
O “ponto” compreende o local específico em que o estabelecimento empresarial se encontra o
que, em função do ramo de atividade, pode importar substantivo acréscimo no seu valor --- Se o
empresário se encontra estabelecido em imóvel próprio, a proteção se faz pelas normas de tutela
da propriedade imobiliária – caso estabelecido em imóvel alheio (locado), a proteção seguirá a
disciplina da locação não residencial (art. 51 da Lei de Locação) - a locação residencial e a não
residencial se distinguem pelo uso que o locatário está autorizado a imprimir ao imóvel.
Caso a locação não residencial atenda aos requisitos abaixo, o direito reconhecerá ao locatário a
prerrogativa de pleitear a renovação compulsória do contrato (art. 51 LL): a) O locatário deve ser
empresário (excluídos os profissionais liberais que individualmente exercem a sua atividade
econômica, as associações civis sem fins lucrativos, as fundações etc); b) A locação deve ser
contratada por tempo determinado de, no mínimo, 5 anos, admitida a soma dos prazos de
contratos sucessivamente renovados por acordo amigável (STF, Súmula 482); e c) O locatário
deve-se encontrar na exploração do mesmo ramo de atividade econômica pelo prazo mínimo e
ininterrupto de 3 anos, à data da propositura da ação renovatória.
Na renovação compulsória, o bem tutelado é o valor agregado ao estabelecimento, pelo uso de um
mesmo ponto (garantia de inerência no ponto) e seu exercício se afaz por uma ação judicial
denominada “renovatória”, que deve ser proposta entre 1 ano e 6 meses, anteriores ao término do
contrato, sob pena de decadência do direito (art. 51, §5º LL) ---- Essa garantia de continuidade da
exploração de um imóvel locado não representa o aniquilamento do direito de propriedade: a lei
define os casos em que o direito à renovação compulsória será ineficaz (elenco meramente
exemplificativo): a) Insuficiência da proposta de renovação apresentada pelo locatário (art. 72, II
LL). b) Proposta melhor de terceiro (art. 72, III LL). c) Reforma substancial no prédio locado (art.
52, I, LL). d) Uso próprio, independentemente se sua finalidade (art. 52, II, LL). e) Transferência
de estabelecimento empresarial existente há mais de 1 ano e titularizado por ascendente,
descendente ou cônjuge, desde que atue em ramo diverso do locatário (art. 52, II, LL).
“Shopping Center”
O que distingue o empresário do Shopping Center dos demais empreendedores imobiliários é a
organização da distribuição da oferta de produtos e serviços centralizados em seu complexo
(tenant mix). A idéia básica do negócio é por, à disposição dos consumidores, em um mesmo
local, a mais ampla gama de produtos e serviços – necessidade da existência de um planejamento
da distribuição da oferta: uma relativa organização da competição interna ----- Um mero
empreendedor imobiliário, apenas loca seus prédios comerciais, a quem se propuser a pagar o
aluguel, ou seja, sua preocupação é, unicamente, o valor locatício de mercado - um empreendedor
de shopping Center, fica atento às evoluções do mercado consumidor, ascensão ou decadência das
marcas, às novidades tecnológicas e de marketing, bem como ao potencial econômico de cada
negociante de seu complexo, objetivando atrair consumidores.
A dinâmica desse tipo de empreendimento, às vezes, revela-se incompatível com a permanência
de alguns negociantes – assim, apesar da lei reconhecer o direito de inerência ao ponto aos
locatários (art. 52, §2º LL), em determinadas situações, a renovação compulsória pode representar
um entrave ao pleno desenvolvimento do complexo ---- O entendimento mais adequado está entre
o reconhecimento do aspecto específico desta relação contratual e a não descaracterização de sua
natureza locatícia (o direito de inerência do locatário não pode esvaziar o direito de propriedade
do empreendedor do shopping, quando ficar provado que este último ficaria impossibilitado de
organizar, plenamente, o tenant mix, na hipótese de acolhimento da ação renovatória).
Nos contratos de locação de shopping center, prevalecerão as condições livremente pactuadas,
bem como as disposições procedimentais previstas na Lei de Locação – esses contratos costumam
contemplar características bastante peculiares como: desdobramentos em parcelas fixas e
variáveis (percentual do faturamento), pagamento de prestação res sperata (retributiva da
vantagem do estabelecimento já possuir clientela), obrigação de filiação à associação dos lojistas,
cobrança do aluguel, em dobro, no mês de dezembro etc.
Proteção ao Título de Estabelecimento
A proteção do título de estabelecimento se faz pelas regras da responsabilidade civil e penal, da
mesma forma como é caracterizada a concorrência desleal (arts. 195, V, e 209 da Lei de
propriedade Industrial) ----- Importante: São formas distintas que não se confundem: a) o título de
estabelecimento (elemento de identificação do estabelecimento empresarial); b) o nome
empresarial (identifica o sujeito de direito empresário) e c) a marca (identidade de produto) – ex:
uma sociedade empresária pode chamar-se “Comércio e Indústria Antonio Silva & Cia. Ltda.”, ao
mesmo tempo ser titular da marca “Alvorada” e ter seu estabelecimento denominado de “Loja da
Esquina” – tendo direito de uso exclusivo das três diferentes expressões.

