BANCA EXAMINADORA
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Orientadora Profª Betânia Elisa Rocha Bussinger, M. Sc.
Universidade Cândido Mendes
Rio de Janeiro – RJ
2019
Dedico o presente trabalho a:
Agradecimentos
Resumo
Este trabalho tem por objetivo pesquisar análises do colapso da Barragem de
Rejeitos de Fundão, ocorrido em Mariana – MG, em 05 de novembro de 2015, sob a
ótica da metodologia padronizada de mapeamento de acidentes, incluindo, portanto,
o apontamento de causas e recomendações de segurança. Para isso, foi realizada
pesquisa bibliográfica junto a documentos que tiveram acesso às fontes primárias de
informação e outras análises que também. No referencial teórico, tratou-se das van-
tagens da análise segundo a metodologia padronizada de mapeamento de aciden-
tes, especialmente em casos de acidentes complexos como este. Por conclusão,
apresentou-se uma lista de recomendações a serem tomadas tanto pela empresa
quando pelo Congresso Nacional, de modo a evitar que as causas associadas aos
diferentes níveis sociotécnicos voltem a resultar em acidentes desta magnitude.
Abstract
This paper aims to investigate analyzes of the collapse of the Fundão Tailings
Dam, which occurred in Mariana - MG, on November 5, 2015, from the perspective of
the standardized accident mapping methodology, including, therefore, the identifica-
tion of causes and recommendations of security. Bibliographic research was perfor-
med with documents that had access to primary sources of information and other
analyzes as well. The advantages of analysis according to the standardized accident
mapping methodology were also addressed, especially in cases of complex acci-
dents like this one. Finally, the accident mapping and a list of recommendations to be
taken by both the company and the National Congress was presented, in order to
prevent the causes associated with the different socio-technical levels from returning
to result in accidents of this magnitude.
Lista de ilustrações
SUMÁRIO
1 Introdução .......................................................................................................... 12
1.1 Considerações iniciais ................................................................................................. 12
1.2 Problema ..................................................................................................................... 12
1.3 Objetivos ..................................................................................................................... 13
1.3.1 Objetivo geral ............................................................................................................................. 13
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................................. 13
1.4 Justificativa.................................................................................................................. 13
2 Referencial Teórico ............................................................................................ 15
2.1 Mapeamento de acidentes - AcciMap .......................................................................... 16
2.2 AcciMap Padronizado ................................................................................................. 18
2.2.1 Resultados .................................................................................................................................. 18
2.2.2 Precursores imediatos ................................................................................................................ 18
2.2.3 Organizacional............................................................................................................................ 18
2.2.4 Externo ....................................................................................................................................... 18
2.2.5 Fatores causais .......................................................................................................................... 19
2.2.6 Conexões causais ...................................................................................................................... 19
2.2.7 Recomendações de segurança.................................................................................................. 19
3 Metodologia da Pesquisa .................................................................................. 21
4 A Barragem de Rejeitos de Fundão e seu colapso ......................................... 23
4.1 Barragens de rejeitos .................................................................................................. 23
4.2 A Barragem de Rejeitos de Fundão ............................................................................. 24
4.3 O Colapso da Barragem .............................................................................................. 25
5 O AcciMap Padronizado do Colapso da Barragem de Rejeitos de Fundão .. 28
5.1 Resultado .................................................................................................................... 28
5.2 Precursores imediatos ................................................................................................. 28
5.3 Causas Organizacionais.............................................................................................. 29
5.4 Causas externas ......................................................................................................... 30
5.5 O Diagrama do AcciMap.............................................................................................. 31
6 Recomendações................................................................................................. 33
6.1 Recomendações de nível organizacional .................................................................... 33
6.2 Recomendações de nível externo ............................................................................... 34
7 Considerações Finais e Sugestões .................................................................. 36
Referências bibliográficas ...................................................................................... 37
12
1 Introdução
1.2 Problema
1.3 Objetivos
Pesquisar relatórios de análise, que tenham tido acesso direto às fontes primá-
rias sobre o colapso da Barragem de Rejeitos de Fundão, ocorrido em 05 de no-
vembro de 2015, em Mariana-MG e elaborar seu AcciMap padronizado, divisando os
fatores causais e elaborando recomendações em seus diversos níveis sociotécnicos.
