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ARTIGO ARTICLE
Acesso à experiência em primeira pessoa
na pesquisa em Saúde Mental

Access to first-person experience in research into mental health

Erotildes Maria Leal 1


Octavio Domont de Serpa Junior 2

Abstract This article presents and discusses the Resumo Este artigo apresenta e discute os desafi-
epistemological and methodological challenges re- os epistemológicos e metodológicos relacionados
lated to the empirical study of first-person expe- ao estudo empírico da experiência em primeira
rience in mental health research. Considering the pessoa na pesquisa em Saúde Mental. Conside-
field of qualitative research, the methodological rando-se o campo da pesquisa qualitativa em saúde
principles of phenomenology and medical anthro- examinam-se os princípios metodológicos da fe-
pology are examined from a historical and con- nomenologia e da antropologia médica em uma
ceptual perspective. The main operational con- perspectiva histórica e conceitual. São apresenta-
cepts of the phenomenological method applied to dos os principais conceitos operatórios do método
empirical research, as well as their two main lines fenomenológico aplicado à pesquisa empírica, bem
of approach, namely descriptive and psychologi- como suas duas principais abordagens, a fenome-
cal/transcendental phenomenology and herme- nologia descritiva e psicológica/transcendental e
neutical or interpretative phenomenology, are a fenomenologia hermenêutica ou interpretati-
described. The contributions of medical anthro- va. As contribuições da Antropologia Médica são
pology are studied especially with respect to the trabalhadas sobretudo no que concerne à experi-
experience of illness and its forms of narrative. ência de adoecimento e suas modalidades narra-
Lastly, considering the distinction between expe- tivas. Por fim, considerando-se a distinção entre
rience and narrative based on the theoretical experiência e narrativa, a partir dos referenciais
benchmarks of phenomenology and medical an- teóricos da Fenomenologia e da Antropologia
thropology, a more in-depth debate on access to Médica, aprofunda-se o debate sobre o acesso à
first-person experience is conducted. experiência em primeira pessoa.
Key words Experience, Narrative, Methodology, Palavras-chave Experiência, Narrativa, Meto-
1
Faculdade de Medicina,
Phenomenology, Medical anthropology dologia, Fenomenologia, Antropologia médica
Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Rua Aloísio
Gomes 50, Granja dos
Cavaleiros. Polo Cidade
Universitária. 27.930-560
Macaé RJ.
erotildesleal@macae.ufrj.br
2
Programa de Psiquiatria,
Instituto de Psiquiatria,
Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
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Leal EM, Serpa Junior OD

