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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE


HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS
CULTURAIS
DOUTORADO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória


e apropriação do passado
(1957-1961)

RODRIGO CHRISTOFOLETTI

Professor orientador acadêmico – Profª. Drª Marieta de Moraes Ferreira

Rio de Janeiro, Agosto de 2010.


FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS
CULTURAIS
DOUTORADO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória


e apropriação do passado
(1957-1961)

Tese de Curso apresentada ao Centro de Pesquisa e Documentação de História


Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de
Doutor em História,
Política e Bens Culturais.

RODRIGO CHRISTOFOLETTI

Rio de Janeiro, Agosto de 2010.


Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique
Simonsen/FGV

Christofoletti, Rodrigo
A Enciclopédia do integralismo: lugar de memória e apropriação do
passado (1957-1961) / Rodrigo Christofoletti – 2010.
254 f.

Tese (doutorado) – Centro de Pesquisa e Documentação de História


Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História,
Política e Bens Culturais.
Orientadora: Marieta de Moraes Ferreira.
Inclui bibliografia.

1. Integralismo. 2. Enciclopédia do integralismo. 3. Partido de

Representação Popular (Brasil). 4. Dórea, Gumercindo Rocha. I.

Ferreira, Marieta de Moraes. II. Centro de Pesquisa e Documentação

de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação

em História, Política e Bens Culturais. III. Título.

CDD – 320.533
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS
CULTURAIS
DOUTORADO EM HSTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

A Enciclopédia do Integralismo: lugar de memória


e apropriação do passado
(1957-1961)

Tese apresentada por Rodrigo Christofoletti

e aprovada em (____/____/______)

pela Banca Examinadora

Profª Drª Marieta de Moraes Ferreira (Orientadora)

Profª Dr. Mario Grinszpan

Prof. Dr. Rodrigo Patto Sá Motta

Prof. Dr. Carlos Eduardo Barbosa Sarmento

Prof. Dr. Gilberto Grassi Calil


RESUMO

O ano de 1957 se tornou paradigmático para o integralismo, pois a partir das


celebrações dos 25 anos de sua criação a intelectualidade vinculada ao movimento
debruçou-se sobre sua história o que incentivou a retomada de sua ritualidade e discurso
pregressos. Isto se deu graças à insatisfação da base militante que se viu sem identidade
própria em finais dos anos 1950. Com o intuito de promover atividades que ensejassem
a partilha de sua cultura política, calcada em uma rede de sociabilidade, o integralismo
avançou nas suas investidas, projetando estratégias e eventos que viabilizassem uma
reviravolta na sua atuação político-partidária. A publicação da Enciclopédia do
Integralismo e a celebração dos 25 anos de sua existência política (marcos reguladores/
lugares de memória e de construção de sua cosmogonia) serão aqui tratadas como
pontos fundamentais para entendermos a atuação que o integralismo teve no período.
Pesquisar o que propunham, qual discurso utilizavam e qual era a finalidade destas
celebrações e da própria Enciclopédia do Integralismo poderá indicar quais as propostas
e respostas integralistas a uma série de questões incômodas que a contemporaneidade
fazia.

Palavras-chave: Integralismo, Enciclopédia do Integralismo, Partido de Representação


Popular, Gumercindo Rocha Dórea, Edições GRD.
ABSTRACT

The year of 1957 if it turned paradigmatic for the integralismo, because starting from
the celebrations of the 25 years of her creation the intellectuality of the party leaned
over on the history of the movement in the sense of a retaking of her celebration and
past speech.. With the intention of promoting activities that looking the share of yours
of her political culture, stepped in a sociability net, the integralismo moved forward in
their lunges, projecting strategies and events to make possible a turn in her political-
supporting performance. The publication of the Encyclopedia of Integralismo and the
celebration of the 25 years of her political (marks regulators / places of memory and of
construction of her cosmogony) existence will be treated here about fundamental points
for performance that the integralismo had in ends of the years 1950. The research what
proposed, which speech used and which was the purpose of these celebrations and of
the own Encyclopedia of Integralismo it can indicate which the proposals and answers
integralistas to a series of uncomfortable subjects that the age did.

Keywords: Integralismo, Encyclopedia of Integralismo, Popular Representation Party,


Gumercindo Rocha Dórea, Edições GRD.
Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que me ajudaram a seguir em frente no propósito de


escrever sobre este tema tão controvertido da historiografia brasileira. Um
agradecimento particular a Gumercindo Rocha Dórea, remanescente de um tempo em
que a ideologia era uma aura que não se perdia. Fiel aos seus princípios me fez
interpretar o integralismo de maneira bem mais séria. Agradeço em mesma medida, aos
meus companheiros de estudo do Geint - Grupo de estudos sobre o Integralismo, do
qual fui um dos fundadores. Nossa interlocução construiu os alicerces desta pesquisa.
(Leandro Gonçalves e Renato Dotta, sempre presentes). Estendo os agradecimentos à
minha orientadora, Marieta de Moraes Ferreira por ter me ajudado nesta trajetória.
Aos colegas de curso que gentilmente trocaram informações, sotaques e
figurinhas comigo: os sotaques pernambucano, maranhense, mineiro, carioca e paulista
tornaram minha estadia no Rio de Janeiro bem mais interessante. Obrigado pela força.
Aos professores que gentilmente aceitaram o convite para a argüição desta tese: Rodrigo
Patto Sá Motta (UFMG), Gilberto Grassi Calil (Unioeste), Carlos Eduardo Sarmento e
Mário Grinszpan (FGV/CPDOC). Seus apontamentos e argüições foram muito
importantes na reavaliação de pontos específicos tratados na tese.
Um agradecimento especial a uma amiga que insistiu tanto para que eu
conhecesse sua cidade, que acabei nunca mais indo embora: Carina Martins Costa,
amiga, colega e madrinha: você ajudou a colocar em minha vida o caminho que hoje eu
percorro.
Jamais imaginei chegar tão longe. Mas, fica um registro que julgo importante:
ter chegado aonde cheguei é fruto da maturidade e desapego de minha mãe e meu pai
(in memorian) que entenderam que filho consciente é aquele que segue seu próprio
rumo. Obrigado mãe e pai! E, obrigado irmãos por terem compartilhado comigo este
tempo de ausência. Ao meu irmão Maurício, pela chance. Ao Rogério, pela longa
parceira, e ao Amauri, com quem aprendo cada dia mais, fica o meu mais sincero
agradecimento.
Finalizando queria agradecer à minha esposa, Patrícia, que me deu a chance de
fazer sozinho o que seria difícil fazer acompanhado: obrigado por esperar, aturar e
conceder meu tempo para que esta tese pudesse ser escrita. Obrigado por ser Você!
À Sofia,
melhor parte de mim!
Sumário

INTRODUÇÃO 12

CAP. I – Marcas do conservadorismo: o dégradé integralista 29


1.1– A Ação Integralista Brasileira: breves palavras 30
1.2 - Integralismo a paisana - Rupturas ou continuidades? 32
1.3- PRP e a volta ao Sigma 38
1.4 - As comemorações do Jubileu de Prata integralista e o Congresso de 41
Vitória
1.5 - O jornal A Marcha como porta voz dos desígnios perrepistas 52
1.6 - A Confederação dos Centros Culturais da Juventude - transcendendo 59
os limites da ação partidária

CAP. II - A ∑nciclopédia do Integralismo como um lugar de memória: temas 64


candentes, idéias recorrentes
2.1 – O contexto da publicação da Enciclopédia do Integralismo 68
2.2 - A Enciclopédia do Integralismo e seus canais de comunicação 77
2.3 - Garimpo e Memória: entre a mocidade e a velha guarda integralista 89
2.4 - A enciclopédia que não era uma enciclopédia? 92
2.5 - Propaganda e consumo de uma ideologia 96
2.6 - Mas, sobre o que dissertavam tais escritos? 102
2.7- Discursos recauchutados 107

CAP. III - Leitura em metonímia: a ∑nciclopédia do Integralismo vista de 111


dentro
3.1- O Anticomunismo: bandeira fundamental do integralismo 114
3.2- A Democracia: uma contradição exposta em dois atos 118
Os anos 30
Os anos 40 e 50
3.3 - A Educação como fermento de uma massa em descanso 124
3.4 - O catolicismo integralista 128
3.5 - O Estado Integral - em pauta uma proposta para a Nação 134
3. 6 - Estética e Poética: as artes da mente e do corpo 138
3.7 - Liderança: anuência e anauência 146
3.8 – Antagonismo e dissidência no seio da Enciclopédia 150

CAP. IV- Biografias coletivas: as três gerações da ∑nciclopédia do 157


Integralismo
4.1 - Uma proposta em evidência 158
4.2 - O caminho até os dados 160
4.3 – Ângulos de um mesmo objeto: procede a idéia geracional? 163
4.4 - Apontamentos sobre um retrato coletivo integralista 167
4.5 - As Gerações – pensando o coletivo em função de sua atuação política, 168
sua rede de sociabilidades
4.5.1 - Primeira geração (1930-1938) – a base da pirâmide integralista 168
4.5.2 - Segunda geração (1945-1955) – mais dos mesmos? 170
4.5.3 - Terceira geração – idéias persistentes (1957-1961) 171
4.6 - Os três quadros/gerações e suas interseções 172
4.6.1 – Trajetórias 173
4.6.2 - As origens geográfica, social e política dos indivíduos: elementos 176
controversos
4.6.3 - Profissões: do sustento ao diletantismo 178
4.6.4 - Funções e atividades dos indivíduos no período de sua militância 185
4.6.5- Ocupações dos integralistas no período de publicação da Enciclopédia 187
4.6.6 - Permanências e transformações de um ideário 188
4.6.7 – Falecimentos e atividades profissionais dos autores 192
4.6.8 – Epílogo: alguns leitores da Enciclopédia do Integralismo 195

CAP V - Entre o dito e o interdito: uma voz fundamental para se entender a 199
∑nciclopédia do Integralismo
5.1 - Discursos e práticas – As entrevistas com Gumercindo Rocha Dórea: 200
“o guardião das memórias integralistas”
5.2 - Um editor combativo 203
5.3 – GRD uma editora entre a proa e a polpa do mercado 214

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O integralismo da Enciclopédia: êxito ou êxodo? 228

ARQUIVOS, CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO E ACERVOS 236


CONSULTADOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 238

ANEXOS 254
Lista de Siglas
(AIB) Ação Integralista Brasileira
(AP) Ação Popular
(APHMRC) Arquivo Público Histórico Municipal de Rio Claro
(ARENA) Ação Renovadora Nacional
(Arq. RJ) Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
(Arq. SP) Arquivo Público do Estado de São Paulo
(CCCJ) Confederação dos Centros Culturais da Juventude
(CD AIB-PRP-PoA) Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP de Porto Alegre
(CNBB) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CP) Casa Plínio Salgado
(EI) Enciclopédia do Integralismo
(FC) Ficção Científica
(GRD) Gumercindo Rocha Dórea/Edições GRD
(IBAD) Instituto Brasileiro de Ação Democrática
(IPES) Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
(JUC) Juventude Universitária Católica
(LCB) Livraria Clássica Brasileira
(LDB) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(PC do B) Partido Comunista do Brasil
(PCB) Partido Comunista Brasileiro
(PDC) Partido Democrata Cristão
(PL) Partido Libertador
(PR) Partido Republicano
(PRP) Partido de Representação Popular
(PSD) Partido Social Democrata
(PSP) Partido Social Progressista
(PTB) Partido Trabalhista Brasileiro
(PTN) Partido Trabalhista Nacional
(TFP) Sociedade Brasileira da Tradição, Família e Propriedade
(UDN) União Democrática Nacional
(USIS) Serviço de Divulgação e relações Culturais dos EEUU em suas embaixadas ao
redor do mundo.
INTRODUÇÃO

12
ara as Ciências Sociais e Políticas, assim como para a História o

P espectro direitista1 teve várias faces. Na história contemporânea


brasileira o integralismo foi uma delas. Lembrado inicialmente apenas
nas manifestações extemporâneas de esparsos militantes que bradavam, aos gritos, o
característico cumprimento Anauê!, o integralismo passou nos últimos vinte anos a ser
revisitado, sobretudo dentro da academia. O número de pesquisas sobre o integralismo
(tanto na sua versão pré, quanto pós-guerra) cresceu significativamente durante o
período citado, com ênfase para a última década do século XX. Passou-se a estudar o
integralismo não somente para (re) conhecê-lo e (re) significá-lo, o que seria uma
postura inerente e incondicional de qualquer pesquisa, mas, sobretudo para sinalizar
novas possibilidades de percepção da sua atuação na sociedade de sua época.
Na esteira da ampliação dos estudos sobre o integralismo este trabalho apresenta
a seguinte hipótese: o integralismo do período pós-guerra, sobretudo a partir de finais da
década de 1950, caracterizou-se por uma mutabilidade que simultaneamente o colocou
em evidencia e trouxe o movimento para uma releitura de ação política. Para tanto,
lançou mão de estratégias de cooptação militante sobre as quais investiu toda a sua força
no sentido de angariar frutos políticos mais consideráveis, em um momento em que
tudo o que lembrasse os camisas verdes era rechaçado, devido a sua pecha de
movimento autoritário. A publicação da Enciclopédia do Integralismo e a celebração
dos 25 anos de sua existência política (marcos reguladores de sua cosmogonia) serão
aqui tratadas como pontos fundamentais para entendermos a atuação que o integralismo
teve no período estudado.
Tal como nos evidencia o historiador Rodrigo Patto Sá Motta, em pesquisa
análoga, o conjunto de indivíduos que nos interessa neste estudo, também se compõe

1
A despeito da tipificação “direita” ser per si, contraditória e pouco precisa, o filósofo italiano Norberto
Bobbio aponta algumas características que a define e a diferencia da chamada “esquerda”. Para Bobbio, a
ação política de direita nunca privilegia a realização de reformas sociais (visando uma sociedade mais
igualitária) e pouco faz para a expansão das liberdades políticas (na busca de uma democracia política
mais consistente). Aponta para o que chama de funil conservador, estigma em que o conservadorismo,
reacionarismo e elitismo do pensamento de direita constituiriam, freqüentemente, obstáculos para se
alcançar uma lúcida consciência da realidade social. Assim, a direita que rechaçou povos de etnias
diferentes, que interveio na economia, nos costumes, nas idiossincrasias de uma massa órfã (em diversas
vezes ao longo da história) é mais que uma posição bem demarcada. É, antes, uma opção política que
precisa ser bem analisada, compreendida e estudada por todos aqueles que buscam compreender a história
das idéias políticas.

13
basicamente da mistura de dois grupos de atores: os conservadores e os reacionários
(MOTTA, 2002: 47). O conservadorismo ao qual nos referenciamos lança mão da
tradição de forma bastante peculiar, pois se materializa na identidade sócio-cultural,
identificando os sujeitos isolados a uma produção social definida, construindo assim, o
sentimento de pertencimento de um dado grupo a uma específica maneira se portar.
Através da prática política de oposição ao progressismo e as transformações por ele
engendradas, os conservadores (no nosso caso, os integralistas do pós-guerra)
perceberam que sua luta estaria fadada à derrota se estivesse caracterizada pela
radicalização, ou seja, se não houvesse a admissão de nenhum tipo de mudança.
Em um elucidativo texto, a historiadora Maria Bernardete Oliveira de
Carvalho, analisa o que Karl Mannheim vai chamar de “(...) maneira como o
grupamento social estabelece relações internas peculiares” (MANNHEIM Apud
CARVALHO, 1981: 14). Neste texto a historiadora retoma a argumentação do
sociólogo húngaro, sobre porque as sociedades humanas elaboram historicamente
diferentes modos de vida, que exprimem a maneira de ser de cada classe social. Para
Mannheim, o modo de vida, produz um estilo de pensamento, que é a relação que se
estabelece entre o modo de vida de um grupo e a realidade. O estilo de pensamento
representa a práxis humana. Mannheim demonstra que o conservadorismo é um estilo
de pensamento, assim como o reacionarismo também o é. Portanto, ambos não são
apenas discursos, mas, ação.
Nesse sentido, os diversos movimentos de oposição propõem a mudança, uma
quebra do status quo. Por outro lado, o movimento opositor, reacionário ou
conservador, está, portanto, mediado por um tipo de oposição que busca as
permanências, não as mudanças. O discurso reacionário, assim como o conservador
contém elementos que Albert Otto Hirschman classificou como propícios a uma retórica
perversa e intransigente. (HIRSHMAN, 1992: 75) A retórica perversa, segundo
Hirschman, traria o argumento de que as medidas progressistas na verdade buscam
mudar somente aquilo que lhe é conveniente, não havendo manutenção da ordem
anterior. Parece-nos bastante apropriado esta referência em se tratando dos integralistas
do pós-guerra, pois, estes atuaram exatamente no mesmo sentido: a manutenção do
estado vigente, movendo-se pendularmente, buscando fugir do estigma que o
caracterizara duas décadas antes.
Os integralistas vinculados à retomada simbólica de finais dos anos 1950, se
destacaram por oscilarem entre estes dois aspectos: o reacionarismo e o

14
conservadorismo. Como reacionários, possuíam como característica maior uma
predisposição à intransigência, a incapacidade de aceitar mudanças de qualquer
natureza. Como conservadores, ameaçados por tais mudanças, tiveram dificuldades em
flexibilizar muitas de suas propostas, justamente por elas não corresponderem às
demandas vigentes.2
Elemento relevante para esta discussão é o papel que o integralismo perrepista
detinha no período estudado. De 1945, quando o Partido de Representação Popular
(corolário da Ação integralista Brasileira) foi criado, até 1955, ano em que Plínio
Salgado concorreu à presidência da República, obtendo mais de 700 mil votos, a postura
do perrepismo foi mediada por uma progressiva retomada das ações e discurso radical
que outrora caracterizou o integralismo. A abordagem que os integralistas passaram a
ter frente à opinião pública, pendulando seus discursos, ora suavizando, ora acentuando
os tons do debate, sobretudo com relação às suas alianças políticas, é um claro exemplo
da manutenção de certas características pregressas. Outro exemplo marcante foi a auto
percepção do movimento frente à sua militância que migrou de uma postura egocêntrica
(só o integralismo salva) para outra, talvez, mais maleável (o integralismo pode salvar
com a ajuda de outros, desde que o nacionalismo, o anti comunismo e o acatamento ao
passado integralista fossem respeitados).
No entanto, o ano de 1957 se tornou paradigmático para o integralismo, pois a
partir das celebrações dos 25 anos de sua criação, a intelectualidade do partido
debruçou-se sobre a história do movimento no sentido de uma retomada de sua
ritualidade e discurso pregresso. Aqui, categorizamos como intelectuais do movimento
integralista, nomes que de alguma maneira se vinculavam ao projeto de recondução de
sua ideologia, como alguns correligionários do PRP, poucos integralistas dos anos 1930
e alguns representantes dos Águias Brancas, a juventude integralista. Esta

2
Neste sentido, esses integralistas foram apenas um dos grupos que atuaram em prol da manutenção de
valores que acreditavam ser fundamentais para seu projeto de poder e Nação. Deste quadro também
fazem parte outras entidades direitistas que, no intervalo entre 1955 e 1965, se multiplicaram. Exemplos
mais significativos, mas não únicos, são os ultra-reacionários da TFP (Sociedade Brasileira da Tradição,
Família e Propriedade) e alguns setores da UDN. Engrossa a fileira, entidades cujo corte conservador
impediam uma aproximação com setores mais progressistas, como é o caso da Cruzada Brasileira
Anticomunista e da Liga da Emancipação Nacional, ambas, reflexo da polarização que se acentuou em
finais dos anos 1950, a despeito de muitas destas entidades terem sido criadas em princípios da década.
Para ampliarmos o leque do espectro direitista atuante nos estertores do governo JK (momento que
coincide com a celebração do Jubileu de Prata integralista e a publicação da Enciclopédia do
Integralismo) merece destaque também, o grupo de intelectuais vinculado ao periódico Maquis, e ao
Movimento por um mundo Cristão, entidades que encontraram interlocução com o IPES e o IBAD,
instrumentos de institucionalização de um programa de face direitista em finais dos anos 1950. Para
aprofundamentos ver: MOTTA, 2002: 65.

15
reapropriação é o ápice de um processo mais amplo que se intensificou a partir de 1953
com a constituição de um período marcado pela autonomia partidária do PRP; a
constituição das entidades extra-partidárias ligadas ao movimento (CCCJ, UOCB,
dentre outras); seguido por episódios relevantes como a candidatura de Salgado ao
governo do RS, em 1954; e à presidência da República, em finais de 1958. Portanto, a
retomada da ritualidade integralista, e seus corolários só podem ser entendida se
mediada por estes acontecimentos anteriores.
Também é relevante o fato de a base militante e alguns intelectuais do
movimento demonstrarem grande insatisfação frente os rumos partidários, a ponto de
reclamarem a ausência de uma identidade própria, fator que instigou a sigla a retomar
partes da ritualística e simbologia já características. Então, os festejos das bodas de
prata, bem como as respostas às acusações dos grandes jornais, forneceram o tema para
uma campanha de revalorização do integralismo. A celebração não se alimentou apenas
das questões públicas (os festejos populares), mas também da materialidade expressa na
vendagem de seus produtos. A compra de suvenires despertava no simpatizante a
manutenção de sua lembrança e o sentimento de pertencimento ao integralismo, o que
estimulava a permanência cotidiana dessa cultura material. Se a imprensa posicionou-se
contrariamente ao reaparecimento da ritualidade integralista, a mídia impressa do
integralismo, por sua vez, destinou um significativo espaço para a propaganda de sua
doutrinação e vendagem de seus produtos.
Sofisticou-se também as estratégias de ampliação da militância, o que incentivou
os integralistas a criarem, no espaço de alguns anos, um calendário rememorativo que
contemplava festas populares, simulações históricas, constituição de novos órgãos
ligados ao movimento, bem como a produção de uma série variada de produtos que
ostentava a marca integralista. Redefinindo pontos de choque com a postura dos anos
1930, os integralistas perrepistas do pós-guerra, buscaram na sua estruturação
elementos que reafirmassem seu aparato ritualístico e mítico e mantiveram uma
oposição ao comunismo cada vez mais acentuada supervalorizando seus adereços, ritos
e símbolos, como força motriz para sua caminhada política.
Por outro lado, a atmosfera de redemocratização na qual o país vivia projetou
atores que passaram a afirmar cada vez mais que o integralismo representava o mal
essencial. Alguns políticos vinculados à UDN (sobretudo, Carlos Lacerda e Amaral
Neto) lançaram a metáfora de que o “novo” integralismo seria um vírus que não poderia
mais ser hospedado no corpo da sociedade. Nessa disputa, com o intuito de promover

16
atividades que ensejassem a partilha de sua cultura política, calcada em sua rede de
sociabilidade, o partido avançou nas investidas, projetando estratégias e eventos que
viabilizassem uma reviravolta na sua atuação político-partidária. Tais investidas foram
marcadas pela realização das festividades dos 25 anos do Movimento Integralista – que
ocorreram durante o mês de outubro (nada mais simbólico para os integralistas) e da
publicação da Enciclopédia do Integralismo, lançada simultaneamente à realização das
festividades.
A Enciclopédia do Integralismo surgiu como uma proposta de apresentação
ordenada da leitura de mundo dos integralistas. A apresentação desse corpo doutrinal
pautou-se pela necessidade de seus escritos parecerem um conjunto coerente e sólido,
uma vez que, por meio dele, seus membros pretendiam divulgar suas realizações. Os
integralistas comungavam uma leitura particular de mundo, cuja partilha de sentimentos
e convicções era o centro de seu ideário, e o fortalecimento do integralismo do pós-
guerra esteve intimamente ligado a essa partilha, num período cada vez mais adverso à
presença do integralismo no cenário político.
Nesse sentido, a delimitação temporal do tema proposto (1957-1961) justifica-
se por este período representar o ápice de uma postura que vinha se desenhando a
alguns anos e que conheceu em finais da década de 1950 sua forma mais acabada. Tal
período fundamentou-se essencialmente por importantes definições no perfil do partido
e da doutrina integralista, tais como a afirmação de Salgado como líder onipotente, a
ocorrência de algumas alianças políticas até então não praticadas pelo PRP - como as
coligações com a UDN e o PSD - e a reorientação do caráter nacionalista do
movimento, enfraquecido nos cinco primeiros anos de sua atuação política.
Diante deste panorama buscou-se nesta pesquisa abordar dois objetivos centrais:
inicialmente, apreender os mecanismos utilizados pelo integralismo a partir de 1957,
seus significados simbólicos e sua inserção na sociedade da época, destacando
elementos que atuaram como mediadores entre tempos, espaços e memórias diversos.
O segundo objetivo deste trabalho foi analisar as temáticas que conferiam sentido ao
que se lia na Enciclopédia do Integralismo. Para tanto, procurou-se entendê-la como
um lugar de memória integralista, (campo de disputa e de construções que se
pretendiam perenes; produtora e estimuladora de visões de mundo plurais, de memórias
coletivas).
A partir desta idéia pretendeu-se responder algumas questões fundamentais: que
critério presidiu a seleção do material publicado? Quais os temas mais recorrentes? Que

17
lugar ocupou o passado do movimento no compêndio? Foram retomados, em 1957, os
princípios e valores defendidos na década de 1930 ou, pelo contrário, forjou-se um novo
discurso? Que representações de democracia, eleições e participação popular foram
consagradas? Quais eram seus adversários? Qual (is) o(s) projeto(s) de futuro que a
publicação acalentava? Esta foi apenas uma das possibilidades de se apreender tamanha
diversidade de temas e escritos. Nesse sentido, ao se descolarem do terreno da mera
compilação, o compêndio suscitou outras indagações: o que permaneceu do
integralismo nesse momento de democracia e qual a relação existiu entre os possíveis
integralismos presentes neste compêndio? Algumas das respostas para essas questões
puderam ser encontradas na articulação dos acontecimentos ocorridos em finais da
década de 1950, peças que construíram o mosaico político daquele período democrático.
Para subsidiar esta discussão acerca das relações entre memória e história,
alguns historiadores têm informado sobre o aprofundamento e a pluralidade com que
estas categorias de analise têm sido construídas. Neste sentido, a dinâmica do
produtor/reprodutor/gerenciador de memórias diante desta profusão de memorialismos
recuperados (sobretudo nestes últimos 50 anos) corrobora a idéia de que nunca antes a
memória foi tão historicizada e a história se memorializou tanto. Atualmente, a memória
tornou-se um capital simbólico: passou a gerar direitos, e com isso, proporcionou aos
estudiosos uma diversidade de focos de análise e campos operacionais, sobre os quais se
distingue um vocabulário próprio (os chamados jargões do campo social da memória).
Isso possibilitou interpretar práticas memoriais, culturais, sociais e suas circularidades
tal como nos ensinam os textos de (NORA, 1995), (RICOUER, 1997), (CHARTIER,
2006), (ANSART, 1998), (HALBWACHS, 1996) e (Le GOFF, 1984), auxiliando o
historiador na busca e interpretação de sua escrita, narrativa, estatuto de atuação,
fronteiras (limite e contato), bem como, suas políticas de vida: elementos que geram
densos conflitos. Por isso, a escolha de se analisar a Enciclopédia como um lugar de
memórias, produtor e reprodutor de modos de ver integralistas se coloca, antes, como
um desafio.
Dentro desta premissa, os integralistas, contrariando a ordem vigente na época e
remando a jusante da corrente, insistiram na preservação do passado como
legitimitimador de suas ações. Percebe-se assim que as celebrações fizeram parte (assim
como a construção de objetos de memória) da institucionalização de práticas simbólicas
postas a serviço da sacralização cívica do movimento, do tempo e do espaço –
comemorações/lugares de memória. A culminância deste processo se deu na publicação

18
dos 12 volumes que contaram a história do integralismo. A Enciclopédia do
Integralismo apareceu, então, como apanágio de um grupo com relativa expressão, mas
grande pretensão política, servindo de exemplo catalisador deste imaginário que
funcionou como referência para aqueles que ainda viam no movimento algo de
inspirador.
Se, por um lado, a abordagem utilizada nesta pesquisa situou-se no cruzamento
das histórias política, social e cultural, interseção esta que permitiu “acessar (...) as
práticas de representação acionadas nas diferentes circunstâncias históricas, podendo
assim explorar, por meio de documentos de distintas naturezas, um rico histórico de
representações, que nos mostram as fortes conexões entre a política e a cultura”,
(CAPELATTO e DUTRA, 2000: 238) por outro, também buscou posicionar-se no
debate da cultura política, conceito que informou estudos de natureza bastante diversa.
Alguns historiadores, a exemplo do francês J. F. Sirinelli afirmam que o conceito
de cultura política tem que ser entendido segundo um complexo sistema de
intercruzamentos de aspectos que, antes de tudo, constituem-se em: “(...) um conjunto
variado de códigos e referências que se formalizam no seio de um partido, ou
largamente difuso no seio de uma família ou tradição política. A cultura política seria
um conjunto coerente no qual seus elementos estão numa relação estreita uns com os
outros e que permitem definir uma forma de identidade de seus indivíduos, que
detenham em si um vocabulário próprio, se exprime segundo um vocabulário, símbolos
e gestos que se constituem num referencial e um verdadeiro ritual”. (SIRENELLI, 2000:
4-5).
Portanto, a força da cultura política como elemento do comportamento
individual resultaria, em primeiro lugar, da sua complexa elaboração. Diante disso, seria
o caso de se procurar uma explicação nos comportamentos políticos para fundamentar a
existência de um indivíduo ou um grupo. É no quadro da investigação, pelos
historiadores do político, que o fenômeno da cultura política surgiu. Serge Berstein,
historiador que estuda o conceito de cultura política no mesmo diapasão de Sirinelli,
atenta para o fato de que “participando da mesma cultura política, os membros comuns
têm uma visão comum do mundo, uma leitura própria do passado, e uma perspectiva
idêntica por futuro, (...) seus valores e crenças constituem um arcabouço que dispõe de
um mesmo vocabulário, de símbolos e gestos que constituem um verdadeiro ritual”.
(BERSTEIN, 2000: 24)

19
Por isso, um grupo que comunga uma dada visão de mundo passa a estabelecer
afinidades, visões de passado e perspectivas de futuro comuns, necessitam dar respostas
às questões do presente, sob o risco de não cumprindo este papel, desaparecerem. A
cultura política integralista do período não conseguiu responder às necessidades de seu
tempo, nem tampouco alcançou uma ressonância social relevante, perdendo sua força
enquanto mobilizadora social. É dentro dessa perspectiva de redes de sociabilidade que
se reforçam e interagem entre si, que se pretendeu ler e interpretar o conjunto de textos
integralistas que aparecem na Enciclopédia do Integralismo.
Em decorrência desta assertiva, entendemos que para analisarmos este conjunto
de escritos não seria suficiente apenas sua seleção e interpretação (do que tratavam,
como e quando foram escritos, porque a predileção ou a seleção deste ou daquele escrito
em detrimento de outros, dentre outras questões relevantes), mas antes disto, tornou-se
fundamental inventariar, analisar e estabelecer correlações sobre quem eram os
missivistas desta enciclopédia e como suas biografias se entrecruzaram. Certamente este
foi um elemento imprescindível para a análise mais acurada da seleção desses escritos.
Esta preocupação se traduziu na busca de um método que fosse, antes de tudo, indicado
pela sua potencialidade em interpretar, cruzar e correlacionar histórias de vidas
diferentes. Por isso, a utilização do método prosopográfico, que trabalha com o terreno
das biografias coletivas mostrou-se uma relevante ferramenta analítica de grupos
atuantes na esfera do político. (CHARLE, 2006: 9) Geralmente utilizado para dar conta
de uma investigação das características comuns de um grupo, a prosopografia visou
entender as ações políticas deste grupo de integralistas, bem como a estrutura e
mobilidade social dos mesmos.
Basicamente, o método prosopográfico define um universo que inclui dados
sobre nascimento e morte dos indivíduos, laços de casamento e parentesco, origens
sociais e posição econômica herdada, local de residência, educação, montante das
fortunas pessoais ou familiares, ocupação, religião, trajetória política, experiência
profissional, dentre outros. Assim, algumas perguntas básicas poderiam orientar a
busca dos historiadores por informações sobre o intercruzamento de tais biografias. A
prosopografia buscaria, então, a análise do indivíduo em função da totalidade a qual ele
faz parte. Neste sentido, visa ser a investigação das características subjacentes comuns a
cada grupo de atores mediante o estudo coletivo de suas vidas. E neste sentido, vale
demarcar a dimensão comparativa que o método prosopografico apresenta, tateando os
labirintos das semelhanças e diferenças com a mesma atenção. Foi a partir desta

20
proposta, que se estabeleceu correlações entre as biografias deste conjunto de
integralistas vinculados à publicação da Enciclopédia do Integralismo.
Outra questão metodológica significativa deste trabalho é que, o depoimento oral
(ALBERTI, 2004:87) foi utilizado no intuito de registrar as percepções de nosso
depoente principal, uma vez que se trata de um personagem fundamental para se
desvendar partes esquecidas das relações políticas do movimento integralista do período
pós-guerra. Gumercindo Rocha Dórea, editor e proprietário das Edições GRD, editora
que publicou a Enciclopédia do Integralismo foi fundamental na campanha de
revalorização do Integralismo em 1957. Portanto, seus depoimentos, (totalizando mais
de dez horas de gravação) ajudaram a correlacionar os episódios relatados às narrativas
contidas na Enciclopédia.
Nesse sentido, o discurso integralista pôde ser analisado a partir de um
heterogêneo conjunto de fontes, dentre as quais destacamos: acervos depositados nos
arquivos da Fundação Getulio Vargas/ Cpdoc; do Centro de Documentação sobre a AIB
e o PRP de Porto Alegre – RS, da Casa Plínio Salgado, em São Paulo, do Arquivo do
Estado de São Paulo e do Arquivo do Estado do Rio de Janeiro. Com especial destaque
foi consultado o Acervo Plínio Salgado, maior espólio sobre o integralismo conservado
no país, depositado no Arquivo Histórico Municipal de Rio Claro (SP), que compreende
mais de 300 mil documentos partidários, tanto do período da AIB quanto do PRP.
Paralelamente, também foram pesquisados boletins publicitários integralistas,
discursos parlamentares, transcrições de entrevistas de época, reproduções fonográficas,
fotografias, bem como correspondências ativas e passivas de Plínio Salgado com o
editor da Enciclopédia, Gumercindo Rocha Dórea: dupla de lideranças fundamentais
para o entendimento do objeto proposto. Depoimentos orais de ex-integrantes do staff
integralista, com destaque para Miguel Reale, Gerardo Mello Mourão, (estes dois,
semanas antes de seus respectivos falecimentos) Genésio Pereira Filho, Umberto
Pergher e José Batista de Carvalho, colaboraram para o aprofundamento do tema. Foi,
portanto do cruzamento dessas múltiplas fontes que se investigou a atuação integralista
às vésperas de sua maior celebração.
Entendemos que toda fonte histórica está sob a influência direta de quem a
produziu, sendo assim tendenciosa. Devemos por isso, sempre termos em mente as
circunstâncias em que estas fontes foram produzidas: sua época, sua especificidade, sua
função quando produzida, quem a produziu e com que intenção. O historiador deve,
portanto, utilizar-se das fontes tendo sempre em vista que suas pesquisas podem ferir

21
orgulhos e tradições, e que, portanto devem estar fundamentadas em ampla investigação
e reflexão para não caírem inclusive em descrédito. A utilização unilateral de fontes
constitui-se assim em um equívoco metodológico imperdoável para o historiador.
Considerando tais questões, a percepção da parcimoniosa disponibilidade de
outras fontes que pudessem contradizer ou pelo menos matizar a análise da
documentação integralista foi o maior desafio deste trabalho. No caso desta pesquisa a
utilização de fontes paralelas às já consagradas pelo discurso integralista foi
parcialmente prejudicada pela parca representatividade que o integralismo teve na
sociedade da época. Poucas fontes alternativas ao discurso integralista registraram as
celebrações do retorno ritualístico do movimento em finais dos anos 1950. Por isso,
acervos privilegiados de informação foram alguns jornais de circulação nacional das
cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Vitória, dos quais destacamos: O
Estado de S. Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã; Folha da Noite; Folha da
Tarde; Diário Popular; Diário de Notícias; O Jornal; O Globo; Diário Carioca;
Tribuna da Imprensa; A Notícia; Gazeta de Notícias; Jornal do Brasil; Última Hora;
Diário da Noite; Diário de Notícias/RJ e Gazeta de Vitória – ES.
A leitura dos jornais de grande circulação objetivou constatar a oposição
enfrentada pelo integralismo no período estudado. Em compensação, em decorrência da
pouca disponibilidade de fontes alternativas à imprensa que nos possibilitasse mapear
com mais profundidade a recepção que tal celebração causou nos “não integralistas”,
buscou-se analisar os discursos dos depoentes integralistas, atentando para a
supervalorização e o proselitismo acentuado que muitos destes discursos trouxeram. O
tom superlativo, os números inflacionados e certamente irreais, as histórias
mirabolantes, as hipérboles do discurso integralista foram matizados e atenuados pela
análise do objeto em si: o que possibilitou com que as falas e as fontes integralistas
fossem questionadas em sua forma e essência.
Deste modo, considerar as celebrações dos 25 anos do integralismo e a
publicação da Enciclopédia do Integralismo, apenas à luz de suas produções, tomando-
as como fontes exclusivas, transmitiria pouco efeito de análise, causando inclusive um
resultado laudatório e eivado de ingenuidade. Foi necessário analisar o compêndio
(como aglutinador dos discursos integralistas) em toda sua extensão para, desse modo,
visualizar sua diversidade de idéias e nuances. No entanto, talvez a maior prova de que
os integralistas dos finais dos anos 1950 falavam para si próprios, sem uma dimensão
extra-muros, seja a constatação de que pouquíssimas informações foram encontradas no

22
período para se contraporem aos arroubos de grandiosidade das fontes integralistas.
Porque neste momento os integralistas teriam sido sistematicamente ignorados? Cabe
aqui, portanto, uma espécie de autocrítica com relação à possível unilateralidade de
algumas fontes utilizadas neste trabalho, o que determinou, por vezes, insuficiente
aprofundamento analítico. Felizmente, na medida do possível, esses problemas foram
superados quando se buscou apresentar críticas a esses discursos, balizados em um
profundo entendimento do paradoxo que este movimento representava em finais dos
anos 1950, período este marcado pela euforia do novo em detrimento do passadismo3.
Outra preocupação desta pesquisa foi dialogar com a historiografia do tema. A
partir dos anos 2000, verificou-se a abertura de novas perspectivas de análise sobre o
integralismo. Os focos heterodoxos, as preocupações pluralistas, as buscas por
explicações que contemplem as pesquisas sobre gênero, simbologias, biografias,
regionalismos e internacionalismos, bem como temáticas já consagradas como o foco
no político partidário e nas memórias de antigos militantes ainda vivos faz da
historiografia atual sobre o integralismo algo multifacetado. Para abarcar a profusão de
temas e abordagens que se multiplicaram nos últimos anos foi criado um grupo de
pesquisadores interessados em compartilhar esta pluralidade de questões sobre o tema.
Este grupo4, que, atualmente possui membros vinculados a todas as regiões do país
redimensionou os focos e as discussões sobre o integralismo criando espaços
privilegiados de discussões, sobretudo nos fóruns especializados sobre história e
ciências sociais.5

3
Nesse sentido é interessante perceber a dubiedade de certas posturas levadas a cabo pelo integralismo
perrepista no período, como por exemplo: a participação do integralismo no governo JK e seu apoio
entusiasmado com algumas mediadas do presidente, tal como a mudança da capital para o centro oeste do
país, algo que Plínio Salgado já projetava em seus escritos pré 1932.
4
A idéia de formalizar encontros institucionais de pesquisadores sobre a temática nasceu de uma
conversa entre mim e o pesquisador Renato Dotta, em meados de 2000, cujo mote era a necessidade de
aumentar a interlocução sobre nossas pesquisas. Embora nascida da intenção desses dois pesquisadores, a
mediação acabou ficando com Renato Dotta que desde então manteve o canal de trocas de experiências a
partir de uma lista de discussão virtual. Por intermédio da via internacional de computadores surgiram os
primeiros contatos com pesquisadores de vários estados da federação. Nascia assim, o GEINT (Grupo de
Estudos do Integralismo) que teve seu primeiro encontro oficial, em novembro de 2002, no Arquivo
Municipal de Rio Claro – SP, local onde está alocado o acervo Plínio Salgado. Em outubro de 2003, o
segundo encontro ocorreu em Porto Alegre – RS, sediado pela equipe do CD-AIB-PRP, e em novembro
de 2005, o terceiro encontro se deu em Ponta Grossa – PR. O quarto encontro se deu em maio de 2010,
realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora. Ao longo desses sete anos de atividades mais de cento
e cinqüenta pesquisadores estiveram vinculados ao GEINT, grupo este que estuda temáticas vinculadas ao
integralismo, assuntos afins e temáticas congêneres.
5
Sobre estas novas abordagens ver: Anais da Anpocs Nacional, 2008, e Anais da Anpuh Nacional, 2007.

23
Embora haja uma considerável gama de trabalhos sobre o integralismo no Brasil,
produzidos principalmente ao longo das décadas de 1970 e 80 do século passado, em
sua absoluta maioria voltada para o integralismo dos anos 19306, os estudos sobre a
atuação deste movimento no período pós-guerra, ganharam relevância, apenas, a partir
dos finais da década de 1990. Mesmo assim, privilegiavam o período de formação do
Partido de Representação Popular, ou mesmo a sua consolidação partidária, sendo muito
pontuais os trabalhos que ampliavam as observações para as temáticas vinculadas aos
elementos culturais do movimento. Especificamente, com relação ao segundo momento
de sua atuação existem múltiplos trabalhos que focam aspectos político-partidários.7
Em todos estes trabalhos a aparição do PRP é apontada como uma tentativa
frustrada do integralismo retornar a vida política, uma vez que em praticamente toda a
sua trajetória, esse partido utilizou-se da prática de coligações com outros partidos,
mantendo sempre uma postura de ordem secundária na hierarquia partidária nacional.
Exemplar, nesse sentido, e passível de críticas sobre sua generalidade, é o fato da
maioria das informações disponíveis acerca do partido estar condensada em dois
verbetes do Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro editado pelo Cpdoc/FGV8, que,
aliás, trazem alguns erros factuais.9
Embora esses estudos forneçam informações significativas com relação à
constituição do novo integralismo, é nítida a ainda tímida preocupação em aprofundar
as análises de sua formação ideológico/institucional e mesmo cultural/simbólica. Até o
momento, apenas as pesquisas de mestrado e doutorado dos pesquisadores Gilberto
Grassi Calil, Angela Flach, Márcia Regina Carneiro, Rogério Lustosa Victor10, Claudira

6
Os mais representativos estudos acerca do integralismo são: (TRINDADE, 1979); (CHASIN, 1978);
(CHAUÍ, 1978); (VASCONCELLOS, 1979); (BENZAQUÉM, 1987); (CAVALARI, 1995); (DUTRA,
1997); (CALIL, 1998 e 2005); (DOTTA, 2003); (GONÇALVES:2003); (BERTONHA, 1997); (CRUZ,
2004); (CHRISTOFOLETTI, 2002); (VICTOR, 2005); (CARNEIRO, 2008) e (SILVA, 2007).
7
O foco no integralismo partidário foi tema das pesquisas de: (MEDEIROS, 1978); (CARONE, 1976);
(IGLESIAS, 1979); (SOARES, 1974: 73); (FLEISHER, 1981: 62); (SKIDMORE,1986) e
(TAVARES,1982: 234) (SILVA, GONÇALVES e PARADA, 2010)
8
BRANDI, Paulo & SOARES, Leda. „Plínio Salgado‟, & LEAL, Carlos Eduardo e FLAKSMAN, Dora.
“Partido de Representação Popular”. In: Fundação Getúlio Vargas. Centro de Pesquisa e História
Contemporânea do Brasil. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro. (Pós 1930). Rio de Janeiro,
FGV/CPDOC, Coord. Alzira Alves de Abreu. [et al]. RJ, FGV-CPDOC 2001. p 181-209 e 978-979,
respectivamente, 5 vols.
9
Ver a análise bibliográfica proposta por Gilberto Calil em seu livro: O integralismo no pós-guerra: a
formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: Edipucrs, 2001. p. 15, nota nº 8.
10
Lustosa desenvolve em sua tese de doutoramento pela UFG a pesquisa provisoriamente intitulada: Elos
não partidos: o integralismo entre 1945-1965. Neste estudo, o autor analisa a constituição partidária do
PRP e suas raízes no estado de Goiás.

24
Cardoso e Rodrigo Christofoletti discutiram as propostas perrepistas e a recepção que
tiveram na época.

É preciso que se diga que parte significativa do primeiro capítulo desta tese foi
baseada na imensa pesquisa realizada pelo historiador Gilberto Calil, que buscou
demonstrar diante de um cenário em que o sentimento anti-fascista era patente, como a
necessidade de se readaptar ao novo contexto forçou o movimento integralista a se
transformar, confluindo para um novo espectro político. Sua tese de doutorado
aprofunda as relações do PRP no período de 1945 a 1965, quando o partido é posto na
ilegalidade juntamente com os demais, devido o golpe militar. Certamente o mais
aprofundado registro partidário já realizado sobre o PRP, este trabalho de Calil abre
possibilidades de percepção de que o partido não era tão coadjuvante quanto os partidos
de esquerda na época faziam questão de apontar. Por isso, a trajetória do integralismo
do pós-guerra institucionalizado partidariamente tem nos estudos deste autor leitura
essencial.

Ainda com relação à constituição estritamente partidária do PRP destacam-se


ainda os trabalhos de Ângela Flach e Claudira Cardoso, ambas pesquisadoras do CD
AIB-PRP. Em, Os vanguardeiros do anticomunismo: o PRP e os perrepistas no Rio
Grande do Sul 1961-1966, Ângela Flach analisa o processo político brasileiro e sul-
riograndense na primeira metade da década de 1960, a partir da atuação do PRP no Rio
Grande do Sul. Além disso, a autora pondera acerca dos rumos seguidos pelos
perrepistas após a decretação do AI-2, que extinguiu todos os partidos então existentes.
Seu foco é sinalizar que os perrepistas, ao menos os que continuaram atuantes no
cenário político, ingressaram no que os integralistas chamaram de “o partido da
Revolução”, no caso, a ARENA. A despeito de se tratar de uma leitura regionalizada,
trás relevantes informações sobre a conformação política gaúcha no período imediato à
conflagração do golpe militar de 1964, apontando com ênfase a participação de alguns
perrepistas na articulação do próprio golpe.
Também referente ao Rio Grande do Sul, (estado de maior atuação nas pesquisas
sobre o PRP)11 os trabalhos de mestrado e doutorado de Claudira Cardoso,

11
Em parte, isso se deve à formação e manutenção do Centro de Documentação da Ação Integralista
Brasileira e do Partido de Representação Popular (CD-AIB–PRP) localizado em Porto Alegre - RS, hoje,
um dos dois mais relevantes centros de documentação sobre a temática no país. Juntamente com o Acervo
Plínio Salgado, depositado no Arquivo Municipal de Rio Claro – SP, o (CD AIB-PRP) congrega a maior
documentação referente a trajetória do integralismo pré e pós Segunda Guerra.

25
respectivamente: Partido de Representação Popular: política de alianças e
participação nos governos estaduais do Rio Grande do Sul de 1958 e 196; e: O
integralismo no processo político gaúcho: a máquina partidária do PRP e seus
dirigentes (1945-1965), (CARDOSO, 2009: 5) analisam as práticas de alianças
desenvolvida pelo PRP no período estudado. A historiadora aponta que no Rio Grande
do Sul o PRP conseguiu estar “inserido nas regras do sistema partidário”, o que, sem
dúvida, contribui para evidenciar a tese defendida por diversos autores, que identificam
no processo político brasileiro “traços de continuidade de práticas autoritárias, mesmo
nos anos posteriores à redemocratização ocorrida em 1945”. (CARDOSO, 1999: 172)
O viés político partidário do PRP não foi o único a ser estudado. O binômio
militância/simbologia foi o mote do doutoramento de Márcia Regina Carneiro, que, em
estudo de temática, até então inédita, os chamados neo-integralistas, advoga que houve
ao longo da trajetória do integralismo uma série de simbologias utilizadas para
aproximar o militante integralista do movimento. Em Do Sigma ao Sigma: entre a anta,
a águia, o leão e o galo, a pesquisadora analisa as memórias de quatro gerações de
integralistas, com foco mais aprofundado nos da chamada última geração que, a partir
da década de 1980 começou a se articular política e culturalmente. Dedicada a estudar
as memórias destes simpatizantes, aponta que a anta (animal genuinamente brasileiro,
portanto símbolo desta nação), a águia (em oposição à galinha verde), o leão (como
símbolo da organização: Tradição, Família e Propriedade, movimento direitista
congênere) e o galo (anunciador da “nova aurora integralista”) seriam os quatro pilares
simbólicos da trajetória e das articulações integralistas.
Transitando na intersecção entre as esferas do político e do cultural, a minha
dissertação de mestrado (CHRISTOFOLETTI, 2002), intitulada: As celebrações dos 25
anos do integralismo (1957-1961) discute os bastidores das celebrações de 25 anos do
integralismo sugerindo que a publicação de um compêndio de escritos denominado A
Enciclopédia do Integralismo (abordada superficialmente nesta dissertação) foi o cume
de um processo mais amplo de revigoramento dos símbolos integralistas no período
pós-guerra. Esta pesquisa buscou revelar os diálogos de parte da historiografia a
respeito das celebrações integralistas em finais da década de 1950, e por isso discute as
representações produzidas pelos integralistas neste período.
***
A busca pela interpretação desses diferenciados discursos foi fundamental para
que eu pudesse enxergar nos integralistas mais que um preconceito ideológico.

26
Sinalizou que os conservadorismos devem ser interpretados sob o risco de, se
ignorados, perpetuar como forma dominante no cenário político nacional. O estudo
sobre os integralistas vinculados à Enciclopédia do Integralismo aponta para a
necessidade de ouvirmos as vozes dissonantes deste tipo de discurso político. Todas
estas questões superficialmente discutidas nesta apresentação poderão ser aprofundadas
nos capítulos que compõe este trabalho.
O capítulo introdutório considera a formação desse novo corpo integralista
arregimentado a partir da sigla do Partido de Representação Popular, corolário da AIB,
pós 1945. Nesse capítulo, intitulado: “Marcas do conservadorismo: o degradé
integralista” o integralismo é apresentado como uma proposta conservadora de poder.
Também é estudado o cenário político - palco de profundas transformações - da criação
do PRP e sua trajetória frente seus números eleitorais. Este intróito também analisa a
reutilização dos rituais e adereços integralistas, seguida da apresentação de seus
interlocutores que à época fizeram questão de não deixar o integralismo sozinho. Um
diagnóstico sobre como se deram as celebrações dos 25 anos do movimento e a criação
dos Centros Culturais da Juventude/ Movimento dos Águias Brancas (acontecimentos
que precederam à publicação da Enciclopédia) finaliza este primeiro capítulo.
O segundo capítulo avalia o cenário em que ocorreu a publicação da
Enciclopédia. Intitulado: “A Enciclopédia do Integralismo como um lugar de memória:
temas candentes, idéias recorrentes” acompanha a trajetória do movimento até a
publicação do compêndio, o que vai desembocar na manutenção de uma dada memória
integralista, entendendo o compêndio como um lugar de memórias do movimento.
A análise da Enciclopédia como um elemento exótico ao padrão enciclopedista
clássico, seguido das observações sobre o seu conteúdo (temas mais contraditórios e
recorrentes do compêndio) são apresentados no terceiro capítulo, que se intitula:
“Leitura em metonímia: a Enciclopédia do Integralismo”, centro analítico deste
trabalho.
Em consonância, o quarto capítulo, intitulado: “Biografias coletivas: as três
gerações da Enciclopédia do Integralismo”, busca esclarecer como se construíram tais
gerações apontando a discussão para um retrato coletivo desses integralistas, a partir do
método prosopográfico. Finalizando, o quinto e último capítulo destaca as entrevistas do
editor do compêndio, depoente fundamental para o entendimento da construção
simbólica integralistas de finais dos anos 1950. “Entre o dito e o interdito: memórias de
um integralista quixotesco – uma voz fundamental para se entender a Enciclopédia do

27
Integralismo” analisa parte das entrevistas de Gumercindo Rocha Dórea, propositor de
uma imagem integralista bastante peculiar no período pós-guerra.
Espero que este trabalho possa colaborar para um maior aprofundamento da
temática, e que o cuidado dispensado na análise dessas variadas fontes estimule outras
iniciativas, construindo assim, quem sabe, um panorama mais acurado da trajetória do
ethos integralista no período estudado.

28
CAP. I
Marcas do conservadorismo:
o dégradé integralista

29
CAP. I – Marcas do conservadorismo: o dégradé
integralista

Analisaremos neste capítulo a transição conflituosa pela qual passou o integralismo no


período entre o fim da Ação Integralista Brasileira e a criação do Partido de
Representação Popular. Esta transição foi fundamental na manutenção de sua proposta
conservadora de poder. Este intróito também discute a reutilização dos rituais e
adereços integralistas, seguida da apresentação de seus interlocutores que à época
fizeram questão de não deixar o integralismo sozinho. Um diagnóstico sobre como se
deram as celebrações dos 25 anos do movimento e a criação dos Centros Culturais da
Juventude/ Movimento dos Águias Brancas (acontecimentos que precederam à
publicação da Enciclopédia do Integralismo) ajudarão a mapear este primeiro contato
com o tema.

1.1 – A Ação Integralista Brasileira: breves palavras

Rio de Janeiro, outubro de 1957. Todos os assentos do Teatro João Caetano estavam
completamente lotados quando uma tocha negra empunhada por um idoso e uma adolescente fardados
com vestimenta verde desfilou sobre a passarela do salão de espera do teatro. Era o archote da geração,
bastião que representava a passagem de poder de uma geração a outra do movimento que comemorava
aniversário. Era o Jubileu de Prata integralista e a imprensa estava presente. Por todos os lugares do
teatro, se viam simpatizantes, curiosos e desafetos de Plínio Salgado, que do alto do palco, na plenitude
de seus 62 anos, ergue o braço direito e com a mão estendida grita para a catarse geral do salão. Mais de
mil braços direitos são erguidos. O coro é uníssono: três Anauês! A saudação exclusiva ao chefe! Era a
comemoração que marcaria o retorno simbólico integralista no pós- guerra.
(A Tribuna da Imprensa, 7 de outubro de 1957)

ncontros como o descrito acima, sempre foram comuns no integralismo. Houve

E um tempo em que, por todo o país, milhares de simpatizantes do integralismo


lotavam teatros, escolas, cinemas, ou qualquer espaço em que comportasse
muitas pessoas, que, espremidas em poltronas e corredores se acotovelavam
para ouvirem catarticamente as palestras e os encontros da Ação Integralista
Brasileira.

30
Este movimento cultural que se tornou partido político foi oficialmente criado no dia 7
de outubro de 1932 em reunião solene no Teatro Municipal de São Paulo, por iniciativa do
político e escritor modernista Plínio Salgado que, na ocasião, apresentou ao país o Manifesto de
Outubro, uma carta programa que sintetizava todas as reivindicações e propostas do
movimento. O lema máximo do integralismo se configurava na tríade Deus, Pátria e Família e
suas proposições políticas assentavam-se em quatro pontos: a promoção, por meio de intensa
propaganda, da elevação moral e cívica da população brasileira; a condenação da noção liberal
de representação, substituída pela figura do chefe; um anticomunismo exacerbado e a
implantação no Brasil do Estado Integral, meta política da AIB, concebido como um poder
único e fortemente centralizado.

A ênfase integralista no culto à pátria e sua combativa contraposição às correntes de


esquerda corroboravam a valorização da soberania nacional, propalada por Getúlio Vargas. A
partir de 1934, a legenda passou a registrar núcleos em todo território nacional, contando, de
acordo com as controvertidas fontes integralistas, em meados de 1937, com quase um milhão de
adeptos12. (TRINDADE, 1979: p.89) Um aspecto significativo que possibilita compreender a
adesão de milhares de pessoas ao movimento é o contexto de instabilidade social e as respostas
integralistas aos seus desdobramentos. Este foi um dos pontos centrais da constituição social do
movimento, que pode ser entendido mediante a concentração de parcelas da população provinda
de diversos setores da classe média.

O entendimento desta constituição social demanda também que se leve em conta a


inserção do movimento integralista no pensamento autoritário brasileiro. Algumas das matrizes
mais diretas da formação do pensamento autoritário brasileiro (vinculadas tanto a uma raiz
católica como cientificista) podem ser remetidas às obras de Oliveira Vianna, Alberto Torres,
Azevedo Amaral e Jackson de Figueiredo. Foi influenciado pelos escritos destes autores que o
integralismo se lançou no cenário político nacional. É significativo notar que tal postura
autoritária permaneceria no pós-guerra, quando o integralismo se viu obrigado a modificar
alguns de seus preceitos mais caros.

A despeito da força política conseguida pelo integralismo, a legalidade da AIB terminou


em finais de 1937, quando o governo decretou a dissolução dos partidos, inclusive o integralista,
pondo fim à ambigüidade com que o governo tratava a AIB, ora manifestando sua aprovação,
alimentando até mesmo a possibilidade de alianças com ela, ora reprimindo suas atividades. Na
relação pendular mantida com o integralismo, Vargas se fortaleceu mantendo sua posição de

12
Trata-se, claramente de uma contagem superdimensionada. A supervalorização proposital dos
integralistas com relação a estes números se dá no sentido de propagandear os resultados alcançados pelo
partido em finais dos anos 1930. Certamente, a análise mais acurada em outras fontes apontará para um
contingente bem menor ao apresentado pelos integralistas.

31
destaque. Os sonhos de implantação de um determinado tipo de Estado autoritário, antiliberal e
anticomunista malograram, definitivamente, com o frustrado assalto integralista ao Palácio
Guanabara. (SILVA, 1971, CARONE, 1976 e NASSER, 1947) Assim, o malfadado assalto
integralista ao Palácio Guanabara foi a chance aguardada pelo presidente para desferir o golpe
final. Independente do conteúdo das versões registradas pelos líderes do movimento sobre este
episódio, e dos acontecimentos decorrentes destas versões, o movimento integralista se
fragilizou definitivamente, cessando suas atividades após o frustrado ataque.

1.2 - Integralismo a paisana - Rupturas ou continuidades?


O Integralismo atravessou o período do Estado Novo na ilegalidade e com o fim do
regime iniciou uma intensa movimentação política. Porém, a conjuntura nacional e internacional
impunha uma série de dificuldades para a eventual articulação de um partido que lembrasse as
doutrinas totalitárias recém derrotadas na guerra. Afinal, desde o início dos anos 1940, quando o
governo Vargas afastou-se dos países que integravam o Eixo, já se delineava a tendência de
liberalização do regime, processo que se consumou com sua queda em 1945.

O fim do Estado Novo resultou na busca de uma nova estrutura legal. Então, as
condições de associação política alteraram-se. Nesse momento, o cenário político caracterizou-
se pela agitação das diversas siglas de menor representatividade que, no processo de
democratização, adquiriram o direito de concorrer pelas vagas do legislativo e executivo
nacional. Então, a partir da segunda metade da década de 1940, verificou-se a abertura de um
novo horizonte nas articulações político-partidárias do país. Após a derrocada de Vargas, siglas
foram recriadas, partidos rearticularam-se e, no bojo desse novo cenário de redemocratização,
surgiu um partido que, embora estigmatizado por sua atuação anterior, tentou transformar
alguns de seus princípios políticos visando a aproximação com o eleitorado que reconquistava o
direito de voto. Tratava-se da sigla liderada pelo ex-líder integralista, Plínio Salgado.

A cartografia partidária ensejada pela abertura democrática consolidou um novo


perfil político. Surgiram partidos de contornos bastante diferentes, dentre os quais se
destacaram a UDN, o PSD, o PTB e o PCB. Ao lado dos grandes partidos, articularam-
se pequenas siglas que, no mais das vezes, gravitavam sob as influências dos primeiros.
Foi o caso do PRP (Partido de Representação Popular), herdeiro da AIB (Ação
Integralista Brasileira). Embora sem alcançar a mesma dimensão da AIB, o PRP teve
uma intervenção relevante no processo político, possuindo uma militância convicta e
um patrimônio eleitoral não muito elevado, mas bastante sólido.

32
O anúncio de eleições parlamentares confirmadas para dezembro de 1945
incentivou a organização partidária dos diferentes grupos políticos. De acordo com o
historiador Gilberto Calil, cerca de seis meses antes, no dia 17 de maio de 1945, os
integralistas residentes no Brasil, sob a coordenação do “Representante do Chefe
Nacional”, Raimundo Padilha, fizeram publicar com grande destaque nos principais
jornais do país, uma longa “Carta Aberta à Nação Brasileira”, apresentada como uma
reação “contra a obstinada e injusta campanha, sistematicamente feita no sentido de
infamar aquele movimento [o integralismo], e, em conseqüência, todos quantos, sincera
e honestamente dele participaram”, e contra a “teimosa repetição de calúnias”. 13 O
documento pretendia desmentir as acusações de vínculos com o nazi-fascismo,
afirmando que as investigações policiais não encontraram nenhuma prova que ligasse os
integralistas aos fascistas europeus.
O ambiente hostil ao integralismo de então deve ser levado em conta na
avaliação da estratégia das lideranças integralistas naquele momento, tornando
compreensível o caráter defensivo de suas primeiras manifestações públicas, as
dificuldades encontradas e a demora na definição pela alternativa de organização
partidária.14 O próprio Salgado, em reelaboração posterior, recordava: “Passada a
guerra, restauradas as liberdades democráticas, as calúnias tinham exercido
eficientemente o seu negro ofício. Assim, grande parte da opinião pública brasileira
fazia o pior dos juízos a respeito do integralismo e dos integralistas. Foi o ambiente que
encontrei ao regressar do Exílio em 1946”. (SALGADO, 1953: 3)
As diversas manifestações de militantes integralistas polemizando com seus
acusadores, na maioria das vezes em linguagem igualmente agressiva, estabeleciam um
contraponto que, mesmo não logrando reverter completamente o clima hostil,
evidenciava que os integralistas estavam de volta à cena política, defendendo
inicialmente em termos acanhados, tanto sua doutrina como sua trajetória prévia.
Assim, o primeiro semestre de 1945 é marcado pelos movimentos de rearticulação dos
integralistas. Conforme aponta Carone, em 1945 “o movimento integralista ressurge,
timidamente no começo, mais agressivo depois. Mesmo assim, sua manifestação é
cautelosa, sem qualquer pompa e provocação, como antes de 1937”. (CARONE, 1976:
213, Apud, CALIL, 213)

13
Seção Ineditorial: Carta Aberta à Nação Brasileira: a extinta Ação Integralista Brasileira no tribunal da
opinião pública. Diário de Notícias, Porto Alegre, 17/5/1945, p.4. Apud, CALIL, p. 209.
14
CALIL, Op. Cit. 210.

33
Ao mesmo tempo, a imprensa especulava sobre as possíveis estratégias dos
integralistas para seu retorno à vida política brasileira. Em março de 1945, o jornal
Diário de Notícias publicava que Plínio Salgado teria enviado novas diretrizes a
Raimundo Padilha, indicando “como seus partidários devem agir em face do momento
político brasileiro, dizendo-lhes que aguardem a revogação da lei que acabou com os
partidos políticos e em seguida promovam a reorganização do integralismo, de forma a
poderem seus adeptos comparecer em massa no pleito eleitoral próximo” (SALGADO,
1945:18)
Como apontado anteriormente, a publicação da “Carta Aberta à Nação
Brasileira”, já antecipava as pretensões organizativas dos integralistas. A própria
publicação deste documento, contando com 103 assinaturas de lideranças, afora
“milhares de outras assinaturas de antigos integralistas” não publicadas, demonstra que
os integralistas já haviam atingido um estágio de organização razoável. Os signatários
da Carta eram representativos do ponto de vista da liderança integralista, incluindo 19
ex-membros da “Câmara dos Quarenta” da Ação Integralista Brasileira e a maior parte
de seus antigos “chefes provinciais”. Como nos relata Gilberto Calil, dentre eles
estavam alguns dos mais conhecidos seguidores de Plínio Salgado, como Gustavo
Barroso (a despeito de jamais militar no partido), Olbiano de Melo, Antônio Coelho
Branco, Custódio de Viveiros, Jayme Ferreira da Silva, Oscar Machado, Fernando
Cochrane, Marcel da Silva Teles, além de seu “representante no Brasil”, Raimundo
Padilha. Alberto Cotrim Neto, João Carlos Fairbanks e Loureiro Júnior (estes três
presentes na Enciclopédia do Integralismo, foco central deste estudo) também
assinaram o documento. À exceção de Barroso, todos os demais participaram da
constituição do Partido de Representação Popular. O mais importante dirigente
integralista dos anos 1930 já afastado do movimento naquele momento era Miguel
Reale. (CALIL, 2009: 214)
Então, com a anuência de Plínio Salgado, que voltaria do exílio apenas em 1946,
e certa indiferença do contingente ex-integralista, fundou-se o novo partido. Cabe
registrar que pela legislação, para obter o registro definitivo seria necessário que a sigla
pretendente apresentasse uma listagem de assinaturas com 10 mil nomes. Em 3/11/1945
o PRP – Partido de Representação Popular apresentou uma lista com mais de 15 mil
assinaturas, conseguindo o registro definitivo em 10/11/1945.
Embora sem alcançar a mesma dimensão da AIB, o PRP teve uma intervenção
relevante no processo político, a se julgar pela representatividade do partido em 18

34
estados da federação.15 Politicamente, o Programa do PRP pregava a “consagração
intransigente da defesa da ordem democrática, baseada na pluralidade partidária e na
garantia dos direitos fundamentais do homem” (PROGRAMA DO PRP, 1945: 1), uma
natural adaptação aos programas democráticos vigentes, cujo objetivo era a manutenção
da sigla. Socialmente, a militância do PRP era majoritariamente proveniente de dois
setores: os médios urbanos e o de pequenos proprietários rurais das regiões de
colonização italiana e alemã, principalmente oriundos da região sul. O PRP centrou-se
no anticomunismo, no nacionalismo e no espiritualismo, e defendeu a centralização do
poder.
Por seu turno, a reorientação doutrinária procurou redefinir o significado do
integralismo. Adotando, num primeiro momento (1945-1950), um vocabulário
diferenciado dos tempos pregressos, os perrepistas (integralistas vinculados ao PRP)
apresentaram-se como um grupo que não possuía nenhuma identificação com os
fascismos/totalitarismos e buscavam justificar sua conversão à forma partidária,
reivindicando que sua posição democrática se dava em nome de uma espécie de
“autoridade legítima”, ou seja, para eles sua posição no tabuleiro democrático se
legitimava pela dissociação que buscaram fazer de seu passado. O apoio à candidatura
presidencial de Eurico Gaspar Dutra (PSD) facilitou a movimentação dos integralistas
no sentido de formação de um partido político. Foi necessário também, além da
reformulação doutrinária, o redimensionamento do projeto político, abandonando
sutilmente a proposta de reestruturação corporativa da sociedade, da ritualística e da
simbologia.

O chamado integralismo do período pós-guerra pode ser dividido em dois


grandes momentos16: de 1945 a 1955 (criação do PRP até campanha e Salgado à
Presidência da República); e 1955-1965 (retomada das alegorias e celebrações do
movimento até seus estertores). Portanto, no decênio 1945-55 o chamado “novo”
partido integralista amenizou seu discurso e apresentou-se aos brasileiros como uma
alternativa política possível. A despeito disso, as alianças contraídas pelo PRP

15
Ver: Suplemento da militância: A Marcha, outubro de 1957, p.13.
16
Há outra maneira de se perceber a trajetória do integralismo no pós-guerra. Os escritos de Gilberto
Calil propõem que haja, na verdade, quatro fases distintas: (1945-1952): momento em que o partido se
afirma politicamente com suas alianças; (1953-1957): período de radicalização e autonomia partidária,
momento que culmina com as retomada das simbologias integralistas; (1958-1961): período em que se
constrói um eixo institucional, abraçando a participação dos integralistas no governo JK, e alianças com o
PTB de Leonel Brizola, Lott e João Goulart; e, finalmente a última fase (1962-1964), cuja dinâmica se
deu frente a um realinhamento conservador e uma ativa participação na articulação do golpe de 1964.

35
suscitaram controvérsias quanto ao teor evidentemente fisiológico e não ideológico de
suas alianças. Tais correlações acabaram por minar a base de sustentação do partido,
abrindo precedência para um processo de degeneração de sua base ideológico-militante,
antes tão propalada. Pode-se supor que o realinhamento da ação política do partido
também foi estimulado pela insuficiente votação alcançada nas eleições realizadas até a
metade da década de 1950. Já, na contagem final da votação à presidência da República
de 1955, Salgado atingiu 714.379 votos, ou 8,3%, dos votos válidos: a maior votação
obtida pelo movimento integralista em um processo eleitoral, em toda história do
movimento.

Continuando nosso diálogo com a pesquisa do historiador Gilberto Calil, há de


se perceber as condições que se efetivaram a construção partidária do PRP, (CALIL,
17
2005, 434). O autor analisa a oscilação dos números alcançados pelas votações
perrepistas na década de 1950. O lento crescimento do partido e, mesmo, sua relativa
estagnação eleitoral a partir de 1950 acentuava as desconfianças dos militantes
integralistas que esperavam uma intervenção mais radicalizada do partido, levando
muitos a explicitar suas divergências e vários dentre eles a efetivamente abandonar o
partido. Frente ao reagrupamento partidário do período, a estratégia do PRP foi a de
adequar-se à nova proposta política do momento: a democracia exigia o abrandamento
dos pontos mais radicais do antigo integralismo. Assim, a rearticulação integralista sob
a forma de partido político exigiu a adoção de um vocabulário diferenciado dos tempos
pregressos e a manutenção do anticomunismo, elementos que colaboraram para que os
integralistas apresentaram-se como os maiores adversários do autoritarismo (e isso foi
jocosamente noticiado à época), buscando assim, justificar sua conversão à forma
partidária. De 1945 até o final 1955 o PRP manteve-se discreto costurando alianças e
definindo-se como um partido de postura ideológica.

17
Calil sustenta a tese de que o PRP, ao longo de sua trajetória, tornou-se um partido nacional. Os dados
estatísticos levantados em seu trabalho nos revelam que as informações referentes às eleições de 1945,
1947, 1950, 1955, 1958, 1960 e 1962 (seis eleições, excetuando-se a de 1955, para presidência da
República) corroboram a ascensão do número de parlamentares do PRP eleitos nas câmaras legislativas
municipais, estaduais, e federal (nesta tanto na Assembléia quanto no Senado). Mesmo assim, o que se
percebe é que ainda permanecem algumas lacunas, relativas às eleições de 1954, 1958 e 1962, nas quais
ainda não foi possível determinar a votação obtida pelo PRP. Os números absolutos das votações do PRP
não são desprezíveis, sobretudo se comparados aos partidos de porte médio. O PRP elegeu, no decorrer de
sua existência, um total de 26 mandatos de deputados federais e 97 deputados estaduais, distribuídos
em 15 estados e no Distrito Federal, o que revela que esteve presente no debate político da maior parte do
território nacional. Majoritariamente o PRP foi mais bem votado nas regiões sudeste e sul, o que também
afiança a antiga e tradicional base do eleitorado integralista cooptado desde os tempos da AIB.

36
Fig. 1. Diretório estadual do PRP/SP. O novo/velho ideário integralista: “O mesmo chefe, a mesma luta, a mesma
idéia!” Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado, s/d.

No entanto, após a candidatura de Salgado à presidência da República em 1955,


e, sobretudo a partir das celebrações dos 25 anos do integralismo em 1957, o que o
movimento chamou de a “retomada de seus símbolos mais caros”, o PRP passou a
chamar mais a atenção do panorama político vigente. Percebe-se então, como alguns
membros vinculados ao novo partido integralista focaram suas forças em diversos
eventos objetivando reintroduzir no cotidiano de sua militância, um sistemático
enaltecimento dos rituais, símbolos e adereços integralistas anteriormente cultivados. As
galinhas verdes, o cumprimento Anauê!, o símbolo Sigma (∑) e as vestimentas
militares esverdeadas, bem como seu hinário e suas manifestações de apreço e
subserviência ao chefe, Plínio Salgado, voltariam a ser teatralizadas em vários diretórios
do PRP. Logo, tais eventos espalharam-se como notícia digna de destaque. Para Plínio
Salgado, “O cata-vento começava a girar novamente” (SALGADO,1957: 03).O novo
partido, que durante os seus quase vinte anos de atuação parlamentar (1945-65)
configurou-se como uma das agremiações políticas mais controversas do citado período,
teve atuação de retaguarda, centrando foco nas articulações de bastidores da política
nacional. O PRP constituiu-se no instrumento de intervenção política dos integralistas
durante todo o chamado período democrático, mas foi com a retomada de seus rituais já
característicos, (elementos ligados à AIB) que o movimento voltou a ser notícia.

37
1.3- PRP, redefinições do tabuleiro político e a volta ao Sigma
O contexto em que se desencadeou o governo JK, sobretudo seu quartel final, é
relevante para entendermos o crescimento de importância que o PRP teve no período.
Nesse sentido, a consolidação do PRP no cenário político nacional foi favorecida graças
às transformações ocorridas nos finais desta década. O governo JK apesar de gozar de
uma segura maioria parlamentar e de conciliar interesses políticos e econômicos dentro
da ordem democrática, teve que conviver com focos de instabilidade. O surgimento de
novas lideranças partidárias, que resultaram na fragmentação da coalizão PSD-PTB e
conduziram a novas composições políticas foi um grande teste da tessitura política do
período.
Fruto das transformações do período, o avanço do PTB e a desestabilização de
seu adversário direto, o PSD, criam um processo de polarização na sociedade: de um
lado, um avanço das esquerdas, e uma maior visibilidade e atuação do PTB. De outro,
um crescimento do discurso direitista, que encontra na UDN novo campo. Neste
período ocorreu um processo de aumento na influencia das propostas reformistas de
esquerda. As organizações sociais ligadas a movimentos populares, ligas camponesas,
sindicatos, movimento estudantil e partidos de esquerda experimentaram uma fase de
crescimento e consolidação. Insere-se neste contexto o aumento da representação
parlamentar dos partidos ligados a esquerda, e o crescimento da influencia do projeto
reformista que configurou-se como um dos principais pilares para o golpe de 1964.
Por outro lado, a consolidação do discurso direitista propugnado pela UDN a
colocava como um espectro antípoda dessas organizações esquerdistas passando a sigla
a explorar um novo discurso, cada vez mais popular, buscando se aproximar do
eleitorado e demarcar sua proposta política. Concomitantemente ao crescimento das
extremidades do espectro político, o centro vive, nestes estertores dos anos 1950 um
arrefecimento, um esvaziamento nas suas propostas e críticas, o que alguns cientistas
sociais e políticos chamariam de uma “erosão de suas bases e discurso”. (FERREIRA e
SARMENTO, 2001: 454) O PSD, por exemplo, passou por uma profunda cisão o que
abriu possibilidade de composição com elementos provenientes de outras legendas. Já,
no PTB, a despeito do sensível crescimento eleitoral, as divergências sobre a definição
do trabalhismo levou alguns de seus expoentes a ensaiar novas alianças. A UDN, após
debater a possibilidade de novas alianças, construiu uma coligação com vários partidos,
buscando com isso ampliar sua influência e seu discurso, agora bem mais popular.

38
Este quadro plural e bastante complexo viabilizaria a recolocação de pequenos
partidos no cenário político da época, como foi o caso do PDC – Partido Democrata
Cristão, (PR) Partido Republicano, (PL) Partido Libertador, (PTN) Partido Trabalhista
Nacional (todos estes coligados à UDN). Além destes, havia mais de uma dezena de
partidos de menor expressão com representantes eleitos no Congresso Nacional, dentre
os quais se destacavam o PSP (Partido Social Progressista) de Adhemar de Barros e o
PRP (Partido de Representação Popular) de Plínio Salgado.
Pois, foi entremeado neste complexo quebra-cabeça político, que, a partir de
1957 o partido presidido por Salgado jogou as cartas de seu baralho marcado visando
uma nova projeção política. O PRP passou então a efetivar cada vez mais seus canais de
doutrinação (tal como no período da AIB), apostando em um reavivamento da memória
militante enfraquecida e cada vez menos aderente, a partir da comemoração de fatos,
entendidos pelos integralistas, como “relevantes e dignos de serem revividos”. O que se
apresenta a seguir é parte de um grande projeto de revitalização do integralismo do pós-
guerra. Consolidação esta que fez do PRP um dos partidos mais controversos e
incompreendidos do período.
As celebrações do jubileu de prata integralista reacendem os ânimos de sua base
militante. Os integralistas comungavam uma leitura de mundo particular, cuja partilha
de sentimentos e convicções era o centro de seu ideário, e o fortalecimento do
integralismo do pós-guerra esteve intimamente ligado a essa partilha, num período cada
vez mais adverso à presença do integralismo no cenário político. Portanto, a
solidificação das redes de sociabilidade fez com que os integralistas do período
conseguissem realizar um projeto de re-aderência de parte da militância. No momento
em que diversos setores da sociedade civil permaneciam contrários à lembrança do
integralismo extremista dos anos 1930 e que os membros do movimento eram acusados
de não possuírem propostas adequadas nem para o presente nem para o futuro, a
retomada dos preceitos, rituais e adereços mais caros do integralismo foi o alvo
perseguido pelo movimento visando uma melhor aceitação de sua militância
fragmentada. Os velhos militantes, neste momento, passaram a ser mais importantes que
a opinião pública. Afinal de contas, o integralismo do PRP começava a perceber que
desde sua fundação até o presente momento, ainda não havia encontrado sua identidade.
Daí, a aposta em reacender a militância fervorosa dos anos 1930, como tábua de
salvação de sua manutenção política. Por outro lado, a atmosfera de redemocratização
na qual o país vivia passou a afirmar cada vez mais que o integralismo representava

39
metaforicamente, uma doença que não poderia mais ser hospedada no corpo da
sociedade.

As eleições presidenciais de 1955 foram um importante teste para o partido,


tendo se constituído em fator decisivo para que a sigla empreendesse coalizões que
ajudariam a compor a geografia partidária de fins dos anos 1950 e 1960. Após a votação
alcançada pelo PRP neste pleito, o partido procurou apresentar-se à sociedade de
maneira mais veemente, restabelecendo alguns de seus adereços e rituais mais
conhecidos, como a simbologia do Sigma e a mística integralista. Então, se no momento
do retorno democrático (década de 1940) o lema do partido foi o de esconder seu
passado, o final dos anos 50 prenunciaram o resgate de sua imagética e ritualística mais
antigas.

Fig. 2. Com os slogans de campanha: “Uma elite para as massas” e “Para endireitar o Brasil”, Plínio
Salgado lançou sua candidatura à presidência em 1955. Bônus de campanha. Arquivo Público Municipal de Rio
Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Com o intuito de promover atividades que ensejassem a partilha de sua


cultura política, o partido avançou nas suas investidas, projetando estratégias e eventos
que viabilizassem uma reviravolta na sua atuação político-partidária. Tais investidas
foram marcadas pela realização de eventos especiais dos quais se destacam: as
festividades dos 25 anos do Movimento Integralista – que ocorreram durante o mês de
outubro de 1957; e a publicação da Enciclopédia do Integralismo, lançada
simultaneamente à realização das festividades. Este episódio em especial nos interessa
diretamente. A promoção desses eventos foi fomentada por uma aguda radicalização
contra a esquerda e um surpreendente abrandamento com relação ao liberalismo, o que
indicava uma postura ambígua da sigla. Assim, as comemorações dos 25 anos de
fundação da Ação Integralista Brasileira e a publicação da Enciclopédia do

40
Integralismo constituem-se em elementos fundamentais para o entendimento do projeto
de rearticulação integralista em finais dos anos 1950.
Embora o PRP tenha vivido uma trajetória mais duradoura que a da AIB, o
partido conheceu ocaso semelhante. O projeto de governo/poder integralista foi
novamente frustrado com golpe de 1964 e o corolário do Ato Institucional n.º 2, que
extinguiu os partidos políticos, em 27 de outubro de 1965. Tendo cedido seu apoio aos
militares, após a instalação do bipartidarismo, Plínio Salgado, assim como grande parte
dos correligionários do PRP, filiou-se à ARENA (Aliança Renovadora Nacional).
(TRINDADE b, 1994: 124). Em meados da década de 1970, Plínio Salgado afirmou:
Quem disse que não governaríamos? Podemos não ser o centro do poder, mas somos
seus mais fortes pilares. (SALGADO, 1972: 23) A despeito desta afirmação, o
Integralismo, ao menos, enquanto discurso filosófico teve uma sobrevida bastante curta
após o período de exceção, o que nos impele a questionarmos: em que medida os pilares
referidos por Salgado ruiriam após o seu falecimento, em 7 de dezembro de 1975?

