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Dolores Galindo, doutora em Psicologia Social – PUCSP, com estágio doutoral na Universidade
Autônoma de Barcelona (UAB); Docente do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Estudos de
Cultura Contemporânea, onde coordena a Linha de Pesquisa Epistemes Contemporâneas e do curso
de graduação em Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Líder do Grupo de
Pesquisa Ciências, Tecnologias e Contemporâneo TECC/UFMT. Membro da Rede Centro-Oeste de
Ensino e Pesquisa em Arte, Cultura e Tecnologias Contemporâneas – Rede CO3. Vice-Presidente da
regional Centro-Oeste da ABRAPSO (2011-2012). E-mail: doloresgalindo@ufmt.br
Resumo
Este texto descreve/discute exoevoluções entre corpo e máquinas, que compõem o
espetáculo de dança contemporânea “Móvel” (2011). No espetáculo, os agenciamentos
maquínicos disparados por peças de computador e fios de telefone produzem
processos de aparelhagens, desaparelhamentos e relacionalidades que constituem um
corpo que, em sua singularidade, sobrevive na e à dança.
Palavras-chave: Dança, Exoevolução, Corpo, Máquina.
Abstract
This text describes/discusse exoevolutions between body and machines that compose
the spectacle of contemporary dance “Móvel” (2011). On this spectacle, the machinical
agencements trigged by computer parts and telephone wires produce
equipment,unpairing and relational processes, that constitute a body that, on its
singularity, survives within dance.
Keywords: Dance, Exoevolution, Body, Machine.
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Introdução
Figura 1
Uma dançarina, de costas para o público, sentada sobre uma antiga Unidade
Central de Processamento (CPU). Braços atados a teclados, pés atados a teclados.
Cabelos presos por um fio. Esta imagem introduz um dos planos de coevolução entre
humanos e máquinas, explorado no espetáculo de dança contemporânea Móvel (2011)
que integra processos de criação em dança como experimentos de pesquisa com o
objetivo de pensar relacionalidades entre humanos e não/humanos (MILIOLI, 2012).
Vale observar que utilizamos o termo espetáculo para designar o resultado dos
experimentos que foram apresentados publicamente, já que, em nosso caso, o
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processo de criação realizado em uma sala de dança não foi aberto ao público.
Entretanto, não separamos processo de criação e espetáculo. Para nós, a
apresentação foi uma etapa do processo de criação. Assim, o resultado é também
processo, pois a dança que acontece na apresentação se modifica ao relacionar o que
a antecede com as diversas interferências (público, espaço, tempo) produzidas no
momento e após a apresentação. Neste texto, transitamos entre questões traduzidas
tanto dos experimentos da sala de dança quanto da apresentação pública realizada no
teatro do SESC Arsenal de Cuiabá, Mato Grosso, no Ciclo Solos de Dança.
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Para Serres (2003) máquinas não são descobertas humanas, mas aparelhagens
onde ocorrem esvaziamentosde formas e funções corporais. Nas aparelhagens lidamos
com aquilo que Serres (2004) chama objetificação de órgãos. Um movimento no qual
nossos membros dissociadosadquirem autonomia e passam a interferir no mundo.No
cotidiano e também na arte, o uso das máquinas é múltiplo e depende da relação que
aquele que usa estabelece com elas. Neste sentido, nem sempre é possível falar de
extensão, acoplamento e prolongamento, pois sua função adquire variação nas
relações que estabelece. Ou seja, não falamos de um corpo estável que se pluraliza ao
ser observado por diferentes perpectivas, sendo fechado em si mesmo (MOL, 2002).
Questões como o digital e o sintético nos obrigaram a aceitar que máquinas têm
vidas próprias, embora, sabemos, sejam estas vidas adquiridas relacionalmente.
Entidades de todo o tipo – viventes ou não – encontram-se como companheiros em
uma dança (HARAWAY e GANE 2007).Não como idênticos, simétricos, mas como
singularidades em relações não hierárquicas onde um não existe em função do outro.
Ambos compartilham práticas. Apesar das grandes diferenças entre humano e
máquina, há pontos de contato entre estes. Há muito de humano na máquina, assim
como há muito de máquina no humano (LATOUR, 2008; HARAWAY, 1995; MOL,
2002).
Propor a máquina como uma entidadevariando nas relações que estabelece com
humanosimplica em convocar noções de máquina que não se restringem à conotação
técnica e sim, sociotécnica. Encontramosem Raunig (2008) uma face polissêmica da
máquina, que conduz a pensar menos no que é a máquina e mais naquilo que a
constitui. Tudo isso porque o autor explora máquinas como agenciamentos móveis, não
somente com aqueles que as fabricam, mas também com outras máquinas reais ou
ficcionais.
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Épossível, ainda, pensar a máquina sem que para isso tenhamos que presumir,
a partida,um humano em relação com não/humanos. As fronteiras entre humanos e
não/humanos são, elas mesmas, móveis, pois “o que conta como humano e não-
humano não é dado por definição, mas apenas por relação, por envolvimento em
encontros mundanos e situados, onde as fronteiras tomam formas e sedimentos de
categorias” (HARAWAY, 1994, p. 64). 2
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Tradução nossa
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Tradução nossa.
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Aparelhagens
Figura 2
ora mostravam a parte interna, onde os braços retornam ao seu lugar no corpo.
Chegamos também em experimentos de bater e esfregar os teclados uns nos outros e
no corpo. Movimentos que produziram intensa sonoridade, mobilizando os ouvidos a
explorar ritmos. A máquina nem sempre exibe sua maquinação, os fluxos sonoros
atravessam o corpo, interpelam-no a dançar, rompendo fronteiras.
Figura 3
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Desaparelhamentos
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Figura 4
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Figura 5
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Relacionalidades
Desamarrar não sugere separar, mas encontrar modos de relação que abram
espaço para singularidade. Assim, seguimos o fio que agora está caído no chão e
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Modos de viver e morrer são importantes para sobreviver, para continuar a viver.
O que era máquina aparece como marcas que se desfarão, pouco a pouco, cada uma
a seu tempo a depender da intensidade infringida à pele – alegria da vertigem e tortura.
Um corpo nu expropriado de si – um corpoexperimento:
nus diante dela. Uma nudez onde fazemos a travessia para a leveza, para o
arejamento do corpo em sua infinitude.
Referências
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