Introdução a prioridade dada às representações sociais, em


detrimento do vivido, permanece quando tais es-
O surgimento, na década de 80, da Medicina Ba- tudos tentam explicar as crenças que os indivíduos
seada em Evidências (MBE) alçou a uma posição têm sobre saúde e doença. Neste contexto, ganha-
de hegemonia os estudos sobre os processos saú- ram relevância os estudos de base fenomenológica
de/doença com desenhos experimentais baseados que buscam atribuir outro sentido à noção de ex-
em métodos quantitativos1. Isto não significou, periência do adoecimento.
entretanto, o abandono das pesquisas qualitati- O termo “experiência”, na tradição fenome-
vas em saúde. No caso específico da saúde/doen- nológica, dirá do modo de ser do sujeito no
ça mental, os estes têm crescido significativamen- mundo. Indicará como estamos mergulhados no
te nas últimas décadas, no Brasil e no mundo. mundo e nele agimos no tempo e no espaço, e
A partir do final da década seguinte reconhe- que isto está para além do modo como o repre-
ceu-se que a observação empírica dos processos de sentamos cognitivamente. Os sentidos possíveis
saúde/doença das populações – feita sobretudo por do vivido são dados pela dimensão encarnada
meio de estudos com desenho experimental e ob- da existência. O corpo, fundamento da nossa
servacional, privilegiados pela MBE – produziu inserção no mundo, é tomado como aquilo que
conhecimento limitado para o julgamento de um liga natureza e cultura, indicando a anteriorida-
caso clínico particular. Para a tomada de decisão de da ação sobre a reflexão.
diante dos pacientes reais, achados dos campos da Nos estudos sobre experiência do adoecimen-
epidemiologia e das ciências básicas precisam estar to na perspectiva fenomenológica interessa co-
articulados a outros que emergem de histórias con- nhecer como a interação com o mundo é vivenci-
textualizadas, produzidos pelas metodologias qua- ada pelo adoecido. Concebe-se que a relação que
litativas de pesquisa2. Elementos relacionados aos a pessoa constituirá com o mundo, mediada por
contextos sociais e humanos e às experiências vivi- tal experiência, também é constituinte da “reali-
das pelas pessoas em seus processos de adoeci- dade” vivida, ou pelo menos de parte dela. Narra-
mento3 constituem essas outras evidências. tivas generalizantes sobre a interação com o mun-
Viu-se crescerem então estudos sobre vivên- do, entretanto, presentes em relatos que infor-
cias, valores, concepções e práticas que os sujei- mam, de modo abstrato, sobre esta interação ou
tos têm sobre eventos relacionados à saúde e que a explicam, mesmo que provocadas pelo ado-
doença. Dentre estes, entretanto, preponderam ecimento, não são capazes de revelar essa dimen-
análises sociantropológicas sobre a dimensão da são da experiência que não é completamente pré-
ação humana que decorre da introjeção das nor- determinada porque está articulada a contextos
mas previamente estabelecidas no âmbito social. interativos particulares. Como acessar esses as-
Tais análises, embora se ocupem da introjeção pectos individuais, específicos, idiográficos, da
de elementos culturais ou simbólicos ou dos con- experiência vivida dos adoecidos? Se as narrativas
flitos existentes nestes processos interativos4, têm são o modo privilegiado para acessar o que o
escopo limitado para discutir a ação humana em outro vivencia em sua experiência de adoecimen-
sua complexidade. A experiência de vida cotidia- to, como trata-las para garantir que não se res-
na não se define exclusivamente a partir das re- trinjam à dimensão das representações abstratas
presentações introjetadas do mundo nem como das doenças e das suas consequências gerais so-
produto meramente individual. bre a vida cotidiana? Que desafios metodológicos
Os estudos sobre experiência do adoecimento se impõem para a realização dessa tarefa?
de Kleinman5, Kleinman et al.6 e Young7, nas déca- Três seções são desenvolvidas neste artigo
das de 70 e 80, destacam a necessidade de se tomar com a finalidade de enfrentar estas perguntas.
como objeto de investigação a situação de adoeci- Na primeira, apresenta-se breve panorama dos
mento vivida em contextos culturais concretos. Eles métodos fenomenológicos aplicados à pesquisa
tematizam a dimensão criativa dos indivíduos ado- empírica da experiência vivida no campo da saú-
ecidos no manejo com o seu sofrimento, indicam de. Na segunda, visita-se a noção da experiência
que a ação humana não é necessariamente subme- do adoecimento à luz da antropologia médica e
tida a uma lógica sistêmica e que a análise das re- seus métodos de estudo. Na última seção, reto-
presentações sociais é insuficiente, porque exclui a ma-se a discussão dos desafios metodológicos
experiência e as relações que o sujeito adoecido de produção desse tipo de narrativa a partir do
constrói com ele mesmo e com os outros. Todavia, exame das noções de experiência e narrativa.
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Os métodos fenomenológicos to da filosofia para o campo da pesquisa empíri-