1.4 - As comemorações do Jubileu de Prata integralista e o Congresso de


Vitória
Os anos de 1957 e 1958 foram de comemorações para o integralismo.
Celebraram-se os seus 25 anos de criação e de sua mais importante manifestação
popular, a chamada grande marcha integralista. Diante da celebração destes dois
episódios a intelectualidade do partido debruçou-se sobre a história do movimento.
Tratava-se do primeiro grande evento de uma agenda que objetivava lançar luz às
conquistas pregressas do movimento. Como lembrou Gerardo Mello Mourão, em
entrevista para este estudo: “O caminho das pedras que começaria nas celebrações e
terminaria na publicação da Enciclopédia do Integralismo”. (MOURÃO, 2002)
O Congresso Nacional do PRP realizado em Vitória – ES deu suporte às
comemorações integralistas que se prolongaram por mais de seis meses. Tal evento
inaugurou o cronograma festivo das celebrações do movimento. Subjacente estava o
debate a respeito de qual seria o lugar do integralismo naquele momento. Nascem deste
período as primeiras manifestações jocosas sobre um “integralismo curupira”, no
sentido de que este retomava o passado como manutenção de força. Os pés para trás do
personagem folclórico brasileiro foram utilizados como mote de gozação dos detratores
integralistas. Em resposta aos achincalhamentos recebidos, o integralismo fortaleceu

41
suas manifestações ritualísticas, em que foram apropriados diversos elementos do
período anterior (anos 1930).
Se até 1955 as Convenções foram organizadas visando objetivos relacionados
apenas à organização interna do partido, que se resumiam, na maioria das vezes, a
pequenas disputas de ordem doméstica - como a homologação de novos correligionários
e diretórios, a expulsão de alguns descontentes, ou até mesmo tímidas estratégias de
cooptação eleitoral – na segunda metade da década de 1950, a perspectiva perrepista
passou a incluir uma postura doutrinária e propagandística mais agressiva. A
preocupação exclusiva com a organização interna do partido cedeu espaço às novas
estratégias de aproximação eleitoral.

Fig.3. Detalhe de umas das convenções nacionais realizadas pelo PRP. Data provável, set./1956. Na foto, os
símbolos do PRP: o crucifixo, a bandeira nacional, o mapa do Brasil centrado por um sino e os dizeres que indicavam
a noção de hierarquia tão apregoada pelo movimento integralista: “Quem cumpre ordem, não erra”. Foto: Arquivo
Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

A propaganda e a ritualística visaram consolidar a militância que neste momento


se encontrava dispersa, descrente e pouco atuante, mesmo porque, carecia de identidade
própria, tal como o partido. Num cenário muito menos receptivo que o desejado pelos
perrepistas, a reconvocação dos militantes tornou-se uma questão de ordem. Como
resposta ao fracasso nas urnas, ou pelo menos a não chegada ao poder, os perrepistas
passam a buscar um perfil já conhecido dos antigos militantes. Ao lado da auto-
avaliação partidária, organizaram-se diversos encontros que objetivavam a elaboração
de um plano político-doutrinário que cumprisse a função de dotar o PRP da já
conhecida simbologia integralista.
42
O XVI Congresso Nacional, realizado de 26 a 28 de julho de 1957 nas
dependências do Palácio da Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo,
constituiu-se em parte importante desta auto-avaliação necessária frente às reações de
uma parte significativa da militância perrepista, preocupada com a fragilidade da sigla
no contexto político. Algumas deliberações do encontro redefiniram substancialmente o
rumo da política do partido. Foram discutidos: o novo plano de propaganda doutrinária
do partido; a multiplicação dos diretórios; a sua posição no âmbito nacional e estadual;
as realizações futuras; as eleições do ano seguinte e a possibilidade de lançar a
candidatura de Plínio Salgado para o Legislativo Federal. Digno de destaque foi o
anúncio o ingresso do PRP no governo JK, o que gerou um enorme impacto diante dos
militantes mais antigos, causando a decepção de uma parcela significativa de
correligionários mais ortodoxos. Entretanto, dentre as matérias votadas, uma mereceu
especial destaque: o retorno da simbologia do Sigma (∑) como emblema oficial do PRP,
proposta encaminhada pelo Conselho Político Nacional, órgão de assessoria vinculado
ao Diretório Nacional do partido.

De 1945 a 1957, a insígnia oficial do PRP havia sido um sino envolto pelo mapa
do Brasil que, para os perrepistas, significava o “tilintar das novas gerações integralistas
por todo o país”18. De acordo com um dos representantes do Diretório Nacional, “(...)
como a ressonância das badaladas não havia surtido o efeito esperado, pensou-se na
mudança (...)”19. A proposta foi recebida com entusiasmo pela mesa diretora, que a
comunicou aos pares, obedecendo ao seguinte protocolo: Salgado pediu que todos se
levantassem, pois tinha em mãos uma proposta que modificaria definitivamente o perfil
do PRP. A formalidade do chefe, seu ar grave e sério, criou enorme expectativa entre os
presentes. Em pé, amparado pelo encosto da cadeira central da mesa diretora, mãos
trêmulas em riste, Plínio Salgado leu em voz alta a referida proposta 20. “O Conselho
Político Nacional pede deferimento para que seja substituído o nosso atual emblema do
partido pelo Sigma, símbolo de uma doutrina que, nem o tempo, nem as circunstâncias
haviam apagado” 21.

Politicamente, este ato revestiu-se de um significado especial para cúpula do


partido: o PRP passava, a partir daquele momento, a novamente se identificar com o

18
Distintivo Oficial. Protocolos da Fundação do PRP, janeiro de 1946.
19
GULLO, Damiano. A Marcha, 7/8/1957, p.6.
20
“O Encontro do novo integralismo: a volta do Sigma”. A Gazeta. Vitória. 29/7/1957, p.6.
21
Proposta publicada no jornal A Marcha. 2/8/1957, p.4.

43
símbolo maior da Ação Integralista Brasileira, marca indelével de uma posição
reacionário/conservadora. Os perrepistas assumiram, de maneira incondicional, que sua
reestruturação partidária necessitava dessa reaproximação com os símbolos dos tempos
da AIB, no sentido de avalizar sua recepção por parte de seus devotados militantes. O
partido buscou então sua reafirmação no passado. Se em 1945 o PRP se afastou deste
passado para se adaptar às novas diretrizes da democracia e fugir da incômoda
comparação com o fascismo, em 1957 o apelo tornou-se outro. Os integralistas
entenderam (equivocadamente?) que era preciso buscar antigas identificações. É
relevante que o PRP tenha retomado a ritualística e os adereços integralistas. Por meio
deles, ícones do antigo movimento como o Sigma, o hinário, o archote (chama da
transição geracional), sem falar da galinha verde, que seria transformada em águia
branca, possibilitaria que tais símbolos permanecessem presentes como elementos
significativos de identificação política do PRP. A rememoração de um passado de
glórias tornou-se a partir de então uma prática corrente, e a fusão de elementos
simbólicos do integralismo dos anos 1930 com a atuação política dos anos 1950 ensejou
a (re)criação de uma ritualística própria. Nesse momento, os perrepistas valeram-se da
metáfora da transformação, do ressurgimento das cinzas do ostracismo político, tal
como Fênix, a ave mitológica grega. Esta metáfora passou a sustentar-se de maneira
bastante sólida a partir da metade desta década.

Os perrepistas buscaram fortalecer-se se inspirando nos anos 1930, o que


obviamente não coadunava com o contexto político vigente, uma vez que tal retomada
deu-se imersa numa conjuntura desfavorável à permanência integralista. Não se pode
esquecer que o final dos anos 1950 foi marcado pelo otimismo. Durante o governo de
JK, aprofundou-se o caráter urbano do país, que passou a respirar os ares do
desenvolvimentismo. Nesse contexto, nada parecia mais distante do que os sonhos de
Salgado em atribuir ao PRP a tarefa de realizar “a convergência sapiente que
reestruturaria os modelos carcomidos pela falsa demonstração de linearidade
democrática” (SALGADO, 1957:3). Sob a ótica político-partidária, as conclusões foram
diversas: a tentativa de lançar-se avante nas disputas democráticas afirma a preocupação
do movimento em desvincular-se de uma imagem que ficou cristalizada ao longo do
tempo, a dos “eternos estrategistas da retaguarda pseudo-democrática”22 . No entanto, o

22
Perfis Diversos. O Estado de S. Paulo. 04/11/1957, p.6.

44
que se percebe é um retorno à mística e símbolos da fase anterior, justamente aquela da
qual se queria distanciar.

Insuflada pela atmosfera de celebração que tomou conta dos perrepistas, logo
após as decisões do XVI Congresso, a imprensa integralista aumentou os contatos entre
o movimento e certos órgãos representativos da sociedade de perfil eminentemente
direitista, tais como centros católicos e laicos de cultura e associações em prol de idéias
nacionalistas. Entidades identificadas com a essência religiosa da conduta
político/doutrinária de Salgado,como a Junta Católica pela Liberdade23, bem como os
Círculos Operários24 e a Ação Patriótica das Mulheres Brasileiras foram algumas das
associações que prestaram solidariedade às celebrações integralistas.
Em finais de agosto de 1957, começou a ser idealizado um cronograma de
festividades que visava dar notoriedade ao jubileu integralista. A sugestão de um
calendário de celebrações visava compartilhar a história do movimento, sensibilizando a
sociedade para o retorno do Integralismo. Tal cronograma coincidiu com a retomada do
calendário oficial integralista, datado de duas décadas atrás. O jornal A Marcha
publicou o quadro de atividades da Semana do 7 de outubro. A veiculação do Programa
das Festividades foi intensa durante todas as semanas do mês de setembro. Durante a
primeira semana de outubro foi prevista uma programação específica para cada dia.
Dos eventos arrolados no calendário, um em especial merece destaque: a
Exposição Histórica do Integralismo, que, de acordo com as fontes disponíveis, (fontes
partidárias e jornais de grande circulação carioca25) congregou milhares de pessoas (sic)
nos cinco dias em que foi aberta ao público. Realizada no Salão Assírio do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro26, esta exposição refazia a trajetória histórica do
movimento, expondo suvenires e mais de 30 quadros explicativos sobre o seu aparato

23
Dissidência da ala revisionista da Igreja Católica, portanto, de caráter conservador, esta Junta
assessorava a UNOCB e os Ciclos Operários em encontros sistemáticos durante todo o final da década de
1950.
24
Organizações católicas de caráter econômico-social e de direito civil, nascidas no Brasil da década de
1930 com o objetivo de prestar assistência e auxílio mútuo entre os operários. Em1957 havia, no Brasil,
mais de 400 Círculos Operários.
25
Foram consultados: A Marcha e os jornais: O Globo, Tribuna da Imprensa, Última Hora e A Noite.
Semana da comemoração.
26
Dependência cedida a Plínio Salgado pelo então prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Octacílio Negrão
de Lima. Em bilhete emitido à direção do PRP, o prefeito carioca sucintamente escreveu: “Está à
disposição do evento. O salão Assírio é o bastante para comportar tal Exposição. A prefeitura do Distrito
Federal orgulha-se de poder demonstrar essa ação democrática e patriótica”. Bilhete timbrado da
Prefeitura do Distrito Federal: Setor de cartas, s/d (aproximadamente agosto de 1957). Acervo Plínio
Salgado. Arquivo Público de Rio Claro.

45
simbólico. É licito apontar que, para o simpatizante integralista, vinculado ou não ao
PRP, o sentido da comemoração e da exposição de sua história era dotado de um caráter
“reformador”, pois restituía o disperso sentimento de pertencimento desses indivíduos.
Não obstante, a organização dos preparativos do evento demonstrou que as
comemorações de outubro de 1957 visavam atingir não apenas os antigos militantes – as
fileiras verdes, como eram costumeiramente designadas por seus correligionários –, mas
a sociedade em geral. Exemplar nesse sentido foi o registro da significativa presença de
populares na exposição integralista27. Em várias ocasiões tal contingência não mantinha
nenhuma relação de proximidade com o movimento ou a sigla. A organização da
Exposição instalou um caderno de presença na entrada do Salão, visando obter um
diagnóstico do perfil do público assistente. 28. Nesse sentido, entende-se que o grau de
participação popular nas festividades serviria como um teste para aquilatar sua
receptividade às propostas do PRP.

Fig. 4. Comportamento de “prenda e rifa!”. Plínio Salgado na Abertura da Exposição


Histórica do Integralismo,1957.Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo
Plínio Salgado.

27
Ver: Caderno de Presença da Exposição Integralista, outubro de 1957. Acervo Plínio Salgado. Arquivo
H. M. Rio Claro.
28
O caderno de presença da Exposição Histórica do Integralismo foi pouco referenciado e apenas
algumas matérias de jornais da época chagaram a notificá-lo. Embora em péssimo estado de conservação,
traz informações valiosas com relação à presença de populares no festejo. Ver: Caderno de Presença.
Acervo Plínio Salgado. Arquivo Público Municipal de Rio Claro.

46
Entretanto, a ausência de marcos significativos da história do integralismo neste
calendário suscita questionamentos. A data em que se comemoraria a intentona
integralista contra o Palácio Guanabara (madrugada de 11 de maio), ataque surpresa que
visava à retirada do poder das mãos de Vargas, não foi sequer lembrada. Note-se como
o direcionamento das festividades permitia apenas a rememoração de fatos considerados
jubilosos pelos integralistas. Relendo o material de propaganda dessa Exposição29, tem-
se a impressão do pleno êxito integralista, sem mencionar os fracassos ou contradições
do movimento, como se ambos não fizessem parte de sua história. O putsch (intentona),
as dissidências, a vinculação fascista, nada disso aparecia, a não ser como argumento de
contraposição de seus adversários, ou como atestado de que o integralismo havia sido
maltratado pela oposição.

Fig.5. Charge que ridiculariza a ação dos Águias Brancas. Publicada, originalmente no jornal, O
Estado de S. Paulo, em setembro de 1957, foi republicada, meses depois, em A Marcha. O texto original da
charge dizia: “Eles começam a voar...” - uma alusão irônica ao vôo alçado pelos correligionários do PRP. Em
reposta, A Marcha afirmou: “Eles (os burgueses) começam a ter medo...”. A Marcha, 21/11/1957, p.4

29
Série de artigos intitulada: “A verdade contra a mentira”. A Marcha, (semana da comemoração).

47
Segundo dados da imprensa de grande circulação nacional30, a cúpula do PRP,
em conjunto com o grande contingente militante integralista, lotou as dependências de
todas as celebrações ocorridas. Teria sido assim em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre e outras cidades brasileiras de menor porte31. Essas celebrações estenderam-se
até abril do ano seguinte. Ao longo de 1958, registraram-se outras efemérides. Sempre
contestadas nos jornais da época, tais celebrações acabaram por chamar ainda mais a
atenção sobre aquele antigo/novo integralismo.
A ritualística integralista, desde sua institucionalização, era vasta e visava,
além da contraposição comunista, a propaganda para a arregimentação de novos
militantes, motivo pelo qual era ostensivamente divulgada. Os desfiles e concentrações
integralistas pretendiam constituir-se em demonstrações de força do movimento. De
acordo com a ritualística integralista, “tais desfiles eram ordenados em alas, com
batedores e tendo à frente uma bandeira azul, preta e branca, com o símbolo do sigma
na frente”32.
Nesse sentido, seis meses depois, a celebração da primeira marcha
integralista, segundo episódio da lista de celebrações do Jubileu, superou as
expectativas de seus organizadores; inflamou a militância adormecida e movimentou a
imprensa de grande circulação, que viu no acontecimento possibilidades de utilização
propagandística. A rememoração durou três dias (24, 25 e 26 de abril de 1958),
desdobrando-se em vários momentos.
No primeiro, houve a cerimônia de “boas-vindas” ao “sol nascente”,
representação da retomada do movimento. Dois dias depois, processou-se a simulação
da histórica passeata integralista, seguida do encerramento oficial das comemorações.
Voltava-se ao local da marcha, a cidade de São Paulo, onde o núcleo dos ex-
correligionários do Sigma juntou-se aos afiliados perrepistas e admiradores no intuito de
realizar cerimônia. Embora os organizadores previssem um significativo
comparecimento de seus simpatizantes, algo com que os integralistas não contavam
30
Neste caso analisamos os jornais: O Estado de S. Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã, da
Noite e da Tarde; Diário Popular; Diário de Notícias; O Jornal; Diário Carioca; Tribuna da Imprensa;
A Notícia; Gazeta de Notícias; Jornal do Brasil; Última Hora; Diário da Noite; Diário de Notícias/RS e
O Globo.
31
De acordo com o jornal A Marcha, as cidades de Olinda - PE, São José do Rio Preto, Santos, São José
dos Campos, Campinas e Rio Claro, no estado de São Paulo; Campos dos Goitacazes, Macaé e Niterói,
no estado do Rio de Janeiro, e Alegrete, Caxias do Sul e Nova Petrópolis, no estado do Rio Grande do
Sul, bem como Curitiba e Florianópolis também celebraram a mesma comemoração, seguindo protocolos
idênticos aos das capitais. CALIL, Op. Cit. p.256.
32
Protocolos e Rituais, p.79.

48
terminou por provocar uma situação constrangedora para seus pares: inviabilizada por
uma tempestade que caiu sobre a cidade de São Paulo, a celebração da primeira marcha
integralista teve um desfecho nada favorável.

Fig.6. Vista parcial da simulação da Primeira Marcha Integralista. SP. Abril de 1958. O jornal
integralista noticiou milhares de pessoas. A fotografia mostra dezenas. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio
Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Na comemoração de boas vindas ao sol nascente (simbolicamente, a nova


geração integralista) o convidado especial faltou ao encontro. No exato momento em
que aconteceria o protocolo, pontualmente às cinco e meia da manhã do dia 24, a
torrencial tempestade acabou por afugentar o pequeno contingente integralista que,
prostrado, defronte ao salão da Escola Paulista de Medicina, cantou o hino do
movimento, sob o olhar atento e sarcástico da meia dúzia de jornalistas que cobriram o
evento33. Triste coincidência para os integralistas, significativa simbologia para seus
adversários.
Estiveram presentes na solenidade os repórteres dos jornais Estado de S.
Paulo; Correio Paulistano; Folha da Manhã; Última Hora/SP e da sucursal paulista do
periódico carioca O Globo. Além dos jornais, as Revista Manchete e Maquis também

33
A despeito do reduzido número de repórteres que cobriram o evento, foram enviados mais de 250
convites a toda a imprensa de grande circulação do país. A Marcha, 3/5/1958, p.5.

49
cobriram o evento34. A presença da imprensa de grande circulação demonstra que o
espectro integralista ainda interessava aos meios de comunicação: “o integralismo, por
mais jocoso que possa mostrar-se ainda é notícia”.35 Tanto era assim que Assis
Chateaubriand, referindo-se ao episódio, assegurou: “O chute no cachorro morto, que
não estava tão morto assim...”36.
As comemorações encerraram-se em uma sessão solene presidida por Plínio
Salgado e assistida por centenas de pessoas. Interessante notar que até o dia 15 de abril,
uma semana antes de sua realização, a sessão estava confirmada para acontecer no Salão
Nobre da Associação Paulista de Futebol, sublocada à Rádio Record. Ocorreu, porém,
um sintomático episódio. Às vésperas da realização do evento, os planos integralistas
foram frustrados pela quebra do acordo firmado anteriormente, por parte do diretor da
emissora, supostamente um simpatizante do comunismo.37 Este, dias antes da cerimônia,
indeferiu o pedido de empréstimo do Salão de Audiência da Associação de futebol. A
única saída para os integralistas foi buscar um novo local para a realização do evento.
Tal episódio confirmou a generalizada insatisfação de alguns setores da sociedade para
com o retorno da alegoria política integralista. Esta oposição não se restringiu à
imprensa escrita. O estigma com relação ao integralismo permanecia sendo o seu maior
adversário.
A simbiose de dois fatores colaborou para que se desencadeasse esta
campanha de oposição declarada ao movimento. Primeiramente, o arraigado sentimento
anti-plinista (que em intensidade semelhante ao sentimento anti-integralista) ainda era
fomentado por vários de seus adversários, dentre eles, alguns empresários de
comunicação. Em segundo lugar, a figura emblemática de Luis Carlos Prestes
continuava a representar uma significativa força política, além de uma “pedra” na
trajetória plinista. No embate direto entre comunistas na ilegalidade e integralistas em
processo de reformulação, os primeiros venceram o round.

34
A Marcha, 26/4/1958, p.5.
35
“Por água abaixo...”. Última Hora, 23/4/1958.
36
“Coisas de S. Paulo, coisas do Brasil”. Coluna de canto de página assinada pelo próprio Assis
Chateaubriand. Diário Carioca. Edição de Maio de 1958.
37
“A Sessão Solene do Jubileu de Prata da Primeira Marcha Integralista terá que, transferir-se para outra
localidade. Tudo isso porque seu diretor é um comunista. Por interferência do senhor Luis Carlos Prestes,
o auditório que já havia sido reservado para nossa comemoração, foi, de última hora, negado, com o claro
intuito de sabotagem..” A Marcha, 21 de julho de 1958, p. central. Grifo meu.

50
38
Com “o puxão de tapete comunista” – frase atribuída a Salgado-,
comprovou-se que a representatividade do líder integralista e do PRP perante a
sociedade civil continuava controvertida. O que ocorreu em São Paulo evidenciou-se em
larga escala por todo o país. O episódio do cancelamento no Salão da Associação
Paulista de Futebol ilustra o sentimento persecutório que Salgado nutria com relação
aos atos políticos que o cercavam na época. Talvez, o mais importante quanto a esse
sentimento persecutório era que, de maneira efetiva, a gama de insatisfeitos quanto a
sua permanência no cenário democrático nacional não se restringia aos comunistas.
As celebrações tiveram para o integralismo um saldo positivo, pois
recolocaram o movimento no cenário político nacional, a despeito de toda a
contrariedade manifesta pela grande imprensa. O ressurgimento da alegoria e
ritualística integralista, por meio de suas efemérides, reconduziu o movimento às
páginas dos principais jornais brasileiros. O integralismo não só voltou a ser notícia,
como passou a ocupar lugar de destaque nas discussões promovidas pela imprensa,
instituindo-se novamente como foco de importância da política nacional.

Fig.7. Em São Paulo, Plínio Salgado discursa no encerramento das comemorações dos 25 anos da Primeira
Marcha. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

Os festejos das bodas de prata, bem como as respostas às acusações dos


grandes jornais, forneceram o tema para uma campanha de valorização do integralismo.
No entanto, a celebração não se alimentou apenas das questões públicas (os festejos

38
Idem, p.6.

51
populares), mas também da materialidade expressa na vendagem de seus produtos. A
compra de sua ideologia por meio dos livros indicados pelo jornal oficial do partido
despertava no simpatizante a manutenção de sua lembrança e o sentimento de
pertencimento ao integralismo, o que estimulava a permanência cotidiana dessa cultura
material. Se a imprensa posicionou-se contrariamente ao reaparecimento da ritualística
integralista, a mídia impressa integralista, por sua vez, destinou um significativo espaço
para a propaganda de sua doutrinação e vendagem de seus produtos. Nesse sentido, foi
fundamental o papel desempenhado pelo jornal A Marcha - que permaneceu como
órgão oficial do partido até 1965, sob a direção de Plínio Salgado e, em significativo
período, a redação de Gumercindo Rocha Dórea.

1.5 - O jornal A Marcha como porta voz dos desígnios perrepistas

A leitura dos mais de 12 anos de cobertura do jornal A Marcha39 revela, por um


lado, a existência efetiva de grandes dificuldades de financiamento, e em decorrência
disto, o esforço na obtenção de recursos através de campanhas voltadas à militância
integralista. A Marcha, órgão oficial de imprensa do Partido de Representação Popular,
foi o mais significativo periódico do integralismo ao longo dos anos 1950 e meados de
1960, o porta-voz do PRP. Com uma circulação nacional, o semanário, a partir da
segunda metade dos anos 50 era mantido com a colaboração dos assinantes e dos pouco
mais de 60 anunciantes, dentre os quais se destacavam empresas de projeção
internacional, como empresas aéreas, de laticínios, empresas farmacêuticas, dentre
outras. De acordo com o historiador Gilberto Grassi Calil, uma das várias fontes de
recursos do jornal foi a publicidade paga, que junto com as assinaturas compunha o
grosso de sua receita. Uma análise dos anúncios revela que os integralistas recebiam
apoio de diversas empresas de grande porte, revelando apoio de setores do grande
capital, desmentindo a tese de Salgado de que a burguesia não anunciava em A Marcha
por “esforço heróico, pelo fato de a maior parte dos anunciantes temer dar ao órgão,
ostensivamente anticomunista, suas publicidades, alegando o perigo que corriam de
serem sabotados em suas fábricas ou estabelecimentos comerciais pelo grande número
de empregados adeptos do credo vermelho”.40

39
Folha semanal substituta do diário, Idade Nova (jornal oficioso do partido até 1951).
40
SALGADO, Plínio. O perigo comunista. A Marcha, Rio de Janeiro, 28/10/1955, p. 1,6,7,10 e 12.

52
Os principais anunciantes de A Marcha entre 1953 e 1957 abrangeram diversos
setores da economia brasileira. Tanto os anunciantes locais quanto os de projeção
nacional e mesmo multinacional tiveram espaço constante nas páginas do jornal A
Marcha. Setores como o editorial, financeiro/estatal, financeiro/privado, aviação,
industrial farmacêutico, industrial alimentício, comércio, imobiliário, setor automotivo,
hoteleiro, de construção civil e até mesmo, governamental, como no caso, de diversos
anúncios do governo estadual de São Paulo41 construíram a carteira de anunciantes do
jornal.42 Entretanto, o maior montante do dinheiro utilizado para a manutenção dos
quadros do jornal, bem como para manutenção do maquinário provinha das assinaturas,
que em março de 1958 foram contabilizadas em mais de 25 mil em todo o território
nacional.

O lançamento do jornal A Marcha, em fevereiro de 1953, é mais um elemento da


estratégia integralista dos anos 1950, visando retomar a iniciativa de expandir suas
bases e inserir-se no debate político nacional. Desde o fim da circulação do jornal Idade
Nova, em abril de 1951, o partido havia ficado desprovido de um jornal de circulação
nacional. Já em junho daquele ano estava em andamento o recolhimento de
contribuições para o lançamento de um novo jornal integralista (que viria ser A Marcha)
o qual se estendeu por todo o ano de 1952. Poucas semanas após seu lançamento, o
jornal colocou-se a questão da vinculação partidária: “A Marcha não é um jornal
partidário no sentido comum da expressão. É um jornal que tem uma linha política
definida, assentada na doutrina do cristianismo e do nacionalismo. O que queremos?
Formar uma mentalidade cristã, nacionalista; e de lutar pela afirmação cultural do
Brasil”. (DOREA, 1953:2) Ao longo da década de 1950, A Marcha se notabilizou por
exprimir a voz dos integralistas. Esta voz unívoca viu diminuir paulatinamente o quadro

41
Os governadores paulistas, Adhemar de Barros e Lucas Nogueira Garcez foram ambos apoiados pelo
PRP. Chama a atenção anúncios que divulgavam operações conjuntas entre órgãos públicos do governo
paulista, tais como a “Operação Fartura”, uma ação conjunta da Secretaria da Agricultura, do Banespa e
da Ceagesp. A semente que alimenta milhões. A Marcha, Rio de Janeiro, nov./dez.1954. p. 4.
42
Os vinte e cinco anunciantes mais constantes do semanário no período supracitado foram: Livraria
Clássica Brasileira, (320 anúncios), Banco do Estado de São Paulo (80 anúncios); Serviço Aéreo Cruzeiro
do Sul (46 anúncios), Elixir 914 (30 anúncios pequenos), Pílula do Abade Moss (256 anúncios), Banco
Hipotechario Gramacho (46 anúncios), Casa Valentim (84 anúncios), Banco Mauá (129 anúncios),
Sorvetes Kibon (247 anúncios) Sabonete Santelmo (45 anúncios) Pan Air do Brasil (54 anúncios), Editora
das Américas (38 anúncios), Móveis Drago (30 anúncios), Varig Serviços Aéreos (135 anúncios)
Volkswagen do Brasil (70 anúncios), Laboratório Leite de Rosas (68 anúncios), Imobiliária Inhangá (34
anúncios) Mecânica Paulista (45 anúncios) Hotel Suisso (32 anúncios) Casa Marconi (79 anúncios) Casa
Buri (34 anúncios) Edições GRD (68 anúncios), Photografia Arsenal (76 anunciantes), Loyd Brazilian
Ship (43 anúncios) e Hotel Pantanal (32 anúncios). Fonte: A Marcha, março de 1953 outubro de 1957.

53
de seus anunciantes. Então, tais problemas acrescidos de uma insuficiente receita e
também o enxugamento do quadro de assinantes, fez emergir, em 1957 o lançamento de
uma nova campanha de “Recuperação Financeira” do jornal, viabilizando o retorno dos
programas de Plínio Salgado no rádio, a publicação de materiais de propaganda e
apoiando as atividades da Confederação dos Centros Culturais da Juventude (CCCJ) e
da União Operária e Camponesa do Brasil (UOCB).
No ocaso de 12 anos de publicação intermitente, A Marcha encontrou seu mais
difícil desafio. No final de 1962, A Marcha anunciou “suspender algumas de nossas
edições no mês de janeiro”, pois visaria “reestruturar inteiramente os seus serviços, não
somente no que se refere à parte redacional, que será enriquecida, como também no que
se relaciona com o volumoso cadastro de nossos assinantes e das entidades às quais
enviamos gratuitamente o nosso jornal”.43 Ao contrário do que se anunciava, no entanto,
o jornal só voltou a circular quase dois anos depois, em outubro de 1964, e mesmo
assim, com periodicidade mensal, logo transformada em bimestral. Em outubro de
1964, A Marcha volta a circular, com uma nova diretoria, em cujo quadro havia a
presença de três militares.44 O jornal retoma sua circulação afirmando em editorial: “Eis
novamente circulando A Marcha, depois de um período em que recompôs os seus
serviços e trabalhou pela maior expansão nos Municípios Brasileiros. Não foi
propriamente uma interrupção, mas uma quadra de intensas atividades no sentido de
readaptar o nosso órgão a novas circunstâncias da vida econômica e social do País”.45
Após quase dois anos de interrupção, a opção por não tratar abertamente das
dificuldades financeiras pelas quais passou o jornal evidencia a clara intenção de
Salgado e da linha editorial de A Marcha de jamais demonstrar fraqueza ou perda de
influência.
Se por um lado havia as estratégias de manutenção e permanência do jornal no
universo editorial brasileiro (outra investida das celebrações integralistas – “manutenção
para doutrinação”), por outro, o jornal oscilava entre a sofisticação e a conservação de
técnicas que dessem ao hebdomadário uma identidade visual. A identidade de suas
reportagens, matérias e propagandas, ou seja, seu conteúdo passava pelo mesmo
43
Reestruturação dos serviços de A Marcha – Interrupção das nossas edições durante algumas semanas.
A Marcha, Rio de Janeiro, 20/12/1962, p. 1.
44
A diretoria era formada por: Presidente: Paulo Lomba Ferraz (banqueiro); Vice-Presidente: Gal. João
Muller Neiva; Diretor Tesoureiro: Gal. Carlindo Gonçalves Lopes; Diretor Superintendente: Cel. J. C.
Teixeira Coelho; Diretor Substituto: Silvio Skinner Lopes; Redatores: Luis Alexandre Compagnoni (autor
que publicou textos na Enciclopédia do Integralismo) e Aníbal Teixeira.
45
Itinerário. A Marcha, outubro de 1964, p. 1

54
processo. Nesse sentido, havia no jornal seções diferenciadas para abarcar todas as
faixas etárias. Concomitantemente às seções políticas e econômicas, geralmente
voltadas ao público masculino adulto, havia também o suplemento feminino, o caderno
adolescente e o infantil. O público dA Marcha era, principalmente, os correligionários
do PRP e simpatizantes do integralismo.
Em sua análise sobre o jornal A Marcha, Gilberto Calil nos mostra como nos
períodos que antecediam as eleições, a campanha eleitoral passava a ser tratada como
prioridade absoluta, ocupando-se a maior parte do jornal com a propaganda dos
candidatos do PRP, a defesa das coligações realizadas e os ataques a seus adversários,
geralmente acusados de comunistas ou cúmplices do comunismo. (CALIL, 2009, 461)
A Confederação dos Centros Culturais da Juventude (ver o próximo item) editava as
colunas “Movimento Águia Branca” e “Ergue-te Mocidade” – que chegou a ocupar
duas páginas semanais do jornal, com a divulgação das atividades dos diversos centros
culturais e dos congressos por eles realizados. O anticomunismo permaneceu presente
em todo o período de circulação do jornal, principalmente nas seções de notícias
internacionais (“Resenha Internacional”, “Terra dos homens”), através de denúncias
contra a União Soviética, China e os países do Leste Europeu; mas também nas
constantes denúncias de “infiltração comunista” nos demais partidos e nos governos.
Uma vez que o jornal era semanal, a rede de distribuição dA Marcha abrangia a
maioria das grandes cidades do país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. De acordo
com Gumercindo R. Dórea, redator chefe do jornal, até 1959 - “mesmo que demorasse
para chegar, com alguns dias de atraso, nosso leitores não ficavam sem o jornal...
estivesse ele na Bahia, ou no Maranhão, em São Paulo ou no Rio, onde o jornal era
pensado, diagramado e prensado”46.(DÓREA, 2007) Diretórios do PRP de todos os
estados enviavam mensagens confirmando o recebimento do jornal. Diversos
telegramas de diretórios do interior dos estados das regiões norte e nordeste, além da
região sul, foram enviados ao Diretório Nacional do PRP e à redação do semanário, o
que comprova a amplitude da rede de distribuição dA Marcha. Tais telegramas eram
freqüentemente publicados nas páginas do jornal47.

46
Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea. SP. 19/11/2007.
47
“Acusamos recebimento - Marcha nº 357,com atraso, mas em tempo sabermos a quantas anda nosso
partido. Saudações integralistas - Diretório de Ahaurum-Mirim- PB. 5 de julho 1956”. Telegrama do
Diretório Estadual do PRP da PB. Acervo Plínio Salgado. Correspondência passiva.

55
Para aprimorar o debate sobre a interlocução que o PRP possuía em finais dos
anos 1950, focalizemos, a seguir a junção que se deu entre a campanha de anúncios
publicada no jornal e as propagandas ideológicas de caráter proselitista mantidas pela
Confederação dos Centros Culturais da Juventude, o corpo não partidário mais próximo
do partido em toda década. Esta relação alude para o fato de que o PRP não estava
sozinho na busca por uma maior visibilidade do integralismo.

56
Fig.8. Capas do jornal A Marcha no período de julho de 1957 a abril de 1958.

57
Fig. 9. Capa d‟A Marcha, 15/5/1958. Justaposição do logotipo da Manchete à fotografia de Salgado:
repúdio com relação à matéria publicada pela Manchete e um aguçado senso de oportunidade. O jornal A Marcha
sempre lançou mão deste expediente para influenciar a militância.

58
1.6 - A Confederação dos Centros Culturais da Juventude - transcendendo os
limites da ação partidária

Para além das celebrações dos 25 anos e das efemérides noticiadas pelo jornal A
Marcha, os integralistas dos anos 1950 possuíam outras articulações que reforçavam a
sua ação militante. Nesse sentido, mais que um grupo de aprendizes, cuja figura de
Salgado sempre fora o espelho, os Centros Culturais da Juventude se notabilizaram pela
ortodoxia com que seguiam os preceitos da doutrina integralista. É Gilberto Calil quem
nos mostra que: “(...) a esse respeito, em princípios 1953, Salgado enumerava suas
“realizações” de 1952, como parte integrante de um plano articulado e global que visava
a fundação da Confederação dos Centros Culturais da Juventude e o planejamento para
lançar A Marcha, dentre outros pontos, que de acordo com Salgado seriam
fundamentais para a reconsolidação do integralismo.” 48 Então, a constituição da vasta
estrutura necessária para a ampliação das perspectivas do integralismo se deu
fundamentalmente entre 1952 e 1953 quando foram criados o jornal A Marcha e a
Confederação dos Centros Culturais da Juventude, embora tenha se completado apenas
em 1957, com a criação da União Operária e Camponesa do Brasil49 e a publicação da
Enciclopédia do Integralismo.
Os Centros Culturais da Juventude, criados publicamente a partir de 1952,
constituíram a mais vasta organização extra partidária criada pelo integralismo entre
1945 e 1965. Os centros aglutinavam-se através da Confederação dos Centros Culturais
da Juventude e desenvolviam atividades como a promoção de comemorações cívicas e
de palestras sobre assuntos doutrinários e políticos, a organização de grupos esportivos,
o desenvolvimento de cursos de “comunologia”50, o lançamento de manifestos públicos,
a edição de boletins, jornais e revistas, a promoção de peregrinações a lugares históricos
e a realização de concentrações e congressos, além da disputa de entidades estudantis. A
promoção de palestras e reuniões de estudos ocupava lugar central em suas atividades,
contando inclusive com a participação de não-integralistas (como, por exemplo, o Gal.

48
Correspondência de Plínio Salgado a Olwaldo Sá, 17/2/1953 (APHRC-Pprp 17/02/1953). Apud,
CALIL, 2009, 458.
49
A UOCB constitui mais um dos vários braços extra partidários ligados ao integralismo perrepista. No
entanto, nesta pesquisa não nos aprofundaremos na sua formação ou atuação.
50
Destaca-se o “Curso de Teoria e Prática de Antimarxismo”, ministrado por Hélio Rocha, no Centro de
Estudos Políticos, Econômicos e Sociais, do Rio de Janeiro. O curso se deu em cinco encontros, com o
seguinte programa: A mais valia; Materialismo jurídico; O marxismo depois de Marx; As quatro
internacionais; Prova Final. Calendário do CEPES. A Marcha, Rio de Janeiro, 8/10/1954, p. 4.

59
Eurico Gaspar Dutra), e até mesmo de ex-integralistas que abandonaram o movimento
(dentre os quais Miguel Reale, Guerreiro Ramos e Roland Corbisier).

Fig. 10. Matéria de Capa da Revista O Cruzeiro: “Plínio Patético: 20 e poucos anos de ilusão. As águias e o
sigma”. O Cruzeiro, 10 de abril de 1954. Uma versão reduzida da matéria seria reeditada na revista em 1958.

Fig.11. Da esquerda para a direita: Plínio Salgado (terceiro) e Gumercindo Rocha Dórea (quarto), na abertura da
sessão solene de efetivação dos Águias Brancas. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro- SP. Acervo Plínio
Salgado.

Um relato das atividades do Centro Cultural da Juventude Tavares Bastos, de


Maceió- AL, publicado em A Marcha, é ilustrativo do funcionamento regular
pretendido para os centros: o centro promovia reuniões semanais regulares, com cinco
pontos de pauta: súmula da reunião anterior; noticiário nacional dos CCJs; comentário

60
bibliográfico51; artigo do dia; e debate (político, econômico ou doutrinário). Para o
desenvolvimento de cada tema haveria um responsável indicado (dois no caso do
debate).52 A estruturação do movimento teve início em janeiro de 1953. Desde o
lançamento da primeira edição do jornal A Marcha, em 20 de fevereiro de 1953, o
movimento passou a contar com uma seção fixa naquele jornal, denominada “Ergue-te
mocidade”, ocupando, na maioria das edições, uma página inteira. No mês seguinte foi
lançado o “Manifesto à Mocidade Brasileira”, enunciando treze princípios, dentre os
quais a defesa do espiritualismo, da família, do nacionalismo e da “democracia
orgânica”, e tendo como signatários 19 centros culturais já então em funcionamento.53
Os Estatutos definiam ainda as bases doutrinárias do movimento, em termos
praticamente idênticos aos da Carta de Princípios do PRP, e claramente expressivas da
doutrina integralista. Tudo isso procurava dar à Juventude um sentido de vida
nacionalista e cristã, para enfrentar a crise e conseqüentemente construir um futuro
nacional condizente com nossas realidades.54 A Diretoria da CCCJ era composta por
cinco membros, e, para estabelecer de forma ainda mais clara o vínculo com o
integralismo, foi criada a figura do “Presidente de Honra”, que segundo os estatutos,
“será perpétuo e aclamado no 1º Congresso de Centros Culturais da Juventude”.55
Como já era esperado, o Presidente de Honra escolhido foi Plínio Salgado. Em 1957,
uma reforma nos estatutos criou federações regionais e instituiu uma forma de eleição
indireta para a diretoria nacional, claramente inspirada no corporativismo, que voltava a
ser defendido abertamente pelo integralismo naquele ano. Foram criadas, então, seis
federações regionais: Amazônia, Nordeste, São Francisco, Minas Gerais, Centro Oeste e
Sul.56

51
A Enciclopédia do Integralismo tornou-se bibliografia obrigatória nas leituras e discussões dentro dos
CCCJ. Como lembraria GRD: “A EI era a mola mestra para todas as nossas discussões entre 1957 e
1959”. Depoimento de Gumercindo R. Dórea, 23/11/2008.
52
Centro Cultural da Juventude Tavares Bastos – Maceió. A Marcha, Rio de Janeiro, 23/7/1954, p. 10.
Apud. CALIL, Op. Cit. 98.
53
Manifesto à Mocidade Brasileira, A Marcha, Rio de Janeiro, 27.2.53, p. 5 (CDAIBPRP). Apud,
CALIL, 99.
54
Sentido do II Congresso Nacional de Centros Culturais da Juventude. A Marcha, Rio de Janeiro,
21/1/1955, p. 5.
55
Idem, ibidem, p. 9.
56
Congresso de Líderes Águias Brancas, A Marcha, Rio de Janeiro, 5/7/1957, p. 5.

61
Fig.12. Leovegildo Pereira Ramos e Gumercindo Rocha Dórea: os precursores dos Águias Brancas. O
Cruzeiro, maio de 1954. Reportagem reeditada em 1958.

No ano seguinte, foi formada a “Câmara dos Líderes Águia Brancas”, composta
por 30 membros, oriundos de 11 estados.57 Ainda em termos organizativos, a CCCJ
passou a contar, em 1959, com cinco secretarias nacionais a Secretaria de Doutrina e
Estudos (responsável pela publicação da Revista Águia Branca), a Secretaria de
Assistência (responsável pela arrecadação financeira), a Secretaria de Cultura Artística,
a Secretaria de Cultura Cívica e Física, e a Secretaria de Propaganda.58
No lançamento da revista Águia Branca59 órgão oficial da CCCJ, as finalidades
da Confederação eram apresentadas em consonância a uma concentração preparatória
ao II Congresso Nacional da CCCJ, realizada em 1954, que teria tido mais de 600
delegados, representando 107 centros culturais, e reunido mais de 1.500 pessoas em sua
sessão de encerramento.60 Os centros culturais eram nomeados homenageando
indivíduos tidos pelos integralistas como “heróis pátrios”, alguns deles reivindicados
por vários centros culturais. De acordo com Salgado, “cada uma dessas associações

57
Ergue-se a Juventude Integralista na plenitude do seu destino histórico. A Marcha, Rio de Janeiro,
13.2.1958, p. 5.
58
Para atingir o Estado Integral, estrutura-se organicamente o Movimento dos Águias Brancas. A
Marcha, Rio de Janeiro, 14/8/1959, p. 4.
59
Os jovens integralistas militantes dos centros culturais passaram a se designar como “Águias Brancas”,
como contraposição à designação jocosa de “galinhas verdes” pela qual eram chamados por seus
adversários. A revista foi lançada em janeiro de 1956, e tinha 64 páginas e periodicidade trimestral,
reunindo artigos doutrinários de líderes da juventude integralista, de Plínio Salgado e outros integralistas.
60
Impressionante manifestação da juventude nacionalista de São Paulo. A Marcha, Rio de Janeiro,
19/3/1954, p. 1 e 11.

62
escolhe um patrono entre os grandes mortos que continuam a ser os grandes vivos a
animar os jovens que assumirão as responsabilidades do governo da Nação”.61
Existem poucas informações sobre o número de centros existentes, e os números
publicados em A Marcha devem ser tomados com precaução, pois o jornal muitas vezes
exagerava para ressaltar a expansão do movimento. No entanto, pesquisando nas
matérias publicadas relativas à CCCJ entre 1953 e 1965 em A Marcha, além de outros
documentos, encontramos referências relativas a 320 centros.62 Em decorrência das
disputas internas sobre a liderança dos Centros em 1956, uma série de artigos
publicados por Gumercindo Rocha Dórea, então presidente da entidade, defendia uma
estratégia agressiva para recuperar as bandeiras integralistas, que estariam sendo
apropriadas pelos seus adversários, mas nestes artigos não se sobressai senão a
supervalorização do presidente dos CCCJ no sentido de superdimensionar os números e
a penetração dos centros.
Núcleos de doutrina, pesquisa e divulgação do integralismo, os Centros foram os
mais representativos espaços de ação proselitista do integralismo dos anos 1950, lugar
em que os jovens militantes integralistas aprendiam seu discurso e sua ação.
Concomitantemente, a institucionalização dos Centros de Leitura Doutrinal, (cursos
obrigatórios aos Águias Brancas) alocados nos Centros possibilitou que os volumes da
Enciclopédia do Integralismo fossem conhecidos e estudados a fundo. Doutrina, locais
de doutrinação e doutrinadores: o tripé estava montado.
Base operacional e doutrinal do integralismo (e a partir de 1957, difusora dos
escritos do compêndio) a Confederação dos Centros Culturais da Juventude se
transformou na “fábrica de disseminação” do conteúdo da Enciclopédia. Buscaremos, a
seguir, entender como se deu a criação e publicação deste último instrumento de
efeméride do jubileu de prata integralista, alvo da fidelidade dos jovens dos Centros
Culturais da Juventude nos quatro anos de sua circulação.

61
SALGADO, Plínio. O Brasil existe. A Marcha, Rio de Janeiro, 2/10/1953, p. 3. Os patronos mais
reivindicados, dentre os centros que localizamos, foram Rui Barbosa (10 centros), Oliveira Viana (7), Pe.
José de Anchieta (7), Euclides da Cunha (5), Barão do Rio Branco (5), Alberto Torres (4), Farias Brito
(4), Jackson de Figueiredo (4), Machado de Assis (4), Paulo Setúbal (4), Tiradentes (4), Fagundes Varela
(3), Joaquim Nabuco (3), José de Alencar (3), Leonel Franca (3), Olavo Bilac (3), Pandiá Calógeras (3).
62
Gumercindo Rocha Dórea (sic) atesta terem existido mais de 500 centros espalhados por todo o país.
Apud, CALIL, 2009: 462.

63
CAP. II
A ∑nciclopédia do
Integralismo como um lugar
de memória: temas
candentes, idéias recorrentes

64
CAP. II - A ∑nciclopédia do Integralismo como um lugar de
memória: temas candentes, idéias recorrentes

Este capítulo abordará a construção do projeto editorial da Enciclopédia do


Integralismo, entendendo-o como uma sofisticada estratégia de rememoração dos feitos
integralistas. Para tanto, o compêndio será estudado como um lugar de memórias
integralistas, justamente por ter buscado reavivar as auto-memórias do movimento,
recriando, rememorando, re-significando chagas que se mostravam doloridas para seus
membros, fator que desencadeou uma reconfiguração no imaginário de seus integrantes.
Tendo coincidido com o período de maior visibilidade do movimento desde sua
“recriação”, a publicação da Enciclopédia do Integralismo busca validar a premissa de
que o integralismo permanecia vivo.

A memória serve de pólvora e de balsamo (...)


Então, como os provocadores, os demagogos (...)
os convictos utilizam a memória e os ressentimentos para
suscitar fusões emocionais e assegurar-se desta forma,
o apoio dos cidadãos?
Merleau Ponty

onge dos “presentismos” que, vez por outra, seduzem os historiadores

L obrigando-os a recriar historicidades modismos – como lembra E.


Hobsbawn – a discussão sobre a relevância e o papel da memória nos
dias atuais sinaliza a escolha, por parte considerável da historiografia, de
eleger como foco de suas preocupações os chamados lugares da memória que nascem e
vivem do sentimento que não há memória espontânea, e que por isso torna-se urgente
criar arquivos, manter aniversários, organizar celebrações, justamente porque estas
operações mnemônicas não são naturais. É, neste sentido, a defesa de uma memória
refugiada sobre focos privilegiados. Pois, como afirma Pierre Nora, “sem vigilância
comemorativa, a história depressa os varreria”. São eles, os lugares da memória,
portanto, bastiões sobre os quais se escora toda a escolha do lembrar. (NORA – 1995:
p.13)

65
Nora sinaliza também a problemática dos lugares da memória e da história
sugerindo uma dialética que, longe de apontar ambas as categorias como sinônimas as
coloca como antípodas. A história seria, portanto: “(...) a representação sempre
problemática e incompleta do que não existe mais, uma representação do passado, ao
passo que a memória, um elo atual, um elo vivido no eterno presente” (NORA, 1995: p.
9).
No caso específico do movimento integralista brasileiro do período pós-guerra, a
relação existente entre os que memorializavam as façanhas do integralismo e os que
vivenciavam esta memória criada (intelectuais do movimento e militantes), sempre
como baluarte a ser reverenciado; pode ser interpretada como um exemplo pontual de
gestão de passados. Portanto, tais memórias integralistas são aqui interpretadas como
ato e sentido, pois, estes integralistas da segunda metade do século XX utilizarão suas
relações sociais, suas redes de sociabilidade para buscar uma solidez calcada na
cristalização de sua memória.
A constante evolução desta memória incentivou a ação da anamnese (ato
proposital de rememorar/evocar memórias) por parte dos integralistas do pós-guerra,
instrumento de recondução de seus preceitos e suas propostas mais significativas. As
transformações sociais, culturais e simbólicas dos anos 1940/50/60 exigiam que os
indivíduos, as famílias, as novas classes, procurassem não no passado, mas no presente
a sua legitimação. E, se por um lado, as comemorações parecem ser um culto nostálgico
e regressivo, por outro, o passado é oferecido como arquétipo ao presente e ao futuro,
pelo que, embora o rito insinue uma concepção repetitiva e cíclica, o seu significado
último é determinado pela crença na irreversibilidade do tempo.
Os integralistas, contrariando a ordem natural vigente na época e remando a
jusante da corrente, insistiram na preservação do passado como legitimador de suas
ações. Buscaram em seus antecedentes guarida para suas realizações. Estes integralistas
lançaram mão de estratégias de cooptação que incluíam dentre vários eventos, ritos
coletivos de recordação que se consubstanciavam em cerimônias cada vez mais afetivas.
Buscando respostas otimistas às suas questões mais perturbadoras, os integralistas
tentaram, então, replicar uma questão central: qual seria o destino do integralismo, ou
melhor, a vocação do integralismo como destino? O imaginário e as representações
destas respostas encontraram nos estertores da década de 1950 palco privilegiado para
serem postos em prática.

66
A culminância deste processo se deu na publicação dos 12 volumes que
contaram a história do integralismo. Tal projeto editorial buscou reavivar as auto-
memórias do movimento, recriando, rememorando, ressignificando chagas que se
mostravam doloridas para seus membros, há muito tempo. Uma construção que ecoava,
ora como uma crônica de um futuro anunciado, ora como um repente de um passado
que não queria passar. A Enciclopédia do Integralismo aparece, então, como apanágio
de um grupo com relativa expressão, mas grande pretensão política, servindo de
exemplo paradigmático e catalisador deste imaginário integralista que, funcionou como
fonte e referência para aqueles que ainda viam no movimento algo de inspirador. O fato
de pouco mais de 50 mil exemplares deste compêndio ter chegado aos seus leitores
(sobretudo, via mala direta) nos três anos de sua publicação atesta a relativa força
simbólica deste imaginário que insistia em se desenhar.
Os integralistas operaram neste sentido, selecionando memórias que entendiam
como relevantes para a perpetuação de seus discursos. Não é despropositado o fato de
eles terem buscado perenizar tais memórias a partir de sua rede oficial de comunicações
e de sociabilidade, sobretudo seus jornais proselitistas, que a despeito da pequena
penetração cumpria fielmente um papel memorialístico. Os guardiões da memória
integralista, nesse sentido, exemplificariam a dialética entre a lembrança/esquecimento,
presente na história do movimento. Isto porque construíram narrativas, selecionando e
enquadrando o que devia segundo sua ótica, ser lembrado e esquecido, atuando
permanentemente com a memória.
A Enciclopédia do Integralismo, fiel à balança pliniana sugeria para seus
leitores, tal como os jornais, a manutenção e a valorização de seu passado/presente
também funcionando como plataforma a partir de onde se buscava reviver o ocorrido,
lembranças amplificadas pela certeza de que não eram mais os mesmos. E, a despeito da
máxima integralista: “Não estamos no poder, mas, o alimentamos!” resistir à oxidação
de seu tempo, suas memórias tiveram que conviver com o anacronismo e o arcaísmo,
uma vez que o integralismo revivido nos escritos da Enciclopédia buscou cumprir o
papel de vitrine dessas memórias criadas. Teria, de fato, conseguido?
Em oposição ao passado que insistia em não passar63 criaram-se novas
perspectivas, abordagens e maneiras de se mostrar o movimento. Então, tendo realizado

63
“O passado que não queria passar”, tornou-se o mote das campanhas anti-integralistas, resposta à
tentativa de sua revitalização. O integralismo, por sua vez, buscando a todo o custo desvincular-se deste
passado estacionado, se fortalece na campanha do “presentismo democrático”, denunciado por muitos

67
um exercício de memória o integralismo discutido na enciclopédia instituiu mecanismos
para ser reavaliado pela sociedade, utilizando estratégias que redimensionaram a
percepção da sociedade civil frente seus propósitos. A pecha de provocadores de
ressentimentos e a certeza inabalável de que não possuíam mais espaço de destaque
foram decisivos para que o compêndio fosse encarado, simultaneamente como tábua de
salvação do discurso integralista e uma proposta de sobrevivência política. Esta foi a
maneira adotada pelo integralismo/perrepista para expandir e perenizar suas memórias.
Então, no momento em que os membros do movimento eram acusados de não
possuírem propostas adequadas nem para o presente nem para o futuro, a publicação da
Enciclopédia do Integralismo consubstanciou-se num suporte para a divulgação das
suas atividades, uma proposta ordenada da leitura de mundo dos integralistas.
A seleção dos aspectos entendidos como relevantes foi definida segundo o
critério da importância e penetração junto à militância integralista, o que, certamente
conferiu a esta seleção um caráter plural. Logo, houve a necessidade de mapear os
elementos que melhor permearam a cosmologia integralista. Esta é apenas uma das
possibilidades de se apreender tamanha diversidade de temas e escritos, e nesse sentido,
ao se descolarem do terreno da mera compilação, tais escritos aparecem como pistas
para que possa ser respondida uma dupla indagação: o que permaneceu do integralismo
nesse momento de democracia e qual a relação existente entre os possíveis
integralismos presentes neste compêndio? Partiu-se da premissa de que o integralismo
apresentado na Enciclopédia deixou, em grande parte de seus escritos, aflorar elementos
de tensão, ou seja, pontos de discordância inicialmente dados como aquiescentes,
definitivos, de sua ideologia. A tensão se estabeleceu em diversos pontos do compêndio,
não só com relação a elementos da doutrina, mas também referente à postura do
correligionário diante da figura onipotente e onipresente do chefe integralista. Em
diversas passagens a tensão é flagrante. Em outras, subjacente. No entanto, está presente
em parte significativa do compêndio. Este ponto se mostrou significativo, pois
evidenciou que as formulações integralistas foram mais heterogêneas do que se pôde
estudar até o momento.

como “pusilânime e falacioso”. Os integralistas, talvez tenham sido os únicos a acreditarem que foram
produtores desta realidade, não produto dela. E como toda a relação de imposição migraram de uma
condição de produtores para predadores, instantaneamente.” Samuel Wainer, Última Hora, 18/11/1958.

68
2.1 – O contexto da publicação da Enciclopédia do Integralismo

(...) como vimos, em fim dos anos 50, Salgado, no primeiro volume da Enciclopédia do
Integralismo chega à exorbitante pretensão de garantir que, ao longo de décadas, as propostas
contidas em suas premissas básicas são as norteadoras de todas, ou quase todas as medidas
políticas que os governos brasileiros vão realizando (...) blágue ou constatação?
(J. Chasin – O integralismo de P. Salgado, p.141, 1999, 2ª edição)

“Aquele suspiro integralista foi como festejar o passado, em tempos em que este
passado não servia mais”.64 A citação do jornalista Samuel Wainer é bastante
significativa e aponta para o paradoxo que ensejou a publicação da Enciclopédia do
Integralismo65, compêndio editado durante o período de outubro de 1957 a março de
1961, que vai suscitar, dentre os intelectuais e políticos da época um debate acalorado
sobre a dicotomia: passado/presente.
Parafraseando a socióloga Lúcia Lippi Oliveira: “os anos cinqüenta podem ser
vistos como uma partida de futebol, com dois tempos” (OLIVEIRA, 2002: 33). O
estudo da criação e publicação da Enciclopédia do Integralismo tem como cenário o
segundo tempo desta partida, ou seja, de um lado, os anos do governo JK, finais de uma
década que prenunciava a chegada de um futuro aguardado, e de outro os tumultuados
princípios do governo Jânio Quadros/João Goulart, período em que os radicalismos se
acentuaram. Esta discussão trata justamente do choque causado pelo encontro de dois
modelos diametralmente opostos: o novo e o passadista, representados aqui,
respectivamente, pelo contexto modernizador do período e a tentativa dos integralistas
de emplacar um passado, entendido por eles como vigoroso.
Podemos dizer que a segunda metade da década foi marcada pela idéia da
incorporação do que era novo e moderno: o desenvolvimento, as estradas, as

64
WAINER, Samuel. Editorial: O descalabro do retorno integralista! Última Hora, 30/09/1958, p.7.
65
A criação da Enciclopédia do Integralismo foi destacada por dois trabalhos acadêmicos que apontaram
o projeto como significativo para a reconstrução do imaginário social integralista no pós-guerra. A
pesquisadora Rosa Maria F. Cavalari afirmou que: “embora esses trabalhos da EI tenham sido cunhados
esparsamente, sem a preocupação de realizar uma sistemática educacional, foram produzidos obedecendo
à mesma orientação filosófica: o da educação integral, da doutrinação para o homem integral”.
CAVALARI, Maria Op. Cit., p.52. Outro pesquisador que se referiu ao compêndio, embora de forma
menos vertical foi Thomas Skidmore. O historiador considerou “a Enciclopédia do Integralismo um dos
documentos bastante úteis para se aprofundar os estudos do movimento integralista no pós-guerra,
procurando precisá-la com certo cuidado, atribuindo ao projeto as múltiplas interpretações que este
suscita”. SKIDMORE, Thomas. Op. Cit. Em nota n.º 36, capítulo I. Nota que aparece após a 8ª
reimpressão, quando ocorreu uma revisão do autor.

69
hidroelétricas, a arquitetura moderna, a música, as novas práticas e propostas editoriais.
Estávamos de fato, em um tempo cultural acelerado e marcado pelo espírito do “novo” e
pela vontade da mudança. Tudo era novo: Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova
Capital do Brasil), cinema novo, bossa nova. Caracterizado pela busca por este “novo”,
pela expansão da oferta dos bens de consumo e pelo incremento de novas perspectivas
no setor econômico, o período no qual a Enciclopédia do Integralismo foi criada
assistiu ao deslocamento da agricultura para a indústria, o que possibilitou "o
crescimento da renda per capita, a expansão da publicidade e os investimentos
industriais públicos e privados criando novas oportunidades para o mercado de
comunicação". (BAHIA, 1990: 259).
Entre 1956 e 1961, o país viveu momentos decisivos com a instalação de
setores tecnológicos mais avançados e com investimentos de grande porte. As
reformas, bancária, industrial, fiscal, monetária, universitária, dentre outras, ditaram a
linguagem do período JK e foram essenciais para o sucesso de Plano de Metas, que
“objetivava implementar no Brasil os setores industriais mais avançados, como a
indústria elétrica pesada, química, automobilística, naval, e levar adiante indústrias
estratégicas como a do aço, petróleo e energia elétrica”(MELO e NOVAIS, 1998: 599).
Tais mudanças favoreceram a expansão da economia nacional, o que pôde ser
verificado nos mais variados setores da indústria e comércio, inclusive na indústria
editorial brasileira.
A situação da indústria editorial brasileira conheceu novas bases de sustentação
a partir de 1956, quando passou a existir um maior interesse do governo pelo setor,
manifesto na diminuição dos tributos sobre o papel, na simplificação das tarifas
alfandegárias e no surgimento de uma política de financiamento. Os incrementos na
área inseriram-se, portanto, no bojo das transformações econômicas conhecidas pelo
país.66 Vários são os indicadores que demonstram a sua expansão: o mercado de
publicações ampliou-se, aumentando o número de jornais, revistas e livros, bem como
suas tiragens. Entretanto, a distribuição continuava sendo realizada em moldes
tradicionais. Poucos eram os pontos de vendas, o que dificultava a comercialização.

66
No governo JK, a expressão nacional desenvolvimentismo, ao invés de nacionalismo, sintetiza uma
política econômica que tratava de combinar o Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro,
para promover o desenvolvimento, com ênfase na indústria. Nesse sentido, os resultados do Programa de
Metas foram impressionantes. De 1957 a 1961o PIB cresceu a uma taxa anual de 7%, correspondendo a
uma taxa per capita de quase 4%, o que significava um crescimento três vezes maior que os país da
America Latina. Nesse mesmo período a frota de automóveis cresceu 360%, e de acordo com as
estatísticas do IBGE, o crescimento econômico do país chegou de 1957 a 1961, a quase 8,3% por ano.

70
Tal quadro possibilitou o surgimento de canais alternativos de circulação, como
bancas de jornal, reembolso postal e malas diretas (ANDRADE, 1978), que passaram a
67
constituir um novo circuito de distribuição editorial. Segundo Renato Ortiz, “a
implantação de uma indústria cultural modificou o padrão de relacionamento com a
cultura, uma vez que definitivamente passa a ser concebida como um investimento
comercial” (ORTIZ, 1998: 43).

A concorrência entre as grandes empresas editoriais, que cresciam


aceleradamente, foi a base da constituição da indústria cultural. Exposta ao seu impacto,
a sociedade brasileira passou diretamente de iletrada e deseducada a massificada, sem
percorrer a etapa intermediária da absorção da cultura moderna. Nesse processo de
urbanização e modernização aceleradas, a informação passou a ser um bem essencial
para a consolidação de uma sociedade disposta a soterrar as tradições rurais, até então
muito presentes na vida cotidiana. Entretanto, o consumo desses bens culturais – cultura
impressa por meio dos livros, jornais, suplementos literários, a massificação da indústria
fonográfica, o paulatino crescimento da televisão etc. – destinava-se a uma pequena
parcela da população brasileira. A despeito do analfabetismo, um obstáculo a ser
vencido, o setor editorial beneficiou-se com o crescimento do mercado consumidor, o
que pôde ser comprovado por meio do aumento dos produtos oferecidos nas bancas de
jornal.

Outra característica importante é que, até os anos 1960, quando a indústria de


comunicação de massa era ainda incipiente, ela podia ser considerada partidária.
Embora os jornais não fossem sustentados por nenhuma facção política, refletiam os
interesses ideológicos dos partidos, faziam parte de uma imprensa que tinham uma
concepção missionária de sua atividade. Basta lembrar que O Estado de S. Paulo e O
Globo eram jornais que defendiam as idéias e posições liberais da UDN, enquanto a
Última Hora era partidária e defensora do PTB. Nos anos 1950-60 foram introduzidas
importantes modificações na imprensa brasileira: a linguagem foi se tornando mais
objetiva e a notícia começou a ocupar maior espaço que a opinião. Foram incorporadas
inovações gráficas, nova diagramação e modificação na paginação dos jornais. Durante
o governo Jânio Quadros teve inicio a uma crise da imprensa escrita, ligada à Instrução

67
Quadro de canais de distribuição do mercado editorial brasileiro em finais de 1950: Distribuidoras
=47,13%; Domicílio/ porta em porta = 3,79%; Clubes de livro =5,17%; reembolso postal =12,32%;
bancas de jornal 19,12%; demais 12,47%. Última Hora, p.6. 23/05/1959.

71
n° 204 da Sumoc, medida tomada pela Superintendia da Moeda e do credito em 13 de
março de 196168, que implicou importante modificação no regime cambial. A
importação do papel era subsidiada pelo governo, pois havia uma taxa especial que
reduzia em 70% o preço de compra dessa matéria prima. Com o fim do câmbio
favorecido para a imprensa, os jornais tiveram que arcar com o aumento de custos.

Essas mudanças na imprensa se davam em um contexto político de grande


exaltação contra o comunismo, e no período em que se editou a Enciclopédia do
Integralismo uma série de acontecimentos influenciou direta e indiretamente a seleção e
seqüência de sua publicação. Em março de 1957, portanto sete meses antes do
compêndio ser publicado foram assinados os tratados internacionais que criaram a
Comunidade Econômica Européia (CEE) e a Comunidade Européia da Energia
Atômica, dois pontos suscitados como definidores de uma política global levada a cabo
em finais dos anos cinqüenta. No mesmo ano, foi lançado o primeiro satélite artificial a
orbitar a atmosfera terrestre, o soviético Sputnik. Esses eventos serviram de pano de
fundo para uma condução mais direta do integralismo com relação à sua posição no
cenário ideológico. Anticomunista visceral, o integralismo aproveitou-se da conjuntura
para fortalecer sua contraposição ao comunismo, chegando a duvidar publicamente do
lançamento do satélite soviético, por diversas vezes em seu jornal, A Marcha.

Um ano depois, em abril de 1958 (momento em que se publica o terceiro volume


do compêndio) acontecimentos diplomáticos causam furor na política nacional. O
embaixador do Brasil nos EUA, Ernani Amaral Peixoto foi chamado a Washington para
dar esclarecimentos sobre a crescente tendência do Brasil de reatar as relações o
comerciais com a URSS e para lá escoar o excedente de café. Esse acontecimento teve
influencia direta na organização do sumário de publicação da Enciclopédia, pois
incentivou a discussão travada no compêndio sobre a necessidade de se questionar o
comunismo e a aproximação político-comercial do Brasil junto à URSS. Por outro lado,
os resultados dos pleitos de outubro 1958 não alteraram a composição das forças que
compunham o cenário político nacional, que pela ordem mantinha como maiores
partidos o PSD, a UDN e o PTB, respectivamente. Esta conformação suscitou um
debate sobre o espaço e o papel dos partidos de menor porte, não só dentro da própria
Enciclopédia, mas, sobretudo dentro dos jornais integralistas.

68
Data exata da publicação do último volume da Enciclopédia do Integralismo.

72
Em fevereiro de 1959, o presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower
visita o Brasil, procedendo a uma política de fortalecimento da política na America
Latina, em face da Revolução Cubana de 1/1/59. Em maio, o então primeiro ministro
cubano, Fidel Castro, que acabara de se sagrar vitorioso em seu país, visitou o Brasil,
inspecionando as obras de Brasília. Estes dois eventos possivelmente repercutiram na
escolha dos temas a serem propostos nos anos de 1959 e 1960.
Em mesma medida, o ano do falecimento de Gustavo Barroso (1959) foi
utilizado no sentido de ressaltar a proeminência do ex-integralista. No entanto, é
sintomático que o mesmo tenha sido anunciado como membro do projeto, mas não
tenham sido selecionados textos de sua autoria. Gustavo Barroso seria, naquele
momento, resgatado pelos intelectuais vinculados a Academia Brasileira de Letras como
exemplo de um novo tipo de historiador, capaz de unir as duas histórias (história e
folclore). “O passado já não é mais fardo, mas força que esclarece sobre o presente”.
Este foi o mote que fez o folclore aparecer como área que permitiu o contato entre a
cultura popular e a erudita, o que alguns antropólogos chamariam de “brasilianidade”.69
O integralismo exposto na Enciclopédia não soube aproveitar o ensejo, contradizendo-
se no dilema que oscilava entre apresentar um integralista de caráter anti-semita, ou
esquecê-lo. Venceu a segunda opção e o máximo que se conseguiu perceber quanto à
presença de Barroso nos volumes foram as duas chamadas nos quadros sinóticos de
1957, onde o autor apareceu como um dos integralistas homenageados.
A inauguração da nova capital federal, ao contrário do que se esperava sequer
foi mencionada, lembrada ou comentada nos dois volumes publicados nos anos de 1960
(maio e dezembro). O presidente Jânio Quadros assume seu governo em janeiro de
1961. Em 25 de agosto renuncia. João Goulart assume com grandes dificuldades. Sua
eleição para vice, em 1955 e depois sua reelição em 1960 haviam sido apoiadas pelos
comunistas. Quando de sua posse para a presidência, após a renúncia inesperada de
Quadros, os ministros militares de JQ declaram-se contrários à posse de Jango, criando
um ambiente de pré-guerra civil. João Goulart era um dos principais responsáveis pela
transformação do partido getulista, em aliado do PCB, a despeito de alinhavar aliança
com o PRP do Rio Grande do Sul em dois momentos anteriores: 1952 e 1958. De
acordo com Gilberto Calil, João Goulart era reiteradamente elogiado por Plínio Salgado
nos anos 1950 até pelo menos até 1962. Não restam dúvidas de que esta simpatia

69
BOAS, Glaucia Villas. Visões do passado: comentário sobre as ciências sociais no Brasil de 1945 a
1964. IX Encontro anual da ANPOCS, 1987.

73
favoreceu o apoio do PRP ao governo Jango, que apoiou fortemente o início de sua
gestão. A conjuntura de suas primeiras ações como presidente foi marcada pela
proliferação de entidades anticomunistas, em decorrência do medo que assolava as
direitas. Nos anos anteriores ao golpe de 1964 surgiram dezenas de entidades dessa
natureza. Experiências ora duradouras, ora efêmeras.
O acompanhamento das primeiras discussões (1961 e 1962) sobre a fundação da
Sociedade de defesa da Tradição, Família e Propriedade foi revelada de maneira
superficial no 10º volume da Enciclopédia: tratava-se do grupo que fundaria em 1960 a,
associação civil, criada por Plínio Corrêia de Oliveira inspirada no “integrismo”,
ideologia de defesa do catolicismo tradicional tinha como objetivos, segundo seus
estatutos “combater a vaga do socialismo e do comunismo e ressaltar o valor positivo
da ordem natural”. Há, portanto um diálogo entre associações de caráter análogo neste
período, mostrando que tais organizações concordavam com as idéias integralistas,
sobretudo no tocante aos seus adversários.
Nesse sentido, é interessante perceber que no plano da sociedade, houve também
o avanço de outros movimentos sociais e o surgimento de novos atores. Os setores
esquecidos do campo começaram a se mobilizar. As ligas camponesas começaram a
aparecer a partir de 1955, movimento que teve como seu maior destaque uma figura da
classe média urbana pernambucana, o advogado Francisco Julião, que me finais da
década era figura bastante conhecida. Por outro lado, o movimento operário e as
chamadas Reformas de Base passaram a ser referencias especiais deste período que
abrange os finais de 1950 e princípios de 1960. Nem as discussões sobre o campo, nem
a plataforma do operariado, nem as modernizações sindicais, nem as reformas, e muito
menos a ascensão das esquerdas foram sequer mencionadas nos volumes da
Enciclopédia, calcada basicamente na manutenção de antigas idéias formuladas nos
anos 1930, portanto, anacrônicas às demandas dos anos 50/60.
Do lado da esquerda, o PCB alcançará importante influencia no meio sindical e
no jogo político partidário. Com isso ocorreu uma forte ruptura da esquerda, decorrente,
sobretudo de fatos ocorridos na URSS, a partir do relatório Krushev. Frente ao avanço
das forças de esquerda o anticomunismo foi usado para difundir o medo na classe média
e para identificar a “reformas de base” com a passagem do regime capitalista para
comunista. Esse medo foi parcialmente noticiado em passagens da Enciclopédia,
sempre por seu editor, Rocha Dórea que denominava tais intervenções com a curiosa
chancela de: o “termômetro político”. As aferições da temperatura política foram por

74
diversas vezes a linha que costurou os temas nos volumes da Enciclopédia.
Temperaturas sempre altas que foram sempre sentidas na fraseologia ofensiva aos
comunistas.
Para isso costurou interlocuções entre pares que se agruparam em torno de
institutos claramente conservadores como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais -
IPES, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática - IBAD, a Ação Democrática
Parlamentar, o Movimento Anticomunista (MAC) e o Grupo de Ação Patriótica –
GAP, este, composto por estudantes universitários de orientação direitista. A despeito
destes organismos não serem citados na Enciclopédia, uma análise dos jornais
integralistas da época, sobretudo, A Marcha, sinalizam o diálogo e a aproximação
existente entre eles e aponta para construção de uma frente anticomunista. Por isso,
mais uma vez, no que tange à interlocução o integralismo manteve relação direta com
tais organismos, fosse por aderência, afinidade ideológica, ou proposta de sobrevivência
política, uma vez que os campos de disputa se escancararam definitivamente a partir da
posse de João Goulart. Nesse sentido, a mobilização anticomunista teve papel
preponderante na arregimentação dos grupos adversários dos governos (JQ e Jango –
sobretudo no seu primeiro ano de mandato), fornecendo o principal argumento que
unificou os setores de oposição.70
Outro fator que direcionou a seleção de textos dentro da Enciclopédia foi
resultado da exacerbação da dicotomia capitalismo versus comunismo. A relação entre
Cuba e os Estados Unidos se agravara a partir de 1961 com a invasão da Baía dos
Porcos. O fracasso da operação levou Cuba a buscar apoio militar da União Soviética, o
que se deu em agosto/setembro de 1961. Meses depois, em princípios de 1962 seria
decretado o embargo econômico norte-americano a Cuba. Essas eram as questões
dominantes na conjuntura internacional, com grande polarização e confronto entre os

70
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. João Goulart e a mobilização anticomunista. In: a imprensa ajudou a
derrubar o governo João Goulart. In: Ferreira, Marieta de Moraes. (Coord.) João Goulart: entre a memória
e a história. Rio de Janeiro, FGV, 2006. pp.129 – 147. De acordo com o historiador, outras entidades de
maior peso ficaram responsáveis pela estruturação de novos grupos anticomunistas. Refere-se ao IBAD,
que nasce em 1959, tornando-se conhecido graças à revista Ação Democrática e o IPES, que a partir de
meados 1961, foi organizado por empresários cariocas e paulistas temerosos com o crescimento da
esquerda, e, especialmente com a ascensão de Goulart. A atuação conjunta das duas entidades, Ipes e
Ibad, que mantinham algum nível de cooperação, estimulou a proliferação das muitas entidades
anticomunista na conjuntura 1961-1964.

75
países capitalistas e comunistas, situação que perdurou por todo o governo Goulart e
que exacerbou internamente as posições ideológicas em conflito.71
Toda essa conjuntura pôde ser percebida na elaboração do oitavo e décimo
volumes da Enciclopédia, em que foram selecionados textos jurídicos integralistas
(todos originalmente escritos nos anos 30) para se contraporem ao que chamavam de
“ilegalidade ideológica” das forças de esquerda. Do ponto de vista jurídico o
integralismo denunciava a “comunização” do país. Nesse contexto, Jânio Quadros e
João Goulart (referenciados nos últimos volumes da Enciclopédia, respectivamente,
como o “pedecista desastroso”72 e o “manobrista vermelho”) serão os únicos sujeitos
políticos contemporâneos à publicação a serem citados. Na realidade, outro ator político
seria referenciado: Carlos Lacerda, este como detrator número um da política do PRP,
em finais dos anos 1950.
Nesse mesmo período, vale revelar dois acontecimentos que suscitaram
discussões acaloradas dentro e fora do compêndio. O primeiro teve grande carga
simbólica: a condecoração de Che Guevara por JQ (ainda na presidência) com a Ordem
do Cruzeiro do Sul, em 1961. A política externa de Quadros abriria tempos depois a
possibilidade de se criar para o Brasil um perfil terceiro-mundista e anti Estados
Unidos. Esse caminho antiimperialista entusiasmou os intelectuais brasileiros de
esquerda. Já para os intelectuais de direita (dentre eles, intelectuais integralistas) o
evento marcou uma guinada perigosa nas relações diplomáticas do país. O segundo fato
foi mais significativo e teve seu início no governo de João Goulart: a necessidade de
continuar as reformas modernizadoras, buscando consenso e participação popular a
partir do que se determinou de “reformas de base”. Ambos os acontecimentos elevaram
o grau de participação institucional e social dos setores de esquerda, funcionando como
uma virada diante da sondagem conservadora. 73
A despeito de todo este contexto não aparecer explicitamente nas discussões da
Enciclopédia, tais escritos não saíram incólumes àquela atmosfera. É necessário chamar

71
ABREU, Alzira Alves de. 1964: a imprensa ajudou a derrubar o governo João Goulart. In: Ferreira,
Marieta de Moraes. (Coord.) João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro, FGV, 2006.
pp.107-128.

72
Foi eleito presidente pela coligação PDC-PTN-UDN-PR-PL, por isso ser chamado de pedecista.
73
FERREIRA, Marieta de Moraes e SARMENTO, Carlos Eduardo. A República Brasileira: pactos e
rupturas. pp.451-495. In: GOMES, Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira/FGV, 2002.

76
a atenção para o fato de que toda a seleção do material havia sido realizada no calor da
hora, em pleno acontecimento de tais mudanças. O fato de não apareceram
explicitamente, não implica que tais eventos não tenham ressonância na produção do
compêndio. Mesmo porque é evidente e reveladora a quantidade de intervenções que
Gumercindo Rocha Dórea, o editor, faz em diversos volumes comentando sobre a
agenda dos jornais da época, bem como da receptividade dos integralistas sobre tais
episódios. Portanto, o contexto político-cultural da época refletiu na opção dos temas a
serem retratados no compêndio, fosse pela via da aderência ou da refutação.

2.2 - A Enciclopédia do Integralismo e seus canais de comunicação


Atentos às possibilidades de articulação de suas ideologias, os partidos políticos
constataram o potencial das bancas de jornal como lugar de disseminação de sua
propaganda e de aproximação do eleitorado. As bancas, as livrarias e as malas diretas –
também recém incorporadas pela nova concepção propagandística - serviram como
locais e veículos de irradiação da propaganda eleitoral e partidária de muitas
agremiações. Tipos específicos de publicações político-partidárias, viabilizadas pela
facilidade da circulação, passaram a ser consumidas com maior freqüência. Os
integralistas, vinculados ao PRP, foram um dos primeiros a investir nesses canais de
irradiação propagandística, com especial atenção às malas diretas, que difundiam cerca
de 70% de sua produção doutrinária74. A Enciclopédia do Integralismo efetivou-se num
claro exemplo de publicação veiculada por meio deste canal.

Elaborada segundo um cronograma de vendagem que abrangeu pouco mais de


três anos, a Enciclopédia acaba enfrentando um fator determinante para o espaçamento
das edições: a crise financeira da qual o país é acometido em finais de 1950, princípios
de 1960, dinate da qual as editoras sofrem grandes abalos e prejuízos. O que, a primeira
vista poderia ser entendido como uma estratégia deliberada de manutenção das
celebrações, como se o editor fosse manter acesa a chama da comemoração, mesmo
depois da passagem da data significativa, foi, na verdade fruto da crise. Outra

74
“O cofre do PRP”: A Marcha, 3/10/1959, p.5. Neste artigo, os articulistas do jornal afirmam que tanto a
distribuição d‟A Marcha quanto da EI era facilitada pela mala direta que chegava à casa do assinante ou
pessoa não assinante, de maneira fácil e sem demora excessiva. A listagem de nomes de pessoas não
assinantes era conseguida junto aos catálogos telefônicos ou de crédito comercial, o que, por si só,
aumentava o número de pessoas alcançado pela propaganda. Muitos – segundo o artigo - até se
interessavam e passavam a fazer parte do quadro de assinantes.

