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Simão Cruz
2010
EXAME FÍSICO CARDIOVASCULAR (220)
∗ Palpação de um pulso periférico dá menos informações do que a examinação de um pulso mais central, no que se refere à ejecção do VE e à função da válvula aórtica
No entanto, alguns achados (como o pulso bisfério da insuficiência aórtica ou o pulso alternante) são mais evidentes nas artérias periféricas
PULSO PEQUENO PULSO TARDIO PULSO BISFÉRIO PULSO ALTERNANTE PULSO BIGEMINADO PULSO PARADOXAL
PULSO HIPERCINÉTICO PULSO DICRÓTICO
(“PARVUS”) | HIPOCINÉTICO (“TARDUS”) (“BISFERIENS”) (“ALTERNANS”) (“BIGEMINUS”) (“PARADOXUS”)
2 ondas palpáveis: Alteração regular da amplitude Também é uma alteração Acentuação da queda na TA
DESCRIÇÃO Pequeno e fraco Pico sistólico tardio Largo, bem definido 2 Picos sistólicos 1 sistólica e 1 da pressão de pulso, apesar de regular da amplitude da sistólica que normalmente
diastólica ritmo regular pressão de pulso acompanha a inspiração
- ↓ Volume de ejecção VE - ↑ Volume de ejecção do VE
Obstrução à ejecção Volume de ejecção Alternância da força de
FISIOPATOLOGIA - Pressão de pulso estreita - Pressão de pulso ampla
do VE muito baixo contracção do VE
- ↑ Resistências periféricas - ↓ Resistências periféricas
• Tamponamento cardíaco
• Bloqueio completo
• Disfunção grave do VE • Pericardite Constritiva
• Circulação hipercinética
(habitualmente ocorre em • Obstrução das vias aéreas (e
• Hipovolemia (anemia, febre, ansiedade, • Insuficiência
doentes que também têm S3 cor pulmonale)
• Insuficiência do VE exercício) Aórtica (com ou • Extra-sístole ventricular
• Cardiomiopatia proeminente) • Obstrução da veia cava superior
CAUSAS • Doença pericárdica • Estenose Aórtica • Canal arterial patente sem estenose) que ocorre após cada
dilatada • Taquicardia paroxística ∗ Nestas situações, a queda da
restritiva • Fístula AV periférica • Cardiomiopatia batimento regular
• Após uma extra-sístole (em TA sistólica é frequentemente
• Estenose Mitral • Defeito do septo hipertrófica >10 mmHg e o pulso periférico
indivíduos sem doença
ventricular pode desaparecer
cardíaca)
• Insuficiência Mitral completamente durante a
inspiração
∗ Na maioria das pessoas a PVJ é maior quando o tronco está inclinado <30º. Em pessoas com ↑ pressão venosa pode ser necessário elevar a tronco ainda mais, por vezes até aos 90º
∗ Veia jugular interna é a melhor veia para estimar a pressão venosa central
PULSO VENOSO JUGULAR – normalmente reflecte as alterações fásicas de pressão na aurícula direita
Ondas a c Deflexão x v Deflexão y
Descrição Positiva | Pré-sistólica Positiva | Sistólica Negativa | Sistólica Positiva | Telessistólica Negativa | Diastólica
- Abaulamento da válvula tricúspide para a AD - Relaxamento da AD e deslocamento - Abertura da válvula tricúspide e rápido
- Contracção da AD | Onda dominante na PVJ, - Enchimento da AD durante a
Fisiopatologia durante a sístole isovolumétrica do VD da válvula tricúspide inferiormente esvaziamento da AD para o ventrículo ou
especialmente durante a inspiração sístole ventricular
- Impacto da carótida adjacente à jugular durante a sístole ventricular enchimento rápido inicial dos ventrículos
Indica que AD está a contrair-se contra resistência
aumentada
• Estenose Tricúspide • Insuficiência Tricúspide
Quando IT se torna grave, a • Onda rápida e profunda – Insuficiência
• HT pulmonar | Estenose Pulmonar • Acentuação da deflexão – Pericardite
combinação duma onda v Tricúspide grave
↑ • Arritmias (AD contrai-se enquanto a válvula constritiva
proeminente e da obliteração da • Pericardite constritiva
tricúspide ainda está fechada pela sístole do VD) – ondas • Proeminente – Tamponamento
deflexão x resulta numa onda • IC direita grave
a “canhão” podem ocorrer regularmente [ritmos de sistólica única e grande
junção] ou irregularmente [Dissociação A-V ou
bloqueio completo]
Deflexão lenta:
Estenose Tricúspide
↓ Ausente – Fibrilhação auricular Nadir reduzido – Dilatação do VD
Mixoma da AD
Ausente – Tamponamento
∗ Atraso entre onda a e pulso arterial carotídeo → ∗ Inversão da onda → Insuficiência
Bloqueio AV 1º grau tricúspide
S4 S1 S2
∗ Refluxo abdomino-jugular positivo: aumento da PVJ durante 10 seg. de compressão abdominal firme, seguido por rápida queda da PVJ > 4 cm após descompressão | Causa mais comum → IC direita secundária a ↑ pressões de enchimento esq.
∗ Sinal de Kussmaul – PVC não ↓ normalmente ou até ↑ durante a inspiração (normalmente a PVC ↓ durante a inspiração) | Causa mais frequente → IC direita grave; | Achado frequente na pericardite constritiva e no enfarte do VD | Estenose
tricúspide | Cardiomiopatia Restritiva
∗ Após o fim da manobra de Valsalva os sopros do lado direito regressam ao normal mais cedo do que os do lado esquerdo
ELECTROCARDIOGRAMA (221)
∗ Junção AV = nó AV + feixe de His
∗ Fase 0 do potencial de acção ventricular → início de QRS | Fase 2 → segmento ST isoeléctrico | Fase 3
→ onda T
Hipercaliémia inibe a entrada de Na+ nas células na fase 0 → prolongamento de QRS | Amiodarona
e Hipocalcemia prolongam a fase 2 → prolongamento do intervalo QT | Digitálicos e Hipercalcemia
encurtam repolarização ventricular (fase 2) → encurtamento do segmento ST
∗ No papel do ECG: 1 quadrado pequeno = 1mm → 0,04s | 1 quadrado grande → 0,20s | 10mm de altura
→ 1mV de amplitude
∗ Duração normal do intervalo P-R = 0,12–0,20s | QRS = ≤0,10–0,11
∗ Duração de QT varia inversamente com a Frequência Cardíaca
Bloqueios Intraventriculares resultam no prolongamento de QRS ⇒ Bloqueios de ramo completos: QRS ≥120ms | Incompletos: QRS = 100-120ms
Vector do QRS está orientado na direcção da região do miocárdio onde a despolarização está atrasada
Bloqueio de Ramo Direito – mais comum do que BRE em indivíduos sem cardiopatia estrutural, mas também pode ocorrer com doenças cardíacas
Bloqueio de Ramo Esquerdo – frequentemente marcador de uma de quatro entidades → doença coronária | cardiopatia hipertensiva | valvulopatia
aórtica | cardiomiopatia
Bloqueios Fasciculares (ou hemibloqueios) no ramo Esquerdo não prolongam QRS significativamente, mas estão associados com alterações do
eixo de QRS ⇒ bloqueio fascicular anterior: desvio esquerdo | posterior: desvio direito
Bloqueios Bifasciculares – bloqueio de ramo + bloqueio fascicular
Crónicos – baixo risco de progressão para bloqueio AV de alto grau | Novos, com EAM anterior – risco muito superior de bloqueio completo
∗ Bloqueios de ramo podem ser crónicos ou intermitentes, e podem ocorrer apenas quando a frequência cardíaca excede um determinado valor
∗ Atrasos de condução intraventriculares também podem ter causas extrínsecas ⇒ Hipercaliémia | Fármacos (antiarrítmicos classe I, fenotiazinas, tricíclicos...)
∗ Prolongamento de QRS não significa necessariamente atraso de condução; pode dever-se a pré-excitação (WPW) dos ventrículos através de um tracto de
bypass que predispõe para taquicardias supraventriculares de reentrada
Sobrecarga auricular Hipertrofia ventricular Bloqueios de Ramo
AD AE VD VE Direito Esquerdo
• V1 – S proeminente Vector QRS orientado para a direita e Vector QRS orientado para a esquerda e
• V1 – R ≥ S | infra ST e inversão de T
• V6 – R altas + infra ST + T invertidas anteriormente: posteriormente:
Padrões: R alta | RS | qR
• II – P larga e entalhada Critérios: • V1 – rSR’ • V1 – QS
• II – aumento de P • V6 – S proeminente
SV1+(RV5 ou RV6) >35mm • V6 - qRS • V6 – R (complexos inteiramente positivos)
• V1 – P bifásica (com componente
• V1 – aumento de P Infra de ST e inversão de T nas ∗ QRS alargados
negativa mais proeminente) Infra de ST e inversão de T nas
derivações pré-cordiais direitas ∗ Anomalias secundárias da repolarização:
derivações pré-cordiais esquerdas
(sobrecarga do VD) T oposta à última deflexão do QRS
(sobrecarga do VE)
Normal ou: • Ondas R pequenas • 1º – ondas T em tenda • Prolongamento QU • Prolongamento • Prolongamento QT • Encurtamento QT • Encurtamento QT • Prolongamento QT
• Taquicardia sinusal nas pré-cordiais • 2º – bloqueios AV | ↓ P | • Ondas U marcado de QT • ↑ Convexo do ponto J – • “Escavação” do (porção ST) (porção ST)
• Desvio do eixo para a direita e: direitas (progressão alargamento de QRS proeminentes • Inversão de T onda de Osborne complexo ST–onda T
S1Q3T3 (S em DI, Q em DIII, e lenta das ondas R) • Hipercalémia grave: • Achatamento de profunda e larga
inversão de T em DIII) – específico • Complexos de baixa paragem cardíaca com ondas T
mas pouco sensível voltagem padrão de onda sinusoidal, • Alargamento QRS
Inversão de T entre V1 e V4 seguido por assistolia
– sinal mais frequente
ISQUEMIA E ENFARTE DO MIOCÁRDIO
∗ Um ECG normal não exclui isquemia ou enfarte
Transmural – supra de ST (vector de ST na direcção do epicárdio) | Nos estadios mais precoces: ondas T hiperagudas na zona isquémica
Subendocárdica – infra de ST (vector de ST na direcção do subendocárdio e cavidade ventricular)
∗ Supra ou infradesnivelamento profundos em várias derivações habitualmente indicam isquemia muito grave
∗ Derivações são mais úteis na localização de isquemia com supra de ST do que sem supra de ST:
Anterior – supra de ST e T positivas em uma ou mais das derivações pré-cordiais V1-V6, e nas derivações I e aVL
Inferior – alterações nas derivações II, III e aVF
Posterior – isquemia reconhecida indirectamente por infradesnivelamentos recíprocos de ST nas derivações V1-V3
∗ Quando supra de ST é o sinal mais precoce de enfarte, tipicamente é seguido em horas a dias por inversão de T, e frequentemente por ondas Q nas
mesmas derivações
Síndromes de isquemia reversível por vasospasmo (Prinzmetal e provavelmente Tako-Tsubo) podem causar elevações transitórias de ST sem ondas Q
Doentes com dor torácica e inversões profundas de T em várias derivações tipicamente têm obstrução grave no sistema da descendente anterior esquerda.
Em doentes com inversões de T no ECG basal, pode ocorrer normalização (pseudonormalização) das ondas T durante episódios de isquemia aguda transmural
∗ Inversões de T durante isquemia crónica ou em evolução correlacionam-se com prolongamento da repolarização e frequentemente associam-se com
prolongamento de QT
∗ Enfartes são mais apropriadamente classificados com “com ondas Q” ou “sem ondas Q”
Enfartes laterais ou posteriores podem causar aumento recíproco da amplitude de R nas derivações V1 e V2 sem ondas Q diagnósticas nas
derivações convencionais
∗ Normalização completa do ECG após um enfarte com ondas Q é rara mas pode ocorrer, sobretudo em enfartes mais pequenos
Pelo contrário, supras de ST que persistem durante várias semanas (ou mais) após um enfarte com ondas Q, habitualmente correlacionam-se com
desenvolvimento de grave acinesia ou discinesia da parede subjacente
∗ Supra de ST que ocorre com o exercício num doente com enfarte prévio com ondas Q, não significa necessariamente isquemia activa mas
correlaciona-se fortemente com anomalias da motilidade da parede ventricular. Pelo contrário, se ocorre num doente sem enfarte prévio, elevação
transitória de ST com o exercício é um sinal fiável de isquemia transmural
Enfartes auriculares ⇒ desvio do segmento PR | alterações na morfologia da onda P | arritmias auriculares
ALTERNÂNCIA ELÉCTRICA
Alternância em uma ou mais componentes do ECG entre batimentos
Alternância eléctrica total (P-QRS-T) com taquicardia sinusal ⇒ sinal relativamente específico de derrame pericárdico, habitualmente com
tamponamento
Alternância de repolarização (ST-T ou U) – sinal de instabilidade eléctrica e pode preceder taquiarritmias ventriculares
VALVULOPATIAS (230)
∗ Prevalência de cardiopatia valvular aumenta com a idade
∗ Valvulopatias do lado esquerdo podem afectar 12-13% dos adultos >75 anos
∗ Endocardite infecciosa tem-se tornado uma causa mais frequente de insuficiência valvular aguda
∗ Prevalência de doença da válvula aórtica bicúspide: 1-2% da população
ESTENOSE MITRAL
ETIOLOGIA
∗ EM pura ou predominante ocorre em 40% dos doentes com cardiopatia reumática e história de febre reumática
∗ Com a diminuição da incidência de febre reumática nos países desenvolvidos, a incidência de EM tem diminuído nas últimas décadas, mas permanece um
problema importante nos países em vias de desenvolvimento, especialmente com clima tropical
FISIOPATOLOGIA
• HT Pulmonar – FACTORES: transmissão da pressão ↑ na AE para montante | Constrição arteriolar pulmonar | Edema intersticial | Alterações obliterantes
orgânicas do leito vascular pulmonar
Frequentemente, na EM ocorre também espessamento fibroso da parede dos alvéolos e capilares ⇒ ↓ capacidade vital e CPT...
SINTOMAS
∗ Período latente entre ataque inicial de cardite reumática e o aparecimento de sintomas devido à EM é cerca de duas décadas – a maioria dos
doentes começa a experimentar incapacidade na 4ª década de vida
∗ Hemoptises (associadas com HT pulmonar | ocorrem mais frequentemente com pressão da AE ↑ e resistências pulmonares normais) – quase nunca fatais
Trombos e êmbolos – podem formar-se directamente a partir da válvula calcificada, mas em doentes com fibrilhação auricular originam-se mais
frequentemente da aurícula esquerda dilatada, especialmente do apêndice auricular esquerdo
Embolização sistémica (incidência: 10-20%) é mais frequente em doentes idosos com FA, e naqueles com baixo débito
∗ Porém, embolização sistémica pode ser apresentação inicial em doentes assintomáticos com EM ligeira
Infecções respiratórias – complicam frequentemente a EM não tratada, sobretudo durante os meses de Inverno
Endocardite infecciosa – rara na EM isolada
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
IM – também pode estar associada com sopro diastólico proeminente (devido a fluxo aumentado), mas geralmente ocorre também com sopro holossistólico e S3
IA grave (Sopro de Austin-Flint) – sopro mesodiastólico não acentuado na pré-sístole
ET – raramente ocorre na ausência de EM; pode mascarar manifestações clínicas da EM ou pode ser clinicamente silenciosa
Defeito do septo auricular – ambas têm aumento do VD e acentuação da vasculatura pulmonar, mas a ausência de linhas B de Kerley e de aumento da AE, e
a presença de desdobramento fixo de S2, favorecem defeito do septo
Mixoma da AE – pode causar sopro diastólico (por obstrução do esvaziamento da AE); no entanto habitualmente cursa com manifestações de doença sistémica, e
os achados auscultatórios podem mudar marcadamente com a posição do corpo
TRATAMENTO
Profilaxia das infecções com Streptococcus BHGA c/Penicilina para prevenir febre reumática em doentes de alto risco c/ EM
Digitálicos, β-bloqueadores, verapamil e diltiazem – sem benefício se ritmo sinusal, mas úteis em doentes com FA
Varfarina – indefinidamente, em doentes com FA
∗ Cardioversão para ritmo sinusal é raramente bem sucedida ou sustentada em doentes com EM grave, sobretudo se AE ou FA presente há >1 ano
∗ Valvulotomia (ver quadro)
INSUFICIÊNCIA MITRAL
ETIOLOGIA da IM crónica
• Cardiopatia reumática – causa de IM crónica em apenas ~33% dos casos | Mais frequente em homens
Rigidez, deformação e retracção das cúspides, e fusão das comissuras | Encurtamento, contracção e fusão das cordas tendinosas
• Prolapso da válvula mitral (PVM) e cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CMHO) – processo dinâmico: deslocamento do músculo papilar anterior, e
movimento sistólico anterior do folheto valvular mitral anterior para o estreitado tracto de saída do LV
• Calcificação do anel valvular – especialmente prevalente na doença renal avançada, e comum em mulheres idosas com HTA e diabetes
• Congénita – +frequentemente por defeito das almofadas endocárdicas; fissura do folheto valvular anterior pode acompanhar o defeito primum do septo auricular
• Isquemia – como consequência do remodeling ventricular, deslocamento ou fibrose de músculos papilares, ou imobilização de folheto valvular
• Cardiomiopatia dilatada não isquémica – causa IM (quando o diâmetro telediastólico do VE >6,0cm) por dilatação do anel valvular e remodeling ventricular
∗ Independentemente da causa, IM crónica grave é frequentemente progressiva (porque o aumento da AE coloca tensão sobre o folheto mitral posterior, afastando-o
do orifício valvular, e agravando assim a disfunção valvular; além disso, a dilatação do VE aumenta regurgitação, agravando o aumento da AE e do VE, com ruptura das cordas tendinosas)
∗ Diferença entre sopro da IM aguda (protossistólico em decrescendo) e da IM crónica (holossistólico constante) tem que ver com a diminuição ou constância (respectivamente) do
gradiente AV
AUSCULTAÇÃO
∗ Ruptura das cordas tendinosas (que produz sopro idêntico ao arrulho de uma rola) ou instabilidade do folheto posterior (som musical) → sopro
transmitido para a base do coração e pode ser confundido com o sopro da EA
TRATAMENTO
∗ Não há grandes estudos prospectivos que apoiem o uso de vasodilatadores no tx da IM crónica grave isolada na ausência de HTA sistémica
∗ Gravidade da IM pode diminuir com tx agressivo da ICC
∗ Doentes assintomáticos com IM grave em ritmo sinusal e com tamanho do VE e função sistólica normais, devem evitar formas isométricas de exercício
∗ IM aguda grave requer estabilização urgente (diuréticos, vasodilatadores i.v., contrapulsão intra-aórtica por balão) para a cirurgia
PROLAPSO MITRAL
Eco Transtorácica – deslocamento sistólico dos folhetos mitrais para dentro da AE, pelo menos 2mm, superior ao plano do anel mitral
∗ Na maioria dos doentes com PVM, a degeneração mixomatosa (enfraquecimento patológico do tecido conjuntivo) está confinada à válvula mitral, sem
outras manifestações clínicas ou patológicas da doença
Folheto posterior é habitualmente mais afectado do que o anterior | Anel valvular está frequentemente muito dilatado
Em muitos doentes, alongamento excessivo, redundância, ou ruptura das cordas tendinosas causam ou contribuem para a regurgitação
∗ PVM ocorre em 20% dos doentes com defeito do septo auricular tipo ostium secundum
∗ Incidência familiar aumentada para alguns doentes, sugerindo hereditariedade autossómica dominante
CLÍNICA
∗ Mais comum em mulheres 15-30 anos, mas também pode ocorrer em doentes mais velhos (>50 anos), frequentemente homens, nos quais a
doença é habitualmente mais grave e requer cirurgia
∗ Gravidade muito variável – em muitos doentes progride durante anos ou décadas, enquanto noutros agrava rapidamente com ruptura das
cordas tendinosas e endocardite
∗ Nos USA, o PVM é actualmente a causa mais comum de IM isolada grave necessitando de cirurgia
ESTENOSE AÓRTICA
ETIOLOGIA
Calcificação degenerativa senil – causa mais comum de EA nos países desenvolvidos do Ocidente
∗ 30% das pessoas >65 anos têm esclerose da válvula aórtica: muitas destas têm sopro mas sem obstrução, enquanto 2% têm estenose franca
Esclerose aórtica – espessamento ou calcificação focais das cúspides com uma velocidade transaórtica máxima <2,5m/s, medida por Doppler
∗ Esclerose aórtica parece ser um marcador de risco aumentado para doença coronária
∗ Histologicamente, as válvulas têm alterações semelhantes às da aterosclerose e inflamação vascular
∗ Factores de risco para aterosclerose (sexo masculino, idade, tabagismo, diabetes, HTA, doença renal crónica, ↑LDL, ↓HDL, ↑PCR) também são factores
de risco para calcificação aórtica
Congénita – estenótica ao nascimento, ou deformada e assim predisposta a estenose | ex.: válvula aórtica bicúspide
∗ Dilatação aneurismática da raiz da aorta ocorre em 20% dos doentes com válvula aórtica bicúspide, independentemente da gravidade da
lesão valvular
Febre Reumática – produz fusão das comissuras, resultando numa válvula de aspecto bicúspide que tem por isso os folhetos mais susceptíveis a trauma e
alterações que culminam na estenose
∗ EA reumática associa-se quase sempre com envolvimento da válvula mitral e com IA
SINTOMAS
∗ EA raramente tem importância clínica até que o orifício valvular esteja estreitado para ~1,0cm – e mesmo a EA grave pode cursar sem
2
INSUFICIÊNCIA AÓRTICA
ETIOLOGIA
Doença Primária da válvula
Febre Reumática – muito mais comum em doentes com valvulopatia mitral associada
Congénita – doentes com válvula aórtica bicúspide podem desenvolver IA predominante | Fenestrações da válvula aórtica
ocasionalmente produzem IA ligeira | Estenose membranosa subaórtica frequentemente leva a espessamento e fibrose dos folhetos valvulares
aórticos, culminando em IA
Prolapso de uma cúspide aórtica pode ocorrer como fenómeno isolado | Ocorre em 15% dos doentes com defeito do septo ventricular |
Pode ocorrer como consequência de degeneração mixomatosa, por vezes associada com envolvimento da mitral e/ou tricúspide
Endocardite infecciosa | Sífilis | Espondilite anquilosante
Ruptura ou avulsão traumática – etiologia incomum de IA aguda, mas IA é a lesão grave mais frequente em sobreviventes de lesões
cardíacas não penetrantes
∗ Coexistência de IA e EA hemodinamicamente significativas ocorre quase exclusivamente em doentes com IA congénita ou reumática, e
portanto exclui habitualmente as outras causas mais raras.