e o estudo de experiência ca é grande, principalmente por ser a fenomeno-
logia, enquanto pensamento filosófico, uma tra-
A Fenomenologia, corrente filosófica inaugu- dição viva, em movimento, comportando pers-
rada com a obra de Edmund Husserl (1859-1938) pectivas diferentes10. No campo específico do ado-
no início do século XX, em atmosfera intelectual ecimento mental a utilização do método fe-
de crise do pensamento filosófico e do racionalis- nomenológico na investigação dos estados men-
mo científico, aspirava à formulação de um mé- tais, protagonizada por Karl Jaspers, Ludwing
todo rigoroso de investigação para as pesquisas Binswanger, Wolfgang Blankenburg, dentre ou-
filosóficas e psicológicas sobre a experiência hu- tros, foi anterior a este período. Estes autores,
mana8. Grosso modo, é possível afirmar que o ob- todavia, utilizaram esse instrumental para o es-
jeto da fenomenologia é o estudo da experiência, tudo de casos clínicos. Agora o desafio era outro.
com foco na relação intencional onde consciência A transposição, para o campo da investiga-
e mundo constituem-se mutuamente e coexistem ção empírica, de um método filosófico que se
como polos inseparáveis. Em sua ambição origi- dispunha a contribuir para o desenvolvimento
nária, todavia, a Fenomenologia filosófica não se de uma filosofia “tão rigorosa quanto a ciência”11
pretendia uma Psicologia Descritiva, mesmo que é tarefa tão prenhe de obstáculos que, autores
o caminho inicial de Husserl tenha percorrido esta como Giorgi12, que fizeram uso do método feno-
paisagem. Para Husserl, o método fenomenoló- menológico na pesquisa empírica em psicologia,
gico servia ao propósito de investigação do sujei- afirmam que, nesta seara, encontrar “desvian-
to transcendental, não instanciado em nenhuma tes” da fenomenologia é mais fácil do que achar
individualidade empírica. “seguidores”.
No campo da filosofia, a diversidade de abor- Apesar da variação, alguns conceitos opera-
dagens descritas como Fenomenologia, frequen- tórios fundamentais da Fenomenologia filosófi-
temente identificada a partir dos filósofos que ca – intencionalidade, redução fenomenológica e
contribuíram para seu desenvolvimento, é per- redução transcendental – são incorporados ao
cebida também no interior da obra de seus prin- método fenomenológico de pesquisa empírica e
cipais autores. Zahavi9 exemplifica isso quando constituem sua marca distintiva no universo da
diz que a obra de Husserl pode ser dividida em pesquisa qualitativa.
dois tempos distintos – uma fenomenologia do O conceito de intencionalidade caracteriza a
início, onde a teoria da intencionalidade é cen- estrutura básica da experiência: toda consciência
tral, e uma tardia, na qual as noções de corpo, é sempre consciência de alguma coisa e todo ob-
intersubjetividade e tempo produzem uma vira- jeto o é para uma consciência. Sujeito e mundo
da filosófica – sendo aberta a possibilidades de estão necessariamente intrincados; a experiência
identificação de novas perspectivas, dependendo corporificada abre perspectiva para uma relação
dos caminhos que se privilegie em sua leitura e de significação com o entorno.
interpretação. O objeto do método fenomenológico na pes-
O reconhecimento da existência de aborda- quisa empírica é o vivido subjetivo, a experiência
gens dinâmicas, abertas e em desenvolvimento corporal que o acompanha, o ponto de vista sin-
exigiu a adjetivação da Fenomenologia para des- gular de quem vive a experiência e sobre o qual se
crevê-la e explicitar o referencial teórico privilegi- apóia posteriormente a reflexão, buscando ex-
ado, como a Fenomenologia Transcendental – plicitar o que está implícito na experiência. As-
identificada com Husserl e intérpretes como Fink sim, deixa-se de buscar narrativas abstratas ou
–, Fenomenologia Existencial – associada princi- generalizantes ancoradas em representações co-
palmente com Heidegger, Sartre e Merleau-Pon- letivas e no conhecimento comum, afastadas do
ty – e Fenomenologia Hermenêutica – associada caráter singular das experiências relacionadas ao
a Heidegger, Gadamer e Ricoeur. No âmbito da fenômeno estudado.
sua aplicação na pesquisa empírica, o movimen- O estudo da experiência subjetiva deve come-
to não foi diferente, e o uso do método fenome- çar com a redução fenomenológica ou époché. Esta
nológico no cenário das metodologias qualitati- consiste na “colocação entre parênteses” do con-
vas também não se dá de uma única forma. junto de crenças que sustentam as certezas cotidi-
Foi a partir das décadas de 60 e 70 do século anas do que se considera a realidade objetiva (ma-
passado que discussões sobre sua aplicabilidade terial ou mental) que subsiste independente de
no campo da pesquisa empírica ganharam visi- qualquer perspectiva. Este movimento de suspen-
bilidade. O desafio de transpor um conhecimen- são das crenças abre caminho para o desvelamen-
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to da perspectiva própria aos participantes da como pela fenomenologia psicológica/transcen-


