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LISBOA,
NA lMP. DE VrcTORINO RODRIGUES DA SrLvA.
ANNO DE 18\33.
Calçada do C'...oliegio N .º G.
..
AVISO DO EDITOR.
/
[l]
PREFACIO.
'
[7 ]
nossos Artistas; e no íim do ultimo eecu1o, sa
bendo que nós faziarnos as mesmas diligencias,
nos manduu gcncrcsamc-ntc offerecer a sua col
lccdfo
•
He tambem muito digno dos nossos elog·ios
outro Varão Uio conhecido dos sabias, con10
prnsado dos Artistas : O Thesoureiro Mór da
lnsigne e Real Co!Jeg-iada de Santarern , Luiz
Duarle Villcla da Silva, tem feito resurgir dos
Cartorios do Reino muilas memorias sobre es
ta IPatr>ria ? c•ue alli J· aziào como sepultadas.
Hum Artista bem conhacido, Jose, da eu-
l
.,
[1 0' ]
grado as informações que estavão ao seu al..
cance , sobre esta materia de que se trata.
Esta obra será dividida em 3 partes. N a
1 .ª trataremos dos Pintores propl'iamente di
tos. Na '2.ª faremos menção dos Architectos ,
e Pintores de arquite.tura, e ornatos, de paiza
gcns etc. N a 3.ª .fallaremos dos Escultores , e
Gravadores etc.
[ 11]
PARTE PRIMEIRA.
'
[ 1 :, ]
ceo, hia fazendo vagarosos progressos. João
Cimabue pelo meado do século 13.0 excedeo
alguma cousa os seus ignorantíssimos Mestres,
que de Constantinopla tinhão sido chamados
hum
a Florenca .. ·' e teve a fortuna de achar .
eficaz protcclor na pessoa de Carlos d' AnJOU
Rei de Napolcs, 0 qual se dignou de ir a sua
casa. Yêr o quaclro de Nosstt Senhora , que ello
esfnva pintando para a Igreja de Santa Maria a
Nova ; par:i. onde o fez conduzir em pompa
trium fal que acompanhou , com todo o povo ,
ao som de bellicos instrumentos: e a esta hon
ra , dizem os Escriptores, devco a Pintura boa
parte da cs{i111aç..'í.o que depois teve; e por con�
ser1t1C'n<·ia dos progressos que fez.
Giotto , seu discipulo, pintou bem os re
t ··afos , e dPi(ando as roupas nas figuras com
lllPlhor :rosto , lhe doo tal , ou qual movimento
prop ·io das acç0es que deviào representar.
Estevão de Florença, e Pedro Làurati fize,.
rão mcnçào d:ls fórmas <lo nú debaixo dos ves
ti<los : Th:dJeo Gadi colorio melhor, e expri
mio as paixões d'alma.
l\fassolino dco {1s sn:is figmM mais graça,
vida , e expressão ; o l\1assaccio , seu escolar ,
no s{·culo 15. 0 fez sahir a arte da infancia cm
que tinha csf nclo, e inventou hum estilo novo ;
tanto pela escolha das a.Uiludes , verdade, e
poncas dobras nos pannos, como pela sciencia,
e elcgancia: do desenho, e éonccção dos escor...
c1
[ 16 ]
ços : senclo o primeiro que plantou bem as fi
guras , escorçando os pés , para que assentas
sem n o chão. Fez pouco apreço de si em qua n
to viveo; mas depois de morto, Anniba l Caro,
e Fabjo Segui lhe compuzerão lisongciros epi
tafios ; dizendo o primeiro - a Bonarota que
ensinasse embora a todos os mais, mas que
nprendêsse delle � e o segundo reprehendendo
a Parca , porque cortando a vida daquelle Pin
tor tirava o ser a muitos Apelles, e apagando
a quella luminaria e�tinguia a luz de todos os
outros.
Entretanto tinhão os Florentinos eregido
huma Confraria, que era juntamente Acade
mia; novidade que foi mal imitada pelos arti
fices Fra ncezes em 1391 ( dizemos artifices
porque não havia alli naquelle tempo professor
algum de desenho, que merecesse ser chama
do Artista. ) Elles se encorporárão debaixo de
huma bandeira ., e depois obtivcrão grandes
privileg·ios de Carlos 7. 0 , e Henrique 3 .0
João de Bruges, Pintor Flamengo, e Con
selheiro do Duque de Borg·onha , pelos fins do
Século XIV. achou o modo de pintar a oleo ; e
esta invenção foi huma das mais vantajosas pa-
1·a a Arte.
Em quanto a Pintura se divulgava pela
Europa, tambem hia fazendo algum progresso
em Portug a l ; e Fr. Luiz de Souza falia de hu
ma adora�ão dos Reis mandada fazer por El-
[ 17 ]
Rei D. Diniz para o Convento de S. Dom ing·os
de Lisboa. Ao retrato de D. Aff0 nso ,1, º
disse
Faria e Sousa, que se devia dar credito, por
que elle mesmo se havi a mandado retratar ao
natural ' com os seus Antecessores. Estes e
outros retratos dos nossos l\fonarcas passar ,lo
' r:
( 19 ]
empregarem em obras de grande sciencia, e
,·astid:\o.
Rafael, na Escola de Athenas reunio qua
si todas as pcrfcições , que ainda se potlião
ajuntar á Arte ; e se algumas lho faltúrão fo
rão postas em uso pdo Ticiano , e pelo Corre
gio : ele sorte que desde o melhor século dos
Gregos , que foi o de Alexandre , nunca a
sciencia do Pintor tinha subido a. hum grúo tão
eminente ; mas conservou-se pouco lt'mpo na
nuclla
·1 cllcvacão
• '· e teria cahido de tudo, so os
Caraches lhe não dessem a m:lo para a sus-
icnt.ar. Corno a imitação daquellcs grandes ho
rn�ns , era 3. mais bclla, e mais nobre que a
realidade, comcc.,.{riio os seus discípulos a cs
tudallos tanto, q�e se apartárã:o muito da i mi
tação <la Natureza, e vierão a cahir em ma
neiras affcctadns : <is sequazes de Miguel An
gclo imil:irào apenas a nrrogancia do seu esti
lo; e cada hum dos disci pulos d,· Rafael , se o
igualou em algnma parle, ficou-lhe inferior cm
muitas outras.
Naquclla <>poca introduúrão tambem o es
tilo grandioso Affonso BerrughPto n a Ucspa
nha, e Antonio Campêlo cm Portugal ; porque
• o Vasco, ainda que grano.e no saber , scn1pre
usou o estilo sêco , e mesquinho dos G oticos.
Começa.vamos a florcccr muito quando aconte
cco a per<la desgra�ada de ElRei D. Sebasl ii1o,
ª que se seguio o capti\eiro de íiO annoa, e as
[ {?O l
. g-nert·as obstinadas da Restauração que nos re
duúrão a maior inrligcncia. Os Francczcs en
tr<'ianto fundárão a sua famosa Academia de
Pintul'a, para evitar a perscguiçtio dos portcn
diclos arti�tas , · successorcs daquelles que se
havião. embandeirado em 1391; os quacs , em
virtude dos seus privilcgios , pcrtendião que
LeBrun , e os out:·os grandes homens, ou não
usassem, ou se encorporassem com ellcs.
Na mesma era deitava Murilho os fon'da
mcntos da Academia de Sevilha , bastante fer
ti l cm genios feiices ; mas os tristes Portugue
zes tinhão de -ir buscar fortuna n a Corte de
Hc�panha, e tah•ez não tcriamos noticia clclles
se Palomino , e outros Riog·rafos Castelhanos
niio no-los dessem a conhecer. Os que cá ficá
riio eregírão a Irmaiúladt• de S. Lucas na An
nnncia<la aonde vivia Soror Margarida de S.
P:rnlo, famosa cm virtudes, letras, e bollas
Arles. Si1rn10 Rcdrigucs, Luiz Alvares dcAn
<lrn<le, Fernão Gomes , Domingos Vieira, e
outros, que crão Juiz, l\Jordomos, e Irmãos do
dilo Santo, ( de que se collig·c que havia já hu
m a especie de Confraria), comprár.1o ás Reli
g·iosas claq uelle Convento huma Capclla por
400 $ réis, de que ha cscriplUl'a feita pelo Ta
bellião Marcos de Olivcit·a. Fez-se o Compro
misso em 126 Capítulos, que foi assignado por
Greg·orio Antunes , Luiz Alves ele .Andrade,
Antonio Soares 7 e Antonio Simões de Solis ;
(U
: ]
e approvado pelo Arcebispo de Lisboa D. l\fi.:.
guel de Castro, em 6 de Outubro de 160\).
No Capitnlo 1.º mandava-se acceitar por.
irm�os Pintores, Escultores, Architetos, e De
senhadores, sendo pessoas de bom comporta.,
menl.o. O \2.º e os quatro seguintes tralavã?
de devoções e regimen. O 7 .º mandava. apazi
guar contendas , e evitar demandas entre os /
irmãos, condcmnando os obslinnclos em alguns
arraleis de cêra. O 9.º e o 10.º indicnvào os
meios para. haver dinheiro, e o modo <le o bem
guardar. O 1 1 .º mandava que se visitassem os
enfermos parn os exorlar a que se confessas
sem, e soccorrêlos se fossem pobres. Pelo 12.º
se mandava pagar at{, rn cruzados, se alg·um
irmfio , pelos dever, estivesse prezo. O 13.º
ordenava que se soccoressem as viuvas , e ca
sassem as orffis , dando-lhes a l\'leza 10 cruza
dos, e cada irmão hum cruzado. O 1'1,.0 e se
guintes tratavão de suffragios : Os 17-�Q ei·ão
relativos ao regimen <la Irmandade. O � 3.0 or
dena a festa. da Senhora do Populo. O !4.0 e
25.0 tratavão de cova.os ; e o ultimo conc.lem
nava o prncurador a p:.igar a melade das divi
das, que por sua omissão senão cobrassem . Nào
trataviio de A cademia nem ele melhoramento
da Art e ; e esta he a maior pr·ova do abatimen
to cm que f>l!a se ach:lva.
a
. A guerra da succcssão seguio de perto
da mdcpe nclcncia, e só elepois da paz de Ut11eck
D
r��1
em 1 7 1 f> he que s e pôde cuidar em sciencias,
f
e bellas artes; e com ef eito cstabclecêrão-se
no R eino algum:l.s Academias de Historia ,
Poesia, e Geometria. A pintura não esqneceo,
e E!Rei mandou a Roma alguns estudantes ;
outros forão á sua custa, ou encostados a gran
des personagens.
