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Resenha: “O desenvolvimento: da euforia ao desencanto”

Depois da Segunda Guerra Mundial o discurso sobre o desenvolvimento estabeleceu - e


consolidou uma estrutura de dominação dicotômica; como: desenvolvido-
subdesenvolvido, pobre-rico. O mundo se ordenou para alcançar o desenvolvimento, e
nesse sentido sugiram planos, programas metodologias e manuais. Em torno do
desenvolvimento em plena Guerra Fria ocorreu o enfrentamento entre capitalismo e
comunismo. O Terceiro mundo foi inventado, e nos quatro cantos do planeta as
sociedades foram e continuam sendo reordenadas pra adaptar ao desenvolvimento. E os
países centrais lançaram mão de operativos de interferência nos assuntos internos dos
países periféricos.
Os países pobres em ato de generalizada subordinação e submissão tem aceitado este
estado de coisas desde que sejam considerados em desenvolvimento, mesmo que no
universo diplomático não se ouve o termo países desenvolvidos. Devidos aos problemas
que foram surgindo, buscamos alternativas, como atribuirmos sobrenome ao
desenvolvimento, para diferenciá-los do que nos incomodava, mas persistimos na
mesma trilha, como por exemplo: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social.
No caso da América Latina, essa desenvolveu um papel importante na criação de
revisões contestadoras do desenvolvimento tradicional, como o estruturalismo, embora
suas críticas tenha sido contundentes, não as propostas apresentadas não prosperaram.
Além de não conseguir questionar seriamente os núcleos conceptuais da ideia de
desenvolvimento convencional, e a onde de revisões criadas não foram capazes de
articular entre sí. O maior problema é que o desenvolvimento, enquanto proposta global
e unificadora desconhece os sonhos dos povos subdesenvolvidos. Ocorreu uma negação
agressiva do que é próprio desse povo.
Nos moldes dos países centrais, o desenvolvimento já mais se repetirá nível global,
consumista e predador esse modelo coloca em risco o equilíbrio da Natureza, além da
marginalização provocada, ele sequer resolveu problema da fome no mundo. O mau
desenvolvimento atingiu ate mesmo os países desenvolvidos. “É fácil entender porque:
é um sistema baseado na eficiência, que tenta maximizar os resultados, reduzir custos e
acumular capital incessantemente. (…) Se “vale tudo”, o problema não é dos jogadores,
mas das próprias regras do jogo” (María Tortosa).
Passamos a aceitar a regra do “vale tudo”, as funestas consequências persistem,
inclusive justificando seus meios e até seus fracassos, como a devastação ambiental e
social. Negamos até mesmo nossas raízes históricas e culturais em favor da
modernização imitando os países centrais. Os resultados obtidos não foram satisfatórios,
desde o pós-guerra.
Correr atrás do fantasma do desenvolvimento, mostrou se inútil, nesse sentido emerge
com força a busca de alternativas ao desenvolvimento, ou seja, de formas de organizar a
vida fora do desenvolvimento. Isso necessariamente implica superar o capitalismo e
suas lógicas de devastação social e ambiental, o que nos abre as portas ao pós-
desenvolvimento e, claro, ao pós-capitalismo. O capitalismo de sonho passou a pesadelo
realizado.
O caminho para escapar do desenvolvimento e do capitalismo é um caminho longo e
tortuoso. Contudo, alternativas que permitiram sua superação tem surgido na própria
matriz do capitalismo.
Cabe-nos questionar o conceito de progresso, uma vez que os elementos substanciais da
visão dominante imposta pelo desenvolvimento nutrem-se dos valores impostos por
aquele, e suas características extremamente expansionista, influente e destrutivo.
A visão da Europa não considerava a Natureza e a Humanidade como parte integral, o
que possibilitou sua dominação e manipulação. Lembrando Francis Bacon, assim como
os inquisidores, a ciência torturaria a Natureza, para conseguir dela os objetivos
desejados.
Para outro pensador moderno René Descartes (1596-1650), o universo seria uma grande