Comércio Eletrônico (Internet)


Pode ser descrito como sendo os atos de circulação de bens, prestação ou intermediação de
serviços, em que as tratativas pré e contratuais, propriamente ditas, se fazem por transmissão e
recebimento de dados por via eletrônica, no ambiente da internet --- O estabelecimento virtual
(acessado exclusivamente por transmissão eletrônica), distingue-se do físico (acessível pelo
deslocamento no espaço), apenas em razão dos meios de acessibilidade: a natureza do bem ou
serviço objeto de negociação é irrelevante, para a definição do estabelecimento.
São três os tipos de estabelecimentos virtuais: 1) B2B (business to business): os internautas
compradores são também empresários (negociação de insumos); 2) B2C (business to consumer):
os internautas compradores são consumidores (art. 2º CDC); e 3) C2C (consumer to consumer):
os negócios são feitos entre internautas consumidores (o empresário, titular do site, possui apenas
funções de intermediação - leilões virtuais).
Os estabelecimentos virtuais possuem endereço eletrônico (nome de domínio), com duas funções
básicas: a) função técnica: proporciona a interconexão dos equipamentos (similar à do número do
telefone) e b) função jurídica: identifica o estabelecimento virtual na rede - no meio virtual, o
endereço eletrônico (nome de domínio) funciona da mesma forma como o título de
estabelecimento, em relação ao ponto físico.
UNIDADE V – Direito Empresarial
Nome Empresarial

Natureza e Espécies: O nome empresarial é o elemento de identificação do empresário,


reconhecido pelo CC como a manifestação de um direito da personalidade (arts. 16 e 52), razão
pela qual é vedada, expressamente, sua alienação (art. 1.164 CC).
Importante: Cabe frisar que o nome empresarial (elemento de identificação do empresário), não
se confunde com a marca (identifica produtos ou serviços), nem com o nome de domínio
(identifica a página na internet) ou, sequer, com o título do estabelecimento (o ponto) - são
considerados institutos distintos, mesmo quando possuírem idêntico conteúdo e forma. São duas
as espécies de nome empresarial: a firma e a denominação (1.155 CC).
Quanto à estrutura: A firma só pode ter por base o nome civil do empresário individual ou dos
sócios da sociedade empresária (ex. “Silva & Pereira Cosméticos Ltda.”) --- A denominação
deve designar o objeto da empresa e pode adotar por base qualquer expressão linguística
(elemento fantasia) – ex. “Alvorada Cosméticos Ltda.”.
Quanto à função: Firma é a identidade do empresário e também sua assinatura (os contratos
sociais devem ter campo próprio para que o representante legal assine o nome empresarial, que
usará no exercício dos poderes de representação) --- Denominação é, exclusivamente, elemento
de identificação do exercente da atividade empresarial, não prestando a outra função.

Formação do Nome Empresarial


O empresário individual só está autorizado a adotar firma, baseado em seu nome civil, podendo
ser ou não de forma abreviada e/ou agregar o ramo de atividade a que se dedica.
A sociedade em nome coletivo (art. 1.039 CC) só está autorizado a adotar firma, tendo por base o
nome civil de um, alguns ou todos os sócios, completos ou abreviados, podendo agregar, ou não,
o ramo da empresa - caso não conste o nome de todos os sócios, é obrigatória a utilização da
partícula “e companhia” (ou “& Cia.”).
A sociedade em comandita simples (art. 1.045 CC) só está autorizado a adotar firma, constando
o nome civil de sócio ou sócios comanditados, por extenso ou abreviado, podendo agregar o ramo
do negócio da sociedade – Importante: os sócios comanditários não podem ter seus nomes
aproveitados na formação do nome empresarial, sendo obrigatória a utilização da partícula “e
companhia”, em referência à estes.
A sociedade em conta de participação (art. 991 CC), por sua natureza de sociedade secreta, está
proibida de adotar nome empresarial (firma ou denominação) que denuncie a sua existência (CC,
art. 1.162).
A sociedade limitada (art. 1.052 CC) está autorizada a funcionar sob ambas as espécies mas, se
optar por firma, deve valer-se da partícula “e companhia” ou “& Cia.”, quando omitir o nome de
algum dos sócios -- a identificação do ramo de atividade (objeto social) é optativa quando adotar
firma, e obrigatória quando adotar denominação -- seja qual for a espécie adotada, é obrigatória a
identificação do tipo societário, pela expressão “limitada” ou “Ltda.”. (art. 1.158 CC).
A sociedade anônima (art. 1.088 CC) só pode adotar denominação, devendo constar referência
ao objeto social (art. 1.160 CC), também sendo autorizado o emprego de nomes de pessoas que
fundaram a companhia ou concorrem para o seu bom êxito -- em qualquer das hipóteses, é
obrigatória a identificação do tipo societário, pelas expressões “sociedade anônima”, “S.A.” ou
“companhia”, usada no início, meio ou fim da denominação (art. 3º Lei nº 6.404/76).
A sociedade em comandita por ações (art. 1.090 CC) pode adotar firma, aproveitando apenas o
nome dos sócios diretores/administradores que respondem ilimitadamente (obrigatória a locução
“e companhia”) ou denominação, exigindo-se referência ao objeto social – Em ambos os casos, é
obrigatória a identificação do tipo societário pela locução “comandita por ações”.
Peculiaridades:
- Independente do tipo societário que tenha ingressado em juízo com a medida de recuperação
judicial, deve acrescer ao seu nome a expressão “em Recuperação Judicial” (LF, art. 69).
- O empresário (PF ou PJ), ao se registrar como microempresário ou empresário de pequeno porte,
terá acrescido ao seu nome a locução “ME” ou “EPP” (art. 72 da Lei Complementar nº 123/2006).

