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22/10/2015 11:11:06
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Introdução
Molinismo é o nome dado ao sistema de teologia e filosofia do jesuíta espanhol Luis de Molina
(1535 – 1600) que procura reconciliar ou solucionar o problema da presciência de Deus e da
liberdade humana.
Nas últimas décadas com o advento da filosofia analítica da religião, antigos temas que haviam
sido deixados de lado após o ataque do positivismo lógico, voltam aos estudos com mais vigor
pela mesma utilização da análise linguística.
Entre esses temas, o antigo dilema da presciência divina e da liberdade humana encontra-se
redivivo pelas mãos do filósofo cristão Alvin Plantinga (1932 –). Depois de pouco mais de
quatrocentos anos, o debate em torno do problema do mal e livre-arbítrio ressurgiu nas páginas
de seu livro The Nature of Necessity(Clarendon Press, Oxford, 1974). No ano anterior, no
Concílio para Estudos Filosóficos do Instituto Summer em Filosofia da Religião, Plantinga
apresentou uma versão da Defesa do Livre-Arbítrio sobre o Problema do Mal. 1 Naquela
ocasião, Plantinga apresentou sua versão baseando-se na premissa da existência
de contrafactuais de liberdade2 e que a onisciência de Deus inclui o conhecer os valores de
verdade3 desses contrafactuais.
Plantinga reconhece que, ao apresentar sua palestra, fora advertido por Anthony Kenny que ele
era um “Molinista”, ao que Plantinga respondeu: “Eu não estava certo se aquilo era uma
aprovação ou condenação.”4
Até então, o Molinismo, a despeito de sua sofisticação filosófica ou teológica, estava, para usar
as palavras de Ken Perszyk,5
Embora criado na tradição reformada holandesa – no Calvinismo histórico – Plantinga, aos oito
ou nove anos de idade, começou “a entender e pensar seriamente sobre o assim chamado
Cinco Pontos do Calvinismo”, o que o levou a pensar, especificamente a partir da doutrina da
Depravação Total, “que todo mundo era completamente ímpio, completamente mau, não
melhor que Hitler ou Judas” e isso parecia-lhe confuso e difícil de acreditar. 7 Aliado a isso, um
dos principais interesses de Plantinga que, como ele diz, o “tem me perturbado e tem sido fonte
de genuína perplexidade” é a “existência de certos tipos de mal” e isso continuou
“profundamente desconcertante” mantendo seu foco mesmo quando mudara para Notre Dame
em 1982, depois de quase vinte anos ensinando no Calvin College. 8
Se eu estiver certo em minhas pesquisas, o Molinismo não é uma opção protestante, nem para
Calvinistas, nem para Arminianos, e com sérias inconsistências internas.
Após aposentar-se como docente em 1583, Molina devotou-se a escrever. Além de um tratado
completo de filosofia, mais em forma de comentário sobre lógica, física, psicologia, metafísica e
filosofia natural de Aristóteles12 e outras obras, Molina é mais conhecido por duas que se
destacam em seu pensamento: A Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia,
providentia, praedestinatione et reprobatione ad nonnullos primae partis D. Thomae articulos
(Harmonia do Livre-Arbítrio com o Dom da Graça, Presciência Divina, Providência,
Predestinação e Reprovação segundo diversos artigos da Primeira Parte [da Suma] de São
Tomás [de Aquino]), sua primeira obra publicada em sua primeira edição Lisboa em 158813
e; De Iustitia et Iure tomi sex, de caráter jurídico, e que Molina só viu publicada apenas os três
primeiros volumes. Os demais volumes foram publicados após a sua morte, em Madrid em 12
de outubro de 1600.
Bañez estava ciente das ideias pré-molinistas e manteve polêmica, mesmo pública, opondo-se
a tais ideias já em 1567.14 Quando as ideias pré-molinistas foram publicamente defendidas em
1582 na Escola de Salamanca, Bañez as censurou em sua Apologia dos Irmãos Dominicanos,
denunciando seus proponentes, pe. Prudêncio Montemayor e frade Luis de Leon, como
doutrinas perigosas e pelagianismo ao Conselho da Inquisicão. Acatada a denúncia, ambos
foram condenados: o Pe. Prudencio deixou de ensinar teologia, e frade Luis ficou proibido de
defender aquela doutrina.15
Enquanto as ideias pré-molinistas eram proibidas na Espanha, a obra de Luis de Molina era
publicada em Portugal.
Mas, desta vez, as ideias estavam sistematizadas. No entanto, a Inquisição portuguesa não
havia condenado aquelas ideias e, por isso, o apelo de Bañez e dos Dominicanos através de
outra apologia publicada em 1895, acusando a obra de Molina dos mesmos ensinos já
condenados em 1582, fora em vão.16 Mesmo assim, os Jesuítas, precavendo-se de qualquer
possível condenação, apelam para Roma.
Molina apresenta sua teoria do conhecimento médio divino como a chave para resolver o
mistério tradicional acerca da presciência divina e futuros contingentes: (1) como Deus pode
conhecer infalivelmente os eventos futuros de causa indeterminada e; (2) uma vez que a
presciência de um evento futuro é posta, como o fatalismo teológico é evitado? 19
Molina expõe sua compreensão dessa relação na Parte IV de sua Concordia. Segundo
Freddoso,20 ali ele discorre sobre duas questões distintas a respeito do Conhecimento de Deus:
(1) Como é que Deus conhece futuros contingentes com certeza, isto é, qual é a fonte de
explicação para o fato de que Deus conhece futuros contingentes com certeza? (2) Como é
que esta presciência divina pode ser conciliada com a contingência que é conhecida por ele? 21
Na Disputa 52.9, Molina declara que Deus tem três tipos de Conhecimento: “Devemos
distinguir em Deus um conhecimento tríplice, se não quisermos alucinar ao tratarmos de
conciliar a liberdade de nosso arbítrio e a contingência das coisas com a presciência divina”. 22
(1) Um conhecimento puramente natural, que “nenhum modo pode sofrer variação em Deus
[e] por meio dela ele conhece todas as coisas que o poder divino pode fazer – seja sem meios,
seja com a intervenção das causas secundárias”.23 Este conhecimento também é chamado de
conhecimento natural (scientia naturalis), conhecimento necessário(scientia necessaria) ou
conhecimento de intelecto (scientia intelligentiae).
(2) Um Conhecimento puramente livre, “por meio do qual, sem hipótese ou condição alguma,
Deus conhece de forma absoluta e determinada a partir de todas as articulações contingentes
e após o ato livre de sua vontade, quais coisas vão ou não acontecer realmente”. 24 A este
conhecimento também chama-se conhecimento livre (scientia libera), conhecimento de visão
(scientia visionis).