1.4 Justificativa
2 Referencial Teórico
que essas ações não pareçam possuir qualquer conexão funcional até que a ocor-
rência de um acidente desnude a estrutura relacional entre elas.
Tais decisões costumam ser tidas como sólidas, para os critérios locais (da or-
ganização na qual estão inseridas), considerando-se as pressões e incentivos de
curto prazo que as determinam. São especialistas, fazendo o seu melhor para aten-
der às condições locais, sem perceber os efeitos colaterais danosos de suas deci-
sões.
Dessa forma, Rasmussen (1997) argumenta que uma nova forma de representar
essas migrações para longe das fronteiras deve ser adotada, sem o foco nos erros
cometidos pelos operadores, mas nos mecanismos que tornam esses erros possí-
veis.
O modelo de mapeamento de acidente proposto pelo autor, conforme afirmam
Branford, Naikar e Hopkins (2009), é baseado numa árvore, na qual o acidente está
na base, com as causas se ramificando para cima, a partir dele, de modo que as
causas mais imediatas fiquem mais próximas do acidente (mais embaixo) e as mais
mediatas, mais longe (nos níveis superiores).
Os agentes causais, ainda segundo Branford, Naikar e Hopkins (2009), são dis-
postos em diferentes patamares, de acordo com o nível sociotécnico ao qual perten-
ce. Esses níveis são, no modelo original, dos mais próximos ao mais distantes do
acidente, segundo Rasmussen (19997): equipamento e arredores; processos físicos
e atores envolvidos; planejamento da empresa; planejamento e orçamento do go-
verno local; órgãos regulatórios e associações; políticas e orçamento de governo
(federal).
Branford, Naikar e Hopkins (2009) afirmam que, apesar dos benefícios da utili-
zação do AcciMap, há alguma dificuldade de uso por novos pesquisadores. Salien-
tam que os modelos de AcciMap publicados costumam ser apresentados nas mais
variadas formas, devido às diversas aplicações, dificultando a compreensão de sua
proposta original. Pensando nisso, tais autores propuseram o AcciMap padronizado.
18
2.2.1 Resultados
2.2.3 Organizacional
2.2.4 Externo
Nesse diagrama, são considerados fatores causais aqueles que foram necessá-
rios para que o acidente ocorresse. É assim para que se possa designar todos os
fatores que contribuíram para (ou falharam em impedir) o acidente, de modo que se
possa obter um melhor entendimento de como o acidente ocorreu e onde as ações
corretivas devem ser aplicadas para evitar novas ocorrências de acidentes similares.
Entretanto, para que se tenha um limite adequado de utilidade para a determina-
ção dos fatores causais, só entram no diagrama aqueles de significância prática
(caixas retangulares), definida como a qualidade dos fatores causais sobre os quais
algo poderia ser feito na intenção de evitar o acidente, além disso, também consta
daqueles sem significância prática (caixas de cantos arredondados), mas que são
necessários para se entender o que levou o acidente a ocorrer. Estes últimos só en-
tram no diagrama caso o AcciMap padronizado não faça sentido sem sua presença.
gerem que as recomendações sejam agrupadas por cada grupo responsável por co-
locá-la em prática (congresso, conselho fiscalizador, diretoria da empresa).
As recomendações podem retificar a causa diretamente, prevenir a ocorrência
de causas não retificáveis. Algumas causam, que não podem nem ser retificadas,
nem ter sua ocorrência prevenida, devem ter recomendações que sugeriram uma
compensação ou mitigação para seus efeitos.
No exemplo mostrado em sua publicação, Banford, Naikar e Hopkins (2009) sa-
lientam que é melhor não tentar mudar o comportamento inapropriado dos operado-
res diretos, mas atacar as inadequações que tornam esse comportamento possível.
A figura 2 mostra um esboço de como deve ser um AcciMap padronizado.
3 Metodologia da Pesquisa
De acordo com Moresi (2003, p.8), a pesquisa aplicada “objetiva gerar conheci-
mentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos”. Já o
conceito de pesquisa explicativa está baseado na identificação de “fatores que de-
terminam ou contribuem para a ocorrência de fenômenos” (GIL, 2002, p. 2). Gil
(2002), afirma que a maioria das pesquisas explicativas pode ser classificada como
experimental ou ex-post facto - expressão latina que significa “a partir do fato passa-
do”.