pesquisa acerca do fenômeno estudado e dos sig- dental18, tem o foco na descrição textural (de tex-
nificados das suas experiências singulares. tura) – “o quê” – e estrutural – “como” – da expe-
A impossibilidade de uma époché completa já riência e menos na interpretação; b) o segundo,
foi indicada por Merleau-Ponty13 no escopo da bem representado pela fenomenologia hermenêu-
Fenomenologia Filosófica. “O maior ensinamen- tica ou análise fenomenológica interpretativa19,20,
to da redução [fenomenológica] é a impossibili- mescla a perspectiva husserliana com a aborda-
dade de uma redução completa [...] porque nós gem hermenêutica de Heidegger e Gadamer e está
estamos no mundo, mesmo nossas reflexões têm orientado para a descrição da experiência vivida e
lugar no fluxo temporal que elas procuram cap- a interpretação do seu significado.
tar”. Quando se trata da transposição do méto- A tradição descritiva teve na Universidade de
do fenomenológico para a pesquisa empírica de Duquesne, na década de 60 e 70, seu centro de
orientação fenomenológica, as limitações da épo- desenvolvimento. Dentre aqueles que deram con-
ché são ainda mais evidentes, pois o acesso à ex- sequência ao trabalho iniciado por Adrian van
periência vivida dos sujeitos de pesquisa é sem- Kaam, na década de 50, Amedeo Giorgi tem sido
pre mediado pelas referências teóricas do pes- citado como seu principal representante. O eixo
quisador, que orientam a própria formulação da desta perspectiva metodológica é uma análise
questão da pesquisa. A époché não é o abandono descritiva e compreensiva da experiência, produ-
ou a eliminação das nossas crenças, mas sua sus- zida pela busca, nas narrativas estudadas, de ele-
pensão, temporária e incompleta, provocando mentos temáticos essenciais constitutivos do sen-
no pesquisador um movimento reflexivo que tido da experiência em questão. Quatro passos
cultiva de forma persistente a indagação14. essenciais são propostos. Com o primeiro ob-
A redução transcendental é operada a fim de tém-se o sentido do todo descrito, ou seja, de
estudar como se constitui a experiência, deslo- todo o texto transcrito. Em seguida discriminam-
cando o foco do objeto da experiência para a ex- se as unidades de significado. Depois disso trans-
periência ela mesma. Se habitualmente o foco é forma-se a linguagem comum das unidades de
dirigido ao conteúdo dos diferentes estados men- significado numa linguagem científica. Por últi-
tais, – pensamento, memória, percepção – na re- mo, apresenta-se a síntese das unidades de signi-
dução transcendental passa-se destes conteúdos ficado transformadas numa estrutura descritiva
para o estudo das condições de possibilidade dos do significado da experiência. As unidades de sig-
próprios estados mentais – pensar, lembrar, per- nificado, constituidas pela atitude ativa do inves-
ceber. A constituição da experiência é estudada tigador, indicam um significado que é relevante
tanto em relação às suas condições de possibili- para a experiência estudada e como tal constitu-
dade atuais e individuais – trajetória biográfica e inte do todo. A transformação da unidade de
condições de corporificação do sujeito – quanto significado – da linguagem do participante para
em referência aos horizontes de sentido – univer- a linguagem científica – se dá por um processo
so simbólico no qual o sujeito se insere15. reflexivo da variação imaginativa, de acordo com
Os esforços para aplicar o método fenome- a disciplina que orienta o estudo, em acordo com
nológico à prática científica podem ser apresen- a perspectiva fenomenológica. Vale finalmente
tados em duas grandes vertentes: a fenomenolo- ressaltar que a síntese, estrutura que expressa
gia empírica que, grosso modo, a partir de des- como o fenômeno estudado faz sentido, é meio e
crições compreensivas da experiência, busca es- não fim, e não necessariamente terá que ser úni-
tabelecer sua estrutura essencial, e a fenomeno- ca. Deste modo as estruturas não são universais,
logia experimental, que integra protocolos expe- mas revelam, em relação ao contexto do fenô-
rimentais de pesquisa a descrições e relatos de meno em análise, aquilo que é geral ou típico.
experiências vividas16. Nesta seção, duas varia- A tradição psicológica ou transcendental18
ções da primeira vertente, que alcançaram gran- opera de forma semelhante, identificando a ex-
de visibilidade no campo das investigações psi- periência vivida no material empírico coletado a
cológicas e em saúde, serão apresentadas. fim de descrever como os participantes vivenci-
No campo das pesquisas qualitativas em psi- am os fenômenos estudados. São identificadas
cologia e saúde, na perspectiva da fenomenologia declarações significativas que embasam agrupa-
empírica, pelo menos dois grandes modos de mentos de sentido, produzindo a descrição tex-
abordagem podem ser indicados: a) o primeiro, tural. Esta é submetida à variação imaginativa
mais fiel ao método husserliano, exemplificado para produzir a descrição estrutural, que apre-
tanto pela tradição mais estritamente descritiva12,17 senta como os participantes experienciaram o fe-
