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AULA 2: NASCIMENTO VIRGINAL – DOUTRINA BÍBLICA OU PAGÃ?

Retornando às Veredas Antigas – Pedro Sales

Este tema, é um dos mais polêmicos e controversos assuntos da Bíblia. Hoje em dia,
muitos movimentos da “Teshuvá”, “Restauração”, interpretam que Yeshua nasceu de
uma forma natural. Outros, alegam que o Mashiach nasceu de uma forma sobrenatural.
Sabemos que os judeus ortodoxos não acreditam em Yeshua, logo tudo aquilo que fornece
margens para sua existência será descartado. Devemos perguntar: o nascimento virgina l
é uma doutrina pagã? As profecias falam de um nascimento comum ou sobrenatural?
Qual a opinião das Escrituras sobre esse assunto?

Referências:
Judaísmo Nazareno – B’nei Or
Mystery of the Mem – Ben Burton

Vamos examinar algumas fontes acadêmicas importantes, e entendermos algumas


questões essenciais.

Christianity and Mythology:

“Agora, o mito da Virgem-Mãe é universal no Paganismo e que


certamente não tem nenhum lugar reconhecido no Judaísmo
Ortodoxo antes do período jesuíta. A assim chamada profecia de
Isaías (vii.14) nunca poderia ter sido lida como um anunciamento
de um Parthenogenesis distante no tempo pelo mais insano

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Talmudista caso o mito da Virgem-Mãe não viesse do lado
Pagão”. (ROBERTSON, 2004)

Rabbinic Commentary on the New Testament:

“A genealogia foi destinada para os judeus, enfatizando a


linhagem davídica de Jesus, enquanto a história do Nascimento
Virginal foi destinada para o mundo greco-romano, onde histórias
ou contos de nascimento virginal e de impregnação divina de
mulheres mortais eram bem conhecidas”. (LANCHS, 1987)

As duas obras acima, estão afirmando categoricamente de que a doutrina do nascime nto
virginal é uma doutrina idólatra e pagã, todavia, tais obras estão partindo de um
pressuposto católico, onde afirma-se que Maria permaneceu virgem durante toda sua
vida, o que não é verdade.

NÃO CONFUNDA!

Doutrina católica da Imaculada Conceição: refere-se a um dogma através do qual a


Igreja declarou que a concepção da Virgem Maria foi sem a mancha (mácula em latim)
do pecado original. Desde o primeiro instante de sua existência, a Virgem Maria foi
preservada do pecado pela graça de Deus. Ela sempre foi cheia da graça divina.

Doutrina da virgindade perpétua de Maria: se acredita ser de fide (ou seja, defendida
pelos católicos como sendo uma parte essencial da fé), afirma que Maria era virgem antes
e permaneceu assim durante o parto de Jesus e por todo o resto de sua vida.

1) Onde podemos encontrar “exemplos” de nascimentos sobrenaturais e estranhos à


mentalidade humana? Vejamos:

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“Matusalém tomou uma esposa para seu filho Lameque, e ela lhe deu um filho homem.
O corpo do bebê era branco como a neve e vermelho como uma rosa desabrochando, e
os cabelos de sua cabeça e seus longos cabelos eram brancos como lã, e seus olhos como
os raios do sol. Quando ele abriu os olhos, ele iluminou toda a casa, como o sol, e toda
a casa estava muito iluminada. E quando ele foi tirado das mãos da parteira, ele abriu a
boca e louvou Adonai da justiça. Seu pai Lameque estava com medo dele e fugiu, e foi
até seu próprio pai, Matusalém. E ele disse-lhe: “Eu gerei um filho estranho; ele não é
como um ser humano, mas se parece com os filhos dos anjos do céu, e sua natureza é
diferente, e ele não é como nós, e seus olhos são como os raios do sol e seu semblante é
glorioso. E me parece que ele não nasceu de mim, mas dos anjos...” (I livro de Enoque
- Capitulo 106)

Gênesis 11:30: “E Sarai foi estéril, não tinha filhos”.

“Quando Abraão foi prestes a massacrar Isaac, a alma deste último voou para ser
substituída mais tarde por um espírito santo das regiões celestiais. Segue-se então que a
vida de Isaac após a akeidah, foi a vida de um ser humano que não se originou de uma
gota de sêmen. Devemos ver Isaac como alguém que renasceu em consequência dessa
experiência: uma criatura totalmente nova. D’us aplicou o critério mais estrito a ele,
deixando-o morrer e, subsequentemente, infundindo-o com uma nova alma. Ele também
havia santificado seu corpo; daquele momento em diante, o corpo de Isaac se
assemelhava ao de Adam HaRishon, também não o produto de uma gota de sêmen. Agora
entendemos por que o carneiro que Abraão sacrificou em lugar de Isaque não foi o
produto da procriação natural, ou seja, através do sêmen”. (Shney Luchot HaBrit,
Vayera, Volume 1, pág. 111)

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“E Isaque orou insistentemente a YHWH por sua mulher, porquanto era estéril; e YHWH
ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu”. (Gênesis 25:21)

Bereshit Rabbah 63:5:

“R’ Judan disse em nome de Resh Lakish: Ela não tinha um ovário, então Adonai
moldou um ovário para ela”.

