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Alexandre Aragão - Subjetividade Judicial Na Ponderação de Valores Alguns Exageros Na Adoção Indiscriminada Da Teoria Dos Princípios PDF
Alexandre Aragão - Subjetividade Judicial Na Ponderação de Valores Alguns Exageros Na Adoção Indiscriminada Da Teoria Dos Princípios PDF
RESUMO
O presente artigo discute a problemática no uso da ponderação como téc-
nica decisória, bem como sua aplicação irrefletida e as consequências que
isso acarreta, como a predominância de certos valores em desacordo com
as normas vigentes. Concluímos a análise apontando para a necessária de-
ferência aos enunciados normativos existentes reduzindo a subjetividade
das decisões judiciais.
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Palavras-chave
Hermenêutica — ponderação de valores — subjetividade judicial
ABSTRACT
The present article discusses the issue of the application of balancing as
a decision technique, as well its unreflected use and the consequences it
brings, such as the predominance of certain values in disagreement with
the current rules. We conclude the analysis pointing the necessary defe-
rence to the existing normative statements to reduce the subjectivity of
judicial decisions.
Keywords
Interpretation — values balancing — judicial subjectivity
1
MEDAUAR, Odete. Direito administrativo em evolução. 2. ed. São Paulo: RT, 2003. p. 102.
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Nos dizeres de J. J. Gomes Canotilho, a Constituição “(1) é um sistema jurídico porque é um
sistema dinâmico de normas; (2) é um sistema aberto porque tem uma estrutura dialógica (Caliess),
traduzida na disponibilidade e ‘capacidade de aprendizagem’ das normas constitucionais para
captarem a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da ‘verdade’
e da ‘justiça’; (3) é um sistema normativo, porque a estruturação das expectativas referentes a
valores, programas, funções e pessoas é feitas através de normas; (4) é um sistema de regras
e de princípios, pois as normas do sistema tanto podem revelar-se sob a forma de princípios
como sob a sua forma de regras” (CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da
Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2003. p. 1159).
3
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional
brasileiro (pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). Revista Diálogo Jurídico, ano I,
v. I, n. 6, set. 2001. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>.
4
“As normas constitucionais, como espécies de normas jurídicas, conservam os atributos
essenciais destas, dentre os quais a imperatividade. De regra, como qualquer outra norma,
elas têm um mandamento, uma prescrição, uma ordem, com força jurídica, não apenas
moral”. BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e
possibilidades da Constituição brasileira. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. p. 76.
5
Odete Medauar, Direito administrativo em evolução, op. cit., p. 273.
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BARCELLOS, Ana Paula de; BARROSO, Luís Roberto. O começo da história. A nova inter
pretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 232, p. 336, 2003. Na mesma direção, “Percebe-se que se a
filosofia de Kant postula, no campo da fenomenologia do direito e sua aplicação prática, a
distinção entre direito e moral, entre conduta externa e intenção, daí não se extrai a conclusão
de que também no plano abstrato haja tal separação. Pelo contrário. O imperativo categórico,
enquanto norma universal de conduta fundada na liberdade individual, condiciona ao mesmo
tempo o direito e a moral em sua fundamentação básica e seus valores. (…) Esse novo enfoque
faz com que o pensamento jurídico retome a discussão sobre os valores e os fundamentos
da vida em sociedade. A temática da justiça recupera sua importância e inúmeros livros são
publicados na esteira da obra pioneira de John Rawls. A ideia de liberdade recebe também
instigante reflexão e se aprofundam os estudos sobre a era dos direitos e sobre as relações
entre a ética e os direitos humanos. A crítica ao utilitarismo se torna indispensável à elaboração
de uma ética ajustada aos problemas do final do século. Mesmo os pensadores, como
Habermas e Alexy, que rejeitam a possibilidade de discussão sobre valores, em razão de sua
preferibilidade e ínsita contraditoriedade, transferem a reflexão fundamental para o campo
da ética do discurso e da teoria da argumentação”. TORRES, Ricardo Lobo. O orçamento na
constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 1995. p. 90-91.
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Para este tópico, é essencial a remissão à obra de BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação,
racionalidade e atividade jurisdicional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
8
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1998: interpretação e crítica. 2. ed.
São Paulo: RT, 1991. p. 114.
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LARENZ, Karl. Derecho justo: fundamentos de ética jurídica. Tradução de Luiz Díez-Picazo.
