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Rabelais Gargantua Ed Europa America Portugal PDF
Rabelais Gargantua Ed Europa America Portugal PDF
I - Fábulas, La Fontaine
2 - A Canção de Rolando
3 - Gargântua, Rabelais
GARGÂNTUA
RABELAIS
GARGÂNTUA
PUBLICAÇ0ES EUROPA-AMERICA
Título original: Gargantua
Capa: estúdios P. E. A.
Execução técnica:
Gráfica Europam, Lda.,
Mira-Sintra- Mem Martins
Pág
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
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R,1BELAIS
10
GARGÍINTUA
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RABELAJS
VICTOR HUGO
(Extraído de William Shakespeare)
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INTRODUÇÃ O
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RIIBEL!11S
humanista.
Genealogia às avessas
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Gi\RGÂNTUA
«Gargântua» e os teólogos
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RABELAJS
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GARGÂNTUA
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RABELAJS
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GIIRGÂNTUII
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GARGÂNTUA
A arte e a vida
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RABELAJS
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CARCÂNTUA
O presente texto
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A VIDA MUITO HORRÍFICA
DOGRANDEGARGÂNTUA
Pai de Pantagruel
AOS LEITORES
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NOTAS
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PRÓLOGO DO AUTOR
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RllBELAJS
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G;\RGÂNTUA
NOTAS
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RJ\BELAIS
bres carnudas como as vacas, patas albardada.• como os burros, bodes voadores
e veados entre varais atrelados c omo cavalos. Platão, no Banquete (21 5 A), ape:
nas escreveu: «Digo qu e ele (Sóc rat es) é mu i to semelhante a esses Silcnos ex
postos nas l oj a s dos cstatuií1'ios c qu e os arti sta s representaram ostentan do gai
tas campestres c flautas. Quando se separam as duns peças qu e formam essas
estatu etas, d e sco bre- s e no interior a imagem de u m deu s.» Silcno, pai nu
triente de Baco, era n�prcscRtado como um bob � hilariante e grotesco.
3 Bálsamo de Mec a, suco resinoso. - Ambar cinzento, sccr<.>ção do cacha
lote, a que Rabclai s chama «esperma de baleia» no Pantagruel (cap. XXN, p.
321 ). - Amomo, p la n t a odorífera dn Á sia. - Alm{scar, produto odmífcro ex
traído do gato-almiscareim. - Civeta, pequ eno cnrnívoro de que se extraía
um p e r fu me. - Pedrarias, os boticários mi stu ravam pedras preciosas com ex
cipic ntes, como remédios «parn reparar os espíritos vi tais . . . por causn da sua
luz que sim bolizn os espíritos» (Guillau me Bouchet). Estas drogns faziam
realmente pm"ic da f n rm acopeia da época, bem como os remédios bizarros cita
dos por M o nta i gne (Enwicm Ir, :{7).
4 Este elo gi o de Sócrates, el e acordo com os retratos dcixndos por Platão
(cf. O Banq uete) c Xc nof(m tc , é insp irad o (c por vezes trnduz ido) cm Erasmo,
Adágios, Silenni Alcibiadi.� (Ir r, 2, 1 ), que tamMm eleve ler s ido a fonte de Mon
t ai gnc. A co m paraçüo entre Sócrates c Sileno era muito popular nos hu ma
nistas.
6 Os espa nhó is eram célebres peln sun vale ntia c a sua basófia (cf. a figu
ra elo Matn m ou ros cm L'Illusion Co miqu e de Corncille).
7 Os humanistns consideravam a Iilosofia ele P itágo ras como cheia de
símbolos, como també m os mistél -i os de Orfeu.
B At ribu ía-se a P lu ta rco um tratado sobre a vida e a poesia de Homero.
9 Alus ão ao t ra t ado De Alegoriis apu d Homerum (Alegoria.� homéricas)
de um gram á ti co latino, Herô.clides do Ponto.
!O Eu s t áci o, arcebispo de Tc ss alónica (séc'Ulo Xll), escrevera um comentá
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CAPÍTULO I
DA GENEALOGIA E ANTIGUIDADE
DE GARGÂNTUA
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RABELAJS
NOTAS
I O ca pítu l o I do Pan tagruel ( 1 5a2), i ntitu l ado «Dn origem c anli gu i dadc
do !,'!'an de PantagJucl .. , co m p reen de u m a lo nga ge nealogia cm que se mistu
ram os gi gan t e s b1blicos, os gigantes a n t igos c os perso n age n s de romance.
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Gi\RGÂNJVA
2 Esta tra nsferên c i a do i m pério dos ass írio s para os li·anccscs não pa re
cia fan t asist a nos conte m porâ neos de Rabelni s ; n ã o só os escritores (Jean Bou
chct, M argarida de N a v a rr a ) co mo tam bém os j u d stas a i nvoca vam para fu n
damentar as prete n s õe s de Fra nci sco I ao i m péJio - por gregos deve entender
-se o império b iz a n ti no , destru ído pelos turcos cm 1 4 5a.
3 Duplo sen tido: d i abo s c calu n i a dores (da cti m olo !,ri a grega, õwj3<iÂ.Â.ro:
·
calu ni a r).
4 E ru d i çã o fa ntasista: a i nda hoje o al fabeto et ru sco n ã o est á deci frado
com segurança , c não t e m n a d a de comu m com o l a ti m : Hic bibitur (Aqui bebe
-se). Mas será o grande tllmulo ele bronze pu ra me n te i mn!,ri mirio ou trntnr-se-
-á de um tú mu l o real a m p l i a do pei a i m a gi n aç ã o do ro manci sta, como o sepul-
cro de Geojfroy dente-gra.nde ou o dól men de Ú!. Pierre Leuée ? (cf. Panta
gruel, cap. V, p. 87).
5 Letras u s a d a s n a c h a n ccl n r i n papal, cu rsivo mu itas vezes ilcgfvcl.
6 Re fe rê nc i a fantasista a Ar; stótelcs: os peda n tes rcfer;am-sc c m tu do
às su ns obras.
7 B a ga telas providas de u m a n tí d o to .
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CAP ÍTULO II
AS BAGATELAS COM ANTÍDOTO,
ENCONTRADAS NUM MONUMENTO ANTIG01
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GARGÂNIUA
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RABELAIS
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GARGÂNIUA
NOTAS
1 As Bagatelas são um <<enigma», género literário que estava cm moda
no século XVI. Thomas Scbillet, na sua Arte Poética, define o enigma como
uma <<alegoria obscura». O jogo consiste em descrever um tema banal co m
grande profu são de imagens incoerentes . O poeta da corte Mel lin de Saint-Ge
lais foi especialista nesse género. O capítulo LVIII do Gargântua, <<Enigma em
profecia», reproduz um poema de Saint-Gelais, que Gargântua interpreta
como <<O decurso e a manutenção da verdade divina», ao passo que frei Jean só
vê nele uma <<descrição do jogo da péla sob palavras obscuras». O enigma pres
ta-se à introdução de incongruências entremeadas de alusões satíricas. Será
ainda o jogo favorito dos salões preciosos do século (cf. Précieuses ridicules).
2 Mário (1 56-86 a. C.) venceu os Teutões em Aix-en-Provence (102
a. C.). O enigma começa com uma paródia de tom épico para melhor masca
rar a futilidade do tema. Rabel ais reforça o jogo supondo que o começo dos pri
meiros versos foi comido pelas b aratas, degradação que atesta a antigui dade
do m anuscrito.
3 Alusão possível à pantufa do papa, que é da tradição ser beij ada nas au
diências.
4 Alusão à concessão de indulgências ou perdões, em troca de dinheiro.
Rabelais criticou este abuso no Pantagruel (cap. XVII, p. 243 599). Como Panúr
gio ganhava os perdões . . .
5 Chapéu forrado usado pelos papas e pelos cónegos na Idade Média.
6 Esta caricatura do papa aquecendo-se à lareira e perfumado com essên
cia de nabo (em vez de incenso) é muito mais irreverente do que a de Júlio II
no Pantagruel (cap. XXX, p. 397).
7 Estas pessoas de mau génio são possivelmente os ,,falsos beatos» que
atacavam os humanistas e os evangelistas. O cavalo de tiro que deseja o papa
reti rado ao canto da lareira representa talvez o seu sucessor eventu al, a puxar
a carroça da Igrej a.
1 É possível que não seja este o sentido de mui tos dos versos do enigma,
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RABEIA.JS
1 1 A águia.
12 Comentadores hebreus da Bíblia.
1 3 Na mitologia grega,.esta deusa provocava as querelas.
14 Provável reminiscência de Marot, EpUre au Roi... (Adolescence Clé
mentine, l 5 32):
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CAP ÍTULO III
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GARGÂNJUA
NOTAS
1 Butargos (do provençal boutargo), espécie de caviar, feito de ovas de di
versos peixes, típico da Provença e do Languedoc.
2 Os 1ombardos passavam por ser peritos em venenos.
3 Gargamelle, como Grandgousier, significa <<de grandes goelas» . A vo
racidade é o carácter comum a toda a família dos gigantes.
4 Papillons (borboletas). Só posteriormente a Rabelais este nome foi dado
aos protestantes.
5 A duração da gestação era um assunto de controvérsias no século XVI.
Rabelais foi consultado, na sua qualidade de médico, por Pellicier, embaixa
dor de Francisco I em Venez a, sobre uma contestação da data da concepção .
Também Montaigne aceita a duração de on2e meses (Ensaios, liv. n, cap.
XII ) .
6 A ninfa Tiro.
7 É efectivamente a Aula Gélio Woites Aticas, III, 1 6 ) que Rabelais vai bus
car esta lenda.
8 V. os Anfitriões de Plauto, Moliere e Giraudoux.
9 As referências a Hipócrates, Do alimento, a Plínio o Antigo, História
Natural, liv. VII, cap. v, a Plauto, Cistellaria, v., 1 64-1 65, a Va!Tão e a Aristóte
les, História dos Animais, liv. VII, cap. IV, ao gramático Censorinus, Do dia na
tal, a Aula Gélio (Gellius), a Servius, comentador de Virgílio, são exactas.
1 0 Verso da IV Bucólica (v. 61 ). Sérvio não comenta a duração da gesta
ção dada por Virgílio (dez meses).
11 Rabelais emprega as abreviaturas usadas no século XVI para os textos
jurídicos: ff· Digeste, l: lei. Trata-se do De suis et legitimis heredibus, lege
intestato (Dos seus herdeiros legUimos, lei sobre o intestado); De Authenticae.
De restitutionibus et ea quae parit in undecimo mese post mortem viri (lei so
bre a legitimidade. Das restituições, e da mulher que dá à luz no décimo pri
meiro mês após a morte do marido).
1 2 Lei de ronge-lard (rói toucinho), palavra formada por Rabclais segun
do o modelo de rodilárdico, invenção burlesca do italiano C alcnzio, cuja obra
fora traduzida em 1 534 - Fantásticas batalhas dos grandes reis Rodilardus e
Croacus. No Quarto Livro, cap. LXVII, Rodilardus é um gato, como mais tarde
cm La Fontai ne (II, 2).
1 3 Lei Gallus. De liberis et posthumis heredibus instituendis vel exhere
dandis. - Lei De statu hominum. S. Septimo mense nasci perfectum partum
jam receptum est, propter austoritatem doctissimi viro Hippocratis: Dos fi
lhos, se os filhos póstumos devem ser herdeiros ou deserdados; Do estado dos
homens; admite-se que a gestação pode ' terminar ao sétimo mês, graças à au-
toridade do sapientfssimo Hipócrates.
14 Júlia, filha de Augusto (Octávio), era célebre pelo seu desregramento,
que a levou ao exílio. Macróbio, Saturnais, II, 5, 9, refere-se aos seus excessos.
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CAPÍTULO IV
COMO GARGAMELLE,
ESTANDO PRENHA DE GARGÂNTUA,
COMEU GRANDE QUANTIDADE DE TRIPAS
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GARGÂNJUA
NOTAS
I Inspirado na liturgia: a comemoração é uma prece invocativa de um
santo que não é o santo do dia. A comparação com os salgados produz um efei
to cómico.
2 Irónico, pois trata-se de aldeões.
3 Cinais (Sainnais), Seuilly (Suillé), La Roch�lermault, Vaugaudry,
o castelo de Coudray-Montpensier, Le Gué de Vede são aldeias ou castelos vi
zinhos de La Deviniere, terra natal de Rabelais, nos arredores de Chino n.
4 O muid continha cerca de 270 litros, o bussard é um barril equivalente a
três qu artos do muid; o tupin é um vaso de terra.
5 Pradaria de salgueiros perto de La Deviniere.
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CAPÍTULO V
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(*) <<Nous faisons lcs plats netz, (os pratos limpos). (N. da T.)
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(*) Não se sabe o que Rabclais quer dizer com isto. (N. da T.)
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NOTAS
1 Santo imaginário, que Rabelais invoca frequentemente.
2 Jogo de palavras sobre a mula que transporta o papa e a sua pantufa (mu
le). Rabelais (Pantagruel, cap. VII) cita uma faceciosa Apologia... contra os
que dizem que a mula do papa só come a certas horas. Na réplica seguinte,
também a palavra horas é tomada no sentido de Livro de Horas (breviário).
3 Certos frascos tinham o aspecto exterior de um breviário.
4 Superior de um convento de franciscanos.
5 Exemplo de questão a debater entre os escolásticos, como as discussões
sobre a anterioridade do ovo ou da galinha.
6 Sem dúvida antes do pecado original.
7 <<Â. privação supõe a posse», máxima jurídica galhofeiramente aplica
da ao beber: a sede supõe a bebedura.
8 Citação de Horácio (Eptstolas, I, 5, v. 1 9): <<Â. quem não tornaram elo
quentes as taças bem cheias?» Com um jogo de palavras: o cálice é o vaso sa
grado da missa.
9 Entonnoir: jogo de palavras sobre entonner (entoar) um cântico e mettre
en tonneau (meter no tonel).
1 0 Protesto do juiz .
11 Gracejo eclesiástico extraído do pseudo-Santo Agostinho (Quaestiones
veteris et novi Testamenti, xxm): «a alma. . . não pode habitar em seco», o que
justificava os que bebem teologalmente.
1 2 Brincadeira metafísica: os escanções procedem a uma mudança da
«forma•• graças à «Substância>• do vinho.
