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Pedro Carlos Bitencourt Marcondes - Servidor Público - Teoria e Prática - 2016 (Materialcursoseconcursos - Blogspot.com - BR) PDF
Pedro Carlos Bitencourt Marcondes - Servidor Público - Teoria e Prática - 2016 (Materialcursoseconcursos - Blogspot.com - BR) PDF
Teoria e Prática
Pedro Carlos Bitencourt Marcondes nasceu
em Caçapava/SP e é Desembargador do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
desde 2006, tendo assumido a Presidência da
Casa para o biênio 2014-2016 e a Presidência
do Conselho dos Tribunais de Justiça do Brasil
O presente trabalho é fruto da experiência amealhada pelo para o biênio 2016-2018. Mestre em Direito
autor ao longo de mais de vinte anos como magistrado e Público pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e professor universitário
Servidor Público
professor universitário, em especial, na área de Direito Público.
Servidor Público
do Centro Universitário de Belo Horizonte
A obra em comento propõe-se a apresentar, sob aspectos (UNI-BH), atualmente licenciado, atuou
práticos e teóricos, o regime jurídico dos servidores públicos, como Promotor de Justiça e Juiz de Direito
os contornos constitucionais e as conotações decorrentes do
vínculo estabelecido entre tais pessoas e o Poder Público. Teoria e Prática em diversas comarcas de Minas Gerais. É,
ainda, professor orientador nas áreas de
Destina-se especialmente a graduandos em Direito, profis Direito Público, Direito Constitucional e
sionais que atuam nas áreas afins ao Direito Público, em Direito Administrativo da Escola Judicial
especial, ao Direito Administrativo. Desembargador Edésio Fernandes, do TJMG.
ADMINISTRATIVO
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DIREITO
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SERVIDOR PÚBLICO
TEORIA E PRÁTICA
Belo Horizonte
2016
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.
Conselho Editorial
325 p.
ISBN 978-85-450-0120-1
CDD: 341.3
CDU: 342.9
Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
MARCONDES, Pedro Carlos Bitencourt. Servidor Público: teoria e prática. Belo Horizonte: Fórum,
2016. 325p. ISBN 978-85-450-0120-1
CAPÍTULO 1
SERVIDORES PÚBLICOS................................................................................. 13
1.1 Introdução.............................................................................................. 13
1.2 Conceito.................................................................................................. 13
1.3 Militares: servidores públicos?............................................................ 17
CAPÍTULO 2
INVESTIDURA..................................................................................................... 25
2.1 Princípio da ampla acessibilidade aos cargos, empregos
e funções públicas................................................................................. 25
2.2 Concurso público.................................................................................. 26
2.2.1 Critérios de seleção............................................................................... 27
2.2.2 Prazo de validade e nomeação............................................................ 31
2.2.3 Reserva de vagas................................................................................... 37
2.3 Provimento dos cargos públicos......................................................... 41
2.3.1 Provimento de cargos e obrigatoriedade do concurso público...... 44
2.4 Efetividade e estabilidade.................................................................... 47
2.5 Vitaliciedade.......................................................................................... 57
CAPÍTULO 3
CARGOS EM COMISSÃO E FUNÇÕES DE CONFIANÇA................. 59
3.1 Cargo em comissão............................................................................... 59
3.2 Função de confiança (função comissionada/gratificada)................. 61
3.3 Regime jurídico...................................................................................... 61
3.4 A Súmula Vinculante nº 13, do Supremo Tribunal Federal, e o
nepotismo no serviço público.............................................................. 65
CAPÍTULO 4
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE
PÚBLICO................................................................................................................ 71
4.1 Noções..................................................................................................... 71
4.2 Requisitos............................................................................................... 78
4.3 Regime jurídico...................................................................................... 78
CAPÍTULO 5
SISTEMA REMUNERATÓRIO....................................................................... 97
5.1 Conceitos ............................................................................................... 97
5.2 Irredutibilidade.................................................................................. 100
5.3 Isonomia............................................................................................... 101
5.4 Forma de fixação................................................................................. 102
5.4.1 Revisão geral........................................................................................ 104
5.5 Vedação ao efeito cascata................................................................... 105
5.6 Teto remuneratório............................................................................. 107
CAPÍTULO 6
ACUMULAÇÃO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES............... 121
6.1 Da regra da inacumulabilidade......................................................... 121
6.2 Hipóteses permissivas........................................................................ 122
6.3 Acumulação de proventos e vencimentos....................................... 128
6.4 Efeitos da acumulação ilícita ............................................................ 136
CAPÍTULO 7
SEGURIDADE SOCIAL E REGIME PREVIDENCIÁRIO.................... 143
7.1 Seguridade social: saúde, previdência e assistência social .......... 143
7.2 Assistência à saúde ............................................................................ 144
7.3 Previdência .......................................................................................... 145
7.3.1 Regime próprio dos servidores públicos ........................................ 147
7.3.2 Aposentadoria..................................................................................... 159
7.3.2.1 Modalidades de aposentadoria ........................................................ 160
7.3.2.2 Forma de cálculo e reajuste dos proventos ..................................... 169
7.3.2.3 Regras de transição ............................................................................ 170
7.3.3 Previdência Complementar............................................................... 172
7.3.4 Pensão................................................................................................... 177
CAPÍTULO 8
ASSOCIAÇÃO SINDICAL E DIREITO DE GREVE.............................. 183
8.1 Associação sindical............................................................................. 183
8.2 Direito de greve................................................................................... 186
CAPÍTULO 10
RESPONSABILIDADES.................................................................................. 223
10.1 Responsabilidade civil e administrativa.......................................... 224
10.2 Responsabilidade penal...................................................................... 227
CAPÍTULO 11
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR DO SERVIDOR
PÚBLICO.............................................................................................................. 231
11.1 Princípios: poderes e limitações........................................................ 231
11.1.1 Princípio da legalidade....................................................................... 232
11.1.2 Princípio da oficialidade.................................................................... 233
11.1.3 Princípio da segurança jurídica......................................................... 233
11.1.4 Princípio da boa-fé.............................................................................. 235
11.1.5 Princípio da autotutela....................................................................... 236
11.1.6 Princípio do devido processo legal................................................... 237
11.1.7 Autoexecutoriedade............................................................................ 239
11.2 Conceito................................................................................................ 241
11.3 Sindicância/inquérito administrativo............................................... 244
11.4 Processo administrativo propriamente dito.................................... 246
11.5 Penalidades: Lei nº 8.112/90 e Lei nº 869/52..................................... 248
11.5.1 Cassação da aposentadoria................................................................ 254
11.6 Revisão do processo............................................................................ 256
11.7 Prazo prescricional.............................................................................. 259
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 323
SERVIDORES PÚBLICOS
1.1 Introdução
A Constituição da República, ao disciplinar as normas aplicáveis
às diversas categorias de pessoas que laboram para o Estado, se utiliza,
de forma ampla, da expressão “servidor público”.1 Assim, para o estudo
do tema, importante esclarecer alguns aspectos básicos, pois o texto
constitucional, em diversas passagens, traz expressões como “servidores
ocupantes de cargo efetivo”, “empregados públicos”, “ocupantes de
cargo em comissão”, entre outros.
Dessa forma, a distinção e a conceituação desse diversos agentes
que, de alguma forma, expressam a vontade da Administração,
mostram-se relevantes para que seja realizado exame detido das normas
aplicáveis aos servidores públicos propriamente ditos.
1.2 Conceito
Na Constituição da República, notadamente nos arts. 37 a 41,
encontram-se insertas normas (princípios e regras) sobre os “servidores
públicos”, e desses dispositivos se conclui que nem todos aqueles que
servem como expressão da vontade do Estado podem ser considerados
1
A Seção II do Capítulo que trata da Administração Pública se intitula “DOS SERVIDORES
PUBLICOS”.
2
Celso Antônio Bandeira de Mello vale-se da expressão agente público “para designar genérica
e indistintamente os sujeitos que servem ao Poder Público como instrumentos expressivos
de sua vontade ou ação, ainda quanto o façam apenas ocasional ou episodicamente. Quem
quer que desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público. Por
isto, a noção abarca tanto o Chefe do Poder Executivo (em quaisquer das esferas) como
os senadores, deputados e vereadores, os ocupantes de cargos ou empregos públicos
da Administração Direta dos três Poderes, os servidores das autarquias, das fundações
governamentais, das empresas publicas e sociedades de economia mista nas distintas
órbitas de governo, os concessionários e permissionários de serviço público, os delegados
de função ou ofício público, os requisitados, os contratados sob locação civil de serviços
e os gestores dos negócios públicos” (In: Curso de Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014. p. 248-249).
3
A separação entre cargo efetivo e em comissão se dá mais para fins didáticos, pois ambos
são espécies do gênero cargo público e o vínculo jurídico entre o ocupante desses cargos
com o Poder Público é institucional.
4
EC nº 19/98 deu nova redação ao artigo 39 da Constituição da República, extinguindo
a obrigatoriedade do chamado regime jurídico único dos servidores da União, Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios, passando a dispor que os mencionados entes
deveriam instituir um Conselho de Política de Administração e Remuneração de Pessoal.
Todavia, referido dispositivo fora suspenso, liminarmente, pelo Supremo Tribunal
Federal, no bojo da MC na ADI nº 2.135/DF (ainda sem decisão definitiva), ao fundamento
de existência de vício formal, uma vez que a matéria, objeto de destaque na Câmara
dos Deputados, não teria sido aprovada, em primeiro turno, com o quórum necessário
naquela Casa Legislativa. Referida decisão fora modulada, com efeitos ex nunc, a fim de se
resguardar a “validade de atos praticados com base em legislações eventualmente editadas
durante a vigência do dispositivo ora suspenso” (ADI nº 2.135 MC, Rel. originário Min.
Néri da Silveira, Rela. p/ Acórdão Min. Ellen Gracie (art. 38, IV, “b”, do RISTF), Tribunal
Pleno, j. em 02.08.2007, DJ, 07 mar. 2008).
5
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, “agentes políticos são os titulares dos cargos estru-
turais a organização política do país, ou seja, ocupantes dos que integram o arcabouço cons-
titucional do Estado, o esquema fundamental do Poder. Daí que se constituem formadores
da vontade superior do Estado. [...] O vínculo que tais agentes entretêm com o Estado não é
de natureza profissional, mas de natureza política. Exercem um munus público. Vale dizer, o que
os qualifica para o exercício das correspondentes funções não é a habilitação profissional,
a aptidão técnica, mas a qualidade de cidadãos, membros da civitas e, por isto, candidatos
possíveis à condução dos destinos da Sociedade. A relação jurídica que os vincula ao Estado
é de natureza institucional, estatutária. Seus direitos e deveres não advêm de contrato trava-
do com o Poder Público, mas descendem diretamente da Constituição e das leis. Donde, são
por elas modificáveis, sem que caiba procedente oposição às alterações supervenientes, sub
color de que vigoravam condições diversas ao tempo das respectivas investiduras” (In: Curso
de Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 251-252). Na mesma linha,
anota Oswaldo Aranha Bandeira de Mello: “são aqueles que agem em nome e por conta do
Estado, como titulares do direito de participação ativa na vida deste, para cujo exercício são
chamados. Por conseguinte, ligados ao Estado por relação de representação. Incumbe-lhes
propor, estabelecer ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos, enfim, focalizar os
princípios diretores e coordenadores da sua atividade. Os seus direitos e obrigações de-
correm da sua posição de cidadão. São agentes políticos, destarte. Condutores dos seus
destinos e responsáveis pelo seu governo” (Teoria dos servidores públicos. RDP, São Paulo,
n. 1, p. 44, set. 1967). Hely Lopes Meirelles igualmente adota a expressão ao se referir a tais
pessoas públicas, trazendo, contudo, uma conceituação ainda mais abrangente, incluindo
os membros do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais de Contas, os re-
presentantes diplomáticos “e demais autoridades que atuem com independência funcional
no desempenho de atribuições governamentais, judiciais ou quase-judiciais, estranhas ao
quadro do serviço público” (cf. Direito Administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 80). Cármen Lúcia Antunes Rocha adota uma posição intermediária, segundo a
qual “integram eles a estrutura constitucional do Estado em sua composição orgânica supe-
rior e a eles correspondem o desempenho daquelas funções segundo os ditames do sistema
jurídico fundamental.” E completa: “pelo que se contém no texto normativo fundamental
ora em vigor, os membros de Poder são considerados agentes políticos, mas nem todos os
agentes políticos estão inseridos naquele universo” (Princípios constitucionais dos servidores
públicos. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 63-78). Por sua vez, Maria Sylvia Zanella Di Pietro,
no que acompanhada por Diogenes Gasparini (In: Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008. p. 156), alinha-se ao conceito de Celso Antônio Bandeira de Mello, na medida
em que “a ideia de agente político liga-se indissociavelmente, à de governo e à de função
política, a primeira dando ideia de órgão (aspecto subjetivo) e, a segunda, de atividade (as-
pecto objetivo)” (In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo, 2015. p. 655). Dessa forma, não
haveria sentido em se incluir, em tal categoria, as pessoas elencadas por Meirelles.
6
Esses agentes, mesmo não sendo servidores públicos, praticam atos estatais, passíveis
de controle não só por via do mandado de segurança, como também podem implicar
responsabilização por ato de improbidade administrativa (art. 1º, da Lei nº 8.429/92) ou
ilícito penal (art. 327, do CP). Acerca do tema, conferir o Capítulo III desta obra.
7
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 871-872.
8
“Segundo a teria do órgão [...] a vontade estatal é formada e manifestada por meio da atu-
ação de pessoas físicas. Essas pessoas físicas não são, no rigor técnico, representantes do
Estado – mesmo que, na terminologia usual, haja referência à condição de representante.
[...] O instituto da representação não se aplica aos agentes públicos, porque isso produzi-
ria um problema invencível. Se o agente público fosse um representante do Estado, isso
significaria a existência de dois pólos jurídicos distintos. Haveria o Estado-representado e
o sujeito-representante, o que colocaria o problema de identificar a vontade estatal repre-
sentada. O ponto fundamental reside em que o direito atribuiu os atos materiais do agente
à pessoa jurídica. Portanto, há uma única atuação jurídica, no sentido de que o Estado
produz atos jurídicos por meio de uma pessoa física, que forma e exterioriza parta fins
jurídicos a vontade estatal” (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 9. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 871-872).
9
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à de-
fesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem. [...] §3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições.
10
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais dos servidores públicos. São Paulo:
Saraiva, 1999. p. 85.
11
É esse o posicionamento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (In: Direito Administrativo. 28.
ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 661). Também nesse sentido, Diogenes Gasparini afirma que
os militares “são, na atual sistematização constitucional, uma espécie de agente público:
agente público militar ou, simplesmente, agente militar. Sua organização e regime
jurídico diferem em muito da organização e regime dos servidores públicos” (In: Direito
Administrativo. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 253).
12
Marçal Justen Filho aduz que “a Constituição deixou de enquadrar os militares na categoria
de servidor público. Isso não significa, obviamente, que os militares não se configurem
como agentes estatais. A vontade constitucional orienta-se a impedir a extensão automática
aos militares do regime jurídico próprio dos agentes não políticos civis. Ressalte-se que nem
haveria impedimento à utilização da expressão servidor, a propósito dos militares. [...]” (In:
Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 893).
13
José Afonso da Silva, em sua obra Curso de Direito Constitucional Positivo, aduz que “a
intenção confessada foi a de tirar dos militares o conceito de servidores públicos que a
Constituição lhes dava”, e prossegue afirmando que “ontologicamente, porém, nada
mudou porque os militares são, sim, servidores públicos em sentido amplo como eram
considerados na regra constitucional reformada” (In: Curso de direito constitucional positivo.
35. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 704).
14
José Afonso da Silva assevera, ainda, que: “aqui cabe-nos a tarefa de examinar a organização
dos agentes administrativos, que se repartem em dois grandes grupos: (1) os servidores
públicos; [...] (2) os militares [...]. A EC-18/98 eliminou a terminologia servidores civis e
servidores militares, o que, a rigor, não muda nada, porque a distinção está subentendida,
já que militares também são servidores públicos” (In: Curso de Direito Constitucional Positivo.
35. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 680). No mesmo sentido, José dos Santos Carvalho
Filho defende que os militares são servidores públicos lato sensu (In: Manual de Direito
Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 600).
15
Art. 42. São servidores militares federais os integrantes das Forças Armadas e servidores
militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal os integrantes de suas polícias militares
e de seus corpos de bombeiros militares.
16
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia
e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem. [...] §3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
17
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] XVI - é
vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibi-
lidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: [...] c) a de dois
cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.
18
Nesse sentido, veja-se a ementa do acórdão: Recurso em Mandado de Segurança.
Administrativo. Servidor público estadual. Enfermeira da Polícia Militar do Estado do
Rio de Janeiro. Cumulação com o cargo de enfermeira no Município do Rio de Janeiro.
Possibilidade. Interpretação sistemática dos artigos 37, inciso XVI, “c”, com o artigo 42,
§1º, e 142, §3º, II, todos da Constituição Federal. 1. Diante da interpretação sistemática dos
artigos 37, inciso XVI, alínea “c”, com o artigo 142, §3º, inciso I, da Constituição de 1988, é
possível a acumulação de dois cargos privativos na área de saúde, no âmbito das esferas
cível e militar, desde que o servidor público não desempenhe as funções tipicamente
exigidas para a atividade castrense, e sim atribuições inerentes a profissões de civis. 2.
Recurso conhecido e provido. (STJ. RMS nº 22.765/RJ, Rela. Mina. Maria Thereza de Assis
Moura, Sexta Turma, j. 03-08-2010, DJe, 23 ago. 2010).
19
A controvérsia se resume à interpretação do artigo 17, §2º, do ADCT, o qual dispõe: “é
assegurado o exercício cumulativo de dois cargos ou empregos privativos de profissionais
de saúde que estejam sendo exercidos na administração pública direta ou indireta.” O
artigo amplia o benefício da acumulação de cargos, não o restringindo aos profissionais
da saúde militares ou civis, mas abrangendo-os, antecipando a alteração do artigo 37, XVI,
“c”, promovida pela Emenda Constitucional nº 34, de 13 de dezembro de 2001. (STF. RE nº
182.811, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, j. 30.05.2006, DJ, 30 jun. 2006).
20
Sobre o entendimento do Supremo Tribunal Federal, há de se ressaltar o posicionamento
contrário, capitaneado pela Ministra Ellen Gracie, de que a interpretação dos dispositivos
levaria à conclusão de que a autorização para acumulação de cargo estaria vinculada
apenas ao cargo de médico, a teor do artigo 17, §1º, do ADCT.
21
Trata-se de parcela remuneratória única, de caráter alimentar, paga pelo Estado em
virtude dos serviços prestados, devendo ser respeitado o disposto no art. 37, X e XI, que
diz respeito à necessidade de lei específica para a fixação ou majoração dos subsídios
e respeito ao teto remuneratório máximo. Cabe esclarecer que, embora a intenção do
constituinte tenha sido estabelecer parcela única, algumas parcelas, tais como o décimo
terceiro salário e o adicional de horas extras, bem como as indenizações, como as ajudas de
custo, por não configurarem remuneração, podem ser pagas também aos agentes públicos
que percebem subsídios.
22
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 35. ed. São Paulo: Malheiros,
2012. p. 704.
23
“Administrativo. Recurso ordinário em Mandado de Segurança. Servidor público militar
da reserva remunerada Lei Federal n. 6.880/80. Lei Complementar Estadual n. 53/90.
Proventos do posto imediatamente superior. Impossibilidade. 1. O Superior Tribunal
de Justiça tem entendimento no sentido de que a Lei Complementar estadual n. 53/90
não pode estabelecer condições que não se ajustem à legislação federal, sendo vedada,
assim, a promoção de militar, quando da sua transferência para a reserva, para que receba
proventos referentes ao grau imediatamente superior. Precedentes. 2. Agravo regimental
não provido” (STJ. AgRg no RMS nº 26.772/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, j. em 19.08.2014, DJe, 02 set. 2014).
24
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia
e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem. [...] §3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: [...]
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; V - o militar, enquanto em serviço
ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
25
Art. 5º. O ingresso nas instituições militares estaduais dar-se-á por meio de concurso
público, de provas ou de provas e títulos, no posto ou graduação inicial dos quadros
previstos no §1º do art. 13 desta Lei, observados os seguintes requisitos: I - ser brasileiro; II
- possuir idoneidade moral; III - estar quite com as obrigações eleitorais e militares; IV - ter
entre 18 e 30 anos de idade na data da inclusão, salvo para os oficiais do Quadro de Saúde,
cuja idade máxima será de 35 anos; V - possuir ensino médio completo ou equivalente;
VI - ter altura mínima de 1,60m (um metro e sessenta centímetros), exceto para oficiais do
Quadro de Saúde; VII - ter aptidão física; VIII - ser aprovado em avaliação psicológica; IX
- ter sanidade física e mental; X - não apresentar, quando em uso dos diversos uniformes,
tatuagem visível que seja, por seu significado, incompatível com o exercício das atividades
de policial militar ou de bombeiro militar.
INVESTIDURA
26
Em que pese o dispositivo constitucional não se refira aos portugueses (art. 37, I, da CR),
ali eles devem ser compreendidos. Isso por força do Decreto Legislativo nº 82/71, que
trata da Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses,
posteriormente promulgado pelo Decreto nº 70.391/72.
27
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da união, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: I - os cargos,
empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
28
O princípio em tela possui caráter deontológico, na medida em que torna obrigatória a
realização do concurso.
29
Art. 37. [...] II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
31
CAETANO, Marcelo. Manual de Direito Administrativo. Lisboa: Coimbra Editora, 1973. v. II,
p. 638, apud CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed.
São Paulo: Atlas, 2014. p. 634.
32
STF. RE nº 559.823 Ag.Rg/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, j. em 27.11.2007,
DJ, 1º fev. 2008.
33
Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal, em consonância com a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, entendeu que critérios adotados por bancas examinadoras
não podem ser revistos pelo Poder Judiciário, cuja análise deve ser limitada às hipóteses
de ilegalidade e inconstitucionalidade. A decisão foi proferida no Recurso Extraordinário
37
STF. RE nº 630.733, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. em 15.05.2013, DJ, 20 nov.
2013, com repercussão geral.
38
Confira-se: Ementa: Mandado de Segurança. Conselho Nacional do Ministério Público.
Controle de legalidade de ato praticado pelo Ministério Público de Rondônia. Concurso
público. Exame psicotécnico. Previsão em lei. Critérios objetivos. Ordem denegada. I – O art.
5º, I, da Lei 12.016/2009 não configura uma condição de procedibilidade, mas tão somente
uma causa impeditiva de que se utilize simultaneamente o recurso administrativo com
efeito suspensivo e o mandamus. II – A questão da legalidade do exame psicotécnico nos
concursos públicos reveste-se de relevância jurídica e ultrapassa os interesses subjetivos
da causa. III – A exigência de exame psicotécnico, como requisito ou condição necessária
ao acesso a determinados cargos públicos, somente é possível, nos termos da Constituição
Federal, se houver lei em sentido material que expressamente o autorize, além de previsão
no edital do certame. IV – É necessário um grau mínimo de objetividade e de publicidade
dos critérios que nortearão a avaliação psicotécnica. A ausência desses requisitos torna o
ato ilegítimo, por não possibilitar o acesso à tutela jurisdicional para a verificação de lesão
de direito individual pelo uso desses critérios V - Segurança denegada (STF. MS nº 30822/
DF. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, j. em 05.06.2012, DJe, 26 jun. 2012).
39
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 633.
40
Confira-se: Administrativo. Agravo Regimental no Recurso Especial. Concurso público
para o cargo de delegado da Polícia Federal. Candidato reprovado no teste físico e que
permaneceu no certame por força de decisão judicial. Exercício do cargo há mais de 10
anos. Aplicação da teoria do fato consumado. Situação consolidada pelo decurso do
tempo. Agravo Regimental da União desprovido. 1. Segundo a orientação jurisprudencial
consolidada desta Corte Superior, não se aplica a teoria do fato consumado nas hipóteses
em que o candidato permanece no certame por força de decisão judicial concedida a título
precário; na presente demanda, contudo, em face de suas peculiaridades fáticas, deve ser
flexibilizado esse entendimento. 2. In casu, o recorrente, após ter sido reprovado no teste
físico para provimento do cargo de Delegado de Polícia Federal, teve assegurado o seu
direito de permanecer no certame por força de decisão judicial, estando no exercício do
cargo há mais de 10 anos, motivo pelo qual impõe-se reconhecer que a situação fática está
consolidada no tempo; ademais, durante o decênio de exercício funcional, não se registra
contra o Servidor qualquer deficiência operacional ou insuficiência de desempenho que
se possa atribuir àquele insucesso do passado. 3. Apesar de respeitáveis pronunciamentos
em contrário, deve-se prestigiar a conservação de situações jurídicas que o fluir irreparável
do tempo produz, inclusive pelos seus efeitos favoráveis à pacificação das relações
sociais; se essas situações permanecessem sempre modificáveis, se implantaria o reino de
42
Assim: Concurso público. Criação, por lei federal, de novos cargos durante o prazo de va-
lidade do certame. Posterior regulamentação editada pelo TSE a determinar o aproveita-
mento, para o preenchimento daqueles cargos, de aprovados em concurso que estivesse em
vigor à data da publicação da lei. A Administração, é certo, não está obrigada a prorrogar
o prazo de validade dos concursos públicos; porém, se novos cargos vêm a ser criados, du-
rante tal prazo de validade, mostra-se de todo recomendável que se proceda a essa prorro-
gação. Na hipótese de haver novas vagas, prestes a serem preenchidas, e razoável número
de aprovados em concurso ainda em vigor quando da edição da lei que criou essas novas
vagas, não são justificativas bastantes para o indeferimento da prorrogação da validade de
certame público razões de política administrativa interna do TRE que realizou o concurso
(RE nº 581.113, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, j. em 05.04.2011, DJ, 31 maio 2011).
No mesmo sentido: RE nº 779.117-AgR, Rela. Mina. Cármen Lúcia, Segunda Turma, j. em
04.02.2014, DJE, 14 fev. 2014.
43
Confira-se: “A aprovação em concurso não gera direito à nomeação, constituindo mera
expectativa de direito. Esse direito somente surgirá se for nomeado candidato não aprovado
46
STF. RE nº 598.099, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. em 10.08.2011, DJ, 03 out.
2011, com repercussão geral.
47
STF. [...] Dentro do prazo de validade do concurso, a administração poderá escolher o mo-
mento no qual se realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação,
a qual, de acordo com o edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e,
dessa forma, um dever imposto ao Poder Público. Uma vez publicado o edital do concurso
com número específico de vagas, o ato da administração que declara os candidatos aprova-
dos no certame cria um dever de nomeação para a própria administração e, portanto, um
direito à nomeação titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de vagas.
[...] O dever de boa-fé da administração pública exige o respeito incondicional às regras do
edital, inclusive quanto à previsão das vagas do concurso público. Isso igualmente decorre
de um necessário e incondicional respeito à segurança jurídica como princípio do Estado
de Direito. Tem-se, aqui, o princípio da segurança jurídica como princípio de proteção à
confiança. Quando a administração torna público um edital de concurso, convocando to-
dos os cidadãos a participarem de seleção para o preenchimento de determinadas vagas no
serviço público, ela impreterivelmente gera uma expectativa quanto ao seu comportamen-
to segundo as regras previstas nesse edital. Aqueles cidadãos que decidem se inscrever
48
Administrativo. Concurso público. Coordenador Parlamentar da Câmara Municipal.
Aprovação dentro do cadastro de reserva previsto em edital. Abertura de nova vaga
no prazo de validade do certame. Direito à nomeação. [...] 3. Esta Corte Superior adota
entendimento segundo o qual a regular aprovação em concurso público fora do número de
vagas previstas no edital confere ao candidato mera expectativa de direito à nomeação. 4.
A jurisprudência desta Corte Superior também reconhece que a classificação e aprovação
do candidato, ainda que fora do número mínimo de vagas previstas no edital do concurso,
confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivo cargo se, durante o prazo de
validade do concurso, houver o surgimento de novas vagas, seja por criação de lei ou por
força de vacância. Ressalta-se que há a aplicação de tal entendimento mesmo que não haja
previsão editalícia para o preenchimento das vagas que vierem a surgir durante o prazo
de validade do certame. Precedente: RMS 32105/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 30/08/2010. 5. No presente caso, a
candidata Márcia Farah Elias foi aprovada em 1º lugar, mas teve a sua posse indeferida
por não comprovar o lapso temporal exigido pelo edital, de 05 anos de inscrição na Ordem
dos Advogados do Brasil. Diante do ocorrido, a referida candidata impetrou mandado
de segurança para garantir a posse no cargo em questão, cuja ordem foi denegada pelo
Juiz de Primeira Instância e mantida pelo Tribunal, tendo transitado em julgado em 2012,
conforme informação de fls. 337. 6. Em razão do indeferimento da posse da 1ª colocada,
a ora recorrente, classificada em 2º lugar, também, apresentou mandado de segurança,
alegando a existência de direito subjetivo à posse no cargo de Coordenador Parlamentar,
uma vez que a única vaga prevista no edital não fora preenchida (STJ. REsp nº 1359516/SP,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, j. em 16.05.2013, DJ, 22 maio 2013).
49
Segue a ementa do julgado: Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com
Agravo. Administrativo. Concurso público. Novas vagas criadas por lei na vigência de
concurso válido. Candidato aprovado fora do número de vagas do edital. Preterição não
caracterizada. Direito subjetivo à nomeação. Inexistência. Precedentes. Necessidade do
reexame do conjunto fático-probatório. Incidência da Súmula 279/STF. 1. A preterição
do candidato em concurso público, quando aferida pelas instâncias ordinárias, não
pode ser revista pela E. Suprema Corte, em face da incidência da Súmula 279/STF que
dispõe, verbis: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”. 2. O
recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento
do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se à análise da violação direta da
ordem constitucional. 3. A jurisprudência do STF já firmou entendimento no sentido de
que tem direito subjetivo à nomeação o candidato aprovado dentro das vagas previstas
no edital do concurso público a que se submeteu. Nestes casos, a Administração tem
um dever de nomeação, salvo situações excepcionalíssimas plenamente justificadas.
Contudo, a criação de novas vagas durante o prazo de validade de concurso não gera,
automaticamente, direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas do edital,
salvo se comprovados arbítrios ou preterições. Precedentes. [...] (STF. ARE nº 757978 AgR/
MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 25.02.2014, DJ, 07 abr. 2014).
50
Ementa: Recurso Extraordinário. Administrativo. Controvérsia sobre o direito subjetivo
à nomeação de candidatos aprovados fora do número de vagas previstas no edital de
concurso público no caso de surgimento de novas vagas durante o prazo de validade do
certame. Tema 784. Repercussão geral reconhecida (STF. RE nº 837.311 RG/PI, Rel. Min.
Luiz Fux. j. em 20.11.2014, DJ, 02 dez. 2014).
51
STJ: Administrativo e Processual Civil. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Espe-
cial. Dissídio jurisprudencial não demonstrado. Súmula 284/STF. Candidata aprovada
fora do número de vagas previsto no edital do certame. Comprovação de ocorrência de
contratação temporária dentro do prazo de validade do concurso. Preterição. Direito sub-
jetivo à nomeação. Acórdão recorrido no mesmo sentido da jurisprudência deste Tribunal.
Agravo Regimental do Estado da Paraíba desprovido. [...] 3. A mera expectativa de direito
se transforma em direito subjetivo à nomeação para os candidatos aprovados fora do nú-
mero de vagas previsto no edital do concurso público nas seguintes hipóteses: (a) viola-
ção da ordem de classificação dos candidatos nomeados, em desfavor do requerente; (b)
contratação de outra(s) pessoa(s) de forma precária para esta(s) vaga(s), ainda na vigência
deste concurso público; e (c) abertura de novo certame ainda na vigência do anterior. 4.
In casu, as instâncias de origem reconheceram o direito subjetivo da agravada à nomea-
ção em razão da comprovação de que, durante o prazo de validade do concurso, houve
a contratação temporária em preterição aos candidatos aprovados em concurso público.
[...] (STJ. AgRg no AREsp nº 432.638/PB, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, j. 16.06.2014, DJ, 04 ago. 2014).
52
Decreto nº 3.298/99: Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de
se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos,
para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é
portador. §1º. O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de
condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco
por cento em face da classificação obtida. §2º. Caso a aplicação do percentual de que trata
o parágrafo anterior resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro
número inteiro subseqüente.
53
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios Constitucionais dos Servidores Públicos. São
Paulo: Saraiva, 1999. p. 212-213.
54
STF. RMS nº 32.732 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, j. em 03.06.2014, DJ, 1º
ago. 2014.
55
Transcreve-se a ementa do julgado: Ementa: Administrativo. Concurso público. Ilegiti-
midade passiva da entidade responsável pela execução do certame. Aprovação em vaga
destinada a portador de deficiência. Agente de Guarda Municipal. Direito do candidato
portador de deficiência de participar de todas as fases do certame. Eliminação sumária.
Impossibilidade. STF. Precedentes. Recurso de apelação provido. 1. A Fundação Guima-
rães Rosa é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da presente demanda, pois a enti-
dade é responsável pela mera execução do concurso, realizando apenas atos de natureza
material. 2. A Constituição de 1988 obriga à reserva de vagas em concursos públicos aos
portadores de deficiência, conforme art. 37, VIII. Ação afirmativa que visa à inserção e
integração do portador de deficiência à sociedade. Tratamento diferenciado na busca pela
isonomia material. 3. O candidato portador de deficiência possui direito de participar
de todas as fases do certame, não se admitindo sua eliminação sumária por suposição
de que sua deficiência é incompatível com as funções exigidas para o cargo. STF. Pre-
cedente. 5. Recurso de apelação provido para declarar o direito do apelante a realizar o
exame físico necessário para aprovação no cargo de guarda municipal (TJMG. AC/RN
nº 1.0372.08.034873-6/001, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cível, j. em
13.02.2014, DJe, 24 fev. 2014).
56
STF. ADPF nº 186/DF. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 26.04.2012,
DJe, 20 out. 2014.
57
O Paraná aprovou, em 2003, a Lei nº 14.274, reservando 10% (dez por cento) das vagas
oferecidas nos concursos púbicos aos afrodescendentes. No estado do Mato Grosso do Sul
vigoram, desde 2008, a Lei nº 3.594 (negros), e, desde 2010, a Lei nº 3.994 (índios), ambas
regulamentadas pelo Decreto nº 13.141/11, com reservas de 10% (dez por cento) e 3% (três
por cento), respectivamente. No Rio de Janeiro, foram aprovadas as Leis nºs 6.067/11 e
6.740/14, estabelecendo que 20% (vinte por cento) das vagas devem ser reservadas aos
negros e índios.
58
TJRJ. ADI nº 0025273-88.2014.8.19.0000, Rel. Des. Marco Antonio Ibrahim, Órgão Especial,
j. em 13.10.2014, DJ, 04 fev. 2015.
59
TJRJ. ADI nº 0059568-59.2011.8.19.000, Rel. Des. Sidney Hartung, Órgão Especial, j. em
23.09.2013, DJ, 24 out. 2013.
60
Lei nº. 12.990/2014, art. 1º. Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União, na forma
desta Lei. [...] Art. 3º. Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas
reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação
no concurso. [...]
61
Art. 9º. A nomeação far-se-á: I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de
provimento efetivo ou de carreira; II - em comissão, inclusive na condição de interino, para
cargos de confiança vagos. [...] Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado
de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso público de provas ou
de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade.
62
Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades
compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental
verificada em inspeção médica.
63
Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado: I - por invalidez, quando
junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou II - no
interesse da administração, desde que: a) tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria
tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a aposentadoria tenha ocorrido
nos cinco anos anteriores à solicitação; e) haja cargo vago.
64
Nesse ponto, Carvalho Filho, ao comentar sobre a possibilidade inserida na Lei Federal,
destaca: “Em nosso entendimento, tais normas são flagrantemente inconstitucionais.
Como já se enfatizou, a aposentadoria extingue a relação estatutária e acarreta a vacância
do respectivo cargo, não se podendo admitir a ressurreição da reação jurídica devidamente
sepultada. Por outro lado, esse tipo de reversão rende ensejo a que o servidor, depois de
abandonar o serviço público, resolva simplesmente desistir de sua inatividade e voltar ao
mesmo cargo, deixando sempre fluido e instável o quadro funcional. Não se pode esquecer,
ainda, que reingresso dessa natureza ofende frontalmente o princípio da acessibilidade
aos cargos mediante prévia aprovação em concurso público, expressamente abolido no
art. 37, II, da vigente Constituição, e isso porque inaugura nova relação estatutária, diversa
daquela que se extinguiu pela aposentadoria. O fundamento, aliás, é o mesmo adotado
pelo STF para os casos de transferência ascensão funcional, institutos que, também aceitos
anteriormente, como o era a reversão por interesse administrativo, foram banidos do atual
sistema por vulneração ao aludido postulado” (In: Manual de Direito Administrativo. 27. ed.
São Paulo: Atlas, 2014. p. 627).
65
Segue a ementa do julgado: Ementa: Constitucional. Magistrado. Permuta. Readmissão.
Lei 12.342, de 1994, do Estado do Ceará, artigos 201 e 204. C.F., art. 93, I. LOMAN, art.
78. I. - Permuta de cargos por magistrados: Lei 12.342/94, do Estado do Ceará, art. 201:
constitucionalidade. II. - Readmissão de magistrado exonerado: Lei 12.342/94, do Estado
do Ceará, art. 204: inconstitucionalidade. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente, relativamente ao art. 204 e improcedente quanto ao artigo 201, ambos da Lei
12.342/94, do Estado do Ceará (STF. ADI nº 2.983/CE, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal
Pleno, j. em 23.02.2005, DJ, 15 abr. 2005).
66
Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibilidade far-se-á mediante
aproveitamento obrigatório em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o
anteriormente ocupado.
67
Lei nº 8.112/90, art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de: [...] VIII – posse em outro
cargo inacumulável;
68
Art. 41, §2º. Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele
reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem,
sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com
remuneração proporcional ao tempo de serviço.
69
Art. 41, §2º, CR/88, e art. 28 e §§, da Lei nº 8.112/90.
70
Lei nº 869/52, art. 12: Os cargos públicos são providos por: I - Nomeação; II - Promoção;
III - Transferência; IV - Reintegração; V - Readmissão; VI - Reversão; VII - Aproveitamento.
71
Assim dispunha o art. 97: Os cargos públicos serão acessíveis a todos os brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei. §1º. A primeira investidura em cargo público
dependerá de aprovação prévia, em concurso público de provas ou de provas e títulos,
salvo os casos indicados em lei.
72
Conforme relatado por Dallari em sua obra Regime Constitucional dos Servidores Públicos. 2.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992. p. 35.
73
Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade. Ascensão ou acesso, transferência e apro-
veitamento no tocante a cargos ou empregos públicos. - o critério do mérito aferível por
74
Sentença proferida na qualidade de Juiz Titular da 2ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias
da comarca de Belo Horizonte, Processo nº 0024.04.292968-7, publicada em 08.05.2004.
75
STF. ADI nº 917, Rel. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. em 06.11.2013, DJe, 30
out. 2014.
76
A Carta Mineira trata da matéria no art. 35, com redação dada pelo art. 10 da ECE nº 49/01.
77
Registra, ainda, Hely Lopes Meirelles, que há casos em que determinado servidor pode
ocupar, temporariamente, cargo de provimento efetivo, tal como ocorre em substituições;
todavia, por lhes faltarem os requisitos essenciais da prévia aprovação em concurso público
80
Art. 28. É assegurado o prazo de dois anos de efetivo exercício para aquisição da
estabilidade aos atuais servidores em estágio probatório, sem prejuízo da avaliação a que
se refere o §4º do art. 41 da Constituição Federal.
81
Previsão análoga se encontra contida no art. 104 do ADCT da Constituição do Estado de
Minas Gerais.
82
Anota José Afonso da Silva que, antes do advento da EC nº 19/98, a garantia da
estabilidade se estendia a qualquer servidor aprovado em concurso público, ou seja, não
só ao estatutário, mas também o celetista (In: Curso de Direito Constitucional Positivo. 35.
ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 699). Em sentido contrário, Maria Sylvia Zanella Di
Pietro critica veementemente enunciado do Superior Tribunal do Trabalho a respeito
da matéria: “Não tem qualquer sentido a Súmula 390, I, do TST, quando estabelece
que ‘O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou fundacional
é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988’; esse entendimento já era
difícil de ser aceito na redação original do artigo 41 da Constituição, mas chegou a ser
adotado pelo STF, antes da Emenda Constitucional nº 19/98. Porém, a partir Emenda nº
19, que só assegura estabilidade ao servidor nomeado para cargo de provimento efetivo,
não mais se justifica a outorga de estabilidade ao servidor celetista, que é contratado (e
não nomeado) para emprego (e não cargo). A distinção entre cargo e emprego resulta
claramente da Constituição, especialmente do artigo 37, I, II e VIII, e também do respectivo
regime previdenciário. Os ocupantes de emprego são beneficiados com os direitos sociais
previstos no artigo 7º (proteção contra despedida arbitrária, seguro-desemprego, fundo de
garantia), não assegurados aos servidores estatutários; e o próprio regime previdenciário
é diverso, consoante decorre do artigo 40, §13 da Constituição. A Súmula 390, I, do TST
iguala situações que, pela Constituição, são submetidas a regimes jurídicos diferenciados”
(In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 732). A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, mesmo anteriormente à promulgação da EC nº 19/98, já
era assente no sentido de que a estabilidade é garantia apenas dos servidores públicos
detentores de cargo público. A título ilustrativo, colhem-se os seguintes julgados: Ementa:
Recurso. Extraordinário. Inadmissibilidade. Empregado de economia mista. Estabilidade
do art. 41, da Constituição da República. Inaplicabilidade. Jurisprudência assentada. Ausência
de razões novas. Decisão mantida. Agravo regimental improvido. Nega-se provimento
a agravo regimental tendente a impugnar, sem razões novas, decisão fundada em
jurisprudência assente na Corte (STF. RE nº 549.738 AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda
Turma, j. em 11.12.2007, DJ, 22 fev. 2008, g.n.); Ementa: Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos – ECT. Demissão imotivada de seus empregados. Impossibilidade. Necessidade
de motivação da dispensa. RE parcialmente provido. I - Os empregados públicos não fazem
jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao advento
da EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade
e isonomia, que regem a admissão por concurso público, a dispensa do empregado de
empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços públicos deve
ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no momento daquela
admissão, sejam também respeitados por ocasião da dispensa. III – A motivação do ato de
dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível quebra do postulado da
impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de demitir. IV - Recurso
extraordinário parcialmente provido para afastar a aplicação, ao caso, do art. 41 da CF,
exigindo-se, entretanto, a motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato
de trabalho (STF. RE nº 589.998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em
20.03.2013, DJ, 12 set. 2013, g.n.); Ementa: Embargos de Declaração no Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT. Demissão
imotivada de sua empregada. Impossibilidade. Necessidade de motivação da dispensa.
Embargos acolhidos com efeitos infringentes. I - O Plenário do Supremo Tribunal Federal,
ao julgar o mérito do RE 589.998/PI, de minha relatoria, com repercussão geral reconhecida,
firmou o entendimento no sentido de que a dispensa de empregados de empresas públicas e
sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos deve ser motivada, em obediência
aos princípios da impessoalidade e isonomia que regem a admissão por concurso público, afastando-
se, entretanto, o direito à estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal. II - Embargos
de declaração acolhidos para, atribuindo-lhes excepcionais efeitos infringentes, cassar
o acórdão embargado, dar provimento ao agravo regimental, para dar provimento ao
agravo de instrumento, para dar provimento ao recurso extraordinário, em conformidade
ao que foi decidido no julgamento do RE 589.998-RG/PI (STF. AI nº 651.512 AgR-ED, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, j. em 26.11.2013, DJ, 03 fev. 2014, g.n.).
83
Art. 41. [...] §4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação
especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
84
Para José dos Santos Carvalho Filho, “Caso a Administração não institua a comissão
ou esta retarde sua decisão para após o prazo de três anos, deverá considerar-se que o
servidor, cumprido o prazo, terá adquirido a estabilidade, mesmo sem a avaliação da
comissão. É que a norma da avaliação funcional por comissão especial foi criada em favor
da Administração, de modo que, se esta não concretiza a faculdade constitucional, deve
entender-se que tacitamente avaliou o servidor de forma positiva. O que não se pode é
prejudicar o servidor, que já cumpriu integralmente o período de estágio, pela inércia ou
ineficiência dos órgãos administrativos. Assim, para conciliar os citados dispositivos, será
necessário concluir que a avaliação do servidor pela comissão deverá encerrar-se antes de
findo o prazo necessário para a aquisição da estabilidade, para, então, se for o caso, ser
providenciado o processo de exoneração do servidor avaliado negativamente” (In: Manual
de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 677).
85
Processual Civil. Recurso ordinário em Mandado de Segurança. Embargos de Declaração
recebidos como Agravo Regimental. Inspetor da Polícia Civil. Demissão. Estágio probató-
rio. Direito líquido e certo não demonstrado. I - O §4º do art. 41 da Constituição Federal,
na redação incluída pela Emenda Constitucional n. 19/98, impõe como condição obriga-
tória para a aquisição da estabilidade “a avaliação especial de desempenho por comissão
instituída para essa finalidade”, razão pela qual não se trata de mera liberalidade da Ad-
ministração Pública, mas sim de “poder-dever”, diante de sua característica de “direito/
obrigação”, que não preclui em razão do decurso do tempo. II - A imposição constitucio-
nal, no caso, deve ser observada, ainda que em momento posterior aos prazos fixados
pelos normativos aplicáveis, não ficando a Administração dispensada de sua realização,
87
Cf. enunciados das Súmulas de nºs 346 e 473, do Supremo Tribunal Federal.