Madrid: Civitas, 1985. p. 14.
10
SARMENTO, Daniel. Os princípios constitucionais e a ponderação de bens. In: TORRES,
Ricardo Lobo (Org.). Teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 52.
11
SICHES, Recasens. Los temas de la filosofía del derecho. Barcelona: Bosch, 1934. p. 102-103.
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12
SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2006. p. 65.
13
BARCELOS, Ana Paula de. Ponderação, racionalidade e atividade jurisdicional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005. cap. II e III.
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Para a distinção (ou melhor seria dizer “confusão”?) entre interesse público e termos seme
lhantes como interesse social, interesse geral, interesse nacional etc., ver Luis de la Morena
y de la Morena, apud OSÓRIO, Fábio Medina. Existe uma supremacia do interesse público
sobre o privado no direito administrativo brasileiro? Revista de Direito Administrativo, Rio de
Janeiro, v. 220, p. 69-107, abr./jun. 2000.
15
RE-269437/SP. Disponível em: <www.stf.gov.br>.
16
AGRSS-1149/PE. Disponível em: <www.stf.gov.br>.
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ÁVILA, Humberto Bergmann. Repensando o “princípio da supremacia do interesse público
sobre o particular”. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). O direito público em tempos de crise.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 111-112.
18
“É possível, porém, identificar um interesse público universal, essencial? Curvar-se à
retórica do interesse público, sem atentar para a existência de uma multiplicidade de inte
resses públicos, é submeter-se a um discurso político perverso e dissimulador.” (MENDES,
Conrado Hübner. Reforma do Estado e agências reguladoras. In: SUNDFELD, Carlos Ari
(Coord.). Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 104).
19
MEDAUR, Odete. O direito administrativo em evolução. São Paulo: RT, 1992. p. 181-182.
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SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2000. p. 161, grifamos.
21
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de des
cumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
22
Quanto às atividades econômicas lato sensu qualificadas como serviços públicos, entende
mos que todas elas devem ser consideradas “essenciais”, até porque, se não o fossem, seria
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inconstitucional sua qualificação como tal, que de regra implica inclusive sua retirada da livre
iniciativa, violando os princípios da proporcionalidade e da subsidiariedade (GRINOVER,
Ada Pellegrini et al. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto.
8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 215).
23
Invoca-se também, acessoriamente, o art. 42 do CDC: Art. 42. Na cobrança de débitos, o
consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça. Parágrafo único — O consumidor cobrado em quantia indevida
tem direito a repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
24
Veja-se, por exemplo, o seguinte acórdão da Primeira Turma do STJ no RMS 8.915: “1. É
condenável o ato praticado pelo usuário que desvia energia elétrica, sujeitando-se até a res
ponder penalmente. 2. Essa violação, contudo, não resulta em reconhecer como legítimo ato
administrativo praticado pela empresa concessionária fornecedora de energia e consistente
na interrupção do fornecimento da mesma. 3. A energia é, na atualidade, um bem essencial
à população, constituindo-se serviço público indispensável subordinado ao princípio da
continuidade de sua prestação, pelo que se torna impossível a sua interrupção. 4. Os arts. 22
e 42 do Código de Defesa do Consumidor aplicam-se às empresas concessionárias de serviço
público. 5. O corte de energia como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou
multa extrapola os limites da legalidade. 6. Não há de se prestigiar atuação da Justiça privada
no Brasil, especialmente, quando exercida por credor econômica e financeiramente mais forte,
em largas proporções, do que o devedor. Afronta, se assim fosse admitido, aos princípios
constitucionais da inocência presumida e da ampla defesa. 7. O direito do cidadão de se
utilizar dos serviços públicos essenciais para a sua vida em sociedade deve ser interpretado
com vistas a beneficiar a quem deles se utiliza”. Para uma ampla exposição dessa posição,
ver ROCHA, Fábio Amorim da. A legalidade da suspensão do fornecimento de energia elétrica aos
consumidores inadimplentes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
25
ÁVILA, Humberto Bergmann. Argumentação jurídica e a imunidade do livro eletrônico.
In: TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Temas de interpretação de direito tributário. Rio de Janeiro:
Renovar, 2003. p. 115.
