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O SISTEMA DE

ENSINO SUPERIOR
NOTAS SOBRE
N um intervalo de pouco mais de trinta anos, o

ensino superior brasileiro passou por expressivas

mudançasemsuamorfologia.Noiníciodosanos60,
contávamoscomaproximadamenteumacentenade

instituições, a maioria delas de pequeno porte, vol-


tadas basicamente para atividades de transmissão

doconhecimento,comumcorpodocentefracamen-

te profissionalizado. Estes estabelecimentos


vocacionados, fundamentalmente, para a reprodu-

ção de quadros da elite nacional, geralmente culti-

vando um ethos e uma mística institucional, abriga-


vam menos de cem mil estudantes, com predomi-

nância quase absoluta do gênero masculino. Tal

quadro contrasta fortemente com a complexa rede


deestabelecimentosconstituídaaolongodessesanos,

que resultou na existência de quase um milhar de

instituições,portadorasdeformatosorganizacionais

CARLOS BENEDITO
e tamanhos variados. Este sistema absorve atual-
MARTINS é professor do
Departamento de mente 1,8 milhão de alunos matriculados na gra-
Sociologia da
Universidade de Brasília duaçãoeaproximadamente70milalunosnoscursos
(UnB) e diretor-científico
do Núcleo de Estudos
sobre Ensino Superior da de pós-graduação stricto sensu que cobre todas as
Universidade de Brasília
(Nesub). áreasdoconhecimento,respondendopor1.180cur-

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CONTEMPORÂNEO
sosdemestradoepor627programasdedoutorado.

Nobojodesseprocessodemudanças,ocorreuaincor-

poração de um público mais diferenciado socialmen-


te, um aumento significativo da absorção de estu-

dantes do gênero feminino, a entrada de alunos já

integrados no mercado de trabalho, bem como cla-


ros sinais de um movimento de interiorização e de

regionalização do ensino. Na trajetória dessas trans-


formações, constitui-se um campo acadêmico extre-

mamentecomplexodevidoàdiferenciaçãodasposi-

ções ocupadas por essas instituições diante dos indi-


cadores que tendem a comandar o funcionamento

desseespaçosocial,taiscomoa qualidadedoensino

oferecido, titulação do corpo docente, a capacidade


científica instalada, os formatos organizacionais

CARLOS BENEDITO MARTINS


desses estabelecimentos, bem como em função do

prestígio e do reconhecimento social e simbólico dos


distintos estabelecimentos que o integram.

No entanto, o hábito intelectual de se eleger


uma imaginária universidade brasileira como obje-

to legítimo de reflexão e forma de se referir à tota-

lidade do ensino superior no país tem contribuído


para desviar a atenção de um dos aspectos mais

BRASILEIRO
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significativos deste processo de mudanças, tecnológica, de produção e difusão da ci-
qual seja, o fenômeno do surgimento de ência e da cultura. Ele ocupa também um
uma multiplicidade de tipos de estabeleci- papel estratégico no desenvolvimento
mentos acadêmicos com formatos institu- socioeconômico, bem como constitui uma
cionais, vocações e práticas acadêmicas di- peça-chave na tarefa de qualificar os dife-
ferenciadas. Ao invés de se adotar uma pers- rentes níveis de ensino do próprio sistema
pectiva que privilegie a instituição univer- educacional do país. Uma das idéias cen-
sitária como ponto focal de atenção – o que trais deste texto é que este campo encontra-
acaba tomando uma manifestação particu- se atualmente marcado pela heterogenei-
lar como expressão do geral – considero dade acadêmica e que esta característica
mais fecundo, do ponto de vista analítico, não deve ser apreendida como uma mani-
enfocar a situação do ensino superior bra- festação de anomia do campo. Longe disto,
sileiro atual a partir da noção de campo (1), acredita-se que os rumos de uma política
1 Com a noção de campo, pro-
cura-se designar um espaço em cujo interior as universidades, bem educacional promissora devem adotar a
social que possui uma estrutura como os demais tipos de instituições que o heterogeneidade do sistema como um de
própria, relativamente autôno-
ma no que se refere a outros estruturam, tais como os estabelecimentos seus pontos de partida, evitando tratamen-
espaços sociais, isto é, com re- tos homogêneos para realidades acadêmi-
isolados, as federações de escolas (2) e
lação a outros campos sociais.
Mesmo mantendo uma relação faculdades integradas tendem a ocupar cas marcadas pelo signo da disparidade.
entre si, os diversos campos de-
finem-se através de objetivos es- posições específicas na hierarquia interna Ao lado disto, pretende-se também ressal-
pecíficos, o que lhes garante deste espaço social. Creio que esta postura tar que uma política de ensino superior na
uma lógica particular de funcio-
namento e de estruturação. É possibilita orientar a reflexão para a grande sociedade brasileira deva eleger, no con-
característico de um campo pos-
suir sua hierarquia interna, seus diferenciação institucional que se encontra texto atual, como uma de suas prioridades,
espaços estruturados de posi- subjacente na estruturação deste campo a expansão deste sistema face ao cresci-
ções, seus objetos de disputa e
de interesses singulares, que específico. Certamente, é no interior de mento contínuo da população. Para tanto,
são irredutíveis aos objetos, às deve-se criar mecanismos efetivos que
algumas universidades, principalmente as
lutas e aos interesses consti-
tutivos de outros campos. A públicas, que se concentra o essencial da combinem esta expansão – que se torna cada
noção de campo reporta-se aos
inúmeros trabalhos de P. prática acadêmica e da atividade científica vez mais necessária – com padrões de qua-
Bourdieu. A esse respeito, por mais elaboradas no país, respondendo pelo lidade acadêmica, aliada com uma contí-
exemplo, ver, de sua autoria,
Questions de Sociologie (Paris, que há de mais proeminente na formação nua avaliação deste complexo sistema.
Éditions de Minuit, 1980, pp.
113-21); Leçon sur la Leçon da graduação, na oferta da pós-graduação e
(Paris, Éditions de Minuit, pelo desenvolvimento da pesquisa. Pela
1982, pp. 46-50); Choses
posição de destaque que algumas delas
Dites (Paris, Éditions de Minuit,
1987, pp. 167-77); Les Régles
ocupam no interior do campo acadêmico,
AS DIFERENÇAS E A TENTAÇÃO DA
de l´Art (Paris, Éditions de Seuil,
1992, pp. 298-430); Répon- seguramente, justifica-se uma reflexão
ses (Paris, Éditions de Seuil,
1982, pp. 71-91). aprofundada por parte da comunidade aca-
INDIFERENÇA
2 As federações de escolas fo- dêmica. No entanto, esta preocupação não
ram regulamentadas pelo arti- deve ofuscar o fato de que as universida-
go 8 da Lei 5540/68. Segun-
do esta legislação, as federa- des, especialmente as públicas, represen- Os diversos sistemas de educação su-
ções de escolas referem-se à
congregação de estabeleci-
tam apenas uma parte do sistema, tampouco perior, existentes em países que ocupam
mentos isolados, que passa a deve concorrer para desfocar a amplitude e uma posição destacada no processo de de-
ser regida por uma estrutura
administrativa comum e por um a complexidade da estruturação do campo senvolvimento socioeconômico, tendem a
regimento unificado. A criação acadêmico nacional. desempenhar uma pluralidade de funções
dessa entidade foi concebida
como uma fórmula intermediá- O objetivo deste artigo é buscar, de for- em termos de formação acadêmico-profis-
ria entre os estabelecimentos
isolados e a universidade. O ma bastante esquemática, assinalar algu- sional. Nestes sistemas prevalece uma ex-
GT da Reforma Universitária, mas questões que me parecem centrais so- tensa hierarquia de instituições de ensino
apoiando-se na Indicação no
48/67 do antigo CFE, tinha a bre o ensino superior brasileiro atual, basi- com perfis acadêmicos específicos que
expectativa de que estas fede-
rações, com o transcorrer do
camente em nível de graduação, referentes oferecem cursos e programas para públi-
tempo, se transformassem em aos aspectos de sua diversificação e de seu cos portadores de diferentes motivações e
universidades. Ver a este res-
peito o Relatório do Grupo de crescimento. Parte-se do pressuposto de que perspectivas profissionais, bem como pro-
Trabalho da Reforma Universi- este sistema ocupa uma posição fundamen- curam manter uma relação de sintonia com
tária (Revista Paz e Terra, no 9,
outubro de 1968, p. 253). tal na dinâmica dos processos de inovação as amplas demandas oriundas da dinâmica

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das mudanças sociais vivenciadas por es- lar a necessidade da diversidade e da
ses países. Este processo de diferenciação pluralidade de modelos no ensino superior
ocorre não apenas no sentido vertical da não significa compactuar com um ensino
oferta de formação acadêmico-profissio- insatisfatório e deficiente, com a prática da
nal, mas também no plano horizontal, a pesquisa mal elaborada e/ou com a anomia
partir de uma pluralidade de objetivos e institucional. Ao contrário, com isso, pro-
conteúdos educacionais, competências e cura-se expressar que as instituições po-
prerrogativas típicas das instituições, per- dem e devem ter vocações e especializa-
manecendo, no entanto, um processo de ções distintas e cada uma delas deve procu-
fluidez de comunicação entre os diferentes rar distinguir-se nas atividades que efeti-
setores que o integram (3). vamente desenvolvem, adotando os forma-
O funcionamento cotidiano do ensino tos organizacionais que lhe parecerem mais
superior brasileiro indica que ele já vem se adequados em função dos objetivos que elas
diferenciando na prática, não apenas em perseguem. Seguramente, essa postura
termos da natureza e/ou do tipo de depen- implica a elaboração de um amplo proces-
dência administrativa de seus estabeleci- so de avaliação institucional, no qual cada
mentos, mas também quanto às distintas estabelecimento de ensino deve ser avalia-
vocações acadêmicas expressas por esses do em função do seu projeto e objetivos 3 Sobre a diferenciação
institucional e social dos siste-
centros, bem como com relação às deman- acadêmicos (4). mas de ensino superior de al-
das e expectativas profissionais de seus Desde o Estatuto de 1931, a universida- guns países, ver, por exemplo,
Burton Clark, The Higher
estudantes e às formas desenvolvidas pelas de, por mais que tenha sido compreendida Education System. Academic
Organization in Cross-
instituições para atendê-las. Apesar disso, como mera aglomeração de faculdades iso- National Perspective (University
vários dispositivos que têm orientado a ladas, tem se constituído como o modelo of California Press, 1983);
Christian Bode, Annoted Charts
organização do campo, bem como um con- privilegiado para organizar o ensino supe- on Germany´s Higher Edu-
cation and Research System
junto de esquemas de representação e de rior no país e tem dominado parte do nosso (Prestel, Munchen, 1975); Erza
ação de atores que ocupam posições estra- inconsciente acadêmico. Ao invés de abrir Suleiman, Elites in French
Society: the Politics of Survival
tégicas no interior deste campo – tais como caminho para a diversificação do sistema, (Princeton University Press,
parte significativa do movimento docente a Reforma de 1968, voltada basicamente 1978); Pierre Bourdieu, La
Noblesse d´État (Paris, Éditions
e/ou dirigentes de instituições, tanto públi- para as instituições federais, indicava que de Minuit, 1989); Jean Claude
Passeron, “Université Mise à la
cas quanto privadas –, contribuem para o modelo universitário deveria constituir o Question: Changement de
apreender e lidar com as diferenças exis- tipo natural de estrutura para o qual con- Décor ou Changement de
Cap”, in Jacques Verger (org.),
tentes entre as instituições como formas vergiria a expansão do ensino superior, Histoire des Université en
France (Toulouse, Privat,
desviantes de um suposto modelo ideal, na atribuindo aos estabelecimentos isolados 1986); José Joaquin Brunner,
maioria das vezes, identificado com a ins- um caráter excepcional e passageiro. A Universidad y Sociedad en
América Latina (Universidad
tituição universitária. Ao inclinar-se para Constituição de 1988 deu um passo adiante Autónoma Metropolitana,
uma postura que acaba por neutralizar as na recusa conceitual e política da possibi- México, Azcapotzalco,
1987).
diferenças e acentuar as semelhanças for- lidade de criação de modelos institucionais
4 Um dos atores que ocupa uma
mais entre as instituições, este comporta- diferenciados, ao consagrar no seu artigo posição estratégica no interior
do campo acadêmico, a An-
mento concorre, seja direta ou indiretamen- 207 que as universidades obedeceriam ao des, tem de forma recorrente
te, para recalcar e sufocar as diversidades princípio da indissociabilidade entre ensi- defendido um padrão único de
organização para o ensino
acadêmico-institucionais. Com isso, essa no, pesquisa e extensão. superior brasileiro. Num dos
seus documentos, afirma-se que
atitude, além de propiciar uma série de Deve-se assinalar que algumas reco- “o conceito de Universidade
artificialismos acadêmicos, tende a camu- mendações do GT da Reforma Universitá- vem sendo empregado pelo
movimento docente de forma
flar experiências nascidas do embate das ria de 1968, que poderiam caminhar rumo abrangente, compreendendo
instituições com os seus contextos regio- à flexibilização do ensino, tais como a in- as instituições de ensino supe-
rior (universidades, faculdades
nais e acadêmicos específicos, que, se fos- trodução das “carreiras curtas” e os cursos ou instituições isoladas e
Cefets) para as quais é estabe-
sem assumidas com maior dose de transpa- de tecnólogos, deram poucos resultados lecido o padrão unitário de
rência e clareza, poderiam ser melhor ava- efetivos e ao longo do tempo foram caindo qualidade, a partir da
indissociabilidade entre ensi-
liadas e, eventualmente, aperfeiçoadas do paulatinamente no esquecimento. A Comis- no, pesquisa e extensão”. Pro-
posta da Andes para a Univer-
ponto de vista acadêmico. são Nacional para a Reformulação do En- sidade Brasileira , Brasília,
Talvez deva-se deixar claro que assina- sino Superior, constituída no início do go- 1996, p. 5.

