Você está na página 1de 10

CAPÍTULO 18

CONDIÇÕES SANITÁRIAS E HIGIENE

SEÇÃO ÚNICA

18.1. Generalidades – Neste capítulo, abordaremos aspectos importantes


para o homem embarcado, pois estão relacionados diretamente à qualidade de vida,
a sua saúde e à manutenção da prontidão para o combate.
A higiene pessoal é muito importante para o homem do mar, porque,
geralmente, ele vive por muito tempo em um espaço restrito. Assim, a saúde de um
homem passa a ser um problema coletivo.O assunto pode ser visualizado por dois
enfoques distintos: aspectos de responsabilidade da administração do navio e os
relacionados ao comportamento individual.
Obviamente, ambos os enfoques estão relacionados, na medida em que uma
das atribuições da administração é o adestramento da tripulação e um homem
comprometido com o tema, no seu comportamento individual, contribuirá diretamente
para o bom desempenho de seu navio.
No enfoque da administração do navio, as necessidades relacionadas com a
conservação de boas condições sanitárias e a saúde da tripulação fazem parte do
planejamento das viagens, que deve considerar locais de arribada para uma evacuação
médica, necessidade de medicamentos, política do consumo de água, qualidade
dos gêneros e da água recebidos nas escalas, endemias ou epidemias existentes
nos portos visitados, necessidade de vacinação, programação das atividades
recreativas para atender às necessidades psicossociais da tripulação etc.
É importante que o médico do navio – ou, na sua falta, o enfermeiro – alerte
imediatamente seu Comandante quando da ocorrência de patologias relevantes,
particularmente as infecto-contagiosas, a fim de que as medidas corretivas e
preventivas sejam tomadas tempestivamente.

18.2. Ações de caráter administrativo


18.2.1. Preparação de alimentos – A alimentação servida a bordo deve
obedecer a uma dieta balanceada, compatível com a atividade exercida e
confeccionada segundo normas rigorosas de higiene. No âmbito da Marinha do
Brasil, o Manual de Alimentação e Planejamento de Refeições apresenta cardápios
que atendem às necessidades nutricionais do pessoal embarcado.
18.2.2. Conservação e limpeza
a. Limpeza – A limpeza de um navio, além de servir como cartão-de-visita,
exprime os cuidados e a dedicação que a tripulação devota a sua unidade e propicia
um ambiente mais agradável de convivência.
Mas manter um navio permanentemente limpo é uma tarefa bastante complexa,
que exige uma programação capaz de abranger todos os elementos organizacionais
e compartimentos, bem como as necessidades da tripulação. Recomenda-se a adoção
de uma programação semelhante a um Sistema de Manutenção Planejada (SMP),
considerando atividades diárias, semanais, mensais ou com periodicidade maior.
836 ARTE NAVAL

Como exemplo de atividades a serem contempladas em uma rotina de con-


servação, apresentamos o quadro abaixo:

OC OR R ÊN C IA ATIVID AD E

Inspeção vi sual das i ncumbênci as e correção


D IÁRIA de di screpânci a; varrer e recolher o li xo;
i nspeção de rancho

Li mpar telas e dutos de extração das cozi nhas


SEMANAL e copas; trocar e lavar a roupa de cama da
coberta; i nspeção de rancho

Li mpar lumi nári as; lavar e li mpar tetos e


MENSAL acessóri os nele i nstalados; li mpar
geladei ras e fi ltros

BIMENSAL Arejar roupa de cama e colchões

TRIMESTRAL Mostra de pessoal e i nspeção de armári os

QUAND O Inspeção de comparti mentos habi távei s;


