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Revisão

ASMA

1. Definição
Doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, caracterizada por
aumento da responsividade das vias aéreas a variados estímulos, com consequente
obstrução ao fluxo aéreo, de caráter recorrente e tipicamente reversível,
espontaneamente ou com tratamento.

2. Epidemiologia

Uma das condições crônicas mais comuns que afeta tanto crianças quanto
adultos, acometendo aproximadamente 300 milhões de indivíduos. No Brasil,
existem cerca de 20 milhões de asmáticos, representando uma prevalência
aproximadamente 10%. Em 2011, foram registrados 160 mil hospitalizações em
decorrência da asma, caracterizando essa doença como a 4ª causa de internações.
A asma é levemente mais frequente em crianças do sexo masculino (<14 anos) e em
mulheres adultas. Possui uma relação hereditária muito acentuada, sabe-se que a
probabilidade de uma pessoa ter asma é de 25% caso um dos seus genitores
possuírem asma e de 50% caso os dois genitores sejam asmáticos.
Alguns fatores de risco desencadeantes de crises asmáticas incluem
tabagismo ativo e passivo, medicações, alimentos, ácaros, pelos de animais,
baratas, mofo, poléns e fungos, poluição, mudanças climáticas, exercício físico, entre
outros.

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Resumo de Asma 2

3. Fisiopatologia

O desenvolvimento da asma está associado a vários fatores externos


(ambientais e ocupacionais) e individuais (genéticos e psicossociais) e depende da
interação entre estes fatores externos e a predisposição genética para a produção
exagerada de IgE específica para antígenos habituais do meio ambiente
(hiperresponsividade e atopia).
Sua patogênese envolve um desequilíbrio imunológico relacionado à
diferenciação dos linfócitos T-helper. Estes linfócitos podem se diferenciar em dois
subtipos, linfócitos Th1 (resposta protetora contra agentes infecciosos) e linfócitos
Th2 (inflamação alérgica). Nos pacientes asmáticos, existe um predomínio de
linfócitos Th2 que estimulam, por meio de citocinas específicas, a proliferação de
mastócitos, produção de IgE por linfócitos B e recrutamento de eosinófilos à mucosa
respiratória.
Os eosinófilos são os principais responsáveis pelas lesões estruturais na via
aérea, enquanto que os mastócitos são as células que sinalizam para o sistema
imune a ocorrência de contato com alérgenos (pela ligação dos alérgenos às IgE),
promovendo a liberação de mediadores que induzem diretamente o broncoespamo,
entre outras ações.
As substâncias pró-inflamatórias mais importantes na asma são a histamina,
bradicina, prostaglandinas, leucotrienos e fator de ativação plaquetários (PAF). Em
graus variados, todas promovem vasodilatação e edema de mucosa, além de
broncoconstrição. Os leucotrienos ainda aumentam a produção de muco e reduzem
a atividade ciliar.
Em resumo, o estreitamento brônquico é causado pela contração do músculo
liso, pelo edema da mucosa e pela hipersecreção mucosa. A hiperresponsividade
brônquica é a resposta broncoconstritora exagerada ao estímulo que seria inócuo
em pessoas normais. A inflamação crônica é um processo no qual existe um ciclo
contínuo de agressão e reparo que pode levar a alterações estruturais irreversíveis
(remodelamento das vias aéreas).

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4. Clínica

Clinicamente, a asma manifesta-se por episódios recorrentes de sibilância,


dispneia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e ao despertar. Esses
sintomas podem ser desencadeados por infecções, exposição à alergénos,
mudanças climáticas, fumo, exercício físico, fármacos e estresse emocional.
Nos episódios de crise asmática, é possível observar taquipneia, tiragem intercostal,
tiragem supraclavicular, batimento de asa do nariz, respiração abdominal, ou seja, é
possível notar sinais de esforço respiratório.
• Classificação da gravidade da asma
➢ Intermitente: sintomas 2x/semana ou menos; despertares noturnos
2x/semana ou menos; necessidade de medicação de alívio 2x/semana ou
menos; nenhuma limitação de atividade; uma ou nenhuma exacerbação no
ano; VEF1 ou PFE ≥80% do previsto; Variação VEF1 ou PEF <20%.
➢ Persistente leve: sintomas não diariamente, mas mais de 2x/semana;
despertares noturnos 3-4x/mês; necessidade de medicação de alívio menos
de 2x/semana; limitação de atividade apenas nas exacerbações; igual ou
mais que 2 exacerbação/ano; VEF1 ou PFE ≥80% do previsto, Variação VEF1
ou PEF <20-30%.
➢ Persistente moderada: sintomas diários; despertares noturnos >1x/semana;
necessidade diária de medicação de alívio; limitação de atividade apenas nas
exacerbações; igual ou mais que 2 exacerbação/ano; VEF1 ou PFE 60-80%
do previsto, Variação VEF1 ou PEF >30%.
➢ Persistente grave: sintomas diários ou contínuos; despertares noturnos quase
diários; necessidade diária de medicação de alívio; limitação de atividade
contínua; igual ou mais que 2 exacerbação/ano; VEF1 ou PFE ≤60% do
previsto, Variação VEF1 ou PEF >30%.

