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Ciência e literatura: a Revista Brasileira

como espaço de vulgarização científica


MOEMA DE REZENDE VERGARA*

Resumo: O objetivo do presente artigo é destacar a ciência no processo de formação de


uma identidade nacional na passagem da monarquia para a república, com base na leitura
de duas fases distintas da Revista Brasileira, dos anos de 1879 a 1900. Essa revista foi
escolhida por ser um importante espaço de expressão dos intelectuais da época. Para tal,
utilizaremos o conceito de vulgarização científica, que nos permite verificar as práticas de
popularização da ciência junto ao público leigo.
Palavras-chave: história do Brasil, intelectuais, vulgarização científica, nação.

O Brasil, no último quartel do século XIX, para essa “filiação” da Revista Brasileira a uma
assistiu à emergência de vários periódicos nas importante revista do romantismo brasileiro,
principais cidades do país. Dentre essas várias apesar de nossa análise se concentrar no período
iniciativas, a Revista Brasileira foi, sem dúvida do naturalismo, pois, menos que uma ruptura, o
alguma, uma importante “vitrine” para literatos naturalismo pode ser considerado um fruto direto
do período. Os seus vários tomos, de periodi- do romantismo. O naturalismo estava preocu-
cidade quinzenal, formam um panorama da pado em estabelecer os “critérios da naciona-
produção literária e cultural que procurava definir lidade”, associando-se às filosofias naturalistas
a identidade nacional (cf. Martins, 2001, p. 63). da segunda metade do século XIX, para deter-
A origem da Revista Brasileira encontra- minar a nossa autodefinição e diferenciação (cf.
se na publicação mensal Guanabara – editada Cândido, 2000, p. 116). A ligação da Revista
por Manuel de Araújo Porto-Alegre, Joaquim Brasileira à Guanabara foi expressa da
Manuel de Macedo e Gonçalves Dias –, um dos seguinte maneira pelo conselheiro Cândido
principais veículos que abrigaram os grupos Batista de Oliveira (1801-1865), editor da pri-
iniciais do romantismo no Brasil.1 A revista Gua- meira:
nabara surgiu em 1849, teve vida mais ou
menos regular até 1852, terminando em 1855. A publicação literária que se dá hoje à luz, sob
Nesse mesmo ano, apareceu a primeira versão a denominação de Revista Brasileira, nada
da Revista Brasileira. Chamamos a atenção mais é que a transformação de outro jornal do
mesmo gênero, o Guanabara, tomando maiores
* Doutora em História Social. Museu de Astronomia e Ci-
proporções, e passando a ser trimestral. [...] A
ências Afins (Mast). Bolsista de pós-doutorado/CNPq. redação da nova Revista está confiada às
1. Cabe lembrar que o romantismo, ao debruçar-se sobre a mesmas pessoas que colaboraram na publi-
natureza brasileira com fonte de inspiração, incluía em suas cação do Guanabara. (Oliveira, 1857)
obras os discurso dos naturalistas. Não por acaso, a Guana-
bara dispunha de uma seção para publicação de trabalhos
científicos. In: Freitas, M. V. Charles Frederick Hartt, um Cândido Batista de Oliveira informava
naturalista no Império de Pedro II, p. 34. também que a diferença entre as duas publi-

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cações estava no fato de que na Revista Brasi- Os diários de Lázaro. Também o Dicionário
leira foi instituída a figura do editor geral, bibliográfico, de Sacramento Blake, foi origi-
indicando uma maior profissionalização da nalmente publicado na revista. Já se configurava
atividade literária.2 Nessa fase, a revista ganhou então a famosa trindade da crítica literária da
o título de Revista Brasileira, Jornal de Ciên- era naturalista, Sílvio Romero, Araripe Jr. e José
cias, Letras e Artes (1857-1861). A segunda Veríssimo.
fase ficou conhecida simplesmente como Machado de Assis teve grande atuação na
Revista Brasileira e, em seu conteúdo, notava- revista, publicando romances, poesias e críticas.
se uma predominância dos assuntos científicos. Também a participação de autores como Afonso
A maioria das colaborações versava sobre Celso, Joaquim Nabuco e Alfredo D’Escragnolle
assuntos científicos diversos, apresentados em Taunay podia ser verificada na publicação de
relatórios, comunicações, memórias, ensaios, poesias, artigos e resenhas. Na fase Midosi, a
assinados por nomes de projeção do meio cien- revista – que funcionava à Rua Gonçalves Dias,
tífico brasileiro. 47, centro do Rio de Janeiro –, tentou obter bases
Mais de vinte anos depois, em 1o de junho comerciais mais sólidas, angariando, já no
de 1879, um grupo de intelectuais, liderado pelo primeiro número, diversas assinaturas, além de
carioca Nicolau Midosi (1838-1889), do qual recursos vindos dos anúncios. Em 1880, recebeu,
participavam o escritor cearense Franklin inclusive, apoio financeiro de D. Pedro II, o que
Távora (1842-1888) e o médico baiano Moreira não evitou seu final no ano seguinte.
Sampaio (1851-1901), entre outros, ressuscitou Podemos afirmar que o público da revista,
a Revista Brasileira, inaugurando sua terceira grosso modo, pertencia à elite intelectual e
fase, que durará até 1881. Lendo as biografias econômica do país. Mas, com as transformações
desses autores, percebemos que todos trabalha- ocorridas no final do século XIX – como o
ram na Secretaria do Império. Foi provavelmente desenvolvimento das instituições de ensino
desse espaço que partiram para a empreitada superior –, observamos um alargamento dessa
de reorganizar a revista, que teria por fim, elite ilustrada, que não necessariamente se
segundo os dizeres da contracapa, “proporcionar confundia com a elite econômica. Assim, nesse
aos escritores brasileiros e a quantos se ocupam processo de formação de uma elite “cultivada”,
com o estudo das coisas do nosso país a publi- podemos encontrar figuras não tão privilegiadas,
cação das produções literárias e científicas de que tinham no cultivo das letras uma forma de
reconhecido mérito e utilidade”.3 ascensão social, como o mestiço Machado de
O público-alvo era, com certeza, o homem Assis, representante dos setores médios da
culto. Isto pode ser notado pela escolha dos cidade do Rio de Janeiro, e Tobias Barreto, sergi-
temas, pela forma de apresentação dos artigos, pano autodidata que influenciou muitos autores
sem recursos de ilustração, e pela linguagem da revista.
empregada. O próprio imperador, expressão Apesar da ampliação do público, podemos
pensar a Revista Brasileira como um projeto
máxima dessa elite letrada, era leitor da revista.
auto-referente que nos sugere uma certa “endo-
Essa fase teve um tom nitidamente mais literário
gamia”: trata-se de uma publicação da elite
do que a anterior. Em suas páginas, tiveram lugar
letrada brasileira, que desejava “oferecer uma
a primeira publicação de Memórias póstumas
amostra da competência dos brasileiros distintos
de Brás Cubas, de Machado de Assis, e a
por suas grandes faculdades e luzes, alguns ainda
publicação da obra póstuma de Fagundes Varela,
pouco conhecidos neste vasto império”.4 Todo
esse esforço estaria subordinado a um ideal mais
2. Antes da fase dirigida por Cândido Batista de Oliveira,
houve um primeiro momento da revista, em que esta foi amplo:
redigida quase que exclusivamente por seu diretor, Francisco
de Paula Menezes. Essa fase durou apenas um ano, período Esta causa é séria, tem suas raízes no amor da
em que foram lançados poucos números, sob o título de
Revista Brasileira: Jornal de Literatura, Teatros e Indústria pátria, e a vitória que possamos vir a alcançar
(1855).
3. Editorial da Revista Brasileira, 1879. 4. Editorial da Revista Brasileira, 1879, p. 6.