Faltava porêm hum!l. Academia da Arte
em Lisboa , e ouvimos dizer que Francisco
Vieir a , e Andt·t'., Gol<:alvcs quizerão <lar pri 11-
cipio a ella; mas o pm o rustico sabendo que
i-e havia de expôr alli hum homem nú para ser
copiado , apedrejou as ja.nellas da casa , e foi
preciso ceder.
Pelos annos 1780 , tendo nós dcsqjado ter
em Lisboa hum estudo do nú como tínhamos
,•isto em Sevilha , e Roma , pedimos, e obti
vemos algumas súlas do Palacio de Gregorio de
Barros e Vasconcellos , junto á Igrej a de S.
José , e as mohiliamos com quanto era neccs
sario para o intento; e convidámos os mais
Sabias Artistas para. dirigirem os éstu<los, e a
todos os outros mais para se aproveitarem del
les. Achar hum homem que se quizcsse despir
para estar a modMo foi empreza <lifficuHorn :
fallámos nisso a muitos , mas como o convite
lhes Jl:trecia huma affronta , as respostas erão
não só negativas , mas tamhem insolentes.
Com maneiras estudadas , e offertas Jibcracs
se ajustou hum homem de ganhar, o qual cum-
r çz a J
prio fres ou quatro noites ; mas quando os seus
cam,l.L'adas o souberão , derão-lhe tacs vaias , e
trnlárão-no tão mal , que o pobre homem dcs
appa.recco ; mas achou-se outro , e o estudo
prosegnio sem inlet'rupção. O novo eslabcleci
rnento foi muilo applaudido de huns , e perse
guido por outros, como tem acontecido em t°:'
da a parte. O Duque de Lafões mandou alh
o Abbade Corr�a , e seu irmão Joaquim José
Corrêa [1l , a olforccer a sua ali a protecçào , �
tudo quanlo estivesse em seu poder , a fim de
_
cimentar , e conservar aquclla Acadenua.
Iguaes offcrtas fez tambem Joaquim Leonardo
da Rocha, da parle dolVfarquez d' Alorn a : em
geral , lo<la a C'.JÔrle se mostrou prop-icia ao
melhoramento da Arte.
A abertura da dila fez-se no dia 16 de
l\'laio ele 1780, e nússa occasião rcpetio o EL·e�
clor hum breve discurso cxhortatorio , em que
dizia em substancia aos seus C.Ollegas " Se nós,
que professamos e amamos estas bcllns Arles,
não as socorrermos , e exaltarmos quem deve
mos esperar que o faça? os que a.s iguorào, ou
as <leseslim ão? - Somos poucos, e debcis, mas
.
se comecarmos a vencer os obstaculos o J)ar-
tido que vence sempre acha sequazes , e pro�
'
(l) Era De�enhador· , Arquitecto Civil e Militar, pelos
annos 1700 foi para o Brazil com patrnte de Major de En
genharia , e lá morreo sendo ainda moço.
D�
[�4]
tectores, e em pouco tempo as veremos trium
far. - Se formos tão felices que o consigamos,
a Patria nos reconhecerá por seus filhos bene
rneritos; a honra , e o interesse Nacional .nos
ficará em grande obrigação; e a Historia ce
lebrará com applauso, e com justiça os nossos
nomes; os vindouros nos serão dévedores dos
progressos que bem lhes podemos prognosticar,
supposto o grande talento natural que ha nos
portuguezes.
Tudo se nos facilita , e nos enche das
mais bem fundadas esperanças : hum Fidalgo
generos o , e sabio lhes abre as porias para as
:receber em sua casa; os Grandes lhes oífere
cem protec<;ão, e subsidios ; a Nossa Sobera
n a , e suas Augustas Irmãs , se entretem tan
to com elJas como se as professassem : e pode
riamos nós desejar roais folices auspicios , mais
ditosos presagios ? - Se fizermos progressos ,
se nos conduzirmos com zêlo, e patrlotismo ,
havemos de achar muito favor em Sua l\'lages
tade. &e. &c.
Achárão-se na Academia Joaquim Manoel
da Rocha, Joaquim Carneiro da Silva, Joaquim
Machado de Castro , e muitos outros Professo
res e Alumnos das tres Artes , e tambem al
guns Amadores , entre os quaes Thimotheo
Verdier , Sábio em Arquitectura , G uilherme
Hudson , e outros Ing-lezes , e Francczes : o
número total foi de õ 1 pessoas.
[iõ]
Joaquim Carneiro, por insinuação d o Pa
dre Meslre li'r. José da Rocha, Domiuico, que
tinha t oda a influencia na :Mcza Ccnsoxia, tra
çava enlão , como <le1)ois soubemos, hum pla- .
n o para a Aula <lo Desenho, que veio a a brll'-
se no anno seguinte : contava clle já com Joa
quim l\fanoel da Rocha, para occupar a cadci-
1·a da Figura, e por esse motivo rccc.beo mal
o convite que lhe fizemos para entrar cm a no
va Academia , e até parece que não fora a cl
la senão a fim de a derrubar; porque pouco
tempo depois da aberlura , aleganclo pretextos
mui frívolos, declarou aos seus amigos, e dis
cipulos , que não tomn.l'ia mais áquella casa,
e todos elles o imitárào; e como as despezas
das luzes , e salario elo moclêlo , erào foitas á
custa dos que frequentavào, contribuindo cada.
hum com 300 rs. mensaes ; falla.n<lo as contri
buições acabava-se a Academia.
Tinha-se determinado que os mezcs c.le Ju-
1ho, e Agosto fossem de ferias; e ainda que
o Erector n a sua tentativà não tivesse e1n vis
ta mais que o estahdecimenlo de hum estudo
bom , e necessario, agora achavn. tnrnbem a
sua honra compromett.ida nn.quella desordem :
Ruma Academia falleci<la cm tão tenra idade,
deveria parecer hum aborto; e para conservar
lhe a vida resolvco-so n. acceitur os t.lonativos
que os Fidalgos, e ns pessoas ricas, e gene
rosas tinhào offerccido, e abrio a subscrip�ào ;
[t6 J
declarando porêm que senão acceitaria a cada
assig-nante mais dos 3GOO rs. annuaes, que pa
gavão os Artistas. Assignárão Manoel de Lo
rena , o Conde de Villa Nova , o Ma.rquez
d'Alorna, o Conde de A ssumar, o Marquez
de Gouvêa, o C.,onde d' A talaya , o Prinópal
Miranda, o Concle, e a Condeça de Virnieiro ,
A gosl.inho Francisco de Larre, :Anselmo José
da Cruz, Guilherme Hudson, e assignarião
todos , porque todos querião concorrer para
aquelle público bem , mas Pedro Alexandrino
fallou com energia contra esta medida, dizen
do ser cousa vergonhosa para os A rtistas não
se atreverem elles a fazei· hurna despcza tão
limitada , e sei· pára isso necessario incommo
<lar os Grandes da Côrte; que se escolhessem
tantos Professores quantos fossem os mezcs de
estudo annual , e cada hum delJes governasse,
e fizesse a dcspeza no seu mez.
Este parecer foi desapprovado pelo maior
número , e tivemcs de proseguir nas assigna
turas ; p01·êrn espalhou-se o boato ele que os
administradores da Academia poderiào utili
zar-se de algum dinheiro, foi então 11 ue o Ere
ctor fez proposito de não acceital' nada a nin
g-nem, e de sustentar a A cademia á sua cus
ta em quanto pudesse : com effeito for. a nova
abertura no dia 13 de Setembro, e a ella as
sistírão Francisco Vieira Lusitano, e Jgnacio
de Oliveira Bernardes , como Directol'es do
•
1 !.!7 ]
desenho, e estudos do n ú , e Simão Caetano
Nunes comoDfrector da Perspcctiva , Gcome
ttia, e Arquiteciura : perparou-se tambem hu
ma sála para nella se desenharem gêços, e es
tampas de figura , e ornato.
Os estudos sendo então mais amplos , e
mais variados concorriiio a. clles não só Pinto
res , Escultores , Arquitectos , e Abriclores ;
mas tamhem Entalhadores , Ourives, l\fostres
d'obras. &e. &e..
O Padre João Chrisosiomo dcsa.pprovou
hum procedimento que tornava particular , e
de hum só, huma Academia. que devia ser , e
'
chamar-se de todos · e offereceo-se ao l�rec:tor
para associar com elle : o mesmo fizerão Simão
Caetano Nunes , e o Fidalgo dono da casa.
Como se hia seguir , pouco mais ou menos , o
systcma proposto por Pedro Alexandrino , pa
receo justo convidallo de novo para a socieda
de , porêm elle receando ficar mal com o par
ti do da opposiçito , não quiz acceitar.
O Ereclor, com approvação dos seus So
cios , convidou tambem Francisco Jos6 de Se
tubal , e Jeronimo de Barros : ambos acceitá
rão; mas não forão utcis á sociedade , o pri
meiro contribuio com a sua quota parte ; mas
sendo amigo de intria:as usou dcllas com am
bos os partidos, e t('iirou-se intPrnpesti\a.mcn
tc , o segundo tratou a cousa com muito pouca
seriP-dadc>. Esta associaC<f o começou cm �3 de
Outubro, e durnu hum ·anno.
r.�s ]
A Academia era. cada vez mais frequen
tada , e mais applaudida, porêm no melhor
tempo, moncn<lo Grcgorio de Barros , faltou
a casa , e foi prcciso suspender os estudos.
