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INTRODUÇÃO
O direito das coisas consiste no complexo de normas reguladoras das relações jurídicas
referente aos bens suscetíveis de apropriação pelo homem.
Excluem-se do seu conceito as coisas que existem em abundância no mundo, sem valor
econômico, como o ar atmosférico e a luz solar.
O Código Civil só disciplina, no Livro do Direito das Coisas, os bens materiais ou corpóreos. Os
bens imateriais, como os direitos autorais, fruto da inteligência do homem, são disciplinados em
leis especiais. Para Maria Helena Diniz os direitos autorais são também regidos pelo direito das
coisas, a ilustre jurista argumenta que se trata de uma modalidade especial de propriedade, isto é,
propriedade imaterial. A maioria dos autores inclui os direitos autorais no estudo dos direitos da
personalidade, o que realmente parece mais adequado, pois realça o aspecto moral da
personalidade do autor. Mas não resta dúvida que se trata de um bem imaterial de caráter
patrimonial.
Na sistematização do direito das coisas, incluem-se apenas os direitos reais, excluindo-se os
direitos pessoais, que são objeto de disciplina autônoma.
A teoria clássica ou dualista sustenta que o direito real é o poder da pessoa sobre uma coisa,
sem intermediários. É, pois, o vínculo entre uma pessoa e uma coisa determinada, oponível contra
todos. De acordo com essa teoria, o direito real tem três elementos: a) sujeito ativo da relação
jurídica; b) coisa, que é o objeto do direito; c) inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa. Não
há, portanto, um sujeito passivo, pois se trata de um vínculo entre a pessoa e a coisa. O sujeito
passivo é, no entanto, determinado, isto é, identificado por ocasião da violação do direito real.
A teoria unitária personalista, por sua vez, nega a existência de diferenças entre o direito real
e o direito pessoal, preconizando que o direito real, como as demais obrigações, é de natureza
pessoal, mas de conteúdo negativo, isto é, os demais indivíduos acham-se obrigados a respeitá-lo,
abstendo-se da prática de qualquer ato tendente a lesá-lo. Para esta teoria, o direito real é uma
obrigação passiva (de não fazer) universal, que tem três elementos: sujeito ativo (titular do direito
real), objeto (a coisa vinculada) e sujeito passivo universal (todas as pessoas do mundo). Planiol,
árduo defensor dessa doutrina, combatendo a teoria clássica, dizia que não há relação jurídica
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entre pessoa e coisa, porquanto o direito é necessariamente uma relação de pessoas. Asseverava
que enquanto no direito de crédito há dois sujeitos determinados (credor e devedor), no direito
real existe um sujeito ativo, titular do direito, e uma relação jurídica que não se estabelece com a
coisa, pois esta é objeto do direito, mas sim com a generalidade anônima das pessoas, havendo
assim um sujeito passivo universal ou indeterminado, que abrange toda a coletividade. Dentre as
críticas lançadas por essa doutrina à teoria clássica, costuma-se mencionar: a) a relação entre
pessoa e coisa não passa de um fato, que é a posse; b) a oponibilidade do direito a terceiros não é
exclusiva dos direitos reais, mas uma característica de todos os direitos absolutos; c) no direito real,
às vezes, aparece também o sujeito passivo determinado, tal como nos direitos pessoais. De fato,
alguns autores sustentam que nos direitos reais sobre coisas alheias existe um sujeito passivo
determinado, citando, como exemplo, a servidão predial em que o poder do titular consiste em se
pretender do proprietário ou possuidor do prédio serviente uma certa abstenção, havendo,
destarte, uma pessoa especialmente obrigada, sendo que as demais são estranhas à relação
jurídica.
Cumpre ainda registrar a teoria de Demogue, que, no fundo, tem também conotação
unitarista personalista, deixando entrever que o direito real e o direito pessoal são da mesma
natureza, ambos são direitos pessoais. Apregoa que o direito das obrigações é o centro do direito
civil, abrangendo também os direitos reais, pois em todo direito o elemento pessoal encontra-se
presente; todo direito é uma relação entre pessoas. Todavia, alguns direitos são mais fortes ou mais
eficazes do que outros, embora sejam da mesma natureza. Assim, enquanto os direitos reais são
oponíveis contra todos e o seu exercício independe da colaboração de outras pessoas, os direitos
pessoais só podem ser opostos contra uma ou algumas pessoas determinadas, sendo que o seu
exercício depende da colaboração de outras pessoas.