1 3 Brincadeira jurídica: os meus credores ficariam atrapalhados, pois,
como o papel bebera tudo, ficariam sem o texto relativo às minhas dívidas.
1 4 Comparação com o cavalo, que rompe o peito ao debruçar-se para che
gar à água muito b aixa. O bêbado queixa-se de ter o copo qu ase vazio.
1 5 E eu como um noivo, expressão bíblica que dá azo a u m jogo de palavras
em volta de sponsus (noivo) e spongia (esponja).
16 E eu como terra sem água, outra comparação bíblica (Salmos, CXLII, 6).
1 7 Termo do direito, para dizer que chama à bebida.
1 8 Vê a quem deitas vinho, e deita por dois; trocadilho em volta de bus, pre
térito passado do verbo beber, e bus, desinência plural do ablativo latino de
duo.
1 9 Grande ourives de Carlos VII (1 395-1 456).
20 O reino de Melinde figura nas navegações de Pantagruel (cap. XXN, p.
325); simboliza as riquezas fabulosas do Extremo Oriente.
21 «Traz de beber, companheiro !», em basco.
22 «Tenho sede», uma das últimas palavras de Jesus no Calvário. Na Ida
de Média e no século XV1 não eram chocantes as adaptações cómicas dos textos
sagrados; eram frequentes nos <<sermões alegres».
23 Incombustível. Trocadilho sobre Paternidade: quem fala é um reve
rendo padre . . .
24 Alusão a o ditado popular, que figura n o tratado De Causis (1 525) d e Jeró
nimo de Haogest, bispo do Mans.
25 BriQrCU , filho do Céu e da Terra, tinha cinquenta cabeças e cem bra
ços . . . de que se servia para dar deitar vinho nos copos!
26 Vinho moscatel que se produz na abadia de Montefiascone, nas coli
nas do Vesúvio. A abadia conserva no seu tesouro uma lágrima de Cristo, que
deu o nome ao vinho .
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GARGÂNTUA
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CAPÍTULO VI
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NOTAS
1 Como os cavalos soltos nos campos verdes, aos quais voltam a crescer
os cascos.
2 Alusão a uma passagem do Evangelho de S. João segundo a qu af a mu
lher esquece a angústia que sentiu no momento de dar à luz.
3 Alusão a uma lenda narrada no Mistério da Vida de S. Martinho: en
quanto o santo celebra a missa, o diabo vai anotando num pergaminho a ta
garelice de du as comadres. Como o seu rolo é muito curto para registar tudo,
puxa o pergaminho com os dentes para o esticar, mas este rasga-se e o diabo
cai, indo bater numa coluna.
4 Tanto Beusse, perto de Loudun, como o Vivarais (Bibarais), evocam o
verbo boire (beber).
5 As lendas de Roquetaillade e de Croquemouche não foram identifica
das, mas a sua vizinhança com os deu ses da mitologia produz um efeito bur
lesco.
6 Adónis era filho de Mirra e do próprio pai da princesa. Quando se desco
briu o incesto, Mirra foi metamorfoseada na árvore do mesmo nome.
7 Jú piter, sob a fonna de um cisne, amou Leda, que pôs dois ovos: um, do
marido Tfndaro, deu origem a Castor e a Clitemnestra; do outro, fecundado
por Júpiter, nasceram Helena e Pó lux.
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CAPÍTULO VII
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NOTAS
I O nome de Gargântua, como o dos seus pais Grandgousier e Gargamel
le, significa <<grande goela» e por conseguinte <<grande comilão». De origem
meridional, é citado em 14 71 num registo do bispo de Limoges: é a alcunha du
ma visita do bispo. Foi popularizado pelas Grandes Crónicas, onde Rabelais
se inspirou .
2 <<Que grand tu as!>> (as goelas).
3 O nome da criança não era determinado pelas primeiras palavras do
pai, mas por uma circustância correlativa ao nascimento .
4 Pontille e Bréhémont são nomes de localidades reais, e é desta co nstan
te mistura de elementos da realidade e da ficção (como a quantidade incrível
de vacas necessárias para amamentar Gargântua) que resulta a graça do
Gargântua.
5 Discípulos de Duns E scoto , franciscano do século XIII, que Rabelais con
sidera como o símbolo das trevas escolásticas.
6 Nome muito corrente na região de Chinon.
7 Vinho. Cf. Pantagruel, cap. I, p. 53: <<Todos foram apreciadores de puré
setembrino, e cap. XXXIV , p. 435: <<Os registos do meu cérebro estão um pouco tol
dados com este puré setembrino.»
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CAP ÍTULO VIII
Chegando ele a esta idade, o seu pai ordenou que lhe confec
cionassem o vestuário de acordo com a sua libré(*), que era
branca e azul. E logo trataram disso e o fizeram, cortaram e
coseram segundo a moda da época. Segundo os antigos l etrei
ros que estão na Câmara de Contas em Montsoreaul , verifico
que o vestiram do seguinte modo:
Para a camisa, cortaram-se novecentas varas de fazenda
de Chasteleraud2, e duzentas para os sovacos, em forma de qua
drados, que lhe puseram debaixo dos braços. E não era muito
franzida, pois o franzido das camisas só foi inventado quando,
tendo partido a ponta da agulh a, as costureiras começaram a
costurar com o cu.
Para o gibão cortaram-se oitocentas e treze varas de cetim
branco, e para os cordões(*), mil e quinhentas e nove e meia pe
les de cão. Começaram então a coser os calções ao gibão, e não o
gibão aos calções, pois i sso é contra a n atureza, conforme decla
rou Olkam3 sobre os Exponíveis de M. Haltechaussade.
Para os calções cortaram-se mil cento e cinco varas e um
terço de estamenh a branca. E recortaram-n as em forma de
colunas, estriadas e caneladas n a parte de trás, a fim de aque
cer os rins. E o calção enfunava como devia ser nos recortes de
damasco azul. E notai que tinha belas pernas e bem proporcio
nadas com o resto da estatura.
Para a braguilha cortaram-se dezasseis varas e um quarto
do mesmo tecido. E foi feita em forma de arcobotante, bem pre-
(*) Anti gamente eram as vestes com as cores das armas de u m rei ou de
u m senhor usadas pelo seu séquito. (N. da T.)
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GARGÂNTUA
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NOTAS
1 Pequena cidade na confluência do Vienne e do Loire, que Rabelais co
nheceu bem, mas onde nunca houve nenhuma Câmara de Contas.
2 Châtellerault (Vienne) tinha fazendas célebres nos séculos XVI e XVII.
3 Ockam, franciscano inglês do século XIV, chefe da escola nominalista.
Rabelais troça tanto dele como do seu adversário Duns Escoto. Os Expon!ueis
eram uma parte da lógica formal. M. Haultechaussade é um nome inven
tado.
4 Esta braguilha é tão extraordinária como o gigante a quem pertence.
Rabelais já troçou desta moda no Pantagruel (cap. XVIII, p. 269): ,J>anurge colo
cara na ponta da sua comprida braguilha uma linda borla de seda, vermelha,
branca, verde e azul, e metera-lhe dentro um bela laranj a.>>
5 Das pedras, falsamente atribuído a Orfeu.
6 O último livro da História Natural de Plínio fala das esmeraldas, mas
nenhum destes dois livros menciona a virtude erectiua da esmeralda; os trata
dos médicos do século XVI pretendem, pelo contrário, que acalmava os ardores
amorosos.
7 <<Canne>>, medida equivalente a cerca de 1 ,80 m.
8 Bordado a fio de ouro ou prata enrolado em espiral .
9 Pérolas pescadas no golfo Pérsico.
1 0 Para o subtrair à voracidade de Saturno, Reia, mãe de Zeus, confiou-o
às ninfas Ida e Adrasteia, que o alimentaram com o leite da cabra Amalteia,
no monte Ida, situ ado na Grécia . Tendo-se partido um corno da cabra, enche
ram-no de frutos e de flores, e assim se tornou um corno da abundância.
1 1 Cf. <<Prólogo» e Pantagruel (cap. xv).
1 2 Depois da moda dos sapatos de polaina, muito afilados e bicudos, fize
ram-se sapatos quase rectangulares, de biqueira quadrada, com a parte de ci
ma em tecido aos gomos ou «cilindros».
1 3 Anéis.
1 4 De Valença: as armas de Valença e Saragoça eram famo sas.
1 5 Os marrano_s são recém-convertidos, mouros ou judeus. Muitos no
bres espanhóis tinham contraído casamento com marranas.
1 6 Possível alusão a Humbcrt de Pracontal, célebre corsário do Mediterrâ
neo.
1 7 Região da Ásia Central, símbolo de selvajaria; os antigos compara-
vam os amantes furiosos a «tigres da Hircânia» .
1 8 Emblema que se usava no chapéu ou no barrete.
1 9 O marco pesava pouco mais de 244 g.
20 O Banquete, diálogo sobre o amor; trata-se do retrato de Andrógino se
gundo Platão (1 89 c).
21 Citações de S. Paulo, 1. � Ep. aos Cor!ntios: <A caridade não procura a
sua própria vantagem», conselho altruísta.
22 Nekepso, rei do Egipto de 681 a 674. Tinha fama de mago.
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CAP ÍTULO IX
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NOTAS
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CAPÍTULO X
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NOTAS
O consenso universal, que se tornou o direito das gentes.
2 Segundo Plutarco, os siracusanos e os argivos usavam o branco em si
nal de luto.
3 O humanista Laurent Valia atacara o jurista Bartole (1 31 4-1 357) nu
ma epístola latina, Ad candidum Decembrem (Ao Dezembro branco). Afirma
va ele que a cor mais nobre era a do ouro e não o branco.
4 Rabelais não segue o texto da Vulgata: <<As suas vestes tornaram-se
brancas como a neve•• (sicut nix), mas a correcção de Erasmo: <<brancas como
a luz» (sicut lux), inspirada no texto grego . Rabelais conhecia por conseguin
te a edição erasmiana do Novo Testamento.
5 Veja-se Erasmo, Elogio da Loucura, cap. XXXI .
6 Segundo a Eneida, canto III, v. 388: Asãnio, filho de Eneias, descobriu
urna porca branca, e nesse lugar fundou a cidade de Alba.
7 A ovação recompensava um sucesso militar inferior à vitoria, que da
va lugar ao triunfo, cujas condições eram estritas (5000 inimigos mortos,
etc.). Rabelais podia também alegar que se escolhiam animais brancos para
serem sacrificados ou, caso não os encontrassem, embranqueciam os outros,
cobrindQ-Qs de cal.
8 Rabelais actu aliza os títulos gregos: duque traduz crt<Xtl])QÇ, general.
g. Segundo Plutarco, Vida de Péricles, 27.
1 0 Comentador de Aristóteles, contemporâneo de Marco Aurélio, que esta
belecera um repertório de questões insolúveis; a cor branca do galo não é indi
cada.
1 1 Extraído do comentário de Marsílio Ficino sobre os trabalhos de Pro
elo, filósofo platónico do século v da era cristã (Procli de Sacrificio et Magia).
1 2 Etimologia alegada por Jean Lemaire de Belges, nas suas Ilustrações
da Gália.
1 3 Comentário livre aos Problemas de Aristóteles.
1 4 NoAnabase.
1 5 Galeno, livro x, Do uso das partes.
16 Galeno , De Methode Mendendi (Método de curar). O livro Xll trata das
síncopes.
1 7 Gramático latino citado por Plínio o Antigo.
1 8 Todos estes exemplos de mortos de alegria encontravam-se reunidos
no O((u:ina, compilação de Ravisius Textor.
1 9 Filósofo e médico árabe (980-1 037).
20 Alexandre de Afrodisias, autor da obra Dos Problemas.
21 Et pour cause, fórmula conclusiva na linguagem jurídica.
22 Trata-se provavelmente de um projecto imaginário.
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CAP ÍTULO XI
DA ADOLESCÊNCIA DE GARGÂNTUA
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RABELAIS
eram lanternas, matava dois coelhos com uma caj adada, fazia
-se burro para conseguir o que queria, e do punho fazia um ma
lho, queria que grão a grão enchesse a galinha o papo, olhava
sempre o dente a cavalo dado, misturava alhos com bugalhos,
dava uma no cravo outra na ferradura, se as nuvens estavam
baixas contava apanhar andorinhas, fazia da necessidade vir
tude, fazia sopas de qualquer pão, e tanto se lhe dava como se
lhe deu, todas as manhãs vomitava as tripas. Os cãezinhos do
seu pai comiam na sua e scudela, e ele também comia com eles.
Mordia-lhes as orelhas, e eles arranhavam-lhe o nariz; sopra
va-lhes para o cu, e eles lambiam-lhe os beiços.
E sabeis o quê, meus filhos? Que a bebedeira dê cabo de vós !
Este malandro estava sempre a apalpar as governantas, de ci
ma para baixo e de trás para a frente - arre burrinho! - e já co
meçava a exercitar a braguilha, que todos os dias as governan
tas enfeitavam com lindos raminhos, lindas fitas, flores e bor
las, e passavam o tempo a passar-lhe a mão por cima e depois
desatavam a rir quando ela levantava as orelhas, como se gos
tassem da brincadeira.
Uma chamava-lh e meu espichozinho, a outra meu alfine
te, a outra meu ramo de coral, a outra meu gatinho , minha ro
lha, minh a pua, meu berloque, meu passatempo duro e baixo,
minh!l linguiça vermelha, meu colhãozinho.
<<E minha•• , dizia uma.
<<E eu (dizia outra) fico sem nada? Então juro que hei-de
cortá-la.••
••Cortá-la! (dizia outra); magoá-lo-íei s, senhora; então
agora corta-se a coisa às crianças? Ficaria um senhor sem
cauda. >>
E para folgar como os meninos do país, fizeram-lhe um ca
tavento com as asas de um moinho de vento de Myrebalays.
NOTAS
1 Segue-se uma série .de ditados populares, a que Rabelais se diverte a in
verter o sentido.
2 Reprovar um inferior diante do seu superior, para que este aplique a li-
ção à su a própria pessoa.
3 Fazer uma coisa impossível, como «capar grilos».
4 Enganava os deuses, dando-lhes uma palha em vez de trigo.
5 O Magn.ificat canta-se nas vésperas, ofício da tarde, e não nas mati
nas, prece da manhã.