Alteração do Nome Empresarial


Pode ocorrer: pela simples vontade do empresário (se individual) ou através da concorrência da
vontade dos sócios que detenham participação do capital social (se sociedade empresária), desde
que respeitadas as normas de formação; ou de forma obrigatória ou vinculada.
São causas de alteração obrigatória dos nomes empresariais fundados em nome civil, decorrentes
do “princípio da veracidade” (art. 34 da LRE):
a) saída, retirada, exclusão ou morte de sócio, cujo nome civil constava da firma social (arts.
1.158, §1º, e 1.165 CC);
b) alteração da categoria do sócio, quanto à sua responsabilidade pelas obrigações sociais, se o
nome civil dele integrava o nome empresarial (art. 1.157 CC);
c) alienação do estabelecimento por ato entre vivos -- importante: o empresário individual e a
sociedade empresária não podem alienar o nome empresarial (art. 1.164 CC).
OBS: Este princípio, não se aplica à denominação da sociedade anônima, que pode ser composta
por nome civil de fundador ou pessoa que tenha concorrido para o êxito da empresa (art. 1.160,
par. único do CC e art. 3º da LSA).
São, igualmente, causas que ensejam a mudança compulsória da firma ou denominação:
a) Transformação: a sociedade empresária pode experimentar alteração de tipo societário (passar
de sociedade limitada para anônima, ou vice-versa).
b) Lesão a direito de outro empresário: a alteração obrigatória do nome empresarial é imposta,
sempre que este lesar direito de outro exercente de atividade empresarial.

Proteção ao Nome Empresarial


Visa a tutela de dois interesses a serem preservados: a clientela e o crédito – o titular de um nome
empresarial tem o direito à exclusividade de seu uso, podendo impedir a utilização, por outro,
de nome idêntico ou semelhante, passível de provocar confusão em consumidores ou no meio
empresarial – o empresário que, anteriormente, haja feito uso dele, terá direito de obrigar o outro a
alterá-lo ou acrescer ao seu nome, distintivos suficientes (arts. 35, V LRE; 1.163 CC; e 3º, §2º
LSA).
No campo do direito penal, a lei define a usurpação de nome empresarial como crime de
concorrência desleal (art. 195, V LPI).
Como a lei não esclarece o que seria um nome idêntico ou semelhante, a solução pode ser dada
pelo seguinte critério: há identidade ou semelhança quando esta diz respeito ao núcleo do nome
empresarial, desprezando-se os elementos identificadores do tipo societário, ramo de atividade e
as partículas gerais (núcleo é a expressão que é própria do seu titular, que o torna conhecido entre
consumidores e fornecedores).

Como exemplo, tomemos os seguintes três nomes empresariais:


a) “Alvorada – Comércio e Indústria Ltda.”;
b) “Primavera – Comércio e Indústria Ltda.”;
c) “Companhia Exportadora e Importadora Primavera”.
Os nomes a e b são nomes empresariais diferentes, já que o núcleo de um (“Alvorada”) é
inconfundível com o do outro (“Primavera”) --- já os nomes b e c, apesar de possuírem somente
uma expressão idêntica, essa identidade se dá, exatamente, em seu núcleo (“Primavera”), podendo
o titular do nome anterior obrigar o do outro a abster-se de fazer uso dele.
UNIDADE VI – Direito Empresarial
Direito Societário

