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História da Ciência

BELTRAN, Maria Helena Roxo et al. História da Ciência para formação de professores. São Paulo: Editora Livraria da
Física, 2014.

“Buscar a construção de interfaces entre História da Ciência e ensino exige aprofundamentos na análise e busca de
compatibilidades entre tendências pedagógicas e perspectivas historiográficas. Isso porque as relações entre História da Ciência e
ensino não se estabelecem por meio de aplicações de modelos da filosofia da ciência ao planejamento de atividades didáticas ou à
leitura ingênua que estudantes e professores possam fazer de textos ou de experimentos propostos por pensadores do passado,
como muitas vezes se tende a considerar”. (p.10)
A construção de relações entre HC e ensino só é possível a partir da compreensão do que seja a HC.

CAPÍTULO 1 – O OFICIO DO HISTORIADOR DA CIENCIA

Area de HC: institucionalização a partir do início do séc XX. Ao longo do séc XX manifestou os 4 componentes fundamentais
para que ocorra a institucionalização de qq área de conhecimento: ensino, pesquisa, divulgação e aplicação do conhecimento
(Alfonso-goldfarb e ferraz).

“História da Ciência é o estudo da(s) forma(s) de elaboração, transformação e transmissão de conhecimentos sobre a natureza, as
técnicas e as sociedades, em diferentes épocas e culturas.” (p.15)
da(s) forma(s) de elaboração, transformação e transmissão de conhecimentos = objeto da epistemologia
conhecimentos sobre a natureza, as técnicas e as sociedades, em diferentes épocas = objeto da história
conhecimentos sobre a natureza, as técnicas e as sociedades, em diferentes culturas = objeto da sociologia
Cada abordagem sozinha não dá conta de acordo com perspectivas atuais (que levam em conta a contextualização dos processos de
elaboração, transmissão e adaptação de conceitos

Proposta do CESIMA (grupo dos autores): “teria a construção de seu objeto na interface entre a epistemologia, a história e a
sociologia. Então, o que caracteriza uma pesquisa em História da Ciência seria a análise do objeto – forma(s) de elaboração,
transformação e transmissão de conhecimentos sobre a natureza, as técnicas e a(s) sociedade(s) – em três esferas: epistemológica,
histórica e contextual (ciência e sociedade)” (p.16-17)

Com base em Canguilhem e outros, os autores afirmam: “a História da Ciência tem objeto próprio, constituindo uma área
específica de conhecimento, interdisciplinar por excelência. Uma área que, embora distinta da história, da sociologia, da ciência,
da epistemologia e da filosofia da ciência, estabelece interfaces com estas e outras áreas, pela natureza de seu objeto” (p.17)
Fontes: originais (primarias) são textos, imagens e documentários da cultura material; literatura secundária (fontes secundárias) =
trabalho de autores.
Perspectiva historiográfica é a forma de escrever a história.

“Na perspectiva historiográfica tradicional, o passado é visto com os olhos de hoje. Admite-se que a ciência teria se desenvolvido
progressiva e linearmente. Nessa perspectiva, a História da Ciência representaria o progresso do espírito humano e da sociedade.”
(p.20)

“No século XV, as técnicas eram chamadas artes. A ideia de belas-artes que temos hoje só começou a ser formulada no século
XVIII”. (p.26)

Formação do historiador da ciência: exige preparo específico e especializado. “O ofício do historiador da ciência não é construído
pela soma de diferentes formações, mas sim pela abordagem interdisciplinar exigida pelo objeto próprio da História da Ciência”
(p.29)

CAPÍTULO 2 – HISTORIOGRAFIA DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

HC: não está pronta e acabada. É reinterpretada e reescrita de tempos em tempos.


Historiografia: escrita da história.