Por outro lado, a teoria unitária impersonalista ou unitária realista, proposta por Gaudemet,
preconiza que todos os direitos são reais, não havendo distinção entre direitos reais e direitos
pessoais. Aludida doutrina sustenta que os direitos pessoais não recaem sobre a pessoa do
devedor, e sim sobre seu patrimônio, pois este responde por suas dívidas, sendo, portanto, uma
espécie de direito real, com abstração da pessoa do devedor. Assim, o direito pessoal, segundo essa
teoria, não é uma relação entre pessoas, mas entre patrimônios, tendo em vista que é o patrimônio
do devedor que responde por suas dívidas. Dentre as críticas a essa doutrina, merecem destaques:
a) o fato de analisar os direitos no momento do inadimplemento, que é uma situação anormal; b) o
fato de despersonalizar o direito pessoal, desconsiderando a pessoa do devedor, deixando sem
explicação as obrigações de fazer e não fazer personalistas; c) o fato de unificar situações distintas,
porquanto os direitos reais recaem sobre coisa determinada, ao passo que o patrimônio é uma
universalidade, isto é, um conjunto de bens, direitos e obrigações.
O Código Civil pátrio adotou a teoria clássica. Assim, os elementos dos direitos reais são:
sujeito ativo, a coisa e a inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa; ao passo que o direito
pessoal, sendo uma relação de pessoa a pessoa, apresenta os seguintes elementos: sujeito ativo,
sujeito passivo determinado e prestação.
Com efeito, direito real “é a relação jurídica em virtude da qual o titular pode retirar da coisa
de modo exclusivo e contra todos as utilidades que ela é capaz de produzir. O direito pessoal, por
seu turno, conceitua-se como relação jurídica mercê da qual ao sujeito ativo assiste o poder de
exigir do sujeito passivo determinada prestação, positiva ou negativa” (Washington de Barros
Monteiro).
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a) os direitos reais são absolutos, oponíveis erga omnes, sendo providos de ação real que
possibilita a recuperação da coisa, esteja ela em poder de quem quer que seja, ao passo que os
direitos pessoais são relativos, podendo a ação ser movida apenas em face da pessoa com quem se
celebrou o negócio jurídico. Alguns civilistas criticam essa distinção entre direitos absolutos e
relativos, salientando que nenhum direito é absoluto, pois todos sofrem limitações sociais que os
conduzem à relatividade. Por outro lado, se se aceitar a existência de direitos absolutos, força
convir a existência de outros direitos absolutos fora dos direitos reais, como o status das pessoas,
seu nome, sua vida e integridade física (direitos da personalidade);
b) os direitos reais são regidos pelo princípio da taxatividade. O rol dos direitos reais é
numerus clausus, não podendo ser ampliado pelas partes e nem pela analogia. Somente a lei pode
criar novos direitos reais, além daqueles previstos no art. 1.225 do CC. Em contrapartida, os direitos
pessoais são numerus apertus, pois a lei os elenca de maneira meramente exemplificativa, podendo
outros ser criados livremente pelas partes, de modo que os direitos pessoais são ilimitados;
c) os direitos reais são regidos pelo princípio da legalidade ou tipicidade. É a chamada
imposição de tipos. Somente a lei pode criar direito real. Não existe direito real criado pelas partes.
No direito contratual existem os contratos típicos (criados pela lei) e os atípicos (criados pelas
partes). Os direitos reais são sempre típicos (criados pela lei). Washington de Barros, porém,
entende que o rol dos direitos reais não é taxativo, podendo as partes criar outros direitos reais,
desde que não contrariem os princípios de ordem pública;
d) os direitos pessoais são regidos pelo princípio da autonomia da vontade, podendo ser
criados livremente pelas partes;
e) os direitos reais são regidos pelo princípio da publicidade, consistente no registro, quando
se tratar de bens imóveis, e na posse em relação aos bens móveis. Antes da posse ou do registro
não há direito real. Alguns direitos reais sobre bens móveis também exigem registro, como o
penhor. Alguns direitos reais sobre imóveis dispensam o registro, como o direito real de habitação
previsto em favor do cônjuge sobrevivente. Nos direitos pessoais, a publicidade é facultativa;
f) os direitos reais são regidos por normas de ordem pública; os direitos pessoais, em regra,
por normas de ordem privada;
g) as ações reais sobre imóveis dependem da autorização do cônjuge do autor e da citação do
cônjuge do réu e são movidas no local da situação do bem. As ações pessoais dispensam a
participação dos respectivos cônjuges e são movidas no domicílio do réu. As ações reais podem ser
movidas contra qualquer pessoa que viole o direito real, ao passo que as ações pessoais só são
cabíveis contra quem figura como sujeito passivo na relação jurídica;
h) o titular do direito real tem a faculdade de abandoná-lo se não suportar mais seus
encargos. No direito pessoal, não é possível o abandono, salvo na servidão em que o dono do
prédio serviente tem a opção de abandonar o imóvel caso não queira realizar as obras de
conservação a que estava obrigado por força do contrato (art. 1382 do CC);
i) admite-se usucapião de direito real, mas é controvertida a usucapião de direito pessoal;
j) o direito real é dotado de seqüela, que é o direito de perseguir a coisa, reavendo-a, esteja
ela em poder de quem quer que seja. O direito pessoal só pode ser invocado em face do outro
contratante;
k) os direitos reais podem ser perpétuos e temporários, ao passo que os direitos pessoais são
sempre temporários, extinguindo-se instantaneamente com o cumprimento da prestação devida.