∗ Em doentes com IA devido a doença valvular primária, dilatação do anel aórtico pode ocorrer secundariamente e intensificar a regurgitação
Doença Primária da raiz da aorta – IA devido essencialmente a dilatação aórtica sem envolvimento dos folhetos
Degeneração medial quística da aorta ascendente – associada ou não com outras manifestações da síndrome de Marfan
Idiopática | HTA grave | Ectasia anulo-aórtica | Osteogénese imperfeita
Dissecção retrógrada da aorta | Sífilis (envolvimento da íntima pode estreitar os ostia coronários → isquemia miocárdio) | Espondilite anquilosante
SINTOMAS
∗ Angina – frequente na IA grave, mesmo em doentes mais jovens. | Podem ocorrer em exercício ou em repouso
Episódios podem ser prolongados e respondem mal à nitroglicerina sublingual
∗ Acumulação sistémica de líquido pode ocorrer tarde na doença
TRATAMENTO
IA aguda – pode responder aos diuréticos e vasodilatadores mas a cirurgia é urgente
∗ Contrapulsão intra-aórtica por balão é contra-indicada | ∗ β-bloqueadores também devem ser evitados
IA crónica – importante manter TA sistólica <140 mmHg, e vasodilatadores são uma excelente 1ª escolha
∗ Nitroglicerina não é tão eficaz no alívio da dor anginosa como na cardiopatia isquémica
∗ β-bloqueadores podem retardar a taxa aumento da raiz aórtica em doentes jovens com síndrome de Marfan sem IA ou apenas ligeira
∗ Doentes com aortite sifilítica devem receber um curso completo de penicilina
∗ Doentes com IA grave devem evitar exercício isométrico
∗ Doentes com IA crónica grave habitualmente só se tornam sintomáticos após desenvolvimento de disfunção do miocárdio
∗ Se a cirurgia for adiada durante demasiado tempo (>1 ano após início de sintomas ou disfunção do VE) frequentemente não consegue
restaurar função normal do VE
ESTENOSE TRICÚSPIDE
∗ Não ocorre isoladamente: habitualmente associada com EM – ET hemodinamicamente significativa ocorre em 5-10% dos casos de EM grave
∗ ET reumática está frequentemente associada com algum grau de IT
INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE
ETIOLOGIA
Primária (orgânica) – febre reumática (IT frequentemente associada com ET) | Enfarte dos músculos papilares do VD | Prolapso |
Endocardite | Carcinóide | Trauma | Congénita (defeitos do canal AV; anomalia de Ebstein) | Fibrose endomiocárdica
Secundária (funcional) – mais comum; secundária a dilatação marcada do anel valvular
Pode complicar o aumento do VD de qualquer etiologia (ex.: HT pulmonar grave prolongada – pode ser parcialmente reversível se HT diminuir)
Pacing crónico do VD
VÁLVULA PULMONAR
∗ Muito menos frequentemente afectada pela febre reumática do que as outras válvulas, e raramente é a sede de endocardite infecciosa
∗ Anomalia adquirida mais comum: insuficiência (por dilatação do anel valvular como consequência de HT pulmonar severa)
Sopro de Graham-Steell – agudo, decrescendo, protodiastólico – difícil de distinguir do sopro da IA (muito mais comum)
∗ A IP é hemodinamicamente pouco significativa
• Síndrome carcinóide – pode produzir estenose ou insuficiência pulmonar
∗ Insuficiência ocorre universalmente entre os doentes submetidos a reparação de Tetralogia de Fallot com reconstrução do tracto de saída do VD, na infância
SUBSTITUIÇÃO VALVULAR
∗ Maior mortalidade perioperatória se idade avançada, comorbilidades, incapacidade funcional pré-operatória significativa, e HT pulmonar
CMR
Doença Endomiocárdica Eosinofílica (Endocardite de Loeffler ou endocardite fibroplásica)
Ocorre em climas temperados | Parece ser uma subcategoria da síndrome hipereosinofílica
∗ Endocárdio de ambos os ventrículos está marcadamente espessado, com envolvimento do miocárdio subjacente
IMAGEM – espessamento ventricular, sobretudo da parede basal posterior do VE
Insuficiência Mitral – frequente
Grandes trombos murais podem desenvolver-se em qualquer um dos ventrículos → tamanho da cavidade ventricular e predispõem para embolização
Hepatosplenomegalia e infiltrados eosinofílicos noutros órgãos – habitualmente presentes
Tratamento inclui diuréticos, redutores do afterload, e anticoagulação
Corticóides e hidroxiureia – parecem sobrevida
Ressecção cirúrgica do tecido fibroso e correcção da valvulopatia mitral
Amiloidose cardíaca
Deposição de amilóide no interstício cardíaco
∗ Envolvimento do coração é a causa de morte mais frequente na amiloidose primária (AL) e na amiloidose hereditária (ATTR)
∗ Envolvimento cardíaco clinicamente significativo é raro na forma secundária
∗ Depósitos focais de amilóide em idosos (amiloidose cardíaca senil), embora frequentes são clinicamente insignificantes
ASPECTO MACROSCÓPICO – firme, não complacente, consistência semelhante a borracha, aspecto ceroso
• 4 APRESENTAÇÕES CLÍNICAS – Disfunção diastólica | Disfunção sistólica | Arritmias e perturbações da condução | Hipotensão ortostática
ECO – parede miocárdica espessada com aspecto “granular” difuso | RMN – realce do subendocárdio
∗ Biópsia do miocárdio ou aspiração de gordura permitem diagnóstico em 75% dos casos
Quimioterapia com agentes alquilantes (ex.: melfalan) + corticóides ⇒ parecem sobrevida
Transplante pode ser opção em doentes seleccionados
∗ PROGNÓSTICO: mau, sobretudo na amiloidose primária com envolvimento cardíaco avançado
Hemocromatose
Frequentemente resulta de múltiplas transfusões ou de uma hemoglobinopatia, sobretudo β-talassémia
Suspeitar de forma familiar (autossómica recessiva) se ocorre com diabetes, cirrose hepática, e hiperpigmentação cutânea
Pode ser confirmada por biópsia endomiocárdica | RMN – sinal em T2
Sarcoidose
Infiltração por granulomas sarcóides resulta em rigidez do miocárdio e contractilidade sistólica ⇒ manifestações restritivas e congestivas
Podem ocorrer vários tipos de arritmias, incluindo bloqueio AV de alto grau
Sobrecarga do VD – manifestação comum; deve-se a HT pulmonar secundária ao envolvimento do parênquima pulmonar
Muitos doentes são tratados empiricamente com corticóides
Síndrome Carcinóide
Resulta em fibrose do endocárdio e estenose e/ou insuficiência tricúspide e/ou pulmonar
DILATADA (CMD) HIPERTRÓFICA (CMH) RESTRITIVA (CMR)
Disfunção diastólica
Defeito Disfunção sistólica Disfunção diastólica
Nos estadios mais tardios, função sistólica também é afectada
Frequência 1/500 na população
∗ 20-30% dos doentes têm formas familiares de CMD ∗ 50% dos doentes têm história familiar compatível com transmissão autossómica
⇒ Descritas >20 mutações com transmissão autossómica dominante dominante
Genética ⇒ Mutações na distrofina ocorrem em homens jovens com ∗ Mutações nas proteínas sarcoméricas são responsáveis por 60% dos casos
transmissão recessiva ligada ao X; associadas a uma evolução Mutações mais comuns ⇒ cadeia pesada da β -miosina (cromossoma 14)
rapidamente progressiva ∗ Algumas mutações associam-se com pior prognóstico
∗ Muitos casos esporádicos provavelmente representam mutações espontâneas • Amiloidose
- Miocadite vírica aguda – CMD é uma consequência tardia
∗ Aos 20 anos de idade, 50% dos familiares em 1º grau de doentes com CMH já têm • Hemocromatose | • Sarcoidose
- CMD reversível ⇒ • Alcoolismo | • Gravidez | • Hipotiroidismo | •
evidência ecográfica da doença • Esclerodermia | • Coração transplantado
Etiologias Cocaína | • Taquicardia crónica não controlada
∗ Uma ecografia apenas, realizada na infância, não exclui CMH • Irradiação do mediastino | • Infiltração neoplásica
- Outras ⇒ doenças neuromusculares | tako tsubo | displasia
Rastreio ecográfico dos familiares em 1º grau entre os 12 e os 20 anos deve ser • Doença hipereosinofílica | • Deposição de glicogénio
arritmogénica do VD
realizado anual ou bienalmente • Fibrose endomiocárdica
Hipertrofia do VE é habitualmente assimétrica, na maioria dos casos com preferência
pelo septo interventricular
Nas porções hipertrofiadas há desorganização dos miócitos e da arquitectura
miofibrilhar, juntamente com alguma fibrose do miocárdio
Obstrução dinâmica da saída do VE – gradiente de pressão dinâmico que, ao
contrário da obstrução fixa da estenose aórtica, pode mudar entre examinações e até
- Paredes ventriculares excessivamente rígidas, impedindo
entre batimentos; pode ser provocada
Parece resultar do estreitamento do tracto de saída devido ao movimento sistólico enchimento ventricular
anterior da válvula mitral contra o septo hipertrofiado - Envolvimento do endocárdio com obliteração parcial da
Na maioria dos casos, CMD torna-se clinicamente aparente na 3ª e 4ª
Fisiopatologia Eventos que contractilidade (exercício, aminas simpaticomiméticas), que cavidade por tecido fibroso e trombos, também pode
década
preload ventricular (manobra de Valsalva, súbito ortostatismo, nitroglicerina), ou que contribuir para a restrição
afterload ⇒ agravam o gradiente e o sopro Complicações tromboembólicas são frequentes nestes
Eventos que afterload (cócoras, “handgrip” sustentado), que preload doentes
(elevação passiva das pernas), ou expansão da volemia (gravidez) ⇒ melhoram o
gradiente e o sopro
∗ 33% apresentam este gradiente de pressão em repouso
∗ 33% apresentam este gradiente de pressão após provocação
- Disfunção diastólica ⇒ pressão telediastólica no VE (apesar do VE hiperdinâmico, não dilatado)
Insuficiência Cardíaca Congestiva – sintomas desenvolvem-se ∗ Evolução clínica muito variável
gradualmente Morte súbita cardíaca – pode ser a 1ª manifestação, ocorrendo frequentemente em
Intolerância ao exercício | Dispneia – proeminentes
Alguns doentes têm dilatação do VE durante meses ou anos até crianças e adultos jovens durante ou após exercício
Ocorrem devido à do débito cardíaco e das pressões
se tornarem sintomáticos ∗ CMH é a causa mais comum de morte súbita cardíaca em jovens atletas de
de enchimento ventricular
Clínica ∗ CMD é responsável por 33% do total de casos de ICC competição
Edemas, ascite, hepatomegalia, PVJ, sinal de Kussmaul)
Pode ocorrer dor torácica vaga, mas angina pectoris é incomum e Dispneia – é a queixa mais comum nos doentes sintomáticos
– ocorrem devido ao aumento persistente da pressão venosa
sugere presença de cardiopatia isquémica Outros sintomas – síncope | angina pectoris | fadiga
sistémica
Síncope (devido a arritmias e a embolização sistémica, muitas vezes com ∗ Sintomas não têm correlação próxima com presença ou gravidade do gradiente de
êmbolos originados no VE) – pode ocorrer pressão no tracto de saída
Maioria dos doentes tem um impulso apical duplo ou triplo e um S4
Marca da CMH obstrutiva ⇒ sopro mesossistólico em crescendo-decrescendo
Na doença avançada: pressão de pulso estreita e PVJ Mais audível no bordo esternal esquerdo e ápice, com irradiação mínima para
Sons cardíacos podem parecer distantes
Exame físico S3 e S4 – comuns as carótidas
S3 e S4 – comuns
Sopros de IM ou IT – podem ocorrer : manobra de Valsalva; ortostatismo
: cócoras; “handgrip”; elevação dos membros inferiores
∗ CMH obstrutiva é habitualmente acompanhada por IM
• Silhueta cardíaca moderado/marcado
Raio X do Tórax • Pode ser normal, mas Silhueta cardíaca ligeiro/moderado é comum • Silhueta cardíaca ligeiro
• Hipertensão venosa pulmonar
⇒ Alterações inespecíficas segmento ST e da onda T ⇒ Baixas voltagens
⇒ Hipertrofia do VE
⇒ Baixas voltagens ⇒ Defeitos da condução (ex.: bloqueios de ramo)
ECG ⇒ Ondas Q profundas e largas, generalizadas (reflectem hipertrofia septal grave)
⇒ Taquicardia sinusal, FA, arritmias ventriculares ⇒ Alterações inespecíficas de ST e da onda T
⇒ Arritmias ventriculares (taquicardia) ou supraventriculares (taquicardia, FA) no Holter
⇒ Defeitos da condução AV e/ou intraventriculares ⇒ Arritmias
DILATADA (CMD) HIPERTRÓFICA (CMH) RESTRITIVA (CMR)
Hipertrofia do VE, frequentemente com espessura do septo ≥ 1,3x maior do que a da
parede livre posterior
Paredes do VE simetricamente espessadas
Dilatação de VE Em doentes com gradientes de pressão ⇒ movimento sistólico anterior da válvula
Volumes ventriculares normais ou ligeiramente
ECOCARDIOGRAMA Paredes normais, finas, ou ligeiramente espessadas mitral, frequentemente acompanhado por insuficiência mitral
Função sistólica normal ou ligeiramente reduzida
Disfunção sistólica Cavidade do VE pequena
Aurículas dilatadas
Motilidade vigorosa da parede posterior mas com reduzida excursão septal
Septo com aspecto incomum em “vidro fosco” (provavelmente devido a fibrose)
• Dilatação e disfunção do VE • Função sistólica vigorosa • Função sistólica normal ou ligeiramente reduzida
CATETERISMO • Débito cardíaco • Obstrução dinâmica do tracto de saída do VE • Débito cardíaco
• Pressões de enchimento do lado esquerdo e mtas vezes também à direita • Pressões de enchimento (telediastólicas) do VE e VD • Pressões de enchimento (telediastólicas) do VE e VD
SANGUE ∗ BNP circulante
∗ Deve ser proibida a prática de desportos de competição ou actividade física muito intensa
∗ Evitar ⇒ desidratação | diuréticos | digitálicos | nitratos | BCC dihidropiridinas (ex.:
nifedipina) | vasodilatadores | agonistas β-adrenérgicos | álcool
DERRAME PERICÁRDICO
⇒ Na Pericardite aguda está habitualmente associado com um aumento da silhueta cardíaca, além das manifestações acima descritas
∗ Quando se desenvolve num período relativamente curto pode levar a tamponamento cardíaco
Sons cardíacos podem ser menos audíveis | Ruído de atrito pericárdico pode desaparecer | Impulso apical pode desaparecer ou pode
permanecer palpável, embora medial ao bordo esquerdo de macicez cardíaca
Sinal de Ewart ⇒ zona de macicez, frémito aumentado e egofonia debaixo do ângulo da omoplata esquerda (por compressão da base do pulmão pelo líquido)
DIAGNÓSTICO
Raio X Tórax – pode mostrar silhueta cardíaca “em garrafa” mas também pode ser normal
Ecocardiograma – procedimento mais eficaz (porque é sensível, específico, simples, e não invasivo) e pode identificar tamponamento cardíaco
Pequenos derrames – líquido pericárdico visível na Eco como um espaço ecolucente entre o pericárdio posterior e o epicárdio do VE
Derrames maiores – espaço entre o VD anterior e o pericárdio parietal imediatamente sob a parede torácica anterior
Neste caso, coração pode movimentar-se livremente dentro do saco pericárdico – quando grave, a extensão destes movimentos
pode variar e pode associar-se com alternância eléctrica
TAC e RMN – podem ser superiores à Eco para detectar derrames loculados, espessamento pericárdico, e massas pericárdicas
TAMPONAMENTO CARDÍACO
Acumulação de líquido no espaço pericárdico em quantidade suficiente para causar obstrução séria ao enchimento dos ventrículos
∗ Pode ser fatal
ETIOLOGIA
∗ 3 causas mais comuns ⇒ Neoplasia | Pericardite idiopática | Derrame pericárdico secundário a Insuficiência Renal
∗ Outras causas: Hemopericárdio (ocorre quando um doente com pericardite aguda é tratado com anticoagulantes) | Hemorragia para o espaço pericárdico após trauma ou
cirurgia cardíaca | Tuberculose
FISIOPATOLOGIA
∗ Limitação do enchimento ventricular e débito cardíaco
∗ Volume necessário para produzir tamponamento varia directamente com a espessura do miocárdio e inversamente com a espessura do pericárdio
parietal Além disso, 200 mL de líquido podem ser suficiente para produzir tamponamento se o líquido se desenvolver rapidamente; pelo
contrário, em derrames insidiosos podem ser necessários >2000 mL
CLÍNICA
∗ 3 principais manifestações de tamponamento – Tríade de Beck:
Hipotensão
Sons cardíacos ou ausentes
PVJ com deflexão x proeminente mas ausência da deflexão y
∗ Tamponamento também pode desenvolver-se lentamente, produzindo manifestações idênticas às da insuficiência cardíaca
EXAMES
∗ Silhueta cardíaca no raio X | amplitude de QRS e alternância eléctrica total no ECG
Eco com Doppler – velocidade do fluxo nas válvulas do coração direito na inspiração, enquanto as do coração esquerdo | Colapso
telediastólico da parede livre do VD e da AD | Dilatação da veia cava inferior
TRATAMENTO
∗ Na pericardite aguda, doentes com derrame pericárdico devem ser internados e observados relativamente a sinais de tamponamento
Se surgirem sinais de tamponamento → pericardiocentese guiada por Eco – ao permitir alívio da pressão intra-pericárdica pode salvar a vida doente
Drenagem cirúrgica por toracotomia – pode ser necessária se tamponamento recorrente, derrames loculados, e/ou se necessária biópsia
∗ Líquido extraído:
• Exsudado – frequentemente
Hemático – causas mais frequentes: neoplasia nos USA e tuberculose (ADA >30 U/L é fortemente sugestiva) nos países em desenvolvimento |
Outras: febre reumática, pós-EAM, pericardite urémica ou diálise
• Transudado – pode ocorrer na insuficiência cardíaca
Pulso Paradoxal – superior ao normal (10mmHg) na TA sistólica durante a inspiração
Pode ser detectado pelo desaparecimento ou enfraquecimento do pulso arterial palpável durante a inspiração, mas medição por
esfigmomanómetro durante respiração lenta é normalmente necessária
Devido à restrição imposta a ambos os ventrículos no tamponamento, o aumento inspiratório do VD comprime e diminui volume do VE, efeito para o qual também contribui o
abaulamento do septo para a esquerda durante a inspiração → Assim, o aumento inspiratório normal do VD causa uma redução recíproca exagerada do volume do VE
∗ Não é patognomónico de doenças pericárdicas – ETIOLOGIAS: Tamponamento | Pericardite Constritiva (em 33% dos casos) | Choque hipovolémico |
Obstrução das vias aéreas aguda ou crónica | Embolia pulmonar
∗ Se o tamponamento for apenas ligeiro (tamponamento de baixa pressão), em algumas situações coexiste com hipovolemia
PVC está normal ou apenas ligeiramente , pressão arterial não é afectada → nestes casos, não há pulso paradoxal
Doentes estão assintomáticos ou apenas com astenia e dispneia ligeiras
Manifestações clínicas e hemodinâmicas melhoram com a pericardiocentese
PROGNÓSTICO
∗ IC sintomática – mortalidade em 1 ano: 30-40% | Mortalidade aos 5 anos: 60-70%
∗ Taxa de mortalidade anual – NYHA classe II: 5-10% | NYHA classe IV: 30-70%
Estado funcional é um importante factor de prognóstico
∗ 30-50% dos doentes que recebem alta hospitalar com diagnóstico de IC são internados novamente nos 3-6 meses seguintes
FISIOPATOLOGIA
∗ Remodeling – Hipertrofia de miócitos | Alterações nas propriedades contrácteis dos miócitos | Perda progressiva de miócitos | Dessensibilização dos receptores β-
adrenérgicos | Alterações no metabolismo e balanço energético dos miócitos | Reorganização da matriz extra-celular
ESTÍMULOS – distensão mecânica dos miócitos; neurohormonas circulantes (ex.: noradrenalina, angiotensina II); citocinas inflamatórias (ex.: TNF); endotelina; NO...
∗ Disfunção diastólica pode ocorrer sozinha ou em combinação com disfunção sistólica nos doentes com IC
∗ Remodeling do VE pode contribuir independentemente para a progressão da IC
∗ Consequência da forma mais esférica do VE: aumento do afterload e Insuficiência Mitral funcional (porque os músculos papilares são afastados pela dilatação do VE)
∗ Consequências do Remodeling: anterógrado, dilatação do VE, sobrecarga hemodinâmica
SINTOMAS
∗ Sintomas cardinais: fadiga e dispneia
Fadiga – devido ao baixo débito e a comorbilidades | Dispneia – mecanismo mais importante: congestão pulmonar → activa receptores J → activam taquipneia
Ortopneia – mais tardia do que dispneia de esforço | Tosse nocturna – manifestação frequente do mesmo mecanismo que origina a ortopneia
Embora a ortopneia seja um sintoma relativamente específico de IC, também pode ocorrer na obesidade abdominal, ascite e doentes com patologia
pulmonar cuja mecânica pulmonar favorece ortostatismo
Dispneia Paroxística Nocturna – episódios agudos de dispneia grave e tosse que ocorrem à noite e acordam o doente, habitualmente 1-3h após retirarem-se
Pode manifestar-se por tosse e pieira (por ↑ da resistência das vias aéreas provavelmente secundário a ↑ pressão nas artérias brônquicas e a edema pulmonar intersticial)
Enquanto a ortopneia alivia sentando-se direito no lado da cama com as pernas em posição dependente, doentes com DPN têm
frequentemente tosse e sibilos persistentes mesmo após assumirem a posição ortostática
Asma cardíaca – proximamente relacionada com DPN, caracteriza-se por sibilância secundária a broncospasmo
Respiração de Cheyne-Stokes (ou “respiração periódica” ou “respiração cíclica”) – comum na IC avançada
Habitualmente relacionada com o baixo débito | CAUSA: sensibilidade do centro respiratório à PaCO2
⇒ Há uma fase apneica → ↓PaO2 e ↑PaCO2 → hiperventilação e hipocapnia → recorrência da apneia
Anorexia, náusea, saciedade precoce associada com dor abdominal – sintomas frequentes | CAUSAS: edema da parede intestinal, congestão hepática
Dor no QSD – relacionada com congestão hepática e distensão da cápsula
Confusão, desorientação, alterações do sono e humor – podem ocorrer na IC grave, sobretudo em idosos com arteriosclerose cerebral
Noctúria – comum na IC | Pode contribuir para a insónia
EXAME FÍSICO
⇒ TA sistólica – normal ou ↑ na IC precoce; ↓ na IC tardia | ⇒ Pressão de pulso ↓
⇒ Taquicardia sinusal – sinal inespecífico de ↑ adrenérgica | ⇒ Extremidades frias e cianose periférica também são sinais de ↑ adrenérgica
⇒ Nos estadios iniciais pressão venosa pode estar normal em repouso mas com refluxo abdominojugular positivo
⇒ Ondas v gigantes – sugerem insuficiência tricúspide
⇒ Crepitações – na ausência de patologia pulmonar concomitante, são um sinal específico de IC
Em doentes com edema pulmonar, crepitações podem ser difusas em ambos os campos pulmonares e podem ser acompanhados por
sibilos expiratórios (asma cardíaca)
∗ Crepitações podem estar ausentes em doentes com IC crónica, mesmo com ↑ pressões de enchimento do VE, devido ao ↑ drenagem linfática alveolar
⇒ Derrames pleurais – ocorrem mais frequente na IC biventricular
Embora sejam frequentemente bilaterais, quando são unilaterais ocorrem mais frequentemente à direita
⇒ EXAME CARDÍACO: embora essencial, frequentemente não fornece informações úteis sobre a gravidade da IC
Se houver cardiomegalia, ponto de impulso máximo (PIM) está deslocado para baixo e/ou lateralmente, e o impulso é palpado em 2 espaços
intercostais | Hipertrofia grave de LV origina PIM sustentado
S3 (“galope protodiastólico”) – mais frequente em doentes com sobrecarga de volume que têm taquicardia e taquipneia, e frequentemente
significa compromisso hemodinâmico
S4 – não é específico de IC, mas está habitualmente presente em doentes com disfunção diastólica
Sopros de IM e IT – frequentemente presentes em doentes com IC avançada
Impulso paraesternal esquerdo durante toda a sístole – pode ocorrer em doentes com VD aumentado ou hipertrofiado
⇒ EXAME DO ABDÓMEN:
Hepatomegalia – sinal importante em doentes com IC
Quando presente, fígado é frequentemente sensível à palpação e pode pulsar durante a sístole se insuficiência tricúspide
Ascite – sinal tardio | Icterícia – também é um sinal tardio (resulta da disfunção hepática por congestão e hipóxia hepatocelular); hiperbilirrubinemia mista
⇒ Edema periférico – manifestação cardinal de IC, mas não específica
Simétrico e dependente | Ocorre sobretudo nos maléolos e região pré-tibial nos doentes que deambulam, e na área do sacro e no
escroto nos doentes acamados | Edema prolongado pode associar-se com pele dura e pigmentada
⇒ Perda ponderal marcada e caquexia – podem ocorrer na IC crónica grave
Mecanismo da caquexia é multifactorial (↑metabolismo basal, anorexia, náusea, vómitos, ↑ TNF, ↓ absorção intestinal por congestão venosa intestinal)
∗ Caquexia é factor de mau prognóstico
DIAGNÓSTICO
∗ Sinais e sintomas não são específicos nem sensíveis
ECG – um ECG normal exclui disfunção sistólica do VE
Raio X Tórax – doentes com IC aguda têm evidência de HT pulmonar, edema intersticial, e/ou edema pulmonar, mas a maioria dos doentes com
IC crónica não tem (ausência destes sinais na IC crónica reflecte ↑ capacidade dos linfáticos para remover líquido intersticial e/ou pulmonar)
Ecocardiograma com Doppler – avaliação semiquantitativa das dimensões e função do VE, bem como alterações da motilidade valvular ou das paredes;
também importante para avaliar o tamanho do VD e as pressões pulmonares
Fracção de ejecção do VE (FEVE) – quociente entre o volume ejectado e o volume telediastólico | Indicador mais útil da função do VE
Algumas limitações na avaliação da contractilidade, porque é influenciada por alterações no afterload e/ou preload
No entanto, com algumas excepções, quando FEVE é normal (≥50%) a função sistólica é adequada; quando FEVE está significativamente
(<30-40%) a contractilidade está habitualmente também
RMN – é agora o gold standard para avaliar a massa e os volumes do VE
BNP e N-terminal pro-BNP – marcadores relativamente sensíveis da presença de IC com FEVE | Também estão ↑ na IC com FEVE preservada
mas em menor grau
Níveis com idade e com disfunção Renal | Mais elevados nas Mulheres | Podem estar na IC direita de qualquer etiologia
Falsamente em Obesos | Podem normalizar em alguns doentes após tratamento adequado
∗ Níveis normais num doente não tratado → muito úteis para excluir diagnóstico de IC
Troponinas T e I, PCR, receptores de TNF, Ácido úrico – podem estar na IC e fornecem informação importante para o prognóstico
Prova de esforço – não indicada por rotina para doentes com IC
Captação máxima de O2 (VO2) <14 mL/kg por minuto → relativamente mau prognóstico | Melhor sobrevida com transplante
TRATAMENTO
IC Crónica
CLASSIFICAÇÃO NEW YORK HEART ASSOCIATION Sem doença cardíaca estrutural nem sintomas
Estadio A
Classe I Sem sintomas Factores de risco para IC
Ligeira limitação da actividade física: sintomas (fadiga,
Classe II Estadio B Doença cardíaca estrutural mas sem sintomas de IC
dispneia, angina, palpitações) com actividades habituais
Marcada limitação da actividade física: sintomas com Estadio C Doença cardíaca estrutural com sintomas de IC
Classe III
actividade menor do que o habitual
Estadio D IC refractária, necessitando de intervenções especiais
Incapacidade de realizar qualquer actividade física sem
Classe IV sintomas
Podem ocorrer sintomas em repouso
FEVE preservada (>40-50%) – não existem tratamentos aprovados para este grupo de doentes
Recomendado apenas tratamento da causa, evicção de factores de descompensação, e tratamento sintomático
Dispneia – tratamento por volume sanguíneo total (restrição de sódio e diuréticos), volume sanguíneo central (nitratos), ou bloqueando activação
neurohormonal (IECA, ARA e/ou β-bloqueadores)
IC Aguda
Habitualmente os doentes apresentam-se com um de 4 perfis hemodinâmicos:
PERFIL A Pressões de enchimento – Normais
Normal
“Quente e Seco” Perfusão (débito e resistências sistémicas) – Normal
PERFIL B Pressões de enchimento – Sintomas congestivos (incluindo edema agudo do pulmão)
“Quente e Húmido” Perfusão (débito e resistências sistémicas) – Normal Diuréticos e vasodilatadores
PERFIL C Pressões de enchimento – Sintomas congestivos e de má perfusão
“Frio e Húmido” Perfusão (débito e resistências sistémicas) – Vasodilatadores i.v. e inotrópicos i.v. com acção vasodilatadora
PERFIL L Pressões de enchimento – Normais Avaliar pressões de enchimento por cateterismo. Se PCWP <12 mmHg
“Frio e Seco” Perfusão (débito e resistências sistémicas) – → tentar reposição de líquidos (com cuidado para não agravar função renal)
∗ Quando os doentes se apresentam com IC aguda e perfil A, os sintomas geralmente devem-se a outras condições (ex.: dça hepática, isquemia transitória do miocárdio)
∗ Ocorre agravamento da disfunção renal em 25% dos doentes internados por IC
VASODILATADORES I.V.
