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Se Eu Quiser PDF
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“Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil – arr. de André Protasio
arranjo para coro misto (quarteto masculino + S, M, C, T, B) - Difícil
A canção “Se eu quiser falar com Deus” foi escrita em 1980 por Gilberto Gil a
pedido de Roberto Carlos. No livro “Todas as Letras” de Carlos Rennó há um relato
emocionante sobre a interpretação desta letra e eu recomendo a pesquisa. Um outro fato
interessante é a maneira como foi concebida: “Ele (Roberto Carlos} é tão religioso – e se
eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar com Deus? Com esses pensamentos e
inquirições feitas durante uma sesta, dei início à um longa e exaustiva enumeração: ‘Se eu
quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro’.... a noite voltei e
organizei as frases em três estrofes”. Palavras do próprio Gil. Bem simples não é? E assim
se fez um clássico da nossa música. Gênio é gênio e ponto final.
Consta que Roberto Carlos não gostou, não concordava com um Deus
desconhecido...leia o resto no livro. O fato é que esta canção ficou imortalizada na voz de
Elis Regina e do próprio Gil.
Este arranjo foi feito para o Equale e foi gravado no CD Equale no Expresso Gil.
Atualmente este CD está esgotado e uma parte deste registro se encontra disponível para
download. Por problemas de direito autoral não posso disponibilizar toda a gravação. Para
quem já tem esta partitura recomendo esta nova versão, revisada, corrigida e atualizada.
www.andreprotasio.com 1 Estudo
Com essas divisões da letra e com a harmonia na cabeça o próximo passo foi
imaginar a forma do arranjo. Como cantar três versos longos e chegar no ponto
culminante no final do último verso? Como chegar na famosa seqüência de treze “nadas”?
A saída foi pensar em modulação, uma poderosa ferramenta para chamar a atenção de
uma nova idéia, uma nova fase da música.
Lembrei de uma idéia que tive para um arranjo de Ribbon in the sky, de Stevie
Wonder onde os homens começavam cantando e as mulheres na segunda estrofe
cantavam uma quarta acima. Então, ainda tocando no violão, a forma da música foi
definida e para preparar melhor as modulações, uma ponte bem simples de cantar só para
acalmar e se preparar para a próxima estrofe. É claro que quando se define a tonalidade e
a forma, também estamos definindo quem está com a melodia nestas diferentes partes da
música.
Com uma letra forte como esta, a opção foi de valorizá-la ao máximo e aí veio a
idéia de fazer um arranjo meio negro spiritual moderno e brasileiro. Que tivesse uma
harmonia bem trabalhada e que a letra, a mensagem ficasse em primeiro plano. Para
concentrar nesta idéia, nada melhor do que todos juntos cantando com o mesmo ritmo, a
mesma letra. Uma linguagem bem tradicional de arranjo mas com uma harmonia e uma
forma geral mais “contemporânea”. Analisando a melodia da primeira parte de cada
estrofe, nota-se que a melodia da segunda, quarta e sexta frase, sempre vai para uma
região um pouco grave, o que traria dificuldade para harmonizá-la. Então, a solução foi
perguntar com as vozes agudas na ponta, em bloco, e responder com as vozes graves em
cima de uma cama harmônica, com as outras vozes apenas mantendo a pulsação, com
uma textura que não briga com a melodia.
Um outro detalhe deste arranjo é quanto à movimentação das vozes. Nas frases
que “perguntam” (primeira, terceira e quinta frase) a harmonização em bloco é trabalhada
em movimento contrário da melodia principal com o baixo. Isto leva a uma maior
estruturação da harmonia. Nas frases que “respondem” (2°, 4° e 6° frase) a cama
harmônica sempre faz um movimento paralelo, subindo, rearmonizando até chegar de
novo primeiro grau, no acorde com a função tônica. Isto causa uma maior fluidez, leveza
à música. Alguns anos depois de escrever este arranjo, li esta definição sobre
movimentação das vozes no livro “Choral Arranging” de Hawley Ades e achei muito
apropriado.
www.andreprotasio.com 2 Estudo
Vejamos agora como ficou essa idéia no compasso 28, em sol maior, na segunda estrofe
da música
A segunda parte de cada estrofe é soli, harmonização em bloco o tempo todo, com
execeção do ≡36→39 onde temos um pequeno trecho em que o coro pontua só algumas
palavras para dar um diferencial com a última estrofe que tem que ser mais apoteótica.
Vamos agora às melodias. É uma dica bem prática de como começar a escrever
este tipo de textura.
A melodia foi harmonizada seguindo uma técnica muito simples que tem um
distante parentesco com a harmonização tradicional em bloco (aquela que não pode 8°
paralela,etc).
Vamos pegar a primeira frase com o seu ritmo normal como exemplo. Siga os passos:
2° - Escreva uma linha bem simples do baixo que ajude a definir a harmonia. Use
preferencialmente movimento contrário entre a melodia principal e a voz do baixo. Os
movimentos diretos e oblíquo também podem ser usados mas, neste caso, bem menos. É
apenas uma questão de sonoridade que você deseja ouvir.
5° - Nas notas que estão sem os acordes use uma inversão ou rearmonize. No caso desta
música a opção foi principalmente rearmonizar. Praticamente a mesma seqüência de
acordes foi usada nas outras frases, nas outras tonalidades variando apenas a resolução.
www.andreprotasio.com 5 Estudo
6° - Cante as melodias e faça alterações, se necessário. Procure sempre facilitar a vida do
cantor.
Bom, como eu disse, é um arranjo bem complexo. Nada foi falado sobre
estruturação de cama harmônica, sobre rearmonização, modulação, mas acho que já
temos aí um bom material para estudo.
Se tiver alguma dúvida, sugestão, comentário, entre no site e entre em “contato”.
Um abraço
André Protasio
www.andreprotasio.com 6 Estudo
se eu quiser falar com Deus
Gilberto Gil
arr.: André Protasio para o Equale
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