Antes <lu nosso <'Stabelecimento parecia
aquella cmprcza a huns impossivel, e a outros
<lifficultos a ; mas depois facilitou-se tanto, que
se fez o estudo do nú lambem em l\fafra , na
Fabrica das caixas , cm casa do. Intcmlente
aos Anjos , e ultimamente na rua dos Camil
lcs.
Diogo Ignacio de Pina Munique tinha fun
dado , com Bcneplacito Regio, a Casa Pia do
Casicllo, aonde entre outros estudos teve lu
gar o Desenho , e escolhco para Professor del
le Anionio Fernandes Rodrigues , o qual n o
dia. :23 d e ·Abril d e 1 7 8 1 , dia ela abertura da
sua Aula , recitou huma Oraç.i o Academica.
Nella frlicitava a Nação Portugueza , e os
Alumnos da Aula; aquclla , porque entre os
tumultos da guerra C'll1 que se achavão envol
vidas outras Nações , gosava as vantagens de
huma tranquilla paz; e estes porque felizmen
te vivifio á sombra de Uio boa protecção. Da
va-lhes depois huma idé•a da Arte, e trazia á
memoria alguns dos muitos que por eJla havi:fo
subido a grnn<les honras e felicicladcs. ,, A' vis
ta. pois destes exe!nplos concluia clle, enchei
vos d<' esperanças. TPtHles Mecenas , tendes
:Mãe Protectorn , compassiva e liberal , <le
( � !> ]
quem deveis esperar todo o favor , s e fizerdes
1m Arte aquclles progressos que anciosamcnte
,os des�jo. ,,
Tentou depois o mesmo Magistrado, o res-
1 abclecimento <la Aca<lcmÜL do nú; e para &
1lirecção della. foi elle mesmo pessoalmente con
"ida.r os Lentes do Desenho <lns Aulas Regias,
<�ue erãu Joaquim Manuel <la Rocha, Joaquim
l\Jachado de Castro e Joaquim Carneiro da
Silva. Tamoem convidou o da A ula <lo Castcl
lo; e recebendo algum tempo de visita a Pe
dro Alexandrino , lhe fez o mesmo comitc.
Ah1·io-sc pois a Academia pela terceira
vez cm casa do mesmo Intendente , aos An
jos, cm a noutc da Segunda Feira 17 de Ou-
1.ubrn 1lc 1785 , e aJli se fez hurna espccie do
<'nsaio por <luas semanas , em quanto se prc-
1 ,arava na Rua dos Camillos o sallào que ti
nha servido de livraria aos dilos Padres.
No espolio de Joaquim Camcit·o , achou
se hum manuscrito feito por ellc, com duas da
tas <li fl'crcntes, que paL'l'CClTI Suppostas. () SCll
titulo l1e )) Estat utos da Regia Academia Ulys
siponense de Pintura , Fsculptura , e Archi-
1.cC'l ma , dchaixo do Patrocinio tlo Evangelista
S. T ,ucns ,, Julgamos tcL·em si<l.o feitos para es
ta Escola , tanto mais, quanto haviamos ou
"iclo dizer a. Antonio Fernandes alguma cousa
a esse respeito.
Por aquellc tempo chegou de Roma Eleu-\
E
[ 30]
teria l\fanoel elo Barros , conduzindo o grande
painel de Battoni, e entrou tambem no cor
po da Direcção. Em tanto falleceo Joaquim
J\fanoel da Rocha em Dezembro de 1786 , e
juntando-se os Directorcs, por convite do In
tendente para lhe darem hum successur , vo•
tarão no Author destas memorias. Na mesma
conferencia propoz Pedro Alexandrino, que se
repartisse o trabalho da Direcção po1· m ais ai.
guns, e lembrou o Padre João Chrysostomo
para Director cm Escullura, e Joaquim José
de Barros, então principiante, mas já bom Es•
cullor , para substituto. Joaquim Machado do
Castro tambem propoz Francisco de Setubal
para J?ireclor , e Faustino José seu Discipulo
para Substituto.
Estas eleições forão noticiadas aos eleitos
por huma circular dataqa de 19 de Dezembro
de 1787 , pela qual ,:fosé Rodrigues Lisboa ,
A dministrador da Casa Pia os convidava em
nome de Intendente , no caso d.e acceitarem,
para assistirem á Secção Aca<lemica , qu,c no
dia !il4, se havia de celebrar na mesma Casa
diante da Nobreza, e Corte. Todos acceitárào,
á excepção do Padre João Chrysostomo, o qual
para se escuzar allcgou razões que <lerão mo
tivos ao Discurso Apologetico, escripto, o es
palhado por hum Anonimo, em que affirmava
que sendo o Padre prudente , e discreto não
po<lia ser author daquella escusa , que algum
r
[31 ]
· genio maligno cn.lumniosamcnte lhe queria im
putar. O Padre deo a esta salyra huma respos
ta lambem satvrica. Fez-so a Scc(;ào Acadc
mic:l. no Casf.�llo aonde Joaquim Machado
Jlronunc iou de tarde O Discur.;;o scbre as utili
dade� do Desenho, que corre impresso, e á
noute poz o grupo, que foi desenhado lambem
por alguns Fid algos.
Como o I n(c ndcnte qnizessc crear na Ca
sa Pia não só l\fanufactm·es mais tambem Sa
bias, e A rtistas, mandou a Roma cm. l 78á
José Alves de Oli, eira, .Joaquim Fortunato de
Novacs, e Jof10 José <le Aguiar, para :\lli s_e
instrnirem, o 1.º na Pintm·a, o §2 .0 na A rqu1-
tectura. Entretanto chegou á noticia de Joa
quim Carneiro , que Francisco de Selubal in
trigava com Antonio Fernandes, e Nicoláo Pre
to lll pn.ra refutarem o novo Regulamento da
Acallemia. , que (talvez por isso) ficou sem ef
feito : por esse inativo compoz hum discurso
' all�gol'ico inlutulado. ,, O dia, o crcpuscul o ,
e a . noule , ao mesmo t•'mpo , phenomc110 ra
ríssimo visto cm Lisboa por Joaquim Carneiro
da Silva " Jazião, dizio. -elle em substancia 0
em confuso cháos as Artes libcracs em Portu
gal , quando hum Zeloso 1\/lagistraclo as quiz
tirar daquclla escuri<lão, e convidou para isso
Professores benemeritos ; entre estes aparece.
'-
[ 4,4? ]
filha de D. Joiio Mascarenhas Marquez de Fron
teira, foi hnma das Damas mais celebradas na.
Corte , teve �·1·ande talento para a Pintura, e
faleceo em 1724 .
D. M:iria l\'Jag·dalcna .Eufemia da Gloria,
filha de D. Elena de Tavora, professou no Con
vento da Esperança em 16\lo, e alli pintou va
rios pa.ineis para huma capella sua, publicou
tambem algumas obras liW�ratas, debaixo <lo
nome supposto do Leonarda Gil da Gama.,
D. Anna de Lorena Camareira. Mór das
Rainhas D. Mariauna de Austria, e D. l\fa
rianna Vict0t·ia , retratava bem , e pintou com
perfciçJo varios paineis para a sua Ermida de
S. Jonquim M Calva.rio. Tambem dizem ser
seu hum bom painel de S. Vicente de Paulo
que está na Igreja dos Padres de Rilhafoles.
Vieira, no scn Pintor Ins(gne a compara á Se-
- rani, e a Rosalba, famosas Pintoras Italianas ;
e Jos6 Gomes da Cruz, n111. Carta Apologetica
chama-lhe " Sábia. Professora desta grande
sciencin..
Ao Senhor Jos6 Viale somos devedores da
nota, e conhecimentos , que a ExceJlentissi
ma Senhora Condessa d' Alva possue nns bellas
Artes , e esta noticia a publicamos da mesma
sorte rine sa.hio da lrn.bil penna <lo mesmo Se
nhor. Viale. "
,rns niio podemos de sorte nenhuma dei
xat •em silencio a ExcelJeutú,sim,'l f.S�n.hol'ai Con-
[ 43 ]
dessa d' Alva, a qual, tomando o exemplo que
por alguns seculos lhe hão dado seus nobilissi
mos Progenitores , proteje da mal1l irn a mais
distincta as belrns Artes. Hum Pintor , hum
Escultor , hum Arquilccto , diante dest,i. He
roina , imagina estar no Templo da Gloria.
Esta Senhora pinlou , e pinta a oleo , e em
mini atura , de figura , de paizcs , e de flores,
com muita intelligencia , e magisterio : a sua
conversação sobre as bdlas Artes he intercs.;
santissima, e alêm de mostrar o seu innato ta
lento, dá tambem a conhecer que este he ácom
panhado de profunda li�o litteL·aria. Devo di
zer que esta Senhora pensa como pensárão e
escrevêrão em s.uas obras immortaes, os bem
conhecidos Escriptores , Bellori , e o Abbade
1:anzi ; e vem a ser , que para sahir hum me
d1ano Pintor requer-se maim· talento, que para
sahir hum famoso Escri ptor : e basto esta por
�ui tas Ili. mas Senhoras que por brevidade omit
t1mos. ,,
Se podessemos estender os limites desta
pequena obra, faríamos tambcm menção de al.
guns Fidalgo s , que como os Senhores Marque-
2� de Marialva , de Borba , e de Bellas &e. ,
87 applicárão com proveito ao desenho , ou á
pintura.
Muitas pessoas Religiosas de ambos os se-
xos , se d 1s' trng-u1rao
' , .. .
. pelos preciosos
. üunbem
1 •:ros que illumi nárão
, ou pelas· ag-radaveis
pintu ras que fizerão.
[ 44]
ú. Hc-liodoro de Pai,·a, C.Onego Regrante
em Sanla Cruz de Coimbra, foi famo·so em
Sciencias : e belJas A rtes , e muito acrC'ditado
n a <la Pinturn. Rcgcitou l\Iitras , e faleceo cm
1552.
O Padre ::.\fanoel Alves, Jesuita , pintou
alguns quadros para o Collegio ele Coimbra, aon-
de entrou cm J f>J!).
Fr. Bento C.On trciras Religioso Carmelita,
illnminou os livros do Coro para o Carmo de
Lisboa pelos annos 1 5 17.