“Cabe observar que grande parte do material de História da Ciência disponível aos professores de ciência encontra-se
defasada, visto que está baseada numa historiografia que remonta ao início do século XX. “ 9p.32
“Naquela época, a História da Ciência ainda se ocupava das grandes narrativas e era influenciada por uma visão positivista da
ciência. A História da Ciência propunha não só registrar descobertas, mas também explicar o progresso do pensamento, razão pela
qual historiadores, tais como Marcelin Berthelot (1827-1907) e Pierre Maurice Marie Duhem (1861-1916) realizaran
levantamentos bibliográficos.” (p.32)

Georges Sarton: principal articulador da institucionalização da HC. “Para Sarton, o propósito da História da Ciência, da forma
como ele a concebia, era a de estabelecer a gênese e o desenvolvimento das ideias e dos fatos científicos considerando todas as
modificações e influências trazidas pelo progresso da civilização.” (p.33) [positivista]

Historiografia da C tradicional: i) narra uma história da ciência linear e progressista; ii) tem como modelo as ciências físicas
(mecânicas) e matemáticas; iii) seleciona no passado apenas aquilo que parece ter permanecido; iv)Dá ênfase em erros e acertos;
v) busca os ‘precursores’ e os ‘pais’ da ciência moderna; vi) parte da distinção entre ‘ciência’ e ‘pseudociência’;
Ex.: a alquimia, a astrologia e a magia natural (importantíssimas no passado e fundamentais para o desenvolvimento da nova
ciência ) não poderiam compor a HC e ganharam alcunha de pseudociências.
“O resultado desse modelo historiográfico continuísta, que obrigava a ciência a olhar para o passado e selecionar apenas o que
havia permanecido, é anacrônico e indica que todo o conhecimento do passado tinha como objetivo evoluir para chegar à ciência
de hoje. Como consequência, tem-se uma história feita pelos grandes nomes da ciência, verdadeiros gênios solitários que se
tornariam os ‘pais’ ou ‘precursores’ de uma determinada área do conhecimento, desconsiderando toda a complexidade do fazer
científico, os debates ocorridos, a convivência de diferentes ideias num mesmo período e mesmo as influências sociais e
econômicas que norteiam a ciência” (p.35)

Perspectiva tradicional continuísta: hegemônica durante o início do século XX. Porém a partir da década de 30 esse modelo
continuísta começou a sofrer alguns abalos. Autores citam:
- Estudos de Lynn Thorndike (1882-1965) que pensava a transformação da ciência a partir de uma perspectiva operativa
(fornecedo um leque de possibilidades que iam da magia ao experimentalismo)
- Estudos de Boris Hessen (1893-1936): apresentado no II Congresso Internacional de História da Ciência e da Tecnologia
(realizado em 1931 em Londres). “as raízes sócio-econômicas dos Principia de Newton” neste trabalho o autor aplica o método do
materialismo histórico-dialético e da concepção do processo histórico formulado por Marx. Hesse procura examinar a gênese e o
desenvolvimento dos Principia em relação ao período em que ele trabalhara e vivera.
- Estudos de Bachelard (1884-1962): aponta presença de rupturas.
“Embora continuístas, ambos se opõem ao modelo sartoniano.” (p.36)

Internalismo: “A corrente internalista pressupõe que a ciência seja autônoma, neutra e tenha uma dinâmica própria, independente
da sociedade que a gerou” (p.37)
Externalismo: “Já a perspectiva, a externalista, analisa a ciência como uma atividade humana que, para ser compreendida, precisa
ser estudada no conjunto social, político e econômico da época”. (p.37) Bernal abriu caminho para a história social da ciência.

“Uma historiografia centrada apenas na análise interna de um documento é anacrônica e não permite que sejam avaliadas as
condições próprias de uma época na qual aquele conhecimento foi produzido” (p.38)

Limites do internalismo/externalismo: “Dessa forma, o que surge é o resultado e não o processo de construção da ciência, e que
acaba gerando a ideia de que os conhecimentos atuais são melhores e mais bem elaborados do que os do passado. Por outro lado, a
perspectiva externalista não privilegia o debate entre diferentes teorias que envolveram estudiosos de um determinado período e
elimina toda a complexidade envolvida no processo do fazer da ciência” (p.38)
Conclusão: ambas as perspectivas devem ser consideradas. Debate perde o sentido.

