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Rodrigo Menegat
No Estadão, faço parte da Editoria de Arte. Meu trabalho vai desde desenvolver
ferramentas como o Basômetro até elaborar narrativas visuais mais lineares como
esta , sobre os jogadores da Copa do Mundo. Quando o restante da redação fala sobre
esses produtos, é comum que usem o termo infográfico. Se eu quisesse ser chato e
técnico, poderia dizer que não é bem isso que faço.
O que há de diferente entre essas produções e o que eu faço? Infográficos narram uma
experiência física, que geralmente se desenrola em uma sequência linear clara. Já no
meu trabalho, eu reúno informações quantitativas, muitas vezes desencontradas e sem
conexão aparente entre si. Depois, apresento esses dados de forma estruturada.
O parágrafo acima está cheio de jargão e de palavras meio sem sentido. Um exemplo
vai tornar as coisas mais claras: imagine um infográfico tradicional sobre um esquema
sofisticado de pagamento de propina. Provavelmente ele ia mostrar bonequinhos de
políticos segurando maletas, carros deslocando-se até uma empresa de fachada e mais
bonequinhos fazendo depósitos ou assinando papéis.
Uma visualização de dados sobre o mesmo tema provavelmente iria concentrar-se nas
quantias movimentadas. Quanto dinheiro passou pelo esquema? Podemos representar
isso num gráfico de barras. O montante desviado aumentou ao longo do tempo? Então
faríamos um gráfico de linhas.
Mesmo assim, os números não são muito claros – 1,2 bilhão é um valor que não faz
parte da nossa experiência cotidiana, e portanto é difícil de entender. E imagina como
ficariam essas números na comparação com a Islândia, que é muito menor? O
problema só aumentaria.
Em The Functional Art (2011), Alberto Cairo resume bem como a visualização de dados
pode facilitar a percepção e compreensão de temas assim.
Uma vez que você tenha definido em que operação quer auxiliar, saiba que já existe
certo consenso sobre quais tipos de gráfico funcionam melhor para cada tarefa.
Gráficos de linha, por exemplo, são ótimos para mostrar variações ao longo do tempo,
enquanto gráficos de dispersão funcionam bem para demonstrar a correlação entre
duas variáveis. O Dataviz Catalogue (disponível em inglês ou espanhol) é uma boa
ferramenta para descobrir qual visualização funciona para o quê.
Duas escolas
Para falar sobre precisão e beleza na visualização de dados, vou apresentar dois caras
que discordam em muitas coisas: Edward Tufte e Nigel Holmes .
Em um resumo grosseiro, o que ele quer dizer é que a mensagem de um gráfico é mais
clara quando ele não tem elementos decorativos desnecessários. O gif abaixo
demonstra como isso funciona:
O gráfico de barras final, sem as anotações redundantes e as cores que não trazem
informação alguma, é mais fácil de ler. Com menos distrações, o leitor precisa fazer um
esforço cognitivo menor para chegar à ideia central – e isso casa muito bem com a
ideia de que nosso objetivo é tornar operações mentais menos custosas. Tudo que não
é essencial para essa tarefa é considerado chartjunk – “lixo de tabela” que deve ser
descartado.
A parte chata dessa perspectiva, com a qual geralmente concordo, é que ela vê a
visualização de dados como um ofício predominantemente técnico, com pouco ou
nenhum espaço para expressão criativa. Se todos levassem esse pensamento ao
extremo, todos os gráficos do mundo pareceriam ter saído de um almanaque contábil.
Um dos projetos mais legais que já fiz , por exemplo, estaria condenado.
É por isso que o segundo cara que vou apresentar é Nigel Holmes, que fazia seu
trabalho com uma abordagem bem diferente. Ele fez carreira na revista Time, onde foi
diretor do departamento de gráficos. Lá, desenhava coisas que deviam dar nos nervos
de Tufte.
Entretanto, fazer jornalismo – de dados ou qualquer outro tipo – exige cativar o público.
Pessoalmente, acho que um bom gráfico é aquele que, quando colocado no topo de
uma matéria, consegue ser tão intrigante e atraente quanto um abre em estilo literário
ou um lead bombástico.
Para conseguir isso, às vezes é preciso romper com algumas convenções. Em outro
texto desse módulo, listo projetos que se destacam por fazer exatamente isso. Ainda
assim, preciso dar um aviso amigo: se você não é o próprio Nigel Holmes, desenhar
barras convalescendo em um leito geralmente é ir longe demais.