(3) Um Conhecimento Médio, ou Scientia Media, “através do qual Deus vê em sua essência,
em virtude da altíssima compreensão e inescrutabilidade de todo livre-arbítrio, o que
este faria em razão de sua liberdade inata, se fosse posto neste ou naquele ou incluído em
qualquer das ordens infinitas de coisas, apesar de que, de fato também poderia se assim o
quisera fazer oposto”.25
Perceba, também, que esses tipos de conhecimento divino são “momentos lógicos” anteriores
à Criação deste mundo ante as incontáveis opções que Deus tinha em trazê-lo à existência. E
outras palavras,
Logicamente antes do decreto divino de criar um mundo, Deus possuía não apenas
conhecimento de tudo o que poderia acontecer (conhecimento natural), mas também de tudo
o que iria acontecer em qualquer conjunto apropriadamente específico de circunstâncias
(conhecimento médio)[...] Deus, então decretar criar certas criaturas livres em certas
circunstâncias e, assim, baseado em seu conhecimento médio e no conhecimento de seu
próprio decreto – ou seja, se decreto de criar o mundo –, Deus tem presciência de tudo o que
acontecerá (conhecimento livre).28
guiou o Espírito do SENHOR, ou como seu conselheiro o ensinou ?36 Com quem
tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse ; o caminho
Ao mesmo tempo, o Molinismo ainda assim, tem um leve toque de determinismo. Na verdade,
essa é a razão para a maioria dos arminianos clássicos ser “cautelosa com esta
abordagem”.37 Porque o conhecimento médio está “entre” o natural e livre, segue-se que no
conhecimento médio deve haver algum conhecimento que seja necessário e algum outro que
deva ser contingente. Então, como Deus governa o mundo que ele criou tendo o conhecimento
médio? Ora, por criar um mundo atual que Deus mesmo quis.
Conclusão
Nesse primeiro artigo procurei apresentar uma introdução ao Molinismo. Parece-me que o
crescimento do molinismo é uma tendência, especialmente entre os estudantes de filosofia da
religião e defensores das tradições arminianas e calvinistas. Não chego a considerá-lo uma
heresia, mas um erro. Nem mesmo sua própria tradição católico-romana o fez. Minha pesquisa
com o molinismo não é o problema de se Deus conhece ou não as contingências. Admito que
sim, que ele as conhece. A questão é do real objeto de conhecimento de Deus e que
implicações o Molinismo tem para a Natureza de Deus.
Espero no próximo artigo, numa avaliação teológica mais detalhada, pois alguns que têm
adotado o Molinismo, especialmente o “molinismo analítico”, têm transigido, suspeito, com
conceitos estranhos à Teologia histórica e conservadora no tocante à natureza de Deus –
simplicidade divina e temporalidade, por exemplo. Mas, isso fica para a próxima ocasião,
querendo Deus.41
_________________________________
1
Veja também PLANTINGA, Alvin. Deus, a Liberdade e o Mal. São Paulo: Vida Nova, 2012, p.
17 – 84. PLANTINGA, Alvin. The Nature of Necessity. Clarendon Press: Oxford, 1974, p. 164 –
195 (cap. IX)
2
Um contrafactual é uma proposição condicional expressa na forma “se p, então q” onde p e q,
antecedente e consequente, são falsos em relação ao mundo atual. “Se um sujeito S fosse
colocado em uma Circunstância C, circunstância na qual deixa S livre, S livremente escolheria
fazer A”. “Contrafactuais são assim chamados porque o antecedente e o consequente do
condicional são contrário ao fato”(CRAIG, William Lane; MORELAND, J. P. Filosofia e
Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 76). David Lewis (Counterfactuals. Oxford:
Blackwell Plubishers, 1973) afirma que contrafactuais são modos de falarque, “embora
vergonhosamente vagos”(p. 1), eles ainda podem dar uma descrição de valores de verdade –
quando um enunciado pode ser considerado verdadeiro ou falso -, porém contrário aos fatos
atuais, mas possíveis em algum outro mundo. Nesse caso, o antecedente p seria falso e não
se realizaria.
3
Dada uma proposição p, p é verdadeiro ou falso.
4
TOMBERLIN, James E.; INWAGEN, Peter van(ed). Alvin Plantinga – Profile. vol. 5.
Dordrecht/Boston/Lancaster: D. Reidel Publishing Company, 1985, p. 50.
5
PERSZYK, Ken. Molinism – The Contemporary Debate. Oxford: Oxford University Press, 2011,
[Epub], posição 13 [p. 6, 7].
6
BALMER, Randall. Encyclopedia of Evangelicalism – revised and expanded edition. Waco, TX:
Baylor University Press. p. 546 [verbete Plantinga, Alvin (Carl)]
7
PLANTINGA, Alvin. A Christian life partly lived. In: CLARK, Kelly James(ed). Philophers who
Believe – the spiritual journeys of eleven thinkers. Downers Grove, Ill. IVP, 1993, p. 48.
8
Idem, p. 68ss
9
PLANTINGA, 1974, p. 164.
10
Segundo Kaufmann (A Companion to Luis de Molina. Leiden - Boston: Brill, 2014, p. xv), o
“curso completo de filosofia” feito por Molina, era na verdade “um curso completo em
Aristóteles, cujas obras eram comentadas pelos mestres”. Desse modo, Molina destacou-se,
sobretudo em lógica e metafísica.
11
KAUFMANN, Matthias; AICHELE, Alexander(ed). A Companion to Luis de Molina. Leiden -
Boston: Brill, 2014, p. xv
12
ECHEVARRIA, Juan Antonio Hevia. Introducción. In: MOLINA, Luis de: Concordia de libre
arbitrio com loso dones de la gracia y com la presciencia, providencia, predestinacion y
reprobacion divinas. Biblioteca Filosofía em español – Fundacion Gustavo Bueno. Oviedo,
Espanha: Pentalfa Ediciones, 2007, p. 10.
13
Publicada com a permissão do Prepósito Geral e submetida ao exame do Conselho da
Inquisição. A obra foi considerada “conforme a fé católica e muito útil para toda a
Igreja”(Echevarria, p.11).
14
Domingo Bañez pode ser classificado como um determinista. Defendia a certeza do
conhecimento divino com base “primeira causa”. Deus, a Primeira Causa, em seu Decreto
eterno de sua vontade, predeterminou as causas secundárias completamente e, por isso, ele
pode conhecer com certeza os futuros contingentes em suas próprias causas. Cf. GORIS,
Harm J.M.J. Free Creature of an Eternal God:Thomas Aquinas on God's infallible
foreknowledge and irrestible will. (Thomas Institute te Ultrecht New Series 4). Leuven: Peeters,
1996, p. 69.