Teoria Geral do Direito Societário


Classificação
As pessoas jurídicas são divididas em dois grandes grupos: as de direito público (União, Estados,
Municípios, DF e autarquias); e as de direito privado (todas as demais) --- o que diferencia os
grupos é o regime jurídico a que se encontram submetidos: as de direito público, gozam de
posição privilegiada (supremacia do interesse público), enquanto que as de direito privado se
sujeitam a regime isonômico (inexistência de diferenciação).
Para se determinar o enquadramento, é irrelevante a origem dos recursos: existem PJs
constituídas, exclusivamente, por recursos públicos, mas que se encontram, por determinação
constitucional, sujeitas ao regime de direito privado (empresas públicas) e as com capital social
formado, majoritariamente por recursos públicos (sociedades de economia mista) ---- As PJs de
direito privado não estatais, compreendendo as fundações, associações e sociedades, se
subdividem em I) sociedades simples e II) sociedades empresárias.
O que caracteriza uma sociedade como simples ou empresária é o modo de explorar seu objeto
social: objeto social explorado com ou sem caráter empresarial (profissionalidade e organização)
--- Exceções: as sociedades por ações serão sempre empresárias, independentemente de seu
objeto (art. 982 CC e art. 2º LSA); as cooperativas nunca serão empresárias, independentemente
de qualquer outra característica (art. 982 CC).
Conceito de Sociedade Empresária
A sociedade empresária pode ser conceituada como a pessoa jurídica de direito privado não
estatal, que explora empresarialmente seu objeto social ou adota a forma de sociedade por ações
--- destaque para dois institutos jurídicos: a pessoa jurídica e a atividade empresarial.
Personalização
A PJ não se confunde com as pessoas que a compõem, possuindo personalidade distinta da de
seus sócios (independentes entre si). A Personalidade Jurídica é uma criação jurídica, com o
sentido de autorizar, determinados sujeitos de direito, à prática de alguns atos jurídicos --- Nota:
Sujeito de direito é tudo aquilo que a ordem jurídica reputa apto a ser titular de direito ou
devedor de prestação.
A sociedade empresária é sujeito de direito personalizado, podendo praticar todo e qualquer ato
ou negócio jurídico, ao qual inexista proibição expressa. Sua personalização gera três principais
consequências (princípios do direito societário):
a) Titularidade negocial – quando a sociedade realiza negócios jurídicos é apenas ela, como
sujeito de direito autônomo, que assume um dos pólos da relação negocial; o sócio que a
representou não é parte do negócio jurídico.
b) Titularidade processual – A PJ pode demandar e ser demandada em juízo (capacidade
processual), autonomamente.
c) Responsabilidade patrimonial – a sociedade terá patrimônio próprio (inconfundível e
incomunicável com o individual de cada sócio), respondendo com este pelas obrigações que
assumir (princípio da autonomia patrimonial) --- os sócios, em regra, não responderão pelas
obrigações da sociedade.
Apresentando-se a enumeração dos tipos societários existentes temos: sociedade em nome
coletivo (N/C), sociedade em comandita simples (C/S), sociedade comandita por ações (C/A),
sociedade em conta de participação (C/P), sociedade limitada (Ltda.) e sociedade anônima ou
companhia (S/A) --- destaque-se que a sociedade em conta de participação (C/P) é definida, por
lei, como despersonalizada (art. 991 a 996 CC).
Classificação das Sociedades Empresárias
Classificam-se segundo três critérios: I) regime de constituição e dissolução; II) condições para
alienação da participação societária; e III) responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais.

I - Quanto ao regime de constituição e dissolução


a) Sociedades contratuais – seu ato constitutivo e regulamentar é o contrato social e, para sua
dissolução, não basta a vontade majoritária (é direito dos sócios minoritários manterem a
sociedade) --- causas específicas de dissolução: morte ou expulsão de sócio --- tipos: em nome
coletivo (N/C), em comandita simples (C/S) e limitada (Ltda.).
b) Sociedades institucionais – seu ato regulamentar é o estatuto social e podem ser dissolvidas
por vontade da maioria societária --- causas específicas de dissolução: intervenção e liquidação
extrajudicial --- tipos: sociedade anônima (S/A) e sociedade em comandita por ações (C/A).
Nota: a participação societária, de uma sociedade contratual, é denominada “cota” (“quota”) e a
de uma sociedade institucional é denominada “ação”.

II - Quanto às condições de alienação da participação societária


Existem sociedades em que os atributos individuais do sócio (competência, honestidade ou
diligência) tem relevância para o sucesso ou fracasso da empresa e a alienação da participação, a
terceiro estranho, depende da anuência dos demais (Sociedades de Pessoas), enquanto em outras,
tais características não influem no desenvolvimento do objeto social e a alienação da
participação independe da anuência dos demais - princípio da livre circulação da participação
societária (Sociedades de Capital).
Importante: a jurisprudência entende que as cotas relativas a uma sociedade “de pessoas” são
impenhoráveis, por dívidas particulares do seu titular, enquanto que as de uma sociedade “de
capital”, são livremente penhoráveis ---- As sociedades institucionais são sempre “de capital”
(S/As e em comandita por ações), enquanto as contratuais podem ser “de pessoas” ou “de
capital”, de acordo com a vontade da Lei (art. 1.003; 1.028 e 1.050 CC) ou como previsto no
“contrato social” (art. 1.075 CC).