Fr. Carlos, de �aç,i o Flamengo, foi l\fon
g-c de S. Jeronymo no C'....onvento do Espinheiro,
aondr> (lrofcssou cm 1517 , sendo primeiramen
te leigo , e depois Sacerdote. Naquclle üm
vcnto junto a E,·ora, existem , e estimão-se
ainda muito , quatro paineis s<>us representan
do passag·ens da Yida do seu Santo Doutor Ma
ximo.
· Fr. Henrique Religioso Dominico cm Evo
ra pintou· o quadrn da 'I'rnnsfigurac-,ão, que cs
t:i sobre a· porta da Igreja do seu Convento : o
Senhor com a canna verde na casa do Capitu
lo, e outros.
Fi·. Domingos Rodrigues , Religioso calça
do de Santo Agostinho, ainda que Purtuguez,
foi com cntual cm Salama.nca pelos annos rnso,
aonde pintou alguns paineis que ornão ·o Claus
tro cio seu Cnnvento.
1 ., Fr. Simão de S. Jus(, Religioso Paulista ,
[ 45 ]
illuminou o livro da Armaria para a Torre do
'rombo.
Fr. Luiz de Bastos, se dermos crédito ao
que nos diz a chronica dos Carmelitas Calca
dos, foi o Pintor mais insigne do Reino no s·cu
tempo ; mas hum bom Chronista não he sem
pre hum bom conhecedor desta sorte de curio
sidades. Este Padre entrou na Irmandade de
S. Lucas em \-29 de Janeiro de l 718 ..
Fr. Filippe <las Chaga·s sendo Já avançado
em idade professou no Convento de S. Domin
gos de Lisboa em 1591. Era sábio, e muito
curioso de Pinturas, e illuminaçõcs, de que
€SCt·cvco hum livrinho, que corre impresso com
0 titulo de-
Arte de Pintura - Por Filippe Nu
nes , natural de Villa Real.
Fr. Eusebio de Mattos Jcsuita, natural
da Bahia , passou em 1677 para a Religião do
Ca�·ino Calçado : f<_.i i grande littcrato , optimo
Ar1thmetico , --e bom Desenhador ; morreo em
169 � do 63 annos.
Fr. José de Santa Maria, Padre Thoma
ris ta, chamado no século .Jos6 de Oliveira, foi
Irm ão de Ignacio de Oliveira, e discipulo de
sen Pac Antonio de Oliveira Bernardes = ainda
era secular em Q 1 ele Outubro de 1 7 3 1 , quan
do entrou na hmandade de S. Lucas. Vimos
ha poucos annos ern casa de seu sobrinho João
P edro ) dous quadros seus Nossa Senhora elo
,
G
[ 46. J
Carmo , e d a So]edade , mo1·reo em i� de Fe
vereiro de 173 1 , com 8 1 annos.
Os Conegos secu]ares de S. João Evange
Jista tive1·ão dous Artistas muito bons. O Pa
cfre Manoel da Purificação , que illuminou , e
escreveo perfeitamente livros de Côro , e de
Armaria , no principio do sccuJo 17 , o o Pa
dre Ignacio da Piedade e Vasconcellos, q1:1e
escu1pio �m barro cstatuas de grandeza natu
ral, cujos pannos erão excellentes , principal
mente os bureis. Compoz o Jivro intitulado
" A rtefactos Symetl'iacos , e Geometl'icos que
publicou em 173!'J.
Estevão Gonçalves Neto, Concgo na Sé
de Viseu , rnuminou hum precioso l\rl issal que
se guarda na Jivraria do Convento de Jesus :
ftorecco por 1 6\2\2.
O P adre Francisco Lino de Mattos Gas
tão, naturnl de Porto de Mós aonde vio a luz
em :M ele Outubro de I 7 39 , oonta entre os
seus parentes muitos homens Doutorados. Seu
tio Padre Theatino, de quem clle dependia,
e de cuj o Brcviario tirou hum registo de S.
Caetano p ara o copiar a furto , vio com admi
ração o grande genio que tinha para a Arte..
Proseguindo os seus estudos litterarios , hia
tambem fazendo progressos no desenho. Vindo
para Lisboa teve lições do Josepino ; applicou
se á miniatur a , e_ tinha vista ag-udissim a , e
paciencia para acab a r as cousas mais miudas
[ 47 J
e delicadas : quasi toda a Côríe íem obras suas.
Fez o reíraío elo Príncipe D. Antonio que foi
remetticlo, e cercado de brilhantes, á Rainha
de Jiespanha. l\Iiniou tambem o d a Marqueza
de Pombal , retra tando-a em muitas Cortes , e
teve bum premia de 68 peças : a mesrna Sc-
11ho ra , Lambem lhe oO"creceo a Parochia das
Mcrcês, que clle não acceitou. He C a pellão
'das Religiosas ele Santa Joanna.
O Beneficiado José Pereira Soares LaRo
cha , natural de Lisbo a , applicou-se ao estudo
d a s linguas s,í.bias , e vulgares, t: tambem ao
Desenho e Pintura. Em Roma fez boas cópias de
Rafael &c. Havia pinturas su a s nas Collecçõcs
de S<'abr a , Ang·eja , e Borba . Falcceo em Lis
boa a Hi de Nobembro de 181$ , contando de
id.i.dc 6:2 annos 9 mezes e .J. <lias. Existe o
seu retrato grandemente pintado por Pellc
g rini.
Soror Maria da Crnz , Religiosa •no Con
'7ento das Cha g a s em Lamego , pintou dous
qua dros de Nossa Senhora e S. José para huma.
Capella sua. Era tida por Santa quando fale
ceo cm HiJ !) .
Soror Maria dos Anjos ,· Religiosa. Domi
nican:i em Evol'a 1 pintou muitas im agen s de
Volas , que forã.o applaudidas.
Os Hisl.oriadorns , e a fama pública t.am
hein celehrão algum a s damas seculares, que
Usárifo felizmente <la Pintura.
G�
[48 ]
Umhelina Joanna Mendes de Tavora , foi
gábia om letras humanas e sagradas, em Ma�
them:i.tioa , e Arquiiecturn � :tnorreo de hum
acoidc.o,tc na idade de 30. annos. em 1677.
Rita Joanna .de Souza , na curta idade d e
�3 annos que teve ele vida, fez tão grandes
progressos na Pintura como na FHosotia : foi
natural d'Olind:i., e falleceo em 1719.
Thomazia Nunes natural da Cidade dai
Guarda , soube escrever com acerto , e pintar
com perfeição. Florecia no principio do s_écu
lo 1 7 .
Joaquina Volkmar nasceo em Lisboa, com
genio decidido para o Desenho , e Pintura, a
que se applicou por intervallos ; ha muitas
obras suas. em vat"ios Gabinetes·,. e Collecções ,
e hum painel público n a Igreja do Cor:ty1o de
Maria n o Campo grande , collocado em 1787 �
representa elle Nossa Senhora com o Menino
Jesus, e Santa Isabel , e S. Francisco que os.
aclodto. As tiguras são de grandeza natural..
Cinco annos depois tambem fez cm grandes
quadros a historia de Isaac , para o Oratorio
de José Francisco Prené , Capitão de IVIar e
Guerra.
( 49 ]
P I N T O R E S.
\
[bO]
Lê-se mais nas ditas tradições, qt1e El
Rei D. Mauoel o mandára estudar a Roma; e
aqui ha duas incohercncias : a 1.ª, que a Es
cóla Romana he mais moderna que o nosso
Pintor, porque foi fundada pelo grande Ra
fael : � - ª que se o Vasco fosse mandado á Ita
Jia por algum dos nossos Reis, deveria ser por
D. Aífonso fJ.º, visto que já clle era bom Pin
tot· em J 481 , quando D. João Q . 0 começou a
reinar.
H e certo porêm , que se Vasco estudou
nn. Italia como parece pelas suas cabeças das
Virgens, que não cedem ás do Perugino, e
mesmo ás dos pl'imeiros tempos de Rafael ; he
Ycrdade lambem que nas roupas, e nos Curpos
nú&, principalmente de mininos , seg-uio co
mo bem notou Bermudes , a maneira assás go
thica dos Alemães.
Este estilo misto, entre Itafiano, e Tu
desco parece que sessou naquelle tempo cm
grande parte da Hcspanha , pois sabemos que
Fernão Galheg·os de Salamanca, pintava mui
tas cousas no gosto d'Alberto Durer, e que
João Nunes cm Sevilha fazia paincis, com bel
los pannos , e colorido vivíssimo ; bordaduras
delicadas , e carnes, ainda que gothicas , tão
estimaveis pelo bem acabado , como as de A 1-
berto. Pareceo-nos quando lemos estas particu
laridades, que estavamas vendo as pinturas do
Grão Vasco.
[51]
Siro tambem incertas as noticias que te
mos sobre o lugar da sua sepultura. " Em Tlw
rnar , dizem algumas Pessoas, passado o 1. 0
Claustro , junto á Sacristia, está a sepultura do
Grão Vasco , que foi feito Commendador da Or
dem de Christo por ElRei D. Manocl. " Está
enterrado no Convento de Thomar; dizem ou
tras , com letreiro já muito _gasto ; mas ainda se
devisq, a Cruz da Ordem de Chrislo , em que foi
professo , gravada na mesma pedra. " Porêm
mandando n6s alli saber se se verificava algu
n:a destas tradições , tivemos em resposta :
" Neste Convento de Tlwmar não /ia noticia de
que nelle este.ia enterrado o grande P1'ntor Vas
co. "
Em quanto ás suas pint.m·as , con:st.a que
0rná ra com ellas muitas Igi- ejas, lVIosteirns , e
Palacios Reaes, e que entre os seus quadros
mais famosos ent.ravào os da Sé de Viseu, e
os de Thomar : os primefros não sabemos se
existem : os segundos , como estiverão expos
tos na invasão de 1 8 1 1 .. íbrutalidade dos Sul
dados de Masscna, he de crêr que pelo me
nos ficassem mui deteriorados. He fama, que
lgnacio de Oliveira , tendo-os listo confessa-
va ser a cousa melhor daquelle '
_ genero, em que
havia posto os olhos.