Gênesis 3:13-15: “E disse YHWH Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher:
A serpente me enganou, e eu comi. Então YHWH Deus disse à serpente: Porquanto fizeste
isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o
teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e
a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar”.

“E ela chamou seu nome Sete: porque Deus me nomeou outra semente, etc. R. Tanhuma
disse em nome de Samuel Kozith: [Ela ensinou] a semente que surgira de outra fonte, a
saber, o Rei Mashiach”. (Midrash Bereshit Rabá 23:5)

Foi verificado acima, através de inúmeros textos da Torá e também da tradição judaica,
que existe SIM um conceito de que personagens importantes das Escrituras iriam nascer
de uma forma miraculosa.

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2) Um dos argumentos mais utilizados pelos judeus ortodoxos e também pelos
antimissionários, consiste no argumento de que Isaías 7:14 não é uma profecia
messiânica. Seria isto verdade? Vamos analisar.

Isaías 7:10 E continuou Adonai a falar com Acaz, dizendo:

Isaías 7:11 Pede para ti a Adonai teu Deus um sinal [‫ ;]אֹות‬pede-o, ou em baixo nas
profundezas, ou em cima nas alturas.

Isaías 7:12 Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei Adonai.

Isaías 7:13 Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes os
homens, senão que também afadigareis ao meu Deus?

Isaías 7:14 Portanto o mesmo Adonai vos dará um sinal [‫]אֹות‬: Eis que a virgem [‫]עַ לְ מָה‬
conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.

Sefer HaIkkarim, Maamar 3 25:19: “Além disso, como pode um judeu que está
familiarizado com a Bíblia e vê que as passagens bíblicas citadas nos Evangelhos e em
seus outros livros como evidência não provam o que se pretende - como pode tal pessoa
acreditar em suas ideias? Assim, é dito em Mateus que Jesus nasceu de uma virgem para
cumprir as palavras da Bíblia: “Eis que a jovem [‫ ]עַ לְ מָ ה‬conceberá.” Mas todo aquele
que sabe ler sabe - até mesmo uma criança na escola está ciente - que este versículo foi
dito a Acaz cerca de seiscentos anos antes do nascimento de Jesus como um sinal de que
os reinos da Síria e de Israel seriam destruídos, e que o reino de Judá permaneceria sob
os reis da casa de Davi. Como o nascimento de uma virgem por Jesus poderia ser um
sinal para Acaz?”

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A tradução da Hebrew Publishing Company de 1916 traduz “Almah” como virgem, em
Gênesis 24:43 e em Cânticos 1:3; 6:8.

O falecido Dr. Cyrus Gordon, que era judeu e NÃO


acreditava em Yeshua como Mashiach, sustentava que
Isaías 7:14 poderia ser traduzido como “virgem”. (Almah
em Isaías 7:14; Gordon, Cyrus H. JBR 21: 106)

‫ּתּורק ְש ֶ ֶ֑מָך עַ ל־כֶׁ֖ן עֲ ל ָ֥מֹות אֲ ה ֽבּוָך׃‬


ֶ֣ ַ ‫שמֶ ן‬
ֶׁ֖ ֶ ‫טֹובים‬
ִ֔ ‫יח ְשמָ נֶ ֶ֣יָך‬
ֵַ֙ ‫לְ ֵ֙ר‬

“Suave é o aroma dos teus unguentos; como o unguento derramado é o teu nome; por
isso as virgens te amam”. (Cânticos 1:3)

Rashi: “Virgens, já que o texto o compara a um jovem de quem é amado. E de acordo


com a alegoria: As “moças” são as outras nações”.

Vejamos um texto muito importante do Tanakh:

Gênesis 24:43 Eis que estou junto à fonte de água; seja, pois, que a donzela [‫ ]עַ לְ מָ ה‬que
sair para tirar água e à qual eu disser: Peço-te, dá-me um pouco de água do teu cântaro;

Importante lembrar que (Isaías) 7:14, usa a palavra “almah” [ ‫]עַ לְ מָ ה‬, que significa “jovem
moça”, “donzela”. Todavia, naquela época, era natural que uma donzela fosse virgem.

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Por exemplo, em Gn 24:43, Rebeca era uma donzela [‫ ]עַ לְ מָ ה‬e também era “virgem [‫]בתולה‬,
a quem homem não havia conhecido” (Gn 24:16).