III - Quanto à Responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais


Regra Geral: os sócios não respondem pelas obrigações da empresa --- mesmo em caso de
falência, somente após o total exaurimento do capital social é que se cogita de alguma
responsabilização dos sócios, ou seja, sua responsabilidade é sempre subsidiária: se segue à
responsabilidade da própria sociedade (arts. 1.024 CC e 795 NCPC).
Os limites da responsabilidade dos sócios variam conforme o tipo societário --- Regra Geral: ao
ingressar em qualquer tipo societário, o sócio deve contribuir para formar o capital social,
subscrevendo uma parte deste (pagar uma quantia determinada), à vista ou a prazo (conforme
efetua o pagamento, está integralizando sua participação). Quando todos já cumpriram seus
pagamentos, o capital social estará totalmente integralizado.
O sócio da Ltda. e o comanditário da em comandita simples, respondem até o total do capital
social não integralizado (mesmo que já tenha integralizado sua parte, se outro ainda não o fez, o
primeiro poderá ser responsabilizado, dentro do limite do valor que o segundo ainda não
integralizou) --- os acionistas da S/A ou os da comandita por ações, respondem, apenas, pelo seu
capital subscrito e não integralizado, nunca pela não integralização de outro acionista, podendo o
limite de sua responsabilidade ser “zero” (integralizou toda sua parte no capital social).
Segundo esse critério, as sociedades se dividem em:
a) Sociedade ilimitada – todos os sócios respondem, ilimitadamente, pelas obrigações sociais
(sociedade em nome coletivo - N/C).
b) Sociedade mista – uma parte dos sócios tem responsabilidade ilimitada, e outra, limitada
(Sociedade em Comandita Simples e Por Ações).
c) Sociedade limitada – todos os sócios respondem de forma limitada (Sociedade Limitada e
Sociedade Anônima).
DIREITO SOCIETÁRIO - SOCIEDADES EM ESPÉCIE
Sociedades Não Personificadas
Sociedade em Comum
Segundo os arts. 986 a 990 do CC, são consideradas Sociedades em Comum aquelas que
funcionam "em estado provisório de irregularidade" ou “enquanto não inscritos seus atos
constitutivos no registro competente" e, portanto, não possuem personalidade jurídica própria ---
- Destacam-se as seguintes características: (a) Essas sociedades respondem, perante terceiros,
ilimitadamente, pelas obrigações contraídas por si e pelos sócios (e vice versa); (b)
reconhecimento de um patrimônio especial, formado por bens e dívidas da sociedade; (c)
faculdade de o sócio não tratador (que não participou da realização de determinado negócio
jurídico) invocar o direito de ver seus bens atingidos, somente após o esgotamento dos
patrimônios da sociedade e do sócio tratador.

Sociedade em Conta de Participação


A sociedade em conta de participação é um tipo especial: apresenta uma característica secreta,
que a impede de efetuar o registro de seu ato constitutivo, sendo despersonalizada, mas não
irregular (o Código Civil considera o contrato em conta de participação como sendo sociedade).
Nessa espécie societária existem duas espécies de sócios: (I) Sócio Ostensivo; e (II) Sócio
Participante (ou Sócio Oculto).
Características: (a) A atividade é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu próprio
nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade perante terceiros: se o sócio
participante tomar parte nas relações com terceiros responde solidariamente; (b) os efeitos do
contrato são somente entre os sócios: a inscrição no Registro Publico não confere personalidade
jurídica; (c) é direito do sócio participante a fiscalização da gestão dos negócios sociais; (d) Os
fundos admitidos, do sócio participante, são considerados patrimônio especial, separado do
patrimônio social, apenas o obrigando perante o Sócio Ostensivo; (e) o ingresso de novo sócio
somente é permitido com o consentimento do sócio participante.

Sociedades Personificadas
As sociedades de pessoas (simples, em nome coletivo, em comandita simples e a híbrida
limitada) mantêm pontos comuns de tratamento legislativo (arts. 997 a 1.038 CC).
Regras Gerais
- Sociedades Simples adquirem personalidade jurídica com a inscrição de seu ato constitutivo no
Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede (art. 988 CC), enquanto que
as Sociedades Empresárias adquirem personalidade jurídica com a inscrição do ato constitutivo
no Registro Público de Empresas Mercantis, nas Juntas Comerciais (Art. 985 e 1.150 CC)
- É direito básico de um sócio, a participação nos resultados, lucros e perdas da sociedade, salvo
estipulação em contrário, na proporção da respectiva quota (art. 1.007 CC).
- Um sócio só pode ser substituído, no exercício das suas funções, com o consentimento dos
demais, expressado em modificação do contrato social (art. 1.002 CC).
- Os sócios são obrigados às contribuições (pagamentos e remessas) estabelecidas no contrato
social: o que não o fizer será notificado para, em 30 dias, fazê-lo, sob pena de: (a) responder,
perante a sociedade, pelo dano da mora; (b) ser considerado remisso; (c) ser demandado
judicialmente; e (d) ter reduzida sua cota societária ou mesmo ser excluído da sociedade (art.
1.004 CC).
- Sempre que a Lei ou o Contrato Social previrem que compete aos sócios a decisão sobre os
negócios da sociedade, essas deliberações serão tomadas por maioria de votos, segundo o valor
das quotas de cada um (art. 1.010 CC).
- Conforme disposto no art. 1.169 do CC, o preposto só pode se fazer substituir, no desempenho
da preposição, quando autorizado por escrito, sob pena de responder pessoalmente pelos atos e
obrigações, praticadas e contraídas pelo substituto.
- Além das pessoas impedidas por lei especial, não podem ser administradores os condenados: a
(a) a pena que vede o acesso a cargos públicos; (b) por crime falimentar, prevaricação,suborno,
concussão ou peculato; (c) contra a economia popular, sistema financeiro nacional, normas de
defesa da concorrência, relações de consumo, fé pública ou a propriedade; enquanto durarem os
efeitos da condenação (art. 1.011 CC).
- No caso de cessão das cotas societárias, o cedente responde juntamente com o cessionário
(solidariedade), até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, pelas obrigações
que tinha como sócio, perante a sociedade e terceiros (art. 1.003 CC).
- É admitido o pedido de Recuperação Judicial de uma pessoa natural, desde que comprovada a
condição de empresário.