68
CAPÍTULO XII
69
RABELAIS
70
GARGÂNIUA
NOTAS
1 Pain-en-sac (pão-no-saco: o avarento), Francrepas (comida de bor
la) e Mouillevent (molha vento): nomes de fantasia designando parasitas.
2 Cavalo criado na Frise (Países Baixos).
3 Papillon, insecto, mas também papa pequeno ou partidário do papa; pa
pcguay, papagaio e pape gai (papa alegre); papclard: papa-jantares, parasita
e hipócrita.
71
CAPÍTULO XIII
COMO GRANDGOUSIER CONHECEU
O ESPÍRITO MARAVILHOSO DE GARGÂNTUA
GRAÇAS À INVENÇÃO
DUMA MANEIRA DE LIMPAR O CU
72
GARGÂNTUA
73
RABELAJS
<<Quereis mais?>>
«Quero>>, respondeu Grandgousier.
«Pois seja>>, disse Gargântua:
RONDÓ
(*) O ptou -se nestes casos por urna tradução o mais literal possível , em
bora em completo detrimento da rima, p ara não alterar o sentido do texto.
(N. da T.)
74
GARGÂNTUA
NOTAS
1 Os h abitantes do reino de Canarre (as Canárias).
2 Trocadilho obsceno : as luvas não são perfumadas de benjoi m (benjoin,
bien joint) mas de maljoint (mal ju nto, o sexo feminino).
3 Expressão tirada do serviço religioso: após cada lição das Escrituras, o
versículo Tu autem, Domine é repetido em coro. A locução significa: Tudo sa
bereis até ao fim.
4 Trocadilho: rimer (fazer rimas, rimar) e enrhumer (consti par-se).
5 O título de doutor em gaia sabedoria era atribuído pela Academia dos Jo
gos Florais de Toulouse.
6 Regi ão situ ada na confluência do Loire e do Vienne.
7 Outra alusão a Duns Escoto.
75
CAPÍTULO XIV
COMO GARGÂNTUA FOI INSTRUÍDO
POR UM SOFISTA EM LETRAS LATINAS
76
GARGÂNTUA
NOTAS
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RABElAIS
78
GARGÂNJUA
CAPÍTULO XV
COMO SE DERAM OUTROS PEDAGOGOS
A GARGÂNTUA
NOTAS
1 La Brenne, situada entre o Indre e o Creuse .
2 Aldeia próxima de Châtcauroux.
3 Feliz, em grego.
4 Transcrição do grego Jl!l't!llOÂO)Qt, que diz coisas vãs; trocadilho evi
dente p ara os teólogos.
5 Tibério Graco, político e orador romano.
6 Paulo Emílio, vencedor de Perseu, era estimado como orador e gene-
ral.
7 Palavra inventada por Rabelais à maneira dos nomes gregos: árduo
na sua tarefa (1tÓVOÇ: trabalho, e XPÓ.'tOÇ, po deroso}.
80
CAPÍTULO XVI
COMO GARGÂNTUA FOI ENVIADO PARA PARIS,
E DA ENORME ÉGUA QUE LEVOU,
E COMO ELA DESFEZ AS MOSCAS BOVINAS
DE BEAUCE
NOTAS
1 Possível alusão a Françoise de Fayolles, capitão de Coulonges les Ro
yaux, aparentado aos Estissac.
2 Ditado lati no reproduzido por Erasmo nos Adágios. ..Novo» tem aqui o
sentido de «extraordinário».
3 Particularidade a pontada por Plínio o Antigo, Hist. nat. VIII, 42.
4 Languedoc; etimolo gi a fantasiosa: langue des goths (língua dos go
dos) em vez de langue doe (língua de oc, por oposição a oü ).
5 Torre qu adran1,ru lar de tijolos situ ada perto da aldeia de Saint-Mars,
nas proximidades de Chinon.
6 Geografia aproxi mada: o Tibete.
7 Síria.
8 Jean Thenaud, mestre em artes e teólogo, publicara u m livro de via
gens, Le voyage et itineraire de oultre mer, a que Rabelais se refere.
82
GARGÂN'fUA
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CAPÍTULO XVII
COMO GARGÂNTUA RETRffiUIU
AS BOAS-VINDAS AOS PARISIENSES
E COMO ROUBOU OS GRANDES SINOS
DA IGREJA DE NOTRE-DAME
84
GARGÂNTUA
NOTAS
1 Rabelais opõe a superstição interesseira dos carregadores de relíquias
à pregação sincera do Evangelho.
2 Dádiva de boas--vindas concedida aos bispos ao chegarem à su a dio
cese .
3 Neste Dilúvio dum novo género, algu ns sobreviventes refugiam-se na
montanha Sainte-Genevicve (hoje Place du Panthéon), ponto culminante do
Quartier-Latin ou da Universidade.
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RABELAJS
86
CAPÍTULO XVIII
COMO JANOTUS DE BRAGMARDO FOI ENVIADO
PARA REAVER DE GARGÂNTUA
OS GRANDES SINOS
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RABEI.AIS
NOTAS
À maneira de Júlio Cesar. . . que era careca.
2 Capucho usado pelos doutores em teologia, conforme precisavam as edi
ções anteriores: «Son lyripipion theologal».
3 Vedeau também significa vitelo, e daí o gracejo em tomo de vedeaulx,
que são os bedéis, mas também os bois espicaçados por mestre J anotus.
4 Outro jogo de palavras sobre o titulo dos mestres em artes, magistri in
artibus, e inertes.
5 Os companheiros de Gargântua têm nomes relacionados com os seus
ofícios: Filotomias, que gosta de cortar (do grego qnÃ.ioo, gostar, e tÉJ.1VOO, cor
tar); Ginasta: mestre de ginástica.
88
CAPÍTULO XIX
A ARENGA DE MESTRE JANOTUS
DE BRAGMARDO FEITA A GARGÂNTUA
PARA REAVER OS SINOS
«Hã, hã, hã! 'ns dias, senhor, 'ns dias, senhores. Seria mui
to bom que nos devolvêsseis os nossos sinos, pois fazem-nos
muita falta. Hã, hã, hasch! Já os tínhamos recusado uma vez
por bom dinheiro aos de Londres em Cahors, e também aos de
Bordéus em Bryel , que os queriam comprar pela substanciosa
qualidade da compleição elementar entronizada na terrestri
dade da sua natureza quiditativa2 para extranizar os halos e as
turbinas3 das nossas vinhas, que na verdade não são nossas,
mas daqui perto; pois, se perdemos o vinho, perdemos tudo, tan
to o sentido como a lei.
»Se os devolverdes como vos peço, ganharei seis palmos de
salsichas e um rico par de calções que me farão muito bem às
pernas, ou eles não cumprissem a promessa. Ó, por Deus, Domi
ne, uns calções é bom, et vir sapiens non abhorrebit eam4. Ah!
ah! Não tem calções quem quer, eu sei por mim! Pensai, Domi
ne; há dezoito dias que ando a matutar nesta bela arenga: Red
dite que sunt Cesaris Cesari, et que sunt Dei Deo5. lbi jacet le
pus6.
>>Por minha fé, Domine, se quiserdes cear comigo in came
ra, pelo corpo de Deus! charitatis7, nos faciem us bonum cheru
binB. Ego occidi unum porcum, et ego habet bon vino9. Mas com
bom vinho não se pode fazer mau latim t o .
>>Üra, de parte Dei, date nobis clochas nostrasl l . Dou-vos
pela Faculdade um Sermones de Utinol 2 se, utinam, nos devol
verdes os nossos sinos. Vultis etiam pardonos ? Per diem, vos
habe�itis et nihil poyabitisl3.
>>Ü Senhor Domine, clochidonnaminorl 4 nobis! Dea, est bo
num urbisl5, Todos se servem deles. Se a sua égua gosta deles,
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RABELAIS
NOTAS
1 Duplo efeito cómico, pois existe uma aldeia de Londres no Quercy, e um
Bordéus junto de Meaux; mas o leitor pensa num lapso do catarroso.
2 Paródia da gíria escolástica: terrestridade é a qualidade terrestre, a na
tureza quiditativa, a essência; extranizar, afastar.
3 Os halos da Lua e os turbilhões: Janotus quer proteger as vinhas e, a seu
ver, é essa a principal utilidade dos sinos.
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GARGÂNTUA
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CAPÍTULO XX
COMO O SOFISTA LEVOU A SUA FAZENDA,
E COMO TEVE UMA DEMANDA
COM OS OUTROS MESTRES
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GARGÂNFUA
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RABEl.AIS
NOTAS
1 Crasso passava por só ter rido uma vez na vida; cf. Plínio o Antigo
(Hist. Nat., vn, 1 9) e Erasmo (Adágios, r, x, 71 ).
2 Esta anedota, extraída de Valéria Máximo (IX,l2) ou de Luciano (Macro
bitas, 25), já mencionada no cap. X, sê-lo-á de novo no Quarto Livro, cap.
XVII.
3 Heraclito (576--480 a. C.) passava por chorar da estupidez humana, ao
passo que Demócrito (nascido por volta de 460 a. C.) se ria dela. Montaigne
consagrou-lhes o ensaio L do livro I, preferindo o humor de Demócrito, <<não
porque rir é mais agradável do que chorar, mas porque é mais desdenhoso o
humor».
4 Alcunha de Jean l'Espine (século XVI), reputado farsante.
5 Calções com correia para a entreperna.
6 Calças largas como as dos marinheiros.
7 Os calções dos suíços eram pregueados e tufados.
8 Calções rachados na parte de trás.
9 Nome que evoca a palavra andouille (chouriço) ou bander (entesar).
I O Segundo o modo e a figura: em boa forma (silogística).
11 As «SUposiçõeS>> são uma secção da pequena Lógica (parva logicalia).
«A quem se refere a peça de fazenda?>>
1 2 «Confusamente e sem designação de pessoa.>>
1 3 «Não te pergunto como se refere mas ao que se referem.>>
1 4 «É para as minhas pernas. E é por isso que eu próprio a levarei, assim
como a substância leva o acidente.» (Janotus está cioso da sua fazenda e tem
medo que lha tirem.)
1 5 Na farsa, o fabricante de tecidos quer levar a fazenda comprada por Pa-
telin, «por delicadeza>>, mas este faz questão de levá-la pessoalmente.
1 6 Janotus é acusado de se deixar comprar por Gargântua.
1 7 No sentido próprio: «que desviam do bom caminho>>.
1 8 Sempre a acusação da sujidade.
1 9 «Todas as coisas nascidas perecem>>, evocação de Salústio, De bello ju
gurthino, II, 3.
20 «Ces avaleurs de frimas» (comedores de nevoeiro) - são os juízes e ad
vogados, que se levantam de madrugada para irem ao Palácio da Justiça. Cf.
Racine, Les Plaideurs.
2 1 Evocação de Plínio o Antigo, Hist. Nat., VII , 32.
94
CAPÍTULO XXI
O ESTUDO DE GARGÂNTUA,
SEGUNDO A DISCIPLINA
DOS SEUS PRECEPTORES SOFISTAS
95
RABELAJS
NOTAS
1 Florestas de Fontainebleau.
2 Fragmento do Salmo CXXVI, 2: ·<É inútil que vos levanteis antes da
luZ.>> Citar o começo deste versículo era um gracejo tradicional no clero.
3 Termo médico: fluido que comunica as ordens do coração e do cérebro
às diversas partes do corpo. Esta concepção ainda perdura do século xvn; cf.
Descartes (Discurso do Método, 5.� parte): «São como um vento muito sub
til...>>
4 Jacques Almain, doutor da Universidade de Paris, autor de um tratado
lógico, no começo do século XVI .
5 «Assoava-se copiosamente e de maneira pouco asseada>>, expressão po
pular.
6 Sopas que se comiam nos conventos depois das orações matinais.
7 Alexandre VI (1 492-1 503). O seu médico era Bonnet de Lotes, judeu con
vertido e autor de um tratado sobre astrologia. Sabe-se que Rabelais despreza
esta falsa ciência.
8 Ditado corrente no século XVI.
9 O sebo deixado pelos dedos; a expressão lembra o termo dos talhos: «tan
to em sebo como em carne e osso».
1 0 Terços muitas vezes muito ornamentados. Ainda hoje se fazem em
Saint-Claude (Jura) objectos de madeira trabalhada, nomeadamente cachim
bos.
1 1 Terêncio (Eunuco, IV, 8).
1 2 Uma espécie de caviar que se consome no Mi di (vide cap. III).
97
CAPÍTULO XXII
OS JOGOS DE GARGÂNTUA
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GARGÂNJUA
99
RABELAIS
À clinemuzete � cabra--cega
Aos centos A myrelimofle
À branquinha Ao queix:inhas
Ao furão Ao crapault
À seguette À croça
Ao castelinho Ao piston
� rengée (fila?) Ao bille boucquet
Afoussette (sempre-em-pé)
(pequeno fosso?) �o roynes
Ao ronflart � profissões
À trombeta A teste à teste bechevel
Ao mongel 7 Ao pinot (vinho)
Ao tenebry Ao macho morto
Ao espantado Aos croquinolles
À bêbada A la ver le coiffe Madame
À navette Ao belusteau
Ao fessart A semear a aveia
À vassoura A briffault
A São Cosme, Ao molinete
venho adorar-telB A defendo
A escharbot le brun À virevouste
Aje vous prens sans verd À bacule
A bien et beau Ao lavrador
s'en va Quaresme À cheveche
Ao carvalho bifurcado Às escoublette enraigées
Ao cavalo ... Ao bicho morto
Ao rabo de lobo Ao sobe, sobe
Ao peido na boca as escadinhas
A Gillemin baillie Ao pourceau mory
, my lance Ao cu salgado
A brandelle Ao pigonnet
(urze pequena?) Ao tiers
Ao treseau À bourré
À bétula Ao salto do arbusto
À mosca A cruzar
� migne, migne beuf Às escondidas
As falas À maille, bourse en cul
Às nove mãos Ao nid de la bondrée
Ao chapifou Ao passavante
Ao pontz cheuz (pontes .. )
. �o figo
A Colin bridé � peidorradas
À grolle Apille moustarde
Ao cocquantin A cambos
1 00
GARGÂNTUA
(*) Não se tendo encontrado o equivalente português para muitos dos no
mes de jogos, porventura até inventados e certamente caídos cm desu so, pre
feriu-se deixá-los cm francês, a fi m de não empobrecer o texto eli mi nando
-os pura e simplesmente . (N. da T.)