C ONVENIENTE desbarati zação

Observações:
(1) as rotinas podem ser subdivididas por áreas, compartimentos ou
incumbências. Assim, a rotina “lavar e limpar tetos e acessórios nele instalados”
pode ser distribuída ao longo das semanas do mês, como necessário, de modo a
abranger todo o navio no período; e
(2) considerando as constantes movimentações dos navios, dificilmente um
planejamento de médio prazo para essas atividades será executado com fidelidade.
Entretanto, as rotinas previamente identificadas balizarão a programação adequada,
de modo que se tenha como resultado um navio sempre asseado e com alto padrão
de higiene.
b. Eliminação de vetores de doenças – Uma preocupação constante na
conservação de perfeitas condições sanitárias a bordo é a eliminação dos vetores
de doenças. Entre eles, destacam-se os ratos e insetos como baratas, pulgas,
piolhos, percevejos e moscas.
As medidas de proteção contra animais daninhos começam na redução da
probabilidade de que ingressem a bordo, com barreiras físicas, controle e verificação
do material que embarca (gêneros e carga, pois eles podem se ocultar em
embalagens); redução de suas opções de sobrevivência (manutenção dos alimentos
em embalagens fechadas, constante limpeza, correção dos maus hábitos individuais
etc.); e eliminação das pragas através da aplicação de veneno ou outro meio.
Entende-se como barreiras físicas quaisquer obstáculos que impeçam o
ingresso no navio (rateiras e hábito de se manter os acessos exteriores ao navio
fechados, principalmente no período noturno) ou nos compartimentos em que se
CONDIÇÕES SANITÁRIAS E HIGIENE 837

guardam gêneros (exemplo: vedação das frestas existentes nas anteparas dos pai-
óis – eficazes, particularmente, em relação aos roedores).
Uma prática bem-sucedida para reduzir o ingresso de animais daninhos a
bordo tem sido a adoção de caixas plásticas vazadas, padronizadas para o
acondicionamento, principalmente de itens fornecidos em embalagens não industriais
(caixotes de madeira), como frutas, legumes e hortaliças. Tais itens são transferidos
para as caixas ainda no cais, ocasião em que se faz uma inspeção acurada do
material a ser embarcado, eliminando-se detritos e o que estiver estragado. Tal
procedimento apresenta as seguintes vantagens:
• embarque de gêneros de melhor qualidade, com economia de recursos
financeiros, pois elimina o material de má qualidade, que de outro modo seria
pago;
• emprego de embalagens mais resistentes ao manuseio e ao transporte no
interior do navio;
• menor estiva de gêneros a bordo, pois as caixas se ajustam umas às outras
pelos ressaltos, facilitando a arrumação e a peação nos paióis e frigorífica (além
disso, os furos existentes nas paredes das caixas permitem a circulação de ar no
interior dos volumes, conferindo melhores condições para a conservação dos
alimentos); e
• redução do lixo produzido, como a madeira, que abriga microorganismos,
principalmente quando úmida.
Os três últimos tópicos indicam vantagens que também são obtidas na adoção
de caixas plásticas em substituição às embalagens industriais, como as que
acondicionam produtos congelados, que, unidas pelo gelo, são involuntariamente
destruídas quando se necessita recolher material na frigorífica.
Para reduzir a possibilidade de sobrevivência de animais daninhos, recomenda-
se, ainda, eliminar as fontes de alimento e as opções de abrigo para roedores e
insetos, através do manuseio adequado de gêneros e da remoção e acondicionamento
apropriado do lixo e de restos de comida.
No combate às pragas, a tripulação deve ser orientada no sentido de não lhes
facilitar a sobrevivência, pois tais animais podem migrar de um compartimento para
outro. Assim, a desbaratização em uma área infestada será de reduzida utilidade se
houver condições de migração e sobrevivência das baratas em um outro
compartimento – uma coberta, por exemplo, onde os ocupantes tenham o hábito de
guardar guloseimas (balas, biscoitos etc.) no armário.
As fainas de desbaratização e desratização devem ser realizadas com as
precauções apropriadas, pois os produtos utilizados são tóxicos para o homem.
Durante essas fainas, o material de rancho deve ser retirado de seus armários e
coberto, sendo lavado antes de ser novamente guardado.
Podem existir outros vetores de doenças a bordo (por exemplo, há registro de
transmissão de conjuntivite a partir de binóculos e sextantes). O médico deve estar
atento para os indícios que permitam identificar o vetor de transmissão de doenças,
de modo a subsidiar o comandante quanto às providências para a erradicação do
problema.
c. Facilidades para a lavagem de roupa da tripulação – A existência de
tais facilidades reflete-se positivamente nos aspectos de higiene e,
838 ARTE NAVAL