Crítica a Bachelard: “Embora Bachelard tenha rompido com a visão continuísta e acumulativa do desenvolvimento da ciência, sua
ideia de progresso científico continuou fundamentada no positivismo. Além disso, para Bachelard, a história deveria ser contada a
partir das ciências do presente, ou seja, daquilo que havia permanecido” (p.39)
Whig = presentismo

Butterfield (1900-1979): seu trabalho apontou que historiadores tomam partido do presente (whig)

Koyré: “Embora seus estudos privilegiassem uma história intelectual e ele insistisse na ligação íntima entre a ciência e o
pensamento filosófico, não descartava a importância da história, já que esta evidenciaria o ‘progresso glorioso’ das ideias
científicas. Seus trabalhos contribuíram para o estabelecimento da filosofia da ciência”. (p.41)

Ruptura com a história continuísta: obra de Kuhn (Estrutura)


- Kuhn relativista : acusação devido a imprecisões de suas ideias
“Para a História da Ciência abriram-se novas possibilidades, pois permitiu que a ciência fosse estudada no contexto de sua
produção, buscando o historiador compreendê-la como fruto de uma determinada cultura, num dado período de tempo, deixando-
se de lado a ideia de pseudociência e dos grandes precursores”. (p.41-42)

Novas perspectivas: Frances Yates e Walter Pagel. Hermetismo e alquimia presentes


Rattansi: “Essa perpectiva historiográfica articula-se com as propostas de Canguilhem que retoma a ideia de ruptura admitida por
Bachelard, mas acrescenta que há ideologias próprias por trás das diferentes visões historiográficas. De acordo com o
epistemólogo, estudiosos com formações, filiações ou relações institucionais diferentes produzem histórias da ciência de modos
diferentes” (p.46)
“Essa nova abordagem historiográfica delineada por Pagel, Canguilhem, Debus e Rattansi proporcionou o desenvolvimento de
uma nova historiografia que propicia análises não continuístas, mas sem negligenciar as permanências” (p.46)
“A nova abordagem historiográfica propõe mapear e contextualizar os conhecimentos do passado, considerando-se não só as
continuidades mas também as descontinuidades”. (p.46)

CAPÍTULO 3 – HISTÓRIA E EPISTEMOLOGIA DA CIÊNCIA

Epistemologia da ciência: ramo da filosofia que analisa as condições e os limites da validade dos conceitos científicos.

“De certa forma, a própria História da Ciência tem revelado diferentes epistemologias que legitimaram diferentes conhecimentos
no passado.” (p.50)

“As diferentes epistemologias da ciência que propuseram explicar o desenvolvimento da ciência, notoriamente aquelas propostas
por Bachelard, Karl R. Popper (1902-1994), Kuhn (1922-1996), devem também ser contextualizadas e analisadas segundo
concepção de conhecimento de suas respectivas épocas, visto que tais propostas estão ancoradas a certos pressupostos discursivos
próprios de uma época”. (p.51-52)
Os autores apontam que a epistemologia de Bachelard e Kuhn não dão conta da HC (obstáculos epistemológicos e mudança de
paradigma). Acusam ambos de possuir uma concepção de ciência de viés positivista.

Neopositivismo: teset empírica clássica de que a sensação é a única fonte de conhecimento existente. Os neopositivistas viam na
ciência uma trama de proposições logicamente ordenadas.

Bachelard: afirmou que o instrumento de análise privilegiado da epistemologia não era a lógica mas a HC, [a form esp cientif]
Faz um // com Comte com seus 3 estados. VER FORM ESP CIENTIF.
O ato de conhecer dava-se contra um conhecimento anterior.
“Em suma, para o historiador da ciência, a epistemologia de Bachelard rompera com uma concepção cumulativa e linear do
conhecimento, embora ainda admitisse a noção de progresso científico” (p.62)

Popper: as teorias científicas não se acumulavam como mera sequência umas das outras, mas uma suplantava a outra. Uma
hipótese era uma conjectura que poderia ou não ser refutada. A verdade não era dada pelos fatos mas pelas teorias uma vez que
toda observação seria norteada por elas. O conhecimento progrediria sempre para teorias mais verdadeira num contínuo processo
de conjecturas e refutações.

Kuhn: paradigma ->forma de justificar a descontinuidade da ciência.