Isaías 7:14 (Septuaginta): τοῦτο δώσει κύριος αὐτὸς ὑμῖν σημεῖον ἰδοὺ ἡ παρθένος ἐν
γαστρὶ ἕξει καὶ τέξεται υἱόν καὶ καλέσεις τὸ ὄνομα αὐτοῦ Εμμανουηλ.

Tradução: “Portanto o próprio Senhor vós dará um sinal eis que a virgem dará à luz a
um filho e o chamarão pelo nome de Emmanuel”.

A tradução grega da B’rit Chadashá, usa a mesma expressão (παρθένος):

Mateus 1:23 “A virgem [παρθένος] ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão
Emanuel” que significa ‘Deus conosco’.

Não obstante, o Novo testamento é bastante claro sobre essa doutrina, somente os
incrédulos não aceitam. Eis a comprovação:

Mateus 1:18 Foi assim o nascimento de Yeshua HaMashiach: Maria, sua mãe, estava
prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo
Espírito Santo.

Mateus 1:19 Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra
pública, pretendia anular o casamento secretamente.

Mateus 1:20 Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo de Adonai em sonho
e disse: “José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela
foi gerado procede do Espírito Santo”.

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Mateus 1:21 Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Yeshua, porque
ele salvará o seu povo dos seus pecados.

Mateus 1:22 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que Adonai dissera pelo
profeta:

Mateus 1:23 “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanue l”
que significa ‘Deus conosco’.

Mateus 1:24 Ao acordar, José fez o que o anjo de Adonai lhe tinha ordenado e recebeu
Maria como sua esposa.

Mateus 1:25 Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele
lhe pôs o nome de Yeshua.

Eis alguns textos da B’rit Chadashá que usam a mesma expressão (παρθένος) para
descrever “virgens”: (Mt 25:1; At 21:9; 1 Co 7:25; 2 Co 11:2 e Ap 14:4).

O cabalista Avraham Abulafia escreveu, em linguagem mística, que Eva seria inseminada
pela Ruach HaKodesh (Espírito Santo) e daria à luz o “Filho Permanente/Duradouro” [1].
Já que nos escritos de Abulafia o nome Chavá aparece, certas vezes, como um protótipo

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das mulheres em geral e o “Filho Permanente/Duradouro” é uma alusão, ainda que
implícita, ao Mashiach! Deduz-se que este nasceria da inseminação sobrenatural operada
pela Ruach HaKodesh em uma mulher. Por tal motivo, o ínclito e renomado cabalista
Moshé Idel enxerga nas palavras do rabino Abulafia o típico conceito cristão de
“imaculada concepção”, também presente em determinadas obras da Cabalá judaica [2].

[1] Consulte as obras de Natan Ben Sa’adyah, Sh’arei Tzedeq, p. 374, e Moshé Idel,
Ben: Sonship and Jewish Mysticism, p.337. [2] Moshé Idel, Ben: Sonship and Jewish
Mysticism, p.337.

“O segredo da ‘virgem, que nenhum homem a conheceu’”...

[‫שר ֽלא־יָדְ עָ ָ֛ה ֶׁ֖איש‬


ֶׁ֧ ֶ ֲ‫ ] בְ תּו ִָ֔לה א‬Jz 21:12

“Esta é real virgem, feita de fogo, e ela está sexualmente receptiva [literalmente: como
vaso receptor], e em semelhança foi criada para Israel, como esposa e como virgem... E
no fim da redenção o segredo do Mashiach virá a Israel. Até o tempo ela permanecerá
virgem, e então o Espírito Divino entrará em sua boca, e um Espírito de fogo consumidor
virá até a sua abertura e emergirá a partir do Santuário, e residirá, trancado. E no tempo,
quando o Espírito emergir, tomará a forma de fogo. Este é o segredo da constelação de
Virgo [= Virgem]. Portanto, esta é a constelação de Israel, e este é o sentido místico do
verso: ‘Levante, virgem de Israel’ [Am 5:2]... e este é o segredo da interpretação do verso:
‘A virgem, que nenhum homem a conheceu’ [Jz 21:12], até que Adonai [YHWH] venha
a ungir aquele que virá”. (Ms. Jerusalém-Mussaioff 24, fol. 34b; Ms.Jerusalém-
Mussaioff 5, fol. 120)

Continua o Sefer HaMeshiv relatando o caso da seguinte forma:

“O verso diz: ‘Porque o jovem se casa com a virgem’ [Is 62:5]. Este é o segredo da
restauração da Shechiná [Presença Divina] ao seu antigo estado e à primeira força (poder).
Este é o segredo da descida do meu Mashiach a partir dos céus, diante dos olhos de todas
as criaturas viventes”. (Ms. Jerusalém, 147, fol. 102b).

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