conseqüentemente, na redução ou na eliminação de alguns tipos de doenças, par-


ticularmente as de pele.
Nos navios com disponibilidade de espaço, a medida mais prática é a instalação
de conjunto(s) lavadora-secadora, funcionando em regime de auto-serviço. Como
conseqüência, também se observa uma redução de demanda em relação à lavanderia
do navio, usualmente já sobrecarregada com a roupa de cama, mesa e banho.
A lavagem de roupa é um tema diretamente ligado à disponibilidade de aguada.
Sendo assim, o uso desses “auto-serviços” deve ser rigorosamente controlado.
Salienta-se que a existência dessa facilidade a bordo apresenta vantagens, mesmo
se sua utilização estiver limitada ao período de permanência nos portos.
d. Inspeções de pessoal, de compartimentos e de armários – A realiza-
ção de inspeções freqüentes, sejam rotineiras, programadas ou mesmo de surpresa,
é muito importante para a manutenção de um bom padrão de higiene.
Essas inspeções permitem verificar se os serviços de limpeza estão sendo
realizados com correção, avaliar as condições de asseio da tripulação e coibir as
práticas que facilitam a proliferação de insetos e os maus hábitos de higiene.
18.2.3. Execução de fainas, obras e serviços
a. Segurança do pessoal – Trata-se da adoção das medidas de proteção
individual e coletiva durante a execução de fainas, obras e serviços a bordo.
b. Planejamento e fiscalização das fainas e serviços – Visa evitar o
surgimento de circunstâncias que possibilitem ou facilitem ocorrências que possam
prejudicar a saúde da tripulação, como por exemplo:
(1) exigir o cumprimento das rotinas de manutenção dos sistemas de ventilação
e ar condicionado. Periodicamente, nos navios que permanecem fechados, com ar
condicionado recirculando por longo tempo, executar renovação maciça de ar; e
(2) inspecionar a execução de serviços em tanques e redes de aguada (durante
e ao término do serviço), a fim de impedir a existência de detritos capazes de
contaminar o líquido ou entupir redes.
c. Recebimento, armazenagem e controle de material perecível – En-
quadram-se neste tópico os gêneros e medicamentos. O recebimento de gêneros
deve ser rigorosamente fiscalizado, de modo a assegurar o recebimento de itens de
boa qualidade e a dificultar o embarque de animais daninhos em meio ao material.
Abastecer as câmaras frigoríficas gradualmente, respeitando a sua capacidade
de resfriamento/congelamento (principalmente quando se tratar do primeiro
abastecimento após um período em que a frigorífica tenha ficado desativada).
O material tem que ser armazenado segundo as suas características, de
modo a evitar-se a deterioração. Por ocasião do recebimento de gêneros, arrumar o
paiol ou a frigorífica de modo que o acesso ao material mais antigo não fique obstruído
pelo recém-embarcado.
Controlar o estoque e organizar a confecção de cardápios, de modo a priorizar
o consumo dos itens mais antigos, evitando-se a perda de material por término de
validade ou deterioração. No que se refere aos gêneros, tal medida é de fácil
implementação. Quanto aos medicamentos e afins, não se pode forçar o consumo.
Neste caso, uma boa prática é procurar substituí-los ao atingirem 2/3 de sua vida
útil, o que, normalmente, é possível através de troca com usuários que apresentem
uma grande demanda por esses produtos.
CONDIÇÕES SANITÁRIAS E HIGIENE 839