maquina submetida a leis e o ser humano deve se converter no dominador da natureza.
E as influencias que também compartilharam outros filósofos, influenciaram o
desenvolvimento das ciências, da tecnologia e das técnicas.
E ainda existem outras raízes da dominação, presentes também na Bíblia, nesse caso
especifico, é lembrado o livro dos Gênesis (1: 26-28) que também ordena que homem
sujeite e domine a Natureza
Colombo em nome do poder imperial abriu as portas para a colonização e exploração
impiedosa por recursos naturais, custou a morte em massa de diversas populações
indígenas. A mão de obra seria compensada com a vinda de escravos africanos, após o
desaparecimento dos índios os quais dariam uma importante contribuição ao processo e
industrialização, lembrando Karl Max em 1846, a indústria moderna deve sua existência
a escravidão.
As colônias sustentaram o esquema extrativista de exportação de Natureza, e foi
justamente ela que manteve as demandas de acumulação do capital dos países imperiais,
o progresso tecnológico, alegando que estaria a serviço da humanidade foi pouco
questionado em relação as suas contradições. O que colocou a continuidade da vida do
planeta em perigo.
As vantagens e avanços tecnológicos, inclusive da ciência, não devem ser negados, mas
o que é proposto é a superação dessa visão ingênua e a até mesmo simplória de como
eles são recebidos. A questão é que o crescimento material infinito poderá levar a um
suicídio coletivo, um sinal visível disso são os efeitos causados a Natureza. Com o
aproveitamento indiscriminado e crescente da Natureza não poderá haver futuro.
Sem conseguir questionar os núcleos conceituais da ideia de desenvolvimento
convencional, por parte da postura heterodoxa, e mesmo os questionamentos que
surgiram não conseguiram se articular. Ao notar o crescimento da pobreza global, as
ferramentas e seus indicadores começaram a ser repensadas, mas não se pensou na
numa mudança no conceito.
A criação do Índice de Desenvolvimento Humano (idh) das Nações Unidas em 1990,
possibilitou ter uma visão mais complexa do desenvolvimento, seu alcance procura
entender a ampliação de oportunidades e capacidades das pessoas, não ficando apenas
no âmbito econômico. Não é contabilizado apenas o crescimento, a educação e a saúde,
por exemplo, fazem parte dos elementos de valorização levado em conta.
Sem duvidas essas avaliações multicriteriais, enriquecem o debate sobre qualidade de
vida e questões ambientais, mas não possibilita superar questões como as raízes
desenvolvimento, marcadamente predatória e concentradora.
O “desenvolvimento em escala humana, desenvolvimento sustentável, o Índice de
Capacidades Básicas, da organização Social, baseada em capacidades básicas
indispensáveis para a sobrevivência e a dignidade das pessoas e o Índice de Bem-Estar
Econômico e Social, que corrige o Produto Interno Bruto. Esses fazem parte de uma
série de indicadores que podem oferecer contribuições substantivas. Todos os esforços
pra sustentar o conceito de desenvolvimento não rederam os frutos esperados e a
confiança no desenvolvimento, nas décadas de 1980 e 1990 fissurou-se.
Na América Latina o neoliberalismo encontrou rapidamente seus limites, muito antes do
previsto por seus defensores. Uma vez mais, a partir de finais dos anos 1990, as posturas
neoliberais naufragaram. Seu estrondoso fracasso econômico agudizou os conflitos
sociais e os problemas ambientais, exacerbando as desigualdades e as frustrações.
Desde que assumida ativamente pela sociedade, a proposta do Bem Viver pode projetar-
-se com força nos debates mundiais. Inclusive de forma proposital seria um detonante
para enfrentar a alienação crescente dos seres humanos em grande maioria.

ACOSTA, Alberto. O desenvolvimento: da euforia ao desencanto. In: ACOSTA,


Alberto. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. Editora
Elefante / Autonomia Literária: São Paulo, 2016. P. 44-66. Cap. 3

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