101
RABELAIS
NOTAS
Gargântua despacha-se a dar graças depois de ter comido .
2 Bebia derramando vinho nas mãos.
3 A enumeração dos 21 7 jogos usados no tempo de Rabelais foi estudada
por Michel Psichari, Revue des Etudes rabelaisiennes, tomo I. Poder-se-ia
consultar igualmente a grande edicão de Abel Lefranc. Os primeiros jogos
até à mourre são jogos de cartas; depois vêm os jogos de mesa, do xadrez até ao
primus secundus; depois os jogos de perícia, até ao par ou não, em seguida
vêm jogos variados de apanhar ou de figuras cómicas, muitas vezes ao ar li
vre. No cap. XVIII do Pantagruel, Panúrgio joga alguns destes jogos com os pa
jens.
4 Jogo de cartas muito em voga no século XVI.
5 Jogo actual do piquet.
6 Jogo de tarots espalhado no Sudoeste pelos marinheiros espanhóis.
7 Jogo de adivinhas.
8 Variedade do jogo das damas.
9 Jogo de mesa; não se trata da macaca .
1 0 Jogo cujo nome vem da blasfémia: renego Deus (je renie Dieu).
1 1 A par ou ímpar, a cara ou coroa.
12 Aos ossinhos.
1 3 Igualmente «aos ossinhos>>.
1 4 Ao croquet.
1 5 Cf. <<La poudre doribus (de merda) no <<Prólogo» do Pantagruel. O no
me oribus ainda subsiste durante a Restauração; Balzac dá a seguinte defini
ção (Beatrix): <<Vela cor de pão de especiarias que se usa em certas partes do
Oeste>>.
1 6 À bola.
1 7 Ao pião.
1 8 Este jogo é descrito no Jeu de Robin et de Marion (século XIII), de Adam
de la Halle.
1 9 Medida meridional equivalente a 8 sesteiros.
20 Fidalgos afectos à casa.
21 Personagens reais: Jacques du Fou foi mordomo de Francisco I; os
Gourville eram uma família de Angoulême; um dos Grignault foi camareiro
de Carlos VIII; os Marigny eram poitevinos.
22 Garça: mulher leviana, mas aqui não tem este sentido pejorativo.
1 02
CAPÍTULO XXIII
COMO GARGÂNTUA FOI INSTRUÍDO
POR PONÓCRATES COM TAL DISCIPLINA
QUE NÃO PERDIA UMA HORA DO DIA
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GARGÂNTUA
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RABELAIS
106
GARGÂNTUA
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RABELAIS
NOTAS
1 Terapêutica da escola de Salerno, que evitava as bruscas mudanças de
regime.
2 Remédio contra a loucura. Cf. La Fontaine, <<A Lebre e a Tartaruga>>:
Comadre, tendes de purgar-vos
Com quatro grãos de eléboro.
1 08
GARGÂNTUA
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CAPÍTULO XXN
COMO GARGÂNTUA PASSAVA O TEMPO
QUANDO O AR ESTAVA CHUVOSO
NOTAS
I Termo empregado por Galeno: regime fortificante.
2 O humanista italiano Nicolaus Leonicus Thomaeus publicara em
Lyon em 1 532 um diálogo sobre os ossinhos: Sannutus, sive de ludo talaris.
3 Lascaris (1445-1 534), humanista grego refugiado em Itália depois da to-
111
RABELAJS
1 12
CAPÍTULO XXV
COMO SE E STABELECEU
ENTRE OS BISCOITEIROS DE LERNÉl
E OS DO PAÍS DE GARGÂNTUA
A GRANDE CONTENDA
DE ONDE RESULTARIAM GRANDES GUERRAS
1 13
RABELAIS
«Há quanto tempo ganhastes cornos que vos tornastes tão ar
rogantes? Costumáveis vender-nos os biscoitos de bom grado e
agora recusais. Isso não é próprio de bons vizinhos, e não é o
que vos fazemos quando cá vindes comprar o nosso belo trigo,
com o qual fazeis os vossos bolos e biscoitos. E ainda vos daría
mos em troca as nossas uvas; mas, pela mãe de Deus!, pode
ríeis arrepender-nos e ainda um dia haveis de acertar contas
connosco. Então pagar-vos-emos com a mesma moeda, lem
brai-vos disso!>>
Então Marquet4, grande bastonárioS da confraria dos biscoi
teiras, disse-lhe:
<<Estás hoje muito combativo, deves ter comido muito milho
ontem à noite. Anda cá anda, que eu te dou o meu biscoito!»
Então Forgier aproximou-se com toda a simplicidade, e ti
rou uma moeda do cinto, pois pensava que Marquet ia desembol
sar os seus biscoitos, mas ele deu-lhe com o chicote nas pernas
tão asperamente que se ficaram a ver os nós. Depois quis fugir,
mas Forgier pôs-se a gritar por socorro, que estavam a matá
-lo e ao mesmo tempo atirou-lhe um cacete que trazia debaixo
do braço, e atingiu-lhe na junção coronal da cabeça, por baixo
da artéria crotáfica6, do lado direito, de tal maneira que Mar
quet caiu da égua abaixo e parecia mais morto que vivo.
Entretanto, os rendeiros que por ali andavam a descascar
nozes acorreram com as suas varas, e malharam nos fabrican
tes de biscoitos como se fosse centeio. Ao ouvirem o grito de For
gier, os outros pastores e pastoras vieram com as suas fundas, e
seguiram-nos atirando-lhes pedras tão pequenas que mais pa
recia uma saraivada. Finalmente alcançaram-nos e tiraram
-lhes umas quatro ou cinco dúzias de biscoitos; todavia paga
ram-nos ao preço habitual e deram-lhes um cento de nozes e
três cestadas de uvas brancas. Depois os fabricantes de biscoi
tos ajudaram Marquet a montar, pois estava muito ferido, e vol
taram a Lerné sem poderem seguir pelo caminho de Pareillé7,
e ameaçando os vaqueiros, pastores e rendeiros de Seuillé e de
Synais.
Feito isto, os pastores e pastoras regalaram-se com os biscoi
tos e as uvas e divertiram-se ao som da gaita-de-foles, troçan
do daqueles belos e gloriosos biscoiteiras que tinham tido maus
pensamentos por causa de não se terem benzido com a mão cer
ta de manhã, e com grandes bagos de uva banharam mimosa
mente as pernas de Forgier, de tal maneira que logo se curou.
1 14
GARGÂNrUA
NOTAS
1 Aldeia do cantão de Chion, a 1 km de La Deviniere; os seus biscoitos
(fouaces) eram- e ainda são - famosos em toda a região .
2 Variedades de vinhos e de uvas: o fier ou fume sabe a figo; o muscadet
(moscatel) bebe-se com ostras; .o bicame é uma uva grande que serve para fa
zer o verdasco; o foirard recebeu este nome por causa das suas propriedades la
xativas.
3 Locução proverbial. As uvas da Champagne produziram os mesmos
efeitos nos soldados de Brunswick e contribuíram para a vitória de Valmy
(1 792).
4 Michel Marquet, escudeiro, senhor de La Bédouere, secretário do rei em
1 489, era cobrador-geral da Touraine. A sua filha casou com Gaucher de Sain
te-Marthe, de quem Rabelais fez o rei Picrocole. A guerra picrocolina é uma
transposição burlesca dos processos que opuseram Gaucher e o pai de Rabe
lais.
5 Cada confraria tinham um b astão com a figurinha do santo padroeiro
da corporação.
6 Termos médicos; Marquet é atingido na sutura coronal; a artéria crotá
fica é a artéria temporal.
7 Parilly, perto de Chinon.
1 15
CAPÍTULO XXVI
COMO OS HABITANTES DE LERNÉ
MANDADOS POR PICROCOLE, SEU REI,
ASSALTARAM DE SURPRESA
OS PASTORES DE GARGÂNTUA
1 16
GARGÂNJUA
NOTAS
1 O castelo de Lerné.
2 Picrocole ou <<Bílis-Amarga>>, termo médico, como mais tarde <<atrabi
liário» (cf. Le Misanthrope). A identificação de Picrocole com Gaucher de
Sainte-Marthe era tradicional.
3 <<Esfarrapado, maltrapilho.» Continua a paródia da epopeia; geralmen
te, a vanguarda era confiada a um brilhante capitão.
4 Os aventureiros são voluntários, sem soldo, geralmente indisciplina
dos.
5 Fanfarrão.
6 A artilharia de Picrocole é numerosa e comporta todos os calibres; o ca
nhão duplo era a peça maior, arrastada por 35 cavalos; os basílicas e serpenti
nas eram, os primeiros, de grande calibre e as segundas mais compridas; a
colubrina era de pequeno calibre e muito comprida; a bombarda, grande peça
que lançava balas de pedra, utilizada durante a guerra dos Cem Anos, já não
era usada no século XVI; os falcões, passavolantes e espirais constituíam a arti
lharia ligeira.
117
RABELAIS
118
CAPÍTULO XXVII
COMO UM PADRE DE SEUJLLÉ
SALVOU O CERCADO DA ABADIA
DO SAQUE DOS INIMIGOS
119
RABEI.AIS
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GARGÂNTUA
121
RABELAIS
três meses, de tal maneira que não se salvou nem uma ponti-
nha25; _
outros a Cadouyn26; .
outros a São João d'Angery27;
outros a São Eutrópio de Xaincteszs, a São Mesme29 de Chi
non, a São Martinho de Candes3o, a São Clouaud de Synays31 , às
relíquias de J avrezay32 e mil outros bons santinhos33.
Uns morriam sem falar, outros falavam sem morrer. Uns
morriam a falar, outros falavam a morrer.
Outros gritavam em voz alta: ••Confissão ! Confissão ! Confi
teor! Miserere! ln manus!>>
Tão grandes eram os gritos dos feridos que o prior da aba
dia mais os seus frades todos saíram, os quais, ao verem aque
la pobre gente assim caída no meio da vinha e ferida de morte,
confessaram alguns. Mas, enquanto os padres passavam o tem
po a confessar, os fradinhos correram ao lugar onde estava
Frei Jean e perguntaram-lhe como podiam ajudá-tio. E ele res
pondeu-lhes que degolassem os que estavam no chão. Portanto,
deixando as suas grandes capas em cima duma latada o mais
perto possível, começaram a degolar e a acabar os que j á
estavam feridos d e morte. E sabeis com que ferramentas? Com
belas facas, dessas que as crianças da n ossa terra usam para
descascar as nozes.
Depois, com o bastão da cruz, chegou à brecha que os inimi
gos tinham aberto. Algun s dos fradinhos levaram os estandar
tes e pendões para as suas celas, para fazerem jarreteiras.
Mas, quando os que se tinham confessado quiseram sair por es
ta brecha, o frade batia-lhes, dizendo:
«Estes estão confessados e arrependidos, e ganharam o
perdão ; vão para o paraíso tão direitinhos como o caminho de
Faye34_,,
Assim, com a sua proeza, foram derrotados todos os que ha
viam entrado no cercado, em número de treze mil seiscentos e
vinte e dois, sem as mulheres e as crianças, subentenda-se
sempre.
Jamais Maugis35, o eremita, se serviu tão valentemente do
seu bordão contra os sarracenos, sobre os quais se escreveu nas
gestas dos quatro filhos Haymon, como fez o frade contra os ini
migos com o bastão da cruz.
122
GARGÂNTUA
NOTAS
Seuilly, burgo de que dependia La Deviniere.
2 AP. epidemias de peste foram numerosas no século XVL
3 Aldeola a leste de La Deviniere (cf. cap. IV). Pelo gué passava o cami
nho de Seuilly a Chinon. Todos os nomes de localidades da guerra picrocoli
na evocam a terra natal de Rabelais.
4 Soldados de infantaria agrupados em torno de uma bandeira; a «lan
ça» é um termo de cavalaria para designar o cavaleiro e o seu séquito de ho
mens de armas, criados, etc.
5 <<Para o capítulo, os que têm voz no capítulo!>>, reunião geral do capítulo
que assiste ao prior.
6 Contra as armadilhas dos inimigos.
7 «Entommeure» ou «entamures» significa picado.
8 Frei Jean despacha a toda a pressa o seu breviário, as missas e as vígi
lias.
9 Comparação frequente no século XVI : espantados como os fundidores
que, ao retirarem o sino do molde, vêem que saiu defeituoso.
1 0 Responsos dos domingos de Outubro: ,Jmpessum inimicorum ne ti-
mueretis»: não temais o assalto dos inimigos.
n <<Dá-me de beber.>>
1 2 Consonância burlesca: «serviço divino» e <<do vinho».
1 3 Horas do breviário.
1 4 Frei Macé Pelasse ainda não foi identificado. Tratar-se-á de um tipo
proverbial de frade como o frade Lubin? Devemos comparar este nome com o
dito dos <<Bem Bebidos»: <<Sou o padre Macé» (cap. v)? Nada menos certo.
1 5 S. Tomás Becket, arcebispo de Cantuária, assassinado na sua igrej a
por ordem d o re i de Inglaterra.
1 6 Sem delicadezas, à francesa, e não segundo a nova esgrima, à italia
na, mais subtil.
1 7 As vértebras.
1 8 Rabelais mistura os termos médicos e as locuções em dialecto, produ
zindo assim um efeito burlesco.
1 9 Termo da anatomia: estrutura lambdóide (em forma da letra grega
lambda, À).
20 Ainda hoje padroeira dos artilheiros.
21 Patrono dos cavaleiros.
22 Santa imaginária que simboliza a hipocrisia (Elle ny touche pas...).
23 Invocações a diversos santuários da Virgem: priorado beneditino de
Cunault (perto de Saumur); Nossa Senhora do Loreto (Itália), onde Montaigne
e depois Descartes irão em pregrinação; a Virgem da Boa-Nova, protectora
dos marinheiros marselheses; Nossa Senhora de Marselha, venerada em Li
moux (?) e Nossa Senhora de Riviére, perto de Chinon.
24 Santiago de Compostela, a mais ilustre das romarias durante to da a
Idade Média.