15
LA POLÊMICA DE AUXILIIS 1582 – 1607. Disponível em: <
http://www.filosofia.org/ave/001/a152.htm>
16
Apologia fratrum praedicatorum in provincia Hispaniae sacrae theologiae professorum,
adversus novas quasdam assertiones cuiusdam doctoris Ludovici Molinae nuncupati (Apologia
dos Frades Pregadores na Província da Espanha, professores de Teologia Sagrada, contra as
Certas Novas Afirmações do Doutor Luis de Molina). Existe uma tradução espanhola, feita por
Juan Antonio Hevia Echevarría, de nome Apologia de los hermanos dominicos contra la
Concorida de Luis de Molina (Pentalfa, Oviedo, 2002).
17
LA POLÊMICA, idem.
18
Futuros continguentes são eventos singulares ou estados de coisas que podem ou não
ocorrrer no futuro. Cf. AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. 2nd ed.
Cambridge: Cambridge University Press, p. 334.
19
CRAIG, William Lane. The problem of Divine foreknowledge and future contingents from
Aristotles to Suarez. Leinden: E.J. Brill, 1988, p. 170.
20
FREDDOSO, Alfred J. Introduction. In: MOLINA, Luis de. On Divine Foreknowledge: Part IV of
the Concordia. Ithaca and London: Cornell University Press, 198, p.1.
21
Cf. tb. BEILBY, James K.; EDDY, Paul R. (ed). Divine Foreknowledge: four views. Downer
Grove, Ill: IVP, 2001.(Itálicos meus)
22
Molina, Concordia, Disputa 52.9.
23
Idem.
24
Idem.
25
Idem. (Itálicos meus)
26
Em termos proposicionais a questão é assim posta: Se um sujeito S estivesse em uma
circunstância C, S livremente escolheria fazer X.
27
FLINT, Thomas P. The Varieties of Accidental Necessity. In: CLARK, Kelly James; REA,
Michael (ed.) Reason, Metaphisics, and Mind – New Essays on the Philosophy of Alvin
Plantinga. Oxford: Oxford University Press, 2012, p.38.
28
CRAIG, William L.; MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova,
2005, p. 635. Crédito da imagem à mesma referência bibliográfica.
29
Os próximos artigos que se seguirão, farão análises mais detalhadas do ponto de vista
teológico, exegético e filosófico.
30
Susan Haack (On a Theological Argument for Fatalism. In: THE PHILOSOFICAL QUARTELY,
vol. 24, n. 95 [abr 1974], p. 156 – 159), diz que isso tem incomodado a “aqueles que desejam
manter, por um lado, um Deus onisciente e, por outro lado, que o homem tem livre-arbítrio”(p.
156). Segundo a autora, a questão entrou no campo teológico baseado no princípio de
ambivalência em Aristóteles (Da Interpretação, IX – “No que toca as coisas presentes ou
passadas, as proposições, sejam afirmativas ou negativas, são necessariamente verdadeiras
ou falsas[...] Se, ademais, uma coisa é agora branca, então teria sido verdadeiro no passado
afirmar que essa coisa seria branca, de modo que foi sempre verdadeiro dizer de toda coisa
(seja ela qual for) que ela é ou ela será [...] a consequência disso é que os eventos futuros,
como asseveramos, se produzem necessariamente. Nada é fortuito, contingente, pois se
alguma coisa acontecesse por acaso, não aconteceria por necessidade”)
[ARISTÓTELES. Órganon – texto integral. Bauru, SP: EDIPRO, 2005]. [Itálico meu]. Na
atualidade, Richard Taylor e Nelson Pike são uns dos mais célebres defensores do Fatalismo
com base no princípio da ambivalência (TAYLOR, Richard. Fatalism. In: In: THE
PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 71, n. 1 (Jan, 1962), p. 56 – 66). Para uma crítica ao artigo de
Taylor vide ABELSON, Raziel. Taylor's Fatal Fallacy. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol.
72, n. 1 (Jan, 1963), p. 93 – 96; e BROWN, Charles D. Fallacies in Taylor's "Fatalims". In: THE
JOURNAL OF PHILOSOPHY, vol 62, n.13 (jun, 1965), p. 349 – 353, com exposição da
afirmação do consequente e da necessidade da consequência. Porém, Taylor oferece resposta
em A note of Fatalism. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 72, n. 4 (Jan, 1963), p. 497 –
499.
31
Na tradição filosófica recente, alguma medida de Indeterminismo – também chamada de
Incompatibilismo ou Libertariranismo Libertário – é afirmado por Robert Kane, Timothy
O’Connor, Randolph Clarke e Carl Ginet. Cf. KANE, Robert (ed). The Oxford handbook of Free
Will. Oxford: Oxford University Press, 2002; FISCHER, John Martin; KANE, Robert;
PEREBOOM, Robert; VARGAS, Manuel. Four Views about Free Will. Oxford: Blackwell
Publishing, 2007; CAMPBELL, Joseph Keim; O'ROURKE, Michael; SHIER, David (ed).
Freedom and Determinism. Cambridge: Bradford Book / The MIT Press, 2004. Os mais radicais
defensores do Indeterminismo afirmariam uma versão não-causal dos agentes. Assim, as
ações futuras dos agentes não seriam previstas por Deus, uma vez que nenhuma causa, nem
histórica, nem providencial, nem mesmo auto-causada, haveria para ser prevista.
32
FLECK, Fernando Pio de Almeida. O Problema dos futuros contingentes. Coleção Filosofia.
Porto Alegre: Edipucrs, 1997.
33
Francis Turrentin (Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2011,
p. 290) acredita que isso não seja um problema em si, mas se torna um problema quando um
decreto especial a respeito de “certa futurição dessa ou daquela coisa precede de modo que
Deus pode ver aquela coisa antecedendo esse decreto(nela própria ou em suas causas)”. Mas
é exatamente essa a minha questão.
34
Franklin; Myatt. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340.
35
VAN TIL, Cornelius. An Introduction to Systematic Theology. 2nd. Ed. Edited by William Edgar.
Phillipsburg, NJ: P & R Publishing, 2007, p. 374.
36
Hiphil de [dy- quem causou o conhecimento do Senhor?
37
OLSON, Roger. Teologia Arminiana – mitos e realidade. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p.
254.
38
WALLS, Jerry L; Dongell, Joseph R. Por que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão,
2014, p. 129.
39
Olson, idem, p. 254, 255.