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redundará em proveito dos nossos descen- Em 1879, podemos ler num editorial da
dentes, que hão de achar mais curto o caminho revista uma profissão de fé que norteou o rumo
entre o vale, onde estamos, e a eminência que dos trabalhos subseqüentes. Havia uma razão
o futuro lhes reserva para assento da sua em se manter o nome de Revista Brasileira,
felicidade e da sua glória.5
uma vez que os editores visavam dar continui-
dade a uma tradição inaugurada nos meados do
Logo após o fim da fase dirigida por Nicolau
século XIX:
Midosi, José Veríssimo e Machado de Assis
trocam correspondência sobre o problema das Procurando continuar essa gloriosa tradição,
revistas literárias e o público leitor no Brasil, como duas vezes infelizmente interrompida, a Revista
podemos ver num trecho de uma carta de Brasileira pretende servir com dedicação e
Machado de Assis, datada de 19 de abril de sinceridade a causa da cultura nacional. Abre-
1883, para Veríssimo: se a todas as opiniões sinceras e honestas.
Não exige de seus colaboradores senão probi-
Há alguns dias, [...] referindo-me à Revista dade literária, que envolva a competência e
Brasileira, tão malograda, disse esta verdade respeito das alheias opiniões. Busca ser um
de La Palisse: ‘que não há revistas sem um laço de união e um estímulo de trabalho para
público de revistas’. Tal é o caso do Brasil. todos os estudiosos brasileiros e a todos con-
Não temos ainda a massa de leitores para essa vida a colaborar com ela nesta boa tarefa de
espécie de publicações. (Apud Rouanet, 1991, alto patriotismo.
p. 116) Enciclopédica, a nova Revista Brasileira, se
ocupará, entretanto, de preferência de quanto
direta e indiretamente ao Brasil e a sua cultura
Contudo, essas lamentações sobre o exíguo
interessam: ciência, letras, artes, história, filo-
público de leitores não impediram Veríssimo de sofia, economia, política, ciências sociais, via-
retomar a Revista Brasileira quatorze anos gens, etc.
mais tarde, em 1895, em um Brasil que já A bibliografia nacional e tudo que respeita ao
completava sete anos de vida republicana. A nosso movimento espiritual, merecer-lhe-á toda
sede, naquele momento, era situada à Rua do a atenção e será objeto de seções especiais,
Ouvidor, 66 – endereço que se tornou um permanentes ou periódicas. Os livros brasilei-
importante centro de referência para os ros, conforme a sua importância e valor, serão
sempre apreciados na Revista Brasileira em
intelectuais no Rio de Janeiro. Mesmo fazendo
artigos ou simples notícias críticas.7
críticas à monarquia que não mais existia, “[o]
Império termina sem que se houvesse sequer O formato de livro e os extensos artigos
criado uma universidade”, Veríssimo via com apresentados em seqüência nos vários tomos
pessimismo o novo regime: “Tudo isto ao meu são uma das características que se mantiveram
parecer ao menos, não promete uma república nas duas fases aqui estudadas. Também os
muito inteligente nem sensivelmente diversa da anúncios e propagandas nas páginas finais de
monarquia. Dar-nos-á ela a liberdade de que cada volume, apresentados em papel colorido,
gozamos? Respeitará, como a monarquia tem são um ponto em comum. Na fase Midosi,
respeitado, a livre expansão do pensamento?” encontramos anúncios de laboratórios farma-
(apud Martins, 1979, p. 311-312). Essa descrença cêuticos e homeopáticos; pílulas reguladoras
nas instituições republicanas fez com que José autorizadas pela Junta Central de Higiene
Veríssimo desejasse dar uma feição suprapar- Pública, companhias de seguros, espetáculos
tidária à revista. Durante essa nova fase, que teatrais, lojas especializadas em luto e semiluto,
vai de 1895 a 1900, os intelectuais que lá papelarias e fabricantes de instrumentos cirúr-
colaboravam fundarão a Academia Brasileira gicos, de dentistas e ortopédicos. É interessante
de Letras (1897).6 notar que, embora os textos dos artigos não
utilizassem o recurso à imagem, estas encon-
5. Idem, ibidem, p. 7.
6. Não surpreende que a Revista Brasileira, nos anos de
tram-se nos reclames.
1940, tenha sido encampada pela ABL, publicação que existe
até os dias atuais. 7. Revista Brasileira, 1879, contracapa.