Os direitos reais perpétuos são a propriedade, a enfiteuse e a servidão, pois os demais direitos reais
são temporários. Registre-se, ainda, que os direitos pessoais são instantâneos, salvo a obrigação de
não fazer, que se reveste da característica de permanência;
l) os direitos reais têm por objeto uma coisa corpórea, isto é, tangível, ao passo que os direitos
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pessoais têm por objeto uma prestação do devedor. Em algumas hipóteses é possível direito real
incidir sobre direito pessoal, refiro-me ao usufruto e ao penhor, que podem recair sobre créditos e
direitos;
m) nos direitos reais o titular não precisa da intervenção de outra pessoa para aproveitar
todas as utilidades que a coisa pode produzir, porque a relação de proveito é estabelecida
diretamente entre ele e a coisa, o que não ocorre nos direitos pessoais, porquanto é necessária a
intervenção do devedor, ao dar cumprimento à obrigação, para que o credor possa aproveitar as
vantagens do objeto da prestação;
n) os direitos reais não se extinguem pela inércia, à exceção da servidão, enquanto que os
direitos pessoais extinguem-se pelo seu não exercício.
a) direito de sequela;
b) direito de preferência: o direito real, em regra, prefere ao pessoal, salvo se houver lei em
contrário, v.g., na falência, o crédito trabalhista (direito pessoal) tem preferência sobre o contrato
garantido por hipoteca (direito real);
c) aderência ou inerência: adere imediatamente à coisa, independentemente do seu titular, e
se prendendo a ela não sofre mutação com a modificação da respectiva titularidade. É o caso da
servidão ou usufruto que não se vê prejudicado com a alienação da propriedade, pois o adquirente
deverá respeitar o direito real sobre coisa alheia constituído;
d) tipicidade;
e) taxatividade;
f) elasticidade: é característica dos direitos reais limitados. Corresponde ao movimento que o
direito real pode ter quando desmembrados os poderes sobre a propriedade. É o que ocorre no
usufruto ou na servidão, quando parte dos poderes é transferida ao usufrutuário ou serviente e,
com a extinção do usufruto ou servidão, voltam ao titular, consolidando a propriedade, em um
movimento que é exclusivo dos direitos reais;
g) especialidade: os direitos reais só podem ser constituídos sobre coisa certa e determinada,
individualizada de modo a não admitir confusão. Só pode ser objeto de direitos reais coisa
corpórea, segundo o critério da tangibilidade, encontrado no direito romano e que tem
fundamento na idéia de apropriação material da coisa;
h) exclusivo: não é possível instituir-se direito real de igual conteúdo onde outro já exista. É
possível recaírem sobre a mesma coisa dois direitos reais de espécies diferentes, como, por
exemplo, “no caso de usufruto ou de enfiteuse os direitos são de conteúdo variado, pois enquanto
o usufrutuário tem direito aos frutos e o enfiteuta, às utilidades da coisa, o nu-proprietário e o
titular do domínio direto só guardam o direito à substância da coisa” (Silvio Rodrigues). Também
poderá o direito real ser dividido em partes ideais, como no condomínio, mas nesse caso cada um
dos condôminos tem exclusividade sobre a sua parte;
i) absoluto.
CONTEÚDO
O direito das coisas abarca o estudo da posse, propriedade e direitos reais sobre coisas
alheias.