88
Súmula nº 21: “Funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem demitido
sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de sua capacidade”. Nessa linha
é o magistério de Celso Antônio Bandeira de Mello (In: Curso de direito administrativo. 31.
ed. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 295) e de José dos Santos Carvalho Filho (In: Manual de
Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 680).
89
Em sentido contrário, leciona Hely Lopes Meirelles que o servidor em estágio probatório
pode vir a ser exonerado, justificadamente, independentemente de instauração de proces-
so administrativo disciplinar, porquanto, no caso, não se trataria de punição, mas, antes,
apuração, no momento adequado pela Administração, das exigências legais para perma-
nência do servidor em seus quadros, notadamente acerca do critério da eficiência (In: Di-
reito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 508-509).
90
Ementa: Agravo Regimental no Agravo de Instrumento. Administrativo. Exoneração de
servidor público. Necessidade de observância dos princípios da ampla defesa e do contra-
ditório. Agravo Regimental ao qual se nega provimento. 1. Para a exoneração de servidor
público, ainda que em estágio probatório, é imprescindível a observância do devido pro-
cesso legal com as garantias a ele inerentes. Precedentes. 2. Impossibilidade de reexame de
provas em recurso extraordinário: incidência da Súmula 279 do Supremo Tribunal Fede-
ral” (STF. AI nº 623.854 AgR, Rela. Mina. Cármen Lúcia, Primeira Turma, j. em 25.08.2009,
DJ, 23 out. 2009); “Ementa: 1. Servidor estadual em estágio probatório: exoneração não
precedida de procedimento específico, com observância do direito à ampla defesa e ao
contraditório, como impõe a Súmula 21-STF: nulidade. 2. Nulidade da exoneração: efei-
tos. Reconhecida a nulidade da exoneração deve o servidor retornar à situação em que se
encontrava antes do ato questionado, inclusive no que se refere ao tempo faltante para a
complementação e avaliação regular do estágio probatório, fazendo jus ao pagamento da
remuneração como se houvesse continuado no exercício do cargo; ressalva de entendi-
mento pessoal do relator manifestado no julgamento do RE 247.349” (STF. RE nº 222.532,
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, j. 08.08.2000, DJ, 1º set. 2000); Ementa:
Mandado de Segurança. Administrativo. Procurador do trabalho. Estágio probatório. Vi-
taliciedade. Procedimento administrativo. Princípio do contraditório e da ampla defesa.
Segurança concedida (STF. MS nº 23.441, Rela. Mina. Ellen Gracie, Rel. p/ ac. Min. Joaquim
Barbosa, Tribunal Pleno, j. em 27.11.2008, DJ, 06 nov. 2009).
91
A Lei Federal nº 9.801, de 14 de junho de 1999, norma geral, vinculante aos demais entes
da federação, estabelece regras para efetivação da dispensa dos servidores estáveis.
92
Lei Complementar nº 101/01, art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se
como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos,
os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos,
civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais
como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria,
reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais
de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às
entidades de previdência. §1º. Os valores dos contratos de terceirização de mão-de-obra
que se referem à substituição de servidores e empregados públicos serão contabilizados
como “Outras Despesas de Pessoal”. §2º. A despesa total com pessoal será apurada
somando-se a realizada no mês em referência com as dos onze imediatamente anteriores,
adotando-se o regime de competência.
93
Constitucional. Servidor em disponibilidade. Vencimentos, Súmula 358 STF. Segundo a
Constituição de 1988, também era assim em 46 e 67, disponibilidade não e punição. Dis-
ponibilidade e aposentadoria. Vencimentos e proventos. Conceitos distintos: vencimentos
de servidor em atividade, ainda que em disponibilidade, e proventos da inatividade. Lin-
guagem legal e sumular. Irredutibilidade de vencimentos e de proventos. Dec. 99.300/90.
o advento da Emenda, que deu nova redação ao §3º do art. 41, a questão
foi superada, na medida em que a norma dispõe, de maneira clara, que
a remuneração será proporcional ao tempo de serviço do servidor.94
2.5 Vitaliciedade
Característica com nuances um pouco diversas da estabilidade
é a vitaliciedade, restrita, pela própria Constituição, aos membros da
Magistratura, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas.
Consoante as lições de José Afonso da Silva, a vitaliciedade
apresenta-se tanto como atributo do cargo, quanto como garantia
do servidor de nele permanecer por toda a vida ou até se aposentar
compulsoriamente.95
Ressalte-se que a vitaliciedade é conferida a tais agentes públicos
após o prazo de 02 (dois) anos de efetivo exercício, período esse de
estágio probatório, salvo nos casos de ascensão direta de membros das
Cortes de Contas (art. 73) e dos Tribunais, pelo critério do art. 94 da
Constituição da República, denominado “quinto constitucional”, em
que adquirem a garantia no ato de posse.96
Todavia, tal atributo não afasta a perda do cargo no caso de
demissão, que somente poderá ocorrer mediante sentença judicial
transitada em julgado (art. 96, I, da CR).97 98
não tenha a Constituição explicitado a exceção, referida hipótese não se aplicaria aos cargos
vitalícios, tendo em vista suas características e a garantia expressa de que a perda do cargo
somente poderá ocorrer por meio de sentença judicial transitada em julgado (art. 96, I, da CR).
99
Art. 26. O magistrado vitalício somente perderá o cargo: [...] II - em procedimento
administrativo para a perda do cargo nas hipóteses seguintes: a) exercício, ainda que em
disponibilidade, de qualquer outra função, salvo um cargo de magistério superior, público
ou particular; b) recebimento, a qualquer título e sob qualquer pretexto, de percentagens
ou custas nos processos sujeitos a seu despacho e julgamento; c) exercício de atividade
político-partidária. [...]
Art. 27. O procedimento para a decretação da perda do cargo terá início por determinação
do Tribunal, ou do seu órgão especial, a que pertença ou esteja subordinado o magistrado,
de ofício ou mediante representação fundamentada do Poder Executivo ou Legislativo,
do Ministério Público ou do Conselho Federal ou Secional da Ordem dos Advogados
do Brasil. §1º. Em qualquer hipótese, a instauração do processo preceder-se-á da defesa
prévia do magistrado, no prazo de quinze dias, contado da entrega da cópia do teor da
acusação e das provas existentes, que lhe remeterá o Presidente do Tribunal, mediante
ofício, nas quarenta e oito horas imediatamente seguintes à apresentação da acusação. §2º.
Findo o prazo da defesa prévia, haja ou não sido apresentada, o Presidente, no dia útil
imediato, convocará o Tribunal ou o seu órgão especial para que, em sessão secreta, decida
sobre a instauração do processo, e, caso determinada esta, no mesmo dia distribuirá o
feito e fará entregá-lo ao relator. §3º. O Tribunal ou o seu órgão especial, na sessão em que
ordenar a instauração do processo, como no curso dele, poderá afastar o magistrado do
exercício das suas funções, sem prejuízo dos vencimentos e das vantagens, até a decisão
final. §4º. As provas requeridas e deferidos, bem como as que o relator determinar de
ofício, serão produzidas no prazo de vinte dias, cientes o Ministério Público, o magistrado
ou o procurador por ele constituído, a fim de que possam delas participar. §5º. Finda a
instrução, o Ministério Público e o magistrado ou seu procurador terão, sucessivamente,
vista dos autos por dez dias, para razões. §6º. O julgamento será realizado em sessão
secreta do Tribunal ou de seu órgão especial, depois de relatório oral, e a decisão no sentido
da penalização do magistrado só será tomada pelo voto de dois terços dos membros do
colegiado, em escrutínio secreto. §7º. Da decisão publicar-se-á somente a conclusão. §8º.
Se a decisão concluir pela perda do cargo, será comunicada, imediatamente, ao Poder
Executivo, para a formalização do ato.
100
Art. 37. [...] II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (g.n.) [...] V - as funções
de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os
cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia
e assessoramento;
101
Art. 23. As funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de
cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos
casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições
de direção, chefia e assessoramento.
102
Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 37, II e V. Criação de cargo em
comissão. Lei 15.224/2005 do Estado de Goiás. Inconstitucionalidade. É inconstitucional
a criação de cargos em comissão que não possuem caráter de assessoramento, chefia ou
direção e que não demandam relação de confiança entre o servidor nomeado e o seu
superior hierárquico, tais como os cargos de Perito Médico-Psiquiátrico, Perito Médico-
Clínico, Auditor de Controle Interno, Produtor Jornalístico, Repórter Fotográfico, Perito
Psicológico, Enfermeiro e Motorista de Representação. Ofensa ao artigo 37, II e V da
Constituição federal. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade dos
incisos XI, XII, XIII, XVIII, XIX, XX, XXIV e XXV do art. 16-A da lei 15.224/2005 do Estado
de Goiás, bem como do Anexo I da mesma lei, na parte em que cria os cargos em comissão
mencionados (STF. ADI nº 3.602/GO, Rel. Min. Joaquim Barbosa. Tribunal Pleno, j. em
14.04.2011, DJe, 07 jun. 2011); Ementa: Concurso público: plausibilidade da alegação de
ofensa da exigência constitucional por lei que define cargos de Oficial de Justiça como de
provimento em comissão e permite a substituição do titular mediante livre designação de
servidor ou credenciamento de particulares: suspensão cautelar deferida. 1. A exigência
constitucional do concurso público não pode ser contornada pela criação arbitraria
de cargos em comissão para o exercício de funções que não pressuponham o vinculo
de confiança que explica o regime de livre nomeação e exoneração que os caracteriza;
precedentes. 2. Também não e de admitir-se que, a título de preenchimento provisório de
vaga ou substituição do titular do cargo - que deve ser de provimento efetivo, mediante
concurso público -, se proceda, por tempo indeterminado, a livre designação de servidores
ou ao credenciamento de estranhos ao serviço público (STF. ADI nº 1.141 MC/GO, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, j. em 10.10.1994, DJ, 04 nov. 1994).
103
No caso de Minas Gerais, a Constituição Estadual prevê, no artigo 23, §1º, que “nas enti
dades da administração indireta, pelo menos um cargo ou função de confiança de direção
superior será provido por servidor ou empregado público de carreira da respectiva
instituição”.
104
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 31. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014. p. 260.
105
Consoante o magistério de Marçal Justen Filho, “a chamada função de confiança não consiste
numa posição jurídica equivalente a um cargo público, mas na ampliação das atribuições
e responsabilidades de um cargo de provimento efetivo, mediante uma gratificação pecu-
niária. Não se admite o conferimento de tal benefício ao ocupante de cargo em comissão,
na medida em que a remuneração correspondente abrange todas as responsabilidades e
encargos possíveis” (In: Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2013. p. 938).
106
No âmbito do Estado de Minas Gerais, o Estatuto dos Servidores (Lei Estadual nº 869/52)
trata do tema nos arts. 150 e 151.
107
Art. 40. [...] §13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado
em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de
emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social.
108
Disposição análoga é encontrada no art. 36, da Constituição do Estado de Minas Gerais.
109
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 477.
110
Ementa: Agravo regimental em recurso extraordinário. Servidora pública em licença ges-
tante. Estabilidade. Reconhecimento, mesmo em se tratando de ocupante de cargo em co-
missão. Precedentes. 1. Servidora pública no gozo de licença gestante faz jus à estabilidade
provisória, mesmo que seja detentora de cargo em comissão. 2. Jurisprudência pacífica
desta Suprema Corte a respeito do tema. 3. Agravo regimental a que se nega provimen-
to (STF. RE nº 368.460 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, j. em 27.03.2012, DJ,
26 abr. 2012); Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Estabilidade provisória.
Gestante. 3. Cargo em comissão. 4. Benefício constitucionalmente assegurado. Precedentes
do STF. 5. Agravo regimental a que se nega provimento (STF. RE nº 612.294 AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, j. em 25.10.2011, DJ, 16 nov. 2011); Ementa: Agra-
vo Regimental no Agravo de Instrumento. Constitucional. Administrativo. Cargo em co-
missão. Servidora gestante. Exoneração. Direito à indenização. 1. As servidoras públicas e
empregadas gestantes, inclusive as contratadas a título precário, independentemente do
regime jurídico de trabalho, têm direito à licença-maternidade de cento e vinte dias e à
estabilidade provisória desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Pre-
cedentes: RE n. 579.989-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski,
Dje de 29.03.2011, RE n. 600.057-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, Dje
de 23.10.2009 e RMS n. 24.263, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de
9.5.03. 2. Agravo regimental a que se nega provimento (STF. AI nº 804.574 AgR, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 30.08.2011, DJ, 16 set. 2011); Constitucional. Administrati-
vo. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. Servidora pública. Dispensa de função
comissionada no gozo de licença-maternidade. Estabilidade provisória. Proteção à mater-
nidade. Ofensa. Recurso provido. 1. A estabilidade provisória, também denominada perí-
odo de garantia de emprego, prevista no art. 10, inc. II, letra “b”, do ADCT, visa assegurar
à trabalhadora a permanência no seu emprego durante o lapso de tempo correspondente
ao início da gestação até os primeiros meses de vida da criança, com o objetivo de impedir
o exercício do direito do empregador de rescindir unilateralmente e de forma imotivada
o vínculo laboral. 2. O Supremo Tribunal Federal tem aplicado a garantia constitucional
à estabilidade provisória da gestante não apenas às celetistas, mas também às militares e
servidoras públicas civis. 3. Na hipótese, muito embora não se afaste o caráter precário do
exercício de função comissionada, não há dúvida de que a ora recorrente, servidora públi-
ca estadual, foi dispensada porque se encontrava no gozo de licença maternidade. Nesse
cenário, tem-se que a dispensa deu-se com ofensa ao princípio de proteção à maternidade.
Inteligência dos arts. 6º e 7º, inc. XVIII, da Constituição Federal e 10, inc. II, letra “b”, do
ADCT. 4. Recurso ordinário provido (STJ. RMS nº 22.361/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Quinta Turma, j. em 08.11.2007, DJ, 07 fev. 2008). No mesmo sentido, já decidiu o Ór-
gão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em acórdão sob minha rela-
toria: Ementa: Mandado de Segurança. Servidora. Designação a título precário. Dispensa.
Gravidez. Estabilidade provisória. Art. 10, II, “b”, do ADCT. Direito à indenização subs-
titutiva desde a impetração do writ até cinco meses após o parto. Segurança parcialmente
concedida. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça pacificou-se no sentido de que a garantia da estabilidade provisória estende-se às
servidoras públicas civis e às militares, independentemente do regime jurídico ao qual se
submetem, ainda que de natureza precária, tendo em vista a preponderância da proteção
constitucional à maternidade e ao nascituro sobre as normas infraconstitucionais atinentes
ao regime jurídico dos servidores. 2. Não obstante, a orientação jurisprudencial daqueles
Sodalícios é no sentido de que, uma vez rompido o vínculo jurídico entre a servidora e a
Administração pela dispensa arbitrária no período em que lhe é assegurada a estabilidade
provisória, não tem a servidora direito à reintegração, mas sim à indenização substitutiva
em valor equivalente ao que receberia desde a dispensa até cinco meses após o parto. 3.
A ação mandamental não produz efeitos patrimoniais em relação ao período anterior à
impetração, que deve ser pleiteado na via ordinária, a teor do enunciado da Súmula nº 271,
113
Art. 1º É vedada a prática de nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder Judiciário,
sendo nulos os atos assim caracterizados.
Art. 2º Constituem práticas de nepotismo, dentre outras: I - o exercício de cargo de provi-
mento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou
Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados; II - o exercício, em
Tribunais ou Juízos diversos, de cargos de provimento em comissão, ou de funções grati-
ficadas, por cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade,
até o terceiro grau, inclusive, de dois ou mais magistrados, ou de servidores investidos em
cargos de direção ou de assessoramento, em circunstâncias que caracterizem ajuste para
burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeações ou designações;
III - o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito
de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral
ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de qualquer servidor investido em cargo
de direção ou de assessoramento; IV - a contratação por tempo determinado para atender
a necessidade temporária de excepcional interesse público, de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos respecti-
vos membros ou juízes vinculados, bem como de qualquer servidor investido em cargo de
direção ou de assessoramento; V - a contratação, em casos excepcionais de dispensa ou ine-
xigibilidade de licitação, de pessoa jurídica da qual sejam sócios cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros
ou juízes vinculados, ou servidor investido em cargo de direção e de assessoramento. §1º
Ficam excepcionadas, nas hipóteses dos incisos I, II e III deste artigo, as nomeações ou de-
signações de servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciárias,
admitidos por concurso público, observada a compatibilidade do grau de escolaridade do
cargo de origem, a qualificação profissional do servidor e a complexidade inerente ao cargo
em comissão a ser exercido, vedada, em qualquer caso a nomeação ou designação para
servir subordinado ao magistrado ou servidor determinante da incompatibilidade. §2º A
vedação constante do inciso IV deste artigo não se aplica quando a contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público hou-
ver sido precedida de regular processo seletivo, em cumprimento de preceito legal.
114
A) As vedações constantes dos arts. 2º e 3º da Resolução nº 07, de 18 de outubro de 2005,
abrangem o parentesco natural e civil, na linha reta e colateral, até o terceiro grau, inclusive,
e o parentesco por afinidade, na linha reta ou colateral, alcançando ainda o parente colateral
de terceiro grau, do cônjuge ou companheiro dos membros e juízes vinculados ao Tribunal;
B) Para os fins do disposto no §1º do art. 2º da Resolução nº 7, de 18 de outubro de 2005, são
equiparados aos servidores admitidos por concurso público ocupantes de cargo de pro-
vimento efetivo das carreiras judiciárias: I - os empregados públicos do Poder Judiciário
contratados por prazo indeterminado, providos os respectivos empregos mediante con-
curso público, por expressa previsão legal; II - os empregados públicos do Poder Judiciário
contratados por prazo indeterminado antes da Constituição Federal de 1988, providos os
respectivos empregos sem concurso público, e que foram considerados estáveis pelo art. 19
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; e III - os servidores públicos do Poder
115
Ementa: Ação Declaratória de Constitucionalidade, ajuizada em prol da Resolução nº 07,
de 18.10.05, do Conselho Nacional de Justiça. Ato normativo que “disciplina o exercício
de cargos, empregos e funções por parentes, cônjuges e companheiros de magistrados e
de servidores investidos em cargos de direção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do
Poder Judiciário e dá outras providências”. Procedência do pedido. 1. Os condicionamentos
impostos pela Resolução nº 07/05, do CNJ, não atentam contra a liberdade de prover e
desprover cargos em comissão e funções de confiança. As restrições constantes do ato
resolutivo são, no rigor dos termos, as mesmas já impostas pela Constituição de 1988,
dedutíveis dos republicanos princípios da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e
da moralidade. 2. Improcedência das alegações de desrespeito ao princípio da separação
dos Poderes e ao princípio federativo. O CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário
(art. 92, CF) e não está a submeter esse Poder à autoridade de nenhum dos outros dois.
O Poder Judiciário tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente
compatibilizada com o caráter estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da
Lei Magna defere aos Estados a competência de organizar a sua própria Justiça, mas
não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa organização aos princípios
“estabelecidos” por ela, Carta Maior, neles incluídos os constantes do art. 37, cabeça. 3.
Ação julgada procedente para: a) emprestar interpretação conforme à Constituição para
deduzir a função de chefia do substantivo “direção” nos incisos II, III, IV, V do artigo 2º
do ato normativo em foco; b) declarar a constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do
Conselho Nacional de Justiça (STF. ADC nº 12/DF, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno,
j. em 20.08.2008, DJ, 18 dez. 2009).
116
A vedação ao nepotismo, no âmbito federal, encontra-se positivada no art. 117, VIII, da
Lei nº 8.212/90: “Ao servidor é proibido [...] manter sob sua chefia imediata, em cargo ou
função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;”
117
A propósito, anotou o Ministro Gilmar Mendes em seu voto: “Dessa forma, o ato admi-
nistrativo que implique esse tipo de prática imoral – nepotismo – é ilegítimo, não apenas
por violação a uma determinada lei, mas por ofensa direta à moralidade que atua como
substrato ético da ordem constitucional. Nesse sentido, é possível afirmar que não seria
necessária uma lei em sentido formal para instituir a proibição do nepotismo, pois ela já
decorre do conjunto de princípios constitucionais, dentre os quais têm relevo os princípios
da moralidade e da impessoalidade”.
118
Cf. Ementa: Mandado de Segurança. Nepotismo. Cargo em comissão. Impossibilidade. Prin-
cípio da moralidade administrativa. Servidora pública da Secretaria de Educação nomeada
para cargo em comissão no Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região à época em que o
vice-presidente do Tribunal era parente seu. Impossibilidade. A proibição do preenchimen-
to de cargos em comissão por cônjuges e parentes de servidores públicos é medida que ho-
menageia e concretiza o princípio da moralidade administrativa, o qual deve nortear toda
a Administração Pública, em qualquer esfera do poder. Mandado de segurança denegado
(STF. MS nº 23.780/MA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, j. em 28.09.2005, DJ, 03
mar. 2006); Ementa: Administração Pública. Vedação nepotismo. Necessidade de lei for-
mal. Inexigibilidade. Proibição que decorre do art. 37, caput, da CF. RE provido em parte.
I - Embora restrita ao âmbito do Judiciário, a Resolução 7/2005 do Conselho Nacional da
Justiça, a prática do nepotismo nos demais Poderes é ilícita. II - A vedação do nepotismo
não exige a edição de lei formal para coibir a prática. III - Proibição que decorre diretamente
dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal. IV - Precedentes. V - RE
conhecido e parcialmente provido para anular a nomeação do servidor, aparentado com
agente político, ocupante, de cargo em comissão (STF. RE nº 579.951/RN, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 20.08.2008, DJ, 24 out. 2008).
119
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitu-
cional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vin-
culante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
120
Cf. STF. MS nº 27.102/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 11.06.2014.
121
STF. Rcl nº 19.529, Rel. Min. Dias Toffoli, j. em 03.08.2015, DJe, 19 ago. 2015.
122
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato
visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE
EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO
4.1 Noções
Dispõe a norma inserta no art. 37, IX, da Constituição da
República, que “a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público”.
Pela leitura da norma acima transcrita, depreende-se ser impres-
cindível, para a realização da contratação temporária, a existência de
previsão na lei do ente da federação respectivo, sob pena de nulidade
de pleno direito, nos termos do art. 37, §2º, e punição da autoridade
responsável.
Entretanto, como não poderia deixar de ser, o legislador
infraconstitucional não pode se afastar, sob pena de antinomia com a
norma constitucional, dos parâmetros estabelecidos por ela.
Cabe extrair, portanto, o significado do vocábulo temporário.
Seu significado corresponderia ao circunstancial, ou também se
inseriria algo mais do que isso, como o provisório?
A opção restritiva, abarcando hipóteses relacionadas apenas com
situações circunstanciais, retira a possibilidade de o legislador prever a
contratação temporária para o desempenho de atividades permanentes
e usuais da Administração, ainda que haja necessidade, devendo o
poder público promover concurso público para o preenchimento dos
cargos vagos, ou criar mais cargos, para que se possa dar continuidade
à atividade administrativa.
123
“Deveras, não haveria como arrolá-los ou quantificá-los, pois o que a Constituição cer-
tamente quis obviar foi o enfrentamento de situações anômalas, de exceção. Logo, de re-
percussões imprevisíveis. Daí a impossibilidade de antecipar quais as funções e em que
número demandariam provisório preenchimento para atender a contingências suscitadas
por eventuais invulgares. [...] Assim, o que a lei deve indicar são as espécies de situações in-
comuns que autorizam a contratação temporária, sem concurso” (BANDEIRA DE MELLO,
Celso Antônio. Regime constitucional dos servidores da administração direta e indireta. São Pau-
lo: Revista dos Tribunais, 1991. p. 80).
124
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Regime constitucional dos servidores da administração
direta e indireta. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p. 81.
125
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais dos servidores públicos. São
Paulo: Saraiva, 1999. p. 242-243.
126
Referida premissa fica evidente no voto proferido pelo Ministro Maurício Corrêa por oca-
sião do julgamento da ADI nº 890/DF, senão vejamos: “Com efeito, a cláusula constitucional
autorizadora destina-se exclusivamente – e aqui a interpretação restritiva se impõe – aos
casos em que comprovadamente haja necessidade temporária de pessoal. Tal situação não
abrange aqueles serviços permanentes que estão a cargo do Estado nem aqueles de natu-
reza previsível, para os quais a Administração Pública deve alocar, de forma planejada,
os cargos públicos para isso suficientes, a serem providos pela forma regular do concurso
público, sob pena de desídia e ineficiência administrativa” (STF. ADI nº 890, Rel. Min. Mau-
rício Corrêa, Tribunal Pleno, j. em 11.09.2003, DJ, 06 fev. 2004).
127
Isso porque, “caso a Administração tenha meios ordinários, regulares, para atender aos
ditames do interesse público, ainda que em situação de urgência, qualificada pela tempo-
rariedade, não se poderá admitir a contratação temporária. É o caso, por exemplo, quando
há concursados aprovados aguardando serem nomeados para cargos vagos” (STF. RE nº
128
658.026/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j. em 09.04.2014, DJ, 31 out. 2014).
Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei Distrital 418/93. EC 19/98. Alteração
não-substancial do artigo 37, II, da CF/88. Prejudicialidade da ação. Inexistência. Concur-
N
so público. Atividades permanentes. Obrigatoriedade. Serviço temporário. Prorrogação do
prazo. Limitação. Regime jurídico aplicável. [...] 3. Atividades permanentes. Concurso Pú-
blico. As atividades relacionadas no artigo 2º da norma impugnada, com exceção daquelas
previstas nos incisos II e VII, são permanentes ou previsíveis. Atribuições passíveis de serem
exercidas somente por servidores públicos admitidos pela via do concurso público. 4. Ser-
viço temporário. Prorrogação do contrato. Possibilidade limitada a uma única extensão do
prazo de vigência. Cláusula aberta, capaz de sugerir a permissão de ser renovada sucessiva-
mente a prestação de serviço. Inadmissibilidade. 5. Contratos de Trabalho. Locação de ser-
viços regida pelo Código Civil. A contratação de pessoal por meio de ajuste civil de locação
de serviços. Escapismo à exigência constitucional do concurso público. Afronta ao artigo 37,
II, da Constituição Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para
declarar inconstitucional a Lei 418, de 11 de março de 1993, do Distrito Federal (STF. ADI nº
890, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, j. em 11.09.2003, DJ, 06 fev. 2004).
128
129
Ementa: Servidor público: contratação temporária excepcional (CF, art. 37, IX): inconstitu-
cionalidade de sua aplicação para a admissão de servidores para funções burocráticas or-
dinárias e permanentes (STF. ADI nº 2.987, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
j. em 19.02.2004, DJ, 02 abr. 2004).
130
Ementa: Constitucional. Administrativo. Servidor público: Defensor público: Contratação
temporária. C.F., art. 37, II e IX. Lei 6.094, de 2000, do Estado do Espírito Santo: inconstitu-
cionalidade. I. - A regra é a admissão de servidor público mediante concurso público: C.F.,
art. 37, II. As duas exceções à regra são para os cargos em comissão referidos no inciso II
do art. 37, e a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público. CF, art. 37, IX. Nessa hipótese, deverão ser
atendidas as seguintes condições: a) previsão em lei dos cargos; b) tempo determinado;
c) necessidade temporária de interesse público; d) interesse público excepcional. II. - Lei
6.094/2000, do Estado do Espírito Santo, que autoriza o Poder Executivo a contratar, tem-
porariamente, defensores públicos: inconstitucionalidade. III. - Ação direta de inconsti-
tucionalidade julgada procedente (STF. ADI nº 2.229, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal
Pleno, j. em 09.06.2004, DJ, 25 jun. 2004).
131
Ementa: Constitucional. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei nº 8.742, de 30 de no-
vembro de 2005, do Estado do Rio Grande Norte, que “Dispõe sobre a contratação tempo-
rária de advogados para o exercício da função de Defensor público, no âmbito da Defen-
soria Pública do Estado”. [...] 2. Por desempenhar, com exclusividade, um mister estatal
genuíno e essencial à jurisdição, a Defensoria Pública não convive com a possibilidade de
que seus agentes sejam recrutados em caráter precário. Urge estruturá-la em cargos de
provimento efetivo e, mais que isso, cargos de carreira. 3. A estruturação da Defensoria
Pública em cargos de carreira, providos mediante concurso público de provas e títulos,
opera como garantia da independência técnica da instituição, a se refletir na boa qualidade
da assistência a que fazem jus os estratos mais economicamente débeis da coletividade. 4.
Ação direta julgada procedente (STF. ADI nº 3.700, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno,
j. em 15.10.2008, DJ, 06 mar. 2009).
132
Ementa: Constitucional. Lei estadual capixaba que disciplinou a contratação temporária
de servidores públicos da área de saúde. Possível exceção prevista no inciso IX do art. 37
da Lei Maior. Inconstitucionalidade. ADI julgada procedente. I - A contratação temporária
de servidores sem concurso público é exceção, e não regra na Administração Pública,
e há de ser regulamentada por lei do ente federativo que assim disponha. II - Para que
se efetue a contratação temporária, é necessário que não apenas seja estipulado o prazo
de contratação em lei, mas, principalmente, que o serviço a ser prestado revista-se do
caráter da temporariedade. III - O serviço público de saúde é essencial, jamais pode-se
caracterizar como temporário, razão pela qual não assiste razão à Administração estadual
capixaba ao contratar temporariamente servidores para exercer tais funções. IV - Prazo
de contratação prorrogado por nova lei complementar: inconstitucionalidade. V - É
pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir contratação temporária
de servidores para a execução de serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância
e interesse social nesses casos. VI - Ação que se julga procedente (STF. ADI nº 3.430/ES,
Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 12.08.2009, DJ, 23 out. 2009).
133
Ementa: Constitucional. Administrativo. Servidor público: Contratação temporária. C.F.,
art. 37, IX. Lei 9.198/90 e Lei 10.827/94, do Estado do Paraná. I. - A regra é a admissão de
servidor público mediante concurso público: C.F., art. 37, II. As duas exceções à regra são
para os cargos em comissão referidos no inciso II do art. 37 e a contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público:
C.F., art. 37, IX. Nessa hipótese, deverão ser atendidas as seguintes condições: a) previsão
em lei dos casos; b) tempo determinado; c) necessidade temporária de interesse público
excepcional. II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ADI 1.500/ES, 2.229/ES e 1.219/
PB, Ministro Carlos Velloso; ADI 2.125-MC/DF e 890/DF, Ministro Maurício Corrêa; ADI
2.380-MC/DF, Ministro Moreira Alves; ADI 2.987/SC, Ministro Sepúlveda Pertence. III.
- A lei referida no inciso IX do art. 37, C.F., deverá estabelecer os casos de contratação
temporária. No caso, as leis impugnadas instituem hipóteses abrangentes e genéricas de
contratação temporária, não especificando a contingência fática que evidenciaria a situação
de emergência, atribuindo ao chefe do Poder interessado na contratação estabelecer os
casos de contratação: inconstitucionalidade. IV. - Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente (STF. ADI nº 3.210/PR, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, j. em
11.11.2004, DJ, 03 dez. 2004).
134
Na oportunidade, frisou o Ministro Eros Grau, Relator para o acórdão, que “O inciso IX do
art. 37 da Constituição do Brasil não separa, de um lado, atividades a serem desempenhadas
em caráter eventual, temporário ou excepcional e, de outro lado, atividades de caráter
regular e permanente. Não autoriza exclusivamente a contratação por tempo determinado
de pessoal que desempenhe atividades em caráter eventual, temporário ou excepcional.
Amplamente, autoriza contratações para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público em uma e outra hipótese. Seja pelo desempenho de atividades de caráter
regular e permanente, desde que a contratação seja indispensável ao atendimento de
necessidade temporária de excepcional interesse público. 7. Portanto, não existe essa
discriminação. A autorização, que se encontra no texto constitucional é ampla [...]” (STF.
ADI nº 3.068, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, j. em
25.08.2004, DJ, 23 set. 2005).
135
STF. ADI nº 3.430, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 12.08.2009, DJ, 23
out. 2009.
136
A título ilustrativo, confira-se: Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 2º, inc.
VII, da Lei 6.915/1997 do Estado do Maranhão. Contratação de professores por tempo de-
terminado. Interpretação e efeito das expressões “necessidade temporária” e “excepcional
interesse público”. Possibilidade de contratação temporária para suprir atividades públicas
de natureza permanente. Transitoriedade caracterizada. Parcial provimento da ação. 1. A
natureza permanente de algumas atividades públicas – como as desenvolvidas nas áreas
da saúde, educação e segurança pública – não afasta, de plano, a autorização constitucional
para contratar servidores destinados a suprir demanda eventual ou passageira. Necessida-
de circunstancial agregada ao excepcional interesse público na prestação do serviço para
o qual a contratação se afigura premente autoriza a contratação nos moldes do art. 37, inc.
IX, da Constituição da República. 2. A contratação destinada a atividade essencial e perma-
nente do Estado não conduz, por si, ao reconhecimento da alegada inconstitucionalidade.
Necessidade de exame sobre a transitoriedade da contratação e a excepcionalidade do in-
teresse público que a justifica. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente para dar interpretação conforme à Constituição (STF. ADI nº 3.247, Rela. Mina.
Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, j. em 26.03.2014, DJ, 18 ago. 2014).
137
Ementa: Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Ação direta de incons-
titucionalidade de lei municipal em face de trecho da Constituição do Estado de Minas
Gerais que repete texto da Constituição Federal. Recurso processado pela Corte Suprema,
que dele conheceu. Contratação temporária por tempo determinado para atendimento a
necessidade temporária de excepcional interesse público. Previsão em lei municipal de ati-
vidades ordinárias e regulares. Definição dos conteúdos jurídicos do art. 37, incisos II e IX,
da Constituição Federal. Descumprimento dos requisitos constitucionais. Recurso provido.
Declarada a inconstitucionalidade da norma municipal. Modulação dos efeitos. 1. O assun-
to corresponde ao Tema nº 612 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do
STF na internet e trata, “à luz dos incisos II e IX do art. 37 da Constituição Federal, da cons-
titucionalidade de lei municipal que dispõe sobre as hipóteses de contratação temporária
de servidores públicos”. 2. Prevalência da regra da obrigatoriedade do concurso público
(art. 37, inciso II, CF). As regras que restringem o cumprimento desse dispositivo estão
previstas na Constituição Federal e devem ser interpretadas restritivamente. 3. O conteúdo
jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição Federal pode ser resumido, ratificando-se,
dessa forma, o entendimento da Corte Suprema de que, para que se considere válida a
contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b)
o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse
público seja excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada
a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o
espectro das contingências normais da Administração. 4. É inconstitucional a lei municipal
em comento, eis que a norma não respeitou a Constituição Federal. A imposição constitu-
cional da obrigatoriedade do concurso público é peremptória e tem como objetivo resguar-
dar o cumprimento de princípios constitucionais, dentre eles, os da impessoalidade, da
igualdade e da eficiência. Deve-se, como em outras hipóteses de reconhecimento da exis-
tência do vício da inconstitucionalidade, proceder à correção da norma, a fim de atender ao
que dispõe a Constituição Federal. 5. Há que se garantir a instituição do que os franceses
denominam de la culture de gestion, a cultura de gestão (terminologia atualmente ampliada
para ‘cultura de gestão estratégica’) que consiste na interiorização de um vetor do progres-
so, com uma apreensão clara do que é normal, ordinário, e na concepção de que os atos
de administração devem ter a pretensão de ampliar as potencialidades administrativas,
4.2 Requisitos
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 658.026/
MG – no bojo do qual reconhecida a repercussão geral da matéria –,
ao explicitar o conteúdo jurídico da norma inserta no art. 37, IX, da
Carta Magna, ratificou o entendimento da Corte e sistematizou os
requisitos para a contratação temporária: (i) os casos excepcionais
requerem disposição expressa em lei; (ii) prazo predeterminado; (iii) a
necessidade há de ser de caráter temporário; (iv) existência de interesse
público excepcional; e (v) a contratação tem de ser indispensável, sendo
vedada para serviços tidos por ordinários, burocráticos, permanentes
do órgão público que estejam sob o espectro das contingências normais
da Administração.
Em suma, uma vez ausentes quaisquer desses requisitos, a norma
será inconstitucional, ou a contratação eivada de nulidade, porquanto em
dissenso com a regra constitucional que privilegia o concurso público,
permitindo a contratação temporária apenas em caráter de exceção.
141
Estendendo, portanto, os direitos referidos no art. 39, §3º, da Constituição da República.
142
A tal respeito anota Cármen Lúcia Antunes Rocha: “Qualquer que seja a hipótese deter-
minante da contratação temporária de servidor, é de atentar a que o regime jurídico a
que eles se submete é diverso daquele que incide e informa o que se impõe na relação da
entidade pública e o servidor titular de cargo de provimento efetivo. Em qualquer cir-
cunstância, há imperiosa necessidade de haver a identificação do contratado e a definição,
expressa e pública (publicidade que se dá, aliás, mediante publicação), dos motivos que
conduziram à contratação. [...] O regime jurídico que informa a relação funcional acordada
entre contratado e a entidade pública contratante deve ser estabelecida na lei que prevê a
hipótese constitucional e a regulamenta no âmbito de cada qual das hipóteses políticas.
É certo, todavia, que, seja qual for o conjunto de direitos, deveres e responsabilidades
firmadas legalmente para as partes, será aquela sempre uma relação de direito público,
firmando-se nos princípios e regras do direito administrativo” (In: Princípios Constitucio-
nais dos Servidores Públicos. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 245).
143
Nesse sentido: Administrativo. Contrato temporário. Relação jurídico-administrativa. Pror-
rogação indevida do contrato que não altera o regime jurídico. FGTS indevido. Precedentes
145
Ementa: Constitucional. Administrativo. Licença maternidade. Militar. Admissão em
caráter temporário. Estabilidade provisória. Possibilidade. Isonomia. Art. 7º, XVIII, da
Constituição e art. 10, II, b, do ADCT. Agravo Improvido. I – As servidoras públicas e
empregadas gestantes, independentemente do regime jurídico de trabalho, têm direito à
licença-maternidade de cento e vinte dias e à estabilidade provisória desde a confirmação
da gravidez até cinco meses após o parto, conforme o art. 7º, XVIII, da Constituição e
o art. 10, II, b, do ADCT. II – Demonstrada a proteção constitucional às trabalhadoras
em geral, prestigiando-se o princípio da isonomia, não há falar-se em diferenciação entre
servidora pública civil e militar. III – Agravo regimental improvido (STF. Ag.Rg. no RE nº
597.989/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, j. em 09.11.2010, DJ, 29 mar.
2011); Ementa: Constitucional. Licença-maternidade. Contrato temporário de trabalho.
Sucessivas contratações. Estabilidade provisória. Art. 7º, XVIII da Constituição. Art. 10,
II, b do ADCT. Recurso desprovido. A empregada sob regime de contratação temporária
tem direito à licença-maternidade, nos termos do art. 7º, XVIII da Constituição e do
art. 10, II, b do ADCT, especialmente quando celebra sucessivos contratos temporários
com o mesmo empregador. Recurso a que se nega provimento (STF. RE nº 287.905, Rela.
Mina. Ellen Gracie, Rel. p/ ac. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, j. em 28.06.2005,
DJ, 30 jun. 2006); Ementa: Recurso ordinário. Constitucional. Administrativo. Mandado
de Segurança. Servidora pública designada em caráter precário. Exoneração durante a
gestação. Licença-maternidade. Estabilidade provisória. Art. 7º, XVIII, da Constituição. Art.
10, II, “b”, do ADCT. Indenização substitutiva da estabilidade provisória. Possibilidade.
Valores posteriores à impetração. Súmulas 269 e 271/STF. Precedentes. 1. As servidoras
públicas, incluídas as contratadas a título precário, independentemente do regime jurídico
de trabalho, possuem direito à licença-maternidade e à estabilidade provisória, desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto, consoante dispõem o art. 7º, XVIII, da
Constituição Federal e o art. 10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, sendo a elas assegurada indenização correspondente às vantagens financeiras
pelo período constitucional da estabilidade. Precedentes. 2. O mandado de segurança não
produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito à impetração, os quais devem
ser reclamados administrativamente ou pela via judicial adequada, em razão da incidência
do teor das Súmulas 269 e 271 do STF. 3. Recurso ordinário parcialmente provido para
assegurar à impetrante o direito à percepção da indenização substitutiva, correspondente
à remuneração devida a partir da data da impetração do mandamus até o quinto mês após
o parto (STJ. RMS nº 26.069/MG, Rela. Mina. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
j. em 28.04.2011, DJ, 1º jun. 2011). Na mesma esteira vêm decidindo os Tribunais de Justiça
dos Estados: Ementa: Agravo de Instrumento. Vedação concessão de tutela antecipada
que esgote, no todo ou em parte, o objeto da demanda. Inaplicabilidade. Administrativo.
Servidora pública. Licença maternidade. Estabilidade provisória. Admissão em caráter
precário. Contratada temporariamente. Possibilidade. Isonomia. Art. 7º, XVIII, da
Constituição da República e art. 10, II, ‘b’, do ADCT. Recurso conhecido e provido. 1. A
vedação na concessão de tutela antecipada que esgote, total ou parcialmente, o objeto da
ação apenas é aplicável na hipótese em que o indeferimento não importe na ineficácia da
tutela jurisdicional. 2. As servidoras públicas e empregadas gestantes, independentemente
do regime jurídico de trabalho, têm direito à licença-maternidade de cento e vinte dias e
à estabilidade provisória desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto,
conforme o art. 7º, XVIII, da Constituição e o art. 10, II, b, do ADCT. 3. Demonstrada
a proteção constitucional às trabalhadoras em geral, prestigiando-se o princípio da
isonomia, não há falar-se em diferenciação entre servidora pública ocupante de cargo
de provimento efetivo, em comissão ou mesmo contratada temporariamente (TJMG. AI
nº 1.0086.13.000850-0/001, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cível, j. em
08.08.2013, DJe, 19 ago. 2013); Ementa: Constitucional e Administrativo. Servidora pública.
Função pública. Contrato temporário. Vínculo precário. Gravidez. Dispensa ao fim do
período pactuado. Indenização pelo período da licença-maternidade. Admissibilidade.
Aplicabilidade dos artigos 7º, XVIII, 39, §3º, da CF, e 10, II, ‘b’ do ADCT. Prorrogação
147
A tal respeito já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: Direito Consti-
tucional - Direito Administrativo - Direito Processual Civil - Apelação - Ação de cobrança
- Contratação temporária - Ausência de observância do disposto no artigo 37, incisos II e IX,
da Constituição Federal - Nulidade - Direito social - Férias - Terço constitucional - Verbas
indevidas - Recurso provido. - Se a Administração Pública realiza contratação que não se
enquadra no disposto no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, resta clara a nulida-
de do contrato, nos termos do parágrafo 2º. do mencionado dispositivo, já que a regra é
admissão de servidor aprovado em concurso. - Conforme decidido pelo Supremo Tribunal
Federal, em julgamento de Recurso Extraordinário com repercussão geral, a nulidade do
contrato temporário celebrado pela Administração Pública impede a atribuição de direitos
sociais ao contratado, dentre eles a indenização por férias não gozadas, acrescidas de um
terço (TJMG. AC nº 1.0671.10.001397-6/001, Rel. Des. Moreira Diniz, Quarta Câmara Cível,
j. em 24.09.2015, DJe, 1º out. 2015); Ementa: Apelação Cível. Administrativo. Contratação
temporária. Nulidade do contrato administrativo. Ausência do direito ao recebimento das
verbas trabalhistas, exceto saldo de vencimento. Sentença reformada, em reexame neces-
sário. Recurso de Apelação conhecido e provido. 1. A jurisprudência do Supremo Tribu-
nal Federal é firme no sentido de que a contratação temporária não pode ter por objeto a
seleção ou recrutamento de pessoal para atividades ordinárias ou permanentes do órgão
público, porquanto a norma inserta no artigo 37, IX, da Constituição da República, trata de
hipóteses anômalas, de exceção, não podendo se tornar prática comum na Administração
Pública, pena de ofensa ao principio do concurso público. 2. São nulos de pleno direito
contratos administrativos celebrados sem a indicação do fundamento jurídico para contra-
tação temporária, e com o escopo de admitir servidor para exercício de função de caráter
permanente. 3. Sendo os contratos nulos de pleno direito, deles não exsurgem quaisquer
direitos ao servidor, com exceção do saldo de vencimento, ensejando, em tese, a punição
da autoridade responsável por ato de improbidade administrativa, nos termos do disposto
no artigo 37, §2º, da Constituição da República (TJMG. AC/RN nº 1.0145.09.565474-8/001,
Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cível, j. em 22.01.2015, DJe, 02 fev. 2015);
Apelação Cível - Direito administrativo - Ação de cobrança - Servidor contratado tempo-
rariamente - Contrato nulo - Direito apenas ao saldo de salário. - Segundo orientação do
Excelso STF, firmada por ocasião dos julgamentos dos Recursos Extraordinários nº 596.478
e 705.140 (ambos com repercussão geral), em caso de nulidade da contratação temporária
por parte da Administração Pública, o prestador de serviços submetido ao regime jurídico
administrativo faz jus apenas aos salários inadimplidos. - “A Constituição de 1988 reprova
severamente as contratações de pessoal pela Administração Pública sem a observância das
normas referentes à indispensabilidade da prévia aprovação em concurso público, comi-
nando a sua nulidade e impondo sanções à autoridade responsável (CF, art. 37, §2º)” (RE
nº 705140, Relator: Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em 28.08.2014, Acórdão
Eletrônico Repercussão Geral - Mérito DJe-217, divulg 04.11.2014, public 05.11.2014). - Os
depósitos de FGTS são devidos apenas àqueles empregados submetidos ao regime celetista
(CLT), não se estendendo aos servidores contratados sob o regime de direito administra-
tivo. V.V. (TJMG. AC/RN nº 1.0024.13.042643-0/001, Rel. Des. Heloisa Combat, Rel. p/ ac.