A seguir aos diuréticos, são os fármacos mais úteis no tratamento da IC aguda
Pressões de enchimento, regurgitação mitral, e débito cardíaco, sem aumentarem FC ou causarem arritmias
NITROGLICERINA I.V. NITROPRUSSIATO NESIRITIDE
∗ Efeitos laterais relacionados com a acumulação de
∗ Efeito lateral mais comum: cefaleias cianeto (por ↓ perfusão hepática) – mais provável se
- Forma recombinante do BNP
∗ Uso durante >48h associa-se ao desenvolvimento >250 µg/min durante >48h
∗ Cefaleias são menos comuns do que com a NTG
de tolerância hemodinâmica ∗ Uso durante >48h associa-se ao desenvolvimento
de tolerância hemodinâmica
∗ O efeito lateral mais comum com os 3 agentes é hipotensão (menos frequente com o Nesiritide), frequentemente associada com bradicardia (sobretudo com
NTG)
∗ Os 3 agentes podem agravar hipóxia (por vasodilatação pulmonar) em doentes com desequilíbrios subjacentes da V/Q
INOTRÓPICOS
Estimulam contractilidade cardíaca e produzem vasodilatação periférica e pulmonar
DOBUTAMINA MILRINONA
Inibidor da fosfodiesterase III
Estimula os receptores β1 e β2
∗ Pode ter efeito sinérgico com agonistas β e pode ser mais eficaz do que
∗ Doses >5 µg/kg por minuto são habitualmente necessárias para hipoperfusão
dobutamina a aumentar débito cardíaco na presença de β-bloqueadores
grave, mas há pouco benefício adicional com doses >10 µg/kg por minuto
∗ Vasodilatador mais eficaz do que a dobutamina mas também acarreta maior
∗ Infusão crónica durante >72h → taquifilaxia → necessidade de doses
risco de hipotensão
∗ Embora o uso breve dos inotrópicos ofereça benefícios hemodinâmicos, estes agentes acarretam maior risco de taquiarritmias e eventos isquémicos do que os
vasodilatadores
Assim, inotrópicos são mais adequados em situações nas quais os vasodilatadores e diuréticos não são úteis:
Má perfusão sistémica | Choque cardiogénico | Necessidade de suporte hemodinâmico após EAM ou cirurgia | Doentes aguardando transplante | Paliativo
∗ Se os doentes necessitam de uso prolongado de inotrópicos, deve considerar-se implantação de CDI devido ao potencial pró-arrítmico destes agentes
VASOCONSTRITORES
∗ Uso prolongado destes agentes pode levar a insuficiência hepática e renal, e podem causar gangrena dos membros
Por isso, devem ser usados apenas em situações de verdadeira emergência
DOPAMINA
∗ É habitualmente a 1ª escolha em situações que necessitam de ligeiro suporte inotrópico e pressor
∗ Efeitos dependem da dose:
DOSES BAIXAS (<2µg/kg por minuto) DOSES MODERADAS (2-4µg/kg por minuto) DOSES ALTAS (>5µg/kg por minuto)
Receptores DA1 e DA2 → vasodilatação Receptores β1 → débito cardíaco (com pouco ou Receptores α1 → vasoconstrição (aumentando
esplâncnica e renal nenhum efeito na FC e resistências periféricas) resistências, pressões de enchimento e FC)
Dopamina também estimula libertação de Noradrenalina dos terminais nervosos
Dopamina é mais útil em situações com débito e perfusão (Perfil C)
COR PULMONALE
Dilatação e hipertrofia do VD em resposta a doenças do parênquima pulmonar e/ou da vasculatura pulmonar
(Nota: IC direita não é sinónimo de cor pulmonale, porque este conceito exclui a IC direita secundária à IC esquerda crónica)
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
Vasoconstrição por hipóxia – Bronquite Crónica e DPOC (são responsáveis por 50% dos casos) | Fibrose Quística | Hipoventilação crónica (obesidade, dça
neuromuscular, disfunção da parede torácica) | Viver em altitude
Oclusão dos vasos pulmonares – TEP recorrente | HT pulmonar primária | doença veno-oclusiva, doenças vasculares do colagénio, fármacos
Outras – pneumoconioses | Doenças Pulmonares Intersticiais (pressão da artéria pulmonar parece ser mais alta do que na DPOC; ∗ Correlação inversa entre
pressão da artéria pulmonar e capacidade de difusão, bem como sobrevida)
∗ Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono – raramente é causa isolada de HT pulmonar e cor pulmonale; habitualmente tem que ocorrer juntamente com DPOC e
respectiva hipoxemia diurna, para que possa desenvolver-se HT pulmonar sustentada
FISIOPATOLOGIA
∗ Mecanismo fisiopatológico comum às várias etiologias: HT pulmonar
∗ VD é um compartimento de paredes finas e com grande compliance, mais capaz de lidar com sobrecarga de volume do que com sobrecarga de pressão
∗ Cor pulmonale agudo ocorre após um estímulo súbito e grave, com dilatação e insuficiência do VD mas sem hipertrofia
∗ Cor pulmonale crónico está associado a HT pulmonar mais lentamente progressiva que leva a dilatação e hipertrofia do VD
∗ Gravidade da HT pulmonar e início da IC direita é influenciada por vários factores que ocorrem intermitentemente (hipóxia, hipercapnia, acidose, exercício,
frequência cardíaca, policitemia, retenção de sal e água)
SINTOMAS
∗ Sintomas do cor pulmonale crónico estão habitualmente relacionados com a doença pulmonar subjacente
Dispneia – sintoma mais comum
∗ Ortopneia e DPN – raramente ocorrem na IC direita isolada
Síncope induzida pela tosse ou pelo esforço – pode ocorrer em doentes com cor pulmonale e HT pulmonar grave (devido à incapacidade do VD enviar
adequadamente sangue para o lado esquerdo do coração)
Ascite e dor abdominal – semelhantes aos da IC direita secundária à IC esquerda
SINAIS
∗ Muitos dos sinais encontrados no cor pulmonale também estão presentes na IC com FEVE diminuída (taquipneia, PVJ, hepatomegalia, edema
das extremidades)
Podem surgir ondas v proeminentes por Insuficiência Tricúspide | Elevação do VD palpável ao longo do bordo esternal esquerdo ou epigastro
Clique de ejecção pulmonar sistólico pode ser audível à esquerda da porção superior do esterno
Sinal de Carvallo ( sopro holossistólico da IT com a inspiração) pode perder-se à medida que a disfunção do VD agrava
Cianose – sinal tardio; secundária a baixo débito e vasoconstrição periférica, juntamente com desequilíbrios V/Q no pulmão
DIAGNÓSTICO
∗ A causa mais comum de IC direita não é doença vascular ou parenquimatosa pulmonar, mas sim a IC esquerda
ECG – na HT pulmonar: onda P pulmonar | desvio direito do eixo | hipertrofia do VD
Raio X Tórax – aumento da artéria pulmonar, vasos hilares, e artéria pulmonar descendente direita
Ecocardiograma – septo pode mover-se paradoxalmente durante a sístole, na presença de HT pulmonar
BNP e Pro-BNP – podem aumentar no cor pulmonale secundário a distensão do VD, e estão muito aumentados no TEP agudo
TRATAMENTO
Diminuir trabalho respiratório → ventilação mecânica não invasiva | broncodilatadores | corticóides
O2 (alvo: ≥90-92%) – também resistência vascular pulmonar e necessidades do VD
Flebotomia – se Htc > 65%
Diuréticos – eficazes no tx da IC direita, mas o tx crónico pode provocar alcalose por contracção e assim agravar hipercapnia
∗ Digoxina – benefício incerto no cor pulmonale e pode originar arritmias na presença de hipóxia tecidular e acidose
SÍNDROME METABÓLICA (236)
≥3 das seguintes ⇒ Obesidade central (perímetro >102cm nos H e >88cm nas M) | Hipertrigliceridemia (≥150 mg/dL) | HDL (<40 mg/dL H e <50
mg/dL M) | Hiperglicemia | HTA
∗ Perímetro abdominal predomina nas mulheres | Hipertrigliceridemia e HTA predominam nos homens
∗ Medição do perímetro abdominal não distingue entre obesidade subcutânea e visceral (esta distinção requer TAC ou RMN)
∗ Doentes com peso normal também podem ser insulinorresistentes e ter a síndrome
∗ 44% da população norte-americana >50 anos tem síndrome metabólica
∗ 75% dos doentes com diabetes tipo 2 ou intolerância à glicose têm síndrome metabólica
Diabéticos com síndrome metabólica têm maior prevalência de doença cardiovascular do que os diabéticos sem SM
∗ 50% dos doentes com doença coronária (e 37% daqueles com doença coronária prematura [≤45 anos]) têm SM
∗ SM aumenta o risco de doença coronária, AVC isquémico e doença arterial periférica
∗ Lipodistrofia pode originar insulinorresistência e muitas das componentes da SM
⇒ Insulinorresistência – inicialmente manifesta-se por hiperinsulinemia pós-prandial, mais tarde em jejum, e finalmente hiperglicemia
Obesidade → ácidos gordos (AG) → Insulinorresistência → lipólise (porque insulina é anti-lipolítica) → ácidos gordos (AG) → insulinorresistência (ácidos gordos
impedem captação celular de glicose mediada pela insulina) e acumulação de AGs sob a forma de triglicerídeos (TGs) no músculo esquelético e cardíaco, e produção de
glucose e acumulação de TGs no fígado
∗ Hipertrigliceridemia é um excelente marcador de insulinorresistência
• HDL deve-se ao aumento da clearance da HDL da circulação
• Quando TGs em jejum >180 mg/dL → existe quase sempre predomínio de partículas de LDL pequenas e densas (que parecem ser mais aterogénicas)
• Em condições fisiológicas, insulina é vasodilatadora, com efeitos secundários na reabsorção renal de sódio. Na insulinorresistência, perde-se o efeito vasodilatador da
insulina mas o efeito renal na reabsorção de sódio é preservado. Insulina também actividade do SN simpático, um efeito que também é preservado na insulinorresist.
No entanto, insulinorresistência tem uma contribuição apenas modesta para a prevalência aumentada de HTA na SM
• Adiponectina é uma citocina anti-inflamatória produzida exclusivamente pelos adipócitos. Sensibilidade à insulina e inibe gluconeogénese hepática | Estána SM
Lipoatrofia e acantosis nigricans – achados ao exame físico típicos de insulinorresistência grave
Hiperuricemia – reflecte defeitos na acção da insulina na reabsorção tubular renal de ácido úrico
Síndrome de Ovário Poliquístico – altamente associado com a SM, com uma prevalência entre 40-50%. | Mulheres com SOPQ têm risco de SM 2-
4x superior ao das outras mulheres
Apneia Obstrutiva do Sono – estes doentes têm insulinorresistência mais grave. | CPAP nestes doentes melhora a sensibilidade à insulina
TRATAMENTO
Restrição calórica – é a medida mais importante para perder peso
Exercício físico – importante para manter perda de peso
Obesidade
Supressores do apetite (fentermina e sibutarmina) – apenas para uso breve (3 meses)
Orlistat – reduz em 30% a absorção de gordura | 5% perda de peso | Incidência de diabetes tipo 2
Cirurgia bariátrica – se IMC>40 ou >35 com comorbilidades | Resulta em grande perda de peso e melhora as componentes da SM
Colesterol LDL – alvo: <100 mg/dL
Estatinas (1ª escolha) – 20-60% LDL, e por cada duplicação de dose há benefício adicional de apenas 6% na LDL
Ezetemibe – deve ser a 2ª escolha ⇒ 15-20% LDL | Colestiramina e colestipol são mais eficazes do que ezetimibe mas aumentam TGs
(não devem ser usados quando TGs em jejum >200 mg/dL) | Ácido nicotínico – reduções modestas (<20%) | Fibratos – mais úteis
quando quer o LDL quer o colesterol não-TGs estão aumentados; fenofibrato é mais eficaz do que gemfibrozil neste grupo
Triglicerídeos – alvo: <150 mg/dL | ∗ Habitualmente, resposta dos TGs em jejum correlaciona-se com a perda de peso alcançada: perda de peso
>10% é necessária para os TGs em jejum também diminuírem
Fibratos – 35-50% | Estudos não mostram claramente diminuição do risco cardiovascular com os fibratos
Estatinas – em doses altas (estatinas menos potentes) ou intermédias (estatinas mais potentes) | Ácido nicotínico – efeito relacionado com a dose
e inferior ao dos fibratos (20-40%); na SM com diabetes pode aumentar glicemia em jejum | Ácidos gordos ómega-3 – 40%
Colesterol HDL – estatinas, fibratos e sequestradores de ácidos biliares têm efeitos apenas discretos (5-10%); ezetimibe e ácidos gordos ómega-
3 não têm efeito no HDL
Ácido nicotínico – único fármaco disponível com efeitos significativos no HDL: resposta depende da dose; podem 30%
HTA – IECAs e ARAs diminuem aparecimento de diabetes tipo 2
Intolerância à glicose – em doentes com SM e diabetes tipo 2, controlo glicémico agressivo pode modificar favoravelmente TGs em jejum e
colesterol HDL
Metformina – demonstrou reduzir incidência de diabetes tipo 2, embora o efeito seja inferior ao das modificações nos estilos de vida
Insulinorresistência
Metformina e Tiazolidinedionas (glitazonas) – aumentam sensibilidade à insulina
Metformina e TZD suprimem produção endógena de glucose
TZD (mas não Metformina) melhoram a captação de glucose no músculo e tecido adiposo
Ambos os fármacos são eficazes na esteatose não alcoólica e na síndrome do ovário poliquístico, marcadores de inflamação e LDL pequenas e densas
∗ Benefícios das TZD parecem ser superiores aos da Metformina
CARDIOPATIA ISQUÉMICA (237)
FISIOPATOLOGIA
∗ Principais determinantes das necessidades de O2 pelo miocárdio: FC, contractilidade, tensão na parede miocárdica
∗ Maior parte da perfusão coronária ocorre durante a diástole
- Maiores determinantes de resistência coronária: vasos pré-arteriolares (R2), e vasos arteriolares e capilares intramiocárdicos (R3)
- Regulação metabólica – alteração da necessidade de O2 com o exercício e o stress emocional afecta a resistência vascular coronária
- Auto-regulação – adaptação das coronárias a alterações fisiológicas da pressão sanguínea
∗ Anemia grave sozinha raramente causa isquemia, mas baixa o limiar para isquemia em doentes com obstrução moderada
- Não é raro coexistirem duas ou mais causas de isquemia
ATEROSCLEROSE CORONÁRIA
- Local principal na doença aterosclerótica: coronárias epicárdicas | ∗ Predilecção por zonas de fluxo turbulento, como as bifurcações
∗ Quando uma estenose em 50% do diâmetro de uma artéria epicárdica ⇒ limitação na resposta ao aumento das necessidades miocárdicas |
Quando a redução é ~80% ⇒ pode haver limitação do fluxo em repouso
- Se uma placa aterosclerótica sofrer erosão ou ruptura, forma-se um trombo composto por plaquetas e fibrina que aprisiona eritrócitos
∗ Obstruções críticas em vasos como a coronária esquerda principal ou o segmento proximal da artéria descendente anterior esquerda são particularmente perigosas
∗ Vasos colaterais podem assegurar perfusão suficiente para manter viabilidade do miocárdio em repouso mas não durante condições com aumento das necessidades
∗ Na diabetes há perda do controlo endotelial da dilatação
EFEITOS DA ISQUEMIA
Dano reversível se ≤20 minutos de oclusão total, na ausência de colaterais | Irreversível com necrose do miocárdio se >20 min de oclusão total
Isquemia também causa alterações do ECG características, como inversão das ondas T, ou quando é mais grave, deslocamento de ST
Inversão transitória das ondas T provavelmente significa isquemia não transmural, intramiocárdica | Depressão ST reflecte isquemia subendocárdica | Elevação
ST reflecte isquemia transmural mais grave
∗ Maioria dos doentes que morre subitamente por cardiopatia isquémica, morre devido a taquiarritmias ventriculares induzidas pela isquemia
- Aterosclerose coronária frequentemente começa a desenvolver-se antes dos 20 anos
∗ 25% dos doentes que sobrevivem a um EAM não procuram o médico, mas têm o mesmo prognóstico adverso
∗ Morte súbita é uma manifestação inicial comum na cardiopatia isquémica
ANGINA ESTÁVEL
Deve-se a isquemia transitória do miocárdio
∗ Homens representam 70% dos doentes com angina, sendo a fracção ainda maior entre os doentes com <50 anos
ANAMNESE
∗ História de angina típica estabelece o diagnóstico de cardiopatia isquémica até prova em contrário
Desconforto torácico – raramente referido como dor | Sinal de Levine: para localizar o doente coloca a mão sobre o esterno, frequente/ com punho cerrado
Em crescendo-decrescendo; dura tipicamente 2-5 minutos; pode irradiar-se para ambos os ombros e braços (especialmente a face cubital dos
antebraços e mãos), e também para o dorso, região interescapular, raiz do pescoço, mandíbula, dentes, e epigastro – raramente se localiza acima da
mandíbula ou abaixo do umbigo
∗ Desconforto isquémico não irradia para os trapézios (este padrão é mais típico da pericardite)
Tipicamente precipitado pelo esforço ou emoções e aliviado em repouso, embora também possa ocorrer em repouso e em decúbito
⇒ Doente pode ser acordado de noite pelo desconforto e dispneia – angina nocurna (pode ser causada por taquicardia episódica, ↓ oxigenação, e expansão
do volume sanguíneo intratorácico)
∗ Limiar para desenvolvimento de angina pode ser fixo – angina estável de esforço (estenose e aporte de O2 fixos; isquemia é precipitada pelo
aumento das necessidades de O2 pelo miocárdio) – ou variável (nestes, angina é precipitada provavelmente por alterações no tónus vascular)
• Angina de esforço é tipicamente aliviada 1-5 minutos após reduzir ou parar as actividades, ou ainda mais rápido pelo repouso ou
nitroglicerina sublingual | ∗ Diagnóstico deve ser questionado se não se observarem respostas a estas medidas
Um doente pode referir sintomas pela manhã precipitados por esforços ligeiros, e ao meio do dia já pode ser capaz de muito maior esforço sem sintomas
Angina também pode ser precipitada por refeições pesadas, exposição ao frio, e tarefas pouco habituais
∗ Especialmente em mulheres e diabéticos, angina pode ser atípica na localização e não estar estritamente relacionada com precipitantes
∗ Pode exacerbar e remitir | ∗ Pode ter ocorrência sazonal, com predilecção pelos meses de inverno
Equivalentes anginosos (dispneia, náuseas, fadiga, síncope) – mais comuns em idosos e diabéticos
∗ Em doentes com angina atípica, a coexistência de idade avançada, sexo maculino, estado pós-menopáusico, e factores de risco para
aterosclerose, probabilidade de doença coronária hemodinamicamente significativa
EXAME FÍSICO
∗ Frequentemente normal
∗ Estenose aórtica, Insuficiência aórtica, HT pulmonar, e Cardiomiopatia hipertrófica, devem ser excluídas porque podem causar angina na
ausência de aterosclerose das coronárias
Isquemia pode causar insuficiência transitória do VE e por isso, durante uma crise anginosa, podem surgir, S3, S4, ápice discinético, insuficiência
mitral, edema pulmonar
LABORATÓRIO
∗ Raio X – alargamento da silhueta cardíaca, aneurisma ventricular, sinais de IC, podem apoiar o diagnóstico de cardiopatia isquémica
ECG
⇒ Pode ser normal em repouso, mas podem haver sinais de enfarte antigo
∗ Alterações da repolarização, hipertrofia do VE e anomalias da condução intra-ventricular são sugestivas de cardiopatia isquémica mas são
inespecíficas | Alterações dinâmicas do segmento ST e da onda T que acompanham os episódios de angina mas desaparecem pouco depois são
mais específicas
TESTE DE STRESS
ECG – ECG registado antes, durante e após exercício, é o teste mais usado para o diagnóstico e prognóstico da cardiopatia isquémica
Teste é suspenso se surgirem sintomas, dispneia intensa, tonturas, fadiga intensa, depressão de ST (>0,2 mV), TA sistólica >10 mmHg, aparecimento de uma
taquiarritmia ventricular
Teste positivo ⇒ infradesnivelamento ST >0,1mV (“flat or downsloping”) abaixo da linha de base (segmento PR) e durando >0,08 segundos
∗ Alterações “upsloping” ou juncionais do segmento ST não constituem um teste positivo
∗ Embora possam ser observadas alterações da onda T, perturbações da condução, e arritmias ventriculares que ocorrem durante o exercício, estas também não
são consideradas diagnósticas
∗ Provas negativas, nas quais a FC-alvo (85% do previsto para a idade e sexo) não foi atingida são consideradas não diagnósticas
Resultados falsos positivos ou falsos negativos podem ocorrer em 33% dos casos
∗ No entanto, probabilidade de doença coronária é 98% em homens >50 anos com história de angina típica e que desenvolvem desconforto
torácico durante o teste
⇒ Falsos Positivos – situações de baixa probabilidade de cardiopatia isquémica (homens assintomáticos <40 anos, mulheres pré-menopáusicas sem factores de
risco para doença precoce), doentes medicados com digitálicos e antiarrítmicos, perturbações da condução intra-ventricular, alterações do segmento ST e
onda T em repouso, hipertrofia ventricular, níveis anormais de K+
⇒ Falsos Negativos – doença obstrutiva limitada à artéria coronária circunflexa (porque a região irrigada por esta artéria não está bem representada no ECG 12 derivações)
∗ Dado que a sensibilidade desta prova é apenas 75%, um resultado normal não exclui doença coronária, embora torne muito improvável uma
doença de 3 vasos ou da coronária esquerda principal
∗ Riscos desta prova são pequenos mas reais: 1 complicação fatal e 2 não fatais por cada 10.000 testes
∗ Provas de esforço modificadas (limitadas por FC, não por sintomas) são seguras a partir dos 6 dias após EAM não complicado
• CONTRA-INDICAÇÕES ⇒ Angina em repouso nas 48h anteriores | Ritmo instável | Estenose aórtica grave | Miocardite aguda | IC descompensada | HT pulmonar
grave | Endocardite infecciosa activa
∗ Ausência de pressão arterial ou sinais de isquemia durante o teste são factores importantes de mau prognóstico (porque reflectem disfunção
global do VE induzida pela isquemia)
Desenvolvimento de angina e/ou infra ST >0,2mV com uma carga de esforço baixa (antes de completar o estadio II do protocolo de Bruce) e/ou infra
ST que persiste >5 minutos após o fim da prova → aumentam a especificidade do teste e sugerem cardiopatia isquémica grave e risco elevado
de eventos adversos futuros
Imagem – quando o ECG em repouso é anormal (ex.: bloqueio de ramo esquerdo), as informações da prova de esforço podem ser melhoradas por imagiologia
de perfusão com radioisótopos (tálio 201 ou tecnécio 99m sestamibi) obtida durante exercício ou stress farmacológico
Áreas de ausência persistente de captação significam enfarte
∗ Doentes que não conseguem exercitar-se podem usar-se fármacos como dipiridamol ou adenosina (criam um “roubo coronário”), ou dobutamina
Ecocardiograma ⇒ aparecimento de áreas de acinesia ou discinesia não presentes em repouso
Tal como a imagiologia de perfusão, também é mais sensível do que ECG para o diagnóstico de cardiopatia isquémica
RMN cardíaca com infusão de dopamina ⇒ pode detectar anomalias da motilidade das paredes e avaliar perfusão do miocárdio
TAC com feixe de electrões (EBCT) ou multidetector (MDCT) – detecta e quantifica calcificação das artérias coronárias
Sensibilidade: 90-94% | Especificidade: 95-97% | Valor preditivo negativo: 93-99%
ARTERIOGRAFIA CORONÁRIA
- Placas ateroscleróticas crescem na íntima e na média das coronárias, inicialmente sem invadir o lúmen, causando um abaulamento da artéria para fora (remodeling
negativo; “alargamento compensatório”). Mais tarde, crescimento adicional da placa causa obstrução do lúmen
∗ Angiografia não fornece informações sobre a parede; apenas detecta placas que invadem o lúmen
• INDICAÇÕES – sintomas refractários ao tx médico em doentes considerados para revascularização | Dificuldades no diagnóstico | Angina confirmada ou provável em
sobreviventes a paragem cardíaca | Angina ou sinais de isquemia e evidência de disfunção do VE | Sinais de isquemia grave nos testes não invasivos, apesar da
ausência de sintomas | Homens >45 anos e mulheres >55 anos que serão submetidos a cirurgia cardíaca
PROGNÓSTICO
∗ Principais indicadores de prognóstico – idade | função do VE | localização e gravidade da estenose | gravidade ou actividade da isquemia
• CLÍNICA: RISCO DE EVENTOS CORONÁRIOS – angina recente | angina instável | angina precoce pós-EAM | angina refractária ao tx médico | angina acompanhada por
sintomas de IC congestiva | sinais físicos de IC | episódios de edema pulmonar | S3 transitório | insuficiência mitral | cardíaco na imagiologia | FEVE <40%
• TESTES NÃO INVASIVOS: INDICADORES DE ALTO RISCO DE EVENTOS CORONÁRIOS – incapacidade de exercitar durante 6 minutos (estadio II de Bruce) | infra de ST
≥0.1mV antes de completar estadio II do teste | infra de ST ≥0.2mV em qualquer estadio do teste | infra de ST persistindo >5 minutos após final do teste | >10
mmHg na TA sistólica durante o teste | taquiarritmias ventriculares durante o teste | defeitos de perfusão grandes ou múltiplos | captação pulmonar durante
imagiologia de stress
Pelo contrário, doentes que conseguem completar estadio III do protocolo de Bruce e têm imagiologia de perfusão (em stress) normal ou ecocardiograma de
stress negativo têm risco muito baixo de eventos coronários futuros
∗ Resposta positiva nas derivações pré-cordiais anteriores do ECG está associada com pior prognóstico do que nas derivações inferiores
• CATETERISMO CARDÍACO: factores de mau prognóstico mais importantes – pressões telediastólicas do VE e volume ventricular | FEVE
∗ Doentes com desconforto torácico mas função VE normal e coronárias normais ⇒ excelente prognóstico
• ANGIOGRAFIA – lesões obstrutivas da coronária esquerda principal ou da descendente anterior esquerda proximais à origem da primeira artéria
septal ⇒ maior risco do que lesões da coronária direita ou da circunflexa esquerda
∗ Placas ateroscleróticas nas artérias epicárdicas com fissuras ou defeitos de preenchimento indicam maior risco
∗ Para qualquer grau de obstrução coronária, mortalidade muito quando há disfunção de VE
∗ Quanto maior o número de factores de risco para aterosclerose, pior o prognóstico do doente com angina
∗ PCR, calcificação extensa no EBCT e espessamento da íntima carotídea na Eco ⇒ maior risco de eventos coronário
TRATAMENTO
Exercício isotónico que não excede 80%da FC associada com isquemia na prova de esforço ⇒ fortemente recomendado
Farmacológico
BLOQUEADORES DOS CANAIS DE
NITROGLICERINA SUBLINGUAL NITRATOS DE LONGA ACÇÃO β-BLOQUEADORES
CÁLCIO
• Tolerância ao exercício na Nenhum é tão eficaz como a NTG
• Mortalidade e enfarte Tão eficazes como os β-
angina crónica SL no alívio agudo da angina
Efeitos recorrente em doentes pós-EAM bloqueadores no tx da angina
• Alívio da isquemia na angina - Proporcionam níveis plasmáticos
• Anti-HTA de eficácia moderada estável
instável e na angina de Prinzmetal eficazes até 24h
- Inibem FC, TA, e contractilidade
- Vasodilatação coronária
- Venodilatação sistémica → ↓ volume e pressão telediastólicos → ↓ tensão do miocárdio (reduzindo assim as
- TA, e contractilidade do
sobre a parede do miocárdio e ↓ necessidades de O2 pelo miocárdio necessidades de O2 pelo miocárdio)
miocárdio (reduzindo assim as
Mecanismos - Dilatação das coronárias epicárdicas ∗ Mais eficazes na redução destas
necessidades de O2 pelo miocárdio) –
- Fluxo nos vasos colaterais variáveis durante o exercício,
efeito variável e dependente da
- Actividade anti-trombótica (por interferência no influxo plaquetário de cálcio) causando apenas reduções
dose
modestas em repouso
Para minimizar tolerância deve Para descontinuar, doses devem ∗ Verapamil não deve ser
Sublingual: para alívio da angina e
usar-se dose mínima eficaz, e ser reduzidas durante 2 semanas, combinado com β-bloqueadores
Administração 5 minutos antes de um evento com
manter doente sem o fármaco porque descontinuação súbita (devido aos efeitos combinados na
stress passível de precipitar angina frequência cardíaca e contractilidade)
durante pelo menos 8h por dia pode agravar isquemia
Efeitos - Cefaleias pulsáteis – efeito lateral Intensifica acção hipoglicemiante ∗ Diltiazem pode ser combinado
laterais mais frequente dos anti-diabéticos, etc. com β-bloqueadores se função
Relativas: asma | obstrução ventricular normal e sem
Contra- reversível na DPOC | bloqueios AV perturbações da condução
indicações | bradicardia grave | fenómeno de ∗ Amlodipina e β-bloqueadores
Raynaud | hx de depressão têm acções complementares
Dihidropiridinas (não de curta
duração) são úteis no tx simultâneo
de HTA e angina porque são
Tolerância com perda de eficácia vasodilatadores potentes
Deteriora-se com a exposição ao ocorre após 12-24h de exposição Selectivos β1 (Metoprolol ou ∗ Dihidropiridinas de curta duração
Notas
ar, à humidade e à luz do sol contínua aos nitratos de longa Atenolol, entre outros) preferíveis de acção (nifedipina, nicardipina...)