77
contradição diz respeito às informações desencontradas sobre sua vendagem em bancas
de jornal. Na apreciação de Gumercindo Rocha Dórea “em bancas de jornal, salvo
engano, não se encontrava para comprar a enciclopédia, nem se faziam assinaturas
desta, no máximo em livrarias poderiam encontrá-la. Sua distribuição era ampla, daí a
possibilidade de se ter enganos com relação à sua vendagem e os locais em que
poderiam ser encontradas”.75 A despeito da afirmação de Dórea, anúncios do jornal A
Marcha, às vésperas da comemoração, apontam o contrário. “Peça na banca, ou assine,
é mais prático e mais cômodo. Possuir a Enciclopédia do Integralismo é dar prova de
ser verdadeiro integralista. Consultá-la é revelar ciência de responsabilidade doutrinária.
Divulgá-la é unir a fé ao apostolado em prol da causa abraçada”.76

Tal compêndio apresentou-se, ao longo de seus mais de 40 meses de circulação,


sempre com as mesmas dimensões: 10x15 cm, capa dura de tonalidade esverdeada (nas
tiragens dos seis primeiros volumes e brochura nas demais edições) e contendo, em
média, entre 150 e 200 páginas por volume. O pequeno tamanho diferia dos padrões
consagrados na época para livros, que variavam de 20x25 a 25x 30 cm. A publicação
obedeceu a uma periodicidade intermitente. No início, seu editor manteve a média de
um volume por mês, o que se modificou a partir do quinto volume, quando passou a ser
trimestral. Do oitavo volume em diante, a circulação foi semestral.
Tendo sido constituída para propagandear as conquistas integralistas, a
Enciclopédia do Integralismo foi concebida visando apresentar ao seu público leitor os
feitos de maior relevância do integralismo. Nesse sentido, Plínio Salgado acreditava
“nada ser mais apropriado que iniciar o compêndio de resumos com aquilo que os
integralistas denominaram de carteira de identidade do movimento, ou seja, a cartilha de
princípios”77 de todos seus seguidores. De acordo com Gumercindo Rocha Dórea, o
objetivo maior do compêndio era “colocar nas bancas e nas mãos dos interessados um
produto de ótima qualidade gráfica para conter um conjunto significativo do melhor
pensamento nacional”78. Antes de tudo, a Enciclopédia do Integralismo pretendia ser
“o veículo de integração e reaproximação de todos aqueles que acreditavam, louvavam

75
Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 24/7/2007.
76
“Propaganda: O depoimento do Chefe”: Por: Plínio Salgado. A Marcha, 28 de setembro de 1957.
77
SALGADO, P. Enciclopédia do Integralismo, Vol. I , p.24.
78
A Marcha, 27/2/1957, p. central.

78
e queriam bem ao Brasil. Um compromisso para com a história da imprensa brasileira
que jamais se furtaria de, em anais, ou lembranças, esquecer-se desse compêndio”79 .

Fig.13. A co-autoria: bilhete de Plínio Salgado publicado durante os meses de setembro de 1957 a
novembro de 1959 em A Marcha.

Na maioria dos volumes concentrou-se uma perspectiva otimista de seu editor,


congregada nas pontuais rememorações e reflexões de Plínio Salgado, cujos elementos
direcionaram uma postura de intervenção implícita do chefe. O intuito da Enciclopédia
do Integralismo foi sistematicamente comunicado ao seu público leitor, por meio de
frases de forte conteúdo doutrinário, que repetidas em diversas oportunidades, durante o
período de sua publicação, ora como apêndices e notas explicativas dos autores dos
artigos, ora como indicações do editor reforçava o caráter pedagógico/doutrinal da
publicação. 80
Com isso sua recepção foi, a partir de 1957, facilitada pela veiculação cada vez
mais efetiva de anúncios sobre o compêndio em jornais do movimento, a partir de
então, atrelados ao PRP. Além disso, a intensificação das propagandas em comícios
urbanos e a leitura conjunta dos volumes nas áreas rurais e em pequenas cidades do
interior, sobretudo, dentro dos Programas de Leitura e Estudos dos Centros Culturais
da Juventude, conferiram ao compêndio um papel de divulgador da “verdade
integralista”. Para esses integralistas, caberia aos escritos da Enciclopédia do

79
A Marcha, outubro de 1957. De acordo com o texto/ propaganda do lançamento da publicação.
80
Intervenções de Gumercindo R. Dórea em diversos volumes da Enciclopédia do Integralismo, em
especial Vols. III e XI.

79
Integralismo “facilitar a penetração do ideário integralista na massa acéfala e desejosa
de um líder”.81 A significância do compêndio pôde ser evidenciada por meio da
reaproximação de um número considerável de integrantes antes dispersos. Note-se que,
durante sua publicação, foi bastante intensa a troca de correspondência entre a editoria e
seu público leitor. Segundo Gumercindo R. Dórea, muitas dessas correspondências
“serviram como um retorno daqueles que haviam deixado o movimento, mas que
sensibilizados com a coletânea e a rearticulação da sigla naquela atmosfera de
celebração, retornavam o contato parabenizando a iniciativa e explicitando o desejo da
refiliação”.82 Nas pesquisas realizadas junto ao acervo de cartas passivas e ativas de
Plínio Salgado, podemos ter uma idéia do quanto estes telegramas foram
exaustivamente utilizados durante a campanha de fortalecimento do PRP em finais de
1950.83
Em resposta a uma dessas correspondências remetida por um ex-integrante da
AIB da Bahia, Plínio Salgado referiu-se aos objetivos do projeto: “Se o esforço da EI
era substantivar a reconquista do respeito de muitos integralistas que,
momentaneamente abandonaram a crença e o sentimento de pertencer a algo, este
objetivo estava sendo alcançado. Sem contar com a nova geração que conhecia o
movimento pelo cerne e não pela epiderme”.84 A confirmação deste intuito foi
enfatizada por Dórea, que acrescentou: “Tínhamos todo o aval de Plínio Salgado.
Passávamos o layout da edição e ele aprovava, sugeria, mas nunca, nunca discordava.
Nesse sentido, sempre foi um trabalho em conjunto. A reaproximação de nossos
companheiros veio junto com o interesse da nova geração. As cartas chegavam com o
passar dos meses e o antigo e atual se encontravam, num único objetivo: aprender sobre
o integralismo. É pena que tenhamos perdido o controle dessas correspondências”.85
Também é digna de nota a preocupação no sentido de estabelecer um
cronograma para a publicação. Excetuando o período de garimpo e seleção do material,

81
SALGADO, P. Enciclopédia do Integralismo, Vol. I, Alfa e Omega, p.229.
82
Entrevista com Gumercindo R. Dórea, SP. 13/6/2007.
83
Consultar: Correspondências ativas e passivas (1957,1958,1959). APHRC – Fundo Plínio Salgado.
84
SALGADO, Plínio. „Sobre os novos livros‟. Resposta de correspondência editada no jornal A Marcha
em 17/9/1960. p. 8. Eram comuns as respostas de Salgado às cartas de correligionários e ex-
correligionários oriundos de várias partes do país. Utilizava-se o jornal para responder simultaneamente a
vários destinatários, principalmente questões relativas à doutrinação.
85
Procurou-se reproduzir, com a máxima exatidão, as palavras Gumercindo R. Dórea, pois a audição e a
reprodução desta entrevista foram inviabilizadas por problemas técnicos do K7 utilizado, antes mesmo de
providenciarmos sua transcrição. A partir deste ocorrido, todas as demais gravações foram realizadas com
o suporte de gravadores digitais.

80
que provavelmente tenha sido realizado entre princípios de 1956 e setembro de 1957 86
da concepção gráfica à veiculação, o tempo gasto inicialmente pela editora para colocar
os volumes no mercado não ultrapassava o período de três semanas. Assim, a
publicação se estenderia para além do período das comemorações dos vinte e cinco anos
do integralismo, prolongando-se pelos quarenta meses posteriores ao primeiro volume,
editado em outubro de 1957.
Então, a publicação da Enciclopédia do Integralismo se prolongou, permitindo
que as suas propagandas possibilitassem a recepção do que foi considerado pela cúpula
do PRP como um novo fôlego integralista. Numa dessas propagandas, reeditada e
comentada no 9º volume do compêndio, lê-se: “a chama contínua deste projeto não se
fragmentaria mais do que o necessário para que, pouco a pouco os leitores se sentissem
confortáveis e pertencentes. A Enciclopédia seria um ensinamento contínuo, e uma dose
de patriotismo a cada volume. É a prova de que muitas vezes o intermitente vence o
perene!” 87.
A concepção gráfica da Enciclopédia do Integralismo foi realizada pela GRD
Edições enquanto a impressão deu-se nas instalações do jornal Folha Carioca que, na
época, era dirigido por um dos mais respeitados escritores integralistas, Pedro
Lafayette.88 A maior parte da distribuição ficou a cargo da Livraria Clássica
Brasileira89, especializada em obras nacionalistas/integralista. No entanto, embora não
houvesse nenhum laço institucional ou jurídico entre a Livraria Clássica, a GRD e a
Folha Carioca, todas orbitavam o integralismo. No caso específico do jornal, seu único
vínculo era o de ceder suas oficinas gráficas para a impressão do compêndio. O jornal
Folha Carioca também imprimiu diversos títulos publicados pela Livraria Clássica
Brasileira. Outro elemento que os aproximava era a partilha da mesma postura
anticomunista.

86
Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 12/02/2008. “(...) fiz isso tudo em 56 (...) até
final de agosto ou setembro de 57 (...) dias e noites a fio arrumando, redigindo apêndices, datilografando
com os funcionários da editora os originais, que nos chegava às mãos todos quase ilegíveis, enfim, (...)
montando o quebra cabeças (...)”.
87
DÓREA, G. Enciclopédia do Integralismo, Introdução. Vol. IX. Aqui, não podemos nos esquecer que a
enciclopédia já não dispunha de um cronograma tão seguido como anteriormente, fator pelo qual, a
alocução “intermitente vence o perene” se configurava apenas como um eufemismo, talvez no sentido de
esconder a falta de continuidade da publicação.
88
O jornalista Pedro Lafayette também colaborou com textos para EI.
89
Ao longo das décadas de 1950 e 1960, a Livraria Clássica Brasileira possuiu mais de 400 livrarias ou
pontos de venda no território nacional, além de mais de 20 mil clientes individuais. Fonte: A Marcha, out.
1963.

81
A Livraria Clássica Brasileira foi constituída em 1949, com a participação de
Plínio Salgado e de dirigentes partidários, com apoio de banqueiros e industriais. De
acordo com A Marcha, Salgado pretendia, desde 1946, criar uma editora para “antepor-
se a diversas editoras comunistas, que inundavam o mercado com obras de divulgação
do credo marxista. (...) Urgia fundar uma empresa corajosa, disposta a enfrentar os
azares de um ambiente jornalístico e livreiro verdadeiramente hostil a uma obra editorial
nacionalista e cristã”. 90
De acordo com as pesquisas de Gilberto Calil, até 1955, a editora havia lançado
41 títulos, dos quais, nove de Plínio Salgado, 12 traduções de obras anticomunistas
européias e norte-americanas e 20 obras diversas, em sua maioria romances, livros de
91
poesia e ensaios sociológicos. A LCB editou os 12 volumes dos 25 previstos da
Enciclopédia do Integralismo, mas, sua principal coleção, denominada “Estrela do
Ocidente”, voltava-se ao anticomunismo, e era constituída em sua maioria por traduções
de obras anticomunistas européias e norte-americanas. Em novembro de 1962, Salgado
anunciava que pretendia encerrar as atividades da LCB, em virtude do alto custo do
papel, e informava que a mesma já não estava mais editando livro algum. No mesmo
mês as instalações da editora e todo o seu estoque foram destruídos por um incêndio,
atribuído por Salgado à “Providência Divina”:
As edições encalhavam, o prejuízo era brutal, as tais classes conservadoras, mesmo
nos Estados onde os nossos companheiros gozam de prestígio junto a elas, nunca me
ajudaram [sic]. A situação de minhas finanças particulares, com suprimentos
sucessivos, tornou-se dificílima. Mas a Providência Divina salvou-me de minhas
angústias, por um curto circuito num frigorífico gaúcho que funcionava em baixo e
incendiou todo o prédio consumindo todas nossas edições.92

Gilberto Calil afirma também que, “os projetos desenvolvidos pela editora, ainda
que não tenham tido êxito completo, evidenciam a importância que o PRP atribuía a ela
– assim como à imprensa e aos programas radiofônicos – para a doutrinação integralista
e a expansão partidária. Embora algumas vezes enfrentando dificuldades financeiras,
compreensíveis em face da dimensão do empreendimento pretendido pelos integralistas,

90
Como se construiu uma grande editora. A Marcha, Rio de Janeiro, 22/2/1957, p. 9-11.
91
Livros Editados pela Livraria Clássica Brasileira, 1955 (APHRC-FPS 012.015.003). Dentre seus
principais títulos, pode-se citar Deus nos subterrâneos da Rússia; O novo império soviético; A cortina de
ferro; 34 desiludidos do comunismo; O trabalho forçado na Rússia Soviética; A teoria política do
bolchevismo; Assim é a Rússia; Marx contra o camponês; O caso do camarada Yulayev; Plano vermelho
para as Américas; e Uma freira na China Vermelha.
92
Correspondência de Salgado com Raymundo Padilha, 16/12/1962. (APHRC-Pi 16/12/1962). Apud:
CALIL, 2009, 338)

82
é inegável que eles tiveram êxito na estruturação de uma rede de propaganda vasta e
diversificada, constituída pelos jornais semanais, por programas radiofônicos regulares
e extraordinários, pela publicação sistemática de livros através de uma editora
integralista, além da produção de materiais de propaganda como folhetos e panfletos”
(CALIL, 2009, 338). Esta máquina de propaganda era diversificada não apenas em
termos de veículos, mas também buscava atingir públicos diversos, visando desde a
propaganda voltada às “massas” até a doutrinação permanente da militância, por meio
de livros de Salgado e de seus artigos doutrinários, e foi encarada como prioridade pelos
integralistas durante todo o período analisado.
Segundo Rocha Dórea a publicação da Enciclopédia do Integralismo foi
lançada objetivando constituir-se numa “obra escrita por brasileiros de três gerações
sucessivas, e que procurará responder a qualquer pergunta de ordem doutrinária ou
histórica, relacionada com o movimento cultural e político iniciado nos anos 30”.93
Gerardo Mello Mourão, representante de umas das primeiras gerações de escritores
lançados pela GRD Edições e membro do projeto da Enciclopédia do Integralismo,
corroborou que a empreitada fora planejada pela editora de Rocha Dórea, destacando o
que chamou de “louvável, porém malfadada, intenção de se prolongar a comemoração
dos 25 anos por meio da sustentação dos volumes da EI”.94 Para Mourão: “(...) tão
importante quanto criar novos canais, seria reconduzir os militantes integralistas por
formas, talvez mais convencionais. No fundo, no fundo, a periodicidade da publicação
já nascera com o destino meio escrito”. 95
A Enciclopédia do Integralismo contava com o apoio da imprensa ligada ao
partido e, muitas vezes, sua distribuição era realizada pelos próprios correligionários, o
que suscita questionamentos com relação ao profissionalismo com que essa distribuição
era realizada. Sem um projeto efetivo de distribuição, a amplitude nacional,
propagandeada pelos anúncios de assinatura do compêndio deve ser encarada com
reservas.
Deve-se destacar ainda que, embora a Livraria Clássica Brasileira fosse
inicialmente a maior distribuidora do compêndio no território nacional, a partir da
publicação do oitavo volume, o contrato entre a GRD e Livraria passou por

93
A Marcha, 03/08/1957.
94
Entrevista com Geraldo Mello Mourão, RJ, 7/01/2005.
95
Idem.

83
reformulações96, o que comprometeu a distribuição do conjunto de livros por todo o
país. Este foi um dos maiores problemas enfrentados pela editora para conseguir manter
o compêndio no mercado. Independente do grau superdimensionado das falas de alguns
dos participantes da Enciclopédia do Integralismo, um ponto parece consensual em
quase todos os depoimentos: a maioria das regiões do país recebia seus volumes. Por
meio da escassa documentação disponível, pôde-se verificar que, ao menos nas regiões
sul e sudeste do país e numa parte significativa da região norte, a distribuição atingiu
um patamar razoável.97
Rocha Dórea afirma que “a distribuição atendia aos pedidos que eram
realizados, possibilitando que de norte ao sul do país a EI fosse comercializada por um
preço módico, como o de qualquer outro livro do mesmo padrão”.98 Havia,
naturalmente, Estados que recebiam mais exemplares que outros. As regiões sul e
sudeste, mais populosas e representativas do ponto de vista da militância, tiveram uma
maior distribuição com relação a norte e nordeste99. Infelizmente, toda documentação e
registros de contabilidade da Livraria Clássica Brasileira foram perdidos no incêndio
supracitado, o que inviabilizou um maior aprofundamento quanto ao grau de
receptividade dos volumes da Enciclopédia do Integralismo.
A situação econômica nacional no início da década de 1960 era bastante diferente
daquela que viu surgir a publicação integralista. Os finais do governo JK foram
caracterizados por profundas modificações em todos os setores da economia, que se via
enfraquecida no final de seu mandato. Concomitante a esta conjuntura, problemas
internos da GRD Edições, aliados a transformações no setor editorial brasileiro
(MICELLI, 1999: 234), fizeram com que o projeto da Enciclopédia do Integralismo
passasse por reformulações.
Em duas oportunidades, num espaço de três anos, os responsáveis pela empreitada
apresentaram ao público o rol de volumes que seriam publicados. Tais quadros
informavam à cerca do mês de publicação, data, assunto e página. Tanto no primeiro,
publicado em 1957, quanto no segundo arrolamento, veiculado a partir de 1959, os

96
Notas esparsas em diversos artigos publicados no jornal de maio de 1960 a junho de 1963, ano em que
A Marcha foi fechada.
97
Referências encontradas nas “Notas e Balanços da Editora”, dados editados n‟ A Marcha, (período da
publicação da EI) e, em “Notas Protocolares da GRD Edições”. Fundo: “Notas Financeiras”. Acervo
Plínio Salgado. Arquivo Municipal de Rio Claro.
98
Entrevista de Gumercindo R. Dórea. SP. 22/6/2007.
99
“Notas Protocolares da GRD Edições”. Fundo: “Notas Financeiras”. Acervo Plínio Salgado. Arquivo
Municipal de Rio Claro.

84
conteúdos dos cinco primeiros volumes são coincidentes, o que demonstra que, ao
menos inicialmente, o prognóstico de publicação havia sido cumprido. Esses volumes
tratavam de depoimentos de antigos militantes.
No entanto, a partir do sexto e sétimo volumes a ordem de apresentação e seus
respectivos conteúdos sofreram alterações. Com a publicação em curso os integralistas
anunciaram outro quadro temático, diferente do inicial que havia sido programado em
finais de 1957. Assim, em maio de 1959, portanto, logo após a publicação do 7º volume,
houve uma reformulação no cronograma de edição do compêndio que estendeu a
perspectiva de publicação de 20 para 25 volumes.100 No novo quadro temático, foram
acrescidos mais cinco volumes não arrolados no primeiro cronograma, com destaque
para temáticas concernentes à relação do integralismo com o municipalismo; sua
concepção de assistência social; a preocupação do legado personificado na relação entre
o integralismo e as novas gerações; um resumo da folha corrida do movimento, com os
serviços que o integralismo havia prestado à Nação; além de uma síntese da vida e obra
de Plínio Salgado. Essa diferença nos quadros temáticos se mostra particularmente
interessante se, atentarmo-nos para o fato de que, dos 20 ou 25 volumes previstos,
apenas 12 foram efetivamente publicados, e que nesses 12 volumes, em muitos casos,
condensou-se algumas temáticas, restringindo os volumes aos depoimentos de
militantes antigos ou contemporâneos, o que forjou um perfil memorialístico para o
compêndio.

100
Há propagandas que noticiam o projeto inicial com o prognóstico de 20 volumes. Entretanto, a partir
da publicação do 7º volume as propagandas passaram a noticiar a coleção com 25 volumes. A Marcha,
3/4/1959, p.6.

85
Quadro Temático definitivo com os 12 volumes publicados:
VOLUME AUTORES CONTEÚDO Data de Nº de
publicação páginas
1 Plínio Salgado Obra inicial: O integralismo na vida
brasileira
Out. de 1957 266

Belisário Penna; Lúcio José dos


Santos; Alcebiades Belamare;
Depoimentos e organicidade do
Rodolfo Josetti;Victor Pujol;
movimento
2 Madeira de Freitas. Nov. de 1957 189

Tássio da Silveira; Augusto de


Lima Jr.; Félix Contreiras
Rodrigues; Rocha Vaz; João
3 Carlos Fairbanks; Jaime Regalo Depoimentos e Estudos Fev. de 1958 251
Pereira.

AB Cotrim Neto; San Thiago


Dantas; J. Venceslau Jr.; Pe.
Hélder Câmara; Arnóbio Graça;
4 Martins Moreira; Pedro O integralismo e o novo Mar. de 1958 216
Lafayette; Antônio Galotti.

Loureiro Jr.; Miguel Reale;


Margarida Corbisier; Hélio
Vianna; Luis Compagnoni; José
5 Garrido Torres; Leopoldo Ayres; A nação e o Integralismo além de
Ernani Lomba Ferraz; Angelo depoimentos
Simões de Arruda; Rômulo Abril de 1958 184
Almeida; Lauro Scorel.

Autos, discussões acerca dos problemas


jurídicos com relação ao integralismo
6 Miguel Reale Nov. de 1958 220

7 54 poetas integralistas Poesias proselitistas Fev. de 1959 223

Genoíno Ferreira Filho; Humberto


Pergher; Abelardo Cardoso; José
8 A Orgânica da AIB - Tomo I 199
Soares de Arruda; Hélio Rocha;
Gumercindo Rocha Dórea. Maio de 1959

9 Plínio Salgado e Câmara Cascudo A Educação e Estudos Dez. de 1959 204

10 Hélio Vianna; Gumercindo Rocha


Dórea; Miguel Reale e Pe. Hélder
A Orgânica da AIB - Tomo II Maio de 1960 209
Câmara.

11 Gustavo Barroso, Jeová Mota


Edgard e Hélio Rocha, Carlos
Depoimentos Dez. de 1960 197
Matheus, Silveira Neto, Carmen P.
Dias, Gumercindo R. Dórea

Suplemento Francisco Galvão de Castro e


Plínio Salgado
Suplemento: os 4 pontos cardeais do Março de 189
integralismo. 1961

86
Fig.16 Quadro temático com os 20 volumes iniciais previstos para o compêndio.
A Marcha, set/1957.

87
Tendo sido pressionado pelas altas taxas de juros do mercado de papel e pelos
custos da impressão, cujas cifras excediam os 60%101 do montante de gastos da editora,
o projeto sofreu uma diminuição no número de páginas a partir do número 9. De acordo
com o editor, “tais fatores aceleraram o encerramento da publicação no 12º volume,
pois estava começando a ficar mais caro manter a Enciclopédia funcionando com a
mesma freqüência, a despeito de todas as campanhas realizadas para este intento do que
realizar sua distribuição e manutenção no catálogo da editora”.102 O preço de
vendagem, ao longo de toda a publicação, variou entre CR$150,00 (cento e cinqüenta
cruzeiros) em formato brochura e CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros) em formato
encadernado/capa dura.103 O almejado sucesso de público não se concretizou. No
entanto, sempre sustentando que o projeto alcançara patamares significativos,
Gumercindo Rocha Dórea afirmou: (...) Estima-se, que o número de exemplares
vendidos deva ter chegado à casa dos 50 mil, sempre mantendo o mesmo preço de capa
da primeira edição. Outro trunfo sacado de nossas mangas foi que, a geração „Águia
Branca‟ tomou conhecimento aprofundado do integralismo através da Enciclopédia.104
Ainda carecemos de maiores detalhes sobre o que, de fato, teria colaborado ou
determinado o fim da publicação deste compêndio, mas uma coisa é certa: a
Enciclopédia do Integralismo entrou e saiu da linha editorial das Edições GRD
constituindo-se em um dos títulos mais vendidos da trajetória da editora105. Até os dias
de hoje, a editora, que permanece na ativa publicando na proporção de um décimo do

101
“O papel, a impressão e o susto”: A Marcha, 30/4/1960, p.4.
102
ROCHA DÓREA, G. A Marcha, 23/09/1961. p.8.
103
A Marcha, 29/11/1957, p.6. Embora, nas chamadas de jornal os volumes tenham sido propagandeados
aos preços de CR$130,00 e CR$160,00, respectivamente, todos os volumes acabaram sendo vendidos
com reajustes. Em termos de comparação, os volumes da Enciclopédia do Integralismo estiveram, em
números absolutos, sempre em segundo lugar nas vendagens e distribuição. O título campeão de
distribuição da Livraria Clássica Brasileira era o livro: “A vida de Jesus”, de Plínio Salgado, que além de
ser o mais vendido, também era o mais caro: em média, CR$ 180,00 na versão mais simples e CR$
200,00 na versão luxuosa (capa dura). Convertidos para a moeda atual os volumes da Enciclopédia do
Integralismo custariam em média: de 18 a 25 reais. Fonte: Banco Central. Anuário 2006. Tabelas de
Conversão.
104
Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea.SP. 7/10/2006.
105
Até os dias de hoje a Enciclopédia do Integralismo é encontrada (em volumes avulsos ou na versão
completa) podendo ser adquirida por meio de sites especializados em livros antigos. Em dois dos mais
visitados sites (Traca.com.br) e (Estantevirtual.com.br) encontramos a coleção completa da Enciclopédia
pelo preço que variou entre de R$1200,00 a R$1500,00). Os volumes avulsos são vendidos, em média, a
R$80,00 e R$120,00.

88
que alcançara nos anos 50 e 60, assume que o período de publicação da enciclopédia
coincide com o período de maior visibilidade e vendagem de seus livros.

2.3 - Garimpo e Memória: entre a mocidade e a velha guarda integralista


O editor ainda enfatizou que a Enciclopédia do Integralismo estabeleceu, ao
longo de sua publicação, uma “ponte entre a mocidade que integrava os quadros do PRP
106
e a velha guarda do movimento”. Criada a partir da constatação de que quase toda a
produção intelectual dos grandes vultos do movimento era dispersa e de “difícil
acesso”107, os trabalhos foram compilados de jornais e revistas cujas coleções eram (sic)
difíceis de se localizar. Gumercindo R. Dórea coletou os escritos da Enciclopédia em
jornais de circulação encerrada e tiragens esgotadas, além de rastrear coleções
particulares de alguns correligionários e militantes integralistas, na sua maioria em
estado de conservação bastante precário. Dispersos e perdidos em diversas instituições e
órgãos de imprensa integralistas, tais escritos foram reagrupados, obedecendo a uma
108
“noção dirigida” do conceito e das ações integralistas, portanto, construída a partir
da seleção de diversas tendências integralistas, num conjunto heterogêneo. As
dissidências e variadas concepções de política e partido foram intencionalmente
exploradas na idealização editorial do compêndio. E nesse sentido, a perspectiva de
conjunto foi primordial para que se apreendesse uma leitura dirigida do u que se
pretendia mostrar. Rocha Dórea, sempre assertivo dizia: (...) os escritos não eram das
pessoas, mas do integralismo. (...) Foi esta minha intenção era assim que eu via a
seleção (...). 109
Para tanto, arregimentou textos, poesias, reportagens, cartas passivas e ativas dos
líderes do integralismo (tanto no período da AIB, quanto do PRP), bem como, partes de
livros escritos ao longo da década de 30, compilando-os nos quatro cantos do país110,

106
Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 28/4/2008.
107
“Por que nossa memória anda esquecida?”. A Marcha, 12/4/1957, p. 12.
108
Termo utilizado por Gumercindo R. Dórea. São Paulo, 21/4/2007.
109
Idem. Causa estranheza que a autoria dos escritos fosse entendida como uma autoria institucional e
não pessoal. Mais adiante comentaremos um pouco mais sobre esta perspectiva de “autoria” afiançada por
Rocha Dórea.
110
“Me lembro que eu enfrentei muito trem (...) fui de Manaus á Porto Alegre (...) ia, fazia umas vendas
do catálogo e logo buscava garimpar um documento, uma jornal, uma figura que fosse representativa,
pois afinal, no Rio e em São Paulo, nem tudo estava pronto (...) aliás, nem os jornais que só foram
possíveis de se pesquisar uns poucos volumes no sul do país, mas é fato (...) rodeio o Brasil todo

89
dando-lhes uma nova roupagem, visando a leitura nos anos 50/60. É o próprio editor
quem nos conta como se dava o processo de seleção do material:
“(...) A primeira coisa que eu pensei foi: como farei para selecionar tanta coisa que o
integralismo já fez? Então, comecei a ir de diretório, em diretório, de jornal, em jornal e
isso deve ter durado todo o ano de 1956, creio (...) então, em posse de alguns desses
jornais, às vezes livros, eu redigia parte por parte, digo, passava para o datilógrafo da
editora datilografar e secionava partes deste, daquele, daquele outro (...) Mas, o mais
difícil foi encontrar o fio da meada (...) tanto que precisei mudar os planos porque a
minha primeira seleção era imensa (...) Você veja, isso lá no final dos anos 50 (...) hoje
eles começam a falar de centro de documentação, mas naquela época isso não existia.
Ninguém sequer pensou em guardar essas informações, não como eu pensei!”.111

Sob essa ótica, a construção da memória integralista e sua concepção de


registro histórico foi, aos poucos, reinterpretada pelos correligionários do movimento
que, por meio da Enciclopédia do Integralismo, tiveram a oportunidade de rever
conceitos, reaproximar-se da doutrina, rememorar efemérides e discutir pontos não
consensuais de alguns elementos contidos na formulação original político/doutrinal do
movimento. Tal enfoque aponta para a tentativa de se sistematizar elementos que
comprovavam o caráter rememorativo/celebrativo da empreitada. Prova disso é que da
totalidade dos artigos e ou escritos publicados no compêndio, 51 foram reedições de
escritos anteriores. Pelo menos 35 autores do total publicado viram alguns de seus
escritos serem republicados, ora com adendos contemporâneos, como comentários ao
longo da publicação, ora mantendo-se sua estrutura original.
A memória integralista foi elaborada como suporte para determinadas
representações e possíveis associações com a memória coletiva. Daí a produção de
objetos, lugares e celebrações, que se assentou numa literatura histórica que privilegiava
um passado, supostamente glorioso. Buscava-se afirmar a versão de seus agentes, isto é,
apresentar às gerações futuras a leitura integralista da recente história política nacional.
A catalogação e a preservação dessas fontes objetivavam garantir a permanência do
integralismo e de sua memória, não só para as gerações integralistas, mas para toda a
população interessada em conhecer a interpretação integralista dos fatos.
A seleção dos escritos da Enciclopédia do Integralismo pautou-se por um
aprofundado trabalho de pesquisa, principalmente se atentarmos para o fato de que, pelo

garimpando esses escritos (...) uni o útil (vender meus títulos) ao agradável!” Entrevista com Gumercindo
R. Dórea. SP. 30/4/2008.
111
Entrevista com Gumercindo R. Dórea. SP. 28/4/2008.

90
menos até 1955, não havia arquivos integralistas organizados e sistematizados. A
tentativa de se preservar esta memória enfrentou dificuldades de diferentes ordens.
Como lembrou Dórea: “(...) da falta de verbas do partido à absoluta descrença na
necessidade do registro, foram vários os obstáculos a serem transpostos para que
pudesse se organizar este compêndio”.112 Nesse sentido, Dórea se refere a uma
sistemática que ainda não era muito levada em consideração no período em que a
Enciclopédia foi compilada. Naquele momento, não se conhecia a preocupação
sistemática de se preservar a história do integralismo pós-45. Isso pode parecer um
contra-senso, uma vez que, são vários os artigos em que o próprio Plínio Salgado exalta
a necessidade de se registrar a história do partido, dos diretórios e das eleições em que a
sigla integralista tivesse participação. A despeito de alguns contratempos (nem sempre a
pauta da publicação ou seus respectivos quadros sinóticos eram respeitados), a
Enciclopédia do Integralismo transcreveu variados artigos, provenientes de diferentes
localidades do país, segundo graus variados de percepção do movimento.
Em mesma proporção é interessante mostrar como nasceu a idéia de compor a
enciclopédia. Seu editor afirma que mesmo não conhecendo pessoalmente a maioria de
seus autores via neles o potencial para sintetizar o que fora o integralismo. Dórea
relembra: “(...) veja, a maioria deles eu não conheci. Na época que eu atuei mesmo ao
lado de Plínio a maioria desses homens da primeira geração já havia morrido, então, eu
não conheci quase nenhum deles, e isso é interessante, pois, quando surgiu o PRP eu
logo ingressei nele, eu comecei a tomar contato com esses escritos todos,
posteriormente, selecionados por mim na idéia de se fazer uma síntese do história do
movimento. A idéia era essa mostrar ao público os escritos daqueles homens e mulheres
que eu também não conheci, é isso, a Enciclopédia do Integralismo”.113
Veremos nos itens seguintes como a seleção de Rocha Dórea se pautou
buscando mostrar um integralismo “mal interpretado” pela sociedade, e por isso,
condenado ao ostracismo, fator que o incentivou a sinalizar uma proposta de
apresentação do que, segundo seus preceitos, realmente fora o movimento. Parece-nos
claro que o tratamento dado a esta seleção corrobora o enquadramento a que eram
submetidos os militantes mais próximos de Salgado, sobretudo, os da alta cúpula do
movimento: obediência e fidelidade expostas em cada um dos textos selecionados.

112
Idem.
113
Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 16/12/2008.

91
2.4 - A enciclopédia que não era uma enciclopédia?
“São muitas as leituras possíveis,
mas, todas as leituras não são possíveis.”
(Roger Chartier, 2009)

Do ponto de vista estrito de sua criação algumas considerações são essenciais.


Diferentemente do escopo realizado pelos enciclopedistas liberais do século XVIII (a la
D‟alambert e Diderot), que sumarizavam em verbetes os assuntos buscando uma
universalização dos temas, numa expressão autêntica dos preceitos daquele momento
histórico, ou projetos análogos dos finais do XIX e meados do século XX114, o
compilador integralista da segunda metade do século XX se diferenciava em quase tudo
de seus congêneres do passado. A concepção de um enciclopedismo meio às avessas, ou
seja, que privilegiasse não o universal, mas o particular foi o mote inicial deste
empreendimento que se diferenciava dos demais produtos editoriais de finais dos anos
1950, sobretudo, do ponto de vista da divulgação, difusão e penetração popular.
Neste sentido, empreendimentos intelectuais da envergadura da Enciclopédia do
Integralismo são, antes de tudo, um campo intelectual de forças antagônicas, por meio
do qual se estruturam a noção de uma cultura política compartilhada: suas
representações, simbologias, valores e códigos de conduta. Entender o que continha,
como e porque foi publicado este conjunto de livros temáticos demanda que seja
questionado não só o teor e o conteúdo deste projeto editorial, mas, sobretudo, qual foi e
como se deu a recepção deste material (tarefa certamente dificultosa), num momento da
política nacional em que tudo o que lembrasse os já idos, mas não esquecidos anos 1930
era considerado anacrônico, passadista e perigoso.
Esta percepção nos lança um desafio, já enfrentado pelo historiador Roger
Chartier, para quem a idealização, produção, distribuição e recepção do impresso
denunciam, antes de tudo, a criação de um demiurgo. Algo que ganha força simbólica e
mobilizadora, uma vez impressa, divulgada e apreendida. No caso específico do projeto
editorial da Enciclopédia do Integralismo há de se levar em consideração não apenas a
sua edição e publicação, mas o teor das intervenções editoriais que tal compêndio
sofreu, podendo assim imaginar quais estratégias foram utilizadas visando a adequação
de seu público leitor. Ou seja, não ficarmos apenas nos questionamentos unilaterais

114
A Encyclopédie Française, a Encyclopaedia Britannica, a Nelson's Encyclopaedia, a Perpetual Loose-
leaf Encyclopaedia, a Encyclopaedia Universalis, a Collier's Encyclopaedia e até mesmo a Grande
Encyclopédie Larousse.

92
sobre os porquês de sua publicação, e aprofundarmo-nos no mote sobre como tal
empreendimento se efetivou antes de chegar às mãos de seus leitores. “(...) Assim, a
especificidade dos materiais editados em conjunto, prende-se não somente com os
próprios textos, eruditos e diversos, mas com a intervenção editorial que tem por
objetivo adequá-lo às capacidades de leitura dos compradores que tem de conquistar
(...)”. (CHARTIER, 1996:129) Pois, assim, tais publicações buscariam
simultaneamente, inspirar uma “leitura autorizada” (BOURDIEU, 1996 & RICOUER
1972) do compêndio e censurar as descrições consideradas licenciosas, termos pouco
lisonjeiros ou inconvenientes, criando uma lógica de adaptação dupla que tivesse por
finalidade, controlar os textos, submetendo-os às exigências da moral integralista, para
em seguida torná-los mais facilmente decifráveis por parte de seus leitores.
Então, na segunda metade do século XX, quando seria de se esperar que, face ao
progresso acelerado e à especialização exponencial do conhecimento, o movimento
enciclopedista se visse condenado a desaparecer ou adotasse uma fórmula
exclusivamente especializada, assistimos, não apenas ao renovar do interesse pelo
projeto enciclopedista, levado a cabo por alguns grupos ciosos por propagarem suas
realizações, mas ao revigorar da sua figura, ao repensar dos seus propósitos. Tratar-se-
ia, segundo (FEBVRE, 1935: 11), de não perder de vista o sentido etimológico da déia
de enciclopédia enquanto "rotação completa do horizonte dos saberes" e de reconhecer
no homem ou nos diversos grupos que se congregam, o "centro comum" potenciador do
conhecimento. Como Lucien Febvre explica, precisou haver um momento que se
abandonou a ordem alfabética para organizar uma enciclopédia em torno dos principais
problemas de cada campo do saber, preferir a perspectiva alargada e viva dos principais
problemas em aberto à simples enumeração exaustiva dos factos" (FEBVRE,1935: 12).
É interessante ressaltar que, as enciclopédias mais inovadoras buscam
efetivamente rejeitar tanto a estrutura alfabética contínua e homogênea como a
organização disciplinar e adaptar uma estrutura temática. A tendência é para reduzir
significativamente o número das entradas, selecionando aquelas cuja pertinência,
atualidade ou capacidade de irradiação justifique um tratamento alargado e
compreensivo. Neste sentido, a intenção dos projetos enciclopédicos pós anos 1950,
caracteriza-se pelo caráter seletivo e integrado. A Enciclopédia do Integralismo (1957-
1961) constitui um caso relevante desta tendência à organização temática. Os seus 12
volumes caracterizam-se pela ruptura com a exaustividade característica de todo o
enciclopedismo anterior e por uma diminuição drástica do número de artigos em favor

93
daqueles cuja pertinência perante a cultura política integralista se mostrava plausível.
Como se pode ler no prognóstico com que o editor abre o primeiro volume da
Enciclopédia do Integralismo, o objetivo foi "concentrar a atenção sobre os elementos
importantes do discurso cultural integralista, sobrepujando diferenças idiossincráticas
em favor de uma homogeneidade doutrinal”. (ROCHA DOREA, EI,1957: 35)
A publicação da Enciclopédia do Integralismo, por outro lado, não conseguiu
afastar-se do esquema unilateral que marca projetos enciclopedistas desta natureza,
(nem pretendia) apresentando-se com propostas fortemente propagandísticas e
proselitistas. Assim, inventariando (mas, não apenas isto) os conhecimentos adquiridos
no passado pelo integralismo, exaltando, redimensionando suas experiências buscou
realizar um balanço dos episódios vividos pelo movimento, projetando, como corolário,
visões de um passado entendido como mítico. Os verbetes, que na realidade são textos,
procuram pôr em evidência aproximações dos diversos discursos integralistas, buscando
uma transversalidade com temas tidos como fundamentais na organização político-
simbólica do integralismo, como é o caso dos motes: doutrina, democracia e
anticomunismo, tripé do misencene catártico integralista115, no período da publicação
da Enciclopédia. Estas clivagens ilustram cruzamentos e sugerem itinerários possíveis
de leitura.
Pois, então, retomemos uma observação que nos parece pertinente: o fato da
Enciclopédia do Integralismo não limitar-se a ser o inventário de um saber constituído
no passado, nem sequer apenas o balanço dos episódios já conhecidos sobre o
integralismo. Ao contrário, seu projeto buscou criar, ou mesmo patrocinar de maneira
ativa e determinante a produção de novas abordagens sobre o movimento integralista,
operando uma reorganização de um discurso, no sentido de sinalizar um arrefecimento
das tensões já estabelecidas ao longo do tempo, em face das suas opções de poder.
Nesse sentido, seus idealizadores sublinharam nos volumes, não apenas o papel reativo,
de luta contra a impossibilidade da permanência integralista no tabuleiro político dos
anos 1950/60, mas, sobretudo, uma função conservacionista de seu passado,
sintetizando um papel afirmativo.
Embora, por vezes, a intenção da edição da Enciclopédia do Integralismo possa
ter sido construir um papel quase heurístico para os artigos temáticos selecionados para
sua empreitada, vale nossa desconfiança. Pois, se pensarmos a heurística como a

115
Um misencene catártico integralista! O GLOBO, 9/09/1957, p.5.

94
capacidade de realizar inovações, apontar diferentes perspectivas às idéias já
previamente concebidas, de forma imediata e positiva para um determinado fim, é
contraditória que a compilação desta coleção de artigos, tenha sido costurada por uma
linha idiossincrática do líder integralista, Plínio Salgado, privilegiando neste sentido, a
tradição e não a inovação sobre o pensamento integralista.
Cabe, então, afirmar que a escolha dos temas e artigos também obedeceu a
critérios de amplitude e transversalidade. É o caso de conceitos como os que organizam
o saber e o viver do integralismo, que são apresentados buscando evidenciar uma visão
mais institucionalizada do movimento. Nesta perspectiva, como interpretar a
estruturação dos volumes? Que significado pode ter a adoção de um modelo temático?
Que sentido se revela na adoção de uma estrutura descontínua (uma vez que se trata de
escritos de três gerações diferentes de integralistas – separados por décadas de atuação
política diversa)? Veremos, no entanto, que a despeito da linha editorial da compilação
ter sido toda mediada pelos palpites de Plínio Salgado, sobressaltará de sua leitura,
algumas tensões que ora se colocarão como tênues, ora como evidentes. O integralismo
que se vê na Enciclopédia é o integralismo pliniano, mas suas nuances apontam,
difusamente, para um mecanismo de pluralidade nos discursos de seus representantes.
Isto é bastante evidente quando destacamos categorias como dissidência, liderança,
subserviência ou auto-afirmação, quatro elementos diluídos ao longo de seus 12
volumes.
Note-se, que isto se dava, basicamente, de duas maneiras: primeiro, por meio da
capacidade de auto exaltação das virtudes integralistas presentes nos artigos (o
integralismo sempre foi dubiamente apresentado, ou como solução dos problemas
políticos do país, portanto, como saída e opção clara frente aos infortúnios, ou como
redenção das demais opções político-ideológicas que se faziam presentes no espectro
político vigente). Em segundo lugar, tais tensões se mostravam claras pela capacidade
dos integralistas estabelecerem certa correlação entre os feitos políticos do movimento e
as benesses vividas pela nação em tempos de democracia: como se muito do que se
conseguiu em tempos democráticos tivesse saído das cabeças pulsantes dos
integralistas, revelando aproximações, interferências, confrontando problemáticas,
fomentando, enfim, contradições nos discursos de seus adversários, ou acentuando as
fraturas, que julgavam necessárias para a manutenção de seus próprios quadros e
discursos. Foi assim que o integralismo da Enciclopédia buscou ressuscitar sua presença
na política nacional de finais dos anos 1950. Neste sentido, a seleção dos artigos teve o

95
papel fundamental de estabelecer uma perspectiva crítica das dificuldades e problemas
enfrentados pelo movimento.
Se, procede afirmar que a enciclopédia - ela mesma um cosmos de personagens,
intenções e imagens - é a única configuração que, espacialmente reúne, condensa e
apresenta aos olhos de todos, materiais dificilmente confrontáveis noutro contexto,
(exemplo disto é a miscelânea heterogênea contida nos escritos), também é verdade que,
a orientação de seleção, publicação e difusão deste compêndio, correspondeu, à efetiva
capacidade que seu editor teve de esboçar itinerários de cruzamento, buscando uma
unidade para a dada enciclopédia. Ontem como hoje, a leitura da Enciclopédia do
Integralismo continua sinalizando um ideário de pequena penetração popular, ao
contrário dos “arroubos megalomaníacos” que alguns dos seus textos trazem. Peculiar
ao refutar o universalismo ilustrado do modelo iluminista, caracteriza-se antes, como
parte de uma tradição conservadora, que se alinha ao passado como forma de
revigoramento de suas bases, crenças e propostas políticas. Decorridos pouco mais de
cinqüenta anos de sua publicação, a compreensão deste empreendimento ainda se
mostra labiríntica.

2.5 - Propaganda e consumo de uma ideologia


Contrariamente ao que indica o subtítulo da Enciclopédia do Integralismo em
propagandas de jornais do movimento (“uma enciclopédia que visa ensinar a
cronologia do movimento, de A a Z”), os escritos deste compêndio não foram dispostos
em seqüência alfabética, tampouco apresentados segundo uma produção cronológica, do
escrito mais antigo para o mais recente. O que se percebe é que os textos foram
constituídos sem um plano pré-definido, sendo publicado em cada volume uma série de
temas que mesclava textos rememorativos, ou seja, preocupações referentes ao passado
do movimento, com avaliações sobre o presente do integralismo. No entanto, mesmo
diferenciando-se do padrão enciclopédico clássico, o conteúdo compilado na publicação
tinha a pretensão de um „saber enciclopédico‟, principalmente, se entendido como um
manancial de informações cujo objetivo era, antes de tudo, divulgar as idéias do
movimento, informar e educar. Seu objetivo final era a informação por meio do
proselitismo.
Deste modo, a coexistência de autores provenientes de conjunturas intelectuais
distintas, a diversidade de áreas e gêneros, o empenho em dar cobertura aos principais

96
tópicos em torno dos quais se articulava o debate político/ideológico/institucional do
integralismo evidenciam os alvos focados pela Enciclopédia do Integralismo. Os
„feitos‟ dos escritores vinculados ao integralismo foram amplificados na compilação
realizada por Rocha Dórea. É como se o editor focalizasse uma lente de aumento nas
ações realizadas pelos integralistas por ele selecionados, super enfatizando suas relações
com o integralismo, a despeito de uma minoria, ainda permanecer vinculada ao
movimento, na época em que foram publicados os volumes.

Dispondo deste expediente, supervalorizando os feitos integralistas, a partir da


divulgação de uma idéia, uma articulação política, uma ação institucional etc., a Edições
GRD, editora que publica o compêndio teve todo o interesse em se articular com o
jornal oficial do PRP, A Marcha, demonstrando êxito não apenas na divulgação da
publicação, mas construindo espaços permanentes de projeção dos autores que na
Enciclopédia escreviam, de maneira que, de 1957 a 1961, diversas vezes, o jornal
oficial passou a cobrir e divulgar a pauta de publicação da editora, tornando-se uma
espécie de vitrine para os livros e autores direitista da GRD.

Articulada às estratégias de promoção da ritualística e dos adereços integralistas,


seguiu-se uma campanha publicitária que visou apresentar a Enciclopédia do
Integralismo ao seu público. A Marcha publicou uma série de anúncios a respeito do
compêndio, ocasião em que o discurso foi ainda mais direto, valendo-se de uma
linguagem que procurava homogeneizar a mensagem emitida, sem diferenciar
conteúdos ou termos dos textos ali apresentados. Não havia mais a preocupação em
dividir os textos entre inteligíveis para a massa e para o público intelectualizado,
inquietação tão presente nos anos da Ação Integralista116.
Sempre contundente, a propaganda que figurava no jornal tinha como intuito
abarcar todo o tipo de leitor. No período de celebração dos 25 anos da doutrina, o
movimento reforçou sua conduta propagandística em prol da vendagem de livros, dentre
os quais se destacou a Enciclopédia do Integralismo: “o maior sucesso de vendas,

116
Nos anos de atuação da AIB, uma das diretrizes de Plínio Salgado foi a publicação de textos
doutrinários que diferenciassem o seu público alvo. Com um teor fortemente proselitista e anticomunista,
tais escritos eram divididos entre textos „intelectualizados‟ e „gerais ou de fácil assimilação‟. Havia
diferenças na forma de transmitir a mensagem, ainda que o objetivo sempre fosse a doutrinação. Para os
leitores considerados „cultos‟, a mensagem era mais intelectualizada, ao passo que para a população do
interior, tida como mais simples, geralmente semi-analfabeta, a mensagem deveria ser desprovida de
sofisticação. Ver: TRINDADE, Op. Cit. p.145; CHASIN, Op. Cit. p.34 & CAVALARI, Op. Cit. p.78.

97
assinaturas e anúncios já veiculado pela Marcha”.117 Veja-se o seguinte exemplo: “A
Enciclopédia do Integralismo é um monumento erguido pela máxima homenagem ao
Sigma! Corra, pois os volumes vão acabar! Ser assinante da Enciclopédia é ser fiel aos
propósitos do Sigma!”.118
Acompanhados de suas respectivas ilustrações de capa, os livros
propagandeados pelo jornal passaram a figurar nas listas de livros mais vendidos da
editora GRD Edições119Para comprovar tal aumento na comercialização dos títulos, o
jornal passou a anunciar os volumes da Enciclopédia, como exemplo de título que havia
aumentado sua tiragem. Diversos anúncios indicavam que “o compêndio que iniciara
com menos de mil exemplares vendidos chegava, após sistemáticos anúncios, ao 4º
volume, com cerca de três mil exemplares, o que praticamente quadruplicava sua
tiragem”.120 Aqui cabe uma ressalva: a despeito de a afirmação ultimar que a tiragem
havia superado as expectativas da editora, a não comprovação estatística deste aumento
(nenhum balancete, quadro sinótico ou projeção) indica que as propagandas não são
suficientes para concluir que efetivamente superaram as tiragens.
O perfil das publicações apresentadas no jornal A Marcha tinha características
bastante específicas. Reafirma-se que, por se tratar de um jornal partidário, proselitista
por excelência, apenas anúncios de obras doutrinárias foram veiculados. Até a coleção
de ficção científica, - coqueluche das Edições GRD- anunciada no jornal, era
devidamente alinhada a um discurso político, para que sua apresentação não destoasse
do perfil apresentado pelas demais publicações. A referência aos “discos voadores” foi
manifestada pela primeira vez em outubro de 1956. Desde 1954, a GRD Edições e a
Livraria Clássica Brasileira, maiores distribuidores de títulos de cunho nacionalista e
integralista na década, passaram a anunciar, sistematicamente, suas obras nas páginas de
A Marcha. Entende-se que tanto os livros de ficção científica quanto a Enciclopédia do
Integralismo tornaram-se mais conhecidos graças à freqüente exposição do jornal.
Note-se que o discurso contido na maioria das obras anunciadas só pode ser
entendido no contexto da disputa ideológica propalada pela Guerra Fria, que, no Brasil,
também intensificou seus dispositivos anticomunistas como arma de demarcação
político/ideológica. Desassociado desta variante, tal discurso perde seu valor. A repulsa

117
A Marcha, 19/8/1959 p.5.
118
A Marcha, 28/2/1958, p.15. Grifo meu.
119
Fonte: Introdução do editor: EI, Vol. IV. Setembro de 1958. Reproduzido no jornal, A Marcha de
12/10/1957, p.6.
120
A Marcha, Idem.

98
integralista ao comunismo foi favorecida pela atmosfera de contraposição que se
instaurou no país. Atrelado à tutela cultural e política dos EUA, o Brasil seguia as
diretrizes norte-americanas, acarretando, inclusive, reflexos que foram percebidos nas
publicações perrepistas, catalisadoras da atmosfera de tensão provocada pela guerra
ideológica do mundo bipartite.
Além do cuidado de veicular as mensagens de maneira clara, precisa, sem
metáforas exageradas, o jornal passou a dispor de recursos visuais (como fotografia de
capa dos livros ou de consumidores em plena leitura), procurando assim, sensibilizar o
leitor da necessidade de se consumir o que era avalizado pelo movimento. A estratégia
de anúncio evoluiu, a partir de então, para uma apresentação mais atraente dos produtos
a serem consumidos. Em consonância com a realidade editorial e financeira do país,
cujos investimentos do governo federal diretos no setor editorial beiravam a ordem dos
30% mais do que os anos anteriores121, e como reflexo das novas tendências do setor
editorial que, a partir do início da década, sofreu um crescimento e uma
profissionalização nos seus três níveis de atuação (produção, promoção e vendas), o
jornal A Marcha mostrou-se permeável aos anúncios de obras literárias que
corroborassem o perfil ideológico propalado pelo integralismo, o que se fez sentir por
meio do aumento de publicações anunciadas e recomendadas pelo jornal.
A editoria d‟A Marcha passou então a aumentar, cada vez mais, sua quota de
sugestões bibliográficas.122 Em meados de setembro de 1957, portanto às vésperas das
comemorações dos 25 anos integralistas e da publicação da Enciclopédia do
Integralismo, o jornal iniciou uma série de chamadas publicitárias, cujos textos
explicitavam a necessidade do “bom integralista” adquirir “a fonte e a essência da
essência da nossa doutrina, bem acabada, reunida e discutida por pessoas que viveram e
vivem a doutrina do sigma”.123 Diversos depoimentos procuravam corroborar a intenção
de se publicar a essência do movimento integralista:

121
De 1956 a 1958, o setor editorial brasileiro cresceu em média 9% ao ano, o que foi uma média
considerável, principalmente se comparado aos primeiros anos da década. Ver: ANDRADE, Olímpio de
Souza. O Livro Brasileiro desde 1920. 2.ª edição. Rio de Janeiro: Cátedra/MEC, 1978. Quadro de canais
de distribuição do mercado editorial brasileiro em finais de 1950.
122
A modernização da concepção editorial e de layout do jornal projetou o volume de anúncios, em cerca
de 20%, aumentando inclusive, sua tiragem, que saltou do patamar de 40 mil exemplares/número para
quase 55 mil, entre 1954 e 1957. Dados: „Nosso Layout‟. A Marcha, 12/12/1957, p.3.
123
Depoimentos de antigos integralistas, editados em alguns jornais do PRP. Primeira propaganda efetiva
sobre a EI. “Propaganda: O depoimento”. Por: Hélio Rocha. A Marcha, setembro de 1957 a outubro de
1959, pp. 5; 7; 9. Fairbanks, Mello Mourão e Galotti são outros integralistas que aparecem nestes
depoimentos.

99
Conheci essa Enciclopédia através dos anúncios da Marcha. Até agora tenho os quatro
volumes... nem vejo a hora de chegar o quinto e o resto... A Marcha só errou num
ponto: deveria notificar o sumário dessas publicações. Mas talvez, seja de propósito,
afinal é do suspense que vive os bons negócios. Ainda me lembro e agora vou dizer:
Anauê, amigos. Anauê.124

A veiculação de depoimentos como este promoveu uma continuidade nos


debates acerca da importância de se adquirir o compêndio. No trecho destacado abaixo,
percebe-se o grau de abrangência que o jornal procurou alcançar com este tipo de
anúncio, de maneira a abarcar o maior número possível de apreciadores. O anúncio
continha o seguinte texto:
VOCÊ... é um fiel seguidor do Sigma?
Isto significa que você já é assinante da Enciclopédia do Integralismo, certo? Por isso
INTEGRALISTA!!! Precisamos nos convencer de uma vez para sempre: sem a leitura
das obras doutrinárias não existe convicção verdadeira. TODOS precisam ler a
ENCICLOPÉDIA e a DOUTRINA, pois são eles que ensinam o valor do Integralismo.
Mas não é só ler. Temos que divulgar junto a todos que podem ser doutrinados. 125

A diagramação do texto descrito acima explicita o tom imperativo, prescritivo da


linguagem utilizada. Os editores responsáveis pelo jornal oficial do PRP passaram a
buscar uma comunicação mais direta com seus leitores. Isso, segundo seus
profissionais, rompia com uma “manobra textual estática” 126 característica dos anúncios
até então veiculados. Esta estratégia foi posta em atividade visando dinamizar a relação
entre o anunciante e o público.
O autoritarismo, a relação de subordinação da militância, a tentativa de
aproximação com o leitor, utilizando-se, principalmente, de frases destacadas por vários
pontos de exclamação, intercalação de caixas alta e baixa na disposição das palavras,
estabeleceram uma relação de hierarquia entre elementos primordiais e acessórios na
mensagem. Esta relação foi pautada pela importância dada às palavras registradas em
caixa alta, cujo apelo sensacionalista e proselitista explícito entrava em harmonia com o
texto editado em caixa baixa e tipos pequenos, o que proporcionou ao leitor a distinção
não só dos tamanhos das letras, e de seus respectivos significados - explícitos e
implícitos - mas uma diferença que estabelecia parâmetros entre o necessário e o
subliminar. Exemplo disso são as palavras: “VOCÊ, INTEGRALISMO,

124
Idem, p.5.
125
A Marcha, edições sucessivas em março de 1959. Grafia original.
126
A mudança nas estratégias de propaganda do PRP foi tema de diversos artigos do jornal, dos quais
destacamos: “A estática manobra textual”. A Marcha. Diversas edições - 1957.

100
INTEGRALISTA, BRASIL, TODOS, LIVROS, ENCICLOPÉDIA e DOUTRINA”
que, veicularam a essência do ideal integralista, supervalorizando seus conteúdos.
O apelo sob a forma de texto foi de tamanha eficiência que a receptividade pôde
ser medida nas edições posteriores a março de 1959. De abril a junho do mesmo ano, a
enciclopédia triplicou sua tiragem, tendo sido anunciado o rompimento da meta dos 20
mil exemplares.127 Os anúncios e o aumento das assinaturas do jornal A Marcha,
favoreceram, ao que tudo indica o crescimento na vendagem dos volumes da
enciclopédia.
Como estratégias de propaganda foram veiculadas diferentes mensagens.
Utilizou-se de maneira mais racional as páginas do jornal, possibilitando uma maior
visualização dos produtos propagandeados. Não só os tipos e cores, mas também as
dimensões dos anúncios aumentaram. Foram experimentados vários formatos, o que
pode ser sentido na intensificação do elemento visual. As imagens agregadas aos
anúncios supervalorizaram a exposição dos produtos, que eram veiculados em conjunto
com pequenos textos explicativos. Esses anúncios marcaram um diferencial: a
reprodução da imagem em três cores, episódio inédito na imprensa integralista. Até
então, tal técnica era utilizada apenas na capa do jornal.
Entre os meses de outubro de 1958 a novembro de 1959, com o objetivo de
aumentar a venda da EI por meio da assinatura, o jornal passou a veicular o seguinte
anúncio:
A Livraria Clássica Brasileira comunica os prezados clientes que o lançamento desta
Enciclopédia destina-se a mostrar, ao povo brasileiro, o que o integralismo fará
quando chegar ao Poder. Aos pais e professores integralistas cabe uma enorme
responsabilidade: o de possuir os volumes da Enciclopédia do Integralismo, mostrar
aos filhos e alunos o que é o movimento, de que faz parte, o que ele significou nos
últimos 25 anos na vida brasileira. Por este motivo, a Livraria Clássica Brasileira
128
aconselha aos integralistas não deixarem de possuir seus exemplares.
Nesse sentido, vale destacar que, após 1957, conceitos como doutrinação e
pertencimento passaram a ser mais bem explorados pelos anúncios, principalmente por
conta das comemorações de outubro. Ao longo dos anos 1950, a manutenção da ação
militante foi tema recorrente das matérias dos jornais perrepistas: primeiro na Idade
Nova depois n‟A Marcha. Este sentimento de pertencimento do militante também foi
propagandeado durante toda a publicação da Enciclopédia do Integralismo com maior
contundência no último volume. Neste, destacou-se uma expressiva passagem escrita

127
DÓREA, G. “Prólogo: Nota do editor”. EI, Vol. VII. p.3.
128
A Marcha, 1/11/1957, p.2. Grifos meus.

101
por Gumercindo R. Dórea, na qual o editor afirmou que “a mudança de nós mesmos
[integralistas] começaria na permissibilidade de quem nos ouvisse”.129 De fato, ao
escrever esta frase, Dórea dirigiu-se aos antagonistas do movimento integralista na
ordem democrática. A acusação desses adversários sempre foi a mesma: “que o
integralismo não havia entendido a mudança dos tempos”. Conclusão: seus integrantes
foram condenados a pagar a dívida de seu passado, e seus antagonistas permaneceram
130
referenciando este passado como “marca indelével e irrecuperável” , num jogo cuja
acusação permaneceu inalterada. Uma vez integralista sempre integralista.
Assim, a propaganda doutrinária constituiu-se no combustível necessário para o
restabelecimento do ideário integralista, num período em que a palavra escrita
solidificou-se como o mais importante propulsor do movimento. Contraditória e
heterogênea a Enciclopédia do Integralismo, surgiu, com suas mais de 1770 páginas,
como uma proposta de apresentação ordenada da leitura de mundo dos integralistas,
consolidando, assim, o discurso que pretendiam deixar para seus herdeiros.

2.6 - Mas, sobre o que dissertavam tais escritos?


A despeito de nos parecer à primeira vista, um desfile de nomes desconhecidos,
portanto, sem muita importância no espectro político-ideológico da direta do período, é
importante ressaltar que é este o grupo de integralistas que vai desenhar a linha de
intersecção entre a doutrina e a prática política nas duas aparições do movimento, tanto
na década de 1930, quanto de 1940/50. Portanto, de maneira sumária, do primeiro ao
décimo segundo volume (ou melhor, o suplemento que seria publicado após o 11º
volume), os temas, as preocupações, os personagens e os depoimentos englobaram um
contexto de diversidade sobre o qual o integralismo foi construído. Em consonância, a
seleção explorou estas pluralidades esforçando-se para não serem entendidas como uma
contradição.
Plínio Salgado abre a seleção com um texto construído especialmente para sua
inauguração: “A orgânica do movimento e suas funções básicas na sociedade dita
„ideal‟” foca a mentalidade doutrinal do integralismo, esboçada a partir das idéias de
seu idealizador. O segundo volume tem as presenças de Belisário Penna, com trechos da

129
DÓREA, Gumercindo R. Apontamentos finais. EI. Vol. XI, p.188.
130
Diário Carioca, 12/12/1957, p.4.

102
carta escrita ao diretor geral do jornal Correio da Manhã, originalmente redigida em
meados de 1937. Lucio José dos Santos destaca a relação do integralismo com o
catolicismo e o corporativismo. No texto: Consulta sobre o Integralismo (A ligação
entre a Igreja católica, o cristianismo e o Integralismo...), originalmente retirado do
jornal O Panorama, de finais de 1937, o autor se aprofunda na discussão sobre o
essencial motivo de todo o integralista ser católico!”131 De Alcebiades Delamare foi
publicada uma carta endereçada à mocidade integralista das Faculdades de Direito,
intitulada: a Flâmula Sagrada do Sigma. Também publicada em 1937, faria par com o
Curso de Economia política – criado por Delamare e adotado na Faculdade Nacional de
Direito da Universidade do Brasil, ambos editados nos volumes 2 e 5, respectivamente.
Rodolfo Josetti, discute a relação do integralismo com a cultura artística em dois
momentos: O sentido Estético do Integralismo e o Sentido cultural e artístico do
integralismo (1937). Victor Pujol debate a idéia de Estado Integral e relata sua vivência
quando da transcrição do Regulamento do jornal Monitor Integralista, uma das partes
da “Orgânica da AIB!”.
O caricaturista, Madeira de Freitas discorre sobre o Movimento do Sigma e sua
excelência moral: o sentido patriótico do Sigma, seu sentido vocacional como uma
mística e uma reação nacionalista. Tasso Silveira, por sua vez, realiza um resumo dos
elementos básicos do integralismo: discutindo que o Modernismo e Integralismo são
compatíveis desde a origem. O autor aponta os seguintes elementos: O Manifesto de
Outubro Estratégia; As diferenças e semelhanças entre o documento integralista e os
demais e a Concepção de mundo. O Homem. A Família. O Trabalho. O Estado.
Revolução espiritual. O Chefe. Complexo, este texto é, certamente, um dos mais
aprofundados estudos da Enciclopédia do Integralismo.
Augusto de Lima Jr. publica: O Espírito Integralista da Inconfidência Mineira.
Trata-se de uma inusitada comparação entre o movimento integralista e a Inconfidência
Mineira, mote retomado por Felix C. Rodrigues, que escreve sobre a Organização
social do integralismo (ambos de 1936) Este último texto corrobora o artigo publicado
por Juvenil da Rocha Vaz sobre o Estado Integral e a Bio–Pscicologia individual do
integralista. De João Carlos Fairbanks, é aproveitado um discurso proferido em São
Paulo no dia da bandeira de 1957. O professor de química, Jaime Regalo Pereira escreve
sobre Liberalismo, Socialismo e Integralismo: a questão do sindicalismo como reforma

131
Enciclopédia do Integralismo, Vol. 2 - (retirado de Panorama, ano I, nº 12, 1937)

103
de representação. AB Cotrim Neto, sobre as Bases do pensamento político Integralista,
além de possuir um poema na coletânea de poetas integralistas, editado no sétimo
volume.
San Tiago Dantas discorre sobre O Integralismo e as Classes Armadas, bem
como sobre a “Preparação das elites integralistas”, Aula Magna proferida em meados de
1934, cujo tema fora o Direito corporativo. Além disso, edita juntamente com Ernani
Silva Bruno o Estatuto da Escola Brasileira de Jornalismo, assinado em Belo
Horizonte, no dia 19 de dezembro de 1936. Em co-autoria com Plínio Salgado assina o
Regulamento Nacional de Imprensa, parte constituinte da Orgânica do Movimento.
J. Venceslau Jr aparece no compêndio com o texto: “O que significa Revolução
Integralista”, texto de finais dos anos 1930, cujo cunho proselitista se sobressai.
Temática bastante próxima da apresentada pelo então padre, Hélder Câmara, que
aparece na Enciclopédia do Integralismo com dois textos publicados originalmente na
década de 1930: O Integralismo em face do Catolicismo e A Educação e o Integralismo.
Este último, fragmento de um discurso de paraninfo proferido pelo padre em 1937.
Arnóbio Graça escreve sobre a noção de Governo Forte, texto que responde às
provocações do jornalista Pedro Lafayette intitulado: A luta dos Fariseus. Além disso,
Lafayette também descreve a briga ocorrida nos jornais entre Alceu Amoroso
Lima/Fábio Alves Ribeiro, articulista do “Diário de Notícias”, do RJ e a AIB. Escritos
em meados de 1940, estes artigos têm um caráter peculiar, pois trás a tona, os princípios
de discordância que afastaram Amoroso Lima de sua simpatia pelos integralistas. O
líder católico, anteriormente simpático à AIB, sobretudo devido ao seu apelo católico,
modifica sua postura, tornando-se um tenaz discordante da ideologia integralista.
Ernani Silva Bruno, em A crise brasileira de Autoridade sinaliza o que acreditava
ser o maior problema do país. Edita juntamente com San Tiago Dantas o Estatuto da
Escola Brasileira de Jornalismo, bem como, o Regulamento da Secretaria Nacional de
Doutrina e Estudos. Contemporâneos serão os escritos de Antonio Galotti que aparece
por diversas vezes. No entanto, seu texto mais representativo é: O Renascimento do
Estado. Artigo em que analisa cronologicamente a evolução do termo Renascimento, foi
retirado da palestra inaugural, que proferiu em uma das Salas da Seção de
Doutrinamento da AIB, em 1936. Trata-se de uma fala calcada na consolidação do
sistema integral e da Economia Dirigida, sublinhando a força do governo fascista que
dirigia tudo para o Estado. Nestes seus escritos, Galotti trata da economia sublinhando as
propostas do Integralismo. Além dos textos já mencionados, o economista também

104
apresenta uma Aula magna, intitulada: Para as elites do integralismo, parte do curso de
doutrinas econômicas que ministrou aos aspirantes à integralistas nos anos 1930. Por
fim, assina o Regulamento Nacional das relações com o Exterior, datado de 25 de agosto
de 1936, mesmo ano em que Loureiro Jr. escreve o texto: Aos Estudantes Paulistas, O
Regulamento da Diretoria Nacional de estatística e do Gabinete da Chefia Nacional,
documentos também assinados por ele.
Helio Vianna propõe uma espécie de resumo sobre os episódios históricos que
culminaram na chegada do Integralismo. Descreve, em tom claramente proselitista as
Bases Históricas da Unidade Nacional. Também apresenta partes de uma Aula magna
ocorrida em meados de 1934: Aula sobre o Direito corporativo. “Para formar as elites
integralistas”. Representante do universo integralista feminino, Margarida Corbisier
comparece com dois textos em que discute, respectivamente: a) o Conceito de vida
heróica. Para a autora: o integralista é, antes de tudo, um herói! e b) o Integralismo e a
educação feminina, um trabalho apresentado originalmente no I Congresso Nacional
Feminino da AIB, em outubro de 1936. Já, Luis Alexandre Compagnoni apresenta: Por
que me tornei e continuo integralista – texto em que exprime suas visões enquanto um
católico integralista. Escrito em meados dos anos 1950 é contemporâneo dos escritos de
outro militante católico, Leopoldo Ayres. Em sua Carta Aberta aos Sacerdotes de minha
Pátria e seu O sentido da formação pliniana, corrobora a forte inclinação católica de
grande parte da militância integralista. Em ambos escritos, discorre sobre as pontes que
ligam o “catolicismo e o movimento do Sigma em pleno período pós-guerra”.
Ernani Lomba Ferraz descreve um tratado que intitula: Sobre Democracia e
Sufrágio, colaboração de uma discussão travada entre Lomba Ferraz e José Garrido
Torres, que, no compêndio apresenta um texto sobre a Concepção Integral da Economia.
O diplomata, Rômulo Almeida escreve sobre uma questão até então pouco debatida. O
artigo: Reflorestamento inaugura uma discussão que seria aprofundada apenas no final
do século XX. Datado de meados dos anos 1950, este é o primeiro texto integralista que
trata da intersecção entre o pensamento político e a preservação do meio ambiente.
Entretanto, tem um caráter dúbio esta preocupação de reflorestar: a alusão ao verde do
partido, num momento em que reflorestar significa plantar novas idéias para novas
gerações. Esta metáfora fora transportada durante toda a década de 1930, e migrou no
imaginário político integralista até sua fase posterior.
Lauro Escorel, com seu “Conteúdo humano do integralismo e a intervenção do
Estado” e Genoino Ferreira Filho com o artigo intitulado: “Ser ou não ser integralista”,

105
constroem dois escritos analíticos sobre a tendência dos correligionários nos anos 1950.
Para ambos há uma certeza peremptória: ou os militantes estavam no PRP, ou estavam
fora do integralismo. Interessante conclusão a que chega Genoino F. Filho, afirmando
que a maioria dos correligionários que não estivesse vinculada ao PRP teria que estar,
necessariamente arrolada nas fileiras dos três outros partidos: UDN, PTB E PSD.
Umberto Pergher, com seu paradigmático texto: Como estudar Plínio Salgado? e
Genésio Pereira Filho, em: Ser ou não ser integralista: como os integralistas
congregam as aspirações da geração dos anos 50; acompanhados do escrito de
Abelardo Cardoso sobre o Ato de fé integralista!, configuram a tríade de perrepistas
que buscaram traduzir em textos exclusivamente escritos para a Enciclopédia, os
conceitos de fidelidade militante. No caso de Cardoso, este ainda apresenta uma carta
endereçada a Gumercindo Rocha Dórea, na qual, afirma que se converteu ao
integralismo e que passaria, a partir daquela data, a ser e fazer valer o integralismo.
Note como a força de aliciamento do movimento ainda era pautada pelos antigos
protocólos. Por outro lado, José Soares Arruda com “O conceito de cultura
integralista” e Ivan Luz, com seu texto sobre “A Teleologia Integralista” formam com
Hélio Rocha – “O integralismo não é totalitarismo” outra trinca de autores da terceira
geração, portanto, textos escritos em plena década de 1950. Em consonância,
Gumercindo Rocha Dórea, com suas Introduções e comentários nos volumes: 1, 3, 4, 6,
8, 10 e 11 edita em partes o também conhecido texto: “Plínio Salgado e a Estirpe de
Aretino”, texto original dos anos 1950, mas modificado pelo autor para compor o
compêndio.
A chamada velha guarda integralista, capitaneada por Luis da Câmara Cascudo,
aparece com o tema: “Vários brasis”; Jeovah Mota, com “Regulamento do
Departamento Nacional dos Serviços Sindicais” – organização dos grupos profissionais
e “A orgânica da AIB”; Thiers Martins Moreira: “Aula magna: A preparação das elites
integralistas132e Introdução à Sociologia Geral”, textos que contrapunham-se aos
escritos dos chamados autores mais jovens como Carmem Pereira Dias, com seu: “A
mulher e o integralismo” e mesmo o padre Francisco Galvão de Castro, em cujo texto:
“Os quatro pontos cardeais do Integralismo I e II” constrói a noção de cristianismo

132
Fizeram parte desta aula “Preparação das elites integralistas”, ocorrida em meados de 1934: San Tiago
Dantas (aula sobre o Direito corporativo), Gustavo Barroso (aula sobre a História militar brasileira), Hélio
Vianna (aula sobre a História social e política do Brasil) e Antonio Galotti (sobre Doutrinas Econômicas).
Os planos de aula destes cursos estão disponíveis na Enciclopédia do Integralismo. Vol. 9. pp.154-159.

106
integral, de maneira bem menos sectária que seus correligionários dos anos 1930. Além
deste, o padre Galvão de Castro também assina: “Revolução da família”; “O problema
da ordem”; “Técnica de Sorel, técnica de Cristo” e “A concepção integralista do
trabalho”, tornando-se assim, um dos mais profícuos escritores compilados na
Enciclopédia.
Por fim, Miguel Reale aparece com seu conhecido escrito: “O que é o
Integralismo”, além da Cartilha do Integralismo, inteiramente redefinida e ampliada,
ainda nos anos 1930, apropriadas para a publicação na Enciclopédia do Integralismo.

2.7- Discursos recauchutados


Uma rápida observada no repertório descrito anteriormente sinalizará que muitos
dos autores arrolados não eram mais associados ao integralismo no momento em que
tais textos foram republicados (anos 1950), o que nos leva a questionar: havia por parte
dos autores não mais integralistas concordância ou conhecimento sobre a utilização de
seus textos pregressos? A questão da autoria dos textos e da concordância de sua
utilização deve ser analisada levando-se em conta a postura polivalente mantida por
Gumercindo Rocha Dórea entre os anos de 1957 e 1961. Era ele quem arregimentava,
selecionava, editava, publicava, distribuía e cobrava dos Centros Culturais da
Juventude, a leitura dos volumes, uma vez que nos dois primeiros anos da publicação
da Enciclopédia, Dórea também ocupava a presidência da CCCJ. Portanto, há de se
questionar como se dava o processo de utilização dos escritos originais, por este jovem
editor (à época com menos de 30 anos).
É digno de nota que, de maneira geral, todos os textos editados no compêndio,
sobretudo, os de militantes já afastados do integralismo foram publicados sem a
anuência formal dos missivistas. Aliás, esta foi uma prática seguida pelo editor: a
sistemática e aleatória presunção de que os escritos selecionados por ele em “sua”
enciclopédia não pertenciam mais aos missivistas, mas ao integralismo. Paralelamente,
cabe aqui outra pergunta: teria havido por parte dos autores que aparecem no
compêndio (os afastados do movimento, naturalmente) concordância ou conhecimento
prévio sobre a publicação de seus textos pregressos? Se, sim, quantos autores
autorizaram? Se não, como reagiram diante de uma publicação a sua revelia? Esta não é
uma questão menor, pois é sabido que parcela significativa dos autores que tem escritos
no compêndio caminhava em direções diferentes do integralismo naquele momento.

107
Por trezentos anos, a propriedade intelectual serviu tanto para remunerar os
criadores quanto para garantir que seus inventos fossem creditados e legados à
posteridade, segundo suas rubricas. Nesse sentido, a lei de propriedade intelectual
significou um avanço inquestionável para as artes e a ciência. Quando surgiu na
Inglaterra, em meados do século XVIII, foi o que legitimou pela primeira vez uma idéia
que viria a se tronar um dos alicerces do mundo moderno: a de que o autor é dono de
sua obra e deve ser recompensado sempre que ela trouxer ganho financeiro, moral ou
intelectual a outra pessoa. Não foi isso que ocorreu com os textos publicados na
Enciclopédia. Parece-nos claro que não houve, por parte do responsável pelo projeto, o
devido cuidado de consultar os ex-integralistas. Talvez, por ter ocorrido a anuência
formal de Plínio Salgado (o chefe), Gumercindo Rocha Dórea tenha entendido ser
desnecessário a consulta aos autores. Embora as discussões sobre a questão do direito
autoral jamais tivesse sido um foco da preocupação de Dórea, (nem o era com tamanha
profissionalização de hoje) nos parece estranho como um editor, que vivia e vive o
metier de publicações e autoria tenha se furtado de prestar contas sobre esta apropriação
de escritos alheios. Por diversas vezes ao longo das entrevistas concedidas para esta
pesquisa, o editor afirmou que à época, “a idéia que se tinha sobre o afastamento de
muitos dos militantes que apareciam com escritos na enciclopédia, era que uma vez
militado no integralismo, seu discurso jamais seria esquecido ou apartado do momento,
independentemente do tempo em que tivesse sido falado ou escrito tal discurso. Logo, o
„discurso‟ passava a ser “propriedade” não do autor (pessoa física), mas da “instituição
integralismo”.133 Mais curioso ainda é constatar como, nenhum dos nomes citados ou
compilados tenha se manifestado, se rebelado ou se pronunciado em nenhuma ocasião
(ao menos a que se tenha conhecimento), sobre o fato de terem sido utilizados textos
que possivelmente depunham contra suas convicções vigentes na época. Caso tenha
existido qualquer manifestação de repúdio ou contrariedade por parte dos ex-
integralistas arrolados no compêndio, não foi possível neste trabalho encontrá-los.

133
Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea. São Paulo, 30/07/2009.

108
Fig.16. Livros para a elite política, com especial destaque à Enciclopédia do Integralismo: anúncio direcionado aos
CCCJ e à classe política do movimento. A Marcha, out./1957, pp.8 e 12.

109
Podemos, em contraposição dos argumentos utilizados acima entender que a
maneira mais fácil para se desvincularem do que não aceitavam mais era sinalizar que
se tratava de textos anacrônicos à época e, portanto, inofensivos. Independentemente
das conjecturas sobre os propósitos destes (ex- integralistas) não terem se pronunciado,
o que se sabe é que estes autores não se sentiram prejudicados pela vinculação. Causa
curiosidade imaginar, San Tiago Dantas, Dom Hélder Câmara e Miguel Reale (para
citar apenas alguns dos mais representativos ex-militantes) não se manifestando
contrários à utilização de escritos que não mais legitimavam sua ideologia vigente. E,
no entanto, são estes os exemplos de autores e textos utilizados pela Enciclopédia para
corroborar a máxima integralista: o integralismo para o presente, o integralismo para o
futuro! Tendo coincidido com o momento de maior visibilidade do movimento desde
sua “recriação”, a publicação da Enciclopédia do Integralismo, consubstanciou-se numa
empreitada robusta. No entanto, para seus adversários, tratou-se apenas de um diálogo
de cegos e mudos que sinalizou o ocaso do integralismo do pós-guerra.

