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Empresa
A dificuldade da teoria da empresa é justamente estabelecer o conceito jurídico de "empresa".
Carvalho de Mendonça a define como “a organização técnico- econômica que se propõe a
produzir, mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou
serviços destinados a troca (venda), com a esperança de realizar lucros, correndo os riscos por
conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua
responsabilidade”.
Spencer Vampré a considera como “organização econômica, que se propõe a obter mediante a
combinação da natureza, do trabalho e do capital, produtos ou serviços destinados a troca,
correndo os riscos por conta de uma pessoa, que reúne e dirige esses elementos sobre sua
responsabilidade”.
Apesar da Doutrina divergir e não conseguir estabelecer uma conceituação completa, podemos
decompor as diversas tentativas em quatro perfis comuns a todas, assim entendendo a empresa
como a atividade, o empresário, o estabelecimento e a instituição, respectivamente:
a) FUNCIONAL – empresa se confunde com a atividade empreendedora, dirigida a um fim
produtivo. O elemento atividade é determinante (análise da atividade econômica em si.
b) SUBJETIVO - análise da figura do empresário, como o exercente da atividade econômica
na empresa. Atuação organizada do sujeito sobre os fatores econômicos (capital e trabalho).
c) PATRIMONIAL ou OBJETIVO - é analisada a empresa, como o conjunto de bens
destinado ao exercício da atividade empresarial. Patrimônio negocial (estabelecimento,
complexo de bens materiais, imateriais, móveis e imóveis e os serviços essenciais para o
exercício da atividade). A esta definição, alguns doutrinadores dão o nome de “Azienda”,
definida no Código Civil Italiano como sendo o estabelecimento um complexo de bens,
organizado pelo empresário, para o exercício da empresa.
d) CORPORATIVO – também é analisada a figura da empresa, mas como uma organização
especial de pessoas comparada a uma instituição, que reúne o empresário e seus
colaboradores, com uma finalidade em comum. O trabalho é sujeito e não objeto da
economia - os prestadores do trabalho são associados do empresário (colaboradores).
Em vista da dificuldade de consenso, apenas para fins didáticos, podemos definir empresa como
sendo é a unidade de produção capitalista, ou seja, organização que reúne sob um mesmo
patrimônio os diversos fatores de produção para colocar no mercado um bem ou serviço e,
assim, proporcionar ao seu proprietário, ou empresário, uma renda monetária (lucro), resultante
da diferença de preços entre os fatores de produção e a mercadoria, a seu próprio risco.
Reconhecendo a enorme dificuldade de formular o conceito jurídico de empresa, o legislador
brasileiro, no NCC de 2002, seguiu a orientação da legislação italiana (CC italiano de 1942),
conceituando apenas o empresário (art. 966) e o estabelecimento empresarial (art. 1.142),
regulando a empresa através destes.
Art. 966 - Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único - Não se considera empresário quem
exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares
ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
artigo 1.142 – Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Empresa e Empresário
Empresário (é passageiro, mutável) ≠ Empresa (é permanente, estável, duradoura)
Empresário
O exercício da atividade empresarial é feito tanto por pessoa física (empresário individual)
quanto por pessoa jurídica (sociedade empresária) ----- O sócio de uma sociedade empresária
não é necessariamente um empresário - dois tipos de sócio: o empreendedor e o investidor --
Empreendedor (além de participar com capital, gerencia e administra a sociedade ou tem
controle dela) e Investidor (apenas aplica o capital para obter os dividendos).
Definição: Empresário é o agente capaz, que exerce profissionalmente uma atividade econômica
organizada, para a produção e/ou circulação de bens e de serviços a outrem e com lucro.