Sociedade simples
Destina-se às atividades não empresariais (deve ser inscrita no Cartório de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas - art. 988 CC) --- Existe uma rigidez, quanto à modificação de seu contrato
social: há necessidade de consentimento, unânime, de todos os sócios, nas deliberações que
alterem as cláusulas referentes aos elementos essenciais do contrato (qualificação dos sócios;
denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; capital; quota de cada sócio e o modo de
realizá-la; prestações a que se obriga o sócio; pessoas incumbidas da administração, seus poderes
e atribuições; participação de cada sócio nos lucros e perdas.

Sociedade em nome coletivo


Rege-se pelas normas dos arts. 1.039 a 1.044 do CC e tem as seguintes características: (a)
somente pessoas naturais podem tomar parte na sociedade; (b) somente sócio (um, alguns ou
todos) pode exercer a administração social; (c) a qualidade de sócio é pessoal: é vedado a
terceiro estranho, ingressar no quadro social, sem consentimento dos demais (impossibilidade da
penhora das cotas sociais - art. 1.043 CC); (d) A responsabilidade dos sócios, referentes às
obrigações sociais, é solidária e ilimitada entre eles e subsidiária ao patrimônio Social; (e) os
sócios podem limitar, apenas entre si (sem alterar o direito de terceiros), a responsabilidade de
cada um, desde que conste no ato constitutivo da sociedade ou seja aprovada, por unanimidade,
em convenção posterior; (f) admite-se, apenas, nome empresarial composto pelo nome de um ou
alguns sócios, acrescido da expressão “e companhia", abreviada ou completa.

Sociedade em comandita simples


Regulada pelos arts. 1045 a 1051 do CC, a sociedade em comandita simples tem como principal
característica a existência de duas categorias de sócios: (I) os Comanditados; e (II)
os Comanditários -_--- Pode adotar o nome empresarial da modalidade firma ou razão social,
mas apenas o sócio comanditado pode emprestar seu nome civil para a sua formação (caso
conste o nome de sócio comanditário, este será considerado de responsabilidade ilimitada) ---- é
obrigada a manter, durante toda a vida social, as duas categorias de sócios, já que sua dissolução
pode ocorrer: (I) por qualquer das causas previstas no art. 1.044 do CC; ou (II) quando, por mais
de 180 dias, perdurar a falta de uma das categorias de sócio (art. 1.051 CC).
Características dos sócios:
Sócios Comanditados: (a) sempre pessoas físicas; (b) exercem privativamente a administração;
(c) responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, subsidiariamente ao
patrimônio social; (d) possuem os mesmos direitos do sócio em nome coletivo.
Sócios Comanditários: (a) pessoas físicas ou jurídicas; (b) proibidos de exercer atos de gestão;
(c) responsabilidade limitada à integralização da sua quota - art. 1.045 CC; (d) responsáveis, no
limite contratado, pelas dívidas pré-existentes à diminuição de sua cota social, quando esta
acarretar a redução de capital social; (e) não são obrigados a repor lucros recebidos de boa-fé.
Sociedade Limitada
Sua principal característica é a possibilidade da escolha de sua natureza, de capital (Empresarial)
ou de pessoa (Simples), definida pela vontade dos sócios, ao elaborar o contrato social ---- Além
das regras específicas (arts. 1.052 a 1.087 CC), seu contrato social pode eleger a regência
supletiva das normas da sociedade anônima ou submeter-se às regras da sociedade simples ---
Nota: a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem,
solidariamente, pela integralização do capital social (art. 1.052 CC).
Características:
• Capital Social: é formado por quotas de valores iguais ou diferentes, cabendo uma, ou diversas,
a cada sócio; é vedada a contribuição de sócios, em prestação de serviços, para constituição do
capital social (art. 1.055 CC).
• Objeto: É possível uma sociedade simples, no objeto, e limitada, na forma (art. 983 CC).
• Cessão das cotas: na omissão do contrato, o sócio pode cedê-las, total ou parcialmente, a quem
seja sócio, independente de anuência dos outros; ou a estranho, se não houver oposição dos
outros sócios, que representem mais de 25% do capital social (art. 1.057 CC).
• Sócio remisso: se o sócio não completar sua contribuição ao capital social, os demais podem
transferi-la a terceiros (art. 1.058 CC) ou valer-se de outras soluções (exclusão ou redução da
participação, pelo valor já integralizado - art. 1.004 CC).
• Administração: é feita por uma ou mais pessoas físicas (sócios ou não sócios), designadas no
contrato social ou em ato separado (arts. 1.060 e 1.061 CC).
• Destituição de administrador: ocorrerá a qualquer tempo: se for sócio, dependerá de aprovação
de titulares de cotas correspondentes a, no mínimo, 2/3 do capital social (art. 1.063 CC).
• Conselho Fiscal: é facultada sua constituição (art. 1.066 CC).
• Deliberação dos sócios: depende de realização de assembleia, se o número dos sócios for
superior a dez (art. 1.072 CC); são tomadas por votos de 3/4 da maioria do capital social ou dos
presentes (art. 1.076 CC).
• Responsabilidade: sócios respondem pessoalmente pela integralização de sua cota e,
solidariamente com os demais, pela integralização de todo capital social; todos os sócios são
solidariamente responsáveis pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social (art.
1.055 CC); sócio que puser em risco a continuidade da empresa pode ser excluído, por decisão
dos titulares de mais da metade do capital social (art. 1.085 CC).