'
'
[ :)õ ]
Acabaremos o elogio do Grão Vasco, di
zendo com hum bom Arti:sta. dvs nossos dias ,
que elle pintou com verdade, e sciencia, prin
cipalmenf.c cabeças , pannos , arquitcctura , o
paizagens , e acabou tudo com huma delicade
za incomparavcl.
Du.AR'I!E D'_\m,u s.
ANTONIO CAMPELO.
GASPAR DIAS.
GREGORIO LOPES..
VANEGAS.
ANTON10 MoRo.
CHRISTOVÃO LOPES.
DIOGO TEIXEIRA.
FERNÃO Gol\rns.
Sni:Ão RODRIGUES.
Ál\IARO DO V.A.LLE.
Do:mNGOs DA CuNHA.
ANDRE' REINOSO.
D1000 PEREIRA,
JOSEFA DE Onmos�
FELECIANO DE ALMEIDA.
MANOEL DE CASTRO,
l
[ 84 ]
vir foi a orig·em de toda a nossa desgraça ,
por c!Ja passou o Reino a hum dominio estran
geiro; por elb. perdemos quasi todas as Pos
seções da Asia , e muitas da America , e por
conseguencia as Armadas que nos davão o Se
nhorio dos mares , e as g-randes riquezas que
nos vinhão das Indias, Japão, China, &e. Re
duzido o Reino a huma Provinci a , declinarão
entre nós as Scicncias, e muito mais as bellas
Artes ; porque não tendo Monarcha proprio
que as protegesse forào ellas abandonadas á in
dig·encia. ou á ignornncia dos póvos. Depois de
11nm captiveiro de 60 annos em que os empre
gados , e cobiçosos tiravão o ouro do corpo do
Estado , como as sanguexugas tinlo o sangue
do corpo do enfermo onde são lançadas ; segui
ri'io-sc as guerras da res(auração, achando-se
o Reino cm tal pobreza, que o mesmo Rei se
sustentava só com as rendas da sua antiga Ca
-sa de Bragança. Es(as guerras, durárão até
16(i8 , e ainda se resentírão as calamidades
dcllas renov:tdas pela guerra da Successão até
á Paz de Utrecli em 1715.
Os Reis conscrvnrão sempre hum Pintor
S<'U , mas era como bum Mestre da Casa de
Obras, tendo de salario 5 ou 6 $ ooo réis an
nuaes , hum moio de trigo , e os pr6s , e pre
calço s , que muitos annos serião nullos; e es
te officio passa,·a tle paes a filhos , quando os
havia, como cousa para a qual a sciencia não
[85]
era necessaria, inda que ás vezes recabia por
acaso sobre h omens habeis. Restava por tan
to só a Religião que podessc manter algum
Pintor , mas como? Pmtan<lo muito por mui
to pouco dinheiro, e he o que acontcceo a al
guns Pintores jj, nomeados , e mais ainda a
Bento Coelho , de quem se diz que fizera tan
tos quadros quantos forão os dias que vivera.
Não foliando nos mui los paineis seus, que
se queirnárão pelo terremoto, nem nos que fez
para outras terras do Reino , e Domínios Ul
tramarinos , ainda existem bastantes cm qua
si todas as Igrejas de Lisboa , que escapárão
do incendio de 1755. Este Pmtor occupou va..
rios lugares na l\Ieza de S. Lucas desde 1648,
até 16!l8, sendo muitas vezes Juiz. Ainda exis
tia muito velho no principio do século 1 8 ; e
n a Sacristia de S. Pedro cm Alcantara ha hum
p ainel da Invenção da Santa Cruz , firmado
por elle em 1702, crê-se que morrêra· em 1708.
Teve discípulos que q11izcrào imitar a sua ma
neira , mas fizerão-no tào mal, que ficárão sem
nome.
j
[ 86 J
dith , e Holoferncs , que tinha pouca inveja ás
obras de Vandeick; com o pincel de prata são
feitos os paineis da Sacristia da Penha, os de
S. Jorge , os da l\.fadre de Deos , e das Com
mendadcirns da Encarnação , os de S. Bento ,
Francezinhas, e outros. Estes são pintados com
grande empaste , e bellas tintas , que se con
servão vivas, e frescas , com toques rcsolutos,
e virgens. Em geral os fundos dos seus qua
dros são assás escuros, e as figuras campão
por mais, o u menos claras , segundo os pavi
mentos em que estão. Tinha bellissirnas côrcs
de carnes vivas e mortas, mas como pintava
de pratica, e qnasi sempre improvisando havia
necessariamente ser muito maneirado e incor-
recto. Lourenço da Silva Paz. V. p. 39.
ANDRE' GONÇALVES.
JERONYi\10 DA SíLVA.
-===�>0..;><=--=-
P EDRO Gu.1RIENTE.
/
[ 107]
los annos 1769 , foi morrer a sua casa, sendo
�
ainda muito moco.
PEREGRINO p ARODI.
' .
FRA NCISCO PINTO PEREIRA.
[ 109 J
reo em 27 de Outubro de 175�. Forão seus dis•
cipulo s Miguel Antonio do A maral , e Domin
gos da Rosa.
Miguel Antonio era natural de Castcllo
branco. Fez cm Lisboa quantidade de retratos,
que lhe derão para se tratar com hum certo
fausto : os mais nofaveis for;_fo os da Família
Real , encornmcndados por hum Agente da
Imperatriz da Russia, de quem foi liberalmen
te recompensado. Fez tarnbem paineis de His
toria : os da vida de S. Francisco, que estive
rào sobre as Capellas da Igreja de Xabregas ,
feitos por desenhos de Vieira , apodrecêrão
co1n a humidade, e estão alli outros. No Car
mo tem o Santo Antonio feito pela estampa de
Marata : são seus alguns meios corpos nas Sa-,
cristias da Trindade, e das Cornrnendadeiras
da Encarnação. Pedro Alexandrino falla em
outros quatro que estão no Cruzeiro de Belêm,
e vem a ser o Maná; os Triunfos de Nossa
Senhora , e o do Santissimo Sacramento, e ou
tros . .Entl'Ou na Irmandade em �8 de Abril de
1754 : morreo em 1780 tendo quasi 70 annos.
Foi mestre de Jeronyrno de Barro s , e de Ma-
, nocl de Matos. O Lobo o compára com Apa
rício, e não sabe " qual tem nas competencias
a Vtcloria . "
p
[ llO]
Ü ABBADE APPARICIO.
DoMINGos DA RosA.
de.
José da Rosa, seu filho e discípulo �ucce
d0o-lhe no� empregos que tinha no Paço; ten
do a honra não só de preparar as palhetas pa
l'a SS. AA. , mas tainbem de executar aquel..
pQ
[ 1H!]
las col:lsas de maior fadiga, que as mesmas Au�
gustas Senhoras Jhe determii:1avâo,
ROQUE VICENTE,
•
[ 119]
Fori"i'.o seus discipulos Bernardino da ('..,osta Le
mos , natural de Porto de Mós , o qual copiou
paineis de cousas naturaes que estão na Collec
çào de M:iyne cm Jesus , tendo cada hum del
les duas pequenas mós , que lhe servem corno
de firma, ou divisa. Fez iambem a Conceição
para a Igreja de Santo André, os Reis , e o
Nascimento para debaixo do Côro de Jesus.
Descontente da fortun a foi para a sua patl'ia.
servir hum officio de Escrivão.
Joaquim Leonardo da Rocha , seu primei
ro filho nascco em Lisboa em 1756, e alêm dos
progressos que fez n a PintUl'a, e na Gravma
d'agua forte, tocava cravo, e era muito bem
acceito em casa d' Alorna. Pelos annos 1780
foi para a China com D. Fr. Alexandre de
Gouvêa Bispo de Pekin. Alli soube que se en
trasse no Imperio não tornaria a sahir, e ufi.0
quiz entrar. Depois que veio casou, e teye
hum partido do Marquez d' Alorna , a titulo
de seu Pintor. Pelos annos 1808 passou á llhà
da Madeira , aonde dirigia huma Aula de De
senho, e para uso dos seus Escolares. publicou
" Medidas geraes do Corpo humano parg uso áa
Real Academia de Desenho, e Pintura da Ilha
da A,Jadeira em 1 8 1 0 . " Dedicadas ao Governa
dor Pedro Fagundes BaceUar.
João Franco Rocha seu segundo filho, nàs
ceo em 1760. Aproveitou menos , e foi mui
pouco feliz : faleceo bastarrtc pobre pelos annos
Q2
[ 120 ]
1 8 1 ô. Teve outro discípulo José Jacintho que
foi Conego em Evora.
FRANCISCO DE SETUBAL,
JosE' 'fHRONO.
,.
[ 133 ]
Sibila , Lucrecia , e outras cousas muito bem
executadas.
Em 1787 , tendo �i annos casou com o já
tnencionado Roulks Visconsul da Hollanda , e
de outras Nações do Norte , e começou a ser
doente, de sorle que poucas mais pinturas
fez ; vive felizmente. Throno quiz em 1808 re
tirar-se para a sua Patria ; mas achando em
baraçada a passagem da Hespanha retrocedeo,
e acabou aqui os seus dias em 1810. Nicoláo
Rculks , foi hum dos seus Testament.eiros. Ha
em Italiano alg·uns elogios impressos feitos a
elle , a. sua Mãe Thereza Grassi, e a seus Ir
tnã'.os que ta.mbem erão Pintores.
A JoANNA no SALITRE.
lW.ANOEL DE l\fATTOS.
Ü 'fHRONO PEQUENO.
DOMINGOS PELLEGRINJ,
A RCANGELO Foscarn1.
Jos,ll!' VrALE.
/
( lô3J
Jo1.o CASTAGNOLA..
P A R T E II.
"
r 1 1� 1
peclio para fazer algumas pinturas nos tectos ,
e paredes do Real Pala.cio de Mafra.