acção devem ser evitadas devido ao risco
de precipitar EAM, sobretudo na
ausência de β-bloqueadores
Aspirina – administração crónica em doses 75-325 mg/dia eventos coronários em homens adultos assintomáticos, doentes com angina crónica
estável, e sobreviventes de angina instável e EAM
Deve ser considerada em todos os doentes com cardiopatia isquémica
Clopidogrel – benefícios semelhantes aos da aspirina na cardiopatia isquémica crónica estável e pode substituir aspirina se ocorrerem efeitos laterais
Aspirina + Clopidogrel ⇒ morte e eventos coronários isquémicos em doentes com síndromes coronários agudos | risco de formação de
trombos em doentes submetidos a implantação de stent
Estudos não mostraram benefícios no uso da combinação por rotina em doentes com cardiopatia isquémica crónica
IECAs – benefícios são mais evidentes em doentes com cardiopatia isquémica e risco aumentado, sobretudo se diabetes ou disfunção de VE, e
naqueles que não obtiveram controlo adequado da TA e do LDL sob β-bloqueadores e estatinas
Porém, administração de IECAs por rotina a doentes com cardiopatia isquémica mas com função normal do VE e que alcançaram os
objectivos para a TA e o LDL com outros fármacos, não reduz eventos
Ranolazina (derivado da piperazina) – aprovado para doentes com angina crónica que continuam sintomáticos apesar de medicados com o tx padrão
Nicorandil (abridor dos canais K+) – usado na prevenção da angina | Pode desenvolver-se tolerância com o uso crónico | Não há tolerância cruzada com nitratos
∗ Uso de AINEs em doentes com cardiopatia isquémica está associado com risco ligeiramente aumentado para EAM e morte; por isso, devem ser
evitados nestes doentes
Se necessários, é aconselhável co-administrar aspirina e usar as menores doses possíveis de AINEs pelo menor período possível
FISIOPATOLOGIA
∗ Não ocorre obstrução completa (ao contrário do EAMCEST)
• 4 Padrões fisiopatológicos contribuem para a AI/EAMSEST:
Ruptura ou erosão de placa e formação de trombo não oclusivo (causa mais comum) → embolização de agregados plaquetários e detritos ateroscleróticos
Obstrução dinâmica (angina de Prinzmetal)
Obstrução mecânica progressiva (ex.: aterosclerose avançada rapidamente progressiva ou re-estenose após ICP)
Necessidades de O2 e/ou fornecimento (ex.: anemia, taquicardia)
Anatomia das lesões ⇒ 5% têm estenose da coronária esquerda principal | 15% têm doença de 3 vasos | 30% têm doença de 2 vasos | 40% têm
doença de apenas 1 vaso | 10% não tem qualquer estenose crítica identificável
∗ Angioscopia pode mostra trombos “brancos” (ricos em plaquetas), por oposição aos trombos “vermelhos”, mais comuns no EAMCEST
∗ Doentes com AI/EAMSEST têm frequentemente múltiplas placas vulneráveis
APRESENTAÇÃO
ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Dor torácica – tipicamente localizada na região subesternal ou por vezes epigástrica, que irradia para o pescoço, ombro e braço esquerdos
Habitualmente é suficientemente intensa para ser considerada “dor”
Equivalentes anginosos (dispneia, desconforto epigástrico) – parecem mais frequentes em mulheres
⇒ Exame físico pode ser pouco notável | Se área isquémica extensa ou grande EAMSEST, podem observar-se diaforese, palidez, taquicardia
sinusal, S3 e/ou S4, crepitações basais, e por vezes hipotensão, assemelhando-se aos achados de um EAMCEST extenso
ECG
Infra ST | supra ST transitório | inversão da onda T – ocorrem em 30-50% dos doentes com AI, dependendo da gravidade da clínica
∗ Em doentes com manifestações clínicas de AI, a presença de um desnivelamento de ST recente (mesmo que apenas 0,05mV) é um importante
indicador de prognóstico adverso
∗ Alterações da onda T são sensíveis para isquemia mas menos específicas, excepto se forem inversões da onda T recentes e profundas (≥0,3mV)
BIOMARCADORES CARDÍACOS
∗ Doentes com AI que têm marcadores elevados estão em risco aumentado de morte ou EAM recorrente
∗ Troponinas são marcadores muito mais específicos e sensíveis de necrose do miocárdio
∗ Elevação dos marcadores faz a distinção entre AI e EAMSEST
∗ Relação directa entre o grau de elevação das troponinas e a mortalidade
∗ Em doentes com história pouco clara, pequenas elevações das troponinas podem não ser diagnósticas de um síndrome coronário agudo (SCA)
DIAGNÓSTICO
∗ SCA são diagnosticados em 20-25% dos doentes que se apresentam nas Urgências com dor torácica ou outros sintomas sugestivos de SCA
FACTORES ASSOCIADOS COM GRANDE PROBABILIDADE DE SCA: história típica de desconforto isquémico | história de doença coronária estabelecida por
angiografia | EAM prévio | ICC | alterações recentes no ECG | marcadores cardíacos
FACTORES ASSOCIADOS COM PROBABILIDADE INTERMÉDIA DE SCA: idade >70 anos | homens | diabetes | doença cerebrovascular ou arterial periférica |
alterações antigas do ECG
Avaliação diagnóstica começa com a determinação da probabilidade de isquemia:
• Se Baixa Probabilidade → monitorização de recorrência da dor, ECG, e marcadores no início e às 4-6h e 12h após apresentação.
Se achados positivos → internamento | Se ausência de dor e marcadores negativos → teste de stress (pode ser realizado a partir das 6h após apresentação,
ou em ambulatório nas 72h seguintes)
• Se Probabilidade Elevada ou Intermédia → internamento
• Se dor atípica → alta
TRATAMENTO
Médico
Deambulação – deve ser permitida se não houver recorrência da dor nem elevação dos marcadores durante 12-24h
Anti-Isquémico
Nitratos – inicialmente sublinguais; | Se dor persistir após 3 doses com intervalos de 5 minutos, deve iniciar-se nitroglicerina intravenosa (velocidade de
infusão pode ser aumentada 10µg/min em intervalos de 3-5 min até alívio dos sintomas ou até TA sistólica <100 mmHg) | Nitratos tópicos ou orais podem ser
usados após resolução da dor ou podem substituir NTG i.v. quando o doente estiver sem dor há 12-24h
∗ CONTRA-INDICAÇÕES ABSOLUTAS – hipotensão; uso de inibidores da 5-fosfodiesterase (ex.: sildenafil) nas 24h anteriores
β-Bloqueadores – outro dos pilares do tx anti-isquémico | Inicialmente intravenosos e depois orais | ALVO: frequência cardíaca de 50-60bpm
Verapamil ou Diltiazem – recomendados se sintomas persistentes ou recorrentes com doses máximas de nitratos e β-bloqueadores, e em
doentes com contra-indicações para β-bloqueadores
Sulfato de Morfina – se dor persiste apesar de nitratos e β-bloqueadores | 1-5mg i.v. podem ser administrados em intervalos de 5-30 minutos
Anti-trombótico
Aspirina – tratamento inicial; | Deve iniciar-se com 325mg/dia e usar doses mais baixas (75-162mg/dia) no tx de manutenção
“Resistência” ocorre em 5-10% e é mais frequente com doses mais baixas
Clopidogrel – adicionado à aspirina confere de 20% na morte CV, EAM, e AVC em doentes com AI/EAMSEST de baixo ou alto risco |
Combinação está associada a um aumento de 1% no risco para hemorragia major, mais comum em doentes submetidos a cirurgia de bypass
∗ Combinação oferece benefício contínuo pelo menos durante 1 ano, quer em doentes com tx conservador quer naqueles submetidos a ICP
Combinação aspirina+clopidogrel é recomendada para todos os doentes com AI/EAMSEST que não têm risco excessivo de hemorragia
Anticoagulante – HBPM demonstrou ser superior à HNF na redução de eventos CV, sobretudo em doentes com tx conservador |
Fondaparinux parece ter a mesma eficácia da HBPM mas um menor risco de hemorragia | Bivalirudina (inibidor directo da trombina) é
equivalente à HNF e à HBPM em doentes tratados com inibidores GPIIb/IIIa, mas o uso de bivalirudina sozinha causa menos hemorragia do que
combinação de heparina com inibidor GPIIb/IIIa em doentes com AI/EAMSEST submetidos a ICP
HNF, HBPM, ou bivalirudina devem ser usados durante o cateterismo ou ICP
Inibidores da GPIIb/IIIa – eptifibatide, tirofiban e abciximab são benéficos em doentes com AI/EAMSEST que serão submetidos a ICP,
mesmo naqueles com troponinas positivas pré-tratados com clopidogrel | Abciximab não é eficaz em doentes tratados conservadoramente
Invasivo vs. Conservador
RECOMENDAÇÕES PARA ESTRATÉGIA INVASIVA PRECOCE ⇒ doentes de alto risco:
• Angina recorrente em repouso ou com pequenos esforços, apesar do tx médico | • Troponinas | • Infradesnivelamento ST recente | • Sintomas de IC,
crepitações, IM, acompanhando angina/isquemia recorrentes | • Prova de esforço positiva | • FEVE<40% | • Hipotensão | • Taquicardia Ventricular
sustentada | • ICP há <6 meses ou CABG prévia
Nesta estratégia, após tx anti-isquémico e anti-trombótico, arteriografia é realizada nas primeiras 48h, seguida por revascularização (ICP ou CABG)
Nos doentes de baixo risco os resultados da estratégia invasiva são semelhantes aos da estratégia conservadora
ESTRATÉGIA CONSERVADORA: tx anti-isquémico e anti-trombótico, seguido por observação atenta
Arteriografia é realizada apenas se recorrência da dor em repouso ou das alterações do segmento ST, ou se evidência de isquemia na prova de esforço
Deve-se ao espasmo focal de uma artéria epicárdica, levando a isquemia grave do miocárdio
∗ Em alguns doentes esta pode ser uma manifestação de uma perturbação vasospástica como a enxaqueca, fenómeno de Raynaud, ou asma induzida
por aspirina
∗ Doentes são habitualmente mais jovens e têm menos factores de risco coronários (excepto tabagismo) do que a AI secundária a aterosclerose
Dor isquémica que ocorre em repouso mas habitualmente não com o exercício (∗ Prova de esforço tem valor limitado)
Desconforto anginoso é frequentemente extremamente intenso | Habitualmente não progride a partir de angina estável crónica
Associada com supradesnivelamento transitório de ST
∗ Muitos doentes também têm múltiplos episódios de supradesnivelamento assintomático de ST (isquemia silenciosa)
⇒ Pequenas elevações transitórias dos marcadores podem ocorrer com ataques prolongados
Angiografia coronária demonstra espasmo coronário transitório
Maioria dos doentes tem placas ateroscleróticas, em pelo menos uma coronária proximal, que não causam estenoses críticas, e nestes doentes o espasmo ocorre
habitualmente a <1cm da placa
∗ Espasmo é mais comum na coronária direita | Pode ocorrer em vários locais e em várias artérias simultaneamente
∗ Acetilcolina e hiperventilação são usados para provocar estenoses e estabelecer o diagnóstico
TRATAMENTO
Nitratos e BCC são os tratamentos principais nestes doentes
Nitratos – sublinguais ou i.v. frequentemente terminam a angina prontamente | Longa duração: úteis na prevenção de recidivas
Bloqueadores dos canais de cálcio – muito eficazes na prevenção do espasmo das coronárias que ocorre nestes doentes
Devem ser prescritos nas doses máximas toleradas
∗ Prazosina – útil em alguns doentes
∗ Aspirina – pode aumentar a gravidade dos episódios isquémicos
∗ Resposta aos β-bloqueadores é variável
Revascularização pode ser útil em doentes que também têm lesões obstrutivas proximais discretas e fixas
PROGNÓSTICO
∗ Muitos dos doentes com angina de Prinzmetal passam por uma fase aguda, activa, com episódios frequentes de angina e eventos cardíacos nos
primeiros 6 meses após apresentação | Há a tendência para a diminuição dos sintomas e eventos cardíacos com o tempo
∗ Sobrevida aos 5 anos é excelente (90-95%)
∗ EAM não fatais ocorrem em 20% dos doentes até aos 5 anos
∗ Doentes que desenvolvem arritmias graves durante episódios espontâneos de dor estão em risco aumentado de morte súbita
ENFARTE COM ELEVAÇÃO DE ST (239)
∗ Mortalidade precoce (aos 30 dias) por EAM: 30% | Destes, >50% ocorrem antes de chegar ao hospital
∗ Mortalidade após admissão por EAM 30% nas últimas 2 décadas
∗ 1 em 25 doentes que sobrevivem ao internamento inicial morrem durante o 1º ano pós-EAM | Mortalidade é 4x superior em idosos (>75 anos)
FISIOPATOLOGIA
EAMCEST habitualmente ocorre quando o fluxo de sangue nas coronárias abruptamente
por oclusão trombótica de uma coronária previamente afectada por aterosclerose
- Em casos raros, a oclusão pode ser causada por êmbolos, anomalias congénitas, espasmo
das coronárias, e diversas doenças sistémicas (sobretudo as inflamatórias)
FACTORES DE RISCO – angina instável | múltiplos factores de risco coronários | cocaína |
hipercoagulabilidade | doenças vasculares do colagénio | trombos ou massas intra-
cardíacas que podem embolizar
∗ EAM progride através de 3 fases temporais: aguda (até aos 7 dias), resolução (7-
28 dias), cicatrização (>28 dias)
SINTOMAS
Em 50% dos casos, parece existir um factor precipitante (ex.: exercício vigoroso,
stress emocional, doença médica ou cirúrgica)
∗ Pode ocorrer em qualquer hora do dia ou da noite, mas foram relatadas variações
circadianas (há grupos de doentes que iniciam o EAM nas primeiras horas após acordar)
Dor – profunda e visceral
Carácter semelhante ao do desconforto da angina, mas habitualmente ocorre em repouso (e quando ocorre durante exercício não cessa com
o repouso), é mais severa e tem maior duração
Tipicamente ocorre na região esternal e/ou epigástrica; ocasionalmente irradia para os braços; locais menos comuns de irradiação: abdómen,
dorso, mandíbula, pescoço | ∗ Pode irradiar até à área occipital mas não abaixo do umbigo
Frequentemente acompanhada por astenia, sudorese, náuseas, vómitos, ansiedade e sensação de morte iminente
Dor não ocorre em todos os doentes | Proporção de EAM sem dor é maior em diabéticos e aumenta com a idade
⇒ Em idosos, EAM pode apresentar-se como dispneia de início súbito, que pode progredir para edema pulmonar
Apresentações menos comuns, com ou sem dor ⇒ perda de consciência súbita, estado confusional, astenia profunda, arritmia, evidência de
embolia periférica, queda tensional inexplicada
EXAME FÍSICO
Palidez associada com sudorese e extremidades frias – ocorre frequentemente
Combinação de dor subesternal persistindo >30 minutos e diaforese é altamente sugestiva de EAMCEST
25% dos doentes com EAM anterior têm manifestações de hiperactividade simpática ⇒ taquicardia e/ou HTA
50% dos doentes com EAM inferior têm manifestações de hiperactividade parassimpática ⇒ bradicardia e/ou hipotensão
Impulso apical pode ser difícil de palpar, mas em doentes com enfarte da parede anterior pode surgir uma pulsação sistólica anormal (causada pelo
abaulamento discinético do miocárdio enfartado) na área periapical durante os primeiros dias e depois resolve
Podem surgir outros sinais de disfunção do VE ⇒ S3, S4, S1, desdobramento paradoxal de S2
Sopro transitório meso ou telessistólico apical (devido a disfunção mitral) – pode estar presente
Ruído de atrito pericárdico – ocorre em muitos doentes com EAMCEST transmural em algum momento durante a evolução da doença
Pulso carotídeo está frequentemente (reflectindo a débito cardíaco)
O
Temperaturas até 38 C – podem ser observadas durante a 1ª semana após enfarte
Na maioria dos doentes com EAM transmural, TA sistólica 10-15mmHg
ECG
Durante a fase inicial, oclusão total de uma artéria epicárdica resulta em supradesnivelamento de ST
∗ Maioria dos doentes que inicialmente apresentam supra de ST acabam por evoluir com ondas Q no ECG
Uma minoria não desenvolverá ondas Q porque: o trombo não é completamente oclusivo, a obstrução é transitória, ou existe uma rede de colaterais abundante
Entre doentes com desconforto isquémico mas sem elevação de ST, se for detectada elevação dos marcadores cardíacos faz-se o dx de EAMSEST
Apenas uma minoria destes doentes desenvolvem ondas Q
MARCADORES CARDÍACOS
Troponinas cardíacas (cTnT e cTnI) – são actualmente os marcadores bioquímicos preferidos para o EAM
Não são habitualmente detectáveis no sangue de indivíduos saudáveis, mas podem após EAMCEST para níveis >20x superiores ao limite
do intervalo de referência
∗ Podem permanecer elevadas durante 7-10 dias após EAMCEST
Creatina Fosfocinase (CK) – aumenta em 4-8h | Habitualmente normaliza às 48-72h
∗ Importante limitação: falta de especificidade ⇒ pode elevar-se em qualquer doença ou traumatismo dos músculos esqueléticos (ex.:
injecção intramuscular)
CKMB (isoenzima da CK) – consideravelmente mais específica (não ocorre em concentrações significativas em tecidos extra-cardíacos)
Porém, frequentemente eleva-se noutras situações afectando o coração (ex.: miocardite, cardioversão eléctrica, cirurgia cardíaca)
∗ Massa CKMB : actividade CK ≥2,5 ⇒ sugere (mas não é diagnóstico) origem no miocárdio em vez dos músculos esqueléticos
∗ Ambos os marcadores são aceitáveis, mas não é custo-eficaz medir sempre ambos
∗ Quantidade total de proteínas libertadas correlaciona-se com a extensão do enfarte, mas as concentrações máximas têm correlação apenas fraca
com a extensão do enfarte
∗ Recanalização da oclusão nas primeiras horas de EAMCEST resulta em picos mais precoces (~8-12h após reperfusão) e mais elevados dos
marcadores
Reacção não específica ⇒ leucocitose (frequentemente 12,000-15,000) com neutrofilia que surge nas primeiras horas e persiste durante 3-7 dias
VS aumenta mais lentamente, com pico durante a 1ª semana e por vezes permanecendo elevada durante 1-2 semanas
IMAGEM
Ecocardiograma – anomalias da motilidade das paredes estão quase universalmente presentes
Não consegue distinguir o enfarte agudo de uma cicatriz miocárdica antiga ou da isquemia aguda grave
∗ Avaliação da motilidade das paredes é útil para decidir entre as técnicas de reperfusão, e a estimativa da FEVE é útil para prognóstico e como indicação para
introdução dos IECAs. Eco também é útil para detectar enfarte do VD, aneurisma ventricular, derrame pericárdico, e trombos no VE
∗ Doppler é útil para detectar e quantificar defeito do septo ventricular e insuficiência mitral
Radioisótopos – menos usados do que o ecocardiograma porque são menos práticas e têm pouca sensibilidade e/ou especificidade em muitas situações
Imagiologia de Perfusão – revela um defeito na captação (“pontos frios”) na maioria dos doentes durante as primeiras horas após o
desenvolvimento de um EAM transmural
Embora seja muito sensível, não consegue distinguir entre enfartes agudos e cicatrizes crónicas e não é específico para o dx de EAM
RMN cardíaca – pode detectar EAM com precisão, usando a técnica de “realce tardio” (administra-se gadolínio e as imagens são obtidas c/ atraso de 10 min)
Gadolínio entra apenas em pequenas quantidades no miocárdio normal, mas infiltra-se abundantemente na zona de enfarte, produzindo hipersinal nas
áreas de enfarte que contrasta com as áreas escuras de miocárdio normal
COMPLICAÇÕES
Disfunção ventricular
- Pouco após o EAMCEST, o VE começa a dilatar
Maior dilatação após enfartes da parede anterior e ápice do VE → limitação hemodinâmica mais marcada → pior prognóstico
∗ Dilatação progressiva pode ser melhorada pelo tx com IECAs e outros vasodilatadores (ex.: nitratos)
∗ Em doentes com FEVE<40%, independentemente da presença ou ausência de IC, IECAs ou ARAs devem ser prescritos
• Disfunção de Bomba – actualmente é a principal causa de morte no internamento por EAMCEST
∗ Extensão do enfarte correlaciona-se bem com o grau de falência de bomba e com a mortalidade precoce e tardia
Sinais mais comuns: crepitações e galopes S3 e S4
⇒ Pressões de enchimento e da artéria pulmonar podem resultar de insuficiência diastólica ou sistólica
∗ Classificação de Killip – classe I: sem sinais de congestão | classe II: IC moderada com crepitações basais, S3, taquipneia, ou sinais de IC direita | classe III:
IC grave, com edema pulmonar | classe IV: choque, com sistólica <90 e evidências de vasoconstrição periférica (cianose, confusão, oligúria)
⇒ Evidência hemodinâmica de disfunção do VE surge quando contracção está gravemente limitada em 20-25% do VE
⇒ Enfarte de ≥40% do VE resulta em choque cardiogénico
Doentes com elevadas pressões de enchimento beneficiam de diuréticos; doentes com baixas pressões de enchimento beneficiam de fluidoterapia
∗ Pressão venosa central reflecte as pressões de enchimento do VD, não as do VE, e é um guia inadequado para o ajustamento da volemia já que a função
do VE é quase sempre mais afectada do que a do VD em doentes com EAMCEST
∗ Pressões ideais de enchimento do VE ou PCWP podem variar consideravelmente entre os doentes
Choque cardiogénico
∗ Incidência diminuiu de 20% para 7% – apenas 10% destes doentes apresentam choque à admissão; 90% desenvolvem-no durante internamento
∗ Geralmente é necessário que o enfarte envolva pelo menos 40% do VE | ∗ Tipicamente, doentes com choque têm doença coronária grave de múltiplos vasos
Enfarte do VD
33% dos doentes com EAM inferior têm necrose (pelo menos minor) do VD
Alguns doentes com EAM infero-posterior do VE têm também enfarte extenso do VD
Doentes que se apresentam com EAM limitado ao VD são raros
EAM clinicamente significativo do VD ⇒ sinais de insuficiência grave do VD (distensão jugular, sinal de Kussmaul, hepatomegalia) com ou sem
hipotensão
Supra ST nas derivações pré-cordiais direitas (sobretudo a V4R) – frequente nas primeiras 24h em doentes com EAM do VD
Cateterismo do coração direito ⇒ frequentemente revela padrão hemodinâmico semelhante à pericardite constritiva (deflexão y proeminente e
“mergulho e plateau” protodiastólico nas ondas do VD)
Arritmias
∗ Incidência é maior em doentes observados pouco tempo depois do início dos sintomas
∗ Maioria das mortes por arritmias ocorre nas primeiras horas após o enfarte
• MECANISMOS ⇒ desequilíbrio do sistema nervoso autónomo | desequilíbrios electrolíticos | isquemia | condução lenta em zonas de miocárdio isquémico
Extra-sístoles ventriculares
∗ Ocorrem em quase todos os doentes com EAMCEST | Não requerem tratamento
∗ Tratamento anti-arrítmico profiláctico está contra-indicado para as extra-sístoles ventriculares na ausência de taquiarritmias
ventriculares clinicamente importantes, porque esse tipo de tratamento pode aumentar mortalidade
β-Bloqueadores – eficazes na abolição de actividade ventricular ectópica em doentes com EAMCEST e na prevenção de fibrilhação
ventricular
Taquicardia e Fibrilhação ventriculares
∗ TV e FV podem ocorrer nas primeiras 24h após enfarte sem arritmias prévias
∗ Lidocaína i.v. profiláctica pode prevenir ocorrência de FV; porém, não demonstrou reduzir mortalidade global por EAMCEST e até pode aumentar o risco de
bradicardia e assistolia. Por isso, anti-arrítmicos profilácticos já não são recomendados
• TRATAMENTO:
TV sustentada mas bem tolerada hemodinamicamente → amiodarona (bólus 150mg durante 10 min, seguida pela infusão de 1,0mg/min durante 6h e depois
0,5mg/min) ou procainamida | Se não cessar prontamente → cardioversão eléctrica
TV com instabilidade hemodinâmica, ou FV → descarga não sincronizada de 200-300 J | Se refractária ao choque eléctrico, pode
responder melhor após tx com adrenalina ou amiodarona
• ETIOLOGIA
∗ Hipóxia | hipocaliémia | hipomagnesemia | toxicidade por digitálicos ou quinidina – podem precipitar arritmias ventriculares, incluindo
torsades de pointes, em doentes com EAMCEST
• PROGNÓSTICO:
Apesar da mortalidade em internamento, a sobrevida a longo termo é excelente em doentes que sobrevivem após FV primária
(resposta primária à isquemia aguda que ocorre nas primeiras 48h e sem factores predisponentes como ICC, choque, bloqueio de ramo, aneurisma VE)
Pelo contrário, doentes com FV secundária a grave disfunção de bomba têm mau prognóstico: doentes com TV ou FV que ocorre após
primeiras 48h de internamento ⇒ mortalidade em internamento e a longo prazo
Estes doentes devem ser considerados para estudo electrofisiológico e implantação de CDI
Ritmo Idioventricular Acelerado (FC=60-100bpm)
∗ Ocorre em 25% dos doentes com EAMCEST
∗ Frequentemente ocorre transitoriamente durante fibrinólise no momento da reperfusão
∗ Maioria dos casos é benigna, não pressagia desenvolvimento de TV clássica e não requer tratamento | Degeneração para arritmias mais
graves é rara
Arritmias Supraventriculares
• Taquicardia sinusal – se surgir secundariamente a hiperactividade simpática deve ser tratada com β-bloqueadores
• Flutter ou FA – são frequentemente secundários a insuficiência do VE
Se IC presente, digoxina é o tx escolhido para as TSV | Se IC ausente, β-bloqueadores, verapamil, diltiazem são boas alternativas para o
controlo de frequência porque também ajudam a controlar isquemia
Se ritmo anormal persiste >2h com FC >120bpm, ou se taquicardia induzir IC, choque, ou isquemia → choque sincronizado 100-200 J
• Ritmos juncionais acelerados – podem ocorrer em doentes com enfarte infero-posterior | Excluir toxicidade por digitálicos
Pacing auricular ou sinusal – se perda de sístole auricular atempada e redução do débito cardíaco
Bradicardia sinusal
Tratamento indicado se houver compromisso hemodinâmico → atropina (0,5mg inicialmente; se FC persistir <50-60bpm, doses adicionais de
0,2mg até um total de 2,0mg podem ser dadas)
Bradicardia persistente (<40bpm) apesar de atropina → pacing
∗ Isoproterenol deve ser evitado
Perturbações da Condução AV e intra-ventricular
∗ Mortalidade em internamento e após alta hospitalar em doentes com bloqueio AV completo é superior naqueles com EAM anterior do que
naqueles com EAM inferior (porque nestes o bloqueio deve-se habitualmente a tónus vagal e/ou libertação de adenosina, e por isso é transitório; no
caso dos enfartes anteriores, o bloqueio é geralmente consequência de disfunção isquémica do sistema de condução)
Pacing temporário – é benéfico em doentes com enfarte infero-posterior e bloqueio AV completo associado com IC, hipotensão, bradicardia marcada, ou
actividade ectópica ventricular significativa | Destes, aqueles com EAM do VD respondem mal ao pacing ventricular e podem necessitar de “dual-chamber AV
sequential pacing” | Tem benefício limitado nos doentes com bloqueio AV completo e enfarte anterior, em quem a extensão do enfarte é o factor
determinante no prognóstico
Pacing permanente – pode reduzir risco a longo prazo de morte súbita por bradiarritmias nos raros doentes com bloqueios bifasciculares persistentes
combinados e transitórios de 3º grau durante a fase aguda do enfarte
Dor torácica recorrente
∗ Angina recorrente ocorre em 25% dos doentes internados por EAMCEST
Esta percentagem é ainda maior nos doentes submetidos a fibrinólise bem sucedida
Referenciar para angiografia e revascularização mecânica (porque geralmente indica agravamento ou recorrência, e mortalidade é 3x superior)
Pericardite
Atritos pericárdicos e/ou dor pericárdica são frequentes em doentes com EAMCEST envolvendo o epicárdio
Dor que irradia para o trapézio é útil na distinção com a dor isquémica
Habitualmente controlada com aspirina (650mg 4x/dia)
∗ Anticoagulantes no contexto de pericardite aguda podem precipitar tamponamento, e por isso não devem usar-se.