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nômeno em foco em termos das estruturas de estudos. Disease, utilizado para indicar as altera-
tempo, espaço, corpo e intersubjetivas. Da sínte- ções relacionadas com a estrutura funcional do
se das duas modalidades descritivas, textural e corpo, descreve o fenômeno do adoecimento visto
estrutural, resulta a estrutura invariante ou es- a partir da perspectiva de um observador exter-
sencial do fenômeno estudado. Como o conhe- no, que toma a doença como objeto de conheci-
cimento gerado na pesquisa fenomenológica é mento e intervenção. Sickness indica o processo
sempre resultado de uma perspectiva de exame, que atribui valor social, econômico, político a
a estrutura invariante ou essência pode ser sem- fenômenos identificados como doença e proble-
pre modificada ou completada por novas pes- mas de saúde22,23 e os torna socialmente signifi-
quisas que explorem outras perspectivas de aná- cativos. Illness engloba a perspectiva subjetiva/
lise sobre o mesmo fenômeno, não sendo, por- intersubjetiva de quem vivencia o sofrimento e o
tanto, equivalente a uma essência platônica21. modo como a pessoa doente, membros de sua
A Análise Fenomenológica Interpretativa19 família e mesmo pessoas que compõem uma rede
acrescenta esforço interpretativo aos conceitos social mais ampla vivenciam, percebem, nomei-
operatórios descritos acima. O objetivo é explo- am, significam, explicam, interpretam, negociam
rar em detalhes a experiência vivida dos partici- e compartilham alianças e sentidos22,24, indican-
pantes, e os modos como lhes dão sentido. O do a situação vivida, corporificada e situada em
trabalho de interpretação funciona segundo uma contextos culturais concretos. Traduzida aqui
dupla hermenêutica: como o participante dá sen- como experiência de adoecimento, a categoria ill-
tido para a sua experiência e como o pesquisador ness descreve a dimensão do processo de adoeci-
dá sentido para o trabalho de significação do par- mento que articula a autopercepção de mudan-
ticipante. O pesquisador trabalha, então, com dois ças na sensação corporal à rotulação de “doente”
objetivos: descrever como deve ser e compreen- pela pessoa em sofrimento, família ou membros
der o mundo dos participantes; e desenvolver uma da comunidade mais ampla. Histórias de vida,
análise mais abertamente interpretativa, que co- significados e ações dos sujeitos em busca da cura,
loca a descrição em relação a um contexto teóri- do tratamento, do restabelecimento e da nor-
co, cultural e social mais amplo, fornecendo co- malização das condições de existência perturba-
mentário crítico e conceitual para o esforço do das pela doença constituem-se aspectos integran-
participante de dar sentido a sua experiência. tes da própria experiência do adoecer.
Ambas as abordagens – a mais fiel ao método Os estudos sobre a experiência de adoecimento
husserliano, exemplificada acima pelas tradições buscam, a partir desta reconfiguração, conhecer
descritiva e fenomenológica psicológica/transcen- como o sujeito vivencia e narra uma determina-
dental, e aquela que mescla a perspectiva husser- da situação de adoecimento. O que se passa no
liana com a abordagem hermenêutica de Heide- meu corpo/mente? O quê e por que aconteceu?
gger e Gadamer, exemplificada pela tradição fe- Por que aconteceu comigo? Por que agora? O que
nomenológica interpretativa – são fundamental- fazer e a quem pedir ajuda? Estas são algumas
mente idiográficas, enfatizam o particular, a ex- das indagações que, dirão Kleinman e Benson25,
periência subjetiva “singularmente corporificada, quem vivencia qualquer experiência de adoeci-
situada, perspectivada”19. É importante salientar mento atravessa em algum momento, de modo
que o acesso à experiência singular, em ambos os particular.
caminhos metodológicos, é sempre parcial e com- Essa inflexão produzida por Kleinman no
plexo, construído pelo participante e pelo pesqui- campo dos estudos socioantropológicos sobre o
sador em interação e contexto. adoecimento repercute diretamente nos métodos
de investigação. Duas grandes tradições, com di-
A tradição e os métodos antropológicos ferentes objetivos, são claramente identificadas.
de estudo da experiência do adoecimento Uma terá como questão os aspectos simbólicos e
culturais que determinam as experiências parti-
Os estudos sobre a experiência do adoecimento culares vivenciadas pelos sujeitos adoecidos. A
ganham destaque a partir das décadas de 70/80, outra vai ocupar-se de como tais sujeitos conju-
com a Antropologia Médica. A diferenciação dos gam individualmente normas, valores, expectati-
termos disease, sickness e illness, indicada por vas sociais, culturais e coletivas e desenvolvem
Kleinman et al.6, frequentemente traduzidos de formas especificas de pensar, explicar, sentir e agir
modo indistinto para o português como “doen- nas situações que dizem respeito a seu adoeci-
ça”, impulsionou e redefiniu fronteiras previa- mento. Na primeira tradição o foco recai sobre
mente existentes, dando nova moldura a estes os sistemas ordenados de ideias, símbolos e repre-
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sentações que significam o adoecimento e os pro- anteriores, pessoais ou não, e as organizadas a