d. Aguada
(1) grupos destilatórios – Nos navios que permaneçam no mar por longo tempo,
a existência de grupos destilatórios em plenas condições de operação deve ser
uma meta a ser perseguida com empenho, pois um bom suprimento de aguada é
fundamental para a manutenção das condições de higiene e conforto;
(2) manutenção dos equipamentos – Não admitir torneira e conexões vazando,
pois isso pode causar restrições operativas aos navios em viagem. Uma simples
torneira pingando eqüivale ao consumo de 46 litros de água por dia, o que é suficiente
para o banho demorado de uma pessoa; e
(3) recebimento de água nos portos – As providências a seguir são genéricas,
e a sua adoção deve ser pesada caso a caso:
• ao planejar uma viagem, procurar obter dados quanto à disponibilidade e à
qualidade da água do porto a ser visitado (tais registros serão importantes para o
controle do consumo ao longo da travessia até esse porto);
• se possível, analisar a água antes de recebê-la (ao menos, inspecione
aspecto e odor);
• deixar correr uma boa quantidade de líquido, antes de recolher a amostra
para análise ou antes de iniciar o recebimento (tal providência visa a remover a água
parada na ramificação da rede do porto que vai ser utilizada, pois esta pode estar
estagnada; tal precaução é mandatória nos terminais pouco freqüentados); e
• na dúvida quanto à qualidade da água, não recebê-la; se for imprescindível
fazê-lo, não a misturar com a água já existente a bordo, recebendo-a em tanques
separados, a fim de possibilitar a cloração (se necessário, adotar medidas que
impeçam que a água contaminada, ou que se suspeita contaminada, seja ingerida
pela tripulação).
18.2.4. Educação da tripulação – O Programa de Adestramento da tripulação
deve incluir treinamento físico e aulas voltadas para a higiene e prevenção de doenças,
bem como incluir orientações quanto aos temas capazes de influenciar os aspectos
emocionais e as relações de trabalho do homem a bordo (orientações aos familiares,
assistência médica, auxílio-funeral etc.).
Alcança-se um bom padrão de higiene mais facilmente se toda a tripulação
estiver efetivamente motivada quanto ao tema. Adicionalmente, os conceitos
assimilados serão transferidos para o lar, contribuindo para o bem-estar das famílias
dos tripulantes.

18.3. Princípios básicos de higiene pessoal – O homem embarcado


contribui para a manutenção das condições sanitárias a bordo através do seu asseio
individual, mantendo em boas condições de limpeza as instalações, inclusive as de
uso pessoal, de modo a evitar proliferação de ratos, insetos e microorganismos
(exemplo: evitando guardar comestíveis em armários de roupa; lavando utensílios de
rancho, panelas, pratos, talheres etc., imediatamente após encerradas as refeições
– ou seja, não deixando restos para alimentar os animais daninhos – , mantendo
fechados os recipientes que guardam gêneros de pronto uso, como açucareiros,
potes de biscoitos etc.) e executando corretamente as tarefas relacionadas ao bem-
estar da tripulação que lhe forem confiadas.
840 ARTE NAVAL