Da definição de empresário, podemos extrair alguns pontos chaves:
- Atividade Econômica: A empresa É, antes de tudo, uma atividade econômica. O exercício de
uma atividade não econômica, ainda que através de uma organização (profissional ou não), não
constitui empresa, nem quem a exerce é considerado empresário (ex. o médico, o advogado e
profissional liberal em geral – atividade econômica civil), mesmo que o exercício implique uma
organização estável. Três principais setores: extrativismo, transformação e comércio ou serviços. O
objetivo primordial de uma organização empresarial é produzir riquezas e gerar lucros.;
- Organizada: realização da atividade com a colaboração integrada de uma equipe de pessoas, de
maneira ordenada. Abrange os fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima).
- Profissional: Profissionalidade: pressuposto essencial. Por profissão, entende-se um constante e
normal exercício de uma atividade, de forma sistemática e continuada. Habitualidade e
onerosidade com intuito lucrativo;
- Produção e/ou Circulação: abrange a transformação de matéria prima em produto acabado e a tradição
dos produtos, técnicas ou processos de gestão;
- Bens e/ou Serviços: abrange os bens móveis, imóveis, materiais ou imateriais e a prestação de
serviços propriamente dita;
- A Outrem: Quem produz profissionalmente bens ou serviços, necessariamente os produz para
fornecer a outrem: quem produz para si não é empresário.
Também o Estado vem-se tornando empresário para atender às finalidades que, por seus
aspectos econômicos, não se enquadram nas formas consagradas à atividade estatal clássica.
A implantação dos novos conceitos de empresário e estabelecimento comercial no ordenamento
jurídico brasileiro reflete no campo de aplicação do Direito Comercial, denominação esta que
deixou de ser usada, passando a ser chamada de DIREITO EMPRESARIAL que, embora contenha
normas de direito público, é um ramo do direito privado, sendo regido pelas normas e princípios
fundamentais deste, a exemplo da autonomia da vontade e da igualdade.
O art. 966 do CC Considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, não considerando
empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa, enquanto que o art. 1.142 do mesmo diploma considera, como
estabelecimento empresarial, todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário, ou por sociedade empresária.
Em outras palavras, os cientistas, literatos e artistas só serão considerados empresários se
produzirem bens e/ou prestarem serviços, de maneira empresarialmente organizada, para a
obtenção de lucro (ex. um médico que contrata outros médicos, enfermeira, secretária, formando
uma clínica com estrutura empresarial) ---- Segundo o art. 967 do CC, é obrigatória a inscrição
do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de
sua atividade.
Nota: * É facultado aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não
tenham casado no regime da comunhão universal de bens ou na da separação obrigatória; além
do mais, o art, 978 do CC prevê que o empresário casado pode, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real.
Proibidos de exercer empresa
É hipótese distinta da incapacidade jurídica - os proibidos de exercer empresa são plenamente
capazes para a prática dos atos e negócios jurídicos, mas o ordenamento jurídico entendeu
conveniente vedar-lhes o exercício da atividade.
Diferença básica: Incapacidade para o exercício da empresa: é estabelecida para a proteção do
próprio incapaz, afastando-o dos riscos inerentes à atividade econômica; Proibição de ser
empresário: está relacionada com a tutela do interesse público ou das pessoas que se relacionam
com o empresário.
O principal caso de proibição de exercer empresa é o do falido não reabilitado (art. 102 da lei
11.101/05) --- na falência não fraudulenta, basta a declaração judicial de extinção das obrigações
para considerar-se reabilitado; Já o falido condenado por crime falimentar, deverá obter, além da
declaração de extinção das obrigações, a sua reabilitação penal, após o decurso do prazo legal --
uma vez concedida à reabilitação penal, cessa a proibição.
