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UNIVERSIDADE POTIGUAR

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO


ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL E DIREITO EMPRESARIAL

ANA EMÍLIA DA SILVA COUTO

Um análise crítica acerca do artigo “A proteção do consumidor de produtos e


serviços estrangeiros no Brasil: primeiras observações sobre os contratos à
distância no comércio eletrônico” – Dra. Cláudia Lima Marques

NATAL/RN
2019
ANA EMÍLIA DA SILVA COUTO

Um análise crítica acerca do artigo “A proteção do consumidor de produtos e


serviços estrangeiros no Brasil: primeiras observações sobre os contratos à
distância no comércio eletrônico” – Dra. Cláudia Lima Marques

Trabalho da disciplina de Contratos com fins de


obtenção da nota final da disciplina
Orientador: Profª Arthur Cavalcanti

NATAL/RN
2019
O advento da Internet provocou uma revolução no âmbito comercial, promovendo
a economia ao movimentar bilhões de reais no e-commerce1. Esse comércio eletrônico,
vem crescendo substancialmente através das inúmeras contratações efetivadas por e-mail,
on-line, telemarketing, aplicativos, TV, etc., a todo instante, ocorrendo tudo à distância,
sem intervenção da figura humana. Aliado a isto, tem-se a questão do acesso à rede
mundial que deixou de ser um requinte das classes sociais mais elevadas, popularizando
o seu uso de forma a prover as necessidades humanas de consumo em um mundo
imediatista e globalizado. A partir disso, vários consumidores, prestadores de serviços e
fornecedores passaram a realizar seus contratos e muitas vezes ultrapassando as fronteiras
geográficas, trazendo para os clientes vários benefícios como comodidade, opções de
escolha, maior informação sobre a aquisição dos produtos, facilidade, rapidez no contato,
envio e recepção de dados entre várias pessoas de vários lugares, e a custos muito baixos,
dentre outros.

Em contrapartida ao passo que os benefícios do e-commerce são apresentados na


relação de consumo virtual, outros questionamentos surgem diante das novas formas de
violação que essa concepção de comércio traz ao direito do consumidor, pois este negócio
acarreta não só insegurança jurídica, ao se observar a imensa lacuna legislativa
internacional, como também uma maior vulnerabilidade dos consumidores nas transações
internacionais. Assim, há a necessidade de normatizar esta complexidade de fatores sendo
estas adequadas à realidade, a fim de garantir a defesa do consumidor e a segurança
jurídica das negociações virtuais.

1. O contrato Eletrônico

Os contratos eletrônicos obtiveram seu desenvolvimento após a década de 1980


diante dos primeiros passos dados na criação da tecnologia que daria nome a internet,
sendo os responsáveis o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), a Universidade
da Califórnia Los Angeles (UCLA) e o Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI). Neste
sentido, dez anos depois a internet passa a ser um instrumento comercial, possibilitando
a aplicabilidade contratual e estabelecendo, assim, as relações consumeristas. Com isso,
releva-se um momento histórico em que as transformações contratuais tornam-se

1
O e-commerce, que em português significa comércio eletrônico, é uma modalidade de comércio que
realiza suas transações financeiras por meio de dispositivos e plataformas eletrônicas, como
computadores e celulares.
provisórias e voláteis e novas formas de contratos passam a surgir em decorrência da
Revolução Digital.