Des. Ana Paula Caixeta, Quarta Câmara Cível, j. em 06.08.2015, DJe, 12 ago. 2015); Ementa:
Administrativo - Reexame necessário - Agente de segurança penitenciário - Contrato tem-
porário - Prorrogações sucessivas - Nulidade - Adicional de local de trabalho e adicional
noturno - Direitos sociais indevidos. 1. Havendo contratação temporária ou prorrogação
das hipóteses legais será nulo o contrato. 2. Nos contratos nulos o contrato não faz jus aos
§5º. A transformação de que trata o caput não ensejará a alteração de nível de escolaridade
do cargo, independentemente do grau de escolaridade apresentado no momento da trans-
formação.
159
Art. 4º. Fica garantida a irredutibilidade de vencimentos aos servidores enquadrados no
Quadro em Extinção de Combate às Endemias. Parágrafo único. Na hipótese de redu-
ção decorrente da aplicação desta Lei, a diferença será paga a título de Vantagem Pessoal
Nominalmente Identificada - VPNI, a ser absorvida por ocasião do desenvolvimento no
cargo, da reestruturação de tabela remuneratória, concessão de reajustes, adicionais, grati-
ficações ou vantagem de qualquer natureza, conforme o caso.
160
A hipótese em comento será tratada no Capítulo IX desta obra.
161
Art. 15. É vedada a redistribuição dos cargos de Agente de Combate às Endemias a
outros órgãos da administração pública federal, independentemente do cumprimento das
disposições do art. 37 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
162
Art. 11. Fica instituída a Gratificação de Exercício da Atividade de Combate às Endemias
- GEACE, devida aos ocupantes do cargo público de Agente de Combate às Endemias,
no âmbito do Quadro em Extinção de Combate às Endemias, do Quadro de Pessoal do
Ministério da Saúde. §1º. A Geace será devida aos titulares do cargo público de que trata
esta Lei, que, em caráter permanente, realizarem atividades de combate e controle de
endemias, em área urbana ou rural, inclusive em terras indígenas e de remanescentes
quilombolas, áreas extrativistas e ribeirinhas. §2º. A Geace não servirá de base de cálculo
para quaisquer outros benefícios, parcelas remuneratórias ou vantagens. §3º. A Geace não
é devida aos ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança.
163
Art. 16. É vedada a contratação temporária ou terceirizada de Agentes Comunitários
de Saúde e de Agentes de Combate às Endemias, salvo na hipótese de combate a surtos
epidêmicos, na forma da lei aplicável.
164
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compre-
ende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos
desta Constituição.
165
Art. 11. Para atender a necessidade temporária, de excepcional interesse público, poderá
haver contratação por prazo determinado, não superior a 6 (seis) meses, sob a forma de
contrato de direito administrativo, caso em que o contratado não será considerado servidor
público. §1º. A contratação prevista no artigo far-se-á exclusivamente para: a) atender a
situações declaradas de calamidade pública; b) (Revogada pelo art. 3º da Lei nº 11.825, de
12/6/1995.); c) realizar recenseamento. §2º. O contrato firmado com base neste artigo só gera
efeitos a partir da sua publicação no órgão oficial, sob a forma de extrato, especificando-se
partes contratantes, objeto, prazo, regime de execução, preço, condições de pagamento,
critérios de reajuste, quando for o caso, e dotação orçamentária a ser utilizada.
166
A título de exemplo, Cf. TJMG. AC nº 1.0024.11.193825-4/001, Rel. Des. Bitencourt
Marcondes, Oitava Câmara Cível, j. em 30.01.2014, DJe, 10 fev. 2014.
167
Art. 4º As contratações de que trata esta Lei serão feitas com a observância dos seguintes
prazos máximos: I - seis meses, nos casos dos incisos I e II do caput do art. 2º; II - um ano,
nos casos dos incisos III e IV do caput do art. 2º; III - dois anos, nos casos do inciso V, nas
áreas de saúde e educação, e do inciso VI do caput do art. 2º; e; IV - três anos, no caso do
inciso V do caput do art. 2º, nas áreas de segurança pública, defesa social, vigilância e
meio ambiente. §1º É admitida a prorrogação dos contratos: I - no caso do inciso III do
caput do art. 2º, desde que o prazo total não exceda dois anos; II - nos casos dos incisos
I, II e IV do caput do art. 2º, pelo prazo necessário à superação da situação, desde que o
prazo da prorrogação não exceda dois anos; III - no caso do inciso V do caput do art. 2º,
por até um ano nas áreas de saúde e educação e por até três anos nas áreas de segurança
pública, defesa social, vigilância e meio ambiente; e; IV - no caso do inciso VI do caput do
art. 2º, desde que o prazo total não exceda três anos. §2º No caso do inciso V do caput do
art. 2º, serão adotadas, imediatamente após a contratação, as providências necessárias à
realização do concurso público para provimento dos cargos.
168
Cf. EI nº 1.0702.11.004845-2/002, Rel. Des. Alyrio Ramos, Oitava Câmara Cível, j. em
20.02.2014, DJe, 06 mar. 2014; AC nº 1.0702.10.077061-0/001, Rel. Des. Luís Carlos Gambogi,
Quinta Câmara Cível, j. em 23.01.2014, DJe, 30 jan. 2014; AC nº 1.0479.10.004361-7/001, Rel.
Des. Antônio Sérvulo, Sexta Câmara Cível, j. em 22.01.2013, DJe, 1º fev. 2013.
169
Cf. AC/RN nº 1.0024.11.147278-3/001, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara
Cível, j. em 22.05.2014, DJe, 02 jun. 2014; AC nº 1.0024.10.282608-8/001, Rel. Des. Edgard
Penna Amorim, Oitava Câmara Cível, j. em 08.11.2012, DJe, 20 nov. 2012.
170
Processual Civil. Recurso Especial Representativo de Controvérsia. Art. 543-C, do CPC.
Administrativo. FGTS. Nulidade de contrato por ausência de concurso público. Direito
ao levantamento dos saldos fundiários. Citação do Município de Mossoró/RN. Carência
de prequestionamento. Súmulas 282 e 356 do STF. Ausência de indicação dos dispositivos
violados. Deficiência na fundamentação recursal. Súmula 284 do STF. 1. A declaração
de nulidade do contrato de trabalho em razão da ocupação de cargo público sem a
necessária aprovação em prévio concurso público, consoante previsto no art. 37, II, da
CF/88, equipara-se à ocorrência de culpa recíproca, gerando, para o trabalhador, o direito
ao levantamento das quantias depositadas na sua conta vinculada ao FGTS. 2. Precedentes
do STJ: REsp 863.453/RN, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ 12.11.2007;
REsp 892.451/RN, Segunda Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 25.04.2007;
REsp 877.882/RN, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJ de 28.02.2007; REsp
827.287/RN, Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 26.06.2006; REsp 892719/RN,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 13.03.2007, DJe 02.06.2008.
3. O requisito do prequestionamento é indispensável, por isso que inviável a apreciação,
em sede de recurso especial, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de
origem, incidindo, por analogia, o óbice das Súmulas 282 e 356 do STF. 4. In casu, os arts.
22 e 29-C da Lei 8.036/1990, 21 do CPC, e 406 do CC, não foram objeto de análise pelo
acórdão recorrido, nem sequer foram opostos embargos declaratórios com a finalidade
de prequestioná-los, razão pela qual impõe-se óbice intransponível ao conhecimento do
recurso quanto aos aludidos dispositivos. 5. As razões do recurso especial mostram-se
deficientes quando a recorrente não aponta, de forma inequívoca, os motivos pelos quais
considera violados os dispositivos de lei federal, fazendo incidir a Súmula 284 do STF:
“É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação
não permitir a exata compreensão da controvérsia.” 6. In casu, a recorrente não aponta
violação a qualquer dispositivo legal, limitando-se a alegar a necessidade de chamamento
ao processo do Município de Mossoró, incidindo, mutatis mutandis, a Súmula 284 do STF,
bem assim as Súmulas 282 e 356, haja vista a simultânea ausência de prequestionamento
da questão. 7. A eventual ação de regresso, quando muito, imporia a denunciação da
lide do Município, que é facultativa, como o é o litisconsórcio que o recorrente pretende
entrevê-lo como “necessário”. 8. Não há litisconsórcio passivo entre o ex-empregador (o
Município) e a Caixa Econômica Federal - CEF, uma vez que, realizados os depósitos, o
empregador não mais detém a titularidade sobre os valores depositados, que passam a
integrar o patrimônio dos fundistas. Na qualidade de operadora do Fundo, somente a
CEF tem legitimidade para integrar o pólo passivo da relação processual, pois ser a única
responsável pela administração das contas vinculadas do FGTS, a teor da Súmula 82, do
Egrégio STJ (Precedente: REsp 819.822/RN, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira
Turma, julgado em 19.06.2007, DJ 29.06.2007 p. 496). 9. A Corte, em hipóteses semelhantes,
ressalva o direito da CEF ao regresso, sem prejudicar o direito do empregado (Precedente:
REsp 897043/RN, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 03.05.2007,
DJ 11.05.2007 p. 392). Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.
Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008 (STJ. REsp
nº 1.110.848/RN, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, j. em 24.06.2009, DJe, 03 ago. 2009).
171
Ementa: Recurso extraordinário. Direito Administrativo. Contrato nulo. Efeitos.
Recolhimento do FGTS. Artigo 19-A da Lei nº 8.036/90. Constitucionalidade. 1. É
constitucional o art. 19-A da Lei nº 8.036/90, o qual dispõe ser devido o depósito do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na conta de trabalhador cujo contrato com a
Administração Pública seja declarado nulo por ausência de prévia aprovação em concurso
público, desde que mantido o seu direito ao salário. 2. Mesmo quando reconhecida a
nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art. 37, §2º, da Constituição
Federal, subsiste o direito do trabalhador ao depósito do FGTS quando reconhecido ser
devido o salário pelos serviços prestados. 3. Recurso extraordinário ao qual se nega
provimento (STF. RE nº 596478, Rela. Mina. Ellen Gracie, Rel. p/ ac. Min. Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, j. em 13.06.2012, DJ, 1º mar. 2013).
172
A favor: EI nº 1.0476.13.000937-8/002, Rel. Des. Duarte de Paula, Quarta Câmara Cível,
j. em 09.10.2014, DJe, 16 out. 2014; AC/RN nº 1.0105.13.026733-6/001, Rel. Des. Dárcio
Lopardi Mendes, Quarta Câmara Cível, j. em 11.09.2014, DJe, 17 set. 2014; Contra:
AC nº 1.0672.11.012303-7/001, Rel. Des. Alberto Vilas Boas, Primeira Câmara Cível, j.
em 19.02.2013, DJe, 28 fev. 2013; AC/RN nº 1.0481.09.098451-1/001, Rel. Des. Edilson
Fernandes, Sexta Câmara Cível, j. em 28.01.2014, DJe, 07 fev. 2014; AC nº 1.0058.11.001163-
0/001, Rel. Des. Belizário de Lacerda, Sétima Câmara Cível, j. em 11.03.2014, DJe, 14 mar.
2014; AC nº 1.0480.09.131302-7/001, Rel. Des. Marcelo Rodrigues, Segunda Câmara Cível,
j. em 18.06.2013, DJe, 1º jul. 2013.
173
STF. RE nº 596.478, Rela. Mina. Ellen Gracie, Rel. p/ ac. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j.
em 13.06.2012, DJ, 1º mar. 2013.
SISTEMA REMUNERATÓRIO
5.1 Conceitos
O sistema de pagamento dos servidores públicos varia de acordo
com as modalidades previstas no ordenamento jurídico, podendo a
retribuição pecuniária ser feita na forma de pagamento em parcela única
ou não, dependendo do cargo ou função exercida.
A Constituição da República, em mais de um dispositivo (art. 37,
X e XI, v.g.), trata a remuneração e subsídio como espécies de retribuição
pecuniária. Define o subsídio no §4º do art. 39, mas não o faz em relação
à remuneração.
O termo remuneração, na doutrina, corresponde à retribuição
ao servidor de um valor fixo e outro variável, como também pode ser
empregado para abranger todos os valores, em pecúnia ou não, que o
servidor recebe mensalmente pelo seu trabalho.
No singular, o termo vencimento significa o estipêndio pago
como retribuição pelo efetivo exercício do cargo, emprego ou função,
relacionado geralmente ao padrão fixado em lei. No plural, o termo é
empregado como o valor acima mencionado acrescido das vantagens
pecuniárias.
A propósito, a Constituição da República ainda usa a expressão
vencimentos como sinônimo de remuneração (v.g., art. 37, XII), mas
também já utilizou com sentidos diversos, como fez na redação
anterior à Emenda Constitucional nº 19/98, do inc. XV, do art. 37 (os
vencimentos dos servidores públicos, civis e militares, são irredutíveis
e a remuneração observará o que dispõem os arts. 37, XI, XII, 150, II,
153, III, e 153, §2º, I).
Na atual redação, emprega o signo vencimentos sem a distinção,
apenas assegurando a irredutibilidade para os subsídios e vencimentos.
Isto demonstra, como já se mencionou acima, nas definições de
vencimento, vencimentos, subsídio e remuneração, que referidos termos
não são empregados na Constituição da República, como em leis, com
a devida técnica.
Entretanto, a distinção entre eles é de significativa importância
para se entender o alcance da garantia constitucional da irredutibilidade
de vencimentos. A título de exemplo, pode-se afirmar que, quando o
signo remuneração tem como significado retribuição de parcela fixa e
variável, a garantia referida não a alcança.
Esclarecidos os vários significados de remuneração, fato é que a
Constituição estabelece duas formas de retribuição pecuniária para o
servidor público: remuneração e subsídio.
Nessa seara, a remuneração compreende o vencimento básico
(definido por lei), acrescido das vantagens pecuniárias. Assim, enquanto
o vencimento é a retribuição pecuniária devida ao funcionário pelo
efetivo exercício do cargo, correspondente ao padrão fixado em lei, a
remuneração (ou vencimentos, no plural) equivale ao padrão acrescido
das vantagens pecuniárias auferidas pelo servidor.
As vantagens pecuniárias constituem, nesse contexto, adições
estipendiárias ao vencimento básico do servidor, e podem apresentar
natureza definitiva ou transitória, em virtude do “tempo de serviço (ex
facto temporis), pelo desempenho de funções especiais (ex facto officii),
em razão das condições anormais em que se realiza o serviço (propter
laborem), ou, finalmente, em razão das condições pessoais do servidor
(propter personam)”.174
Os servidores podem ainda ser remunerados (sentido amplo),
pelo sistema de subsídio, cujo conceito foi inserido pela Emenda
Constitucional nº 19/98 e corresponde ao pagamento de parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie remuneratória.175
174
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 552.
175
Art. 39, §4º: O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado
e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio
fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 37, X e XI.
176
Novo Código de Processo Civil, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, art. 85. A sentença
condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. [...] §19. Os advogados
públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei.
5.2 Irredutibilidade
O art. 37, XV, da Constituição, estabelece o princípio da irreduti-
bilidade de subsídios e vencimentos dos agentes públicos.
De início, é de se lembrar que a garantia constitui “modalidade
qualificada da proteção ao direito adquirido, na medida em que a sua
incidência pressupõe a licitude da aquisição do direito a determinada
remuneração”,178 não se tratando, portanto, de proteção revestida de
caráter absoluto.
Destarte, a proteção não é imune à incidência de tributos ou
ao teto remuneratório. Também não é imune à aplicação da vedação
contida no art. 37, XIV, em que os acréscimos pecuniários não podem
ser computados ou acumulados para fins de concessão de acréscimos
ulteriores.179
Deve-se lembrar que a garantia da irredutibilidade possui caráter
apenas jurídico. Isso significa que a vedação à redução dos vencimentos
ou subsídio incide apenas sobre o valor nominal, não sendo garantida
eventual perda do padrão de compra em razão de instabilidades
inflacionárias, cujas correções devem ser realizadas pela revisão geral
e anual, prevista no art. 37, X, da Constituição.180
Além disso, a Suprema Corte reconheceu que a alteração de
regime jurídico do servidor não ofende o princípio da irredutibilidade.
Isso porque o Pretório Excelso não admite direito adquirido a regime
administrativo, já que a relação jurídica estabelecida entre o Poder
177
Art. 144, §9º. A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados
neste artigo será fixada na forma do §4º do art. 39.
178
Vide RE nº 298.694, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, j. em 06.08.2003, DJ, 23
abr. 2004.
179
É a chamada vedação ao efeito cascata, cuja análise será feita em tópico adiante.
180
Art. 37, X: a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o §4º do art.
39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa
privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices.
5.3 Isonomia
A redação original do parágrafo primeiro do art. 39 da Constituição
assegurava aos servidores da Administração Direta isonomia de
vencimentos para cargos de atribuições iguais ou semelhantes do mesmo
Poder ou de Poderes diversos, ressalvando apenas as vantagens de
caráter individual e relativas à natureza e local de trabalho.181
A igualdade absoluta, contudo, nunca chegou a ser aplicada, pois
esbarra no óbice da exigência de lei para fixação de vencimentos, ainda
que de cargos de atribuições iguais ou assemelhadas. Dessa forma, não
pode o Poder Judiciário, sob o fundamento do princípio da isonomia,
interferir nessa seara para igualar os valores pagos, pois usurpa função
do Poder Legislativo, conforme entendimento consolidado no enunciado
da Súmula nº 339 do Supremo Tribunal Federal,182 aprovada na vigência
da Constituição de 1946.
A Emenda Constitucional nº 19/98 suprimiu a norma, alterando
o disposto no mencionado dispositivo, para determinar que a fixação
dos padrões de vencimentos observe a natureza, grau de responsabi-
lidade, complexidade das atribuições, requisitos para investidura e
peculiaridade dos cargos.183
Com efeito, a Suprema Corte é firme ao afirmar que o princípio
da isonomia é dirigido aos Poderes Executivo e Legislativo, pois a eles
pertence a competência de estabelecer a remuneração dos servidores
públicos.184
181
Carvalho Filho ressalta que, apesar da previsão expressa no texto constitucional, a
isonomia jamais chegou a ser efetivamente aplicada, especialmente quando se trata de
servidores com atribuições iguais lotados em Poderes diversos (In: Manual de Direito
Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 760).
182
Súmula nº 339: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos, sob fundamento de isonomia.
183
A Ministra Cármen Lúcia indaga se houve realmente a supressão do princípio, pois,
sendo o postulado isonômico mandamento basilar do sistema, sua exclusão do texto
constitucional (referente à remuneração dos servidores públicos) não pode significar sua
não aplicação (In: Princípios Constitucionais dos Servidores Públicos. São Paulo: Saraiva, 1999.
p. 328/329).
184
Vide: RE nº 395.273-1 AgRg/PA, Rela. Mina. Ellen Gracie, Segunda Turma, j. 08.06.2004, DJ,
06 ago. 2004.
185
Confira-se: Ementa: Recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida.
Administrativo. Servidor público. Extensão de gratificação com fundamento no princípio
da isonomia. Vedação. Enunciado 339 da Súmula desta Corte. Recurso extraordinário
provido (STF. RE nº 592.317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. 28.08.2014,
DJe, 10 nov. 2014).
186
A redação anterior não exigia lei para fixação dos vencimentos dos servidores do Poder
Legislativo.
187
Vide ADI nº 4.433 MC/SC, Rela. Mina. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j. em 06.10.2010, DJ, 10
nov. 2010.
188
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre
o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: [...] V - o subsídio dos
Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio
mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais
magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as
respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma
e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa
e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido,
em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, §4º; [...]
189
O Conselheiro Gilberto Valente Martins consignou em seu voto: “[...] Ante o exposto, por
entender que o não reajustamento automático do valor do subsídio da magistratura esta-
dual, com inobservância da regra contida no inciso V, do art. 93, da Constituição Federal,
compromete a natureza remuneratória nacional e uniforme da magistratura e pode gerar
um passivo para o Estado, o qual terá de pagar as devidas diferenças de forma retroati-
va na hipótese de não cumprimento imediato do escalonamento vertical da remuneração
dos Desembargadores, que decorre de mandamento constitucional e de autorização do
Congresso Nacional por meio de lei, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o presente
pedido de providências para propor a alteração da Resolução n. 13/2006 deste Conselho,
no sentido de acrescer ao artigo 11, parágrafo único com a seguinte redação: RESOLUÇÃO
Nº 13, DE 21 DE MARÇO DE 2006: [...] Art. 11. Os Tribunais publicarão, no Diário Oficial
respectivo, até 15 de janeiro de cada ano, os valores do subsídio e da remuneração de seus
magistrados, em” cumprimento ao disposto no §6º do art. 39 da Constituição Federal.
Parágrafo único: Alterado, por lei federal, o valor do subsídio de Ministro do Supremo
Tribunal Federal, os Tribunais de Justiça o adotarão, imediatamente, a contar de sua vi-
gência para a magistratura da União, como referencia para fins de pagamento do subsídio
aos membros da magistratura estadual, extensivo a inativos e pensionistas, observado o
escalonamento previsto no artigo 93, V, da CF” (CNJ. PP nº 0006845-87.2014.2.00.0000).
190
A Suprema Corte possui entendimento consolidado nesse sentido. Confira-se, a título
de exemplo: Ementa: Servidor público. Revisão geral de vencimento. Comportamento
omissivo do Chefe do Executivo. Direito à indenização por perdas e danos. Impossibilidade.
Esta Corte firmou o entendimento de que, embora reconhecida a mora legislativa, não
pode o Judiciário deflagrar o processo legislativo, nem fixar prazo para que o chefe do
Poder Executivo o faça. Além disso, esta Turma entendeu que o comportamento omissivo
do chefe do Poder Executivo não gera direito à indenização por perdas e danos. Recurso
extraordinário desprovido (STF. RE nº 424.584/MG, Rel. Min. Carlos Velloso. Rel. p/ ac.
Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, j. em 17.11.2009, DJe, 07 maio 2010).
191
Confira-se, a título de exemplo: Processual Civil. Recurso Extraordinário com Agravo. Lei
10.698/03. Concessão de “vantagem pecuniária individual”. Ofensa ao art. 37, X, da CF.
Matéria infraconstitucional. Ausência de repercussão geral. 1. A controvérsia relativa à
incorporação, a vencimento de servidor, do reajuste de 13,23% sobre sua remuneração
é de natureza infraconstitucional, já que decidida pelo Tribunal de origem com base nas
Leis 10.697/03 e 10.698/03, não havendo, portanto, matéria constitucional a ser analisada.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando
não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa à Constituição
Federal se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, Pleno,
DJe de 13/03/2009). 3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do
art. 543-A do CPC (STF. ARE nº 800.721 RG/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno,
j. em 17.04.2014, DJ, 29 abr. 2014).
192
MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 8. ed. Niterói: Impetus, 2014. p. 766.
193
Vide STF. RE nº 626.413 AgR/RS. Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, j. em 07.10.2014,
DJ, 20 nov. 2014.
194
Nesse ponto, deve-se atentar para a norma inserta no parágrafo único do artigo 112 do
ADCT da Constituição mineira, acrescido pela Emenda Constitucional nº 57/03, que
assegura ao servidor público estadual da Administração Direta, Autárquica e Fundacional
a percepção dos quinqüênios adquiridos até o advento da EC nº 19/98 com base no
vencimento básico e gratificação. Referida norma, a toda evidência, apresenta vício de
inconstitucionalidade, por ofensa ao comando inserto no texto da norma do art. 37, XIV, da
Constituição da República, que veda expressamente a percepção de vantagens pecuniárias
calculadas umas sobre as outras (“efeito cascata”). Isso porque a norma constitucional
limita, de forma expressa, a autonomia organizatória dos estados membros quanto
à sua própria Administração e regime jurídico de seus servidores, sendo, portanto, de
observância obrigatória pelos entes federados. Foi por tal razão que suscitei, como relator
do processo, incidente de inconstitucionalidade perante o Órgão Especial do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais (1.0024.12.133058-3/002).
195
Art. 37, XI. A lei fixará o limite máximo e a relação de valores entre a maior e a menor
remuneração dos servidores públicos, observados, como limites máximos e no âmbito dos
respectivos Poderes, os valores percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer
título, por membros do Congresso Nacional, Ministros de Estado e Ministros do Supremo
Tribunal Federal e seus correspondentes nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios,
e, nos Municípios, os valores percebidos como remuneração, em espécie, pelo Prefeito;
(redação original)
196
Veja-se a ementa do julgado: Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade Proposta pela
Associação dos Magistrados Brasileiros. O parágrafo 2. do artigo 2. da Lei Federal n. 7.721,
de 6 de janeiro de 1989, quando limita os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal
Federal - “Computados os adicionais por tempo de serviço” - a remuneração máxima
vigente no Poder Executivo, vulnera o art. 39, par. 1., “in fine”, da Constituição, que sujeita
a tal limite apenas os “vencimentos”, excluídas as vantagens “pessoais”. Compatibilidade
do conceito de “vencimentos” estabelecidos na Lei Complementar n. 35/79 e em outros
artigos da Lei Maior com a exegese do aludido dispositivo constitucional. Procedência
parcial da ação para declarar inconstitucionais as expressões “... e vantagens pessoais
(adicionais por tempo de serviço)...”, constante do par. 2., art. 2. da Lei 7.721/89 (ADI nº
14/DF, Rel. Min. Célio Borja, Tribunal Pleno, j. em 28.09.1989, DJ, 1º dez. 1989).
197
Art. 39. [...]
§1º A lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de vencimentos
para cargos de atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual
e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
198
Assim ficou a redação do art. 37, XI, CR/88, conferida pela Emenda Constitucional nº
19/98: “a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos
da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato
eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remune-
ratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Su-
premo Tribunal Federal”.
199
Emenda Constitucional nº 19/98, art. 7º: O art. 48 da Constituição Federal passa a vigorar
acrescido do seguinte inciso XV: “Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do
Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor
sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: [...] XV - fixação
do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, por lei de iniciativa conjunta dos
Presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo
Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I.”
200
Confira-se, conforme consignado no julgamento da MC na ADI nº 2.075: [...] O NOVO
TETO REMUNERATÓRIO, FUNDADO NA EC 19/98, SOMENTE LIMITARÁ A
REMUNERAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS DEPOIS DE EDITADA A LEI QUE
INSTITUIR O SUBSÍDIO DEVIDO AOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. [...] - Enquanto não sobrevier a lei formal, de iniciativa conjunta dos Presidentes
da República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal
Federal (CF, art. 48, XV), destinada a fixar o subsídio devido aos Ministros da Suprema
Corte, continuarão a prevalecer os tetos remuneratórios estabelecidos, individualmente,
para cada um dos Poderes da República (CF, art. 37, XI, na redação anterior à promulgação
da EC 19/98), excluídas, em conseqüência, de tais limitações, as vantagens de caráter
pessoal (RTJ 173/662), prevalecendo, desse modo, a doutrina consagrada no julgamento da
ADI 14/DF (RTJ 130/475), até que seja instituído o valor do subsídio dos Juízes do Supremo
Tribunal Federal. – Não se revela aplicável, desde logo, em virtude da ausência da lei
formal a que se refere o art. 48, XV, da Constituição da República, a norma inscrita no
art. 29 da EC 19/98, pois a imediata adequação ao novo teto depende, essencialmente, da
fixação do subsídio devido aos Ministros do Supremo Tribunal Federal [...]. (ADI nº 2.075/
RJ MC, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. em 07.02.2001, DJ, 27 jun. 2003).
201
Registre-se que o consenso exigido pela norma de iniciativa conjunta do art. 48, XV, da CF,
nunca se concretizou politicamente, de modo que a lei em questão não chegou a ser editada.
202
Assim ficou a redação do art. 37, XI, CR/88, dessa vez conferida pela Emenda Constitucional
nº 41/03: “a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos
públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou
de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador
no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito
do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado
a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie,
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este
limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”.
203
Registre-se, conforme já analisado em tópico anterior, que a norma constitucional do §12
do art. 37, acrescida pela Emenda Constitucional nº 47/05, faculta aos Estados e ao Distrito
Federal fixar, a título de limite único aplicável em seu âmbito, o subsídio mensal dos
Desembargadores dos Tribunais de Justiça, respeitando-se o limite de 90,25% (noventa
vírgula vinte e cinco por cento) do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
204
Vide art. 37, §9º, CR/88.
205
Art. 8º da EC nº 41/03: Até que seja fixado o valor do subsídio de que trata o art. 37, XI, da
Constituição Federal, será considerado, para os fins do limite fixado naquele inciso, o valor
da maior remuneração atribuída por lei na data de publicação desta Emenda a Ministro do
Supremo Tribunal Federal, a título de vencimento, de representação mensal e da parcela
recebida em razão de tempo de serviço, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador
no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito
do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado
a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento da maior remuneração mensal de
Ministro do Supremo Tribunal Federal a que se refere este artigo, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
Defensores Públicos.
206
Ementa: I. Ministros aposentados do Supremo Tribunal Federal: proventos (subsídios):
teto remuneratório: pretensão de imunidade à incidência do teto sobre o adicional por
tempo de serviço (ATS), no percentual máximo de 35% e sobre o acréscimo de 20% a que
se refere o art. 184, III, da Lei 1711/52, combinado com o art. 250 da L. 8.112/90: mandado
de segurança deferido, em parte. II. Controle incidente de constitucionalidade e o papel do
Supremo Tribunal Federal. Ainda que não seja essencial à decisão da causa ou que a decla-
ração de ilegitimidade constitucional não aproveite à parte suscitante, não pode o Tribunal
- dado o seu papel de “guarda da Constituição” - se furtar a enfrentar o problema de cons-
titucionalidade suscitado incidentemente (v.g. SE 5.206-AgR, 8.5.97, Pertence, RTJ 190/908;
Inq 1915, 05.08.2004, Pertence, DJ 05.08.2004; RE 102.553, 21.8.86, Rezek, DJ 13.02.87). III.
Mandado de segurança: possibilidade jurídica do pedido: viabilidade do controle da cons-
titucionalidade formal ou material das emendas à Constituição. IV. Magistrados. Subsí-
dios, adicional por tempo de serviço e o teto do subsídio ou dos proventos, após a EC
41/2003: argüição de inconstitucionalidade, por alegada irrazoabilidade da consideração
do adicional por tempo de serviço quer na apuração do teto (EC 41/03, art. 8º), quer na
das remunerações a ele sujeitas (art. 37, XI, CF, cf EC 41/2003): rejeição. 1. Com relação a
emendas constitucionais, o parâmetro de aferição de sua constitucionalidade é estreitíssi-
mo, adstrito às limitações materiais, explícitas ou implícitas, que a Constituição imponha
induvidosamente ao mais eminente dos poderes instituídos, qual seja o órgão de sua pró-
pria reforma. 2. Nem da interpretação mais generosa das chamadas “cláusulas pétreas”
poderia resultar que um juízo de eventuais inconveniências se convertesse em declaração
de inconstitucionalidade da emenda constitucional que submeta certa vantagem funcional
ao teto constitucional de vencimentos. 3. No tocante à magistratura - independentemen-
te de cuidar-se de uma emenda constitucional - a extinção da vantagem, decorrente da
instituição do subsídio em “parcela única”, a nenhum magistrado pode ter acarretado
prejuízo financeiro indevido. 4. Por força do art. 65, VIII, da LOMAN (LC 35/79), desde
sua edição, o adicional cogitado estava limitado a 35% calculados sobre o vencimento e
a representação mensal (LOMAN, Art. 65, §1º), sendo que, em razão do teto constitucio-
nal primitivo estabelecido para todos os membros do Judiciário, nenhum deles poderia
receber, a título de ATS, montante superior ao que percebido por Ministro do Supremo
Tribunal Federal, com o mesmo tempo de serviço (cf. voto do Ministro Néri da Silveira, na
ADIn 14, RTJ 130/475,483). 5. Se assim é - e dada a determinação do art. 8º da EC 41/03, de
que, na apuração do “valor da maior remuneração atribuída por lei [...] a Ministro do Su-
premo Tribunal Federal”, para fixar o teto conforme o novo art. 37, XI, da Constituição, ao
vencimento e à representação do cargo, se somasse a “parcela recebida em razão do tempo
de serviço” - é patente que, dessa apuração e da sua aplicação como teto dos subsídios ou
proventos de todos os magistrados, não pode ter resultado prejuízo indevido no tocante
ao adicional questionado. 6. É da jurisprudência do Supremo Tribunal que não pode o
agente público opor, à guisa de direito adquirido, a pretensão de manter determinada
fórmula de composição de sua remuneração total, se, da alteração, não decorre a redução
dela. 7. Se dessa forma se firmou quanto a normas infraconstitucionais, o mesmo se há de
entender, no caso, em relação à emenda constitucional, na qual os preceitos impugnados,
se efetivamente aboliram o adicional por tempo de serviço na remuneração dos magistra-
dos e servidores pagos mediante subsídio, é que neste - o subsídio - foi absorvido o valor
da vantagem. 8. Não procede, quanto ao ATS, a alegada ofensa ao princípio da isonomia,
já que, para ser acolhida, a argüição pressuporia que a Constituição mesma tivesse erigido
o maior ou menor tempo de serviço em fator compulsório do tratamento remuneratório
dos servidores, o que não ocorre, pois o adicional correspondente não resulta da Consti-
tuição, que apenas o admite - mas, sim, de preceitos infraconstitucionais. V. Magistrados:
acréscimo de 20% sobre os proventos da aposentadoria (Art. 184, III, da L. 1.711/52, c/c o
art. 250 da L. 8.112/90) e o teto constitucional após a EC 41/2003: garantia constitucional de
irredutibilidade de vencimentos: intangibilidade. 1. Não obstante cuidar-se de vantagem
que não substantiva direito adquirido de estatura constitucional, razão por que, após a
EC 41/2003, não seria possível assegurar sua percepção indefinida no tempo, fora ou além
do teto a todos submetido, aos impetrantes, porque magistrados, a Constituição assegu-
rou diretamente o direito à irredutibilidade de vencimentos - modalidade qualificada de
direito adquirido, oponível às emendas constitucionais mesmas. 2. Ainda que, em tese, se
considerasse susceptível de sofrer dispensa específica pelo poder de reforma constitucio-
nal, haveria de reclamar para tanto norma expressa e inequívoca, a que não se presta o art.
9º da EC 41/03, pois o art. 17 ADCT, a que se reporta, é norma referida ao momento inicial
de vigência da Constituição de 1988, no qual incidiu e, neste momento, pelo fato mesmo
de incidir, teve extinta a sua eficácia; de qualquer sorte, é mais que duvidosa a sua com-
patibilidade com a “cláusula pétrea” de indenidade dos direitos e garantias fundamentais
outorgados pela Constituição de 1988, recebida como ato constituinte originário. 3. Os
impetrantes - sob o pálio da garantia da irredutibilidade de vencimentos -, têm direito a
continuar percebendo o acréscimo de 20% sobre os proventos, até que seu montante seja
absorvido pelo subsídio fixado em lei para o Ministro do Supremo Tribunal Federal. [...]
(STJ. MS nº 24.875/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, j. em 11.05.2006, DJ,
06 out. 2006).
207
Foi nesse sentido que decidiu a 8ª Câmara do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em
diversos processos em que atuei como Relator: Ementa: Reexame necessário. Apelação Cí-
vel. Preliminar de inadmissibilidade do recurso. Rejeição. Administrativo. Servidor. Teto
remuneratório. Inclusão das vantagens pessoais. Inexistência de ofensa a direito adquirido
e decesso de remuneração. Sentença reformada em reexame necessário. Recurso provido.
[...] 2. O Supremo Tribunal Federal deu interpretação à norma contida no art. 37, XI, da
CR/88, com redação dada pela EC nº 41/03, e àquelas contidas nos artigos 8º e 9º da refe-
rida emenda, no sentido de que as vantagens pessoais se incluem no teto remuneratório,
alterando seu entendimento anterior. 3. A Suprema Corte é firme no entendimento de que
a garantia do direito adquirido em matéria de pagamento servidor se resume à irredutibi-
lidade de vencimentos, blindando o direito de não haver decesso de remuneração quando
norma posterior, ainda que constitucional, venha estabelecer teto remuneratório inferior
ao valor recebido pelo servidor. 4. A garantia a irredutibilidade de vencimentos não im-
plica na desconsideração do limite fixado, mesmo que as vantagens pessoais tenham sido
adquiridas antes da EC nº 41/03. 5. A orientação daquele Augusto Sodalício acarreta as
seguintes hipóteses: (i) servidor que, antes da emenda, percebia remuneração superior ao
teto estabelecido no art. 8º, e a forma de remuneração fora alterada para o regime de subsí-
dio, continua com o direito de receber o valor até então percebido, sendo que o excesso será
pago a título de vantagem pessoal, até ser absorvido por futuro reajuste do teto; (ii) servidor
na mesma situação anterior, mas que continuou recebendo vencimento básico e vantagens
pessoais, também continua com o direito de receber o mesmo valor, sendo que o excesso
é pago a título de vantagem pessoal, entretanto, caso, seja promovido ou tenha aumento
de vencimento básico ou adquira algum adicional, não o perceberá, até que o teto sofra
alterações e absorva o valor que deveria receber; (iii) servidor que não tenha atingido o teto
remuneratório e receba nos moldes daquele mencionado no item “ii”, ao obter promoções
ou aumentos, que acrescidos às suas vantagens pessoais ultrapasse o teto, deve ter glosado
o excesso de remuneração. 6. Demonstrado que a remuneração dos servidores somente ul-
trapassou o valor do subsídio paradigma em virtude da concessão de aumentos e reajustes
após a promulgação da EC nº 41/03, não há que se falar em direito à percepção da remune-
ração sem a incidência do teto constitucional (TJMG. AC/RN nº 1.0024.13.042525-9/003, Rel.
Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cível, j. em 05.06.2014, DJ, 11 jun. 2014).
208
Constitucional e administrativo. Teto de retribuição. Emenda Constitucional 41/03.
Eficácia imediata dos limites máximos nela fixados. Excessos. Percepção não respaldada
pela garantia da irredutibilidade. 1. O teto de retribuição estabelecido pela Emenda
209
Art. 2º da Resolução nº. 13/06 do CNJ: “Nos órgãos do Poder Judiciário dos Estados, o
teto remuneratório constitucional é o valor do subsídio do Desembargador do Tribunal
de Justiça, que não pode exceder a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento) do subsídio mensal de Ministro do Supremo Tribunal Federal”.
Art. 1º, parágrafo único, da Resolução nº 14/06: “Enquanto não editadas as leis estaduais
referidas no art. 93, inciso V, da Constituição Federal, o limite remuneratório dos
magistrados e servidores dos Tribunais de Justiça corresponde a 90,25% (noventa inteiros
e vinte e cinco centésimos por cento) do teto remuneratório constitucional referido no
caput, nos termos do disposto no art. 8º da Emenda Constitucional nº 41/2003”.
210
Magistratura. Remuneração. Limite ou teto remuneratório constitucional. Fixação diferen-
ciada para os membros da magistratura federal e estadual. Inadmissibilidade. Caráter na-
cional do Poder Judiciário. Distinção arbitrária. Ofensa à regra constitucional da igualdade
ou isonomia. Interpretação conforme dada ao art. 37, inc. XI, e §12, da CF. Aparência de
212
Arts. 1º e 2º da Lei Estadual baiana nº 11.905/10: Art. 1º. O subsídio mensal dos Desembar-
gadores do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia fica reajustado em 9,07% (nove inteiros
e sete centésimos por cento).
Art. 2º. A remuneração dos servidores públicos ocupantes de cargos, funções e empregos
no âmbito do Poder Judiciário do Estado da Bahia, e os proventos, pensões e outras espécies
remuneratórias, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, não poderão exceder o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais).
213
Ação Direta. Lei ordinária que estabelece subteto aplicável aos servidores da justiça
desvinculado do subsídio mensal dos desembargadores. Inteligência do art. 37, XI e §12,
CF. 1. No que respeita ao subteto dos servidores estaduais, a Constituição estabeleceu a
possibilidade de o Estado optar entre: (i) a definição de um subteto por poder, hipótese em
que o teto dos servidores da Justiça corresponderá ao subsídio dos Desembargadores do
Tribunal de Justiça (art. 37, XI, CF, na redação da Emenda Constitucional 41/2003); e (ii) a
definição de um subteto único, correspondente ao subsídio mensal dos Desembargadores
do Tribunal de Justiça, para todo e qualquer servidor de qualquer poder, ficando de
fora desse subteto apenas o subsídio dos Deputados (art. 37, §12, CF, conforme redação
da Emenda Constitucional 47/2005). 2. Inconstitucionalidade da desvinculação entre o
subteto dos servidores da Justiça e o subsídio mensal dos Desembargadores do Tribunal
de Justiça. Violação ao art. 37, XI e §12, CF. 3. Incompatibilidade entre a opção pela
definição de um subteto único, nos termos do art. Art. 37, §12, CF, e definição de “subteto
do subteto”, em valor diferenciado e menor, para os servidores do Judiciário. Tratamento
injustificadamente mais gravoso para esses servidores. Violação à isonomia. Ação direta
a que se julga procedente (STF. ADI nº 4.900, Rel. Min. Teori Zavascki, rel. p/ Ac: Min.
Roberto Barroso, Tribunal Pleno, j. em 11.02.2015, DJe, 20 abr. 2015).
quais sejam: (i) conforme o art. 37, XI, da CR, com a redação que
lhe foi conferida pela EC nº 41/03, a fixação do subteto por poder,
correspondendo aos subsídios do Governador para o Executivo,
dos Deputados para o Legislativo e dos Desembargadores para o
Judiciário; (ii) nos termos do §12 acrescentado pela EC nº 47/05 ao
art. 37 da CR, a definição de subteto único, equivalente ao subsídio
dos Desembargadores, para todos os Poderes. Ou seja, diante desses
cenários, a remuneração dos servidores do Judiciário, em qualquer caso,
há de se nortear pelo subsídio dos Desembargadores.
Desse modo, tendo em vista, ainda, que a Constituição do Estado
da Bahia optou pela instituição de teto único, não poderia o legislador
infraconstitucional buscar regulamentar o subteto de forma distinta
exclusivamente para os servidores da Justiça baiana, não só por falta
de amparo constitucional – tanto no nível estadual como no federal –,
mas também por vulnerar a garantia da isonomia.
Finalmente, de acordo com o disposto no §11 do art. 37, não se
incluem no teto parcelas que possuam caráter indenizatório, porque
objetivam o ressarcimento de gastos efetuados pelo servidor na prestação
do serviço, tais como ajudas de custo, por exemplo. É possível, ainda,
que seja ultrapassado o limite remuneratório, em virtude do pagamento
de direitos sociais constitucionalmente garantidos aos servidores
públicos, na forma estabelecida pelo art. 39, §3º, da Constituição, como
o pagamento do décimo terceiro salário e férias.214
214
O art. 39, §3º, CR/88 garante aos servidores públicos os seguintes direitos sociais: salário
mínimo, décimo terceiro salário, remuneração do trabalho noturno superior ao diurno,
salário família, jornada de trabalho de 8 horas diárias e não superior a 44 horas semanais,
repouso semanal remunerado, pagamento de hora-extra, férias, licença à gestante e
licença-paternidade, proteção ao trabalho da mulher, redução de riscos mediante normas
de saúde, higiene e segurança e proibição de diferenças discriminatórias de salários por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
215
TÁCITO, Caio. Acumulação de Cargos na Constituição do Brasil. Revista de Direito Público,
São Paulo, ano II, v. 7, p. 16.
216
In: FORTINI, Cristiana (Org.). Servidor público: estudos em homenagem ao Professor Pedro
Paulo de Almeida Dutra. Belo Horizonte: Fórum, 2009. p. 75.
217
Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. Questão de ordem. Matéria submetida ao
crivo da primeira seção deste Superior Tribunal. Constitucional e Administrativo. Servidor
público. Cumulação de cargos permitida constitucionalmente. Cargos considerados,
isoladamente, para aplicação do teto remuneratório.
1. “Tratando-se de cumulação legítima de cargos, a remuneração do servidor público
não se submete ao teto constitucional, devendo os cargos, para este fim, ser considerados
isoladamente”. (Precedentes: AgRg no RMS 33.100/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
DJe 15/05/2013 e RMS 38.682/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, DJe 05/11/2012).
2. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança provido. (STJ. RMS 33134/DF. Primeira
Seção. Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES. Dje27/08/2013).
218
Ementa: Teto constitucional - Parcelas percebidas cumulativamente - Afastamento na ori-
gem - Alcance do artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal na redação anterior e na
posterior à Emenda Constitucional nº 41/03 - Recurso Extraordinário - Repercussão geral
configurada. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da aplicabilidade do teto re-
muneratório estabelecido no artigo 37, inciso XI, da Carta Federal, com a redação conferi-
da pela Emenda Constitucional nº 41/03, sobre as parcelas de aposentadorias percebidas
cumulativamente (STF. RE nº 612.975 RG/MT. Tribunal Pleno. Rel. Min. Marco Aurélio.
DJe, 26 abr. 2011).
Ementa: Teto remuneratório – Incidência sobre o montante decorrente da acumulação de
proventos de aposentadoria e pensão – Artigo 37, inciso XI, da Carta Federal e artigos 8º e
9º da Emenda Constitucional nº 41/2003. Possui repercussão geral a controvérsia sobre a
possibilidade de, ante o mesmo credor, existir a distinção do que recebido, para efeito do
teto remuneratório, presentes as rubricas proventos e pensão, a teor do artigo 37, inciso XI,
da Carta da República e dos artigos 8º e 9º da Emenda Constitucional nº 41/2003 (STF. RE
nº 602.584 RG/DF. Tribunal Pleno. Rel. Min. Marco Aurélio. DJe, 25 fev. 2011).