As demais hipóteses de proibição são previsões esparsas, localizadas em diversos diplomas, ex:
os condenados pela prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade empresarial (art. 35, II,
da Lei de Registro de Empresas); chefes, agentes ou auxiliares do Poder Executivo; membros dos
Tribunais de Contas; órgãos do Legislativo (art. 54, II, CF/88); magistrados (art. 47, II,
LOMAJ); membros do MP (art. 36, I, lei 8625/93 c/c art. 44, III LONMP); funcionários públicos
(art. 117, X, lei 8112/90, c/c art. 195, VI e VII lei1711/52); estrangeiros com visto provisório (lei 6815/80);
militares na ativa e de corpos policiais (arts. 180 e 204 COM e art. 35 do Dec-lei 1.029/69, c/c
art. 29 lei 6.880/80); corretores oficiais: (art. 36 Dec. 2.191/32); leiloeiros (Dec. 2.198/36, art. 36);
prepostos comerciais: (CLT, art. 482); devedores do INSS: (Lei 8.212/91, art. 95, §2º); cônsules
remunerados: (Dec. 4.868/82, art. 11 e Dec.3529/89, art. 42); médicos, para o comércio farmacêutico
(Dec. 19.606/31 c/c Dec. 20.877 e lei 5991/73), dentre outros.
O impedido que exercer empresa que não observa a vedação está sujeito a consequências de
caráter administrativo e/ou penal --- para o direito empresarial, seus atos não são nulos, porém,
não poderá ele, ou quem com ele tenha contratado, liberar-se dos vínculos obrigacionais,
alegando a proibição (art. 973 CC).
Objetivos da Empresa
O primeiro objetivo da empresa é servir ao seu proprietário ou titular como fonte de lucro e, ao
mesmo tempo, de produção ----- alguns autores entendem que, na atualidade, a empresa deve ter
um objetivo Social, independente do arbítrio de seu titular, para a proteção da “sociedade”,
sendo também objetivo da empresa a colaboração de capital e trabalho, ainda que para a
obtenção de lucro. ---- Portanto, qualquer que seja o entendimento, é requisito essencial de toda
empresa a combinação dos fatores natureza, capital e trabalho, e a organização destes para fins
produtivos.
Fontes do direito empresarial
Fontes Primárias:
- A Constituição Federal;
- O Código Civil: que trata das sociedades simples, ltda., etc;
- O Código Comercial: segunda parte, que trata do direito marítimo;
- Leis especiais - ex: Nova lei de Falências, de Recuperação Judicial, a Nova lei das SAs etc.
Fontes Secundárias:
- Os usos (estabelecido por convenção das partes e exercido de boa-fé) e costumes (imperativo –
práticas tradicionais - regra subsidiária às normas);
- A doutrina, jurisprudência, analogia, princípios gerais do direito, tratados e convenções
internacionais.
UNIDADE II – Direito Empresarial
Prepostos do Empresário - Modalidades Empresariais - Livre Iniciativa e Concorrência Desleal
Prepostos do Empresário
Empresário, como organizador de atividade empresarial, necessariamente, deve contratar mão de
obra (um dos fatores de produção), seja como empregado, representante, autônomo ou
terceirizado (prestador de serviços), todos desempenham tarefas, sob a coordenação do
empresário e, para efeitos do direito das obrigações, esses trabalhadores, independentemente da
natureza do vínculo contratual, são chamados de prepostos (arts. 1.169 a 1.178 CC).
Regra Geral: os atos dos prepostos, praticados no estabelecimento empresarial ou relativos à
atividade econômica, obrigam o empresário preponente, assim como as informações prestadas
pelos prepostos, bem como compromissos por eles assumidos, atendidos os pressupostos de
lugar e objeto, criam obrigações para o empresário (art. 1.178 CC).
Os prepostos também respondem pelos seus atos: se agiram com culpa, devem indenizar em
regresso; se com dolo, respondem igualmente perante o terceiro, em solidariedade com o
empresário ---- Está o preposto proibido de concorrer com seu preponente - quando o faz sem
autorização expressa, responde por perdas e danos, podendo também configurar o crime de
concorrência desleal (Lei da Propriedade Industrial, art. 195). O Código Civil se refere a dois
prepostos especificamente: o gerente e o contabilista.