40
Craig afirma, a doutrina do Conhecimento Médio é “surpreendente em sua sutileza e poder”. E
essa sutileza levanta inclusive o debate se o Conhecimento Médio é compatível com a Teologia
Reformada. Olson fala dos “defensores arminianos do conhecimento médio”(idem, p. 253).
Clendenen e Waggoner (Calvinism - A Southern Baptist Dialogue. Nashville, Tennessee: B & H
Academic, 2008, p.215) apontam Bruce Ware, John Frame e Terrance Tiessen – calvinistas de
conhecimento médio – entre os teólogos reformados que tentam incorporar as ideias do
Conhecimento Médio no Calvinismo. Claro, tais proponentes modificam a compreensão
libertariana de Molina para o conceito de permissão a fim de ajustar à compreensão
determinística ou compatibilista do Calvinismo. Todavia, “o conceito de conhecimento médio é
surpéfluo em qualquer sistema que sustente o determinismo causal”. Os Teólogos Franklin
Ferreira e Alan Myatt (Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340) parecem
entender que haja espaço para o conhecimento médio na tradição reformada. Dizem os
autores: "Temos que confessar que existe respaldo bíblico em favor desta noção. Em Mateus
11.23, Jesus disse que se Sodoma tivesse visto os milagres feitos em Cafarnaum, ela não teria
sido destruída, insinuando que ela se arrependeria dos seus pecados. Isto é um exemplo claro
do chamado conhecimento médio da parte de Deus. Não negamos este fato". Logo em seguida
eles dizem que o conhecimento médio não resolve os problemas relacionados nem à
Teodiceia, nem a relação entre a presciência divina e atos livres dos homens. Dizem: “Segundo
Craig, o arminianismo e o calvinismo podem ser reconciliados [determinismo e liberdade],
assim como o problema do mal ser resolvido. Mas a coisa é realmente assim tão fácil? Em
nossa opinião, o conhecimento médio de Deus não resolve estes problemas”. Em seguida, os
autores passam a apresentar críticas ao Molinismo. Penso, portanto, haver algum problema de
redação. Talvez os autores queiram afirmar que Deus tem, de fato, conhecimento das
necessidades e contingências, como eles afirmaram anteriormente, e que o problema com o
conhecimento médio é de aplicação. Seja como for, penso haver na tradição reformada
elementos suficientes acerca do Conhecimento de Deus que já envolvam coisas necessárias e
contingentes em seu conhecimento natural e conhecimento livre, sem a necessidade de um
conhecimento médio.
41
Agradeço ao Prof. Gérson Gouveia Junior (UNICAP) e Prof. Franklin Ferreira pela cooperação
na revisão do artigo. Nossos diálogos muito auxiliaram nos esclarecimentos de alguns pontos.
Série Credo Apostólico - Parte 3: Jesus
Cristo é o Senhor
Postado por Thiago Oliveira - no dia 24.5.17 - Seja o primeiro a comentar!
INTRODUÇÃO
“Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor”. O credo passa a focar, em
importância. Não é a toa que os que são integrantes do povo de Deus são
“Jesus Cristo é o Senhor” foi uma confissão de fé surgida nos primórdios da igreja.
Sua abreviação era similar a palavra “peixe” em grego, daí usarmos o peixe como
para que nos cheguemos a Deus por meio de Cristo. Ele é o único mediador entre o
divino e o humano, não há outro trajeto que se possa percorrer. O credo pós-
moderno vai dizer que muitos caminhos levam a Deus, e que Ele pode ser
encontrado em todas as religiões. Todavia, a ortodoxia cristã afirma que apenas por
Não é raro vermos pessoas que se dizem conectadas com Deus, mas que rejeitam
a pessoa de Cristo. Outros até o consideram, mas carregam uma imagem distorcida
dele. Há quem queira puxar sardinha para o seu lado e se utiliza da figura de Jesus
como se este fosse garoto propaganda de determinada ideologia. Uns vão dizer que
ele foi da esquerda, outros rebaterão. Para uns Jesus é um pacificador boa praça ao
estilo dos hippies dos anos 1960. Outros o veem como um filósofo popular e
sincrético. O próprio Cristo falou que no fim dos tempos haveria falsos cristos.
Talvez estes não sejam sempre homens (como o patético Inri), mas sim conceitos
Santo, é a de que ele é o Filho do Deus vivo. E João Batista deu a definição que
pecado do mundo! Essa confissão de fé é uma antítese e não uma síntese. Toda
vez que sintetizamos o Evangelho, é como se diluíssemos o vinho com água antes
Devemos estar atentos ao testemunho bíblico sobre Jesus. Pois, se ele não é o que
diz ser nas páginas da Escritura, ou foi um lunático ou um charlatão. Estas são as
duas alternativas caso não confessemos, tal como o credo nos ensina, que Jesus
NÃO É UM SOBRENOME
Algo que precisamos compreender, antes de qualquer coisa, é que Cristo não é o
para governar o seu povo. Ele é o esperado por Israel, pregado pelos profetas e
anelado pelo povo. Quando chamam Jesus de Cristo, estão reconhecendo que ele é
aquele que fora anunciado nas páginas do Antigo Testamento. O tão aguardado
Cristo pelo anjo Gabriel, ele fala acerca deste nome, que já nos dá uma pista do
que Deus planeja com aquele menino que está para nascer. Jesus significa “Deus
salva”. Alguns crentes judaizantes dizem que o correto seria referir-se ao salvador
como Yeshua, pois, alegam que este é o verdadeiro nome, sendo Jesus uma
próprios não são traduzidos. Todavia, Jesus não é tradução, mas sim transliteração.
outra, ela nada mais é que uma versão de letras, pois, nem todas as letras estão
em todos os alfabetos.
nomes. Tomemos por exemplo Jacó, um dos patriarcas. No hebraico seu nome
Jesus, que é o equivalente grego para Josué. O Novo Testamento original não faz
Logo, quem defende o uso estrito de Yeshua, ao invés de usar Jesus, se fosse para
seguir a risca, chamaria Moisés de Moshe, João de Yohanan e por aí vai. Nem Deus
seria pronunciado dessa forma, ao invés disso falaríamos todos Elohin. Portanto,
não há nada de errado quando falamos Jesus Cristo, embora, pelo fato do segundo
FILHO DE DEUS
De uma forma geral, Deus é o pai de sua criação. Daí, todos os seres humanos
podem ser vistos como filhos de Deus, no sentido de serem suas criaturas. Outra
filiação se dá por adoção. Os filhos de Deus são aqueles que Ele adotou para si:
“Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus
Como podemos ver, esta adoção se dá por meio de Jesus, que é o Filho de Deus na
filho não criado, mas eternamente gerado do Pai. O que quer dizer que
compartilham da mesma essência, logo, quando é dito que Jesus é o Filho unigênito
de Deus (João 3.16), reconhecemos a sua natureza divina. Lembremos que o Deus
a quem professamos é Trindade, logo, o Pai e o Filho são duas personas distintas,
eternidade.