219
Art. 97. §1º. Em qualquer dos casos, a acumulação somente é permitida quando haja
correlação de matérias e compatibilidade de horários.
220
O que caracteriza o regime de tempo integral é o fato de o servidor só poder exercer uma
função ou um cargo público, sendo-lhe vedado realizar qualquer outra atividade profis-
sional particular ou pública. Nesse regime a regra é um emprego e um só empregador, di-
versamente do que ocorre no regime de dedicação plena, em que o servidor pode ter mais
de um emprego e mais de um empregador, desde que diversos da função pública a que
se dedica precipuamente. A diferença entre o regime de tempo integral e o de dedicação
plena está em que naquele o servidor só pode trabalhar no cargo ou na função que exerce
para a Administração, sendo-lhe vedado o desempenho de qualquer outra atividade pro-
fissional pública ou particular, ao passo que neste (regime de dedicação plena) o servidor
trabalhará na atividade profissional de seu cargo ou de sua função exclusivamente para
a Administração, mas poderá desempenhar atividade diversa da de seu cargo ou de sua
função em qualquer outro emprego particular ou público, desde que compatível com o
da dedicação plena. No regime de tempo integral o servidor só poderá ter um emprego;
no de dedicação plena poderá ter mais de um, desde que não desempenhe a atividade
correspondente à sua função pública exercida neste regime. Exemplificando: o professor
em regime de tempo integral só poderá exercer as atividades do cargo e nenhuma outra
atividade profissional pública ou particular; o advogado em regime de dedicação plena só
poderá exercer a Advocacia para a Administração da qual é servidor, mas poderá desem-
penhar a atividade de Magistério ou qualquer outra para a Administração (acumulação de
cargos) ou para particulares (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39.
ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 558).
221
Ementa: Agravo Regimental no Recurso Extraordinário. Administrativo. Constitucional.
Servidor público. Acumulação de cargos. Existência de norma infraconstitucional que
limita a jornada semanal dos cargos a serem acumulados. Previsão que não pode ser
oposta como impeditiva ao reconhecimento do direito à acumulação. Compatibilidade
de horários reconhecida pela Corte de origem. Reexame do conjunto fático-probatório.
Impossibilidade. Agravo improvido. I - A existência de norma infraconstitucional que
estipula limitação de jornada semanal não constitui óbice ao reconhecimento do direito à
acumulação prevista no art. 37, XVI, c, da Constituição, desde que haja compatibilidade de
horários para o exercício dos cargos a serem acumulados. II – Para se chegar à conclusão
contrária à adotada pelo acórdão recorrido quanto à compatibilidade de horários entre
os cargos a serem acumulados, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório
constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 do STF. III - Agravo regimental
improvido (STF. RE nº 633.298 AgR/MG, 2ª Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ, 14
fev. 2012); Ementa: Administrativo e Constitucional. Embargos declaratórios. Contradição
reconhecida. Correção. Reconsideração do julgado. Servidor público. Regime de dedicação
exclusiva. Acumulação de dois cargos de professor. Possibilidade. Compatibilidade de
horários. Exegese do art. 37, XVI, da CF/88 e art. 118, §2º, da Lei n. 8.112/1990. Precedentes
do STJ. 1. “O atual regime de trabalho (dedicação exclusiva), por si só, não é obstáculo.
227
A norma é mais restritiva para o juiz do que para o promotor público; o primeiro, além das
funções do seu cargo, só pode exercer uma função de Magistério, seja pública ou privada;
o Promotor Público pode exercer outra função pública de magistério, nenhuma restrição
havendo quanto ao magistério particular (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito
Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 699).
228
No que concerne aos membros do Ministério Público, incide o art. 128, §5º, II, “d”, da CF,
segundo o qual lhes é vedado “exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função
pública, salvo uma de magistério”. Diferentemente do art. 95, parág. único, I, da CF, aplicável
aos magistrados, o dispositivo em tela deixa claro que a restrição a uma função de magistério
se refere ao exercício de função pública (daí a expressão “qualquer outra função pública”).
Idêntica, pois, deve ser a interpretação para os magistrados, apesar da incompletude de
seu texto (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed.
São Paulo: Atlas, 2014. p. 673).
229
Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada contra a Resolução no 336, de
2.003, do Presidente do Conselho da Justiça Federal, que dispõe sobre o acúmulo do
exercício da magistratura com o exercício do magistério, no âmbito da Justiça Federal de
primeiro e segundo graus. 2. Alegação no sentido de que a matéria em análise já encontra
tratamento na Constituição Federal (art. 95, parágrafo único, I), e caso comportasse
regulamentação, esta deveria vir sob a forma de lei complementar, no próprio Estatuto
da Magistratura. 3. Suposta incompetência do Conselho da Justiça Federal para editar o
referido ato, porquanto fora de suas atribuições definidas no art. 105, parágrafo único,
da Carta Magna. 4. Considerou-se, no caso, que o objetivo da restrição constitucional é
o de impedir o exercício da atividade de magistério que se revele incompatível com os
afazeres da magistratura. Necessidade de se avaliar, no caso concreto, se a atividade de
magistério inviabiliza o ofício judicante. 5. Referendada a liminar, nos termos em que foi
concedida pelo Ministro em exercício da presidência do Supremo Tribunal Federal, tão-
somente para suspender a vigência da expressão “único (a)”, constante da redação do art.
1o da Resolução no 336/2003, do Conselho de Justiça Federal (STF. ADI nº 3.126 MC/DF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. em 17.02.2005, DJ, 06 maio 2005).
230
Art. 97. É vedada a acumulação remunerada, exceto: [...] §3º. A proibição de acumular
proventos não se aplica aos aposentados, quanto ao exercício de mandato eletivo, cargo
em comissão ou ao contrato para prestação de serviços técnicos ou especializados.
231
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Regime Constitucional dos Servidores da
Administração Direta e Indireta. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p. 88-90.
232
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
p. 701.
233
Ementa: Constitucional. Administrativo. Servidor público. Proventos e vencimentos:
Acumulação. C.F., art. 37, XVI, XVII. I. - A acumulação de proventos e vencimentos
somente e permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na
atividade, na forma permitida pela Constituição. C.F., art. 37, XVI, XVII; art. 95, parágrafo
único, I. Na vigência da Constituição de 1946, art. 185, que continha norma igual a que
está inscrita no art. 37, XVI, CF/88, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal era
no sentido da impossibilidade da acumulação de proventos com vencimentos, salvo se
os cargos de que decorrem essas remunerações fossem acumuláveis. II. - Precedentes do
STF: RE-81729-SP, ERE-68480, MS-19902, RE-77237-SP, RE-76241-RJ. III. - R.E. conhecido e
provido (STF. RE nº 163.204/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, j. em 09.11.1994,
DJ, 31 mar. 1995).
234
STF. RE nº 81.729/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Xavier de Albuquerque, j. em 05.09.1975,
DJ, 19 set. 1975.
235
O direito à paridade e integralidade já não mais encontra previsão na Constituição de
1988, em razão da promulgação da Emenda Constitucional nº 41/03, que estabeleceu a
forma de cálculo do valor inicial dos proventos, bem como seu reajuste à semelhança do
que ocorre no Regime Geral de Previdência Social, isto é, cálculo do valor inicial com base
nas remunerações de contribuição e atualização monetária por índice que assegure o valor
real dos benefícios, na forma da lei – art. 40, §§3º e 17 – vide item 5, que trata do Regime
Próprio de Previdência dos Servidores Públicos.
236
Art. 87. [...] §2º A proibição de acumular proventos não se aplica aos aposentados quanto
ao exercício de mandato eletivo, de magistério ou de cargo em comissão.
237
STF. RE nº 163.204-6/SP, Rel. Min. Carlos Velloso – trecho do Voto do Min. Marco Aurélio, p. 495.
238
Ementa: Funcionário público. Demissão. Prescrição da pretensão punitiva da Adminis-
tração Pública, - A pretensão punitiva da Administração Pública. No que diz respeito a
faltas disciplinares não definidas também como crime, mas sujeitas a pena de demissão,
prescreve em quatro anos. Interpretação extensiva do inciso II, letra a, do artigo 213 do
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, cujo espírito é mais amplo do que a
letra, e abarca, sem limitação por omissão, todas as faltas, que não crimes, sujeitas a pena
de demissão. Mandado de Segurança concedido (STF. MS nº 20069/DF, Rel. Min. Cunha
Peixoto, Tribunal Pleno, j. em 24.11.1976, DJ, 02 set. 1977).
239
Art. 37 [...] §10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria
decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou
função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos
eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
240
A matéria atinente ao Regime Próprio dos Servidores Públicos será tratada no item 7.3.1.
241
Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, §10, da Constituição Federal, não se aplica aos
membros de poder e aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emen-
da, tenham ingressado novamente no serviço público por concurso público de provas ou
de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição Federal, sendo-lhes
proibida a percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência a que se
refere o art. 40 da Constituição Federal, aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite
de que trata o §11 deste mesmo artigo.
242
Art. 40 [...] §6º - Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na
forma desta Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do
regime de previdência previsto neste artigo.
243
Ementa: Mandado de Segurança. Coordenador geral de recursos humanos da ABIN. Exe-
cutor de ato administrativo do Tribunal de Contas da União. Ilegitimidade passiva. Prosse-
guimento do feito quanto ao Presidente da Primeira Câmara do TCU. Decadência adminis-
trativa. Inocorrência. Cumulação de proventos da reserva militar com os de aposentadoria
em cargo civil antes da EC 20/98. Possibilidade. art. 11 da EC 20/98. 1. O Presidente da
1ª Câmara do Tribunal de Contas da União é parte legítima para figurar no pólo passi-
vo de mandado de segurança quando o ato impugnado reveste-se de caráter impositivo.
Precedente [MS n. 24.001, Relator MAURÍCIO CORREA, DJ 20.05.2002]. 2. Prejudicada a
impetração quanto ao Coordenador Geral de Recursos Humanos da ABIN, mero executor
do ato administrativo do Tribunal de Contas da União. 3. O ato de aposentadoria configura
ato administrativo complexo, aperfeiçoando-se somente com o registro perante o Tribunal
de Contas. Submetido a condição resolutiva, não se operam os efeitos da decadência antes
da vontade final da Administração. 4. O art. 93, §9º, da Constituição do Brasil de 1967, na
redação da EC 1/69, bem como a Constituição de 1988, antes da EC 20/98, não obstavam o
retorno do militar reformado ao serviço público e a posterior aposentadoria no cargo civil,
acumulando os respectivos proventos. Precedentes [MS n. 24.997 e MS n. 25.015, Relator o
245
A título meramente ilustrativo, a acumulação tríplice poderia ocorrer na hipótese em que
um servidor aposentado em dois cargos de professor (cargos acumuláveis, nos termos
do art. 37, XVI, “a”, CR/88) ingressasse novamente no serviço público para exercer cargo
técnico ou mesmo outro cargo de professor. Outra hipótese possível é a do servidor
aposentado em razão do exercício do cargo de médico e posteriormente contratado pelo
Poder Público para exercício de mais dois cargos de médico.
246
Ementa: Constitucional. Servidor público. Acumulação de vencimentos com proventos
de duas aposentadorias. Impossibilidade. I. - A acumulação de proventos e vencimentos
somente é permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na
atividade, na forma permitida na Constituição. II. - Não é permitida a acumulação de
proventos de duas aposentadorias com os vencimentos de cargo público, ainda que
proveniente de aprovação em concurso público antes da EC 20/98. III. - Agravo não
provido (STF. AI nº 484.756 AgR/PR, Segunda Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, j. em
15.02.2005, DJ, 1º abr. 2005); Ementa: Agravo Regimental no Recurso Extraordinário
com Agravo. Administrativo. Servidora pública. Cumulação tríplice de proventos. Três
cargos de professora. Impossibilidade. Precedentes. Agravo improvido. I – Consoante
a jurisprudência desta Corte, é vedada a acumulação tríplice de proventos, ante a
impossibilidade do acúmulo de três cargos públicos na atividade. II – Agravo regimental
improvido (STF. ARE nº 668.478 AgR /RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ,
03 set. 2012); Ementa: Administrativo. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário.
Servidora pública. Acumulação de proventos com vencimentos de professor. Acúmulo
quádruplo de remunerações. Art. 11 da EC 20/98. Inviabilidade. 1. Segundo a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, apenas se permite a acumulação de proventos e vencimentos
quando se tratar de cargos, funções, ou empregos acumuláveis na atividade, conforme
permitido pela Constituição. 2. Não se admite acúmulo quádruplo de provimentos e
vencimentos de professor, mesmo que decorrentes de aprovações em concursos públicos
anteriores à vigência da EC 20/98 (AI 545.424 AgR-AgR, 2ª Turma, Min. Celso de Mello,
Dje de 25/03/13; AI 529.499 AgR, 1ª Turma, Min. Ricardo Lewandowski, DJe 17/11/10).
Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento (STF. RE nº 432.682 AgR/PR,
Segunda Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, j. em 25.06.2013, DJ, 14 ago. 2013).
247
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: [...] XII - acumulação ilegal de
cargos, empregos ou funções públicas; [...]
248
Art. 132. [...] §5º - A opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa configurará
sua boa-fé, hipótese em que se converterá automaticamente em pedido de exoneração do
outro cargo.
249
Art. 133. Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções
públicas, a autoridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua
chefia imediata, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias, contados da
data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará procedimento sumário para a sua apu-
ração e regularização imediata, cujo processo administrativo disciplinar se desenvolverá
nas seguintes fases: I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão, a
ser composta por dois servidores estáveis, e simultaneamente indicar a autoria e a ma-
terialidade da transgressão objeto da apuração; II - instrução sumária, que compreende
indiciação, defesa e relatório; III - julgamento.
250
Art. 132. [...] §6º. Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, aplicar-se-á a pena
de demissão, destituição ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade em relação aos
cargos, empregos ou funções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que
os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados.
251
Ementa: Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. Acórdão proferido pela Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, que denegou Mandado de Segurança Impetrado
contra ato do Ministro de Estado da Previdência e Assistência Social. Demissão do cargo
252
Art. 249. A pena de demissão será aplicada ao servidor que: I - acumular, ilegalmente,
cargos, funções ou cargos com funções;
253
Art. 257. Será cassada, por decreto do Governador do Estado, a aposentadoria ou dispo-
nibilidade, se ficar provado, em processo, que o aposentado ou funcionário em disponi-
bilidade: I - praticou, quando em atividade, qualquer dos atos para os quais é cominada
neste Estatuto a pena de demissão, ou de demissão a bem do serviço público; II - aceitou
ilegalmente cargo ou função pública; [...].
254
Art. 259. No caso do art. 249, item I, provada a boa-fé, poderá o servidor optar, obedecidas
as seguintes normas: a) tratando-se do exercício acumulado de cargo, funções ou cargos e
funções do Estado, mediante simples requerimento, de próprio punho e firma reconhecida,
dirigido ao Governador do Estado; b) quando forem os cargos ou funções acumulados
de esferas diversas da Administração - União, Estado, Município ou entidade autárquica,
mediante requerimento, na forma da alínea anterior, e dada ciência imediata do fato à
outra entidade interessada.
255
Art. 259. [...] Parágrafo único. Se não for provada em processo administrativo a boa-fé,
o servidor será demitido do cargo ou destituído da função estadual, sendo cientificado
também, neste caso, a outra entidade interessada e ficando o servidor ainda inabilitado,
pelo prazo de 5 anos, para o exercício de cargos ou funções do Estado.
256
Ementa: Embargos de Declaração no Recurso Extraordinário. Conversão em Agravo Re-
gimental. Processo Administrativo. Acumulação: Juiz classista e cargo efetivo. Devolução
ao erário dos valores recebidos. 1. As questões suscitadas no recurso sobre o processo ad-
ministrativo não foram examinadas no acórdão recorrido, nem foram objeto de embargos
de declaração. Incidem, no caso, as Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. 2.
Acumulação: juiz classista e cargo efetivo. Impossibilidade. Precedentes. 3. Devolução ao
Erário dos valores recebidos como juiz classista. Inadmissibilidade. Valor social do traba-
lho. Precedente. 4. Agravo regimental parcialmente provido (STF. RE nº 496246 ED/CE,
Primeira Turma, Rela. Mina. Cármen Lúcia, j. em 22.05.2007, DJe, 17 ago. 2007); Ementa:
Civil e Administrativo. Ação Civil Pública. Cumulação ilícita de funções públicas. Asses-
sor jurídico em dois municípios. Impossibilidade de condenação por ato de improbidade.
Pedido inicial. Ressarcimento. Descabimento. Compatibilidade de horários. Contrapres-
tação de serviços. Condenação em honorários advocatícios. Má-fé não demonstrada. Im-
possibilidade. 1. Inviável o acolhimento de pedido formulado pelo Ministério Público em
recurso especial, pela condenação por ato de improbidade tipificado no art. 11 da LIA, não
constante da exordial, sob pena de ofensa ao art. 460 do CPC (decisão extra petita).2. É
descabida a devolução dos valores percebidos pelo agente, mesmo nos casos de cumulação
ilícita de funções ou cargos, quando efetivamente houve contraprestação dos serviços, em
compatibilidade de horários, para não se configurar enriquecimento ilícito da Adminis-
tração. Precedente da Corte Especial. 3. É pacífica a jurisprudência de que, nas ações civis
públicas, não se impõe ao Ministério Público a condenação em honorários advocatícios ou
custas, ressalvados os casos em que o autor for considerado litigante de má-fé. Preceden-
tes. 5. Recurso especial parcialmente provido (STJ. REsp nº 565548, Segunda Turma, Rela.
Mina. Eliana Calmon, j. em 13.08.2013, DJe, 20 ago. 2013).
257
Ementa: Administrativo. Recurso Especial. Improbidade administrativa. Matéria proba-
tória. Ônus do autor. Art. 333 do CPC. Conduta ímproba não configurada. Art. 11 da Lei
8.429/92. Atipicidade. Imputação sujeita a medidas e/ou sanções na seara administrativa.
Recurso provido. 1. Hipótese em que o recorrente, professor universitário em regime de
dedicação exclusiva, patrocinou 8 causas judiciais em 16 anos de magistério. O acórdão
recorrido, mesmo reconhecendo não haver prova da contraprestação pecuniária pelo pa-
trocínio das ações, entendeu que o ônus de provar a ausência de remuneração competia
ao réu. Também restou consignado no acórdão que a conduta do recorrente não implicou
prejuízo para a instituição pública, tendo em vista que cumpria integralmente sua jor-
nada de trabalho e era dedicado à instituição federal de ensino. Não obstante, manteve
a sentença de procedência da ação de improbidade com aplicação da pena de “perda,
em definitivo, da gratificação por exercício da dedicação exclusiva” e multa civil no valor
de R$3.000,00. 2. Incumbe ao autor da ação de improbidade o ônus da prova sobre os
fatos imputados ao suposto agente ímprobo. No caso, a norma que prevê o regime de
dedicação exclusiva (art. 14, I, do Decreto 94.664/87) veda o “exercício de outra atividade
remunerada, pública ou privada”. Embora o Tribunal a quo afirme não estar comprovada
a remuneração pelo patrocínio das oito causas judiciais, entendeu que o ônus de provar
a ausência de remuneração competia ao réu. 3. Ainda que superada a ausência de prova
da infração ao preceito normativo que veda o exercício de outra atividade remunerada, o
exame das normas que tratam do regime de dedicação exclusiva e da cumulação de cargos
púbicos conduzem à compreensão de que o fato imputado ao recorrente constitui infra-
ção administrativa sujeita a medidas e sanções na seara administrativa, mas não ato de
improbidade. 4. Embora o direito de opção previsto no art. 133, §5º, da Lei 8.112/90 não se
aplique à espécie, pois voltado à “acumulação de cargos, empregos ou funções públicas”,
constitui critério de interpretação para desqualificar a conduta atribuída ao recorrente
como ímproba. 5. O art. 14, §1º, d, do Decreto 94.664/87 prevê a possibilidade de professor
em regime de dedicação exclusiva colaborar de forma “esporádica, remunerada ou não,
em assuntos de sua especialidade e devidamente autorizada pela instituição, de acordo
com as normas aprovadas pelo conselho superior competente”. Assim, embora a conduta
atribuída ao recorrente seja irregular, pois não precedida de autorização, o permissivo
normativo conduz à compreensão de não ser razoável qualificá-la como ato de improbida-
de por ofensa aos princípios da administração pública (art. 11 da Lei 8.429/92). 6. Recurso
provido para reformar o acórdão recorrido e, em consequência, julgar improcedentes os
pedidos formulados na ação de improbidade (STJ. REsp nº 1314122/MG, Primeira Turma,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. em 03.04.2014, DJe, 09 abr. 2014).
258
Norma com redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/03. Antes da promulgação
da referida emenda, a norma do parágrafo único do art. 149 previa a possibilidade de os
Estados, Distrito Federal e Municípios instituírem contribuição para custeio do regime de
previdência e assistência social de seus servidores.
7.3 Previdência
A Previdência é o pilar da Seguridade Social que visa à proteção
dos trabalhadores em geral e seus dependentes, assegurando-lhes fonte
259
Ementa: Ação Direta de Inconstitucionalidade. Artigos 79 e 85 da Lei Complementar n.
64, de 25 de março de 2002, do Estado de Minas Gerais. Impugnação da redação original e
da redação conferida pela Lei Complementar n. 70, de 30 de julho de 2003, aos preceitos.
IPSEMG. Regime próprio de Previdência e Assistência Social dos Servidores do Estado de
Minas Gerais. Benefícios previdenciários e aposentadoria assegurados a servidores não-
titulares de cargo efetivo. Alegação de violação do disposto no §13 do artigo 40 e no §1º do
artigo 149 da Constituição do Brasil. Ação Direta julgada parcialmente procedente. 1. Artigo
85, caput, da LC n. 64 estabelece que “o IPSEMG prestará assistência médica, hospitalar e
odontológica, bem como social, farmacêutica e complementar aos segurados referidos no
art. 3º e aos servidores não titulares de cargo efetivo definidos no art. 79, extensiva a seus
dependentes”. A Constituição de 1988 – art. 149, §1º – define que “os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o
custeio, em benefícios destes, de sistemas de previdência e assistência social”. O preceito
viola o texto da Constituição de 1988 ao instituir contribuição compulsória. Apenas os
servidores públicos titulares de cargos efetivos podem estar compulsoriamente filiados aos
regimes próprios de previdência. Inconstitucionalidade da expressão “definidos no art. 79”
contida no artigo 85, caput, da LC 64/02. 2. Os Estados-membros não podem contemplar
de modo obrigatório em relação aos seus servidores, sob pena de mácula à Constituição do
Brasil, como benefícios, serviços de assistência médica, hospitalar, odontológica, social, e
farmacêutica. O benefício será custeado mediante o pagamento de contribuição facultativa
aos que se dispuserem a dele fruir. 3. O artigo 85 da lei impugnada institui modalidade
complementar do sistema único de saúde – “plano de saúde complementar”. Contribuição
voluntária. Inconstitucionalidade do vocábulo “compulsoriamente” contido no §4º e no
§5º do artigo 85 da LC 64/02, referente à contribuição para o custeio da assistência médica,
hospitalar, odontológica e farmacêutica. 4. Reconhecida a perda de objeto superveniente
em relação ao artigo 79 da LC 64/02, na redação conferida LC 70/03, ambas do Estado de
Minas Gerais. A Lei Complementar 100, de 5 de novembro de 2007, do Estado de Minas
Gerais – “Art. 14. Fica revogado o art. 79 da Lei Complementar nº 64, de 2002”. 5. Pedido
julgado parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade: [i] da expressão
“definidos no art. 79” – artigo 85, caput, da LC 64/02 [tanto na redação original quanto
na redação conferida pela LC 70/03], ambas do Estado de Minas Gerais. [ii] do vocábulo
“compulsoriamente” – §§4º e 5º do artigo 85 [tanto na redação original quanto na redação
conferida pela LC 70/03], ambas do Estado de Minas Gerais (STF. ADI nº 3.106, Rel. Min.
Eros Grau, Tribunal Pleno, j. em 14.04.2010, DJe, 24 set. 2010).
260
Anexo I, da Portaria MPS nº 4.992/99, com a redação dada pelas Portarias MPS nºs 3.385/01
e 87/2005.
261
Art. 40. [...] §6.º As aposentadorias e pensões dos servidores públicos federais serão custeadas
com recursos provenientes da União e das contribuições dos servidores, na forma da lei.
262
A tal respeito, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs nº 4.939/GO e nº 4.641/
SC, decidiu pela inconstitucionalidade de leis editadas pelos Estados de Goiás e Santa
Catarina, que incluíam agentes públicos não titulares de cargos efetivos (oficiais de
serventias notariais e de registro público e serventuários da justiça – os últimos apenas na
lei goiana) no regime próprio de Previdência daqueles entes. Na oportunidade, o relator de
ambos os casos, Ministro Teori Zavascki, pontuou que, no caso da representação ajuizada
em face da lei catarinense, a indicação de tais categorias de agentes públicos no rol dos
beneficiários do regime próprio ofenderia a norma inserta no art. 40, da Constituição da
República, que já estabelece um regime diferenciado. Já no caso da lei goiana, asseverou ser
inolvidável que aquele Estado criou um “modelo de previdência extravagante, destinado
a beneficiar agentes remunerados pelos cofres públicos, cujo formato não é compatível
com os fundamentos do regime próprio (artigo 40) e do regime geral (artigo 201), e nem
mesmo da previdência complementar (artigo 202)”, de forma que “o Poder Legislativo
local desviou-se do desenho institucional que deveria observar”.
263
Art. 8º. Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a
aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas, é assegurado o direito à aposentadoria
voluntária com proventos calculados de acordo com o art. 40, §3º, da Constituição Federal,
àquele que tenha ingressado regularmente em cargo efetivo na Administração Pública,
direta, autárquica e fundacional, até a data de publicação desta Emenda, quando o servidor,
cumulativamente: I - tiver cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos
de idade, se mulher; II - tiver cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se dará a
aposentadoria; III - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e
cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição
equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria
para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. §1º. O servidor de que trata
este artigo, desde que atendido o disposto em seus incisos I e II, e observado o disposto
no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição, quando atendidas as seguintes condições: I - contar tempo de contribuição
igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e
b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que,
na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante
da alínea anterior; II - os proventos da aposentadoria proporcional serão equivalentes a
setenta por cento do valor máximo que o servidor poderia obter de acordo com o “caput”,
acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o
inciso anterior, até o limite de cem por cento. §2º. Aplica-se ao magistrado e ao membro
do Ministério Público e de Tribunal de Contas o disposto neste artigo. §3º. Na aplicação
do disposto no parágrafo anterior, o magistrado ou o membro do Ministério Público ou
de Tribunal de Contas, se homem, terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta
Emenda contado com o acréscimo de dezessete por cento. §4º. O professor, servidor da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, que, até a data da publicação desta Emenda, tenha ingressado, regularmente,
em cargo efetivo de magistério e que opte por aposentar-se na forma do disposto no
“caput”, terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta Emenda contado com o
acréscimo de dezessete por cento, se homem, e de vinte por cento, se mulher, desde que se
aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício das funções de magistério. §5º.
(Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003).
264
Constitucional. Servidor público do Estado de Minas Gerais. Aposentadoria. Tempo de
serviço: Contagem. Art. 42 do ADCT da Constituição do Estado de Minas Gerais. I - Incons-
titucionalidade do artigo 42 do ADCT da Constituição do Estado de Minas Gerais, que es-
tabelece que, para efeito de aposentadoria ou transferência para a inatividade, prevalecerão
para o servidor público cível as normas relativas a contagem de tempo de serviço em vigor
na data de sua admissão, ou durante a sua atividade no serviço público, desde que mais
benéficas. II. - As normas constitucionais federais que dispõem a respeito da aposentadoria
dos servidores públicos (CF, artigo 40) são de absorção obrigatória pelas Constituições
estaduais. III. - Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente (STF. ADI nº 101/
MG, Rel. Min. Célio Borja, Tribunal Pleno, j. em 17.09.1992, DJ, 07 maio 1993).
265
O Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concentrado (ADI nº 2.010-2/DF),
entendeu pela inconstitucionalidade da cobrança de contribuição previdenciária sobre
proventos e pensões sob a égide do regime previdenciário instituído com a promulgação
da EC nº 20/98, conforme será tratado a seguir.
266
A Lei nº 10.887/04, em observância às modificações trazidas pela EC nº 41/03, alterou a
redação do art. 2º, da Lei nº 9.717/98, para inserir limite mínimo do valor da contribuição
dos entes federados, que não pode ser inferior à contribuição do segurado.
267
STF. ADI nº 2.010 QO, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. em 13.06.2002, DJ, 28
mar. 2003.
não possua caráter absoluto, pode e deve ser utilizado como meio de
averiguação das razões que ensejaram a elaboração de determinada
norma, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal em outras
ocasiões (vide item 6.3).
Salientou que a instituição da contribuição previdenciária sobre
aposentadorias e pensões ofenderia não somente a norma constitucional
da não incidência (art. 40, §12, c/c art. 195, II, da CR/88), como também
o princípio constitucional do equilíbrio atuarial (art. 195, §5º, CR/88),
em virtude da inexistência de causa suficiente para legitimar a cobrança
do tributo sobre tais benefícios. Isso porque, no regime de caráter
contributivo, deve haver correspondência entre a cobrança da exação
e o oferecimento da retribuição, o que não se verifica em relação aos
inativos e pensionistas, que não figuram como segurados do regime,
mas sim como beneficiários.
Por fim, consignou que a instituição de alíquotas progressivas da
contribuição previdenciária, na forma estabelecida pela norma do art.
2º, da Lei nº 9.783/99, representava ofensa à norma inserta no art. 150,
IV, da CR/88, que veda a instituição de tributo com efeito de confisco.
Posteriormente, fora promulgada a Emenda Constitucional nº 41,
de 31 de dezembro de 2001, que deu continuidade à reforma previdenci-
ária e introduziu as seguintes alterações no Regime Próprio: explicitação
do caráter solidário do regime (art. 40, caput); previsão da incidência de
contribuição previdenciária sobre aposentadorias e pensões pagas em
valor superior ao limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS
(art. 40, caput, e §18); alteração do sistema de cálculo da aposentadoria
e pensão, bem como dos critérios de reajustamento desses benefícios,
com a extinção do direito à integralidade e paridade dos proventos e
pensões com a remuneração do cargo paradigma (art. 40, §§3º, 7º e 17);
previsão do pagamento do abono de permanência (art. 40, §19); vedação
da existência de mais de um regime próprio e mais de uma unidade
gestora do regime por ente federado, salvo em relação aos militares, que
devem possuir regime de previdência específico (art. 40, §20).
A EC nº 41/03 estabeleceu a base constitucional para legitimar a
cobrança da contribuição previdenciária sobre aposentadorias e pensões,
pois, além de mencionar expressamente a incidência do tributo sobre
tais benefícios (art. 40, caput e §18), explicitou o caráter solidário do
Regime Próprio,268 tendo o Supremo Tribunal Federal reconhecido a
268
A solidariedade caracteriza-se pelo financiamento do regime previdenciário por todos
aqueles que dele se beneficiam. Significa dizer que as contribuições vertidas ao regime pe-
los segurados destinam-se não somente a lhes assegurar o pagamento dos benefícios pre-
videnciários, mas também a financiar todo o sistema. Assim, o aposentado e pensionista,
embora não possuam mais a perspectiva de receber benefício futuro, têm a obrigação de
efetuar o pagamento das respectivas contribuições, dado o caráter social do Regime Pre-
videnciário.
269
STF. ADIs nº 3.105/DF e nº 3.128/DF, Rel. p/ ac. Min. Cezar Peluso, DJ, 18 fev. 2005.
270
Vide item 7.3.3, que trata do benefício da pensão por morte.
271
A norma inserta no §1º, do art. 149, da CR/88, com a redação dada pela EC nº 41/03, fora
objeto de controle de constitucionalidade no âmbito da ADI nº 3.138/DF, ajuizada pela
Associação dos Magistrados Brasileiros, ao fundamento de que a fixação, pelo legislador
constituinte derivado, de alíquota mínima a ser observada pelos Estados, Distrito Federal
e Municípios na instituição da contribuição previdenciária a ser cobrada de seus próprios
servidores representaria ofensa ao pacto federativo e autonomia dos entes federados. Con-
tudo, o Supremo Tribunal Federal entendeu pela constitucionalidade da norma, nos ter-
mos do voto proferido pela Ministra Cármen Lúcia, ao fundamento de que ao constituinte
derivado é dado estabelecer diretrizes gerais de observância obrigatória pelos entes fede-
rados relativamente ao poder de tributar, à semelhança do que ocorre com outros tributos
(ICMS e ISSQN), sem que isso configure violação ao pacto federativo. Na oportunidade, a
I. Ministra Relatora consignou, em seu voto, que a fixação da alíquota mínima da contri-
buição previdenciária visa assegurar a observância dos princípios da contributividade e
solidariedade, ínsitos ao Regime de Previdência instituído pelas EC nº 20/98 e EC nº 41/03,
notadamente diante da adoção do sistema de compensação recíproca (art. 40, §9º, e art.
201, §9º, CR/88).
272
STF. ADIs nº 3.105/DF e nº 3.128/DF. Rel. p/ ac. Min. Cezar Peluso, DJ, 18 fev. 2005.
273
Art. 2º Observado o disposto no art. 4º da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro
de 1998, é assegurado o direito de opção pela aposentadoria voluntária com proventos
calculados de acordo com o art. 40, §§3º e 17, da Constituição Federal, àquele que tenha
ingressado regularmente em cargo efetivo na Administração Pública direta, autárquica e
fundacional, até a data de publicação daquela Emenda, quando o servidor, cumulativa-
mente: I - tiver cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade,
se mulher; II - tiver cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria;
III - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e cinco anos, se
homem, e trinta anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a
vinte por cento do tempo que, na data de publicação daquela Emenda, faltaria para atingir
o limite de tempo constante da alínea a deste inciso. §1º O servidor de que trata este artigo
que cumprir as exigências para aposentadoria na forma do caput terá os seus proventos
de inatividade reduzidos para cada ano antecipado em relação aos limites de idade es-
tabelecidos pelo art. 40, §1º, III, a, e §5º da Constituição Federal, na seguinte proporção:
I - três inteiros e cinco décimos por cento, para aquele que completar as exigências para
aposentadoria na forma do caput até 31 de dezembro de 2005; II - cinco por cento, para
aquele que completar as exigências para aposentadoria na forma do caput a partir de 1º de
janeiro de 2006.
Art. 6º. Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas estabelecidas pelo
art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras estabelecidas pelo art. 2º desta Emenda, o
servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autar-
quias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de publicação desta
Emenda poderá aposentar-se com proventos integrais, que corresponderão à totalidade da
remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei,
quando, observadas as reduções de idade e tempo de contribuição contidas no §5º do art.
40 da Constituição Federal, vier a preencher, cumulativamente, as seguintes condições: I -
sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade, se mulher; II - trinta
e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; III - vinte
anos de efetivo exercício no serviço público; e IV - dez anos de carreira e cinco anos de
efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria. Parágrafo único. Os proventos
das aposentadorias concedidas conforme este artigo serão revistos na mesma proporção e
na mesma data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade, na
forma da lei, observado o disposto no art. 37, XI, da Constituição Federal.
274
STF. ADI nº 3.104/DF, Rela. Mina. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, j. em 26.09.2007, DJ, 09
nov. 2007.
275
Art. 3º. Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas estabelecidas pelo
art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras estabelecidas pelos arts. 2º e 6º da Emenda
Constitucional nº 41, de 2003, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço pú-
blico até 16 de dezembro de 1998 poderá aposentar-se com proventos integrais, desde que
preencha, cumulativamente, as seguintes condições: I - trinta e cinco anos de contribuição,
se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; II - vinte e cinco anos de efetivo exer-
cício no serviço público, quinze anos de carreira e cinco anos no cargo em que se der a
aposentadoria; III - idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do art.
40, §1º, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, de um ano de idade para cada ano
de contribuição que exceder a condição prevista no inciso I do caput deste artigo. Parágra-
fo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias concedidas com base neste
artigo o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 2003, observando-se igual
critério de revisão às pensões derivadas dos proventos de servidores falecidos que tenham
se aposentado em conformidade com este artigo.
276
Não se podem confundir as expressões “proventos integrais” com “integralidade dos pro-
ventos”. A primeira diz respeito ao percentual resultante do tempo de contribuição (ou
tempo de serviço) que incidirá sobre a base de cálculo dos proventos. A segunda refere-se
à própria base de cálculo, que poderá ser integral, isto é, equivalente à totalidade da re-
muneração do cargo efetivo, ou resultante da média aritmética das maiores remunerações
utilizadas como base para as contribuições do servidor. Desse modo, pode-se dizer que a
EC nº 70/12 não alterou a norma do art. 40, §1º, I, da CR/88, relativamente aos proventos
de aposentadoria no caso de invalidez permanente genérica (não decorrente de acidente
de serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável), que são calcu-
lados de forma proporcional ao tempo de contribuição.
277
STF. ARE nº 787.514 AgR/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, j. em 07.10.2014,
DJe, 17 out. 2014; RE nº 731.203 AgR/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, j. em
03.09.2013, DJe, 18 set. 2013; ARE nº 682.728 AgR/GO, Rela. Mina. Cármen Lúcia, Segunda
Turma, j. em 13.11.2012, DJe, 10 dez. 2012.
7.3.2 Aposentadoria
A aposentadoria é o direito subjetivo à inatividade remunerada e,
em relação aos servidores públicos, tornou-se um benefício de natureza
previdenciária após a instituição da contribuição para financiamento
do regime de previdência (vide item 7.3.1).
Trata-se de ato administrativo formal praticado pela Adminis-
tração e sujeito à apreciação de legalidade pelo Tribunal de Contas,
para fins de registro, a teor do disposto no art. 71, III, da Constituição
da República.
Quanto à sua formação, a aposentadoria se caracteriza como
ato complexo, que, nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, é aquele
que se forma pela conjugação de vontades de mais de um órgão
administrativo e somente se aperfeiçoa com a integração da vontade final
da Administração, tornando-se, a partir de então, perfeito e impugnável
na via administrativa ou judicial.278
Assim, o prazo decadencial para a revisão do ato de aposentadoria
pela Administração somente começa a fluir após seu registro pelo
Tribunal de Contas, conforme jurisprudência pacífica do Supremo
Tribunal Federal.279
Em relação ao regime jurídico, aplicam-se as normas vigentes
no momento em que o servidor cumpre os requisitos necessários à
aposentação (tempus regit actum).280
As normas que regulam a aposentadoria dos servidores públicos
ocupantes de cargos efetivos, sujeitos ao Regime Próprio de Previdência
Social encontram-se inseridas no art. 40, caput, e §§1º a 21, da Constituição
da República. Tais normas são de observância obrigatória pelos entes
federados, que, no entanto, podem dispor, em seus respectivos estatutos,
acerca do direito de aposentadoria de seus servidores, observando os
comandos insertos da CR/88.281
278
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 182.
279
STF. MS nº 30537 ED/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 10.02.2015, DJe, 03 mar.
2015; MS nº 28.576/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, j. em 27.05.2014,
DJe, 10 jun. 2014.
280
Ementa: Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo. Previdenciário.
Aposentadoria. Aplicação da lei vigente ao tempo em que o segurado reuniu condições
para obtenção da aposentadoria. Tempus regit actum. Precedentes. Agravo Regimental ao
qual se nega provimento (STF. ARE nº 814207 AgR/RJ, Rela. Mina. Cármen Lúcia, Segunda
Turma, j. em 05.08.2014, DJe, 19 ago. 2014).
281
Sobre cassação da aposentadoria, vide item 11.5.1.
282
Ementa: Administrativo. Servidor. Aposentadoria por invalidez. Incapacitação. Art. 186,
§1º, da Lei nº 8.112/90. Art. 40, I, da CF. I - Nos termos do art. 186 da Lei nº 8.112/90, a apo-
sentadoria por invalidez com proventos integrais, ainda que grave, incapacitante e incurá-
vel seja a doença sofrida pelo servidor - Epidermólise Bolhosa Distrófica - não será, in casu,
devida, pois essa moléstia não se encontra elencada no §1º do referido artigo. II - Se não
houver especificação, os proventos serão proporcionais (RE nº 175.980-1, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 20/02/98). Ordem denegada. (STJ. MS nº 8.334/DF, Rel. Min. José Arnaldo da
Fonseca, Corte Especial, j. em 05.03.2003, DJ, 19 maio 2003).
283
STJ. REsp nº 942.530/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, j. em 02.03.2010, DJe, 29
mar. 2010.
284
STJ. AgRg em ED em REsp nº 828.292/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Seção,
j. em 27.06.2012, DJe, 15 ago. 2012.
285
STF. RE nº 656.860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. em 21.08.2014, DJe, 18
set. 2014.
286
STJ. REsp nº 1.324.671/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 03.03.2015,
DJe, 09 mar. 2015.
287
Art. 40 - [...] II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição,
aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei
complementar; [...].
288
Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do §1º do
art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais
Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75
(setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal.
289
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: [...] III - aprovar previamente, por
voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos
nesta Constituição; b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente
da República; [...].
290
STF. ADI nº 5.316/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 21.05.2015.
291
A norma do art. 51 da Lei nº 8.213/91 prevê a possibilidade de o empregador requerer a
aposentadoria do empregado que tenha cumprido o período de carência e completado 70
(setenta) anos de idade, se homem, e 65 (sessenta e cinco) anos, se mulher, sendo a aposen-
tadoria compulsória, assegurado o direito à indenização prevista na lei trabalhista. Dessa
forma, nessa hipótese, a aposentadoria não é automática, sendo faculdade do empregador,
ao contrário do que ocorre no Regime Próprio, em que a aposentadoria compulsória é
decorrência imediata do implemento da idade limite pelo servidor.
292
Ementa: Mandado de Segurança. Recurso Ordinário. Servidor público estadual ocupante
de cargo em comissão. Idade superior a setenta anos. Aposentadoria compulsória. Art.
40, §1º, II, e §13 da CF/88. Inaplicabilidade. Exoneração baseada exclusivamente no fato
de ser o impetrante septuagenário. Teoria dos motivos determinantes. Possibilidade de
a autoridade impetrada exonerar o impetrante por outro fundamento ou mesmo sem
294
A Constituição da República, em sua redação original, estabelecia, na norma inserta
no art. 40, §1º, a possibilidade de fixação de requisitos diferenciados para aposentação,
mediante lei complementar, nos casos de atividades consideradas penosas, insalubres ou
perigosas. Com a promulgação da EC nº 20/98, a questão passou a ser tratada na norma do
§4º, do art. 40, que previu a aposentadoria especial para os casos de atividades exercidas
exclusivamente sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou integridade física do
servidor, conforme definido em lei complementar.
295
Ementa: Agravo Regimental no Mandado de Injunção. Aposentadoria especial de servidor
público distrital. Art. 40, §4º, inc. III, da Constituição da República. Competência concorrente
da União, Estados e do Distrito Federal para legislar sobre Previdência Social. Necessidade
de tratamento uniforme da matéria. 1. A competência concorrente para legislar sobre
previdência social não afasta a necessidade de tratamento uniforme das exceções às regras
de aposentadoria dos servidores públicos. Necessidade de atuação normativa da União
para a edição de norma regulamentadora de caráter nacional. 2. O Presidente da República
é parte legítima para figurar no polo passivo de mandado de injunção em que se discute
Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 29.10.2008, DJe, 27 mar. 2009, republ. DJe, 29
out. 2009).
299
A norma inserta no art. 8º, §§2º e 3º, da EC nº 20/98 (posteriormente revogado pela EC nº
41/03) estabeleceu regra de transição específica para os membros da Magistratura, Mi-
nistério Público e dos Tribunais de Contas, ao permitir a contagem do tempo de serviço
exercido até a data da publicação da EC nº 20/98 com o acréscimo de 17%, para o agente
público, do sexo masculino, que viesse a se aposentar pelas normas de transição do art. 8º,
da referida emenda. Posteriormente, a EC nº 41/03, previu tal direito (contagem do tempo
de serviço prestado até o advento da EC nº 20/98, com referido acréscimo de 17%) apenas
para os agentes (homens) que viessem a se aposentar pelas normas de transição insertas
no art. 2º e ss., da EC nº 41/03 (sem direito à integralidade e paridade).
serão reajustados por critérios que lhes preservem o valor real, na forma
da lei.
A norma do art. 15, da Lei nº 10.887/04, em sua redação original,
estabelecia que os proventos seriam reajustados na mesma data em que
se desse o reajuste dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Posteriormente, foi editada a Medida Provisória nº 431/08, convertida na
Lei nº 11.784/08, que alterou a redação do dispositivo legal em apreço,
prevendo a incidência, sobre os proventos de aposentadoria pagos pelo
Regime Próprio, dos mesmos índices de reajuste aplicáveis aos benefícios
do Regime Geral de Previdência Social.
O Supremo Tribunal Federal, no âmbito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.582, ajuizada pelo Governador do Estado do
Rio Grande do Sul, deferiu a liminar para suspender a eficácia dessa
norma, com efeitos ex nunc, em relação aos proventos pagos pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, mantendo sua aplicabilidade
apenas no âmbito da União.