Tromboembolismo
∗ Tromboembolismo clinicamente aparente complica EAMCEST em 10% dos casos, mas encontram-se evidências na necrópsia em 20% dos casos
∗ É considerado um contribuidor importante em 25% das mortes em doentes internados com EAMCEST
- Êmbolos arteriais originam-se de trombos murais do VE, enquanto êmbolos pulmonares têm origem nas veias das pernas
⇒ Tipicamente ocorre em associação com enfartes extensos (sobretudo anteriores), ICC, e trombo do VE detectado por Eco
Ecocardiograma revela trombos no VE em 33% dos doentes com enfarte anterior, mas em poucos com enfarte inferior ou posterior
Embolia arterial apresenta-se frequentemente como uma complicação major (hemiparesia, HTA renovascular...)
Anticoagulação – indicada se ecocardiograma demonstrar presença de trombo ou anomalias graves regionais da motilidade da parede (mesmo na
ausência de trombos) | Duração apropriada não foi determinada mas 3-6 meses é provavelmente prudente
Aneurisma do VE
Discinesia ou movimentos paradoxais expansíveis da parede
• Aneurisma verdadeiro – composto por tecido cicatricial | Não predispõe nem está associado com ruptura cardíaca
COMPLICAÇÕES [só ocorrem semanas ou meses após EAMCEST] ICC | embolismo arterial | arritmias ventriculares
∗ Aneurismas apicais são os mais comuns e mais facilmente detectáveis no exame físico (impulso apical deslocado, difuso, duplo)
• Pseudoaneurisma (raro) – ruptura do miocárdio que é contida por uma área de pericárdio, com trombos e hematoma em organização
Com o tempo aumenta, mantendo comunicação com o VE | Dado a elevada frequência de ruptura espontânea, deve ser corrigido cirurgicamente após dx
TRATAMENTO
∗ Prognóstico do EAMCEST depende sobretudo da ocorrência de 2 classes de complicações: eléctricas (arritmias) e mecânicas (“falência de bomba”)
∗ Maioria das mortes por EAMCEST fora do hospital é provocada por fibrilhação ventricular de início súbito
Maioria destas mortes ocorre nas primeiras 24h de sintomas, e destas, 50% ocorrem na 1ª hora
Tratamento Inicial
Aspirina – rápida inibição da COX-1 plaquetária é conseguida nas Urgências pela absorção bucal de um comprimido de 160-325mg mastigado |
Segue-se a administração diária de aspirina P.O. 75-162mg
Oxigénio – se ocorrer hipoxemia ⇒ 2-4L/min nas primeiras 6-12h | Não há benefício clínico com O2 suplementar se saturações normais
Nitroglicerina – sublingual; podem administrar-se até 3 doses de 0,4mg em intervalos de 5 minutos
Se desconforto torácico regressar, especialmente se acompanhado por alterações do segmento ST ou ondas T ⇒ considerar NTG
intravenosa
∗ Elimina ou desconforto torácico, necessidades de O2 pelo miocárdio (por preload) e aporte de O2 (pela dilatação das coronárias afectadas e vasos coleaterais)
∗ EVITAR NITRATOS SE: TA sistólica <90mmHg | suspeita de enfarte do VD
∗ CONTRA-INDICAÇÕES: inibidores da 5-fosfodiesterase nas 24h anteriores
Reacção idiossincrática ocasional: hipotensão marcada. | Pode ser revertida prontamente pela administração rápida de atropina i.v.
Morfina – analgésico muito eficaz no EAMCEST | Administrada por injecções i.v. de doses pequenas (2-4mg) repetidas em intervalos de 5 min., e
não por injecções subcutâneas porque a absorção por esta via pode ser imprevisível
Pode constrição simpática das veias e arteríolas, aumentando acumulação de sangue nas veias → débito cardíaco e TA
Habitualmente, estas alterações respondem prontamente à elevação das pernas mas em alguns casos é necessária expansão de volume com
fluidoterapia i.v.
Morfina também tem efeito vagotónico: pode causar bradicardia e graus avançados de bloqueios AV, sobretudo em doentes com enfarte
posterior/inferior
Estes efeitos respondem habitualmente a atropina i.v. (0,5mg)
β-Bloqueadores i.v. – também são úteis no controlo da dor do EAMCEST (provavelmente por necessidade de O2 do miocárdio e assim a isquemia)
Há evidências de que estes fármacos diminuem risco de novo enfarte e de fibrilhação ventricular
Regime habitual: metoprolol i.v. 5mg em intervalos de 2-5 minutos num total de 3 doses (se FC>60bpm, TA sistólica >100, intervalo PR<0,24s, e crepitações não
superiores a 10cm acima do diafragma)
15 minutos após a última dose i.v. inicia-se regime oral de 50mg 6/6h durante 48h, seguido por 100mg 12/12h
∗ Bloqueadores dos canais de cálcio têm pouco valor no contexto agudo. Além disso, as dihidropiridinas de curta duração de acção parecem
aumentar risco de mortalidade.
Reperfusão
CANDIDATOS ⇒ supradesnivelamento de ST ≥2mm em 2 derivações pré-cordiais contíguas, e ≥1mm em 2 derivações adjacentes dos membros
∗ Na ausência de supra de ST, fibrinólise não é útil e até pode ser prejudicial
∗ Até 33% dos doentes com EAMCEST pode ter reperfusão espontânea da coronária afectada, em 24h
∗ Controlo da dor, tx da ICC, minimização da taquicardia e HTA, protegem o miocárdio isquémico e aumentam a “janela” de tempo para reperfusão
∗ Corticóides e AINEs (excepto aspirina) devem ser evitados em doentes com EAM porque resolução do enfarte, risco de ruptura do miocárdio, podem
aumentar a dimensão da cicatriz do enfarte, e resistência vascular das coronárias, potencialmente reduzindo o fluxo para o miocárdio isquémico
Intervenção Coronária Percutânea (ICP) por angioplastia e/ou stenting
ICP primária é eficaz a restaurar perfusão se realizada nas primeiras horas após EAM
∗ Parece ser mais eficaz do que fibrinólise na reperfusão de artérias ocluídas, associada com melhores resultados clínicos a curto e longo prazo
Geralmente preferida nas seguintes situações ⇒ diagnóstico em dúvida | choque cardiogénico | risco hemorrágico aumentado | sintomas
presentes há ≥2-3h (situação em que o coágulo está mais maduro e menos facilmente lisado pelos fibrinolíticos)
Fibrinólise – idealmente iniciada nos primeiros 30 minutos após apresentação (tempo porta-agulha ≤30 min)
Pode em 50% o risco de morte hospitalar quando administrada na 1ª hora após início dos sintomas
Grande parte do benefício é mantida durante pelo menos 10 anos
Quando usada adequadamente, fibrinólise ⇒ dimensão do enfarte | limita disfunção VE | incidência de complicações como ruptura do
septo, choque cardiogénico, e arritmias ventriculares malignas
∗ Máximo benefício se tratamento nas primeiras1-3h após início dos sintomas
∗ Embora mortalidade seja modesta, continua a haver benefício na reperfusão 3-6h após início dos sintomas
∗ Algum benefício parece ser possível até às 12h, sobretudo se dor torácica e supra de ST persistem.
Fibrinólise é geralmente preferida se ⇒ doentes apresentam-se na 1ª hora de sintomas | dificuldades logísticas no transporte em tempo
adequado para um centro com ICP | prevê-se atraso ≥1h até ao à possível implementação de ICP
CONTRA-INDICAÇÕES ABSOLUTAS ⇒ história de hemorragia cerebrovascular | AVC não hemorrágico ou outro evento cerebrovascular no
último ano | HTA marcada (sistólica >180 e/ou diastólica >110) | suspeita de dissecção da aorta | hemorragia interna activa
CONTRA-INDICAÇÕES RELATIVAS ⇒ uso actual de anticoagulantes (INR≥2) | procedimento invasivo ou cirúrgico há <2 semanas | ressuscitação
cardiopulmonar >10 minutos | diátese hemorrágica | gravidez | patologia oftálmica hemorrágica | úlcera péptica activa | hx de HTA grave
∗ Mortalidade relativa com a fibrinólise é superior em doentes <75 anos, mas absoluta é idêntica (porque idosos têm maior mortalidade absoluta)
Apesar do risco hemorrágico aumentado nos idosos, o benefício da fibrinólise parece justificar o seu uso
Graduação fluxo por angiografia – sistema TIMI ⇒ Grau 0: oclusão completa | Grau 1: alguma penetração de material de contraste mas sem perfusão do
leito vascular distal | Grau 2: perfusão do leito distal mas com atraso do fluxo | Grau 3: perfusão total e fluxo normal
O objectivo do tx de reperfusão é o Grau 3
“Contagem de frames TIMI” e “graduação da perfusão miocárdica TIMI” têm correlação mais próxima com os resultados após EAM do que a “graduação de
fluxo TIMI”
tPA, estreptocinase, tenecteplase (TNK), e reteplase (rPA) ⇒ conversão de plasminogénio em plasmina, que subsequentemente lisa os trombos de fibrina
TNK e rPA são fibrinolíticos de bólus: não necessitam de infusão i.v. prolongada, ao contrário do tPA e da estreptocinase
∗ tPA, rPA e TNK são mais eficazes do que a estreptocinase no restauro de perfusão completa (fluxo de grau 3 TIMI) e também aumentam mais a sobrevida
Combinação fibrinolíticos de infusão prolongada + inibidores GPIIb/IIIa facilitam a taxa e extensão da fibrinólise, mas tem eficácia semelhante às dos
fibrinolíticos de bólus, e está associada com risco hemorrágico superior, sobretudo em doentes >75 anos
Regimes de reperfusão combinados não são recomendados
Reacções alérgicas ocorrem em 2% dos doentes tratados com estreptocinase | Hipotensão minor ocorre em 4-10% e hipotensão marcada, embora rara, pode
ocorrer em associação com reacções alérgicas graves
Hemorragia é a complicação mais frequente e mais grave
AVC hemorrágico ocorre em 0,5-0,9% dos doentes | Doentes >70 anos têm incidência 2x superior à daqueles <65 anos
Incidência com tPA ou rPA é ligeiramente superior à da estreptocinase
ICP de resgate – se evidências de reperfusão falhada (persistência da dor e do supra ST >90 min) após fibrinólise
ICP urgente – se evidências de re-oclusão da coronária (recorrência do supra de ST ou da dor torácica) ou desenvolvimento de isquemia
recorrente (angina recorrente nos primeiros dias de internamento ou prova de esforço positiva antes da alta)
Tratamento em Internamento
∗ Se os sintomas ficarem controlados com tx oral ou se doentes de baixo risco (sem EAM prévio, sem dor persistente, ICC, hipotensão, ou arritmias), os doentes
podem ser transferidos para fora da unidade coronária após 24h
∗ Doentes devem ser mantidos em repouso na cama durante as primeiras 12h. Na ausência de complicações, podem sentar-se no lado da cama
ou no cadeirão nas primeiras 24h. Na ausência de complicações, podem começar a deambular no 2º ou 3º dia
∗ Nas primeiras 4-12h os doentes devem manter jejum (oral) ou ingerir apenas líquidos simples
Anti-trombóticos – objectivo primário: estabelecer e manter patência da coronária afectada | Objectivo secundário: diminuir tendência trombótica e assim
prevenir formação de trombos murais ou TVP (qualquer uma destas situações pode resultar em TEP)
Aspirina – anti-plaquetário padrão no EAM ⇒ 27% na taxa de mortalidade
Clopidogrel (inibidor do receptor P2Y12 ADP; previne activação e agregação plaquetárias) – adição à aspirina ⇒ morte, recorrência de EAM, AVC | Em
doentes submetidos a tx fibrinolítico previne re-oclusão da coronária reperfundida
Inibidores GP IIb/IIIa – úteis para prevenir complicações trombóticas em doentes submetidos a ICP
Heparina não fraccionada – agente padrão anti-trombina ⇒ benefício adicional na mortalidade se adicionada a aspirina e fibrinólise; ajuda a
manter patência da artéria afectada, embora à custa de um ligeiro aumento do risco hemorrágico
∗ aPTT deve ser 1,5-2x superior ao valor controlo
HBPM – tem maior biodisponibilidade, permitindo administração subcutânea | não necessita de monitorização | maior actividade anti-Xa:IIa
Reduz significativamente os objectivos compostos (morte/re-EAM não fatal; morte/re-EAM não fatal/revascularização urgente), quando comparada
com HNF, em doentes com EAMCEST que recebem fibrinólise
∗ Apesar do tx com enoxaparina estar associado com maiores taxas de hemorragia grave, benefício clínico global favorece
claramente o uso de enoxaparina em vez da HNF
Doentes com EAM da parede anterior | disfunção VE grave | IC | hx de embolia | evidência de trombo mural no ecocardiograma |
fibrilhação auricular ⇒ risco aumentado para tromboembolismo pulmonar ou sistémico ⇒ estes doentes devem receber HBPM ou
HNF durante o internamento, seguidas por varfarina durante pelo menos 3 meses
β-bloqueadores
i.v. em fase aguda ⇒ dor | dimensão do enfarte | incidência de arritmias ventriculares
∗ Em doentes submetidos precocemente a fibrinólise, não provocam redução adicional na mortalidade mas isquemia e enfarte recorrentes
São úteis na maioria dos doentes (excepto naqueles com contra-indicações e talvez naqueles cujo prognóstico excelente diminui qualquer benefício
potencial [mortalidade esperada <1%, <55 anos, sem EAM prévio, função normal do VE, sem ectopias ventriculares complexas, sem angina])
IECAs
Benefícios na mortalidade aditivos aos da aspirina e dos β-bloqueadores
∗ Benefício máximo em doentes de alto risco (idosos, enfarte anterior, enfarte prévio, disfunção VE) mas benefício a curto prazo ocorre em
todos os doentes hemodinamicamente estáveis (TAs>100mmHg)
∗ Remodeling após EAM com risco de ICC; tx crónico taxa de enfartes recorrentes
Devem ser continuados indefinidamente em doentes com ICC clinicamente evidente, com FEVE demonstrada no Eco, com
anormalidade regional extensa da motilidade da parede, ou com HTA
Antagonistas da aldosterona ⇒ doentes já medicados com IECAs, sem disfunção renal nem hipercaliémia, e com FEVE<40% | IC sintomática | diabetes
Nitroglicerina i.v. – tem efeitos favoráveis no processo isquémico e no remodeling ventricular, mas os benefícios são menores actualmente com a
prescrição por rotina de β-bloqueadores e IECAs
∗ Controlo da glicemia em diabéticos com EAMCEST demonstrou mortalidade
∗ Níveis de magnésio devem ser medidos em todos os doentes à admissão e défices corrigidos, para minimizar risco de arritmias
Prevenção Secundária
Aspirina (alternativa: clopidogrel) – indefinidamente ⇒ redução de 25% no risco de enfarte recorrente, AVC, mortalidade cardiovascular
IECAs ou ARAs (e antagonistas da aldosterona, em doentes seleccionados) – devem ser usados indefinidamente em doentes com IC clinicamente
evidente, moderada FEVE, ou extensas anomalias regionais da motilidade da parede
Previnem remodeling ventricular e eventos isquémicos recorrentes
β-Bloqueadores – uso crónico durante pelo menos 2 anos após EAMCEST é apoiado por estudos
Varfarina – diminui risco de mortalidade tardia e a incidência de enfarte recorrente
Em doentes <75 anos, aspirina (baixas doses) + varfarina (para INR >2) ⇒ mais eficaz do que aspirina sozinha na prevenção de enfartes
recorrentes e AVC embólicos, mas está associada com risco hemorrágico superior
Doentes com stent implantado e com indicações para anticoagulação → aspirina + clopidogrel + varfarina + IBP (para minimizar o risco de
hemorragia GI)
DOENÇA VASCULAR HIPERTENSIVA (241)
∗ HTA duplica risco de doença coronária, ICC, AVC isquémico e hemorrágico, insuficiência renal, doença arterial periférica
EPIDEMIOLOGIA
∗ HTA é responsável por 6% das mortes a nível mundial
- TA sistólica é mais elevada nos homens durante as primeiras décadas da idade adulta, mas entre indivíduos >60 anos a TA é maior nas mulheres
- TA diastólica aumenta progressivamente até aos 55 anos e depois tende a descer. Consequência: amplitude da pressão de pulso em indivíduos >60 anos
∗ Nos USA, prevalência da HTA aumenta com a idade e é ~65% em indivíduos ≥60 anos
∗ Em afro-descendentes, HTA surge mais cedo, é geralmente mais grave, e resulta em taxas mais elevadas de morbilidade e mortalidade
Obesidade e aumento de peso são factores de risco fortes e independentes para HTA
60% dos hipertensos têm >20% de excesso de peso
FACTORES DE RISCO AMBIENTAIS ⇒ ingestão de NaCl | ingestão de Ca2+ e K+ | álcool | stress | sedentarismo
GENÉTICA
- Hereditariedade associada à pressão arterial parece ser 15-35% (estudos de famílias), ou 60% em homens e 30-40% em mulheres (estudos de gémeos)
∗ HTA antes dos 55 anos ocorre 3,8x mais frequentemente entre indivíduos com história familiar positiva de HTA
- HTA Essencial é uma doença poligénica
MECANISMOS DE HIPERTENSÃO
Volume Intravascular
- Quando a ingestão de NaCl excede a capacidade de excreção renal de Na+, o volume vascular inicialmente expande e o débito cardíaco aumenta. No entanto,
com o tempo, resistências vasculares periféricas aumentam e o débito cardíaco em direcção ao normal
- Diversos leitos vasculares (rim, cérebro) têm a capacidade de auto-regular o fluxo sanguíneo
- Efeito do Na+ na pressão arterial depende da provisão de Na+ com Cl-; sais de sódio sem cloreto têm pouco ou nenhum efeito na pressão arterial
- À medida que a TA aumenta devido à elevada ingestão de NaCl, excreção urinária de Na+ aumenta – “natriurese de pressão”
- HTA dependente do NaCl pode ser consequência da capacidade de excreção renal de sódio
∗ IRC terminal é um exemplo extremo de HTA dependente do volume; em 80% dos doentes, volume vascular e HTA podem ser controlados por
diálise; nos restantes 20%, o mecanismo da HTA está relacionado com actividade do sistema RAA e provavelmente responde aos IECAs
Sistema Nervoso Autónomo
∗ Reflexos adrenérgicos controlam TA a curto prazo; função adrenérgica e factores hormonais e relacionados com o volume contribuem para a regulação da TA a
longo prazo
- 3 Catecolaminas endógenas: noradrenalina e dopamina (sintetizadas pelos neurónios adrenérgicos), e adrenalina (sintetizada na medula suprarrenal)
- Noradrenalina e adrenalina são agonistas de todos os subtipos de receptores adrenérgicos, embora com afinidades distintas:
• Receptores α – mais avidamente ocupados e activados pela noradrenalina do que pela adrenalina
α1 ⇒ localizados nas células pós-sinápticas do músculo liso → vasoconstrição
α2 ⇒ localizados nas membranas pré-sinápticas dos terminais nervosos pós-ganglionares que sintetizam noradrenalina → quando activados por
catecolaminas, actuam como controladores de feedback negativo e inibem libertação de mais noradrenalina
• Receptores β – mais avidamente ocupados e activados pela adrenalina do que pela noradrenalina
β1 ⇒ presentes no miocárdio → frequência e força da contracção cardíaca (débito cardíaco) | Também presentes no rim → estimulam
libertação de renina
β2 ⇒ presentes no músculo liso → vasodilatação
- Downregulation dos receptores pode ser consequência de níveis circulantes sustentadamente elevados de catecolaminas; explica a taquifilaxia que ocorre com
a administração de catecolaminas e a hipotensão ortostática que se observa em doentes com feocromocitoma
- Barorreflexo arterial (seios carotídeos e crossa da aorta) – receptores são estimulados pelo aumento da TA, provocam diminuição da libertação de mediadores
simpáticos, com consequente diminuição da FC e TA. É o principal mecanismo de resposta rápida às flutuações agudas da TA que ocorrem com mudanças
posturais, stress, alterações do volume sanguíneo. No entanto, actividade do reflexo diminui e adapta-se a aumentos crónicos da TA
Renina-Angiotensina-Aldosterona
- Estímulos para a secreção de Renina: NaCl no ramo ascendente espesso da AH (macula densa) | estiramento da arteríola aferente (barorreceptor) |
estimulação simpática via receptores β1
- Angiotensina II actua em 2 tipos de receptores: AT1 (neste receptor a angiotensina actua como potente vasopressor, factor trófico primário para a secreção de
aldosterona, e potente mitogénio estimulando o crescimento das células do músculo liso dos vasos) e AT2 (efeitos opostos ao AT1: vasodilatação, excreção de
sódio e inibição do crescimento celular e formação de matriz) | Bloqueio dos receptores AT1 induz aumento da actividade dos AT2
∗ Excesso de angiotensina II pode contribuir para aterosclerose, hipertrofia cardíaca, e insuficiência renal
- Aldosterona – factores: ACTH (não é importante na regulação crónica da aldosterona), angiotensina II, e K+
Reabsorção de Na+e estimula secreção de K+ e H+ → hipocaliémia e alcalose metabólica
∗ Independentemente dos efeitos na TA, aldosterona pode também desempenhar um papel na hipertrofia cardíaca e ICC | Promove deposição de colagénio e
matriz extracelular no miocárdio
∗ Em doentes com ICC, espironolactona em baixas doses diminui em 30% o risco de IC progressiva e de morte súbita cardíaca
∗ Elevados níveis circulantes de aldosterona também podem causar hiperfiltração glomerular e albuminúria
∗ Hiperaldosteronismo (por hiperactividade do eixo RAA) secundário sem HTA pode ser observado em estados edematosos como a ICC e a doença hepática
Mecanismos Vasculares
∗ Rigidez arterial tem valor preditivo independente para eventos cardiovasculares
- Actividade do trocador Na+/H+ está aumentada na HTA, o que pode resultar em aumento do tónus vascular
CONSEQUÊNCIAS PATOLÓGICAS DA HTA
HTA é um factor de risco para todas as manifestações de aterosclerose | ∗ É factor de risco independente para IC, doença coronária, AVC, doença renal, doença
arterial periférica
Coração – doenças cardíacas são a causa de morte mais comum em doentes com HTA
• Cardiopatia hipertensiva – hipertrofia VE | disfunção diastólica | ICC | anomalias do fluxo devido a aterosclerose e doença microvascular | arritmias
Controlo agressivo da HTA consegue fazer regredir ou reverter a hipertrofia VE e reduzir o risco de doença cardiovascular
∗ Doentes com disfunção diastólica têm uma FEVE (que é uma medida de função sistólica) preservada
∗ 33% dos doentes com ICC têm função sistólica normal mas função diastólica anormal
∗ Disfunção diastólica é uma consequência precoce da cardiopatia hipertensiva, e é exacerbada pela hipertrofia VE e pela isquemia
∗ Doentes com HTA têm prevalência de Fibrilhação auricular aumentada
Doentes com HTA podem ter S2 sonoro e um galope S4
Cérebro
∗ 85% dos AVC são isquémicos; os restantes são hemorrágicos (hemorragia intracerebral ou subaracnoideia)
∗ Incidência de AVC aumenta progressivamente com os aumentos na TA, particularmente com a TA sistólica em indivíduos >65 anos
Tratamento da HTA diminui incidência de AVC, quer isquémicos quer hemorrágicos
∗ Parece haver uma associação entre HTA na meia-idade e declínio cognitivo na idade geriátrica
Limitação cognitiva e demência parecem dever-se a enfarte único de um vaso “estratégico” de grande calibre, ou a múltiplos enfartes lacunares
∗ Fluxo cerebral permanece normalmente inalterado ao longo de um largo espectro de pressões arteriais (auto-regulação)
Em doentes com HTA maligna, encefalopatia ocorre pela falência do mecanismo de auto-regulação do fluxo no limite superior de TA,
resultando em vasodilatação e hiperperfusão
Sinais e sintomas: cefaleias intensas, náuseas e vómitos (projécteis), défices neurológicos focais, alterações do estado mental
Se não tratada, pode evoluir em horas para convulsões, estupor, coma e morte
Rim – doença renal primária é a causa mais frequente de HTA secundária, e HTA é factor de risco para lesão renal e doença renal terminal
∗ O risco aumentado com a HTA está presente ao longo de toda a distribuição de pressões acima do normal
∗ Risco renal parece estar mais associado com a TA sistólica do que com a diastólica
∗ Homens de raça negra têm maior risco de doença renal terminal para qualquer nível de HTA
• Lesões vasculares renais ateroscleróticas, associadas com hipertensão afectam primariamente as arteríolas aferentes, resultando em alterações isquémicas
nos glomérulos e estruturas pós-glomerulares | Lesão glomerular também pode ser uma consequência de lesão directa dos capilares glomerulares devido a
hiperperfusão glomerular
Patologia glomerular progride para glomerulosclerose, e eventualmente os túbulos também se tornam isquémicos e atrofiam gradualmente
• Lesão renal associada com HTA maligna consiste em necrose fibrinóide das arteríolas aferentes, e pode estender-se ao glomérulo, resultando
em necrose focal dos tufos glomerulares
Macroalbuminúria (razão albumina/creatinina urinárias >300 mg/g) ou microalbuminúria (razão albumina/creatinina urinárias 30-300 mg/g) são
marcadores precoces de lesão renal
São também factores de risco para progressão da doença renal e para doença cardiovascular
Artérias Periféricas
∗ Doentes com HTA e doença arterial periférica têm risco aumentado para doença cardiovascular
Índice tornozelo-braço (TA sistólicas) <0,90 é considerado diagnóstico de doença arterial periférica, e está associado com estenose >50% em
pelo menos um vaso major do membro inferior
DEFINIÇÃO DE HTA
∗ Em adultos há um risco contínuo que aumenta para AVC, doença CV e doença renal, ao longo das várias TA sistólicas e diastólicas
∗ Risco CV duplica por cada aumento de 20 mmHg na TA sistólica e de 10 mmHg na TA diastólica
∗ Entre idosos, TA sistólica e pressão de pulso são factores preditivos mais poderosos do que TA diastólica para doença CV
SISTÓLICA DIASTÓLICA
NORMAL <120 E <80
PRÉ-HTA 120-139 Ou 80-89
HTA ESTADIO 1 140-159 Ou 90-99
HTA ESTADIO 2 ≥160 Ou ≥100
HTA SISTÓLICA ISOLADA ≥140 E <90
TRATAMENTO
Perda de peso e ingestão de NaCl previnem o aparecimento de HTA, e em doentes com HTA, mesmo que não diminuam TA suficientemente
para evitar tx farmacológico, podem reduzir o nº de fármacos e as doses necessários
Alterações na dieta eficazes na TA: perda de peso, ↓ingestão NaCl, ingestão de K+, moderação no consumo de álcool, dieta saudável
∗ Tratamento farmacológico é recomendado quando TA ≥140/90 mmHg
∗ TA sistólica em 10-12mmHg e TA diastólica em 5-6mmHg → 35-40% nos AVC, 12-16% na doença coronária e >50% na IC, aos 5 anos de tx
Diuréticos
Tiazidas – a longo prazo também actuam como vasodilatadores | Efeito aditivo com β-bloq., IECAs ou ARAs | Adição aos BCC é menos eficaz |
Com doses maiores de hidroclorotiazida aumenta a incidência de efeitos laterais metabólicos (hipocaliémia, insulinorresistência,colesterol)
Poupadores de potássio (amiloride e triantereno) – anti-HTA fracos mas podem ser usados com tiazidas para proteger contra hipocaliémia
Diuréticos de ansa – geralmente reservados para doentes com HTA e TFG (creatinina >2,5 mg/dL), ICC, ou retenção de sódio e água
Inibidores do sistema RAA
ARAs – bloqueiam selectivamente os receptores AT1 e a acção nos AT2 não bloqueados acentua efeito hipotensivo
Antagonistas da Aldosterona
Espironolactona – particularmente eficaz na HTA essencial com renina baixa, HTA resistente, e no hiperaldosteronismo primário
β -Bloqueadores – diminuem TA através da redução do débito cardíaco (por crono e inotropismo negativos)
Particularmente eficazes em hipertensos com taquicardia. | Potência hipotensiva é aumentada pela co-administração com um diurético
∗ Não parecem existir diferenças na potência anti-HTA entre os cardiosselectivos e os não selectivos
∗ β-bloqueadores sem actividade simpaticomimética intrínseca incidência de morte súbita, mortalidade global, e enfarte recorrente
∗ Carvedilol e labetalol bloqueiam ambos os receptores β e também os receptores α periféricos
α-Bloqueadores – eficazes como anti-HTA, mas não demonstraram reduzir morbilidade e mortalidade CV, nem proteger contra ICC
Os não selectivos são usados primariamente no feocromocitoma
Simpaticolíticos
Agonistas α2 de acção central são úteis especialmente na neuropatia autonómica
Simpaticolíticos de acção periférica são potencialmente eficazes como anti-HTA mas os efeitos laterais limitam a sua utilidade
Bloqueadores dos canais de cálcio (BCC)
Vasodilatadores directos – habitualmente não são considerados 1ª linha, mas são mais eficazes quando adicionados a diuréticos e β-bloq.