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verno Sarney, representou uma outra ma- anos 60. Portanto, comporta tanto alguns
5 A propósito dos cursos e currí- nifestação rumo à diversificação do ensino centros de alto nível acadêmico, quanto uma
culos propostos pelo Relatório
do Grupo de Trabalho da Re- superior. O seu Relatório Final elaborou boa quantidade de instituições possuidoras
forma Universitária, ver op. cit., um conjunto de recomendações sobre as- de uma qualidade questionável. Não seria
pp . 257-9. Quanto às propos-
tas da Comissão Nacional para pectos centrais (autonomia universitária, incorreto afirmar que, enquanto tendência,
a Reformulação da Educação
Superior, consultar o seu Rela-
estruturação do corpo docente, avaliação, esses estabelecimentos estão voltados fun-
tório Final, denominado Uma etc.) que, se implementadas, introduziriam damentalmente para as atividades de ensi-
Nova Política para a Educa-
ção Superior Brasileira . significativas mudanças na estrutura de no, sendo que a prática de pesquisa consti-
(Brasília, MEC, 1985). Para ensino. Com relação à graduação, por exem- tui mais uma exceção que uma experiência
uma apreciação de algumas
das recomendações desta plo, privilegiavam-se os cursos de gradua- habitual.
Comissão e a constituição do
Geres, consultar o artigo de Luiz ção de caráter geral, desvinculados de pro- Estas considerações apontam a insufi-
Antônio Cunha, “Política para fissões específicas e sugeria-se a transfe- ciência de uma perspectiva que se apóie
o Ensino Superior do Geres à
LDB” (Revista Sociedade e Es- rência de conteúdos profissionais para a tão-somente na referência do modelo uni-
tado, vol XII, no 1, Departamen-
to de Sociologia/Unb, janei-
pós-graduação, num modelo próximo ao versitário como forma de se referir à tota-
ro-junho/1997). dos colleges norte-americanos. Ao lado lidade deste complexo sistema, bem como
6 Com relação ao privile- disso, a demanda por cursos específicos era adotá-la como única forma possível e/ou
giamento do modelo universi-
tário, o GT da Reforma Univer- deslocada das universidades para os insti- desejável para estruturar a vida acadêmica
sitária afirmava que “na medi- tutos superiores de tecnologia. Como se no país.
da em que se focaliza o con-
junto, o que resulta é a preocu- recorda, houve uma ampla mobilização por Apesar de ter ocorrido um forte cresci-
pação de fidelidade, a idéia
universitária em si mesma, sus- parte do movimento docente, dos estudan- mento do número de instituições de ensino
cetível de objetivar-se nos mais tes e dos funcionários que, apoiados na superior (IES )nas últimas décadas, os da-
variados esquemas dentro de
um país que tem proporções defesa do padrão único, rejeitou em bloco dos disponíveis mostram uma forte distri-
continentais... Esta considera-
ção levou a que ainda se man-
as propostas apresentadas por aquela co- buição desigual do total pelo país. A Tabe-
tivesse o sistema de estabeleci- missão que fundamentava as propostas do la 2 fornece informações a este respeito: a
mentos isolados, atribuindo-lhes
porém um caráter excepcional Geres (Grupo Executivo para a Reformu- região Sudeste absorve 62,4% dos estabe-
que fixa, mais uma vez, a uni- lação da Educação Superior) (5). lecimentos, a Sul 13,2%, a Nordeste 10,5%,
versidade como o tipo natural
de estrutura para o ensino su- No entanto, a expansão do ensino supe- a Centro-oeste 10,2% e a região Norte abri-
perior”. Relatório do Grupo de
Trabalho da Reforma Universi- rior no país, nos últimos trinta anos, mos- ga apenas 3,7% das instituições. Os dados
tária, op. cit. p.253. Sobre a trou-se refratária à pretendida homogenei- apontam também uma forte predominân-
diversidade de projetos existen-
tes com vistas à reforma univer- dade institucional almejada pela legislação. cia numérica da rede privada, que abarca
sitária no período enfocado, ver
o artigo de Laura Veiga, “Refor-
Os dados da Tabela 1 (no final do texto), 77% dos estabelecimentos, enquanto o se-
ma Universitária na Década de além de fornecer outras informações, ates- tor público é responsável por 23% das ins-
60: Origens e Implicações
Político-Institucionais” (Revista tam esse fato com bastante evidência. Como tituições. As instituições privadas prevale-
Ciência e Cultura, suplemento pode-se observar, o sistema conta atual- cem numericamente em todas as regiões
especial, volume 37, no 7, ju-
lho de 1985). Para uma dis- mente com 922 instituições, sendo que as do país, de modo destacado no Sudeste, Sul
cussão sobre o padrão que
vinha orientando até então a 136 universidades ocupam uma posição e Centro-oeste.
dinâmica do ensino superior reduzida, em termos quantitativos, repre- Um dos fenômenos mais significativos,
brasileiro e os avanços e limi-
tes da Reforma de 1968, ver o sentando apenas 15% do conjunto, número em termos das mudanças da morfologia do
trabalho de Florestan Fer-
nandes, Universidade Brasilei-
bastante próximo das federações e facul- ensino superior brasileiro contemporâneo,
ra: Reforma ou Revolução? (São dades integradas. Ao contrário do pretendi- diz respeito à diminuição do número dos
Paulo, Editora Alfa-Omega,
1975, pp. 65-90 e 201-242). do pela legislação, a expressiva maioria do estabelecimentos isolados e ao crescimen-
Para uma avaliação dos ga- sistema superior é constituída pelos 643 to numérico das universidades. Os dados
nhos e perdas advindos da im-
plantação da reforma universi- estabelecimentos isolados, que abarcam 70% da Tabela 1 contêm informações a esse
tária, ver o artigo de Helena
Bomeny, “A Reforma Universi- da totalidade das instituições de ensino (6). respeito. Em 1980, havia no país 797 esta-
tária de 1968, 25 Anos De- Como se sabe, esses estabelecimentos belecimentos isolados que diminuíram para
pois” (Revista Brasileira de Ci-
ências Sociais, no 26, outu- isolados constituem, a rigor, uma categoria 643, no ano de 1996. Durante o mesmo
bro de 1994). Quanto às ori-
gens da estrutura centralizada
heterogênea, uma vez que abrange institui- período, as 65 universidades existentes
e formalizada da universidade ções de tipos distintos, tais como institutos saltaram para 136, registrando um cresci-
brasileira, ver o trabalho de
Simon Schwartzman, Formação federais especializados (faculdades de mento da ordem de 109%. Enquanto o nú-
da Comunidade Científica no medicina, engenharia) e instituições isola- mero de universidades federais permane-
Brasil (Rio de Janeiro, Finep,
1979, pp. 163-91). das que proliferaram a partir do final dos ceu praticamente estável durante esse perío-

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do, constata-se que as estaduais triplicaram- mico nacional, concretizou-se efetivamente
se, passando de 9 para 27 instituições. No em apenas algumas instituições e, assim
entanto, o maior impulso para o crescimento mesmo, com demasiada concentração re-
das instituições universitárias veio do setor gional. De um modo geral, pode-se afirmar
privado, que passou de 20 para 64 univer- que a capacidade instalada de pesquisa no
sidades, o que representou um crescimento país encontra-se basicamente no interior das
de 220%. As informações disponíveis suge- instituições públicas. De um total de 116
rem que a lógica para a criação dessas uni- estabelecimentos que possuem programas
versidades particulares foi comandada pelo de pós-graduação, a rede pública é respon-
processo de fusão de estabelecimentos iso- sável por 83 estabelecimentos, ou seja,
lados que decresceu durante esse período, e/ 71,5%, e a rede privada por 33 estabeleci-
ou pela criação de faculdades integradas mentos, ou seja, 28,5% dos cursos. Estes
particulares – que funcionaram nesse espa- dados e vários outros que poderiam ser
ço de tempo como uma espécie de incuba- mencionados, apontam, de um modo geral,
dora de novas universidades – que aumen- para significativas diferenças acadêmicas
tou a sua participação quantitativa no siste- existentes entre as instituições públicas e
ma de forma significativamente considerá- privadas. No entanto, não seria correto, do
vel. Tudo leva a crer que a recente expansão ponto de vista analítico, tomar estes seg-
das universidades particulares foi coman- mentos – o público e o privado – como
dada pelo interesse de suas mantenedoras homogêneos com relação às atividades de
em obter maior autonomia, que é conferida ensino e/ou pesquisa, haja vista a manifes-
legalmente a esse tipo de instituição, princi- tação recorrente de expressivas assimetrias
palmente com relação à liberdade de expan- de desempenho acadêmico que podem ser
dir cursos e à criação de ampliação de vagas. percebidas também no interior destas duas
Ela expressa também uma estratégia, quer redes (8).
direta quer indiretamente, com vistas a Como já foi assinalado, as universida-
maximizar simbolicamente a posição des- des públicas ocupam uma posição funda-
sas instituições no interior do campo acadê- mental no interior do campo acadêmico
mico vis-à-vis aos estabelecimentos não- nacional e um papel estratégico no proces-
universitários, procurando demarcar posi- so de desenvolvimento do país, basta assi-
ções e, com isso, aumentar a rentabilidade nalar a esse respeito, por exemplo, os seus 7 Ver a este respeito a tese de
doutoramento de Helena
dos seus títulos escolares nos mercados aca- resultados alcançados no Exame Nacional Sampaio, O Setor Privado de
dêmico e extra-acadêmico (7). de Cursos, os conceitos obtidos nas avalia- Ensino Superior no Brasil (De-
partamento de Ciência Políti-
Em face da heterogeneidade acadêmica ções dos programas de pós-graduação ca da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas,
que prevalece no interior do subcampo das empreendidas pela Capes, a contribuição Universidade de São Paulo,
instituições universitárias na sociedade bra- que elas aportam para a construção da iden- 1998, pp. 64-99).

sileira, talvez seja preciso reconhecer que tidade nacional, etc. A crise recente das 8 Com relação à participação
destacada das instituições pú-
o termo universidade, em certa medida, tem universidades federais desencadeou uma blicas no sistema nacional de
pós-graduação, consultar as
funcionado mais como um ilusionismo ampla reflexão, por parte da comunidade publicações Avaliação da Pós-
semântico do que como um conceito com acadêmica, da sociedade e do governo, que Graduação: Síntese dos Resul-
tados. 1981-1993 (Capes,
características unívocas. Na verdade, este ainda se encontra em curso, sendo que vá- Brasília, MEC, 1996); Uma
modelo único que permeia boa parte do rias destas considerações têm convergido Década de Pós-graduação:
1987-1996 (Capes, Brasília,
nosso imaginário acadêmico, calcado em no sentido de salientar a necessidade do MEC, 1997). Sobre a partici-
pação das instituições federais
princípios tais como o da universalidade de fortalecimento dessa rede, ou seja, da im- na produção científica e na
campo e o da indissociabilidade entre ensi- portância de se garantir um efetivo com- capacitação docente no país,
ver os artigos de Vilma Figuei-
no, pesquisa e extensão, pouco resiste a uma prometimento por parte do governo fede- redo e Fernanda Sobral, “A
Pesquisa nas Universidades
confrontação com a realidade acadêmica ral na manutenção e no aprimoramento Brasileiras”, e de Ivan Sérgio
das instituições. A institucionalização da destas instituições. Na verdade, elas são fun- “A Universidade Pública, a
Formação de Quadros e o País
pós-graduação ocorrida no país a partir dos damentais para o desenvolvimento do país, (in Jacques Velloso (org.), Uni-
anos 70, que constituiu um fato inovador e uma vez que constituem uma rede nacional versidade Pública, Política, De-
sempenho, Perspectivas, São
extremamente positivo no campo acadê- de estabelecimentos, espalhada pelo terri- Paulo, Editora Papirus, 1991).