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POSSE
CONCEITO
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AQUISIÇÃO DA POSSE
O Código Civil revogado fazia, no art. 493, uma disposição analítica dos meios de aquisição da
posse, enumerando-os. Afirmava que a posse era adquirida: I – pela apreensão da coisa, ou pelo
exercício do direito; II – pelo fato de se dispor da coisa ou do direito; III – por qualquer dos modos
de aquisição em geral.
Referido dispositivo, reminiscência das ideias savignyanas, era inútil e tecnicamente
impreciso. Ademais, elenca a apreensão como um dos modos de aquisição da posse, quando, na
verdade, nem toda apreensão constitui posse, assim como pode haver posse sem apreensão.
Como foi adotada a teoria objetiva de Ihering, bastaria o dispositivo enunciar que se adquire a
posse pelo exercício de alguns dos poderes inerentes ao domínio, pois a aquisição da posse é ato
jurídico de forma livre. Foi o que fez o Código Civil de 2002 ao dispor, no art. 1.204: “Adquire-se a
posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade”. Acrescente-se ainda que a posse pode ser adquirida pela
própria pessoa que a pretende ou por seu representante, outrossim, por terceiro sem mandato,
desde que seu ato seja ratificado pelo beneficiário (art. 1.205 do CC).
O Código Civil, ao contrário do anterior que proibia expressamente, é omisso sobre o fato do
incapaz poder ou não adquirir posse, sem representação ou assistência do representante legal. Uma
primeira corrente nega a possibilidade, invocando, para tanto, os arts. 166, I, e 171, I, do CC. Uma
segunda corrente trata a posse como ato-fato jurídico, dispensando em relação a ela o requisito da
capacidade, nos moldes do art. 185 do CC, admitindo-se, destarte, a aquisição pessoal da posse pelo
incapaz. Filiamo-nos a essa última corrente, porque a posse é uma relação entre pessoa e coisa, isto é,
analisada isoladamente, deve ser considerada como sendo um fato, desvinculando-se dos requisitos
inerentes aos negócios jurídicos. Ademais, o Código Civil adotou a teoria objetiva, afastando-se de
qualquer requisito subjetivo, isto é, relacionada à intenção do agente.
O constituto possessório ou cláusula constituti é o ato pelo qual, segundo a clássica lição de
Clóvis, aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. Por exemplo, o
proprietário aliena a casa, mas nela permanece como inquilino. Note-se que antes o proprietário
tinha a posse como dono, agora tem a posse como locatário. Verifica-se, no constituto possessório,
o fenômeno da bifurcação da posse em direta e indireta. O constituto não se presume, deve
constar expressamente do ato de alienação, sendo um modo de aquisição da posse. Com efeito,
dispõe o parágrafo único do art. 1.267 do CC: “Subentende-se a tradição quando o transmitente
continua a possuir pelo constituto possessório”. Conquanto o Código Civil preveja o constituto
possessório apenas para os bens móveis, a doutrina também o admite para os imóveis, aplicando
por analogia o artigo 1267 do CC. O enunciado 77 do CJF dispõe: “a posse das coisas móveis e
imóveis também podem ser transmitida pelo constituto possessório”.
Por outro lado, dispõe o art. 1.209 do CC que a posse do imóvel faz presumir, até prova em
contrário, a das coisas móveis que nele estiverem. Trata-se de mera aplicação da regra antiga no
sentido de que o acessório segue o principal. A presunção, porém, é relativa, juris tantum, cedendo
diante de prova em contrário.
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DA PERDA DA POSSE
O art. 520 do CC/1916, reminiscência das idéias savignyanas, elencava as hipóteses de perda
da posse. Tratava-se de dispositivo inócuo, pois, na verdade, ocorrerá a perda da posse toda vez
que o possuidor deixar de se comportar como dono. É o que dispõe agora o art. 1.223 do CC:
“Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao
qual se refere o art. 1.196”.
O antigo dispositivo do Código Civil de 1916 (art. 520) estabelecia que “perde-se a posse das
coisas: I – pelo abandono; II – pela tradição; III – pela perda ou destruição delas, ou por serem
postas fora do comércio; IV – pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este
não foi manutenido, ou reintegrado em tempo competente; V – pelo constituto possessório”.