Minoxidil – particularmente potente e usado mais frequentemente em doentes com insuficiência renal refractária a todos os outros fármacos
| Pode induzir hipertricose e derrame pericárdico
Hidralazina – vasodilatador directo potente | Pode induzir uma síndrome lúpus-like
FÁRMACOS PREFERIDOS
Jovens IECAs; β-bloqueadores
> 50 anos Diuréticos; BCC
Renina elevada IECAs e ARAs
Renina baixa Diuréticos e BCC
Proteinúria e IR, em diabéticos e não diabéticos IECAs e ARAs
ICC e pós-EAM IECAs; ARAs
AVC (protecção) BCC
∗ Os maiores efeitos cardio e nefroprotectores dos anti-HTA estão relacionados com o controlo adequado da HTA
∗ Objectivos mais agressivos (<130/80) podem ser apropriados em doentes com diabetes, doença coronária, IRC, factores de risco CV
Em diabéticos, controlo eficaz da TA diminui risco de eventos e morte CV, assim como o risco de doenças microvasculares
∗ Redução do risco é maior em diabéticos do que em não diabéticos
∗ Para atingir os objectivos, a maioria dos doentes irá necessitar de ≥2 fármacos | ∗ Doentes com diabetes ou IR frequentemente necessitam de ≥3
∗ Para a maioria dos agentes, a diminuição da TA com metade da dose padrão é apenas 20% inferior à que se obtém com dose padrão
HTA Resistente – TA persistentemente >140/90 mmHg apesar de medicados com ≥3 anti-HTA, incluindo um diurético
É mais comum em doentes >60 anos do que em mais jovens
EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS
HTA Maligna – síndrome associada com o aumento súbito da TA em doentes com HTA, ou com o início súbito de HTA em doentes normotensos
∗ Velocidade do aumento da TA é mais importante do que o nível absoluto de TA atingido
HISTOLOGIA ⇒ vasculite necrotizante difusa | trombos arteriolares | deposição de fibrina nas paredes arteriolares
CLÍNICA ⇒ retinopatia progressiva (espasmo arteriolar, hemorragias, exsudados, papiledema) | agravamento da função renal (proteinúria) | anemia
hemolítica microangiopática | encefalopatia
∗ Em doentes com HTA, os limites superior e inferior da auto-regulação do fluxo cerebral estão deslocados para valores superiores de TA, e a rápida redução da TA
para níveis mais baixos do que o limite inferior de auto-regulação pode precipitar isquemia ou enfarte cerebral | Fluxo nas coronárias e vasos renais também pode
diminuir com o tx agudo demasiado agressivo
Objectivo inicial [na HTA maligna com encefalopatia]: diminuir ≤25% da TA em minutos até 2h, ou para valores ~160/100-110
Isto pode ser conseguido através de nitroprussiato i.v. (um vasodilatador de curta duração de acção e rápido início)
Labetalol i.v. ou nicardipina i.v. também são eficazes no tratamento da encefalopatia hipertensiva
Na HTA maligna sem encefalopatia, é preferível reduzir TA durante horas ou mais (em vez de minutos)
Inicialmente, isto pode ser conseguido eficazmente com doses frequentes de agentes orais de curta duração, como o captopril, clonidina ou labetalol
AVC – elevações agudas e transitórias da TA, durando dias a semanas, frequentemente ocorrem após AVC hemorrágicos ou trombóticos
∗ Auto-regulação do fluxo cerebral está comprometida, e podem ser necessárias TA mais elevadas para manter perfusão cerebral
Actualmente, em doentes com Enfarte cerebral não candidatos a trombólise ⇒ iniciar anti-HTA apenas se TA sistólica >220 mmHg ou diastólica
>130 mmHg | Se serão submetidos a trombólise ⇒ alvo recomendado: TA sistólica <185 mmHg e diastólica <110 mmHg
Em doentes com AVC hemorrágico ⇒ iniciar anti-HTA se TA sistólica >180 mmHg ou diastólica >130 mmHg
Crises adrenérgicas – CAUSAS: feocromocitoma | overdose de cocaína ou anfetaminas | descontinuação da clonidina | lesões agudas da medula espinhal |
interacção entre produtos contendo tiramina e inibidores da MAO
Estes doentes podem ser tratados com fentolamina ou nitroprussiato
DOENÇAS DA AORTA (242)
ANEURISMAS DA AORTA
- Aneurisma verdadeiro: 3 camadas | Pseudoaneurisma: apenas adventícia, e ocasionalmente um coágulo perivascular
- Fusiformes – envolvem toda a circunferência da artéria; os saculares não
- Aneurismas da aorta torácica descendente são habitualmente contíguos com aneurismas infradiafragmáticos, e são referidos como aneurismas aórticos toracoabdominais
ETIOLOGIA
Degenerativa – histopatologia: destruição da elastina e do colagénio; ↓músculo liso vascular; inflamação...
FACTORES ASSOCIADOS: envelhecimento | tabagismo | hipercolesterolemia | sexo masculino | história familiar de aneurismas da aorta
∗ Aterosclerose é a condição patológica mais frequentemente associada com aneurismas degenerativos da aorta
Necrose Medial Quística – degeneração das fibras elásticas e de colagénio na túnica média, com perda de células que são substituídas por material mucóide
Caracteristicamente afecta a aorta proximal | Aneurismas fusiformes envolvendo a aorta ascendente e os seios de Valsalva
⇒ Particularmente prevalente na síndrome de Marfan | síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV | HTA | válvula aórtica bicúspide congénita
∗ Ocasionalmente, surge como condição isolada em doentes sem outras patologias aparentes
∗ Agregação familiar observa-se em 20% dos casos de aneurismas da aorta
Infecciosas
• Sífilis – causa incomum | ∗ 90% dos aneurismas sifilíticos situam-se na aorta ascendente e crossa da aorta
• Tuberculose – tipicamente afecta a aorta torácica
• Aneurismas micóticos – raros | Habitualmente consequência da infecção por staphylococci, streptococci, Salmonella ou outras bactérias e fungos |
Geralmente a infecção envolve uma placa aterosclerótica | Aneurismas tipicamente saculares | Predilecção pela aorta abdominal
suprarrenal | Mais comuns em homens idosos | Hemoculturas frequentemente positivas
Vasculites
• Arterite de Takayasu e arterite de células gigantes ⇒ aneurismas da crossa e da aorta torácica descendente
• Espondilite anquilosante | Artrite reumatóide | Artrite psoriática | policondrite recidivante | síndr. de Reiter ⇒ dilatação da aorta ascendente
• Síndrome de Behçet ⇒ aneurismas da aorta abdominal e torácica
Traumatismos – mais frequentemente afectam a aorta torácica descendente, logo após o local de inserção do ligamento arterial
Dissecções aórticas crónicas – associadas com enfraquecimento da parede arterial que predispõe para dilatações aneurismáticas
Aortite Reumática
• Artrite reumatóide, Espondilite anquilosante, Artrite psoriática, síndrome de Reiter, Policondrite recidivante, Doença inflamatória intestinal – podem estar
associadas a aortite envolvendo a aorta ascendente e que pode estender-se até aos seios de Valsalva, folhetos da válvula mitral, e miocárdio
adjacente
Aneurismas | Insuficiência aórtica | envolvimento do sistema de condução
CONDUÇÃO AV
∗ Bloqueio AV transitório é comum nos jovens e provavelmente deve-se ao tónus vagal aumentado que se observa em 10% dos jovens adultos
∗ Bloqueio AV adquirido e persistente é raro em populações adultas saudáveis
ESTRUTURA E FISIOLOGIA
- LOCALIZAÇÃO do nó AV – é uma estrutura subendocárdica (ao contrário do nó SA) e origina-se na zona transicional, na região póstero-inferior da aurícula direita.
- O feixe AV passa próximo dos anéis das válvulas mitral, aórtica, e tricúspide, e por isso está sujeito a lesão por valvulopatia ou durante a correcção cirúrgica desta.
- O feixe AV emerge no septo ventricular como feixe de His | As redes de fibras de Purkinje originam-se dos ramos direito e esquerdo do feixe AV
- IRRIGAÇÃO do feixe AV – artéria nodal AV e 1ª perfuradora septal da artéria coronária descendente anterior esquerda
∗ Nó AV é altamente inervado com nervos pós-ganglionares simpáticos e parassimpáticos | ∗ Feixe de His e sistema condutor distal são minimamente influenciados
pelo tónus autonómico
∗ Feixe de His e respectivos ramos estão isolados do miocárdio ventricular e exibem a condução mais rápida entre todos os tecidos de condução cardíacos
ETIOLOGIAS
Funcionais – autonómicas (vasovagal, hipersensibilidade do seio carotídeo) | fármacos (β-bloqueadores, BCC, digitálicos, adenosina, antiarrítmicos classe I e III,
lítio) | metabólicas/endócrinas (hipercaliémia, hipermagnesemia, insuficiência suprarrenal, hipotiroidismo) ||||
Tendem a ser reversíveis
Outras [a maioria produz alterações estruturais (tipicamente fibrose) habitualmente permanentes] • Doença de Lyme – pode envolver o coração em 50% dos casos,
e destes, 10% desenvolvem bloqueios AV, que habitualmente são reversíveis mas podem necessitar de pacing temporário | • Doença de Chagas e Sífilis – podem
produzir perturbações mais persistentes da condução AV | • Doenças inflamatórias: Lúpus, Artrite reumatóide, Esclerodermia |• Doenças infiltrativas – Amiloidose,
Sarcoidose, Hemocromatose | • Neoplasias | • Degenerativas (doença de Lev; doença de Lenègre) | • Doenças Neuromusculares (distrofia miotónica, síndrome de
Kearns-Sayre...) | • Congénitas | • Familiares | • Iatrogénicas
• Fibrose Idiopática Progressiva – uma das causas mais comuns e degenerativas
Idade – associada c/ alterações degenerativas do septo ventricular, corpo fibroso central, e anéis aórtico e mitral (“esclerose do esqueleto do
coração esquerdo”) | Tipicamente começa na 4ª década de vida | Pode ser acelerada por aterosclerose, diabetes, HTA com arteriosclerose
• Doença Coronária – pode produzir bloqueio AV transitório ou persistente
Espasmo coronário, sobretudo se envolve coronária direita → pode produzir bloqueio AV transitório
EAM → bloqueio AV (mais frequentemente 1º ou 2º grau) transitório ocorre em 10-25% dos doentes
∗ Bloqueio AV de 2º grau ou de alto grau é mais comum com enfartes inferiores do que com enfartes anteriores
∗ Todavia, os bloqueios nos EAM inferiores tendem a ocorrer no nó AV → ritmos de escape mais estáveis, com complexos estreitos
∗ Em contraste, EAM anterior está associado com bloqueios no complexo nodal AV distal, feixe de His, e ramos → complexos largos,
ritmos de escape instáveis, pior prognóstico com elevada mortalidade
ECG
1º Grau – abrandamento da condução na junção AV (PR>0,20s)
Se complexos estreitos → atraso ocorre no nó AV ou (mais raramente) no feixe de His
Se complexos largos → atraso ocorre distalmente ao nó AV
PACEMAKERS
NOMENCLATURA
Código de 5 letras:
• 1ª Letra – compartimento do coração que é estimulado (“pacing”) [O – nenhum; A – aurícula; V – ventrículo; D – duplo; S – único]
• 2ª Letra – compartimento do coração onde se detecta o ritmo (“sensing”) [O – nenhum; A – aurícula; V – ventrículo; D – duplo; S – único]
• 3ª Letra – resposta ao evento detectado [O – nenhuma; I – inibição; T – triggered; D – inibição + triggered]
• 4ª Letra – programação [R – rate responsive]
• 5ª Letra – existência de funções anti-taquicardia [O – nenhuma; P – pacing anti-taquicardia; S – choque; D – pace + choque]
COMPLICAÇÕES
Complicações agudas da implantação do pacemaker transvenoso – raras
Síndrome do Pacemaker (comum) – relaciona-se com qualquer modo de pacing que não mantenha ou reponha a sincronia AV (pulsações cervicais, fadiga,
palpitações, tosse, confusão, dispneia de esforço, tonturas, síncope, PVJ, ondas a em canhão, sinais de ICC)
INDICAÇÕES
Classe I – evidência ou consenso de opinião de que o tratamento é útil e eficaz | Classe III – tratamento não é eficaz nem útil, podendo até ser prejudicial
1 – Com bradicardia sintomática ou pausas sinusais
Classe I 2 – Sintomática, causada por farmacoterapia crónica essencial sem alternativas aceitáveis
3 – Incompetência cronotrópica sintomática
DISFUNÇÃO DO NÓ SA
- Doentes assintomáticos (mesmo que FC <40 bpm)
Classe III - Sintomas sugestivos de bradicardia mas que não estão associados à FC lenta
- Bradicardia sintomática devido a farmacoterapia não essencial
1 – 3º grau ou Alto grau associado com:
1.1 – Bradicardia sintomática
1.2 – Bradicardia sintomática produzida por farmacoterapia essencial
1.3 – Períodos de assistolia > 3s ou qualquer ritmo de escape <40 bpm enquanto acordado
Classe I 1.4 – Bloqueio pós-operatório que não se espera que resolva
1.5 – Ablacção da junção AV por cateter
BLOQUEIOS AV ADQUIRIDOS 1.6 – Doenças Neuromusculares
2 – 2º grau com bradicardia sintomática
3 – 2º grau Mobitz II com complexos QRS largos com ou sem sintomas
- Bloqueio de 1º grau assintomático
Classe III - Bloqueio de 2º grau Mobitz I assintomático
- Bloqueio que se espera que resolva ou cuja recorrência é improvável
1 – Bloqueio AV de 3º grau intermitente
Classe I 2 – Bloqueio AV de 2º grau Mobitz II
BLOQUEIO BIFASCICULAR OU
3 – Bloqueio de ramo alternante
TRIFASCICULAR CRÓNICO - Sem bloqueio AV nem sintomas
Classe III
- Com bloqueio AV de 1º grau sem sintomas
1 – Bloqueio AV de 2º grau persistente no sistema His-Purkinje com bloqueio de ramo bilateral
2 – Bloqueio AV de 3º grau no feixe de His ou abaixo
Classe I
3 – Bloqueio AV infranodal avançado (2º ou 3º grau) transitório, associado com bloqueio de ramo
4 – Bloqueio AV de 2º ou 3º grau persistente e sintomático
EAM
- Bloqueio AV transitório sem defeitos da condução intraventricular
- Bloqueio AV transitório com bloqueio fascicular anterior esquerdo isolado
Classe III
- Bloqueio fascicular anterior esquerdo na ausência de bloqueio AV
- Bloqueio AV 1º grau persistente com bloqueio de ramo antigo ou indeterminado
HIPERSENSIBILIDADE DO SEIO CAROTÍDEO E SÍNCOPE VASOVAGAL
TAQUIARRITMIAS (226)
∗ Classicamente produzem sintomas de palpitações e aceleração do pulso
Holter 24h – apenas para doentes com sintomas diários
Monitor de eventos – para sintomas intermitentes de duração prolongada
Para doentes com cardiopatia estrutural e síncope, com suspeita de TV, é obrigatório internar e realizar estudos electrofisiológicos
Monitorização de extra-sístoles ventriculares e TV assintomáticas pode ajudar na estratificação de risco de doentes com disfunção de VE após EAM
∗ Muitas taquiarritmias SV paroxísticas não estão associadas com um risco significativo de cardiopatia estrutural
No entanto, em doentes com taquicardias auriculares macroreentrantes ou focais, flutter, ou FA, é necessário avaliar dimensões e função das
câmaras cardíacas e função valvular
∗ Em doentes com TV, deve ser realizada uma avaliação ecográfica da dimensão e função dos ventrículos
TV no contexto de disfunção do VE deve levantar suspeita de doença coronária avançada
TV polimórfica na ausência de prolongamento de QT deve levantar sempre a suspeita sobre um processo isquémico potencialmente instável
MECANISMOS
Anormalidades da formação do impulso
∗ Automaticidade anormal parece ser responsável pela maioria das extra-sístoles auriculares e ventriculares e por algumas taquicardias auriculares
Pacing não provoca ritmos automáticos
∗ Actividade deflagrada (“triggered”) – menos comum
Podem frequentemente ser precipitadas por manobras de pacing
Pós-despolarizações precoces – podem ser responsáveis pela extra-sístole ventricular que desencadeia a arritmia em torsades de pointes
Pós-despolarizações tardias – parecem ser responsáveis pelas taquiarritmias auriculares, juncionais ou fasciculares causadas pela digoxina, e também pelas TV
sensíveis às catecolaminas
Anormalidades da propagação do impulso
∗ Reentrada – parece ser a base para a maioria das taquicardias supraventriculares e ventriculares sustentadas
Fixa (anatomicamente determinada) – parece ser mais estável e resulta em taquicardias monomórficas
Dinâmica (funcional) – taquicardias tendem a ser mais instáveis e podem ser polimórficas (ex.: FV devido a isquemia miocárdica aguda; TV polimórfica em doentes
com anomalias genéticas dos canais iónicos, como Brugada ou QT longo)
TAQUIARRITMIAS SUPRAVENTRICULARES
Extra-sístoles Auriculares (ESA)
∗ São a arritmia mais frequentemente detectada nas monitorizações prolongadas por ECG
⇒ Incidência aumenta com a idade e cardiopatias estruturais
⇒ Origem da ESA parece ser idêntica à da maioria das taquicardias auriculares (orifícios da veia cava sup e das veias pulmonares, seio coronário, crista terminal, anéis
da tricúspide e da mitral, apêndices auriculares direito e esquerdo)
ECG onda P que ocorre antes do batimento sinusal antecipado
Forma da onda P difere daquela que se observa no ritmo sinusal (embora as ESA com origem no lado direito possam produzir morfologia idêntica)
Em resposta à ESA, PR aumenta (embora nas ESA com origem próxima do nó AV, o intervalo PR possa até encurtar)
Uma ESA muito precoce pode não conduzir para o ventrículo (que ainda está em repolarização) → pausa ou “falha no batimento”
Se a ESA conduz rapidamente pelo nó AV → QRS consistente com bloqueio de ramo direito ou esquerdo
QRS largos e falha no reconhecimento da onda P precedente podem resultar no diagnóstico errado de ESV
ESA tipicamente reiniciam o nó sinusal
∗ Intervalo RR pré-ESA + intervalo RR pós-ESA < 2 intervalos PP sinusais
TRATAMENTO
∗ ESA raramente necessitam de intervenção
∗ Se muito sintomáticas:
β-Bloqueadores – tipicamente 1ª linha mas podem exacerbar sintomas
Antiarrítmicos classe IC (Flecainida; Propafenona) – podem eliminar ESA mas devem ser evitados em doentes com cardiopatia estrutural
Extra-sístoles Juncionais
∗ Extremamente raras
⇒ Originam-se no nó AV e feixe de His e podem produzir activação retrógrada da aurícula onda P distorcendo porção inicial ou terminal do QRS
→ ondas pseudo Q ou S nas derivações II, III, e aVF
⇒ ES originárias no feixe de His e que não conduzem para o ventrículo e bloqueiam as aurículas: prolongamento de QR que não segue a
periodicidade típica do Wenckebach
TRATAMENTO
∗ Se muito sintomáticas:
β-Bloqueadores, ou Antiarrítmicos classe IC se não houver cardiopatia estrutural
Taquicardia sinusal
Fisiológica
Resposta normal ou apropriada ao stress fisiológico ou patológico (exercício, ansiedade, febre, tirotoxicose, anemia, hipotensão)
ECG Onda P com morfologia consistente com a sua origem no nó SA: positiva em II, III e aVF; negativa em aVR; bifásica em V1
∗ Diagnóstico não deve basear-se no intervalo PR ou na presença de uma onda P antes de cada complexo QRS (intervalo PR e condução AV 1:1 são
propriedades inteiramente determinadas pela condução do nó AV e do sistema His-Purkinje)
TRATAMENTO
Massagem do seio carotídeo – pode haver abrandamento discreto ou transitório, mas não resulta em terminação abrupta
∗ Tratamento deve ser dirigido à etiologia. | Raramente, β-bloqueadores são usados para minimizar resposta taquicárdica se esta for
potencialmente prejudicial (ex.: cardiopatia isquémica e sintomas anginosos relacionados com a frequência)
Inapropriada
Rara | FC aumenta espontaneamente ou desproporcionalmente ao grau de stress fisiológico
⇒ Em muitos doentes, síndrome ocorre após infecção vírica e pode resolver espontaneamente após 3-12 meses
Tonturas e síncope podem frequentemente acompanhar taquicardia sinusal com sintomas de palpitações | Pode ser muito incapacitante
Sintomas acompanhantes comuns: dor torácica, cefaleias, perturbação GI
∗ Exclusão de taquicardia auricular automática com origem na região do nó SA pode ser difícil e pode necessitar de estudos electrofisiológicos invasivos
∗ Frequentemente são diagnosticados como tendo perturbação da ansiedade com taquicardia sinusal fisiológica
TRATAMENTO
Em doentes sintomáticos: hidratação, ingestão de sódio, e β-bloqueadores frequentemente minimizam os sintomas
Em doentes muito sintomáticos e intolerantes/refractários aos β-bloqueadores, ablação por cateter (p/ modificação do nó SA) pode ser eficaz
Devido à elevada taxa de recorrências e à necessidade frequente de recurso a pacing auricular, este procedimento permanece 2ª linha
Fibrilhação Auricular
∗ É a forma mais comum de arritmia sustentada
Caracteriza-se por activação auricular desorganizada, rápida e irregular | Resposta ventricular também é irregular
∗ Frequência ventricular depende inteiramente das propriedades de condução da junção AV | Tipicamente varia entre 120 e 160bpm, mas pode ser
>200 | Noutros doentes, devido a tónus vagal ou às propriedades intrínsecas do nó AV, resposta ventricular pode ser <100
FISIOPATOLOGIA
- Os deflagradores parecem originar-se predominantemente da musculatura “auricularizada” que entra nas Veias pulmonares, e representam focos de
automaticidade anormal ou desencadeiam o disparo que é modulado de certa forma por influência autonómicas
- Formas sustentadas de microreentrada como deflagradadores também já foram documentadas em torno do orifício das veias pulmonares
EPIDEMIOLOGIA
∗ FA é comum nos adultos mas é extremamente rara nas crianças (excepto se houver cardiopatia estrutural ou outra arritmia que predisponha)
∗ Incidência aumenta com a idade: ocorre em >5% das pessoas >70 anos
ETIOLOGIA
∗ Ocasionalmente, FA tem uma etiologia bem definida ⇒ hipertiroidismo (FA ocorre em 15%) | episódio vagotónico agudo | intoxicação aguda por álcool
⇒ Anemia – é uma causa reversível de FA
⇒ FA aguda é particularmente comum na fase aguda ou de recuperação após cirurgia major vascular, abdominal ou torácica
⇒ FA pode também ser precipitada por outras taquicardias supraventriculares (como a taquicardia reentrante nodal AV) – eliminação destas arritmias pode
prevenir recorrência
CLÍNICA
∗ IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA FA – perda da contractilidade auricular | resposta ventricular inapropriadamente rápida | perda da contractilidade e capacidade de
esvaziamento do apêndice auricular, levando à formação de trombos e subsequentes episódios tromboembólicos
• SINTOMAS: muitos doentes são assintomáticos e aparentemente não têm consequências hemodinâmicas adversas
Outros têm apenas ligeiras palpitações ou sensação de irregularidade do pulso | Muitos doentes têm palpitações graves
Hipotensão, congestão pulmonar, e sintomas anginosos podem ser graves nalguns doentes
∗ Em doentes com disfunção diastólica do VE (ex.: HTA, cardiomiopatia hipertrófica, doença obstrutiva valvular aórtica) os sintomas podem ser ainda
mais graves, especialmente se a frequência ventricular não permitir enchimento ventricular adequado
Intolerância ao exercício e fadiga fácil são as marcas do mau controlo de frequência com exercício
Ocasionalmente, a única manifestação da FA pode ser tonturas ou síncope graves, associadas com a pausa que ocorre após o fim da
arritmia e antes de retomar o ritmo sinusal
ECG – caracteriza-se pela ausência de actividade auricular organizada e resposta ventricular irregularmente irregular
∗ Derivação V1 pode frequentemente mostrar o aspecto de uma actividade auricular organizada que mimetiza Flutter
Observação de intervalo PP <200ms e morfologia caótica das ondas P nas restantes derivações confirmam FA
TRATAMENTO
Controlo agudo de Frequência
Controlo da frequência ventricular na FA aguda é mais bem estabelecida com β-Bloqueadores e/ou Verapamil/Diltiazem
Digoxina – pode adicionar benefícios no controlo da frequência com outros agentes mas raramente é usada sozinha, sobretudo na FA aguda
Heparina i.v. – se FA com duração >12h e factores de risco para AVC (hx de AVC ou AIT | idade >75 anos | Estenose Mitral | ICC | Disfunção do VE |
HTA | Aumento da AE (>5,0cm) | Diabetes | Eco contraste espontâneo)
Varfarina crónica (INR 2.0-3.0) – em doentes com FA persistente ou paroxística frequente e de longa duração, e factores de risco
∗ Qualquer consideração sobre descontinuação da anticoagulação deve implicar um prolongado período de monitorização por ECG
Se FA com duração >24-48h em doentes não adequadamente hipocoagulados → ecocardiograma transesofágico (ETE) está indicado
Anticoagulação deve ser instituída concomitantemente com o ETE e deve ser mantida pelo menos 1 mês após restauração do ritmo
sinusal se a duração da FA foi prolongada ou desconhecida
Heparina – mantida por rotina até INR 1.8 com administração de varfarina após ETE
• Reversão imediata da FA
Cardioversão eléctrica 200 J – taxas de conversão tipicamente >90%
Cardioversão farmacológica – menos fiável | Amiodarona ou Procainamida têm sucesso limitado | Ibutilide i.v. parece ser mais eficaz e pode
ser usado em doentes seleccionados para facilitar reversão da arritmia com cardioversão eléctrica
• Farmacoterapia para manter ritmo sinusal
∗ Um único episódio de FA pode não necessitar de tx ou apenas um breve curso de tx com β-bloqueadores
∗ Para prevenir FA recorrente não responsiva aos β-bloqueadores:
Em doentes com cardiopatia estrutural ⇒ Sotalol, Amiodarona, ou Dofetilide
Disfunção grave do VE pode contra-indicar Sotalol
∗ Devido ao risco de prolongamento de QT e de TV polimórfica, Sotalol e Dofetilide devem ser iniciados no hospital
Em doentes sem cardiopatia estrutural, Flecainida ou Propafenona parecem ser bem toleradas e não ter risco pró-arrítmico significativo
∗ Nenhum agente é uniformemente eficaz | ∗ Recorrência da arritmia ocorre em 50% dos casos, independentemente dos agentes usados
∗ Embora haja benefício na sobrevida dos doentes tratados com controlo de ritmo, a sua sobrevida não é superior à dos doentes tratados com
controlo da frequência e anticoagulação
∗ Quando se usam antiarrítmicos que abrandam condução auricular, deve considerar-se a adição de um β-bloqueador ou um bloqueador dos canais de cálcio,
para evitar uma resposta rápida ventricular que pode ocorrer se a FA for convertida numa FA “lenta”
Controlo crónico de Frequência
∗ Controlo de frequência é muitas vezes complicado na FA paroxística, mas nas formas mais persistentes de FA pode ser frequentemente
atingido (com β-bloqueadores, verapamil ou diltiazem, e/ou digoxina) | Uso de combinações pode evitar os efeitos laterais frequentes com a
monoterapia em altas doses
FC >80 bpm em repouso ou 100 bpm em exercício muito ligeiro são sinais de controlo inadequado da frequência
Em doentes com sintomas devido ao controlo inadequado de frequência ou com agravamento da função VE devido a taquicardia
persistente, ablação do feixe de His/junção AV pode ser realizada. | Deve ser acompanhada pela implantação de um pacemaker
∗ Estratégias de controlo crónico de frequência devem incluir sempre anticoagulação crónica
Ablação por cateter ou cirurgia
Maioria das técnicas visa o isolamento das bainhas de musculatura auricular que penetram nas veias pulmonares
∗ Ablação é considerada uma alternativa ao tx farmacológico em doentes com FA recorrente sintomática
∗ Eliminação da FA ocorre em 50-80% dos doentes com um procedimento ablativo por cateter, e alguns doentes passam a responder a
fármacos previamente ineficazes. | Riscos são baixos (2-4%)
∗ Ablação por cirurgia é tipicamente realizada por ocasião de outra cirurgia cardíaca (reparação valvular, coronárias, etc.)