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tório nacional, sendo que Tocantins cons- que a coexistência num mesmo homem das
titui o único Estado em que ela não se en- habilidades para o ensino e a pesquisa é um
contra presente. Excetuando-se as univer- fenômeno puramente ocasional, continua
sidades estaduais paulistas, uma parte subs- sendo, no mínimo, sensata. É preciso reco-
tancial da capacidade de pesquisa instala- nhecer que algumas universidades, depar-
da no país encontra-se localizada nesta rede. tamentos ou docentes podem ter vocação
Os dados existentes tendem a indicar que a para a pesquisa, outras para o ensino pro-
excelência acadêmica encontra-se concen- fissional. A verdade é que o modelo único
trada em um número reduzido nestas insti- tem-se mostrado cada vez mais insa-
tuições, coexistindo com outros grupos tisfatório em face da grande diversidade
importantes que têm uma existência mais regional da sociedade brasileira e diante da
rarefeita nos demais estabelecimentos. heterogeneidade acadêmica que pode ser
Essas universidades têm constituído um constatada no funcionamento deste sub-
espaço destacado no processo de amplia- campo. Além da profecia do modelo único
ção das oportunidades educacionais, tem não se ter cumprido, esta concepção tem
emprestado uma contribuição, não menos exercido um efeito perverso para as uni-
relevante, na defesa dos valores democrá- versidades federais, uma vez que acaba
9 Entre os vários diagnósticos ela-
borados sobre este sistema, ver ticos, bem como para a publicização de por desvalorizar as instituições que se des-
por exemplo o realizado por
Eunice Durham, “O Sistema questões relevantes do país e de nossa épo- viam deste suposto padrão de qualidade.
Federal de Ensino Superior: Pro- ca, conduzida por uma pluralidade de pers- Ao invés de engessá-las num protótipo –
blemas e Alternativas” (Revista
Brasileira de Ciências Sociais, pectivas analíticas. Em face disso, embora que acaba por produzir ficções acadêmicas
no 23, outubro de 1993, pp.
5-38). Ver, a este respeito, os
esteja assegurada no artigo 206 da Consti- – seria mais recomendável a criação e a
comentários sobre o referido tuição a gratuidade do ensino público em prática efetiva de uma pluralidade de mo-
artigo, realizados no mesmo
número do mencionado perió- estabelecimentos oficiais, nunca é demais delos acadêmicos (10).
dico por Carlos Benedito reiterar a manutenção desse princípio, em A crise vivenciada pelas universidades
Martins, denominado, “Cami-
nhos e Descaminhos das Uni- função da centralidade que esta rede ocupa federais acentuou também a necessidade
versidades Federais” (pp. 48-
55). Consultar também neste no processo de democratização das opor- de se desenvolver uma reflexão, mais ge-
mesmo número o artigo de Jor- tunidades educacionais. ral, entre outros aspectos, sobre a autono-
ge Guimarães, “Perspectivas
para as Instituições Federais de Longe de mitificar as universidades mia destas instituições, de modo a capacitá-
Ensino Superior” (pp. 42-7).
federais, parte-se do reconhecimento de las a melhor definir o seu verdadeiro perfil
10 Com relação à intensificação
do debate sobre as universida-
que, certamente, esta rede não é homogê- e a sua real vocação institucional. A prática
des federais, desencadeado nea e apresenta variados problemas e defi- efetiva da autonomia, por exemplo, permi-
durante a última greve dos
docentes das universidades fe- ciências acadêmicas, que no entanto po- tiria que certos estabelecimentos estabele-
derais, ver por exemplo o arti- dem ser enfrentados e equacionados (9). A cessem uma maior vinculação regional,
go de José Arthur Giannoti,
denominado “Em Defesa da última crise experimentada pelas universi- encaminhando para esta direção algumas
Universidade Pública” (Folha de
S. Paulo, 17/4/1998). Seria dades federais colocou também em relevo de suas atividades acadêmicas. Algumas
oportuno assinalar que algumas o esgotamento do modelo único, alicerçado instituições, eventualmente, poderiam pri-
das preocupações de J. A.
Giannoti, com relação às uni- nas idéias de universalidade de campo e da vilegiar a formação a ser dispensada na
versidades públicas brasileiras,
encontram-se desenvolvidas em
indissociabilidade do ensino, pesquisa e graduação, outras concentrariam os seus
trabalhos anteriores, tais como extensão. Um sistema único de universida- esforços na atividade de pesquisa em cer-
“A Universidade e a Crise” (Re-
vista Ciência e Cultura, vol. 37, des federais, com currículos, programas e tas áreas e/ou no conjunto de sua institui-
no 7, julho de 1985, pp. 235- práticas comuns, desconhecendo as dife- ção, etc. O essencial é que a autonomia
45); A Universidade em Ritmo
de Barbárie (São Paulo, Edito- renças acadêmicas entre elas, pouco con- possibilite que as universidades sejam mais
ra Brasiliense, 1986). Ver tam-
bém o manifesto lançado por tribui para estimular a criatividade acadê- transparentes na formulação do seu projeto
expressivos docentes e pesqui- mica. Seguramente, nenhuma legislação institucional e de seus objetivos e que as
sadores nacionais “Em Defesa
da Universidade Pública” (Jor- tem a capacidade de implementar a indis- capacitem a desenvolver a formação aca-
nal Ciência Hoje , 25/6/
1998). Este documento, além
sociabilidade entre as atividades de ensino dêmica, a prática da pesquisa, a atividade
de assinalar com bastante e de pesquisa em todas as áreas de uma de extensão, a partir de maneiras próprias
ênfase o papel estratégico das
universidades públicas, reivin- determinada instituição, muito menos de e com a possibilidade de estabelecer com-
dica também a necessidade de transformar um professor em pesquisador binações variadas e inovadoras destes dis-
reformas baseadas em valores
acadêmicos. ou vice-versa. A observação de Max Weber, tintos elementos. Com isso, a universidade

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poderá aumentar a relevância dos seus ser- do conjunto do sistema (12). Os dados exis- 11 A Andes tem empreendido uma
defesa sistemática, até então,
viços educacionais e manter uma relação tentes com relação a este subcampo ten- de uma política isonômica na-
cional. Em um de seus documen-
mais dinâmica com os contextos sociais que dem a indicar que se trata de um sistema tos, afirma-se que “a isonomia
a permeiam. A autonomia exige também também bastante heterogêneo com relação salarial e a carreira única são
fatores indispensáveis para con-
uma avaliação pública das instituições, a à qualificação acadêmica dos docentes, das dições de trabalho que possam
de fato garantir um padrão uni-
partir das metas e prioridades por elas esta- carreiras oferecidas e da integração entre tário de qualidade para a pro-
belecidas. ensino e pesquisa. De um total de 27 uni- dução acadêmica em nível na-
cional. Além disso, seria injusto
Nesse sentido, a concepção de autono- versidades estaduais, 16 oferecem cursos e arbitrário diferenciar sala-
mia é incompatível com a prática de pa- de mestrado e apenas oito possuem progra- rialmente o mesmo trabalho,
uma vez que trabalho igual deve
drões isonômicos. Esta deve liberá-las dos mas de doutorado. Certamente, neste seg- ter salário igual” (Proposta da
Andes para a Universidade Bra-
entraves do centralismo burocrático, per- mento, destacam-se as universidades esta- sileira, Brasília, 1996, p. 11).
mitindo-lhes uma flexibilidade, observa- duais paulistas que têm uma expressiva Para um debate sobre os dife-
rentes projetos de autonomia
dos parâmetros mínimos, na elaboração e participação na oferta dos cursos de mes- para as universidades públicas,
especialmente as federais, ver
execução de uma política de pessoal do- trado e uma presença significativa na pro- o texto de Maria Francisca Pi-
cente e técnico-administrativo a partir de dução científico-acadêmica do país (13). nheiro, “As Polêmicas Visões da
Autonomia Universitária” (Nú-
suas necessidades institucionais, bem como Em face da heterogeneidade acadêmica cleo de Estudos sobre o Ensino
os seus respectivos padrões de remunera- deste segmento, percebe-se que a Superior da Universidade de
Brasília — Nesub, Publicação
ção. Seguramente, a autonomia plena pres- estruturação destas instituições a partir do n. 11/98, Brasília, 1998).
supõe um plano estratégico de longo prazo padrão único, tal como acontece em outras 12 Não existem na bibliografia na-
cional estudos realizados sobre
e deve ser efetivada de modo gradual a fim partes do conjunto do sistema, acarreta tam- as universidades estaduais, to-
madas em seu conjunto. Os tra-
de minimizar efeitos imprevistos e indese- bém, em boa medida, mais arranjos artifi- balhos disponíveis sobre este
jáveis. Enquanto os aspectos jurídicos e ciais do que uma efetiva articulação entre segmento tendem a enfocar as
universidades estaduais mais
financeiros mais complexos pertinentes a ensino, pesquisa e extensão. Aqui também antigas e portadoras de maior
prestígio acadêmico. Ver a este
esta questão vão sendo discutidos pelos a experimentação de uma pluralidade de
respeito, por exemplo, Irene
atores envolvidos, talvez fosse aconselhá- modelos poderia constituir um caminho Cardoso, A Universidade da Co-
munhão Paulista: o Projeto de
vel, se possível juridicamente, que se inici- promissor na exploração positiva da diver- Criação da Universidade de
asse um entendimento do MEC com algu- sidade interna deste segmento do sistema. São Paulo (São Paulo, Autores
Associados/Cortez, 1982);
mas universidades que se mostrassem inte- Como uma parte expressiva das universi- Florestan Fernandes, A Questão
da USP (Brasiliense, 1984);
ressadas em aderir a um projeto de autono- dades estaduais é de criação recente, ou seja, Braz José Araújo (org.), A Crise
mia, em caráter experimental, de tal forma ainda possui pouca tradição na constitui- da USP (São Paulo, Brasiliense,
1980). O Núcleo de Pesquisas
que esta ganharia os seus contornos reais a ção de um poder acadêmico capaz de neu- sobre o Ensino Superior da Uni-
versidade de São Paulo (Nupes)
partir da prática da negociação de cada caso tralizar interferências externas, torna-se
vem coordenando, em colabo-
concreto (11). necessário criar mecanismos efetivos que ração com pesquisadores do
Grupo de Estudos sobre Univer-
As universidades estaduais, que, con- preservem a liberdade acadêmica. Elas não sidade (GEU) da UFRGS, do
forme já foi assinalado, cresceram signifi- podem ser tratadas como um mero apêndi- Núcleo de Estudos sobre o Ensi-
no Superior da Universidade de
cativamente após os anos 80, constituem ce do setor burocrático local, cujos dirigen- Brasília (Nesub) e da UFMG, a
realização de uma pesquisa
um segmento bastante específico no con- tes, docentes e funcionários sejam substi- denominada As Universidades
junto do ensino superior do país. Ao con- tuídos em função dos interesses momentâ- Estaduais no Brasil: Característi-
cas Institucionais, que se encon-
trário das universidades federais e das par- neos dos governos estaduais e dos partidos tra em fase final e que, sem dú-
vida, preencherá uma lacuna
ticulares, elas encontram-se fora da alçada políticos, seja do governo ou da oposição.
importante sobre o conhecimen-
da supervisão do MEC, uma vez que são A diversidade institucional se faz tam- to de algumas das característi-
cas acadêmicas deste segmen-
financiadas pelos seus respectivos Estados. bém presente no subcampo das universida- to do ensino superior nacional.
O fato de este segmento encontrar-se ex- des privadas, basicamente integrado pelas 13 Do total dos 479 cursos de mes-
trado e dos 369 doutorados
clusivamente supervisionado por órgãos de instituições comunitárias, pelas confes- oferecidos pelas universidades
âmbito estadual contribui para que ele fi- sionais e pelos estabelecimentos de perfil estaduais, a USP respondia por
55,5% (M) e 62% (D); a Unesp
que relativamente à margem do sistema de mais empresarial. De um modo geral, as por 21,5% (M) e 22,7% (D); a
Unicamp por 9,3% (M) e 10,8%
ensino superior do país. Nesse sentido, tor- comunitárias apresentam um trabalho, em (D); a UERJ por 4,5%(M) e 1,6%
na-se necessário conhecer com maior pro- determinados aspectos, bastante inovador (D). As demais participavam
com 9,2% do mestrado e 2,9%
fundidade esse setor, avaliar o seu potenci- na prestação de serviços educacionais à do doutorado. Ver a este respei-
al com vistas a integrá-lo em políticas na- comunidade, mantendo um elevado grau to a publicação Uma Década
de Pós-graduação: 1987-1996
cionais, objetivando a melhoria acadêmica de interação com os contextos sociais nos (Brasília, Capes, MEC, 1997).