25 O relicário de Chambéry ardeu no dia 4 de Dezembro de 1 532, o que per
mite datar a guerra picrocolina; a relíquia do Santo Sudário foi poupada pelo
fogo . Calvino (Tratado das Rellquias, 1 534) troça dos numerosos sudários que
as cidades disputam entre si: <Jlá pelo menos uma meia dúzia de cidades que
se gabam de possuir todo o sudário do sepulcro; como Nice, o que para ali foi
transportado de Chambéry; etc . ... »
26 A relíquia de Cadouin, perto de Bergerac, ainda existe; a abadia per-
123
RABELAIS
tencia a Geoffroy d'Estissac. Calvino (op. cit.) cita-a entre os santuários que
pretendiam possuir o Sudário: <<Item, Cadouin no Limousin.>>
27 O mosteiro de Saint-Jean d'Angely (Charente-Maritime) conservava
a cabeça de S. João B aptista.
28 Os hidrópicos vinham implorar a sua cura na igreja de Santo Eutrópio
em Saintes ( Ch.-M.)
29 S. Mesme, confessor, estava sepultado na igreja do mesmo nome em
Chinon. Na Touraine fa2iam-se muitas peregrinações a este santo.
30 S. Martinho, bispo de Tours, morreu em Candes (perto de Chinon); o
seu culto, espalhado por toda a França, era especialmente vivo em Candes, on
de se conservavam as suas reliquias.
31 Saint Cloud ou Clodoald (522-560), neto de Clovis, renunciou ao trono
para to mar ordens. A sua estátua na igreja de Cinais era um lugar de peregri
nação.
32 No começo do século XVI, o cardeal Perrault, originário desta aldeia,
trouxera de IWma uma quantidade de relíquias (os ossos de Abraão, um frag
mento da vara de Aarão, etc.). Javarsay ou a igrej a de Saint-Chartier de Ja
varsay fica no distrito de Melle (Deux-Sevres).
33 A ironia de Rabelais a propósito do culto dos santos e das relíquias (co·
mo a irrespeitosa aproximação de Sainte Nitouche e de S. Jorge) aproxima-se
muito das críticas de Calvino e de Henri Estienne (Apologia de Heródoto).
34 Comparação proverbial cuja ironia é sublinhada pela alusão ao cami
nho de Faye, particularmente sinuoso e difícil. Possível trocadilho entre Foi
(fé) e Faye.
35 Personagem lendária, primo dos quatro filhos Aymon, e grande mata
dor de sarracenos.
124
CAPÍTULO XXVIII
125
RABELAIS
126
GARGÂNTUA
NOTAS
I O castelo de La Roche-Clermault era muito importante no século XVI,
dominando a região de Chinon e Seuilly.
2 Este quadro de vigília ao canto da lareira, acompanhada de contos, esta
belece um contraste pitoresco com os intuitos guerreiros de Picrocole.
3 O pai de Rabclais, Antoine Rabelais, fora durante vinte anos senescal
de Lerné, como mandatário de Gaucher de Sainte-Marthe (Picrocole). Tive
ra, por conseguinte, boas relações com ele (até 1 527, conforme nos garante
Abel Lefranc).
4 Grandgousier está consciente dos seus deveres de soberano; em troca
dos subsídios fornecidos pelo povo, assegura a sua protecção.
5 Esta regra de paz figura no lnstitutio principis christiani de Erasmo.
6 Os bascos e os gascões serviam muitas vezes como criados (cf. Marot,
EpUre au Roi).
7 O começo da «guerra picrocolina>> recorda a invasão do paíS' dos amau
rotas pelos dípsodos no Pantagruel (caps. XXIII e seguintes), mas o tom é dife
rente; no Pantagruel, a paródia épica é pura fantasia, ao passo que Gargântua
transpõe, em parte, para o mundo épico o conflito jurídico que opõe o pai de Ra
belais a Gaucher de Sainte-Marthe.
127
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Teatro da
GUERRA PICROCOLINA
«O fervor dos teus estudos exigia que por muito tempo não te
afastasse desse filosófico repouso, se a confiança dos nossos
amigos e antigos confederados não tivesse presentemente frus
trado a segurança da minha velhice. Mas, já que o destino
quer que eu seja inquietado por aqueles em quem mais repousa
va, tenho de chamar-te em socorro das gentes e dos bens que
por natural direito te foram confiados.
»Pois, assim como as armas são débeis na rua se dentro de
casa não reinar o con selho, é vão o estudo e inútil o conselho
que, por virtude, não for posto em execução e reduzido ao seu
efeito em tempo oportuno.
>>A minha deliberação não é provocar, mas pacificar, defen
der; n ão é conqui star, mas guardar os meus fiéis súbditos e ter
ras hereditárias, nas quais Picrocole entrou hostilmente sem
causa nem ocasião, e de dia para dia leva avante a sua furiosa
empresa com excessos não toleráveis por pessoas livres.
>>Senti-me no dever de moderar a sua cólera tirânica, ofere
cendo-lhe tudo quanto pensava que pudesse contentá-lo, e por
várias vezes lhe enviei amigavelmente emissários para saber
em quê, como e por quem se sentia ultrajado, mas por resposta
só obtive um desafio voluntário e que estava nas minhas terras
apenas por conveniência própria. Compreendi, pois, que o Deus
Eterno o deixou ao leme do seu livro arbítrio e entendimento
próprio, o qual só pode ser mau se por graça divina não for conti
nuamente guiadol , e que, para eu o conter e o reduzir ao conheci
mento, mo enviou aqui com intenções hostis.
>>Por isso, meu filho bem-amado, o mais cedo que possas, e
assim que receberes estas cartas, volta diligentemente para so
correres, não tanto a mim (o que todavia, por piedade, deves fa-
129
RABEIAIS
zer naturalmente), mas aos teus, a quem por razão não podes
salvar e guardar. Realizaremos o feito com o menor derrama
mento de sangue possível, e, se possível, com engenhos mais ex
pedi entes, com cautelas e manhas de guerra, salvaremos todas
as almas e enviá-las-emos felizes aos seus domicílios.
>>Caro filho, a paz, a paz de Cristo, nosso redentor, esteja con-
tigo2 .
>>Saúde Ponócrates, Ginasta e Eudémon da minha parte.
>>Vinte de Setembro3.
>>Teu pai,
GRANDGOUSIER.>>
NOTAS
1 Grandgousier considera que Picrocole foi abandonado pela Graça divi
na e está entregue à sua vontade humana, a qual, maculada pelo pecado origi
nal, só pode ser má. É a doutrina dos <<Evangélicos». No cap. LVII, atribui no
entanto maior liberdade à razão humana. O problema da Graça que dividia
católicos e protestantes ressurgirá no século XVII com o jansenismo.
2 Fórmula empregada sobretudo pelos Evangélicos e protestantes.
3 Esta data recorda-nos que a cena se passa durante as vindimas.
130
CAPÍTULO XXX
NOTAS
I Um parente de Rabelais, advogado do rei em Chinon, chama-se Jean
Gallet. Representou os mercadores do Loire contra Gaucher de Sainte-Marthe
no Parlamento de Paris no processo causado pelas pescas instaladas por Gau
cher em detrimento da navegação fluvial. Ulrich e Jean Gallet são provavel·
mente uma e a mesma pessoa.
2 O gué de Vede,já referido.
3 É o moleiro do Moulin du Pont.
131
CAP ÍTULO XXXI
132
GARGÂN'JUA
133
RABELAIS
NOTAS
I Provável alusão à vitória de Carlos VTII sobre os poitevinos, bretões e
manceaux em Saint-Aubin-du-Cormier em 1 488, e à anexação da Bretanha
à França.
2 Já se falou do pais de Canarre no Pantagruel (cap. XXll) , e no Gargân
tua (cap. XII) ; é um pais imaginário (as Canárias?) que simboliza o exotis-
mo.
3 Cidade fundada por Cristóvão Colombo, em 1493, no Haiti. A aproxima
ção das províncias francesas e dos territórios da América é uma maneira de
significar o mundo inteiro . Ampliação oratória burlesca do diferendo entre o
pai de Rabelais e Gaucher.
4 «Revolução». A ideia de um ciclo passando da felicidade à infelicida
de era corrente entre os antigos; na Idade Média, é simbolizada pela roda da
Fortuna.
5 O diabo (do grego Õta�aÃ.Â.ro: caluniar).
6 Moeda bizantina (e daí o nome) que, por causa da sua grande estabilida
de, foi usada como moeda internacional durante toda a Idade Média.
7 Calendário romano: 1 5 de Maio .
8 Este nobre discurso termina de maneira burlesca. Toumemoule: Roda
-a-mó - entre os romanos eram os escravos da pior espécie que faziam rodar
a mó do moinho; Bas--de-{esses: Baixo de nádegas; Menuail é derivado de
<<menU••, miúdo, vil: homem insignificante; Gratelles vem de <<gratter», co
çar: o príncipe de Gale (sarna); Morpiaille é formado por «morpion», piolho.
O estado-maior de Picrocole é constituído por gente sem préstimo. Rabelais
quis sublinhar a paródia da eloquência ciceroniana com esta conclusão vul
gar, quando o uso da retórica leva, pelo contrário, a esperar um empolamento
oratório.
134
CAP ÍTULO XXXI I
135
RABEI.AIS
136
GARGÂNTUA
NOTAS
1 Sucessão de jogos de palavras: molle (mole) (adj.) e mole (mó), de onde
o verbo <<moer>>; ironicamente, Picrocole apresenta os seus soldados como uns
pastelões sem virilidade, uns <<Colhões-moles».
2 Como nos caps. xxvm e XXIX, Grandgousier implora a Providência divi
na. Gargântua, embora crente, confia sobretudo na sua razão.
3 Grandgousier, rei prudente, investiga sobre as origens do conflito, ao
passo que Picrocole se enfurece ao ouvir as queixas dos biscoiteiros (cf. cap.
XXVI).
4 Na origem, uma moeda com a effgie de Filipe, rei da Macedónia, e de
pois, por extensão, toda a moeda de ouro .
5 Os barbeiros faziam as vezes de cirurgiões.
6 La Pomardiere era uma quinta de Seuilly, pertencente à família de Ra
belais. Também se fala nesta quinta (bem como de La Deviniere) no discurso
de Panúrgio a Pantagruel (Pantagruel, cap. IX).
7 Trata-se de um dom hereditário e sem contrapartida. A generosidade
de Grandgousier é muito superior aos danos causados.
8 Prado bordejado de salgueiros ao longo do Vede. Já foi referido atrás,
no cap. IV.
9 Termo do direito feudal: a terra alodial é um bem hereditário, isento de
qualquer obrigação .
137
CAPÍTULO XXXI II
138
GARGÂNTUA
139
RABELAIS
140
GARGÂNTUA
mos à vontade.»
Então disse Ecéfron :
<<E se acaso nunca voltásseis, pois a viagem é longa e peri
gosa? Não seria melhor repousarmos desde já, sem nos meter
mos nessas aventuras?»
«Oh, por Deus !», disse Spadassin, «que grande sonhador!
Então vamos esconder-nos ao canto da lareira e passamos a vi
da com as damas a enfiar pérolas ou a fiar como Sardanapa
lo39. Quem não se aventura perde o cavalo e a mula, já disse Sa
lomão.»
«E quem se aventura de mai s», disse Ecéfron, «perde o ca
valo e a mula, respondeu Malcon40.,
«Basta!», disse Picrocole. «Adiante. Só receio o diabo das
legiões de Grandgousier. E se, enquanto estamos na Mesopotâ
mia, eles nos apanham por trás, que fazer?»
« É muito fácil», disse Merdaille . «Uma comissãozinha
que enviareis aos moscovitas con seguir-vos-á quatrocentos e
cinquenta mil combatentes de e scol. Se me fizerdes lugar-te
nente, matarei um pente por um retroseiro41 ! Eu mordo, atiro
-me, bato, apanho, mato, renego!»
«Eia ! , eia!», disse Picrocole. «Despachem tudo, e que m e si
ga quem me ama42_,
NOTAS
1 Este emprego da palavra italiana como nome próprio é raro no século
XVI. Quanto ao duque de Menuail e ao capitão Merdaille, vide cap. XXXI . O ter
mo Merdaille era geralmente aplicado aos jovens recrutas.
2 Alexandre da Macedónia.
3 Itinerário lógico na direcção sudoeste: Aunis, Saintonge, Angoumois,
Gasconha, Périgard, Médoc, Landes.
4 Estreito de Gilbraltar ou de Sevilha. Sibila é provavelmente uma defor
mação da palavra Sevilha.
5 Colunas de Hércules era o nome que, na Antiguidade, se dava ao estrei
to de Gibraltar.
6 Alcunha de Kha!r Eddyn, corsário turco (1476-1 546), que comandava
em Argel.
7 Os principais portos do Norte de África: Túnis, Bizerta (em latim Hip
po Diarrhytus), Argel (a Cosmografia de S. Münster ortografa Argier), Bone
(Hippe Regius para os romanos), Corene (Cirene na Antiguidade).
141
RABELAIS
etc.
25 Vide a jura de Panúrgio no Quarto Livro, cap. xxvm: <<Virtude de um
peixinho!»
26 Zelândia, província dos Países Baixos.
27 Os mercenários suíços dos reis de França vinham dos cantões de Uri e
U nterwald. Os lansquenés eram recrutados sobretudo na Alemanha.
28 A Suábia e o Wurtemberg.
29 A Suécia.
30 A Dinamarca.
31 O país dos godos, isto é, o Sul da Suécia.
32 A Gronelândia.
33 Os habitantes das cidades hanseáticas (Brema, Lubeque, Hamburgo) a
que Commynes chama <<Oustrelins».
34 O mar dos bancos de areia, isto é, o Báltico.
35 O império de Trebizonda, fundado em 1 204 por Aleixo Comneno após a
tomada de Constantinopla pelos cruzados. Como Constantinopla, Trebizonda
era u ma das cidades maravilhosas que alimentavam o cândido exotismo dos
romances de cavalaria.