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O estilo dos anúncios não difere significan- visto também no fato de que, em sua sede, se
temente entre uma fase e outra, mas podemos vendiam outras publicações. Talvez, por isso,
ver, na fase Veríssimo, colégios e indústrias que houvesse um espaço grande da revista destinado
apresentam número de telefone para o contato a resenhas e notícias de lançamento de livros e
com os clientes. A análise dos anúncios permitiu- periódicos. Esse serviço de agilização da infor-
nos compor uma vaga idéia de quem seria o mação bibliográfica ampliava-se ainda mais na
público potencial da revista. Observamos anún- fase Veríssimo. Na quarta capa da revista, em
cios de instrumentos e utensílios para a prática 15 de março de 1896, podemos ler:
de profissões liberais como medicina e direito;
não há propagandas específicas para o público A Revista Brasileira, julgando prestar serviço
feminino. Assim sendo, podemos imaginar que aos seus leitores e aos estudiosos de todo
essa publicação destinava-se aos homens, ins- Brasil e mesmo do estrangeiro resolveu abrir
em seu escritório um centro de informação
truídos e de certo poder aquisitivo, longe do setor
bibliográfica, ao qual os Srs. assinantes e outras
popular da sociedade. pessoas possam recorrer quando precisem de
O preço da assinatura anual da Revista qualquer informação de livraria, adquirir livros
Brasileira constitui um indício de que não era ou fazer cópias ou extratos nas bibliotecas e
propriamente uma publicação “popular”. arquivos desta cidade. As informações pres-
Durante a fase Midosi, a assinatura custava, na tadas UNICAMENTE aos assinantes da revista
corte, 10$000 e, nas províncias, 12$000. Cabe são grátis. As cópias são pagas previamente.
lembrar que um ingresso de teatro, em 1874, A administração da revista envia pelo correio
com a máxima brevidade e segurança todas as
variava de 2$000 a 3$000. Contudo, a revista
obras publicadas no Rio de Janeiro até 50$000.
tinha preço semelhante aos dos livros em 1881,
que variavam de 1$000 a 2$000.8 Na fase
Não sabemos da eficiência na execução
Veríssimo, não há mais diferença entre a capital
desse serviço; contudo, Antonio Dimas pondera
e o restante do país, talvez um indício da melhoria
que a simples formulação dessa empreitada já
dos transportes, e a assinatura anual custava
nos mostra uma demanda nessa área da comu-
24$000; 14$000, a semestral, e 2$000, o volume
nidade de letrados da época (Dimas, 1994, p.
avulso, em 1895. No mesmo ano, os livros
556). Mas podemos intuir que a idéia de oferecer
importados de 300 a 400 páginas poderiam ser
tal serviço seja decorrência de um aspecto
comprados por 3$500 a 4$000 cada exemplar.9
incentivado por Veríssimo, que era a convivência
Para podermos avaliar o que representava
dos autores no escritório da revista. Graça
a aquisição de um livro na virada do século, para
Aranha informa-nos que todo final de tarde, com
as diversas classes sociais, observamos que, em
ou sem texto a entregar, os colaboradores
1888, a diária de um ferreiro era de 3$333, ao
passavam pela redação da Revista Brasileira.
passo que um trabalhador não especializado
“Além de ser um prestigiado veículo de publi-
recebia 1$400 por um dia de trabalho. Já um
cação de autores nacionais, a Revista Brasileira
médico tinha um salário médio de 300$000 e
acabou por adquirir status de agremiação
um professor primário, de 150$000. Em 1895, o
literária, instituindo-se o chá das cinco” (El Far,
preço da diária de um trabalhador não especia-
2000, p. 45).
lizado era de 2$000, o que daria uma remune-
ração mensal de 60$000, ao passo que um Todas as tardes no Rio de Janeiro, antes que o
médico recebia um salário de 600$000 (cf. sol transmonte, um grupo de homens se reúne
Damazio, 1996, p. 48-49). em uma pequena e modesta sala. É o five o’clock
O papel da Revista Brasileira como centro da Revista Brasileira, refúgio suave, tranqüilo
de referência dos homens de letras pode ser da tormentosa vida fluminense. Há desordem
no parlamento? Há estado de sítio? Que
8. Valores obtidos em Lajolo, M. e Zilberman, R. A formação importa! Recolhemo-nos àquele retiro e reci-
da leitura no Brasil, p. 320. procamente nos infiltramos de fluidos intelec-
9. Um bibliófilo. “O livro brasileiro”. Revista Brasileira, tuais. (Aranha, 1898, p. 184)
1895, p. 181.

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A referência de Graça Aranha à “tormen- agora no terreno de que falo” (Romero, 1881,
tosa vida” era, sem dúvida alguma, alusiva aos p. 229). O autor nos faz pensar que, diante desse
acontecimentos tumultuados da recém-procla- quadro “desanimador”, a tarefa de um vulga-
mada República. Wilson Martins esclarece-nos rizador seria de muita importância para despertar
que a Revista Brasileira teve o dom da tole- vocações científicas nas gerações mais jovens
rância e da concórdia. As suas páginas e as e familiarizar o público leitor com o mundo da
suas salas foram compartilhadas por monar- ciência.
quistas como Taunay, Joaquim Nabuco, Eduardo Mas a forma específica de vulgarização
Prado, republicanos como Lúcio de Mendonça realizada pela Revista Brasileira não se
ou socialistas como o próprio José Veríssimo comprometia simplesmente a promover uma
(Martins, 1979, p. 485). Esse espírito já estava “educação científica” de seu público. A prática
anunciado no primeiro editorial da fase Verís- vulgarizadora que observamos na revista dese-
simo: java incentivar alguma produção nacional no
terreno científico, não se limitando à importação
Este período é em nossa vida nacional de e à difusão de saberes de outros centros.
reorganização política e social. A Revista Durante o século XIX, o ideal de eficiência
Brasileira não lhe pode ficar alheia e estranha. da empresa vulgarizadora estava centrado na
As questões constitucionais, jurídicas, econô-
sua capacidade em produzir impressos estimu-
micas, políticas e sociais em suma, terão um
lugar nas suas páginas. Republicana, mas lantes e de fácil compreensão. Partilhando desse
profundamente liberal, aceita e admite todas as ideal, a revista comprometia-se em oferecer
controvérsias que não se achem em completo artigos “sem risco de cansaço sobre todos os
antagonismo com a inspiração da sua direção. conhecidos assuntos por onde anda o pensa-
Em Política, em Filosofia, em Arte não pertence mento” (Midosi, 1879). A mesma preocupação
a nenhum partido, a nenhum sistema, a nenhuma quanto ao uso de uma linguagem que não canse
escola. Pretende simplesmente ser uma tribuna o leitor prolongar-se-á na fase seguinte. Em seu
onde todos os que tenham alguma coisa que
primeiro edital, Veríssimo afirmava que iria fazer
dizer e saibam dizê-la, possam livremente
uma revista dedicada a diversos temas, que por
manifestar-se. (Veríssimo, 1895)
isso mesmo pretendia ser diferente da fase
Dessa forma, a Revista Brasileira quali- dirigida por Cândido Batista de Oliveira, consi-
ficava-se como um meio de expressão para as derada enfadonha por ele por ter “uma feição
reflexões sobre os problemas brasileiros, em um talvez demasiado científica e técnica, que lhe
momento de transformações culturais, em que devia certamente estorvar o acesso ao público”
a ciência tinha um papel de destaque. Para o (Veríssimo, 1895, grifo nosso). Isto pode ser
historiador preocupado em estudar as formas comprovado no compromisso assumido pelo
de vulgarização da ciência no século XIX, a astrônomo Luis Cruls, então diretor do Obser-
tarefa que se apresenta é analisar como uma vatório Nacional, em seu artigo inaugural, para
publicação que se pretendia tribuna livre para a seção Revista Científica, que ficará sob sua
as “questões constitucionais, jurídicas, econô- responsabilidade durante vários números:
micas, políticas e sociais” tratava dos assuntos
Sem usarmos de fórmulas matemáticas, que
relativos às ciências naturais. É através da
seriam bastante deslocadas nesta Revista, nem
análise dos artigos destinados à vulgarização
tão pouco recorrermos a considerações que
científica que podemos perceber como esses poderiam escapar a alguns dos seus leitores,
assuntos eram abordados tanto por cientistas, procuramos nos restringir ao emprego da
quanto por literatos. linguagem mais singela que for possível. (Cruls,
Sílvio Romero afirmava que: “Na ordem 1896, p. 392)
das idéias as mais importantes são as científicas,
e por isso o povo que nada fundou nas ciências Tornar os assuntos de ciência acessíveis
pouco tem o direito de viver na história. O Brasil ao público, através da tradução da linguagem
nada de notável, de saliente tem produzido até do especialista, não esgota o conjunto de carac-