Neste sentido, o contrato eletrônico diferencia-se dos outros em virtude da forma


como se materializa. Assim, nas palavras de Jorge José Lawand a definição de contrato
eletrônico consiste na “expressão jurídica do comércio eletrônico, que significa em sua
essência, um fluxo e refluxo de bens e serviços realizados mediante uma rede de
comunicações informatizada. E os problemas que suscitam não são substancialmente
distintos daqueles relativos à contratação ordinária.” ( 2003, pág. 34). Já Fábio Ulhoa
Coelho define como uma “atividade comercial explorada através de contrato de compra
e venda com a particularidade de ser este contrato celebrado em ambiente virtual, tendo
por objetivo a transmissão de bens físicos ou virtuais e também serviços de qualquer
natureza.” (2002, pág.24)

Nesta lógica, diante da interpretação deste instituto pela doutrina, os princípios


que regem as relações consumeristas do CDC, também são aplicáveis aos contratos
eletrônicos, assim não se pode excluir a utilização dos princípios da teoria Clássica
contratual, bem como se faz primordial observar a aplicação de princípios específicos,
que desenvolvem a relação com mais proximidade, em substituição a legislação
específica. São eles:

I) Princípio da equivalência funcional dos atos jurídicos produzidos por


meios eletrônicos com os atos jurídicos tradicionais, ao qual busca vedar a
diferenciação deste tipo contratual com os demais formalizados fisicamente em papel.

II) Princípio da neutralidade tecnológica das disposições reguladoras do


comércio eletrônico, onde se mostra a necessidade da legislação estar sempre à frente
dos contratos e do desenvolvimento tecnológico, evitando que o ordenamento seja
obsoleto, visto que os contratos eletrônicos acompanham o avanço da tecnologia.

III) Princípio da inalterabilidade do direito existente sobre obrigações e


contratos, demonstrando que o contrato eletrônico não cria novos direitos, apenas os
coloca em prática de forma diversa da prevista em lei, porém não proibida. Muda por sua
transmissão ser via comunicação virtual.

IV) Princípio da boa-fé, no qual se faz uso da confiança e lealdade entre as partes
contratantes.
V) Princípio da autonomia privada que permite a ampla liberdade na
contratação, fixando regras de forma livre, desde que não contrariem à lei.

Desse modo, deve-se compreender que as regras de contratação devem ser claras
a fim de evitar que o empresário ou consumidor tenham que recorrer ao judiciário para
resolução de conflitos e tais princípios específicos podem ser considerados um grande
auxílio na orientação de formulação contratual, assim como, na modernização ou criação
de nova legislação sobre a contratação virtual.

2. O contrato Eletrônico Internacional


Certo de que possuem um caráter meramente automatizados além de
caracterizados pelo afastamento da intervenção humana, os contratos eletrônicos quando
celebrados no âmbito internacional originam certos conflitos que podem se estender, por
exemplo, a determinação da Lei aplicável, isto é, qual o ordenamento jurídico que seria
melhor aplicado àquele caso concreto? Qual seria o Tribunal Competente para resolver a
controvérsia, tendo em vista que as atribuições dos diversos órgãos jurisdicionais são
prefixadas em observância a limites territoriais definidos dentro dos quais podem exercer
a jurisdição? São vários os fatores que interferem na realização de contratos eletrônicos
entre partes que se localizam em países distintos e o desafio é tentar soluciona-los.

Como o comércio eletrônico internacional, em regra, abrange legislação de dois


ou mais estados, a figura da insegurança jurídica causada pela lacuna legislativa
internacional e, ainda, a vulnerabilidade dos consumidores nas transações internacionais,
se tornam situações presentes nestes contratos, gerando a necessidade de uma proteção
especial.

3. O E-commerce e o Consumidor Brasileiro


O E-commerce dispõe de vários aspectos jurídicos próprios, como o decreto
7.962/2013 que o regulamenta, as particularidades do contrato eletrônico como
classificação e os princípios próprios que o regem e a correlação entre o contrato
eletrônico e o Direito Contratual do Código Civil. Além disso, também possuem certo
amparo no Código de Defesa do Consumidor.