“Dizer que duas teorias eram incomensuráveis não significava necessariamente que não fossem passíveis de compactação, mas que
essa comparação não poderia ser feita através de uma redução ou de outros métodos habitualmente discutidos no contexto da
filosofia da ciência.” (p.72)
“O termo ‘paradigma’ é utilizado com muita cautela pelos historiadores, visto ter se transformado numa daquelas palavras mágicas
que explicam tudo”. (p.73)
Os autores apontam que “na perspectiva da História da Ciência não encontramos no passado pessoas dedicadas, de modo
consciente, a promover mudanças de paradigma, nem mesmo superando obstáculos epistemológicos” (p,73). Autores indicam a
necessidade de contextualizar a ideia de progresso.

Epistemologia também é histórica: “Isso, entretanto, não significa que a epistemologia evoluiu ou se aprimorou ao longo dos
tempos, mas que as bases do que é conhecimento válido devem ser consideradas no contexto em que o conhecimento foi gestado”.
(p.75).

CAPÍTULO 4 – CIENCIA, TECNICA E TECNOLOGIA DESDE AS ORIGENS DA CIENCIA MODERNA.

Antes do séc XIX não existiam “cientistas”.


“Aquilo que hoje reconhecemos como ciência, ou seja, a ciência moderna, teve sua origem por volta dos séculos XVI e XVII e é
ligada a essa nova ciência, filosofia natural, magia natural, ou filosofia experimental” (p.77)

“Num extremo, encontravam-se aqueles que defendiam que esta ciência deveria retornar e complementar os conhecimentos
clássicos, aqueles da Grécia antiga. Num outro, pensadores que defendiam que esses antigos conhecimentos deveriam ser
descartados e que se deveria fundar a ciência moderna sobre novas bases, partindo da própria natureza”. (p.78)

“Sem dúvida, a ciência moderna é diferente da ciência (scientia) que a antecedera, porém essa diferença deve ser entendida num
contexto em que todas essas mesmas questões de naturea epistemológica, filosófica, científica, metodológica, religiosa, entre
muitas outras, estavam em jogo. Aliás, os protagonistas da ciência moderna nem sabiam ao certo a que tipo de ciência se chegaria,
embora todos estivessem envolvidos num mesmo ‘projeto’” (p.79)

Ciência antiga e moderna: “Segundo uma História da Ciência de vertente historiográfica atualizada, essas duas expressões de
conhecimento da natureza são diferentes porque estão ancoradas em concepções diferentes de ciência” (p.82)
“[...] a ciência moderna não é um aprimoramento de uma ciência antiga, visto que elas não só colocam diferentes preocupações
referentes à natureza, às técnicas e ao homem”. (p.82)
 Surgimento da ciência moderna não é tão simples como aponta a historiogr tradicional (abandono a metafisica/religião ao
contemplativo em troca pelo operativo)
“Foi num contexto em que antigos e variados conhecimentos começavam a chegar ao ocidente latino, que passava por grandes
mudanças sociais, políticas e econômicas que nasceu a ciência moderna”. (p.85)
“Foi num profícuo diálogo com o passado que a ciência moderna encontrou seu caminho e procurou renovar suas bases” (p.86)
“O ressurgimento das doutrinas platônicas, neoplatônicas e pitagóricas conduziria os estudiosos da natureza a darem um enfoque
mais quantitativo à natureza, que aliado às novas concepções de experiência e experimento, moldariam o fazer científico a partir
do século XVII.” (p.91)