142
GARGÂNFUA
143
CAPÍTULO XXXIV
144
GARGÂNIUA
NOTAS
1 Ponte sobre o rio Vienne, entre Chinon e La Roch�lennault, sobre a
lO 145
RABELAIS
146
CAPÍTULO XXXV
147
RABELAIS
NOTAS
1 Os <<francs-taupins», milicia rural criada por Carlos Vll e suprimida
por Luís XII, passavam, com os «francs-archers», por serem muito belicosos
(cf. Le Franc-Archer de Bagnolet).
2 Trata-se do breviário. Como eram muito volumosas, as braguilhas per
mitiam guardar uma quantidade de objectos variados (cf. cap. Vlll) .
3 <<Deus é santo», fórmula grega de exorcismo. O ingénuo Bon Joan to
mou à letra as palavras de Tripct.
148
GARGÂNJUA
149
CAPÍTULO XXXVI
150
GARGÂNTUA
151
RABELAIS
NOTAS
1 Rabelais parece ser o primeiro a introduzir esta palavra grega na lfn
gua francesa. Seria, aliás, autor de uma obra em latim, traduzida para o fran
cês, de que apenas se conhece o título: «Estratagemas, ou sej a proezas e astú
cias de guerra do bravo e muito célebre cavaleiro Langey, etc.•
2 Alusão a um milagre de S. Martinho: enquanto o santo dormia, o seu
bordão espetado no solo encheu-se de folhas.
3 Patrono dos Escoceses, j á invocado anteriormente.
4 Alusão ao De natura animalium, XVI, 25, de Eliano, onde este opõe o mé
todo de amestramento de Diómedes e de Ulisses ao dos Persas, que utili2avam
bonecos cheios de palha.
5 Tratamento dos animais.
152
CAPÍTULO XXXV I I
153
RABELAIS
NOTAS
1 O Suplemento do Suplemento das Crónicas, título fictício para troçar da
mania dos comentários aos comentários.
2 Os gaviões de Montaigu são os piolhos dos alunos de Montaigu. Este co
légio foi já referido no Pantagruel, sendo conhecido pela sua sujidade e tam
bém pelo apego do seu principal, Béda, às tradições escolásticas (cf. Panta
gruel, cap. VII). O colégio Montaigu era onde hoje fica a biblioteca Sainte-Ge
nevieve.
3 Os mendigos de Saints-Innocents são citados no Pantagruel, cap. XVI .
Panúrgio vai buscar a esta assembleia de mendigos as pulgas e os piolhos
que, na igreja, deita <<nas golas das mais açucaradas donzelas» ... O cemité
rio dos Saints-Innocents, situado atrás das Halles, tinha um ossário onde os
pedintes se aqueciam queimando as ossadas.
154
GARGÂNTUA
155
CAP ÍTULO XXXVI I I
156
GARGÂNIUA
157
RABEl.AIS
NOTAS
I Saint-Sébastien d'Aignes. A sua peregrinação era célebre no Poitou e
em Saintonge, pela cura das mordeduras das serpentes.
2 O tonel da abadia de Cfteaux na Borgonha remontaria à fundação do
mosteiro por S. Bernardo e conteria 300 muids.
3 Nome familiar dos peregrinos a caminho do Mont-Saint-Michel.
4 Certamente o bosque do Alleu.
5 O castelo do Coudray-Montpensier (cf. cap. IV).
6 Farto-de-andar, rico nome para um peregrino!
7 Rabelais troça das relíquias (verdadeiras ou falsas), das peregrina
ções (cf. cap. XXVII) e das aplicações abusivas das Sagradas Escrituras à vida
quotidiana. Lasdaller cita o salmo CXXIII , salvo o primeiro versículo, entre
meando-o de aplicações à sua desaventura: (Se o Senhor não tivesse estado
por nós) <<qu ando os homens se levantaram contra nós, decerto nos teriam en
golido vivos . . . Quando se acendia o seu furor contra nós, então a água nos te
ria submergido . . . A nossa alma transpôs a torrente ... Decerto a nossa alama
teria atravessado essa inundação intransponível . . . Bendito o Senhor que não
nos deu aos seus dentes por pressa . . . A nossa alma, como o pássaro, escapou
do laço dos caçadores . . O laço foi quebrado (por Fournillier) e nós ficámos li-
.
158
CAPÍTULO XXXIX
159
RABELAIS
1 60
GARGÂNTUA
um homem que foge quando deve puxar da faca. Oh! por que
não sou rei de França durante oitenta ou cem anos! Por D eus,
cortava o rabo e as orelhas aos fugitivos de PaviaB! Que a febre
quartã os carregue ! Por que não morreram ali em vez de deixa
rem o seu bom príncipe naquele aperto? Não é melhor e mais
honroso morrer virtuosamente batalhando do que viver fugin
do vilmente? . . . Não comeremos muitas aves e ste ano . Ai, ..
NOTAS
1 «Retirada a capll>>, evocação do ritual indicando o momento em que o ce
lebrante deve despir a capa de asperges.
2 «Nas regras da ordem»; possível alusão à infracção cometida por Rabe
lais, que trocara o hábito de frade pelo de padre secular.
II
1 61
RABElAIS
1 62
CAPÍTULO XL
1 63
RABELAIS
164
GARGÂNTUA
também torradas!»
NOTAS
1 Erasmo (Adágios, II, 8) compara os frades com zângãos inúteis.
2 (As abelhas) •<afastam os zângãos, corja preguiçosa, diz Virgílio (Vir
gilius Maro) das suas colmeiaS.>> (Geórgicas, canto IV, v. l68.)
3 Cit�ção de Aulo Gélio (Noites Aticas, II, 22) reproduzida nos Adágios de
Erasmo (1, 5), que inspira toda a sátira dos frades.
4 Trocadilho sobre retraits, retretes, e retraites, retiros.
5 Esta passagem é extraída de Plutarco, Como se pode distinguir o amigo
do bajulador, 23, que o próprio Erasmo havia citado.
6 Por exemplo Lctevre d'Etaples (cf. cap. XXVII).
7 Evocação de S. Paulo, Ep(stola aos Romanos, VIII, 26.
B Frei Jean representa a piedade activa, segundo o ideal de Rabelais e até
de Francisco I.
9 Oficios no aniversário da morte de um fiel.
1 0 Região nas proximidades de Fontenay-le-Comte (Vendeia), cujas cas
tanhas eram famosas. As castanhas apanham-se no Outono, no tempo do «VÍ
nho noVO>>.
11 Trocadilho entre pets (peidos) e paix (paz) inspirado na locução latina
componere pacem.
1 2 Na juridisção eclesiástica, os promotores tinham as funções do minis-
tério público nos tribunais dos nossos dias.
1 3 Porquê? Porque ...
1 4 Referência a S. Paulo, Epístola aos Romanos.
1 5 «Pela forma do nariz se conhece que Ad te levavi>> (ergui-me para ti),
transposição burlesca do salmo CXXII .
1 65
CAPÍTULO XLI
166
GARGÂNTUA
Eu compus com o meu apetite um pacto tal que ele se deita sem
pre comigo, e vou tratando disso durante o dia de tal m aneira
que também se levanta comigo. Vomitai tanto quanto quiseres,
que eu cá vou buscar o meu vomitivo.>>
«Que vomitivo?», perguntou Gargântua.
<<O meu breviário», diz o frade, <<pois, assim como antes de
alimentar as suas aves os falconeiros as fazem deitar fora
uma pata de galinha para lhes purgar o cérebro dos humores e
para lhes dar apetite, também eu, pegando neste rico breviario
zinho6 logo de manhã, limpo os pulmões e fico pronto para be
ber.»
<<Segundo que rito», diz Gargântua, <<ditais essas belas ho
ras?»
<<Segundo o rito de Fecan7, com três salmos e três liçõess ou
nada para quem não quiser. Nunca me sujeito às horas: as ho
ras foram feitas para o homem e não o homem para as horas9.
Por isso faço as minhas correias dos estribos; encurto-as ou
alongo-as quando me convém: brevis oratio penetrat celos, lon
ga potatio evacuat cyphosl0• Onde é que isto está escrito?»
<<Por minha fé,, diz Ponócrates, <<não sei, meu colhãozi
nho; mas tu vales muito !»
<<Nisso sou como vós», diz o frade. <<Mas venite apote
mus1 1 .»
Preparam-se muitos grelhados e belas migas, e o frade be
beu à sua vontade. Alguns fizeram-lhe companhia, outros abs
tiverem-se. Depois começaram a armar-se e a vestir-se, e ar
maram o frade contra a sua vontade, pois as únicas armas. que
queria eram o hábito à frente do estômago e o bastão da cruz no
punho. Todavia, armaram-no dos pés à cabeça e montaram
-no num belo corcel do reinol 2, com um grande bacamarte ao la
do, com Gargântua, Ponócrates, Ginasta, Eudémon e vinte e
cinco dos mai s aventureiros da casa de Grandgousier, todos
bem armados, de lança em punho, montados como S. Jorge, e le
vando cada qual um arcabuzeiro à garupa.
NOTAS
I Os sete salmos da Penitência (Salmos VI, XXXII, XXX VII , LI, Cl, CX-
XIX, CXLll).
2 Começo do primeiro versículo do segundo salmo da penitência.
3 Refrão de uma canção popular na Idade Média.
4 Para aclarar a voz.
1 67
RABELAJS
5 Ditado popular referido por Mathurin Régnier (Sátira X): «Um jovem
médico vive menos que um velho bêbado.>>
6 Frasco em fomia de breviário (cf. cap. V).
7 Ignora-se o motivo desta alusão à abadia beneditina de Fécamp.
B Oficio abreviado, pois as matinas eram compostas de doze salmos e três
lições, salvo no tempo da Páscoa.
9 Referência a São Marcos, II, 27.
1 0 Gracejo monástico: «Prece curta chega ao céu, longa bebedura esvazia
os copos.» Erasmo (Colóquios) cita a primeira parte do ditado.
1 1 «Vinde e bebamos•, transposição burlesca do Venite adoremus.
1 2 Locu ção italiana: <<do reino de Nápoles», cujos cavalos eram famosos
no século XVI.
168
CAP ÍTULO XLII
1 69
RABEl.AIS
Monachus in claustro
Non valet ova duo;
Sed, quand est extra,
Bene valet triginta7.,,
1 70
GARGÂNTUA
NOTAS
Título invertido.
2 Personagem desconhecida.
3 «Dos frígidos e impotentes . . . », título de um parágrafo dos Decretais.
4 Na Bíblia, Livro dos Reis, II, 1 8.
5 De três pontas, como o raio de Júpiter: tripla excomunhão.
6 «Sobre o desprezo do mundo e a fuga do século.»
7 «Um monge no claustro não vale dois ovos, mas quando sai vale bem
trinta.••
8 O Diabo. Frei Jean inverte a ordem das imprecações.
9 «Em tempo e lugar>•, divisa de Rabelais, segundo antigos comentado-
res.
1 71
CAPÍTULO XLIII
1 72
GARGÂNTUA
1 73
RABELAIS
NOTAS
I Nome de um vinho precoce... que parece indicar um conselheiro muito
apressado para ser reflectido.
2 Que foge diante da balatalha>>; será no entanto o único a enfrentar Frei
Jean.
3 A água gregoriana, uma mistura de água, vinho e cinzas, segundo
uma fórmula de S. Gregório, era utilizada para purificar as igrejas profana
das.
4 Antiga leprosaria (ladre: leproso) na extremidade da ponte da Non
nain; actualmente, Saint-Lazare.
5 Rivalidade entre o clero secular e o clero regular, brejeiramente evoca-
da por Frei Jean.
6 Este conselho já vem em Virgílio (Eneida, II, 354).
7 Erasmo (Apotegmas, VIII , 14) atribui um dito análogo ao rei de Aragão.
8 ,.A_voir le moine» também significa «ser ludibriado» (cf. cap. XII), mas
aqui a expressão é tomada em sentido próprio .
9 O vale das nogueiras novas, sem dúvida perto de Seuilly.
1 74
CAPÍTULO XLIV
COMO O FRADE SE DESFEZ DOS SEUS GUARDAS,
E COMO A ESCARAMUÇA DE PICROCOLE
FOI DESFEITA
1 75
RABEIAIS
1 76
GARGÂNfUA
NOTAS
12 1 77
CAPÍTULO XLV
1 78
GARGÂNIUA
1 79
RABELAIS
NOTAS
1 Ludibriar; cf. cap. XLIII.
2 Todas estas localidades ficam nos arredores de Châteauroux.
3 Vide o começo do cap. xx:xvm .
4 A peregrinação era essencialmente frequentada pelas vítimas das ser
pentes; no entanto, Calvino indica que a cura da peste era um dos atributos de
S. Sebasti ão, cujas relíqu ias se teriam <<multiplicado em quatro corpos intei
ros>> nos quatro santu ários . Alusão às quatro epidemias de peste que assola
ram o Berry no tempo de Rabclais (1 516, 1 51 7, 1 524 e 1 526).
5 Alusão à superstição popular que atribui aos santos não só o poder de cu-
·
rar mas também de fa2er adoecer.
6 Referência à lllada, canto 1: o exército dos gregos é assolado pela peste
enviada por Apolo, cujo sacerdote fora ultrajado por Agamérnn o n.
7 Vcjovis, deus malfazejo, venerado em Roma, citado por AuJo Gélio e
por Erasmo (Elogio da Loucura).
8 Cinais, a paróquia de La Dcvinicre, já referida no cap. IV .
9 O mal dos ardentes ou fogo de Santo António (cf. cap. XIII), tão frequente
na Idade Média.
1 0 Santo Eutrópio, venerado cm Saintcs, cuja catedral tem o seu nome (cf.
cap. XXVII).
1 80
GARGÂNTUA
1 81
CAPÍTULO XLVI
COMO GRANDGOUSIER
TRATOU HUMANAMENTE
O PRISIONEffiO TOUCQUEDILL ON
1 82
tros, no que, se por azar acontecesse, ordena que se use de toda a
modera ção. Se lhe chamais guerra, é apenas su p e rfi ci a l , e n ão
entra no profundo gabinete4 dos nossos corações; poi s n enh um
de nós foi ultrajado na sua honra, e trata-se afinal de rep arar
al guma falta cometi da pelos nossos, isto é, os nossos e os vos
sos5, a qual , ainda que tomásseis conh ecime nto dela, devíeis
de ixar passar, pois as personagens envolvidas na querela
eram mais para desprezar do que para lembrar, mesmo satisfa
zendo-as segundo os seus agravos, como eu me ofereci p ara fa
zer. Deus estimará j ustamente o nosso diferendo, e su plico
-Lh e que antes m e leve desta vi da e arruíne os meus bens do
que ser ofendido nalguma coisa por mim e pelos meus.»