O homem embarcado tem que estar convencido de que determinados proble-


mas de saúde podem afetar toda a tripulação e orientado para procurar o médico
caso observe sintomas que indiquem que está com algum problema de saúde.
18.3.1. Postura – A maneira com que uma pessoa se mantém em pé, senta
ou anda afeta, sem dúvida, a saúde. A postura adequada não apenas contribui para
a boa apresentação do militar, mas também melhora o tônus (resistência e elastici-
dade) do corpo, ao auxiliar a circulação sangüínea e o funcionamento dos órgãos
internos.
18.3.2. Asseio corporal
a. Banho – A limpeza pessoal é a principal medida na prevenção de doen-
ças, pois o sabão, além de limpar por ação química e mecânica, possui ação anti-
séptica. O banho deve ser diário, sempre que as condições permitirem.
Há certas partes do corpo que requerem cuidados especiais, como cabelo,
mãos, pés, olhos, nariz e boca. Se o banho completo não for possível, lavar, ao
menos, o rosto, pescoço, mãos, axilas e as partes genitais.
As dobras da pele (entre os dedos, axilas, virilha) são particularmente sus-
ceptíveis a problemas, pois a umidade facilita a ocorrência de infecções provocadas
por microorganismos. Após o banho ou limpeza local, essas áreas devem ser bem
secas. Lavar as mãos sempre que for ao sanitário e antes de refeições. Também se
deve manter as unhas cortadas e limpas, principalmente quando se lida com ali-
mentos, como é o caso dos cozinheiros e rancheiros.
O banho a bordo não pode ser demorado. Em um navio, a água doce é um
bem precioso e limitado. Por esses motivos, tem que ser poupada.
b. Higiene bucal – A limpeza pessoal inclui cuidados com os dentes e a
boca. A utilização do fio dental e o hábito de escovar os dentes após as refeições,
além de uma visita periódica ao dentista, são fundamentais para uma perfeita saúde
bucal. A escovação vai impedir a formação de placa bacteriana, que é a principal
causa da cárie e da gengivite (inflamação das gengivas), responsáveis pela perda
dos dentes. O bochecho vigoroso com água complementa a escovação de rotina,
removendo pedaços soltos de placas e resíduos que se desprendem dos dentes e
da gengiva.
A placa bacteriana não removida vai se acumulando na base dos dentes, se
transformando em um depósito endurecido (tártaro), que só pode ser removido pelo
dentista. Se o tártaro não for removido, novas placas podem se formar sobre ele,
causando eventualmente a destruição dos dentes e das gengivas. A visita regular ao
dentista é necessária, pois ele poderá identificar doenças dentárias em formação,
ajudando a prevenir a perda de dentes. É bom lembrar que os dentes apresentam
consistência para durar toda a vida. Mas, para que isso ocorra, precisam ser bem
cuidados.
Completando a escovação, é conveniente, ainda, bochechar com um anti-
séptico, principalmente após a escovação noturna, antes de dormir. A ação deter-
gente do produto contribui para a remoção dos resíduos alimentares. Sendo um
produto com propriedades anti-sépticas e alcalinas (antiácida), ele também neutra-
liza a ação dos ácidos bucais causadores da cárie e do mau hálito.
CONDIÇÕES SANITÁRIAS E HIGIENE 841

18.3.3. Vestuário adequado – A função do vestuário é proteger o corpo. No


caso, além da proteção tradicional contra as variações de temperatura e intempéri-
es, acrescente-se a proteção contra eventuais sinistros, que é provida pela utiliza-
ção de roupas especiais. A bordo, recomenda-se utilizar roupas internas de algo-
dão, de modo a prover proteção adicional contra altas temperaturas, em caso de
combate a incêndio.
Existe uma roupa apropriada para cada situação climática. Não se agasalhar
por julgar-se resistente ao frio, por exemplo, pode significar adquirir uma doença
gratuitamente, a qual retirará o homem do serviço, comprometendo as atividades de
bordo e sobrecarregando os demais.
Corpos sujos e roupas sujas criam condições propícias para as doenças de
pele, além de um cheiro desagradável. As roupas de baixo devem ser trocadas
diariamente. Como, algumas vezes, enfrenta-se restrição de aguada, o homem do
mar precavido deve possuir um bom sortimento de roupas de baixo, como cuecas,
camisetas e meias, para uso nas grandes travessias.
Considerando que o homem embarcado permanece calçado a maior parte do
tempo, é importante que utilize um sapato confortável. Produtos anti-sépticos são
úteis para evitar o surgimento de frieiras e fungos (principalmente entre os dedos),
pois os pés são sujeitos a sudorese (suor) significativa, facilitando o aparecimento
desse tipo de problema.
18.3.4. Alimentação – A boa alimentação é provida por uma dieta balancea-
da constituída de proteínas, gorduras, açúcares, sais minerais, vitaminas e água, o
que torna importante a adoção de um cardápio que atenda essas necessidades.
Esses elementos são encontrados na carne, no leite, nas frutas, nos legu-
mes e nos cereais. Não é boa regra de higiene alimentar adotar regimes exclusivos,
animal ou vegetariano. É preferível o regime misto, com o qual se torna possível
levar ao organismo os materiais plásticos e energéticos indispensáveis.
Nos climas quentes, devem ser evitadas substâncias gordurosas, bem como
bebidas alcoólicas, porque ambas produzem elevado número de calorias, que au-
mentam sensivelmente o calor interno, o qual, somado ao calor externo, pode cau-
sar perturbações de saúde.
A bordo, a administração do navio sempre procurará prover uma dieta balan-
ceada. Fora do navio, o homem de bordo deve colaborar de modo a ingerir alimentos
que contribuam para a sua saúde.
Os alimentos a serem ingeridos merecem cuidados, pois inúmeros parasi-
tas, em diversos estágios de vida (ovos, embriões, larvas) podem penetrar no orga-
nismo por via digestiva (e também pela pele – penetração cutânea), quando da
ingestão de frutas mal lavadas, legumes crus, alimentos contaminados etc. Outro
perigo reside nos resíduos tóxicos decorrentes da aplicação de veneno na lavoura,
os quais se concentram, principalmente, na casca das frutas e na superfície de
folhas e caules, que necessitam ser bem lavados ou descascados, antes de consu-
midos. Nos portos, devem-se tomar as precauções apropriadas, principalmente onde
se observam condições deficientes de higiene.
Algumas vezes, visitam-se locais com culinária bastante diferente daquela
que se está acostumado. Nessas ocasiões, podem ocorrer problemas decorrentes
842 ARTE NAVAL