Estabelecia também o Código Civil de 1916 que a posse para o ausente só se considerava
perdida quando, tendo notícia da ocupação, ele se abstivesse de retomar a coisa ou, tentando
recuperá-la, fosse violentamente repelido (art. 522). Esse dispositivo era criticado porque protegia
imerecidamente o ausente, pessoa que deixou o seu domicílio e seus bens sem nomear
representante ou pessoa para cuidar de seus interesses, porque o ausente é, nesse caso, negligente
com a posse e propriedade de seus bens.
Modificou o Código Civil de 2002 a redação do dispositivo referido para determinar, no seu art.
1.224, que “só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia
dele, se abstém de retomar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”.
Como esclarece Carlos Alberto Garbi, não emprega o novo Código Civil o termo “ausente”,
mas ampliou indevidamente a proteção, agora dirigida a todos aqueles que não presenciaram o
esbulho. Como consequência, uma interpretação literal do dispositivo pode levar ao entendimento
de que não pode ser considerada perdida a posse para a pessoa até que ela tenha notícia do
esbulho e a respeito dele permaneça inerte. Logo, igualmente não se pode considerar adquirida a
posse para quem praticou o esbulho. A posse do esbulhador não terá qualquer efeito, como a
proteção pelos interditos ou pela usucapião, até que, noticiada a violação ao possuidor, ele se
abstenha de retomar a coisa.
Escreve Silvio Rodrigues a respeito que “a solução da lei era e continua má, por se inspirar na
preocupação excessivamente individualista de proteger o possuidor em viagem, ou fora do lugar
onde se encontra a coisa possuída. O artigo em tese deve ser suprimido, pois cria uma
discriminação em favor daquele possuidor negligente, em detrimento do interesse social, que é no
sentido de conferir proteção a quem quer que, mansa e pacificamente, exerça posse pública por
mais de ano e dia”.
Uma interpretação conciliadora entende que a posse só pode ser considerada perdida para
quem não presenciou o esbulho quando sabia dele “ou devia saber” e se abstém de retomar a
coisa, porque o possuidor esbulhado, zeloso e diligente, deve manter permanente vigilância sobre a
coisa, de modo que a lei não pode favorecer aquele que é negligente com a posse de seus bens e
por esta razão só veio a ter conhecimento do esbulho muito tempo depois do evento.
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a essas posições. Dizia que o rol dos direitos reais previsto no art. 674 do CC/1916 (art. 1.225 do
CC/2002) é numerus clausus, taxativo, sendo, pois, vedada a sua ampliação para incluir a posse.
Asseverava que o direito pessoal é a relação entre credor e devedor, tendo por objeto uma
prestação de dar, de fazer ou não fazer, ao passo que a posse é a relação entre pessoa e coisa com
sujeito passivo indeterminado.
Clóvis adotava a idéia de que posse seria um direito especial, sui generis. Malgrado a
genialidade do ilustre civilista, os direitos são reais ou pessoais, inexistindo na sistemática jurídica
pátria a figura desse tal direito especial.
A jurisprudência majoritária considera a posse direito real. Posse é a manifestação da
propriedade, logo não poderia a propriedade (direito real por excelência) manifestar-se como
direito pessoal, e muito menos como direito especial. Ademais, pode se aplicar o princípio da
gravitação jurídica, considerando a propriedade como principal e a posse como acessório, sendo
que o acessório segue o principal e por isso a posse deve ser tida como direito real. A posse tem as
características do direito real: a) é exercida de forma direta sobre a coisa, sem a necessidade de
intermediários; b) é oponível erga omnes; c) incide sobre coisa determinada. A posse é também
denominada de direito real provisório, enquanto a propriedade é o direito real definitivo.
Na verdade, o Código de Processo Civil esforçou-se para colocar a posse entre os direitos
reais, ao dispor no art. 95 do CPC que “nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou
de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse,
divisão e demarcação de terras e nunciação de obras novas”.
Referido dispositivo, específico às ações reais imobiliárias, incluiu a posse em seu texto.
Mas a Lei 8.952/1994, alterando o Código de Processo Civil, no art. 10, que disciplina
especialmente as ações sobre direitos reais imobiliários, incluiu os §§ 1º e 2º. Dispõe o § 1º que
“ambos os cônjuges serão citados para as ações: I – que versem sobre direitos reais imobiliários”. E
reza o § 2º: “Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável no caso de composse ou de ato praticado por ambos”.
Assim, conquanto se caracterize como direito real, na ação possessória não há necessidade da
autorização do cônjuge do autor ou do réu, salvo no caso de composse ou de ato por ambos
praticados.