Situação Especial: Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


A Lei 12.441/2011 inseriu o artigo 980-A no Código Civil.
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única
pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a
100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma
ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada.
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente
poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.
§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração
das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que
motivaram tal concentração.
§ 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a
prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa
jurídica, vinculados à atividade profissional.
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras
previstas para as sociedades limitadas.
Sociedades por Ações
Sociedade em Comandita por Ações
Regulada pelos artigos 1.090 a 1.092 do CC e 280 a 284 da LSA, é a modalidade menos
conhecida e difundida: possui forma mista (modelo híbrido entre sociedade em comandita
simples e sociedade anônima), quanto à responsabilidade dos sócios: impõe aos sócios
administradores uma responsabilidade solidária e ilimitada, pelas obrigações sociais ----
Somente os sócios podem administrá-la e seu capital é dividido em ações, facultando-lhe
emitir outros valores mobiliários (estrutura de Sociedade Anônima). A Sociedade em Comandita
por Ações terá, sempre, natureza empresarial (sociedade de capital), conforme disposto no art.
982, §único CC.

Sociedade Anônima
A Sociedade Anônima (S/A) sujeita-se às regras da Lei das Sociedades por Ações (LSA), nº
6.404/76, com aplicação do Código Civil, apenas, nas omissões desta (art. 1.089).
Características Gerais
Capital social: O capital social é dividido em partes ou frações, denominadas ações. Seus
titulares são chamados de acionistas e respondem pelas obrigações sociais, até o limite do que
falta para a integralização de suas ações (art. 1º LSA).
Sociedade de capital: S/As serão sempre empresárias, qualquer que seja seu objeto (arts. 982
CC e 2º LSA), podendo ter, como objeto, participar de outras sociedades --- são tipicamente
sociedades de capital: suas ações são livremente negociáveis e transmissíveis a qualquer pessoa
(nenhum acionista pode impedir o ingresso de ninguém no quadro associativo - o importante é a
entrada do capital e não a qualidade do sócio) --- O que a diferencia é a possibilidade de buscar
recursos, mediante a subscrição de capital ("abertura na Bolsa de Valores").
Sociedade Institucional ou Estatutária: S/As são regidas por um Estatuto Social (os sócios
não pactuam as cláusulas do contrato social), aprovado pela assembleia de sua fundação e levado
a registro na Junta Comercial. Tem natureza institucional pois o que importa é o objeto social a
ser atingido (captação de recursos): os novos acionistas apenas aderem a um estatuto já existente.
Responsabilidade limitada dos acionistas: A responsabilidade dos acionistas está limitada ao
preço de emissão das ações que este subscrever e, ao integralizar o valor das ações subscritas, o
sócio estará liberado de qualquer responsabilidade patrimonial, no caso de insucesso do
empreendimento.

Classificação
Nos termos do art. 42 da Lei 6.404/76, as S/As classificam-se em abertas e fechadas, de acordo
com a negociação ou não de seus valores mobiliários no Mercado de Capitais (art. 4º LSA).
Companhia fechada: São aquelas que NÃO tem valores mobiliários ofertados ao público em
geral: seu capital advém da contribuição de seus acionistas --- seus interesses (Cia e sócios) são
regulados como no "contrato de sociedade" (dispensada a tutela do interesse público).
Companhia aberta: São aquelas que PODEM buscar recurso junto ao mercado de capitais,
pela oferta de valores mobiliários (art. 22 Lei 6.385/76). Para que uma Cia possa ofertar seus
valores mobiliários, necessita obter a respectiva autorização da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), além de assumir inúmeras outras responsabilidades para proteção do
mercado, descritas na LSA.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


A CVM é uma autarquia federal (art. 50 Lei 6.385/76), encarregada de normatizar as operações
com valores mobiliários, autorizar sua emissão e negociação, bem como fiscalizar as sociedades
anônimas abertas e os agentes que operam no mercado de capitais. Nenhuma emissão pública de
valores mobiliários poderá ser distribuída no mercado, sem prévio registro na CVM.
Valores Mobiliários
São títulos de investimento, emitidos pela S/A, para captar, junto ao mercado, os recursos
necessários à consecução de seu objeto social (desenvolvimento de sua atividade econômica).
São eles: Ações, Debêntures, Partes Beneficiárias, Bônus de Subscrição e Commercial Papers.
Ações: É uma espécie de valor mobiliário representativo de unidade do capital social de uma S/A
e que confere, ao seu titular, um complexo de direitos e deveres patrimoniais e políticos.
• Ordinárias: são aquelas que conferem aos seus titulares os direitos que a lei reserva aos
acionistas: não conferem vantagens ou privilégios na esfera patrimonial, mas, sempre, na
política, através do direito do voto.
• Preferenciais: são as que conferem aos seus titulares alguma vantagem ou privilegio na esfera
patrimonial (art. 17 da Lei das S/As), mas não conferem direito de voto (direito político).