Alguns teólogos, baseados na filiação eterna de Cristo, dizem que ele sempre foi
Pai e Filho são iguais em atributos, poder e glória. Devido a natureza divina ser
indivisível, seus atributos estão presentes de maneira igual entre todas as pessoas
da Trindade.
É bem verdade que no plano da salvação, Jesus se coloca numa condição servil. Ele
é o servo sofredor, conforme Isaías profetizou, pois esvaziou-se (ler Filipenses 2).
terreno. Mas sua relação intra-trinitária não possuí esse caráter servil. Para ilustrar,
mesmo sendo filho, é como se Jesus fosse um filho adulto, que não é subserviente
No Antigo Testamento, Senhor é o termo usado para referir-se a Deus. Por ser
Senhor servia para nomear o Divino. Quando Jesus é chamado de Senhor, ele está
tentaram matar a Cristo quando ele se colocou como sendo “Eu Sou”, o Deus
revelado aos patriarcas e profetas: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu
Mas este termo também implica dizer que Cristo é o dono de todas as coisas e por
meio dele tudo subsiste. O Novo Testamento se refere a Jesus como Salvador
apenas 16 vezes; chama-o Mestre 64 vezes; mas proclama-o Senhor umas 650
vezes! Como disse, certa feita, Abrahan Kuyper: “Não há um único centímetro
CONCLUSÃO
Ter Cristo como Senhor é o que tem faltado a muitos que dizem professar a fé em
sua pessoa. Os indivíduos que confessam a Jesus falam o quanto amam seu
salvador e batem na tecla de que ele as salvou. Isso é uma verdade: Cristo salva!
o coloca em baixo de seu senhorio, de modo que a vida que vivem os salvos não
mais são as suas vidas, mas passam a ser a vida de seu Senhor Jesus Cristo.
escrever aos irmãos da Galácia: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé
doutrinária de nossos dias, que apesar de ser bem popular, é herética, coloca o
homem no papel de decretar e dizer aquilo o que Deus deve fazer. Isso não é
biblicamente coerente. Por isso devemos ter cuidado e refletir se em nossa relação
despótico. Aos seus discípulos ele chama amigos (João 15.15) e, paradoxalmente,
servi-lo é ter liberdade. Lembrando que quem não tem a Cristo como Senhor é
servo de outro patrão: o Diabo. Vive preso em suas redes e tem um trágico fim. Ele
homem. Os falsos deuses são os artifícios de Satanás para seduzir. Dinheiro, sexo,
poder são suas armas mais usadas. Todavia, que diante de um senhorio
concorrente, possamos dizer tal qual Josué diante do povo de Israel que estavam
“Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão
servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates,
ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e
a minha família serviremos ao Senhor”. - Josué 24:15
INTRODUÇÃO
“...o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria,
histórico”. Isto é um termo para designar aquilo que se disse sobre o Cristo fora da
Madalena e sua viagem à Grécia, onde dialogou com os filósofos da época. Isso
tudo não passa de invencionice, embora seja verdadeira a noção de que Cristo foi
4.4).
Nunca devemos esquecer que ao habitar entre nós, Jesus foi um homem judeu do
Como personagem histórico, é mencionado por autores como o judeu Flávio Josefo
informação acerca do Cristo, sobretudo nos Evangelhos que relatam seu ministério
terreno até a sua morte e ressurreição. No Evangelho escrito por Lucas, por
exemplo, vemos que ele trata sua escrita como um trabalho historiográfico:
Sua narrativa era endereçada a um homem chamado Teófilo, sobre o qual não
relato, objeto de uma acurada pesquisa. Lucas assim escreve ao seu destinatário:
“Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus
começou a fazer e a ensinar, até o dia em que foi elevado ao céu, depois de
ter dado instruções por meio do Espírito Santo aos apóstolos que havia
escolhido. Depois do seu sofrimento, Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes
muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um
período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus”. - Atos 1:1-
3
Como pudemos ler, os fatos narrados são comprovados por testemunhas oculares,
e os relatos foram repassados via tradição oral. Assim concluímos que o Jesus da
O MILAGRE DA ENCARNAÇÃO
Jesus entra na História através de um milagre. Ao encarnar, sua concepção não se
dá por meio natural. Maria, uma jovem judia tem em seu ventre um embrião que
não é fruto de uma relação carnal. Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo e
para ela e para José, seu noivo. Mas, a tentativa de macular o relato bíblico é fraca
podem até alegar o que já sabemos: que bebês nascem através do ato sexual de
milagre.
sobrenatural. Aquilo que os nossos sentidos alcançam é o que existe - assim falam
interagimos. Todavia, nosso mundo criado foi feito por um ente criador, isto é, não
criado. Isto quer dizer que a criação, por si só já é sobrenatural. Logo, não deve
Os céticos dirão que as leis da Natureza são rígidas demais para serem quebradas.
Pois bem, um cristão não negará que existam tais leis. Ninguém em sã consciência
vai se atirar de um prédio de vinte andares para negar que a lei da gravidade está
presente no cosmos. Porém, a existência das leis naturais que regulam o mundo
acontecem com certa frequência e ferem o que parece ser o lógico para a Ciência. A
essas coisas estranhas dar-se o nome de fenômenos não explicados. Nós, cristãos,
necessariamente violar a criação, mas sim uma interação entre as duas realidades
visível foram criados e são regidos pela Trindade. Esse argumento respalda a
AS DUAS NATUREZAS
duas naturezas do Messias demonstra o quanto que esta doutrina é essencial para
dupla e que não podia ser desassociada uma da outra. A Singularidade de Cristo
muitas heresias.
divino e que não é mais uma criatura que o Deus-Pai trouxe a existência. Quando
se é dito que Jesus é a imagem (Gr. eikõri) do Deus invisível, a ideia é a de que
Cristo não é uma simples figura representativa. Ele é a manifestação que contém a
mesma substância daquilo que revela. Deus é invisível, e isso é corroborado por
que projeta Deus para que os homens possam vislumbrá-lo. Tudo que Deus é;
igualmente Jesus é. Mas na frente, Paulo nos diz que “nele habita corporalmente
toda a plenitude da divindade”. Para que não haja dúvida de sua divindade, nos é
dito que Jesus é “o primogênito de toda a criação”. O termo que foi traduzido por
a Cristo: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra,
potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Jesus é o artífice da criação, tudo
vida por graça e não a morte por salário. Se Adão é o cabeça dos homens decaídos,
Jesus é o cabeça dos homens redimidos. No versículo 15, é dito com todas as letras
que Jesus Cristo é homem, e por meio dele, a graça superabundou o pecado.