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quais estão inseridas. Elas têm se voltado to para as universidades públicas quanto
fundamentalmente para as atividades de privadas, permitia legalmente a estas no-
ensino e têm desenvolvido um trabalho sig- vas universidades criar e extinguir cursos
nificativo no domínio da extensão. Como na própria instituição, liberando-as do con-
se sabe, as universidades confessionais, trole do então Conselho Federal de Educa-
até o final da década de 60, possuíam um ção. Deve-se também assinalar que se tor-
maior peso no conjunto do setor privado na necessário criar dispositivos efetivos que
nacional e estavam praticamente ligadas à preservem a liberdade de crítica e a livre
Igreja Católica. A presença desse ensino manifestação do pensamento por parte dos
privado confessional não era desprezível, docentes, funcionários e alunos das insti-
uma vez que ele respondia, na metade da- tuições, preservando a sua atividade aca-
quela década, por aproximadamente 44% dêmica em face dos interesses mediatos e/
das matrículas. No período mais recente ou imediatos dos seus mantenedores.
ocorreu a criação de certas instituições
confessionais não-católicas, especialmen-
te as metodistas e as luteranas. Deve-se
destacar que determinadas universidades A EXPANSÃO NECESSÁRIA
14 A respeito das condições soci- confessionais, de um modo especial algu-
ais que possibilitaram a emer-
gência deste “novo ensino pri- mas PUCs, têm desenvolvido suas ativida- Como sabemos, o ensino superior bra-
vado”, ver o trabalho de Carlos
Benedito Martins, “O Novo des pautadas por consistentes padrões aca- sileiro passou, nas três últimas décadas, por
Ensino Superior Privado no Bra- dêmicos. No entanto, como indica a biblio- um forte processo de crescimento de suas
sil” (in C. B. Martins (org.),
Ensino Superior Brasileiro: grafia disponível sobre essa questão, não matrículas. Os dados da Tabela 3 fornecem
Transformações e Perspectivas,
São Paulo, Brasiliense, 1989).
foram as instituições confessionais que informações significativas sobre essa ques-
A respeito de algumas caracte- estiveram à frente do processo expan- tão. Em 1962, ele atendia pouco mais de
rísticas deste ensino privado, ver
também Cândido Mendes e sionista verificado nos anos 70. Um dos cem mil alunos, desempenho que contrasta
Cláudio Moura Castro, Quali- traços marcantes do funcionamento do cam- de maneira significativa com 1,8 milhão
dade, Expansão e Financiamen-
to do Ensino Superior Privado po das instituições de ensino superior bra- que freqüentavam a graduação em 1996.
(Rio de Janeiro, Educam, Con-
junto Universitário Cândido sileiro atual diz respeito, exatamente, à De acordo com projeções elaboradas pelo
Mendes,1984); Luis Antônio emergência de um “novo ensino privado”, MEC, aproximadamente dois milhões de
Cunha, Educação, Estado e de-
mocracia (São Paulo, Autores de perfil laico, que foi se constituindo a alunos encontram-se atualmente matricu-
Associados, 1991); Eunice
Durhan e Helena Sampaio,
partir do final dos anos 60, comandado por lados nos estabelecimentos de ensino de
“Ensino Privado no Brasil” (Do- uma lógica de mercado e por um acentuado terceiro grau no país. Como se pode perce-
cumento de Trabalho 3/95,
São Paulo, Nupes, 1995). O ethos empresarial. Como já foi assinalado, ber existem flutuações neste processo de
trabalho de Clarissa Baeta a partir do final dos anos 80 ocorreu um expansão. O período de maior intensidade
Neves, “O Ensino Superior Pri-
vado no Rio Grande do Sul – a movimento no sentido de transformação de das matrículas ocorreu durante os anos 60,
Experiência das Universidades
Comunitárias”, fornece indica- escolas isoladas e/ou federações de escolas quando a taxa de crescimento foi de 218%.
ções importantes sobre a dinâ- em universidades particulares, em grande Na década seguinte, este ritmo permanece
mica da inserção deste tipo de
instituição com o seu contexto medida comandada por este “novo ensino também bastante elevado, uma vez que foi
societário. A tese de douto-
ramento de Alípio Casali, A
privado” (14). de 208%. O resultado dessas duas décadas
Universidade Católica no Bra- Este movimento de transformação de explica-se, em grande medida, pelo acesso
sil: Elite Intelectual para a Res-
tauração da Igreja, apresenta- estabelecimentos isolados em universida- de um público socialmente mais diversifi-
da à PUC/SP em 1989, repre- des, além de expressar o reconhecimento cado, com uma entrada acentuada do gêne-
senta uma contribuição relevan-
te para a reconstituição do sur- por parte da iniciativa privada de que o ro feminino, de uma clientela composta por
gimento das universidades ca-
tólicas no Brasil (especial- funcionamento de estabelecimentos de pessoas com uma maior faixa etária que já
mente, pp. 100-233). O tra- maior porte, com capacidade de oferecer se encontravam integradas no mercado de
balho de doutoramento de
Helena Sampaio, O Setor Pri- cursos mais diversificados, tem vantagens trabalho, bem como em função de transfor-
vado de Ensino Superior no
Brasil, apresentado ao Depar-
na disputa pela clientela que busca ascen- mações aceleradas no campo da produção
tamento de Ciência Política da der ao ensino superior, mantém uma estrei- econômica, da expansão dos centros urba-
USP em 1998, também expres-
sa uma contribuição fundamen- ta relação com mudanças na legislação do nos, do desenvolvimento das grandes bu-
tal para a compreensão das ten- ensino superior. A Constituição de 1988, rocracias estatais e privadas, etc. Tudo leva
dências mais recentes deste seg-
mento do ensino superior. ao assegurar o princípio de autonomia tan- a crer que o ensino superior assumiu, nes-

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te momento, um forte efeito de visibilida- to as matrículas cresceram em torno de 35%,
de para determinados setores das cama- as conclusões conheceram um acréscimo
das médias urbanas, mais desprovidas de de apenas 12,3%. Certamente, o fenômeno
capital econômico e/ou de capital cultural da evasão deve ter uma efetiva participa-
que viam nele um possível campo de ma- ção neste desequilíbrio.
nobra para colocar em prática as suas es- Seria interessante analisar a participa-
tratégias de reconversão com vistas a ob- ção dos diferentes tipos de estabelecimen-
terem melhores posições materiais e/ou tos no recente processo de evolução das
simbólicas. Esta demanda foi absorvida matrículas do ensino superior. A Tabela 4
em parte através de uma relativa expansão fornece informações a esse respeito. Inici-
do ensino público e em grande medida pelo almente, deve-se destacar que a rede priva-
setor privado, que teve um acentuado cres- da é responsável por 61% das matrículas da
cimento nessa época (15). graduação, enquanto os estabelecimentos
Uma vez encerrado esse processo de públicos respondem pelos 39% restantes.
absorção de novos grupos sociais, tudo le- Os dados indicam também dois movimen-
vava a crer que o ensino superior continu- tos significativos na configuração das ma-
aria a se expandir pelo menos no ritmo do trículas. O primeiro deles diz respeito à
crescimento populacional. No entanto, não contínua diminuição da participação dos
foi isso que ocorreu. Se bem que nos perío- estabelecimentos isolados no total das
dos seguintes o sistema continuou a cres- matrículas. Esses estabelecimentos respon-
cer, em termos absolutos, constata-se uma diam, em 1980, por 46% do alunado de
diminuição acentuada deste ímpeto, con- graduação. Já no ano de 1986, esta partici-
trastando significativamente com os perío- pação diminuiu para 36% e, no ano de 1996,
dos anteriores. A década de 80 iniciou-se baixou para 22%. Contrariamente a essa
com 1.311.799 matrículas e terminou com tendência, percebe-se que as universida-
1.518.905 alunos freqüentando o ensino de des aumentaram, paulatinamente, durante
terceiro grau, o que correspondeu a um o mesmo período a sua participação na
aumento de apenas 16%, representando absorção do alunado. Em 1980, ela era res- 15 Com relação à noção de es-
uma situação de quase estagnação com re- ponsável por 47% das matrículas, saltando tratégia de reconversão, ver o
artigo de Pierre Bourdieu e
lação ao desempenho das décadas anterio- para 51% em 1986. Dez anos depois, ou Monique de Saint-Martin, “Les
Stratégies de Réconvertion” (in
res. Os dados indicam também que na pre- seja, em 1996, ela lidera de forma destaca- Information sur les Sciences
sente década, em seus primeiros anos, o da a participação nas matrículas de gradua- Sociales, vol. XII, no 5, Paris,
outubro de 1993). A discus-
sistema permaneceu praticamente estagna- ção no país, uma vez que absorve 65% deste são que P. Bourdieu realiza
do; durante os anos 90-93 ele cresceu ape- alunado. Como já foi assinalado anterior- com relação à adesão de uma
categoria social às sanções e
nas 3,5%. Os sinais de recuperação come- mente, o crescimento das instituições uni- às hierarquias do sistema es-
colar pode ser encontrada,
çam a aparecer a partir de 1994. Segundo versitárias foi, em boa medida, estruturado entre outros textos, em um arti-
estimativas do Ministério da Educação, em no processo de fusão de estabelecimentos go clássico consagrado a esta
questão, denominado “Repro-
1998, aproximadamente 2.085.120 alunos isolados. dução Cultural e Reprodução
Social” (in A Economia das Tro-
encontram-se matriculados na graduação. Quando se analisa o crescimento das cas Simbólicas, Sérgio Miceli
Caso esta previsão esteja correta, o sistema instituições universitárias, constatam-se di- (org.), São Paulo, Perspectiva,
1974). Sobre as condições
teria passado por um aumento de 424 mil ferenças importantes no interior deste seg- sociais e a trajetória deste
matrículas em relação a 1994, ou seja, ele mento. Tomando como referência o perío- período de expansão do ensi-
no superior, ver o trabalho de
teria crescido, em termos absolutos, nestes do 1980-96, constata-se que as universida- Luís Antônio Cunha, Educação
e Desenvolvimento Social no
últimos quatro anos, mais que durante o des particulares cresceram em torno de Brasil, (Rio de Janeiro, Francis-
período 1980-94, quando havia se expan- 105% as suas matrículas, as universidades co Alves, 1975) e o seu artigo
“A Expansão do Ensino Supe-
dido em apenas 284 mil alunos. municipais expandiram em 102% o seu rior: Causas e Conseqüências”
(in Revista Debate e Crítica, no
Os dados contidos nessa tabela chamam alunado e as estaduais passaram por um 5, 1975). Ver, também,
a atenção para o descompasso entre a ex- aumento de 95% das suas matrículas. As Carlos Benedito Martins, En-
sino Pago: um Retrato sem Re-
pansão das matrículas e o número de universidades federais tiveram um cresci- toques (São Paulo, Cortez,
concluintes. Tomando como referência o mento bastante reduzido, em termos de 1988); Eunice Durhan e Hele-
na Sampaio, “O Ensino Priva-
período 1980-96, constata-se que, enquan- alunado. Em 1986, as federais abrigavam do no Brasil” (op. cit.).

