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A Ação Do Espírito Santo Na Vida Da Igreja
A Ação Do Espírito Santo Na Vida Da Igreja
A Igreja dos apóstolos, dos mártires, dos Santos Padres até hoje é a única e mesma Igreja que,
em resposta aos «sinais dos tempos», se renova constantemente. A Igreja se expressa historicamente
com modalidades diferentes, para que nela resplandeça a face de Cristo e se faça crível para
humanidade em todos os tempos e culturas. Na fidelidade ao Espírito, a Igreja se torna « católica»,
ou melhor, o Espírito a faz «católica».
Cristo pediu que ouvíssemos e acolhêssemos os apóstolos e seus sucessores como a Ele
mesmo e prometeu o Espírito, para que abrisse a mente deles a toda a verdade. Assim, o Magistério
da Igreja se torna um ponto de referência determinante para conhecer a vontade de Deus. É o
discernimento comunitário sobre como viver, testemunhar e comunicar o Evangelho em todos os
tempos e lugares.
O Magistério ilumina, interpreta, motiva a vida evangélica e a ação pastoral de
toda a Igreja e, com a assistência do Espírito, torna-se critério de fé, palavra significante, retomada de
vida.
d. Na liturgia sacramental, mediante as suas palavras e os seus símbolos, o Espírito Santo nos
põe em comunhão com Cristo.
O Espírito Santo permeia toda a liturgia da Igreja, que é santificação e culto no Espírito Santo
(cf. LG, 50-51). De fato, o Pai, por intermédio de Cristo, infunde em nós o Espírito, que é
comunhão de verdade e de vida que jorra da fonte trinitária. A resposta da fé, a oração, a oferta do
sacrifício chegam até o Pai no Espírito, por Cristo.
O pão eucarístico e o vinho do cálice da Nova Aliança estão particularmente ligados com a
ação do Espírito, porque são corpo e sangue gloriosos, espirituais de Cristo Ressuscitado, pleno do
Espírito Santo. A antiga liturgia antioquena tem expressões bastante ousadas sobre a presença do
Espírito Santo na Eucaristia. Eis o que escreve S. Efrém num de seus hinos: « No teu pão está
escondido o Espírito que não pode ser comido, no teu vinho há um fogo que não pode ser bebido. O
Espírito no teu pão, o Fogo no teu vinho, maravilha sublime que os nossos lábios receberam [...] No
pão e no cálice, Fogo e Espírito Santo.. E um texto da liturgia siríaca diz: .Eis o corpo e o fogo, do qual
se aproxima quem é puro, do qual se afasta quem é corrupto.. Isaac de Antioquia ainda diz: «Vinde
beber; comei a chama que fará de vós anjos de fogo e provai o sabor do Espírito ».
Toda oração eclesial é feita no Espírito e, é oração do Espírito. «A unidade da Igreja orante é
obra do Espírito Santo, que é o mesmo em Cristo, em toda a Igreja e em cada um dos batizados. O
mesmo Espírito vem em auxílio da nossa ofraqueza ».E « intercede por nós com gemidos inefáveis»(Rm
8,26); ele mesmo, enquanto Espírito do Filho, infunde em nós « Espírito de filhos adotivos, por meio
do qual clamamos: Abba! Pai! » (Rm 8,15, cf. Gl 4,6; 1Cor 12,3; Ef 5,18, Jd 20). «Portanto, não pode
haver nenhuma oração cristã sem a ação do Espírito Santo que, unificando a Igreja toda, por meio do
Filho, a conduz ao Pai» (Instituição geral sobre a Liturgia das Horas, n. 8).
No Batismo, o Espírito nos faz filhos de Deus, comunidade de irmãos, Igreja, participantes do
mesmo e único amor de Deus... Além disso, somos chamados a reconhecer e celebrar a diversidade
dos dons, carismas e ministérios como expressão da graça multiforme do Espírito a serviço da
unidade em Cristo (cf. Ef 4,1-16). Diversidade a ser reconhecida com sinceridade, avaliada com
honestidade e às quais é preciso dar generosos espaços. A vida no Espírito será autêntica na medida
em que cada um e todos juntos amarmos e promovermos com o mesmo zelo quer a diversidade de
dons, carismas e ministérios, quer a unidade do conjunto, conscientes que a comunhão no Espírito
constitui a unidade que precede qualquer distinção. A Igreja é, e aparece, como « uma comunhão de
vida, de caridade e de verdade» (LG, n. 9).
A Igreja, por Cristo no Espírito, é “enviada” ao mundo. Não é um fim em si mesma, porém a
serviço do reino de Deus e de sua expansão no mundo. Assim, a Igreja é chamada a renovar o
compromisso apostólico de evangelização missionária, iniciada no Pentecostes em favor quer
daqueles que não receberam o anúncio de Cristo, quer daqueles que, tendo-o recebido e aceito,
perderam qualquer contato vital com a comunidade cristã.
h. No testemunho dos santos e dos mártires, nos quais o Espírito manifesta a sua santidade e
continua a sua obra de salvação
Convocados pelo Espírito à salvação e à santidade não de maneira individual, mas como povo
de Deus (cf. LG, n. 9) feitos povo novo que Cristo constituiu no seu Espírito como « raça eleita,
sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus [...] » (Pd 2,9-10), « concidadão do povo de
Deus e membros da família de Deus [...] Em Cristo, vocês também são integrados nessa construção,
para se tornarem morada de Deus, por meio do Espírito ». (Ef 2,19-22).