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“A mera menção a argumentos é artifício ineficaz para justificar minimamente uma inter
pretação. Sob as vestes de uma ‘fundamentação’, pode a simplificação dos argumentos
esconder uma mera preferência. É dizer: escolher uma interpretação com base no capricho
(pura preferência), em vez de o fazer com algum fundamento racional (preferência fun
damentada). Por isso a necessidade de uma sucessiva especificação dos argumentos, sem
a qual não há fundamentação intersubjetivamente controlável. E sem uma fundamentação
intersubjetivamente controlável não se concretiza o princípio do Estado de Direito, pela
inexistência de dois dos seus elementos essenciais: racionalidade do Direito e tutela plena
dos direitos” (Humberto Bergmann Ávila, Argumentação jurídica e a imunidade do livro
eletrônico, op. cit., p. 149 e 150, grifos nossos).
27
ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
justificação jurídica. Tradução de Zilda Hutchinson Schild Silva. São Paulo: Landy, 2001. p 25.
28
Além dos autores citados neste texto, poderíamos aludir também, entre outros, a BYDLINSKI,
Franz. Juristiche Methodenlehre und Rechtsbegriff. Viena, Nova York: Springer, 1991; GUASTINI,
Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Turim: Giappichelli, 1996;
MACCORMICK, Neil; SUMMERS, Robert. Interpretation statutes: a comparative study.
Aldershot: Dartmouth, 1992.
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Humberto Bergmann Ávila, Argumentação jurídica e a imunidade do livro eletrônico, op. cit.,
p. 115 e 116.
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envolvidos feita pelo poder político a priori legitimado para tanto (o Consti
tuinte ou o Legislador). Em se tratando de interpretação constitucional, apenas
a ausência de regra constitucional específica pode abrir ao Poder Judiciário a
possibilidade de efetuar sua ponderação dos valores envolvidos na questão.
As ideias expostas não devem de forma alguma ser vistas como uma
supervalorização apenas da interpretação gramatical, que sempre estará in-
cindivelmente conectada com as demais espécies de interpretação;30 nem de
um direito desapegado dos valores, já que, no estado de direito, o papel de
pesar os valores em jogo é, por excelência, atribuído ao legislador ou ao cons-
tituinte, não ao órgão julgador. Em outras palavras, não se trata de desprezar
os valores envolvidos, mas sim de priorizar a regra constitucional que já os
ponderou previamente.
Nesse ensejo, demonstraremos a seguir as linhas gerais da categorização
e hierarquização de argumentos feitas por alguns autores de mais forte influ-
ência na cultura jurídica nacional.
Pioneiro entre nós, nesse particular, Humberto Bergmann Ávila coloca
na categoria principal de argumentos os ligados diretamente ao ordenamento
jurídico, que podem ser linguísticos, tanto da linguagem comum, como da lin-
guagem técnica; sistemáticos; históricos e de direito comparado; e genéticos,
relacionados aos trabalhos preparatórios do dispositivo a ser interpretado.
Em um segundo grupo em ordem de importância hermenêutica o autor
reúne os argumentos não ligados diretamente ao ordenamento jurídico posi-
tivo, por ele chamados de
30
Demonstrando que não estamos a sustentar a prevalência das interpretações “meramente
literais” das normas jurídicas, mister se faz lembrar que nos referimos à priorização da
interpretação do texto, que pode ser gramatical, teleológica, sistemática etc. Em outras
palavras, interpretação do texto não é equivalente à interpretação literal ou gramatical. O texto
pode ser interpretado gramatical, teleológica ou sistematicamente.
31
Humberto Bergmann Ávila, Argumentação jurídica e a imunidade do livro eletrônico, op. cit.,
p. 132 e 133, grifamos.
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Humberto Bergmann Ávila, Argumentação jurídica e a imunidade do livro eletrônico, op. cit.,
p. 143, 144 e 150.
33
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta
Constituição. (...)
§3o — Compete à lei federal:
I — regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre
a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada;
II — estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto
no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos
à saúde e ao meio ambiente.
§4o — A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos
e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
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Agravo regimental na medida cautelar. Processo no 200300228928, 2a Turma do STJ, j. em
12.8.2003 (DJ, 29.9.2003).
35
Negativo porque não se pode violar o texto, positivo porque deve também se justificar no texto.
36
“O que está para além do sentido literal linguisticamente possível e é claramente excluído
por ele já não pode ser entendido, por via da interpretação, como o significado aqui decisivo
deste termo. Diz acertadamente MEIER-HAYOZ que o ‘teor literal tem, por isso, uma dupla
missão: é ponto de partida para a indagação judicial do sentido e traça, ao mesmo tempo, os
limites da sua atividade interpretativa’. Uma interpretação que se não situe já no âmbito do
sentido literal possível, já não é interpretação, mas modificação de sentido” (LARENZ, Karl.