De acordo com o entendimento esposado pelo Pretório Excelso
no julgamento da medida cautelar pleiteada da referida demanda, a
norma do art. 15, da Lei nº 10.887/04, com a redação dada pela Lei nº
11.784/08, padece de vício formal de inconstitucionalidade, pois, ao
estabelecer o critério de reajuste dos proventos no âmbito de todos os
entes federados, extrapolou a competência legislativa da União para
editar normas gerais sobre previdência social (art. 24, XII, CR/88).300
A EC nº 41/03, portanto, alterou a forma de cálculo dos proventos
de aposentadoria dos servidores públicos, bem como de seu reajuste,
extinguindo os direitos à integralidade (correspondência entre o valor
inicial dos proventos e a última remuneração do cargo efetivo) e
paridade (reajuste na mesma proporção e mesma data da remuneração
dos servidores em atividade).
300
Ementa: Proventos – Servidores estaduais – Revisão. Surge relevante pedido de concessão
de medida acauteladora no que ato emanado da União veio a disciplinar a forma de
manutenção do poder aquisitivo de proventos e pensões alusivos a servidor do Estado
(STF. ADI nº 4.582 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. em 28.09.2011, DJe,
09 fev. 2012).
301
A LC nº 109/01, em seu art. 7º, parágrafo único, prevê três modalidades de planos de previ-
dência complementar: (i) benefício definido (BD), em que o valor do benefício previdenciá-
rio é fixado no momento da adesão ao plano, ao passo que o valor das contribuições podem
variar para assegurar o pagamento do respectivo benefício; (ii) contribuição definida (CD),
em que as contribuições são acertadas quando da adesão, mas o valor do benefício somen-
te é estabelecido no momento de sua concessão; (iii) contribuição variável (CV), também
denominada de plano misto, pois reúne características de ambos os planos (BD e CD).
sação do vínculo com o patrocinador antes da aquisição do direito ao benefício pleno, optar
por receber, em tempo futuro, quando cumpridos os requisitos de elegibilidade, benefício
previdenciário proporcional (art. 14, inciso I, da LC nº 109/01 c/c art. 1º, da Resolução MPS
nº 06/03). Por sua vez, o autopatrocínio é a faculdade de o participante manter o valor de
sua contribuição e a do patrocinador, no caso de perda parcial ou total da remuneração
recebida (como, por exemplo, no caso de cessação do vínculo com o patrocinador), para
assegurar a percepção dos benefícios nos níveis correspondentes àquela remuneração ou
em outros definidos em normas regulamentares (art. 27, da Resolução MPS nº 06/03).
7.3.4 Pensão
A pensão caracteriza-se como benefício previdenciário devido aos
dependentes do servidor em virtude de seu falecimento. Sujeita-se ao
princípio da contributividade, pois seu custeio depende de contribuição
vertida ao regime de previdência, e, também, ao princípio da solidarie-
dade, o que legitima a incidência da contribuição previdenciária sobre
o valor que exceder o limite dos benefícios pagos pelo RGPS (art. 40,
§18), ou que superar o dobro desse limite, nos casos em que o benefici-
ário for portador de doença incapacitante, na forma da lei (art. 40, §21).
Além disso, rege-se pelas normas vigentes no momento da ocorrência
do fato gerador (morte do segurado), em decorrência do princípio do
tempus regit actum.
Até a promulgação da EC nº 41/03, que, como observado, extinguiu
os direitos à integralidade e paridade dos benefícios previdenciários
pagos pelo Regime Próprio de Previdência Social, o valor da pensão
por morte correspondia à última remuneração percebida pelo servidor
(limitada ao valor da remuneração do cargo efetivo) e era reajustada
na mesma forma e data do que a remuneração dos servidores da ativa.
A norma inserta no §5º, do art. 40, da Constituição da República
de 1988, em sua redação original, estabelecia que a pensão por morte
deveria ser paga em valor equivalente à totalidade dos vencimentos
ou proventos do servidor falecido, além de determinar a incidência, na
forma de reajustamento desse benefício, da norma do §4º, do art. 40,
que, por sua vez, previa o direito à paridade com a remuneração dos
servidores da ativa.
À época, muito se discutiu acerca da necessidade ou não de lei
infraconstitucional para dar exequibilidade à norma do art. 40, §5º,
da CR/88, mormente em razão da expressão contida na parte final
do dispositivo (até o limite estabelecido em lei), bem como da proibição
inserta no art. 195, §5º, da CR/88, que veda a criação, majoração ou
extensão de quaisquer benefícios ou serviços da Seguridade Social sem
a correspondente fonte de custeio.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no
sentido da autoaplicabilidade da referida norma constitucional, ao
fundamento de que o mandamento nela contido – o benefício da pensão
por morte corresponderá à totalidade dos vencimentos ou proventos do servidor
falecido – possuía eficácia imediata, não dependendo da elaboração de lei
que lhe completasse o alcance, sentido ou lhe fixasse conteúdo, porque
já se apresentava suficientemente explícita na definição do direito nela
regulado.
303
Pensão - Proventos - Vencimentos - Valor. A teor do par.5. do artigo 40 da Carta Politica da
Republica, a pensão corresponde a “totalidade dos vencimentos ou proventos do servidor
falecido”. Eis o mandamento constitucional a sofrer temperamento próprio a legitimida-
de quantitativa da parcela. O que se contem na parte final do preceito outro sentido não
possui senão o de enquadrar o valor da pensão nos limites próprios aos proventos e venci-
mentos, sob pena de submissão da regra asseguradora da totalidade referida ao legislador
ordinário. MANDADO DE INJUNÇÃO - IMPROPRIEDADE. Se o preceito constitucional
e de eficácia imediata, exsurge a carência da impetração. [...] (STF. MI nº 211/DF, Rel. Min.
Octavio Gallotti, Rel. p/ ac. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. em 10.11.1993, DJ, 18
ago. 1995).
304
Ementa: Administrativo - Servidor do Município de Belo Horizonte - Pensão integral -
Cabimento - Auto-aplicabilidade do artigo 40, §7º, da Constituição Federal - BEPREM
- Ilegitimidade passiva - Custas - Isenção.- [...] É pacífico perante o colendo Supremo
Tribunal Federal o entendimento no sentido de que é auto-aplicável o preceito do §7º
do art. 40, da Constituição Federal (§5º, do art. 40, na redação original), de forma que,
independentemente de qualquer regulamentação infraconstitucional, a pensão por morte
deve corresponder à totalidade dos vencimentos ou proventos que o servidor receberia se
vivo estivesse.- Prevendo a Constituição Federal (parágrafo 7º, do artigo 40) que a pensão
corresponderá à totalidade dos vencimentos ou proventos do servidor falecido, não pode
lei estadual ou a ausência de estabelecimento de fonte de custeio justificar o pagamento
de quantia inferior ao ‘quantum’ estabelecido.- [...] (TJMG. AC nº 1.0024.06.229500-1/001,
Quarta Câmara Cível, Rel. Des. Heloisa Combat, j. em 17.02.2011, DJ, 10 mar. 2011).
305
Referida norma teve sua constitucionalidade questionada no âmbito da ADI nº 4.582/DF,
em que fora deferida a liminar, com efeitos ex nunc, para suspender sua eficácia em relação
aos benefícios pagos pelos Estados, Distrito Federal e Municípios (vide item 7.3.2.2).
306
Ementa: Apelação Cível. Previdência pública. Integralidade de pensão. Art. 40, §7º, da
Constituição Federal. Óbito posterior à EC 41/03. Remuneração excedente ao limite máximo
estabelecido para os benefícios do RGPS. Incidência do redutor de 30%. 1. Sobrevindo o
óbito do instituidor da pensão em agosto/2005, o cálculo do benefício de pensão dá-se
na forma do art. 40, §7º, inciso II, da CF, com a redação que lhe conferiu a EC n. 41/2003,
devendo corresponder à totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que
se deu o falecimento, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral
de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela
excedente a este limite. 2. Caso em que o valor da remuneração do falecido ultrapassava
o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS, impondo-se a aplicação do
redutor de 30% sobre o excedente àquele montante, não havendo falar em pagamento
integral do benefício. A renda inicial da pensão, na hipótese, é igual à remuneração do
falecido até o teto do RGPS, acrescido de 70% do que exceder. Inteligência do art. 40, §7º,
inciso II, da CF, com a redação determinada pela EC n. 41/2003, regulamentada pela MP
n. 167, de 19 de fevereiro de 2004, esta convertida na Lei n. 10.887, de 18 de junho de 2004.
APELO IMPROVIDO. (TJRS. Apelação Cível nº 70035768589. Rel. Des. Eduardo Uhlein,
Terceira Câmara Especial Cível, j. em 22.02.2011).
307
Ementa: Agravo de Instrumento - Pensão por morte - Artigo 40, §7º, com a redação dada
pela Emenda Constitucional nº 41/03 - Paridade de revisão assegurada - Art. 7º da EC nº
41/03 - Arts. 3º e 6º da EC nº 47/05 - Integralidade - Provimento do recurso. 1) Ainda que
se considere aplicável o artigo 40, §7º, com a redação dada pela Emenda Constitucional
nº 41/03, na hipótese do falecimento do servidor, fato gerador da pensão, ocorrer após
a vigência dessa emenda, como ocorre no caso em análise, é assegurada a integralidade
e paridade de revisão da pensão, consoante o estabelecido no artigo 7º da EC nº 41/03 e
artigos 3º e 6º da EC nº 47/05. [...]. (TJMG. AI nº 1.0024.13.250527-2/001. Rel. Des. Teresa
Cristina da Cunha Peixoto, Oitava Câmara Cível, j. em 27.03.2014, DJ, 07 abr. 2014).
308
Ementa: Constitucional. Administrativo. Servidor público. Pensão por morte. Direito a
paridade e integralidade. Aposentadoria anterior ao advento da EC 41/2003 e falecimento
após a sua promulgação. Existência de repercussão geral (STF. RE nº 603.580 RG/RJ, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, j. em 05.05.2011, DJe, 28 jun. 2011).
que limita a pensão a 70% (setenta por cento) do valor que exceder o
teto do Regime Geral de Previdência Social.309
Por fim, necessário consignar, a Medida Provisória nº 664, de 30
de dezembro de 2014, alterou dispositivos da Lei nº 8.112/90 (Estatuto
dos Servidores Públicos Federais) que tratam das pensões devidas aos
dependentes dos servidores públicos federais, trazendo as seguintes
modificações, aplicáveis aos benefícios concedidos após 1º.03.2015 (art.
5º, III, da MP nº 664/14):
a) período de carência de vinte e quatro contribuições mensais,
salvo no caso de morte por acidente de trabalho, doença
profissional ou do trabalho (art. 215, parágrafo único, da Lei
nº 8.112/90);
b) inexistência do direito à pensão ao cônjuge ou companheiro,
caso a data do óbito tenha ocorrido há menos de dois anos do
início do casamento ou união estável, salvo na hipótese de
morte decorrente de acidente do segurado, ou se o beneficiário
for considerado permanentemente incapaz, em virtude de
doença ou acidente ocorrido após o casamento ou união estável
e antes do óbito (art. 217, §3º, II, “a” e “b”, da Lei nº 8.112/90);
c) fixação de tempo de duração para percepção da pensão pelo
cônjuge, cônjuge divorciado ou companheiro, de acordo
com a expectativa de sobrevida do beneficiário na data do
óbito do servidor, regra essa que não se aplica ao cônjuge
ou companheiro considerado permanentemente incapaz por
doença ou acidente ocorrido entre o casamento ou início da
união estável e a cessação do pagamento do benefício (art. 217,
§3º, I e III, da Lei nº 8.112/90);
d) extinção do direito à pensão da pessoa designada pelo
segurado, na hipótese de dependência econômica, com
restrição desse direito apenas aos genitores, irmão (até 21
anos ou inválido), enteado e menor tutelado (até 21 anos ou
inválido) (art. 217, V, VI e §5º, da Lei nº 8.112/90);
e) vedação à percepção cumulativa de pensão deixada por mais
de um cônjuge ou companheiro, ressalvado o direito de opção
(fora mantida a proibição de acumulação de mais de duas
pensões – art. 225 da Lei nº 8.112/90).
309
STF. RE nº 603.580 RG/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 20.05.2015, DJ, 05 jun.
2015.
310
Lei nº 8.112/90, art. 240. Ao servidor público civil é assegurado, nos termos da Constituição
Federal, o direito à livre associação sindical e os seguintes direitos, entre outros, dela
decorrentes: a) de ser representado pelo sindicato, inclusive como substituto processual;
b) de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano após o final do mandato, exceto se
a pedido; c) de descontar em folha, sem ônus para a entidade sindical a que for filiado, o
valor das mensalidades e contribuições definidas em assembléia geral da categoria.
311
Di Pietro ressalva que “o exercício do direito de greve poderá, quando muito, atuar como
pressão sobre o Poder Público, mas não poderá levar os servidores a negociações coletivas,
com o sem participação de sindicatos, com o fito de obter aumento da remuneração” (DI
PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 696).
312
Esta garantia está prevista no artigo 8º, VIII, da Constituição da República, aplicável aos
servidores públicos: Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte: [...] VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
313
Lei nº 8.112/90, art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem remuneração para
o desempenho de mandato em confederação, federação, associação de classe de âmbito
nacional, sindicato representativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou,
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída
por servidores públicos para prestar serviços a seus membros, observado o disposto na
alínea c do inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e observados
os seguintes limites: I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
servidores; II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta mil) associados,
4 (quatro) servidores; III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, 8
(oito) servidores. §1º. Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para cargos
de direção ou de representação nas referidas entidades, desde que cadastradas no órgão
competente. §2º. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser renovada, no
caso de reeleição.
314
Vide art. 102, VIII, “c”, da Lei nº 8.112/90.
315
Art. 34. É garantida a liberação do servidor público para exercício de mandato eletivo
em diretoria de entidade sindical representativa de servidores públicos, de âmbito
estadual, sem prejuízo da remuneração e dos demais direitos e vantagens do seu cargo.
§1º. Os servidores eleitos para cargos de direção ou de representação serão liberados, na
seguinte proporção, para cada sindicato: I - de 1.000 (mil) a 3.000 (três mil) filiados, 1 (um)
representante; II - de 3.001 (três mil e um) a 6.000 (seis mil) filiados, 2 (dois) representantes;
III - de 6.001 (seis mil e um) a 10.000 (dez mil) filiados, 3 (três) representantes; IV - acima de
10.000 (dez mil) filiados, 4 (quatro) representantes. §2º. O Estado procederá ao desconto,
em folha ou ordem de pagamento, de consignações autorizadas pelos servidores públicos
civis das administrações direta e indireta em favor dos sindicatos e associações de
classe, efetuando o repasse às entidades até o quinto dia do mês subseqüente ao mês de
competência do pagamento dos servidores, observada a data do efetivo desconto.
316
O Supremo Tribunal Federal, na ADI nº 895-1/RS, em matéria idêntica, decidiu pela
inconstitucionalidade, por vício formal, da norma estadual, de iniciativa da Assembleia
Legislativa, que dispensava servidores para o exercício de mandato eletivo em entidade de
classe ou sindical. O relator, Ministro Ilmar Galvão, assim decidiu, no que foi acompanhado
à unanimidade de votos: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica ao
considerar as normas básicas de processo legislativo constantes da Constituição Federal
como de observância compulsória pelos Estados-membros, estando aí incluídas as regras
relativas à iniciativa reservada prevista no §1º. Do art. 61 do texto constitucional. Nesse
sentido, entre outros precedentes, ADI 766, Rel. Min. Sepúlveda pertence, D.J. de 11.12.98;
ADIMC 872, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, D.J. de 06.08.93; e ADIMC 1.060, Rel. Min. Celso
de Mello, D.J. de 23.09.94. A alínea c do inc. II do §1º. do art. 61 da Constituição Federal
é precisa ao determinar a iniciativa privativa dos chefes do Poder Executivo em relação
às leis que disponham sobre servidores públicos e seu regime jurídico. A Lei nº. 9.536/92,
do Estado do Rio Grande do Sul, como relatado, dispõe sobre a dispensa de servidores
públicos eleitos para mandatos em entidades de classe ou sindical, tendo resultado da
aprovação de projeto de iniciativa parlamentar, circunstância reconhecida pela Assembléia
Legislativa gaúcha. Dessa forma, evidente a violação ao disposto no art. 61, §1º., inc. II, c,
da Carta da República, meu voto julga procedente a presente ação direta, declarando a
inconstitucionalidade da Lei nº. 9.536, de 10.03.1992, do Estado do Rio Grande do Sul”.
317
No mesmo sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: Ementa:
Apelação Cível. Administrativo. Servidor público municipal. Licença sindical. Município
de Belo Horizonte. Inconstitucionalidade da Lei Municipal. Sentença reformada, em
reexame necessário. Recurso de apelação conhecido e provido. 1. A licença remunerada
para membros da diretoria de sindicato não se confunde com o direito de livre associação
profissional ou sindical, com a garantia da vedação de dispensa ou de qualquer punição
de empregado ou servidor sindical a partir do registro da candidatura, previsto no art.
8º, VIII, da Constituição da República. 2. A licença mencionada constitui vantagem
decorrente do regime jurídico dos servidores que depende de lei, cuja iniciativa é privativa
do Chefe do Executivo, conforme dispõe a norma inserta no art. 61, II, a, da Constituição
da República, cuja observância é obrigatória pelo princípio da simetria. 3. O Supremo
322
Registre-se, conforme destacado no voto proferido pelo Ministro Gilmar Mendes, que a de-
cisão proferida não implica que não se possa analisar, em cada caso, na avaliação do estágio
probatório, o exercício abusivo do direito de greve, desde que devidamente caracterizado em
processo administrativo específico. Vide ADI nº 3.235/AL, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ ac.
Min. Gilmar Mendes (art. 38, II, RISTF), Tribunal Pleno, j. em 04.02.2010, Dje, 12 mar. 2010.
323
Lei nº 7.783/89, art. 7º. Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser
regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.
324
Nesse sentido decidiu a 8ª Câmara Cível, em processo de minha relatoria: Ementa: Ape-
lação Cível - Reexame necessário - Direito de greve - Servidor público do Município de
Contagem/MG - Desconto do período não trabalhado por parte da Administração - Possi-
bilidade - Reposição - Ônus da prova que incumbe à autora - Direito de contagem dos dias
repostos como de efetivo exercício para todos os fins de direito - Recurso parcialmente pro-
vido - Sentença reformada. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Mandados
de Injunção nº 670, 708 e 712, por unanimidade, reconheceu a omissão legislativa no que
tange a regulamentação do direito de greve dos servidores públicos, previsto no art. 37, VII,
da CF, e, por maioria, consagrando a teoria concretista geral, determinou a aplicação, no
que couber, da Lei nº 7.783/89, que regula o direito de greve dos trabalhadores em geral, até
a promulgação da lei específica de que cuida o dispositivo constitucional em tela. 2. A prin-
cípio, a Administração Pública, independentemente da legitimidade do movimento pare-
dista, pode descontar os dias não trabalhados, se não forem devidamente repostos. É que a
contagem dos dias de paralisação como de efetivo exercício sem a contraprestação laboral
do servidor implicaria verdadeiro locupletamento ilícito deste à custa do erário. 3. Compro-
vado pela autora que alguns dias relativos aos períodos em que sua categoria esteve parali-
sada por motivo de greve foram objeto de reposição, eles devem ser contados como tempo
de efetivo exercício para todos os fins de direito (TJMG. AC nº 1.0079.12.004700-0/001. Rel.
Des. Bitencourt Marcondes. Oitava Câmara Cível, j. em 08.08.2013, DJe, 19 ago. 2013).
325
Art. 142, §3º, IV, CR/88.
326
Cito trecho do voto proferido pelo Ministro Eros Grau, relator da Reclamação nº 6.568/
SP: “[...] Os servidores públicos são, seguramente, titulares do direito de greve. Essa é a
regra. Ocorre, contudo – disse-o então e não tenho pejo em ser repetitivo – que entre os
serviços públicos há alguns que a coesão social impõe sejam prestados plenamente, em sua
totalidade. Referia-me especialmente aos desenvolvidos por grupos armados. As atividades
desenvolvidas pela polícia civil são análogas, para esse efeito, às dos militares, em relação
aos quais a Constituição expressamente proíbe a greve (art. 142, §3º, IV). É certo, além disso,
que a relativização do direito de greve não se limita aos policiais civis. A exceção estende-
se a outras categorias. Servidores públicos que exercem atividades das quais dependam a
manutenção da ordem pública e a segurança pública, a administração da justiça – onde as
carreiras de Estado, cujos membros exercem atividades indelegáveis, inclusive as de exação
tributária – e a saúde pública não estão inseridos no elenco dos servidores alcançados por
aquele direito. [...]” (STF. Rcl nº 6.568, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, j. em 21.05.2009,
DJe, 25 set. 2009).
9.1 Introdução
Conforme ressaltado em tópico anterior, a redação original do
caput do art. 39 da Constituição da República determinou que os entes
federativos instituam, cada um no âmbito de sua competência, regime
jurídico único e planos de carreira para os servidores da Administração
direta, autárquica e fundacional.327 Desta forma, a União Federal editou
a Lei nº 8.112/90, instituindo o “Regime Jurídico dos Servidores Civis da
União, das autarquias e das fundações públicas federais”.328 No presente
Capítulo, serão apresentados, de forma sistematizada, os principais
temas constantes do Estatuto Federal.
327
Conforme destacado, o dispositivo foi posteriormente alterado pela Emenda Constitucional
nº 19/98, que acabou com a exigência inicial. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, em
razão de vícios formais na aprovação do dispositivo alterador do artigo, deferiu medida
cautelar na ADI nº 2.135, determinando o restabelecimento da redação original, ou seja, do
regime jurídico único, com efeitos não retroativos.
328
O Estado de Minas Gerais, por exemplo, permaneceu com seu regime jurídico único do
servidor civil instituído por meio da Lei nº 869/52, nos pontos em que foi recepcionada
pela ordem constitucional, e pela Lei nº 10.254/90.
329
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 628.
330
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 16. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 1.001.
331
Lei nº 8.112/90, art. 33.
332
Na mesma linha, dispõe a Lei Mineira em seu art. 103.
333
O instituto da demissão, em se tratando de penalidade, somente pode ser aplicado nas
hipóteses legalmente previstas em rol taxativo. O tema será tratado detalhadamente no
capítulo referente ao Processo Administrativo.
a.1) Exoneração
Entre as hipóteses de vacância do cargo, importante tecer algumas
considerações a respeito da exoneração, que, conforme ressaltado, não
possui caráter punitivo.
O Estatuto da União estabelece que, em se tratando de cargo
efetivo, a exoneração poderá ocorrer a pedido do servidor ou no interesse
da Administração.
Quando a exoneração se der a pedido do servidor, necessária a
manifestação voluntária de interesse no desligamento do cargo, não
cabendo à Administração questionar os motivos pessoais que levaram
à desvinculação do serviço público, na medida em que o exercício do
cargo público é renunciável a qualquer tempo.
Contudo, a própria Lei nº 8.112/90 estabelece restrição a esse
pedido, quando, no art. 172, caput, prevê a impossibilidade de concessão
de exoneração ou aposentadoria voluntárias ao servidor que responde a
processo disciplinar até a conclusão do feito e o cumprimento da pena,
quando aplicada.335 Referido processo, todavia, deve ser concluído em
334
O tema foi tratado com detalhes no item referente à inacumulabilidade dos cargos
públicos.
335
Mandado de Segurança. Administrativo. Processo Administrativo Disciplinar. Pretensão
de anulação do PAD, por ilegalidade do ato instaurador. Perda do objeto. 1. Segundo
o art. 172, caput, da Lei n. 8.112/90, o servidor que responder a processo disciplinar só
poderá aposentado voluntariamente, após a conclusão do processo e o cumprimento da
penalidade, acaso aplicada. 2. Na hipótese, ao impetrante foi concedida aposentadoria
voluntária, com proventos integrais e paridade, correspondentes ao subsídio do cargo
efetivo (Portaria de Pessoal AGU n. 753, de 03 de junho de 2009, publicada em 05/06/2009).
3. Assim, tendo o impetrante sido aposentado voluntariamente, com proventos integrais e
de 11 anos, ainda pendente de conclusão. - Recurso especial não conhecido (STJ. REsp nº
371.138/PR, Rel. Min. Vicente Leal, Sexta Turma, j. em 04.06.2002, DJ, 1º jul. 2002).
339
O art. 15 da Lei nº 8.112/90 concede ao servidor o prazo de 15 dias, contados da data da
posse, para entrar em exercício, prevendo, no §2º, a consequente exoneração do cargo ou a
não efetivação da designação para função de confiança.
340
Confira-se: Ementa: Reclamação. Descumprimento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
n. 518/TO. Concessão de pontos aos detentores do título de “Pioneiros do Tocantins”.
Anulação do concurso público por decisão judicial. Desnecessidade de instauração de
processo administrativo prévio para exoneração dos aprovados. 1. A decisão proferida
pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade 598/TO acarretou
a nulidade de todo o certame e, conseqüentemente, dos atos administrativos que dele
decorreram. 2. O estrito cumprimento da decisão proferida por este Supremo Tribunal
Federal torna desnecessária a instauração de processo administrativo prévio à exoneração
dos candidatos aprovados. 3. Reclamação julgada procedente (STF. Rcl nº 5.819, Relª. Minª.
Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, j. em 20.05.2009, DJe, 19 jun. 2009).
b) Remoção e redistribuição
A remoção consiste no ato administrativo que acarreta o desloca-
mento do servidor, dentro do mesmo quadro, podendo ou não haver
mudança de localidade (sede). Consigne-se não se tratar de forma de
provimento, porque não ocasiona mudança de cargo, distinguindo-se,
assim, da transferência, modalidade de provimento derivado declarada
inconstitucional pela Suprema Corte, como já ressaltado.
O art. 36 do Estatuto, com a redação dada pela Lei nº 9.527/97,
estabelece 03 (três) modalidades de remoção,343 quais sejam: (i) de ofício,
no interesse da Administração; (ii) a pedido, a critério da Administração;
ou (iii) a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse
da Administração.344
A primeira hipótese insere-se na discricionariedade do Poder
Público por dizer respeito à organização do serviço, o que implica afirmar
que o administrador possui liberdade para, de acordo com o interesse da
Administração, auferir a conveniência na prática de tal ato, bem como
o momento oportuno de fazê-lo.
341
A Constituição Mineira, na mesma linha, determina, para o cumprimento dos referidos
limites, as seguintes providências: redução de pelo menos 20% (vinte por cento) das despesas
com cargos em comissão e funções de confiança; a exoneração de servidor não estável, que
conte menos de três anos de efetivo exercício no Estado; e a dispensa ou exoneração de
servidor não estável, observando-se, nesta última hipótese, os critérios de menor tempo de
efetivo exercício e de avaliação de desempenho, na forma da lei (art. 27, §3º).
342
Lei nº 8.112/90, art. 35.
343
A remoção do servidor para trabalhar em localidade diversa, desde que no interesse da
Administração, enseja pagamento de ajuda de custo a título indenizatório (art. 53 da Lei nº
8.112/90), que será tratada em tópico adiante.
344
No âmbito do Estatuto Mineiro, a remoção é permitida a pedido do servidor ou decorrente
de ato de ofício da Administração, “de uma para outra repartição ou serviço ou de um para
outro órgão de repartição ou serviço”, respeitada a lotação de cada repartição ou serviço
(art. 80).
345
Nesse sentido já me manifestei como relator em diversos julgados perante a 8ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Confira-se, a título de exemplo: TJMG.
Ementa: Apelação Cível. Reexame necessário. Mandado de Segurança. Administrativo.
Polícia Civil. Remoção de servidor. Ausência de motivação prévia ou contemporânea.
Convalidação posterior. Possibilidade. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
Sentença reformada em reexame necessário. Recurso provido. 1. A remoção de servidor
público, por dizer respeito à organização do serviço, é ato discricionário, o que implica
afirmar que o administrador possui liberdade para, de acordo com seu juízo subjetivo,
auferir a conveniência na prática de tal ato, bem como o momento oportuno de fazê-lo. 2. A
exposição de motivos do ato, ainda que discricionário, consiste em importante ferramenta
de combate à ocultação de eventuais abusos, favorecimento e arbitrariedades no seio
do Poder Público, práticas intoleráveis no Estado Democrático de Direito. Daí dizer-se
que a motivação, além de suficiente, há de ser prévia ou contemporânea à expedição do
ato. 3. Não obstante, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, com arrimo na
doutrina de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, tem esposado a possibilidade
de convalidação do ato de remoção ex officio, mediante apresentação ulterior de sua
justificativa, desde que a autoridade coatora, por meio de suas informações, aponte em
juízo os motivos idôneos e preexistentes que constituíram a razão determinante para a
mudança de lotação do servidor. Precedentes: AgRg no RMS 40427/DF, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe 10/09/2013; REsp 1331224/MG, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 26/02/2013 (TJMG.
AC/RN nº 1.0024.13.254779-5/001, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cível, j.
em 18.07.2014, DJ, 28 jul. 2014).
346
Processual Civil e Administrativo. Princípio da fungibilidade recursal. Servidor público.
Remoção para acompanhar cônjuge. Inviabilidade. Ausência de coabitação antes da remo-
ção do cônjuge. Inexistência de convivência diária e direta. Impossibilidade de trauma na
união familiar. 1. [...]. 2. Cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança impetrado contra
a Diretora-Geral do TRE em que a impetrante requer que se acate seu pedido de remoção
para acompanhar cônjuge removido para a cidade de Curitiba/PR. 3. A impetrante, em
virtude de posse em concurso público, foi lotada no município de Ortigueira/PR. Posterior-
mente, seu cônjuge foi removido a pedido do município de Fazenda Rio Grande/PR para o
município de Curitiba/PR. 4. É certo que, antes da posse da impetrante, ambos os cônjuges
possuíam residência fixa em Curitiba/PR. Contudo, após tal fato, foi lotada no município
de Ortigueira/PR, sendo que seu cônjuge, nesse momento, exercia suas atividades no mu-
nicípio de Fazenda Rio Grande/PR, aproximadamente 31 km do município de Curitiba/
PR, onde já residia. 5. Assim, a quebra da unidade familiar resultou da posse e exercício
da servidora no cargo que atualmente ocupa, na cidade de Ortigueira, pois, anteriormente
a tal fato, tanto ela como seu cônjuge residiam no município de Curitiba/PR, sendo certo
que a lotação inicial da servidora consistiu no fato preponderante de cessação do convívio
diário do casal, e não no deslocamento posterior de seu cônjuge. 6. O STJ já decidiu que “o
trauma à unidade familiar configura-se quando ocorre o afastamento do convívio familiar
direto e diário entre os cônjuges” (AgRg no REsp 1.209.391/PB, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 13.9.2011, noticiado no Informativo 482), caso em que, ine-
xistindo prévia habitação entre os cônjuges, caracterizada está a impossibilidade de remo-
ção. Precedente do STJ. 7. Inconteste que a impetrante teve que alterar seu domicílio em
virtude de aprovação em concurso público, estando ciente de que iria assumir o cargo em
local diverso da residência do marido, não possui direito subjetivo a acompanhar cônjuge
que foi removido para cidade em que já resida. 8. “A tutela à família não pode ser vista
de forma absoluta, devendo os interessados observarem o enquadramento legal para que
não se cometa injustiças ou preterição em favor de uma pequena parcela social” (AgRg
no AREsp 201.588/CE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 8/8/2014).
9. Agravo Regimental não provido (STJ. EDcl no REsp nº 1506600/PR, Rel. Min. Herman
Benjamin, Segunda Turma, j. em 07.04.2015, DJe, 21 maio 2015).
347
STJ. Administrativo. Remoção de cônjuge servidor público federal para acompanhar
cônjuge empregado público federal. Possibilidade. Interpretação do conceito de servidor
público ampliada. [...] 1. A jurisprudência desta Corte vem ampliando o conceito de
servidor público a fim de alcançar, não apenas os vinculados à Administração direta,
como também os que exercem suas atividades em entidades da Administração Pública
indireta. [...] (STJ. REsp nº 1511736/CE, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em
24.03.2015, DJe, 30 mar. 2015).
348
Administrativo. Agravo Regimental no Recurso Especial. Servidora pública. Remoção
para acompanhar cônjuge empregado de empresa privada. Ausência de interesse da Ad-
ministração. Requisito do art. 36, inciso III, alínea “a” da Lei 8.112/1990 descumprido. Di-
reito não configurado. 1. A remoção a pedido de servidor para acompanhamento de côn-
juge ou companheiro, independentemente da existência de vaga, exige obrigatoriamente o
cumprimento de requisito específico, qual seja, que o cônjuge, servidor público, tenha sido
removido no interesse da Administração. Precedentes: REsp 1.438.400/PA, Rel. Min. Bene-
dito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 06/05/2014; AgRg no REsp 1.453..357/RN, Rel. Min.
Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 09/10/2014; AgRg no REsp 1.404.339/SE, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 24/10/2013; AgRg no REsp 1.290.031/PE,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 9/9/2013; AgRg no Ag 1.318.796/RS,
Rel. Min. Humberto Martins, DJe 9/11/2010. 2. No caso em análise, o pedido de remoção da
servidora lotada na Receita Federal na cidade do Cabo-PE para a Receita Federal do Rio de
Janeiro-RJ, foi motivado pela transferência de seu cônjuge, empregado da Embratel, para
aquela cidade, não configurando, assim, o requisito essencial previsto em lei. 3. Agravo
regimental não provido (STJ. AgRg no REsp nº 1311160/PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, j. em 20.11.2014, DJe, 28 nov. 2014).
349
Conforme previsão contida no art. 36, III, “b”, da Lei nº 8.112/90.
350
Art. 36, III, “c”, da Lei nº 8.112/90.
351
Vide art. 37 da Lei nº 8.112/90.
9.3 Vantagens
9.3.1 Introdução
A norma inserta no art. 39, §3º, da Constituição da República,
estendeu aos servidores civis detentores de cargo público alguns dos
direitos conferidos aos trabalhadores em geral (art. 7º da CR), quais
sejam: garantia do salário, nunca inferior ao mínimo, para os que
percebem remuneração variável; décimo terceiro salário com base na
remuneração integral ou no valor da aposentadoria; remuneração do
trabalho noturno superior à do diurno; salário-família pago em razão
Confira-se: Processual Civil e Administrativo. Ofensa ao art. 535 do CPC não configurada.
352
9.3.2 Conceito
Vantagens pecuniárias constituem acréscimos ao vencimento do
servidor, podendo se revestir de caráter transitório ou definitivo, e pagas,
segundo a doutrina,354 em razão do tempo de serviço (ex facto temporis),
desempenho de funções especiais (ex facto officii), exercício das funções
em condições anormais de trabalho (propter laborem), ou por conta de
condições pessoais do servidor (propter personam). As duas primeiras
são denominadas adicionais, e as últimas, gratificações.355
353
O art. 31, caput, da Carta Mineira, ainda acrescenta outros, que, “nos termos da lei, visem
melhoria de sua condição social e da produtividade e da eficiência no serviço público, em
especial o prêmio por produtividade e o adicional de desempenho”.
354
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 552.
355
A tal respeito, adverte Hely Lopes Meirelles que “a legislação, estadual e municipal, apre-
senta-se com lamentável falta de técnica e sistematização na denominação das vantagens
pecuniárias de seus servidores, confundindo e baralhando adicionais com gratificações, o
que vem dificultando ao Executivo e ao Judiciário o reconhecimento dos direitos de seus
beneficiários. Essa imprecisão conceitual é que responde pela hesitação da jurisprudência,
pois que em cada estatuto, em cada lei, em cada decreto, a nomenclatura é diversa e, não
raro, errônea, designando uma vantagem com nomen juris da outra. Urge, portanto, a ado-
ção da terminologia certa e própria do Direito Administrativo, para unidade de doutrina
e exata compreensão da natureza, extensão e efeitos das diferentes vantagens pecuniárias
que a Administração concede aos seus servidores” (In: Direito administrativo brasileiro. 39.
ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 554).
356
Administrativo. Servidor público. Remoção a pedido. Ajuda de custo. Descabimento.
Decisão em consonância com a jurisprudência do STJ. Aplicação da Súmula 83/STJ. Recurso
conhecido e não provido. Ofensa ao art. 535 do CPC não configurada. [...] 2. A ajuda de
custo será devida somente ao servidor que, no interesse da administração, for trabalhar
em nova sede, com mudança de domicílio, em caráter permanente. 3. Na hipótese, o
Tribunal de origem consignou que a remoção da servidora se deu a pedido. Ajuda de
custo descabida. Precedentes do STJ. 4. Agravo Regimental não provido (STJ. AgRg no
REsp nº 1408942/AL, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em 11.03.2014, DJe,
19 mar. 2014).
357
O Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a Petição nº 8.345/SC, deu provimento ao
incidente, para uniformizar a jurisprudência da Corte no sentido de ser igualmente
indevido o pagamento do beneficio na hipótese de remoção prevista no art. 36, parágrafo
único, III, da Lei nº 8.112/90, qual seja, a pedido do servidor, independentemente do
interesse da Administração (Rel. Min. Humberto Martins, Primeira Seção, j. em 08.10.2014,
DJe, 12 nov. 2014).
358
“Não há de se conceber, por conseguinte, se o servidor, motu proprio, se afasta do serviço
que lhe compete para imprimir à própria atividade outra direção que, a seu alvedrio, mais
lhe convenha. A ajuda de custo – parece supérfluo insistir – não consiste em liberdade,
que se outorgue por motivo estranho ao rendimento do trabalho de seu beneficiário.
Nem é mesmo prêmio a serviços prestados por meritórios que seja. De tal sorte, se ao
funcionário aprouver o exercício de mandato eletivo, dispensado a ele, pelo serviço que
prestar à Administração, e não ao distinguido pela votação popular para mister que nada
tem de administrativo. Assim, quer se desloque para a ocupação de seu posto eletivo,
b) Diárias
Dispõe o art. 58362 e seguintes da Lei nº 8.112/90, que serão devidas
diárias ao servidor que, em virtude do serviço, vier a se afastar, em
quer regresse dele para o cargo na repartição publica, tem o funcionário de arcar com
aas despesas de sua mobilização e nova instalação, a que a Administração é indiferente”
(MENEGALE, J. Guimarães. O Estatuto dos Funcionários. Rio de Janeiro: Forense, 1962. v. I,
p. 376, apud MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Lei nº 8.112/90 interpretada e comentada. 4.
ed. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2008. p. 352).
359
“Essa ressalva, feita na parte final do presente artigo, objetiva evitar o recebimento em
duplicidade da respectiva indenização, pois se o cônjuge ou companheiro também ostenta
a condição de servidor público e vier a ter exercício na mesma sede, certamente já é
detentor da titularidade da ajuda de custo, visando custear a aludida remoção. Por já ser
titular da citada indenização, o cônjuge ou companheiro não poderá receber a indenização
de ajuda de custo concomitantemente como dependente também, visto que caracterizaria
uma indevida duplicidade de recebimento de verba” (MATTOS, Mauro Roberto Gomes de.
Lei nº 8.112/90 interpretada e comentada. 4. ed. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2008. p. 342).
360
Direito Administrativo. Servidor público federal. Ajuda de custo. Remoção para outro
município. Possibilidade. 1. O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que “a ajuda
de custo, de que trata o art. 53 da Lei 8.112/90, será devida ao servidor que, no interesse
da administração, for servir em nova sede, com mudança de domicílio, em caráter
permanente. 2. Caso em que o acórdão assentou que a mudança de domicílio do servidor
se deu por único e exclusivo interesse da administração. Agravo regimental improvido
(STJ. AgRg no AgRg no REsp nº 1338014/RS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda
Turma, j. em 27.03.2014, DJe, 02 abr. 2014).
361
“Comprovado, através de documentos hábeis, que houve motivo justificado para a não
apresentação à nova sede, o servidor não será obrigado a restituir a ajuda de custo.
Todavia, o agente público responsável legal pelo ato administrativo da remoção ou pelo
deslocamento do servidor para a nova sede poderá revogá-lo. Se tal providência ocorrer,
mesmo estando justificada a força maior ou o caso fortuito, o servidor público terá que
devolver, caso ele receba antecipadamente, parte da ajuda de custo, o valor que lhe foi
adiantado, pois a mudança de sede não mais se realizará. Isso ocorre vez que se trata de
ato discricionário da Administração Pública” (MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Lei nº
8.112/90 interpretada e comentada. 4. ed. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2008. p. 360).
362
Art. 58. O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em caráter eventual ou transitório
para outro ponto do território nacional ou para o exterior, fará jus a passagens e diárias
destinadas a indenizar as parcelas de despesas extraordinária com pousada, alimentação
e locomoção urbana, conforme dispuser em regulamento.
c) Indenização de transporte
A indenização de transporte, prevista no art. 60 do Estatuto,365
será devida ao servidor que realizar despesas mediante utilização de
meio próprio de locomoção para a execução de serviços externos, por
força das atribuições próprias do cargo.366
O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar Agravo Regimental no
REsp nº 830.926/SC, decidiu ser indevido o pagamento da indenização
nos casos em que o deslocamento ocorra dentro da mesma unidade da
federação, porquanto não se trataria, no caso, de execução de serviços
externos.367
Tal interpretação, a nosso aviso, extrapola os limites da norma
ao entender que a indenização em comento somente seria devida caso
o serviço fosse prestado fora da unidade da federação a que pertence o
servidor. Restringe, portanto, o direito sem que a norma o faça, invia-
bilizando, muitas vezes, a própria execução do serviço diante do custo
do deslocamento do servidor.
Não há que se confundir, todavia, o beneficio com o auxílio-
transporte, porquanto sua finalidade é compensar o servidor que se
utiliza de meios próprios de locomoção para o exercício de suas funções.
A vantagem em questão é regulamentada pelo Decreto nº 3.184/99.
d) Auxílio moradia
O auxílio moradia, contemplado no art. 60-A e seguintes do
Estatuto da União, incluídos pela Lei nº 11.355, de 19 de outubro de
domingo ou feriado, salvo se a permanência fora da sede nesses dias for conveniente ou
necessária ao serviço (art. 139, §1º, itens 2, 3 e 4) Frisa, ainda, a proibição ao pagamento
de diária cumulativamente com qualquer outra retribuição de caráter indenizatório de
despesa com alimentação e hospedagem (art. 141), assim como considera infração grave, a
ser punida na forma da lei, o recebimento indevido da vantagem em comento (art. 142).
365
Art. 60. Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor que realizar despesas com a
utilização de meio próprio de locomoção para a execução de serviços externos, por força
das atribuições próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento.
366
Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, trata-se de norma de eficácia
limitada, necessitando de regulamentação para produção de seus efeitos (STJ. REsp nº
415.435/SC, Relª. Minª. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ/
PE), Sexta Turma, j. em 04.04.2013, DJe, 18 abr. 2013).
367
Agravo Regimental em Recurso Especial. Servidor público. Indenização de transporte. 1.
O servidor público designado temporariamente para exercer suas funções em unidade
diversa daquela em que foi originalmente lotado, dentro da mesma unidade de federação,
não faz jus à indenização de transporte, porque não caracterizada a execução de serviços
externos. 2. Agravo regimental improvido (STJ. AgRg no REsp nº 830.926/SC, Rel. Min.
Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, j. em 17.08.2006, DJ, 05 fev. 2007).
368
Cumpre anotar que, desde a edição da Lei Federal nº 9.986/00, já havia previsão para o
pagamento da vantagem em questão aos servidores das Agências Reguladoras (art. 22).
369
Administrativo. Servidor público. Art. 38, §2º, da Lei 8.112/90. Função comissionada.
Substituição. Período superior a 30 dias consecutivos. Retribuição restrita aos dias que
excederam o período de 30 dias. A Corte de origem dirimiu a controvérsia de forma clara e
fundamentada, embora de maneira desfavorável à pretensão do recorrente. Não é possível
se falar, assim, em maltrato ao art. 535, II, do Código de Processo Civil. 2. Com a edição da
MP 1.522/96, que alterou a redação do art. 38, §2º, da Lei 8.112/90, o servidor somente tem
direito à gratificação pelo exercício de função em substituição, se essa se der por mais de
trinta dias consecutivos, restringindo-se ao período que exceder os trinta dias. Precedentes. 3.
Recurso especial parcialmente provido (STJ. REsp nº 1377095/PB, Relª. Minª. Eliana Calmon,
Segunda Turma, j. em 17.09.2013, DJe, 11 out. 2013); Administrativo. Servidor público.
Designação para o desempenho de função comissionada. Encargo efetivamente exercido,
sem o pagamento da correspondente retribuição. Ação de cobrança. Prescrição da pretensão
referente ao fundo de direito. Não ocorrência. Prestação de trato sucessivo. Inexigibilidade
apenas das parcelas vencidas mais de cinco anos antes da propositura da ação. 1. Caso em
que a lesão ao direito do servidor, formalmente designado para exercer função comissionada,
ficou caracterizada no momento em que a administração deixou de pagar a retribuição
correspondente a esse encargo. Idênticas lesões foram sendo perpetradas, mês a mês, até a
data em que o pagamento correspondente à função passou a ser realizado. 2. Tratando-se,
pois, de prestação de trato sucessivo, e diante do efetivo desempenho das atribuições da
função comissionada, a prescrição somente atinge a pretensão referente às parcelas vencidas
mais de cinco anos antes da propositura da ação de cobrança. 3. Agravo regimental a que
se nega provimento (STJ. AgRg no AgRg no REsp nº 1126452/RS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Quinta Turma, j. em 18.04.2013, DJe, 25 abr. 2013).
370
Art. 62. Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em função de direção, chefia ou
assessoramento, cargo de provimento em comissão ou de Natureza Especial é devida
retribuição pelo seu exercício.
371
Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze avos) da remuneração a que o
servidor fizer jus no mês de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano. Parágrafo
único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias será considerada como mês integral.
372
A Constituição do Estado de Minas Gerais, em seu art. 31, III (redação dada pela EC
nº 57/03), bem como o Estatuto Mineiro, no art. 144, preveem o pagamento do referido
adicional, nos termos, condições e limites fixados em regulamento, qual seja, o art. 13 da
Lei Estadual nº 10.745/92.