O presente trabalho visa elaborar um AcciMap Padronizado referente ao colapso
da barragem de rejeitos de Mariana, de modo a, seguindo o modelo Branford, Naikar
e Hopkins (2009), incluir recomendações de segurança. Desse modo, pode ser clas-
sificado, de acordo com sua natureza, como uma pesquisa aplicada e explicativa.
Considerando-se que o colapso da barragem já ocorreu, também é uma pesquisa
ex-post facto.
Para tal, levando em conta a inviabilidade do autor ir diretamente ao local do
acidente e realizar por si mesmo o levantamento dos fatores causais, o presente tra-
balho precisa se apoiar em documentos que tenham tido tal acesso. Desse modo,
também se trata de uma pesquisa bibliográfica com o uso de fontes secundárias,
segundo a definição de Gil (2002).
Gil (2002, p.4) destaca que “... Muitas vezes, fontes secundárias apresentam
dados coletados ou processados de forma equivocada”. Para dirimir essa possibili-
dade, o presente trabalho se baseia, principalmente, em dois documentos que tive-
ram acesso às fontes primárias:
• Relatório de Análise de Acidente elaborado pelo Ministério do Trabalho e
Previdência Social, em abril de 2016 e;
• Relatório sobre a causas imediatas da ruptura da Barragem de Fundão, ela-
borado por um comitê de especialistas contratados pela empresa operadora
da barragem (Samarco Mineração S.A.) e seus acionistas (Vale S.A. e BHP
Billinton Brasil Ltda), presidido por Norbert R. Morgenstern, finalizado em
agosto de 2016.
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A escolha por esses dois documentos se deve ao fato de ambos terem tido
acesso ao local do acidente, podendo entrevistar testemunhas do ocorrido e com
acesso a documentos e informações inacessíveis de outra forma. Além disso, repre-
sentam partes envolvidas distintas: o Ministério do Trabalho e Previdência Social e a
empresa detentora da barragem.
Também foram pesquisadas outras análises do acidente que se basearam em
algum ou ambos os documentos citados. Não foi encontrado nenhum que tenha de-
senvolvido um AcciMap, mas outros métodos de análise foram encontrados e servi-
ram de suporte para a elaboração do mapeamento de acidente padronizado propos-
to.
23
Antes de discorrer sobre o colapso da BRF, convém explicar o que é uma barra-
gem de rejeitos e o modelo de barragem usado na BRF, que está intrinsecamente
associada ao colapso ocorrido.
Faria e Botelho (2018) lembram que “As atividades de produção mineral geram
um volume significativo de detritos decorrentes dos processos de lavra e beneficia-
mento”. Isso implica necessidade de construir estruturas que formem uma parede de
contenção aos resíduos e detritos gerados na atividade.
Cardozo, Pimenta e Zingano (2016) afirmam que um “ponto que diferencia as
barragens de rejeito é a sua construção em etapas, as quais, acompanham o ritmo
de lavra, desta forma à medida que são gerados rejeitos, os alteamentos são execu-
tados”.
Estes mesmos autores informam que há três metodologias para a construção de
barragens de rejeitos, a saber: método de alteamento a jusante, método de altea-
mento a montante e método de alteamento da linha de centro.
Tais métodos se referem à mudança na orientação dos alteamentos construídos
acima do dique de partida.
De acordo com Cardozo, Pimenta e Zingano (2016), estas são as principais ca-
racterísticas e diferenças entres os três métodos:
a. Alteamento a jusante: Os alteamentos são sempre alinhados a jusan-
te, isto é, no sentido do curso de água, apoiando-se sobre o dique de partida;
b. Alteamento da linha de centro: O alinhamento dos novos alteamentos
segue a linha de centro do dique de partida, com apoio da barragem à jusante;
c. Alteamento a montante: O alinhamento dos novos alteamentos é
sempre a montante, isto é, na direção de onde o curso de água viria, se apoian-
do em parte sobre o dique de partida, em parte sobre os próprios rejeitos.
A figura abaixo, ilustra os três diferentes métodos de alteamento.
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Conforme a lama mole era submetida a cargas, ela se comprimia. Ao mesmo tempo, ela
também sofria deformação lateral, espremendo para fora como uma pasta de dentes
saindo de um tubo, um processo conhecido como extrusão lateral. As areias imediata-
mente acima, forçadas a se acomodar a este movimento, experimentaram uma redução
na tensão horizontal confinante. Isto permitiu que as areias, na realidade, ficassem sepa-
radas, e, no processo, mais fofas (MORGENSTERN et al, 2016, p.3).