Gerente é o funcionário com funções de chefia, encarregado da organização do trabalho num
certo estabelecimento (considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na
sede desta, ou em sucursal, filial ou agência) – seus poderes podem ser limitados por ato escrito
do empresário, arquivado na Junta Comercial - não havendo limitação expressa, o gerente
responsabiliza o preponente em todos os seus atos --- O contabilista é o responsável pela
escrituração dos livros do empresário - nas grandes empresas costuma ser empregado - nas
pequenas e médias, normalmente, é prestador de serviços.
Outras diferenças: a) enquanto é facultativa a função do gerente, a do contabilista é obrigatória
(CC, art. 1.182); b) qualquer pessoa pode trabalhar como gerente, enquanto que o contabilista
deve ser profissional habilitado por órgão competente, ou seja, apenas os regularmente inscritos
no órgão profissional podem trabalhar como contador ou técnico em contabilidade, responsáveis
pela escrituração dos livros do empresário.
Empresário Individual
É toda pessoa física, capaz e livre de impedimentos (art. 972 do CC) que exerce, individualmente
e em nome próprio, atividade empresarial ----- Trata-se de uma empresa titulada apenas por uma
só pessoa física, que integraliza bens próprios à exploração do seu negócio, atuando sem a
separação jurídica entre os seus bens pessoais e os seus negócios.
Não vigora o princípio da separação do patrimônio: proprietário responde, ilimitadamente, pelas
dívidas contraídas no exercício da sua atividade, com todos os bens pessoais que integram o seu
patrimônio, assim como os do seu cônjuge (comunhão de bens). Essa responsabilização ilimitada
ocorre nos dois sentidos: o patrimônio integralizado para explorar a atividade comercial também
responde pelas dívidas pessoais do empresário e do cônjuge --- A empresa (nome comercial)
deve ser composta pelo nome civil do proprietário, completo ou abreviado, podendo conter um
nome pelo qual ele seja conhecido no meio empresarial e/ou a referência à atividade da empresa.
Requisitos legais:
- Capacidade: maior de 18 anos ou emancipado (art. 5º CC);
- Exercer atividade empresarial;
- Livre de impedimentos: sem proibições nas quais uma pessoa não pode exercer atividade
empresarial (empresário falido, servidor público (empresário individual), estrangeiro etc.);
- Registro: Sistema nacional de registro de empresas mercantis (SINREM) (art. 967 do CC);
Proibidos de exercer a empresa como empresários individuais:
- Os incapazes;
- Os chefes, agentes ou auxiliares do Poder Executivo e os membros dos Tribunais de Contas;
- Os órgãos do Legislativo: art. 54, II, CF/88;
- Os magistrados: art. 47, II, LOMAJ e membros do MP: art. 36, I, lei 8625/93 c/c art. 44, III LONMP,
- Os funcionários públicos: art. 117, X, lei 8112/90, c/c art. 195, VI e VII da lei1711/52;
- Os estrangeiros com visto provisório: lei 6815/80;
- Os militares na ativa e policiais: arts. 180 e 204 COM; 35 Dec-lei 1.029/69, c/c 29 lei 6.880/80;
- Os falidos, enquanto não-reabilitados (art. 102 lei 11.101/2005).
- Os corretores oficiais: (art. 36, dec. 2.191/32 );
- Os leiloeiros (dec. 2.198/36, art. 36);
- Os prepostos comerciais: (CLT, art. 482);
- Os devedores do INSS: (Lei 8.212/91, art. 95, §2º);
- Os cônsules remunerados: (dec. 4.868/82, art. 11 e dec.3529/89, art. 42);
- Os médicos para o comércio farmacêutico: dec. 19.606/31 c/c dec. 20.877 e lei 5991/73.