Terminadas e stas palavras, chamou o frade, e perguntou
-lh e d i ante de todos:
<< Frei Jean, meu bom am i go, fostes vós que capturastes o ca
pitão Toucquedillon aqui presente?••
<<Sire», di z o frade, <<ele está presente; tem ida de e discern i
mento, e e u prefiro que o saibais pela sua confissão el o que pela
minh a palavra.••
Então diz Toucquedillon;
<<Sen hor, foi na verdade ele quem me capturou , e eu con sti-
tuo-me francamente seu prisioneiro.••
<<E pedistes resgate por ele?••, diz Grandgousi er ao frade.
<<Não•• , di z o frade. •<Isso não me interessa.»
<<Quanto pretenderíeis•• , di z Grandgousier, <•pel a sua ca ptu
ra?>>
<< Nada , nada••, di z o frade ; <<isso n ão i mporta.••
E n tão Grandegousier ordenou que, na presen ça de Touc que
di llon , se dessem ao frade sessenta e dois m il salusG por aquela
captura, o que foi feito enquanto deram de comer ao d i to Touc
quedillon, ao q ual Grandgousi er perguntou se queria fi car
com ele ou se preferi a ir ter com o seu rei.
Toucquedi ll on respondeu que faria o qu e e l e l h e acon sel h as-
se.
•• Então•• , diz G r a n dgousier, ••voltai para o vosso re i , e que
Deus vos acom panhe.>>
Depoi s deu-lhe uma bela espada de Vienne7, com a bainha
de ouro, ornada de bonitas vinhetas8 de ourivesaria, e um colar
de ouro que pesava setecentos e dois mi l marcos9, guarnecido
de finas pedrarias avaliadas em cento e sessenta mil duca
dost o, e dez m i l escudos como presente honorável. Depois disto,
Toucquedillon montou-se no seu cavalo. Para garantir a sua
segurança, Gargântua deu-lh e trinta homens de armas e seis
1 83
RABEl.AIS
NOTAS
1 O pacifismo de Grandgousier baseia-se no . Evangelho: os soberanos
cristãos não devem comportar-se como os conquistadores pagãos.
2 Vitorioso, Grandgousier comporta-se generosamente, conforme prome
tera nos caps. XXIX, XXX e XXXI .
3 República, livro V, 470 c. Mas, como muitas vezes acontece, Rabelais
contenta-se com a abreviatura utilizada por Erasmo no lnstitutio principis ch
ristiani.
4 Neologismo vindo do italiano, cabinetto, pequeno quarto.
5 Grandgousier admite a partilha das responsabilidades; oferecera em
vão enormes indemnizações (cf. cap. XXXII), particularmente La Pomardi�re
para Marquet.
6 Moeda cunhada pelos reis de Inglaterra, quando ocupavam Paris du
rante a guerra dos Cem Anos; representava a saudação angélica, e daí o seu
nome. Sendo uma moeda de ouro, o resgate era muito avultado: o salus valia
1 2 francos ouro.
7 Vienne no Dauphiné, onde havia fábricas de armas.
8 Cinzelados em forma de parras de uva.
9 Se o marco pesa 250 g, o colar atinge o peso de 1 75 000 kg. Após o grave
discurso de Grandgousier, voltam os efeitos cómicos do gigantismo.
10 O ducado de Veneza valia quase 1 2 francos ouro, e os escudos de ouro
um pouco menos que os salus.
184
CAPÍTULO XLVII
1 85
RABELAIS
1 86
GARGÂNIUA
NOTAS
187
RABELAIS
188
CAP ÍTULO XLVIII
1 89
RABELAIS
190
GARGÂNTUA
NOTAS
I É a op1mao dos historiadores latinos relativamente aos gauleses (cf.
Tito Lfvio, livro X, 28); Rabelais deve ter ido buscá-la a Erasmo, que a refere
nos seus Apotegmas, VI, Varie mixta, 1 00.
2 Frei Jean surpreende Picrocole pelas costas; Le Puy, hoje Peux-Girard;
o grande caminho é o de Loudun a Chinon.
3 O Prudente (do grego <ppovnO'tT]Ç).
4 O Respeitável (do grego OE13acrtÇ). Os chefes de Grandgousier têm nomes
que zimbolizam as virtudes, ao passo que os de Picrocole têm nomes satíricos.
5 O sujeito de «renderam-se» é, evidentemente, as tropas de Picrocole.
6 Esta batalha deu origem aos estudos de Albert Rossi, Rabelais écrivain
militaire, 1 892; do coronel de la Barre-Duparcq, Rabelais stratégiste; de Gi
gon, L'Arte militaire de Rabelais (R. E. R., tomo V). A estratégia de Gargân
iu a não tem nada de complicado e só leva em conta a topografia, que Rabelais
conhecia perfeitamente.
1 91
CAP ÍTULO XLIX
192
GARGÂNJUA
NOTAS
1 Cf. cap. XLVII.
2 A estupidez de Picrocole leva-o a privar-se do único meio de fuga; chole
(bílis, cólera) evoca o nome simbólico do adversário de Gargãntua.
3 Aldeia no Indre, perto de Azay-le-Rideau.
4 O audacioso (do grego 'tOÂ!lTIPoÇ).
13 193
CAP ÍTULO L
1 94
GARGÂNIUA
195
RABELAIS
196
GARGÂNTUA
NOTAS
1 A oposição entre os arcos do triunfo, os templos e altares sujeitos à des
truição, e a glória imortal foi inspirada no Paneglrico de Trajano, LV, de Plí
nio o Jovem.
2 Em Saint-Aubin-du-Cormier, La Tremoille, por conta do rei de Fran
ça, esmagou o exército do duque da Bretanha, Francisco II, e capturou o duque
de Orléans, futuro Luís XII (1 488) . Esta memorável batalha já foi referida no
cap. XXXI , na arenga de Gallet a Picrocole.
3 Alusão à tomada de Parthenay (1 487) por Carlos VIII ; o rei poupou a
guarnição e contentou-se com o desmantelamento das fortificações. Neste ca
pítulo, Grandgousier já não representa Antoine Rabelais mas Carlos VIII,
sendo Gargântua assimilado a Luís XII. Os gigantes de Rabelais possuem
uma grande disponibilidade simbólica.
4 <<Espanhola», nome dado por Cristóvão Colombo ao Haiti. É claro que
os Haitianos nunca atacaram a Vendeia, a menos que <<OS bárbaros de Spagno
la» sejam simplesmente os espanhóis, que não se privaram de atacar as cos
tas francesas.
5 As fronteiras marítimas de Sables-d'Olonne e de Talmont (na Ven-
deia). .
6 Nome imaginário formado segundo o modelo dos heróis antigos Aní- ·
bal, Hasdníbal, etc. O reino dos canarres (as Canárias?) j á apareceu várias
vezes no Pantagruel (caps. XI, XXIII, XXN) e no Gargântua (caps. XIII, XXXI) .
7 O Aunis.
8 Possível alusão ao cativeiro de Francisco I após a derrota de Pavia
(1 525). Carlos V usava o título de rei católico.
9 A generosidade recíproca de Gargântua e de Alfarbal encerra talvez
uma lição de humanidade aos espanhóis, que se mostravam impiedosos com
os indígenas da América (cf. também Montaigne, Des coches, III . vi). Em toda
esta passagem, a geografia real, extraída de Grynaeus, Novus orbis regia
num ac insularum veteribus incognitarum, Basileia, 1 532, e a fantasia con
fundem-se. Alex. Cioranescu (H. e R., tomo XXV, 1 963) vê neste capítulo o <<em
brião do tema do 'Bom selvagem'.»
10 Foi precisamente o que fez Carlos V com Francisco I. Os príncipes
franceses, prisioneiros em Madrid, responderam pelo pai após a sua liberta
ção.
11 O quilate representava a 24.• parte do denário, que servia para avaliar
1 97
CAPÍTULO LI
198
GARGÂNJUA
NOTAS
1 Conselheiros de Picrocole (cf. cap. XXXI II ).
2 O Col d'Agnello (Alpes Marítimos) por onde passara o exército de Fran·
cisco I, vitorioso em Marignan (1 515).
3 l<lgrofio, na Navarra espanhola.
4 Os humanistas nunca deixam de celebrar a invenção da imprensa (cf.
Pantagruel, cap. VIII).
5 Estes lugares não foram identificados.
6 Hospital; é a única vez que Rabelais emprega a palavra latina nosoco·
mium.
7 A décima legião: esta locução, tirada do exército romano, tem o sentido
de tropas de escol.
B Segundo a Bíblia (Livro de Ester), Assuero deu um festim que durou 1 80
dias.
9 Castelo perto de Richelieu. O capitão Tolmere (o Audacioso) foi citado
no começo do cap. XLIX.
I o O Directo (que vai em linha recta).
11 O Infatigável.
1 2 Todas estas localidades da região de Chinon foram citadas no começo
do cap. XLVII.
1 3 Quironacta: o que trabalha com as mãos; Sebasta: o Venerável; Sófra
ne: o Temperante. Todos estes nomes de capitães são tirados do grego . O sim
bolismo fictício contrasta com a realidade dos nomes das cidades.
1 99
CAPÍTULO LII
200
GARGÂNFUA
cia era contar as horas - que bem vinha daí? -, e a maior lou
cura do mundo era governar-se pelo som de um sino, e não
pela ordem do bom senso e entendimento. Item, porque nesse
tempo só entravam no convento mulheres que fossem zarolhas,
coxas, corcundas, feias, tolos e empata-famílias . ..
<<A propósitO>>, diz o frade, <<uma mulher que não é nem bela
nem boa, para que serve?5,,
<<Para meter no convento>>, diz Gargântua.
<<Talvez>>, diz o frade, <<e para fazer camisas.>>
Ordenou-se que não se recebessem ali senão as belas, bém
feitas e de boa natureza, e os belos, bem feitos e de boa natureza.
Item, porque nos conventos das mulheres os homens só
entravam de fugida e clandestinamente, decretou-se que não
haveria lá mulheres quando não estivessem lá homens, nem
homens quando não e"tivessem mulheres.
Item, porque tanto homens como mulheres, uma vez entra
dos no convento e após um ano de noviciados, eram obrigados a
permanecer ali perpetuamente a vida inteira, e stabeleceu-se
que tanto homen s como mulheres que fossem recebidos sai
riam quando quisessem, livremente e inteiramente .
Item, porque ordinariamente os religiosos faziam três
votos, a saber: de castidade, pobreza e obediência, ficou determi
nado que ali se pode honradamente ser casado, e que cada qual
fosse rico e vivesse em liberdade.
Quanto à idade legítima, as mulheres eram recebidas dos
dez aos quinze anos, e os homens dos doze aos dezoito.
NOTAS
1 Trata-se sem dúvida de um nome simbólico: <<Abadia da Boa Vonta
de» (?), do grego 'tETI)lll , vontade, ou então uma evocação da deusa Thelemia.
2 Abadia beneditina perto de Saumur; como a de Bourgeuil, era muito
rica.
3 Rabelais situa a abadia de Theleme entre o Indre, o velho Cher e o
I..<J ire .
4 O desenvolvimento dos relógios (século XIII-XIV) está ligado às regras
monásticas: graças aos relógios, a repartição dos ofícios era metódica e regu
lar. Daí a aversão de Gargântua por essa mecânica de medir o tempo.
5 <<A quoi vaut-elle?, Mas telle c toille pronunciavam-se da mesma ma
neira, e daí o trocadilho de Frei Jean «para fazer camisas».
6 É o contrário das regras conventuais. A abadia de Theleme segue as
leis naturais corrigidas pelos costumes da vida da corte. O nascimento e a
educação são suficientes para fazer respeitar uma disciplina voluntária, ao
passo que (segundo Rabclais) os noviços e as noviças só pensavam em liber
tar-se das obrigações da sua ordem.
201
CAPÍTULO Lili
202
GARGÂNTUA
NOTAS
1 Moeda de ouro que valia cerca de 1 5 francos-<>uro; cf. cap. VIII (fim), no
ta 30.
2 A Dive Mirebalaise, rio próximo de La Devinicre, impróprio para a na
vegação e a fortiori para se obter uma receita de 1 669 mil escudos; o «escudo do
sol>>, cunhado por Luís XI, tinha um pequeno sol por cima da coroa.
3 Moeda imaginária: o sete-estrelo designava a constelação das Plêia
des.
4 Moeda de ouro inglesa com a rosa de Iorque:
5 A forma hexagonal com torres nos ângulos indica uma arquitectura de
transição entre o castelo da Idade Média e o palácio à italiana. A torre, como o
pombal, é um sinal de casa nobre; a casa de Montaigne tinha uma torre em ca
da canto do recinto; ainda subsiste a da biblioteca.
6 Setentrional (do grego apK"tt l(T] Ç).
7 Belo ar (do grego KCXÃOÇ, belo, e aTlP, ar).
8 Oriental (do grego ava-roÀT), oriente).
9 Meridional (do grego flWTlfll3 pmT) ).
10 Ocidental (do grego amua).
1 1 A glacial (do grego KpUE:pa).
203
RABELAJS
204
CAP ÍTULO LIV
Processos e debates
Pouco folguedo fazem aqui,
Onde se vem folgar.
205
RABEIAIS
206
GARGÂNTUA
Companheiros gentis,
Serenos e subtis,
SE)m vileza,
De civilidade
São aqui os instrumentos,
Companheiros gentis.
207
RABEl.AIS
NOTAS
208
GARGÂNTUA
formi stas, alvo das suas críticas. Só em 1 536 Calvino publica a sua Instituição
Cristã.
2 9 Por oposição aos hipócritas, que andam curvados.
30 Título de um poema de Octavien de Saint-Gelais; a morada da honra
é a corte.
31 Este poema, composto de estrofes de oito decassílabos e de sextilhas de
cinco pés, está em conformidade com as regras dos grandes retóricos, por
exemplo Jean Bouchet, de quem Rabelais era amigo.