373
CRETELLA JÚNIOR, José apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde
do Trabalhador. São Paulo: LTr, 1998. p. 136.
374
Ao tratar do tema, leciona Helly Lopes Meirelles: “A gratificação por risco de vida ou saúde
é uma vantagem pecuniária vinculada diretamente às condições especiais de execução do
serviço. Não é uma retribuição genérica pela função desempenhada pelo servidor; é uma
compensação específica pelo trabalho realizado em condições potencialmente nocivas para
o funcionário. O que se compensa com essa gratificação é o risco, ou seja, a possibilidade
de dano à vida ou à saúde daqueles que executam determinados trabalhos classificados
pela Administração como perigosos. Daí por que tal gratificação só é auferível enquanto
o servidor estiver executando o trabalho beneficiado com essa vantagem” (MEIRELLES,
Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 561).
375
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 561.
376
Nesse sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: Ementa: Ação
Trabalhista - Adicional de insalubridade - Direito ao recebimento em razão da natureza do
trabalho. A existência da situação de insalubridade, apresentada no exercício da atividade
laboral, origina o recebimento da verba adicional durante todo o período trabalhado nestas
condições, por ser direito fundamental que se liga a própria condição de dignidade da
pessoa humana. Improvimento do recurso que se impõe (TJMG. AC nº 1.0000.00.344434-
6/000, Sétima Câmara Cível, Rel. Des. Antônio Carlos Cruvinel, j. em 02.09.2003); Ementa:
Administrativo. Adicional de insalubridade. Figurino estabelecido pela lei do ente político.
Parcela remuneratória transitória, que só é paga enquanto persistirem as condições que
determinaram o seu deferimento, nunca incorporando à remuneração. Impossibilidade
de invocação de direito adquirido. Deferimento sujeito à prova de ocorrência dos
pressupostos estipulados pela legislação. Ausência de prova no caso concreto (TJMG. AC
nº 1.0000.00.338463-3/000, Sétima Câmara Cível, Rel. Des. Pinheiro Lago, j. em 26.08.2003).
377
Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de 50% (cinqüenta por
cento) em relação à hora normal de trabalho.
Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para atender a situações excep
cionais e temporárias, respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.
381
Processual Civil. Recurso Especial. Art. 105, III, a e c, da CF/1988. Administrativo. Servidor
público. Plantão. Adicional de serviço extraordinário (hora-extra). Inclusão na base de
cálculo da gratificação natalina (art. 63, da Lei n.º 8.112/90). Impossibilidade. Art. 1.º, inc.
III, alínea l, da Lei n.º 8.852/94. Excepcionalidade e temporariedade. Aferição. Súmula 7/STJ.
Violação a dispositivo constitucional. Competência do Excelso Supremo Tribunal Federal.
Violação do art. 551, do CPC, e do art. 4.º, da Lei n.º 9.788/99. Ausência de prequestionamento.
Divergência jurisprudencial não demonstrada. 1. O adicional pela prestação de serviço
extraordinário (hora-extra) não integra a base de cálculo da gratificação natalina dos
servidores públicos federais, estabelecida no artigo 63, da Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro
de 1990. 2. É que o referido adicional não se enquadra no conceito de remuneração, à luz
do disposto no artigo 1.º, inciso III, alínea l, da Lei n.º 8.852, de 4 de fevereiro de 1994, verbis:
Art. 1º Para os efeitos desta Lei, a retribuição pecuniária devida na administração pública
direta, indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da União compreende: III - como
remuneração, a soma dos vencimentos com os adicionais de caráter individual e demais
vantagens, nestas compreendidas as relativas à natureza ou ao local de trabalho e a prevista
no art. 62 da Lei nº 8.112, de 1990, ou outra paga sob o mesmo fundamento, sendo excluídas:
[...] l) adicional pela prestação de serviço extraordinário, para atender situações excepcionais
e temporárias, obedecidos os limites de duração previstos em lei, contratos, regulamentos,
convenções, acordos ou dissídios coletivos e desde que o valor pago não exceda em mais de
50% (cinqüenta por cento) o estipulado para a hora de trabalho na jornada normal; [...] 3. O
artigo 41, caput, da Lei n.º 8.112/90, traz a definição de que “remuneração é o vencimento
do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei”,
sendo certa a transitoriedade e excepcionalidade do serviço extraordinário. 4. Aferir se a
verba ostentava natureza excepcional e temporária demanda a reapreciação das provas
carreadas aos autos, providência vedada pelo óbice do Enunciado n.º 7, da Súmula
do STJ. 5. O Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, deve velar pela
uniformização da aplicação da legislação federal infraconstitucional, pelo que não se
conhece de apelo extremo quando se aponta violação de dispositivo constitucional, haja
vista que se inclui na competência do Supremo Tribunal Federal, conforme art. 102, inciso
III, da Carta Magna. 6. A interposição do recurso especial impõe que o dispositivo de Lei
Federal tido por violado, como meio de se aferir a admissão da impugnação, tenha sido
ventilado no acórdão recorrido, sob pena de padecer o recurso da imposição jurisprudencial
do prequestionamento, requisito essencial à admissão do mesmo, o que atrai a incidência
i) Adicional noturno
O adicional noturno é assegurado aos trabalhadores urbanos e
rurais, nos termos da norma inserta do art. 7º, IX, da Constituição da
República, igualmente estendido aos servidores públicos por força do
disposto no art. 39, §3º.
Da mesma forma que diversos direitos sociais, a norma consti-
tucional não é autoaplicável, ao contrário, é de eficácia contida.
O Estatuto, em regulamentação à cláusula constitucional, dispõe
que pelo trabalho realizado entre as 22h (vinte e duas horas) de um
dia e 5h (cinco horas) do seguinte, será conferido acréscimo da ordem
de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o valor da hora normal do
servidor, considerando-se, ainda, cada hora como 52’30’’ (cinquenta e
dois minutos e trinta segundos).381
dos Enunciados n.ºs 282 e 356 da Súmula do STF. 7. Dessa sorte, em caso de omissão, é
imperioso que o recorrente oponha embargos de declaração, a fim de que o Tribunal a
quo se pronuncie sobre o dispositivo infraconstitucional tido por afrontado; e, acaso não
suprida a omissão, mister apontar, na irresignação especial, a violação do art. 535 do CPC.
Ausência de prequestionamento do artigo 551, do Código de Processo Civil - CPC, e do
artigo 4.º, da Lei n.º 9.788, de 19 de fevereiro de 1999. (Precedentes: Resp 326.165 - RJ, Relator
Ministro Jorge Scartezzini, Quarta Turma. DJ de 17 de dezembro de 2002; AgRg no Resp
529501 - SP, Relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ de 16 de junho de 2004) 8. A
divergência jurisprudencial, ensejadora de conhecimento do recurso especial pela alínea c,
deve ser devidamente demonstrada, conforme as exigências do parágrafo único do art. 541
do CPC, c/c o art. 255, e seus parágrafos, do RISTJ, impondo-se ao recorrente demonstrar
que as soluções encontradas pelo decisum recorrido e paradigma tiveram por base as
mesmas premissas fáticas e jurídicas, havendo entre elas similitude de circunstâncias, sendo
insuficiente para esse fim a mera transcrição de ementas.(Precedentes: REsp n.º 425.467 - MT,
Relator Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma, DJ de 05/09/2005; REsp n.º 703.081
- CE, Relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ de 22/08/2005; AgRg no REsp
n.º 463.305 - PR, Relatora Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ de 08/06/2005.) 9.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido (STJ. REsp nº 1.195.325
MS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 28.09.2010, DJe, 08 out. 2010
379
A Lei Mineira, por sua vez, estabelece, no art. 148 e seguintes, que o abono não poderá ser
superior ao vencimento do servidor, bem como será previamente arbitrado pelo Secretário
de Estado ou Diretor de Departamento diretamente subordinado ao Governador do Estado.
380
Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições
pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal de
quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias,
respectivamente. §1º. O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-
se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser
convocado sempre que houver interesse da Administração.
381
A Carta Mineira, por sua vez, reproduz a norma constitucional em seu art. 31, caput, não
havendo, contudo, disciplina de tal direito no Estatuto próprio, sendo a matéria tratada no
art. 12 da Lei Estadual nº 10.745/92.
382
Art. 76-A. [...] §1º. Os critérios de concessão e os limites da gratificação de que trata este
artigo serão fixados em regulamento, observados os seguintes parâmetros: I - o valor
da gratificação será calculado em horas, observadas a natureza e a complexidade da
atividade exercida; II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120 (cento
e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada situação de excepcionalidade, devidamente
justificada e previamente aprovada pela autoridade máxima do órgão ou entidade, que
poderá autorizar o acréscimo de até 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais; III - o
valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos seguintes percentuais, incidentes
sobre o maior vencimento básico da administração pública federal: a) 2,2% (dois inteiros e
dois décimos por cento), em se tratando de atividades previstas nos incisos I e II do caput
deste artigo; b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando de atividade
prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo.
9.4 Férias
Conforme já explicitado no tópico anterior, a Constituição da
República assegurou aos servidores públicos, da mesma forma que
aos trabalhadores em geral, diversos direitos sociais, entre eles as férias
(art. 39, §3º, c/c art. 7º, XVII), que consistem nos dias de descanso do
exercício de suas funções, adquirido após o transcurso de 12 (doze)
meses de trabalho.
O instituto encontra-se disciplinado no Estatuto a partir do art.
77,383 que dispõe que o servidor fará jus ao gozo de férias regulamentares
de 30 (trinta) dias corridos, acumuláveis por até 02 (dois) períodos caso
haja necessidade do serviço, assim como poderá haver fracionamento
em até três etapas, desde que requerido pelo servidor e haja interesse
por parte da Administração.
O pagamento da remuneração relativa às férias será efetuado em
até 02 (dois) dias antes do início do respectivo período e, em caso de
fruição em mais de um período, o valor do adicional de 1/3 (um terço)
será pago quando do gozo do primeiro (art. 78).
Em nenhuma hipótese será admitido o cômputo de faltas no
período de férias (art. 77, §2º).
Em caso de exoneração do servidor do cargo efetivo ou em
comissão, a indenização relativa às férias não gozadas será calculada
proporcionalmente, com base na remuneração do mês em que publicado
o ato de exoneração (art. 78, §§3º e 4º).
Poderão, todavia, serem as férias interrompidas “por motivo de
calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, serviço
militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada pela
383
Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que podem ser acumuladas, até o máximo
de dois períodos, no caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja
legislação específica.
9.5 Licenças
No Estatuto da União, a licença por motivo de doença do cônjuge
ou companheiro, pais, filhos, padrasto, madrasta ou enteado, ou dependente
econômico do servidor, prevista no art. 83,384 poderá ser deferida,
desde que comprovada por perícia médica oficial e se a assistência
do servidor se mostrar indispensável e impossível de ser realizada
concomitantemente ao exercício do cargo (§1º).385 A licença poderá ser
concedida, sem prejuízo da remuneração, por até 60 (sessenta) dias, ou,
ainda, por, no máximo, 90 (noventa) dias (consecutivos ou não) (§2º),386
sem direito à remuneração.
Referida modalidade de licença poderá ser requerida a cada
período de 12 (doze) meses, cujo início será contado a partir do deferi-
mento da primeira licença concedida (§3º).387 Frise-se que, somente nesta
hipótese, entre todas aquelas que trataremos a seguir, não é permitido o
exercício de outra atividade remunerada durante o período do benefício.
É prevista, ainda, a licença por motivo de afastamento do cônjuge ou
companheiro que tenha sido deslocado para outro ponto do território
nacional, para o exterior ou para exercício de mandato eletivo em
qualquer das esferas federativas, a teor do art. 84.388 A licença é
384
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de doença do cônjuge ou
companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependente que
viva a suas expensas e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por
perícia médica oficial.
385
§1º. A licença somente será deferida se a assistência direta do servidor for indispensável
e não puder ser prestada simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante
compensação de horário, na forma do disposto no inciso II do art. 44.
386
§2º. A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, poderá ser concedida a cada
período de doze meses nas seguintes condições: I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos
ou não, mantida a remuneração do servidor; e II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos
ou não, sem remuneração.
387
§3º. O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a partir da data do deferimento
da primeira licença concedida.
388
Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou compa-
nheiro que foi deslocado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou para
o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo. §1º A licença será por
prazo indeterminado e sem remuneração. §2º. No deslocamento de servidor cujo cônjuge
ou companheiro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, poderá haver exercício pro-
visório em órgão ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional,
desde que para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.
389
Confira-se: STJ. AgRg no REsp nº 1283748/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira
Turma, j. em 19.02.2013, DJe, 25 fev. 2013; e REsp nº 1382425/RN, Relª. Minª. Assusete
Magalhães, Segunda Turma, j. em 22.04.2014, DJe, 02 maio 2014.
390
Lei nº 8.112/90, art. 85.
391
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, durante o período que mediar
entre a sua escolha em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera
do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
392
STJ. Recurso Especial. Administrativo e Eleitoral. Policial Civil. Distrito Federal. Licença
para atividade política. Vereador. Domicílios eleitoral e civil diversos. Possibilidade.
Desincompatibilização. Desnecessidade. Remuneração integral. Inteligência do art. 86,
§§1º e §2º da Lei nº 8.112/90. I- O servidor público integrante do quadro funcional da
Polícia Civil do Distrito Federal faz jus à licença para atividade política, com vencimentos
integrais, desde que tenha sido deferido pela justiça eleitoral o registro de sua candidatura,
independentemente de concorrer ao pleito em domicílio eleitoral diverso daquele onde
exerce suas atribuições. II- A desincompatibilização do servidor só se exige na hipótese
de concorrer a cargo eletivo na localidade onde exerce suas atribuições e desde que exerça
cargo de direção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscalização. Inteligência do §1º do
art. 86 da Lei nº 8.112/90. Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido (STJ. REsp
nº 599.751/DF, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, j. em 12.09.2006, DJ, 09 out. 2006).
393
Art. 87. Após cada qüinqüênio de efetivo exercício, o servidor poderá, no interesse da
Administração, afastar-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração,
por até três meses, para participar de curso de capacitação profissional. Parágrafo único.
Os períodos de licença de que trata o caput não são acumuláveis.
394
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao servidor ocupante de
cargo efetivo, desde que não esteja em estágio probatório, licenças para o trato de assuntos
particulares pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. Parágrafo único.
A licença poderá ser interrompida, a qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse
do serviço.
9.6 Afastamentos
A Lei nº 8.112/90 prevê, em capítulo distinto das licenças, o que
denomina “afastamentos”, nas seguintes hipóteses: (i) para servir a
outro órgão ou entidade (art. 93); (ii) para exercício de mandato eletivo
(art. 94); (iii) para estudo ou missão no exterior (arts. 95 e 96); e (iv)
para participação em programa de pós-graduação stricto sensu no país
(art. 96-A).
A primeira configura hipótese de cessão do servidor para que
exerça, em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios, cargo em comissão ou função de confiança
ou em outros casos a serem estabelecidos em legislação específica. Se a cessão
se der para órgãos ou entidades dos Estados, Distrito Federal ou
395
Confira-se: RMS nº 40769/PR, Relª. Minª. Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 17.12.2013,
DJe, 07 fev. 2014.
396
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem remuneração para o desempenho
de mandato em confederação, federação, associação de classe de âmbito nacional, sindica-
to representativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, ainda, para par-
ticipar de gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída por servidores
públicos para prestar serviços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso
VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e observados os seguintes
limites: I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) servidores; II - para
entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta mil) associados, 4 (quatro) servido-
res; III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, 8 (oito) servidores.
§1º. Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para cargos de direção ou de
representação nas referidas entidades, desde que cadastradas no órgão competente. §2º. A
licença terá duração igual à do mandato, podendo ser renovada, no caso de reeleição.
397
Vide art. 93 da Lei nº 8.112/90.
398
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício
de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: I - tratando-se de mandato
eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; II -
investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe
facultado optar pela sua remuneração; III - investido no mandato de Vereador, havendo
compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função,
sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será
aplicada a norma do inciso anterior; IV - em qualquer caso que exija o afastamento para
o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos
legais, exceto para promoção por merecimento; V - para efeito de benefício previdenciário,
no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse.
399
Art. 95. [...] §2º. Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será concedida
exoneração ou licença para tratar de interesse particular antes de decorrido período igual
ao do afastamento, ressalvada a hipótese de ressarcimento da despesa havida com seu
afastamento.
400
Direito Administrativo. Recurso Especial. Servidor público. Afastamento remunerado para
participação em curso de aperfeiçoamento. Doutorado. Exoneração a pedido antes de cum-
prido o prazo legal mínimo. Indenização ao erário. Ressarcimento dos valores recebidos.
Possibilidade. “Termo de Responsabilidade”. Ausência. Irrelevância. Contrapartida da
Administração. Previsão legal. Inexistência. Descumprimento. Matéria fático-probatória.
Exame. Impossibilidade. Súmula 7/STJ. Princípios da proporcionalidade e da razoabili-
dade. Aplicação. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido. 1. Nos termos dos
arts. 95, § 2º, da Lei 8.112/90 e 47, caput, e inciso I, do Decreto 94.664/87, pode o servidor
de Instituição Federal de Ensino afastar-se de suas funções para a realização de curso de
aperfeiçoamento, sendo-lhe assegurados todos os direitos e vantagens a que fizer jus em
razão da atividade docente. 2. Impõe-se ao servidor, findo o período de seu afastamento, o
retorno às suas atividades, devendo ali permanecer por tempo igual ao do afastamento sob
pena de indenização de todas as despesas, inclusive os vencimentos recebidos. Inteligência
dos arts. 95, § 2º, da Lei 8.112/90 c.c 47, caput, e inciso I, do Decreto 94.664/87 e 12 e 13 da
Lei 4.320/64. 3. A auto-aplicabilidade de uma norma jurídica definidora de um direito ou
de uma obrigação está diretamente relacionada à densidade normativa que lhe foi dada
pelo legislador. As normas de elevada densidade normativa são aquelas que possuem em
si elementos suficientes para gerar os efeitos nelas previstos, independentemente de nova
intervenção legislativa. 4. A obrigação de ressarcir os vencimentos recebidos durante o pe-
ríodo de afastamento para estudos no exterior decorre de previsão legal expressa, razão
pela qual se torna irrelevante a inexistência de prévia assinatura de “termo de compromis-
so e responsabilidade”. 5. A legislação de regência não impõe à Administração, por ocasião
do retorno do servidor, obrigação de proporcionar-lhe vantagens materiais e profissionais
diferenciadas das dos demais professores. Além disso, para se aferir a existência de algum
compromisso nesse sentido seria necessário o reexame de matéria fático-probatória, o que
atrai o óbice da Súmula 7/STJ. 6. O dever de indenizar imposto ao servidor não possui cará-
ter de sanção, e sim de ressarcimento ao erário daquilo que foi gasto em sua formação sem
que tenha havido integral contraprestação por parte dele, em razão de seu desligamento
do serviço público. 7. Hipótese em que, considerando-se que o servidor tinha por obrigação
continuar a exercer suas funções na Instituição de Ensino Federal pelo período igual àquele
em que esteve afastado, em respeito aos princípios da proporcionalidade e da razoabilida-
de, deve a indenização devida ser calculada de forma proporcional ao tempo restante para
que se completasse o período a partir do qual estaria ele desobrigado de ressarcir os cofres
públicos. 8. Recurso especial conhecido e parcialmente provido (STJ. REsp nº 939.439/PR,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, j. em 11.11.2008, DJe, 1º dez. 2008).
9.7 Concessões
O termo concessões corresponde a uma série de benefícios
garantidos aos servidores públicos.
Prevê o Estatuto Federal ausências justificadas para o servidor,
sem que haja prejuízo em sua remuneração, por até 08 (oito) dias
consecutivos em virtude de casamento e de falecimento de cônjuge,
pais, filhos e irmãos.403
401
Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Administração, e desde que a participação
não possa ocorrer simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante compensação
de horário, afastar-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração, para
participar em programa de pós-graduação stricto sensu em instituição de ensino superior
no País.
402
Confira-se: STJ. REsp nº 1399952/AL, Relª. Minª. Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em
15.10.2013, DJe, 24 out. 2013, e AgRg no REsp nº 1377925/AL, Rel. Min. Humberto Martins,
Segunda Turma, j. em 20.06.2013, DJe, 28 jun. 2013.
403
Cf. art. 97, III, da Lei nº 8.112/90.
404
STJ. Administrativo. Servidor público. Estudante servidor. Horário especial. Art. 98
da Lei 8.112/90. Reexame de incompatibilidade entre horário escolar e da repartição.
Inviabilidade. Reexame de provas. Súmula 07/STJ. 1. O art. 98 da Lei nº 8.112/90 não faz
distinção quanto ao fato de o servidor já possuir outro curso superior para que lhe possa
ser assegurado o direito de desempenhar suas atribuições em horário especial. Atendidos
os requisitos exigidos no dispositivo da lei, o horário especial a que tem direito o servidor
estudante deve ser concedido. Precedentes. 2. [...] (STJ. AgRg no Ag nº 1424167/DF, Rel.
Min. Castro Meira, Segunda Turma, j. em 1º.12.2011, DJe, 19 dez. 2011).
405
O benefício é estendido ao cônjuge, companheiro, filhos, enteados que vivam em
companhia do servidor e aos menores sob sua guarda, conforme art. 99, parágrafo único,
da Lei nº 8.112/90.
406
STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade - Interpretação conforme a Constituição - Pos-
sibilidade jurídica. É possível, juridicamente, formular-se, em inicial de ação direta de
inconstitucionalidade, pedido de interpretação conforme, ante enfoque diverso que se
mostre conflitante com a Carta Federal. Envolvimento, no caso, de reconhecimento de in-
constitucionalidade. UNIVERSIDADE - TRANSFERÊNCIA OBRIGATÓRIA DE ALUNO -
LEI Nº 9.536/97. A constitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 9.536/97, viabilizador da
transferência de alunos, pressupõe a observância da natureza jurídica do estabelecimento educa-
cional de origem, a congeneridade das instituições envolvidas - de privada para privada, de pública
para pública -, mostrando-se inconstitucional interpretação que resulte na mesclagem - de privada
para pública (STF. ADI nº 3.324, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. em 16.12.2004,
DJ, 05 ago. 2005, g.n.).
407
STJ. Recurso Especial. Dispositivo constitucional. Violação. Análise. Impossibilidade.
Transferência. Curso superior. Servidor público estadual. Ausência de instituição congênere
no novo domicílio do servidor público ou nas cidades vizinhas. Excepcionalidade.
Possibilidade. 1. Apresenta-se inviável o exame de afronta a dispositivo constitucional em
RESPONSABILIDADES
410
Art. 121, da Lei nº 8.112/90: O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo
exercício irregular de suas atribuições.
Art. 208, da Lei nº 869/52: Pelo exercício irregular de suas atribuições, o funcionário
responde civil, penal e administrativamente.
411
ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Reflexos da decisão judicial penal na esfera administrativo-
disciplinar. Revista da Procuradoria Geral do Município de Belo Horizonte – RPGMBH, ano 4, n.
8, p. 6981, jul./dez. 2011.
412
Art. 125, da Lei nº 8.112/90: As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se,
sendo independentes entre si.
Art. 212, da Lei nº 869/52: As cominações civis, penais e disciplinares poderão cumular-
se, sendo umas e outras independentes entre si, bem assim as instâncias civil, penal e
administrativa.
413
Vide artigos 126, da Lei nº 8.112/90: A responsabilidade administrativa do servidor será
afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria; e 935,
421
Nesse sentido, vide o REsp nº 1.215.569/AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, j. em
16.12.2014, DJ, 19 dez. 2014.
422
Vide comentário do autor, na obra Curso de Direito Administrativo, quando da respon
sabilidade patrimonial do agente público por danos a terceiros, no capítulo XX
(Responsabilidade Patrimonial Extracontratual do Estado).
423
STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência. 10. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 1809-1810.
424
STF, RE nº 327.904-1/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, j. em 15.08.2006.
425
Relatou o Ministro Ayres Britto em seu voto: “[...] Quanto à questão da ação regressiva,
uma coisa é assegurar ao ente público (ou quem lhe faça as vezes) o direito de se ressarcir
perante o servidor praticamente de ato lesivo a outrem, nos casos de dolo ou de culpa;
coisa bem diferente é querer imputar à pessoa física do próprio agente estatal, de forma
direta e imediata, a responsabilidade civil pelo suposto dano a terceiros. Com efeito, se o
eventual prejuízo ocorreu por força de um atuar tipicamente administrativo, como no caso
presente, não vejo como extrair do §6º do art. 37 da Lei das Leis a responsabilidade ‘per
saltum’ da pessoa natural do agente. Tal responsabilidade, se cabível, dar-se-á apenas em
caráter de ressarcimento ao Erário (ação regressiva, portanto), depois de provada a culpa
ou dolo do servidor público, ou de quem lhe faça as vezes. Vale dizer: ação regressiva é ação
de ‘volta’ ou de ‘retorno’ contra aquele agente que praticou ato juridicamente imputável
ao Estado, mas causador de dano a terceiro. Logo, trata-se de ação de ressarcimento, a
pressupor, lógico, a recuperação de um desembolso. Donde a clara ilação de que não pode
fazer uso de uma ação de regresso aquele que não fez a “viagem financeira de ida”; ou seja,
em prol de quem não pagou a ninguém, mas, ao contrário, quer receber de alguém e pela
vez primeira. [...]”.
426
Nesse sentido o voto do Ministro Luis Felipe Salomão, Relator do Recurso Especial nº
1.325.862-PR: “Com o devido respeito ao entendimento diverso, penso que a melhor so-
lução está mesmo com os antigos, em franquear ao particular a possibilidade de ajuizar a
ação diretamente contra o servidor, suposto causador do dano, contra o Estado ou contra
ambos, se assim desejar. O art. 37, §6º, da CF/1988 prevê uma garantia para o administrado
de buscar a recomposição dos danos sofridos diretamente da pessoal jurídica que, em
princípio, é mais solvente que o servidor, independentemente de demonstração de culpa
do agente público. Vale dizer, a Constituição, nesse particular, simplesmente impõe ônus
maior ao Estado decorrente do risco administrativo; não prevê, porém, uma demanda de
curso forçado em face da Administração Pública quando o particular livremente dispõe do
bônus contraposto. Tampouco confere ao agente público imunidade de não ser demanda-
do diretamente por seus atos, o qual, aliás, se ficar comprovado dolo ou culpa, responderá
de outra forma, em regresso, perante a Administração. [...] Assim, a avaliação quanto ao
ajuizamento da ação contra o servidor público ou contra o Estado deve ser decisão do
suposto lesado. Se, por um lado, o particular abre mão do sistema de responsabilidade ob-
jetiva do Estado, por outro também não se sujeita ao regime de precatórios, os quais, como
é de cursivo conhecimento, não são rigorosamente adimplidos em algumas unidades da
Federação” (STJ, REsp nº 1.325.862/PR, Quarta Turma, j. em 05.09.2013, DJ, 10 dez. 2013).
427
Art. 327 do Código Penal: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§1º. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entida-
de paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou con-
veniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. §2º. A pena será
aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação institu-
ída pelo poder público.
428
Como ressalta Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “nem sempre é necessário que o dano se
concretize; basta haver o risco de dano, como ocorre na tentativa e em determinados tipos
de crime que põem em risco a incolumidade pública” (In: Direito Administrativo. 28. ed. São
Paulo: Atlas, 2015. p. 756).
429
Recurso Especial. Administrativo. Divergência jurisprudencial. Cotejo analítico. Inexis-
tência. Similitude fática. Demissão. Sentença penal absolutória. Falta residual. Ausência
de repercussão. Súmula 18/STF. Prescrição. Termo a quo. Súmula 07/STJ. Publicação. Ato
demissório. [...] 2. O Tribunal de origem constatou a existência de falta residual não englobada
inteiramente pela absolvição penal superveniente, razão pela qual considerou a data em que foi pu-
blicado o ato demissório como o termo a quo para a contagem do lapso prescricional, e não a data em
que publicada a sentença absolutória, para fins de reintegração do militar. 3. Prevalece no direito
brasileiro a regra da independência das instâncias penal, civil e disciplinar, ressalvadas
algumas exceções, v.g, em que a decisão proferida no juízo penal fará coisa julgada na
seara cível e administrativa. 4. Neste sentido, a responsabilidade administrativa do servidor será
afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria, nos termos
do art. 126 da Lei n.º 8.112/90, exceto se verificada falta disciplinar residual, não englobada pela
sentença penal absolutória. Inteligência da Súmula 18/STF. [...] 6. Neste sentido, tendo em vista
que ficou apurada falta residual desde o procedimento disciplinar em que se determinou
a demissão do militar e que tal conduta remanescente não foi englobada pela ação penal
superveniente, segundo registrado pelo Tribunal de origem, de maneira insindicável nes-
ta via recursal (Súmula 07/STJ), há de se concluir que a pretensão reintegratória deveria
ter sido exercida no prazo de 05 (cinco) anos, a contar da publicação do ato demissório.
Precedentes. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido (STJ.
REsp nº 1199083/SP, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, j. em 24.08.2010, DJe, 08 set.
2010, g.n.); Administrativo. Processo disciplinar sequenciado por regular processo crimi-
nal. Superveniência de sentença penal condenatória. Efeitos que se projetam na seara ad-
ministrativa. Pedido de segurança denegado. [...] 2. O Processo Administrativo Disciplinar
não é dependente da instância penal, não se exigindo, dest’arte, para a aplicação da sanção
administrativa de demissão, a prévia condenação, com trânsito em julgado, do Servidor no
juízo criminal, em Ação Penal relativa aos mesmos fatos; porém, quando o Juízo Penal já se
pronunciou definitivamente sobre esses fatos, que constituem, ao mesmo tempo, o objeto
do PAD, exarando sentença condenatória, não há como negar a sua inevitável repercussão
no âmbito administrativo sancionador. 3. É nula a aplicação de sanção demissória a Servi-
dor Público, quando a Comissão do PAD não logra reunir elementos probatórios densos,
sérios e coerentes da prática do ato infracional punível com a demissão e da sua autoria, mas
se esses elementos já foram devidamente apurados na instância criminal, com a emissão
de sentença condenatória, tem-se os fatos do PAD como igualmente comprovados, eis que
são os mesmos que serviram de supedâneo ao Juízo Penal. 3. O exercício do poder adminis-
trativo disciplinar não está subordinado ao trânsito em julgado da sentença penal condenatória
exarada contra Servidor Público, embora a sua eventual absolvição criminal futura possa justificar
a revisão da sanção administrativa, se não houver falta residual sancionável (Súmula 18 do STF).
4. Ordem de segurança que se denega, de acordo com o parecer do douto MPF (STJ. MS
nº 13.599/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, j. em 12.05.2010, DJe,
28 maio 2010, g.n.).
430
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22,
23, 26 e §1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre
sua existência;
VII - não existir prova suficiente para a condenação.
431
Vide art. 65 do Código de Processo Penal: Faz coisa julgada no cível a sentença penal que
reconhece ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
432
Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, nos seguintes valores:
I - dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de prisão, em flagrante ou
preventiva, determinada pela autoridade competente, enquanto perdurar a prisão; II -
metade da remuneração, durante o afastamento, em virtude de condenação, por sentença
definitiva, a pena que não determine a perda de cargo. §1º. Nos casos previstos no inciso I
deste artigo, o servidor terá direito à integralização da remuneração, desde que absolvido.
§2º. O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia imediato àquele em que o
servidor for posto em liberdade, ainda que condicional.
433
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 1.044.
434
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 1.044.
435
Art. 5º. [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.
436
GRAU, Eros Roberto. Etiquetagem dos preços praticados pelo supermercado – Legislação
sobre Consumo – Livre Iniciativa e Princípio da Legalidade. Revista de Direito Administrativo,
v. 216, abr./jun. 1999.
437
STJ. MS nº 10.906/DF, Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Seção, j. em 10.09.2008, DJ, 1º out.
2008.
438
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p.
119.
439
Celso Antônio Bandeira de Mello, na obra Grandes Temas de Direito Administrativo, capítu-
lo 10, afirma ser a “segurança jurídica” uma das mais profundas aspirações do homem,
acrescendo ser “a insopitável necessidade de poder assentar-se sobre algo, reconhecido
como estável ou relativamente estável, o que permite vislumbrar com alguma previsibili-
dade o futuro; é ela, pois, que enseja projetar e iniciar, consequentemente – e não aleato-
riamente, ao mero sabor do acaso –, comportamentos cujos frutos são esperáveis a médio
e longos prazos. Dita previsibilidade é, portanto, o que condiciona ação humana. Essa é a
normalidade das coisas” (p. 169).
440
FREITAS, Juarez. Controle dos Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais. 5. ed. São
Paulo: Malheiros, 2013. p. 84-85.
441
O administrativista Almiro Couto E Silva, na obra Princípios da Legalidade da Administração
Pública e da Segurança Jurídica no Estado Contemporâneo, ressaltou, com propriedade, que
contingências sociais, culturais, econômicas, políticas, o tempo e o espaço, tudo isso impõe
adequações, temperamentos e adaptações na imperfeita aplicação daquela ideia abstrata à
realidade em que vivemos, sob pena de, se assim não se proceder, correr-se o risco de agir
injustamente ao cuidar de fazer justiça. Na verdade, quando se diz que em determinadas
circunstâncias a segurança jurídica deve preponderar sobre o justo e o legal, o que se está
afirmando a rigor é que o princípio da segurança jurídica passou a exprimir, naquele caso,
diante das peculiaridades da situação concreta, a justiça material; segurança jurídica não é,
aí, algo que se contraponha à justiça e ao direito, ela é a própria justiça e o próprio direito
(RDP, 84/46 e ss, São Paulo, Revista dos Tribunais).
442
Processual Civil. Administrativo. Recurso Especial. Divergência jurisprudencial não
comprovada. Anulação de licitação pela Administração Pública após a conclusão das
obras pelo particular. Ausência do devido processo legal. Ampla defesa e contraditório.
Impossibilidade. Decadência administrativa. Cinco anos. Precedentes jurisprudenciais.
[...] 4. Consoante cediço, a segurança jurídica é princípio basilar na salvaguarda da
pacificidade e estabilidade das relações jurídicas, por isso que não é despiciendo que a
segurança jurídica seja a base fundamental do Estado de Direito, elevada ao altiplano
axiológico. Sob esse enfoque e na mesma trilha de pensamento, J.J. Gomes Canotilho: “Na
actual sociedade de risco cresce a necessidade de actos provisórios e actos precários a fim
de a administração poder reagir à alteração das situações fáticas e reorientar a prossecução
do interesse público segundo os novos conhecimentos técnicos e científicos. Isto tem de
articular-se com salvaguarda de outros princípios constitucionais, entre os quais se conta
a proteção da confiança, a segurança jurídica, a boa-fé dos administrados e os direitos
fundamentais”. (José Joaquim Gomes, Direito constitucional e Teoria da Constituição. Ed.
Almedina: Coimbra, 4ª edição) [...] 10. O Superior Tribunal de Justiça, versando a mesma
questão, tem assentado que à Administração é lícito utilizar de seu poder de autotutela,
o que lhe possibilita anular ou revogar seus próprios atos, quando eivados de nulidades.
Entretanto, deve-se preservar a estabilidade das relações jurídicas firmadas, respeitando-
se o direito adquirido e incorporado ao patrimônio material e moral do particular. [...] (STJ.
REsp nº 658130/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 05.09.2006, DJ, 28 set. 2006).
443
V. 34, n. 136, p. 5-28, out./dez. 1997.
444
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 18. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014. p. 151.
445
Súmula nº 346. A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
446
Súmula nº 473. A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios
que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
447
Recurso Extraordinário. Direito Administrativo. Exercício do poder de autotutela estatal.
Revisão de contagem de tempo de serviço e de quinquênios de servidora pública. Reper-
cussão geral reconhecida. 1. Ao Estado é facultada a revogação de atos que repute ilegal-
mente praticados; porém, se de tais atos já decorreram efeitos concretos, seu desfazimento
deve ser precedido de regular processo administrativo. 2. Ordem de revisão de contagem
de tempo de serviço, de cancelamento de quinquênios e de devolução de valores tidos
por indevidamente recebidos apenas pode ser imposta ao servidor depois de submetida a
questão ao devido processo administrativo, em que se mostra de obrigatória observância
o respeito ao princípio do contraditório e da ampla defesa. 3. Recurso extraordinário a que
se nega provimento.
448
Art. 5º. [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.
449
Art. 5º. [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.
450
MELLO, Rafael Munhoz. Processo Administrativo, Devido Processo Legal e a Lei nº
9.784/99. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, 227, p. 83-104, jan./mar., p. 93: “Os
princípios em comento podem ser reduzidos ao binômio informação-reação: a parte deve
ser informada da existência do processo, bem como dos atos praticados em seu curso; a
informação permite à parte reagir, ao menos potencialmente, defendendo-se, apresentando
alegações e produzindo provas”.
11.1.7 Autoexecutoriedade
O poder de autoexecutoriedade representa a faculdade de a
Administração decidir e executar diretamente a sua decisão por seus
próprios meios, sem intervenção do Judiciário, ou seja, de colocar em
prática a decisão tomada.
Não obstante, não são todos os casos em que a Administração
possui esse poder, principalmente quando tal exercício afete o patri-
mônio do particular. A utilização desses meios diretos de coerção pela
Administração é cabível quando as circunstâncias indicam a necessi-
dade premente da obtenção do fato ou coisa451 e somente se justificam
se a medida, uma vez não adotada, provocar prejuízo maior para o
interesse público.452
Significa que a coação direta somente tem cabimento nos casos
de medidas urgentes e quando não há via de igual eficácia à disposição
da Administração para atingir o fim tutelado pelo direito, sendo
impossível, pena de frustração dele, aguardar a tramitação de uma
medida judicial.
Não se pode olvidar que toda e qualquer manifestação coerciva
da Administração deve guardar relação com uma situação abstrata e
previamente descrita em lei, sendo que, na hipótese de ausência de
previsão legal e desde que configurado um caso de urgência para a to-
mada da decisão, esta deverá – além de respeitar os direitos e garantias
fundamentais – ser amplamente motivada, justamente para ensejar ade-
quada reação por parte daqueles que se sentirem por ela prejudicados.
É comum a instauração de processos judiciais em razão do
lançamento, pela Administração, unilateralmente, de ‘descontos’ na
remuneração do servidor, a qualquer título, sem sua anuência.
Como já decidi em inúmeros casos, enquanto Juiz de Direito da
2ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte e como
Desembargador integrante da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
de Minas Gerais,453 é ilegal a realização de referidos descontos pela
451
FAGUNDES, Miguel Seabra. O Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010. p. 239-250.
452
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Curso de Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas,
2015. p. 162.
453
Ementa: Agravo. Reexame Necessário/Apelação Cível. Servidor inativo. Reenquadra-
mento. Pagamento a maior de proventos. Não observância por parte da Administração.
Processo administrativo. Ordem de restituição. Impossibilidade. Valores percebidos por
inativos de boa-fé. Limitação aos efeitos do exercício da autotutela. Tutela da confiança.
Entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal. Sentença parcialmente reformada
em reexame necessário. Agravo não provido. 1. Em atenção ao princípio da autotutela, a
Administração Pública tem o poder-dever de controlar os seus próprios atos, com a pos-
sibilidade de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independente-
mente de recurso ao Poder Judiciário, em atenção ao princípio da autotutela. 2. O exercício
da autotutela não se afigura pleno e esbarra nos limites que lhe são impostos pelos princí-
pios da segurança jurídica, da boa-fé, bem como pela regra da vedação ao comportamento
contraditório (venire contra factum proprium), normas estas que militam em favor do admi-
nistrado e cuja finalidade consiste em evitar que a confiança legítima depositada por ele
no comportamento adotado pela Administração seja lesada pela abrupta alteração deste
comportamento, de modo a frustrar a legítima confiança despertada naquele. 3. Por óbvio,
não se defende a tese da perpetuação de atos jurídicos ilegais. Na verdade, preocupa-se
com os efeitos drásticos de se conferir efeitos ex tunc a todo e qualquer ato administrativo
de controle de legalidade, a ponto de se permitir que alcance situações já consolidadas
pelas circunstâncias fáticas. 4. Na linha do entendimento do STJ, se o inativo de boa-fé
não teve a redução do pagamento de seus proventos a tempo e modo em consonância
com a disciplina que rege a matéria, em virtude de errônea interpretação ou má aplica-
ção da lei pela Administração Pública, afigura-se ilegal o ato que lhe impôs a restituição
compulsória dos valores pretéritos indevidamente percebidos. Precedentes: MS 10740/DF,
DJ 12/03/2007; REsp nº 598.395/SC, DJ 29/11/2004; REsp nº 488.905/RS, DJ 13/9/2004. [...]
(TJMG. AI nº 1.0024.10.036097-3/002, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara Cí-
vel, j. em 27.02.2014, DJ, 13 mar. 2014).
454
FAGUNDES, Miguel Seabra. O Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010. p. 239-250.
11.2 Conceito
O processo administrativo disciplinar do servidor público,
normalmente identificado pelas iniciais PAD, é instrumento formal
utilizado pela Administração para apurar o cometimento de uma ou
mais infrações imputadas ao servidor público e aplicar a sanção devida,
com observância obrigatória do princípio constitucional inserto no art.
5º, LV, da Constituição da República: ampla defesa e contraditório.
Após a vigência da Carta de 1988, o direito ao contraditório e à
ampla defesa, com os meios e recursos a eles inerentes, foram erigidos
à condição de garantia constitucional do cidadão (art. 5º, LV, da CR).456
Desde então, qualquer ato da Administração Pública que tiver o condão
de repercutir sobre a esfera de interesses do administrado deverá ser
precedido de prévio procedimento em que se lhe assegure o efetivo
direito de participar e inspirar as decisões do Poder Público, na mais
plena democratização da atividade administrativa.457
Não se pode confundir o poder de a Administração agir de ofício,
ou seja, de iniciar procedimento independentemente de provocação das
partes, com a tomada de decisões sem a prévia oitiva dos interessados.
Saliente-se, entretanto, que o diferimento do contraditório e da ampla
defesa, por exemplo, desde que previsto em lei, diante de situações
455
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos dos magistrados, dos
professores e dos funcionários públicos, o soldo e os salários, salvo para pagamento de
prestação alimentícia.
456
Vide julgamento recente do Agravo de Instrumento nº 1.0024.13.169712-0/001, Oitava
Câmara Cível do TJMG, j. em 30.01.2014, DJ, 10 fev. 2014.
457
Precedentes dos Tribunais Superiores: RE nº 594.296/MG, DJ, 21 set. 2011; RMS nº 27.440/AL.
458
Art. 116. São deveres do servidor: I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
II - ser leal às instituições a que servir; III - observar as normas legais e regulamentares;
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; V - atender
com presteza: a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas
as protegidas por sigilo; b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; c) às requisições para a defesa da
Fazenda Pública. VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao
conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta,
ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; VII - zelar pela economia
do material e a conservação do patrimônio público; VIII - guardar sigilo sobre assunto
da repartição; IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa; X - ser
assíduo e pontual ao serviço; XI - tratar com urbanidade as pessoas; XII - representar contra
ilegalidade, omissão ou abuso de poder. Parágrafo único. A representação de que trata o
inciso XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autoridade superior
àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao representando ampla defesa.
459
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada
a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.
460
Art. 218. A autoridade que tiver ciência ou notícia da ocorrência de irregularidades no
serviço público é obrigada a promover-lhe a apuração imediata por meio de sumários, in-
quérito ou processo administrativo. Parágrafo único. O processo administrativo precederá
sempre à demissão do funcionário.
461
Hely Lopes Meirelles coloca: “Verdade sabida é o conhecimento pessoal da infração pela
própria autoridade competente para punir o infrator. Tal ocorre, p. ex., quando o subor-
dinado desautoriza o superior no ato do recebimento de uma ordem ou quando em sua
presença comete falta punível por ele próprio. Em tais casos, a autoridade competente,
que presenciou a infração, aplica a pena pela verdade sabida, consignando no ato punitivo
as circunstâncias em que foi cometida e presenciada a falta. Esse meio sumário só é ad-
missível para as penalidades cuja imposição não exija processo administrativo disciplinar.
Tem-se considerado, também, como verdade sabida a infração pública e notória, estampada
na imprensa ou divulgada por outros meios de comunicação de massa. O essencial para se
enquadrar a falta na verdade sabida é seu conhecimento direto pela autoridade competente
para puni-la, ou sua notoriedade irretorquível. Não obstante, embora sem rigor formal,
deve-se assegurar a possibilidade de defesa” (In: Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed.
São Paulo: Malheiros, 2013. p. 777/778).
462
Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases:
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;
III - julgamento.
463
CRETELLLA JÚNIOR, José. Dicionário de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense,
1978. p. 494.
464
Art. 220. O processo administrativo constará de duas fases distintas: [...] §4º - Nenhuma
penalidade, exceto repreensão, multa e suspensão, poderá decorrer das conclusões a que
chegar o inquérito, que é simples fase preliminar do processo administrativo.
465
Vide disposições dos arts. 143 e 153 da Lei nº 8.112/90, in verbis: Art. 143. A autoridade que
tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao
acusado a ampla defesa.
[...] Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do contraditório, assegura-
da ao acusado ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em direito.
466
Assim é expressamente definido pela Lei nº 8.112/90, no art. 154: “Os autos da sindicância
integrarão o processo disciplinar, como peça informativa da instrução”.
467
STJ. AgRg no RMS nº 20254/SP, Sexta Turma, Relª. Minª. Alderita Ramos de Oliveira
(Desembargadora Convocada do TJPE), j. em 15.08.2013, DJ, 27 ago. 2013; STJ, MS nº 7.989/
DF, Terceira Seção, Relª. Minª. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada
do TJPE), j. em 12.06.2013, DJ, 19 jun. 2013.