OBJETO DA POSSE
É pacífica a incidência da posse sobre coisas corpóreas e direitos reais. De fato, a posse dos
direitos reais (bens incorpóreos), também denominada quase-posse, manifesta-se abertamente na
servidão, usufruto, penhor etc. Assim, admissível, por exemplo, ação de reintegração de posse no
caso de esbulho do direito de servidão.
Os bens corpóreos com cláusula de inalienabilidade podem ser objeto de posse, desde que
esta seja transmitida pelo próprio proprietário, como na hipótese de locação e comodato. Os bens
acessórios também podem ser possuídos de forma separada dos bens principais, desde que a
separação seja possível sem alterar-lhe a substância.
É também possível a posse de coisa coletiva, mas ela recairá sobre cada um dos objetos que
compõe a universalidade.
Quanto à posse dos bens públicos, torna-se perfeitamente admissível, sendo proibida apenas
a usucapião. Os bens públicos do patrimônio indisponível, que são os de uso comum do povo e os
de uso especial, só podem ser possuídos mediante autorização do Poder Público, que é revogável a
qualquer tempo. Sem a dita autorização, não se terá posse, mas mera detenção. Entretanto, os
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bens públicos dominiais, que integram o patrimônio disponível, são suscetíveis de posse, ainda que
não haja autorização, convalidando-se a posse pelo decurso do prazo de ano e dia, sendo, porém,
vedada a usucapião, conforme salientado anteriormente.
Tema controvertido é o que diz respeito à posse dos direitos pessoais.
Rui Barbosa sustentava a presença da posse sobre os direitos pessoais, escrevendo inclusive o
livro Posse dos direitos pessoais. Os defensores desse ponto de vista apegam-se ao vocábulo
“propriedade”, constante da redação do art. 1.196 do CC, que considera possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. A expressão
“domínio”, que constava da redação do art. 485 do CC/1916, e agora eliminada, é restrita às coisas
corpóreas e o termo “propriedade” abrange os bens incorpóreos, isto é, os direitos. Argumentava-
se, ainda, que a redação dos arts. 488, 490 e 493, I, todos do CC/1916, fazia referência expressa à
posse dos direitos, sem distinguir entre reais e pessoais, não podendo o intérprete fazer distinções
onde a lei não o fez. É certo que foi modificada a redação destes dispositivos, excluindo-se a
referência que eles faziam à posse de direitos, mas permanecem as disposições dos arts. 1.547
(posse do estado de casado) e 1.791, parágrafo único (posse da herança), do CC, que admitem
expressamente a posse dos direitos pessoais. Acrescente-se ainda que o art. 1197 do CC ao tratar
da posse direta refere-se como sendo a derivada tanto do direito real quanto a do direito pessoal.
Clóvis, porém, não admite a posse dos direitos pessoais. Suas idéias são muito bem
sintetizadas por Washington de Barros Monteiro, que, na vigência do Código Civil de 1916,
afirmava:
“a) o vocábulo propriedade figurou também no projeto primitivo de sua autoria e nem por
isso teve ele intenção de filiá-lo ao sistema dos que ampliam a posse aos direitos pessoais;
b) nenhum dispositivo se depara no Código, pelo qual se infira que a posse se estenda àqueles
direitos. Os arts. 488, 490 e 493, n. I, referem-se apenas a direitos reais;
c) a propriedade e seus desmembramentos são direitos reais. Os direitos pessoais jamais
foram desmembramentos do domínio. Aliás, tais direitos não podem ser objeto de turbação
material, só compreensível no tocante aos direitos reais. Não pode haver posse de coisas
incorpóreas quae tangi non possunt”.
A posse está ligada ao direito de propriedade. Surgiu, aliás, para conferir maior proteção à
propriedade. Desse modo, adotando posição intermediária, admitimos a posse sobre os direitos
pessoais patrimoniais, cujo exercício esteja vinculado à detenção de uma coisa corpórea. Assim, por
exemplo, o comodatário e o depositário, titulares de direitos pessoais, desfrutam de posse, podendo
invocar os interditos para proteção de seus direitos.
Entretanto, os direitos pessoais, cujo exercício não esteja condicionado ao uso de uma coisa
corpórea, são insuscetíveis de posse. Assim, os direitos pessoais de conteúdo não patrimonial,
como, por exemplo, o direito ao nome e ao exercício de função pública, por não serem passíveis de
transformação em pecúnia, não podem ser objeto de propriedade e nem de posse.