cessos de tratamento e cura, vividos individual- partir de eventos significativos interconectados ao
mente. Na segunda, as experiências e práticas coti- adoecimento por relação de contiguidade têmpo-
dianas dos sujeitos adoecidos são a questão. For- ro-experiencial. Menos reflexivas, se comparadas
temente marcada pela fenomenologia, a segunda às narrativas baseadas nos modelos explicativos,
tradição abrirá a possibilidade de conhecimento estas duas modalidades, todavia, também não
da experiência em primeira pessoa, ou seja, da garantem acesso direto à experiência não refleti-
dimensão singular da experiência subjetiva, fa- da, nem revelam de modo genuíno e sem media-
zendo do corpo fundamento da inserção do su- ção a experiência que é anterior ao conhecimento
jeito no mundo, ligando natureza e cultura e res- e à nomeação dos estados mentais e da reflexão,
saltando a anterioridade da ação sobre a reflexão. por serem produto direto de interação contextu-
Tornar o corpo “premissa metodológica” dos alizada pesquisador-participante. Como então
estudos sobre a experiência – objetivo da antro- produzir relatos que revelem esta dimensão da
pologia de inspiração fenomenológica – é, nas experiência subjetiva relacionada ao adoecimento
palavras de Csordas26, tomá-lo como a base exis- que é substrato das explicações e justificativas que
tencial da cultura e não como objeto a ser estu- se construirão sobre ela? Como produzir relatos
dado em relação à cultura. Os estudos sobre ex- capazes de revelar como tais experiências deter-
periência do adoecimento que fazem da corpo- minam a cultura e os sujeitos, ou seja, como pro-
reidade seu eixo paradigmático não estão especi- duzir relatos que explicitem o modo de produção
almente interessados na função social que dada dos processos de percepção e representação?
vivência de adoecimento teria para um sujeito ou
grupo, nem tampouco nos estados mentais que Experiência e Narrativa na Pesquisa
podem acompanhar tais experiências particula- em Saúde Mental de base fenomenológica
res. Estes estudos se propõem, através do conhe- e antropológica: estratégias metodológicas
cimento das múltiplas possibilidades de experi- para a produção de relatos
mentar um processo de adoecimento, conhecer em primeira pessoa
como estas vivências constituem a cultura e o
próprio sujeito. A análise de narrativas sobre ex- Davidson28 indica, no contexto da pesquisa
periências do adoecimento desloca-se da busca por em saúde mental, como provocar este tipo de
categorias representacionais, sua classificação e narrativa. Para ele, o desafio da produção das
diferenciação, para o conhecimento dos modos narrativas é tão relevante quanto o da sua análi-
de produção desses processos de percepção e re- se. Atribui importância não vista antes às orien-
presentação. A adoção da corporeidade enquan- tações e perguntas que devem dirigir o encontro
to paradigma libera a linguagem do domínio es- entrevistador/entrevistado, caso a dimensão cor-
trito da linguistica e semiótica e lhe atribui uma porificada e situada de uma experiência vivida
dimensão corporificada, rompendo dicotomias seja o que se busca. As regras gerais que apresen-
– mente/corpo, natureza/cultura – que por mui- ta em relação à produção das narrativas indicam
to tempo organizaram estes estudos. que não convém convidar o participante a expli-
Essa mudança de referência coloca um desa- car as experiências ou as ações relatadas, per-
fio para a produção das narrativas de experiênci- guntar-lhe por que faz tal ou qual coisa, ou mes-
as de adoecimento. As narrativas que se organi- mo convidá-lo a identificar fatores que influen-
zam a partir de núcleos de sentidos e significações ciam suas experiências. Se assim o fizer, o en-
relacionados à etiologia, sintomatologia, patofi- trevistador incitará a reflexão e a generalização, o
siologia, curso da enfermidade e tratamento, iden- que distanciará a narrativa da dimensão tácita
tificadas por Kleinman a partir das perguntas que da experiência. Muitas vezes tais cuidados apa-
observou acossar sujeitos adoecidos e por ele clas- recem sumarizados em máximas como: evite os
sificadas como baseadas em modelos explicati- por quês, utilize o advérbio “como”, evite pergun-
vos, são aquelas que, pelo forte caráter reflexivo, tas iniciadas com quê, quem, onde. Assim resu-
estariam mais distantes do momento em que cul- midos, tais cuidados são insuficientes. Perguntas
tura e sujeito se objetificam como percepção e re- do tipo “como é ter asma, ou diabetes, ou esqui-
presentação e revelariam pouco sobre seu modo zofrenia?”, ou “de que modo você interfere no
de produção. Young24 e Groleau et al.27 identifica- curso da sua doença?” continuam sendo pergun-
ram dois outros modos de construção de narra- tas gerais e vagas que provocarão generalizações.
tivas de adoecimento: aquelas por protótipos, A centralidade da produção de narrativas em
modeladas a partir de experiências de adoecimento pesquisas empíricas sobre a experiência do ado-
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ecimento, e não apenas da sua análise, como su- Apresentado desta maneira o sujeito experien-