110
CAP. III
Leitura em metonímia: a
∑nciclopédia do Integralismo
vista de dentro

111
CAP. III - Leitura em metonímia: a ∑nciclopédia do Integralismo
vista de dentro

Analisaremos neste capítulo uma seleção das temáticas que compuseram a Enciclopédia do
Integralismo. Dos mais de vinte temas compilados oito foram selecionados para uma
análise mais aprofundada. Em um contexto propício para a manutenção desses
elementos o integralismo saiu da década de 1950 com uma grande contradição exposta:
se, por um lado esforçava-se para ser aceito no âmbito democrático, carregando ainda a
pecha de autoritário, por outro encontrava espaço num cenário propício à luta contra o
comunismo e o avanço das esquerdas. Este contexto possibilitou a retomada das
atividades integralistas de maneira bem mais incisiva. Veremos a seguir como isso se
deu.

o final de 1957 o jornal A Marcha publicou uma relação de dez134

N princípios que deveriam ser seguidos pelos integralistas. Com o


sugestivo título: “Ninguém Pode dizer ser integralista se não cumpre os
seguintes preceitos”, a lista resume os elementos que fizeram do
integralismo uma causa contraditória, sinalizando as obrigações integralistas por meio
de uma metonímia, ou seja, tomando as partes pelo todo.
1. Ter perfeito conhecimento dos fatos históricos relacionados com o Integralismo e o
seu Chefe, a fim de saber refutar as inverdades lançadas em circulação pelos
adversários;
2. Usar o distintivo do Sigma;
3. Comparecer às reuniões para que é convocado;
4. Assinar A Marcha;
5. Sacrificar prazeres, obrigações, interesses particulares e comodidades, quando
escalado para qualquer serviço em favor da Causa;
6. Não formar sua opinião sobre nenhum assunto baseado na leitura de jornais, rádio
ou televisão proveniente de pessoas ou grupos políticos estranhos;
7. Cumprir rigorosamente seus deveres familiares, profissionais e públicos,
procurando ser modelo de virtudes particulares e cívicas;
8. Lembrar-se de que o crescimento da sua agremiação depende do trabalho intelectual
do Chefe e que este depende do tempo de que dispuser;
9. Nunca sobrepor o interesse ou a vaidade pessoal às superiores razões da Causa;
10. Assinar, ler e debater a Enciclopédia do Integralismo como foco central da
doutrinação de nossa causa.

134
Originalmente, A Marcha publicou 15 preceitos que foram, a partir de 1957/58 modificados para
agregar a leitura da EI como fundamental elemento da doutrina e prática integralista. Ver: A Marcha,
19/12/1957, p. 3.

112
De acordo com a propaganda veiculada durantes meses no jornal A Marcha, a
leitura, discussão e incorporação dos temas contidos na Enciclopédia (na sua maioria
textos escritos originalmente nos anos 1930 e republicados nos anos 1950) fechariam o
ciclo pensado por Salgado: “a educação pela doutrina, a doutrina pela ação e a ação pela
obediência!”. (SALGADO, A Marcha, 1957:06) Os dez mandamentos conferiram à
militância um código de condutas que mobilizou milhares de brasileiros ainda crentes
na força do Sigma, somatória que visava agregar às vidas dos militantes um conjunto de
valores restritivos e conservadores, como, aliás, reza a cartilha autoritária.
Os textos da Enciclopédia do Integralismo surgiram com uma dupla proposta: a)
sintetizar a trajetória da doutrina integralista, selecionando apenas fatos que julgava
lisonjeiros para o movimento, escondendo, assim, debaixo do tapete da disputa política,
tudo o que era execrado por seus adversários; e b) abarcar uma amostra diferenciada e
heterogênea de escritos que perfizeram três décadas de ideologia, esperando que tal
seleção atingisse o rigor e a simplicidade capazes de cooptar um leque amplo de
simpatizantes.
Dos mais de vinte temas compilados na Enciclopédia oito foram selecionados
para uma análise mais aprofundada.135 A seleção se deu mediada pelos seguintes
critérios: a) reincidência da temática; b) consistência das relações entre os integralismos
do pré e pós-guerra; c) O apelo com relação aos elementos fundamentais do
integralismo e, d) a importância em relação ao período publicado. Assim, elementos que
ganharam força em 1950-60 receberam um tratamento mais aprofundado.
Apresentaremos a seguir o conjunto de seis temas responsável pela organicidade
da Enciclopédia. Dele, destacamos a educação e o catolicismo integralistas; a proposta
do estado integral; o binômio estética/poética do movimento; as questões sobre a
liderança e as dissidências, bem como os antagonismos enfrentados pelo movimento.
Todos esses temas foram subordinados a dois assuntos que se sobressaíram: o
anticomunismo e o conceito integralista de democracia: elementos complexos e
contraditórios que encontraram terreno fértil para serem debatidos em finais dos anos
cinqüenta e princípios dos anos sessenta. Foi em torno do binômio

135
Em minha dissertação de mestrado, defendida em 2002, elenquei os 22 temas que a EI publicou,
construindo naquele momento, uma pequena discussão sobre seus pontos mais relevantes. Como não
dispunha de tempo me instrumental teórico que me possibilitasse uma análise mais acurada do material,
este primeiro contato serviu de mote para que fosse repensado o manejo e o processo de análise deste
compêndio. Oito anos depois de entregue a dissertação de mestrado, o produto desta análise se mostra
mais amadurecido. Por isso a seleção de oito temas que, em minha opinião, sintetizam as duas dezenas de
temas presentes na compilação de artigos realizada por Rocha Dórea.

113
anticomunismo/democracia que as demais temáticas se coadunaram. Por outro lado,
optou-se por descartar certos temas que (embora relevantes) se mostraram superados na
conjuntura dos anos 1950. As temáticas que discutiam o mimetismo fascista, bem como
a verve autoritária, antiliberal e nacionalista exacerbada do integralismo são alguns
exemplos.

3.1- O Anticomunismo: bandeira fundamental do integralismo


A publicação da Enciclopédia do Integralismo se deu em um contexto político nacional
e internacional bastante tumultuado. Enquadrada entre os
governos JK/JQ/Jango (1956-1961), situa-se em plena
vigência do que se convencionou chamar de Guerra Fria entre
as duas super potências. Ancorados em pressupostos
ideológicos aparentemente irreconciliáveis, EUA e URSS
constituíram dois poderes que se afirmavam como centro e
liderança de dois blocos antagônicos. De fato, foram notáveis
na década de 1950-60 a guerra de propaganda, a corrida
armamentista, assim como a iminência de um conflito nuclear.
Ao mesmo tempo houve uma reestruturação das organizações
de esquerda e direita (dentro e fora do Brasil), novas orientações e a criação de novos
grupos no país, com tendências políticas mais radicais.
A Revolução Cubana foi apenas o estopim que fez emergir a radicalização.
Desde 1959, a esquerda, com o PCB, ainda na ilegalidade, alcançou importante
influência no meio sindical e no jogo político partidário. Em princípios de 1960 ocorreu
uma forte ruptura da esquerda, racha que originou em 1962 a criação do PC do B, como
dissidência do PCB, em conseqüência da crise causada após 1956, no XX Congresso do
Partido Comunista da URSS. A relação entre Cuba e os Estados Unidos se agravara a
partir de 1961 com a invasão da Baía dos Porcos. O fracasso da operação levou Cuba a
buscar apoio militar da União Soviética, o que se deu em agosto/setembro de 1961.
Meses depois, em princípios de 1962 seria decretado o embargo econômico norte-
americano a Cuba. Essas eram as questões dominantes na conjuntura internacional, com
grande polarização e confronto entre os países capitalistas e comunistas, situação que

114
perdurou por todo o governo João Goulart e que exacerbou internamente as posições
ideológicas em conflito. (ABREU, 2006:114)
O anticomunismo foi então usado para difundir o medo na classe média e para
identificar as “reformas de base” como a passagem do regime capitalista para
comunista. Os jornais foram os maiores responsáveis pela campanha anticomunista.
Com isso, já em finais dos anos 1950, entidades direitistas, dos mais diferenciados
naipes, (a despeito de não constituírem um agrupamento homogêneo tampouco
concomitante) começam a se reagrupar em torno do Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais - IPES, do Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD e, posteriormente,
nos anos 1960, em torno da Sociedade protetora da Tradição Família e Propriedade. A
atuação conjunta dessas e de outras entidades de caráter análogo, que mantinham algum
nível de cooperação, estimulou a proliferação de entidades anticomunistas na conjuntura
1957-1961. Nesse sentido, a mobilização de muitas entidades anticomunistas teve papel
de destaque na arregimentação dos grupos adversários dos governos (JQ e Jango –
sobretudo no seu primeiro ano de mandato, embora, neste período, o PRP integrasse e
apoiasse o governo), fornecendo o principal argumento que unificou os setores de
oposição. (MOTTA, 2006:145) Por isso, de certa maneira, direta ou indiretamente,
todos estes elementos estiveram presentes na seleção, publicação ou discussão suscitada
pela Enciclopédia do Integralismo.
Desempenhando função decisiva na formação da identidade partidária-
ideológica do integralismo tanto nos anos 1930 como no pós-guerra, a contraposição ao
comunismo também fez parte da ação da igreja católica e de grande parte da imprensa.
Por isso, no que tange à contraposição comunista, o integralismo jamais esteve sozinho.
Embora os integralistas acreditassem serem, de fato, “os donos do anticomunismo”
(CALIL, 2005: 145), compartilhavam tal sentimento de repulsa com grande parcela da
sociedade, afinal havia uma propaganda anticomunista bastante radical no período. É
significativo destacar que, enquanto a defesa do corporativismo, do antiliberalismo e do
ataque aos diversos partidos de perfis ideológicos distintos perdeu sua função no
período democrático, o anticomunismo permaneceu sendo utilizado como mote de
campanha integralista, o que possibilitou o fortalecimento da relação do integralismo
com a Igreja Católica.
Para os integralistas, os argumentos que embasavam o anticomunismo eram
“mais importantes do que os que identificavam os capitalistas liberais (...) isso porque, o
perigo vermelho possuía artifícios mais elaborados de persuasão do que a tacanha,

115
porém eficiente imposição liberal capitalista”(SALGADO, EI, 1957:58). De acordo com
Gumercindo R. Dórea a contraposição se dava basicamente por três motivos:
inicialmente, porque o comunismo havia sido o maior responsável pelo acirramento da
luta de classes; que motivado por isso, se mostrava como uma proposta internacionalista
e não nacionalista e que mediante seu caráter internacional estaria prontamente apto a
implementar um plano de dominação mundial.(DÓREA, EI, Vol. 8, 1959:6)
O acento dado ao espiritualismo atualizava o sentimento anticomunista
originado na década de trinta. Verdadeiro fomentador do anticomunismo, o Manifesto
de Outubro (documento mais importante do integralismo) enfatizava: “o comunismo
destrói a família para melhor escravizar o operário ao Estado; destrói a personalidade
humana; destrói a religião; destrói a iniciativa de cada um”. 136
Cabe destacar que o
Manifesto de Outubro foi discutido e interpretado nos escritos da Enciclopédia do
Integralismo como o centro irradiador de sua doutrina. Nesse sentido, por diversas
vezes, os escritos do compêndio teceram relações com textos que, embora não tivessem
uma chancela integralista, comungavam da mesma percepção anticomunista.
Nos quatro primeiros volumes, e em especial no volume 6, a Enciclopédia cedeu
espaço para a publicação de trechos de escritos não integralistas, mas que se
caracterizavam pelo contundente perfil anticomunista. Exemplo disso foi um trecho
retirado do jornal carioca Correio da Manhã, intitulado “Propaganda Comunista”, em
que o jornal se contrapôs ao que chamou de “vertiginosa escalada comunista”. Note-se
que se trata de um texto escrito em meados da década de 1930, justamente quando o
integralismo intensifica sua auto-propaganda.
É significativo também que em pleno desenvolvimento da chamada Revolução
Cubana, nenhum escrito tenha sido compilado sobre esta temática. Nos meses de julho a
outubro de 1959, (período em que sai o 8º volume), o jornal A Marcha manteve uma
coluna específica que tratava dos desdobramentos do que o jornal chamou de “infame e
deletéria tentativa de comunizar a América”.137 Dórea, no entanto, preferiu a
manutenção do anticomunismo que caracterizou os primeiros anos do movimento.
Até nos poemas dedicados ao anticomunismo, este sempre foi enfocado como
um sistema escravizador, uma ideologia que congregava “cínicos perigosos” e que, por
isso, enganava facilmente os incautos da nação com furtivas promessas de salvação. Na
maioria das vezes, o integralismo rivalizava-se com a ação comunista apresentando-se

136
Manifesto de Outubro de 1932, Op. Cit., p. 11.
137
A Marcha, 19/07/1959, p.6.

116
como uma barreira natural contra sua propagação. Os exemplos poderiam se
multiplicar. Ao longo do sétimo volume, exclusivo sobre poetas integralistas, autores
dos mais variados estilos veicularam a chave: comunismo/atraso, em detrimento do
binômio nacionalismo/salvação.138
A idéia de que uma significativa parcela da sociedade teria aderido ao
comunismo sem uma avaliação prévia e sem um grau mais aguçado de discernimento
tentava provar que a população, em sua maioria, ainda era tratada como massa de
manobra, amorfa e ignorante. A pretensão de demonstrar um conhecimento mais
aprofundado das coisas fazia com que os integralistas afirmassem que, “a única verdade
só se mantinha viva por detrás da lente integralista, a verdadeira fé cristã e nacionalista
do país”(SALGADO, EI, 1957:67). Posicionamentos como estes, sempre encarados
com ironia, geravam antes de tudo um enorme desprezo de seus adversários.
Os ideólogos integralistas, por vezes, aproximavam o capitalismo e o
comunismo como se ambos fossem faces de um mesmo liberalismo. Ora a crítica
mordaz do integralismo homogeneizava os dois lados, veiculando comunismo e
capitalismo como sinônimos, ora os apresentava como antagonistas de magnitudes
diferentes. No entanto, eram sempre vinculados como adversários da religião
Com relação ao operariado, os integralistas acreditavam que a classe
trabalhadora brasileira teria apenas uma chance de resgatar as perdas históricas que o
sistema liberal havia impingido a seus pares. Os integralistas confiavam ser a única
solução compatível com a dignidade operária, por isso reafirmavam sua diferença com
os comunistas. Nesse sentido, o esquema geral de anticomunismo perrepista retomava
os pontos principais que o caracterizava na AIB, seja no esquema teórico que
antagonizava em oposição binária, o materialismo e o espiritualismo, seja por
argumentos de oposição ao comunismo pelo instigamento dos conflitos sociais; seja
pela suposta submissão ao estrangeiro; seja ainda pelo caráter (sic) totalitário, mantendo
a noção de um perigo iminente.
A apropriação desses elementos sinaliza que tanto nos anos 1930 como no
período democrático do pós-guerra, as propostas políticas do integralismo continuaram
tendo como centro de atuação o combate ao comunismo. E embora essa atuação não
apresentasse propostas concretas para os problemas da nação, o que se percebeu foi que
a luta ideológica radicalizou as posições de ambos os lados. Ao longo dos 12 volumes

138
Ver: Diversos poemas anticomunistas na Enciclopédia do Integralismo, Vol. 7. Antologia dos poetas
integralistas.

117
da Enciclopédia a temática (comunismo/anticomunismo) permeou quase todos os
assuntos. Amparado por outra temática tão reincidente quanto a apresentada neste item
(uma heterodoxa concepção de democracia) o integralismo de finais dos anos 1950
buscou reatar laços que se mostravam frouxos. Por isso, no que tange à consolidação do
movimento, esta enfrentou embates que acentuaram uma série de contradições. A pecha
de autoritários precisou ser matizada. Nascia então, no seio do movimento, um discurso
que não fazia sentido nos anos 1930, mas que no contexto do perrepismo foi
apresentada como algo natural: a aproximação do integralismo com o conceito de
democracia.

3.2- A Democracia: uma contradição exposta em dois atos


Os anos 30
Diferentemente do anticomunismo, as discussões
sobre o conceito de Democracia não aparecem na
Enciclopédia de forma explicita. Pulverizado ao longo das
1770 páginas do compêndio, os escritos sobre a temática
ocuparam um espaço representativo, a despeito do termo
“democracia” ter sido utilizado apenas por seis vezes, o que,
numa primeira leitura poderia sugerir uma superficialidade do
conceito adotado pelos integralistas. No entanto, cabe
registrar que tal superficialidade também pode ser
interpretada como um proposital artifício de linguagem: não
se fala, não se contesta, logo, não há identificação com um movimento contrário à
democracia. Decorrentes deste artifício, tais escritos apontam para questões pouco
aprofundadas sobre os posicionamentos da AIB/PRP frente à democracia. Talvez, por
crerem numa espécie de democracia diferenciada da liberal, conhecida entre os seus
membros como “democracia cristã”, os integralistas acreditavam que sua permanência
no jogo político não infringia a concepção democrática universal. Ao contrário,
entendiam que sua presença enriquecia o meandro político, uma vez que os integralistas,
tal como quaisquer partidos ou instituições mereciam um lugar no contexto
democrático.
Calcada nesta contradição, a democracia integralista só aparece nos escritos da
Enciclopédia a partir do seu contrário. A questão democrática só é posta em discussão

118
quando se trata de diferenciar o integralismo dos regimes comunista e liberal. Em vista
desses dois regimes, o integralismo sempre foi descrito por seus integrantes como uma
doutrina que possuía um programa plenamente democrático. As contraposições
enfrentadas ao longo da década de 1930 levaram os integralistas a criar respostas às
acusações de que eram antidemocráticos. A cada denúncia, acusação ou censura, eles
apresentavam o registro concedido pelo TSE afirmando que a AIB se configurava numa
sigla democrática. Muitos dos magistrados brasileiros naqueles anos 1930 aceitaram a
AIB como um partido de tipo democrático.
Em vista disso, alguns textos presentes na Enciclopédia valeram-se dos
pareceres favoráveis de representantes da sociedade da época para se legitimarem.
Assim, pareceres como o do Conde Afonso Celso (autor do livro: Por que me ufano de
139
meu país! ); do líder católico Tristão de Athayde (lembrar que neste período havia
ainda a aproximação entre Amoroso Lima e Salgado); dos generais Pantaleão Pessoa,
Góes Monteiro e Newton Cavalcanti; bem como de alguns cardeais foram usados como
prova da constitucionalidade democrática do integralismo.
Para Alberto B. Cotrim Neto, a hierarquia só poderia existir se acompanhada da
noção da democracia integralista. A noção excludente de democracia defendida por
Cotrim Neto encontrou ressonância em muitos integrantes do movimento. O centro da
concepção democrática integralista, segundo Rocha Vaz, militante da terceira geração,
os princípios integrais se organizariam mediante uma: “organização político-científica
que teria no seu programa a premissa exclusiva de: „dar ao homem elementos para que
ele realize as suas justas aspirações materiais intelectuais e morais‟. Assim sendo, a
função do homem no Estado Integral é servir a democracia cristã em plenitude. (VAZ,
EI, Vol. 3, 1958:145)
Outra questão analisada pelos ideólogos que pensavam uma democracia
específica para o integralismo foi a problemática que envolvia a educação, os estudos. A
mentalidade integralista confiava que o cidadão necessitava possuir uma formação
moral, intelectual e principalmente física, que estivesse sintonizada com a credibilidade
do movimento. Daí acreditarem que o corpo, assim como o intelecto, muitas vezes,
indicava as funções a serem desempenhadas por cada indivíduo. Numa sociedade

139
Político e escritor brasileiro, Afonso Celso de Assis Figueiredo não era diretamente vinculado ao
integralismo, mas nutria certa simpatia pelo movimento, principalmente por causa do veio nacionalista
explorado por Salgado. Faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de outubro de 1938. Cf: artigo: “Uma plêiade de
intelectuais será forçada a aderir ao Integralismo, pugnando pelos ideais do Conde Afonso Celso”. A
Marcha, 29/11/1957,p.3.

119
democraticamente distribuída, cada indivíduo teria que cumprir a função que melhor lhe
conviesse.
Para a maioria dos integralistas, a sociedade democrática liberal reproduzia, em
outra escala, a constante luta biológica, batalha inspirada na teoria do darwinismo
social, que impunha a sobrevivência ao mais apto e forte. Segundo uma metáfora, por
vezes, empregada pelos cientistas vinculados ao movimento, “os rins filtram os
líquidos, separando impurezas que intoxicariam todo o organismo (...) e que se,
hipoteticamente, os rins fossem políticos partidários, fariam essa purificação no
interesse próprio”. Concluía-se que: “(...) o resultado dessa purificação seria inevitável,
pois todo o corpo se envenenaria e, no seu padecimento morreriam também os rins. É
disso que o integralismo foge. Somos célula deste organismo e não permitiremos seu
envenenamento”. (FAIRBANKS, Idem: 1957)

Para os integralistas, o partido era plenamente democrático, pois suas propostas


(sic) visavam a melhoria da população em geral, sem os subterfúgios das mentiras
pregadas pelo sistema liberal que, no final das contas só enganavam a população. Já
para grande parte da sociedade as tentativas integralistas de parecerem aptos ao regime
os afastavam ainda mais da credencial democrática. Cabe lembrar que os integralistas
dos anos 30 tiveram que admitir a falta de respostas plausíveis frente a tais contradições,
afinal, ora acusados de fascistas ora de extremistas, os integralistas teriam no período
entre 1945 e 1964 que se desvencilhar de tal pecha.

Outro elemento se fez presente na discussão integralista acerca da democracia: o


conceito de cidadão, sobretudo porque o projeto de democracia pensado por alguns
membros integralistas dos anos 1930 se mostrava, carregado de teores raciais. Bom
exemplo foi Rodolpho Josetti, membro que possuía uma visão eugênica do que ele
chamava de “cidadão integral”. Josetti acreditava que o homem integralista era o
homem do futuro. “O integralista ideal”, muito em função da característica racial140.
(JOSETTI, EI, Vol. 3, 1958:77)
Mesmo que discursivamente Plínio Salgado tenha sempre afirmado a natureza
multirracial do integralismo, as diferenças apontadas entre o cidadão integralista e o não
integralista foram apresentadas na esfera da diferença biológica, o que reforçou o
conteúdo racial do discurso integralista. Sobretudo, nos anos 1930 período de formação

140
Em contrapartida, nos anos 1930, a AIB era o único partido (exceto o PCB) a possuir em seus quadros
militantes negros em posição de destaque. Exemplo significativo é a aproximação da AIB com a Frente
Negra Brasileira e a presente militância de Abdias do Nascimento.

120
do integralismo muitos integrantes nutriam diferentes concepções com relação à
admissão de negros e cidadãos de outras etnias no seio do integralismo. Influenciados
pelas idéias de Gustavo Barroso, o mais anti-semita de todos os integralistas, esses
militantes acabaram por explicitar uma contradição que nascera junto com o próprio
integralismo: como se demonstrar democrático se o movimento possuía propostas que,
ao invés de universalizar os direitos dos cidadãos, os diferenciava?

Os anos 40 e 50
A contradição explicitada anteriormente encontrou no período de
redemocratização (pós 1945) um campo extenso para ser
debatida. Em sua segunda atuação, a formal conversão 141
do integralismo à democracia teve algumas peculiaridades,
como, por exemplo, seu próprio “discurso pendular”. Ora
discutindo sobre os princípios democráticos, ora abstendo-
se, o integralismo encontrou nas décadas de 1940-60 seu
grande componente de propaganda: o “elemento
espiritualista”, que, embora sempre estivesse presente na
essência de seu discurso ganhou relevância exatamente no
período de redemocratização. Como justificativa
discursiva para apresentar o conceito de democracia elaborado por ele como verdadeira
democracia, além de uma constante crítica às massas, também se exaltou a congruência
existente entre o discurso e a prática integralistas.
Sobre a concepção de democracia peculiar apresentada pelo PRP o que se
observou é que esta se mostrou uma combatente feroz da concepção de mundo
materialista142, em favor de uma posição espiritualista. De acordo com a historiadora
Márcia Regina Carneiro, a definição dessa concepção espiritualista permitiu ao PRP
deflagrar ataques ao liberalismo e à democracia liberal, abertamente. A autora afirma
que toda crítica faz sentido a partir da legitimação que é buscada no espiritualismo.

141
Podemos dizer que a “conversão” do integralismo à democracia foi originada ainda com Plínio
Salgado no exílio em Portugal. Nesse período de exílio são editados livros que desenvolvem uma
concepção de “democracia cristã” que foi utilizada para sustentar a formal conversão à democracia. Em O
conceito Cristão de Democracia, livro de autoria de Salgado publicado em Portugal, podemos encontrar
as principais idéias utilizadas na argumentação do discurso democrático integralista no período de atuação
pela legenda do PRP.
142
Ao contrário, o espiritualismo seria a crença em Deus e no destino sobrenatural do homem. Definida
desta forma a concepção espiritualista, baseada em “princípios religiosos”, foi utilizada como elemento de
suporte para conceitos perrepistas.

121
Além disso, ao propor que os problemas sociais eram resultantes da escolha da
concepção materialista, ou seja, do comunismo e capitalismo, o espiritualismo permitiu
ao PRP se apresentar com o discurso de portador de uma nova opção, uma “terceira
via”.
Mas, este discurso pelo qual o PRP se apresentava como “terceira via” não se
sustentou, porque apesar de fazer algumas críticas ao capitalismo não chegou a
questionar a propriedade privada e o lucro, assim, agiu a favor da burguesia e
permanência do capitalismo.
Mesmo após a conversão formal ao discurso democrático do integralismo do
pós-guerra, instituído a partir da criação pelo PRP do conceito de Democracia orgânica
(CALIL, 1998, 102) podemos encontrar a proposição de centralização do poder,
autoritarismo e censura no conceito de democracia apresentado. A antiga base
doutrinária, agora maquiada pela ênfase no espiritualismo, pode ser percebida na crítica
às massas e o controle das liberdades por “princípios religiosos”.
Como se percebe, o conceito de Democracia Orgânica era bastante impreciso.143
Nos anos 1940 e 1950, e mesmo no princípio dos anos 1960, o paradoxo foi ainda mais
flagrante. Como defender posições tão extremadas num período em que os extremismos
eram tão combatidos? De que maneira a democracia pensada pelos integralistas nos
anos 1930 foi vista nos escritos de um compêndio editado e publicado duas décadas
depois, período de consolidação das liberdades políticas e civis? Ou ainda, como a
Enciclopédia do Integralismo pôde publicar depoimentos e conceitos que se chocavam
frontalmente à realidade democrática vigente? Os integralistas responderiam: “(...)
justamente, por estarmos vivendo em uma democracia!”.
Portanto, o conceito de democracia difundido pelo integralismo em sua segunda
atuação, adjetivada de “defensiva e cristã” opunha-se diametralmente à chamada
democracia liberal, que os integralistas reputavam como sendo materialista por
natureza. Mais uma de suas várias contradições. Na Carta Programa do PRP editada
em 1945, previa-se que a atuação seria realizada “mediante a anunciação da
consagração e intransigente defesa do regime democrático, baseado na pluralidade
partidária e na garantia dos direitos fundamentais do homem”. 144

143
O chamado conceito “cristão de democracia” foi desenvolvido por Salgado a partir de 1942 em
diversas obras publicadas ainda em seu exílio em Portugal. Seu conteúdo é discutido em CALIL, O
integralismo no processo político brasileiro. Op. Cit. 159-169.
144
Partido de Representação Popular. Carta de Princípios e Programa do PRP, 1945, p.35.

122
Como se percebe, a transformação do discurso antiditadura acabou por assimilar
os vocábulos que permitiram a declaração de Salgado a favor da democracia. Uma
mudança relevante para quem sempre mediou o discurso de modo a não comprometer
sua atuação pregressa. Os integralistas perrepistas precisaram criar soluções e
explicações, muitas vezes, inconsistentes, para convencer a sociedade de que não
haviam agido de maneira incoerente ao tornarem-se repentinamente democráticos. Uma
das tentativas de justificar a mudança na postura política integralista partiu de Francisco
Assis Galvão, que procurou explicar a alegação democrática do PRP a partir do seu
contrário.
Mais uma vez, a noção de democracia contida no discurso integralista era
substituída pela cautela de se mostrar anti-totalitária ou anti-ditatorial, mas não
explicitamente democrática. O fato dos integralistas do período pós-guerra quase nunca
se referirem à democracia num discurso direto, mas com um uso recorrente de
metáforas e comparações, também se mostra significativo. Este discurso nos leva a
entender que com essa atitude os integralistas visavam demarcar um desempenho
político mais próximo de seu passado, acentuando, portanto a presença de elementos
constituintes de sua primeira atuação. A hesitação em se postular favorável à
democracia, como se vê, causava um efeito contrário, pois contribui para que se criar
comparações indefensáveis.
Posto que as relações do integralismo com a noção de Democracia sempre
foram pouco explícitas, fixou-se o contraditório: como sobreviver ao contexto
democrático sem expor suas querelas e antagonismos? Este problema se resolvia
facilmente com a deflagração da mais importante bandeira de propaganda integralista.
Ela foi atemporal, e por isso mesmo norteou todas as rubricas do movimento. Para
afirmar-se adepto da democracia o integralismo fixou-se na ambivalência de seu
discurso e no pronto ataque ao comunismo. E para consolidar suas ações preparou o
terreno com as sementes de sua doutrina, germinadas pelas mãos daqueles que criaram
base sólida para uma pedagogia integralista. O anticomunismo e uma particular noção
de democracia foram os ingredientes mais usados nesta receita que, teve como
fermento a educação, substrato essencial presente nos documentos fundadores do
integralismo.

123
3.3 - A Educação como fermento de uma massa em descanso
A Enciclopédia do Integralismo continha uma proposta clara: confirmar o
integralismo como uma doutrina que visava a educação política do povo. Um dos
aspectos melhor explorados pelo movimento foi a alfabetização do grande contingente
analfabeto existente no país, com a intenção clara de angariar seus votos. Vale lembrar
que, na década de 1930, os analfabetos não votavam e nos anos 1950, além de ainda
permanecer apartados do sistema eleitoral, sua porcentagem
continuava bastante elevada. Nesse sentido, o panorama do
ensino oficial no momento em que a Enciclopédia é lançada,
não era nada encorajador. Por isso, nas décadas de 1950 e
1960 diversos projetos no campo da educação coexistiram e
disputaram espaço político. O projeto educacional integralista
(inalterado desde sua criação nos anos 30) foi mais um desses
projetos. De maneira geral tais propostas continuavam
acreditando no poder de transformação social da educação e
postulando que sua missão era modernizar o país e integrar os
setores mais pobres da população.145 No entanto, considerado retrógrado se comparado a
outros projetos do período, (o dos pioneiros, por exemplo), o projeto educativo
integralista reproduzia uma visão de mundo anacrônica e anti-universalista.
Estes elementos são o mote da publicação do primeiro e nono volumes do
compêndio, que chamam atenção, de maneira pormenorizada, para o cenário que
acolheu a publicação do Manifesto Integralista (1932), o portifólio educativo do
movimento. Interessante notar que o discurso de Salgado, ao longo do compêndio foi
todo caracterizado por uma linguagem superlativa, utilizando-se de muitas metáforas,
principalmente quando sistematizou os elementos formadores do ideário integralista,
cujo foco sempre foi a constituição do Estado Integral (síntese das inspirações
demarcadas pelo movimento). Tal discurso foi pautado por digressões que ilustraram o
teor saudosista do movimento. Nos volumes supracitados, a ponte que unia o passado ao
presente do movimento sempre foi a educação.

145
GOMES, Ângela de Castro. A escola republicana: entre luzes e sombras. pp.385-450. In: GOMES,
Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/FGV, 2002.

124
Paralelamente, a intenção do editor da publicação, Gumercindo Rocha Dórea, ao
iniciar os volumes com um texto de pretensões educativas produzido pelo chefe
integralista era incentivar os simpatizantes a adquirirem o que Salgado chamou “de
síntese de tudo o que fora a Doutrina e o sumário de tudo o que ainda seria o
movimento” (SALGADO, EI, 1957:5). A análise do Manifesto de Outubro expõe a
pretensão dos integralistas de solucionarem os diversos problemas nacionais,
apresentando-se à Nação como uma síntese de filosofia,
educação e método salvadores.
Mas, a intenção do Manifesto ia além da ordenação
partidária ou doutrinária dos integralistas, ou mesmo da
celebração. Propunha explicitamente a penetração da
educação integralista na sociedade. A ação “congregadora”
do Manifesto seria de acordo com Salgado, tanto nos anos
1930, quanto nos anos 1950 a responsável pela manutenção
da ação educativa de seus seguidores. Duas décadas e meia
após o Manifesto ter sido escrito, os integralistas
continuariam enaltecendo a vocação aglutinadora de tal documento. Em consonância, o
espólio integralista permaneceu cultuando o documento como berço do integralismo.
Diferentemente dos onze volumes que o sucederam, cuja característica principal
era a miscelânea de temas co-relacionados (com exceção do 7º, 9º e 10º volumes que
foram consagrados a temas únicos – poesia, educação e atos jurídicos), no volume
escrito por Salgado, além de se analisar os episódios formadores da doutrina
integralista, ressaltaram-se as influências de autores como de Farias de Britto, Alberto
Torres, Jackson Figueiredo e Oliveira Viana na formulação original do movimento:
símbolos da educação integralista, com seriam lembrados em diversas passagens da
Enciclopédia.
Dado relevante é que quando o compêndio é editado cerca de 50% da população
do país era analfabeta. O panorama do ensino oficial não inspirava mudanças, mas o
poder de transformação social da educação passou a ser o postulado de diversos
segmentos políticos, dentre os quais o próprio integralismo que via nos setores mais
pobres da população possibilidade de aderência política. Nessas duas décadas chama a
atenção a luta dos educadores vinculada à tradição dos pioneiros contra a centralização,
burocratização, e uniformização que haviam tomado conta do campo da educação, em
clara oposição a projetos mais conservadores.

125
A idéia de que a educação sempre foi um dos pilares da civilização era levada à
risca pelo movimento integralista que propunha uma reestruturação geral na educação
do indivíduo, apregoando uma reforma interior das pessoas, pois para os integralistas,
mais do que um projeto educacional, tratava-se de uma revolução espiritual.146 Plínio
Salgado, por diversas vezes, referia-se à educação como o diferencial entre prósperos e
improdutivos.
A orientação de Salgado influenciou diretamente nas interpretações que os
militantes detinham sobre educação e cultura. Nesse sentido outros integralistas
aparecem, com textos sobre o tema em outros volumes, corroborando as idéias expostas
pelo chefe integralista. Dentre os quais se destacaram: o, então, padre Hélder Câmara,
os integralistas da primeira geração: Leopldo Ayres, Rodolpho Josetti e Belisário Penna,
as únicas mulheres presentes na Enciclopédia: Margarida Corbisier e Carmen Pinheiro
Dias, bem como Gumercindo Rocha Dórea, (sempre por meio de intervenções
contemporâneas à publicação da Enciclopédia).
Ao mesmo tempo em que a educação era relacionada com a totalidade da
formação do membro integralista, “sua função era educar o homem integralmente”
(DÓREA, EI, Vol. 9, 1959:65), também era veiculada como sinônimo de sofrimento e
fortalecimento, sentimentos sem os quais não se ascenderia à vitória. Nesse sentido, o
padre Hélder Câmara evidenciava tanto aos educadores quanto aos “aprendizes
plinianos” que: “(...) O lindo não era viver as horas fáceis de deleite. Belas eram as
horas ásperas e difíceis (...) a conquista dos píncaros que nunca foram escalados e que
devem guardar o segredo das auroras inéditas, cheias de esplendores” (CÂMARA, EI,
Vol. 9, 1959:36). Sendo assim, ao que parece, o sofrimento para o integralista era razão
de alegria e fortalecimento.
A pedagogia integralista imaginada por Hélder Câmara era baseada nos
princípios elementares da auto-afirmação integralista e visava, antes de qualquer coisa,
a contraposição as ideologias capitalista/liberal e comunista. Como se percebe o
anticomunismo sempre foi o pano de fundo de qualquer ação integralista.
A educação integral (leia-se anticomunista) visava, então, antes de tudo ser
física, artística, científica, econômica, política, social e religiosa, destinada tanto às
massas quanto aos considerados aptos para formarem a elite da Nação. Este é um

146
Estas apreciações dialogam com o trabalho de Rosa M. F. Cavalari, pesquisadora que aprofundou os
estudos da educação integralista. Para maiores detalhes sobre a educação integralista. Cf: CAVALARI,
Op. Cit.: Cap. I - A Revolução do Espírito, p.41.

126
elemento que confirma a tese de que tanto nos anos 30, quanto nos anos 50 os preceitos
culturais e educacionais integralistas eram moldados de acordo com os referenciais de
Salgado. A praxe permaneceu inalterada nos dois momentos.
Gumercindo Rocha Dórea, na introdução do 9º volume, dedicado
exclusivamente à educação integralista, chamou a atenção para um fator significativo
dentro das propostas do compêndio: “(...) o simples enunciado da matéria contida neste
volume evidencia o caráter documentário desta obra que visa compendiar uma doutrina
educacional partindo metodologicamente de seu conceito filosófico, objetivando a
concatenação lógica dos assuntos (...)” (DÓREA, EI, Vol. 9, 1959:43)
Em princípios dos anos 1960, portanto, no período de publicação dos últimos
volumes da Enciclopédia alguns elementos, apesar de pouco aprofundados, serviram de
palco para uma série de discussões. Um ponto relevante nesse período é que no Plano
de Metas de Kubitschek, não havia contemplado quase nada em termos de educação. Os
embates em torno da qualidade da educação brasileira redundaram em contendas sobre a
necessidade de uma urgente reforma educacional, discussão esta que em verdade,
tramitava no Congresso desde 1947. O início do governo Goulart mapeou os principais
problemas, entraves e caminhos possíveis para esta reforma funcionando como um
campo de experiências, onde inúmeras idéias e novas propostas emergiram. Nesse
sentido, o ano de 1961 foi emblemático para a educação no país, pois aconteceu neste
ano a votação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(20/12/1961)147, que introduziu uma orientação descentralizadora em nosso sistema de
ensino.
Este debate, apesar de capital para o tema, não foi tratado pela Enciclopédia,
(seja por meio de textos, seja por meio de intervenções do editor), o que forçosamente
direciona para seguinte entendimento: o silencio em torno deste debate evidencia uma
postura desatualizada do movimento em torno da questão, ou ainda, uma proposital
desvinculação do tema, como se a questão não estivesse na ordem do dia? Ambas as
possibilidades demonstram que o integralismo preferiu não dialogar com o presente,
entendendo que sua proposta passadista de educação integral continuava dando conta de
responder aos problemas vigentes. E quando os integralistas perceberam que a educação
integralista não respondia às demandas de um novo contexto, a propaganda maciça de

147
Para maiores detalhes ver: GOMES, Ângela de Castro. A escola republicana: entre luzes e sombras.
pp. 385- 450. In: GOMES, Ângela de Castro et all (Org.). A República no Brasil. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira/FGV, 2002.

127
sua doutrina e a relação com seu maior interlocutor (o catolicismo), tornaram-se então,
as vias percorridas pelo integralismo em um novo processo de cooptação.

3.4 - O catolicismo integralista


A relação do integralismo com a igreja católica se dá de
maneira diversa em dois momentos: os anos 1930, quando a
aproximação é mais uma colaboração ideológica, e os anos
1950, quando o elemento que unia suas relações também
aproximava grande parte da sociedade civil da época: o
anticomunismo.
No primeiro momento, ao longo da década de 1930,
observou-se uma aproximação entre os integralistas e os
setores mais conservadores da Igreja Católica brasileira.
Embora a AIB não tenha se definido com uma posição
católica, ao contrário, tenha recusado esta postura a partir de 1935,
gerando importantes dissidências católicas no movimento (a exemplo
de Ernani Fiori, no RS), sua aproximação com a Igreja romana passou
por altos e baixos.
O ano de 1935 aparece, então, como ano chave desta década no que diz respeito
à tomada de posições político-partidárias e ideológicas do país. No final deste mesmo
ano, a Intentona Comunista e sua repressão imediata significaram o fechamento de
espaço às forças populares emergentes. A ala mais conservadora da Igreja, que tinha no
comunismo ateu seu maior inimigo, não hesitou em posicionar-se a favor dos
movimentos contrários a ele.
Em um segundo momento, o leque de ações de ambas as instituições favoreceu
uma aproximação diferente da anterior. A igreja dos anos 1950/60, diversamente do
período anterior, começou a se preocupar com as camadas populares que formavam sua
base social. Do início dos anos 1950 até o golpe de 1964, alguns setores da Igreja
Católica no Brasil - ligados à direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), criada em 1952, e a grupos de Ação Católica - passaram a assumir posições de
apoio a lutas populares, o que fez com que as críticas ao comunismo ou a determinados
aspectos do capitalismo (como o laicismo e a secularização) dessem lugar ao

128
questionamento das injustiças sociais. Estava surgindo, nesse momento, uma espécie de
esquerda católica que, todavia, ocupava posições não-majoritárias dentro da instituição,
a qual se mantinha como atuante batalhadora contra o comunismo.
A preocupação da Igreja com questões sociais geradas pelo modelo de
capitalismo no país, como a fome e o desemprego fortalece grupos vinvulados à
juventude católica, incentivando-os a criarem em 1960, a Juventude Universitária
Católica (JUC), forte segmento da base jovem da igreja influenciada pela Revolução
Cubana e por teóricos católicos esquerdistas como Jacques Maritain. Progressivamente,
os jucistas passaram a questionar a sociedade capitalista, o que leva a JUC a aderir
formalmente ao socialismo e, como reflexo do crescimento do marxismo na América
Latina, a vivenciar uma crise com a hierarquia da Igreja. Pressões de setores
conservadores da Igreja (mais próximos ao integralismo) levam, então, os militantes da
JUC a criar um movimento de esquerda, a Ação Popular (AP) que visava o claro embate
com as forças reacionárias da igreja de então.
No entanto, tal comportamento foi se matizando, ao ponto de, em finais da
década de 1950 o próprio anticomunismo antes acirrado foi dando lugar a uma atitude
mais equilibrada: combatia-se o comunismo, mas entendia-se que os males do
capitalismo é que tinham provocado a expansão comunista.148 A Igreja, diante da
publicação da encíclica Mater Magistra do Papa João XXIII – em maio de 1961, a
primeira a tratar explicitamente dos problemas do mundo subdesenvolvido, teve um
importante incentivo para o catolicismo reformista não radical.
Diante desse quadro, as relações entre o integralismo e o catolicismo entrava em
uma outra fase. Era necessário explicitar um mote que pudesse unir as expectativas de
ambos. Ao contrário da igreja, que buscava outras formas de militância, cada vez mais
aberta ao esquerdismo, o integralismo desse mesmo período, relutou mais que a igreja
no que tange à mudança de comportamento.
Nesse sentido, é importante lembrar que a relação que o integralismo construiu
com a Igreja Católica sempre foi ambígua e mediada por embates. Ora aliada, ora
antagonista, a Igreja, por meio do catolicismo foi o interlocutor mais próximo do
integralismo. Todavia, é preciso lembrar que, por diversas vezes, o integralismo

148
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, Edusp, 2001, p.446.

129
colocava todas as religiões cristãs em pé de igualdade, ou seja, não discriminou ou
elegeu o catolicismo como a única postura ideológico cristã a ser seguida149.
Embora, no período pós-guerra sua relação não tenha sido tão consistente,
quanto o fora nos anos 1930, os escritos da Enciclopédia do Integralismo atestam que a
Igreja possibilitou o fortalecimento da doutrina integralista. Em linhas gerais, a
doutrina, ao enfatizar o lema “Deus, Pátria e Família” e seu consistente anticomunismo
ensejava naturalmente uma aproximação com o catolicismo.
Autores das três gerações integralistas apresentaram na Enciclopédia textos com
temática religiosa: Plínio Salgado, Hélder Câmara, Leopoldo Ayres e Lúcio José dos
Santos, afirmaram em escritos originais dos anos 1930, que a idéia de força coletiva
perpassava necessariamente a relação entre as fontes da modernidade e da tradição,
relação esta em que a tradição era personificada pela religião e a quebra dos
individualismos ou coletivismos radicais.
Plínio Salgado, como chefe do movimento Salgado dirigiu-se aos seus militantes
apresentando-se como uma liderança religiosa, detentora da prerrogativa da mediação
entre os militantes e a divindade. Exemplos que atestam esta tentativa de mediação são
as suas Mensagens de Natal, que foram em partes retratadas em trechos do
compêndio.150 No entanto, em detrimento dessa postura mediadora assumida por
Salgado e a aproximação com os preceitos cristãos, o integralismo logrou uma relação
pendular com a hierarquia da Igreja Católica, no sentido de que se valorizava os
preceitos cristãos apregoados pelo catolicismo, mas se mostrava independente no
tocante à sua concepção ideológica.
A influência que alguns líderes católicos (aglutinados em torno da revista A
Ordem e do Centro Católico Dom Vital151) exerceram sobre Plínio Salgado, se deu,

149
Ver: MERG, Camila. Saberei sustentar a cruz de Cristo e a bandeira da Pátria: o espiritualismo
integralista na doutrina do PRP (1945-1960). Dissertação de mestrado. PUCRS, 2007.
150
Exemplos dessas Cartas natalinas podem ser consultados nos jornais integralistas da década de 1930 e
perrepistas das décadas de 1940 e 50. Cf: “Carta de Natal e Ano Novo”, dirigida por Salgado, no Natal de
1935. Durante o período de vigência do PRP, a praxe continuou. Ver: A Marcha, 24 de dezembro de
1954, 56 e 57. O texto das Cartas de Natal e dos desejos de prosperidade, em muitos de seus exemplares,
terminava com a seguinte frase: “E que a bondosa preponderância dos justos seja iluminada pelo Pai
criador. Que a bandeira do Sigma [na época da AIB e depois de 1957]... ou: Que a bandeira da paz
[durante o período de pouca contestação do simbolismo integralista] recubra a todos nós. Salve o
movimento. Viva o Brasil. E lembrai: Cuidai primeiro do reino de Deus e da justiça que, tudo o mais virá
por acréscimo”. Cartas de Natal.
151
A Revista A Ordem foi fundada em 1921 e o Centro Dom Vital, em 1922. Tiveram como diretores:
Jackson de Figueiredo, Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima) e Perillo Gomes. Além disso, contaram
com a colaboração dos seguintes nomes: H. Sobral Pinto, Hamilton Nogueira, Augusto Frederico
Schimidt, Jonathas Serrano, Plínio Corrêa de Oliveira, Pedro Dantas, Luiz Delgado, Afonso Celso, dentre
outros.

130
principalmente devido à identificação do líder integralista com os setores mais
conservadores do catolicismo brasileiro. O Centro Católico Dom Vital permaneceu
como o núcleo da intelectualidade católica, ao passo que a Revista A Ordem consolidou-
se como a porta-voz de uma específica manifestação católico-nacionalista que tinha seu
maior foco nas idéias antiliberais e anticomunistas. Ambos foram inicialmente dirigidos
por Jackson de Figueiredo e, depois, por Alceu Amoroso Lima, personagem que viria a
contrapor-se veementemente ao integralismo a partir dos anos 1940, período
caracterizado por uma constante tensão entre a ala mais ortodoxa da Revista A Ordem e
Plínio Salgado.
Os escritos que na Enciclopédia abarcam a temática religiosa foram, via de
regra, expressões do mais alto grau do comportamento hierarquizado e disciplinado dos
integralistas com relação às figuras mitificadas de Jesus Cristo e do chefe, Plínio
Salgado. Cabe ressaltar que, nesses volumes, não foram selecionados nenhum escrito do
então Padre Hélder Câmara, vinculado à temática religiosa. Os textos escolhidos pelo
editor para representar Câmara resumiram-se nos artigos de combate a Severino
Sombra, a quem acusava de “vestir-se de cristão, no intuito de flertar inclusive com os
maçons”. (CÂMARA, EI, Vol. 5, 1959:35)
Até mesmo durante o exílio de Salgado em Portugal os membros integralistas
escreviam a respeito da necessidade de se preservar a chama religiosa cristã integralista.
A permanência de Plínio Salgado na Península Ibérica foi determinante para que este
escrevesse em terras portuguesas o livro: A Vida de Jesus. De volta ao Brasil em agosto
de 1946, Salgado fortaleceu a relação com a base católica do então recém-criado PRP
visando consolidar as bases de uma coalizão que viabilizasse sua progressão política.
Nos anos 50, a relação integralista/católica enfraqueceu-se paulatinamente. Em um dos
mais longos depoimentos relacionados à temática religiosa, Leopoldo Ayres, traçou um
paralelo entre a situação social vigente na época (anos 1930) e as propostas contidas em
duas encíclicas papais: Rerum Novarum e Quadragesimo Anno.152 Uma questão
permeou toda sua fala: se o integralismo era totalitário, como muitos afirmavam, onde
residia seu caráter cristão? Essa questão ganhou maior relevância quando publicada na

152
Verdadeira carta de princípios do catolicismo social, que se referia à condição dos trabalhadores da
época, a encíclica Rerum Novarum foi promulgada pelo papa Leão XIII, em 1891. Quarenta anos depois,
em 1931, o Papa Pio XI em comemoração às quatro décadas da Rerum Novarum, promulgou outra
encíclica, denominada Quadragesimo Anno, na qual, distinguindo os dois ramos do socialismo (o
comunista, propugnador da violência e o socialismo moderado), visou alertar os católicos em relação ao
iminente “perigo comunista”.

131
Enciclopédia, pois os anos 1950 exigiam com clareza a posição política de seus
indivíduos.
A temática da religião não foi exclusividade das primeiras gerações de escritores
integralistas. Diversos representantes da terceira geração (anos 1950-60) também se
preocuparam com o tema. Dentre eles, destacaram-se os Águias Brancas: Hélio Rocha,
Ivan Luz, Genésio Pereira Filho e Gumercindo Rocha Dórea. Este último, afirmou que
“se tratava de um desfile de gerações que debateria o mesmo tema e realizaria uma obra
de cultura, ordenada quanto a sua essência e substância, ainda que variada nas posições
e perspectivas (...) que serviria para avaliar o peso e a força da grandeza da religião e do
Integralismo Brasileiro”. (DÓREA, EI, Vol.8, 1959: 9) Para Ivan Luz, “o liberalismo
concebeu um Estado sem finalidade; o fascismo, um Estado com finalidade em si
mesmo; o nazismo caminhava para a negação do Estado, com a idealização da
supremacia racial; e o comunismo era a sua negação total, logo seria preciso determinar
uma teleologia integralista que, baseado na religiosidade, se afinaria numa escala de
instrumentalidade frente ao perigo da falta de religiosidade”. (LUZ, EI, Vol.8, 1959:57)
Os documentos produzidos por esta geração mais nova de autores integralistas
dialogaram com as mais variadas vertentes do catolicismo. Não obstante, os escritos que
apresentaram como pano de fundo a relação conflituosa entre o integralismo e o
Maritanismo153, permeou boa parte dos textos de temática religiosa. Os maritanistas
foram desqualificados com os mais variados adjetivos, ao longo dos volumes da
Enciclopédia. Segundo os integralistas, os “esquerdistas de Maritain”, sob os quais
também pesava outro epíteto, o de “discípulos falsificadores de imagens alheias”, não
eram moralmente capazes de influenciar a sociedade, sob o julgo de terem que
apresentar o seu verdadeiro propósito: “sua sempre condenável socialização do
catolicismo”. (ROCHA, EI, Vol. 8, 1959:131) Deste modo, não causa surpresa o fato da
revista A Ordem – na qual escrevia alguns maritanistas -, referir-se ao líder integralista
nos seguintes termos: “revolvamos estas fezes”, ou então “apontemos o dedo para
registrar sua produção literária, esta verdadeira e pura bestiologia”. (LIMA, A Ordem,
1946:57)
A despeito dos ataques que partiam de líderes leigos e religiosos dos mais
variados matizes, por vezes denominados de “maritanismos de ocasião”, registram-se,

153
Jacques Maritain (1882-1973) desempenhou um papel significativo no movimento de renovação
intelectual e espiritual do catolicismo francês, no período entre guerras, que se aproximava do
liberalismo.

132
nos escritos da Enciclopédia do Integralismo, diversos trechos que apontam para uma
série de repostas a outra espécie de adversário, talvez muito mais atuante: a imprensa de
grande circulação, para a qual a vinculação entre o catolicismo e o integralismo era
“uma mistura bastante perigosa”.154 A exemplo dos apontamentos de Ivan Luz e Hélio
Rocha, que se concentraram nas ações dos adversários e nas reações dos adeptos de
Salgado, as considerações de Gumercindo Rocha Dórea e Genésio Pereira Filho sobre a
temática religiosa focalizaram a atuação do líder integralista, reputada por estes como
(sic) “irrepreensível do ponto de vista moral religioso” (DÓREA, EI, Vol.8, 1959:140).
Deste modo, a conexão entre integralismo e catolicismo foi apresentada nos textos da
Enciclopédia do Integralismo como um binômio indispensável para a manutenção do
ideário integralista, como o mais importante interlocutor do movimento.
Embora, os escritos referentes à temática da religião tenham se pautado, antes de
tudo, por uma explícita valorização da figura de Plínio Salgado, como se este fosse uma
espécie de entidade intermediária entre as ações humanas e divinas, herdeiro legítimo
das tradições do catolicismo; em várias passagens, registraram-se elementos de tensão
nos textos publicados. O fato de o catolicismo ter se tornado uma espécie de
contraponto para o integralismo, no sentido de que fora um misto de aliado e adversário,
vem reforçar a necessidade de se aprofundar o estudo das relações mantidas pelo
movimento integralista e a Igreja Católica, especialmente no que diz respeito ao grau de
contraposição de alguns de seus líderes diante da doutrina integralista, sobretudo a partir
da década de 1940.
Em um período em que a presença comunista (como possibilidade ou fato) foi o
maior álibi da sustentação integralista/católica, a constatação de que o catolicismo havia
sido um dos únicos interlocutores do movimento só veio a acentuar a necessidade dos
integralistas procurarem canais de aproximação com novos setores da sociedade. No
entanto, mesmo com o esforço dos integralistas a tentativa de aproximação não
encontrou ressonância. A relação duradoura junto ao catolicismo terminou como um
monólogo integralista. Mas a predisposição integralista aos preceitos religiosos estimulado
pelo conteúdo impresso nas encíclicas papais de finais do XIX (alerta contra o liberalismo e
o comunismo) possibilitou o crescimento das aspirações integralistas. Esta postura foi o
único ponto de contato que sobreviveu da relação entre o catolicismo e o integralismo em
finais dos anos 1950. Como pano de fundo a criação de um estado forte e centralizador
pôde fazer da ideologia integralista o elo que uniu decisões políticas e atitudes religiosas.

154
“Mistura perigosa”. Nota de canto de página. Diário da Noite. Setembro de 1958, p.3

133
3.5 - O Estado Integral - em pauta uma proposta para a Nação
Seguindo os preceitos da Rerum Novarum, Encíclica
papal de 1891 que discutia a “questão social” a partir do
enfoque do catolicismo e dos caminhos de explicação da fé
indicados por Tomás de Aquino, o Estado Integral deveria
encerrar, em si mesmo, a família, o município e o mundo do
trabalho, amparados nesta intercessão, pela sutura moral do
catolicismo que o lema do movimento procurava sustentar:
“Deus, Pátria e Família”. Assim, o Estado Integral visava a
unidade nacional por meio de um controle autoritário sobre a
sociedade, grupos e indivíduos. Nesse sentido, é relevante perceber que Salgado, desde
os seus primeiros romances deixou muito claro o seu desejo ideológico: a defesa de uma
política nacionalista baseada no conservadorismo, tendo a manutenção da propriedade
como forma de organização social, e a aversão ao cosmopolitismo para a defesa de uma
sociedade forte e organizada dentro de um contexto tradicionalista. A rejeição da
democracia liberal revela-se nas críticas existentes às instituições, de maneira que o
Estado integral teria sua organização diferenciada, negaria o pluralismo, e nele, as
pessoas seriam organizadas em classes, em modelo corporativo.
Este conceito é encarado como algo constituído a partir da integralidade de seus
grupos profissionais e indivíduos que, no vocabulário integralista eram os “homens
integrais”. A definição de Estado Integral se apresenta em oposição aos Estados Liberal
ou Comunista, criticados pelos integralistas por promover divisões e fragmentações em
seus aderentes. Porém, a síntese deste Estado, não resultaria nem da junção ou da
acumulação, muito menos da sua superação no movimento da História, devendo ser
restritiva e finalista frente às verdades ungidas pela espiritualidade do catolicismo
escolástico, revivido no enfrentamento de uma nova concepção da natureza. O Estado,
como síntese, deveria ser erguido sob o primado do espírito.
Os nomes mais representativos dos primórdios do movimento, Plínio Salgado,
Gustavo Barroso, Miguel Reale, San Tiago Dantas e Lauro Escorel contribuíram
decisivamente para que se construísse a interpretação integralista de Estado Integral.
Não é a toa que são deles os textos selecionados na Enciclopédia para comporem esta
temática. Uma vez que este estado integral seria uma organização estatal forte,
centralizada e autoritária que se responsabilizaria pela chamada “renovação nacional”

134
frente às “tendências negativas” da modernidade, seu caráter mais acentuado também
tomou forma nos escritos da Enciclopédia: como o fruto de um reacionarismo
nostálgico em relação ao passado entendido como ordeiro e tranqüilo.
Nos textos selecionados para debater a temática, já analisados na pesquisa de
Gilberto Calil, “o sufrágio universal e o modelo de representatividade receberam
intensos ataques, mas as críticas também se dirigiram ao “excesso” de liberdade que
conduziria a sociedade às conseqüências nefastas.”(CALIL, 2005, 562). Em
contraposição a esta conseqüência nefasta surgiria uma democracia cristã, cujo par
imediato seria o Corporativismo, apresentado como solução aos problemas das falhas da
democracia liberal: “A democracia orgânica, com, a participação real das corporações
profissionais, será, a nosso ver, a solução para os erros do atual Legislativo. Neste caso,
o voto será dado aos homens competentes, legítimos e autorizados representantes de sua
classe na Assembléia”. (DANTAS, EI, Vol. 8, 1959,67)
A partir de agosto de 1957, (portanto, dois meses
antes da escancarada re-adesão integralista aos seus antigos
ritos e símbolos) a proposta de uma pauta de princípios para
a recondução do poder aos integralistas tomou forma mais
concreta, com a reforma dos estatutos do PRP aprovada no
Conclave de Vitória, instituindo como uma das finalidades
do partido o “aperfeiçoamento, pelos meios constitucionais,
do sistema representativo vigente, fundamentado no
sufrágio universal e no pluripartidarismo, complementando-
o também através da representação dos grupos econômicos,
profissionais e culturais, de caráter corporativo”.155 Embora bastante aquém da
“revolução integralista” almejada, a proposta de reforma eleitoral foi encampada com
bastante ênfase pelo movimento, ao mesmo tempo em que possibilitava recuperar a
crítica ao sufrágio universal:
Para Miguel Reale “(...) Não há dúvida de que essa reforma constitui uma
necessidade urgente, podendo mesmo melhorar de certa maneira a representação
política tão mal feita pelo sistema partidário (...) ou se muda esse sistema de
representação, substituindo-o por outro em que a verdade popular seja autenticamente

155
Decisão dos integralistas: aperfeiçoar o sistema representativo vigente. A Marcha, Rio de Janeiro,
2/8/1957, p. 12. A reforma dos estatutos do PRP foi aprovada sem restrições pelo Tribunal Superior
Eleitoral. Cf. Desfazendo intrigas: o Tribunal Superior Eleitoral aprovou por unanimidade os novos
Estatutos do PRP. A Marcha, Rio de Janeiro, 4/10/1957, p. 16.

135
apurada, ou se dá ao povo mais uma oportunidade de se decepcionar com os seus
legisladores” (REALE, EI, Vol. 6, 1958,9). Este trecho, retirado de um jornal
integralista de 1936 foi utilizado como se Reale tivesse exprimido tais idéias em finais
dos anos 1950. Nenhuma nota acompanhou o texto, nem mesmo alguma menção
explicativa do editor do compêndio. Isso sinaliza duas questões relevantes: ou, o editor
utilizava esta estratégia para dar maior visibilidade às propostas integralistas as quais
tinha predileção, (numa atitude co-autoral) ou, utilizava dizeres descontextualizados no
sentido de realizar uma manutenção de um discurso que encontrava grandes argumentos
contrários no momento em que foi publicado. De qualquer maneira o fato de utilizar,
anacronicamente, textos de autores em contextos diferentes do que foram produzidos
atesta o modus operandi calculado que o editor dispunha para a construção de se sua
Enciclopédia
A defesa da Câmara Corporativa, tal como nos relata Gilberto Calil, tinha como
um dos argumentos principais “sua pretensa superioridade „técnica‟(CALIL, 2005,
563): assim para alguns integralistas, os deputados estariam tecnicamente
despreparados, o que se resolveria com a adoção da “Câmara Corporativa” onde, “ao
lado dos partidos políticos, que formam a representação política e que decidiriam em
última instância, todos os grandes problemas da Nação, se colocaria uma representação
de especialistas dos vários problemas de caráter não político, cuja solução interessa ao
país. A solução do problema democrático está em conciliar a representação política com
a dos grupos naturais da Nação”.156 O mesmo argumento era desenvolvido por Salgado:
“Entendo que, paralelamente à Câmara Política, precisávamos ter uma Câmara
representativa das forças econômicas, culturais e morais da Nação”. (SALGADO, Anais
da Câmara dos Deputados, 1959:66) Esta concepção marcaria por definitivo a proposta
de uma retomada nacionalista implantada por um suposto plano de recondução nacional,
impetrado pelos integralistas.
San Tiago Dantas, veterano integralista, acreditava nos anos 1930, que o Estado
Integral seria o verdadeiro aglutinador da civilização brasileira. Para o advogado, “no
Brasil, o povo, enquanto povo era melhor que as elites, enquanto elites. Por isso que o
trabalho do Estado Integral era o de homogeneizar o povo e as elites, num projeto
único”. (DANTAS, EI, Vol. 3, 1958:45) Nos anos 1960 Salgado romperia
definitivamente com San Tiago Dantas com quem manteve uma relação de cordialidade

156
A verdadeira representação popular. A Marcha, Rio de Janeiro, 16.8.1957, p. 5. Apud. CALIL, 563.

136
por mais de 30 anos. O estopim deste afastamento se deveu ao que Salgado chamou de
“postura esquerdizante” tomada por Dantas a partir de 1958, quando foi eleito deputado
federal pelo PTB de Minas Gerais, e mais tarde, nomeado embaixador do Brasil na
Organização das Nações Unidas em 1961, pelo então presidente da República Jânio
Quadros. Todavia não chegou a assumir o cargo, pois o presidente renunciou três dias
após a nomeação. Tornou-se então, ministro das Relações Exteriores durante o período
"parlamentarista" do governo João Goulart, quando o Brasil reatou suas relações
diplomáticas com a União Soviética. Este foi um elemento preponderante para o
afastamento definitivo entre Dantas e Salgado. Então, em 1963, com a volta do regime
presidencialista, San Tiago Dantas foi indicado por Goulart para a pasta da Fazenda. Foi
o ponto final de trinta anos de aproximações.
Em suas considerações finais, descritas no 8º volume do compêndio, Lauro
Escorel lembrou que as intervenções do Estado Integral na sociedade brasileira
compunham uma estrutura privilegiada frente às demais e que jamais seria confundida
com a empregada no Estado Liberal nem Comunista, nem, tampouco, nos estados de
características racistas, por motivo único e exclusivo que o Estado Integral incentivava
a pluralidade do homem e não o seu individualismo. Esta foi uma das principais razões
que fizeram os integralistas criticarem as demais propostas de Estado.
Contudo, a despeito das tentativas apresentadas nos escritos sobre a proposta do
Estado integralista a Enciclopédia do Integralismo foi lacônica no momento de indicar
propostas concretas de ação do Estado Integral o que rendeu críticas de seus
antagonistas. O dito pelo não dito. Enquanto os detratores integralistas afirmavam que
“o Estado integral nada mais era do que uma propaganda enganosa, leda e leviana!”157;
os integralistas, décadas a fio, utilizaram a Enciclopédia como plataforma de
propaganda se esforçando para sustentar sua premissa. A equação resultou em um
embate político vencido pelas prerrogativas de um mundo cuja democracia ainda estava
em construção.
O estado corporativo era núcleo duro da ideologia integralista. E, se por um lado
a inflexibilidade do mundo político renegou o integralismo do período estudado a uma
espécie de ostracismo, a maleabilidade das artes (da mente e do corpo) foi o salvo
conduto que propiciou ao movimento integralista expressar pontos de vista diversos.
Mesmo reproduzindo a ideologia sectária de um grupo que possuía visões de mundo

157
O que é, afinal, o Estado Integral integralista? Correio Paulistano, 20/12/1936. p.09.

137
contraditórias, os integralistas puderam apresentar à sociedade uma faceta pouco
conhecida do grande público: um interesse que pendulava entre as mais variadas
expressões artísticas, com ênfase para a poesia.

b) 3. 6 - Estética e Poética: as artes da mente e do corpo


A tríade essencial do integralismo (Deus, Pátria, Família) teve um corolário
bastante divulgado pelo movimento, o binômio:
Estética/Poética. A convicção integralista de que seus
membros haviam plantado sementes que germinariam frutos
em razão da herança da estética nacionalista ou do legado
educacional que transmitiam, adquiriu um novo fôlego com
a celebração do Jubileu de Prata de 1957. Com isso, a
reafirmação simbólica do movimento fez reviver antigas e
fortes oposições. No entanto, uma vez que a postura
educacional integralista era tida como “excludente” por parte
da imprensa, as acusações de que os integralistas postulavam
uma manifestação estética “empobrecedora e vulgar” também ganharam consistência no
período.
Concomitantemente, a afirmação poética da militância integralista apareceu
como uma das expressões estético/literárias de maior diversidade no compêndio. Assim,
essa produção poética reuniu uma gama variada de profissionais que tinham em comum
o sentimento de pertencimento integralista e uma profunda devoção por Plínio Salgado.
A predominância de cidadãos comuns, desconhecidos do público em geral, mesclou-se
com a presença de alguns dos mais renomados poetas integralistas.
O contexto em que o sétimo volume é editado confronta uma onda de
negacionismos em relação ao integralismo. Os anos de 1957 a 1961 marcaram outros
eventos significativos no universo da arte brasileira. Em 1957, 1959 e 1961 as Bienais
de Arte de São Paulo, sob a curadoria geral de Mario Pedrosa ampliaram a participação
nacional inaugurando uma maior representação de obras de caráter histórico. O país
mostrado na bienal de artes era um país que lutava para se mostrar dono do próprio
destino. Tratava-se da retomada da consciência de um país que estava buscando crescer
cinqüenta anos em cinco.

138
Paralelamente, a criação do Manifesto Concretista, que aglutinava poetas como
Ferreira Gullar, Decio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Waldemir
Dias Pino, revigorou a discussão sobre forma, estética e política dentro da poesia e artes
plásticas brasileiras. As formas e propostas reacionárias, os temas e as proposições
conservadoras ficaram, neste momento, no fim da fila, esperando sua vez para aparecer
novamente. E nesse momento as poesias de forma e temática proselitista dos
integralistas tomou este espaço. No entanto, o mais interessante é que em nenhum
momento os escritos da Enciclopédia sequer mencionam o contexto em que todas essas
mudanças estão ocorrendo. Mais uma vez, a opção em focar apenas a temporalidade do
escrito (como se esta existisse paralelamente à dos acontecimentos vigentes) se mostrou
recorrente.
A partir disso, a compilação dos poemas se fez mediante pesquisa realizada por
Gumercindo Rocha Dórea, que na época, além de editor da Enciclopédia do
Integralismo, também ocupava o cargo de redator chefe do jornal A Marcha. Foram
enviados pedidos de colaboração aos jornais integralistas do interior do país em busca
de “novos talentos patrioticamente poéticos”.158 O trabalho de arregimentação e
compilação realizado por Dórea foi, desta vez, facilitado pela existência de uma antiga
coletânea já publicada, e que continha um número superior a trinta poetas integralistas.
Principal fonte do 7º volume, a antiga antologia publicada por Dario Bittencourt, em
1936, traz uma coletânea de poetas integralistas de sua época.
Bittencourt reforçou um antigo desejo de Salgado em aproximar o integralismo
da intelectualidade, já que esta era considerada salvadora pelos integralistas. E para
além da relação intelectual, os poemas analisados em sua antologia exaltavam o
patriotismo de seus leitores. Tratava-se, antes de uma tática de aliciamento. Por outro
lado, diferentemente da obra arregimentada por Dário Bittencourt, a coletânea
integralista incluída na Enciclopédia mesclou poemas de seus mais conhecidos
militantes, com o caráter renovador de escritos produzidos por poetas desconhecidos. 159

158
DOREA, Gumercindo R. “Poetas Integralistas”. A Marcha. Diversos anúncios, a partir de novembro
de 1959.
159
Relação dos poetas integralistas presentes no sétimo volume da EI: Alfredo Gomes; Francisco Luis de
Almeida Salles; Assis Silva; Augusto de Lima Filho; Pe. Benedicto de Lucca; Brasil Pinheiro Machado;
Clodoaldo de Alencar; Colbert Crelier; Dantas Motta; Da Silva Garcia; Durval Passos de Mello; Eymar
Cardoso de Mattos; Figueiredo Carneiro ; Floriano Mendonça; Geminiano Guimarães; Hydée Machado
Marques Porto; Jaime de Castro; Jacinto Figueiredo; J. G. de Araújo Jorge; J. Hercílio Fleury; José Maria
de Andrade Rodrigues; J. T. de Castro Alves; Judas Isgorogota; Júlio Dias; Lopes Ribeiro; Lourival
Santos Lima; Mário de Oliveira; Mário Ypiranga Moreira; Manoel Sobrinho; José Mayrink Souza Motta;
Marcos Sandoval; Mauro Moreira; Miguel Edmar Soares Arruda; Nicanor de Carvalho; Nóbrega de

139
Portanto, tinha como proposta não somente apresentar à militância os pensamentos dos
membros famosos, mas disponibilizar o que a população simpatizante pensava sobre o
movimento.
Pouco antes do sétimo volume160 sair do prelo, seu editor, fez questão de frisar
que nessas poesias, seria destacado o cotidiano do militante. Se o itinerário percorrido
pelos demais volumes foi a via da doutrinação, a resposta da militância veio em forma
de versos e muita passionalidade: decassílabos, alexandrinos, prosaicos, haicais; a
interação entre a via consumidora e a produtora da doutrina se estabeleceu naquele
volume. Embora apenas uma pequena parcela dessa militância apresentasse ou sugerisse
a inclusão de seus poemas na coletânea, o sétimo volume foi uma espécie de
intermediador do projeto, no sentido de que, a população simpatizante do movimento
teve acesso às páginas do compêndio não só como leitora, mas como agente produtora
do que seria lido.
Dentre os elementos constituintes deste corpo de mais de oitenta poemas,
encontram-se poesias que tratam da população brasileira (8); do Comunismo como
inimigo (13); do Estado como finalidade essencial do movimento (9); da Geografia
como metáfora do organismo nacional (4); da mulher enquanto coadjuvante das
relações parentais (5); da ideologia propriamente dita (9); da família enquanto
instituição fundamental da sociedade integralista (4); da simbologia (2); da exaltação do
movimento ao chefe (8); do negro (3); da religião (2); da doutrina como força motriz
(3); dos militares (1); dos considerados humildes e pobres (3); dos estudantes (3); dos
operários do campo e da cidade (4) e dos documentos fundamentais do integralismo (3),
dentre outros. Cada um desses elementos apareceu nos poemas como componente
fundamental da práxis política/ideológica/cultural integralista.
Como forma de ilustrar o conteúdo de alguns desses variados poemas, optou-se
por fazer uma pequena seleção destacando cinco temas pouco recorrentes nos escritos,

Siqueira; Nunes da Silva; Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha; O. Muniz; Osmar Barbosa; Padão (DS);
Padre Melo; Pessoa de Lima; Ribamar Pereira; Sidney Netto; Silvio Luis Michelloti; Cônego J. Thomaz
de Aquino Menezes; Adão Valente; Major Waldomiro Ferreira. Do total de atores apenas Gerardo Mello
Mourão e AB Cotrim Neto eram notórios integralistas.
160
Volume exclusivamente editado com poesias de integralistas conhecidos e anônimos. A Coletânea de
Poetas Integralistas, editada na Enciclopédia do Integralismo, ainda necessita de um estudo mais
aprofundado. No presente trabalho resolveu-se apenas destacar algumas de suas características básicas,
bem como um número mínimo de poemas, visto que partes destes foram absorvidas no texto deste
trabalho.

140
mas, que apareceram nos poemas de maneira bastante relevante.161 A preocupação de
que, cedo ou tarde, o integralista encontraria pelo caminho a comparação entre seu ideal
e de estrangeiros, (tema sem muita ressonância em finais dos anos 1950) incentivou a
propagação de uma série de poesias que tinham como temática o apelo nacionalista
(xenófobo?) e ufanista do militante. No conteúdo do poema de autoria de Brasil
Pinheiro Machado, comprova-se a preocupação do integralismo em consagrar como
superior a “língua mulata cabocla portuguesa”. Para tanto, o autor afirma que a
“desbrasilianidade” é um perigo que ronda apenas a cabeça dos ignorantes sobre
integralismo. O ufanismo foi, certamente, o elemento mais explorado nos poemas
integralistas.
No entanto, outra preocupação dos poetas integralistas era justamente a
adequação e o cuidado dispensado ao conceito de gênero. A mulher não foi esquecida
pelo movimento, sendo homenageada em odes e poemas. O poema destacado abaixo
apresenta a figura feminina atrelada a um comportamento vaidoso e vibrante, pronto a
abraçar as causas do movimento. “Troca a veste pomposa pela camisa verde
vigorosa...”, como seria cantado em outro poema de mesma temática. O poema de
Colbert Crelier apresenta a figura feminina explorando sua relação com as vestimentas,
sua feminilidade.

A mulher brasileira
Penápolis, 1935
“Troca os faustos, o luxo de outras vestes pela graça mais simples e atraente
desta camisa verde que, somente de uma sóbria elegância se reveste.
Sem que nenhuma pena te moleste, desde adornos gentis, serenamente,
E num gesto de fé, sincera, ardente esta camisa e esta gravata veste
Se outro vestido mais encanto empresta e sua feminil vaidade exalta
A tua formosura que realça, esta camisa, aqui, verde e modesta,
É o verbo inicial de uma epopéia, não veste o corpo só, veste uma idéia”.

A participação das mulheres integralistas, sobretudo nas atividades de retaguarda


do movimento, tais como nas escolas, hospitais e lactários não esconde a contradição
de que, dificilmente as mulheres atuavam na efetiva participação política, doutrinal ou

161
Todos os poemas aqui destacados foram originalmente escritos nos anos 1930. A escolha de apresentar
somente exemplares referentes à primeira geração de poetas integralistas deveu-se, inicialmente, à
pequena quantidade de poesias de autores vinculados às demais gerações. Julgou-se, portanto, mais
representativo demonstrar exemplares de poemas que expressassem de maneira mais contundente as
variantes engendradas pela Antologia dos poetas integralistas que, na sua maioria, expressavam temáticas
vinculadas à primeira atuação do integralismo.

141
intelectual do movimento. Nesse sentido, a figura feminina foi vista de formas
extremadas dentro do integralismo. Exemplo significativo foi dado por Belisário Penna
que afirmava ser urgente “para o bem da humanidade, surgir do homem integralista um
corretivo à loucura da mulher de querer igualar-se ao homem em tudo e por tudo, em
contraposição às leis biológicas (...)” (PENNA, EI, Vol. 3, 1959: 43).
Embora um dos pilares contra a ofensiva antiintegralista fosse justamente
apregoar o caráter aberto, da equivalência de gêneros dentro do movimento (sobretudo,
na época da AIB) a visão um tanto dicotômica entre mulheres e homens integralistas
gera problemas interpretativos generalizantes não possibilitando que se observe
atentamente outras formas de inserção e resistência feminina no âmbito da AIB. 162 Para
a pesquisadora Lidia Maria Vianna Possas, bem como para seu orientando de mestrado,
Daniel Lopes existem algumas “ brechas” que muitas mulheres utilizaram para
construírem-se enquanto “ sujeitos”. Apesar da presença de um discurso que se dizia
moderno e “focado na igualdade de gêneros” apregoado em vários documentos, o papel
das mulheres integralistas era visto com certo distanciamento por parte dos integralistas
homens. Havia, na verdade uma distinção que precisa ser melhor tratada. De acordo
com as pesquisas dos autores supracitados, “o que não devemos aceitar é que “elas”, as
blusas verdes, tornaram-se passivas, manipuláveis”. Para tanto, os autores atuam junto
ao conceito de feminismo informal, discutido por Michel Perrot:
(...) “feminismo informal” é construído a partir da constatação de que
algumas resistências e revoltas femininas se revestem de formas
privadas, secretas mesmo, ou encadeiam-se em convivência, suscetíveis
de colocar em xeque a dominação”. (PERROT, 2000).

Cabe destacar que dos 84 poemas (escritos por 52 poetas integralistas)


constituintes desta antologia, apenas dois foram escritos por mulheres. Seus nomes:
Haydée Machado Marques Porto e Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha, ambas
representantes da primeira geração integralista.

162
Havia na AIB o Departamento Feminino que era constituído por: Departamento Nacional Feminino;
Departamento Provincial Feminino; Departamento Municipal Feminino; Departamento Distrital
Feminino em 1936 é criada a Secretaria Nacional de Arregimentação Feminina e de Plinianos –
S.N.A.F.P. Ver: LOPES, Daniel. As experiências femininas na AIB (1932-1938). Revendo o passado, o
cotidiano e as representações. Dissertação de mestrado. UNESP/Marília, 2008.

142
Juntamente com as figuras feminina e do adolescente, denominados
simplesmente de “jovens” pelos poemas, a figura do negro também foi utilizada como
elemento propagandístico do integralismo, principalmente para contrapor às acusações
de racismo, veiculadas de maneira sistemática pela mídia, sobretudo nos anos 1930.
Poemas como o de D. S. Padão foram por diversas vezes utilizados como álibi quando o
movimento era denunciado como racista. Os quadros integralistas sempre aceitaram
negros, embora sua participação fosse bastante reduzida. A poesia foi uma das
manifestações que mais divulgou esta recepção. Tal poema visou retratar o quanto a
força do militante negro era bem recebida pela sigla. As referências em prol do militante
negro também apareceram em outras duas poesias que obedeciam ao mesmo eixo
temático, porém não evidenciando a oposição racismo/militante negro, mas sim,
indicando a figura do negro como um elemento natural do universo integralista.

Poema do homem negro


“Aquele homem forte, escuro163, erecto, valente desafiava a morte.
Na milícia, não mal comparando, parecia o jequitibá
Em torno do qual, gloriosamente, a floresta verde se estendia.
Mas um dia, porém, Deus o levou também, e desde esse dia,
Um vácuo na terra se sentia em prol da Milícia do Além.
Hoje resta a clareza à minha alma varonil.
Quem morre camisa verde,
Morto, é muito mais vivo
No coração do Brasil!”

O Integralismo do homem branco e negro; da mulher; do jovem; do brasileiro e


do estrangeiro que, simpatizasse com o movimento; do militar e do militante civil
sempre foi apresentado como a “salvação de uma Nação desprovida de futuro”164. Foi
também a “sentinela atenta”; o “oráculo dos problemas da Nação”; o “dissipador das
mazelas do Brasil”165, títulos de poemas laudatórios apresentados no volume. No
poema de Julio Dias, escrito em meados de 1935, a vocação salvadora foi mais uma vez
163
Como a grafia da palavra “escuro” havia sido publicada em negrito no volume consultado resolveu-se
pesquisar junto a exemplares do mesmo volume para comprovar o destaque ou se a grafia do exemplar
consultado havia sido um erro de impressão. Pesquisados cinco exemplares do 7º volume da EI:
Coletânea dos poetas integralistas constatou-se que, em três exemplares a grafia acompanhava a palavra
“escuro” em negrito, o que fez supor que havia a intenção editorial de se destacar a palavra. A despeito
dessa constatação, nenhuma indicação comprovou a real intenção do destaque, não podendo também
explicar o porquê dos dois outros exemplares não terem sido publicados com o destaque em negrito da
referida palavra.
164
SALGADO, P. EI, Vol. I, p.78.
165
Alusão a outros poemas constituintes da Antologia dos poetas integralistas cuja temática discutia
elementos levantados pelo militante Julio Dias.

143
explorada como um atributo original do integralismo, cuja viabilidade se daria por meio
do “aguardado” Estado Integral.

Integralismo
“Sentinela avançada do Brasil!
Sangue moço clamando liberdade,
Músculos de aço, força varonil,
Impulsionando a sã brasilidade!
Marcha gloriosa de conquistas mil
Supremo ideal de nossa mocidade
Que há de trocar o fogo do fuzil
Pela voz da justiça e da Verdade.
ANAUÊ! Que se ouviu de sul a norte
Despertando o Gigante bravo e forte,
Hoje é a senha da fé e civismo...
Guarda a honra da pátria brasileira
Que o integralista, cheio de heroísmo. Gravou com sangue à sombra da Bandeira.”