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313.520 alunos e, dez anos depois, este dos anos 80 ocorre uma retomada deste
número passou para 373.880, ou seja, um processo de expansão, uma vez que no
aumento de apenas 19%. Este resultado é período 1989-96 as matrículas cresceram
no mínimo preocupante em face do custo 65%. Os dados evidenciam também que
deste segmento (16). esta recuperação se deve ao desempenho
De um modo geral, pode-se afirmar que, do setor público, de modo especial à rede
a despeito do crescimento das matrículas estadual que responde por 72% das matrí-
verificado nas últimas décadas, os resulta- culas. Deve-se assinalar ainda que os da-
dos alcançados ainda são insatisfatórios, dos indicam que – tal como ocorreu no
uma vez que o público que freqüenta o ensino superior – o fenômeno da rápida
ensino superior no país representa 9% da expansão das matrículas nem sempre foi
população na faixa etária entre 18 e 24 anos. acompanhado com a mesma intensidade do
Esta porcentagem é muito inferior à de número de alunos concluintes (Tabelas 5 e
vários países da América Latina, como por 6). Tudo leva a crer que aqui também as
exemplo a Argentina (39%), o Chile (20%) altas taxas de repetência têm contribuído
e Uruguai (30%), isto sem mencionar al- para esse descompasso. Chama também a
guns outros países, como os EUA, onde atenção que, durante o período 1984-96, a
esse índice está próximo de 60%. Se o Bra- relação entre concluintes do ensino médio
sil pretende modernizar-se enquanto nação, e as vagas no ensino superior ficou em tor-
evidentemente este número deve ser am- no de 1,5%. De um modo geral, o que estes
pliado de forma considerável (17). dados indicam é que a retomada da expan-
Os dados disponíveis evidenciam que são do ensino superior depende, em boa
um dos gargalos que emperraram fortemen- medida, do equacionamento de problemas
te o crescimento do sistema foi o desempe- estruturais existentes nos ensinos funda-
nho da educação média no país. Quando se mental e médio.
observa, por exemplo, o número de inscri- Apesar desses problemas apontados,
ções para o vestibular, não deixa de chamar seria oportuno também assinalar que alguns
a atenção que, no ano de 1980, 1.803.567 levantamentos têm chamado a atenção para
candidatos registraram-se para se submeter o crescimento da matrícula do ensino mé-
a esse exame. Mais de dez anos depois, ou dio em todas as regiões do país, nos últimos
seja, em 1992, esse número pouco se alte- dez anos, e de modo especial em regiões
rou, uma vez que se inscreveram 1.836.859 que têm tido uma pequena participação na
16 Para uma discussão do custo e candidatos, registrando-se um crescimento oferta do ensino superior, seja com relação
desempenho das universidades
federais, ver o debate promovi- de apenas 1,8% nas inscrições (Tabela 3). É às matrículas, seja quanto ao número de
do pelo Cebrap entre diversos fato que, durante tal período, houve oscila- instituições. Nesse sentido, deve-se desta-
docentes, denominado “Crise
e Reforma do Sistema universi- ções para mais ou para menos, mas não dei- car que, no período 1980-95, as matrículas
tário” (in Novos Estudos
Cebrap, no 46, novembro de xa de ser relevante a situação em que, a uma do ensino médio na região Norte tiveram
1996). Consultar, também a distância de doze anos, seja encontrada uma uma taxa de crescimento de 143% e as da
este respeito, Jacques
Schwatzman, “Políticas de En- demanda bastante similar. Centro-Oeste de 70%, superando a média
sino Superior no Brasil na Dé-
cada de 90” (Documento de
A Tabela 5 indica um contínuo cresci- nacional, que foi de 68% (18).
Trabalho no 3/96, São Paulo, mento, em termos absolutos, das matrícu- As estatísticas nos mostram também
Nupes, 1996).
las do ensino médio. Este desempenho que, em 1996, existiam em média quatro
17 Com relação a esta questão,
ver, por exemplo, o trabalho explica-se em função do aumento das taxas candidatos para cada vaga oferecida no
de Brunner e colaboradores, de conclusão do ensino fundamental, como ensino superior, o que indica que possivel-
Educación Superior en America
Latina: una Agenda de Proble- também da expansão dos cursos supletivos mente o grande número de candidatos às
mas, Políticas y Debates en el
Umbral del Año 2.000 (Bogo- de primeiro grau e da oferta de cursos no- vagas oferecidas é constituído por pessoas
tá, Universidad Nacional de turnos. No entanto, pode-se perceber sig- que se apresentam em vários concursos de
Colombia, 1995).
nificativas flutuações neste crescimento do vestibular ou indivíduos que se candidatam
18 Ver a este respeito a publica-
ção Desenvolvimento da Edu- ensino médio. No período 1971-75, a taxa em anos sucessivos e/ou que buscam
cação no Brasil (Brasília, Mi- de crescimento foi de 73%, baixando para (re)ingressar em novas carreiras.
nistério da Educação, 1996,
pp. 29-39). 7% no período 1980-85. A partir do final De um modo geral, o que se deseja re-

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gistrar é que, apesar do desempenho pouco margem a reivindicações e negociações de
satisfatório do ensino médio, os dados e as ordem estritamente acadêmica que, anteri-
tendências mais recentes sugerem sinais de ormente, não encontravam espaço adequa-
sua recuperação em termos de crescimen- do de realização. Ou seja, o novo cenário
to. Se, a curto prazo, o ensino médio ampli- da expansão que se requer deve combinar,
ar a capacidade de diplomar os seus estu- mais do que nunca, aumento da capacidade
dantes, e se as instituições de ensino supe- de atendimento do sistema à sua maior
rior caminharem rumo a uma maior diver- qualificação acadêmica. Esta dinâmica se
sificação em termos de tipos de formação soma a outra, presente no mercado de tra-
profissional e de tipos de diplomas, certa- balho, cada vez mais exigente e seletivo
mente haverá um aumento potencial da quanto ao perfil dos profissionais que se
demanda que passará a pressionar pela dispõem a empregar, aliado ao progressivo
expansão do ensino superior no país. esgotamento dos segmentos do mercado
Caso esse cenário se confirme empiri- mais interessados em profissionais de ní-
camente, a retomada da expansão do ensi- vel superior com perfil indiferenciado,
no superior requererá novos rumos, cujas notadamente aquele relativo às burocracias
definição e implementação, contudo, serão públicas. As próprias reformas em curso na
condicionadas, em grande medida, pelas administração pública, especialmente nos
raízes históricas do sistema. A tradição da níveis federal e em vários Estados da fede-
educação superior brasileira não é univer- ração, sugerem importantes modificações
salista. Mais do que em outros países, ela neste subconjunto do mercado empregador.
ainda permanece elitista, característica esta Dentro do próprio sistema de ensino
reforçada pela sua pouca diversificação superior, instala-se, através de um proces-
institucional. Se, no início, o fenômeno da so de concorrência, inerente ao funciona-
elitização se identificava pelo reduzido mento deste campo, uma competição pela
número de instituições e de vagas, a evolu- qualidade, entre as diferentes instituições
ção do sistema, decorrente da dinâmica que o integram. O surgimento de inúmeras
social e do aumento das possibilidades de novas universidades, assinalado no início
acesso de população às oportunidades edu- deste artigo, que para continuarem a sê-lo
cacionais mais avançadas, foi introduzin- devem cumprir uma série de requisitos le-
do, paulatinamente, novos mecanismos de gais e acadêmico-científicos referentes às
discriminação e de distinção social, marca- atividades de ensino, pesquisa e extensão,
damente aqueles ligados ao recorte públi- exerce, de certa forma, um papel relevante
co/privado, universidade/instituição isola- rumo a patamares mais elevados da educa-
da, ensino de elite/ensino de massa, cursos ção superior. Esta tendência determina a
dominados por camadas privilegiadas so- necessidade das instituições de persegui-
cialmente/cursos que absorvem um públi- rem padrões acadêmicos mais elevados e
co heterogêneo socialmente, graduação/ de desenvolverem estratégias adequadas
pós-graduação, etc. que atraiam e mantenham suas distintas cli-
É difícil conceber que a sociedade bra- entelas. Já não têm mais precedência os me-
sileira venha a aceitar, como no passado, ros objetivos de certificação. Este processo
um crescimento ilusório, isto é, mero au- de uma busca de melhoria acadêmica que
mento quantitativo de vagas com ensino de se instala no interior deste campo – que,
menor qualidade, que tradicionalmente tem espera-se, não seja apenas formal – poderá
implicado salas de aula superlotadas e do- contribuir para uma maior diferenciação da
centes pouco qualificados academicamen- qualidade dos serviços acadêmicos ofere-
te. O cenário político brasileiro é bastante cidos pelas instituições. E, para isso, é ne-
diferente do momento em que ocorreu a cessário um corpo docente efetivamente
expansão do sistema nos anos 70, a relação mais qualificado e recursos materiais sufi-
entre os diversos segmentos envolvidos cientes, colocando em funcionamento pro-
com o ensino superior é distinta, dando postas acadêmicas consistentes.

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A legislação mais recente concernente domínio e cultivo do saber humano. Esta
ao ensino superior, através de uma série de conceituação modifica substancialmente o
leis, decretos e portarias, de certa forma, entendimento da instituição universitária,
construiu uma moldura capaz de fornecer uma vez que não menciona a universalida-
orientações gerais para um novo processo de de campo do conhecimento, mas fala de
de expansão do sistema pautado por pres- pluridisciplinaridade, possibilitando a cria-
supostos da qualidade acadêmica e dife- ção de universidades especializadas. Ao
renciação institucional. Certamente, a nova lado disso, esse artigo não faz referência
LDB constitui uma referência fundamen- explícita ao princípio da indissociabilidade
tal neste processo. Entre outros aspectos, entre ensino, pesquisa e extensão como uma
deve-se assinalar que o artigo 45 da LDB característica inerente das instituições uni-
introduz uma alteração substancial em re- versitárias. Ele também prescreve que as
lação à lei 5540/68, que instituiu a Refor- universidades devem possuir um corpo
ma Universitária. A redação do novo texto docente, com um terço, pelo menos, com
exclui o termo excepcionalmente ao refe- titulação de mestrado ou doutorado, bem
rir-se ao ensino superior oferecido em ins- como trabalhando em tempo integral.
tituições não-universitárias, assinalando Há também duas importantes modifi-
que as instituições compreendem variados cações na LDB que colocam consideráveis
graus de abrangência ou especialização. desafios ao sistema de ensino superior. Em
Nesse sentido, as instituições isoladas – que primeiro lugar, desapareceu a figura do
respondem por quase 70% do total das ins- currículo mínimo dos cursos de graduação,
tituições e 22% das matrículas – deixam de substituída pela de diretrizes curriculares
ser consideradas um desvio de rota do en- gerais. Isso, seguramente, possibilita um
sino superior. Isso representa uma ruptura considerável aumento na flexibilidade para
conceitual importante, uma vez que histo- organização dos cursos, à qual deve
ricamente o modelo universitário foi eleito corresponder um significativo aperfeiçoa-
como tipo natural para o ensino de terceiro mento dos mecanismos de acompanhamen-
grau no país. to e avaliação dos seus resultados, a fim de
Nesse mesmo artigo, a LDB estabelece assegurar a adequada formação profissio-
também que a autorização e o reconheci- nal, permanentemente enriquecida pelo
mento de cursos, bem como o credencia- potencial inovador contido naquela flexi-
mento da educação superior, terão prazos bilidade. A segunda modificação diz res-
limitados. Estes serão renovados, periodi- peito à instituição dos cursos seqüenciais.
camente, após processo regular de avalia- Segundo a legislação, esses cursos serão
ção. O parágrafo primeiro desse artigo de- oferecidos pelos campos do saber, através
termina que, após um prazo para o sanea- de diferentes níveis de abrangência, e se-
mento de deficiências eventualmente rão abertos a candidatos que atendam aos
identificadas pela avaliação, haverá uma requisitos estabelecidos pelas instituições
reavaliação, que poderá resultar, conforme de ensino. A oferta dessa modalidade de
o caso, em desativação de cursos e habili- curso, interagindo com as disciplinas regu-
tações, em intervenção na instituição, em lares da graduação, poderá representar um
suspensão temporária de prerrogativas de fator de permanente revisão das estruturas
autonomia, ou mesmo em descreden- curriculares e dos conteúdos, pois, dentre
ciamento. vários efeitos, promoverá a convivência,
A LDB também define a instituição na universidade, de estudantes, profissio-
universitária, regulamentando suas atribui- nais em formação, com profissionais em
ções e as prerrogativas da autonomia. De exercício no mercado de trabalho, em bus-
acordo com o artigo 52 da LDB, universi- ca de atualização. Esta simples realidade
dades são instituições pluridisciplinares de poderá contribuir positivamente para um
formação dos quadros profissionais de ní- questionamento contínuo de eventuais con-
vel superior, de pesquisa, de extensão e de teúdos envelhecidos, tecnologias de ensi-