Ciência, técnica e tecnologia


 “Tecnologia, em linhas gerais, era entendida como ‘estudo da arte do discurso’ até o século XVII”. (p.93)
 “Épocas diferentes entenderam a techné de formas diferentes” (p.94)
 “Diferentemente da filosofia natural que buscava generalizar e mesmo classificar os fenômenos naturais num processo de
verticalização do conhecimento, a techné era um tipo de saber que se desenvolvia horizontalmente na medida em que novos
problemas práticos precisavam ser resolvidos. A techné, assim, era um conhecimento que se desenvolvia na tensão entre o
saber e o fazer.” (p.94-95)
 Não confundir techné com ciência aplicada!!!
 “No século XIX surgiu o ‘cientista’ que não era mais filósofo natural, mas especialista de campos de conhecimento cada vez
mais complexos e específicos” (p.97)
 “À medida em que o século XIX avançava, áreas de conhecimento como a química, a física, a matemática e a biologia
começaram a ocupar lugares próprios e específicos na ciência moderna. Também surgiu aí o ‘cientista’, que não era mais
filósofo natural, mas especialista de campos de conhecimento cada vez mais complexos e específicos. Tampouco era o antigo
virtuoso, mas um profissional que vivia de fazer ciência”. (p.97-98)
“A partir da década de 1930, a relação entre ‘ciência pura’ e ‘ciência aplicada’ seria novamente substituída pela relação ciência e
tecnologia. Diferentemente do que ocorreu com a techné, que passou a designar apenas conhecimento meramente técnico, a
‘ciência aplicada’, que muitas vezes era desenvolvida em laboratórios patrocinados por grandes indústrias, passou a ser
desenvolvida por especialistas cada vez mais sofisticados. Esses especialistas, entretanto, não eram cientistas que se dedicavam à
investigação nas ‘ciências puras’. Eles eram engenheiros que tinham formação científica e se se dedicavam não só a ‘aplicar’
conhecimentos científicos, mas também desenvolver nossos conhecimentos essencialmente tecnológicos. Desse modo, cientistas e
engenheiros passaram a debater sobre o papel da ciência de base (isto é, a ciência pura) na inovação técnica.” (p.98)

Bruno Latour: nova vertente que estuda CTS (estudos sociais da ciência). Estudos da ‘caixa preta’.
“Nesta perspectiva, a ciência e a tecnologia são consideradas ‘caixas-pretas’. Elas ocultam as controvérsias, as disputas, as
decisões, as concorrências entre muitos outros fatores que fazem parte do próprio fazer científico e tecnológico, dando a elas um
caráter neutro e frio. Em outros termos, a ciência e a tecnologia ocultam as redes de relações que fazem delas uma atividade
humana, socialmente orientada.” (p.99)
 segundo autores: essa perspectiva pouco contribui para pensar o passado, visto dar conta das questões relacionadas a CTS do
sec XXI.
 “Entretanto, se analisarmos as relações entre ciência, técnica, tecnologia e sociedade, de forma historicamente contextualizada,
veremos que tais relações são muito mais ricas e menos evidentes do que revelam os estudos centrados apenas em questões
modernas”. (p.99-100)

“Não podemos dizer que a tecnologia é um aprimoramento da techné, assim como não podemos afirmar que a ciência moderna é
um aprimoramento da antiga”. (p.100)

CAPÍTULO 5 – HISTORIA DA CIENCIA E ENSINO

“Alguns autores consideram as possibilidades de interfaces entre História da Ciência e ensino em termo de aproximações e
distanciamentos entre formas de construção e/ou reconstrução de conhecimentos”. (p.102) [giordan e vecchi/ pozo e crespo]

Matthews: “levam em conta as contribuições da História da Ciência, tendo em vista o desenvolvimento da visão sobre a natureza
da ciência na formação dos estudantes” (p.102)

“As pesquisas mais atuais em História da Ciência norteiam-se por abordagens e metodologias de análise de documentos que
focalizam interações de aspectos epistemológicos, historiográficos, sócio-históricos e culturais nos processos de elaboração,
transmissão e transformação de conceitos científicos” (p.103)

“Entretanto, o planejamento de cursos e sequências didáticas para colocar em prática interações e recomendações sobre o uso da
História da Ciência no ensino constitui uma empreitada bastante complexa, já que compreende a construção de interfaces entre
pelo menos duas áreas distintas, elas próprias interdisciplinares” (p.103)

“[...] para a investigação e análise de possíveis interfaces entre ensino e História da Ciência, deve-se, antes de qualquer coisa,
localizar os pontos comuns entre essas áreas de pesquisa distintas, considerando-se o objeto de estudo, para que se possa
estabelecer novas e coerentes malhas teóricas.” (p.104)

“[...] o objeto de estudo da pesquisa em educação em ciência é o processo de ensino-aprendizagem do conhecimento, o que abarca
as formas de elaboração, transformação e transmissão desse conhecimento, formas estas que também são consideradas na pesquisa
em História da Ciência”. (p.105)

“Considerando a concepção de conhecimento como objeto comum à pesquisa em ensino e em História da Ciência, podem-se
analisaras possíveis interfaces entre esses dois campos a partir da identificação de tal conceito em diferentes tendências
pedagógicas e propostas historiográficas” (p.105) [pensar // entre pedagogia histórico-critica com HC]

Primeiras déc sec XX: concepção trad ed escolar Brasil. Grande aproximação entre tendências tradicionais e a HC continuísta e
progressista.