Em concomitância, a tríade: força, jovialidade e permanência também foi


usada como mobilizadora do discurso aliciador integralista.

O verde Integralista
“Eu vejo o verde pelo campo em fora,
Tapete imenso no vergel da serra,
Eu vejo o verde, quando a tarde chora
Lá no bramir do mar da minha terra
Eu vejo verde ao despertar da aurora
No prado em flor, pela manhã deserta,
Eu vejo o verde entre o botão que aflora
Em cada flor de jasmim aberta.
Eu vejo ainda ao desfraldar, tão lindo
Todo em esperança o brio se vestindo,
No pendão pátrio, tremulando à vista;
Mas só contemplo com amor ufano,
O pedaço mais VERDE deste pano,
Quando ele envolve um peito integralista.”

Não menos relevante é o fato de que o aspecto militar do integralismo sempre


foi questão de ordem dentro do movimento. O alerta dos militares seduziu os
integralistas que pregavam a auto-estima e a disciplina como elementos imprescindíveis
para sua auto-realização. O integralismo acabou tendo uma receptividade bastante

144
razoável dentre muitos militares dos anos 1930 (mais na marinha de guerra), que viam
no ideário integralista a possibilidade da construção de um estado calcado na hierarquia
e na submissão absoluta aos preceitos nacionalistas. Aliás, os conceitos de hierarquia,
respeito e disciplina - atributos cobrados de um integralista – tiveram no poema do
Major Waldomiro Ferreira, reproduzido abaixo um tratamento peculiar, pois, apresentou
a indissociável relação entre os universo militar e integralista. Tal relação atestou a
significância da figura do militar no cotidiano do integralismo, interlocutor direto
quando se tratava de fazerem-se valer os elementos patrióticos e disciplinadores.

Brasileiros, sentido!
“Enquanto os empreiteiros da desgraça
Na ronda estéril, na investida estulta,
Persistem nesta prédica que insulta
E a covardia ao servilismo enlaça,
Levantemos no ardor da nossa raça
A cultura, altivez que nela avulta,
Por sepultar a cáfila insepulta
Desses mortos morais de idéia escassa!
Sentido, Brasileiros! Já se apresenta
A mulata boçal, tentando a festa,
Que às saturnais deixa perder de vista!
Mal haja quem fugir à dura prova,
A dura construção da Pátria Nova
Nos moldes da Doutrina Integralista!”

Registra-se que a proposta de se analisar alguns dos poemas deste grupo


específico de militantes integralistas, avulsos, desconhecidos, cidadãos comuns, se dá
na medida em que a Enciclopédia consubstanciou-se num projeto de fortalecimento da
identidade política de uma parcela da sociedade que, embora reduzida, requeria, naquele
momento, direito de se pronunciar. Uma vez que os poemas foram, na sua maioria,
publicados originalmente nas páginas dos jornais integralistas da década de 1930, ao
serem reapresentados na Enciclopédia do Integralismo reconstituíram o ideal do velho
movimento frente à nova conjuntura. Entretanto, o reduzido número de poemas datados
do pós-guerra aponta para o fato de que a colaboração militante perrepista, se deu de
maneira exígua e descontínua. Em um universo em que a concordância com as disposições
lançadas pelo chefe era o passaporte para a permanência no movimento, a poesia foi apenas
uma das várias ferramentas utilizadas para exaltar a liderança integralista.

145
3.7 - Liderança: anuência e anauência166

A questão da liderança/chefia sempre foi abordada


pelos escritos integralistas como algo inquestionável, um
dogma a ser seguido. Por isso, propõe-se aqui discutirmos
uma provocação: teriam sido bem sucedidos os integralistas,
caso tivessem lançado mão de outras estratégias menos
personificadas em seu líder supremo Plínio Salgado? Os
integralistas teriam sobrevivido a uma história apartada de seu
líder? Nesse contexto, o neologismo “anauência”, é bastante
pertinente se entendermos a dinâmica de subserviência e
concordância que os membros integralistas depositaram na chefia do movimento.
O habitus, o campo de forças e as intermediações percebidas nos escritos da
Enciclopédia corroboram a noção de que a anuência (concordância absoluta) foi,
simultaneamente, o combustível, a direção e o freio do movimento. Algumas
dissidências excederam esta regra, mas não tiraram o foco dos dois grandes
aglutinadores do integralismo do período estudado: a linguagem pliniana (sempre voraz
e inflamada) e a simbologia adotada na publicação da Enciclopédia do Integralismo:
esta sim, último apanágio deste movimento contraditório.
Nos escritos selecionados sobre esta temática, a figura demiúrgica do chefe foi
sempre mostrada como inspiração e finalidade de todas as ações militantes, crescendo
em relevância na medida em que a Enciclopédia tornou-se porta-voz das expectativas
do integralismo. Os autores que discorrem sobre esta temática: Plínio Salgado, Alberto
Cotrim Neto, João Carlos Fairbanks, Ernani B. Rodrigues, Tasso da Silveira, Félix
Contreiras Rodrigues, Antônio Galotti, Belisário Penna, Margarida Corbisier,
Alcebíades Delamare, José Mayrink Souza Motta e Gumercindo Rocha Dórea,
reproduziram sempre a mesma catarse quando se tratava de auferir valores sobre a
postura do chefe. Registra-se que, e diversas intervenções, o próprio Plínio Salgado, se
exaltava por acreditar possuir tais predicados.
166
Neologismo sugerido de maneira anedótica pelo cientista social Mário Grynspan, na primeira aula do
curso que ministrou em princípios de 2007. No caso, “anauência”, (do vocábulo tupy, ANAUÊ! – “você é
meu irmão!” - cumprimento integralista) seria uma corruptela da idéia de anuência (concordância)
integralista às questões referentes ao movimento: militância, organização, modus vivendi, habitus político,
reconfigurações de forças no tabuleiro ideológico da época (anos 1950) etc. Devo à criativa intervenção
do professor Grynspan a idéia deste neologismo.

146
Para além da supervalorização de uma suposta onipresença e onipotência de
Salgado, o que também se percebeu foi uma série de indicações que reportaram ao
período de ausência167 do líder integralista (período do exílio em Portugal). Em diversos
momentos, observou-se na escrita de alguns militantes (principalmente nos volumes 1 e
6) um anseio bastante semelhante àquele que unia os antigos portugueses à eterna
espera do salvador, um sebastianismo pliniano – metáfora da lendária epopéia do povo
lusitano na expectativa do retorno do rei Sebastião que, em luta pela reconquista de
Portugal frente aos mouros do século 16, jamais voltaria. No entanto, foram poucos os
textos que referenciaram os episódios deste período. Destacaram-se, especialmente,
depoimentos que apontaram como primordial para a permanência da doutrina a convicta
esperança de que um dia o chefe voltaria.168
Referência de valor expressivo foi a análise realizada pelo veterano integralista
Tasso da Silveira sobre o poema do escritor português Faria de Vasconcelos, composto
originalmente em 1922. Reapropriado por Silveira no intuito de homenagear Plínio
Salgado, tal poema era uma ode laudatória à figura do líder:
CHEFE! Eis a palavra e o ato necessário. Quem é capaz de dizer tudo quanto encerra
esta palavra e este ato? Realizar uma obra pessoal não é ser CHEFE. Não é ser CHEFE
estar a serviço de um grupo, de um partido, seita ou escola (...) O CHEFE sabe
recomeçar e reconstruir sobre ruínas... o CHEFE sabe obedecer aos interesses de seu
destino, disciplinar a vida conforme estes preceitos, aceitar sem discutir, pois é o
exemplo maior de obediência. Pois, sem dúvida nenhuma que é por saber obedecer que
o CHEFE sabe mandar. Porque mandar é na essência ainda obedecer!
(VASCONCELOS Apud SILVEIRA, EI, Vol.6, 1959:45)

No poema supracitado, verifica-se que a expressividade da palavra “chefe”


fortalecia-se na reincidência de seu uso. Quanto mais contínua sua repetição, mais força
adquiria no cotidiano da militância. Tudo indica que este era seu objetivo principal. A
presença do Chefe é – segundo a análise de Silveira – a condição primordial para o
estabelecimento do poder integralista, condição determinante para a consolidação do
movimento. Daí a relevância em se repetir a palavra “Chefe”, editada originalmente em
letras maiúsculas, que no texto acima aparece por oito vezes como se fosse uma espécie
de mantra. Portanto, a repetição em escala da palavra “chefe” ajudava a solidificar o seu
poder e, conseqüentemente, sua doutrina. A exaltação havia sido inspirada num dos
poemas destinados à celebração da liderança de Plínio Salgado. Tratava-se da poesia de

167
Trata-se do „mito do ausente‟, bastante explorado pela militância integralista nos anos de ilegalidade
do movimento.
168
Enciclopédia do Integralismo, Vols. 1 e 3. Diversas partes.

147
José Mayrink Souza Motta, conhecido poeta integralista que publicou durante toda a
década de 1930 poesias de cunho proselistista. De acordo com Mayrink, “o rufar dos
tambores silenciosos obedeciam apenas ao chamamento de um só homem: obedecia
apenas à voz e a sabedoria do Chefe, é para ele que bradamos os três Anauês!”.169
(MAYRINK, EI, Vol. 7, 1959:89)
Concomitantemente às manifestações de apreço ao chefe integralista, veiculou-
se, por diversas vezes ao longo da publicação, uma teoria que se balizava na
necessidade de comprovar que os integralistas eram todos predestinados, um grupo cuja
herança permaneceria para sempre viva. De acordo com a teoria da predestinação
integralista assimilada por uma considerável parcela da ala católica integralista,
“Salgado e o Integralismo estariam para a predestinação, assim como os povos da
Judéia estariam para a preferência de Cristo”. (CORBISIER, EI, Vol. 6, 1958:96) Essa
vinculação estritamente confessional revestiu de força uma teoria que só convencia aos
simpatizantes: a possibilidade concreta de Plínio Salgado ascender ao poder. Margarida
Corbisier, criadora da teoria concordou com as idéias de Miguel Reale em finais de
1934, para quem “(...) o Sigma era sem dúvida nenhuma, a vocação suprema de um
povo predestinado” (REALE, EI, Vol. 9, 1959:45).
Para legitimar sua constante aspiração ao poder, o integralismo inferiu diversas
relações de parentesco entre seus membros e renomados personagens políticos do país.
A partir dessa concepção de herança ou legado, os integralistas procuraram reconstruir
uma árvore genealógica de personagens que havia colaborado com o ideário integralista.
Nesse sentido, a herança de grandes personagens históricos funcionava como uma
espécie de comprovação de que o Integralismo possuía uma raiz fértil e antiga. Vários
de seus membros possuíam – de acordo com a teoria da predestinação – a ascendência
de ilustres personagens e que, por conta disso, adquiriram as credenciais para modificar
os rumos da Nação.
Ainda para os integralistas, tais ascendentes eram a prova viva de que o
integralismo possuía uma linhagem especial. Dentre os personagens arrolados pelos
escritos destacaram-se: Castro Alves, Marechal Deodoro, Farias Brito, Rui Barbosa,
Oswaldo Cruz, Rocha Pombo, José de Alencar, dentre outros que teriam deixado
descendentes integralistas.

169
Os protocolos integralistas baseiam-se na hierarquia. Por isso, destacavam-se gradações na saudação
Anauê! Apenas ao Chefe, poder-se-ia bradar três vezes, Anauê! Era o grau mais elevado de respeito,
dispensado apenas na presença de Plínio Salgado.

148
O integralismo também julgava ser descendente direto de movimentos fundantes
da identidade nacional. Um dos exemplos mais utilizados pelos integralistas, quando
estes necessitavam comprovar sua brasilidade e sua oposição frente ao
internacionalismo, era a comparação que faziam entre os diversos movimentos
emancipacionistas e a postura anti-internacionalista do Integralismo. Se os integralistas
construíam sua genealogia buscando no passado as bases de seu nacionalismo também
projetaram o futuro do movimento preocupando-se com a passagem de seu legado. A
transferência da liderança sempre foi um dos grandes problemas enfrentados pelo
integralismo. Foi assim nos anos 1940 e na década de 1950.
No entanto, paralelamente às adjetivações destinadas a Plínio Salgado e aos seus
“predestinados seguidores”, instituíram-se em alguns escritos questionamentos com
relação à postura centralizadora do chefe. Essas contradições acabaram por relativizar a
subordinação quase inquestionável ao líder integralista. Em alguns artigos reeditados na
Enciclopédia do Integralismo, datados tanto dos anos 1930 quanto dos anos 1940 e 50,
alguns desses questionamentos tornaram-se freqüentes, o que multiplicou as abordagens
sobre o assunto.
Com a readaptação da política integralista do pós-guerra, sobretudo a partir de
finais da década de 1940, a organização do PRP conheceu um redimensionamento que
trouxe uma contradição: em muitos casos, e alimentada pelos mais diferentes aspectos, a
chefia local começava a se rebelar contra a figura da chefia central. Em outras palavras,
choques de interesses locais começaram a interferir no, até então, absoluto controle
pliniano, o que acabou por enfraquecer e desacreditar a viabilidade do binômio
municipalidade/autonomia anteriormente tão alardeado pelos integralistas.
A despeito da rede de subserviência atuar, antes de tudo, como um filtro que
impedia uma maior e mais evidente contradição ao discurso e às diretivas do líder
integralista, deve-se atentar para o fato de que, mesmo sob a tutela integralista, a idéia
propalada pelo chefe nem sempre persuadia todos seus correligionários.
170
Municipalismo e individualismo político, integração e pluralidade são binômios
conceituais que, nos escritos da Enciclopédia apareceram dispersos e desconexos, mas
que se agruparam num conjunto bastante coeso de contraposições ao vigente e
fortalecido discurso pliniano.

170
Com relação ao conceito de municipalismo, Salgado afirmou ter sido influenciado pelo político e
magistrado Domingos Jaguaribe, que no século XIX foi Ministro de Guerra no Gabinete Rio Branco.
Suas idéias com relação ao municipalismo encontraram forte ressonância nos anseios de Salgado.

149
Por vezes contundente, por vezes titubeante, as reações dos militantes ilustraram
o quanto a relação entre as esferas de mando e subordinação interioranas ainda eram
rígidas para aqueles homens que viveram o primeiro momento da sigla. A despeito das
fortes concepções de Salgado e da manutenção de sua postura centralizadora, houve,
nuances que possibilitaram o questionamento de pontos entendidos como inabaláveis na
crença integralista. A “anauência” (anuência integralista) teve longa vida, mas não se
mostrou eterna, sobretudo no quesito hierarquia. Como conseqüência foram diversos os
antagonismos enfrentados pelo integralismo. A Enciclopédia evidenciou alguns deles.

3.8 – Antagonismo e dissidência no seio da Enciclopédia


É significativo notar que, alguns dos mais incisivos
críticos do integralismo do pós-guerra haviam sido entusiastas
da AIB e de sua doutrina. Em 1945, assumindo um discurso
antifascista ex-militantes passaram a acusar o integralismo de
autoritário, antidemocrático, conservador e reacionário.
Os esparsos, porém veementes antagonismos fizeram
com que o “absolutismo moral” empregado pelo integralismo
pliniano convivesse com contradições no seio do próprio
movimento. Por vezes acanhados, por vezes exaltados, tais
dissidências tomariam as páginas dos jornais, bem como as
discussões nos gabinetes e diretórios do PRP. Então, como ferramenta desta
contraposição os principais adversários políticos do movimento, desde a década de
1940, eram sempre desqualificados como sendo “agentes bolchevistas” – uma alusão
pejorativa a todas as lideranças vinculadas à esquerda e que, portanto, tornavam-se
potencialmente adversárias do integralismo. Assim, tornaram-se comuns as afirmações
de que seus inimigos existiam apenas para fortificar e aprimorar o integralismo.
Ora evasivos, ora contundentes, os integralistas que escrevem sobre o tema
carregaram a todo o momento a dúvida com relação à unicidade do integralismo. Assim,
membros consagrados na primeira atuação integralista como Miguel Reale, Hélder
Câmara e Luis da Câmara Cascudo, dividiram espaço com jovens militantes como
Gumercindo Rocha Dórea, Pedro Lafayette, Ernani Lomba Ferraz e Luiz Alexandre
Compagoni, quando o assunto era “dissidência”. Com relação ao primeiro nome

150
(Miguel Reale) é significativo que não haja na Enciclopédia nenhum artigo sobre a
disputa travado pelo poder da então AIB. É de conhecimento público que a tríade
integralista, composta por Salgado, Reale e Gustavo Barroso, passou toda a década de
1930 articulando possibilidades de ascender à chefia do movimento. As dissidências
começavam dentro do próprio seio integralista, na alta cúpula. A vertente pliniana
venceu os oponentes, mas só depois de enfrentar incisivas contraposições.
Percebe-se, então, o quanto os adversários do integralismo, na maioria das vezes,
dissidentes do movimento, foram combatidos nos escritos da Enciclopédia. A ideologia,
a política e a religião, respectivamente relacionadas às figuras de Severino Sombra
(anos 1930), Alceu Amoroso Lima (anos 1940) e Carlos Lacerda (anos 1950) foram os
alvos prediletos dos integralistas, sobretudo nos primeiros cinco volumes da
Enciclopédia.
A dissidência abriu fissuras no movimento. Uma delas foi Severino Sombra. No
início da formação do movimento integralista, o cearense acabou se afastando após
discordar das diretrizes traçadas por Salgado de implementar no movimento uma
roupagem mais urbana e de classe média, ao invés de proletária sindical. Sua saída foi
encarada como uma traição, fato que permaneceu como um estigma no seio integralista.
Tanto que esse episódio foi retomado 25 anos depois, nos seguintes termos: rebatendo
as acusações de Sombra, para quem “Plínio Salgado teria plagiado suas obras, e forjado
um conceito ideológico fraco, porém já conhecido” 171, Hélder Câmara, em trecho de
uma carta resposta publicada no jornal A Acção de fevereiro de 1934, e republicada na
Enciclopédia do Integralismo, afirmou que “a relação do integralismo com os falsos
católicos já havia conhecido, desde os tempos primeiros, um traidor em potencial (...) o
velho Sombra”. (CÂMARA, EI, Vol. 3, 1958:27)
O folclorista Luis da Câmara Cascudo, no período em que estava vinculado ao
movimento, também escreveu sobre os dissidentes integralistas. Especificamente com
relação a Severino Sombra, Cascudo afirmou em texto de 1934, republicado em 1958,
no 4º volume da Enciclopédia que “(...) torcendo os textos, alargando-os, pode-se a cada
passo envenenar um pensamento, foi isso que houve com relação à este que não chega
nem à sombra do que um dia foi o senhor Sombra (...)”. (CASCUDO, EI, Vol. 4,
1958:34) Nesse trecho, Cascudo refere-se à outra carta que escrevera, respondendo ao

171
SOMBRA, Severino. Carta aberta aos integralistas. Publicada no jornal A Acção, de março de 1934.
Trechos dessa carta foram publicados, ao longo dos volumes da Enciclopédia do Integralismo,
especialmente nos volumes que se referiram aos dissidentes integralistas.

151
ex-membro integralista. De acordo com o missivista, Sombra “não raciocinava direito
ao atacar o movimento (...) pois, mesmo tendo ele denunciado o integralismo aos quatro
ventos às autoridades eclesiásticas, suas objeções não foram de maior valor e não
surgiram com um sentimento de organicidade que o ex- integralista não tem...”.
(CASCUDO, Idem: 36) Câmara Cascudo rebateu as acusações desferidas por Sombra
reavaliando a postura do dissidente: “Sombra, conspùo discus nunc” – ou, não cuspas
no prato em que se alimentou!”. A acusação sobre Plínio Salgado de que este não
passava de uma “farsa mal construída” não foi exclusividade de Severino Sombra.
Outra dissidência muito combatida foi a do líder católico e ex-simpatizante do
movimento integralista Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde. É significativo
lembrar que ele, principalmente a partir de finais dos anos 1940 foi um dos maiores
opositores da vinculação ideológica do integralismo com a Igreja católica, sobretudo
devido à influência de Plínio Salgado junto a alguns prelados. A despeito da
contraposição de Amoroso Lima, o integralismo conseguiu a adesão e algumas
declarações favoráveis de alguns bispos e arcebispos católicos, que foram utilizados
como grandes peças publicitárias em torno e em prol do movimento. Mesmo assim,
nunca o integralismo conseguiu uma vinculação mais sólida com a hierarquia católica.
Nesse sentido, merece destaque o asseverou Luiz A. Compagnoni, em finais de 1957:
“ Hoje não há quem nos calunie com mais perversidade como Tristão de Athayde, tal como
ontem, não houve quem mais nos elogiasse com mais exuberância do que ele (...) o verdadeiro
vira casaca”. (COMPAGNONI, EI, Vol. 2, 1957:94)
Em trechos retirados originalmente do jornal A Idade Nova, mas republicados na
Enciclopédia, no 4º e 9º volumes, o jornalista Pedro Lafayette descreveu a contenda
desencadeada entre um dos seus mais diletos seguidores de Alceu Amoroso Lima, o
articulista do “Diário de Notícias”, do RJ, Fábio Alves Ribeiro e a Ação Integralista
Brasileira. Escritos em meados de 1945, logo após as primeiras disposições do PRP
frente à redemocratização, tais artigos têm, além de um valor histórico significativo, um
caráter diferenciador no sentido de que evidenciam trechos ambivalentes da postura do
seguidor de Amoroso Lima, apontando características paradoxais de seu ideário e
pensamento. Fábio Ribeiro foi comparado pejorativamente a “uma vitrola controlada
por Alceu Amoroso Lima”, daí insistirem os integralistas em criticar tanto um quanto
outro. Quando as críticas eram direcionadas ao próprio Amoroso Lima, evitando
acusações a intermediários, a reação do acusado era impingir aos integralistas a mais
contundente censura.

152
Nos anos 1940, assim como durante toda a década seguinte, o antagonismo entre
Amoroso Lima e Plínio Salgado continuou sendo alimentado. O partido sustentou várias
polêmicas com alguns de seus adversários políticos, dentre eles Gustavo Corção, o
próprio Amoroso Lima e Carlos Lacerda. Os dois primeiros, que em diversas ocasiões
nos anos 1930 haviam elogiado o integralismo, intensificaram as denúncias aos
seguidores de Salgado, comparando-os aos simpatizantes nazi-fascistas. Da segunda
metade dos anos 1940 em diante, sobretudo, Amoroso Lima assumiu uma posição
política de incriminação ao integralismo. De acordo com o historiador, Gilberto Calil
“(...) as brigas com Amoroso Lima indicavam não apenas a crescente diversificação
ideológica da Igreja Católica, mas também a pretensão de Salgado em qualificar-se
como liderança daquela, ou pelo menos de sua parcela mais direitista” (CALIL, 1998:
230). Daí a indicação de que o PRP articulava-se com os setores mais conservadores da
Igreja Católica.
Se, religiosamente, líderes católicos de diferentes
matizes como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima fizeram
da oposição a Plínio Salgado uma de suas maiores motivações,
politicamente, os antagonistas do movimento também
possuíam os perfis ideológicos mais distintos. Não bastasse a
oscilante contraposição de um Assis Chateaubriand, Roberto
Marinho ou Samuel Wainer, a atuação majoritária da UDN no
jogo partidário da época possibilitou o destaque de outro
opositor do integralismo: Carlos Lacerda, que ficou conhecido
não apenas por ser um oposicionista voraz do integralismo, mas por sua ácida
fraseologia.
“Ele não pode ser candidato, se candidato não pode ser eleito, se eleito não pode
ser empossado, se empossado não pode governar." Esta passagem evidenciada por
Lacerda e endereçada ao então candidato à presidência JK, resume o estilo agressivo e
direto que fez desta figura a personificação do que até hoje se chama de direita. Carlos
Lacerda, além de ser o nome mais combativo e a figura exponencial da antiga UDN,
também foi a figura que melhor encarnou o pacote direitista naqueles tumultuados anos
1950 e 1960, fosse pela veia moralista e conservadora, fosse pela mistura de um

153
nacionalismo radical e um liberalismo heterodoxo. Sobre ele Salgado diria: “um dos
maiores cancros que a sociedade brasileira já produziu”.172
De certa maneira, gramaturas diferentes do espectro direitista colaboraram para
que o conservadorismo se consolidasse como algo plural. Exemplo claro deste sobre-
tom ideológico se deu entre os integralistas e os udenistas, que ao longo dos anos 1950 e
60, oscilaram entre uma tímida aproximação (no caso da aliança nacional em 1950 e
pequenas aproximações regionais posteriores) e um paulatino afastamento. A eleição
presidencial de 1955, por exemplo, (esparsamente mencionada em alguns volumes da
Enciclopédia, por meio das intervenções de seu editor) foi um dos temas que acirrou ao
extremo o conflito entre os integralistas e os partidários da UDN. Este conflito tinha
como objeto principal a disputa pelo eleitorado conservador, particularmente aquele
egresso nos setores médios urbanos, e se explicitou em diferentes momentos desde
1945, mas em particular a partir de 1953, no contexto da afirmação da “independência
partidária” do PRP. Como dito anteriormente, ora se aproximavam, ora tergiversavam,
ignorando-os uns aos outros.
Carlos Lacerda e Plínio Salgado nunca se bicaram. O Corvo – apelido de
Lacerda - e a galinha verde pliniana jamais ciscaram no mesmo terreno. Duas direitas
diferentes, mas direitas. Salgado se locupletava em discursos ao longo dos anos 1970,
afirmando em voz altiva e característico sotaque paulista do interior que a única coisa
que unia os lacerdistas udenistas e a sigla verde era sua inclinação à ditadura de 1964 e
o discurso anticomunista de ambos. Assim, diversos jornais de circulação nacional nos
anos 1950 e 60, e com ressonâncias até os anos 1970, focalizavam os dois personagens
como centro de uma disputa para assegurar a matriz direitista na política nacional. Em
um cenário que buscava apresentar alguns exemplos de antagonismos que o
integralismo enfrentava ao longo de sua trajetória, a figura de Lacerda foi talvez, a mais
aguda de todas.
Carlos Lacerda foi, na realidade, alvo de denúncias, tal como fora Salgado. Em
reportagem do jornal Última Hora, Samuel Wainer ataca a ambos com jocoso discurso,
instituindo para sempre o que ele chamou de: “a relação labiríntica e paranóica entre a
desenvoltura catártica da galinha verde e a histriônica megalomania do Corvo”
(Última Hora, 1957). Em resposta lacônica, Gumercindo Rocha Dórea comenta em

172
Idade Nova (1951 e 1953) e A Marcha (1959).

154
passagem rápida no segundo volume da Enciclopédia que a verborragia de Wainer “não
traria prejuízos, nem problemas ao integralismo” (DÓREA, EI, Vol. 2, 1957: 3).
Posto que as dissidências e os antagonistas do integralismo representavam os
mais variados setores da sociedade, o movimento integralista passou grande parte do
período do pós-guerra ocupando-se em rebater as acusações de permanecer ligado ao
fascismo, e principalmente, tentando convencer a sociedade quanto ao seu caráter
democrático. Os integralistas inclinados a enxergar nas vicissitudes da história as
marcas deixadas por seus membros insistiram que o movimento havia sido a sentinela
frente às tentações de uma modernidade que seria prejudicial para o país. Este
pensamento combinado à nova postura adotada pela Igreja Católica, que passou a rever
certos pontos de sua atuação, acabou por distanciar o mais ativo interlocutor do
movimento integralista. O catolicismo, as demais siglas direitistas e o integralismo
flertaram, dialogaram, trocaram elogios entre si, mas terminaram os anos 1950-60 se
afastando cada vez mais.
***

Conforme foi mostrado estabeleceu-se, no interior dos textos da Enciclopédia do


Integralismo, elementos contraditórios que, apesar do filtro de seu organizador, acabou
por aflorar. Estes permitiram apreender as dissonâncias e similitudes no interior do
discurso integralista. Deste modo, a coexistência de diferentes gerações e a seleção de
um temário heterogêneo fez do sumário desta Enciclopédia palco privilegiado do debate
político/ideológico/institucional do integralismo. Os „feitos‟ dos escritores vinculados
ao integralismo foram amplificados na compilação realizada por Rocha Dórea, como se
este lançasse uma lente de aumento nas ações realizadas pelos integralistas por ele
selecionados, super enfatizando suas relações a despeito de uma minoria, ainda
permanecer vinculada ao movimento, na época em que foram publicados os volumes.

Da leitura de seus 12 volumes sobressaiu a noção de um integralismo


estruturado para reagir às contraposições impostas pelo estabelecido jogo democrático.
As posturas morais presentes no compêndio não destoaram do antigo e cultuado perfil
nacionalista, e os projetos expressos em cada volume coadunaram-se num corpo mais
ou menos coeso de rememorações e depoimentos, tributários à figura de Salgado. Este,
por sua vez, apareceu, invariavelmente, como figura central e difusora dos limites entre
a memória e a história do integralismo.

155
Finalizando, tornou-se claro que a dinâmica exercida pelos temas da
Enciclopédia sinalizaram a absoluta impossibilidade por parte dos integralistas de
responderem ou dialogarem com os problemas e temáticas contemporâneas à
publicação. Suas propostas, bem como suas temáticas continuaram referenciando sua
atuação nos anos 1930, e o único elemento contemporâneo apresentado foi o
anticomunismo, verdadeira bandeira que uniu diversos seguimentos da sociedade, em
finais dos anos 1950. Com exceção do anticomunismo, e dos debates em torno de um
comportamento supostamente democrático por parte do PRP o silêncio que imperou nos
debates bem como nas apresentações do compêndio sinaliza a absoluta falta de
ambientação dos integralistas no período vigente, demonstrando que estes optaram por
permanecerem presos a um passado que acreditavam ter sido glorioso. Embora o
integralismo tenha se esforçado, sua ode à nostalgia criou descrédito ao invés de
atenção. Este projeto editorial, antes de apontar para uma sobrevida de um integralismo
redivivo, sinaliza a derrota de um projeto que visava ampliar suas redes de
sociabilidade, bem como suas listas de simpatizantes. Ainda assim, acredita-se que a
Enciclopédia do Integralismo (esta como um lugar de memória das três gerações de
militantes que serão analisadas no próximo capítulo) ajudou a construir o ápice de uma
trajetória que fez do integralismo no período pós-guerra um movimento bastante
contestado.

156
CAP. IV
Biografias coletivas: as três
gerações da ∑nciclopédia do
Integralismo

157
CAP. IV- Biografias coletivas: as três gerações da Enciclopédia do
Integralismo

Neste capítulo analisaremos o grupo de colaboradores da Enciclopédia do Integralismo,


acompanhando suas biografias e trajetórias por meio de um trabalho prosopográfico.
Discutiremos a formação de três gerações de integralistas que emprestaram textos ao
compêndio e interpretaremos as possíveis relações existentes entre tais trajetórias
construindo um quadro de inter-relações dos missivistas. Objetiva-se ainda glosar
algumas questões relativas ao universo das pessoas que participaram ativamente do
processo de publicação da Enciclopédia, aprofundando-nos no que o compêndio traz
sobre as visões de mundo integralistas.

4.1 - Uma proposta em evidência

“(...) Mais uns anos e todos esses homens serão vinte linhas esquematizadas
e arbitrárias em uma enciclopédia, sem sopro nem movimento (...)
uns como cópias deles mesmos, outros, cujo nome nem vale a pena nomear,
para poderem repousar com menos infelicidade no seio de Deus ,
eram pura e simplesmente escritores vendidos , sem alma nem fé”
(Antonio Cândido – prefácio da obra de Sergio Micelli, Intelectuais à brasileira)

E
ntendemos que para analisar o compêndio não seria suficiente apenas a
seleção e a interpretação dos escritos em si (do que tratam, como e
quando foram escritos, porque a seleção deste ou daquele escrito em
detrimento de outros), mas antes disto, tornou-se fundamental inventariar, analisar e
estabelecer correlações sobre quem eram os indivíduos que aparecem com textos nesses
volumes e como suas biografias se entrecruzaram, justamente por acreditarmos que é
deste intercruzamento que surgiriam informações relevantes para a análise da
Enciclopédia. Por isso, a rede de sociabilidades e trocas estabelecida entre estes
indivíduos pôde ser mais bem analisada a partir do método prosopográfico.

158
Assim, graças à prosopografia173 tornou-se possível conhecer de forma profunda
as pequenas coletividades representativas, visto que as biografias coletivas permitem
renovar as respostas às grandes questões “(...), pois, nas abordagens prosopográficas os
grupos se definem por suas propriedades relacionais ou por suas imagens recíprocas, ou
ainda por sua capacidade em impor uma imagem de si mesmos aos outros, mas também
a maior parte de seus membros. (CHARLE, 2006, p. 44)
A rigor, a construção do argumento que sustenta este trabalho obstina-se em
detectar as peculiaridades que fizeram do empreendimento editorial em questão algo
que colaborou para o retorno do integralismo à ordem vigente, bem como, às manchetes
dos jornais. Desta maneira, dificuldades foram se apresentando ao longo desta pesquisa.
Exemplo significativo é que nas consultas realizadas na rede mundial de computadores
(internet) as armadilhas decorrentes da onomástica, e da homonímia, com nomes
repetidos e que dificilmente identificavam famílias constituiu um dos primeiros
problemas, já que a repetição freqüente, do mesmo nome, porém em situações e
contextos históricos diferentes, pôde nos dar uma idéia, mesmo que incompleta, da
necessidade de sustentarmos tais informações com dados obtidos a partir de outros
espaços e fontes. Contudo, mais uma vez a disparidade de dados, tanto no aspecto
quantitativo como qualitativo impediu, freqüentemente, a formulação de respostas mais
aprofundadas a muitas das perguntas colocadas na identificação dos diferentes
integralistas presentes no compêndio.
Por outro lado, a seleção das fontes para este propósito, assim como dos autores
biografados neste estudo obedeceu à pré seleção realizada pelo editor da Enciclopédia
do Integralismo, mas foi incentivada graças a existência de um pequeno número de
memórias publicadas e, em maior grau, pela necessidade de se construir uma trajetória
que interligasse tais memórias em uma biografia coletiva. Na verdade, esta opção revela
informações a respeito de categorias de intelectuais que ocupam momentaneamente
posições diferentes no campo de forças do integralismo.
Cabe ressaltar que a construção de um modelo coletivo com base nas análises
das variações das trajetórias individuais, envolve dilemas que resultam, em grande
173
A raiz etimológica da palavra “prosopografia” deriva de prósopon (caráter ou pessoal) mais gráphein
(escrever). Este termo firmou-se no sentido de designar o exame dos laços familiares e das carreiras de
um número considerável de pessoas numa dada sociedade, num determinado período, com vistas ao
estabelecimento de inferências a respeito de sua estrutura social e política. Tânia Maria Tavares Ferreira,
em artigo publicado nos Anais do Encontro Regional da Anpuh – RJ/2002 relembra que a própria
tradução para a língua portuguesa do termo prosopografia reveste-se de ambigüidades, à medida que a
forma de dicionarização da palavra difere do sentido original em inglês. Ver: FERREIRA, Tânia Maria
Tavares Bessone da Cruz - UERJ/CNPq. História e Prosopografia. Anais da Anpuh RJ, 2002.

159
medida, dos limites impostos pelo material disponível. Vale dizer, a seleção prévia dos
autores, bem como dos temas, aponta para o fato de que seu idealizador não conseguiu
desvencilhar-se por completo de dilemas que acompanham um editor: enfatizar qual
gênero em sua seleção? Privilegiar o relato biográfico ou apologia biográfica. No caso
da Enciclopédia do Integralismo o que se verifica é a mescla de ambos, com uma clara
tendência à apologia.
Parcela significativa dentre os memorialistas integralistas (escritores que se
viram quase alijados do reconhecimento devido a sua filiação ideológico-partidária)
buscou a partir dos escritos da Enciclopédia do Integralismo compensar o insucesso de
seus empreendimentos literário-políticos, com uma carreira bem sucedida em atividades
como o jornalismo, a jurisprudência, a assessoria jurídica, a política profissional. Assim,
quanto mais se sentiam preteridos, tanto maiores eram suas incursões nas memórias.
Outro dado relevante é que a manutenção desta memória também fez parte das
pretensões de muitos destes produtores ou compiladores de memórias. Aliás, inúmeros
memorialistas ou “guardiães da memória” política- institucionais de um dado grupo - a
exemplo de Gumercindo Rocha Dórea- como obra desta manutenção, também
redigiram biografias ou efemérides sobre seus escritores célebres, o que não deixa de ser
uma maneira de tentar impor sua “presença no campo de forças” por procuração. Este é
o caso de Gumercindo Rocha que, com o empreendimento da Enciclopédia passa recibo
de procurador de vários autores, sobretudo, de seu chefe político e guru intelectual,
Plínio Salgado.

4.2 - O caminho até os dados...


Para além das biografias, perfis e memórias foram utilizados como fontes
privilegiadas desta pesquisa, os diários íntimos, os volumes de correspondência (passiva
e ativa) bem como as autobiografias existentes sobre alguns dos intelectuais vinculados
ao projeto editorial da Enciclopédia do Integralismo. Estes gêneros possibilitaram
apreender tanto as relações objetivas das posições ocupadas por tais intelectuais, e as
determinações sociais e culturais a que estiveram expostos, como as representações que
estes mantêm com seu trabalho, e, por conseguinte, quais as relações mantidas com sua
interlocução, isto é, com quem dialogavam e sob que ponto de vista apreendiam o
mundo em que viviam. Os dados biográficos relativos à origem social, à escolaridade, à
trajetória profissional, bem como às suas correlações enquanto membros de um grupo,

160
consumidor e produtor de uma dada cultura política174, e a produção intelectual destes
escritores integralistas, também foram analisados.
Seus respectivos lugares de nascimento e morte, suas formações intelectuais,
suas relações interpessoais com demais integralistas, foram conseguidos a partir da
leitura de outras fontes, tais como (currículos arquivados nas Faculdades de Direito,
Filosofia e Letras - Rio de Janeiro, São Paulo e Recife – em parte, disponíveis na
internet e em órgãos públicos); discursos de posse em instituições de consagração
(Academia Brasileira de Letras, Academia Brasileira de Letras Jurídicas, Instituto dos
Advogados, Ordem dos Advogados); discursos de concessão de títulos acadêmicos e
medalhas jurídicas; necrologias e elogios fúnebres; apresentação de obras; entrevistas
com alguns integralistas ou pessoas de suas relações, dicionários especializados,
dicionários biográficos, antologias) que colaboraram para um maior aprofundamento
das memórias e biografias elencadas no quadro constituinte da Enciclopédia do
Integralismo.
Do universo de indivíduos que aparecem na Enciclopédia, parte permaneceu
vinculada ao partido integralista no período pós-guerra. No entanto, membros
representativos do movimento em sua atuação na década de 1930 tais como, Gustavo
Barroso, Miguel Reale, Helder Câmara – só para citar os quadros mais representativos
da primeira geração integralista – em geral, por razões claramente ideológico-
partidárias, criaram condições para reconverter sua trajetória intelectual e política em
outras direções. Assim, no momento da publicação do compêndio tais nomes não
estavam mais associados ao integralismo, nem mesmo permaneciam vinculados à sua
matriz doutrinária. Todos estes integralistas que, no momento da publicação da
Enciclopédia do Integralismo não fazem mais parte do movimento foram legatários de
uma fase (anos 1920-1930) em que as condições sociais favoráveis à profissionalização
do trabalho, sobretudo em sua forma literária e jurídica, patrocinaram a formação de um
campo intelectual relativamente autônomo.
Por outro lado, os jovens aspirantes às carreiras políticas e intelectuais cooptados
pelas cúpulas do movimento integralista (nos anos 1930) viam no integralismo
oportunidades de transformação efetiva da ordem vigente. Assim, a maioria dos jovens
intelectuais que se tornaram militantes nas organizações de direita durante a década de
1930 eram bacharéis e letrados que estavam desnorteados, carentes de apoio político e

174
Parte deste capítulo foi idealizada a partir do estudo de Daniela Barcellos, Pesquisadora da FGV
Direito-Rio, provisoriamente intitulada: “Código Civil: relações entre a política e a academia”.

161
sem perspectiva de enquadramento profissional e ideológico. (MICELLI, 2001, 135).
Assim, é bastante provável que inúmeros membros da liderança integralista tenham
passado a manejar sua filiação ao movimento em termos de uma pauta de identidade
que servia à sustentação de interesses. Neste sentido, ao invés de mero acidente de
percurso, tal como os próprios agentes minimizam a posteriori, (Olbiano de Mello,
Helder Câmara, Miguel Reale dentre outros afirmaram sua passagem pelo integralismo
ter sido “um rompante de juventude, um erro de imaturidade”) o envolvimento com o
integralismo expressou a reação de jovens bacharéis que se sentiam acuados com a
derrota paulista e o conseqüente avanço do poder central, pós 1930.
Portanto, muitos integralistas que assinaram textos republicados nos volumes da
Enciclopédia do Integralismo, são estes jovens que nos anos 1930 eram não só
militantes do movimento, como ajudaram a construir o perfil ideológico do movimento.
A permanência ou afastamento destes indivíduos no integralismo não foi pensado como
critério de descarte ou seleção pelo compilador e organizador do compêndio. De acordo
com o editor do compêndio, pensou-se apenas em “compilar nomes e escritos que
focasse uma determinada leitura do que fora o movimento em diferentes momentos de
atuação político-simbólica”. (ROCHA DOREA, 2008)
Isto incentiva o questionamento sobre por que tal compêndio foi dividido
destacando a aparição de três gerações distintas de um total de 105 integralistas (52
autores selecionados nos escritos e 53 presentes no volume dedicado à poesia
integralista) que atuaram e vivenciaram momentos diferentes da ação política do
integralismo? Há nestes escritos diversas posições que podemos considerar dissonantes,
a despeito de seu organizador publicizar nos jornais integralistas dos anos 1950 que se
tratava de “uma obra orgânica que fugia da contradição e da contestação” (A Marcha,
7,9,1957,p.4). Neste sentido, muitas posições intelectuais identificadas nos escritos não
são autônomas em relação ao poder doutrinário de Plínio Salgado, o que aponta para
uma hegemonia do integralismo pliniano dentro do compêndio.

162
4.3 – Ângulos de um mesmo objeto: procede a idéia geracional?
Não há dúvidas de que na história do integralismo diversos grupos atuaram na
construção de sua cultura política. Cada um desses grupos, respondendo a questões do
seu tempo operaram no sentido de dotar o integralismo de uma feição mais bem
definida e de uma aceitação maior perante a opinião pública. Por isso, a partir do
conceito de “militância geracional” desenvolvido por Plínio Salgado e Rocha Dórea nas
propagandas sobre a Enciclopédia buscaremos rediscutir a idéia de geração patrocinada
pelos integralistas, justamente por entendermos que os fundamentos cronológicos e
conceituais desta idéia jamais foram pensados a fundo pelo movimento. Diferentemente
da abordagem integralista que baliza as três gerações pelo mote biológico (pessoas mais
ou menos contemporâneas pelo vínculo da idade), fator que minimiza a ação de seus
quadros nas outras áreas de atuação, esta pesquisa abordará as três gerações destacadas
na Enciclopédia do Integralismo, a parir da seguinte cronologia:
a) a primeira geração se enquadraria no período da criação da AIB (1932-1938),
b) a segunda, cuja atuação se deu nos primeiros sete anos do Partido de
Representação Popular, (1945-1952),
c) e finalmente, a constituição da terceira geração, marcada pelo ápice de um
processo mais amplo que se intensificou a partir de 1953 e culminou em 1957 com a
retomada das alegorias, símbolos e rituais do movimento, encampada em finais da
década de 1950, a partir da celebração dos 25 anos de criação do integralismo e seus
braços culturais (1953-1957).175
Portanto, a idéia de geração com a qual trabalhamos rompe com a interpretação
levada a cabo pelos integralistas. Aliás, a utilização do termo “geração” exige do
pesquisador muita precaução. Não se trata aqui da geração no sentido biológico, mas
cultural. O que denomino de geração contempla uma comunidade temporal e espacial,
um conjunto de pessoas que compartilham entre si as crenças, os valores, as convicções
os estilos de vida, os modos de ser, de viver, de se comportar e de conceber o mundo
transmutando-o através das lentes do tempo. É, portanto, o sentimento de pertencimento
a um grupo (não necessariamente restrito à faixa etária) com uma identidade referencial
articulada a contextos de produção e visões de mundo que caracteriza uma geração.
Polimorfa e multifacetada a noção de geração vem dividindo estudiosos das
ciências sociais, há décadas. Vale dizer, que a opção por interpretar as gerações

175
De 1957 a 1965, a terceira geração se esforçou para manter-se em evidencia, buscando diferenciar-se
das gerações pregressas.

163
integralistas pelo viés da atuação político/cultural/afetiva e não por sua caracterização
biológica amplia ainda mais a percepção de que se trata mais de um conjunto
heterogêneo de militantes que, juntos, graças as suas redes de sociabilidade,
conseguiram exteriorizar (por vezes tímida, por vezes, veementemente),
questionamentos sobre a disciplina, heteronomia, anuência e hierarquia integralistas.
Nesse sentido, Sirinelli, chama atenção para que “a história ritmada pelas
gerações é uma „história em sanfona‟ dilatando-se ou encolhendo-se ao sabor da
freqüência dos fatos inauguradores”. (SIRINELLI, 1997: 133) Para ele, “a geração é de
fato uma peça importante na engrenagem do tempo”. Assim sendo, a idéia de geração,
proposta por Sirinelli, ajuda a compreender entrelaçamentos, vivências, consensos e
conflitos, das diferentes gerações que coabitaram o mesmo espaço de ação política. A
geração consistiria, portanto, num grupo de pessoas que viveu os mesmos
acontecimentos sociais durante a sua formação e crescimento e que partilha a mesma
experiência histórica, sendo esta significativa para todo o grupo, originando uma
consciência comum, que permanece ao longo do respectivo curso de vida; e por isso, a
ação de cada geração, em interação com as imediatamente precedentes, origina tensões
potenciadoras de mudança social.
Isto significa que uma geração compartilha experiências, situações de vida e
oportunidades de vivência, benefícios e opressões, tensões e alegrias prefiguradas por
um modo geracional de locação na estrutura social. Desse modo, por muito tempo, a
tentativa de definir a noção de geração colocou o historiador diante do perigo da
banalidade ou generalidade do propósito. Banalidade porque todas as sociedades
humanas conhecidas estabelecem a sucessão de faixas etárias; generalidade porque, por
esta mesma razão, "o uso da noção de geração fica às vezes na superfície das coisas,
sendo antes elemento de descrição do que fator de análise" (SIRINELLI, 1997, p. 132).
A contradição em que o conceito de geração se assenta é tamanha que alguns
elementos aplicados a essa rede de sociabilidade integralista merecem ser analisados.
Será possível perceber que a separação dos agentes integralistas desta pesquisa ocorreu
ora por ações no campo do político, ora pela sugestão de suas afinidades, ora ainda pelo
grau de aderência ou refutação sobre o pensamento hegemônico no integralismo. Assim,
indivíduos que embora tivessem nascido em períodos próximos, ou mesmo indivíduos
contemporâneos, nem sempre são enquadrados como parte de uma mesma geração, pois
os critérios levados em consideração são muito mais de convergência do sentimento de
pertencimento, do que propriamente da especialidade ou temporalidade biológica. Isso

164
nos ajuda a entender, por exemplo, porque muitos integralistas, embora classificados
como pertencentes a uma ou outra geração, acabaram, na realidade, participando e
transitando por mais de uma. Os exemplos rompem a barreira dos 30% de indivíduos
presentes no compêndio.

Fig. 17. Salgado e Pimenta de Castro. A ritualidade da passagem do archote (tocha) significava a
renovação geracional. 1957. Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro - SP. Acervo Plínio Salgado.

O objetivo primordial deste capítulo é, por um lado, explicitar melhor,


desnaturalizar essa idéia de geração que os integralistas impõem como definitiva, e por
outro, analisar a idéia de que para os integralistas o “geracional” remete a uma simbiose
entre a continuidade, a perenidade e a mudança constante. Parece-nos claro que a
utilização indiscriminada do conceito serviu de mote para a elaboração da idéia de continuidade
no movimento, pois este continuum jamais foi algo desprovido de significados para o
integralismo. Para os integralistas, a noção de geração não é um elemento fortuito, banal,
pois, jamais foi neutra sua utilização. O fato de os integralistas quererem incorporar
elementos novos à sua cosmogonia servirá de mote contra aqueles que o acusavam de
ser um mero pastiche. No entanto, cabe o questionamento: se esta idéia de continuidade
se tornou moeda de troca ideológica para os integralistas, qual é a limitação desse
approach? Pois é justamente pelo fato dessa noção de geração aparecer nos discursos
integralistas de maneira nebulosa e pouco precisa que esta pesquisa visa discutir a
limitação desse conceito.
Assim, a primeira geração é assinalada pelos integralistas, de maneira pouco
detalhada, como o grupo vinculado à AIB. Concordamos com as bases cronológicas e

165
conceituais que balizam esta primeira geração, no entanto, as outras duas gerações, não
seguem pelos integralistas um critério objetivo de vinculação. Portanto, os membros da
chamada segunda geração, (de acordo com a visão dos líderes integralistas) são, tão
somente, um misto de pessoas que participaram dos anos 1930 e 1940, até a criação do
PRP. Não há um cuidado por parte dos integralistas em mapear o que teria de fato
aproximado tais membros nesta dada geração. Por isso, na nossa visão, é preciso alargar
esta perceptiva da segunda geração, utilizando como balizas, não apenas o fim da AIB
e a criação do PRP, (este interregno de pouco mais de seis anos) mas, principalmente
percorrendo todo período de atuação do partido, que se desenha com maior vigor até o
ano de 1955, data da candidatura de Salgado à presidência da República. Portanto, a
proposta é romper com a cronologia inicialmente dada pelos integralistas e avançar na
conjuntura política do período.
Em mesma medida, é interessante afirmar que a cronologia da terceira geração
pensada por esta pesquisa se afasta da construída pelos integralistas, principalmente
com relação à atuação de seus atores mais representativos. Para os integralistas, a
terceira geração começa com a admissão dos Águias Brancas, a juventude do PRP.
(SALGADO, 1957:9) Entendemos que, embora válido, este marco se mostra
insuficiente para construção dos atores desta terceira geração, pois compreendemos que
sua gênese está mais vinculada ao período de construção simbólico-alegórica do
integralismo, a partir da segunda metade da década de 1950, e menos fincada na criação
episódica de um dado grupo; no caso dos Águias Brancas, coletivo sem muita expressão
política no período em que foi instituído, em princípios dos anos 1950.
De maneira similar torna-se possível matizar a afirmação de que esses
integralistas de três momentos diferentes possuíam uma consciência clara de que
participavam de uma classe heterogênea. Tinham eles clareza sobre esta condição? Ao
contrário, como poderemos perceber a seguir, a condição de geração sempre foi muito
fluida e pouco precisa para os próprios atores sociais em questão. Como dito
anteriormente, será uma delimitação pensada e aplicada primeiramente por
Salgado/Rocha Dórea que determinará essa noção de geração (fronteira e limite de um
grupo para outro). Por isso, outros elementos devem ser aduzidos a este contexto de
análise sobre a Enciclopédia do Integralismo de modo que nossa crítica ao conceito de
geração meramente biológico/cronológico seja ampliada, visando uma percepção mais
abrangente deste ethos integralista.

166
4.4 - Apontamentos sobre um retrato coletivo integralista

Baudolino – Dizia de mim para mim, quando eu estiver com uma


idade avançada – vale dizer, agora – hei de escrever as Gesta
Baudolini, tendo por base estas notas. Assim, no curso de minhas
viagens, eu trazia comigo a história da minha vida. Mas na fuga do
reino de Preste João... [...] perdi aqueles papéis. Foi como se tivesse
perdido minha própria vida.
Nicetas Coniates – Dirás o que puderes lembrar. Trabalho com
fragmentos de episódios, restos de acontecimentos, e tiro disso tudo
uma história, tecida num desenho providencial. Quando me salvaste,
tu me deste o pouco futuro que me resta e te recompensarei,
devolvendo a ti o passado que perdeste.
Baudolino – Mas minha história talvez não faça nenhum sentido...
Nicetas Coniates – Não existem histórias sem sentido. Sou um daqueles homens que o
sabem encontrar até mesmo onde os outros não o vêem. Depois disso,
a história se transforma no livro dos vivos, como uma trombeta
poderosa, que ressuscita do sepulcro aqueles que há séculos não
passavam de pó... Para isso, todavia, precisamos de tempo, sendo
realmente necessário considerar os acontecimentos, combiná-los,
descobrir-lhe os nexos, mesmo aqueles menos visíveis. Além do quê,
não temos outra coisa a fazer, os teus genoveses dizem que devemos
esperar que se acalme a raiva daqueles cães (...)
(ECO, Umberto. Baudolino. 3 ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 17-18)

Para que sua história fosse escrita, Baudolino, personagem do filósofo italiano
Umberco Eco, escreveu e guardou suas memórias. Mas, uma vez perdidos os
documentos, ou seja, a base material cuidadosamente produzida e conservada que
garantiria a produção das Gesta Baudolini, sua própria vida se foi. No entanto, o
“historiador” Nicetas lhe garante que, com os fragmentos do que puder lembrar, ainda
será possível escrevê-la, demonstrando, então que não há limites mínimos para a massa
documental necessária à produção da narrativa histórica.
Inspirados por esta passagem de Umberto Eco buscaremos estabelecer relações
de proximidade e ou afastamento entre os diversos autores publicados na Enciclopédia
do Integralismo. Tais discursos serão fundamentais para analisarmos as relações
interpessoais e inter geracionais deste grupo específico de indivíduos. Para tanto,
utilizaremos como mote de análise a peculiar construção narrativa propugnada pelo
fictício historiador Nicetas, ou seja: é com o fragmento que se reconstrói o mosaico da
vida. (ECO, 2001:23)

167
A percepção de que é necessário compreender os movimentos conservadores e
autoritários, não apenas pelos interesses sociais que representam, mas também pelas
aspirações que levam seus aderentes a neles ingressarem, ou reingressarem motivou a
diferenciação das gerações integralistas presentes nesta pesquisa. Nesse sentido, este
item busca revelar parte das relações, aproximações e contradições estabelecidas entre
os intelectuais integralistas que fizeram parte da Enciclopédia do Integralismo, bem
como, estabelecer graus de cumplicidade, disputa ou convívio que tais personagens
detinham no campo de forças político intelectual integralista.
Quem eram tais autores? Em que instâncias eles se relacionavam? Qual o grau
de proximidade destes autores com o movimento integralista no momento em que são
publicados na Enciclopédia? E no momento em que são publicados seus textos no
interior deste compêndio qual foi a recepção dos que já não militavam no integralismo?
Como compreender o fato de que, mesmo afastados do movimento no período da
publicação do compendio, alguns destes intelectuais fossem utilizados como exemplos
de uma expressão muito utilizada na época pelos militantes integralistas: “eram a cola
da militância!”; como construir um panorama sobre tais relações? É a partir deste
quadro que começaremos a cindir a posição de alguns desses personagens com sua
permanência ou ruptura frente ao movimento.

4.5 - As Gerações – pensando o coletivo em função de sua atuação política,


sua rede de sociabilidades

4.5.1 - Primeira geração (1930-1938) – estudantes de Direito: a base da


pirâmide integralista

Do ponto de vista desta pesquisa, a primeira geração integralista foi


majoritariamente, mas não exclusivamente, vinculada ao bacharelismo. Preparada por
Salgado a partir de artigos diários no jornal "A Razão", coaduna-se com o contexto da
fundação da SEP176 (corpo cultural que antecede à criação da Ação Integralista
Brasileira como braço político) e dos primeiros contatos de Salgado com um grupo de

176
De fato, a AIB constituía-se num desdobramento da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), uma
agremiação cultural que objetivava discutir problemas de cunho político. Fundada em março de 1932,
portanto sete meses antes do movimento integralista, esta sociedade, segundo Salgado: “era destinada a
criar uma nova mentalidade no país e coordenar os estudos de uma nova idéia: o integralismo”. O
Monitor Integralista. Ano I, 22/7/1933, p.13.

168
estudantes promissores e intelectuais, por assim dizer, conservadores. Tais encontros
ilustram a busca do chefe integralista em articular uma proximidade com grupos e
movimentos dispersos de orientação direitista, sobretudo os alocados nas escolas de
ensino jurídico.
Este primeiro contato foi realizado com o grupo que participou de diversas
conferências proferidas por Plínio Salgado nas Faculdades de Direito de São Paulo e Rio de
Janeiro, ao longo dos anos de 1931 e 32. Estas palestras acabaram por agregar numerosos
jovens em torno das idéias de Salgado, que posteriormente seriam incumbidos por difundir
os objetivos da futura Ação Integralista Brasileira. Plínio Salgado conquistou, assim, a
simpatia de figuras representativas do mundo intelectual, muitos dos quais
permaneceriam ligados ao movimento até a sua interdição, em finais de 1937. Em 1934,
pouco depois de haver nascido como uma agremiação político-cultural, o integralismo
transformou-se definitivamente em corrente partidária (CALIL e SILVA, 1998: 37) que
se distinguia pela forte ação militante.
Nesse sentido, Plínio Salgado considera que o papel pioneiro de São Paulo na
construção de uma “proposta nacional” orienta parte de sua empreitada em cooptar
quadros da Faculdade de Direito de São Paulo, a tradicional Faculdade de Direito do
Largo São Francisco, sua primeira incursão em prol de angariar forças aderentes às suas
idéias. O próprio Salgado afirma que o gérmen da empreitada integralista foi uma
conferência proferida por ele na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,
conferência cujo tema foi "A quarta Humanidade" assunto que redundaria em um de
seus primeiros livros.
Concomitantemente à aderência paulista, Salgado retoma contato com um grupo
de intelectuais do Rio de Janeiro, sobretudo os acadêmicos em Direito vinculados às
revistas Estudos Jurídicos e Sociais e Hierarchia, aproximando-se pela primeira vez de
jovens intelectuais, em média, dez anos mais novos que ele177. Os mais representativos
nomes desta primeira geração presentes na Enciclopédia do Integralismo são: Miguel
Reale, San Tiago Dantas, Félix Contreiras Rodrigues, Madeira de Freitas, Belisário Penna,
Lúcio José dos Santos, Câmara Cascudo, Hélio Vianna, Antônio Gallotti, Juvenil da Rocha
Vaz, J. Venceslau Jr., Thiers Martins Moreira, Helio Vianna, Leopoldo Ayres, Pe. Hélder
Câmara, Ernani Silva Bruno, Ernani Lomba Ferraz, Jeová Mota, Margarida Corbisier, Jayme
177
Neste caso corroboro e adapto a aferição do sociólogo Hélgio Trindade que em seu livro Integralismo:
o fascismo brasileiro na década de 30, afirma: “Uma das características mais marcantes dos que viriam a
se tornar líderes, dirigentes e mesmo militantes integralistas é a baixa faixa etária. Muito jovens, os
futuros dirigentes nacionais e mesmo regionais da AIB possuíam uma média etária que variava entre os
20 e 30 anos. Apud. TRINDADE, p.144.

169
Regalo Pereira, Augusto de Lima Jr., Lauro Escorel, Rodolfo Josetti, Alcibíades Delamare,
Arnóbio Graça, Lúcio José dos Santos, Vitor Pujol e Tasso da Silveira. Portanto, a
convergência ideológica antiliberal e anticomunista, base da formação do integralismo
encontraria terreno fértil nos meio intelectuais já formalizados, bem como no âmbito
universitário jurídico, sobretudo devido aos simpatizantes ou engajados em movimentos
entendidos como de extrema-direita, fator que aproximou definitivamente os
simpatizantes às idéias de Salgado. Esta geração será, portanto, utilizada como mote de
reafirmação do discurso nacionalista e anticomunista percebidos exaustivamente nos
escritos da Enciclopédia. Trata-se da base da pirâmide integralista.

4.5.2 - Segunda geração (1945-1955) – mais dos mesmos?


A despeito das propagandas da Enciclopédia do Integralismo sinalizarem a
presença de uma segunda geração vinculada ao desenvolvimento da AIB, o que se
percebeu, de fato, foi que esta segunda geração de indivíduos integralistas proveio tanto
dos quadros da AIB quanto do movimento pós-1945, consubstanciando-se em um misto
bastante heterogêneo. Este é um elemento que a cronologia dada pelos integralistas não
discute. A maioria dos indivíduos vinculados a esta segunda geração sinaliza a busca
por uma nova roupagem do movimento, algo alcançado quando da criação do Partido de
Representação Popular.
A formação de uma geração de integralistas que teve como terreno de atuação os
anos entre 1945 a 1955 (período que coincide com o retorno do exílio de Salgado até
sua campanha à presidência da República) se deu concomitantemente à consolidação
das bases eleitorais e militantes do PRP, motivo pelo qual o movimento integralista
volta paulatinamente a se portar segundo premissas já conhecidas, focando sua conduta
numa postura mais radical, o que evidenciava o seu conservadorismo. Vale ressaltar que
a segunda geração de integralistas coincide com a divulgação de um documento
bastante relevante, publicado por integralistas residentes no Brasil em meados de 1945.
Sob a coordenação do “Representante do Chefe Nacional que se encontrava no exílio”,
Raimundo Padilha, fizeram publicar com grande destaque nos principais jornais do país,
uma longa “Carta Aberta à Nação Brasileira”, (já citada e analisada no capítulo I) que
no dia 17 de maio de 1945 relançava o movimento integralista.
Os signatários da Carta eram bastante representativos da liderança integralista,
incluindo 19 ex-membros da “Câmara dos Quarenta” da Ação Integralista Brasileira e a

170
maior parte de seus antigos “chefes provinciais”. Dentre eles destacam-se João Carlos
Fairbanks, Alberto Cotrim Neto, Pedro Lafayette, Luis Alexandre Compagnoni, José
Soares Arruda, Gerardo Mello Mourão e Loureiro Júnior além de seu “representante no
Brasil”, Raimundo Padilha e Olbiano de Melo178, núcleo duro, do que denominamos
segunda geração da EI, portanto, todos com menções ou textos na Enciclopédia.
Edgard Carone aponta a perda de apoio das antigas lideranças como um dos
179
principais obstáculos à rearticulação integralista. Nesse sentido, podemos aferir que
um misto de descontentamento e /ou desconforto por parte da antiga militância teria
sido a justificativa mais aceita pela historiografia integralista quando se trata de
entender o afastamento de grande parte da militância, exatamente nos estertores dos
anos 1950, momento em que parte significativa de militantes se afasta do partido, a
despeito de aparentemente permanecerem professando sua fé no movimento. Foi
justamente este descontentamento que estimulou uma retomada simbólica e político-
cultural do movimento, continuum iniciado em meados dos anos 1950 e que se torna
mais visível com a celebração dos 25 anos do integralismo, marco chave para
visibilidade de uma nova geração de simpatizantes e atuantes integralistas.

4.5.3 - Terceira geração – idéias persistentes (1957-1961)


A terceira geração de integralistas presentes na Enciclopédia era constituída de
indivíduos contemporâneos às realizações que o integralismo perrepista realizaram ao
longo dos anos 1950, e que encontraram seu maior destaque quando das comemorações
dos 25 anos do movimento, celebrados em 1957. Em grande maioria oriunda dos
Centros Culturais da Juventude e das alas mais “conservadoras e tradicionalistas” do
PRP, que a partir de 1957 começou a projetar novas estratégias de articulação e
construção de lideranças político-culturais, este grupo de militantes encontra

178
MELO, Olbiano de. A Marcha da revolução social no Brasil: Ensaio Histórico-Sociológico do Período
1922-1954. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957.
179
De acordo com Gilberto Calil, muitos chefes e adeptos integralistas o abandonam publicamente. “(...)
Grande parte dos seus maiorais já abandonou o movimento: os Miguel Reale, os San Thiago Dantas, os
Belmiro Valverde, e até um Gustavo Barroso, que é acólito de Plínio Salgado durante o Estado Novo,
deixam de existir neste novo momento. O que resta são figuras menores, as de Raymundo Padilha, Carlos
Fairbanks Júnior, Loureiro Júnior, gente secundária e sem maiores traços de liderança política integralista
nacional, pois o movimento baseia seu valor na hierarquia e agora vê a sua alta hierarquia abandoná-la,
em grande parte”.179 (CARONE, 1972: 209, Apud, CALIL, 2005, 215) Dentre os citados, Belmiro
Valverde participou da constituição do PRP, e só rompeu com Salgado no início de 1945, discordando de
sua candidatura à presidência e apoiando Juarez Távora, ao lado de outros integralistas como Raimundo
Padilha.

171
ressonância no momento em que a agremiação cultural vivia seu período de maior
efervescência. Faziam parte dela: Genoino Ferreira Filho, Abelardo Cardoso, Ivan luz,
Francisco Galvão de Castro, José Batista de Carvalho, Augusta Garcia Rocha Dórea,
Gumercindo Rocha Dórea, Hélio Rocha, Leovigildo Pereira Ramos, Carmen Pinheiro
Dias, Umberto Pergher, Genésio Pereira Filho, dentre outros. Este é o grupo que se
auto-intitulou “a síntese geracional integralista” 180 e que aqui, denominamos de terceira
geração. Ressalta-se que o integralismo personificado nesta terceira geração tinha
também o apoio de alguns dos homens mais destacados das gerações antecessoras, tais
como Gustavo Barroso, Rocha Vaz e Tasso da Silveira. No entanto, tal apoio – faziam
questão de afirmarem tais nomes – baseava-se na “reciprocidade ideológica, mas não na
anuência partidária”, dada a variedade de matizes partidários cujos nomes eram filiados.
(ROCHA VAZ, Correio Paulistano, 1957)

4.6 - Os três quadros/gerações e suas interseções

O desenho de um mapa que reflita os eixos de engajamento intelectual desses


integralistas visa estabelecer conexões sobre suas atuações, preferências e referências
ideológicas que, poderão se mostrar variáveis de acordo com suas sociabilidades. Essas
estruturas de sociabilidade intelectual variam também, conforme as épocas e os grupos
de intelectuais estudados. No caso específico deste grupo de integralistas, a descrição
dessas três gerações e seus mecanismos de capilaridades internas facilitará a localização
de cruzamentos onde se deve encontrar uma matriz comum: trama de sociabilidades que
possibilita a todos os envolvidos uma relação de proximidade, sobretudo do ponto de
vista ideológico.
Essas estruturas elementares da sociabilidade integralista favoreceram a
discussão de qual seria, de fato, o papel do intelectual dentro do movimento, justamente
por possuírem estes partilhas de pressupostos comuns. Nesse sentido, o meio intelectual
em geral, e o integralista contido no compêndio, em particular, constitui “um pequeno
mundo estreito”, estrutura onde os laços se atam, em torno das máscaras e das faces
reais de cada um dos envolvidos. Lugar de memória onde se homologa as chamadas
estruturas microscópicas de relação e subordinação a Enciclopédia do Integralismo,

180
RAMOS, Pereria, Leovegildo. A geração sintética do integralismo. A Marcha, 9 de setembro de 1956,
p.5.

172
sinaliza que a relação entre seus pares são mais complexas do que inicialmente
aparentam. (SIRINELLI, 2001, 405)
Tomando por base o processo de seleção, elaboração e construção do perfil deste
compêndio, foram elaborados três quadros181 a partir da leitura de fragmentos
biográficos disponíveis dos mais de 50 autores selecionados nos 12 volumes da
Enciclopédia do Integralismo. O critério inicial adotado para a seleção e a análise dos
quadros foi o da separação por gerações, mediado fortemente pelas intersecções que se
apresentavam possíveis no momento de suas análises. Assim, poderemos perceber
aproximações e ou discrepâncias entre uns e outros quadros, de acordo com as
permanências ou mudanças de cada indivíduo em cada quadro. Neste sentido, a despeito
das características especificas de cada quadro (o primeiro mapa versa sobre a
majoritária parcela de integralistas que militaram na primeira geração; o segundo, sobre
os membros das décadas de 1940/50, e o terceiro, sobre o grupo contemporâneo à
publicação da Enciclopédia do Integralismo), buscaremos apontar intersecções
percebidas nesses três quadros, apresentando os resultados desta leitura de maneira
inter-relacionada. Vale ainda ressaltar que a apresentação dos indivíduos nestes três
quadros deve, antes, ser vista como apenas uma das infinitas possibilidades de análise,
apenas uma das clivagens possíveis.

4.6.1 - Trajetórias
O primeiro elemento destacado nesta análise trata dos sujeitos que não estavam
mais vinculadas ao movimento no momento da publicação da EI em 1957 – cerca de
55% dos autores, incluindo os já falecidos – maioria indicativa de que o compêndio
dispunha de um claro perfil rememorativo, de manutenção dos indivíduos e quadros já
afastados do cotidiano militante integralista. Por outro lado, os demais indivíduos, ainda
pertencentes ao movimento em finais dos anos 1950, são apontados por seus pares
como uma “elite fiel e consciente”182, pronta a ratificar o que as gerações antecessoras

181
Trata-se de três quadros que correlacionam informações biográficas primárias com dados pontuais
sobre a atuação político-militante dos integralistas vinculados à Enciclopédia do Integralismo, bem como
as diversas intersecções possíveis diante de suas leituras de mundo. Ver: Anexos.
182
Para a análise das trajetórias biográficas dos autores selecionados e o grau de inter-relação
estabelecido entre elas serão aqui privilegiadas, em paralelo da permanência do autor no movimento
integralista, as relações intelectuais e ou político-partidárias que tais autores estabeleceram ao longo de
suas biografias. A noção de elite política será neste estudo utilizada no seu sentido amplo, ou seja, como
grupos de indivíduos que ocupam posições chave em uma sociedade e que dispõem de poderes, de

173
disseram sobre o integralismo. Há uma simbiose na apresentação das três gerações de
maneira a mostrá-las coerentes, heterogêneas, mas co-participantes das ideologias
propugnadas pelo movimento a partir da batuta pliniana. Com isso pretende-se
demonstrar que as tomadas de posição no plano político e a possibilidade de trânsito
social destes agentes foram determinantes no seu recrutamento como componentes da
EI.

Tabela porcentagem por geração. Em ordem decrescente: 1ª geração: 54%; 2ª geração: 14%; 3ª geração
17%; osiclaram entre as três gerações: 14%.

Mais de 50% dos autores analisados fizeram parte da primeira geração, num
total de 28 indivíduos, dos quais cinco pendularam entre a primeira e a segunda
gerações. Três autores que oscilaram entre a segunda e a terceira fizeram frente aos
cinco que permaneceram atuantes nas três gerações. Os atores exclusivamente ligados à
segunda, bem como à terceira geração totalizaram oito integralistas cada. Do ponto de
vista geracional (biológico) é curioso que os mais longevos participantes da
Enciclopédia, até o presente momento, sejam, Genésio Pereira Filho e Gumercindo
Rocha Dórea (ambos com 85 anos)183 e o menos longevo, Arnóbio Graça (52 anos), e
a média de expectativa de vida destes autores tenha sido em média os 72 anos.
Outro elemento verificável foi o tempo de permeância do militante dentro do
movimento. Permaneceram vinculados ao movimento até o falecimento cerca de vinte e
dois autores (pouco mais de 40%). Em contrapartida, dezenove deles (37%) havia se

influência e de privilégios inacessíveis ao conjunto de seus membros. HEINZ, Flávio M. org. Por outra
história das elites. Rio de Janeiro: FGV, 2006
183
Aqui se excetua Miguel Reale que faleceu com 92 anos em 2006.

174
destituído das fileiras integralistas em meados dos anos 1950, o que confere certa
equidade entre os remanescentes e os dissidentes. Outro elemento que chama a atenção
é que apenas duas mulheres participaram da EI, uma representando a primeira e outra a
terceira geração, respectivamente: Margarida Corbsier e Carmen P. Dias. No entanto,
grande parte dos dados (cerca de 35% do montante total de informações) não foi
encontrada, o que inviabilizou uma maior profusão na análise deste contingente.
Número considerável dos autores focados por esta análise integra as gerações de
intelectuais analisadas por (PECAULT, 1990). Nascidos entre 1891 a 1933 estes
integralistas são filhos de pais com profissões diversas. A maioria (78%) possui pais
com profissões liberais (advogados, médicos, e professores) ou vinculadas ao comércio,
bem como à aristocracia rural, ou mesmo às Forças Armadas (com exceção à
aeronáutica), em todas as suas patentes. Há também próceres industriários, embora em
pequeno número (perto de 15% do total dos indivíduos)
Com relação ao período de nascimento foram computados: um indivíduo
nascido na década de 1860 (Belisário Penna), um na década de 1870 (Lúcio José dos
Santos), quatro na de 1880 (Câmara Cascudo, Juvenil da Rocha Vaz, Félix Contreiras
Rodrigues, Rodolfo Josetti e Alcebíades Delamare) e três na última década do século
(Plínio Salgado, José Madeira de Freitas e Tasso da Silveira), totalizando 10 indivíduos
que nasceram no século XIX. O século XX assistiu ao nascimento de pelo menos
quinze indivíduos constituintes dos quadros da EI. Oito na década de 1900 (Thiers
Martins Moreira, Jeovah Mota, Hélio Vianna, Miguel Reale, Antonio Galotti, Arnóbio
Graça e Padre Helder Câmara), seis na de 1910 (Ernani da Silva Bruno, San Thiago
Dantas, José Loureiro Jr., Luis Alexandre Compagnoni, Lauro Escorel e Gerardo Melo
Mourão), três na de 1920 (Gumercindo Rocha Dórea, José Soares Arruda e Genésio
Pereira Filho), e um na década de 1930 (Umberto Pergher).
Já com relação ao falecimento, do que foi possível averiguar, sabemos que
apenas um indivíduo morreu ainda na década de 1930. Três nos anos 1940, um nos anos
1950, cinco nos anos 1960, e quatro na década de 1970. Nas décadas de 1980 e 1990
foram computados cinco falecimentos, mais que o dobro ocorrido em princípios da
primeira década dos anos 2000 (dois falecimentos – Gerardo Melo Mourão e Miguel
Reale), o que totalizou 21 falecimentos dos 52 indivíduos presentes na EI184, ou (47%
do total). Com relação aos dados de nascimento e morte, não foi encontrado nenhum

184
Não foram analisados os 53 poetas presentes no volume 7.

175
registro de 25 dos 52 autores da EI (cerca de 48%), o que significa dizer que só foi
possível mapear pouco menos de 50% dos dados biográficos primários dos indivíduos.

4.6.2 - As origens geográfica, social e política dos indivíduos: elementos


controversos
Quanto à origem geográfica, os atores dessas três gerações são
predominantemente provenientes dos três mais importantes centros da decisão política
em finais do século XIX e princípios do século XX: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais, (cerca de 50%) embora haja a incidência significativa de autores das regiões Sul
e Nordeste (totalizando 32%), bem como, menor presença de autores vinculados a
demais regiões político-administrativas do país, cuja distribuição geográfica será mais
bem analisada adiante. Estes três estados, além de concentrarem o poder político,
também dão origem a maior parte dos autores que em sua trajetória acabarão ocupando
altos cargos estatais.185
Tomando como exemplo a origem social dos autores vinculados a primeira
geração de integralistas entende-se que as origens sociais dos mesmos guardam uma
proporcionalidade com a dos autores vinculados as segunda e terceira gerações. O que
aponta para certa padronização na origem social das elites políticas integralistas
integrantes do compêndio. Estas constatações são reproduzidas na distribuição das
origens dos autores, bem como dos caminhos que os levaram ingressarem nas fileiras do
integralismo. A maioria absoluta dos indivíduos em análise realizou seus estudos pré-
universitários e a graduação em direito no estado em que nasceu. Aliás, o determinante
fundamental neste foco é sinalizar a esmagadora maioria de formados em Direito,
Engenharia e Medicina, sobretudo pelas três mais influentes escolas jurídicas do país
em meados dos anos 1930: Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. Assim, a tríade
formadora do empreendedorismo republicano (PINSKY, 1989) (juristas, engenheiros e
médicos) manteve sua forte presença no quadro das profissões relativas aos integralistas
presentes no compêndio.
Após a formação universitária, estes integralistas incorporaram um léxico de
práticas comuns às suas respectivas ocupações, sobretudo, aos bacharéis de direito que,
facilitou o reconhecimento, por parte da sociedade, de suas trajetórias como juristas
185
“O integralismo não tomou o poder central, mas está por todos os lados, dirigindo o país, nas estatais,
multinacionais de capital estrangeiro e, mesmo, partidos políticos (...) ideologias que nasceram no âmbito
do pensamento nacionalista do integralismo!”. SALGADO, P. O Cruzeiro, 10/4/1954, p.6.

176
vinculados ao integralismo. Outra característica marcante é o exercício de diversas
atividades em paralelo à carreira de advogado. Sempre que possível esta se acumulava
com a função de professor. Os diversos cursos de doutrinação dos núcleos integralistas
ao longo da década de 1930 lançaram mão deste aparato profissional, que acabou por
destacar muitos membros da alta cúpula integralista, ao exemplo de Miguel Reale,
Antonio Galotti, Helio Vianna e San Tiago Dantas. Por outro lado, a rede de relações
sociais estabelecida por estes integralistas possibilita-nos, hoje, percebermos que muitos
destes indivíduos acabaram conduzindo suas posturas e carreiras em direção oposta às
tomadas no início de sua atuação política, o que caracterizou o distanciamento de alguns
de seus ideais pregressos, sobretudo os propugnados ao longo dos anos 1930.

Tabela da distribuição geográfica dos autores da Enciclopédia do Integralismo

Os integralistas selecionados na Enciclopédia tiveram uma longa vida político


institucional. Em alguns casos, como já apontado anteriormente, uma porcentagem
representativa de indivíduos (cerca de 43%) se afastou por completo de suas origens
políticas. A tendência direitista de vários autores, por vezes foi abrandada, por vezes,
até mesmo revertida, como foram os casos de Hélder Câmera, ou mesmo Olbiano de
Mello, dentre outros, o que equivale a dizer que esta porcentagem de indivíduos
dissidentes, no momento em que a EI foi publicada, não mais pertencia ao movimento
integralista. Assim, é possível perceber na análise dos três quadros propostos, uma clara
separação entre a simpatia política inicial da maioria dos autores presentes na EI e suas

177
posturas pós-1938, período em que parcela substancial dos integralistas célebres se
afasta do movimento.

4.6.3 - Profissões: do sustento ao diletantismo


No que tange às profissões desempenhadas e declaradas por estes integralistas,
há uma gama variada de atividades que perpassa relevantes áreas de atuação. Entretanto,
se é verdade que há uma prevalência nas áreas jurídica, das engenharias e da medicina,
também é procedente que muitos desses indivíduos tenham desempenhado funções
dentro de um quadro de atividades mais amplo. Percebemos a presença de cinco
médicos (Belisário Penna, Rodolfo Josetti, Madeira de Freitas, Jaime Regalo Pereira e
Juvenil da Rocha Vaz), dos quais dois atuando apenas na medicina, dois junto ao
jornalismo e um como musicólogo; três engenheiros, um em cada respectiva geração
(José Lúcio dos Santos – Minas; João Carlos Fairbanks - Ferroviário e Umberto Pergher
- Civil) todos eles desenvolvendo outras atividades como o jornalismo ou a advocacia.
O papel e o domínio que a carreira jurídica exerceu sobre os homens do
integralismo são, assim, verificáveis na imensa quantidade de bacharéis em Direito e ou
juristas no movimento. Do que foi possível verificar a partir das esparsas e
assistemáticas fontes, do universo de 52 autores, ao menos 20 eram advogados 186, dos
quais nove desenvolviam outras atividades, levados a elas a partir de suas atuações
como bacharéis ou juristas. Dois deles, inclusive seguiram carreira diplomática
(Abelardo Cardoso e Lauro Escorel). Estes são dados que nos fazem perceber a
ascendência que as atividades jurídicas possuíam sobre as demais elencadas neste
estudo, apontando o bacharelismo como um reduto integralista. Veremos a seguir como
as escolas de Direito cederam aos encantos da maviosa sereia integralista.187
Diante das mudanças sócio-político-culturais por que passou o país, na virada do
século XIX para o XX, o trunfo decisivo com que contam os bacharéis, muitos deles,
intelectuais vinculados a opções claramente direitistas, reside na formação polivalente

186
Advogados da primeira geração: Miguel Reale, Lúcio José dos Santos, San Thiago Dantas, Arnóbio
de Souza Graça, Alcebíades Delamare Nogueira da Gama, Luiz da Câmara Cascudo, Tasso Azevedo da
Silveira, Hélio Vianna, Thiers Martins Moreira, Ernani Silva Bruno. Advogados da segunda geração:
João Carlos Fairbanks, Alberto Bittencourt Cotrim Neto, Lauro Escorel Rodrigues de Morais, José Soares
de Arruda. Advogados da terceira geração: Luis Alexandre Compagnoni, Gumercindo Rocha Dórea,
Genésio Cândido Pereira Filho, Abelardo Cardoso e José Loureiro Jr.
187
Tal como foi escrito por Samuel Wainer em artigo intitulado: O retorno da maviosa sereia. Última
Hora, 17/08/1957, p.4. Também foi Wainer que criou um apelido utilizado pelo pesquisador Jacob
Gorender, quando este se refere aos integralistas: as sereias verdes.