Mal poderia mos tt·azer á memoria todos os
templos, palacios , e outros edificios magnífi
cos de Lisboa, e só diremos que o da Capella
de S. João Baptista em S. Roque , architeclu
ra de Vanvitelli , excede no seu genero tudo
quanto ha no mundo , e mesmo a celeberri,ma
Capclla de Santo Ignacio em Roma. A rique
za de rnetaes , e pedras .preciosas he excessi
va, mas excedida muitas vezes pelas bellezas
da Arte. Tem exccllente escultura, e tres pai
neis de Massucci optimameute executados ern
1nosaico, o mesmo pavimento tambem de mo
saico, he admiravel.
O Pala.cio Real, que actualmente se está
edificando he obra digna de hum D. João, as:-
sim como a Real Basílica do Coração de Jesus
faz honra á memoria da Senhora Rainha D.
lVfaria I.
Em quanto ,\ architectura pintada sabe
mos que o seu uso hc antigo. Agathat·co pin
tava as decorações para as trag·edias de .Es'
chylcs, compôs hum tratado de perspectiva;
e depois clelle Ana:xagoras , e Democrito se
explidl'fio com maiot· clareza, e mais precisão:
Apatecrio fez a<lmiraveis scenarios na Lybia
antes da era vulgar , e Serapion Pintor Grego
tambem entendia superiormente as deco!'ações
do Thcatro, o mesmo }lOderiamos dizei· de ou
tros m uitos.
[ 173 ]
Depois d a restauração das Artes, Paulo
Ucello Florentino fez grandes estudos sobre a
})CL'spectiva. Bruneleschi dco-lhe mais exaccão
Usando da planta, e perfil. Pedro de la Fr�n
cesca, e Bonoso Pintor Florentino iam bem do
sécu lo li> excedêrão-no. Depois que se come
ç,írão :1 escrever, e representar Comedias mo
dernas foi a Archi tecf.ura pintada , fazendo
grandes progressos até chegar á ulLima perfei
ção. O Serlio , o Padre Pozzo , e o Bibiena.
escrevêrão sobre as scenas theatraes : o Vi
gnola , e o Pozzo �nsinando as duas regras de
perspectiva facilitárão muito a prática desta
arte, e o Lecto da Igreja de Santo Ignacio em
Roma, obra do século 17 feita pelo mesmo Pa
dre Pozzo, levou á ultima perfeição a perspe
ctiva chamada de soto in sa. Fernando Galli
Bihiena no ultimo século deixou pouco a dese
jar nas magnificas decorações theatraes , que
fez em Vienna de Austria, assim como João
Carlos Bibiena , da mesma família no Theatro
Regio de Lisboa que se incendiou com a Ci
dade em 17f>f>.
Tambem nos Theatros públicos desta Ca•
Pi tal se exhibírào decorações marav.ill1osas
feitas algumas por Italianos, outras por Por
tnguezes, todas dignas dos altos preços da pJa.,
téa , e camarotes.
Pelo meado do uJiimo século os Galliari ,
e os Gonzag·as introduzírão · hum estylo mais
z
[ 17 4, ]
prompf.o, mas pouco asseado , e muito imper
feito , para ser usado nos Theatros <las feiras ,
aonde se entra por poucos baiocos. lnfelizmen4
ie este máo estylo _foi aqui introduzido no :fi m
do sécnlo , e desde então tem este genero de
Architectura declinado tanto , que o podemos
considerar como quasi perdido,
No genero dos ornatos , que fazem hum
ramo assris inte1·essante da Archi tcciura, te
mos tido muito bons Pintores desde o século
16. Na Torre do Tombo , n o 1.º livro mystico
de EIR.ei D. Manoel, l1a hum frontispicio, pin
tado naquelle tempo, e muito bem. O D gran
de he cheio de ornatos , flores , e aves tocado
tudo de ouro, aonde se admira a cauda <lc hum
pavão , e os delicados insectos que sorvem o
suco das flores : só as folhas do orna to são ain
da no g·osto gothico, defeito que Já se não acha
n o Liv10 da Beira da mesma collecção <le El
Rei D. Manoel.
No livro da A rmaria feito n o reinado de
D. João 3 . 0 , faz cercadura ao prologo huma
Architectura caprichosa com columnas de tres
côres, n o gosto arabesco , com capiteis com
positos , frizo de ult.ramar com arabescos de
-ouro admira veis, os do sub-basamento são ver
des com fundo de ouro.
Do século seguinte temos o bello frontis
picio n o ('.,omprornisso dn Irmandade <le S. Lu
cas , pintado por Eugerúo de Frfas em 1609,
r 176 1
HP. huma especie de retabulo de ordem Joni
ca, feito pelo mesmo estyJo, tendo no centro·
hum painel colorido de S. Lucas retratando
Nossa Senhora, tudo executado com grande
primor, e tocado de ouro na ultima perfeic/io.
A n i.es de passarmos ao Cathalogo dos Pro
fessores d' Archi_tectura , faremos justiça ao
grande merecimento de hum Fidalgo Portu.
guez Rodrigo Annes de Sá, Marquez de Abran
tes , he celebrado na historia da Arte , como
sábio em varips ramos clella. A lguns o tem
collocado entre os Pinlores, mas parece que o
seu talento decidido era para a Archii.ectura,
em a qual, como o Impera dor Hadriano , não
cedia aos melhores Professores. Assim o afür
inou, ( muito depois do seu falecimento, que
foi em 1733 ) , o nosso Vieira Lusitano , que
o conheceo perfeitamente , e quando Jhe fal
lou a pl·imeira vez , diz elle, estava no seu
gabinete delineando a planta para hum regio
edificio : e continua :
z !2
/
-��--,--------- -
- -- -- - -· - -
- -
( 176 J
/
[ 177 ]
Obra de M a fra , cuja 1.ª pe.dra se lançou em
Novembro de 1717. Esta g-l·ande Obra. , cuja
Basilica foi sagraJa em Q(ll de Outubrn de 1730,
he digna de hum D. João , . e fvi fortuna para
tanta magnificencia , encontr a r hum Archite
cto babil, e com espírito proporcionado ao seu.
O primeiro ordenado que teve foi de 1 : 000 $ rs.
quantia assás avulta da naqucHe século de ouro.
Foi tarnbem .gratificado com a Cruz. da Ordem
de Christo, menos vulg· a r então de que he ago
ra. Alêm de muitos desenhos que delineou
para Obr a s Reaes, alguns dos quaes não se
executárà'.o pela morte do Rei , outros não se
-ncabárão pela pa rlezía de que elle mesmo fui
ataca do. Fez a Capella Mór de S. Domingos,
que foi a cabada pelo Padua; a Ca pe11a .Mór da
Sé de Evora, que he sumptuosa, e bella ; a sua
ermida em Bemfica , notavel , ainda que em
p onto pequeno; a port..1. da Capella Real que
está hoje na Igreja de S. Domi.ogos , e · o seu
pnlacio no cimo da Calçada da gloria . Fa leceo
em Janeiro de 17ó� tendo 80 , e mais annos
de i dade. Servio n a Meza de S. Luca� em l 7 IJ3.
Ca sou <luas vezes , a I.ª em Napole� com hu•
tna formosa e honesta Senhora , qlle morreo
fie p a rto- do seu filho João Pedro Ludovice ,
J}ae de José Joa quim Ludovice , Escrivão da
Camara no Desembargo do P a ço. A �-ª em
Lisboa em 1 no c.om D. Anna Maria Verney;
�e qtie1n teve seis filhos, 4ous_ dos q4aes (iv�
.,,
[ 1 78 ]
rã'.o grande engenho para a Arte. O I .° Cae
tano Luclovice que morreo na idade de :t 7 ou
t8 annos ; e o !2.0 José Joaquim Ludovice,
que fez o risco para a Igreja , e Convento dos
Padres do Espirito Santo , e morreo nas Cal
das ent H de Julho de 1803 sendo já septua
genario.
João Frederico não só foi bem acceito ao
Senhor D. João o 5. 0• mas tambem ao Senhor
Rei D. José I.º, o qual por Decreto �e 1750
declarou que pela grande capacidade com que
servira por tempo de 4:l annos ao Senhor Rei
D. João, desenhando , e fazendo modelos com
tal acerto , que executados deixão bem vêr a
magnificencia de quem os mandára pôr em exe
cução , e instruindo os operarios empregados
em taes obras com tanto zêlo, que á sua dou
trina. se deve o grande adiantamento em <1ue
se achà'.o as Artes nestes Reinos , o declara
Architecto Mór do Reino com Patente, soldo ,
e graduação de Brigadeiro de lnfanlaria , na
1.ª plana da Côrte , &c.
Este Artista bencmerito modelava, esculpia
em prata, e outros metaes , e desenhava or
natos, e figuras com grande magisterio. Quem
olhar para a sua obra de Mafra com attenç.li o,
e inferligencia verá o quanto era sábio em per
spectiva. Na Architectura seguio o estylo dos
Seiscentistas, <JUero dizer , do Bernine , do
-Borromini , e principalmente do Padre Pozzo;
••
[ 1 79 ]
•
moderando-se mais nas liberdades que elles to
tnárão. O modo de lavrar bem os ornatos de
pedra data do seu tempo, e bem se deixa vêr
nos capiteis , e ornatos da Porta da Igreja de
S. Vicente, nos do Collegio de Santo Antão,
nos do Menino Deos , de Nossa, Senhora da
Luz , e em todos os outros edificios mais an
tigos que o de Mafra , que a pedra era mal
cortada , e toda a mão d 'obra pouco elegante.
f,
f
O Á B BADE D. F1LIPPE Juv.rnA. l
MR. LARRE.
VICENTE BACCARELLI.
FRANCISCO DA SILVA.
'.
[188]
a ultima paz , pela immensidadc das sommas
que teriiio custado. Acabou os seus dias em
París no anno 1766. Simão Caetano Nunes
disse-nos que o tinha conhecido, e tinha visto
em Lisboa alguns dos seus espectaculos, e não
acabava de os encarecer.
JACOME. A.zzOLINI.
CARLOS MARDEL.
FELICJÀNO NARCISO.
JosE' BERNARDES.
LOURENÇO DA CUNHA.
REYNALDO l\llANOEL.
-
�-""•,..--
Lnz BAPTISTA.
