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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS

Curso de Direito

Trabalho Interdisciplinar – 1º semestre de 2019

Disciplinas: Direito Ambiental I; Direito Civil – Responsabilidade Civil; Direito Penal –


Legislação Especial.

A1 – CASO SIMULADO
No dia 25 de janeiro de 2019 a barragem Córrego do Feijão, localizada no município de
Brumadinho/Minas Gerais, de propriedade da mineradora Vale S.A., rompeu-se gerando
uma avalanche de rejeitos de uma mina de minério de ferro ocasionando uma das maiores
tragédias já vistas no País. Os rejeitos liberados pela barragem atingiram a parte
administrativa e o refeitório da empresa (onde estavam diversos funcionários, no
momento do acidente), além de parte da comunidade local. Na hora do rompimento da
barragem havia 427 trabalhadores na área da empresa. O número de vítimas fatais vem
sendo atualizado diariamente, já tendo sido confirmadas 165 mortes e 182 desaparecidos,
segundo dados divulgados pela imprensa no dia 06 de fevereiro de 2019. Várias famílias
tiveram que ser removidas pela Defesa Civil de suas moradias, o que levou o Judiciário a
determinar que a Vale garantisse o abrigamento das famílias, responsabilizando-se pelo
transporte de bens, alimentação e fornecimento de água potável.

Os prejuízos humanos são irreparáveis e a eles se somam os danos causados ao meio


ambiente (flora, fauna, patrimônio histórico e cultural) cuja extensão ainda é imensurável.
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais instaurou Inquéritos Civis para apuração
das causas da tragédia, já tendo sido iniciados trabalhos de perícia no local, e também
ajuizou tutelas de urgência cautelar e também de natureza satisfativa. O Ministério
Público do Trabalho também agiu prontamente levando a questão ao Judiciário através
de ação civil pública objetivando assegurar a reparação dos prejuízos às vítimas. E em
decorrência destas ações judiciais, já foram bloqueados cerca de 11 bilhões de Reais da
mineradora para garantir o cumprimento das determinações e medidas emergenciais, bem
como a reparação dos danos ambientais.

Por outro lado, segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento


Sustentável, o empreendimento e a barragem estavam regularmente licenciados e a
estrutura classificada, pela Agência Nacional de Mineração, como de pequeno porte com
baixo risco. Em dezembro de 2018, a Câmara de Atividades Minerárias do Conselho
Estadual de Política Ambiental (CMI/Copam) aprovou pedido de licença da Vale S.A. –
licenciamento simplificado, em fase única – por conta do baixo potencial de risco da
barragem. O COPAM é órgão subordinado administrativamente à Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD. A Vale S.A. ainda
divulgou em nota que a barragem possuía Declarações de Condições de Estabilidade
emitidas pela empresa TUV SUD do Brasil, assim como possuía Fator de Segurança que
seguia as melhores práticas mundiais.

A empresa também foi autuada administrativamente. Só o IBAMA (Instituto Brasileiro


do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) lavrou até o momento cinco Autos
de Infração Ambiental, somando R$ 250.000.000,00. O órgão ambiental do Estado de
Minas Gerais também autuou a empresa, lavrando uma multa de R$ 99.000.000,00.
Também a prefeitura de Juatuba, município próximo a Brumadinho aplicou à Vale uma
multa de R$ 50.000.000,00.

Considerando, portanto, os fatos que envolvem o chamado “caso Brumadinho”, analise-


os sob os diversos aspectos abaixo apontados:

PERGUNTAS DE DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL

1) Quais os fundamentos para a responsabilização do agente causador dos danos


narrados no enunciado? Explique quais elementos evidenciam, no caso concreto,
a configuração da responsabilidade civil.

2) Quais as funções inerentes à responsabilidade civil? Você identifica uma (ou


mais) no enunciado? Fundamente.

3) Quem são os titulares do direito de exigir reparação civil? Identifique-os e aponte


o fundamento legal.

4) A Vale S.A. pode se eximir da obrigação de responder pelos danos alegando que
a barragem detinha o licenciamento regular concedido pelos órgãos estatais
competentes, inclusive com laudo garantindo o baixo risco do empreendimento?
Justifique, com argumentos jurídicos, sua resposta.

PERGUNTAS DE DIREITO AMBIENTAL


1) Além do dever de reparar o dano, a Vale poderá ser responsabilizada
administrativamente por suas ações ou omissões? Quais as sanções administrativas
aplicáveis à empresa e quais os órgãos competentes para aplicá-las na esfera
ambiental? Aborde os pressupostos legais para incidência dessa modalidade de
responsabilidade, destacando se o elemento subjetivo (dolo ou culpa) é um deles à luz
da atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

2) Com relação à responsabilidade civil por dano ambiental, há uma ordem de


preferência quanto à forma de reparação (restauração, compensação ou indenização
em pecúnia) ou trata-se de uma escolha discricionária do juiz responsável pelo
julgamento da demanda? Caso a forma de reparação determinada pelo juiz seja a
indenização em pecúnia, como os valores devem ser pagos pela Vale?

3) A Vale pode celebrar compromisso de ajustamento de conduta para a reparação


dos danos causados? Caso a resposta seja positiva, indicar os requisitos de validade
e os órgãos/entidades legitimados para tomar o compromisso da empresa.

PERGUNTAS DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


1) Disserte sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no âmbito dos
crimes ambientais, apontando, inclusive, o atual entendimento dos tribunais sobre a
necessidade da dupla imputação.

2) As mortes das vítimas do evento podem ser imputadas penalmente aos


responsáveis pelo rompimento da barragem? Fundamente.

3) As penas aplicáveis aos crimes ambientais, especialmente em casos como os


descritos na hipótese, são proporcionais aos danos causados? Fundamente sua
resposta a partir dos princípios penais e ambientais e proponha alternativas para
incrementar a prevenção e a punição desse tipo de conduta.

A2 – PARECER
Considerando as normas presentes no ordenamento jurídico aplicáveis ao caso, e
atuando na qualidade de advogado de uma das famílias atingidas pela tragédia – inclusive
com o falecimento do provedor da família e perda de todos os bens materiais – elabore
sua opinião técnica acerca de todas as medidas legais cabíveis em defesa dos interesses e
direitos do seu cliente.

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