178
que adquiriram na faculdade de Direito e cuja rentabilidade profissional é tanto mais
apreciável quanto se faz acompanhar de um de um capital de relações sociais que
apenas tais famílias das classes dominantes possuíam.

Tabela da distribuição profissional dos autores da Enciclopédia do Integralismo

Esses intelectuais que poderiam ser classificados, de acordo com a sociologia de


Sérgio Micelli, de “homens sem profissão” dada sua herança vinculada às famílias que
detinham posições de destaque e diferenciada remuneração, encontrarão na seara do
bacharelismo posição proeminente de atuação política e ideológica, o que viria a
caracterizar definitivamente a formação do movimento integralista: bases intelectuais
bem definidas mescladas com uma militância pulverizada em campos sociais diversos.

Em finais da década de 1920 orbitava em torno das recém formadas Faculdades


de Direito uma plêiade de jovens idealistas que encontraram no discurso e promessa
nacionalistas de Plínio Salgado guarida para algumas de suas preocupações. A
receptividade aos apelos do integralismo seria proporcional ao clima de transformação
deste período, momento utilizado como justificativa da ideologia integralista para o que
foi chamado por Salgado de “guinada definitiva nos rumos da pátria sem Nação”
(SALGADO, Discursos Parlamentares, 1972, 89). Tais investidas só foram possíveis
graças ao mapeamento das possibilidades de aderência. A lógica pensada por Salgado o
levou para onde as elites intelectuais do país se graduavam. Por isso, vale ressaltar que

179
até meados da chamada Velha República, as faculdades de Direito188 eram a instância
suprema em termos de produção e disseminação ideológicas concentrando diversas
funções políticas e culturais.

O integralismo configurou-se como uma frente de mobilização político


ideológica, o que fez emprestar quadros que concorreram às frações da classe dirigente
do país, a despeito de não emplacar suas propostas de poder. No entanto, é fato que
muitos destes indivíduos que emprestaram escritos à EI também se empenharam em
preservar e ampliar sua presença nas instituições políticas, tanto no interior do
integralismo como, sobretudo, no caso de alguns nomes proeminentes, em posições
diametralmente opostas ao movimento.
Então, em sua atuação da década de 1930, o integralismo se destaca entre as
primeiras organizações políticas que ampliaram sua escala de operação em nível
nacional, mobilizando categorias sociais que os grupos dirigentes anteriores haviam
excluído da representação política. Por disporem de um mínimo de capital social,
escolar e cultural, tais integralistas se vêem em condições de reivindicar posições que
seus antagonistas políticos ocupavam. E será em um espaço de atuação político-
ideológico especifico que tais atores entrarão em cena. Para muitos integralistas, a
construção de sua identidade, bem como as disputas nos campos de força intelectual,
moral e ideológico iniciaram nos bancos das faculdades de Direito.
Não é sem propósito que o ideólogo do integralismo vai lançar mão de suas
primeiras investidas no âmbito das faculdades de Direito, justamente por entender que
um “movimento nacionalista de líderes precisava buscar nas escolas de líderes quadros
que representassem a liderança ideológica de um país” (SALGADO, Discursos
Parlamentares, 1972, p.67). A este escopo, Salgado, homem que se mostrou com um
trânsito fácil nas Faculdades de Direito de São Paulo e Rio de Janeiro, era ciente de que

188
“(...) no interior do sistema de ensino destinado à reprodução da classe dominante, os núcleos
bacharelescos ocupavam posição hegemônica por força de sua contribuição à integração intelectual,
política e moral dos herdeiros de uma classe dispersa de proprietários rurais aos quais conferia uma
legitimidade escolar. As faculdades de Direito atuavam ainda como intermediárias na importação e
difusão de produção intelectual européia, centralizando o movimento editorial de jornais e revistas,
tornando-se celeiro de díspares tendências ideológicas que supriam as demandas por indivíduos
treinados e aptos a assumir os postos e cargos das cúpulas administrativas, além de contribuir com
pessoal para as demais burocracias, a magistratura, o magistério superior, enfim, todas as instancias de
produção, e disseminação ideológicas no país.” A respeito do papel desempenhado pelas faculdades de
Direito na formação do habitus da classe dirigente consultar os trabalhos organizados por: (SPENCER
VAMPRÉ, 1924), (BEVILÁCQUA,1927), (ALMEIDA, 1956) e (VENÂNCIO, 1977).

180
os estudantes dos cursos jurídicos tinham não apenas pretensão, mas possibilidades
objetivas de ingressarem nas carreiras ligadas ao trabalho político e intelectual, o que
incentivou o líder integralista a arregimentar quadros neste âmbito. A busca por
entender um Brasil que se apresentava em transformação constante, e cuja virada da
antiga República era apenas um dos tons a serem evidenciados, favoreceu a
concorrência ideológica entre os indivíduos vinculados a essas escolas de Direito,
substantivando a adesão de muitos deles aos ditos empreendimentos de salvação
política, que então surgiram, e dos quais o integralismo era uma forte bandeira.

A propósito, a maioria dos jovens intelectuais que se tornaram militantes nas


organizações mais radicais de direita, durante a década de 1930, eram “bacharéis
livres”, desprovidos de enquadramento profissional e ideológico. Alguns autores que
estudaram a conformação dos quadros proeminentes da intelectualidade brasileira,
sobretudo, os que sentaram praça à direita do espectro político, atentam para o fato de
que muitos desses intelectuais se vincularam a movimentos de características
salvacionistas e nacionalistas, como o integralismo, devido a sua segregação geográfica
e social dos principais centros políticos e culturais, quando mais jovens. (ARINOS
Apud VENANCIO FILHO, 1997: 8)

Partindo do pressuposto de que o integralismo se consolidou devido às propostas


de uma dada cultura política, em que fatores como a identificação, o apego às tradições,
a fidelidade à liderança, a influência familiar como fator de adesão, acabam por reduzir
o peso do interesse puro e simples, é pouco provável que muitos membros da liderança
integralista, após serem cooptados pela força discursiva e persuasiva de Salgado ainda
quando aspirantes a bacharéis, tenham se filiado ao movimento buscando uma
identidade que servisse como sustentação de seus interesses. O envolvimento com o
integralismo desses jovens bacharéis em formação ou atuação expressou a reação de um
grupo que postulava o entendimento de um país já bastante dependente e desigual.
Como reagentes a esta realidade, enquadrados na moldura do nacionalismo exacerbado
pensado por Salgado, fizeram de sua passagem pelo integralismo bandeira de
convicções políticas, ora duradouras, ora passageiras.

Dentre as características peculiares deste grupo vinculado ao bacharelismo


integralista estão ainda o exercício da docência em direito e o pertencimento a
instituições de consagração, como o Instituto dos Advogados Brasileiros e Academia
Brasileira de Letras Jurídicas e os altos cargos executivos nas mais importantes

181
universidades públicas e privadas do país, (num total de 43% dos indivíduos analisados)
Posteriormente, além de professores, estes integralistas ocuparam postos diversos nas
carreiras jurídicas, jornalísticas e políticas decisórias no período em que atuaram.
Ademais, realizam a produção de artigos e livros jurídicos, filosóficos, jornalísticos e
históricos, sendo marcantes suas posições nos jornais de grande circulação de todo o
país. Assim, vários desses autores integralistas, após sua desvinculação do movimento,
e mesmo no período da publicação da EI, já imersos em outras dimensões políticas,
passam a receber diversos prêmios jurídicos, literários, jornalísticos, bem como
homenagens e títulos doutor honoris causa. Exemplo desta prática cabe a Miguel
Reale. Dado complementar trata de que, em geral, o doutorado, a livre-docência e a tese
de cátedra de muitos destes bacharéis integralistas também ocorreram no mesmo local
de formação. Exceções são os percursos de poucos autores, a exemplo de alguns da
primeira geração, que ora migraram para o centro geográfico do poder (RJ) realizando
lá sua carreira acadêmica, ora realizaram estudos fora do país, preferencialmente em
Paris, Lisboa ou Roma.
Embora as fontes disponíveis neste trabalho não tragam indicações precisas
quanto à condição social e material destes integralistas, nem tampouco apresente pistas
de como tais autores se viram influenciados pela presença direta de Plínio Salgado e sua
percepção nacionalista, elas ajudam, ao menos, a conjecturar sobre qual teria sido o
cimento que unira tais personagens. Por isso, algumas informações biográficas já
disponíveis ajudarão a perceber, mesmo de maneira pouco verticalizada, algumas
relações existentes entre tais indivíduos.

***

Para além dos operadores do direito, também havia nos quadros da


Enciclopédia do Integralismo dois industriários, dois agricultores, três eclesiásticos (Pd.
Helder Câmara, Leopoldo Ayres e Francisco Galvão de Castro), o que sinaliza uma
aproximação ainda existente entre o movimento e partes da igreja católica, mesmo após
a derrocada do integralismo nos anos 1930 e o paulatino afastamento de ambos, a partir
de meados dos anos 1940, muito em função das dissidências patrocinadas por líderes
católicos da estirpe de um Amoroso Lima e um Gustavo Corção.189 Nesse sentido, é
bastante representativo que das diversas temáticas elencadas na EI, o catolicismo e sua

189
Ver: Idade Nova nos anos de: 1945, 1946 e 1947. Além do jornal perrepista, os jornais O Globo e A
Folha da Manhã também se tornaram espaço de inúmeras discussões entre os representantes do laicato
católico e o integralismo.

182
relação de proximidade com os preceitos integralistas seja uma das temáticas mais
recorrentes.
É relevante destacar que o jornalismo também era a atividade de muitos dos
indivíduos presentes na Enciclopédia. Todos os clérigos presentes no compêndio
desenvolviam, paralelamente às suas funções eclesiásticas, trabalhos no âmbito
jornalístico. Os advogados e engenheiros, os médicos e alguns militares de patentes
diversas também se aventuraram, em posições privilegiadas, fazendo parte, em algum
momento de sua trajetória, de alguma empresa midiática, sobretudo as financiadas pelo
próprio integralismo.
Nesse sentido, foram destacados nove jornalistas, dos quais cinco
desempenhando outras profissões, geralmente estes, utilizando o jornalismo como meio
de sobrevivência momentânea. Assim, advogados, engenheiros, médicos, clérigos,
historiadores, poetas, economistas, militares e mesmo industriários utilizavam a carreira
jornalística como intermédio do estabelecimento de suas profissões oficiais. A falta de
oficialidade da profissão e ou o diletantismo destes indivíduos, não impediram que
muitas empresas (integralistas ou não) que em meados dos anos 1950 já empregavam
escritores, redatores, jornalistas profissionais tivessem em seus quadros nomes de
integralistas reconhecidamente influentes.
Desse ponto de vista, na Enciclopédia do Integralismo, há, ao menos, oito
autores que se proclamam jornalistas e ou escritores profissionais. Todos, vinculados à
primeira e segunda gerações. Plínio Salgado, Ernani Silva Bruno, Thiers Martins
Moreira, Lauro Escorel, Alexandre Compagnoni, Margarida Corbisier, Pedro Lafayette
e José Loureiro Jr, são alguns exemplos. No entanto, o que se verifica é que o ofício de
escritor sempre aparece como uma ocupação diletante, e não uma profissão. Assim, os
escritores integralistas, neste universo profissional dividiam suas atividades sendo,
comerciantes, escriturários, funcionários públicos, exercendo de maneira geral, outras
profissões que não a jornalística stricto sensu. Assim, dos oito autores que se definem
como escritores, apenas dois se auto referenciam como escritores profissionais, optando
esta como profissão primária. Plínio Salgado é o exemplo mais acabado.
Há também a incidência de profissionais autodidatas de notório conhecimento,
sobretudo, desempenhando atividades relacionadas às ciências humanas (indivíduos
pertencentes a todas as gerações), como historiadores, filósofos e sociólogos que
desenvolvem paralelamente às suas atividades de cientistas humanos, outras funções
extra-acadêmicas, como e o caso de (Ernani Silva Bruno, Umberto Pergher, Hélio

183
Vianna e Augusto de Lima Jr.). Além de historiadores e sociólogos, também foi
possível registrar um Etnólogo e Folclorista (Luis da Câmara Cascudo), e três militantes
que desempenharam o papel de filósofos, mas não como profissão primária, (Salgado,
Pergher e Félix Contreiras Rodrigues). Aliás, estes integralistas faziam questão de se
declararem filósofos, mesmo que possuíssem outras atividades. Também foi destacado
um caricaturista profissional (Madeira de Freitas), quatro poetas, dos quais ao menos
dois definindo esta como sua atividade profissional primária (dos quais se destacam:
Gerardo Mello Mourão e Tasso da Silveira); dois economistas profissionais atuando no
mercado financeiro (Antonio Galotti e José Garrido Torres), cinco professores que
lecionavam português, latim, direito, filosofia, engenharia e farmacologia; e um editor,
que se destacava por ter nesta função sua profissão de sustento (Gumercindo Rocha
Dórea). No Brasil, a profissionalização de muitas destas atividades viria a se consolidar
a partir da década de 1960, o que significa pensar que, no momento da publicação da
Enciclopédia, muitas dessas profissões passavam ainda por um estágio de conformação
de seus estatutos.
Por fim, dois segmentos merecem destaque: primeiramente as forças armadas
que cederam ao integralismo, sobretudo na Marinha de Guerra, grande contingente de
adeptos e simpatizantes. Dos indivíduos presentes nos volumes, verificamos três
militares, sendo dois do Exército e um da Marinha (Jeovah Mota, Augusto de Lima Jr. e
Victor Pujol). E em consonância com todas as profissões descritas pelos autores da EI,
uma profissão se diferenciava pela sua atuação ora diletante, ora oportunista. Muitos dos
atores sociais em questão, num total de 23 indivíduos (cerca de 47%) acabaram por
percorrer trajetórias político partidárias no sentido profissional do termo, permanecendo
nas cadeiras legislativas por anos a fio. Assim, cerca de 19 autores indicaram, em pelo
menos algum momento de suas vidas, a atuação em partidos políticos, se auto-
referenciando como políticos profissionais, o que, por vezes, tornou-se uma referência
ambígua, pois, em sua maioria, tais trajetórias foram antes construídas como corolário
das carreiras primárias escolhidas por tais atores.

184
4.6.4 - Funções e atividades dos indivíduos no período de sua militância
Também nos foi possível verificar as funções desempenhadas por alguns
indivíduos no período de sua militância integralista, tanto nos anos 1930, 1940 como
1950. Como é notório, Salgado sempre atuou no movimento como a referência máxima
de todos os integralistas. No período da AIB, como chefe supremo, e no PRP como seu
presidente. Dos autores vinculados à primeira geração, portanto membros da AIB
destacam-se; Belisário Penna, que além chefiar o Departamento de saúde pública e
higienização da AIB foi membro da Câmara dos 40, juntamente com outros três
indivíduos: Victor Pujol, que também exercia o cargo de Diretor do Jornal Monitor
Integralista e Membro do Conselho Supremo da AIB; Juvenil da Rocha Vaz, que era
chefe regional na região do noroeste fluminense (Cambuci e São Fidelis) e Thiers
Martins Moreira, membro do Secretariado Nacional da AIB.
Há também nos quadros da Enciclopédia indivíduos que representam a Câmara
dos Quatrocentos: José Madeira de Freitas, membro do Conselho Supremo da AIB e
Departamento de Propaganda, e chefe provincial da Guanabara; o padre Leopoldo
Ayres190, Luis da Câmara Cascudo; Ernani da Silva Bruno e Arnóbio de Souza Graça. A
militância católica, por sua vez, também foi assídua nos volumes da EI. Além do
próprio Leopoldo Ayres, Lúcio José dos Santos e Tasso Azevedo da Silveira191, o então,
padre Hélder Pessoa Câmara registrou suas idéias religiosas, exercendo
simultaneamente o papel de divulgador e doutrinador cultural e religioso na AIB.
Gerardo Mello Mourão192 e Francisco Galvão de Castro, (respectivamente, segunda e
terceira geração) vincularam-se à CCCJ e a vários centros de perfil católico do nordeste
e sudeste, notabilizando-se como grandes baluartes da verve católica dentro do
movimento.
O segundo nome de maior relevância no movimento, Miguel Reale aparece
como membro vitalício do Conselho Supremo Nacional e chefe do Departamento de
Doutrina, o que equivale ao segundo posto na hierarquia da AIB. Aliás, o Conselho
Supremo era o colegiado que ajudava a sinalizar as diretrizes do movimento. Os
integralistas presentes na EI que fizeram parte do Conselho Supremo da AIB são:

190
Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Cassa de Rui
Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres e no DHBB do CPDOC - FGV, pp. 2020 e 2021.
191
Para saber mais sobre Tasso da Silveira ler o artigo publicado pelo critico literário Wilson Martins: O
poeta católico em: O Globo, 13 de dezembro de 2003. Versão online.
192
Gerardo Mello Mourão aparece na Enciclopédia do Integralismo como um dos 52 poetas reunidos no
Volume 7, exclusivamente compilado para homenagear a poética integralista.

185
Jeováh Mota, que também desempenhava a chefia do movimento no Ceará; Rodolfo
Josetti, que além deste cargo pertencia ao Departamento de Cultura Artística, de
Doutrina e Estudos e do Secretariado Nacional da AIB; Jaime Regalo Pereira, que era
chefe arqui – provincial e chefe da primeira circunscrição da AIB; Alberto Bittencourt
Cotrim Neto, que também desempenhava o papel de membro do Secretariado Nacional,
do Conselho Jurídico Nacional e da Secretaria Nacional de Imprensa; San Thiago
Dantas, do Conselho Jurídico Nacional e da Secretaria Nacional de Imprensa; Antônio
Galotti, membro do Conselho Nacional e do Secretário Nacional de Relações
Exteriores; além de Ernani Silva Bruno, também membro do secretariado nacional e
Secretaria de Doutrina e Estudo.
Ainda com relação às funções desempenhadas pelos integralistas no período de
sua militância, há no compêndio indivíduos que gozavam de certo prestígio, integrando
a denominada “ala engajada”193 do movimento. Hélio Vianna, que em 1932 passou a
integrar este grupo, ministrando na AIB o curso de História do Brasil, bem como
escrevendo nos veículos do movimento e publicando textos de história política e social
brasileira, fazia par com Miguel Reale, Lauro Escorel Rodrigues de Morais194, e
Gerardo Melo Mourão, Pedro Lafayette e Luiz da Câmara Cascudo, autores que se
enquadravam nesta tipologia. Aliás, Cascudo foi um grande divulgador da noção
nacionalista de cultura. Publicista do nacionalismo contido no integralismo no período
de sua militância ajudou a Reale na elaboração de algumas de suas mais polêmicas
idéias sobre o movimento. Gumercindo Rocha Dórea, intelectual muito próximo a
Salgado, também fazia parte da chamada “ala engajada”. Personagem essencial na
retomada simbólico política do integralismo perrepista, Dórea sintetiza o conceito, no
pós 1950.
Em muitos casos, devido à escassez de fontes e dados não nos foi possível
aprofundarmos a trajetória de outros militantes. Casos paradigmáticos são: Alcebíades
Delamare Nogueira da Gama, advogado e procurador da AIB em diversos casos; Félix
Contreiras Rodrigues, membro influente da AIB; João Carlos Fairbanks, membro que
atravessou as três gerações do movimento, José Garrido Torres, Ernani Lomba Ferraz ;

193
A idéia de engajamento político sempre esteve acompanhada da racionalização de muitas atividades
desenvolvidas na AIB. Além dos integralistas listados acima havia uma plêiade de intelectuais que
também constituíam a ala engajada. Ver: A Marcha, 23?04/1959. Lembranças do engajamento. p. 9.
Neste artigo assinado por Gumercindo R. Dórea é marcante a tentativa de desvincular o engajamento
integralista do que ele chamava de engajamento esquerdista.
194
Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Cassa de Rui
Barbosa. Coleção: Lauro Escorel.

186
Rômulo Almeida; Abelardo Cardoso; José Soares de Arruda ; Augusto de Lima Jr.
Margarida Cavalcante de Albuquerque Corbisier.195 e J. Venceslau Jr., cuja única
informação disponível o retrata como um influente militante em diversos diretórios do
interior de São Paulo.
Outra listagem contendo poucos nomes sinaliza a presença dos então jovens
militantes vinculados à CCCJ, dos quais destacamos: Luis Alexandre Compagnoni e
José Loureiro Jr. (ambos incentivadores e colaboradores dos jovens águias brancas);
Genoíno Ferreira Filho; Umberto Pergher, atuante líder da chamada “ala jovem” do
PRP, e Secretário de Arregimentação eleitoral do partido; Genésio Pereira Filho, filiado
ao PRP paulista; Ivan Luz, que escrevia em jornais do PRP e foi secretário de Plínio
Salgado no período dos Águias Brancas; bem como Hélio Rocha e Carmen Pereira
Dias, respectivamente, diretores das Alas Doutrinária e Feminina dos Centros Culturais
da Juventude. Tais nomes ajudam a preencher as diversas lacunas deixadas pela
pesquisa no tocante às funções desempenhadas pelos autores no momento de sua
militância.

4.6.5- Ocupações dos integralistas no período de publicação da Enciclopédia


Dos que permaneceram no movimento no período da publicação, alguns
ganharam destaque. Plínio Salgado, à época ocupava o cargo de Presidente do PRP -
Partido de Representação Popular e chefe honorário e simbólico da retomada simbólica
do integralismo. Augusto Lima Jr, jornalista e historiador, militou na primeira e segunda
fases do movimento integralista tendo efetiva participação nas articulações do PRP,
sobretudo em Mina Gerais. Coronel do Exército Brasileiro, membro da Justiça Militar
Federal, Chanceler da Medalha da Inconfidência foi designado pelo presidente Getúlio
Vargas como coordenador do traslado dos restos mortais dos Inconfidentes da Europa e
África para o Brasil e mantinha estreita interlocução com AB Cotrim Neto que se
notabilizou por ter sido um dos militantes criadores do PRP. O jornalista Pedro
Lafayette, torna-se diretor de alguns jornais integralistas, sobretudo A Idade Nova. José
Loureiro Jr, que á época se torna genro de Salgado, elege-se Deputado pelo PRP (SP)

195
Margarida Corbisier e Carmen Pereira Dias (a primeira vinculada à AIB e a segunda ao PRP) seriam
as únicas mulheres a apresentarem textos na EI. Outras duas mulheres são citadas na Enciclopédia do
Integralismo, como poetas constituintes da Coletânea de poemas publicada no Volume 7 do compêndio:
Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha e Hydée Machado Marques Porto. As duas sem informações
biográficas disponíveis.

187
em 1957 – ano de lançamento da enciclopédia. A companheira de partido, Carmem
Pinheiro Dias, no momento da publicação desempenhava a função de Secretária geral
da Confederação dos Centros Culturais da Juventude (53-57).
Luis Alexandre Compagnoni, tal como Loureiro Jr, também se elege Deputado
pelo PRP entre 1952 e 1958, mesmo período em que Umberto Pergher, um dos
coordenadores da arregimentação jovem integralista se torna o articulador político mais
representativo do I Congresso de Lideres da Juventude integralista. Ambos gaúchos
permaneceram no integralismo e no PRP até o desmantelamento dos partidos em 1965,
quando então, migraram para as fileiras da ARENA governista.
Fazendo frente aos dois gaúchos de grande atuação política, Genésio Pereira
Filho, militante muito próximo de Salgado, entusiasta perrepista dos mais fervorosos e o
baiano, Gumercindo Rocha Dórea, (ambos radicados em São Paulo) faziam coro com a
militância católica integralista, na figura de personagens do naipe de um Francisco
Galvão Castro, um Hélio Rocha, um Ivan luz ou um José Batista de Carvalho, militantes
católicos de ampla atuação nas comunidades interioranas, na busca pela irradiação dos
ideais integralistas em pleno período democrático.
Outros intelectuais tiveram no período da publicação da Enciclopédia uma
trajetória divergente da seguida nos anos 1930. É o caso de quase 30% dos autores,
dentre os quais destaco: San Tiago Dantas que se revela apenas um admirador da figura
intelectual de Plínio Salgado; Helio Vianna, que em 1958 já sinaliza claramente
percorrer caminhos diversos dos anteriormente trilhados publicava os volume nº 247 e
248 da obra História Diplomática do Brasil, editado pela Biblioteca do Exército
Editora; e mesmo, Hélder Câmara, agora Dom Helder, e Câmara Cascudo, ambos
distanciando-se cada vez mais dos ideais propugnados na juventude.

4.6.6 - Permanências e transformações de um ideário


É característico que muitos destes ex-militantes tenham expressado em suas
memórias sentimentos que pendularam entre o total desprezo e uma saudosista
lembrança dos tempos de sua militância integralista. Exemplos destes discursos podem
ser verificados nos depoimentos de alguns (ex) integralistas. A questão de ordem é a
seguinte: o que tais militantes diziam sobre o movimento após se desvincularem?

188
Em 1937 Jeovah Mota redigiu uma carta à Câmara dos Deputados assumindo
que estava se desligando da AIB, renunciando a seu mandato parlamentar. Um trecho
em particular desta carta é bastante elucidativo do ponto de vista do que Mota pensava
sobre o integralismo: “Apensar de nutrir respeito pela AIB, acreditava que esta jamais
seria um adequado instrumento de luta em prol da justiça social, pois não comportava
uma intensa atividade sindicalista operária”196. Por sua vez, Belisário Penna reforça sua
aderência ao integralismo por meio de suas convicções: “O integralismo não responde
mais aos modos políticos do Brasil, depois que Getulio o destituiu, mas permanece
sendo uma proposta racional, espiritualista e capaz de regenerar os maus brasileiros (...)
é como a metáfora do anticorpo: jamais se desvincula do corpo e ainda bem que
permanece como força de ação cristã no país”.197
“Faço questão de afirmar que minha ligação com o integralismo baseava-se mais
na “reciprocidade ideológica, e menos na anuência partidária”, admitiu Juvenil da
Rocha Vaz, (Correio Paulistano, 1957) que, tal como San Tiago Dantas em encontro
ocorrido posteriormente ao golpe de 1937, teria dito a Francisco Campos, no sentido de
demarcar as diferenças entre o integralismo e o Estado Novo: “Professor, não queremos
servir o poder, queremos exercê-lo!”198 Pouco antes de seu falecimento San Tiago
Dantas também se lembraria de sua passagem pelo integralismo retendo certa
ambigüidade em suas palavras. Em resposta a uma pergunta de um repórter do jornal A
Marcha, folha oficial do PRP afirmou: “jamais poderia fechar os olhos para o meu
passado, mas jamais o imitaria ou ficaria limitado a ele”. (A Marcha, 19-07-1963).

Há controvérsias sobre a postura de Helder Câmara com relação ao seu passado


junto ao integralismo. Registros afirmam que, quando cardeal teria afirmado que sua
passagem pelo integralismo fora um “erro de juventude”. A despeito disso, em outro
trecho, extraído de uma entrevista em 1989, Câmara afirmou:

"O que aconteceu foi isto: o mundo parecia dividir-se entre o Comunismo e as forças de
Direita. Quando surgiu o Integralismo, anunciando Deus, Pátria e Família, eu achava
aqueles ideais bastante coincidentes com o que eu tinha aprendido no Cristianismo.
Mas, cedo, verifiquei que não precisava de nenhum sistema filosófico ou político,
bastava-me a mensagem de Cristo. Não me arrependo de nenhuma experiência humana

196
MOTA, J. Carta a Câmara dos Deputados. 2/7/1937.
197
Depoimento realizado em 1939, pouco antes de falecer. Ver: Pereira, Augusta S. A Morte do Dr.
Belisário Penna. Fazenda Sta. Bárbara, dezembro de 1940 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC).
198
Frase que Gumercindo Rocha Dórea atribui a Dantas. Ver: Má fé e falsificação da História. In: O
Drama de um herói. Edição da Casa Plínio Salgado, São Paulo, 1990.p.12.

189
que tenha vivido. Não me arrependo de ter passado pelo Integralismo”. Em entrevista ao
Diário de Pernambuco, em 29/01/1989.

De maneira análoga Hélder Câmara pendula entre o elogio e a crítica do


integralismo, o mesmo ocorrendo com Câmara Cascudo, a despeito de jamais ter
renegado o integralismo após se afastar da sua militância. É relevante que, na década de
1950, quando os ex-integralistas estavam reagrupados no PRP, Câmara Cascudo, apesar
de afastado da militância política (não se filiou ao PRP), tenha mantido suas assinaturas
de jornais integralistas, tanto a Idade Nova quanto, posteriormente, A Marcha.199
"Jamais renegou os seus princípios e não negava a sua condição de ex-integralista",
escreveu o falecido médico Clóvis T. Sarinho, outro integralista nordestino.200
Do mesmo modo que o folclorista admitiu seu desligamento do integralismo por
aderência às mudanças política da época, o economista Antonio Galotti, um dos autores
com maior incidência de escritos na EI, relembra em suas memórias que:
“(...) para um operador do direito, a ilegalidade deve ser primeiramente contestada (...)
apreciados os fatos e permanecendo a razão ou a desrazão dos condicionantes que
regem o fato legal, não cabe outra coisa a não ser seguir a ordem natural da
constitucionalidade plena (...) ou seja, os que prezam os muros da ciência jurídica não
poderiam permanecer imobilizados em paredes inconstitucionais (...) veja, a AIB, não o
integralismo saíram de mim (...) já não poderia me sustentar (...) permaneci integralista
por mais algum tempo, mas me desfiliei e me afastei definitivamente conforme os
sucedâneos foram se apresentando” (GALLOTTI, Memórias, 1981, p.67)

Miguel Reale, segunda força na hierarquia do movimento, em entrevista à TV


Câmara em 2006, ao ser indagado pelo entrevistador sobre o que mudou do “Miguel
Reale integralista para o Miguel Reale, de então”, respondeu:
"Eu diria que nada. Participei do integralismo com determinação e espírito público que
nunca me abandonaram." “Cabe-me salientar que me considerei livre do compromisso
integralista quando, no exílio na Itália, me dei conta da ilusória organização
corporativista sob o mando de um partido único, tanto assim que me recusei a pertencer
ao partido organizado por Plínio Salgado depois da Constituição de 1946 (...) No que se
refere ao integralismo, reconheci a transitoriedade de seu programa, mas jamais me
arrependi de minha atuação em prol do corporativismo democrático, cuja participação
revela que havia valores positivos na Ação Integralista Brasileira. O integralismo
revisitado. O Estado de S. Paulo. 28/08/2004.

199
Ver: A Marcha. A Marcha e seus leitores. 12/04/1959. p 5. Sessão Antigos integralistas. Esta
informação deve ser relativizada, uma vez que o artigo não cita o nome de Cascudo, apenas sinaliza “que
o grande folclorista brasileiro nunca deixou de ser integralista e que nos brinda até hoje com assinaturas
de nossos jornais”.
200
Fatos, Episódios e Datas que a memória gravou, Editora Nordeste, 1991, Natal, pp. 183 e 184.

190
Tão eloqüente quanto Reale, e talvez uma das eminências pardas menos
estudadas do integralismo, Gerardo Mello Mourão201 tem apreciação similar ao do
advogado paulista.
“O integralismo foi uma fecunda experiência cultural e uma aventura moral e espiritual
dos melhores brasileiros de minha geração. Quatro deles chegaram à Presidência da
República nas duas últimas décadas, sem falar em outros postos altamente
representativos da vida nacional. Haver pertencido ao integralismo é um título que me
tem proporcionado os melhores momentos de minha vida social, profissional, política,
cultural, cordial e afetuosa. Não permito que ninguém mude uma vírgula na história de
meu passado. Minha história pessoal é um patrimônio de que me orgulho.” (Entrevista
ao site: Balacobaco, em março de 2000)

Muitos integralistas fazem coro com os citados acima. Ernani Silva Bruno é um
desses exemplos: “(...) Por isso tive no momento de minha participação no integralismo
mais entusiasmo por isso e pela agitação política daquele momento do que pela
apostilas do Processo civil” (BRUNO, Silva Ernani. Autobiografia. 1986)
Contemporâneo de Mourão e um dos seus primeiros editores, Gumercindo Rocha
Dórea, por sua vez, é sempre assertivo: “O integralismo é, sempre foi e sempre será a
razão emocional e intelectual de minha existência!” (25/08/2008), afirmação predita,
cinqüenta anos antes, por Carmem Pinheiro Dias, para quem: “Infelizmente, dados os
acontecimentos que se sucederam a 1937, quando o Integralismo alcançava o auge de
seu esplendor, atuando na vida nacional de forma, quiçá, definitiva, hoje só podemos
pensar de modo ideal no que seria o Brasil de nossos dias, na vigência do Estado
Integral” (EI, Vol. 9 – 1959).
Sumarizando, o fato de muitos destes ex-militantes terem expressado em suas
memórias sentimentos que oscilaram entre a indiferença e o saudosismo dos tempos de
sua militância integralista sinaliza a existência de uma maioria nostálgica que, mesmo
afastada do movimento, ainda guardava lampejos de militância em seus discursos,
atestando assim que a adesão desses indivíduos ao integralismo, muitas vezes, ainda
fazia-se presente nas lembranças, posturas e palavras destes antigos militantes.

201
Ainda não existe um estudo aprofundado de sua biografia, sobretudo de sua passagem pelo
integralismo. No entanto, merece destaque a sua obstinação em defender o movimento, mesmo em
momentos adversos à sua permanência.

191
4.6.7 – Falecimentos e atividades profissionais dos autores
Se a análise dos autores presentes na Enciclopédia nos possibilitou saber sobre
suas funções e seu grau de aderência junto ao movimento, em alguns casos específicos
também nos foi possível percebermos a considerável quantidade de indivíduos que já
havia falecido em finais da década de 1950. Exemplos são: Belisário Penna, Alcebiades
Delamare, Rodolfo Josetti, Madeira de Freitas, Lucio José dos Santos, Victor Pujol,
Augusto de Lima Jr., dentre outros que não foram verificados devido à falta de registros
biográficos primários como datas de nascimento e falecimento.
Já os autores que se encontravam em sua plenitude intelectual, política e
profissional realizavam outras atividades no período da publicação: Plinio Salgado
realizava seu mandato de deputado federal pelo Paraná, além da presidência do PRP;
neste período foi também candidato à presidência da República, obtendo pouco menos
de 8% dos votos válidos. Tasso da Silveira exercia suas atividades de jornalista e
professor universitário. Felix Contreiras Rodrigues, em sua tese para a cadeira de
economia na faculdade de Direito de Porto Alegre, em meados dos anos 1940
proclamava o integralismo aos alunos. Nos finais dos anos 50, lecionava na PUC–RS, e
permaneceria ligado ideologicamente ao integralismo até os estertores da década. João
Carlos Fairbanks permanecia militando nos diretórios paulistas do PRP, estado pelo
qual seria eleito suplente de deputado em 1962, um ano após o término da publicação da
enciclopédia.
Jaime Regalo Pereira, por sua vez, mantinha-se militante e fervoroso defensor do
movimento sendo uma das lideranças mais contumazes do integralismo. AB Cotrim
Neto, no Conclave do PRP em Vitória, realizado em 25 de julho de 1957, tornou-se
parte da Comissão de Relações com entidades cívicas e Assuntos Políticos, braço
institucional Conselho Político Nacional do PRP.
San Tiago Dantas - Retornou à vida política em 1955, ingressando no Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Em outubro de 1958 (segundo ano de publicação da EI)
elegeu-se deputado federal por Minas Gerais. Nomeado pelo presidente Jânio Quadros
embaixador do Brasil na ONU em 22 de agosto de 1961, não chegou a assumir o cargo
em virtude da renúncia de Quadros, três dias depois. Goulart assumiu a presidência em
7 de setembro de 1961, e San Tiago Dantas foi escolhido para a pasta das Relações
Exteriores. Ao lado de Dantas, que era uma espécie de membro vitalício das
interlocuções de Plinio Salgado, Antonio Galotti, também se mantinha vinculado á
iniciativa privada, desempenhando o poderoso cargo de presidente da Light.

192
Venceslau Jr tornou-se presidente do clube de futebol União Agrícola
Barbarense Futebol Clube, da cidade de Santa Bárbara do Oeste, interior paulista, na
gestão de 1943/46. Já Hélder Câmara, em finais dos anos 50 se notabilizou pela criação
e fundação de dois projetos sociais: A Cruzada São Sebastião, em 1956, cuja finalidade
era dar moradia decente aos favelados e a fundação, em 1959, do Banco da Providencia,
cuja atuação se deu no atendimento a pessoas que viviam em condições miseráveis.
Portanto suas preocupações momentâneas passavam longe das questões político-
partidárias e mesmo ideológicas, sendo neste período um bispo carioca muito influente.
Arnóbio Graça, em meados da década passou a lecionar Economia política e
História das doutrinas econômicas nas Faculdades de Direito, Ciências Econ. e Filosofia
da UFPe, permanecendo importante interlocutor do jornalista Pedro Lafayette, que
mantinha seus contundentes discursos sobre o anticomunismo, nas bancadas do PRP.
Lafayette, no Rio de Janeiro aprimora a editoração do jornal carioca Folha Carioca,
tornando-se seu diretor. José Loureiro Jr, Deputado pelo PRP - PSD (SP), volta ao PRP
em 1957 – ano de lançamento da EI. Lança, no mesmo ano o livro: A calúnia como
arma eleitoral , e no Conclave do PRP em Vitória em 25 de julho de 1957, torna-se
parte da Comissão de Relações com entidades cívicas e Assuntos Políticos, tal como
AB Cotrim Neto e Luis Alexandre Compagnoni. Torna-se em seguida, membro do
Conselho Político Nacional do PRP
Já, Miguel Reale foi convidado a ministrar cursos e conferências sobre Filosofia
do Direito em vários países da América Latina e da Europa. No mesmo período teve
uma intensa atividade no Partido Social Progressista, do qual foi Vice-Presidente. José
Garrido Torres, exímio conhecedor da economia nacional torna-se consultor econômico
do mercado financeiro, ocupação diametralmente oposta à que vai exercer Leopoldo
Ayres, que permanecia ligado à Igreja Católica. Lauro Escorel, Diplomata de carreira
escrevia, no ano de 1958, o livro: Introdução ao pensamento político de Maquiavel sua
mais relevante produção intelectual.
Genoino Ferreira Filho e Genésio Pereira Filho participavam do diretório
paulista do PRP, o mesmo que viu a ascensão do escritor cearense Gerardo Mello
Mourão, que em 1957 lança juntamente com Abdias do Nascimento a antologia do TEN
Dramas para negros. Mello Mourão foi neste período colaborador da Folha da Manhã,
jornal que depois viria a se tornar a gigante Folha de S. Paulo, além de eleger-se
deputado federal, vindo a ser cassado pelos militares.

193
Luis da Câmara Cascudo, no mesmo ano em que o integralismo lança suas
comemorações pelos seus 25 anos, publica o livro: Jangada; uma pesquisa etongráfica.
Um ano depois, em 1958, publica Supertições e costumes. Em 1959, Canto de muro e
Rede de dormir. Em 1960 – o conceito sociológico do vizinho; e em 1961, Etnografia e
Direito, dentre outros. Jeovah Mota, em 1955 assumiu o comando do 18° Regimento de
Infantaria, no Rio Grane do Sul, e assumiu a Diretoria Geral de Ensino do Exército,
cargo que desempenhou a te passar, em março de 1962 para a reserva. Ainda em 1957
iniciaria suas pesquisas para o livro que lançaria cerca de 20 anos depois. A formação
do Oficial do Exército: currículos e regimes na Academia Militar (1810-1944),
publicado em 1976. Uma das únicas representantes do sexo feminino, a paulista
Carmem Pinheiro Dias fazia parte da cúpula dos Centros Culturais da Juventude,
núcleos que viram por diversas vezes o padre Francisco Galvão e Castro, em palestras
proselitistas e estudos doutrinários. O padre permanecia clérigo atuante e militante
integralista, embora não vinculado diretamente ao PRP.
Por fim, merece destaque Hélio Rocha, que à época vivia na Bahia e participava
do grupo dos Águias Brancas, vindo a transferir se para o Rio de Janeiro neste período.
Gumercindo Rocha Dórea, que em 1957 era o editor chefe do Jornal A Marcha e
proprietário de uma jovem editora que seria a maior porta voz do integralismo nos anos
1950, a GRD Edições será interlocutor privilegiado de seu conterrâneo. A presença de
ambos os Rocha na capital federal possibilitou uma interlocução que dura até os dias de
hoje.202

202
Em entrevista, Rocha Dórea afirmou que mantém esporadicamente contato com Helio Rocha,
conterrâneo que, ainda hoje, permanece vivendo na Bahia. Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea, São
Paulo. 21/12/2008. Registra-se que foi estabelecido contato com Hélio Rocha convidando-o a participar
desta pesquisa, mas este não respondeu aos e-mails e cartas enviadas o que inviabilizou ouvi-lo sobre a
temática desta pesquisa.

194
4.6.8 – Epílogo: manifestações de alguns leitores da Enciclopédia do
Integralismo
Este último subitem não pretende discutir sobre a recepção da Enciclopédia do
ponto de vista teórico. Busca-se apenas mapear partes das manifestações de um pequeno
grupo de militantes sobre a publicação da Enciclopédia. O historiador Rodrigo Patto Sá
Motta enfatiza que: “há algum tempo historiadores e cientistas sociais estão
convencidos de que não é suficiente analisar o discurso, a propaganda, o imaginário e a
iconografia produzidos por diferentes atores em seus contextos. Compreender como
essas mensagens são elaboradas e desvendar seus sentidos é fundamental, mas
permanece o problema de se saber como são recebidas pelo público a que são
dirigidas”. (MOTTA, 2005:189)
Nesse sentido, com relação à manifestação de alguns dos leitores e assinantes da
Enciclopédia pouco pôde ser recuperado. A ausência de informações se mostrou ainda
maior, dada a falta de dados, o que acabou tornando a análise deste quesito bastante
controvertida. Do que foi possível verificar (no universo diminuto de poucos militantes,
alguns deles inclusive, presentes no próprio compêndio) há autores que, ao longo de sua
trajetória fizeram questão de deixar registrado suas percepções e ou memórias sobre
aquele acontecimento, reputado por muitos como “marcante e impactante” (GRD,
2008). Este pequeno grupo de leitores (invariavelmente, militantes do PRP que à época
recebiam os volumes em casa, via mala direta), será nossa fonte no que tange à recepção
da leitura da EI.
Gumercindo Rocha Dórea foi enfático em vista das questões relacionadas à
recepção do compêndio. Para o editor:
“(...) não vejo possibilidade real de sabermos quem lia e quem não lia a EI. O que sei é
que os jovens integralistas se formaram a partir das leituras dos volumes em muitos
Centros Culturais da Juventude e tomaram contato com a doutrina a partir da
enciclopédia! Agora, nunca antes se pretendeu “mapear” a receptividade dos volumes
lançados. Sonhávamos, sim, tomarmos conhecimento de sessões de discussão dos
temas, e mesmo de críticas de dissidentes e ou integrantes (...) mas nunca, repito, que
me lembre agora, nunca houve sequer uma ligação, carta ou conversar de ninguém
sobre a EI. É como se ela fosse propositalmente apagada, esquecida enquadrada em um
silencio mortal (...) não tenho mesmo nenhuma recordação sobre a sua recepção a não
ser nos CCJ”203

203
Entrevista de Gumercindo Rocha Dórea, São Paulo, 25/11/2008.

195
No entanto, tomando contato com diversas fontes (dicionários especializados,
biografias, memórias, e, sobretudo, depoimentos de remanescentes) verificou-se que
alguns integralistas, ao contrário do que afirmara GRD, registraram impressões sobre o
episódio da publicação da EI. Sendo assim, faz–se necessário sinalizar, de antemão, que
do universo de mais de 50 autores, cerca de trinta não nos deixaram nenhum indício
sobre sua recepção. A falta de informações somada à contingência de autores falecidos
determinou uma sensível redução do universo pesquisado.
Poucos são os autores que registraram suas manifestações sobre o compêndio,
enquanto leitores/assinantes. Exemplo marcante foi, naturalmente, Plínio Salgado, que
ajudou a criá-lo e escreveu o primeiro volume inteiro. Salgado relembra de maneira
enfático o período:
“(...) Lembro que este será o redirecionamento do nosso valor, e que, por tudo o que
aqui for escrito. Deveremos, então prestar contas aos nossos admiradores, ao nosso
público. Respeitar o não integralista, afinal não será só nossos admiradores que nos
relerão. Por isso, o Integralismo é digno de seus escritores e vice-versa. O Integralismo
é digno de ser compilado numa Enciclopédia. Que se consubstancie”!204

Luiz Alexandre Compagnoni, após dezenas de palestras proferidas nos Centros


Culturais da Juventude (já na condição de deputado pelo PRP-RS) onde desenvolviam o
hábito de utilizar a Enciclopédia do Integralismo como mote de discussão doutrinária,
dá um depoimento bastante convicto sobre a necessidade da leitura dos volumes da
Enciclopédia por parte da juventude integralista da época:
(...) em Porto Alegre, ler a EI era como aprender a escrever. Todos se debruçavam nos
volumes que chegavam, ora com atraso, ora com pontualidade (...) o fato é que nos
Centros Culturais nós utilizávamos muito as Eis para nosso domínio doutrinário (...) Ler
a EI era uma digna demonstração de nacionalismo e ideal (...) eu leio esta enciclopédia
dos ilustres brasileiros (...) vocês também deviam ler!”. (Depoimento de Compagnoni
em: A Marcha, 19/07/1958”.

Em consonância, um jovem que, à época, se inspirava nos passos do deputado


Compagnoni, Umberto Pergher corrobora o que dissera seu correligionário: “(...)- Sim,
eu me lembro dessa enciclopédia e do quanto nós, em Porto Alegre esperávamos os
volumes chegarem. Era lição de doutrinação nos debates dos Centros Culturais da
Juventude (...) e na época até fui contatado porque havia um texto meu nesta escrito
originalmente em A Marcha, mas daí ele foi selecionado na coletânea”.205 No entanto,

204
Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea a 12 de setembro de 1957. Arquivo Público Municipal
de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado.
205
Entrevista concedida via e-mail em 20/11/2008.

196
não era exclusividade dos Centros Culturais da Juventude gaúchos a manutenção da
leitura dos volumes da EI em suas sessões de estudos. Genésio Pereira Filho, militante
do diretório paulista relembra fatos semelhantes: (...) Lembro-me de que estudávamos
nos diretórios do PRP e mesmo nas assembléias das Águias Brancas os títulos da EI (...)
era doutrinação dos grandes temas do integralismo (...) mas não me lembro se eu
comprava ou ganhava no diretório1”206
Tanto para Gerado M. Mourão, quanto para Gumercindo Rocha Dórea, a
recepção da Enciclopédia se deu mais pelo apelo emotivo que propriamente objetivo.
Para o primeiro, “(...) Foi sim uma ilustre tentativa de configurar aos mais jovens o
caminho tortuoso, mas honesto deste brilhante time de integralistas (...) eu lia e tenho
ainda hoje os exemplares da EI”207; já para Rocha, que em diversos volumes, trocava
impressões com seus leitores, sua percepção sempre foi a de quem entendia que estava
realizando algo para a posteridade do movimento. Para o editor do compendio: “O
primeiro volume da EI mostrou o ideal de Salgado, descrito por ele mesmo, o segundo
mostrou aos moços os sonhos daqueles eram soldados da primeira linha, e no terceiro,
serão mostrados os incansáveis e que resistiram a todas as intempéries (...) e daqui pra
frente será assim... aprofundamentos e depoimentos do que pensamos ser fundamental
para se entender este movimento”. (EI, Vol. 3)
Deste modo, tais exemplos sinalizam que as manifestações de apreço à
Enciclopédia, descritas acima, antes de sinalizar o grau de recepção de um dado grupo,
evidenciaram o teor propagandístico de suas manifestações, o que demonstrou menos a
recepção que tiveram do compêndio e mais o proselitismo de seus depoimentos.

***
Após mapearmos partes da trajetória deste grupo, suas origens geográfica, social
e política; suas opções ideológicas, suas diversas profissões, suas funções específicas
dentro do universo político, bem como, as permanências e transformações de suas
visões de mundo e leituras sobre a Enciclopédia parece-nos claro que a construção de
uma identidade geracional definida por seus pares como “aberta às diferenças” ajudou a
fixar na lembrança de seus contemporâneos a idéia de que o integralismo, de alguma
maneira, havia chegado muito próximo de deter as rédeas do poder. No entanto, a
trajetória deste grupo (suas especificidades pontuais e seus pontos de intersecção) ajuda

206
Entrevista concedida em 21/12/2008, no apartamento do depoente, em São Paulo.
207
Entrevista concedida em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, em 23/03/2005.

197
a entender que os integralistas dos anos 1940 e 1950 representaram apenas, um
significativo corpo de retaguarda que fora, tardiamente, desarticulado no período pós
1964. Na percepção de muitos indivíduos destas gerações, o movimento transmutou-se
como Fênix, abandonando suas características mais anedóticas. Mas das suas cinzas
esverdeadas, e de seu “histriônico piado”208, só sobrou, a saudosista e octogenária
militância. Muitos dos que sentaram praça neste integralismo jocosamente chamado de
galinha verde, também emprestaram textos para a Enciclopédia do Integralismo, dando
nestes, manutenção às formas e conteúdos de sua filiação ao movimento.
Deste modo, a partir da análise destas três gerações integralistas, em algumas
áreas de sua sociabilidade foi possível pôr em evidência um conjunto de propriedades e
relações que interligava cada uma dessas gerações. Os dados obtidos indicam que a
preponderância da primeira geração frente às demais sinaliza claramente que a força do
integralismo limitou-se à sua primeira atuação, e que os demais atores em questão,
terminaram por viver das sombras e do eco dos que os antecederam. Mesmo a terceira
geração, (mais autônoma com relação à segunda), viu sua ação política ser ignorada
exatamente por não conseguir dissociar-se do estigma da primeira geração. O trajeto
biográfico destes agentes bem como conteúdo dos escritos contidos na Enciclopédia do
Integralismo são a prova de que o movimento integralista vendia uma imagem
edulcorada de si mesmo, o que não escondeu a ambigüidade de um integralismo
passadista.

208
LACERDA, Carlos. O piado da piada verde. Tribuna da Imprensa, 12/07/1957. p. 9. A despeito do
jornal de Lacerda ser apenas o 7º diário no ranking dos jornais mais lidos na capital federal, em finais dos
anos 50, estando atrás de O Globo (43%), A Notícia (26%), Diário da Noite (13,8%), Última Hora
(13,4%), A Noite (8,4%) e Folha Carioca (3,8%), seus artigos contrários aos integralistas eram sentidos
com ecos pelos integralistas. Adversário arguto do integralismo, Lacerda vai, com o passar da década, se
tornar uma figura ambígua com relação ao movimento e ao seu líder. Anuário Brasileiro de Imprensa.
Apud Abreu & Lattman Weltman, 1994, p.30.

198
CAP. V
Entre o dito e o interdito–
uma voz fundamental para se
entender a
∑nciclopédia do Integralismo

199
CAP V - Entre o dito e o interdito: uma voz fundamental para se
entender a ∑nciclopédia do Integralismo

Neste capítulo analisaremos as mais de dez horas de depoimentos, conferências formais,


conversas introdutórias não gravadas e as entrevistas respondidas por escrito, de
Gumercindo Rocha Dórea, hoje, um dos mais longevos integralistas ainda vivos.
Gumercindo Rocha Dórea mostrou ser um personagem quixotesco, tamanha era sua
crença com relação à teleologia integralista. Buscamos neste capítulo apresentar partes
de sua trajetória, apresentando este personagem que aos 85 anos de idade ainda deseja
ver o integralismo revivido.

5.1 - Discursos e práticas – As entrevistas com Gumercindo Rocha Dórea –


“o guardião das memórias integralistas”

Quer compreender a obra? Compreenda, antes, seu artista,


Pois, entre o criador e a criatura há um quê de tênue, um algo de performance
incompreensivelmente plasmada nas convicções e idéias do autor:
é o ato autoral que distingue os criadores dos copistas,
(Wilhelm Von Mises)

A
s palavras do economista austríaco, Von Mises, um dos mais
relevantes pensadores da direita liberal no século XX, descritas
acima, nos remetem às delimitações ainda hoje pouco precisas sobre
as fronteiras existentes entre a criação, o ato de criar e o executor da obra. A afirmação
é corroborada pelo militante integralista, Gumercindo Rocha Dórea, aferição com a qual
balizou parte significativa de sua obra editorial, uma vez que, sempre a entendeu como
“parte fundamental das vicissitudes enfrentadas por muitos integralistas, ao longo de
suas trajetórias, todas elas mais trágicas que cômicas, mais solitárias que compartilhadas
(...) não podendo por isso, dissociar suas idealizações dos produtos que delas
resultaram”209 (DÓREA, 1957: 98). Tais palavras sinalizam um desejo explícito do
missivista para que tais discursos sejam interpretados como parte fundamental de um

209
Entrevista com Gumercindo Rocha Dórea, São Paulo, 8/9/2007.

200
enunciado ainda maior: como afirmaria o próprio Dórea, “há momentos em que nosso
discurso precisa ser entendido segundo as necessidades do momento, de maneira que,
tudo o que dizemos pode e deve ser esquecido, modificado, mal interpretado, mas nem
por isso a sua essência se modifica de fato”.210 (DÓREA, Idem). Levando-se em
consideração tais apontamentos, destacamos que dos autores vinculados à terceira
geração, Gumercindo Rocha Dórea, é hoje, um dos mais relevantes membros
integralistas ainda vivos. Demarcar pontos que liguem as memórias deste militante e a
história que se registrou sobre sua trajetória, se faz, portanto, bastante relevante,
sobretudo pela oportunidade de se entender as dissonâncias do discurso pronto deste
depoente, o que nos possibilitará apreender suas percepções sobre o processo de criação,
publicação e distribuição da Enciclopédia do Integralismo.
A metodologia de história oral nos permite interpretar a relação dual imposta
pela ciência moderna entre o sujeito/produtor do conhecimento e sua produção, ou seja,
os sentidos atribuídos por ele às coisas (relação esta tão bem analisada por Boaventura
de Souza Santos: 1985), justamente porque na história oral a fonte é por natureza
produtora de significados. Neste sentido, ao entrarmos na vida de pessoas por meio das
entrevistas é preciso que levemos em conta a diversidade de papéis que estas assumem,
ou ainda por quais campos de possibilidade estas passam e se adaptam para realizarem
seus projetos de vida, tal como nos revela Gilberto Velho, nos seus escritos sobre
projeto, pois isso pode nos aproximar do depoente.
“A consciência e a valorização de individualidade singular, baseada em uma
memória que dá consistência à biografia, é o que possibilita a formulação e
condução de projetos. Portanto, se a memória permite uma visão retrospectiva,
mais ou menos organizada de uma trajetória e biografia, o projeto é a antecipação
no futuro desta trajetória e biografia, na medida em que busca, através do
estabelecimento de objetivos e fins, a organização dos meios através dos quais
estes poderão ser atingidos. (...) Assim, o projeto e a memória associam-se e
articulam-se ao dar significado à vida e às ações dos indivíduos, em outros termos,
à própria identidade.” (VELHO, 1994: 45)

Busca-se, neste capítulo, interagir com a percepção que o referido depoente tem
sobre este amplo projeto, no sentido de ampliar as discussões sobre a legitimidade de
seus discursos e práticas.

210
ROCHA DÓREA, G. Entrevista gravada em 3/1/2008.

201
Fig.18. Da esquerda para a direita: Francisco Salgado, Gumercindo R. Dórea e Manoel Octavio
Junqueira Filho. Escritório da Livraria Clássica Brasileira, Rio de Janeiro, em finais de 1957.
Foto: Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP. Acervo Plínio Salgado.

O caso específico de Gumercindo Rocha Dórea, editor e proprietário das


Edições GRD é paradigmático se refletirmos sobre o papel crucial que desempenhou na
campanha de revalorização do integralismo ao longo dos anos 1950, e com mais ênfase
a partir de 1957. Seus depoimentos foram, neste sentido, fundamentais para
estabelecermos uma correlação entre episódios e narrativas contidas no compêndio:
fruto de sua própria seleção. Esta relação nutre a idéia de uma dialética entre o dito e o
interdito, entre o não dito e o supostamente dito. Para clarificar melhor esta idéia,
entendo ser interessante aprofundar a análise de alguns depoimentos deste integralista
que em diversos momentos buscou desdizer ou desmentir afirmações que teria proferido
na época em que militava e vivia a doutrina no seu dia a dia.
Poderíamos até entender que se trata de algo natural, uma vez que este poderia
ter modificado sua percepção dos fatos, cinqüenta anos depois. No entanto, parece-me
pertinente ponderar que tais depoimentos são construídos numa base bastante diferente
das narrativas apresentadas pelo depoente registradas nos jornais e mesmo na

202
historiografia especializada. Há um super dimensionamento dos fatos, um floreio nas
circunstâncias e uma visão rósea dos acontecimentos que, via de regra visam enaltecer o
papel do integralismo no momento de suas celebrações. O dito, o não dito e o interdito,
como partes de um mesmo discurso. Seus depoimentos mostrarão de maneira ativa
como se efetivaram alguns empreendimentos nos anos 1950/60. Exemplos são: os
Centros Culturais da Juventude (grêmio cultural com claros rompantes políticos) e a
publicação da Enciclopédia do Integralismo. O primeiro: os aprendizes da ideologia; o
segundo: o instrumento de doutrinação, elementos que servirão de pontes para a nossa
análise.

5.2 - Um editor combativo


Você acredita estar dourando alguma pílula, mas está,
na verdade, oxidando, enferrujando nossas memórias...
muito do que se conta é inverídico, muito do que aconteceu não se conta (...)
o que eu disse não foi o que eu disse!
(Gumercindo Rocha Dórea, em entrevista no verão de 2002)

Gumercindo Rocha Dorea é proprietário das Edições GRD, editora fundada em


1956 e que publica (permanece ativa) dentre outras obras, livros de filosofia em geral e
também obras de e sobre Plínio Salgado, bem como sobre o integralismo e temáticas
ligadas a este movimento.211 Sua editora foi no Brasil a primeira a lançar obras de ficção
científica, e este não é um fato isolado ou menor, pois se trata de um período de clara
tendência e definição ideológica e política, em que o comunismo e o capitalismo
iniciavam suas incursões espaciais, detectadas de maneira bastante consistente nos
livros publicados pela GRD.212

211
O catálogo da editora abrange uma gama variada de publicações que vai de uma série de livros sobre a
história brasileira até diversas series de ficção científica. Aliás, a Edições GRD foi a pioneira neste estilo
de publicação no Brasil. A partir dos anos 1960, a GRD passa a publicar eminentemente edições de livros
nacionalistas, integralistas e de cunho católico. Gumercindo Rocha Dórea foi responsável por publicar as
primeiras edições de autores, hoje consagrados, como, por exemplo: Nélida Piñon, Gerado Mello
Mourão, Ruben Fonseca, Astrid Cabral, José Almeida Pinto, dentre outros.
212
Ver: CHRISTOFOLETTI, Rodrigo. A controvertida trajetória das Edições GRD – entre as
publicações nacionalistas de direita e o pioneirismo da Ficção Científica no Brasil. Revista
Miscelânea. Unesp/Assis. Set. 2010. No prelo. Foi no contexto da luta armamentista sideral, que a busca
por este novo gênero literário se acentuou. As notícias de aparecimento de discos voadores, a cibernética,
o estudo das novas teorias astronômicas, as modernas concepções biológicas e psicológicas, o exame
mais aprofundado dos fenômenos paranormais, como a telepatia, a percepção extra-sensória e a tele
cinese, e, finalmente, a devassa sideral pelos "sputniks" - incentivaram Gumercindo Rocha Dórea a lançar
a sua Coleção Ficção Científica pelas Edições GRD, publicação que editava de maneira intercalada às
obras nacionalistas, integralistas e de matizes congêneres. A Ficção Científica GRD se tornou a mais
importante coleção de ficção científica da sua época no Brasil. Por isso, Fausto Cunha, então um

203
Nascido em Ilhéus, BA, em 4 de agosto de 1924213 (tem, portanto, 86 anos)
passa a fazer parte da AIB, ainda menino, aos 8 anos de idade, na qualidade de pliniano
(juventude integralista). Em entrevista ao jornal Folha da Tarde, em 1988, por pretexto
de uma reportagem sobre editores e editoras no Brasil pós Plano Cruzado, Dórea
esclarece como chegou ao integralismo:
“(...) Na verdade foi pelas mãos de um professor que eu cheguei ao integralismo...
minha família nada tem a ver com isso. Eu achava bonito aquelas filas, uniformes
etc... e meus pais não sabiam, assim como muitos naquele tempo do comecinho do
integralismo, o que era realmente este movimento. Então, fui apresentado e aquilo
calou fundo em mim. Mas, diferente de muitos que entraram porque achavam só
bonito e glamuroso usar os uniformes, eu entrei porque achava forte aquela
molecada toda trabalhando na escola os trabalhos escolares sobre o Brasil... A
gente até saía da praça correndo quando a gente sabia que ia ter aula de história do
Brasil com aquele professor... Atanázio... e íamos todos felizes da vida, pois
acreditávamos porque ele havia ensinado isso para a gente, que rezando a bandeira
e aprendendo a amar o Brasil, seríamos uma nação melhor. Não fosse,
inicialmente, o hino e a bandeira verde e amarela, eu nunca seria integralista. Foi
isso que me levou ao movimento. Ta aí a força do movimento naquele momento:
despertava nas pessoas, mesmo nas jovens, este apelo pelo nacionalismo que eu
aprendi a prezar tanto!”214 (DÓREA, 1988)

Ainda em entrevista ao jornal, afirma ter ficado na Bahia, em Feira de Santana,


onde já adolescente manteve disputas ideológicas bastante estremecidas com nomes que
se tornariam consagrados pela intelectualidade de esquerda, tais como Jacob Gorender,
Mario Alves dentre outros, o que colaborou para que ele partisse para o Rio de Janeiro,
em 1944. Em muitas de suas entrevistas, relembra que suas maiores disputas
intelectuais foram travadas com estes professores de renome, que eram todos de
esquerda e que conjugavam uma ideologia diferente da sua. Nacionalismo, sistema de
governo, militância e eleições, além de personagens como Getulio Vargas, Plínio
Salgado e Luiz Carlos Prestes sempre foram alvo das discussões acaloradas dos jovens
professores baianos. “A falta de interlocução e a difícil missão de levar aos estudantes
um sentimento de nacionalismo, ao invés do universalismo que o comunismo pregava,

respeitado crítico literário, chamou esse grupo de autores de "Geração GRD", nome pelo qual aquele
momento chegou até os poucos escritores, fãs e pesquisadores interessados por ficção científica na década
de 1980.
213
Filho de Alcino da Costa Dórea que à época do nascimento de Gumercindo era considerado uma dos
maiores produtores de cacau da Bahia. Diversificou seus negócios tornando-se também usineiro de açúcar
e dono de pedreira.
214
Entrevista com editores do Brasil. Folha da Tarde, 13 de julho de 1988.

204
me incentivaram a mudar, a buscar em outros campos interlocuções que na Bahia eu já
não dispunha mais!”.215

Fig. 19: Fac-símile do Jornal da Tarde 30/08/1986. Os


anos 1980 ainda rendiam frutos à Edições GRD. Jornal
da Tarde, 1988, p.4.

No Rio de Janeiro, em pleno estertor


do Estado Novo, Dórea se forma em Direito.
Na faculdade foi aluno de integralistas, tais
como, San Thiago Dantas, Antonio Galotti,
Thiers Martins Moreira (não por acaso, todos
homenageados com textos publicados na
Enciclopédia do Integralismo). De 1948, ano
em que se forma advogado, até 1952, Rocha
Dórea escreve em jornais de cunho conservador (foi, inclusive redator do jornal Folha
Carioca) e exerce sua verve crítica contra o comunismo. Escreve para o semanário
integralista Idade Nova, jornal dirigido por Raimundo Padilha, substituído pelo jornal A
Marcha, como órgão oficial do PRP. No mesmo ano de 1952 Dórea ajuda a fundar o
primeiro Centro Cultural de Juventude, de quem é o seu primeiro presidente. Em 1956
fundou sua editora e em 1957 passou a integrar a diretoria do jornal A Marcha.216
Portanto, foi protagonista nos mais significativos eventos de consolidação do
integralismo no pós-guerra. Sobre estes episódios relata:

“Reuniram-se os grupos, os grêmios, os centros culturais de todo o país, 18 talvez.


Então, criou-se a Confederação dos Centros Culturais, eu me lembro bem. Vinha
chegando de uma reunião, e vi um rapaz saindo, então, perguntei: já foram feitas as
eleições para a presidência dos Centros? Sim, disse o rapaz. Foi um tal de
Gumercindo Rocha Dórea... ah, sim: tergiversei, ri por dentro, era eu, e o rapaz
nem sabia! Me lembro bem desde então, quantas vezes estivemos eu e o chefe,
Plínio visitando estes coronéis milionários (avôs dos grandes latifundiários de hoje)

215
Idem.
216
O jornal A Marcha detinha uma característica diferenciada dos seus congêneres: não possuía
repórteres, mas sim articulistas que escreviam periodicamente no jornal.

205
pedindo um pouco de dinheiro para os centros... e sem vergonha alguma porque era
por uma boa causa, nós cumprimos nosso papel. Eu e o chefe éramos muito
próximos!” (ROCHA DÓREA, 2007)

Estes jovens militantes, novas gerações de integralistas, muitos filhos de ex-


partidários, outros apenas simpatizantes que viam no PRP e no grêmio estudantil uma
forma de fazer política, eram chamados de Águias Brancas, em alusão contrária ao
apelido fixado pelos seus adversários (os comunistas, socialistas e alguns liberais) de
galinhas verdes. Segundo Gumercindo o nome foi dado pelo próprio Plínio Salgado,
para homenagear a ave que, embora não existisse no Brasil, representava a semelhança
do gavião brasileiro. Gumercindo ainda lembra com bastante pesar sobre uma das
cerimônias dos 25 anos do integralismo em 1957, quando um garoto chamado Plínio
(sic) teria recebido do pai, Pimenta de Castro, um Águia Branca, a tocha que significava
a passagem de geração: “ele era um Águia Branca... Mas depois, veio o Rolando
Corbisier, que era meu amigo, integralista nos anos trinta, pegou o Plininho (o jovem
integralista homônimo do chefe) ensinou o marxismo pra ele... oras bolas... que coisa...
Como acontece um negócio destes?”(ROCHA DOREA, 2005)
É interessante perceber que nas memórias de Rocha Dórea a dicotomia entre
permanência/desistência do movimento sempre o marcou como um ponto chave de sua
percepção sobre o movimento. Para Dórea, o fato de um integralista, filho de
integralista, de educação e verve integralistas, se transformar em antípodas, era, no
mínimo (sic) um “desserviço para a nação”. Não entendia como nomes consagrados
como Roland Corbisier e San Tiago Dantas, isso para não citar Hélder Câmara e outros,
acabaram por professar a ideologia antítese do integralismo. Esse fator ficaria ainda
mais claro em finais dos anos 1950 quando a definição ideológica se acirrou ainda mais
graças a conjuntura política vigente.
Já com relação às celebrações dos 25 anos integralistas e seu corolário, a
publicação da Enciclopédia do Integralismo, Rocha Dórea é muito prolixo e tece
definições exaustivas sobre tais eventos. Algumas de suas ilações são bastante
interessantes. Quando questionado sobre o que o levou a publicar algo que enaltecia o
passado ao invés do presente, respondeu:
“Elaborada segundo um cronograma de vendagem que abrangeu pouco mais de
três anos217 a EI constituiu-se num conjunto de livros, vendidos principalmente por

217
Conforme veremos adiante o fato da periodicidade da publicação ter sido tão intermitente e prolongada
teria mais a ver com problemas financeiros da editora do que, propriamente uma programada agenda de
publicação duradoura.

206
envio postal. Nesse sentido, não fizemos apenas um enaltecimento do passado, mas
visamos estender as comemorações pensando no presente e mesmo no futuro.
Discordo da ilação de que a EI fala apenas do passado, basta você pegar os escritos
e verá que há nela pessoas de três gerações de integralistas. (...) Passado só nos
temas, mas a roupagem é nova, é quase contemporânea.” (ROCHA DÓREA,
21/12/2007)

Parece-nos claro que, a despeito da segurança com que o depoente respondeu às


questões, sempre de maneira clara e direta, sem rodeios lingüísticos, nem retóricas
vazias, suas premissas são calcadas muito mais num sentimento de preservação do que
ele mesmo criou (a EI), do que em qualquer outra percepção mais acurada da realidade
política contemporânea, pois, nem a noção de política, nem as ideologias têm hoje em
dia, o mesmo apelo que possuíam anteriormente. Mas, é significativo que todo seu
discurso esteja balizado na necessidade de apresentar as temáticas do compêndio
disfarçadas com uma “maquiagem contemporânea”. Como indicou Dórea: “Do passado,
só os temas, mas a roupagem é nova!”.

Gumercindo descreve em entrevista ao jornal A Marcha, ainda nos anos 1950,


que o objetivo maior da Enciclopédia do Integralismo era “colocar nas bancas e nas
mãos dos interessados um produto de qualidade gráfica para conter um conjunto
significativo do melhor pensamento nacional”.218 Na maioria dos volumes concentrou-
se toda a perspectiva otimista de Rocha Dórea que acreditava estar doutrinando a
população via tais escritos. Esta doutrinação se apresentava explicitamente nas pontuais
rememorações e reflexões de Plínio Salgado, pois, mesmo não participando ativamente
das decisões do corpo editorial responsável pela trajetória do compêndio, Salgado
acabou por direcionar o índice da publicação mediante seus apontamentos iniciais:

(...) Teremos diálogos, depoimentos, nossos hinos e histórias estarão condensadas.


Portanto, devemos ser antes de tudo representativos (...) Lembro que este será o
redirecionamento do nosso valor. Deveremos, então, prestar contas aos nossos
admiradores, ao nosso público. Respeitar o não integralista, afinal não serão apenas
nossos admiradores que nos relerão. Os adversários de ontem e de sempre, se
fortalecem no nosso seio, para amanhã tirar proveito do nosso erro. Por isso, o
Integralismo é digno de seus escritores e vice-versa. O Integralismo é digno de ser
compilado numa Enciclopédia. Que assim se consubstancie! 219

218
A Marcha, 27/2/1957, p. central
219
Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea, a 12 de setembro de 1957. Arquivo Público
Municipal de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado.

207
Sem parcimônia, Rocha Dórea sustenta o discurso de que foi ele, o único
idealizador do compêndio, asseverando que “deve-se exclusivamente a ele e à sua
perseverança editorial, o seu relativo sucesso”. Rocha Dórea teria sido ainda, o
responsável direto pela compilação dos textos, a edição dos mesmos, a publicação e a
distribuição da Enciclopédia, embora contasse com a anuência contínua de Plínio
Salgado. Segundo Rocha Dórea, a publicação da Enciclopédia do Integralismo foi
lançada como “expressão de síntese e júbilo à posteridade (...) um misto escrito por
brasileiros de três gerações sucessivas, e que procurará responder a qualquer pergunta
de ordem doutrinária ou histórica, relacionada com o movimento que nascera nos anos
1930”.220 No entanto, Rocha Dórea discorda daqueles que reputam ao compêndio um
caráter pedagógico proposital. De acordo com o editor:
(...) a EI não se apresentava como um compêndio de pedagogia, nem uma
sistematização de temas rigorosamente conexos, procurando perfeita unidade de
expressão e harmonia de construção (...) O critério dos organizadores desta
enciclopédia foi o de conciliar a documentação do integralismo com a seleção e
classificação de assuntos segundo suas finalidades, afinidades e co-relações (...) os
autores escreveram segundo suas convicções e interpretações pessoais, produzindo
trabalhos esparsos, sem a preocupação de realizar uma sistemática educacional (...)
portanto, o papel da EI é dar possibilidades ao homem para que ele se realize
enquanto participante do integralismo.221

Cabe analisarmos este trecho ressaltando a idéia de que o essencial na


compilação e publicação do compêndio era, segundo as palavras de Rocha Dórea, dar
espaço às várias vozes integralistas, que em finais dos anos 1950 não eram tão
uníssonas como nos anos 1930. Outro elemento significativo diz respeito à situação
econômica nacional que no início da década de 1960, já analisada no capítulo 2.
Concomitantemente a esta conjuntura, problemas no caixa das Edições GRD, aliados a
transformações no setor editorial brasileiro, fizeram com que o projeto de continuidade
da EI passasse por reformulações. Nesse sentido, o sucesso de público almejado pelo
editor do compêndio, não se concretizou plenamente. E ao ser questionado sobre suas
aspirações sobre a Enciclopédia do Integralismo, Dórea sempre foi taxativo:

“(...) esta foi uma de minhas poucas decepções à frente da GRD (...) não ter sido
mais bem compreendido quando propus este revolucionário projeto editorial. No
entanto rechaço tudo e todos que disserem o contrário do que eu afirmo, pois,
sempre sustentarei que este projeto alcançou patamares significativos (...) Estima-

220
Entrevista de Gumercindo R. Dórea. 12/04/2002.
221
DÓREA, Rocha G. EI, Vol. IX, p. 1-3. Apontamentos gerais para os leitores do volume 9.

208
se, que o número de exemplares vendidos deva ter chegado à casa dos 50 mil,
sempre mantendo o mesmo preço de capa da primeira edição. Os números são
coadjuvantes naquele que, sem dúvida, foi o maior triunfo alcançado pelo
integralismo após 1945: o de reunir em volumes muito do que apenas se
encontrava em jornais e revistas que não circulavam mais e que dificilmente seriam
localizados. Outro trunfo sacado de nossas mangas foi que a geração „Águia
Branca‟ tomou conhecimento aprofundado do integralismo através da
Enciclopédia, nos CCCJ. Foi por intermédio dela que a história do integralismo se
transformou num grande documentário acessível ás novas gerações de estudiosos
brasileiros. Mas se é preciso precisar um número, penso que devam ter sido
comercializados cerca de 50 mil exemplares. (ROCHA DÓREA, 12/2007).

Cinqüenta anos após a publicação todo o esforço de Rocha Dórea, nas diversas
entrevistas em que mantivemos contato, seguiu no sentido de demonstrar que sua
intenção fora sempre a de preservar a memória do integralismo. No entanto, esta
pesquisa indaga quanto ao real propósito deste empreendimento: se fora pensado como
uma plataforma para que os integralistas rememorassem suas façanhas, seus feitos, ou
se fora criada para lançar novos desafios àquele integralismo enfraquecido, dissonante e
pouco representativo de finais dos anos 1950? Talvez as duas coisas. O fato é que, a
despeito das intenções que conduziram seu editor a publicá-la, a Enciclopédia do
Integralismo apresentou o movimento “como um adversário sempre presente da
política nacional, independente de seu fator ideológico bom ou ruim”. 222
É atraente indagarmos sobre o que exatamente Rocha Dórea entende como
adversário, pois a auto adjetivação utilizada pelo editor nos projeta a idéia de que havia
declaradamente grupos que se contrapunham ao integralismo em finais dos anos 1950.
E neste momento, parece-nos claro, sobretudo se levarmos em consideração a opinião
pública expressa pelos jornais de grande circulação, que as preocupações políticas da
época caminhavam por itinerários bem diversos do sugerido por Dórea. Para muitos,
aquele integralismo estava mais para uma anedota do que para uma preocupação
nacional. Neste sentido, nos surpreende que Gumercindo Rocha Dórea tenha sido alvo
de interesse da mídia, na década de 1980, pois esta situação contrasta sobremaneira com
a idéia de fracasso editorial de Rocha Dórea, impingida em vários anos por parte de
alguns especialistas da área. Em entrevista à revista Isto É!, de maio de 1987, Rocha
Dórea sustenta que, a despeito de ser caracterizado como o “fruto brasileiro do
fascismo, e que por isso o integralismo angariou desafetos inomináveis, este movimento

222
DÓREA, Rocha G. Idem. Grifo meu.

209
vislumbrava apenas o bem da Nação”223. Nesse sentido, é significativo que o próprio
discurso de Dórea tenha sido impregnado pela compreensão de que os integralistas do
pós-guerra não passavam de uma ala antagonista, não havendo por parte da cúpula do
PRP, nem dos quadros mais representativos do integralismo a preocupação sistemática
de se preservar a história do integralismo pós-45.
O fato de manter-se na órbita política, ora como antagonista do processo
democrático, ora como base de sustentação deste mesmo processo, aponta para uma
confusa compreensão por parte dos integralistas de qual seria, a princípio, seu real papel
na ordem política vigente. Sem clareza de qual função desempenharia, termina por
perder-se em contradições que afastaram o movimento da busca por suas raízes e suas
memórias. É, portanto, uma proposta conjunta de Gumercindo Rocha Dórea e Plínio
Salgado que busca reparar a pequena preocupação que se tinha com relação aos
registros, memórias e histórias do movimento. A Enciclopédia do Integralismo faz parte
deste processo de reavaliação e reconstituição das memórias integralistas, um produto
desta necessidade de se registrar a história do partido, dos diretórios e das eleições em
que o movimento integralista tivesse participação, nos 1930 ou no período pós-guerra.
No período em que o compêndio é publicado, a preservação da memória do
movimento, muito em função da garimpagem realizada por Rocha Dórea passou por
uma profunda transformação. É com a indicação de Rocha Dórea para assumir a
diretoria do jornal A Marcha, em meados de 1956, que se inaugura a prática de
preservação dos documentos, depoimentos e referências fundamentais sobre o
integralismo pré-guerra e mesmo pós 1945. Decorre deste episódio um aprofundamento
do modo sobre como e o que preservar dentro do integralismo. É justamente este o
período em que o editor da Enciclopédia passa a selecionar os escritos do compêndio,
em seções dos próprios diretórios municipais e estaduais do PRP, jornais de circulação
encerrada e tiragens esgotadas.
O compêndio foi pensado por Rocha Dórea seguindo uma “noção dirigida” do
conceito e das ações integralistas, portanto, construído a partir da seleção de diversas
tendências integralistas. A despeito de certa coesão, o compêndio apresentou-se
heterogêneo. Desse aglomerado de tendências, sobressaíram as que corroboravam a
anuência de Plínio Salgado, embora houvesse escritos de personagens que,
historicamente, terminaram por se afastar do movimento, e mesmo das tendências

223
Relembrando o Integralismo. Isto É!, maio de 1987, p.56.

210
plinianas, como é caso dos escritos de Miguel Reale, San Tiago Dantas e do, então,
Padre Hélder Câmara.
Afora os nomes mais representativos, as três gerações de integralistas presentes
no compêndio abarcavam uma gama variada e uma gramatura diversificada de
militâncias, que ia do mais declarado pliniano (personagens da envergadura de um
Raimundo Padilha, por exemplo) 224, até correligionários de pouca visibilidade nacional,
(maioria absoluta presente no compêndio) que insistiam em atribuir ao integralismo a
necessidade de uma renovação imediata.
Fica claro que os discursos destes integralistas regionais (dissidências sem
respaldo político) eram obliterados pela voz paternalista e centralizadora de Salgado
que, em todos os volumes publicados iniciava os prólogos com textos criados
especialmente para a publicação, sendo não raras vezes debatedor dos temas em
diversos volumes, lavrando comentários, sempre no sentido de dar a última palavra
sobre todos os temas do compêndio. No entanto, o discurso de Rocha Dórea sempre
apontou para uma direção bastante distinta da centralizadora opinião de Salgado. Para
ele, o chefe nunca centralizava nada, apenas orientava:
“O integralismo nunca foi monolítico. Sabemos que como toda grande doutrina
possui membros que pensam ou agem de acordo com a doutrina, mas com nuances
mais ou menos ortodoxas. A intenção foi mesmo mostrar que o integralismo
possuía vida. Todos de acordo com os princípios de Salgado, mais ou menos
perfilados dentro de cada um de seus ideais. Na maioria das vezes era o ideal do
integralista que sobressaía. Às vezes era problemático, pois, havia escritos de
pessoas que não se declaravam mais integralistas, (destes, a maioria escritos
reportados aos anos 30) quero dizer, não estavam mais no movimento, e outros que
embora não estivessem mais dentro do movimento jamais abandonariam a doutrina
(...) mas todos fizeram parte do integralismo, e como o projeto era apresentar a face
do movimento em seus diferentes tempos, nada mais natural que rechear as
diversas tendências(...)” (ROCHA DÓREA, 2007)

De qualquer maneira, o fato de Dórea optar por construir uma pauta heterogênea
em que fossem contempladas dissidências e tendências não necessariamente anuentes à
predominante, reporta a diversidade existente no compêndio e no movimento.
Contraditoriamente, discursos e práticas antitéticos. A idéia de um integralismo
pluralista, respeitador das diferenças, foi, ao longo da publicação dos volumes

224
Paradoxalmente, o mesmo Padilha, a partir de 1955, torna-se inimigo declarado de Plínio Salgado, o
que certamente torna estranha sua inclusão no rol dos autores que aparecem na Enciclopédia.