Usando um jogo de contrastes em sua argumentação, Paulo deixa claro que Jesus
cumpriu aquilo que Adão tinha falhado. Essa é uma teologia pactual. Na medida
que Adão desobedeceu a Deus e fez com que o pecado atingisse todo o cosmos,
Jesus, como um servo totalmente obediente fez aquilo que era o dever do primeiro
homem.
isto é, não são duas pessoas, mas apenas uma que comporta ao mesmo tempo o
natureza de Cristo nos dá segurança acerca da nossa fé, sabendo que a justificação
é real, pois foi um homem que morreu pelos pecados dos homens, isto quer dizer,
a substituição foi real. Ao mesmo tempo, tratando-se do Divino, a morte não pode
deter o Cristo que foi morto. Ele ressuscitou por ser Senhor da vida e dos vivos.
Porque ele ressuscitou, temos a garantia de que com ele, também triunfaremos
sobre a morte.
CONCLUSÃO
O Credo nos remete a historicidade dos fatos ao mencionar o nome de Pôncio
Pilatos. Esta menção pretende nos lembrar de que o Cristo que nasceu da virgem e
que porta duas naturezas é um personagem real que apareceu no curso da História.
Pilatos foi o quinto governador da Judéia romana. Foi sob o seu governo que Jesus
foi crucificado (Mt 27.2). Ele foi nomeado pelo imperador Tibério e uma pedra,
O que podemos tirar de proveito desta informação? Podemos estar cientes de que o
nosso redentor esteve neste mundo e passou por experiências que nos são
familiares. Ele apesar de não ter pecado, em tudo foi tentado e padeceu como o
homem de dores profetizado pelo profeta (ler Isaías 53). Assim, ao nos dirigirmos
ao nosso Redentor, precisamos lembrar que ele vivenciou nossos dilemas e esteve
à mercê das mazelas deste mundo caído. Logo, nosso Salvador tem empatia com
com Deus, pois, este Deus conheceu a fundo nossos temores e nossas dores. E a
boa notícia é que ele levou sobre si todas as nossas aflições e nos legou a paz e a
INTRODUÇÃO
O filme “Paixão de Cristo”, dirigido por Mel Gibson foi uma das encenações do
dois milênios atrás. Mas o que passa despercebido para alguns é que as dores
foram o pior que aconteceu ao Cristo. Seu padecimento extrapola o que é visível
para a plateia que vê o Filho de Deus apregoado na cruz. O que nosso Senhor
sentiu foi o peso de carregar sobre si os pecados de muitos e com isso, sentiu a ira
e o abandono de Deus Pai, pois ali, de maneira substitutiva, aquele que não tinha
pecado representava (de modo vicário) a soma da vileza dos piores pecadores
possíveis. E ele sentiu a agonia infernal de ser punido para satisfazer a justa ira
divina.
de um homem que deu a vida para deixar de herança um belo exemplo às gerações
porém, mais que isso ela foi o desfecho de uma dívida que era preciso ser paga. O
credor não podia simplesmente perdoar, alguém deveria derramar seu sangue para
que a justiça fosse feita. Citando John Stott, é correto dizer que “Na Cruz, a
reconciliadas”.
Para uma melhor compreensão do que disse Stott, é preciso recorrer a um texto
paulino.
O SUBSTITUTO
Paulo vai iniciar a sua exposição doutrinária aos Romanos afirmando que as
pessoas sem Lei são culpadas diante de Deus (Rm 1.18-2.16). Em seguida, o
apóstolo afirma que os possuidores da Lei também são culpados (Rm 2.17-3.8).
3.23).
Ao falar sobre a natureza culpada do ser humano, que o torna réu no Tribunal de
Deus, Paulo está introduzindo a boa nova. O Evangelho, para ser bem
que Deus não nos retribuirá segundo os nossos pecados, pois em Cristo, através da
morte na cruz, nós fomos justificados, isto quer dizer que nossos pecados não mais
serão levados em conta, foi Cristo quem pagou por eles com seu sangue. Eis a boa
notícia que leva o nome de Evangelho. Então, não é preciso fazer nada na tentativa
de aplacarmos a ira de Deus. Jesus já fez tudo por nós, sua obra é completa e já foi
A fé nos justifica e não nossas obras, pois somos incapazes de guardar a Lei de
Deus. Jesus foi aquele que não pecou e se deu por sacrifício em nosso favor.
Nossos pecados foram remidos pelo sangue de Cristo. Judeus e gentios, ambos
declarados justos graças aos méritos do Salvador. O que Paulo ensina aqui é o
Em Gênesis 1, lemos Deus criando o mundo e o homem. Tudo o que Ele criou é
bom. Mas, no capítulo 3 já vemos que o homem decide quebrar sua aliança com
separado de Sua santa presença. Todavia, em Gênesis 3.15 existe uma promessa
de que da descendência da mulher – Eva – viria àquele que iria destruir Satanás e
suscitando uma semente até que chegue a plenitude dos tempos (Gl 4.4) e a
Como o ser humano se tornou incapaz de se achegar a Deus, por conta do pecado,
foi preciso que Deus estabelecesse o resgate. E para isso um inocente assumiu o
lugar dos pecadores. Jesus Cristo é um substituto legal que em si suportou toda a
ira dos pecados sendo expurgados. Por Deus ser santo, não pode conviver com o
ser punido e seus efeitos no homem derrotado para que pudéssemos ter
reconciliação.
O autor da carta aos Hebreus nos diz que sem derramamento de sangue não há
por isso que ele é chamado de Cordeiro de Deus, e foi imolado antes da fundação
tempo, sacerdote que estava mediando nossa relação com o Pai, Cristo foi nosso
A OBRA DA CRUZ
Cristo sendo nosso substituto, e morrendo na cruz, realizou aquilo que não
poderíamos. A Escritura usa quatro termos para falar sobre o que foi realizado
através da morte vicária de nosso Salvador, vejamos agora o que eles querem
dizer.
- Propiciação: É o sacrifício que serve para aplacar a ira de alguém que foi ofendido.
propiciação seria um fator apaziguador, pelo qual Deus não nos puniria por nossos
pecados. O sacrifício de animais no Antigo Testamento tinha esse caráter, por isso
que o local onde o sangue era aspergido chamava-se propiciatório. Cristo na cruz é
um dos efeitos da expiação. Não somos considerados justos pelos nossos méritos.
nos justifica (Rm 3.24-25), e de uma vez por todas (Hb 9), sem necessidade de
continuar sacrificando.