“Considerações mais profundas sobre formas de interação entre História da Ciência e ensino só voltariam a ser valorizadas nos
anos 1980, a partir de novas perspectivas tanto no campo da educação quanto no da História da Ciência”. (p.107).

“No que diz respeito aos textos didáticos, nem mesmo a grande valorização da atividade científica na educação dos jovens, que
viria com o movimento norte-americano de renovação do ensino de ciências da década de 60 levou em conta as contribuições que
a História da Ciência teria a oferecer” (p.108)

PSSC e outros projetos: “Seguindo o guia e passando por cursos de treinamento, o professor seria capaz de conduzir seus
estudantes pelo método da redescoberta” (p.108)
 expectativa de que os jovens aprenderiam a pensar como os cientistas ao aplicar o infalível método científico.
 Visão neutra de ciência era passada, sem nenhuma vinculação com a sociedade (sobretudo desde as bombas de 1945).
 “Coerentemente, nas raras vezes em que alguma menção à História da Ciência aparece nesses textos, ela se restringe a
biografia de cientistas, pautadas na visão de ciência como progresso contínuo” (p.109)
“Entretanto, os projetos norte-americanos contribuíram para se pensar em novas formas de ensino de ciências e constituíram o
germe de algumas iniciativas nacionais na década de 1980, como, por exemplo, o PEF (Projeto de Ensino de Física) e o
PROQUIM. Como seria de se esperar, a presença da História da Ciência é mínima nesses projetos inovadores brasileiros.” (p.109)
[baseadi em NARDI]
Instrução programada: tecnicismo. HC não é valorizada.

“Mas, se nessa tendência tecnicista e conservadora a História da Ciência, de modo geral, não teve lugar de destaque, tampouco as
tendências mais progressistas da educação brasileira, tal como a pedagogia freireana e a crítica social dos conteúdos utilizaram-se
plenamente das potencialidades da História da Ciência na educação” (p.109) [discordo]

Letramento científico: durante os anos 1980 passaram a se intensificar propostas de ensino enfatizando alfabetização, alfabetismo
ou letramento científico.
 “Aparentemente, o foco do ensino no letramento científico seria retirado do conteúdo estrito de ciência, passando a contemplar
também o ensino sobre ciência. (p.110)

Mathews (2012): defende ensino de HFC com abordagens de “características da ciência”.

“De todo modo, o foco da abordagem de história e filosofia da ciência no ensino encontra-se especialmente voltada ao fazer
interno, à ‘natureza da ciência’, ligando-se, assim, mais enfaticamente à filosofia da ciência” (p.110)

“Sem dúvida que a História da Ciência também lida com conceitos científicos. Entretanto, diferentemente da filosofia da ciência,
não os reduz aos aspectos formais da ciência moderna”. (p.113)

Sobre abordagem CTS: “Entretanto, nas propostas de ensino ligadas a essa abordagem, as ‘caixas pretas’ que se procura abrir são
ligadas a conhecimentos tecnológicos atuais, deixando pouquíssimo espaço para as discussões em História da Ciência” (p.114)

Críticas ao construtivismo: paralelismo (Piaget e Garcia) criticado pelos autores. “De fato, seria absurdo comparar o complexo
pensamento de Aristóteles ao de uma criança. Nem o pensamento de Aristóteles é infantil, nem as crianças deveriam ser
consideradas como pequenos filósofos gregos” (p.116)
->concepções prévias: professor papel ativo ao questionar as concep previas e favorecendo rupturas com ideias estabelecidade e a
levar a construção do conceito científico. Compatível com a tendência historiográfica das autoras.

“De fato, buscar a construção de interfaces entre História da Ciência e ensino exige aprofundamentos na análise e busca de
compatibilidades entre tendência pedagógica e perspectivas historiográficas. Assim, as relações entre História da Ciência e ensino
não se restringem a aplicações de modelos da filosofia da ciência ao planejamento de atividades didáticas ou à leitura ingênua que
estudantes e professores possam fazer de textos ou de experimentos propostos por pensadores do passado”. (p.117-118)
d

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