∗ Antiarrítmicos podem ser descontinuados após ablação da FA | ∗ Descontinuação da anticoagulação deve ser feita com cuidado
TAQUIARRITMIAS VENTRICULARES
Extra-sístoles Ventriculares
∗ Comuns | Aumentam com a idade e com a presença de cardiopatia estrutural
Se originadas em locais remotos à rede de Purkinje → QRS largos, tipicamente >140ms | Se originadas na rede de Purkinje → padrão QRS aberrante
∗ ESV podem ter diversas morfologias (multiformes)
Podem ocorrer c/ alguma periodicidade → bigeminismo (1 batimento sinusal é seguido por 1 ESV) ou trigeminismo (2 batimentos são seguidos por 1 ESV)
2 ESV sucessivas ⇒ pares | ≥3 ESV sucessivas e FC >100bpm ⇒ taquicardia ventricular (não sustentada – se termina espontaneamente)
ESV estão habitualmente associadas com pausas totalmente compensatórias (duração entre último QRS antes da ESV e o próximo QRS é o dobro da
frequência sinusal)
ESV tipicamente não conduzem para a aurícula → por isso, ESV habitualmente não reiniciam nó sinusal
Foco parassistólico – deflagração da ESV não parece ser modulada pela actividade sinusal e pelo complexo QRS conduzido | Estas ESV exibem
variabilidade no emparelhamento relativo ao complexo QRS e um intervalo fixo entre os complexos de origem ventricular
∗ ESV suficientemente frequentes podem causar uma cardiomiopatia reversível pelo controlo da arritmia
TRATAMENTO
∗ Limiar para tx das ESV é alto: apenas se sintomas intensos associados às palpitações
∗ Na ausência de cardiopatia estrutural, ESV não parecem ter significância prognóstica
∗ Em doentes com cardiopatia estrutural, ESV frequentes e episódios de TV não sustentada têm significância prognóstica e implicam maior risco
de morte súbita cardíaca
No entanto, não está provado que a eliminação das ESV diminua o risco de morte arrítmica; aliás, alguns anti-arrítmicos até podem aumentar o risco apesar
de serem eficazes na eliminação das ESV
TV Sustentada: duração >30s, ou TV hemodinamicamente instável que necessita de terminação antes dos 30s, ou TV que é terminada por CDI
Torsades de pointes – TV polimórfica com prolongamento do intervalo QT
Flutter Ventricular – onda sinusoidal com frequência>250 bpm; identificação dos QRS é impossível
Fibrilhação Ventricular – activação ventricular completamente desorganizada
∗ TV polimórficas, fV e FV produzem sempre colapso hemodinâmico se não forem terminadas
∗ Estabilidade hemodinâmica das TV monomórficas depende da presença e gravidade de cardiopatia estrutural subjacente, do local de origem da
arritmia, e da frequência cardíaca
∗ Maioria das TV não responde à estimulação vagal (manobra de Valsalva, massagem do seio carotídeo, adenosina)
∗ Verapamil e/ou Adenosina não são recomendados como testes de diagnóstico
Verapamil tem sido associado com colapso hemodinâmico quando administrado em doentes com cardiopatia estrutural e TV
TRATAMENTO
• TV Polimórfica, fV ou FV levam a colapso hemodinâmico imediato
Desfibrilhação assíncrona com choque de pelo menos 200 J (monofásico) ou 100 J (bifásico)
Lidocaína e/ou amiodarona i.v. – devem ser administradas mas não devem atrasar desfibrilhação
• Qualquer ritmo monomórfico de complexos largos que resulta em instabilidade hemodinâmica: cardioversão síncrona com as ondas R
• Taquicardia de complexos largos bem tolerada:
TV Monomórfica → tratamento farmacológico (procainamida, amiodarona, lidocaína) não é eficaz para terminar arritmia (<30%)
Se arritmia persiste → cardioversão síncrona
Alguns doentes com taquicardias focais do tracto de saída automáticas ou deflagradas → podem responder a β-bloqueadores iv
TV idiopática septal do VE → parece responder apenas ao verapamil i.v.
∗ Actualmente, TV em doentes com cardiopatia estrutural é quase sempre tratada com a implantação de um CDI
PREVENÇÃO da TV
>50% dos doentes com hx de TV e com CDI necessitam de tx adicional com fármacos antiarrítmicos para prevenir recidivas ou para tratar
arritmias auriculares
Sotalol ou amiodarona – 1ª linha para doentes com cardiopatia estrutural e TV mono ou polimórficas (não devidas a síndrome do QT longo)
Quinidina, Flecainida e Propafenona – normalmente não podem ser usados em doentes com cardiopatia estrutural (devido ao risco pró-
arrítmico), mas podem ser considerados em doentes com CDI implantado e TV recorrentes
Ablação por cateter – cura TV em >90% dos doentes sem cardiopatia estrutural | Na maioria dos doentes, ablação por cateter pode reduzir
ou eliminar a necessidade de fármacos tóxicos, e deve ser considerada em qualquer doente com TV recorrente
Tempestade de TV – episódios repetidos de TV necessitando de cardioversão/desfibrilhação ou choques do CDI | Maioria destes doentes tem muito mais do
que 2 episódios em 24h | Em casos extremos, TV torna-se incessante e é impossível restaurar ritmo basal durante um período prolongado
Em doentes com TV polimórfica recorrente sem QT prolongado → suspeitar de cardiopatia isquémica activa ou miocardite fulminante
Lidocaína ou amiodarona i.v. + avaliação da anatomia coronária
Em doentes com TV recorrente dependente de pausas e com prolongamento de QT (Torsades de pointes) → descontinuar fármaco
causador, corrigir défice de potássio ou magnésio, e pacing de emergência (para evitar pausas)
β-Bloqueadores i.v. – devem ser considerados para o tx da tempestade de TV polimórfica
Em doentes com TV recorrente monomórfica, administração aguda i.v. de lidocaína, procainamida, ou amiodarona pode prevenir recorrências
No entanto, respostas clínicas não são garantidas | ∗ Fármacos antiarrítmicos, especialmente aqueles que abrandam condução (ex.: amiodarona,
procainamida), podem facilitar TV recorrente ou até resultar em TV incessante
Síndromes de TV
TV idiopática do tracto de saída
- 80% originam-se no VD e 20% no VE | ∗ Não está associada com morte súbita
∗ Mais comum em mulheres, e nestas, a arritmia está frequentemente associada c/ gatilhos hormonais (gravidez, menopausa, período pré-menstrual)
⇒ Exercício, stress, e infusão de catecolaminas → potenciam a arritmia | Manobras vagais, adenosina, β-bloqueadores → terminam a arritmia
∗ Tratamento agudo raramente é necessário porque a arritmia é bem tolerada e tipicamente não sustentada
TV idiopática septal/fascicular do VE
∗ 2ª TV idiopática mais comum | ∗ Supressão pelo verapamil é muito característica
Cardiomiopatia Dilatada
Podem ocorrer TV mono ou polimórficas | ∗ Fármacos são habitualmente ineficazes na prevenção da TV
Cardiomiopatia/Displasia Arritmogénica do VD
ECG Derivações V1-V3: entalhe terminal no QRS e ondas T invertidas em ritmo sinusal
Quando o entalhe terminal é distinto e aparece separado do QRS ⇒ onda epsilon (representam a activação ventricular marcadamente atrasada na
região da parede livre do VD próxima da base das válvulas tricúspide e pulmonar, em áreas de fibrose extensa)
Doentes tendem a ter TV com múltiplas morfologias | TV tem tipicamente um QRS idêntico ao bloqueio de ramo esquerdo em V1 | Má
progressão das ondas R entre V1 e V6
ECOCARDIOGRAMA aumento do VD com anomalias da motilidade da parede e formação de um aneurisma apical
RMN substituição adiposa do ventrículo | adelgaçamento da parede livre do VD com fibrose aumentada
∗ Biópsia endomiocárdica pode não identificar alterações a menos que seja dirigida à parede livre basal do VD
∗ Doença de Naxos – displasia arritmogénica do VD + queratose palmo-plantar + cabelo lanoso
Forma genética associada como elevado risco de morte súbita em adolescentes e adultos jovens
TV pós-reparação da Tetralogia de Fallot
TV tende a surgir muitos anos após cirurgia | ∗ Ocorre principalmente em doentes com disfunção sistólica do VD
Taquicardia fascicular causada por toxicidade por Digoxina
∗ Toxicidade por digoxina pode produzir ectopia ventricular aumentada que, juntamente com as bradiarritmias também produzidas pela
toxicidade por digoxina, pode predispor para TV polimórficas sustentadas e FV
Característica da TV associada à digoxina: TV bidireccional – QRS estreitos no ramo direito com alternância de batimento para batimento entre desvio
esquerdo e desvio direito do eixo TV bidireccional raramente é observada na ausência de toxicidade por digoxina
Fragmentos de anticorpos específicos ligam-se à digoxina e em 1h eliminam os efeitos tóxicos
Anomalias Genéticas que predispõem para arritmias ventriculares polimórficas
Síndrome do QT Longo (SQTL)
∗ QT longo predispõe para TV polimórficas | ∗ Na maioria dos doentes, o intervalo QT tem duração 4-460ms (homens) ou 4-480ms (mulheres)
∗ Intervalos QT >500ms estão claramente associados com um maior risco de arritmias em doentes com SQTL
⇒ Muitos doentes podem ter intermitentemente QT com duração normal ou que não encurta adequadamente com o exercício
⇒ Alguns indivíduos apenas manifestam a síndrome quando expostos a um fármaco como o sotalol (que altera a função dos canais)
GENÓTIPOS – parecem influenciar o prognóstico | QTL1, QTL2 e QTL3 são responsáveis por >99% dos casos de SQTL clinicamente relevante
QTL1 QTL2 QTL3
PROPORÇÃO O mais comum 2º mais comum
QT não encurta ou até prolonga-se durante Gene do canal Na+ cardíaco no cromossoma 3
DEFEITO
exercício - Falha na inactivação do canal
Mais comum: stress emocional |
PRECIPITANTES Mais comuns: exercício e stress emocional Maioria dos eventos ocorre durante o sono
Outros: sono e estímulos auditivos
Onda T larga e ocupa a maioria do intervalo Ondas T tardias, em pico, bifásicas
ECG Onda T entalhada e bífida
QT prolongado Ondas T em pico assimétricas
• >80% dos doentes do sexo masculino têm o 1º
evento cardíaco por volta dos 20 anos
CLÍNICA Pior prognóstico entre os 3 genótipos
• Se 2 alelos → síndrome de Jervell e Lange-
PROGNÓSTICO Homens têm pior prognóstico
Neilsen – prolongamento de QT mais marcado e
surdez | Pior prognóstico
- Desporto de competição deve ser restringido
Exercício não está restringido
- Natação deve ser evitada
β-BLOQ. Respondem Respondem Não recomendados
TRATAMENTO
CDI – tratamento ⇒ qualquer doente com SQTL com arritmia quase fatal, teste genético positivo, ou dx por critérios de ECG
Prevenção primária ⇒ homens com QTL3 | todos os doentes com prolongamento marcado de QT (>500ms), sobretudo quando hx
familiar directa de morte súbita cardíaca
Síndrome do QT Longo adquirida
Doentes com predisposição genética podem desenvolver prolongamento marcado de QT em resposta a fármacos que alteram correntes de repolarização
(tipicamente bloqueiam canal de K+)
∗ Prolongamento de QT e TV polimórfica (Torsades de pointes) ocorrem mais frequentemente em mulheres
⇒ Torsades de pointes induzida por fármacos é frequentemente potenciada por hipocaliémia e bradicardia
TRATAMENTO
Descontinuar fármaco causador | Corrigir défice de Mg2+ e/ou K+ | Prevenção das arritmias dependentes de pausas, através de pacing
temporário ou infusão cuidadosa de isoproterenol | Antiarrítmicos classe IB (ex.: lidocaína) não causam prolongamento de QT e podem ser
usados, embora sejam frequentemente ineficazes
Síndrome do QT Curto
Ganho de função nas correntes de repolarização → encurtamento dos períodos refractários das aurículas e ventrículos → encurtamento de QT
Ondas T altas e em pico | ∗ Duração do intervalo QT <320ms é necessário para estabelecer o diagnóstico
∗ Doentes com SQTC estão predispostos para FA e FV
Implantação de CDI é recomendada | Quinidina – prolonga QT e diminui amplitude das ondas T
Síndrome de Brugada
⇒ Mutações nos genes SCN5A → entrada de Na+ na região do epicárdio do tracto de saída do VD | Perda do potencial de acção do epicárdio do VD devido à
saída de K+ sem oposição → encurtamento dramático do potencial de acção | Devido à grande diferença de potencial entre o endocárdio normal e o epicárdio
rapidamente despolarizado do epicárdio do tracto de saída do VD:
Elevação de ST em V1-V3 em ritmo sinusal | Predisposição para reentrada local e arritmias ventriculares com risco de vida, na ausência de
cardiopatia estrutural
∗ Síndrome arrítmica é mais comum em homens jovens asiáticos
TRATAMENTO
CDI – recomendado para todos os doentes com episódios de arritmias documentados
Profiláctico se história de síncope | elevação de ST espontânea | indução de TV com estimulação programada
∗ Não beneficiam de β-bloqueadores
∗ Procainamida e Flecainida podem exacerbar a síndrome e são usados como teste provocativo
TV polimórfica catecolaminérgica
Mutação que permite a fuga de Ca2+ do retículo sarcoplasmático
Podem manifestar TV bidireccional, TV polimórfica não sustentada, ou FV recorrente
⇒ Arritmias são precipitadas por exercício e stress emocional
TUMORES E TRAUMA (233)
TUMORES DO CORAÇÃO
PRIMÁRIOS
∗ Raros (muito mais raros do que os tumores metastáticos)
∗ 75% são benignos | Destes, >50% são mixomas
∗ Entre os tumores malignos (25% do total), quase todos são sarcomas
Mixomas
EPIDEMIOLOGIA
∗ Tumor primário mais comum ⇒ 30-50% de todos os casos postmortem, e 75% dos tumores tratados por cirurgia
∗ Mais comuns nas mulheres entre a 3ª e a 6ª décadas
ETIOLOGIA
Esporádicos (90%)
• Maioria é pedunculada (pedúnculo com diâmetro 4-8 cm)
• Maioria é solitária e localiza-se nas aurículas, especialmente na aurícula esquerda (geralmente originam-se do septo interauricular próximo da
fossa oval)
Familiares (10%) – transmissão autossómica dominante
• Tendem a ocorrer em indivíduos mais jovens
• Frequentemente múltiplos | Podem localizar-se nos ventrículos | Recidiva é mais provável
• Frequentemente ocorrem como parte do complexo Carney que inclui: mixomas (coração, pele e/ou mama) | lêntigo e/ou nevos
pigmentados | hiperactividade endócrina (doença adrenocortical nodular primária c/ ou s/ Cushing, tumores do testículo, adenomas da hipófise)
• Algumas constelações de achados foram referidas como síndrome NAME (nevos, mixomas auriculares, neurofibromas mixóides, efélides)
ou síndrome LAMB (lêntigo, mixoma auricular, nevos azuis [blue]), embora provavelmente representem subgrupos do complexo Carney
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Frequentemente apresentam-se com sinais e sintomas obstrutivos
∗ A apresentação clínica mais comum mimetiza doença da válvula mitral – estenose (quando o tumor prolapsa para o orifício valvular) ou insuficiência
(devido a traumatismo valvular induzido pelo tumor)
Mixomas ventriculares podem causar obstrução do tracto de saída (semelhante ao causado pela estenose subaórtica ou subpulmonar)
∗ Sinais e sintomas podem ser súbitos e posicionais (devido ao efeito da gravidade no posicionamento do tumor)
“Plop” tumoral – som grave que é possível auscultar durante a proto ou a mesodiástole (parece resultar do impacto do tumor contra a válvula mitral ou a
parede do ventrículo)
Podem também apresentar-se com êmbolos pulmonares ou periféricos, ou com sinais e sintomas constitucionais (febre, perda de peso,
caquexia, mal-estar, artralgias, exantema, clubbing, fenómeno de Raynaud, hipergamaglobulinemia, anemia, policitemia, leucocitose, VS, trombocitopenia
ou trombocitose)
DIAGNÓSTICO
Eco TT ou TE – úteis no diagnóstico e avaliação do tamanho e do local de ligação do tumor
∗ Rastreio ecográfico dos familiares em 1º grau é apropriado, sobretudo se o doente é jovem e tem múltiplos tumores ou evidências da
síndrome do mixoma
TAC e RMN – podem fornecer informações importantes
Cateterismo cardíaco e angiografia – já não são considerados obrigatórios
TRATAMENTO
Ressecção cirúrgica – indicada, independentemente do tamanho do tumor, e habitualmente curativa
∗ Recidivas: 12-22% nos casos familiares, mas apenas 1-2% nos casos esporádicos
Outros benignos
Lipomas – relativamente comuns | Habitualmente assintomáticos mas podem crescer muito e originar sintomas ou alargamento da silhueta cardíaca no raio X
Fibroelastomas papilares – são os tumores mais comuns das válvulas | Habitualmente assintomáticos mas podem causar valvulopatia ou embolizar
Rabdomiomas e Fibromas – são os tumores cardíacos mais comuns em lactentes e crianças | Habitualmente ocorrem nos ventrículos onde causam
obstrução mecânica | Rabdomiomas são múltiplos em 90% dos casos e estão fortemente associados com a Esclerose Tuberosa; tendem a regredir total ou
parcialmente; só requerem excisão se sintomáticos | Fibromas são habitualmente solitários e calcificados; tendem a crescer e causar sintomas obstrutivos; devem
ser excisados
Hemangiomas e Mesoteliomas - podem causar perturbações da condução AV e até morte súbita, devido à propensão para se desenvolverem na região
do nó AV
Sarcoma – rápida progressão e morte em semanas/meses | Frequentemente envolvem o lado direito do coração
METASTÁTICOS
∗ Muito mais comuns do que os tumores primários
∗ Apesar de ocorrerem apenas em 1-20% de todos os tipos tumorais, a incidência relativa de metástases cardíacas é especialmente elevada no
melanoma maligno, e um pouco menos na leucemia e nos linfomas
∗ Em termos absolutos, as origens mais comuns das mtts cardíacas são o cancro da mama e o do pulmão
• Pericárdio é mais frequentemente envolvido, seguido pelo miocárdio
∗ Mtts cardíacas são clinicamente aparentes apenas em 10% dos casos
∗ Tal como os tumores primários, apresentação clínica reflecte mais a localização e tamanho do tumor do que o seu tipo histológico
TRAUMATISMOS
Contusões do miocárdio – forma mais comum de lesão cardíaca não penetrante
∗ Miocárdio contundido é patologicamente idêntico ao miocárdio enfartado, e pode originar manifestações idênticas
Ruptura das válvulas – mais comummente da mitral ou da tricúspide
Ruptura do miocárdio – consequência mais grave das lesões não penetrantes | Geralmente fatal
Hemopericárdio ou tamponamento (ruptura livre), ou shunting intracardíaco (ruptura do septo ventricular)
Derrame pericárdico – pode ocorrer semanas/meses após traumatismo, como manifestação da síndrome pós-lesão cardíaca
Arritmias ventriculares – podem ser precipitadas por lesões torácicas não penetrantes e aparentemente inocentes (ex.: desportos de contacto)
Ruptura da aorta (logo acima da válvula ou no local no ligamento arterial) – é a lesão vascular de desaceleração mais comum
EPIDEMIOLOGIA
∗ Incidência está aumentada nos idosos
∗ 10-30% dos casos ocorrem em válvulas protésicas | ∗ Risco é maior nos primeiros 6 meses após substituição valvular; depois diminui
gradualmente | ∗ Risco é igual para próteses mecânicas e para próteses biológicas
ETIOLOGIA
Válvulas Nativas
Comunidade – Streptococcus viridans, staphylococci, HACEK (Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella, Kingella) – cavidade oral, pele, vias
aéreas superiores | Streptococcus bovis – tracto GI | Enterococci – tracto génito-urinário
Cuidados de saúde – ocorre como consequência de bacteriemia com ponto de partida em infecções de cateter, feridas e ITUs nosocomiais, hemodiálise...
∗ Endocardite complica 6-25% dos episódios de bacteriemia por S. aureus associada a cateter
Válvulas Protésicas
<2 meses após substituição – endocardite geralmente ocorre por contaminação intra-operatória ou por bacteriemia pós-operatória
Agentes mais comuns: staphylococci coagulase negativos (SCoN) | S. aureus | bacilos gram-negativos facultativos | difteróides | fungos
2-12 meses após substituição – ScoN frequentemente representam uma infecção nosocomial de início tardio
∗ 85% dos SCoN que causam endocardite da prótese nos primeiros 12 meses são meticilino-resistentes
>12 meses após substituição – causas idênticas às da endocardite da comunidade em válvulas nativas
∗ Apenas 25% dos SCoN que causam endocardite da prótese após os 12 meses são meticilino-resistentes
Pacemaker transvenoso e/ou CDI – habitualmente a endocardite é nosocomial
Maioria dos episódios ocorre em algumas semanas e é causada por S. aureus ou SCoN
Toxicodependentes i.v.