gere Davidson, é compreendida mais facilmente cial/fenomenológico fica fora da possibilidade de
quando se examinam as noções de experiência e conhecimento pelas metodologias de investiga-
narrativa que embasam os estudos da antropo- ção empírica, que sempre pressupõem lingua-
logia médica centrados no método fenomenoló- gem e comunicação. A experiência e o sujeito da
gico, as relações que estas duas noções estabele- experiência de adoecimento e tratamento estuda-
cem e as outras noções que delas decorrem. dos com métodos da fenomenologia e da antro-
Galin29 sugere que a perspectiva da primeira pologia médica não se reportam a uma perspec-
pessoa defina não apenas o ponto de vista de quem tiva da primeira pessoa em sentido estrito35. Não
vivencia um dado fenômeno, mas indique, sobre- tratam de uma experiência pura porque já estão
tudo, um modo de descrevê-lo que articule consci- em interseção com a perspectiva da segunda pes-
ência, subjetividade e agentividade. Este entendi- soa35, com a intersubjetividade e com a lingua-
mento pode ser complementado pela definição de gem. Para comunicar a experiência subjetiva do
Varela e Shear30, que propõem que um evento des- processo de adoecimento, o sujeito precisa pro-
crito na primeira pessoa é uma experiência vivida duzir uma narrativa mínima, que coloque em
associada a eventos mentais e cognitivos e que se palavras este vivido. A despeito disso, este ainda
expressam, nesta descrição, como relevantes e ma- será um relato de uma experiência absolutamen-
nifestos para um sujeito que pode relatá-los. te singular, não necessariamente articulada ao
A definição sugerida por Varela e Shear30 in- universo de significados socialmente comparti-
troduz uma precisão fundamental do ponto de lhados. A narrativa que decorre dessa articula-
vista epistemológico e metodológico para a refle- ção já é produto do sujeito narrativo.
xão apresentada aqui. O acesso à experiência em O sujeito narrativo/hermenêutico32 é necessa-
primeira pessoa e o conhecimento que daí pode riamente reflectivo e intersubjetivo, depende do
ser gerado é sempre mediado pela linguagem. A pertencimento do indivíduo a uma comunidade
subjetividade que enuncia estes relatos é, portan- linguística, e expressa adesão a valores e significa-
to, acessível ao estudo empírico. Subjetivo não é ções ancoradas em uma tradição cultural. É cons-
idêntico a privado, ao contrário, é necessariamente truído na e através da narrativa, em um processo
aberto à validação intersubjetiva. Mesmo sob a aberto, sujeito a revisões e mudanças de rumo,
forma de diálogo interior, onde o sujeito reco- que acompanha a trajetória de vida do sujeito no
nhece, nomeia e organiza os eventos de sua vida tempo, oferecendo um relato que dê conta de suas
psíquica, a dimensão intersubjetiva está presente origens, seu desenvolvimento e destino. O que
porque a experiência consciente só pode ser reco- somos, nesta perspectiva, depende da estória con-
nhecida ou comunicada na condição de um do- tada por nós e pelos outros. Como lembra Ri-
mínio prévio do uso da linguagem31. coeur36, ao construir a narrativa de sua existência
A discussão acerca do acesso à experiência o sujeito produz o relato de uma vida do qual ele
em primeira pessoa ou à singularidade da expe- não é o autor quanto à existência e apenas é um
riência subjetiva pode também ser bem ilustrada dos coautores quanto ao sentido.
pela distinção, proposta por Zahavi32, entre o su- O sujeito narrativo/hermenêutico não é uma
jeito experiencial/fenomenológico e o narrativo/ abstração. Trata-se de um sujeito narrativo cor-
hermenêutico, noções intimamente articuladas às porificado37,38. Ele não se baseia exclusivamente
de experiência e narrativa. nos recursos oferecidos pelo universo represen-
O sujeito experiencial/fenomenológico32 é um tacional. A ancoragem corporal contribui para a
aspecto ou função do modo de doação da expe- estrutura da experiência como perspectiva inter-
riência a uma forma de corporificação imersa no na contínua no tempo. Experiências corporifica-
mundo, estabelecendo uma centralidade de pers- das possuem uma qualidade pré-narrativa que
pectiva. É um sujeito básico, pura experiência, constitui uma “demanda por narrativa”39. A nar-
sem reconhecimento ou reflexão, uma realidade rativa faz parte da vida antes de se exilar na escri-
experiencial imediata da consciência pré-reflexi- ta, sugere Ricœur36.
va e tácita dos próprios estados mentais e corpo- O sujeito narrativo/hermenêutico pode trans-
rais e do mundo circundante, que não é uma formar-se quanto a suas crenças e aparência físi-
pré-condição transcendental da experiência nem ca, mas se mantém ancorado em uma perspecti-
construto narrativo reflexivo sobre ela. Trata-se va subjetiva corporificada. Ele elabora uma con-
de uma presença primária, uma autoafecção que cordância discordante36, sintetizando o heterogê-
simplesmente acontece, um sentimento básico do neo através da mediação entre os eventos, a ação
existir como um centro vital da experiência33,34. e o encadeamento da história narrada.
2946
Leal EM, Serpa Junior OD