- Santificação: Seguindo a justificação vem a santificação. Dentro da Arca estava a
Lei (Dt 10.2 e Hb 9.5). Por cima da Lei havia o sangue da expiação, derramado
sobre o propiciatório. Isso nos mostra que não é a obediência a Lei que me leva ao
Cordeiro (Cristo). É o Cordeiro que me leva a obedecer a Lei. Guiados por Jesus,
santidade é um caminho real, pois nele, somos separados para as boas obras.
Assim sendo, a obra de Cristo tem grande valor para nós, e sem ela não teríamos
debaixo de sua ira. Mas foi por sua infinita misericórdia que Cristo nos foi dado,
MORTE REAL
O Credo enfatiza que a morte de Cristo foi real e não figurativa. Ele foi sepultado,
após morrer crucificado, que era uma ultrajante pena de morte aplicada no Império
Romano aos mais vis criminosos. Isso está registrado nos quatro evangelhos, de
forma que basta lê-los para nos certificarmos disso. Todavia, um grupo herético
(gnósticos) negava que Jesus havia morrido, pois para eles, Cristo tinha apenas
uma aparência corpórea, mas não tinha um corpo real. Ora, isso faz com que a
morte de Cristo não seja real, logo, ele não seria o nosso substituto. Mas não é isso
que a Escritura nos diz e precisamos afirmar categoricamente que o Verbo se fez
Uma ênfase de que Cristo morreu de fato é a sentença “desceu ao mundo dos
mortos” ou “desceu ao Hades”. Esta é uma frase que não constava primeiramente
no Credo, mas foi acrescida a ele por volta do século 7. Antes disso, a expressão
era usada como substituta da frase “foi sepultado”, mas o seu emprego sendo
colocado após a frase que antes a substituía, tal como lemos hoje, gerou uma série
de interpretações.
Hades é para os gregos o mundo dos mortos, onde estão todos que faleceram. Os
bons ficam no lugar chamado Elísio e os maus no Tártaro, que seriam os dois
o Inferno e daí houve uma corrente que começou a defender que após a sua morte,
Cristo foi pregar aos cativos no Inferno ou foi lá para proclamar a sua vitória, como
creem os luteranos.
No Antigo Testamento, Sheol era a designação do lugar dos mortos, mas também
podia ser, dependendo do uso, sepultura. Hades foi muitas vezes usado como
sinônimo deSheol. Pedro usou a palavra em Atos 2:27, quando citou o Salmo 16:10
- que usaSheol. Isto pode nos levar a concluir que “desceu ao Hades” sirva de
Heidelberg responde:
angústias, dores e terrores. Por isso, até nas minhas mais duras tentações, tenho a
continuar no estado dos mortos e sob o poder da morte até ao terceiro dia; o que,
aliás, tem sido exprimido nestas palavras: Ele desceu ao inferno (Hades)”.
CONCLUSÃO
Jesus sofreu não apenas na sua crucificação. Toda sua vida foi de aflição. Santo,
teve que habitar num mundo corrompido pelo pecado, sendo tentado em tudo, mas
sem pecar, como nos diz o texto sagrado (Hb 4.15). Experimentou o descrédito
daqueles que eram o seu povo e lidou com o ódio de determinado grupo religioso.
Jesus foi traído por um de seus discípulos e negado pelos outros ao ser preso.
Homem de dores!
Na crucificação, apesar de toda dor física, havia a terrível angústia de ser punido e
abandonado por seu Pai, pois ali estava representando a figura da vileza humana,
mesmo sendo Ele alguém que obedeceu plenamente toda a lei. Aquela aflição
sofrida na cruz era demais para nós, não suportaríamos, todavia, Ele a suportou em
nosso lugar para que ficássemos livres. O fardo do pecado foi desatado de nossas
costas e os que creem em seu sacrifício não sentirão os tormentos infernais, pois
Ela é boa nova para todo o que em Cristo Jesus depositar a sua fé.
INTRODUÇÃO
“...ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai,
Chegamos à última lição acerca do Cristo, vendo após o seu padecimento, a sua
grandiosíssima vitória. Vitória esta que começa quando ele venceu a morte e
cristã: Jesus Cristo vive. Logicamente, os inimigos da cristandade não aceitam tal
fato e fazem troça do nosso credo. Mas seria tão improvável mesmo que Cristo
da ascensão? O que será que a subida corpórea do Cristo aos céus tem a dizer para
nós hoje?
Além disso, o Credo nos lembra sobre a segunda vinda de Jesus, no qual virá para
preciso frisar que não crer em algum destes postulados é não crer naquilo que
que nega a veracidade destes fatos. Assim como o nascimento e a morte de Cristo
se deu na História, o que se seguiu após o seu sepultamento, segundo nos diz as
O TÚMULO VAZIO
nele ver o seu cadáver ou a sua ossada. Bastava isso e pronto, o cristianismo teria
seus dias contados e seus discípulos seriam desmascarados como farsantes. Jesus
Sinédrio condenou o Messias e seus líderes não tinham a simpatia dos cristãos.
Sendo assim, porque raios iriam inventar que uma pessoa que participou do
discursos apostólicos (Atos 2.29 e 13.36). E quem descobriu que a tumba estava
havia ressuscitado dentre os mortos, com certeza, iriam relatar que os apóstolos,
A NOVA RELIGIÃO
judeus devotos. A unidade cultural e religiosa do judaísmo é tão forte, que mesmo
na diáspora, eles conseguiram manter sua identidade como povo. Paulo, um fariseu
renomado e zeloso pela tradição judaica não iria abandonar seu status para viver,
padecer e morrer, senão tivesse plena certeza de seu chamado. Ele viu a Jesus
ressuscitado, como nos diz o texto de 1 Coríntios 15. Ele e muitos outros foram
A ideia de um corpo ressuscitado era tão absurda para a cultura judaica como a
cultura helenística (1Coríntios 1:23). Era um conceito novo, não tão bem
compreendido e tinha tudo para ser impopular, como foi para muitos e ainda é.
devemos ter ciência de que é a fé e não a razão que nos inclina para
para que este possa adorá-lo e afirmar tal como disse o apóstolo Pedro: “Tu és o
fato é o Filho de Deus. Sua vitória sobre a morte assegura para todo o que nele
deposita a sua fé que com ele viveremos. Sua ressurreição indica que também
“No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados;
todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos e não
outros, posto que com qualidades diferentes, e ficarão reunidos às suas
almas para sempre”.
I Tess. 4:17; I Cor. 15:51-52, e 15:42-44.