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terísticas da vulgarização científica realizada mente” poderiam ser estranhas e sem sentido
pela Revista Brasileira. Para Louis Couty, para o leigo.
médico francês e pesquisador do Museu Nacio- Assim sendo, esses “homens instruídos”
nal, era importante “inaugurar na imprensa ou que constituem o público-alvo da revista eram
pelo menos desenvolver um modo de colabo- substancialmente diferentes do público formado
ração científica de alguma sorte apartado dos por proprietários de terras dos periódicos O
até hoje seguidos” (Couty, 1879, p. 215). O que Auxiliador e O Patriota, do início do século
Couty entendia por uma colaboração científica XIX, que visavam subsidiar o desenvolvimento
apartada das demais era produzir artigos que de uma racionalização da produção agrícola em
não se restringissem a veicular a aplicação bases científicas. Em outras palavras, o público
pragmática do conhecimento científico, mas da Revista Brasileira era composto pela elite
matérias capazes de inflamar o leitor com letrada da época, formadora da opinião pública.
assuntos do mundo do laboratório, que estavam Opinião pública, segundo Habermas, seria
distantes dos olhos do público: o topos no qual se cristalizou o auto-enten-
dimento da função da esfera pública burguesa
É preciso que no Brasil, como na Europa, todas européia, no século XVIII. Mesmo que o
as classes instruídas e amantes do progresso processo de formação da esfera pública brasileira
cheguem a compreender a utilidade, a impor- tenha singularidades em relação ao processo
tância intelectual e científica das investigações europeu, em determinadas instâncias, podemos
pacientes do laboratório; é preciso que aqui, tomar emprestado o conceito habermasiano para
como ali, o homem chegue a apaixonar-se pelas
verificar a existência de uma opinião pública na
questões científicas da menor, como da maior
importância, e que qualquer descoberta inte- sociedade brasileira do final do século XIX.
ressante possa tornar-se assunto das conver- Primeiramente, não entendemos opinião
sações e discussões assim como de todas as pública no sentido de um conjunto de pessoas
pessoas instruídas. É preciso que o conhe- privadas que passam a ter função política na
cimento dos métodos experimentais e dos sociedade independentemente do Estado. Muito
problemas que por eles se resolva faça parte menos é a expressão nos meios de comunicação
da educação média com o mesmo título que os de massa das diversas e muitas classes da
demais conhecimentos literários e científicos. sociedade, como seria no caso de uma demo-
(Couty, 1879, p. 233) cracia. Mas o sentido por nós utilizado é de
resultado “esclarecido” da reflexão sobre a
O ponto central desta passagem está em
esfera do público, através do uso da razão, feita
despertar, nas classes instruídas, a compreensão na imprensa e nos espaços de socialização dessa
para a atividade científica, que, naquele momen- elite letrada. Dessa forma, opinião pública
to, era composta por “investigações pacientes provém das pessoas instruídas e que não se
do laboratório”, incluindo desde “questões preocupam com o que concerne de modo
científicas da menor, como da maior impor- imediato ao seu bem-estar físico (Habermas,
tância”. Aos olhos de Couty, esses assuntos não 1984, p. 126). Essa idéia pode ser constatada
deveriam ser monopólio dos sábios, mas estar na seguinte passagem de Machado de Assis:
presentes nas “conversações e discussões de
todas as pessoas instruídas”. Este não é apenas Publicou-se há dias o recenseamento do
um projeto iluminista de levar as luzes da razão Império, do qual se colige que 70% da nossa
para toda a sociedade, mas aproximar o modus população não sabem ler.
fasciendi da ciência para aqueles já iniciados Gosto de Algarismos, porque não são de meias
em algum nível de cultura científica, que medidas nem de metáforas. Eles dizem as coisas
poderiam dar apoio financeiro e institucional à pelo seu nome, às vezes um nome feio, mas
havendo outro, não o escolhem. São sinceros,
comunidade científica. Por meio da credibilidade
francos, ingênuos. As letras fizeram-se para
conquistada por meio dessa vulgarização “inte- frases; o algarismo não tem frases, nem
ressada”, o cientista ganharia autonomia para retórica.
desenvolver suas pesquisas, que “aparente-