O sujeito narrativo/hermenêutico ilumina o Para acessar a dimensão da experiência, o


entendimento que Kleinman22 propôs para a ex- entrevistador terá que incentivar o participante a
periência do adoecimento como resultante da dia- retornar à sua própria experiência e espontanea-
lética entre significação pessoal e categoria cultural, mente descrever o que aconteceu, da maneira
por um lado, e materialidade bruta dos processos como se lembra de que isso aconteceu. Como
biológicos, por outro. Articulam-se elementos que fazer isso? Solicitando que relatem eventos mar-
vão desde a experiência vivida corporalmente en- cados no tempo e no espaço, através de reme-
raizada, passando pelo conjunto de recursos sim- moração vívida, quase sensorial, de algo experien-
bólicos disponíveis para lhe conferir algum senti- ciado. O entrevistador guia o participante rumo
do, chegando aos discursos especializados sobre o ao encontro do contexto da situação vivenciada:
adoecimento que impactam o sujeito. o lugar, as circunstâncias, as sensações corporais
Good40 afirma que as narrativas de experiên- que viabilizam a presentificação da situação es-
cia de adoecimento são uma dimensão intrínse- pecífica. Em outras palavras, o entrevistador aju-
ca à experiência vivida e corporificada. Moldam, da o sujeito da pesquisa a fazer emergir uma “fala
constituem e reconstroem a experiência de adoe- encarnada”, como formula Vermesch41, pesqui-
cimento, fornecendo diferentes contornos ao vi- sador francês que propôs a Entrevista de Explici-
vido subjetivo. Como visto acima, a experiência tação, técnica de entrevista não estruturada que
pura é inaccessível ao conhecimento do outro e, visa à verbalização introspectiva da dimensão
em alguma medida, do próprio sujeito que a vi- procedural e implícita da ação.
vencia. A narrativa se manifesta apenas a partir Em relação à análise, a observação das refe-
do momento em que a experiência atravessa a rências e dos cuidados metodológicos gerais pro-
esfera da consciência pré-reflexiva para o campo postos na segunda seção é fundamental. Entre-
da reflexão. O ato de contar a história (storyte- tanto, autores mais especialmente interessados na
lling) de adoecimento e vida necessariamente cria dimensão vivida das narrativas – no campo da
alguma distância da experiência vivida corporifi- saúde mental – Davidson28,42, Corin e Lauzon43,
cada e inaugura o processo de autoconhecimen- dentre outros – têm proposto o envolvimento
to. A narrativa, entretanto, pode sim revelar esse dos participantes na interpretação dos dados. Esta
momento chave em que sujeito e objeto de co- participação, todavia, não se restringe a um cui-
nhecimento constituem-se mutuamente, num só dado metodológico – legítimo, diga-se de passa-
tempo, explicitando o entrelaçamento entre cor- gem – com a validação dos dados e da análise. Os
po, sujeito, experiência, linguagem e cultura4,40. participantes não são aqui chamados a ocupa-
O desafio do investigador interessado nesta pers- rem uma posição reflexiva diante da análise e in-
pectiva da experiência é, então, buscar estratégias terpretação produzidas pelo pesquisador, mas a
metodológicas que garantam a produção desta expressarem as experiências que têm diante da
modalidade específica de relato. síntese analítica oferecida pelo pesquisador42.

Colaboradores

EM Leal e OD Serpa Junior trabalharam na con-


cepção e na redação do artigo.
2947

Ciência & Saúde Coletiva, 18(10):2939-2948, 2013


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Artigo apresentado em 17/03/2013


Aprovado em 30/05/2013
Versão final apresentada em 27/06/2013

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