da inadaptação do organismo a alimentos exóticos, como, por exemplo, a denomi-


nada “diarréia dos viajantes”.
18.3.5. Poluição – Ao trabalhar em locais poluídos, utilize equipamentos de
proteção. O ar contaminado pode ser fonte de doenças respiratórias, conjuntivites e
infecções; a água poluída é responsável por diversas infecções, tanto bacterianas
como virais.
Quando há frio, existe a tendência de se fechar os difusores de ventilação
com o propósito de aumentar a temperatura ambiente; tais difusores são esquecidos
fechados, contribuindo para uma redução na renovação de ar e, conseqüentemente,
de sua qualidade. Tal prática se torna nociva à saúde da tripulação.
O ruído elevado (poluição sonora) acarreta problemas auditivos e muitas vezes
mentais.

18.4. Principais problemas encontrados


18.4.1. Automedicacão – Um tripulante com problemas de saúde que se
automedique pode estar perdendo tempo precioso. Quando uma condição incomum
aparecer (resfriados, dor de cabeça, prisão de ventre, diarréia, dor em geral ou
desconforto, manchas na pele etc.), deve-se procurar o médico ou o enfermeiro. Os
pequenos ferimentos não podem ser desprezados e devem ser tratados na enfermaria.
Pequenos arranhões ou bolhas não tratados podem transformar-se em grandes
infecções. As bolhas, em particular, merecem atenção. Devem ser deixadas romper
por si mesmas (ou seja, não devem ser cortadas nem furadas), tratadas com um
anti-séptico e cobertas com curativo (bandaid, gaze etc.). Nunca se coloca o
esparadrapo diretamente sobre um ferimento.
Eventualmente, um ou outro tripulante pode ser portador de uma doença
crônica que requeira o uso continuado de medicamentos. Outros apresentam um ou
outro problema que se manifesta com certa freqüência (mareio, enxaqueca) e estão
acostumados a combater o mal-estar com determinados medicamentos. O tripulante
enquadrado nessa situação deve providenciar os itens necessários em quantidade
suficiente para a viagem antes do suspender. Os medicamentos da enfermaria,
destinados a atender às emergências e às necessidades esporádicas, poderão não
ser adequados para o atendimento de casos específicos. No mar, o tripulante poderá
ver-se em dificuldade pela falta do produto. No exterior, pode ser difícil obtê-lo ou
descobrir-se um equivalente.
Mesmo nesses casos, a aplicação de medicamentos deve ser realizada
mediante prescrição médica, bem como o portador de doença crônica deve informar
o fato ao médico do navio.
18.4.2. Óculos e lentes de contato – Perda ou quebra de óculos podem
ocorrer em viagem. O homem do mar precavido possui óculos reserva ou, ao menos,
uma receita atualizada que permita a confecção de novos por ocasião da estadia no
porto. Essa última opção apresenta o risco de poder haver dificuldade em se prontificar
os óculos a tempo, bem como o desconforto de permanecer um bom período no mar
sem óculos.
Quem utiliza lentes de contato, além da receita, deve levar o material
necessário para a conservação e higienização das mesmas.
CONDIÇÕES SANITÁRIAS E HIGIENE 843