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no ultrapassadas e para a aplicabilidade das dependência administrativa, município,
matérias estudadas. Resta saber se a tradi- estado e região. Dessa forma, o exame ofe-
ção certificatória que permeia a nossa cul- rece bases de comparabilidade entre as
tura acadêmica não representará um obstá- instituições, estimulando-as, quer direta
culo à instauração desses cursos quer indiretamente, a realizarem esforços
seqüenciais, uma vez que não está previsto no sentido de elevar o padrão de ensino e
o fornecimento de diploma legal para aque- sanar deficiências existentes (20).
les que o freqüentarem (19). Por mais que se possa criticar a criação
A Lei 9131/95 criou duas relevantes do Exame Nacional de Cursos e o seu fun-
iniciativas no processo de aprimoramento cionamento, não se pode deixar de reco-
do sistema. Através dela, instituiu-se o Con- nhecer que ele constituiu uma medida rele-
selho Nacional de Educação (CNE), que vante para desencadear um processo de
veio substituir o antigo Conselho Federal avaliação da graduação. O fato é que por
de Educação, sobre o qual recaíam inúme- um largo período de tempo a graduação foi
ras acusações de práticas clientelistas e de deixada na condição de limbo, encarnando
corrupção. De acordo com essa Lei, o CNE a dimensão profana do ensino de terceiro
tem atribuições normativas, deliberativas grau no país. Como se sabe, o único nível
e de assessoria ao ministro da Educação. do ensino superior que possui, desde a dé-
As atribuições da Câmara de Educação Su- cada de 70, um sistema de avaliação é a
perior consistem em deliberar sobre as di- pós-graduação – geralmente tomada por
retrizes curriculares propostas pelo Minis- grande parte da comunidade acadêmica
tério da Educação para os cursos de gradu- como a dimensão sagrada do sistema –,
ação, deliberar sobre autorização, o realizado através das avaliações bianuais
credenciamento e o recredenciamento pe- empreendidas pela Capes. Diga-se de pas-
riódico das instituições de ensino superior, sagem que esse processo de avaliação, con-
inclusive as universidades, tomando como duzido pelos pares, tem-se constituído um
base os relatórios e avaliações apresenta- dos mecanismos que têm possibilitado o
dos pelo MEC, etc. Tudo indica que o CNE contínuo aperfeiçoamento acadêmico da
será a última etapa no processo de avalia- pós-graduação nacional.
ção das instituições de ensino visando o Quase um ano depois de instituir o Exa-
seu recredenciamento. Ou seja, constituiu- me Nacional de Cursos, o MEC, através
se um órgão capaz de orientar e supervi- do Decreto no 2026, estendeu, de forma
19 A Lei de Diretrizes e Bases da
sionar o funcionamento do sistema de en- considerável, o âmbito do processo de Educação encontra-se publi-
sino superior. Tudo leva a indicar que ele avaliação do ensino de terceiro grau. Se- cada no Diário Oficial da
União (Seção I- 2783, Brasília,
representa um salto qualitativo com rela- gundo esta legislação, o processo de ava- Imprensa Nacional). Uma com-
ção ao antigo CFE. Ao mesmo tempo que liação passaria a compreender os seguin- petente reconstituição da traje-
tória da LDB pode ser encon-
criou o CNE, essa mesma lei instituiu o tes procedimentos: a) análise dos princi- trada no trabalho de Ricardo
Martins e Ubiratan Aguiar, de-
Exame Nacional de Cursos, que passou a pais indicadores de desempenho global do nominado LDB: Memória e
ser conhecido através do nome de “provão”, sistema nacional de ensino superior, por Comentários (Documentos Uni-
versitários, no 3, Fortaleza, Uni-
como um dos procedimentos para a avalia- região e unidade da federação, segundo as versidade Federal do Ceará,
1998).
ção dos cursos de graduação. Segundo essa áreas do conhecimento e o tipo ou nature-
legislação, os resultados da avaliação se- za das instituições de ensino; b) avaliação 20 A Lei no 9131 de 24/11/95
encontra-se publicada na co-
rão utilizados pelo MEC para orientar as do desempenho individual das instituições letânea denominada Ensino Su-
perior: Legislação Atualizada
suas ações no sentido de fomentar iniciati- de ensino superior, compreendendo todas (Associação Brasileira de
vas voltadas para a melhoria da qualidade as modalidades de ensino, pesquisa e ex- Mantenedores do Ensino Su-
perior, Brasília, 1997). Com
do ensino, principalmente as que visem a tensão; c) avaliação do ensino de gradua- relação ao Exame Nacional de
Cursos, consultar o documento
elevação da qualificação docente. Ao di- ção, por curso, por meio da análise das Bases para um Ensino de Qua-
vulgar os relatórios de desempenho dos condições de oferta pelas diferentes insti- lidade (Brasília, MEC, 1998,
pp. 27-32). Com relação aos
cursos, sem identificar nominalmente os tuições de ensino e pela análise dos resul- resultados do “provão”, ver a
alunos avaliados, o MEC tem a possibili- tados do Exame Nacional de Cursos; d) publicação Exame Nacional
de Cursos: Relatório Síntese
dade de agregar os dados por instituição, avaliação dos programas de mestrado e (Brasília, MEC/Inep, 1977).

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998 71


doutorado, por área do conhecimento. suírem o mesmo status e de outras prerro-
Esses procedimentos, segundo o decre- gativas de que gozam as universidades, a
to, são complementares, porém indepen- autonomia da qual passam a dispor, para
dentes, podendo ser conduzidos em mo- responder à demanda do mercado, em ter-
mentos diferentes e lançando mão de mé- mos da oferta de cursos e vagas, sem dúvi-
todos e técnicas apropriadas a cada um da, é um fator que possivelmente contri-
deles. Tanto a avaliação individual das ins- buirá para tornar atrativo este modelo
tituições quanto a dos cursos de graduação institucional, principalmente para o setor
serão conduzidas por uma comissão exter- privado. Como já foi assinalado anterior-
na, a ser designada pela SESu. Tudo leva a mente, a forte pressão que existiu e, de certa
crer que o contato que a Comissão de Espe- forma ainda continua, para a transforma-
cialistas vem mantendo com as instituições ção de estabelecimentos isolados e de fe-
de ensino, principalmente com as de menor derações de escolas em universidades pren-
tradição e prestígio acadêmico, possibilite de-se ao fato da obtenção da prerrogativa
o conhecimento in loco do seu funciona- de autonomia. Ao estender aos centros
21 A íntegra deste decreto pode mento e, espera-se, que as sugestões apre- universitários essas mesmas prerrogativas
ser encontrada na publicação
Ensino Superior: Legislação
sentadas a elas possam efetivamente con- conferidas às universidades, a nova legis-
Atualizada (Brasília, Associa- tribuir para a sua gradativa melhoria aca- lação busca desviar a pressão dos estabele-
ção Brasileira de Mantenedoras
de Ensino Superior, 1997, pp. dêmica (21). cimentos do setor privado no sentido de se
75-7). O Decreto no 2207/97, baseado nas de- transformarem em universidades, propor-
22 Este decreto estipula em seu ar- terminações da LDB, dá um passo adiante cionando-lhes uma nova modalidade
tigo 2 que as IES que optarem
pelo status de instituição sem no processo de flexibilização institucional institucional. Embora o peso da tendência
fins lucrativos serão obrigadas
a contar com um conselho fis- do sistema de ensino superior. De acordo histórica de aspiração ao status de univer-
cal, com representação acadê- com ele, o sistema poderá adotar cinco for- sidade ainda deva condicionar, por algum
mica, bem como publicar anu-
almente seu balanço, aprova- matos diferentes: universidades; centros tempo, a trajetória de desenvolvimento
do por auditores independen- institucional das escolas superiores no país,
universitários; faculdades integradas; fa-
tes. Além disso, a instituição
deve comprovar a aplicação culdades; institutos superiores ou escolas é de se esperar que as novas alternativas
dos excedentes financeiros
para os fins da instituição man- superiores. A figura de federação de esco- venham concretamente a se materializar.
tida. Deve também, segundo o las, criada na legislação da Reforma Uni- Seria lamentável que num futuro próximo
decreto, comprovar a
destinação de pelo menos dois versitária de 1968, foi suprimida, embora os centros universitários se transformas-
terços de sua receita
operacional à remuneração do as instituições que ainda estão organizadas sem numa mera estratégia visando a cria-
corpo docente e técnico-admi- como tal continuem a existir. Ao contrário ção de novas universidades. Com isso esta-
nistrativo. O artigo 3 do decre-
to estabelece que as entidades da redação da LDB, reafirma-se aqui, tal ria-se desperdiçando uma chance efetiva
mantenedoras com fins lucrati- para experimentar novos formatos acadê-
como o disposto no artigo 207 da Consti-
vos submetem-se à legislação
que rege as sociedades mer- tuição Federal, o princípio da indissocia- mico-institucionais de oferta de cursos su-
cantis, especialmente na parte
relativa aos encargos fiscais, bilidade entre ensino, pesquisa e extensão, periores (22).
parafiscais e trabalhistas. A enquanto característica das universidades, Ao prefaciar o clássico trabalho de
íntegra deste decreto pode ser
encontrada na publicação En- incluindo-se aí as especializadas. A grande Durkheim, L’ Évolution Pédagogique en
sino Superior: Legislação Atua-
lizada (Brasília, Associação inovação contida nesse decreto refere-se à France, Maurice Halbwachs ressaltava
Brasileira de Mantenedoras de criação dos centros universitários. Estes que um dos méritos dessa obra consistia
Ensino Superior, 1997, pp 85-
90). Para uma apreciação crí- caracterizam-se por serem instituições no fato de Durkheim associar a lon-
tica da figura dos centros uni- gevidade e a tradição do sistema escolar à
pluricurriculares, que abrangem uma ou
versitários, ver o artigo de Luis
Antônio Cunha, “Políticas para mais áreas do conhecimento, bem como sua capacidade de desenvolver uma “vida
o Ensino Superior: do Geres à
LDB” (Revista Sociedade e Es- pela excelência do ensino oferecido em própria”, ou seja, a sua habilidade em re-
tado, vol. XII, no 1, Brasília, função da qualificação do seu corpo do- sistir às demandas e às pressões externas
Departamento de Sociologia
da UnB, 1997). O setor priva- cente e pelas condições de trabalho acadê- postas em sua direção. A este respeito
do tem promovido uma discus-
são sobre a criação dos Cen- mico. A legislação prevê que será estendi- Halbwachs assinalava que:
tros Universitários. Um desses da aos centros universitários credenciados
debates encontra-se publicado
na revista Estudos (ano 14, no autonomia para criar, organizar e extinguir “Os órgãos do ensino (programas, matérias,
20, Brasília, Associação Brasi-
em sua sede cursos e programas de educa- métodos, etc.) estão em cada época em rela-
leira de Mantenedoras de Ensi-
no Superior, agosto de 1997). ção superior. Apesar de os centros não pos- ção com as outras instituições do corpo so-