Válvula Tricúspide (em 50% dos toxicodependentes i.v., a endocardite é limitada à válvula tricúspide) – S. aureus, muitos dos quais meticilino-resistentes
Válvulas do lado esquerdo – etiologia mais variada | Estes casos envolvem válvulas anormais, frequentemente danificadas por endocardites prévias
Alguns destes casos são provocados por Pseudomonas aeruginosa e Candida | Casos esporádicos são causados por organismos incomuns,
como Bacillus, Lactobacillus e Corynebacterium
∗ Endocardite polimicrobiana é mais comum entre toxicodependentes i.v. | ∗ Presença do HIV nestes doentes não influencia muito as etiologias
⇒ Tropheryma whipplei causa uma endocardite afebril, indolente, com culturas negativas
FISIOPATOLOGIA
- Lesão endotelial causa fluxo aberrante e permite a invasão directa por organismos virulentos ou o desenvolvimento de um trombo de plaquetas-fibrina não infectado:
⇒ Endocardite trombótica não bacteriana (ETNB) | Trombo depois serve como local de ligação das bactérias durante bacteriemia transitória
CAUSAS – IM, EA, IA, defeitos do septo ventricular, cardiopatia congénita complexa
Se ETNB ocorrer devido a estados de hipercoagulabilidade ⇒ Endocardite marântica (vegetações não infectadas que ocorrem nas neoplasias e doenças
crónicas) e vegetações brandas (complicam lúpus e síndrome antifosfolípido)
∗ Com a excepção das bactérias mais virulentas (ex.: S. aureus) que podem aderir directamente a endotélio intacto ou tecido subendotelial exposto, a maioria dos
microrganismos no sangue adere a locais na ENTB
- Proteínas ligadoras de fibronectina são necessárias para a invasão do endotélio intacto pelo S. aureus; por isso, estas proteínas facilitam infecção de válvulas normais
∗ Manifestações clínicas são consequência de: lesão de estruturas cardíacas | embolização de fragmentos de vegetações (levando a infecção ou enfarte de sítios
remotos) | infecção hematogénea durante a bacteriemia | lesão tecidular devido à deposição de complexos imunes circulantes ou às resposta imunes contra
antigénios bacterianos depositados
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
São inespecíficas
• Aguda – streptococci β-hemolíticos (pyogenes ou agalactiae) | S. pneumoniae | S. aureus (também pode causar endocardite subaguda)
• Subaguda – tipicamente causada por: S. viridans | Enterococci (também podem causar endocardite aguda) | SCoN (embora o S. lugdunensis também possa
causar endocardite aguda) | HACEK |∗ Endocardite causada pela Bartonella ou pela C. burnetii é excepcionalmente indolente
Febre – habitualmente <39,4ºC na subaguda, mas frequentemente 39,4-40ºC na aguda
CARDÍACAS
Sopros – são ouvidos à apresentação em 30-45% dos doentes com endocardite aguda, mas mais tarde são detectados em 85% dos doentes
ICC – desenvolve-se em 30-40% dos doentes | Habitualmente deve-se a valvulopatia, mas ocasionalmente pode ser causada por miocardite associada à
endocardite ou por uma fístula intra-cardíaca
IC devido a valvulopatia aórtica progride mais rapidamente do que devido a valvulopatia mitral
Abcessos perivalvulares → fístulas (da raiz da aorta para as câmaras ou entre câmaras) → novos sopros | Abcessos também podem causar pericardite
Bloqueios da condução – mais frequentes com o envolvimento da válvula aórtica; bloqueios devido a abcessos paravalvulares da mitral são raros
EAM (por embolização para as coronárias); no entanto, enfartes transmurais embólicos são raros
NÃO CARDÍACAS
Manifestações não supurativas periféricas clássicas da endocardite subaguda (ex.: nódulos de Osler, hemorragias subungueais) relacionam-se com
a duração, e actualmente tornaram-se raras
Embolização séptica (mimetizando algumas lesões clássicas) é comum na endocardite aguda por S. aureus
∗ Êmbolos arteriais são clinicamente aparentes em 50% dos doentes | ∗ Vegetações grandes (>10mm) e com localização mitral têm maior
probabilidade de embolizar
∗ Eventos embólicos (muitas vezes com enfarte) são frequentemente notados à apresentação
∗ Êmbolos ocorrendo durante ou após tratamento eficaz não significam só por si falha do tratamento antibiótico
Sintomas neurológicos, mais frequentemente resultantes de AVC embólico, ocorrem em 40% dos doentes
Outras: meningite asséptica ou purulenta, hemorragia intracraniana (devido a enfartes hemorrágicos ou ruptura de aneurismas micóticos [dilatações
focais em pontos da parede arterial enfraquecidos pela infecção dos vasa vasorum ou onde os êmbolos sépticos se alojaram]), convulsões, encefalopatia
Microabcessos no cérebro e meninges ocorre frequentemente na endocardite por S. aureus | ∗ Abcessos intracerebrais drenáveis
cirurgicamente são raros
Glomerulonefrite difusa (por deposição de imunocomplexos na MBG) com ↓complemento sérico e disfunção renal
Tipicamente melhora com antibioterapia
Enfartes embólicos renais causam dor no flanco e hematúria mas raramente causam disfunção renal
Artrite inespecífica e lombalgias – habitualmente remitem prontamente com tratamento
CONDIÇÕES PREDISPONENTES
• Toxicodependentes i.v. em 50% destes doentes a infecção está limitada à válvula tricúspide – estes doentes apresentam-se com febre, sem
sopro ou com sopro fraco, e em 75% dos casos com achados pulmonares proeminentes relacionados com êmbolos sépticos
Infecção envolvendo válvulas no lado esquerdo do coração apresenta-se com manifestações típicas de endocardite
• Válvulas protésicas – endocardite de início tardio apresenta-se com manifestações típicas | Nos casos de início precoce podem não estar presentes
manifestações vasculares periféricas | Independentemente de quando se inicia, infecção paravalvular é comum
DIAGNÓSTICO
∗ Dx só é estabelecido com certeza após obtenção de uma amostra de vegetação e respectiva análise histológica
Critérios de Duke – muito sensíveis e específicos
Critérios Major Critérios Minor
• Hemocultura Positiva • Factores de risco (válvulas protésicas ou uso de drogas i.v.)
• Evidência de envolvimento endocárdico (Ecocardiograma positivo • Febre ≥38ºC
ou insuficiência valvular de novo) • Fenómenos vasculares (êmbolos arteriais major; enfartes pulmonares
sépticos; aneurisma micótico; hemorragia intracraniana; hemorragias
conjuntivais; lesões de Janeway)
• Fenómenos imunológicos (glomerulonefrite; nódulos de Osler; manchas de
Roth; factor reumatóide)
• Prova microbiológica (hemoculturas positivas não preenchendo critérios major)
TRATAMENTO
∗ Antibioterapia tem que ser bactericida e prolongada
MICRORGANISMO ANTIBIÓTICO COMENTÁRIOS
Penicilina G – 4 semanas
Ceftriaxone – 4 semanas Se alergia não imediata à penicilina
Se alergia grave ou imediata aos β -
SENSÍVEIS À PENICILINA E S. BOVIS Vancomicina – 4 semanas
lactâmicos
Penicilina G ou Ceftriaxone (2 semanas) Se infecção de válvula nativa complicada
STREPTOCOCCI + Gentamicina (dose única ou 2 semanas) ou se endocardite de válvula protésica
Penicilina G ou Ceftriaxone (4 semanas) Se infecção de válvula nativa complicada
RELATIVAMENTE RESISTENTES À PENICILINA
+ Gentamicina (dose única ou 2 semanas) ou se endocardite de válvula protésica
Penicilina G ou Ceftriaxone (6 semanas) Se infecção de válvula nativa complicada
MODERADAMENTE RESISTENTES, OU ORGANISMOS
+ Gentamicina (dose única ou 6 semanas) ou se endocardite de válvula protésica
NUTRICIONALMENTE VARIANTES
Vancomicina – 4 semanas
Penicilina G (4-6 semanas)
+ Gentamicina (4-6 semanas)
Ampicilina (4-6 semanas)
ENTEROCOCCI
+ Gentamicina (4-6 semanas)
Vancomicina (4-6 semanas)
Se alergia à penicilina
+ Gentamicina (4-6 semanas)
Nafcilina ou Oxacilina (4-6 semanas)
+ Gentamicina (3-5 dias)
SENSÍVEIS À METICILINA, EM VÁLVULAS NATIVAS
Cafazolina (4-6 semanas) + Gentamicina (3-5 dias) Se alergia não imediata à penicilina
Vancomicina (4-6 semanas) Se alergia imediata ou grave à penicilina
RESISTENTES À METICILINA, EM VÁLVULAS NATIVAS Vancomicina (4-6 semanas)
STAPHYLOCOCCI Nafcilina ou Oxacilina (6-8 semanas)
SENSÍVEIS À METICILINA, EM VÁLVULAS PROTÉSICAS + Gentamicina (2 semanas)
+ Rifampina (6-8 semanas)
Vancomicina (6-8 semanas)
RESISTENTES À METICILINA, EM VÁLVULAS
+ Gentamicina (2 semanas)
PROTÉSICAS
+ Rifampina (6-8 semanas)
Ceftriaxone – 4 semanas
HACEK
Ampicilina/Sulbactam – 4 semanas
Cirurgia – Indicações:
ICC – ICC refractária moderada/grave causada por disfunção valvular de novo é a principal indicação para cirurgia na endocardite
60-90% destes doentes morrem em 6 meses se receberem apenas tx médico
Em doentes operados, mortalidade é 20% se válvulas nativas e 35-55% se válvulas protésicas
Infecção Perivalvular – esta complicação ocorre em 10-15% das infecções em válvulas nativas e em 45-60% das infecções em válvulas protésicas
Mais comum em infecções da válvula aórtica
Infecções perivalvulares podem ocasionalmente ser curadas com tx médico | Cirurgia é necessária se a febre persistir, se surgirem fístulas, se
próteses instáveis ou em deiscência, ou se recidivas de infecção invasiva após tx adequado
Bacteriemia persistente apesar de antibióticos ou infecção por agentes para os quais não existe tx microbicida eficaz (ex.: fungos, Brucella)
Válvulas protésicas (40% destes doentes com endocardite necessitam de cirurgia) – se recidiva de endocardite, deiscência parcial da válvula, ou
endocardite por S. aureus
Endocardite por S. aureus – cirurgia deve ser considerada em doentes com infecção envolvendo válvulas aórtica ou mitral nativas que têm
vegetações demonstráveis na ETT e que permanecem sépticos durante a semana inicial de tx | Se infecção isolada da tricúspide, cirurgia
raramente é necessária, mesmo perante febre persistente
Mortalidade em doentes com válvulas protésicas e endocardite por S. aureus: 70% se tx médico; 25% se tx cirúrgico
∗ Atraso na cirurgia só se justifica quando a infecção está controlada e a ICC está totalmente compensada com tx médico
∗ Após 14 dias de atb recomendada, as culturas das válvulas excisadas são negativas em 99% das infecções por Streptococci e em 50% das infecções por S. aureus
∗ Endocardite recrudescente envolvendo a prótese valvular ocorre em 2% dos doentes com culturas positivas das válvulas nativas excisadas e em 6-
15% dos doentes com endocardite activa das válvulas protésicas
∗ Entre doentes com complicações neurológicas da endocardite, cirurgia cardíaca pode agravar estado neurológico
Se possível, cirurgia deve ser atrasada 2-3 semanas após um AVC embólico não hemorrágico e 4 semanas após AVC embólico hemorrágico
∗ Bactérias visíveis em preparações das válvulas excisadas não significam necessariamente insucesso do tx antibiótico
∗ Apesar da detecção dos organismos ou do seu DNA, recidivas de endocardite após cirurgia são raras
Complicações extra-cardíacas
Abcessos esplénicos – ocorrem em 3-5% dos doentes com endocardite
Aneurismas micóticos – ocorrem em 2-15% dos doentes com endocardite | Em 50% destes casos, envolvem artérias intracerebrais
PROGNÓSTICO
FACTORES DE MAU PROGNÓSTICO – idade avançada | comorbilidades graves | atraso no dx | envolvimento de válvulas protésicas | infecção da válvula aórtica |
patogénios invasivos (S. aureus) ou resistentes (P. aeruginosa, leveduras) aos atb | complicações intra-cardíacas | complicações neurológicas major
• SOBREVIDA em doentes com válvulas nativas – S. viridans, HACEK, Enterococci ⇒ 85-90% | S. aureus em não toxicodependentes i.v. ⇒ 55-70% | S.
aureus em toxicodependentes i.v. ⇒ 85-90%
• MORTALIDADE em doentes com válvulas protésicas – infecção com início nos primeiros 2 meses ⇒ 40-50% | Início mais tardio ⇒ 10-20%
PREVENÇÃO
∗ Profilaxia com atb antes de procedimentos dentários é aconselhada apenas em doentes com alto risco de morbilidade grave ou morte por endocardite:
Válvulas protésicas | Endocardite prévia | Cardiopatia congénita cianótica não reparada ou durante os primeiros 6 meses após reparação |
Valvulopatia com início após transplante cardíaco
• Encerramento espontâneo – mais comum com - Na maioria dos adultos com esta anomalia, as Fístula coronária A-V – rara;
defeitos pequenos e ocorre nos primeiros anos pressões pulmonares são normais e um shunt
Habitualmente assintomáticos nos primeiros anos de vida, embora possa comunicação entre uma coronária
• Defeitos grandes e HT pulmonar → maior risco de arto-pulmonar persiste durante todo o ciclo →
haver algum atraso do crescimento e tendência para infecções respiratórias e o seio coronário, a AD ou o VD |
obstrução vascular pulmonar sopro contínuo
Após a 4ª década de vida, muitos doentes desenvolvem arritmias auriculares, Shunt é habitualmente pequeno,
Síndrome de Eisenmenger (se obstrução vascular - Em adultos que nasceram com um grande
HT pulmonar, shunting bidireccional e depois direita-esquerda, e insuf. cardíaca não afectando significativamente a
CLÍNICA E pulmonar grave) shunt E-D, síndrome de Eisenmenger e
Desdobramento fixo de S2 | S1 pode estar normal ou desdobrado manifestações associadas geralmente ocorrem
perfusão miocárdica
EVOLUÇÃO • Obstrução do tracto de saída do VD – desenvolve-se
Sopro mesossistólico (fluxo pela válvula pulmonar) e sopro mesodiastólico ∗ HT pulmonar grave resulta em inversão do
em 5-10% dos doentes que se apresentam na infância com
(fluxo pela válvula tricúspide)
fluxo pelo canal, levando ao shunt de sangue Origem anómala da coronária
shunt grande ou moderado | Com o tempo, os achados
No ostium primum, sopro holossistólico significa IM, IT, ou defeito do septo IV esquerda a partir da artéria
nestes doentes assemelham-se aos da Tetralogia de Fallot desoxigenado para a aorta descendente → os
Cianose e baqueteamento digital – quando se desenvolve o shunt direita-esq. pulmonar
• Insuficiência Aórtica – em 5% dos doentes (por dedos dos pés estão cianóticos mas os das
mãos não (cianose diferencial) Enfarte e fibrose do
insuficiência das cúspides ou por prolapso pelo defeito)
miocárdio frequentemente
• ECG – Ostium secundum: desvio direito do eixo e padrão rSr’ nas derivações levam à morte no 1º ano de vida
direitas (representando o aumento do tracto de saída do VD) ∗ <20% sobrevivem até a
– Sinus venosus: pacemaker ectópico auricular ou bloqueio AV 1º grau adolescência e além, sem
EXAMES
– Ostium primum: defeito da condução no VD e desvio esquerdo do eixo correcção cirúrgica
• Raio X e Eco – sinais de sobrecarga do coração direito
∗ Eco TE é necessário se a Eco TT for ambígua (ex.: no sinus venosus)
TRATAMENTO Correcção está indicada se defeito de grandes dimensões e shunt significativo Correcção indicada se shunt grande/moderado
Sinus venosus e Ostium secundum – raramente morrem antes da 5ª década; Grau de aumento da resistência vascular pulmonar
Principais causas de morte: insuficiência
PROGNÓSTICO durante a 5ª e 6ª décadas, a incidência de sintomas progressivos significativamente, antes da cirurgia é um factor de prognóstico essencial
cardíaca | endocardite infecciosa
levando frequentemente a incapacidade grave | ∗ Risco de endocardite é baixo – determina a progressão após cirurgia
ACIANÓTICAS SEM SHUNT
ESTENOSE PULMONAR
ESTENOSE AÓRTICA CONGÉNITA COARCTAÇÃO DA AORTA
COM SEPTO IV INTACTO
Estenose Valvular – válvula aórtica bicúspide Constrição do lúmen da aorta pode ocorrer em qualquer nível mas é mais comum distal à origem da subclávia esquerda, próximo da inserção do ligamento
Uma das malformações cardíacas mais arterial ∗ Múltiplos estreitamentos
comuns das artérias pulmonares
∗ Coarctação ocorre em 7% dos doentes com cardiopatia congénita | ∗ Mais comum em homens
Mais comum em homens periféricas são uma
∗ Particularmente frequente em doentes com disgenesia gonadal (ex.: síndrome de Turner)
Pode desenvolver estenose, regurgitação, ou manifestação de
∗ Frequentemente associada com válvula aórtica bicúspide embriopatia por rubéola
endocardite infecciosa
Aneurismas do Círculo de Willis podem ocorrer em 10% dos doentes
Aorta ascendente está frequentemente
dilatada; pode resultar em dissecção CLÍNICA ∗ Estenose da válvula
Estenose Subaórtica – cardiomiopatia ∗ Maioria das crianças e adultos jovens com coarctação isolada e discreta é assintomática pulmonar é a forma mais
hipertrófica é a forma mais comum, e está Cefaleias | Epistáxis | Extremidades frias | Claudicação com o exercício comum de obstrução
presente ao nascimento em 33% dos doentes HTA nos membros superiores e pulsos ausentes, diminuídos ou tardios nos membros inferiores isolada do VD
Estenose subaórtica pode levar a fibrose da Vasos colaterais aumentados e pulsáteis podem ser palpados nos espaços intercostais anteriores, axilas, ou na área interescapular
válvula e insuficiência valvular Extremidades superiores e tórax podem estar mais desenvolvidos do que as extremidades inferiores ∗ O determinante mais
Estenose Supravalvular – estreitamento da Sopro mesossistólico – pode ser ouvido sobre o lado esquerdo do espaço interescapular; pode tornar-se contínuo se o estreitamento do lúmen agravar importante da evolução
aorta ascendente imediatamente acima do nível ECG – sinais de hipertrofia do VE clínica é a gravidade da
das coronárias, na margem superior dos seios de RAIO X – pode mostrar subclávia e aorta ascendente dilatadas obstrução (não o local da
Valsalva Sinal em “3” (indentação da aorta no local da coarctação, com dilatação pré e pós-estenótica) é quase patognomónico obstrução): doentes com
Ao contrário das outras formas de estenose Entalhamento das costelas entre a 3ª e a 9ª (devido a erosão inferior das costelas pelos colaterais dilatados) – importante sinal radiográfico obstrução ligeira são
aórtica, as coronárias estão sujeitas a pressões Principais riscos da HTA grave na aorta proximal: aneurismas cerebrais | dissecção da aorta | aterosclerose coronária prematura | insuficiência do VE | geralmente assintomáticos
sistólicas elevadas do VE, são frequentemente e demonstram pouca ou
endarterite infecciosa (no local da coarctação) ou endocardite (na válvula bicúspide associada)
dilatadas e tortuosas, e são susceptíveis a nenhuma progressão
aterosclerose prematura ∗ HTA pós-operatória tardia parece estar relacionada com a duração da HTA pré-operatória
COMPLEXAS
TETRALOGIA DE FALLOT TRANSPOSIÇÃO COMPLETA DAS GRANDES ARTÉRIAS VENTRÍCULO ÚNICO ATRESIA TRICÚSPIDE ANOMALIA DE EBSTEIN
Aorta origina-se do VD e artéria pulmonar origina-se do VE,
4 Componentes: Defeito desalinhado do septo ventricular | Obstrução da saída
o que resulta em 2 circulações separadas paralelas | É necessário
do VD | Encavalgamento da aorta sobre defeito do septo ventricular | Hipertrofia
que exista alguma comunicação para permitir a sobrevivência
do VD
do doente
Crossa da aorta e aorta descendente torácica situadas à direita ocorrem em 25% dos
∗ Maioria tem uma comunicação interauricular Ambas as válvulas AV Deslocação inferior da
doentes com tetralogia
∗ 66% têm canal arterial patente ou uma válvula comum Anomalias: válvula tricúspide para
∗ Gravidade da obstrução da saída do VD determina a apresentação clínica – se obstrução ∗ 33% têm defeito do septo ventricular abrem um ventrículo Atresia da válvula dentro do VD
grave, desenvolve-se um shunt de sangue dessaturado direita-esquerda → cianose, eritrocitose,
único tricúspide | Comunicação
hipoxemia ∗ Mais comum em homens
interauricular | Hipoplasia Manifestações:
∗ Representa 10% das cardiopatias congénitas cianóticas
ECG – hipertrofia do VD ∗ Malformações do VD e artéria pulmonar Cianose por shunt
RAIO X – coração “em bota” com um VD proeminente e uma concavidade na região do Na 3ª década de vida, 30% dos doentes têm disfunção do associadas: relações direita-esquerda
cone pulmonar | Marcas vasculares nos campos pulmonares | Crossa e botão VD e insuficiência tricúspide progressiva, que podem levar a posicionais anormais Cianose grave Insuficiência Tricúspide
aórticos podem estar no lado direito ICC entre as grandes artérias e disfunção do VD
ECOCARDIOGRAMA – defeito septal desalinhado com a aorta encavalgada | estenose Obstrução vascular pulmonar desenvolve-se aos 1-2 anos | estenose pulmonar ECG – sinais de sobrecarga Taquiarritmias
pulmonar (que pode ser subpulmonar [fixa ou dinâmica], valvular, ou nas artérias de idade em doentes com defeito do septo ventricular ou valvular ou subvalvular | da AD e do VE auriculares paroxísticas,
pulmonares) canal arterial patente de grande calibre, na ausência de estenose subaórtica com ou sem WPW
obstrução da saída do VE
∗ Maioria dos adultos com Tetralogia de Fallot foi submetida a algum tipo de intervenção
∗ Arritmias (especialmente fA) ou defeitos de condução
cirúrgica prévia
ocorrem em 50% dos doentes aos 30 anos após cirurgia de
∗ Endocardite permanece um risco apesar da correcção cirúrgica
troca das aurículas
HIPERTENSÃO PULMONAR (244)
∗ Sintoma mais comum atribuível à HT pulmonar: dispneia de esforço
TRATAMENTO
∗ Aumento do stress físico deve ser evitado porque o exercício aumenta dramaticamente a pressão arterial pulmonar em doentes com HAP
Bloqueadores dos canais de Cálcio (Nifedipina, Amlodipina...; | ∗ Tipicamente são necessárias altas doses)
Doentes que evidenciam significativas da PAP em resposta a vasodilatadores de acção curta aquando da cateterização cardíaca (queda ≥10
mmHg e PAP final <40mmHg) devem ser tratados inicialmente com bloqueadores dos canais de cálcio
∗ Apenas <20% dos doentes com HAP respondem aos bloqueadores do cálcio a longo termo | Os que respondem demonstram PAP e
resistência vascular pulmonar, melhoria dos sintomas, regressão da hipertrofia do VD, e sobrevida (>20 anos)
∗ Não devem ser dados a doentes que não respondem (porque podem resultar em hipotensão, hipoxemia, taquicardia e agravamento da IC direita)
Inibidores da Fosfodiesterase-5
Sildenafil – aprovado para HAP em doentes com NYHA classes II e III
Melhora sintomas e aumenta tolerância ao exercício
Antagonistas dos receptores da Endotelina
Bosentan (antagonista não selectivo) – aprovado para HAP em doentes com NYHA classes III e IV
Melhora sintomas e aumenta tolerância ao exercício
∗ Elevada frequência de provas de função hepática alteradas | ∗ Toma concomitante com ciclosporina ou gliburide está contra-indicada
Análogos das Prostaciclinas – titulação demora vários meses
∗ Prostaciclinas i.v. são o tratamento mais eficaz para a HAP, e são frequentemente eficazes em doentes que não responderam a outros tratamentos
Iloprost (inalado) – aprovado para HAP em doentes com NYHA classes III e IV
Melhora sintomas e aumenta tolerância ao exercício
∗ Semi-vida muito curta (<30 minutos)
Epoprostenol (i.v. por cateter central permanente) – aprovado para HAP em doentes com NYHA classes III e IV
Melhora sintomas, aumenta tolerância ao exercício e aumenta sobrevida, mesmo que não haja resposta hemodinâmica aguda à provocação com o
fármaco
Treprostinil (subcutâneo ou i.v.) – aprovado para HAP em doentes com NYHA classes II, III e IV
Melhora sintomas e aumenta tolerância ao exercício
∗ Semi-vida mais longa do que a do epoprostenol (4h)
∗ Bosentan, Sildenafil e Iloprost manifestam benefício clínico total durante os primeiros 2 meses de tratamento | Se não responderem a um tx, devem descontinuar e
iniciar um tratamento diferente
∗ Recomenda-se que todos os doentes diagnosticados com HAP sejam tratados
Anticoagulação – varfarina aumenta sobrevida em doentes com HAP
Transplante – considerar em doentes que continuam a manifestar IC direita durante tratamento com prostaciclinas i.v.
PARAGEM CARDÍACA (267)
∗ Maioria das mortes súbitas tem causa cardíaca | ∗ Morte súbita representa 50% das mortes cardiovasculares, e em 33% destes casos é o 1º evento
• Colapso cardiovascular – perda súbita de fluxo sanguíneo efectivo que pode reverter espontaneamente ou apenas com intervenções
• Paragem cardíaca – cessação abrupta da função de bomba que pode ser reversível por intervenções mas que conduz à morte na ausência destas
EPIDEMIOLOGIA
∗ 2 Picos de incidência de morte súbita: <6 meses de idade, e entre 45-75 anos
∗ Diferenças no risco de morte súbita entre géneros atenua-se com a idade
∗ FV e assistolia têm mau prognóstico se RCP não ocorrer nos primeiros 4-6 minutos, mesmo que a desfibrilhação seja bem sucedida
∗ Prognóstico é melhorado pela aplicação de suporte básico de vida (mesmo que por leigos) antes das intervenções definitivas (suporte avançado)
∗ Mortalidade durante internamento após ressuscitação bem sucedida correlaciona-se proximamente com a gravidade do envolvimento do SNC
CAUSAS de morte em internamento após ressuscitação ⇒ 1ª – encefalopatia anóxica e infecções subsequentes a dependência prolongada do
ventilador (60%) | 2ª – estados de baixo débito cardíaco (30%) | 3ª – arritmias recorrentes (10%)
∗ Sobrevivência após paragem cardíaca fora do hospital é seguida por 25-30% de mortalidade nos primeiros 2 anos após o evento
∗ Em doentes de alto risco (pós-EAM com FEVE<40%; arritmias ventriculares “espontâneas” ou induzidas em provas electrofisiológicas), a colocação de CDI oferece
redução de 20-30% na mortalidade ao longo de 2-3 anos