Administradores
Dever de Diligência: Previsto no art. 153 da LSA, dispõe que "o administrador da Cia deve
empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração dos seus próprios negócios".
Dever de Lealdade: O administrador não poderá utilizar, em benefício próprio, informações que
obteve acerca dos planos e interesses da Cia, em razão do cargo (art. 155 LSA).
Dever de Informar: O administrador de S/A aberta deve comunicar à Bolsa de Valores e à
imprensa, imediatamente, a ocorrência de qualquer fato que possa influenciar a decisão dos
investidores de comprar ou vender valores mobiliários da companhia (tudo que acontece na Cia,
que seja importante, deve ser comunicado, à imprensa e à Bolsa de Valores - art. 157 LSA).
Responsabilização: Os prejuízos causados pelos administradores são suportados pela Cia, mas a
LSA prevê que os administradores serão responsabilizados em duas situações: a) quando agirem
com dolo ou culpa, ainda que dentro de suas atribuições; b) quando agirem com violação à Lei
ou ao estatuto.

Acionistas
Deveres: O dever principal é o de integralizar as ações subscritas, sob pena de ser considerado
remisso ---- Diante de um acionista remisso, a S/A tem duas opções: (I) cobrar o valor a
integralizar; (II) alienar as ações do remisso na Bolsa de Valores em leilão especial, devolvendo
ao remisso o que já foi integralizado.
Direitos: São direitos essenciais dos acionistas: participação nos lucros e no acervo; fiscalização;
preferência na subscrição de ações e certos valores mobiliários; alienação; e retirada ---- Tais
direitos não podem ser suprimidos, nem pelas Assembleias, nem pelo Estatuto da sociedade.
Direito de voto: Não é essencial e pode ser suprimido, pelo estatuto, em duas hipóteses: (I) ações
preferenciais (normalmente não votam); e (II) acionista em mora.

Sociedade de Economia Mista


É uma S/A (regras de direito privado), cujo controle está nas mãos do Poder Público, que detém
a parte majoritária do capital social. Para sua constituição, é necessária a existência de prévia
autorização legal ---- A Lei 11.101/2005 (Lei de Falências) excluiu a sociedade de economia
mista de sua incidência (art. 2), do que se conclui que esta não pode falir.

Alterações Empresariais
Transformação: ocorre quando uma sociedade comercial altera o seu tipo societário ---- Não
afeta a pessoa jurídica (permanece intacta): mesmo capital social, mesmo ativo, mesmo passivo,
etc., altera-se, apenas, a “roupagem jurídica” --- Pode acarretar em alteração na responsabilidade
dos sócios e, até mesmo, no direito dos credores (mas os créditos que tiverem origem anterior
continuarão com todas as suas prerrogativas preexistentes).
Incorporação: hipótese de "concentração de empresas" -- uma sociedade (incorporadora)
absorve outra(s) sociedade(s) (incorporadas): a incorporadora remanesce e as incorporadas se
extinguem. A incorporadora é sucessora universal de todos os direitos e obrigações das
incorporadas.
Fusão: outra hipótese de "concentração de empresas" -- duas ou mais sociedades se extinguem
para que, da "fusão" de seus patrimônios, surja uma nova. A sociedade resultante da fusão é
sucessora universal de todos os direitos e deveres das fusionadas. As Cias fusionadas se
extinguem, sem liquidação, absorvidas pela fusão.
Cisão: a sociedade se subdivide total ou parcialmente, sendo que parcela de seu patrimônio é
vertida para outra, ou outras sociedades (pré constituídas ou constituídas para este fim). Essas
sociedades são solidariamente responsáveis pelas obrigações da sociedade cindida. A cindida
extingue-se, mas não se liquida.

Dissolução de sociedades

Dissolução extrajudicial
(a) Quando expirado o prazo de duração da sociedade: o prazo determinado pode ser certo ou
incerto (consignando-se, expressamente, a data de seu término ou sujeitando-o à realização de
um objeto social especifico);
(b) Consenso unânime ou deliberação, por maioria absoluta, quando sociedade de prazo
indeterminado (dissolução consensual por distrato);
(c) Falta de pluralidade de sócios;
(d) Extinção de autorização legal para funcionar: dissolução com origem na Administração
Pública.

Dissolução judicial
(a) Dissolução por anulação do ato de sua constituição: nas hipóteses de defeito do contrato
social, os sócios poderão requerer, dentro de três anos, a anulação do ato constitutivo.
(b) Exaustão do fim social ou verificação de sua inexequibilidade (perda total ou insuficiência do
capital social - art. 1034, II: inexistência de capital e impossibilidade de seu aumento.
(c) Causa prevista no contrato social, que vier a ser contestada em juízo (art. 1035).
(d) Falência: é dissolução judicial necessária, não dissolução de pleno direito.

Dissolução na Lei das Sociedades por Ações


Nas sociedades de capitais a dissolução se dá nos termos do art. 206 da LSA, em três casos: (a)
dissolução de pleno direito; (b) dissolução judicial; (c) por ato administrativo.

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