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5. Diagnóstico

O diagnóstico se dá mediante a presença de critérios clínicos e funcionais,


obtidos através da anamnese, exame físico e exames de função pulmonar
(espirometria). Em crianças de até cinco anos, o diagnóstico é eminentemente
clínico, já que a realização das provas funcionais é muito difícil nesses pacientes.
• Anamnese: sibilância recorrente, tosse, dispneia, aperto no peito que
ocorrem/pioram à noite ou ao despertar ou são desencadeados por irritantes
específicos (fumaças, odores fortes...) ou aeroalérgenos (ácaros ou fungos);
investigar história parenteral, presença de atopia.
• Exame físico: geralmente é inespecífico nos pacientes asmáticos; a presença de
sibilos é indicativa obstrução ao fluxo aéreo, porém pode não estar presente em
todos os pacientes; durante crises asmáticas sinais de esforço respiratório
podem estar presentes.
• Espirometria: importante para estabelecer o diagnóstico, documentar a
gravidade da obstrução ao fluxo aéreo e monitorar o curso da doença e as
modificações decorrentes do tratamento.
➢ Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1): está reduzido na
crise asmática e pode estar reduzido também no período intercrítico; seu
aumento após a prova broncodilatadora é critério diagnóstico.
➢ Capacidade vital forçada (CVF): pode encontrar-se diminuída.
➢ Pico de Fluxo Expiratório (PEF) ou Peak Flow: maior fluxo gerado por esforço
expiratório após inspiração máxima.
➢ Índice de Tiffenau (VEF1/CVF): é um parâmetro que define doença obstrutiva
e está reduzido na asma.
➢ Fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% do ar expirado (FEF25-75%):
encontra-se bastante reduzido na asma e é o exame funcional com maior
sensibilidade para o diagnóstico de asma e DPOC.
• Teste de broncoprovocação: mede a hiperresponsividade das vias aéreas através
da inalação de substâncias bronconstritoras ou exercício físico; é útil para casos
em que a espirometria está normal.

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Resumo de Asma 5

• Medidas seriadas de Pico de Fluxo Expiatório (PFE): forma mais simples, mas
menos acurada de diagnosticar a limitação ao fluxo aéreo na asma; medidas
matutinas e vespertinas do PFE devem ser obtidas durante duas semanas; a
diferença entre os valores matinais e vespertinos é divididade pelo maior valor e
expressa em percentual; variações diurnas >20% são consideradas positivas
para asma.

6. Tratamento

• Não-farmacológico: redução da exposição a fatores desencadeantes,


treinamento de técnica inalatória e explicação dos sinais de alerta (piora dos
sintomas e/ou aumento do uso de B2CA).
• Farmacológico
Beta-2-agonistas de curta ação (B2CA): fármacos de escolha para a reversão do
broncoespasmo em crises asmáticas; estimulam a musculatura lisa brônquica
promovendo a broncodilatação de início imediato.
Beta-2-agonistas de longa ação (B2LA): agonistas dos receptores beta-2
adrenérgicos, cujo efeito broncodilatador persiste por até 12 horas; deve ser
prescrito com cuidado, pois alguns estudos demonstraram riscos de aumento de
gravidade das crises em pacientes tratados B2LA, especialmente aqueles sem
corticoterapia inalatória associada.
Corticosteroides inalatórios (CI): anti-inflamatórios mais eficazes para o tratamento
da asma crônica sintomática.
Corticosteroides sistêmicos: frequentemente necessários em pacientes com asma
grave. Mais utilizados são a prednisona e a prednisolona.
• Conduta inicial: varia de acordo com a gravidade da asma.
➢ Intermitente: medidas não-farmacológicas gerais + B2CA para alívio
(conforme necessidade)
➢ Persistente leve: medidas não-farmacológicas gerais + CI dose média diário
+ B2CA para alívio (conforme necessidade)

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Resumo de Asma 6

➢ Persistente moderada: medidas não-farmacológicas gerais + CI dose média a


alta diário + B2CA para alívio (conforme necessidade) + acompanhamento
com pneumologista
➢ Persistente grave: medidas não-farmacológicas gerais + CI dose alta diário +
B2CA para alívio (conforme necessidade) + B2LA 1-2x/dia quando estável +
acompanhamento com pneumologista
• Exacerbação (crises): oxigenoterapia (se necessário, meta Sat02≥93%) +
corticoterapia oral + broncodilatador de curta ação.
• Doses
➢ Beclometasona (CI):
Dose média: 500-1000mcg/dia
Dose alta: 1000-2000mcg/dia
➢ Prednisona (para adultos): 40-60mg/dia, via oral, 5-7dias.
➢ Prednisolona (para crianças): 1-2mg/kg/dia, via oral.
➢ Salbutamol (B2CA): 100-9600mcg/dia, via inalatória.

Referências bibliográficas

1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de


Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma. Jornal Brasileiro de Pneumologia,
2012.
2. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas: Asma. Brasília, 2013.
3. Goldman, L.; Schafer, AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier
Saunders, 2016.
4. Global Initiative for Asthma. Global Strategy for Asthma Management and Prevention,
2018.

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Resumo de Asma 7

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