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Assim, por exemplo, um homem, o leitor ou eu, processos de experimentação estaria desper-
querendo falar do nosso país, dirá: tando no público leitor pensante uma participação
– Quando uma Constituição livre pôs nas mãos crítica no conhecimento científico que estava
de um povo o seu destino, força é que este
sendo vulgarizado (cf. Bensaude-Vicent, 2002,
povo caminhe para o futuro com as bandeiras
do progresso desfraldadas. A soberania nacio-
p. 22). Como expresso por Couty, quando este
nal reside nas Câmaras; as Câmaras são a afirmava a necessidade de as pessoas instruídas
representação nacional. A opinião pública incluírem nas conversações e discussões as
deste país é o magistrado último, o supremo questões científicas, exercitando tanto a liber-
tribunal dos homens e das coisas. dade de pensamento, quanto o espírito crítico.
A isto responderá o algarismo com a maior Na citação que se segue reiteramos a idéia de
simplicidade: que a vulgarização implementada pela Revista
– A nação não sabe ler. Há só 30% dos Brasileira era destinada não “ao alcance de
indivíduos residentes neste país que podem
todos”, mas à elite intelectual, segmento capaz
ler; desses uns 9% não lêem letra de mão. 70%
jazem em profunda ignorância. [...] de levar adiante o projeto de uma ciência
– Mas, Sr. Algarismo, creio que as instituições... nacional.
– As instituições existem, mas por e para 30%
dos cidadãos. Não se deve dizer: “consultar a Os nossos artigos serão curtos, porque dese-
nação, representantes da nação, os poderes jamos que sejam lidos; entretanto, não nos
da nação”; mas “consultar os 30% represen- esquecendo que se escrevermos para homens
tantes dos 30%, poderes dos 30%”. A opinião instruídos, não procuraremos simplificar as
pública é uma metáfora sem base, há só a questões e pô-las, conforme se diz, ao alcance
opinião dos 30%. (Machado de Assis, 1986, p. de todos. Terão eles um fim único: discutir e
344-345) estudar desde já o que denominei – a ciência
do Brasil. (Couty, 1879, p. 238)
É exatamente para esses 30% descritos
por Machado de Assis que a Revista Brasileira No decorrer do século XIX, no Brasil, ao
se destina. Como já afirmamos anteriormente, se iniciarem a institucionalização e a profissio-
a partir de 1870, houve uma crescente presença nalização das ciências, com o fortalecimento e
de instituições de ensino superior e de pesquisa a criação de instituições científicas nacionais tais
no Brasil, gerando uma ampliação da elite como o Museu Nacional, o Observatório Nacio-
letrada, que não correspondia exatamente à elite nal, a Politécnica e a Escola de Minas, entre
econômica e social. A própria questão da outras, foi o público de homens instruídos que
profissionalização da comunidade científica pode deu o suporte necessário para a implementação
ser vista como um indício de formação de uma desse processo. Nesse contexto, a ênfase em
opinião pública que busca autonomia e auto- discutir o método experimental convidava o leitor
referência, que nem sempre esteve em conso- “a participar” da experiência através da leitura
nância com o Estado. O que torna o estudo de artigos que explicitavam os procedimentos
dessa questão complexa é o fato de a opinião científicos. Assim, observamos, na Revista
pública, no Brasil, incluir o Estado, mesmo que Brasileira, vários artigos em que se debatiam
seus representantes não se esgotem nos quadros as vantagens do método experimental. No
governamentais. Em suma, aqui a opinião pública campo da física, a revista trouxe um artigo, de
não representou necessariamente oposição, Álvaro Joaquim de Oliveira, professor da Escola
nitidamente marcada, aos interesses do Estado, Politécnica do Rio de Janeiro, em 1879, sobre o
como ocorreu na Europa ocidental. radiômetro.10 Oliveira narrava as experiências
No caso brasileiro, podemos nos aproximar que demonstraram que o instrumento não tinha
da definição habermasiana de opinião púbica ao utilidade prática, pois o movimento executado
verificarmos os traços de um uso público da
razão, que estava presente na atividade da 10. Aparelho criado em 1875, por Willian Crookes, membro
da Sociedade Real de Londres. Tinha por finalidade colocar
vulgarização científica, quando se popularizavam em evidência a ação mecânica da luz, que, segundo Crookes,
as experiências científicas. A publicidade dos teria grande utilidade para o ofício de fotógrafo.

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não era devido à luz, e sim às correntes de calor apenas como meio de vulgarizar tais conheci-
produzidas no interior do aparelho (Oliveira, mentos” (Lacerda, 1879, p. 476). Para “per-
1879, p. 315). suadir” o seu público, Batista de Lacerda não
Dissertar, nas páginas da revista, sobre um está apenas preocupado em dar publicidade às
aparelho sem utilidade prática pode ser suas pesquisas, mas em relacioná-las com a
interpretado como uma estratégia retórica para necessidade de se aplicar o método experi-
dar notoriedade ao laboratório de física expe- mental tendo como ponto de partida a realidade
rimental da Escola Politécnica, em um momento local:
em que a consolidação dessa instituição como
espaço de ciência precisava ser confirmada. Depois que as notáveis e tão conhecidas
Esse tipo de relato abre, para o público, o interior experiências de Cl. Bernard sobre o famoso
do laboratório, onde o cientista mostra o proces- curare abriram na ciência largo caminho para o
so da pesquisa em que o método é o aspecto estudo fisiológico dos venenos em geral, a
fundamental, mesmo não se chegando a uma maior parte dos modernos experimentadores
atirou-se com grande afã a essa sorte de
conclusão afirmativa, mas negativa, como na
investigação, resultando daí incontestáveis
experiência sobre a utilidade do radiômetro. progressos para a ciência toxicológica.
Podemos encontrar outro exemplo de Não sabemos mesmo se certas espécies de
aplicação dos estudos experimentais no relato bufonerideos sul-americanos produzem efeitos
feito por João Batista de Lacerda sobre suas idênticos aos bufonerideos da Europa. Eis aí,
pesquisas com veneno de cobra realizadas no na ciência dos venenos, um vasto campo a
Laboratório de Fisiologia Experimental do Museu explorar no qual quiséramos ver trabalhar com
Nacional, em 1879, um dos primeiros centros verdadeiro ardor científico aqueles que come-
do país a aplicar os estudos experimentais de çam agora a ensaiar a experimentação no Brasil.
forma sistemática no Brasil. Batista de Lacerda (Lacerda, 1879, p. 474)
aplicava essa nova metodologia com base na
Um dos motivos pelos quais muitos cola-
especificidade da fauna brasileira e demonstrava
ter perfeita consciência da importância em dar boradores da revista – médicos, críticos literá-
uma certa transparência ao método utilizado em rios, naturalistas, engenheiros e juristas –
suas pesquisas, pois ele vinha a público para apostaram na aplicação desse método experi-
relatar uma experiência que não havia sido mental estava na necessidade de se produzir um
concluída: “sobretudo as [experiências] que saber sobre o Brasil através de instituições
tocam ao antidotismo de certas substâncias, brasileiras, fortalecendo o processo já iniciado
consideradas como capazes de neutralizar os de especialização e profissionalização. As espe-
seus efeitos no organismo, precisam ser ainda ranças na aplicação do método experimental
ventiladas, confirmadas ou contestadas por foram assim expressas por José Veríssimo:
numerosos fatos de experimentação” (Lacerda,
1879, p. 485). É de esperar que a introdução dos estudos
experimentais no Brasil e a nova organização
Se tivesse publicado seu artigo em um
do nosso ensino médico e do das ciências
periódico especializado, Batista de Lacerda físicas e naturais, criem entre nós alguns
atenderia à exigência de publicidade dos debates verdadeiros homens de ciência, que possam
e experiências: somente a publicidade permite citar experiências, fatos e leis por eles mesmos
a livre discussão, baseada na troca de argu- feitas, estudados e descobertas. (Apud
mentos racionais, de onde surgirá a verdade. Barbosa, 1977, p. 244)
Porém, como escolheu uma revista literária, a
apresentação do processo metodológico tem Apesar de podermos detectar a aplicação
aqui a função de “educar” o público leitor quanto do método experimental em diversos setores,
à atividade científica, e não de busca da verdade cabe destacar o campo da biologia, no qual seus
através do debate com seus pares. Dessa forma, efeitos foram mais sensíveis. Para estabelecer
ele apresenta os resultados de sua pesquisa “sob uma ruptura com a geração anterior, temos, nos
uma forma resumida, simples e despretensiosa, anos de 1870, uma nova geração de biólogos e