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cial, com os costumes e as crenças, com as docentes de nível superior. Este último
grandes correntes das idéias. Mas eles têm objetivo, especificamente, ainda não foi
também uma vida própria, ao curso da qual alcançado para o conjunto do sistema de
conservam vários traços de sua estrutura ensino superior. Em 1996, a pós-gradua-
antiga. Eles se defendem algumas vezes ção titulou pouco mais de 10 mil mestres e
contra as influências que se exercem sobre 2.972 doutores. Considerando que nem
eles do exterior, apoiando-se sobre seu pas- todos os titulados dirigem-se para o ensino
sado… Encarada desse ponto de vista, a superior, estes números precisam, no míni-
organização pedagógica nos surge como mo, ser dobrados para qualificar formal-
mais hostil à mudança, mais conservadora e mente o corpo docente que atua no ensino
tradicional talvez do que a própria Igreja superior.
porque ela tem por função transmitir às no- A Tabela 7 fornece informações quanto
vas gerações uma cultura que mergulha suas à qualificação docente no país. Como pode-
raízes num passado afastado” (23). se constatar, atualmente o sistema conta
com 148 mil docentes. Desses, apenas 16%
Estas reflexões de Halbwachs tendem a possuem a titulação de doutor e 25% a de
sugerir que as instituições de ensino supe- mestre, ou seja, quase 60% dos docentes
rior terão que travar uma dura luta contra não possuem nenhum título conferido pela
elas mesmas, no sentido de se afastar da pós-graduação stricto sensu, uma vez que
atitude de produzir práticas acadêmicas 37% são portadores do título de especialis-
artificiais engendradas pela busca das igual- ta e 22% apenas são graduados. Não deixa
dades formais entre elas. Somente uma de ser preocupante o fato de as instituições
ruptura com esse tipo de hábito que se en- particulares, onde se concentram 60% das
contra arraigado em nossa cultura acadê- matrículas da graduação, apresentarem um
mica possibilitará que elas tirem proveito corpo docente com uma pequena taxa de
das oportunidades abertas pela legislação titulação acadêmica. Os dados evidenciam
no sentido de colocar em prática iniciativas que 77% dos doutores e 59% dos mestres
efetivamente diversificadas e inovadoras. estão concentrados nas instituições públi-
Resta saber também se o governo – através cas. Certamente esse contingente encon-
das diversas Comissões de Avaliação e/ou tra-se também localizado em determinadas
de Especialistas constituídas para proces- instituições, tais como universidades esta-
sarem a avaliação dos cursos e das das ins- duais paulistas e algumas universidades
tituições – terá sensibilidade para efetiva- federais. Alguns estudos desenvolvidos
mente estimular o desenvolvimento do sobre o sistema acadêmico nacional têm
23 Émile Durkheim, L’Évolution
ensino na direção da diversificação apon- chamado a atenção para a existência de um Pedagogique en France, Paris,
tada pela nova legislação e, acima de tudo, grau de correlação entre o nível da qualifi- Presses Universitaire de France,
1969, p. 2.
de se afastar da tentação de avaliar o siste- cação acadêmica e a profissionalização da
24 Ver a este respeito o trabalho
ma a partir de uma métrica acadêmica co- carreira docente no país. Nesse sentido, os de Simon Schartzman e
Elizabeth Balbachevsky “A Pro-
mandada por um padrão único de qualida- dados obtidos têm demonstrado que o cul- fissão Acadêmica no Brasil”
de, bem como de saber lidar de forma pro- tivo de um ethos acadêmico e a efetiva prá- (Documentos de Trabalho, 5/
92, São Paulo, Nupes, 1992).
fícua com as diferenças institucionais en- tica da profissão acadêmica encontram-se Consultar também o trabalho
contradas na vida real das diversas institui- implantados numa pequena fração das ins- de E. Balbachevsky, “Atores e
Estratégias Institucionais: a Pro-
ções. A expansão do ensino superior no país tituições de ensino superior no país (24). fissão Acadêmica no Brasil“
(Documento de Trabalho, 2/
não pode ocorrer sem uma mudança signi- Em face desta situação, a qualificação 96, São Paulo, Nupes, 1996).
ficativa no perfil do corpo docente que atua em nível de pós-graduação stricto sensu Quanto à defasagem entre o
sucesso da pós-graduação no
em seu interior. Apesar do significativo constitui uma estratégia indispensável para país e o ritmo lento da
capacitação docente para o
avanço dos cursos de pós-graduação, cons- a retomada do crescimento do ensino supe- ensino superior, ver o artigo
tata-se que, de um modo geral, a qualifica- rior. Novos programas de mestrado, de Reinaldo Guimarães e
Nádia Caruso, “Capacitação
ção docente ainda não é satisfatória. A pós- estruturados segundo concepções moder- Docente: o Lado Escuro da Pós-
graduação no Brasil teve como principal nas de ensino-aprendizagem, são absoluta- graduação” (in Discussão da
Pós-Graduação Brasileira ,
objetivo a produção de pesquisadores e mente necessários. Uma nova tecnologia Brasília, Capes, MEC, 1996).

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de pós-graduação precisa ser desenvolvi- Em recente trabalho realizado sobre
da, garantindo o acesso a um maior con- melhoria e inovação na graduação brasilei-
tingente de docentes e formação em tem- ra constatou-se que a grande maioria dos
po mais curto, sem perda de qualidade de programas existentes voltados para este
conteúdo.Torna-se também necessário es- nível de ensino – tais como o Programa
tabelecer um canal de maior interação da Especial de Treinamento (PET), a Inicia-
pós-graduação com o nível de gradua- ção Científica (IC), o Programa de
ção, de tal modo que os avanços obtidos Integração Pós-graduação-Graduação
naquele nível de ensino possam melho- (Proin), o Programa de Graduação
rar o desempenho do ensino de terceiro (Prograd), etc. – contempla basicamente as
grau. Iniciativas como o Programa de instituições públicas, especialmente as fe-
Integração Pós-graduação-Graduação derais (26). De certo modo, esse fato en-
(Proin), visando uma maior integração contra-se relacionado à distribuição da
entre estes dois níveis de ensino, deveri- competência acadêmica instalada nestas
am ser reforçadas (25). instituições. No entanto, a complexidade
Por outro lado, é preciso ter em vista do sistema de ensino superior do país tende
que a evolução das tecnologias de ensino e a indicar que cada vez mais torna-se neces-
dos meios de comunicação, notadamente sário que sejam desenvolvidos programas
aquela promovida pelo acentuado desen- que contemplem o universo das institui-
volvimento da informática, constitui um ções, não obrigatoriamente com recursos
fator determinante de qualquer ação volta- financeiros públicos, mas firmando parce-
da para a melhoria do ensino de graduação. rias e estabelecendo pontos de contatos e
Não se concebe mais que, neste nível de intercâmbios técnicos entre elas.
ensino, os estudos sejam desenvolvidos sem Como já foi assinalado anteriormente,
o apoio de equipamentos de informática, as universidades públicas têm ocupado uma
impondo o adequado preparo de docentes posição destacada na hierarquia do nosso
e discentes para sua operação. Dessa for- sistema de ensino, uma vez que é no inte-
ma, uma apropriada infra-estrutura, forma- rior de algumas delas que se encontra dis-
da por laboratórios, salas especiais e mo- seminado um ensino de graduação e de pós-
dernos ambientes de estudo, constitui, atu- graduação de elevado padrão, bem como
almente, condição indispensável para o se pratica de forma institucionalizada a pes-
processo de aprendizagem. É preciso, pois, quisa científica. Em função de suas ativi-
que os materiais didáticos sejam desenvol- dades acadêmicas, tendem a ocupar um
25 Quanto às estratégias possíveis vidos e adaptados a esta nova realidade: papel estratégico no processo de qualifica-
visando a melhoria da gradua-
ção através de uma maior softwares apropriados, CD-ROM instru- ção dos diversos níveis de ensino, na pro-
integração com as atividades cionais, etc., constituem ferramentas im- dução da ciência e da tecnologia no país.
da pós-graduação, ver o traba-
lho de Yvonne Maggie, “Gra- prescindíveis para dar acesso à informação Nesse sentido, a sociedade brasileira não
duação e Pós-graduação em
Ciências Humanas: Desafios e atualizada. Do mesmo modo, o cenário pode abrir mão de suas universidades pú-
Perspectivas” (in Discussão da contemporâneo assiste a profundas mu- blicas, que devem ser fortalecidas e poten-
Pós-graduação Brasileira ,
Brasília, Capes, MEC, 1996). danças na concepção das bibliotecas. O cializadas. No entanto, a defesa da univer-
Ver também com relação a esta
questão a publicação organi-
conceito tradicional de acervo em celulo- sidade pública, da sua preservação e da
zada por Elida Fonte Pestana se vem sendo gradativamente alterado para necessidade de sua constante melhoria, em
e Gláucia Vilas Bôa, Ciências
Sociais, Ensino e Pesquisa na o conceito misto, que supõe o armazena- termos de infra-estrutura e de condições de
Graduação (Rio de Janeiro, mento combinado da informação em mo- trabalho, não deve contribuir para obscure-
Jornada Cultural, 1995).
dernos meios ligados ao mundo da cer o fato de que ela representa apenas uma
26 Ver, a este respeito, Ricardo
Martins e Carlos Benedito informática. Além disso, o próprio con- fração do sistema.
Martins, “Programas de
Melhoria e Inovação no Ensino
ceito de disponibilidade de informação Na verdade, um dos desafios centrais
de Graduação: uma Avaliação vem sendo também significativamente que se coloca nos dias atuais para o ensino
Preliminar” (trabalho apresenta-
do na 63a Reunião Plenária do modificado pela implantação e desenvol- superior brasileiro é o de formular uma
Conselho de Reitores das Uni- vimento das redes, intercomunicando ins- política que não seja voltada apenas para
versidades Brasileiras – Crub,
Fortaleza, 1998). tituições, bibliotecas e usuários. uma das partes do sistema. Ao contrário

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ENS INO
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CONTE

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MPORÂ REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998 75
disso, torna-se necessário um conjunto de graduação no processo de melhoria dos
ações que tenha como alvo o conjunto das cursos de graduação, etc.
instituições do sistema de ensino, que deve Um dos pontos de partida para colocar
ser enfrentado em sua totalidade. Trata-se, em prática uma política voltada para o con-
portanto, de criar mecanismos reais que junto do sistema parte do reconhecimento
qualifiquem academicamente o sistema de que ele não é apenas díspar na qualidade
como um todo. Nesse sentido, deve-se as- do ensino, da pesquisa e da extensão ofere-
sinalar que a política educacional desen- cida pelas diferentes instituições. Ele é tam-
volvida a partir de 1995, através de deter- bém fundamentalmente um sistema multi-
minadas medidas, criou condições favorá- facetado, composto por instituições públi-
veis com relação à diversificação institucio- cas e privadas, com diferentes formatos
nal do ensino superior, bem como estabe- organizacionais e, especialmente, desem-
leceu mecanismos capazes de orientar um penhando múltiplos papéis e funções tanto
novo processo de expansão, pautado por local e regionalmente como com abrangên-
pressupostos de qualidade acadêmica. No cia nacional e internacional. A tentativa de
entanto, cumpre ressaltar que, na maioria enquadrar toda essa riqueza e pluralidade
das vezes, a ação governamental concen- num modelo único – que, em boa medida,
trou-se em problemas ad hoc, procurando tem comandado as representações e as prá-
equacionar problemas específicos, dando ticas acadêmicas no país – tem sufocado
a impressão de uma ação fragmentada, ao por muito tempo todo o nosso sistema,
gerar, por exemplo, uma lei relativa à esco- obstaculizando experiências inovadoras
lha dos dirigentes das universidades fede- capazes de aproximar essas instituições do
rais, ao publicar um decreto especificando contexto social em que elas se inserem.
a natureza e o funcionamento das institui- A reforma do ensino superior que se
ções de ensino com finalidade lucrativa, ao faz necessária deve assumir como um de
formular um anteprojeto visando a autono- seus pressupostos básicos uma deliberada
mia das universidades federais, etc. Certa- recusa de privilegiar um único formato de
mente estas questões são da maior perti- organização para o conjunto do sistema,
nência e devem ser equacionadas. O que se de tal modo que possa permitir que flores-
deseja registrar é, no entanto, o fato de çam no interior de cada instituição as suas
parecer ter faltado a formulação de um pla- reais vocações e potencialidades específi-
no mais geral e integrado que contemplas- cas. Essa postura possibilitará uma maior
se um conjunto de medidas estratégicas articulação das instituições de ensino com
voltadas para o sistema enquanto um todo, as demandas de diferentes perfis de for-
como, por exemplo, iniciativas dirigidas mação profissional advindas do mercado
para a redução das desigualdades regionais de trabalho, um maior diálogo com as di-
existentes no ensino superior, ações visan- versas aspirações de profissionalização
do uma ampla política de qualificação dos dos estudantes e uma maior integração com
docentes que atuam no ensino de terceiro os diversos contextos societários que as
grau, uma política clara e explícita para o permeiam. Com isso, o sistema de ensino
fortalecimento das universidades federais, superior estará estabelecendo uma inte-
iniciativas voltadas para a melhoria do ração mais profícua e efetiva com a soci-
ensino privado, um maior impacto da pós- edade brasileira.