Sobre o assunto, o STJ editou a Súmula 228: “É inadmissível interdito proibitório para a proteção
do direito autoral”. Esse posicionamento nega a posse sobre direitos autorais, que é um direito pessoal.
Finalmente, a discussão sobre a posse dos direitos pessoais perdeu um pouco a importância com o
advento do mandado de segurança, na Constituição de 1934 , permitindo a concessão de liminar. Com o
artigo 273 do CPC, que implantou a tutela antecipada, através da Lei 8.952/94, em praticamente todas as
ações, a discussão esvaziou ainda mais. Antes dessas possibilidades de liminar, as ações possessórias eram
praticamente as únicas que geravam esse benefício e por isso era grande o interesse em considerar a
posse direito pessoal.
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ESPÉCIES DE POSSE
direta e indireta;
justa e injusta;
de boa-fé e de má-fé;
jurídica e natural;
nova e velha.
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de intentar os interditos contra terceiro que pretende apoderar-se da res furtiva, desde,
evidentemente, que não se apresente em juízo como ladrão.
Verifica-se, pois, que o possuidor injusto não tem ação possessória contra aquele de quem a
coisa foi tirada pela violência, clandestinidade ou precariedade. Mas, em relação a terceiros
molestadores ou esbulhadores, a sua posse é justa, ou melhor, podendo, assim, intentar a ação
possessória competente.
Preceitua o Código, no art. 1.201, que a posse é de boa-fé se o possuidor ignora o vício ou o
obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa.
A posse de boa-fé é a que o possuidor, mediante erro escusável, ignora o vício ou obstáculo
que impedia a sua aquisição.
A posse de má-fé, inversamente, surge quando o possuidor tem ciência do vício ou, então,
possibilidade de conhecê-lo empregando a diligência ordinária.
Para que a posse seja de boa-fé não basta a ignorância do vício que a macula; mister que o
erro quanto a este fato seja escusável. Tratando-se de erro inescusável, vencível pelo critério do
homem médio, dotado da prudência ordinária, conquanto ignorado o vício pelo agente, a posse
será de má-fé.
Aquele que adquirir um bem de menor púbere, sem que este esteja devidamente assistido pelo
representante legal, incidindo em erro escusável quanto à idade, será possuidor de boa fé. Se, porém, a
aparência infantil do menor for facilmente perceptível ao homem médio, a posse será de má-fé.
No parágrafo único do art. 1.201 do CC está contida a presunção de boa fé em favor de quem
tenha justo título, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admitir essa
presunção.
Justo título é o formalmente apto a transferir o domínio, mas que só não o transmite porque
contém um defeito intrínseco. Por exemplo, escritura pública de compra e venda outorgada por
quem não é o verdadeiro proprietário.
A presunção é relativa, juris tantum, admitindo prova em contrário.
Se o possuidor tem justo título presume-se a sua boa-fé, competindo à parte adversária o
ônus da prova da má-fé.
A boa-fé, porém, não perdura o tempo todo. Cessa a partir da citação. Se, contudo, o
possuidor de boa-fé for o autor da ação possessória, cessa a sua boa-fé a partir da contestação, pois
neste momento toma conhecimento do vício da posse. Independentemente do ajuizamento da
ação possessória, cessa também a boa-fé quando surgirem circunstâncias indicativas de que o
possuidor sabia que possuía indevidamente.
Importante salientar que para intentar ação possessória basta a posse justa. É desnecessária a
boa-fé. Esta é importante para o fim de direito de retenção, indenização pelos frutos, benfeitorias e
perda ou deterioração da coisa.
Estabelece o art. 1.203 do CC que “salvo disposição em contrário, entende-se manter a posse
o mesmo caráter com que foi adquirida”. É o princípio geral sobre a continuidade do caráter da
posse, que, salvo prova em contrário, mantém as mesmas características com que foi adquirida.
Provada a cessação da violência ou clandestinidade há mais de ano e dia a posse injusta
transforma-se em justa, de modo que admite-se a modificação do caráter da posse através de atos
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Posse natural é a mera detenção. Na verdade, o detentor não é possuidor (art. 1.198 do CC).
Posse jurídica ou civil é a posse no sentido legal, isto é, a exteriorização da propriedade.
Posse ad interdicta é a que pode ser defendida pelas ações (interditos) possessórias. Basta
que seja justa, não se exigindo, como já dito, a boa-fé. Pode ser com animus domini ou nomine
alieno.