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médicos que, apoiados na revolução pasteuriana, retrógradas e “metafísicas” das vantagens da


orientavam sua prática segundo o método aplicação dessa nova metodologia, como vere-
experimental, legitimando-se com base na mos no trecho a seguir:
utilização de uma metodologia produzida nos
centros europeus. Um argumento de legitimação Mas, se o Brasil é já tão rico para o agricultor,
desse método experimental era a certeza de para o comerciante, o é ainda mais para o
seus partidários de que sua implementação iria homem de ciência e para o investigador. Ora,
onde poderá o geólogo encontrar melhores
trazer vários benefícios para a sociedade em
condições para o estudo das massas sólidas
geral, aliando os avanços da teoria microbiana, do globo, e quantas vantagens não haveria
no caso da biologia, ao desenvolvimento eco- talvez para o país em conhecer definitivamente
nômico. a natureza, a origem, o modo de formação das
Uma aplicação da “ciência de Pasteur”, em diferentes jazidas diamantinas, auríferas e
uma área diferente da medicina, pode ser vista outras que por si já representem importantíssima
no artigo “Uma doença das jaboticabeiras”, em fonte de riquezas?!
que seu autor, José dos Campos Novaes, do Que mais direta e imediata vantagem não
haveria ainda na determinação pelo geólogo e
Instituto Agronômico de Campinas, descreveu
pelo químico da natureza exata das terras aráveis
uma doença desconhecida que atingiu suas do Brasil?! Seria ocasião de referir-me a outros
“preciosas fruteiras” e fez um apelo para que a estudos que hoje principalmente constituem o
ciência resolvesse o problema de nossos “poma- mais perfeito tipo das investigações experi-
res tropicais”. Cabe lembrar que, no início da mentais: falo dos trabalhos do biólogo, que
república, houve um grande incentivo aos insti- encontrarão vasto campo de estudos na abun-
tutos de agronomia, conferindo aos setores dante fauna deste país, e mais ainda nos
responsáveis pela produção rural os instru- imensos produtos alimentícios, terapêuticos ou
mentos científicos necessários para uma atuali- tóxicos. [...]
A expressão – matéria-prima – obriga-nos ainda
zação, segundo os padrões da época, da tradicio-
a comparar o desenvolvimento científico com
nal “vocação eminentemente agrícola do país” o comercial ou econômico de uma nação.
(cf. Mendonça, 1996, p. 112): (Couty, 1879, p. 220-221)

Mas não merecerão as jaboticabeiras que os Para Couty, o Brasil, assim como alguns
homens de ciências venham em seu auxílio para países da Europa, estaria vivendo uma fase de
indicar os meios mais adequados de defesa
transição em que os estudos científicos pura-
contra semelhante peste, ou não haverá um
ramo da entomologia e da fitopatologia aliado mente teóricos e especulativos evoluiriam para
à ciência de Pasteur que venha desvendar o o estágio dos estudos práticos e experimentais.
mistério desse inimigo ainda mal observado e Entretanto, no caso brasileiro, essa transição não
pior definido? (Novaes, 1897, p. 114) seria fácil. Para ilustrar esse quadro, podemos
nos lembrar da passagem pelo país do naturalista
O método experimental partia do pressu- suíço-americano Louis Agassiz, que veio ao
posto de que cada realidade deveria ser anali- Brasil nos anos de 1865-1866. O traço prepon-
sada separadamente, e para isto deveríamos ter derante dos cientistas brasileiros, descrito por
especialistas familiarizados com essa determi- Agassiz, residia no desinteresse pelas ciências
nada realidade para estudá-la melhor, o que experimentais. Além disto, para o naturalista,
atenderia aos interesses de determinados setores as instituições brasileiras eram desaparelhadas
da comunidade científica local. Contudo, para para o estudo da ciência moderna. “Cercados
os defensores da aplicação do método experi- como estão por uma natureza rica incompa-
mental, este não se limitava apenas à esfera da rável”, escreveu ele, “apesar disso seus natura-
atividade intrínseca dos homens de ciência, mas listas são mais teóricos do que práticos”. Atri-
toda a sociedade lucraria com sua implemen- buiu a ausência da ciência experimental em parte
tação. A prática vulgarizadora teria por função à instituição da escravidão, que, acreditava ele,
convencer o público leigo e os demais membros levou ao desprezo pelo trabalho manual essencial
da comunidade científica apegados às práticas à ciência. Segundo Agassiz:

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VERGARA, MOEMA DE REZENDE. Ciência e literatura: a Revista Brasileira como espaço...