Ao longo da história, os santos nos dizem que a santidade não é fato privado, mas da Igreja:
eles foram, no tempo deles, sinal e instrumento da santidade de Deus presente na Igreja. Por isso,
conduziram consigo a Igreja em direção à santidade. Santidade vivida como chamado, como
horizonte de perfeição e como itinerário de comunhão eclesial.
II. O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA
“Onde está a Igreja, aí também está o Espírito de Deus; e onde está o Espírito de Deus, aí também
está a Igreja e toda graça”, afirma S. Irineu; e explica o motivo: “De fato, à Igreja foi confiado o Dom
de Deus, como sopro à criatura plasmada, a fim de que todos os membros, participando dele, sejam
vivificados; e nela foi depositada a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor de
incorruptibilidade, confirmação da nossa fé e escada da nossa subida para Deus” (Contra as heresias,
III, 24,1).
S. Paulo escreve: “Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo” (1Cor
12,13; cf. Ef 4,4), e o Concílio Vaticano II afirma: “O Espírito Santo habita nos fiéis, penetra e rege toda
a Igreja, realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e une a todos tão intimamente em Cristo, que
é princípio da unidade da Igreja” (UR, 2).
A expressão de S. Basílio: “Não existe santidade sem o Espírito Santo” (O Espírito Santo, XVI,
38) se aplica antes de tudo à Igreja enquanto tal e, a partir dela, a todos os seus membros.
É preciso esclarecer que não se trata primeiramente de uma santidade moral, mas de um
santidade referente ao ser. S. Gregório Nazianzeno afirma: “Verdadeiramente santo é o Espírito Santo,
pois nada é santo a esse ponto e dessa maneira: não é a santidade adquirida, mas a santidade em
pessoa”. Podemos afirmar que na economia da salvação a natureza santa de Deus é comunicada aos
homens pelo Espírito Santo; é exatamente isso que constitui a santidade da Igreja. S. João Damasceno
afirma: “A união de Deus com os homens se realiza por obra do Espírito Santo” (Sermão pelo
nascimento da Mãe de Deus, 3). Cirilo de Alexandria diz: “Como o Espírito santificou a humanidade de
Cristo, assim continua santificando o seu corpo místico, isto é, a Igreja (Comentário ao Evangelho de
João, XI, 11). O Espírito sendo “santo por natureza, a ele cabe santificar” (A Trindade, VI).
Na raiz do significado de catolicidade encontramos, mais uma vez, o Espírito Santo. Lemos no
Catecismo: “Neste sentido fundamental, a Igreja era católica no dia de Pentecostes, e o será sempre
até o dia da Parusia” (CIC, 830). (cf. LG, 23). Máximo o Confessor, nos diz: “Homens, mulheres, jovens
profundamente divididos no que diz respeito à raça, nação, língua, classe social, trabalho, ciência,
dignidade, bens [...], todos eles a Igreja os recria no Espírito. Ela imprime uma forma divina
igualmente em todos. Todos recebem dela uma única natureza impossível de ser rompida, uma
natureza que não mais permite que se leve em conta as múltiplas e profundas diferenças que há
entre eles. Daí deriva que todos somos unidos de maneira verdadeiramente católica. (Mystagogia, I).
Pelo percurso acima traçado, aparece como o Espírito Santo é aquele que historiciza a Palavra
de Deus em suas diversas fases: inspira a Escritura, fala pelos profetas, realiza a humanização do
Verbo entregue em sua plenitude em Cristo, preenche a Igreja, Corpo de Cristo. Hoje também a
Palavra de Deus é dada aos homens pela Igreja por meio de toda a sua obra, especialmente com a
evangelização em obediência ao mandamento do Senhor: “Portanto, vão e façam com que todos os
povos se tornem meus discípulos”. Somente assim, a Igreja “una, santa, católica e apostólica” se
difunde entre os povos, tendo sempre como protagonista o Espírito do Senhor, de tal modo que se
possa aplicar aos cristãos de qualquer época as palavras da primeira Carta de Pedro: “Agora, porém,
os pregadores do Evangelho as manifestaram, guiados pelo Espírito Santo enviado do céu” (1Pd 1,12).
III. O Espírito Santo foi enviado para que completasse interiormente a obra
salutífera de Cristo e propagasse a Igreja (AG, n.4).