Por volta das 15h45min, do dia 05 de novembro de 2015, a BRF rompeu, provo-
cando a libertação de mais de 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos. “Sua crista
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tinha alcançado a elevação 900 m, resultando em uma barragem com altura igual a
110 m” (MORGENSTERN et al, 2016).
Tanto o relatório de análise de acidente relativo ao rompimento da BRF, elabo-
rado pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (BRASIL, 2016), quanto o rela-
tório de causas imediatas da ruptura da BRF elaborado pelo Comitê de Especialistas
(MORGENSTERN et al, 2016) corroboram o entendimento de Rasmussen (1997) de
que acidentes complexos como o rompimento da BRF não decorrem de um único
ato, mas de uma sucessão de causas que geram condições propícias para um gati-
lho causar o acidente.
No caso específico do rompimento da BRF, ambos os relatórios (MORGENS-
TERN et al, 2016; BRASIL, 2016) concluíram que ocorreu uma ruptura por liquefa-
ção.
Morgenstern et al (2016), no apêndice K de seu relatório, tomando por base a
evidência de que a ruptura se deu liquefação, analisaram os mecanismos possíveis
para que tal evento ocorresse. Essa análise pretendia conciliar os relatos das teste-
munhas com os dados colhidos, mediante teste de hipóteses e simulações em labo-
ratório.
Descobriu-se então que o mecanismo que desencadeou a ruptura foi o de lique-
fação estática (a outra opção era liquefação cíclica), devido às seguintes condições:
saturação da areia, expansão da praia de rejeitos e depósito de lamas, recuo do ali-
nhamento da ombreira esquerda e aumento da altura do recuo.
Além das condições acima, havia necessidade de um gatilho que causasse a
ruptura. Morgenstern et al (2016) concluíram que o gatilho foi o aumento da carga
estática, devido, principalmente, à extrusão lateral por deformação. Nas palavras do
próprio relatório:
quanto a extrusão lateral podem ter sido afetados de alguma forma pelos abalos
sísmicos ocorridos no dia. Ressalte-se, contudo, que tanto Morgenstern et al (2016)
quanto Brasil (2016) afirmam que não é de se esperar que abalos ou detonações da
magnitude registrada no dia do colapso ponham em risco a estrutura de barragens
sãs. Isso indica que a estrutura já estava fragilizada e em vias de sofrer o colapso.
28
5.1 Resultado
De acordo com Morgenstern et al (2016), para que ocorresse a ruptura por desli-
zamento fluido descrita acima eram necessárias estas três condições: saturação da
areia; rejeitos arenosos contráteis, não compactados e fofos; um mecanismo de gati-
lho, no caso o aumento da carga estática por um processo de extrusão por deforma-
ção lateral que pode ter sido apoiado, de forma complementar por cisalhamento não
drenado.
29
Fonte: o autor
33
6 Recomendações
O colapso da BRF nos revela “falhas nos processos de gestão da empresa, li-
cenciamento, fiscalização, monitorização e do sistema de emergência, que foram
incapazes de garantir a segurança da barragem, da própria empresa e das popula-
ções afetadas” (FARIA e BOTELHO, 2018). Não houve apenas erros na operação,
mas o próprio órgãos licenciador também foi conivente com o ocorrido, tendo sido
alertado dos riscos, mas mantendo a licença de operação (DIAZ, 2018).
Recomendação 4: Congresso Nacional incluir um parágrafo 6º no artigo 14 da
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 – Política Nacional do Meio Ambiente:
A reparação dos danos ambientais com a maior brevidade possível, pois o Poder
Público exigirá com maior empenho a atuação do poluidor direto para que não seja
executado; bem como haverá maior cautela nas ações praticadas pelos agentes
públicos, principalmente quanto às comissivas, face o risco de responder na sua
pessoa física através da ação de regresso. (DIAZ, 2018, p. 110)
7 Considerações Finais
Referências bibliográficas
GIL, Antônio Carlos. Como classificar pesquisas. In: _____ Como elaborar projetos
de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas SA, 2002. cap. 4, p. 41-57. Disponível
em: < http://www.madani.adv.br/aula/Frederico/GIL.pdf >. Acesso em: 07 jun. 2019.