Empresário Rural: Aquele que, basicamente, exerce atividades ligadas à produção rural -----
Caso este requeira sua inscrição no registro das empresas (Junta Comercial), será considerado
como empresário e se submeterá às normas de Direito Comercial (Empresarial) (art. 971 do CC)
– ex. Agronegócio. Caso não requeira a inscrição nesse registro, não será considerado como
empresário e seu regime será o do Direito Civil (atividade econômica civil) – ex. negócios rurais
familiares.
Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP): O art. 179 CF/88 estabelece
que o Poder Público dispensará tratamento diferenciado às microempresas e às empresas de
pequeno porte, tendo sido editada a Lei Complementar 123/06 (Estatuto Nacional da
Microempresa e Empresa de Pequeno Porte) ---- Atualmente, a lei define Microempresa como
aquela cuja receita bruta anual é até R$ 360.000,00 e Empresa de Pequeno Porte aquela cuja
receita bruta anual é entre esse valor e R$ 3.600.000,00 (receita bruta anual é conceito sinônimo
de faturamento). O nome dessas espécies de empresas deve ser acrescido das expressões
“Microempresa” ou “Empresa de Pequeno Porte”, ou as abreviaturas ME ou EPP.
O Estatuto ainda criou o “Simples Nacional”, espécie de regime tributário simplificado, no qual
os optantes pagam IR, PIS, IPI, contribuições e, eventualmente, o ICMS e o ISS mediante um
único recolhimento mensal proporcional ao seu faturamento, bem como estão dispensadas de
manter escrituração mercantil, embora devam emitir nota fiscal e conservar os documentos
relativos à sua atividade.
Inatividade da Empresa
Tanto o empresário individual, quanto a sociedade empresária, que não realizarem nenhum
arquivamento, no período de 10 anos, estão obrigados a comunicar à Junta que ainda se
encontram em atividade (art. 60 LRE) – a não comunicação acarreta na consideração de
inatividade, autorizando a Junta a proceder o cancelamento do registro, acarretando a perda da
proteção do nome empresarial.
Necessidade de comunicação prévia, pela Junta, ao empresário, sobre a possibilidade do
cancelamento (pode ser por edital) - atendida a comunicação: desfaz-se a inatividade; não
atendida a comunicação: efetua-se o cancelamento do registro, informando-se o fisco.
Do cancelamento do registro por inatividade não decorre a dissolução da sociedade, apenas sua
irregularidade, caso continue funcionando - sociedade com arquivamento cancelado não deve,
necessariamente, entrar em liquidação, mas incidem sobre ela as conseqüências do exercício
irregular da atividade empresarial.
Empresário Irregular
Apesar de não ser o registro no órgão próprio a essência do conceito de empresário, sua ausência
acarreta ao empresário a impossibilidade de usufruir dos benefícios que o direito libera em seu
favor.
Restrições ao Empresário Irregular:
a) ilegitimidade ativa para pedido de falência de seu devedor (art. 97, §1º Lei 11.101/05 – Lei de
Falência - LF) – mesmo irregular, pode ter a sua própria falência requerida e decretada, sendo a
mesma sempre considerada fraudulenta, incorrendo o empresário no crime falimentar do art. 178
da LF;
b) ilegitimidade ativa para requerer recuperação judicial – a inscrição no Registro de Empresa é
condição essencial (art. 51, V LF);
c) não poderá ter seus livros autenticados no Registro de Empresa (art. 1.181 CC), nem se valer
da eficácia probatória que a legislação processual atribui aos mesmos (art. 379 CPC).
d) quando se tratar de sociedade empresária, a responsabilidade pelas obrigações sociais dos
sócios torna-se solidária e ilimitada, respondendo diretamente aquele que administrou a
sociedade - art. 990 CC (“sociedade em comum”).