Enquanto estudantes da natureza considerarem preocupação em outros campos de conheci-


impróprio um cavalheiro manusear seus mento, como no direito. Numa resenha de
próprios espécimes, carregar seu próprio mar- Carvalho Mourão, sobre o livro Criminologia
telo de geólogo, fazer suas próprias prepara- e direito, de Clóvis Beviláqua, publicada na
ções, eles permanecerão como diletantes na
revista em 1898, o resenhista afirmava o
investigação. Podem estar muito familiarizados
com os fatos registrados, mas não farão
seguinte:
nenhuma pesquisa original. (Apud Stepan,
1976, p. 42) O livro é uma coleção de monografias sobre
vários assuntos de criminologia, estatística
criminal e filosofia do direito; a exposição de
O trecho anterior redigido por Agassiz pode
doutrina e estudos críticos que se unem pelo
nos indicar que o método experimental não era laço sistemático de uma uniforme direção
comum entre os nossos sábios nos anos de 1860. científica – a aplicação do método experimental
Podemos imaginar que a aplicação desse méto- aos estudos jurídicos e sociais. (Carvalho
do significaria uma ruptura com as formas de Mourão, 1898, p. 120)
produção do conhecimento até então. Em 1879,
Couty não via muita diferença no quadro descrito Para Carvalho Mourão, o mérito da obra
por Agassiz: de Clóvis Beviláqua estava em retirar os estudos
jurídicos do estágio “metafísico” e torná-los
O Brasil possui importantes escolas [...], porém, “positivos”, através da incorporação das pes-
[essas] são meramente pedagógicas ou de quisas sociológicas e psicológicas “dos novos e
aplicação; não dispõem de laboratórios ou audazes exploradores da ciência”, transfor-
centros de experiência, onde o professor pode mando o direito numa ciência de aplicação, em
não só provar e verificar o que ensina, mas
que “o ponto de vista objetivo e prático é
ainda estudar quanto possível os limites do
capital”. Um estudo “jurídico-científico” teria de
ensino; onde o aluno habitua-se aos métodos
de observação direta, e, rodeado dos proble- romper com a tendência simplificadora que
mas, quase sempre complexos que fazem parte reduz os fenômenos sociais aos fatos biológicos
do seu estudo, adquire o gosto do livre exame e estar atento à observação do “mundo
e principalmente o hábito do trabalho paciente ambiente” a que o indivíduo está submetido.
e tenaz, que pode mais tarde torná-lo um homem Levando em consideração esse “mundo
notável. (Couty, 1879, p. 216) ambiente”, Beviláqua fez muito bem, segundo o
resenhista, em não deixar “turvar a visão do seu
A opinião de homens de ciência como espírito científico com o daltonismo antropo-
Agassiz e Couty é endossada pelo literato José logista dos acólitos de Lombroso” (Carvalho
Veríssimo, em um ensaio escrito em 1883: Mourão, 1898, p. 120-121).
Homens como Beviláqua, Couty e Veríssi-
Nas academias que, dado o nosso meio social, mo, cada qual em sua área de atuação, estavam
eram o centro único do movimento científico, preocupados com o atraso do Brasil, atribuindo-
os estudos experimentais e de observação,
o à ineficiência da produção científica que se
base de toda a ciência e de uma importância
capital e exclusiva para seu desenvolvimento,
fazia na época. Esses autores viam na imple-
eram feitos sem laboratórios nem gabinetes, ou mentação de uma nova metodologia o desen-
em gabinetes paupérrimos, o que quer dizer cadeamento de práticas que teriam por conse-
que, realmente, apenas existiam nos programas qüência o despertar de vocações científicas na
oficiais. (Apud Barbosa, 1977, p. 236, grifo juventude, além de romper com as amarras que
nosso) nos prendiam a uma vida intelectual fadada à
cópia e à imitação das nações mais desen-
Vários campos de saber foram influen- volvidas. Outra conseqüência seria a luta por
ciados por essa idéia de que, para garantir o reconhecimento e legitimação da atividade
acesso à “verdade”, deveriam aplicar o método científica na sociedade, o que, obviamente,
experimental e não perder de vista o fim prático perpassava a discussão de quais práticas cientí-
de seus estudos. Dessa forma, podemos ver tal ficas trariam mais benefícios para a sociedade.

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No artigo “A indústria nacional”, do da Revista Brasileira na qual Gorceix esclarecia


professor da Politécnica Getúlio das Neves, o estado da produção de ferro no Brasil antes
podemos ver como os estudos experimentais da institucionalização da Escola de Minas:
estavam se espraiando em várias disciplinas,
sempre tendo em vista a questão da utilidade, O que não se sabe bastante fora do país, o que
como no desenvolvimento de uma indústria se ignora nas outras províncias do Império, o
nacional em bases científicas e profissionais, que mesmo é pouco conhecido por uma parte
dos habitantes de Minas é que existe já, no
expressão máxima de aplicação da ciência
estado rudimentar, uma indústria que procura
experimental daquele momento: tirar resultados dessas riquezas tanto quanto
lhe permitem as condições desfavoráveis do
[...] a botânica e a zoologia deixaram de lugar, devido ao isolamento no meio de serras,
constituir-se cogitações meramente especu- onde foi obrigada a estabelecer-se. (Gorceix,
lativas para se entreterem outrossim com as 1880, p. 153, grifo nosso)
suas aplicações úteis, a agricultura e a
zootecnia; da mineralogia e a geologia se tiraram Para Gorceix, o problema estava na inefi-
os corolários industriais com o aparecimento
ciência do método de exploração de nossas
das cadeiras de metalurgia e exploração das
minas. (Neves, 1896, p. 17)
riquezas naturais: “O maior número destes
operários [nas forjas], há 15 ou 20 anos, constava
Getúlio das Neves dava notícia, a partir de de escravos. Que interesse tinham esses infe-
1874, do desenvolvimento de “uma maior soma lizes em aperfeiçoar um trabalho que seus
de demonstrações experimentais, pela criação senhores conheciam talvez, a maior parte das
de novos gabinetes e laboratórios” em institui- vezes, tão mal como eles?” (Gorceix, 1880, p.
ções como a Escola de Minas e a Escola 161). Tal como Agassiz percebia na escravidão
um empecilho ao desenvolvimento da atividade
Politécnica de São Paulo, Instituto Fluminense
científica profissional no Brasil, Gorceix via no
de Agricultura, a Escola Agrícola de Juiz de
emprego do trabalho escravo um obstáculo para
Fora, a Agricultura da Bahia, a Escola Agrícola
o desenvolvimento de uma indústria nacional.
do Desengano; “a tudo isto devendo-se acres-
Conciliar uma estrutura social que convivia
centar-se os cursos de agricultura professados
com a escravidão e a atualização do império
no Museu Nacional” (Neves, 1896, p. 17).
brasileiro diante da Segunda Revolução Industrial
O artigo de Getúlio das Neves mostrou a
era um dos desafios que a elite da época tinha
importância da Escola de Minas como uma das
de enfrentar. Essa contradição pode ter sido
principais instituições a introduzir os estudos
atenuada nas últimas décadas do império, que
experimentais na geologia. Isto pode ser visto
usufruía de uma fase de certa estabilidade graças
na Revista Brasileira, quando, por exemplo,
ao apogeu da agricultura cafeeira e ao fim da
Henri Gorceix descartou a atividade de mine-
Guerra do Paraguai. Segundo Benchimol, as
ralogia praticada no Brasil antes da institucio- benesses da civilização começavam a se irradiar
nalização da Escola de Minas. Gorceix afirmava pelos centros urbanos e, na perspectiva de
que a exploração das riquezas minerais do país alguns setores da elites, o Brasil estava saindo
estava num estado rudimentar, no momento do “marasmo cultural” e das crises políticas dos
de sua chegada a Minas. Não podemos nos primeiros decênios do século XIX para reencon-
esquecer que o diferencial dos estudos de trar seu destino de país essencialmente agrícola,
mineralogia ministrado na Escola de Minas e na agora inserido em uma nova ordem mundial e
Politécnica do Rio de Janeiro estava justamente com base em novos parâmetros científicos e
na ênfase que a primeira dedicava às atividades tecnológicos (cf. Benchimol, 1999, p. 135).
práticas, como as cadeiras inicialmente lecio- Esse esforço para colocar o Brasil no “nível
nadas por seu diretor.11 Vejamos agora a citação de seu século”, implementando técnicas mais
modernas, precisou, em um primeiro momento,
11. As cadeiras ministradas por Gorceix eram de geologia
do Brasil e de classificação mineralógica de inspiração orgâni- desqualificar as formas anteriores de produção
ca. Cf. Stepan, N., 1976, p. 126. intelectual. Dessa maneira, os textos de vulga-