468
STJ, RMS nº 25030/MS, Rela. Mina. Laurita Vaz, Quinta Turma, j. em 06.09.2011, DJ, 22 set.
2011.
469
Maria Sylvia Zanella Di Pietro coloca que o fato de o processo administrativo ser presidido
por comissão assegura maior imparcialidade na instrução do processo, “pois a comissão é
órgão estranho ao relacionamento entre o funcionário e o superior hierárquico” (In: Direito
Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 782).
470
Cônjuge, companheiro ou parente do acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau não podem participar da comissão.
471
Vide art. 221, da Lei nº 869/52.
472
Na Lei nº 8.112/90, a ressalva é feita da seguinte forma: Art. 149. O processo disciplinar será
conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados pela autoridade
competente, observado o disposto no §3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presi-
dente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível
de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.
473
Edimur Ferreira de Faria, na obra Curso de Direito Administrativo Positivo, salienta que
as reuniões e audiências da comissão processante são de caráter reservado (In: Curso de
Direito Administrativo Positivo. 7. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. p. 696).
474
O Supremo Tribunal Federal, na Súmula Vinculante nº 5, firmou entendimento no sentido
de que “a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição”, ou seja, a defesa do acusado por advogado somente é exigível no
plano judicial.
475
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 783.
476
Vide artigos 167, da Lei nº 8.112/90, e 229, da Lei nº 869/52.
477
Nesse sentido é expressa a norma inserta no art. 168, parágrafo único, da Lei nº 8.112/90:
“Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora
poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor
de responsabilidade.”
478
Vide MS nº 13.364/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, j. em
14.05.2008, DJe, 26 ago. 2008; MS nº 18.047/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, j. em 26.03.2014, DJe, 1º abr. 2014.
479
Art. 127, da Lei nº 8.112/90.
480
Art. 247. A pena de multa será aplicada na forma e nos casos expressamente previstos em
lei ou regulamento.
481
Art. 244. São penas disciplinares: [...] Parágrafo único - A aplicação das penas disciplinares
não se sujeita à seqüência estabelecida neste artigo, mas é autônoma, segundo cada caso e
consideradas a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela provierem para o
serviço público.
Lei nº 8.112/90
Destituição
de função
comissionada
Lei nº 869/52 – MG
Desobediência.
Repreensão Falta de cumprimento de deveres.
482
Vide art. 246, §2º.
483
STJ, MS nº 13.364/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, j. em
14.05.2008, DJe, 26 maio 2008. No mesmo sentido, MS nº 15.810, Rel. Min. Humberto
Martins, Primeira Seção, j. em 29.02.2012, DJe, 30 mar. 2012.
484
Vide art. 131.
485
Art. 253. Deverão constar do assentamento individual todas as penas impostas ao funcio-
nário, inclusive as decorrentes da falta de comparecimento às sessões do júri para que for
sorteado. [...] §2º. O funcionário poderá requerer reabilitação administrativa, que consiste
na retirada, dos registros funcionais, das anotações das penas de repreensão, multa, sus-
pensão e destituição de função, observado o decurso de tempo assim estabelecido: 1 – três
(3) anos para as penas de suspensão compreendidas entre sessenta (60) a noventa (90) dias
ou destituição de função; 2 – dois (2) anos para as penas de suspensão compreendidas
entre trinta (30) e sessenta (60) dias; 3 – um (1) ano para as penas de suspensão de um (1)
a trinta (30) dias, repreensão ou multa. §3º - Os prazos a que se refere o parágrafo ante-
rior serão contados a partir do cumprimento integral das respectivas penalidades. §4º - A
reabilitação administrativa estende-se ao aposentado, desde que ocorram os requisitos a
ela vinculados. §5º - Em nenhum caso a reabilitação importará direito de ressarcimento,
restituição ou indenização de vencimentos ou vantagens não percebidos no período de
duração da pena. §6º - A reabilitação será concedida uma única vez. §7º - Os procedimen-
tos para o instituto da reabilitação serão definidos em decreto. §8º - É da competência do
Secretário de Administração decidir sobre a reabilitação, ouvido, previamente, o titular da
repartição de exercício do funcionário.
486
Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver pratica-
do, na atividade, falta punível com a demissão.
487
Ementa: 1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 2. Servidor públi-
co: legitimidade da pena de cassação de aposentadoria, por ilícito administrativo cometi-
do pelo servidor ainda na atividade, conforme reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal
(v.g. RMS 24.557, 2ª T., 2.9.2003, Carlos Velloso, DJ 7.12.95; MS 21.948, Pleno, 29.9.1994, Néri
da Silveira, DJ 26.9.2003). 3. Recurso extraordinário: descabimento: controvérsia relativa à
imposição da pena de cassação de aposentadoria à agravante, que demanda o reexame dos
fatos e provas que permeiam a lide: incidência da Súmula 279. (STF, Primeira Turma, AI
504188 ED/RS, MS nº 20882/MA. Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 11.10.2005, g.n.).
488
Ementa: Mandado de Segurança. Governador do Estado. Ilegitimidade passiva. Inade-
quação típica. Cassação da aposentadoria. Policial Civil. Sanção prevista em lei. Processo
administrativo disciplinar. Observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Aplicação da penalidade. Razoabilidade e proporcionalidade. Ausência de direito adquiri-
do. Segurança denegada. 1. O Governador do Estado é parte legítima para figurar no pólo
passivo de mandado de segurança impetrado contra ato administrativo consubstanciado
na aplicação da pena de cassação da aposentadoria de servidor público estadual. 2. Não há
falar-se em ausência de interesse processual, por inadequação típica da ação mandamen-
tal, quando a solução da lide prescinde de dilação probatória. 3. As normas insertas nos ar-
tigos 154, inciso VI, e 160, inciso I, da Lei nº 5.406/69, que contém a Lei Orgânica da Polícia
Civil, preveem a aplicação da pena de cassação da aposentadoria na hipótese em que ficar
comprovado que o servidor inativo praticou, quando em atividade, falta grave para a qual
é cominada pena de demissão. 4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se
no sentido da possibilidade de aplicação da sanção de cassação da aposentadoria, mesmo
nas hipóteses em que a falta é cometida pelo servidor em momento posterior à implemen-
tação dos requisitos necessários à aquisição do direito à aposentadoria. 5. Vislumbra-se a
legitimidade do ato administrativo que cassou a aposentadoria concedida ao impetrante,
seja porque fora praticado após instauração e trâmite de regular procedimento adminis-
trativo, no âmbito do qual lhe foram assegurados o exercício da ampla defesa e do contra-
ditório; seja em razão da observância dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade
na aplicação da pena, tendo em vista a gravidade das condutas imputadas ao servidor. 6.
Não há falar-se em ofensa a direito adquirido à aposentadoria, quando a falta tenha sido
cometida pelo servidor ainda na atividade, notadamente no presente caso, em que as in-
frações disciplinares foram praticadas e o processo administrativo disciplinar instaurado
antes do afastamento do servidor em razão da constatação de sua incapacidade laborativa
(TJMG, MS nº 1.0000.13.071120-3/000, Órgão Especial, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, j.
em 16.06.2014).
489
A previsão de regime previdenciário contributivo para os servidores federais ocorreu na
Emenda Constitucional nº 3/1993, para os servidores estaduais e municipais, em caráter
facultativo, na Emenda nº 20/1998, e para servidores de todas as esferas de governo, em
caráter obrigatório, na Emenda Constitucional nº 41/2003.
490
Cassação de aposentadoria é incompatível com regime previdenciário de servidores?.
Revista Consultor Jurídico, 16 abr. 2015.
491
No caso de morte ou desaparecimento do servidor, qualquer membro da família pode
requerer a revisão do processo; se o sindicado tornou-se incapaz, o curador pode requerer
a revisão.
492
Art. 175 da Lei nº 8.112/90. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao requerente.
493
Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do
punido ou a inadequação da penalidade aplicada.
494
Súmula nº 19. É inadmissível segunda punição de servidor pública, baseada no mesmo
processo em que se fundou a primeira.
495
Administrativo. Mandado de Segurança. Servidor público. Processo administrativo dis-
ciplinar - PAD. Anulação da pena de suspensão, já cumprida pelo servidor, e aplicação
de pena mais grave, de demissão, por orientação da Controladoria-Geral da União. Bis in
idem e reformatio in pejus. Impossibilidade. Pedido de reintegração julgado procedente.
Efeitos funcionais. Retroação à data da demissão. Efeitos financeiros. Retroação limitada à
data da impetração. Segurança concedida. 1. “A Autoridade coatora apontada, que impõe
a pena de demissão, vincula-se aos fatos apurados e não à capitulação legal proposta pela
Comissão Processante. Da mesma forma, o indiciado se defende dos fatos contra ele im-
putados, não importando a classificação legal inicial, mas sim a garantia da ampla defesa e
do contraditório. Por isso, a modificação na tipificação das condutas pela Autoridade Ad-
ministrativa não importa nem em nulidade do PAD, nem no cerceamento de defesa” (MS
13.364/DF, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Terceira Seção, DJe 26/5/08). 2.
O novo julgamento do processo administrativo disciplinar ofende o devido processo legal,
por não encontrar respaldo na Lei 8.112/90, que prevê sua revisão tão somente quando
constatado vício insanável ou houver possibilidade de abrandamento da sanção discipli-
nar aplicada ao servidor público. 3. O processo disciplinar se encerra mediante o julga-
mento do feito pela autoridade competente. A essa decisão administrativa, à semelhança
do que ocorre no âmbito jurisdicional, deve ser atribuída a nota fundamental de definitivi-
dade. O servidor público punido não pode remanescer sujeito a novo julgamento do feito
para fins de agravamento da sanção, com a finalidade de seguir orientação normativa,
quando sequer se apontam vícios no processo administrativo disciplinar. 4. “É inadmissí-
vel segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo em que se fundou
a primeira” (Súmula 19/STF). 5. Hipótese em que a anulação, pelo Presidente da FUNA-
SA, da pena de suspensão aplicada ao Impetrante, após seu cumprimento, não teve por
escopo corrigir eventual vício insanável e/ou beneficiá-lo, na medida em que resultou da
orientação firmada pela Corregedoria-Geral da União – CGU que, ao reexaminar o mérito
das conclusões firmadas pela Comissão processante, entendeu necessária a aplicação de
pena mais grave, de demissão. [...].6. Segurança concedida para anular a pena de demissão
aplicada ao Impetrante e determinar à Autoridade Impetrada que o reintegre ao serviço
público. Efeitos funcionais que devem retroagir à data da demissão do servidor. Os efeitos
financeiros, todavia, devem retroagir à data da impetração, conforme as Súmulas 269 e
271/STF, reservando-se a cobrança das diferenças remuneratórias anteriores à impetração
às vias ordinárias (j. em 28.08.2013, DJe, 10 set. 2013).
496
No voto do Ministro Relator, colhe-se o seguinte excerto: “Aqui está o ponto crucial da
controvérsia. A disponibilidade fora imposta mediante processo; mas a demissão foi de-
cretada sem processo algum, porque o anterior, já encerrado, não poderia servir para apli-
cação de segunda penalidade, autêntico bis in idem. É, pois, insustentável o ato demissório,
já que apoiado em processo administrativo extinto ou exausto, o que equivale a dizer que
foi praticado sem processo”.
497
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a
qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias
relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada. Parágrafo único. Da
revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção. (g.n.).
498
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular ou
revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência.
502
Redação do §1º, do art. 142, da Lei nº 8.112/90.
503
O Superior Tribunal de Justiça, por sua Segunda Turma, em julgamento recente, AgRg
nos EDcl no Recurso em Mandado de Segurança nº 46.678-PE, datado de 03 de março de
2015, sob a relatoria do Ministro Mauro Campbell Marques, reafirmou o entendimento
no sentido de que é a publicação do ato de instauração do processo administrativo
disciplinar que interrompe o prazo prescricional, e não a lavratura do ato que formaliza a
sua instauração, nos termos do arts. 142, §3º, e 151, da Lei nº 8.112/90.
504
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: [...] §3º. A abertura de sindicância ou a instauração
de processo disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por autoridade
competente.
505
Nesse sentido, precedente do Plenário do Supremo Tribunal Federal: I. Cassação de
aposentadoria pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão (L.
8.112/90, art. 134): constitucionalidade, sendo irrelevante que não a preveja a Constituição
e improcedente a alegação de ofensa do ato jurídico perfeito. [...]. III. Punição disciplinar:
prescrição: a instauração do processo disciplinar interrompe o fluxo da prescrição, que volta a correr
por inteiro se não decidido no prazo legal de 140 dias, a partir do termo final desse último (STF.
MS nº 23.299/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, j. em 06.03.2002, DJ, 12 abr.
2002, g.n.).
506
Vide arts. 152 e 167 da Lei nº 8.112/90.
507
Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará o
registro do fato nos assentamentos individuais do servidor.
508
Ementa: Constitucional e Administrativo. Poder disciplinar. Prescrição. Anotação de fatos
desabonadores nos assentamentos funcionais. Declaração incidental de inconstitucionali-
dade do art. 170 da Lei nº 8.112/90. Violação do princípio da presunção de inocência. Se-
gurança concedida. 1. A instauração do processo disciplinar interrompe o curso do prazo
prescricional da infração, que volta a correr depois de ultrapassados 140 (cento e quarenta)
dias sem que haja decisão definitiva. 2. O princípio da presunção de inocência consiste em
pressuposto negativo, o qual refuta a incidência dos efeitos próprios de ato sancionador,
administrativo ou judicial, antes do perfazimento ou da conclusão do processo respectivo,
com vistas à apuração profunda dos fatos levantados e à realização de juízo certo sobre a
ocorrência e a autoria do ilícito imputado ao acusado. 3. É inconstitucional, por afronta ao
art. 5º, LVII, da CF/88, o art. 170 da Lei nº 8.112/90, o qual é compreendido como projeção
da prática administrativa fundada, em especial, na Formulação nº 36 do antigo DASP, que
tinha como finalidade legitimar a utilização dos apontamentos para desabonar a conduta
do servidor, a título de maus antecedentes, sem a formação definitiva da culpa. 4. Reco-
nhecida a prescrição da pretensão punitiva, há impedimento absoluto de ato decisório
condenatório ou de formação de culpa definitiva por atos imputados ao investigado no pe-
ríodo abrangido pelo PAD. 5. O status de inocência deixa de ser presumido somente após
decisão definitiva na seara administrativa, ou seja, não é possível que qualquer consequên-
cia desabonadora da conduta do servidor decorra tão só da instauração de procedimento
apuratório ou de decisão que reconheça a incidência da prescrição antes de deliberação
definitiva de culpabilidade. 6. Segurança concedida, com a declaração de inconstituciona-
lidade incidental do art. 170 da Lei nº 8.112/1990 (STF. MS nº 23262, Rel. Min. Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, j. em 23.04.2014, DJe, 30 out. 2014).
509
Art. 5º, VII, da Constituição Federal: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
510
“Sendo o princípio fundamental da Democracia a liberdade, seria impossível compatibi-
lizar-se o seu exercício com o ideal de Justiça Material, concreta e efetiva para todos, se
não se incluíssem no sistema jurídico, no qual os direitos inerentes a ela são assegurados
a todo indivíduo, as normas morais, cujo conteúdo fosse absorvido pelo sistema norma-
tivo e transformado, assim, em Direito a ser respeitado. [...] Destarte, o conteúdo justo do
Direito não pode ser atendido apartado do sentido moral que deve prevalecer em todas as
relações humanas, sob pena de deixarem de ter este traço de humanidade. [...] A democra-
cia, como regime político que realiza em sua essência o princípio da liberdade e a garantia
da libertação como experiência transcendente do homem na aventura da vivência com os
outros, não pode sobreviver ou se efetivar com um conjunto de normas desapegadas da
Moral construída e respeitada pela sociedade” (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princí-
pios Constitucionais da Administração Pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. p. 181).
511
“[...] se pode afirmar que o Direito se alimenta da moral, tem seu surgimento a partir da
moral, e convive com a moral continuamente, enviando-lhe novos conteúdos e normas,
512
e recebendo novos conceitos e normas. A moral é, e deve sempre ser, o fim do Direito.
Com isso, pode-se chegar à conclusão de que Direito sem moral, ou Direito contrário às
aspirações morais de uma comunidade, é puro arbítrio, e não Direito” (BITTAR, Eduardo
C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2015. p. 593).
512
A respeito da necessária intercambialidade entre direito e moral, sábias são as lições do
saudoso Arcebispo Primaz do Brasil, D. Lucas Moreira Neves: “Profundamente humana
é também a autoridade política. Fonte dessa autoridade é sua legitimidade [...] nas
democracias, o sufrágio popular (o poder dado pelo povo). E, no entanto, tal legitimidade
se dilui, se, acima dela, não houver a legitimidade oriunda da postura moral. Qualquer
que seja a natureza do seu poder [...] o homem público põe em perigo a sua autoridade
funcional se esta não é coberta por uma inquestionável autoridade moral. A mesma
multidão que, com o voto, lhe confere autoridade, costuma retirá-la se essa autoridade
legal não se converte em verdadeira autoridade moral. Só o homem penetrado nas
virtudes morais é capaz de ser homem público confiável e respeitado” (NEVES, D. Lucas
Moreira. Primado da Ética. Jornal do Brasil, 02 set. 1992, 1º Caderno, p. 11).
513
Vicente Raó confirma: “Se em todos os tempos se proclamou que o Direito, ao se concretizar
em normas obrigatórias, há de respeitar os princípios da Moral, hoje mais do que nunca
se acentua a tendência de que as normas morais revelam no sentido de sua transformação
em normas jurídicas; acentua-se, isto é, a tendência para a moralização do Direito” (RAÓ,
Vicente. O direito e a vida dos Direitos. São Paulo: Resenha Universitária, 1976. v. I, p. 41).
514
“Ao longo da história, com a transição do Absolutismo para o Estado de Direito na Idade
Moderna, o Estado fica sujeito à lei. Após a revolução inglesa, francesa e americana, o
que significou a ‘disseminação do Estado Liberal e Democrático’, o Estado fica também
sujeito à sociedade. E por fim, com a lenta incorporação das conquistas éticas à ordem
jurídica, ‘como um sistema autônomo de licitude’, o Estado sujeita-se igualmente à moral”
(BRAGA, Pedro. Ética, Direito e Administração Pública. 2. ed. Brasília: Senado Federal, 2006.
p. 197).
515
MOREIRA NETO, Diogo Figueiredo. Ética na Administração Pública. Ética no Direito e na
Economia. São Paulo: Pioneira, 1999. p. 141.
516
“O exercício de uma função política não se caracteriza rigorosamente como uma profissão,
principalmente pela sua natureza eletiva e transitória. Trata-se de um mandato conferido
pelo povo para representá-lo nos órgãos que detêm o poder de gerir os interesses de
toda a sociedade. Assim, os políticos escolhidos são mandatários e não donos do poder.
Assemelham-se aos que recebem uma procuração para o exercício de algum ato de interesse
do mandante. Devem, pois, prestar contas a este do correto exercício do mandato. É fácil,
compreender, pois, que o cumprimento da função política inclui graves exigências éticas,
na medida em que consiste num compromisso de bem servir não só aos que o elegeram,
mas a toda a sociedade” (PADIN, D. Cândido. Ética na Política: Código Internacional de
Ética. In: Ética no Novo Milênio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 74-75).
517
“A diferenciação entre as esferas de valor (que possibilitou uma distinção entre os campos
do direito e da moral) não é absoluta, de forma que a moral e o direito não se tornaram
sistemas independentes e incomunicáveis. Se o poder público institucionalizado não
tivesse qualquer pretensão de representar os interesses do povo, então as normas jurídicas
poderiam ser absolutamente incompatíveis com as normas morais. Entretanto, enquanto
se fundamenta a legitimidade política na representação e no interesse da população, é
preciso que se construam pontes que relacionem as normas jurídicas e os valores morais”
(COSTA, Alexandre Araújo. Introdução ao Direito: uma perspectiva zetética das ciências
jurídicas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2001. p. 100).
518
Nesse sentido, J. M. Sérvulo Corrêa pondera que: “Para além da feitura de leis justas, espe-
ra-se do Estado que, no exercício das suas funções, se comporte não apenas sob a preocu-
pação de não infringir preceitos, mas a de constituir o elemento exponencial de materiali-
zação das ideias mais nobres: as de justiça e de solidariedade. Daí que da Administração se
não exija apenas uma vivência de legalidade: à instituição mais presente no dia-a-dia dos
cidadãos pede-se, além disso, que se comporte como modelo das virtudes próprias da vida
em sociedade. Não basta a legalidade: é preciso que impere a moralidade administrativa”
(Legalidade Administrativa e Moralidade Administrativa. In: Jornadas sobre o Fenômeno da
Corrupção. Estudos Vários, v. 01, p. 84, 1990).
519
Aliás, segundo ensinamentos de Márcia Noll Barbosa, colhidos em Jürgen Habermas, a
problemática da fundamentação do direito não desaparece com a sua mera positivação, e,
por consequência, se os fundamentos morais do direito não se reduzem mais a uma ilus-
tração metafísica, com o recurso ao direito natural, faz-se necessário um substitutivo dessa
fundamentalidade, consistente na abertura dos discursos jurídicos à argumentação moral
(BARBOSA, Márcia Noll. O princípio da moralidade administrativa: uma abordagem de seu
significado e suas potencialidades à luz da noção de moral crítica. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2002. p. 59).
520
Mesmo porque a política não é esfera de atuação alheia ou à margem de compromissos éti-
cos. Nesse sentido: “a política não é autônoma da moral e, tão pouco, se sacrifica à moral,
nem se absorve nela. A dignidade do homem como pessoa, ou seu fim próprio, o conseguir
o Bem Estar da comunidade e a realização da justiça, entre outros, não podem deixar-se de
lado. Os parâmetros básicos para promover o Bem Comum e o desenvolvimento da pes-
soa humana detêm a sua raiz, precisamente, nos princípios da ética. [...] A subordinação
da política à ética significa, fundamentalmente, que a política recebe da ética os princípios
basilares para actuar, não os podendo violar, sob pena de se estar a desenvolver uma po-
lítica de cariz imoral” (WILENSKY, Alfredo Héctor. Corrupção. O Direito, Lisboa, ano 139,
n. 05, p. 988).
521
Novamente, nas palavras do prof. Sérvulo Correia, “[...] boa parte das normas de Direito
Administrativo ou têm conteúdo ético, ou desempenham uma função instrumental
524
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “as principais inovações dessa lei foram: (a) deixou
claro que o sequestro e a perda de bens são aplicáveis ao servidor público e ao dirigente
ou empregado de autarquia; (b) considerou como servidor público todas as pessoas que
exercessem, na União, nos Estados, nos Territórios, no Distrito Federal e nos Municípios,
quaisquer cargos, funções, empregos, civis ou militares, nos órgãos dos três poderes; (c)
equiparou a dirigente de autarquia o dirigente ou empregado de sociedade de economia
mista, de fundação instituída pelo Poder Público, de empresa incorporada ao patrimônio
público, ou de entidade que receba e aplique contribuições parafiscais [...]; (d) definiu, nos
artigos 2º, 3º e 4º, os casos de enriquecimento ilícito para os fins da lei; (e) deu legitimidade
ativa para pleitear o sequestro e a perda de bens, à União, Estados, Municípios, Distrito
Federal, entidades que recebam contribuições parafiscais, sociedades de economia mista,
fundações e autarquias; (f) em caso de essas entidades não promoverem a ação, qualquer
cidadão poderia fazê-lo, hipótese em que a pessoa jurídica interessada deveria ser citada
para integrar o contraditório na qualidade de litisconsorte da parte autora; (g) deixou
claro que o sequestro é medida acautelatória que deveria ser seguida da ação principal,
cujo objetivo era a perda dos bens sequestrados, em favor da pessoa jurídica autora ou
litisconsorte, além do ressarcimento integral das perdas e danos sofridos pela entidade”
(In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 972-973).
525
GARCIA, Emerson. A moralidade Administrativa e sua densificação. Revista de Informação
Legislativa, Brasília, ano 39, n. 155, p. 165, jul./set. 2002.
526
TÁCITO, Caio. Moralidade Administrativa. Revista de Direito Administrativo, Rio de
Janeiro, n. 218, p. 01-10, out./dez. 1999, p. 01.
527
OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria da Improbidade Administrativa: má gestão pública, corrupção,
ineficiência. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 98.
528
O Supremo Tribunal Federal, no Brasil, ao analisar o princípio da moralidade, manifestou-
se nos seguintes termos: “poder-se-á dizer que apenas agora a Constituição Federal
consagrou a moralidade como princípio de administração publica (art. 37 da Constituição
Federal). Isso não é verdade. Os princípios podem estar ou não explicitados em normas.
Normalmente, sequer constam do texto regrado. Defluem de todo o ordenamento jurídico.
Encontram-se ínsito, implícitos no sistema, permeando as diversas normas regedoras de
determinada matéria. O só fato de um princípio não figurar no texto constitucional não
significa que nunca teve relevância de princípio. A circunstância de, no texto constitucional
anterior, não figurar o princípio da moralidade não significa que o administrador poderia
agir de forma imoral ou mesmo amoral. Como ensina Jesus Gonzáles Perez ‘el hecho de
su consagración en una norma legal no supone que con anterioridad no existiera, ni que
por tal consagración legislativa haya perdido tal carácter’ (El princípio de buena fe en el
derecho administrativo, Madri, 1983, p. 15). Os princípios gerais de direito existem por
força própria, independentemente de figurarem em texto legislativo. E o fato de passarem
a figurar em texto constitucional ou legal não lhes retira o caráter de princípio. O agente
público não só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar que possui tal qualidade.
Como a mulher de César” (STF. RE nº 160381/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. em 29.03.1994,
DJ, 12 ago. 1994).
529
De acordo com Maurício Ribeiro Lopes, “numa busca dos fatores mais razoáveis de inser-
ção desse princípio na Constituição, lograríamos encontrar um posicionamento assumido
pelas classes sociais constitutivas da Nação, que exigiram tal proceder do constituinte por-
que encaram a realidade das práticas administrativas existentes no momento, caracteri-
zadas, em grande maioria, por anomalias detectadas pela ausência de credibilidade” (In:
Ética e Administração Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 60).
530
STJ. REsp nº 1.085.218/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 15.10.2009, DJe, 06
nov. 2009.
531
STJ. REsp nº 1.107.833/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, j. em
08.09.2009, DJe, 18 set. 2009.
532
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 1.088-1.089.
533
BARBOZA, Márcia Noll. O principio da moralidade administrativa: uma abordagem de seu
significado e suas potencialidades à luz da noção de moral crítica. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2002. p. 134.
534
FREITAS, Juarez. Do Princípio da Probidade Administrativa e de sua Máxima Efetivação.
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 204, p. 65-84, abr./jun. 1996.
535
Marçal Justen Filho pontua quanto ao tema que, “ainda quando as expressões não tenham
significação precisa, a ‘moralidade’ abarcaria a ‘probidade’. A utilização cumulativa das
expressões não representa conceitos qualitativamente diversos, mesmo que se possa
reconhecer que a moralidade apresentaria âmbito de abrangência mais amplo” (In:
Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 16. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014. p. 87).
536
ALVES, Rogério Pacheco; GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa. 6. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 55.
537
In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 969.
538
Como é o caso, no Brasil, por exemplo, da Lei nº 8.666/93, em seu art. 3º: “A licitação
destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da
proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos
que lhes são correlatos”.
539
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
p. 971-972.
540
Defendendo a tese de inconstitucionalidade da Lei nº 8.429/92, por configurar ofensa à
autonomia dos entes da Federação, Toshio Mukai sustenta que “inexiste no texto cons-
titucional, dentre as disposições que tratam da distribuição de competências dos entes
federados, mormente no art. 24 (que dispõe sobre a competência concorrente), nenhuma
autorização à União que lhe outorgue competência legislativa em termos de normas gerais
sobre o assunto (improbidade administrativa). Aliás, nem poderia mesmo existir, pois, se
se trata de impor sanções aos funcionários e agentes da Administração, a matéria cai in-
teiramente na competência legislativa em tema de Direito Administrativo, e, portanto, na
competência privativa de cada ente político. Em suma, se o funcionário é federal, somente
lei federal pode impor-lhe sanções pelo seu comportamento irregular; se o funcionário é
municipal, somente lei administrativa do Município ao qual está ligado pode impor-lhe
sanções” (A Inconstitucionalidade da Lei de Improbidade Administrativa – Lei Federal nº
8.429/92. Boletim de Direito Administrativo, p. 720, nov. 1999).
541
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 1.088/1.089. Na mesma linha, entendendo que a pena de perda da função
pública não seria passível de regulação por cada ente federativo, Di Pietro adverte que
“o fato de estar prevista a perda da função pública entre as sanções cabíveis em caso de
improbidade administrativa não é suficiente para concluir que se trata de sanção
administrativa para punir um ilícito puramente administrativo, apurável em processo
administrativo. Se essa conclusão fosse válida, não haveria dúvida de que se estaria frente
a matéria de competência de cada ente da federação. Isso, porém, não ocorre, da mesma
forma que não se pode afirmar que a perda do cargo prevista no art. 92, I, do Código
Penal, seja sanção de natureza administrativa. A perda da função pública, no caso, pela
gravidade do ato de improbidade, é inerente à própria suspensão dos direitos políticos. Se
uma pessoa tem os direitos políticos suspensos por determinado período, ela deve perder
concomitantemente o direito de exercer uma função de natureza pública” (In: Direito
Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 977-978).
542
Nas palavras do Ministro do Superior Tribunal de Justiça, José de Castro Meira, “A Lei
nº 8.429/92 visa a resguardar os princípios da administração pública sob o prisma do
combate à corrupção, da imoralidade qualificada e da grave desonestidade funcional, não
se coadunando com a punição de meras irregularidades administrativas ou transgressões
disciplinares, as quais possuem foro disciplinar adequado para processo e julgamento”
(STJ. REsp nº 1.089.911/PE, j. em 17.11.2009, DJe, 25 nov. 2009).
543
À guisa de registro, consigne-se que a Lei nº 8.429/92 já teve a sua constitucionalidade
formal questionada, por meio do ajuizamento da ADI nº 2.182/DF, em que se sustentou
que a tramitação do Projeto de Lei nº 01446/91, que deu origem a tal diploma legislativo,
não observou as regras do processo legislativo bicameral. É que, conforme alegou o
Partido Trabalhista Nacional (PTN), autor da demanda, encaminhado o projeto de lei pelo
Chefe do Poder Executivo à Câmara dos Deputados e aprovado por essa Casa, ele seguiu
ao Senado Federal, sendo objeto de substitutivo. Restituído à Câmara dos Deputados, teria
havido uma terceira redação, a qual, em flagrante ofensa aos ditames do art. 65, da CR,
foi enviada diretamente à sanção do Presidente da República, quando o certo seria a sua
submissão a novo crivo revisor do Senado. Na oportunidade, o Supremo Tribunal Federal,
por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator), entendeu que o substitutivo
aprovado no Senado da República, atuando como Casa Revisora, não caracterizou novo
projeto de lei a exigir uma segunda revisão, mas mera emenda à proposição original.
Dessa forma, após proceder à sua análise, realmente competia à Câmara de Deputados,
local em que se iniciou a tramitação do processo legislativo, encaminhá-lo à sanção do
Presidente da República, sem que se pudesse falar em qualquer ofensa ao art. 65, da CR.
544
Destaque-se que se encontra pendente de julgamento no STF a ADI nº 4.295/DF, proposta
pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN) e distribuída por prevenção ao Ministro
Marco Aurélio, cujo objeto consiste no exame da constitucionalidade material da Lei de
Improbidade Administrativa.
das penas cabíveis (art. 12), e do prazo prescricional que deve ser
observado para a propositura da demanda judicial (art. 23).
Igualmente por força do art. 22, I, da Constituição da República,
a Lei nº 8.429/92 também possui âmbito nacional quando estabelece
o rito processual peculiar da ação judicial de improbidade (arts. 16 a
18) e o tipo penal contido no art. 19, que busca repreender o autor de
denúncias sabidamente infundadas ou inverídicas.
Ressalte-se que aos Estados e ao Distrito Federal, por força do
disposto no art. 24, XI, da Constituição da República, compete legislar
suplementarmente sobre procedimentos em matéria processual,
devendo, ao assim proceder, por força do §2º desse mesmo dispositivo,
guardar obediência às normas gerais editadas pela União, notadamente
àquelas constantes do Código de Processo Civil, da Lei de Improbidade
e dos demais diplomas que integram o microssistema de tutela dos
direitos coletivos.
Alguns dispositivos da Lei nº 8.429/92, contudo, versam sobre
matéria administrativa, motivo pelo qual sua aplicação, em virtude
do princípio da autonomia, recai apenas sobre a esfera federal, tendo
os demais entes competência privativa para legislar sobre o assunto.
São os casos: (a) do art. 13, que condiciona a posse e o exercício
de agente público “à apresentação de declaração dos bens e valores
que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no
serviço pessoal competente” (regulamentado pelo Decreto nº 5.438, de
30.06.2005);545 (b) do procedimento previsto no art. 14, §3º, para fins de
apuração administrativa da suposta prática de atos de improbidade;
(c) do art. 20, parágrafo único, que cuida do afastamento cautelar do
agente público, quando necessário à instrução processual.
Finalmente, no que toca ao direito de representação estabelecido
no art. 14, da Lei nº 8.429/92, segundo o qual qualquer pessoa poderá
se reportar à autoridade administrativa competente para que seja
instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de
545
Na mesma linha, José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 27. ed.
São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.091) e Maria Sylvia Zanella Di Pietro (Direito Administrativo.
28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 978). Em sentido contrário, Emerson Garcia e Rogério
Pacheco Alves esposam a tese de que a norma prevista no art. 13 da Lei nº 8.429/92, a
despeito de sua natureza aparentemente administrativa, compõe um sistema integrado de
combate à improbidade, buscando coibir o enriquecimento ilícito, motivo pelo qual há de
ter o seu alcance estendido a todas as esferas de governo (In: Improbidade Administrativa. 6.
ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 207). Com a devida vênia, tal argumento, apesar
de sua relevância, não tem o condão de enfraquecer a capacidade de auto-organização
constitucionalmente conferida aos entes da federação, sob pena de ofensa ao princípio da
autonomia e rompimento do equilíbrio federativo.
546
No mesmo sentido, José Dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 27.
ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.091). Contra, Maria Sylvia Zanella Di Pietro defende que o
direito de representação previsto no art. 14 da Lei nº 8.429/92 cuida de matéria de compe-
tência privativa da União (In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 978).
547
COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Comercial – direito de empresa. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. v. 2, p. 516.
548
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 1.091.
549
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 1.092.
550
Por conseguinte, conforme bem advertem Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, “ain-
da que a conduta se enquadre na tipologia dos arts. 9º (enriquecimento ilícito) e 11 (vio-
lação aos princípios administrativos da Lei nº 8.429/1992), o agente não estará sujeito às
penalidades previstas nesta Lei em não tendo sido o ato praticado contra o patrimônio
de tais entes [...]” (In: Improbidade Administrativa. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
p. 222). No mesmo sentido, Carvalho Filho afirma que, “se o ato não se relacionar com o
patrimônio, o agente não estará sujeito às sanções da Lei nº 8.429/92, mas sim àquelas pre-
vistas na lei reguladora adequada” (In: Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 1.092).
551
Como o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.429/92, quando a vítima do ilícito for uma das
entidades ali previstas, apenas restringiu a sanção patrimonial a ser aplicada, que, na ação
de improbidade, deverá se limitar ao prejuízo que recair sobre o montante proveniente do
erário, “as demais sanções do art. 12 serão aplicáveis normalmente, conforme a natureza
do autor e a extensão dos efeitos do ato” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.092).
In: Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.092.
552
agentes públicos ou não, que induzam ou concorram para a prática do ato de improbidade
ou dele se beneficiem sob qualquer forma, direta ou indireta. [...]” (STJ. AgRg no AREsp nº
264.086 MG, Relª. Minª. Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 06.08.2013, DJe, 28 ago. 2013).
554
Sobre o tema, vem a calhar a observação feita pelos autores Emerson Garcia e Rogério
Pacheco Alves: “Assim, coexistem lado a lado, estando sujeitos às sanções previstas na
Lei nº. 8.429/1992, os agentes que exerçam atividade junto à administração direta ou
indireta (perspectiva funcional), e aqueles que não possuam qualquer vínculo com o Poder
Público, exercendo atividade eminentemente privada junto a entidades, que, de qualquer
modo, recebam numerário de origem pública (perspectiva patrimonial). Como se vê, trata-
se de conceito muito mais amplo que o utilizado pelo art. 327 do Código Penal. Nesta
linha, para os fins da Lei de Improbidade, tanto será agente público o presidente de uma
autarquia, como o proprietário de uma pequena empresa do ramo de laticínios que tenha
recebido incentivos, fiscais ou creditícios, para desenvolver sua atividade. Como observou
Fábio Medina Osório, “neste campo, ocorre aquilo que se denomina de convergência entre
o direito público e privado, pois as entidades privadas são atingidas pela legislação, na
medida em que estiverem em contato com o dinheiro público, pouco importando que suas
atividades ficassem enquadradas nas normas privatísticas” (In: Improbidade Administrativa.
6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 249).
555
Administrativo e Processual Civil. Ação Civil Pública de improbidade administrativa.
Médico ginecologista e obstetra, credenciado em hospital privado (instituição filantrópica
sem fins lucrativos) vinculado (o hospital) ao SUS. Cobrança pecuniária para a realização
de parto, quando o procedimento já estava custeado pelo convênio assistencial de saú-
de da parturiente. Serviço não financiado pelo SUS. Impossibilidade de amoldamento da
conduta no art. 11 da Lei 8.429/92, por não comprovada a condição de agente público do
recorrente e nem lesão a interesses do erário. Recurso especial provido. 1. A tipificação de
determinada conduta como ímproba, à luz da Lei 8.429/92, exige analisar se o ato inves-
tigado foi, efetivamente, praticado por Agente Público ou a ele equiparado, no exercício
do munus público, nos moldes delineados pelo art. 2º da LIA, bem como se houve lesão a
bens e interesses das entidades relacionadas no art. 1o. da Lei de Improbidade. 2. In casu,
observa-se que o recorrente - Médico Ginecologista e Obstetra, credenciado ao Hospital e
Maternidade Gota de Leite - cobrou da paciente o valor de R$ 980,00 pelo parto realizado,
apesar deste procedimento já estar sendo pago pelo Instituto de Assistência Médica ao Ser-
vidor Público Estadual (IAMSPE), com o qual a vítima possui convênio. 3. O fato de o Hos-
pital e Maternidade Gota de Leite possuir vínculo com o SUS não quer dizer que o referido
Hospital somente presta serviços na qualidade de instituição pertencente à rede pública de
saúde, pois o art. 199 da CF/88 possibilita a participação complementar da iniciativa priva-
da na prestação dos serviços em comento, mediante contrato de direito público ou convê-
nios, o que não impede a Instituição de prestar serviços particulares àqueles de demandam
seus serviços nesta qualidade. 4. Neste caso, duas hipóteses de prestação de serviços po-
dem ocorrer: (a) requerimento de atendimento médico-hospitalar com esteio no convê-
nio/contrato de direito público (função pública delegada), caso em que as despesas com
a prestação do serviço pleiteado serão arcadas pelo SUS, com o orçamento da Seguridade
Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 199 da CF); e (b)
requerimento de atendimento particular dos serviços em exame, quando a contraprestação
ao Hospital será custeada pelo próprio paciente - seja mediante seu plano de saúde/con-
vênio, ou seja mediante seus próprios rendimentos. 5. O Hospital e Maternidade Gota de
Leite atua em parceria com o Poder Público na prestação de serviços de saúde à população,
somente podendo ser qualificada no art. 1º da Lei de Improbidade quando presta
Filho consigna que, “a despeito de tais pessoas prestarem serviço público por delegação,
não se enquadram no modelo da lei: as tarifas que auferem dos usuários são o preço pelo
uso do serviço e resultam de contrato administrativo firmado com o concedente ou permi-
tente. Desse modo, o Estado, como regra, não lhes destina benefícios, auxílios ou subven-
ções” (In: Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.094).
558
In: Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.096.
559
Nessa linha, Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves asseveram que “a insistência na equi-
paração entre atos de improbidade administrativa e crimes de responsabilidade é equivoca-
da, parecendo-nos de meridiana clareza, data venia, que o art. 85, V, da CF, ao considerar que
os atentados contra a probidade na administração também constituem crimes de responsa-
bilidade, não desejou limitar os seus efeitos a este campo político de sancionamento, o que,
inclusive, é remarcado pelo art. 37, §4º, da CF. É dizer, mesmo que se considerem verdadeira-
mente penais as condutas previstas no art. 85, com o que discordamos, o fato é que, repita-se
à exaustão, a própria Carta Política acolhe a responsabilização no campo da improbidade ‘...
sem prejuízo da ação penal cabível’. Deste modo, é possível concluir que o atuar ímprobo vai
repercutir em pelo menos três esferas distintas, a saber: a dos crimes ‘comuns’, a dos crimes
de responsabilidade (preferimos a expressão ‘infrações político-administrativas’) e, por fim,
a esfera da improbidade administrativa, de natureza extrapenal, sendo harmoniosa, a partir
da Magna Carta, a convivência dos três sistemas sancionatórios” (In: Improbidade Administra-
tiva. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 811).
560
Reclamação. Usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal. Improbidade
administrativa. Crime de responsabilidade. Agentes políticos. I. Preliminares. Questões
de ordem. [...] II. Mérito. II.1. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade.
563
Perfilhando essa corrente, Carvalho Filho salienta que, em relação à ação de improbidade
administrativa, “subsistiriam outras sanções sem tal natureza (como, v. g., multa civil,
reparação de danos, proibição de benefícios creditícios ou fiscais etc). Tais sanções não
decorreriam de crime de responsabilidade, regulado por lei especial, mas sim de conduta
de improbidade sem caracterização delituosa. De fato, examinando-se o elenco de sanções
contemplado no art. 12 da Lei nº 8.429/1992, é possível vislumbrar a existência, lado a lado,
de sanções político-administrativas e exclusivamente administrativas. Daí a distinção feita
por alguns intérpretes e que, em nosso entender, melhor se harmoniza com o sistema atu-
almente em vigor e com o princípio da moralidade administrativa” (In: Manual de Direito
Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.097).
564
Constitucional. Competência. Ação de improbidade contra Governador de Estado. Du-
plo regime sancionatório dos agentes políticos: Legitimidade. Foro por prerrogativa de
função: Reconhecimento. Usurpação de competência do STJ. Procedência parcial da re-
clamação. 1. Excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da
República (art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal (art.
86), não há norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime
de responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no art.
37, §4.º. Seria incompatível com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitu-
cional que impusesse imunidade dessa natureza. 2. Por decisão de 13 de março de 2008, a
Suprema Corte, com apenas um voto contrário, declarou que “compete ao Supremo Tri-
bunal Federal julgar ação de improbidade contra seus membros” (QO na Pet. 3.211-0, Min.
Menezes Direito, DJ 27.06.2008). Considerou, para tanto, que a prerrogativa de foro, em
casos tais, decorre diretamente do sistema de competências estabelecido na Constituição,
que assegura a seus Ministros foro por prerrogativa de função, tanto em crimes comuns, na
própria Corte, quanto em crimes de responsabilidade, no Senado Federal. Por isso, “seria
absurdo ou o máximo do contra-senso conceber que ordem jurídica permita que Ministro possa ser
julgado por outro órgão em ação diversa, mas entre cujas sanções está também a perda do cargo.
Isto seria a desestruturação de todo o sistema que fundamenta a distribuição da competência” (voto
567
Sobre a vagueza na tipificação dos crimes de responsabilidade como elemento diferen-
ciador do ilícito de improbidade administrativa, o Ministro Joaquim Barbosa anotou que,
para a caracterização daqueles, “basta a maladresse política, o mau exemplo por parte
do dirigente, basta a atitude conivente ou omissa em relação à necessária punição dos
subordinados que eventualmente incorram em deslizes funcionais graves, ou a ação ex-
plícita ou dissimulada no sentido do acobertamento desses deslizes funcionais. Em suma,
a exemplo de várias tipificações contidas na Lei nº 1.079/1950, o conteúdo material da im-
probidade administrativa prevista em alguns dos incisos do seu art. 9º, longe de apontar
para a exigência da prática de atos específicos, detalhados e diretamente caracterizáveis
como ímprobos por parte do Presidente da República e de seus ministros, guarda a fluidez
inerente aos signos descritivos das ações de comando supremo, isto é: a) omitir ou retardar
dolosamente a publicação das leis (um tipo de ato presidencial que ultrapassa em muito
as fronteiras administrativas); b) infringir as normas legais no provimento dos cargos; c)
não prestar contas ao Congresso Nacional. São pura e simplesmente delitos político-fun-
cionais, puníveis com o afastamento do agente, sem que se possa falar em ressarcimento
de dano, em indisponibilidade de bens [...]. Ou seja, longe se está, nesta tipificação da
improbidade para fins de responsabilização política, da crueza descritiva que encontra-
mos na lei de improbidade administrativa quando esta tipifica as condutas suscetíveis de
desencadear a ação por improbidade”.
12.4.3.2 Terceiros
O terceiro, na Lei nº 8.429/92, compreende toda pessoa que, sem
ter a qualidade de agente público, induza ou concorra para a prática
do ilícito de improbidade administrativa, ainda que dele apenas se
beneficie direta ou indiretamente (art. 3º).
Observa-se que o papel do terceiro no ato de improbidade ad-
ministrativa pode ser bastante amplo. Tanto ele pode inspirar, fazer
nascer em outrem a ideia do ilícito (induzir), como prestar auxílio de
qualquer natureza para a sua prática (concorrer), ou, simplesmente,
figurar como beneficiário direto ou indireto do ato.