Posse ad usucapionem é a exercida com animus domini, mansa, pacífica, ininterrupta e justa,
durante o lapso de tempo necessário à aquisição da propriedade. É a que possibilita a aquisição da
propriedade pela usucapião, sendo, por isso, exigível o animus domini.
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integralmente a mesma coisa, ao passo que na posse direta e indireta um dos possuidores (o
indireto) fica privado do uso imediato da coisa.
Dispõe o art. 1.199 do Código que “se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá
cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores”.
Posse pro indiviso é a composse de direito e de fato. A coisa ainda não foi partilhada, por
acordo ou acomodação natural, entre os compossuidores. Cada compossuidor tem o direito de
exercer a posse sobre o todo, mas um não pode excluir a posse do outro. Se o excluir admite-se a
ação possessória movida pelo compossuidor esbulhado ou turbado contra o compossuidor
esbulhador ou turbador. Se o esbulho ou turbação é praticado por terceiro, qualquer compossuidor
pode se valer dos interditos possessórios para reapoderar-se da coisa.
Posse pro diviso é a composse de direito, mas não de fato. Cada compossuidor, por acordo ou
acomodação natural, já se apossou, com exclusividade, de uma parte determinada do imóvel. Um
compossuidor não tem o direito de possuir a parte da área reservada ao outro. Este pode impedir o
acesso daquele à sua área. Qualquer dos compossuidores, porém, pode mover ação possessória
contra terceiros para afastar o esbulho ou turbação, pois juridicamente ainda existe a composse,
que só deixará de existir com a sentença judicial prolatada na ação de divisão.
Composse simples ou romana é aquela em que cada um dos compossuidores pode exercer
sozinho o poder de fato sobre a coisa. Pode ser: direta (ex.: vários inquilinos) e indireta (ex.: vários
locadores).
Composse de mão comum é aquela em que o poder de fato sobre a coisa só pode ser
exercido em conjunto por todos os compossuidores. Exemplo: posse de um armário que só abre
com duas chaves, sendo que cada uma se encontra em poder de um possuidor.
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Atos de mera permissão ou tolerância, ainda que prolongados, não induzem posse (art. 1.208
do CC). Trata-se, como já visto, de mera detenção.
Atos violentos, clandestinos e precários também não induzem posse. Entretanto, cessada a
violência ou clandestinidade, convalida-se o vício que impedia a aquisição da posse.
ACESSÃO DA POSSE
É a soma do tempo de posse do atual possuidor com o de seus antecessores. É, pois, o direito
de somar as posses.
São duas as espécies de acessão:
A acessão por sucessão ocorre na sucessão a título universal. Nesse caso, opera-se
obrigatoriamente a soma das posses, isto é, o sucessor universal continua a posse de seu
antecessor; se esta era injusta, a dele também será, não havendo como se desvincular do vício que
a inquina. É o que dispõe o art. 1.207, 1.ª parte, do CC: “o sucessor universal continua de direito a
posse de seu antecessor”.
Sucessor a título universal, ensina Washington de Barros Monteiro, “é aquele que substitui o
titular primitivo na totalidade dos bens, ou numa quota ideal deles, como no caso do herdeiro”.
A acessão por união ocorre na sucessão a título singular. Nesse caso, a soma do tempo de
posse é facultativa. É o que dispõe a segunda parte do art. 1.207 do CC: “ao sucessor singular é
facultado unir a sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”.
Sucessor a título singular é o que adquire direitos ou coisas determinadas, como o
comprador, o donatário e o legatário. Evidentemente, só irá somar a sua posse à do antecessor se
lhe convier. Se fizer a soma, permanecerá a sua posse com as mesmas características da do
possuidor antecessor. Se, por exemplo, esta era injusta e de má-fé, continuará a posse com essas
mesmas vicissitudes. Se optar em não somar a sua posse à precedente, desligar-se-á desta,
purgando o vício, iniciando, pois, nova contagem do tempo de posse.
Existe divergência doutrinária acerca da posse adquirida pelo legatário. Alguns, com base no
art. 1.207, 1.ª parte, do CC, entendem que se trata de acessão por sucessão, enquanto outros, com
fulcro no art. 1.207, 2.ª parte, a enquadram na acessão por união. É que o legado é uma forma de
aquisição que se dá a título singular e não a título universal. Mas o Código Civil tratou, para efeito
da aquisição da posse, de forma igual a aquisição pelos herdeiros e legatários, como se vê do art.
1.206, visto que entende haver para o legatário também a continuidade da posse do antecessor.
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PERGUNTAS:
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