Efeitos secundários: a) impossibilidade de participar de licitações (Lei 8.666/93, art. 28, II e III);
b) impossibilidade de inscrição em Cadastros Fiscais (CNPJ, CCM, e outros); c) ausência de
matrícula junto ao INSS e sujeição a pena de multa (Lei 8.212/91, art. 49, I) e d) na hipótese de
sociedade empresária, proibição de contratar com o Poder Público (art. 195, §3° CF/88).
Obrigações comuns a todos os Empresários
a) registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (CC, art. 967);
A não observação do dever de promover a inscrição no órgão de empresas tem por consequência
a irregularidade do exercício da atividade empresarial.
b) escriturar regularmente os livros obrigatórios;
Todo empresário, pessoa física ou jurídica, independentemente do ramo de atividade ou da forma
societária adotada, tem o dever de escriturar os livros obrigatórios ---- Categoria de empresários
dispensada de escriturar os livros obrigatórios: microempresários e empresários de pequeno
porte (LC, 123/2006, art. 26), desde que optantes pelo Simples Nacional (CC, arts. 970 e 1.179,
§2º) - quando não optantes pelo Simples Nacional, as MEs e as EPPs são obrigadas a manter
escrituração simplificada (livro-caixa) – a lei preceitua certo grau de simplificação da escrita
contábil, não a sua dispensa.
c) levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (CC, art. 1.179).
As MEs e as EPPs estão dispensadas da escrituração mercantil, desde que optantes pelo Simples
Nacional e mantenham arquivados documentos referentes ao giro empresarial, que permitam a
identificação da movimentação financeira e bancária – os não optantes devem escriturar, ao
menos, o livro-caixa, para a aferição do balanço patrimonial.
Sociedades Personificadas
As sociedades de pessoas (simples, em nome coletivo, em comandita simples e a híbrida
limitada) mantêm pontos comuns de tratamento legislativo (arts. 997 a 1.038 CC).
Regras Gerais
- Sociedades Simples adquirem personalidade jurídica com a inscrição de seu ato constitutivo no
Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede (art. 988 CC), enquanto que
as Sociedades Empresárias adquirem personalidade jurídica com a inscrição do ato constitutivo
no Registro Público de Empresas Mercantis, nas Juntas Comerciais (Art. 985 e 1.150 CC)
- É direito básico de um sócio, a participação nos resultados, lucros e perdas da sociedade, salvo
estipulação em contrário, na proporção da respectiva quota (art. 1.007 CC).
- Um sócio só pode ser substituído, no exercício das suas funções, com o consentimento dos
demais, expressado em modificação do contrato social (art. 1.002 CC).
- Os sócios são obrigados às contribuições (pagamentos e remessas) estabelecidas no contrato
social: o que não o fizer será notificado para, em 30 dias, fazê-lo, sob pena de: (a) responder,
perante a sociedade, pelo dano da mora; (b) ser considerado remisso; (c) ser demandado
judicialmente; e (d) ter reduzida sua cota societária ou mesmo ser excluído da sociedade (art.
1.004 CC).
- Sempre que a Lei ou o Contrato Social previrem que compete aos sócios a decisão sobre os
negócios da sociedade, essas deliberações serão tomadas por maioria de votos, segundo o valor
das quotas de cada um (art. 1.010 CC).
- Conforme disposto no art. 1.169 do CC, o preposto só pode se fazer substituir, no desempenho
da preposição, quando autorizado por escrito, sob pena de responder pessoalmente pelos atos e
obrigações, praticadas e contraídas pelo substituto.
- Além das pessoas impedidas por lei especial, não podem ser administradores os condenados: a
(a) a pena que vede o acesso a cargos públicos; (b) por crime falimentar, prevaricação,suborno,
concussão ou peculato; (c) contra a economia popular, sistema financeiro nacional, normas de
defesa da concorrência, relações de consumo, fé pública ou a propriedade; enquanto durarem os
efeitos da condenação (art. 1.011 CC).
- No caso de cessão das cotas societárias, o cedente responde juntamente com o cessionário
(solidariedade), até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, pelas obrigações
que tinha como sócio, perante a sociedade e terceiros (art. 1.003 CC).