Com estas palavras o Concílio indica a razão principal da missão do Espírito Santo. É necessário
entender esta afirmação à luz da missão do Filho. “Aquilo que o Senhor uma vez pregou e nele se
efetuou pela salvação do gênero humano, deve ser proclamado e disseminado até os confins da terra
(At 1, 8) a começar por Jerusalém (cf. Lc 24,47). Pois o que uma vez foi realizado pela salvação de
todos, deve pelo tempo afora alcançar seu efeito em todos”.
Nisto consiste precisamente a essência da missão evangelizadora da Igreja. Para sua
realização Cristo enviou da parte do Pai e Espírito Santo. “Pois pelo Espírito Santo a Igreja é compelida
a cooperar, para que, efetivamente, se cumpra os propósitos de Deus para o mundo” (cf. LG 17).
Segundo o testemunho do Novo Testamento somente o Espírito Santo torna possível a
realização desta missão da Igreja:
– Lc 1,15: “Cheio do Espírito Santo” estará João Batista para preparar os caminhos
do Senhor.
– Mt 4,1: “Conduzido pelo Espírito” foi Jesus ao deserto para viver o combate decisivo e a
prova suprema antes de iniciar sua vida missionária.
– Lc 4,14: “Pelo força do Espírito Santo” volta Jesus à Galiléia e inaugura em Nazaré sua
pregação.
.
– Jo 20,22: “Recebei o Espírito Santo”, diz o Senhor aos discípulos antes de enviá-los ao
mundo como evangelizadores.
– At 2,4: “Cheios do Espírito Santo” ficaram os Apóstolos no dia de Pentecostes para iniciar
definitivamente sua missão.
– At 9,17 e 13,9: “Cheios do Espírito Santo” está Paulo antes de entregar-se ao apostolado e
depois no ministério.
– At 9,31: “Cheios do Espírito Santo” estavam as Igrejas da Judéia, Galiléia e Samaria quando
tomavam incremento e viviam no temor do Senhor.
– At 11,24: “Cheio do Espírito Santo e de fé” realiza Barnabé seu apostolado em Antioquia.
– At 16,14: “O Senhor lhe abriu o coração para que aceitasse a palavra de Paulo”.
Considerando estes textos, a Evangelli Nuntiandi (n.75) tira importantes conclusões e se sente
fundamentada para fazer categóricas afirmações sobre a ação do Espírito Santo: “Ele é a alma desta
Igreja. Ele é quem explica aos fiéis o sentido profundo dos ensinamentos de Jesus e de seu mistério.
Ele é quem, hoje como nos começos da Igreja, atua em cada evangelizador que se deixa possuir e
conduzir por Ele e põe nos seus lábios as palavras que por si só não poderia encontrar, predispondo
também a alma daquele que escuta para fazê-la aberta e acolhedora da Boa Nova e do Reino
anunciado. As técnicas de evangelização são boas, mas nem as mais aperfeiçoadas poderiam
substituir a ação discreta do Espírito. A preparação mais refinada do evangelizador não consegue
absolutamente nada sem Ele. Sem Ele, a dialética mais convincente é impotente sobre o espírito dos
homens. Sem Ele, os esquemas mais elaborados se revelam desprovidos de todo valor”.
III. UM ITINERÁRIO DE FÉ
O Espírito Santo e a missão da Igreja
1. «
Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o
Espírito lhes concedia que falassem» (At 2,4):
O Espírito e os apóstolos;
2. « Todos, então, ficaram cheios do Espírito Santo e, com coragem, anunciavam a palavra de
Deus» (At 4,31):
O Espírito e a missão;
3. « Pedro e João rezaram [...] a fim de que eles recebessem o Espírito Santo. De fato,
o Espírito ainda não viera sobre nenhum deles, mas tinham recebido apenas o
batismo em nome do Senhor Jesus. Então Pedro e João impuseram as mãos sobre eles, e eles
receberam o Espírito Santo» (At 8,15-17):
O Espírito e a confirmação;
4. «O Espírito Santo disse: ‘Separem para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o
qual eu os chamei’» (At 13,2):
O Espírito e os ministérios;
5. « Ninguém poderá dizer: ‘Jesus é o Senhor!’ a não ser sob a ação do Espírito Santo» (1 Cor
12,3ss):
O Espírito e os seus dons;
6. «Todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou
gregos,
quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito » (1Cor 12,13):
O Espírito Santo e a unidade da comunidade;
7. «
Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do
indispensável, como expomos a seguir». (cf. At 15,28).
O Espírito e o magistério eclesial;
8. «
Disse-lhes: ‘Como o Pai me enviou, assim também eu envio a vós’. Depois, soprou sobre eles
dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão
perdoados; aqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos’! ». (cf. Jo 20,21-23).
O Espírito e a autoridade da Igreja;
9. «
E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).
O Espírito e o dom de Deus;
10. «
Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual
recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? »(I Cor 6, 19). Ver 3,16.
O Espírito e a habitação divina.
Inácio de Latakia (bispo oriental). Discurso na III Assembléia Mundial de Igrejas, julho de 1968.
Em:Uppsala Report. Genebra, 1969, p. 298
ESPÍRITO SANTO