Nesta perspectiva, uma das formas de proteger o consumidor brasileiro, está


disciplinada no artigo 100, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, que dispõem
sobre a competência dos tribunais nacionais caso seja necessário demandar um
fornecedor estrangeiro. Outrossim, quanto a legislação aplicada, o artigo 17 da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, as leis, atos e sentenças de outro país, bem
como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem
a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Portanto, é possível afastar a
aplicação de lei estrangeira quando violar o disposto na legislação brasileira, com o intuito
de proteger o consumidor brasileiro, no entanto, o mesmo pode ocorrer na situação
inversa, em que uma decisão brasileira que deve ser efetivada no exterior viole a norma
pública de determinado país. Assim, para garantir uma efetiva proteção ao consumidor
nos contratos eletrônicos internacionais, é preciso que haja uma uniformização desta
legislação, agregando o maior número de países possível.

Certa disso, o artigo proposto pela professora Cláudia Marques traz uma discussão
sobre as relações privadas de consumo e o seu caráter internacional e ainda que revele
uma abordagem principiante sobre as suas formas, visto que se tratava de um cenário de
12 anos atrás, se mostra bastante atual. Neste aspecto, é possível perceber que passado
os anos, algumas formas consumeristas foram se adaptando, outras sendo criadas. As
pessoas conseguem facilmente resolver tudo por um aparelho celular em qualquer
ambiente, seja para adquirir produtos ou vender, através de aplicativos para firmar
contratos com bancos, por exemplo. O fato é que as relações estão cada vez mais
dinâmicas e globalizadas e juntamente a isso, novos direitos vão surgindo neste mercado
eletrônico, as empresas multinacionais enxergam uma abertura de mercado muito mais
convidativa o que facilita suas instalações nos mais variados países. O impacto da
tecnologia da informação sobre a Economia, a troca de produtos e informações entre
países ocasionando as relações comerciais é extremamente intensa, modificando as
práticas nas relações de consumo e consequentemente sobre o Direito que as regula.

Portanto, leis como a nº 12.965, de 23 de Abril de 2014 que dispõe sobre o Marco
Civil da Internet, o Decreto nº 7.962, de 15 de Março de 2013 que Regulamenta a Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990- CDC, para dispor sobre a contratação no comércio
eletrônico, assim como a Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de
8 de Junho de 2000 que relativa a certos aspectos legais dos serviços da sociedade de
informação, em especial do comércio electrónico, no mercado interno, também nos EUA,
o Electronic Signatures in Global and National Commerce Act de 8 de junho de 2000, ao
qual assegura direitos de informação, dos termos do negócio e direito de reflexão ao
consumidor, bem como, a UNCITRAL-Comissão das Nações Unidas sobre o Direito do
Comércio Internacional- que surgiu com a proposta de aprimorar as normatizações e
tratados já existentes, através de indicações à negociação de mercadorias entre países, ou
seja, através de vários modelos como, por exemplo, a arbitragem e a conciliação, o Projeto
de Lei PL 1589/1999 em que trata sobre o comércio eletrônico sendo apensado ao Projeto
de Lei 1483/99, são exemplos do pluralismo de métodos afim de suprir as lacunas que as
relações consumeristas deixam.

Portanto, esta modalidade de contratos eletrônicos, mais especificamente no


âmbito internacional, gera algumas vantagens e desvantagens, pois apesar de haver
facilidade de comunicação, rapidez nas negociações, além de baixo custo na transação,
traz consigo a insegurança jurídica e vulnerabilidade do consumidor que acaba precisando
da tutela jurisdicional. E isto se dá porque não há um consenso internacional sobre a
legislação e o tribunal aplicável em questões decorrentes de conflitos comerciais entre
dois ou mais países, o que fragiliza as relações comerciais internacionais.

Referências

CANTO, Rodrigo Eidelvein do. A vulnerabilidade dos consumidores no


Comércio Eletrônico: a reconstrução da confiança na atualização do Código de
Defesa do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
LAWAND, Jorge José. Teoria geral dos contratos eletrônicos. São Paulo:
Editora Juarez de Oliveira, 2003. P. 34

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direto Comercial. vol. 3. São Paulo:


Saraiva, 2002.

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