- É admitido o pedido de Recuperação Judicial de uma pessoa natural, desde que comprovada a
condição de empresário.
Sociedade simples
Destina-se às atividades não empresariais (deve ser inscrita no Cartório de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas - art. 988 CC) --- Existe uma rigidez, quanto à modificação de seu contrato
social: há necessidade de consentimento, unânime, de todos os sócios, nas deliberações que
alterem as cláusulas referentes aos elementos essenciais do contrato (qualificação dos sócios;
denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; capital; quota de cada sócio e o modo de
realizá-la; prestações a que se obriga o sócio; pessoas incumbidas da administração, seus poderes
e atribuições; participação de cada sócio nos lucros e perdas.
Sociedade Anônima
A Sociedade Anônima (S/A) sujeita-se às regras da Lei das Sociedades por Ações (LSA), nº
6.404/76, com aplicação do Código Civil, apenas, nas omissões desta (art. 1.089).
Características Gerais
Capital social: O capital social é dividido em partes ou frações, denominadas ações. Seus
titulares são chamados de acionistas e respondem pelas obrigações sociais, até o limite do que
falta para a integralização de suas ações (art. 1º LSA).
Sociedade de capital: S/As serão sempre empresárias, qualquer que seja seu objeto (arts. 982
CC e 2º LSA), podendo ter, como objeto, participar de outras sociedades --- são tipicamente
sociedades de capital: suas ações são livremente negociáveis e transmissíveis a qualquer pessoa
(nenhum acionista pode impedir o ingresso de ninguém no quadro associativo - o importante é a
entrada do capital e não a qualidade do sócio) --- O que a diferencia é a possibilidade de buscar
recursos, mediante a subscrição de capital ("abertura na Bolsa de Valores").
Sociedade Institucional ou Estatutária: S/As são regidas por um Estatuto Social (os sócios
não pactuam as cláusulas do contrato social), aprovado pela assembleia de sua fundação e levado
a registro na Junta Comercial. Tem natureza institucional pois o que importa é o objeto social a
ser atingido (captação de recursos): os novos acionistas apenas aderem a um estatuto já existente.
Responsabilidade limitada dos acionistas: A responsabilidade dos acionistas está limitada ao
preço de emissão das ações que este subscrever e, ao integralizar o valor das ações subscritas, o
sócio estará liberado de qualquer responsabilidade patrimonial, no caso de insucesso do
empreendimento.
Classificação
Nos termos do art. 42 da Lei 6.404/76, as S/As classificam-se em abertas e fechadas, de acordo
com a negociação ou não de seus valores mobiliários no Mercado de Capitais (art. 4º LSA).
Companhia fechada: São aquelas que NÃO tem valores mobiliários ofertados ao público em
geral: seu capital advém da contribuição de seus acionistas --- seus interesses (Cia e sócios) são
regulados como no "contrato de sociedade" (dispensada a tutela do interesse público).
Companhia aberta: São aquelas que PODEM buscar recurso junto ao mercado de capitais,
pela oferta de valores mobiliários (art. 22 Lei 6.385/76). Para que uma Cia possa ofertar seus
valores mobiliários, necessita obter a respectiva autorização da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), além de assumir inúmeras outras responsabilidades para proteção do
mercado, descritas na LSA.
Administradores
Dever de Diligência: Previsto no art. 153 da LSA, dispõe que "o administrador da Cia deve
empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração dos seus próprios negócios".
Dever de Lealdade: O administrador não poderá utilizar, em benefício próprio, informações que
obteve acerca dos planos e interesses da Cia, em razão do cargo (art. 155 LSA).
Dever de Informar: O administrador de S/A aberta deve comunicar à Bolsa de Valores e à
imprensa, imediatamente, a ocorrência de qualquer fato que possa influenciar a decisão dos
investidores de comprar ou vender valores mobiliários da companhia (tudo que acontece na Cia,
que seja importante, deve ser comunicado, à imprensa e à Bolsa de Valores - art. 157 LSA).