Interessante polêmica diz respeito à possibilidade de a pessoa
jurídica figurar como terceiro. Para Carvalho Filho, essa possibilidade
inexiste, porquanto o terceiro, beneficiário direto ou indireto do ato,
somente pode responder por improbidade administrativa uma vez
constatada a presença do dolo, elemento anímico estranho a essas
entidades de existência abstrata, as quais não têm vontade e consciência
próprias.569
568
Também apontando a perplexidade que desencadearia imunizar os agentes políticos da
normatividade da Lei de Improbidade Administrativa, Celso Antônio Bandeira de Mello
registra que “são eles, justamente, os que desfrutam das condições mais propícias à prática
de atos de improbidade administrativa e os que dispõem dos melhores meios para se eva-
direm à conseqüente responsabilidade. Donde, o máximo temor há de ser o de que a pro-
bidade administrativa seja afrontada pelos referidos agentes, pois são os que comandam
todo o aparelho administrativo do Estado. Se a lei veio para coibir atos de improbidade,
conforme seu explícito objeto, é óbvio que de seu alvo jamais poderiam estar excluídos
os agentes políticos, aos quais, de resto, se ajustaria bem o papel de centro da mira (a
mosca)”. (In Competência para julgamento de agentes políticos por ofensa à Lei de Improbidade
Administrativa (8.429, de 02.06.92) Interesse Público, v. 9, n. 42, p. 15-19, mar./abr. 2007.
569
Segundo o autor, “o terceiro, quando beneficiário direto ou indireto do ato de improbidade,
só pode ser responsabilizado por ação dolosa, ou seja, quando tiver ciência da origem
ilícita da vantagem. Comportamento culposo não se compatibiliza com a percepção de
vantagem indevida; muito menos a conduta sem culpa alguma. De qualquer forma, o
terceiro jamais poderá ser pessoa jurídica. As condutas de indução e colaboração para a
improbidade são próprias de pessoas físicas. Quanto à obtenção de benefícios indevidos,
em que pese a possibilidade de pessoa jurídica ser destinatária deles (como, por exemplo,
no caso de certo bem público móvel ser desviado para o seu patrimônio), terceiro será
572
STJ. AIA nº 30/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, Corte Especial, j. em 21.09.2011, DJe, 28 set.
2011.
573
Sobre o tema, também a doutrina perfilha entendimento equivalente, conforme se extrai
das lições de Maria Sylvia Zanella Di Pietro: “O enquadramento na lei de improbidade exi-
ge culpa ou dolo por parte do sujeito ativo. Mesmo quando algum ato ilegal seja praticado,
é preciso verificar se houve culpa ou dolo, se houve um mínimo de má-fé que revele a pre-
sença de comportamento desonesto. A quantidade de leis, decretos, medidas provisórias,
regulamentos, portarias torna praticamente impossível a aplicação do velho princípio de
que todos conhecem a lei. Além disso, algumas normas admitem diferentes interpreta-
ções e são aplicadas por servidores públicos estranhos à área jurídica. Por isso mesmo,
a aplicação da lei de improbidade exige bom senso, pesquisa da intenção do agente, sob
pena de sobrecarregar-se inutilmente o judiciário com questões irrelevantes, que podem
ser adequadamente resolvidas na própria esfera administrativa. A própria severidade das
sanções previstas na Constituição está a denotar que o objetivo foi o de punir infrações que
tenham um mínimo de gravidade, por apresentarem conseqüências danosas para o patri-
mônio público (em sentido amplo), ou propiciarem benefícios indevidos para o agente ou
para terceiros” (In: Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 990).
574
STJ. REsp nº 1347223/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, j. em
16.05.2013, DJe, 22 maio 2013.
575
STJ. AgRg no AREsp nº 20.747/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, j. em
17.11.2011, DJe, 23 nov. 2011.
576
Administrativo. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial. Improbidade admi-
nistrativa. Ação Civil Pública. Prejuízo ao erário. Dano efetivo não demonstrado. Compras
revertidas em proveito da coletividade. Ato de improbidade não caracterizado. Preceden-
tes STJ. Ausência de dolo. Agravo improvido. 1. É pacífico no âmbito deste Superior Tri-
bunal o entendimento de que, para a condenação por ato de improbidade administrativa
que importe prejuízo ao erário, é imprescindível a demonstração de efetivo dano ao patri-
mônio público, o que não se verificou em relação às condutas do ex-alcaide impugnadas
pelo Ministério Público. 2. Ausência de elemento subjetivo ensejador da incidência da res-
ponsabilidade por ato de improbidade, relativamente aos fatos objeto do presente recurso
especial. 3. Agravo regimental não provido (STJ. AgRg no AREsp nº 18.317/MG, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, j. em 05.06.2014, DJe, 27 ago. 2014).
577
STJ. REsp nº 940.629/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, Primeira Turma, j. em 16.08.2008, DJe,
04 set. 2008.
578
Tendo em vista a severidade das sanções passíveis de imposição às pessoas sujeitas
à normatividade da Lei nº 8.429/92, Fernando Capez esposa, de forma basta ampla, a
necessidade de se aplicarem as normas fundamentais garantidoras inerentes ao direito
penal e ao direito processual penal em favor de todos os acusados da prática de ato de
improbidade administrativa. Nas palavras do autor, “há uma contradição entre a natureza
extrapenal da Lei de Improbidade Administrativa e o rigor de suas penalidades, as quais
acabam, apesar de sua gravidade equivalente à das sanções penais, sendo aplicadas sem os
mesmos requisitos sancionatórios. Tal contradição é inconstitucional, dado que violadora
dos princípios derivados do Estado Democrático de Direito, tais como a dignidade da
pessoa humana, a proporcionalidade, a igualdade, a ofensividade, o estado de inocência,
o in dubio pro reo e o devido processo legal. Portanto, é imperiosa a aplicação dos princípios
penais e processuais penais garantidores e derivados do Estado Democrático de Direito,
como pressuposto lógico para a punição por ato de improbidade administrativa. Não
existe a possibilidade de se punir uma pessoa pela prática de improbidade, sem que o
fato tenha conteúdo material ímprobo, seja dotado de ofensividade, relevância mínima,
inadequação social, proporcionalidade em relação à pena que será aplicada, além da
verificação do dolo ou culpa. Além disso, devem estar configuradas a sua ilicitude e a
culpabilidade do agente” (In: Limites constitucionais à Lei de Improbidade. São Paulo: Saraiva,
2010. p. 346).
579
“[...] De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, para o enquadramento
das condutas previstas no art. 11 da Lei 8.429/92, não é necessária a demonstração de dano
ao erário ou enriquecimento ilícito do agente. [...]” (STJ. AgRg nos EREsp nº 1119657/MG,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, j. em 12.09.2012, DJe, 25 set. 2012).
580
STJ. REsp nº 765.212/AC, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em 02.03.2010,
DJe, 23 jun. 2010.
581
A mudança de posicionamento da Segunda Turma é historiada de forma bastante didática
na ementa dos Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 875.163/RS (STJ. Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, j. em 20.06.2010, DJe, 30 jun. 2010), como fundamento
para justificar o não conhecimento do recurso, uma vez que já não mais existia divergência
entre as Turmas de Direito Público quanto à necessidade de demonstração do elemento
subjetivo para a configuração do tipo previsto no art. 11 da Lei nº 8.429/92: Processual
Civil e Administrativo. Embargos de divergência em recurso especial. Improbidade
administrativa. Violação de princípios da administração pública (art. 11 da Lei 8.429/92).
Elemento subjetivo. Requisito indispensável para a configuração do ato de improbidade
administrativa. Pacificação do tema nas turmas de direito público desta Corte Superior.
Súmula 168/STJ. Precedentes do STJ. Embargos de divergência não conhecidos. 1.
Os embargos de divergência constituem recurso que tem por finalidade exclusiva a
uniformização da jurisprudência interna desta Corte Superior, cabível nos casos em que,
embora a situação fática dos julgados seja a mesma, há dissídio jurídico na interpretação
da legislação aplicável à espécie entre as Turmas que compõem a Seção. É um recurso
estritamente limitado à análise dessa divergência jurisprudencial, não se prestando
a revisar o julgado embargado, a fim de aferir a justiça ou injustiça do entendimento
manifestado, tampouco a examinar correção de regra técnica de conhecimento. 2. O
tema central do presente recurso está limitado à análise da necessidade da presença de
elemento subjetivo para a configuração de ato de improbidade administrativa por violação
de princípios da Administração Pública, previsto no art. 11 da Lei 8.429/92. Efetivamente,
as Turmas de Direito Público desta Corte Superior divergiam sobre o tema, pois a Primeira
Turma entendia ser indispensável a demonstração de conduta dolosa para a tipificação
do referido ato de improbidade administrativa, enquanto a Segunda Turma exigia para a
configuração a mera violação dos princípios da Administração Pública, independentemente
da existência do elemento subjetivo. 3. Entretanto, no julgamento do REsp 765.212/
AC (Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 23.6.2010), a Segunda Turma modificou o seu
entendimento, no mesmo sentido da orientação da Primeira Turma, a fim de afastar a
possibilidade de responsabilidade objetiva para a configuração de ato de improbidade
administrativa. 4. Assim, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no
sentido de que, para a configuração do ato de improbidade administrativa previsto no
art. 11 da Lei 8.429/92, é necessária a presença de conduta dolosa, não sendo admitida
a atribuição de responsabilidade objetiva em sede de improbidade administrativa. [...].
7. Portanto, atualmente, não existe divergência entre as Turmas de Direito Público desta
Corte Superior sobre o tema, o que atrai a incidência da Súmula 168/STJ: “Não cabem
embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo
sentido do acórdão embargado”. 8. Embargos de divergência não conhecidos (STJ. EREsp
nº 875.163/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, j. em 23.06.2010, DJe,
30 jun. 2010).
12.4.5 Sanções
As penas passíveis de imposição aos agentes condenados pela
prática de atos de improbidade administrativa, “independentemente
das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação
específica”,582 encontram-se elencadas nos incs. I, II, e III do art. 12, da
Lei nº 8.429/92, a depender do tipo em que se enquadrar a conduta
ilícita, a saber:
i) art. 9º (Dos Atos de Improbidade Administrativa que
Importam Enriquecimento Ilícito): perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral
do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de 08 (oito) a 10 (dez) anos, pagamento
de multa civil de até 03 (três) vezes o valor do acréscimo
patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10 (dez)
anos;
ii) art. 10 (Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam
Prejuízo ao Erário): ressarcimento integral do dano, perda
dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
se concorrer esta circunstância, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de 05 (cinco) a 08 (oito) anos,
583
José dos Santos Carvalho Filho critica a opção legislativa de tratar com maior rigor os
atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito (art. 9º) em relação àqueles que
resultam em prejuízo aos cofres públicos (art. 10). Segundo sustenta, “embora seja conde-
nável o enriquecimento ilícito, mais grave é a lesão ao erário; afinal, aquele pode favorecer
apenas o interesse privado, ao passo que esta sempre afetará o interesse público, tendo
em vista as pessoas que figuram como sujeitos passivos da improbidade” (In: Manual de
Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.107). Nesse ponto, discorda-se do
autor, uma vez que, apenas a título ilustrativo, a situação do agente que, deliberadamente,
aproveitando-se do exercício de suas funções, aufere vantagem patrimonial indevida, do
ponto de vista ético, tão caro à Lei de Improbidade Administrativa, é bem mais grave e re-
pugnante do que aquela em que o agente relapso, culposamente, acaba por causar prejuízo
aos cofres públicos.
584
Relacionado à matéria de Direito Sancionador, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça
que o redimensionamento da sanção evidentemente excessiva ou desproporcional em grau
de apelação pode ser realizado pelo Tribunal mesmo sem haver pedido recursal expresso
nesse sentido: Processo Civil e Administrativo. Improbidade administrativa. Recurso
Especial do Ministério Público. Suposta violação aos arts. 128 e 460 do CPC. Princípio da
congruência. Correlação entre o pedido e provimento jurisdicional. Inaplicabilidade em
matéria de direito sancionador, na qual é possível a revisão da aplicação das penalidades,
quando evidente a sua desproporcionalidade. Nega-se provimento ao Recurso Especial
do Ministério Público. Agravo em Recurso Especial. Intempestividade do Apelo Raro.
Correta a decisão que inadmitiu o recurso na origem. Nega-se provimento ao Agravo.
Negado provimento ao Agravo. 1. Apesar de não ter havido pedido expresso para redução
da multa civil, em sede de Apelação e, a despeito da regra de correlação ou congruência
da decisão, prevista nos arts. 128 e 460 do CPC, pela qual o Juiz está restrito aos elementos
objetivos da demanda, entende-se que, em tratando-se de matéria de Direito Sancionador,
e revelando-se patente o excesso ou a desproporcionalidade da sanção aplicada, pode
o Tribunal reduzi-la, ainda que não tenha sido alvo de impugnação recursal. 2. Na
hipótese em apreço, entendeu o Tribunal de origem que a multa civil aplicada no máximo
permitido (duas vezes o valor do dano) revelou-se excessiva, reduzindo-a, de ofício, para
o valor equivalente à condenação de ressarcimento do dano. A alteração dessa conclusão
a que chegou o Tribunal a quo demandaria, invariavelmente, incursão no acervo fático-
probatório da demanda, o que encontra óbice, no presente caso concreto, na Súmula 7
deste Superior Tribunal de Justiça. 3. Nega-se provimento ao Agravo em Recurso Especial
de RICARDO LIMA ESPÍNDOLA e ao Recurso Especial do MINISTÉRIO PÚBLICO
(STJ. REsp nº 1293624/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, j. em
05.12.2013, DJe, 19 dez. 2013).
585
Sendo evidente a desproporcionalidade das sanções aplicadas, o Superior Tribunal de
Justiça vem entendendo pela possibilidade de sua revisão em sede de Recurso Especial,
sem que isso configure simples reexame de prova: Administrativo. Embargos de
divergência em Recurso Especial. Improbidade administrativa. Divisão da remuneração
de assessor parlamentar. Mal uso de dinheiro público para remunerar terceiro.
Proporcionalidade na aplicação das penalidades. Acórdãos oriundos da mesma turma
julgadora. Descabimento dos embargos de divergência. Acórdão paradigma da primeira
turma. Divergência comprovada. É possível a revisão das penalidades aplicadas por
improbidade administrativa, desde que violados os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, o que não se verifica na hipótese. Embargos conhecidos e desprovidos.
1. Não são cabíveis embargos de divergência fundados em paradigmas oriundos da
mesma Turma julgadora, no caso a Segunda Turma do STJ. 2. No que tange ao dissídio
invocado em relação ao REsp 1.130.198/RR, comprovada a divergência jurisprudencial; é
possível, em sede de Recurso Especial, a revisão das sanções impostas por improbidade
administrativa, desde que violados os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
3. In casu, contudo, não restou demonstrada a suposta violação ao art. 12 da Lei 8.429/92,
uma vez que o Tribunal a quo aplicou, de forma fundamentada, tão somente a penalidade
de multa civil, considerando, para isso, as peculiaridades do caso concreto; a reprimenda
multa enquanto sanções por ato ímprobo. Condenação mista. Necessidade de estabelecer
corretamente os institutos jurídicos para fins de incidência das previsões do art. 12 da Lei
n. 8.249/92. 1. Tem-se aqui da ação civil pública por improbidade administrativa ajuizada
para acolher a preliminar de nulidade por tratar-se de decisão extra petita, tornando-
se sem efeito o acórdão recorrido e determinando-se o retorno dos autos à Instância de
origem para que proceda a novo julgamento, observando os limites delineados pela inicial
acusatória (STJ. REsp nº 1147564/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, j. em 13.08.2013, DJe, 02 set. 2013).
591
Nessa linha, cf. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27.
ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.108-1.109.
592
No mesmo sentido, o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça: Processo Civil e
Administrativo – Ato de improbidade – Art. 10, inciso XII da Lei 8.429/92 – Princípio da
congruência – Elemento subjetivo – Demonstração de prejuízo ao erário. 1. Não infringe
o princípio da congruência a decisão judicial que enquadra o ato de improbidade em
dispositivo diverso do indicado na inicial, eis que deve a defesa ater-se aos fatos e não à
capitulação legal [...] (STJ. REsp nº 842.428/ES, Relª. Minª. Eliana Calmon, Segunda Turma,
j. em 24.04.2007, DJ, 21 maio 2007).
593
Ementa: Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. Administrativo. Ato do Ministro
de Estado da Justiça. Policial rodoviário federal. Cassação da aposentadoria. Processo
administrativo. Instauração a partir do resultado de sindicância que apurou fatos narrados
em denúncia anônima. Alegação de contrariedade ao art. 134 da Lei n. 8.112/1990; Ofensa
ao contraditório e à ampla defesa. Não ocorrência. Alegada nulidade do processo e da
pena aplicada. Inexistência. Recurso ao qual se nega provimento (STF. RMS nº 29198, Relª.
Minª. Cármen Lúcia, Segunda Turma, j. em 30.10.2012, Dje, 28 nov. 2012); Administrativo.
Mandado de Segurança. Engenheiro do DNIT. Demissão por gerência de sociedade privada
e improbidade administrativa. Denúncia anônima. Investigação preliminar. Realização.
Nulidade. Não configuração. Prescrição. Ocorrência. Segurança concedida. 1. Trata-se de
mandado de segurança que ataca ato do Ministro de Estado Chefe da Controladoria Geral
da União, publicado no DOU de 15/02/2012, consistente na demissão do impetrante do
cargo de engenheiro do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT,
“pela prática das infrações disciplinares previstas nos artigos 117, inciso X e 132, inciso IV,
com os efeitos decorrentes do artigo 136, todos da Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990”
(fl. 513-e). 2. Alega o impetrante, em síntese, que: (a) é nulo processo administrativo
disciplinar instaurado com base em denúncia anônima; (b) a pena de demissão foi aplicada
quando já prescrita a pretensão punitiva da Administração; (c) não houve demonstração
de que o exercício de gerência de sociedade privada causou danos à Administração Pública
ou ao Erário; (d) não está configurada a prática de improbidade administrativa, uma vez
que sua evolução patrimonial guarda compatibilidade com os ganhos obtidos com a
sociedade privada. 3. Não há falar em nulidade se o processo administrativo disciplinar
é instaurado somente após a realização de investigação preliminar para averiguar o
conteúdo da denúncia anônima. Nesse sentido: STJ - MS 12.385/DF, 3ª Seção, Min. Paulo
Gallotti, DJe 05/09/2008; MS 13.348/DF, 3ª Seção, Min. Laurita Vaz, DJe 16/09/2009; MS
15.517/DF, 1ª Seção, Min. Benedito Gonçalves, DJe 18/02/2011; STF - RMS 29.198/DF, 2ª T.,
Min. Cármen Lúcia, DJe 28/11/2012 [...] (STJ. MS nº 18.664/DF, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, Primeira Seção, j. em 23.04.2014, DJe, 30 abr. 2014).
594
Na verdade, tendo em vista que a medida recairá sobre bens indeterminados de
propriedade do indiciado, o correto é falar em arresto e não sequestro.
595
Suspensão de liminar e de sentença. Ação Civil Pública. Improbidade administrativa.
Afastamento cautelar de agente político. Art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92.
Inexistência de lesão aos interesses tutelados pelo art. 4º da Lei n. 8.437/92. I - O afastamento
cautelar de agente político está autorizado pelo art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429,
de 1992, “quando a medida se fizer necessária à instrução processual”. II - Essa norma
supõe prova suficiente de que o agente possa dificultar a instrução do processo. III - O
afastamento sub judice está fundado no risco à instrução processual, inexistindo, portanto,
lesão aos interesses tutelados pelo art. 4º da Lei n. 8.437, de 1992. Agravo regimental
desprovido (STJ. AgRg na SLS nº 1.900/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, Corte Especial, j.
em 17.12.2014, DJe, 09 mar. 2015).
596
Nesse sentido, já decidiu a Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
sob minha relatoria: Agravo de Instrumento. Ação Civil Pública. Indisponibilidade
de bens. Medida judicial de caráter excepcional. Bloqueio. Desproporcionalidade da
medida. Extensão do dano. Recurso conhecido e provido. 1. A tutela diferenciada de
indisponibilidade de bens, inserta no art. 7º da Lei 8.429/92, não necessita de demonstração
do perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, por se tratar de tutela de evidência.
2. Não obstante, quando a medida de indisponibilidade antecede o recebimento da ação
de improbidade, em que o juiz, após a oitiva dos requeridos, examina a viabilidade
da ação, seja sobre a existência de indícios justificáveis da improbidade, bem como da
autoria, a medida cautelar se transmuda de evidência para de urgência, de modo que
seu deferimento está condicionado à existência de atos a demonstrar o perigo de demora
em face da iminência de dilapidação do patrimônio, a justificar a tutela diferenciada [...]
(TJMG. AI nº 1.0338.12.009311-1/003, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, Oitava Câmara
Cível, j. em 08.08.2013, DJe, 19 ago. 2013).
previsto no art. 543-C do CPC. Ação Civil Pública. Improbidade administrativa. Cautelar
de indisponibilidade dos bens do promovido. Decretação. Requisitos. Exegese do art.
7º da Lei n. 8.429/1992, quanto ao periculum in mora presumido. Matéria pacificada
pela colenda Primeira Seção. 1. Tratam os autos de ação civil pública promovida pelo
Ministério Público Federal contra o ora recorrido, em virtude de imputação de atos de
improbidade administrativa (Lei n. 8.429/1992). 2. Em questão está a exegese do art. 7º da
Lei n. 8.429/1992 e a possibilidade de o juízo decretar, cautelarmente, a indisponibilidade
de bens do demandado quando presentes fortes indícios de responsabilidade pela prática
de ato ímprobo que cause dano ao Erário. 3. A respeito do tema, a Colenda Primeira
Seção deste Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial 1.319.515/ES, de
relatoria do em. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Relator para acórdão Ministro
Mauro Campbell Marques (DJe 21/9/2012), reafirmou o entendimento consagrado em
diversos precedentes (Recurso Especial 1.256.232/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, julgado em 19/9/2013, DJe 26/9/2013; Recurso Especial 1.343.371/AM,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18/4/2013, DJe 10/5/2013;
Agravo Regimental no Agravo no Recurso Especial 197.901/DF, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, julgado em 28/8/2012, DJe 6/9/2012; Agravo Regimental no
Agravo no Recurso Especial 20.853/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma,
julgado em 21/6/2012, DJe 29/6/2012; e Recurso Especial 1.190.846/PI, Rel. Ministro Castro
Meira, Segunda Turma, julgado em 16/12/2010, DJe 10/2/2011) de que, “[...] no comando
do art. 7º da Lei 8.429/1992, verifica-se que a indisponibilidade dos bens é cabível quando
o julgador entender presentes fortes indícios de responsabilidade na prática de ato de
improbidade que cause dano ao Erário, estando o periculum in mora implícito no referido
dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37, §4º, da Constituição, segundo a
qual ‘os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na
forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível’. O periculum
in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo requerente da
medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo entendimento
segundo o qual, em casos de indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta
ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando normativo do art. 7º da
Lei n. 8.429/92. Assim, a Lei de Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos,
ocultamento ou dilapidação patrimoniais, possibilitados por instrumentos tecnológicos de
comunicação de dados que tornaria irreversível o ressarcimento ao erário e devolução do
produto do enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo, buscou dar efetividade à
norma afastando o requisito da demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC),
este, intrínseco a toda medida cautelar sumária (art. 789 do CPC), admitindo que tal
requisito seja presumido à preambular garantia de recuperação do patrimônio do público,
da coletividade, bem assim do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido”. 4. Note-se
que a compreensão acima foi confirmada pela referida Seção, por ocasião do julgamento do
Agravo Regimental nos Embargos de Divergência no Recurso Especial 1.315.092/RJ, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 7/6/2013. 5. Portanto, a medida cautelar em exame,
própria das ações regidas pela Lei de Improbidade Administrativa, não está condicionada
599
O advento da Lei nº 9.366/96 corrigiu a distorção existente na redação original do §3º, do art.
17, da Lei nº 8.429/92, que impunha à pessoa jurídica o dever de integrar a lide, suprindo
omissões e falhas da inicial elaborada pelo Ministério Público, bem como apresentando ou
indicando os meios de prova ao seu alcance. Em suma, a norma ali insculpida, ao obrigar
a pessoa jurídica a demandar, forçava-lhe a figurar como litisconsorte ativo necessário do
Parquet, de modo absolutamente avesso ao sistema processual civil pátrio.
600
Processual Civil e Administrativo. Recurso Especial. Ação Civil Pública de improbidade
administrativa. Litisconsórcio passivo. Ausência de inclusão de agente público no pólo
passivo. Impossibilidade de apenas o particular responder pelo ato ímprobo. Precedentes.
1. Os particulares que induzam, concorram, ou se beneficiem de improbidade adminis-
trativa estão sujeitos aos ditames da Lei nº 8.429/1992, não sendo, portanto, o conceito de
sujeito ativo do ato de improbidade restrito aos agentes públicos (inteligência do art. 3º da
LIA). 2. Inviável, contudo, o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente e apenas
contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da
demanda. 3. Recursos especiais improvidos (STJ. REsp nº 1171017/PA, Rel. Min. Sérgio
Kukina, Primeira Turma, j. em 25.02.2014, DJe, 06 mar. 2014). No mesmo sentido: STJ.
REsp nº 896.044/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em 16.09.2010, DJe,
19 abr. 2011; e STJ. REsp nº 1.181.300/PA, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, j. em
14.09.2010, DJe, 24 set. 2010.
12.4.7.3 Competência
Regra geral, a competência para conhecer e julgar a ação de
improbidade, em razão de não figurar entre aquelas de incumbência
da justiça especializada, é da justiça comum, estadual ou federal.
Será da competência da justiça federal sempre que a União,
entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes (art. 109, I, da CR).
Caso contrário, a competência será da justiça estadual, que, como se
sabe, é residual.
Apesar de a sociedade de economia mista não constar do rol de
pessoas do art. 109, I, da CR, o Superior Tribunal de Justiça, em mais
de uma oportunidade, asseverou que o simples fato de a União deter o
capital majoritário daquela já evidenciaria o interesse desta na apuração
de atos ilícitos que importem prejuízo à sociedade empresarial, o que
atrairia a competência da justiça federal.601
Cumpre, ainda, advertir que o Superior Tribunal de Justiça tem
entendido que o mero ajuizamento da ação de improbidade pelo Minis-
tério Público Federal (MPF), por cuidar de órgão integrante da União,
já é suficiente para fixar a competência na justiça federal.602
Outra interessante questão decidida pelo Superior Tribunal de
Justiça diz respeito à competência para conhecimento da ação de im-
probidade e o repasse de verbas transferidas pela União ao Município
por meio de convênio. Se, pelas regras do ajuste, a verba transferida
incorpora-se ao patrimônio municipal, a competência para a ação será
da justiça estadual, nos termos da Súmula nº 209 do STJ.603 Por outro
lado, se a verba transferida não se incorpora ao patrimônio municipal,
ficando sujeita à prestação de contas perante o Órgão Federal, a com-
petência para a ação será da justiça federal, conforme o enunciado da
Súmula nº 210 do STJ.604 605
601
STJ. REsp nº 1249118/ES, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em 26.08.2014,
DJe, 28 nov. 2014; REsp nº 1281945/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, j. em 22.11.2011, DJe, 1º dez. 2011.
602
STJ. AgRg no CC nº 122.629/ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, j. em
13.11.2013, DJe, 02 dez. 2013.
603
Súmula nº 209 do STJ. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
604
Súmula nº 210 do STJ. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
605
Administrativo e Processual Civil. Improbidade administrativa. Constatação pelo
Tribunal de Contas da União - TCU de irregularidades na utilização de verbas que o
Governo Federal, por meio de convênio, destinou à implementação de políticas públicas
609
Ação Civil Pública, por improbidade administrativa. Lei n.º 10.628/2002. Inconstituciona-
lidade. Competência do juízo de primeira instância. 1. Ação Civil Pública, por improbida-
de administrativa, proposta pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do
Trabalho em face de Juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região e servidores
daquele tribunal, sob o fundamento de eventual prejuízo ao erário. 2. A jurisprudência
desta eg. Corte Especial, antes do advento da Lei 10.628/2002, era pacífica no sentido da
incompetência originária do Superior Tribunal de Justiça processar e julgar ação de impro-
bidade administrativa, fundada na Lei n.º 8.429/92, ainda que o réu detivesse prerrogativa
de foro para as ações penais. Precedentes do STJ: AgRg na Pet 2593 / GO, Relatora Ministra
Laurita Vaz, DJ de 06.11.2006 e AgRg na Pet 2655/ES, Relator Ministro Francisco Peçanha
Martins, DJ de 01.08.2006. 3. A superveniente declaração de inconstitucionalidade da Lei
nº 10.628/2002 (ADI 2797/DF, Pleno STF, 15.9.2005) e o efeito vinculante atribuído à referi-
da decisão, conduz à cessação da competência desta Corte e, consectariamente, revela a ne-
cessidade de remessa dos autos ao Juízo competente para prosseguimento do feito. 4. Pre-
cedentes do STJ: RCL 2133/PR, 3ª Seção, Relator Ministro Felix Fischer, DJ de 02.10.2006;
AgRg na MC 7476/GO, Corte Especial, Relatora Ministra Laurita Vaz, DJ de 06.11.2006 e
AgRg na MC 7487/GO, Corte Especial, Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito,
DJ de 17.04.2006. 5. Embargos de declaração acolhidos para determinar a remessa dos
autos ao Juízo da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária de Rondônia, para prosseguimento
do feito, porquanto, por força da ADIn 2797/DF resta inequívoca a incompetência absoluta
desta Corte, conferindo colegialidade a essa decisão (STJ. EDcl na Pet nº 2.588/RO, Rel.
Min. Luiz Fux, Corte Especial, j. em 06.12.2006, DJ, 12 fev. 2007).
610
Questão de ordem. Ação Civil Pública. Ato de improbidade administrativa. Ministro do
Supremo Tribunal Federal. Impossibilidade. Competência da Corte para processar e julgar
seus membros apenas nas infrações penais comuns. 1. Compete ao Supremo Tribunal Fe-
deral julgar ação de improbidade contra seus membros. 2. Arquivamento da ação quanto
ao Ministro da Suprema Corte e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no
tocante aos demais (STF. Pet nº 3211 QO, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ ac. Min. Menezes
Direito, j. em 13.03.2008, DJe, 27 jun. 2008).
611
Constitucional. Competência. Ação de improbidade contra Governador de Estado. Duplo
regime sancionatório dos agentes políticos: Legitimidade. Foro por prerrogativa de fun-
ção: Reconhecimento. Usurpação de competência do STJ. Procedência parcial da recla-
mação. [...] 2. Por decisão de 13 de março de 2008, a Suprema Corte, com apenas um voto
contrário, declarou que “compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de improbi-
dade contra seus membros” (QO na Pet. 3.211-0, Min. Menezes Direito, DJ 27.06.2008).
Considerou, para tanto, que a prerrogativa de foro, em casos tais, decorre diretamente do
sistema de competências estabelecido na Constituição, que assegura a seus Ministros foro
por prerrogativa de função, tanto em crimes comuns, na própria Corte, quanto em crimes
de responsabilidade, no Senado Federal. Por isso, “seria absurdo ou o máximo do contra-senso
conceber que ordem jurídica permita que Ministro possa ser julgado por outro órgão em ação di-
versa, mas entre cujas sanções está também a perda do cargo. Isto seria a desestruturação de todo o
sistema que fundamenta a distribuição da competência” (voto do Min. Cezar Peluso). 3. Esses
mesmos fundamentos de natureza sistemática autorizam a concluir, por imposição lógica
de coerência interpretativa, que norma infraconstitucional não pode atribuir a juiz de pri-
meiro grau o julgamento de ação de improbidade administrativa, com possível aplicação
da pena de perda do cargo, contra Governador do Estado, que, a exemplo dos Ministros
do STF, também tem assegurado foro por prerrogativa de função, tanto em crimes comuns
(perante o STJ), quanto em crimes de responsabilidade (perante a respectiva Assembléia
Legislativa). É de se reconhecer que, por inafastável simetria com o que ocorre em relação
aos crimes comuns (CF, art. 105, I, a), há, em casos tais, competência implícita complemen-
tar do Superior Tribunal de Justiça. 4. Reclamação procedente, em parte (STJ. Rcl nº 2.790/
SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Corte Especial, j. em 02.12.2009, DJe, 04 mar. 2010).
612
Processo Civil. Competência. Ação de improbidade administrativa. A ação de impro
bidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que
proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes
de responsabilidade. Reclamação improcedente (STJ. Rcl nº 12.514/MT, Rel. Min. Ari
Pargendler, Corte Especial, j. em 13.03.2014, DJe, 21 mar. 2014).
613
Esse entendimento foi replicado pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do Agravo Regimental na Reclamação nº 10.037/MT, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, julgado em 21.10.2015, DJe, 25 nov. 2015.
614
PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa Comentada. São Paulo:
Atlas, 2007. p. 201-204.
615
Processual Civil. Administrativo. Improbidade administrativa. Não recebimento da ação.
Inexistência de indícios de práticas de atos ímprobos. Decisão devidamente fundamentada
e baseada em consistente arcabouço probatório. Súmula 7/STJ. 1. Pelo teor do art. 17, §8º,
da Lei n. 8.429/1992, a ação de improbidade administrativa só deve ser rejeitada de plano
se o órgão julgador se convencer da inexistência do ato de improbidade, da improcedência
da ação ou da inadequação da via eleita. Assim, havendo a presença de indícios razoáveis
da prática de atos ímprobos, a ação deverá ser recebida, porquanto, nesse momento
processual, vigora o princípio in dubio pro societate [...] (STJ. AgRg no AREsp nº 621.481/
SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 12.02.2015, DJe, 19 fev. 2015).
616
Processual Civil. Ação Civil Pública. Princípio da moralidade administrativa. Improbidade
administrativa. Mera irregularidade administrativa. Princípio da insignificância. Distinção
entre juízo de improbidade da conduta e juízo de dosimetria da sanção. [...] 5. Nem toda
irregularidade administrativa caracteriza improbidade, nem se confunde o administrador
inábil com o administrador ímprobo. Contudo, se o juiz, mesmo que implicitamente, de-
clara ou insinua ser ímproba a conduta do agente, ou reconhece violação aos bens e valores
protegidos pela Lei da Improbidade Administrativa (= juízo de improbidade da conduta), já
não lhe é facultado – sob o influxo do princípio da insignificância, mormente se por “insig-
nificância” se entender somente o impacto monetário direto da conduta nos cofres públicos
– evitar o juízo de dosimetria da sanção, pois seria o mesmo que, por inteiro, excluir (e não
apenas dosar) as penas legalmente previstas. 6. Iniqüidade é tanto punir como improbi-
dade, quando desnecessário (por atipicidade, p. ex.) ou além do necessário (= iniqüidade
individual), como absolver comportamento social e legalmente reprovado (= iniqüidade
coletiva), incompatível com o marco constitucional e a legislação que consagram e garan-
tem os princípios estruturantes da boa administração. 7. O juiz, na medida da reprimenda
(= juízo de dosimetria da sanção), deve levar em conta a gravidade, ou não, da conduta do
agente, sob o manto dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, que têm ne-
cessária e ampla incidência no campo da Lei da Improbidade Administrativa. 8. Como o seu
próprio nomen iuris indica, a Lei 8.429/92 tem na moralidade administrativa o bem jurídico
protegido por excelência, valor abstrato e intangível, nem sempre reduzido ou reduzível à
moeda corrente. 9. A conduta ímproba não é apenas aquela que causa dano financeiro ao
Erário. Se assim fosse, a Lei da Improbidade Administrativa se resumiria ao art. 10, empa-
redados e esvaziados de sentido, por essa ótica, os arts. 9 e 11. Logo, sobretudo no campo
dos princípios administrativos, não há como aplicar a lei com calculadora na mão, tudo
expressando, ou querendo expressar, na forma de reais e centavos (STJ. REsp nº 892.818/RS,
Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. em 11.11.2008, DJe, 10 fev. 2010).
617
Administrativo. Utilização de recursos públicos para pagamento de despesas particulares.
Art. 9º, XII, Lei 8.429/1992. Ilícito incontroverso. Desnecessidade de demonstração de dolo
específico. Ressarcimento ao erário que não afasta a ocorrência da prática de improbidade.
1. Hipótese em que o Tribunal de origem aferiu a inequívoca existência de atos de impro-
bidade consistente na utilização, por policiais militares, de recursos públicos da instituição
policial para pagar despesas particulares em restaurantes, bem como para presentear es-
posas de oficiais com bolsas e sapatos. 2. A prática do ato de improbidade descrito no art.
9º, XII, da Lei 8.429/1992 prescinde da demonstração de dolo específico, pois o elemento
subjetivo é o dolo genérico de aderir à conduta, produzindo os resultados vedados pela
norma jurídica. 3. O ressarcimento, embora deva ser considerado na dosimetria da pena,
não implica anistia e/ou exclusão do ato de improbidade. 4. O reconhecimento judicial
da configuração do ato de improbidade leva à imposição de sanção, entre aquelas previs-
tas na Lei 8.429/1992, ainda que minorada no caso de ressarcimento. 5. Recurso Especial
parcialmente provido (STJ. REsp nº 1450113/RN, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, j. em 05.03.2015, DJe, 31 mar. 2015).
618
A divergência em questão revela-se bem ilustrada na seguinte ementa: Administrativo.
Recurso Especial. Improbidade administrativa. Ação Civil Pública. Contratação de ser-
vidores sem prévio concurso público. Dano ao erário. Sentença de improcedência. Lei de
Improbidade Administrativa que não contempla a aplicação do reexame necessário. Não
há que se falar em aplicação subsidiária da Lei da Ação Popular. Parecer do MPF pelo
provimento do recurso. Recurso Especial do Ministério Público desprovido. 1. Conheço e
reverencio a orientação desta Corte de que o art. 19 da Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular),
embora refira-se imediatamente a outra modalidade ou espécie acional, tem seu âmbito de
aplicação estendido às ações civis públicas, diante das funções assemelhadas a que se des-
tinam - proteção do patrimônio público em sentido lato - e do microssistema processual
da tutela coletiva, de maneira que as sentenças de improcedência de tais iniciativas devem
se sujeitar indistintamente à remessa necessária (REsp. 1.108.542/SC, Rel. Min. CASTRO
MEIRA, DJe 29.05.2009). 2. Todavia, a Ação de Improbidade Administrativa segue um rito
próprio e tem objeto específico, disciplinado na Lei 8.429/92, e não contempla a aplicação
do reexame necessário de sentenças de rejeição a sua inicial ou de sua improcedência, não
cabendo, neste caso, analogia, paralelismo ou outra forma de interpretação, para importar
12.4.7.5 Prescrição
Nos termos do art. 23, a pretensão para a imposição das sanções
da Lei nº 8.429/92 submete-se a duas regras de prescrição, a depender
do vínculo do agente com a Administração Pública:
i) se temporário, porquanto decorrente do exercício de mandato,
de cargo em comissão ou de função de confiança, a pretensão
prescreve em cinco anos após o término do vínculo (inc. I);
ii) se permanente, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego, a pretensão deverá ser exercida dentro do prazo
previsto em lei para faltas disciplinares puníveis com demissão
a bem do serviço público (inc. II).
Com relação ao terceiro/particular, apesar da omissão legal, o
prazo prescricional deverá ser o mesmo aplicável ao agente público
envolvido na conduta ilícita, mesmo porque, como aqueles jamais
poderão figurar autonomamente no polo passivo da ação de impro-
bidade, assumindo necessariamente a posição de litisconsorte passivo
necessário deste, seria despropositado buscar regular a situação de
forma peculiar.619
instituto criado em lei diversa. 3. A ausência de previsão da remessa de ofício, nesse caso,
não pode ser vista como uma lacuna da Lei de Improbidade que precisa ser preenchida,
razão pela qual não há que se falar em aplicação subsidiária do art. 19 da Lei 4.717/65, mor-
mente por ser o reexame necessário instrumento de exceção no sistema processual, deven-
do, portanto, ser interpretado restritivamente; deve-se assegurar ao Ministério Público,
nas Ações de Improbidade Administrativa, a prerrogativa de recorrer ou não das decisões
nelas proferidas, ajuizando ponderadamente as mutantes circunstâncias e conveniências
da ação. 4. Parecer do MPF pelo conhecimento e provimento do Recurso. 5. Recurso Espe-
cial do MINISTÉRIO PÚBLICO desprovido (STJ. REsp nº 1220667/MG, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Turma, j. em 04.09.2014, DJe, 20 out. 2014).
619
Nesse sentido, Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves assinalam que, “restando
demonstrado que o terceiro jamais responderá pelo ato de improbidade de forma isolada,
sendo imperativo que para o ilícito tenha concorrido um agente público, constata-
se que a qualidade deste, por ser o elemento condicionante da própria tipologia legal,
haverá de nortear, do mesmo modo, a identificação do lapso prescricional. Em razão
disto, seria despiciendo e atécnico qualquer dispositivo que viesse a estatuir tratamento
específico para o extraneus, pois este, por mais grave que seja o ilícito praticado, não
estará sujeito ao regramento da Lei nº 8.429/1992 se agir de forma isolada, desvinculado
de um agente público” (In: Improbidade Administrativa. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2011. p. 630). Esse também parece ser o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
Recurso Especial. Ação Civil de Improbidade. Contratações de serviços publicitários sem
licitação. Homologação e pagamento administrativo sem a efetiva prestação do serviço.
Terceiro que não é agente público. Prescrição. Indenização do erário. Imprescritibilidade.
Participação em todos os atos de improbidade e conluio. Súmula 7/STJ. Dolo. Ausência de
prequestionamento. [...] 3. Em relação ao terceiro que não detém a qualidade de agente
público, incide também a norma do art. 23 da Lei nº 8.429/1992 para efeito de aferição do
termo inicial do prazo prescricional (STJ. REsp nº 1156519/RO, Rel. Min. Castro Meira,
Segunda Turma, j. em 18.06.2013, DJe, 28 jun. 2013).
620
Administrativo e Processual Civil. Improbidade administrativa. Constatação pelo Tribu-
nal de Contas da União - TCU de irregularidades na utilização de verbas que o Governo
Federal, por meio de convênio, destinou à implementação de políticas públicas no Muni-
cípio. Prescrição da pretensão condenatória. Interrupção com o ajuizamento da ação de
improbidade no prazo de 5 anos. Art. 23 da Lei n. 8.429/1992. Controvérsia sobre a compe-
tência jurisdicional cuja solução necessita do reexame de fatos e prova. Súmula n. 7 do STJ.
[...] 4. A pretensão condenatória do Ministério Público foi manifestada com o ajuizamento
da ação de improbidade, no prazo de 5 anos previsto no art. 23, I, da Lei n. 8.429/1992. Não
há falar, então, que a pretensão tenha sido alcançada pela prescrição tão somente porque
a citação não ocorreu no prazo de 5 anos do término do mandato. 5. É que, na melhor
interpretação do art. 23, I, da Lei n. 8.429/1992, tem-se que a pretensão condenatória, nas
ações civis públicas por ato de improbidade, tem o curso da prescrição interrompido com
o mero ajuizamento da ação dentro do prazo de cinco anos após o término do exercício do
mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança. 6. Assim, à luz do princípio
da especialidade (art. 2º, §2º, da Lei de Introdução às normas do direito brasileiro - DL n.
4.657/1942) e em observância ao que dispõe o art. 23, I, da Lei n. 8.429/1992, o tempo trans-
corrido até a citação do réu, nas ações de improbidade, que já é amplo em razão do próprio
procedimento estabelecido para o trâmite da ação, não justifica o acolhimento da arguição
de prescrição, uma vez que o ajuizamento da ação de improbidade, à luz do princípio da
actio nata, já tem o condão de interrompê-la. Recurso especial parcialmente conhecido e,
essa parte, improvido (STJ. REsp nº 1391212/PE, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda
Turma, j. em 02.09.2014, DJe, 09 set. 2014).
621
Administrativo e Processual Civil. Ação Civil Pública. Improbidade administrativa.
Desvio de dinheiro. Art. 23, I e II, da Lei 8.429/1992. Prescrição intercorrente. Não
ocorrência. Elemento subjetivo. Ausência de prequestionamento. Súmula 282/STF.
Participação no ato ímprobo. Alteração das premissas fáticas. Súmula 7/STJ. Cominação
das sanções. Cumulação. Possibilidade. Dosimetria. Art. 12 da LIA. Princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Dissídio jurisprudencial. Inobservância das exigências
legais e regimentais. 1. O art. 23 da Lei 8.429/1992, que regula o prazo prescricional para
propositura da ação de improbidade administrativa, não possui comando a permitir a
aplicação da prescrição intercorrente nos casos de sentença proferidas há mais de 5
(cinco) anos do ajuizamento ou do ato citatório na demanda. Precedente [...] (STJ. REsp nº
1289993/RO, Rela. Minª. Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 19.09.2013, DJe, 26 set. 2013).
da questão relativa ao alcance do artigo 37, §5º, da Constituição Federal. Segundo explici-
tou o Relator, Ministro Teori Zavascki, há, no plano doutrinário e jurisprudencial, acirrada
divergência de entendimentos fundamentados, basicamente, em três linhas interpretati-
vas, como: (a) a imprescritibilidade aludida no dispositivo constitucional alcança qualquer
tipo de ação de ressarcimento ao erário; (b) a imprescritibilidade alcança apenas as ações
por danos ao erário decorrentes de ilícito penal ou de improbidade administrativa; (c) o
dispositivo não contém norma apta a consagrar imprescritibilidade alguma. Realizado o
julgamento do mérito do tema pelo Tribunal Pleno em 03.02.2016, foi fixada a seguinte tese:
“É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil”.
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