18.4.3. Doenças de pele – A incidência de doenças de pele é praticamente


anulada com a higiene. As doenças manifestam-se de várias formas, como perda
de sensibilidade (hanseníase ou lepra), inchação, manchas, coceira, erupções ou
feridas.
18.4.4. Doenças sexualmente transmissíveis (DST) – As principais doenças
sexualmente transmissíveis são: o cancro mole, a sífilis, a gonorréia, o linfogranuloma
venéreo, a AIDS (SIDA), o herpes genital e o condiloma acuminado. Existem outras
doenças eventualmente transmitidas pelo contato sexual (mas que também podem
se propagar de outras formas), tais como: molusco contagioso, fitiríase (chato),
escabiose (sarna), tricomoníase etc.
a. Cancro mole – Ulcerações que ocorrem nos órgãos genitais após cerca
de cinco dias da relação sexual, causadas pelo bacilo de Ducrey. O quadro é
acompanhado de gânglios múltiplos na virilha.
b. Sífilis – Doença causada pelo micróbio Treponema Pallidum. O primeiro
sintoma é o cancro duro, geralmente uma única ferida na região genital, que se
manifesta, em média, três a quatro semanas após o contágio sexual (período
primário). Se não for tratada, a doença evolui para o período secundário, que é a
fase de generalização da moléstia através da corrente sangüínea, caracterizada
pelo aparecimento de múltiplas manchas no corpo e outros sintomas. Após alguns
anos sem tratamento, a doença evolui para o período terciário, com danos irreversíveis
para o sistema cardiovascular e neurológico. Uma mãe contaminada pela sífilis dará
à luz um bebê com problemas graves de saúde.
c. Gonorréia – O gonococo causa a gonorréia ou blenorragia, infecção que
sobrevém após um a sete dias de incubação e se localiza primeiro na uretra (uretrite
purulenta); daí pode propagar-se a outros órgãos do aparelho urinário e genital,
gerando complicações mais graves. Mães contaminadas dão à luz bebês com
conjuntivite gonocócica. Um tratamento mal executado faz com que a doença se
torne crônica.
d. Linfogranuloma venéreo – Causado pela bactéria Clamídia Trachomatis.
Inicia-se com uma discreta lesão nos órgãos genitais, a qual, na maioria dos casos,
nem é percebida. Gera uma grande íngua na virilha (bubão), que tende a se romper
em múltiplos orifícios. Sua evolução é muito lenta e pode causar elefantíase (aumento
acentuado da genitália).
e. AIDS ou SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) – Doença
do sistema de defesa imunológico provocada pelo vírus HIV. Causa falhas nas defesas
do organismo. Com isso, germes e micróbios, contra os quais, em situação normal,
o organismo se defenderia bem, invadem o sangue e os tecidos. Esses germes são
chamados de “oportunistas”, pois eles se aproveitam da situação para se multiplicar
e gerar tumores. As manifestações clínicas da doença não aparecem pela reação
do próprio sistema imunológico, mas por inúmeros tipos de infecções ou de câncer.
f. Herpes genital – lnfecção viral causada por herpes-vírus, que pode ficar
aguda, com pequenas vesículas agrupadas, ou permanecer latente, situação em
que o hospedeiro pode transmitir a doença sem apresentar sintomas.
g. Condiloma acuminado – lnfecção viral que se caracteriza pelo apare-
cimento de múltiplas verrugas na região genital.
844 ARTE NAVAL

18.4.5. Precauções e profilaxia das doenças sexualmente transmissíveis


(DST) – De um modo geral, a seleção da parceira e o uso de preservativos (camisa-
de-vênus) são precauções importantes contra as DST. No caso da AIDS, os indivíduos
devem precaver-se em relação às transfusões sangüíneas ou agulhas contaminadas,
visto que o vírus está presente na corrente sangüínea.
A realização de exames periódicos permite detectar doenças nas fases iniciais
ou de latência. Tal procedimento possibilita o tratamento em tempo, aumentando a
chance de cura ou controle da doença e evitando que esse indivíduo infecte outras
pessoas por desconhecimento do problema.

Você também pode gostar