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TABELA 1

Evolução do Número de Instituições, por Natureza e


Dependência Administrativa – Brasil 1980-96

Ano Total Universidades Federações e Integradas Estabelecimentos Isolados


Geral Total Federal Estadual Municipal Particular Total Estadual Municipal Particular Total Federal Estadual Municipal Particular

1980 882 65 34 9 2 20 20 1 - 19 797 22 43 89 643


1981 876 65 34 9 2 20 49 1 1 47 762 18 68 126 550
1982 873 67 35 10 2 20 51 - 2 49 755 18 70 122 545
1983 861 67 35 10 2 20 57 - 1 56 737 18 69 111 539
1984 847 67 35 10 2 20 59 - 1 58 721 18 64 108 531
1985 859 68 35 11 2 20 59 - 1 58 732 18 64 102 548
1986 855 76 35 11 3 27 65 - 2 63 714 18 79 115 502
1987 853 82 35 14 4 29 66 - - 66 705 19 69 99 518
1988 871 83 35 15 2 31 67 - 1 66 721 19 72 89 541
1989 902 93 35 16 3 39 64 - - 64 745 19 68 79 579
1990 918 95 36 16 3 40 74 - - 74 749 19 67 81 582
1991 893 99 37 19 3 40 85 - 3 82 709 19 63 78 549

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998


1992 893 106 37 19 4 46 84 - 3 81 703 20 63 81 539
1993 873 114 37 20 4 53 88 - 3 85 671 20 57 80 514
1994 851 127 39 25 4 59 87 - 3 84 637 18 48 81 490
1995 894 135 39 27 6 63 111 5 5 101 648 18 44 66 520
1996 922 136 39 27 6 64 143 4 7 132 643 18 43 67 515

77
Fonte: MEC/INEP/SEEC
78
TABELA 2

Número de Instituições, por Natureza e Dependência Administrativa,


segundo as Regiões – 1996

Região Total Geral Universidades Federações e Integradas Estabelecimentos Isolados

Total Pública Privada Total Pública Privada Total Pública Privada

BRASIL 922 136 72 64 143 11 132 643 128 515


Norte 34 9 8 1 4 - 4 21 4 17
Nordeste 97 26 22 4 10 3 7 61 15 46
Sudeste 575 62 20 42 103 2 101 410 65 345

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998


Sul 122 29 16 13 10 2 8 83 23 60
Centro-Oeste 94 10 6 4 16 4 12 68 21 47

Fonte: MEC/ INEP/ SEEC


TABELA 3

Evolução das Estatísticas do Ensino Superior – Brasil 1962-96

Ano Docentes Matrícula (B/A) Concluintes Vagas Inscrições (D/C) Ingressos


Oferecidas

(A) (B) (C) (D)

1962 25.213 107.509 4,3 - - - - - - -- - -


1963 28.944 124.214 4,3 19.049 - - - - -- - -
1964 30.162 142.386 4,7 20.282 - - - - -- - -
1965 33.135 155.781 4,7 22.291 - - - - -- - -
1966 36.109 180.109 5,0 24.301 - - - - -- - -
1967 38.693 212.882 5,5 30.108 - - - - -- - -
1968 44.706 278.295 6,2 35.947 - - - - -- - -
1969 49.547 342.886 6,9 44.709 - - - - -- - -
1970 54.389 425.478 7,8 64.049 145.000 328.931 2,3 - -
1971 61.111 561.397 9,2 73.453 202.110 400.958 2,0 - -
1972 67.894 688.382 10,1 96.470 230.511 449.601 2,0 - -
1973 72.951 772.800 10,6 135.339 261.003 574.708 2,2 - -
1974 75.971 937.593 12,3 150.226 309.448 614.805 2,0 - -
1975 83.386 1.072.548 12,9 161.183 348.227 781.190 2,2 - -
1976 86.189 1.096.727 12,7 176.475 382.418 945.279 2,5 - -
1977 90.557 1.159.046 12,8 187.973 393.560 1.186.181 3,0 - -
1978 98.172 1.225.557 12,5 200.056 401.977 1.250.537 3,1 - -
1979 102.588 1.311.799 12,8 222.896 402.694 1.559.094 3,9 - -
1980 109.788 1.377.286 12,5 226.423 404.814 1.803.567 4,5 356.667
1981 113.899 1.386.792 12,2 229.856 417.348 1.735.457 4,2 357.043
1982 116.111 1.407.987 12,1 244.639 421.231 1.689.249 4,0 361.558
1983 113.779 1.438.992 12,6 238.096 - - - - -- - -
1984 113.844 1.399.539 12,3 227.824 - - - - -- - -
1985 113.459 1.367.609 12,1 234.173 430.482 1.514.341 3,5 346.380
1986 117.221 1.418.196 12,1 228.074 442.314 1.737.794 3,9 378.828
1987 121.228 1.470.555 12,1 224.809 447.345 2.193.861 4,9 395.418
1988 125.412 1.503.555 12,0 227.037 463.739 1.921.878 4,1 395.189
1989 128.029 1.518.904 11,9 232.275 466.794 1.818.033 3,9 382.221
1990 131.641 1.540.080 11,7 230.206 502.784 1.905.498 3,8 407.148
1991 133.135 1.565.056 11,8 236.377 516.663 1.985.825 3,8 426.558
1992 134.403 1.535.788 11,4 234.267 534.847 1.836.859 3,4 410.910
1993 137.156 1.594.668 11,6 240.262 548.678 2.029.523 3,7 439.801
1994 141.482 1.661.034 11,7 240.269 574.135 2.237.023 3,9 463.240
1995 145.290 1.759.703 12,1 245.887 610.355 2.653.853 4,3 510.377
1996 148.320 1.868.529 12,6 254.401 634.236 2.548.077 4,0 513.842
Fonte: MEC/ INEP/ SEEC

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998 79


TABELA 4

80
Evolução da Matrícula por Natureza e Dependência Administrativa – Brasil 1980-96

Ano Total Geral Universidades Federações e Integradas Estabelecimentos Isolados


Total Federal Estadual Municipal Particular Total Estadual Municipal Particular Total Federal Estadual Municipal Particular

1980 1.377.286 652.200 305.099 81.723 17.019 248.359 96.892 2.622 - - 94.270 628.194 11.616 24.907 49.246 542.425
1981 1.386.792 644.203 301.505 82.356 17.595 242.747 186.540 2.244 5.239 179.057 556.049 11.712 45.059 70.100 429.178
1982 1.407.987 659.500 305.468 87.499 17.624 248.909 189.146 - - 7.198 181.948 559.341 11.472 47.402 71.725 428.742
1983 1.438.992 687.860 328.044 98.371 17.213 244.232 206.408 - - 5.032 201.376 544.724 12.074 48.826 67.129 416.695
1984 1.399.539 672.624 314.194 106.066 17.602 234.762 198.818 - - 4.067 194.751 528.097 12.005 49.947 67.998 398.147
1985 1.367.609 671.977 314.102 104.441 15.414 238.020 184.016 - - 4.052 179.964 511.616 12.420 42.375 63.876 392.945
1986 1.418.196 722.863 313.520 104.816 20.600 283.927 190.711 - - 3.094 187.617 504.622 12.214 48.973 74.415 369.020
1987 1.470.555 761.236 315.956 114.418 26.180 304.682 197.810 - - - - 197.810 511.509 13.467 53.621 61.323 383.098
1988 1.503.555 770.240 304.465 129.785 17.178 318.812 201.744 - - 965 200.779 531.571 13.366 60.951 58.641 398.613
1989 1.518.904 816.024 301.535 136.137 21.663 356.689 183.483 - - - - 183.483 519.397 13.748 57.560 53.771 394.318
1990 1.540.080 824.627 294.626 136.257 23.499 370.245 202.079 - - - - 202.079 513.374 14.241 58.160 51.842 389.131
1991 1.565.056 855.258 305.350 153.678 24.390 371.840 225.700 9.266 216.434 484.098 14.785 48.637 49.630 371.046

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998


- -
1992 1.535.788 871.729 310.533 159.963 30.353 370.880 205.465 - - 9.445 196.020 458.594 15.351 50.170 53.847 339.226
1993 1.594.668 940.921 328.907 167.674 28.623 415.717 210.117 - - 10.362 199.755 443.630 15.480 48.861 53.609 325.680
1994 1.661.034 1.034.726 349.790 190.271 31.547 463.118 203.471 - - 10.344 193.127 422.837 13.753 41.665 53.080 314.339
1995 1.759.703 1.127.932 353.235 201.974 43.370 529.353 193.814 1.161 4.168 188.485 437.957 14.296 36.080 46.256 341.325
1996 1.868.529 1.209.400 373.880 204.819 47.432 583.269 245.029 1.592 7.089 236.348 414.100 15.107 36.690 48.818 313.485

Fonte: MEC/ INEP/ SEEC


TABELA 5

Ensino Médio – Matrícula Inicial por Dependência Administrativa. 1971-96

Ano Total Dependência Administrativa


Federal Estadual Municipal Particular

1971 1.119.421 4,0 47,9 4,6 43,5


1975 1.935.903 4,1 47,5 3,1 45,3
1980 2.819.182 3,1 47,0 3,5 46,5
1985 3.016.138 3,3 59,0 4,4 33,3
1989 3.477.859 2,8 62,4 4,4 30,4
1991 3.770.230 2,7 65,6 4,7 27,0
1994 5.073.307 2,1 71,8 5,3 20,8
1996 5.739.077 2,0 72,1 5,4 20,5

Fonte: MEC/ SEDIAE/ Sinopse Estatística do Ensino Superior.

TABELA 6

Vestibular – Vagas oferecidas no Ensino Superior e Número de


Concluintes no Ensino Médio. 1984-96

Ano Total de vagas


no ensino superior Concluintes ensino médio Relação concluintes/ vaga

1984 343.028 585.193 1,7


1987 447.345 605.504 1,4
1990 502.784 658.725 1,3
1993 548.678 851.428 1,6
1996 634.236 959.545 1,5

Fonte: MEC/ SEDIAE/ Sinopse Estatística do Ensino Superior.

REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998 81


TABELA 7

Número de Funções Docentes em Exercício, Percentual e Taxa de


Crescimento, segundo Região e Grau de Formação – 1990 e 1996
Crescimento
Região/Grau de Formação Funções Docentes %

1990 1996 90-96

Total % Total %

BRASIL 131.641 100,0 148.320 100,0 12,7


Sem Pós-graduação 45.352 34,5 33.370 22,5 -26,4
Especialização 41.597 31,6 53.990 36,4 29,8
Mestrado 27.753 21,1 36.954 24,9 33,2
Doutorado 16.939 12,9 24.006 16,2 41,7

NORTE 4.151 100,0 5.767 100,0 38,9


Sem Pós-graduação 1.629 39,2 1.854 32,1 13,8
Especialização 1.395 33,6 2.220 38,5 59,1
Mestrado 885 21,3 1.311 22,7 48,1
Doutorado 242 5,8 382 6,6 57,9

NORDESTE 22.293 100,0 23.744 100,0 6,5


Sem Pós-graduação 8.771 39,3 6.515 27,4 -25,7
Especialização 6.305 28,3 8.258 34,8 31,0
Mestrado 5.422 24,3 6.492 27,3 19,7
Doutorado 1.795 8,1 2.479 10,4 38,1

SUDESTE 73.021 100,0 78.752 100,0 7,8


Sem Pós-graduação 24.396 33,4 16.109 20,5 -34,0
Especialização 21.363 29,3 27.336 34,7 28,0
Mestrado 14.997 20,5 18.996 24,1 26,7
Doutorado 12.265 16,8 16.311 20,7 33,0

SUL 24.567 100,00 30.176 100,0 22,8


Sem Pós-graduação 7.808 31,8 6.215 20,6 -20,4
Especialização 9.797 39,9 12.191 40,4 24,4
Mestrado 4.991 20,3 8.040 26,6 61,1
Doutorado 1.971 8,0 3.730 12,4 89,2

CENTRO-OESTE 7.609 100,0 9.881 100,0 29,9


Sem Pós-graduação 2.748 36,1 2.677 27,1 -2,6
Especialização 2.737 36,0 3.985 40,3 45,6
Mestrado 1.458 19,2 2.115 21,4 45,1
Doutorado 666 8,8 1.104 11,2 65,8

Fonte: MEC/ INEP/ SEEC

82 REVISTA USP, São Paulo, n.39, p. 58-82, setembro/novembro 1998

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