Responsabilização: Os prejuízos causados pelos administradores são suportados pela Cia, mas a
LSA prevê que os administradores serão responsabilizados em duas situações: a) quando agirem
com dolo ou culpa, ainda que dentro de suas atribuições; b) quando agirem com violação à Lei
ou ao estatuto.
Acionistas
Deveres: O dever principal é o de integralizar as ações subscritas, sob pena de ser considerado
remisso ---- Diante de um acionista remisso, a S/A tem duas opções: (I) cobrar o valor a
integralizar; (II) alienar as ações do remisso na Bolsa de Valores em leilão especial, devolvendo
ao remisso o que já foi integralizado.
Direitos: São direitos essenciais dos acionistas: participação nos lucros e no acervo; fiscalização;
preferência na subscrição de ações e certos valores mobiliários; alienação; e retirada ---- Tais
direitos não podem ser suprimidos, nem pelas Assembleias, nem pelo Estatuto da sociedade.
Direito de voto: Não é essencial e pode ser suprimido, pelo estatuto, em duas hipóteses: (I) ações
preferenciais (normalmente não votam); e (II) acionista em mora.
Alterações Empresariais
Transformação: ocorre quando uma sociedade comercial altera o seu tipo societário ---- Não
afeta a pessoa jurídica (permanece intacta): mesmo capital social, mesmo ativo, mesmo passivo,
etc., altera-se, apenas, a “roupagem jurídica” --- Pode acarretar em alteração na responsabilidade
dos sócios e, até mesmo, no direito dos credores (mas os créditos que tiverem origem anterior
continuarão com todas as suas prerrogativas preexistentes).
Incorporação: hipótese de "concentração de empresas" -- uma sociedade (incorporadora)
absorve outra(s) sociedade(s) (incorporadas): a incorporadora remanesce e as incorporadas se
extinguem. A incorporadora é sucessora universal de todos os direitos e obrigações das
incorporadas.
Fusão: outra hipótese de "concentração de empresas" -- duas ou mais sociedades se extinguem
para que, da "fusão" de seus patrimônios, surja uma nova. A sociedade resultante da fusão é
sucessora universal de todos os direitos e deveres das fusionadas. As Cias fusionadas se
extinguem, sem liquidação, absorvidas pela fusão.
Cisão: a sociedade se subdivide total ou parcialmente, sendo que parcela de seu patrimônio é
vertida para outra, ou outras sociedades (pré constituídas ou constituídas para este fim). Essas
sociedades são solidariamente responsáveis pelas obrigações da sociedade cindida. A cindida
extingue-se, mas não se liquida.
Dissolução de sociedades
Dissolução extrajudicial
(a) Quando expirado o prazo de duração da sociedade: o prazo determinado pode ser certo ou
incerto (consignando-se, expressamente, a data de seu término ou sujeitando-o à realização de
um objeto social especifico);
(b) Consenso unânime ou deliberação, por maioria absoluta, quando sociedade de prazo
indeterminado (dissolução consensual por distrato);
(c) Falta de pluralidade de sócios;
(d) Extinção de autorização legal para funcionar: dissolução com origem na Administração
Pública.
Dissolução judicial
(a) Dissolução por anulação do ato de sua constituição: nas hipóteses de defeito do contrato
social, os sócios poderão requerer, dentro de três anos, a anulação do ato constitutivo.
(b) Exaustão do fim social ou verificação de sua inexequibilidade (perda total ou insuficiência do
capital social - art. 1034, II: inexistência de capital e impossibilidade de seu aumento.
(c) Causa prevista no contrato social, que vier a ser contestada em juízo (art. 1035).
(d) Falência: é dissolução judicial necessária, não dissolução de pleno direito.