Metodologia da ciência do direito. Tradução de José Lamego. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1997. p. 453-454, grifamos).
37
BARROSO, Luís Roberto Barroso. Interpretação e aplicação da Constituição. São Paulo: Saraiva,
1996. p. 122.
38
“A lei, ao regulamentar os direitos individuais, não pode constitucionalmente mudar a sua
essência, ou seja, não pode mudar o que constitui condição inseparável deles. Toda mudança
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não têm, ainda que em alguns casos a sua prevalência seja dissimulada,
qualquer função além de auxiliares de esclarecimento e de apoio à
aplicação do Direito que tenha sido realizada com base nos textos das
normas em vigor. (...) Em razão dos imperativos de clareza e de deter-
minabilidade impostos pelo princípio do Estado de Direito, o texto da
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Ibid., p. 259, 325 e 327. Veja também p. 323 e 324.
41
ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da jus
tificação jurídica. Tradução de Zilda Hutchinson Schild Silva. São Paulo: Landy, 2001. p. 239.
42
Friedrich Müller, Discours de la méthode juridique, op. cit., p. 270 e 336.
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Nessa senda, chama-se atenção para o debate acerca das capacidades ins-
titucionais de cada intérprete. Cass Sunstein e Adrian Vermeule afirmam que
43
SCHAUER, Frederick. Playing by the rules: a philosophical examination of rule-based decision-
making in law and in life. Nova York: Oxford University Press, 1991. p. 151.
44
Id. Formalism: legal, constitutional, judicial. In: WHITTINGTON, Keith; KELEMEN, R.
Daniel; CALDEIRA, Gregory A. The Oxford handbook of law and politics. Nova York: Oxford
University Press, 2008. p. 431-433.
45
SUNSTEIN, Cass R.; VERMEULE, Adrian. Interpretation and institutions (July 2002). U Chicago
Law & Economics, Olin Working Paper n. 156; U Chicago Public Law Research Paper n. 28.
Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=320245>. Acesso em: 13 ago. 2012.
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Com efeito, tais observações são válidas não só para os juízes quando
confrontados com pré-ponderações realizadas pelo legislador, mas também
para outros agentes que interpretam e aplicam a lei no caso concreto, como
já evidenciamos com as ideias trazidas por Schauer. No exemplo relatado an-
teriormente, relativo à propaganda de produtos derivados do tabaco, tanto
a Agência Reguladora quanto o juiz e o próprio Legislativo devem ser de-
ferentes à pré-ponderação realizada pelo constituinte originário, não só por
constar do texto que se encontra hierarquicamente acima no ordenamento
jurídico, mas também, se assim não o fosse, por contar com as peculiaridades
do processo constituinte, que envolve o debate e a composição entre grupos
de interesses, além de altíssima credencial democrática.
Toda aplicação de normas jurídicas gera uma atividade discricionária,
pois sempre haverá mais de uma interpretação plausível a ser adotada. A
escolha entre uma delas é uma atividade discricionária. Porém, os operadores
46
BARCELLOS, Ana Paula de. Constitucionalização das políticas públicas em matéria de di
reitos fundamentais: o controle político-social e o controle jurídico no espaço democrático.
Revista de Direito do Estado, v. 3, n. 17, p. 34, 2006. Sobre o tema, ver SARMENTO, Daniel.
Interpretação constitucional, pré-compreensão e capacidades institucionais do intérprete. In:
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel; BINENBOJM, Gustavo (Coord.).
Vinte anos da Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2008. p. 317: “Uma teoria
hermenêutica construída a partir de uma imagem romântica do juiz pode produzir resultados
desastrosos quando manejada por magistrados de carne e osso que não correspondam àquela
idealização...”.
47
BARROSO, Luiz Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no
Brasil contemporâneo. RDE, Revista de Direito do Estado, v. 21, p. 82-122, 2011.
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É comum ser ouvido na imprensa o chavão de que decisão do Judiciário se cumpre, não se
discute. Apenas a primeira parte da frase é correta: a decisão judicial tem que ser absolutamente
cumprida, mas, concomitantemente, como qualquer ato público, também extremamente
debatida.
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6. Conclusão
Referências
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