211
enfraquecida paulatinamente pelos sucessivos apontamentos, ora de Dórea, ora de
Salgado.
Outra faceta bastante explorada nos depoimentos do editor retrata sua trajetória
enquanto editor. Rocha Dórea, por diversas vezes se auto intitulou “um editor mal
compreendido pelo mercado”.225 Após cinqüenta anos editando livros, Gumercindo
Rocha Dórea se ressente de não ter recebido o mesmo tratamento por parte dos antigos
escritores que lançaram livros por sua editora, os que ele denomina de “antigos
afilhados” e mesmo por parte da crítica editorial especializada. Seja como for
Gumercindo parece ter, aquilo que o crítico literário Antônio Candido chamaria de
“agulhas finas para mexer no nervo da questão”. Misto de intenção e intuição, o projeto
de integralismo contido na Enciclopédia e nos diversos depoimentos de Gumercindo
Rocha Dórea, em muito corroboram o que este editor disse há cinqüenta anos, quando
do lançamento da Enciclopédia do Integralismo: “Estes são os fatos que a memória e a
história brasileiras buscarão esclarecer”.
Nesse sentido, as memórias de Gumercindo Rocha Dórea sobre a publicação da
Enciclopédia do Integralismo merecem ser analisadas em uma dupla chave de
interpretação: como um projeto individual e coletivo, pois os integralistas conseguiram
estabelecer uma definição comum de realidade, que se traduziu numa construção de
“símbolos compartilhados, linguagem e gramaticalidade comuns, ou seja, elementos
inseridos no processo de interação e negociação da realidade, expectativas e
desempenhos de papéis congruentes (...)” (VELHO, 2003: 17) que fizeram do
integralismo uma base onde se poderia desenvolver tal cultura política.
As noções de projeto e campo de possibilidades, desenvolvidas por Gilberto
Velho, nos ajudam a aprofundar essa análise – “relacionando projeto, como uma
dimensão mais racional e consciente, com as circunstâncias expressas no campo das
possibilidades, inarredável dimensão sociocultural, constitutiva de modelos, paradigmas
e mapas” (VELHO, 2003: 8). Para o autor, é nessa dialética que “os indivíduos se
fazem, são constituídos, feitos e refeitos, através de suas trajetórias existenciais”
(VELHO, 2003: 8).
Com base nessas noções, assume-se a premissa de que o motivo de Rocha Dórea
e seus coligados publicarem o compêndio da Enciclopédia do Integralismo foi o
encontro e a sinergia de projetos individuais distintos, mas que compartilhavam de uma

225
Entrevista G. Rocha Dórea, 21/07/2007.

212
rede de significados e de sociabilidade, sendo o integralismo elemento comum no
campo de possibilidades intelectuais de seus membros.226 Segundo Gilberto Velho, os
projetos individuais sempre interagem com outros dentro de um campo de
possibilidades. Não operam num vácuo, mas sim a partir de premissas e paradigmas
culturais compartilhados por universos específicos. Por isso mesmo são complexos e os
indivíduos, em princípio, podem ser portadores de projetos diferentes, até contraditórios
(VELHO, 2003: 46). A noção de metamorfose, também trabalhada pelo autor, ajuda a
entender essa dinâmica inerente aos projetos individuais, pois, “a metamorfose possibilita,
através do acionamento de códigos, associados a contextos uma dimensão biológico-
psicologizante que se transforma não por volição, mas porque faz parte da construção social de
uma dada realidade”. (VELHO, 2003: 29 e 30).
Gumercindo Rocha Dórea, expressa com relativa clareza e consciência o
processo de metamorfose de seu projeto individual. Sua própria história profissional,
que combina diferentes experiências, é o retrato deste processo, pois, como também
ensina Gilberto Velho, “no plano individual, a participação em mundos diferenciados e
o desempenho de múltiplos papéis levam ao desenvolvimento de um potencial de
metamorfose particularmente rico” (VELHO, 2003: 68). Através de sua fala é possível
observar como seus projetos se transformaram e se adaptaram.
Em consonância com a afirmação da historiadora Ângela de Castro Gomes, para
quem o guardião “é um profissional da memória” (GOMES, 1996: 7), a sugestão é que
a publicação da Enciclopédia do Integralismo também deve ser entendida como um
meio para Rocha Dorea atingir aspiração maior, a de se legitimar como um guardião da
memória integralista, pois, o projeto existe, antes de tudo, no mundo da
intersubjetividade. A concretização da Enciclopédia do Integralismo oficializa Rocha
Dórea como um guardião dessa memória. E a aceitação por parte da militância do
movimento, o legitima nesta condição. Neste contexto, a história de vida de Rocha
Dórea ganha relevância, uma vez que congrega fatos enunciativos desta aceitação e
concretização.
Após um período de desqualificação como gênero, a biografia recuperou lugar
de destaque no interior dos estudos históricos justamente por sua capacidade de

226
Aqui nos reportamos à noção de campo intelectual no sentido atribuído por Pierre Bourdieu (2001), ou
seja, espaço social de dominação e de conflitos. Cada campo tem certa autonomia e possui suas próprias
regras de organização e hierarquia social. Como em um jogo de xadrez o indivíduo age e joga segundo
sua posição social neste espaço delimitado.

213
transcender a história pessoal e de revelar as relações entre indivíduos e sociedades.
Essa relação entre individual e coletivo foi a maior motivação para tentarmos registrar,
através da sua narrativa de história oral, a trajetória de vida de Rocha Dórea.
Considerando esse aspecto, pode-se dizer que o momento para o registro da narrativa de
história de vida de Gumercindo foi muito interessante para os fins deste trabalho, pois,
ainda parafraseando Ângela de Castro Gomes, “há momentos e motivações especiais
que marcam o início da carreira de um guardião da memória. Eles são emblemáticos e
passam a dominar a trajetória de vida daqueles que se imbuem de tal tarefa” (GOMES,
1996: 7-8). A publicação da Enciclopédia do Integralismo e sua revisitação, cinqüenta
anos depois de ser lançada representam sem dúvidas este momento na vida de Dórea.

5.3 – GRD uma editora entre a proa e a popa do mercado


-Vendeu?
-Sim...
-Mas todos?
-Sim, todos!
- Então quero receber...
- Mas, hoje não é dia de pagamento!
- Então quando é para eu vir receber?
Isso eu já não sei!
Ser um editor sério, que não se vende ao jogo do sistema é isso!
(...) Cansei de ver esse filme.
(Noticias do Rio – GRD e minha trajetória –
(Gumercindo R. Dórea. Jornal da Tarde. 30/8/1986)

Muitas das transformações sociais, culturais e simbólicas do período pós-guerra


estimularam os indivíduos, as famílias, as novas classes, a procurar não no passado, mas
no presente seu fortalecimento, pois o passado representava o atraso, ao passo que o
presente, a possibilidade do novo. Diametralmente opostos a esta posição estavam os
integralistas, que remando a jusante da corrente, insistiram na preservação do passado
como legitimitimador de suas ações. Buscaram nos seus antecedentes apoio para suas
realizações. Aliás, aos olhos integralistas dos anos 1950, a recorrência ao passado
sempre foi eficaz na busca de justificar suas atitudes.
Estes integralistas lançaram mão de estratégias para se aproximarem da
militância, que incluíam entre vários eventos, ritos coletivos de recordação que se
consubstanciavam em cerimônias cada vez mais afetivas. Percebe-se que as celebrações
implicam, portanto, numa clara finalidade revivescente, que busca colocar em pauta
processos comuns à construção das diversas memórias integralistas (re-fundação,

214
identificação, filiação, distinção, finalismo). E, se as comemorações integralistas
parecem ser um culto nostálgico que focaliza apenas as conquistas de seu passado, tal
passado é oferecido como modelo a ser seguido pelo presente e o futuro do movimento.
Assim, o rito insinua uma concepção repetitiva e cíclica cujo significado último é
determinado pela crença na irreversibilidade do tempo. Estes integralistas
demonstravam sustentar o seguinte pensamento: se em tempos pregressos o
integralismo quase chegou ao poder, o que os impediria de flertarem com ele
novamente?
Frente a algumas questões bastante capciosas para a época, tais como - em que
este movimento do pós-guerra se difere daquele dos anos 1930? Ou, até que ponto
celebrar o passado não significa prender-se a ele? - estes integralistas tentam respondê-
las utilizando um discurso gerado nos anos 1930, sobretudo com relação a algumas
posturas ideológicas, vivificando a idéia da vocação do integralismo como destino.
Neste sentido, em diversos escritos dos anos 1950, a noção de predestinação integralista
é repetidamente utilizada como marca retórica de um discurso227 que visava seduzir,
sensibilizar o receptor das mensagens para que este continuasse acreditando que a força
integralista não apenas havia nascido nos anos 1930, mas “permanecia audaz e forte, no
presente” (DÓREA, 2009). Para isto, os integralistas do pós-guerra utilizavam os
jornais do partido, (tanto os regionais como o oficial, A Marcha), os programas de rádio
e os discursos de seus líderes, sobretudo do chefe, P. Salgado para rememorar e
revitalizar a proposta de futuro/baseada no passado, tão cara aos integralistas.
A força deste discurso encontrou em finais dos anos 1950 palco privilegiado
para ser posto em prática e a Enciclopédia do Integralismo – instrumento utilizado para
reavivar tais memórias, bem como a versão de algumas histórias contadas a partir das
lentes integralistas, aparecem ambas como apanágio de um grupo que buscava reavivar
o passado. Gumercindo Rocha Dórea desempenhou papel de destaque neste grupo, o
que concedeu às investidas do editor quixotesco status de referência para muitos
daqueles que ainda viam no movimento algo de inspirador. Trabalhando como um
catalisador de propostas Gumercindo e suas incursões editoriais, sobretudo, a
Enciclopédia do Integralismo funcionaram como elementos inspiradores de uma
geração achatada pela eterna comparação com seus antecessores.

227
PADILHA, R. Audacioso e reluzente. A Marcha, out. 1957, p.05.

215
Para tanto, elegeu um palco novo na disseminação da doutrina integralista, em
tempos de democracia. As Edições GRD, empresa editorial que juntamente com a
Livraria Clássica Brasileira exercia o papel de difusora oficial do movimento
integralista, tornou-se mais que uma mera publicadora de livros de cunho direitista.228
Parte desta trajetória é mostrada a seguir.
***

A situação da indústria editorial brasileira conheceu mudanças significativas a


partir da segunda metade da década de 1950, quando passou a existir um maior interesse
do governo pelo setor, manifesto na diminuição dos tributos sobre o papel, na
simplificação das tarifas alfandegárias e no surgimento de uma política de
financiamento. Os incrementos na área inseriram-se, portanto, no bojo das
transformações econômicas conhecidas pelo plano de metas juscelinista. Vários são os
indicadores que demonstram a sua expansão: o mercado de publicações ampliou-se,
aumentando o número de jornais, revistas e livros, bem como das editoras que
publicavam livros de todas as gramaturas do mosaico político. (BAHIA, 1984: p.98)
Atentas às possibilidades de articulação de suas ideologias, algumas editoras de menor
porte constataram o potencial das bancas de jornal e dos envios postais, bem como as
chamadas “vendas a balcão” (de boca em boca) como espaços de disseminação de sua
propaganda e de aproximação de simpatizantes para suas causas, o que favoreceu o
consumo em maior freqüência de tipos específicos de publicações político-partidárias,
viabilizadas pela facilidade da circulação, difusão e acesso.

As Edições GRD229 renovaram a literatura nacional, com autores que alcançaram


grande projeção, lançando os seus primeiros livros. Entre eles destacam-se: Nélida
Piñon, Rubem Fonseca, Fausto Cunha, Gerardo Mello Mourão, Astrid Cabral, Marcos
Santarrita, entre outros. A GRD também manteve uma coleção de política internacional,
além de obras sobre ciências humanas. Com mais de trezentos e cinqüenta títulos
publicados as Edições GRD apostaram em uma estratégia suigeneris para publicar e
publicizar os textos de seus autores. Nas palavras de Rocha Dórea, a “GRD não
228
De acordo com a historiadora Márcia Regina Carneiro, GRD, expandiu suas idéias anti-marxistas e
autoritárias, pelo interior do Brasil por meio dos pequenos jornais que reproduziam seus artigos
originalmente escritos na Revista Convívio. No interior e nos quartéis, seus artigos tinham seus leitores e
admiradores, mesmo após a ditadura. “Se havia publicação é porque havia demanda” afirma GRD.
229
Além de possuir mais de 400 livrarias ou pontos de venda no território nacional, a Livraria Clássica
Brasileira ficou irremediavelmente marcada por ser uma facilitadora das edições da GRD Editora,
distribuindo de maneira sistemática grande parte do acervo ligado ao catálogo da editora. Fonte: A
Marcha, out. 1963.

216
fabricava ou promovia um escritor através da mídia, mas tem descoberto talentos que
hoje são reconhecidamente renomes na literatura recente, assim, reputo que somos uma
editora de boca a boca e de pé quente!” 230 Em 1998, no trigésimo segundo aniversário
da editora, Gumercindo Rocha Dórea rememorou passagens de sua trajetória, de
advogado poliglota a editor de livros diversos:
“Costumo dizer que é um problema de sonho e realidade: conforme ia ampliando
minha formação intelectual, constatava que quase todas as obras essenciais do
conhecimento humano não se encontravam traduzidas para nossa língua. E tive,
portanto, que aprender várias línguas, que hoje leio razoavelmente. Sonhei, então,
lançar essas obras em nossa língua, mas não realizei este objetivo, o que lamento
muito! Então, enveredei por outros caminhos, bem mais difíceis como o de
descobridor de autores novos, descortinando os horizontes da ficção científica, de
diversas áreas do político (...) e isso me dá a sensação exata de que ser editor é,
nada mais, nada menos, que uma vocação”.231

Mas, se Dórea se compraz em ser um editor outsider, que não cede “aos jogos do
sistema editorial capitalista antropofágico”, como o mesmo dizia, não esconde a
frustração de se ver hoje muito aquém do que esperava, sobretudo do ponto de vista
material:
“É realmente muito frustrante, sobretudo no sentido material, especialmente para
uma iniciativa que não tem uma sólida base financeira. Senão, veja: vence o editor
que considera o livro como uma cachaça, um feijão ou um arroz, pois o livro é,
para eles, antes, um objeto de consumo. Se dá dinheiro, muito bem, senão fecham-
se as portas. (...) Inclusive a gigantesca barreira em que se constituem as livrarias
são outros obstáculos para um editor que não vende apenas uma mercadoria (...)
sem falar na patota dos noticiaristas de livros, asseclas de grupos ideológicos
financiados por uma caligrafia duvidosa!”.232

Laurence Hallawell, que se dedicou ao estudo do livro no Brasil, afirma que as


Edições GRD tiveram uma importância substancial na transformação editorial no país,
pois, além de lançar muitas obras de literatura nacional que viriam a se consagrar,
publicou algumas das mais notáveis reedições da década, sendo seu período de maior
atuação os anos 1960. Ainda de acordo com Hallawell, “tal editora foi a principal
incentivadora do gênero ficção científica no país, a primeira a apostar no segmento, o

230
Entrevista com o depoente. 20/03/2008.
231
Dórea relembra o que chamou de “lição de humildade” ao batizar sua editora: “Augusta, minha mulher
diz que eu ter usado as iniciais de meu nome para designar a editora, é antes de tudo uma “lição de minha
humildade”. Não existe José Olympio? Martins Fontes? Pois, Augusta não deixa de ter razão!”.
Humildade? O comentário fala por si.
232
GRD: Jornalista e editor com mais de 300 títulos. Literatura: Suplemento de Cultura do Jornal de
Ribeirão. Ribeirão Preto, 24 de dezembro de 1998, p.11.

217
que não impediu que, por volta de 1970, depois de mais de vinte anos editando
publicações de relativo sucesso, praticamente cessasse suas atividades”
(HALLAWELL, 1981, 407 e 447).
Entretanto, para Gumercindo R. Dórea, a editora continua ativa, publicando
menor número de títulos, na sua maioria, livros vinculados ao nacionalismo, dos quais
os relativos ao integralismo recebem sua maior atenção. Entrevistado em fevereiro de
2008, ainda abalado pela recente morte de sua esposa, com quem ficou casado por mais
de meio século233, Dórea contestou reiteradamente a idéia propalada por Halewell, de
que a GRD havia sido desativada:
“Fui muito mal tratado por esses escrevinhadores de histórias dos livros no
Brasil. E até hoje sou. Agora que estou viúvo posso dizer. Só minha esposa sabe
o quanto isso tudo me fez mal! A GRD não cessou suas atividades em meados
da década de 70, mas sobrevive bravamente até hoje. Sou um editor sem
recursos e publico apenas boa literatura e coisas em que realmente acredito. Se
eu fosse compactuante como muitos outros, decerto estaria rico, mas mesmo
assim continuaria integralista”. (ROCHA DÓREA, 2007)

Nas informações fornecidas por Hallewell e Dórea percebem-se duas


interpretações diferentes com relação à desativação da editora. A primeira baseada em
fontes estatísticas, bem como na análise conjuntural da editoração de livros no Brasil no
período dos anos 1960, e a segunda, baseada num certo sentimento de preservação, tão
comum por quem nunca abandonou a militância. É notável perceber a relutância de
Dórea com relação ao término das suas atividades à frente da editora, pois, desde seu
primeiro lançamento, em 1956, o livro de Hebert Parentes Fortes, que era integralista e
fora seu professor, intitulado Filosofia da Linguagem, que rodou dois mil exemplares
tirados na gráfica da Folha Carioca S. A. no bairro do Santo Cristo, no Rio de Janeiro,
Dórea prometeu em texto “jamais cessar suas atividades de editor de livros a não ser por
234
sua própria morte”. Era o próprio Rocha Dórea quem garimpava, encontrava,

233
Rocha Dórea foi casado com Augusta Garcia Rocha Dórea, também militante integralista e escritora.
Augusta ganhou o primeiro lugar no Concurso da Prefeitura de São Paulo escrevendo sobre o bairro da
Aclimação. Também foi responsável pela publicação da antologia: O pensamento Revolucionário de
Plínio Salgado (com duas edições publicadas pela Voz do Oeste), o Romance modernista de Plínio
Salgado e Plínio Salgado: um apóstolo em terras de Portugal e Espanha, esta pela GRD. O casal se
conheceu em um dos Centros Culturais da Juventude onde desde meados dos anos 50 militaram juntos.
Augusta Garcia Rocha Dórea faleceu em dezembro de 2007, vítima de complicações oriundas do mal de
Parkison.
234
O Homem que fareja tesouros brasileiros. Texto de Oswaldo de Camargo. Jornal da Tarde,
30/08/1986.

218
editava, publicava, cobrava, recebia e não recebia, segundo o mesmo – mais o segundo
do que o primeiro - o que fez o editor lançar mão de estratégias bastante comuns nos
anos 1950 e 1960 para incrementar suas vendas. A chamada dúzia de 13 era um de seus
estratagemas. Se o livreiro comprasse uma dúzia de exemplares recebia treze, o 13º de
maneira gratuita. Outras estratégias como a consignação ou a permuta ajudavam os
pequenos editores a vencerem os percalços da profissão.
“Eu deixava os livros na livraria, e isso aconteceu muito com a Enciclopédia do
Integralismo, sobretudo no começo da publicação, e depois, em algum tempo, que
nunca se sabia ao certo qual era, ia se ver quanto vendeu e se rendeu e era aí que
se sabia se havia tido êxito editorial ou não. Se voltasse e não houvesse mais
nenhum era sucesso. No entanto, jamais fugíamos da cansativa e triste cena de um
filme que eu fiquei cansado de assistir: chegávamos no lugar onde havíamos
deixado os livros e perguntávamos ao livreiro: -Vendeu?Sim... Mas todos? Sim,
todos! Então quero receber... Mas, hoje não é dia de pagamento! Então quando é
para eu vir receber? Isso eu já não sei! – e eu pensava: ser um editor sério, que não
se vende ao jogo do sistema é fogo, é nisso que dá! (...) Quer saber, cansei de ver
esse filme”.235
Em outro episódio, em que confessaria ter contado mais com a sorte e menos
com o faro, Gumercindo Rocha Dórea leu no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, em
1960, a opinião de Tristão de Athayde sobre um texto considerado por ele como
“demoníaco”. O texto de um autor enleado com desgraças na época, Gerardo Mello
Mourão236, recentemente saído da prisão havia sido vencido em concurso de romances a
que concorrera, perdendo para um romance de Heloneida Studart. Rocha Dórea
percebeu a importância do texto e contatou seu autor para editá-lo. Essa foi a primeira
parceria entre Gerardo Mello Mourão e Rocha Dórea, livro que posteriormente, a crítica
especializada adjetivaria como surreal, místico e, para GRD, Valete de Espadas, é ainda
hoje considerado um dos mais instigantes livros da literatura brasileira. Com uma
tiragem de dois mil exemplares (média inicial dos livros da GRD na época) o livro foi
um furor. Mas, a má distribuição impediu que este e os demais livros da editora de
Rocha Dórea despontassem e vendessem mais. É o próprio Rocha Dórea que admite:
“para um editor que não tem uma grande produção, o nó górdio que o enforca é o da
distribuição!”.237
É de Walmir Ayala a afirmação sobre Dórea: “Os editores brasileiros têm os
olhos voltados para a GRD, apostando em sua resistência para continuar lançando os

235
Entrevista com o depoente. 20/03/2008.
236
Ver: Apontamentos biográficos de Mello Mourão no quadro da terceira geração. Anexos.
237
Idem, p.9. Aliás, a distribuição sempre foi o “tendão e Aquiles” da editora.

219
autores que tem lançado (...), pois se trata de uma editora que garimpa tesouros
escondidos (...)”. 238 Moacir C. Lopes corrobora o que Ayala diz sobre Dórea:
(...) não fossem editores idealistas não teríamos obras mestras de nossa literatura,
como a dos destacados: Monteiro Lobato, Augusto Frederico Shimidt, Enio
Silveira e Gumercindo Rocha Dórea. (...) No entanto, este último sofre, como todos
os que se dedicam aos livros sérios de uma ou duas excentricidades (...) ser
integralista não o desabona (...) o que o desabona é permanecer voltado a uma
fórmula que raramente poderá dar certo, pois Rocha Dórea, vive e respira o
integralismo como o fizera sua vida toda. A má distribuição não é apenas o mal da
GRD. Sua ideologia e convicção políticas também afastaram seus interlocutores,
claro preconceito que valeu ao editor, a periferia do mercado”. (LOPES, 1978: 9)

Como a maioria das pequenas editoras brasileiras, a GRD, a partir de meados da


década de 1960 também passou a contar com a ajuda do USIS da embaixada norte-
americana.239 Como relata o jornalista Oswaldo de Camargo: “era dele uma lista enorme
de obras que lhe interessava ver editada no Brasil. Os editores iam e escolhiam o que
quisessem. Gumercindo escolheu para editar, entre outras obras de Brezzinski e
Friedrich o livro clássico Autocracia e Totalitarismo, além de O Soldado Profissional
de Morris Janowitz”.240 É relevante indagarmos: se a editora de Gumercindo Rocha
Dórea recebeu verbas deste órgão governamental é porque revelou-se disposto à servir
aos interesses e publicar obras que eram financiadas pelo Serviço de Divulgação e
Relações Culturais norte-americano, o que o coloca em sintonia com a propagação
ideológica da contenção comunista na América Latina.
Dentre os diversos títulos publicados pela GRD, O prisioneiro, O país dos
Mourões, O romance modernista de Plínio Salgado, Antologia da Ficção Científica
Brasileira, Um cântico para Leibowitz, Contos de Nagô dentre outros expressam a linha
editorial eclética levada a cabo pela editora.241 Wilson Martins, crítico sempre severo,
sintetiza a GRD como sendo uma editora renovadora, pioneira e eclética: “uma mistura
que faz dos textos publicados por seu editor, algo com qualidade, a despeito das tintas

238
AYALA, W. Tesouros encontrados, Jornal da Tarde, 9/6/1988.
239
Serviço de Divulgação e Rlações Culturais dos EEUU em suas embaixadas ao redor do mundo. Ver:
Oswaldo de Camargo. GRD: um autor teimoso, persistente e quixotesco que há 30 anos procura autores
incomuns. Folha da Tarde, 30/08/1986. p. 9. Continuação do texto: O farejador de tesouros brasileiros.
240
Ver: Oswaldo de Camargo. GRD: um autor teimoso, persistente e quixotesco que há 30 anos procura
autores incomuns. Folha da Tarde, 30/08/1986. p. 9. Continuação do texto: O farejador de tesouros
brasileiros.
241
Livros escritos respectivamente por: Rubem Fonseca, Gerado Mello Mourão, Augusta Garcia Rocha
Dórea, Gumercindo Rocha Dórea, Walter Miller, Deoscóredes M. dos Santos, o mestre Didi.

220
carregadas da maioria de seus títulos que ora proselitistas, ora doutrinários refletem sim,
a idiossincrasia e a ideologia de seu proprietário”. (MARTINS, 1986: 78)
Por um longo tempo, a GRD dividiu a incumbência da publicação e distribuição
dos textos integralistas e de cunho nacionalista, conservador, enfim, direitista com a
Livraria Clássica Brasileira editora que viabilizava e publicava livros de valor
ideológico e estético claramente proselitista, em favor do integralismo. Especificamente
com relação a esta parceria Dórea afirma que as duas editoras, as Edições GRD e a
Livraria Clássica Brasileira, tinham caminhos diferentes, mas com os mesmos
objetivos. Relembra o editor: “Relação entre elas? apenas a de amizade e política
cultural. Entrelaçamento só houve com relação à distribuição dos volumes, na época da
Enciclopédia do Integralismo, por exemplo, e isso por todo o Brasil. E se não me
engano outras edições da GRD (no principio de sua atuação) também tinham sua
distribuição a cargo da Livraria Clássica, mas cada uma seguiu uma característica
editorial distinta”. (ROCHA DÓREA, 2007)
Com um perfil que oscilou entre o arrojo e a teimosia, buscou ser vanguarda,
mesmo sendo acusado de retrógrado, um editor curupira. Em sua caminhada, jamais
dividiu a responsabilidade da edição e publicação com nenhum conselho consultivo, ou
colegiado que pudesse “palpitar sobre as escolhas editoriais”. Como o próprio afirmou,
“(...) jamais tive conselho consultivo na GRD. Só publicava, como, aliás, processo
até hoje, o que eu lia e aprovava. E veja: nunca tomei posição contrária aos autores
não integralistas. Este é um ponto que pouco divulgam (...) os perdedores preferem
dizer que sou um integralista sectário e que por isso pouco me importo com a boa
literatura. As obras é que me interessavam, não as ideologias de seus autores! Já
editei textos de integrantes do PCB, por exemplo, a mulher do Rubem Braga, a
Zora Seljan, primeira mulher a correr os países da cortina de ferro após a guerra – o
que lhe trouxe desilusão e abandono do comunismo, de quem publiquei o livro:
Três mulheres de Xangô, causando pasmo na intelectualidade carioca de meados
dos anos sessenta”.242

242
Entrevista com o depoente. 04/06/2008.

221
Fig. 20: Fac-símile das capas de obras produzidas pela Edições GRD entre 1950 e 2000, com destaque para
as capas de livros de ficção científica. 2008.

222
Não nos parece que Rocha Dórea tenha mesmo realizado grandes distinções
entre autores, devido às suas ideologias particulares, mas parece-nos difícil acreditar
que o seu único critério fosse, de fato, a qualidade literária do autor. Fica difícil
acreditar que os autores comunistas, socialistas, sociais democratas tivessem o mesmo
tratamento e processo de isonomia tão laureado por Rocha Dórea.
Homenageado e laureado por vários legisladores vinculados aos partidos de
tendência direitista, Gumercindo relembra experiência recente, quando recebeu uma
ordem de jubilo do hoje extinto PRONA – Partido da Reedificação da Ordem Nacional.
Rocha Dórea relembra o dia em que recebeu o comunicado da Câmara Legislativa
Paulista, com timbre oficial do PRONA informando-lhe sobre a comenda que receberia
das mãos do deputado paulista Elimar Máximo Damasceno, na noite de 21 de dezembro
de 2006. A Ordem da Renovação, outorga oferecida pelo PRONA para os intelectuais
que fizeram a história da direita no país, trazia um texto sugestivo para percebermos as
redes de contato entre o presente e o passado da direta brasileira:
- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, queremos neste momento homenagear uma
das mais expressivas editoras brasileiras, a Editora GRD, pela passagem do seu 50º
aniversário, e ainda nos congratular com seu fundador e idealizador, Sr.
Gumercindo Rocha Dórea. Entendemos, Sr. Presidente, ser dever indeclinável de
todos nós, Parlamentares, saudar organizações responsáveis por atividades
relacionadas com a produção e difusão da cultura e da educação, sobretudo aquelas
que primam pelo nacionalismo. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o início das
atividades da Editora GRD assinalou novo paradigma do mercado editorial
brasileiro: a publicação de obras de ficção científica. Embora ocupando posição
marginal na produção editorial brasileira, a ficção científica sempre contou com
uma longa e consistente presença na literatura nacional. Datam de meados do
século XIX as primeiras obras do gênero produzidas no País. No entanto, a
primeira antologia de ficção científica propriamente brasileira só foi lançada em
1960, sob a organização do baiano Gumercindo Rocha Dórea. A coletânea, que
reunia trabalhos de autores consagrados e iniciantes, deu um novo impulso à
produção do gênero e possibilitou certo destaque a alguns dos autores que viriam a
constituir a chamada geração GRD - iniciais de Gumercindo Rocha Dórea. A
Ficção Científica GRD tornou-se no Brasil a mais importante coleção de ficção
científica da sua época, talvez de todos os tempos. Como todas as grandes escolas
literárias, a ficção científica brasileira estabeleceu uma rica heterogeneidade. Mas
hoje, infelizmente, permanece relegada a segundo plano pelo mercado editorial.
Em um segundo momento de sua fecunda existência, a Editora GRD diversificou
sua produção com novas estratégias e técnicas comerciais. Construiu uma tradição
editorial vinculada e inserida em projetos de afirmação de um nacionalismo
cultural, capitalizando, ao longo do tempo, enorme contribuição para o
aprimoramento moral da sociedade. Gumercindo Rocha Dórea é um obreiro
abnegado de nossa cultura, uma nova mentalidade que se impõe, irrompendo
ideologias na arte de edição de livros. O livro, para ele, é verdadeiro apostolado,

223
acreditando, como Monteiro Lobato, que "um país se faz com homens e livros".
Portanto, Sr. Presidente, o PRONA reconhece e realça a nossa inclinação por essa
estirpe admirável de homens brasileiros que põem tudo a serviço de sua Pátria,
como intérpretes da alma nacional, como guardiões de nossa identidade cultural.
Transmitimos, outrossim, pelo transcurso da data comemorativa, calorosos
cumprimentos a todos os profissionais da Editora GRD, artífices comprometidos
com esse louvável esforço de valorização da cultura em proveito da sociedade no
Brasil.Deus haverá, na Sua onisciência, de abençoar essa ação profícua. Portanto,
parabéns, Editora GRD, parabéns Gumercindo Rocha Dórea. Muito obrigado, Sr.
Presidente, e boa noite, família brasileira”.

A despeito do longo e laudatório texto, Gumercindo Rocha Dórea, em entrevista


em finais de 2008 se diz surpreso por ter recebido tal outorga justificando-se jamais ter
mantido contato com nenhuma militante do extinto PRONA.”(...) Foi surpreendente,
pois, não conhecia nem este senhor Damasceno, nem nenhum coligado ao extinto Prona
(...) mas nunca houve uma aproximação com o PRONA. A homenagem, aliás, foi feita a
minha revelia (...) só tive conhecimento dela quando recebi o texto do discurso”.243
Nota-se que no texto descrito acima não há nenhuma menção sobre a clara
militância de Rocha Dórea ao integralismo. No entanto, o simples fato de um partido de
características evidentemente direitistas como o extinto PRONA oferecer uma comenda,
homenagem ou menção, reforça a identificação de que a distinção fora outorgada
justamente devido a esta aproximação de Dórea com o movimento integralista. Aliás,
foi relativamente estreita a relação estabelecida entre a ala jovem do PRONA e os ditos
neointegralistas (CARNEIRO b, 2007), grupos que se proliferaram nas grandes cidades
do país, (a partir de meados das décadas de 1980/90) e que encontraram interlocução
com partidos políticos e associações de caráter extremistas durante os anos 2000.244
Exemplos significativos deste redimensionamento da direita no país, os atuantes
grupos neo-integralistas ostentam o sufixo neo como registro da “auto-capacidade de
reciclagem do movimento”. Com discursos bastante variados, mas cujo veio principal se
fortalece na atitude saudosista de seus aderentes - aos moldes dos antigos integralistas -,
estes têm propagandeado os escritos dos antigos líderes do movimento, em especial os
de Salgado e atuado basicamente por meio da internet. Com o acirramento e as supostas
brigas políticas internas nesses grupos, e com a cada vez menor interlocução com
associações e partidos políticos conservadores e mesmo extremistas, tais grupos
acabaram perdendo terreno e visibilidade com a extinção do PRONA, devido à

243
Entrevista com o depoente. 09/03/2008.
244
Cf: www.integralismo.org

224
controvertida cláusula de barreira, ou porcentagem eleitoral, promulgada em meados de
2006. De qualquer maneira, a distinção oferecida pelo PRONA a Gumercindo Rocha
Dórea atesta que a forças de tendência extremistas de direta continuam se contatando e
se laureando, reproduzindo em muito os expedientes levados a cabo pelos movimentos
análogos desta natureza ao redor do planeta.
Isso nos faz relembrar que Rocha Dórea foi um entusiasta peremptório do golpe
civil/militar de 1964, o que ajuda a esclarecer ainda mais a aproximação de partidos de
direita frente a sua clara tendência autoritária. Até porque, se buscarmos uma genealogia
de sua postura política perceberemos que, entre finais dos anos 1950 e meados da
década de 1960 havia três lugares em que o nome de Gumercindo Rocha Dórea era
bastante conhecido e reconhecido: a) no interior do país, devido as reproduções de seus
artigos, integralistas e antimarxistas, principalmente aqueles originalmente escritos na
revista Convívio; b) nas centenas de Centros Culturais da Juventude em alguns embates
com nomes fortes do PRP; e c) nos quartéis de algumas divisões das Forças Armadas,
sobretudo, do Exército Brasileiro. Isto se devia, basicamente pelo fato de GRD ter
apoiado veementemente, o que ele também chamou de “a Grande Revolução”.
(CARNEIRO, 2007: 10)
Em depoimento à pesquisa da historiadora Márcia Regina Carneiro, GRD é
enfático quando questionado sobre sua atuação no período do golpe civil/militar de
1964. Embora bastante incisivo, reflete sobre as conseqüências, não só para o país, mas
como para si próprio, do que considera um erro dos militares ter permitido a „re-
democratização do país‟ (sic). O trecho abaixo sublinha algumas nuances do discurso de
Rocha Dórea.
“(...) Sim, eu dei apoio à Revolução de 1964. Muito bem! Tempos depois, eu chego na
redação da Convívio, e vejo que chegou uma carta para mim lá do Exército (...) Eu abro
a carta e era um convite para eu almoçar no 2º Quartel, lá no Ibirapuera. Eu fui! Fui
recebido por toda a oficialidade. Meus artigos, que escrevia na Convívio, estes que eram
publicados por todo o país, esse artigos eram lidos e discutidos por esses oficiais (...) me
elogiaram, almocei com eles (...) e depois ainda voltei algumas vezes (...)! Agora veja, o
negócio da entrega paulatina de poder dos militares para os civis, foi na minha opinião
um erro estratégico. Explico: quando entregaram o poder, a esquerda que foi
esfrangalhada no golpe de 1964. Um Gel. Me perguntou: vc apoiaria outro golpe, isso
no finalzinho dos anos 1970 (...) e eu disse: “de forma alguma General. Na próxima eu
fico na minha janela com um fuzil, para me defender (...) Eu não vou, como sacrifiquei
minha família, sacrificá-la... Eu não! Fico com o fuzil, senão fazemos outra revolução

225
para os senhores generais entregarem tudo de volta para eles!!! E que agora estão agora
sofrendo as conseqüências (...)!(DÓREA apud CARNEIRO, 2007: 11)

Gumercindo Rocha Dórea apoiou o golpe, acreditou estar do lado certo, teve
chances de mudar de idéia, permaneceu do mesmo lado, e hoje, passados quarenta
anos, afirma que se solicitado, faria tudo de novo. Com uma diferença: “que antes,
todos soubessem a importância que os escritos integralistas tiveram para o país”.245
Atualmente, para o espanto de muitos, se declara um monarquista e afirma não haver
atritos entre esta proposta e o integralismo. Sessenta anos de militância fizeram de seu
discurso uma das poucas ferramentas ainda respeitadas do espólio integralista.
Independentemente de sua escolha, GRD permanece hoje, assinando a grafia de anti-
esquerdista e acreditando no integralismo como uma proposta de poder.
Por mais de quarenta anos, Rocha Dórea, a despeito do combate travado por
seus pares, por, segundo o próprio, “remar a jusante do real!”, “ora por defender a
doutrina integralista, ora por acreditar em ficção”, sempre afirmou que suas maiores
paixões eram extremadas justamente por essas duas balizas: “o integralismo e os
autores que lançava, sobretudo os poetas e escritores de ficção científica” (ROCHA
DÓREA, 2008). Os livros das Edições GRD que reproduziam as idéias do catolicismo
tradicionalista e do nacionalismo exacerbado, com larga passagem pelos escritos
integralistas e de ficção científica (contraditório?), fizeram dela, uma editora
proscrita.246 Publicações tão díspares no seu conteúdo incentivaram comentários
críticos por parte de alguns estudiosos, jornalistas e militantes.
Com relação a esta suposta contradição, Rocha Dórea tem uma percepção
curiosa:
“Não entendo porque acham que publicar sobre integralismo e ficção científica é uma
contradição. Senão veja: se você tiver curiosidade verá que a ficção científica que eu
publicava, via de regra, corroborava a corrida armamentista espacial mais pro lado dos
norte americanos, em franca oposição aos Sputniks soviéticos. O anticomunismo
sempre esteve à frente disso tudo. Ora! nada mais integralista, anticomunista e

245
DÓREA, Gumercindo R. Depoimento, SP, 23/08/2008.
246
Além das Edições GRD, poucas editoras como a José Olympio e a Civilização Brasileira permanecem
no mercado até os dias atuais, a despeito dos poucos títulos na praça. Ver reportagem do crítico literário
José Seffrin em: Folha da Tarde. 21/07/2001, p.9. “O século 21 não comporta mais editores, com as
idiossincrasias, com o quixotismo e á maneira de um Enio Silveira (Civilização Brasileira), um José
Olympio, um Gumercindo Rocha Dórea (GRD), que são figuras de outro tempo, e que pertencem mais à
história da literatura do país que á atualidade”.

226
consciente que isso. Agora, depois não... com o tempo o verniz foi desbotando... mas
está tudo lá... é só ler pra ver... contradição alguma! Oras!”. (DÓREA, 2009)

De qualquer maneira, causa no mínimo estranhamento posições, a primeira vista,


tão díspares partirem de um mesmo personagem. O caráter conservador e muitas vezes
reacionário das obras editadas pela Edições GRD antagoniza com as brochuras futuristas,
de textos ficcionais cuja essência poderia ser interpretada como oposta aos teores dos
livros nacionalistas, tradicionalistas e pouco progressistas da editora. O fato deste
personagem viver nesta fronteira ambígua entre o conservadorismo das idéias
tradicionalistas e nacionalistas e um suposto progressismo futurista só faz aumentar o
interesse que a academia tem dispensado a indivíduos como Rocha Dórea.
Cinqüenta e quatro anos após sua inauguração, a GRD é apenas, como afirma
seu próprio idealizador: “um fantasma ululante, frente aos grandes conglomerados
editoriais” (ROCHA DÓREA, 2008), e permanece como tal, dialogando com
interlocutores baseados no saudosismo de um tempo que não volta mais. Trata-se de um
homem persistente cujas convicções o fazem tão combativo quanto contestado. Em
tempos de rememoração, GRD (O homem e a editora) certamente aparecem como
fundamentais personagens para o entendimento de uma das faces conservadoras menos
estudadas da segunda metade do século XX no Brasil.

227
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

228
O integralismo da Enciclopédia: êxito ou êxodo?
Os discursos variam conforme os interlocutores. Nesses últimos anos meus
interlocutores (os depoentes desta pesquisa) se esforçaram para legitimar seu discurso e
me convencerem que o legado integralista havia cumprido seu papel: manter-se vivo na
memória e na história do país. O fato de eu realizar uma pesquisa de doutorado sobre o
movimento integralista, de certa forma, corrobora a idéia de que, ao menos nas
pesquisas acadêmicas o movimento permanece ativo. No entanto, é preciso que se diga:
este trabalho não afiança as memórias desses integralistas, embora as respeite, tomando
a partir delas caminhos de interpretação diversos. Na esteira deste entendimento, estas
considerações finais apresentam dois elementos complementares: a) os objetivos e as
hipóteses alcançados e b) os desafios e as surpresas da pesquisa.

Ter descoberto um conjunto de escritos que jamais havia sido analisado na sua
inteireza foi uma chance singular de explorar este caminho dicotômico entre a memória
e a história. Paralelamente, ter mantido contato com seu idealizador, um integralista
octogenário ainda fiel às suas premissas acentuou ainda mais esta dicotomia. Desde
quando tive meus primeiros contatos com a Enciclopédia do Integralismo, até o
presente momento, (final de uma trajetória cheia de pontos e contrapontos na busca por
idéias, memórias e personagens), muitas histórias foram conhecidas. Muitos
personagens foram ouvidos. Mesmo assim, diversas peças ainda faltam para preencher
este mosaico.

Com relação aos objetivos deste trabalho, estes foram parcialmente alcançados.
Verificou-se que, ao longo da década de 1950, quatro acontecimentos recolocaram o
integralismo na ordem do dia: a) a criação de entidades extra-partidárias, como por
exemplo, a CCCJ (1952); b) o lançamento de candidatura própria à presidência em
1955; c) a retomada do legado integralista dos anos 1930, e d) o resgate da simbologia
integralista, com especial atenção à publicação da Enciclopédia do Integralismo. Estes
acaontecimentos deram maior visibilidade ao movimento e modificaram sua
estruturação interna. Ainda que não tenha determinado o retorno à perspectiva
estratégica adotada nos anos 1930, o que, de resto, seria inviável no contexto dos anos
1950, as novas táticas adotadas foram importantes, dotando o movimento de novos
instrumentos (as entidades extrapartidárias), possibilitando que seu discurso tivesse
maior repercussão pública (candidatura presidencial em 1955) e impedindo que
perdesse completamente sua identidade (retomada do legado e simbologia integralistas).

229
Portanto, se um dos objetivos deste trabalho era enfocar com lente de aumento
os acontecimentos que envolveram o integralismo no final dos anos 1950, grande parte
desta finalidade foi contemplada. Outros escopos, no entanto, tiveram que ser
relativizados, muito em função do pequeno conjunto de informações que se encontrava
disponível, sobretudo com relação aos indivíduos e suas biografias. Nos cinco capítulos
deste trabalho foi possível mapear alguns dos personagens mais representativos do
movimento integralista no período estudado, com ênfase para as mais de dez horas de
gravação de seus depoimentos, base sólida na qual este trabalho se assentou. O contato
com os depoentes, as negativas, ilações, réplicas, tréplicas, enfim, o contraditório dos
depoimentos, bem como, dos silêncios diante de perguntas entendidas como
impertinentes, mobilizaram um universo (diria, pluriverso) que apenas as evidências
orais poderiam apresentar. Gumercindo Rocha Dórea foi, nesse sentido, um interlocutor
corajoso, pois aceitou enfrentar as contradições de meio século atrás, dispondo-se e
despindo-se de preconceitos, ao menos, os que inviabilizassem nossas conversas. Com
ele, aprendi que a Enciclopédia do Integralismo foi mais que uma retomada folclórica
de um movimento político contestado. Mas, também foi com Dórea que entendi
definitivamente a correlação entre “memórias edulcoradas” e “histórias forjadas”. Seu
discurso foi, para mim, o híbrido das duas coisas. Por outro lado, se meus interlocutores
e a documentação disponível propiciaram adentrar profundamente no discurso, ações e
contradições integralistas, o período em que se concentrou a pesquisa foi preponderante
para que se comprovassem algumas de minhas hipóteses.

Todos os mecanismos de ação militante e doutrinal descritos nesta tese (as


alianças políticas levadas a cabo pelo Partido de Representação Popular, as
interlocuções do integralismo no período estudado, as celebrações dos 25 anos do
integralismo e a publicação da Enciclopédia do Integralismo) fizeram emergir uma
questão que apenas as fontes escritas não deram conta de responder: por que os
integralistas voltaram ao cenário partidário nacional do período estudado municiados de
um discurso entendido pelos não integralistas como passadista e não vanguardista,
como seria de se esperar de um grupo que objetivava a manutenção de sua permanência,
em um cenário - diga-se de passagem - contrário às pretensões de grupos de discursos e
ações radicais, como era o dos integralistas?

A despeito deste discurso se mostrar eivado de conservadorismo, seus


integrantes apresentavam-no como um “anúncio dos novos tempos”; portanto, como

230
uma proposta de futuro. Então, porque insistiram na manutenção de suas vestes, ritos e
alegorias pregressas, ainda vinculadas a um discurso nacionalista e autoritário?

O integralismo dos anos 1930 pregava um nacionalismo sectário, uma postura


anti-alianças, a manutenção de um estado corporativo, bem como alimentava a certeza
de que era o único partido nacional que possuía as credenciais para apresentar um
projeto de Nação, segundo suas palavras: “realmente plausível”. Então, redefinindo (a
seu modo) pontos de choque com a postura dos anos 1930, os integralistas perrepistas
de finais dos anos 1950, buscaram na sua estruturação elementos que reafirmaram seu
aparato ritualístico e mítico. Mantiveram uma oposição ferrenha ao comunismo e
concentraram-se em supervalorizar seus aspectos simbólicos, como força motriz para
sua caminhada política. O foco foi atingir a atenção da antiga, mas dissipada,
desmotivada e desmantelada militância.
É relevante que nos finais da década de 1950 questões que legitimavam os
estatutos da democracia, nacionalismo, partido político, militância, dentre outros
elementos constituintes da redemocratização voltariam a ganhar importância, o que fez
a permanência do integralismo no cenário nacional ser questionada. O integralismo
forçou-se então, a modificar sua mensagem e seus preceitos doutrinários, no momento
em que a atenção da sociedade estava voltada para a reconquista de direitos civis e
políticos que lhe haviam sido extirpados: dentre eles, a livre iniciativa política, a
liberdade de voto e de coligações partidárias.
Nos doze primeiros anos de sua atuação (1945-57) o Partido de Representação
Popular – PRP (veia partidária do “novo integralismo”) procurou afastar-se de todos os
preceitos que lembrassem a primeira atuação integralista. No entanto, a partir de 1957, o
que antes era um discurso diluído passou a partir daquele momento a ser conduta do
movimento, que passou então a atuar como incentivador da rememoração de um
passado, entendido por eles como “glorioso”, no qual o integralismo ocupara lugar de
destaque. Perceba, portanto, que o movimento integralista sempre foi maior que sua
representação política, o PRP, afinal de contas não era o partido, mas a ação
político/cultural da ideologia que financiou esta retomada. Procurou-se então se
aproximar dos ritos, alegorias e símbolos oficializados no integralismo dos anos 1930
como forma de reafirmar o movimento que, perdia cada vez mais adeptos. Deste quadro
complexo foi possível depreender que a publicação da Enciclopédia do Integralismo
surgiu como uma tentativa de propagandear a retomada ideológico/simbólica do

231
movimento, apresentando-se à sociedade como um movimento que objetivava a
ascensão ao poder e o combate ao comunismo.

Também se tornou possível perceber que a Enciclopédia do Integralismo foi,


antes de tudo, um instrumento de aglutinação de vários grupos diferentes, pertencentes
ou não ao movimento, que visava redimensionar a dar visibilidade dos autores
selecionados, em um momento que muitos destes nomes já não mais atuavam no
integralismo. Deriva disto apenas a primeira de várias contradições percebidas nesta
pesquisa. Pois, como sustentar uma publicação com discursos e escritos de pessoas que
não comungavam mais da cartilha integralista? Este é um elemento fundamental deste
trabalho porque, como foi demonstrado, parcela majoritária dos sujeitos presentes nos
escritos faziam parte de uma “ala-não mais integralista”, no momento em que o
compêndio é publicado. Aliás, como se tratou de uma seleção planejada e executada
exclusivamente por uma pessoa, o proprietário das Edições GRD, este compêndio
expressou antes de tudo, as preferências idiossincráticas do editor destes volumes, cuja
tendência conservadora fora alimentada pela interlocução que este manteve ao longo da
vida com chefe integralista, Plínio Salgado.

Entende-se que sua compilação só foi possível graças à conjuntura daquele


período, momento especial com relação ao crescimento dos meios de comunicação e
difusão dos mesmos, o que também possibilitou a construção de uma rede de
sociabilidades entre integralistas diversos. Nesse sentido, este trabalho buscou
demonstrar que os autores selecionados na Enciclopédia do Integralismo possuíam uma
relação que ia além da afinidade meramente partidária, demonstrando pontos de contato
entre suas biografias que não eram apenas os da militância, mas muitas vezes, pessoal,
profissional e mesmo emocional. Para isso, a percepção desta sociabilidade pôde ser
mais bem expressada a partir da leitura de um projeto de cultura política específica, que
sustentou a base desta pirâmide de relações pessoais.
Paralelamente, a utilização da análise prosopográfica, possibilitou entender que
um estrato menor deste grupo (uma vez que quase metade dos dados biográficos dos
sujeitos estudados não foram encontrados dada a escassa documentação existente sobre
tais personagens) não compartilhava a visão de mundo, centrada na anuência do líder
integralista. A leitura que se depreende deste mosaico integralista é que a pluralidade
que caracterizou os artigos expressos na Enciclopédia foi muito mais mote

232
propagandístico de seu editor do que uma comprovação empírica, uma vez que, a
maioria dos escritos subscrevia a chancela pliniana, majoritária no compêndio.
Dito isso, a opção de se estudar a Enciclopédia do Integralismo como um lugar
de memória integralista, bem como um lugar de fermentação intelectual, de relação
afetiva, e ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, foi a chave para perceber
mais que um amontoado aleatório de escritos, saídos da engenhosidade de um editor
pitoresco.
No entanto, uma questão permanece inalterada: os integralistas viam na
publicação da Enciclopédia uma tentativa de redenção perante tudo o que havia
construído e esquecido por parte da militância. Congregava, assim, um caráter
memorialista, no sentido, de atribuir valores às práticas do integralismo do pré-guerra.
Corroboro a afirmação de que esta publicação, antes de se constituir num êxito editorial,
político e mesmo discursivo, mostrou ser uma tentativa de ressonância mediana no
reavivamento das memórias integralistas. Neste sentido, a noção sobre o êxito deste
empreendimento é bastante diferente entre os integralistas e os pesquisadores do
integralismo, pois os primeiros acreditam que o simples fato de pesquisadores estarem
interessados em redescobrirem a Enciclopédia já aponta para sua dimensão exitosa.

Em contrapartida, o fato de dezenas de escritos integralistas terem sido


compilados em forma de uma publicação, e desta ter chegado a uma parcela ainda não
computada de militantes por meio de mala direita, não informa o quanto estes escritos
tiveram, de fato, papel transformador na tentativa do integralismo de se fortalecer
simbolicamente. O êxito desta publicação, se é que se deu, reside no fato dos
integralistas conseguirem por tempo determinado (não raro, curto) colocar na ordem das
discussões vigentes o que foi este movimento político. Ao contrário, o que se percebe é
que o projeto editorial acabou por se transformar em uma vitrine do êxodo de ex-
integralistas, que no período em que o conjunto de escritos foi publicado não faziam
mais parte nem do partido PRP, nem do movimento integralista, transformando a
Enciclopédia em um lugar de memória de um movimento representado por pessoas que
não mais faziam parte de seus quadros, nem tampouco legitimavam as idéias contidas
neste compêndio. Cabe ainda lembrar, que este conjunto de escritos refletiu as idéias de
três gerações de integralistas (dos anos 1930, 1940 e 1950), com uma proporção
esmagadora para os escritos datados dos anos 1930.

233
Podemos aferir que esta publicação foi mais um demonstrativo panorâmico de
como o integralismo se apresentou ao longo de seu curso. Talvez o êxito esperado por
seu editor, tenha sido congregar gerações distintas. No entanto, cinqüenta anos depois
de sua edição fica a pergunta: qual foi o legado deixado por estas gerações? Ainda hoje
nos falta resposta plausível para esta indagação. O que podemos afirmar, é que, os
integralistas dos finais dos anos 1950 legaram para seus descendentes ideológicos um
espólio de ações, discursos e práticas que tinha na leitura radical de mundo o esteio para
sua sobrevivência. A importância de se estudar o integralismo (em suas diversas
manifestações) se pauta, portanto, pela necessidade de se entender e interpretar as
diversas culturas políticas ligadas ao conservadorismo. Este trabalho legitima a idéia de
que o integralismo foi a versão fascista brasileira, mas antes de tudo, procura assegurar
que houve gradações em seus elementos fundantes, e que estes merecem ser
desmistificados. Atento às diversas pesquisas realizadas sobre o tema, este trabalho
dialogou com as já consagradas reflexões historiográficas acerca da matriz autoritária
integralista, e não objetou o consenso de que o integralismo foi um dos mais atuantes
signos de tendência autoritária no Brasil pré -1964.

Por tudo o que foi elencado entende-se que a Enciclopédia do Integralismo


sugeria a seus leitores a manutenção da valorização de seu passado/presente
funcionando como âncora numa tentativa desesperada de reviver o ocorrido, lembranças
amplificadas pela certeza de que não eram mais os mesmos. E, a despeito do discurso
integralista resistir à oxidação, suas memórias enfraqueceram-se com o tempo, o que
acentuou definitivamente seu anacronismo.
Todas essas questões ajudaram a construir a trajetória deste estudo. De 2002
quando pela primeira vez entrei em contato com a Enciclopédia (ainda no mestrado, e
naquele momento sem muitas ferramentas para me aprofundar nas suas contribuições e
contradições), até o dado momento, esta trajetória foi recheada de surpresas e de
reflexões, processo que entendo ser interessante compartilhar. Em um rápido
retrospecto, apreendo que os motivos que me levaram a estudar o integralismo foram se
modificando ao longo da pesquisa, análise, e diversas redações deste trabalho (tanto
para a qualificação, quanto para a defesa propriamente dita). Se, inicialmente eu
estudava o integralismo para perceber dissonâncias do discurso direitista (proposta que,
como tempo se mostrou minimalista), com o passar das leituras e discussões, o foco se
ampliou.

234
O discurso conservador do integralismo permaneceu como elemento de minhas
indagações, mas não como elemento único. A diversidade contida nos escritos daquele
compêndio me fez ampliar os interesses sobre os tons da dinâmica integralista. Antes,
questionava o discurso e a representação hermenêutica do que os integralistas
buscavam. Depois, o amadurecimento da pesquisa me levou a perceber, além do
discurso, as ações e as contradições existentes nesse curioso e mutável
conservadorismo. Este, sem dúvidas o maior dos desafios para um pesquisador
acostumado a lidar apenas com os mecanismos do discurso político. A intersecção entre
os aspectos simbólico-culturais e discursivo-analíticos me viabilizou ampliar os focos e
as perspectivas com as quais construí esta análise.
Finalizando, o caminho percorrido neste trabalho possibilitou a percepção de que
os integralistas, no momento em que publicam o compêndio buscavam solidificar seus
espaços de atuação e destaque no cenário político nacional. Esta constatação foi
decisiva para que o conjunto de volumes fosse encarado por Gumercindo Rocha Dórea -
e parte da militância- como uma proposta articulada de propaganda e sobrevivência
política. Neste cenário, os doze volumes da Enciclopédia do Integralismo, lograram um
êxito momentâneo, mas evidenciou e representou também, o explicito êxodo das
grandes lideranças que nos anos 1930 forjaram o movimento.
Conclui-se com isso, que a Enciclopédia (seus artigos, autores e editor) se
constituiu no ápice de uma trajetória de aparições mais ou menos tímidas que o
integralismo teve em sua segunda incursão. Calcada na memória e no passado a
Enciclopédia do Integralismo mostrou ser um instrumento de propaganda e cooptação
com relativa adesão. Faltam-nos, agora, maiores estudos sobre seus aderentes, o que
certamente ampliará os debates sobre este objeto tão controvertido da política
conservadora nacional. Por isso, buscou-se analisar partes desta história, chamando a
atenção para o fato de que, com ou sem lentes de aumento, o integralismo do pós-guerra
merece ser mais bem interpretado.

235
ARQUIVOS, CENTROS
DE DOCUMENTAÇÃO
E ACERVOS
CONSULTADOS

236
Academia Brasileira de Letras
Academia Brasileira de Letras Jurídicas
Arquivo do Estado de São Paulo
Arquivo do Estado do Rio de Janeiro
Arquivo Ernani Silva Bruno (AESB) IEB – USP
Arquivo Público Municipal de Rio Claro – SP – “Acervo Plínio Salgado”
Biblioteca Central da Universidade de São Paulo
Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Biblioteca da Faculdade de Direito de Recife
Biblioteca da Faculdade de Direito, Filosofia e Letras - Rio de Janeiro
Biblioteca da Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo
Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica. PUC- SP.
Biblioteca Mário de Andrade
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Casa de Rui Barbosa. Coleção: Lauro Escorel
Casa de Rui Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres
Casa Plínio Salgado de São Paulo
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Unesp – Campus de Assis
Centro de Documentação sobre a AIB e o PRP de Porto Alegre – RS
CPDOC – Fundação Getulio Vargas
Fundo Pessoal Belisário Penna, DAD-COC – Fazenda Santa Bárbara - RJ
Ordem dos Advogados do Brasil – São Paulo

237
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253
ANEXOS

254
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

1 ª GERAÇÃO
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Autores Data de Profissão declarada Curso Superior/ Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo com o O que diziam sobre o O que dizia sobre o Seus textos Quando
constituintes nascimento e Outras ocupações da carreira Local de federação em que legislativa? quais desempenhava Integralismo no período integralismo no período de integralismo após se selecionados para a EI morreu era
da morte formação atuou partidos? no período de da publicação militância desvincular versavam sobre integralista?
Enciclopédia sua militância da EI
do integralista?
Integralismo
por ordem de
aparição no
compêndio1
Plínio Nasceu em São Jornalista, Filósofo e político Filósofo São Paulo, Rio de Deputado Federal pelo Partido Chefe supremo da Presidente do PRP - A orgânica do “O
Salgado Bento do autodidata Janeiro e Brasília Paraná em 1958 e por São Republicano AIB/ presidente do Partido de Representação “Ninguém pode afirmar que Nunca se desvinculou. Pouco movimento e suas integralista
Sapucaí - SP, (embora tenha Paulo em 1962, ambos pelo Paulista Partido de Popular - chefe honorário uma verdade deixa de ser antes de morrer asseverou: funções básicas na não deixa de
em 22 de sido eleito pelo PRP. Foi também candidato AIB Representação e simbólico da retomada verdade por ter menor número “Os homens se vão, mas o sociedade dita “ideal” ser
janeiro de 1895 estado do Paraná) à presidência da República, PRP, Popular do integralismo. Era de adeptos, portanto, não integralismo permanecerá!” integralista”.
— Morreu em em 1955, obtendo cerca de ARENA deputado federal pelo importa quando, nem onde, o Esta frase de
São Paulo, em 8 8% dos votos. Após 1964 ele Paraná e presidente do integralismo permanecerá Salgado
de dezembro de juntou-se a Arena (Aliança PRP – neste período foi vivo! Para sempre! Por isso expressa o
1975 Renovadora Nacional) e teve candidato à presidência do afirmo que é a única salvação que ele foi
(80 anos) mais dois mandatos de país, com pouco menos de do Brasil. O despertar da até o fim da
deputado federal: 1966 e 8% dos votos válidos. Nação!” vida. Tornou-
1970. se chefe
supremo da
“milícia do
Além”.2
Nasceu em 29 Médico sanitarista, também atuou Medicina - na Bahia, Rio de Foi vereador pelo município Partido Rep. Membro da Câmara Já era morto Sua adesão ao Integralismo foi “Trata-se de uma doutrina Volume 2 – Trechos da Simpatizante
Belisário de novembro como Jornalista - Em 1928, ocupou Faculdade de Janeiro e Minas de Juiz de Fora (MG), onde Mineiro e AIB dos 40 e chefe do justificada em uma carta: “Do nacionalista que visa o bem carta escrita ao diretor sim, mas não
Augusto de de 1868, em a chefia do Serviço de Propaganda Medicina do Rio Gerais (como clinicava, no ano de 1903. Departamento de exposto posso responder que do ser humano e a inter- geral do jornal Correio militante.
Oliveira Barbacena e Educação Sanitária. Em 1930 de Janeiro. político), e Em 1928, ocupou a chefia do Saúde Pública e sou integralista, porque já o relação com Deus. Não da Manhã
Penna (MG)- Morreu assumiu a chefia do DNSP. Doutorou-se em Alagoas, Serviço de Propaganda e Higienização da AIB era desde mais de vinte anos; responde mais aos modos
em 4 de Durante dois breves períodos, em 1890, pela Pernambuco, Educação Sanitária. Em 1930 porque creio em Deus e pratico políticos do Brasil, depois “ Com relação a nós...
novembro de setembro de 1931 e dezembro de Faculdade de Paraíba, Rio assumiu a chefia do DNSP, a moral cristã; porque não sou que Getulio o destituiu, mas disse: em 4 anos eles
1939, no Rio de 1932, ocupou interinamente o Medicina da Grande do Norte (Departamento Nacional de um instintivo e quero o permanece sendo uma eram poucos... Hoje são
Janeiro Ministério de Educação e Saúde. Ao Bahia. e Rio Grande do Saúde Pública) em primado do espírito sobre a proposta racional, mais de 1 milhão de
(71 anos) final deste ano, exonerou-se do Sul, quando, em substituição a Clementino matéria; porque, finalmente, espiritualista e capaz de integralistas inscritos
DNSP e filiou-se à AIB. 1928, ocupou a Fraga, que se exonerara tenho plena e absoluta regenerar os maus (...).Pois bem este é o
chefia do Serviço devido à vitória da confiança em Plínio Salgado, o brasileiros (...) é como a integralismo:o único
de Propaganda e Revolução de 30. criador e o chefe nacional do metáfora do anticorpo: capaz de desviar o
Educação integralismo, predestinado por jamais se desvincula do caminho que termina no
Sanitária. Deus para libertar o Brasil do corpo e ainda bem que inferno bolchevista” (A
regionalismo destruidor da permanece como força de Offensiva, 2/9/1937)”5
pátria, da sua escravização ao ação cristã no país”4 (1939,
capitalismo internacional e da pouco antes de morrer) EI Vol. 9 – A mulher, a
calamidade da peste família, o lar e a escola6
bolchevista”.3

Lúcio José Nasceu em Engenheiro e Advogado Aos 25 anos Minas Gerais Em 1896 foi eleito vereador PRM (Partido Militante católico Já era morto “O integralismo não é dotado O conceito filosófico e Não foram
dos Santos Cachoeira do Foi catedrático na Escola de Minas formou-se na da Câmara Municipal de Republicano de santos e nem pretende jurídico do Estado, Destaca a relação do encontrados
Campo – MG, em Ouro Preto e na Escola de Escola de Minas Ouro Preto. Ainda em 1908 Mineiro) e realizar o paraíso na terra, professado pelo integralismo com o registros,
em 27 de julho Engenharia de Belo Horizonte. De de Ouro Preto. foi eleito Presidente da AIB - embora católicos de fé estejam Integralismo, não colide, catolicismo e o mas provável
de 1875. 1924 a 1927 foi Diretor de Em 1908 formou- Câmara e Agente Executivo Militante representados nele. (...) assim nem essencial, nem corporativismo: mente sim.
Faleceu em Instrução Pública do Estado de se em direito pela do Município de Ouro Preto sendo, em consciência não acidentalmente, com a

1
Além dos indivíduos destacados por ordem de aparição no compêndio, há também aqueles que não foram enquadrados em gerações devido a falta de dados biográficos. Estes aparecem nos volumes da Enciclopédia do Integralismo como responsáveis por assinaturas de Regulamentos Gerais do movimento, cujos temas abordam, desde a ação moral e cívica do
integralista até a estatística do movimento, tais temas aqui apresentados, sobretudo, nos volumes 2, 3, 5, 10 e 11, em: A orgânica do movimento. São eles: Ângelo Simões de Arruda (Direito - O que é o Movimento Integralista Brasileiro e o que pretende - originalmente retirado da Idade Nova, de 9/3/1950 - Reeditado na EI Vol. 5) - Este tema, escrito de maneira
proselitista e laudatório foi o primeiro tema sugerido e o primeiro texto escrito para compor a Enciclopédia. (Tudo o que já foi descrito nos volumes da Enciclopédia até o 5º volume consta neste capítulo), Genoino Ferreira Filho, Paulo Lomba Ferraz (Propaganda – irmão de Ernani L. Ferraz), Henrique de Britto Pereira (Saúde), Everaldo Leite, Francisco de Almeida
Salles (Estatística e Serviços Sindicais), João Carvalhedo (Educação Moral e Cívica), João Calderan (Órgãos políticos – Província do Mar), Edgard Rocha, Carlos Matheus, José Soares Arruda (cearense de 1922 – Vol. 8 sobre os perrepistas), Martins Moreira (Realizando a Democracia - Reeditado na EI Vol. 4) e o poeta, ensaísta, político, professor e jornalista Silveira
Neto (1872-1942).
1
Carta de Plínio Salgado a Gumercindo R. Dórea de 12 de setembro de 1957. Arquivo Público Municipal de Rio Claro. Fundo Plínio Salgado.
2
A Milícia do Além era com os integralistas chamavam a legião de integralistas falecidos. Assim, dentro do integralismo havia a idéia de que seus membros não morriam, tornavam-se membros de uma Milícia do Além.
3
Penna, Belisário. Porque sou integralista. Datilografado, 29/6/1937 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC).
4
Pereira, Augusta S. A Morte do Dr. Belisário Penna. Fazenda Sta. Bárbara, dezembro de 1940 (Fundo Pessoal B. Penna, DAD-COC).
5
EI, Vol. 2, p.8-22.
6
Chama a atenção um fragmento deste volume em que o sanitarista aponta suas reflexões sobre como entendia o espaço e a função da mulher na sociedade. É no mínimo curioso: “(...) Urge, a bem da humanidade, um corretivo à loucura da mulher de querer igualar-se ao homem em tudo e por tudo , em contraposição as leis biológicas quando o que lhe compete é
procurar corrigi-los dos seus vícios e desregramentos”. EI Vol. 9, p.43.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

1944. Minas Gerais. De 1931 a 1933 foi Faculdade de (cargo hoje correspondente posso ser comunista, doutrina definida pela Igreja
(69 anos) Reitor da Universidade de Minas Direito de São a prefeito). Mas não estou obrigado a dar e poderá um católico, “tuta Consulta sobre o
Gerais. Foi fundador e primeiro Paulo. preferência a monarquia sobre conscientia”, admiti-lo? O Integralismo
reitor da Faculdade de Filosofia de a república, se ambas sistema de organização (A ligação entre a Igreja
Minas. Era membro do Instituto respeitam a ordem cristã. (EI, social, propugnado pelo católica, o cristianismo e
Histórico e Geográfico e da Vol. II) Integralismo, responde ao o Integralismo...) EI, Vol
Academia Mineira de Ciências. exposto em documentos 2. (retirado da
Ou ainda pontifícios, máxime na Panorama, ano I, nº 12,
Rerum Novarum e 1937)
Aqui, faço minhas as palavras Quadragesimo Anno. (in
de La Tour Du Pin, católico Panorama, ano I, nº 12,
social francês: “A revolução 1937). Reeditado nA Marcha,
histórica, que fez passar a 30/09/1954.
direção do mestre ao patrão e
deste ao capitalista, acabará
por passá-la à corporação
adptada aos novos tempos”.
Eu completaria: Este sucessor é
o integralismo!!!

Alcebíades Nasceu em São Professor de Direito na Direito na Rio de Janeiro Não, pois já havia falecido AIB Advogado e Já era morto “Haveis de reconquistar o Não foram encontrados Foi publicada uma carta Não
Delamare Paulo, em 1888 Universidade do Brasil e Jurista Universidade do procurador da AIB em Brasil, não pela força bruta das registros endereçada à mocidade
Nogueira da - e morreu no Advogava para a Ação integralista Brasil e Jurista diversos casos armas, mas pelo poder integralista das
Gama Rio de Janeiro, Brasileira invencível das almas. Sois os Faculdades de Direito,
em 1951. arautos do advento da Idade intitulada: a Flâmula
(63 anos) Nova, que breve será Sagrada do Sigma.
instaurada no Brasil sob signo Publicada originalmente
sagrado do Cristo pelas mãos em 1937, na A Offensiva.
do integralismo (...) mas, em EI Vol. 2.
nossas fileiras não assentarão Curso de Economia
praça os covardes, os política – criado por
trânsfugas,os bifrontes, os Delamare e adotado na
energúmenos...todos este que, Faculdade Nacional de
por suas ignonimias Direito da Universidade
febris,nem ao menos sabem, do Brasil. EI V
de acordo com a norma,o que
de fatos são...” (Enciclopédia
do integralismo, vol. 2 –
retirado de um texto publicado
na Offensiva de 9/5/1937)

Rodolfo Nasceu em Médico Medicina, RS e RJ Não Não teve Membro do Conselho Já era morto “Na antevisão de um futuro Não foram encontrados Discute a relação do Não
Josetti Porto Alegre Presidente da Sociedade de Cultura (Faculdade de carreira Supremo da AIB, do não muito remoto eu vejo registros integralismo com a
(RS) em 7 de Artística do RJ era Musicólogo e Medicina do Rio político- Departamento de nitidamente o integralista tal cultura artística em dois
setembro de violinista Apelidado de: _ “A de Janeiro) partidária Cultura Artística, de como foi o heleno, generoso e momentos: O sentido
1888 e faleceu pastoral de Bethoven”. Foi Doutrina e Estudos e culto, em atitudes ufanas mas Estético do Integralismo
no Rio de Fundador da Cadeira n. 39 da Membro do benignas, expressão do e o Sentido cultural e
Janeiro em 25 Academia Brasileira de Música. Secretariado Nacional perfeito equilíbrio, de vigorosa artístico do integralismo
de março de saúde física e espiritual... Este (retirado da Offensiva,
1946. é o homem do futuro. Este é o 18/5/35)
(58 anos) Integralista de amanhã. O
integralista ideal!”EI, Vol. II.

Victor Pujol Não foram Oficial da Marinha e jornalista Carreira Militar na Não foram Não Não teve Diretor do Jornal Não era mais vinculado ao Não foram encontrados Discute a idéia de Estado Não
encontrados Funda a revista “É do Balacobaco“ Marinha do Brasil encontrados carreira Monitor Integralista e movimento O Integralismo sendo um registros integral
registros (1931) registros político- Membro do Conselho movimento profundamente (EI, vol 2)
partidária Supremo da AIB e nacionalista e com finalidade
membro da Câmara no Estado Integral tem pontos Regulamento do jornal
dos 40 de contato com o fascismo e o Monitor Integralista. Em
hitlerismo, mas se distingue EI Vol. 10 – A orgânica
destes pelo seu caráter da AIB.
eminentemente brasileiro. É
um movimento original, com
uma filosofia própria.. PUJOL,
V. Rumo ao Sigma. 3.ed. RJ:
Livr. H. Antunes, 1936, p.160-1.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Apud. (EI, Vol. II)

José Madeira Nasceu em Médico especializado em diabetes, Faculdade de Rio de Janeiro Não Não teve Membro do Conselho Já era morto “Em verdade, quando uma Não foram encontrados Discute o Movimento do Não
de Freitas Alfredo Chaves jornalista Foi também um Medicina, da carreira Supremo da AIB e inteligência lúcida e livre adere registros Sigma , Sua excelência
(ES), em 03 de importante caricaturista, que sob o Universidade do político- Departamento de à Verdade que o Sigma prega, moral, O sentido
abril de 1893 e pseudônimo de Mendes Fradique Brasil, formando- partidária Propaganda, chefe é que uma fé viva já a inflama patriótico do Sigma, seu
faleceu no Rio (caricatura do personagem de Eça se m 1913 provincial da GB e empolga e se identifica. É nisso sentido vocacional como
de Janeiro, no de Queiroz, Fradique Mendes) membro da Câmara que consiste a diferença entre uma mística e uma
dia 06 de abril publicou na revista Dom Quixote dos 400 o ato de tornar-se um reação nacionalista (EI,
de 1944. (1919) e depois em livro uma integralista e de ajuntar-se a Vol. 2)
(59 anos) História do Brasil pelo Método qualquer outro partido, do
Confuso, versão humorística dos molde dos que pululam no seio
principais acontecimentos orgânico dos Estados Liberais.
nacionais7 Se o Integralismo fosse apenas
um puro e simples partido
político, com a natureza,
filosofia de partido, então, de
certo, talvez nula teria sido a
reação que haveria de
determinar na vida política do
país, em não importa que
etapa da vida... Esta é a
diferença! (EI, Vol. II)
Tasso Nasceu em Advogado e poeta Em 1927 lançou Universidade do Rio de Janeiro Elegeu-se deputado estadual Não Na AIB teve papel de Era simpático ao Não foram encontrados Não foram
Azevedo da Curitiba, PR em a revista Festa, que reunia a Brasil - Faculdade em Curitiba PR, em 1930. divulgador e movimento, mas não mais De todos os movimentos registros Faz um resumo dos encontrados
Silveira8 1895 e faleceu chamada "corrente espiritualista" de Direito do Rio doutrinador cultural e militante. Exercia suas políticos de ação construtiva elementos básicos do registros,
no RJ em 1968 do modernismo. Exerceu as de Janeiro, 1918. religioso, não atividades de jornalista e no planeta, o Integralismo integralismo: discutindo mas,
(73 anos) atividades de jornalista, deputado, exercendo papeis professor universitário ficará pela circunstância que o Modernismo e provavelment
professor universitário, poeta e políticos eletivos referida, e pelo seu triunfo Integralismo são e sim.
dramaturgo. stricto senso completo, como a que mais compatíveis desde a
claramente expressa o poder origem... .Revolução
da idéia na dialética da espiritual. O Chefe
história, em formal (EI, Vol. 3)
desmentido à doutrina
marxista.” (Em discurso de
1937, reeditado na EI, Vol. III)
Augusto de Nasceu em Jornalista e historiador Carreira militar no Minas Gerais e Não Não teve Não foram Militante na primeira e “Como o Integralismo, a Não foram encontrados I - O Espírito Integralista Era
Lima Jr Minas Gerais. Coronel do Exército Brasileiro, Exército Rio de Janeiro carreira encontrados registros segunda fases do Inconfidência Mineira foi uma registros da Inconfidência Mineira simpatizante,
membro da Justiça Militar Federal, político- movimento integralista, conjuração de vontades de salvar (publicado inicialmente mas não
Chanceler da Medalha da partidária teve efetiva função no o Brasil das espoliações do n’A Offensiva de 2/4/37) atuava mais
Inconfidência, designado pelo período pós-guerra regime colonial, dando-lhes (EI, vol.3) junto ao
presidente Getúlio Vargas como enquanto intelectual de independência e liberdade”. Por Trata-se de uma movimento,
coordenador do traslado dos restos projeção nacional esses dois ideais, juntaram-se inusitada comparação nem ao
mortais dos Inconfidentes da elementos de todas as classes entre o movimento partido.
Europa e África para o Brasil – onde sociais, irmanados por um integralista e a
estão depositados no Panteão dos sentimento unânime de Inconfidência Mineira,
Inconfidentes, no Museu da solidariedade e sacrifício pelo
Inconfidência, em Ouro Preto, MG. bem comum. A hierarquia ditada
Foi jornalista, acadêmico e pela capacidade, tão intrínseca à
historiador. Membro do instituto ação integralista, culminou na
de geografia e história militar de trama inconfidente. Nessa
Minas Gerais – Belo Horizonte. Inconfidência, como no
Além disso, possuía um cargo Integralismo, não havia lugar
de Procurador Marítimo. Foi para os materialistas
patrono da Academia Militar de interesseiros, mercadores de
Letras de MG “Guimarães Rosa” tudo. O hipócrita, que é na
onde detinha a cadeira primeira inconfidência

7
Para saber mais sobre Madeira de Freitas ver: LUSTOSA, Isabel. Brasil pelo método confuso – humor e boemia em Mendes Fradique. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993 e CARNEIRO, Cleverson Ribas. Mendes Fradique e seu método confuso: sátira, boemia e reformismo conservador. Tese de doutorado em Letras, Área de Concentração em Estudos Literários,
Programa de Pós-Graduação em Letras, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes.UFPR.2008
8
Para saber mais sobre Tasso da Silveira ler o artigo publicado pelo critico literário Wilson Martins: “O poeta católico” em: O GLOBO, 13 de dezembro de 2003. Versão online.
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Aeropagítica de nº 4. Foi um dos representado pelo senhor


signatários do Manifesto dos Joaquim Silvério dos Reis é agora
Mineiros de 24 de outubro de representado por aqueles que
1943, que visava romper a censura não toleram o integralismo. A
e se aproximar da democracia. Inconfidência mineira retomou
seu surto regenerador na Ação
Integralista Brasileira.
Integralismo e Inconfidência são
o mesmo. Coincidência notável!
(EI, Vol. III).