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VERGARA, MOEMA DE REZENDE. Ciência e literatura: a Revista Brasileira como espaço...

rização científica, presentes na revista, indica- Essa forma da vulgarização científica


vam a necessidade de a comunidade científica advogava a necessidade de se firmar uma
daquele momento se diferenciar das gerações ciência nacional sobre as bases do método
anteriores, acusadas de “metafísicas e livres- experimental, uma vez que estabelece um
cas”. Em outras palavras, a desqualificação das conjunto de problemas nacionais que devem ser
práticas científicas anteriores às de 1870 pode enfrentados por sua respectiva comunidade
ser vista como um recurso retórico, não espe- científica. A partir da implementação do progra-
lhando necessariamente um avanço do conhe- ma dessa vulgarização científica professada por
cimento científico, mas expressando os anseios Couty, o Brasil despertaria na opinião pública o
de coesão social de um determinado grupo. O interesse em desenvolver as condições para se
lugar por excelência onde se manifestam tais tornar também produtor de conhecimento,
fenômenos é geralmente o mundo da vulga- deixando de ser apenas um “receptor” do
rização científica: conferências e debates públi- progresso científico produzido em outros países.
cos, publicação de artigos em jornais e revistas. Segundo ele, esse progresso poderia ser
A visita de Agassiz antecedeu em alguns constatado tanto no plano material, quanto no
anos as mudanças que ocorreram nos anos de desenvolvimento intelectual da nação.
1870, em que a prática científica, em diversas Esse esforço de vulgarização científica era
áreas, adquiriu maior expressão por meio do exercido pelos homens instruídos, que compre-
aprimoramento do método experimental. Uma endiam tanto os literatos, quanto os cientistas.
questão subjacente à introdução desse método No artigo de Couty, entendemos que essa
no Brasil, em diversos campos do saber, era a tentativa de desenvolver na revista uma forma
formação de um conjunto de elementos concer- de vulgarização só foi possível porque “os dignos
nentes aos problemas nacionais, que os sábios diretores da Revista Brasileira puseram as
brasileiros seriam os mais indicados para resol- colunas desta” (Couty, 1879, p. 215) à sua
ver: disposição, ou seja, quem abriu o espaço para a
vulgarização foram os editores, que, nesse caso,
Qualquer país deve por si promover o trabalho, eram os literatos.
o progresso científico de que não pode
Na Revista Brasileira, observamos que os
prescindir, por quanto somente ele está no caso
críticos literários destacavam-se na dedicação
de conhecer e observar todos os fatores dos
problemas. Talvez não fosse difícil mostrar que à atividade vulgarizadora, uma vez que viam na
não dá bons resultados aplicar inteiramente em ciência um caminho que poderia guiá-los para a
um país progressos científicos de outro, não “verdadeira” essência da identidade brasileira.
só porque diminui muito o trabalho científico O sentido da vulgarização científica promovida
do próprio país, mas também porque pode pela Revista Brasileira era o fato de ela ser
prejudicar o hábito de estudo aprofundado das uma obra realizada para a opinião pública da
questões, e leva o espírito humano a encarar época. Essa opinião pública seria uma variante
os problemas, que carecem de solução, através do conceito habermasiano, aqui empregado no
de um prisma devido à aplicação forçada das
sentido da expressão de cidadãos que, fazendo
leis já verificadas para os mesmos fatos, mas
em condições diferentes. o uso público da razão, debatem sobre o destino
Em todo caso é certo que pelo que toca ao da res publica e como um dos aspectos da
Brasil, por exemplo, os grandes problemas que esfera pública que desempenha o papel político
lhe dizem respeito, só podem ser resolvidos, de mediador entre o Estado e a sociedade.
ou pelo menos resolvidos satisfatoriamente, no É certo que, em uma sociedade na qual o
Brasil, e por sábios do país, que como tais, se Estado era o principal agente econômico e social
acham em condições de conhecer melhor as e que convivia com a escravidão, não há como
questões com todas as suas particularidades.
distinguir entre os interesses da esfera pública
As secas do Ceará, as moléstias contagiosas
no Brasil, a febre amarela. Andaria mal quem
e os do Estado. Além disto, a aplicação do
tratasse de resolver esses problemas pelas conceito de cidadão é em si problemática, nesse
conclusões deduzidas na Europa do estudo de momento da sociedade brasileira. Assim, não
fatos análogos. (Couty, 1879, p. 228) temos opinião pública como manifestação dos

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interesses da sociedade civil diante do Estado, Referências


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