[�07 ]
Pena : morreo 4 annos depois tendo quasi 60
.de idade. As reprezas forão pintadas por elle,
por José Thomaz Gomes , e por Jeronimo de
Andrade. Os baixos relevos, e as cabeças nas
reprezas por José Caetano CJriaco. João de
Rhodes pintava o corpo arnarellado , quando
adoecendo repentinamente morreo pouco tem
po depois. As flores são de Thomaz Gomes.
Luiz Baptisl a fui Mestre de Manoel Macario,
que pintou as flores no tecto da Capella Mór
da Bemposta , e morreo muito moço , e de
seu Irmão Eusebio Lopes , que dirigia as pin
turas dos escaleres na Ribeira das Náos , o
qual morreo de õO anoos a 6 de Setembro de
1818. Jaz n a Freguezia da Pena.
JERONIMO DE ANDRADE,
JoÃO PILLEMENT.
FRANCISCO DE FIGUEIREDO.
O MonoADO DE SETUBAL.
r
[ H! J ,,
h� em muitos delles cousas tão naturaes, que
agradão aos mesmos Artistas. Retratou tam·
bem alguns amigos , e entre outrns Antonio
�osé de Paula, famoso Actor Portuguez. Vivia
em Setubal aonde nutria huma paixão irregu
lar, e como os allimentos <pie seu pae lhe da·
va não bastassem para as despezas que fazia•
usou da Arte c_omo professor até os annos 180-4,
tempo em que pela morte de seu pae herdou
a casa que rendia 10 a rn mil cruzados. Ama
va as h\:)llas letras, e lia livros Latinos , Fran
cezes, Italianos, &e. Depois da herança vivia
com os seus amigos tão familiarmente como
d'antes. Levou sempre huma vida mui seden�
taria , e morreo celibatario de hum insulto ap
popletico pelos annos 1809 , não tendo ainda
60 de idade. Des�jou muito legitimar huma 1i
lha para ser sua herdeira , mas não o consc
guio pela ter havido em mulher casada. Assim
passou o vinculo a seu sobrinho , filho de sua
irmã, e do famosoMathematico José Joaquim
de Barros seu tio.
FF 2
..
-r !�4]
MANOEL DA CosT.A.
...,
FRANCISCO XAVIElt F:A.l!RI.
II
r' 24s J
II 2
- \
-- �-
[249]
P A R TE III.
A Escultura floreceo
mosas Na ções
muito entre mais fa
as
da antiguidade , e na Grecia
chegou ao maior auge a que pedia subir , des
de o tempo de Pericles até a o do grande Ale
xandre, conservando-se tamb<.m cem muito es
p1endor, weEmo em Re,rna , até ao Reinado
dos AntoP.inos, e de Adriano. .Na antiguidade
o numero dos Es<'uil ores era muito maior, que
e dos Pintores. Os J)rirdpes, os Sabios , os
Vencecores nos JofOS 01) rnpicc s , os Heroes.,
e os innurneraveis Dcoses maiores, e menores,
La res, e ft: nate�, t odos tinbão muitas, e mui
tas estatuas , de sorte que na Grecia, e em '
r 2so �
Roma o numF>ro das que havia em marmorc ,
bronze, prata , marti m , etc. excedia. o nume
ro dos homens. Nv3 :séculos gotbico.s , ou bar
baros, mesmo no tP.mpo em que mio havia pin
tura vemos usada a escultJra uos portaes <las
Igrejas , se ho que se póde cbaiuat· esculLul'a
áqut>fles tristes feitios de püdr:i. Depois da res
tauração da Arte, foi-se usando mais a pin tu
ra, e em Portugal foi eHa fazendo maiores pro
gressos que a escultura. Francisco de Hollan
da nomeia hum Pintor muito bom do tempo de
D. Affonço 5.°, ( era Nuno GonsaJve.i )T ao mes
mo tempo que a escultura contcmporanea era
tão disforme como se vê na estatua do mesmo
Rei que está na Só sobre o seu tumulo ,. nada
melhor que a de D. Diniz , que se conserva
em Odivellas. A do Infante D. Henrique no
Portal de BeMm , sondo tão m ;{ , be do temPQ
do GL·ão Vasco. Dos notso.s escultores antigo!:!
bons , ou máos tE01J\os r.oaca noticia. Vasa
ri porem Caz menção de André Contucci Sanso-
vino Escultor , e Arcbitecto Floreoltno, que
veio a Portu gal em 148.l , tendo pouco mais
de 20 annos , servir o Senhor D. João 2.° que
o pe<fio a Lourenço de Medieis , o velbo� em.
cujo jardim , qne foi a melhor Academia de
Florença , tinha aprendido a desenhar. Foi
tambem aonde aprendeo o Buona rola , o Tor
reg·iaoi , e outros grandes homPns, Aqui fea
hum beUissimo S�Marcos de ma,rmare, e inode-:
[ 2õ l )
lou em barro liuma batalha, <J Ue El-Rei ganhou
aos Mouros , terrivel pelc,s movimentos d<,s ca
Aallos, estrago de mortos, e furia de sol<.lados.
(seria talvez a da tcmada d'A rzila), e voltou á
patria em .1500 reinando já El-Rei D. füanoe1.
---==-ec-:--
M.A N OEL PEREIRA.
[ 253 )
de Giusti em Mafra. Pelos mesmos tempos es
tiverâ'.o em Lisboa CJaudio la Prada , e João
Bernardes Escorpio, Italianos : o I º fez a Con
ceição da Pena, e o 2 o Santo Elias do Carmo.
°
J OSE' DE ALMEIDA.
KK 2
[ 256 ]
das suas Obras erão feitos por Nicoláo Villela,
o qual foi sempre procurado pelos Escultores
para inventar atl.itudes, e fazer em barro os
ruodêlos dellas; e deste modo ninguem conhe
ce Obras, suas tendo aliás deixado grande nu
mero de producções do seu engenho , que são
attribnidas áquelles que as executarão; e co
mo não utilisava senão o pouco que por elles
lhe davão os Escultores , viveo sempre pobre,
e ass1 m morreo por.....
José de Almeida foi aparentado com mui
tos, e bons Artistas : era irmão de Feliz Vicen
te , famoso Architecto , e Entalhador da Casa
Real, o qual foi genro de Ignacio de Oliveira,
e cunhado de Silvestre de Faria , tambem En
telhador, · e Architecto, discipulo do Frederico.
Morreo por 1769 de 60 e tantos annos de idade.
ANTONlO FERREIRA:
ALEXANDRE GrnsT1.
•
( 265]
hum insulto a popletico a c a bou a sua existen
cia em Fevereiro de 1799. Depois de cego a in
da compunha b a ixo relevos em cera , que os
seus discjpulos a c a b a vão.
JoÃO GROSSI.
[ 27 1 1
turar. o Grossi promettendo-lhe o perdão do cri
me, e avultada recompensa , mas o Marquez
de Pombal o reteve , e por 66 a brio-lhe huma
Aula ao Rato, e deu-Jhe 600,$ réis a nnuaes
para ensinar 1 0 discipulos, entre os quaes en
trou João Paulo da Silva , que se fez bem co
nhecido pelas m uitas obras que depois execu
tou, e dirigio. Morreo a 28 de Dezembro de
l 82 1 , jaz na Freguezia de S. M a mede de Lis
boa com 7 0 annos de idade.
Pouco depois da abertura da Aula casou
João Grossi com Rosa Berna rda, cre a d a mui
to v a lida de Sor l\:f a ria l\fa gdalena , i rmã do
Marquez de Pombal , Prelada perpetua no
Convento de Santa J oanna. Elle foi excessiva
mente protegido pelo l\farquez, que lhe d a va,
ou pedia lhe dessem a fazer todas as grandes
Obras que então se construião, que erão muitas,
e pagas por ai tos preços; e admira que adq ui
rindo cabedaes tão avultados , morresse em
tanta pobreza pelos annos de 1781 , tendo ce•
gado antes de morrer.
FELIS SALLA..
VICENTE TACQUESI
JoÃo DE FIGUEIREDO.
00
[ 286 ]
ºº 2
[288]
FRANCISCO B.ARTOLOZZJ.
/
[ 290]
riato de Vieira dedicado a Sua Magestade: D.
Rodrigo de Sousa Coutinho tendo a inspecção
ela Officina Regia quiz fazer huma magnifica
edicção das Lusiadas de Camões, e para esse
fim attrabio a Lisboa o nosso Bartolozzi em
1802 com 6003000 réis de pensão , casas, e
obras pagas ; e renovou com elle a escola de
gravura que estava extincta pela demissão de
Joaquim Carneiro� Francisco Vieira fez mui
tos esbocetos pintados a oleo para as estampas
da dita ohra, e erão bem compostos; mas ten
do-se D. Rodrigo demittido dos seus empregos,
tudo ficou sem effeito.
Quando Napoleão quiz estampar o gran
de Museo da França, fructo elas suas rapinas,
repartio a gravura das estampas pelos melho
res incisores da Europa. Bartolozzi gra-v-011 a
morte dos Innocentes do Guido, obra de gran
de mag·isterio. Abrio tambem o retrato tlelEl
Rei Nosso Senhor pintado pelo Pellegrini. A
ultima obra que fez foi a Procissão das Sagra
das Formas de Claudio Coelho.
Teve por discipulos , Domingos José da
Silva , natural de Lisboa , que primeiro estu
dou o desenho na Aula de Eleuterio Manoel
de Barros , o qual lambem lhe deo lições de
pintura, depois applicou-se á gravura com Joa
quim Carneiro, d'onde passou em 1 805 , ou 6
para d isci pulo de Bartolozzi , até ao tempo da
sua morte, ficando recebendo a pensão annual
f 29 l ]
de 170 e tantos mil réis que lhe foi concedida
para estudar, Este A1·tista viv� com seu irmão
Simão Francisco dos Santos, A bridor da Casa ,
da l\foeda , . de quem já fizemos menção, Do
mingos José ahrio hum quadro <le Nossa Se
nhora de Carlos Maratte dedicado a Araujo, en-
tão l\-Jinistro da Guerra- Hum Santo Antonio
de invenção de Pedro Alexandrino, o qual foi
dedicado a Sua Magestade , então Príncipe
Regente. O retrato do Bispo Inquisidor. Al
gumas chapas para os Breviaríos , impressos
na Impressão Regia. O retrato cio Pache José
A gostinho para o seu Livro , e outras cousas
mais: pinta tambem a oleo , e em miniatura.