14
209
CAPÍTULO LV
210
GARGÂNTUA
NOTAS
1 As fontes com motivos mitológicos caracterizam o Renascimento; cf. a
fonte dos Inocentes com três graças construída por Pierre Lescot e Jean Ckm.
jan, na esquina das ruas Saint-Denis «aux Fers» em 1 549.
2 Piscinas.
a. Águ a de m)rra ou água de anjo, perfume usado no século Xvt.
4 Pequeno bosque com alamedas entrelaçadas situado nos parques ou jar
dins à italiana.
5 O arquitecto Philibcrt de l'Orme pensara construir nas dependências
do castelo de Saint-Germain uns pórticos, um anfiteatro, estufas e banhos. Ca
da castelo tinha o seu jogo da pé la.
6 Os cretenses exportavam aves de caça por intermédio dos venezianos;
algumas vinham dos países do Norte (os sármatas) como a Pnissia, a Polónia
ou a Noruega.
7 Enumeração das principais aves de altanaria, da maior (a águia) à
mais pequena (o csmcrilhão, uma espécie de pequeno falcão). A águia servia
para a caça à raposa, o gerifalte é um falcão grande, o açor é uma ave de caça
ainda utilizada na Europa central e em Marrocos, os falcões e gaviões apanha
vam coelhos, e o esmerilhão os pardais.
8 Espelho de cristal importado de Veneza, geralmente muito pequeno; os
de Theleme são de tamanho excepcional. O uso dos espelhos em França era
ainda recente (1 530 ).
211
CAP ÍTULO LVI
212
GARGÂNTUA
213
RABEI.AIS
NOTAS
I O toucado à francesa era um penteado coberto por um capuz a tapar bem
a cabeça; o espanhol era feito de véus e rendas; o toscano (ou italiano) deixava
os cabelos à mostra, e compunha-se de rolos e tranças ornadas de jóias e pe
dras preciosas.
2 Epíteto homérico aplicado aos [caces na Odisseia: «célebre pelos seus
navios,>.
3 As Pequenas Antilhas. Quer se trate da América ou do Oriente, o exotis
mo é sempre caracterizado pelos fabulosos tesouros.
214
CAPÍTULO LVII
Toda a sua vida era regida não por leis, estatutos ou regras,
mas segundo a sua vontade e franco arbítrio. Levantavam-se
da cama quando queriam, bebiam, comiam, trabalhavam, dor
miam quando tinham desej o disso; ninguém os acordava, nin
guém os obrigava nem a beber, nem a comer, nem a fazer outra
coisa qualquer. Assim o estabelecera Gargântua. Na sua re
gra só havia esta cláusula:
FAZE O QUISERES.
215
RABEl.AIS
NOTAS
I Trata-se de uma moral aristocrática comparada à da prud'homerie dos
romances de cavalaria, e mais tarde à gloria dos heróis e heroínas de Corneil
le. O ideal thelemita limita-se a um escol.
2 Este traço geral do carácter humano inspirou a Montaigne o título de
um ensaio: «Que o nosso desejo cresce com dificuldade>> (II, xv).
3 Este ideal de cultura será realizado na corte de Catarina de Médicis pe
las suas damas de honor; Hélcne de Surgeres, a última inspiradora de Ron
sard, conhecia várias línguas e dominava tanto o verso como a prosa.
4 <<Incurável doença>•, segundo Margarida de Navarra (Heptameron, pró
logo).
5 Precisão destinada a dar um ar de antiguidade ao enigma, obra de Mel
lin de Saint-Gelais, filho do retórico Octavien de Saint-Gelais, poeta da corte
e rival de Ronsard quando este se estreava. O enigma, exercício de virtuosis
mo poético, era muito apreciado no século XVI. Segundo Thomas Sebillit CArt
poétique françoys, 1 548), é uma <<alegoria obscura», cujo tema é <<qualquer coi
sa particular e singular que se possa descrever, como os dados, os olhos, a ve
la, a bola e outras tais ... ». O enigma pouco difere do brasão, mas comporta, co
mo neste caso, duas ou mais interpretações, umas relacionadas com a vida
corrente, outras simbolizando uma posição filosófica ou religiosa; cf. M. A.
Screch, «Bibliotheque d'Humanisme et Rennaissance>•, 1956.
216
CAPÍTULO LVIII
ENIGMA EM PROFECIA
217
RABELAIS
218
GARGÂNTUA
219
RABELAIS
Diz o frade:
<<Que pensais, n o vosso entendimento, que este enigma de
signa e significa?>>
<<Como?>> , diz Gargântua. <<O curso e manutenção da verda
de divina.>>
<<Por São Goderan!19,,, diz o frade. «Não é essa a minha ex
plicação; o estilo é o de Merlin o profeta2o. Atribuí-lhe as alego
rias e os mais graves sentidos que quiserdes e cismai com eles,
vós e todos, tanto quanto quiserdes. Por mim, não creio que en
cerre outro sentido além de uma descrição do jogo da péla sob
palavras obscuras. Os subornadores de pessoas são os jogado
res, que são geralmente amigos, e depois das duas partidas sai
o que l á estava e entra outro. Acredita-se n o primeiro que diz
se a bola está em cima ou debaixo da corda21 , As águas são o
suor; as cordas são raquetas feitas de tripas de carneiros ou de
cabras ; a máquina redonda é a bola ou a péla. Depois do jogo,
as pessoas refazem-se junto de uma fogueira clara, trocam de
camisa22 e de bom grande se banqueteiam, mas mais alegre
mente os que ganharam. E haj a alegria23l>>
NOTAS
1 Estes primeiros dois versos, dé fingida gravidade, não figuram na edi
ção póstuma (1 574) de Saint-Gelais, como também não figuram os últimos
dez . E difícil saber se figuravam num manuscrito do poeta ou se são obra de
Rabelais . Este tom oratório orienta o leitor para um símbolo metafísico que
contrastará com a explicação final.
2 Rabelais, e mais tarde Montaigne, insurgiu-se em várias ocasiões con
tra a astrologia divinatória.
3 Tratar-se-á da roda da Fortuna que ora sobe ora desce, ou dos jogado-
res que mudam de terreno ao fim de cada partida?
4 No jogo da péla, o mais pesado (o mais tolo) é escolhido para marcador.
5 Um novo dilúvio ou o suor que encharca os jogadores?
6 Trata-se de um jogo de palavras sobre attrempez, moderados, e trem
pés, encharcados
7 Os antigos ofereciam nos seus sacrifícios as entranhas das vítimas.
No Quarto Livro (cap. vr), Dindenaut enumera as utilizações dos seus carnei
ros: <<Das tripas far-se-ão cordas de violinos e harpas .. Também se usa
. »
220
GARGÂNTUA
221
BIBLIOGRAFIA S UMÁRIA
Estudos
J. Plattard, L'Invention et la composition dans l'oeuvre de Rabelais, Pa
ris, Champion, 1 909 .
L. Febvre, Le Probleme de l'incroyance au XVIe s iecle, Paris, Albin Mi
chel , 1 942.
A Lefranc, Rabelais, Etudes sur Gargantua . . . , Paris, Albin Michel,
1 953.
Actes du Congres de Tours et de Poitiers, Paris, Les Belle-Lettres, 1 9 54.
V.-L. Saulnier, Le Dessein de Rabelais, Paris, S. E. D. E. S., 1 957.
R. Morçay e A. Müller, La Rennaissance, Paris, Del Duca, 1960.
Revue. des Etudes rabelaisiennes (R. E . R.), Paris, Champion, 1 903-
1 91 2.
Revue du XVIe siecle, Paris, Champion, 1 91 3-1 933.
Humanisme et Rennaissance, Pari s e Genebra, Droz, desde 1 941 (em
publicação).
Bibliotheque d'Humanis me et Rennaissance, Genebra, Droz, 1 964.
222
ÍNDICE DE CAPÍTULOS
P ág.
Prólogo do autor 27
Capítulo I -Da genealogia e antigu idade de
Gargântua 31
Capítulo II - As Bagatelas com anUdoto, encon -
tradas num monumento antigo 34
Capítulo III - Como Gargântua esteve onze me -
ses no ventre da mãe :D
Capítulo IV - Como Gargamelle, estando pre -
nha de Gargântua, comeu grande
q uantidade de tripas 42
Capítulo V - A fala dos bem bebidos 44
Capítulo VI - Como Gargântua nasce u de ma -
neira m u ito estranha 50
Capítulo VII - Como foi dado o nome a Gargân -
tua, e como gostava da pinga 53
Capítulo VIII - Como vestiram Gargântua 55
Capítulo IX - As cores e a libré de Gargântua 60
Capítulo X - Do significado das cores b ranca e
�� ro
Capítulo XI - Da adolescência de Gargântua 67
Capítulo XII - Dos ca valos fictícios de Gargân -
tua 69
Capítulo XIII - Como Grandgo usier conheceu o
espírito maravilhoso de Gargâ n -
tua graças à invenção duma ma -
neira de limpar o cu 72
Capítulo XIV - Como Gargântua foi instruído por
um sofista em línguas latinas 76
Capítulo XV - Como se deram outros pedagogos a
Gargântua 79
Capítulo XVI - Como Gargântua foi enviado para
Paris, e da enorme égua q ue levou,
e como ela desfez as moscas
bovinas de Beauce 81
Capítulo XVII - Com o Gargântua retri b u i u as ·
b oas-v indas aos p arisie nses e
como roubou os sinos da igreja de
Notre-Dame 84
Capítulo XVIII - Como Janotus de Bragmardo foi
enviado para reaver de Gargântua
os grandes sinos 87
Capítulo XIX - A arenga de mestre Janotus de
Bragmardo feita a Gargântua para
reaver os sinos 89
Capítulo XX - Como o sofista levou a sua fazen -
da, e como teve uma demanda com
os outros mestres 92
Capítulo XXI - O estudo de Gargântua, segundo a
discip lina dos seus precep tores
sofistas 95
Capítulo XXII - Os jogos de Gargântua 98
Capítulo XXIII - Como Gargântua foi instru(do por
Ponócrates com tal disciplina q ue
não perdia uma hora do dia 1 03
Capítulo XXIV - Como Gargântua passava o tempo
q uando o ar estava chuvoso 110
Capítulo XXV - Como se estabeleceu entre os bis -
coiteiros de Lerné e os do país de
Gargân tua a gran de contenda
de onde resultaram grandes guer -
ras 113
Capítulo XXVI - Como os habitantes de Lerné man -
dados p o r Picroco le, seu rei,
assaltaram de surpresa os pastores
de Gargântua 116
Capítulo XXVII - Como um frade de Seuillé salvou o
cercado da abadia do saque dos
inimigos 1 19
Capítulo XXVIII- Como Picrocole tomou de assalto La
Roche Clerm a uld, e a pena e
d ificu ladade q ue Grandgo u s ie r
teve d e entrar n a guerra 125
Capítulo XXIX - O teor das cartas que Grandgou -
sier escrevia a Gargântua 129
Capítulo XXX - Como Ulrich Gallet foi enviado a
Picrocole 131
Capítulo XXXI - O discurso feito por Gallet a Picro -
cole 132
Capítulo XXXI I - Como Grandgousier, para com -
p rar a paz, mandou de volver os
biscoitos 135
Capítulo XXXI II - Com o certos governadore s de
Picrocole, por conselho precipitado,
o exp useram ao ma ior dos
perigos 138
Capítulo XXXIV - Como Gargântua deixou a cida -
de de Paris para socorrer o seu
país, e como Ginasta encontrou os
i n i m igos 144
Capítulo XXXV - Como Ginasta matou agilmente o
cap itão Tripet e os outros homens
de Picrocole 147
Capítulo XXXVI - Como Gargântua demoliu o caste -
lo do Gué de Vede e como passaram
o vau 150
Capítulo XXXV II - Como Gargântua, penteando-se,
deixou cair dos cabelos as balas da
artilharia 153
Capítulo XXXVIII - Como Gargântua comeu seis pere -
grinos na salada 156
Capítulo XXXI X - Como o frade foi festejado por Gar -
gântua e das bonitas coisas q ue
disse durante a ceia 159
Capítulo XL - Porq Úe fugira m os frades do
m undo e porque alguns têm o nariz
mais comprido que outros 1 63
Capítulo XLI - Como o frade pôs Gargântua a
dormir e das s ua s horas e b re -
v iário 1 66
Capítulo XLII - Como o frade encÕrajou os seus
c o mp a n h e iros e com o fic o u
p endurado numa árvore 169
Capítulo XLIII - Como a escara m uça de Picrocole
foi encontrada por Gargântua e
como o frade matou o cap i tã o
Tyra v a n t, e dep o i s fo i fe ito
prisione iro dos inimigos 1 72
Capítulo XLIV - Como o frade se desfez dos se us
guardas, e como a escaram uça de
Picrocole foi desfeita 1 75
Capítulo XLV - Como o frade levou os peregrinos e
as boas pala v ras que lhes disse
Grandgo usier 178
Capítulo XLVI - Como Grandgousier tratou hu -
maname nte o prisione iro Touc-
quedillon 182
Capítulo XLVII - Como Gandgo usier mando u b us
car as s uas legiões e como To uc
quedillon matou Hastiveau, e de
pois foi morto por ordem de Pi -
crooo� 1�
C apítul o XLVIII - Co m o G a rgâ n t u a assa ltou
Picrocole dentro d a Roche-Cler -
ma ud, e desbaratou o exército do
dito Picrocole 189
Capítulo XLIX - Como ao fugir Picrocole foi sur -
preendido pela pouca sorte, e o q ue
fez Gargântua após a batalha 192
Capítulo L - O discurso que Gargântua fez aos
vencidos 194
Capítulo LI - Como os vencedores gargantuitas
fora m reco mpensados depois da
batalha 198
Capítulo LII - Como Gargântua mandou cons -
truir para o frade a abadia de
Th eleme 200
Capítulo Lili - Como foi construída e dotada a
abadia dos thelem itas 202
Capítulo LIV - Inscrição gra vada na porta prin -
cipal de Theleme 205
Capítulo LV - Como era a mansão dos thelem i -
tas 210
Capítulo LVI - Como se v estiam os religiosos e
religiosas de Theleme 212
Capítulo LVI I - Como os thelem itas regiam a sua
maneira de viver 215
Capítulo LVIII - En igma em p rofecia 217
B ibliografia sumária 222
Mapa da guerra picrocolina 128