Se não cremos nisso, nossa pregação é vã, como disse o apóstolo Paulo aos
coríntios (1 Co 15.12-20). Mas o mesmo apóstolo testifica que Cristo ressurgiu dos
mortos, e ao vencer a morte, como o segundo Adão, nos legou o direito a vida.
“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra,
viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê
nisso?” - João 11:25,26
A DESTRA DE DEUS
Jesus falou acerca dela (Mt 26. 64). Este evento é a última etapa da sua primeira
vinda, onde exaltado acima de todo o nome após sua humilhação e padecimento (Fl
2. 5-11), Ele agora se encontra a destra do Pai, numa posição de autoridade, sendo
O fato de Cristo ter sido assunto aos céus é de vital importância para nós. Como
dito aos doze, Ele foi preparar o nosso lugar no seu Reino de Glória. E quando
voltar nos levará, isto é, seu povo, para habitar com Ele em sua eterna morada. (Jo
14. 1-3). E enquanto Ele não vem, ficamos na companhia do Espírito Santo, o
consolador enviado pelo Pai em nome de Cristo, que ilumina nossos corações nos
fazendo entender e crer no Evangelho (Jo 14.26). Logo, esta partida de Cristo é
Na revelação que Deus concedeu ao apóstolo João, que viu o Senhor exaltado em
seu trono (Ap 1.13-18), há um capítulo que resume a história da redenção. Este
capítulo fala do nascimento do Messias e revela que Deus-Pai o arrebatou para si,
colocando junto ao seu trono (Ap 12.5). A partir desse evento, desencadeia-se uma
guerra celestial na qual o Diabo, que tinha o papel de ser nosso acusador, é
lançado fora, tendo Cristo vencido o seu oponente. Com a autoridade que lhe cabe,
imolado é também um leão que ruge com poder e glória, reivindicando para si
todas as coisas que estão na terra e no céu. Com sua força vence os seus
adversários e subjuga a todos debaixo dos seus pés. Além disso, Cristo nos céus é
o nosso intercessor, que por nós roga diante de seu Pai. Ele é o sacerdote que
entrou no tabernáculo celestial (Hb 4.14) uma vez por todas, nos redimindo em
dizendo:
Ao findar a seção que trata de Cristo, o Credo nos lembra de que Ele irá voltar. A
dias num mundo caído. Estamos nos “últimos dias” que são aqueles vividos entre a
como se fôssemos a última geração da terra - mesmo que não sejamos e o Senhor
É verdade que muitos zombam da segunda vinda do Cristo e dizem que Ele está se
demorando. Afinal, passaram-se 20 séculos e nada dele ter voltado. Mas como diz o
apóstolo Pedro:
“Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e
mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa,
como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não
querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento”. - 2 Pedro 3:8,9
Cristo retornará e virá para os que o esperam e para os que não o esperam. O dia e
a hora ninguém sabe, mas devemos viver de maneira santa e piedosa esperando o
grande dia (2 Pedro 3.11,12). Como soldados em uma trincheira, devemos estar
No Dia do Juízo, Cristo vem como Rei e em seu trono julgará todas as nações. Este
dia será de alegria para os que creram em seu nome e por Ele foram redimidos pelo
por todos os seus pecados e terão que pagar pelos mesmos. Aos que não creem,
nele deposita a esperança. Toda injustiça não ficará impune. Toda opressão se
desfará. As mazelas deste mundo não serão mais vistas na consumação do Reino e
com o ausente efeito do pecado sobre nós, poderemos gozar de paz perfeita na
presença do Deus triúno. Louvado seja Cristo, que encarnou, foi crucificado,
sepultado, ressurreto, assunto aos Céus e que em breve voltará trazendo consigo –
Molinismo, embora Fonseca e Lessius compartilhem das mesmas ideias. Eles usam
textos tais como Mateus 11 para mostrar que Deus tem “Conhecimento Médio”. Em
nossos dias, William Lane Craig afirma o mesmo, e a [denominação] The Baptist
livre”, ele é capaz de conhecer o que ele conhece absolutamente (Até agora
estamos bem, mas Molina diz que esse conhecimento (livre) não é alguma coisa
3) O Conhecimento Médio declara que Deus não pode conhecer os atos livres
futuros dos homens da mesma maneira que ele conhece outras coisas
absolutamente.
Assim, de acordo com Molina, este Conhecimento Médio é dependente dos atos
livres que os homens farão. Portanto Deus, em sua onisciência, espera pelo atos
dos homens e, então, escolhe salvá-los com base em suas escolhas de serem
salvos.
médio.
Reformada, declara:
Desde que a Escritura não reflete sobre esse assunto, quase nenhum texto-
prova pode provar que o conhecimento de Deus de contrafactuais é obtido
logicamente antes de seu decreto divino. Isto é assunto para reflexão da
teologia filosófica, não para exegese bíblica. Então, embora seja claramente
anti-bíblico negar que Deus tenha conhecimento simples e mesmo
conhecimento de contrafactuais, aqueles que negam o conhecimento médio
não pode ser acusado de ser anti-bíblico (Craig, "Middle Knowledge View,"
125.)
O Conhecimento Médio aqui é condenado. Quando Jesus diz, “Pai, Senhor do céu e
da terra”, ele está dizendo que Deus em sua soberania tinha, em seu agrado,
Mateus 11 não fala sobre Deus não conhecendo qualquer coisa até que o homem
fizesse alguma coisa. Pelo contrário, já as conhece e apenas não quer revelá-las
até/se ele desejar. Mateus capítulo 11 está ensinando sobre o justo julgamento
porvir (Mt 11.15-19). Observe que isso não aconteceu ainda, mas Cristo sabe que
conhecimento livre para justamente agir como Deus vê e prepara segundo sua
vontade.
Deus é soberano sobre todas as coisas (Prov. 16:33; Mat. 10:29; Rom. 11:36; Ef.
1:11 etc.), até mesmo sobre as decisões humanas (Prov. 20:24; 21:1). Embora
Deus não tente ninguém ao pecado (Tiago 1:13), Ele ainda está agindo em todas
as coisas, de indivíduos à nações, para o fim que Ele tem desejado (Is. 46:10-11).
O propósito de Deus não depende do homem (At 17:24-26), nem Deus descobre ou
aprende (1 Jo 3:20; Jó 34:21-22; Sal. 50:11; Prov. 15:3). Todas as coisas são
I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua
própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece,
porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a
vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas
secundárias, antes estabelecidas.
Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5;
Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as
circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la
previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais
condições.
At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.
III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens
e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados
para a morte eterna.
I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23;
Ef. 1:5-6.
***
Sobre o autor: Dr. Joseph R. Nally, D.D., M.Div. é editor teológico no Third