Juvenil da Nasceu em São Médico Catedrático da Rio de Janeiro Não Não teve Membro da Câmara Não foram encontrados “A organização político- Faço questão de afirmar que Discute o Estado Sim,
Rocha Vaz Pedro de Iniciou os estudos de uma ciência Faculdade carreira dos 40, era registros científica integralista tem no minha ligação com o Integral e Bio – simpatizante
Alcântara, MG, nova, a biotipologia, estudo das Nacional de político- chefe regional na seu programa: ‘dar ao homem integralismo baseava-se mais Pscicologia individual do
em 1881. constituições, temperamentos e Medicina (1919) partidária região do noroeste elementos para que ele realize na “reciprocidade ideológica, integralista
Faleceu no - Rio caracteres. Formou uma escola de fluminense (Cambuci as suas justas aspirações e menos na anuência (editado inicialmente nA
de Janeiro, em clínicos, que ganharam fama. Autor e São Fidelis) materiais intelectuais e morais. partidária” (Correio Ofensiva de 16-1937)
1964. da reforma de ensino que teve seu Vinculadas estão as inspirações Paulistano, 1957) Reeditado na EI, Vol. 3
nome.9 materiais ás duas outras,
(83 anos) qualquer que seja a função do
homem no Estado Integral,
onde ele não é o que quer ser,
mas o que pode ser, pois só
assim se tornará útil à
coletividade e a si mesmo.
Portanto, a organização
científica do trabalho sem o
conhecimento do material
humano será sempre uma obra
mutilada e de escassa
eficiência. O Estado Integral
tem necessidade
imprescindível de conhecer o
HOMEM – para que este seja
útil a si próprio e à
coletividade. Esta é a busca do
integralismo” (EI, Vol. III)

Médico farmacologista Professor Não foram São Paulo Não Não teve Membro do Conselho Mantinha-se militante e “O que pregamos nós e o que Não foram encontrados Liberalismo, Socialismo Sim
Não foram Catedrático de encontrados carreira Supremo da AIB Chefe fervoroso defensor do queremos? Modificar a forma registros e Integralismo: (a
Jaime Regalo encontrados Farmacologia da Faculdade de registros político- arqui -provincial, - movimento republicana do país? Não. Nós questão do sindicalismo
Pereira10 registros Medicina da USP. Entre 1934 e 35, partidária chefe da primeira queremos uma república como reforma de
concordou em ceder algumas circunscrição federativa. Alguma autocracia? representação)
dependências que a Cadeira Não. Queremos a democracia. (escrito originalmente
ocupava no 3o. andar do prédio da Que poderes desejamos para a em 1935) Reeditado EI –
Faculdade, para que ali se nação? Os poderes legislativo, Vol. 3
instalasse o Curso de Química da executivo e judiciário. E se
então recém criada Faculdade de queremos uma república
Filsofia, Ciênciase Letras da USP. Foi federativa, democrática, com o
ele quem avisou Salgado sobre o presidente da nação escolhido
ataque ao Palácio da Guanabara, na eleição, e reconhecemos
antes do determinado. Na década como necessário os 3 poderes,
de 1980, tornou-se nome de como dizer que queremos
avenida na cidade de Guarulhos – modificar o regime?Fala-se por
SP. aí e ninguém mais fala isto que
os próprios liberais
democratas, entre eles os
homens do governo, que os
integralistas pretendem
modificar o sistema de governo
no país... Há pouco mais de 3

9
O principal objetivo da reforma, chamada de Rocha Vaz foi reforçar o controle do Estado, particularmente do governo federal e as medidas mais importantes foram: controle mais rígido sobre a equiparação das faculdades livres às oficiais; diminuição do poder das congregações das faculdades oficiais; aperfeiçoamento do caráter seletivo/discriminatório dos
exames vestibulares. A reforma pretendia impedir a entrada da política e de ideologias não-oficiais no ensino superior, estendendo ao ensino secundário a polícia acadêmica, depois chamada de polícia escolar. Há também no seu currículo o fato da Sociologia como matéria de classe escolar ser decorrência desta reforma do ensino brasileiro, promovida por ele em
1925, o que estabeleceu a sociologia como cadeira da formação clássica. Ver: MOREIRA, Daniel A. Didática do Ensino Superior – Técnicas e Tendências. 1ª ed. São Paulo: Editora Pioneira, 1997. 180p.
10
A grafia do nome de Jayme Regalo aparece por diversas vezes escrita de maneira diferente, ora como Jayme, ora como Jaime. Mas, seu nome de batismo é Jayme (com y). Como na maioria das vezes a grafia era descrita com “i”, ao invés de “y”, optou-se por manter esta forma na grafia de seu nome.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

anos quando o nosso chefe


lançou a idéia integralista no
Brasil ele, patrioticamente
afirmou que esperava a vitória
do Sigma após 10 anos de
pregação cívica. Aqueles que
sinceramente atentarem para
as nossas atitudes e as nossas
palavras, verão que a
revolução a nós apregoada é
uma revolução de idéias e
consciência, por isso que
marcamos um prazo de 10
anos para nossa vitória final”.
(EI, Vol. III).
San Thiago Nasceu em 30 Advogado Direito / Rio de Janeiro Retornou à vida política em AIB (anos 30) Membro do Revela-se apenas um A relação entre o integralismo Foi taxativo, no encontro O Integralismo e as Não, a
Dantas de agosto de No período da militância Faculdade 1955, ingressando no Partido Secretariado Nacional, admirador da figura e as forças armadas deve se que, posteriormente ao Classes Armadas ( A despeito de
1911, no Rio de integralista era um dos advogados Nacional de Trabalhista Brasileiro (PTB). PTB (anos 50) do Conselho Jurídico intelectual de Plínio resolver. O problema das golpe de 1937, se realizou Offensiva, 1/11/1934) EI sua simpatia
Janeiro. Faleceu do movimento. Depois de seu Direito, RJ, Em outubro de 1958 elegeu- Nacional e da Salgado Retornou à vida classes armadas decorre de entre ele, Galotti e Francisco Vol. 4. pela figura de
em 6 de afastamento do integralismo, entre formando-se em se deputado federal por Secretaria Nacional de política em 1955, uma situação moral ainda não Campos,ambos convidados “Preparação das elites Plínio
setembro de 1945 e 1946, trabalhou no 1932 Minas Gerais Imprensa ingressando no Partido compreendida: Este problema, por este para “enaltecer o integralistas”, Aula Salgado.
1964, na Conselho Nacional de Política Trabalhista Brasileiro dentro do integralismo já está advento do Eastdo Novo”: magna em meados de
mesma cidade Industrial e Comercial. Em 1949, (PTB). Em outubro de 1958 superado... Não é meu “Professor, não queremos 1934: Aula sobre o
(53 anos) assumiu a vice-presidência da (segundo ano de propósito estudar o que o servir o poder, queremos Direito corporativo. EI
refinaria de petróleo de publicação da EI) elegeu-se Integralismo reserva exercê-lo!”11 Vol.9
Manguinhos, cargo no qual deputado federal por particularmente ao Exército e à
permaneceria durante nove anos. Minas Gerais. Nomeado Armada... Quero mostrar que San Tiago Dantas também se Edita juntamente com
Atuou também como assessor pelo presidente Jânio ordenando a vida nacional lembraria de sua passagem Ernani Silva Bruno o
pessoal de Vargas durante seu Quadros embaixador do segundo um ritmo, enfeixando pelo integralismo retendo Estatuto da Escola
segundo governo (1951-1954) Brasil na ONU em 22 de os autos do governo numa certa ambigüidade em suas Brasileira de Jornalismo.
agosto de 1961, não unidade que lhe é conferida palavras. Em resposta a uma Assinado em BH 19 de
chegou a assumir o cargo pela sua estrutura teórica, o pergunta de um repórter do dezembro de 1936.
em virtude da renúncia de Integralismo ao mesmo tempo jornal A Marcha, folha oficial Editado na EI, Vol IX.
Quadros, três dias depois. em que dará à disciplina das do PRP afirmou: “jamais
Goulart assumiu a forças armadas, furtará o poderia fechar os olhos para
presidência em 7 de soldado à estreita e efêmera o meu passado, mas jamais o
setembro de 1961, e San contenda do governo... imitaria ou ficaria limitado a
Tiago Dantas foi escolhido ele”. (A Marcha, 19-07-1963)
para a pasta das Relações
Exteriores.
J. Venceslau Não foram Jornalista Não foram São Paulo Não AIB - filiado Teve influencia em Foi presidente do clube de “A palavra ‘revolução’ é uma Não foram encontrados O que significa Sim
Jr. encontrados Teve participação em diretórios encontrados diversos diretórios do futebol União Agrícola das mais desconceituadas do registros “Revolução Integralista”
registros integralistas do interior. registros interior de SP Barbarense Futebol Clube, país. Revolução para o povo
da cidade de Santa brasileira, já tão iludido e (Retirado de: ‘O
Bárbara do Oeste – SP, na infeliz, significa assalto ao Integralismo ao alcance
gestão de 1943/46.Não, poder Público, significa apenas de todos’)
pois provavelmente já a substituição de alguns
havia falecido políticos mal intencionados, no
Governo da Nação; significa a
substituição de um governo
mau por outro péssimo;
revolução no Brasil, significa
bandalheira, tapeação,
rebaixamento moral; heroísmo
inútil e significa uma
formidável gargalhada...porque
ninguém a levará mais a sério.
Diferente da revolução
Integralista que é coisa bem
diferente, senão oposta.
Revolução Integralista quer
dizer, revolução interior de
cada pessoa... agora e

11
Frase que Gumercindo Rocha Dórea atribui a Dantas. Ver: Má fé e falsificação da História. In: O Drama de um herói. Edição da Casa Plínio Salgado, São Paulo, 1990.p.12.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

sempre...”

Pe. Hélder Nasceu em Padre, depois Bispo Entra para o Teologia, Filosofia Pernambuco e Rio Não Apenas Foi um militante Nenhuma vinculação, aliás, “Precisamos esclarecer que Há controvérsias sobre como “O Integralismo em face Não, ao
Pessoa Fortaleza a 7 de seminário de Fortaleza em 1923. no Seminário de de Janeiro vinculou-se a católico muito em finais dos anos 50 diante dos educadores Helder Câmara se colocou do Catolicismo” – Vol. 4 contrário, era
Câmara fevereiro de Em agosto de 1931 ordena-se Fortaleza (1923) AIB na influente Helder Câmara se comunistas e liberais, os únicos frente ao seu passado. Há da EI. sistematicam
1909. Faleceu padre, quando passa a organizar a década de notabilizou pela criação e coerentes e justos são os registros que atestam que ente
“A Educação e o
em Recife, em Juventude Operária Cristã que se Em agosto de 1930 fundação de dois projetos educadores integralistas que quando cardeal disse que referenciado
Integralismo” – EI Vol 9.
28 de agosto de ligou á Legião Cearense do 1931 ordena-se sociais: A Cruzada São ultrapassando as vacilações sua passagem pelo como o bispo
(Fragmento de um
1999. Trabalho (LCT)12. Em 1932, conhece padre Sebastião, em 1956, cuja criminosas dos mestres integralismo fora um “erro vermelho, em
discurso de paraninfo
(90 anos) o integralismo. A pedido de Plínio finalidade era dar moradia burgueses, nem aos excessos de juventude”. alusão à sua
proferido pelo padre em
Salgado, o padre assume a chefia decente aos favelados. O dos mestres russos (...) pois Em outro estrato, extraído vinculação à
1937)
de educação da AIB no Ceará. segundo projeto se deu não seremos socialistas de uma entrevista em 1989, ideologia
Subordinado a partir de 1936 ao em 1959, quando fundou o intelectuais ou burgueses Câmara disse: "O que marxista –
cardeal Sebastião Leme, desde que Banco da Providencia, cuja práticos por conservantismo aconteceu foi isto: o mundo comunista.
mudou para ao RJ, o padre foi atuação se deu no ou timidez!”. EI Vol. IX. parecia dividir-se entre o
solicitado a se afastar de quaisquer atendimento a pessoas Comunismo e as forças de
“Surgiram no nosso caminho,
atividades e conseqüentemente do que viviam em condições Direita. Quando surgiu o
um sacerdote esclarecido, um
integralismo. Acatou o pedido em miseráveis. Em finais dos Integralismo, anunciando
diletante e agora um
1937. Salgado entra novamente em anos 50 Helder Câmara se Deus, Pátria e Família, eu
despeitado. Com os três
contato com o padre e pede-lhe notabilizou pela criação e achava aqueles ideais
discutimos e aos três tivemos a
que fizesse parte do conselho fundação de dois projetos bastante coincidentes com o
impressão de vencer. O que
supremo da AIB, composto de 12 sociais: A Cruzada São que eu tinha aprendido no
assinalamos é o declínio do
membros.Mas, todas as vezes que Sebastião, em 1956, cuja Cristianismo. Mas, cedo,
arraial dos acusantes: da
o padre fazia um discurso, a finalidade era dar moradia verifiquei que não precisava
sinceridade esclarecida passou
imprensa integralista o anunciava decente aos favelados. O de nenhum sistema filosófico
a diletantismo e termina em
como membro do conselho segundo projeto se deu ou político, bastava-me a
despeito! (...) Já quanto a
supremo da AIB. Por causa disso, em 1959, quando fundou o mensagem de Cristo. Não
violência integralista, não
Helder Câmara teve de se afastar Banco da Providencia, cuja me arrependo de nenhuma
perderemos tempo em
definitivamente do partido. atuação se deu no experiência humana que
comentar a impressão de
atendimento a pessoas tenha vivido. Não me
repugnância que Sombra causa
que viviam em condições arrependo de ter passado
aos seus amigos de ontem pela
miseráveis. Portanto suas pelo Integralismo”. Em
deslealdade com que vacila
preocupações entrevista ao Diário de
entre uma super mansidão
momentâneas passavam Pernambuco, em
hipócrita e uma violência, dele
longe das questões 29/01/1989.
sim, extremada e imoral...”
político-partidárias e
(Câmara, com relação à
mesmo ideológicas, sendo
postura de Severino Sombra13
neste período um bispo
em denegrir o Integralismo) EI,
carioca muito influente.
Vol. IV. 1959.

Arnóbio de Nasceu em Advogado Faculdade de Pernambuco Vereador por Recife – eleito AIB Membro da Câmara Em fins de 50 passou a Quando o Integralismo, como Não foram encontrados Governo Forte Não
Souza Graça Viçosa, Alagoas Sociólogo e Economista autodidata, Direito do Recife em 2 de setembro de 1936, dos 400 lecionar Economia política grande movimento de registros (originalmente escrito
em 29 de junho Graça foi colaborador em jornais, suplente que entra na vaga e História das doutrinas insurreição nacionalista, em A Offensiva,
de 1910. desde os anos de mocidade, em deixada por Gilberto Osório. econômicas nas estabelece para o Brasil um 15/11/1934)
Faleceu em Viçosa. Gazeta de Alagoas, Jornal Faculdades de Direito, governo forte, não se aproxima EI Vol. 4
1962, no Recife de Alagoas e periódicos Ciências Econ. e Filosofia das velhas fórmulas de
(52 anos) pernambucanos, a exemplo do da UFPe.Nenhuma despotismo Hobbesiano em
Diário de Pernambuco, e revistas vinculação no período da que o pensamento se retrai, a
especializadas de ciência, filosofia, publicação, a na ser como concordância se apaga e o
história e literatura, isto entre os simpatizante do indivíduo se anula. Assim, a
fins dos anos 20 e início dos 60, movimento. Permanecia verdade está na totalização
quando ampliou seu currículo, lecionando nas faculdades que tudo abrange ou na
sendo membro do Instituto de direito e economia do integração que tudo equilibra.
Brasileiro de Filosofia e da Recife
Associação Latino-Americana de
Sociologia. Na UFPe, Graça passou
a reger as cadeiras de Economia
política e História das doutrinas
econômicas e Filosofia do Direito,
nas Faculdades de Direito, Ciências
Econômicas e Filosofia. Era fluente

12
A LCT, inspirada no salazarismo português pretendia ser uma organização de associações populares e profissionais destinada à defesa dos trabalhadores, tendo como metas a economia distributiva e o regime corporativo.
13
Em agosto de 1931 Helder Câmara ordena-se padre, quando passa a organizar a Juventude Operária Cristã que se ligou á Legião Cearense do Trabalho (LCT)13, criada pelo tenente Severino Sombra. Depois do exílio de Sombra, que aderira á revolução de 1930, Câmara assume , juntamente com Jeová Mota a a chefia da LCT. Então, iniciam-se as divergências entre
Sombra e Câmara.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

em latim e alemão.
Antônio Nasceu em 29 Economista Direito - Rio de Janeiro Não, apenas participação Não Membro do Conselho Em 1932, assume “Fala-se muito sobre a “(...) para um operador do O Renascimento do Não
Galotti de agosto de Ajuda a fundar a revista Hierarchia Universidade do jurídica no período da AIB Nacional, Secretário rapidamente postos de economia dentro do direito, a ilegalidade deve ser Estado.
1908, em e o CAJU – Centro Acadêmico Brail – Faculdade Nacional de Relações direção na organização, integralismo, o que o primeiramente contestada (...) Texto em que analisa
Tijucas, Santa Jurídico Utilitário. Torna-se ativo de Direito, Exteriores tornando-se um dos dez integralismo entende por apreciados os fatos e cronologicamente a
Catarina. propagandista do movimento em formando-se em principais secretários economia (...) Assim, explico. permanecendo a razão ou a evolução do termo
Faleceu em 4 de reuniões privadas e em artigos pela 1931 nacionais. Ferido nos pontos mais desrazão dos condicionantes Renascimento. Palestra
dezembro de Imprensa, quando, a partir da sensíveis, o regime capitalista que regem o fato legal, não inaugural, proferida
1986, no Rio de fundação da AIB, em 1932, assume No período da publicação ensaia uma nova teoria, na cabe outra coisa a não ser numa das Salas da Seção
Janeiro. rapidamente postos de direção na da EI, não possuía mas grande ânsia de salvamento seguir a ordem natural da de Doutrinamento da AIB,
(78 anos) organização, tornando-se um dos nenhuma relação com o (...) então, surge o sistema constitucionalidade plena (...) 1936.
dez principais secretários nacionais, movimento.Em 1957 era esboçado por um grupo de ou seja, os que prezam os Sua fala é calcada na
e o responsável pelo setor das funcionário da Light Power professores norte-americanos muros da ciência jurídica não consolidação do sistema
relações internacionais, & Company. sob o título de Nova poderiam permanecer integral
encarregado das correspondências Tecnocracia. Surge então, o imobilizados em paredes EI. Vol. 4
com organizações congêneres de que se convencionou chamar inconstitucionais (...) veja, a
todo o mundo. A este propósito, de Economia Dirigida. Nesse AIB, não o integralismo saíram EI Vol. 5 - Economia
por diversas vezes envia manifestos sentido, e a partir disso o de mim (...) já não poderia me Dirigida: Com relação à
de apoio e adesão moral a vários estado soviético tomou as sustentar (...) permaneci forma de governo fascista
nacionalistas, dos quais se destaca primeiras providências para integralista por mais algum que dirigia tudo para o
em 1937 o endereçado aos dirigir a economia. Pela tempo, mas me desfiliei e me Estado, ditatorialmente.
nacionalistas uruguaios. Mantendo primeira vez, a população de afastei definitivamente (originalmente compilado
seu contato com a doutrina e a um grande país viveu sob conforme os sucedâneos de: A Offensiva,
política integralistas até meados de regime da economia dirigida. foram se apresentando” 21/6/1934)
1938, Galotti se afasta após o mal Dirigida para um fim (GALLOTTI, Memórias, 1981,
fadado ataque integralista ao determinado: a implantação de p.67) Nestes seus escritos
Palácio Guanabara. um regime socialista.. Assim, tratam da economia do
equívoco muito maior seria ponto de vista do
imaginar que a concepção Integralismo. (o estrato
integralista da economia se apresentado é o do Vol. 5
define pela economia dirigida. – sobre economia)
A Economia integralista será,
sem dúvida, dirigida pelo novo Aula magna. Para as elites
Estado em função da do integralismo. Curso de
prosperidade individual, da doutrinas econômicas. EI
grandeza nacional e da paz Vol. 9
social.”

Miguel Reale Nasceu em São Advogado Direito na São Paulo Em 1927 foi deputado AIB Membro do Conselho Não tinha nenhum vínculo Sobre a economia integral: Em entrevista à TV Câmara O que é o Integralismo Não militava
Bento do Filósofo, Jurista e Educador. Faculdade do estadual pelo PRP PTB Supremo Nacional e com o integralismo em (...) o Integralismo econômico, em 2006, ao ser indagado (publicado mais, mas
Sapucaí – SP, Conquistou, por concurso, a Largo de São (Republicano Paulista). chefe do finais de 1950. Em finais da ‘ estuda os fatos econômicos pelo entrevistador sobre o originalmente na Revista sempre fez
em 6 de cátedra de Filosofia do Direito na Francisco – São Atuou na AIB e depois de sua Departamento de década de 1950 foi do indivíduo e da sociedade no que mudou do Miguel Reale Brasileira, nºs 7 e 8 é um questão que
novembro de Faculdade de Direito da Paulo, formando- desvinculação, em 1947, já Doutrina convidado a ministrar Estado: é uma economia em integralista para o Miguel estrato da Cartilha do respeitassem
1910, e morreu Universidade de São Paulo, em se em 1934. afastado do Integralismo, foi cursos e conferências que o Estado está sempre Reale de hoje, respondeu: Integralismo, o fato de ter
em São Paulo 1941. Fez parte do Conselho nomeado pelo então sobre Filosofia do Direito presente, enquanto que na "Eu diria que nada. Participei inteiramente redefinida sido, um dia,
em 14 de bril e Administrativo do Estado de São governador Ademar de em vários países da liberal estava ausente, e na do integralismo com e ampliada) EI, Vol. 5. integralista.
2006 Paulo, de 1942 a 1945. Em 1947 foi Barros, para a Secretaria da América Latina e da socialista era absorvente, determinação e espírito
(96 anos)14 Secretário da Justiça do Estado de Justiça e dos Negócios Europa. No mesmo confundindo com a sociedade, público que nunca me
São Paulo, instituindo o Interiores do Estado de SP, período teve uma intensa espírito reduzido ao corpo. abandonaram." “
Departamento Jurídico do Estado e cargo que voltaria a ocupar atividade no Partido Social
criando a primeira "Assessoria entre 1963/64, no segundo Progressista, do qual foi Cabe-me salientar que me
Técnico-Legislativa" do País. Entre governo de Ademar de Vice-Presidente. considerei livre do
1949 e 1950 foi Reitor da Barros. compromisso integralista
Universidade de São Paulo, e, nessa quando, no exílio na Itália,
década, foi convidado a ministrar me dei conta da ilusória
cursos e conferências sobre organização corporativista
Filosofia do Direito em vários países sob o mando de um partido
da América Latina e da Europa. Em único, tanto assim que me
1962, após intensa atividade no recusei a pertencer ao
Partido Social Progressista, do qual partido organizado por Plínio
foi Vice-Presidente, foi novamente Salgado depois da

14
Curiosamente, os mais longevos de todos os integralistas que aparecem na EI foram Miguel Reale, que faleceu com 96 anos incompletos, Gerardo Mello Mourão, que faleceu com 90 anos, Jeová Motta, que faleceu com 85 anos, Genésio Pereira Filho, Hélio Rocha e Gumercindo Rocha Dórea, que ainda permanecem vivos, hoje, com 88, 87 [sic] e 86 anos,
respectivamente.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Secretário da Justiça de São Paulo Constituição de 1946 (...) No


em 1964. Foi reeleito reitor da USP, que se refere ao
de 1969 a 1973. integralismo, reconheci a
transitoriedade de seu
programa, mas jamais me
arrependi de minha atuação
em prol do corporativismo
democrático, cuja
participação revela que havia
valores positivos na Ação
Integralista Brasileira. O
integralismo revisitado. O
Estado de S. Paulo.
28/08/2004.
Margarida Não foram Escritora Não foram São Paulo Não foram encontrados Não teve Não foram Não foram encontrados “Um dia os ‘ camisas verdes’ da Não foram encontrados Conceito de vida heróica Não foram
Cavalcante encontrados Irmã de Roland Corbisier encontrados registros carreira encontrados registros registros terra môça do Brasil falarão ao registros (o integralista é, antes encontrados
de registros registros político- mundo: sua voz terá o calor de tudo, um herói) registros
Albuquerque partidária dos estilos queimantes e a (originalmente retirado
Corbisier15 doçura do mel dos manacás... e de Offensiva,
entoará para todos os homens 13/4/1935)
da Terra o hino guerreiro da Reeditado na EI, Vol. 5.
Vida Heróica. Que sejamos
nós,integralistas, mandatários “Integralismo e
desta eloqüente missão!” educação feminina” –
Trabalho apresentado
originalmente no I
“A AIB visa a reestruturação de Congresso Nacional
nossa sociedade sob o Feminino da AIB, em
principio do alicerce do outubro de 1936.
cristianismo. (...) enquanto Publicado em A
prossegue a tarefa de educar a Offensiva, 11/04/1937.
nação vai a AIB executando Reeditado na EI, Vol. 9.
todo um plano de
conscientização nacional. (..)
Assim, é preciso haver a
colaboração entre os sexos,
para assegurar a correção das
unilateralidades, o equilíbrio
composto da vida. Assim , cabe
a AIB usar ordenadamente a
colaboração de todos os nela
inseridos “

Hélio Vianna Nasceu: em 5 Advogado e Historiador Bacharel pela Rio de Janeiro Não Não teve Em 1932 passou a Publicava em 1958, a “Através das vetustas fileiras Não foram encontrados Bases Históricas da Não
de Novembro Faculdade carreira integrar a chamada História da Diplomática do do integralismo será possível registros Unidade Nacional
de 1908, em Ainda como estudante participou, Nacional de político- "ala intelectual" da Brasil. verificar o grau mais alto de Espécie de resumo sobre
Belo Horizonte em 1932 da reunião convocada por Direito, em 1932 partidária AIB ministrando o Continuou lecionando na nossa nacionalidade (...) os episódios históricos
e faleceu em 6 Plínio Salgado organizar uma e pela Faculdade curso de História do UFRJ até dezembro de tornar-se integralista é o que que culminaram na
de Janeiro de corrente em defesa das ideias Nacional de Brasil escrevendo nos 1971. Morre um mês de mais profundo ocorreu com chegada do
1972, no Rio de integralistas. Passou a integrar a Filosofia em 1946. veículos do depois. Publicava os minha alma juvenil” Integralismo.
Janeiro. chamada "ala intelectual" da AIB movimento e volume nº 247 e 248 da (Hierarchia, 13/4/1936) Proselitismo puro.
(64 anos) ministrando o curso de História do publicando textos de obra História Diplomática (originalmente retirado
Brasil, escrevendo nos veículos do história política e do Brasil, RJ, Biblioteca do da Panorama, nº 8)
movimento e publicando textos de social do Brasil. Com o Exército Editora, 1958. Reeditado na EI Vol. 5
história política e social do Brasil. golpe de 1937 e a Esta obra é a reunião de “Preparação das elites
Com o golpe de 1937 e a dissolução dissolução da AIB, dois trabalhos anteriores, integralistas”, Aula
da AIB, afastou-se da atividade afastou-se da revistos e atualizados, a magna ocorrida em
militante para dedicar-se à prática atividade militante. saber: História das meados de 1934: Aula
docente e à pesquisa histórica. Fronteiras do Brasil, curso sobre o Direito
Tornou-se em 1939 o primeiro dado na escola do Estado corporativo . EI Vol.9
catedrático de História do Brasil, na maior do Exército em 1947
Faculdade de Filosofia da e publicado pela Biblioteca Aula magna: Para formar
Universidade Federal do Rio de Militar, vols. 132-133 em as elites integralistas.

15
Margarida Corbisier e Carmen Pinheiro Dias ( a primeira vinculada à AIB e a segunda ao PRP) seriam as únicas mulheres a apresentarem textos na EI. Outras duas mulheres são citadas na EI, como poetas constituintes da Coletânea de poemas publicada no Volume 7 do compêndio: Maria Rita Vaz de Hollanda Cunha e Hydée Machado Marques Porto.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Janeiro. Foi membro da Comissão 1948, e História História social e política


de Estudos de Textos da História do Diplomática do Brasil, do Brasil
Brasil, do Ministério das Relações curso dado em 1950 no EI Vol 9
Exteriores e da Comissão Diretora Instituto Rio Branco, não
de Publicações da Biblioteca do publicado em livro, tendo
Exército. Como jornalista, foi o autor aproveitado ainda
redator da revista Hierarquia, de textos de aulas de história
tendência radical de direita. Foi do Brasil dadas na
secretario do jornal A Ofensiva, e Faculdade Nacional de
escreveu ainda no Jornal do Filosofia da Universidade
Comercio do Rio de Janeiro. Após a do Brasil desde 1939.
sua morte, a sua biblioteca foi
dividida entre diversas
universidades brasileiras.
José Garrido Não foram Economista Não foram Rio de Janeiro e Não Não Militante da AIB Era consultor econômico “É capital que para possuirmos Não foram encontrados Concepção Integral da Não
Torres encontrados Depois de desvincular-se do encontrados Brasilia do mercado financeiro uma economia sã tenhamos registros Economia
registros integralismo atua no mercado registros uma concepção justa do (compilado ao longo de
como consultor econômico. Nos homem. Partindo deste 1934)
anos 1960, participou da equipe princípio, a Economia Nova EI. Vol. 5
econômica que projetou o que deverá existir em função do
ficou conhecido como período do homem integral. Concepção
“milagre econômico”, quando foi extraordinária decorre de um
Presidente do Banco Nacional de notável progresso filosófico. A
Desenvolvimento no governo Economia Integral, embasando
Castelo Branco a estrutura na iniciativa
privada, embora impondo a
responsabilidade do produtor
perante o Estado e adotando o
sistema corporativo. Só quem
professa o Integralismo
concebe o Estado como órgão
interventor da Economia,
supervisionando-a
inteligentemente, por
intermédio do sistema
corporativo. A Economia
Integral afirma, portanto, num
supremo equilíbrio, as leis
naturais e a orientação
esclarecida do Estado. Essa é a
nossa concepção integral de
economia”

Leopoldo Não foram Padre Membro da Câmara Permanecia ligado à Igreja Não foram encontrados Carta Aberta aos Sim
Ayres16 encontrados Colaborou com diversos jornais dos 400 Católica “O Bolchevismo é patranha das registros Sacerdotes de minha
registros integralistas e não integralistas polícias e alucinação da Pátria
como o jornal carioca, A Manhã, burguesia, por isso digo: temos (originalmente retirado
órgão oficial do Estado Novo. no Integralismo uma escola da Offensiva,
patriótica perto da ideologia 25/7/1937)
católica. prestigiá-lo será fazer
a nossa parte para que Deus Reeditado na EI, Vol. 5
nos ajude, sobretudo na hora
incerta e perigosa que O sentido da formação
vivemos. Está mais do que pliniana.
claro que a minha palavra se Originalmente escrito
bem seja a do sacerdote, não é para A Anauê – julho de
a da igreja. Estou certo de que 1937. Reeditado na EI,
tendes conhecimento do Vol. 9.
problema comunista no Brasil.
O comunismo é, pois, uma
realidade, em nossa Pátria.
“Meus irmãos sacerdotes: há
no Brasil uma corrente

16
Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Casa de Rui Barbosa. Coleção: Leopoldo Ayres e no DHBB do CPDOC - FGV, pp. 2020 e 2021.Ver também COUTINHO, Afrânio. Enciclopédia da Literatura Brasileira. São Paulo, Fundação da Biblioteca Nacional/ Global Editora, 2001, p.641.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

doutrinária político-social, a
qual, tanto quanto possível,
corresponde à concepção
social e política que, como
corolário natural transfere do
evangelho de Nosso Senhor. É
a Ação Integralista Brasileira
(...) O Comunismo sagrou o
Integralismo como o seu maior
e mais perigoso inimigo. Por
isso, alguns deputados
impatrióticos nos acusam sem
piedade. Prestigiar o
Integralismo será fazer a nossa
parte para que Deus nos ajude,
sobretudo, na hora incerta e
perigosa que vivemos”

Ernani Lomba Não foram Tornou-se minerador no Paraná, Não foram encontrados “Dominados por inconcebível Sobre Democracia e Não foram
Ferraz encontrados em finais dos anos 50. DECRETO Nº registros submissão a mitos Sufrágio encontrados
registros 38449, DE 28 DE DEZEMBRO DE aparentemente consagrados; (escrito originalmente registros
1955. Autoriza o Cidadão Brasileiro vencidos por invencível nos anos 30)
Ernani Lomba Ferraz a Lavrar preguiça mental na busca de Reeditado na EI Vol. 5
Carvão Mineral No Município de novas fórmulas, subjugadas
Siqueira Campos, Estado do Paraná. enfim por insuperável
Autorização reiterada em comodismo decididamente
25/7/1969. anti-revisionista dos conceitos
vigentes, tidos como
definitivos, não nos queremos
deter na análise do que
realmente deve se entender
por Democracia, muito embora
bem cônscio e advertidos das
subversões e deformações a
que se tem prestado o
significado deste vocábulo. O
Integralismo é a prova mais
ampla de que a Democracia
pode ser seletiva, mas critica o
fato deste regime
pretensamente democrático,
mas realmente demagógico.
Concordo com Plínio Salgado:
nunca uma verdade deixa de
ser verdade por ter menor
número de adeptos”
Rômulo Não foram Não foram encontrados “A uma cronista sútil, o Não foram encontrados Artigo: Reflorestamento Não foram
Almeida encontrados registros Integralismo apareceu registros Esta é a primeira vez que encontrados
registros reflorestando a alma, dando- se levanta na EI, e no registros
lhe a o verde da mocidade e da pensamento integralista a
vida (...) É uma campanha bandeira da ecologia.
nacional, a do reflorestamento, Entretanto, tem um
que devemos levar a diante, caráter dúbio esta
com a eficiência devida, em preocupação de
nossos mais de 3000 núcleos reflorestar: a alusão ao
integralistas. Comemoremos as verde do partido, num
grandes datas plantando momento em que
árvores, parques, bosques. reflorestar significa
Antes mesmo de atingir o plantar novas idéias para
poder, poderemos fazer coisas novas gerações. Esta
formidáveis. Reflorestando as metáfora fora
almas e os campos”. transportada durante
toda a década de 30, e
migrou no imaginário
político integralista até
sua fase posterior, nos
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

anos 50.
EI Vol. 5

Lauro Escorel Nasceu em São Advogado, escritor e Embaixador Direito pela Rio de Janeiro, Não Não teve Tratava-sede um Era embaixador do Brasil Isso constitui uma afirmação Não foram encontrados O Conteúdo humano do Não. Embora
Rodrigues de Paulo em 13de Faculdade do EUA, Argentina, carreira membro influente. No em Buenos Aires, de que percorrerá todas as registros integralismo e a se trate de
Morais17 setembro de Em 1943 ingressa na carreira de Largo São Iugoslávia, Itália, político período em que foi março de 1957 a 1960. Era instâncias do integralismo: A intervenção do Estado um membro
1917 diplomata exercendo a atividade Francisco em Paraguai, partidária militante integralista diplomata e escrevia no Intervenção é um direito influente, no
até 1989. Escreveu peças de teatro, 1938 Dinamarca, era um estudante de ano de 1958 o livro: social! É preciso, então, EI Vol. 5 período em
e em jornais como critico literário, México e Espanha Direito. Afastou-sedo Introdução ao pensamento entender que Estado e Nação que foi
dentre os quais O Estado de S. integralismo após o político de Maquiavel não se opõe, mas se militante
Paulo e A Manhã. Foi diretor do fechamento da AIB. (1958) completam. Segundo a integralista
Instituto Rio Branco e membro da doutrina integralista o Estado é era um mero
Comissão permanente do Arquivo a própria Nação organizada. O estudante de
Histórico do Ministério das Estado será expressão Direito.
Relações Internacionais. autêntica da vida nacional. Afastou-se do
Dessa maneira, não haverá integralismo
propriamente, uma após o
intervenção, mas uma ação fechamento
conjunta de duas forças. Assim, da AIB.
para a doutrina integralista o
Estado é a própria Nação
organizada. Eis a maior
diferença entre o integralismo
e o liberalismo: para o
liberalismo, não há nenhuma
identidade de fins entre o
Estado e a Nação. Por isso, o
direito de intervenção é um
direito pela própria realidade
social. “Em nome desse direito
é que o Estado agirá para
compor as grandes harmonias
e realizar a verdadeira justiça”

Luiz da Nasceu em Advogado, etnólogo e folclorista Em 1928, formou- Grande divulgador da Não possuía mais “Chefe Provincial Integralista, Não há registros de que Os vários Brasis Não
Câmara Natal, Rio se pela Faculdade noção nacionalista de nenhuma vinculação com miliciano convicto, considero Cascudo tenha renegado o
Cascudo Grande do Foi professor de Direito de Direito do cultura, além de ser o integralismo. Havia se os partidos políticos, meras integralismo após se afastar
Norte, em 1898 Internacional Público, na Faculdade Recife, concluindo Membro da Câmara desvinculado após a fórmulas desacreditadas e da sua militância. E mais: na
e faleceu na de Direito do Recife e de Etnologia também no dos 400, ilegalidade promovida pela incapazes de renovação social. década de 50, quando os ex-
mesma cidade, Geral, na Faculdade de Filosofia, mesmo ano, o propagandeava o Estado Novo, embora para Não pertenço a nenhuma integralistas estavam
em 1986 (88 em Natal curso de nacionalismo contido muitos permanecesse agremiação partidária e reagrupados no PRP, Câmara
anos) Etnografia, na no integralismo no integralista dada a sua mantenho relações íntimas Cascudo, apesar de afastado
Faculdade de período de sua admiração pelo com vários próceres que não da militância política (não se
Filosofia, do Rio militância. movimento e por Salgado. ignoram a retidão de minha filiou ao PRP), assinava os
Grande do Norte. Lançava o livro: Jangada; atitude assumida publicamente jornais integralistas Idade
uma pesquisa etongráfica, a 14 de julho de 1933. Aos Nova e A Marcha.
em 1957. ‘camisas verdes’ de minha "Jamais renegou os seus
Em 1958 – Lança – Província não dou explicações, princípios e não negava a sua
Supertições e costumes; porque eles me conhecem de condição de ex-integralista",
em 1959 – Canto de muro perto. Aos políticos é escreveu o falecido médico
e Rede de dormir .Em 1960 desnecessária qualquer Clóvis T. Sarinho (Fatos,
– o concieto sociológico do justificação em contrário às Episódios e Datas que a
vizinho; e em 1961 suas afirmações, porque memória gravou, Editora
Etnografia e Direito, política é isso mesmo.”. Aqui Nordeste, 1991, Natal,
dentre outros. podemos observar umas das páginas 183 e 184).
raras manifestações de
Cascudo em relação à política
além de uma amostra de sua
convicção integralista“.
Nota publicada na Revista A
República em 04/09/1934)

Jeováh Mota Nasceu em Militar do Exército Era sobrinho do AIB/LEC – Membro do Conselho Em 1955 assumiu o “Milito no exercito nacional Em 1937 redigi uma carta à Assina o Regulamento Não
Maranguape – escritor Capistrano de Abreu. deputado Supremo da AIB e comando do 18° assim como milito no exercito Câmara dos Deputados do Departamento

17
Parte das informações e dados deste autor pode ser encontrada no acervo depositado na Casa de Rui Barbosa. Coleção: Lauro Escorel, bem como no Dicionário de autores paulistas. SP, 1954, Op. Cit. p.398.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

CE, a 12 de Ingressou no Colégio Militar em federal - 1933 chefe provincial do CE Regimento de Infantaria, do integralismo: ambos são assumindo que estava se Nacional dos Serviços
fevereiro de 1919 e permaneceu até 1924. Em no Rio Grane do Sul, e para mim uma lição de vida e desligando da AIB, Sindicais – organização
1907. Faleceu 1929 conheceu Severino Sombra e assumiu a Diretoria Geral coragem!” A Offensiva, renunciando a seu mandato dos grupos profissionais.
em 1992 no Rio Helder Câmara. Em 1931, ajuda a de Ensino do Exército, 13/5/1934. parlamentar. “Apensar de EI Vol 11 – A orgânica da
de janeiro. fundar a Legião Cearense do cargo que desempenhou a nutrir respeito pela AIB, AIB
(85 anos) Trabalho. Ainda em 1932 inicia te 1962 quando passou acreditava que esta jamais
troca de correspondências com para reserva. Ainda em seria um adequado
Salgado, de onde saem as primeiras 1957 iniciaria suas instrumento de luta em prol
trocas de idéias para a formação de pesquisas para o livro que da justiça social, pois não
um movimento de cunho nacional. lançaria cerca de 20 anos comportava uma intensa
Após a criação da AIB a LCT se depois. A formação do atividade sindicalista
incorporou a AIB. Em 1933 elegeu- Oficial do Exército: operaria”.
se deputado constituinte pela LEC. currículos e regimes na
(Liga Eleitoral Católica). Assim, com Academia Militar (1810-
o apoio da (LEC), os “camisas- 1944), publicado em 1976.
verdes” o elegem único deputado
federal da AIB, em 1933, e dois
deputados estaduais,
posteriormente. Em 1934 chefiou a
delegação cearense no I Congresso
Integralista de Vitória. Em 1936
iniciou o primeiro curso de
organização trabalhista, voltado
aos líderes integralistas. E em
setembro do mesmo ano passou a
ser diretor do Serviço Sindical
Coorporativo. Chefiou também o
Departamento Nacional de Justiça,
que integrava o conselho supremo
da AIB. Em 1937 foi indicado por
Salgado para assumir a chefia dos
integralistas em São Paulo, o que
levou ao esvaziamento da
organização trabalhista que
implantara no RJ. No mesmo ano
redigiu uma carta à Câmara dos
Deputados assumindo que estava
se desligando da AIB, renunciando
a seu mandato parlamentar.
Afastou-se assim da AIB sendo
acusado de haver se tornado
comunista.

Thiers Nasceu em 16 Advogado e jornalista Direito/Universida Rio de Janeiro Não Não Membro do Thiers também era escritor Não foram encontrados Aula magna: A Não
Martins de dezembro de de do Brasil Secretariado Nacional e professor dedicado ao registros preparação das elites
Moreira 1904, em Diplomado em direito pela e da Câmara dos 40 estudo e ao ensino da integralistas18.
Campos, RJ e Universidade do Brasil (1932); literatura portuguesa e
morre no Rio de catedrático em direito brasileira Simpatizante Apenas assina a aula magna – Aula: Introdução à
janeiro em administrativo pela Faculdade de atuante no principio da A preparação das elites Sociologia Geral – EI Vol.
1970. Direito PUC; catedrático em AIB integralistas 9 – da Educação
(66 anos) literatura portuguesa pela integralista
Faculdade Nacional de Filosofia,
depois pela Faculdade de Letras
UFRJ; conferencista pela Escola do
Estado do Estado-Maior do
Exército, onde realizou cursos de
sociologia de guerra; presidente do
Departamento de Letras Clássicas
da Faculdade Nacional de Filosofia;
diretor dos serviços públicos
federais e criador e diretor do

18
Fizeram parte desta aula “Preparação das elites integralistas”, ocorrida em meados de 1934: San Tiago Dantas (aula sobre o Direito corporativo), Gustavo Barroso (aula sobre a História militar brasileira), Hélio Vianna (aula sobre a História social e política do Brasil) e Antonio Galotti (sobre Doutrinas Econômicas). Os planos de aula deste curso estão disponíveis na EI
Vol. 9. pp.154-159.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 1ª GERAÇÃO

Centro de Pesquisas da Casa Rui


Barbosa.

Nasceu em Jornalista e Advogado (formou-se Largo São São Paulo Não AIB Membro do Nenhuma “De modo geral e definitivo, a “(...) Por isso tive no A crise brasileira de Não, mas
Ernani Silva Curitiba, PR, em para agradar o pai e obter um Francisco - SP secretariado nacional solução do problema da momento de minha Autoridade nunca
Bruno19 10 de agosto de diploma superior, mas não gostava e Secretaria de autoridade no Brasil, como participação no integralismo (originalmente escrito escondeu a
1912. Faleceu da profissão), além de historiador Doutrina e Estudo e aliás em todas as mais entusiasmo por isso e em A Offensiva, manutenção
em 25 de autodidata. 20 Nos anos 30 e 40 Membro da Câmara nacionalidades, só pode ser pela agitação política 5/7/1934) – Reeditado de sua
setembro de escrevia com o pseudônimo de O do 400 procurada dentro dos daquele momento do que na EI – Vol. IV proximidade
1986 em São Cosme Velho no Jornal da Manhã, e princípios de uma nova pela apostilas do Processo com os ideais
Paulo.(74 anos) depois, nos anos 50 e 60 em O filosofia social inspirada em um civil” (BRUNO, Silva Ernani. Edita o Estatuto da integralistas.
Estado de S. Paulo, Folha da Manhã novo senso de vida. O Autobiografia. 1986) Escola Brasileira de
e Diário da Manhã. Foi nomeado integralismo está apto a Jornalismo. Editado na
redator do serviço público nos anos realizar isso! EI, Vol IX.
40, prestou serviços na Diretoria Regulamento da
Estadual de Imprensa e Secretaria Nacional de
propaganda. Em 1970 dirigiu o Doutrina e Estudos – EI
Museu da Casa Brasileira. Em 1983 Vol 10 – A orgânica da
passou a ocupar a 17ª cadeira da AIB.
Academia Paulista de Letras.

Félix Nasceu em Filósofo Apelidado de: O Piá do Sul Filosofia na RS Não Não Membro da AIB, PRP Em 1942, em sua tese para Uma organização integral, no Não foram encontrados Organização social do Sim,
Contreiras 1884. Morreu foi reitor da PUC- RS, desde Universidade a cadeira de economia na Brasil, teria de refletir os dados registros integralismo. EI Vol 3 simpatizante
Rodrigues em 1960 – (RS) dezembro de 1954. No triênio Federal do Rio faculdade de Direito de Po oferecidos pela sua história; ativo
anterior foi Diretor da Faculdade de Grande do Sul Alegre proclamava o poderia ser Corporativo, mas
(76 ANOS) Filosofia, Ciências e Letras da integralismo aos alunos. essencialmente democrático,
Universidade Pontifícia Católica do Nos finais dos anos 50, de inspiração cristã. Assim,
Sul, no RS, de 1951- 53. Fundou a lecionava na PUC–RS, e afirmar que o corporativismo
revista da Universidade – VERITAS, permanecia ligado é a negação da democracia é
pois o lema da alma mater é AD ideologicamente ao um erro, porque significa
VERUM DUCIT (conduz ao integralismo desconhecer o corporativismo,
verdadeiro). Escreveu o livro: ao mesmo que dar à
Farrapo - Memórias de um cavalo. democracia o não somente não
Todo o livro conta os episódios tem, quanto ainda supor que o
tendo como foco narrativo o liberalismo seja uma
cavalo. ideologia... Para conhecer o
fenômeno do Corporativismo e
afastar de si a aversão que lhe
tributaram os povos
democráticos, convém
distinguir o fato político
totalitário, do psíquico,
Democracia de Liberalismo, e
ideologia de ideal realista...
pois que o ideológico não é a
essência do regime
democrático. Por isso: depois
da boicotagem e sabotagem,
com máscara de traição às
operações de que brota o pão
de cada operário e implantaria
a grande época para o bem-
comum: a do operariado e a
partilha dos lucros, dois
estandartes integralistas.”

(EI, Vol. III)

19
Parte dos dados deste autor está disponível na Enciclopédia da Literatura Brasileira. Op. Cit. p.388.
20
De acordo com: BRUNO, ERNANI Silva. Almanaque de memórias. Hucitec, 1986. (autobiografia) Para mais informações ver: LOFEGO, Roberto. Memória de uma metrópole. São Paulo na obra de Ernani Silva Bruno. Annablume/Fapesp. 1996. Ver também: Arquivo Ernani Silva Bruno (AESB) IEB – USP.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

2 ª GERAÇÃO
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

Autores da Data de Profissão declarada Curso Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo com o O que diziam sobre o integralismo no período de O que dizia sobre o Seus textos selecionados Quando morreu
Enciclopédia nascimento e Outras ocupações da carreira Superior/ federação legislativa? quais desempenhava Integralismo no período militância integralismo após se para a EI versavam sobre era integralista?
do morte Local de em que partidos? no período de da publicação desvincular
Integralismo formação atuou sua militância da EI
por ordem integralista?
de aparição
no
compêndio

João Carlos Não foram Engenheiro e Advogado Faculdade do São Foi constituinte AIB Militante e membro Militava no PRP de SP, onde em 1962 Ao velho cabe incitar os jovens: quem não quiser Não foram Discurso proferido em São Sim
Fairbanks encontrados Engenheiro ferroviário de Largo São Paulo de 1935, pela AIB PRP que atravessou as 3 será eleito suplente de deputado. figurar como urubu e assim naturalmente almejar o encontrados Paulo no dia da bandeira
registros campo, responsável pela Francisco tendo 9920 votos. gerações do cadáver da Nação, procure ser “Águia Branca”, registros de 1957
construção da Estrada de (1935-1937). movimento procurando conduzi-la a estratosfera e da iosfera, por
Ferro Sorocabana. Tornou- Foi suplente de sobre os quais a tranqüila e sedativa luz dos raios
se 1º secretário do Deputado pelo cósmicos passa adverti-los: sic itur ad Astra Uma e
Sindicato Rural de Santo PRP em 1962, por outra – o oásis e as águas cristalinas – vim encontrá-los
Anastácio, em 1931, onde SP, com 645 em 1931, donde surgia a Sociedade de Estudos
foi engenheiro de estrada votos. Políticos (SEP) e a Ação Integralista Brasileira. Eis um
de ferro. Além disso, foi depoimento de um dos homens da geração anterior de
signatário da Carta à 32.
Nação, de 1945.1
Alberto Não foram Advogado Rio de Membro da AIB e AIB Nome representativo Participa dos primórdios da criação “Plínio Salgado, nosso guia espiritual, a quem Nunca se Não foram
Bittencourt encontrados Janeiro Deputado PRP do PRP sempre era do PRP consideramos louvor, o maior dos brasileiros vivos... desvinculou Bases do pensamento encontrados
Cotrim registros estadual lembrado por Salgado No Conclave do PRP em Vitória em 25 nos ajude na interpretação histórica deste novo ciclo político Integralista registros
Neto Guanabara- PRP – por ser um militante de julho de 1957, torna-se parte da cultural. Não é mister ter alma poética para alcançar o
(escritos retirados da
legislatura 1951 - fiel aos preceitos do Comissão de Relações com entidades sentido do drama sublime de Virgílio em sua obra.
Idade Nova entre 1949 e
1955. Seria movimento. cívicas e Assuntos Políticos. Era Bastas sentir-se na alma, na mais anestesiada das
1950) EI. vol. 4
vereador da também membro do Conselho almas, um resquício de amor à trilogia de Enéias, para
cidade do Rio de Político Nacional do PRP que se compreenda a dor daqueles homens que, de 32
Um de seus poemas está
Janeiro na década a 37, lançariam à apreciação dos povos do Brasil o seu
presente na coletânea de
de 1960. grito de alerta para salvaguardar o Brasil... Assim nos
poetas integralistas no VII
Secretário da dias fluentes, quando podemos falar à nação sem as
Volume da EI.
Justiça da GB, em peias com que por tantos anos a ditadura açaimou
1966, e assessor nossa palavra, impõe-se o esclarecimento definitivo da
da pasta do opinião brasileira. (...) Todavia, da Tribuna da Câmara
Trabalho na do Distrito Federal, já o vereador Jayme Ferreira da
gestão do prefeito Silva pôs termo às calúnias de sentido
Negrão Lima predominantemente político lançados contra os
(1969).Em 1994 antigos militantes da AIB atualmente em maioria
dá nome a um integrados ao PRP. Esquecem-se os caluniadores que o
logradouro na Integralismo é antes de tudo, uma filosofia, uma norma
cidade carioca. de ação prática que inspira um movimento político...”
EI, Vol. IV

Pedro Não foram Jornalista, Lafayette era o Não foram Rio de Sim, foi vinculado PRP Diretor de jornais Diretor de jornais perrepistas “Ora, com sua maravilhosa dialética, como o Não foram A luta dos Fariseus Não foram
Lafayette encontrados mais extremado encontrados Janeiro e ao PRP perrepistas Mantinha seus contundentes ‘Manifesto de Outubro’, anunciando a fundação do encontrados (retirado originalmente de: encontrados
registros anticomunista do PRP. registros Espírito discursos sobre o anticomunismo, nas movimento integralista data de 32, a prioridade, no registros A Idade Nova, 21/9/1946) registros
Editou o jornal Reação Santo bancadas do PRP. Mantêm em finais assunto em causa, cabe a Maritain e não a Plínio Ei. Vol. 4
Brasileira, desde maio de dos anos 50 a direção do jornal Salgado... Ora. O fundador do Integralismo estava no
1945 até setembro de carioca Folha Carioca. decurso de sua palestra com os jornalistas rebatendo a Descreve a briga ocorrida
1947, jornal oficioso e acusação de numerosas vezes feitas, de ter sido ele nos jornais entre Alceu
simpatizante do PRP, plagiador, e preconizador de regime totalitário, quando Amoroso Lima,
quando transfere-se para nessa altura, Salgado, combatia o totalitarismo e juntamente com Fábio
o Espírito Santo para dirigir sempre pregava a dignidade e resepito humanos... E Alves Ribeiro, articulista do
o jornal perrepista: A para demonstrar a clareza de seus pensamentos “Diário de Notícias”, do RJ
Tribuna. Em 1953 foi declarou que já mesmo antes de Maritain pregar a e a AIB. Escritos em
diretor da Folha Carioca2. necessidade de pregar uma cruzada no sentido da meados de 1940, logo
dignidade humana. Assim, difamadores dão ganho de após as disposições do
causa ao idolatrado Maritain, alegando ser o Manifesto novo partido na bancada
de Outubro ser datado de ante,alegando plágio... O da redemocratização, o
manifesto é a soma das coisas que aquele homem leu e PRP, estes escritos têm
pensou, logo não foi plágio mas uma apropriação das um caráter diferenciador
coisas boas... uma releitura. Um raio de sabedoria!” pois trás a tona, trechos de
discordâncias entre um
dos, anteriormente,

1
A Carta aberta à Nação de 17/05/1945 foi um documento publicado nos principais jornais do país, que objetivava reverter o quadro de hostilidade contra a reorganização do movimento integralista em partido político. Dos autores que aparecem na Enciclopédia, além de Fairbanks, também foram signatários: AB Cotrim Neto, Jayme Ferreira
da Silva e Loureiro Jr.
2
Ver: CORTÉS, C. Homens e Instituições no Rio de Janeiro. RJ, 1957.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

grandes admiradores da
AIB, e sua nova postura,
discordante e bastante
contrária ao integralismo.

José Nasceu em Advogado e jornalista Direito na São Deputado pelo AIB Secretário Assistente e Deputado pelo PRP(SP) em 1957 – “Nós, estudantes integralistas, na maioria voluntários Não foram Aos Estudantes Paulistas... Permanecia
Loureiro Jr. Jau – SP, em Tornou-se secretário do Universidade Paulo e PSD (SP) em 1955 PRP (RJ) depois Chefe de ano de lançamento da EI. Deputado de 1932, temos algo a dizer: É chegado o momento em encontrados (retirado originalmente da simpático ao
16 de junho governador de São Paulo, do Largo de Rio de – ano de primeira Gabinete da chefia pelo PRP (SP), volta ao PRP em 1957 – que duas gerações irremediavelmente se separam. É o registros Offensiva, 31/5/1934) movimento
de 19123 Lucas Nogueira Garcez. São Francisco Janeiro lançamento da EI. legislatura nacional ano de lançamento da EI. Lança o instante em que os filhos deverão separar-se dos pais, Reeditado na EI Vol. 5
(1953-55) Participou da – São Paulo, Participou da 1947 livro: A calúnia como arma eleitoral se quiserem ser dignos na missão que o destino
redação do anteprojeto da formado em redação do PRP (SP) (1957). No Conclave do PRP em histórico da Pátria lhes reservou. Não existem 3
Constituição de 1966, 1935. anteprojeto da A partir de Vitória em 25 de julho de 1957, caminhos, apenas 2: ou somos tristes servos da gleba Regulamento da Diretoria
juntamente com Alfredo Constituição de 1955 torna-se parte da Comissão de partidária, ou nos afirmamos com os direitos e a Nacional de estatística - EI
Buzaid e Goffredo da Silva 1966, juntamente Relações com entidades cívicas e violência de uma geração em marcha. Pois, a Vol 10 - A orgânica da AIB
Telles, dois históricos com Alfredo Assuntos Políticos. Era também Assembléia Constituinte vale tanto para nós, moços
integralistas. Era genro de Buzaid e Goffredo membro do Conselho Político estudantes e idealistas, como um baile de múmias; o Regulamento do Gabinete
Plinio Salgado, casado com da Silva Telles, Nacional do PRP Partido Constitucionalista é tão podre quanto o PRP, da Chefia Nacional - EI Vol
Maria Amélia Salgado. dois históricos Partido Republicano Paulista... Por isso, irmãos 10 - A orgânica da AIB
integralistas. Era paulistas, eles andaram confiantes na palavra
genro de Plínio mentirosa de Interventores e serviçais da ditadura, em
Salgado, casado vez de procurar falar ao coração da mocidade dos
com Maria Amélia outros Estados. Pó isso, nossa revolução, a integralista
Salgado.4 tem duas etapas: primeira a transformação da
mentalidade, pelo estudo; segundo a tomada do
poder! Esta é a palavra do integralismo: Um dia
conquistaremos o governo da Nação. E em nome
desses 4 mil estudantes já inscritos sob a bandeira do
Sigma gritamos em favor da pátria... Passaram pela
sessão de estudantes integralistas de São Paulo:
Loureiro Júnior, Alfredo Buzaid, Luis Saia, Octilio Pousa
Sena, Rui Arruda, Lafaiete Soares de Paula, Amador
Galvão de França, Antonio Campos Nóbrega, Francisco
Luis de Almeida Sales, Mario Mazzei Guimarães, Zigler
de Paula Bueno, Roland Cavalcante de Albuquerque
Corbisier, Godofredo da Silva Teles Jr.” ”5

Luis Nasceu em Advogado e Jornalista Bacharel em Rio Foi Deputado PRP Militou na AIB e Deputado pelo PRP entre 1952 e “Tornei-me integralista levado, inicialmente por Não foram Por que me tornei e Sim
Alexandre Caxias do Sul Áreas de atuação: Direito pela Grande federal PRP (RS) permaneceu próximo 1958 No Conclave do PRP em Vitória motivos religiosos. Colaborava na tarefa de fundação encontrados continuo integralista
Compagno – RS em 1913 agricultura (vitivinicultura, Universidade do Sul 1947, e depois ao integralismo até o em 25 de julho de 1957, torna-se da Juventude Católica e Círculos Operários. Foi então, registros (visões de um católico
ni triticultura), imprensa, Federal do estadual na final de sua vida. parte da Comissão de Relações com na juventude religiosa daquela época sacudida por um integralista)
regime de governo, Rio Grande legislatura de entidades cívicas e Assuntos Políticos. Manifesto político, que iniciava seus princípios. Era o EI Vol. 5
religião. Foi Diretor da do Sul, 1942. 1952 a 1958. Era também membro do Conselho começo do Integralismo. Este manifesto encheu da
Editora A Nação e do nesta legislatura Político Nacional do PRP mais pura alegria todos aqueles jovens que formavam
Centro da Boa Imprensa. era líder da as fileiras da Juventude Católica e Centros Operários
Teve forte militância maioria na Católicos, dos Círculos operários Católicos, das
católica nas colônias do Câmara. Congregações Marianas. Era a primeira vez que, num
sul. Foi Deputado estadual documento político, se falava em Deus. Por outro lado,
no período da publicação é fácil imaginar o que sucedeu à mocidade posterior ao
da EI. fechamento da AIB. E então, com o passar do tempo,
minha integração na Doutrina Política de Plínio Salgado
foi se robustecendo. Vieram as declarações de Trystão
de Athaíde, chefe do laicato católico brasileiro, todas
favoráveis ao integralismo, depois as contrárias...
surgiram as famosas ‘Cartas de Natal e de Fim de Ano’,
de 35, na qual o chefe, depois de combater as loucuras
do hitlerismo (numa época em que os políticos liberais
o endeusavam), traçava de maneira magistral, os
limites entre ‘o reino de Cristo e de César’. Depois, de
1937 com os integralistas presos e perseguidos, com
Salgado exilado, perguntava-me se aquelas altas razões
religiosas não sofreriam um colapso no Fundador do
Integralismo. Foi então, que em 42 escreveu: A Vida de
Jesus! Mas para que este depoimento seja completo,
faz-se necessário que analisemos o outro período do
integralismo: a parte que se inicia com o exílio em
1946... O período que se inicia em 46 até os dias
presentes nada mais é do que a continuidade perfeita

3
Parte dos dados sobre este autor pode ser consultada no Dicionário de autores paulistas. Publicação comemorativa do IV Centenário da Cidade de São Paulo editada pela prefeitura em 1954, p.319.
4
Para mais informações ver: Livro biográfico escrito pela filha de Salgado, Maria Amélia Salgado Loureiro, esposa de Loureiro Jr. Plínio Salgado, meu pai. SP, GRD, 2000.
5
Deste corpo de jovens estudantes integralistas, que mais tarde vão se juntar e criar a SEP, muitos deles permaneceria no movimento até seu fechamento definitivo. Eram todos da escola de direito.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 2 ª GERAÇÃO

dos períodos anteriores. Depois de 25 anos de lutas,


prisões e incompreensões, minha consciência está
tranqüila”.

Gerardo Nasceu em Poeta e Escritor Direito: AL, RJ Duas vezes AIB Militante influente Simpatizante, pois militava em outro A Ronda da Pátria “O integralismo foi Assina uma das poesias do Sim
Melo Ipueiras – CE, Catedrático em direito Diplomado deputado federal, (militante) nos meios culturais e partido após 1945, o PTB, partido Sou o Índio Americano, - o Guaycuru selvagem, uma fecunda Vol. 7
Mourão6 em 8 de administrativo pela em direito eleito pelo PTB católicos pelo qual se sagra deputado por duas O Goitacaz fogoso. experiência cultural
Faculdade de Direito PUC; pela das Alagoas, foi PTB – pós- vezes. Em 1957 lança juntamente Sou Y-Juca-Pyrama, - o Aimoré que não morre e uma aventura
janeiro de
catedrático em literatura Universidade exilado em 1964 guerra com Abdias do Nascimento a Sempre valente e sempre belicoso! moral e espiritual
1917. Faleceu portuguesa pela Faculdade do Brasil no Chile, quando antologia do TEN Dramas par negros. Convoquei cinco mil dos meus Tamoios, Defendi minha dos melhores
em 9 de Nacional de Filosofia, (1932) em 1969 teve os Terra. brasileiros de minha
março de depois pela Faculdade de direitos políticos Era colaborador da Folha da Manhã, Ou Tupi, ou Tapuia, - eu sou Ararigboia geração. Quatro
2007 no Rio Letras UFRJ; conferencista cassados pelo que depois se tornou Folha de S. Sei vibrar o boré nas explosões da guerra! deles chegaram à
de Janeiro. pela Escola do Estado do regime militar. Paulo e deputado federal que seria Outrora me chamaram Anchieta Presidência da
Estado. Na década de cassado pelos militares. E eu preguei a palavra do Senhor. República nas duas
(90 anos) 1980, foi presidente da Hoje visto a Camisa-Verde e sou Plínio Salgado! últimas décadas,
Rio Arte e secretário de Sempre existi e sempre existirei. sem falar em outros
Cultura do Estado do Rio, Sou o gênio da Pátria, - a eterna Mocidade, postos altamente
além de correspondente - E nunca morrerei! representativos da
da Folha de S. Paulo em vida nacional. Haver
Pequim entre 1980 e 1982 pertencido ao
Foi indicado ao Prêmio integralismo é um
Nobel de literatura de título que me tem
1979. Em 1999 ganhou o proporcionado os
Premio Jabuti pelo épico melhores
Invenção do Mar. momentos de
minha vida social,
profissional,
política, cultural,
cordial e afetuosa.
Não permito que
ninguém mude uma
vírgula na história
de meu passado.
Minha história
pessoal é um
patrimônio de que
me orgulho.”
Entrevista ao site:
Balacobaco, em
março de 2000.
Nascido em Advogado Jornalista Não foram Rio de Não Não Escrevia em jornais do Não foram encontrados registros “A cultura supera a natureza: é exatamente o seu O conceito de cultura Não foram
José Soares Fortaleza, a encontrados Janeiro PRP e foi secretário de contrário! No Integralismo. O Estado Integral é (Retirado de Páginas de encontrados
de Arruda 22 de Agosto registros Plínio Salgado nos Revolucionário porque, como substancia e forma, Combate, nº 7, RJ, 1946) registros
de 1922; anos 50 quando movimento e evolução, o integralismo é espírito de Reeditado na EI Vol. 8
participava do revolução...”
movimento dos
Águias Brancas

6
Gerardo Mello Mourão aparece na Enciclopédia do Integralismo como um dos 52 autores poetas reunidos no Volume 7, exclusivamente compilado para homenagear a poética integralista.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO

3 ª GERAÇÃO
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 3 ª GERAÇÃO

Autores da Data de Profissão Curso Estado da Teve participação Atuou em Quais funções Funções e vínculo O que diziam sobre o integralismo no período de O que dizia sobre o Há registros de sua Seus textos selecionados Quando
Enciclopédia do nascimento declarada Superior/ federação legislativa? quais desempenhava com o militância integralismo após recepção com para a EI versavam sobre morreu era
Integralismo por e morte Outras Local de em que partidos? no período de Integralismo no se desvincular relação à integralista?
ordem de ocupações: formação atuou sua militância período Enciclopédia do
aparição no carreira integralista? da publicação Integralismo?
compêndio da EI

Genoíno Não foram Não foram Não foram São Sim PRP Membro do PRP Era vinculado ao “Ser e estar são os verbos. O integralista é. Afirma-se Não foram Não foram Ser ou não ser integralista Ao que tudo
Ferreira Filho encontrad encontrados encontrado Paulo paulista PRP permanentemente através de um movimento de idéias. encontrados registros encontrados registros Escrito analítico sobre a indica, sim
os registros s registros Somos um movimento e não estamos um movimento. tendência dos correligionários
registros Afirmemos então, integralistas, com bastante coragem, nos anos 50. Ou estavam no PRP,
nosso ideal. Afirmemos porque ele resiste ao tempo e ou estavam fora do integralismo.
existirá sempre. Somos um movimento para a Interessante conclusão que chega
humanidade e a eternidade. Assim, ser integralista não é Genoino ao apontar que a
fácil. E, antes de tudo, ser integralista significa tomar maioria dos correligionários que
atitude conhecendo a verdade da vida e crendo nela. Aqui não estivessem vinculados ao
está o binômio capaz de criar o homem integral, aquele PRP teriam que estar,
que dignifica a existência: razão e crença. Então, “Ego necessariamente arrolados nas
Sum: somos um movimento para a eternidade: somos, fileiras dos 3 outros partidos:
não estamos num movimento(...) Portanto, os que não UDN, PTB E PSD: EI Vol. 8
são integralistas estão hoje, ou na UDN, ou no PSD, ou
estarão amanhã no PTB... Para o integralista: pensa-se e
logo descobre sua existência no movimento... parte
dele...”

Umberto Nasceu em Engenheiro Bacharel Rio Gestão 31/01/1967 Membro Atuante líder da Era um dos “Ler: O Estrangeiro, O Esperado, O Cavaleiro de Itararé e Sim, eu me lembro Como estudar Plínio Salgado Ainda é vivo
Pergher 1930 em civil e em Grande a 15/03/1971 – do PRP chamada “ala coordenadores da a Voz do Oeste, pois nestes romances estão pautados dessa enciclopédia e
Farroupilh Filósofo Sec. Filosofia/U do Sul Assembléia jovem” do PRP, arregimentação toda sua doutrina, política, sociológica e filosófica. O do quanto nós, em Retirado de A Marcha, 12 de
a, RS de FRG Legislativa do RS. ARENA era Secretário de jovem integralista. resto de seus escritos são desdobramentos destes.” Porto Alegre fevereiro de 1954.
Arregimentaç Arregimentação Em 1957 foi o líder esperávamos os
(78 anos) ão Eleitoral eleitoral do PRP do I Congresso de volumes chegassem. Reeditado na EI Vol. 8
do PRP - 1957 Lideres da Era lição de
– Juventude doutrinação nos
Coordenador integralista. debates dos CCCJ (...)
do Cong. de Permaneceria ligado e na época até fui
Líderes da ao PRP até 1964. contatado porque
Mocidade havia um teto meu
Integralista nesta coletânea”1
1957 –
participou do
Congresso de
Vitória 1959 –
Engenheiro
Civil/UFRGS5
9 – Oficial de
Gabinete do
Sec. de Agric.
do RS,
Alberto
Hoffmann
dec. de 60/70
– Trabalhou
no Instituto
Gaúcho de
Reforma
Agrária, no
Centro de
Processament

1
Entrevista concedida via e-mail em 20/11/2008.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 3 ª GERAÇÃO

o de Dados
do Estado
e Metroplan6
3/64 – Chefe
de Gabinete
do Instituto
de
Previdência
do Estado67-
71 –
Secretário de
Obras
Públicas do
RS (já na
Arena, fazia
parte do
Diretório
Regional)Trab
alhou
também em
algumas
empresas
privadas de
construção
civil em
períodos
diversos.
Figura
importante
do PRP
participou
ativamente
de reuniões
do diretório,
inclusive
aquelas que
decidiram
sobre
coligações
eleitorais e
escolhas de
candidatos.

Genésio Nasceu em Jornalista e Formou-se São Não PRP Filiado ao PRP - Militante próximo Ser integralista não é fácil. Significa tomar atitude Sim: Lembro-me de Ser ou não ser integralista: Como Sim
Cândido Pereira São Bento Advogado me Direito Paulo paulista de Salgado era um conhecendo a verdade da vida e crendo nela. Aí está o que estudávamos nos os integralistas pensavam nos
Filho2 do Sapucaí Jornalista pela atuante e entusiasta binômio capaz de criar o homem integral, aquele que diretórios do PRP e anos 50?
– SP, em tinha grande Faculdade perrepista dignifica a existência: razão e crença. Ser e estar são os mesmo nas EI Vol 8
25 de penetração de Direito Participava do verbos. O integralista é. Afirma-se permanentemente assembléias das
agosto de junto às da diretório do PRP- SP através de um movimento de idéias. Somos um Águias Brancas os
1920 e questões Universidad movimento e não Estamos um movimento. Afirmemos títulos da EI (...) era
permanece ligadas à e de São então, integralistas, com bastante coragem, nosso ideal. doutrinação dos
vivo. Cultura.Exerc Paulo. Afirmemos porque ele resiste ao tempo e existirá grandes temas do
(88 anos) eu funções sempre. Somos um movimento para a humanidade e a integralismo (...) mas
em eternidade.(...) Assim sendo, os que não são não me lembro se eu
organizações integralistasmas estão hoje, ou na UDN, ou no PSD, ou comprava ou ganhava
de classe estarão amanhã no PTB...precsam pensar: para o no diretório1”3
tendo sido integralista: pensa-se e logo descobre sua existência no

2
Ver: Dicionário de autores paulistas. Op. Cit. p.466.
3
Entrevista concedida em 21/12/2008, no apartamento do depoente, em São Paulo.
QUADRO ANALÍTICO-PROSOPOGRÁFICO DOS AUTORES DA ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO – 3 ª GERAÇÃO

presidente do movimento... parte dele! EI Vol 8.


“Jaboticabal
Esperanto
Klubo”.Nas
Arcadas,
dirigiu a
revista
Arcádia, e
presidiu a
Academia de
Letras da
Faculdade.
Foi jornalista
e editor da
Editora
Guainumby.
Abelardo Não foram Diplomata Não foram Washingt Não foram Não Não foram Não foram Não foram Ato de fé integralista Não foram
Cardoso encontrad encontrado on - EUA encontrados foram encontrados encontrados “Washington, 30 de agosto de 1957. encontrados registros defendido numa carta à encontrados
os s registros registros encontra registros registros Prezado senhor Dórea. Congratulo-me com o senhor e Gumercindo R. Dórea registros
registros dos peço autorização para divulgar as idéias cá pras bandas
registros de Washington, onde sou membro do Itamaraty. Carta na qual, o senhor Cardoso
Subscrevo-me... Abelardo Cardoso.” diz que converteu-se ao
integralismo e que passa, a partir
daquela data a ser e fazer valer o
integralismo... Note como a
força de aliciamento do
movimento ainda era pautada
pelos antigos protocolos.
Ivan Luz Foi deputado PRP Rio de Foi deputado PRP Militantes do PRP Não foram “Estado é mais importante que a Família na ordem dos Não foram Teleologia Integralista Sim
federal pelo Janeiro e federal pelo PRP na encontrados meios. Na ordem dos fins, a Família torna-se mais encontrados registros (Retirado de A Marcha,
PRP na Brasília legislação 1960-64. registros importante que o Estado. Entretanto, como a ordem dos 20/11/1958)
legislação Presidiu por algum fins determina, a família é o mais importante Reeditado na EI Vol. 8
1960-64. tempo o INIC agrupamento da sociedade organizada (...) assim, a
Presidiu por realidade não aceita artifício: o Estado Integral, é o
algum tempo Estado Caridade. Assim, é bom que se registre que: o
o INIC liberalismo concebeu um Estado sem finalidade. O
fascismo, um Estado com finalidade em si mesmo. O
nazismo caminhava para a negação do Estado e o
comunismo é a negação total. Logo, é preciso determinar
uma teleologia integralista.”

Contemporân Bahia Não Não Militante do PRP Afastar-se-ia do “Como conciliar o Totalitarismo que cujo fundamento é Não foram O integralismo não é Sim
eo de integralismo em anti-cristão com o Integralismo que é, por essência encontrados registros totalitarismo
Hélio Rocha Gumercindo finais dos anos 50. inspiração Evangélica?...Muitos julgam que variar é
Rocha Dórea, Vivia na Bahia onde evoluir... E enquanto isso, o conformismo vai nivelando o (retirado de Edições Sino de
atualmente é lecionava e resto numa mediocridade repugnante. São necessárias Prata, RJ, 1950)
um participava da muita audácia e muita rebeldia para resistir à lama da Reeditado na EI Vol. 8
empresário juventude planície igualitária. No entanto, há alguns que se
bem sucedido perrepista. iniciava debatem e não despregam os olhos do alto da montanha.
da área de um projeto de uma Esta certeza é o dínamo propulsor da nossa Mística
educação. escola particular Revolucionária. Assim, sendo o Integralismo algo novo,
Possui uma que hoje é uma dos na sua aplicação sulamenricana, é, contudo, na sua
universidade maiores essência, a cristalização do cristianismo... Deste modo, o
no estado da conglomerados mais rudimentar dos raciocínios alcança, de pronto que o
Bahia que educacionais do Integralismo e Totalitarismo são filosofias inconciliáveis.
recebe seu nordeste: as O binômio Nacionalismo-Cristianismo exclui,
nome. Faculdades Helio racionalmente, qualquer tentativa de aproximação, entre
Rocha. a filosofia integralista e as totalitárias existentes. Como
Nacionalistas, constituímos o pólo diametralmente
oposto aos totalitarismos de esquerda e direita, aos quais
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por coerência aos seus postulados estadistas, hão de


violentar e absorver a Personalidade humana. Vê-se
então, que seria empresa de insensato alguém aproximar
o Integralismo dos totalitarismos, pois: enquanto houver
suborno, haverá quem chame o Integralismo de nazi-
fascismo. Mesmo agora, a intolerância totalitária dos
depredadores do PRP, sejam eles gratuitos ou pagos
trazem no seu hiperbólico fanatismo a incandescência
dos mais ortodoxos discípulos de Goebbels”

Gumercindo Nasceu em Advogado, Formou-se Rio de Não Não Intelectual muito Era diretor do Jornal Esse desfile de Gerações debatendo e realizando uma Jamais se desvinculou Em diversos volumes, Introduções e comentários nos Permanece até
Rocha Dórea Ilhéus, BA, escritor e em Direito Janeiro e próximo a A Marcha e obra de cultura, quanto a sua essência e substancia, é permanecendo ativo e por meio de volumes: 1,3, 4, 6, 8, 10 e 11 da o momento
em 4 de Editor Ainda na, então, São Salgado, Rocha proprietário da GRD acontecimento único na história deste povo e só por ela combativo militante. comentários Rocha EI propagando os
agosto de em Feira de Faculdade Paulo Dórea foi um Editor basta se avaliar a força e grandeza do Integralismo Dórea trocava Compilação retirada dos Vols 6 e ideais
1924 Santana - BA, Católica, personagem Brasileiro. Eu escrevo e inventario subsídios doutrinários “O integralismo é, impressões com seus 8* integralistas,
manteve em 1948. essencial na interlocutor direto descritos pelas penas de cinco gerações Quantos destes, sempre foi e sempre leitores: Especificamente no volume 8 há embora sem
(84 anos) disputas retomada de Salgado que figuram nesses volumes continuam do lado de Plínio será a razão um texto reeditado de GRD: muita
ideológicas simbólico política Salgado, é coisa que a organização desta enciclopédia emocional e “O primeiro volume Plínio Salgado e a Estirpe de interlocução
bastante no integralismo não toma conhecimento. O nosso empenho é levantar intelectual de minha da EI mostrou o ideal Aretino
estremecidas do PRP, pós 1950. um monumento ao Integralismo, que possa ser existência!” de Salgado, descrito
com nomes No entanto, compulsado pelas gerações vindouras. E o que está aí em (25/08/2008) por ele mesmo, o (Retirado de Idade Nova, RJ,
consagrados nunca chegou a letras de forma, não é o patrimônio dos seus autores, segundo mostrou aos 1946,) posteriormente
da fazer parte da mas é um patrimônio do movimento integralista! E as moços os sonhos modificado para compor a EI
intelectualida cúpula do PRP. novas perspectivas já poderão ser traçadas – por jovens daqueles eram Vol. 8
de de do Brasil de 1958, para a formação de uma pátria que soldados da primeira
esquerda, tais objetiva a comunidade internacional do futuro. linha, e no terceiro,
como Jacob serão mostrados os
Gorender, incansáveis e que
Mario Alves resistiram a todas
dentre intempéries ” EI, Vol.
outros, o que 3.
colaborou
para que ele
partisse para
o Rio de
Janeiro, em
1944, em
pleno
estertor do
Estado Novo,
quando se
forma em
Direito. Na
faculdade foi
aluno de
integralistas
ilustres, tais
como, San
Thiago
Dantas,
Antonio
Galotti, Thiers
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Martins
Moreira (não
por acaso,
todos
homenagead
os com textos
publicados na
Enciclopédia
do
Integralismo,
lançada por
Gumercindo a
partir de
1957). De
1948, ano em
que se forma
advogado,
até 1952,
quando ajuda
a fundar o
jornal A
Marcha,
periódico
oficial do
PRP, Rocha
Dórea
escreve em
jornais de
cunho
conservador
e exerce sua
verve crítica
contra o
comunismo.
Em 1952
participa da
fundação da
CCCJ, quando
é eleito seu
primeiro
presidente.
Em 1956
fundou sua
editora (GRD)
e em 1957
torna-se
diretor do
jornal A
Marcha.

____ Foi uma das ____ São Não foram Não teve Nos anos 50 fez Em 1957 era 1ª “Penso que o integralismo, por si só já é a solução dos “Infelizmente, dados Não foram localizados “A mulher e o integralismo” Registros
Carmen lideranças Paulo encontrados carreira parte da diretoria secretária da CCCJ problemas nacionais no que se refere a mulher. Digo isso os acontecimentos registros EI Vol 9 esparsos
Pinheiro Dias dos Águias registros político- das CCCJ, e dirigia Fazia parte da porque entendo que a família é o centro por excelência que se sucederam a indicam que
Brancas partidári também a Ala cúpula dos Centro da atuação da mulher. (...) Nem superior, nem inferior ao 1937, quando o sim
a Feminina dos Culturais da homem, a mulher é diferente dele. Este é o equilíbrio. Integralismo alcançava
Centros. Juventude Assim, se continuarmos a verificar o trabalho feminino o auge de seu
fora do lar, a transposição para o recesso da casa, de esplendor, atuando na
costume antes restritos a ambientes específicos, a vida nacional de
vaidades crescentes, a busca pela satisfação dos desejos forma, quiça,
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materiais, veremos solapar a estrutura familiar nesta definitiva, hoje só


pátria” podemos pensar de
modo ideal no que
seria o Brasil de
nossos dias, na
vigência do Estado
Integral” (EI, Vol. 9 –
1959)
Francisco ____ Padre, Teologia na Campina Não Não teve Líder católico e Militante católico de “é preciso conhecer esses quatro pontos cardeais da Não foram localizados Não foram localizados Os quatro pontos cardeais do Sim
Galvão de escritor e PUC – s/ São carreira palestrante ampla atuação na doutrina política do integralismo, para compreender que registros registros Integralismo I e II partes –
Castro professor de Campinas, Paulo político- integralista comunidade nós integralistas anão pretendemos instaurar, no Brasil, Suplemento da EI – (Vol 12)
latim Um dos professor partidári campineira uma ditadura desorientada e oportunista, como foi o
primeiros de Latim a disseminando os peronismo e o Estado Novo (...) Assim, só nós, 4 artigos – Revolução da família;
membros da ideais integralistas integralistas podemos festejar o trabalho com a O problema da ordem; Técnica
Academia na década de 1950 compreensão geral do século XX. O trabalho, para os de Sorel, técnica de Cristo; A
Campinense Permanecia clérigo integralistas, é a fonte do espírito de justiça, da concepção integralista do
de Letras, atuante e militante inspiração política e dos anseios da liberdade humana”. trabalho.
fundada em integralista, embora EI, Suplemento.
1956. não vinculado
diretamente ao PRP.

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