João Vicente Pi-iaz re�;ressou ao Piemon
te , patria de seu pae. Theodoro Antonio de
Lima, natural de Lisboa apprendeo com o Fi
gueiredo na Fundição, e depois com Bartoloz
zi , he substituto da AuJa do desenho no Col
legio dos Nobres.
Antonio Maria de Oliveira lHonteiro, na
tural de Lisboa. estudou o desenho na A uJa de
Eleuterio, e dahi passou para discípulo de Bar
tolozzi.
Francisco Thomaz d� A lmeida , natural
de Lisboa, passou da Aula da Fundicão onde
apprendeo o desenho, para discipulo de Barto
lozzi, está empregado na Impres�ão Regia.
Francisco Antonio da Silva, applicou-se á
pintura,
[ 29� 1
Francisco B artolozzi terminou a sua longa,
e illustre carreira em Lisboa no anno de 1 8 1 D
com 88 de idarle,
O C o xrnno.
�-
ELEUTJ:":RIO MANOEL DE BARROS.
ANTONIO SISENANDO.
O ,1.J , V
,. 'l
(297 )
BENJAMIN CoMTE.
-
Q.Q.
[ 30 2 ]
MEMORIAS COXCERNE�TES
A ' VIDA E ALGUl\IAS OBRAS
DE
l Ü
..
[ 309 ]
hnm Ajudante &e. Transportado áquella real
Vi lia em Maio de J 796 foi pintando alguns
tectos , cuja descripçiio uão cabe na brevida
de destas memorias: só direi , que quando tiz
o Phaetonte , tive em vistas o precipício que
parecia estar destinado a hum mancebo menos
illustre que o filho do Sol ; mas tão audaz co
mo elle até :{quelle tempo.
Eu vivia tão solitario em Mafra (1) como
hum anacorf'ta no seu eremitorio , e para ht>m
passar as noutes entretinhame com os meus Jj..:
'\'ros , e com os que me emprestava o Padre
Bibliothecario, tendo para isso l icença supe
rior. Recopilei grande numero de A u thores 'de
A rchitectura , copiando o que havia mais in
teressante em cada hnm , e comparando-os
huns cúm os outros , de sorte que , sem ser
esse o meu i ntento , vim a compor hum trata•
do , que se se publicasse poderia ser util aós
principiantes, e servir tambem como promp
tuario aos mais avançados.
[314]
em �rande carroça de madre perola , cedendo
nella o lugar de honra ao nosso Augusto Sobe
rano, a quem conduzia, e a quem a Victoria
p u nha a Coroa de louro na cabeça. O carro era
puxado pelos Tritões, e Nereidas, e cortejado
pelas Tag-ides, que fazião pura ofierta ao Mo
narcha , dos seus corações. O Tejo o recebe
de joelhos, e muitas das suas Nymphas, humas
o conternplão com pasmo, ou tras com acdama
çcies. Seguia-se tambem em carro triunfal, a Ex
celsa Prioceza vestida comoAmazona, os Deoses,
e Deosas do Mar, e do Tejo beijão-lhe a Real
J.\,Jão , e exprimem a saudade que tinhão , e o
�rden(e desejo com que esperavilo tamanha fe
licidade. 1\lfas ao longe começavão a apparecer
diversos carros aonde vinhão outras Pessoas
Reaos. Em 2 menores paineis aos lados deste,
imaginei a America despedindo-se enterneci
da dos Augustos Viajantes , e a Lusitania es
tendendo alegre ambos seus braços para os re
,, ceber. No meio do tecto está a Pa:t conseguid:a
pelo valor heroico , ao redor della dançà'.o de
li'1àos dadas, cheias de prazer as Artes do De
senho, da Poesia , Musica , Astronomia , &e.
8 1,or todai..• Nas '1 sobl'e- portas estão a Filoso
'fb , a Mecliciua , o Oommercio , e a A g-t·icul
tura :· no rodapé as Artes de Palias . As figu
ras forão executadas por Joaquim Gregori o , e
os ornatios por André Monteiro , e outros ba
beis ornatistas. Em quanto estas obras se exe-
r31 s 1
cutavão na Ajuda pelos meus desenhos , car
tões , e esbocetos, pintei na minha casa rm
Lisboa as 8 sobreporlas pat·a a Salla <lo Do
cel , e acabei-as em 1 8 1 7 - _Represenlào ellas
as deprecações e votos, que fazem as filhas do
Tejo às Divindades rnaritimas para que sejão
propicias, ao desejado regresso de 8ua .Magcs
tade, figurado, como jà disse , no triunfo ma
ritimo.
Como as agoas das chuvas penetrassem al
guns dos teclas, e detiriorasem as pinturas ,
que são feitas a tempera, o do di(o triunfo pa
êleceo bastante, e foi retocada por Joaquim
Gregorio , e José da Cunha.
Tendo eu acabado as obras Reaes de que
estava encarregado , o Publico conslante sem
pre em me fazer favor, tornou a vi1oitar-me, e en
tre outras requisições, tive a dó Barão do Quin
tei la que exigia 4 grandes paineis , sem preço
limitado; mas o pezo dos meus dias já se dei
xava sobejamente sentir; e de todos os convi
tes que se me fizerão s6 pude acceitar o do
grande painel da Natividade de Nossa Senho
ra para a Real Collegiada de A lcaçova de San
rem, o de S. Bernardo, para a Capella do Com
menda<lor de Malta Bernardino Paez, em Man
goalde; e o de Santa Margarida de Corlona,
em pequeno panno para o Thesoureiro Mór de
Santa Maria d' Alcaçova de Santarem, com el
Jes dei fim à minha .carreira pinture,Sca, por-
[ 31 6 ]
que entrei a experimentar os tristes effeitos de
h11ma enfermid:i.de espasmodica, sobre a avan
çada idade de 70 annos.
Dt'pois de relatar o favor , que devo ao
Publico , e a Corte , seria in_grato senão con
fessase algumas das muitas mercês , que devo
a Sua l\fageslade e a toda a Família Real ,
apezar do meu modo pouco agradavel , e as
s;.ís acanhado , porque em attenção a os meus
annos sempre se dignou de me conceder hum
dos primeiros lugare� entre os meus dignissi
rnos Collegas , em Mafra.
Eu levava os meus ordenados pelas folhas
de IWafra, e por omissão do pagador estava
em grande atrazament? ao tempo �la retirada
de Suas Magcstades, e Altezas para o Brazil.
Dos Francezes nada recebi , an tes fui dimitti
do por elles , mas por Aviso Regio de 23 de
Agosto de 1 809 tornei a entrar n a dita folha ,
e por outra Real Ordem recebi todos os alra
zados, o que publico , porque faz homa ao
Animo recto , e generoso de Sua Magestade,
e a in tegridade do Exce!Jentissimo !VIat·q uez de
Borba.
Em virtude de outro Aviso Regio , reme
tido pela Repartição do Particular , com data
de ! 5 de Maio de 18 19 , fui consultado sobre
objectos de Pintura, e Architectura, relativos
'
[317 ]
Hum dos casos discutidos foi o rem a te da
Fachada , que se està acabando da parte do
levante : o meu parecer agradou , e foi execu4
tado em modelo, por ordem do Presidente.
A antiga composição formava hum con
torno quasi quadrilatero; o da minha era pira
midal : a Escultura que naquella estava dis
persa, nesta formava hum grupo composto de
5 estatuas, o .Genio da boa Fama no cume de
pequena piramide tocava o Clarim da Deosa..;
dous Genios da Victoria sustent.avão o escudo
das Armas Reaes, e o ornavão com palmas. Mar
te, e Bellooa séntadas nos acroterios o enfeita
vão com festonadas do laurel. O espaço que fi
cava entre as pilastras do meio , e fazia hum
r�ctan gulo de 20 pa1mos de alto por 25 de lar
g o , era enrequecido com hum baixo-relevo,
aonde se via o pertendido Anjo da Victoria ser
expulso das margens do Téjo pelo Anjo tute�
lar da Nação Portuguaza [1]. Este corpo central
era coroado com hum pequeno frontão em pro
porção de circulo : a escultura foi modelada pe
lo Cavallejro Barros com aquella agraça, e ele
gancia que lhe são peculiares; mas esta obra
não agradou a todos os censores; huns não
gostarão do pensamento deli a , ou(ros da dis-
tribuição. M. anoel Caetano disse que não era
ss 2
[ 320 ]
•
[ 324 ) '
para a posteridade hum dos maiores monumen
tos <lo merecimento de seu A uthor , q uando
não deixa-se outras Obras, que igualmente imor
talizão a sua memoria. O Editor.
F I M.
( 32 5 ]
--c:;;;=-��:<f:::.;;;z=---
Indice Aljabetico dos Pint0res , Architectos,
Esc res , e Gravadores mais inúgnes
de que se faz menção ne�tas Memo
rias , notando-se cada hum delles
com a letra inicial da sua Arte.
' Paginas.
2 dois dous.
4 eorreto correcto.
8 Portec:ção ProtcM:to.
12 Salvagens Selvagens.
IS Zeuis Zeuxis.
18 despostos dispostos.
16 compuserão composerão.
�o Murilho :Murillo.
24 portuguezes Portuguezes.
64 Utrectt Utrecht.
84 Utrectt Utrec:ht.
90 Guiflard Quillard.
93 Portugueza Portuguezes.
94 Jacomo Jacome.
108 se he
'112 painei painel
115 sen seu
128 Fuduresnoy du Fresnoy.
182 Roulhs Roulks.
141 Froes Jacome Fernandes Jacome.
147 he e
147 e he
166 contanto contento.
196 excetuados executados.
198 bom Mestre bons Mestres.
�26 oualheios ou alheios.
2.56 Feliz Felis.
292 se lhe lhe
298 Nimfas Ninfas.
206 erào fiz fizerão.